reforçar a governação e a responsabilização conseguindo o...

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Resultados e Conclusões da Avaliação de Pobreza, Social e de Género em Moçambique (2008) Resultados e Conclusões da Avaliação de Pobreza, Social e de Género em Moçambique (2008) BANCO MUNDIAL Para mais informações: www.worldbank.org/mozambique BANCO MUNDIAL O crescimento do pós-guerra traduziu-se em redução da pobreza Após o final da guerra civil e da realização das primeiras eleições livres em Moçambique, verificou-se um rápido crescimento económico. Para a maioria dos moçambicanos, mesmo os mais pobres, a expansão traduziu-se em melhores condições de vida, graças a rendimentos mais elevados e à posse de mais bens domésticos. Um inquérito realizado em 2003 revela que a maioria das famílias tinha mais escolhas quanto ao seu modo de subsistência, ganhando mais dinheiro, proveniente de fontes de rendimento mais diversificadas. As famílias enviavam mais filhos à escola, durante períodos mais longos, e podiam frequentar serviços de saúde com maior regularidade. A percentagem da população vivendo abaixo a linha de pobreza caiu de 69%, em 1997, para 54% em 2003. E mesmo para os agregados familiares que se mantiveram abaixo da linha de pobreza, o nível de consumo aumentou nesse periodo. As comunidades rurais – que constituem dois terços da população – tinham melhor abastecimento de água, maior acesso aos mercados e maiores probabilidades de viver nas proximidades de pelo menos uma escola primária. Aproximadamente dois terços dos agregados familiares inquiridos referiram que o seu bem-estar tinha melhorado no decurso dos últimos três anos, apesar de uma quebra de 10% na produção agrícola devida a graves cheias no ano 2000. Entretanto, estes sucessos partem de uma base caracterizada por uma economia devastada pela guerra civil, e não obstante os seus notórios progressos, Moçambique continua a ser um dos países mais pobres do mundo. Nas zonas rurais, 55% da população vive abaixo da linha da pobreza. E um pouco mais de metade da população urbana está ainda em situação de pobreza. Continuará o crescimento a gerar redução da pobreza? Com índices de crescimento anual de cerca de 7% desde 2003, a questão fulcral é saber se o crescimento de Moçambique irá manter-se e se se traduzirá numa continuada redução da pobreza, beneficiando aqueles que ainda se mantêm vulneráveis, marginalizados e empobrecidos segundo todos os padrões internacionais. Historicamente, verifica-se que os episódios de altas taxas de crescimento de países em recuperação de guerras, esmorecem e acabam ao fim de cerca de sete anos. Os dados recentes relativos a Moçambique não são conclusivos. A análise do inquérito de 2003 revela variações desconcertantes nos resultados por província. Em algumas áreas, a mortalidade e a nutrição infantis estão a piorar, enquanto que o consumo cresce. Levantamentos recentes de opinião pública indicam descontentamento relativamente aos serviços do governo. Nas zonas rurais, a desigualdade de rendimentos parece estar a crescer, espelhando a já elevada desigualdade urbana. Crescendo as desigualdades, o crescimento futuro irá trazer menor redução da pobreza. Em termos gerais, o governo prevê a continuação do crescimento e da redução da pobreza, mas há um claro risco de que a taxa de redução da pobreza abrande. As diferenças entre cidadãos urbanos e rurais, raparigas e rapazes, homens e mulheres, ricos e pobres persistem e em certas zonas pioraram. Uma grande conquista é a frequência escolar ter aumentado significativamente entre 1997 e 2003, especialmente entre as famílias pobres e a diferença nas taxas de matrícula entre raparigas e rapazes no ensino primário estar rapidamente a desaparecer, ultrapassando os velhos preconceitos sobre o interesse em educar as raparigas. As taxas liquidas de matrícula no ensino secundário também aumentaram mas, neste caso, a diferença entre as famílias mais pobres e as mais ricas está-se a acentuar-se, São necessárias mais oportunidades de emprego e de auto-emprego rural de maior rendibilidade, para ajudar as famílias a melhorar e sustentar os seus níveis de bem- estar. Embora não sejam muitas as oportunidades, para a maioria das famílias, de obter emprego remunerado não-agrícola, formal e a tempo inteiro, a diversificação de rendimentos através de trabalho remunerado, sazonal ou em part-time, continuará a ser essencial para reduzir a pobreza rural. Moçambique pode também querer considerar esquemas de obras públicas rurais, para alargar oportunidades para os agricultores mais pobres, que não conseguem sair do sistema de subsistência. Construir o Capital Humano Para capacitar a população para tirar partido das oportunidades económicas, Moçambique terá que redireccionar e incrementar o investimento em capital humano. Em termos de educação, isto significa aumentar a quantidade e a qualidade dos serviços proporcionados, com várias prioridades. Continuar a expandir a rede escolar e reduzir os custos da educação encurtando as distâncias até às escolas. O aumento das taxas de acesso e de passagem das raparigas deverá ser uma das grandes prioridades, em particular nas zonas rurais. Continuar a dar especial atenção à formação de professores e ao desenvolvimento curricular. Investir na educação pós-primária para acompanhar o ritmo do progresso na instrução primária, tendo por alvo as áreas rurais e os grupos pobres e vulneráveis, em particular as raparigas. Na saúde, o enfoque deveria concentrar-se na melhoria da cobertura e da qualidade dos serviços. Investir em novos postos e centros de saúde de modo a chegar às áreas com menor cobertura e melhorar a colocação dos profissionais de saúde, incluindo profissionais de saúde bem qualificados, para minimizar as lacunas nas áreas rurais e menos favorecidas. Desenvolver serviços de extensão/cobertura (outreach) que levem cuidados de saúde às populações através de uma rede de profissionais de saúde comunitários. A distribuição de medicamentos e meios de diagnóstico às unidades de saúde, em particular nas áreas rurais e zonas remotas. Os investimentos em educação e informação podem melhorar o acesso aos serviços de saúde e os resultados obtidos e criar maior valor para o dinheiro investido (value for money) do que, por exemplo, novos hospitais urbanos. No curto prazo, a divulgação de informações pode melhorar as práticas dos cuidados infantis nas zonas rurais desprovidas de unidades de saúde. Reforçar a Governação e a Responsabilização O historial de Moçambique em matéria de governação e responsabilização é misto. O legado do colonialismo, o prolongado conflito e um governo centralizado, prejudicaram as relações estado-sociedade. O sistema de checks and balances (equilíbrio do poder) desenvolvido no período pós-guerra, nem sempre protegeu os cidadãos, particularmente os pobres, criando ressentimento e exclusão da esfera pública. As eleições multipartidárias de 1994 tinham a intenção de apoiar o pluralismo mas o sistema de “vencedor ganha tudo” resultou num parlamento fraco e no domínio de um partido único sobre os três ramos do governo. O judiciário – que pouco se faz sentir na vida dos pobres – é alvo de constantes alegações de corrupção. Os orgãos de comunicação e as organizações da sociedade civil têm mecanismos de responsabilização social muito limitados. Sustentar a redução da pobreza e aumentar a inclusão, requer instituições sociais, económicas e públicas que respondam às necessidades dos pobres. A estratégia de redução da pobreza do governo coloca a governação bem no centro do debate sobre a pobreza em Moçambique, sendo um dos três pilares da estratégia do PARPA II para a redução da pobreza. Este pilar da estratégia apela a políticas para lutar contra a corrupção, consolidar o estado de direito, melhorar a protecção contra o crime, intensificar a responsabilização do estado e apoiar a iniciativa comunitária e individual. Em Moçambique, uma estratégia direccionada para o futuro tem que atribuir igual peso à capacitação das comunidades e das suas localidades, enquanto agentes de mudança, e a melhor forma seria: Fazer com que a descentralização favoreça os pobres – atribuindo um poder real às comunidades locais, de modo a que elas possam ter voz para pedir melhor resposta na prestação de serviços públicos, influenciar os mecanismos dessa prestação e responsabilizar os prestadores de serviços locais pelo seu desempenho. Aumentar o acesso dos pobres à justiça – alargando as oportunidades dos pobres para acederem às instituições e garantir que o sistema judicial esteja igualmente aberto às mudanças necessárias para que a justiça seja acessível aos pobres. Tornar os direitos dos pobres à terra uma realidade – regulamentando os direitos à terra e a sua titularização, estimulando a consciência dos cidadãos quanto aos direitos à terra e o processo de consultas relativamente a terrenos comunitários. Conseguindo o Improvável Sustentar a Inclusão numa Economia em Crescimento A recuperação dos efeitos do conflito civil e da extrema pobreza em Moçambique fazem do país um exemplo para outras nações em transição. Um alto e sustentado crescimento económico traduzido em reduções tangíveis da pobreza, transformaram o país. No entanto, mais de metade da população ainda vive na pobreza. Persistem as diferenças entre habitantes urbanos e rurais, homens e mulheres, ricos e pobres. E ainda que o crescimento prossiga, há receios de que a habilidade de Moçambique continuar a reduzir a pobreza esteja a perder o seu ímpeto – tal como acontece em muitos países em recuperação pós- conflito. Para preparar estratégias que prolonguem a transformação iniciada em meados da década de 1990, será vantajoso que os decisores de politicas avaliem os êxitos do passado no contexto de uma compreensão mais clara das diferenças e deficiências que condicionam as oportunidades para grandes segmentos da população.

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Resultados e Conclusões da Avaliação de Pobreza, Social e de Género em Moçambique (2008) Resultados e Conclusões da Avaliação de Pobreza, Social e de Género em Moçambique (2008) Banco Mundial

Para mais informações:www.worldbank.org/mozambique

Banco Mundial

O crescimento do pós-guerra traduziu-se em redução da pobrezaApós o final da guerra civil e da realização das primeiras eleições livres em Moçambique, verificou-se um rápido crescimento económico. Para a maioria dos moçambicanos, mesmo os mais pobres, a expansão traduziu-se em melhores condições de vida, graças a rendimentos mais elevados e à posse de mais bens domésticos.

Um inquérito realizado em 2003 revela que a maioria das famílias tinha mais escolhas quanto ao seu modo de subsistência, ganhando mais dinheiro, proveniente de fontes de rendimento mais diversificadas. As famílias enviavam mais filhos à escola, durante períodos mais longos, e podiam frequentar serviços de saúde com maior regularidade. A percentagem da população vivendo abaixo a linha de pobreza caiu de 69%, em 1997, para 54% em 2003. E mesmo para os agregados familiares que se mantiveram abaixo da linha de pobreza, o nível de consumo aumentou nesse periodo.

As comunidades rurais – que constituem dois terços da população – tinham melhor abastecimento de água, maior acesso aos mercados e maiores probabilidades de viver nas proximidades de pelo menos uma escola primária. Aproximadamente dois terços dos agregados familiares inquiridos referiram que o seu bem-estar tinha melhorado no decurso dos últimos três anos, apesar de uma quebra de 10% na produção agrícola devida a graves cheias no ano 2000.

Entretanto, estes sucessos partem de uma base caracterizada por uma economia devastada pela guerra civil, e não obstante os seus notórios progressos, Moçambique continua a ser um dos países mais pobres do mundo. Nas zonas rurais, 55% da população vive abaixo da linha da pobreza. E um pouco mais de metade da população urbana está ainda em situação de pobreza.

Continuará o crescimento a gerar redução da pobreza? Com índices de crescimento anual de cerca de 7% desde 2003, a questão fulcral é saber se o crescimento de Moçambique irá manter-se e se se traduzirá numa continuada redução da pobreza, beneficiando aqueles que ainda se mantêm vulneráveis, marginalizados e empobrecidos segundo todos os padrões internacionais. Historicamente, verifica-se que os episódios de altas taxas de crescimento de países em recuperação de guerras, esmorecem e acabam ao fim de cerca de sete anos.

Os dados recentes relativos a Moçambique não são conclusivos. A análise do inquérito de 2003 revela variações desconcertantes nos resultados por província. Em algumas áreas, a mortalidade e a nutrição infantis estão a piorar, enquanto que o consumo cresce. Levantamentos recentes de opinião pública indicam descontentamento relativamente aos serviços do governo. Nas zonas rurais, a desigualdade de rendimentos parece estar a crescer, espelhando a já elevada desigualdade urbana. Crescendo as desigualdades, o crescimento futuro irá trazer menor redução da pobreza. Em termos gerais, o governo prevê a continuação do crescimento e da redução da pobreza, mas há um claro risco de que a taxa de redução da pobreza abrande.

As diferenças entre cidadãos urbanos e rurais, raparigas e rapazes, homens e mulheres, ricos e pobres persistem e em certas zonas pioraram. Uma grande conquista é a frequência escolar ter aumentado significativamente entre 1997 e 2003, especialmente entre as famílias pobres e a diferença nas taxas de matrícula entre raparigas e rapazes no ensino primário estar rapidamente a desaparecer, ultrapassando os velhos preconceitos sobre o interesse em educar as raparigas. As taxas liquidas de matrícula no ensino secundário também aumentaram mas, neste caso, a diferença entre as famílias mais pobres e as mais ricas está-se a acentuar-se,

São necessárias mais oportunidades de emprego e de auto-emprego rural de maior rendibilidade, para ajudar as famílias a melhorar e sustentar os seus níveis de bem-estar. Embora não sejam muitas as oportunidades, para a maioria das famílias, de obter emprego remunerado não-agrícola, formal e a tempo inteiro, a diversificação de rendimentos através de trabalho remunerado, sazonal ou em part-time, continuará a ser essencial para reduzir a pobreza rural. Moçambique pode também querer considerar esquemas de obras públicas rurais, para alargar oportunidades para os agricultores mais pobres, que não conseguem sair do sistema de subsistência.

Construir o Capital Humano Para capacitar a população para tirar partido das oportunidades económicas, Moçambique terá que redireccionar e incrementar o investimento em capital humano. Em termos de educação, isto significa aumentar a quantidade e a qualidade dos serviços proporcionados, com várias prioridades.

• Continuar a expandir a rede escolar e reduzir os custos da educação encurtando as distâncias até às escolas. O aumento das taxas de acesso e de passagem das raparigas deverá ser uma das grandes prioridades, em particular nas zonas rurais.

• Continuar a dar especial atenção à formação de professores e ao desenvolvimento curricular.

• Investir na educação pós-primária para acompanhar o ritmo do progresso na instrução primária, tendo por alvo as áreas rurais e os grupos pobres e vulneráveis, em particular as raparigas.

Na saúde, o enfoque deveria concentrar-se na melhoria da cobertura e da qualidade dos serviços.

• Investir em novos postos e centros de saúde de modo a chegar às áreas com menor cobertura e melhorar a colocação dos profissionais de saúde, incluindo profissionais de saúde bem qualificados, para minimizar as lacunas nas áreas rurais e menos favorecidas.

• Desenvolver serviços de extensão/cobertura (outreach) que levem cuidados de saúde às populações através de uma rede de profissionais de saúde comunitários.

• A distribuição de medicamentos e meios de diagnóstico às unidades de saúde, em particular nas áreas rurais e zonas remotas.

Os investimentos em educação e informação podem melhorar o acesso aos serviços de saúde e os resultados obtidos e criar maior valor para o dinheiro investido (value for money) do que, por exemplo, novos hospitais urbanos. No curto prazo, a divulgação de informações pode melhorar as práticas dos cuidados infantis nas zonas rurais desprovidas de unidades de saúde.

Reforçar a Governação e a ResponsabilizaçãoO historial de Moçambique em matéria de governação e responsabilização é misto. O legado do colonialismo, o prolongado conflito e um governo centralizado, prejudicaram as relações estado-sociedade. O sistema de checks and balances (equilíbrio do poder) desenvolvido no período pós-guerra, nem sempre protegeu os cidadãos, particularmente os pobres, criando ressentimento e exclusão da esfera pública. As eleições multipartidárias de 1994 tinham a intenção de apoiar o pluralismo mas o sistema de “vencedor ganha tudo” resultou num parlamento fraco e no domínio de um partido único sobre os três ramos do governo. O judiciário – que pouco se faz sentir na vida dos pobres – é alvo de constantes alegações de corrupção. Os orgãos de comunicação e as organizações da sociedade civil têm mecanismos de responsabilização social muito limitados.

Sustentar a redução da pobreza e aumentar a inclusão, requer instituições sociais, económicas e públicas que respondam às necessidades dos pobres. A estratégia de redução da pobreza do governo coloca a governação bem no centro do debate sobre a pobreza em Moçambique, sendo um dos três pilares da estratégia do PARPA II para a redução da pobreza. Este pilar da estratégia apela a políticas para lutar contra a corrupção, consolidar o estado de direito, melhorar a protecção contra o crime, intensificar a responsabilização do estado e apoiar a iniciativa comunitária e individual.

Em Moçambique, uma estratégia direccionada para o futuro tem que atribuir igual peso à capacitação das comunidades e das suas localidades, enquanto agentes de mudança, e a melhor forma seria:

• Fazer com que a descentralização favoreça os pobres – atribuindo um poder real às comunidades locais, de modo a que elas possam ter voz para pedir melhor resposta na prestação de serviços públicos, influenciar os mecanismos dessa prestação e responsabilizar os prestadores de serviços locais pelo seu desempenho.

• Aumentar o acesso dos pobres à justiça – alargando as oportunidades dos pobres para acederem às instituições e garantir que o sistema judicial esteja igualmente aberto às mudanças necessárias para que a justiça seja acessível aos pobres.

• Tornar os direitos dos pobres à terra uma realidade – regulamentando os direitos à terra e a sua titularização, estimulando a consciência dos cidadãos quanto aos direitos à terra e o processo de consultas relativamente a terrenos comunitários.

Conseguindo o ImprovávelSustentar a Inclusão numa Economia em Crescimento A recuperação dos efeitos do conflito civil e da extrema pobreza em Moçambique fazem do país um exemplo para outras nações em transição. Um alto e sustentado crescimento económico traduzido em reduções tangíveis da pobreza, transformaram o país.

No entanto, mais de metade da população ainda vive na pobreza. Persistem as diferenças entre habitantes urbanos e rurais, homens e mulheres, ricos e pobres. E ainda que o crescimento prossiga, há receios de que a habilidade de Moçambique continuar a reduzir a pobreza esteja a perder o seu ímpeto – tal como acontece em muitos países em recuperação pós- conflito.

Para preparar estratégias que prolonguem a transformação iniciada em meados da década de 1990, será vantajoso que os decisores de politicas avaliem os êxitos do passado no contexto de uma compreensão mais clara das diferenças e deficiências que condicionam as oportunidades para grandes segmentos da população.

Resultados e Conclusões da Avaliação de Pobreza, Social e de Género em Moçambique (2008) Resultados e Conclusões da Avaliação de Pobreza, Social e de Género em Moçambique (2008)

tal como a diferença entre famílias urbanas e rurais e entre raparigas e rapazes. Ao contrário do ensino primário as famílias têm que pagar propinas no ensino secundário e, em zonas rurais, só 1% dos cidadãos vive perto de uma escola secundária.

O plano quinquenal do governo para a redução da pobreza (PARPA II-Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta II), aponta três áreas para acelerar o crescimento que beneficie os pobres:

• Desenvolvimento económico, através da promoção da agricultura e do sector privado;

• Capital humano, através da melhoria do acesso a serviços públicos básicos, em particular para os pobres;

• Governação e responsabilização, através da aproximação do governo aos cidadãos e tornando-o mais sensível e direccionando os serviços para os pobres em áreas rurais.

Aprender com o sucesso económicoAo delinear as melhores estratégias para o futuro, é essencial compreender os factores que contribuíram para o notável sucesso de Moçambique em converter um crescimento económico sustentado numa redução considerável da pobreza .

Em primeiro lugar, os agricultores aumentaram a diversidade das suas culturas alimentares, melhorando a segurança alimentar e nutricional. Muitos deles aumentaram os seus rendimentos através da venda de excedentes alimentares ou diversificaram para culturas de exportação, como o tabaco e o algodão. O crescimento do rendimento proviniente da agricultura estimulou a procura e criou oportunidades para negócios como o comércio, a produção de cerveja, de tijolos e carvão. Surgiram produtores agrícolas de maior escala, com mais capital, que contrataram trabalhadores. No seu todo, o aumento da produção agrícola contribuiu para três quartos da redução da taxa de incidência da pobreza.

Para além da reabilitação da agricultura, alguns trabalhadores deixaram a terra e entraram em sectores de produção mais rentáveis (de alto valor), de mão-de-obra intensiva, urbanos e rurais. Nas áreas urbanas, o forte crescimento do sector privado gerou empregos remunerados para os homens, particularmente no sector de serviços. As mulheres tiveram dificuldade em sair do sector da agricultura, devido sobretudo a uma menor instrução e a uma desproporcionada responsabilidade pelas tarefas domésticas. A produção industrial, que muitas vezes é o motor da criação de emprego em países de baixos rendimentos, perdeu postos de trabalho em resultado de privatização e reestruturação. Um sinal encorajador é que as novas indústrias privadas, pequenas e médias, criaram emprego, tal como o crescente sector de construção. Os novos megaprojectos de Moçambique, de grande visibilidade, que produzem bens para exportação, não geraram emprego significativo.

Os salários no sector privado indústrial são mais elevados que no sector privado de serviços pelo que, para incentivar a criação de empregos urbanos, seguros e bem pagos, Moçambique necessita de investimento directo estrangeiro em indústrias de mão-de-obra intensiva. Confinar o investimento directo a megaprojectos industriais intensivos no uso de capital e energia não irá criar os postos de trabalho necessários. O sector industrial em Moçambique, é geralmente de muito pequena dimensão, concentrado no processamento de alimentos, bebidas e madeiras, usando baixa tecnologia. Deverá haver aqui potencial para diversificar para produtos de exportação de mão-de-obra intensiva, como os têxteis.

A mão-de-obra urbana cresceu a um ritmo de 3 porcento ao ano, mas com um nível de educação relativamente baixo, nem todos os recém-chegados a áreas urbanas conseguiram encontrar empregos remunerados. Muitos recorreram ao auto-emprego em negócios familiares, no sector informal. Esta não foi para todos uma boa escolha, já que algumas pessoas, nas zonas urbanas, se consideravam desempregadas e

pobres em 2006, apesar de terem um rendimento regular de actividades de auto-emprego que, em média, era superior ao do sector agrícola.

Considerando o futuro, o enfoque no clima de investimento para as grandes empresas deveria ser complementado com o apoio às pequenas e microempresas de reduzido capital. O alto rendimento médio das empresas familiares, especialmente no sector de serviços das áreas urbanas, é favorável à redução da pobreza. Mas a crescente desigualdade dentro do sector é preocupante – diminui a eficácia do crescimento na redução da pobreza.

As empresas rurais, sustentadas por rendimentos crescentes no sector agrícola, terão também um papel importante na redução da pobreza. Presentemente, o mercado para muitos dos produtos e serviços não-agrícolas, é local. A abertura de oportunidades para além das comunidades mais próximas terá provavelmente um impacto significativo para garantir a expansão e maior rentabilidade para as actividades de auto-emprego.

Em 2003, mais de 80 porcento da força de trabalho e 70 porcento das famílias ainda identificavam a agricultura como a sua principal actividade económica. Geralmente, os trabalhadores que se mantêm na agricultura, estão em actividades com os níveis mais baixos de produtividade, e ostentam rendimentos inferiores. Dado que 90 porcento das mulheres na força de trabalho têm no máximo dois anos de escolaridade, as oportunidades de emprego para elas são escassas. A agricultura feminina é em muitos casos de subsistência e os homens é que controlam o dinheiro na família. Produzir culturas de exportação de alto valor requer acesso a tecnologia, fertilizantes e crédito – tudo coisas cujo acesso é limitado para a maioria das mulheres. De entre os agricultores, aqueles que não conseguiram diversificar – para culturas de maior valor ou para fontes de rendimento não-agrícola – tinham muito mais probabilidades de ficarem para trás.

A sombra ameaçadora da SIDAA propagação do VIH/SIDA (Virus da Imunodificiência Humana/Sindroma de Imunodeficiência Adquirida) constitui uma tremenda ameaça ao crescimento futuro e à redução da pobreza. A taxa de prevalência em Moçambique, relativamente baixa durante algum tempo, está a aumentar rapidamente e situa-se actualmente em 16 por cento de adultos em idade activa. Devido à pandemia ter chegado mais tarde que nos países vizinhos, a prevalência de SIDA declarada é baixa. Mas a subida das taxas de infecção indica que as campanhas de prevenção têm sido ineficazes e que se mantêm os comportamentos de risco.

A infecção é influenciada pela mobilidade, sendo as taxas mais elevadas de prevalência registadas em províncias onde existem corredores de transporte que ligam Moçambique a países vizinhos com taxas de infecção ainda mais elevadas. As zonas urbanas enfrentam maior risco porque aí os comportamentos sexuais de risco são mais frequentes. As mulheres correm um maior risco de serem infectadas – em Moçambique, as mulheres entre os 20–24 anos têm quatro vezes mais probabilidades de serem seropositivas que os homens no mesmo grupo etário.

Prevê-se que a propagação e evolução do VIH/SIDA venham a retardar o crescimento e a aumentar a pobreza, tal como aconteceu noutros países com altos índices de infecção. A menos que melhorem os programas de tratamento e prevenção, Moçambique irá passar pela perda de trabalhadores nos seus anos mais produtivos, e de progenitores, deixando a geração seguinte com menos educação e saúde e geralmente mais vulnerável.

Promover o desenvolvimento do sector privado nas áreas ruraisPara desenvolver a eficácia dos mercados agrícolas, será importante investir em infra-estruturas de comercialização e serviços rurais, alargar o acesso à informação e melhorar os mecanismos de coordenação para cadeias alimentares internas e cadeias de valor orientadas para a exportação.

Continuar a investir em infra-estruturas rodoviárias é importante para abrir mercados aos pequenos produtores orientados para o mercado e permitir o o sucesso de novos investimentos, mas são também precisos outros investimentos complementares. Com a baixa densidade populacional de Moçambique, a infra-estrutura rodoviária é essencial para o sucesso da agricultura comercial, porque os inadequados sistemas de transportes e infra-estruturas de serviços rurais aumentam substancialmente os custos de comercialização e impedem o desenvolvimento dos mercados, tanto domésticos como de exportação. Para além da rede nacional de estradas principais, um programa bem estruturado deveria concentrar-se na manutenção das estradas secundárias e terciárias, ao longo de toda a campanha agrícola. Mas os maus acessos rodoviários coexistem muitas vezes com outros estrangulamentos, como pobres condições agro-ecológicas, baixa densidade populacional, serviços deficientes e falta de água e electricidade.

Melhoramento no acesso a serviços

0102030405060708090

100

Água Potável

Latrinas

Electricidade (ag

regado)

Saúde (doente recentemente)

Saúde (frequentaram clín

icas)

Matrículas esco

lares (7–12)

Matrículas esco

lares (12–18)

2003 1997

Crescimento anual por tipo de emprego urbano, 1997-2003

Nas áreas urbanas, o auto-emprego não-agrícola cresceu

Estrutura do emprego urbano, 2003

Auto-empregoNão-agrícola

19%

Agricultura 53.5%

Emprego PrivadoAssalariado

9.9%

Emprego PúblicoAssalariado

9.7%

Agricultura

Auto-empregoNão-agrícola

Emprego PrivadoAssalariado

Emprego PúblicoAssalariado

-5 0 5 10 15 20