UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

A eutanásia no anteprojeto de reforma do Código Penal: O problema da proteção constitucional à vida

Tatiana Emília da Hora Pimenta

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Área de Concentração: Direito Público

Recife 2007

Tatiana Emília da Hora Pimenta

A eutanásia no anteprojeto de reforma do Código Penal: O problema da proteção constitucional à vida

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito do Recife / Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Área de concentração: Direito Público Orientador: Prof. Dr. Ricardo de Brito A. P. Freitas

Recife 2007

Pimenta, Tatiana Emília da Hora

A eutanásia no anteprojeto de reforma do Código Penal: o problema da proteção constitucional à vida / Tatiana Emília da Hora Pimenta. – Recife : O Autor, 2007.

120 folhas.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCJ. Direito, 2007.

Inclui bibliografia.

1. Eutanásia - Brasil. 2. Eutanásia - Abrandamento de pena - Descriminalização - Brasil. 3. Eutanásia - Código Penal, Reforma -

Artigo 121 do anteprojeto. 4. Eutanásia - Aspectos jurídicos - Doutrinas e controvérsias - História e crítica - Brasil. 5. Eutanásia - Aspectos

religiosos éticos e morais. 6. Eutanásia - Direito penal - Brasil. 7.

Eutanásia - Reforma penal. 8. Princípio da dignidade da pessoa

humana - Brasil. 9. Vida humana - Aspectos jurídicos - Proteção -

Brasil. 10. Brasil. [Código Penal (1940)]. I. Título.

343 CDU (2.ed.) UFPE 345 CDD (22.ed.) BSCCJ2007-018

Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos.

(Ap 5:13)

AGRADECIMENTOS

A meu mestre Jesus, que me sustenta em todas as minhas jornadas, pessoalmente ou destacando pessoas para serem canais de benção na minha vida, como todos os que me refiro a seguir. A Giovanna, minha sobrinha, tesouro precioso na vida de toda família. A minha família, sempre meu alicerce, em especial à Mamãe, Papai, vovô Abelardo, vovó Margarida e meus irmãos Rodrigo e Clarissa, e a Keka e Franco, meus cunhados, por todo amor e apoio que vocês sempre me deram ao longo de todos os graus de minha vida estudantil. Aos meus amados tios: Sandra, Antonio, Leda, Augusto, Ana, Ary, Sara, Abelardo, Valéria, Iuri, Paula e a todos os meus primos, em especial a Clara, por suas inúmeras caronas e a Caquinho pelo quarto, pelos fichamentos e pelas digitações e Germaninha pelas traduções. Ao meu orientador Ricardo de Brito, por toda dedicação e paciência. Aos professores, Cláudio Brandão, João Franco e Marília por todo incentivo a minha vida acadêmica e pelo apoio a esta dissertação. A Thiaguinho, por toda compreensão e ajuda na elaboração e revisão deste estudo. Aos meus pastores, Elecir Brito e João Victor e suas esposas Rosana e Jane. Aos meus queridos: Ádila de Freitas, Bruno Santos Afonso de Melo, Carolina Mayumi Haruta, Fernanda Couto Sales e Victor Simões Leal, dispostos assim, em ordem alfabética, por que foram peças fundamentais para esta dissertação e seria injustiça criar qualquer ordem de importância.

RESUMO

HORA, Tatiana da. A eutanásia no anteprojeto de reforma do Código Penal: O problema da proteção constitucional à vida. 2006. 120 folhas. Dissertação de Mestrado – Centro de Ciências Jurídicas / Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. O presente trabalho pretende estudar a questão da eutanásia, avaliando a adequação constitucional dos parágrafos terceiro e quarto do artigo 121 do anteprojeto de reforma do Código Penal, cujas previsões são respectivamente abrandamento de pena na eutanásia ativa e a descriminalização da eutanásia a pedido da vítima ou dos seus responsáveis legais. Para fazer tal avaliação, cuida inicialmente do os conceitos, classificações e definições correlatas acerca da eutanásia. Em seguida traz uma concepção ética moral e religiosa do assunto, bem como a evolução histórica da eutanásia e as posições do direito no mundo sobre a matéria. Por fim, traz estudos sobre o bem jurídico, especialmente dos bens jurídicos vida e dignidade da pessoa humana e as posições do direito brasileiro sobre a morte piedosa, concluindo, após análise do anteprojeto de reforma do código penal, pela inadequação do mesmo aos preceitos jurídico-penais constitucionais. Palavras-chave: eutanásia, vida e reforma penal.

ABSTRACT

HORA, Tatiana da. Euthanasia in the first draft of reform of the Criminal Code: The constitutional problem of protection to live. 2006. 120 pages. Master Degree – Centro de Ciências Jurídicas / Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. The present work intends to study the problem of the euthanasia, evaluating the constitutional adequacy of the paragraphs third and fourth of article 121 of the first draft of reform of the Criminal Code, whose forecasts are respectively reduction of penalty in the active euthanasia and decriminalize of the euthanasia the responsible order of the victim or its legal ones. To make such evaluation, it takes care initially of the concepts, classifications and definitions correlative concerning the euthanasia. After that it brings a moral and religious ethical conception of the subject, as well as the historical evolution of the euthanasia and the positions of the right in the world on the substance. Finally, it brings studies on the legally protected interest, especially of the legally protected interests life and dignity of the person human being and the positions of the Brazilian right on the merciful death, concluding, after analysis of the first draft of reform of the criminal code, for the inadequacy to the criminal juridical constitutional rules. Keywords: euthanasia, life and criminal reform.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................ ................................ ................. 1

1. CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES DA EUTANÁSIA ........................ 4

1.1. Conceito e Etimologia ................................ ........................... 4

1.2. Definições Correlatas ................................ ............................ 7

1.2.1. Vida ................................ ................................ ........... 7

1.2.2. Morte ................................ ................................ ........ 10

1.2.3. Ética ................................ ................................ ......... 12

1.2.4. Moral ................................ ................................ ........ 13

1.2.5. Bioética ................................ ................................ ..... 14

1.2.6. Biodireito ................................ ................................ ... 15

1.3. Classif icações da Eutanásia ................................ ................. 17

1.3.1. Ortotanásia................................ ................................ 19

1.3.2. Distanásia ................................ ................................ . 20

1.3.3. Mistanásia ................................ ................................ . 22

1.3.4. Suicídio Assist ido ................................ ...................... 22

2 ANÁLISE DA EUTANÁSIA SOBRE O PRISMA RELIGIOSO, ETICO E

MORAL ................................ ................................ .......................... 25

2.1. Aspectos ét icos e morais ................................ ...................... 25

2.2. Aspectos religiosos ................................ .............................. 29

2.2.1. Religião budista ................................ ......................... 29

2.2.2. Religião islâmica ................................ ........................ 30

2.2.3. Religião judaica ................................ ......................... 30

2.2.4. Religião Cristã ................................ ........................... 31

3. A EUTANÁSIA ATRAVÉS DOS TEMPOS ................................ ....... 32

3.1. Evolução histórica da eutanásia ................................ ............ 32

3.1.1. Idade Antiga ................................ .............................. 32

3.1.2. Idade Média ................................ ............................... 34

3.1.3. Idade Moderna ................................ ........................... 35

3.1.4. Idade Contemporânea ................................ ................ 35

3.2. A eutanásia no direito estrangeiro atual ................................ . 37

3.2.1. Estados Unidos ................................ .......................... 38

3.2.2. Uruguai ................................ ................................ ..... 39

3.2.3. México ................................ ................................ ...... 40

3.2.4. Alemanha ................................ ................................ .. 40

3.2.5. Holanda ................................ ................................ .... 42

3.2.6. França ................................ ................................ ...... 44

3.2.7. Espanha ................................ ................................ .... 45

3.2.8. Suíça ................................ ................................ ........ 46

3.2.9. Austrália ................................ ................................ .... 47

4. A VIDA ENQUANTO BEM JURÍDICO ................................ ............ 48

4.1. A vida enquanto bem jurídico tutelado pela ordem

constitucional-penal ................................ ................................ ........ 48

4.1.1. A concepção de bem jurídico ................................ ........ 51

4.1.2. O conceito de bem jurídico ................................ ........... 57

4.1.3. A inviolabil idade constitucional do direito à vida e o

princípio da dignidade da pessoa humana: a proteção à vida como

premissa universal ................................ ................................ ......... 60

4.1.3.1. O princípio da dignidade da pessoa humana ........ 66

4.1.4. A lei de biotecnologia e a manipulação da vida .............. 85

4.4. A Eutanásia no direito penal brasileiro ................................ .. 89

4.5. Atual anteprojeto de lei do Código Penal Brasi leiro ................ 98

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................ ............................ 108

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................ ................. 111

INTRODUÇÃO

No presente trabalho, pretendemos abordar o assunto da

eutanásia na legislação penal brasileira, mais especif icamente no

projeto de reforma do Código Penal , sob o prisma da inviolabilidade

constitucional do direito à vida.

Assim, inicialmente, cuida o trabalho dos estudos sobre a

eutanásia, com sua origem etimológica, seus conceitos e suas

diferentes classif icações, bem como das definições de institutos como

a ortotanásia, a distanásia, a mistanásia e o suicídio assist ido,

indispensáveis para a compreensão adequada da matéria.

No segundo capítulo, continuaremos a analisar a eutanásia

sob o prisma ético, moral e rel igioso, uma vez que as discussões

acerca do tema não costumam ter abordagens puramente jurídicas e

quase sempre envolvem tais ângulos. Também, traz-se um breve

histórico da eutanásia, vendo como se portou a sociedade ao longo do

tempo frente ao instituto. Além disso, um panorama sobre o

posicionamento de outros países sobre a eutanásia nos ajuda a

compreender os conflitos que e la traz às sociedades.

No terceiro capítulo, adentramos na seara jurídica, começando

pelo estudo dos princípios constitucionais da inviolabilidade do direito à

vida e da dignidade da pessoa humana, indispensáveis na discussão

sobre a eutanásia. Em seguida, estudaremos o bem jurídico vida,

avaliando até que ponto se deve a sua tutela em termos jurídicos. E,

antes da tão freqüente – e necessária – discussão trazida pela

eutanásia sobre quem deve prevalecer no aparente conflito entre a

dignidade da pessoa humana e a inviolabil idade do direito a vida,

examinaremos a disponibi l idade (ou não) dos bens jurídicos, elemento

chave para discutir o direito a vida de forma mais racional.

Inclusive, nessa busca pela juridicidade e racionalidade das

discussões da eutanásia, defendemos que, apesar da vida ser uma

garantia da pessoa, a dignidade também é, e não deve ser função do

legislador penal dizer qual das garantias deve prevalecer sobre a outra,

o que just if ica a questão da disponibi l idade trazida à tona.

Se partirmos do pressuposto que a vida não é apenas um

direito do individuo, mas também é um direito social, imprescindível

para a existência da sociedade, conseguiremos estabelecer o critério

base para a análise da legislação brasileira sobre a eutanásia efe tuada

no capítulo f inal desta dissertação.

No quarto e últ imo capítulo, traçaremos um apanhado da

evolução legislativa brasi leira, culminando com o contraponto entre a

constituição vigente e o projeto de reforma do Código Penal. Neste

momento, se evidenciam os equívocos do projeto, principalmente ao se

partir da premissa que a vida é um bem social.

A presente dissertação será fundada na pesquisa bibl iográf ica

documental, uti l izando livros, artigos, teses , legislação e materiais

científ icos, não se restringindo ao universo do direito , mas antes,

fazendo uso da interdisciplinaridade em áreas do conhecimento

importantes ao estudo da eutanásia, como f i losofia, história, sociologia,

ética, bioética, entre outros. 1

O método util izado será o hipotét ico dedutivo de Popper,

tentando trazer uma solução para o problema da eutanásia no projeto

de reforma do código penal, partindo do pressuposto da inviolabilidade

do direito à vida constitucional submetendo este aos critérios de

1 ADEODATO, João Maurício. Bases para uma metodologia da pesquisa em Direito. Anuário dos cursos de pós-graduação

em direito nº 8. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1997. p. 207.

falseabilidade existentes, sobretudo aos ideais de autonomia individual

e dignidade da pessoa humana. 2

Nas considerações f inais, percebe-se que embora uma tutela

penal da vida de modo inviolável não seja a única resposta verdadeira,

é a solução mais consistente possível. Af inal, o legislador penal

precisa ser cauteloso com uma questão que, l iteralmente, é de vida ou

morte: a eutanásia.

A previsão expressa do crime caritativo do projeto de reforma

do Código Penal, da forma como foi elaborada, é pouco viável e

constitucionalidade duvidosa, posto que fragilize a garantia à vida no

que permite o arbítrio de dispor do direito à vida. E vai além,

estendendo a disponibi l idade aos parentes do titular do direito caso

este não possa se pronunciar sobre o assunto.

Enfim, apresentamos que os precedentes abertos por

relat ivizar a inviolabil idade e a indisponibi l idade da proteção à vida

podem, invés de solucionar o problema da eutanásia, abalar a

segurança jurídica da sociedade brasileira.

2 POPPER, Karl. Lógica das ciências sociais. Brasília: Universidade de Brasília, 1978. p.32.

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