reformador setembro/2005 (revista espírita)

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  • 7/31/2019 Reformador setembro/2005 (revista esprita)

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    R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t oAno 123 / Setembro, 2005 / No 2.118

    Fundada em21 de janeiro de 1883

    Fundador: Augusto Elias da SilvaISSN 1413-1749

    Propriedade e orientao daFederao Esprita Brasileira

    Direo e RedaoAv. L-2 Norte Q. 603 Conj. F (SGAN)

    70830-030 Braslia (DF)Tel.: (61)3321-1767; Fax: (61) 3322-0523

    Home page:http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

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    Para o BrasilAssinatura anual R$ 39,00Nmero avulso R$ 5,00Para o ExteriorAssinatura anual US$ 35,00

    Diretor Nestor Joo Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor Altivo Ferreira; Redatores Affonso BorgesGallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira SoThiago; Secretria Snia Regina Ferreira Zaghetto;Gerente Amaury Alves da Silva; REFORMADOR:

    Registro de Publicao no

    121.P.209/73 (DCDPdo Departamento de Polcia Federal do Ministrio daJustia), CNPJ 33.644.857/0002-84 I. E. 81.600.503.

    Departamento Editorial e GrficoRua Souza Valente, 17

    20941-040 Rio de Janeiro (RJ) BrasilTel.: (21) 2187-8282; Fax: (21) 2187-8298

    E-mail: [email protected] de Reformador:Tel.: (21) 2187-8264 / 8274

    E-mail: [email protected]

    Capa: Luis Hu Rivas

    Tema da Capa: EVOLUO. Atravs das mltiplasexistncias, o Esprito, criado imperfeito, percorretoda a escala evolutiva, at chegar perfeio.

    EDITORIAL 4Evoluo

    ENTREVISTA: APARECIDO BELVEDERE 13Cairbar Schutel: O Bandeirante do Espiritismo

    PRESENA DE CHICOXAVIER 15Chico Xavier e a Flor de Manac Weimar Muniz de Oliveira

    ESFLORANDO O EVANGELHO 21No te afastes Emmanuel

    A FE B E O ESPERANTO 29Conversando com Jos PassiniDoutrina, Poesia, Esperanto... Affonso Soares 30

    FEB/CFN COMISSES REGIONAIS 34Reunio da Comisso Regional Norte

    SEARAESPRITA 42

    Passado, presente, futuro Juvanir Borges de Souza 5Deveres austeros Joanna de ngelis 8

    Adequao dos estatutos das Instituies Espritas ao 9

    Cdigo CivilTemor da morte Jorge Leite de Oliveira 10De quem o rosto Richard Simonetti 12Servir sempre Casimiro Cunha 14

    As Trs Revelaes Mrio Frigri 16Ser que somos normais? Carlos Abranches 17Reencarnaes Andr Luiz 18Ouvir com amor Aylton Paiva 19Riqueza material: grande desafio Humanidade 22

    Anselmo Ferreira VasconcelosCurso internacional capacitou trabalhadores 24

    espritas de 23 pasesPeixotinho centenrio Humberto Vasconcelos 26Orao Albino Teixeira 28Retratando o pioneiro Henri Joseph De Turck 31

    Eduardo Carvalho MonteiroConforme a Semeadura Paulo Nunes Batista 33

    Rogativa Bezerra de Menezes 38Repensando Kardec Da Lei de Liberdade 2a Parte 39

    Inaldo Lacerda Lima

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    Estudando a questo relacionada com o constante aprimoramento dos homens e a conseqente evo-

    luo da Humanidade, Allan Kardec estabelece com os Espritos Superiores o seguinte dilogo, re-gistrado em O Livro dos Espritos, questo 781: Pergunta Tem o homem o poder de paralisar amarcha do progresso? Resposta: No, mas tem, s vezes, o de embara-la.P. Que se deve pensar dosque tentam deter a marcha do progresso e fazer que a Humanidade retrograde? R. Pobres seres, queDeus castigar! Sero levados de roldo pela torrente que procuram deter.

    Em face destas respostas, Kardec ainda comenta: Sendo o progresso uma condio da natureza hu-mana, no est no poder do homem opor-se-lhe. umafora viva, cuja ao pode ser retardada, pormno anulada (...).

    No momento em que nos encontramos, de tantas manifestaes de violncia e de leviandade nosmais variados aspectos, divulgadas em profuso, e em que muitos se deixam abater pela desiluso e pelo

    pessimismo, justo lembrarmo-nos da Bondade Divina que, tendo nos criado imortais e sujeitos Leido Progresso, oferece-nos a oportunidade de viver essa experincia como elemento indispensvel de apren-dizado, para a implantao consciente e voluntria em ns mesmos dos valores necessrios ascenso es-piritual, tanto intelectual quanto moral, compatvel com o respeito Lei que norteia a nossa vida.

    , portanto, uma fase transitria, um momento que, dependendo de nossas decises e do uso quedele fizermos, poder ensejar o abandono de um crculo vicioso de ignorncia e maldade que h muitotemos cultivado, abrindo caminhos novos que nos proporcionaro uma vivncia mais alegre e em pazcom a nossa conscincia, se optarmos pela prtica da Lei de Amor ensinada no Evangelho de Jesus. Taisdecises, contudo, podero manter-nos nesse mesmo crculo vicioso, com as conseqentes dores e sofri-mentos j por ns bastante conhecidos, se decidirmos continuar com as constantes queixas das Leis da

    Natureza, com o cultivo do desamor, das lamentaes e da omisso diante das inmeras oportunidadesde praticar o bem.Estamos resgatando, hoje, os resultados decorrentes das nossas aes e decises do passado, boas e

    ms, e estamos, ao mesmo tempo, construindo o nosso futuro, tambm com as aes e decises de hoje,boas e ms, de respeito ou de desrespeito s Leis que emanam de Deus, que nos ensejaro dias felizes ouinfelizes no porvir.

    No sem razo que Jesus, na sua bondade, nos faz um convite permanente, procurando afastar-nosda maldade e da ignorncia que nos envolvem: Vinde a mim, todos vs que estais aflitos e sobrecarre-gados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vs o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde decorao e achareis repouso para vossas almas, pois suave o meu jugo e leve o meu fardo.(Mateus, 11:28-30.)

    EditorialEvoluo

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    Todos os seres da Criao Divi-na tiveram um princpio, quese perde na eternidade.Somente o Criador existe des-

    de sempre, segundo os ensinos daDoutrina Esprita.

    O problema das origens esca-pa aos conhecimentos dos homense os prprios Espritos Superioresevitaram abordar o assunto, natu-ralmente em funo do atual est-gio evolutivo em que se encontra aHumanidade.

    Pela Revelao Esprita sabe-seque o Esprito humano se originouao receber a individualidade dota-da de inteligncia, de vontade e delivre-arbtrio, que lhe cumpre de-senvolver e aperfeioar sempre, embusca da perfeio. a lei do pro-gresso, incidindo sobre todos os se-res espirituais.

    Antes desse marco inicial, sabe--se que j existia o princpio espiri-

    tual conjugado, ou no, matria,nos diversos reinos da natureza.Portanto, nosso passado perde-

    -se no tempo.Dentro da lei dos renascimen-

    tos sucessivos em mundos mate-riais, como a Terra, alguns Espritostomam conhecimento de vidas an-teriores, no como privilgio, maspor razes que justificam a exceoao esquecimento do passado, im-

    posto a todos os habitantes demundos inferiores, pela Lei Divina,para que no haja prejuzos oriun-dos de recordaes do pretrito.

    O tempo presente a atualida-de para todos.

    Distingue-se pelos aconteci-mentos do momento, da hora, dodia, ou de qualquer lapso, incluin-do-se a existncia atual. Rigorosa-mente, ao nos referirmos ao presen-te, necessitamos delimit-lo, demar-c-lo, circunscrev-lo, para que nose confunda com o que j passouh pouco.

    O momento presente, a vidaatual, so de extrema importnciapara o ser humano, j que, dos pen-

    samentos, das palavras, das aes,do procedimento de cada um resul-tam conseqncias que afetam seufuturo, diminuindo ou aumentan-do dbitos j existentes perante asleis divinas.

    O presente uma das fases davida, que resulta do que j passoue influi no que ainda vir. , aomesmo tempo, conseqncia dopassado e determinante para o fu-

    turo.O futuro o tempo que h devir, marcado pelas conseqnciasdo presente e do passado, na vidados seres espirituais.

    Com o conhecimento da Dou-trina dos Espritos sentimos a im-portncia que representa para cadaum o seu passado e sua vivnciaatual, ao lado das realizaes coleti-vas de que parte.

    Sabe o esprita que cada qualresponde pelo que fez no passado efaz na atualidade, seja no sentidodo bem ou do mal.

    O futuro da vida do Espritoest interligado s suas realizaespresentes e passadas, cujas conse-qncias se alinharo ao lado desuas novas iniciativas.

    Se no podemos modificar opassado, o presente e o futuro de-pendem do que somos, do quepensamos e do que fazemos.

    Da a importncia do conheci-mento da Doutrina Consoladora,que aclara a Mensagem do Cristo etraz novos esclarecimentos sobrea vida futura, no como hiptese,

    mas como certeza decorrente de re-velaes superiores para os novostempos.

    ...

    Para as religies e filosofias es-piritualistas a vida futura um fatosustentado por diferentes razes.

    Todas elas admitem a imorta-lidade, variando a concepo da

    forma como ocorre a continuidadeda vida.Diversificam-se as concepes

    relativas ao elemento imortal, a fi-nalidade a ser alcanada e a conser-vao ou no da individualidade.

    o que se observa nas concep-es das igrejas denominadas cris-ts, no Budismo, no Bramanismo,no Hindusmo, no Islamismo e nasdemais religies tradicionais.

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    Passado, presente, futuroJuvanir Borges de Souza

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    A idia da imortalidade fazparte tambm de diversas filosofias

    espiritualistas surgidas desde remo-tas eras.Em contraposio ao princpio

    da perenidade da vida do ser espiri-tual posicionam-se as filosofias ma-terialistas, presentes no seio da Hu-manidade em todas as fases hist-ricas.

    O fundamento principal domaterialismo est na existncia deum s elemento no Universo amatria.

    Negando a existncia do outroelemento da Criao o esprito ,procuram as correntes materialistasexplicar a vida e todos os fenme-nos ligados a ela de uma forma res-tritiva, incongruente e incompat-vel com a realidade.

    A inteligncia dos seres, seussentimentos, vontade e tudo o quese refere ao Esprito, alma, soatributos da matria orgnica, na

    concepo materialista.Nesse caso, morrendo e de-

    sagregando-se a matria constituti-va do corpo, nada mais resta senoa matria decomposta.

    O nadismo decorrente do ma-terialismo inconseqente, emboraconstituindo minoria na popula-o terrestre, no deixa de afetarconsidervel parcela da Humanida-de, com suas falsas teorias gerado-

    ras de princpios prejudiciais edu-cao individual e organizaosocial.

    Haja vista o ocorrido nas socie-dades humanas, com o aparecimen-to e propagao das idias materia-listas do sculoXIX, convertidas emfilosofias de vida e de organizaosocial o positivismo, o comunis-mo e o utilitarismo que ainda in-fluenciam pessoas e naes, com

    seus falsos princpios, em contrapo-sio com a realidade.

    de extraordinria importn-cia para a Humanidade a presenado Consolador, prometido por Je-sus, no mundo.

    Vindo justamente no sculodas luzes, quando se propagaramas filosofias materialistas e se ex-pandiram as cincias de forma im-pressionante, a Doutrina dos Esp-ritos o Consolador prometido representa uma luz perene noscaminhos da Humanidade, paraque ela no se perca em desvios eiluses.

    Respeitando o livre-arbtrio dohomem para se encaminhar deconformidade com sua vontade,seus esforos e conhecimentos, oConsolador vem demonstrar a con-tinuidade da vida, a vida futura,que no cessa com a morte do cor-po fsico.

    Contrapondo-se ao materialis-

    mo multifrio, oferecendo as com-provaes da continuidade da vida,o Consolador reafirma os ensina-mentos do Cristo quanto vida fu-tura, que Ele demonstrou com aRessurreio.

    Com os ensinos do Cristo e doConsolador, a vida futura do Esp-rito imortal fato demonstrado eno simples hiptese, vida que sedesdobra em mundos espirituais e

    mundos materiais, como a Terra,nos quais o renascimento do serespiritual ocorre muitas vezes, emcorpos materiais.

    A realidade das reencarnaessucessivas, comprovadas pela NovaRevelao, j era do conhecimentodos homens h milhares de anos,atravs das religies orientais.

    Mas foi a Doutrina Espritaque a explicitou, fundamentando-a

    na justia de Deus e como forma eprocesso para o progresso indivi-

    dual, na busca da perfeio.Como observa Allan Kardec,em comentrio questo 171 de OLivro dos Espritos:

    A doutrina da reencarnao,isto , a que consiste em admitirpara o Esprito muitas existnciassucessivas, a nica que correspon-de idia que formamos da justiade Deus para com os homens que seacham em condio moral inferior;a nica que pode explicar o futuroe firmar as nossas esperanas, poisque nos oferece os meios de resga-tarmos os nossos erros por novasprovaes. A razo no-la indica e osEspritos a ensinam.

    Embora a crena na imortali-dade seja antiqssima, referindo--se todas as religies vida futuracomo uma realidade, os homensno encaram esse fato comprova-do com a importncia que ele me-

    rece.A influncia da vida corprea

    sobre o Esprito imortal de talordem que o homem, embora acei-tando a verdade da vida futura, en-cara-a envolta em misticismo, sema segurana e a clareza que merecea questo, de extrema importnciana determinao do caminho a serseguido na fase existencial atual.

    Sendo a vida futura uma reali-

    dade para todo o gnero humano,para todos os Espritos encarnadosque deixam o envoltrio corporal, estranhvel que, aps milhares deanos de vivncia material, de voltas Esferas Espirituais e de novasreencarnaes, ainda no haja maiorpreocupao com o que sucederamanh, no retorno de cada um ptria espiritual.

    Se as cincias, sob a influncia

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    do materialismo, no se interessa-ram pelo esclarecimento de to im-

    portante questo; se as religies,embora admitindo a vida futura,no oferecem maiores esclarecimen-tos sobre como se desenvolve essavida, a Espiritualidade Superior,atravs da Nova Revelao, que sevai desdobrando continuamente,vem em socorro da Humanidade,esclarecendo o que a vida futura,seu relacionamento com o passadode cada um, a necessidade das reti-ficaes dos desvios e a presena dasleis divinas regendo a tudo, com ajustia perfeita e com o amor sobe-rano do Criador.

    Por essa razo, percebe-se a ex-trema importncia dos esclareci-mentos trazidos pela Espiritualida-de com o Consolador, para que oshomens possam compreender me-lhor o sentido da vida atual e da vi-da futura, interligadas ao passadode cada ser.

    Mas essa compreenso teminfluncia direta sobre os pensa-mentos e as aes de cada um,desde que haja a percepo dofuncionamento das leis naturaisou divinas, dando a cada um se-gundo suas obras, conforme en-sinou o Cristo.

    Se cada um responsvel porsuas aes, colhendo as conseqn-cias do que faz, no bem ou no mal,

    desaparece a iluso do perdo dospecados institudo pelas igrejas hsculos, j que o perdo verdadeiro,do Criador criatura, no exclui anecessidade da retificao do errocometido e do arrependimento sin-cero.

    A imperfeio dos homens, suaignorncia a respeito das leis divi-nas, os vcios a que se entregam,prejudicando uns aos outros, so

    caractersticos de um mundo deprovas e expiaes como o nosso,

    apesar do progresso realizado espe-cialmente no campo material.Se as imperfeies so as causas

    essenciais dos males que afetam aspopulaes dos mundos atrasados,como a Terra, o grande problema aser enfrentado o do combate per-manente a todas as inferioridadesmorais e intelectuais.

    Instruo em todos os nveis eeducao em sentido lato, eis asoluo adequada para todas asquestes que afetam a Humani-dade.

    O posicionamento das cinciasdentro de um Universo dual, cujoscomponentes essenciais so matriae esprito, necessita ajustar-se no co-nhecimento desses dois elementose no somente no de um deles, amatria.

    Por seu lado, as religies, ascrenas precisam ajustar-se s reali-

    dades, verdade, pela influnciaque exercem sobre os sentimentose sobre o procedimento de seusadeptos.

    A vida futura aguarda a todosns, Espritos bons, maus, indife-rentes, sensveis, amorosos e de-dicados aos seus semelhantes, oucapazes dos maiores crimes e tor-pezas.

    O Pai de todos ns, o Criador

    do Universo, ama a todos, sem ex-ceo de nenhum ser, mas sua Jus-tia indefectvel alcana tambm atodos, no com o objetivo de con-denar ou premiar, mas fazendo re-tornar a cada um as conseqnciasnaturais das aes praticadas.

    Suas Leis, cujo conhecimentoa Doutrina Consoladora proporcio-nou aos homens, precisam ser co-nhecidas e divulgadas para todos os

    povos e raas, j que do seu cum-primento depende o progresso e a

    felicidade dos indivduos e das co-letividades, inclusive a transforma-o do mundo de expiaes e pro-vas, em que vivemos, em mundoregenerado.

    Trabalhar pela divulgao dasleis divinas que regem a vida, mos-trar aos homens que elas tm apli-cao automtica pelo poder so-berano e amoroso de Deus, amisso mais urgente, honrosa e ne-cessria para todos os espritas epara todos aqueles que aspiram atransformao do nosso mundopara melhor.

    Ser essa misso uma utopia,uma aspirao inalcanvel?

    Muitos espritas, consideran-do que seu Movimento pequenoem todo o mundo, considerando adiversidade das religies e das fi-losofias, ao lado das cincias, quepouco conseguiram, apesar dos bi-

    lhes de seus seguidores, so pessi-mistas em suas aspiraes e espe-ranas.

    evidente que uma transfor-mao intelectual e sobretudo mo-ral de tal magnitude no ser nemrpida nem total.

    Mas no podemos descrer dopoder da Verdade.

    As leis do Amor, da Justia, doProgresso e todas as leis divinas re-

    veladas pela Doutrina dos Espritosso a garantia segura de que o nos-so mundo se transformar, num fu-turo ainda indefinido, e com ele al-canaro novo estgio de felicidadeseus habitantes atuais e futuros,porque essa a Lei Divina.

    Todos precisamos trabalhar vi-sando essa finalidade, optando sem-pre pelo Bem, em todas as circuns-tncias que a vida nos oferece.

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    A

    ntes que reencarnasses para aatual jornada evolutiva, refle-tiste demoradamente em tor-

    no da oportunidade feliz que te erafacultada. Como conseqncia, en-tendeste os benefcios que poderiasauferir caso firmasses um compro-misso austero com a conscincia.

    Os teus Guias espirituais apre-sentaram-te programas de reabilita-o dos erros pretritos, medianteas disciplinas morais, o estudo e otrabalho que te poderiam libertardas algemas escravizadoras dos v-

    cios e das paixes asselvajadas, econcordaste de boa mente.

    Discutiram contigo de formaque tivesses suficiente claridademental para aceitares ou no os de-veres carregados de responsabilida-de e lutas.

    Nada te ocultaram.Informaram-te que o retorno

    experincia carnal seria assinaladopor problemas que deixaste pelo ca-

    minho e por enfrentamentos quedeverias contornar, a fim de queno perdesses o precioso tempo emdiscusses inteis e defesas pessoaisinjustificveis.

    Esclareceram que muitos can-didatos reabilitao quando naneblina fsica, perdendo parte daslembranas, atemorizam-se e fo-gem, naufragando no desespero. Anica segurana est na deciso fir-

    me de fazer o melhor, suportandoos testemunhos com alegria e avan-ando sem olhar para a retaguarda.

    No entusiasmo natural que teempolgava, anuste em enfrentar assituaes penosas, mesmo que acusto de sacrifcios e de renncias.

    Por sua vez, eles compromete-ram-se a ajudar-te no desempenhodas tarefas abraadas.

    ...E mergulhaste na roupagemmaterial abenoado pela esperanae amparado pelo amor.

    O programa existencial cuida-dosamente elaborado proporcionouacontecimentos que direcionaramos teus passos para a f religiosa, pa-ra algumas dificuldades que funcio-naram como educadoras do teu

    processo evolutivo.Coincidnciase acasostrouxe-

    ram ao teu corao afetos generososque te refrigeram as horas ardentese adversrios vigorosos que passa-ram a assistir-te com flagelao nodia-a-dia da caminhada.

    Conseguiste o encontro ntimocom Jesus e te deixaste fascinar porEle e Sua doutrina.

    Firmaste um contrato ntimo

    com o Seu inefvel amor, dispostoa servi-lO na Sua seara e resolvestepor entregar as tuas foras juvenis etoda a existncia ao Seu servio.

    Tal compromisso torna-te mem-bro da Sua famlia e aqueles que Oacompanham, no mundo, por en-quanto, ainda no encontram com-preenso nem amizade.

    So marginalizados, desacredi-tados pelos prprios companheiros

    que ainda vivem em competiodoentia, longe da verdadeira frater-nidade.

    Desse modo, no te resta outraatitude seno a de prosseguir em j-bilos e com paz interior.

    ...

    No poucas vezes, os cardosdos caminhos difceis cravam-se nascarnesda tua alma, dilacerando-a.

    Noutras ocasies, o cido dasacusaes de muitos profitentes datua f queima-te os tecidos do co-rao.

    Porque te dedicas com intensafirmeza, acusam-te de exibicionista.

    Em face da tua perseverana

    profetizam para ti uma futura tor-menta.

    Desde que no recuas, s tidopor fantico.

    Como te renovas no trabalhoabraado, s considerado farsante...

    Tentas avanar integrrimo, to-davia ressumam do teu passado asheranas perniciosas de que aindano conseguiste libertao, afligin-do-te sem palavras.

    Quando vences uma luta, no-va batalha surge ameaadora, con-vidando-te ao prosseguimento sobvigilncia constante.

    Rondam-te os sentimentos ne-gativos, nalguns momentos o des-nimo, noutros o cansao e a amar-gura.

    O sol da alegria que te ilumi-nava antes o ntimo, nessas ocasiesem face das nuvens borrascosas

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    Deveres austeros

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    apresenta-se como crepsculo som-brio que te assusta.

    Sentes a necessidade de avan-ar, mas o cerco de Entidades per-versas em ambos os planos da Vidaprocuram cercear-te os movimen-tos.

    No descorooes, porm.Da mesma forma que essas

    conjunturas aflitivas se te apresen-tam, nunca deixaste de receber oapoio dos teus Benfeitores espiri-tuais que te auxiliam ternamente ete inspiram a melhor conduta a pre-servar.

    Nenhuma ascenso fcil.A queda sempre comum e

    quase natural, enquanto que o soer-guimento moral constitui um esfor-o que no pode ser desconside-rado.

    Porfia, pois, viajante querido,seguindo adiante, disposto e jovial,embora a chuva de doestos e as acu-saes que tombam sobre a tua ca-

    bea, tentando levar-te ao descoro-oamento do ideal.

    No renasceste para a colheitade alegrias e bnos imediatas,portanto, indevidas, mas para se-me-las com vistas ao teu futuro.

    Assim, no recalcitres, no quei-xes, no lamentes.

    Agradece a Deus a oportu-nidade e no te detenhas.

    Fita os altiplanos espirituais e

    continua pelas veredas difceis dasbaixadas. no vale que os rios alargam o

    leito rumando na direo dos ma-res e oceanos.

    Tambm a conquistars expe-rincias e sabedoria at o momentoem que alcanars o Divino Oceano.

    ...

    s o que almejas e coletas emesprito.

    Desse modo, o que digam de tino deve afligir-te.Por mais se solicite rvore

    frondosa que se enriquea de frutosfora da estao adequada, ela no oconseguir. De forma idntica, sefor amaldioada por isso, na quadraprpria ei-la rica de ddivas, espar-zindo abundncia.

    Jesus, acusado de charlatanis-mo, desde os primeiros dias da Suapregao, prosseguiu imbatvel ato fim.

    Dignificando os teus deveresausteros em relao ao trabalho,

    alegria de viver e irrestrita con-fiana em Deus, retornars felizaps a tarefa cumprida, como ven-cedor das prprias imperfeies que, em realidade, o que mais im-porta.

    Joanna de ngelis

    (Pgina psicografada pelo mdium Dival-do P. Franco, na sesso medinica da noi-te de 20 de junho de 2005, no Centro Es-prita Caminho da Redeno, em Sal-

    vador, Bahia.)

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    Adequao dos estatutos das InstituiesEspritas ao Cdigo Civil

    Anteriormente enquadradas no Cdigo Civil de 1916 como socie-dades civis sem fins lucrativos, as Instituies Espritas receberam a de-nominao de associaes pelo novo Cdigo Civil de 2002. A partir dapublicao da Lei 10.825, em dezembro de 2003, essas instituies pas-saram a ter natureza jurdica de organizao religiosa, classificao mais

    abrangente e adequada com os objetivos e as finalidades da Casa Esp-rita.De acordo com a Lei 10.825/2003, o artigo 44 do Cdigo Civil

    incluiu como pessoa jurdica de direito privado as organizaes religio-sas. Assim, elas receberam liberdade de criao, organizao, estrutura-o interna e funcionamento.

    A partir dessa nova Lei, no necessrio que os Centros Espritasque ainda no alteraram seus estatutos para se enquadrarem comoassociaes adotem tal providncia. Da mesma forma, a Instituio quej alterou sua denominao para associao no est obrigada a modi-fic-la para organizao religiosa.

    Entretanto, caso o Centro Esprita continue adotando a natureza

    de sociedade civil sem fins lucrativos, conforme previa o Cdigo Civilde 1916, ou associao civil, pelo Cdigo Civil de 2002, obrigatriaa adaptao de seu estatuto s regras dispostas nos artigos 53 a 61 doCdigo Civil de 2002. As alteraes devem ser feitas at o dia 10 de ja-neiro de 2007, conforme determina o artigo 2.031 do Cdigo Civil,com redao dada pela Lei 11.127, de 2005.

    Informaes adicionais so encontradas no siteda FEB na Internet,no endereo www.febnet.org. br, no linkAssessoria Jurdica, e consul-tas podem ser efetuadas pelo [email protected] ou [email protected]

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    Objetivando esclarecer-nos so-bre as causas do temor damorte e como nos livrar des-

    se receio, Allan Kardec, na RevistaEsprita, de 1865, traduzida porEvandro Noleto Bezerra e editadapela Federao Esprita Brasileira,explica que, qualquer que seja suacondio social, o homem cr, in-tuitivamente, na vida aps a morte.Entretanto, indaga, como ento po-de haver tamanho apego matriae medo da morte.

    Isso ocorre, esclarece, em virtu-de do instinto de conservao dosseres vivos, mas tambm porque,sem esse instinto, o homem pode-ria descuidar-se das obrigaes ter-

    renas e mesmo desertar da vida fsi-ca antes do tempo.

    medida que o homem en-tende melhor a vida no Alm vaideixando de temer a morte, mastambm passa a melhor entendersuas necessidades evolutivas noMundo. Com isso, espera o fim desua vida com mais confiana, resig-nao e coragem. (...) A certeza davida futura d-lhe outro curso s

    idias, outro objetivo ao trabalho;antes dela, nada que se no prendaao presente, depois dela tudo pelofuturo, sem desprezo do presente(...). (Kardec, op. cit., p. 56.)

    Passamos a confiar no reencon-tro com os seres queridos, no mun-do espiritual, a ter a certeza de quetoda a nossa atividade no bem nosbeneficiar espiritualmente e de quequanto mais nos esforarmos no

    trabalho em prol do nosso prxi-mo, mais venturosos seremos. Opropsito, enfim, de trabalhar pelonosso aperfeioamento intelectual emoral nos encoraja a suportar asfadigas transitrias da vida e nosenche de esperana nessa eterna so-lidariedade entre os chamados vivose mortos.

    A certeza de que a morte fsicanada mais do que a transformaodo ser em novo estado do eternoexistir nos d uma razo de ser vida. Desse modo, a fraternidade ea caridade passam a ser virtudes per-manentemente cultivadas por ns.

    Esclarece ainda Kardec, no ci-tado estudo, que o temor da morte

    diminui medida que a certeza davida futura aumenta. Quando essaconvico se torna completa, cessao medo da morte.

    Diz o Codificador da Doutri-na Esprita que o apego s coisasterrenas causado pelos ensinamen-tos religiosos equivocados desde ainfncia.

    (...) De um lado, contoresde condenados a expiarem em tor-

    turas e chamas eternas os erros deuma vida efmera e passageira. (...)De outro lado, as almas combalidase aflitas do purgatrio aguardam aintercesso dos vivos que oraro oufaro orar por elas, sem nada faze-rem de esforo prprio para progre-direm. (...) Acima delas, paira a li-mitada classe dos eleitos, gozando,por toda a eternidade, da beatitudecontemplativa. (Id. Ibid., p. 58.)

    Acrescenta ainda, o Codifica-dor, que o costume de rodear amorte de cerimnias lgubres,mais prprias a infundirem terrordo que provocarem esperana, ri-tuais esses seguidos das lamentaesdesesperadas dos sobreviventes, co-mo se a morte fosse um aconteci-mento desgraado e que nos separauns dos outros, em definitivo, tudoisso s pode concorrer para infun-dir o horror morte, em vez da es-perana.

    Conclui o missionrio lionsque nosso modo de ver o futuro semodifica por completo com o co-nhecimento do Espiritismo. (...) Avida futura no mais uma hipte-

    se, mas uma realidade; o estado dasalmas depois da morte no maisum sistema, mas resultado da ob-servao. Tudo isso nos informa-do pelos prprios Espritos desen-carnados. No mais a incerteza so-bre o porvir. No mais medo da mor-te, que passa a ser vista como liber-tao, como a porta da vida, e nocomo o nada. (Id. Ibid., p. 60-61.)

    Mas precisamos distinguir aque-

    le que cr, estuda e pratica os ensi-namentos elevados que o Espiritis-mo nos traz daquele que finge crer,que somente ilustra o intelecto semque o sentimento seja verdadeira-mente tocado. Pois, infelizmente,h os que agem assim, ainda quevejam e ouam os prprios Espri-tos elevados.

    Ao observar pessoas adultas e,especialmente, as da terceira idade,

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    Temor da morte Jorge Leite de Oliveira

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    que comeam a envelhecer, poss-vel identificar aquelas que estiveram

    representando: so as que permane-cem cheias de medos, de rancor ede mgoas. Aquelas que realmenteaprenderam a viver, que evoluramcomo pessoas, so as que no per-deram o afeto, pois esto envelhe-cendo com dignidade e em paz.Com estas vale a pena aprender.(MORAN, J. M.Aprendendo a vi-ver: caminhos para a realizao ple-na. So Paulo: Paulinas, 1999. p. 5.Coleo Psicologia e Voc.)

    Para perdermos, definitivamen-te, o medo da morte, precisamos vi-venciar os ensinamentos do Cristo,transmitidos pelos Espritos Supe-riores. Caso contrrio ficaremos,aps a passagem pela vida fsica, co-mo aquele grupo de Espritos danarrao do Esprito Irmo X, naobra Pontos e Contos, captulo 3,psicografada por Francisco Cndi-do Xavier e publicada pela FEB.

    Diz-nos o Irmo X que um grupode Espritos das mais variadas cren-as vagava, h muito tempo, nastrevas inferiores do Plano Espiri-tual, onde tudo era neblina espessae indefinvel penumbra.

    Surpresos e revoltados com suasituao, aps muito se queixareme sofrerem, resolveram orar. Em res-posta sua prece, surgiu um emis-srio, vindo em nome do Senhor,

    que lhes perguntou o que dese-javam.Um dos inconformados, em

    nome de todos, disse ao anjo quetodos eles aguardavam a salvao doCristo e no entendiam por queno receberam o prmio de sua vi-da de crentes. E, enquanto falava,lgrimas ardentes lhe escorriam dosolhos, acompanhadas pelas dos de-mais sofredores.

    O enviado de Jesus considerouque a Justia Divina nunca falhou

    no Universo. Mas seu interlocutorrespondeu-lhe que todos ali sofriamsem saber por qu. De certo, recla-mava, haviam sido vtimas de al-gum esquecimento, que esperavamfosse reparado.

    Foi ento que o emissrio doCristo lhes fez dez perguntas, quesintetizamos abaixo, sem que a ne-nhuma delas pudessem ocultar-lhea verdade, tal era a luz do enviadoceleste a invadir e descortinar-lhesas almas:

    Vocs amaram a Deus sobretodas as coisas, de toda a sua alma ede todo o seu entendimento?

    E todos responderam, a umas voz: No.

    Procuraram carregar a pr-pria cruz com a negao da perso-nalidade egostica e seguiram oMestre?

    E a resposta de todos no se fez

    esperar: No.Colocaram a Divina Vontade

    acima de seus desejos? No. Fizeram brilhar na Terra a luz

    conferida pelo Cu? No. Auxiliaram seus inimigos, ora-

    ram pelos que os perseguiram, fize-ram o bem aos que os caluniaram?

    No.

    E as questes se sucederam atchegar dcima pergunta. Todas asrespostas, unnimes, do grupo fo-ram no. Ento, o mensageiroolhou-os serenamente e observou,aps longa pausa:

    Se em dez das lies do Divi-no Mestre vocs no aprenderamnem ao menos uma, como desejammerecer sua companhia e elevaoespiritual? Tero de retornar Ter-

    ra e reiniciar as tarefas mal-acaba-das. (Op. cit.)

    O conhecimento esprita, porsi s, no nos torna anjos de umahora para outra. Entretanto, ne-cessrio compreender que somentealcanaremos a luz prpria com ofirme propsito de nos transformarmoralmente e vivenciar a mensa-gem do Cristo.

    Sem a negao da personalida-de egostica, sem esforo contnuono combate s prprias imperfei-es, sem colocar sobre os ombrosa prpria cruz e perseverar no Bem,no passaremos de sombras assusta-das, aps a morte do corpo denso,aguardando, inutilmente, que Jesusaparea e nos receba com pompas eglrias por ns imerecidas.

    Se queremos perder o medo damorte, precisamos, de fato, crer eagir no bem. Ter a certeza de que amensagem dos Espritos a conso-lidao da promessa do Cristo de

    nos enviar o Consolador para ficareternamente conosco. Mas tam-bm a constatao de que tambmns precisamos estar com Jesus esua mensagem consoladora eterni-dade afora.

    nisso que est a nossa verda-deira salvao, o resto iluso, mentira insustentvel luz maiordos emissrios do Cristo. , enfim,agir como mortos a enterrar seus

    mortos assustados e temerosos davida, que se faz eterna para os quecrem e agem conforme sua crenana mensagem de imortal beleza queJesus nos legou e os seus Mensagei-ros nos confirmam: E conhece-reis a verdade, e a verdade vos liber-tar. (Joo, 8: 32.)

    O temor da morte no se sus-tenta ante a revelao esprita se-cundada por nossas boas obras.

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    Falava-se sobre as agruras hu-manas...............................Chico Xavier foi indagado a

    respeito da postura esprita diantedo sofrimento.

    O mdium, experiente na artede enfrentar as dores do Mundo,respondeu, bem-humorado:

    Sabemos que o sofrimentofaz parte da existncia humana. Porisso, o esprita consciente chora es-condido. Depois, lava o rosto e vaiatender, sorrindo, multido.

    ...

    Dores e atribulaes so pr-prias deste Planeta de Provas e Ex-piaes, onde vivemos, conforme a

    classificao de Allan Kardec, em OEvangelho segundo o Espiritismo.

    Funcionam como lixas grossas,que desbastam nossas imperfeiesmais grosseiras.

    Espritos imaturos, iniciantesna arte de viver como filhos deDeus, aqui estamos atendendo aum desses dois objetivos:

    Provao as dores solicitadas.

    O Esprito reencarna com umaprogramao que planejou, cons-ciente do que dever enfrentar parao resgate de seus dbitos.

    Expiao dores impostas.A programao feita por men-

    tores espirituais, em benefcio de Es-pritos que recalcitram em reconhe-cer a extenso de seus comprome-timentos perante as leis divinas.

    E a nossa posio, leitor amigo,qual ser?

    fcil definir.Se guardamos submisso aos

    desgnios divinos, aceitando semlamrias, revolta ou desespero nos-sos males, procurando fazer o me-lhor, estamos em provao.

    Se gememos e choramos; senos torturamos, perdidos nos labi-rintos da revolta e da inconfor-mao; se enfrentamos o resgate denossos dbitos meio na marra, se-gundo a expresso popular, afligin-do os familiares, estamos em expia-o. Com semelhante postura, ape-nas multiplicamos sofrimentos, semadicionar valores de resgate.

    ...Reportando-se ao assunto, al-

    gum comentou que certamenteChico esteve em provao, j queencarou com humildade e serenida-de incontveis males que se sucede-ram em sua gloriosa trajetria, par-ticularmente na infncia e na ado-lescncia.

    A meu ver ele no se enquadra

    em nenhuma das duas alternativas.Como todo missionrio au-tntico, que vem Terra em glo-riosas misses em favor do aprimo-ramento moral da Humanidade,certamente escolheu vida difcil,enfrentando privaes e dores, afim de no se desviar do caminhotraado.

    Chico situou-se na Terra comoaquele homem da passagem evan-

    glica (Joo, 9:1-3), que nasceu ce-go no por culpa sua ou de seuspais, mas para que se manifestassemnele as obras de Deus, o que acon-teceu a mo cheia, como diria Cas-tro Alves, nos quatrocentos e dozelivros que psicografou.

    ...

    Conforme ensina a DoutrinaEsprita, a Mestra Dor suavizarseus rigores, desde que correspon-damos aos apelos do Bem, partici-pando com dedicao nas lides dacaridade, a partir da inesquecvelobservao do apstolo Pedro, emsua Primeira Epstola (4:8):

    O amor cobre a multido depecados.

    Consideremos, todavia, a ne-cessidades de calar quanto s pr-prias atribulaes.

    benfico extravasar em lgri-mas as nossas agruras, aliviando ocorao, mas sempre em recolhi-mento. Em pblico, corremos orisco de estar apenas fazendo pro-

    paganda de nossas dores, em buscada comiserao alheia, o coitadi-nho!

    Depois lavar o rosto e cuidardo prximo, o atalho que nos per-mite queimar etapas na jornada ru-mo perfeio, lembrando com asabedoria popular:

    O corao nosso.O rosto dos outros.

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    De quem o rosto Richard Simonetti

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    P. O que tem a dizer sobre oCentenrio deO Clarim?

    Belvedere Durante algunsmeses, a equipe coordenadora daprogramao do Centenrio deO Clarim trabalhou intensamentecom o objetivo de comemorarmoscom dignidade, na medida do pos-svel, to expressivo acontecimento.Nossa principal preocupao foi ade oferecer aos nossos leitores, co-laboradores e amigos desta CasaEditora alguns dias (12 a 14 deagosto de 2005) de confraterni-zao e de aprendizado doutrin-

    rio, com a participao de algunsrenomados expositores da Doutri-na Esprita. Felizmente consegui-mos pelo menos em parte, atingiros objetivos, se considerarmos oenorme interesse de centenas de par-

    ticipantes no evento, no s do Bra-sil bem como de alguns pases quenos honraram com suas presen-as.

    P. Como avalia os reflexos dotrabalho pioneiro de Cairbar Schu-tel?

    Belvedere Os reflexos do tra-balho iniciado por Cairbar Schutelem 15 de agosto de 1904-1905, emMato (S.P.), a nosso ver, so inco-mensurveis. O Bandeirante doEspiritismo nos deu exemplos in-centivadores relacionados ao estudoconstante dos postulados espritasem seus trs aspectos fundamentais:filosofia, cincia e religio. A divul-gao doutrinria atravs de O Cla-rim, da Revista Internacional de

    Espiritismo e dos livros de sua au-toria, tem colaborado para a multi-plicao de incontveis Casas Esp-ritas em todo o Brasil e tambm noExterior. Na maioria das vezes, co-mo de nosso conhecimento, almdo estudo doutrinrio, tais institui-es tm como atividade a prticaassistencial: material e espiritual.

    P. Atualmente h continui-dade da obra iniciada por Schutel?

    Belvedere O Centro EspritaO Clarim sucessor do Centro Es-prita Amantes da Pobreza a en-tidade mantenedora da Casa Edito-ra O Clarim, com grfica prpria.Como atividades normais temosreunies semanais de estudo de OLivro dos Espritos, de O Evange-lho segundo o Espiritismo e de de-senvolvimento medinico. Tambmatendemos algumas dezenas de fa-

    ENTREVISTA: APARECIDO BELVEDERE

    Cairbar Schutel: O Bandeirante do EspiritismoAparecido Belvedere, Diretor Responsvel da Casa Editora O Clarim, destaca o trabalho de Cairbar

    Schutel, um dos pioneiros na divulgao do Espiritismo

    Aparecido Belvedere

    Cairbar SchutelCairbar de Souza Schutel foi um dos maiores vultos do Espiritismo brasileiro.

    Convertido ao Espiritismo, fundou no dia 15 de julho de 1905 o Centro Esprita

    Amantes da Pobreza, em Mato (SP), o primeiro em toda aquela zona paulista, e quefunciona at hoje. Em 15 de agosto de 1905 fundou o jornal O Clarim e no dia 15de fevereiro de 1925 lanava a Revista Internacional de Espiritismo, que circulamininterruptamente at nossos dias. autor de dezessete livros. Foi pioneiro da difu-so esprita pelo rdio, transmitindo uma srie de palestras espritas, pela Rdio Cul-tura de Araraquara PRD-4. Foi chamado, em sua poca, de Apstolo de Mato ede Pai da Pobreza, e, atualmente, de O Bandeirante do Espiritismo.

    (Texto baseado na biografia de Cairbar Schutel do livro Grandes Espritas do Brasil, de ZusWantuil, 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, p. 254-264.)

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    mlias carentes com fornecimentode cestas bsicas, roupas e evangeli-

    zao luz do Espiritismo. Estamosestruturando museu com exposioda Biblioteca, mquinas grficas eoutros objetos usados por CairbarSchutel.

    P. Qual a projeo atual daspublicaes iniciadas por Schutel?

    Belvedere O jornal O Cla-rim, a RIEe os livros de nossa edi-o, felizmente, tm tido timaaceitao. Mensalmente so milha-res de exemplares expedidos por to-do o Brasil e diversos pases de nos-so planeta (acima de 30 pases). NaRevista Internacional de Espiritis-mo, alm das selecionadas matriaspublicadas graas a um elenco debons articulistas , tambm publi-ca cerca de 12 pginas com mat-rias e/ou notcias em bilnge, cola-borando de certa forma para incen-tivar o Movimento Esprita no ex-terior. Com a finalidade de colabo-

    rarmos com o aumento da divulga-o do Espiritismo, temos em men-te, logo que se oferecer oportunida-de, aumentar a produo com maio-res tiragens e distribuio de nossaspublicaes melhorando, sempreque possvel, a apresentao grfica.

    P. A Editora O Clarim inte-rage com outras instituies espri-tas?

    Belvedere Temos parceria com

    a USE Unio das Sociedades Es-pritas do Estado de So Paulo. Emmeses alternados publicamos pgi-na institucional da referida institui-o. Em contrapartida o DirigenteEsprita, rgo bimestral da USE,divulga encarte de nossas publica-es. uma parceria em nvel esta-dual que tem dado resultados posi-tivos de ambas as partes. Tambmimprimimos em La Revue Spirite,

    fundada por Allan Kardec, e edita-da pelo Conselho Esprita Interna-

    cional e Unio Esprita Francesa eFrancofnica, nas verses francesa eespanhola. Com a Unio EspritaSueca, editamos em co-produo OLivro dos Espritosno idioma sue-co:Andarnas Bok.

    P. Ativo na rea de difusodoutrinria, como v a divulgaoda Doutrina Esprita em nossos dias?

    Belvedere com imensa ale-gria que temos constatado o expres-sivo crescimento da divulgaoesprita no Brasil, bem como emmuitos outros pases. Revistas, jor-nais, boletins informativos e livrosespritas com melhor apresentaogrfica, em razo da alta tecnologiadisponvel em nossa poca, tm co-laborado de maneira eficaz paramelhor divulgao do Espiritismo.Temos ainda a ressaltar inmeraspginas eletrnicas na Internetcomexcelente apresentao, disponibili-

    zando a leitura e estudo da Doutri-na Esprita, facilitando inclusive aaquisio de obras espritas. Gran-des redes de livrarias instaladas emshopping center, nos terminais ro-dovirios, etc. esto disponibilizan-do a venda de grande quantidadede ttulos de obras espritas. Nopodemos esquecer dos bons progra-mas espritas que so veiculadosdiariamente em diversas rdios e te-

    levises, alm de uma quantida-de expressiva de oradores espritasdivulgando a Doutrina em todo oBrasil e em muitos outros pases. Fi-nalizando, Cairbar Schutel foi umdos pioneiros na divulgao do Es-piritismo. Ns, e os que nos prece-deram, estamos dando continuida-de ao trabalho iniciado pelo OBandeirante do Espiritismo aquiem Mato em 15 de agosto de

    1905. Essa continuidade, bomque se destaque, nos tem sido pos-

    svel com a valiosa colaborao demuitos articulistas e amigos de nos-sa Editora.

    332

    Servir sempreSe procuras a extinoDas dores, por onde vais,Mantm a disposioDe servir um tanto mais.Sofres crises a granel,

    Impedimentos gerais,Para venc-los, no fujasDe servir um tanto mais.Pretendes viver acimaDas aflies em que cais,No desertes do deverDe servir um tanto mais.Carregas lutas em casa,Provaes descomunais,Por tua paz, no desistasDe servir um tanto mais.

    Encontras pedras, injrias,Ofensas, erros brutais...No te afastes do programaDe servir um tanto mais.Tua vida necessitaDe mudanas radicais?No menosprezes o ensejoDe servir um tanto mais.Angstias do coraoEm tempestades morais?Inventa novos recursos

    De servir um tanto mais.Se quisermos atingirAs Luzes Celestiais,Aprendamos com JesusQue servir nunca demais.

    Casimiro Cunha

    Fonte: XAVIER, Francisco C. CorreioFraterno. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB,2004, cap. 55, p. 127-128.

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    OChico um ser emocionante,eis a expresso que melhortraduz a sua personali-

    dade.Situa-se ele para muito alm

    da dimenso que se possa con-ceber.

    Muito haver que se falarde Chico, no futuro, alm doque agora se fala.

    Casos sobre ele e relaciona-dos com ele multiplicar-se-o

    quase ao infinito.Muitos h ignotos e, desses

    muitos, alguns vm tona dequando em vez.

    O narrado em frente umdeles. E, dada a pureza e simpli-cidade de linguagem da principalprotagonista, Maria Helena Falcodos Santos, advogada e esposa demeu prezado colega, magistradoClodoaldo Moreira dos Santos, ora

    na inatividade, transcrevo-o ipsislitteris:H dezesseis anos, mais preci-

    samente no dia 13/04/75, sofri omaior golpe da minha vida.*

    Tinha verdadeira adorao porminha me. Nossa afinidade eramuito grande.

    Na manh daquele dia fatdi-co, estava eu fazendo a mamadeirapara o meu filho caula, quando oneto mais velho de minha inesque-cvel me e que com ela moravachegou em minha casa gritando:Tia, a vov est morrendo!

    Sem acreditar, pois a tarde dodia anterior ela tinha passado comi-go e estava bem, corri at a sua ca-sa, que era perto da minha e a en-contrei j sem fala, deitada em sua

    cama.Peguei-a nos braos e, che-gando ao alpendre da casa, pedi aum vizinho, que ia passando decarro, que, pelo amor de Deus,nos levasse ao Hospital Santa He-lena.

    No banco de trs do carro eusentia que todo o mundo desabavasobre mim. Minha santa me, comseus lindos olhos azuis, me fitava

    com todo o carinho que lhe era pe-culiar.

    Eu, em desespero, passava amo em sua cabea e rezava.

    De repente, ela estremeceu eaquela luz to forte, que emanavade seus lindos olhos azuis, desa-

    pareceu. Os olhos ficaram opa-cos, sem vida.

    Minha adorada me tinhaacabado de desencarnar em meusbraos.

    Entrei em desespero e nadamais fiz conscientemente. Dis-seram-me, depois, que, na horado sepultamento, tiveram queme tirar fora de cima do

    caixo.Sofri demais. No conse-

    guia tirar da minha mente seusolhos opacos, sem o brilho quetanto os embelezava.

    Com o passar dos anos,lendo muitas obras espritas e cui-dando de meu amado pai que, de-pois de trs anos de sofrimento noleito, tambm retornou ao Alm,pude ter outra viso do mundo, das

    pessoas, da morte. Porm, persistiaem mim a lembrana sofrida dosolhos sem vida de minha me.

    Acalentava o sonho de um diaver o mdium Chico Xavier.

    H seis anos, dez depois do de-senlace de minha adorada me, fuisurpreendida com o telefonema deuma amiga, dizendo que o Chicoestava em Goinia e que estaria naColnia Santa Marta, s 13 horas.

    Chico Xavier e a Flor de ManacWeimar Muniz de Oliveira

    *O caso foi relatado ao autor em janeiro de1992.

    PRESENA DE CHICO XAVIER

    >

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    Fiquei muito feliz e pensei: ho-je vou realizar o meu sonho de v-

    -lo! Pelo menos de longe!...Troquei rapidamente de roupae, ao sair de casa, senti um desejoincontrolvel de pegar uma florzi-nha do p de manac que minhame adorava e havia plantado paramim. Peguei a florzinha e, fechan-do-a na mo, dirigi-me para a Co-lnia.

    Ao ver Chico Xavier passarpor mim, fui invadida por forteemoo e senti um desejo muitogrande de falar com ele. Vi que elese sentou em uma cadeira e as pes-soas, que eram muitas, formavamfila para cumpriment-lo. Entrei nafila. Sentia a florzinha na minhamo, que eu conservava fechada, ealgo me dizia que continuasse as-sim. O Chico estendia a mo ecumprimentava um a um. Quandochegou a minha vez, para meu es-panto, ele, cabisbaixo, estendeu a

    mo para mim, s que com a pal-ma virada para cima, como espe-ra de que nela fosse colocado algo.Eu, imediatamente, sem saber por-qu, coloquei em sua mo a florzi-nha de manac, que s eu sabia es-tar fechada em minha mo. Ele,ainda com a cabea baixa, abriu opalet e guardou-a no bolso inter-no do mesmo. S a levantou a ca-bea e me encarou. Sentia eu uma

    grande emoo. Meu rosto estavabanhado pelas lgrimas. Queria di-zer alguma coisa, mas no con-seguia. Ele, ento, me disse:

    Minha filha, os olhos dela bri-lham mais que a gua marinha maispura que possa existir neste plane-ta! E olhava para o meu lado, comose visse algum.

    Eu, que j estava totalmenteembargada pela emoo, entendi

    que ele estava vendo minha adora-da me, ali, ao meu lado, mais viva

    do que nunca e que os olhos opa-cos e sem vida, cuja lembrana tan-to me doa e fazia sofrer, no exis-tiam.

    Dominada por intensa emo-o, afastei-me daquele santo ho-mem, sem dizer uma palavra, mas

    com a certeza de que minha meestava muito bem e que seus belos

    olhos azuis brilhavam ainda maisque antes.

    Fonte: OLIVEIRA, Weimar Muniz de.Chico Xavier, Casos Inditos. Goinia(GO). Federao Esprita do Estado deGois, 1998, p. 139-142.

    Entre as brumas do passado,Seu vulto sagradoVejo em pensamentos,Revelando espcie humanaA Lei soberanaDos Dez Mandamentos.Do Sinai refulgurante,

    Seu gesto giganteModelou naes: E Moiss, alma pioneira,Nos trouxe a PrimeiraDas Revelaes.

    Muitos sculos se passaram,Quando anunciaramJesus em Belm.Sob a luz das profecias,Ele era o Messias

    Que vinha do Alm.Na maior misso terrestre,O Divino MestreFala s multides: E Jesus trouxe a Segunda,Que a mais fecundaDas Revelaes.

    Depois raia sobre a FranaO Sol da esperanaE do alvorecer.Ele iluminou a TerraNa obra que encerraA luz do Saber.Com bom senso e f serena,

    Fez jorrar da penaDivinais lies: E Kardec, alma obreira,Nos trouxe a TerceiraDas Revelaes.

    Trs Revelaes divinas,Fontes peregrinasDe Amor e Verdade,Promanando do Infinito,Desde o antigo Egito

    atualidade.Moiss o Legislador,Cristo o Amor,Kardec a Razo: E essas trs Fontes de LuzTendem, com Jesus, Unificao.

    As Trs RevelaesMrio Frigri

    (...) Moiss abriu o caminho; Jesus conti-

    nuou a obra; o Espiritismo a concluir.

    Um Esprito israelita

    Epgrafe: Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. 124. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2004, cap. I, item 9.

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    Aresposta pergunta acima simples, se depender de umestudo da equipe do Labora-

    trio de Psiquiatria do Hospital dasClnicas de So Paulo (HC), inicia-do h dois anos.

    De acordo com os dados obti-dos por uma bateria de testes, ape-nas 26,4% das pessoas so normais.

    O levantamento feito pelo HCteve o objetivo de testar os efeitosdo antidepressivo cloripramina emvoluntrios sem nenhum transtor-no psiquitrico. O problema que,de cada 100 pessoas que se apresen-

    tam para participar, cerca de 80acabam dispensadas por no preen-cher alguns requisitos bsicos. Eo principal deles justamente sernormal.

    ...

    O exame rigoroso. Para pas-sar na seleo da equipe, precisoenfrentar trs etapas rigorosas epadronizadas. A primeira elimina o

    maior nmero de candidatos (53%).Ela se baseia em critrios de idade( preciso ter entre 21 e 50 anos),de escolaridade (exige-se 1o graucompleto) e num teste americanochamado Self Report Questiona-ry, ou SRQ, de 20 perguntas.Aparentemente simples, ele capazde detectar se a pessoa tem ou notranstornos psicolgicos. As chan-ces de acerto so de 80%.

    O teste mais implacvel comas mulheres. H uma diferena dedois nmeros em favor dos homensna pontuao de corte seis respos-tas sim para eles e quatro paraelas. A psiquiatra Mnica Vilber-man, uma das responsveis pela se-gunda etapa do estudo, afirmouque preciso ser mais duro com asmulheres porque elas tm maioroscilao hormonal e mais facilida-de em falar de intimidades.

    Na segunda fase de testes, quecausa a eliminao de 43% dos en-trevistados, psiquiatras investigamse h transtornos psicolgicos na fa-mlia do candidato. As ltimas eta-pas so exames laboratoriais e mais

    uma entrevista com o psiquiatra, sque dessa vez com quatro horas dedurao. No total, ficam s 26,4%,afirmou a psiquiatra Elaine Henna. o fim da maratona: o candidatorecebe um atestado de normali-dade.

    O fato que at o final de2004, somente 40 pessoas resisti-ram at o fim, menos da metade donecessrio. Depois da triagem, so

    oito semanas de estudo, nas quais ocandidato toma doses mnimas decloripramina, de 10 a 40 miligra-mas. Ressalte-se que em pessoas de-pressivas, so aplicadas de 150 a300mg da droga.

    Entre os participantes, a de-presso a doena mais comum(46%), seguida de ansiedade (21%)e obsesses (8%).

    O psicanalista Ailton Amlio,

    da Universidade de So Paulo (USP),tranqilizou os candidatos, dizendoque se um determinado transtor-no, como timidez e ansiedade, noprejudica aos outros e ao prprioportador dele, no preciso se preo-cupar. Para ele, o normal no sernormal.

    ...

    Sem considerar, neste artigo, oscritrios utilizados pela pesquisa pa-ra definir o conceito de normalida-de, quem observa o fenmeno sobo ponto de vista espiritual deveacrescentar a esse tipo de conclusoas influncias que a realidade do Es-prito traz para a sade psquica do

    ser humano.Vivemos sob uma nuvem de

    ondas mentais, de presenas espiri-tuais, de estmulos psicolgicos quefogem aos parmetros de percepodos homens. Muitas dessas influn-cias agem nas causas de inmerasatitudes das pessoas, desde a execu-o de crimes horrendos, inspiradospelas sombras da maldade, at ges-tos da mais pura conduta amorosa,

    como o socorro prestado na horaexata, a palavra correta que silenciaa chance do crime ou a prece subli-me, acompanhada por benfeitoresannimos, verdadeiros missionriosda luz...

    O Esprito Calderaro faz refe-rncia a essa questo na obra NoMundo Maior. O instrutor espiri-tual de Andr Luiz lembra quemuitos encarnados batalham dia-

    335

    Ser que somos normais? Carlos Abranches

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    riamente para vencer os prpriosmonstros interiores que carregam

    consigo. H pessoas que tm voca-o para o abismo, afirma.Nessa luta, enfrentam as pres-

    ses da ansiedade, os transtornosbipolares, em que no conseguemadministrar os impulsos de depres-so e euforia que lhes tomam amente, os processos mais graves deparania e esquizofrenia e outrasenfermidades da alma, a agirem ne-gativamente na vida de relao de-les com o mundo.

    Os transtornos alimentares, co-mo anorexia, bulimia e obesidademrbida desencadeiam outros qua-dros graves de difcil soluo, a exi-gir disciplina do paciente e atenoamorosa de mdicos e familiares,para que a pessoa consiga enxergarhorizontes renovados, mais claros eotimistas com relao ao futuro.

    ...

    Diante dessa intensa dinmicada relao do homem consigo mes-mo, incluindo-se a a movimenta-o do mundo espiritual ao seu re-dor, natural considerarmos quenem todo mundo pode mesmo sernormal.

    O ambiente psquico da Hu-manidade ainda extremamenteheterogneo, doentiamente deses-truturado, seriamente desequilibra-

    do. Isto exige elevada ateno dequem quer sobreviver emocional-mente um pouco acima da mdia,estruturando-se intimamente paravibrar sobre as ondas psquicas decarter doentio.

    Os espritas temos a oportuni-dade de cuidar com apreo bastan-te apurado da sade emocional. Htrabalho suficiente no bem, sob oamparo da orientao doutrinria,

    para que compreendamos com pro-fundidade os impulsos da depresso

    e dos transtornos da mente, paraque no nos permitamos cair nessafaixa, incorrendo nas conseqnciasimediatas desse tipo de sintonia.

    Temos como remdio a luz doautoconhecimento, a coragem deagir sempre focados no bem coleti-vo, a alegria que deve caracterizarnossa opo de vida, alm da prece,espelhada em nossas meditaesprofundas em busca do melhor quesomos e podemos ser.

    ...

    Se um de ns fosse fazer o tes-te do Hospital das Clnicas de SoPaulo, talvez no passssemos noexame da normalidade, dentro doscritrios definidos pela pesquisa.

    No problema. O que im-porta se podemos afirmar agora,com segurana, se temos o contro-le de nossa vida em nossas mos, se

    estamos dedicados o suficiente pa-

    ra conhecer as entranhas de cadaatitude que tomamos, se os impul-

    sos mais primitivos que ainda noscaracterizam esto sob o controledo ser que busca ser melhor a cadaminuto dos dias.

    Sentir no bem, para pensar nobem e agir no bem. A proposta deEmmanuel*, vindo com perfeiose encaixar na nova dinmica queprecisamos impor vida emocional,apesar de possveis oscilaes quepossam aparecer no decorrer dostempos tumultuados que chegaro.

    Esta, sim, a normalidade ade-quada, em que nos oferecemos nos como um ser melhor vida, mascomo algum interessado em cola-borar para que os outros se aproxi-mem tambm, o mais rpido poss-vel, da normalidade de seres equi-librados espiritualmente.

    336

    Reencarnaes Para fazer-me mais claro, voltemos ao smbolo da rvore. O va-

    so fsico o vegetal, limitado no espao e no tempo, o corpo perispirti-co o fruto que consubstancia o resultado das variadas operaes darvore, depois de certo perodo de maturao, e a matria mental asemente que representa o substrato da rvore e do fruto, condensando--lhes as experincias. A criatura, para adquirir sabedoria e amor, renasceinmeras vezes, no campo fisiolgico, maneira da semente que re-

    gressa ao cho. E quantos se complicam, deliberadamente, afastando--se do caminho reto na direo de zonas irregulares em que recolhemexperimentos doentios, atrasam, como natural, a prpria marcha, per-dendo longo tempo para se afastarem do terreno resvaladio a que serelegaram, ligados a grupos infelizes de companheiros que, em com-panhia deles, se extraviaram atravs de graves compromissos com a le-viandade ou com o desequilbrio.

    Fonte: XAVIER, Francisco C. Prolas do Alm. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004,p. 206. Texto de autoria de Andr Luiz, na obraLibertao.

    *XAVIER, Francisco C. Fonte Viva, pelo Es-

    prito Emmanuel, cap. 179, 9. ed. FEB.

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    A moral sem as aes omesmo que a semente sem o tra-balho. De que vos serve a semen-te, se no a fazeis dar frutos quevos alimentem? Grave a culpadesses homens, porque dispunhamde inteligncia para compreender.No praticando as mximas queofereciam aos outros, renuncia-ram a colher-lhes os frutos.(Ques-to 905 de O Livro dos Espritos.)

    O homem de bem bom,humano e benevolente para comtodos, sem distino de raas, nemde crenas,porque em todos os ho-mens v irmos seus.

    Respeita nos outros todas as

    convices sinceras e no lanaantema aos que como ele no

    pensam.(...) o homem de bem respei-

    ta todos os direitos que aos seussemelhantes do as leis da Natu-reza, como quer que sejam respei-tados os seus.

    (O Evangelho segundo o Es-piritismo, cap.XVII Sede Perfei-tos, item 3, pargrafos 7o e penl-

    timo.)

    Vivendo em sociedade precisa-mos nos manifestar, para issousamos a linguagem, que po-

    de ser oral, escrita e pictrica, ou se-ja, os diversos canais de comuni-cao.

    Pela linguagem manifestamosnossos pensamentos, sentimentos eemoes.

    A linguagem oral mais usadae, de modo geral, podemos dizerque mais direta e atinge o interlo-cutor com maior carga de emoes.

    Em nossa vida de relao nopodemos deixar de usar o juzo devalores, atravs da anlise das situa-es que vivemos e as formas de in-terao com as pessoas com quemconvivemos. Da nasce a crtica,que no se confunde com a male-dicncia.

    A crtica a busca da verdadepelo exerccio da razo.

    A maledicncia comentrioinconsistente, veiculado sem obje-tivos ticos, onde no h preocu-pao com a verdade, com a utili-

    dade e com o bem.A maledicncia a manifesta-

    o do comportamento que expres-sa o egosmo e a vaidade. O comen-trio visa apenas diminuir o valorde quem est no foco para, artificiale enganosamente, pretender elevar--se acima do outro.

    No entanto, quando sofremosalgum julgamento, pela linguagemoral ou escrita, deveremos, primei-

    ramente, avaliar se o comentrio expresso de uma crtica ou demaledicncia.

    Se percebermos que o fruto daanlise feita com relao nossapessoa manifestao da maledi-cncia, no deveremos nos impor-tunar, nem nos agastar com ela. Seno serve, deve ser esquecida; a noser que, por sua gravidade e insen-satez, exija que preservemos nossos

    direitos, como Esprito, como pes-soa e como cidado.

    s vezes, recebemos crticas e apessoa que as faz no est sendomaledicente. sincera e honesta,mas a crtica equivocada, certoselementos que a compem no soconsistentes. Temos ento o direitode amorosamente rejeitar a crtica,esclarecendo o crtico.

    Ao lado das informaes queos Evangelhos nos trazem e tam-bm a Doutrina Esprita, os psic-logos espritas Almir Del Prette eZilda Del Prette (referncia abaixo),baseados nas cincias do compor-tamento, apresentam-nos algunspassos que deveremos observar pa-

    ra, quando a crtica no for proce-dente, podermos rejeit-la de formacorreta, assertiva.

    Rejeitar a crtica

    Procuremos observar, quandorecebermos uma crtica, os seguin-tes pontos:

    1. Permitir que o crtico termi-

    ne de falar.Ao recebermos uma crtica, atendncia natural , sob impactoemocional, reagir instantaneamen-te, procurando justificar-nos, jun-tando argumentos para rebater asobservaes feitas, as quais, de algu-ma maneira, mostram nosso poss-vel desacerto.

    De incio no sabemos se a cr-tica procedente ou houve algum

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    Ouvir com amor Aylton Paiva

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    mal-entendido, ou ainda, uma ma-nifestao de maledicncia. Ento,

    deixemos que a pessoa exponha to-do o seu pensamento. Ouamo--la com ateno. Se for o caso, faa-mos at anotaes.

    Demonstremos com a posturacorporal assertiva que estamos acom-panhando os seus argumentos e queisso fique claro para ela.

    2. Controlar o desconforto daraiva.

    Normalmente, quando recebe-mos uma crtica altera-se o nosso es-tado emocional, que pode ir da sim-ples irritao raiva. Nesse estado,registram-se alteraes fsicas e fisio-lgicas: acelerao do batimento car-daco, empalidecimento ou rubori-zao, diminuio da saliva e outros.

    Quando a crtica infundadaou se trata de maledicncia, os efei-tos psicolgicos e fsicos so maisintensos.

    Pode haver, tambm, um dese-quilbrio psquico ou espiritual.

    Ento, manter um controleemocional saudvel necessrio pa-ra podermos analisar a crtica e sa-ber aproveit-la adequadamente.

    3. Compreender que ao outroassiste o direito de ter opinio con-trria nossa.

    Procuremos ouvi-lo com aten-

    o e deixemos que ele perceba is-so. Assim ele compreender quens estamos respeitando o seu direi-to de opinar.

    Em O Livro dos Espritos, naquesto 833, h o esclarecimentode que: No pensamento goza ohomem de ilimitada liberdade, poisque no h como pr-lhe peias.Pode-se-lhe deter o vo, porm,no aniquil-lo.

    Procuremos criar uma empatiacom o crtico. Vejamos o assunto

    do ponto de vista dele. Manifeste-mos que entendemos o que ele dis-se e tambm o seu sentimento.

    4. Solicitar detalhes, se neces-srio, para melhor compreender aposio assumida pelo crtico.

    Quando os motivos ou os fatosgeradores da crtica no ficaremmuito claros, peamos, com a tran-qilidade possvel, detalhes ou es-clarecimentos

    5. Manifestar a discordnciaclaramente, no total ou em parte,quanto veracidade da crtica.

    Aps a anlise dos argumentosapresentados na crtica, com o exer-ccio da razo, verifiquemos se procedente ou no. Se julgarmosque ela no procedente, sem agres-sividade discordemos dela total-mente ou na parte que no tenha

    fundamento.

    6. Estabelecer a veracidade dosfatos que esto sendo apontados.

    Ao ouvir a crtica verifiquemosse h veracidade nos fatos que estosendo apresentados ou se apenas setrata de interpretao daquele quea formula.

    7. Solicitar mudana, se neces-srio, quanto forma como a crti-

    ca foi feita e sobre a ocasio esco-lhida.Se a crtica no foi feita de for-

    ma apropriada ou foi manifestadade forma agressiva, desqualificandoo destinatrio, sem respeito indi-vidualidade e privacidade, emboraela seja procedente em parte ou natotalidade, devemos pedir ao seuemissor que mude a sua maneira dese expressar, respeitando a dignida-de daquele que a ouve.

    8.Agradecer pessoa pela suapreocupao.

    Se constatarmos que a pessoafez a crtica de forma adequada eprocedente na sua totalidade ou emparte, oportuno agradecer-lhe a ma-nifestao que, sem dvida, se tratade uma forma de amor ao prximo,como ensinou o Mestre Jesus.

    BIBLIOGRAFIA:

    KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos.71. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991.

    ______. O Evangelho segundo o Espiritismo.116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999.

    PRETTE, Almir e Zilda. Habilidades SociaisCrists. 1. ed. Petrpolis (RJ). Editora Vozes,2003.

    338

    Reformador EncadernadoA coleo completa, com ndice alfabtico das matrias, deReformadorde 2004, ttulo em gravao dourada, est venda nasLivrarias da Federao Esprita Brasileira, no Rio de Janeiro-RJ (Av.Passos, 30) e em Braslia-DF (Av. L-2 Norte Q. 603 Conjunto F(SGAN) 70830-030.)

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    No te afastesMas livra-nos do mal.

    Jesus(Mateus, 6:13.)

    A superfcie do mundo , indiscutivelmente, a grande escola dos espritos encar-nados.

    Impossvel recolher o ensinamento, fugindo lio.Ningum sabe, sem aprender.

    Grande nmero de discpulos do Evangelho, em descortinando alguns raios deluz espiritual, afirmam-se declarados inimigos da experincia terrestre. Furtam-se, des-de ento, aos mais nobres testemunhos. Defendem-se contra os homens, como se es-tes lhes no fossem irmos no caminho evolutivo. Enxergam espinhos, onde a flor de-sabrocha, e feridas venenosas, onde h riso inocente. E, condenando a paisagem a queforam conduzidos pelo Senhor, para servio metdico no bem, retraem-se, de olhosbaixos, recuando do esforo de santificao.

    Declaram-se, no entanto, desejosos de unio com o Cristo, esquecendo-se de queo Mestre no desampara a Humanidade. Estimam, sobretudo, a orao, mas, repetin-do as sublimes palavras da prece dominical, olvidam que Jesus rogou ao SenhorSupremo nos liberte do mal, mas no pediu o afastamento da luta.

    Alis, a sabedoria do Cristianismo no consiste em insular o aprendiz na santida-de artificialista, e, sim, em faz-lo ao mar largo do concurso ativo de transformao domal em bem, da treva em luz e da dor em bno.

    O Mestre no fugiu aos discpulos; estes que fugiram dEle no extremo testemu-nho. O Divino Servidor no se afastou dos homens; estes que o expulsaram pela cru-cificao dolorosa.

    A fidelidade at ao fim no significa adorao perptua em sentido literal; traduz,igualmente, esprito de servio at ao ltimo dia de fora utilizvel no mecanismofisiolgico.

    Se desejas, pois, servir com o Senhor Jesus, pede a Ele te liberte do mal, mas queno te afaste dos lugares de luta, a fim de que aprendas, em companhia dEle, a coope-rar na execuo da Vontade Celeste, quando, como e onde for necessrio.

    Fonte: XAVIER, Francisco Cndido. Vinha de Luz. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005,

    cap. 57, p. 127-128.

    ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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    Oequilbrio e o bom senso aolidar com as posses materiaisconstituem dois dos mais gra-

    ves desafios colocados evoluodos Espritos. O fator financeirotem sido causa de muitas desgraase clamorosos fracassos para muitascriaturas humanas. Neste incio demilnio ainda prevalece a busca in-frene pela acumulao de riquezas,

    e no raro uma pessoa considera-da bem-sucedida conforme o tama-nho da sua conta bancria.

    Muitas revistas empresariais nacionais e internacionais publi-cam em edies peridicas o ran-kingdos mais ricos. Grosso modo,pode-se classificar tais pessoas emquatro grandes grupos. O primeiro,levando em conta que todos somosdotados de determinadas potencia-

    lidades e talentos, constitudo poraqueles que possuem uma capaci-dade especial para a gerao de ri-quezas. Normalmente, so empre-endedores que possuem larga visoempresarial e comercial. Nesse sen-tido, vislumbram e corporificamidias quase sempre altamente lu-crativas. Tais pessoas geralmente soagentes do progresso material, con-siderando que suas criaes, via de

    regra, atendem demandas latentesda Humanidade e das organizaes.

    O segundo grupo so os quetambm enriquecem por causa dosseus talentos mpares em determi-nados campos. Referimo-nos aosartistas, atletas, profissionais liberaise outros. Tais pessoas conquistam,como fruto dos seus labores, umaposio privilegiada em termoseconmico-sociais. O terceiro, soos que j nascem em bero de ou-ro, cabendo a eles, muitas vezes,ampliar o patrimnio herdado e amanuteno do bom nome das fa-

    mlias s quais pertencem. O quar-to e ltimo grupo permeia, de umacerta forma, todos os anteriores, ouseja, seus membros constituintesso empresrios, profissionais libe-rais, servidores pblicos, entre ou-tros, que enriquecem por meiosilcitos. So, por assim dizer, os ar-rivistas contumazes que caminhamna vida ao largo da tica e do sensode justia. So geralmente pessoas

    inteligentes que no medem esfor-os e conseqncias para alcanarsuas metas. Temos visto muitos de-les no noticirio hodierno acusadoscomo protagonistas de lamentveisdeslizes morais associados a corrup-es, subornos e escndalos de v-rios matizes.

    A rigor no h crime algumem ser rico. Mas tambm pblicoe notrio que a distncia entre os

    chamados ricos e o restante da po-pulao em naes como o Brasil,por exemplo, vem aumentando as-sustadoramente. Alis, em nossopas, lamentavelmente, tem-se ain-da notcia de pessoas trabalhando especialmente em fazendas em re-gime de escravido. No so igual-mente poucos os que labutam semcarteira profissional registrada, semfalar no elevado patamar de desem-pregados. Tais fatos, luz do Espi-ritismo, merecem tambm ateno,tendo-se em vista que: O Cristia-nismo possui o extraordinrio obje-

    tivo de criar uma sociedade equili-brada na qual todos os seus mem-bros sejam solidrios entre si.1

    obvio que tal desiderato sser alcanado mediante profundatransformao interior das criaturashumanas. No obstante, a sublimeadvertncia de Jesus sobre a facili-dade de um camelo passar pelo fun-do de uma agulha referncia porta denominada de Buraco da

    Agulha que se abria para os deser-tos da Sria, e que era de difciltransposio na Jerusalm de seutempo 2 do que um rico entrar noreino de Deus, o homem ainda in-siste na acumulao fria, egosta,mesquinha e mesmo perversa debens materiais. Segundo o EspritoFnelon: O mau uso consiste em osaplicar exclusivamente na sua sa-tisfao pessoal; bom o uso, ao

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    Riqueza material: grandedesafio HumanidadeAnselmo Ferreira Vasconcelos

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    contrrio, todas as vezes que delesresulta um bem qualquer para ou-

    trem. O merecimento de cada umest na proporo do sacrifcio quese impe a si mesmo. A beneficn-cia apenas um modo de empre-gar-se a riqueza; ela d alvio misria presente; aplaca a fome,preserva do frio e proporciona abri-go ao que no o tem. Dever, porm,igualmente imperioso e meritrio o de prevenir a misria. Tal, sobre-tudo, a misso das grandes fortu-nas, misso a ser cumprida me-diante os trabalhos de todo gnero(...).3

    Portanto, no difcil concluirque o emprego das fortunas aindano segue as sensatas recomenda-es exaradas. No por outra ra-zo, alis, que existem tantas almasno Planeta sem o mnimo necess-rio s suas sobrevivncias. Por outrolado, a literatura esprita tem sidoextremamente explcita sobre as ne-

    fastas conseqncias colhidas pe-los sovinas, desonestos e incautos.

    Num dos inmeros casos rela-tados, o Esprito Andr Luiz abor-da o triste encontro com seu avpaterno, Cludio, em uma de suasmuitas misses nas regies umbra-linas. Comenta o inolvidvel com-panheiro que todos os Espritos alise encontravam em terrveis condi-es, a saber: (...) Esfarrapados, es-

    quelticos, traziam as mos cheiasde substncia lodosa que levavamde quando em quando ao peito,ansiosos, aflitos. Ao menor toque devento, atracavam-se aos fragmentosde lama, colocando-os de encontroao corao, demonstrando infinitoreceio de perd-los. 4 Em outraspalavras, aqueles inditosos irmosem assim agindo imaginavam retero ouro em suas mos.

    O instrutor de Andr na refe-rida misso libertadora, Calderaro,

    por sua vez, esclareceu-lhe tratar-sede criaturas enlouquecidas pela pai-xo de possuir culminando como(...) escravos de monstros mentaisde formao indefnivel.5Assimsendo, em tempos como os que es-tamos vivendo, onde o Espiritismodesenvolve uma ao perene parailuminar as conscincias apegadas ssensaes mais torpes, a precauoao lidar com quantidades substan-ciosas de haveres monetrios im-prescindvel.

    Sob o imperativo da lei de aoe reao, qual todos estamos sub-metidos, aos Espritos que fracas-sam na prova das posses materiais indubitavelmente, uma das mais di-fceis e complexas , caber enfren-tar speras experincias at a aqui-

    sio dos tesouros que as traas noroem e nem a ferrugem corri (verMateus, 6:19-20). Quando assis-timos as melanclicas imagens deirmos africanos ou mesmo brasi-leiros, via de regra exibindo as facesamargas e esquelticas sustentadaspor corpos cadavricos indican-do avanado estado de subnutriocrnica, ficamos a conjecturar quan-tos ali no foram um dia senhores

    de expressiva fortuna mas que, porno aceitarem os apelos do bem, es-

    to reencarnados em lares submeti-dos a dolorosa penria a fim deaprenderem as lies da caridade eda compaixo.

    Como o dinheiro no umfim em si mesmo, devemos nosprecaver quando Deus o coloca emnossas mos. Primeiramente, parano nos escravizarmos a ele. Em se-gundo, buscando compreender quese trata de um emprstimo do Al-to nossa evoluo, cabendo a nster que devolv-lo a qualquer mo-mento. Em terceiro, buscando com-partilhar com os menos afortuna-dos atravs da caridade sem a qualsabemos hoje, graas ao Espiritis-mo, no haver salvao. Em quar-to, fazendo aos outros aquilo quegostaramos que nos fizessem.

    Infelizmente, a Humanidadeainda no percebeu que a riqueza apenas mais um dos recursos tem-

    porariamente concedidos pela Pro-vidncia Divina para a sua ascen-so espiritual. Nesse sentido, cabe-r aos seus beneficirios prestar con-tas, no devido tempo, de como taisconcesses foram empregadas emobras do bem, consoante os postu-lados cristos.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:1FRANCO, Divaldo Pereira. Leis morais da vi-

    da. Pelo Esprito Joanna de ngelis. 11. ed. Sal-vador: Livraria Esprita Alvorada, 2000, p. 123.2BACELAR, Dolores.A manso Renoir. PeloEsprito Alfredo. 7. ed. So Bernardo do Cam-po, 1985, p. 167.3KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Es-

    piritismo. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004,cap. XVI, item 13.4XAVIER, Francisco Cndido. No Mundo

    Maior. Pelo Esprito Andr Luiz. 23. ed. Riode Janeiro: FEB, 2003, cap. 18.5Idem, ibidem. p. 281.

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    Como o dinheiro

    no um fim em

    si mesmo, devemos

    nos precaver quando

    Deus o coloca emnossas mos

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    Trabalho, alegria e fraternidadeforam a tnica do Curso Interna-cional de Capacitao do Traba-

    lhador Esprita, que ocorreu no pe-rodo de 20 a 24 de julho de 2005,na sede da Federao Esprita Bra-sileira (FEB), em Braslia.

    Alemanha, Argentina, Bielo--Rssia, Bolvia, Brasil, Canad,Chile, Colmbia, Equador, EstadosUnidos, Holanda, Itlia, Mxico,Paraguai, Peru, Polnia, Porto Ri-co, Portugal, Reino Unido, Rssia,Sucia, Uruguai e Ve-

    nezuela estiveram re-presentados no Curso.Durante o evento, hou-ve traduo simult-nea para o espanhol.O curso foi inteira-mente transmitido pe-la Internet em espa-nhol e portugus, epessoas de 15 pases(Mxico, Estados Uni-

    dos, Alemanha, Guatemala, El Sal-vador, Porto Rico, Argentina, Uru-guai, Paraguai, Colmbia, Bolvia,

    Inglaterra, Luxemburgo, Peru e Ca-nad) participaram, fazendo per-guntas, tirando dvidas e enviandomensagens.

    Promovido pelo Conselho Es-prita Internacional (CEI), realiza-o da Federao Esprita Brasi-leira, o evento incluiu treinamentosnas reas de Capacitao Adminis-trativa do Dirigente Esprita, Es-

    tudo Sistematizado da DoutrinaEsprita, Estudo e Educao daMediunidade e Evangelizao Es-

    prita Infanto-Juvenil.A programao iniciou-se com

    apresentao de um coral, da FEB,de 18 vozes, que cantou em ingls,portugus, espanhol e esperanto. Aprece inicial foi proferida pela Vice--Presidente da FEB, Ceclia Rocha.

    No primeiro dia do curso, oitem desenvolvido foi Trabalho Fe-derativo e de Unificao do Mo-

    vimento Esprita. O

    Presidente da FEB eSecretrio-Geral doCEI, Nestor Joo Ma-sotti, falou sobre oitem Doutrina Espri-ta, em que destacou osurgimento do Espiri-tismo e o trabalho deKardec e dos Espri-tos Superiores. Ele res-saltou que o estudo das

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    Curso internacional capacitoutrabalhadores espritas de 23 pasesForam cinco dias de uma rica troca de experincias que dever resultar no incremento

    da divulgao da Doutrina Esprita em muitos pases

    Abertura: Formao da Mesa, com os representantes de todos os pases. Fala o Secretrio-Geral

    Apresentao do Coral da FEB

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    obras de Allan Kardec es-sencial para o trabalhador

    esprita: necessrio dis-tinguir o que Espiritismodo que opinio pessoal. Eisso s ser alcanado quan-do estudarmos atentamentea Doutrina Esprita.

    Fabio Villarraga Bena-vides, Coordenador do CEIpara a Amrica do Sul, dis-correu sobre o MovimentoEsprita em nvel interna-cional. O Diretor da FEB,Antonio Cesar Perri deCarvalho, fez uma exposio sobrea formao e o trabalho do Conse-lho Esprita Internacional. Ao final,foram respondidas diversas pergun-tas sobre os temas expostos.

    Nos demais dias, os participan-tes fizeram diversos treinamentos eestudos, trocaram experincias e ti-raram dvidas sobre capacitao ad-ministrativa de dirigentes de insti-

    tuies, ESDE, Estudo e Educaoda Mediunidade e EvangelizaoInfanto-Juvenil.

    O encerramento do Curso deCapacitao do Trabalhador Espri-ta ocorreu em clima de emoo. DaMesa dos trabalhos participaramos Coordenadores dos minicursosministrados: Ceclia Rocha, MartaAntunes de Oliveira Moura, RuteVieira Ribeiro, Jos Carlos da Silva

    Silveira e Antonio Cesar Perri de Car-valho. Todos agradeceram a partici-pao dos representantes dos pases.

    O argentino Enrique Baldovi-no, que mora no Brasil, informouao pblico sobre o lanamento datraduo, para o espanhol, da Revis-ta Esprita, ano 1858. Baldovino es-t traduzindo os demais volumes daRevista, publicada durante dozeanos por Allan Kardec. A edio

    do Conselho Esprita Internacio-nal.

    Duas homenagens sensibiliza-ram os participantes na cerimniade encerramento do curso. A pri-meira foi dirigida a um dos funda-dores do Conselho Esprita Inter-nacional, o guatemalteco GenaroBravo Rabanales, que desencarnouno dia 12 de julho de 2005, na

    Guatemala. A segunda foi dedicada Vice-Presidente da FEB, CecliaRocha, pelos 50 anos do primeirocurso de Evangelizao Infanto-Ju-venil, realizado em Porto Alegre(RS), do qual participou.

    A saudao final dos partici-pantes e representantes dos pasespresentes ao Curso Internacional deCapacitao do Trabalhador Espri-ta emocionou ao traduzir as gran-

    des dificuldades enfrentadas pelosespritas na maioria dos pases. Fa-laram Maria Henia Seifert (Alema-nha), Flix Renaud (Argentina),Marco Antnio Cardoso (Bolvia),Maria do Carmo Lopes (Canad),Odeltte Azcar (Chile), Julio Be-nigno (Equador), Vanderlei Mar-ques (EUA), Maria Moraes (Holan-da), Regina Zanella (Itlia), ElviraRubio (Mxico), Gloria Avalos de

    Ynsfrn (Paraguai), David OchoaJar (Peru), Ana Martha Cabrera(Porto Rico), Maria Isabel Saraiva(Portugal), Elsa Rossi (Inglaterra),Snia Liesenberg (Sucia), Eduar-do Camacho (Uruguai), Jos Vas-quez Lopes (Venezuela), PrzemyslawGrzybowski (Polnia) e Spartak Se-verin (Bielo-Rssia).

    Aps as consideraes dos re-

    presentantes dos pases presentes aoevento, o Diretor da FEB, AffonsoSoares, apresentou a rea do portalda FEB direcionada para o ensino edivulgao do esperanto. A lnguainternacional o principal veculode divulgao do Espiritismo noLeste europeu.

    Em clima de fraternidade, Ce-clia Rocha fez a prece final, NestorMasotti encerrou o encontro esti-

    mulando o entusiasmo, a esperanae a confiana nos bons Espritos. Eleagradeceu a participao dos pasese convidando a todos para se uni-rem em torno da Doutrina Esprita.

    Todo o material do Curso foiimpresso em ingls, portugus eespanhol e est disponvel no por-tal da FEB (www.febnet.org.br)e na pgina eletrnica do CEI(www.spiritist.org).

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    Sesso de Abertura: Participantes do Curso

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    P

    or misericrdia do Pai, todossomos compelidos, pela en-carnao, a desempenhar

    funes nobres da existncia, ex-presso utilizada por Andr Luizquando se refere ao papel da-queles que contribuem na cons-truo da sociedade. Somos pais,mes, esposos, filhos, discpulose mestres, amigos, profissionaisde diferentes reas, compositores,cientistas, poetas. Nessa condi-o, ainda que indigentes, so-mos levados a praticar o bem e

    a ensaiar passos consistentes nadifcil aprendizagem do amor.

    Falta-nos, em geral, o quedepende fundamentalmente decada um de ns, de uma decisoque tem de ser pessoal, a refor-ma interior que nos capacite aduas conquistas essenciais: a fre-qncia com que praticamos obem e a forma consciente comodevemos agir nessa direo. Em

    outras palavras, falta-nos a con-dio de sermos bons, em quanti-dade e em qualidade. Esse pareceo grande esforo do Evangelho deJesus, o grande empenho daquelesque perceberam a verdadeira inten-o do Mestre e marcaram sua vidacom exemplos que no podemosesquecer, at porque inauguraram,no panorama do mundo, um novoparadigma a ser seguido.

    Peixotinho um desses exem-plos e sobretudo por essa razoque nos temos empenhado em mar-car a passagem de seu centenrio denascimento. No para enaltec-lo,

    at porque, se fosse esta nossa in-teno, estaramos contrariando seuEsprito, presente hoje em nossa vi-da talvez de forma mais concreta doque quando integrava o mundo doschamados vivos. Mas para contar asua histria e, com essa providncia,comprovarmos que a converso queimporta em cura possvel quele

    que sinceramente se empenhe nes-se sentido.

    Quando, pela primeira vez, ti-vemos de apresentar Peixotinho aeventuais leitores da primeira edi-

    o de sua biografia (Materiali-zao do Amor, 1994), usamosdois smbolos extrados da lite-ratura, smbolos conhecidos dogrande pblico e, por isso, capa-zes de facilitar o entendimentoda alma de nosso biografado.Um deles foi O Menino do De-do Verde, de Maurice Druon,aquele que transformava em flo-res as balas de uma arma feitapara matar. O outro exemplo

    veio de uma sua conterrnea, aescritora Raquel de Queirs, naobra que marcou definitivamen-te a trajetria da grande escrito-ra O Quinze. Chico Bento foia figura lembrada. Retirante, viaminguarem suas modestas pro-vises a cada passo da estrada es-pinhosa. Em certo momento,encontra um companheiro deinfortnio que tentava alimen-

    tar seus filhos e sua mulher comrestos de carne estragada. ChicoBento divide o que lhe restava como outro. uma cena surreal, por-que revela um desprendimento so-mente exercitado pelos santos.

    Peixotinho tinha o otimismodo menino de Druon e a prodigali-dade de Chico Bento. Seu otimis-mo revelava sua f e a conscinciade sua atitude permanentemente

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    Peixotinho centenrio Humberto Vasconcelos

    Peixotinho ao lado de Chico Xavier

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    fraterna. Isso ele construiu e suahistria tem servido para incentivar

    a quem se disponha a fazer o mes-mo. Ns, espritas, temos de estaratentos tarefa de mencionar essesexemplos, porque eles compem ahistria do Espiritismo que no po-demos sonegar de nossos filhos.

    ...

    Peixotinho (Francisco PeixotoLins) nasceu em Pacatuba, munic-pio que hoje integra a rea metro-politana de Fortaleza, no dia 1o defevereiro de 1905. Passou a infn-cia na capital do Estado e na ado-lescncia seguiu o rumo da aven-tura, opo quase fatal de seusconterrneos, embrenhando-se pe-la Amaznia, em busca de sustento.Logo retornou ao lugar de origem.Era uma pessoa especial. Destemi-do e brincalho, viu-se envolvi-do em algumas situaes embara-

    osas, algumas delas tpicas de suasincomuns caractersticas. Eram oscomeos da mediunidade. A fam-lia pretendeu que ele se dedicasse Igreja e at chegou a ingressar emseminrio. No era sua praia. Umepisdio mais severo o mantm emestado catalptico durante algumtempo. Foi julgado morto. Quan-do os fenmenos comearam a in-viabilizar sua vida, encontrou em

    seu caminho a figura paternal deVianna de Carvalho, ento Majordo Exrcito, servindo em quartel nacidade de Fortaleza. Foi recebido naCasa Esprita onde hoje se ergue aFederao Esprita do Estado doCear. A terapia esprita deu certo.Os primeiros livros espritas foramlidos. Lanada estava a base de suaopo esprita.

    Transferiu-se para o Rio de

    Janeiro, seguindo novamente a ro-tina a que esto os nordestinos pre-destinados. Fixou-se em Niteri,foi convocado para o Exrcito, pas-

    sou a servir na Fortaleza de SantaCruz. De l, j na condio de mi-litar, seguiu para Maca junto comseu primo-irmo, Raimundo Peixo-to Lins, conhecido no MovimentoEsprita daquela cidade do nortefluminense como Peixoto. Partici-pou da fundao do Grupo Espri-ta Pedro (sede, hoje, da Unio Es-prita Macaense). Em 1936, segun-do o testemunho do Professor Pier-

    re Ribeiro, seu contemporneo ain-da hoje encarnado e ativo nas lidesespiritistas, comearam regularmen-te os fenmenos que haveriam demarcar toda a sua vida.

    Em Maca constitui famlia.Consorcia-se com Baby uma desuas estrelas-guias e a nascem osprimeiros dos nove filhos. A outraestrela-guia foi a filha Aracy, quedesencarnou em 1937 e passou a

    ser sua mentora, sempre presentequando o pai ameaava fugir da ro-tina rigorosa dos mdiuns a serviodo bem. Em 1944, em plena Se-

    gunda Guerra, transferido paraImbituba, San