reestruturaÇÃo nas grandes cidades brasileiras

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REESTRUTURAÇÃO NAS GRANDES CIDADES BRASILEIRAS o modelo centro/periferia em questão 1 Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ Luciana Corrêa do Lago Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ Rio de Janeiro, 1994 Na literatura recente observa-se um grande e variado conjunto de textos que tratam das transformações urbanas por que vêm passando as grandes metrópoles. Apesar da diversidade dos enfoques tecnológicos, regulacionistas e ecológicos, tais trabalhos têm como unidade o estabelecimento de uma relação direta entre crise econômica e reestruturação urbana. Podemos, como outros (Gottdiener, 1991), colocar em discussão esta relação, pois várias pesquisas históricas mostram divergências das temporalidades entre mudanças econômicas e mutações espaciais. Os estudos recentes sobre as cidades latinoamericanas se enquadram nesse paradigma ao apontarem transformações significativas no padrão de crescimento urbano, tendo em vista o impacto da crise econômica ao longo da última década (Valladares & Coelho, 1993; Portes, _____. A primeira evidência é a redução das taxas de concentração populacional nas metrópoles, redirecionando o processo de expansão urbana para as cidades de porte médio. Tudo indica que as previsões de uma explosão demográfica nas megalópoles latinoamericanas, como Cidade do Mexico e São Paulo, não vão se confirmar. Outra tendência apontada diz respeito às mudanças na estruturação interna das cidades, com a emergência de novos padrões de segregação socio-espacial. Os três principais sinais são a maior diversificação social em áreas até então exclusivas das camadas de baixa renda, a difusão da pobreza por todo o tecido urbano e a emergência de novas formas de segregação das camadas médias. Frente a este cenário, parece interessante trazer à discussão o que está ocorrendo num país latinoamericano de industrialização tardia, que conheceu nos últimos trinta anos um longo e sustentado crescimento econômico, concomitantemente a um processo de urbanização e modernização, mas que nos anos 80 passa a enfrentar uma crise profunda. Na década de 80, ocorreram mudanças no padrão de estruturação das principais metrópoles brasileiras. A "estagflação" 2 muda a dinâmica de crescimento metropolitano que se estruturou desde o início dos anos 50, caracterizada pela concentração econômica e populacional e pela desigualdade e segregação sócio-espacial. Em São Paulo, com efeito, nos últimos dez anos vem se constatando o êxodo de indústrias para outras cidades 1 Uma primeira versão do presente trabalho foi objeto de apresentação na reunião conjunta dos grupos de trabalho "Estudos Urbanos" e "Estudos Populacionais", realizada durante o XV Encontro Anual da ANPOCS, Caxambú, 1991. 2 "Conjuntura econômica em que a estagnação ou declínio de produção e emprego se combinam com uma inflação acelerada. O fenômeno contraria a teoria clássica segundo a qual a inflação tende a declinar com o desemprego". (SANDRONI, 1989: 113)

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  • REESTRUTURAO NAS GRANDES CIDADES BRASILEIRASo modelo centro/periferia em questo 1

    Luiz Cesar de Queiroz RibeiroInstituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ

    Luciana Corra do LagoInstituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ

    Rio de Janeiro, 1994

    Na literatura recente observa-se um grande e variado conjunto de textos quetratam das transformaes urbanas por que vm passando as grandes metrpoles.Apesar da diversidade dos enfoques tecnolgicos, regulacionistas e ecolgicos, taistrabalhos tm como unidade o estabelecimento de uma relao direta entre criseeconmica e reestruturao urbana. Podemos, como outros (Gottdiener, 1991),colocar em discusso esta relao, pois vrias pesquisas histricas mostramdivergncias das temporalidades entre mudanas econmicas e mutaes espaciais.

    Os estudos recentes sobre as cidades latinoamericanas se enquadram nesseparadigma ao apontarem transformaes significativas no padro de crescimento urbano,tendo em vista o impacto da crise econmica ao longo da ltima dcada (Valladares &Coelho, 1993; Portes, _____. A primeira evidncia a reduo das taxas de concentraopopulacional nas metrpoles, redirecionando o processo de expanso urbana para ascidades de porte mdio. Tudo indica que as previses de uma exploso demogrfica nasmegalpoles latinoamericanas, como Cidade do Mexico e So Paulo, no vo seconfirmar. Outra tendncia apontada diz respeito s mudanas na estruturao interna dascidades, com a emergncia de novos padres de segregao socio-espacial. Os trsprincipais sinais so a maior diversificao social em reas at ento exclusivas dascamadas de baixa renda, a difuso da pobreza por todo o tecido urbano e a emergnciade novas formas de segregao das camadas mdias.

    Frente a este cenrio, parece interessante trazer discusso o que est ocorrendonum pas latinoamericano de industrializao tardia, que conheceu nos ltimos trinta anosum longo e sustentado crescimento econmico, concomitantemente a um processo deurbanizao e modernizao, mas que nos anos 80 passa a enfrentar uma crise profunda.

    Na dcada de 80, ocorreram mudanas no padro de estruturao das principaismetrpoles brasileiras. A "estagflao" 2 muda a dinmica de crescimento metropolitanoque se estruturou desde o incio dos anos 50, caracterizada pela concentrao econmicae populacional e pela desigualdade e segregao scio-espacial. Em So Paulo, comefeito, nos ltimos dez anos vem se constatando o xodo de indstrias para outras cidades

    1 Uma primeira verso do presente trabalho foi objeto de apresentao na reunio conjunta dos grupos detrabalho "Estudos Urbanos" e "Estudos Populacionais", realizada durante o XV Encontro Anual da ANPOCS,Caxamb, 1991.2 "Conjuntura econmica em que a estagnao ou declnio de produo e emprego se combinam com umainflao acelerada. O fenmeno contraria a teoria clssica segundo a qual a inflao tende a declinar com odesemprego". (SANDRONI, 1989: 113)

  • do interior do Estado, a queda do crescimento populacional, o empobrecimento dapequena burguesia e do proletariado. Produz-se, ento, um fenmeno curioso: a pobrezarelativa diminui ou permanece constante e aumenta extraordinariamente a pobrezaabsoluta em consequncia da expanso do desemprego e do trabalho semregulamentao. Ao mesmo tempo, alguns estratos sociais, articulados com as formas deespeculao de toda ordem que emergem com a "estagflao", conseguem aumentar seusprivilgios e rendas. O Estado, em sua crise fiscal aguda e submetido poltica dereajustamento de suas finanas recomendada pelo Fundo Monetrio Internacional, perdesua capacidade de investimento, aprofundando a crise habitacional, dos transportescoletivos, da infra-estrutura, etc...

    No espao urbano, esta crise se torna evidente por movimentos paradoxais. Por umlado, ocorre uma "diminuio perversa da segregao" (Rolnik, Kowarick & Somekh,1991), j que as camadas mais atingidas so obrigadas a procurarem moradias em locaismais centrais, junto aos centros de atividades e residenciais, que favoream a inseronum mercado de trabalho desprotegido, incerto, instvel e de baixa remunerao. Poroutro, constata-se o surgimento de novas modalidades de segregao atravs daconstruo de espaos residenciais e comerciais gentrificados que excluem no apenaspelo alto preo cobrado pelo acesso, mas tambm pela instituio de formas de controlepolicial privado.

    Neste trabalho apresentamos alguns dados que evidenciam as mudanas emcurso. So informaes estatsticas e resultados de pesquisa que, embora nosistemticos e produzidos por fontes diferentes, fazem transparecer que no estamosvivendo apenas os efeitos de um ciclo de estagnao econmica, mas a reestruturaoscio-espacial decorrente das transformaes no circuito secundrio da acumulao. Opadro perifrico de crescimento e organizao metropolitanos que prevalece desde osanos 50 est em esgotamento pelo duplo movimento de crise e modernizao das esferasde produo e circulao do espao construdo. Na sustentao e apresentao da nossareflexo, pareceu-nos importante iniciar pela discusso conceitual da noo de padroperifrico e, em seguida identificar os grandes traos da reestruturao metropolitana esuas relaes com as mudanas no circuito imobilirio.

    O MODELO CENTRO/PERIFERIA: uma breve resenha

    Os primeiros estudos que tratam da estrutura metropolitana nascem no interior dageografia. Segundo VALLADARES (1988), podemos identificar etapas da pesquisaurbana, que se diferenciam pelos objetos e enfoques que em cada momento predominam.Assim, nos anos 40 surge um conjunto de estudos descritivos, influenciados pelosfranceses Pierre Deffontaines e Pierre Monbeig, que tomam como centro dasinvestigaes a cidade enquanto unidade espacial e econmica.

    A partir dos anos 60, novamente sob a influncia da geografia francesa de JeanTricart e Michel Rochefort, emerge uma grande quantidade de trabalhos voltados anliseda cidade como integrante do sistema urbano ou da rede de cidades. O livros de GEIGER(1963) e o de SANTOS (1967) so considerados marcos da constituio deste novocampo de pesquisa no Brasil, cujas duas principais marcas so: a adoo do enfoqueinter-urbano e o estabelecimento de relaes entre o crescimento econmico nacional e ascaractersticas do conjunto da estrutura urbana. Surge nesse movimento de pesquisa atese da hiperconcentrao urbana, rearfirmada por trabalhos que discutem as

  • particularidades do processo de transformao social no Brasil e na Amrica Latina.PEREIRA (1969) um dos autores pioneiros nessa direo. Inspirado no pensamento daCEPAL, carecteriza o crescimento urbano brasileiro como scio-ptico, decorrente dosdesequilbrios provocados pelas relaes de dependncia da economia brasileira,enquanto capitalismo perifrico. CASTELLS (1971) formula a teoria da urbanizaodependente para explicar os desequilbrios que marcam o crescimento urbano na AmricaLatina, especialmente o fato de o sistema urbano caracterizar-se por uma macro-encefalia.Em contraposio, surge o trabalho de SINGER (1973) defendendo a tese segundo a qualo crescimento urbano brasileiro (e, de resto, latino-americano) nada tem de particular eque as suas caractersticas decorrem do processo de desenvolvimento das relaescapitalistas no Brasil.

    Somente a partir do final da dcada de 70 so desenvolvidos estudosintra-urbanos. interessante notar a existncia de dois movimentos de pesquisa que sedistinguem pelas abordagens e pelo objeto emprico tomado. Com efeito, os trabalhossurgidos em So Paulo e no Rio de Janeiro nesta conjuntura intelectual e poltica do finalda dcada de 70 e incio da de 80, embora tenham como trao comum a crtica ao "modelobrasileiro", se diferenciam pelas abordagens. Enquanto em So Paulo prevalecempesquisas (MARICATO,1979; KOWARIK,1979) que buscam demonstrar as conexesconcretas entre as caractersticas da metropolizao e a reproduo do capital naeconomia brasileira, no Rio de Janeiro os autores (SANTOS, 1978, 1980, 1982; VETTER,1975, 1981; ABREU & BRONSTEIN, 1978) buscam identificar a dinmica urbana geradoradas desigualdades sociais nas metrpoles. Os dois movimentos consolidam a noo de"padro perifrico de urbanizao" enquanto modelo heurstico e, muitas vezes, comoideal-tipo. A segregao social das camadas populares de menor renda, a autoconstruodas moradias e a precariedade das condies de consumo coletivo so apontados comodefinidores deste "padro perifrico". VALLADARES (1980) ao realizar uma resenhabibliogrfica sobre o tema habitao assinala que o termo "periferizao" utilizado paradesignar um modo especfico de estruturao do espao urbano.

    A anlise do processo de segregao social em curso na regio metropolitanado Rio de Janeiro, que se acelerou nos anos 70 em razo das polticas de remoo defavelas e do intenso movimento construtivo promovido pela expanso do SistemaFinanceiro da Habitao, foi o centro das preocupaes de vrias pesquisas sobre aestrutura interna metropolitana.

    pioneiro o estudo de BRASILEIRO (1976) sobre os servios de interessemetropolitano, por apresentar uma caracterizao geral da organizao metropolitana doRio de Janeiro e por inaugurar uma categorizao analtica dos seus espaos residenciais,com base nas variveis distncia e nvel de equipamento e servios urbanos, ncleo eperiferias imediata, intermediria e distante. Este modelo analtico utilizado edesenvolvido na literatura produzida sobre a habitao popular e sobre a segregaoresidencial. SANTOS (1978, 1980 e 1982) um dos autores que mais reverberou estaanlise em seus estudos sobre favelas e loteamentos populares. O Rio de Janeiro tomado como o "modelo metropolitano brasileiro" (SANTOS e BRONSTEIN, 1978:7) namedida em que nele se percebe a forma acabada de "um novo modo de urbanizao"caracterizado pelo fato de "aos pobres cada vez mais vedado e controlado o acesso moradia nos ncleos. Ficam-lhes, portanto, vedadas as vantagens do morar em lugaresbem servidos por infra-estrutura bsica, equipamentos e servios urbanos. Em particular,lhes dificultada a acessibilidade ao trabalho, acrescentando, para as camadas muitopobres, uma dificuldade extra aos seus esquemas de sobrevivncia" (SANTOS, 1980:

  • 25/26). A estrutura centro/periferia deixa de ser uma noo descritiva para tornar-se umparadigma terico no sentido estrito emprestado a este termo por T. Kuhn. 3

    Na explicao do processo de gerao do padro perifrico, podemos identificarduas vertentes 4. Uma que atribui a segregao residencial conjugao dos efeitos domercado fundirio e da interveno do Estado. VETTER (1975, 1981) e VETTER &MASSENA (1981) podem ser considerados autores que inauguram esta linha de reflexo.A tendncia segregadora da organizao metropolitana do Rio de Janeiro demonstradapelo estudo da distribuio espacial da populao economicamente ativa segundo estratosde renda. Em seu primeiro trabalho, no qual utiliza os resultados do censo de 1970comparados com os de 60, Vetter adverte para a existncia de uma segregaoinacabada na organizao metropolitana do Rio, sugerindo que se passe a "pensar emtermos de um sistema de ncleos e periferias" (VETTER, 1981:596). Um pioneiro trabalho a pesquisa desenvolvida por ABREU & BRONSTEIN (1978) sobre o processo histricode distribuio da populao, que alm de propor uma periodizao da estruturaometropolitana, analisa a importncia das vrias polticas urbanas na segregao dascamadas mais pobres. A abordagem histrica desta pesquisa, j que toma o longo perodoque vai das ltimas dcadas do sculo passado ao final dos anos 70, confere-lhe umrelevante papel consolidador da noo de "padro perifrico" como paradigma terico. Porum lado, porque passa a fornecer referncias concretas aos estudos sobre ametropolizao no Rio de Janeiro e, por outro, porque oferece uma explicao doprocesso de segregao residencial para alm dos efeitos da conjunturapoltico/econmica dos anos 70.

    Atravs de uma abordagem mais especfica, j que centrada no estudo daapropriao dos benefcios lquidos dos investimentos pblicos, utilizando o conceitoexcedente do consumidor tal qual desenvolvido por HARVEY (1973), VETTER &MASSENA (1981) explicam a segregao residencial como decorrente de um mecanismode causao circular que tende a aumentar sempre as rendas monetria e real dosestratos superiores da sociedade e, contrariamente, a diminuir as dos inferiores. Adesigual distribuio espacial dos investimentos pblicos em infra-estrutura eequipamentos coletivos, consequncia da maior capacidade poltica das camadassuperiores, considerada o fundamento deste mecanismo.

    Outros trabalhos, que constituem a segunda vertente, procuram entender adinmica metropolitana a partir da prpria periferia, da sua lgica de organizao. Soanlises dos processos de loteamentos nas quais busca-se demonstrar, por um lado, aexistncia de prticas de espoliao dos compradores e, por outro, a informalidade dasoperaes econmicas 5. Aponta-se para a existncia de negociaes entre loteador,

    3 A noo de paradigma foi colocada em moda por T. Kuhn em seu livro A Estrutura das RevoluesCientficas para dar conta do papel das crenas implcitas que frequentemente esto no fundo das hipteseselaboradas pelos pesquisadores, o que serviu para legitimar a viso relativista da cincia.4 possvel observar nestas duas vertentes uma tenso terica, nem sempre claramente explicitada, emtorno da demonstrao ou negao de uma ordem/anarquia no processo de crescimento perifrico, a suaarticulao ou no com o processo de acumulao ou, ainda, da discusso sobre as relaes deconflito/negociao entre os atores presentes. Esta polmica reproduz neste campo especfico as tensesparadigmticas entre as chamadas "teoria do populismo", "teoria do desenvolvimento" e a "teoria do capital".Ver a este respeito os textos de SADER & PAOLI (1986) e SILVA (1989).5 Como exemplos desta vertente podemos citar os trabalhos de Filipina Chinelli e Maria H. Beozzo de Limapublicados na coletnea organizada por VALLADARES, 1980.

  • comprador e poder local, todos em busca da apropriao dos benefcios da especulao,propiciados por uma urbanizao fundada na reproduo das desigualdades.Encontramos nesta literatura referncias existncia da harmonia entre os interesses deagentes cujas relaes so representadas na literatura como exclusivamente conflituosas."Nos loteamentos perifricos, moradores pobres, empreendedores imobilirios efuncionrios e polticos municipais desenvolveram entre si complexos cdigos deinterao e entendimento" (SANTOS, 1983:86).

    na literatura sobre So Paulo que encontramos a utilizao explcita da noo depadro perifrico para explicar as particularidades da metropolizao. Noo deduzida doprocesso de "industrializao subdesenvolvida" (KOWARICK & CAMPANRIO, 1988),cuja caracterstica a combinao entre a modernizao, com o conseqente aumento daprodutividade, e as formas absolutas de extrao da mais-valia: conteno salarial,extenso da jornada de trabalho, precarizao das condies de trabalho. Como similar aesta relao entre capital/trabalho, se estabelece, via interveno do Estado, umcrescimento urbano segregador e excludente. Por um lado, porque a poltica pblicaatende prioritariamente s necessidades do grande capital em matria de infraestrutura eservios urbanos, relegando aquelas concernentes reproduo da fora de trabalho. Poroutro, a inadimplncia do poder pblico em matria de controle do crescimento urbano,permite que o espao das grandes cidades seja organizado ao sabor da especulaoimobiliria, encarecendo enorme e artificialmente o preo da terra. O resultado duplo:segregao social das camadas populares, obrigadas a morar nos espaos perifricos e,como conseqncia, excluso do acesso aos equipamentos e servios urbanos.

    O padro perifrico do crescimento das nossas metrpoles uma das expressesdas particularidades da expanso do capitalismo. Com efeito, na coletnea de textoseditada por MARICATO (1979), Francisco de Oliveira chama a ateno para o fato de ostrabalhos al reunidos adotarem como abordagem a noo do urbano enquanto forma eno apenas como locus da expanso capitalista no Brasil. A moradia auto-construda entendida como riqueza social (diferente do valor) posta a servio da reproduo docapital; o espao construdo visto como produto de uma atividade tecnicamenteatrasada, mas entre ns lucrativa, dada a combinao de novas e velhas formas sociais; eas caractersiticas elitizadoras da poltica habitacional como decorrentes da natureza declasse do Estado. neste movimento da pesquisa que emerge a noo de espoliaourbana como conceito que unifica no plano analtico as relaes de explorao e oprocesso urbano, elemento fundamental na caracterizao do "padro perifrico".

    BONDUKI & ROLNIK (1979), ao realizarem em 1977/78 uma pesquisa sobre oloteamento de reas perifricas em So Paulo, explicam a auto-construo da moradia e ainexistncia da infra-estrutura e dos equipamentos urbanos como a vigncia da

    "espoliao urbana, (enquanto um) conjunto de condies precrias a que os trabalhadores tm quese sujeitar para vender sua fora de trabalho numa cidade onde prioridade nenhuma dada s suasnecessidades. neste quadro de espoliao urbana que devemos inserir a habitao de baixa rendaem loteamentos perifricos" (BONDUKI e ROLNIK (1979:149).

    Esta mesma idia-noo tambm utilizada em 1979 por KOWARIK paracaracterizar o "padro perifrico", entendendo a espoliao urbana como "uma forma deextorquir as camadas populares do acesso aos servios de consumo coletivo" (KOWARIK,1979:73).

  • Essas referncias nos servem para destacar os elementos analticos quefundamentam e definem o paradigma do padro perifrico na explicao da dinmica daorganizao metropolitana:

    a) Em primeiro lugar, o par centro/periferia, de noo operatria de pesquisa,torna-se um conceito utilizado para entender o processo de expanso da estruturainterna da metrpoles.

    b) Tal processo se caracteriza pela existncia de um movimento deexpulso/atrao - dependendo da orientao terica do trabalho - para a periferia.Conseqentemente, admite-se a idia de mecanismos de seleo ao acesso aoncleo.

    c) O termo periferizao, portanto, no quer dar conta apenas de um "locus", masde um processo de segregao e diferenciao social no espao que tem causaseconmicas, polticas e culturais.

    d) No obstante, consolida-se como inerente ao padro perifrico a representaoda periferia caracterizada enquanto espao da reproduo precria da fora detrabalho, portanto espao da carncia.

    e) Apesar de alguns trabalhos chamarem a ateno para o fato de a segregaosocial no poder ser representada na estrutura ncleo/periferia, sendo necessriooperar com a concepo de uma estrutura poli-nucleada, consolida-se a imagem deespaos socialmente homogneos.

    f) A dinmica de crescimento perifrico lida a partir de dois tipos de perspectivasanalticas: como a projeo, ao nvel do espao, do processo de acumulao ecomo modelo de representao da hierarquia social vigente na sociedadebrasileira.

    g) De maneira geral, a interveno seletiva do Estado na alocao dosinvestimentos urbanos tomada como mecanismo central do padro perifrico decrescimento, embora em muitos trabalhos se faa aluso importncia dos agentesdos mercados fundirio e imobilirio e suas respectivas prticas.

    MUDANAS NO MODELO CENTRO/PERIFERIA: tendncias dos anos 80

    A anlise das atuais tendncias de transformao do espao metropolitanodemanda, em primeiro lugar, algumas observaes, ou melhor, prospeces sobre o lugarda metrpole no processo de urbanizao em curso no pas.

    Temos para o Brasil a estimativa de que mais de 80% da populao estaroresidindo em cidades e vilas, no ano 2000, o que evidencia a irreversibilidade do urbanocomo tendncia demogrfica (DAVIDOVICH,1990). Entretanto, o Censo de 80 acusoudecrscimo populacional relativo das regies metropolitanas, indicando a expanso dascidades de porte grande e mdio do pas como uma caracterstica atual da urbanizao.Cabe assinalar que muitas dessas cidades fazem parte do entorno metropolitano, umespao sob influncia da ao da metrpole. Os Resultados Preliminares do Censo de 91(FIBGE,1992) confirmam essa tendncia: enquanto na dcada de 70 a populao dasregies metropolitanas de So Paulo e Rio de Janeiro cresceu relativamente mais que emseus respectivos estados, na dcada de 80 a situao se inverte. Em So Paulo, a taxa de

  • crescimento populacional do estado foi de 2,02% e da regio metropolitana de 1,73% e, noRio de Janeiro, de 0,99% e 0,82 respectivamente.

    Sobre as novas funes das metrpoles, um conjunto de fatores, como aflexibilidade do trabalho 6 e as inovaes tecnolgicas na rea da informao, exige novasformas de localizao dos investimentos e da populao, difundindo polos especializadose, consequentemente, redefinindo a importncia relativa das metrpoles. A Grande SoPaulo mostra-se como o locus privilegiado destas tendncias. Estudos recentes indicamum forte processo de desconcentrao industrial, cuja hiptese explicativa est nareverso da polarizao metropolitana. "Estima-se que no ano 2010 haver umadistribuio equitativa de emprego (...) entre Regio Metropolitana e interior"(PREFEITURA DE SO PAULO,1991, pp. 21).

    Com base nesses estudos, tem-se apontado uma inflexo no processo deconcentrao demogrfica e econmica nas grandes metrpoles e o paralelofortalecimento das cidades mdias. A mudana apontada na literatura no seria oesvaziamento das metrpoles, mas a perda da sua primazia no sistema urbano. Elascontinuam a exercer uma funo concentradora, mas surgem plos industriais em outrasreas, como o plo de informtica de Campinas. Segundo SANTOS (1990), nametrpole que encontramos, ao mesmo tempo, a modernizao das atividades e umaexpanso da pobreza. o que o autor chama de "involuo metropolitana".

    Dadas estas novas tendncias na organizao territorial, vamos examinar algunselementos que indicam a transformao do padro perifrico de crescimento intra-metropolitano. Como dissemos anteriormente, iremos nos concentrar na observao dasmudanas ocorridas na produo da moradia. Antes, porm, vejamos alguns dados queindicam novas tendncias na localizao da populao.

    Os resultados preliminares do Censo Demogrfico de 1991, referentes a populaodos municpios que compem as Regies Metropolitanas indicam tansformaessignificativas em seu padro de crescimento. Se as dcadas de 60 e 70 foram perodos deexpanso acelerada da periferia metropolitana, a reverso deste processo pode serpercebida na dcada de 80, pela queda acentuada da taxa de crescimento populacionalnesta rea.

    A Tabela II nos mostra a taxa mdia de crescimento na periferia de 4,70% ao anona dcada de 60 e de 6,29% na de 70, contrapondo-se s taxas de 4,27% e 3,43%, nosmesmos perodos,nas cidades cemtrais das reas metropolitanas. Destacam-se aqui, aperiferia de So Paulo, com um crescimento de 8,71% ao ano na dcada de 60, bemacima da mdia metropolitana, e as de Salvador e Belo Horizonte que tiveram seu perodode maior expanso na dcada de 70, diferentemente das outras regies.

    Na dcada de 80, verificamos uma queda geral das taxas de crescimento em todasas regies metropolitanas, sendo esta mais acentuada nas periferias. Enquanto nasmetrpoles a queda , em mdia, de 1,78 pontos percentuais ao ano, nas periferias elachega 2,54 pontos.

    6Sobre o conceito de flexibilidade do trabalho como a atual tendncia da organizao da produo e a suarepercusso na estruturao metropolitana, ver VALLADARES & PRETECEILLE, 1990.

  • TRANSFORMAES NOS CIRCUITOS SUPERIORES DA ACUMULAO URBANA:segregao e elitizao do ncleo

    Nos anos 70, consolida-se um novo padro de produo do espao construdo como advento do SFH e a expanso da incorporao imobiliria como forma empresarial deproduo da moradia. A valorizao da terra deixa de ser fundada em prticas de "reservade valor", muito recorrente na histria brasileira at os anos 70, para ter seu fundamentoem processos que articulam valorizao fundiria e valorizao do capital. A especulaocom a terra, traduzida nas chamadas reas vazias, deixa de ser o mecanismo central domodo de produo do espao construdo das grandes cidades brasileiras. Esta dinmicapertence a um outro momento da acumulao urbana, na qual o padro de crescimentourbano centrava-se na ao dos pequenos investidores, que, falta de outras alternativas,aplicavam suas poupanas na compra e estocagem de solo, na expectativa de valorizaofutura. Tal etapa da produo do espao urbano brasileiro tem incio nos anos 40, quandocomea a arrancada do crescimento urbano, acentua-se nos anos 50, especialmente nasua segunda metade, e se estende at os anos 70, quando se consolida a fasemonopolista da economia brasileira. Grandes massas de capital passam a circular entremercado financeiro e produo imobiliria, surgindo com todo vigor o sistema deincorporao imobiliria. O pequeno especulador, ator urbano espalhado por todas ascamadas sociais, cede lugar na dinmica de constituio do espao construdo grandeempresa de imobiliria. A instituio do Sistema Financeiro da Habitao consolida ainstvel figura do incorporador, surgida nos anos 40, cuja ao era at ento limitada pelasdificuldades decorrentes da inexistncia de um mecanismo capaz de centralizarpoupanas para financiar os empreendimentos. At o incio dos anos 60, o padro deincorporao era calcado no modelo pequeno-burguesa de financiamento 7. Para se teruma idia deste fato, basta citar que das empresas imobilirias existentes na cidade doRio de Janeiro, apenas 18% foram fundadas antes de 1959, 13% entre os anos 1960 e1969 e cerca de 60% no perodo 1970/1979.

    Nos 24 anos de existncia do SFH, o espao construdo das grandes cidadesbrasileiras se transforma sob o impacto da construo de uma grande quantidade deedifcios de apartamentos. Algumas empresas imobilirias j existentes conhecem umextraordinrio crescimento e inmeras outras so criadas. Comea a ocorrer um processode diferenciao interna do setor, surgindo um segmento oligopolizado que passa acontrolar uma fatia do mercado (e um bom pedao do espao da cidade), outrocompetitivo e um terceiro formado por micro e pequenos incorporadores. Calcula-se, porexemplo, que na cidade do Rio de Janeiro, os 33 maiores incorporadores controlem cercade 50% da rea construda pelo sistema de incorporao, conforme nos mostra a tabela III.

    A dinmica construtiva empresarial concentra-se e renova intensamente os ncleosurbanos, elitizando e segregando estas reas das grandes e mdias cidades,especialmente das capitais. No Rio de Janeiro, por exemplo, estima-se que no perodo1980/1988 73,8% dos investimentos realizados pelos incorporadores tenham se localizadonas zonas norte, sul e na Barra da Tijuca. (RIBEIRO, 1992) Em Porto Alegre, as unidadesconstrudas no centro da cidade passam de 42% do total da cidade em 1982 para 65% em1989. (ROVATTI, 1992) Nmeros semelhantes podemos encontrar para So Paulo(GALENO, 1992), Aracaj (DANTAS, 1992), Natal (ARAJO & CMARA, 1882 e PETITMELLO, 1992) e Salvador (PINHO, 1992).

    7 Sobre o processo histrico de surgimento e consolidao do capital de incorporao ver RIBEIRO, 1991.

  • A vigncia da lgica da acumulao urbana neste perodo, portanto, se afirma nascidades do Rio de Janeiro e de So Paulo, se expraia para vrias capitais atravs dasarticulaes e alianas polticas das elites regionais com o poder central, sendo utilizadapara tanto a poltica nacional de habitao. Pesquisas recentes indicam que em muitasdestas cidades a moderna produo capitalista foi praticamente criada pela intervenoestatal, sobretudo atravs da poltica de construo de moradias populares8. Em Natal,por exemplo, estima-se que cerca de 60% das unidades construdas na cidade entre 1977e 1987 tiveram como demanda contratos firmados pela Companhia Estadual de HabitaoPopular e as empreteiras. Estas empresas foram praticamente criadas e cresceram emrazo destas encomendas e, posteriormente, passaram a incorporar edifcios deapartamento de luxo. Como consequncia, em todas capitais produziu-se o mesmomodelo de espao urbano segregado e diferenciado: isto , a moderna produo deespaos residenciais para as classes mdias no centro e, consequentemente, a expulsodas camadas populares para a periferia.

    A partir da segunda metade da dcada de 80 esta dinmica de estruturao urbanavem se alterando em razo da crise da produo empresarial. A derrocada do SHF e osefeitos da "estagflao" em que mergulhou a economia brasileira, sobretudo sobre a rendadas camadas mdias, tm levado a uma extraordinria queda das construes nasgrandes cidades durante a dcada de 80. O financiamento imobilirio passa a dependersobremaneira dos recursos prprios do compradores, levando a um estreitamento domercado, restrito queles que podem assumir uma grande parcela dos custos daconstruo. Neste sentido, observamos a volta, de maneira expressiva, do sistema deincorporao fundado no preo de custo e no preo fechado, segundo o qual oincorporador rene um grupo de compradores e passa a trabalhar sob encomenda.

    Paralelamente estagnao da renovao dos espaos residenciais centrais,assistimos ao surgimento de novas formas de incorporao imobiliria que inovam emodernizam as cidades, ao mesmo tempo que acentuam a segregao social. So asconstrues dos shopping-centers, condomnios fechados e apart-hotis, impulsionadaspelo deslocamento dos fundos de penso das aplicaes financeiras para o mercadoimobilirio 9. Novos espaos que segregam e excluem no apenas pelo preo do acesso,mas especialmente pelos muros e sofisticados sistemas de controle e segurana.

    8 Ver PINHO, 1992; ARAUJO & CAMARA, 1992; MELLO PETIT, 1992.9 Estima-se que as entidades de previdncia privada estejam aplicando 21% dos suas revervas disponveisno mercado imobilirio. Ver a este respeito matria publicada na Gazeta Mercantil, 24 de maio de 1991.

  • TRANSFORMAES NOS CIRCUITOS INFERIORES DA ACUMULAO URBANA:des-segregao perversa e esgotamento da periferizao

    Verificamos na dcada de 80 uma retomada do crescimento das favelas, seja peladensificao das antigas, nos bairros do ncleo e da periferia imediata, seja pelosurgimento de novas, nas reas perifricas mais distantes da cidade. As tabelas IV e Vmostram, na ltima dcada, uma reverso da tendncia queda da populao faveladanos municpios de So Paulo e Rio de Janeiro, que vinha ocorrendo (no caso do Rio deJaneiro) desde a dcada de 60. Podemos notar ainda que a taxa de crescimento dapopulao favelada est sempre acima da referente populao total dos municpios, quecontinua em queda.

    Dados sobre a distribuio da populao favelada, por zona, no municpio do Riode Janeiro, mostram que no perodo 1980/1990 na Periferia Intermediria onde severifica a maior taxa de crescimento (51%) (ver Tabela VI). Evidencia-se, portanto, umadifuso dessa forma de moradia por reas at ento ocupadas predominantemente porloteamentos populares. O Ncleo e a Periferia Imediata apresentam uma taxa decrescimento em torno de 25%, com destaque, na primeira zona, para a Barra da Tijucacom um aumento de 77% e, na segunda zona, para Jacarepagu com 42%. Vale lembrarque ambas as regies so de ocupao recente, com grandes reas livres, passveis deserem favelizadas.

    Em So Paulo, a disperso da pobreza pelo municpio pode ser vista no s pelocrescimento das favelas mas, em grande medida, pela difuso dos cortios tanto nas reascentrais, como na periferia. Estima-se que a populao vivendo em cortios deve contar,em 1991, com cerca de 3 milhes de indivduos, ou seja, 30% da populao paulistana(PREFEITURA DE SO PAULO, 1991).

    A difuso de favelas e cortios est diretamente ligada ao esgotamento do padroperifrico de crescimento urbano, baseado na autoconstruo em lotes desprovidos deservios pblicos. A dcada de 80 expressa, portanto, o fim do acesso casa prpria paraa populao pobre.

    A partir do final da dcada de 70, iniciou-se um processo de "enobrecimento" dasperiferias de So Paulo e Rio de Janeiro, que deixam de abrigar exclusivamente oscontingentes de baixo poder aquisitivo, evidenciando um forte movimento detransformao das relaes sociais de produo deste espao da cidade. Dados de nossapesquisa (RIBEIRO ET ALII,1988) mostram que na ltima dcada ocorreu uma paralizaodo processo de loteamento perifrico popular na cidade do Rio de Janeiro, conformetransparece na tabela VII. Por outro lado, observamos a mudana do tipo de agente,desaparecendo por completo o loteador descaptalizado 10, cuja racionalidade permitia umamplo acesso das camadas populares compra dos lotes. A partir do final da dcada de70, o loteador descaptalizado cede lugar empresa imobiliria que passa a realizar no

    10 Como o designao expressa, o loteador descaptalizado realizava a operao sem investir previamenteuma grande soma de recursos, a no o mmino para inciar o negcio. Este agente era o prprio proprietrioda terra ou um corretor que com ele se associava, no havendo, portanto, compra anterior da gleba. A sua estratgia de comercializao se orientava pelo objetivo de realizar rapidamente as primeiras vendas,oferecendo os lotes a baixo preo e a prestaes compatveis com a baixa capacidade de endividamento docomprador. E o negcio fosse bem sucedido, o loteador vendia os lotes restantes em condies maisfavorveis, por um preo superior e em prazo mais curto, em funo da valorizao proporcionada pelasprimeiras ocupaes.

  • apenas a compra e retalhamento da terra, mas tambm a construo e comercializao damoradia. Mudam a racionalidade da operao e as condies de acesso terra.

    As empresas, com efeito, estocam terras grandes quantidade de terra e orientam osinvestimentos em funo das possibilidades alternativas dentro e fora do mercadoimobilirio. Realizam geralmente mais de um empreendimento, financiados por recursosprprios e por emprstimos da Caixa Econmica. As vendas passam a ser feitas emprazos curtos e prevendo frmulas de reajustamento do valor da prestao. O resultadoso loteamentos produzidos exclusivamente o mercado formado pelas camadas mdiascom maior poder aquisitivo e capacidade de endividamento. o que chamamos de"enobrecimento" da regio. Essa mudana na ltima dcada acompanhada de umaenorme diminuio na produo de lotes - representa 1/6 daquela dos anos 50 -totalmente legalizada.

    Recente pesquisa (BRITTO,1990) indica, por outro lado, um formidvel movimentode expanso da incorporao imobiliria, tambm na zona oeste do Rio de Janeiro. Osagentes desta expanso so pequenos e micro incorporadores. Entretanto, surgem noperodo um pequeno nmero de grandes incorporadores produzindo mais de 25.400metros quadrados, representando apenas 6% dos empreendedores que atuam na rea,concentrando cerca de 42,6% da produo medida em nmero de unidades. O perfil dosincorporadores da rea , assim, bastante semelhante quele que podemos observar parao conjunto da cidade.

    Fato interessante mostrado por Britto que, no universo estudado, a grandemaioria dos compradores (64,1%) so moradores da prpria zona oeste que procuramfugir do aluguel. Os outros 36% so moradores de outros bairros na zona suburbana.

    Indcios deste mesmo fenmeno de transformao das relaes sociais deproduo do espao construdo na periferia compreendida pela Baixada Fluminense foramtambm observados em nossa pesquisa. Examinando os dados relativos s novasunidades conectadas ao sistema de distribuio de energia mantido pela LIGTH entre1987 1991, observamos a expanso do mercado imobilirio naquela rea. Estimamos,com efeito, que 36% dos novos apartamentos construdos naquele perodoconcentraram-se na periferia intermediria (Anchieta, Bang, Campo Grande,Santa Cruz eos municpios da Baixada Fluminense), 31% da periferia imediata (zonas norte esuburbana da cidade do Rio de Janeiro) e 33,5% no ncleo.

    Em outra pesquisa (FURLANETTO et alii, 1987) so observado igualmente osmesmos indcios desta transformao. Nela demonstrada , por um lado, a diferenciaosocial interna do municpio de Nova Igua e, por outro, a presena de incorporadoresatuando nas reas mais centrais da cidade, justamente as dotadas de infraestruturaurbana (gua, luz, esgoto, asfalto, etc.). Trata-se, portanto, de uma expanso com basena renovao do espao construdo, que segundo os autores , ao mesmo tempo, fsica esocial. Os empreendimentos horizontais e verticais substituem as antigas residenciasauto-produzidas em perodos anteriores, destinados camadas de poder aquisitivosuperior a dos antigos moradores. De acordo com observao de campo realizada pelosautores, os compradores so pessoas procedentes do municpio do Rio de Janeiro,evocando o deslocamento de segmentos das "classes mdia e mdia-baixa" para aperiferia. (FURLANETTO et alii: 43)

    Os agentes desta renovao urbana so "empresas de pequeno porte possuindoem mdia, nos anos de maior ritmo de construo, dois a trs empreendimentos,

  • envolvendo um total de unidades habitacionais situado entre 20 a 40, a maioria possuindodois quartos e 60 metros quadrados, em mdia, de rea construda." (Idem: 47) Taisinformaes e os resultados da pesquisa realizada por Kleiman (1985) nos subrbiosperifricos do Rio de Janeiro indicam que se trata de prticas locais de incorporao emuito dependentes de relaes e conhecimentos pessoais, o que nos deixa pensar emestruturas empresariais em formao.

    CONCLUSES

    O desenvolvimento do capitalismo urbano-industrial no Brasil permitiu uma singularcombinao entre a acumulao fundada em altas taxas de explorao da fora detrabalho, ao mesmo tempo em que promoveu nas cidades a difuso da propriedadefundiria entre os vrios segmentos da sociedade. O modelo de crescimento urbanobrasileiro realizou a segregao das camadas populares nas extensas e precriasperiferias, possibilitando-lhes amplo acesso "casa-prpria". Entre 1940 e 1980, comefeito, os domiclios prprios na principais reas urbanas do pas passam de 30% para57% e as moradias de aluguel caem de 64% para apenas 34%, conforme revela a tabela I.A forma pela qual o espao metropolitano foi produzido favoreceu esta difuso e,consequentemente, a acomodao dos conflitos sociais nas cidades brasileiras.

    Na dcada de 80, ocorreram importantes mudanas neste padro de crescimento,em consequncia de um duplo movimento de crise e de expanso das relaescapitalistas de produo do espao construdo. Os trs principais sinais so adiversificao socioeconmica das reas perifricas, reproduzindo-se em seu interior aestrutura ncleo/periferia, a difuso da pobreza pelo tecido metropolitano, emcontraposio ao movimento de estruturao prevalecente nas dcadas anteriores, e osurgimento de novas formas de segregao das camadas mdias. Podemos pensar nainstaurao de estrutura mais complexa que a descrita pela literatura referente aos anos70. A periferia deixa de ser um espao aberto, e neste sentido uma fronteira, cuja a lgicade crescimento permitiu a difuso da propriedade da terra urbana. Por outro lado, taltendncia convive com outra diametralmente oposta, isto a produo de espaosresidenciais privilegiados, destinados s camadas de alto poder aquisitivo, separadosterritorialmente do resto da cidade.

    Em que medida podemos falar verdadeiramente na mudana de padro decrescimento metropolitano? A resposta a esta questo pressupe, desde logo, a discussosobre o que entendemos por padro. Falar na existncia de um padro de crescimentoperifrico das regies metropolitanas implica em dizer que, segundo ns, a literatura temconsolidado um modelo de referncia que procuramos descrever no incio deste texto.Entretanto, mais que as caractersticas do crescimento, a idia de padro implica numaforma de compreenso do processo pelo qual ocorre a metropolizao entre ns. Trata-se,portanto, de discutir se h mudanas nos processos sociais que estruturam internamenteas regies metropolitanas. Nesta perspectiva, pensamos que as transformaesapontadas no indicam apenas a translao do processo ncleo/periferia observado nadcada de 70. So mudanas no processo de produo do espao perifrico, portanto nocontedo da sua dinmica de crescimento. O espao prifrico torna-se cada vez maismercadoria, pela incluso do loteamento e da moradia na lgica imediata da reproduodo capital. Neste sentido, est em curso a transformao do seu contedo, de riquezasocial posta ao servio do capital tornar-se crescentemente capital. Isto se d por doismovimentos: a incluso do espao perifrico j construdo sob outras relaes sociais na

  • rbita do movimento do capital, transformando-os em valor e a emergncia de novasformas de produo sob a gide do capital. A moradia autoconstruda e o lote produzidopor capitalistas sem capital transformam-se em valores, como consequncia da expansodas relaes capitalistas de produo do espao construdo.

    Podemos aqui retomar a nossa questo inicial. Vale a pena lembrar que osurgimento da grande indstria nos pases centrais teve como pressuposto atransformao das condies de reproduo da fora de trabalho. As polticas pblicaspassaram, com efeito, a regular tais condies, tanto pelo estabelecimento de regras narelao capital/trabalho, como tambm pela expanso e universalizao dos serviossociais prestados pelo o Estado. A moradia operria reformada e o seu preo de acessoregulado, os transportes coletivos, a sade, etc., enfim os servios urbanos, passam paraa esfera pblica e o crescimento das cidades torna-se objeto de planejamento. Instaura-seaquilo que a lietaratura chama de "fordismo", como modelo econmico no qual areproduo do capital e da fora de trabalho so administradas pelo o Estado.

    No Brasil, como vimos, o padro perifrico de crescimento expressa umdesenvolvimento industrial que combina altas taxas de acumulao do capital e osubdesenvolvimento das das condies urbanas de reproduo da fora de trabalho.Entretanto, tal forma de crescimento urbano permitiu a difuso da "casa-prpria",cumprindo um importante papel econmico e ideolgico na integrao social das camadastrabalhadoras.

    A transformao do padro perifrico aponta para a emergncia de novos conflitosnas grandes cidades brasileiras relacionados com a posse da terra e com a expanso dasmoradias precrias tais como cortios, favelas e at mesmo a moradia temporria noespao pblico. de se imaginar que que as nossas grandes cidades venha a re-viver,como nos primeiros decnios deste sculo, a questo sanitria, uma vez que tais formasde habitao implicam na degradao das condies de vida das camadas populares, noapenas pela sua precariedade fsica, mas tambm pela intensa aglomerao gerada. EmSo Paulo, por exemplo, estima-se que nos exguos cmodos dos cortios, com cerca dequatro metros quadrados, morem cerca de cinco pessoas. Da mesma maneira quenaquela fase da nossa histria urbana, os efeitos da deteriorao das condieshabitacionais das camadas populares ameaam tambm as de alto poder aquisitivo, umavez que vem ocorrendo a diminuio perversa da segragao urbana. Por ltimo,podemos tambm antever a emergncia da questo dos aluguis, atingindo agora noapenas a classe mdia, para quem o sonho da "casa-prpria" desaparace com o fim doSHF e com a crise, mas tambm amplas parcelas da populao alijadas pelaestancamento e transformao do crescimento das periferias.

  • Tabela 1 Percentual de Domiclios nas reas Metropolitanas (*), segundo a natureza da ocupaoBelm Fortaleza Recife Salvador Belo

    HorizonteRio So

    PauloCuritiba P. Alegre Total

    1940

    Prprios 34.6 35.9 19.1 29.1 40.6 29.3 27.1 44.7 40.0 29.7

    Alugados 59.5 57.9 60.7 68.0 51.7 66.1 66.2 51.1 49.7 64.0

    Outros 5.9 6.2 0.2 2.9 7.7 4.6 6.7 4.2 10.3 6.3

    1950

    Prprios 60.5 48.9 38.0 43.6 45.5 35.1 37.4 45.3 48.3 39.4

    Alugados 35.5 37.0 48.5 50.6 44.9 56.9 56.2 45.4 43.2 52.2

    Outros 4.0 12.4 11.0 5.0 9.7 7.4 7.6 9.8 8.8 8.3

    1960

    Prprios 63.0 50.3 39.8 48.8 49.6 41.4 42.2 56.1 49.6 42.7

    Alugados 33.0 37.3 49.2 46.2 40.7 51.2 50.2 34.1 41.6 47.8

    Outros 4.0 12.4 11.0 5.0 9.7 7.4 7.6 9.8 8.8 8.0

    1970

    Prprios 67.9 61.1 54.5 60.4 60.2 52.3 54.7 64.8 62.0 55.0

    Alugados 26.7 26.0 35.2 33.3 27.4 36.0 35.7 24.7 28.7 34.4

    Outros 5.4 12.9 10.3 6.3 12.3 11.7 9.6 10.5 9.3 10.6

    1980

    Prprios 66.8 61.3 58.0 63.1 60.8 56.4 52.6 62.7 65.6 57.0

    Alugados 28.0 30.2 32.8 30.9 28.7 33.6 37.6 28.1 26.5 34.0

    Outros 5.2 8.5 9.2 6.0 9.5 10.0 9.8 9.2 7.9 9.3

    Fonte: FIBGE Censos Demogrficos (1940, 1950, 1960, 1970, 1980).

    Obs.: Os dados se referem ao nmero de domiclios.

    (*) Agrupando os municpiios que atualmente formam as regies metropolitanas.

    Tabela 2 Taxa Geomtrica de Crescimento Populacional por Decada nas Regies Metropolitanas60/70 70/80 80/90

    RMsRM Metrpole Periferia RM Metrpole Periferia RM Metrpole Periferia

    Belm 4.49 4.64 0.95 4.71 3.95 11.33 2.67 2.67 2.67

    Fortaleza 4.71 5.24 2.48 4.51 4.31 4.31 3.45 2.73 6.35

    Recife 3.93 3.12 5.25 2.79 1.36 4.61 1.81 0.66 2.89

    Salvador 4.69 3.34 5.45 4.41 4.07 6.56 3.11 2.91 4.21

    B. Horizonte 6.15 6.11 6.25 4.76 3.80 7.50 2.61 1.28 4.29

    Rio de Janeiro 3.55 2.54 5.43 2.44 1.82 3.38 0.82 0.43 1.34

    So Paulo 5.53 4.57 8.71 4.48 3.69 6.37 1.72 1.01 3.08

    Curitiba 4.58 5.35 2.65 5.78 5.34 6.95 2.91 2.11 4.65

    P. Alegre 4.13 3.49 5.12 3.93 2.52 5.62 2.55 1.05 3.63

    Total 4.64 4.27 4.70 4.20 3.43 6.29 2.41 1.65 3.75

    Fonte: FIBGE Censos Demogrficos (1960, 1970, 1980) e resultados preliminares do CensoDemogrfico de 1991.

    Obs.: A periferia composta por todos os municpios da Regio Metropolitana, com exceo da Metrpole.

  • Tabela 3 Diferenciao dos Incorporadores (*)

    Tipo Quantidade (%) Produo (%)(**)

    Micro 61.5 11.6

    Pequeno 16.1 9.9

    Mdio 18.6 38.9

    Grande 3.8 39.6

    Fonte: Ribeiro, L. C. Q. et Alii, 1988.

    (*) Dados para o perodo 1979/ 1988.

    (**) Em relaco a quantidade de m lanados.

    Tabela IV Tabela V

    Populao FaveladaTaxa de Crescimento Anual

    Municpio de So Paulo

    Populao FaveladaTaxa de Crescimento AnualMunicpio do Rio de Janeiro

    anos pop. municipal pop. favelada dcadas pop. municipal pop. favelada

    1973-1975 4.44 27.75 1950-1960 3.54 7.06

    1975-1979 3.15 22.79 1960-1970 2.62 5.16

    1979-1985 3.14 12.42 1970-1980 1.74 2.44

    1985-1987 2.55 14.07 1980-1990 1.63 2.60

    Fonte: Taschner, S.P., 1990. Fonte: (1) Plano Diretor - Relatrio, Prefeitura do Rio de Janeiro, 1991

    (2) IplanRio, Favelas: populao e domiclios, mimeo, 1991

    Tabela 6 Distribuio da populao favelada por zona, na cidade do Rio de JaneiroPopulao FaveladaZona

    1980 % 1990 % 80/90 (%)

    Centro 63.871 73.871 15.5

    Z. Sul + Z. Norte 147.525 184.326 24.9

    Barra da Tijuca 4.609 8.151 76.8

    Ncleo 211.396 29.9 258.197 28.5 22.1

    Subrbio 1 64.396 83.025 28.9

    Subrbio 2 302.962 379.415 25.2

    Jacarepagu 21.939 31.180 42.1

    Periferia Imediata 367.358 52.1 462.440 50.3 25.9

    Periferia Intermediria 127.120 18.0 191.639 21.2 50.7

    Total 705.874 100.0 912.276 100.0 29.2

    Fonte: IPLANRIO, Favelas: populao e domiclios, mimeo, 1991.

  • Tabela 7 Produo de lotes por tipo de agente, na zona oeste do Rio de Janeiro

    Dcadas

    40 50 60 70 80

    n % n % n % n % n %

    Loteador 6.788 58.8 36.661 53.6 18.379 52.4 11.688 46.1 880 8.2

    Empresa 4.749 41.2 31.578 46.4 16.645 47.6 13.637 53.9 9.823 91.8

    Total 11.537 100.0 68.189 100.0 35.024 100.0 25.325 100.0 10.703 100.0

    Fonte: RIBEIRO. L. C. Q. et alii, 1988.

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