processo claudio

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PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado do Paraná Força Tarefa Página 1 de 13 Força tarefa – Corregedoria-Geral da Justiça CLP Comarca: Pitanga Autos nº: 0003298-42.2012.8.16.0136 Autor: Ministério Público Réu: Claudio Leal SENTENÇA Vistos e examinados os epigrafados autos de Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa que move o Ministério Público do Estado do Paraná contra Claudio Leal, verificou-se, sopesou-se e concluiu-se, pelo que tudo deles consta, o seguinte: I – RELATÓRIO. O Ministério Público do Estado do Paraná ingressou com Ação Civil Pública contra Claudio Leal objetivando a condenação do requerido por ato de improbidade administrativa por violação aos princípios da legalidade e moralidade. Sustentou, em síntese, que o requerido, durante a gestão como prefeito do Município de Santa Maria do Oeste, no exercício de 2010, nomeou a pessoa de Pedro Staciak para exercer o cargo comissionado de Diretor do Departamento de Viação. No entanto, Pedro exercia a função de motorista de ônibus do transporte escolar. Afirmou, assim, que Pedro não possuía qualificação técnica e não exerceu função de chefia. Ressaltou que o cargo comissionado não se presta a funções rotineiras ou de natureza técnica, de modo que o requerido incorreu em violação ao art. 37, incisos II e V, da CF, ao nomear Pedro Staciak para cargo comissionado sem o efetivo desempenho das funções de direção, chefia ou assessoramento. Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJ5T3 32QB7 P3595 SKM2U PROJUDI - Processo: 0003298-42.2012.8.16.0136 - Ref. mov. 75.1 - Assinado digitalmente por Carolina Delduque Sennes Basso:13079, 20/08/2014: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: sentença

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Page 1: Processo claudio

PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

Força Tarefa

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Força tarefa – Corregedoria-Geral da Justiça CLP

Comarca: Pitanga

Autos nº: 0003298-42.2012.8.16.0136

Autor: Ministério Público

Réu: Claudio Leal

SENTENÇA

Vistos e examinados os epigrafados autos de

Ação Civil Pública por ato de improbidade

administrativa que move o Ministério Público do

Estado do Paraná contra Claudio Leal, verificou-se,

sopesou-se e concluiu-se, pelo que tudo deles

consta, o seguinte:

I – RELATÓRIO.

O Ministério Público do Estado do Paraná

ingressou com Ação Civil Pública contra Claudio Leal objetivando a condenação do

requerido por ato de improbidade administrativa por violação aos princípios da

legalidade e moralidade.

Sustentou, em síntese, que o requerido, durante

a gestão como prefeito do Município de Santa Maria do Oeste, no exercício de 2010,

nomeou a pessoa de Pedro Staciak para exercer o cargo comissionado de Diretor

do Departamento de Viação. No entanto, Pedro exercia a função de motorista de

ônibus do transporte escolar.

Afirmou, assim, que Pedro não possuía

qualificação técnica e não exerceu função de chefia.

Ressaltou que o cargo comissionado não se

presta a funções rotineiras ou de natureza técnica, de modo que o requerido

incorreu em violação ao art. 37, incisos II e V, da CF, ao nomear Pedro Staciak para

cargo comissionado sem o efetivo desempenho das funções de direção, chefia ou

assessoramento.

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Discorreu, também, sobre os atos de

improbidade cometidos pelo acusado, previstos no artigo 11, incisos I e V, da Lei nº

8.429/1992.

Notificado, o acusado apresentou defesa, na

qual alegou, de imediato, violação ao princípio da ampla defesa, face à

impossibilidade de apresentar defesa no inquérito civil; inépcia da inicial;

impossibilidade jurídica do pedido; ilegitimidade passiva; inaplicabilidade da Lei de

Improbidade Administrativa contra agente político.

Alegou, ainda, que inexistiu ato de improbidade

administrativa.

A defesa prévia foi rejeitada e a petição inicial

foi recebida (fl. 183/184), ocasião em que foi determinada a citação do requerido

para apresentar contestação.

O requerido apresentou contestação (fls.

198/218), na qual alegou, mais uma vez, violação ao princípio da ampla defesa,

face à impossibilidade de apresentar defesa no inquérito civil; inépcia da inicial;

impossibilidade jurídica do pedido; ilegitimidade passiva; inaplicabilidade da Lei de

Improbidade Administrativa contra agente político.

No mérito, sustentou a tese de que Pedro Staciak

exerceu de fato a função de Diretor, inclusive assessorando o Secretário de

Transportes do Município. Afirmou, assim, que inexistiu ato de improbidade

administrativa.

O Ministério apresentou réplica à contestação.

Contra a decisão que recebeu a inicial, o

requerido ingressou com agravo de instrumento, recurso não provido pelo E. Tribunal

de Justiça.

As questões preliminares suscitadas em

contestação foram rejeitadas e deferiu-se a produção de prova testemunhal (fls.

276/280).

Diante disso, em 20/02/2014 foi realizada

audiência de instrução e julgamento, com a oitiva do requerido e de cinco

testemunhas (fls. 302/308).

O Ministério Público e o requerido apresentaram

alegações finais (fls. 324/333 e 338/353).

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Por fim, vieram os autos conclusos para a

prolação de sentença, sendo de tudo quanto deles consta, um breve relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

A título de esclarecimento e, objetivando evitar

futura arguição de nulidade, afasto, desde já, qualquer polêmica acerca da

infringência ao princípio do juiz natural.

Isso porque, é entendimento pacífico do Superior

Tribunal de Justiça de que a convocação de Juízes para atuar em regime de mutirão

para casos específicos não acarreta ofensa ao princípio do juiz natural.

Nestes termos:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE

INSTRUMENTO. CONVOCAÇÃO DE JUÍZES. REGIME

DE MUTIRÃO. OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ

NATURAL. INEXISTÊNCIA. 1. A convocação de juízes

para atuar em regime de mutirão, para casos

específicos, não acarreta ofensa ao princípio do

juiz natural. Precedentes. 2. Agravo regimental a

que se nega provimento. (AgRg no Ag

1144852/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA

TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 22/10/2013).

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO

ESTADO. ERRO MÉDICO. CIRURGIA ORTOPÉDICA.

PACIENTE QUE FICOU TETRAPLÉGICA. MATÉRIA

CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE

POR ESTA CORTE. SENTENÇA PROLATADA POR JUIZ

DISTINTO DAQUELE QUE ACOMPANHOU OS ATOS

INSTRUTÓRIOS. FLEXIBILIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA

IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ (ART. 132 DO CPC).

REGIME DE EXCEÇÃO/MUTIRÃO. POSSIBILIDADE.

PREJUÍZO NÃO EVIDENCIADO. NULIDADE DA

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SENTENÇA NÃO CONFIGURADA. 1. Hipótese em

que se alega, além de divergência jurisprudencial,

violação aos princípio do devido processo legal

(artigo 5º, inciso LVI, da Constituição Federal) e da

identidade física do juiz (artigo 132 do Código de

Processo Civil), ao argumento de que a sentença

foi prolatada por magistrado distinto daquele que

colheu as provas periciais e testemunhais, o que

teria gerado enormes prejuízos ao recorrente.

Pretende-se a determinação de retorno dos autos

à primeira instância a fim de ser proferida outra

sentença, desta vez, pelo juiz titular da vara que

acompanhou a instrução do processo. 2. A

insurgência referente à suposta violação do

princípio do devido processo legal, constante do

artigo 5º, inciso LVI, da Constituição Federal,

envolve matéria estranha ao âmbito de

cabimento do recurso especial, disposto no artigo

105, inciso III, da Carta da República. Tal

irresignação tem como via adequada de revisão,

em matéria constitucional, o recurso extraordinário

ao Supremo Tribunal Federal, de forma, que, nesse

particular, não merece ser conhecido o apelo

especial. 3. Na forma do art. 132 do Código de

Processo Civil, o magistrado que concluir a

audiência só não julgará a lide se estiver

convocado, licenciado, afastado por qualquer

motivo, promovido ou aposentado, caso em que

a passará ao seu sucessor. 4. Sob esse enfoque, a

Corte Especial deste Tribunal, por ocasião do

julgamento do AgRg no Ag 624.779/RS, de

relatoria do Min. Castro Filho, firmou entendimento

no sentido de que o princípio da identidade física

do juiz não tem caráter absoluto, podendo o juiz

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titular ser substituído por seu sucessor nas hipóteses

previstas no artigo 132 do Código de Processo

Civil, entre as quais está incluída a expressão

"afastado por qualquer outro motivo", a partir da

qual pode-se considerar o afastamento do

magistrado em decorrência do regime de

exceção/mutirão, que visa a agilização da

prestação jurisdicional. Precedentes. 5. Além disso,

a jurisprudência entende que a simples alegação

de afronta ao referido dispositivo legal não tem o

condão de acarretar a nulidade da sentença,

porquanto imperioso ventilar qual o prejuízo

efetivamente sofrido. 6. No caso em foco, verifica-

se da leitura dos fundamentos do acórdão

recorrido que, indubitavelmente, foram levados

em consideração os elementos probatórios

produzidos nos autos, dentre eles, documentos,

prova testemunhal e pericial, de modo que, em

assim sendo, não há como vislumbrar qualquer

prejuízo ao recorrente. E, sem prejuízo, não há

nulidade. 7. Com efeito, desde que não haja

prejuízo para nenhuma das partes, consoante

ocorre na espécie, o princípio do juiz natural pode

ser flexibilizado, a fim de conferir efetividade ao

Judiciário, como nas hipóteses de mutirões. 8.

Recurso especial parcialmente conhecido e,

nesta extensão, não provido. (REsp 380.466/PR,

Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA

TURMA, julgado em 13/10/2009, DJe 22/10/2009)

Ressalto que fui designada por intermédio da

Portaria nº 3345-D.M para compor forças tarefas e mutirões da Corregedoria-Geral

da Justiça, nos termos do art. 1º, da Resolução nº 21/2007, do Colendo Órgão

Especial do Tribunal de Justiça do Paraná.

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De outro norte, prospera o entendimento que as

nulidades serão reconhecidas se forem aptas a causar prejuízo a parte, o que não

confere com a realidade dos presentes autos.1

Por analogia, menciono o trecho da ementa de

julgado da 2ª Turma do STF (RHC n. 116.205/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe

30.4.2013): O princípio da identidade física do juiz (art. 399, § 2º, do CPP) deve ser

aplicado com temperamentos, de modo que a sentença só deverá ser anulada nos

casos em que houver um prejuízo flagrante para o réu ou uma incompatibilidade

entre aquilo que foi colhido na instrução e o que foi decidido.

Superado esse esclarecimento inicial, destaco que

as questões preliminares já foram afastadas pela decisão de fls. 183/184, confirmada

por acórdão, em agravo de instrumento (fls. 356/369). Assim, passo a análise do

mérito da causa.

Em resumo, o Ministério Público alegou que o

requerido incorreu em violação ao artigo 11, caput e incisos I e V, da Lei nº 8.429/92.

Sobre a ocorrência de improbidade

administrativa, decorrente da aplicação do referido dispositivo legal, é pacífico na

jurisprudência do STJ o entendimento de que deve existir o dolo, a má-fé, do agente

público no momento em que ocorre a violação de honestidade, imparcialidade,

legalidade, e lealdade.

Com efeito, o STJ decidiu que o objetivo da Lei de

Improbidade Administrativa é punir a má-intenção do administrador, caracterizada

pela conduta dolosa, e não o administrador inábil:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO DE

CAMPINÁPOLIS/MT. ALEGAÇÃO DE PROMOÇÃO

PESSOAL INDEVIDA EM JORNAL LOCAL (FOLHA DO

ARAGUAIA). ART. 11 DA LEI 8.429/92. ELEMENTO

SUBJETIVO (DOLO) NÃO CONFIGURADO. RECURSO

ESPECIAL PROVIDO.

1 Art. 250, parágrafo único, CPC - Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados, desde que

não resulte prejuízo à defesa.

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1. A Lei da Improbidade Administrativa (Lei

8.429/92) objetiva punir os praticantes de atos

dolosos ou de má-fé no trato da coisa pública,

assim tipificando o enriquecimento ilícito (art. 9o.),

o prejuízo ao erário (art. 10) e a violação a

princípios da Administração Pública (art. 11); a

modalidade culposa é prevista apenas para a

hipótese de prejuízo ao erário (art. 10).

2. Não se tolera, porém, que a conduta culposa

dê ensejo à responsabilização do Servidor por

improbidade administrativa; a negligência, a

imprudência ou a imperícia, embora possam ser

consideradas condutas irregulares e, portanto,

passíveis de sanção, não são suficientes para

ensejar a punição por improbidade; ademais,

causa lesão à razoabilidade jurídica o sancionar-

se com a mesma e idêntica reprimenda

demissória a conduta ímproba dolosa e a culposa

(art. 10 da Lei 8.429/92), como se fossem

igualmente reprováveis, eis que objetivamente

não o são.

3. O ato ilegal só adquire os contornos de

improbidade quando a conduta antijurídica fere

os princípios constitucionais da Administração

Pública coadjuvada pela má-intenção do

administrador, caracterizando a conduta dolosa;

a aplicação das severas sanções previstas na Lei

8.429/92 é aceitável, e mesmo recomendável,

para a punição do administrador desonesto

(conduta dolosa) e não daquele que apenas foi

inábil (conduta culposa).

4. No presente caso, a conduta imputada ao

recorrente (e destacado na Sentença e no

Acórdão condenatórios) consiste na suposta

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realização de promoção pessoal indevida nos

meses de agosto e setembro de 2003, quando,

em Jornal Local (Folha do Araguaia), houve

publicação de matéria jornalística que

apresentava a imagem do recorrente e trechos

do periódico que afirmavam o seguinte: A

Administração do prefeito Joaquim Matias

Valadão saiu na frente e já deu inicio às obras;

(...); O Bananeira está de parabéns por ter

conseguido incluir Campinápolis dentro do

programa de construção de casas populares do

Governo Blairo, já no primeiro ano. Não podemos

esquecer e sempre devemos lembrar: ele

(prefeito) corre atrás das coisas; Joaquim

Bananeira, o político do Vale do Araguaia.

5. Insta salientar, ainda, que a primeira passagem

do periódico que foi apontado na Sentença

possui caráter informativo acerca das ações

governamentais, enquanto a segunda alude a um

comentário feito por um morador do próprio

Município de Campinópolis/MT, sendo o terceiro

insuficiente para a configuração de ato de

improbidade.

6. Ademais, não houve associação à conduta do

recorrente do elemento subjetivo doloso, qual

seja, o propósito desonesto, não havendo que se

falar, portanto, em cometimento de ato de

improbidade administrativa tipificado no art. 11 da

Lei 8.429/92. Precedentes: REsp. 939.142/RJ, Rel.

Min. FRANCISCO FALCÃO, Rel. p/ Acórdão Min.

LUIZ FUX, DJe 10.04.2008; AgRg no REsp.

1.260.963/PR, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJe

14.05.2012.

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7. Recurso Especial provido, para absolver o

recorrente da conduta ímproba que lhe é

imputada, a despeito do parecer Ministerial oficiar

pelo seu desprovimento.

(REsp 1186192/MT, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES

MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em

12/11/2013, DJe 02/12/2013)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEI

8.429/92. RESSARCIMENTO DE DANO ERÁRIO.

AUSÊNCIA DE DANO E DE MÁ-FÉ (DOLO).

APLICAÇÃO DAS PENALIDADES. PRINCÍPIO DA

PROPORCIONALIDADE.DIVERGÊNCIA

JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA.

VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA.

1. O caráter sancionador da Lei 8.429/92 é

aplicável aos agentes públicos que, por ação ou

omissão, violem os deveres de honestidade,

imparcialidade, legalidade e lealdade às

instituições e notadamente: a) importem em

enriquecimento ilícito (art. 9º); b) causem prejuízo

ao erário público (art. 10); c) atentem contra os

princípios da Administração Pública (art. 11)

compreendida nesse tópico a lesão à moralidade

administrativa.

2. A exegese das regras insertas no art. 11 da Lei

8.429/92, considerada a gravidade das sanções e

restrições impostas ao agente público, deve ser

realizada cum granu salis, máxime porque uma

interpretação ampliativa poderá acoimar de

ímprobas condutas meramente irregulares,

suscetíveis de correção administrativa, posto

ausente a má-fé do administrador público,

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preservada a moralidade administrativa e, a

fortiori, ir além de que o legislador pretendeu.

3. A má-fé, consoante cediço, é premissa do ato

ilegal e ímprobo e a ilegalidade só adquire o

status de improbidade, quando a conduta

antijurídica fere os princípios constitucionais da

Administração Pública, coadjuvados pela má-

intenção do administrador.

4. Destarte, o elemento subjetivo é essencial à

caracterização da improbidade administrativa, à

luz da natureza sancionatória da Lei de

Improbidade Administrativa, o que afasta, dentro

do nosso ordenamento jurídico, a

responsabilidade objetiva. Precedentes: REsp

654.721/MT, Primeira Turma, julgado em

23/06/2009, DJe 01/07/2009; REsp 604.151/RS,

Primeira Turma, DJ de 08/06/2006.

5. In casu, a ausência de dano ao patrimônio

público e de enriquecimento ilícito do

demandado, consoante assentado pelo tribunal

local à luz do contexto fático encartado nos

autos, revelam a desproporcionalidade da

sanção imposta à parte, ora recorrente, máxime

porque não restou afirmada a má-fé do agente

público.

6. Deveras, o fato objeto da ação operou-se por

via normativa, tendo como escopo reorganização

administrativa. É que trata-se de Ação Civil

Pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado

de Santa Catarina contra o ex-governador do

Estado, sob a acusação de prática de

improbidade administrativa durante o mandato.

Alegou o parquet, em suma, que o réu

remanejara e transformara cargos da antiga

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estrutura administrativa do Estado por meio de

Decretos. Ressaltou que o ex-governador do

Estado de Santa Catarina, visando reformar a

estrutura administrativa do Poder Executivo e dos

entes da Administração Indireta, elaborou projeto

de lei, através do qual propôs profundas

transformações na concepção dos cargos e

funções, inclusive em relação aos cargos

comissionados (fl.. 9) 7. A ausência da

categorização do dolo está em que, o recorrente,

seguindo orientação da Secretaria de

Administração do Estado, remanejou cargos, e, se

o fez equivocadamente, agiu com inépcia. É o

que se colhe das razões do acórdão recorrido e

do voto vencido.

8. Deveras, é cediço que não se enquadra nas

espécies de improbidade o administrador inepto.

Precedente: REsp 734984/SP, Rel. Ministro JOSÉ

DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em

18/12/2008, DJe 16/06/2008.

9. A admissão do recurso especial pela alínea "c"

exige a comprovação do dissídio na forma

prevista pelo RISTJ, com a demonstração das

circunstâncias que assemelham os casos

confrontados, não bastando, para tanto, a

simples transcrição das ementas dos

paradigmas.Precedente desta Corte: AgRg nos

EREsp 554.402/RS, CORTE ESPECIAL, DJ 01.08.2006.

10. O artigo 535 do CPC resta incólume quando o

tribunal de origem, embora sucintamente,

pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a

questão posta nos autos. Ademais, o magistrado

não está obrigado a rebater, um a um, os

argumentos trazidos pela parte, desde que os

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fundamentos utilizados tenham sido suficientes

para embasar a decisão.

11. Recurso especial provido. (REsp 1149427/SC,

Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em

17/08/2010, DJe 09/09/2010)

Ora, é perfeitamente possível ao agente público

incorrer em violação a determinado dispositivo de lei, no momento da prática de

atos administrativos, sem que isso importe em prejuízo ao erário público ou em

intenção dolosa.

Diante disso, nos termos do art. 333, I, do CPC,

cumpre ao autor da ação provar os fatos alegados na peça inicial. Portanto, é dever

do Ministério Público provar que o requerido agiu com dolo e má-fé.

Pois bem, o requerente não apresentou qualquer

prova nos autos no sentido de que o acusado agiu dolosamente.

Embora tenha ficado claro que Pedro Staciak

ocasionalmente atuou como motorista de transporte escolar, há também nos autos

documentos por ele assinados na condição de Diretor do Departamento de Viação.

Mesmo que Pedro Staciak não tenha exercido de

fato função de chefia, direção ou assessoramento, apesar de nomeado para cargo

comissionado, isso não quer dizer que o requerido, Claudio Leal, deve ser

condenado com base na Lei de Improbidade Administrativa. Afinal, nas palavras do

Excelentíssimo Sr. Ministro José Delgado (REsp 734984/SP) “não se enquadra nas

espécies de improbidade o administrador inepto”.

Desse modo, face à ausência de dolo e de prova

do dano ao erário, já que Pedro efetivamente prestou serviços ao Município, a

improcedência do pedido inicial é de rigor.

III – DISPOSITIVO.

POR TODO O EXPOSTO, com fulcro no art. 269,

inciso I, do Código de Processo Civil, julgo improcedente a pretensão intentada pelo

Ministério Público do Estado do Paraná em face de Cláudio Leal e julgo extinto o

processo com resolução de mérito.

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Sem custas e honorários advocatícios, uma vez

que nas ações civis públicas não se impõe ao Ministério Público a condenação em

honorários advocatícios ou custas, ressalvados os casos em que o autor for

considerado litigante de má-fé. Precedentes. (STJ. REsp 1401848/PR, Rel. Ministra

ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/09/2013, DJe 01/10/2013).

Sentença sujeita ao reexame necessário, em face

da aplicação analógica do artigo 19, da Lei nº 4.717/1965.

Cumpram-se as demais disposições do Código de

Normas da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado do Paraná.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Curitiba/PR, 20 de agosto de 2014.

CAROLINA DELDUQUE SENNES BASSO

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