abordagem para análise proteômica de neurônios contendo

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  • MARIANA MOLINA

    Abordagem para anlise protemica de neurnios contendo neuromelanina na substncia negra, isolados

    por microdisseco a laser

    Dissertao apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias

    Programa de Fisiopatologia Experimental Orientador: Prof. Dr. Lea Tenenholz Grinberg

    So Paulo

    2015

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Molina, Mariana Abordagem para anlise protemica de neurnios contendo neuromelanina na substncia negra, isolados por microdisseco a laser / Mariana Molina. -- So

    Paulo, 2015.

    Dissertao(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Programa de Fisiopatologia Experimental.

    Orientadora: Lea Tenenholz Grinberg.

    Descritores: 1.Neurnios 2.Substncia negra 3.Neuromelanina 4.Microdisseco e captura a laser 5.Protemica

    USP/FM/DBD-412/15

  • NORMALIZAO ADOTADA

    Esta dissertao est de acordo com as seguintes normas, em vigor no

    momento desta publicao:

    Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors

    (Vancouver).

    Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Diviso de Biblioteca e

    Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias.

    Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria

    F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso, Valria

    Vilhena. 3a ed. So Paulo: Diviso de Biblioteca e Documentao; 2011.

    Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals Indexed

    in Index Medicus.

  • DEDICATRIA

    As minhas avs

    Fontes de inspirao. Sustentculos da minha vontade de persistir.

    Aos meus pais

    Quo difcil expressar a minha gratido. rdua a tarefa de exprimir em

    palavras tudo o que fizeram e fazem por mim. Incansavelmente me apoiam e

    so responsveis pela realizao de muito dos meus sonhos, para isso,

    renunciaram aos prprios. Sinto-me no dever de agradecer-lhes

    incessantemente.

    A minha irm Danielle

    Fao minhas, as palavras de Elton John e Bernie Taupin: How wonderful life is

    while youre in the world.

    Ao meu irmo Raphael

    Quando eu crescer, eu quero ser como voc! Inspirao de trabalho, dedicao

    e carinho.

    Eu me sinto indefinivelmente grata e honrada por ter vocs.

  • AGRADECIMENTOS

    minha orientadora, Prof. Dr. Lea Tenenholz Grinberg, exemplo de

    profissional, de mulher e de pessoa. O meu profundo agradecimento pela

    oportunidade e o privilgio que tive em ser sua orientanda que muito contribuiu

    para o enriquecimento da minha formao acadmica e cientfica.

    minha co-orientadora, Prof. Dr. Renata Elaine Paraizo Leite, por ter me

    conduzido nos caminhos da cincia de forma brilhante, desde os tempos de

    iniciao cientfica. Agradeo pela disponibilidade, estmulo constante e o

    imprescindvel apoio na elaborao deste trabalho.

    Meus agradecimentos, cordialidade e respeito aos professores, Dr. Wilson

    Jacob Filho, Dr. Carlos Augusto Pasqualucci e Dr. Ricardo Nitrini pelo apoio,

    por todos os auxlios e pela ampla colaborao com o Grupo de Estudos em

    Envelhecimento Cerebral. Grandes fontes de inspirao.

    Ao Prof. Dr. Helmut Heinsen por sua pacincia e disposio indefectvel em

    ajudar e toda a sua colaborao com esse projeto.

    Aos professores e coordenadores do Grupo de Estudos em Envelhecimento

    Cerebral, Dr. Claudia Suemoto, Dr. Jos Marcelo Farfel, Dr. Renata Ferretti

    Rebustini pela disponibilidade, ensinamentos e apoio cientfico.

    Ana Tereza Di Lorenzo Alho, Camila Nascimento Mantelli, Luzia Lima,

    Ktia Cristina Oliveira, mais do que colegas do Gerolab, amigas que

    transmitiram, alm de contedos, sentimentos de amizade, solidariedade,

    segurana e confiana. inestimvel percorrer o caminho da cincia ao lado

    de vocs!

    Roberta Diehl Rodriguez, pelo apoio irrestrito. A minha gratido e amizade.

  • querida Marta Crocci, pela prontido em ajudar, pelo apoio afetuoso e pela

    amizade.

    Ao Gustavo Ribeiro pela presteza e discrio.

    Keila Maria pelo apoio, amizade e a preocupao.

    Prof. Dr. Katrin Marcus, Dr. Caroline May, Dr. Stefan Helling, Sarah Plum,

    Simone Kutschki, Jale Stoutjesdijk, Prabal Subedi, Janine Brunner, Katrin

    Barlog e a todos do Centro de Protemica Mdica da Universidade de Bochum,

    pela colaborao, por me receberem e por me ensinarem pacientemente tudo o

    que sei sobre protemica. O meu mais sincero Vielen Dank.

    Aos professores, Dr. Alexandre Valotta da Silva, Dr. Jackson Cioni Bittencourt e

    Dr. Luiz Roberto Giorgetti de Britto pelo brilhantismo que conduziram a minha

    banca de qualificao, com suas valiosas contribuies.

    Ao Prof. Dr. Jarbas Arruda Bauer, por toda sua competncia e por partilhar

    seus conhecimentos.

    Ao Prof. Dr. Chin Jia Lin e Natlia Gomes Gonalves, sempre solcitos e

    dispostos a ajudar.

    Ao Eduardo Alho por seus valiosos ensinamentos durante a visita a

    Universidade de Wrzburg.

    Ao Andr Schwambach Vieira, ps doutorando da FCM da UNICAMP,

    prestativo, abriu as portas do laboratrio de Gnetica Molecular para que eu

    pudesse realizar as microdisseces no momento em que o microscpio da

    FMUSP no estava disponvel.

  • Anna Carla Goldberg e ao Thiago Pinheiro Arrais Aloia e pela amabilidade

    em dispor o seu laboratrio no Centro de Pesquisa Experimental no Instituto

    Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein para que eu pudesse realizar as

    microdisseces no momento em que ambos os microscpios da FMUSP e da

    UNICAMP no estavam disponveis.

    todos os membros e ex-membros do Grupo de Estudos em Envelhecimento

    Cerebral. Pela dedicao admirvel, companheirismo e apoio. O trabalho de

    toda equipe foi imprescindvel no desenvolvimento deste trabalho.

    Aline Nishizawa, Daniela Souza Farias, Perola Branca, Fernanda Marinho

    Campos, Karen Cristina por me receberem gentilmente no laboratrio de

    patologia cardiovascular quando precisei realizar os cortes em criostato.

    Dr. Ins Liguore Padro, que cedeu generosamente seu tempo para me

    ensinar um pouco sobre histologia do sistema nervoso e as alteraes

    vasculares.

    Aos funcionrios do programa de ps-graduao em fisiopatologia

    experimental pela ateno e disposio.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior pela

    concesso da bolsa de mestrado.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico pelo apoio

    financeiro.

    Aos funcionrios do Servio de Verificao de bitos da Capital pela

    colaborao para com o Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral.

    Aos familiares doadores, solidrios mesmo em meio ao luto. Este trabalho

    existe a partir deles e dever retornar para eles.

  • SUMRIO

    LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS

    LISTA DE GRFICOS

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    RESUMO

    SUMMARY

    1. INTRODUO ............................................................................................. 1 1.1 Envelhecimento populacional ................................................................ 2 1.2 Envelhecimento e a doena de Parkinson............................................. 5 1.3 Substncia Negra .................................................................................. 7 1.4 Microdisseco a laser e a protemica................................................ 13 2. OBJETIVOS ............................................................................................... 18 3. MATERIAIS E MTODOS ......................................................................... 20 3.1 Procedncia dos casos........................................................................ 21 3.2 Procedimentos do BEHGEEC ............................................................ .21 3.3 Critrios de seleo de casos para o presente estudo ...................... ..26 3.4 Estabelecimento do protocolo para a realizao da tcnica de microdisseco e captura a laser ..................................................................... 26 3.5 Otimizao do protocolo de preparao das amostras para espectrometria de massas ............................................................................... 32 3.6 Isolamento das amostras atravs da tcnica de microdisseco a laser.................... .............................................................................................. 34 4. RESULTADOS .......................................................................................... 36 4.1 Protocolo para a realizao da tcnica de MCL .................................. 37 4.2 Otimizao do protocolo de preparao das amostras para espectrometria de massas ............................................................................... 40 5. DISCUSSO .............................................................................................. 43 5.1 Plano anatmico ideal para a MCL da substncia negra..................... 45 5.2 Processo de congelamento para MCL................................................. 46 5.3 Espessura do corte para MCL ............................................................. 47 5.4 Colorao para MCL............................................................................ 48 5.5 Microdisseco e captura a laser ........................................................ 50 5.6 Preparao das amostras para espectrometria de massas ................. 52 6. CONCLUSES .......................................................................................... 55 7. CONSIDERAES FINAIS ....................................................................... 57 8. ANEXOS .................................................................................................... 60

  • Anexo A ............................................................................................................ 61 Anexo B ............................................. ................................................................62 Anexo C ........................................................................................................... 63 9. REFERNCIAS ............................................................................................ 78

  • LISTA DE ABREVIATURAS, SMBOLOS E SIGLAS

    5-HT 5-hidroxitriptamina

    ngstrm

    l Microlitros

    m Micrmetros

    m2 Micrmetros quadrados

    m Micrmetros cbicos

    Ach Acetilcolina

    ACN Acetonitrila

    AF cido Frmico

    BEHGEEC Banco de Encfalos Humanos do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral

    CDR Questinrio para Avaliao Clnica da Demncia

    CG Cromatografia Gasosa

    CL Cromatografia Lquida

    cm Centmetros

    CPM Centro de Protemica Mdica

    DA Doena de Alzheimer

    DP Doena de Parkinson

    ESI Electrospray Ionization

    FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    GABA cido Gama-Aminobutrico

    Glu Glutamato

    GPe Globo Plido externo

    GPi Globo Plido interno

    HC Hospital das Clnicas

    HCl cido Clordrico

    HE Hematoxilina e Eosina

    HPLC High Performance Liquide Chromatography

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IT Ion Trap

    LC-MS/MS Liquid Chromatography - Mass Spectrometry/Mass Spectrometry

  • MALDI Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization

    MCL Microdisseco e Captura a Laser

    mm Milmetro

    Min Minuto

    MS Mass Spectrometry

    ms Milissegundos

    m/z Massa/carga

    NA Noradrenalina

    ng Nanogramas

    NINDS National Institute of Neurological Disorders and Stroke

    NIH National Institutes of Health

    NL Neuritos de Lewy

    nm Nanmetros

    ONU Organizao das Naes Unidas

    pH Potencial Hidrognionico

    pmol Picomol

    RP Reversed Phase

    sec Segundos

    SIM Selected-Ion Monitoring

    SVOC Servio de Verificao de bitos da Capital

    SN Substncia Negra

    SNpc Substncia Negra pars compacta

    SNpd Substncia Negra pars diffusa

    SNpr Substncia Negra pars reticulata

    TA Temperatura Ambiente

    TOF Time Of Flight

    UPLC-TUV

    Ultra Performance Liquid Chromatography - Tunable UV Detector

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 01 Projees da populao brasileira ............................................ 4

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 Porcentagem da populao com 60 anos ou mais, estimada para 1950-2014 e projetado para 2050 ........................................................... 2

    Figura 02 Populao de idosos estimada em 2014 e projetada para 2015 ................................................................................................................ 3

    Figura 03 Fotografia da substncia negra ................................................... 6 Figura 04 Localizao da substncia negra ................................................ 7 Figura 05 Diagrama dos tipos neuronais na substncia negra .................... 8 Figura 06 Modelo esquemtico das conexes sinpticas dos neurnios da

    substncia negra pars compacta ............................................................ 9 Figura 07 Representao do mesencfalo atravs de um plano de corte

    horizontal ............................................................................................... 11 Figura 08 Regies enceflicas contendo clulas produtoras de

    neuromelanina ...................................................................................... 12 Figura 09 Exemplo do sistema de HPCL acoplado ao espectrmetro de

    massas e diagrama de espectrometria de massas em tandem ............ 16 Figura 10 Procedimento do corte do tronco enceflico para a

    representao do mesencfalo. ............................................................ 27 Figura 11 Procedimento de corte no criostato ........................................... 29 Figura 12 Imagem representativa do sistema PALM MicroBeam .............. 30 Figura 13 Seleo da rea para realizar a MCL ........................................ 35 Figura 14 Diferena neuroanatmica dos neurnios da substncia negra

    .............................................................................................................. 37 Figura 15 Comparao da otimizao do procedimento de congelamento

    para MCL .............................................................................................. 38 Figura 16 Otimizao da espessura ideal para o isolamento de neurnios

    da substncia negra .............................................................................. 39 Figura 17 Anlise por espectrometria de massas da substncia negra .... 42

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 Regies amostradas pelo protocolo do BEHGEEC .................. 24

    Tabela 02 reas imunocoradas e anticorpos rotineiramente utilizados no BEHGEEC ............................................................................................. 25

    Tabela 03 Viso geral dos procedimentos de congelao ........................ 28

    Tabela 04 Procedimento de colorao violeta de cresila .......................... 30

  • RESUMO

    Molina M. Abordagem para anlise protemica de neurnios contendo neuromelanina na substncia negra, isolados por microdisseco a laser. [dissertao]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2015. Atualmente observa-se que a proporo de pessoas com 60 anos ou mais est crescendo mais rpido do que a de outras faixas etrias. Um dos resultados desta transio epidemiolgica o aumento das doenas cujo fator de risco o envelhecimento, entre elas, a doena de Parkinson. Embora muitas regies exibam os sinais neuropatolgicos da doena de Parkinson, a degenerao dos neurnios, contendo neuromelanina, da substncia negra considerada como sendo uma caracterstica importante, representando o critrio cardinal para o diagnstico. No entanto, ainda no est claro por que certas regies do crebro, como a substncia negra, so vulnerveis em algumas doenas neurodegenerativas e alguns neurnios vizinhos, s vezes morfologicamente indistinguveis, permanecem preservados. Anlises moleculares de populaes de neurnios podem conduzir a uma melhor compreenso sobre a fisiologia dos mesmos, bem como os mecanismos envolvidos nos processos de doena. Na era ps genmica, realizar anlises protemicas so de grande interesse cientfico, pois permitem avanos no conhecimento dos processos biolgicos. A tcnica de microdisseco e captura a laser tem sido uma ferramenta importante e cada vez mais utilizada para aquisio de populaes puras de clulas a partir de seces histolgicas, evitando que reas no pertencentes ao tecido alvo sejam dissecadas. A unio destes mtodos pode contribuir de maneira relevante para o entendimento fisiopatolgico dos neurnios contendo neuromelanina da substncia negra. No entanto, para que a microdisseco e captura a laser e as anlises protemicas sejam eficazes, imprescindvel a aplicao de um protocolo bem estruturado. Dentro desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo criar um protocolo de microdisseco a laser de neurnios contendo neuromelanina em indivduos cognitivamente normais, para subsequente anlise protemica. Os casos utilizados neste estudo so provenientes do Banco de Encfalos Humanos do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral. Para o desenvolvimento da nossa proposta, contamos com a colaborao do Centro de Protemica Mdica da Universidade de Bochum, Alemanha. O protocolo foi desenvolvido baseado em outros previamente descritos na literatura e otimizado de acordo com objetivos pretendidos. Analisamos o plano anatmico de amostragem do tecido, o mtodo de congelamento, a espessura do corte para a microdisseco, a soluo utilizada para a coleta do tecido durante a microdisseco e o mtodo de digesto proteoltica para posteriores anlises protemicas. Atravs de ensaios comparativos, alcanamos os resultados desejados e os mesmos foram validados atravs de anlises por espectrometria de massas. Consequentemente, tambm fomos capazes de reconhecer fatores tcnicos que possivelmente impossibilitariam um efetivo estudo do proteoma. Descritores: neurnios, substncia negra, neuromelanina, microdisseco e captura a laser, protemica

  • SUMMARY Molina M. An approach to proteomics analysis of neurons containing neuromelanin in the substantia nigra, isolated by laser microdissection [dissertation]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2015.

    Currently the worldwide proportion of people aged 60 years and over is growing faster than any other age group. This strikingly epidemiological transition results in an increase of aging related diseases, including Parkinson's disease (PD). Although many brain areas exhibit the neuropathological signs of Parkinson's disease, the degeneration of neuromelanin containing cells in the substantia nigra is considered a hallmark feature, representing cardinal diagnostic criteria for PD. However, why certain brain regions -- such as the substantia nigra -- are vulnerable in some neurodegenerative diseases, while some neighboring morphologically indistinguishable neurons remain preserved, is still unclear. Molecular analysis of specific neuronal populations can lead us to a better understanding about the physiological role played by these neurons and mechanisms involved in diseases processes. In a post-genomic era, proteomic analyses are of great scientific interest since they allow a better understanding of the biological processes. The laser capture microdissection technique has also became an important tool in biological research, being increasingly used for acquisition of pure populations of cells from histological sections, preventing the dissection of areas outside the target tissue. The combination of these methods can significantly contribute to understand the pathophysiological role of the containing neuromelanin neurons of the substantia nigra. However, for an effective application of both techniques, laser capture microdissection and proteomic analysis, it is essential the application of an efficient protocol. In this context, this study aims to establish a protocol for laser microdissection of containing neuromelanin neurons in cognitively normal individuals for subsequent proteomic analyses. We selected cases from the Brain Bank of the Brazilian Aging Brain Study. A collaboration with the Medical Proteome Center, University of Bochum, Germany took part during the development of our proposal. Our protocol was developed based on previous published protocols and optimized according the intended aims. We analyzed anatomical planes for neuronal collection, freezing methods, thickness of tissue for microdissection sections, solution for tissue collection during laser microdissection and the proteolytic digestion methods. Through our comparative tests, we have achieved the desired results and validated them by mass spectrometry analyses. Consequently, we were also able to exclude technical factors that could possibly preclude one effective proteome analysis. Descriptors: neurons, substantia nigra, neuromelanin, laser capture microdissection, proteomics.

  • 1. INTRODUO

  • 2

    1.1 Envelhecimento populacional

    Em todo o mundo, observa-se que a proporo de pessoas com 60 anos

    ou mais est crescendo mais rpido que a de qualquer outra faixa etria. Este

    processo que se iniciou no final do sculo XIX em alguns pases da Europa,

    estendeu-se pelos pases desenvolvidos e nas ltimas dcadas, pelos pases

    em desenvolvimento (Carvalho e Garcia, 2003; Organizao das Naes

    Unidas (ONU), 2014) (Figura 01).

    Figura 01. Porcentagem da populao com 60 anos ou mais, estimada para 1950-2014 e projetado para 2050. Modificado de Organizao das Naes Unidas, 2014.

    Em 1950, estimava-se cerca de 205 milhes de idosos no mundo, sendo

    que apenas trs pases possuam mais do que 10 milhes de indivduos

    idosos: China (42 milhes), ndia (20 milhes) e Estados Unidos (20 milhes)

    (ONU, 2002). Em 2014, o nmero de pessoas com 60 anos ou mais aumentou

    cerca de quatro vezes, um crescimento de quase 13 milhes de idosos por ano

    e projees realizadas pelo Departamento das Naes Unidas para Assuntos

    Econmicos e Sociais indicam que at 2100 a populao mundial dever

    triplicar, aumentando para aproximadamente trs bilhes (ONU, 2014).

  • 3

    Atualmente o processo de envelhecimento populacional tem ocorrido de

    maneira mais acentuada em regies menos desenvolvidas. At 2050,

    estimado que a populao de idosos na frica triplique, podendo atingir 212

    milhes, na Amrica Latina e Caribe dever alcanar o nmero de 196 milhes

    e na sia essa populao poder ser de 1,2 bilhes (ONU, 2014). Alm disso,

    observa-se um aumento expressivo na populao com 80 anos ou mais. Em

    2014, entre a populao idosa, cerca de 14% dos indivduos tinham 80 anos ou

    mais. Em 2050, espera-se que essa populao seja de aproximadamente 392

    milhes de pessoas, totalizando 19% da populao idosa (ONU, 2014) (Figura

    02).

    Figura 02. Populao de idosos, estimada em 2014 e projetada para 2050. Modificado de ONU, 2014.

    Entre os pases mais populosos, o Brasil apresenta um dos processos

    mais agudos de envelhecimento populacional (Giatti, 2003). Segundo o

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em 2002, a populao

    com 60 anos ou mais era de aproximadamente 14 milhes de pessoas. Em

    2013, a populao idosa brasileira alcanou o nmero de 22 milhes e as

    estimativas so de que at 2050 a populao idosa poder ser superior a 66

  • 4

    milhes, representando quase 30% da populao brasileira total (Grfico 01)

    (IBGE, 2013).

    Grfico 01. Projees da populao brasileira (2000-2050). Arquivo pessoal. Fonte dos dados: IBGE (2013).

    O processo de envelhecimento populacional conhecido como transio

    epidemiolgica deve-se, principalmente, ao declnio da fecundidade e ao

    aumento na expectativa de vida (Leme, 1997; ONU 2002) duas tendncias que,

    normalmente esto associadas ao desenvolvimento social e econmico

    (Ramos et al., 1987; ONU, 2013).

    Em relao ao declnio da fecundidade, nos pases desenvolvidos a

    mdia da taxa de fecundidade, entre 1950-1955 era de 2,8 filhos por mulher e

    entre 2000 a 2005 esta mdia diminuiu para 1,5 filhos por mulher (ONU, 2002).

    J nos pases menos desenvolvidos o declnio da fecundidade comeou mais

    tarde e assim como o processo de envelhecimento populacional, ocorreu mais

    rpido. A maior reduo do nvel de fecundidade ocorreu, em geral, durante as

    ltimas trs dcadas do sculo XX. Nos ltimos 50 anos, a taxa de fecundidade

    total mdia nessas regies caiu mais de 60%, de 6,2 filhos por mulher em

    1950-1955 para 2,9 em 2000-2005 (ONU, 2002).

    O aumento da longevidade tambm contribui para o envelhecimento da

    populao. Globalmente, a expectativa de vida ao nascer dever aumentar de

    0

    20.000.000

    40.000.000

    60.000.000

    80.000.000

    100.000.000

    120.000.000

    140.000.000

    160.000.000

    180.000.000

    2000 2050

    Projees da Populao Brasileira (2000-2050)

    0-59 60-90+

  • 5

    69 anos, para 76 anos em 2045-2050 e para 82 anos entre 2095-2100 (ONU,

    2013). De acordo com recentes anlises realizadas pelo IBGE, no Brasil a

    expectativa de vida em 1940 no atingia os 50 anos de idade. J em 2004 a

    expectativa de vida ao nascer alcanava cerca de 71,2 anos, e em 2040

    estima-se que a expectativa alcance a mdia de 80 anos (IBGE, 2008).

    Um dos resultados dessa transio epidemiolgica aumento na

    incidncia e prevalncia de doenas relacionadas ao envelhecimento, entre

    elas as doenas neurodegenerativas. importante ressaltar que, embora as

    doenas neurodegenerativas afetem principalmente pessoas idosas, elas no

    so parte do envelhecimento normal (Nelson et al., 2011). O carter

    progressivo e irreversvel de tais doenas associado ausncia de tratamentos

    eficazes e ao grande impacto social e econmico, tm atrado muita ateno.

    1.2 O envelhecimento e a doena de Parkinson

    A idade um fator de risco bem definido para diversas doenas

    neurodegenerativas (Brown et al., 2005; Mariani et al., 2005; Qiu, 2007;

    Farooqui e Farooqui, 2009; Muangpaisan et al., 2011). Tais doenas afetam a

    qualidade de vida dos idosos e causam sofrimento fsico e psicolgico diante

    da perda da capacidade funcional (Weintraub e Stern, 2005; Kato-Narita et al.,

    2011; Schenkman et al., 2011). As doenas neurodegenerativas so

    consideradas a principal causa de incapacidade na populao idosa

    (Jorgensen et al., 2007; Snijders et al., 2007).

    Segundo um relatrio realizado em 2015 pelo National Institute of

    Neurological Disorders and Stroke (NINDS) do National Institutes of Healthy

    (NIH), milhes de pessoas em todo o mundo so afetadas por algum tipo de

    doena neurodegenerativa, sendo a Doena de Parkinson (DP) uma das mais

    prevalentes. A DP afeta aproximadamente 1-2% das pessoas com 65 anos ou

    mais (Healy et al., 2008; Bekris et al., 2010). As estimativas do NIH (2015)

    sugerem que cerca de 50.000 americanos so diagnosticados com DP cada

    ano, embora algumas estimativas relatem prevalncias maiores. Obter uma

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Muangpaisan%20W%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=21696087

  • 6

    estimativa precisa do nmero de casos difcil, porque nos estgios iniciais da

    doena muitas pessoas atribuem os seus sintomas ao envelhecimento normal

    e no procuram atendimento mdico (Mittel, 2003; NIH, 2015).

    Neuropatologicamente a DP caracterizada pela progresso anatmica

    no randmica associada perda neuronal, por depsitos de agregados

    proteicos anormais intracelulares e por um padro de vulnerabilidade seletiva

    caracterstico (Dickson 2007; Double et al., 2010; Grinberg et al., 2011). At o

    momento, pouco se sabe sobre a associao entre a deposio de protenas e

    a perda neuronal.

    Embora muitas regies do encfalo exibam os sinais neuropatolgicos

    da DP, a perda de clulas na substncia negra , frequentemente, considerada

    como sendo a caracterstica neuropatolgica mais importante (Gibb, 1991;

    Gibb e Lees, 1991; Damier et al. 1999b; Zecca et al., 2002; Braak et al., 2004;

    Double, 2012), representando um critrio cardinal para o diagnstico da DP

    (Figura 03). No entanto, at o momento, no se sabe por que certas regies,

    como a substncia negra, so vulnerveis enquanto outras populaes

    neuronais vizinhas e, s vezes, morfologicamente indistinguveis podem

    permanecer preservadas por anos e at dcadas (Double et al., 2010).

    Figura 03. Fotografia da substncia negra em indivduos normais (A) e portadores de doena de Parkinson onde se observa a perda de colorao da substncia negra (B). Modificado de Winkler, 2014.

    1.3 Substncia Negra

  • 7

    A Substncia Negra (SN) uma estrutura mesenceflica em formato

    oval achatada localizada no aspecto dorsal do pednculo cerebral que pode ser

    identificada anatomicamente atravs de um plano de corte sagital e/ou

    horizontal (Figura 04), devido presena de um pigmento escuro.

    Figura 04. Localizao da substncia negra em um plano de corte horizontal (A) e sagital (B). Retirado de: www.thehumanbrain

    Braak e Braak em 1986 identificaram trs territrios na SN: pars

    compacta (SNpc), pars reticulata (SNpr) e pars diffusa (SNpd) e definiram trs

    tipos de neurnios (Figura 05), baseados na forma, grau de pigmentao, tipos

    de processos celulares e tamanho:

    Neurnios do tipo I: encontrados principalmente na pars compacta.

    Esses neurnios tm aproximadamente 50 m de dimetro, so fusiformes ou

    poligonais, com 2 a 6 dendritos finos e esparsos que ocasionalmente se

    ramificam. Eles contm um grande nmero de grnulos de neuromelanina e

    corpsculos de Nissl na poro perifrica que se estendem para a regio

    proximal dos dendritos.

    Neurnios do tipo II: encontrados principalmente na pars reticulata. Eles

    variam em tamanho e forma, embora sejam menores quando comparados aos

    neurnios do tipo I. Clulas bipolares e bastante alongadas so

    http://www.thehumanbrain/

  • 8

    frequentemente verificadas, mas multipolares tambm podem ser encontradas.

    O nmero de dendritos primrios depende do formato do corpo celular e o

    dimetro desta clula de aproximadamente 34 m. Este tipo celular no

    apresenta depsitos de neuromelanina, porm um considervel nmero destes

    neurnios possuem grnulos de lipofucsina.

    Neurnios do tipo III: so geralmente pequenos, com aproximadamente

    16m de dimetro. Alguns finos dendritos se originam da superfcie do

    neurnio e irradiam em vrias direes. Os dendritos no possuem espinhas, e

    do origem a alguns prolongamentos. Contm grnulos de lipofucsina que so

    menores quando comparados aos grnulos de neuromelanina dos neurnios

    do tipo I e aos grnulos de lipofucsina dos neurnios do tipo II.

    Figura 05. Diagrama dos tipos neuronais na substncia negra. Modificado de Braak e Braak, 1986

    Adicionalmente, a SN composta por populaes distintas de neurnios

    dopaminrgicos e GABArgicos. As populaes de neurnios GABArgicos e

    dopaminrgicos so encontrados na pars reticulata (SNpr) e na pars compacta

    da SN (SNpc) respectivamente (Double et al., 2010).

  • 9

    As clulas dopaminrgicas da pars compacta projetam-se principalmente

    para o estriado, bem como para o ncleo subtalmico, globo plido e para a

    pars reticulata (Cossette et al., 1999; Tepper e Lee, 2007). A SNpc recebe

    projees de diferentes regies enceflicas, como estriado, globo plido

    (Tepper e Lee, 2007), pars reticulata (Tepper et al., 1995), entre outros. Um

    resumo esquemtico dessas conexes bem como seus neurotransmissores,

    pode ser consultado na Figura 06.

    Figura 06: Modelo esquemtico das conexes sinpticas dos neurnios da substncia negra pars compacta (SNpc). Os neurotransmissores envolvidos Glu (Glutamato), GABA (cido Gama-Aminobutrico), 5-HT (5-hidroxitriptamina), NA (Noradrenalina), Ach (Acetilcolina) esto indicados por diferentes cores de setas. Abreviaes: SNpr (Substncia Negra pars reticulata), GPe (Globo Plido externo), GPi (Globo Plido interno). Adaptado de Guatteo et al., 2009.

  • 10

    No mesencfalo, alm da SNpc, outras duas regies possuem neurnios

    dopaminrgicos: a rea tegmental ventral e o campo retrorubral. Essas trs

    regies constituem o grupo mais proeminente de clulas dopaminrgicas

    cerebrais, aproximadamente 90% do total, sendo considerada a maior fonte de

    dopamina no sistema nervoso central dos mamferos (Chinta, 2005; Gardaneh,

    2010). Outras regies onde se encontram neurnios dopaminrgicos so o

    diencfalo e o bulbo olfatrio. Apesar de possurem o mesmo

    neurotransmissor, essas regies so anatmica e funcionalmente

    heterogneas (Chinta, 2005).

    A SNpc pode ser dividida em uma srie de sub-regies, sendo que a

    definio e terminologia destas sub-regies variam de autor para autor.

    Utilizando uma combinao de fatores anatmicos e neuroqumicos, alguns

    autores definiram quatro regies: parte medial (tambm referido como o grupo

    ventromedial), parte lateral (tambm conhecida como nigrosomes 3), dorsal

    (tambm referida como nigrosomes 4, 5 e a matriz) e ventral (tambm referida

    como nigrosomes 1 e 2) (McRitchie et al., 1996; Damier et al., 1999a).

    A degenerao dos neurnios dopaminrgicos responsvel pelos

    sintomas clssicos da DP e surgem quando houve aproximadamente 60-70%

    de perda neuronal (Hodge e Butcher, 1980; Mari e Defer, 2003; McAauley,

    2003; Obeso et al., 2014). Em condies fisiolgicas, indiretamente esses

    neurnios tem uma funo importante no controle do movimento voluntrio

    (Chinta e Andersen, 2005).

    Alguns autores sugerem que a degenerao encontrada na DP afeta,

    principalmente, a camada ventral (aproximadamente 70-90% de perda

    neuronal) em comparao com o dorsal (25-70% de perda neuronal) (Fearnley

    e Lees, 1991; Hirsch et al., 1997; Damier et al., 1999b; Obeso et al., 2014)

    (Figura 07).

  • 11

    Figura 07. Representao do mesencfalo atravs de um plano de corte horizontal. Do lado esquerdo a substncia negra saudvel, e do lado direito a substncia negra na DP. Nota-se o diferente padro de vulnerabilidade entre as camadas da substncia negra. Modificado de Double, 2012.

    Uma caracterstica importante dos neurnios dopaminrgicos da

    substncia negra humana a presena do polmero neuromelanina. A

    neuromelanina comea a acumular-se dentro dos neurnios a partir dos 3 anos

    de idade (Cowen, 1986) e esse processo continua ao longo da vida (Zucca et

    al., 2014). Alguns estudos mostraram que o nmero de neurnios pigmentados

    diminui com a idade (McGeer et al., 1977; Fearnley e Lees, 1991) enquanto

    outros afirmam no haver perda dependente da idade (Muthane et al., 1998;

    Kubis et al., 2000).

    A neuromelanina produzida por neurnios catecolaminrgicos em trs

    regies do encfalo humano: substncia negra, lcus cerleo e formao

    reticular (Fedorow, et al., 2005) (Figura 08).

  • 12

    Figura 08. Regies enceflicas contendo clulas produtoras de neuromelanina: (A) substncia negra mesencfalo (B) locus coeruleus ponte (C) formao reticular bulbo. Modificado de Fedorow et al., 2005

    Vrios estudos tm sido realizados com o objetivo de compreender

    melhor o papel da neuromelanina no envelhecimento normal e no processo

    neurodegenerativo (Lindquist et al., 1987; Fasano et al., 2006; Bisaglia et al.,

    2009; Zhang et al., 2013). Uma hiptese a de que a neuromelanina

    desempenhe um papel protetor, evitando danos de substncias nocivas como,

    ons metlicos redox-ativos, toxinas e excesso de catecolaminas citoslicas s

    clulas (Zucca et al., 2004; Zucca et al., 2014). No entanto, tambm tem sido

    demonstrado um potencial txico para neuromelanina atuando como ativadora

    da micrglia endgena e, por consequente, causando inflamao (Zhang et al.,

    2013). Outra hiptese seria de que a neuromelanina em excesso poderia inibir

    a funo do proteassoma (Shamoto-Nagai et al., 2004).

    Segundo Karlsson e Lindquist (2013) a ligao de txicos a

    neuromelanina, inicialmente protege as clulas, mas como tal ligao

    reversvel, ela poderia provocar o acmulo e consequente liberao do produto

    txico gradualmente no citosol. Apesar de inmeras e diferentes hipteses

  • 13

    terem sido propostas, at ento, no est clara a sua funo no encfalo

    humano.

    Para preencher esta lacuna no conhecimento sobre a etiologia, os

    mecanismos da DP e a funo da neuromelanina no encfalo humano de

    grande relevncia o desenvolvimento de estudos topogrficos mais focalizados

    - que permitam isolar populaes especficas de neurnios, ao invs da anlise

    de grandes estruturas e homogenados preferencialmente associados

    anlises bioqumicas de ponta. Uma maneira eficiente de fazer isto aplicar as

    ferramentas da disseco a laser e protemica em amostras bem

    caracterizadas de tecido humano cerebral.

    1.4 Microdisseco e captura a laser e a protemica

    A tcnica de Microdisseco e Captura a Laser (MCL) foi desenvolvida

    em 1996, por pesquisadores do National Cancer Institute dos EUA (Emmert-

    Buck et al., 1996) e tornou-se amplamente utilizada como uma ferramenta na

    pesquisa biomdica, potencializando o uso de tcnicas j existentes.

    A MCL permite a aquisio de populaes puras de clulas ou tecidos

    de determinadas regies microscpicas. Atualmente, existem dois tipos de

    laser para realizar a MCL: infravermelho (IV) e ultravioleta (UV). Eles

    compartilham princpios fundamentais comuns: visualizao e seleo da rea

    a ser microdissecada atravs de um microscpio, transmisso de laser para

    excisar as clulas selecionadas, mecanismo que permite a catapultagem, ou

    seja, o lanamento da amostra e a presena de um tubo que capta a regio

    alvo (Chung e Shen, 2015).

    A MCL tem a vantagem de poder ser adaptada a uma diversidade de

    tipos celulares e mtodos de colorao, tais como violeta de cresila (Bevilacqua

    et al., 2010), hematoxilina e eosina (Xu et al., 2002), imuno-histoqumica (He et

    al., 2013), imunofluorescncia (Murakami et al., 2000), entre outros que

    facilitam a visualizao histolgica (Chung e Shen, 2015). O tecido a ser

    microdissecado pode ser fixado em formalina e embebido em parafina, pode

  • 14

    ser espcimes congelados, cultura de clulas e preparaes citolgicas, como,

    esfregaos ou clulas citocentrifugadas (Curran e Murray, 2002; Guo et al.,

    2007; Rodriguez et al., 2008; Chowdhuri et al., 2012; Mustafa et al., 2012;

    Mukherjee et al., 2013; Chung e Shen, 2015).

    Tal tcnica reduz a probabilidade de contaminao, possui baixo contato

    de manipulao e evita problemas relacionados heterogeneidade do tecido

    (Emmert-Buck et al., 1996; Murray e Curran, 2005; Murray, 2007; Vogel, 2007;

    Pietersen et al., 2011). Este fato particularmente relevante para o tecido

    enceflico, que consiste em vrios tipos celulares morfologicamente e/ou

    neuroquimicamente distintos cercados por vrios tipos de clulas, como por

    exemplo, clulas gliais (oligodendrcitos, microglia e astrcitos). Portanto, a

    capacidade de isolar populaes de clulas especficas, como por exemplo,

    neurnios surgiu recentemente como uma alternativa promissora (Banks et al.,

    1999; Craven e Banks, 2001; Mouldous et al., 2003; Caudle et al., 2008;

    Boone et al., 2013; Kumar et al., 2013) e unido a tcnicas moleculares, pode

    acentuadamente melhorar a compreenso de diversos processos biolgicos

    (Kummari et al., 2015).

    A MCL tem sido cada vez mais utilizada em diversas reas de pesquisa

    biomdica e suas aplicaes nestas reas so baseadas principalmente em

    biologia molecular, como a gentica e protemica (Kerk et al., 2003; Chung e

    Shen, 2015; Sethi et al., 2015). A combinao da MCL e tcnicas protemicas

    podem fornecem uma viso valiosa sobre possveis caminhos e mecanismos

    envolvidos na patognese de diversas doenas neurodegenerativas (Standaert,

    2005; Chung e Shen, 2015; Sethi et al., 2015). No entanto, apesar das

    inmeras vantagens oferecidas pela MCL, este mtodo ainda no foi

    amplamente incorporado no campo da neurocincia.

    A protemica baseada em espectrometria de massas fundamentalmente

    modificou o modo como os sistemas biolgicos so estudados. Essa tcnica

    permite a anlise de milhares de protenas, incluindo os diversos processos

    relacionados sua funo (Farley e Link, 2009) tais como, a localizao

    especfica, as interaes protena-protena, o turnover e as modificaes ps-

    traducionais (PTMs) (Aebersold e Mann, 2003; Altelaar et al., 2013).

  • 15

    A tcnica de espectrometria de massas identifica analitos que foram

    purificados e/ou fracionados por cromatografia. A cromatografia pode estar

    acoplada ao espectrmetro de massas e o uso desta alternativa vem

    crescendo de forma exponencial. Vrios tipos podem ser utilizados, como por

    exemplo, Cromatografia Gasosa (CG) ou Cromatografia Lquida (CL). A

    cromatografia lquida de alta eficincia, do ingls High Performance/Pressure

    Liquide Chromatography (HPLC) o mtodo de CL mais comum de separao.

    Neste tipo, o analito passa por dois processos: I) fase lquida, onde a amostra

    dissolvida e II) fase estacionria, geralmente constituda de uma ou vrias

    colunas com diferentes fases estacionrias compostas de materiais porosos e

    filtros (Wuhrer, 2009).

    A espectrometria de massas, do ingls Mass Spectrometry (MS)

    consiste basicamente na ionizao de um composto e na avaliao da razo

    de massa/carga (m/z) dos ons (Hoffmann, 1996; Ho et al., 2003). O

    equipamento composto de uma fonte de ionizao, um ou mais analisadores

    de massas e um detector, conectado a um computador contendo softwares

    especficos para as anlises dos dados.

    Existem dois principais mtodos de ionizao, o MALDI (Matrix-Assisted

    Laser Desoption/Ionization) usado para amostras em estado slido e o ESI

    (Electrospray Ionization) utilizado para amostras em estado lquido. As fontes

    de ionizao so utilizadas para gerar ons peptdicos ou proteicos, atravs de

    transferncia de prtons (H+) para as molculas, sem alterar sua estrutura

    qumica (Ho et al., 2003; Hommerson et al., 2011).

    No analisador, o on acelerado em campo eltrico, separado pela

    razo m/z. O on pode ainda ser selecionado de acordo com a m/z previamente

    determinada e fragmentado atravs de um processo chamado Mass-

    Spectrometry/Mass-Spectrometry (MS/MS) ou espectrometria de massas em

    tandem. Os analisadores de massa podem ser do tipo: Time Of Flight (TOF);

    quadrupolo ou Ion Trap (IT) (Louris et al., 1987; Adahchour, 2005; Chen et al.,

    2010). Independentemente do tipo, nos analisadores a massa molecular dos

    ons avaliada.

  • 16

    O exemplo do HPLC acoplada ao espectrmetro de massas bem como,

    o diagrama de espectrometria de massas em tandem (MS/MS) pode ser

    consultado na Figura 09.

    Figura 09. (A) exemplo do sistema de HPCL acoplado ao espectrmetro de massas (B) diagrama de espectrometria de massas em tandem. A amostra injetada no espectrmetro de massas, ionizado e acelerado. Em seguida, so analisados (MS1). Os ons dos espectros MS1 so seletivamente fragmentados e novamente analisados por espectrometria de massas (MS2). Modificado de Thermo Scientific, 2014.

    Enquanto a identificao de protenas importante para entender os

    processos biolgicos, a anlise direta das protenas em amostras obtidas a

    partir da tcnica de microdisseco a laser de grande relevncia, pois reduz a

    complexidade do crebro ao permitir a obteno de reas ou clulas

    especficas.

    A literatura, ainda carece de descries sobre metodologias e

    padronizaes utilizando eficientemente essas duas tcnicas. Diante deste e

  • 17

    de outros questionamentos, ns propomos e testamos um protocolo para a

    realizao da MCL baseado em outros trabalhos publicados previamente

    (Emmert-Buck et al., 1996; Fend e Raffeld, 2000; De Souza et al., 2004;

    Cummings et al., 2011; Sturm, et al., 2012). Nosso foco foram os neurnios da

    pars compacta da substncia negra de encfalos humanos para posteriores

    anlises protemicas. Foram utilizados utilizando casos clinica e

    neuropatologicamente normais provenientes da casustica do Banco de

    Encfalos Humanos do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (BEHGEEC-FMUSP),

    criado em 2003 com o objetivo de contribuir com o estudo do envelhecimento

    cerebral e melhor entendimento dos processos relacionados senescncia e

    senilidade cerebral (Ferretti et al., 2009). Ns optamos por utilizar casos

    cognitivamente normais, pois a criao de uma base normativa

    extremamente importante antes que se queira compreender o processo

    patolgico. As investigaes ao nvel proteico tm contribudo para ajudar a

    identificar, caracterizar e entender essas diferenas e tem sido cada vez mais

    utilizadas (Urquhart et al., 1997; Watarai et al., 2000; Zhou et al., 2002; Tribl et

    al., 2005; Alberio et al., 2010). Alm disso, podem permitir a identificao de

    alvos para o diagnstico precoce e tratamento da doena (Liao et al., 2004;

    Kitsou et al., 2008).

    Os resultados desse trabalho podem ser aplicados em outras propostas

    de estudo utilizando tecido enceflico, j que o estabelecimento de um

    protocolo padronizado crucial para o sucesso de qualquer experimento no

    campo da protemica (Gonzlez-Fernndez et al., 2010).

  • 18

    2. OBJETIVOS

  • 19

    I. Estabelecer um protocolo para a realizao da MCL em tecido cerebral

    humano e subsequente anlise protemica;

    II. Validar este protocolo por meio da MCL e anlise protemica em

    neurnios contendo neuromelanina na substncia negra de indivduos

    sem alteraes clnicas e neuropatolgicas.

  • 20

    3. MATERIAIS E MTODOS

  • 21

    3.1 Procedncia dos casos

    A Comisso de tica em Pesquisa da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo (FMUSP) aprovou o protocolo de pesquisa do

    presente estudo (n 361/10), apresentado pelo Departamento de Patologia. O

    termo de aprovao est apresentado no Anexo (A).

    Este projeto conta com a colaborao do Centro de Protemica Mdica

    da Universidade de Bochum, Alemanha, aprovado pelo Comit Nacional de

    tica em Pesquisa CONEP sob o registro n 16380 conforme o Anexo (B).

    Os casos selecionados para o presente estudo so pertencentes a

    casustica do BEHGEEC.

    3.2 Procedimentos do BEHGEEC

    Os casos includos no BEHGEEC so provenientes de autpsias

    realizadas no Servio de Verificao de bitos da Capital (SVOC). O SVOC

    realiza as autpsias em indivduos que tenham falecido de morte natural ou

    indivduos em que, a causa de morte no foi definida em vida. No Brasil, o

    servio de autpsia mandatrio para os casos de bitos de causa mal

    definida.

    Na chegada do cadver ao SVOC, as famlias devem comparecer ao

    servio para reclamao do corpo e sua liberao para que ento, sejam

    iniciados os procedimentos de autpsia. Os procedimentos de autpsia e a

    liberao dos documentos duram em mdia 3 horas (Grinberg et al., 2007).

    Caso o indivduo atenda aos critrios de seleo do BEHGEEC, os

    familiares, presentes no SVOC, so convidados a participar do estudo. Nesse

    momento, so explicados os objetivos do estudo, sua relevncia e todos os

    procedimentos de pesquisa pretendidos. Aps consentimento informado, um

  • 22

    membro da famlia assina, voluntariamente, o Termo de Consentimento Livre e

    Esclarecido e o caso ento includo no estudo. Os procedimentos do estudo

    so realizados apenas aps a autorizao do responsvel, mediante a

    assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Ferreti et al.,

    2009).

    3.2.1 Critrios de seleo do BEHGEEC

    Ter idade, na data do falecimento, igual ou maior a 50 anos;

    Possuir um familiar responsvel ou cuidador, com contato mnimo

    semanal durante os seis meses anteriores ao bito;

    Possuir um informante (familiar responsvel ou cuidador) capaz de

    prestar informaes consistentes a respeito do histrico de sade do sujeito;

    No ser portador de doenas cerebrais que impossibilitem a avaliao

    macroscpica cerebral, como acidente vascular enceflico hemorrgico;

    No ser portador de doena avanada no perodo de trs meses

    anteriores morte, responsveis por causar hipxia ou hipofluxo cerebral;

    No possuir histria de parada cardiorespiratria prolongada nos trs

    meses anteriores ao bito;

    No possuir pH do lquido cefalorraquidiano menor que 6,5 indicando

    acidose grave devido ao estado agonal.

    3.2.2 Avaliao Clnica

    Durante o procedimento de autpsia, a avaliao clnico-funcional do

    indivduo realizada atravs de uma entrevista clnica semiestruturada. O

    responsvel indicado por relatar as informaes pode ser um familiar, um

    cuidador, ou algum que tenha tido um contato prximo com o sujeito por pelo

  • 23

    menos seis meses anteriores ao bito, de modo que, as informaes possam

    ser confiveis.

    Os indivduos so entrevistados de segunda a sexta-feira, em uma sala

    privada, por uma equipe de entrevistadores treinados e supervisionados por um

    enfermeiro gerontlogo (Grinberg et al., 2007). Durante a entrevista, o

    entrevistador julga se as informaes obtidas so confiveis com o objetivo de

    decidir se o caso ser ou no includo no estudo. O gerontlogo responsvel

    por revisar a entrevista aps o trmino para avaliar a consistncia dos dados

    coletados. Posteriormente essas entrevevistas so discutidas em uma reunio

    de consenso diagnstico por uma equipe de mdicos (especialistas em

    neurologia e geriatria) e enfermeiros gerontlogos (Ferretti et al., 2009).

    O protocolo de coleta de dados consiste em uma srie de escalas e

    questionrios validados, cuja funo avaliar os aspectos cognitivos,

    comportamentais, funcionais e socioeconmicos, bem descritos e utilizados

    mundialmente (Grinberg et al., 2007; Ferretti et al., 2009). Para a avaliao

    global do domnio cognitivo utilizado o questionrio Clinical Dementia Rating

    (CDR) descrito por Morris (1993). O protocolo de entrevista completo pode ser

    consultado no Anexo C.

    3.2.3 Processamento do encfalo

    Aps a abertura da calota craniana durante o procedimento de autpsia

    so realizados os seguintes procedimentos: I) coleta do lquido

    cefalorraquidiano, para posterior aferio do pH; II) coleta de sangue para

    estudos bioqumicos e genticos; III) aferio do volume do encfalo pelo

    mtodo de Arquimedes; IV) aferio da massa do encfalo em balana digital.

    Em seguida o encfalo levado para a sala de procedimentos no

    laboratrio do BEHGEEC dentro de um saco zip imerso em uma cuba com gelo

    e gua refrigerada para conservao do tecido. Um conjunto de 17 regies

    representado e congelado a temperatura de -80C. Essas amostras

    eventualmente sero utilizadas para procedimentos bioqumicos e genticos.

  • 24

    O hemisfrio contralateral fixado em formol a 4% tamponado com

    fosfato de potssio (pH= 7,4) por no mximo 15 dias. Durante o

    processamento, tambm verificado se h presena de leses vasculares.

    Aps esse perodo, o material enceflico seccionado em intervalos de 1 cm e

    um conjunto mnimo de 19 reas so amostradas, sendo posteriormente

    embebidas em blocos de parafina para o diagnstico neuropatolgico.

    As regies amostradas e os respectivos procedimentos abordados pelo

    protocolo do BEHGEEC esto descritas na Tabela 01.

    Tabela 01. Regies amostradas pelo protocolo do BEHGEEC. Adaptado de Grinberg et al., 2007

    reas Enceflicas Amostradas Embebidos

    em parafina

    Armazenados

    a -80C

    Amgdala e crtex entorrinal X X

    Bulbo olfatrio X X

    Cerebelo incluindo o ncleo denteado X X

    Centro semi oval X

    Formao hipocampal anterior X

    Hipocampo na altura do corpo geniculado lateral e

    giro temporal inferior X X

    Hipocampo contra lateral X

    Ncleo basal incluindo o ncleo basal de Meynert, na

    altura da comissura anterior X

    Giro do cngulo X

    Giro frontal mdio X X

    Giro frontal superior e giro do cngulo X

    Giro orbitofrontal X

    Giro parahipocampal X

    Giro temporal mdio e superior X X

    Lbulo parietal inferior e superior X X

    Medula Oblonga X

    Mesencfalo incluindo substncia negra X

    Plexo coride X X

    Ponte incluindo o lcus cerleo X

    Sulco calcarino (rea visual primria) X X

    Tlamo X

    Territrio de transio entre as artrias cerebrais

    anterior e mdia X

    Territrio de transio entre as artrias cerebrais

    mdia e posterior X

  • 25

    3.2.4 Diagnstico neuropatolgico

    Os fragmentos enceflicos embebidos em parafina so seccionados em

    espessura de 5m e colocados em lminas silanizadas (3-Aminopropil-trietoxi-

    silano) para a colorao de Hematoxilina e Eosina (HE) e aplicao do

    protocolo de imuno-histoqumica.

    A imuno-histoqumica de rotina realizada usando anticorpos contra os

    seguintes peptdeos ou protenas: -amilide, tau hiperfosforilada, -sinuclena

    e TDP-43. O mtodo utilizado avidina-biotina por imunoperoxidase, a

    revelao feita atravs do cromgeno 3,3-diaminobenzidina e a

    contracolorao atravs de hematoxilina de Harris. As reas imunocoradas e

    respectivos anticorpos esto demonstrados na Tabela 02.

    Regio do encfalo Contra

    Protena Amilide

    Contra Protena

    Tau

    Contra Protena -sinuclena

    Contra Protena TDP-

    43

    Giros frontais mdio e inferior

    X X

    Giros temporais superior e mdio

    X X X

    Hipocampo, na altura do corpo geniculado lateral e giro parahipocampal adjacente

    X X X X

    Amigdala e crtex adjacente X X X X

    Mesencfalo com substncia negra

    X X X

    Ncleos da base, na altura da comissura anterior

    X

    Ponte com locus ceruleus X

    Bulbo na altura da oliva X X

    Cerebelo X

    Bulbo olfatrio X

    X = rea imunocorada Tabela 02. reas imunocoradas e anticorpos rotineiramente utilizados no BEHGEEC. Adaptado de Grinberg et al., 2007

  • 26

    O exame anatomopatolgico realizado por neuropatologista cego a

    todos os dados clnicos obtidos. So utilizados critrios mundialmente aceitos

    para o diagnstico de doenas neurodegenerativas (Braak e Braak 1991; Mirra

    1996; Mckeith et al., 1997) e j descritos por trabalhos publicados pelo nosso

    grupo (Grinberg et al., 2007; Farfel et al., 2013).

    3.3 Critrios de seleo de casos para o presente estudo

    Alm dos critrios de incluso estabelecidos e descritos do BEHGEEC,

    para este trabalho, foram adotados os seguintes critrios:

    No possuir declnio cognitivo de acordo com o questionrio CDR;

    No ser portador de nenhuma doena neurodegenerativa;

    Apresentar o tronco enceflico morfologicamente intacto.

    Para este estudo, 8 casos foram selecionados. Destes, um foi excludo,

    visto que no apresentava o tronco enceflico morfologicamente intacto.

    3.4 Estabelecimento do protocolo para a realizao da tcnica de

    microdisseco e captura a laser

    Durante o processamento enceflico de rotina do BEHGEEC, descrito no

    item 3.2.3, o tronco enceflico foi separado do encfalo na altura do tlamo

    (acima dos colculos superiores), seccionado sagitalmente, tendo como base o

    sulco mediano dorsal, e congelado.

    A representao do mesencfalo foi realizada com o tronco enceflico

    congelado. Na poro rostral, o tronco enceflico foi seccionado na altura dos

    colculos superiores. Na poro caudal, o tronco enceflico foi seccionado na

    altura da ponte (Figura 10).

  • 27

    Figura 10. Procedimento do corte do tronco enceflico para a representao do mesencfalo. Arquivo pessoal.

    3.4.1 Definio do plano anatmico ideal para a coleta dos neurnios

    Diferente do processamento enceflico abordado rotineiramente no

    protocolo do BEHGEEC, esta abordagem exigiu que o tronco enceflico de

    dois indivduos cognitivamente normais fossem fixados por imerso em

    formalina a 10% durante 4 semanas. Aps esse perodo, o material foi

    desidratado em uma srie graduada de solues de etanol, embebidos em

    celoidina usando um mtodo modificado, desenvolvido por Heinsen et al.

    (2000) e seccionados com uma espessura 350 m.

    Foram testados os planos horizontal e sagital. As lminas foram coradas

    com galocianina (colorao de Nissl) e montadas com resina como

    previamente descrito por Heinsen e colaboradores em 1991. O arranjo e a

    densidade de clulas por fatia foram comparados na substncia negra segundo

    o plano de corte em cada seco.

    3.4.2 Definio do mtodo de congelamento para MCL

    Mesencfalo

  • 28

    Para este tpico, mesencfalos de trs indivduos diferentes foram

    selecionados e seccionados sagitalmente. Para essa abordagem, ambos os

    lados foram utilizados (direito e esquerdo) diferindo do protocolo proposto pelo

    BEHGEEC, resultando em 6 amostras. Trs protocolos de com diferentes

    combinaes de passos de congelao foram testados: I) congelao em

    freezer a -20 C durante 30 min, seguido de armazenamento a -80C; II)

    congelamento e armazenamento a -80C; e III) congelamento por insero em

    nitrognio lquido, seguido de armazenamento -80C (Tabela 03). Os casos

    foram cortados e corados com violeta de cresila. Trs investigadores

    independentes e cegos para o mtodo de congelao analisaram

    qualitativamente as fatias com base na morfologia dos neurnios e a qualidade

    do tecido.

    Caso Lado Procedimento

    1 Esquerdo -20C/-80C

    Direito -80C

    2 Esquerdo -20C/-80C

    Direito Nitrognio lquido/-80C

    3 Esquerdo -80C

    Direito Nitrognio lquido /-80C

    Tabela 03. Viso geral dos procedimentos de congelao

    3.4.3 Definio da espessura do corte, colorao do tecido e

    microdisseco a laser

    O mesencfalo de um indivduo foi seccionado de acordo com o tpico

    3.4. O tecido foi fixado por meio de resina do tipo Tissue-Tek (O.C.T Optimal

    Cutting Temperature) em suporte de criostato. Posteriormente, foram

    realizadas seces em criostato (Modelo CM 1850 UV, Nuloch GmbH,

    Nuloch, Alemanha) a -20C de temperatura dentro da cmara (Figura 11).

  • 29

    Figura 11. Procedimento de corte no criostato. Arquivo pessoal.

    Antes do corte, o tecido foi mantido por 15 minutos dentro do criostato

    para estabilizar a temperatura. As seces foram colocadas em lminas com

    membrana prpria para MCL (PALM MembraneSlides 1 mm PEN, Carl Zeiss

    Microscopia GmbH, Gottingen, Alemanha). Para distinguir as clulas, os cortes

    foram corados com violeta de cresila a 1% de acordo com o protocolo

    estabelecido pela Carl Zeiss Microscopy GmbH (Carl Zeiss MicroImaging, LCM

    Protocols Protein Handling for LC/MS), com pequenas modificaes. O

    violeta de cresila um corante bsico, utilizado para evidenciar ncleos. Esta

    tcnica de colorao recomendada para microdisseco a laser destinada a

    subsequentes abordagens protemicas (Chaurand et al. 2004; Caldwell

    e Caprioli, 2005). Para preparar a soluo, 1 grama de violeta de cresila (Cresyl

    violet acetate, Sigma Life Sciences, St. Louis, EUA) foi diluda em 100 ml de

    etanol a 50% e agitada por 12 horas atravs de uma placa de agitao. No dia

    seguinte, a soluo foi filtrada para remover possveis partculas no

    dissolvidas. A soluo foi mantida a 4C at a sua utilizao. O resumo do

    protocolo de colorao pode ser consultado na Tabela 04.

  • 30

    Etapa Soluo Procedimento Durao Temperatura

    1. Etanol 70% Incubao 2 min 4C

    2. Violeta de Cresila

    a 1% Incubao 30 s TA

    3. --- Descartar excesso de

    corante

    4. Etanol 70% Mergulhar 3-5x 1 s 4C

    5. Etanol 100% Mergulhar 1x s 4C

    6. --- Secagem 1-2 min RT

    TA = Temperatura Ambiente Tabela 04. Procedimento de colorao com violeta de cresila

    Na sequncia foi realizada a MCL. O sistema de microdisseco

    a laser composto por (1) um microscpio invertido; (2) uma fonte de

    raios laser, acoplada a poro posterior do microscpio cujo feixe atravessa o

    microscpio atravs da objetiva e atinge a lmina; (3) um computador

    alimentado com um programa prprio, para controle das diversas funes do

    microscpio e do laser (Figura 12). O sistema informatizado permite controle

    direto de quase todas as atividades por computador, desde a observao dos

    cortes histolgicos at a microdisseco em si. O software tambm possibilita

    calcular as reas dos campos escolhidos.

    Figura 12. Imagem representativa do sistema PALM MicroBeam. Modificado de PALM MicroBeam Microdissection System to Research Platform The New Standard in Modern Life Science Research.

  • 31

    O pulso de laser transporta a amostra selecionada da lmina para um

    dispositivo de coleta (geralmente a tampa de um microtubo, que deve conter

    um adesivo ou estar preenchido com uma soluo).

    Nesta abordagem, ns testamos duas solues diferentes para a coleta

    do material: I) gua ultrapura (TKA-Gene PURE, Thermo Scientific, Baltimore,

    USA) e II) soluo a 50% de acetonitrila (Biosolve BV, Valkenswaard, Holanda)

    diluda em gua.

    A MCL foi realizada com o instrumento PALM MicroBeam (LCM PALM-

    System, Carl Zeiss Microscopy, GmbH). Para a padronizao, a tampa do

    microtubo foi preenchido com 50 l de uma das solues. Uma vez que o

    estabelecimento do protocolo incluiu a subsequente anlise por espectrometria

    de massas, logo aps de terminar a MCL, 2,5 l RapiGestSurfactante a 2%

    (m/v) (Waters GmbH, Milford, MA, EUA) foi cuidadosamente adicionada na

    tampa do tubo de modo que a concentrao final fosse de 0,1% (m/v) e que o

    processo de desnaturao das protenas fosse iniciada. O tubo foi fechado e

    armazenado de cabea para baixo a -80C.

    Durante o procedimento de microdisseco se no fosse possvel a

    coleta de toda a amostra desejada em uma nica lmina a lmina seguinte

    tambm era utilizada com intuito de evitar a evaporao desnecessria da

    soluo presente na tampa do tubo.

    Foram testadas 4 espessuras para o isolamento dos neurnios e regies

    da SN: 5 m; 10 m; 20 m e 30 m. A seleo da espessura ideal foi baseada

    na capacidade de catapultar a regio/clulas e na capacidade de estabelecer

    os parmetros do laser necessrios para um processo de catapultagem eficaz

    dentro de um curto espao de tempo.

    3.5 Otimizao do protocolo de preparao das amostras para

    espectrometria de massas

    3.5.1 Preparao e digesto das amostras para anlise por

    espectrometria de massas

  • 32

    A digesto necessria para que todas as partes da protena fiquem

    uniformemente expostas dissociao e ionizao, bem como, para aumentar

    a eficincia desses processos. As proteases normalmente utilizadas so:

    quimotripsina, pepsina, carboxipeptidases, aminopeptidases, tripsina. A tripsina

    por exemplo, cliva resduos de arginina ou lisina.

    Para a digesto das amostras, os tubos com o tecido coletado foram

    incubados ainda de cabea para baixo em banhos de ultrassons durante 1

    minuto, em seguida as amostras foram centrifugadas brevemente. Esta etapa

    foi repetida. Posteriormente, as amostras foram incubadas a 95 C durante 5

    min em um termomisturador e centrifugadas novamente. Um microlitro de 250

    mM de 1,4-ditiotreitol (DTT, AppliChem GmbH, Darmstadt, Alemanha) foi

    adicionado em cada amostra e essa mistura foi incubada durante 30 min a

    60C. Subsequentemente, as amostras foram novamente incubadas com 1,4 l

    de iodoacetamida a 0,55 M (AppliChem) em temperatura ambiente durante 30

    min em cmara escura. A digesto foi iniciada por adio de 1:4 de tripsina

    diluda em gua (Promega, Mannheim, Alemanha) durante 4 horas a 37C e

    paralisadas com adio de 3,25 l de cido trifluoactico (TFA) a 10% durante

    30 min a 37C. As amostras novamente foram centrifugadas durante 15 min a

    14.000 rpm a 4C. O sobrenadante resultante foi transferido para uma nova

    tampa e seco com auxlio do SpeedDry (RVC 2-25 CDplus, Martin Christ

    Gefriertrocknungsanlagen GmbH, Osterode, Alemanha). Finalmente, 30 l de

    TFA a 0,1% foram adicionados a cada amostra.

    3.5.2 Determinao da concentrao de protena, com a anlise de

    aminocidos

    Depois da digesto da amostra, as concentraes de protena foram

    determinadas por anlise de aminocidos, como descrito por Plum et al.

    (2013). Para este processo, 5 l de cada amostra foi completamente seco em

  • 33

    um tubo de vidro. Em seguida, as amostras foram dissolvidas pela adio de

    10 l de de cido clordrico (HCl) a 20 mM. A anlise de aminocidos foi

    realizada atravs de HPLC. De acordo com as instrues do fabricante,

    utilizando o HPLC Acquity e AccQ-Tag (Waters GmbH). Para a derivao e

    para permitir a converso de aminas primrias e secundrias em derivados

    estveis, as amostras foram incubadas com 10 l de AccQ-Tag e 30 l

    norvalina padro (concentrao final: 10 pmol/l) durante 10 min. Derivados de

    aminocidos foram separados sobre uma coluna AccQ-Tag ultra RP (Reversed

    Phase) e detectado pelo Acquity UPLC-TUV (Ultra Performance Liquid

    Chromatography - Tunable UV Detector) (Waters GmbH). Os aminocidos

    foram quantificados utilizando padres de aminocidos 10 pmol/l.

    3.5.3 Anlise por espectrometria de massas

    A anlise por Liquid Chromatography - Mass Spectrometry/Mass

    Spectrometry (LC-MS/MS) foi realizada utilizando o sistema UltiMate 3000

    RSLC nano LC (Dionex, Idstein, Germany) acoplado ao sistema Q Exactive

    (Thermo Fisher Scientific, Bremen, Alemanha). O carregamento da amostra na

    coluna (100 m 2 cm, tamanho de partcula 5 m, tamanho do poro 100 ,

    C18, Thermo Scientific) foi realizada automaticamente a uma vazo de 30

    l/min a 60C com TFA a 0,1%). A ligao entre o sistema de HPLC e Q

    Exactive realizada online, e a ionizao foi realizada por electrospray. A

    tenso de vaporizao dos ons foi ajustada para 1,600 V (+) e a temperatura

    do capilar para 250C. O alcance de leitura foi definido como 350-1400 m/z

    para o modo de leitura completa, e para as verificaes do tipo SIM (Selected-

    Ion Monitoring), uma resoluo de 70.000 (a 200 m/z) foi criado.

    Os fragmentos para anlise de MS/MS foram gerados utilizando a

    dissociao induzida por coliso de alta energia (High-Energy Collision-Induced

    Dissociation - HCD). Para a dissociao dos ons, uma energia de coliso

    normalizada (Normalized Collision Energy - NCE) foi feita a 27%, a seguinte

    anlise dos fragmentos foi realizada em um analisador do tipo Orbitrap.

  • 34

    Os dados primrios resultantes da anlise LC-MS/MS foram

    interpretados usando Proteome Discoverer (verso 1.4.0.288), com base no

    banco de dados UniProt (UniProt/SwissProt-Release 2013_05 of 01.05.2013;

    541,561 (with decoys) (http://www.uniprot.org)) como referncias de

    sequncias de protenas. A taxonomia foi definida como homo sapiens. O

    banco de dados utilizado foi randomizado a fim de identificar o nvel de falso

    positivo, ou, o conhecido, False Discovery Rate (FDR) foi ajustado para 0,01%.

    Alm disso, as seguintes modificaes dinmicas foram assumidas: oxidao e

    carbamidometil. Os arquivos em formato MGF resultantes foram analisados

    com software Ingenuity Pathway Analysis (IPA; verso 18488943)

    (http://www.ingenuity.com/products/ipa), utilizando a ferramenta de anlise de

    ncleo.

    3.6 Isolamento das amostras atravs da tcnica de microdisseco a

    laser

    Neste tpico, o tronco enceflico de um indivduo foi selecionado. A

    regio toda da substncia negra pars compacta do hemitronco esquerdo foi

    isolada. No hemitronco direito, apenas neurnios da substncia negra pars

    compacta foram isolados (vide figura 13 para exemplo do isolamento da regio

    (A) e apenas de neurnios (B)).

  • 35

    Figura 13. Seleo da rea para realizar a MCL.

    O isolamento de ambos foi realizado seguindo os melhores resultados

    do protocolo de MCL, descrito nos itens: 3.4.2 e 3.4.3. As anlises protemicas

    foram realizadas tambm de acordo com o protocolo mais adequado,

    apresentado na sesso: 3.5.

  • 36

    4. RESULTADOS

  • 37

    4.1 Protocolo para a realizao da tcnica de MCL

    4.1.1 Definio do plano ideal para a MCL da substncia negra

    Fundamentado na neuroanatomia da regio analisada, o plano sagital foi

    o escolhido, por propiciar o reconhecimento mais fcil da camada da pars

    compacta e dos neurnios. Alm disso, as fibras neuronais se encontram

    dispostas de maneira que contribuem com o reconhecimento dos neurnios

    (Figura 14).

    Figura 14. Diferena neuroanatmica dos neurnios da substncia negra visualizados atravs de (A) plano horizontal (B) plano sagital. Magnitude: 20x. Cedido por Helmut Heinsen.

    4.1.2 Mtodo de congelamento para MCL

    A anlise qualitativa das lminas demostrou que h maior preservao,

    integridade e melhor qualidade do material nas amostras congelados

    primeiramente em nitrognio lquido e em seguida armazenadas em freezer -

    80C. As fotos das lminas analisadas esto apresentadas na Figura 15.

  • 38

    Figura 15. Comparao da otimizao do procedimento de congelamento para MCL. Na figura A o tecido foi congelado em freezer -20C e armazenado a -80C. Figura B o tecido foi congelado diretamente a -80C. Na figura C o tecido foi congelado por imerso em nitrognio lquido e armazenado em -80C. Arquivo pessoal

  • 39

    4.1.3 Espessura do corte para MCL

    Ensaios de quatro espessuras diferentes (5 m, 10 m, 20 m e 30 m)

    revelaram que a preciso de corte a laser diminui com o aumento da

    espessura. Ns utilizamos 5-10 m para isolar apenas neurnios e 10-20 m

    para dissecar regies da substncia negra. Essas definies possibilitaram

    melhor delimitao e exigiram apenas um nico tiro de laser para rea

    microdissecada ser ejetada (Figura 16).

    Figura 16. Otimizao da espessura ideal para o isolamento de neurnios da substncia negra. Quatro espessuras diferentes foram testadas: 5 m (A), de 10 m (B), 20 m (C) e 30 m (D). Arquivo pessoal.

    4.1.4 Colorao do tecido

  • 40

    A utilizao do violeta de cresila como corante minimizou a colorao de

    fundo, proporcionou que as clulas fossem facilmente reconhecidas e no

    interferiu nas anlises protemicas.

    4.2 Otimizao do protocolo de preparao das amostras para

    espectrometria de massas

    4.2.1 Otimizao da soluo de coleta das amostras microdissecadas

    As clulas para anlises protemicas devem ser isoladas em soluo

    otimizada. Foram testadas duas solues diferentes (gua e 50% de

    acetonitrila) utilizando toda regio da substncia negra pars compacta. A

    anlise por espectrometria de massa revelou quantidades iguais de protenas

    identificadas, aps isolamento em gua ou acetonitrila. Por no observamos

    diferenas relevantes, a gua foi soluo de coleta selecionada para realizar

    a MCL pela facilidade de utilizao.

    4.2.2 Ajustes na MCL para anlises por espectrometria de massas

    Avaliamos a rea que deve ser isolada para uma adequada anlise por

    espectrometria de massas. A rea necessria depende diretamente do tipo de

    tecido e da espessura do mesmo. Pelo menos, 100ng de protenas devem ser

    coletados para uma anlise eficaz por espectrometria de massas. Assim,

    verificamos que, 25.000.000 de m2 de rea foi necessrio para analisar toda a

    regio da substncia negra em fatias cortadas a 20m de espessura. Em

    relao ao isolamento de apenas neurnios, um total de aproximadamente

    2.500 neurnios (1.500.000 m2) foram isolados cortados a 10 m de

    espessura.

  • 41

    4.2.3 Preparao das amostras e anlise por espectrometria de

    massas

    Neste trabalho, um protocolo padro de digesto com tripsina foi

    realizado para estudar a substncia negra. Foram analisados os nmeros de

    protenas identificadas, as suas localizaes e os tipos. Utilizando este

    protocolo foi possvel identificar 1.144 protenas da substncia negra.

    Analisando a regio toda da substncia negra pars compacta a maior

    parte das protenas estavam localizadas no citoplasma (66%). As protenas que

    foram associadas com a membrana plasmtica somaram 15% do total dos

    grupos de protenas identificadas. Tambm foi avaliada a distribuio dos tipos

    de protenas. No total, 13% das protenas foram identificadas como

    transportadoras (11%) e como protenas de canal inico (2%).

    Em relao s anlises de apenas neurnios encontramos padro

    semelhante de distribuio. Do total de 303 protenas identificadas, 71%

    estavam localizadas no citoplasma. Com relao s protenas associadas com

    a membrana plasmtica, o resultado foi de 14%. No total, 12% foram

    associadas a protenas transportadoras e 1% a protenas de canal, compondo

    13% das protenas identificadas. Estes resultados indicam que o protocolo de

    digesto com tripsina pode ser utilizado para investigaes protemicas do

    encfalo humano. Na Figura 17, os resultados desta anlise esto resumidos,

    de modo proporcionar uma viso do proteoma da substncia negra.

  • 42

    Figura 17. Anlise por espectrometria de massas da substncia negra. Um total de 1.144 protenas foram identificadas em todo o tecido da substncia negra (parte esquerda da figura), na parte superior da figura as anlises de acordo com a sua localizao e tipo (parte inferior da figura). Arquivo pessoal.

  • 43

    5. DISCUSSO

  • 44

    Neste trabalho, descrevemos e validamos uma abordagem para estudar

    populaes de neurnios da substncia negra utilizando a tcnica de

    microdisseco e captura a laser. Esta abordagem foi eficaz para aplicao

    protemica e embora nosso enfoque tenha compreendido apenas os neurnios

    com neuromelanina da substncia negra de humanos, este protocolo pode ser

    adequado para outros tipos de clulas em seres humanos, bem como em

    modelos animais.

    A combinao de tcnicas que permitem a disseco precisa de clulas

    individuais de um determinado tecido e posterior anlise molecular de grande

    interesse na rea cientifica, pois permite uma compreenso mais profunda

    sobre os sistemas biolgicos, bem como os mecanismos que desencadeiam

    doenas. Em nosso meio sua contribuio promissora, pois pode colaborar

    de forma relevante com entendimento do tecido cerebral, das doenas

    relacionadas ao envelhecimento, sobretudo as doenas neurodegenerativas,

    incluindo a doena de Parkinson.

    Mudanas nas populaes neuronais especficas so comumente

    mascarados em anlises globais, onde os encfalos inteiros ou partes dele ao

    invs de grupos de clulas especficas so homogeneizados para posteriores

    anlises. O mesmo ocorre em outros rgos. Em 2015, Datta e colaboradores

    exemplificaram que micitos e fibroblastos possuem respostas diferentes

    diante ao infarto do miocrdio, portanto avaliaes coletivas destes tipos

    celulares podem no colaborar com a compreenso da doena.

    Na pesquisa biomdica, muitas estratgias surgiram e tm sido

    aplicadas, visando entender o que fisiolgico, patolgico e o limite entre

    ambos. Entre estas tcnicas, se destaca a microdisseco e captura a laser,

    desenvolvida em 1996 e que permite o isolamento de clulas especficas

    dentro de um tecido (Emmert-Buck et al., 1996). Em combinao com mtodos

    que permitem a anlise de pequenos volumes de amostras, novos insights

    sobre cascatas patolgicas, opes de terapia, neuroproteo e biomarcadores

    pr-clnicos podem se tornar possveis. No entanto, a combinao destas

    tcnicas recentes apresentam limitaes, dependendo dos objetivos do estudo.

  • 45

    No presente estudo, ao focar em neurnios da substncia negra de

    idosos cognitivamente e neuropatologicamente normais, nosso objetivo foi

    superar alguns obstculos tcnicos e adequar o protocolo de modo que ele

    possa ser usado em outras abordagens.

    5.1 Plano anatmico ideal para a MCL da substncia negra

    Em 1865, o psiquiatra e neuroanatomista francs Jules-Bernard Luys,

    contribuiu significativamente com o entendimento da anatomia do crebro

    humano. Em seu livro, Luys desvendou a organizao celular de vrios

    componentes dos ncleos da base e apresentou as primeiras imagens dos

    neurnios da substncia negra. Ele tambm observou que os neurnios da

    substncia negra eram intensamente corados porque continham pigmentos

    escuros (Luys, 18651 apud Parent e Parent, 2010). Aps o trabalho pioneiro de

    Luys, outros pesquisadores forneceram descries detalhadas sobre a

    substncia negra humana. Em 1910, Torata Sano subdividiu a substncia

    negra em pars compacta, no qual abrigava uma populao de neurnios

    densamente pigmentados, e pars reticulata, que continha um nmero menor de

    neurnios pigmentados (Sano, 19102 apud Parent e Parent, 2010).

    Desde ento, diversos autores tem caracterizado a substncia negra, as

    definies e terminologias que incluem divises e sub-regies variam de autor

    para autor (Braak e Braak, 1986; Fearnley e Lees, 1991; Gibb e Lees, 1991;

    van Domburg e ten Donkelaar, 1991; McRitchie et al., 1995; McRitchie et al.,

    1996; Damier et al., 1999a;).

    No entanto, at o momento, na literatura no h um consenso sobre a

    organizao interna da substncia negra humana, h falta de dados normativos

    1 Luys JB. Recherches sur le systme nerveux crbro-spinal text. Baillire. 1865.

    2 Sano D. Beitrag zur vergleichenden Anatomie der Substantia nigra, des Corpus Luysii und der Zona incerta.(Fortsetzung). European Neurology.1910;27(3);274-283.

  • 46

    validados especialmente para os indivduos mais idosos. Por esta razo, ns

    utilizamos o mtodo de incluso em celoidina (Cabello et al., 2002) para

    analisar a morfologia e determinar o melhor plano para a coleta dos neurnios.

    A tcnica histolgica foi escolhida por ainda ser considerada o padro-

    ouro para a descrio precisa da neuroanatomia e para a caracterizao do

    tecido cerebral (Dauguet et al., 2007).

    5.2 Processo de congelamento para MCL

    A microdisseco e captura a laser revolucionou a anlise molecular de

    tecidos complexos, porque combina a preciso topogrfica da microscopia com

    o poder da genmica, protemica, entre outros. No entanto, o sucesso das

    anlises moleculares ainda depende do desenho experimental e exige a

    compreenso de cada etapa tcnica envolvida na preparao das amostras.

    Ao realizar buscas de dados literrios, notrio que tecidos embebidos

    em parafina e tecidos congelados so os mtodos de preparo mais comumente

    utilizados para realizar a MCL. Na neurocincia, ambos so recursos

    inestimveis para estudos moleculares das doenas que afetam o sistema

    nervoso central, especialmente os distrbios neurodegenerativos (Wang et al.,

    2013).

    Em nosso trabalho, optamos por realizar anlises protemicas utilizando

    tecido fresco congelado, fundamentados pelo fato de que, o tecido fresco

    preserva a integridade do RNA e protenas (Goldsworthy et al., 1999) e

    amostras de tecidos congelados so considerados padro-ouro para anlises

    moleculares (Perlmutter et al., 2004) e imperioso para anlises protemicas.

    Wang e colaboradores, em 2013, identificaram que o mtodo ideal para

    extrao de DNA do tecido enceflico humano obtido a partir do tecido

    congelado. Eles descreveram que embora o DNA possa ser extrado de ambas

    amostras, eles alcanaram 100% na taxa de sucesso de extrao de DNA do

    tecido congelado, comparado a 76% em tecido parafinizado.

  • 47

    Atravs da tcnica de cromatografia lquida, Scicchitano e colegas

    (2009) compararam amostras embebidas em parafina e amostras congeladas e

    verificaram que o rendimento de protenas foi menor nas amostras fixadas em

    formalina. Eles ainda ressaltaram que so necessrios mtodos fiveis para a

    obteno de perfis protemicos em amostras fixadas e embebidas em parafina,

    j que as anlises protemicas de suas amostras foram confundidas, induzidas

    pelo processo conhecido como cross-linking ou ligaes cruzadas.

    Alm disso, a parafina no tem se mostrado compatvel com LC-MS/MS

    porque requer um passo de desparafinizao, resultando na perda de protenas

    (Hood et al., 2005; Hood et al., 2006).

    Ainda buscando o mtodo ideal para preservar a integridade e a

    morfologia do tecido em estudo, e para minimizar possveis erros em nossas

    anlises, testamos diferentes protocolos de congelamento. De acordo com os

    resultados obtidos neste trabalho, podemos afirmar que o melhor mtodo de

    congelamento a imerso do tecido em nitrognio lquido e o imediato

    armazenamento em freezer a -80C. A congelao lenta promove a formao

    de cristais de gelo no interior do tecido, que se expande e promove o

    rompimento das clulas e tecidos. Destacamos a importncia de congelar o

    tecido rapidamente evitando assim a cristalizao da gua. A utilizao de

    nitrognio lquido permite que a gua se transforme em estado vtreo, que no

    se expande.

    Em relao conservao do material, Ferrer et al. (2007) e

    Kretzschmar (2008) relataram que amostras armazenadas em freezer a -80C

    permanecem adequados para estudos moleculares por anos.

    5.3 Espessura do corte para MCL

    A MCL um processo que depende de vrios parmetros, cada um dos

    quais deve ser otimizado para cada tipo de amostra. As configuraes so

    influenciados pelo tipo de tecido a ser isolado. Portanto, essencial investigar

    essas configuraes para cada coleta.

  • 48

    Para avaliar a capacidade de preciso do corte a laser, foram analisados

    neste trabalho diferentes espessuras de corte. Muitos autores (Kerk, 2003;

    Rodriguez et al., 2008) defendem que esta determinao um passo crucial

    para estudos utilizando MCL. Em particular, a espessura de corte essencial

    para o bom processamento da microdisseco a laser.

    Nossos achados revelaram que a preciso do corte a laser diminui com

    o aumento da espessura e esses resultados vo de acordo com os de Curran

    et al., 2000; Wang et al., 2009; De Carlo et al., 2011. Estes autores

    descreveram que so necessrias energias mais elevadas para seces de 20

    m de espessura quando comparados a seces de 10 m. Alm disso, em

    cortes mais espessos so necessrias duas ou trs emisses de laser para

    cortar e catapultar o tecido.

    Para Wang et al. (2009) a preciso do corte de 5 m e 10 m de

    espessura possibilitou que at mesmo clulas muito pequenas fossem

    isoladas, sem danificar o tecido adjacente.

    Embora nosso achado de realizar os cortes a 10 m concorde com

    outros trabalhos (Gyrkey et al., 1967; Dembinsky et al., 2007; Reidel et al.,

    2011) muitos estudos (Mikulowska-Mennis et al., 2002; Hommel et al., 2003;

    Park e Cunningham, 2007; Stephenson et al., 2007; St Martin et al., 2007;

    Grndemann et al., 2008) so realizados utilizando diferentes espessuras,

    indicando que, para diferentes objetivos e tecidos, diferentes espessuras

    devem ser testadas.

    5.4 Colorao para MCL

    Desde a inveno original da MCL na dcada de 1990, esta tecnologia

    continua a avanar e evoluiu consideravelmente em vrios aspectos. (Tangrea

    et al., 2011; Jensen, 2013). No entanto, a resoluo ptica ainda limitada.

    Se tem demonstrado na literatura, um grande nmero de procedimentos

    de colorao para a MCL, entretanto, o uso lamnulas incompatvel (Fend et

    al., 2000), pois impossibilita a microdisseco e captura das amostras. A

  • 49

    ausncia de lamnulas induz uma cor mais escura do tecido e produz uma

    imagem pouco ntida da amostra. Para obter um melhor background, ou seja,

    um fundo que no interfira na identificao das clulas, a amostra pode ser

    incubada com uma concentrao mais elevada de soluo de colorao, no

    entanto, este procedimento pode afetar negativamente a anlise protemica

    (Gutstein e Morris 2007).

    A colorao um mtodo muito til para reconhecer detalhes

    histolgicos, distinguir diferentes padres de tecidos/clulas e tem importante

    papel nas experincias com a tcnica de MCL (Fend et al., 2000; Wang et al.,

    2006). No entanto, a especificidade do processo de colorao e o seu efeito

    sobre a amostra, devem ser considerados (Standaert, 2005). A literatura

    contm inmeros diferentes protocolos de colorao adequados para a tcnica

    de MCL. Coloraes comuns incluem: Hematoxilina e Eosina (HE) (De Souza

    et al., 2004; Dos Santos et al., 2007.); azul de toluidina (Lawrie et al., 2001;

    Kirana et al., 2009; Sridharan e Shankar 2012; Kulkarni et al., 2013) e violeta

    de cresila (Aaltonen et al., 2011; Boone et al., 2013). A tcnica de imuno-

    histoqumica tambm utilizada para realizar a MCL (Fend et al., 1999) e

    permite distinguir tipos de clulas individuais, como neurnios (Pietersen et al.,

    2009).

    A escolha do procedimento de colorao depende no s da amostra,

    mas tambm, dos procedimentos adicionais de processamento da amostra e

    dos objetivos do estudo. Tcnicas de colorao tm um impacto significativo

    sobre as propriedades do tecido e pode influenciar amplamente a anlise do

    proteoma. Portanto, em nosso estudo era essencial que a tcnica de colorao

    no interfirisse com as protenas, que fosse compatvel com MCL e com

    anlise por espectrometria de massas. Por exemplo, investigaes anteriores

    demonstraram que a colorao de HE no compatvel com a anlise de

    protemica (Ahram et al.