reflexões sobre o direito e o cotidiano - claudio henrique de castro

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Reflexões sobre o Direito e o cotidiano Direito do Trânsito Cidadania e Democracia Desenvolvimento Sustentado Claudio Henrique de Castro Prefácio do Prof. Vitorio Sorotiuk | Fotografias de Lina Faria

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Claudio Henrique de Castro

Reflexes sobre o Direito e o cotidianoCidadania e Democracia Desenvolvimento Sustentado Direito do Trnsito

Prefcio do Prof. Vitorio Sorotiuk

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Fotografias de Lina Faria

Reflexes sobre o Direito e o cotidianoCidadania e Democracia, Desenvolvimento Sustentado e Direito do Trnsito.

Claudio Henrique de Castro

Dedico esta obra para minha querida me Leda que me ensinou que as coisas mudam, sempre para melhor.

Ficha catalogrfica elaborada por Maury Antonio Cequinel Junior Bibliotecrio CRB9/896 Castro, Claudio Henrique de Reflexes sobre o direito e o cotidiano : cidadania e democracia, desenvolvimento sustentado e direito de trnsito. / Claudio Henrique de Castro. Curitiba : Ctrl S Comunicao, 2012. 209 p. 1. Direito 2.Cidadania 3.Democracia 4. Desenvolvimento Sustentado 5. Direito do Trnsito 6. Oratria I.Ttulo CDU 34

C355

FiCHA TCniCA:Fotos: Lina Faria Reviso gramatical tcnica: Professor Ado Lenartovicz

Produo grfica: www.ctrlscomunicacao.com.br Projeto grfico e capa: Simon Taylor Diagramao: Fernanda Pivatto

Prefcio

o observatrio crtico.Quando ingressei na Faculdade de Direito na Universidade Federal do Paran lembro-me de um discurso marcante de um estudante citando Jos Ingenieros: Juventude sem rebeldia servido precoce. A frase expressa que cada nova gerao traz em si uma nova viso de mundo e se forma observando o mundo constitudo forando uma nova existncia tambm no plano das relaes sociais e da cultura. Recentemente um msico, ao lhe perguntarem sobre as crticas ao seu estilo musical, respondeu perguntando: Algum j viu erguerem uma esttua a um crtico?, menosprezando a crtica. Onde a razo? Est com um filsofo chins que disse que, observando os manuscritos dos grandes homens cultos da histria da humanidade, observou que, em muitos textos, encontrou partes rabiscadas e corrigidas. Chegou concluso de que mesmo os grandes sbios erravam. E eram sbios justamente porque sabiam se corrigir.

Essas reflexes so necessrias para enfrentar os textos de Claudio Henrique de Castro em suas reflexes sobre o Direito e o cotidiano: Cidadania e Democracia, Desenvolvimento Sustentado e Direito do Trnsito. Pois o direito movimento, expresso do novo e do velho na sociedade, de interesses em conflito, busca incessante em dar a cada um o que seu. A anlise jurdica deve ser feita com a tcnica da elaborao do direito, mas com o contedo cultural, social em histrico, em uma sociedade de conflitos. Essa a riqueza do novo livro do autor: a observao crtica sobre os problemas atuais da nossa existncia como o exerccio da cidadania, o trnsito cujas estatsticas revelam uma guerra civil oculta permanente e a questo urgente, vital e planetria que a sustentabilidade ambiental. Para os amantes da observao crtica, da democracia, da pluralidade de ideias, as indagaes e assertivas do autor significam uma soma ao pensamento crtico da sociedade sobre a sua existncia.

VITORIO SOROTIUK Advogado e Professor de Direito Ambiental da Faculdade de Cincias Jurdicas Tuiuti. Formado em Direito pela UFPR, Mestre em Direitos Sociais e Econmicos pela PUCPR, Diplomado em Estudos de Desenvolvimento pela Universidade de Genebra Sua.

reSUMo

A presente obra uma coletnea de artigos do autor, publicados em sites e blogs. Discutem-se temas relacionados com cidadania, democracia, desenvolvimento sustentado e direito do trnsito. O foco da obra explora o cotidiano das cidades e as questes de infraestrutura do estado brasileiro. Os textos buscaram uma linguagem objetiva e acessvel s pessoas sem formao jurdica. As fotografias de Lina Faria complementam a reflexo dos assuntos abordados.

Palavras chaves: Cidadania, Democracia, Desenvolvimento Sustentado e Direito do Trnsito.

ABSTrAcT

This book is a collection of articles by author, published on websites and blogs. Discuss topics related to citizenship, democracy, sustainable development and the law of transit. The focus of the work explores the daily life of cities and infrastructure subjects in the Brazilian state. The texts have sought an objective language and accessible to people without legal training. Lina Farias photographs complement the discussion of the issues addressed.

Keywords: Citizenship, Democracy, Sustainable Development and the Law of Transit.

SUMrio

i. cidadania e Democracia1.1. O cotidiano no interminvel 0800 ..................................17 1.2. Juros sobre juros e o perigo do melado. A capitalizao dos juros autorizada pelo STJ ..............22 1.3. As razes que perpetuam a impunidade no Brasil .......26 1.4. As licenas de txis hereditrias em Curitiba ................30 1.5. A Busca da Dignidade e do Respeito aos Professores ..........................................33 1.6. Os desvios do dinheiro pblico na publicidade ............42 1.7. O STF, as cotas raciais e as cotas de ensino pblico......47 1.8. Afinal, por quais razes pagamos impostos? .................51 1.9. Corrupo custa 100 bilhes por ano aos bolsos dos brasileiros ..................................54 1.10. A Repblica Brasileira e o Custo Brasil ........................56 1.11. O julgamento do mdico de Michael Jackson e a Justia brasileira ........................................................60 1.12. O Ensino Superior na rede privada em Curitiba e regio metropolitana: cenrio atual e perspectivas para os professores ................................63

1.13. O aumento da remunerao das Polcias no Paran....................................................69 1.14. A profissionalizao da Polcia (PEC 300/2008) e a gradativa unio das Polcias Civil e Militares uma tendncia mundial ..............................................72 1.15. A segurana e o porte de armas no Brasil ....................80 1.16. As desventuras jurdicas do Caso Battisti ....................83 1.17. Consideraes preliminares quanto s inovaes da Lei Complementar 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) ...88

ii. Desenvolvimento Sustentado2.1. A recente produo legislativa do Congresso Nacional e o Desenvolvimento do Brasil...........................................94 2.2. As novas leis de mobilidade urbana e de preveno s infraes contra a ordem econmica luz do transporte nas cidades .......................................98 2.3. O Novo Fundo de Previdncia Complementar do Governo Federal: sua sustentabilidade e os efeitos sobre o desenvolvimento............................101 2.4. Os aeroportos brasileiros na fico da infraestrutura .............................................................108 2.5. A invaso de privacidade e a necessria plataforma tecnolgica de infraestrutura para resguardar os direitos dos Cidados e do Estado .......112

iii. Direito do Trnsito3.1. A imposio legal de cmeras em bares e casas noturnas em Curitiba e os acidentes de trnsito.........118 3.2. possvel reduzir os acidentes envolvendo motociclistas no trnsito do Brasil? ..............................121 3.3. A grande contribuio do STJ para a cultura da impunidade que reina no Brasil...............................127 3.4. Locatrio tambm paga por multas de trnsito ..........133 3.5. Estdio, estrada e uma morte que poderia ser evitada ........................................................................137 3.6. A obrigatoriedade de sinalizao no uso de equipamentos de monitoramento de velocidade e a Resoluo 396 do Contran ..............141 3.7. O EstaR legal? ...............................................................145 3.8. Resoluo 363 do Contran adiada .............................149 3.9. As novas funes da URBS e algumas questes ainda sem respostas ........................................................154 3.10. Advogado da Comisso de Trnsito da OAB questiona URBS ............................................................158 3.11. Os pedestres e o Direito de Trnsito no Brasil ..........160 3.12. Trnsito: as regras mais descumpridas. As bebedeiras, os acidentes de trnsito e o Estado ..164 3.13. Pontos para se discutir a paz no trnsito. Sugestes para diminuir o inferno no trnsito .........168 3.14. Das ilegalidades do reconhecimento de firma do condutor e do proprietrio para recorrer em multa de trnsito ....................................................171

3.15. Os motoboys, a indstria da morte e a nova lei n 12.436/2011 ..............................................................175 3.16. Sem multas, com emprego ...........................................179 3.17. O lado quente da Comisso de Trnsito ....................181 3.18. De volta para o futuro: a suspenso do direito de dirigir e a contagem de pontos retroativa no prazo de cinco anos ................................................188 3.19. As multas da URBS e a deciso do STJ ......................200 3.20. A Inconstitucionalidade das Novas Alteraes do Cdigo de Trnsito .................................................203

iV. oratria4.1. Professor d dicas para advogados desenvolverem boa oratria ......................................................................206

Sites onde os textos foram publicadosamoc1cic.com.br http://blogdojj.com.br/ promotordejustica.blogspot.com.br www.abla.com.br www.acidentesdesastres.com.br www.asarmasmundial.blogspot.com www.blogdajoice.com.br www.blogdozebeto.com.br www.blogsoldacaustico.com.br www.colunamisterx.blogspot.com www.crimesdelitos.com.br www.egov.ufsc.br/portal/ www.espacovital.com.br www.fichacorrida.wordpress.com.br www.guiasaojose.com.br www.intelog.com.br www.invesditura.com.br www.jorgeyared.blogspot.com.br www.jornaldidata.com.br www.jornale.com.br www.jornaloestadodoparana.com www.jusbrasil.com.br www.louzada.adv.com.br www.metavendasbrazil.com.br www.paranaextra.com.br www.promotordejustica.blogspot.com.br www.psc.org.br www.rentacarnews.com.br www.sindilocpr.com.br www.sinpes.org.br

cidadania e Democracia

Reflexes sobre o Direito e o cotidiano

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1.1. o cotidiano no interminvel 0800.9 de agosto de 2012 Um estudante de Direito se encontra com uma estudante de Artes Plsticas e l pela tantas a artista pergunta: Afinal, o que vocs estudam? Com o peito estufado o acadmico responde: Ora! As leis, os cdigos, e as decises dos tribunais! Nesta singela resposta constatamos que o Direito est cada vez mais distante do cotidiano da sociedade, pois so dezenas de pequenos problemas que no so resolvidos pelas Leis e pelos Tribunais e que as pessoas no conseguem sequer se imaginar ajuizando aes para resolv-los. Do outro lado alguns setores do Direito falam no chamado demandismo, uma tendncia da populao bater s portas do Poder Judicirio para resolver seus problemas cotidianos e com isto os milhares de processos so interminveis. Isto se chama Democracia, mas mesmo assim so poucos os que se aventuram ao risco de ganhar ou perder uma ao para se resolver problemas do cotidiano. Mas, afinal, o que o cotidiano? Listamos alguns casos do que na soma causam desgastes nas pessoas nas esferas pblica e privada: 1) Ligaes aos finais de semana, nas manhs, nos finais de tarde e at noite de empresas de telemarketing; 2) Questes envolvendo perturbao ao sossego, de vizinhana ou veculos com sons de toda ordem, reformas, carros com som alto etc;

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3) Cobranas de correspondncias bancrias de cartes (elas continuam), envio de boletos de pagamento; 4) Diferenas pequenas em impostos e taxas para pagar; 5) Problemas de interrupo de sinal de telefone, gua, luz, tv a cabo, entregas e produtos com pequenos defeitos; 6) Batidas de veculos irrelevantes advindas de condutas ilegais, mas superveis diante dos custos envolvidos para a soluo; 7) Questes de trnsito, como ausncia de sinalizao, fiscalizao, condutas proibidas e reiteradamente praticadas como estacionamento na guia, irregular, alta velocidade, condutor alcoolizado, que apesar da exposio ao perigo no causam acidentes (sempre bom lembrar que 57 mil pessoas morreram no Brasil no ano passado no trnsito); 8) Atrasos em documentos oficiais, passaportes, pedidos de alvars, pedidos de certides, processos de aposentadorias etc; 9) Atendimentos exclusivamente por telefone de servios essenciais, com a demora de mais de meia hora ao telefone para explicar e se re-explicar os problemas sem solues objetivas e adequadas, sempre com um protocolo e com a promessa de se gravar as interminveis ligaes; 10) Falhas reiteradas nos servios essenciais, como atendimentos em postos de sade e hospitais, mas que pela dimenso individual so suportveis pelos menos favorecidos; O resultado que os servios so prestados com baixa qualidade, mas no compensa question-los nas esferas judiciais ou administrativas.

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Com efeito, o Direito no resolve os problemas do cotidiano e ingressam neste cenrio as denominadas Agncias de Regulao, os Procons, os Juizados Especiais e fundamentalmente o Poder Judicirio que no resolvem os problemas do cotidiano da populao, pois quem batalha pela sobrevivncia no tem tempo, dinheiro e conhecimento para se dirigir a estes rgos que funcionam por provocao e no autonomamente. Em conseqncia, parte das grandes corporaes reduz a qualidade do atendimento, dos servios e produtos e inserem no preo esta perversa reduo, pois menos qualidade, menos custos e lucro maior. O que podemos fazer? queles poucos que recorrem aos seus direitos entram nas estatsticas dos custos operacionais. Estes recebem indenizaes irrisrias, admitidas pelos tribunais superiores que falam em indstria das indenizaes e demandismo e este resultado invariavelmente acontece depois de muitos anos de espera, at dcadas para a soluo dos casos judiciais. A funo didtica e preventiva das indenizaes perdeu-se nos congressos e discursos cientficos do Direito. A epidemia das mortes do Trnsito sequer estudada pelo Direito, que est preocupado, na maior parte das vezes, com o exibicionismo intelectual das ps-graduaes, com linhas de pesquisas de duvidosa prtica e de pouqussimo alcance social. Neste cenrio, o cotidiano escapa ao Direito e as questes mais simples do dia-a-dia das pessoas no se resolvem, sejam no que tange a qualidade dos servios pblicos essenciais, no trnsito e transporte, seja num pequeno ato da vida diria das pessoas.

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Viver se tornou um interminvel 0800 para se tentar resolver problemas cada vez maiores do outrora simples, mas hoje complexo convvio social. Quem sabe a atuao dos polticos possa resolver nosso cotidiano, cujos personagens principais prometem e prometem e o povo, o verdadeiro dono do poder, esquece sempre de cobrar, no repetitivo ciclo eleitoral de dois em dois anos.

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1.2. Juros sobre juros e o perigo do melado. A capitalizao dos juros autorizada pelo STJ.5 de julho de 2012 Recentemente o Superior Tribunal de Justia proferiu deciso favorvel capitalizao dos juros, ou seja, que possvel a incidncia dos juros sobre os juros, pois se entendeu que ela, a capitalizao, vedada pelo Decreto n 22.626/33 (conhecido como Lei de Usura) em intervalo inferior a um ano, permitida pela Medida Provisria n 2.170-36 para as instituies financeiras, desde que expressamente pactuada, estando ligada circunstncia de os juros devidos e j vencidos serem, periodicamente, incorporados ao valor principal. Nem a legislao de Justiniano, o ltimo imperador romano, que morreu em 565 d.C., permitia esta prtica. A sabedoria do Direito Romano Imperial impedia tal procedimento. Passados mais de mil e quatrocentos anos, eis que permitida a referida prtica no Brasil, num momento em que o endividamento da populao chegou a ndices preocupantes para a banca internacional e para a economia domstica, obrigando o governo a reduzir os impostos para aquecer o consumo. Trocando em midos: pela deciso, a capitalizao dos juros deve estar inscrita no contrato e o consumidor deve assinar na linha pontilhada no final. A cena simples: o gerente do banco mostra o contrato, diz Leia, por favor!, voc passa os olhos e assina o contrato junto com uma nota promissria e com as bnos do Poder Judicirio brasileiro e est tudo perfeito.

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Em 1961 o Supremo Tribunal Federal analisou esta questo e, em brilhante deciso, afirmou que a vedao legal do anatocismo de ordem pblica, prevalecendo sobre a conveno das partes (RE n 47.497 SP). Assim, no importava o contrato assinado entre as partes na bacia das almas do contrato financeiro. O assunto velho, e muito bem descrito na deciso do STF. O jurista Teixeira de Freitas, na sua Consolidao das Leis Civis (de 1856, p. 121), afirmou que possvel a capitalizao dos juros, desde que pactuada pelas partes. O jurista Lacerda de Almeida (1897) era contrrio a esta posio. Acontece que naquele tempo, quem assinava contrato com os bancos estava em posio de igualdade, falava grosso com os banqueiros, no havia classe mdia no Brasil, que somente surgiu na dcada de 40 do sculo passado. Portanto, falar em acordo entre as partes era possvel. Com o surgimento dos contratos de massa, e a ascendente classe C e D ter mais poder de compra, ter acesso a financiamentos e conta corrente em banco no significa que se possa discutir de igual para igual um contrato. O prprio Cdigo de Defesa do Consumidor fulmina esta pretensa situao ideal e confere prevalncia aos consumidores. Este assunto pode ser que no suba para apreciao do Supremo Tribunal Federal por conta de mecanismos processuais impeditivos. Resta-nos rezar para que esta deciso seja revertida. Com efeito, necessrio se discutir profundamente o acerto ou desacerto desta deciso do Superior Tribunal de Justia.

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A repercusso social disto nos faz lembrar o que aconteceu ao sistema bancrio nos Estados Unidos em 2008, onde mais de 400 bancos quebraram devido a cascata financeira impossvel de ser cumprida pelos muturios norteamericanos. At agora o sistema bancrio norte-americano est mancando. A sanha das instituies financeiras deu no que deu: toda sociedade est padecendo os efeitos da quebradeira. A lio que fica simples e vinha dos nossos avs:Quem nunca comeu melado quando come se lambuza. Notas http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp. area=398&tmp.texto=106280 http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC& docID=146791

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1.3. As razes que perpetuam a impunidade no Brasil.22 de junho de 2012 At ontem comer uma pizza em Curitiba era um ato de preocupao com as calorias e o regime. Depois do arrasto no bairro do Batel, os relgios, os aparelhos celulares, as carteiras, as bolsas chiques e os cartes de crdito e de dbito entraram tambm nesta lista de preocupaes. o modo de ser paulistano chegando capital dos paranaenses. Em So Paulo a moda agora freqentar os restaurantes que foram assaltados, pois dificilmente o crime se repete, ou andar acompanhado de um co de raa pitbull com coleirinha repleta de cristais swarovski. Enquanto isso, no Senado estuda-se a reforma do Cdigo Penal, com um tmido aumento das penas dos crimes contra a administrao pblica, em descompasso com o grande volume de delitos descobertos em face de constantes operaes da Polcia Federal e a crescente conscientizao da sociedade que paga a conta. Muitos delitos no projeto tiveram suas penas reduzidas, a exemplo de todos os crimes contra o sistema financeiro nacional e o peculato (apropriao de bem em funo do cargo). Diante disso, pergunta-se: Ser essa a vontade da sociedade que assiste a recorrente impunidade dos crimes de colarinho branco?

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O projeto inaugura novas modalidades de crimes, alguns com nomenclatura inglesa: bullying (intimidao vexatria) e stalking (perseguio obsessiva), e outros em bom portugus: corrupo entre particulares, praticar ato fraudulento, plgio intelectual, uso de celular na priso, abandono de animais, furto com uso de explosivo, ofensa empresa e eutansia. Talvez a proposta mais sensata seja a descriminalizao do porte de drogas, tratandose o dependente como portador de doena, frente a nova epidemia do crack e das anfetaminas nas baladas. Tambm tramita a proposta de reforma do Cdigo Processual Penal. E como talvez se pense paradoxalmente que o processo penal no combina com o direito penal, em muitos pontos as propostas so antagnicas. O Brasil possui um colossal dficit de vagas nas penitencirias do sistema federal e nos estados. Isto somado aos processos penais interminveis resulta um sistema penal direcionado para quem habita o andar de baixo, pois o aprisionado normalmente aquele que no teve condies de pagar bons advogados. A felicidade dos povos e o advento dos Cdigos inauguram um velho debate: at que ponto a legislao penal est distante dos anseios populares, posto que a maior parte das cartas, e-mails e mensagens para a Comisso de sbios foi no sentido do aumento das penas j existentes e Comisso fazendo-se de surda resolveu caminhar na direo contrria, principalmente no que diz respeito aos crimes contra a administrao pblica?

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O Banco Mundial recentemente lanou um mapeamento da corrupo no planeta. Paulo Maluf e Daniel Dantas esto nela, personagens conhecidos da imprensa e dos tribunais brasileiros, sendo que o primeiro, deputado federal, ocupa um importante espao poltico da mesma cidade de So Paulo que padece dos arrastes em condomnios e restaurantes. Neste cenrio podemos pensar em penitencirias abertas, l mesmo, em Braslia no Distrito Federal e nas principais capitais brasileiras. Notas: http://star.worldbank.org/corruption-cases/ http://www.valor.com.br/brasil/2717530/reformas-em-leicaminham-em-sentidos-opostos-em-sentidos-opostos

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1.4. As licenas de txis hereditrias em curitiba.1 de junho de 2012 A recente Lei Municipal n 14.017/2012 que dispe sobre a hereditariedade das licenas de txi em Curitiba manifestamente inconstitucional diante do inciso I do art. 3 da Constituio Federal, que prev que constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil, entre outros, o de construir uma sociedade livre, justa e solidria. Uma sociedade justa afasta institutos jurdicos hereditrios, salvo o direito de herana que eminentemente das coisas privadas e no pblicas. O prprio sentido do regime republicano afasta a hereditariedade de direitos pblicos, pois herana pblica essencialmente monrquica. H mais de cem anos foi superado o regime monrquico no Estado brasileiro, sobrou apenas o Rei Momo e a Rainha nos Carnavais. Estamos num ano eleitoral e o pauta legislativa farta em medidas para cativar o eleitorado. Vejamos a Constituio do Estado do Paran que estabelece no seu inciso I do art. 12 que competncia do Estado, em comum com a Unio e os Municpios, zelar pela guarda da Constituio, das leis e das instituies democrticas e conservar o patrimnio pblico. Ora, basta uma simples leitura para afastarmos a referida lei municipal.

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A Lei Orgnica de Curitiba prev no seu inciso III, art. 11, que compete ao Municpio prover a tudo quanto respeita ao seu interesse e ao bem-estar de sua populao, cabendo-lhe, em especial: III. Organizar e prestar diretamente, ou submeter ao regime de concesso ou permisso, mediante licitao, os servios pblicos de interesse local, incluindo o transporte coletivo, que tem carter essencial. Assim, a licitao a regra. Temos o maior respeito para com os taxistas e suas famlias, mas pensamos que as Capitanias Hereditrias do sculo XVI provaram que a hereditariedade no funciona administrativamente, apenas as capitanias de Pernambuco e So Vicente deram certo. A referida lei municipal institui o nepotismo normativo. Imaginem os Ministros do Supremo relatando uma ao deste tipo e todas as piadas que seriam elegantemente proferidas capital do Estado. A competncia, contudo, no chega to longe, vai apenas ao Tribunal de Justia, embora possa, com expedientes recursais, daqui a alguns anos, chegar a Braslia. Haver certamente alguma ao judicial que a declarar inconstitucional. O mais curioso que a vida republicana baseada nas efemrides eleitorais.

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1.5. A Busca da Dignidade e do respeito aos Professores.19 de julho de 2012 1. os perfis econmicos dos Professores Temos de forma breve, dois perfis valorosos de Professores na rede privada de Ensino Superior: 1. o profissional liberal que tem seu consultrio, escritrio, emprego pblico ou outra atividade e est na docncia para complementar a renda principal no proveniente da docncia. Este Professor dificilmente vai se mobilizar, comparecer a reunies sindicais ou apoiar o movimento de forma ativa. Temos assim esta dificuldade em virtude das condies objetivas de colocao do profissional no mercado de trabalho; 2. e aqueles Professores que tm exclusivamente a docncia como principal fonte de renda, e tm medo da despedida arbitrria, que rotineiramente acontece, e com o desemprego estrutural, a cada despedida tem-se dezenas de currculos na gaveta do empregador para a entrevista de emprego, por meio de anncio em jornal dominical ou at nas rdios AM em alguns casos. Estes dois perfis, somados completa ausncia, na grande maioria das instituies, de Planos de Carreira e da estabilidade profissional, que os docentes da rede pblica possuem, geram atual dificuldade na mobilizao e a festa dos lucros advindos das imposies salariais aos Professores.

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Os Professores, sejam os de tempo integral ou parcial, merecem respeito, mas no nos esqueamos que isto influencia nas negociaes sindicais. Precisamos conscientizar toda a categoria dos desafios que se colocam pela grande corroso salarial que abate a classe. Outra questo relevante a grande distncia dos salrios dos Professores antigos (cinco, dez ou mais anos de casa) com os novos contratados. A lgica a de que ao sarem os professores antigos, jamais os salrios chegaro ao patamar daqueles, criando-se um crculo vicioso cujo objetivo o rebaixamento geral dos salrios. Pesquisas e aprimoramento do conhecimento no esto nesta pauta, mas meramente o repasse do conhecimento e, consequentemente, os ndices da pesquisa brasileira so os piores dos pases em desenvolvimento. Isto no importa verdadeiramente aos lucros desmedidos e ao mercado de escala: quanto menores os investimentos, maiores os lucros (Milton Santos). Os Professores na rede privada se tornaram mais uma pea na engrenagem dos lucros fceis da rede privada de ensino com as bnos do MEC e do Estado brasileiro, que se dizem preocupados com o futuro do pas. H pouco o Ministro da Cincia e Tecnologia numa palestra nos EUA, apresentou-se como ministro do Ministrio da Fico Cientfica, em face da sua carncia na lngua inglesa ou talvez de um ato falho que espelha a realidade.

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2. As instituies de ensino, o lucro fcil e o crescimento econmico sem valorizao salarial Com isto, os Professores tornam-se dceis e teis (Foucault), e seus salrios so desprestigiados em face das belas reformas de instalaes fsicas, das suntuosas construes de prdios e estacionamentos, das coloridas propagandas em placas nas esquinas das ruas, dos outdoors bem elaborados, das sonoras propagandas de rdio e fascinantes campanhas de televiso, dos patrocnios de shows dos mais variados, estando na beira da associao de praias tropicais, alegria e festas de finais de semana para cativar os nossos jovens estudantes. o canto da sereia do negcio do Ensino Superior Privado. A publicidade para atrair novos alunos a principal arma nesta competio desmedida para manter o mercado aquecido. O novo foco a classe C, com mensalidades baixas, ensino a distncia e todas as facilidades possveis para se conseguir um diploma do curso superior. Tudo isto pe o conhecimento distncia da sociedade, em patamares cada vez mais reduzidos em qualidade de ensino. Numa medio bastante simples, comparando o aumento das mensalidades e os reajustes dos salrios, no perodo de 2009 a 2012, chegamos a 40%(quarenta por cento) na defasagem dos salrios dos Professores. Cabe a lembrana de que o pecado capital da vareza se concretiza, em muitas personalidades que comandam financeira e administrativamente as Instituies de Ensino Superior, sejam elas laicas ou confessionais. Os alunos e a sociedade sequer imaginam esta grave disparidade.

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Assim, o desgaste nos salrios dos Professores torna-se a principal ferramenta empresarial para se auferirem os lucros em cima dos alunos e de suas famlias. Consagra-se um circuito perverso no qual o que menos importa a qualidade de ensino, o respeito e a dignidade dos Professores, dos alunos e da sociedade. 3. A globalizao do ensino e a perda da soberania nacional Assim, temos um processo de macdonaldizao o ensino no qual o conhecimento, apostilado, colhido em portais, snteses e resumos digerveis so apresentados aos alunos como conhecimento. Enquanto os pases desenvolvidos aplicam os recursos pblicos no fortalecimento do conhecimento, na rede privada os recursos pblicos so investidos pelo Prouni e incentivos fiscais de forma a no cobrar efetivamente pela qualidade do ensino, ficando relegado aos Enades, a pretensa qualidade das instituies privadas, sem se avaliar como os Professores so tratados, salrios, condies de ensino e progresso na carreira, embora, este item conste retrica e demagogicamente nas avaliaes institucionais. Este grave rebaixamento do conhecimento e a pauperizao dos Professores brasileiros interessam globalizao, pois a cada dia que passa nos tornamos refns do conhecimento proveniente dos pases desenvolvidos, cujas polticas de ensino so absolutamente diferentes da prtica empresarial educacional brasileira. No por acaso as grandes redes nacionais esto sendo vendidas para grandes grupos estrangeiros; nenhum dos dois verdadeiramente tem compromissos com a ptria brasileira, mas com a bandeira, sem nacionalidade, dos lucros sobre os salrios dos Professores e a lgica do aumento desmedido dos ativos.

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O principal ativo desses homens de negcios a quantidade de alunos em milhares e no o ativo humano, dos Professores. Sem docentes, todas as instalaes tornam-se prdios fantasmas e abandonados. Vejam, por exemplo, uma negociao de compra e venda de grupo educacional recente cujo preo de compra ultrapassou 1 bilho de reais. 4. Ausncia de piso salarial, paralisao das clusulas convencionais e reajustes rituais H muito falamos em piso salarial, mas os patres insensveis nos vm com a desculpa dos mdulos de ensino e dos professores horistas, essas grandes modalidades de empobrecimento dos Professores, com todo respeito aos que se submetem a esses regimes. Precisamos de um piso realmente digno. Podemos comear a falar em cinco mil reais, na prtica do piso da rede pblica federal de ensino superior ou uma progresso na qual admitamos uns trs mil reais aumentando com o passar do tempo de trabalho e da progresso na carreira. As instituies que no possuem profissionalismo ou sustentabilidade para a gesto do Ensino devem mudar de negcio. Manter instituies s custas do empobrecimento dos docentes e da enganao de milhares de alunos no pode mais persistir no cenrio atual, cujo lucro fcil se d em virtude da diminuio de salrios e dos custos. O que ocorre que, se empresa vai mal, os empresrios sempre vo bem. Alis, onde esto esses empresrios que, com raras excees, sequer pegaram num giz em algum dia na vida?

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As negociaes das clusulas convencionais no avanam e os reajustes anuais so um rito de passagem anual cujo argumento dos patres meramente o da correo pelo INPC e mais nada. Ou s vezes um misericordioso 0,5 (meio por cento) como est correndo na negociao de 2011/2012. Assim a intransigncia e a mesquinhez consolidam a postura do Sindicato dos patres, claro; por detrs disto esto os lucros sempre crescentes. H uma verdadeira caixa preta na contabilidade dessas instituies, cuja escurido interessa aos vampiros do ensino superior privado. Temos que abrir essas caixas pretas para sabermos quais os motivos contbeis que implicam todos os anos o rebaixamento salarial e a pauperizao dos Professores. 5. As negociaes no se bastam; necessrio avanarmos Na ltima assembleia conseguimos o apoio das entidades representativas dos Estudantes, que, com irreverncia, alegria e liderana propuseram o apoio no sentido de divulgar dados, denunciar instituies arbitrrias, aos alunos e vestibulandos, mas fundamentalmente apoiar a valorizao dos Professores e denunciar os abusos nas mensalidades. Na dcada de 90 uma Faculdade conhecida em Curitiba, ameaou despedir professores em massa e a reao dos alunos veio a galope, por dois meses os alunos no pagaram as mensalidades e a instituio voltou atrs vestindo as sandlias da humildade. Esta lio, com apoio dos alunos, pode e deve ser repetida em larga escala ainda este ano.

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hora de pensarmos neste tipo de paralisao e chamamento, invocarmos a solidariedade dos alunos para paralisarem os pagamentos at que a insensibilidade do Sindicato dos patres se altere e negociemos de forma a resgatar um mnimo de Dignidade e Respeito nossa classe: Sem professores no existem as outras profisses. Outra medida importante tornarmos as visitas do MEC quando da avaliao dos cursos, um visita verdadeira, sem mentiras ou armaes da pseudoqualidade de Ensino. Para isto necessrio que os Professores avisem o Sindicato de tais visitas para que alertemos as comisses de avaliao das reais condies de ensino das instituies, da precarizao e miserabilizao dos salrios dos Professores, sem planos de carreira e tudo mais que sempre divulgado no Didata. Por ltimo, dois professores do Sindicato foram recentemente despedidos, em meio s negociaes, - eles iro voltar! Este ato demonstra as estratgias dos escoteiros do mal em tentar calar aqueles que se voltam para a defesa do Ensino no Brasil e da valorizao dos Professores. O Sinpes ir reagir com firmeza e determinao! 6. concluses e perspectivas de atuao: Diante das reflexes colocadas no presente artigo podemos concluir que: 1. Devemos nos mobilizar, de todas as formas possveis; 2. Vamos convencer e conscientizar a Sociedade e os Alunos do momento histrico que passamos e das nossas necessidades salariais e de condies de ensino;

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3. Precisamos que as Instituies adotem os Planos de Carreira, Piso Salarial condigno e que avancem nas clusulas convencionais; isto no vir de graa, necessrio nos mobilizarmos; 4. necessrio que nos juntemos aos Alunos para fazermos presses reais frente a esta excluso salarial na qual fomos submetidos e ao aumento desmesurado das mensalidades escolares; isto inclui modalidades de mobilizao diferenciadas; 5. Nossa recomposio salarial de 40% (quarenta por cento). Na mesa de negociao pedimos apenas 12% (doze por cento) em virtude da soberana deciso da Assembleia da Categoria, mas isto no exclui outras demandas como qualidade de ensino e a dignificao dos Professores; 6. O Sindicato precisa da mobilizao dos Professores, pois o nutriente das nossas reivindicaes est na unio da categoria; 7. Professores lutando, tambm esto ensinando!

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1.6. os desvios do dinheiro pblico na publicidade.19 de maio de 2012 1. o que manda a constituio O Direito simples. Vejamos. O art. 37 da Constituio Federal que prev o princpio da impessoalidade e disciplina a publicidade de Estado dispe: Art. 37. A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia e, tambm, ao seguinte: () 1 A publicidade dos atos, programas, obras, servios e campanhas dos rgos pblicos dever ter carter educativo, informativo ou de orientao social, dela no podendo constar nomes, smbolos ou imagens que caracterizem promoo pessoal de autoridades ou servidores pblicos. Se um estrangeiro nos visitar e perguntar se os governos federal, dos Estados e dos Municpios gastam dinheiro pblico em propaganda, a resposta seria dada pelo texto constitucional. Dessa forma, entenderia o estrangeiro que o dinheiro pblico no pode ser gasto em publicidade posto que ainda somos o pas que somos: o 95 em analfabetismo; 73 em expectativa de vida; 98 em mortalidade infantil e que possui uma epidemia de delinquncia com uma taxa de 31 homicdios a cada 100 mil habitantes.

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Ele nos diria: Muito bem! Vocs gastam de forma racional os recursos pblicos! Porm, isto verdade? Sabemos que no. 2. o que acontece na prtica No Poder Executivo da esfera federal, aquele que tem a caneta na mo para e liberar os recursos, os Ministrios, faz uso desmedido dos recursos de publicidade; e figura do chefe do Executivo sempre est presente com as frases que caracterizam a gesto nas liberaes de verbas para os bancos oficiais, empresas estatais e demais entes que manipulam e administram as verbas pblicas. No se pode afirmar categoricamente, mas a liberao de recursos que nutrem os grandes jornais, as revistas semanais, os canais e redes de rdio e televiso, tem muito a ver com a modulao das crticas ao poder. Nas esferas estaduais e municipais, os recursos se avolumam nos perodos que antecedem os pleitos eleitorais, numa verdadeira avalanche de dinheiro para as agncias de publicidade que fomentam e movimentam milhes em favor dos candidatos. No plano do Legislativo federal, estadual e municipal este processo mais intenso do que se pode imaginar, muitas vezes com o repasse de verbas para personagens que representam indiretamente o poder de planto. Essas interpostas pessoas, que administram os meios de comunicao, fazem um sobrepreo da publicidade para aplicar a diferena nas campanhas eleitorais. Os exemplos so recentes na cena histrica e caracterizam as gestes ou as alteraes estilsticas dos smbolos oficiais, isto em todas as esferas governamentais.

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Ainda e mais, h a grande possibilidade de lavagem de dinheiro das verbas de publicidade em cima do valor real sob o manto da denominada criatividade que a princpio no tem preo, pois, afinal, quanto vale uma ideia, um jingle, uma pea publicitria? No estamos aqui afirmando que todos agem assim, mas que essa possibilidade bastante possvel, no se pode negar. A eleio e a reeleio, inegavelmente, so sempre a prioridades dos poderes institudos. 3. o que diz o juridiqus Infelizmente os Tribunais no possuem uma linha de interpretao serena e objetiva quanto anlise das propagandas oficiais, e o conceito inscrito na Constituio passa a ser letra morta, salvo casos escancarados desafiados, por vezes e apenas, por oposies partidrias ou ideolgicas. A doutrina, isto , a escrita dos sbios do Direito, silenciosa e vacilante quanto ao tema publicidade oficial. Assim, os Poderes fazem como bem entendem suas peas publicitrias e a utilizam para a promoo oficial. Vale a sentena popular: Todos fazem! Por que no podemos fazer tambm? 4. o que precisa mudar No h propriamente propostas sobre o tema e sua disciplina legal, at em razo de o artigo da Constituio ser bastante explicativo e autoaplicvel. Entretanto, algumas reflexes podem ser lanadas sobre o tema:

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1. As Assembleias Legislativas e as Cmaras Municipais no podem usar dos recursos pblicos para publicidade, nem dos seus personagens, muito menos, de campanhas. Com efeito, a divulgao dos seus atos feita por meio dos atos oficiais. Leia-se: dirios oficiais; 2. As publicidades dos governos federal, estaduais e municipais, das empresas pblicas, da administrao direta ou indireta, devem ser rigorosamente fiscalizadas pelos rgos de controle, e os Tribunais devem enfrentar este tema com os conceitos de: desvio de finalidade, desvio de poder e de propaganda antecipada, fulminando com a inelegibilidade os personagens envolvidos e determinando a devoluo aos cofres pblicos das quantias despendidas. Sobra legislao para fazer isto. Basta vontade poltica; 3. Toda publicidade oficial deve ser profundamente analisada quanto aos dispndios, causa e extenso dos efeitos. hora de as prioridades do governo brasileiro serem efetivamente a soluo dos graves problemas sociais; 4. Por fim, a imprensa, para ser crtica, deveria nortear seu trabalho com a premissa de que possvel sobreviver sem as verbas de propaganda e publicidade oficiais.

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1.7. o STf, as cotas raciais e as cotas de ensino pblico.25 de abril de 2012 O Supremo Tribunal Federal vota hoje as cotas raciais no ensino pblico. Nosso prognstico que o julgamento ser apertado, mas ser aprovada a legalidade das cotas para a alegria dos setores mais progressistas que vislumbram nelas um mnimo resgate dos mais de 500 anos de opresso aos pobres, negros, efetivados pela sociedade patriarcal e estamental brasileira. Nosso patriciado dirigente no admite alguns avanos que esto ocorrendo (Damatta). Nem s de samba e manifestaes culturais vivem os negros e os excludos. Sem a vinda da frica ao Brasil seguramente nosso povo no seria um povo alegre (Darcy Ribeiro). Seramos tristes e sem musicalidade, seramos um povo tmido, aptico, sem tempero ou poesia. Felizmente a me frica nos livrou disto tudo. As cotas so transitrias, tm a perspectiva de acabar em 2025/2030, conforme previses dos setores que militam pelas aes afirmativas. As reparaes da escravido do Brasil ainda esto por vir. No tivemos ainda uma reforma agrria, no desfavelizamos as periferias das cidades e das grandes capitais, ainda no temos Justia Social, apesar da prdiga Constituio Federal de 1988.

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O discurso sobre as cotas comeou com um artigo do Ministro Marco Aurlio no Supremo Tribunal Federal, depois na Universidade de Braslia e se espalhou pelo Brasil afora. Ainda h muitas resistncias, como naqueles primeiros anos em que os ento abolicionistas entoavam seus discursos libertrios contra a escravido no Brasil. Zito Costa, numa profunda e detalhada Tese de Doutorado da USP, comprovou que as telenovelas brasileiras, na sua esmagadora maioria, colocavam os negros e pardos sempre em posies subalternizadas. Onde esto as cotas da mdia (?). Afinal ainda no vivemos numa democracia racial, ao contrrio do que pensava Gilberto Freyre. A ideologia do embranquecimento da dcada de 30/40 do sculo passado, ainda ecoa nos setores conservadores. O Direito muda, os conceitos de Justia tambm. Temos muito que descobrir nos horizontes da cidadania e da incluso social. O pas, sem dvida, a nao que concentra os maiores recursos de biomassa do Planeta e a maior parte da populao ainda no recebeu seu quinho desta imensa riqueza. Ainda temos piadas sobre os negros e pobres, ainda temos a imagem distorcida da globalizao e do darwinismo social (Milton Santos), na qual os mais capazes sempre vencem socialmente. Entretanto, este cenrio estaria correto se todos tivessem oportunidades semelhantes, o que no corresponde realidade brasileira. tima educao e sade significam dinheiro e posio social. A democracia social est ainda por vir, tem-se quinhentos anos de espera.

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Temos ainda um longo caminho a trilhar pela agenda poltica e a reforma tica das instituies, banindo os personagens que solapam os cofres pblicos e que so investidos pelo voto popular. A CNBB sugeriu que deveramos ter a cotas dos polticos honestos; consolidou-se Lei da Ficha Limpa. um tmido comeo para esta nova realidade, mas que possui reflexos positivos na agenda das eleies brasileiras. Parabns ao Supremo Tribunal Federal por mais este importante passo que ser dado em prol da Cidadania, aps, claro, alguns pedidos de vistas, embargos declaratrios e todos aqueles expedientes processuais que conhecemos.

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1.8. Afinal, por quais razes pagamos impostos?24 de janeiro de 2012 Imagine uma profisso em que todo santo dia sua mulher e sua famlia faam oraes para que voc chegue no final do expediente salvo e ileso. Pensem em uma profisso em que sua conduta deva ser tecnicamente impecvel frente a situaes bastante estressantes e que de sua atuao dependam vidas humanas. Avalie uma profisso em que voc tenha o dever da coragem e que enfrente personagens perigosos, armados e audaciosos. Medite a respeito de uma profisso qual toda sociedade fique atenta e que os mais diversos crimes sejam o seu cotidiano. A exemplo da Polcia Federal, que instituiu um slido planejamento estratgico, reduziu os graus da hierarquia, reduziu as diferenas salariais da base com o topo da carreira e se profissionalizou, desvinculando-se do Poder Executivo, chegada a hora das valorosas polcias estaduais, a Civil e a Militar. No h tempo a perder. O Paran pode dar um exemplo para o Brasil e definitivamente lanar um plano de valorizao salarial condizente com os novos desafios frente ao crime organizado. Temos plena confiana nisto e acreditamos nas nossas autoridades estaduais recm-eleitas. Defendemos altos salrios para os professores, pois sem educao os pases tornam-se incubadores da criminalidade. Mas a fora repressiva e investigativa do Estado deve estar aparelhada, principalmente para os crimes de Estado, os chamados whitecollar-crime, ou crimes do colarinho branco, isto , os crimes da classe alta, os que mais esvaziam os cofres pblicos no Brasil.

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Quando se trata de votar aumento de subsdios para a classe poltica, rapidamente so elevados os rendimentos da classe dirigente. Quando se fala no salrio da base do Estado, professores, profissionais da Sade e policiais, h muito discurso e pouca ao. As promessas dos atores da poltica so sempre as mesmas: Sade, Educao e Segurana!. Por detrs desse discurso, na base do Estado, esto profissionais de alto valor moral e tico, que lutam com o suor do trabalho para viver e sobreviver. No nos esqueamos ainda dos trabalhadores da limpeza pblica, que correm dezenas de quilmetros por dia recolhendo o lixo das cidades. A hora da mudana agora. No se pode mais adiar o discurso da cidadania, da democracia, do Estado de Justia Social. Para isto so necessrios novos concursos pblicos com salrios condizentes com as tarefas que se avizinham necessrias para a construo de uma sociedade realmente democrtica. Afinal, por quais razes pagamos os impostos?

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1.9. corrupo custa 100 bilhes por ano aos bolsos dos brasileiros*.23 de novembro de 2011 A corrupo custa para os brasileiros cerca de cem bilhes de reais por ano. Com base nesses dados o advogado e professor universitrio Cludio Henrique de Castro prega uma mudana de mentalidade da populao em relao ao corrupto. Segundo ele, o Brasil precisa passar por uma reforma na educao para barrar a ao de corruptos. Para o professor a raiz de boa parte dos problemas vividos pelos brasileiros teve origem na dcada de 70. Cludio Henrique de Castro aponta o servio pblico como o maior foco de corrupo no pas. Entre as solues apontadas pelo professor esto: tornar a justia acessvel aos pobres, acabar com a prescrio penal e com a priso especial e rigor na aplicao da Lei de Responsabilidade Fiscal sem as anlises elsticas que ocorrem normalmente. Mas ele acredita que o brasileiro j est mais consciente em relao corrupo. Segundo dados oficiais, o Brasil a NONA potncia mundial, mas o nmero 95 em analfabetismo, 73 em expectativa de vida, 98 em mortalidade infantil, e a taxa de homicdios de 31 para cada grupo de cem mil habitantes. Para Cludio Henrique de Castro esses nmeros tm tudo a ver com a corrupo. *Notcia Jornalstica

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1.10. A repblica Brasileira e o custo Brasil.22 de novembro de 2011 O conceito de Custo Brasil normalmente passa pela ineficincia e corrupo do Estado brasileiro, uma clara crtica corrupo endmica instalada no pas. Contudo, devemos olhar para os lados e verificarmos que h um custo em todos os pases; o custo da excluso social que gera 1 bilho de pessoas que passam fome no mundo e 1,2 bilho de pessoas no tem acesso gua tratada no mundo. No mundo verifique-se que 10% dos mais ricos detm 85% do capital global, e metade dos habitantes detm apenas 1% e que os pases altamente industrializados do G8 venderam 87% das armas exportadas do mundo inteiro, fomentando e lucrando com a guerras locais e regionais. O Brasil se coloca como a 9 potncia mundial, mas em 95 em analfabetismo; 73 em expectativa de vida; 98 em mortalidade infantil e com uma taxa de 31 homicdios a cada 100 mil habitantes, numa verdadeira epidemia da delinquncia. Estas assimetrias devem ser consideradas no conceito de Custo Brasil. Vejamos o problema da corrupo que nos custa R$ 100 bilhes por ano, o que resulta em 3,7 bi de prejuzos por ano, para cada Estado da Federao, combinada com a poltica de juros altssimos que beneficia o rentismo em detrimento do estudo e do trabalho se enquadram na eroso tica. Inegveis a ineficincia da infraestrutrura e da logstica na eroso tcnica e ainda os 20 milhes de pobres na eroso humana.

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Quais solues poderiam ser apontadas para a reduo do Custo Brasil? Vejamos algumas sugestes veiculadas pelos setores mais progressistas: 1. Fidelidade partidria, no a de araque que assola a legislao e a Justia Eleitoral; 2. Acabar com priso especial, com a cessao dos privilgios oferecidos s elites; 3. A imposio de ficha limpa para as pessoas indiciadas a critrio de juzo de recebimento do inqurito; 4. A indicao obrigatria em cada produto da carga de imposto para conscientizar as pessoas sobre a arrecadao do Estado; 5. Rigor da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e no nas interpretaes elsticas e casusticas que ocorrem rotineiramente; 6. Proibio do voto secreto e salrios aos membros do Poder Legislativo; 7. Tornar a justia acessvel aos pobres; 8. Acabar com a prescrio penal que se tornou um grande negcio para a impunidade das elites; 9. Evitar o cinismo pragmtico do relaxa, transgride e goza; 10. Enfrentar o falso problema do garantismo penal; 11. Reduo drstica dos cargos de provimento indicados no Estado brasileiro e os milhares de cargos em comisso para somente servidores de carreira; 12. Superar o duplo padro tico no Estado no cumprimento da lei e a cultura da transgresso da lei e do jeitinho (aos amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei);

13. Implantar uma agenda tica, a exemplo da Noruega; 14. Efetivar uma profunda reviso do conceito de felicidade na qual todos participem da riqueza do Estado; por exemplo, a Costa Rica que possui 18% em comparao com o Brasil que possui 33% de pobres na sua populao; 15. Instaurar a definitivamente a Repblica no Estado brasileiro -, passados 122 anos da sua proclamao, o Estado Brasileiro ainda no feito para, pelo e em funo do povo, mas serve na sua maior parte aos detentores do poder e seus apoiadores.

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1.11. o julgamento do mdico de Michael Jackson e a Justia brasileira.9 de novembro de 2011 Terminou anteontem (7) em Los Angeles o julgamento do mdico de Michael Jackson, Conrad Murray, condenado por homicdio culposo do cantor, depois de cinco semanas de testemunhos para elucidar como ocorreu a morte do astro, h dois anos. Este julgamento clere e minucioso demonstra como a impunidade abominada pelos norte-americanos, no obstante todas as crticas que se possam fazer ao sistema processual penal anglo-saxo. Um processo semelhante recentemente terminou no Brasil aps quase 30 anos de suspense, recursos e idas e vindas nos tribunais superiores. O resultado muito claro: a lentido do processo penal brasileiro aliada aos hbeis recursos processuais e alta rotatividade de juzes redunda na prescrio dos delitos e a conseqente impunidade. Estatisticamente os pobres e desassistidos so condenados; as classes mdia e alta permanecem imunes legislao penal. Recentes debates legislativos buscam reformas e mais reformas. Mas de uma coisa no h dvida: o denominado garantismo penal aliado s bizantinas estratgias processuais de defesa, na maior parte dos casos, nutre a impunidade.

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As lies do julgamento do mdico de Michael Jackson ressoam na Amrica Latina, cuja democracia processual penal ainda no chegou aos tribunais brasileiros. O ditado popular quem pode mais chora menos uma realidade nas delegacias e prises, nas quais o poder econmico prevalece frente da justia penal. A doutrina processual, preocupada com o garantismo do contraditrio, da ampla defesa e da sentena final transitada em julgado, afasta-se de uma sociedade justa na qual as diferenas de classes sociais no sejam determinantes no julgamento. Afinal, no somos iguais perante as leis (?). O reflexo disto tambm se faz sentir de tutela expressiva dos delitos patrimoniais privados, cada vez mais protegidos, e a crescente impunidade dos polticos e administradores pblicos quanto aos delitos praticados em detrimento dos cofres pblicos, sustentados por toda sociedade. A inelegibilidade e a indisponibilidade de bens so apenas uma pequena retribuio penal, se as compararmos legislao dos pases altamente desenvolvidos que punem de forma exemplar seus corruptos. O Direito penal e processual penal brasileiro tm muito que aprender com o recente julgamento do mdico de Michael Jackson, independente da condenao que o jri de sete homens e cinco mulheres lhe imputou de forma rpida e fundamentada.

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1.12. o ensino Superior na rede privada em curitiba e regio metropolitana: cenrio atual e perspectivas para os professores.24 de abril de 2011 O governo de Fernando Henrique Cardoso, por meio do seu ministro Paulo Renato, implantou uma estrutura eminentemente privada de ensino superior no Brasil, financiada pelos cofres pblicos. Hoje aquele ministro presta consultoria de negcios para os empresrios do ensino no Brasil, comprando instituies deficitrias para revend-las a grandes grupos nacionais e estrangeiros. O governo Lula alterou muito pouco esta realidade, implantando o Prouni e medidas de incluso de alunos carentes, mas o cerne da questo no foi enfrentado: a qualidade do ensino cada vez mais baixa. O discurso do governo Dilma parece querer transformar esta realidade, mas se volta to somente ao ensino fundamental, o que um comeo. Nesta verdadeira indstria do conhecimento, o binmio lucro versus corte de custos predominante, salvo raras excees. Com efeito, no meio disso o professor tornou-se mero repassador de conhecimento e mais uma pea que encarece o circuito deste mercado que se convencionou chamar de Educao Superior privada. Em Curitiba e regio metropolitana a realidade no diferente. Este ano os representantes dos empresrios, a par dos reajustes muito superiores do INPC para as mensalidades e acrscimos de toda ordem para os estudantes, vm repassando apenas e to somente o reajuste do INPC, sem qualquer avano nas clusulas sociais da categoria. Na ltima

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negociao de frias do meio do ano, por exemplo, ofereceram, com piedade e desprendimento, apenas e to somente uma semana ou sete dias, sem descurar das semanas acadmicas de doutrinao pedaggico-salarial, numa afronta CLT. O desgaste e a grave corroso nos salrios chega a 60% (sessenta por cento) nos ltimos anos, o que aproxima o salrio dos professores garantia do salrio mnimo, abaixo do piso do Estado do Paran. O quadro sombrio, pois um exrcito de desempregados e profissionais recm-formados se submetem s mais degradantes condies de trabalho e a recebem R$15,00 (quinze reais) por hora-aula. Tambm a disputa por horas-aula no semestre deixa a categoria desunida pois cada professor pode avanar sobre turmas dos colegas e afetar diretamente o salrio do semestre seguinte. Resumindo: quem tinha trs turmas pode ficar com apenas uma e ver reduzido seu salrio em dois teros. Outra realidade a profisso como bico, para conferir aos detentores do ttulo de professores a captao de clientela e o status da ctedra, deixando de lado a remunerao recebida. Outra caracterstica da situao que, a par da formao do exrcito de desempregados, a mo de obra especializada est cada vez mais difcil de ser encontrada, ou seja, no se conseguem profissionais com os requisitos mnimos para o exerccio da profisso, sejam quais forem as reas: Exatas, Humanas ou Biolgicas. Ao mesmo tempo, o MEC, que deveria fiscalizar tudo isto, desde os tempos do ministro Paulo Renato vem sendo complacente e beijando as mos dos empresrios do ensino. Grandes grupos internacionais esto comprando gradativamente as redes de ensino, num franco processo de desnacionalizao da educao brasileira, com as bnos das autoridades.

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O Ministrio, quando se preocupa, olha apenas as estruturas fsicas para a soluo do Ensino. Fecha os olhos para o apelo inexistncia de carreiras docentes e absoluta ausncia de poltica de valorizao dos professores pelos perversos patres do ensino, que, na maioria, so empresrios sem qualquer formao acadmica para este mister. A ltima edio do Didata, jornal da categoria dos Professores, cada vez maior em nmero de pginas, demonstra este quadro, com relatos de graves arbitrariedades trabalhistas cometidas contra os professores. Alguns se perguntam: cad o Ministrio Pblico do Trabalho, cad o MEC, cad o Poder Judicirio Trabalhista nas aes coletivas? H denncias de que algumas instituies praticam o jogo do empurra das aprovaes, que leva lgica da aprovao sequencial, caso contrrio, demisso sumria, pois alunos a menos, lucros menores. No nvel fundamental a coisa mais degradante ainda! Cerca de 80% (oitenta por cento) dos recm-concursados num Estado do Nordeste, abandonaram nas duas primeiras semanas os postos de trabalho pelo desconhecimento do contedo a ser ministrado, o salrio e outras oportunidades no mercado. Hoje, com todo respeito a estes outros ofcios, um simples reparo em computador domstico, encanamento ou pequeno servio de pintura muito mais valorizado que a nobre funo da docncia. O custo da hora-ofcio vai de R$50,00 (cinquenta reais) a R$150,00 (cento e cinquenta reais), quando a hora-aula em Curitiba e regio metropolitana aos docentes de R$15,00 (quinze reais). S que esta aula exige preparao, estudo permanente, compra de livros, pesquisas e, acima de tudo, muito profissionalismo.

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E os professores sabem da sua importncia social; no obstante a remunerao percebida, esforam-se ao mximo para ministrar aulas de qualidade e contedo. A bandeira da valorizao dos Professores do Ensino Superior no encampada por nenhum poltico, seja do Paran, seja de outros Estados, ao mesmo tempo que os empresrios que elegem seus representantes para garantir favores tributrios e a expanso cada vez maior do famigerado ensino distncia, de custos nfimos e lucros astronmicos, de duvidosa e baixa eficincia de ensino e baixssima remunerao em relao aos rendimentos. Os ministrios da Repblica so postos de sindicalistas, numa continuidade da Repblica das centrais sindicais de dirigentes que pouco sentaram nos bancos escolares do Ensino Superior. H pouco tempo ocorreu um triste episdio em Curitiba, sem divulgao na mdia. Um professor de uma Universidade da rede privada que se autodenomina a melhor do Sul, do Brasil, talvez at da Via Lctea, se suicidou, vtima de depresso. Estudos recentes demonstram que esta enfermidade a que mais atinge os docentes da rede pblica e privada, chegando a ndices alarmantes, inclusive no nosso estado vizinho de Santa Catarina.

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Quais as luzes para este quadro nefasto? Em recente assemblia dos professores realizada pelo SINPES Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e da Regio Metropolitana, esses assuntos foram exaustivamente debatidos e chegamos concluso de Estado Permanente de Greve e Mobilizao em prol da Valorizao dos Professores, por meio de medidas que sensibilizem a sociedade de Curitiba e do Estado, alm, claro, dos empresrios do ensino. Os professores e os acadmicos merecem respeito e considerao, pois acima de tudo iro influir no desenvolvimento social a econmico do nosso pas. Foram dez itens debatidos e aprovados para articular esta mobilizao durante o ano de 2011/2012. Tudo para mudar esta triste realidade.

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1.13. o aumento da remunerao das Polcias no Paran.2 de maro de 2012 As recentes tratativas que resultaram no aumento salarial das polcias no Estado do Paran demonstram duas importantes mudanas no Estado. A primeira: o discurso de campanha no foi uma armadilha eleitoral; o segundo: se avizinham polticas para conter a galopante criminalidade que se instalou no Estado, da capital (do centro s periferias) e at nos mais distantes rinces do interior. A Lei Seca, que trouxe nova dosagem nos limites de direo veicular, uma lei que em algumas capitais pegou, como em So Paulo e Rio de Janeiro, entre outras. Em Curitiba ainda no, pela ausncia de blitzes e equipamentos. O nmero de telefone 190, que demora para atender e, dependendo da ocorrncia, a chegada da viatura leva de meia a uma hora, tambm se juntam necessidade de mudanas. O treinamento das polcias, com formao em Direitos Humanos, de novas tcnicas de preveno e combate entram na pauta do novo horizonte em que as polcias podem atuar, ajustando-se aos novos desafios do Estado democrtico de direito que deixou no passado a ditadura de 1964 e aquela velha polcia formada desde o Estado Novo.

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Mas o principal est por vir: a inamovibilidade dos delegados, as investigaes profissionais e a independncia investigatria urgem no horizonte do Estado para se acabar com aquele exemplo que, at h pouco tempo, era citado de forma negativa nos Congressos de Direito, os chamados delegados calas-curtas, sem formao e indicados pelos polticos detentores do currais eleitorais. No s de po vive o homem mas, sem dvida, os reajustes anunciados significam um grande avano para as valorosas corporaes policiais, cujos integrantes arriscam as prprias vidas pela segurana da sociedade.

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1.14. A profissionalizao da Polcia (Pec 300/2008) e a gradativa unio das Polcias civil e Militares uma tendncia mundial.22 de setembro 2011 Quando vemos que Curitiba a sexta cidade mais violenta do Brasil e o bairro da CIC (Cidade Industrial de Curitiba) o lugar mais perigoso da capital (1), nos perguntamos se a soluo para isto tudo o aumento do efetivo das Polcias ou a implantao de polticas sociais robustas e investimentos macios em Educao e Sade pblicas igualitrias. A profissionalizao da Polcia (PEC 300/2008) (2) e a gradativa unio das Polcias Civis e Militares uma tendncia mundial. O 8 do art. 144 da Constituio Federal (3) dispe sobre a possibilidade da criao das guardas municipais para os municpios do Brasil. No Paran teremos 399 guardas municipais, cada municpio com a sua, com uniformes, leis, regimes de aposentadorias etc. No esqueamos que no Brasil so 5.435 municpios, num cipoal legislativo chamado interesse local. A competncia da Guarda Municipal a de: Art. 144. A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do patrimnio, atravs dos seguintes rgos: () 8 Os Municpios podero constituir guardas municipais destinadas proteo de seus bens, servios e instalaes, conforme dispuser a lei.(grifamos)

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Esta competncia de proteo de bens, servios e instalaes municipais em substituio quelas terceirizaes de vigilncia nos bens pblicos municipais, apenas e to somente isto. Temos srias dvidas sobre a legalidade do porte de arma deste pessoal, bem como, sobre a extenso dos direitos de aposentadoria especial dos Policiais Militares e diversas outras deferncias legislativas que esto ocorrendo no mbito destas guardas municipais, mas este outro assunto. Ocorre que esta competncia no de Polcia de Segurana Pblica nem sob a forma de convnio, conforme decidiu o Superior Tribunal de Justia (A.I.1056.8994-RJ) em 2008, isto , no pode a Guarda Municipal lavrar multas (deciso abaixo). Nesta semana o Supremo Tribunal Federal declarou que o tema de Repercusso Geral e, portanto, ser decidido o assunto, em breve, se possvel estas guardas lavrarem multas de trnsito ou no. Podemos apenas fazer um exerccio de prognstico quanto ao tema, tanto pode o Supremo admitir como deferir esta possibilidade. So 49 decises do Supremo Tribunal Federal sobre a competncia municipal de legislar sobre interesse local, poucas essencialmente sobre trnsito e que no envolvem a figura da guarda municipal, mas afastam a possibilidade de o Municpio legislar sobre o direito de trnsito, que competncia privativa da Unio, impossibilidade de vistoria em veculos (ADI.3323/DF), impossibilidade de imposio legal do cinto de segurana (ADI.1032 e outras), nem muito menos, legislar concorrentemente matria da Unio (RESP. 596489, 2 Turma).

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O Ministro Marco Aurlio, relator do processo de Repercusso Geral (5) em duas laudas reconheceu a relevncia do tema, at porque milhares de recursos advindos de processos que se requerem a nulidade das multas da Guarda Municipal carioca e outras poderiam inundar o Supremo Tribunal Federal, num mar de recursos de multas. Em Curitiba, a URBS mediante convnio com o Estado, lavrava multas no somente previstas nos incisos VI a VIII do art. 24 do Cdigo de Trnsito Brasileiro, mas tambm de outras espcies normativas, alargando de forma ilegal a competncia municipal, (se que vlida), disposta no CTB (6): Art. 24. Compete aos rgos e entidades executivos de trnsito dos Municpios, no mbito de sua circunscrio: () VI executar a fiscalizao de trnsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabveis, por infraes de circulao, estacionamento e parada previstas neste Cdigo, no exerccio regular do Poder de Polcia de Trnsito; VII aplicar as penalidades de advertncia por escrito e multa, por infraes de circulao, estacionamento e parada previstas neste Cdigo, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; VIII fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas administrativas cabveis relativas a infraes por excesso de peso, dimenses e lotao dos veculos, bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar;

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Outra afronta era a questo de possuir natureza privada, de sociedade annima (URBS S.A.) quando o Poder de Polcia indelegvel por ordem da Constituio e somente pode ser exercido pelo Poder Pblico (art. 144 da Constituio Federal). Reforamos, neste sentido, o entendimento de que matria de interesse local (art. 30, inciso I, da Constituio Federal) no diz respeito imposio de multas pelo simples fato de que quem institui legalmente a infrao de trnsito privativamente a Unio, e a fiscalizao e o poder de polcia no podem ser deferidos Guarda Municipal. Na deciso do Superior Tribunal de Justia encartada no processo e Repercusso Geral, encontra-se a seguinte deciso (item 7, p. 110): GUArDA MUNiciPAL. eXerccio Do PoDer De PoLciA DeLeGAo DA coMPeTNciA iMPoSSiBiLiDADe. Guarda Municipal Representao por Inconstitucionalidade. Indelegabilidade das funes de segurana publica e controle de trnsito, atividades prprias do Poder Pblico. As atividades prprias do Estado so indelegveis pois s diretamente ele as pode exercer; dentre elas se inserem o exerccio do poder de polcia de segurana pblica e o controle do trnsito de veculos, sendo este expressamente objeto de norma constitucional estadual que a atribui aos rgos da administrao direta que compem o sistema de trnsito, dentre elas as Polcias Rodovirias (Federal e Estadual) e as Polcias Militares Estaduais. No tendo os

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Municpios Poder de Polcia de Segurana Pblica, as Guardas Municipais que criaram tem finalidade especfica guardar os prprios dos Municpios (prdios de seu domnio. praas etc.) sendo inconstitucionais leis que lhes permitam exercer a atividade de segurana pblica, mesmo sob a forma de Convnios. O atentado de 11 de setembro nos EUA provocou muitas vtimas em razo de uma briga histrica entre a Polcia de Nova Iorque e os Bombeiros, pois suas faixas de rdio no se comunicavam e os bombeiros da segunda torre ainda em p no sabiam que a primeira havia desabado. Esta ausncia de comunicao entre polcias no privilgio dos norteamericanos. A falta das carreiras especficas e da coordenao de funes das polcias tem contribudo para a baixa eficincia das polticas pblicas de segurana, no somente nos pases altamente desenvolvimentos, mas tambm nos emergentes, que o caso brasileiro, onde at as Foras Armadas, comandadas pelo Exrcito adentram os morros das habitaes populares para coibir o trfico e as milcias armadas. O Paran, com efeito, possui um grave dficit nos seus quadros das valorosas Polcias Militar e Civil, h ainda muito a ser feito. Interpretar a Constituio de forma a alargar a competncia da no menos valorosa Guarda Municipal criar novas instncias de poder, sem qualquer possibilidade de profissionalizao e mais uma esfera de baixa ou nenhuma comunicao e planejamento nas polticas de segurana pblica, mormente quando o governador e os prefeitos so de partidos diferentes e vises polticas conflitantes.

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Temos a convico de que o STF no admitir a referida possibilidade de a guarda municipal lavrar multas de trnsito, at porque a Guarda Municipal carioca comandada por uma sociedade annima (Empresa Municipal de Vigilncia S.A.), nesse sentido, a banalizao do poder de polcia, como ocorria em Curitiba, deve ser coibida, pois est intimamente ligada questo arrecadatria municipal e no propriamente preocupao com segurana e bem-estar dos citadinos. Por fim, a Polcia Militar no somente est preparada para multar, mas possui formao completa para atuar na seara do trnsito e segurana. , com efeito, uma corporao, coordenada e subordinada a valores e polticas legais de atuao e que no diz respeito somente a infraes de parada obrigatria ou em local no regulamentado, mas essencialmente da tarefa ostensiva de proteger os cidados. Antes de pensarmos nas Polcias que devem lavrar multas, devemos tambm pensar nos Professores que queremos e devemos valorizar para ensinarem a tima convivncia em Sociedade, com valores ticos e morais de respeito dignidade humana. O trnsito neste sentido apenas um reflexo do ethos de uma sociedade em constante transformao histrica que por vezes pode gerar uma inverso de valores, primeiro a arrecadao, depois a proteo s vidas humanas (DAMMATA, Roberto. F em Deus e P na Tbua). Aguardemos a deciso do Supremo Tribunal Federal, nessa novela que ter muitos captulos emocionantes.

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referncias: (1) http://g1.globo.com/parana/noticia/2011/07/curitiba-esexta-capital-mais-violenta-de-pais.html (2) http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetrami tacao?idProposicao=414367 (3) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituicao.htm (4) http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp? idConteudo=189421 (5) http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcesso Andamento.asp?numero=637539&classe=RE&orig em=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M (6) http://www.denatran.gov.br/ctb.htm (7) http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docT P=TP&docID=1395275&ad=s#2%20-%20VOLUME

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1.15. A segurana e o porte de armas no Brasil.12 de abril de 2011 H um falso problema no Brasil, que o da proibio do porte de armas. J tivemos um referendum que afastou por completo a proibio das armas no pas. A grande maioria da populao votou pela liberdade do uso. Contudo, a restrio ao porte permanece para os cidados de bem. Isto uma ilegalidade. O trfico continua e os nicos que possuem porte so: os membros do Poder Judicirio, Ministrio Pblico, senadores, deputados federais, um restrita parte da elites e os novos megaempresrios da segurana pblica no Brasil: as empresas de segurana privada e, finalmente, os criminosos, aqueles que sobrevivem do crime. Os cidados que trabalham so expressamente proibidos de portar armas de fogo e so potenciais vtimas de quaisquer delinquentes que tm a certeza da ausncia de riscos no cometimento do crime. O Brasil possui as mais fortes restries ao porte de armas - e isto tem endereo certo: o crescimento astronmico nos lucros das empresas de vigilncia e segurana. Nossas empresas de armas faliram ou se mudaram para os EUA, como o caso da Forjas Taurus. As anunciadas novas medidas proibitivas do porte so de carter eminentemente demaggico e eleitoreiro. Na verdade, temos que liberar o porte de armas, obviamente com critrios, no to rigorosos que somente os amigos do Rei consigam obt-lo, mas assegurar que os cidados tenham a mnima possibilidade de reao frente aos criminosos. Vive-se a Sociedade do medo.

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Qualquer pessoa pode encomendar armas de grosso calibre, metralhadores, escopetas e fuzis. O mercado paralelo de armas, por conta da proibio, gigantesco e diante dessa realidade as autoridades se calam. Curitiba, que a mais violenta cidade do Sul do Brasil, e Campina Grande do Sul, disputando o posto de mais violenta do Brasil em homicdios, so exemplos marcantes disto. Apesar deste cenrio, nenhuma palavra escutamos dos polticos de planto, que sempre aparecem com os mesmos discursos: vamos lutar por educao, segurana etc Investimentos sociais so a forma mais sensata para diminuir o problema. Enquanto isso no acontece, padecemos de segurana nas escolas, nas ruas, nas praas, em todos os lugares. A exceo so as ilhas de consumo, os shoppings, que por isso mesmo ficam abarrotados nos feriados e finais de semana.

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1.16. As desventuras jurdicas do caso Battisti.2 de janeiro de 2011 Cesare Battisti, italiano refugiado no Brasil desde 2004, recebeu pedido de Extradio do Governo Italiano (Nota Verbal de 21/02/2007) que foi protocolizado sob n 1085 de 16/12/2009 junto ao Supremo Tribunal Federal. Com passagens na Frana at 1982, foi para o Mxico e permaneceu at 1990, voltou para Frana e veio ao Brasil em 2007. Em verdade, o corpo do acrdo do Supremo Tribunal Federal no deixou claro que a deciso do Presidente, pois: quatro votos foram pela Extradio, um voto pela observncia do Tratado e quatro votos pelo carter discricionrio do Presidente da Repblica (item 8, pgina 3, do Acrdo da Extradio 1085 de 16/12/2009, publicado em 15/04/2010). Contudo, aps os debates junto ao Supremo Tribunal Federal esta Corte Constitucional concluiu que a deciso sobre o deferimento da extradio do Supremo Tribunal Federal no vincula o Presidente da Repblica (item VIII do ofcio do Relator do STF ao Poder Executivo) e que, portanto, cabe ao Presidente opinar sobre o assunto. Em sntese, a deciso eminentemente poltica e de competncia do Chefe do Poder Executivo Brasileiro. Entendemos que do Poder Executivo esta prerrogativa, pois ele pode denunciar, isto , revogar o Tratado firmado com o pas requerente da extradio a qualquer momento e se o fizer, mesmo com uma deciso exarada junto ao Supremo Tribunal Federal, esta perde completamente o objeto, pois se trataria de acrdo sobre tratado revogado pelo Poder Executivo.

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O costume Constitucional brasileiro pacfico neste sentido. No se pode desconsiderar que na jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal assim que ocorria a declarao de refgio pelo Poder Executivo, este ordenava o arquivamento do pedido de Extradio. Desta feita, o Caso Battisti mudou esta prtica, pois mesmo com a demonstrao de deferimento do Refgio houve a recalcitrncia pelo no arquivamento da Extradio e a anlise dos seus pressupostos legais. Ao final de muitas discusses os Ministros concluram pelo envio do pedido ao Presidente para que ele decidisse. Com efeito, a Constituio Federal no seu art. 4, inciso X, assegura o princpio da concesso de Asilo Poltico e este de competncia do Presidente. A Advocacia Geral da Unio exarou o Parecer n 17/2010 e o Despacho do Advogado Geral da Unio Substituto (Processo n 08000.003071/2007-51) que encamparam a tese de que cabe ao Presidente decidir sobre o tema. Alguns setores dos meios jurdicos, porm reverberam que no se poderia refugiar um assassino de supostos quatro homicdios na Itlia. Contudo, devemos analisar alguns fatos: 1 Os supostos crimes foram cometidos em 1977 e 1979, sob um regime poltico de duvidosa representao democrtica na Itlia, cujos processos sequer tiveram o exerccio do Direito ao Contraditrio e da Ampla Defesa, foram julgamentos revelia de Battisti; 2 Mesmo que se considere que os crimes foram cometidos, esses o foram por motivao poltica, o que configura a hiptese de Asilo Poltico; 3 Configurase claramente o temor de perseguio poltica atual o que

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inviabiliza a entrega do asilado para o pas requerente; 4 assim deve-se distinguir punio de perseguio, neste ltimo caso o asilo dever do Estado brasileiro; 5 As prescries pela pena brasileira se consumaram e isto impeditivo da Extradio, mesmo que os crimes fossem comuns e no polticos; 6 A leitura histrica sobre se o crime foi poltico ou comum cabe ao Presidente da Repblica na anlise de seus pressupostos, e no ao Supremo Tribunal Federal, pois os motivos vinculantes do Ato Administrativo no permitem esta prospeco jurdica; 7 a narrativa histrica da Itlia de 1977 e 1979 controversa mesmo nas vises dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, se Battisti seria um ativista poltico ou um homicida comum, se que foi ele o autor dos crimes. Mas como diria o cronista: a poltica mudou () o delegado geral recebe ordens superiores e manda apurar o caso e entregar os culpados Justia (XAVIER, Valncio. Crimes moda antiga. Publifolha, 2004, p. 99), da a percepo que os ventos polticos podem afetar o juzo de culpabilidade dos chamados crimes polticos. Apesar de tudo isto, h a clara construo pela mdia internacional de uma suposta luta entre o legal e o justo que no uma inveno dos romancistas e dramaturgos, mas produto da realidade, orquestrada pela informao incompleta dos fatos (GALLARDO, Angel Ossorio y. A Alma de Toga. Coimbra: Coimbra Editora, 1956, p. 16). Neste caso no se pode admitir il giudice legislatore(o juiz legislador in ALPA, Guido. LArte di giudicare. Itlia, Laterza, 1996, p. 3), pois o juzo de concesso de refgio de competncia exclusiva do Poder Executivo.

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Em concluso, o retorno do processo de Extradio ao Supremo Tribunal Federal no pode, de forma alguma, rever a deciso do Chefe do Poder Executivo e a nosso sentir a soltura deveria ser imediata, no fosse talvez o atual Presidente do Supremo Tribunal Federal, o autor do voto contrrio concesso do asilo ao refugiado. Se isto, por hiptese ocorrer, para se demonstrar a prevalncia do Poder Executivo, este pode imediatamente denunciar o Tratado com a Itlia e da a deciso do Supremo Tribunal Federal se esvazia por completo, fato que em ltima ratio comprova a soberania do Poder Executivo nestas hipteses. Para Cesare Battisti cabe esperar com a f descrita por Dante Alighieri: a f, em si, substncia do desejo e argumento do bem no aparente; e desta forma que a concebo e vejo (Canto XXIV, 64).

comentrio de claudio Henrique de castro no blog do Z Beto (9 de janeiro de 2011): No Mosca No dia 02 de janeiro deste ano o advogado e professor Claudio Henrique de Castro publicou aqui o artigo As desventuras jurdicas do Caso Battisti onde afirmava que o italiano no seria extraditado e ganharia liberdade, como de fato aconteceu ontem com a deciso dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Confiram: http://jornale.com.br/zebeto/2011/01/02/as-desventurasjuridicas-do-caso-battisti/

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1.17. consideraes preliminares quanto s inovaes da Lei complementar 135/2010 (Lei da ficha Limpa).9 de junho de 2010 A Lei Complementar 135/2010 de 04 de junho de 2010, trouxe alteraes interessantes quanto repercusso no julgamento irregular de contas no Tribunal de Contas da Unio, nos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municpios. Outrora, na redao original da Lei 64/1990, previa a alnea g do art. 1: g) os que tiverem suas contas relativas ao exerccio de cargos ou funes pblicas rejeitadas por irregularidade insanvel e por deciso irrecorrvel do rgo competente, salvo se a questo houver sido ou estiver sendo submetida apreciao do Poder Judicirio, para as eleies que se realizarem nos 5 (cinco) anos seguintes, contados a partir da data da deciso; Na nova redao dada pela Lei Complementar 135/2010 foram includas as contas rejeitadas por irregularidade insanvel que configure ato doloso de improbidade administrativa:

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g) os que tiverem suas contas relativas ao exerccio de cargos ou funes pblicas rejeitadas por irregularidade insanvel que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por deciso irrecorrvel do rgo competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judicirio, para as eleies que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da deciso, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituio Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem excluso de mandatrios que houverem agido nessa condio; (grifamos) Ora, a grande parte das contas rejeitadas pelos rgos de contas, que adentram em novo debate junto ao Poder Judicirio por meio de aes anulatrias, julgada no sentido de se excluir a conduta dolosa do administrador para entender que no obstante o prejuzo ao errio a atuao do administrador foi apenas culposa e por isso se excluem os efeitos penais da conduta. Outro aspecto importante a configurao do ato doloso, isto , aquela conduta que teve a inteno de lesar os cofres pblicos, e todo o discurso de despreparo e de desconhecimento contumaz do administrador, isentando-o de controle dos seus subordinados e livrando-o da responsabilizao pelos atos dos seus prepostos e subordinados, isto , secretrios, diretores, assessores, mesmo que diretos.

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Antes tarde do que nunca (Last but not least) o 2 do art. 26-B da nova Lei Complementar determinou o auxlio prioritrio dos rgos de contas Justia Eleitoral e ao Ministrio Pblico Eleitoral, fato que altera a conduta outrora no prioritria a este fim: Art. 26-B O Ministrio Pblico e a Justia Eleitoral daro prioridade, sobre quaisquer outros, aos processos de desvio ou abuso do poder econmico ou do poder de autoridade at que sejam julgados, ressalvados os de habeas corpus e mandado de segurana. () 2 Alm das polcias judicirias, os rgos da receita federal, estadual e municipal, os tribunais e rgos de contas, o Banco Central do Brasil e o Conselho de Controle de Atividade Financeira auxiliaro a Justia Eleitoral e o Ministrio Pblico Eleitoral na apurao dos delitos eleitorais, com prioridade sobre as suas atribuies regulares. Em concluso, de modo muito sinttico, a nova lei beneficia a forma culposa da incompetncia e do despreparo do administrador e inaugura o requisito do ato doloso de improbidade administrativa nas finanas pblicas, tornando mais difcil a composio e forma das listas de inelegveis para os rgos de controle das contas pblicas. Inaugurou-se uma nova estrada para aes judiciais, liminares e reverses de desaprovaes de contas. A redao anterior, sem o requisito do ato doloso de improbidade administrativa surtia muitos mais efeitos na seleo e julgamento de administradores melhor preparados e conscientes dos seus deveres pblicos, aves raras na terra brasilis.

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2.1. A recente produo legislativa do congresso Nacional e o Desenvolvimento do Brasil.16 de maio de 2012 de Machado de Assis a expresso ter o juzo a juros, que significa que h ausncia de amadurecimento para certos momentos da vida, ou de uma inconsequncia ou insanidade frequentes. O Congresso Nacional, onde os legisladores brasileiros, representantes dos Estados e da Repblica, se encontram nas teras e quintas-feiras, parecem apreciar o grande literato brasileiro. Vejamos a recente produo legislativa daquela da Casa Alta (Senado) e da Casa Baixa (Cmara dos Deputados) e a preocupao nacional com o preenchimento das homenagens aos Dias do ano: Institui o Dia Nacional da Silvicultura, Institui o Dia Nacional do Quilo, Institui o Dia Nacional dos Direitos Humanos, Institui o Dia Nacional do Securitrio, Institui o Dia Nacional do Movimento Municipalista Brasileiro, Institui o Dia Nacional do Jogo Limpo e de Combate ao Doping nos Esportes, Institui o Dia Nacional de Conscientizao e Incentivo ao Diagnstico Precoce do Retinoblastoma, Institui o Dia Nacional da Advocacia Pblica, Institui o Dia Nacional do Suinocultor, Institui o Dia Nacional do Arteso,

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Institui o Dia Nacional da Educao Ambiental, Institui o Dia Nacional do Ouvidor, Institui o Dia Nacional das Hemoglobinopatias, Institui o Dia Nacional do Reggae, Institui o Dia Nacional de Combate

e Preveno Trombose, Institui o Dia Nacional do Paisagista, Institui o Dia Nacional dos Portadores de Vitiligo, Institui o Dia Nacional do Turismo, Institui o Dia Nacional da Msica Popular Brasileira, Institui o Dia do Aniversrio do Buda Shakyamuni e o inclui no Calendrio Oficial de Datas e Eventos Brasileiro, Institui o Dia Nacional do Atleta Paraolmpico, Institui o Dia Nacional do Maquinista Ferrovirio, Institui o Dia Nacional do Cooperativismo de Crdito, Denomina Avenida Hamid Afif o trecho urbano da rodovia BR-491 que cruza a cidade de Varginha, no Estado de Minas Gerais, Denomina Ponte Hlio Serejo a ponte sobre o rio Paran, localizada na BR-267, na divisa entre os Estados de So Paulo e Mato Grosso do Sul, Denomina Viaduto Professor Geraldo Maurcio Lima a obra de arte especial localizada no quilmetro 75 mais 650 metros da rodovia BR-153, no Municpio de Bady Bassitt, Estado de So Paulo, Institui a Poltica Nacional de Proteo e Defesa Civil PNPDEC; dispe sobre o Sistema Nacional de Proteo e Defesa Civil SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteo e Defesa Civil CONPDEC;

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Institui a Semana Nacional de Controle

e Combate Leishmaniose, Institui a Semana e o Dia Nacional da Educao Infantil, Confere ao Municpio de Maravilha, no Estado de Santa Catarina, o ttulo de Cidade das Crianas, Denomina Milton Brando a rodovia BR-404, que liga a cidade de Piripiri, no Estado do Piau, de Ic, no Estado do Cear. Essas so algumas leis recentes desde a Lei 12.587, de 03/01/2012 12.643 de 15/05/2012. Uma campanha para deputado federal pode custar de 2 a 6 milhes de reais. Para senador esses valores se multiplicam. Nosso Congresso Nacional um dos mais caros do mundo. Est entre os sete mais onerosos dos pases desenvolvidos. Quem paga esta conta? Com todo respeito aos dias do ano, suas profisses e personagens homenageados, no hora de o Congresso Nacional comear a legislar sobre os grandes e importantes temas da agenda do desenvolvimento do Brasil? Notas: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/legislacao-1/leisordinarias/legislacao/legislacao-1/leis-ordinarias/2012-leisordinarias#content

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2.2. As novas leis de mobilidade urbana e de preveno s infraes contra a ordem econmica luz do transporte nas cidades.18 de janeiro de 2012 Hoje em Curitiba cada vez mais a tinta amarela a nova cor da cidade, na beira das caladas, com o significado de: proibido estacionar. A frota de veculos e a populao aumentaram, as ruas ficaram pequenas para o fluxo de pessoas e veculos, perderam-se vagas para estacionar, no h espao. Alguns estudiosos cogitam o pedgio urbano, outra surpresa para o contribuinte brasileiro, o mais exaurido do mundo. O preo da gasolina alto, apesar de estarmos ao lado de uma grande refinaria do pas, na regio metropolitana, no Municpio de Araucria. Os preos so muito parecidos nos postos de gasolina e sobem nas mesmas datas, talvez por mera coincidncia. Os valores dos estacionamentos na cidade igualmente causam perplexidade: por hora, at R$15,00 (quinze reais); mensalistas, at R$300,00 (trezentos reais). Igualmente os preos sobem num passe de mgica, todos muito parecidos e tambm nas mesmas datas e, claro, muito acima dos ndices econmicos. A frota de txis h dcadas permanece a mesma, e preciso se agendar uma corrida com um dia de antecedncia. Poucos veculos, muitos motoristas empregados, ou seja, alto preo e baixa eficincia pela frota diminuta. E o metr? Uma soluo que no foi examinada para o transporte urbano foi a do metr areo ou de superfcie, pelos custos reduzidos e caractersticas do solo da cidade. Isto foi descartado (). O aeroporto da capital no possui transporte de massa, alis, como todos os aeroportos brasileiros.

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As bicicletas no possuem estacionamento e nossas ciclovias so insuficientes, ou seja, no temos alternat