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REFLEXES SOBRE ABUSO DO PODER NO ORDENAMENTO JURDICO BRASILEIRO
JOS AUGUSTO DELGADO Ministro do Superior Tribunal de Justia
Professor de Direito Pblico
1. CONCEITO DE ABUSO DE PODER
O tema abuso de poder, no ordenamento jurdico brasileiro,
tem exigido, neste incio do sculo XXI, reflexes aprofundadas a respeito
do seu alcance e da necessidade de ser enfrentado em face dos
postulados que regem o regime democrtico vigorante em nosso Pas.
A sociedade contempornea testemunha excessos que esto
sendo praticados por agentes polticos e administrativos no exerccio das
suas competncias e atribuies, sob a falsa alegao de que esto agindo
amparados pelo direito constitudo que lhes foi outorgado, quando, na
verdade, a realidade demonstra que atentados normalidade jurdica
esto sendo cometidos, o que caracteriza explcita violao aos direitos
fundamentais da cidadania.
O mesmo fenmeno identificado nas relaes jurdicas de
direito privado quando da execuo dos negcios jurdicos bilaterais e, at
mesmo, no exerccio das aes (direito formal) para proteg-los quando
em ambiente de conflito entre as partes ou com terceiros.
Em face desse panorama, a cincia jurdica, pela voz da
doutrina e da jurisprudncia, tem investigado os fenmenos que levam a
construir essa anormalidade identificado como abuso do poder e a
produo dos seus efeitos.
As nossas reflexes comeam por relembrar o significado do
vocbulo abuso.
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Em sentido gramatical, anuncia o Dicionrio Aurlio que abuso
um substantivo masculino originrio do latim abusu que quer dizer mau
uso, ou uso errado, excessivo ou injusto; excesso, decomedimento,
abuso; exorbitncia de atribuies ou poderes; aquilo que contraria as
boas normas, os bons costumes.
No ambiente jurdico, o termo abuso tem sentido restrito, haja
vista que aplicado para expressar o excesso de poder ou de direito, ou
ainda o mau uso ou m aplicao dele (De Plcido e Silva, in Vocabulrio
Jurdico. Rio de Janeiro: Forense, 15a. ed., p. 6).
Partindo dessa concepo, a doutrina tem buscado assentar os
requisitos necessrios para a configurao do abuso do poder.
A expresso abuso de poder significa a exorbitncias das
atribuies que foram conferidas a determinados agentes pblicos (do
Executivo, do Legislativo, do Judicirio), quer excedendo os limites do
mandato que lhes foram conferidos, quer ultrapassando os limites legais
na prtica de atos administrativos, quer extrapolando o ordenamento
jurdico na entrega das prestaes jurisdicionais.
O vocbulo poder, como verbo, no ambiente jurdico, revela
sentido de ser autorizado, ser permitido, dar autoridade, facultar, ter
autoridade, como ensina De Plcido e Silva, em seu Dicionrio Jurdico,
15a. edio, Forense, p. 613.
Como substantivo, lembra DE Plcido e Silva, obra citada,
entendido como sendo domnio e posse, tida sobre certas coisas, ou a
faculdade, permisso, fora ou autorizao, para que se possam fazer ou
executar certas coisas.
Em Direito Pblico, poder exprime, em regra, o rgo ou a
instituio, a que se atribui uma parcela da soberania do Estado, para que
se constitua em autoridade e exera as funes jurdicas, de ordem
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poltica e administrativa, que lhe so cometidas por lei, significando, em
sntese:
a) o rgo ou a autoridade constituda para cumprir a
finalidade do Estado, exercendo as funes que lhe so atribudas;
b) a funo a ser exercida pela autoridade ou rgo institudo,
cuja soma determina a sua prpria competncia(De Plcido e Silva, ob.
cit.).
A definio de Poder tem sido trabalhada pela doutrina h
muito tempo. Atualmente, h aceitao, quase unnime, do que a
respeito est registrado no Dicionrio de Poltica, Edio da UNB, p. 933 e
seguintes, no verbete Poder, escrito por Mario Stoppino. Este autor,
afirma que em seu significado mais geral, a palavra Poder designa a
capacidade ou a possibilidade de agir, de produzir efeitos. Tanto pode ser
referida a indivduos e a grupos humanos como a objetos ou a fenmenos
naturais (como na expresso Poder calorfico. Poder de Absoro.
Mais adiante, explicita:
Se o entendermos em sentido especificamente social, ou seja,
na sua relao coma vida do homem em sociedade, o Poder torna-se mais
preciso, e seu espao conceptual pode ir desde a capacidade geral de agir,
at capacidade do homem em determinar o comportamento do homem:
Poder do homem sobre o homem. O homem no s o sujeito mas
tambm o objeto do Poder social. Poder social a capacidade que um pai
tem para dar ordens a seus filhos ou a capacidade de um Governo de dar
ordens aos cidados. Por outro lado, no Poder social a capacidade de
controle que o homem tem sobre a natureza nem a utilizao que faz dos
recursos naturais. Naturalmente existem relaes significativas entre o
Poder sobre o homem e o Poder sobre a natureza ou sobre as coisas
inanimadas.
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Fixadas essas conceituaes iniciais, passamos a buscar
compreenso sobre o abuso de poder.
O abuso de poder fica caracterizado quando ele usado fora
dos limites impostos pelos postulados, pelos princpios e pelas regras
jurdicas em um Estado que adota o regime democrtico.
Certa a afirmao de que constitui abuso de poder quando
ele manipulado por um sujeito autorizado, porm exercido
contrariamente aos fins (causas), modos (forma e objeto) ou motivos
(mbito ou situao regulada) para os foi concedido. Os atos abusivos
praticados so ilcitos, contrrios ao Direito. So um desvio quando fogem
finalidade e um excesso quando desvirtuam o modo, afastando-se dos
motivos que autorizam o exerccio do poder (motivos determinantes) ou
gerando um resultado ilegal (ilegalidade do objeto). Tais atos seriam
anulveis. O excesso de poder, por vcio de forma, porm, somente
reconhecvel quando recai sobre elemento essencial do ato praticado com
base no poder concedido. Se contraria meros elementos acidentais, no se
pode falar em anulao (Rogrio Jos Bento Soares do Nascimento, in
Abuso do Poder de Legislar, Lumen Jris Editora, Rio de Janeiro, 2.004,
p. 137 e segs.).
Aceitando esse modo de compreender o abuso de poder, o
Conselho de Estado da Frana passou a anular os atos abusivos das
autoridades administrativas, praticdos com excesso de poder ou desvio de
finalidade, desde o famoso caso Lesbats (1864), dando origem teoria do
excs ou do dtournemente de pouvoir, hoje aceita e consagrada pelos
pases democrticos, sob as mais diversaws denominaes (desviacin de
poder, dos espanhis; sviamento di potere, dois italianos; abuse of
discretion, dos norte-americanos), para reprimir a ilegalidade pelo mau
uso do poder, conforme afirma HelY Lopes Meirelles, em seu Direito
Administrativo Brasileiro, 28a. ed., Malheiros, p. 107.
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A doutrina tem tentado encontrar resposta para a pergunta: O
que o poder?
Essa resposta est presente em trabalho intitulado El abuso
del poder, sem identificao de autoria, publicado pelo site
http://www.goecities.com/brnd/abuso.htm?200051, acessado em
10l05.2005, da forma seguinte:
Que es el poder?
A lo largo de la vida del hombre, se han desarrollado diversos
conceptos de poder. Koontz plantea una definicin , entre tantos otros
autores: "Es la capacidad de las personas o grupos para inducir o influir
en las creencias o acciones de otras personas o grupos." Y distingue a su
vez diferentes clases de poder: el poder legtimo, el poder de la pericia, el
poder de recompensa, el poder coercitivo.
El poder legtimo es el poder que se deriva del sistema cultural
de obligaciones, derechos y deberes del sistema cultural occidental; deriva
de un puesto o cargo a las que las personas dan legitimidad.
El poder que proviene de la pericia es aquel poder que otorga
el conocimiento: mdicos, abogados y profesores universitarios pueden
ejercerlo por medio de sus conocimientos especiales.
El poder de referencia es "la influencia que pueden ejercer
personas o grupos porque las personas creen en ellos y en sus ideas".
El poder de recompensa es, como su nombre lo indica, el
poder para conceder recompensas, para beneficiar o perjudicar a alguien.
El poder coercitivo es el poder de castigar. Est relacionado
estrechamente con el concepto de poder de recompensa y proviene del
poder legtimo.
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Por otra parte, Bidart Campos define al poder como la facultad
y hasta la fuerza para cumplir con algo para lo que se debe poseer
energa, aptitud y capacidad para llevarlo a cabo.
O abuso de poder ou de autoridade constitui a principal fonte
da maldade moral e da corruo moral, conforme evidenciado em
pensamento de autor cuja fonte no conseguimos localizar, porm, cujo
texto est na internet, site:
http://www.angelfire.com/md/imsystem/rivabuso.html, acessado
em 11.05.2005. Ali est escrito: ABUSO DE PODER O AUTORIDAD
El abuso de poder o autoridad es la principal fuente de la
maldad moral y de la corrupcin moral. La MALDAD moral comienza a
existir cuando alguien se rehsa a aceptar responsabilidad por el bienestar
de otros, especialmente por el bienestar de aqullos naturalmente bajo su
cargo directo. Se puede decir que una persona tiene PODER, si esa
persona puede influir decisivamente sobre la realidad (de otros).
En este contexto, AUTORIDAD es poder que proviene de un
acuerdo o convencin social, como por ejemplo las leyes o las costumbres
de un grupo social, tal como un estado o una organizacin.
Entonces pues, qu es el "abuso de poder"?
El ABUSO DE PODER es el uso ilegtimo del poder.
El ABUSO DE PODER es aquella situacin que existe cada vez
que alguien quien tiene PODER sobre otros, (esto es, la capacidad de
imponer su voluntad sobre esos otros) por ejemplo, debido a su superior
destreza mental, posicin social, fuerza, conocimiento, tecnologa, armas,
riqueza, o la confianza que tienen en l o lla, utiliza ese poder
injustificadamente para EXPLOTAR o DAAR a sos otros, o mediante su
falta de accin PERMITE que sos otros sean explotados o daados.
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Lgicamente, y por lo anterior, alguien que no tiene (un
determinado tipo de) poder no puede abusarlo.
Tambin se deduce de lo anterior que el ms importante (y tal
vez el nico) principio de la tica y moralidad humana debera de ser el
evitar el abuso de poder.
(Se debe de notar que la decisin de adoptar un principio tico
como propio es puramente personal, y no se puede forzar sobre alguien.
Sin embargo, no se puede adoptar un principio que no se sabe que
existe. Adems, no es muy probable que alguien vaya a adoptar un
principio que no sea congruente - que no encaje o ajuste - con su
estructura mental - y esa estructura mental es influenciada tan
poderosamente por las experiencias en su temprana infancia).
Otra consecuencia es que, si quines quieren detener o
impedir los abusos de poder (o a los que se les haya encargado este
deber) no tienen suficiente poder (anque fuera slamente poder moral),
llos y sus esfuerzos servirn nicamente de hazmerrer para quines
abusan del poder.
O abuso de poder pode se apresentar, entre outras, na formas
seguintes:
Abuso de poder econmico eleitoral: o emprego de recursos
produtivos (bens e servios de empresas particulares, ou recursos
prprios do candidato que seja mais abastado, fora da moldura para tanto
traada pelas regras de financiamento de campanha constante da Lei n.
9ll504/97(Pedro Roberto Decomain, in Elegibilidade & Inelegibilidade.
Obra jurdica 2.000, p. 72).
Abuso de Poder Poltico nas eleies: o emprego de servios
ou bens pertencentes administrao pblica direta ou indireta, ou na
realizao de qualquer atividade administrativa, com o objetivo de
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propiciar a eleio de determinado candidato (Pedro Roberto Decomain,
ob. cit.).
Abuso de Poder empresarial..
Abuso de Poder de Legislar.
Abuso de Poder poltico.
Abuso de Poder administrativo.
Abuso de Poder policial.
Abuso de Poder Judicial.
2. O ABUSO DE QUALQUER ESPCIE NA CONSTITUIO FEDERAL.
A Constituio Federal de 1988 cuida, expressamente, do
Abuso de Poder E DE OUTROS, nos dispositivos a seguir enumerados:
Art. 5, XXXIV, a: LXVIII; LXIX.
Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade,
igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes :
XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do
pagamento de taxas:
a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
LXVIII - conceder-se- "habeas-corpus" sempre que algum
sofrer ou se achar ameaado de sofrer violncia ou coao em sua
liberdade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder; 8
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LXIX - conceder-se- mandado de segurana para proteger
direito lquido e certo, no amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-
data", quando o responsvel pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pblica ou agente de pessoa jurdica no exerccio de
atribuies do Poder Pblico;...
Art. 9, 1 e 2:
Art. 9 assegurado o direito de greve, competindo aos
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exerc-lo e sobre os
interesses que devam por meio dele defender.
1 - A lei definir os servios ou atividades essenciais e
dispor sobre o atendimento das necessidades inadiveis da comunidade.
2 - Os abusos cometidos sujeitam os responsveis s penas
da lei.
Art. 14, 9 e 10:
Art. 14. A soberania popular ser exercida pelo sufrgio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos
termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
9 Lei complementar estabelecer outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessao, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exerccio de mandato considerada vida
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleies
contra a influncia do poder econmico ou o abuso do exerccio de funo,
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cargo ou emprego na administrao direta ou indireta. (Redao dada
pela Emenda Constitucional de Reviso n 4, de 1994)
10 - O mandato eletivo poder ser impugnado ante a Justia
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomao, instruda a ao
com provas de abuso do poder econmico, corrupo ou fraude..
Art. 55, 1:
Art. 55. Perder o mandato o Deputado ou Senador:
I - que infringir qualquer das proibies estabelecidas no
artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatvel com o
decoro parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sesso legislativa,
tera parte das sesses ordinrias da Casa a que pertencer, salvo licena
ou misso por esta autorizada;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos polticos;
V - quando o decretar a Justia Eleitoral, nos casos previstos
nesta Constituio;
VI - que sofrer condenao criminal em sentena transitada
em julgado.
1 - incompatvel com o decoro parlamentar, alm dos
casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas
asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepo de
vantagens indevidas.
e) Art. 71, XI:
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Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional,
ser exercido com o auxlio do Tribunal de Contas da Unio, ao qual
compete:
XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou
abusos apurados.
Art. 103-B, IV:
Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justia compe-se de
quinze membros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e seis
anos de idade, com mandato de dois anos, admitida uma reconduo,
sendo: (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de 2004)
IV representar ao Ministrio Pblico, no caso de crime contra a
administrao pblica ou de abuso de autoridade;...
f) Art. 173, 4:
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituio, a
explorao direta de atividade econmica pelo Estado s ser permitida
quando necessria aos imperativos da segurana nacional ou a relevante
interesse coletivo, conforme definidos em lei.
4 - A lei reprimir o abuso do poder econmico que vise
dominao dos mercados, eliminao da concorrncia e ao aumento
arbitrrio dos lucros.
g) Art. 227, 4:
Art. 227. dever da famlia, da sociedade e do Estado
assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito
vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao,
cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e
comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia,
discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. 11
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4 - A lei punir severamente o abuso, a violncia e a
explorao sexual da criana e do adolescente.
3. O ABUSO DE PODER NA LEGISLAO INFRACONSTITUCIONAL
O nosso ordenamento jurdico repele qualquer forma de
abuso, quer o praticado pelo Poder Pblico, quer o praticado pelo
particular.
Em campo infraconstitucional, destacamos as leis a seguir
referidas tratando diretamente da prtica do abuso contra os direitos e
garantias fundamentais do cidado. Elas so:
LEI N 9.970, DE 17 DE MAIO DE 2000.o Institui o dia 18 de
maio como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Explorao Sexual de
Crianas e Adolescentes
O PRESIDENTE DA REPBLICA Fao saber que o Congresso
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o institudo o dia 18 de maio como o Dia Nacional de
Combate ao Abuso e Explorao Sexual de Crianas e Adolescentes.
Pargrafo nico. (VETADO)
Art. 2o (VETADO)
Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.
Braslia, 17 de maio de 2000; 179o da Independncia e 112o
da Repblica.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Jos Gregori
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Francisco Weffort
Este texto no substitui o publicado no D.O.U. de 18.5.2000
LEI N 9.240, DE 22 DE DEZEMBRO DE 1995. Ratifica o
Fundo de Imprensa Nacional, o Fundo de Preveno, Recuperao e de
Combate s Drogas de Abuso e o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.
O PRESIDENTE DA REPBLICA
Fao saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
seguinte Lei:
Art. 1 So ratificados o Fundo de Imprensa Nacional - FUNIN,
criado pelo Decreto n 73.610, de 11 de fevereiro de 1974, o Fundo de
Preveno, Recuperao e de Combate s Drogas de Abuso - FUNCAB,
criado pela Lei n 7.560, de 19 de dezembro de 1986, e o Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos - FDD, criado pela Lei n 7.347, de 24 de
julho de 1985.
Art. 2 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.
Braslia, 22 de dezembro de 1995; 174 da Independncia e
107 da Repblica.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
LEI N 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965. Regula o
Direito de Representao e o processo de Responsabilidade Administrativa
Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade
O PRESIDENTE DA REPBLICA Fao saber que o Congresso
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1 O direito de representao e o processo de
responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que,
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no exerccio de suas funes, cometerem abusos, so regulados pela
presente lei.
Art. 2 O direito de representao ser exercido por meio de
petio:
a) dirigida autoridade superior que tiver competncia legal
para aplicar, autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sano;
b) dirigida ao rgo do Ministrio Pblico que tiver
competncia para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.
Pargrafo nico. A representao ser feita em duas vias e
conter a exposio do fato constitutivo do abuso de autoridade, com
todas as suas circunstncias, a qualificao do acusado e o rol de
testemunhas, no mximo de trs, se as houver.
Art. 3. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) liberdade de locomoo;
b) inviolabilidade do domiclio;
c) ao sigilo da correspondncia;
d) liberdade de conscincia e de crena;
e) ao livre exerccio do culto religioso;
f) liberdade de associao;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio do
voto;
h) ao direito de reunio;
i) incolumidade fsica do indivduo;
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j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio
profissional. (Includo pela Lei n 6.657,de 05/06/79)
Art. 4 Constitui tambm abuso de autoridade:
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade
individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custdia a vexame ou
a constrangimento no autorizado em lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a
priso ou deteno de qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de priso ou
deteno ilegal que lhe seja comunicada;
e) levar priso e nela deter quem quer que se proponha a
prestar fiana, permitida em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial
carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que
a cobrana no tenha apoio em lei, quer quanto espcie quer quanto ao
seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo
de importncia recebida a ttulo de carceragem, custas, emolumentos ou
de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimnio de pessoa natural ou
jurdica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem
competncia legal;
i) prolongar a execuo de priso temporria, de pena ou de
medida de segurana, deixando de expedir em tempo oportuno ou de
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cumprir imediatamente ordem de liberdade. (Includo pela Lei n 7.960,
de 21/12/89)
Art. 5 Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei,
quem exerce cargo, emprego ou funo pblica, de natureza civil, ou
militar, ainda que transitoriamente e sem remunerao.
Art. 6 O abuso de autoridade sujeitar o seu autor sano
administrativa civil e penal.
1 A sano administrativa ser aplicada de acordo com a
gravidade do abuso cometido e consistir em:
a) advertncia;
b) repreenso;
c) suspenso do cargo, funo ou posto por prazo de cinco a
cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e vantagens;
d) destituio de funo;
e) demisso;
f) demisso, a bem do servio pblico.
2 A sano civil, caso no seja possvel fixar o valor do
dano, consistir no pagamento de uma indenizao de quinhentos a dez
mil cruzeiros.
3 A sano penal ser aplicada de acordo com as regras
dos artigos 42 a 56 do Cdigo Penal e consistir em:
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
b) deteno por dez dias a seis meses;
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c) perda do cargo e a inabilitao para o exerccio de qualquer
outra funo pblica por prazo at trs anos.
4 As penas previstas no pargrafo anterior podero ser
aplicadas autnoma ou cumulativamente.
5 Quando o abuso for cometido por agente de autoridade
policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poder ser cominada a
pena autnoma ou acessria, de no poder o acusado exercer funes de
natureza policial ou militar no municpio da culpa, por prazo de um a cinco
anos.
art. 7 recebida a representao em que for solicitada a
aplicao de sano administrativa, a autoridade civil ou militar
competente determinar a instaurao de inqurito para apurar o fato.
1 O inqurito administrativo obedecer s normas
estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou militares,
que estabeleam o respectivo processo.
2 no existindo no municpio no Estado ou na legislao
militar normas reguladoras do inqurito administrativo sero aplicadas
supletivamente, as disposies dos arts. 219 a 225 da Lei n 1.711, de 28
de outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionrios Pblicos Civis da Unio).
3 O processo administrativo no poder ser sobrestado
para o fim de aguardar a deciso da ao penal ou civil.
Art. 8 A sano aplicada ser anotada na ficha funcional da
autoridade civil ou militar.
Art. 9 Simultaneamente com a representao dirigida
autoridade administrativa ou independentemente dela, poder ser
promovida pela vtima do abuso, a responsabilidade civil ou penal ou
ambas, da autoridade culpada.
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Art. 10. Vetado
Art. 11. ao civil sero aplicveis as normas do Cdigo de
Processo Civil.
Art. 12. A ao penal ser iniciada, independentemente de
inqurito policial ou justificao por denncia do Ministrio Pblico,
instruda com a representao da vtima do abuso.
Art. 13. Apresentada ao Ministrio Pblico a representao da
vtima, aquele, no prazo de quarenta e oito horas, denunciar o ru,
desde que o fato narrado constitua abuso de autoridade, e requerer ao
Juiz a sua citao, e, bem assim, a designao de audincia de instruo e
julgamento.
1 A denncia do Ministrio Pblico ser apresentada em
duas vias.
Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade
houver deixado vestgios o ofendido ou o acusado poder:
a) promover a comprovao da existncia de tais vestgios,
por meio de duas testemunhas qualificadas;
b) requerer ao Juiz, at setenta e duas horas antes da
audincia de instruo e julgamento, a designao de um perito para fazer
as verificaes necessrias.
1 O perito ou as testemunhas faro o seu relatrio e
prestaro seus depoimentos verbalmente, ou o apresentaro por escrito,
querendo, na audincia de instruo e julgamento.
2 No caso previsto na letra a deste artigo a representao
poder conter a indicao de mais duas testemunhas.
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Art. 15. Se o rgo do Ministrio Pblico, ao invs de
apresentar a denncia requerer o arquivamento da representao, o Juiz,
no caso de considerar improcedentes as razes invocadas, far remessa
da representao ao Procurador-Geral e este oferecer a denncia, ou
designar outro rgo do Ministrio Pblico para oferec-la ou insistir no
arquivamento, ao qual s ento dever o Juiz atender.
Art. 16. Se o rgo do Ministrio Pblico no oferecer a
denncia no prazo fixado nesta lei, ser admitida ao privada. O rgo
do Ministrio Pblico poder, porm, aditar a queixa, repudi-la e oferecer
denncia substitutiva e intervir em todos os termos do processo, interpor
recursos e, a todo tempo, no caso de negligncia do querelante, retomar a
ao como parte principal.
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de
quarenta e oito horas, proferir despacho, recebendo ou rejeitando a
denncia.
1 No despacho em que receber a denncia, o Juiz
designar, desde logo, dia e hora para a audincia de instruo e
julgamento, que dever ser realizada, improrrogavelmente. dentro de
cinco dias.
2 A citao do ru para se ver processar, at julgamento
final e para comparecer audincia de instruo e julgamento, ser feita
por mandado sucinto que, ser acompanhado da segunda via da
representao e da denncia.
Art. 18. As testemunhas de acusao e defesa podero ser
apresentada em juzo, independentemente de intimao.
Pargrafo nico. No sero deferidos pedidos de precatria
para a audincia ou a intimao de testemunhas ou, salvo o caso previsto
no artigo 14, letra "b", requerimentos para a realizao de diligncias,
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
percias ou exames, a no ser que o Juiz, em despacho motivado,
considere indispensveis tais providncias.
Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandar que o porteiro dos
auditrios ou o oficial de justia declare aberta a audincia, apregoando
em seguida o ru, as testemunhas, o perito, o representante do Ministrio
Pblico ou o advogado que tenha subscrito a queixa e o advogado ou
defensor do ru.
Pargrafo nico. A audincia somente deixar de realizar-se se
ausente o Juiz.
Art. 20. Se at meia hora depois da hora marcada o Juiz no
houver comparecido, os presentes podero retirar-se, devendo o ocorrido
constar do livro de termos de audincia.
Art. 21. A audincia de instruo e julgamento ser pblica, se
contrariamente no dispuser o Juiz, e realizar-se- em dia til, entre dez
(10) e dezoito (18) horas, na sede do Juzo ou, excepcionalmente, no local
que o Juiz designar.
Art. 22. Aberta a audincia o Juiz far a qualificao e o
interrogatrio do ru, se estiver presente.
Pargrafo nico. No comparecendo o ru nem seu advogado,
o Juiz nomear imediatamente defensor para funcionar na audincia e nos
ulteriores termos do processo.
Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz
dar a palavra sucessivamente, ao Ministrio Pblico ou ao advogado que
houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do ru, pelo prazo
de quinze minutos para cada um, prorrogvel por mais dez (10), a critrio
do Juiz.
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferir imediatamente a
sentena.
Art. 25. Do ocorrido na audincia o escrivo lavrar no livro
prprio, ditado pelo Juiz, termo que conter, em resumo, os depoimentos
e as alegaes da acusao e da defesa, os requerimentos e, por extenso,
os despachos e a sentena.
Art. 26. Subscrevero o termo o Juiz, o representante do
Ministrio Pblico ou o advogado que houver subscrito a queixa, o
advogado ou defensor do ru e o escrivo.
Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte forem
difceis e no permitirem a observncia dos prazos fixados nesta lei, o juiz
poder aument-las, sempre motivadamente, at o dobro.
Art. 28. Nos casos omissos, sero aplicveis as normas do
Cdigo de Processo Penal, sempre que compatveis com o sistema de
instruo e julgamento regulado por esta lei.
Pargrafo nico. Das decises, despachos e sentenas,
cabero os recursos e apelaes previstas no Cdigo de Processo Penal.
Art. 29. Revogam-se as disposies em contrrio.
Braslia, 9 de dezembro de 1965; 144 da Independncia e
77 da Repblica.
4. DECLARAO DOS PRINCPIOS BSICOS DE JUSTIA RELATIVOS S VTIMAS DA CRIMINALIDADE E DE ABUSO DE PODER.
As organizaes dedicadas ao culto dos direitos humanos, em
assemblia geral de congresso que tratou do tema Direitos dos
Prisioneiros e Detidos, aprovou a Declarao de Princpios Bsicos de
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
Justia Relativos s Vtimas da Criminalidade e de Abuso de Poder cujo
texto segue, de modo integral, citado:
Declarao dos Princpios Bsicos de Justia Relativos s
Vtimas da Criminalidade e de Abuso de Poder
A Assembleia Geral,
Lembrando que o Sexto Congresso sobre a Preveno do
Crime e o Tratamento dos Delinquentes recomendou que a Organizao
das Naes Unidas prosseguisse o seu actual trabalho de elaborao de
princpios orientadores e de normas relativas ao abuso de poder
econmico e poltico 56,
Consciente de que milhes de pessoas em todo o mundo
sofreram prejuzos em consequncia de crimes e de outros actos
representando um abuso de poder e que os direitos destas vtimas no
foram devidamente reconhecidos,
Consciente de que as vtimas da criminalidade e as vtimas de
abuso de poder e, frequentemente, tambm as respectivas famlias,
testemunhas e outras pessoas que acorrem em seu auxlio sofrem
injustamente perdas, danos ou prejuzos e que podem, alm disso, ser
submetidas a provaes suplementares quando colaboram na perseguio
dos delinquentes,
1. Afirma a necessidade de adopo, a nvel nacional e
internacional, de medidas que visem garantir o reconhecimento universal
e eficaz dos direitos das vtimas da criminalidade e de abuso de poder;
2. Sublinha a necessidade de encorajar todos os Estados a
desenvolverem os esforos feitos com esse objectivo, sem prejuzo dos
direitos dos suspeitos ou dos delinquentes;
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
3. Adopta a Declarao dos Princpios Bsicos de Justia
Relativos s Vtimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, que consta em
anexo presente resoluo, e que visa ajudar os Governos e a
comunidade internacional nos esforos desenvolvidos, no sentido de fazer
justia s vtimas da criminalidade e de abuso de poder e no sentido de
lhes proporcionar a necessria assistncia;
4. Solicita aos Estados membros que tomem as medidas
necessrias para tornar efectivas as disposies da Declarao e que, a
fim de reduzir a vitimizao, a que se faz referncia daqui em diante, se
empenhem em:
a) Aplicar medidas nos domnios da assistncia social, da
sade, incluindo a sade mental, da educao e da economia, bem como
medidas especiais de preveno criminal para reduzir a vitimizao e
promover a ajuda s vtimas em situao de carncia;
b) Incentivar os esforos colectivos e a participao dos
cidados na preveno do crime;
c) Examinar regularmente a legislao e as prticas
existentes, a fim de assegurar a respectiva adaptao evoluo das
situaes, e adoptar e aplicar legislao que proba actos contrrios s
normas internacionalmente reconhecidas no mbito dos direitos do
homem, do comportamento das empresas e de outros actos de abuso de
poder;
d) Estabelecer e reforar os meios necessrios investigao,
prossecuo e condenao dos culpados da prtica de crimes;
e) Promover a divulgao de informaes que permitam aos
cidados a fiscalizao da conduta dos funcionrios e das empresas e
promover outros meios de acolher as preocupaes dos cidados;
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
f) Incentivar o respeito dos cdigos de conduta e das normas
ticas, e, nomeadamente, das normas internacionais, por parte dos
funcionrios, incluindo o pessoal encarregado da aplicao das leis, o dos
servios penitencirios, o dos servios mdicos e sociais e o das foras
armadas, bem como por parte do pessoal das empresas comerciais;
g) Proibir as prticas e os procedimentos susceptveis de
favorecer os abusos, tais como o uso de locais secretos de deteno e a
deteno em situao incomunicvel;
h) Colaborar com os outros Estados, no quadro de acordos de
auxlio judicirio e administrativo, em domnios como o da investigao e
o da prossecuo penal dos delinquentes, da sua extradio e da penhora
dos seus bens para os fins de indemnizao s vtimas.
5. Recomenda que, aos nveis internacional e regional, sejam
tomadas todas as medidas apropriadas para:
a) Desenvolver as actividades de formao destinadas a
incentivar o respeito pelas normas e princpios das Naes Unidas e a
reduzir as possibilidades de abuso;
b) Organizar trabalhos conjuntos de investigao, orientados
de forma prtica, sobre os modos de reduzir a vitimizao e de ajudar as
vtimas, e para desenvolver trocas de informao sobre os meios mais
eficazes de o fazer;
c) Prestar assistncia directa aos Governos que a peam, a fim
de os ajudar a reduzir a vitimizao e a aliviar a situao de carncia em
que as vtimas se encontrem;
d) Proporcionar meios de recurso acessveis s vtimas,
quando as vias de recurso existentes a nvel nacional possam revelar-se
insuficientes.
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
6. Solicita ao SecretrioGeral que convide os Estados
membros a informarem periodicamente a Assembleia Geral sobre a
aplicao da Declarao, bem como sobre as medidas que tomem para tal
efeito;
7. Solicita, igualmente, ao SecretrioGeral que utilize as
oportunidades oferecidas por todos os rgos e organismos competentes
dentro do sistema das Naes Unidas, a fim de ajudar os Estados
membros, sempre que necessrio, a melhorarem os meios de que
dispem para proteco das vtimas a nvel nacional e atravs da
cooperao internacional;
8. Solicita, tambm, ao Secretrio-Geral que promova a
realizao dos objectivos da Declarao, nomeadamente dando-lhe uma
divulgao to ampla quanto possvel;
9. Solicita, insistentemente, s instituies especializadas e s
outras entidades e rgos da Organizao das Naes Unidas, s outras
organizaes intergovernamentais e no governamentais interessadas,
bem como aos cidados em geral, que cooperem na aplicao das
disposies da Declarao.
96. sesso plenria 29 de Novembro de 1985
ANEXO
Declarao dos Princpios Fundamentais de Justia Relativos s
Vtimas da Criminalidade e de Abuso de Poder
A. Vtimas da criminalidade
1. Entendem-se por "vtimas" as pessoas que, individual ou
colectivamente, tenham sofrido um prejuzo, nomeadamente um atentado
sua integridade fsica ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma
perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais,
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
como consequncia de actos ou de omisses violadores das leis penais em
vigor num Estado membro, incluindo as que probem o abuso de poder.
2. Uma pessoa pode ser considerada como "vtima", no quadro
da presente Declarao, quer o autor seja ou no identificado, preso,
processado ou declarado culpado, e quaisquer que sejam os laos de
parentesco deste com a vtima. O termo "vtima" inclui tambm, conforme
o caso, a famlia prxima ou as pessoas a cargo da vtima directa e as
pessoas que tenham sofrido um prejuzo ao intervirem para prestar
assistncia s vtimas em situao de carncia ou para impedir a
vitimizao.
3. As disposies da presente seco aplicam-se a todos, sem
distino alguma, nomeadamente de raa, cor, sexo, idade, lngua,
religio, nacionalidade, opinies polticas ou outras, crenas ou prticas
culturais, situao econmica, nascimento ou situao familiar, origem
tnica ou social ou capacidade fsica.
Acesso justia e tratamento equitativo
4. As vtimas devem ser tratadas com compaixo e respeito
pela sua dignidade. Tm direito ao acesso s instncias judicirias e a
uma rpida reparao do prejuzo por si sofrido, de acordo com o disposto
na legislao nacional.
5. H que criar e, se necessrio, reforar mecanismos
judicirios e administrativos que permitam s vtimas a obteno de
reparao atravs de procedimentos, oficiais ou oficiosos, que sejam
rpidos, equitativos, de baixo custo e acessveis. As vtimas devem ser
informadas dos direitos que lhes so reconhecidos para procurar a
obteno de reparao por estes meios.
6. A capacidade do aparelho judicirio e administrativo para
responder s necessidades das vtimas deve ser melhorada:
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
a) Informando as vtimas da sua funo e das possibilidades
de recurso abertas, das datas e da marcha dos processos e da deciso das
suas causas, especialmente quando se trate de crimes graves e quando
tenham pedido essas informaes;
b) Permitindo que as opinies e as preocupaes das vtimas
sejam apresentadas e examinadas nas fases adequadas do processo,
quando os seus interesses pessoais estejam em causa, sem prejuzo dos
direitos da defesa e no quadro do sistema de justia penal do pas;
c) Prestando s vtimas a assistncia adequada ao longo de
todo o processo;
d) Tomando medidas para minimizar, tanto quanto possvel,
as dificuldades encontradas pelas vtimas, proteger a sua vida privada e
garantir a sua segurana, bem como a da sua famlia e a das suas
testemunhas, preservando-as de manobras de intimidao e de
represlias;
e) Evitando demoras desnecessrias na resoluo das causas e
na execuo das decises ou sentenas que concedam indemnizao s
vtimas.
7. Os meios extrajudicirios de soluo de diferendos,
incluindo a mediao, a arbitragem e as prticas de direito
consuetudinrio ou as prticas autctones de justia, devem ser
utilizados, quando se revelem adequados, para facilitar a conciliao e
obter a reparao em favor das vtimas.
Obrigao de restituio e de reparao
8. Os autores de crimes ou os terceiros responsveis pelo seu
comportamento devem, se necessrio, reparar de forma equitativa o
prejuzo causado s vtimas, s suas famlias ou s pessoas a seu cargo.
Tal reparao deve incluir a restituio dos bens, uma indemnizao pelo
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
prejuzo ou pelas perdas sofridos, o reembolso das despesas feitas como
consequncia da vitimizao, a prestao de servios e o restabelecimento
dos direitos.
9. Os Governos devem reexaminar as respectivas prticas,
regulamentos e leis, de modo a fazer da restituio uma sentena possvel
nos casos penais, para alm das outras sanes penais.
10. Em todos os casos em que sejam causados graves danos
ao ambiente, a restituio deve incluir, na medida do possvel, a
reabilitao do ambiente, a reposio das infra-estruturas, a substituio
dos equipamentos colectivos e o reembolso das despesas de reinstalao,
quando tais danos impliquem o desmembramento de uma comunidade.
11. Quando funcionrios ou outras pessoas, agindo a ttulo
oficial ou quase oficial, tenham cometido uma infraco penal, as vtimas
devem receber a restituio por parte do Estado cujos funcionrios ou
agentes sejam responsveis pelos prejuzos sofridos. No caso em que o
Governo sob cuja autoridade se verificou o acto ou a omisso na origem
da vitimizao j no exista, o Estado ou o Governo sucessor deve
assegurar a restituio s vtimas.
Indenizao
12. Quando no seja possvel obter do delinquente ou de
outras fontes uma indemnizao completa, os Estados devem procurar
assegurar uma indemnizao financeira:
a) s vtimas que tenham sofrido um dano corporal ou um
atentado importante sua integridade fsica ou mental, como
consequncia de actos criminosos graves;
b) famlia, em particular s pessoas a cargo das pessoas que
tenham falecido ou que tenham sido atingidas por incapacidade fsica ou
mental como consequncia da vitimizao.
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
13. Ser incentivado o estabelecimento, o reforo e a
expanso de fundos nacionais de indemnizao s vtimas. De acordo com
as necessidades, podero estabelecer-se outros fundos com tal objectivo,
nomeadamente nos casos em que o Estado de nacionalidade da vtima
no esteja em condies de indemniz-la pelo dano sofrido.
Servios
14. As vtimas devem receber a assistncia material, mdica,
psicolgica e social de que necessitem, atravs de organismos estatais, de
voluntariado, comunitrios e autctones.
15. As vtimas devem ser informadas da existncia de servios
de sade, de servios sociais e de outras formas de assistncia que lhes
possam ser teis, e devem ter fcil acesso aos mesmos.
16. O pessoal dos servios de polcia, de justia e de sade, tal
como o dos servios sociais e o de outros servios interessados deve
receber uma formao que o sensibilize para as necessidades das vtimas,
bem como instrues que garantam uma ajuda pronta e adequada s
vtimas.
17. Quando sejam prestados servios e ajuda s vtimas, deve
ser dispensada ateno s que tenham necessidades especiais em razo
da natureza do prejuzo sofrido ou de factores tais como os referidos no
pargrafo 3, supra.
B. Vtimas de abuso de poder
18. Entendem-se por "vtimas" as pessoas que, individual ou
colectivamente, tenham sofrido prejuzos, nomeadamente um atentado
sua integridade fsica ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma
perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais,
como consequncia de actos ou de omisses que, no constituindo ainda
uma violao da legislao penal nacional, representam violaes das
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
normas internacionalmente reconhecidas em matria de direitos do
homem.
19. Os Estados deveriam encarar a possibilidade de insero
nas suas legislaes nacionais de normas que probam os abusos de poder
e que prevejam reparaes s vtimas de tais abusos. Entre tais
reparaes deveriam figurar, nomeadamente, a restituio e a
indemnizao, bem como a assistncia e o apoio de ordem material,
mdica, psicolgica e social que sejam necessrios.
20. Os Estados deveriam encarar a possibilidade de negociar
convenes internacionais multilaterais relativas s vtimas, de acordo
com a definio do pargrafo 18.
21. Os Estados deveriam reexaminar periodicamente a
legislao e as prticas em vigor, com vista a adapt-las evoluo das
situaes, deveriam adoptar e aplicar, se necessrio, textos legislativos
que proibissem qualquer acto que constitusse um grave abuso de poder
poltico ou econmico e que incentivassem as polticas e os mecanismos
de preveno destes actos e deveriam estabelecer direitos e recursos
apropriados para as vtimas de tais actos, garantindo o seu exerccio.
5. ABUSO DE PODER E O ALCANCE DESSA EXPRESSO NO TEXTO CONSTITUCIONAL, REFERENTE AO MANDADO DE SEGURANA, NA VISO DE SEABRA FAGUNDES.
Seabra Fagundes, sem sua magnfica e clssica obara O
Controle dos Atos Administrativos pelo Poder Judicirio, Saraiva, 1984,
6a. edio, pg. 229 e 230, analisa o conceito de abuso de poder para fins
de mandado de segurana, tendo em vista a ordem jurdica constitucional.
Leciona o referido mestre:
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
A conceituao do abuso de poder ter carter meramente
terico, por isso que, do ponto de vista prtico do cabimento do mandado
de segurana, a distino pouco imiporta. Sendo o abuso de poder espcie
do gnero ilegalidade, onde esta se constate caber aquele remdio, sem
embargo da classificao que se lhe possa emprestar (usurpao de
funo, abuso de poder, defeito formal, etc.).
Acrescenta o renomado doutrinador:
Entre ns o conceito de abuso de poder s tem encontrado
aplicao prtica no direito penal. Capitulado como excesso ou abuso de
autoridade no Cdigo de 1890 (arts. 226, 228, 229, 230, 231, 232, 234,
235, 236 e 237) e como exerccio arbitrrio ou abuso de poder no Cdigo
vigente (art. 350), se exprime sempre nas exorbitncias do exerccio
funcional, contrapondo-se, nitidamente, ao exerccio de funo sem
titularidade (usurpao de funo).
Mais adiante, Seabra Fagundes lembra que:
No direito administrativo brasileiro, a expresso abuso de
poder no encontra referncias de prstimo. No assim na Frana e na
Itlia, onde a figura do abuso ou excesso de poder (prevalentemente se
fala de excesso) representa papel relevantssimno nos respectivos
sistemas de controle jurisdicional e referida por todos os tratadistas. O
subsdio de tais fontes, no entanto, se mostra menos prestvel porque
preso a peculiaridades do direito positivo e jurisprudncias locais.
O excesso de poder, no direito francs, aparece
primitivamente como sinnimo de incompetncia, na autoridade de um
recurso hierrquico, que, mais tarde, se converte em recurso contencioso
perante o Conselho de Estado, como uma das decorrncias da evoluo
deste rgo no sistema francs de controle jurisdicional. Com o correr dos
tempos, merc de poucos textos legais e de admirvel trabalho
construtivo da jurisprudncia, desenvolve-se o conceito de excesso de
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
poder, erigindo-se o recurso, com esse fundamento e essa denominao,
em via amplssima de suscitamento do contencioso de nulidades dos atos
administrativos. E, ento, nele se abrangem: incompetncia, violao de
forma, desvio do poder (que Duguit caracteriza, em substncia, como
uma modalidade de incompetncia) e violao da lei (denominao
imprecisa, usada para definir as ilegalidades quanto ao objeto do ato.
Seabra Fagundes cita Bonnard, Prtcis, p. 192 e segs; Hauriou, Prcis, p.
420-4, e Duguit, Trait, v. 2, p. 391, como as fontes de onde colheu os
ensinamentos que registra.
Lembra, ainda, Seabra Fagundes que na Itlia, o excesso de
poder, no obstante as diversidades que a doutrina revela ao coneitu-lo,
oferece sentido mais restrito do que aquele com o qual se apresenta no
direito francs. Alcana, apenas a incompetncia pelo exerccio de
atribuio no cometida ao rgo e os vcios que contagiem o ato por uma
defeituosa manifestao da voantade, como os resultados de deturpao
dos fatos ou erro na sua apreaciao, ilocidade manifesta etc., confomre
Zanobini, Corso, p. 227-228; Vicenzo Romanelli, Lannulallamento degli
atti admministrativi, p. 167-77; Ranelletti, L garentigie, p. 95-96.
Seabra Fagundes termina o seu pensamento indicando que
No possvel emprestar ao abuso de poder latitude que o faa
equivalente ao excesso ou abuso de poder dos franceses, porquanto a
expresso ilegalidade, em que se completa a dicotomia do inciso
constitucional, perderia o sentido. Nem possvel, pela aceitao do
critrio da lei penal, cont-lo no mbito estrito da simples exorbitncia de
atribuies, excluda a usurpao de poder, pois, assim, se chegaria ao
abuso de admitir tivesse o legislador dispensado maiores cuidados forma
menos grave da incompetncia que mais marcante.
Conclui:
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
Por abuso de poder se h de entender tudo o que diga
respeito infrao das regras de competncia. Desde a sua violao
frontal, pela prtica de ato totalmente alheio ao mbito de atribuio do
agente (usurpao de poder do nosso direito penal e da classificao
terica dos graus de incompetncia no direito administrativo), at as
exorbitncias de uma competncia realmente existente, sejam ostensivas
(busca realizada pela autoridade policial com arrobamento necessrio
CP, art. 350, IV) ou se disfarcem nas aparncias de atos legtimos
(expulso de estrangeiro, por motivos outros que no a nocividade de
ordem pblica).
6. O ABUSO DE PODER NA VISO DE JOS CRETELLA JNIOR
Jos Cretella Jnior, em sua clssica obra Controle
Jurisdicional do Ato Administrativo, Forense, 1984, analisa a expresso
abuso de poder com base, inicialmente, em pensamento de Pontes de
Miranda (Comnentrios Constituio de 1946, 2a. edio, 1953, v. IV, p.
349):
Abuso de poder, afirmou Pontes de Miranda, o exerccio
irregular do poder. Usurpa poder quem, sem no ter, procede como se o
tivesse. A falsa autoridade usurpa-o; a autoridade incompetente que
exerce poder que compete a outrem, usurpa; a autoridade competente
no usurpa; se de certo modo exorbita, abusa do poder.
Cretella chama a ateno para o fato dae que ....no s no
direito universal como no direito brasileiro, os doutrinadores empregam as
expresses abuso de poder, excesso de poder, desvio de poder e desvio
de finalidade, umas vezes designando realidades distintas, outras como
sinnimas, indicando o mesmo instituto jurdico.
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
A seguir, com a clareza que lhe peculiar, Cretella Jnior
explicita:
Observes-se, porm, que a expresso global abuso de poder
constituda de dois termos bem distintos, com significados diferentes,
abuso e poder, ligados pelo conectivo preposicional de, ambos com
sentido tcnico, que necessrio elucidar.
Abuso, a primeira parte da expresso, de fcil
entendimento, pois conserva a acepo vulgar, no tcnica, de alm do
uso, uso intensivo, uso indevido, desdobramento do uso,
ultrapassagem do uso, uso exorbitante. Nesse caso, o agente pblico,
embora competente para o uso do poder, exagera ou distorce esse
poder, abusivamente.
A segunda parte da expresso poder potestas, em latim,
puissance e no pouvoir, em francs - , complementando a idia contida
no substantivo qualificado abuso -, explicada pela doutrina como o
emprego do poder administrativo, exercido, no em sua justa medida,
mas ultrapassando os fins visados pela lei. Abuso de poder o uso
imoderado do Poder (poder, com p minsculo). o equivalente ao
francs puissance, ao portugus potestade e ao latim potestas; Poder
(com P maisculo) o equivalente ao francs Pouvor, e ao portugus
Poder, nas expresses, o Poder Legislativo, Exeutivo, Judicirio. Nesse
caso, o agente, embora competente, abusa, ultrapassa essa
competncia.
7. O ABUSO DE PODER NA VISO DA DOUTRINA ADMINISTRATIVA CONTEMPORNEA
A doutrina administrativa tem, na poca atual, manifestado
entendimento de que o abuso de poder pode ser definido, em sentido
amplo, como vcio do ato administrativo que ocorre quando o agente
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
pblico exorbita de suas atribuies (excesso de poder), ou pratica ao to
com finalidade diversa da que decorre implcita ou explicitamente da lei
(desvio de poder, conforme assinala Maria Sylvia Zanella Di Pietro, em
Direito Administrativo, 14a. edio, Atlas, p. 228.
O abuso de poder, conseqentemente, pode ficar configurado
de duas formas: a) quando h excesso de poder: b) quando h desvio de
poder.
Em qualquer das espcies que ele se apresente, o abuso de
poder configura crime de abuso de autoridade, de acordo com a tipificao
previstga na Lei n. 4.898, de 9.12.65, alterada pela Lei n. 6.657, de
5.61979, conforme lembra Maria Sylvia Zanella Di Pietro, obra citada, p.
228.
Hely Lopes Meirelles, em sua obra Direito Administrativo
Brasileiro, Malheiros, 28a. edio, pp. 106 e 107, entende que ocorre o
Abuso do Poder quando a autoridade, embora competente para praticar
o ato, ultrapassa os limites de suas atribuies ou se desvia das finalidade
administrativas.
Explica, a seguir:
O abuso do poder, como todo ilcito, reveste as formas mais
diversas. Ora se apresenta ostensivo como a truculncia, s vezes
dissimulado como o estelionato, e no raro encoberto na aparncia
ilusria dos atos legais. Em qualquer desses aspectos flagrante ou
disfarado o abuso do poder sempre uma ilegalidade invalidadora do
ato que o contm.
A conceituao de abuso do poder, na atualidade, com
pequenas variaes, est concentrada nas linhas determinadas pelos
autores acima referidos.
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8. O ABUSO DE PODER NA JURISPRUDNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
RE 307446 AgR / MG - MINAS GERAIS
AG.REG.NORECURSO EXTRAORDINRIO
Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO
Julgamento: 06/03/2002 rgo Julgador: Tribunal Pleno
Publicao: DJ DATA-05-04-2002 PP-00062 EMENT VOL-
02063-08 PP-01481
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. MANDATO ELETIVO:
AO DE IMPUGNAO. ABUSO DE PODER POLTICO. USO INDEVIDO
DOS MEIOS DE COMUNICAO SOCIAL. VICE-GOVERNADOR DO ESTADO
CANDIDATO A SENADOR. I. - Apreciao da questo, pelo Tribunal
Superior Eleitoral, mediante o exame da prova, porque em recurso
ordinrio, que a este negou provimento, confirmando deciso proferida
pelo TRE/MG. II. - No cabe, em sede de recurso extraordinrio,
reexaminar os fatos e as provas considerados nas decises dos Tribunais
Eleitorais. No caso, a apreciao do recurso no prescindiria desse
reexame. III. - R.E. a que se negou trnsito. Agravo improvido.
RE 285569 / SP - SO PAULO
RECURSO EXTRAORDINRIO
Relator(a): Min. MOREIRA ALVES
Julgamento: 18/12/2000 rgo Julgador: Primeira Turma
Publicao: DJ DATA-16-03-2001 PP-00102 EMENT VOL-
02023-07 PP-01435
EMENTA: - Recurso extraordinrio. Competncia para
processar e julgar habeas corpus impetrado contra ato de membro do
Ministrio Pblico Federal. - Ambas as Turmas desta Corte (assim, nos
RREE 141.209 e 187.725) tm entendido que, em se tratando de "habeas
corpus" contra ato de Promotor da Justia Estadual, a competncia para
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
julg-lo do Tribunal de Justia por ser este competente para seu
julgamento quando acusado de crime comum ou de responsabilidade. O
fundamento dessa jurisprudncia - como salientado pelo eminente
Ministro Nry da Silveira no RE 187.725 - "foi sempre o de que da deciso
do habeas corpus pode resultar afirmao de prtica de ilegalidade ou de
abuso de poder pela autoridade" e isso porque "ao se conceder o habeas
corpus, se se reconhecer, expressamente, que a autoridade praticou
ilegalidade, abuso de poder, em linha de princpio, poder configurar-se
algum crime comum. Dessa maneira, a mesma autoridade que julgar o
habeas corpus ser a competente para o processo e julgamento do crime
comum, eventualmente, praticado pela autoridade impetrada". - No caso,
em se tratando, como se trata, de habeas corpus contra membro do
Ministrio Pblico Federal que atua junto a Juzo de primeiro grau, e tendo
em vista que, em virtude do disposto no artigo 108, I, "a", da
Constituio, compete aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar
originariamente esses membros, a esses Tribunais compete, tambm, por
aplicao do mesmo fundamento, julgar os habeas corpus impetrados
contra essas autoridades. Recurso extraordinrio conhecido e provido
MS 23795 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL
AG.REG.NO MANDADO DE SEGURANA
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 09/11/2000 rgo Julgador: Tribunal Pleno
Publicao: DJ DATA-02-03-2001 PP-00003 EMENT VOL-
02021-01 PP-00078
E M E N T A: MANDADO DE SEGURANA - IMPETRAO
DEDUZIDA QUANDO J ESGOTADO O PRAZO DECADENCIAL DE 120 DIAS
(LEI N 1.533/51, ART. 18) - AO DE MANDADO DE SEGURANA NO
CONHECIDA. MANDADO DE SEGURANA - PRAZO DECADENCIAL -
CONSUMAO - EXTINO DO DIREITO DE IMPETRAR O WRIT -
CONSTITUCIONALIDADE. - Com o decurso in albis do prazo decadencial
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
de 120 dias, a que se refere o art. 18 da Lei n 1.533/51 - cuja
constitucionalidade foi reafirmada pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ
142/161 - RTJ 145/186 - RTJ 156/506) -, extingue-se, de pleno direito, a
prerrogativa de impetrar mandado de segurana. MANDADO DE
SEGURANA E TERMO INICIAL DO PRAZO DE SUA IMPETRAO. - O
termo inicial do prazo decadencial de 120 dias comea a fluir, para efeito
de impetrao do mandado de segurana, a partir da data em que o ato
do Poder Pblico, formalmente divulgado no Dirio Oficial, revela-se apto
a gerar efeitos lesivos na esfera jurdica do interessado. Precedentes. A
CONSUMAO DO PRAZO DECADENCIAL - QUE S ATINGE O DIREITO DE
IMPETRAR O WRIT - NO GERA A PERDA DO DIREITO MATERIAL
AFETADO PELO ATO ABUSIVO DO PODER PBLICO. - O ato estatal eivado
de ilegalidade ou de abuso de poder no se convalida e nem adquire
consistncia jurdica, pelo simples decurso, in albis, do prazo decadencial
a que se refere o art. 18 da Lei n 1.533/51. Desse modo, a extino do
direito de impetrar mandado de segurana, resultante da consumao do
prazo decadencial, embora impea a utilizao processual desse
instrumento constitucional, no importa em correspondente perda do
direito material, ameaado ou violado, de que seja titular a parte
interessada, que sempre poder - respeitados os demais prazos
estipulados em lei - questionar, em juzo, a validade jurdica dos atos
emanados do Poder Pblico que lhe sejam lesivos. Precedente: RTJ
145/186-194.
RE 259335 AgR / RJ - RIO DE JANEIRO
AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINRIO
Relator(a): Min. MAURCIO CORRA
Julgamento: 08/08/2000 rgo Julgador: Segunda Turma
Publicao: DJ DATA-07-12-2000 PP-00022 EMENT VOL-
02015-07 PP-0142
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ILEGALIDADE
DO ATO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE REINTEGRAO DO SERVIDOR NO
QUADRO DA POLCIA MILITAR. OFENSA AO PRINCPIO DA SEPARAO
DOS PODERES. INEXISTNCIA. 1. Ato administrativo vinculado.
Indeferimento do pedido de reintegrao do servidor na Corporao.
Ilegalidade por no terem sido observados os direitos e garantias
individuais assegurados pela Constituio Federal. 2. Reexame da deciso
administrativa pelo Poder Judicirio. Ofensa ao princpio da separao de
poderes. Inexistncia. A Carta Federal conferiu ao Poder Judicirio a
funo precpua de controlar os excessos cometidos em qualquer das
esferas governamentais, quando estes incidirem em abuso de poder ou
desvios inconstitucionais. Precedente. Agravo regimental no provido.
MS 23452 / RJ - RIO DE JANEIRO
MANDADO DE SEGURANA
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 16/09/1999 rgo Julgador: Tribunal Pleno
Publicao: DJ DATA-12-05-2000 PP-00020 EMENT VOL-
01990-01 PP-00086
E M E N T A: COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO -
PODERES DE INVESTIGAO (CF, ART. 58, 3) - LIMITAES
CONSTITUCIONAIS - LEGITIMIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL -
POSSIBILIDADE DE A CPI ORDENAR, POR AUTORIDADE PRPRIA, A
QUEBRA DOS SIGILOS BANCRIO, FISCAL E TELEFNICO -
NECESSIDADE DE FUNDAMENTAO DO ATO DELIBERATIVO -
DELIBERAO DA CPI QUE, SEM FUNDAMENTAO, ORDENOU MEDIDAS
DE RESTRIO A DIREITOS - MANDADO DE SEGURANA DEFERIDO.
COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO - COMPETNCIA ORIGINRIA
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. - Compete ao Supremo Tribunal
Federal processar e julgar, em sede originria, mandados de segurana e
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
habeas corpus impetrados contra Comisses Parlamentares de Inqurito
constitudas no mbito do Congresso Nacional ou no de qualquer de suas
Casas. que a Comisso Parlamentar de Inqurito, enquanto projeo
orgnica do Poder Legislativo da Unio, nada mais seno a longa manus
do prprio Congresso Nacional ou das Casas que o compem, sujeitando-
se, em conseqncia, em tema de mandado de segurana ou de habeas
corpus, ao controle jurisdicional originrio do Supremo Tribunal Federal
(CF, art. 102, I, "d" e "i"). Precedentes. O CONTROLE JURISDICIONAL DE
ABUSOS PRATICADOS POR COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO
NO OFENDE O PRINCPIO DA SEPARAO DE PODERES. - A essncia do
postulado da diviso funcional do poder, alm de derivar da necessidade
de conter os excessos dos rgos que compem o aparelho de Estado,
representa o princpio conservador das liberdades do cidado e constitui o
meio mais adequado para tornar efetivos e reais os direitos e garantias
proclamados pela Constituio. Esse princpio, que tem assento no art. 2
da Carta Poltica, no pode constituir e nem qualificar-se como um
inaceitvel manto protetor de comportamentos abusivos e arbitrrios, por
parte de qualquer agente do Poder Pblico ou de qualquer instituio
estatal. - O Poder Judicirio, quando intervm para assegurar as franquias
constitucionais e para garantir a integridade e a supremacia da
Constituio, desempenha, de maneira plenamente legtima, as
atribuies que lhe conferiu a prpria Carta da Repblica. O regular
exerccio da funo jurisdicional, por isso mesmo, desde que pautado pelo
respeito Constituio, no transgride o princpio da separao de
poderes. Desse modo, no se revela lcito afirmar, na hiptese de desvios
jurdico-constitucionais nas quais incida uma Comisso Parlamentar de
Inqurito, que o exerccio da atividade de controle jurisdicional possa
traduzir situao de ilegtima interferncia na esfera de outro Poder da
Repblica. O CONTROLE DO PODER CONSTITUI UMA EXIGNCIA DE
ORDEM POLTICO-JURDICA ESSENCIAL AO REGIME DEMOCRTICO. - O
sistema constitucional brasileiro, ao consagrar o princpio da limitao de
poderes, teve por objetivo instituir modelo destinado a impedir a 40
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
formao de instncias hegemnicas de poder no mbito do Estado, em
ordem a neutralizar, no plano poltico-jurdico, a possibilidade de
dominao institucional de qualquer dos Poderes da Repblica sobre os
demais rgos da soberania nacional. Com a finalidade de obstar que o
exerccio abusivo das prerrogativas estatais possa conduzir a prticas que
transgridam o regime das liberdades pblicas e que sufoquem, pela
opresso do poder, os direitos e garantias individuais, atribuiu-se, ao
Poder Judicirio, a funo eminente de controlar os excessos cometidos
por qualquer das esferas governamentais, inclusive aqueles praticados por
Comisso Parlamentar de Inqurito, quando incidir em abuso de poder ou
em desvios inconstitucionais, no desempenho de sua competncia
investigatria. OS PODERES DAS COMISSES PARLAMENTARES DE
INQURITO, EMBORA AMPLOS, NO SO ILIMITADOS E NEM
ABSOLUTOS. - Nenhum dos Poderes da Repblica est acima da
Constituio. No regime poltico que consagra o Estado democrtico de
direito, os atos emanados de qualquer Comisso Parlamentar de
Inqurito, quando praticados com desrespeito Lei Fundamental,
submetem-se ao controle jurisdicional (CF, art. 5, XXXV). As Comisses
Parlamentares de Inqurito no tm mais poderes do que aqueles que
lhes so outorgados pela Constituio e pelas leis da Repblica.
essencial reconhecer que os poderes das Comisses Parlamentares de
Inqurito - precisamente porque no so absolutos - sofrem as restries
impostas pela Constituio da Repblica e encontram limite nos direitos
fundamentais do cidado, que s podem ser afetados nas hipteses e na
forma que a Carta Poltica estabelecer. Doutrina. Precedentes.
LIMITAES AOS PODERES INVESTIGATRIOS DA COMISSO
PARLAMENTAR DE INQURITO. - A Constituio da Repblica, ao outorgar
s Comisses Parlamentares de Inqurito "poderes de investigao
prprios das autoridades judiciais" (art. 58, 3), claramente delimitou a
natureza de suas atribuies institucionais, restringindo-as, unicamente,
ao campo da indagao probatria, com absoluta excluso de quaisquer
outras prerrogativas que se incluem, ordinariamente, na esfera de 41
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
competncia dos magistrados e Tribunais, inclusive aquelas que decorrem
do poder geral de cautela conferido aos juzes, como o poder de decretar
a indisponibilidade dos bens pertencentes a pessoas sujeitas
investigao parlamentar. A circunstncia de os poderes investigatrios de
uma CPI serem essencialmente limitados levou a jurisprudncia
constitucional do Supremo Tribunal Federal a advertir que as Comisses
Parlamentares de Inqurito no podem formular acusaes e nem punir
delitos (RDA 199/205, Rel. Min. PAULO BROSSARD), nem desrespeitar o
privilgio contra a auto-incriminao que assiste a qualquer indiciado ou
testemunha (RDA 196/197, Rel. Min. CELSO DE MELLO - HC 79.244-DF,
Rel. Min. SEPLVEDA PERTENCE), nem decretar a priso de qualquer
pessoa, exceto nas hipteses de flagrncia (RDA 196/195, Rel. Min.
CELSO DE MELLO - RDA 199/205, Rel. Min. PAULO BROSSARD). OS
DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NO TM CARTER ABSOLUTO.
No h, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se
revistam de carter absoluto, mesmo porque razes de relevante
interesse pblico ou exigncias derivadas do princpio de convivncia das
liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoo, por parte
dos rgos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais
ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela prpria
Constituio. O estatuto constitucional das liberdades pblicas, ao delinear
o regime jurdico a que estas esto sujeitas - e considerado o substrato
tico que as informa - permite que sobre elas incidam limitaes de ordem
jurdica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse
social e, de outro, a assegurar a coexistncia harmoniosa das liberdades,
pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da
ordem pblica ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. A
QUEBRA DO SIGILO CONSTITUI PODER INERENTE COMPETNCIA
INVESTIGATRIA DAS COMISSES PARLAMENTARES DE INQURITO. - O
sigilo bancrio, o sigilo fiscal e o sigilo telefnico (sigilo este que incide
sobre os dados/registros telefnicos e que no se identifica com a
inviolabilidade das comunicaes telefnicas) - ainda que representem 42
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
projees especficas do direito intimidade, fundado no art. 5, X, da
Carta Poltica - no se revelam oponveis, em nosso sistema jurdico, s
Comisses Parlamentares de Inqurito, eis que o ato que lhes decreta a
quebra traduz natural derivao dos poderes de investigao que foram
conferidos, pela prpria Constituio da Repblica, aos rgos de
investigao parlamentar. As Comisses Parlamentares de Inqurito, no
entanto, para decretarem, legitimamente, por autoridade prpria, a
quebra do sigilo bancrio, do sigilo fiscal e/ou do sigilo telefnico,
relativamente a pessoas por elas investigadas, devem demonstrar, a
partir de meros indcios, a existncia concreta de causa provvel que
legitime a medida excepcional (ruptura da esfera de intimidade de quem
se acha sob investigao), justificando a necessidade de sua efetivao no
procedimento de ampla investigao dos fatos determinados que deram
causa instaurao do inqurito parlamentar, sem prejuzo de ulterior
controle jurisdicional dos atos em referncia (CF, art. 5, XXXV). - As
deliberaes de qualquer Comisso Parlamentar de Inqurito,
semelhana do que tambm ocorre com as decises judiciais (RTJ
140/514), quando destitudas de motivao, mostram-se rritas e
despojadas de eficcia jurdica, pois nenhuma medida restritiva de direitos
pode ser adotada pelo Poder Pblico, sem que o ato que a decreta seja
adequadamente fundamentado pela autoridade estatal. - O carter
privilegiado das relaes Advogado-cliente: a questo do sigilo profissional
do Advogado, enquanto depositrio de informaes confidenciais
resultantes de suas relaes com o cliente. MOTIVAO PER RELATIONEM
CONSTANTE DA DELIBERAO EMANADA DA COMISSO PARLAMENTAR
DE INQURITO. Tratando-se de motivao per relationem, impe-se
Comisso Parlamentar de Inqurito - quando esta faz remisso a
elementos de fundamentao existentes aliunde ou constantes de outra
pea - demonstrar a efetiva existncia do documento consubstanciador da
exposio das razes de fato e de direito que justificariam o ato decisrio
praticado, em ordem a propiciar, no apenas o conhecimento do que se
contm no relato expositivo, mas, sobretudo, para viabilizar o controle 43
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
jurisdicional da deciso adotada pela CPI. que tais fundamentos -
considerada a remisso a eles feita - passam a incorporar-se ao prprio
ato decisrio ou deliberativo que a eles se reportou. No se revela vivel
indicar, a posteriori, j no mbito do processo de mandado de segurana,
as razes que deveriam ter sido expostas por ocasio da deliberao
tomada pela Comisso Parlamentar de Inqurito, pois a existncia
contempornea da motivao - e no a sua justificao tardia - constitui
pressuposto de legitimao da prpria resoluo adotada pelo rgo de
investigao legislativa, especialmente quando esse ato deliberativo
implicar ruptura da clusula de reserva pertinente a dados sigilosos. A
QUESTO DA DIVULGAO DOS DADOS RESERVADOS E O DEVER DE
PRESERVAO DOS REGISTROS SIGILOSOS. - A Comisso Parlamentar
de Inqurito, embora disponha, ex propria auctoritate, de competncia
para ter acesso a dados reservados, no pode, agindo arbitrariamente,
conferir indevida publicidade a registros sobre os quais incide a clusula
de reserva derivada do sigilo bancrio, do sigilo fiscal e do sigilo
telefnico. Com a transmisso das informaes pertinentes aos dados
reservados, transmite-se Comisso Parlamentar de Inqurito - enquanto
depositria desses elementos informativos -, a nota de confidencialidade
relativa aos registros sigilosos. Constitui conduta altamente censurvel -
com todas as conseqncias jurdicas (inclusive aquelas de ordem penal)
que dela possam resultar - a transgresso, por qualquer membro de uma
Comisso Parlamentar de Inqurito, do dever jurdico de respeitar e de
preservar o sigilo concernente aos dados a ela transmitidos. Havendo
justa causa - e achando-se configurada a necessidade de revelar os dados
sigilosos, seja no relatrio final dos trabalhos da Comisso Parlamentar de
Inqurito (como razo justificadora da adoo de medidas a serem
implementadas pelo Poder Pblico), seja para efeito das comunicaes
destinadas ao Ministrio Pblico ou a outros rgos do Poder Pblico, para
os fins a que se refere o art. 58, 3, da Constituio, seja, ainda, por
razes imperiosas ditadas pelo interesse social - a divulgao do segredo,
precisamente porque legitimada pelos fins que a motivaram, no 44
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
configurar situao de ilicitude, muito embora traduza providncia
revestida de absoluto grau de excepcionalidade. POSTULADO
CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE JURISDIO: UM TEMA AINDA
PENDENTE DE DEFINIO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. O
postulado da reserva constitucional de jurisdio importa em submeter,
esfera nica de deciso dos magistrados, a prtica de determinados atos
cuja realizao, por efeito de explcita determinao constante do prprio
texto da Carta Poltica, somente pode emanar do juiz, e no de terceiros,
inclusive daqueles a quem se haja eventualmente atribudo o exerccio de
"poderes de investigao prprios das autoridades judiciais". A clusula
constitucional da reserva de jurisdio - que incide sobre determinadas
matrias, como a busca domiciliar (CF, art. 5, XI), a interceptao
telefnica (CF, art. 5, XII) e a decretao da priso de qualquer pessoa,
ressalvada a hiptese de flagrncia (CF, art. 5, LXI) - traduz a noo de
que, nesses temas especficos, assiste ao Poder Judicirio, no apenas o
direito de proferir a ltima palavra, mas, sobretudo, a prerrogativa de
dizer, desde logo, a primeira palavra, excluindo-se, desse modo, por fora
e autoridade do que dispe a prpria Constituio, a possibilidade do
exerccio de iguais atribuies, por parte de quaisquer outros rgos ou
autoridades do Estado. Doutrina. - O princpio constitucional da reserva de
jurisdio, embora reconhecido por cinco (5) Juzes do Supremo Tribunal
Federal - Min. CELSO DE MELLO (Relator), Min. MARCO AURLIO, Min.
SEPLVEDA PERTENCE, Min. NRI DA SILVEIRA e Min. CARLOS VELLOSO
(Presidente) - no foi objeto de considerao por parte dos demais
eminentes Ministros do Supremo Tribunal Federal, que entenderam
suficiente, para efeito de concesso do writ mandamental, a falta de
motivao do ato impugnado.
RE 192123 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL
AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINRIO
Relator(a): Min. MAURCIO CORRA
Julgamento: 13/05/1996 rgo Julgador: SEGUNDA TURMA 45
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
Publicao: DJ DATA-01-07-1996 PP-23885 EMENT VOL-
01834-07 PP-01427
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINRIO. OFICIAL DE CHANCELARIA. EXERCCIO DE POSTO NO
EXTERIOR. REMOO "EX-OFFICIO". DIREITO SUBJETIVO DE
PERMANNCIA. INEXISTNCIA. 1 - No h direito de permanncia no
exterior, porque o exerccio de posto no gera esse direito subjetivo,
mormente quando expirado o prazo mximo fixado na legislao atinente
espcie, inexistindo abuso de poder da autoridade competente ao
determinar a remoo "ex-officio". Agravo regimental improvido.
ADI 1407 MC / DF - DISTRITO FEDERAL
MEDIDA CAUTELAR NA AO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 07/03/1996 rgo Julgador: Tribunal Pleno
Publicao: DJ DATA-24-11-2000 PP-00086 EMENT VOL-
02013-10 PP-01974
E M E N T A: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -
ELEIES MUNICIPAIS DE 1996 - COLIGAES PARTIDRIAS APENAS
PARA ELEIES PROPORCIONAIS - VEDAO ESTABELECIDA PELA LEI N.
9.100/95 (ART. 6) - ALEGAO DE OFENSA AO PRINCPIO DA
AUTONOMIA PARTIDRIA (CF, ART. 17, 1) E DE VIOLAO AOS
POSTULADOS DO PLURIPARTIDARISMO E DO REGIME DEMOCRTICO -
AUSNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURDICA - MEDIDA CAUTELAR
INDEFERIDA. PARTIDO POLTICO - AO DIRETA - LEGITIMIDADE ATIVA
- INEXIGIBILIDADE DO VNCULO DE PERTINNCIA TEMTICA. - Os
Partidos Polticos, desde que possuam representao no Congresso
Nacional, podem, em sede de controle abstrato, argir, perante o
Supremo Tribunal Federal, a inconstitucionalidade de atos normativos
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
federais, estaduais ou distritais, independentemente de seu contedo
material, eis que no incide sobre as agremiaes partidrias a restrio
jurisprudencial derivada do vnculo de pertinncia temtica. Precedente:
ADIn n. 1.096/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO. AUTONOMIA PARTIDRIA -
RESERVA CONSTITUCIONAL DE DISCIPLINAO ESTATUTRIA (CF, ART.
17, 1). - O postulado constitucional da autonomia partidria criou, em
favor dos Partidos Polticos - sempre que se tratar da definio de sua
estrutura, de sua organizao ou de seu interno funcionamento - uma
rea de reserva estatutria absolutamente indevassvel pela ao
normativa do Poder Pblico. H, portanto, um domnio
constitucionalmente delimitado, que pr-exclui - por efeito de expressa
clusula constitucional (CF, art. 17, 1) - qualquer possibilidade de
interveno legislativa em tudo o que disser respeito intimidade
estrutural, organizacional e operacional dos Partidos Polticos. Precedente:
ADI n. 1.063-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO. PROCESSO ELEITORAL E
PRINCPIO DA RESERVA CONSTITUCIONAL DE COMPETNCIA
LEGISLATIVA DO CONGRESSO NACIONAL (CF,art. 22, I). - O princpio da
autonomia partidria - considerada a estrita delimitao temtica de sua
abrangncia conceitual - no se qualifica como elemento de restrio ao
poder normativo do Congresso Nacional, a quem assiste, mediante lei, a
competncia indisponvel para disciplinar o processo eleitoral e, tambm,
para prescrever regras gerais que os atores do processo eleitoral, para
efeito de disputa do poder poltico, devero observar, em suas relaes
externas, na celebrao das coligaes partidrias. SUBMISSO
NORMATIVA DOS PARTIDOS POLTICOS S DIRETRIZES LEGAIS DO
PROCESSO ELEITORAL. Os Partidos Polticos esto sujeitos, no que se
refere regncia normativa de todas as fases do processo eleitoral, ao
ordenamento jurdico positivado pelo Poder Pblico em sede legislativa.
Temas associados disciplinao das coligaes partidrias subsumem-se
noo de processo eleitoral, submetendo-se, em conseqncia, ao
princpio da reserva constitucional de competncia legislativa do
Congresso Nacional. AUTONOMIA PARTIDRIA E PROCESSO ELEITORAL. - 47
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
O princpio da autonomia partidria no oponvel ao Estado, que dispe
de poder constitucional para, em sede legislativa, estabelecer a regulao
normativa concernente ao processo eleitoral. O postulado da autonomia
partidria no pode ser invocado para excluir os Partidos Polticos - como
se estes fossem entidades infensas e imunes ao legislativa do Estado -
da situao de necessria observncia das regras legais que disciplinam o
processo eleitoral em todas as suas fases. VEDAO DE COLIGAES
PARTIDRIAS APENAS NAS ELEIES PROPORCIONAIS - PROIBIO
LEGAL QUE NO SE REVELA ARBITRRIA OU IRRAZOVEL - RESPEITO
CLUSULA DO SUBSTANTIVE DUE PROCESS OF LAW. - O Estado no pode
legislar abusivamente. A atividade legislativa est necessariamente sujeita
rgida observncia de diretriz fundamental, que, encontrando suporte
terico no princpio da proporcionalidade, veda os excessos normativos e
as prescries irrazoveis do Poder Pblico. O princpio da
proporcionalidade - que extrai a sua justificao dogmtica de diversas
clusulas constitucionais, notadamente daquela que veicula a garantia do
substantive due process of law - acha-se vocacionado a inibir e a
neutralizar os abusos do Poder Pblico no exerccio de suas funes,
qualificando-se como parmetro de aferio da prpria constitucionalidade
material dos atos estatais. A norma estatal, que no veicula qualquer
contedo de irrazoabilidade, presta obsquio ao postulado da
proporcionalidade, ajustando-se clusula que consagra, em sua
dimenso material, o princpio do substantive due process of law (CF, art.
5, LIV). Essa clusula tutelar, ao inibir os efeitos prejudiciais decorrentes
do abuso de poder legislativo, enfatiza a noo de que a prerrogativa de
legislar outorgada ao Estado constitui atribuio jurdica essencialmente
limitada, ainda que o momento de abstrata instaurao normativa possa
repousar em juzo meramente poltico ou discricionrio do legislador
RE 131661 / ES - ESPRITO SANTO
RECURSO EXTRAORDINRIO
Relator(a): Min. MARCO AURLIO 48
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Reflexes sobre Abuso do Poder no Ordenamento Jurdico Brasileiro
Julgamento: 26/09/1995 rgo Julgador: SEGUNDA TURMA
Publicao: DJ DATA-17-11-1995 PP-39209 EMENT VOL-
01809-06 PP-01393
RECURSO EXTRAORDINRIO - PRESSUPOSTO ESPECIFICO DE
RECORRIBILIDADE. A parte sequiosa de ver o recurso extraordinrio
admitido e conhecido deve atentar no s para a observancia aos
pressupostos gerais de recorribilidade como tambm para um dos
especificos do permissivo constitucional. Longe fica de vulnerar o artigo
6., paragrafo nico, da Constituio de 1969 acrdo em que afastado ato
administrativo praticado com abuso de poder, no que revelou remoo de
funcionrio sem a indicao dos motivos que estariam a respalda-la. Na
dico sempre oportuna de Celso Antonio Bandeira de Mello, mesmo nos
atos discricionarios n