abuso poder economico bancos banco de dados

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1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE RICARDO GASPERETTI BERNARDES INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E O ABUSO DO PODER ECONÔMICO EM RELAÇÃO À CRIAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE BANCOS DE DADOS São Paulo 2008 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only.

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Abuso Poder Economico Bancos Banco de Dados

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  • 1

    UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

    RICARDO GASPERETTI BERNARDES

    INSTITUIES FINANCEIRAS E O ABUSO DO PODER ECONMICO EM RELAO CRIAO E UTILIZAO DE BANCOS DE DADOS

    So Paulo 2008

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  • 2

    RICARDO GASPERETTI BERNARDES

    INSTITUIES FINANCEIRAS E O ABUSO DO PODER ECONMICO EM RELAO CRIAO E UTILIZAO DE BANCOS DE DADOS

    Dissertao apresentada Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Direito Poltico e Econmico.

    Orientador: Professor Doutor Fabiano Dolenc Del Masso

    So Paulo 2008

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  • 3

    RICARDO GASPERETTI BERNARDES

    INSTITUIES FINANCEIRAS E O ABUSO DO PODER ECONMICO EM RELAO CRIAO E UTILIZAO DE BANCOS DE DADOS

    Dissertao apresentada Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Direito Poltico e Econmico.

    Aprovado em

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dr. Fabiano Dolenc Del Masso - Orientador: Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Prof. Dr. Armando Luiz Rovai Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Prof. Dr. Rubens Beak Universidade de So Paulo

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  • 4

    Dona Laura, persistente, inconformada e zelosa, Ao meu filho Pedro, pessoinha que me faz andar, minha esposa Claudia, fonte inesgotvel de amor e incentivo.

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    AGRADECIMENTOS

    Aos Mestres Otaclio Ferraz Felisardo, Osvaldo Caron e Francisco Neves Coelho.

    Ao meu Orientador Fabiano Dolenc Del Masso.

    Aos amigos e parentes que mesmo de longe me incentivaram.

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    toda a capacidade dos nossos estadistas se esvai na intriga, na astcia, na cabala, na vingana, na inveja, na condescendncia com o abuso, na salvao das aparncias, no desleixo do futuro. Rui Barbosa.

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  • 7

    RESUMO

    Aborda o surgimento dos Cadastros de Consumidores, face a necessidade do

    Comrcio de proteger-se da inadimplncia. Apresenta a evoluo da estrutura

    destes Cadastros, de acordo com os significativos avanos tecnolgicos das ltimas

    dcadas. Analisa a utilizao dos Cadastros de Consumidores pelas Instituies

    Financeiras e os abusos do poder econmico cometidos por essas, em detrimento

    dos Consumidores. Verifica as prticas abusivas cometidas pelas Instituies

    Financeiras e os meios de defesa do Consumidor. Conclui definindo qual deve ser o

    papel dos Cadastros de Consumidores em benefcio do Comrcio e dos

    Consumidores, sem que haja leso a direito de qualquer parte.

    Palavras-chave: Cadastros de Consumidores. SERASA. SPC. Instituies

    Financeiras. Abuso do Poder Econmico. Cdigo de Defesa do Consumidor.

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  • 8

    RIASSUNTO

    Si avvicina alla germogliatura del Catasto de Consumatori, di fronte alla necessit

    del commercio per proteggersi dell'insolvibilit. Presenta lo sviluppo della struttura di

    questo Cadastros, in conformit con i progressi tecnologici significativi di ultime

    decenni. Analizza l'uso del catasto dei consumatori per istituzioni finanziarie e l'abuso

    di potere economico, commessi da coloro a scapito dei consumatori. Note gli abusi

    commessi da istituzioni finanziarie e dei mezzi di tutela dei consumatori. Conclude la

    definizione di quello che dovrebbe essere il ruolo del catasto dei consumatori a

    vantaggio dei consumatori e del commercio, senza alcun pregiudizio al diritto di una

    delle parti.

    Parole chiave: Catasto di consumatori. SERASA. SPC. Istituzioni finanziarie. Abuso

    di potere economico. Codice di tutela dei consumatori.

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  • 9

    SUMRIO

    1. INTRODUO ......................................................................................................10 2. CADASTRO E BANCO DE DADOS .....................................................................13 3. SPC .......................................................................................................................17 4. SERASA ...............................................................................................................20 5. REGULAMENTAO E FISCALIZAO............................................................27 6. DIREITOS DA PERSONALIDADE .......................................................................38 7. ABUSO DO PODER ECONMICO ......................................................................52

    7.1. PRTICAS ABUSIVAS ...................................................................................56 7.1.1 Inexistncia de dbito .............................................................................58 7.1.2 Manuteno do registro durante pendncia de ao judicial .............62 7.1.3 Permanncia de registro de dbito aps regularizao ou quitao .63 5.1.4 Permanncia de registro de dbito por perodo superior a cinco anos...........................................................................................................................65 7.1.5 Ausncia de notificao .........................................................................68 7.1.6 Inexatido dos dados cadastrados........................................................71

    7.2. MEIOS DE DEFESA DO CONSUMIDOR.......................................................72 7.2.1 Habeas data .............................................................................................74 7.2.2 Ao indenizatria ..................................................................................79

    8. CONCLUSO .......................................................................................................84 REFERNCIAS.........................................................................................................86

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  • 10

    1. INTRODUO

    Historicamente os Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados foram

    criados e evoluram atendendo a crescente demanda do comrcio e a necessidade

    da concesso do crdito, buscando minimizar a inadimplncia por parte do

    Consumidor incauto.

    Desde o comrcio mais remoto realizado atravs do escambo, passando pela

    expanso do comrcio europeu, at chegarmos aos dias atuais, onde a moeda mais

    utilizada a virtual, as prticas comerciais evoluram muito e os comerciantes

    tiveram que criar meios capazes de evitar a inadimplncia por parte de seus

    Consumidores.

    No escambo, prtica na qual se trocava um alimento ou utenslio por outro de

    valor equivalente, deparou-se com a problemtica da disparidade entre os valores

    dos produtos, o que culminou com a criao de moeda1.

    Os comerciantes, ao expandirem suas atividades alm das fronteiras de suas

    regies, recebiam moedas diferentes que eram trocadas pelos cambistas. O volume

    de moedas e o risco de serem abordados por piratas levou os comerciantes a

    procurarem locais seguros para guardarem suas riquezas.

    Essa nova necessidade dos comerciantes ensejou que os cambistas, tambm

    conhecidos por banqueiros, em razo de desempenharem suas atividades nas ruas,

    sentados em bancos, criassem os bancos, estabelecimento onde alm da troca,

    eram oferecidos os servios de guarda de valores e oferta de crdito mediante

    pagamento de juros.

    A concesso de crdito s pessoas desconhecidas culminou com a criao dos

    Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados, com o intuito de prevenir e

    proteger os cedentes de crdito em relao aos possveis cedidos.

    1 Em regra, a moeda cumpre a sua finalidade quando pode ser trocada por qualquer bem ou servio.

    Dessa forma, a relao econmico-financeira depende necessariamente da presena da moeda na

    negociao, salvo se for feita por escambo. - DEL MASSO, Fabiano Dolenc. Direito econmico. So Paulo: Campus Jurdico, 2007. p. 65.

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  • 11

    A primeira instituio que formou um Cadastro de Consumidores foi a

    "Associao de Vigilncia dos Comerciantes", criada em 1827, nos Estados Unidos,

    fundada por atacadistas e tendo como primeiro diretor o senhor Sheldon Church,

    que percorrera o territrio americano por conta prpria, levantara informaes e as

    cadastrara para uso dos atacadistas.2

    No Brasil, as precursoras do sistema de vendas a crdito foram a Casa

    Massom, em 1953, e as Lojas Renner. Essas lojas dispunham de funcionrios

    denominados "informantes", que tinham a funo de levantar o maior nmero de

    dados possveis sobre os pretendentes a crdito. Desta forma, estas lojas obtiveram

    cadastro de elevado nmero de pessoas.

    O primeiro banco de dados de consumidores criado no Brasil foi o SPC -

    Servio de Proteo ao Crdito - em 1955, na cidade de Porto Alegre, constitudo

    por empresas comerciais.

    A Serasa - Centralizao de Servios dos Bancos S.A. foi fundada em 1968,

    por Bancos.

    SCI - Segurana ao Crdito e Informaes foi fundada em 1974, e foi

    adquirida pela americana Equifax em agosto de 1998.

    Cadin (Cadastro de Inadimplentes), criado pelo decreto 1006, de 9/12/1993,

    como cadastro Informativo dos crditos de rgos e entidades federais no quitados.

    Desde a fundao do SPC, em 1955, meios produtivos, comrcio e sociedade

    evoluram em larga escala. O comrcio era constitudo de pequenos centros, as

    pessoas se conheciam, e a reputao financeira dos cidados locais era de

    conhecimento comum.

    2 EFING, Antonio Carlos. Bancos de dados e cadastro de consumidores. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 24.

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  • 12

    Atualmente, a sociedade vivencia um mundo globalizado, onde, as relaes so

    impessoais, o comrcio atende, uma demanda de centenas e at milhares de

    consumidores, que adquirem produtos e servios por vezes sem conhecer ao certo

    seus fornecedores.

    Neste contexto, onde as relaes fornecedor-consumidor so massificadas, as

    relaes de consumo passam a se dar de forma complexa, caracterizadas pela

    velocidade dos meios de comunicao e do processamento de dados.

    Os Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados, acompanharam a evoluo

    tecnolgica, informatizando a coleta, armazenamento e divulgao dos dados

    arquivados.

    A evoluo da informtica3, tem apresentado mudanas surpreendentes em

    toda sociedade. Responsvel pela agilidade nas relaes de consumo, capaz de

    integrar sistemas de informao ao redor do mundo; a informtica possibilita ao

    usurio dos Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados realizar uma consulta

    da situao creditcia do Consumidor em poucos segundos, diminuindo os riscos de

    inadimplncia e agilizando a concesso do crdito.

    A facilidade de acesso e fornecimento das informaes, ao mesmo tempo que

    traz maior tranqilidade ao comerciante, exige controle cada vez mais rgido.

    Se as informaes cadastradas contiverem erros, sejam sobre dados do

    consumidor ou sobre dbitos inexistentes que estejam atrelados a seu nome, os

    prejuzos podem ser de grande monta, tendo em vista a repercusso dessas

    informaes atravs dos Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados.

    3 Este desenvolvimento cientfico (representado comumente pelos computadores, pois a cincia da

    informtica parte intrnseca de todo desenvolvimento cientfico, em qualquer rea) traz benefcios

    incontestveis formao e evoluo humana, tanto na fase de criao das novas teorias a serem

    aplicadas quanto na fase de aplicao das novas teorias criadas, e tem ocorrido de forma muito

    rpida, surpreendendo inclusive a prpria sociedade de consumo que tem dificuldades de adaptao

    nova forma de vida trazida "pelos computadores" Op. cit. p.37 e 38.

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  • 13

    2. CADASTRO E BANCO DE DADOS

    Segundo Michaelis4:

    Cadastro o registro que bancos e estabelecimentos mantm de

    seus clientes e provveis clientes da praa onde operam, com todos os

    dados e esclarecimentos sobre seus haveres ou quantias que oferecem

    para transaes bancrias e comerciais ou a abertura de crdito.

    E :

    Banco de dados a coleo organizada de dados ou fatos,

    armazenados num meio fsico, para tratamento posterior5.

    Atravs das definies encontradas em Michaelis, podemos perceber algumas

    diferenas entre Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados, como por

    exemplo:

    O Cadastro formado com informaes cedidas pelo prprio cliente ao

    fornecedor, ao passo, que o Banco de Dados, traz em seus arquivos, informaes

    obtidas junto a terceiros;

    As informaes constantes dos bancos de dados so permanentes, so

    armazenadas para uso posterior, enquanto no cadastro, se no forem

    constantemente utilizadas, so destrudas.

    Neste diapaso, e com dados constantes ao longo da obra de Efing Banco de

    dados e cadastro de consumidores, elaboramos a tabela a seguir, com o intuito de

    podermos diferenciar os Cadastros de Consumidores dos Bancos de Dados,

    vejamos:

    4 MICHAELLIS. Moderno dicionrio da lngua portuguesa. So Paulo: Melhoramentos, 2007. 5 Op. Cit.

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  • 14

    CADASTRO

    BANCO DE DADOS

    Quanto forma de coleta de dados

    Especificidade

    Aleatoriedade

    Quanto organizao dos dados

    Imediata

    Mediata

    Quanto continuidade da coleta e da

    divulgao

    Destruio do cadastro

    do consumidor inativo

    Conservao

    permanente

    Quanto existncia de requerimento

    para cadastramento

    H o consentimento do

    consumidor

    No h o consentimento

    do consumidor

    Quanto extenso dos dados

    Possibilidade de

    lanamento de juzo de

    valor

    Impossibilidade de

    lanamento de juzo de

    valor

    Quanto funo das informaes

    Analtica

    Econmica e informativa

    Quanto ao alcance da divulgao das

    informaes

    Divulgao interna

    Divulgao terceiros

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    1 - Quanto forma de coleta dos dados armazenados:

    Cadastro - So lanados dados somente daqueles consumidores que tenham

    relao comercial com o fornecedor, e em funo desta.

    Banco de dados - As informaes so obtidas de forma a propiciar aos

    interessados nos sistemas de divulgao, o maior nmero possvel de pessoas

    cadastradas, bem como de informaes a respeito destas.

    2 Quanto organizao dos dados armazenados:

    Cadastro - A informao prontamente utilizada pelo arquivista.

    Bancos de dados - A informao prestada poder vir a ser utilizada no futuro.

    3 - Continuidade da coleta e da divulgao:

    Cadastro A informao armazenada diz respeito, a consumidor especificado e

    relaes comerciais particularizadas fornecedor-consumidor. No h interesse por

    parte do fornecedor em manter cadastro daquele consumidor que no mais

    transaciona com ele, portanto, uma vez que o consumidor no mantenha um certo

    nmero de transaes com a empresa, o cadastro destrudo.

    Bancos de Dados Os Bancos de Dados de consumidores so aleatrios na

    coleta das informaes e mediatos na organizao de seus arquivos, da decorrendo

    a necessidade de conservao permanente - o mximo de tempo possvel - dos

    informes colecionados, satisfazendo sua caracterstica de latncia.

    4 Quanto existncia de requerimento para o cadastramento

    Cadastro As informaes so obtidas diretamente daquele consumidor,

    observados os critrios anteriormente descritos, as fornece para obteno de

    produto ou servio.

    Bancos de Dados Os Bancos de Dados fazem o agrupamento das

    informaes sem consentimento do Consumidor e muitas vezes sem seu

    conhecimento.

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  • 16

    5 Quanto extenso dos dados postos disposio

    Cadastro possvel o lanamento de juzos de valor, como informao interna

    e para orientao exclusivamente dos negcios do fornecedor-arquivista, em virtude

    da destinao destes dados.

    Banco de dados defeso o juzo de valor em seus arquivos, estando

    autorizados somente a lanar dados objetivos e no-valorativos, quanto s relaes

    comerciais do consumidor ou quanto sua pessoa, estes somente quando sejam

    indispensveis s relaes de consumo.

    6 - Quanto funo das informaes obtidas:

    Cadastro - Utilizao subsidiria das informaes, para fins de controle interno

    acerca das possibilidades de concretizao de relaes comerciais, que so seu

    interesse precpuo e atividade definitiva para obteno de seus recursos.

    Banco de dados - Os arquivos so sua prpria fonte de renda e atividade

    comercial. As informaes tm funo exclusivamente econmica para os Bancos

    de Dados de consumidores.

    7 - Quanto ao alcance da divulgao das informaes:

    Cadastro - Os dados lanados nos arquivos tm divulgao interna inerente aos

    interesses do fornecedor, que no se utiliza de seus arquivos com o condo de

    difundir a terceiros os dados neles constantes.

    Bancos de Dados - O arquivista dispe seus arquivos a todos aqueles

    interessados nos dados neles constantes, independentemente do motivo da

    consulta.

    Estabelecidas as distines, examinaremos os principais Cadastros de

    Consumo do Pas: o Servio de Proteo ao Crdito SPC, e a SERASA

    Centralizao de Servios Bancrios.

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  • 17

    3. SPC

    Em meio conturbada sucesso presidencial que ocorria no Brasil6, num

    cenrio onde os Militares ensaiavam o golpe, que os colocaria no poder por longas

    duas dcadas, foi fundado o Servio de Proteo ao Crdito SPC.

    Criado em 21 de junho de 1955, em Porto Alegre-RS, por um grupo de 27

    empresrios gachos, sendo lavrada a ata de sua criao no dia 22 de junho de

    1955. No mesmo ano foi criado o SPC de So Paulo.

    O objetivo de seus criadores foi de facilitar e dar maior segurana s operaes

    mercantis.

    Na ocasio da fundao do SPC, as informaes sobre crdito pessoal eram

    armazenadas em fichas de papel, com anotaes manuais, muito diferente dos dias

    atuais, onde as informaes so digitalizadas e os SPCs de todo o pas so

    interligados, levando poucos segundos para que seja finalizada uma consulta e

    aprovado o crdito, o que antes da criao do SPC poderia levar em mdia dois

    dias.

    Subordinados s Cmaras de Dirigentes Lojistas CDLs, os Servios de

    Proteo ao Crdito somente podero operar aps o seu registro no Departamento

    de Atendimento aos Servios de Proteo ao Crdito DASPC, rgo da

    Confederao Nacional de Dirigentes Lojistas CNDL.

    Segundo o regulamento que rege os SPCs, somente um SPC pode ser

    registrado por municpio, sendo vedado o estabelecimento de filial ou similar em

    localidades onde j exista um SPC. Cada SPC regido por um regimento interno

    prprio, contendo as normas e critrios para a sua administrao e funcionamento,

    sempre respeitando as regras estabelecidas no Regulamento dos Servios de

    Proteo ao Crdito.

    6 Em novembro de 1955 o Brasil foi sacudido por grave comoo poltica a qual, latente desde os

    ltimos dias do governo Vargas, culminou nos golpes de estado desfechados em 11 e 21/22 deste ms BEAK, R. Sucesso presidencial de 1955: aspectos polticos e jurdicos. So Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. p 1.

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  • 18

    Os Estados que possuam cinco ou mais SPC's registrados no DASPC, possuem

    uma Assessoria Tcnica Estadual-ATE, com a assistncia tcnica do DASPC, cuja

    sede ser na capital do estado.

    A clientela do SPC composta por empresas mercantis, prestadoras de

    servios, instituies financeiras, profissionais liberais e empresas de cobrana e de

    informaes.

    A finalidade do SPC informar seus associados, sobre a existncia de dbitos

    pendentes do comprador que pretenda obter novo financiamento. As informaes

    so enviadas pelos associados ao banco de dados do SPC, on line ou por meio de

    ficha padronizada, digitada no prprio SPC, onde constam os dados do devedor e do

    dbito.

    Consta no Regulamento do SPC que a veracidade das informaes contidas no

    cadastro dos SPCs, segundo clusula contratual, encargo do associado. Somente

    quando o cliente negativado questiona o dbito que originou o registro, seja

    judicialmente ou diretamente no rgo, que os SPCs preocupam-se com as

    veracidades das informaes7. E assim foi decidido pelo Judicirio Brasileiro por

    anos a fio. As aes contra o SPC ou a SERASA, eram julgadas extintas sem

    apreciao do mrito, pois estas empresas de informao eram consideradas

    apenas cadastros, meros repositrios, cujas responsabilidades pelo armazenamento

    e divulgao de informaes pertenciam exclusivamente CDL e s Instituies

    Financeiras, respectivamente.

    Porm, atualmente os julgados tm apontado no sentido de que a

    responsabilidade das empresas de informao objetiva.

    As informaes arquivadas, dizem respeito a dvidas em atraso e ttulos

    protestados de consumidores h mais de quinze dias, fornecidas pelos prprios

    lojistas e grandes magazines associados. Outra hiptese, talvez a mais corriqueira,

    7 O SPC procede verificao da veracidade das informaes apenas quando o cliente negativado

    questiona o dbito que originou o registro, seja judicialmente ou diretamente no rgo. OLIVEIRA,

    Celso Marcelo de. Cadastro de restrio de crdito. Campinas: LZN, 2002. p. 72.

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  • 19

    o arquivamento referente a emisso de cheques sem fundos, que so registrados

    imediatamente, desde que tenham sido reapresentados ao banco sacado e a

    respectiva conta vier a ser encerrada.

    O prazo mximo de permanncia dos registros de dbitos, segundo o artigo 43,

    1 do CDC e o Regulamento do SPC, de cinco anos, contados a partir da data de

    seu vencimento. Segundo seu Regulamento, o SPC tem um prazo mximo de

    noventa dias, a contar da data do vencimento do dbito em atraso para arquivar os

    registros de dbito.

    Por ocasio de ao judicial, aps regular citao, as informaes constantes

    dos cadastros devero ser imediatamente retiradas, em razo do dbito no ser

    certo nem exigvel. Tambm devero ser retiradas de imediato as informaes

    arquivadas por ocasio de regularizao ou liquidao do dbito.

    Dessa forma, apresentamos brevemente as atribuies e responsabilidades dos

    SPCs, segundo seu Regulamento e o CDC. Embora estes e outros prestadores de

    servio do ramo de informao prestem importantes servios ao comrcio, alm de

    refrearem os impulsos dos Consumidores que estimulados por uma sociedade

    capitalista com extremo apelo ao consumismo8, nem sempre utilizam-se da

    necessria cautela ao lanarem-se s compras, os abusos praticados contra o

    consumidor so de grande repercusso.

    Esses abusos sero abordados e estudados oportunamente no

    desenvolvimento desta dissertao.

    8 Inegavelmente a propaganda utilizada como veculo capitalizador de interesses, atraiu as pessoas

    e deu maior efetividade ao comrcio.

    O crdito, atrelado ao mesmo objetivo, ampliou significativamente o poder de compra dessas

    pessoas, incorporando ao mercado aquelas que no dispunham do dinheiro suficiente para realiz-

    la. - COVIZZI, Carlos Adroaldo Ramos. Prticas abusivas da SERASA e do SPC. So Paulo: Edipro, 2003. p. 14.

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  • 20

    4. SERASA

    A SERASA nasceu em 26 de junho de 1968, sob a denominao de Servios e

    Assessoria S/A, da a sigla SERASA, atualmente denominada Centralizao de

    Servios de Bancos.

    Foi fundada por bancos, para que pudessem avaliar de forma mais segura os

    pedidos de cesso de crdito. No incio de suas atividades a SERASA centralizava

    os servios de confeco de ficha cadastral, compartilhada por todos os bancos

    associados.9

    Em meados da dcada de 90, a SERASA, que prestava servios somente aos

    Bancos, passou a fornecer informaes e anlise para todos os segmentos da

    economia e para empresas de todos os portes.

    Constituda como sociedade annima de capital fechado10, originalmente seus

    acionistas eram os principais bancos comerciais do pas. Atualmente, o controle

    societrio da SERASA encontra-se nas mos da Experian Group Limited, com sede

    em Dublin (Irlanda), que adquiriu 65% do capital, em junho de 2007.

    Os arquivos da SERASA so abastecidos com informaes fornecidas por

    diversas fontes, vejamos:

    1) CCF - Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos do Banco Central;

    2) Cartrios de protestos;

    3) Tribunal de Justia;

    4) Instituies Financeiras;

    9 Fonte: www.serasa.com.br 10 A Sociedade Annima ou companhia pode ser definida como o tipo societrio destinado aos

    grandes empreendimentos empresariais, que envolvem altos investimentos financeiros e que tm por

    objetivo o desenvolvimento da estrutura econmica - que desencadeiam fatores de produo,

    circulao, repartio e consumo - e o lucro de seus acionistas. ROVAI, Armando Luiz. Direito de empresa. So Paulo: Campus Jurdico, 2007. p. 49.

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  • 21

    5) Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

    A explicar:

    1) O Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos, mantido pelo Banco

    Central e dele constaro os dados do emitente que tiver o mesmo cheque devolvido

    por duas vezes pelo Banco do qual o emitente correntista. O Banco Central

    repassa as informaes SERASA;

    2) O Cartrio de Protestos, recebe o ttulo do cedente do crdito, os no pagos

    so protestados e as informaes so enviadas SERASA;

    3) O Tribunal de Justia repassa as informaes de distribuio de aes

    SERASA;

    4) As dvidas vencidas junto s Instituies Financeiras so transmitidas

    imediatamente SERASA, que notificar o devedor por via postal;

    5) Procuradoria Geral da Fazenda Nacional envia SERASA, os nomes dos

    contribuintes devedores de tributos federais.

    A quantidade e a qualidade das informaes obtidas pela SERASA junto a todos

    esses rgos acima citados, tm potencialidade para devassar a vida de qualquer

    cidado se no forem utilizadas de forma correta.

    Por essa razo, aps diversas denncias de irregularidades, no ano de 2003,

    mediante o Requerimento RCP n 10/2003, foi instalada a Comisso Parlamentar de

    Inqurito para investigar as atividades da SERASA sobre fatos determinados

    envolvendo sigilo de informaes, evaso fiscal e uso indevido de dados relativos a

    pessoas fsicas.

    1 Sigilo de informaes

    A FEBRABAN - Federao Brasileira das Associaes de Bancos, assinou

    convnio com a SRF - Secretaria da Receita Federal, para que esta fornecesse

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  • 22

    dados de pessoas fsicas e jurdicas SERASA em trs oportunidades: 26/10/1995;

    16/07/1998 e 10/10/2002.

    O objeto desses convnios o fornecimento dos seguintes dados:

    a) da pessoa fsica: nmero de inscrio no CPF, nome completo, endereo

    completo, nome da me, data de nascimento e indicador de domiclio no exterior;

    b) da pessoa jurdica: situao cadastral, nmero de inscrio no CGC/MF,

    nome empresarial, nome de fantasia, endereo completo, natureza jurdica, atividade

    econmica e indicador de domiclio no exterior.

    A FEBRABAN se comprometeu a utilizar os dados fornecidos somente nas

    atividades de sua competncia, disponibilizando-os rede bancria por intermdio

    da SERASA.

    A oferta desses dados para outra empresas, que no as instituies financeiras,

    seria motivo para a extino do convnio. No o que ocorre, a SERASA

    comercializa as informaes, repassando-as para diversos segmentos econmicos,

    com destaque para as empresas comerciais.

    Parte da doutrina defende a tese de que as informaes armazenadas pela

    Secretaria da Receita Federal so protegidas pelo sigilo fiscal11, e mesmo que no

    fossem, em razo da finalidade lucrativa da SERASA, os dados deveriam ser

    repassados a ttulo oneroso e mediante a realizao de licitao.

    A justificativa por parte da Secretaria da Receita Federal de que se tratam de

    dados "no protegidos por sigilo fiscal", eis que so informaes do domnio pblico,

    desprovidas de contedo relativo situao econmica dos cidados.

    2 Evaso fiscal

    Quanto sonegao de Imposto de Renda, a Secretaria da Receita Federal

    entende que os servios que a SERASA presta no se enquadram na lista constante

    11 Ofcio SRF/GAB/n 2273/2000

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  • 23

    no 10 do art. 663, do Decreto n 1.041, de 11 de janeiro de 1994, e que, portanto,

    ela no se sujeita reteno do imposto de renda na fonte pelas pessoas jurdicas

    pagadoras, portanto, no ocorre sonegao.

    No recolhimento do Imposto Sobre Servios ISS, porm, as investigaes da

    Comisso Parlamentar de Inqurito, acusaram irregularidades nas cidades de

    Goinia, Manaus, Cascavel e Blumenau.

    3 - Uso indevido de dados relativos a pessoas fsicas

    Os dados armazenados pela SERASA, como j dito, so repassados para

    diversos segmentos econmicos, fazendo com que a capacidade do cidado seja

    suplantada por uma suposta dvida, como nos casos a seguir:

    a) obstculo obteno de cargos pblicos e privados

    As informaes contidas nos cadastros da SERASA, podem impedir o candidato

    ao cargo pblico, ainda que bem preparado para o concurso, caso o processo

    seletivo preveja uma fase dedicada investigao da vida pregressa do candidato;

    No que se refere s empresas privadas, realmente h completa liberdade para

    que esse procedimento esteja em curso, uma vez que os empregadores tm total

    liberdade para a seleo de seus quadros.

    Essa situao dramtica, na medida em que redunda numa equao injusta

    para o cidado que muitas vezes tornou-se inadimplente pela perda do emprego e

    fica praticamente proibido de voltar ao mercado de trabalho e regularizar suas

    pendncias.

    b) Restries para acesso a programas de incluso social

    Alguns programas de emprstimos do Governo Federal, principalmente com

    recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT, proibirem a cesso de crdito

    queles que estejam impedidos de operar pelo Banco Central e inscritos no Cadin,

    SERASA e CCF.

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  • 24

    Ao final do relatrio a Comisso Parlamentar de Inqurito concluiu que os

    pontos levantados como prejudiciais, decorrentes da atividade dos Bancos de

    Dados, so resultado da ausncia de uma ao eficaz do Poder Pblico nos ltimos

    anos, quanto regulao e fiscalizao de tais entidades.

    Foram identificadas pela Comisso Parlamentar de Inqurito trs alternativas

    para a fiscalizao dos bancos de dados:

    1 - Fiscalizao pelo Banco Central;

    2 - Criao de uma agncia reguladora destinada para tal finalidade; ou

    3 - Fiscalizao pelo Ministrio da Justia, por meio da Secretaria de Direito

    Econmico do Ministrio da Justia.

    Quanto regulamentao, a Comisso Parlamentar de Inqurito classificou-a

    como fraca e recomenda a apresentao de um Projeto de Lei que discipline a

    atividade dos Bancos de Dados, para encaminhamento votao do Plenrio, sob

    os seguintes aspectos:

    a) forma de comunicao ao cadastrado e prazo para manifestao;

    b) fiscalizao dos bancos de dados;

    c) documentos comprobatrios da veracidade dos registros;

    d) direito informao frente ao direito constitucional privacidade,

    contemplando as informaes positivas;

    e) responsabilidade dos bancos de dados e das fontes de informaes.

    A Comisso Parlamentar de Inqurito concluiu que a Lei a ser criada deve

    considerar os seguintes aspectos:

    a) descrio da atividade dos bancos de dados, compreendendo a coleta, o

    armazenamento, o tratamento e a circulao de dados e informaes, distinguindo-

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  • 25

    se aqueles destinados proteo de crdito daqueles destinados avaliao de

    risco de contratos;

    b) possibilidade de amplo acesso para o prprio cadastrado aos dados a seu

    respeito;

    c) distino entre fontes oficiais e fontes privadas;

    d) atribuio de responsabilidades aos fornecedores, sem isentar os gestores

    dos bancos de dados de quaisquer responsabilidades que Ihes possam ser

    atribudas.

    e) comprovao documental da existncia da dvida. O documento original

    dever permanecer em poder da fonte, a qual dever apresent-Io sempre que

    solicitado;

    f) comunicao da anotao de informao negativa, realizada pela fonte ou

    pelos bancos de dados mediante carta com postagem comprovada, ou por correio

    eletrnico, assinado por certificado digital, nos termos da ICP-Brasil, no endereo

    fornecido pelo prprio cadastrando fonte, por ocasio da celebrao do negcio

    jurdico;

    g) atualizao do endereo para comunicao, fornecido por ocasio da

    celebrao do contrato, sob pena de presumir-se realizada no endereo

    anteriormente informado;

    h) comunicao complementar ao cadastrado e ao banco de dados, pela fonte,

    na hiptese de cesso do crdito anotado;

    i) comunicao complementar ao cadastrado e fonte, pelo banco de dados

    adquirente, na hiptese de alienao de base de dados contendo informaes

    negativas;

    j) impugnao do cadastrando na forma prevista na Lei do "Habeas Data" (Lei

    9.507/97), inclusive com a estruturao de procedimento para a solicitao da

    correo de dados distncia;

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  • 26

    k) manuteno em cada capital, pelos bancos de dados, de instalaes para o

    atendimento gratuito ao pblico em geral;

    I) excees ao dever de comunicao, contemplando as hipteses de dados

    provenientes de fontes pblicas e informaes positivas (hbitos de pagamento e

    compromissos financeiros assumidos);

    m) classificaes das informaes em pblicas e privadas, e destas em sigilosas

    e no sigilosas.

    n) anotao do fato da inadimplncia to logo ocorrida a inexecuo da

    obrigao (art. 397 do CC), sendo que a respectiva anotao no dever constar do

    banco de dados quando o interessado informar que a obrigao objeto de

    discusso judicial;

    o) definio da obrigatoriedade de anotao de informaes verdadeiras, tanto

    para constar o fato da inadimplncia existente e as respectivas ocorrncias

    complementares, quando houver, como para no constarem informaes

    inverdicas;

    p) excluso gratuita da anotao da inadimplncia, aps o recebimento pelos

    bancos de dados, da respectiva informao devidamente comprovada;

    q) explicao de que o prazo prescricional constante do pargrafo 5 do artigo

    43 do CDC o da ao ordinria de cobrana da dvida, devendo a anotao

    permanecer por cinco anos, contados da data do fato da inadimplncia12.

    Conclumos, que as Instituies Financeiras, representadas pela FEBRABAN,

    cometem constantes abusos atravs da SERASA. Ambas carecem de fiscalizao

    das suas atividades e a SERASA, necessita ainda, que sejam regulamentadas suas

    atividades.

    As Instituies Financeiras praticam abusos de acordo com suas convenincias

    e contam com a conivncia de rgos pblicos, como por exemplo, a Secretaria da

    Receita Federal.

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  • 27

    5. REGULAMENTAO E FISCALIZAO

    O tratamento de dados pessoais no Brasil, padece de regulamentao

    especfica e fiscalizao efetiva por parte do Estado.

    O consumidor conta somente com as protees estabelecidas pelo Cdigo de

    Defesa do Consumidor para defender-se contra os abusos praticados pelas

    Instituies Financeiras, a defesa ser obrigatoriamente exercida pela via judicial,

    pois no h nenhuma atitude administrativa eficaz contra tais prticas.

    As atividades exercidas pelos Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados,

    embora necessrios para o desenvolvimento da economia nacional, levando-se em

    conta o teor das informaes e a maneira com que so obtidas, possuem alto

    potencial lesivo, portanto, a regulamentao dessas atividades imprescindvel, por

    atentar contra a honra e a privacidade do consumidor.

    Tal regulamentao pressupe a implementao da regra, a fiscalizao quanto

    ao seu cumprimento e a aplicao de sanes em razo do seu desrespeito.

    A sano administrativa exige obedincia a uma regra de competncia previa-

    mente estabelecida, no s no que diz respeito forma e limites do seu exerccio,

    mas em especial, quanto substncia e estabilidade da capacidade punitiva da

    Administrao.

    O custo benefcio da ao judicial, para as instituies financeiras bastante

    atrativo, dando margens ao cometimento dos ilcitos praticados pelas mesmas.

    A morosidade da justia e a possibilidade de obter um provimento favorvel a

    seu pleito, faz com que a instituio financeira ganhe, de um lado aplicando os

    valores que deveriam ser pagos ao consumidor, seja a ttulo de restituio ou

    indenizao, obtendo rendimentos superiores correo dos valores devidos; de

    outro lado, diante da possibilidade de deixar de pagar a indenizao ou ter

    legitimado os valores que cobra do Consumidores, em caso de sentena favorvel

    ao seu pleito.

    12 Fonte: www.camara.gov.br

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  • 28

    Ao Poder Pblico cabe fiscalizar as instituies financeiras, os Cadastros de

    Consumidores e o banco de dados, evitando que essas empresas procedam ao

    autocontrole de suas atividades. necessrio que se garanta o bom uso dos dados

    armazenados, evitando-se que sejam utilizados de forma ilcita e garantindo, assim,

    que sejam utilizados apenas em operaes de crdito.

    Nunca houve auditorias feitas por empresas independentes, regulares, com

    resultados publicados, sobre os sistemas de informtica e intercmbio de dados

    desses Cadastros de Consumidores ou Bancos de Dados. Somente existe, o

    autocontrole, feito pelas prprias empresas, pelo qual se confia que os dados l

    inseridos no sero utilizados a no ser em operaes de crdito.

    Devemos destacar, que temos notcia da utilizao de informaes negativas

    para admisso de emprego e mesmo para pesquisa de antecedentes em concursos

    pblicos. Somente auditorias peridicas e transparncia, poderiam garantir o uso

    adequado de tais informaes, servindo, inclusive, como fator de demonstrao real

    de responsabilidade social das empresas na gesto de banco de dados.mas, o que

    se constata na realidade a presso para que o consumidor busque um acordo

    qualquer com seu fornecedor, mesmo que a dvida seja injusta ou ilegal.

    Os Cadastros de Consumidores e os Bancos de Dados, privados ou pblicos,

    que armazenam informaes sobre os consumidores requerem um controle rgido,

    principalmente administrativo, esfera na qual os problemas poderiam ser evitados ou

    reprimidos, para que no culminem em ao judicial, sobrecarregando ainda mais o

    Judicirio.

    Nos pases europeus e nos Estados Unidos, h consenso quanto necessidade

    de controle de toda espcie, dos Cadastros de Consumidores e de Bancos de

    Dados.

    O controle nos Estados Unidos, consistente na edio de leis de carter setorial,

    com o objetivo de proteger as pessoas em reas especficas.

    Os pases europeus pretendem realizar uma proteo geral do direito

    privacidade, em relao a qualquer espcie de banco de dados.

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  • 29

    Nos Estados Unidos, a Privacy Act, ou Lei da Privacidade, foi implementada no

    ano de 1974, tendo sido uma criao doutrinria, obtendo posteriormente, status de

    lei.

    O intuito dessa lei, inibir a circulao de informao relativa privacidade do

    indivduo e permitir o acesso deste toda documentao arquivada a seu respeito,

    protegendo o indivduo da exposio pblica de fatos privados, evitando a

    apresentao de uma informao com perspectiva falsa e proibindo a utilizao do

    nome do indivduo com finalidade de lucro.

    Em caso de descumprimento, so previstas sanes de natureza civil, penal e

    administrativa.

    Na Inglaterra, a lei que protege os dados pessoais datada de 12/07/84, e

    segundo essa:

    a) a coleta dos dados deve estar inspirada na lealdade e de acordo com a lei;

    b) tenta-se que a captao dos dados se limite aos fins previamente declarados

    no registro;

    c) a utilizao dos dados deve ser adequada, em caso de cesso, observar aos

    fins declarados, com anterioridade;

    a) os dados pessoais conservados para uma ou mais finalidades devem ser

    adequados, pertinentes e no desproporcionados quanto finalidade;

    b) os dados pessoais devem ser exatos e atualizados;

    c) os dados pessoais no podem ser conservados durante um tempo maior do

    que aquele necessrio para sua finalidade;

    d) toda pessoa tem direito ao acesso, informao e retificao;

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  • 30

    e) devem ser adotadas, medidas de segurana adequadas para impedir o

    acesso no autorizado, a alterao, a revelao ou a destruio acidental dos

    dados.13

    Na Alemanha, a lei de 1990, que foi precedida por duas outras, de 1970 e 1977,

    contm uma srie de conceitos jurdicos indeterminados, porm, faz referncia ao

    bem jurdico protegido. Estatui como fim e objetivo legal, proteger dados pessoais

    contra os possveis abusos provenientes de armazenamento, cesso, modificao e

    cancelamento dos dados, bem como impedir qualquer leso aos interesses legtimos

    das pessoas.

    Na Frana, a proteo dos dados informatizados ocorre por meio da Lei 78-17,

    de 1978.

    O fundamento legal se encontra nas liberdades pblicas, especificamente na

    denominada vie prive, que compreende a reserva e inviolabilidade da pessoa, o

    espao privado no qual vive e desenvolve sua personalidade.

    Para a coleta, o registro e a conservao dos dados, a lei prev que as

    informaes registradas devero ser pertinentes finalidade do cadastro, no

    devero ser conservadas mais que o tempo necessrio para alcanar o fim para o

    qual teriam sido registradas, devendo haver proteo aos denominados dados

    sensveis.

    A Lei Francesa sobre informtica institui os Direitos informao, acesso e

    retificao. Na hiptese do cidado querer alterar algum dado que acredita estar

    incompleto ou incorreto, dever instituir um procedimento administrativo para a

    apurao da verdade.

    Na Itlia foi promulgada a Lei n 675, no ano de 1996, que pode ser considerada

    como um estatuto geral sobre informao.

    13 LIMBERGER, Tmis, Direito intimidade na era da informtica: a necessidade de proteo dos dados pessoais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p. 125.

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  • 31

    O estatuto italiano sugere seis princpios: limitao da transferncia de dados;

    relevncia dos dados, com correspondncia entre os dados obtidos e a finalidade

    perseguida; preciso dos dados; publicidade; controle externo do banco de dados;

    obrigao de sigilo profissional por parte daqueles que manipulam os dados, todos

    suscetveis de sano penal em caso de descumprimento.

    Na Espanha foi promulgada a Lei 15/99, sobre Proteo de Dados de Carter

    Pessoal. A nova lei conduz preservao das garantias da honra e da intimidade

    em relao ao tratamento dos dados pessoais. O que pode ser sustentvel uma

    ampliao dos direitos fundamentais e das liberdades pblicas protegveis, com

    especial enfoque honra e intimidade.

    Os dados armazenados podem afetar a intimidade da pessoa de distintas

    maneiras, desde a configurao de um perfil da pessoa, utilizao dos mesmos para

    outros fins, comercializao e outras hipteses; por isso, a lei exige o consentimento

    do interessado ao proceder coleta de dados, com a informao no tocante aos fins

    que se pretende dar.

    Outras naes europias seguiram essa tendncia e possuem leis especficas

    que regulam a matria como: a Sucia desde 11/5/73; a Dinamarca desde 18/6/78; a

    ustria desde 18/10/78; a Noruega desde 9/6/78; a Sua desde 16/3/81; a Islndia

    desde 25/5/81; Luxemburgo desde 30/3/79; e Portugal, desde 26/10/98.

    No momento, a Comunidade Europia esboa algumas tentativas de unificar o

    Direito, o que resultaria em uma lei genrica que regulamentasse o assunto.

    Na Amrica Latina as iniciativas neste sentido so muito morosas, a Argentina

    foi a primeira a elaborar uma lei que regula a proteo de dados, foi a Lei n 25.326,

    do ano de 2000, que foi regulamentada pelo Decreto n 1.558, do ano de 2001. Esta

    lei contm o objeto de proteo dos dados pessoais no mbito pblico e privado, as

    definies referentes a dados pessoais, dados sensveis, armazenamento e

    tratamento de dados informatizados, titular e usurio dos dados e dissociao dos

    dados. Versa a respeito de questes polmicas como consentimento do titular

    quanto ao repasse dos dados, direito de informao sobre o uso desses dados e

    distino entre dados sensveis e no-sensveis, bem como prev um rgo de

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  • 32

    controle dos dados: a Agncia de Proteo de Dados. As sanes administrativas

    esto definidas genericamente na lei e so pormenorizadas pelo Decreto.14

    O Uruguai regulamentou a matria, protegendo especificamente os dados para

    informes comerciais e estabelecendo o habeas data, atravs da Lei n 17.838, do

    ano de 2004.

    Nos demais pases, existem leis esparsas que protegem direitos especficos.

    No Brasil no h previso legal especfica. Existem previses do Direito na

    Constituio Federal, que prev a proteo intimidade e vida privada, no inciso X

    do artigo 5; a inviolabilidade das comunicaes, no inciso XII do artigo 5; a

    proteo ao consumidor, no inciso XXXII do artigo 5.

    Alm do Cdigo de Defesa do Consumidor, Lei 8078/90 e da Lei 9507/97, que

    dispe sobre o habeas data; porm, ainda esperada a regulamentao especfica

    sobre a questo em um curto prazo de tempo, a fim de no deixar o Brasil em

    descompasso com os demais pases, especialmente os integrantes do Mercosul e

    outros Estados da comunidade internacional que j contam com nvel de tutela

    jurdica adequado.

    Em razo de no possuir legislao especfica que regulamente os Cadastros

    de Consumidores e os Bancos de Dados, o Brasil deveria contar com uma

    fiscalizao mais intensa dos rgos competentes, porm, no o que ocorre.

    A competncia para aplicar sanes h de ser vinculada quele que detm

    capacidade administrativa quanto fiscalizao das atividades desenvolvidas pelas

    pessoas privadas.

    No Brasil a competncia para fiscalizar a atividade das instituies financeiras,

    evitando que esta seja exercitada de maneira indiscriminada ou ilegal, exclusiva do

    Banco Central.15

    14 Op. Cit. p. 126 15 A Lei 4.595/64, em seu artigo 10, prev:Compete privativamente ao Banco Central da Repblica

    do Brasil: VI - Exercer o controle do crdito sob todas as suas formas; IX Exercer a fiscalizao das

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  • 33

    O Banco Central, apesar da incumbncia legal de fiscalizar as Instituies

    Financeiras e a concesso de crdito, no tem cumprido com seu dever, pois,

    apesar da previso legal, o Banco Central afirma que a SERASA e o SPC, no se

    encontram na sua esfera de atuao.

    Em resposta ao questionamento do Ministrio Pblico do Estado de So Paulo,

    a respeito da ausncia de fiscalizao sobre a SERASA por parte da referida

    autarquia, foi ofertado em resposta o seguinte ofcio:

    "A propsito, pleiteamos consentimento para ressaltar que a

    Centralizao dos Servios dos Bancos - SERASA, bem como suas

    congneres, a saber: Servio de Proteo ao Crdito - SPC/Telecheque, e

    Servio de Segurana ao Crdito e Informaes - SCI, no estrito

    entendimento da Lei 4.595, de 31.12.1964, no se submetem esfera de

    atuao desta autarquia, motivo pelo qual no detemos espeque

    regulamentar seja para a realizao de inspees nas mesmas, ou at

    para tomar quaisquer providncias relacionadas ao seu campo de atividade

    especfica".16

    As atividades exercidas pelos Cadastros de Consumidores e Banco de Dados,

    principalmente pela SERASA encontram-se estreitamente ligadas atividade das

    Instituies Financeiras. Dessa forma, no possvel admitir-se que a terceirizao

    dos servios bancrios elida a competncia fiscalizatria do Banco Central.

    O fato do servio ser atribudo a entidade privada autnoma e independente,

    no altera sua natureza de atividade bancria acessria, caso contrrio, bastaria s

    instituies financeiras terceirizar parte de suas atividades, independente de sua

    natureza, para escusar-se da fiscalizao do Banco Central e das conseqentes

    penalizaes nos casos de abusos.

    instituies financeiras e aplicar as penalidades previstas. 16 Ofcio do Banco Central SECRE/GTSPA/CORD2-99/5077 de 27.1 1.1999.

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  • 34

    A Lei 4595/64 atribui ao Banco Central poder regulamentar e fiscalizatrio,

    garantidores do funcionamento do mercado financeiro e regulador das instituies

    concedentes de crdito. 17

    A fiscalizao das atividades desempenhadas, pelos Cadastros de

    Consumidores e Bancos de Dados, deve ser bastante rgida, levando-se em conta a

    importncia destes para a concesso de crdito.

    A ausncia de fiscalizao por parte do Banco Central deixa o consumidor

    merc de prticas abusivas, abrindo caminho para que as Instituies Financeiras

    utilizem os Cadastros de Consumidores como meio de presso. Evitando o controle

    preventivo dos potenciais danos causados a milhares de consumidores pela

    atividade dos Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados, no resta outra

    alternativa ao Consumidor, alm da busca de reparao dos danos sofridos pela via

    judicial.

    O Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, a exemplo da Justia em todo o

    Pas, encontra-se sobrecarregado, e deveria ser a ltima opo do Consumidor,

    porm, o que se constata o inverso, se no se socorrer do Judicirio, o

    Consumidor fica merc das Instituies Financeiras, dos Cadastros de

    Consumidores e Bancos de Dados.

    Atualmente, a Primeira Instncia do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo,

    tem aproximadamente 17 milhes de processos em andamento. Sendo, 1,7 milho

    somente nos Juizados Especiais.18

    Outro dado de relevncia referente natureza das causas: as Cveis totalizam

    cerca de 10 milhes, sendo as demais Criminais e Fazendrias.

    As aes de natureza indenizatria por danos morais, em razo dos abusos

    cometidos ao inscrever o Consumidor nos Cadastros de Consumidores e Banco de

    Dados, geralmente, em razo do valor pleiteado, so distribudas junto aos Juizados

    17 A Lei 4595/64, em seu artigo 17, dispe que o Banco Central fiscalizar:

    (...) as pessoas jurdicas pblicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessria a

    coleta, intermediao ou aplicao de recursos financeiros prprios ou de terceiros".

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  • 35

    Especiais Cveis. Estes ltimos, foram criados para agilizar o julgamento de aes

    de menor complexidade e de valores de causa reduzidos, porm, atualmente, o

    tempo de concluso de um processo nos referidos Juizados, equivale ao

    procedimento sumrio; portanto, se a regulamentao e a fiscalizao devidas pelo

    Banco Central fossem levadas a cabo, a exemplo de outros setores que emperram a

    mquina do Judicirio, os Tribunais de Justia em todo o Brasil seriam mais cleres

    e prestativos em relao s causas de maior complexidade que duram dcadas para

    serem resolvidas.

    Somente para exemplificar, no dia 14 de setembro de 2007, o Tribunal de

    Justia de So Paulo, promoveu um mutiro envolvendo aes relativas s perdas

    da caderneta de poupana durante a vigncia do Plano Bresser, foram mobilizados

    110 conciliadores e 35 servidores, e realizadas 411 audincias. A estimativa de

    que no Foro Central e nos Regionais do Estado, existam 50 mil aes desse mesmo

    tema. 19

    outro exemplo claro de que, deixou-se uma situao que poderia ser

    facilmente contornada na via administrativa, chegar de forma torrencial s portas do

    Judicirio.

    A esse respeito Joo Batista de Almeida20 escreveu:

    Mais importante que o acesso justia, no entanto, seria os prprios

    dirigentes polticos reconhecerem tais deficincias, cumprindo, por iniciativa

    prpria, aquilo que poderia ser pedido em juzo, e que, alis, a razo de

    ser do Estado: o bem-estar da populao. Em outras palavras: a dvida

    social deveria ser quitada em regime de prioridade absoluta, por iniciativa

    dos governantes e sem necessidade de interveno do Poder Judicirio.

    A esse mesmo respeito, reproduzimos parcialmente o discurso de posse do

    Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar Mendes:

    18 Fonte: www.tj.sp.gov.br 19 Fonte: www.tj.sp.gov.br 20 ALMEIDA, Joo Batista de. A proteo jurdica do consumidor. So Paulo: Saraiva, 2006. p.296.

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  • 36

    Se, por um lado, a multiplicao de processos em escala exponencial

    corrobora o forte protagonismo do sistema judicial, ou seja, a ampla

    aceitao, pelos brasileiros, do primado do Direito, da jurisdio como via

    institucional de resoluo de conflitos, por outro grave indcio de que h

    necessidade de se debelar a cultura "judicialista" que se estabeleceu

    fortemente no Pas, segundo a qual todas as questes precisam passar

    pelo crivo judicial para serem resolvidas, o que faz o Judicirio ser

    chamado a atuar na soluo de questes cotidianas, mais afetas s

    atribuies de competncia de setores administrativos.

    Somente dessa maneira o Judicirio deixar de ser o nico

    escoadouro - como se estivesse entre as prprias funes a de atuar como

    provedor social -, dos reclamos mais iminentes da cidadania, das

    demandas impulsionadas pelo direito de resistncia de comunidades

    carentes.

    Sob esse aspecto, hora de a sociedade civil, as organizaes no

    governamentais, as entidades representativas de classe e rgos como a

    Defensoria Pblica, por exemplo, mobilizarem-se para combater esse

    quase hbito nacional de exigir a intermediao judicial para fazer-se

    cumprir a lei.

    Na imensa maioria dos casos, a conciliao e a aplicao direta do

    Direito pelos diversos rgos e agentes se afiguram alternativas vantajosas

    para os envolvidos na contenda, dada a minimizao dos procedimentos,

    dos custos e do tempo despendido.

    Por mais eficiente que se tome, o Judicirio no pode tudo. No

    devemos cair na tentao da onipotncia e da onipresena em todas as

    questes de interesse da sociedade.

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  • 37

    esfera da poltica cabe a formulao de polticas pblicas,

    cumprindo ao Poder Judicirio, nessa seara, o papel de guardio da

    Constituio e dos direitos fundamentais.21

    imprescindvel a mobilizao dos Poderes Legislativo e Executivo no sentido

    de regulamentar e fiscalizar as atividades dos Cadastros de Consumidores e Banco

    de Dados, assim como, a utilizao irregular destes pelas Instituies Financeiras,

    para evitar que o Consumidor seja submetido leses morais e materiais; mesmo

    que ocorram leses, haja resoluo na esfera administrativa, evitando que qualquer

    causa por menor que seja, termine nos sobrecarregados e morosos Fruns

    brasileiros.

    21 Fonte: www.stf.gov.br

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  • 38

    6. DIREITOS DA PERSONALIDADE

    Os direitos da personalidade so direitos naturais, transcendem o ordenamento

    positivo, existem pelo prprio fato da condio humana.

    O objeto do direito da personalidade a proteo de elementos que constituem

    a individualidade fsica, intelectual e moral da pessoa.

    A personalidade diz respeito soma dos Direitos e Garantias Fundamentais,

    descritos no artigo 5, X da Constituio Federal:

    X so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem

    das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou

    moral decorrente de sua violao.

    Segundo Antonio Chaves22:

    Os Direitos Fundamentais da Personalidade, numa diviso emprica,

    podem ser abordados:

    1) com relao ao elemento corporal do indivduo: direitos vida, ao

    prprio corpo e s partes do mesmo (transplantes, operaes cirrgicas),

    direito ao cadver, etc.;

    2) com relao parte imaterial ou moral: respeito integridade

    psquica, segurana, honra, ao nome, imagem, intimidade.

    22 CHAVES, Antonio, Os direitos fundamentais da personalidade moral integridade psquica,

    segurana, honra, ao nome, imagem, intimidade. Revista de Informao Legislativa. Braslia, n. 58, p. 157, abr./jun., 1978.

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  • 39

    Aparecida Amarante ensina23:

    Especificamente tratando-se da honra, o objeto da ofensa a estima

    e respeito que a pessoa goza ou a conscincia desse valor diante da

    sociedade. Toda pessoa tem o direito de ver respeitada a sua honra, por

    menos representativa que seja de valores morais padro.

    Por sua vez, Carlos Alberto Bittar24:

    O direito honra goza de espectro bem mais amplo, o bem jurdico

    protegido a reputao, ou a considerao social a cada pessoa devida, a

    fim de permitir-se a paz na coletividade e a prpria preservao da

    dignidade humana.

    A necessidade de proteo aos direitos de personalidade do consumidor

    aumenta ao mesmo passo que a sociedade se moderniza, a informtica facilita a

    comunicao e divulgao de dados, surgem novos Cadastros de Consumidores e

    Bancos de Dados.

    Atualmente, a legislao ptria no zela efetivamente pela proteo dos direitos

    de personalidade dos cidados consistente na garantia de sua privacidade, de sua

    moral, de sua honra subjetiva, enfim, da inviolabilidade de sua esfera imaterial da

    personalidade, o que seria uma efetiva tutela de salvaguarda dos dados sensveis.

    A armazenagem de dados sobre o consumidor, por menos detalhada que seja,

    no deixa de ser uma invaso de sua privacidade. O perigo aumenta quando se

    sabe que, com freqncia, o anotado no apurado, est desatualizado ou no

    condiz com a realidade; portanto, os atos que atentarem contra o Consumidor,

    23 AMARANTE, Aparecida. Responsabilidade civil por dano honra. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 125. 24 BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2006. p. 133.

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  • 40

    causando-lhe constrangimento, caracterizaro, por certo, dano sua honra,

    atingindo sua personalidade. 25

    A jurisprudncia do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, coibe tais

    abusos:

    1) Responsabilidade civil Abalo de crdito decorrente de inscrio

    de nome por dvida inexistente (compra cancelada) Dever de indenizar da

    vendedora, da financeira e da portadora do ttulo que solicitou a inscrio,

    que no agiram com diligncia exigida para preservao dos direitos da

    personalidade do consumidor A existncia de outras inscries no serve

    para afastar os danos morais, apenas para dimensiona-los Valor de

    danos morais arbitrados excessivamente No caso razovel o

    arbitramento em R$ 4.000,00 Provimento, em parte. 26

    2) Cobrana Parcelamento de dvida Restrio na SERASA

    Renegociao da dvida com permanncia dos registros negativos at a

    quitao da ltima parcela do dbito. Inadmissibilidade. Meio coercitivo

    para recebimento do crdito. Abuso de direito caracterizado. Reparao

    moral devida pelo prprio fato da manuteno abusiva do apontamento, a

    ensejar angstia e impotncia que afetam direitos de personalidade.

    Desnecessidade de comprovao do prejuzo. Recurso provido.27

    3) Dano moral Inscrio do nome de pessoa que, no possuindo

    linha telefnica, descobriu que estava inscrito no rgo de proteo ao

    crdito por no pagamento da conta Legalidade, inclusive do

    arbitramento em quantia correspondente a 50 salrios mnimos, por estar

    configurada leso a direito da personalidade de pessoa inocente

    25 "O injusto ou indevido apontamento no cadastro de maus pagadores do nome de qualquer pessoa

    que tenha natural sensibilidade aos rumores resultantes de um abalo de crdito, produz, nessa

    pessoa, uma reao psquica de profunda amargura e vergonha, que lhe acarreta sofrimento e lhe

    afeta a dignidade. RITJESP 170/35. 26 TJ/SP Apelao n 460.561.4/0-00 So Jos dos Campos 10/04/2008 Relator nio Santarelli

    Zuliane v.u.. 27 Juizado Especial PUC Recurso n30485 voto 1384 Relatora Cristina Cotrofe 01/04/2008-

    v.u.

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  • 41

    Comprovao Alegao de cerceamento de defesa no configurada

    Recurso no provido.28

    4) Prestao de servios, Escola. Falta de pagamento das

    mensalidades. Ajuizamento de ao de execuo contra o pai da aluna.

    Restrio do nome do devedor nos rgos de proteo ao crdito.

    Utilizao, porm, do CPF da aluna. Pedido de indenizao por danos

    morais formulado pela aluna. Ao julgada procedente. Fixao da

    indenizao no equivalente a cem (100) salrios mnimos. Uso indevido de

    CPF que causa prejuzo a direito da personalidade. Desnecessidade de

    comprovao de prejuzo efetivo. Caracterizao, porm, de excesso na

    estimativa dos danos morais. Aluna que se beneficiou dos servios,

    embora no tenha assumido diretamente a responsabilidade contratual.

    Circunstncia que deve ser considerada na mensurao do prejuzo.

    Reduo para o equivalente a R$ 2.000,00 (dois mil reais). Provimento

    parcial do recurso da r e improvimento daquele da autora. 29

    O princpio constitucional que se inter-relaciona com os direitos da

    personalidade e por conseqncia, com a intimidade, a vida privada, a honra e a

    imagem do Consumidor, o princpio da dignidade da pessoa humana.

    Nas relaes de consumo em que o fornecedor de produto ou servio causar

    leso aos direitos da personalidade do consumidor, o princpio da dignidade da

    pessoa humana sempre ser violado.

    O princpio da dignidade da pessoa humana, est previsto na Constituio

    Federal como Princpio Fundamental:

    Artigo 1 - A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio

    indissolvel das Estados e Municpios e do Distrito Federal, Constitui-se em

    Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: III a dignidade

    da pessoa humana;

    O Princpio da dignidade da pessoa humana nas relaes de consumo,

    utilizado como clusula geral de direito e limite ao exerccio dos direitos

    28 TJSP Apelao n 1.347.923-5 Barretos - Relator Simes de Vergueiro 13/02/2008 v.u.

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  • 42

    fundamentais, impondo o dever geral de respeito aos direitos da personalidade do

    Consumidor.30

    A dignidade da pessoa humana tem respaldo na Declarao Universal dos

    Direitos Humanos:

    Artigo 12 - Ningum ser objeto de interferncias arbitrrias em sua

    vida, privada, famlia, domiclio ou correspondncia, nem a ataques a honra

    e reputao. Toda pessoa tem direito proteo da lei contra tais

    interferncias ou ataques."

    E no Pacto de So Jos da Costa Rica:

    "Artigo 11 - Proteo da honra e da dignidade.

    1. Toda pessoa tem o direito ao respeito de sua honra e ao

    reconhecimento de sua dignidade.

    2. Ningum pode ser objeto de ingerncias arbitrrias ou abusivas em

    sua vida privada, em sua famlia, em seu domiclio, ou em sua

    correspondncia, nem de ofensas ilegais sua honra ou reputao.

    3. Toda pessoa tem direito proteo da lei contra tais ingerncias ou

    tais ofensas."

    A facilidade de acesso aos sistemas de informtica e a amplitude de sua

    utilizao pelas Instituies Financeiras, traz a informao de dbito do Consumidor

    29 TJSP Apelao c/ reviso n 972580-0/1 Campinas 17/01/2008 Relator Kioitsi Chicuta v.u. 30 A dignidade humana um valor j preenchido a priori, isto , todo ser humano tem dignidade s

    pelo fato j de ser pessoa.Assim, o dano moral aquele que afeta a paz interior de cada um. Atinge

    o sentimento da pessoa, o decoro, o ego, a honra, enfim, tudo aquilo que no tem valor econmico,

    mas que lhe causa dor e sofrimento. , pois, a dor fsica e/ou psicolgica sentida pelo indivduo

    RIZZATTO NUNES, L.A., Curso de direito do consumidor. So Paulo: Saraiva, 2006. p. 307.

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  • 43

    e acaba com suas pretenses de obteno de crdito, impedindo a realizao de

    negcios e imputando-lhe a indesejvel imagem de mau pagador.

    Uma vez atendidos os limites impostos pelo ordenamento jurdico, h exerccio

    regular do direito, por parte das Instituies Financeiras e dos Cadastros de

    Consumidores e Bancos de Dados, caso contrrio, trata-se de violao honra,

    privacidade e imagem do Consumidor.

    Sergio Carlos Covello31, citando Ferreira Rubio:

    quando os autores estudam a intimidade informativa no se referem

    s informao que obtm e propagam os jornalistas e os profissionais da

    comunicao, seno que visam tambm a proteger o indivduo frente aos

    registros e Bancos de Dados estatais ou privados.

    O problema da intimidade, em face da coleta e do armazenamento de

    dados em bancos manejados por meio de computadores, tema central de

    estudo em pases tecnologicamente desenvolvidos.

    Segundo a mencionada autora a imprensa pode ser considerada um

    meio tradicional de ataque intimidade, mas sua periculosidade , nos dias

    de hoje, muito inferior do emprego dessas modernssimas tcnicas de

    intromisso na vida das pessoas.

    Realmente, em dias atuais, a proteo intimidade exige medidas mais rgidas

    do ordenamento jurdico para a tutela da vida privada.

    As informaes nominativas passveis de registros so apenas aquelas que se

    pode referir atividade de consumo do indivduo, excluindo os dados sensveis do

    31 COVELLO, Sergio Carlos. As normas de sigilo como proteo intimidade. So Paulo: Sejac, 1999. p. 16.

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  • 44

    Consumidor, sob pena de responsabilizao por danos morais e at materiais, se

    comprovados.32

    Existente a relao de causalidade, imprescindvel o dever de indenizar. Por

    fim, deve-se relevar a imprescindibilidade que se fale de um dano ressarcvel, ou

    seja, um dano com efetivo sentido jurdico.

    Entendendo-se como ressarcvel, todo o dano capaz de gerar um prejuzo

    concreto ao titular das informaes, ainda que tal prejuzo tenha se dado por fato da

    operao do Cadastro de Consumidores ou do Banco de Dados, ou ainda pelo

    cruzamento de redes informativas, sem que o indivduo tenha concorrido

    diretamente para o evento danoso.

    O simples fato de se coletar, armazenar e distribuir informaes de cunho

    pessoal, sem a cincia ou a devida autorizao, configura uma violao do direito

    privacidade, posto que, todos os indivduos tm o direito de decidir sobre a utilizao

    de informaes dessa natureza; porm, a despeito do estgio tecnolgico que a

    sociedade alcanou, culminando com o potencial lesivo das Instituies Financeiras,

    Cadastros de Consumidores e Bancos de Dados e cadastros, ainda carecemos de

    normas especficas que regulamentem o segmento.

    A inscrio indevida, exclui, de forma equivocada, o Consumidor da economia,

    impedindo-lhe o crdito e gerando-lhe graves efeitos morais.33

    32 "...Esse amplo domnio dos sistemas de informao gera um processo de esquadrinhamento das

    pessoas que ficam com sua individualidade inteiramente devassada. O perigo para a privacidade

    pessoal, tanto mais grave quanto mais a utilizao da informtica facilita a interconexo de fichrios

    com a possibilidade de formar grandes bancos de dados que desvendam a vida dos indivduos, sem

    sua autorizao e mesmo sem seu conhecimento. fcil perceber que da decorrem atentados

    intimidade das pessoas pelo uso abusivo e ilcito desses registros ... pela introduo de dados

    sensveis (assim chamados os de ordem racial, opinio poltica, filosfica ou religiosa, filiao

    partidria e sindical, orientao sexual etc.), pela conservao de dados falsos ou com fins diversos

    dos autorizados em lei... ". SEGALLA. Conrado Rodrigues. Habeas data e o conceito de registro ou

    banco de dados. Revista do Instituto de Pesquisa e Estudos da Instituio Toledo de Ensino, Bauru, p.313, abr./jul., 2001. 33 O descrdito econmico, enquanto perda da confiana pblica na capacidade de cumprir as

    obrigaes negociais, , sobretudo na sociedade capitalista, pesada ofensa honra. ALVES, Vilson

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  • 45

    Neste sentido, aponta a jurisprudncia do Tribunal de Justia do Estado de So

    Paulo:

    1) Prestao de servios Declaratria Ilegitimidade passiva

    Inocorrncia Prestadora de servios Preliminar rejeitada Fatos

    impeditivos, modificativos ou extintivos do direito da autora nus da r

    Exegese do artigo 333, II, do CPC Informao de irregularidade

    Ausncia de investigao Danos morais Registro do nome no SCPC

    Lanamento indevido Prejuzo Quantum indenizatrio Obedincia aos

    critrios da razoabilidade e proporcionalidade Litigncia de m-f

    Descaracterizao Recurso no provido.

    Dizer de algum inadimplente, quando no o , implica manifesta

    ofensa honra, ao conceito e dignidade da pessoa vtima do erro. Da

    leso resulta o dever de indenizar, dispensada qualquer outra prova.34

    2) Ttulo de crdito . Duplicata . Protesto indevido . Dano moral

    caracterizado . Arbitramento que deve ser em valor razovel e

    proporcional. Recurso da co-r parcialmente provido, improvido o adesivo

    do autor.

    O protesto indevido de ttulo, ou a manuteno do nome daquele que

    j quitou dvida em cadastro de inadimplentes, gera direito indenizao

    por dano moral, independentemente da prova objetiva do abalo honra e

    reputao sofrida pelo autor, que se permite, na hiptese, presumir. 35

    3) Prestao de servios educacionais Danos morais Manuteno

    indevida do nome da autora nos cadastros do SCPC Dbito adimplido

    Rodrigues. Responsabilidade civil dos estabelecimentos bancrios. Campinas: Bookseller, 1996. p. 509. 34 TJSP Apelao com reviso n 892744-0/5 So Paulo Relator Desembargador Ferraz

    Felizardo 09/04/2008 v.u. 35 Apelao com reviso n 7.220.348-2 Jaboticabal Relator Juiz Gilberto dos Santos 02/04/2008

    v.u.

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  • 46

    Dano moral configurado Fato que maculou a honra e a imagem da autora

    Ilicitude no comportamento da r Indenizao devida. 36

    4) Ao indenizatria por danos morais Quantum indenizatrio que

    serve como fator inibidor de ocorrncias futuras, assim aferido, contudo,

    dentro dos critrios de razoabilidade e proporcionalidade Elevao do

    valor da condenao devida Recurso do autor provido, desacolhido o da

    requerida. A indevida comunicao do nome de algum no cadastro do

    SERASA, ofende a honra subjetiva da pessoa fsica, ensejando injusta

    leso ao seu bom nome, constrangimento que, por si s, basta para gerar o

    dever de indenizar do ru. 37

    A inscrio irregular extrapola o limite da legalidade de atuao das Instituies

    Financeiras, dos Cadastros de Consumidores e dos Bancos de Dados,

    descaracteriza o exerccio regular do direito e ofende a privacidade e honra do

    Consumidor.38

    O que era lcito passa a constituir-se em ofensa privacidade, no aspecto de

    controle de dados pessoais.

    A honra objetiva do consumidor atingida, pois, se divulga indevidamente fato

    ofensivo sua reputao, maculando a auto-estima do Consumidor; dessa forma, o

    Direito empenha-se na defesa da reputao da pessoa, de seu bom nome e a fama

    de que desfruta no seio da coletividade, enfim, a estima que o cerca nos ambientes

    familiar, profissional, comercial e social.39

    36 TJSP Apelao com reviso n 994921-0/7 Barueri Relator Desembargador Marcondes

    DAngelo 26/02/2008 v.u. 37 TJSP Apelao com reviso n 1044887-0/0 So Jos do Rio Preto Relator Francisco Thomaz

    27/02/2008 v.u. 38 Com efeito, a honra encerra: o valor moral ntimo do indivduo; a estima alheia, a considerao

    social, o bom nome ou boa fama; o sentimento ou conscincia da prpria dignidade. FERNANDES,

    Milton. O "habeas data" como defesa ameaa tecnolgica. Revista dos Tribunais, So Paulo, v. 704, p. 68, 1994. 39 "O injusto ou indevido apontamento no cadastro de 'maus pagadores' do nome de qualquer pessoa

    que tenha natural sensibilidade aos rumores resultantes de um abalo de crdito produz nessa pessoa

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  • 47

    A imagem do Consumidor bastante importante, sua reputao financeira

    fundamental para que obtenha crdito e possa consumir, fazendo-o sentir-se parte

    da sociedade capitalista.

    A imagem uma das faces da personalidade do Consumidor, trata-se da

    aparncia de cada um, a forma pela qual o indivduo mostra-se diante da sociedade,

    tornando-o nico. Um ser impar com caractersticas fsicas e mentais prprias, que

    formam um conjunto e uma vez atingidas uma dessas caractersticas, ocorrer o

    desequilbrio da personalidade deste Consumidor, desaparecendo aquele ser que

    pr-existia ao dano.

    As informaes sobre o Consumidor constantes nos Cadastros de

    Consumidores e nos Banco de Dados, constroem sua imagem diante do

    Fornecedor, se essas informaes forem incorretas ou inexatas, a imagem do

    Consumidor grave e injustamente atingida; por essa razo, o Cdigo de Defesa do

    Consumidor, em seu artigo 43, tenta proteger o consumidor desse dano imagem,

    embora a proteo seja parcial e o Consumidor ainda sinta carncia de normas que

    regulamentem, de forma definitiva, os Cadastros de Consumidores e os Bancos de

    Dados.

    Passvel de ter seu bom nome no rol de maus pagadores e ter negado qualquer

    espcie de crdito, o que significaria o fechamento de suas portas, a pessoa jurdica

    tambm pode ter ofendida sua honra; portanto, as ofensas contra a sua honra e

    reputao produzem prejuzos muito maiores do que aqueles que sofre a pessoa

    fsica, em razo de sua reabilitao ser muito mais difcil.

    A pessoa jurdica possui tambm um patrimnio moral, o qual pereceria

    levando-a runa se ficasse merc de informaes equivocadas ou inexistentes

    sobre sua boa reputao. 40

    uma reao psquica de profunda amargura e vergonha, que lhe acarreta sofrimento e lhe afeta a

    dignidade. Essa dor o dano moral indenizvel e carece de demonstrao, pois emerge do agravo

    de forma latente, sofrendo-a qualquer um que tenha o mnimo de respeito e apreo por sua dignidade

    e honradez." AMARANTE, A., op. cit., p. 315. 40 Smula 227 do STJ A pessoa jurdica pode sofrer dano moral.

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  • 48

    Para Wilson Melo da Silva, seguindo o pensamento de Agostinho Alvim, as

    pessoas jurdicas no tm direito reparao por danos morais, pois no se

    angustiam e no sofrem. No seria possvel falar em leses da alma ou em

    patrimnio ideal, que no tm e que no poderiam ter jamais. A essncia do dano

    moral a dor, fsica ou moral, porm, os ilustres doutrinadores no fizeram a

    distino entre a honra objetiva e a subjetiva.41

    A pessoa jurdica pode sofrer ataques honra objetiva, pois detentora de uma

    reputao junto a clientes, consumidores e sociedade, podendo ter seu bom e

    tradicional nome desacreditado no meio em que desenvolve suas atividades

    industriais ou comerciais.42

    O abalo de crdito extremamente prejudicial s pessoas jurdicas, podendo,

    alm de causar danos sua honra, resultar em paralisao de negcios, retrao de

    fornecedores ou de clientela, desamparo de recursos bancrios, ocorrendo assim,

    danos materiais. Ambos os danos, morais e materiais, podem ser cumulados, no

    so excludentes.43

    41 Na sua verso atual, a reparao do dano moral visa sancionar ofensa a direitos da personalidade,

    sendo certo que a pessoa jurdica tambm os tem, ainda que com carter mais objetivo.

    Na realidade, a pessoa jurdica, embora no seja titular de honra subjetiva que se caracteriza pela

    dignidade, decoro e auto-estima, exclusiva do ser humano, detentora de honra objetiva, fazendo jus

    indenizao por dano moral sempre que o seu bom nome, reputao ou imagem forem atingidos no

    meio comercial por algum ato ilcito (protesto indevido de duplicata). Ademais, aps a Constituio de

    1988, a noo de dano moral no mais se restringe ao pretium doloris, abrangendo tambm qualquer

    ataque ao nome ou imagem da pessoa fsica ou jurdica, com vistas a resguardar a sua credibilidade

    e respeitabilidade". CAHALI, Yussef Said. Dano moral. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 438 42 "Registre-se, ento, que a honra tem dois aspectos, o subjetivo (interno) e o objetivo (externo). A

    honra subjetiva, que se caracteriza pela dignidade, decoro e auto-estima, exclusiva do ser humano,

    mas a honra objetiva, refletida na reputao, no bom nome e na imagem perante a sociedade,

    comum pessoa natural e jurdica. RT 725/336. 43 A tendncia generalizadora considerar que o abalo de crdito gera dano moral puro. Isso no

    significa que o ato que tenha repercusso prejudicial ao comerciante, em seu negcio mesmo, possa

    gerar, tambm, dano patrimonial. Basta imaginar a circunstncia de o comerciante ter deixado de

    vencer uma licitao por ter seu nome no Cartrio de Protesto ou que perdeu clientela por ter seu

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  • 49

    Na jurisprudncia do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo:

    1) O dano moral no reclama demonstrao de dano efetivo. Embora

    no haja, em casos tais, um parmetro fixo para quantificar sua extenso, o

    montante deve ser aquele suficiente para compensar a dor sofrida pelo

    ofendido e tambm para desencorajar aqueles que, sem os cuidados

    devidos, atentam contra a honra alheia, desacreditando-os perante os

    rgos de restrio ao crdito.

    A informao negativa, assim considerada aquela que influi ou pode

    influir depreciativamente na formao da imagem do consumidor, por si s

    basta para o reconhecimento do dever de indenizar, ganhando relevncia a

    demonstrao do prejuzo concreto apenas para a fixao do montante da

    indenizao.

    A simples anotao de mau pagador nos cadastros do SERASA ou

    SPC, ofende a honra subjetiva da pessoa fsica e objetiva da jurdica,

    constituindo ambos, na atualidade, poderoso meio de restrio ao crdito

    que reclama reparao.44

    2) Obrigao de no fazer Indenizatria Dano moral

    Negativao do nome da empresa-autora nos cadastros de devedores

    inadimplentes do SERASA Ausncia de comunicao prvia a que alude

    o 2, do art.43, da Lei n8078/90 Obrigatoriedade legal Recurso

    provido para julgar procedente a ao.

    Dano moral Pessoa jurdica - Negativao do nome da empresa-

    autora nos cadastros de devedores inadimplentes do SERASA Dano

    moral configurado Nexo causal caracterizado Fixao em 5 salrios

    nome vinculado a mau pagador. Santos, Antonio Jeov. Dano moral indenizvel. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 444. 44 TJSP Apelao com reviso n 933.118-0/4 So Paulo Relator Desembargador Oscar Feltrin

    23/04/2008 - v.u.

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    mnimos Razoabilidade e proporcionalidade Recurso provido para

    julgar procedente a ao.45

    3) Ao de indenizao Responsabilidade civil Pessoa jurdica

    Dano moral Reconhecimento Admissibilidade.

    No atual estgio de desenvolvimento do estudo jurdico, j no existe

    mais dvida quanto possibilidade de a pessoa jurdica sofrer dano moral,

    especialmente diante de situaes que provocam abalo ao seu crdito e ao

    seu nome.

    Prestao de servios Inscrio indevida em rgo de proteo ao

    crdito Indenizao Dano moral Prova Desnecessidade.

    No h falar em prova de dano moral, mas, sim, na prova do fato que

    gerou a dor, o sofrimento, sentimentos ntimos que o ensejavam. Provado

    assim o fato, impe-se a condenao, sob pena de violao do art. 334 do

    Cdigo de Processo Civil.

    Recurso improvido.46

    4) Responsabilidade Civil - Danos morais devidos pessoa Jurdica -

    Negativao indevida junto aos rgos de proteo de crdito -

    Procedncia - Inconformismo - A pessoa Jurdica pode sofrer abalo moral -

    Smula 227, do STJ - A Indenizao tem por parmetro o fato gerador do

    apontamento - Sentena reformada em parte - Recurso da r desprovido e

    45 TJSP Apelao com reviso n 431.900-4/0-00 Campinas Relator Juiz Silvrio Ribe