reflexÕes sobre a eutanÁsia - univalisiaibib01.univali.br/pdf/eduardo cesar santos.pdf ·...

76
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA EDUARDO CESAR SANTOS Biguaçu (SC), julho de 2008.

Upload: nguyenngoc

Post on 27-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA

EDUARDO CESAR SANTOS

Biguaçu (SC), julho de 2008.

Page 2: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

i

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA

EDUARDO CESAR SANTOS

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof°. Msc. Luiz César Silva Ferreira

Biguaçu (SC), julho de 2008.

Page 3: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

2

AGRADECIMENTO

Agradeço à minha família pela base dada ao longo da faculdade e especialmente durante a

fase da monografia.

Agradeço também a minha Tia Neli pela paciência, atenção e ajuda oferecida.

Aos amigos Bernardo Proença, Marcelo Kaiser e Bernardo Pirath por suas valiosas contribuições

durante o curso de Direito.

A todos aqueles que de uma maneira ou outra me auxiliaram na conclusão deste trabalho.

Page 4: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

3

DEDICATÓRIA

Aos meus irmãos, Christian e Giuliano, pelo carinho e estimulo.

Especialmente aos meus pais Santelino e Neusa, pelo esforço e sacrifício dispensado durante todo

o curso e pela forma com que me transmitiram conhecimento e segurança para que eu chegasse

ao final deste.

Page 5: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

4

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a

Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu (SC), julho de 2008.

Eduardo César Santos Graduando

Page 6: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

5

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Eduardo César Santos, sob o

título Reflexões sobre a Eutanásia, foi submetida em trinta e um de julho de dois

mil e oito à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Eunice

Anisete Trajano, Luiz César Silva Ferreira, Marilene, e aprovada.

Biguaçu (SC), julho de 2008.

Prof°. Msc. Luiz César Silva Ferreira Orientador e Presidente da Banca

Profª. Esp. Helena Nastassya Paschoal Pítsica Coordenação da Monografia

Page 7: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

6

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC CÓDIGO CIVIL CRFB/88 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL CP CÓDIGO PENAL

Page 8: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

vii

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Eutanásia:

Palavra de origem grega significa morte doce, morte calma. Do grego eu e

thanatos que significa a morte sem sofrimento e sem dor. 1

Bioética:

Estudo dos problemas e implicações morais despertados pelas pesquisas

científicas em medicina e biologia’. o adjetivo moral, nesse caso, atua como

sinônimo de ética. em outras palavras, a bioética dedica-se a estudar as questões

éticas suscitadas pelas novas descobertas científicas; ‘novos poderes da ciência

significam novos deveres do homem. 2

Morte:

Cessação de toda atividade funcional peculiar a animais e vegetais, tempo

decorrido entre o começo e o fim da existência. 3

1 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 13. 2 ALMEIDA, Guilherme Assis; CHRISTMANN, Martha Ochsenhofer. Ética e direito: uma perspectiva integrada. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 62 3 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis: OAB/SC Editora. 2003, p. 30.

Page 9: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

viii

MMMMMMMMMMMMMMMMMMSUMÁRIOMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

RESUMO ............................................................................................................X ABSTRACT ........................................................................................................XI INTRODUÇÃO......................................................................................1 Capítulo 1..............................................................................................3 EUTANÁSIA.........................................................................................3 1.1 HISTÓRIA DA EUTANÁSIA..............................................................................3 1.2 CONCEITO........................................................................................................8 1.2.1 DISTANÁSIA................................................................................................12 1.2.2 ORTOTÁNASIA............................................................................................13 1.2.3 SUICÍDIO ASSISTIDO..................................................................................14 1.3 CLASSIFICAÇÃO............................................................................................16 Capítulo 2............................................................................................18 QUALIFICAÇÃO JURÍDICO-PENAL DA MORTE POR EUTANÁSIA............................................................................. 18 2.1 O DIREITO BRASILEIRO...............................................................................18 2.2. O POSICIONAMENTO DO MUNDO..............................................................23 2.2.1 EUTANÁSIA NA AUSTRALIA.....................................................................29 2.2.2 EUTANÁSIA NOS ESTADOS UNIDOS.......................................................31 2.2.3 EUTANÁSIA NA HOLANDA........................................................................33 2.2.4 EUTANÁSIA NA SUIÇA...............................................................................34 2.2.5 EUTANÁSIA NA FRANÇA...........................................................................36 2.2.6 EUTANÁSIA NO URUGUAI.........................................................................37 2.2.7 EUTANÁSIA NA COLÔMBIA......................................................................38 Capítulo 3............................................................................................39 A VISÃO DOS PROS E CONTRAS............................................................39 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO...........................................................39 3.1.2 RELIGIÃO CATÓLICA.................................................................................42 3.1.3 RELIGIÃO JUDAICA....................................................................................44 3.1.4 RELIGIÃO ISLÂMICA..................................................................................45 3.1.5 RELIGIÃO HINDU........................................................................................45 3.1.6 RELIGIÃO BUDISTA....................................................................................46 3.2 QUESTÕES MÉDICAS....................................................................................46 3.3 O CONSENTIMENTO......................................................................................49 3.4 BIOÉTICA........................................................................................................53 3.4.1 ÉTICA...........................................................................................................54 3.4.2 BIODIREITO.................................................................................................55 3.4.3 PRINCÍPIOS BIÓÉTICOS ............................................................................56 3.4.3.1 DA AUTONOMIA.......................................................................................57 3.4.3.2 DA BENEFICÊNCIA..................................................................................57

Page 10: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

ix

3.4.3.3 DA JUSTIÇA..............................................................................................58 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................59 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...............................................................61

Page 11: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

x

RESUMO

A presente monografia visa a realização do estudo a

respeito da EUTANASIA, baseando-se na Ética e na Dignidade da Pessoa

Humana. Todos os avanços que podemos observar desde os tempos primórdios

são um grande questionamento na sociedade não só brasileira, como mundial.

Esses avanços, obrigatoriamente, discutidos em diversas áreas como: Sociologia,

Medicina, Psicologia, Religião e Direito, buscam soluções para um tema tão

polêmico e controvertido que é a eutanásia. A vida, o bem mais supremo do ser

humano merece uma reflexão minuciosa em seu direcionamento. No decorrer

deste apresentam-se conceitos, posicionamentos éticos, e todos os direitos que o

ser humano merece como respeito a dignidade humana no aspecto vida e morte.

Este trabalho objetiva, através de pesquisas em livros, trabalhos publicados e na

legislação brasileira, desenvolver uma consciência relacionada às interrogações

ao tema que chamamos de Eutanásia - a triste realidade: a morte.

Page 12: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

xi

ABSTRACT

This paper aims to develop the study on the EUTANASIA,

which is based on Ethics and Human Dignity of Person. All that we can see

progress since the days are beginning a major question in society not only

Brazilian, and globally. These advances necessarily discussed in various areas

such as sociology, medicine, psychology, religion and law, seek solutions to a

subject as controversial and contested that is euthanasia. The life, the most

supreme of the human being deserves a thorough reflection on its direction.

During this present themselves concepts, ethical positions, and all rights which the

human being deserves respect and human dignity in life and death aspect. This

study aims, through research in books, papers and published in Brazilian

legislation, develop an awareness to the questions related to the theme we call

Euthanasia - the sad reality: death.

Page 13: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

1

INTRODUÇÃO

É objetivo deste trabalho estabelecer definições a respeito

da eutanásia, relacionados aos pontos de vista sob o aspecto da medicina,

cultura, filosofia e jurídico social, no âmbito brasileiro e estrangeiro.

Ele consiste no polêmico assunto do direito de matar e do

direito de morrer, chamado assim de eutanásia, com conseqüências tão

desastrosas para uma humanidade tão sofrida em todos os aspectos sociais. A

partir do momento em que se questiona a disponibilidade da vida humana, o seu

estudo interessa a todas as camadas sociais.

No primeiro Capítulo, apresenta-se a eutanásia e seu

histórico, conceitos e classificação, destacando-se a distanásia, ortotanásia e

suicídio assistido.

No segundo Capítulo, aborda-se os aspectos jurídico-penal

da morte eutanásica explanando-se o direito brasileiro e o posicionamento do

mundo.

No terceiro Capítulo, serão demonstradas as questões

pertinentes à visão dos pros e contras, especificamente na ótica da igreja católica,

as questões médicas, o consentimento e a bioética.

Nas Considerações finais, serão apresentados

questionamentos que servirão para fazer com que todos possam refletir sobre

este tema tão polêmico.

Para a presente Monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

Page 14: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

2

- A prática da eutanásia é amparada pelo princípio da

autonomia e do consentimento do paciente;

- O direito a uma morte digna, amparado nos direitos

fundamentais; e nos princípios bioéticos.

- A possibilidade da eutanásia.

Quanto à Metodologia empregada, na presente Monografia,

registra-se que foi utilizado o Metido Dedutivo.

Page 15: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

Capítulo 1

EUTANÁSIA

1.1 HISTÓRIA DA EUTANÁSIA

A eutanásia, prática aplicada para abreviar a morte de um

paciente incurável vem sendo aplicada desde a antiguidade, até hoje, e já está

legalizada em alguns paises do mundo.

Há muita diversidade na modalidade de aplicação dessa

prática entre os povos, onde esta é permitida. A eutanásia não é prática recente,

nem tampouco aparece com a Idade Moderna, mas pode-se buscá-la no começo

da civilização, mais precisamente na Grécia e em Roma. 4

Ela foi exercida ao longo de diversas civilizações. Os povos

celtas se concretizavam com a eutanásia, através do costume de se dar a morte

aos anciãos doentes. “Em algumas tribos antigas era muito comum a prática que

obrigava sagradamente ao filho ministrar a boa morte ao pai idoso e enfermo”. 5

Na Índia antiga, o portador de doença incurável “era

conduzido por sua família às margens do Ganges e, enchendo-lhe a boca e o

nariz com o lodo sagrado, o jogavam ao rio”, e “entre os hebreus se guardava

certa consideração aos condenados à morte, até o ponto de preparar-lhes

bebidas que fizessem menos dolorosa sua execução, e talvez, com este sentido

eutanásico, dessem ao Nosso Senhor Jesus Cristo o vinho misturado com fel”. 6

4 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis: OAB/SC Editora. 2003, p. 95. 5 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.483. 6 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis: OAB/SC Editora. 2003, p. 97.

Page 16: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

4

Em Atenas o Estado tinha o direito de tirar a vida humana

em casos especiais. Na ilha Grega de Cea, toda pessoa que completasse 60

anos era envenenado, pois para eles representava um peso para Sociedade,

alem de não trazer mais contribuição para guerra. Semelhantemente os

espartanos davam morte as pessoas cansadas e deformadas, porque também as

consideravam inutilidade para o Estado. Também era cometido o crime às

crianças pobres e famintas, jogando-as de um monte chamado Taijeto, porque

eram consideradas incapazes de tornar-se guerreiros, cumprindo a função que

era designada a todo ser humano. 7

As tribos nômades que não conseguiam transportar os

enfermos do clã optavam por sacrificá-los a ter que os abandonar aos inimigos ou

às inconstâncias climáticas. Em 1940, o Hospital Orsay na França, teve que ser

evacuado por motivo de guerra, só restando às enfermeiras nova solução: aplicar

injeções letais aos doentes impossibilitados de ser removidos. 8

Na Roma antiga, desde os tempos de Pompilho o homicídio

era punido. Contudo, em alguns casos permitia-se, que o homem caso quisesse

daria morte a outro, semelhantemente no caso do direito de vida e de morte que

os ascendentes exerciam sobre os descendentes submetidos ao seu pátrio

poder. Salienta-se que a aplicação do direito de vida e morte correspondia ao pai,

uma vez que de acordo com os antigos costumes era de não conservar nem

alimentar os filhos nascidos disformes podendo assim lhes dar a morte. Esse

direito era reservado restritamente ao pai de matar os filhos doentes e era

expressamente estabelecido pela Lei das XII Tábuas. 9

Ainda em Roma, o Senado de Marselha mantinha um

depósito de cicuta a disposição para quem manifestasse, perante a Corte, o

desejo de deixar a própria vida. Esta era uma maneira de auxiliar o suicídio, e

não propriamente de praticar o homicídio eutanásico. 7 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.484. 8 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 23. 9 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.484.

Page 17: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

5

Segundo Gisele Mendes de Carvalho:

Se na antiguidade greco-romana predominava o entendimento segundo o qual as enfermidades eram injustos castigos infligidos pelos deuses aos inocentes, com o cristianismo a morte e suas agruras ganham diversas interpretação: aos enfermos e moribundos são reservadas vida nova e saúde espiritual no reino dos céus. O falecimento deixar de visto como fim e transforma-se em passagem, assumindo desde logo caráter secundário em relação ao conceito absoluto de vida da filosofia cristã. A exemplo de Jesus cristo que suportou e assumiu seu sofrimento, também os homens devem aceitar o desenlace que fatalmente lhes sobrevirá, existindo sempre para o ser humano a possibilidade de encontrar o sentido se sua vida em suas experiências, alegres e dolorosas.10

No Brasil, os sucessivos diplomas que regeram a vida da

colônia e do Império durante os séculos XVI, XVII e XVIII foram unânimes em

reservar sanções ao delito de homicídio, sem qualquer menção aos motivos que

compelissem o agente à sua pratica ou à existência de anuência ou de petição

por parte da vitima, com o que é possível concluir que recebia o homicídio

eutanásico o mesmo tratamento da figura simples. 11

Manteve o Código Criminal do Império postura semelhante,

ao não estabelecer preceito que atenuasse a pena do homicídio perpetrado por

motivos altruísticos, embora elencasse entre as circunstâncias atenuantes “ter o

delinqüente cometido o crime para evitar maior mal” (art. 18, § 2°). O Código

Penal de 1890 não operou maiores alterações, tendo estabelecido aquela mesma

previsão genérica para atenuação da pena (art.46, § 6°). O homicídio eutanásico,

portanto continua sendo sancionado com os mesmos rigores do homicídio

simples. 12

10 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.485. 11 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.486. 12 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.486.

Page 18: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

6

O Código Penal de 1940 inaugurou novo tratamento ao

prever hipótese de diminuição de pena para o “agente que comete o crime

impelido por motivo de relevante valor social ou moral (art. 121, § 1°), o juiz pode

reduzir a pena de um sexto a um terço”. Para a análise do artigo supracitado, é

adequado reportar-se ao Decreto-Lei n°. 2.848/40 — Exposição de motivos da

parte especial do Código Penal — a fim de que se amenize a expressão incerta

na lei. Para tanto, esclarece o item 39 do pré-citado Decreto que, “por motivo de

relevante valor social ou moral, o projeto entende significar o motivo que, em si

mesmo, é aprovado pela moral prática, como, por exemplo, a compaixão ante o

irremediável sofrimento da vítima (caso do homicídio eutanásico).13

O Código Penal de 1940 é o primeiro Código a considerar

os móveis nobres que impulsionam a conduta com vistas à atenuação da

sanção.14

Em 1984, a Lei 7.209 promoveu a reformulação da Parte

Geral do Código Penal, mas o Anteprojeto de Reforma da Parte Especial não

chegou a ser aprovado. Essa proposta, de maneira inovadora, isentava de pena

“o médico que, com consentimento da vítima, ou, na sua impossibilidade, de

ascendente, descendente, cônjuge ou irmão, para eliminar-lhe o sofrimento,

antecipa morte iminente e inevitável atestada por outro médico” (art. 121, § 3°). 15

Em 1997, novas comissões foram instituídas com a

finalidade de elaborar propostas neste sentido, mas nada foi aprovado e

concluído.

Segundo Augusto César Ramos:

A prática da eutanásia não é desconhecida da ancestralidade, sendo frequentemente utilizada sob os mais diversos desígnios, e tampouco constitui uma exclusividade da espécie humana, porquanto nas aldeias e nos campos sabemos muito bem que

13 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis OAB/SC Editora, 2003. 180 p. 14 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.486. 15 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.487.

Page 19: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

7

recolhido um ninho com os seus filhotes e fechados em uma gaiola, os próprios pais continuam alimentando-os; porém sabemos melhor que, passado certo tempo, quando já os filhotes estão cobertos de penas e em condições físicas de viver por si, são envenenados sem remédios com ervas tóxicas que os próprios pais trazem solícitos em seus bicos: preferem dar-lhes a morte ante a dor de presumidos eternamente cativos.16

A Bíblia (I, Samuel, 31, 1-13) narra um dos primeiros casos

de tentativa de suicídio seguido de morte eutanásica:

Saul, tendo se ferido em batalha contra os Filisteus e temendo ser capturado por estes, pediu ao seu escudeiro que o matasse. Negando-se o escudeiro a matá-lo, Saul atirou-se sobre a própria espada, ferindo-se gravemente. Não tendo encontrado a morte, apesar disso, chamou um amalecita e pediu-lhe que o matasse, visto não mais suportar o sofrimento, e foi atendido. David, ao receber a notícia da morte de Saul, contada pelo amalecita que o matara a seu pedido, não o perdoou e mandou puni-lo com a morte. 17

É recorrente nos estudos sobre a história da prática da

eutanásia a referência à fundação de uma academia, no Egito, por Cleópatra e

Marco Antonio, cujo escopo era a consecução de métodos mais brandos, menos

dolorosos, de morrer. Em Roma, “o gesto dos Cesares nos circos romanos, de

abaixar o polegar, por ocasião dos combatentes dos gladiadores; gesto com que

se decretavam a extinção do vencido, abreviando a agonia dos que, feridos

mortalmente, haviam de sofrê-la lenta e cruel”. 18

Contemporaneamente, consoante registro de Luis Jimenez

de Asúa, o debate acerca da eutanásia adentrou nos foros acadêmicos com a

16 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis OAB/SC Editora, 2003. p. 95-96. 17 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 21. 18 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis OAB/SC Editora, 2003. p. 97-98.

Page 20: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

8

publicação de três notáveis obras, “L’Omicidio-suicidio”, “Die Freigabe der

Vernichtung lebensunwerten Lebens” (A autorização para exterminar as vidas

sem valor vital) e por último, a publicação da obra L’uccisione pietosa:

l´eutanasía, em 1923, de autoria de Enrico Morseili, que foi uma resposta ao

opúsculo de Bindin e Hoche, porquanto firma que a sua “repulsa pela eutanásia,

em todas as suas formas e sentidos, é absoluta”. 19

O certo é que “as idéias de Hoche influenciaram um grande

número de psiquiatras alemães, o que explica o fato de que a comunidade

médica tenha auxiliado Hitler quando da implementação do programa eutanásico

nazista em setembro de 1939”. 20

1.2 CONCEITO

Em material aqui pesquisado, podemos nos deparar com

várias redações a respeito do conceito da prática da eutanásia, mas todas com o

mesmo significado e objetivo.

Segundo José Ildefonso Bizatto, a palavra Eutanásia é de

origem grega e significa “morte doce, morte calma” tendo sido empregada pela

primeira vez por Frank Bacon, no século XVII. Do grego eu e Thanatos, que tem

significado “a morte sem sofrimento e sem dor” – para outros a palavra eutanásia

também expressa: “morte fácil e sem dor”, “morte boa e honrosa”, “alivio da dor”,

“golpe de graça”, “morte direta e indolor”, “morte suave”, etc....21

19 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis: OAB/SC Editora. 2003, p. 101. 20 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis: OAB/SC Editora. 2003, p. 102. 21 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual.2000. p.13.

Page 21: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

9

De qualquer modo, seja qual for a definição da palavra

eutanásia é preciso, inicialmente, dizer que muitos a definem de acordo com suas

concepções. A morte constitui-se no mais profundo dos mistérios e por mais que

se invista neste terreno, tudo não acaba passando de simples indagações sem

resposta. Os homens se atemorizam diante dela, e muito particularmente, diante

do sofrimento. Tudo o que representa a dor, traz desespero interior, mais

especificamente, quando não se pode vencê-la ou curá-la. 22

Torna-se incontestável que os avanços tecnológicos na

área da saúde proporcionaram e continuam a proporcionar a salvação de muitas

vidas, diminuindo-lhes o sofrimento. Entretanto, muitos são os problemas éticos

que advieram de tal avanço, como por exemplo, o que diz respeito à definição do

conceito de morte. Anteriormente, a morte era certificada como o cessamento dos

batimentos cardíacos, o que hoje sabemos não ser mais aceitável. A revisão

desse conceito redefiniu-a como sendo o de morte cerebral ou encefálica. Esta

revisão tornou-se necessária por conta do desenvolvimento da Medicina, que

desencadeou a possibilidade de prolongamento indefinido da vida humana, por

meios ditos artificiais. O Conselho Federal de Medicina (CFM), através da

Resolução nº. 1.480/97, manifestou-se quanto aos parâmetros clínicos para

confirmação da morte encefálica: cessação irreversível de todas as funções do

encéfalo, incluindo o tronco encefálico. 23

A eutanásia nada tem a ver com homicídio privilegiado,

devendo constituir-se num capítulo a parte dentro do Código Penal. No

entendimento de Morselli, “a eutanásia é aquela morte que alguém dá a outrem

que sofre de uma enfermidade incurável, a seu próprio requerimento, para

abreviar agonia muito grande e dolorosa”. 24

22 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual.2000. p. 13. 23 SOUSA, Dinorah Leane Silva de. Eutanásia: questão de vida e de morte. Disponivel em http://www.novafapi.com.br/revistajuridica/ano_II/dinorah.php. Acesso em 17 jun 2008. 24 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual.2000. p. 15.

Page 22: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

10

Atualmente, o termo eutanásia vem sendo utilizado como

ação médica direcionada a abreviar a vida de pessoas que se encontram em

estado de grave sofrimento oriundo de doença incurável, sem qualquer

perspectiva de melhora. Assim entendido, a eutanásia é a promoção do óbito,

através da conduta, da ação ou da omissão do médico, que emprega, ou omite,

meio eficiente para produzir a morte em paciente incurável ou em estado de

grave sofrimento, abreviando-lhe a vida. 25

Ainda que a morte seja certa dentro em momentos, a

destruição da vida é homicídio. Diga-se mesmo quando a vítima se acha

agonizando ou teria que ser executada dentro de segundos. Sua morte

antecipada é homicídio. 26

Jimenes de Asúa27 entende que “é a morre que alguém

proporciona a uma pessoa que padece de uma enfermidade incurável ou muito

penosa, e a que extingue a agonia excessivamente cruel ou prolongada”.

O conceito de eutanásia não é unívoco e passou por

transformações. Atualmente, a concepção da eutanásia liga-se à idéia de

provocar conscientemente a morte de alguém, fundamentado em relevante valor

moral ou social, por motivo de piedade ou compaixão, introduzindo outra causa,

que, por si só, seja suficiente para desencadear o óbito. Ao invés de deixar a

morte acontecer, buscando-se o sofrimento do paciente, a eutanásia é entendida

nos dias de hoje como uma ação sobre a morte, de modo a antecipá-la. 28

Como vimos, são muitos os conceitos de eutanásia, que

podem ser expressos nos seguintes significados enumerados por Ricardo

Oxamendi, em seu livro "El Delito": "boa morte, crimes caritativos, piedade 25 SOUSA, Dinorah Leane Silva de. Eutanásia: questão de vida e de morte. Disponivel em http://www.novafapi.com.br/revistajuridica/ano_II/dinorah.php. Acesso em 17 jun 2008. 26 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 15. 27 ASÚA, Luis Jimenes de. Liberdade de amar e direito a morrer. Lisboa: Clássica, 1929, 336 p. 28 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 405, 2003.

Page 23: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

11

homicida, homicídio caritativo, a arte de morrer, exterminação de vidas sem valor

vital, suprema caridade, morte de incuráveis, morte benéfica, crime humanitário,

direito de matar, homicídio piedoso, direito de morrer, morte libertadora,

eliminadora, econômico e suprema caridade". 29

Augusto Cesar Ramos explica que:

A palavra ganhou relevância com o filósofo ingles Francis Bacon, no seculo XVII, que, sob uma perspectiva médica, dizia que “o médico deve acalmar os sofrimentos e as dores nao apenas quando este alívio possa trazer a cura, mas também quando pode servir para procurar uma morte doce e tranquila”.30

Para encerrar o elenco de definições sobre eutanásia,

consideramos oportuno apresentar a opinião do paraense Lameira Bittencourt,

em sua dissertação intitulada "Da Eutanásia", publicada em Belém, no ano de

1939. Segundo o estudioso paraense, a eutanásia é tão-somente a morte boa,

piedosa e humanitária, que, por pena e compaixão, se proporciona a quem,

doente e incurável, prefere mil vezes morrer, e logo, a viver garroteado pelo

sofrimento, pela incerteza e pelo desespero. 31

Não se pode alvitrar a prática da eutanásia, quando não há

a promoção de uma morte impulsionada pela piedade, pela compaixão em

relação ao doente. Tratando-se de enfermo que não padeça de mal incurável e

substancial sofrimento, em havendo a prática da eutanásia, emergirá a

configuração de crime de homicídio, que eventualmente poderá ser privilegiado,

ou mesmo simples ou qualificado, a depender do caso concreto. É a motivação

humanística, aliada a um quadro de doença incurável e mal irrepreensível, que

29SILVA, Sônia Maria Teixeira da. Eutanásia. Disponivel em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1863. Acesso em 19 jun 2008. 30 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. P. 106. 31SILVA, Sônia Maria Teixeira da. Eutanásia. Disponivel em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1863. Acesso em 21 jun 2008.

Page 24: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

12

indicará a verificação da eutanásia, pois caso contrário, falar-se-á na prática de

um crime. 32

DISTINÇÕES NECESSARIAS:

Há alguns termos que estão diretamente relacionados à

eutanásia e são largamente difundidos por vários autores, sendo mister deixar

anotado algumas distinções, de sorte a dilucidar tais conceitos correlatos:

distanásia, ortotanásia e suicídio assistido. 33

1.2.1 DISTANÁSIA

Em seu sentido etimológico, de gênese grega, distanásia

vem de dis, que significa afastamento, implicando o entendimento de

prolongamento desnecessário e exagerado, e thanatos, que é a morte.

Distanásia é o prolongamento artificial do processo de morte, com sofrimento do

doente. É uma ocasião em que se prolonga a agonia, artificialmente, mesmo que

os conhecimentos médicos, no momento, não prevejam possibilidade de cura ou

de melhora. 34

Distanásia seria, portanto, a morte dolorosa, com

sofrimento, conforme se observa com freqüência nos pacientes terminais de aids,

câncer, doenças incuráveis e outras. O prolongamento da vida para estes

indivíduos, seja por meio de terapêuticas ou aparelhos, nada mais representaria

do que uma batalha inútil e perdida contra a morte. 35

32 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 406, 2003. 33 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 406, 2003. 34 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 406, 2003. 35FELBERG, Lia. Disponível em http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/FDir/Artigos/lia_ felberg_01.pdf. Acesso em 22 jun 2008.

Page 25: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

13

Assim, distanásia pode ser conceituada como a agonia

prolongada, o patrocínio de uma morte com sofrimento físico ou psicológico do

indivíduo, muitas vezes lúcido e senhor de suas faculdades mentais, afetado por

determinado enfermidade incurável, sem qualquer perspectiva de cura ou

melhora. 36

Pouco importa a situação e as condições de dignidade

humana do paciente, pois a distanásia tem como foco uma cega e censurável

obstinação terapêutica, prendendo-se ao próprio tratamento em si e às realidades

tecnológicas existentes. Nos Estados Unidos fala-se em Futilidade Médica, e, na

Europa, em Obstinação Terapêutica. 37

1.2.2 ORTOTANASIA

Diante da constatação de um paciente que sofra de doença

incurável, amargando profunda e intensa dor, cujo sofrimento é de impossível

controle ou paralisação pelas respostas oferecidas pela biotecnologia atual, pode

o enfermo optar pela interrupção do tratamento médico, ou mesmo nem sequer

iniciá-lo. Esta assertiva pretende ilustrar o que seja ortotanásia, eutanásia por

omissão ou paraeutanásia. A ortotanásia encontrará campo de atuação

exatamente quando se estiver ante um quadro de distanásia. 38

O termo ortotanásia também tem origem grega, guardando

o sentido de expressar morte correta – orto: certo; thanatos: morte. Implica a não

aplicação, ou mesmo a interrupção de um tratamento médico e sem qualquer

vislumbre de resultado possível à luz das forças da ciência cognoscível ao

homem ao tempo da situação concreta, de sorte a evitar a manutenção de uma

vida artificialmente. A ortotanásia está encampada, ou seja, implícita na 36 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 406, 2003. 37 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 406, 2003. 38 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 407, 2003.

Page 26: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

14

concepção de eutanásia. A prática da ortotanásia é conduta atípica no

ordenamento jurídico penal brasileiro, pois corresponde à promoção de um ato

lícito, na medida em que não significa encurtar a vida de um paciente, senão

apenas consolidar - ou formalizar – uma situação irreversível e irremediável de

morte encefálica. 39

1.2.3 SUICÍDIO ASSISTIDO

O suicídio assistido parte da premissa de que a pessoa não

esteja sofrendo de qualquer doença incurável, e nem esteja sob a incidência de

intensas dores físicas ou mentais e, mesmo que a estas esteja sujeito, inexista

qualquer situação de patologia degenerativa. Não há a verificação, no mais das

vezes sequer de morte cerebral. Ocorre quando uma pessoa, não dispondo de

meios para consumar, por si mesma, o próprio óbito, reclama auxílio, a

participação material de outrem para levar a contento sua intenção. 40

A assistência ao suicídio de outra pessoa pode ser feita por

atos (prescrição de doses altas de medicação e indicação de uso) ou, de forma

mais passiva, por uso de argumentos de persuasão ou de encorajamento. Em

ambas as formas, a pessoa que contribui para a ocorrência da morte de outra

compactua com a intenção de morrer por meio da utilização de um agente causal.

Tal postura constitui crime previsto no art. 122 do CP brasileiro. 41

Diz o Código Penal em seu artigo 122:

Induzimento, instigação ou auxilio a suicídio.

Art.122 – induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:

39 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 408, 2003. 40 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 408, 2003. 41 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 408, 2003.

Page 27: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

15

Pena: reclusão de 2 (dois) anos e 6 (seis) anos, se o suicídio se consumar; ou reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos se a tentativa de suicídio resultar lesão corporal de natureza grave.

Parágrafo Único - pena é duplicada.

Aumento da pena:

I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vitima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. A pessoa que contribui para a ocorrência da morte da outra

pode ser enquadrada no art 122 do Código Penal Brasileiro, que constitui tal

conduta como crime. 42

Eutanásia, homicídio, suicídio e suicídio assistido

Embora seja a eutanásia vizinha do suicídio, com ele não se

confunde, conforme CASABONA apud RAMOS43, porquanto:

la primera sería la aceleración del momento de la muerte que se

presenta más o menos cercana como único medio de abreviar el

sufrimiento físico y moral derivado de una enfermidad terminal [...]

mietras que el segundo consiste en quitarse uno mismo violenta y

voluntariamente la vida que ya no quiere ser vivida por cualquier

outro motivo y en circunstancias diferentes.

Do mesmo modo não se confunde suicídio com suicídio

assistido, uma vez que suicídio é o ato de dar a si mesmo morte ou buscá-la

intencionalmente [...] o suicídio assistido, ou homicídio suicídio, é o homicídio

consentido, em que uma pessoa atenta contra sua vida e porque outra a ajuda.44

42 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 406, 2003. 43 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis OAB/SC Editora, 2003. p 108 44 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis OAB/SC Editora, 2003. p 115

Page 28: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

16

Não há como falar em semelhança entre homicídio e

suicídio assistido. Este não prescinde do consentimento da vítima, que é

irrelevante para a caracterização daquele. Por fim, deve-se atentar para o fato de

que o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio são condutas previstas no

Código Penal pátrio, em seu art 122. 45

1.3 CLASSIFICAÇÃO

Conforme já afirmado, eutanásia é termo equívoco,

comportando conceitos diversos na doutrina. Muitos autores buscam relacionar

as espécies de eutanásia, cada qual utilizando classificação própria. Partindo-se

dos conceitos de eutanásia, distanásia, ortotanásia e suicídio assistido,

abordados antes, serão apresentadas algumas classificações. 46

Em vista da diversidade de classificações encontradas na

doutrina, as espécies a seguir consignadas são frutos da reunião das lições

expostas por alguns autores, principalmente pela Profa. Maria Celeste Cordeiro

Leite Santos, pelo Prof. Miguel Angel Nunñes Paz, pelo Prof. Ruy Santos e pelo

Prof. Luis Jimenez de Asúa. 47

a) eutanásia propriamente dita: trata-se da morte aplicada por misericórdia ou piedade a alguém que esteja padecendo de uma enfermidade penosa ou incurável, tendo por intuito eliminar a agonia lenta vivida pelo doente;

b) distanásia ou eutanásia lenitiva: visa a eliminar ou abrandar o sofrimento, antecipando-se a morte artificialmente;

c) eutanásia ativa: é o ato deliberado, por fins misericordiosos, de ajudar a promoção da morte, para fins de eliminar o sofrimento do doente;

45 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis OAB/SC Editora, 2003. p 115 46 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 408, 2003. 47 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 408-409, 2003.

Page 29: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

17

d) eutanásia passiva ou indireta: a morte do paciente ocorre, dentro de uma situação de terminalidade, ou porque não se inicia uma ação médica ou porque é feita a interrupção de uma medida extraordinária, com o objetivo de diminuir o sofrimento;

e) eutanásia criminal: refere-se ao patrocínio de morte indolor às pessoas que representam uma ameaça social, em razão da periculosidade que ostentam;

f) eutanásia terapêutica: quando são empregados ou omitidos terapêuticos, com intuito de causar a morte do paciente. É a faculdade atribuída aos médicos para propiciar uma morte suave aos pacientes; incuráveis e com dor;

g) eutanásia de duplo efeito: ocorre quando a morte é acelerada com uma conseqüência indireta das ações médicas que são executadas, visando ao alívio do sofrimento de um paciente terminal;

h) eutanásia experimental: é aquela que causa a morte indolor de pessoas, tendo o experimento científico como fim:

i) eutanásia súbita: representa a morte repentina;

j) eutanásia natural: morte natural ou senil, resultante do processo natural e progressivo do envelhecimento;

k) eutanásia por omissão, paraeutanásia, ortotanásia: é a omissão do uso de meios terapêuticos com a finalidade de consumação da eutanásia;

l) eutanásia eugênica: representa a eliminação, a morte de

todos os seres degenerados ou inúteis, inválidos, doentes,

velhos e doentes mentais.48

Observados os aspectos gerais da eutanásia, o próximo

capítulo tem como objetivo possibilitar uma visão jurídica desse instituto no

Direito Penal Brasileiro.

48 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 409, 2003.

Page 30: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

18

Capítulo 2

QUALIFICAÇÃO JURÍDICO-PENAL DA MORTE POR EUTANÁSIA 2.1. O DIREITO BRASILEIRO

Ainda prevalece no Direito brasileiro a tese de que a morte

não deve ser antecipada, mesmo que venha a diminuir o sofrimento dos

pacientes terminais desenganados, sob nenhuma forma. Com a eutanásia

evoluindo sempre ao longo dos anos, exigindo nomenclaturas específicas para

coisas diferentes, a eutanásia passou a significar apenas a morte causada por

conduta do médico sobre a situação do paciente incurável e em terrível

sofrimento.

A eutanásia, propriamente dita, é a promoção do óbito. É a

conduta (ação ou omissão) do médico que emprega (ou omite) meio eficiente

para produzir a morte em paciente incurável em estado de gravíssimo sofrimento,

diferente do curso natural.

Distingue-se, em função do tipo de atitude tomada, duas

modalidades de eutanásia: a eutanásia ativa que seria provocar a morte rápida,

através de uma ação deliberada, como por exemplo, uma injeção intravenosa de

potássio; e a passiva, que seria deixar morrer através de suspensão de uma

medida vital, que levaria o paciente ao óbito em um espaço de tempo variável.

Ambas as medidas filosoficamente, têm o mesmo significado. 49

49 PIVA J. P., CARVALHO, P. R. A.. Considerações éticas nos cuidados médicos do paciente terminal. Bioética. Brasília, 1993.

Page 31: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

19

No Direito brasileiro, a eutanásia caracteriza homicídio, pois

é conduta típica, ilícita e culpável. É indiferente para a qualificação jurídica desta

conduta e para a correspondente responsabilidade civil e penal que o paciente

tenha dado seu consentimento, ou mesmo implorando pela medida. O

consentimento é irrelevante para descaracterizar a conduta como crime. 50

Para que o comportamento humano seja crime previsto no

Código Penal Brasileiro, é necessário que haja a ocorrência concomitante de três

fatores: tipicidade, ilicitude e culpabilidade. Nesse sentido, observa

brilhantemente Toledo, proferindo a seguinte lição: “Do que foi dito conclui-se que

a base fundamental de todo fato-crime é um comportamento humano (ação ou

omissão). Mas para que esse comportamento humano possa aperfeiçoar-se

como um verdadeiro crime será necessário submetê-lo a uma tríplice ordem de

valoração; tipicidade, ilicitude e culpabilidade”. 51

Se pode-se afirmar de uma ação humana (a ação em

sentido amplo, compreende a omissão, sendo, pois, empregado o termo como

sinônimo de comportamento, ou de conduta) que é típica, ilícita e culpável, estará

fato-crime caracterizado, ao qual se liga, como conseqüência, a pena criminal

e/ou medidas de segurança. Tipicidade é a subjunção, a justaposição, a

adequação de uma conduta da vida real a um tipo legal de crime. Toledo assim

define ilicitude:

A relação de antagonismo que se estabelece entre uma conduta humana voluntária e o ordenamento jurídico, de sorte a causar lesão ou expor a vida a perigo de lesão um bem jurídico tutelado (...) deve-se entender o princípio da culpabilidade como a exigência de um juízo de reprovação jurídica que se apóia sobre a crença – fundada na experiência da vida cotidiana - de que ao homem é dada a possibilidade, em certas circunstância, agir de outro modo. 52

50 FRAGOSO, H.C.; NORONHA M. e FARIA, B. apud MENEZES, Evandro Corrêa de. Direito de matar (eutanásia). 2 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1977. 51 TOLEDO, F. A. Princípios básicos de Direito Penal. 4 ed., ampl. E atual. São Paulo, Saraiva, 1991, p. 84-88. 52 TOLEDO, F. A. Princípios básicos de Direito Penal. 4 ed., ampl. E atual. São Paulo, Saraiva, 1991, p. 89.

Page 32: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

20

O consentimento na eutanásia não torna lícita a conduta do

médico porque não a desclassifica como homicídio, visto que a lei não prevê tal

procedimento como causa de exclusão da tipicidade da conduta. A conduta só

será lícita quando não significar uma antecipação da morte natural em pacientes

terminais desenganados.

O Código Criminal Brasileiro de 1830 tipificava o auxílio ao

suicídio e nada discorria sobe eutanásia. No artigo 19653: “ajudar alguém a

suicidar-se ou fornecer-lhe meios para esse fim, com conhecimento de causa:

pena de prisão de dois a seis anos.”

O Código de 1890, no seu artigo 299, reduziu a pena

máxima para quatro anos. Retirar a vida do paciente terminal, mesmo com o seu

consentimento, a punição era seguida segundo as regras determinadas para o

homicídio simples.

O Código Penal Brasileiro vigente institui o homicídio

privilegiado nos seguintes termos:

Art. 121 – Matar alguém

§ 1° - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta comoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

É neste preceito que a doutrina situa o tratamento penal

dado à eutanásia, quando praticada por piedade e consentida pelo paciente ao

médico. Esse consentimento é irrelevante, pois não exclui a ilicitude da conduta.

O motivo de relevante valor social ou moral pode vir a ser considerado como

causa especial de redução da pena, mas a conduta permanece típica,

caracterizando homicídio. 54

53 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 125. 54 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis OAB/SC Editora, 2003. p 129.

Page 33: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

21

A exposição de motivos do Código Penal de 1940, afirmava

que: “Por motivo de relevante valor social ou moral, o projeto entende significar o

motivo que, em si mesmo, é aprovado pela moral prática como, por exemplo, a

compaixão ante irremediável sofrimento da vítima” (caso do homicídio

eutanásico).

Em relação ao motivo de relevante valor social ou moral no

homicídio privilegiado, Bruno firma posição sobre o que deve ou não ser

considerado lícito, “a supressão de vidas inúteis dos doentes mentais, não é

eutanásia e deve ser reprovada”. Aceita como fato não punível que o médico

intervenha para proporcionar uma morte tranqüila, sem que diminua o tempo de

vida. 55

Entretanto, Bruno afirma que “somente um pedido do

paciente ou de seus familiares justificaria o prolongamento artificial de uma vida

que se finda, isto é, nenhum motivo teria o médico para não se abster do

tratamento. O ato sem si é louvável, ficando a ressalva apenas para o

consentimento do paciente, com o qual não comungamos”. 56

Fragoso interpreta o homicídio privilegiado sem comentar

sobre a eutanásia, brevemente usando como exemplo o privilégio moral. 57

Noronha não aceita a eutanásia de forma nenhuma,

afirmando que a vida tem função social. 58

Mirabete faz referência ao homicídio privilegiado sem

opinar. Levanta a hipótese de que estudos estão sendo utilizados com o objetivo

de não considerar como homicídio a interrupação de meios artificiais. 59

55 BRUNO, Aníbal. Crimes contra a pessoa. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1975, 434 p. 56 BRUNO, Aníbal. Crimes contra a pessoa. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1975, 435 p. 57 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: parte especial. 4. ed. São Paulo: J. Buschatsky, 1977, p. 53-9. 58 NORONHA, E Magalhães. Direito penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1967, v. 2, p. 24-8. 59 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1986, v. 2, p. 46-9.

Page 34: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

22

No Brasil é escassa a doutrina sobre eutanásia e o direito

legiferado não trata a eutanásia como ato impune. Faria entende que a eutanásia

não deve ser tolerada pelo nosso ordenamento jurídico, pois a ninguém é dado o

direito de matar por compaixão, mesmo se houvesse o consentimento do

paciente. 60

O sistema jurídico brasileiro é orientado por princípios

fundamentais que expressam valores acolhidos pela sociedade. A presença

desses valores é evidente na população, principalmente quando se trata dos

bens jurídicos de maior relevância como a vida.

A eutanásia sempre foi considerada conduta ilícita no

direito brasileiro. É crime, tal o grau de rejeição à sua prática, em coerência com

os valores fundamentais que estruturam o ordenamento jurídico do país,

notadamente o respeito à vida humana. Por isso, o consentimento do paciente à

prática da eutanásia ou a motivação piedosa de quem a pratica não retiram a

ilicitude do ato, tampouco exoneram de culpa quem a praticou. 61

Na legislação brasileira temos assegurado o direito à vida,

afirmação essa que é consagrada dentro do nosso ordenamento jurídico, por ser

o fundamental alicerce de qualquer prerrogativa jurídica da pessoa, razão pela

qual o Estado resguarda a vida humana, desde a vida intra-útero até a morte. 62

O artigo 5º, caput, da Constituição Brasileira, vem assinalar

que a principal característica do direito à vida vem a ser considerada um dom

divino e tem que ser preservada de qualquer forma, no entanto, o próprio Estado

em determinadas circunstâncias permite que o cidadão, legitimamente, pratique

60 FARIA, Atonio Bento de. Código Penal Brasileiro comentado. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1959, p. 27-33. 61 DODGE, Raquel E F. Procuradora Regional da República 1ª Região. Bioética, vol. 7, n. 1, 1999, p. 113-120. 62 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Eutánásia e o direito à vida. Disponível em < http://ultimainstancia.uol.com.br/ensaios/ler_noticia.php?idNoticia=19041>. Acesso em 17 de julho 2008.

Page 35: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

23

condutas que venham a retirar a vida de outrem, como no estado de

necessidade, legítima defesa e aborto legal. 63

A Constituição da República Federativa do Brasil dispõe em

seu titulo II sobre os direitos fundamentais e garantias fundamentais, tutela o

direito à vida e estabelece em seu art. 5º caput, que:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade e o direito à vida, [...].

Por direitos fundamentais entende Silva64:

No qualitativo fundamentais acha-se a indicação de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive, e, às vezes, nem mesmo sobrevive; fundamentais do homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser não apenas formalmente reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados.

2.2. O POSICIONAMENTO DO MUNDO

Iniciando, a respeito da posição do mundo numa questão

tão polêmica, a igreja, no mundo, faz suas considerações, as quais veremos a

seguir:

Jesus Cristo começou seu ministério pregando a salvação,

na Judéia, e daí para todo o mundo. A Bíblia Sagrada é o livro com a única regra

de fé para a palavra de Deus.

63 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Eutánásia e o direito à vida. Disponível em < http://ultimainstancia.uol.com.br/ensaios/ler_noticia.php?idNoticia=19041>. Acesso em 15 jul 2008. 64 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 12 ed.rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 182.

Page 36: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

24

A igreja prega o evangelho de Jesus Cristo, e é ele o único

caminho que nos leva a alcançar a salvação, nenhum outro caminho nos dá essa

possibilidade. Todas as pessoas que seguem a palavra de Deus, baseada nas

escrituras sagradas, são amadas pela igreja, ou seja, são filhos de Deus. 65

Deus, o Senhor da vida e da morte, nos deu a vida, e só ele

tem o direito de tirá-la. Jesus Cristo é a fonte da água da vida, ele é o gerador de

nossas vidas, e jamais permite antecipar a morte de alguém. 66

Fazemos aqui uma citação da Bíblia Sagrada, na qual

conta a história da grave doença do Rei Ezequias, cuja morte, Deus já havia

determinado, mas a fé de Ezequias, com suas orações fez com sua saúde fosse

restabelecida pela vontade e determinação de Deus. 67

Quanto aos médicos profissionais de todo o mundo, que

tanto auxiliam para a recuperação de pessoas doentes, Deus tem abençoado

esses profissionais que ao longo de suas vidas tem restabelecido pessoas de

doenças graves, mesmo incuráveis, pela interferência Divina e incansável

dedicação e competência desses profissionais da saúde.

A Bíblia Sagrada diz: “NÃO MATARÁS”. 68

Deus não permite a eutanásia, é um crime aos seus olhos

que estão sempre nos observando em todos os minutos do dia e da noite. Deus é

o único dono de nossas vidas, nós a recebemos dele para ser bem administrada

e um dia, quando ele o quiser, nos levar de volta. 69

65 STINER, Robert W. Jornal O Caminho. Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (Igreja Alemã). Florianópolis, 2005. p. 5. 66 STINER, Robert W. Jornal O Caminho. Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (Igreja Alemã). Florianópolis, 2005. p. 7. 67 Traduzida por ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. 2 Reis 20.1 – 11; Is 38.1-8. ed. revista e atualizada no Brasil, 1969. p. 417. 68 Traduzida por ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. EX. 20.13. ed. revista e atualizada no Brasil, 1969. p. 84. 69 SCHEFER, Nelly. Orando em Família. Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (Igreja Alemã). Florianópolis, 2005. p. 8.

Page 37: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

25

O argumento da eutanásia – matar por misericórdia - não

tem fundamento bíblico, mesmo sendo a pedido do paciente, é um suicídio. A

todo o cristão é dado o direito e a obrigação de ajudar o semelhante, na saúde e,

principalmente, na doença, aliviando a sua dor. Para a igreja a eutanásia com

seus propósitos são considerados um grande desafio. 70

A eutanásia é discutida no mundo todo com muitas

divergências de pensamento.

Assunto extremamente polêmico, ela já foi praticada

facilmente pela humanidade, algumas vezes sigilosamente, em alguns países,

sem nenhuma penalidade. Nos Estados Unidos se tem notícia de que em

algumas pessoas foi aplicada esta prática. Na França, igual procedimento

também aconteceu há décadas. 71

Tema muito discutido nos diversos segmentos da

sociedade: religiosa, social, médica, ONGS e meios de comunicação, é

plenamente interrogada nos planos: ético, moral e jurídico. 72

Todos os povos, cada vez mais clamam pelos direitos do

homem e pelo direito à vida; como diz no direito brasileiro, a vida é inviolável. Ela

tem valor absoluto, todas as pessoas são iguais e devem ser tratadas e

respeitadas , igualmente.

Este tema podemos afirmar, está gerando polêmica atual

em todo o mundo. A vida humana deve ser preservada e não cabe ao homem

interrompe-la e nem programar o seu tempo. Polêmica esta, em virtude do

significativo número de situações de eutanásia que ocorre pelo mundo.

70 SPINOLZ. Valfrizio. Jornal Sinodal. Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. 11. ed. Florianópolis, 2005. p. 2. 71 SOUSA, Dinorah Leane Silva de. Eutanásia: questão de vida e de morte. Disponível em http://www.novafapi.com.br/revistajuridica/ano_II/dinorah.php. Acesso em 20 jul 2008. 72 OLIVEIRA, Heriberto Brito de. Ética e eutanásia. Disponível em http://www.bioetica.ufrgs.br. Acesso em 20 jul 2008.

Page 38: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

26

Desde e antiguidade, a presença da dor e todo o seu

significado e conseqüências tem sido um grande martírio para toda a

humanidade, em todas as esferas de nossa sociedade.

A obediência e o respeito às autoridades são princípios

ditados nos mandamentos de Deus. A igreja obedece as Leis do País, quando

estas não contrariam as Leis de Deus. 73

A igreja, com seus fundamentos bíblicos nos dão os

ensinamentos corretos e ela espera que cada um de nós tome decisões a

respeito do tema com responsabilidade dentro de uma vida cristã e sadia junto

aos seus irmãos e semelhantes.

Em alguns casos o termo eutanásia foi empregado de

maneira equivocada como o que o regime nazista chamou de eutanásia, o que,

na verdade foi, um holocausto, uma técnica autoritária e aberrante de eliminação

de seres humanos. 74

A Holanda foi o primeiro país (em 2002) a adotar a prática

da eutanásia (eutanásia ativa). A Bélgica, depois da Holanda, também já permite

a eutanásia ativa. O Estado de Oregon (EUA) autoriza a morte assistida (suicídio

assistido: ajuda para que o paciente terminal realize sua própria morte). A

ortotanásia, por seu turno, já é autorizada na Alemanha e na França. 75

A aprovação da lei holandesa causou polêmica no país.

Cerca de 10 mil manifestantes protestaram cantando hinos religiosos e lendo

passagens da Bíblia. Em maior parte das escolas, os alunos não tiveram aula

73 Traduzida por ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada - At. 4.19: At. 5. 29. ed. revista e atualizada no Brasil, 1969. p. 146. 74 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Morrer ou matar. Eutanásia e direito à vida: limites e possibilidade. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/38164,1. Acesso em 13 de julho de 2008.75 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Morrer ou matar. Eutanásia e direito à vida: limites e possibilidades. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/38164,1. Acesso em 13 de julho de 2008.

Page 39: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

27

para participar dos protestos. Apesar da polêmica, pesquisas indicam que cerca

de 90% dos holandeses apóiam a eutanásia. 76

A nova legislação entra em vigor no meio do ano de 2001.

O direito é expressamente negado a não-residentes na Holanda. Antes da

votação, a ministra holandesa da Saúde, Els Borst, assegurou que os pacientes

estão protegidos caso não queiram que a eutanásia seja feita. 77

De acordo com a ministra, o paciente só poderá ter direito à

eutanásia se estiver passando por um sofrimento insuportável em função de uma

doença irreversível e estar ciente de todas as opções médicas disponíveis. O

pedido deverá ser feito voluntariamente e pessoalmente enquanto o paciente

estiver consciente. Os médicos nunca deverão sugerir a eutanásia como uma

opção. 78

As diversas legislações estrangeiras tem se ocupado, com

bastante freqüência, do tema da eutanásia em seus respectivos códigos. Desta

maneira, vemos que a prática é vista como uma forma de homicídio privilegiado

pela maioria dos povos latinos (Colômbia, Cuba, Bolívia, Costa Rica, Uruguai), e

até como uma ausência de delito em outros, exceto por motivo egoístico ( Peru ),

embora alguns adotem ainda uma postura extremamente conservadora, entre

eles, a Argentina e o Brasil, que não excluem o delito de figurar entre os tipos de

homicídio, em suas diversas formas. No caso particular do vizinho Uruguai, o

código elaborado por Irureta-Goyena e recentemente aprovado, estabelece o

perdão judicial nos seguintes termos do seu artigo 37 79: "Os juizes tem a

76 MARINHO, Luciano. Aprovação Polêmica. Holanda é o primeiro país a autorizar a eutanásia. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/17642,1. Acesso em 13 de julho de 2008. 77 MARINHO, Luciano. Aprovação Polêmica. Holanda é o primeiro país a autorizar a eutanásia. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/17642,1. Acesso em 13 de julho de 2008. 78 MARINHO, Luciano. Aprovação Polêmica. Holanda é o primeiro país a autorizar a eutanásia. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/17642,1. Acesso em 13 de julho de 2008. 79JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 40: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

28

faculdade de exonerar do castigo ao indivíduo de antecedentes honestos, autor

de um homicídio efetuado por móveis de piedade” mediante súplicas reiteradas

da vítima. "

Por outro lado, as legislações européias são muito mais

benevolentes, ora isentando de qualquer pena (Rússia, Código Criminal de

1922), ora cominando penas atenuadas, como na Inglaterra, Holanda, Suíça,

Áustria, Noruega, República Checa e Itália, ainda que alguns outros não a

admitam formalmente (Grécia, França, Espanha e Bélgica). 80

Em Portugal, há limitação da pena de seis meses a três

anos, quando houver pedido do paciente (Código Penal Português, Artigo 134) e,

de um a cinco anos, quando movido por compaixão, emoção violenta, desespero

ou outro valor relevante social ou moral (Artigo 133). Nos Estados Unidos, a

questão vinha sendo deixada ao livre arbítrio das legislações estaduais, o que foi

revisto por recente decisão da Corte Suprema Nortemericana que estabeleceu

ser a matéria de competência legislativa privativa da União. 81

No Canadá francófono, a lei 145 introduziu, em 1990, a

figura do curador público designado livremente por qualquer cidadão, e que

dispõe de poderes executáveis ainda em vida (ao contrário do testamento),

devendo ser ratificado perante o registro público e homologado judicialmente, o

qual se torna possuidor de um mandado para agir em determinadas

circunstâncias e dentro dos limites propostos pelo concedente. 82

80 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.81 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.82 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 41: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

29

Tal mandado cobre, por exemplo, a delegação de

consentimento de cuidados médicos e a administração de bens, sendo revogável

a qualquer tempo, de acordo com os mesmos procedimentos formais.

Atualmente, o curador público representa cerca de 16000 indivíduos maiores de

idade e supervisiona 5000 curadores privados e 12000 tutores, somente na

província de Québec. Ele também administra os bens das pessoas

desconhecidas ou não encontráveis pelos registros públicos. 83

Para uma melhor visão acerca da questão da Eutanásia,

verifiquemos com maior riqueza de detalhes a eutanásia praticada em alguns

países:

2.2.1 EUTANÁSIA NA AUSTRÁLIA

Nos territórios do Norte da Austrália esteve em vigor, de 1º

de Julho de 1996 a março de 1997, a primeira lei que autorizava a eutanásia

ativa, que recebeu a denominação de Lei dos Direitos dos Pacientes Terminais.

Segundo notícia publicada na folha de São Paulo, o Parlamento Australiano,

revogou a referida lei depois que quatro pessoas já haviam morrido sob o seu

amparo. 84

Esta Lei estabeleceu inúmeros critérios e precauções até

permitir a realização do procedimento. Estas medidas, na prática, inibem

solicitações intempestivas ou sem base em evidências clinicamente

comprováveis. Isto já pode ser comprovado no primeiro paciente a obter a

autorização que foi Robert Dent, que morreu em 22.09.96.

83 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.84 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 42: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

30

1) Paciente faz a solicitação a um médico.

2) O médico aceita ser seu assistente.

3) O paciente deve ter 18 anos no mínimo.

4) O paciente deve ter uma doença que no seu curso normal ou sem a utilização

de medidas extraordinárias acarretará sua morte.

5) Não deve haver qualquer medida que possibilite a cura do paciente.

6) Não devem existir tratamentos disponíveis para reduzir a dor, sofrimento ou

desconforto.

7) Deve haver a confirmação do diagnóstico e do prognóstico por um médico

especialista.

8) Um psiquiatra qualificado deve atestar que o paciente não sofre de uma

depressão clínica tratável.

9) A doença deve causar dor ou sofrimento.

10) O médico deve informar ao paciente todos os tratamentos disponíveis,

inclusive tratamentos paliativos.

11) As informações sobre os cuidados paliativos devem ser prestadas por um

médico qualificado nesta área.

12) O paciente deve expressar formalmente seu desejo de terminar com a vida.

13) O paciente deve levar em consideração as implicações sobre a sua família.

14) O paciente deve estar mentalmente competente e ser capaz de tomar

decisões livre e voluntariamente.

15) Deve decorrer um prazo mínimo de sete dias após a formalização do desejo

de morrer.

16) O paciente deve preencher o certificado de solicitação.

17) O médico assistente deve testemunhar o preenchimento e a assinatura do

Certificado de Solicitação.

18) Um outro médico deve assinar o certificado atestando que o paciente estava

mentalmente competente para livremente tomar a decisão.

19) Um interprete deve assinar o certificado, no caso em que o paciente não

tenha o mesmo idioma de origem dos médicos.

20) Os médicos envolvidos não devem ter qualquer ganho financeiro, além dos

honorários médicos habituais, com a morte do paciente.

21) Deve ter decorrido um período de 48 horas após a assinatura do certificado.

Page 43: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

31

22) O paciente não deve ter dado qualquer indicação de que não deseja mais

morrer.

23) A assistência ao término voluntário da vida pode ser dada. 85

“Verificou-se que além do roteiro a ser seguido, a lei determinava três requisitos

essenciais para que o interessado pudesse utilizar-se da Eutanásia”:

1º. O estado de saúde do paciente deveria ser crítico e atestado por três

médicos;

2º. Os períodos de tempo devem ser extremamente respeitados;

3º. Após esse período, o paciente teria acesso a um equipamento, operado por

computador, que consiste em um tubo que é ligado à veia do paciente e uma

tecla SIM. Se o paciente pressionasse a tecla, recebia uma injeção letal.” 86

2.2.2 EUTANÁSIA NOS ESTADOS UNIDOS

Em 1991, foi feita uma proposição de alteração do Código

Civil da Califórnia/EEUU (Proposição 161), não aceita em um plebiscito, de que

uma pessoa mentalmente competente, adulta, em estado terminal poderia

solicitar e receber uma ajuda médica para morrer. O objetivo seria o de permitir a

morte de maneira indolor, humana e digna. O médicos teriam imunidade legal

destes atos. Em abril de 1996, o juiz Stephen Reinhardt, do 9o, Tribunal de

Apelação de Los Angeles Califórnia, estabeleceu que a Constituição Americana

garante o direito ao suicídio assistido a todo paciente terminal. 87

85 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.86 ALVES, Leo da Silva. Eutanásia. Revista Consulex, São Paulo, nº 29, p. 15, maio 1999. 87 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 44: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

32

Em 26 de junho de 1997, a Suprema Corte dos Estados

Unidos rejeitou as decisões das comarcas e ratificou as leis dos Estados de Nova

Iorque e Washington que estabelecem como crime o fato de médicos ministrarem

drogas a pacientes terminais em perfeito estado de lucidez, a fim de os assistirem

em seus desejos de pôr termo às suas vidas. A suprema corte sustentou que não

haveria subsídios constitucionais que amparassem tais suicídios assistidos. 88

A Suprema Corte proferiu a sentença sobre os casos de

Nova Iorque e Washington, em 26 de julho de 1997. Foi declarado que o cidadão

americano comum não detém o direito constitucional para praticar o suicídio

assistido por um médico. A votação foi de nove votos a zero; uma unanimidade

incomum. 89

Desta forma, as leis de Nova Iorque e Washington são

consideradas constitucionais. Por outro lado, a Corte deixou subentendido que

não há barreiras constitucionais que proíbam a um Estado aprovar uma lei que

permita o suicídio assistido por um médico. O Estado de Oregon seguiu

exatamente essa conduta. Esse batalha, por conseguinte, deverá ser travada em

nível estadual. 90

A abrangência da decisão da Suprema Corte foi muito

limitada, tendo em vista que somente legislou sobre se o público teria um direito

genérico quanto ao suicídio assistido. Tal caso se deve originalmente a seis

pacientes terminais que à época padeciam de dores intratáveis, e que

reivindicavam o acesso ao suicídio assistido.Contudo, no momento da audiência,

para a apresentação dos argumentos legais à Corte, todos os seis pacientes

haviam morrido. Ou seja, a Corte não estava apta a decidir se os pacientes

88 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008. 89 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.90 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 45: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

33

terminais deveriam ter o direito ao suicídio assistido, uma vez que a mesma

legislara, somente em termos gerais, sobre o direito de socorrer a tal prática. 91

2.2.3 EUTANÁSIA NA HOLANDA

Na Holanda, a eutanásia tornou-se legalizada pelo Senado

em 10 de abril de 2001, seguindo uma decisão concordante da câmara baixa,

ambas por maioria, apesar da forte oposição da opinião pública. O fato de já

existir legalização a respeito não significa que a eutanásia esteja totalmente

liberada. 92

Ao contrário: a eutanásia limita-se a um ato médico; em

segundo lugar, a nova legislação retoma os “critérios de minúcia”, publicados pelo

governo em 1994, que haviam permitido uma prática cada vez mais ampla da

eutanásia, sem o risco de uma condenação por homicídio. 93

“A nova lei submete o ato da eutanásia a sete condições: à

doença do candidato deve ser incurável e lhe trazer sofrimentos insuportáveis; o

pedido do paciente deve ser voluntário e refletido; o paciente receber do médico

informação completa sobre sua condição; o médico deve consultar pelo menos

um colega que concorde com uma intervenção; a assistência ao falecimento ser

minuciosamente preparada e organizada; a eutanásia, uma vez praticada, ser

submetida a uma comissão composta por um magistrado, um médico e um

especialista, que verifique se os critérios de minúcia foram efetivamente

91 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008. 92 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.93 REVISTA JURÍDICA CONSULEX, ano V – nº 114 –15 de outubro de 2001, p. 18.

Page 46: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

34

respeitados; se não, a comissão deverá apresentar uma denúncia à justiça

penal”. 94

Além disso, a lei institui uma “declaração de intenção de

eutanásia”, de forma que qualquer pessoa possa pedir por escrito o recurso à

eutanásia, em caso de se tornar incapaz de reclamá-la (doença mental,

senilidade, coma, etc.). 95

O texto da lei foi aprovado oficialmente em 10 de abril de

2001, mas, na prática, a eutanásia já era tolerada sob condições especiais desde

1997. Apenas no ano passado, houve 2.123 casos oficiais de eutanásia na

Holanda – 1.893 doentes de câncer pediram a um médico que terminasse com

suas vidas, o que representa 89% do total das eutanásias realizadas no país em

2000. Depois, aparecem pacientes com doenças neurológicas, pulmonares e

cardiovasculares. 96

2.2.4 EUTANÁSIA NA SUÍÇA

Na Suíça o Direito Penal não distingue entre a prática da

eutanásia por um médico ou não. No entanto, um ato dessa importância nunca é

qualificado como assassinato. O Código Penal (art.114) institui como homicídio

privilegiado o fato de aquele que, “cedendo a um móvel honroso, por exemplo a

piedade”, dá morte àquele que faz “o pedido sério e inequívoco”. Da mesma

forma, o art. 115, CP, torna passível de punição a assistência ao suicídio apenas

se o autor agiu “movido por um motivo egoísta”. Enfim, aquele que abreviar o

sofrimento de um doente agonizante, movido pala caridade, piedade ou sob

94 REVISTA JURÍDICA CONSULEX, ano V – nº 114 –15 de outubro de 2001, p. 18. 95 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008. 96 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 47: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

35

efeito de confusão mental, estará agindo como previsto no art. 113, CP:

assassinato passional, um outro tipo de homicídio privilegiado. 97

Podemos concluir no que se refere ao Direito Penal suíço,

a eutanásia não foge à lei penal; ela não é beneficiada por uma cláusula

absolutória, mas por uma circunstância atenuante especial. Tal regulamentação é

criticada pelos médicos (a Academia Suíça das Ciências Médicas admite a

eutanásia passiva) e por grupos de pressão, o que provocou no Parlamento em

1996, uma intervenção visando à introdução no Código Penal de uma disposição

com o seguinte teor: 98

“Não há assassinato no sentido do art. 114, nem assistência ao suicídio no

sentido do art. 115, quando as seguintes condições são preenchidas”:

I – A morte foi dada a uma pessoa a pedido sério e inequívoco do paciente;

II – O falecido padecia de uma doença incurável, que tendo tomado um curso

irreversível com um prognóstico fatal, ocasionava-lhe sofrimentos físicos ou

psíquicos intoleráveis;

III – Dois médicos diplomados e independentes um do outro, e em relação ao

defunto, certificaram-se previamente de que as condições indicadas no segundo

item foram preenchidas;

IV – A autoridade médica competente certificou-se que o paciente foi

devidamente informado;

V – A assistência ao falecimento deve ser praticada por um médico com diploma

federal, escolhido pelo requerente entre os médicos que o atendiam.

Foi instituído sobre essa base um grupo de trabalho que

publicou, em 1999, um relatório adotado pelo Governo, propondo o seguinte:

97 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008. 98 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 48: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

36

- Manter o art. 114, CP: punibilidade daquele que, por

compaixão a uma pessoa e a seu pedido inequívoco, dá fim a uma vida que

padece sofrimentos inúteis (eutanásia ativa direta);

- Introduzir reformas no que diz respeito à eutanásia

passiva (interrupção dos cuidados suscetíveis de prolongar a vida de um

agonizante) e ativa indireta (administração de substâncias cujos efeitos

secundários podem reduzir a duração da sobrevivência). Essas propostas estão

transitando no Parlamento, mas ainda não foram debatidas. 99

2.2.5 EUTANÁSIA NA FRANÇA

A Eutanásia é punida pelo Código Pena e pela

Jurisprudência Criminal Francesa como homicídio voluntário (assassinato) porque

pressupõe no plano estritamente jurídico a questão do consentimento da vítima.

Seria esse consentimento real, livre e voluntário? 100

Em segundo lugar, no plano da política criminal, uma

descriminalização da eutanásia apresentaria graves riscos de supressão, sob

uma aparência médica, de deficientes, de idosos ou de pessoas gravemente

doentes, de quem seria difícil estabelecer a liberdade e realidade do

consentimento. Finalmente, no plano médico, o critério do caráter incurável de

uma doença permanente como questão que pode evoluir com os progressos da

medicina; essa apreciação, para por fim à vida de um indivíduo, não pode ser

entregue ao médico por se tratar de um ato muito grave. 101

99 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008. 100 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008. 101 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 49: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

37

Nesse campo, não podemos admitir “desculpa legal”. Em

contrapartida, quando um médico é objeto de perseguições judiciárias por ter

praticado eutanásia, as Cortes Criminais francesas, apreciam as circunstâncias

da infração e podem ser indulgentes com o médico, se as circunstâncias do fato

justificam o ato. Assim é a legislação francesa. Devemos constatar, no entanto,

que existem certas correntes de idéias minoritárias em favor de uma flexibilização

da legislação, que têm como objetivo “justificar” o atentado à vida humana que a

eutanásia representa. 102

2.2.6 EUTANÁSIA NO URUGUAI

O Uruguai, talvez, tenha sido o primeiro país do mundo a

legislar sobre a possibilidade de ser realizada eutanásia no mundo. Em 1o. de

agosto de 1934, quando entrou em vigor atual Código Penal uruguaio, foi

caracterizado o "homicídio piedoso", no artigo 37 do capítulo III, que aborda a

questão das causas de impunidade. 103

De acordo com a legislação uruguaia, é facultado ao juiz a

exoneração do castigo a quem realizou este tipo de procedimento, desde que

preencha três condições básicas: ter antecedentes honráveis; ser realizado por

motivo piedoso, e a vítima ter feito reiteradas súplicas. 104

A proposta uruguaia, elaborada em 1933, é muito

semelhante a utilizado na Holanda, a partir de 1993. Em ambos os casos, não há

uma autorização para a realização da eutanásia, mas sim uma possibilidade do

102 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.103 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.104 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 50: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

38

indivíduo que for o agente do procedimento ficar impune, desde que cumpridas

as condições básicas estabelecidas. Esta legislação foi baseada na doutrina

estabelecida pelo penalista espanhol Jiménez de Asúa. 105

Vale destacar que, de acordo com o artigo 315 deste

mesmo Código, isto não se aplica ao suicídio assistido, isto é quando uma

pessoa auxilia outra a se suicidar. Nesta situação há a caracterização de um

delito, sem a possibilidade de perdão judicial. 106

2.2.7 EUTANÁSIA NA COLÔMBIA

Segundo notícia recentemente publicada no Jornal a Folha

de São Paulo, em 22.05.97, a Corte Constitucional da Colômbia autorizou a

eutanásia em casos de doentes terminais e com o consentimento prévio do

envolvido. 107

Finalmente, no Capítulo 3, existiu uma preocupação de

efetuar uma reflexão sobre a visão dos prós e contras a respeito da eutanásia no

Direito Penal Brasileiro.

105 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008. 106 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.107 JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível em http://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectoseticosejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 51: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

39

Capítulo 3

A VISÃO DOS PRÓS E CONTRAS

3.1. A IGREJA CATÓLICA E RELIGIÃO

A eutanásia, também conhecida como “morte doce” ou por

piedade, é a ação que provoca a morte de uma pessoa para que ela não sofra ou

para que acabem de uma vez por todas os seus sofrimentos. 108

Nesta discussão uma parcela da sociedade aprova a

eutanásia e até a considera uma caridade para com o moribundo. Outra parcela

se coloca na oposição não aceitando sob hipótese nenhuma tal prática

considerando-a ilícita e até mesmo criminosa. A Igreja repudia a eutanásia.

Somente Deus tem o direito de dar ou tirar a vida. O Senhor Jesus se apresentou

como sendo Ele o caminho e a vida. Ele é, portanto a fonte geradora de vida. É

muito louvável que os médicos apliquem todos os recursos disponíveis para

salvar vidas, e nunca para antecipar a morte. Lemos na Bíblia a história do Rei

Ezequias que estava gravemente enfermo e cuja morte estava determinada pelo

próprio Deus. Mas diante de sua oração e suplicas, Deus lhe restaurou a saúde e

acrescentou-lhe mais quinze anos de vida. A Igreja louva a Deus pelo trabalho

dos médicos e todos os profissionais da área de saúde que tanto tem contribuído

para minorar o sofrimento de milhões de doentes. A Igreja o considera uma

benção de Deus. Temos o testemunho de muitas pessoas que estavam doentes

já em fase terminal, tendo já se esgotado todos os recursos da medicina, foram

completamente restaurados pela interferência direta de Deus mediante a oração

dos seus servos. 109

108 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 473. 109 RAMOS, Dalton Luiz de Paula. Eutanásia: Conheça a posição da Igreja Católica e seu fundamento. DisponÍvel em www.ad.org.br/adclassico/posic.htm - 9k. Acesso em 10 de julho de 2008.

Page 52: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

40

A bíblia não trata deste problema da eutanásia, visto que é

um problema moderno. Mas o antigo Testamento demonstra um grande respeito

pela vida dos homens, que é dom e propriedade de Deus. 110

Já o novo testamento insiste no valor do heroísmo de quem

dá a vida generosamente pela causa do Evangelho. Mas, no fundo, o Senhor da

vida é sempre Deus. 111

O homem pode oferecer a sua vida, mas é Deus quem

decide a nossa sorte. Se, tradicionalmente, a Igreja tolerou a pena de morte, a

licitude de uma guerra em que se mata ou a legítima defesa diante do agressor,

ela o fez em nome da própria vida, para defendê-la das agressões injustas. 112

A eutanásia direta entendida como uma ação ou omissão

que, em si ou na intenção, gera a morte a fim de suprimir a dor constitui um

assassinato gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito

pelo Deus vivo, seu Criador. É moralmente inadmissível (Catecismo da Igreja

Católica, n.2277). 113

A Igreja Católica também rejeita a chamada “obstinação

terapêutica”. Entende-se que pode ser legítima a interrupção de procedimentos

médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados

esperados. Não se quer dessa maneira provocar a morte; aceita-se não poder

impedi-la. Nesses casos as decisões devem ser tomadas pelo paciente, se tiver a

competência e a capacidade para isso; caso contrário, pelos que têm direitos

110 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 474. 111 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 474. 112 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 475. 113 RAMOS, Dalton Luiz de Paula. Eutanásia: Conheça a posição da Igreja Católica e seu fundamento. Disponível em http://br.geocities.com/catequesebr/eutanasia.html. Acesso em 10 de Julho de 2008.

Page 53: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

41

legais, respeitando sempre a vontade razoável e os interesses legítimos do

paciente (Catecismo da Igreja Católica, n.2278). 114

Muitos daqueles que defendem a eutanásia argumentam

que ela é uma forma de evitar o sofrimento, quando a vida não tem mais sentido,

quando não se dispõe de “qualidade de vida”. 115

A colocação moderna do problema da vida se faz com

razões que não são muito difíceis de rebater do ponto de vista teórico. Fala-se de

casos em que a vida já não parece um bem, tanto em criança disformes ou

reduzidas a uma vida quase vegetativa, como em doentes esvaziados de

qualquer esperança de melhoria e que vivem em condições inumanas. 116

O argumento da compaixão é tão forte e as circunstâncias

tão angustiantes em alguns casos, que não é de estranhar que se chegue a

encarrar com boa vontade o que, em si, implica numa transgressão das leis da

vida. 117

Se a consciência é o último juiz antes de Deus, não há

dúvidas de que, em muitos casos extremos, age-se de boa vontade ao praticar a

eutanásia. 118

No entanto, o ensinamento cristão aponta em direção

contrária, em defesa da vida. Os seus argumentos não são convincentes às

vezes, pois não têm um sentido utilitário, mas giram em torno do respeito à

114 RAMOS, Dalton Luiz de Paula. Eutanásia: Conheça a posição da Igreja Católica e seu fundamento. Disponível em http://br.geocities.com/catequesebr/eutanasia.html. Acesso em 10 de Julho de 2008. 115 RAMOS, Dalton Luiz de Paula. Eutanásia: Conheça a posição da Igreja Católica e seu fundamento. Disponível em http://br.geocities.com/catequesebr/eutanasia.html. Acesso em 10 de Julho de 2008. 116 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 475. 117 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 475. 118 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 475.

Page 54: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

42

pessoa e do amor à vida. E por vez essas razões são muito teóricas para aqueles

que se sentem envolvidos por um problema existencial. 119

Quanto à visão da religião podemos dizer que este assunto

sempre inspirou grandes inquietações e controvérsias, desta forma

apresentaremos de modo sintético a opinião das grandes religiões a respeito da

eutanásia:

3.1.2 RELIGIÃO CATÓLICA

A posição da Igreja Católica em relação à eutanásia tem

sido expressa nas declarações papais e outros documentos, partindo-se da

prescrição normativa ínsita nos dez mandamentos "não matarás", como se

observa adiante: 120

"Toda forma de eutanásia direta, isto é, a subministração de narcóticos para provocarem ou causarem a morte, é ilícita porque se pretende dispor diretamente da vida. Um dos princípios fundamentais da moral natural e cristã é que o homem não é senhor e proprietário, mas apenas usufrutuário de disposição direta que visa à abreviação da vida como fim e como meio. Nas hipóteses que vou considerar, trata-se unicamente de evitar ao paciente dores insuportáveis, por exemplo, no caso de câncer inoperável ou doenças semelhantes. Se entre o narcótico e a abreviação da vida não existe nenhum nexo causal direto, e se ao contrário a administração de narcóticos ocasiona dois efeitos distintos: de um lado aliviando as dores e de outro abreviando a vida, serão lícitos. Precisamos, porém, verificar se entre os dois efeitos há uma proporção razoável, e se as vantagens de um compensam as desvantagens do outro. Precisamos, também, primeiramente verificar se o estado atual da ciência não permite obter o mesmo resultado com o uso de outros meios, não podendo ultrapassar, no uso dos narcóticos, os limites do que for estritamente necessário." (Papa Pio XII, em 1956)

119 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 475. 120 CARNEIRO, Antonio Soares; CUNHA, Maria Edilma. Eutanásia e Distanásia. A problemática da Bioética. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1862&p=3. Acesso em 14 de julho de 2008.

Page 55: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

43

A Constituição Pastoral Gaudium et Spes (n. 27) preceitua:

"Tudo o que é contra a vida, como o homicídio, o genocídio,

o aborto, a eutanásia e o suicídio voluntário (...) são coisas verdadeiramente

vergonhosas (...)."

Papa Paulo VI:

"A vida humana deve ser absolutamente respeitada: como

no aborto, eutanásia e homicídio."

Declaração sobre a Eutanásia da Sagrada Congregação

para a Doutrina da Fé, em 05 de maio de 1980:

"Não se pode impor a ninguém a obrigação de recorrer a

uma técnica que, embora já em uso, ainda não está isenta de perigos ou é

demasiadamente onerosa. Na iminência de uma morte inevitável, apesar dos

meios usados, é lícito de forma consciente tomar a decisão de renunciar ao

tratamento que daria somente um prolongamento precário e penoso à vida, sem,

contudo interromper os cuidados normais devidos ao doente em casos

semelhantes."

Pode-se observar, assim, que a posição da Igreja Católica

é no sentido de que a obrigação do médico é tratar do paciente, aliviando a dor e

o sofrimento e respeitando sua dignidade como pessoa humana. Isso implica os

procedimentos chamados ordinários, como a analgesia, a hidratação, e a nutrição

artificial. O mesmo não se diga com os "cuidados médicos extraordinários", de

altíssimo custo e procedimentos penosos, como a ventilação mecânica, a

radioterapia e a diálise renal, denominadas "futilidade médica", pois não

ofereceriam nenhum benefício ao paciente, constituindo-se no que passou a

chamar recentemente de distanásia, ou simplesmente encarniçamento

terapêutico, ante a manutenção obstinada e precária de uma vida sem remissão

e redenção. 121

121 CARNEIRO, Antonio Soares; CUNHA, Maria Edilma. Eutanásia e Distanásia. A problemática da Bioética. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1862&p=3. Acesso em 14 de julho de 2008.

Page 56: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

44

3.1.3 RELIGIÃO JUDAICA

O judaísmo é a mais velha tradição de fé monoteísta

do Ocidente. É uma religião que estabelece regras de conduta para seus

seguidores. 122

O pensamento judaico em relação à eutanásia

assinala que a tradição legal hebraica é contra, pelo fato do médico servir

como um meio de Deus para preservar a vida humana, sendo-lhe proibido

arrogar-se à prerrogativa divina de decisão entre a vida e a morte de seus

pacientes. O conceito de santidade da vida humana significa que a vida

não pode ser terminada ou abreviada, tendo como motivações à

conveniência do paciente, utilidade ou empatia com o sofrimento do

mesmo. A halaklan distingue entre o prolongamento da vida do paciente,

que é obrigatório, e o prolongamento da agonia, que não o é. Se o médico

está convencido de que seu paciente seja gozes, isto é, terminal, e poderá

morrer em três dias, pode suspender as manobras de prolongamento de

vida e também o tratamento não-analgésico. 123

Em síntese, a halaklan proíbe a eutanásia ativa, mas

admite deixar morrer um paciente em determinadas condições. 124

122 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Morrer ou matar. Eutánásia e o direito à vida: limites e possibilidades. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/38164,1. Acesso em 14 de julho de 2008. 123 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Morrer ou matar. Eutánásia e o direito à vida: limites e possibilidades. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/38164,1. Acesso em 14 de julho de 2008. 124 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Morrer ou matar. Eutánásia e o direito à vida: limites e possibilidades. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/38164,1. Acesso em 14 de julho de 2008.

Page 57: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

45

3.1.4 RELIGIÃO ISLÂMICA

O islamismo que significa literalmente “submissão à

vontade de Deus”, é a mais jovem e a última das grandes religiões mundiais e a

única surgida após o cristianismo (Maomé – 570-632 d.C.). 125

Nos dizeres de Nogueira (1995), a posição islâmica em

relação à eutanásia é que sendo a concepção da vida humana considerada

sagrada, aliada a “limitação drástica da autonomia da ação humana”, proíbem a

eutanásia, bem como o suicídio, pois para seus seguidores o médico é um

soldado da vida, sendo que não deve tomar medidas positivas para abreviar a

vida do paciente. No entanto, se a vida não pode ser restaurada é inútil manter

uma pessoa em estado vegetativo utilizando-se de medidas heróicas. 126

3.1.5 RELIGIÃO HINDU

Embora a Escritura Hindu não faça referência expressa à

eutanásia, extrai-se de seu texto a proibição de sua realização, pois que a alma

deve sustentar todos os prazeres e dores do corpo em que reside, embora na

Índia Antiga terem sido prescritas medidas particulares para por termo à vida de

pessoas afetadas por moléstias incuráveis. 127

125 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Morrer ou matar. Eutánásia e o direito à vida: limites e possibilidades. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/38164,1. Acesso em 14 de julho de 2008. 126 OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Morrer ou matar. Eutánásia e o direito à vida: limites e possibilidades. Disponível em http://www.conjur.com.br/static/text/38164,1. Acesso em 14 de julho de 2008. 127 CARNEIRO, Antonio Soares; CUNHA, Maria Edilma. Eutanásia e Distanásia. A problemática da Bioética. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1862&p=3. Acesso em 14 de julho de 2008.

Page 58: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

46

3.1.6 RELIGIÃO BUDISTA

Para o budismo, nossa personalidade deriva da interação

de cinco atividades: a atividade corporal, as sensações, as percepções, a

vontade e a consciência. De todas, a vontade é a mais importante, porquanto

representa a capacidade de escolha, de orientar a consciência: a morte de

alguém, assim, ocorre quando alguém não mais possa exercer uma vontade

consciente, quando seu encéfalo perdeu definitivamente a capacidade de viver,

quando o último traço de atividade elétrica o abandonou. 128

O sofrimento tem grande importância no pensamento de

Buda: as Quatro Verdades Nobres para obter a Iluminação são sua verdadeira

causa. Destarte, a eutanásia ativa e a passiva podem ser aplicadas em

numerosos casos, admitindo o budismo que a vida vegetativa seja abreviada ou

facilitada. 129

3.2 QUESTÕES MÉDICAS

Partindo de um tema como a Eutanásia, torna-se

impossível não abordar a responsabilidade do médico. Quando fala-se em atos

ilícitos, deve-se lembrar de que um fato ilícito pode gerar efeitos civis e penais,

além de outros.

128 CARNEIRO, Antonio Soares; CUNHA, Maria Edilma. Eutanásia e Distanásia. A problemática da Bioética. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1862&p=3. Acesso em 14 de julho de 2008. 129 CARNEIRO, Antonio Soares; CUNHA, Maria Edilma. Eutanásia e Distanásia. A problemática da Bioética. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1862&p=3. Acesso em 14 de julho de 2008.

Page 59: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

47

A eutanásia envolve uma questão médica com reflexos

legais. Em seu bojo estão consignados a incurabilidade de uma doença e a dor

insuportável e a inevitabilidade da morte. 130

Segundo Jiménez de Asúa, “a dor é um fato psicológico

eminentemente subjetivo”.

De fato, a dor varia de indivíduo para indivíduo eis que o

estado emocional vivido pelo paciente é determinante dessas sensações

doloríficas. 131

A Medicina busca prevenir os males, mas também quer

encontrar melhorias dos padrões de saúde e de vida da coletividade, como indica

o artigo 1º do Código de Ética Médica. Exercendo sua profissão, o médico

sempre deve zelar pelo perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e

bom conceito da profissão, em obediência a princípios éticos norteadores de sua

atividade. 132

Infelizmente, observa-se um acentuado crescimento de

falhas médicas, ocasionadas não somente pelas atividades do próprio médico,

ma também pelo quadro degenerado do sistema de saúde do país. A péssima

remuneração dos médicos e a falta de condições ideais de trabalho são os

principais motivos apontados e que os levam a se tornarem mais suscetíveis a

falhas e cometimentos enganosos. 133

Conseqüentemente, os pacientes acabam sendo vítimas

dessas deficiências, não sendo raro observar casos de doentes que foram

130 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 271. 131 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 271. 132 SOUZA, Éverton Gomes de. Eutanásia. Disponível em http://br.monografias.com/trabalhos2/eutanasia/eutanasia2.shtml. Acesso em 15 de julho de 2008. 133 SOUZA, Éverton Gomes de. Eutanásia. Disponível em http://br.monografias.com/trabalhos2/eutanasia/eutanasia2.shtml. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 60: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

48

vítimas de erros médicos, caracterizando, sem dúvidas, violações aos direitos da

personalidade humana e sancionáveis em diferentes níveis. 134

Um ato ilícito gera efeitos civis e criminais. A conduta do

médico que prática a eutanásia pode ser ativa ou passiva, por ação ou omissão e

gerará a responsabilidade civil ou criminal, ou ambas, como também na esfera

ética. 135

Uma vez sabendo que a eutanásia é encaixada dentro da

figura do homicídio, deve-se levar em consideração esta posição para efeitos

dentro da esfera civil. Dessa forma, de acordo com o artigo 948 do NOVO

CÓDIGO CIVIL (2005, p.291), podemos dizer que:

Art. 948 - No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I- No pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II- Na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando em conta a duração provável da vida da vítima. 136

O disposto no presente artigo vale, claramente, para o

médico que, de acordo com o artigo 951 do Código Civil, no exercício de

atividade profissional causar a morte de seu paciente. Portanto, deverá ser

responsabilizado pelo pagamento das despesas com os tratamentos que foram

realizados, bem como com funeral e luto da família, fato que pode ocorrer na

eutanásia quando realizada pelo profissional da Medicina. Da mesma forma,

134 SOUZA, Éverton Gomes de. Eutanásia. Disponível em http://br.monografias.com/trabalhos2/eutanasia/eutanasia2.shtml. Acesso em 15 de julho de 2008. 135 SOUZA, Éverton Gomes de. Eutanásia. Disponível em http://br.monografias.com/trabalhos2/eutanasia/eutanasia2.shtml. Acesso em 15 de julho de 2008. 136 SOUZA, Éverton Gomes de. Eutanásia. Disponível em http://br.monografias.com/trabalhos2/eutanasia/eutanasia2.shtml. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 61: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

49

pode ser o médico responsabilizado a prestar alimentos às pessoas que o

paciente morto pela eutanásia os devia. 137

A medicina entende ser viável a aplicação da eutanásia,

quer por incurabilidade do mal, quer pela inviabilidade morte, em casos em que

não haja mais recursos, tais como os mortalmente feridos, os acidentados, os

mortalmente queimados, etc.....desde que se certifique que a vida se extinguirá

inegavelmente e sem demora. 138

Para estes casos a eutanásia deve estar presente, eis que

presta uma valorosa contribuição, tanto para a medicina como para a

sociedade.139

3.3. O CONSENTIMENTO

Após termos estudado no que concerne à qualificação

penal da eutanásia no direito comparado, vejamos o que leva a prática da

eutanásia, com relação ao consentimento de quem a ela se submete.

De acordo com alguns estudiosos, consentimento e

piedade são elementos que tornam lícita ou atenuam a conduta do agente; para

outros não retiram o caráter delituoso da questão. 140

É do Direito Romano a máxima volenti et consentienti non

fit injuria – não se faz injúria a quem quer e a quem consente - pelo qual

percebemos que, já entre os antigos, o consentimento tinha relevância jurídica.141

137 SOUZA, Éverton Gomes de. Eutanásia. Disponível em http://br.monografias.com/trabalhos2/eutanasia/eutanasia2.shtml. Acesso em 15 de julho de 2008 138 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 273. 139 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e atual. 2000. p. 274. 140 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 115. 141 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 115.

Page 62: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

50

Divergem as opiniões e nenhum posicionamento consegue

manter-se como principio a ser seguido. De início os adversários do direito sobre

a própria vida utilizam-se da divisão: direitos inatos, também denominados de

irrenunciáveis, inalienáveis, inatingíveis ou indisponíveis, onde figura o direito à

vida, à integridade física, e direitos adquiridos – os únicos renunciáveis, em que o

interessado direto é o próprio titular do direito e não o Estado. 142

Por este prisma, os direitos inatos ultrapassam a esfera

individual, enquanto que os demais, por exemplo, os patrimoniais, denotam

identidade puramente privada. Dentre todas as virtudes do ser humano,

certamente a piedade ocupa seu lugar de destaque. 143

Em relação ao consentimento, nada dispõe o atual Código

Penal, permitindo, portanto, que a eutanásia seja perpetrada ainda que contra a

vontade do paciente – não obstante os inegáveis efeitos que exerce sobre a

magnitude do injusto. Por seu turno, a proposta de 1999 demanda, para a

eutanásia ativa, o consentimento da vítima, imputável e maior de 28 anos

(art.121, § 3º). Não andou bem o legislador ao prescrever a exigência da

imputabilidade para o enfermo, posto que, conforme já se analisou os critérios a

serem atendidos, em se cuidando de capacidade para consentir, são aqueles

propostos pela lei civil. Demais disso, é difícil conceber o que estariam os

redatores do Anteprojeto a pretender com a redundante expressão “imputável e

maior”, já que a imputabilidade penal se adota para esses fins, abrange por si só

a maioridade como um de seus requisitos. 144

O consentimento da pessoa humana neste sentido, objeto

do trabalho que ora expressamos, mesmo quando é manifestado de modo livre e

espontâneo, não poderá ser acatado pela autoridade médica ou um membro da

família, pois a prática da eutanásia, em qualquer circunstância é uma atitude

criminosa, ilegal, sem nenhum respaldo jurídico. Tudo a ser solicitado que se faça

para outrem é plenamente permitido, como alguma atitude de mudar sua 142 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 115. 143 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 115-121. 144 CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002. Vol. 798, p.495.

Page 63: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

51

aparência física deixando-a mais bonita, até mesmo uma cirurgia plástica, mas

nunca que a matem, isto jamais será permitido, em qualquer hipótese. 145

A questão da eutanásia terapêutica não se consubstancia

em razões de compaixão. Ao médico cabe o exame do caso em si, com base nas

probabilidades de cura e de acordo com o que a ciência lhe oferece. 146

Juntamente com o consentimento, a piedade é alegada por

todos aqueles que se posicionam ao lado do homicídio piedoso ou consentido.

Diferem ambos da eutanásia realizada pelo profissional da área médica. 147

A piedade é invocada em nome de uma ação nobre

realizada por quem a ela se submete. Foge, portanto, ao caráter terapêutico da

forma proposta, isto é, entendemos a nobreza deste sentimento, mas não

conseguimos enquadrá-lo como integrante da eutanásia terapêutica. 148

Famoso é o caso da menina parisiense vítima de grave e

incurável difteria. O pai, médico, terrivelmente angustiado com o sofrimento da

filha, resolve abreviar-lhe a dor, dando-lhe dose letal de ópio. No dia seguinte ao

enterro da pobre criança, chega pelo correio recém-descoberto soro antidiftérico. 149

145 SILVA, Sônia Maria Teixeira da. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1863. Acesso em 15 de julho de 2008. 146 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 121. 147 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 121. 148 RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993, p. 121. 149 TOLEDO, Luiza Helena Lellis Andrade de Sá Sodero. Eutanásia, ortotanásia e legislação penal. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11093. Acesso em 15 de julho de 2008.

Page 64: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

52

Ainda uma questão, esta das mais relevantes, é a que diz

respeito ao consentimento da vítima. O fato de alguém dar consentimento para

sua própria morte exclui o caráter ilícito da eutanásia? 150

Certamente não. O jus in se ipsum, ou o direito de dispor

livremente de si, há tempos não é aceito, porque se contrapõe ao interesse

público. A vida humana é bem indisponível por excelência. O consentimento para

a morte, a livre disposição sobre a vida não são permitidos em nossa sociedade.

Tanto é assim que o simples auxílio ao suicídio é punido, se a morte se consuma,

com reclusão de dois a seis anos e, mesmo que não se efetive o resultado, há

punição: reclusão de um a três anos. Isto porque a vida não é um bem que

interessa ao indivíduo, tão somente; a vida é patrimônio público, representa

interesse de todos, coletivamente. Desta feita, não há que se falar em

consentimento para a morte, embora muitos autores que defendem a legalização

da eutanásia justifiquem seu posicionamento justamente com base nisto: 151

"Modernamente, eutanásia é a morte de uma pessoa (que se encontra em grande sofrimento decorrente de doença, sem perspectiva de melhora) produzida por médico, com o consentimento dela. O consentimento do paciente exclui a ilicitude dessa intervenção, o que consagra o princípio da vontade livre como garantia suprema do exercício e renúncia a direitos fundamentais. Eutanásia não é morte por piedade; é morte por vontade". 152

150 TOLEDO, Luiza Helena Lellis Andrade de Sá Sodero. Eutanásia, ortotanásia e legislação penal. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11093. Acesso em 15 de julho de 2008. 151 TOLEDO, Luiza Helena Lellis Andrade de Sá Sodero. Eutanásia, ortotanásia e legislação penal. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11093. Acesso em 15 de julho de 2008. 152 RIBEIRO, Diaulas Costa. Viver bem não é viver muito. Revista Jurídica Consulex. 29/18.

Page 65: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

53

3.4 BIOÉTICA

O termo Bioética representa um neologismo, traduzindo o

sentido de expressar à “ética da vida”, ou o modo de ser da vida. Na década de

60, nos Estados Unidos da América, houve um primeiro questionamento ético no

relacionamento entre os médicos e os pacientes que não detinham condições de

expressar sua vontade de modo autônomo, sob o crivo do livre consentimento

esclarecido e informado. 153

Entende-se de bioética como o estudo dos problemas e

implicações morais despertados pelas pesquisas científicas em medicina e

biologia’. O adjetivo moral, nesse caso, atua como sinônimo de ética. Em outras

palavras, a Bioética dedica-se a estudar as questões éticas suscitadas pelas

novas descobertas científicas; ‘novos poderes da ciência significam novos

deveres do homem. 154

Relativamente à origem da bioética, as suas raízes

remontam aos postulados de Hipócrates, mormente ao princípio da não

maleficência, que impõe ao médico o dever de não agredir o paciente e não

provocar nele sofrimento. Contemporaneamente, a doutrina é unânime em fixar

como marco da bioética o conhecimento em âmbito mundial, quando do

julgamento de Nuremberg, em 1945, dos horrores cometidos por médicos

nazistas durante a Segunda Guerra Mundial nos campos de concentração, cujos

experimentos suscitaram os mais candentes debates éticos. 155

Aventou-se a preocupação com o estado de saúde e a

situação especifica do paciente, de forma q não fosse submetido a abusos em 153 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 397, 2003. 154ALMEIDA, Guilherme Assis; CHRISTMANN, Martha Ochsenhofer. Ética e Direito: uma perspectiva integrada. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2004. p.62. 155 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis: OAB/SC Editora. 2003, p. 68.

Page 66: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

54

seu tratamento. Surgiu, portanto, uma discussão voltada aos direito do paciente,

que culminou com a promulgação, em 1970, da conhecida Carta dos Direitos do

Enfermo, reconhecida e aprovada por todas as entidades relacionadas com a

saúde, estabelecendo um divisor de águas pioneiro nas relações entre os

profissionais da saúde e os doentes. 156

3.4.1 ÉTICA

Constituindo a eutanásia, como visto, tema atrelado à

Bioética, insta sejam consignados alguns apontamentos sobre ética e moral, o

que será levado a efeito de modo lacônico, somente visando deixar assente que

não se trata de termos sinônimos, pois, sem dúvida, a investigação profunda de

tão espinhosos conceitos demandaria a elaboração de uma obra própria, após

robustas pesquisas acadêmicas e filosóficas. 157

A ética refere-se ao sistema ou à teoria que busca delinear

e descrever o que é bem e, por conseqüência e extensão, o que é mal. As fontes

mais antigas da ética são a mitologia, a teologia, malgrado atualmente as

discussões girarem em torno dos sistemas filosóficos. 158

A moral, por seu turno, refere-se às normas que nos

direcionam e nos apontam o que fazer ou não fazer, dividindo as ações em certo

156 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 92, v.818, p 397, 2003. 157 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 9, v.818, p 398, 2003. 158 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 9, v.818, p 398, 2003.

Page 67: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

55

ou errado. A ética, portanto corresponde à teoria, a formulação do bem, enquanto

a moral diz respeito à prática. 159

3.4.2 BIODIREITO

A evolução tecnológica, sobretudo no campo da medicina e

das investigações científicas, ocorre com uma fantástica velocidade,

influenciando diversos questionamentos atrelados a valores que partem de um

consenso universalmente aceito, que servem de indicadores à obtenção de uma

fórmula que apóie a conduta humana correta e eticamente aceitável. 160

O Biodireito trata especificamente das relações jurídicas

referentes à natureza jurídica do embrião, eutanásia, aborto, transplante de

órgãos e tecidos entre seres vivos ou mortos, eugenia, genoma humano,

manipulação e controle genético, com fundamento constitucional da dignidade da

pessoa humana. 161

A essas descobertas científicas que implicam a relação do

Homem com a Vida, é imperiosa a existência de normas que regulamentem e

circunscrevam a própria liberdade e os limites daquelas condutas que podem ou

não ser praticadas. Esta árdua tarefa redunda no surgimento de um novo ramo

do Direito, que passou a ser denominado Biodireito. 162

159 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 9, v.818, p 398-399, 2003. 160 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 9, v.818, p 402, 2003. 161Bueno e Costanze. Biodireito. Disponível em http://buenoecostanze.adv.br/index.php?option=com_content&task=view&id=265&Itemid=79. Acesso em 16 de julho de 2008. 162 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 9, v.818, p 403, 2003.

Page 68: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

56

3.4.3 PRINCÍPIOS BIOÉTICOS

Princípios são tipos de ações comuns que, com o tempo se

tornam regras gerais que dirigem os interessados a uma determinada abordagem

para a solução de um problema. 163

Segundo H. Tristam ENGELHARDT apud Augusto César

Ramos, “os princípios funcionam como regras, talvez como regra geral, que dirige

o interessado, a uma abordagem particular para a solução de um problema”. A

origem dos princípios fundamentais da bioética decorre das barbáries envolvendo

experimentos em seres humanos, em hospitais norte-americanos, fruto da

revolução terapêutica.164

Consoante anteriormente consignado, a Bioética teve sua

origem na preocupação da utilização dos conhecimentos médicos na vida dos

pacientes. Desta forma, em 1974, nos Estados Unidos da América, formou-se a

Comissão Nacional para a Proteção dos Seres Humanos sujeitos de Investigação

Biomédica e do Comportamento. A referida comissão, após quatro anos de

exaustivos trabalhos, debates e discussões, publicou o chamado Relatório

Belmont, que se tornou um verdadeiro guia para a ética da experimentação

humana. Despontou, destarte, a formulação de três princípios bioéticos

elementares: princípio da autonomia, princípio da beneficência e princípio da

justiça. 165

163 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis: OAB/SC Editora. 2003, p. 72. 164 RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte. Florianópolis: OAB/SC Editora. 2003, p. 72. 165 ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 9, v.818, p 400, 2003.

Page 69: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

57

3.4.3.1 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA

Se refere à capacidade de autogoverno do homem, de

tomar suas próprias decisões, de o cientista saber ponderar, avaliar e decidir

sobre qual método ou qual rumo deve dar a suas pesquisas para atingir os fins

desejados, sobre o delineamento dos valores morais aceitos e de o paciente se

sujeitar àquelas experiências, ser objeto de estudo, utilizar uma nova droga em

fase de testes. A decisão deve deixar de ser apenas do médico e passar a ser do

médico juntamente com o paciente. O princípio da autonomia é considerado o

principal princípio da Bioética, pois os outros princípios estão vinculados a ele de

alguma forma. 166

3.4.3.2 PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA

Está intimamente ligado ao juramento de Hipócrates, onde

afirma que "aplicarei os regimes para o bem dos doentes, segundo o meu saber e

a minha razão, e nunca para prejudicar ou fazer mal a quem quer que seja", o

que significa a ponderação entre riscos e benefícios, sendo eles atuais ou

potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de

benefícios e o mínimo de danos e riscos. Este princípio ordena aos médicos e

cientistas que se isentem de qualquer atividade que venha, ou possa vir, a causar

um mal sem propósito ao paciente. 167

166 Bueno e Costanze. Biodireito. Disponível em http://buenoecostanze.adv.br/index.php?option=com_content&task=view&id=265&Itemid=79. Acesso em 16 de julho de 2008. 167 Bueno e Costanze. Biodireito. Disponível em http://buenoecostanze.adv.br/index.php?option=com_content&task=view&id=265&Itemid=79. Acesso em 16 de julho de 2008.

Page 70: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

58

3.4.3.3 PRINCÍPIO DA JUSTIÇA

Pode ser dividido em três questões básicas, ou seja, o ônus

do encargo da pesquisa científica, onde todos os membros da sociedade devem

arcar com o ônus da manutenção das pesquisas e da aplicação dos resultados,

de forma igual e nas medidas do possível; a aplicação dos recursos destinados à

pesquisa, que implica em uma distribuição justa e eqüitativa dos recursos

financeiros e técnicos da atividade científica e dos serviços de saúde, não só para

países de primeiro mundo mas, principalmente, para países subdesenvolvidos; e

a destinação dos resultados práticos obtidos destas pesquisas, o qual a ciência

deve ser aplicada de forma igual para todos os membros da espécie humana,

não devendo existir distinção em função de classe social, ou capacidade

econômica de quem necessita de tratamento médico. 168

A eutanásia, propriamente dita, é a promoção do óbito. No

Direito Penal Brasileiro a eutanásia caracteriza homicídio, trata-se de uma

conduta típica, ilícita e culpável. O consentimento do paciente é irrelevante para

descaracterizar a conduta como crime.

Para acontecer no Brasil o direito de morrer com dignidade,

existe a necessidade de mais tempo para que, talvez, um amadurecimento

cultural sobre a questão da morte digna possa estar avolumada o suficiente para

discutir o tema nesses termos.

Até lá, é importante garantir que, pelo menos, a proposta

do novo Código Penal para este assunto seja aprovada.

168 Bueno e Costanze. Biodireito. Disponível em http://buenoecostanze.adv.br/index.php?option=com_content&task=view&id=265&Itemid=79. Acesso em 16 de julho de 2008.

Page 71: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto neste trabalho, destacando-se todos os

tópicos, pode-se ver, nitidamente, a grande dificuldade que se apresenta no

sentido do mistério entre a vida e a morte.

Dentro deste contexto tão discutido sob os aspectos

políticos, éticos, religiosos e jurídicos, muito importante é observar a postura ética

da figura do médico, que é o especialista o qual deve lutar incansavelmente pela

cura dos seus enfermos.

A vida é o bem maior do ser humano. O Homem foi feito à

imagem e semelhança de Deus.

Para um tema tão complexo como este, foram

questionadas todas as formas de pensamento da igreja, em todas as suas

denominações, e como elas se postulam diante de um processo como este.

No aspecto jurídico, enfocando à Parte Especial do Código

Penal de 1999, não há avanço para que esta proposta seja aprovada na

legislação brasileira, processo este com teor de suma responsabilidade.

Que a morte é indiscriminadamente a todos os seres,

raças, posição política, econômica e social, é óbvio, mas a forma como esta

deverá acontecer somente a Deus pertence. A intenção aqui não é opinar a favor

ou contra a eutanásia que é uma abordagem tão cruel e com discussões tão

significativas.

É de grande responsabilidade a difícil tarefa de legislar

sobre o mundo misterioso da vida e da morte.

Page 72: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

60

Acreditamos que o médico não pode ser o Juiz da vida e

morte de qualquer ser humano. O presente trabalho não teve a intenção de

mostra-se contra ou a favor da eutanásia.

Seu histórico foi, apenas, fazer um panorama para a

compreensão de suas implicações morais sociais e jurídicas. Creio que, pela

ótica sócio-jurídica, a eutanásia nos trará mais problemas do que soluções.

Maiores problemas, por ser a eutanásia, um procedimento

de difícil compreensão para a sociedade que hoje a vê com grande rejeição. Em

especial, quando se trata de um familiar perante uma decisão desta natureza a

ser tomada.

Como mencionamos no transcorrer deste trabalho, onde o

bem jurídico de maior relevância é a vida, a sociedade evidencia a sua rejeição,

notadamente pelo respeito à vida humana.

Page 73: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

61

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

CARVALHO, Gisele Mendes de. Revista dos Tribunais. Ano 91 - Abril de 2002.

Vol. 798, p.478-501.

ADONI, André Luiz. Bioética e Biodireito: Aspectos Gerais Sobre A Eutanásia e o Direito a Morte Digna.Revista dos Tribunais. São Paulo ano 9, v.818, p 395-

423, 2003.

RAMOS, Augusto César. Eutanásia: aspectos éticos e jurídicos da morte.

Florianópolis OAB/SC Editora, 2003. 180 p.

RODRIGUES, Paulo Daher. Eutanásia. Belo Horizonte: Del Rey, 1993.

BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e Responsabilidade Médica. 2ª ed. rev. e

atual.2000.

SOUSA, Dinorah Leane Silva de. Eutanásia: questão de vida e de morte.

Disponivel em http://www.novafapi.com.br/revistajuridica/ano_II/dinorah.php.

Acesso em 17 jun 2008.

ASÚA, Luis Jimenes de. Liberdade de amar e direito a morrer. Lisboa:

Clássica, 1929, 336 p.

SILVA, Sônia Maria Teixeira da. Eutanásia. Disponivel em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1863. Acesso em 19 jun 2008.

FELBERG, Lia. Disponível em

http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/FDir/Artigos/liafelberg_01.pdf.

Acesso em 22 jun 2008.

PIVA J. P., CARVALHO, P. R. A.. Considerações éticas nos cuidados médicos do

paciente terminal. Bioética. Brasília, 1993.

FRAGOSO, H.C.; NORONHA M. e FARIA, B. apud MENEZES, Evandro Corrêa

de. Direito de matar (eutanásia). 2 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1977.

Page 74: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

62

TOLEDO, F. A. Princípios básicos de Direito Penal. 4 ed., ampl. E atual. São

Paulo, Saraiva, 1991, p. 84-88.

BRUNO, Aníbal. Crimes contra a pessoa. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1975,

434 p.

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: parte especial. 4. ed. São

Paulo: J. Buschatsky, 1977, p. 53-9.

NORONHA, E Magalhães. Direito penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1967, v. 2, p.

24-8

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. 3. ed. São Paulo: Atlas,

1986, v. 2, p. 46-9.

FARIA, Antônio Bento de. Código Penal Brasileiro comentado. 2. ed. Rio de

Janeiro: Record, 1959, p. 27-33.

DODGE, Raquel E F. Procuradora Regional da República 1ª Região. Bioética,

vol. 7, n. 1, 1999, p. 113-120.

STINER, Robert W. Jornal O Caminho. Igreja Evangélica de Confissão Luterana

no Brasil (Igreja Alemã). Florianópolis, 2005. p. 1-10.

Traduzida por ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. 2 Reis 20.1 – 11; Is

38.1-8. ed. revista e atualizada no Brasil, 1969. p. 417.

SCHEFER, Nelly. Orando em Família. Igreja Evangélica de Confissão Luterana

no Brasil (Igreja Alemã). Florianópolis, 2005. p. 8.

Traduzida por ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. EX. 20.13. ed. revista

e atualizada no Brasil, 1969. p. 84. Traduzida por ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada - At. 4.19: At. 5. 29.

ed. revista e atualizada no Brasil, 1969. p. 146.

Page 75: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

63

SPINOLZ. Valfrizio. Jornal Sinodal. Igreja Evangélica de Confissão Luterana no

Brasil. 11. ed. Florianópolis, 2005. p. 2.

JUNIOR, Geraldo Pereira. Eutanásia, aspectos éticos e jurídicos. Disponível

emhttp://agata.ucg.br/formularios/ucg/institutos/nepjur/pdf/eutanasiaaspectosetico

sejuridicos.pdf. Acesso em 15 de julho de 2008.

RAMOS, Dalton Luiz de Paula. Eutanásia: Conheça a posição da Igreja Católica

e seu fundamento. DisponÍvel em www.ad.org.br/adclassico/posic.htm - 9k.

Acesso em 10 de julho de 2008. CARNEIRO, Antonio Soares; CUNHA, Maria Edilma. Eutanásia e Distanásia. A

problemática da Bioética. Disponível em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1862&p=3. Acesso em 14 de julho de

2008.

OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Morrer ou matar. Eutánásia

e o direito à vida: limites e possibilidades. Disponível em

http://www.conjur.com.br/static/text/38164,1. Acesso em 14 de julho de 2008.

SOUZA, Éverton Gomes de. Eutanásia. Disponível em

http://br.monografias.com/trabalhos2/eutanasia/eutanasia2.shtml. Acesso em 15

de julho de 2008

TOLEDO, Luiza Helena Lellis Andrade de Sá Sodero. Eutanásia, ortotanásia e

legislação penal. Disponível em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11093. Acesso em 15 de julho de

2008.

RIBEIRO, Diaulas Costa. Viver bem não é viver muito. Revista Jurídica

Consulex. 29/18.

ALMEIDA, Guilherme Assis; CHRISTMANN, Martha Ochsenhofer. Ética e Direito: uma perspectiva integrada. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2004. p.62.

Page 76: REFLEXÕES SOBRE A EUTANÁSIA - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Eduardo Cesar Santos.pdf · 2008-10-13 · Coordenação da Monografia . 6 ... 3.1 A IGREJA CATÓLICA E A RELIGIÃO

64

Bueno e Costanze. Biodireito. Disponível em

http://buenoecostanze.adv.br/index.php?option=com_content&task=view&id=265

&Itemid=79. Acesso em 16 de julho de 2008.

OLIVEIRA, Lílian Carla de; JAPAULO, Maria Paula. Eutánásia e o direito à vida.

Disponível em

<http://ultimainstancia.uol.com.br/ensaios/ler_noticia.php?idNoticia=19041>.

Acesso em 17 de julho 2008.

REVISTA JURÍDICA CONSULEX, ano V – nº 114 –15 de outubro de 2001, p. 18.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 12 ed.rev. e

atual. São Paulo: Malheiros, 1999.

ALVES, Leo da Silva. Eutanásia. Revista Consulex, São Paulo, nº 29, p. 15,

maio 1999.

OLIVEIRA, Heriberto Brito de. Ética e eutanásia. Disponível em

http://www.bioetica.ufrgs.br. Acesso em 20 jul 2008.