rede social - médico-paciente

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A relação entre médico e paciente não é uma temática nova na profissão médica, e com o advento das redes sociais como tipos integrações humanas, passamos a considerar essa relação como um de seus diversos tipos. O decorrer da história da medicina é o principal indicador das mudanças sofridas nessa rede. O desenvolvimento e avanço de técnicas e ciências médicas acentuou a predominância do modelo biomédico no processo saúde-doença por concentrar a atenção à doença, em detrimento às experiências do paciente, e o diagnóstico passou a se basear nos resultados das técnicas cada vez mais modernas, desprezando a relação pessoal entre médico e paciente. Enfatizaremos fatores contribuintes e prejudiciais para que essa rede social médico-paciente seja efetiva no processo de adoecimento, de modo que o médico entenda o paciente como um ser biopsicossocial, e entenda o significado de adoecer atribuído a ele, e o paciente entenda o médico como ser humano dotado também de sensibilidade. Um mecanismo que muito dificulta a o bom funcionamento dessa rede social é a assimetria na relação entre o médico e o paciente. Uma vez que essa relação não seja bem construída, o médico corre o risco de não tomar ciência de todos os problemas que acometem o paciente, ou até mesmo percebem esses fatores, mas não os levam em consideração durante as consultas, assim como não consideram problemas psiquiátricos e psicossociais. Essa assimetria na relação leva a uma comum discordância entre médicos e pacientes sobre a raiz do problema principal, de modo a levar o médico a vetar a possibilidade de o paciente contar sua história e emitir suas opiniões pessoais sobre o processo de enfermidade. Esses aspectos esbarram na qualidade que o usuário atribui ao serviço, uma vez que estudos já realizados constataram

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A relação Médico-Paciente funcionando como rede social.

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A relao entre mdico e paciente no uma temtica nova na profisso mdica, e com o advento das redes sociais como tipos integraes humanas, passamos a considerar essa relao como um de seus diversos tipos. O decorrer da histria da medicina o principal indicador das mudanas sofridas nessa rede.O desenvolvimento e avano de tcnicas e cincias mdicas acentuou a predominncia do modelo biomdico no processo sade-doena por concentrar a ateno doena, em detrimento s experincias do paciente, e o diagnstico passou a se basear nos resultados das tcnicas cada vez mais modernas, desprezando a relao pessoal entre mdico e paciente.Enfatizaremos fatores contribuintes e prejudiciais para que essa rede social mdico-paciente seja efetiva no processo de adoecimento, de modo que o mdico entenda o paciente como um ser biopsicossocial, e entenda o significado de adoecer atribudo a ele, e o paciente entenda o mdico como ser humano dotado tambm de sensibilidade.Um mecanismo que muito dificulta a o bom funcionamento dessa rede social a assimetria na relao entre o mdico e o paciente. Uma vez que essa relao no seja bem construda, o mdico corre o risco de no tomar cincia de todos os problemas que acometem o paciente, ou at mesmo percebem esses fatores, mas no os levam em considerao durante as consultas, assim como no consideram problemas psiquitricos e psicossociais. Essa assimetria na relao leva a uma comum discordncia entre mdicos e pacientes sobre a raiz do problema principal, de modo a levar o mdico a vetar a possibilidade de o paciente contar sua histria e emitir suas opinies pessoais sobre o processo de enfermidade. Esses aspectos esbarram na qualidade que o usurio atribui ao servio, uma vez que estudos j realizados constataram que a capacidade diagnstica e teraputica do mdico ocupa menor espao como critrio do que a relao estabelecida com os profissionais de sade.O suporte dessa rede seria o mesmo aspecto que contempla a eficincia de um servio de sade, sendo: o respeito dos valores subjetivos do paciente, a promoo de sua autonomia, a tutela das diversidades culturais (Spinsanti, 1999).Outro aspecto que tende a quebrar a efetividade da rede social mdico-paciente a comunicao. Mesmo que boa parte dos profissionais tentem estabelecer uma relao emptica com os pacientes no incio das consultas, problemas surgem de forma evidente, sendo eles a falta de explicao clara e compreensiva do mdico sobre o problema, aliado ao fato do profissional no verificar o grau de entendimento do diagnstico repassado.A efetividade dessa rede se daria na quebra dessa relao assimtrica entre mdicos e pacientes, explicada por Arrow: Alm dos aspectos culturais temos de enfatizar que eles (mdicos e pacientes) no se colocam no mesmo plano: trata-se de uma relao assimtrica em que o mdico detm um corpo de conhecimentos do qual o paciente geralmente excludo (Arrow, 1963).Consolidar essa contribui enormemente para o processo sade-doena, como explicam Dixon e Sweeney: A importncia da relao teraputica explica por que a adeso ao processo teraputico depende mais do mdico do que das caractersticas pessoais do paciente, em particular, o paciente muito mais inclinado a atender a prescrio se ele pensa que conhece bem o mdico que est prescrevendo (Dixon e Sweeney, 2000).1. CAPRARA, A. & FRANCO, L. S. A. A relao paciente-mdico. Para uma humanizao da prtica mdica. Cadernos de Sade Pblica, 15:647-654. (1999) 2. CAPRARA, A. A relao assimtrica mdico-paciente: repensando o vnculo teraputico. Cincia e Sade Coletiva. (2001)3. CAPRARA, A. Uma abordagem hermenutica da relao sade-doena. Cadernos de Sade Pblica. 19(4): 923-931. (2003)4. SPINSANTI, S. Chi ha potere sul mio corpo? Nuovi rapporti tra medico e paziente.Edizioni Paoline,Roma. (1999)5. ARROW, K. Uncertainty and the welfare economics of medical care. American Economic Review 53(5):89121. (1963)6. DIXON, M. & SWEENEY, K. The human effect in medicine: theory, research and practice. Radcliffe Medical Press,Oxford. (2000)