reestruturação da europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE CURSO DE GEOGRAFIA LICENCIATURA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Ingrid Costa - 66539 Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968): um estudo sobre as causas e consequências geopolíticas e econômicas do sistema mundial Rio Grande, 2017

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Page 1: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDECURSO DE GEOGRAFIA LICENCIATURATRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Ingrid Costa - 66539

Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968): um estudo sobre ascausas e consequências geopolíticas e econômicas do sistema mundial

Rio Grande, 2017

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Ingrid Gonçalves da Costa

“O século XX foi, por excelência, um “século de Luzes”, num aprofundamentoradical de vários preceitos do Iluminismo. Uma miríade de acontecimentos e

de descobertas em todas a áreas do conhecimento que representou, paramuitos, a perspectiva otimista de um novo Renascimento. Esse mesmo períodolevou-nos, porém, a níveis de destruição nunca antes imaginados, com duas

guerras mundiais e um grande número de conflitos localizados, que cobrarama vida de milhões” (MAGNOLI, Demetrio (org), 2012, p. 387)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentadona Universidade Federal do Rio Grande -FURG, como requisito básico para a conclusãodo Curso de Geografia LicenciaturaOrientador: Professor César Martins

Rio Grande, 2017

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Ingrid Gonçalves da Costa

Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968): um estudo sobre as causas econsequências geopolíticas e econômicas do sistema mundial

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado naUniversidade Federal do Rio Grande - FURG,como requisito básico para a conclusão do Cursode Geografia Licenciatura

Rio Grande, 23 de novembro de 2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________Prof. Dr. César Augusto Avila Martins – Universidade Federal

do Rio Grande - FURG

________________________________________Prof. Msc. Ricardo Borges da Cunha - rede estadual de ensino, doutorando

em Geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

________________________________________Prof. Msc. Elisangela De Felippe Rodrigues da Silveira – Universidade Federal

do Rio Grande - FURG

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Dedicatórias e agradecimentos

Primeiramente, dedico esse trabalho à minha família: meus pais Maria de Lourdes e Jorge

Sidney, e a minha irmã Úrsula, que sempre deram todo o suporte para que eu pudesse conduzir

meus estudos e incentivando meus sonhos e ideias. Sem eles, jamais poderia ter alcançado o

objetivo da graduação. Ofereço também ao meu namorado Wagner, por ter sempre me

acompanhado e me dado todo apoio na conclusão dessa etapa tão importante da minha vida.

Agradeço imensamente ao meu Professor Orientador César Martins, por tudo que fez

durante a escrita do meu Trabalho, sempre preocupado para que tudo fosse feito de forma

impecável. Não poderia ter escolhido melhor mentor, não somente pelo tema mas também por saber

da sua imensa competência em orientar seus discentes.

Sou grata também a todos os demais professores os quais passaram durante o curso, pois

cada um deles, sem dúvida nenhuma, acrescentou-me inegáveis novos conhecimentos e pontos de

vista, tão importantes não somente para o aprendizado, mas para ajudar na compreensão do mundo

em que vivemos.

Não posso esquecer também dos meus colegas que, durante toda essa jornada, caminhamos

juntos rumo à graduação, e agora estamos lado a lado alcançando o objetivo que tanto lutamos para

conseguir.

E por último, não posso esquecer dos demais funcionários da instituição, entre técnicos,

trabalhadores da limpeza e do Restaurante Universitário, estagiários, seguranças e todos aqueles que

fazem parte da FURG, e que sem eles, não teríamos uma Universidade Pública que tão bem nos

acolhe.

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Page 5: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

Sumário

Dedicatórias e agradecimentos..........................................................................................................4Índice de ilustrações...........................................................................................................................6Lista de Quadros ................................................................................................................................71. Introdução ......................................................................................................................................82. As Conferências de Teerã, Yalta e Potsdam................................................................................172. 1. Conferência de Teerã, novembro de 1943 ................................................................................182. 2. Conferência de Yalta, fevereiro de 1945....................................................................................212. 3. Conferência de Potsdam, julho e agosto de 1945.......................................................................273. A Conferência de Bretton Woods, o Plano Marshall e a Crise dos Mísseis.............................323. 1. Conferência de Bretton Woods, 1944.........................................................................................333. 2. O Plano Marshall, 1947..............................................................................................................363. 3. A Crise dos Mísseis, 1961..........................................................................................................414. Do outro lado do muro: a URSS.................................................................................................445. As duas décadas que criaram nosso mundo de hoje..................................................................515. 1. América do Norte e Europa: A chamada Era Dourada do capitalismo.............................525. 2. Um mundo novo? De 1943 até 1968.......................................................................................596. Conclusão......................................................................................................................................647. Referências ...................................................................................................................................67

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Índice de ilustrações

Ilustração 1: Mapa da situação da Segunda Guerra na Europa em 1945............................................11Ilustração 2: A tomada de Berlim pelos soviéticos.............................................................................12Ilustração 3: Divisão territorial da Alemanha pós-guerra...................................................................13Ilustração 4: Os Três Grandes no Irã, em 1943..................................................................................18Ilustração 5: Linha Curzon e os territórios anexados pela Polônia em 1945.....................................20Ilustração 6: Roosevelt, Churchill e Stalin na Conferência de Yalta..................................................22Ilustração 7: Churchill, Truman e Stalin reunidos pela última vez, em 1945.....................................27Ilustração 8: As antigas e novas fronteiras européias, e as zonas de influência em 1945..................30Ilustração 9: Conferência de Bretton Woods: 44 nações reunidas.....................................................34Ilustração 10: Presidente Harry S. Truman e o Secretário de Estado George C. Marshall, em 1947 37Ilustração 11: As fronteiras do Socialismo em 1945..........................................................................54

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Lista de Quadros

Quadro 1: Total de recursos destinados aos países auxiliados pelo Plano Marshall, em milhões dedólares................................................................................................................................................ 37

Quadro 2: Variação do PNB per capita dos EUA e dos países assistidos pelo Plano Marshall, 1947 e1951.................................................................................................................................................... 38

Quadro 3: Número de automóveis em circulação nos principais países capitalistas, emmilhões.............................................................................................................................................. 56

Quadro 4: Difusão dos bens duráveis nas famílias de operários e de empregados na França, emporcentagem, das famílias que possuem os bens............................................................................... 57

Quadro 5: Número de Operários estimado na Europa Ocidental, em milhões de pessoas................ 57

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1. Introdução

O século XX foi, na história da humanidade, o que mais ocorreu mudanças significativas em

todos os parâmetros da sociedade. As guerras e seus desdobramentos trariam não somente

destruição e morte aos países que assolou, mas também, a abertura de incontáveis possibilidades ao

mundo moderno. Parte da evolução tecnológica e o acesso civil às inovações que foram

desenvolvidas por militares, a explosão de produtividade, a expansão econômica dos Estados

Nação, o reposicionamento da mulher na sociedade e no trabalho, e em especial acompanhados de

mudanças ideológicas e comportamentais são alguns dos efeitos dos pós-guerras. Desde o fim da

Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a vida no globo já não foi mais a mesma.

Mas foi a Segunda Grande Guerra (1939-1945) que acelerou as mudanças mundiais em

todas as escalas. Com o desenvolvimento de tecnologias bélicas, científicas, das engenharias, na

alimentação, e em outras tantas áreas de interesse – combinando objetivos primeiramente militares,

com a afirmação do capitalismo em sua disputa com o socialismo de matriz soviética – a forma de

governar os países que formaram um centro do sistema mundial e as outras nações dominadas e

ocupadas tomou formas inimagináveis. Os Estados Unidos da América (EUA) passaram de

expectadores do cenário europeu a protagonistas da situação econômica global. Com a sua

influência inflada pela situação pós-guerra, onde eram o único país dos Aliados que possuía uma

planta industrial gigantesca, com alta capacidade e intacta pelo fato do seu terrítório não ter sido

alvo de bombardeios e invasões, um lastro em ouro que representava quase 3/4 das reservas

mundiais e a evolução do dólar como moeda padrão internacional, foi o genitor de toda uma

geração de prosperidade econômica e desenvolvimento internacional. Foram os EUA que plantaram

a semente do crescimento extraordinário que passaria a Europa pós-guerra. Foram cerca de 20 anos

de uma explosão incalculável de possibilidades de consumo, trabalho e crescimento.

Mas como se formou esse cenário próspero? A partir do final do século XIX, com a ascensão

e confronto entre EUA e a Alemanha em um cenário de ocaso das potências coloniais e imperiais

européias, as consequências da 1ª Guerra Mundial começaram a moldar o futuro. Da Revolução

Russa e dos sinais do imperialismo japonês, a iminência do fim da guerra em 1943, com a

expectativa da capitulação da Alemanha pelos soviéticos e aliados, os “Três Grandes” líderes

mundiais (Josef Stalin, Winston Churchill e Franklin Roosevelt) decidiam o futuro do planeta. Com

a Europa ainda ardendo em chamas, bombardeios e destruição, era discutido o futuro das cinzas de

um continente inteiro. Qual destino teria a Alemanha, um dos grandes responsáveis por toda essa

desordem? E as nações diretamente destruídas por ela, como a Polônia, que fora tomada e saqueada

por diversas vezes durante o conflito? Quem pagaria por todos os prejuízos causados?

Mas pode-se ir além. Era planejado como seria dividido o globo inteiro. Como seriam as

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divisões territoriais entre duas ideologias completamente opostas? Os EUA e Grã Bretanha com seu

regime capitalista, baseado no livre mercado, versus a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

(URSS) com seu governo comunista, encabeçado por um ditador altamente articulador e ambicioso,

poderiam administrar um novo mundo que estava a se reconstruir?

Então, o que realmente houve entre o que foi assinado pelos três grandes entre 1943-45 e a

realidade da Europa-EUA até o fim da década de 1960, quando o sistema que por 20 anos

prosperara entra em colapso? No trabalho esboçaremos uma linha espaço-tempo sobre as

conferências de Teerã (1943), Yalta (1945) e Potsdam (1945) e seus acordos, não somente entre os

líderes mundiais que a presidiram, mas também das negociações que ocorreram nos bastidores,

entre os responsáveis pelas Relações Exteriores.

Assim, tentaremos elucidar a causa-efeito de cerca de 20 anos de um boom econômico, que

ocorreu entre 1945 a 1968 aproximadamente, através não somente das três conferências entre as

potências, mas também, outras importantes reuniões que iriam pautar todo o desenrolar do viés

sócio-econômico-político das nações. No Ocidente, com Bretton Woods, encontro onde o dinheiro

ganharia um novo significado para a economia mundial; e o Plano Marshall, que seria o grande

financiador dos então falidos e destruídos países pós-guerra. Falaremos também sobre a Guerra dos

Mísseis, relevante momento para a estabilidade mundial.

Nessas duas décadas, fomentadas não somente pela “Era de Ouro”, mas também por uma

disputa bilateral entre EUA e URSS na Guerra Fria, analisaremos alguns dos principais fatos

históricos sobre o mundo que se abria diante dele mesmo, em uma globalização nunca antes vista

pela humanidade, para tentar fundamentar toda a evolução social, econômica e militar que nos

mantém até hoje.

A metodologia de pesquisa se baseará na busca por autores e interpretações nas áreas de

Geopolítica e Geografia Política, História Econômica, História da Civilização Mundial Moderna,

História do Capitalismo. A partir de uma análise dos diferentes pontos de vista constantes na

bibliografia, será feito o apanhado de todos os temas pertinentes ao trabalho, a fim de que haja uma

linha tempo-espaço na narração e análise dos acontecimentos.

Dessa forma, o trabalho é divido em cinco partes: a primeira trata das três conferências

presididas pelas três grandes potências mundiais na década de 1940, que ocorreram em Teerã

(1943), Yalta (1945) e Potsdam (1945), onde seriam definidos acertos “que durariam 44 anos, até

1989 com a queda do Muro de Berlim” (WAACK, 2012, pág 269). Em seguida, na segunda parte,

analisaremos a conferência de Bretton Woods, que foi a responsável por “definir o que se

convencionou denominar como Sistema de Bretton Woods de gerenciamento econômico

internacional, estabeleceu em julho de 1944 as regras para as relações comerciais e financeiras entre

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os países mais industrializados do mundo. Esse sistema foi o primeiro exemplo na história mundial

de uma ordem monetária totalmente negociada entre Estados Nacionais” (SCHWARTZ, 2012, pág

241). Para esses dois subcapítulos, o livro organizado por Demetrio Magnoli em “A História da

Paz” (2012) é esclarecedora ao contar os fatos históricos. Nesse mesmo capítulo, abordaremos o

Plano Marshall, explicando sua natureza, seus desdobramentos e contrapontos segundo a ótica de

Giovanni Arrighi em “O longo Século XX” (1996), voltado para a base econômica, A. Leontiev

com seu artigo “O Plano Marshall à Luz dos Fatos” (1949) com uma visão socialista-marxista, e

Alice Helga e Flávio Combat em “História “viva” e história “objetivada”: George F. Kennan e o

Plano Marshall” (2007) com a dualidade da questão americana com os soviéticos durante a vigência

do Plano. Então, abordaremos a Crise dos Mísseis, um momento extremamente delicado da história

mundial, sob a narração dos fatos de Charles Sidarta Machado Domingos com o seu artigo “50 anos

da Crise dos Mísseis: horror nuclear em tempos presentes”, que narra os fatos de forma muito clara

e objetiva.

No capítulo adiante, falaremos sobre a situação da URSS paralela à época. Novamente

usaremos o bibliografia “A Era dos Extremos, o Breve Século XX” de Eric Hobsbawm, especialista

em história da civilização, conjuntamente com a obra “O Século XX - O tempo das Dúvidas” de

Daniel Reis Filho Et al, que serve de complemento à narração e à formulação das ideias.

Para o capítulo seguinte, “América do Norte e Europa: A chamada Era Dourada do

capitalismo”, a literatura base escolhida foi Op. Cit. de Hobsbawm, e Michel Beaud com “História

do Capitalismo”, onde apresenta todo o desenrolar do viés econômico da capitalismo. A tentativa do

presente trabalho nessa parte foi de estabelecer os contrapontos e concordâncias entre as versões

dos autores, buscando juntar as ideias de ambos e concatenar uma lógica baseada em suas visões.

Por fim, no capítulo “Um mundo novo: de 1945 até 1968” chegamos finalmente ao objetivo

do presente trabalho: as mudanças econômicas e sociais que ocorreram graças a todos esses eventos

narrados anteriormente, e que estão presentes no cotidiano da maioria das pessoas até hoje. Para

falarmos sobre essas questões, novamente usamos a obra de Hobsbawm como base teórica para a

compreensão dos acontecimentos do século passado. Também usamos a coleção de Daniel Reis

Filho Et al, “O Século XX – O tempo das Crises”, que novamente complementa as ideias de

Hobsbawm. Assim, esperamos narrar de forma mais clara e objetiva esse período da humanidade

que foi e é tão importante para todos nós.

No final do ano de 1944, após cinco anos de guerra, a Alemanha estava praticamente

derrotada. Com o avanço das tropas soviéticas sobre as alemãs, a perda de territórios conquistados,

e de derrotas como a ocorrida em Leningrado, eram sinais claros do colapso do sistema nazista.

Porém, sob a pressão dos Aliados (URSS, EUA, Grã-Bretanha, China, Polônia, Reino Unido,

França, Austrália, Brasil, Nova Zelândia, Nepal, África do Sul, Canadá, Noruega e outras nações)

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para a rendição incondicional, os germânicos recusavam-se a aceitar a derrota. Adolf Hitler (1889-

1945) via-se cercado de um lado pelos soviéticos e do outro pelos aliados, conforme mostra a

Ilustração 1. Apesar das expectativas sobre as bombas transcontinentais V21, que teoricamente

acabariam com os inimigos, a realidade estava se tornando clara: a Alemanha perderia a guerra.

Fonte: https://www.thinglink.com/scene/613541577364602880 [Acesso em 12/10/2017]

Nesse clima paradoxal de certezas e incertezas, acontece a Conferência de Yalta, em 1943.

Enquanto isso, as tropas alemãs eram cada vez mais espremidas em direção à Berlim, mantendo

uma resistência empedernida. Sob delírios, um Hitler já derrotado e com sequelas mentais, fazia

planos fantásticos com seu grande exército, que já tinha sofrido pesadas baixas e era cada vez

menor e mais fraco. Ele não concebia que estava perdido, criando fantasias sobre conseguir paz

com os aliados depois da morte de Franklin Roosevelt (1882 - 1945), e que os exércitos soviéticos

estavam esgotados e cansados no seu rumo à Berlim. Porém, em 16 de abril de 1945, o Exército

Vermelho2 abriu fogo sobre a capital alemã, no dia 20 do mesmo mês os Aliados com um novo

1 O V-2 (em alemão: Vergeltungswaffe 2, "Retribution Weapon 2"), foi o primeiro míssil balístico guiado a longoalcance. O míssil com um motor de foguete foi desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha porWernher von Braun como uma "arma de vingança", projetada para atacar as cidades aliadas como retaliação dosatentados aliados contra cidades alemãs. O foguete V-2 também se tornou o primeiro objeto artificial a atravessar olimite do espaço em 20 de junho de 1944. A partir de setembro de 1944, mais de 3.000 V-2 foram lançados pelaWehrmacht alemã contra Aliados durante a guerra, primeiro Londres e mais tarde Antuérpia e Liège. À medida quea Alemanha entrou em colapso, equipes das forças aliadas - Estados Unidos da América, Reino Unido e UniãoSoviética - correram para capturar os principais locais de fabricação na Alemanha de mísseis guiados, foguetes eaeronaves a jato. Fonte: http://dbpedia.org/page/V-2_rocket [acesso em 12/10/2017]

2 O Exército Vermelho Soviético foi a denominação que oficialmente deu León Trotsky das forças armadas

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Ilustração 1: Mapa da situação da Segunda Guerra na Europa em 1945

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ataque colocaram mais uma pá de terra no regime alemão (Ilustração 2).

Fonte: http://photo-muse.blogspot.com.br/2008/05/iconic-red-army-reichstag-photo-faked.html [Acesso em 12/10/2017]

Em 30 de abril, Hitler se suicida, pondo um fim ao regime nazista e ao sonho do Führer3 de

supremacia racial ariana no mundo.

Porém no Pacífico, a situação da guerra ainda era indefinida. Os Aliados e Japão travavam

batalhas sanguinárias, com dezenas de navios de guerra nipônicos afundados pelos cruzadores

americanos. Aviões bombardeiros calcinavam o arquipélago oriental. A tecnologia era o principal

recurso para os ataques. Assim, durante a Conferência de Potsdam, foi anunciada pelos EUA a mais

mortal e destruidora de todas as armas: a bomba atômica.

organizadas pelos bolcheviques durante a Guerra Civil Russa, ocorrida em 27 de fevereiro de 1918. Estaorganização se converteu no exército da República Socialista Federativa Soviética da Rússia após a Revolução deOutubro e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, formando o maior exército do mundo até a dissolução daUnião em dezembro de 1991. O nome, abreviado geralmente para Exército vermelho, faz referência ao uso daBandeira vermelha pela classe operária em sua luta contra o capitalismo. Fonte: https://seuhistory.com/hoje-na-historia/nasce-o-exercito-vermelho-sovietico [acesso em 04/11/2017]

3 Em alemão, Führer significa “guia”, “líder”, “chefe”. Deriva do verbo führen, “conduzir”. Embora a palavrapermaneça de uso comum em alemão, está tradicionalmente associada a Adolf Hitler, que a usou para seautodesignar líder da Alemanha Nazista. Fonte: https://www.sul21.com.br/jornal/ha-80-anos-o-mundo-via-hitler-tornar-se-o-fuehrer/ [acesso em 12/10/2017]

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Ilustração 2: A tomada de Berlim pelos soviéticos

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Então, em 14 de agosto de 1945, o Japão se rendia incondicionalmente, após Hiroshima ser

destruída pela Little Boy, e Nagasaki pela Fat Man, codenomes dados às bombas de urânio e

plutônio lançadas pelos EUA. Era o fim definitivo da Segunda Guerra Mundial.

Em uma Europa arruinada, os três líderes mundiais encontravam-se em Potsdam em 1945.

Uma das principais pautas seria o que fazer com a Alemanha, totalmente destruída e acabada.

Inicialmente, foi proposta a ideia de transformá-la em um país pastoril e sem indústrias. Porém

Harry S. Truman (1884 - 1972), substituto do então falecido Roosevelt, tinha a ideia de que o mais

certo era fazer justamente o contrário: a industrialização da Alemanha era importante para o mundo

ocidental e a manutenção da economia capitalista. Já Joseph Stalin (1878 - 1953) pensava

exatamente o contrário: queria que os alemães primeiramente deveriam custear as perdas pela

guerra, para então depois ser reerguida sua nação. Então, o território alemão ocidental é dividido em

três partes, capitaneados cada um pelos EUA, França e Grã Bretanha, enquanto o lado oriental fica

sob o júdice da URSS (Ilustração 3).

Fonte: http://www.theworldorbust.com/wp-content/uploads/2012/07/Map-of-East-and-West-Germany-with-a-seprate-map-for-Berlin.jpg [acesso em 12/10/2017]

Outros territórios também causavam conflito de interesses entre Aliados e soviéticos: as

questões sobre o rio Danúbio, o qual era pleiteada a sua internacionalização, afetando assim a área

de influência da URSS. Mas talvez o mais latejante tema fosse a Polônia. A sua nova configuração

territorial a dividiu em duas partes, uma ficando com o controle ocidental, e outra sob o júdice dos

soviéticos. E nesse clima de “divisão de bens”, acaba a Grande Aliança entre aliados e a URSS.

Em 1946, surgiu a desconfiança do vazamento de informações sobre a criação da bomba

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Ilustração 3: Divisão territorial da Alemanha pós-guerra

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atômica pelos soviéticos. A confirmação se dá em 1949, quando a URSS faz o teste de uma bomba

nuclear no Cazaquistão. Assim, os orientais e ocidentais foram se distanciando tanto

ideologicamente quanto pelas suas ambições. Enquanto os soviéticos queriam conquistar cada vez

mais territórios e expandir a ideologia e objetivos socialistas pelo mundo, os EUA se preocupavam

em contê-los e em manter o liberalismo econômico internacional no lado ocidental do globo.

Porém, era necessário acabar com os antagonismos de forma pacífica. Então, foram

planejados e criados organismos internacionais para regulamentar o mundo de paz que estava

emergindo, após a hecatombe que dizimou dezenas de milhões de seres humanos no últimos anos4.

As palavras de Braitwait (2009) descrevem esse trágico cenário: “Com cálculos difíceis, pode-se

considerar que para cada britânico ou americano que morreu, os japoneses perderam sete pessoas,

os alemães vinte, e os soviéticos, oitenta e cinco. Quatro quintos dos combates da Segunda Guerra

Mundial aconteceram no front leste”.

Assim nasceu a ONU (Organização das Nações Unidas), em 1945. Com a assinatura de 50

nações, uma carta de 11 artigos foi estabelecida. Também foi composto um órgão máximo do

Conselho de Segurança da ONU, composto por cinco membros permanentes: EUA, URSS, Grã

Bretanha, França e China. Além desses, mais 10 nações ocupariam cadeiras rotativas de dois anos

eleitos por assembléia geral. Os EUA são os que concentram maior poder dentro dessa cúpula,

devido à majoritária no Conselho e ao poder de veto.

No cenário de reconstrução global, a Europa deixa de ser hegemônica, enquanto os EUA

tornam-se rivais políticos e militares da URSS. A animosidade binária confirmou-se em 1947,

quando a Grã Bretanha já não mais tinha forças para combater os avanços comunistas na Grécia.

Em um apelo velado aos americanos, os britânicos queriam manter o Mediterrâneo sob influência

ocidental. Então, em março do mesmo ano, no Congresso americano, Truman declara: “A política

do EUA deverá ser de apoio total aos povos livres que lutam e resistem às tentativas de submissão

de povos, pela força das armas ou não...”5. E assim, emergia a Guerra Fria6.

Em meio a essa complexa situação global, geógrafos renomados estudaram não somente as

nações que pertenciam a esse círculo, mas também, as que ficaram de fora da guerra, porém, eram

4 O total aproximado de mortos na guerra em algumas nações (em alguns casos, os números são calculados a partir defontes múltiplas devido a discrepâncias): União Soviética: 25.000.000; China: 15.000.000; Alemanha: 8,000,000; Polônia: 5.720.000 ; Japão: 2.870.000; Iugoslávia: 1.363.500; França: 550.000; Itália: 454.600; Grã Bretanha: 450.900; Estados Unidos: 418.500; Coréia: 430.500; Grécia: 563.500. Fonte:https://www.secondworldwarhistory.com/world-war-2-statistics.asp [acesso em 12/10/2017]

5 Fonte: MAGNOLI, DEMETRIO (org): História das Guerras, São Paulo, Contexto, 2006. Pág 3886 Guerra Fria, nome dado à rivalidade aberta, porém velada, que se desenvolveu após Segunda Guerra Mundial entre

os Estados Unidos e os União Soviética e seus respectivos aliados. A Guerra Fria foi travada em frentes políticas,econômicas e de propaganda. O termo foi usado pela primeira vez pelo escritor inglês George Orwell em um artigopublicado em 1945 para se referir ao que ele previu seria um estancamento nuclear entre "dois ou três super-estadosmonstruosos, onde cada um possuía uma arma pela qual milhões de pessoas podem ser exterminadas em algunssegundos". foi usado pela primeira vez nos Estados Unidos pelo financista americano e assessor presidencialBernard Baruch em um discurso na Casa do Estado em Columbia, Carolina do Sul , em 1947. Fonte:https://www.britannica.com/event/Cold-War [acesso em 12/10/2017]

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direta ou indiretamente atingidas pelos desdobramentos sócio-econômicos da época. Essas teorias

servem de base para a maioria dos livros didáticos de Geografia, Geografia Econômica e História

brasileiros. Por exemplo, Yves Lacoste7, que faz uma leitura muito mais ampla do conceito de

“Terceiro Mundo”8 que foi forjado na época. Se para a maioria dos europeus e americanos esse

bloco apenas significava o conjunto das nações que não faziam parte do Primeiro Mundo

capitalista, nem do Segundo Mundo socialista, para ele era uma divisão bem mais complexa, como

podemos ver em Lacoste (1975):

“A noção do Terceiro Mundo é, pois , particularmente satisfatória e rica de sentido,apesar de não levar e conta a "explosão demográfica". Exprime de uma forma completa ebastante sugestiva várias noções diferentes combinadas entre si. Pode pois perfeitamente serutilizada para designar o conjunto dos países subdesenvolvidos.

Cronologicamente, tomou-se consciencía da existência concreta dos paísessubdesenvolvidos e da massa que constituíam no seio da população mundial, antes que fosseformulado o conceito de subdesenvolvimento enquanto fenômeno geral existente com umarelativa homogeneidade de caracteres numa grande parte do globo. Este desnível éperfeitamente normal. O que foi menos normal foi o processo que levou à formação doconceito de subdesenvolvinento. Com efeito, depois de quinze anos de publicações epesquisas, a noção de subdesenvolvimento não está ainda rigorosamente definida. Oseconomistas que foram os primeiros e os mais numerosos a estudar estes problemas, nãochegaram ainda a um acordo sobre uma definição comum e satisfatória dosubdesenvolvimento. R. Gendarme não chegou a recensear 21 definições ou acepçõesdiferentes? Muitas delas são bastante subjetivas e arbitrárias. Inúmeras só podem seraplicadas a um a parte dos países subdesenvolvidos. Outras englobam paísesincontestavelmente desenvolvidos. Nenhuma é verdadeiramente satisfatória. Estasconcepções bastante diferentes do subdesenvolvimento serão analisadas ulteriormente. Fatobastante curioso é que os economistas e os sociólogos não parecem se incomodar com umatal confusão e é muito raro abordarem de frente este problema delicado.” (pág 21)

O geógrafo Pierre George9 também tratou de assuntos relevantes sobre a geopolítica e

7 O francês Yves Lacoste foi um dos responsáveis por uma transição epistemológica na Geografia, sobretudo nos anos1970, culminando na Geografia Nova ou Crítica. Tal transição se baseou numa reaproximação à sociologia e ahistória (em menor grau também à filosofia), especialmente às ideias e aos questionamentos de caráter marxistadesenvolvidos por essas disciplinas ao longo do século XX. Consistindo, essa geografia renovada, como umverdadeiro esforço em reinterpretar a realidade espacial do mundo pela ótica dos conflitos sociais e econômicos nassuas mais variegadas formas e escalas. Fonte: http://parquedaciencia.blogspot.com.br/2015/11/desmistificando-o-saber-geografico-com.html [acesso em 17/10/2017]

8 A origem do nome está na idéia do demógrafo francês Alfred Sauvy, que propunha a idéia de um Terceiro Mundo,inspirado na idéia do Terceiro Estado, usada na Revolução Francesa. Os países membros do chamado TerceiroMundo deveriam se unir e revolucionar a Terra, como fizeram os burgueses e revolucionários na França. Oschamados Primeiro e Segundo Mundo surgiram de uma interpretação errônea por parte da mídia, que não entendeuuma mensagem de Sauvy. Como consequência, hoje, muitos atribuem o nome a chamada "Velha Ordem Mundial",uma divisão geopolítica de poderes e blocos de influência durante o período da Guerra Fria (1945 - 1989). O"Primeiro Mundo" seria o dos países capitalistas desenvolvidos, o "Segundo Mundo" seria o dos países socialistasindustrializados. Restariam no "Terceiro Mundo" os países capitalistas economicamente subdesenvolvidos egeopoliticamente não-alinhados. O termo foi oficialmente adotado durante uma reunião de países asiáticos eafricanos que se emanciparam da colonização européia, em abril de 1955, na Conferência de Bandung, na Indonésia.Fonte: http://geofundamental.blogspot.com.br/2010/03/teoria-dos-mundos.html [acesso em 17/10/2017]

9 Pierre George (1909-2006) foi um geógrafo francês que observou intensas transformações espaciais,políticas,econômicas e ambientais no decorrer do conturbado século XX. Seu interesse por praticar uma geografiadiferente da que havia aprendido é perceptível; para tanto, seria preciso erigir novos princípios de teoria e demétodo. Em sua extensa produção composta por livros, artigos e resenhas, George apresenta um repertório marcadopor abordagens gerais, regionais, urbanas e rurais, tematizando países desenvolvidos, subdesenvolvidos e também aURSS, além de estudos sobre populações e sobre meio ambiente. Tais temas estão amalgamados ao redor do

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economia na Ásia, África e América Latina e Europa. Descolonização, o comércio do petróleo,urbanização, relações internacionais são alguns temas de grande relavância teorizados por ele, queformam a base educacional geográfica e histórica no país. Em George (1968) lemos:

“Não há duvida de que o diálogo econômico é tao necessário aos paísesdesenvolvidos quanto aos países subdesenvolvidos. Estes últimos esperam conseguir comêle os meios de superar o atraso crescente que os separa dos países industriais, os primeirosesperam ter possibilidades de equilibrar sua economia conservando e ampliando osprolongamentos de seus mercados internos. Os países subdesenvolvidos representam, paraos países de economia industrial,complementos normais de sua economia, que absorvemseus excedentes de técnicos e de equipamentos e dispoem de reservas de produtos brutos. Acooperação repousa sôbre interêsses recíprocos. A forma desta cooperaçao é objeto depesquisas destinadas a encontrar modalidades que escapem à pecha de neocolonialismo oude resquícios do colonialismo. E nesta pesquisa, sofre-se a influencia da concorrrência entreas economias capitalistas e as economias socialistas, que se interessam, em primeiro lugar,pelos países que têm um valor estratégico e cuja inserção numa ou noutra clientela temtanto um significado político quanto econômico.” (pág 237)

Dessa forma, percebemos que a Segunda Guerra Mundial foi um divisor de águas na históriada humanidade, onde causas e efeitos se mesclam em um redemoinho que rodopia o globo até hoje,e que seus desdobramentos fazem parte do nosso cotidiano.

conceito de espaço, já que, segundo ele, a Geografia é uma ciência humana e espacial. Fonte: RAMÃO, Felipe DeSouza, Geografia de Pierre George e a questão ambiental: Considerações Iniciais. Revista Continentes (UFRRJ),ano 2, n.3, 2013. Pág 2

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2. As Conferências de Teerã, Yalta e Potsdam

O três encontros foram capitaneados por representantes dos então “Três Grandes” da época:

Josef Stalin, líder da URSS; Winston Churchill, representante da Grã Bretanha; Franklin Roosevelt,

presidente dos EUA, que tendo falecido em abril de 1945 e participado somente de Yalta, foi

substituído por Harry Truman, que participou em Potsdam. Em 28 de novembro de 1943, ocorreu

na localidade de Teerã, no Irã, chamada de Conferência de Teerã; Entre 4 e 11 de fevereiro de

1945 no Palácio de Livadia, na estação balneária de Yalta, nas margens do Mar Negro, na Crimeia,

a reunião foi chamada de Conferência de Yalta. Em Potsdam, Alemanha, entre 17 de julho e 2 de

agosto de 1945, foi a Conferência de Potsdam.

Os três países eram considerados os vencedores da guerra, e portanto, os detentores do

direito de decisão das nações derrotadas e menores. Os fatos ocorridos à época das conferências

estão o suicídio de Hitler, a morte de Roosevelt, a derrota nas urnas de Churchill, tendo seu cargo

ocupado ainda durante Potsdam por Clement Attlee, e os testes dos EUA com as bombas atômicas,

indicam uma época instável e de grandes acontecimentos.

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2. 1. Conferência de Teerã, novembro de 1943

Em 1941, Stalin planejava como seria a Europa depois da guerra. Durante a visita do

Ministro de Relações Exteriores britânico Antony Eden, ele aproveitou a ocasião para assinar dois

tratados com os britânicos: um que que previa cooperação militar na guerra, e outro que indicava o

reordenamento das fronteiras europeias depois da guerra.

Um ano depois, durante a visita de Churchill, antigo adversário e agora aliado para derrotar

a Alemanha de Hitler, foi cogitada a ideia de criar uma liga pelos então vencedores, composta por

EUA, Grã Bretanha e URSS. Seguiu-se então, as vitórias de Stalingrado na contra-ofensiva

soviética sobre os alemães que haviam invadido seu território (janeiro de 1943) e Kursk (julho de

1943), que sinalizavam como a guerra acabaria.

Fonte: https://minionu15anoscnuoi1945.wordpress.com/2014/08/30/conferencia-de-teera-1943-parte-1/ [acesso em: 25/09/2017]

Em agosto de 1943, Stalin propôs a Churchill e Roosevelt a criação de uma comisssão

composta pelos três governos para tratar das questões pós-guerra. O plano inicial era que cada um

pudesse ter algum tipo de influência na esfera alheia. Os soviéticos estavam profundamente

interessados no arranjo tríplice, com esferas bem claras porém supervisionadas por uma instituição

internacional. A questão alemã não havia ainda sido debatida, mas já indicava que era necessário

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Ilustração 4: Os Três Grandes no Irã, em 1943

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democratizar, desarmar, desmembrar, desmilitarizar e acabar com o nazismo. Haveria também a

independência da Áustria. Em outubro do mesmo ano, os Ministros das Relações Exteriores dos três

países encontraram-se em Moscou, com uma negociação planejada.

O primeiro encontro dos Três Grandes ocorreu no Teerã, em 1943. Nela, Stalin e Roosevelt

estabeleceram relações pessoais, que de alguma forma, influenciou vários acontecimentos durante a

guerra. Para o presidente americano, a cooperação da URSS era necessária para os eventos que

viriam após a guerra acabar. Roosevelt e Churchill tinham visões distintas sobre a pessoa de Stalin:

o britânico o via como um “demônio”, enquanto o americano acreditava que poderia socializar e

torna-se amigo do ditador soviético.

Nesse primeiro encontro, a guerra ainda estava em curso. Stalin tinha pretensões de

conseguir uma segunda frente na Europa, com a invasão do aliados à França. Assim, o front italo-

alemão seria dividido, enfraquecendo seu poder de combate. Os americanos prometeram que fariam

a invasão da Europa, o que aconteceria no inicio de 1944. Uma das propostas do soviético é que a

Alemanha se reergueria em menos de 30 anos, por isso a necessidade de mantê-los estagnados por

pelo menos duas décadas. Surgiu ainda da parte de Rossevelt uma ideia sobre as “Nações Unidas”,

que seria um comitê com as três nações mais a China. Em relação à Polônia, o soviético estava de

acordo com a retomada da Linha de Curzon10, que fora delimitada ao fim da Primeira Guerra

Mundial. A Polônia receberia também um pedaço do território da Alemanha (Ilustração 5).

Não era desejo da URSS que a Europa fosse repartida em pequenos pedaços. Somente a

Alemanha teria esse destino, para mantê-la fraca. Stalin ainda conseguiu o reconhecimento de Josip

Broz Tito11 como autoridade na Iugoslávia, o acesso soviético ao Mar Báltico e a anexação dos

países bálticos ao seu território. O líder soviético foi o principal privilegiado nos acordos em Teerã,

porém, seu exército era o que mais estava inserido na guerra.

10 A Linha Curzon é uma linha fronteiriça e de armistício entre a Polónia e a República Socialista Federada Soviéticada Rússia proposta pela Conferência de Paz de Paris em 1919 por uma comunidade presidida por Lord Curzon. APolónia rejeitou o acordo e, entre as I e II Guerras Mundiais, estendeu os seus limites para este e sul. Em 1946, afronteira soviético-polaca estabeleceu-se sobre a dita linha. Fonte:http://catanesenoticias.blogspot.com.br/2013/09/linha-curzon-linha-curzon-uma-linha.html [acesso em 18/10/2017]

11 Josip Broz, mais conhecido por seu título militar Marechal "Tito", nascido em 7 de maio de 1892, foi presidente daIugoslávia desde o final da Segunda Guerra Mundial até sua morte em 4 de maio de 1980. Quando Tito faleceu, aIugoslávia, que havia tido uma presença positiva nas relações internacionais, afundou em uma aguda crise aoreavivar as tensões nacionalistas entre os povos que a compunham. Esta crise acabou em uma cruenta guerra quelevou de novo o conflito bélico à Europa na década de 1990. Após a invasão alemã à Iugoslávia em abril de 1941 eda União de Repúblicas Socialistas Soviética (URSS) em junho desse mesmo ano, Broz organizou um poderosomovimento guerrilheiro que lutou contra os ocupantes germano-italianos. Ainda que as tropas soviéticas tenhamentrado durante um curto período de tempo no país em seu avanço rumo à Alemanha, as guerrilhas comunistas deTito foram as principais responsáveis pela derrota do Eixo em seu país. Fonte: https://seuhistory.com/hoje-na-historia/morre-josip-broz-tito [acesso em 18/10/2017]

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Fonte: http://catanesenoticias.blogspot.com.br/2013/09/linha-curzon-linha-curzon-uma-linha.html [acesso em

18/10/2017]

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Ilustração 5: Linha Curzon e os territórios anexados pela Polônia em 1945

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2. 2. Conferência de Yalta, fevereiro de 1945

Em 1944, havia a necessidade de administrar a Polônia, que tinha dois subgovernos em meio

à destruição da guerra. Stalin tinha vontade de empurrar o país mais para o Ocidente, pois havia

anexado terras polonesas à área, porém não havia tomado conta de todo o território. Um deles

estava estabelecido desde o início da guerra, a partir do exílio do antigo governo em Londres, e o

outro em Lublin, que fora recém libertada e dependente da URSS. Porém, houve o Levante de

Varsóvia12, onde um exército de militares foram fiéis ao presidente exilado. Enquanto os soviéticos

apenas cercavam Varsóvia, o exército alemão fez um massacre matando cerca de 200 mil poloneses.

A cidade foi praticamente destruída. Stalin não permitiu que apoio aéreo americano e britânico que

lançava suprimentos, armamento e munição para que os poloneses insurgentes reabastecessem em

território soviético. Após essa derrota, nada mais impedia o avanço do poder da URSS em território

polonês.

O presidente Roosevelt nada fez em relação às atitudes de Stalin, mas Churchill tentava

conter a expansão soviética, pois ao fim da guerra e com a saída das tropas americanas do solo

europeu, seus interesses no Mediterrâneo estariam ameaçados. Então, em um encontro bilateral, em

Moscou com Stalin, ele mostrou as proporções de influência da URSS e dos britânicos nas Bálcãs,

incluindo Grécia, Romênia e Hungria. Tal ato gerou mal estar, mas serviu para provar o que estava

desenhado: as potências tinham esferas de poder dentro de outros países. Assim, ele cedia à URSS

um pedaço da Europa Oriental, que estava em seu domínio, e ficaria com a Grécia, onde já havia

uma ameaça de ascensão de grupos comunistas. Stalin cumpriu o contrato e acabou abandonando os

comunistas gregos. Para ele, Grécia, Espanha e Portugal eram países ocidentais, e nada mais natural

que seu governo fosse dessa lado do mundo, enquanto que o leste da Europa tinha que ser de

domínio do governo Oriental.

12 No dia 1o. de agosto de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, teve início uma grande revolta dos poloneses dacidade de Varsóvia contra a ocupação nazista. O movimento foi liderado pelo general polonês Tadeusz Bor-Komorowski, comandante do exército de resistência, formado por 40 mil soldados mal equipados. Além de acelerara liberação de Varsóvia, este exército tinha conexão com o governo polonês que vivia no exílio em Londres. Osguerrilheiros também eram ideologicamente anticomunistas e tinham planos de conquistar o controle, ao menosparcial, de Varsóvia antes da chegada dos soviéticos. Apesar de algumas conquistas iniciais obtidas pelos poloneses,a libertação soviética da cidade era inevitável.Diante da revolta em Varsóvia, o líder nazista Adolf Hitler ordenouaos seus comandados que a resistência polonesa fosse aniquilada a todo o custo. A elite da SS nazista dirigiu a forçade defesa alemã, que incluía a Brigada Kaminiski de prisioneiros russos e a Brigada Dirlewanger de condenadosalemães. Em combates brutais de rua, os poloneses foram gradualmente superados pelo poder de fogo alemão. Àmedida que os rebeldes eram vencidos, os nazistas, deliberadamente, arrasaram grande parte da cidade emassacraram muitos civis. Enquanto isso, os soviéticos faziam o seu caminho para chegar a Varsóvia. O ExércitoVermelho ganhou espaços na ponte através do rio Vístula, mas não ajudou os rebeldes em Varsóvia. Os soviéticostambém rejeitaram um pedido dos britânicos de usar bases aéreas soviéticas para o transporte aéreo de suprimentospara os poloneses sitiados. Os rebeldes e os cidadãos da cidade ficaram sem remédios, alimentos e, eventualmente,sem água. Finalmente, em 2 de outubro, houve a rendição dos rebeldes poloneses sobreviventes, incluindo Bor-Komorowski. Fonte: https://seuhistory.com/hoje-na-historia/tem-inicio-revolta-de-varsovia-na-polonia [acesso em13/10/2017]

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Então em fevereiro de 1945 no Teerã, sob proteção de quatro regimentos NKVD13 e 160

aviões de guerra. Joseph Stalin tinha uma guarda de 600 soldados. Houve uma varredura na cidade,

onde quase 75 mil pessoas foram revistadas e quase mil presas. Foram levados empregados, louças,

talheres e tudo mais de uso pessoal direto da URSS especialmente para ele. O clima era de

espionagem total. Eram colocadas escutas, grampos e todo tipo de material que pudesse captar

alguma informação importante, de ambos três lados.

Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/lideres-dos-paises-aliados-se-encontram-na-conferencia-de-yalta/[acesso em: 25/09/2017]

O líder soviético era um personagem único e sombrio. Usava a agressividade de seu exército

e poder para dominar as áreas o qual invadira. Isso o tornava para uma parte das lideranças de seus

aliados durante a 2ª Guerra uma ameaça às democracias ocidentais. Mas Roosevelt não o via assim.

Ele o enxergava com um líder o qual teria que manter relações amigáveis e cooperativas para a

reconstrução do mundo no pós guerra. E assim, tendo a resposta positiva do líder oriental sobre a

13 NKVD (russo: Narodnyi komissariat vnutrennikh del; Ucraniano: NKVS, ou Narodnyi komisariiat vnutrishnikhsprav [Comissariado do povo para assuntos internos]). Foi um ministério do governo soviético responsável pelasegurança e aplicação da lei, criado em 7 de novembro de 1917 e reorganizado como MVD em 19 de março de1946. Durante sua história, o NKVD sofreu numerosas mudanças organizacionais e funcionais: às vezes, como em1922-3, 1934-41 e 1941-3, englobava não só a espionagem e a inteligência estrangeira, mas também a força policialregular, os guardas de fronteira e o sistema prisional. Em outras ocasiões, como em 1917-22, 1923-34, 1941 e 1943-6, foi dividido em duas agências separadas, uma responsável pela segurança do Estado e outra para a aplicação dalei. Essas mudanças foram devidas a fatores políticos e não administrativos. A notoriedade da NKVD comoinstrumento de terror pertence aos períodos em que o aparelho de segurança do Estado passou por sua jurisdição(julho de 1934 a abril de 1943, exceto em fevereiro a julho de 1941). Fonte:http://www.encyclopediaofukraine.com/display.asp?linkpath=pages%5CN%5CK%5CNKVD.htm [acesso em13/10/2017]

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Ilustração 6: Roosevelt, Churchill e Stalin na Conferência de Yalta

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fundação das Nações Unidas, sua satisfação aumentou, e mais ainda, quando Stalin concordou em

entrar na guerra do Pacífico, sob a proposta da URSS receber o território japonês como recompensa,

além de uma esfera na China.

O presidente americano também estava voltado a ganhar apoios domésticos para a política

externa, então propôs um acordo onde haveria governos hibridos com base nas forças democráticas.

Porém, como não houve uma pressão real de Roosevelt sobre a execução dessa declaração, e

também com Stalin que planejava ajustar mais adiante no acordo, a declaração da Europa Libertada

não passara de um jogo político de palavras.

Então, os acertos entre Churchill, Roosevelt e Stalin foram que os países ocidentais

concordariam em dar à URSS uma boa parte da Polônia, porém sem delimitar as fronteiras,

postergando para outro momento uma conferência para selar a paz. Mas o principal era definir

quem governaria o território, então foi solicitado que além dos soviéticos, houvessem também

representantes poloneses exilados ou ainda moradores de lá.

Quanto à Alemanha, com certeza o processo seria longo e complicado, e deveria ter a

participação das três potências. O seu território foi desmembrado em zonas de ocupação. Ainda se

incluiu a França, que controlaria uma parte, assim criando-se o Conselho de Controle Aliado. Os

planos eram impor condições duras para a Alemanha derrotada. A princípio, ela sofreria duras

sanções, como ser privada das suas instalações industriais, e reduzida a um pais agrário. Porém essa

ideia iria prejudicar muito a reconstrução e o desenvolvimento europeu. Por isso, esse plano acabou

por ser abandonado. Porém, ainda iriam conduzir o país germânico com mão de ferro.

O grande problema da conferência é que ela não desenhou claramente o que seriam as

“esferas de influência” que cada potência possuiria sobre os países dominados. A longo prazo, essa

dominação se mostrou extremamente prejudicial a todos eles.

Mas não houve muita diferença entre Teerã e Yalta. O principal assunto que deveria ser

debatido nessa última – o futuro da Alemanha – não foi claramente definido. Quando a guerra

finalmante acabou, Roosevelt pretendia manter as alianças e coalizões que já estavam postas. O

resultado é que não foram acordos e tratados que fizeram a redivisão da Europa, mas sim, as

posições que os exércitos ocupavam ao fim das batalhas.

Porém, no início de 1945, já se percebia que as intenções dos soviéticos para com a Polônia

não eram tão benevolentes assim. Foi notado então que o melhor a fazer era realmente dividir os

territórios em esferas de influência, onde cada uma das potências governaria sem interferências

externas. Mas havia um elemento chave de tensão dos ocidentais para com a URSS: a criação de

uma entidade internacional operacional para gerir a atuação dos novos governos. Era uma semente

do que seria as Nações Unidas. Os americanos tinham a certeza que a causa das guerras anteriores

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eram as questões monetárias, econômicas e financeiras internacionais, e que se houvesse uma

instituição que cuidasse dessas áreas a fim de controlar essas operações, a paz e o desenvolvimento

das nações seria muito maior.

Os planos americanos não eram permanecer na europa libertada. Seu isolacionismo anterior,

que fora combatido com a sua entrada na guerra, estava prestes a voltar, com o abandono dos

territórios que estavam sob seu domínio militar. Roosevelt não se importou com as condições

duvidosas de Stalin na ocupação da Polônia. Isso ia contra Churchill, que cada vez mais se sentia

ameaçado pelo líder soviético. Por sua insistência, o americano acabou por enviar uma carta para

Moscou, em abril de 1945, onde declarava que as atitudes da URSS na Polônia eram um risco para

os acordos da Conferência de São Francisco, que iria fundar a ONU, e também para o novo

reordenamento mundial pós-guerra. Então, no mesmo mês, ele comunica a Stalin que Yalta havia

fracassado. Quando seu sucessor Truman ficou sabendo dessa frase apenas dois meses depois do

ocorrido, percebeu que Roosevelt finalmente estava mudando de posição sobre a URSS. Porém,

Churchill e Roosevelt nunca mais teriam oportunidade de debater sobre como lidar com os

soviéticos.

Desde Yalta até a morte de Roosevelt, os americanos estavam repensando em como tratar

com Stalin e sua forma de governo. Porém, desde o levante de Varsóvia o presidente americano

vinha recebendo instruções de que deveria ser mais duro para com a URSS. Porém, ele planejava

negociar usando seu poderio nuclear e acordos de ajuda econômica para poder ter ganhos maiores.

Mas percebeu que Stalin era uma pessoa na qual não se podia confiar. Sua estratégia era separar

assuntos políticos de assuntos militares, coisa que Stalin não conseguia desmembrar. Ou seja,

Roosevelt não media forças com a URSS comparando seus poderios bélicos.

Percebe-se então, que para Stalin, Yalta foi uma grande vitória. Conseguiu manter tudo que

havia conquistado até então, tendo apenas que ceder sobre a criação da Declaração da Europa

Libertada, que ele já planejava contornar para que não o afetasse. Ao mesmo tempo, o

desmembramento da Alemanha não o interessava, e acabou por deixar para trás essa questão.

Quando Roosevelt faleceu, em 12 de abril de 1945, não havia nenhum tipo de “testamento

de política externa”. O seu sucessor Harry Truman assumiu em meio a um turbilhão de ideias de

como lidar com os soviéticos, e com a sua falta de compromisso em lidar com os acordos pré

estabelecidos. Ele como vice presidente nunca fora convidado a participar das decisões e planos do

governo, na condução da política externa e estratégia de guerra. Essas ideias somente estavam na

cabeça de Roosevelt, o que tornaria impossível saber quais rumos ele realmente planejava tomar na

Europa e para com a URSS.

Tudo indica que Roosevelt planejava que EUA, Grã Bretanha, URSS e China fossem os

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“policiais do mundo”. Isso permitiria então, que a União Soviética se expandisse no leste europeu e

na Alemanha. Mas para ele, essa ideia de controle das potências conjuntamente acabaria com a

necessidade de esferas de influência, tornando-as irrelevantes. Essa visão parecia estar se realizando

com Bretton Woods, onde a URSS participou, e os EUA se tornaram um centro de conversão

monetária, onde o dólar – a sua moeda nacional – atrelaria todas as outras a si. Havia ainda a

conferência das Nações Unidas, onde foram acordados sistemas de segurança e controle. Havia

também um outro elemento que Truman não possuía: o relacionamento interpessoal que Roosevelt

tinha com Stalin e Churchill.

Com a queda iminente da Alemanha e de Hitler, que já estavam praticamente derrotados

desde Stalingrado, e com a tomada final de Berlim se aproximando, a diplomacia entre URSS e

USA estava desgastada. Stalin acreditava que os aliados estavam negociando a rendição com os

alemães, em troca de partes do território alemão que deveriam ser ocupados pelos soviéticos. O

líder comunista era extremamente desconfiado, e por fim, paranoico sobre seus inimigos e aliados.

Porém, Roosevelt continuou com a sua conduta, que incluia não saber bem o que fazer o que fazer

com a administação da Europa pós-guerra, mas confiando que a sua amizade com Stalin ajudaria a

superar os obstáculos.

Então, em 25 de abril de 1945, durante a abertura da Conferência de São Francisco, Truman

declarou através do rádio que, ou se criava um organismo internacional para regulamentar o pós-

guerra, ou o mundo iria entrar em caos. Posteriormente, ele ficou sabendo das consequencias

internacionais que a bomba atômica traria, inclusive com a URSS, porém não se importou com seus

efeitos. Para ele, era mais problemática a questão que Churchill levantou semanas antes, sobre a

ocupação americana em Berlim, Praga e na libertação da parte ocidental da Tchecoslováquia.

Porém, seguiu o conselho de George Marshall14, de que não valia a pena perder vidas americanas

em nome da política.

Logo após a derrota da Alemanha, no final de maio, houve o primeiro esboço de um

encontro bilateral entre Truman e Stalin. Churchill imediatamente se sentiu ameaçado pelo fato de

ambos reunirem-se sem a sua presença. Começou a criticar ainda mais a URSS, proferindo palavras

que diziam ser os soviéticos uma grande ameaça à paz mundial e aos interesses dos aliados do

ocidente.

Ao mesmo tempo, um representante americano fora enviado a Moscou para conversar com

Stalin. Harry Hopkins15 fora acusado, anos depois, de manter contatos estreitos demais com os

14 George Catlett Marshall (1880 - 1959), foi o principal soldado dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial,serviu como chefe de gabinete de 1939 a 1945, construindo e dirigindo o maior exército da história. Diplomático,atuou como secretário de Estado de 1947 a 1949, formulando o "Plano Marshall", um programa sem precedentes deajuda econômica e militar a nações estrangeiras. Fonte: https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1953/marshall-bio.html [acesso em: 13/01/1983]

15 Harry L. Hopkins, (17 de agosto de 1890 - 29 de janeiro de 1946), foi um administrador democrático que

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soviéticos, assim, colocando-o como suspeito de ter trabalhado involuntariamente como

colaborador da espionagem soviética. Ele comunicou a Stalin que as relações construídas com

Roosevelt estavam prestes a desmoronar. Tudo seria enfim decidido na questão da Polônia. Stalin,

sendo um grande diplomata negociador, ligou a participação da URSS no confronto do Pacífico

com o andamento da diplomacia militar entre os países. E que iria resgatar o que foi perdido para o

Japão pelo Czar Nicolau II16 após a guerra russo-japonesa, no início do século.

A preocupação americana era o quanto deveriam se envolver na questão polonesa. Eles não

sabiam até onde deveriam interferir no modo como os soviéticos estavam tratando os prisioneiros

de guerra não comunistas que estavam na Polônia. Preferiram se abster, e não participar no modo

como a URSS estava tratando-os.

personificou a ideologia de vastos programas de trabalho federais para aliviar o desemprego na década de 1930 nosEUA; ele continuou como Emissário do Presidente Franklin Roosevelt e seu conselheiro pessoal mais próximodurante a Segunda Guerra Mundial. Fonte: https://www.britannica.com/biography/Harry-L-Hopkins [acesso em13/10/2017]

16 A Guerra Russo-japonesa aconteceu em 10 de fevereiro de 1904. Foi um conflito que surgiu das ambiçõesimperialistas rivais da Rússia Imperial e o Japão, em Manchúria e Coreia, e que concluiu com a vitória nipônica. Oconflito se desencadeou na Manchúria e no Mar Amarelo, ao norte da Coreia. Nos últimos anos do século XIX eprincípios do século XX, vários países ocidentais competiram por influência, comércio e território na Ásia Oriental.Enquanto isso, o Japão se esforçava para se transformar em uma grande potência moderna. A situação geográfica doJapão o estimulou a orientar-se rumo a Coreia e ao norte da China, chocando com os interesses expansionistasrussos. Tudo isso levou ao enfrentamento dos exércitos de ambos os países e o resultado foi à vitória dos japoneses ea derrota dos russos. Fonte: https://seuhistory.com/hoje-na-historia/inicio-da-guerra-russo-japonesa [acesso em13/10/2017]

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2. 3. Conferência de Potsdam, julho e agosto de 1945

Foi o último encontro dos chamados “Três Grandes”. Harry Truman, ao embarcar para a

Antuérpia, tinha expectativas de resultados práticos. Necessitava saber como seria a reconstrução da

Alemanha e quando poderia contar com a entrada da URSS na guerra do Pacífico. Stalin previa que

com a morte de Roosevelt não teria resultados positivos com os ocidentais, que estavam repudiando

a expansão soviética. Mas ele também se sentia insatisfeito com o crescimento do globalismo

anglo-americano. Além disso, ele não entendia como poderia ser uma ameaça ao ocidente, já que

apenas defendia seus territórios de forma natural.

Ao fim da guerra, os grandes objetivos de Stalin eram bem definidos: manter a cooperação

com as duas outras potências e levar à frente sua estratégia de transformar a Europa oriental. Para

ele, não havia um conflito entre essas duas posições.

Fonte: http://www.dw.com/pt-br/h%C3%A1-70-anos-confer%C3%AAncia-de-potsdam-selava-destino-da-alemanha/a-18590741 [acesso em: 25/09/2017]

A Conferência de Potsdam teve menos interesse do que Yalta, realizada anteriormente. Mas

seria nela que estariam fundamentados todos os alicerces das bases de divisão da Europa e por

consequencia, da ordem internacional nas próximas décadas.

A pedido de Stalin, Truman presidiu a conferência. Exibindo claro nervosismo, o líder

americano se demominou como não sendo um bom diplomata, mas que estava profundamente

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Ilustração 7: Churchill, Truman e Stalin reunidos pela última vez, em 1945

Page 28: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

interessado em acordos práticos. Então, Stalin demonstrou interesse em entrar na guerra do

Pacífico, selando assim uma cooperação bilateral que excluía a Grã Bretanha. Aliás, para Stalin,

EUA e URSS tinham muito a trocar e ofertar entre si, enquanto que os britânicos nada tinham a

oferecer. Diante desse discurso, Truman acreditou que poderia então se entender com os soviéticos.

Ele, da mesma forma que Roosevelt, não via em Stalin a figura de um ditador sem escrúpulos e

ameaçador para o restante do mundo.

Mas enquanto todos prestavam atenção aos dois grandes líderes e ao novato na conferência,

as negociações e conversas mais importantes ocorreram nos bastidores. Os Ministros das Relações

Exteriores dos três países – Anthony Eden, da Grã Bretanha e Vyacheslav Molotov das URSS,

ambos com grande experiência em relações internacionais, e James Byrnes - representando os EUA,

tendo participado das conversas em Yalta e agora chefe da diplomacia dos EUA - manipularam

entre si grandes decisões. Byrnes, famoso pelas suas táticas de articulação, seria decisivo nas

propostas americanas em Potsdam. Para ele, a única forma que parecia ser possível manter a paz e a

cooperação pós-guerra era manter a diplomacia e confiança com os soviéticos. A mesma linha de

pensamento do falecido presidente Roosevelt.

Para Byrnes também era necessário que a Alemanha reestruturasse a sua economia através

dos seus próprios recursos, reativando as minas de carvão na Bacia do Ruhr, e exportando o

minério. Em contrapartida, os germânicos não iriam depender do investimento econômico

americano para o seu reerguimento, evitando que o país se tornasse o garantidor das finanças da

Alemanha derrotada e destruída. Ele queria também pôr fim às hostilidades, garantindo a sua

política doméstica. Isso ocasionou o seu descaso pela bomba atômica e seus efeitos, o que remeteu

ao ataque ao país nipônico sem qualquer aviso. Para ele, a bomba serviria apenas para encurtar a

guerra e poupar a vida de milhares de soldados americanos nos fronts de batalha.

Então, ao início da Conferência, quatro pontos faziam parte da pauta inicial: dois se

relacionavam à questão da criação de organismos internacionais para gerir os problemas pós-guerra,

como um conselho de ministros das Relações Exteriores, juntamente com um Conselho Aliado para

gerenciar a Alemanha. Os dois objetivos restantes eram polêmicos: colocar em prática tudo que

havia sido acertado em Yalta, e a integração da Itália na comunidade das nações.

O choque de expectativas era grande. Stalin pensava nas reparações de guerra, o que fazer

com a esquadra alemã que restou, e pretendia eliminar o governo de Franco na Espanha,

redistribuindo suas posses. Para ele, o interessante era retirar o máximo que pudesse dos países

derrotados. A pauta principal para os ocidentais era garantir que a Europa se reconstruísse e se

estabilizasse.

Apesar de os diplomatas estarem negociando muitos dos problemas que surgiram que que

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Page 29: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

ainda viriam a surgir, os três grandes ainda tinham muitas questões delicadas a resolver. Churchill

queria saber o que fariam com a Alemanha e suas novas fronteiras. Com uma grande parte da

Polônia ocupada pelos soviéticos, estes pretendiam dar uma parte da Alemanha como reparação aos

poloneses. Isso não agradava os ocidentais. Ao mesmo tempo, Stalin relutava a aceitar propostas

sobre a regulamentação das reparações alemãs. Por ironia, os soviéticos tiveram apoio dos

franceses, os quais não eram bem vindos por eles no início das negociações. O general Charles de

Gaulle17 não tinha interesse que a Alemanha ressurgisse como um grande país.

Então, Churchill chocou-se contra Stalin sobre a sua ideia de acabar com o governo de

Franco18. Para ele, seria uma afronta a URSS ter uma base militar em Dardanellos. Além disso, as

novas fronteiras entre Alemanha e Polônia não o agradavam, e o comportamento do Marechal Tito,

na Iugoslávia, que estava massacrando seus inimigos passados. Porém, Churchill não conseguia

receber apoio americano.

Apesar de ter debatido algumas questões com Stalin sobre seus objetivos, Truman queria

acabar logo com a guerra contra o Japão e não ter que financiar os pós-guerra europeu. Enquanto

isso, seu Ministro de Relações Exteriores via que via Alemanha, a URSS iria se infiltrar bem no

meio da Europa. Mas, apesar da sua preocupação com os soviéticos, o foco principal também era

derrotar de uma vez o Japão.

A essa altura, Churchill perdera as eleições, e a Grã Bretanha enviava a Potsdam seus dois

novos representantes: Clement Atlee, novo Primeiro-Ministro, e Ernest Bevin, Ministro das

Relações Exteriores. No entremeio de tempo das eleições britânicas e na volta de Churchill ao seu

país para disputar o pleito, houveram avanços entre as negociações entre EUA e URSS na

conferência. Quando Atlee chegou enfim para a mesa, haviam já sido discutidos alguns pontos do

que deveria ser acordado sobre o futuro da Europa e da Alemanha. Uma das determinações seria

que a URSS cobrava que 50% das reparações de guerra seriam custeadas pela Alemanha. Porém, os

17 Charles de Gaulle (1890 - 1970) foi um general e político francês. Um dos comandantes aliados na Segunda GuerraMundial e um dos principais estadistas do pós-guerra. No início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) osalemães investiram contra a França, seguindo para o norte da Linha Maginot. De Gaulle liderou várias tropas e tevesucesso na defesa da França contra a invasão alemã. Em 1940, os alemães derrotaram os franceses e tomaram aFrança. De Gaulle fugiu para a Inglaterra, de onde mandava mensagens de rádio para o povo francês continuar aresistência. O governo de Vichy da França, instalado pelos alemães, condenou De Gaulle. Com o apoio dos inglesese dos americanos, De Gaulle organizou e dirigiu a resistência francesa que lutou pela libertação de Paris. Em 1944,ao voltar para a França, assumiu o governo provisório. Entrou em conflito com a oposição e deixou a Presidênciaem 1946. Fonte: https://www.ebiografia.com/charles_gaulle/ [acesso em 13/10/2017]

18 Francisco Paulino Hermenegildo Teódulo Franco y Bahamonde, nascido em 4 de dezembro de 1892 e maisconhecido como o general Francisco Franco, implementou, com o apoio de movimentos nacionalistas ouMovimiento Nacional, uma longa ditadura na Espanha. Seu regime político, que criou um estado católico,autoritário e corporativo, ficou conhecido como franquismo. O general Franco permaneceu no poder de 1936 até odia 20 de novembro de 1975, data de sua morte, em Madri. O pós-franquismo durou até 1977. O regime franquistacomeçou quando Francisco Franco se proclamou Caudilho da Espanha pela Graça de Deus ao vencer a Guerra CivilEspanhola. Seu regime teve caráter ditatorial e sem divisão de poderes, em que diversas liberdades individuais (deassociação, de expressão, de voto, sindical, etc.) foram limitadas. O legado de Franco, contudo, é motivo decontrovérsias. Enquanto uma parte da população considera que foi um líder forte que pacificou e estabilizou aEspanha, para outros foi um cruel repressor. Fonte: https://seuhistory.com/hoje-na-historia/nasce-o-ditador-espanhol-francisco-franco [acesso em 13/10/2017]

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Page 30: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

soviéticos já ocupavam praticamente a metade do solo alemão. Então, o mais óbvio seria que eles

retirassem desse território o que quisessem.

Também foi sugerido, por parte dos americanos, que os pequenos países satélites da URSS,

da Polônia e da Itália fossem unidos em um bloco, com um destino comum para todos, a fim de

resolver o problema de uma vez só. Com a permissão britânica então, foram postos aos soviéticos as

ideias pensadas. Por fim, com Stalin doente e afastado da mesa principal, sendo assessorado pelo

seu Ministro, ele cedeu à questão das reparações, mas venceu nas questões das novas fronteiras

alemãs com a Polônia (Ilustração 8).

Fonte: http://www.secondeguerre.net/hisetpo/po/hp_accordsyalta.html [acesso em: 25/09/2017]

Mas um pouco antes dessa decisão final, Truman levou ao conhecimento de Stalin –

fazendo-o de modo casual – os seus testes bem sucedidos com uma nova arma de destruição em

massa. Porém, Stalin já o sabia. A espionagem soviética trabalhara muito bem, e revelara ao seu

líder todos os avanços na tecnologia nuclear americana. Nos bastidores, Stalin irritou-se com o fato

dos EUA usarem a bomba atômica como ferramenta de intimidação para convencê-lo a aceitar as

suas propostas. Mas ao contrário do que parecia, os americanos não pensavam na sua nova arma

como um instrumento de barganha e ameaça velada. Para eles, a bomba serviria apenas como o

último movimento para a capitulação do Japão, forçando a sua rendição incondicional e encerrando

a guerra no Pacífico. Porém, contava que a ajuda soviética seria bem vinda para encerrar o conflito.

Em 31 de julho, Stalin retorna à mesa de debates. Tentou novamente negociar as reparações,

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Ilustração 8: As antigas e novas fronteiras européias, e as zonas de influência em 1945

Page 31: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

mas diante na negativa americana, acabou por ceder. Na madrugada do dia 1º, começava o que seria

a última reunião dos três grandes. Stalin ainda tentou ter um reconhecimento maior para os regimes

que estavam sob seu poder, mas Truman se opôs. Então, foi encerrada a conferência após

oficializados os acordos. Ainda Truman planejou um próximo encontro de líderes, dessa vez em

Washington, que nunca se realizaria.

Então, quase que imediatamente após o fim da conferência, Stalin percebeu que só

conseguiria manter controle sobre seus dominados à base da força. Manipulação de eleições,

violência contra quem não era de acordo com o comunismo e terror político eram práticas comuns

dos soviéticos. Para os ocidentais, foi vantajosa essa diferença entre as circunstâncias oriental e

ocidental. Para os alemães, por mais raiva que tivessem dos seus então agora dominantes, os

americanos e britânicos eram uma alternativa muito melhor que os soviéticos.

Um dos resultados do acordo de Potsdam foram os números enormes de deportações. Com a

recusa soviética de devolver o território polonês que estava sob seu comando, milhões de poloneses

tiveram que ceder espaço ao recém-chegados. Em contrapartida, alemães tiveram que dar lugar aos

deportados.

Rapidamente, os EUA e a Grã Bretanha notaram que não teriam como manter os alemães

vivos e alimentados se a própria Alemanha não tivesse condições de reeguer a sua economia.

Então, o governador militar americano que estava presidindo o país germânico suspendeu o envio

de quaisquer tipos de reparação para o lado ocidental, ocupado pelos soviéticos. Essa decisão

ajudou a firmar os diferentes rumos das duas economias e à divisão do país até o fim da Guerra

Fria, em 1989.

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Page 32: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

3. A Conferência de Bretton Woods, o Plano Marshall e a Crise dos Mísseis

Com as labaredas da guerra ainda ardendo na Europa, as grandes potências mundiais

pensavam adiante: como seria a economia nos tempos seguintes. Assim, os EUA se adiantaram no

planejamento econômico mundial, durante a Conferência de Bretton Woods (1944), tornando-se o

país provedor da estabilidade econômica mundial pós-guerra. Uma das suas conquistas foi tornar a

sua moeda nacional, o dólar, a principal em negociações internacionais. Assim, surgiram

organismos de controle econômico, como por exemplo o Fundo Monetário Internacional (FMI), que

existe até hoje.

Então em 1947, George C. Marshall lança seu plano homônimo. Posto em prática entre os

anos de 1948-1951 pelo presidente Harry Truman, deixou definitivamente com os EUA o controle

da política monetária e fiscal dos países europeus ocidentais. Beneficiando principalmente a

Inglaterra, França, Alemanha Ocidental e Itália, foram liberados pelos americanos cerca de 11,5

bilhões de dólares em empréstimos, equipamentos e abastecimento. Até mesmo depois do fim do

Plano, os EUA seguiram liberando crédito quando havia escassez de dólares na Europa. Assim, o

capital norte americano se inseriu profundamente na economia européia, e ao mesmo tempo, freiou

em parte o avanço soviético.

Mas a animosidade entre os EUA e URSS não estava somente no outro lado do mundo. Os

Estados Unidos tinham Cuba quase “no seu quintal”19, que havia constituído o governo de Fidel

Castro (1926 - 2016) , e havia recentemente sido atacada indiretamente pelos americanos na invasão

da Baía dos Porcos. A intenção era derrubar o regime inimigo implantado bem ao seu lado. Após o

líder comunista conseguir vencer a invasão e defender seu território, conseguiu apoio da URSS, que

instalou mísseis na Ilha de Cuba, a apenas 145 kilômetros da Flórida, apontados diretamente para os

EUA. Assim, durante os dias 16 a 28 outubro de 1962, os americanos bloquearam a entrada de

novos mísseis em território vizinho, e exigiram a retirada dos que já estavam instalados. Foi um dos

períodos mais tensos da história humana. Após negociações entre John Kennedy (1917 - 1963) e

Nikita Kruschev (1894 - 1971), este último resolveu desmontar todo equipamento bélico soviético

que estava em território cubano e levar de volta para a URSS. Com isso, o diálogo entre americanos

e soviéticos se alargou, afastando a possibilidade de um embate real entre as duas ideologias. A

Guerra que já era Fria, gelou ainda mais.

19 Da virada do século até a Revolução Cubana, em 1959, as relações entre Washington e Havana eram basicamenteamigáveis. Até demais: observadores críticos chegavam a denominar o país insular de "quintal dos Estados Unidos".Em meados da década de 20, companhias americanas possuíam 60% da indústria açucareira, e o país importava 95%de toda a produção agrícola cubana. Essa cooperação de características colonialistas se intensificou com a ascensãoao poder do general Fulgencio Batista, presidente por dois mandatos e líder "de fato" de Cuba desde os anos 1930até sua derrubada pelos rebeldes liderados por Fidel Castro, em 1º de janeiro de 1959. Fonte: http://www.dw.com/pt-br/cinco-d%C3%A9cadas-de-tens%C3%B5es-cuba-eua-sobreviveram-at%C3%A9-%C3%A0-guerra-fria/a-18138134 [acesso em 13/10/2017]

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Page 33: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

3. 1. Conferência de Bretton Woods, 1944

A Conferência de Bretton Woods, ou ainda, Sistema de Bretton Woods, foi um projeto de

gerenciamento econômico internacional, determinando as regras de relações comerciais e

financeiras para os países mais desenvolvidos do mundo. Foi a primeira ordem monetária global

desenvolvida exclusivamente por Estados nacionais.

Com o objetivo de reconstruir o sistema capitalista enquanto a segunda guerra mundial ainda

não havia acabado, cerca de 730 delegados pertencentes às 44 nações aliadas encontraram-se na

cidade que dá nome ao Tratado, Bretton Woods (BW), em julho de 1944 (Ilustração 9). Foi um

encontro que durou aproximadamente três semanas, onde o poder sobre o dinheiro, o conhecimento

e a natureza foi determinado pelos “vencedores” da guerra, os Aliados, buscando a hegemonia do

dólar americano por parte dos EUA, e do comunismo por parte da URSS.

Diante do antagonismo entre americanos e soviéticos em suas ideologias, e a Guerra Fria

que estava começando a tomar forma, o cenário era tenso diante do extremismo presente em ambas

linhas de condução. Transpondo as linhas sociais, econômicas e culturais, além de alianças militares

e grandes instituições monetárias, ambas correntes de pensamento tiveram amplo apoio de várias

esferas.

Fonte: http://www.dw.com/en/how-bretton-woods-reshaped-the-world/a-17747360 [acesso em: 25/09/2017]

A segunda guerra promoveu, sem dúvidas, um grande avanço tecnológico nos países

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Ilustração 9: Conferência de Bretton Woods: 44 nações reunidas

Page 34: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

participantes. Isso se deveu à necessidade das nações de sobrepujar o inimigo no front de batalha.

Quando a guerra terminou, toda essa tecnologia poderia ser usada para finalmente promover e

reerguer as nações destruídas ou abaladas. Em Bretton Woods, foi tratado desse assunto, como

pode-se ver em Schwartz (2012):

“As tecnologias de informação e comunicação, ao criarem ícones e redes deprodução, distribuição e assistência técnica, instauram espaços híbridos, trajetórias locais einovadoras tornam-se possíveis ao mesmo tempo em que se reforçam vínculos com osistema, sobretudo pela conexão em tempo real dos mercados financeiros dos paísesintegrados ao sistema mundial. Em Bretton Woods, foram criadas as bases para que essesistema de informação (e, portanto, de transmissão de efeitos monetários e financeiros)ganhasse cada vez mais densidade e alcance, apoiado no desenvolvimento dos novosmodelos de comunicação e transmissão de dados que a própria guerra mundial haviapromovido intensamente.” (pág 243)

Então, ao determinar regras, instituições e procedimentos reguladores da política econômica

internacional, foi criado o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e o

Fundo Monetário Internacional (FMI), tornando-se funcionais em 1946, após um quorum mínimo

de nações aceitou assinar o acordo.

Assim, uma das disposições do tratado era que cada país deveria adotar um sistema

monetário que mantivesse o câmbio de suas moedas dentro de um parâmetro, em média 1%,

relativo à cotação do ouro. Também estava no acordo a necessidade da provisão do FMI em

financiamentos caso houvesse dificuldades temporárias de pagamento.

Dessa forma, o sistema criado em BW era baseado no capitalismo liberal, com a liderança

dos EUA, garantindo a sustentabilidade e estabilidade das economias e do mercado. Na crise de

1929 já havia se aprendido que barreiras comerciais e sanções não somente não evitam, como

também, agravam os problemas de crescimento econômico das nações. Portanto, somente o

capitalismo liberal poderia permitir que todos os países tivessem oportunidade de não somente de se

manter, mas também de crescer. Segundo esse pensamento, as grandes causas das duas guerras

mundiais seria sanada, pois atribuía-se os motivos do seu acontecimento à discriminação econômica

e disputas comerciais, presentes na Europa anteriormente.

John Maynard Keynes (1883-1946), líder do lado britânico em BW, pregava a ação

governamental no desenvolvimento dos países. Outro grande personagem importante nas

negociações foi Harry Dexter White (1892-1948), que pensava: “a falta de um alto grau de

colaboração econômica entre as nações industrializadas resultará, inevitavelmente, em guerra

econômica”20.

Então, as economias mais desenvolvidas passaram a ser comandadas pelos EUA. Este

20 Fonte: MAGNOLI, Demetrio (org): História da Paz. São Paulo, Contexto, 2012. Pag 245

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Page 35: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

atuava como “gerente” e determinava a queda de barreiras internacionais sobre o comércio e o fluxo

de dólares. Com sua planta industrial intocada pelos efeitos da guerra que não chegaram a seu

território, perdas humanas relativamente baixas, e ainda, tendo a sua economia alavancada devido à

própria guerra, no comércio de armas e empréstimo de dinheiro aos aliados, os americanos eram

hegemonicamente superiores aos demais países. Na Europa e no Japão havia uma destruição

econômica, humana e estrutural sem precedentes. Estavam reduzidos a pó, finda a guerra.

Em 1945, os EUA produziam metade do carvão mundial, 2/3 do petróleo, mais de 50% da

eletricidade, além de navios, aviões, carros armas, máquinas industriais e produtos químicos. E

ainda possuía um trunfo gigantesco: a bomba atômica. Além disso tudo, mais de 80% das reservas

de ouro do planeta (SCHWARTZ, 2012, pag 245).

Assim, a posição americana era ter todos os poderes sobre seus países devedores, tendo

ambições de ser seu credor para sempre. Isso afetou a estabilidade de preços, a flexibilidade dos

mercados e o comércio internacional, que acabou se tornando neoliberal, de acordo com as vontades

dos EUA. Bretton Woods estava ligado de forma indissolúvel ao FMI. Foram estabelecidas taxas de

câmbio fixas entre as moedas, a fim de evitar uma guerra monetária entre as nações, pois toda

alteração nas taxas deveriam ser comunicadas ao FMI. Sem a obrigatoriedade do lastro de ouro, a

diplomacia econômica pôde permitir negociações mais amplas e livres entre as nações, sem a real

necessidade de recorrer a bancos para conseguir fundos.

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Page 36: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

3. 2. O Plano Marshall, 1947

Diante do Congresso americano, no dia 12 de março de 1947, Henry Truman (1884 – 1972),

então presidente dos EUA - que substituiu Roosevelt após a sua morte - , fez seu discurso com as

então novas diretrizes da Política Externa. Entre as pautas, estava a necessidade de esforços

especiais para combater o avanço soviético no mundo. Proferindo as palavras: "A fim de garantir o

desenvolvimento pacífico das nações, sem exercer pressão, os Estados Unidos assumiram a maior

parte na criação das Nações Unidas. Mas só concretizaremos nossas metas se estivermos dispostos a

ajudar povos soberanos na manutenção de suas instituições livres e de sua integridade nacional

contra imposições de regimes autoritários"21, ele então cimentou o que ficou conhecida como

Doutrina Truman. De imediato foi proposto a concessão de créditos para a Grécia e a Turquia e a

colaboração financeira dos Estados Unidos na recuperação da economia dos países europeus. A

ajuda americana não limitava-se somente ao campo econômico, mas estendia-se ao campo militar, o

que deu origem à Guerra Fria. Na área econômica a Doutrina Truman foi responsável pelo Plano

Marshall.

Fonte: https://www.wisconsinhistory.org/Records/Image/IM8277 [acesso em: 02/10/2017]

21 Fonte: http://www.dw.com/pt-br/1947-divulgada-a-doutrina-truman/a-305913 [acesso em 13/10/2017]

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Ilustração 10: Presidente Harry S. Truman e o Secretário de Estado George C. Marshall, em 1947

Page 37: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

Então, George Catlett Marshall (1880 - 1959), ex-organizador do Estado-Maior da força de

guerra dos Estados Unidos e então Secretário de Estado, no dia 5 de junho de 1947, na

Universidade de Harvard, em Nova York, desenhou a política de estabilização e fortalecimento das

forças de resistência econômica e política dos países da Europa Ocidental. "A política dos Estados

Unidos não é dirigida contra um país ou uma ideologia, mas contra a fome, a pobreza, o desespero e

o caos. Quem tentar bloquear a reconstrução de outros países não pode esperar ajuda"22 , disse,

referindo-se aos comunistas do leste da Europa, excluídos dos planos de ajuda externa dos EUA.

O plano permaneceu em operação por quatro anos fiscais a partir de julho de 1947.

Dezesseis nações, incluindo a Alemanha, se tornaram parte do programa e moldaram a assistência

que eles necessitavam, nação por nação, com assistência administrativa e técnica prestada pela

Administração de Cooperação Econômica (ECA) dos Estados Unidos. As nações européias

receberam cerca de U$ 13 bilhões em ajuda, o que inicialmente resultou em embarques de

alimentos, combustível e máquinas dos Estados Unidos e mais tarde resultou no investimento em

capacidade industrial na Europa. O financiamento do PM terminou em 1951. O Quadro 1 mostra

uma síntese dos financiamentos concedidos:

Quadro 1: total de recursos destinados aos países auxiliados pelo plano marshall, em milhões de dólares

País 1948/49($ milhões)

1949/50($ milhões)

1950/51($ milhões)

Acumulado($ milhões)

Áustria $232,00 $166,00 $70,00 $488,00

Bélgica eLuxemburgo

$195,00 $222,00 $360,00 $777,00

Dinamarca $103,00 $87,00 $195,00 $385,00

França $1,09 $691,00 $520,00 $2,30

Alemanha* $510,00 $438,00 $500,00 $1,45

Grécia $175,00 $156,00 $45,00 $366,00

Irlanda $88,00 $45,00 - $133,00

Itália e Trieste $594,00 $405,00 $205,00 $1,20

Holanda $471,00 $302,00 $355,00 $1,13

Noruega $82,00 $90,00 $200,00 $372,00

Portugal - - $70,00 $70,00

Suécia $39,00 $48,00 $260,00 $347,00

Suíça - - $250,00 $250,00

Turquia $28,00 $59,00 $50,00 $137,00

Reino Unido $1,32 $921,00 $1,06 $3,30(*) Refere-se às zonas da Alemanha sob o controle dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da França.

FONTE: WERNER, Alice Helga; COMBAT, Flávio Alves: História “viva” e história “objetivada”: George F.Kennan e o Plano Marshall, pág 190

22 http://www.dw.com/pt-br/1947-%C3%A9-anunciado-o-plano-marshall/a-568633 [acesso em 18/10/2017]

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Page 38: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

Porém, o PM não é, em absoluto, somente um plano de ajuda para os países europeus

devastados pela guerra. Um dos objetivos seria garantir o poder americano sobre os governos,

economia e produção europeus. Assim, os antigos impérios abrem mão da sua independência e

soberania para que os EUA possam reinar sobre o mundo capitalista. Com essa manobra, os

americanos garantem mercado para seus produtos que não tem procura interna, acesso à matérias-

primas que não conseguem produzir, e ainda controlam a indústria, o comércio externo, o sistema

monetário e as finanças na parte ocidental do Velho Continente (LEONTIEV, 1949) No Quadro 2,

podemos ver as variações do PIB per capta nos países assistidos.

Quadro 2: Variação do PNB per capita dos eua e dos países assistidos pelo plano marshall, 1947 e 1951

País 1947** 1951**

Austria $1.213,00 $2.473,00

Bélgica $3.145,00 $3.951,00

Dinamarca $4.016,00 $4.602,00

França $2.682,00 $3.628,00

Alemanha* $1.847,00 $3.507,00

Grécia $731,00 $954,00

Islândia $4.366,00 $4.230,00

Irlanda $1.876,00 $2.144,00

Itália $1.540,00 $1.955,00

Luxemburgo $4.112,00 $4.883,00

Holanda $3.304,00 $4.022,00

Noruega $3.830,00 $4.616,00

Portugal $485,00 $634,00

Suécia $5.321,00 $6.157,00

Turquia $450,00 $578,00

Reino Unido $4.515,00 $5.016,00

Média européia $2.426,00 $3.238,00

Estados Unidos $6.332,00 $7.240,00(**) Em dólares norte-americanos de 1981.

Fonte: WERNER, Alice Helga; COMBAT, Flávio Alves: História “viva” e história “objetivada”: George F. Kennane o Plano Marshall, pág 191 (*) Refere-se às zonas da Alemanha sob o controle dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e daFrança.

Mas isso já estava sendo construído desde a Primeira Guerra Mundial, com o fornecimento

de bens, produtos e capital pelos EUA para países europeus, como descreve Arrighi (1996):

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“Os direitos britânicos sobre os ativos e rendas norte-americanos foram muitoimportantes na economia dominada pela Grã-Bretanha, porque os Estados Unidos poderiamfornecer a esta, com presteza e eficiência, todos os suprimentos de que ela precisasse paradefender seu dispersíssimo império territorial numa guerra global. (…) Numa linha similar,quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, o ministro do Tesouro estimou que osresultados dos investimentos externos britânicos seriam suficientes para custear cinco anosde guerra. (...) Entretanto, em 1915, a demanda britânica de armamentos, máquinas e maté-rias-primas superou em multo o que a Real Comissão de 1905 havia projetado. Grande partedos equipamentos necessários só podia ser fornecida pelos Estados Unidos, e sua compradeu início à erosão dos direitos britânicos à renda produzi-da nos Estados Unidos, bemcomo à acumulação de direitos norte-americanos sobre as receitas e ativos britânicos. (...) Ogoverno britânico, com compromissos nos Estados Unidos que chegavam a centenas demilhões de libras, estava no limite de seus recursos. Não tinha nenhuma condição decumpri-los. Entre essa data e o Armistício, tomou emprestado do governo norte-americano,para custear "necessidades absolutas de subsistência e de guerra", não muito menos de £ 1bilhão. No fim da guerra, portanto, os Estados Unidos haviam recomprado por umapechincha alguns dos investimentos maciços que tinham construído a infra-estrutura de suaprópria economia doméstica no século XIX e, além disso, haviam acumulado imensoscréditos. Ademais, nos primeiros anos do conflito, a Grã-Bretanha fizera empréstimosenormes a seus aliados mais pobres, sobretudo a Rússia, enquanto os Estados Unidos, aindaneutros, haviam tido plena liberdade para substituir com rapidez a Grã-Bretanha comoprincipal investidor estrangeiro e intermediário financeiro na América Latina e em partes daÁsia. Terminada a guerra, esse processo tomara-se irreversível. A maior parte dos US$ 9bilhões de créditos líquidos de guerra dos Estados Unidos era devida pela Grã-Bretanha epela França, relativamente solventes; porém, mais de 75% dos créditos líquidos de guerrada Grã-Bretanha eram devidos pela falida (e revolucionária) Rússia, e tiveram que sermajoritariamente cancelados como incobráveis.” (pág 278 e 279)

Com isso, politicamente, a Europa se quebra em vários pedaços, desmembrando-se e ficando

sob o domínio americano. Ainda bate de frente com os países comunistas e das chamadas

democracias populares, criando uma base de ataques contra a União Soviética e seus países

socialistas em pleno território europeu. Assim, impôs a todos os países que estavam sob seu Plano

uma nova cultura, forma de vida e de consumo, impondo novos hábitos a um povo que recém havia

saído de uma guerra devastadora.

Mas é importante lembrar que o Plano Marshall só obteve êxito graças à capacidade dos

então governantes europeus em celebrar acordos de estreita cooperação entre Estado, capital e

trabalho. Então, nesse contexto, os trabalhadores se beneficiaram do crescimento econômico, com

aumento da renda per capta e com baixas nos números de desempregados, fazendo assim com que

as propostas comunistas não soassem assim tão fascinantes e atraentes. Porém, o PM só teve

sucesso graças à qualificação da mão de obra, o potencial industrial e à estabilidade da sociedade

em relação à política (WERNER, COMBAT, 2007).

Essa interferência americana na economia européia causou preocupação à URSS. Em

resposta, os soviéticos criaram o Plano Molotov23, também chamado de COMECOM (Conselho

23 O Plano Molotov foi uma série de acordos bilaterais, entre o estado soviético e cada uma das democracias populares,que estipulavam, a longo prazo, ajuda técnica e financeira, e intercâmbio de produtos e matérias-primas. Para acoordenação conjunta da planificação económica, criou-se em 1949 o COMECON, o Conselho de Ajuda EconômicaMútua, organização de cooperação económica, científica e técnica fundada pela URSS, Polónia, Checoslováquia,Bulgária e Albânia. Fonte: https://www.infopedia.pt/$comecon [acesso em 20/10/2017]

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para a Assistência Econômica Mútua) em 1949, o qual propunha organizar a produção industrial e

coordenar o comércio exterior das zonas de influência soviética. Mas apesar do relativo sucesso do

Plano Molotov, ele não chegou nem a se aproximar da magnitude do Plano Marshall.

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3. 3. A Crise dos Mísseis, 1961

Depois de mais de dois anos de batalhas contra o Exército de Fulgêncio Batista24, quando

este fugiu para São Domingo, finalmente o exército de Fidel Castro (1926 – 2016) se aproximava

da vitória. Assumindo a presidência de Cuba, Fidel Castro foi saudado juntamente com seu exército

pela população. Uma esperança para mudanças floresceu, e assim nesse clima de comemoração, o

novo líder da Revolução discursou no dia 1º de janeiro de 1959 no Parque Céspedes em Santiago de

Cuba25, e após, rumou a Havana, capital. Durante o trajeto, desfilou em jipes, sob a aclamação do

povo.

Mas a paz de Cuba não durou muito tempo. No mês de abril de 1961, um incêndio

provocado por contra revolucionários em uma loja no centro de Havana matou uma trabalhadora, e

deixou vários feridos. Então, no dia 15 do mesmo mês, aconteceram bombardeios aéreos no

aeroporto de Santiago de Cuba e em mais dois campos de pouso na capital de Cuba. O saldo foi de

sete pessoas mortas e 53 feridas. A finalidade desses ataques era causar danos na Força Aérea

Cubana, pois no dia 17 cerca de 1500 homens que haviam sido treinados pela CIA na Guatemala

atacaram a Praia Girón, na Baia dos Porcos. A defesa se deu por parte de milicianos que faziam

parta da guerrilha de Che Guevara26, sob o comando de Fidel Castro. Che Guevara estava em

Havana, para resguardar a segurança da capital cubana. Com a vitória de Cuba, Fidel declarou que

os EUA eram os responsáveis pelos ataques ao país, graças às informações que recebeu sobre a

CIA. Assim, declarou o caráter socialista da sua Revolução.

Mas anos antes, em 1959, Nikita Krushev (1894 – 1971), o então primeiro-ministro da

24 Fulgêncio Batista nasceu em 16 de janeiro de 1901, em Banes. Alistou-se no exército e participou da Revolta dosSargentos, em 1933, que derrubou o regime em vigor. Assumiu o poder no mesmo ano e permaneceu como ditadoraté 1944. Durante o seu primeiro governo, mantinha-se com o poder de convocação de cargos públicos eacumulando sua fortuna pessoal com investimentos e corrupção. Assim, rapidamente, se tornou o homem maispoderoso financeira e politicamente de Cuba. Após ser retirado do poder por revoltas do exército, em 05 de abril de1952, ele prepara um novo golpe de estado e reassume o poder. Todavia, ao invés de melhor a situação do povocubano, que permanecia no alfabetismo e na miséria, o governo de Fulgêncio Batista piorou a situação. Com ainsatisfação do povo, ele passa a comandar o país como um verdadeiro tirano. Uma das principais insatisfações era aproximidade do governo de Batista com os Estados Unidos, fazendo com que Cuba fosse vista como uma colônianorte-americana. Além disso, as medidas autoritárias, repletas de violência e repressão, mandando prenderopositores políticas e controlando a imprensa, a universidade e o congresso, fizeram com que Fidel e sua trupepreparassem o golpe de 1959, que, mais tarde, ficaria conhecido como a Revolução Cubana. No final de sua vida,Fulgêncio Batista se exilou na Ilha da Madeira e, posteriormente, na Espanha, onde permaneceu até sua morte, em06 de agosto de 1973. Fonte: http://redes.moderna.com.br/2012/04/05/fulgenio-batista-e-o-golpe-em-cuba/ [acessoem 13/10/2017]

25 O discurso pode ser lido na íntegra em http://www.cubadebate.cu/opinion/2014/01/01/fidel-castro-el-1-de-enero-de-1959-esta-vez-si-que-es-la-revolucion/#.WeFXeTtrzDc [acesso em 13/10/2017]

26 Ernesto Guevara de La Serna (1928-1967) foi um guerrilheiro e revolucionário argentino, um dos principaislíderes da Revolução Cubana. Se tornou o braço direito de Fidel Castro, presidente do Banco Nacional e mais tardeMinistro da Indústria de Cuba. Acreditava na construção do Socialismo. Na Bolívia, organizou um grupoguerrilheiro com o objetivo de unificar o regime político da América Latina. Che Guevara faleceu em La Higuera,na Bolívia, no dia 9 de outubro de 1967. Seus restos mortais foram encontrados, 30 anos depois, em uma valacomum, na cidade de Vallgrande e levados para Cuba, sendo sepultado no Mausoléu Guevara, em Santa Clara naprovíncia de Villa Clara. Fonte: https://www.ebiografia.com/che_guevara/ [acesso em 13/10/2017]

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URSS, aceitou o convite de Dwight Eisenhower (1890 - 1969), presidente americano na época,

para uma visita diplomática. As intenções de Krushev eram evidenciar os avanços da URSS nos

campos da ciência e tecnologia. Para impressionar de saída, viajou para Washington em um avião

ainda não testado, mas de dimensões enormes. Embora não houvesse nenhum acerto prévio entre

EUA e URSS, Krushev queria aproveitar a sua visita para mostrar que ele era um líder muito

diferente de Stalin.

O ano de 1961 não foi muito favorável para os americanos e para John Kennedy, recém-

eleito. Um soviético, Yuri Gagarin (1934 - 1968) foi o primeiro homem a entrar em órbita e

retornar. Assim, a URSS ultrapassou os EUA na corrida espacial. Conjuntamente, houve o fracasso

à invasão da Baía dos Porcos. Em 13 de agosto, foi erguido o Muro de Berlim. Ainda, Krushev

anunciava que faria testes com bombas nucleares com 100 megatons de potência, sete vezes mais

do que as que haviam até então.

Com toda essa pressão por parte dos soviéticos, Kennedy precisava responder à altura.

Então, através de um porta-voz do Governo, disse que “Temos capacidade de lançar um segundo

ataque pelo menos tão amplo quanto o primeiro dos soviéticos. Portanto, estamos confiantes em que

eles não provocarão um gigantesco conflito nuclear”27.

Porém, o efeito não foi o esperado. Em 14 de outubro de 1942, aviões espiões americanos

U-2 sobrevoaram Cuba e viram o impensável: bases de mísseis nucleares em construção, com

capacidade de alcance de 1600km, assim, podendo atingir o litoral leste dos EUA, em cerca de 13

minutos. No dia 16 de outubro, Kennedy tomou conhecimento do fato, e teve duas possibilidades de

resposta. Uma seria invadir Cuba, a outra, seria um bloqueio marítimo, ou “quarentena”. Essa

última foi a opção do presidente americano, no dia 22 do mesmo mês. Realizando um

pronunciamento para mais de 100 milhões de compatriotas, o que foi considerada a maior audiência

de um discurso presidencial até então, ele disse: “A política desta nação será considerar qualquer

lançamento de projétil nuclear de Cuba contra qualquer nação do hemisfério Ocidental como um

ataque da URSS contra os EUA, o que requer uma adequada resposta de represália contra a

URSS”28. A Organização dos Estados Americanos (OEA) aceitou as razões americanas e apoiou a

expansão da quarentena à Cuba.

Em 26 de outubro, o Primeiro Ministro soviético enviou uma missiva ao presidente

americano, onde propunha a retirada do armamento militar que estava sendo instalado em Cuba, em

troca da garantia americana de não invadir a ilha. Para os EUA foi um alívio, que porém não durou

muito tempo. No dia 27, recebem uma carta de Krushev com as seguintes palavras:

27 Fonte: DOMINGOS, Charles Sidarta Machado: 50 anos da Crise dos Mísseis: horror nuclear em tempos presentes.Pág 83 a 89, disponível em https://www.seer.furg.br/hist/article/view/3666/2514. Pág 86 [acesso em 02/10/2017]

28 Fonte: IDEM nota 27, pág 87 [acesso em 02/10/2017]

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Ingrid
Riscado
Ingrid
Texto digitado
1962
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“Nós aceitamos retirar de Cuba aqueles materiais que você qualificou de ofensivos, epodemos comprometer-nos a isso no seio das Nações Unidas. Em reciprocidade, seusrepresentantes farão uma declaração no sentido de que os EUA, considerando asdificuldades e a ansiedade do Estado soviético, retirarão da Turquia materiais ofensivossimilares”29.

Diante da nova situação, uma guerra nuclear estava quase se iniciando. Kennedy então

resolve responder à Krushev dizendo:

“Nós, por nossa parte, estamos dispostos – mediante o estabelecimento dos adequadosacordos realizados através das Nações Unidas para assegurar a continuidade e por emmarcha desses compromissos – ao seguinte: a) Levantar imediatamente as medidas dequarentena em vigor; b) Dar segurança contra a invasão de Cuba. Confio em que asoutras nações do hemisfério Ocidental estão dispostas a atuar do mesmo modo. O efeito detal acordo sobre a tensão mundial nos permitirá continuar trabalhando acerca de umacordo geral referente a “outros armamentos” como você propõe em sua segunda cartaque foi feito pública”30.

Então, encerra-se a Crise dos Mísseis, que foi considerado o momento mais “quente” de

uma guerra que era “fria”. Em 1963, foi assinado por várias nações do globo o Pacto de Paz

Atômica. Embora ele não vetasse a construção de artefatos nucleares, limitava seus testes na

atmosfera. Mas a Guerra Fria ainda continuava.

29 Fonte: IDEM nota 27, pág 87 [acesso em 02/10/2017]30 Fonte: IDEM nota 27, pág 87 e 88 [acesso em 02/10/2017]

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4. Do outro lado do muro: a URSS

“Desde sua construção, em agosto de 1961, o muro de Berlim sempre foiidentificado com o governo do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED, na sigla emalemão) e especificamente com Walter Ulbricht e Erich Honecker. O máximo símbolo dadivisão da cidade de Berlim, da Alemanha, do continente europeu e, em certo sentido, doconflito da Guerra Fria era justificado pelos dirigentes comunistas germano-orientais sob oargumento de proteger a economia da República Democrática da Alemanha (RDA) dosaqueio, do contrabando e da especulação – além de controlar a população e evitar a fugaem massa de trabalhadores qualificados para o setor oeste da cidade, território da RepúblicaFederal da Alemanha (RFA).” (AVILA, pág 93)

Os soviéticos terminaram a guerra vitoriosos, porém arruinados. Foram massacrados pelo

exército alemão, principalmente na parte ocidental. Mas ainda assim, tinham um enorme prestígio

político, principalmente na Europa. Seu modelo militar exaltava força e poder, e afinal, tinha sido

responsável pela derrota de Hitler. Joseph Stalin ainda era um ícone para seus compatriotas, símbolo

de orgulho e chefe das instituições estatais. E, sobretudo, havia no imaginário soviético a esperança

de reconstruir um mundo com paz, fraternidade e solidariedade. Porém, a forma que Stalin

conduziu a URSS no pós-guerra fechou as possibilidades de unificação global, principalmente após

o início da Guerra Fria, em 1946 (REIS FILHO et al, 2005, pág 15). Assim, o mundo ficou bipolar,

antagonista e dividido. Podemos ler em Hobsbawm (2005):

“Em 1945, as fronteiras da região que se separou do capitalismo mundial ampliaram-sedramaticamente. Na Europa, incluíam agora toda a área a leste de uma linha que ia, agrosso modo, do rio Elba na Alemanha até o mar Adriático e toda a península Balcânica,com exceção da Grécia e da pequena parte da Turquia que restava no continente. Polônia,Tchecoslováquia, Hungria, Iugoslávia, Romênia, Bulgária e Albânia passavam agora para azona socialista, assim como a parte da Alemanha ocupada pelo Exército Vermelho após aguerra e transformada em uma “República Democrática Alemã” em 1954. A maior parte daárea perdida pela Rússia depois da guerra e da revolução pós-1917 e um ou dois territóriosantes pertencentes ao império habsburgo também foram recuperados ou adquiridos pelaUnião Soviética entre 1939 e 1945.” (pág 364)

A URSS estava focada em um pós-guerra com interesses ainda bélicos: manter abastecido

seu exército, continuar modernizando seu arsenal, e criando complexos industriais e militares. Sob

uma economia de comando, com as atividades estatizadas, planejamento centralizado, ampliação de

agências de controle, uma forte ditadura política, descaso com os interesses individuais dos

cidadãos e falta de interesse nos problemas sociais tais como melhorias urbanas, salariais e de vida,

o ambiente lembra a década de 30, dos Planos Quinquenais31 (REIS FILHO et al, 2005, Op. Cit.)

31 A partir de 1928, a economia soviética, sob o comando de Stálin, viveu a socialização total, com a abolição da NEP(acrônimo de Novaya Ekonomiceskaya Politika, em português: Nova Política Econômica, política adotada por

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Planos estes que voltaram na década de 50, onde o foco era a produção de carvão, petróleo,

aço e energia elétrica que estavam batendo recordes, e acabaram negligenciando as safras agrícolas,

principalmente de grãos. Isso levou ao declínio do total da produção e estagnação do setor. Todo o

foco do desenvolvimento era se armar para a Guerra Fria.

O Governo jogava em duas posições. Uma era fazer campanhas positivas para promover a

produção e a produtividade, com prêmios e incentivos. Na outra face da moeda, o uso do terror e

medo para combater as mínimas suspeitas de inimigos do regime. Isso fez com que blocos inteiros

de refugiados e prisioneiros de guerra fossem removidos e realocados em campos de trabalhos

forçados, sob a suspeita de colaboracionismo com os capitalistas.

Como compensação, era feita uma cena em torno do líderes comunistas, principalmente de

Stalin. A defesa da Pátria, que estava sendo ameaçada pelos monstros do capital, era a coisa mais

importante e que exigia a maior preocupação não somente do exército vemelho, mas de todos os

civis soviéticos. Nesse clima, Josef Stalin era elevado a posição de deus, com o vemos em

Hobsbawn (2005):

“Ao transformar-se em algo semelhante a um czar secular, defensor da fé ortodoxa secular,cujo corpo do fundador, transformado em santo secular, esperava os peregrinos diante doKremlin, Stalin demonstrou um seguro senso de relações públicas. Para um grupo de povoscamponeses e pastores vivendo no equivalente ao século XI ocidental, essa era quasecertamente a maneira mais eficaz de estabelecer a legitimidade do novo regime, do mesmomodo como os catecismos simples, brutos e dogmáticos a que ele reduziu o“marxismoleninismo” eram ideais para apresentar idéias à primeira geração dealfabetizados. Tampouco pode o seu terror ser visto simplesmente como a afirmação dopoder pessoal de um tirano. Não há dúvida de que ele gostava do poder, do medo queinspirava, da capacidade de conceder vida ou morte, do mesmo modo como não há dúvidade que era inteiramente indiferente às recompensas materiais que alguém em sua posiçãopodia ter. Contudo, quaisquer que fossem seus caprichos pessoais, o terror de Stalin era, emteoria, uma tática tão racionalmente instrumental quanto sua cautela onde não tinhacontrole. (…) Sua aterrorizante carreira não faz sentido algum a não ser como uma buscaobstinada, ininterrupta daquela meta utópica de uma sociedade comunista a cujareafirmação ele dedicou a última de suas publicações, poucos meses antes de morrer (Stalin,1952).” (pág 380)

E essa posição defensiva-ofensiva estava surtindo efeito: sua influência estava chegando até

a Ásia, anulando o isolacionismo que havia desde a Revolução Russa em 1917. Com o avanço das

tropas até Berlim, foram anexados importantes territórios, tais como Letônia, Estônia e Lituânia

(conhecidos como Estados Bálticos), ainda uma parte da Polônia e outra da Romênia. Assim, foram

Lênin), e a instauração dos “planos quinquenais”. Elaborados pela Gosplan (nome coloquial da política de economiaplanejada da URSS que substituiu a NEP), órgão encarregado da planificação econômica, que objetivava modernizare industrializar a União Soviética. O primeiro plano (1928-1933) buscou o aumento da produção de maneira global,estimulando a industrialização, sobretudo da siderurgia e maquinaria. No meio rural foi instalada a coletivizaçãoagrícola, implantando-se as fazendas estatais e as cooperativas, processo que levou à morte milhões de camponeses.Com o segundo plano quinquenal, na década de 30, a indústria pesada ainda era prioridade e mostrava grandeprogresso. Teve início a implantação da indústria produtora de bens de consumo. O terceiro plano quinquenal,iniciado em 1938, visava desenvolver a indústria especializada, especialmente a química, mas não pode ser colocadoem execução graças a explosão da Segunda Guerra Mundial. Fonte: https://www.ebiografia.com/stalin/ [acesso em19/10/2017]

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recuperados territórios perdidos desde a queda do Império Czarista32, em 1917.

Com a Europa Central, em parte ocupada pelo exército soviético, o plano era de não cultivar

hostilidades. Abrangia Polônia, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental, República Democrática

Alemã, Hungria, Romênia, Albânia, Bulgária e Iugoslávia. No fim da guerra, foi feito um acordo

que esses países não poderiam ser inimigos da URSS. Porém, também não iriam aderir ao sistema

socialista.

Fonte: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/67/07/cc/6707cc19e1738a1cce3ac508265aaf15.png [acesso em:18/10/2017]

A ideia inicial era reconstruir o mundo amparado em governos de união nacional com ampla

participação, para então depois, se realizarem eleições e cada nação decidir pelo seu destino

sozinha. Porém, não resistiu à Guerra Fria.

Nesse ínterim, os países que compunham a Europa Central, que possuíam diferenças sociais,

religiosas, linguisticas e culturais entre si, acabaram por serem colocados no mesmo nível pelo

32 Czarismo foi um sistema político que imperou na Rússia desde 1547 até a revolução de 1917. Czar era o título quese dava ao Imperador Russo. Os czares da dinastia Romanov, que ficaram no poder desde 1613 até 1917,governavam de forma absoluta, na qual o czar se confundia com o Estado. Agiam politicamente em função dagrandeza imperial e da ampliação de seu poder como déspota. O primeiro czar Romanov foi Mikhail I e o último foiNicolau II, assassinado junto com sua esposa e filhos, na cidade de Ecaterimburgo, em julho de 1918, após aRevolução Russa de 1917. Fonte: https://www.significados.com.br/czarismo/ [acesso em 19/10/2017]

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Ilustração 11: As fronteiras do Socialismo em 1945

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socialismo da URSS. Revogados todos os governos individuais nacionais, foram forçados a entrar

no modelo engessado e autoritário comunista. Com métodos agressivos de persuasão, várias nações

foram unificadas e sufocadas pelo regime de “Democracias Populares”, que de democracia e

popular só tinham o nome33.

Então, com a morte de Stalin em 1953, os presos políticos que estavam nos campos de

trabalhos forçados tiveram esperanças. Porém, sua alegria não durou muito. As tentativas de motim

e fuga foram sumariamente combatidas e anuladas. Para os soviéticos livres, houve uma onda de

consternação nacional, que rapidamente passou assim que deu-se a sucessão de poder por Geórgiy

Malenkov (1902 – 1988), que esteve no governo entre 1953 a 1955. O país estava preparado, e

conseguiu lidar relativamente bem com a perda de seu grande líder. Em Hobsbawm (2005), lemos:

“Após a morte de Stalin, um entendimento tácito entre seus sucessores decidiu pôrfim à era de sangue, embora (até a era Gorbachev34) coubesse aos dissidentes no interior eaos estudiosos no exterior avaliar o custo humano total das décadas de Stalin. Daí em dianteos políticos soviéticos morriam em suas camas, e às vezes em idade avançada. Embora osgulags35 se esvaziassem em fins da década de 1950, a URSS continuou sendo umasociedade que tratava mal seus cidadãos, pelos padrões ocidentais, mas deixou de ser umasociedade que os prendia e matava em escala maciça única. (...) Além disso, nas décadas de1960 e 1970 a URSS se tornou de fato uma sociedade em que o cidadão comumprovavelmente corria menor risco de ser deliberadamente morto por crime, conflito civil oupelo Estado do que em um número substancial de outros países na Ásia, África e Américas.Apesar disso, continuava sendo um Estado policial, uma sociedade autoritária e, porquaisquer padrões realistas, sem liberdade. Só a informação oficialmente autorizada oupermitida chegava ao cidadão — qualquer outro tipo continuou sendo pelo menostecnicamente punível por lei até a política da glasnost36 (abertura) de Gorbachev — e aliberdade de viajar e fixar-se dependia de permissão oficial, uma restrição cada vez maisnominal dentro da URSS, mas bastante real quando se tinha de cruzar fronteiras mesmopara outro país “socialista” amigo. Em todos esses aspectos, a URSS continuou sendonitidamente inferior à Rússia czarista. Além disso, embora para a maioria dos finscotidianos o governo da lei funcionasse, os poderes de prisão ou exílio internoadministrativos, isto é, arbitrários, continuaram.” (pág 382)

33 As monocracias populares, também vulgarmente chamadas democracias populares, Burdeau denomina"democracias governantes de poder fechado", porque, teoricamente, nelas o povo, por meio de um partido único,governa quase diretamente. Por isso, toda a oposição é uma traição aos interesses do povo e uma tentativareacionária de contrariar sua vontade soberana. Fonte: AZAMBUJA, Darcy: Teoria Geral do Estado. São Paulo,Globo, 2008. Pág 274 a 276

34 Secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética de 1985 a 1991 e Presidente da naçãoentre 1990-1991, Mikhail Sergeyevich Gorbatchev fez as reformas que conduziram ao final da Guerra Fria eauxiliaram o processo que culminou com a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ainda em1991. Fonte: https://educacao.uol.com.br/biografias/mikhail-gorbatchev.htm acesso em 18/10/2017]

35 O termo "gulag" é um acrônimo para a instituição burocrática soviética, Glavnoe Upravlenie ispravitel'no-trudovykhLAGerei (Administração Principal de Campos de Trabalho Corretivos), que operava o sistema soviético de camposde trabalho forçado na era de Stalin. Desde a publicação do “The Gulag Archipelago de Aleksandr Solzhenitsyn” em1973, o termo passou a representar todo o sistema penal soviético do trabalho forçado. Os campos de concentraçãoforam criados na União Soviética logo após a revolução de 1917, mas o sistema cresceu em proporções tremendasao longo da campanha de Stalin para transformar a União Soviética em uma potência industrial moderna ecoletivizar a agricultura no início dos anos 1930. Fonte: http://gulaghistory.org/nps/onlineexhibit/stalin/ [acesso em18/10/2017]

36 A Glasnost (transparência, em russo) e a Perestroika (reestruturação, em russo) foram medidas políticas eeconômicas adotadas na ex-União Soviética, em meados da década de 1980, durante o governo de MikhailGorbachev. Tinham como principais objetivos modernizar e abrir a economia soviética, além de garantir maiorabertura política. Estas medidas foram as principais responsáveis pelo fim da União Soviética e do seu sistemapolítico econômico (socialismo), que vigorava desde a Revolução Russa de 1917. Foram também de fundamentalimportância para o fim da Guerra Fria. Fonte: https://www.suapesquisa.com/historia/glasnost_perestroika.htm[acesso em 18/10/2017]

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Os rumos para com seus inimigos iriam tomar direções mais pacíficas, visando a

conciliação. Apesar de não abrir mão de jeito algum do socialismo, a URSS entendia que não era

necessário todo aquele cartesianismo em torno da sua ideologia. O Regime se mostraria superior

por si só, acabando por conquistar os demais países, que iriam rejeitar o capitalismo por vontade

própria. Assim, conseguiriam neutralizar pacifica e facilmente os adeptos do capital que ainda

restavam, sem derramar sangue e sem uma hecatombe nuclear. Assim, o monolito socialista dá lugar

ao policentrismo.

Com isso, vieram várias mudanças internas. Por exemplo, a reafirmação do Partido

Comunista, que havia sido quase que completamente encoberto pela figura de lider de Stalin e a sua

condição de “deus”. Também foi reforçado o caráter coletivo do sistema, e a eliminação de sistemas

independentes dentro do próprio sistema. Ao mesmo tempo, a repressão diminuiu. Foram anistiados

presos políticos, a censura dos meios de comunicação regrediu, a revitalização da opinião coletiva e

da crítica.

Na economia, eram novas as pautas: preocupação com moradias populares, transporte, saúde

e educação. Enfim, era o momento de prestar atenção às demandas do povo, elevando sua condição

de vida e trabalho. Reajustes de preços, políticas de incentivos, desenvolvimento da indústria

química para adubos e pesticidas, e ainda, uma ação de expansão de áreas agricultáveis sobre terras

virgens, foram as medidas tomadas para melhorar o abastecimento da população, quase igualando-o

com os índices dos países capitalistas. Todas essas medidas foram aprovadas por Nikita Kruchev,

em 1956.

E foi Nikita Krushev que leu, durante o XX Congresso do Partido Comunista em fevereiro

de 1956, um informe que demonizava Stalin e seus atos, dizendo que a atual condição próspera da

URSS não era graças à genialidade de seu falecido líder, mas sim, às custas da sua maldade e

ganância. Essa revelação rendeu a Kruchev admiração pela coragem em expor o tão amado líder,

mas também, estremeceu a confiança no regime socialista (REIS FILHO et al, 2005, pág 22).

Com todas essas mudanças e revelações, a situação na URSS se bipolarizou. Enquanto

alguns cidadãos tinham insegurança e dúvidas quanto a futuro, outros sentiam euforia para com o

que viria pela frente. Pareceia que finalmente a liberdade individual havia voltado. Além disso, os

avanços na corrida espacial soviética empolgavam a todos, junto com os avanços tecnológicos e a

liderança perante os EUA na conquista do cosmo. Isso se materializou com o lançamento do

primeiro satélite, o Sputnik, o primeiro homem no espaço e a primeira sonda na Lua. Perante todas

essas conquistas, um Nikita simpático e amável conquistava a todos, contrastando com a tradicional

postura sisuda dos líderes anteriores.

Mas o futuro não estava sendo tão promissor assim. As promessas de melhoria na produção

48

Page 49: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

agrícola não se concretizavam. Os avanços sobre as terras virgens não dava resultados positivos,

pelo contrário, gerava prejuízos e desperdícios. Em 1963, houve a necessidade de importação de

enormes quantidades de grãos de países capitalistas para evitar a fome na URSS (REIS FILHO et

al, 2005, pág 23). Até mesmo em outros setores, como a habitação, os resultados não eram

satifatórios. O PNB (Produto Nacional Bruto) da União Soviética, que vinha crescendo 5,7% ao ano

na década de 1950 (equivalente aos doze primeiros anos de industrialização em 1928-40) caiu para

5,2 % na década de 1960 e 3,7% nos primeiros anos da década de 1970 (HOBSBAWN, 2005, pág

389).

Enquanto isso, problemas políticos começavam a surgir. Os que antigamente eram

privilegiados pelo sistema mais fechado estavam descontentes. Começaram a aparecer focos de

resistência à democracia, requerendo o fim do voto secreto e a regulação do número de reeleições

para cargos. Ao mesmo tempo, Nikita tomava ares de grande líder. Decisões arbitrárias e sem

consulta acabaram por acender as luzes de atenção das elites dirigentes.

Internacionalmente, o regime também não ia bem. A distensão para com os EUA não era

bem vista, culminando com a Crise dos Mísseis que quase iniciara uma Guerra Nuclear. A decisão

de retirada dos mísseis alocados em solo cubano foi vista como fraqueza e humilhação. O

imponente Monolito estava tendo grandes fissuras. Na Itália, Palmiro Togliatti (1893 - 1964) deu

um rumo próprio para o socialismo no seu país. Em Hobsbawm (2005):

“(...) logo se espalhou a notícia de que o monolito soviético rachara. Os efeitos dentro daregião da Europa dominada pelos soviéticos foi imediato. (...) O fato de essa grande crisedentro do bloco soviético não ter sido/explorada pela aliança ocidental (a não ser para finsde propaganda) demonstrou a estabilidade das relações Oriente-Ocidente. Os dois ladosaceitavam tacitamente as zonas de influência um do outro, e durante as décadas de 1950 e1960 nenhuma mudança revolucionária local surgiu no globo para perturbar esse equilíbrio,com exceção de Cuba.” (pág 387)

Na Europa Central, se instauraram vários levantes rebeldes, sob o aparente controle. Um

pouco antes da morte de Stalin, em 1953, uma rebelião popular em Berlim Oriental teve que ser

combatida com violência. Na Polônia em 1956, outra insurgência popular, controlada através de

leves concessões e expurgos dentro do partido. Porém, foi na Hungria que a revolta ao sistema

tomou força: em Budapeste, uma revolução popular requeria a neutralidade do país, a retirada do

exército soviético, a eleição de um governo interno e independente. A resposta soviética veio forte:

tanques invadiram a cidade e calaram os insurgentes derramando sangue e abafando toda e qualquer

manifestação, e exilando várias pessoas. Assim, a URSS mostrava os limites do policentrismo

socialista.

Em 1964, Nikita Krushev foi derrubado do poder. Sob a alegação dos erros cometidos em

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Page 50: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

seu governo, como por exemplo acumular poder e desviar o foco do coletivismo, caindo nos

mesmos pecados que Stalin sobre o culto à personificação, foi substituído por Leonid Brejnev (1906

– 1982) que assumiu a direção do partido e Alexei Kossiguin (1904 - 1980), a chefia do governo.

O governo de Nikita Krushev teve pontos positivos e negativos. O afrouxamento da

repressão, o fim do mito de Stalin, do terror militar para com os civis foram grandes oportunidades

de reformar o socialismo. Porém, o culto à própria personalidade, acabaram por culminar em uma

aposentadoria vigiada, pelo regime que ele mesmo ajudara a criar (REIS FILHO et al, 2005, pág

25).

50

Page 51: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

5. As duas décadas que criaram nosso mundo de hoje

O resultado de todas as ações planejadas e proferidas pelos grandes líderes e potências

mundiais finalmente começou a tomar forma. As previsões e perspectivas se moldaram à realidade,

onde começaram não somente a reestruturar os países devastados, mas também, a entrar nas casas e

rotinas dos cidadãos. Novas perspectivas econômicas, sociais, de consumo e culturais redesenharam

as sociedades ocidentais, mudando completamente sua estrutura.

Após o fim da guerra, com as estruturas sociais destruídas, um novo mundo de novidades,

avanços e prosperidade se abriu para os que haviam conseguido sobreviver a todo holocausto

recém vivido. E nesse ritmo de prosperidade, vieram não somente novidades na tecnologia,

medicina, automobilismo e ciência. Vieram também mudanças de comportamento e visão social,

que influenciariam não somente os comtemporâneos da época, mas o nosso mundo de hoje.

51

Page 52: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

5. 1. América do Norte e Europa: A chamada Era Dourada do capitalismo

“A maioria dos seres humanos atua como os historiadores: só em retrospectoreconhece a natureza de sua experiência. Durante os anos 50, sobretudo nos países"desenvolvidos" cada vez mais prósperos, muita gente sabia que os tempos tinham de fatomelhorado, especialmente se suas lembranças alcançavam os anos anteriores à SegundaGuerra Mundial. Um primeiro-ministro conservador britânico disputou e venceu umaeleição geral em 1959 com o slogan "Você nunca esteve tão bem", uma afirmação semdúvida correta. Contudo, só depois que passou o grande boom, nos perturbados anos 70, àespera dos traumáticos 80, os observadores — sobretudo, para início de conversa, oseconomistas — começaram a perceber que o mundo, em particular o mundo do capiItalismodesenvolvido, passara por uma fase excepcional de sua história; talvez uma fase única.Buscaram nomes para descrevê-la: "os trinta anos gloriosos", a Era de Ouro de um quartode século dos iglo-americanos (Margiin & Schor, 1990). O dourado fulgiu com mais bri-contra o pano de fundo baço e escuro das posteriores Décadas de Crise.” (HOBSBAWN,2005, pág 253)

Apesar da semente da Guerra Fria estar germinando, o risco de uma nova guerra mundial era

distante. Embora as duas grandes potências e “donos do mundo” terem uma animosidade político-

militar, houve a aceitação de ambas as partes da distribuição territorial pós-guerra. A URSS

controlava uma parte da Europa ocidental, incluindo metade da Alemanha e uma parte da Polônia,

mais o leste Europeu, e os EUA controlavam o mundo capitalista, o hemisfério norte e os oceanos,

assumindo as ruínas da antiga hegemonia dos impérios e potências europeus. E nesse acordo, um

não intervia militarmente nos territórios do outro. As linhas de demarcação das novas fronteiras

foram acertadas em 1943/1945, de acordo com as linhas de ocupação soviéticas e aliadas. Essa

estabilidade entre as duas grandes potências duraria por mais de duas décadas, fazendo um esforço

para não criarem um conflito militar para conquista e reconquista de territórios.

Mas ao fim da guerra, os EUA se constituíam como uma potência militar, monetária e

industrial. Em 1945, sua produção dobrou em relação à década anterior. Ainda eram produtores de

metade do carvão mundial, 2/3 do petróleo e mais de 50% da eletricidade. A produção de aço chega

a 95 milhões de toneladas, um milhão de toneladas de alumínio, e 1,2 milhões de borracha sintética.

Tem uma enorme indústria naval, aeronáutica e de veículos terrestres. Armamento de ponta,

maquinário de produção e indústria química também eram os pontos fortes americanos. Ainda

possuíam 80% do lastro mundial de ouro, um exército gigante e a bomba atômica (BEAUD, 2004,

pág 302). Apesar de toda essa explosão de desenvolvimento americano, Hobsbawn (2005) diz:

“(...) Para os EUA, que dominaram a economia do mundo após a Segunda GuerraMundial, ela não foi tão revolucionária assim. Simplesmente continuaram a expansão dosanos de guerra, que como vimos, foram singularmente bondosos com aquele país. Nãosofreram danos, aumentaram seu PNB em dois terços, e acabaram a guerra com quase doisterços da produção industrial do mundo. Além disso, considerando o tamanho e o avanço daeconomia americana, seu desempenho de fato durante os Anos Dourados não foi tão

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Page 53: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

impressionante quanto a taxa de crescimento de outros países, que partiram de uma basebem menor. Entre 1950 e 1973, os EUA cresceram mais devagar que qualquer outro país,com exceção da Grã Bretanha, e, o que é mais a propósito, seu crescimento não foi maiorque nos mais dinâmicos períodos anteriores de seu desenvolvimento. Em todos os demaispaíses industriais, incluindo até a lerda Grã Bretanha, a Era de Ouro bateu todos os seusrecordes anteriores. Na verdade, para os EUA essa foi, econômica e tecnologicamente, umaépoca de mais relativo retardo que avanço (…).” (pág 254)

Em 1943, já era discutido em sistema de créditos internacionais que equilibrasse e expandisse

os meios de trocas e pagamentos internacionais. Foi atribuída à falta dessa estrutura a grande crise

entre a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Com a definição do Câmbio Fixo (Gold Exchange

Standard) em Bretton Woods, o dólar seria durante pelo menos os próximos 15 anos a principal

referência de moeda internacional e desse tipo de financiamento.

Com o esforço de Stalin para a industrialização da URSS, o país também experimentou um

grande crescimento industrial e econômico. Apesar de ter perdido aproximadamente 10% da

população (cerca de 20 milhões de pessoas), em 1950 já produzia 71% a mais do que em 1940,

sendo 60% para máquinas e equipamentos, e 80% na indústria química. O carvão alcançava a

produção de 250 milhões de toneladas, e 25 milhões em aço (BEAUD, 2004, pág 303) . Com um

exército muito bem armado, em 1949 foi realizado o primeiro teste com a bomba atômica soviética.

Tem presença militar na Europa Central, com o temor que sua influência se estendesse à Turquia ou

a outros países europeus com tendências comunistas, tais como Grécia, Itália e França. Nessa

enorme tensão em escala global, cada um dos protagonistas busca expandir seu poder, sempre

testando os limites, porém, em um tensionamento frio, como o nome da guerra que então se

desenhava.

No oeste da Europa, há tentativas de combater o comunismo dos países onde ele se

desenhava. No leste, os comunistas dominam as nações as quais estão sob seu poder. Na Grécia,

uma guerra civil acaba com os guerrilheiros insurgentes. Polônia, Tchecoslováquia e na Hungria são

nomeados chefes de Estado alguns dos generais soviéticos. Enquanto os EUA constituíam alianças

nas Américas (1947), no Atlântico Norte (1949) e no sudeste da Ásia (1945), a União Soviética no

fim dos anos 40 se colocou entre as nações mais populares da Europa.

Nesse embate binário entre moeda, economia e defesa, duas realidades distintas se

confrontam: de um lado o capitalismo percebe que não mais alcança qualquer lugar do planeta, que

a sua busca por matérias-primas não é tão vasta e que não atinge todos os mercados. Na outra face

da moeda, o Estado que se apropria dos meios de produção, acumulando e industrializando sob o

comando e planejamento do governo, e forte coação do aparelho Estatal.

Mas foi nessas duas décadas que houve um desenvolvimento nunca visto dos países

capitalistas. Em um crescimento simultâneo, o ocidente experimentava um avanço jamais esperado

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Page 54: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

de produção industrial e comércio internacional. Por maior que tenha sido a destuição oriunda da

guerra, o esforço coletivo dos trabalhadores na produção, organização dos métodos de trabalho e

progresso na produtividade, que entre 1938-1948 é superior à de 1900-1913. Com essa estrutura

econômica posta, foi que o desenvolvimento aumentou absurdamente na década seguinte. “O

mundo capitalista tornou-se gerador de três quintos da produção industrial e dois terços do comércio

internacional. Os EUA lideram os índices: um terço da produção mundial é sua. Porém, o sistema

de acumulação no lado soviético também evolui” (BEAUD, 1994, pag 311).

Esse crescimento capitalista é sem precedentes na história. Nem todos os países seguiram no

mesmo ritmo. Enquanto a Grã Bretanha subia de forma mais lenta, nos EUA ele dispara, e é

considerável, na França e Alemanha. Porém, esse crescimento não se baseia especificamente nas

taxas de emprego, e sim, na otimização dos métodos e ferramentas de trabalho, bem como nas

jornadas trabalhadas. A produção agrícola também aumentou, porém em uma taxa menor. E ao

contrário de antigamente, que essa expansão se dava por aumento das terras cultiváveis, dessa vez

se deu pela otimização e mecanização da agricultura, elevando a sua produtividade. A produção de

grãos por hectare praticamente duplicou entre 1950-1980, sendo que mais que duplicaram na

Amperica do Norte, ocidente da Europa e Leste da Ásia. A pesca também teve aumentos

significativos, triplicando suas capturas (BEAUD, 1994, pag 314) .

Foram várias categorias trabalhistas pressionadas a produzir mais e melhor. Os agricultores

foram coagidos aumentar as safras para darem conta das suas despesas para com a aquisição de

produtos industriais. O mesmo se deu com artesões e pequenos comerciantes, que sofreram pressão

para que a sua produção aumentasse e alcançasse os padrões impostos e esperados.

Quando a automatização da produção não era possível, eram solicitados trabalhadores por

tarefa, trabalho em domicílio e similar ao escravo. Dessa forma eram admitidos mulheres e

imigrantes recentes e/ou ilegais para alavancar a produção. Ao mesmo tempo, as empresas, para

manterem as suas reputações, exigiam baixos preços de custo, o que era revertido em exigência do

aumento da produtividade e das jornadas de trabalho.

O aumento da mais-valia relativa também é presente, com a criação de novas máquinas mais

rápidas, mais eficientes e com mais capacidade muda radicalmente o trabalho, diminuindo a estafa

física, porém, aumentando a monotonia e a responsabilidade do trabalhador durante as jornadas de

trabalho diárias (BEAUD, 1994, pag 315). Essa automação trouxe claramente o sistema fordista37 e

37 Fordismo é o conjunto de métodos de racionalização da produção elaborado pelo industrial norte-americano HenryFord, baseado no princípio de que uma empresa deve dedicar-se apenas a produzir um tipo de produto. Para isso, aempresa deveria adotar a verticalização, chegando a dominar não apenas as fontes das matérias- primas, mas até ostransportes de seus produtos. Para reduzir os custos, a produção deveria ser em massa, e dotada de tecnologia capazde desenvolver ao máximo a produtividade de cada trabalhador. O trabalho deveria ser também altamenteespecializado, cada operário realizando apenas um tipo de tarefa. E para garantir elevada produtividade, ostrabalhadores deveriam ser bem remunerados e as jornadas de trabalho não deveriam ser muito longas. Fonte:SANDRONI, Paulo: Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo, Best Seller, 1999, pág 250

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Page 55: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

taylorista38, de linhas de produção em massa. Ao mesmo tempo, se instala o sistema de trabalho por

turnos, que permite que a produção seja constante durante praticamente 24 horas por dia. E o

crescimento do trabalho não se deu somente no chão de fábrica. Os escritórios, filiais, bancos,

seguradoras, correios e outros também tiveram uma explosão de demanda.

Então, conclui-se que foi através da exploração da mão de obra e coação ao trabalho,

conjuntamente com a acumulação de capital, que permitiu esse crescimento nos anos 1950-60. Seja

por extensão das horas de trabalho, seja por otimização da linha de produção, ou ainda, por pressão

velada ao oferecer salários maiores para quem trabalhava mais, havia muitas combinações possíveis

e fatores que impulsionaram o “boom” naquela década.

Por duas décadas, esse sistema foi admitido na Europa. A massa trabalhadora havia passado

por uma ou duas guerras, e a expectativa de aumento de ganhos e de poder de consumo os

impulsionava. Porém, não eram raros casos de estafa mental e física dos trabalhadores. Jornadas de

oito horas diárias, com muitas repetições por hora, em um espaço pequeno e com máquinas

barulhentas, transformavam em um inferno o dia a dia do trabalhador. Porém as dividas geradas

para com a aquisição dos produtos disponíveis e acessíveis os tornavam presos ao sistema de

produção. Os salários na Alemanha ocidental subiam em uma taxa de 6% ao ano. Na França, os

ganhos mensais aumentavam em média 4% anualmente (BEAUD, 2004, pág 318). Com isso, eleva-

se o consumo e permite-se o acesso à população a mais bens duráveis, criando uma “sociedade de

consumo”.

Esse crescimento se reflete na construção civil e na urbanização das cidades. Conjuntamente,

há uma demanda por estradas e ferrovias. A facilitação de aquisição do automóvel e o direito à

férias anuais gerou uma necessidade de uma malha rodoviária maior (Quadro 3). Houve ampliação

nas despesas com saúde, expansão do acesso ao crédito que por conseguinte, se refletiu na aquisição

da moradia própria e com melhor estrutura, na aquisição do automóvel e no aumento geral do custo

de vida. O acesso a bens importados de outros países também cresceu exponencialmente, pois o

livre-mercado e comércio permitiam importações e exportações em números gigantescos entre os

países capitalistas.

38 Taylorismo é conjunto das teorias para aumento da produtividade do trabalho fabril, elaboradas pelo engenheironorte-americano Frederick Winslow Taylor. Abrange um sistema de normas voltadas para o controle dosmovimentos do homem e da máquina no processo de produção, incluindo propostas de pagamento pelo desempenhodo operário (prêmios e remuneração extras conforme o número de peças produzidas). O sistema foi muito aplicadonas medidas de racionalização e controle do trabalho fabril, mas também criticado pelo movimento sindical, que oacusou de intensificar a exploração do trabalhador e de desumanizá-lo, pois procura automatizar seus movimentos.Fonte: SANDRONI, Paulo: Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo, Best Seller, 1999, pág 592

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Page 56: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

Quadro 3: Número de automóveis em circulação nos principais países capitalistas, em milhões

Ano Estados Unidos Grã - Bretanha França AlemanhaOcidental

1947

1957

30,7

55,7

1,9

4,2

1,5

4,0

0,2

2,4

Fonte: BEAUD, Michel: História do Capitalismo: de 1500 até nossos dias. São Paulo, Brasiliense, 2004. Pág 319

Mas um subproduto de todo esse desenvolvimento estava se tornando uma grave ameaça ao

planeta: a poluição e deterioração ecológica. Passou despercebida durante a “Era de Ouro”, exceto

por alguns entusiastas da ecologia. Para todo o resto, o “domínio da natureza” significava avanço

para a humanidade. Especialmente nas nações socialistas, que ainda usavam em sua planta

industrial tecnologias arcaicas baseadas em carvão e fumaça, esse período foi crítico. Mas no

ocidente não era diferente, pois o lema dos grandes industriais era: “onde tem lama, tem grana”

(HOBSBAWN, 2005, pág 257), ou seja, poluição significava dinheiro. Um dos setores que se

aproveitou desse pensamento foi o de construtoras de estradas e incorporadores imobiliários. A

necessidade de abrir e ampliar rodovias para escoamento da produção fez com que sua demanda de

trabalho subisse radicalmente.

Um outro setor que se beneficiou do “boom”, foi o imobiliário. Baseado na especulação,

trabalhavam da seguinte forma: esperavam o valor de um terreno subir estratosfericamente, assim,

tendo acesso a empréstimos sob garantia de futura construção, e mais empréstimos ainda quando o

valor continuasse a subir, tendo sido construída ou não. Dessa forma, o especulador enriquecia

praticamente sem investimento e custo algum. Essa atividade rendeu a extinção de centenas de

prédios históricos, tais como catedrais medievais européias. Da mesma forma, as redondezas dos

centros urbanos foram cercadas por prédios e conjuntos habitacionais de preço mais baixo,

comprometendo gravemente a urbanização e planejamento urbano futuros (HOBSBAWN, 2005,

Op. Cit).

A tecnologia desenvolvida anos antes para a guerra, estava chegando para a população civil na

forma de modernidade (Quadro 4). Radares, motores a jato e outras ideias de engenharia que

inspiraram cientistas a criarem o transistor (1947), seguido de televisores, discos de vinil, fitas

cassete e compact discs, rádios portáteis, relógios digitais, calculadoras de bolso, eletrodomésticos,

equipamentos de fotografia e filmagem, e praticamante a base de toda a tecnologia digital que

temos hoje, tal como computadores, internet, smartphones, aparelhos cirúrgicos de última geração e

todos os aparelhos eletrônicos modernos (HOBSBAWN, 2005, pág 260 e 261).

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Quadro 4: Difusão dos bens duráveis nas famílias de operários e de empregados na França, em

porcentagem das famílias que possuem os bens

Operários Empregados

1954 1965 1975 1954 1965 1975

Automóvel

Televisão

Refrigerador

Lavadora

8,0

0,8

3,3

8,5

47,0

45,9

56,4

44,0

73,6

86,8

91,3

77,1

18,0

1,3

9,9

6,7

53,3

46,6

67,6

43,2

71,4

84,9

92,0

75,0Fonte: BEAUD, Michel: História do Capitalismo: de 1500 até nossos dias. São Paulo, Brasiliense, 2004. Pág 319

Para todos esses avanços, outro campo que se expandiu de forma exponencial foi a pesquisa e

desenvolvimento. Um país considerado desenvolvido deveria ter mais de mil cientistas e

engenheiros para cada milhão de habitantes. Além disso, os custos com desenvolvimento e

aperfeiçoamento de produtos passou a ter valor significativo nos custos de produção. Assim, sempre

com a oferta de novos produtos, sejam inéditos ou melhorados, rapidamente os antigos tornavam-se

obsoletos e eram descartados. E assim, o que antigamente era considerado item de luxo, agora fazia

parte do dia-a-dia do cidadão trabalhador (HOBSBAWN, 2005, pág 264).

Todo esse trabalho necessitava de mão-de-obra. E quem ocupou essas vagas, foram os

imigrantes e refugiados. Desde migração interna, campo-cidade, das regiões mais pobres para as

mais ricas, milhares de pessoas promoveram um êxodo na Europa. Por exemplo, 400 mil

camponeses toscanos deixaram suas terras em 20 anos. No leste Europeu, imigrantes internacionais

que chegaram ao país como refugiados de guerra e expulsos de seus antigos territórios, ocuparam a

demanda de vagas do crescente desenvolvimento industrial (HOBSBAWN, 2005, pág 271) (Quadro

5).

Quadro 5: Número de Operários estimado na Europa Ocidental, em milhões de pessoas

Países Década de 1950 Década de 1960

Europa (sem a URSS) 54,2 69,5

América do Norte 23,1 24,2

URSS 30,6 32

Total 150 187Fonte: BEAUD, Michel: História do Capitalismo: de 1500 até nossos dias. São Paulo, Brasiliense, 2004. Pág 363

Com toda essa expansão industrial, obviamente as fronteiras dos países começaram a ficar

57

Page 58: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

apertadas para tamanha oferta de produtos. Em 1950, os países industrializados já tinham vendido

entre si três quintos de toda a sua produção, e na década de 70, três quartos (HOBSBAWN, 2005,

Op. Cit.). A economia tornara-se mais internacional, e menos transnacional.

58

Page 59: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

5. 2. Um mundo novo? De 1943 até 1968

Sem dúvida alguma, as consequências trazidas pela Segunda Guerra Mundial foram inéditas

para o mundo. O fato de ter envolvido todas as áreas sociais, naturais e de produção, deixou marcas

permanentes em quem conseguiu sobreviver. Enormes migrações humanas, desde refugiados até

prisioneiros de guerra, alterou drasticamente a conformação social européia. Com isso, vieram

choques culturais, racismo e segregação. Os primeiros impactos foram uma queda nos nascimentos,

seguidos de desabastecimento de mão de obra e subprodução, e como consequência, inflação.

A guerra fez também que os seus países participantes se endividassem. A necessidade de

repor e manter sua capacidade bélica, fez com que várias nações apelassem a empréstimos

internacionais, que ao fim da guerra, não poderiam ser pagos. A quebra do status de potência

colonial, aliada à novas ideologias de liberdade e democracia, e a inserção dos EUA nas economias

internas, fez com que os até então “grandes impérios” entrassem em decadência.

Ficou também o trauma humano às barbáries cometidas. Os assassinatos em massa de

diferentes etnias, as crianças órfãs, as cidades destruídas eram uma visão da brutalidade a qual os

seres humanos eram capazes. E então, como punir e remediar tais condições tão delicadas nas vidas

de quem conseguiu ao menos sobreviver ao holocausto generalizado que foi a guerra?

Os EUA pensavam no pós-guerra de uma forma mais racional para com a realidade

econômica: era necessário reordenar os mercados internacionais, para que a transição entre a guerra

e a paz não trouxesse consigo a quebra geral dos países destruídos. Além disso, deveria se adequar a

alta produtividade americana durante os anos 1939-1945 para os mercados falidos europeus. Evitar

a falência generalizada era uma necessidade dos EUA.

Desta forma, os EUA enviaram cotas de alimentos a fundo perdido para os europeus assim

que acabaram os conflitos. Era uma vantagem dupla: mantinham o preço de mercado para seus

produtores internos, e ainda conseguiam melhorar a sua imagem externa. Mas o auxílio aos

miseráveis tinha um preço. As nações européias deveriam seguir a cartilha americana sobre

flexibilização dos seus mercados e da política econômica de acumulação (REIS FILHO et al, 2005,

pág 231).

Assim, com o fim do padrão ouro, o estabelecimento do dólar como moeda internacional, foi

um caminho fácil para os EUA acumularem mais riqueza oriunda da desgraça. Durante a guerra,

venderam suprimentos e mercadorias por ouro altamente inflacionado, conseguindo no final do ano

de 1945 ter 80% da reserva mundial desse metal (REIS FILHO et al, 2005, pág 232). Assim, o

endividamento europeu para com os EUA superou todas as expectativas. Quando o ouro dessas

nações acabou, e por consequência, a forma de obter dólares para a reconstrução também,

59

Page 60: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

começaram os empréstimos americanos diretamente em moeda, a juros baixos. Um dos motivos, foi

a tentativa de suprimir a força esquerdista na Europa, que já tomava forma na França, Itália e

Grécia. Conjuntamente, se abriam todos os mercados internacionais, que permitiria um livre fluxo

de matérias-primas e mercadorias entre os continentes. Assim, os EUA teriam para onde escoar sua

produção, e poderia adquirir livremente produtos os quais não estavam disponíveis em seu país.

Apesar da tentativa americana de penetrar na Europa Ocidental, não obtiveram sucesso. Não

agradou aos comunistas as exigências impostas para o recebimento de recursos, os quais se

negavam a deixar sua economia nas mãos dos EUA, ameaçando a soberania nacional.

Assim, com a receptividade dos países europeus para com as exigências americanas, os EUA

conseguiram manter nos anos subsequentes à guerra os mesmos indices de produção que tiveram

durante os conflitos. E a Europa, apesar de conseguir se reerguer relativamente rápido, ao mesmo

tempo, perdeu sua hegemonia global para os EUA.

Mas esse “boom” não foi devido somente à enorme injeção de dinheiro. A reorganização do

trabalho, a adesão à metodos de produção focados em eficiência, como o fordismo, até então

exclusivamente americano, que dispunha os trabalhadores ao longo da linha de montagem,

garantindo uma produção contínua e sem desperdícios de tempo e energia. Assim a produtividade

cresceu exponencialmente. Conjuntamente a isso, havia a visão de que se o trabalhador fosse bem

remunerado, ele se tornaria também um consumidor, aumentando as demandas de mercado, e assim,

gerando ainda mais produção. Com isso, havia o alívio da pressão social, e dava a impressão de

melhoria material real e das condições econômicas do trabalhadores, ainda permitindo que as

economias internas se auto-sustentassem. Essa metodologia keynesiana já havia sido planejada em

1936, baseada no Estado como regulador da economia e relações sociais, permitindo que haja um

estímulo da demanda e aumento da produção, renda e emprego, tendo por objetivo um capitalismo

eficiente (REIS FILHO et al, 2005, pág 236).

Com o aumento da qualidade de vida, a consequência foi o “baby boom”39, estimulado pelo

próprio governo (tendência que iria cair na década de 60 por alguns fatores, tais como medo de

superpopulação, métodos contraceptivos, aborto e nova visão de bem-estar). Devido à guerra, o

tamanho da família encolheu, e após ela, com todas as novas possibilidades de consumo e salários,

houve um aumento significativo dos nascimentos na Europa.

No setor agrícola, houve uma nova revolução. Com os novos implementos para o campo, a

39 Expressão de origem inglesa que pode ser traduzida como explosão de nascimento. Após a Segunda GuerraMundial, foi usado para definir a situação demográfica da época, um período (entre 1946 e 1964) caracterizado porum aumento notável na taxa de natalidade. Os membros dessa geração são conhecidos como baby boomers. Nãodeve ser confundido com o conceito de explosão populacional, que se refere a uma fase da transição demográficacaracterizada por uma diminuição da mortalidade. O conceito de crescimento do nascimento geralmente se aplica deforma genérica à situação que ocorre historicamente após um período de guerra prolongado que mobiliza os jovensdo sexo masculino nas frentes de batalha, separando-o de seus parceiros que estão na parte traseira. Fonte:http://vocabulariogeografico.blogspot.com.br/2012/02/baby-boom.html [acesso em 18/10/2017]

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produção das pequenas e grandes propriedades alavancou. Ainda houve avanço nas tecnologias de

genética e química, que espantaram o fantasma da fome em solo europeu, bem como a sua

dependência de mercados externos.

E os avanços oriundos da guerra foram enormes. A tecnologia deu um salto em todas as

áreas. Desde as matérias-primas, energia, equipamentos até sistemas de montagem. Porém, os

avanços latentes e constantes provocavam uma obsolescência rápida em quase tudo também. Com a

modernização das plantas industriais, com os avanços da automação e robótica, diminuiu as

necessidades por mão de obra humana. Ao mesmo tempo, a tecnologia nuclear dava saltos

gigantescos, não somente em relação às bombas atômicas, mas também, na geração de energia

através de usinas nucleares. A corrida espacial ia bem. Nos setores voltados à área médica, a

biologia e a química alavancavam a indústria farmacêutica, bem como os medicamentos sintéticos,

os transplantes de órgãos, as transfusões de sangue e vários outros avanços diretos (REIS FILHO et

al, 2005, pág 238).

Porém, toda essa evolução concentrada aumentou a demanda das matrizes energéticas,

gerando a necessidade de desenvolvimento de novas opções de produção de energia. Carvão, gás,

petróleo, eletricidade e energia hidráulica eram essenciais para manter a vida na “sociedade

moderna” e abastecer os automóveis e eletrodomésticos, os quais praticamente todo europeu e

americano tinha em casa (REIS FILHO et al, 2005, Op. Cit).

Essa reestruturação toda trouxe grandes mudanças sociais em vários setores. No campo, por

exemplo, o campesinato entrou em extinção devido ao estímulo à urbanização da sociedade. Ao

mesmo tempo, com a evolução das tecnologias agrárias na área de maquinário, na biotecnologia e

na criação seletiva, houve o fechamento de muitas vagas na agricultura. Com esse êxodo rural,

aumentou a poluição nas cidades, falta de infrestrutura urbana e explosão demográfica

(HOBSBAWM, 2005, pág 284 e 285).

No setor industrial, os avanços acabaram por transladar as fábricas de seus antigos lugares

para outros mais periféricos, onde as leis trabalhistas eram mais brandas, os salários mais baixos e o

número de vagas menor, devido à automatização. Com isso, locais que outrora foram grandes

parques industriais, tornaram-se abandonados. Também como consequência, os cidadãos que

contavam com pleno-emprego e acesso aos bens de massa, acabavam por acomodar-se. Os

sindicatos perderam força (HOBSBAWM, 2005, pág 297).

Ao mesmo tempo, a força da mulher na sociedade ascendeu. Assumindo seu protagonismo,

após serem mantenedoras do pilar social durante a guerra, sendo seu trabalho vital para que as

engrenagens do setor industrial e da estrutura familiar, agora desfrutavam de livre acesso à

educação e ao trabalho. Porém as desigualdades de salários em relação aos homens ainda permeava

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a realidade. Porém sua indepedência deu um salto enorme, alavancado pelos anticoncepcionais

(HOBSBAWM, 2005, pág 304; REIS FILHO et al, 2005, pág 244).

E não foi só as mulheres que tiveram um amplo acesso à educação. Com os avanços

tecnológicos, se fazia essencial uma mão-de-obra alfabetizada e qualificada. A educação passou a

ser fundamental para a ascensão social. Com isso, criou-se uma geração mais crítica, politizada e

exigente. Ao mesmo tempo, o Holocausto diminuiu a fé religiosa das pessoas, que passaram a

questionar dogmas perante toda a destruição material e humana que a guerra lhes havia imposto.

Com isso, as reflexões sobre o futuro pós guerra aumentaram. A ética sobre o uso da ciência e da

tecnologia foi amplamente discutida, afinal, os anos de barbárie ainda estavam na memória dos que

haviam sobrevivido (REIS FILHO et al, 2005, pág 245).

Com o avanço científico, a arte em geral sofreu profundas mudanças. Com um maior acesso

à educação, a cultura tomou novas formas, cirando uma explosão de novas formas de expressão.

Novos materiais, tais como os plásticos, deram uma nova forma e visão às artes. Na pintura, o

surrealismo e o abstracionismo marcaram época. A pop art40 também nasceu e cresceu,

transformando o cotidiano em objeto de desejo de consumo (HOBSBAWM, 2005, pág 316).

Ao mesmo tempo, a evolução da arquitetura permitiu suprir as demandas habitacionais. A

construção de prédios gigantescos, aeroportos, estádios e outros tornou-se possível de modo mais

fácil pela utilização de novos materiais, tais como o vidro e alumínio, dando uma nova cara às

cidades (REIS FILHO et al, 2005, pág 247).

A eletrônica entrou na música, com novos sons, instrumentos e efeitos até então nunca

imaginados. A popularização das mídias da época (discos de vinil) levou a música às massas.

Rádios, televisores e toca-discos disseminaram a cultura musical de forma nunca vista, em vários

estilos, desde Elvis Presley, Jimi Hendrix até Beatles (REIS FILHO et al, 2005, Op. Cit.).

Outra grande arte que teve um crescimento inimaginável foi o cinema. A modernização para

o sistema colorido, os sons, a capacidade maior de passar mensagens e histórias às massas

influenciou sobremaneira a indústria cinamatográfica. A busca por resultados imediatos e

quantidade de produções acabou por comprometer a qualidade da indústria. Apesar de ser voltado

quase que exclusivamente para o entretenimento, houve várias obras com conteúdo reflexivo.

Hollywood teve papel fundamental na diversificação e disseminação do cinema, sendo o principal

polo mundial de produções (REIS FILHO et al, 2005, Op. Cit.).

40 O termo Pop Art (abreviação das palavras em inglês Popular Art) foi utilizado pela primeira vez em 1954, pelocrítico inglês Lawrence Alloway, para denominar a arte popular que estava sendo criada em publicidade, no desenhoindustrial, nos cartazes e nas revistas ilustradas. Representavam, assim, os componentes mais ostensivos da culturapopular, de poderosa influência na vida cotidiana na segunda metade do século XX. Era a volta a uma artefigurativa, em oposição ao expressionismo abstrato que dominava a cena estética desde o final da Segunda GuerraMundial. Sua iconografia era a da televisão, da fotografia, dos quadrinhos, do cinema e da publicidade. Fonte:https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-20/pop-art/ [acesso em 18/10/2017]

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Assim, nesse cenário de renascimento pós-guerra, com o capitalismo a todo vapor,

começaram a surgir projetos social-democratas. Apesar de efetivamente não mudarem a realidade

dos problemas sociais que ainda havia, e apesar de todo o desenvolvimento, elas não tinham real

efeito. Apesar de tocar em pontos como moradia, emprego e previdência, não eram tomadas

medidas reais, porém, as tensões sociais eram relativamente abrandadas. Desta forma, gerenciava-

se a economia capitalista, combatendo seus efeitos sociais negativos. Como disse Reis Filho et al,

(2005): “Não libertava o homem da exploração, mas tornava-o consumidor do sistema” (pág 252).

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6. Conclusão

Através do presente trabalho, analisamos os fatos relevantes que ocorreram entre as

potências mundiais quando o fim da guerra ainda era uma ideia distante, passando por seus

desdobramentos não somente entre os governos e países, mas também na sociedade. Assim,

traçamos uma linha espaço-tempo ordenando os acontecimentos de forma lógica, a fim de que suas

causas e efeitos sejam compreendidas.

Assim, podemos entender que ainda durante a guerra, os líderes mundiais já planejavam

como dividir e comandar o mundo pós-guerra. Através de conferências, tratados, planos

econômicos, acertos “nos bastidores” e até mesmo afrontas diretas, novos rumos foram dados a

países que estavam praticamente arruinados, tanto estruturalmente quanto socialmente.

Assim, começamos com as Conferências de Teerã, Yalta e Potsdam, demonstrando que

apesar de os três grandes líderes planejarem as novas fronteiras quando a guerra terminasse, o que

acabou determinando as novas divisões geopolíticas foram as áreas que cada exército havia

dominado ou conquistado durante as batalhas. E com essas medidas, a bipolaridade de ideologias se

concretizou: de um lado os soviéticos, preocupados com as reparações de guerra, com a manutenção

e expansão de seu regime político e fortalecimento de seu exército. Do outro lado, os EUA

interessados em reconstruir a Europa para não somente ajudar a custear os prejuízos da guerra, mas

também, para que pudessem voltar a ser auto-suficientes como nação e que futuramente, pudessem

se tornar aliados na política externa.

Adiante no trabalho, abordamos três momentos severamente importantes, que foram

diretamente capitaneados pelos EUA. O primeiro foi a Conferência de Bretton Woods, onde o dólar

americano passou a ser a moeda de referência cambial para todas as outras, assim, atrelando

praticamente toda a economia mundial à sua. Com a sua segunda manobra, o Plano Marshall, os

americanos conseguiram se tornar credores de praticamente toda a Europa. Assim, foram os

responsáveis por injetar dinheiro em economias falidas pela guerra, permitindo que se reerguessem,

e ao mesmo tempo, passassem não somente a dever dinheiro para os EUA, mas também

consumissem seus produtos e fornecessem matéria-prima. Essa posição privilegiada permitiu aos

EUA se tornarem líderes em organismos internacionais, como por exemplo, a ONU. Um outro

momento decisivo não somente para a economia, mas para a paz mundial foi a Crise dos Mísseis,

onde o perigo real e imediato de uma nova guerra – dessa vez basicamente nuclear – se fez

presente. A proximidade de Cuba com os EUA acabou por ser o cerne de uma tensão inesperada

entre oriente e ocidente, onde a URSS tinha Cuba como aliada e com interesses em atacar os

americanos. Porém, uma troca de cartas entre os líderes dos EUA e URSS acabou por encerrar as

intenções de conflito. Mas a Guerra Fria ainda continuava.

A seguir, estudamos a situação da URSS durante o período. Apesar dos grandes planos de

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Joseph Stalin e de seu sucessor Nikita Krushev de reestruturação econômica e social não somente

da União Soviética, mas também dos países os quais o regime acabou por dominar, a realidade

mostra que houveram grandes dificuldades em seguir a ideias de crescimento, ainda mais isolados

economicamente do capitalismo. Tiveram avanços reais na tecnologia, na corrida espacial e no

desenvolvimento bélico, mas também, grandes problemas com a produção agrícola. O regime

socialista acabava por sufocar as ideias, liberdade e necessidades individuais do povo, culminando

em revoltas e levantes que eram severamente combatidos pelo exército. Nesse ritmo, mantiveram-se

de certa forma isolados do ocidente até o fim da Guerra Fria.

Então, com a intervenção americana nas nações, a Europa se reergueu, alcançando índices

econômicos nunca antes vistos. Acesso às novas tecnologias, materiais e ciência remodelaram o

vida do europeu, tanto na sua rotina em casa, com televisores, geladeiras, carros e outros bens que

pertencem até hoje à nossa vida, mas também a grandes mudanças na forma que a sociedade se

expressa, cria e se reproduz. Novas formas de arte, música, linguagem e expressão surgiram. Os

EUA, apesar de já contarem com os avanços tecnológicos em suas residências, tiveram

oportunidade, como nação, de não somente dar suporte econômico à Europa para a sua

reconstrução, mas também de se tornar o maior credor do mundo. Conseguiu tornar dependentes de

si várias nações, além disso, conseguiu estabelecer a hegemonia da sua moeda nacional, o dólar.

Assim, tomaram o lugar dos grandes impérios europeus, transformando-se no organismo que

controla o capitalismo no planeta. Mas nem tudo foi um “mar de rosas”. Após as duas décadas de

uma explosão de desenvolvimento, a sombra da crise escureceu os horizontes ocidentais.

Mas ainda assim, todas as mudanças e evoluções continuaram influenciando a sociedade e

seu comportamento, e a tecnologia continuou prosperando e trazendo para os lares o que há de mais

moderno na indústria de bens de consumo.

A URSS passou por décadas de isolacionismo, onde o comunismo tentou tornar-se auto-

sustentável nos territórios o qual dominava. Após ficar atrás do mundo ocidental em muitos

aspectos, somente em 1989 cai definitivamente a “cortina de ferro”, pondo fim à divisão binária do

mundo.

Dessa forma, o presente trabalho traz um apanhado de inúmeras referências distintas entre

si, mas que reunidas conseguem mostrar com certa clareza todo o caminho que EUA, Europa e

URSS percorreram nas duas décadas seguintes à hecatombe da Segunda Guerra. Dessa forma,

compreendemos como os países dizimados conseguiram se reerguer tão rapidamente apesar das

suas condições miseráveis, quando finalmente a paz chegou. Conseguimos também entender de

onde surgiram tantas “modernidades” que estão presentes na nossa rotina até hoje: televisores,

geladeiras, micro-ondas, celulares e toda a gama tecnológica que temos. Todas foram criadas

primeiramente para um propósito nada confortável: a guerra.

A biografia utilizada foi de grande importância para a execução e desenvolvimento da

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Page 66: Reestruturação da Europa pós-segunda guerra (1945 a 1968

pesquisa. Autores renomados e reconhecidos são de suma importância para um trabalho com fontes

confiáveis e resultados positivos no sentido da completa exposição do tema e seu entendimento,

ainda mais quando trabalhamos com pesquisa histórica.

Por fim, esperamos ter feito da melhor forma possível a construção e desenvolvimento do

presente TCC, e que tenhamos atingido o objetivo principal, que é dar um corpo às narrativas de

vários autores, com pontos de vista e temáticas tão distantes entre si, mas que culminam em um

mesmo ponto: a guerra acabou, mas seus efeitos são presentes até hoje.

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7. Referências

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