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REFORMA DA FEVEREIRO 2017 previdência Previdência não é mercadoria. É um direito universal dos trabalhadores.

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REFORMA DA

FEVEREIRO 2017

previdência

Previdência não é mercadoria.

É um direito universal dos trabalhadores.

REFORMA DA previdência

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Previdência Social: principal mecanismo de distribuição de renda do paísEmbora mais de dois terços do total de benefícios pagos pela Previdência So-cial não ultrapassem o valor de um sa-lário mínimo, o IBGE estima que sem eles aproximadamente 11 milhões de brasileiros estariam relegados à con-dição de pobreza absoluta. Ao mesmo tempo, também é a Previdência que faz com que grande parte dos muni-cípios brasileiros se mantenha de pé.

Imagine, portanto, que efeito teria para os segurados e para a própria economia do país uma reforma que limitasse o acesso dos brasileiros aos benefícios previdenciários.

Mais grave ainda é constatar que a ar-gumentação que sustenta a proposta que tramita atualmente no Congres-so Nacional é eivada de inverdades. Não à toa. O objetivo é exatamente convencer a população de que a Pre-vidência se tornou financeiramente insustentável e que, por essa razão, uma reforma é inadiável.

A principal inverdade diz respeito a um suposto déficit nas contas da

Previdência, que inexiste, se forem consideradas as diversas fontes de financiamento da Seguridade Social, inovação trazida pela Constituição Federal de 1988.

Além de difundir mitos que não se sustentam, os partidários da reforma também escondem a quem preten-dem beneficiar com as pretendidas mudanças nas regras: fundos priva-dos, que veem nela uma oportunida-de para tornar cada vez mais esse di-reito uma mercadoria como qualquer outra, e banqueiros e rentistas, que utilizam seu poder de pressão para convencer os governantes de que antes de oferecer proteção ao povo é preciso honrar o pagamento da dívi-da pública – essa, sim, questionável sob diversos aspectos.

Com esta publicação, nosso obje-tivo é lançar luz sobre um tema de tamanho impacto para o Brasil e seus cidadãos e contribuir para que o povo brasileiro se mobilize em de-fesa de seus direitos. Antes que seja tarde demais.

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Previdência Social: principal mecanismo de distribuição de renda do país

Começou assim Século XVIII |

O declínio do sistema feudal e dos regimes absolutistas na Europa, no século XVIII, foi acompanhado de uma revolução iniciada com a des-coberta da máquina a vapor, que deu origem ao que hoje conhece-mos como Capitalismo. O avanço do Capitalismo trouxe consigo conflitos relacionados, por exemplo, à jorna-da e às condições de trabalho.

1888 |Empregados dos Correios se torna-ram a primeira categoria profissio-nal do país a conquistar o direito à aposentadoria. Os requisitos eram 30 anos de serviço e idade mínima de 60 anos. No mesmo ano, foi criada a Caixa de Socorros em cada uma das estradas de ferro do Império – pouco depois, o direito se estendeu aos grá-ficos da Imprensa Nacional, aos em-pregados do Ministério da Fazenda, aos operários do Arsenal da Marinha e da Casa da Moeda, entre outros.

| 1923 O ponto de partida para a criação da Previdência Social propriamente dita se deu com a promulgação da Lei Elói Chaves, durante o governo do presidente Artur Bernardes, que fez surgir a Caixa de Aposentadoria e Pensão (CAP) dos empregados das empresas ferroviárias – e de outras categorias, nos anos seguintes.

| 1850 No Brasil, dadas as características históricas do país, a revolução que varreu a Europa no século XVIII só desembarcaria mais de um século depois, já na segunda metade do século seguinte. A classe operária brasileira passaria então a enfrentar esses mesmos conflitos trabalhistas e a se organizar coletivamente.

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| 1981Professores conquistam o direito à aposentadoria especial.

1930 |Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, o sistema foi reestruturado para dar lugar aos institutos de apo-sentadoria e pensões, que se subdi-vidiram por categorias profissionais e não mais por empresas. Criado três anos depois, o Instituto de Aposenta-doria e Pensões dos Marítimos é con-siderado a primeira instituição brasi-leira do gênero com alcance nacional.

1964-1984 | Nos anos da Ditadura Militar, o siste-ma foi unificado.

| 1946 O termo Previdência Social apare-ceria pela primeira vez no texto da Constituição Federal daquele ano.

1988 | Com a promulgação da Constitui-ção Federal de 1988, foi criada a Se-guridade Social, que concentra três áreas: Saúde, Previdência e Assis-tência Social. Juntas, elas passam a administrar um só orçamento e a reparti-lo, para responder à ex-pectativa de ampliação de direitos manifestada pela sociedade.

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Direito do trabalhadorA Previdência brasileira é um “di-reito social” destinado a ajudar pes-soas que não conseguem trabalhar por alguma razão – idade avançada, doença, invalidez, maternidade etc. E foi erguida sob a lógica da soli-dariedade entre gerações, em que as contribuições de uma amparam aquela que a antecedeu.

Por essa razão, ela se tornou univer-sal, para proteger tanto os trabalha-dores da cidade quanto os do campo. A Previdência é financiada por toda a sociedade de forma direta e indi-reta, através de tributos pagos pelos trabalhadores e pelos empregadores.

A Seguridade Social é deficitária? Não!Após a Constituição de 1988, a Previ-dência Social brasileira foi reformada por meio da Emenda 20/1998, Emen-da 41/2003, Emenda 47/2005, Emenda 70/2012 e Lei 13.183/2015, entre ou-tras. Para levar adiante as mudanças

pretendidas, a exemplo do que ocorre agora, seus defensores utilizaram os meios de comunicação com o intuito de difundir entre a população um fal-so diagnóstico – o de que a Previdên-cia é deficitária. Esse raciocínio des-

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Em 1994, foi aprovado um mecanismo que possibilitou que parte das receitas da Seguridade Social passasse a ser utilizada para pagar outras despesas,

Como o “déficit” é fabricado?da maneira como o governo federal julgasse mais conveniente. Inicial-mente chamado de Fundo Social de Emergência, ele tem hoje o nome de

ANO MONTANTE ARRECADADO A MAIS

2007 R$ 75,984 bilhões

2008 R$ 64,699 bilhões

2009 R$ 32,880 bilhões

2010 R$ 56,676 bilhões

2011 R$ 77,195 bilhões

2012 R$ 78,141 bilhões

2013 R$ 67,685 bilhões

2014 R$ 35,515 bilhões

2015 R$ 20,089 bilhões

Fonte: Estudo da professora da UFRJ Denise Gentil, elaborado com base em dados do Ministério da Previdência, Ministério do Planejamento e Ministério da Fazenda

A queda significativa regis-trada em 2015 resultou do aprofundamento da crise econômica e do aumento substancial da taxa de de-semprego, que afetaram a arrecadação. Ainda assim, as receitas superaram as despesas em R$ 20 bi-lhões, o que prova o quão sólido é o sistema criado em 1988.

ORÇAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

considera o fato de que a Previdência não pode ser encarada de forma iso-lada, mas, sim, como parte da Segu-ridade Social, conforme destacado

anteriormente. E, quando os números da Seguridade são colocados sobre a mesa, eles revelam exatamente o con-trário, como mostra a tabela abaixo.

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ANO TOTAL DESVIADO POR MEIO DA DRU

2012 R$ 58 bilhões

2013 R$ 63 bilhões

2014 R$ 63 bilhões

Fonte: Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil

PERDAS DA SEGURIDADE SOCIAL

Por que não é correto estabelecer uma regra única para todos os casosA proposta que o governo federal en-viou ao Congresso Nacional prevê que homens e mulheres só terão direito à aposentadoria com 100% da média do salário de contribuição se somarem 65 anos de idade e 49 anos de contribuição ao INSS, ou 25 anos, para ter direito a apenas 76% do valor. Para chegar a esse limite, a proposta considera a média de expectativa de vida da população.

Ocorre, porém, que a expectativa de vida dos brasileiros varia conforme a atividade a que se dedicam e a região

do país onde vivem, conforme apon-tam dados estatísticos.

A tentativa de igualar trabalhadores urbanos e rurais é outra injustiça que a proposta de reforma da Previdência prevê. Enquanto a Constituição de 1988 criou a figura do segurado especial do campo, para garantir a esses trabalha-dores o direito à aposentadoria mesmo que não tenham contribuído com a Previdência Social – basta que o segu-rado comprove o tempo de trabalho na atividade –, o que se pretende agora é

Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite desviar 30% do caixa da Seguridade Social para ou-tras finalidades. É por isso que, supos-tamente, a conta não fecha.

Mais uma vez, a prova é dada pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, que publica anualmente a Análise da Seguridade Social. Confira ao lado quanto o governo desviou entre os anos de 2012 e 2014.

ORÇAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

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ANO ATIVOS INATIVOS

2030 66,6% 12,1%

2050 66,4% 18,8%

FAIXA ETÁRIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Modelo é sustentável por longo períodoOs defensores da proposta de reforma feita pelo governo apontam que, em razão do aumento da expectativa de vida dos brasileiros – que faz com que a aposentadoria tenha que ser paga por mais tempo – a manutenção do siste-ma estaria inviabilizada. O que tam-bém não é verdade. Segundo o IBGE, as projeções para o mercado de trabalho mostram que o modelo adotado pelo INSS é sustentável por muitos anos.

O IBGE estima que, em 2030, 12,1% da população brasileira terão 65 anos ou mais e a faixa etária de 15 a 64 anos corresponderá a 66,6% do total.

Já em 2050, esses grupos correspon-derão, respectivamente, a 18,8% (48 milhões) e a 66,4% (164 milhões). Veja na tabela:

dar um fim a esse direito. Imagine, en-tão, uma pessoa que se vê obrigada a começar a trabalhar mais cedo, como é comum ocorrer com aqueles que lidam no campo, de maneira informal. Embo-ra essa atividade lhes acarrete conside-rável esforço físico, eles não terão di-reito à aposentadoria, se a contribuição não for feita.

A proposta desconsidera ainda a si-tuação enfrentada por milhares de

mulheres brasileiras, que, por acu-mularem funções no trabalho e em casa, se encontram submetidas a maior desgaste.

Ou seja, o que o governo pretende é igualar brasileiros que vivem situa-ções diferentes. Para ser justo, corre-to seria exatamente o contrário – que os desiguais fossem tratados de for-ma desigual. Não é isso, entretanto, o que a reforma propõe.

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Por que a Previdência Social é o principal mecanismo de distribuição de renda do Brasil?Sem os recursos da Previdência So-cial, grande parte dos municípios brasileiros correria o risco de de-cretar falência. Isso porque o país possui 5.566 cidades e em 3.875 de-las a soma dos valores pagos aos beneficiários do INSS supera o re-passe do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Além disso, em 4.589 delas, o mon-tante destinado aos segurados é maior do que a arrecadação munici-pal. Ou seja, as economias dessas ci-dades se movimentam no momento em que os beneficiários recebem sua aposentadoria ou benefício social. É quando eles se dirigem ao comér-cio e adquirem ali o que precisam para passar o mês.

Vale perguntar, portanto: o que aconteceria com essas cida-des se o acesso aos benefícios do INSS for restringido, como a reforma pretende? Elas terão que recorrer aos Estados para não quebrar? E esses, pedirão socorro à União?

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Dívida pública: aí, sim, mora o problemaAo longo dos últimos anos, temos insistido em afirmar algo que nun-ca é demais repetir: o verdadeiro problema brasileiro não está na ma-neira como a Previdência Social foi erguida – ao contrário, ela atende justamente à necessidade de se fa-zer justiça social, em especial com os mais pobres, que em geral trabalham em piores condições e cujo tempo de vida laboral costuma ser mais longo.

Quando observamos o Orçamento Geral da União (OGU), notamos que a principal despesa se concentra no serviço da dívida pública. Para se ter uma ideia, enquanto a Previdên-cia Social consumiu 22,69% de todo OGU em 2015, juros e amortizações responderam por 42,43% do total – apenas para comparação, saúde e educação custaram, respectivamen-te, 4,14% e 3,91% no mesmo período. Mais grave ainda: de acordo com a Proposta de Lei Orçamentária 2017, o comprometimento de receitas com despesas financeiras (serviços da dí-vida e outros) chegará a 54,4%.

A Constituição de 1988 determi-nou, em seu artigo 26, que a dívida pública brasileira fosse auditada. No entanto, a pressão de banquei-ros e rentistas que lucram com ela jamais permitiu que tal artigo fosse regulamentado. Além disso, embora a Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal (STF) proíba a cobrança de juros sobre juros para corrigi-la, é por causa disso que, ano a ano, quanto mais pagamos, mais devemos.

Mas a reforma não busca somente preservar os lucros de banqueiros e especuladores. Os que a defendem também querem contemplar os in-teresses do setor privado (fundos exclusivos para categorias e empre-sas e planos que podem ser adquiri-dos em instituições financeiras), que sonha com uma reforma que leve o país a abandonar o atual sistema de contribuição e adotar a capitaliza-ção – modelo em que cada indiví-duo contribui para sustentar apenas a si próprio.

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REFORMA DA PREVIDÊNCIA - FEVEREIRO/2017

SINDICATO DOS AUDITORES FISCAIS DA RECEITA ESTADUAL DE MINAS GERAIS (SINDIFISCO- MG) DIRETORIA EXECUTIVA GESTÃO 2016-2017Av. Afonso Pena, 3.130 – 4º andar – Savassi – Belo Horizonte/MG – 30130-012 Telefax (31) 3194-2222 sindifiscomg.org.br [email protected]

SINDICATO ÚNICO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS (SIND-UTE/MG)Rua Ipiranga, 80 - Floresta - Belo Horizonte/MG - 31015-180 Tel. (31) 3481-2020 Fax (31) 3481-2449 www.sindutemg.org.br

Responsável Técnico Lindolfo Fernandes de Castro, auditor fiscal da Receita Estadual e presi-dente do Sindifisco-MG

EDITADO PELA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO SINDIFISCO-MGProjeto Gráfico e Editoração Interface Comunicação Empresarial Jornalistas Responsáveis Mar-cela Souza – MG 5533 JP, Lilian Souza – MG 11931 JP, Alexandre Magalhães – MG 4513 JP Impressão Artes Gráficas Formato Tiragem 4.500 exemplares Distribuição gratuita

Outras maneiras de arrecadar maisE ainda que os números comprovem que o Sistema da Seguridade Social, do qual a Previdência Social brasileira faz parte, não é deficitário, o governo ainda dispõe de alternativas para ele-var a arrecadação. Para isso, bastaria que isenções fiscais fossem revistas e a sonegação fosse combatida.

Em 2017, isenções concedidas a indús-trias, entidades filantrópicas, grandes produtores rurais e até clubes de fu-

tebol deverão somar R$ 62,5 bilhões.

A sonegação, por sua vez, subtrai ao menos 30% de tudo o que o INSS teria a arrecadar, o que deve girar em tor-no de R$ 210 bilhões.

E, então, vamos permitir que esta conquista do povo brasileiro seja aniquilada?

Pense nisso. E reaja enquanto é tempo.

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1) Aumenta a idade mínima para o trabalhador se aposentar para 65 anos (com 100% da média do salário de contribuição) e o tempo de contribuição para 49 anos. Como quase ninguém consegue entrar no mercado formal de trabalho com 16 anos, será praticamente impossível chegar à aposentadoria integral aos 65 anos, idade que é a expectativa média de vida em muitos estados do Brasil. Conclusão: você corre o risco de morrer antes da aposentadoria, sem apro-veitar o benefício para o qual contribuiu a vida inteira! 2) Iguala a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres, desconsiderando que as mulheres enfrentam uma jornada dupla, no trabalho e em casa. 3) Proíbe o recebimento de pensão e aposentadoria pelo mesmo cidadão, o que é injusto com aqueles que possuem baixa renda. Há ainda a possibilidade de a pensão ser menor que o salário mínimo.4) Acaba com a aposentadoria especial de policiais e professores.5) Para os servidores públicos, acaba com a paridade e a integralidade daque-les que ingressaram antes de 2003, limita as pensões ao teto geral do INSS e praticamente extingue o abono permanência.6) Impõe 50% do tempo de trabalho e contribuição que faltariam para atingir a aposentadoria a mais para aqueles que já contribuem com o sistema e têm mais de 45 anos (mulheres) e 50 anos (homem) terem direito a se aposentar.7) Prejudica universitários que estão fora do mercado de trabalho, pois até se formarem, para completar o tempo de contribuição, eles terão que trabalhar além dos 70 anos. 8) Altera o benefício especial de aposentados rurais, que já são bastante sacri-ficados pela natureza penosa do seu trabalho. 9) Pode levar à diminuição de contribuições, pois os informais e profissionais liberais acabam considerando que não é mais vantajoso pagar por um benefí-cio praticamente inalcançável. 10) Pode prejudicar cidades pequenas do interior do Brasil, cuja base da eco-nomia são os benefícios previdenciários.

O que você pode perder com a reforma da Previdência?A reforma da Previdência vai condenar grande parte do povo brasileiro a morrer sem chegar a se aposentar. Essa reforma: