reforma politica - cartilha

Upload: marta-caregnato

Post on 07-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    1/46

    REFORMA POLTICA Construindo a plataforma dos

    movimentos sociais para aReforma do Sistema Poltico no Brasil

    Reflexes para o Debate

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    2/46

    REFORMA POLTICA

    Co str i do a plataforma dos

    movime tos sociais para aReforma do Sistema Poltico o Brasil

    Reflex es para o Debate

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    3/46

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    4/46

    Sumrio

    ABERTURA.............................................................................................................................................................05

    PLATAFORMA DA REFORMA DO SISTEMA POLTICO BRASILEIRO ...................................................................I - APRESENTAO E HISTRICO DO PROCESSO.................................................................................................09

    II - INTRODUO...................................................................................................................................................11A Constituio de 1988 e o Sistema Poltico ............................................................................................................11Interesses e concepes diferentes ........................................................................................................................... 11Concepo e Objetivos................................................................................................................................................12Princpios .....................................................................................................................................................................13O Estado e o sistema poltico ......................................................................................................................................14

    III - EIXOS E PROPOSTAS .......................................................................................................................................151 - FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA DIRETA................................................................................................15PROPOSTAS: ..........................................................................................................................................................151.1 - Regulamentao e ampliao dos mecanismos de democracia direta previstos na Constituio Federal: plebiscitos,referendos e iniciativa popular....................................................................................................................................151.2 - Instituir a obrigatoriedade nos estados e municpios do plebiscito, referendos e iniciativa popular ...............161.3 - Plesbicitos e referendos para os acordos internacionais ....................................................................................161.4 - Criao de poltica de financiamento pblico e de controle das doaes privadas para as campanhas de formaode opinio nos processos de referendos e plebiscitos ...............................................................................................161.5 - Construo de uma poltica pblica de educao para a cidadania ..................................................................161.6 - Revogao popular de mandatos eletivos ..........................................................................................................161.7 - Fazer referendo sobre a Reforma Poltica aprovada pelo Congresso Nacional .................................................16

    2 - FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA ...................................................................................1PROPOSTAS: ..........................................................................................................................................................172.1 - Participao na definio das prioridades de pauta do Congresso Nacional e demais Cmaras legislativas ...172.2 - Criar mecanismos de participao, deliberao e controle social das polticas econmicas e dedesenvolvimento .........................................................................................................................................................172.3 - Criao de mecanismos de participao e de controle social do ciclo oramentrio (formulao/definio,execuo, avaliao/monitoramento e reviso) na Unio, estados e municpios .....................................................172.4 - Reforma das Regras de Tramitao do Oramento no Poder Legislativo: fim das emendas individuais ..........172.5 - Acesso universal s informaes oramentrias na Unio, estados e municpios .............................................172.6 - Continuidade de planos e programas das polticas pblicas .............................................................................18

    2.7 - Criar mecanismos de dilogo e de interlocuo dos diferentes espaos de participao e controle social .....183 - APRIMORANDO A DEMOCRACIA REPRESENTATIVA: SISTEMA ELEITORAL E PARTIDOS POLTICOPROPOSTAS ...........................................................................................................................................................18

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    5/46

    3.1 - Financiamento pblico exclusivo de campanhas ...............................................................................................183.2 - Manuteno dos partidos polticos exclusivamente atravs de contribuies de filiados definidos em convenespartidrias e dos fundos partidrios ..........................................................................................................................193.3 - Destinao do tempo de propaganda partidria para aes afirmativa ...........................................................193.4 - Uso de recursos do fundo partidrio para a educao poltica e aes afirmativas .......................................193.5 - Implantao da Fidelidade Partidria .................................................................................................................193.6 - Voto de legenda em listas partidrias preordenadas .........................................................................................19

    3.7 - Possibilidade de criao de federaes partidrias ............................................................................................203.8 - Fim da clusula de barreira .................................................................................................................................203.9 - Prazo de filiao ..................................................................................................................................................203.10 - Fim da reeleio para todos os cargos executivos ............................................................................................203.11 - Limites de mandatos .........................................................................................................................................203.12 - Proibio de disputar novas eleies ...............................................................................................................203.13 - Suplente de Senador/a .....................................................................................................................................203.14 - Fim da votaes secretas nos legislativos ........................................................................................................203.15 - Imunidade parlamentar ....................................................................................................................................203.16 - Foro privilegiado ...............................................................................................................................................213.17 - Pesquisas eleitorais ............................................................................................................................................213.18 - Gravao de propaganda para rdio e TV ........................................................................................................213.19 - Cabos eleitorais .................................................................................................................................................213.20 - Fim do Nepotismo ...........................................................................................................................................213.21 - Fim do sigilo bancrio, patrimonial e fiscal ......................................................................................................213.22 - Relao com empresas que prestam servios ao Estado .................................................................................213.23 - Exigncia de concursos pblicos para preenchimento de cargos pblicos nos trs poderes .........................213.24 - Tribunais de Contas ..........................................................................................................................................213.25 - Reforma da Justia Eleitoral ..............................................................................................................................21

    4 - DEMOCRATIZAO DA INFORMAO E DA COMUNICAO ......................................................................22PROPOSTAS: ...............................................................................................................................................................224.1 - Sistema pblico de comunicao .......................................................................................................................224.2 - Controle de propriedade ....................................................................................................................................234.3 - Controle pblico .................................................................................................................................................234.4 - Propagandas oficiais .........................................................................................................................................234.5 - Software livre ......................................................................................................................................................234.6 - Horrio gratuito .................................................................................................................................................23

    5 - TRANSPARNCIA NO PODER JUDICIRIO .....................................................................................................23PROPOSTAS: ................................................................................................................................................................235.1 - Concurso Pblico.................................................................................................................................................235.2 - Fim do STF ...........................................................................................................................................................235.3 - Defensorias pblicas municipais .........................................................................................................................24

    5.4 - Fim do sigilo bancrio, patrimonial e fiscal ........................................................................................................245.5 - Corregedorias Populares .....................................................................................................................................245.6 - Demisso de Juzes/as e promotores/as .............................................................................................................24

    CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................................................................25

    ANEXO 01 - REGULAMENTAO DOS INSTRUMENTOS DE DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E DIRETA ........ ANEXO 02 - O PROCESSO ORAMENTRIO ........................................................................................................27 ANEXO 03 - QUADRO DOS CONSELHOS NACIONAIS E CONFERNCIAS ...........................................................29 ANEXO 04 - REFORMA DA JUSTIA ELEITORAL ..................................................................................................35 ANEXO 05 - A REFORMA POLTICA NO CONGRESSO NACIONAL .......................................................................36

    ANEXO 06 - DEMOCRATIZAO DA INFORMAO E DA COMUNICAO ......................................................41EXPEDIENTE ..........................................................................................................................................................44

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    6/46

    5

    ABErTurA Construindo a plataforma dos movimentos sociais

    para a Reforma do Sistema Poltico no Brasil

    Os debates sobre a reforma poltica, em que pese os distintos momentos de ascenso e descenso

    do debate no Congresso, governo federal e mdia, tm tido um marco comum: a nfase, quando noa reduo exclusiva do debate, a uma reforma da legislao eleitoral e dos partidos.A construo de uma sociedade democrtica exige, entretanto, uma reforma poltica ampla,

    que expanda a democracia nas suas distintas possibilidades: direta, representativa e participativa.Entendemos como essencial a questo da democratizao da informao e da comunicao, assimcomo a transparncia no Poder Judicirio. com este escopo que, movimentos sociais, redes, frunse ONGs, vm construindo, desde 2005, uma proposta de Reforma Poltica.

    Esta proposta est agora, em sua primeira sistematizao, ps-seminrios no Frum SocialBrasileiro, colocada, para ampla consulta e debate nacional nos espaos de participao das redes,fruns, movimentos sociais, populares e sindical.

    Os resultados deste ciclo de debates, a serem sistematizados ao final do ano, dependero,entretanto, da adeso alcanada pela proposta e de sua ampla difuso. Convocamos, por isto, aoengajamento nesta iniciativa: promovendo espaos de debates da proposta e difundindo a iniciativanos mais diversos meios de comunicao a nosso alcance.

    No final de novembro , na cidade de Salvador, realizaremos um seminrio com o objetivo desintetizar em uma plataforma poltica todas as propostas apresentadas, assim como definir novasestratgias de atuao. Por enquanto, nossa inteno , no incio de 2007, fazer uma grande pressosobre o novo Congresso Nacional e o Poder Executivo Federal, para que os itens desta plataformasejam considerados no processo de reforma poltica. AGENDA DE DEBATES E SEMINRIOS* Agosto, setembro, outubro: debates regionais/estaduais/por entidades, com escolha de representantes(at 3) para o encontro nacional.* At 6 de novembro: enviar relatrios dos debates, para [email protected]* De 6 de novembro a 22 de novembro: preparao da sntese dos debates.* Fim de novembro: encontro nacional (local a confirmar) ROTEIRO PARA DISCUSSO

    Cada Estado/regio debate o texto da melhor forma possvel, em um ou mais encontros.Sugerimos que o documento seja lido e debatido e que seja feito um relatrio da discusso, procurandodestacar:1) dvidas e questionamentos;2) complementaes e supresses de propostas, dentro de cada eixo.

    RECURSOS PARA O ENCONTRO

    Informamos tambm que estamos procurando recursos para o encontro nacional (para custearrepresentantes dos debates nos Estados). Mas no teremos recursos para os encontros regionais/ estaduais. Contamos que cada entidade ou articulao possa se envolver, da melhor forma possvel,neste processo, mobilizando seus prprios recursos.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    7/46

    6

    MAIS INFORMAES E CONTATOSMais informaes e textos suplementares se encontram no site

    www.participacaopopular.org.brContatos: Jos Antonio Moroni ([email protected]), Ana Claudia Teixeira ([email protected]), Michelle Prazeres ([email protected]), Cassio Frana ([email protected]).Saudaes democrticas,

    ABONG - Associao Brasileira de ONGs AMB - Articulao de Mulheres Brasileiras AMNB - Articulao de Organizaes de Mulheres Negras Brasileiras Campanha Nacional pelo Direito Educao Comit da Escola de Governo de So Paulo da Campanha em Defesa da Repblica e daDemocracia CEAAL - Conselho Latino Americano de Educao FAOR - Frum da Amaznia Oriental FBO - Frum Brasil do Oramento FES - Fundao Friedrich Ebert FNRU - Frum Nacional de Reforma Urbana FNPP - Frum Nacional de Participao Popular Frum de Reflexo Poltica Inter-redes Direitos e Poltica Intervozes Movimento Nacional Pr-Reforma Poltica com Participao Popular Observatrio da Cidadania PAD - Processo de Dilogo e Articulao de Agncias Ecumnicas e Organizaes Brasileiras Rede Brasil sobre Instituies Financeiras Multilaterais REBRIP - Rede Brasileira pela Integrao dos Povos Rede Feminista de Sade

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    8/46

    PLATAFormA DA rEFormA DoSiSTEmA PoLTiCo BrASiLEiro

    (Vers o para debate)

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    9/46

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    10/46

    9

    Em 2005, foi realizado em Recife o seminrio nacional Novas estratgias para ampliar a democraciae a participao, reunindo mais de 60 participantes, representando 21 estados, de diversas organizaes/ redes/fruns/movimentos e articulaes. Na preparao do seminrio nacional foram realizados, entreagosto e novembro de 2005, seminrios estaduais e regionais, envolvendo os seguintes Estados: Acre,Amap, Par, Tocantins, Rondnia, Roraima, Maranho, Cear, Pernambuco, Piau, Sergipe, Alagoas,Bahia, Paraba, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, So Paulo e Gois. Posteriormente foi realizadoum encontro regional, envolvendo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran.

    O seminrio foi estruturado com base em trs eixos de debate: 1) os sentidos da participao, dademocracia e do desenvolvimento; 2) avaliao crtica dos instrumentos e mecanismos de participao ede controle social; 3) formulao de novas estratgias para ampliar a democracia e a participao.

    O que orientou a construo de novas estratgias foram quatro grandes questes:

    1 - Como criar mecanismos de participao e controle social na poltica econmica, integrando-acom as outras polticas?2 - Como pautar o debate da participao e do controle social no processo de discusso da reformapoltica?3 - Como romper a fragmentao da atual arquitetura da participao, respeitando as nossasidentidades? Como assegurar que os canais de participao dialoguem com o conjunto dasociedade? Pensar o papel e estratgias em relao mdia.4 - Como desenvolver novas formas de participao e do controle social sobre o Legislativo e oJudicirio? Como fazer com que o Legislativo, o Ministrio Pblico (MP) e o Judicirio cumpramo seu papel de fortalecimento da participao e do controle social?

    Aps amplo debate, ficou consensuado que a Reforma Poltica seria o tema escolhido paraconcentrarmos nossas aes em 2006 e 2007. Reforma Poltica entendida aqui como um campotemtico, em que os movimentos e redes podem concentrar energias, com base na perspectiva demudana da cultura poltica e ampliao dos processos democrticos e que, em certo sentido, sintetizaas quatro grandes questes acima.

    Para construir esta estratgia foi tirada uma agenda poltica para 2006/2007 dividida em trsmomentos:

    1) Construo da minuta da Plataforma da reforma do sistema poltico e discusso no FrumSocial Brasileiro, realizado em abril de 2006, em Recife. O debate se deu por meio de trs seminrios:a) A re-configurao do campo democrtico e popular e a busca de novas formas de se pensar efazer poltica; b) Reforma poltica como ampliao da democracia e da participao; e c) participaoe controle social: por onde navegamos?

    2) Debate nos diferentes grupos, redes, fruns, movimentos, organizaes e articulaes daminuta da plataforma (junho a outubro de 2006) e interveno no processo eleitoral (discusso comos/as candidatos/as)

    3) Consensuar proposta de reforma do sistema poltico (novembro de 2006) apresentando propostade lei ao novo Congresso (2007).

    Participam desta estratgia, at o momento, as seguintes redes/fruns,/movimentos e articulaes: ABONG(Associao Brasileira de ONGs), Inter-redes Direitos e Poltica,FNPP( Frum Nacionalde Participao Popular), Observatrio da Cidadania, Rede Brasil sobre Instituies FinanceirasMultilaterais,FAOR( Frum da Amaznia Oriental),AMB( Articulao de Mulheres Brasileiras),

    AMNB( Articulao de Mulheres Negras Brasileiras),PAD( Processo de Dialogo e Articulao de

    I APRESENTAO E HISTRICO DO PROCESSO

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    11/46

    10

    Agncias Ecumnicas e Organizaes Brasileiras),FBO( Frum Brasil do Oramento),FNRU( FrumNacional da Reforma Urbana),CEAAL(Conselho Latino Americano de Educao),REBRIP( Rede pelaIntegrao dos Povos), Movimento Pr-reforma Poltica com Participao Popular, Comit da Escolade Governo de So Paulo da Campanha em Defesa da Repblica e da Democracia, Rede Feministade Sade, Frum de Reflexo Poltica, Campanha Nacional pela Educao, Intervozes e FES.

    A presente minuta de Plataforma da reforma do sistema poltico, para o debate, fruto desseprocesso, pois no consideramos a Reforma Poltica como um problema exclusivo dos partidos.

    As propostas apresentadas aqui foram feitas a muitas mos, com objetivo de contribuir na discussosobre reforma do sistema poltico. Isso no quer dizer que o conjunto das redes, fruns e movimentosconcordem com elas, na integra, pois todos/as esto discutindo esta verso para o debate. Valeressaltar ainda que essas propostas foram elaboradas e discutidas com total autonomia em relaoaos partidos polticos.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    12/46

    11

    II - INTRODUO

    A COnSTITuIO DE 1988 E O SISTEMA POLTICO

    Na Carta de 1988, os/as constituintes elegeram como objetivos fundamentais da RepblicaFederativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidria, garantir o desenvolvimentonacional, erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais,promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, etnia, sexo, cor, idade e quaisqueroutras formas de discriminao.1 E que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio derepresentantes eleitos ou diretamente.

    A incapacidade das instituies vigentes concretizarem plenamente os objetivos da Constituio, oaumento do sentimento de distncia entre os/as eleitores/as e seus/suas representantes, motiva parteda sociedade civil a lutar pela reforma do sistema poltico e a busca de novas formas de se fazer epensar a poltica.

    1 CF, Art. 3, incisos I, II, III e IV.

    Por s a vez, essa i satisfa o pop lar i spira o s rgime to de ovas propostas,com o objetivo de promover os i teresses pop lares os espa os de tomada dedecis o. Q eremos resgatar o co ceito poltico de poder pop lar.

    InTERESSES E COnCEPES DIFEREnTES

    A reforma poltica um tema recorrente na vida poltica brasileira. Est presente na agenda doscongressistas h vrios anos, mas sempre orientada pelos interesses eleitorais e partidrios. o chamadocasusmo eleitoral geralmente, alteraes de curto prazo e de curta durao. por isto que a maioriados polticos tem uma concepo de reforma poltica como apenas reforma do sistema eleitoral.

    Est presente tambm nas discusses acadmicas e na mdia. Na academia, mais como um objetoa ser estudado/pesquisado; e na mdia, quase sempre, como a soluo de todos os males do pasou de forma pejorativa. Para uma parte significativa desses atores, um instrumento para melhorara governabilidade do Estado (manter as elites no poder) ou aumentar sua eficincia (como atendermelhor aos interesses das elites).

    No mbito da sociedade civil organizada, das organizaes, movimentos, redes, fruns e articulaesque defendem o interesse pblico, aqui entendido como os interesses da maioria da populao, ea radicalizao da democracia, a reforma poltica est inserida em um contexto mais amplo, quenecessariamente diz respeito a mudanas no prprio sistema poltico, na cultura poltica e no prprioEstado. Por isso, os princpios democrticos que devem nortear uma verdadeira reforma poltica soos da igualdade, da diversidade, da justia, da liberdade, da participao, da transparncia e controlesocial. Em resumo, entendemos como reforma poltica a reforma do prprio processo de deciso,portanto, a reforma do poder e da forma de exerc-lo.

    Sendo assim, reforma poltica ganha olhares e enfoques diferentes de acordo com os interessesde quem a debate e do lugar que ocupa no cenrio poltico e na vida pblica.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    13/46

    12

    CONCEPO E OBJETIVOS

    Democracia muito mais que o direito de votar e ser votado. preciso democratizar a vida social,as relaes entre homens e mulheres, crianas e adultos, jovens e idosos, na vida privada e na esferapblica, as relaes de poder no mbito da sociedade civil. Portanto, democracia muito mais queapenas um sistema poltico formal e a relao entre Estado e sociedade, tambm a forma como aspessoas se relacionam e se organizam.

    A Reforma Poltica q e defe demos visa radicaliza o da democracia, parae fre tar as desig aldades e a excl s o, promover a diversidade, fome tar a participa o cidad .

    Isto significa uma reforma que amplie as possibilidades e oportunidades de participao poltica,capaz de incluir e processar os projetos de transformao social que segmentos historicamenteexcludos dos espaos de poder, como as mulheres, os/as afrodescendentes, os/as homossexuais,os/as indgenas, os/as jovens, as pessoas com deficincia, os/as idosos/as e os/as despossudos/as dedireitos de uma maneira geral trazem para o debate pblico.

    No queremos a incluso nesta ordem que a est. Queremos mudar esta ordem. Por isto,pensamos o debate sobre a Reforma do Sistema Poltico como um elemento-chave na crtica srelaes que estruturam este mesmo sistema. Entendemos que o patrimonialismo e o patriarcado aele associado; o clientelismo e o nepotismo que sempre o acompanha; a relao entre o populismo e opersonalismo, que eliminam os princpios ticos e democrticos da poltica; as oligarquias, escoltadaspela corrupo e sustentadas em mltiplas formas de excluso (pelo racismo, pelo etnocentrismo,pelo machismo, pela homofobia e outras formas de discriminao) so elementos estruturantes doatual sistema poltico brasileiro que queremos transformar.

    O que entendemos por esses conceitos:

    PATRIARCADO Qualquer sistema de organizao poltica, econmica, industrial, financeira,religiosa e social no qual a esmagadora maioria de posies superiores na hierarquia ocupada

    por homens.PATRIMONIALISMO Conduta poltica de elites dominantes, no exerccio de funes pblicas degoverno, que se caracteriza pela apropriao do que pblico - do Estado, suas instituies e seusrecursos, como se fossem patrimnio privado.

    OLIGARQUIA - Forma de governo em que o poder est concentrado nas mos de um pequeno nmerode indivduos, em geral com laos familiares e/ou vnculos partidrios, e pertencentes a classes sociaisprivilegiadas. A organizao poltica patriarcal e a conduta patrimonialista so traos marcantes dospoderes oligrquicos.

    NEPOTISMO prtica de favorecimento e distribuio de empregos a parentes por parte de pessoas

    que exercem cargos e funes pblicas.CLIENTELISMO prtica baseada na troca de favores e no apadrinhamento, usando-se as estruturase servios pblicos no interesse particular daqueles que exercem a funo pblica.

    PERSONALISMO culto s personalidades, com a conseqente desvalorizao do debate poltico ea despolitizao dos conflitos.

    CORRUPO apropriao e desvio de recursos pblicos para fins particulares, alm de servir comoardil para manter-se imune s punies legais existentes e meio para manter-se no poder.

    A presente plataforma rene propostas de modificaes na vida poltica e que tenham como obje-tivo principal tornar os espaos e as decises polticas permeveis aos interesses populares. Sabemosdos limites da democracia liberal e do prprio capitalismo, mas entendemos que, mesmo com esteslimites, possvel avanarmos na direo de um projeto poltico de sociedade centrado no combatea todas as formas de desigualdades.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    14/46

    13

    PRINCPIOS

    Essa plataforma parte do pressuposto da necessidade da consolidao e ampliao dos espaos departicipao e controle social e o reconhecimento dos diferentes sujeitos polticos que atuam nestesespaos. Alm disso, compreendemos que preciso aperfeioar a democracia representativa, e aomesmo tempo, dot-la de mecanismos de democracia participativa e direta. Essas transformaes sse realizam se tivermos um sistema pblico de comunicao, baseado nos princpios da democratizao,do controle social, e do direito ao acesso s informaes. Por isso, o direito humano comunicaotem centralidade nesta plataforma.

    Entendemos que no existe aprofundamento democrtico e reforma no plano poltico sem umaverdadeira reforma nos espaos pblicos de deciso das polticas econmicas. Queremos valorizar apoltica diante dos interesses econmicos, e no aceitamos a separao entre o poltico/o econmico/osocial. Entendemos que todas as polticas pblicas, sejam elas econmicas e/ou sociais, so mecanismosde redistribuio ou concentrao de renda, riquezas e do poder.

    Temos a convico de que o poder real nunca pode ser inteiramente delegado, ele cabe cidadania. Por isto, o controle social e a participao cidad e outras formas no institucionais deexerccio poltico, autnomas e independentes, so elementos fundamentais democratizao daarena poltica.

    Os princpios democrticos que devem nortear uma verdadeira reforma poltica so osda igualdade, da diversidade, da justia, da liberdade, da participao, da transparncia econtrole social.

    O que entendemos por esses conceitos:

    IGUALDADE:Equilbrio de direitos e responsabilidades entre os/as cidados/as, respeitando asdiversidades . Ope-se s disparidades de renda, posse de terra, acesso sade, acesso educao,acesso aos espaos de deciso, representao poltica, acesso ao comrcio internacional entre ospases, apropriao da riqueza produzida nas relaes de trabalho, entre outras.

    DIVERSIDADE:Distines dadas por aspectos de gnero, geracional, raa/cor, etnia, orientao sexual,pessoa com deficincia, entre outros. Diz respeito tambm aos diferentes espaos geogrficos ondeas populaes se organizam (reas urbana e rural, comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhas,indgenas) e s distintas atividades econmicas praticadas (extrativista, artesanal, agricultura familiar,atividade pesqueira, industrial). O conceito de diversidade no se ope ao de igualdade, pois a igualdadebusca respeitar as diversidades.

    JUSTIA:Defesa dos Direitos Humanos, Econmicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCAs),buscando restaurar os direitos ameaados e garantir a implementao dos direitos noreconhecidos ou a criao de novos direitos. Tem como orientao posicionar-se contra prticasque beneficiam o interesse privado em detrimento do interesse pblico (entre essas, o clientelismo,o patrimonialismo, o nepotismo, a corrupo, o preconceito, as discriminaes). Observa o sistemademocrtico, a forma de governo repblicana e o Estado de Direito, combatendo todas as formasde desigualdades e injustias.

    LIBERDADE:Princpio que prev a livre expresso, movimentao, atividade poltica e de organizaodos/as cidados/as. Orienta o/a cidado/ a expressar-se e a atuar politicamente em defesa de valoresdemocrticos, como a igualdade e os Direitos Humanos; contestar e atuar politicamente contrasituaes de desigualdades sociais, polticas, jurdicas e econmicas.

    PARTICIPAO:Atuao da sociedade civil do campo democrtico (movimentos sociais, organizaes,etc.) nos espaos pblicos de deciso. Deve ocorrer, preferencialmente, por meio da institucionalizao demecanismos de democracia participativa e direta, inclusive na elaborao, deliberao, implementao,monitoramento e avaliao das polticas pblicas. tambm um processo de aprendizado, na medidaem que qualifica a interveno de cidado/s para a atuao nos espaos pblicos de deciso.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    15/46

    14

    TRANSPARNCIA:Acesso universal s informaes pblicas, por meio da disponibilidade inteligvelao conjunto da populao. Inclui tambm a divulgao ampla, permanente e imparcial das decisespblicas, sejam oriundas da burocracia ou dos/as representantes eleitos/as nomeados/as. uma posturatica que se espera do poder pblico. A transparncia e o acesso s informaes pblicas fazem parteda defesa pelo direito humano comunicao.

    CONTROLE SOCIAL:Monitoramento do Estado por parte da sociedade civil que atua no campo

    democrtico, entre os quais, os movimentos sociais, visando ao controle das aes governamentais. A qualidade do controle social pressupe a transparncia e o acesso s informaes pblicas. O controlesocial visa defesa e a implementao de polticas pblicas que respeitem o conceito de igualdade,universalidade, diversidade, justia e liberdade.

    O ESTADO E O SISTEMA POLTICO

    O fato de o Estado ser o ator central de toda poltica pblica implica que mudanas em suasinstituies so indispensveis a qualquer estratgia de aperfeioamento do sistema poltico. Nessesentido, faz parte dessa plataforma o pressuposto de que a ampliao da participao social na esferapblica depende de mudanas profundas na prpria estrutura do Estado, em todas as suas esferas federal, estadual e municipal, no mbito do Executivo, do Legislativo e do Judicirio.

    E fim, precisamos ter m Estado eficie te a defesa do i teresse pblico,isso s possvel com ampla participa o pop lar. Por isso, essa plataformaop e-se ecessariame te ao paradigma do Estado m imo e co cep o

    eoliberal de Estado e ao e de same to do mercado, q e tra sforma acidada ia em co s mo.

    Defendemos que a democratizao do Estado deve passar pelos cinco eixos abaixo:1 - Fortalecimento da democracia direta;2 - Fortalecimento da democracia participativa;3 - Aprimorando a democracia representativa: sistema eleitoral e partidos polticos4 - Democratizao da informao e da comunicao;5- Transparncia no Poder Judicirio

    A seguir, detalharemos as propostas para estes cinco eixos.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    16/46

    15

    III - EIXOS E PROPOSTAS

    1. FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA DIRETA

    EMENTA

    Uma reforma efetiva do sistema poltico brasileiro vai muito alm da reforma do sistema eleitoralem tramitao no Congresso Nacional. Deve ser mais ampla, extrapolando a vida partidria e trazendoa participao popular para o centro das decises polticas e econmicas. A poltica no monoplioexclusivo de polticos/as eleitos/as e nem dos partidos, mas do conjunto da sociedade.

    Outra condio imprescindvel da democracia brasileira a definio de uma nova regulamentaodas formas de manifestao da soberania popular expressas na Constituio Federal (plebiscito,referendo e iniciativa popular). A atual no s restringe a participao, como a dificulta. A ampliaodas regras sobre plebiscito e referendo necessria para que a participao popular nas decises

    polticas seja efetiva e no meramente simblica. Nada mais justo e eqitativo do que submeter aReforma Poltica deciso da populao tambm. necessrio criar a eqidade nas disputas polticas que se fazem via mecanismos da democracia

    direta (plebiscitos, referendos e iniciativa popular), por isso necessrio o financiamento pblicoexclusivo para os plebiscitos e referendos, j que a iniciativa popular apreciada pelo CongressoNacional.

    Nesse sentido, prope-se a instaurao de umsistema de democracia direta , conjugado comos instrumentos e mecanismos representativos e participativos j existentes.

    PROPOSTAS:

    1.1 - Regulamentao e ampliao dos mecanismos de democracia direta previstos na ConstituioFederal: plebiscitos, referendos e iniciativa popular No caso dos plebiscitos e referendos defendemos dois eixos centrais para a regulamentao: i)convocao regular de plebiscitos, referendos e outras formas de consultas para os principais temasnacionais e ii) o processo de organizao e debates que precede o dia da votao (propaganda na TVe rdio) deve ter a participao da sociedade civil.H um Projeto de Lei em tramitao no Congresso Nacional (PL 4718/2004) proposto pelo Conselho Federalda OAB e CNBB, por meio da Comisso de Legislao Participativa que apoiamos(ver anexo 01). No caso das iniciativas populares, defendemos que elas tm precedncia na tramitao e votao no

    Legislativo, com previso de trancamento de pauta e votao em carter de urgncia. Por exemplo: oFundo Nacional de Habitao Popular (projeto de iniciativa popular) levou 13 anos para ser aprovado.A regulamentao da iniciativa popular deve ter como eixo principal a simplificao do processo e autilizao de urnas eletrnicas.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    17/46

    16

    1.2. Instituir a obrigatoriedade nos estados e municpios do plebiscito, referendos e iniciativa popular Defendemos que Estados e municpios criem mecanismos de participao direta. H projetos de leisem tramitao em sete estados e em mais de uma dezena de municpios.

    1.3. Plesbicitos e referendos para os acordos internacionaisDefendemos que todos os acordos internacionais assinados pelo governo brasileiro com as instituiesmultilaterais ( FMI, Banco Mundial, Banco Interamericano e OMC), sejamaprovados pelo CongressoNacional e referendados pela populao.

    1.4. Criao de poltica de financiamento pblico e de controle das doaes privadas para as campanhasde formao de opinio nos processos de referendos e plebiscitosDefendemos a exclusividade de financiamento pblico para os processos de plebiscitos e referendos, parano se repetir o que ocorreu no referendo do desarmamento, quando a indstria das armas financiouo no. O financiamento pblico exclusivo pode garantir uma certa igualdade nas disputas.

    1.5. Construo de uma poltica pblica de educao para a cidadaniaConsiderando-se os enormes dficits de informaes necessrias ao exerccio pleno da participaopropomos que os diversos poderes (Executivo, Legislativo e Judicirio) criem programas de formao e

    campanhas educativas com o objetivo de proporcionar populao as informaes e os instrumentosnecessrios ao exerccio de uma participao mais qualificada junto aos diversos espaos participativosde incidncia sobre as polticas pblicas. Tais aes no devem pretender substituir o papel jrealizado nesta direo, por diversas organizaes no-governamentais, mas, sim, assumir a parcelade responsabilidade que cabe ao Estado de criar condies eqitativas para que a sociedade civilpossa influir efetivamente sobre as polticas pblicas.

    1.6. Revogao popular de mandatos eletivosA representao no pode ser um cheque em branco. Defendemos o direito da populao revogarmandatos por meio de plebiscito, convocado pelo mnimo de 30% de eleitores/as aptos/as. Com nomnimo de 50% dos votos favorveis, revoga-se o mandato.

    1.7. Fazer referendo sobre a Reforma Poltica aprovada pelo Congresso Nacional Defendemos a convocao de referendo para aprovar a reforma poltica.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    18/46

    17

    2. FORTALECIMENTO DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

    EMENTA

    necessrio superar a atual fragmentao e paralelismo da arquitetura da participao. Os inmerosespaos de participao, em especial os Conselhos de polticas e as Conferncias, no dialogam entresi e muito menos tensionam o atual sistema poltico representativo. A participao popular nesses

    espaos majoritariamente uma participao consultiva, setorializada, reproduzindo a fragmentaoexistente nas polticas pblicas e o distanciamento das decises econmicas referente alocao derecursos pblicos.

    Precisamos ampliar os espaos pblicos, institucionais ou no, de debate, a nossa capacidade demobilizao e de presso poltica, desenvolver e fortalecer os espaos de participao para o controledas polticas e de recursos pblicos, garantindo-lhes mecanismos para o efetivo compartilhamentodo poder de deciso.

    Para tanto, prope-se a construo de umsistema integrado de participao popular.

    PROPOSTAS:

    2.1. Participao na definio das prioridades de pauta do Congresso Nacional e demais CmaraslegislativasDefendemos o direito da populao em participar na definio das prioridades das pautas legislativas.O primeiro ato de cada sesso legislativa (incio do ano) ser convovar audincia pblica ou assembliapopular com a participao de parlamentares e representantes de entidades representativas dasociedade civil (com reconhecida atuao em prol do interesse pblico), com objetivo de debater apauta de votao daquele ano, elegendo prioridades.

    2.2. Criar mecanismos de participao, deliberao e controle social das polticas econmicas e dedesenvolvimento

    No existem mecanismos de participao e controle social nas polticas econmicas. Defendemos acriao desses mecanismos comeando por:a) Criao de mecanismos de participao e controle social nas decises do Banco Central, CMN Conselho Monetrio Nacional e no Cofiex - Comisso de Financiamento Externo.

    b) Criao de mecanismos de controle social sobre recursos parafiscais: ( recursos pblicos que estofora do oramento federal) e que so administrados pelo BNDES, Caixa-Econmica, Banco do Brasil,Banco do Nordeste e Banco da Amaznia.

    2.3. Criao de mecanismos de participao e de controle social do ciclo oramentrio (formulao/ definio, execuo, avaliao/monitoramento e reviso) na Unio, estados e municpiosDefendemos que esses mecanismos devam ser integrados ao conjunto de mecanismos de participao j existentes (Conselhos, Conferncias, plebiscitos, referendos etc) e que o Poder Executivo, ao elaborara proposta oramentria, seja obrigado a respeitar as deliberaes dos conselhos.Para entender melhor o ciclo do oramento veranexo 02.

    2. 4 - Reforma das Regras de Tramitao do Oramento no Poder Legislativo: fim das emendas individuaisDefendemos que o processo de discusso e aprovao do oramento pblico (PPA, LDO e LOA) peloslegislativos devem contemplar a participao ativa da sociedade civil. Defendemos o fim das emendasparlamentares individuais e carimbadas. O Legislativo pode e deve definir o total dos recursos que sedestina a uma determinada poltica pblica.

    2.5. Acesso universal s informaes oramentrias na Unio, estados e municpios

    Defendemos a implementao de canais de acesso pblico a todas as informaes oramentriasdos governos federal, estaduais e municipais. Em alguns casos, essas informaes encontram-se emsistemas informatizados. Trata-se de garantir o acesso irrestrito toda populao, ou ao menos sorganizaes da sociedade civil organizada.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    19/46

    18

    2.6. Continuidade de planos e programas das polticas pblicasCriar mecanismos legais que assegurem a continuidade de planos setoriais e programas, sobretudo narea de polticas sociais, deliberados no mbito de conselhos e conferncias e que tenham demonstradoa comprovada efetividade de seus resultados. O que supe a criao de mecanismos de avaliao.

    2.7. Criar mecanismos de dilogo e de interlocuo dos diferentes espaos de participao e controle social

    Nos ltimos anos, foram criados vrios conselhos nas diferentes polticas pblicas. Esses conselhos,com as conferncias, nas trs esferas de governo ( federal, estadual e municipal) formam os sistemasdescentralizados e participativos. Defendemos a atualidade e a necessidade de aperfeioar estessistemas. Avaliamos que um dos desafios a criao de mecanismos de dilogo e interlocuo entreesses diferentes espaos.Mais detalhes sobre os conselhos e as conferncias veranexo 03.

    3. APRIMORANDO A DEMOCRACIA REPRESENTATIVA: SISTEMA ELEITORAL E PARTI

    POLTICOSEMENTA

    A representao poltica de vereadores/as, deputados/as estaduais e federais e senadores/as, adelegao de mandatos a prefeito/as, governadores/as e presidentes/as da Repblica uma condionecessria para a democracia. Por isto, preciso democratizar as instituies representativas,inclusive e especialmente porque no tipo de democracia que vivemos no Brasil, este o principalespao de processamento e deciso sobre os conflitos sociais, econmicos e de interesses, ainda queabsolutamente insuficiente.

    Apesar de defendermos que a reforma poltica diz respeito no somente aos processos eleitoraisou aos partidos, mas sim a todos os processos decisrios, portanto, de poder, entendemosnecessrio aperfeioar a democracia representativa, o que implica mudanas no sistema eleitorale partidrio.

    Neste sentido propomos uma reforma profunda dos processos eleitorais com as seguintespropostas:

    PROPOSTAS

    3.1 - Financiamento pblico exclusivo de campanhasDefendemos o financiamento das campanhas eleitorais exclusivamente com dinheiro pblico.

    Doaes de pessoas fsicas e empresas so proibidas e sujeitas punio, tanto para o/a candidato/aque receber quanto para quem doar. Hoje as campanhas se sustentam por meio de financiamentoprivado, favorecendo, de antemo, os grandes grupos econmicos e as suas candidaturas.O financiamento pblico exclusivo fundamental para combater a privatizao e mercantilizao da

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    20/46

    19

    poltica, a corrupo eleitoral, o poder dos grupos econmicos nos processos eleitorais e favorecera participao poltica de segmentos socialmente excludos, como mulheres, afrodescendentes e jovens, entre tantos/as outros/as, no acesso representao poltica.Defendemos que os recursos para as campanhas sejam exclusivamente desta forma de financiamento,no podendo os partidos usarem recursos de filiados/as ou do fundo partidrio para os processoseleitorais.

    3.2. Manuteno dos partidos polticos exclusivamente atravs de contribuies de filiados definidosem convenes partidrias e dos fundos partidriosEsta proposta em decorrncia da proposta anterior, definindo claramente a forma de captao derecursos pelos partidos polticos. Previso de cancelamento, temporrio ou definitivo, de partido quedesrespeitar esta norma. As convenes partidrias definem o patamar mximo de contribuiodos/as filiados/as, sendo esta deciso tornada pblica.

    3.3.Destinao do tempo de propaganda partidria para aes afirmativaDefendemos que pelo menos 30% do tempo de propaganda partidria gratuita na mdia seja para apromoo da participao poltica das mulheres, afrodescedentes , indgenas, homossexuais, idosos/ase pessoas com deficincia. Esta ao afirmativa procura promover uma nova cultura poltica e combatertodas as formas de discriminaes e preconceitos na poltica.

    3.4. Uso de recursos do fundo partidrio para a educao poltica e aes afirmativasDefendemos que sejam destinados pelo menos 30% do fundo partidrio s instncias de mulheresafro-descedentes, indgenas, homossexuais, idosos/as e pessoas com deficincia (organizados/as nospartidos) para promoverem aes voltadas ao fortalecimento e ampliao da participao dessessujeitos na poltica.

    3.5. Implantao da Fidelidade PartidriaDefendemos a implantao da fidelidade partidria. Atualmente, cada partido adota suas prpriasdisposies sobre fidelidade partidria. No entanto, as/os representantes eleitas/os podem mudar departido sem perderem seus mandatos. Defendemos que os mandatos no so propriedade particularde cada eleita/o, mas sim da cidadania. Portanto, a vontade popular, expressa por meio do voto, temde ser respeitada e no pode ser infringida. Reivindicamos que a troca de partido redunde em perdaautomtica do mandato da/o eleita/o e que a sua substituio seja pela/o candidata/o suplente damesma legenda ou coligao.Em caso de perda de mandato por sada do partido, defendemos que o candidato seja filiado pelomenos h dois anos em outro partido, para poder disputar qualquer eleio.

    3.6. Voto de legenda em listas partidrias preordenadasDefendemos a adoo de listas partidrias preordenadas. No sistema atual, as/os eleitoras/os votamem candidatas/os, os quais acabam se sobrepondo aos partidos polticos. Este sistema favoreceo personalismo e a competio interna em cada partido. A adoo da lista fechada, em que as/oseleitoras/os votam nos partidos e no em pessoas, essencial para combater o personalismo, fortalecere democratizar os partidos.No entanto, a lista fechada s significa avano efetivo caso seja garantida a sua formao comalternncia de sexo e observncia de critrios tnicoraciais ,geracionais, de orientao sexual, etc.(organizados nos partidos) Caso contrrio, estas minorias polticas podero ser includas ao final daslistas e no conseguiro se eleger nunca, mantendo-se o mesmo perfil de eleitos no poder: homem,branco, proprietrio e heterossexual.Com esta proposta, os/as eleitores/as no mais elegero individualmente seus/suas candidatos/asa vereador/a, deputado/a estadual e federal, mas votaro em listas previamente ordenadas pelos

    partidos, definidas em conveno partidria. A distribuio de cadeiras seria semelhante que seprocessa hoje: cada partido continuaria recebendo o nmero de lugares que lhe corresponde pelaproporo de votos que obteve. Assim, se um partido tem direito a oito cadeiras, entram os/as oitoprimeiros colocados/as da lista.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    21/46

    20

    3.7. Possibilidade de criao de federaes partidriasDefendemos a criao de federaes partidrias para substituir as coligaes partidrias, tanto naseleies majoritrias como nas proporcionais, sejam elas para cargos federais, estaduais ou municipais.A federao permite que os partidos com maior afinidade ideolgica e programtica se unam paraatuar de maneira uniforme em todo o Pas. Ela funciona como uma forma de agremiao partidria,formada at quatro meses antes das eleies. Durante trs anos, eles deixaro de atuar como partidosisolados e passaro a agir como se fossem um nico partido. Hoje um partido pode se coligar com

    outro para uma eleio e desfazer a unio logo em seguida.3.8. Fim da clusula de barreiraDefendemos o fim da clusula de barreira. Pela legislao em vigor, os partidos s tero representaona Cmara dos Deputados (e direito participao no fundo partidrio) a partir das eleies de 2006,se obtiverem 5% dos votos do eleitorado nacional, distribudos em pelo menos nove Estados e compelo menos 2% em cada um deles.Os que defendem a clusula de barreira argumentam sobre a necessidade de reduzir o grande nmerode partidos existentes, dos quais muitos so legendas de aluguel e no merecem apoio pblico. Ja defesa do fim da clusula de barreira se sustenta na idia de que a exigncia desse percentual devotos restringe a expresso poltico-partidria dos pequenos partidos e que no cabe restringir, deprincpio, a vida e as oportunidades dos partidos. Consideramos que as/os eleitoras/os so as/osnicas/os soberanas/os para determinarem, pelo voto, sobre a existncia dos partidos e sobre o direito,inclusive, de poderem se desenvolver e crescer.Quanto aos partidos de aluguel, h que se desenvolver instrumentos que punam este tipo de corrupo,sem sacrificar a liberdade de organizao poltico partidria.

    3.9. Prazo de filiaoDefendemos que o prazo de filiao partidria exigido para o/a candidato/a seja de um ano antesda realizao da eleio, ou dois anos, caso j tenha sido filiado a outro partido. Para concorrer seleies, o candidato dever ainda possuir domiclio eleitoral na circunscrio, pelo menos, um anoantes do pleito. A atual legislao prev o perodo mnimo nico de um ano.Defendemos que os membros do Poder Judicirio, tambm, sejam sujeitos a estas normas.

    3.10. Fim da reeleio para todos os cargos executivosDefendemos o fim da reeleio para todos os cargos executivos e que os mandatos sejam de seisanos, e no mais de quatro anos.

    3.11. Limites de mandatosDefendemos a impossibilidade de exercer mais de dois mandatos eletivos consecutivos em qualquertipo de eleio a cargo poltico, sendo obrigado a uma quarentena de quatro anos.

    3.12. Proibio de disputar novas eleiesDefendemos que uma vez eleito/a para um mandato, tanto para o Executivo, quanto para os/ascandidatos/as do Legislativo, sejam proibidos/as de disputar novas eleies sem terminar os mandatospara o qual foram eleitos/as. Por exemplo, um deputado/a eleito/a no pode renunciar ou se afastardo seu mandato para concorrer a prefeito/a.Defendemos, tambm, que algum que tenha sido eleito parlamentar no assuma cargos no Executivono perodo do seu mandato.

    3.13. Suplente de Senador/aDefendemos que o nome do/a suplente a senador/a conste da cdula eleitoral ( urna eletrnica)

    3.14. Fim da votaes secretas nos legislativosDefendemos que nenhuma votao seja secreta nos Legislativos, pois entendemos que o/a parlamentartem que prestar contas das suas aes e das suas posies polticas.

    3.15. Imunidade parlamentar Defendemos o fim da imunidade parlamentar, a no ser exclusivamente ao direito de opinio edenncia.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    22/46

    21

    3.16. Foro privilegiadoDefendemos o fim do direito a foro privilegiado, a no ser no que se refere ao estrito exerccio domandato ou do cargo.

    3.17. Pesquisas eleitoraisDefendemos o fim da publicao de pesquisas s vsperas do pleito. O prazo permitido deve ser deuma semana antes do fim das propagandas gratuitas na mdia.

    3.18. Gravao de propaganda para rdio e TV Defendemos que as gravaes de propaganda de rdio e TV s sejam permitidas em estdios. Issodiminui os custos das campanhas e os efeitos de marketing.

    3.19. Cabos eleitoraisDefendemos a proibio de contratao de cabos eleitorais nas campanhas.

    3.20. Fim do NepotismoDefendemos a proibio de qualquer tipo de nepotismo direto ou cruzado nos trs Poderes e nas trs

    esferas de governo e a classificao, no Cdigo Penal, desta prtica poltica, como crime.

    3.21. Fim do sigilo bancrio, patrimonial e fiscal Defendemos o fim do sigilo bancrio, patrimonial e fiscal para candidatos/as e representantes doPoder Executivo e Legislativo para ocupantes de altos cargos do poder Executivo e Legislativo, sejamconcursados ou nomeados.

    3.22. Relao com empresas que prestam servios ao EstadoDefendemos que detentores/as de mandatos e seus familiares no mantenham vnculos administrativosde direo ou de propriedade com entidades ou empresas que prestem servios ao Estado, sob penade perda de mandato

    3.23. Exigncia de concursos pblicos para preenchimento de cargos pblicos nos trs poderesDefendemos que qualquer funo pblica seja acessada predominantemente por concursos pblicos.Neste sentido, necessrio ter uma legislao que delimite claramente a questo dos chamadoscargos de confiana.

    3.24. Tribunais de ContasDefendemos concurso Pblico para a escolha dos ministros dos Tribunais de Contas (hoje so indicadospelos Legislativos).

    3.25. Reforma da Justia Eleitoral

    1. Criar, com a participao da sociedade civil, o Conselho Nacional de regulamentao doprocesso eleitoral, tirando este poder do TSE.

    2. Criar rgo executivo eleitoral independente.3. Criar rgo fiscalizador composto pelos Partidos e organizaes da sociedade civil, com dotao

    oramentria prpria.4. Manter o TSE com a funo judiciria e, preferencialmente, que seus juzes no sejam os mesmos

    de instncias superiores, evitando que recursos contra suas decises voltem a cair nas suasprprias mos ou nas mos de seus pares.

    Para compreender melhor as propostas referentes Justia Eleitoral, veranexo 04. Noanexo 05, est uma anlise de como est a discusso dos projetos de leis em tramitao no

    Congresso Nacional, que dizem respeito a esta plataforma.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    23/46

    22

    4 - DEMOCRATIZAO DA INFORMAO E DA COMUNICAO

    EMENTA

    O direito comunicao um dos pilares centrais de uma sociedade democrtica. Assumir acomunicao como um direito fundamental significa reconhecer o direito de todo ser humano de tervoz, de se expressar. Hoje, no Brasil, nove famlias controlam os principais jornais, revistas e emissoras

    e rdio e TV, nove tm liberdade e 180 milhes de pessoas tm que aceitar o que imposto porpoucos/as. Informao poder!

    Sociedade e comunicao democrticas so indissociveis. Pertencem ao mesmo universo e suarelao no pode ser dissolvida. Se a comunicao joga um papel fundamental para a realizaoplena da cidadania e da democracia brasileira, a democratizao da comunicao representa condiofundamental para o efetivo exerccio da soberania popular.

    Por isso, propomos a criao dosistema p blico de comunicao.

    PROPOSTAS:

    4.1. Sistema pblico de comunicaoDefendemos a criao do sistema pblico de comunicao, conforme a Constituio de 1988, queprev a complementaridade dos sistemas privado, pblico e estatal de comunicao. No entanto, osistema pblico praticamente no existe, e o estatal fragilizado. Para que a comunicao possaacontecer livre de interesses comerciais ou polticos, necessrio equilibrar a proporo entre estessistemas e outorgar parte das concesses a organizaes da sociedade civil, garantindo mecanismosde financiamento.

    A com ica o, ma sociedade democrtica, perte ce ao povo. Seespa o ecessariame te pblico e o ico poder legtimo para reg lar

    s as prticas ema a da coletividade, q e q em deveria decidir sobreas q est es relacio adas ao tema. I felizme te, a orga iza o do espa o

    pblico de com ica o o Brasil fez-se at hoje sem a impresci dvel participa o pop lar.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    24/46

    23

    4.2. Controle de propriedadeDefendemos o controle pblico da propriedade dos meios de comunicao. O combate concentraoda propriedade chave para a democratizao da comunicao no Brasil. Um exemplo de controle depropriedade a proibio de que um mesmo grupo monopolize diferentes meios de comunicao.

    4.3. Controle pblicoDefendemos o controle pblico sobre os meios de comunicao, que vise democratizar e dartransparncia formulao e o acompanhamento das medidas de restrio (controle de propriedade)e de promoo (sistema pblico e estmulo diversidade). Tais medidas constituem-se na criao deespaos pblicos de deliberao, composto por ampla representao de segmentos polticos e sociais,que tm como funo fiscalizar os detentores de concesses pblicas, propor correes e sanes.

    4.4. Propagandas oficiaisDefendemos a proibio de propagandas oficiais pagas em meios de comunicao privados.

    4.5. Software livreDefendemos a criao de poltica pblica de incentivo ao uso de software livre.

    4.6 .Horrio gratuito

    Defendemos o direito de horrio gratuito para as organizaes da sociedade civil, assim como ospartidos polticos tm este direito.

    Para entender melhor estas propostas, veranexo 06.

    5. TRANSPARNCIA NO PODER JUDICIRIO

    EMENTA

    O Poder Judicirio o poder ao qual a populao tem mais dificuldades de acessar. Os/as profissionaisdo Poder Judicirio so concursados/as ou so cargo de confiana. No esto sujeitos/as a nenhum tipode controle social ou participao da populao.

    Por isso, precisamos co str ir meca ismos de participa o e co trole social sobreo Poder J dicirio, para q e c mpra o papel reg lador das rela es sociais,eco micas e polticas, e o o q e m itas vezes faz, comporta do-se como

    m poder s bmisso aos i teresses das classes poderosas e dos/as q e est o de pla t o o poder, s jeito a i fl cias polticas, corr p o, epotismo, ve dade se te as, processos decididos por j zes/as pare tes dos/as dema da tebe eficiado, e fim, m poder frgil pera te s press es das elites locais.

    Por isso, propomos a transparncia e a democratizao do Poder Judicirio .PROPOSTAS:

    5.1. Concurso PblicoDefendemos o acesso s funes do Poder Judicirio exclusivamente por concurso pblico, em todasas instancias e para todas as funes.

    5.2. Fim do STF Defendemos o fim do STF (Supremo Tribunal Federal) e a criao de um Tribunal Constitucionalcomo nica instncia acima do Superior Tribunal de Justia. A escolha dos Ministros do Tribunal

    Constitucional se daria por meio de eleies diretas nos vrios grupos de operadores do direito, porrodzio, OAB, Ministrio Pblico Federal e dos Estados e do Distrito Federal, Juizes federais e estaduais,Advocacia Geral da Unio e Procuradoria dos Estados. Hoje, os ministros do STF so escolhidos pelopresidente da Repblica.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    25/46

    24

    5.3. Defensorias pblicas municipaisDefendemos a obrigatoriedade da criao nos municpios das defensorias pblicas.

    5.4. Fim do sigilo bancrio, patrimonial e fiscal Defendemos o acesso pblico a todas as informaes bancrias, fiscais e patrimoniais de todos osmembros do Poder Judicirio e do Ministrio Pblico.

    5.5. Corregedorias PopularesDefendemos a criao de corregedorias com a participao da sociedade civil para avaliar e fiscalizara ao do Poder Judicirio.

    5.6. Demisso de Juzes/as e promotores/asDefendemos a demisso de juzes/as e promotores/as quando comprovados casos de corrupo, vendade sentenas, trfico de influncias ou vnculo com grupos criminosos.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    26/46

    25

    CONSIDERAES FINAIS

    A REFORMA POLTICA PODE SER PENSADA EM DOIS SENTIDOS:

    1) Sentido amplo : significa pensar as prticas polticas, em todos os espaos de expresso poltica,no mbito do Estado (Legislativo, Executivo e Judicirio); dos partidos polticos e da sociedadecivil organizada. Pensar as formas de participao, de representao poltica, com seus processoseleitorais, e de tomada de decises. Pensar as relaes entre a Unio, os Estados, o Distrito Federale os Municpios. E, alm disso, pensar as relaes entre Estado, partidos polticos e movimentossociais.

    2) Sentido restrito : significa pensar os sistemas e os processos poltico-eleitorais e poltico-partidrios. Este sentido restrito tem prevalecido nas discusses e em todas as reformas realizadasnos ltimos tempos.

    Assim, fundamental radicalizar a democracia, aprofundar o dilogo, processar os conflitosexistentes, respeitar as diferenas, assegurar a transparncia e a participao social nas trs esferasda poltica: no mbito do Estado, dos partidos polticos e da sociedade civil organizada.

    Optamos em construir uma plataforma que vai no sentido amplo da reforma, identificandoas principais propostas de alteraes das instituies do sistema poltico. Procurou-se mapear aspropostas que vo desde as alteraes superficiais no sistema eleitoral at chegar s sugestesde alteraes no sistema poltico como um todo. Mas sempre valorizando as mudanas queimpliquem novos arranjos de poder na vida poltica brasileira, portanto, a construo de uma novacultura poltica em que a defesa do interesse pblico, portanto das maiorias, esteja no centrodas decises e isto tudo com participao popular real.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    27/46

    26

    ANEXo 01REGULAMENTAO DOS INSTRUMENTOS D

    DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E DIRETA

    TRAMITAO

    A Sugesto n 84/2004 de Anteprojeto de Lei foi apresentado pelo Conselho Federal da Ordem dosAdvogados do Brasil OAB, com o apoio da CNBB ( Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil) com basena proposta formulada pelo jurista Prof. Fbio Konder Comparato. Esta proposta tramitou primeiramentena Comisso de Legislao Participativa (CLP), onde foi relatada pela Dep. Luiza Erundina (PSB-SP), que deuparecer pela aprovao. Foi aprovado o parecer e transformado no PL 4.718 de 2004 (PL= projeto de lei).

    Em 2005, foi juntado ao PL 6.928 de 2002, de autoria da Dep. Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) quetramitava na Comisso de Constituio e Justia e de Cidadania da Cmara (CCJC). Nessa comisso,a relatoria cabia ao Dep. Roberto Freire (PPS-PE).

    O parecer do Dep. Roberto Freire foi pela constitucionalidade do projeto e, no mrito, pela aprovaoda proposio 6.968/2002 (assim como do PL 689/2003, do PL 758/2003 e do PL 4718/2004, apensados),tendo apresentado um substitutivo.

    Em maio de 2006, pelo fato de a Mesa Diretora da Cmara dos Deputados ter apensando umnovo projeto (7004/2006) ao o PL 6928/2002, esta proposio foi devolvida ao Dep. Roberto Freire.At julho de 2006, o deputado no havia apresentado um novo parecer.

    CONTEDOA proposta da OAB e da CNBB tem por objetivo a regulamentao do artigo 14 da Constituio

    Federal, do que se trata do plebiscito, referendo e iniciativa popular.A Constituio Federal de 1988, ao declarar que todo poder emana do povo, que o exerce

    por meio de representantes eleitos, ou diretamente (art. 1, pargrafo nico), em outras palavras,preceitua que a Repblica Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrtico de Direito, com opoder exercido pelo povo, de forma direta ou indireta.

    O projeto, entre outras coisas: 1) prev a possibilidade de convocao de plebiscito e referendoa partir de iniciativa popular, seguindo os mesmos parmetros da iniciativa popular legislativa; 2)disciplina hipteses em que o plebiscito dever necessariamente ser realizado, como por exemplo,em caso de mudana de qualificao de bens pblicos ou a alienao de jazidas pela Unio Federal;3) prev como obrigatrio o referendo popular de qualquer lei que verse sobre matria eleitoral,desde que no oriunda de iniciativa popular; 4) d tratamento especial iniciativa popular legislativa,facilitando as informaes a serem apresentadas pela populao;

    J o PL 6.928 de 2002, proposta de autoria da Dep. Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) buscar criaro Estatuto para o Exerccio da Democracia Participativa , regulamentando a execuo do dispostonos incisos I, II e III do art. 14 da Constituio Federal, revogando a atual Lei n 9.709/98 (vigente)que disciplina a matria.

    Todos esses projetos esto tramitando conjuntamente espera de novo parecer do Deputado Freire,que at o momento manifestou inconstitucionalidade do art. 12 do PL 4718/04, pois discorda dainteno do artigo de conferir competncia Justia Eleitoral em matria de plebiscito e referendo.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    28/46

    27

    ANEXo 02O PROCESSO ORAMENTRIO

    Com a Constituio, de 1988, o Congresso Nacional recupera atribuies em relao ao oramento

    pblico (retiradas pela ditadura militar), O artigo 165 da CF estabelece importantes mudanas nalegislao oramentria e a hierarquia dos instrumentos de planejamento de mdio e longo prazos:

    - Plano Plurianual de Ao - PPA - Lei de Diretrizes Oramentrias - LDO- Lei do Oramento Anual LOA

    Em maio de 2000 o Congresso Nacional aprova a Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF (101/2000).Esta nova lei introduziu novas responsabilidades para o administrador pblico com relao aosoramentos da Unio, dos Estados e municpios, instituindo mecanismos de transparncia fiscal econtrole social dos gastos pblicos, como limite de gastos com pessoal, proibio de criar despesasde durao continuada sem uma fonte segura de receitas, entre outros. Por seu intermdio, foi criadaa restrio oramentria na legislao brasileira, bem como a disciplina fiscal para os trs poderes:Executivo, Legislativo e Judicirio.

    Em maio de 2006 o Frum Brasil de Oramento apresenta Comisso de Legislao Participativada Cmara dos Deputados a Proposta da Lei de Responsabilidade Fiscal e Social LRFS. Essa propostaao modificar a LRF visa discutir o papel do Estado no cumprimento de metas sociais e no apenas nadisciplina fiscal como a LRF. Encontra-se em apreciao na Comisso.

    Plano Plurianual (PPA) -O Projeto de Lei do PPA define as prioridades do governo por um perodode quatro anos. De acordo com a Constituio Federal, o Projeto de Lei do PPA elaborado peloExecutivo e aprovado pelo Legislativo e deve conter as diretrizes, objetivos e metas da administraopblica federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programasde durao continuada.

    O PPA estabelece a ligao entre as prioridades de longo prazo e a Lei Oramentria Anual. Nonvel federal, o prazo para o envio da proposta do Executivo para o Legislativo at 31 de agosto doprimeiro ano do mandato e a aprovao da proposta pelo Legislativo at 15 de dezembro. O PPA tem vigncia de quatro anos.

    Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO) A LDO estabelece as metas e prioridades para o anoseguinte, orienta a elaborao do Oramento, dispe sobre alterao na legislao tributria eestabelece a poltica de aplicao das agncias financeiras de fomento (SUDENE, CODEVASF). Com basena LDO aprovada pelo Legislativo, o ministrio do planejamento elabora a proposta oramentria parao ano seguinte, em conjunto com os demais Ministrios ou Secretarias e as unidades oramentrias

    dos poderes Legislativo e Judicirio. O prazo para o envio da proposta do Executivo para o Legislativo at 15 de abril e o prazo para a aprovao pelo Legislativo at 30 de junho.A LRF ampliou o significado e a importncia da LDO. Com a LRF a LDO passa a dispor tambmsobre:

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    29/46

    28

    - Equilbrio entre receitas e despesas;- Metas fiscais;- Riscos fiscais;- Condies e exigncias para transferncias de recursos a entidades pblicas e

    privadas;- Forma de utilizao e montante da reserva de contingncia a integrar a lei oramentria

    anual;

    - Concesso ou ampliao de incentivo ou benefcio de natureza tributria da qual decorrarenncia de receita.

    Lei do Oramento Anual -O governo define no Projeto de Lei Oramentria Anual as prioridadescontidas no PPA e na LDO e as metas que devero ser atingidas naquele ano. A LOA disciplina todasas aes do governo. dividida em Oramento Fiscal, da Seguridade Social (sade, previdncia eassistncia social) e de Investimentos das Empresas Estatais. O Legislativo discute a proposta enviadapelo Executivo, faz as modificaes que julgar necessrias por meio de emendas e, por fim, vota oprojeto. Depois de aprovado, o projeto sancionado pelo presidente da Repblica e se transformaem Lei. O Poder Executivo tem at 31 de agosto de cada ano para enviar sua proposta ao Legislativoe este tem at 15 de dezembro para votar a proposta.

    Cabe ressaltar que os prazos apresentados so da Unio, podendo haver modificaes paraos estados e municpios.

    Em resumo, pode se dizer que cada um dos poderes tem papel fundamental na concepo,formulao, execuo e controle do oramento federal:Executivo: Elaborao, Execuo e Controle Interno.Legislativo: Apreciao, Aprovao e Controle Externo (com auxlio do TCU).Judicirio: Julgamento de irregularidades aferidas no controle.Ministrio Pblico: Quando acionado, realiza investigao e abre processo para incriminar osresponsveis por irregularidades.

    A no ser em momentos especficos previstos pela LRF (audincias pblicas), no existe previsode participao social em nenhuma das etapas nem do ciclo, nem do processo oramentrio. Comose pode ver, ou a discusso do oramento fica restrita burocracia de governo ou aos representanteseleitos/as. A previso de realizao de audincias pblicas pela LRF ainda no se colocou comorealidade. Para combater os elementos estruturantes da cultura poltica existente, como por exemplo,patrimonialismo, clientelismo, corrupo fundamental que a reforma poltica abra espaos efetivosde participao da sociedade nas questes oramentrias.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    30/46

    29

    ANEXo 03QUADRO DOS CONSELHOS

    NACIONAIS E CONFERNCIA

    No temos um levantamento atualizado e preciso do nmero dos conselhos no Brasil nem

    das organizaes e pessoas envolvidas, muito menos, anlises mais globais da efetividade destesinstrumentos na construo de polticas pblicas. O que seriam hoje as polticas pblicas sociais noBrasil, com o desmonte do Estado em curso com as polticas neoliberais, sem a criao do sistemadescentralizado e participativo? uma bela pergunta a ser feita. A impossibilidade de responder aesta questo dificulta qualquer analise qualitativa que se queira fazer. Portanto, s podemos, e aindade forma limitada, nos ater aos nmeros disponveis, mesmo que insuficientes e desatualizados.

    O quadro que apresentamos abaixo se refere aos conselhos municipais em 10 polticas sociaise foi elaborado a partir da Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais do IBGE de 1999, portanto,com seis anos de defasagem. Nota-se que o quadro se refere aos conselhos criados, no entrando naanlise do funcionamento e eficcia dos conselhos. No apresentamos dados de conselhos estaduaispor no os encontrar.

    CONSELHOS MUNICIPAIS EXISTENTES EM 1999

    Fonte: IBGE. Perfil dos Municpios Brasileiros, 1999.Elaborao Luciana Jaccoud e Frederico Barbosa do IPEA

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    31/46

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    32/46

    31

    35. Conselho dos Contribuintes36. Conselho Nacional de Segurana Alimentar - CONSEA *37. Conselho Nacional de Juventude - CNJ *38. Conselho das Cidades *39. Conselho Nacional de Promoo da Igualdade Racial CNPIR *40. Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM **41. Conselho Nacional dos Direitos do Idoso **42. Conselho Nacional de Combate Discriminao - CNCD **43. Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficincia - CONADE. **

    Cultura44. Comisso Nacional de Incentivo Cultura45. Conselho Nacional de Poltica Cultural46. Conselho Curador da Fundao Cultural Palmares

    Polticas econmicas e de desenvolvimento47. Conselho de Administrao do BNDES48. Conselho Nacional de Metrologia, Normatizao e Qualidade Industrial (Conmetro)49. Conselho de Orientao do Fundo Nacional de Desenvolvimento (COFND)50. Conselho Administrativo de Defesa Econmica (Cade)51. Conselho de Desenvolvimento Econmico e Social CDES * 52. Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial CNDI *53. Conselho Nacional de Combate Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual **

    Segurana P blica e antidrogas54. Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria55. Conselho Nacional de Segurana Pblica (Conasp)56. Conselho Nacional Antidrogas

    Meio ambiente57. O Conselho Nacional de Poltica Energtica58. Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama)59. Conselho de Gesto do Patrimnio Gentico (CGEN)

    60. Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente61. Conselho Nacional de Recursos Hdrico **

    Esporte62. Conselho Nacional do Esporte *

    Transparncia e corrupo63. Conselho de Transparncia Pblica e Combate Corrupo *

    Turismo64. Conselho Nacional do Turismo *** Conselhos criados no Governo Lula

    ** Conselhos reformulados no Governo Lula

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    33/46

    32

    Conselhos Nacionais reformulados no Governo Lula1) Conselho Nacional dos Direitos do Idoso2) Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM3) Conselho Nacional de Combate Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual4) Conselho Nacional do Turismo5) Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel CONDRAF6) Conselho Nacional de Recursos Hdrico

    7) Conselho Nacional de Combate Discriminao CNCD8) Conselho Assessor Nacional da Embrapa9) Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficincia - CONADE.

    Identificamos64 Conselhos Nacionais; destes,13 foram criados no Governo Lula, e9 foramreestruturados neste mesmo perodo. Portanto,42 foram criados antes do governo Lula.

    Chamamos ateno que a distribuio por rea foi uma escolha, que levou em conta o rgo queo conselho vinculado e as suas atribuies. s vezes fica difcil de diferenciar as atribuies de umconselho do outro ou ate aonde vai o poder de um e comea o poder de outro conselho, pois muitostm competncias e atribuies parecidas, difusas, concorrentes e sobrepostas, mostrando a ausnciade uma poltica para esses espaos, que chamamos de arquitetura da participao.

    A PARTICIPAO NO GOVERNO LULA EM NMEROS

    Se olharmos unicamente numa perspectiva numrica e de quantidade, veremos que no governoLula houve um grande avano nos processos participativos.

    No total, foram criados 13 novos Conselhos Nacionais,mas com concepes diferentes da domovimento social que construiu a estratgia poltica de construo dos sistemas descentralizados eparticipativos nas diferentes polticas. Os conselhos criados no so deliberativos, no so paritriose a sociedade civil no escolhe seus representantes, exceo o conselho das cidades.

    Alm, de criar novos conselhos nacionais, o governo Lula reformulou nove conselhos nacionais,adaptando as novas exigncias legais e/ou polticas.

    Conselhos Nacionais criados no Governo Lula1) Conselho de Desenvolvimento Econmico e Social CDES2) Conselho Nacional de Segurana Alimentar - CONSEA 3) Conselho Nacional de Juventude - CNJ4) Conselho das Cidades5) Conselho de Transparncia Pblica e Combate Corrupo

    6) Conselho Nacional de Promoo da Igualdade Racial CNPIR7) Comit Gestor da Internet no Brasil CGIbr8) Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial CNDI9) Conselho Nacional de Aqicultura e Pesca CONAPE10) Conselho Nacional de Economia Solidria11) Conselho Nacional do Trabalho12) Conselho Nacional do Programa Primeiro Emprego13) Conselho Nacional do Esporte

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    34/46

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    35/46

    34

    * soma dos participantes das etapas municipais, estaduais e nacional.** soma dos participantes das etapas estaduais e nacional*** no foi convocada pelo Executivo e sim pelo Congresso Nacional e frum de entidadesno governamentais (FNEDH)

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    36/46

    35

    ANEXo 04REFORMA DA JUSTIA ELEITORA

    Em seu livro O Esprito das Leis, Montesquieu trata da separao de poderes, como forma de

    melhor garantir a liberdade dos indivduos contra os abusos de poder do Estado. Para tanto, preciso que, pela disposio das coisas, o poder contenha o poder , pois a liberdade estaria perdidase o mesmo homem, ou o mesmo corpo de notveis, ou de nobres, ou do povo, exercesse esses trs

    poderes: o de fazer as leis, o de executar as decises pblicas e o de julgar os crimes ou pendnciasentre particulares .

    Baseado nisso, a CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL define logo incio:

    TTULO IDos Princpios FundamentaisArt. 1 ...Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos oudiretamente, nos termos desta Constituio.Art. 2 So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e oJudicirio.

    Sendo assim, a soberania do povo, em nome do qual todo o poder exercido, tem no direito ao votouniversal e secreto o meio de expresso da soberania popular. Tal direito carece de amplo exercciode fiscalizao para sua completa efetivao. Fiscalizao esta que deve ser exercida e compreendida,motu prprio, pelo eleitor /a comum, mediano/a, titular primeiro/a desta soberania (Celso Trs, emA SOBERANIA DO POVO NA FISCALIZAO DO EXERCCIO DE SUA SOBERANIA.)

    No Brasil, porm,um nico rgo concentra os trs Poderes, escapando completamente de todosos princpios listados acima e, por ter a palavra tribunal no seu nome (Tribunal Superior Eleitoral),sendo denominada por isto de Justia Eleitoral, exerce, alm da funo judicial, tambm todaadministrao executiva e a normatizao legislativa do processo eleitoral.

    Esta situao, incomum no resto dos processos eleitorais no mundo , foi construda ao longo denossa histria.

    A criao do TSE, em 1932, visava democratizar as eleies brasileiras, marcando o fim da pocaconhecida como a doVoto Bico de Pena e da Poltica Caf-com-Leite . Vrios conceitos que soessenciais numa democracia moderna, como o voto universal (de todos e todas), a inviolabilidade dovoto e a transparncia do processo, foram aperfeioados com o advento do TSE, mas o Princpio deTripartio do Poderes foi abandonado.

    Num equvoco inegvel, deixou-se com a Justia Eleitoral o poder de regulamentar os processos

    eleitorais, ao mesmo tempo fiscalizar, julgar recursos e, ainda, o controle de todos os recursosoramentrios destinado realizao das eleies.As propostas referentes reforma da justia eleitoral procura corrigir estas distores polticas

    e jurdicas.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    37/46

    36

    ANEXo 05 A REFORMA POLTICA

    NO CONGRESSO NACIONAL

    1 . INTRODUO

    No sentido de contribuir como o debate, o Instituto de Estudos Socioeconmicos (Inesc). apresentauma verso preliminar do estado das artes das proposies legislativas sobre reforma do sistemaeleitorial/poltico em tramitao no Congresso Nacional.

    O desafio de aprofundar as anlises sobre o mrito das proposies continua para a equipe doInesc. O texto que se segue somente uma primeira aproximao, objetivando fornecer subsdiospara as discusses.

    Em fevereiro de 2003, quando da instalao da Comisso Especial de Reforma Poltica, por meio dopronunciamento do deputado Bonifcio de Andrada, foi dito que a reforma poltica, de acordo comos estudos de direito constitucional, compreende: a organizao dos poderes, o que envolve o regimede governo; a estrutura do Estado, que federao; os sistemas eleitoral e partidrio; e, finalmente,um tema moderno, que a defesa nacional e segurana pblica.

    A fala do deputado demonstra como a reforma poltica um assunto complexo e amplo, mas que entendido por nossos/as parlamentares quase que estritamente como uma Reforma Eleitoral. Provadisso so as principais propostas da Comisso Especial de Reforma Poltica, em funcionamento naCmara dos Deputados. Esta comisso elaborou dois projetos de lei (PL 1712/2003 e PL 2679/2003),que tratam dos seguintes temas: filiao partidria, domiclio eleitoral, pesquisas eleitorais, voto emlistas partidrias, coligaes partidrias, instituio de federaes partidrias, financiamento pblicode campanha e propaganda eleitoral.

    As recentes modificaes na legislao eleitoral, aprovadas pelo Senado Federal em abril,confirmam o entendimento de nossos/as parlamentares a respeito da Reforma Poltica:estritamente, uma Reforma Eleitoral. O texto aprovado o substitutivo da Cmara dos Deputadosao Projeto de Lei 5855/2005 (PLS 275/05) de autoria do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), queficou conhecido como mini-reforma eleitoral.

    As alteraes se justificam, do ponto de vista do Parlamento, como um tentativa dadar resposta sociedade brasileira diante das prticas polticas tornadas p blicas pela crisepoltica em que o pas est imerso desde meados de 2005. Elas pretendem reduzir os gastosnas campanhas, aumentar a transparncia nos financiamentos e na prestao de contas dasdespesas com campanhas , e penalizar o/a candidato/a com a perda do mandato em casoirregularidades.

    Essa mini-reforma eleitoral (Lei n 11.300, de 10 de maio de 2006), que modifica o texto da LeiGeral das Eleies (n 9.504/97), passou pelo crivo do Tribunal Superior Eleitoral, para definio desua aplicabilidade sobre o processo eleitoral de 2006, em face das restries previstas no artigo 16 daConstituio Federal2. Contrariando as expectativas, o TSE decidiu pela aplicabilidade, j em 2006, da

    maioria dos dispositivos da Lei 11.300.2 Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrar em vigor na data de sua publicao, no se aplicando eleio que ocorra at umano da data de sua vigncia.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    38/46

    37

    2. COMO SO AS NOVAS REGRAS: 2.1 INSTRUMENTOS DE CONTROLE DOS GASTOS DE CAMPANHA. * Prestao de contas intermedirias

    A nova lei instituiu, alm da prestao de contas ao final da campanha eleitoral, relatriosintermedirios, divulgados pela internet, nos dias 6 de agosto e 6 de setembro. De acordo com a nova

    redao do artigo 28, 4, da Lei 9.504/97, os partidos polticos, coligaes e candidatos/as deverodiscriminar os recursos, em dinheiro ou estimveis em dinheiro, bem como os gastos realizados atento.

    As informaes sero, depois, comparadas com aquelas fornecidas ao final da campanha, demaneira mais detalhada. Nas prestaes de contas parciais no se exige a identificao dos/as doadores/ as e os respectivos valores doados, informaes que sero apresentadas apenas aps as eleies. * Representao por irregularidades em arrecadao e gastos eleitorais.

    Importante modificao foi a criao de uma nova medida judicial para combater as irregularidadesrelacionadas a gastos e arrecadao de recursos de campanhas eleitorais. O artigo 30-A, introduzidono texto da Lei 9.504/97, possibilita a instaurao de uma representao eleitoral que poder conduzirao cancelamento do diploma ao candidato/a, ou sua cassao, se j outorgado.

    Fica aberta a possibilidade da procura das irregularidades contbeis mesmo depois da diplomao,o que certamente um avano, comparativamente situao atual.

    * Arrecadao de recursos.As doaes somente podero ser efetuadas em contas registradas, aberta especialmente para a

    campanha eleitoral, por meio de cheque cruzado ou transferncia eletrnica de depsitos. Doao emespcie foi proibida, ressalvada apenas a possibilidade de depsito, por pessoa fsica, em uma contacorrente especfica, com observncia aos limites de doao - at 10% dos seus rendimentos brutos.

    A nova lei tambm ampliou a lista de entidades proibidas de contribuir: instituies beneficentese religiosas, organizaes no-governamentais que recebam recursos pblicos e organizaes dasociedade civil de interesse pblico.

    2.2 DIMINUIO DOS GASTOS DE CAMPANHA.

    As alteraes restringiram as formas de divulgao eleitoral, permanecendo algunsinstrumentos inalterados: da distribuio de impressos em geral, da divulgao atravsde alto-falantes ou carros de som, da propaganda em bens particulares e de comcios semshows, alm dos horrios gratuitos de propaganda no rdio e na televiso.

    Foram proibidos: * confeco, utilizao, distribuio por comit, candidato/a, ou com a sua autorizao, de camisetas,chaveiros, bons, canetas, brindes, cestas bsicas ou quaisquer outros bens ou materiais que possamproporcionar a vantagem ao eleitor (novo artigo 39, 6, da Lei 9.504/97); * propaganda em bens pblicos, inclusive postes de iluminao pblica e sinalizao de trfego,viadutos, passarelas e outros equipamentos urbanos. No haver mais banners, estandartes oufaixas fixadas nos postes e viadutos das vias pblicas (nova redao do caput do artigo 37 da Lei9.504/97); * propaganda por meio de outdoors (novo 8 do artigo 39 da Lei 9.504/97); * showmcios, ou seja, utilizao, remunerada ou no, de artistas para animao de comcios (novo

    7 do artigo 39 da Lei 9.504/97).* divulgao de pesquisas eleitorais durante os 15 dias anteriores at s 18 horas do dia do pleito,prevista no novo artigo 35-A da Lei 9.504/97.

  • 8/6/2019 Reforma Politica - Cartilha

    39/46

    38

    O TSE considerou inaplicvel para as eleies de 2006 a nova redao do 3 do artigo 47 da Lei9.504/97, que prev o direito de acesso ao horrio gratuito de propaganda no rdio e na televiso aospartidos, de acordo com as respectivas bancadas na Cmara Federal, contadas com base na votaoobtida nas eleies. Atualmente, a previso legal de utilizao das bancadas na data da posse dos/asdeputados/as para a diviso de tempo de propaganda gratuita.

    no e te dime to do I esc, porm, esses s o ape as alg s dos temas q e ma reforma poltica pode abarcar. Ela deve ser pe sada em m co texto mais amplo, q e ecessariame tediz respeito a m da as mais prof das q e, alm do prprio sistema poltico estatal, perpassa

    por q est es de c lt ra poltica, amplia o dos espa os, co trole social da admi istra o pblica, democratiza o da i forma o e da com ica o, reco hecime to de s jeitos polticos,aperfei oame to da democracia represe tativa por meio de i str me tos de democracia

    participativa e direta, reforma admi istrativa, respeito s diversidades.

    3. OBSERVAES GERAIS SOBRE AS PROPOSIES LEGISLATIVAS

    Filiao e Fidelidade Partidria

    A atual legislao sobre filiao partidria prev o perodo mnimo nico de um ano antes dopleito. Em tramitao no Congresso Nacional, h projetos que propem a reduo do prazo de filiaopartidria bem como a excluso de exigncia de domiclio eleitoral para concorrer as eleies, comoo PL 2370/2003.

    Em outro sentido, alguns apontam para o incremento desses prazos, como o PL 1712/2003, queexige que o/a candidato/a esteja filiado/a ao partido um ano antes da realizao do pleito, ou doisanos, caso j tenha sido filiado a outro partido. Para concorrer s eleies, o/a candidato/a deverainda possuir domiclio eleitoral na circunscrio, pelo menos um ano antes do pleito.

    Por sua vez, a PEC 254/2004 prope a retirada do texto constitucional de exigncia de filiaopartidria como condio de elegibilidade. Sobre fidelidade partidria, tramitam no Congresso tantoproposies mais pontuais como os projetos de resoluo que prevem adistribuio das vagas naMesa e nas Comisses durante toda a legislatura com base no nmero de representantes eleitos/as decada partido na ltima eleio quanto propostas mais incisivas, como as que estabelecem a perdade mandato eletivo na hiptese de troca de partido.

    Chama ateno o PL 4433/2004, de autoria da juza Denise Frossad, que prope a dispensa dodever de fidelidade partidria e livre de qualquer subordinao ao seu partido poltico, aquele queestiver ocupando a Presidncia de Casa Legislativa.

    CLUSULA DE BARREIRA

    Atualmente prevista na Lei dos Partidos Polticos, a clusula de barreira determina que tem direitoa funcionamento parlamentar, em todas as Casas do Legislativo, o partido que obtenha no mnimo5% dos votos apurados, distri