a defesa do consumidor e o abuso do poder econômico

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  • 7/31/2019 A Defesa do Consumidor e o Abuso do Poder Econmico

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    Aureliano AlbuquerqueAmorim

    A defesa doConsumidor e o Abuso do Poder

    Econmico

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    A defesa do Consumidor e o Abuso doPoder Econmico

    Inverso do nus da prova. Desconsiderao daPersonalidade Jurdica. Reviso contratual.

    Todos somos iguais perante alei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aosbrasileiros e aos estrangeirosresidentes no Pas a inviolabilidadedo direito vida, liberdade, segurana e propriedade, nostermos seguintes: (CF art. 5)

    com esta afirmao textualda nossa Carta Mxima que inicio a formulaodesse artigo. O princpio Constitucional surgiu nareligio, que nos considera a todos como filhos deDeus, e por isso iguais em amor e oportunidades

    perante ele. Sendo iguais perante Deus, a perguntaque se faz porque somos to diferentes perantenos mesmos na face da terra?

    Sem adentrar nasdiscusses filosfico-religiosas que possam nos dar

    a resposta to intrigante pergunta, cabe-nosreconhecer a nossa realidade plural, e agir de forma

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    a promover mais igualdade sobre a terra, reduzindoou anulando as diferenas existentes.

    Igualdade no sentido jurdicono tratar a todos igualmente, mas sim tratar desigualmente os desiguais, e igualmente os iguais.Informa o Magistrio de Alexandre de Moraes inDireito Constitucional, Editora Atlas, 10 Edio,2001, pg. 62

    Dessa forma, o que se veda so asdiferenciaes arbitrrias , asdiscriminaes absurdas, pois, otratamento desigual dos casosdesiguais, na medida em que sedesigualam, exigncia tradicional

    do prprio conceito de justia,...

    Agindo desta forma,estaremos contribuindo para a melhoria do nossonvel social, com distribuio de renda maiseqitativa, sempre dando prioridade ao trabalho emdetrimento ao cio. Com essas atitudes estaremos

    perseguindo e atingindo a verdadeira JUSTIA,dando a cada um o que lhe de Direito.

    A condio do Consumidor um eterno problema de desigualdade social,devendo a lei e o intrprete do Direito, munido dosideais de justia e igualdade, agir de modo a anular

    ou reduzir as diferenas, pois diante delas

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    dificilmente teremos condies de atingir averdadeira JUSTIA.

    O livre comrcio aumentou aconcorrncia, reduzindo os preos dos bens deconsumo oferecidos sociedade, de modo quesomente sobreviver quem tiver condies deproduo com o menor custo possvel, atendendo aprocura do consumidor que analisa mais o preo, e

    quase nunca a qualidade. A reduo indiscriminada

    dos preos importa na necessidade de produoem massa e altamente automatizada, fazendo comque as indstrias invistam em maquinrio que nocobra salrios, no faz greve e no tem horrio de

    servio. Com a maioria das suas atividades ligadas produo em massa e ainda por cimaautomatizada, natural que a qualidade seja umitem em franco declnio. Isto acaba trazendo para asociedade produtos com defeitos ou que noatendem s especificaes noticiadas napropaganda comercial.

    A sada investir naqualidade dos produtos. No entanto h um grandeproblema. Tudo que se economizou com aproduo em massa ser gasto no controle dequalidade, quando no em valores ainda maiores. Aemenda ficou pior que o soneto. O resultado que

    o controle de qualidade se faz por amostragem, oque no evita a possibilidade de produtos com

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    defeito que vai desaguar no consumidor que oadquire, levado que foi pela propaganda comercial

    feita pelo prprio fabricante.Surge ento o conflito de

    interesses. De um lado o grande comerciante ouindustrial, munido de capacidade financeira etecnolgica, enquanto de outro fica o consumidor munido de pouco poder e quase nenhuma

    capacidade econmica. A luta desigual e inglriapara o consumidor, que se no for protegido pelalegislao, fatalmente sucumbir na querela judicialem face da sua condio de hiposuficiente.

    Outro fator interessante ecom grande repercusso na busca da verdadeira

    Justia, que a reclamao por parte dosconsumidores se revela bem inferior aos problemascausados, notadamente em face das dificuldadeseconmicas para o exerccio do direito reclamado.Deve-se contratar advogado, pagar custas, procurar os rgos da Justia, com grande perda de tempo ede dinheiro. A maioria prefere suportar o prejuzo

    justamente porque a procura pela indenizaoimportar em gastos maiores que o prejuzo sofrido,nem sempre indenizados pelo fornecedor.

    A concluso a que se chega que produzir sem qualidade pode ser umavantagem. A reduo dos custos importa em maior

    venda e por conseqncia maiores lucros. Asreclamaes no se fazem suficientes para por em

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    risco os lucros, e com isso no h preocupao emmudar este estado de coisas. A sada para isso est

    nas aes coletivas, interpostas pelos rgos dedefesa do consumidor (Procons), resultando emregra grandes dispndios ao fabricante do produtocom defeito, provocando com isso a mudana nosparadigmas. Temos exemplos recentes a respeitode telefones celulares e tambm do Recall naindstria automotiva.

    Se as aes coletivasresolvem o problema quando se mostra grande osuficiente para sua interveno, ainda teremos asituao do consumidor em particular, com seucaso nico ou raro. Tambm a este se deve colocar disposio meios legais para que no se veja

    desprotegido e sozinho na selva povoada degrandes predadores.

    Um grande passo para seestabelecer a igualdade entre consumidor efornecedor surgiu com a Lei 9099/95 e tambm como Cdigo de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90).

    Enquanto o ltimo ditou o direito objetivo, o primeiroforneceu os meios processuais adequados exigncia daqueles direitos, notadamente cominformalidade, gratuidade e agilidade.

    O objetivo deste artigocinge-se anlise das circunstncias previstas no

    CDC no sentido de estabelecer igualdade entre osdesiguais, dar condies ao consumidor

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    hiposuficiente de exigir do fornecedor hipersuficiente, os seus direitos quando

    conspurcados. Com isso estaremos impedindo queo poder econmico tenha superioridade sobre oDireito e a Justia.

    Os institutos da inverso donus da prova, desconsiderao da personalidade

    jurdica e o da possibilidade de reviso dos

    contratos, esto entre as armas colocadas disposio do intrprete do Direito para com elesevitar a prevalncia do poder econmico emdetrimento da Justia. Analisaremos cada um deles.

    A inverso do nus da prova .

    Todos sabemos que aJustia trabalha com provas. Comprovando o seudireito, torna-se possvel o reconhecimento de suaexistncia pelo Poder Judicirio ao promover aentrega da prestao jurisdicional. Nos termos doartigo 333 do CPC, o nus da prova incumbe aoautor, quanto ao fato constitutivo do seu direito, e

    ao ru quanto existncia de fato impeditivo,modificativo ou extintivo do direito do autor.

    No caso do Direito doConsumidor, mesmo nas circunstncias em que aoautor incumbe o nus da prova, deve-se operar asua inverso, passando o nus ao ru, quando , a

    critrio do Juiz , for verossmel a alegao, ou

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    quando for ele hiposuficiente, segundo as regrasordinrias de experincias. (art. 6 VIII do CDC).

    So duas as circunstnciasem que devemos inverter o nus da prova nasrelaes de consumo. No primeiro caso quando for verossmel a alegao, e no segundo caso quandofor o consumidor hiposuficiente, segundo as regrasordinrias de experincias. No primeiro caso,

    notamos que a verossimilhana se encontra cadavez mais utilizada pela sistemtica jurdica, inclusiveem face da criao do instituto da tutela antecipada.De fato, estando evidente a veracidade do alegado,decorrente tanto de prova documental, comotambm das circunstncias fticas, bastanterazovel que se inverta o nus da prova.

    Todo o Direito doConsumidor se encontra baseado em um grandeprincpio, qual seja o da boa-f , norteador detodas as relaes. Boa-f significa ausncia dedolo, de simulao, de vantagem injusta. Significacorreo nas falas, veracidade do alegado, enfim,

    revela princpio de Justia. Em face disso, entendeo legislador que havendo grande possibilidade daocorrncia da verdade, no aconselhvel aexigncia de sua comprovao, posto que haveriagrande contradio.

    Encontrando-se a verdade,

    estar aberto o caminho para a Justia, pois deacordo com o princpio bblico, ela liberta. So por

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    estas razes que a verossimilhana, j levando possibilidade de concesso de tutela antecipada,

    mais que suficiente para a inverso do nus daprova nas relaes de consumo.

    A segunda possibilidadeencontra-se na hiposuficincia do consumidor.Conforme j salientamos na introduo a esteartigo, a situao do consumidor de

    hiposuficincia, ou seja, de incapacidade, depequenez de poder, necessidade at. Os grandesconglomerados financeiros se fazem forte osuficiente para tentar manter os seus ganhos emelevao, mesmo que em detrimento do direito dospequenos.

    H que se ressaltar ainda,que a hiposuficincia informada na legislao, no somente a financeira, e no h a mnima razopara ser entendida desta forma. Trata-se deincapacidade para a produo da prova que lheconvm por determinao expressa da lei. Assim,mesmo o consumidor abastado financeiramente,

    pode se beneficiar da previso legal em comento,bastando que pelas suas caractersticas, no tenhacondio para o fornecimento da prova necessriaao julgamento da perlenga.

    Tambm se inverter o nusda prova, quando ela se encontre na posse do

    prprio fornecedor, o que leva concluso de queo consumidor no tem condio suficiente para

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    lev-la em juzo. Estando na posse de outrem,surge a hiposuficincia ensejadora da inverso. E

    no se fale na proibio de prova contra os prpriosinteresses. A uma porque este princpio maisaplicado na esfera criminal. A duas porque aexigncia da prova se faz por expressadeterminao da lei, na dura procura pela verdadeno relacionamento consumerista.

    Aliado a tudo isso, seencontra ainda a expresso a critrio do juiz , ouseja, as circunstncias que ensejam a inverso donus da prova sero aquilatadas pelo Magistrado,que utilizar as regras ordinrias de experincias. Advida que surge se esta deciso pode ser reformada pela instncia superior.

    A expresso juiz no podeser entendida como relativa aos que pertencem aoprimeiro grau de jurisdio. Sabemos que todos osintegrantes da Magistratura so Juzes, noimportando o grau de jurisdio que estejamprestando os seus servios. Se a legislao ou o

    costume , num intuito de realizar uma diferenciao,procurou outras denominaes para aqueles queesto nos graus superiores de jurisdio, entendoque no devemos aplica-la ao caso, principalmentepor no haver hierarquia na funo jurisdicional.

    Diante de tais

    consideraes, entendo que a inverso do nus daprova uma deciso que necessita de um mnimo

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    de fundamentao, e pode sem dvida ser reformada por jurisdio superior. necessrio no

    entanto, que se respeite as regras ordinrias deexperincias utilizadas pelo Magistrado de primeirograu, s podendo haver reforma quando a situaose revelar desprovida de um mnimo defundamentao ou perfeita ilegalidade.

    Outra circunstncia

    interessante sobre a inverso do nus da provaencontra-se no momento de sua realizao. Hentendimentos de que deve ser feita quando dasentena, enquanto que outros existem no sentidode dar oportunidade para o ru cumprir a decisoque inverteu o nus da prova.

    A fundamentao daprimeira posio reside no fato de que oprocedimento no Juizado Especial informal, almdo que a legislao consumerista de ordempblica, podendo o juiz aplic-la a qualquer momento. Considero a fundamentao equivocadae digo os motivos.

    A inverso do nus da provano significa o reconhecimento da veracidadeabsoluta do alegado de modo a justificar sentenaimediata. Ao contrrio, se a lei assim o quisesse,no teria falado em inverso do nus da prova, massim em situao que levasse ao entendimento da

    presuno absoluta da veracidade do alegado, num

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    se oportunizar o "ex adverso" aproduzir a prova que restouresponsvel. Deciso: CONHECER ORECURSO. DAR PROVIMENTOPARCIAL. MAIORIA.

    A concluso que se retira que se deve oportunizar ao ru a realizao daprova que lhe foi impingida pela deciso deinverso do nus, sob pena de cerceamento dodireito de defesa e grave inverso procedimental. Autilizao desse instituto sem dvida poder impedir a utilizao abusiva do poder econmico, ou atmesmo anular os seus efeitos naturais em busca daverdadeira Justia.

    Desconsiderao da personalidade jurdica

    A desconsiderao dapersonalidade jurdica tese muito discutida nombito comercial e consumerista, principalmente

    em face da sedimentao que a Pessoa Jurdicapossui em nosso universo legal. A necessidade determos pessoas jurdicas inquestionvel na nossarealidade, posto que com elas se faz frente aosdeterminismos comerciais fticos e jurdicos.

    Essa teoria fruto de

    construo jurisprudencial norte-americana,tambm chamada de disregard of legal entity ou

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    piercinge the corporate veil. Tem como objetivoanalisar a ao da pessoa jurdica,

    desconsiderando sua personalidade para alcanar evincular a responsabilidade dos scios. Surgiu coma finalidade de evitar a fraude e o abuso nautilizao da instituio, mascarando os verdadeirosresponsveis por atos ilcitos ouadministrativamente incorretos.

    No Brasil, a sua utilizaoem princpio no foi aceita, mas diante dasconstantes violaes da lei com a utilizaofraudulenta da personalidade jurdica, osaplicadores do direito acabaram por capitular, ofazendo sempre em busca da melhor justia para oscasos apresentados deciso. No entanto, fixaram-

    se por doutrina e jurisprudncia os requisitos parasua aplicao, com a preocupao de no atingir mortalmente o instituto de Direito Civil relativo personalidade jurdica.

    A falta de legislao arespeito tambm dificultou a aceitao da tese, mas

    diante dos fatos que a ensejavam, elaborou-seconstruo jurisprudencial onde se aceitava adesconsiderao quando os scios realizavamprocedimentos ilcitos, ou com desobedincia aosdeterminismos do Contrato Social, com abuso ouexcesso de poder. Nestas circunstncias, aresponsabilidade pelas obrigaes era estendida

    aos scios atuantes na administrao da empresa,seja de forma subsidiria quanto solidria.

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    Apenas com a edio do

    Cdigo de Defesa do Consumidor que surgiulegislao a respeito. Como se trata de umalegislao moderna e voltada defesa doconsumidor, considerado hiposuficiente, no houvesurpresa ao verificar que a previso legal atuoubem adiante do que a jurisprudncia j haviadeterminado, fazendo surgir no cenrio nacional um

    novo paradigma a ela relativo. As normas relativas

    proteo do consumidor, por determinaoConstitucional, so erigidas categoria de princpiogeral da atividade econmica , nos termos do seuartigo 170 V da CF/88. Com isso, na sua aplicao

    deve-se observar o interesse social juridicamentetutelado, tornando-se matria de ordem pblica.Nesse diapaso, no se faz necessrio que hajaalegao de quaisquer das partes para suaaplicao pelo Magistrado no caso concreto, o queno retira a obrigatoriedade, tambm de naturezaConstitucional, de fundamentar o posicionamento.

    As previses constantes noartigo 28 do CDC so de duas ordens. Uma relativa prpria desconsiderao da personalidade

    jurdica, e a outra relativa s responsabilidadessubsidirias e solidrias. No primeiro caso,considera-se possvel a desconsiderao da pessoa

    jurdica quando houver abuso de direito, excessode poder, infrao lei, fato ou ato ilcito ou

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    violao dos estatutos ou contrato social, tudo comprejuzo evidente aos direitos do consumidor.

    Nesse ponto no hnovidade em face dos entendimentos at entoexistentes no Brasil sobre a aplicao da teoria. Oabuso, o excesso, a infrao lei ou violao dosestatutos sempre foram suficientes para levar aosscios a responsabilidade pelos atos das empresas

    que representam ou que sejam scios.H que se notar inclusive,

    que a desconsiderao no implica diretamente naresponsabilizao dos scios. H necessidade dedemonstrar o vnculo entre a atividade particular doscio com a ao levada a termo pela sociedade.

    Tambm possvel a vinculao dos dirigentes,mesmo que no sejam scios da empresa, havendotambm a necessidade da comprovao do vnculoentre eles. Isto se faz necessrio em face daconstante utilizao dos chamados testas deferro, pessoas que no possuem qualquer lastropatrimonial, passando a constar como proprietrios

    de empresas. Mesmo com a desconsiderao, nose consegue atingir os verdadeiros responsveis,caindo no vazio do patrimnio do scio de araque.

    Comprovada a realadministrao por pessoa estranha ao quadrosocietrio, a desconsiderao da pessoa jurdica

    deve atingi-lo, de forma a evitar os desmandos nautilizao de to importante instituio civil,

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    responsabilizando quem realmente deve ser responsabilizado, e indenizando os prejudicados.

    Tambm se efetiva adisregard quando houver falncia, estado deinsolvncia, encerramento ou inatividade da pessoa

    jurdica por m administrao. O dispositivo legalpeca em excesso por erro tcnico, j que o estadode insolvncia pressuposto legal para a

    decretao da falncia, seja por impontualidade,seja por atos que externem esta condio, nosestritos termos do artigo 1 e 2 do Decreto-lei7661/45.

    Insolvncia a condiode quem no pode pagar suas dvidas. Diz-se do

    devedor que possui um passivo sensivelmentemaior que o ativo. Por outras palavras, significa quea pessoa (fsica ou jurdica) deve em proporomaior do que pode pagar, isto , tem compromissossuperiores aos seus rendimentos ou ao seu

    patrimnio (Almeida. Amador Paes. Curso deFalncia e Concordata. Ed. Saraiva. 19 Edio,

    2001, pg.21). Alm da insolvncia, prev

    tambm a aplicao da teoria no encerramento ouinatividade da pessoa jurdica . muito comum oabandono ou fechamento do estabelecimentoquando a situao financeira se torna insustentvel,

    sendo inclusive motivo de decretao da falnciacom base no artigo 2 VII da Lei de Falncias

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    permaneceriam as dificuldades relacionadas interpretao tcnica dos dados, isto ainda no caso

    de se encontr-los. A melhor sada,

    considerando a hiposuficincia do consumidor, seriaa inverso do nus da prova, determinando pessoa jurdica a comprovao de que ainsolvncia/paralisao, no se deu por m

    administrao. Tendo consigo as provas, a ela seriabem mais fcil a comprovao de suas alegaes.

    A segunda parte do artigo 28do CDC, no trata especificamente dadesconsiderao da pessoa jurdica, mas sim da

    responsabilidade solidria ou subsidiria dasempresas integrantes do mesmo grupo societrio,coligadas ou consorciadas. Visa o dispositivo legalresponsabilizar todos aqueles que de alguma forma,contriburam para a ocorrncia do prejuzo aoconsumidor, evitando as alegaes de ilegitimidadepassiva em face da no participao direta na

    negociao discutida. fato que as empresas que

    se juntam para a realizao de seus negcios,partem do princpio de que a soma dos esforostrar maiores ganhos para todas elas. Se trsganhos, devem tambm ser responsabilizadas

    pelos prejuzos que aquela atividade comercialcausar a terceiros. Se houver possibilidade

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    posterior de determinar o causador do prejuzo,certamente poder-se- realizar compensao dos

    gastos em suas contas vinculadas atividade. Oque no se pode aceitar que o consumidor fiquesem os seus direitos em face destas circunstncias.

    Quando o CDC fala emsubsidiariedade, devemos entender que aresponsabilidade da terceira empresa, s ocorre

    quando a empresa dita principal, aquela que serelacionou diretamente com o consumidor, notenha condies de arcar com a indenizao. Setiver, no se pode exigir da terceira empresa opagamento. J quando solidariedade a mesmaposio no se aplica. Solidariedade implica emigualdade de condies com o devedor, ou seja,

    independente de quem tenha realizado diretamenteo negcio com o consumidor, poder ele receber osseus prejuzos acionando quaisquer dassociedades, ou at mesmo todas elas.

    As previses do 5 doartigo 28 so verdadeiramente inquietantes. Pune a

    simples existncia da personalidade jurdica,sempre que ela se mostre como um obstculo parao ressarcimento dos prejuzos, independente de madministrao ou de abuso de poder. No entendoaplicvel a previso legal, posto que no existeresponsabilidade objetiva em face do direito doconsumidor. Se no houver comprovao das

    circunstncias que ensejem a aplicao da teoria dadesconsiderao da personalidade jurdica, no se

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    pode falar em responsabilizao pelo simples fatode sua existncia obstacular o recebimento dos

    prejuzos pelo Consumidor.Conclui-se com isso, que a

    matria est longe de ser pacfica, e que seconfunde muito a responsabilizao direta dosscios com a desconsiderao da pessoa jurdica,coisas completamente diferentes. No entanto, no

    se pode negar que houve avanos em benefcio doconsumidor , em detrimento daqueles que procuramganhos a qualquer custo, mesmo com a utilizaopecaminosa do artigo 20 do Cdigo Civil.

    Do poder de reviso contratual

    Levando-se emconsiderao o relacionamento contratual ligado aodireito privado, a sua realizao livre, levando emconsiderao apenas a vontade das partes. Surge aExpresso O contrato lei entre as partes . Com

    isso, abre-se a possibilidade de exigncia, inclusive junto ao Poder Judicirio, do cumprimento dasobrigaes nele constantes, quaisquer que sejamos seus determinismos. o princpio do pacta suntservanda .

    A situao bem diferente

    da rea relacionada ao Direito Pblico ondeimperam as denominadas clusulas de ordem

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    pblica , de aplicao automtica, independente deestarem taxativamente tratada nos contratos. Estes

    eram os entendimentos at ento dominantes nasistemtica jurdica nacional em face da liberdadedas partes na elaborao de seus contratos.

    As coisas no entantosofreram considervel modificao, notadamenteem face do avano tecnolgico-cientfico da

    sociedade, perseguido com algum atraso peloprogresso moral-espiritual. A grande diferenasocial promovida pela concentrao do capital namo de poucos, geraram sem dvida situaesdivorciadas da Verdadeira Justia, fazendo-senecessrio um tratamento diferenciado na lei paracorrigir o problema.

    Na esfera consumerista adiferena econmica entre as partes considervel,sendo o consumidor colocado na posio dehiposuficiente. Com isso, nada mais natural que olegislador providenciasse meios de corrigir odesnvel, modificando-se a antiga interpretao de

    que o contrato lei entre as partes, e deve ser rigidamente cumprido.

    Surgiu inicialmente achamada Teoria da Impreviso, segundo a qualseria possvel a extino ou modificao do contratofirmado entre as partes, desde que houvesse

    acontecimento posterior que alterasse o equilbriocontratual. Visando a restaurao desse equilbrio,

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    se poderia extinguir o contrato, ou at mesmomodificar as suas clusulas.

    Esta previso foi trazida parao Cdigo de Defesa do Consumidor em seu artigo6, inciso V, ao informar ser possvel a modificaodas clusulas que estabeleam prestaesdesproporcionais, ou sua reviso em razo de fatossupervenientes que as tornem excessivamente

    onerosas. Tem-se com isso que a teoria daimpreviso tem total aplicao nas relaes deconsumo, e se no for feita em comum acordopelas partes, pode ser pedida a juzo, na procura darestaurao do equilbrio contratual.

    A novidade que se encontra,

    que essa reviso das normas contratuais, jexistente na forma da aplicao da teoria daimpreviso, tambm se faz possvel na relaoconsumerista quando , independente de fatosposteriores, o contrato j trouxer prestaesdesproporcionais, num verdadeiro desequilbriocontratual ab ovo , repugnado pelo Direito e pela

    Justia.J no se pode falar na

    possibilidade de alterao do contrato apenas emface de circunstncias futuras. igualmentepossvel tambm em face do vcio na origem dovnculo contratual. Assim, se o contrato celebrado

    entre as partes no se revestir do equilbrionecessrio nas relaes de consumo, estar o

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    Magistrado apto a corrigi-lo, de modo a conceder-lhe igualdade necessria ao cumprimento correto

    da avena.Tal fenmeno ficou

    conhecido como dirigismo contratual, fundado noreconhecimento de que a autonomia da vontadedas partes em um determinado ajuste privado cedes exigncias da ordem pblica, que deve

    prevalecer sobre o individualismo, funcionandocomo fator limitativo da liberdade contratual.

    A base de todo o Direito doConsumidor a boa-f. Com este princpio exige-seque as circunstncias sejam bem evidenciadas, eque no haja ganho extraordinrio ou prejuzo

    relevante para qualquer das partes. sabido que olucro faz parte da atividade comercial, mas nopode ser exagerado a ponto de justificar enriquecimento sem causa, com graves eirreversveis prejuzos ao consumidor. No existeatividade comercial sem fim lucrativo bemverdade, mas no se pode aceitar, com base nestas

    circunstncias, que os ganhos sejamestratosfricos, numa verdadeira dilapidaoinjustificada do patrimnio do consumidor.

    A atividade do magistradodeixa de ser apenas um controle formal da vontade

    dos contraentes, se comprometida (ou no) por vcios ou defeitos que retiram a validade do negcio

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    jurdico. Em sede judicial, a atividade controladorado contedo contratual implica no exame da prpria

    justeza do pacto, em termos de equilbrio dasobrigaes assumidas. Na previso do inc. V doseu art. 6o, o juiz, reconhecendo a presena declusula que estabelea prestao desproporcional,substancialmente desvantajosa para o consumidor,dever estipular a nova clusula ou as novas basesdo contrato revisto judicialmente. Emitir sentena

    determinativa, de contedo constitutivo-integrativo emandamental, vale dizer, exercendo verdadeiraatividade criadora, completando ou mudando algunselementos da relao jurdica de consumo jconstituda.

    Ao juiz permitido at

    mesmo inserir no quadro da relao contratual,novas obrigaes em ateno ao princpio da boa-f, mesmo que as partes no as tenham previsto ouas tenham expressamente excludo no instrumentocontratual. Tudo isso com a inteno primeira demanter o pacto entre as partes, posto que nestecaso poder haver o interesse do consumidor em

    continuar recebendo o benefcio que lhe foi deferidona edio do contrato. Somente nos casos em queimpossvel ou at mesmo no houver interesse parao consumidor, ser o caso de decretar-se aextino do contrato.

    Com essa previso dereviso contratual, o abuso do poder econmico,

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    daqueles que ocupam o Executivo. A magistraturadever seguir o seu caminho altrusta , cabendo to

    somente a Deus e conscincia de cada Juiz,influenciar na prestao jurisdicional.

    Bibliografia

    COELHO. Fbio Ulhoa. Comentrios ao Cdigo deProteo do Consumidor. So Paulo: Saraiva. 1991.COMPARATO. Fbio Konder. O poder de controlena sociedade annima. So Paulo: Revista dosTribunais, 1977.MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional.

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    Aureliano Albuquerque Amorim. Juiz de Direito da2 Vara da Comarca de Goiansia-GO. Especialistaem Direito Processual Civil. Mestrando em DireitoPrivado pela Universidade de Franca-SP. Professor da Faculdade de Direito de Anpolis e da

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    Universidade Estadual de Gois. Membro doTribunal Recursal da 19 Regio , com sede na

    Comarca de Jaragu-GO.