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22/03/2017 1 Refletindo sobre a noção de exclusão Psicologia das Instituições e Políticas Públicas O que é exclusão? Universo estigmatizado Atribui-se a René Lenoir a invenção da noção de exclusão (pensamento liberal, noção individualizada, fenômeno marginal dos sub-proletariados) Suscita o debate e alarga o conceito: um fenômeno social, cuja origem está no funcionamento das sociedades. Causas sociais: desordenamento do processo de urbanização, inadaptação e uniformização do sistema escolar, desenraizamento (mobilidade profissional), desigualdade de renda e de acesso aos serviços. O que é exclusão? Na atualidade – compreendida como uma relação dialética inclusão/exclusão. Precisa ser referenciada no espaço e tempo a que se refere: “nova pobreza” nos países desenvolvidos. Significa “fraturas e rupturas do vínculo social” – idosos, deficientes, desadaptados sociais, minorias étnicas ou de cor, sem acesso ao mundo do trabalho. Exclusão nos países desenvolvidos - significa o fim da ilusão de que a desigualdade é temporária. “Excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores” (Xiberras, 1993) – Exclusão no mundo ocidental. A exclusão no Brasil... Existe o mesmo processo dos países desenvolvidos – “nova pobreza” Associado a outros fatores desencadeantes: caráter estrutural (história de manutenção da pobreza – falta de acessos à educação, a direitos sociais, discriminação política, econômica e ética). Há uma exclusão social e não pessoal – privação, abandono e expulsão / impossibilidade de participação. Inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade, não representação pública. Pobreza e Exclusão não são sinônimos Mas estão articulados: Desqualificação é o inverso da integração social / ausência de vínculo social pelo emprego – o Estado é obrigado a criar políticas para garantir a coesão. Desinserção é um fenômeno simbólico identitário dos “fora de norma”, não tem relação direta com pobreza mas sim com uma não integração simbólica. Desafiliação é a ruptura de pertencimento, perda do vínculo / algo que existia frágil e perde o sentido, não necessariamente vinculado à pobreza, mas à ausência de vínculo. Apartação é quando o outro é visto como um ser a parte, não semelhante – leva à intolerância social. É preciso cautela ao usar o termo, pois muito do que ocorre está relacionado à consequência das transformações no mundo do trabalho.

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Refletindo sobre a noção de exclusão

Psicologia das Instituições e Políticas Públicas

O que é exclusão?

• Universo estigmatizado

• Atribui-se a René Lenoir a invenção da noção de exclusão (pensamento liberal, noção individualizada, fenômeno marginal dos sub-proletariados)

• Suscita o debate e alarga o conceito: um fenômeno social, cuja origem está no funcionamento das sociedades.

• Causas sociais: desordenamento do processo de urbanização, inadaptação e uniformização do sistema escolar, desenraizamento (mobilidade profissional), desigualdade de renda e de acesso aos serviços.

O que é exclusão?

• Na atualidade – compreendida como uma relação dialética inclusão/exclusão.

• Precisa ser referenciada no espaço e tempo a que se refere: “nova pobreza” nos países desenvolvidos.

• Significa “fraturas e rupturas do vínculo social” – idosos, deficientes, desadaptados sociais, minorias étnicas ou de cor, sem acesso ao mundo do trabalho.

• Exclusão nos países desenvolvidos - significa o fim da ilusão de que a desigualdade é temporária.

“Excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores” (Xiberras, 1993) – Exclusão no mundo ocidental.

A exclusão no Brasil...

• Existe o mesmo processo dos países desenvolvidos – “nova pobreza”

• Associado a outros fatores desencadeantes: caráter estrutural (história de manutenção da pobreza – falta de acessos à educação, a direitos sociais, discriminação política, econômica e ética).

• Há uma exclusão social e não pessoal – privação, abandono e expulsão / impossibilidade de participação.

• Inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade, não representação pública.

Pobreza e Exclusão não são sinônimos• Mas estão articulados:

• Desqualificação é o inverso da integração social / ausência de vínculo social pelo emprego – o Estado é obrigado a criar políticas para garantir a coesão.

• Desinserção é um fenômeno simbólico identitário dos “fora de norma”, não tem relação direta com pobreza mas sim com uma não integração simbólica.

• Desafiliação é a ruptura de pertencimento, perda do vínculo / algo que existia frágil e perde o sentido, não necessariamente vinculado à pobreza, mas à ausência de vínculo.

• Apartação é quando o outro é visto como um ser a parte, não semelhante –leva à intolerância social.

É preciso cautela ao usar o termo, pois muito do que ocorre está relacionadoà consequência das transformações no mundo do trabalho.

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O Termo Exclusão

• Fala-se em “NOÇÃO” devido à fragilidade do termo, pois se refere a um conjunto de atribuições instrumentalizadas, não sinônimos, mas que têm relação (ser pobre, não ter acesso a bens e serviços, não ter poder, não participar, não ser semelhante...).

• Exclusão entendida como fragilização e quebra de laços sociais.

Trabalho, Consumo, Socialização

Para refletir...• Quais os significados da pobreza, da marginalização, privação material na

sociedade contemporânea?

• Qual o significado dos processos de precarização do trabalho?

• Quais desafios os novos rearranjos dessa sociedade (ora denominada pós-industrial, da informação, sociedade em redes) impõem à Psicologia Social?

• Com quais categorias de análise daremos conta de explicar as novidades que nos cercam?

• Em que medida essas novidades representam rupturas ou continuidades com um tipo de organização social que convencionamos chamar de sociedade industrial, capitalista, moderna?

Crise da Sociedade Salarial

• Vulnerabilização e precarização das relações de trabalho.

• Marginalização decorrente da precarização.

• Apartação Social – o outro é um ser à parte, não apenas desigual, mas não semelhante, de um gênero diferente (“não humano”).

Intolerância Social

• Embora não seja sinônimo de exclusão – a situação de pobreza produz ruptura de vínculo social.

A pobreza na contemporaneidade

• Fenômeno multidimensional – clássicos pobres (moradores de rua, favelados, subnutridos, analfabetos) e os “novos pobres” por falta de acesso ao trabalho (imigrantes, não incluídos digitalmente, analfabetos funcionais etc).

• Além da ausência de rendas inclui: ausência de acesso a Serviços Públicos, ausência de poder, ausência de contratualidade.

• Exclusão como privação de poder implica em também se recorrer ao termo Democracia – Estado deveria promover a inclusão pela ampliação da participação social (educação, acesso à cultura, reflexões e informações).

• Ausência de empoderamento – reforça a exclusão pelo discurso “sempre foi assim, não há nada para fazer”.

Naturalização da Exclusão

• A instrumentalização do termo leva à aceitação da condição, tanto por parte da sociedade quanto por parte do excluído.

• Estigmatiza a pobreza e transforma os direitos em ajuda, em favores.

• Ciclo vicioso que reforça o processo de exclusão.

• Mantém a cultura da tutela e do apadrinhamento – tão brasileira...

Políticas públicas ainda apresentam os excluídos como subordinados a um “favor das elites dominantes” (Carvalho, 1995).

• Pobreza e Exclusão no Brasil são faces da mesma moeda.

Exclusão na contemporaneidade...

• Diferente do que se falava a respeito de discriminação e segregação.

Delimitar direitos Impedir o acesso

Exclusão muito próxima à ausência de inserção pelo trabalho = pobreza

Novos excluídos é um contingente em constante crescimento (relaciona-se agora a mais do que ser diferente, mas é ser pobre, não ter acesso, não participar) / desemprego estrutural.

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Exclusão e o Papel do Estado

• Crise do Estado do Bem-Estar leva à maior precarização dos vínculos e à ampliação da exclusão.

• Ausência de um estado protetivo, que se regula pela “meritocracia” só amplia a exclusão.

• A consolidação de um processo democrático de exercício de políticas públicas deve desvelar as práticas discriminatórias e geradores de exclusão.

• Para garantir a diminuição da exclusão deve-se garantir o exercício de cidadania.

O falso problema da exclusão e o problema social da exclusão marginal

Refletindo criticamente sobre 4 pontos:

1. “Não existe exclusão” – Dialética da inclusão marginal (precária e instável / pobreza) – vinculada à situação econômica e falta de fortalecimento social.

2. “Projeto Neoliberal” – há um debate entre Estado Social (Inglaterra) versusEstado Clientelista e Patrimonialista (Brasil) / modernização econômica sem modernização social / Debate entre esquerda e direita (Se exigências de Direitos ou se Proteção Social).

3. Capitalismo – Desenraiza, exclui, brutaliza os homens e supervaloriza o mercado.

4. Visão maniqueísta da humanidade – ou se é bom ou se é ruim (história da escravatura: negros escravizavam negros, índios caçavam e vendiam índios) – não existe uma sociedade destituída de contradições e de tensões.

Sociedade Capitalista

• Exclui para incluir – exclui a todos para incluir alguns, seguindo regras próprias de inclusão.

• Exemplo: exclusão do campo (camponeses) para a inclusão na indústria, processo rápido no início da industrialização.

• Atualmente: Demora para inclusão no mundo do trabalho, inclusão precária no trabalho alimenta a lógica do trabalho escravo (ressurgiu com o desenvolvimento da sociedade capitalista).

Da exclusão para a inclusão não há mais uma situação de transição, mas essencialmente uma condição de vida de determinados grupos.

Inclusão Marginal – Fruto do Capitalismo

• Inclusão em alguma possibilidade de ganho financeiro garante subrevivência, mas não existência, ausência de sociabilidade integrativa (à margem da moralidade clássica – baseada em um certo tipo de ordem social).

• Dialética de exclusão inclusão – não se exclui, mas se inclui em uma lógica inversa / sociedade paralela (produz mercadoria, tem dinheiro, mas não tem moral, excluído socialmente).

• Sociedade paralela: justiça popular (linchamentos); poder institucional nos presídios (poder dos traficantes e das facções); ausência do poder do Estado nas favelas (poder instituído pela lógica marginal), crise do sistema penitenciário (poder paralelo das facções).

Sociedade de Produção versus Sociedade do Consumo• Todos agora têm uma forma de participar ativamente da sociedade

(vender ou comprar produtos) – uns mais incluídos e outros menos.

• Ricos e pobres integrados versus incluídos marginalmente ou perversamente – Cidadãos de primeira categoria e cidadão de segunda categoria.

• O mundo do pobre é o mundo do rico – fratura difícil de ultrapassar.

• Sofrimento ético-político (Bader Sawaia)

• Sociedade Paralela (Martins, 2007)

A sociedade precisa sofrer mudanças profundas de responsabilidade social e de todos para diminuir os processos de exclusão.

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Discussão Produzir reflexão embasada em exemplos de inclusão marginal (discurso de exclusão com reflexão crítica sobre o tema ou experiência de Políticas afirmativas com reflexão crítica).

Grupos de pessoas:

• Criança e adolescente / Idoso / Jovens.

• Deficiente Físico / Pessoas com transtorno mental.

• Mulheres / Diversidades Étnicas / População LGBT

Desqualificação (ausência de vínculo pelo trabalho) / Desinserção (fora da norma) / Desafiliação (ausência de vínculo social, de pertencimento) / Apartação (não semelhante).