reflexões sobre abuso do poder

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  • REFLEXES SOBRE ABUSO DO PODER NO ORDENAMENTO JURDICO BRASILEIRO

    JOS AUGUSTO DELGADO Ministro do Superior Tribunal de Justia

    Professor de Direito Pblico

    1. CONCEITO DE ABUSO DE PODER

    O tema abuso de poder, no ordenamento jurdico brasileiro,

    tem exigido, neste incio do sculo XXI, reflexes aprofundadas a respeito

    do seu alcance e da necessidade de ser enfrentado em face dos

    postulados que regem o regime democrtico vigorante em nosso Pas.

    A sociedade contempornea testemunha excessos que esto

    sendo praticados por agentes polticos e administrativos no exerccio das

    suas competncias e atribuies, sob a falsa alegao de que esto agindo

    amparados pelo direito constitudo que lhes foi outorgado, quando, na

    verdade, a realidade demonstra que atentados normalidade jurdica

    esto sendo cometidos, o que caracteriza explcita violao aos direitos

    fundamentais da cidadania.

    O mesmo fenmeno identificado nas relaes jurdicas de

    direito privado quando da execuo dos negcios jurdicos bilaterais e, at

    mesmo, no exerccio das aes (direito formal) para proteg-los quando

    em ambiente de conflito entre as partes ou com terceiros.

    Em face desse panorama, a cincia jurdica, pela voz da

    doutrina e da jurisprudncia, tem investigado os fenmenos que levam a

    construir essa anormalidade identificado como abuso do poder e a

    produo dos seus efeitos.

    As nossas reflexes comeam por relembrar o significado do

    vocbulo abuso.

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Em sentido gramatical, anuncia o Dicionrio Aurlio que abuso

    um substantivo masculino originrio do latim abusu que quer dizer mau

    uso, ou uso errado, excessivo ou injusto; excesso, decomedimento,

    abuso; exorbitncia de atribuies ou poderes; aquilo que contraria as

    boas normas, os bons costumes.

    No ambiente jurdico, o termo abuso tem sentido restrito, haja

    vista que aplicado para expressar o excesso de poder ou de direito, ou

    ainda o mau uso ou m aplicao dele (De Plcido e Silva, in Vocabulrio

    Jurdico. Rio de Janeiro: Forense, 15a. ed., p. 6).

    Partindo dessa concepo, a doutrina tem buscado assentar os

    requisitos necessrios para a configurao do abuso do poder.

    A expresso abuso de poder significa a exorbitncias das

    atribuies que foram conferidas a determinados agentes pblicos (do

    Executivo, do Legislativo, do Judicirio), quer excedendo os limites do

    mandato que lhes foram conferidos, quer ultrapassando os limites legais

    na prtica de atos administrativos, quer extrapolando o ordenamento

    jurdico na entrega das prestaes jurisdicionais.

    O vocbulo poder, como verbo, no ambiente jurdico, revela

    sentido de ser autorizado, ser permitido, dar autoridade, facultar, ter

    autoridade, como ensina De Plcido e Silva, em seu Dicionrio Jurdico,

    15a. edio, Forense, p. 613.

    Como substantivo, lembra DE Plcido e Silva, obra citada,

    entendido como sendo domnio e posse, tida sobre certas coisas, ou a

    faculdade, permisso, fora ou autorizao, para que se possam fazer ou

    executar certas coisas.

    Em Direito Pblico, poder exprime, em regra, o rgo ou a

    instituio, a que se atribui uma parcela da soberania do Estado, para que

    se constitua em autoridade e exera as funes jurdicas, de ordem

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    poltica e administrativa, que lhe so cometidas por lei, significando, em

    sntese:

    a) o rgo ou a autoridade constituda para cumprir a

    finalidade do Estado, exercendo as funes que lhe so atribudas;

    b) a funo a ser exercida pela autoridade ou rgo institudo,

    cuja soma determina a sua prpria competncia(De Plcido e Silva, ob.

    cit.).

    A definio de Poder tem sido trabalhada pela doutrina h

    muito tempo. Atualmente, h aceitao, quase unnime, do que a

    respeito est registrado no Dicionrio de Poltica, Edio da UNB, p. 933 e

    seguintes, no verbete Poder, escrito por Mario Stoppino. Este autor,

    afirma que em seu significado mais geral, a palavra Poder designa a

    capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos. Tanto pode ser

    referida a indivduos e a grupos humanos como a objetos ou a fenmenos

    naturais (como na expresso Poder calorfico. Poder de Absoro.

    Mais adiante, explicita:

    Se o entendermos em sentido especificamente social, ou seja,

    na sua relao coma vida do homem em sociedade, o Poder torna-se mais

    preciso, e seu espao conceptual pode ir desde a capacidade geral de agir,

    at capacidade do homem em determinar o comportamento do homem:

    Poder do homem sobre o homem. O homem no s o sujeito mas

    tambm o objeto do Poder social. Poder social a capacidade que um pai

    tem para dar ordens a seus filhos ou a capacidade de um Governo de dar

    ordens aos cidados. Por outro lado, no Poder social a capacidade de

    controle que o homem tem sobre a natureza nem a utilizao que faz dos

    recursos naturais. Naturalmente existem relaes significativas entre o

    Poder sobre o homem e o Poder sobre a natureza ou sobre as coisas

    inanimadas.

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Fixadas essas conceituaes iniciais, passamos a buscar

    compreenso sobre o abuso de poder.

    O abuso de poder fica caracterizado quando ele usado fora

    dos limites impostos pelos postulados, pelos princpios e pelas regras

    jurdicas em um Estado que adota o regime democrtico.

    Certa a afirmao de que constitui abuso de poder quando

    ele manipulado por um sujeito autorizado, porm exercido

    contrariamente aos fins (causas), modos (forma e objeto) ou motivos

    (mbito ou situao regulada) para os foi concedido. Os atos abusivos

    praticados so ilcitos, contrrios ao Direito. So um desvio quando fogem

    finalidade e um excesso quando desvirtuam o modo, afastando-se dos

    motivos que autorizam o exerccio do poder (motivos determinantes) ou

    gerando um resultado ilegal (ilegalidade do objeto). Tais atos seriam

    anulveis. O excesso de poder, por vcio de forma, porm, somente

    reconhecvel quando recai sobre elemento essencial do ato praticado com

    base no poder concedido. Se contraria meros elementos acidentais, no se

    pode falar em anulao (Rogrio Jos Bento Soares do Nascimento, in

    Abuso do Poder de Legislar, Lumen Jris Editora, Rio de Janeiro, 2.004,

    p. 137 e segs.).

    Aceitando esse modo de compreender o abuso de poder, o

    Conselho de Estado da Frana passou a anular os atos abusivos das

    autoridades administrativas, praticdos com excesso de poder ou desvio de

    finalidade, desde o famoso caso Lesbats (1864), dando origem teoria do

    excs ou do dtournemente de pouvoir, hoje aceita e consagrada pelos

    pases democrticos, sob as mais diversaws denominaes (desviacin de

    poder, dos espanhis; sviamento di potere, dois italianos; abuse of

    discretion, dos norte-americanos), para reprimir a ilegalidade pelo mau

    uso do poder, conforme afirma HelY Lopes Meirelles, em seu Direito

    Administrativo Brasileiro, 28a. ed., Malheiros, p. 107.

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    A doutrina tem tentado encontrar resposta para a pergunta: O

    que o poder?

    Essa resposta est presente em trabalho intitulado El abuso

    del poder, sem identificao de autoria, publicado pelo site

    http://www.goecities.com/brnd/abuso.htm?200051, acessado em

    10l05.2005, da forma seguinte:

    Que es el poder?

    A lo largo de la vida del hombre, se han desarrollado diversos

    conceptos de poder. Koontz plantea una definicin , entre tantos otros

    autores: "Es la capacidad de las personas o grupos para inducir o influir

    en las creencias o acciones de otras personas o grupos." Y distingue a su

    vez diferentes clases de poder: el poder legtimo, el poder de la pericia, el

    poder de recompensa, el poder coercitivo.

    El poder legtimo es el poder que se deriva del sistema cultural

    de obligaciones, derechos y deberes del sistema cultural occidental; deriva

    de un puesto o cargo a las que las personas dan legitimidad.

    El poder que proviene de la pericia es aquel poder que otorga

    el conocimiento: mdicos, abogados y profesores universitarios pueden

    ejercerlo por medio de sus conocimientos especiales.

    El poder de referencia es "la influencia que pueden ejercer

    personas o grupos porque las personas creen en ellos y en sus ideas".

    El poder de recompensa es, como su nombre lo indica, el

    poder para conceder recompensas, para beneficiar o perjudicar a alguien.

    El poder coercitivo es el poder de castigar. Est relacionado

    estrechamente con el concepto de poder de recompensa y proviene del

    poder legtimo.

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Por otra parte, Bidart Campos define al poder como la facultad

    y hasta la fuerza para cumplir con algo para lo que se debe poseer

    energa, aptitud y capacidad para llevarlo a cabo.

    O abuso de poder ou de autoridade constitui a principal fonte

    da maldade moral e da corruo moral, conforme evidenciado em

    pensamento de autor cuja fonte no conseguimos localizar, porm, cujo

    texto est na internet, site:

    http://www.angelfire.com/md/imsystem/rivabuso.html, acessado

    em 11.05.2005. Ali est escrito: ABUSO DE PODER O AUTORIDAD

    El abuso de poder o autoridad es la principal fuente de la

    maldad moral y de la corrupcin moral. La MALDAD moral comienza a

    existir cuando alguien se rehsa a aceptar responsabilidad por el bienestar

    de otros, especialmente por el bienestar de aqullos naturalmente bajo su

    cargo directo. Se puede decir que una persona tiene PODER, si esa

    persona puede influir decisivamente sobre la realidad (de otros).

    En este contexto, AUTORIDAD es poder que proviene de un

    acuerdo o convencin social, como por ejemplo las leyes o las costumbres

    de un grupo social, tal como un estado o una organizacin.

    Entonces pues, qu es el "abuso de poder"?

    El ABUSO DE PODER es el uso ilegtimo del poder.

    El ABUSO DE PODER es aquella situacin que existe cada vez

    que alguien quien tiene PODER sobre otros, (esto es, la capacidad de

    imponer su voluntad sobre esos otros) por ejemplo, debido a su superior

    destreza mental, posicin social, fuerza, conocimiento, tecnologa, armas,

    riqueza, o la confianza que tienen en l o lla, utiliza ese poder

    injustificadamente para EXPLOTAR o DAAR a sos otros, o mediante su

    falta de accin PERMITE que sos otros sean explotados o daados.

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Lgicamente, y por lo anterior, alguien que no tiene (un

    determinado tipo de) poder no puede abusarlo.

    Tambin se deduce de lo anterior que el ms importante (y tal

    vez el nico) principio de la tica y moralidad humana debera de ser el

    evitar el abuso de poder.

    (Se debe de notar que la decisin de adoptar un principio tico

    como propio es puramente personal, y no se puede forzar sobre alguien.

    Sin embargo, no se puede adoptar un principio que no se sabe que

    existe. Adems, no es muy probable que alguien vaya a adoptar un

    principio que no sea congruente - que no encaje o ajuste - con su

    estructura mental - y esa estructura mental es influenciada tan

    poderosamente por las experiencias en su temprana infancia).

    Otra consecuencia es que, si quines quieren detener o

    impedir los abusos de poder (o a los que se les haya encargado este

    deber) no tienen suficiente poder (anque fuera slamente poder moral),

    llos y sus esfuerzos servirn nicamente de hazmerrer para quines

    abusan del poder.

    O abuso de poder pode se apresentar, entre outras, na formas

    seguintes:

    Abuso de poder econmico eleitoral: o emprego de recursos

    produtivos (bens e servios de empresas particulares, ou recursos

    prprios do candidato que seja mais abastado, fora da moldura para tanto

    traada pelas regras de financiamento de campanha constante da Lei n.

    9ll504/97(Pedro Roberto Decomain, in Elegibilidade & Inelegibilidade.

    Obra jurdica 2.000, p. 72).

    Abuso de Poder Poltico nas eleies: o emprego de servios

    ou bens pertencentes administrao pblica direta ou indireta, ou na

    realizao de qualquer atividade administrativa, com o objetivo de

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    propiciar a eleio de determinado candidato (Pedro Roberto Decomain,

    ob. cit.).

    Abuso de Poder empresarial..

    Abuso de Poder de Legislar.

    Abuso de Poder poltico.

    Abuso de Poder administrativo.

    Abuso de Poder policial.

    Abuso de Poder Judicial.

    2. O ABUSO DE QUALQUER ESPCIE NA CONSTITUIO FEDERAL.

    A Constituio Federal de 1988 cuida, expressamente, do

    Abuso de Poder E DE OUTROS, nos dispositivos a seguir enumerados:

    Art. 5, XXXIV, a: LXVIII; LXIX.

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de

    qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros

    residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade,

    igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes :

    XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do

    pagamento de taxas:

    a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de

    direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

    LXVIII - conceder-se- "habeas-corpus" sempre que algum

    sofrer ou se achar ameaado de sofrer violncia ou coao em sua

    liberdade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder; 8

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    LXIX - conceder-se- mandado de segurana para proteger

    direito lquido e certo, no amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-

    data", quando o responsvel pela ilegalidade ou abuso de poder for

    autoridade pblica ou agente de pessoa jurdica no exerccio de

    atribuies do Poder Pblico;...

    Art. 9, 1 e 2:

    Art. 9 assegurado o direito de greve, competindo aos

    trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exerc-lo e sobre os

    interesses que devam por meio dele defender.

    1 - A lei definir os servios ou atividades essenciais e

    dispor sobre o atendimento das necessidades inadiveis da comunidade.

    2 - Os abusos cometidos sujeitam os responsveis s penas

    da lei.

    Art. 14, 9 e 10:

    Art. 14. A soberania popular ser exercida pelo sufrgio

    universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos

    termos da lei, mediante:

    I - plebiscito;

    II - referendo;

    III - iniciativa popular.

    9 Lei complementar estabelecer outros casos de

    inelegibilidade e os prazos de sua cessao, a fim de proteger a probidade

    administrativa, a moralidade para exerccio de mandato considerada vida

    pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleies

    contra a influncia do poder econmico ou o abuso do exerccio de funo,

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    cargo ou emprego na administrao direta ou indireta. (Redao dada

    pela Emenda Constitucional de Reviso n 4, de 1994)

    10 - O mandato eletivo poder ser impugnado ante a Justia

    Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomao, instruda a ao

    com provas de abuso do poder econmico, corrupo ou fraude..

    Art. 55, 1:

    Art. 55. Perder o mandato o Deputado ou Senador:

    I - que infringir qualquer das proibies estabelecidas no

    artigo anterior;

    II - cujo procedimento for declarado incompatvel com o

    decoro parlamentar;

    III - que deixar de comparecer, em cada sesso legislativa,

    tera parte das sesses ordinrias da Casa a que pertencer, salvo licena

    ou misso por esta autorizada;

    IV - que perder ou tiver suspensos os direitos polticos;

    V - quando o decretar a Justia Eleitoral, nos casos previstos

    nesta Constituio;

    VI - que sofrer condenao criminal em sentena transitada

    em julgado.

    1 - incompatvel com o decoro parlamentar, alm dos

    casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas

    asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepo de

    vantagens indevidas.

    e) Art. 71, XI:

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional,

    ser exercido com o auxlio do Tribunal de Contas da Unio, ao qual

    compete:

    XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou

    abusos apurados.

    Art. 103-B, IV:

    Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justia compe-se de

    quinze membros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e seis

    anos de idade, com mandato de dois anos, admitida uma reconduo,

    sendo: (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004)

    IV representar ao Ministrio Pblico, no caso de crime contra a

    administrao pblica ou de abuso de autoridade;...

    f) Art. 173, 4:

    Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituio, a

    explorao direta de atividade econmica pelo Estado s ser permitida

    quando necessria aos imperativos da segurana nacional ou a relevante

    interesse coletivo, conforme definidos em lei.

    4 - A lei reprimir o abuso do poder econmico que vise

    dominao dos mercados, eliminao da concorrncia e ao aumento

    arbitrrio dos lucros.

    g) Art. 227, 4:

    Art. 227. dever da famlia, da sociedade e do Estado

    assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito

    vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao,

    cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e

    comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia,

    discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. 11

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    4 - A lei punir severamente o abuso, a violncia e a

    explorao sexual da criana e do adolescente.

    3. O ABUSO DE PODER NA LEGISLAO INFRACONSTITUCIONAL

    O nosso ordenamento jurdico repele qualquer forma de

    abuso, quer o praticado pelo Poder Pblico, quer o praticado pelo

    particular.

    Em campo infraconstitucional, destacamos as leis a seguir

    referidas tratando diretamente da prtica do abuso contra os direitos e

    garantias fundamentais do cidado. Elas so:

    LEI N 9.970, DE 17 DE MAIO DE 2000.o Institui o dia 18 de

    maio como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Explorao Sexual de

    Crianas e Adolescentes

    O PRESIDENTE DA REPBLICA Fao saber que o Congresso

    Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

    Art. 1o institudo o dia 18 de maio como o Dia Nacional de

    Combate ao Abuso e Explorao Sexual de Crianas e Adolescentes.

    Pargrafo nico. (VETADO)

    Art. 2o (VETADO)

    Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, 17 de maio de 2000; 179o da Independncia e 112o

    da Repblica.

    FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

    Jos Gregori

    12

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Francisco Weffort

    Este texto no substitui o publicado no D.O.U. de 18.5.2000

    LEI N 9.240, DE 22 DE DEZEMBRO DE 1995. Ratifica o

    Fundo de Imprensa Nacional, o Fundo de Preveno, Recuperao e de

    Combate s Drogas de Abuso e o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.

    O PRESIDENTE DA REPBLICA

    Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a

    seguinte Lei:

    Art. 1 So ratificados o Fundo de Imprensa Nacional - FUNIN,

    criado pelo Decreto n 73.610, de 11 de fevereiro de 1974, o Fundo de

    Preveno, Recuperao e de Combate s Drogas de Abuso - FUNCAB,

    criado pela Lei n 7.560, de 19 de dezembro de 1986, e o Fundo de

    Defesa dos Direitos Difusos - FDD, criado pela Lei n 7.347, de 24 de

    julho de 1985.

    Art. 2 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

    Braslia, 22 de dezembro de 1995; 174 da Independncia e

    107 da Repblica.

    FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

    LEI N 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965. Regula o

    Direito de Representao e o processo de Responsabilidade Administrativa

    Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade

    O PRESIDENTE DA REPBLICA Fao saber que o Congresso

    Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

    Art. 1 O direito de representao e o processo de

    responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que,

    13

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    no exerccio de suas funes, cometerem abusos, so regulados pela

    presente lei.

    Art. 2 O direito de representao ser exercido por meio de

    petio:

    a) dirigida autoridade superior que tiver competncia legal

    para aplicar, autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sano;

    b) dirigida ao rgo do Ministrio Pblico que tiver

    competncia para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.

    Pargrafo nico. A representao ser feita em duas vias e

    conter a exposio do fato constitutivo do abuso de autoridade, com

    todas as suas circunstncias, a qualificao do acusado e o rol de

    testemunhas, no mximo de trs, se as houver.

    Art. 3. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

    a) liberdade de locomoo;

    b) inviolabilidade do domiclio;

    c) ao sigilo da correspondncia;

    d) liberdade de conscincia e de crena;

    e) ao livre exerccio do culto religioso;

    f) liberdade de associao;

    g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio do

    voto;

    h) ao direito de reunio;

    i) incolumidade fsica do indivduo;

    14

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio

    profissional. (Includo pela Lei n 6.657,de 05/06/79)

    Art. 4 Constitui tambm abuso de autoridade:

    a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade

    individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

    b) submeter pessoa sob sua guarda ou custdia a vexame ou

    a constrangimento no autorizado em lei;

    c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a

    priso ou deteno de qualquer pessoa;

    d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de priso ou

    deteno ilegal que lhe seja comunicada;

    e) levar priso e nela deter quem quer que se proponha a

    prestar fiana, permitida em lei;

    f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial

    carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que

    a cobrana no tenha apoio em lei, quer quanto espcie quer quanto ao

    seu valor;

    g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo

    de importncia recebida a ttulo de carceragem, custas, emolumentos ou

    de qualquer outra despesa;

    h) o ato lesivo da honra ou do patrimnio de pessoa natural ou

    jurdica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem

    competncia legal;

    i) prolongar a execuo de priso temporria, de pena ou de

    medida de segurana, deixando de expedir em tempo oportuno ou de

    15

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    cumprir imediatamente ordem de liberdade. (Includo pela Lei n 7.960,

    de 21/12/89)

    Art. 5 Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei,

    quem exerce cargo, emprego ou funo pblica, de natureza civil, ou

    militar, ainda que transitoriamente e sem remunerao.

    Art. 6 O abuso de autoridade sujeitar o seu autor sano

    administrativa civil e penal.

    1 A sano administrativa ser aplicada de acordo com a

    gravidade do abuso cometido e consistir em:

    a) advertncia;

    b) repreenso;

    c) suspenso do cargo, funo ou posto por prazo de cinco a

    cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e vantagens;

    d) destituio de funo;

    e) demisso;

    f) demisso, a bem do servio pblico.

    2 A sano civil, caso no seja possvel fixar o valor do

    dano, consistir no pagamento de uma indenizao de quinhentos a dez

    mil cruzeiros.

    3 A sano penal ser aplicada de acordo com as regras

    dos artigos 42 a 56 do Cdigo Penal e consistir em:

    a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;

    b) deteno por dez dias a seis meses;

    16

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    c) perda do cargo e a inabilitao para o exerccio de qualquer

    outra funo pblica por prazo at trs anos.

    4 As penas previstas no pargrafo anterior podero ser

    aplicadas autnoma ou cumulativamente.

    5 Quando o abuso for cometido por agente de autoridade

    policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poder ser cominada a

    pena autnoma ou acessria, de no poder o acusado exercer funes de

    natureza policial ou militar no municpio da culpa, por prazo de um a cinco

    anos.

    art. 7 recebida a representao em que for solicitada a

    aplicao de sano administrativa, a autoridade civil ou militar

    competente determinar a instaurao de inqurito para apurar o fato.

    1 O inqurito administrativo obedecer s normas

    estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou militares,

    que estabeleam o respectivo processo.

    2 no existindo no municpio no Estado ou na legislao

    militar normas reguladoras do inqurito administrativo sero aplicadas

    supletivamente, as disposies dos arts. 219 a 225 da Lei n 1.711, de 28

    de outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionrios Pblicos Civis da Unio).

    3 O processo administrativo no poder ser sobrestado

    para o fim de aguardar a deciso da ao penal ou civil.

    Art. 8 A sano aplicada ser anotada na ficha funcional da

    autoridade civil ou militar.

    Art. 9 Simultaneamente com a representao dirigida

    autoridade administrativa ou independentemente dela, poder ser

    promovida pela vtima do abuso, a responsabilidade civil ou penal ou

    ambas, da autoridade culpada.

    17

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Art. 10. Vetado

    Art. 11. ao civil sero aplicveis as normas do Cdigo de

    Processo Civil.

    Art. 12. A ao penal ser iniciada, independentemente de

    inqurito policial ou justificao por denncia do Ministrio Pblico,

    instruda com a representao da vtima do abuso.

    Art. 13. Apresentada ao Ministrio Pblico a representao da

    vtima, aquele, no prazo de quarenta e oito horas, denunciar o ru,

    desde que o fato narrado constitua abuso de autoridade, e requerer ao

    Juiz a sua citao, e, bem assim, a designao de audincia de instruo e

    julgamento.

    1 A denncia do Ministrio Pblico ser apresentada em

    duas vias.

    Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade

    houver deixado vestgios o ofendido ou o acusado poder:

    a) promover a comprovao da existncia de tais vestgios,

    por meio de duas testemunhas qualificadas;

    b) requerer ao Juiz, at setenta e duas horas antes da

    audincia de instruo e julgamento, a designao de um perito para fazer

    as verificaes necessrias.

    1 O perito ou as testemunhas faro o seu relatrio e

    prestaro seus depoimentos verbalmente, ou o apresentaro por escrito,

    querendo, na audincia de instruo e julgamento.

    2 No caso previsto na letra a deste artigo a representao

    poder conter a indicao de mais duas testemunhas.

    18

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Art. 15. Se o rgo do Ministrio Pblico, ao invs de

    apresentar a denncia requerer o arquivamento da representao, o Juiz,

    no caso de considerar improcedentes as razes invocadas, far remessa

    da representao ao Procurador-Geral e este oferecer a denncia, ou

    designar outro rgo do Ministrio Pblico para oferec-la ou insistir no

    arquivamento, ao qual s ento dever o Juiz atender.

    Art. 16. Se o rgo do Ministrio Pblico no oferecer a

    denncia no prazo fixado nesta lei, ser admitida ao privada. O rgo

    do Ministrio Pblico poder, porm, aditar a queixa, repudi-la e oferecer

    denncia substitutiva e intervir em todos os termos do processo, interpor

    recursos e, a todo tempo, no caso de negligncia do querelante, retomar a

    ao como parte principal.

    Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de

    quarenta e oito horas, proferir despacho, recebendo ou rejeitando a

    denncia.

    1 No despacho em que receber a denncia, o Juiz

    designar, desde logo, dia e hora para a audincia de instruo e

    julgamento, que dever ser realizada, improrrogavelmente. dentro de

    cinco dias.

    2 A citao do ru para se ver processar, at julgamento

    final e para comparecer audincia de instruo e julgamento, ser feita

    por mandado sucinto que, ser acompanhado da segunda via da

    representao e da denncia.

    Art. 18. As testemunhas de acusao e defesa podero ser

    apresentada em juzo, independentemente de intimao.

    Pargrafo nico. No sero deferidos pedidos de precatria

    para a audincia ou a intimao de testemunhas ou, salvo o caso previsto

    no artigo 14, letra "b", requerimentos para a realizao de diligncias,

    19

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    percias ou exames, a no ser que o Juiz, em despacho motivado,

    considere indispensveis tais providncias.

    Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandar que o porteiro dos

    auditrios ou o oficial de justia declare aberta a audincia, apregoando

    em seguida o ru, as testemunhas, o perito, o representante do Ministrio

    Pblico ou o advogado que tenha subscrito a queixa e o advogado ou

    defensor do ru.

    Pargrafo nico. A audincia somente deixar de realizar-se se

    ausente o Juiz.

    Art. 20. Se at meia hora depois da hora marcada o Juiz no

    houver comparecido, os presentes podero retirar-se, devendo o ocorrido

    constar do livro de termos de audincia.

    Art. 21. A audincia de instruo e julgamento ser pblica, se

    contrariamente no dispuser o Juiz, e realizar-se- em dia til, entre dez

    (10) e dezoito (18) horas, na sede do Juzo ou, excepcionalmente, no local

    que o Juiz designar.

    Art. 22. Aberta a audincia o Juiz far a qualificao e o

    interrogatrio do ru, se estiver presente.

    Pargrafo nico. No comparecendo o ru nem seu advogado,

    o Juiz nomear imediatamente defensor para funcionar na audincia e nos

    ulteriores termos do processo.

    Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz

    dar a palavra sucessivamente, ao Ministrio Pblico ou ao advogado que

    houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do ru, pelo prazo

    de quinze minutos para cada um, prorrogvel por mais dez (10), a critrio

    do Juiz.

    20

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferir imediatamente a

    sentena.

    Art. 25. Do ocorrido na audincia o escrivo lavrar no livro

    prprio, ditado pelo Juiz, termo que conter, em resumo, os depoimentos

    e as alegaes da acusao e da defesa, os requerimentos e, por extenso,

    os despachos e a sentena.

    Art. 26. Subscrevero o termo o Juiz, o representante do

    Ministrio Pblico ou o advogado que houver subscrito a queixa, o

    advogado ou defensor do ru e o escrivo.

    Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte forem

    difceis e no permitirem a observncia dos prazos fixados nesta lei, o juiz

    poder aument-las, sempre motivadamente, at o dobro.

    Art. 28. Nos casos omissos, sero aplicveis as normas do

    Cdigo de Processo Penal, sempre que compatveis com o sistema de

    instruo e julgamento regulado por esta lei.

    Pargrafo nico. Das decises, despachos e sentenas,

    cabero os recursos e apelaes previstas no Cdigo de Processo Penal.

    Art. 29. Revogam-se as disposies em contrrio.

    Braslia, 9 de dezembro de 1965; 144 da Independncia e

    77 da Repblica.

    4. DECLARAO DOS PRINCPIOS BSICOS DE JUSTIA RELATIVOS S VTIMAS DA CRIMINALIDADE E DE ABUSO DE PODER.

    As organizaes dedicadas ao culto dos direitos humanos, em

    assemblia geral de congresso que tratou do tema Direitos dos

    Prisioneiros e Detidos, aprovou a Declarao de Princpios Bsicos de

    21

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Justia Relativos s Vtimas da Criminalidade e de Abuso de Poder cujo

    texto segue, de modo integral, citado:

    Declarao dos Princpios Bsicos de Justia Relativos s

    Vtimas da Criminalidade e de Abuso de Poder

    A Assembleia Geral,

    Lembrando que o Sexto Congresso sobre a Preveno do

    Crime e o Tratamento dos Delinquentes recomendou que a Organizao

    das Naes Unidas prosseguisse o seu actual trabalho de elaborao de

    princpios orientadores e de normas relativas ao abuso de poder

    econmico e poltico 56,

    Consciente de que milhes de pessoas em todo o mundo

    sofreram prejuzos em consequncia de crimes e de outros actos

    representando um abuso de poder e que os direitos destas vtimas no

    foram devidamente reconhecidos,

    Consciente de que as vtimas da criminalidade e as vtimas de

    abuso de poder e, frequentemente, tambm as respectivas famlias,

    testemunhas e outras pessoas que acorrem em seu auxlio sofrem

    injustamente perdas, danos ou prejuzos e que podem, alm disso, ser

    submetidas a provaes suplementares quando colaboram na perseguio

    dos delinquentes,

    1. Afirma a necessidade de adopo, a nvel nacional e

    internacional, de medidas que visem garantir o reconhecimento universal

    e eficaz dos direitos das vtimas da criminalidade e de abuso de poder;

    2. Sublinha a necessidade de encorajar todos os Estados a

    desenvolverem os esforos feitos com esse objectivo, sem prejuzo dos

    direitos dos suspeitos ou dos delinquentes;

    22

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    3. Adopta a Declarao dos Princpios Bsicos de Justia

    Relativos s Vtimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, que consta em

    anexo presente resoluo, e que visa ajudar os Governos e a

    comunidade internacional nos esforos desenvolvidos, no sentido de fazer

    justia s vtimas da criminalidade e de abuso de poder e no sentido de

    lhes proporcionar a necessria assistncia;

    4. Solicita aos Estados membros que tomem as medidas

    necessrias para tornar efectivas as disposies da Declarao e que, a

    fim de reduzir a vitimizao, a que se faz referncia daqui em diante, se

    empenhem em:

    a) Aplicar medidas nos domnios da assistncia social, da

    sade, incluindo a sade mental, da educao e da economia, bem como

    medidas especiais de preveno criminal para reduzir a vitimizao e

    promover a ajuda s vtimas em situao de carncia;

    b) Incentivar os esforos colectivos e a participao dos

    cidados na preveno do crime;

    c) Examinar regularmente a legislao e as prticas

    existentes, a fim de assegurar a respectiva adaptao evoluo das

    situaes, e adoptar e aplicar legislao que proba actos contrrios s

    normas internacionalmente reconhecidas no mbito dos direitos do

    homem, do comportamento das empresas e de outros actos de abuso de

    poder;

    d) Estabelecer e reforar os meios necessrios investigao,

    prossecuo e condenao dos culpados da prtica de crimes;

    e) Promover a divulgao de informaes que permitam aos

    cidados a fiscalizao da conduta dos funcionrios e das empresas e

    promover outros meios de acolher as preocupaes dos cidados;

    23

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    f) Incentivar o respeito dos cdigos de conduta e das normas

    ticas, e, nomeadamente, das normas internacionais, por parte dos

    funcionrios, incluindo o pessoal encarregado da aplicao das leis, o dos

    servios penitencirios, o dos servios mdicos e sociais e o das foras

    armadas, bem como por parte do pessoal das empresas comerciais;

    g) Proibir as prticas e os procedimentos susceptveis de

    favorecer os abusos, tais como o uso de locais secretos de deteno e a

    deteno em situao incomunicvel;

    h) Colaborar com os outros Estados, no quadro de acordos de

    auxlio judicirio e administrativo, em domnios como o da investigao e

    o da prossecuo penal dos delinquentes, da sua extradio e da penhora

    dos seus bens para os fins de indemnizao s vtimas.

    5. Recomenda que, aos nveis internacional e regional, sejam

    tomadas todas as medidas apropriadas para:

    a) Desenvolver as actividades de formao destinadas a

    incentivar o respeito pelas normas e princpios das Naes Unidas e a

    reduzir as possibilidades de abuso;

    b) Organizar trabalhos conjuntos de investigao, orientados

    de forma prtica, sobre os modos de reduzir a vitimizao e de ajudar as

    vtimas, e para desenvolver trocas de informao sobre os meios mais

    eficazes de o fazer;

    c) Prestar assistncia directa aos Governos que a peam, a fim

    de os ajudar a reduzir a vitimizao e a aliviar a situao de carncia em

    que as vtimas se encontrem;

    d) Proporcionar meios de recurso acessveis s vtimas,

    quando as vias de recurso existentes a nvel nacional possam revelar-se

    insuficientes.

    24

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    6. Solicita ao SecretrioGeral que convide os Estados

    membros a informarem periodicamente a Assembleia Geral sobre a

    aplicao da Declarao, bem como sobre as medidas que tomem para tal

    efeito;

    7. Solicita, igualmente, ao SecretrioGeral que utilize as

    oportunidades oferecidas por todos os rgos e organismos competentes

    dentro do sistema das Naes Unidas, a fim de ajudar os Estados

    membros, sempre que necessrio, a melhorarem os meios de que

    dispem para proteco das vtimas a nvel nacional e atravs da

    cooperao internacional;

    8. Solicita, tambm, ao Secretrio-Geral que promova a

    realizao dos objectivos da Declarao, nomeadamente dando-lhe uma

    divulgao to ampla quanto possvel;

    9. Solicita, insistentemente, s instituies especializadas e s

    outras entidades e rgos da Organizao das Naes Unidas, s outras

    organizaes intergovernamentais e no governamentais interessadas,

    bem como aos cidados em geral, que cooperem na aplicao das

    disposies da Declarao.

    96. sesso plenria 29 de Novembro de 1985

    ANEXO

    Declarao dos Princpios Fundamentais de Justia Relativos s

    Vtimas da Criminalidade e de Abuso de Poder

    A. Vtimas da criminalidade

    1. Entendem-se por "vtimas" as pessoas que, individual ou

    colectivamente, tenham sofrido um prejuzo, nomeadamente um atentado

    sua integridade fsica ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma

    perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais,

    25

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    como consequncia de actos ou de omisses violadores das leis penais em

    vigor num Estado membro, incluindo as que probem o abuso de poder.

    2. Uma pessoa pode ser considerada como "vtima", no quadro

    da presente Declarao, quer o autor seja ou no identificado, preso,

    processado ou declarado culpado, e quaisquer que sejam os laos de

    parentesco deste com a vtima. O termo "vtima" inclui tambm, conforme

    o caso, a famlia prxima ou as pessoas a cargo da vtima directa e as

    pessoas que tenham sofrido um prejuzo ao intervirem para prestar

    assistncia s vtimas em situao de carncia ou para impedir a

    vitimizao.

    3. As disposies da presente seco aplicam-se a todos, sem

    distino alguma, nomeadamente de raa, cor, sexo, idade, lngua,

    religio, nacionalidade, opinies polticas ou outras, crenas ou prticas

    culturais, situao econmica, nascimento ou situao familiar, origem

    tnica ou social ou capacidade fsica.

    Acesso justia e tratamento equitativo

    4. As vtimas devem ser tratadas com compaixo e respeito

    pela sua dignidade. Tm direito ao acesso s instncias judicirias e a

    uma rpida reparao do prejuzo por si sofrido, de acordo com o disposto

    na legislao nacional.

    5. H que criar e, se necessrio, reforar mecanismos

    judicirios e administrativos que permitam s vtimas a obteno de

    reparao atravs de procedimentos, oficiais ou oficiosos, que sejam

    rpidos, equitativos, de baixo custo e acessveis. As vtimas devem ser

    informadas dos direitos que lhes so reconhecidos para procurar a

    obteno de reparao por estes meios.

    6. A capacidade do aparelho judicirio e administrativo para

    responder s necessidades das vtimas deve ser melhorada:

    26

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    a) Informando as vtimas da sua funo e das possibilidades

    de recurso abertas, das datas e da marcha dos processos e da deciso das

    suas causas, especialmente quando se trate de crimes graves e quando

    tenham pedido essas informaes;

    b) Permitindo que as opinies e as preocupaes das vtimas

    sejam apresentadas e examinadas nas fases adequadas do processo,

    quando os seus interesses pessoais estejam em causa, sem prejuzo dos

    direitos da defesa e no quadro do sistema de justia penal do pas;

    c) Prestando s vtimas a assistncia adequada ao longo de

    todo o processo;

    d) Tomando medidas para minimizar, tanto quanto possvel,

    as dificuldades encontradas pelas vtimas, proteger a sua vida privada e

    garantir a sua segurana, bem como a da sua famlia e a das suas

    testemunhas, preservando-as de manobras de intimidao e de

    represlias;

    e) Evitando demoras desnecessrias na resoluo das causas e

    na execuo das decises ou sentenas que concedam indemnizao s

    vtimas.

    7. Os meios extrajudicirios de soluo de diferendos,

    incluindo a mediao, a arbitragem e as prticas de direito

    consuetudinrio ou as prticas autctones de justia, devem ser

    utilizados, quando se revelem adequados, para facilitar a conciliao e

    obter a reparao em favor das vtimas.

    Obrigao de restituio e de reparao

    8. Os autores de crimes ou os terceiros responsveis pelo seu

    comportamento devem, se necessrio, reparar de forma equitativa o

    prejuzo causado s vtimas, s suas famlias ou s pessoas a seu cargo.

    Tal reparao deve incluir a restituio dos bens, uma indemnizao pelo

    27

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    prejuzo ou pelas perdas sofridos, o reembolso das despesas feitas como

    consequncia da vitimizao, a prestao de servios e o restabelecimento

    dos direitos.

    9. Os Governos devem reexaminar as respectivas prticas,

    regulamentos e leis, de modo a fazer da restituio uma sentena possvel

    nos casos penais, para alm das outras sanes penais.

    10. Em todos os casos em que sejam causados graves danos

    ao ambiente, a restituio deve incluir, na medida do possvel, a

    reabilitao do ambiente, a reposio das infra-estruturas, a substituio

    dos equipamentos colectivos e o reembolso das despesas de reinstalao,

    quando tais danos impliquem o desmembramento de uma comunidade.

    11. Quando funcionrios ou outras pessoas, agindo a ttulo

    oficial ou quase oficial, tenham cometido uma infraco penal, as vtimas

    devem receber a restituio por parte do Estado cujos funcionrios ou

    agentes sejam responsveis pelos prejuzos sofridos. No caso em que o

    Governo sob cuja autoridade se verificou o acto ou a omisso na origem

    da vitimizao j no exista, o Estado ou o Governo sucessor deve

    assegurar a restituio s vtimas.

    Indenizao

    12. Quando no seja possvel obter do delinquente ou de

    outras fontes uma indemnizao completa, os Estados devem procurar

    assegurar uma indemnizao financeira:

    a) s vtimas que tenham sofrido um dano corporal ou um

    atentado importante sua integridade fsica ou mental, como

    consequncia de actos criminosos graves;

    b) famlia, em particular s pessoas a cargo das pessoas que

    tenham falecido ou que tenham sido atingidas por incapacidade fsica ou

    mental como consequncia da vitimizao.

    28

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    13. Ser incentivado o estabelecimento, o reforo e a

    expanso de fundos nacionais de indemnizao s vtimas. De acordo com

    as necessidades, podero estabelecer-se outros fundos com tal objectivo,

    nomeadamente nos casos em que o Estado de nacionalidade da vtima

    no esteja em condies de indemniz-la pelo dano sofrido.

    Servios

    14. As vtimas devem receber a assistncia material, mdica,

    psicolgica e social de que necessitem, atravs de organismos estatais, de

    voluntariado, comunitrios e autctones.

    15. As vtimas devem ser informadas da existncia de servios

    de sade, de servios sociais e de outras formas de assistncia que lhes

    possam ser teis, e devem ter fcil acesso aos mesmos.

    16. O pessoal dos servios de polcia, de justia e de sade, tal

    como o dos servios sociais e o de outros servios interessados deve

    receber uma formao que o sensibilize para as necessidades das vtimas,

    bem como instrues que garantam uma ajuda pronta e adequada s

    vtimas.

    17. Quando sejam prestados servios e ajuda s vtimas, deve

    ser dispensada ateno s que tenham necessidades especiais em razo

    da natureza do prejuzo sofrido ou de factores tais como os referidos no

    pargrafo 3, supra.

    B. Vtimas de abuso de poder

    18. Entendem-se por "vtimas" as pessoas que, individual ou

    colectivamente, tenham sofrido prejuzos, nomeadamente um atentado

    sua integridade fsica ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma

    perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais,

    como consequncia de actos ou de omisses que, no constituindo ainda

    uma violao da legislao penal nacional, representam violaes das

    29

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    normas internacionalmente reconhecidas em matria de direitos do

    homem.

    19. Os Estados deveriam encarar a possibilidade de insero

    nas suas legislaes nacionais de normas que probam os abusos de poder

    e que prevejam reparaes s vtimas de tais abusos. Entre tais

    reparaes deveriam figurar, nomeadamente, a restituio e a

    indemnizao, bem como a assistncia e o apoio de ordem material,

    mdica, psicolgica e social que sejam necessrios.

    20. Os Estados deveriam encarar a possibilidade de negociar

    convenes internacionais multilaterais relativas s vtimas, de acordo

    com a definio do pargrafo 18.

    21. Os Estados deveriam reexaminar periodicamente a

    legislao e as prticas em vigor, com vista a adapt-las evoluo das

    situaes, deveriam adoptar e aplicar, se necessrio, textos legislativos

    que proibissem qualquer acto que constitusse um grave abuso de poder

    poltico ou econmico e que incentivassem as polticas e os mecanismos

    de preveno destes actos e deveriam estabelecer direitos e recursos

    apropriados para as vtimas de tais actos, garantindo o seu exerccio.

    5. ABUSO DE PODER E O ALCANCE DESSA EXPRESSO NO TEXTO CONSTITUCIONAL, REFERENTE AO MANDADO DE SEGURANA, NA VISO DE SEABRA FAGUNDES.

    Seabra Fagundes, sem sua magnfica e clssica obara O

    Controle dos Atos Administrativos pelo Poder Judicirio, Saraiva, 1984,

    6a. edio, pg. 229 e 230, analisa o conceito de abuso de poder para fins

    de mandado de segurana, tendo em vista a ordem jurdica constitucional.

    Leciona o referido mestre:

    30

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    A conceituao do abuso de poder ter carter meramente

    terico, por isso que, do ponto de vista prtico do cabimento do mandado

    de segurana, a distino pouco imiporta. Sendo o abuso de poder espcie

    do gnero ilegalidade, onde esta se constate caber aquele remdio, sem

    embargo da classificao que se lhe possa emprestar (usurpao de

    funo, abuso de poder, defeito formal, etc.).

    Acrescenta o renomado doutrinador:

    Entre ns o conceito de abuso de poder s tem encontrado

    aplicao prtica no direito penal. Capitulado como excesso ou abuso de

    autoridade no Cdigo de 1890 (arts. 226, 228, 229, 230, 231, 232, 234,

    235, 236 e 237) e como exerccio arbitrrio ou abuso de poder no Cdigo

    vigente (art. 350), se exprime sempre nas exorbitncias do exerccio

    funcional, contrapondo-se, nitidamente, ao exerccio de funo sem

    titularidade (usurpao de funo).

    Mais adiante, Seabra Fagundes lembra que:

    No direito administrativo brasileiro, a expresso abuso de

    poder no encontra referncias de prstimo. No assim na Frana e na

    Itlia, onde a figura do abuso ou excesso de poder (prevalentemente se

    fala de excesso) representa papel relevantssimno nos respectivos

    sistemas de controle jurisdicional e referida por todos os tratadistas. O

    subsdio de tais fontes, no entanto, se mostra menos prestvel porque

    preso a peculiaridades do direito positivo e jurisprudncias locais.

    O excesso de poder, no direito francs, aparece

    primitivamente como sinnimo de incompetncia, na autoridade de um

    recurso hierrquico, que, mais tarde, se converte em recurso contencioso

    perante o Conselho de Estado, como uma das decorrncias da evoluo

    deste rgo no sistema francs de controle jurisdicional. Com o correr dos

    tempos, merc de poucos textos legais e de admirvel trabalho

    construtivo da jurisprudncia, desenvolve-se o conceito de excesso de

    31

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    poder, erigindo-se o recurso, com esse fundamento e essa denominao,

    em via amplssima de suscitamento do contencioso de nulidades dos atos

    administrativos. E, ento, nele se abrangem: incompetncia, violao de

    forma, desvio do poder (que Duguit caracteriza, em substncia, como

    uma modalidade de incompetncia) e violao da lei (denominao

    imprecisa, usada para definir as ilegalidades quanto ao objeto do ato.

    Seabra Fagundes cita Bonnard, Prtcis, p. 192 e segs; Hauriou, Prcis, p.

    420-4, e Duguit, Trait, v. 2, p. 391, como as fontes de onde colheu os

    ensinamentos que registra.

    Lembra, ainda, Seabra Fagundes que na Itlia, o excesso de

    poder, no obstante as diversidades que a doutrina revela ao coneitu-lo,

    oferece sentido mais restrito do que aquele com o qual se apresenta no

    direito francs. Alcana, apenas a incompetncia pelo exerccio de

    atribuio no cometida ao rgo e os vcios que contagiem o ato por uma

    defeituosa manifestao da voantade, como os resultados de deturpao

    dos fatos ou erro na sua apreaciao, ilocidade manifesta etc., confomre

    Zanobini, Corso, p. 227-228; Vicenzo Romanelli, Lannulallamento degli

    atti admministrativi, p. 167-77; Ranelletti, L garentigie, p. 95-96.

    Seabra Fagundes termina o seu pensamento indicando que

    No possvel emprestar ao abuso de poder latitude que o faa

    equivalente ao excesso ou abuso de poder dos franceses, porquanto a

    expresso ilegalidade, em que se completa a dicotomia do inciso

    constitucional, perderia o sentido. Nem possvel, pela aceitao do

    critrio da lei penal, cont-lo no mbito estrito da simples exorbitncia de

    atribuies, excluda a usurpao de poder, pois, assim, se chegaria ao

    abuso de admitir tivesse o legislador dispensado maiores cuidados forma

    menos grave da incompetncia que mais marcante.

    Conclui:

    32

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Por abuso de poder se h de entender tudo o que diga

    respeito infrao das regras de competncia. Desde a sua violao

    frontal, pela prtica de ato totalmente alheio ao mbito de atribuio do

    agente (usurpao de poder do nosso direito penal e da classificao

    terica dos graus de incompetncia no direito administrativo), at as

    exorbitncias de uma competncia realmente existente, sejam ostensivas

    (busca realizada pela autoridade policial com arrobamento necessrio

    CP, art. 350, IV) ou se disfarcem nas aparncias de atos legtimos

    (expulso de estrangeiro, por motivos outros que no a nocividade de

    ordem pblica).

    6. O ABUSO DE PODER NA VISO DE JOS CRETELLA JNIOR

    Jos Cretella Jnior, em sua clssica obra Controle

    Jurisdicional do Ato Administrativo, Forense, 1984, analisa a expresso

    abuso de poder com base, inicialmente, em pensamento de Pontes de

    Miranda (Comnentrios Constituio de 1946, 2a. edio, 1953, v. IV, p.

    349):

    Abuso de poder, afirmou Pontes de Miranda, o exerccio

    irregular do poder. Usurpa poder quem, sem no ter, procede como se o

    tivesse. A falsa autoridade usurpa-o; a autoridade incompetente que

    exerce poder que compete a outrem, usurpa; a autoridade competente

    no usurpa; se de certo modo exorbita, abusa do poder.

    Cretella chama a ateno para o fato dae que ....no s no

    direito universal como no direito brasileiro, os doutrinadores empregam as

    expresses abuso de poder, excesso de poder, desvio de poder e desvio

    de finalidade, umas vezes designando realidades distintas, outras como

    sinnimas, indicando o mesmo instituto jurdico.

    33

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    A seguir, com a clareza que lhe peculiar, Cretella Jnior

    explicita:

    Observes-se, porm, que a expresso global abuso de poder

    constituda de dois termos bem distintos, com significados diferentes,

    abuso e poder, ligados pelo conectivo preposicional de, ambos com

    sentido tcnico, que necessrio elucidar.

    Abuso, a primeira parte da expresso, de fcil

    entendimento, pois conserva a acepo vulgar, no tcnica, de alm do

    uso, uso intensivo, uso indevido, desdobramento do uso,

    ultrapassagem do uso, uso exorbitante. Nesse caso, o agente pblico,

    embora competente para o uso do poder, exagera ou distorce esse

    poder, abusivamente.

    A segunda parte da expresso poder potestas, em latim,

    puissance e no pouvoir, em francs - , complementando a idia contida

    no substantivo qualificado abuso -, explicada pela doutrina como o

    emprego do poder administrativo, exercido, no em sua justa medida,

    mas ultrapassando os fins visados pela lei. Abuso de poder o uso

    imoderado do Poder (poder, com p minsculo). o equivalente ao

    francs puissance, ao portugus potestade e ao latim potestas; Poder

    (com P maisculo) o equivalente ao francs Pouvor, e ao portugus

    Poder, nas expresses, o Poder Legislativo, Exeutivo, Judicirio. Nesse

    caso, o agente, embora competente, abusa, ultrapassa essa

    competncia.

    7. O ABUSO DE PODER NA VISO DA DOUTRINA ADMINISTRATIVA CONTEMPORNEA

    A doutrina administrativa tem, na poca atual, manifestado

    entendimento de que o abuso de poder pode ser definido, em sentido

    amplo, como vcio do ato administrativo que ocorre quando o agente

    34

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    pblico exorbita de suas atribuies (excesso de poder), ou pratica ao to

    com finalidade diversa da que decorre implcita ou explicitamente da lei

    (desvio de poder, conforme assinala Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em

    Direito Administrativo, 14a. edio, Atlas, p. 228.

    O abuso de poder, conseqentemente, pode ficar configurado

    de duas formas: a) quando h excesso de poder: b) quando h desvio de

    poder.

    Em qualquer das espcies que ele se apresente, o abuso de

    poder configura crime de abuso de autoridade, de acordo com a tipificao

    previstga na Lei n. 4.898, de 9.12.65, alterada pela Lei n. 6.657, de

    5.61979, conforme lembra Maria Sylvia Zanella Di Pietro, obra citada, p.

    228.

    Hely Lopes Meirelles, em sua obra Direito Administrativo

    Brasileiro, Malheiros, 28a. edio, pp. 106 e 107, entende que ocorre o

    Abuso do Poder quando a autoridade, embora competente para praticar

    o ato, ultrapassa os limites de suas atribuies ou se desvia das finalidade

    administrativas.

    Explica, a seguir:

    O abuso do poder, como todo ilcito, reveste as formas mais

    diversas. Ora se apresenta ostensivo como a truculncia, s vezes

    dissimulado como o estelionato, e no raro encoberto na aparncia

    ilusria dos atos legais. Em qualquer desses aspectos flagrante ou

    disfarado o abuso do poder sempre uma ilegalidade invalidadora do

    ato que o contm.

    A conceituao de abuso do poder, na atualidade, com

    pequenas variaes, est concentrada nas linhas determinadas pelos

    autores acima referidos.

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    8. O ABUSO DE PODER NA JURISPRUDNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

    RE 307446 AgR / MG - MINAS GERAIS

    AG.REG.NORECURSO EXTRAORDINRIO

    Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO

    Julgamento: 06/03/2002 rgo Julgador: Tribunal Pleno

    Publicao: DJ DATA-05-04-2002 PP-00062 EMENT VOL-

    02063-08 PP-01481

    EMENTA: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. MANDATO ELETIVO:

    AO DE IMPUGNAO. ABUSO DE PODER POLTICO. USO INDEVIDO

    DOS MEIOS DE COMUNICAO SOCIAL. VICE-GOVERNADOR DO ESTADO

    CANDIDATO A SENADOR. I. - Apreciao da questo, pelo Tribunal

    Superior Eleitoral, mediante o exame da prova, porque em recurso

    ordinrio, que a este negou provimento, confirmando deciso proferida

    pelo TRE/MG. II. - No cabe, em sede de recurso extraordinrio,

    reexaminar os fatos e as provas considerados nas decises dos Tribunais

    Eleitorais. No caso, a apreciao do recurso no prescindiria desse

    reexame. III. - R.E. a que se negou trnsito. Agravo improvido.

    RE 285569 / SP - SO PAULO

    RECURSO EXTRAORDINRIO

    Relator(a): Min. MOREIRA ALVES

    Julgamento: 18/12/2000 rgo Julgador: Primeira Turma

    Publicao: DJ DATA-16-03-2001 PP-00102 EMENT VOL-

    02023-07 PP-01435

    EMENTA: - Recurso extraordinrio. Competncia para

    processar e julgar habeas corpus impetrado contra ato de membro do

    Ministrio Pblico Federal. - Ambas as Turmas desta Corte (assim, nos

    RREE 141.209 e 187.725) tm entendido que, em se tratando de "habeas

    corpus" contra ato de Promotor da Justia Estadual, a competncia para

    36

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  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    julg-lo do Tribunal de Justia por ser este competente para seu

    julgamento quando acusado de crime comum ou de responsabilidade. O

    fundamento dessa jurisprudncia - como salientado pelo eminente

    Ministro Nry da Silveira no RE 187.725 - "foi sempre o de que da deciso

    do habeas corpus pode resultar afirmao de prtica de ilegalidade ou de

    abuso de poder pela autoridade" e isso porque "ao se conceder o habeas

    corpus, se se reconhecer, expressamente, que a autoridade praticou

    ilegalidade, abuso de poder, em linha de princpio, poder configurar-se

    algum crime comum. Dessa maneira, a mesma autoridade que julgar o

    habeas corpus ser a competente para o processo e julgamento do crime

    comum, eventualmente, praticado pela autoridade impetrada". - No caso,

    em se tratando, como se trata, de habeas corpus contra membro do

    Ministrio Pblico Federal que atua junto a Juzo de primeiro grau, e tendo

    em vista que, em virtude do disposto no artigo 108, I, "a", da

    Constituio, compete aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar

    originariamente esses membros, a esses Tribunais compete, tambm, por

    aplicao do mesmo fundamento, julgar os habeas corpus impetrados

    contra essas autoridades. Recurso extraordinrio conhecido e provido

    MS 23795 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL

    AG.REG.NO MANDADO DE SEGURANA

    Relator(a): Min. CELSO DE MELLO

    Julgamento: 09/11/2000 rgo Julgador: Tribunal Pleno

    Publicao: DJ DATA-02-03-2001 PP-00003 EMENT VOL-

    02021-01 PP-00078

    E M E N T A: MANDADO DE SEGURANA - IMPETRAO

    DEDUZIDA QUANDO J ESGOTADO O PRAZO DECADENCIAL DE 120 DIAS

    (LEI N 1.533/51, ART. 18) - AO DE MANDADO DE SEGURANA NO

    CONHECIDA. MANDADO DE SEGURANA - PRAZO DECADENCIAL -

    CONSUMAO - EXTINO DO DIREITO DE IMPETRAR O WRIT -

    CONSTITUCIONALIDADE. - Com o decurso in albis do prazo decadencial

    37

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    de 120 dias, a que se refere o art. 18 da Lei n 1.533/51 - cuja

    constitucionalidade foi reafirmada pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ

    142/161 - RTJ 145/186 - RTJ 156/506) -, extingue-se, de pleno direito, a

    prerrogativa de impetrar mandado de segurana. MANDADO DE

    SEGURANA E TERMO INICIAL DO PRAZO DE SUA IMPETRAO. - O

    termo inicial do prazo decadencial de 120 dias comea a fluir, para efeito

    de impetrao do mandado de segurana, a partir da data em que o ato

    do Poder Pblico, formalmente divulgado no Dirio Oficial, revela-se apto

    a gerar efeitos lesivos na esfera jurdica do interessado. Precedentes. A

    CONSUMAO DO PRAZO DECADENCIAL - QUE S ATINGE O DIREITO DE

    IMPETRAR O WRIT - NO GERA A PERDA DO DIREITO MATERIAL

    AFETADO PELO ATO ABUSIVO DO PODER PBLICO. - O ato estatal eivado

    de ilegalidade ou de abuso de poder no se convalida e nem adquire

    consistncia jurdica, pelo simples decurso, in albis, do prazo decadencial

    a que se refere o art. 18 da Lei n 1.533/51. Desse modo, a extino do

    direito de impetrar mandado de segurana, resultante da consumao do

    prazo decadencial, embora impea a utilizao processual desse

    instrumento constitucional, no importa em correspondente perda do

    direito material, ameaado ou violado, de que seja titular a parte

    interessada, que sempre poder - respeitados os demais prazos

    estipulados em lei - questionar, em juzo, a validade jurdica dos atos

    emanados do Poder Pblico que lhe sejam lesivos. Precedente: RTJ

    145/186-194.

    RE 259335 AgR / RJ - RIO DE JANEIRO

    AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINRIO

    Relator(a): Min. MAURCIO CORRA

    Julgamento: 08/08/2000 rgo Julgador: Segunda Turma

    Publicao: DJ DATA-07-12-2000 PP-00022 EMENT VOL-

    02015-07 PP-0142

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    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO

    EXTRAORDINRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ILEGALIDADE

    DO ATO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE REINTEGRAO DO SERVIDOR NO

    QUADRO DA POLCIA MILITAR. OFENSA AO PRINCPIO DA SEPARAO

    DOS PODERES. INEXISTNCIA. 1. Ato administrativo vinculado.

    Indeferimento do pedido de reintegrao do servidor na Corporao.

    Ilegalidade por no terem sido observados os direitos e garantias

    individuais assegurados pela Constituio Federal. 2. Reexame da deciso

    administrativa pelo Poder Judicirio. Ofensa ao princpio da separao de

    poderes. Inexistncia. A Carta Federal conferiu ao Poder Judicirio a

    funo precpua de controlar os excessos cometidos em qualquer das

    esferas governamentais, quando estes incidirem em abuso de poder ou

    desvios inconstitucionais. Precedente. Agravo regimental no provido.

    MS 23452 / RJ - RIO DE JANEIRO

    MANDADO DE SEGURANA

    Relator(a): Min. CELSO DE MELLO

    Julgamento: 16/09/1999 rgo Julgador: Tribunal Pleno

    Publicao: DJ DATA-12-05-2000 PP-00020 EMENT VOL-

    01990-01 PP-00086

    E M E N T A: COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO -

    PODERES DE INVESTIGAO (CF, ART. 58, 3) - LIMITAES

    CONSTITUCIONAIS - LEGITIMIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL -

    POSSIBILIDADE DE A CPI ORDENAR, POR AUTORIDADE PRPRIA, A

    QUEBRA DOS SIGILOS BANCRIO, FISCAL E TELEFNICO -

    NECESSIDADE DE FUNDAMENTAO DO ATO DELIBERATIVO -

    DELIBERAO DA CPI QUE, SEM FUNDAMENTAO, ORDENOU MEDIDAS

    DE RESTRIO A DIREITOS - MANDADO DE SEGURANA DEFERIDO.

    COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO - COMPETNCIA ORIGINRIA

    DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. - Compete ao Supremo Tribunal

    Federal processar e julgar, em sede originria, mandados de segurana e

    39

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    habeas corpus impetrados contra Comisses Parlamentares de Inqurito

    constitudas no mbito do Congresso Nacional ou no de qualquer de suas

    Casas. que a Comisso Parlamentar de Inqurito, enquanto projeo

    orgnica do Poder Legislativo da Unio, nada mais seno a longa manus

    do prprio Congresso Nacional ou das Casas que o compem, sujeitando-

    se, em conseqncia, em tema de mandado de segurana ou de habeas

    corpus, ao controle jurisdicional originrio do Supremo Tribunal Federal

    (CF, art. 102, I, "d" e "i"). Precedentes. O CONTROLE JURISDICIONAL DE

    ABUSOS PRATICADOS POR COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO

    NO OFENDE O PRINCPIO DA SEPARAO DE PODERES. - A essncia do

    postulado da diviso funcional do poder, alm de derivar da necessidade

    de conter os excessos dos rgos que compem o aparelho de Estado,

    representa o princpio conservador das liberdades do cidado e constitui o

    meio mais adequado para tornar efetivos e reais os direitos e garantias

    proclamados pela Constituio. Esse princpio, que tem assento no art. 2

    da Carta Poltica, no pode constituir e nem qualificar-se como um

    inaceitvel manto protetor de comportamentos abusivos e arbitrrios, por

    parte de qualquer agente do Poder Pblico ou de qualquer instituio

    estatal. - O Poder Judicirio, quando intervm para assegurar as franquias

    constitucionais e para garantir a integridade e a supremacia da

    Constituio, desempenha, de maneira plenamente legtima, as

    atribuies que lhe conferiu a prpria Carta da Repblica. O regular

    exerccio da funo jurisdicional, por isso mesmo, desde que pautado pelo

    respeito Constituio, no transgride o princpio da separao de

    poderes. Desse modo, no se revela lcito afirmar, na hiptese de desvios

    jurdico-constitucionais nas quais incida uma Comisso Parlamentar de

    Inqurito, que o exerccio da atividade de controle jurisdicional possa

    traduzir situao de ilegtima interferncia na esfera de outro Poder da

    Repblica. O CONTROLE DO PODER CONSTITUI UMA EXIGNCIA DE

    ORDEM POLTICO-JURDICA ESSENCIAL AO REGIME DEMOCRTICO. - O

    sistema constitucional brasileiro, ao consagrar o princpio da limitao de

    poderes, teve por objetivo instituir modelo destinado a impedir a 40

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    formao de instncias hegemnicas de poder no mbito do Estado, em

    ordem a neutralizar, no plano poltico-jurdico, a possibilidade de

    dominao institucional de qualquer dos Poderes da Repblica sobre os

    demais rgos da soberania nacional. Com a finalidade de obstar que o

    exerccio abusivo das prerrogativas estatais possa conduzir a prticas que

    transgridam o regime das liberdades pblicas e que sufoquem, pela

    opresso do poder, os direitos e garantias individuais, atribuiu-se, ao

    Poder Judicirio, a funo eminente de controlar os excessos cometidos

    por qualquer das esferas governamentais, inclusive aqueles praticados por

    Comisso Parlamentar de Inqurito, quando incidir em abuso de poder ou

    em desvios inconstitucionais, no desempenho de sua competncia

    investigatria. OS PODERES DAS COMISSES PARLAMENTARES DE

    INQURITO, EMBORA AMPLOS, NO SO ILIMITADOS E NEM

    ABSOLUTOS. - Nenhum dos Poderes da Repblica est acima da

    Constituio. No regime poltico que consagra o Estado democrtico de

    direito, os atos emanados de qualquer Comisso Parlamentar de

    Inqurito, quando praticados com desrespeito Lei Fundamental,

    submetem-se ao controle jurisdicional (CF, art. 5, XXXV). As Comisses

    Parlamentares de Inqurito no tm mais poderes do que aqueles que

    lhes so outorgados pela Constituio e pelas leis da Repblica.

    essencial reconhecer que os poderes das Comisses Parlamentares de

    Inqurito - precisamente porque no so absolutos - sofrem as restries

    impostas pela Constituio da Repblica e encontram limite nos direitos

    fundamentais do cidado, que s podem ser afetados nas hipteses e na

    forma que a Carta Poltica estabelecer. Doutrina. Precedentes.

    LIMITAES AOS PODERES INVESTIGATRIOS DA COMISSO

    PARLAMENTAR DE INQURITO. - A Constituio da Repblica, ao outorgar

    s Comisses Parlamentares de Inqurito "poderes de investigao

    prprios das autoridades judiciais" (art. 58, 3), claramente delimitou a

    natureza de suas atribuies institucionais, restringindo-as, unicamente,

    ao campo da indagao probatria, com absoluta excluso de quaisquer

    outras prerrogativas que se incluem, ordinariamente, na esfera de 41

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    competncia dos magistrados e Tribunais, inclusive aquelas que decorrem

    do poder geral de cautela conferido aos juzes, como o poder de decretar

    a indisponibilidade dos bens pertencentes a pessoas sujeitas

    investigao parlamentar. A circunstncia de os poderes investigatrios de

    uma CPI serem essencialmente limitados levou a jurisprudncia

    constitucional do Supremo Tribunal Federal a advertir que as Comisses

    Parlamentares de Inqurito no podem formular acusaes e nem punir

    delitos (RDA 199/205, Rel. Min. PAULO BROSSARD), nem desrespeitar o

    privilgio contra a auto-incriminao que assiste a qualquer indiciado ou

    testemunha (RDA 196/197, Rel. Min. CELSO DE MELLO - HC 79.244-DF,

    Rel. Min. SEPLVEDA PERTENCE), nem decretar a priso de qualquer

    pessoa, exceto nas hipteses de flagrncia (RDA 196/195, Rel. Min.

    CELSO DE MELLO - RDA 199/205, Rel. Min. PAULO BROSSARD). OS

    DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NO TM CARTER ABSOLUTO.

    No h, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se

    revistam de carter absoluto, mesmo porque razes de relevante

    interesse pblico ou exigncias derivadas do princpio de convivncia das

    liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoo, por parte

    dos rgos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais

    ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela prpria

    Constituio. O estatuto constitucional das liberdades pblicas, ao delinear

    o regime jurdico a que estas esto sujeitas - e considerado o substrato

    tico que as informa - permite que sobre elas incidam limitaes de ordem

    jurdica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse

    social e, de outro, a assegurar a coexistncia harmoniosa das liberdades,

    pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da

    ordem pblica ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. A

    QUEBRA DO SIGILO CONSTITUI PODER INERENTE COMPETNCIA

    INVESTIGATRIA DAS COMISSES PARLAMENTARES DE INQURITO. - O

    sigilo bancrio, o sigilo fiscal e o sigilo telefnico (sigilo este que incide

    sobre os dados/registros telefnicos e que no se identifica com a

    inviolabilidade das comunicaes telefnicas) - ainda que representem 42

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    projees especficas do direito intimidade, fundado no art. 5, X, da

    Carta Poltica - no se revelam oponveis, em nosso sistema jurdico, s

    Comisses Parlamentares de Inqurito, eis que o ato que lhes decreta a

    quebra traduz natural derivao dos poderes de investigao que foram

    conferidos, pela prpria Constituio da Repblica, aos rgos de

    investigao parlamentar. As Comisses Parlamentares de Inqurito, no

    entanto, para decretarem, legitimamente, por autoridade prpria, a

    quebra do sigilo bancrio, do sigilo fiscal e/ou do sigilo telefnico,

    relativamente a pessoas por elas investigadas, devem demonstrar, a

    partir de meros indcios, a existncia concreta de causa provvel que

    legitime a medida excepcional (ruptura da esfera de intimidade de quem

    se acha sob investigao), justificando a necessidade de sua efetivao no

    procedimento de ampla investigao dos fatos determinados que deram

    causa instaurao do inqurito parlamentar, sem prejuzo de ulterior

    controle jurisdicional dos atos em referncia (CF, art. 5, XXXV). - As

    deliberaes de qualquer Comisso Parlamentar de Inqurito,

    semelhana do que tambm ocorre com as decises judiciais (RTJ

    140/514), quando destitudas de motivao, mostram-se rritas e

    despojadas de eficcia jurdica, pois nenhuma medida restritiva de direitos

    pode ser adotada pelo Poder Pblico, sem que o ato que a decreta seja

    adequadamente fundamentado pela autoridade estatal. - O carter

    privilegiado das relaes Advogado-cliente: a questo do sigilo profissional

    do Advogado, enquanto depositrio de informaes confidenciais

    resultantes de suas relaes com o cliente. MOTIVAO PER RELATIONEM

    CONSTANTE DA DELIBERAO EMANADA DA COMISSO PARLAMENTAR

    DE INQURITO. Tratando-se de motivao per relationem, impe-se

    Comisso Parlamentar de Inqurito - quando esta faz remisso a

    elementos de fundamentao existentes aliunde ou constantes de outra

    pea - demonstrar a efetiva existncia do documento consubstanciador da

    exposio das razes de fato e de direito que justificariam o ato decisrio

    praticado, em ordem a propiciar, no apenas o conhecimento do que se

    contm no relato expositivo, mas, sobretudo, para viabilizar o controle 43

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    jurisdicional da deciso adotada pela CPI. que tais fundamentos -

    considerada a remisso a eles feita - passam a incorporar-se ao prprio

    ato decisrio ou deliberativo que a eles se reportou. No se revela vivel

    indicar, a posteriori, j no mbito do processo de mandado de segurana,

    as razes que deveriam ter sido expostas por ocasio da deliberao

    tomada pela Comisso Parlamentar de Inqurito, pois a existncia

    contempornea da motivao - e no a sua justificao tardia - constitui

    pressuposto de legitimao da prpria resoluo adotada pelo rgo de

    investigao legislativa, especialmente quando esse ato deliberativo

    implicar ruptura da clusula de reserva pertinente a dados sigilosos. A

    QUESTO DA DIVULGAO DOS DADOS RESERVADOS E O DEVER DE

    PRESERVAO DOS REGISTROS SIGILOSOS. - A Comisso Parlamentar

    de Inqurito, embora disponha, ex propria auctoritate, de competncia

    para ter acesso a dados reservados, no pode, agindo arbitrariamente,

    conferir indevida publicidade a registros sobre os quais incide a clusula

    de reserva derivada do sigilo bancrio, do sigilo fiscal e do sigilo

    telefnico. Com a transmisso das informaes pertinentes aos dados

    reservados, transmite-se Comisso Parlamentar de Inqurito - enquanto

    depositria desses elementos informativos -, a nota de confidencialidade

    relativa aos registros sigilosos. Constitui conduta altamente censurvel -

    com todas as conseqncias jurdicas (inclusive aquelas de ordem penal)

    que dela possam resultar - a transgresso, por qualquer membro de uma

    Comisso Parlamentar de Inqurito, do dever jurdico de respeitar e de

    preservar o sigilo concernente aos dados a ela transmitidos. Havendo

    justa causa - e achando-se configurada a necessidade de revelar os dados

    sigilosos, seja no relatrio final dos trabalhos da Comisso Parlamentar de

    Inqurito (como razo justificadora da adoo de medidas a serem

    implementadas pelo Poder Pblico), seja para efeito das comunicaes

    destinadas ao Ministrio Pblico ou a outros rgos do Poder Pblico, para

    os fins a que se refere o art. 58, 3, da Constituio, seja, ainda, por

    razes imperiosas ditadas pelo interesse social - a divulgao do segredo,

    precisamente porque legitimada pelos fins que a motivaram, no 44

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    configurar situao de ilicitude, muito embora traduza providncia

    revestida de absoluto grau de excepcionalidade. POSTULADO

    CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE JURISDIO: UM TEMA AINDA

    PENDENTE DE DEFINIO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. O

    postulado da reserva constitucional de jurisdio importa em submeter,

    esfera nica de deciso dos magistrados, a prtica de determinados atos

    cuja realizao, por efeito de explcita determinao constante do prprio

    texto da Carta Poltica, somente pode emanar do juiz, e no de terceiros,

    inclusive daqueles a quem se haja eventualmente atribudo o exerccio de

    "poderes de investigao prprios das autoridades judiciais". A clusula

    constitucional da reserva de jurisdio - que incide sobre determinadas

    matrias, como a busca domiciliar (CF, art. 5, XI), a interceptao

    telefnica (CF, art. 5, XII) e a decretao da priso de qualquer pessoa,

    ressalvada a hiptese de flagrncia (CF, art. 5, LXI) - traduz a noo de

    que, nesses temas especficos, assiste ao Poder Judicirio, no apenas o

    direito de proferir a ltima palavra, mas, sobretudo, a prerrogativa de

    dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo-se, desse modo, por fora

    e autoridade do que dispe a prpria Constituio, a possibilidade do

    exerccio de iguais atribuies, por parte de quaisquer outros rgos ou

    autoridades do Estado. Doutrina. - O princpio constitucional da reserva de

    jurisdio, embora reconhecido por cinco (5) Juzes do Supremo Tribunal

    Federal - Min. CELSO DE MELLO (Relator), Min. MARCO AURLIO, Min.

    SEPLVEDA PERTENCE, Min. NRI DA SILVEIRA e Min. CARLOS VELLOSO

    (Presidente) - no foi objeto de considerao por parte dos demais

    eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal, que entenderam

    suficiente, para efeito de concesso do writ mandamental, a falta de

    motivao do ato impugnado.

    RE 192123 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL

    AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINRIO

    Relator(a): Min. MAURCIO CORRA

    Julgamento: 13/05/1996 rgo Julgador: SEGUNDA TURMA 45

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Publicao: DJ DATA-01-07-1996 PP-23885 EMENT VOL-

    01834-07 PP-01427

    EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO

    EXTRAORDINRIO. OFICIAL DE CHANCELARIA. EXERCCIO DE POSTO NO

    EXTERIOR. REMOO "EX-OFFICIO". DIREITO SUBJETIVO DE

    PERMANNCIA. INEXISTNCIA. 1 - No h direito de permanncia no

    exterior, porque o exerccio de posto no gera esse direito subjetivo,

    mormente quando expirado o prazo mximo fixado na legislao atinente

    espcie, inexistindo abuso de poder da autoridade competente ao

    determinar a remoo "ex-officio". Agravo regimental improvido.

    ADI 1407 MC / DF - DISTRITO FEDERAL

    MEDIDA CAUTELAR NA AO DIRETA DE

    INCONSTITUCIONALIDADE

    Relator(a): Min. CELSO DE MELLO

    Julgamento: 07/03/1996 rgo Julgador: Tribunal Pleno

    Publicao: DJ DATA-24-11-2000 PP-00086 EMENT VOL-

    02013-10 PP-01974

    E M E N T A: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -

    ELEIES MUNICIPAIS DE 1996 - COLIGAES PARTIDRIAS APENAS

    PARA ELEIES PROPORCIONAIS - VEDAO ESTABELECIDA PELA LEI N.

    9.100/95 (ART. 6) - ALEGAO DE OFENSA AO PRINCPIO DA

    AUTONOMIA PARTIDRIA (CF, ART. 17, 1) E DE VIOLAO AOS

    POSTULADOS DO PLURIPARTIDARISMO E DO REGIME DEMOCRTICO -

    AUSNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURDICA - MEDIDA CAUTELAR

    INDEFERIDA. PARTIDO POLTICO - AO DIRETA - LEGITIMIDADE ATIVA

    - INEXIGIBILIDADE DO VNCULO DE PERTINNCIA TEMTICA. - Os

    Partidos Polticos, desde que possuam representao no Congresso

    Nacional, podem, em sede de controle abstrato, argir, perante o

    Supremo Tribunal Federal, a inconstitucionalidade de atos normativos

    46

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    federais, estaduais ou distritais, independentemente de seu contedo

    material, eis que no incide sobre as agremiaes partidrias a restrio

    jurisprudencial derivada do vnculo de pertinncia temtica. Precedente:

    ADIn n. 1.096/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO. AUTONOMIA PARTIDRIA -

    RESERVA CONSTITUCIONAL DE DISCIPLINAO ESTATUTRIA (CF, ART.

    17, 1). - O postulado constitucional da autonomia partidria criou, em

    favor dos Partidos Polticos - sempre que se tratar da definio de sua

    estrutura, de sua organizao ou de seu interno funcionamento - uma

    rea de reserva estatutria absolutamente indevassvel pela ao

    normativa do Poder Pblico. H, portanto, um domnio

    constitucionalmente delimitado, que pr-exclui - por efeito de expressa

    clusula constitucional (CF, art. 17, 1) - qualquer possibilidade de

    interveno legislativa em tudo o que disser respeito intimidade

    estrutural, organizacional e operacional dos Partidos Polticos. Precedente:

    ADI n. 1.063-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO. PROCESSO ELEITORAL E

    PRINCPIO DA RESERVA CONSTITUCIONAL DE COMPETNCIA

    LEGISLATIVA DO CONGRESSO NACIONAL (CF,art. 22, I). - O princpio da

    autonomia partidria - considerada a estrita delimitao temtica de sua

    abrangncia conceitual - no se qualifica como elemento de restrio ao

    poder normativo do Congresso Nacional, a quem assiste, mediante lei, a

    competncia indisponvel para disciplinar o processo eleitoral e, tambm,

    para prescrever regras gerais que os atores do processo eleitoral, para

    efeito de disputa do poder poltico, devero observar, em suas relaes

    externas, na celebrao das coligaes partidrias. SUBMISSO

    NORMATIVA DOS PARTIDOS POLTICOS S DIRETRIZES LEGAIS DO

    PROCESSO ELEITORAL. Os Partidos Polticos esto sujeitos, no que se

    refere regncia normativa de todas as fases do processo eleitoral, ao

    ordenamento jurdico positivado pelo Poder Pblico em sede legislativa.

    Temas associados disciplinao das coligaes partidrias subsumem-se

    noo de processo eleitoral, submetendo-se, em conseqncia, ao

    princpio da reserva constitucional de competncia legislativa do

    Congresso Nacional. AUTONOMIA PARTIDRIA E PROCESSO ELEITORAL. - 47

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    O princpio da autonomia partidria no oponvel ao Estado, que dispe

    de poder constitucional para, em sede legislativa, estabelecer a regulao

    normativa concernente ao processo eleitoral. O postulado da autonomia

    partidria no pode ser invocado para excluir os Partidos Polticos - como

    se estes fossem entidades infensas e imunes ao legislativa do Estado -

    da situao de necessria observncia das regras legais que disciplinam o

    processo eleitoral em todas as suas fases. VEDAO DE COLIGAES

    PARTIDRIAS APENAS NAS ELEIES PROPORCIONAIS - PROIBIO

    LEGAL QUE NO SE REVELA ARBITRRIA OU IRRAZOVEL - RESPEITO

    CLUSULA DO SUBSTANTIVE DUE PROCESS OF LAW. - O Estado no pode

    legislar abusivamente. A atividade legislativa est necessariamente sujeita

    rgida observncia de diretriz fundamental, que, encontrando suporte

    terico no princpio da proporcionalidade, veda os excessos normativos e

    as prescries irrazoveis do Poder Pblico. O princpio da

    proporcionalidade - que extrai a sua justificao dogmtica de diversas

    clusulas constitucionais, notadamente daquela que veicula a garantia do

    substantive due process of law - acha-se vocacionado a inibir e a

    neutralizar os abusos do Poder Pblico no exerccio de suas funes,

    qualificando-se como parmetro de aferio da prpria constitucionalidade

    material dos atos estatais. A norma estatal, que no veicula qualquer

    contedo de irrazoabilidade, presta obsquio ao postulado da

    proporcionalidade, ajustando-se clusula que consagra, em sua

    dimenso material, o princpio do substantive due process of law (CF, art.

    5, LIV). Essa clusula tutelar, ao inibir os efeitos prejudiciais decorrentes

    do abuso de poder legislativo, enfatiza a noo de que a prerrogativa de

    legislar outorgada ao Estado constitui atribuio jurdica essencialmente

    limitada, ainda que o momento de abstrata instaurao normativa possa

    repousar em juzo meramente poltico ou discricionrio do legislador

    RE 131661 / ES - ESPRITO SANTO

    RECURSO EXTRAORDINRIO

    Relator(a): Min. MARCO AURLIO 48

    31/05/2005

  • Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro

    Julgamento: 26/09/1995 rgo Julgador: SEGUNDA TURMA

    Publicao: DJ DATA-17-11-1995 PP-39209 EMENT VOL-

    01809-06 PP-01393

    RECURSO EXTRAORDINRIO - PRESSUPOSTO ESPECIFICO DE

    RECORRIBILIDADE. A parte sequiosa de ver o recurso extraordinrio

    admitido e conhecido deve atentar no s para a observancia aos

    pressupostos gerais de recorribilidade como tambm para um dos

    especificos do permissivo constitucional. Longe fica de vulnerar o artigo

    6., paragrafo nico, da Constituio de 1969 acrdo em que afastado ato

    administrativo praticado com abuso de poder, no que revelou remoo de

    funcionrio sem a indicao dos motivos que estariam a respalda-la. Na

    dico sempre oportuna de Celso Antonio Bandeira de Mello, mesmo nos

    atos discricionarios n