as emoções do médico na relação com o paciente: uma … · 2017. 2. 22. · as emoções do...

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP LAURA MARQUES CASTELHANO As emoções do médico na relação com o paciente: uma abordagem da psicologia junguiana DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA SÃO PAULO 2015

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PONTIFIacuteCIA UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SAtildeO PAULO

PUC-SP

LAURA MARQUES CASTELHANO

As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem da

psicologia junguiana

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA

SAtildeO PAULO

2015

PONTIFIacuteCIA UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SAtildeO PAULO PUC-SP

PROGRAMA DE ESTUDOS POacuteS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA

LAURA MARQUES CASTELHANO

As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem da

psicologia junguiana

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA

Tese apresentada agrave Banca Examinadora da

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Doutor em Psicologia Cliacutenica sob a orientaccedilatildeo da

Profa Dra Liliana Liviano Wahba

SAtildeO PAULO

2015

Banca Examinadora

________________________________________________________

Profa Dr

a Liliana Liviano Wahba ndash Orientadora

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo especialmente a Profa Dra Liliana Liviano Wahba pela parceria dedicaccedilatildeo e pelo

saber compartilhado Eacute difiacutecil definir apenas em palavras a minha imensa gratidatildeo

Aos meacutedicos que dedicaram seu tempo para esta pesquisa nas entrevistas e testes

Ao Prof Dr Mario Alfredo De Marco (in memoriam) pela inspiraccedilatildeo Sou grata pelos

momentos de interaccedilatildeo

Agrave Dra Paula Perrone pelas discussotildees e apontamentos tatildeo ricos que contribuiacuteram para meu

crescimento

Agrave Profa Yara Pisanelli Gustavo de Castro pelo apoio na construccedilatildeo da anaacutelise dos dados

estatiacutesticos

Aos professores do Nuacutecleo de Estudos Junguianos que me apoiaram neste percurso

Aos meus amigos que me incentivaram e estiveram presentes nesta jornada

Agradecimento especial agrave minha famiacutelia Vocecircs satildeo o meu alicerce

Agrave Capes pela bolsa de estudos concedida

CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem

da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o

afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30

(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4

(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos

utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a

entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram

sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo

entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve

diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo

com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento

(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o

paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros

meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados

pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a

abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias

preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao

estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees

despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar

com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e

percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos

decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para

ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes

Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente

projeccedilotildees psicologia junguiana

CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An

Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

ABSTRACT

The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception

of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in

quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen

four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the

analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults

Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured

interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is

an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the

sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference

between the sample results and the general population but differences were found in the

relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time

(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors

with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more

impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per

week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data

were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the

approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories

related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional

perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by

difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results

revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity

There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and

poorly understood which can result in projections in patients

Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship

projections Jungian psychology

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

81

Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

70

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IAPS International Affective Picture System

ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp

SAM Self-Assessment Manikin

SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees

SPSS 17 Statistical Package for the Social Science

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 12

2 OBJETIVOS 17

21 OBJETIVO GERAL 17

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17

23 QUESTOtildeES 17

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37

411 Estresse em meacutedicos 41

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52

5 MEacuteTODO 56

51 PARTICIPANTES 56

52 INSTRUMENTOS 56

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58

523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59

524 Entrevista semiestruturada 60

53 PROCEDIMENTOS 61

531 Local de coleta 61

532 Seleccedilatildeo dos participantes 61

533 Procedimento de coleta de dados 61

534 Procedimento de anaacutelise de dados 63

5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64

5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64

535 Procedimento eacutetico 65

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76

616 Agrupamento do IAPS por cluster 79

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86

6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87

6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93

6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98

6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103

7 DISCUSSAtildeO 109

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115

REFEREcircNCIAS 118

ANEXO A 128

ANEXO B 129

ANEXO C 130

APEcircNDICE 132

12

1 INTRODUCcedilAtildeO

Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada

(HILLMAN 1992 p xi)

As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as

relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e

possibilitam sensaccedilotildees como o prazer

Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a

par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e

por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e

reciacuteproco sobre o outrordquo

Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso

corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente

Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo

apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2

Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos

indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos

mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo

O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute

presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado

escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do

sentido e do significado

[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da

razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia

ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma

supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na

unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral

(JUNG 19212009a par117)

Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa

dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja

1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o

outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a

par 751)

13

pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o

trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito

Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo

em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a

emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no

momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis

respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser

levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As

emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele

lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os

de morte

Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho

(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto

das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees

De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo

pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo

profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao

mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um

caminho de evitaccedilatildeo

Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo

do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que

escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir

para ser meacutedicordquo

Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e

humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de

estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e

adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a

atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento

podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel

sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no

mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre

elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico

acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos

fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica

14

Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores

entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15

dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles

seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila

mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo

A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias

natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele

interage com o paciente

O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades

organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais

administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que

lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em

equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica

Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam

evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam

exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa

atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede

do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para

a tomada de decisotildees

Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o

dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja

falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas

palavras e nas interaccedilotildees

Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes

Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela

estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute

essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede

de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai

processar essas emoccedilotildees

As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca

atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave

contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas

relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo

15

Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia

chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que

provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos

tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)

As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por

meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa

personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da

afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)

Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o

reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base

nos fundamentos da psicologia analiacutetica

Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente

influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas

decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo

possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo

com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e

instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de

estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos

O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo

Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo

apresentados no Capiacutetulo 2

No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as

discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as

dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e

contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o

estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional

na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das

emoccedilotildees na tomada de decisatildeo

No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a

amostra os instrumentos e os procedimentos

A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6

Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de

Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na

16

anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de

estudo de caso

Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados

relacionando-os com a teoria e os fundamentos

O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho

para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema

17

2 OBJETIVOS

21 OBJETIVO GERAL

Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS

Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico

Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse

Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e

aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades

Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico

23 QUESTOtildeES

Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees

Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica

Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico

18

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES

A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista

conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo

do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao

privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e

enriquece o desenvolvimento de teorias

A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos

ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo

Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate

protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses

assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do

aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)

Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo

cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem

qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo

Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam

ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de

estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo

vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes

As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um

fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo

Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a

neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e

intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e

19

direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo

com o ambiente) (SCHERER 2005)

De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees

com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram

a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente

no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos

Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a

interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento

de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees

de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma

soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia

Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente

ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional

Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem

gerar prazer ou desprazer

Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para

suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila

o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de

cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado

conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao

tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de

incerteza

Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante

influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da

emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento

emocional

LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de

forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de

distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma

participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido

para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar

tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo

emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel

do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo

20

O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves

motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se

encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os

responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo

A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo

processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos

racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas

as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento

Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute

os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa

mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)

Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que

ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave

evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A

tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a

desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para

eventos natildeo relacionados

Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do

processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu

durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem

devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando

uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)

Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e

pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia

de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e

com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e

objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior

fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo

As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria

fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa

de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as

nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p

13)

21

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico

Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa

quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees

pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto

qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada

Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente

como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a

emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam

conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na

gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o

autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo

Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a

decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja

escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as

muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo

A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no

momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma

determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em

consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo

A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa

Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um

processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo

o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem

mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem

vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a

uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo

De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico

fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A

ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por

sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos

em emoccedilotildees e sentimentos

22

A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo

para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado

resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal

automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um

nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico

positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo

Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees

secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)

pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios

Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e

sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem

natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de

interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas

(DAMAacuteSIO 2006 p 211)

A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo

de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas

A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe

um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais

Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves

organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra

mais importante Affect Imagery Consciousnes

Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque

natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o

mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas

de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)

O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez

que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para

seu questionamento foi o afeto

3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-

organizadas

23

Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma

descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser

humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a

confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para

um estiacutemulo

A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e

de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)

De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em

afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos

estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo

Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para

evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a

vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim

um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5

Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove

afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees

dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das

expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o

mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX

2001)

Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o

sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um

indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as

possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas

O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees

eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos

Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e

referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees

Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a

convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas

4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos

5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem

concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras

24

Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees

baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria

De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se

apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz

diz e pensa

Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de

mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e

vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do

sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees

reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na

recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo

do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011

p 81)

Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa

emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se

percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar

para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e

preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas

Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta

que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que

segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo

lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo

geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas

pelo organismo ao longo de sua vida

Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas

emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-

se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem

nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo

Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco

precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas

medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que

merecem atenccedilatildeo especial

Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de

bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas

circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das

25

emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o

ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo

O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no

processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social

eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos

sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)

As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida

dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que

norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a

projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e

comportamentos

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia

A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em

Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo

sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a

um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer

tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo

quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo

Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente

que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos

para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos

Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que

natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo

Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma

estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e

dominacircncia

Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples

que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees

estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a

mensuraccedilatildeo de respostas emocionais

A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida

utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes

26

comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert

(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a

exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia

dos aspectos emocionais na memoacuteria

Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a

tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e

grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere

Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas

por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de

respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico

O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o

fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com

Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de

descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e

palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas

dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)

Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico

chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus

estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos

podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia

Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com

precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores

sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas

pois funcionam de forma independente6

A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento

ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua

relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)

A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um

estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e

LANG 1994)

6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de

Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal

27

A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do

agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva

ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo

valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema

aversivo

De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido

de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto

positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado

com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo

As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias

natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo

processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona

a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS

A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos

A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que

eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e

julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG

19041994)

A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos

aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o

estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem

valor de sobrevivecircncia

Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou

natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda

natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou

ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma

situaccedilatildeo

[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se

involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel

aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de

expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar

consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o

28

proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG

19161991 par 323)

Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se

surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou

que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era

registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito

A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as

respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias

Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa

trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A

expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de

expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um

processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade

Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos

carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas

manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado

de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)

Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do

complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa

aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o

desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica

Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e

sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma

emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica

Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos

percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes

Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma

predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de

fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que

pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o

desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par

769)

29

De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto

mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se

tornardquo

Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do

indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de

parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a

proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)

Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung

fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um

conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem

imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm

para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da

importacircncia relativa da imagem

Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande

medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se

a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees

perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores

consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo

A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees

interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos

sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia

Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos

que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos

conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao

mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)

A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o

mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual

um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao

objeto (JUNG 19332012)

30

Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos

os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um

processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia

Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante

da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute

por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo

pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo

Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo

sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser

esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos

Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com

caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e

contratransferecircncia

Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde

seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era

importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos

percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram

transferidas para o analista

Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma

exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento

psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas

ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)

A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois

pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus

pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)

E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que

neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)

revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na

esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)

Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido

negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia

Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma

repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente

pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo

31

A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com

Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza

aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da

criatividade na relaccedilatildeo

De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a

todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a

interaccedilatildeo

Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo

Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e

trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade

A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o

sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia

particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)

Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se

liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo

compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar

qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico

A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o

fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia

pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno

O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)

para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um

fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud

(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes

poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica

Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a

contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho

para o material de seus pacientes

Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo

representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se

em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo

natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do

cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra

32

passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o

analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico

Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos

e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo

de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o

autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das

desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas

atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa

Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995

2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na

teorizaccedilatildeo disso pode ser observada

Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)

importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram

na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da

contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do

paciente

Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo

para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento

teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a

contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do

paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)

A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-

determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute

indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem

acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago

colocadas no analista (RACKER 1982)

Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista

mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior

compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento

psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da

relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente

De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung

via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o

paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung

33

(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute

relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente

A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para

ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois

sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha

destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem

daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados

A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute

que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas

diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a

alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na

relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa

do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias

transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele

tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)

Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o

inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e

ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute

um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o

agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam

O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do

inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente

correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior

ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim

numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011

par 364)

De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes

reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees

de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute

presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e

temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais

duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da

contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise

Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia

possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos

34

A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome

mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o

paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia

Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de

desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem

bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus

pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes

e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute

contratransferecircncia

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos

existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um

instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico

A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica

relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e

Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre

meacutedico e paciente

Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante

influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de

lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico

[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo

como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus

conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que

pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT

1988 p 265)

Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma

atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com

isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por

outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator

quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de

funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De

acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o

35

paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho

do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente

o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do

meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo

com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma

influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988

p 47)

Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel

para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como

meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e

idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint

(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas

influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo

Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente

Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos

de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos

Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar

suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo

dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar

conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um

liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento

De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico

chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada

perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os

aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande

mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os

grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje

Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas

raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos

cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem

o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a

fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica

36

De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a

alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do

meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que

meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo

O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a

seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se

estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de

relacionamento com seu paciente

37

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA

A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes

Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS

MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp

Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr

Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr

Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr

Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom

Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed

Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx

International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg

Journal of Analytical Psychology

Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)

httpucpressjournalscomjournalphpj=jung

httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml

Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155

As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo

do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA

A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo

biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e

da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer

relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para

a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE

MARCO 2012)

Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das

pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos

38

muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem

tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional

O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo

onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma

imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os

poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano

comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)

O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional

em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos

etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico

A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa

realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de

Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram

que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram

necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas

27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles

que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios

modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar

Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas

relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano

De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o

estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a

distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo

que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para

o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer

resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente

O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em

seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver

comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento

ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos

psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico

Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a

implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os

estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa

39

Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a

comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo

com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos

encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila

de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na

educaccedilatildeo meacutedica

O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam

novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e

sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA

2001 p 8)

Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos

uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de

embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir

sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas

do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as

emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente

As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry

Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica

e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de

decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por

fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do

ambiente

Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes

despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a

maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que

essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia

O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus

sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)

a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres

e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica

De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves

necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com

situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do

paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que

inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente

40

As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma

constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve

prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas

tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de

ambas as partes

O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que

transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu

grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um

instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados

Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um

melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)

fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de

que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram

os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram

durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram

que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da

vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que

nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado

o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser

invertidos

Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees

inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma

segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem

vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos

envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores

meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode

fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la

A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel

substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o

meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e

compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de

tratamento

41

411 Estresse em meacutedicos

A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos

uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre

o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos

De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees

ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse

possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e

motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e

novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em

que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer

tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se

Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados

abaixo do ideal

De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por

produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma

influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente

tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas

emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais

como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes

Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na

Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos

profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no

trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma

vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do

atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho

excessiva

Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais

na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia

problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida

familiar foram os fatores mais citados

As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

42

Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria

Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22

se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados

houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os

problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho

meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse

foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva

excessiva (522)

Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados

mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia

Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram

a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o

fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento

Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do

municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos

apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia

Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade

de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123

apresentaram estresse

A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do

burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma

reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a

maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse

ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE

Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele

pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos

podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo

a um paciente

As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e

provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um

43

protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo

atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se

encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)

Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem

ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e

Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel

e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo

cliacutenica

Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece

com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo

parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos

A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da

capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e

percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes

Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser

positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a

pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink

A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al

(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas

dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo

De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles

que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma

conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila

Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute

satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e

TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio

(STEINMETZ e TABENKIN 2001)

Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem

impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith

(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de

7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no

qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos

negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)

44

cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de

sauacutede do paciente

Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a

qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de

conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a

especialistas

De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto

por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao

expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento

Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que

os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo

Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que

na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes

Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo

com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao

paciente ou a ambos

De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente

que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e

caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos

profissionais

Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)

observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos

com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o

autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus

proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas

proacuteprias reaccedilotildees emocionais

Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na

interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas

Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo

pelo meacutedico

Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para

identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente

45

O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al

(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo

interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento

De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos

processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a

flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o

paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu

humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente

Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e

Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o

envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis

cuidadosos e mais motivados

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE

Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo

em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como

Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do

conhecimento de sua farmacologia

Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute

permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse

tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional

para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)

De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais

envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte

dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se

informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede

Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e

paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por

mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo

empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes

Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave

comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por

meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os

46

humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um

fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais

Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de

emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo

transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e

natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no

passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que

antecipam no futuro

Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que

transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia

jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de

confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com

roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que

natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem

conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo

Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande

gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes

mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito

Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de

uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e

sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o

meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo

Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)

observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas

determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas

emoccedilotildees

Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e

Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do

paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais

satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente

47

percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos

foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi

determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao

paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia

sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico

percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o

meacutedico tratava o paciente

Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no

Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos

A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer

uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas

surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para

seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do

paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram

os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores

observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o

favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e

insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua

competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que

modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia

Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de

seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises

foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da

pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45

queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados

e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com

precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo

costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees

precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos

Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento

comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das

Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro

de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu

comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a

48

atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes

sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-

paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias

pregressas de encontros com outros meacutedicos

Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou

ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o

papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que

apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o

engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos

ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o

estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes

Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro

cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como

resposta um aumento da emotividade do paciente

Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de

sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila

significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes

tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a

tomada de decisatildeo

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO

Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem

explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam

diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo

variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de

como funciona esse processo

O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos

na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas

principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos

Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise

com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de

raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses

49

passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e

compreender o processo de uma doenccedila

A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo

compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica

meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento

de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica

cliacutenica tem se intensificado

Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a

forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de

qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente

De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-

se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas

logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo

quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete

erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a

compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias

O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a

decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se

inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia

todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma

avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a

probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial

Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes

ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A

prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva

a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as

hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do

paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL

KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)

Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento

heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um

diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com

Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional

50

ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas

emoccedilotildees podem influenciaacute-la

Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo

uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas

pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A

heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel

Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu

uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros

sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que

deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo

Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de

decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia

muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute

trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo

alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na

geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente

quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo

De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees

de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico

natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico

Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte

da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e

por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma

como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem

no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico

possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias

Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de

hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de

medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas

geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses

iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o

processo de diagnoacutestico final

Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais

hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas

51

agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses

especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio

intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que

reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados

limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico

A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue

um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em

evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos

De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem

duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o

que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a

informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se

encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em

que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo

consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro

geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos

Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o

ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento

emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que

complicam a decisatildeo cliacutenica

Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em

um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o

modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo

cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que

tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando

protocolos e sistemas

Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que

fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em

ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os

meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico

e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou

quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos

desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de

ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo

52

A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados

estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento

Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um

tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser

humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo

(GROOPMAN 2008 p 15)

De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo

meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores

decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo

relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores

assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem

garantir resultados eficazes

Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em

funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em

que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente

provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado

Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de

pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas

possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo

Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria

muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo

A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto

quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos

terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo

Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de

forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo

Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as

caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram

selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o

modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as

53

caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de

diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia

combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes

para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas

Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes

durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo

sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez

que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa

funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida

Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem

esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos

meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade

Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um

guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio

entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que

fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de

raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo

analiacutetica

O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees

importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees

precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos

podem ser alertados para modificar um raciociacutenio

Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam

sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de

eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em

termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os

autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de

patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera

variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico

Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-

pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver

8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo

54

algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico

claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro

sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro

Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede

de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-

pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto

em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de

incerteza diagnoacutestica

Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da

queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre

o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de

errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era

nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas

foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o

exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O

meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes

Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros

paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a

maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos

participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados

com os meacutedicos holandeses

Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e

tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico

experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o

prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)

e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo

de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos

relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no

abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de

errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos

dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de

incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos

resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos

utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo

55

Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos

holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo

interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme

definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses

diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de

tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente

estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de

tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que

era esperado pelo meacutedico

As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no

processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo

existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo

de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em

que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo

as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas

tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo

56

5 MEacuteTODO

A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados

quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o

enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode

ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-

quantirdquo

De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de

muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos

e quantitativos

Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos

mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta

pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e

qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial

explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos

51 PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas

especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte

(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo

dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina

convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de

caso com entrevista

52 INSTRUMENTOS

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de

testagem

57

Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas

de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o

International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do

meacutedico

Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do

meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente

A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico

O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm

por objetivo caracterizar a amostra

Idade________________

Sexo F ( ) M ( )

Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________

Especialidade____________________________

Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)

Consultoacuterio ( )

Hospital puacuteblico ( )

Hospital particular ( )

Universidade ( )

Outro______________________ ( )

Outro______________________ ( )

Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no

Consultoacuterio ___ h

Hospital puacuteblico ___ h

Hospital particular ___ h

Professor acadecircmico ___ h

Outro ____________________ ___ h

Outro ____________________ ___ h

____ (total de horas semanais)

Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___

58

Tempo meacutedio de atendimento ___

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a

pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em

que se encontra

Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a

fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo

Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de

adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada

Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se

novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total

de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta

inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi

quebrado na fase de alerta

Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia

fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue

pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e

esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total

desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra

emocional

Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que

um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue

concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves

podem ocorrer

Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou

sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com

15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do

estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo

59

Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as

sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo

quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)

Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e

trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados

pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes

psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e

apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo

523 IAPS ndash International Affective Picture System

O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por

imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama

de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de

700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras

As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos

participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os

participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo

emocional

As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do

Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo

estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as

gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item

que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras

escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer

A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo

induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala

Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)

pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo

(desagradaacutevelnegativa)

De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido

porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de

avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel

60

A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro

Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do

IAPS foi autorizada pelos autores

Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o

relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12

agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos

estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo

emocional das imagens

524 Entrevista semiestruturada

A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por

perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles

tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de

De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith

(1995)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil

1a Que caracteriacutesticas ele tem

1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente

atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades

2a Que caracteriacutesticas ele tem

2b Por que ele natildeo desperta dificuldades

2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso

o afeta Decirc um exemplo

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente

Como

61

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira

no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse

decorrente da profissatildeo Como lida com isso

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por

quecirc

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc

53 PROCEDIMENTOS

531 Local de coleta

A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)

532 Seleccedilatildeo dos participantes

Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de

indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos

proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento

dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo

A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de

disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a

realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em

clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico

escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise

aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O

procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise

533 Procedimento de coleta de dados

62

O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta

de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados

serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia

Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os

resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)

Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos

conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes

foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi

agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta

O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees

sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a

possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de

consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e

devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa

avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da

entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas

e depois transcritas para a anaacutelise

Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia

utilizada na aplicaccedilatildeo foi

Questionaacuterio sociodemograacutefico

Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por

favor preencha as informaccedilotildees solicitadas

International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)

Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo

com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo

responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de

respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma

sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe

parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz

ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que

mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando

um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a

63

figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se

alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta

estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se

aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X

entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no

meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a

classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o

nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os

tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam

Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem

experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os

sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou

P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs

Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a

entrevista

Entrevista semiestruturada

Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees

em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do

paciente

534 Procedimento de anaacutelise de dados

O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem

quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30

meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a

interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos

escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a

64

anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram

identificados por nomes fictiacutecios

5341 Anaacutelise quantitativa de dados

Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes

estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD

(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados

O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando

suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado

para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras

independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de

anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes

Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu

como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo

A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de

estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico

com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo

com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer

comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do

IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS

comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico

5342 Anaacutelise qualitativa de dados

A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro

clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi

escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)

meacutedicos

A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas

com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional

65

o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e

estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

535 Procedimento eacutetico

A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa

envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o

Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)

66

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou

tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo

qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo

O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa

SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de

medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas

(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes

estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes

tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de

comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o

programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se

com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro

A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade

com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir

dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes

em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante

de cada cluster para o estudo de caso

A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia

Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo

da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a

comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International

Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o

sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster

Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4

participantes em forma de Estudo de Caso

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA

67

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos

Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de

diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento

no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas

caracterizaccedilotildees

Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as

distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)

especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho

(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de

pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio

(tabela 7)

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo

Sexo N

Masculino 17

Feminino 13

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e

13 (treze) do sexo feminino

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria

Faixas etaacuterias N

20 a 34 anos 10

35 a 48 anos 7

49 a 59 anos 7

Acima de 60 anos 6

Total 30

Meacutedia 446

Desvio-padratildeo 130

Fonte proacuteprio autor

68

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7

(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade

eacute de 446 anos

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado

Tempo de formado N

05 a 10 anos 12

11 a 23 anos 6

24 a 32 anos 6

33 a 46 anos 6

Total 30

Meacutedia 194

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11

a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de

tempo de formado eacute 194 anos

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades

Especialidade N

Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8

Ortopedia 5

Ginecologia 4

Oftalmologia 3

Otorrinolaringologia 3

Endocrinologia 2

Neurologia 2

Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3

Total 30

Fonte proacuteprio autor

No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e

tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)

oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As

outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia

69

(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)

e urologia (1)

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho

Locais de Trabalho N

Apenas Consultoacuterio 10

Consultoacuterio e Hospital particular 10

Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5

Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10

(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no

hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos

trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 2

21 a 40 hsemanais 8

41 a 48 hsemanais 8

49 hsemanais e + 12

Total 30

Meacutedia 460

Desvio-padratildeo 125

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a

maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais

dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas

70

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 8

21 a 40 hsemanais 15

41 a 48 hsemanais 2

49 hsemanais e + 5

Total 30

Meacutedia 328

Desvio-padratildeo 129

Fonte proacuteprio autor

O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao

atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio

Nuacutemero de pacientesdia N

01 a 09 pacientesdia 4

10 a 22 pacientesdia 15

23 a 37 pacientesdia 6

38 a 55 pacientesdia 5

Total 30

Meacutedia 219

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219

Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a

22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais

de 38 pacientesdia no consultoacuterio

71

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta

Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N

15 a 25 minutos 13

26 a 35 minutos 12

36 a 45 minutos 4

46 a 55 minutos 1

Total 30

Meacutedia 268

Desvio-padratildeo 100

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a

consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus

pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse

que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no

consultoacuterio eacute de 268 minutos

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e

13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A

meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos

meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268

minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do

consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)

Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos

sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da

escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da

amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os

sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos

72

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Stress N Paracircmetro

Natildeo 13 433 440

Sim 17 567 560

Total 30 1000 1000

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de

estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo

geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute

dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Fase Stress N Paracircmetro

Alerta 02 67 20

Resistecircncia 15 500 530

Exaustatildeo 0 00 10

Total 17 567 560

Fonte proacuteprio autor

Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles

estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e

Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa

que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta

referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo

de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um

prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo

de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a

fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar

as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves

73

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL

5

10

2

0

2

4

6

8

10

12

Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos

Prevalecircncia de Sintomas de Stress

Prevalecircncia de sintomas N

Fiacutesicos 5

Psicoloacutegicos 10

Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2

Total 17

Fonte proacuteprio autor

Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram

predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram

diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos

projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-

estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo

muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e

insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro

De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou

psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos

decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da

amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a

vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra

uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)

apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos

paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de

resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma

sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos

mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita

de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva

Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento

encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20

74

meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e

com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em

58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na

fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram

resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas

123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e

72 apresentaram estresse

Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em

termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade

psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a

inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores

psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo

podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico

Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para

observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o

iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo

Stress Sexo Total

Masculino Feminino

Natildeo 7 6 13

Sim 10 7 17

Total 17 13 30

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do

teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo

entre o sexo e o estresse

75

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas

Stress N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t p

Idade Natildeo 13 486 138 38

150 0144 Sim 17 415 119 29

Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38

167 0106 Sim 17 162 107 26

Tempo total de

trabalho (horas

semanais)

Natildeo 13 484 142 39

091 0371 Sim 17 442 112 27

Tempo de trabalho

no Consultoacuterio (horas

semanais)

Natildeo 13 337 130 36

030 0766 Sim 17 322 133 32

Nuacutemero de

pacientesdia

Natildeo 13 255 153 42 140 0171

Sim 17 192 92 22

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

Natildeo 13 300 96 27 155 0133

Sim 17 244 100 24

Fonte proacuteprio autor

Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por

meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As

diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil

sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)

Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas

da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo

emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens

afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment

Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a

intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir

76

de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao

induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo

(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta

a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da

populaccedilatildeo

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais

Escalas N Meacutedia Desvio

padratildeo

Erro

padratildeo

t p μ

Paracircmetro

Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491

Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501

Total 30 497 044 008 0095 0925 496

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas

escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala

Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a

meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que

os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila

significativa

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico

Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave

percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se

internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia

alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional

As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais

dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de

pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta

77

Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS

Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo

Sexo N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t P

Alerta Masculino 17 504 113 027

1634 0057 Feminino 13 449 054 015

Prazer Masculino 17 509 031 007

-0646 0262 Feminino 13 518 043 012

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture

System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas

meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo

com as escalas

A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do

IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Alerta Prazer

Idade

r 035 -028

p 0031 0065

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de formado

r 032 -024

p 0043 0100

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo total de trabalho (horas

semanais)

r -0041 -0025

p 0415 0448

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de trabalho no Consultoacuterio

(horas semanais)

r 020 -040

p 0139 0014

N 30 30

78

Alerta Prazer

Nuacutemero de pacientesdia

r 002 021

p 0443 0128

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

r 036 -0204

p 0024 0140

N 30 30

A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica

descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis

O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que

indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa

que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +

032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo

de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e

o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta

Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele

ficou diante dos estiacutemulos emocionais

Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas

semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto

mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer

Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de

pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer

Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em

relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das

distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave

79

percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao

trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)

Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo

de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos

mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta

Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos

tempo

616 Agrupamento do IAPS por cluster

Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos

participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com

similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade

ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por

agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um

embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em

profundidade

O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a

cada agrupamento

80

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)

O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas

Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia

dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia

A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a

separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia

N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo F P

Alerta

Cluster 1 6 501 010 004

4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027

Cluster 3 9 377 027 009

Cluster 4 8 465 021 007

Prazer

Cluster 1 6 493 015 006

2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010

Cluster 3 9 519 016 005

Cluster 4 8 556 017 006

Fonte proacuteprio autor

81

O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo

que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)

Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos

clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos

ou mais distantes da meacutedia

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

Alerta N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055

Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004

Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000

Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009

Prazer N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265

Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038

Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011

Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000

Fonte proacuteprio autor

O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral

O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que

possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a

populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor

pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos

de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters

O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais

82

baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo

O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o

com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com

pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis

sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os

clusters

Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou

afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective

Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo

e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional

que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no

cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas

duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e

tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster

3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4

agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve

diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters

O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas

pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters

2 3 e 4

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia

em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster

83

perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos

outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia

de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam

486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181

pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos

Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e

4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam

prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a

anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de

fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os

sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer

unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa

especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente

Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de

formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente

nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que

meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se

mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas

semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e

desagradaacutevel

Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)

concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais

excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos

niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa

correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta

Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no

consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees

intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a

anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes

O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor

pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa

em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos

diante dos estiacutemulos

84

Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos

participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4

trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao

trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 233 minutos

Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5

na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com

estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de

sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram

duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos

outros clusters

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos

que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico

Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo

esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo

dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas

O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos

constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade

emocional

O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior

pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de

forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia

de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao

trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 225 minutos

Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e

3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de

resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas

psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio

entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os

participantes deste cluster

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com

menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais

85

pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os

resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de

trabalho no consultoacuterio e o Prazer

O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das

relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer

como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo

frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como

aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster

Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que

trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo

com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem

Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas

escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas

hipoacuteteses interpretativas

1ordf Tendecircncia observada

Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado

e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos

estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as

variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de

estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela

escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que

permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais

desagradaacutevel

Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente

de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses

meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o

Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas

relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem

estar menos satisfeitos

2ordf Tendecircncia observada

86

O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo

com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade

emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse

pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos

permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de

interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente

Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente

com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo

agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente

3ordf Tendecircncia observada

Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de

formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem

mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala

Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior

prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda

uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer

Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria

da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos

prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com

outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem

menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga

emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso

Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para

anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por

meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas

no quadro a seguir

87

Tabela 17 Categorias de anaacutelise

CATEGORIAS

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

A percepccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises

6221 Caso 1 Daniel (participante 12)

Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto

aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que

ficam mais tempo com o paciente nas consultas

Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute

Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta

de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha

em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute

de 45 minutos

Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e

era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando

sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de

como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem

educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como

montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um

desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que

estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas

algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar

que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

88

Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico

constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo

relatou nenhum sintoma psicoloacutegico

O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa

aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro

mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele

natildeo vai ser meacutedicordquo

Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas

situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees

de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel

fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como

atender um paciente bem se natildeo estiver descansado

Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia

mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem

porque aprendirdquo

Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o

nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o

trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre

cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo

chato natildeo eacute rabo curto como erardquo

Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-

se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu

passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho

mais tempordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o

meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos

estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos

Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as

89

consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por

estiacutemulos que despertam emoccedilotildees

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve

permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de

modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu

trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo

Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em

dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam

parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi

um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos

meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e

isso me emocionourdquo

Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o

influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o

atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e

fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se

resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas

falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo

reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo

Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios

incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma

diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo

pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer

mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao

paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava

dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a

90

lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por

que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo

Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais

envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes

sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo

paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos

que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo

O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante

que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do

diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao

cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio

ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de

suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento

mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram

o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa

ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee

chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me

obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou

trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como

esse afetassem o seu trabalho

Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou

que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees

de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser

conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com

a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo

Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o

tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute

positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto

Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais

satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo

Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees

positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades

mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades

91

mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe

paciente faacutecilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle

diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto

emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o

controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais

jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []

mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as

emoccedilotildeesrdquo

O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do

desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro

maisrdquo

Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o

controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus

pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de

brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-

presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para

essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha

a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas

desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo

Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram

desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica

remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo

Leitura analiacutetica

Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos

que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi

extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo

diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no

teste do IAPS

92

Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees

relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a

maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou

uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no

em sua seguranccedila

Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode

refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e

incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as

emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute

necessaacuteria uma atitude de controle

Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente

que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o

seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel

ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido

contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o

paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute

aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e

que parece respeitaacute-lo

No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes

percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou

ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o

senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo

ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e

com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se

ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente

O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular

de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa

Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas

estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como

demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute

cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns

iam emborardquo

Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo

permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos

93

aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de

seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os

aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o

confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e

que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de

falhar

6222 Caso 2 Alice (participante 2)

Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade

emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em

hospital puacuteblico

Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e

divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes

Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio

Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

20 minutos

Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas

vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel

Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios

momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era

solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das

questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que

uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar

algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia

preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos

prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e

cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa

94

especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando

mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a

hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e

irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do

ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os

pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam

aprender a lidar

Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades

que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo

Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem

interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em

burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso

pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda

muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []

eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou

menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das

figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma

tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o

que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter

diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas

podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de

comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a

emoccedilatildeo) influi em tudordquo

95

Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais

intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo

Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o

que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que

podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo

Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem

alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em

seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos

avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar

que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de

atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela

como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e

sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo

Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que

incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao

meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua

postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a

um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim

entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho

que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa

ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o

baixo Alerta no IAPS

Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de

exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de

pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente

e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a

relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma

compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no

96

consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo

ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo

Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas

pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de

violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria

demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo

Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo

aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo

pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e

ajuda ao outro

Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a

sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]

eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele

realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim

de se sentir uacutetilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para

proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]

quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de

pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do

caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees

psicoloacutegicas de lidarrdquo

Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em

que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e

assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou

uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo

Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata

como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o

tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no

consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo

97

Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara

com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente

parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos

Leitura analiacutetica

Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para

evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em

qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo

como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez

Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela

teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute

canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo

antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de

superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir

parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse

recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio

Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas

diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o

recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica

Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo

de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que

parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela

reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o

caso

Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo

representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos

Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel

Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia

para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja

vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda

ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas

A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice

percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os

98

sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes

Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse

estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da

entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como

vinculadas ao estresse

Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas

como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que

como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos

efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento

A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua

capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e

frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar

sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse

reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto

observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas

relaccedilotildees

Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo

projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante

dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo

6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)

Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de

Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de

formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam

menos tempo com eles

A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi

individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande

nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais

caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio

99

Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o

seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo

atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho

no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

15 minutos

O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito

cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de

atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo

para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e

agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade

suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo

assinalou nenhum sintoma fiacutesico

Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que

atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras

atividades como cirurgias e compromissos familiares

Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o

estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma

contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e

mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que

me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo

ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo

perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel

percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral

Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao

considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa

100

insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em

funccedilatildeo de um processo defensivo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre

elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente

acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo

As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e

prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma

caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc

fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como

barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo

Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho

Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela

sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor

cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo

emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo

Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as

suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a

sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo

vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []

afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando

perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)

Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender

Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet

ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees

desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo

da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar

101

o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje

em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo

quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo

Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo

traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa

desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender

[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e

mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA

dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar

para ele o que vocecirc esta querendordquo

O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o

diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de

Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu

trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se

sente bemrdquo

Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que

suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento

das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o

pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas

jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu

trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo

ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute

tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser

neutrordquo

Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de

cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito

comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o

ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser

influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto

nenhumrdquo

102

Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou

estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se

com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que

chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo

Leitura analiacutetica

Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo

Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo

O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois

trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No

entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e

insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes

O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e

o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse

Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo

Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de

que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou

subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu

papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia

negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo

vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos

emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a

gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo

Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e

controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como

meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus

atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu

julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e

entendimento

Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre

a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter

103

observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no

controle e que a atitude emocional pode ser controlada

Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para

expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que

poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo

soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo

A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra

tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute

provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as

emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do

receio de ter esse poder contestado

6224 Caso 4 Marcos (participante 13)

Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais

proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos

paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer

Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia

Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital

Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10

pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos

Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou

interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha

encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este

apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um

processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e

tem se esforccedilado muito para isso

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia

afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado

104

estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de

dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os

sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e

irritabilidade sem causa aparente

O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de

sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo

de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua

jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errarrdquo

Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo

emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto

ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura

refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro

trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua

meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas

emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo

subjetiva da emoccedilatildeo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um

caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante

em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer

isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai

da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutemrdquo

Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no

diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a

beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo

105

para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a

emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo

Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de

soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um

caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo

O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar

ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias

com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e

pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem

ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo

dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo

Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois

isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais

fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a

natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm

pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a

doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no

tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e

inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse

impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo

Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar

com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com

o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido

principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento

O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da

evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de

afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de

afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no

tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo

106

O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio

que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento

e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo

[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte

delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de

realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente

satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de

realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e

tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu

conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem

do que eu posso fazerrdquo

Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves

relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como

lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor

estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem

unicamente de mimrdquo

Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees

principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito

bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo

Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de

recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de

conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para

dar um alentordquo

Leitura analiacutetica

Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho

que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu

procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo

107

Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita

que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um

pouco da personalidaderdquo

Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e

do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc

tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para

issordquo

A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante

das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em

alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes

Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como

raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila

podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para

lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o

que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da

racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas

depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer

sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia

Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira

nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e

motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a

sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo

verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral

Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da

responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do

meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo

trabalhada

Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para

ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para

pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e

reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo

com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-

las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

108

Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais

clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos

defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees

como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e

uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma

relaccedilatildeo com o paciente

109

7 DISCUSSAtildeO

O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente

que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles

relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem

influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico

Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com

o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo

os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e

a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o

paciente

Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees

estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas

emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais

impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca

compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional

A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees

que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas

Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada

porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido

seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo

percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base

essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem

apenas sintomas da afetividaderdquo

Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e

DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que

os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a

Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas

raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse

funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico

Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se

ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer

110

insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento

semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos

sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma

segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo

de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar

romper o viacutenculo

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um

compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico

(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a

essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de

valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e

dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes

tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como

afastamento entre outras

Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um

sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das

possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida

emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional

eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos

relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um

entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios

A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se

sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas

nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente

aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro

desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente

visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando

compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o

ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer

Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo

apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo

apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser

usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute

uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo

111

subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo

Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as

suas normas e convicccedilotildees

Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do

detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode

mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo

impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a

funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos

frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou

meacutedicordquo

Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo

com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico

assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais

caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos

De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente

representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da

consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma

persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem

parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo

vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral

riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel

se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)

Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por

autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do

meacutedico

Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de

detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado

situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura

informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona

riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel

Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para

responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e

sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a

reflexatildeo

112

Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e

reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas

tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no

atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como

negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas

Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo

interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e

ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e

mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado

dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os

incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo

Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois

mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples

fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a

emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar

com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui

A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas

emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um

maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de

atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem

a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento

Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar

com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta

compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e

fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro

momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa

de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes

reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades

para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das

emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam

que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem

evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a

113

esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar

sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de

seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de

reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que

os afetava negativamente e o que os afetava positivamente

Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a

busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com

naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis

Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia

percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos

chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e

distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e

com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado

espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na

entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a

questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional

Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo

ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)

O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao

extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A

atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se

riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado

Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma

inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente

mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira

vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de

impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de

quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder

A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de

como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e

sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as

caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as

percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais

114

Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar

inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o

tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo

emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung

(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente

que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico

No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas

entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b

par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em

nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o

pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas

pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a

Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila

constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na

forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)

Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre

presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo

No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006

2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um

auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de

circuitos mentais confluentes

Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e

Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a

aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e

do processo de tomada de decisatildeo

Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco

reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do

meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-

paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a

contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na

compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e

impactar no atendimento do paciente

115

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece

quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo

desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a

incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que

despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em

geral

As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica

pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento

interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu

falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os

meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional

parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por

complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo

O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente

Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na

leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica

O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos

vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos

que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido

agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais

Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o

paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que

o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes

que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como

pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute

elemento isolado desse todo

O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao

distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a

persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o

paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si

116

Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo

colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo

de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente

repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista

institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos

reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho

Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca

havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a

medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido

ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo

de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive

vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no

primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina

curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa

profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)

A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma

aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na

busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte

de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos

necessaacuterios

A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as

defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega

estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por

exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o

impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo

Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito

individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um

psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e

contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees

Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao

meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas

de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de

Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns

hospitais

Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das

emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre

gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o

117

ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o

impacto nos processos de decisatildeo

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128

ANEXO A

129

ANEXO B

130

ANEXO C

131

132

APEcircNDICE

Caso 1 Daniel (participante 12)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles

entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais

meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes

fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo

que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica

acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar

perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus

pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um

pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o

senhor quer saber isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas

algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter

fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos

e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube

dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros

do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a

secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia

natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me

perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito

bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem

o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com

ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de

uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia

rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute

num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo

quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo

133

a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC

tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute

jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos

70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva

ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio

noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu

natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)

Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo

durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de

futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes

natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer

terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que

eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo

aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai

para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre

consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu

assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o

mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas

fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando

os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando

a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso

me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me

defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem

essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por

isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a

consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir

embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu

quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem

na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles

atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em

outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco

134

comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar

quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma

superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele

histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve

dor de barriga

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor

de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as

informaccedilotildees natildeo procura se exibir

Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo

valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees

tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque

tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de

propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia

quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute

vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da

moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu

pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse

ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude

chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que

seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se

escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e

sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira

bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos

sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom

apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees

positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas

chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo

135

emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo

mexer com nossa inseguranccedila

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e

controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo

de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu

deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo

possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de

contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha

indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar

imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais

estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse

olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e

vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu

tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o

senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram

pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar

porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de

tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns

dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele

num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e

emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro

eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a

carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc

136

vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone

tocou)

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a

me controlar

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda

hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade

quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha

taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha

que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se

controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando

me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso

com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o

sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc

definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada

Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e

provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular

quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo

Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo

ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs

ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele

escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado

depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo

estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve

um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que

essa seja a explicaccedilatildeo

137

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um

pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro

assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade

agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo

ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito

bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um

pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute

uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo

respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam

atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no

fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas

eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou

Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo

com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil

participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta

meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia

isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e

a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma

coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada

pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas

vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de

SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era

rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma

incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras

achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de

pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito

difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra

138

coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras

consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a

formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado

viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo

especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu

conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do

HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo

obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes

ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema

com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa

foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F

que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem

para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem

competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo

absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois

casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a

parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um

oacutetimo colega

139

Caso 2 Alice (participante 2)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que

mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza

Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo

paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos

paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em

hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de

paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu

consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo

sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar

vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender

Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo

sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai

esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma

agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para

fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo

vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco

de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute

mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes

mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem

140

porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta

eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica

e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue

responder acho que eacute isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas

eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir

aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo

meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo

prazer Sensaccedilotildees boas

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma

meacutedica relativamente sortuda (risos)

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)

(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo

consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito

bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito

grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela

foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e

aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu

me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para

criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela

trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava

acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles

que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana

neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas

dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no

final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que

o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho

141

menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu

achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse

bobeira doutora deixa para laacute

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de

atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor

evitar esse tipo de paciente porque vai dar m

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-

operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar

que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar

mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro

o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei

olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os

preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24

agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma

semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia

me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele

fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o

que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o

que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho

um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu

sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute

uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular

tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das

coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio

142

cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para

discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala

nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar

Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele

vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo

concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz

reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e

vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque

depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo

venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so

long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um

ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo

meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo

mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute

dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no

sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra

pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus

entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou

vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito

entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que

trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada

demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal

ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso

descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima

eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que

leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

143

Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele

estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila

que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para

ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa

entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em

condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para

explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara

com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele

faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por

semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim

sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que

vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma

psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa

sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que

realmente impacta muito a vida deles

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc

natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o

paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente

me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De

vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma

menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma

ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito

beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles

vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu

chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute

144

Caso 3 Miguel (participante 4)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem

alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute

considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves

orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo

compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me

traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu

natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute

mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de

incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu

melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E

posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse

tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se

acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela

natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o

viacutenculo

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com

a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura

fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque

145

eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa

sauacutede

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem

de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe

melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias

de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e

muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar

uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse

paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um

paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando

mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto

para dar um alento

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque

muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo

do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute

mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte

mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa

empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva

sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou

natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam

melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da

146

patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo

respondeu tatildeo bem

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma

caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou

esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave

informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores

quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso

organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar

preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de

mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente

porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma

fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma

estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem

formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia

eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a

experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo

assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive

momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos

para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem

um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa

condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te

dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

147

Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais

assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas

positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute

vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos

tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra

mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos

acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma

especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os

meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais

paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra

mas (Interrompeu paciente chegou)

148

Caso 4 Marcos (participante 13)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o

trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute

vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico

do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira

assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo

satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e

geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute

acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais

briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo

construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar

fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela

mesma

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar

explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa

como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute

uma sensaccedilotildees incocircmoda)

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil

mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu

conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar

a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha

149

passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa

que estaacute compartilhando o problema com vocecirc

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de

ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm

burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que

questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas

coisas

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que

veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas

para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-

socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico

me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me

agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma

ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois

operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha

um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral

um achado em exames tambeacutem veio me agradecer

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo

aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta

agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o

negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)

As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica

fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um

150

aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa

positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo

da pessoa

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de

emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por

hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir

uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um

compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse

agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc

faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)

Eu acho que eu administro bem

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um

pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas

vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a

pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com

sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por

uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo

me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma

coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

151

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a

falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo

estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o

paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim

PONTIFIacuteCIA UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE SAtildeO PAULO PUC-SP

PROGRAMA DE ESTUDOS POacuteS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA

LAURA MARQUES CASTELHANO

As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem da

psicologia junguiana

DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLIacuteNICA

Tese apresentada agrave Banca Examinadora da

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

como exigecircncia parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

Doutor em Psicologia Cliacutenica sob a orientaccedilatildeo da

Profa Dra Liliana Liviano Wahba

SAtildeO PAULO

2015

Banca Examinadora

________________________________________________________

Profa Dr

a Liliana Liviano Wahba ndash Orientadora

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo especialmente a Profa Dra Liliana Liviano Wahba pela parceria dedicaccedilatildeo e pelo

saber compartilhado Eacute difiacutecil definir apenas em palavras a minha imensa gratidatildeo

Aos meacutedicos que dedicaram seu tempo para esta pesquisa nas entrevistas e testes

Ao Prof Dr Mario Alfredo De Marco (in memoriam) pela inspiraccedilatildeo Sou grata pelos

momentos de interaccedilatildeo

Agrave Dra Paula Perrone pelas discussotildees e apontamentos tatildeo ricos que contribuiacuteram para meu

crescimento

Agrave Profa Yara Pisanelli Gustavo de Castro pelo apoio na construccedilatildeo da anaacutelise dos dados

estatiacutesticos

Aos professores do Nuacutecleo de Estudos Junguianos que me apoiaram neste percurso

Aos meus amigos que me incentivaram e estiveram presentes nesta jornada

Agradecimento especial agrave minha famiacutelia Vocecircs satildeo o meu alicerce

Agrave Capes pela bolsa de estudos concedida

CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem

da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o

afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30

(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4

(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos

utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a

entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram

sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo

entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve

diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo

com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento

(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o

paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros

meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados

pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a

abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias

preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao

estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees

despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar

com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e

percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos

decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para

ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes

Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente

projeccedilotildees psicologia junguiana

CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An

Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

ABSTRACT

The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception

of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in

quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen

four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the

analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults

Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured

interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is

an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the

sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference

between the sample results and the general population but differences were found in the

relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time

(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors

with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more

impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per

week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data

were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the

approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories

related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional

perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by

difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results

revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity

There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and

poorly understood which can result in projections in patients

Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship

projections Jungian psychology

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

81

Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

70

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IAPS International Affective Picture System

ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp

SAM Self-Assessment Manikin

SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees

SPSS 17 Statistical Package for the Social Science

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 12

2 OBJETIVOS 17

21 OBJETIVO GERAL 17

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17

23 QUESTOtildeES 17

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37

411 Estresse em meacutedicos 41

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52

5 MEacuteTODO 56

51 PARTICIPANTES 56

52 INSTRUMENTOS 56

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58

523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59

524 Entrevista semiestruturada 60

53 PROCEDIMENTOS 61

531 Local de coleta 61

532 Seleccedilatildeo dos participantes 61

533 Procedimento de coleta de dados 61

534 Procedimento de anaacutelise de dados 63

5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64

5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64

535 Procedimento eacutetico 65

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76

616 Agrupamento do IAPS por cluster 79

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86

6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87

6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93

6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98

6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103

7 DISCUSSAtildeO 109

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115

REFEREcircNCIAS 118

ANEXO A 128

ANEXO B 129

ANEXO C 130

APEcircNDICE 132

12

1 INTRODUCcedilAtildeO

Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada

(HILLMAN 1992 p xi)

As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as

relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e

possibilitam sensaccedilotildees como o prazer

Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a

par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e

por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e

reciacuteproco sobre o outrordquo

Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso

corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente

Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo

apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2

Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos

indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos

mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo

O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute

presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado

escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do

sentido e do significado

[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da

razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia

ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma

supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na

unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral

(JUNG 19212009a par117)

Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa

dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja

1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o

outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a

par 751)

13

pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o

trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito

Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo

em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a

emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no

momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis

respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser

levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As

emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele

lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os

de morte

Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho

(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto

das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees

De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo

pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo

profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao

mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um

caminho de evitaccedilatildeo

Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo

do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que

escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir

para ser meacutedicordquo

Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e

humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de

estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e

adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a

atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento

podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel

sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no

mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre

elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico

acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos

fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica

14

Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores

entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15

dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles

seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila

mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo

A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias

natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele

interage com o paciente

O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades

organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais

administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que

lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em

equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica

Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam

evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam

exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa

atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede

do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para

a tomada de decisotildees

Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o

dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja

falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas

palavras e nas interaccedilotildees

Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes

Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela

estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute

essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede

de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai

processar essas emoccedilotildees

As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca

atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave

contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas

relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo

15

Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia

chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que

provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos

tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)

As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por

meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa

personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da

afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)

Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o

reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base

nos fundamentos da psicologia analiacutetica

Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente

influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas

decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo

possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo

com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e

instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de

estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos

O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo

Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo

apresentados no Capiacutetulo 2

No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as

discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as

dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e

contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o

estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional

na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das

emoccedilotildees na tomada de decisatildeo

No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a

amostra os instrumentos e os procedimentos

A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6

Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de

Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na

16

anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de

estudo de caso

Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados

relacionando-os com a teoria e os fundamentos

O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho

para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema

17

2 OBJETIVOS

21 OBJETIVO GERAL

Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS

Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico

Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse

Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e

aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades

Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico

23 QUESTOtildeES

Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees

Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica

Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico

18

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES

A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista

conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo

do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao

privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e

enriquece o desenvolvimento de teorias

A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos

ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo

Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate

protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses

assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do

aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)

Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo

cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem

qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo

Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam

ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de

estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo

vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes

As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um

fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo

Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a

neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e

intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e

19

direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo

com o ambiente) (SCHERER 2005)

De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees

com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram

a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente

no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos

Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a

interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento

de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees

de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma

soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia

Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente

ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional

Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem

gerar prazer ou desprazer

Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para

suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila

o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de

cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado

conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao

tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de

incerteza

Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante

influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da

emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento

emocional

LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de

forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de

distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma

participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido

para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar

tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo

emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel

do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo

20

O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves

motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se

encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os

responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo

A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo

processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos

racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas

as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento

Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute

os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa

mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)

Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que

ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave

evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A

tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a

desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para

eventos natildeo relacionados

Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do

processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu

durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem

devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando

uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)

Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e

pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia

de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e

com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e

objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior

fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo

As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria

fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa

de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as

nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p

13)

21

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico

Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa

quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees

pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto

qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada

Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente

como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a

emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam

conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na

gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o

autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo

Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a

decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja

escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as

muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo

A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no

momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma

determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em

consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo

A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa

Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um

processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo

o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem

mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem

vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a

uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo

De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico

fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A

ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por

sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos

em emoccedilotildees e sentimentos

22

A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo

para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado

resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal

automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um

nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico

positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo

Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees

secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)

pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios

Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e

sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem

natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de

interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas

(DAMAacuteSIO 2006 p 211)

A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo

de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas

A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe

um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais

Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves

organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra

mais importante Affect Imagery Consciousnes

Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque

natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o

mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas

de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)

O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez

que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para

seu questionamento foi o afeto

3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-

organizadas

23

Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma

descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser

humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a

confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para

um estiacutemulo

A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e

de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)

De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em

afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos

estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo

Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para

evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a

vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim

um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5

Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove

afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees

dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das

expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o

mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX

2001)

Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o

sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um

indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as

possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas

O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees

eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos

Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e

referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees

Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a

convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas

4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos

5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem

concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras

24

Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees

baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria

De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se

apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz

diz e pensa

Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de

mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e

vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do

sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees

reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na

recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo

do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011

p 81)

Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa

emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se

percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar

para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e

preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas

Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta

que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que

segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo

lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo

geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas

pelo organismo ao longo de sua vida

Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas

emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-

se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem

nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo

Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco

precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas

medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que

merecem atenccedilatildeo especial

Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de

bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas

circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das

25

emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o

ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo

O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no

processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social

eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos

sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)

As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida

dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que

norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a

projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e

comportamentos

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia

A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em

Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo

sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a

um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer

tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo

quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo

Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente

que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos

para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos

Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que

natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo

Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma

estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e

dominacircncia

Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples

que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees

estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a

mensuraccedilatildeo de respostas emocionais

A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida

utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes

26

comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert

(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a

exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia

dos aspectos emocionais na memoacuteria

Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a

tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e

grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere

Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas

por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de

respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico

O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o

fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com

Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de

descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e

palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas

dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)

Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico

chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus

estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos

podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia

Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com

precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores

sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas

pois funcionam de forma independente6

A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento

ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua

relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)

A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um

estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e

LANG 1994)

6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de

Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal

27

A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do

agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva

ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo

valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema

aversivo

De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido

de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto

positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado

com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo

As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias

natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo

processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona

a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS

A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos

A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que

eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e

julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG

19041994)

A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos

aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o

estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem

valor de sobrevivecircncia

Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou

natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda

natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou

ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma

situaccedilatildeo

[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se

involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel

aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de

expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar

consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o

28

proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG

19161991 par 323)

Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se

surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou

que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era

registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito

A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as

respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias

Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa

trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A

expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de

expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um

processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade

Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos

carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas

manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado

de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)

Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do

complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa

aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o

desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica

Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e

sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma

emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica

Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos

percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes

Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma

predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de

fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que

pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o

desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par

769)

29

De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto

mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se

tornardquo

Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do

indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de

parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a

proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)

Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung

fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um

conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem

imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm

para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da

importacircncia relativa da imagem

Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande

medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se

a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees

perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores

consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo

A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees

interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos

sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia

Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos

que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos

conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao

mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)

A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o

mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual

um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao

objeto (JUNG 19332012)

30

Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos

os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um

processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia

Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante

da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute

por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo

pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo

Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo

sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser

esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos

Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com

caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e

contratransferecircncia

Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde

seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era

importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos

percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram

transferidas para o analista

Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma

exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento

psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas

ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)

A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois

pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus

pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)

E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que

neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)

revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na

esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)

Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido

negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia

Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma

repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente

pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo

31

A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com

Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza

aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da

criatividade na relaccedilatildeo

De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a

todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a

interaccedilatildeo

Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo

Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e

trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade

A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o

sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia

particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)

Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se

liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo

compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar

qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico

A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o

fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia

pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno

O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)

para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um

fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud

(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes

poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica

Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a

contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho

para o material de seus pacientes

Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo

representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se

em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo

natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do

cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra

32

passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o

analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico

Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos

e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo

de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o

autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das

desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas

atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa

Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995

2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na

teorizaccedilatildeo disso pode ser observada

Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)

importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram

na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da

contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do

paciente

Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo

para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento

teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a

contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do

paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)

A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-

determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute

indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem

acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago

colocadas no analista (RACKER 1982)

Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista

mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior

compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento

psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da

relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente

De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung

via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o

paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung

33

(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute

relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente

A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para

ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois

sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha

destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem

daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados

A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute

que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas

diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a

alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na

relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa

do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias

transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele

tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)

Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o

inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e

ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute

um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o

agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam

O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do

inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente

correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior

ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim

numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011

par 364)

De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes

reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees

de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute

presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e

temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais

duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da

contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise

Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia

possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos

34

A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome

mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o

paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia

Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de

desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem

bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus

pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes

e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute

contratransferecircncia

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos

existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um

instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico

A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica

relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e

Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre

meacutedico e paciente

Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante

influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de

lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico

[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo

como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus

conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que

pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT

1988 p 265)

Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma

atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com

isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por

outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator

quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de

funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De

acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o

35

paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho

do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente

o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do

meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo

com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma

influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988

p 47)

Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel

para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como

meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e

idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint

(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas

influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo

Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente

Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos

de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos

Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar

suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo

dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar

conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um

liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento

De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico

chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada

perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os

aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande

mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os

grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje

Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas

raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos

cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem

o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a

fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica

36

De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a

alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do

meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que

meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo

O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a

seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se

estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de

relacionamento com seu paciente

37

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA

A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes

Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS

MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp

Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr

Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr

Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr

Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom

Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed

Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx

International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg

Journal of Analytical Psychology

Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)

httpucpressjournalscomjournalphpj=jung

httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml

Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155

As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo

do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA

A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo

biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e

da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer

relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para

a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE

MARCO 2012)

Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das

pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos

38

muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem

tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional

O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo

onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma

imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os

poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano

comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)

O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional

em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos

etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico

A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa

realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de

Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram

que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram

necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas

27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles

que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios

modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar

Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas

relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano

De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o

estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a

distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo

que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para

o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer

resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente

O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em

seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver

comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento

ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos

psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico

Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a

implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os

estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa

39

Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a

comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo

com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos

encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila

de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na

educaccedilatildeo meacutedica

O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam

novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e

sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA

2001 p 8)

Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos

uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de

embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir

sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas

do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as

emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente

As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry

Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica

e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de

decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por

fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do

ambiente

Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes

despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a

maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que

essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia

O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus

sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)

a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres

e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica

De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves

necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com

situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do

paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que

inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente

40

As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma

constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve

prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas

tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de

ambas as partes

O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que

transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu

grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um

instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados

Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um

melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)

fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de

que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram

os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram

durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram

que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da

vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que

nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado

o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser

invertidos

Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees

inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma

segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem

vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos

envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores

meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode

fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la

A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel

substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o

meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e

compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de

tratamento

41

411 Estresse em meacutedicos

A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos

uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre

o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos

De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees

ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse

possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e

motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e

novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em

que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer

tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se

Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados

abaixo do ideal

De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por

produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma

influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente

tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas

emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais

como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes

Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na

Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos

profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no

trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma

vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do

atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho

excessiva

Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais

na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia

problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida

familiar foram os fatores mais citados

As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

42

Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria

Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22

se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados

houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os

problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho

meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse

foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva

excessiva (522)

Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados

mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia

Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram

a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o

fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento

Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do

municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos

apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia

Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade

de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123

apresentaram estresse

A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do

burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma

reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a

maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse

ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE

Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele

pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos

podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo

a um paciente

As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e

provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um

43

protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo

atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se

encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)

Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem

ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e

Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel

e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo

cliacutenica

Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece

com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo

parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos

A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da

capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e

percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes

Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser

positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a

pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink

A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al

(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas

dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo

De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles

que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma

conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila

Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute

satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e

TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio

(STEINMETZ e TABENKIN 2001)

Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem

impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith

(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de

7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no

qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos

negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)

44

cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de

sauacutede do paciente

Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a

qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de

conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a

especialistas

De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto

por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao

expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento

Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que

os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo

Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que

na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes

Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo

com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao

paciente ou a ambos

De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente

que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e

caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos

profissionais

Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)

observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos

com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o

autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus

proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas

proacuteprias reaccedilotildees emocionais

Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na

interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas

Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo

pelo meacutedico

Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para

identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente

45

O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al

(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo

interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento

De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos

processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a

flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o

paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu

humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente

Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e

Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o

envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis

cuidadosos e mais motivados

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE

Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo

em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como

Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do

conhecimento de sua farmacologia

Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute

permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse

tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional

para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)

De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais

envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte

dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se

informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede

Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e

paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por

mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo

empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes

Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave

comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por

meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os

46

humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um

fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais

Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de

emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo

transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e

natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no

passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que

antecipam no futuro

Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que

transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia

jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de

confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com

roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que

natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem

conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo

Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande

gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes

mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito

Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de

uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e

sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o

meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo

Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)

observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas

determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas

emoccedilotildees

Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e

Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do

paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais

satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente

47

percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos

foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi

determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao

paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia

sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico

percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o

meacutedico tratava o paciente

Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no

Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos

A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer

uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas

surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para

seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do

paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram

os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores

observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o

favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e

insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua

competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que

modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia

Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de

seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises

foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da

pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45

queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados

e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com

precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo

costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees

precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos

Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento

comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das

Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro

de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu

comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a

48

atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes

sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-

paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias

pregressas de encontros com outros meacutedicos

Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou

ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o

papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que

apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o

engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos

ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o

estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes

Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro

cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como

resposta um aumento da emotividade do paciente

Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de

sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila

significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes

tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a

tomada de decisatildeo

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO

Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem

explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam

diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo

variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de

como funciona esse processo

O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos

na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas

principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos

Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise

com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de

raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses

49

passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e

compreender o processo de uma doenccedila

A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo

compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica

meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento

de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica

cliacutenica tem se intensificado

Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a

forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de

qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente

De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-

se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas

logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo

quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete

erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a

compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias

O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a

decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se

inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia

todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma

avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a

probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial

Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes

ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A

prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva

a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as

hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do

paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL

KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)

Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento

heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um

diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com

Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional

50

ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas

emoccedilotildees podem influenciaacute-la

Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo

uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas

pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A

heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel

Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu

uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros

sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que

deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo

Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de

decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia

muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute

trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo

alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na

geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente

quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo

De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees

de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico

natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico

Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte

da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e

por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma

como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem

no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico

possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias

Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de

hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de

medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas

geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses

iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o

processo de diagnoacutestico final

Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais

hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas

51

agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses

especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio

intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que

reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados

limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico

A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue

um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em

evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos

De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem

duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o

que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a

informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se

encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em

que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo

consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro

geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos

Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o

ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento

emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que

complicam a decisatildeo cliacutenica

Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em

um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o

modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo

cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que

tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando

protocolos e sistemas

Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que

fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em

ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os

meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico

e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou

quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos

desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de

ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo

52

A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados

estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento

Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um

tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser

humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo

(GROOPMAN 2008 p 15)

De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo

meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores

decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo

relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores

assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem

garantir resultados eficazes

Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em

funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em

que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente

provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado

Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de

pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas

possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo

Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria

muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo

A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto

quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos

terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo

Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de

forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo

Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as

caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram

selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o

modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as

53

caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de

diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia

combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes

para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas

Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes

durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo

sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez

que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa

funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida

Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem

esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos

meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade

Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um

guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio

entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que

fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de

raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo

analiacutetica

O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees

importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees

precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos

podem ser alertados para modificar um raciociacutenio

Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam

sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de

eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em

termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os

autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de

patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera

variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico

Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-

pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver

8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo

54

algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico

claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro

sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro

Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede

de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-

pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto

em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de

incerteza diagnoacutestica

Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da

queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre

o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de

errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era

nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas

foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o

exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O

meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes

Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros

paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a

maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos

participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados

com os meacutedicos holandeses

Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e

tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico

experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o

prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)

e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo

de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos

relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no

abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de

errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos

dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de

incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos

resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos

utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo

55

Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos

holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo

interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme

definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses

diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de

tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente

estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de

tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que

era esperado pelo meacutedico

As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no

processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo

existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo

de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em

que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo

as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas

tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo

56

5 MEacuteTODO

A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados

quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o

enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode

ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-

quantirdquo

De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de

muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos

e quantitativos

Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos

mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta

pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e

qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial

explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos

51 PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas

especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte

(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo

dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina

convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de

caso com entrevista

52 INSTRUMENTOS

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de

testagem

57

Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas

de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o

International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do

meacutedico

Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do

meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente

A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico

O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm

por objetivo caracterizar a amostra

Idade________________

Sexo F ( ) M ( )

Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________

Especialidade____________________________

Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)

Consultoacuterio ( )

Hospital puacuteblico ( )

Hospital particular ( )

Universidade ( )

Outro______________________ ( )

Outro______________________ ( )

Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no

Consultoacuterio ___ h

Hospital puacuteblico ___ h

Hospital particular ___ h

Professor acadecircmico ___ h

Outro ____________________ ___ h

Outro ____________________ ___ h

____ (total de horas semanais)

Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___

58

Tempo meacutedio de atendimento ___

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a

pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em

que se encontra

Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a

fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo

Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de

adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada

Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se

novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total

de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta

inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi

quebrado na fase de alerta

Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia

fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue

pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e

esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total

desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra

emocional

Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que

um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue

concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves

podem ocorrer

Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou

sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com

15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do

estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo

59

Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as

sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo

quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)

Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e

trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados

pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes

psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e

apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo

523 IAPS ndash International Affective Picture System

O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por

imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama

de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de

700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras

As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos

participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os

participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo

emocional

As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do

Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo

estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as

gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item

que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras

escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer

A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo

induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala

Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)

pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo

(desagradaacutevelnegativa)

De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido

porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de

avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel

60

A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro

Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do

IAPS foi autorizada pelos autores

Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o

relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12

agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos

estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo

emocional das imagens

524 Entrevista semiestruturada

A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por

perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles

tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de

De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith

(1995)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil

1a Que caracteriacutesticas ele tem

1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente

atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades

2a Que caracteriacutesticas ele tem

2b Por que ele natildeo desperta dificuldades

2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso

o afeta Decirc um exemplo

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente

Como

61

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira

no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse

decorrente da profissatildeo Como lida com isso

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por

quecirc

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc

53 PROCEDIMENTOS

531 Local de coleta

A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)

532 Seleccedilatildeo dos participantes

Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de

indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos

proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento

dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo

A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de

disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a

realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em

clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico

escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise

aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O

procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise

533 Procedimento de coleta de dados

62

O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta

de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados

serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia

Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os

resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)

Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos

conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes

foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi

agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta

O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees

sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a

possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de

consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e

devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa

avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da

entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas

e depois transcritas para a anaacutelise

Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia

utilizada na aplicaccedilatildeo foi

Questionaacuterio sociodemograacutefico

Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por

favor preencha as informaccedilotildees solicitadas

International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)

Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo

com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo

responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de

respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma

sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe

parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz

ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que

mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando

um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a

63

figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se

alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta

estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se

aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X

entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no

meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a

classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o

nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os

tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam

Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem

experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os

sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou

P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs

Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a

entrevista

Entrevista semiestruturada

Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees

em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do

paciente

534 Procedimento de anaacutelise de dados

O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem

quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30

meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a

interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos

escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a

64

anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram

identificados por nomes fictiacutecios

5341 Anaacutelise quantitativa de dados

Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes

estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD

(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados

O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando

suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado

para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras

independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de

anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes

Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu

como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo

A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de

estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico

com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo

com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer

comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do

IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS

comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico

5342 Anaacutelise qualitativa de dados

A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro

clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi

escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)

meacutedicos

A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas

com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional

65

o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e

estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

535 Procedimento eacutetico

A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa

envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o

Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)

66

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou

tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo

qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo

O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa

SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de

medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas

(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes

estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes

tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de

comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o

programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se

com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro

A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade

com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir

dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes

em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante

de cada cluster para o estudo de caso

A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia

Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo

da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a

comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International

Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o

sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster

Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4

participantes em forma de Estudo de Caso

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA

67

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos

Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de

diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento

no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas

caracterizaccedilotildees

Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as

distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)

especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho

(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de

pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio

(tabela 7)

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo

Sexo N

Masculino 17

Feminino 13

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e

13 (treze) do sexo feminino

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria

Faixas etaacuterias N

20 a 34 anos 10

35 a 48 anos 7

49 a 59 anos 7

Acima de 60 anos 6

Total 30

Meacutedia 446

Desvio-padratildeo 130

Fonte proacuteprio autor

68

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7

(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade

eacute de 446 anos

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado

Tempo de formado N

05 a 10 anos 12

11 a 23 anos 6

24 a 32 anos 6

33 a 46 anos 6

Total 30

Meacutedia 194

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11

a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de

tempo de formado eacute 194 anos

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades

Especialidade N

Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8

Ortopedia 5

Ginecologia 4

Oftalmologia 3

Otorrinolaringologia 3

Endocrinologia 2

Neurologia 2

Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3

Total 30

Fonte proacuteprio autor

No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e

tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)

oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As

outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia

69

(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)

e urologia (1)

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho

Locais de Trabalho N

Apenas Consultoacuterio 10

Consultoacuterio e Hospital particular 10

Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5

Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10

(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no

hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos

trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 2

21 a 40 hsemanais 8

41 a 48 hsemanais 8

49 hsemanais e + 12

Total 30

Meacutedia 460

Desvio-padratildeo 125

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a

maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais

dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas

70

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 8

21 a 40 hsemanais 15

41 a 48 hsemanais 2

49 hsemanais e + 5

Total 30

Meacutedia 328

Desvio-padratildeo 129

Fonte proacuteprio autor

O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao

atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio

Nuacutemero de pacientesdia N

01 a 09 pacientesdia 4

10 a 22 pacientesdia 15

23 a 37 pacientesdia 6

38 a 55 pacientesdia 5

Total 30

Meacutedia 219

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219

Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a

22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais

de 38 pacientesdia no consultoacuterio

71

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta

Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N

15 a 25 minutos 13

26 a 35 minutos 12

36 a 45 minutos 4

46 a 55 minutos 1

Total 30

Meacutedia 268

Desvio-padratildeo 100

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a

consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus

pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse

que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no

consultoacuterio eacute de 268 minutos

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e

13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A

meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos

meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268

minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do

consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)

Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos

sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da

escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da

amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os

sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos

72

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Stress N Paracircmetro

Natildeo 13 433 440

Sim 17 567 560

Total 30 1000 1000

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de

estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo

geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute

dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Fase Stress N Paracircmetro

Alerta 02 67 20

Resistecircncia 15 500 530

Exaustatildeo 0 00 10

Total 17 567 560

Fonte proacuteprio autor

Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles

estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e

Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa

que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta

referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo

de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um

prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo

de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a

fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar

as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves

73

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL

5

10

2

0

2

4

6

8

10

12

Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos

Prevalecircncia de Sintomas de Stress

Prevalecircncia de sintomas N

Fiacutesicos 5

Psicoloacutegicos 10

Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2

Total 17

Fonte proacuteprio autor

Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram

predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram

diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos

projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-

estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo

muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e

insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro

De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou

psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos

decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da

amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a

vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra

uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)

apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos

paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de

resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma

sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos

mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita

de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva

Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento

encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20

74

meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e

com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em

58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na

fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram

resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas

123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e

72 apresentaram estresse

Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em

termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade

psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a

inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores

psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo

podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico

Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para

observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o

iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo

Stress Sexo Total

Masculino Feminino

Natildeo 7 6 13

Sim 10 7 17

Total 17 13 30

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do

teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo

entre o sexo e o estresse

75

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas

Stress N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t p

Idade Natildeo 13 486 138 38

150 0144 Sim 17 415 119 29

Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38

167 0106 Sim 17 162 107 26

Tempo total de

trabalho (horas

semanais)

Natildeo 13 484 142 39

091 0371 Sim 17 442 112 27

Tempo de trabalho

no Consultoacuterio (horas

semanais)

Natildeo 13 337 130 36

030 0766 Sim 17 322 133 32

Nuacutemero de

pacientesdia

Natildeo 13 255 153 42 140 0171

Sim 17 192 92 22

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

Natildeo 13 300 96 27 155 0133

Sim 17 244 100 24

Fonte proacuteprio autor

Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por

meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As

diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil

sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)

Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas

da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo

emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens

afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment

Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a

intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir

76

de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao

induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo

(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta

a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da

populaccedilatildeo

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais

Escalas N Meacutedia Desvio

padratildeo

Erro

padratildeo

t p μ

Paracircmetro

Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491

Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501

Total 30 497 044 008 0095 0925 496

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas

escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala

Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a

meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que

os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila

significativa

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico

Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave

percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se

internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia

alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional

As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais

dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de

pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta

77

Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS

Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo

Sexo N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t P

Alerta Masculino 17 504 113 027

1634 0057 Feminino 13 449 054 015

Prazer Masculino 17 509 031 007

-0646 0262 Feminino 13 518 043 012

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture

System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas

meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo

com as escalas

A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do

IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Alerta Prazer

Idade

r 035 -028

p 0031 0065

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de formado

r 032 -024

p 0043 0100

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo total de trabalho (horas

semanais)

r -0041 -0025

p 0415 0448

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de trabalho no Consultoacuterio

(horas semanais)

r 020 -040

p 0139 0014

N 30 30

78

Alerta Prazer

Nuacutemero de pacientesdia

r 002 021

p 0443 0128

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

r 036 -0204

p 0024 0140

N 30 30

A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica

descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis

O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que

indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa

que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +

032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo

de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e

o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta

Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele

ficou diante dos estiacutemulos emocionais

Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas

semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto

mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer

Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de

pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer

Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em

relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das

distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave

79

percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao

trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)

Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo

de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos

mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta

Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos

tempo

616 Agrupamento do IAPS por cluster

Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos

participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com

similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade

ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por

agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um

embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em

profundidade

O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a

cada agrupamento

80

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)

O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas

Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia

dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia

A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a

separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia

N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo F P

Alerta

Cluster 1 6 501 010 004

4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027

Cluster 3 9 377 027 009

Cluster 4 8 465 021 007

Prazer

Cluster 1 6 493 015 006

2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010

Cluster 3 9 519 016 005

Cluster 4 8 556 017 006

Fonte proacuteprio autor

81

O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo

que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)

Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos

clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos

ou mais distantes da meacutedia

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

Alerta N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055

Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004

Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000

Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009

Prazer N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265

Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038

Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011

Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000

Fonte proacuteprio autor

O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral

O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que

possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a

populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor

pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos

de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters

O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais

82

baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo

O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o

com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com

pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis

sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os

clusters

Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou

afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective

Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo

e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional

que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no

cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas

duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e

tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster

3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4

agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve

diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters

O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas

pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters

2 3 e 4

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia

em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster

83

perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos

outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia

de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam

486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181

pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos

Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e

4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam

prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a

anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de

fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os

sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer

unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa

especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente

Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de

formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente

nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que

meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se

mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas

semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e

desagradaacutevel

Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)

concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais

excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos

niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa

correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta

Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no

consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees

intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a

anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes

O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor

pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa

em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos

diante dos estiacutemulos

84

Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos

participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4

trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao

trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 233 minutos

Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5

na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com

estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de

sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram

duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos

outros clusters

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos

que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico

Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo

esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo

dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas

O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos

constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade

emocional

O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior

pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de

forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia

de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao

trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 225 minutos

Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e

3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de

resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas

psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio

entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os

participantes deste cluster

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com

menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais

85

pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os

resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de

trabalho no consultoacuterio e o Prazer

O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das

relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer

como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo

frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como

aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster

Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que

trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo

com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem

Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas

escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas

hipoacuteteses interpretativas

1ordf Tendecircncia observada

Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado

e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos

estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as

variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de

estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela

escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que

permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais

desagradaacutevel

Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente

de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses

meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o

Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas

relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem

estar menos satisfeitos

2ordf Tendecircncia observada

86

O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo

com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade

emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse

pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos

permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de

interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente

Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente

com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo

agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente

3ordf Tendecircncia observada

Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de

formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem

mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala

Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior

prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda

uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer

Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria

da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos

prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com

outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem

menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga

emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso

Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para

anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por

meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas

no quadro a seguir

87

Tabela 17 Categorias de anaacutelise

CATEGORIAS

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

A percepccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises

6221 Caso 1 Daniel (participante 12)

Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto

aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que

ficam mais tempo com o paciente nas consultas

Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute

Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta

de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha

em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute

de 45 minutos

Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e

era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando

sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de

como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem

educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como

montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um

desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que

estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas

algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar

que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

88

Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico

constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo

relatou nenhum sintoma psicoloacutegico

O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa

aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro

mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele

natildeo vai ser meacutedicordquo

Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas

situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees

de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel

fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como

atender um paciente bem se natildeo estiver descansado

Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia

mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem

porque aprendirdquo

Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o

nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o

trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre

cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo

chato natildeo eacute rabo curto como erardquo

Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-

se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu

passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho

mais tempordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o

meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos

estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos

Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as

89

consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por

estiacutemulos que despertam emoccedilotildees

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve

permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de

modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu

trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo

Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em

dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam

parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi

um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos

meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e

isso me emocionourdquo

Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o

influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o

atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e

fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se

resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas

falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo

reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo

Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios

incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma

diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo

pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer

mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao

paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava

dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a

90

lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por

que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo

Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais

envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes

sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo

paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos

que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo

O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante

que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do

diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao

cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio

ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de

suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento

mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram

o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa

ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee

chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me

obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou

trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como

esse afetassem o seu trabalho

Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou

que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees

de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser

conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com

a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo

Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o

tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute

positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto

Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais

satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo

Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees

positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades

mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades

91

mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe

paciente faacutecilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle

diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto

emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o

controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais

jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []

mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as

emoccedilotildeesrdquo

O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do

desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro

maisrdquo

Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o

controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus

pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de

brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-

presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para

essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha

a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas

desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo

Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram

desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica

remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo

Leitura analiacutetica

Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos

que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi

extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo

diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no

teste do IAPS

92

Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees

relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a

maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou

uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no

em sua seguranccedila

Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode

refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e

incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as

emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute

necessaacuteria uma atitude de controle

Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente

que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o

seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel

ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido

contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o

paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute

aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e

que parece respeitaacute-lo

No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes

percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou

ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o

senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo

ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e

com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se

ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente

O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular

de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa

Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas

estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como

demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute

cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns

iam emborardquo

Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo

permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos

93

aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de

seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os

aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o

confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e

que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de

falhar

6222 Caso 2 Alice (participante 2)

Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade

emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em

hospital puacuteblico

Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e

divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes

Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio

Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

20 minutos

Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas

vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel

Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios

momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era

solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das

questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que

uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar

algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia

preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos

prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e

cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa

94

especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando

mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a

hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e

irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do

ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os

pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam

aprender a lidar

Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades

que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo

Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem

interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em

burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso

pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda

muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []

eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou

menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das

figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma

tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o

que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter

diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas

podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de

comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a

emoccedilatildeo) influi em tudordquo

95

Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais

intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo

Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o

que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que

podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo

Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem

alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em

seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos

avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar

que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de

atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela

como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e

sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo

Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que

incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao

meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua

postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a

um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim

entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho

que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa

ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o

baixo Alerta no IAPS

Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de

exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de

pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente

e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a

relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma

compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no

96

consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo

ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo

Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas

pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de

violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria

demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo

Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo

aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo

pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e

ajuda ao outro

Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a

sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]

eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele

realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim

de se sentir uacutetilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para

proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]

quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de

pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do

caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees

psicoloacutegicas de lidarrdquo

Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em

que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e

assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou

uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo

Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata

como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o

tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no

consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo

97

Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara

com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente

parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos

Leitura analiacutetica

Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para

evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em

qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo

como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez

Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela

teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute

canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo

antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de

superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir

parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse

recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio

Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas

diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o

recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica

Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo

de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que

parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela

reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o

caso

Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo

representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos

Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel

Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia

para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja

vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda

ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas

A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice

percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os

98

sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes

Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse

estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da

entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como

vinculadas ao estresse

Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas

como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que

como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos

efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento

A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua

capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e

frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar

sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse

reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto

observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas

relaccedilotildees

Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo

projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante

dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo

6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)

Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de

Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de

formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam

menos tempo com eles

A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi

individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande

nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais

caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio

99

Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o

seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo

atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho

no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

15 minutos

O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito

cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de

atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo

para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e

agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade

suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo

assinalou nenhum sintoma fiacutesico

Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que

atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras

atividades como cirurgias e compromissos familiares

Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o

estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma

contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e

mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que

me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo

ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo

perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel

percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral

Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao

considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa

100

insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em

funccedilatildeo de um processo defensivo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre

elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente

acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo

As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e

prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma

caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc

fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como

barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo

Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho

Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela

sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor

cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo

emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo

Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as

suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a

sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo

vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []

afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando

perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)

Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender

Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet

ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees

desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo

da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar

101

o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje

em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo

quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo

Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo

traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa

desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender

[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e

mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA

dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar

para ele o que vocecirc esta querendordquo

O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o

diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de

Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu

trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se

sente bemrdquo

Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que

suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento

das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o

pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas

jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu

trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo

ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute

tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser

neutrordquo

Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de

cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito

comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o

ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser

influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto

nenhumrdquo

102

Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou

estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se

com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que

chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo

Leitura analiacutetica

Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo

Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo

O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois

trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No

entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e

insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes

O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e

o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse

Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo

Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de

que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou

subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu

papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia

negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo

vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos

emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a

gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo

Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e

controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como

meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus

atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu

julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e

entendimento

Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre

a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter

103

observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no

controle e que a atitude emocional pode ser controlada

Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para

expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que

poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo

soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo

A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra

tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute

provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as

emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do

receio de ter esse poder contestado

6224 Caso 4 Marcos (participante 13)

Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais

proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos

paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer

Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia

Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital

Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10

pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos

Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou

interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha

encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este

apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um

processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e

tem se esforccedilado muito para isso

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia

afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado

104

estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de

dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os

sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e

irritabilidade sem causa aparente

O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de

sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo

de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua

jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errarrdquo

Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo

emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto

ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura

refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro

trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua

meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas

emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo

subjetiva da emoccedilatildeo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um

caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante

em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer

isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai

da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutemrdquo

Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no

diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a

beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo

105

para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a

emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo

Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de

soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um

caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo

O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar

ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias

com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e

pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem

ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo

dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo

Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois

isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais

fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a

natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm

pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a

doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no

tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e

inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse

impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo

Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar

com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com

o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido

principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento

O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da

evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de

afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de

afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no

tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo

106

O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio

que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento

e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo

[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte

delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de

realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente

satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de

realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e

tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu

conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem

do que eu posso fazerrdquo

Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves

relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como

lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor

estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem

unicamente de mimrdquo

Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees

principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito

bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo

Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de

recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de

conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para

dar um alentordquo

Leitura analiacutetica

Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho

que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu

procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo

107

Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita

que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um

pouco da personalidaderdquo

Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e

do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc

tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para

issordquo

A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante

das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em

alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes

Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como

raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila

podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para

lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o

que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da

racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas

depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer

sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia

Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira

nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e

motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a

sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo

verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral

Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da

responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do

meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo

trabalhada

Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para

ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para

pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e

reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo

com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-

las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

108

Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais

clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos

defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees

como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e

uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma

relaccedilatildeo com o paciente

109

7 DISCUSSAtildeO

O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente

que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles

relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem

influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico

Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com

o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo

os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e

a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o

paciente

Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees

estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas

emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais

impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca

compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional

A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees

que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas

Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada

porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido

seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo

percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base

essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem

apenas sintomas da afetividaderdquo

Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e

DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que

os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a

Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas

raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse

funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico

Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se

ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer

110

insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento

semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos

sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma

segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo

de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar

romper o viacutenculo

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um

compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico

(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a

essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de

valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e

dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes

tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como

afastamento entre outras

Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um

sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das

possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida

emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional

eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos

relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um

entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios

A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se

sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas

nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente

aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro

desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente

visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando

compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o

ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer

Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo

apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo

apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser

usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute

uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo

111

subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo

Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as

suas normas e convicccedilotildees

Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do

detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode

mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo

impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a

funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos

frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou

meacutedicordquo

Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo

com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico

assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais

caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos

De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente

representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da

consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma

persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem

parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo

vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral

riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel

se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)

Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por

autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do

meacutedico

Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de

detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado

situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura

informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona

riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel

Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para

responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e

sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a

reflexatildeo

112

Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e

reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas

tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no

atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como

negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas

Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo

interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e

ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e

mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado

dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os

incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo

Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois

mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples

fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a

emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar

com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui

A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas

emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um

maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de

atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem

a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento

Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar

com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta

compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e

fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro

momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa

de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes

reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades

para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das

emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam

que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem

evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a

113

esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar

sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de

seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de

reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que

os afetava negativamente e o que os afetava positivamente

Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a

busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com

naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis

Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia

percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos

chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e

distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e

com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado

espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na

entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a

questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional

Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo

ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)

O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao

extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A

atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se

riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado

Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma

inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente

mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira

vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de

impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de

quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder

A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de

como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e

sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as

caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as

percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais

114

Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar

inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o

tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo

emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung

(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente

que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico

No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas

entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b

par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em

nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o

pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas

pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a

Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila

constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na

forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)

Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre

presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo

No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006

2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um

auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de

circuitos mentais confluentes

Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e

Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a

aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e

do processo de tomada de decisatildeo

Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco

reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do

meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-

paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a

contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na

compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e

impactar no atendimento do paciente

115

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece

quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo

desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a

incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que

despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em

geral

As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica

pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento

interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu

falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os

meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional

parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por

complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo

O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente

Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na

leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica

O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos

vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos

que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido

agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais

Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o

paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que

o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes

que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como

pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute

elemento isolado desse todo

O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao

distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a

persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o

paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si

116

Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo

colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo

de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente

repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista

institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos

reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho

Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca

havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a

medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido

ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo

de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive

vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no

primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina

curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa

profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)

A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma

aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na

busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte

de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos

necessaacuterios

A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as

defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega

estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por

exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o

impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo

Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito

individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um

psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e

contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees

Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao

meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas

de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de

Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns

hospitais

Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das

emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre

gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o

117

ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o

impacto nos processos de decisatildeo

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ANEXO A

129

ANEXO B

130

ANEXO C

131

132

APEcircNDICE

Caso 1 Daniel (participante 12)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles

entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais

meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes

fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo

que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica

acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar

perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus

pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um

pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o

senhor quer saber isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas

algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter

fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos

e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube

dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros

do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a

secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia

natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me

perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito

bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem

o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com

ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de

uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia

rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute

num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo

quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo

133

a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC

tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute

jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos

70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva

ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio

noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu

natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)

Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo

durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de

futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes

natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer

terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que

eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo

aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai

para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre

consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu

assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o

mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas

fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando

os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando

a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso

me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me

defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem

essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por

isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a

consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir

embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu

quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem

na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles

atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em

outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco

134

comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar

quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma

superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele

histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve

dor de barriga

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor

de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as

informaccedilotildees natildeo procura se exibir

Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo

valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees

tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque

tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de

propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia

quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute

vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da

moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu

pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse

ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude

chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que

seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se

escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e

sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira

bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos

sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom

apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees

positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas

chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo

135

emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo

mexer com nossa inseguranccedila

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e

controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo

de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu

deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo

possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de

contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha

indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar

imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais

estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse

olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e

vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu

tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o

senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram

pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar

porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de

tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns

dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele

num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e

emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro

eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a

carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc

136

vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone

tocou)

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a

me controlar

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda

hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade

quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha

taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha

que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se

controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando

me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso

com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o

sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc

definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada

Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e

provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular

quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo

Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo

ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs

ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele

escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado

depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo

estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve

um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que

essa seja a explicaccedilatildeo

137

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um

pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro

assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade

agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo

ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito

bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um

pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute

uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo

respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam

atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no

fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas

eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou

Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo

com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil

participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta

meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia

isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e

a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma

coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada

pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas

vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de

SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era

rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma

incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras

achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de

pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito

difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra

138

coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras

consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a

formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado

viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo

especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu

conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do

HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo

obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes

ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema

com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa

foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F

que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem

para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem

competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo

absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois

casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a

parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um

oacutetimo colega

139

Caso 2 Alice (participante 2)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que

mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza

Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo

paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos

paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em

hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de

paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu

consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo

sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar

vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender

Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo

sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai

esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma

agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para

fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo

vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco

de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute

mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes

mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem

140

porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta

eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica

e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue

responder acho que eacute isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas

eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir

aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo

meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo

prazer Sensaccedilotildees boas

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma

meacutedica relativamente sortuda (risos)

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)

(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo

consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito

bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito

grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela

foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e

aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu

me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para

criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela

trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava

acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles

que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana

neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas

dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no

final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que

o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho

141

menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu

achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse

bobeira doutora deixa para laacute

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de

atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor

evitar esse tipo de paciente porque vai dar m

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-

operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar

que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar

mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro

o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei

olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os

preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24

agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma

semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia

me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele

fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o

que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o

que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho

um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu

sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute

uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular

tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das

coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio

142

cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para

discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala

nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar

Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele

vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo

concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz

reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e

vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque

depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo

venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so

long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um

ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo

meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo

mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute

dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no

sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra

pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus

entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou

vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito

entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que

trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada

demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal

ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso

descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima

eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que

leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

143

Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele

estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila

que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para

ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa

entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em

condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para

explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara

com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele

faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por

semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim

sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que

vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma

psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa

sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que

realmente impacta muito a vida deles

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc

natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o

paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente

me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De

vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma

menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma

ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito

beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles

vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu

chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute

144

Caso 3 Miguel (participante 4)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem

alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute

considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves

orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo

compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me

traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu

natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute

mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de

incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu

melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E

posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse

tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se

acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela

natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o

viacutenculo

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com

a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura

fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque

145

eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa

sauacutede

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem

de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe

melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias

de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e

muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar

uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse

paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um

paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando

mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto

para dar um alento

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque

muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo

do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute

mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte

mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa

empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva

sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou

natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam

melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da

146

patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo

respondeu tatildeo bem

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma

caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou

esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave

informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores

quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso

organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar

preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de

mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente

porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma

fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma

estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem

formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia

eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a

experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo

assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive

momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos

para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem

um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa

condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te

dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

147

Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais

assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas

positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute

vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos

tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra

mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos

acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma

especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os

meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais

paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra

mas (Interrompeu paciente chegou)

148

Caso 4 Marcos (participante 13)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o

trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute

vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico

do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira

assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo

satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e

geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute

acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais

briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo

construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar

fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela

mesma

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar

explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa

como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute

uma sensaccedilotildees incocircmoda)

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil

mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu

conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar

a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha

149

passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa

que estaacute compartilhando o problema com vocecirc

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de

ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm

burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que

questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas

coisas

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que

veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas

para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-

socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico

me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me

agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma

ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois

operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha

um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral

um achado em exames tambeacutem veio me agradecer

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo

aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta

agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o

negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)

As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica

fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um

150

aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa

positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo

da pessoa

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de

emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por

hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir

uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um

compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse

agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc

faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)

Eu acho que eu administro bem

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um

pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas

vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a

pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com

sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por

uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo

me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma

coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

151

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a

falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo

estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o

paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim

Banca Examinadora

________________________________________________________

Profa Dr

a Liliana Liviano Wahba ndash Orientadora

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________________________________________________________

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo especialmente a Profa Dra Liliana Liviano Wahba pela parceria dedicaccedilatildeo e pelo

saber compartilhado Eacute difiacutecil definir apenas em palavras a minha imensa gratidatildeo

Aos meacutedicos que dedicaram seu tempo para esta pesquisa nas entrevistas e testes

Ao Prof Dr Mario Alfredo De Marco (in memoriam) pela inspiraccedilatildeo Sou grata pelos

momentos de interaccedilatildeo

Agrave Dra Paula Perrone pelas discussotildees e apontamentos tatildeo ricos que contribuiacuteram para meu

crescimento

Agrave Profa Yara Pisanelli Gustavo de Castro pelo apoio na construccedilatildeo da anaacutelise dos dados

estatiacutesticos

Aos professores do Nuacutecleo de Estudos Junguianos que me apoiaram neste percurso

Aos meus amigos que me incentivaram e estiveram presentes nesta jornada

Agradecimento especial agrave minha famiacutelia Vocecircs satildeo o meu alicerce

Agrave Capes pela bolsa de estudos concedida

CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem

da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o

afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30

(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4

(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos

utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a

entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram

sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo

entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve

diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo

com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento

(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o

paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros

meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados

pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a

abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias

preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao

estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees

despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar

com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e

percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos

decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para

ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes

Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente

projeccedilotildees psicologia junguiana

CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An

Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

ABSTRACT

The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception

of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in

quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen

four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the

analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults

Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured

interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is

an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the

sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference

between the sample results and the general population but differences were found in the

relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time

(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors

with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more

impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per

week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data

were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the

approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories

related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional

perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by

difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results

revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity

There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and

poorly understood which can result in projections in patients

Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship

projections Jungian psychology

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

81

Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

70

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IAPS International Affective Picture System

ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp

SAM Self-Assessment Manikin

SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees

SPSS 17 Statistical Package for the Social Science

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 12

2 OBJETIVOS 17

21 OBJETIVO GERAL 17

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17

23 QUESTOtildeES 17

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37

411 Estresse em meacutedicos 41

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52

5 MEacuteTODO 56

51 PARTICIPANTES 56

52 INSTRUMENTOS 56

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58

523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59

524 Entrevista semiestruturada 60

53 PROCEDIMENTOS 61

531 Local de coleta 61

532 Seleccedilatildeo dos participantes 61

533 Procedimento de coleta de dados 61

534 Procedimento de anaacutelise de dados 63

5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64

5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64

535 Procedimento eacutetico 65

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76

616 Agrupamento do IAPS por cluster 79

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86

6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87

6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93

6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98

6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103

7 DISCUSSAtildeO 109

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115

REFEREcircNCIAS 118

ANEXO A 128

ANEXO B 129

ANEXO C 130

APEcircNDICE 132

12

1 INTRODUCcedilAtildeO

Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada

(HILLMAN 1992 p xi)

As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as

relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e

possibilitam sensaccedilotildees como o prazer

Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a

par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e

por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e

reciacuteproco sobre o outrordquo

Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso

corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente

Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo

apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2

Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos

indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos

mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo

O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute

presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado

escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do

sentido e do significado

[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da

razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia

ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma

supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na

unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral

(JUNG 19212009a par117)

Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa

dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja

1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o

outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a

par 751)

13

pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o

trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito

Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo

em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a

emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no

momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis

respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser

levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As

emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele

lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os

de morte

Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho

(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto

das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees

De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo

pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo

profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao

mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um

caminho de evitaccedilatildeo

Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo

do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que

escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir

para ser meacutedicordquo

Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e

humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de

estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e

adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a

atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento

podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel

sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no

mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre

elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico

acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos

fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica

14

Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores

entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15

dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles

seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila

mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo

A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias

natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele

interage com o paciente

O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades

organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais

administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que

lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em

equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica

Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam

evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam

exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa

atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede

do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para

a tomada de decisotildees

Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o

dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja

falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas

palavras e nas interaccedilotildees

Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes

Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela

estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute

essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede

de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai

processar essas emoccedilotildees

As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca

atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave

contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas

relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo

15

Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia

chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que

provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos

tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)

As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por

meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa

personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da

afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)

Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o

reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base

nos fundamentos da psicologia analiacutetica

Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente

influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas

decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo

possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo

com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e

instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de

estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos

O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo

Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo

apresentados no Capiacutetulo 2

No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as

discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as

dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e

contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o

estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional

na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das

emoccedilotildees na tomada de decisatildeo

No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a

amostra os instrumentos e os procedimentos

A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6

Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de

Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na

16

anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de

estudo de caso

Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados

relacionando-os com a teoria e os fundamentos

O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho

para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema

17

2 OBJETIVOS

21 OBJETIVO GERAL

Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS

Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico

Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse

Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e

aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades

Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico

23 QUESTOtildeES

Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees

Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica

Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico

18

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES

A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista

conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo

do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao

privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e

enriquece o desenvolvimento de teorias

A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos

ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo

Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate

protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses

assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do

aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)

Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo

cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem

qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo

Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam

ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de

estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo

vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes

As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um

fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo

Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a

neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e

intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e

19

direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo

com o ambiente) (SCHERER 2005)

De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees

com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram

a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente

no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos

Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a

interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento

de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees

de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma

soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia

Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente

ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional

Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem

gerar prazer ou desprazer

Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para

suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila

o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de

cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado

conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao

tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de

incerteza

Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante

influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da

emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento

emocional

LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de

forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de

distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma

participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido

para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar

tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo

emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel

do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo

20

O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves

motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se

encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os

responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo

A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo

processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos

racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas

as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento

Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute

os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa

mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)

Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que

ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave

evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A

tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a

desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para

eventos natildeo relacionados

Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do

processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu

durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem

devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando

uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)

Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e

pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia

de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e

com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e

objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior

fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo

As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria

fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa

de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as

nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p

13)

21

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico

Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa

quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees

pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto

qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada

Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente

como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a

emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam

conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na

gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o

autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo

Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a

decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja

escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as

muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo

A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no

momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma

determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em

consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo

A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa

Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um

processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo

o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem

mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem

vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a

uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo

De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico

fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A

ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por

sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos

em emoccedilotildees e sentimentos

22

A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo

para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado

resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal

automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um

nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico

positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo

Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees

secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)

pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios

Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e

sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem

natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de

interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas

(DAMAacuteSIO 2006 p 211)

A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo

de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas

A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe

um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais

Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves

organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra

mais importante Affect Imagery Consciousnes

Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque

natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o

mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas

de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)

O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez

que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para

seu questionamento foi o afeto

3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-

organizadas

23

Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma

descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser

humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a

confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para

um estiacutemulo

A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e

de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)

De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em

afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos

estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo

Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para

evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a

vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim

um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5

Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove

afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees

dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das

expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o

mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX

2001)

Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o

sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um

indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as

possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas

O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees

eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos

Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e

referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees

Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a

convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas

4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos

5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem

concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras

24

Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees

baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria

De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se

apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz

diz e pensa

Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de

mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e

vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do

sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees

reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na

recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo

do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011

p 81)

Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa

emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se

percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar

para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e

preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas

Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta

que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que

segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo

lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo

geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas

pelo organismo ao longo de sua vida

Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas

emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-

se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem

nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo

Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco

precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas

medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que

merecem atenccedilatildeo especial

Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de

bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas

circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das

25

emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o

ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo

O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no

processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social

eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos

sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)

As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida

dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que

norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a

projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e

comportamentos

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia

A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em

Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo

sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a

um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer

tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo

quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo

Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente

que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos

para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos

Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que

natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo

Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma

estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e

dominacircncia

Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples

que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees

estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a

mensuraccedilatildeo de respostas emocionais

A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida

utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes

26

comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert

(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a

exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia

dos aspectos emocionais na memoacuteria

Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a

tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e

grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere

Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas

por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de

respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico

O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o

fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com

Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de

descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e

palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas

dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)

Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico

chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus

estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos

podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia

Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com

precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores

sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas

pois funcionam de forma independente6

A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento

ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua

relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)

A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um

estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e

LANG 1994)

6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de

Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal

27

A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do

agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva

ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo

valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema

aversivo

De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido

de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto

positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado

com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo

As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias

natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo

processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona

a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS

A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos

A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que

eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e

julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG

19041994)

A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos

aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o

estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem

valor de sobrevivecircncia

Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou

natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda

natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou

ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma

situaccedilatildeo

[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se

involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel

aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de

expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar

consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o

28

proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG

19161991 par 323)

Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se

surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou

que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era

registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito

A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as

respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias

Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa

trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A

expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de

expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um

processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade

Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos

carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas

manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado

de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)

Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do

complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa

aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o

desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica

Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e

sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma

emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica

Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos

percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes

Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma

predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de

fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que

pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o

desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par

769)

29

De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto

mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se

tornardquo

Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do

indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de

parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a

proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)

Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung

fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um

conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem

imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm

para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da

importacircncia relativa da imagem

Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande

medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se

a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees

perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores

consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo

A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees

interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos

sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia

Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos

que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos

conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao

mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)

A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o

mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual

um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao

objeto (JUNG 19332012)

30

Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos

os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um

processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia

Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante

da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute

por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo

pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo

Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo

sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser

esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos

Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com

caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e

contratransferecircncia

Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde

seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era

importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos

percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram

transferidas para o analista

Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma

exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento

psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas

ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)

A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois

pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus

pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)

E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que

neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)

revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na

esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)

Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido

negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia

Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma

repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente

pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo

31

A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com

Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza

aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da

criatividade na relaccedilatildeo

De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a

todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a

interaccedilatildeo

Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo

Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e

trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade

A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o

sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia

particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)

Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se

liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo

compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar

qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico

A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o

fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia

pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno

O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)

para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um

fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud

(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes

poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica

Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a

contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho

para o material de seus pacientes

Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo

representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se

em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo

natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do

cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra

32

passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o

analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico

Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos

e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo

de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o

autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das

desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas

atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa

Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995

2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na

teorizaccedilatildeo disso pode ser observada

Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)

importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram

na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da

contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do

paciente

Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo

para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento

teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a

contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do

paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)

A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-

determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute

indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem

acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago

colocadas no analista (RACKER 1982)

Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista

mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior

compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento

psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da

relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente

De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung

via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o

paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung

33

(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute

relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente

A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para

ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois

sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha

destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem

daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados

A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute

que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas

diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a

alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na

relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa

do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias

transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele

tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)

Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o

inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e

ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute

um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o

agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam

O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do

inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente

correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior

ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim

numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011

par 364)

De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes

reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees

de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute

presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e

temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais

duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da

contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise

Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia

possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos

34

A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome

mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o

paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia

Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de

desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem

bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus

pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes

e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute

contratransferecircncia

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos

existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um

instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico

A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica

relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e

Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre

meacutedico e paciente

Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante

influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de

lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico

[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo

como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus

conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que

pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT

1988 p 265)

Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma

atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com

isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por

outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator

quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de

funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De

acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o

35

paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho

do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente

o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do

meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo

com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma

influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988

p 47)

Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel

para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como

meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e

idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint

(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas

influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo

Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente

Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos

de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos

Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar

suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo

dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar

conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um

liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento

De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico

chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada

perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os

aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande

mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os

grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje

Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas

raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos

cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem

o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a

fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica

36

De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a

alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do

meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que

meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo

O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a

seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se

estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de

relacionamento com seu paciente

37

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA

A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes

Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS

MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp

Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr

Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr

Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr

Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom

Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed

Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx

International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg

Journal of Analytical Psychology

Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)

httpucpressjournalscomjournalphpj=jung

httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml

Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155

As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo

do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA

A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo

biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e

da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer

relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para

a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE

MARCO 2012)

Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das

pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos

38

muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem

tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional

O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo

onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma

imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os

poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano

comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)

O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional

em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos

etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico

A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa

realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de

Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram

que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram

necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas

27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles

que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios

modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar

Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas

relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano

De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o

estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a

distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo

que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para

o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer

resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente

O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em

seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver

comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento

ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos

psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico

Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a

implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os

estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa

39

Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a

comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo

com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos

encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila

de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na

educaccedilatildeo meacutedica

O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam

novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e

sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA

2001 p 8)

Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos

uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de

embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir

sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas

do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as

emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente

As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry

Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica

e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de

decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por

fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do

ambiente

Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes

despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a

maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que

essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia

O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus

sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)

a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres

e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica

De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves

necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com

situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do

paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que

inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente

40

As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma

constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve

prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas

tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de

ambas as partes

O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que

transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu

grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um

instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados

Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um

melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)

fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de

que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram

os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram

durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram

que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da

vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que

nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado

o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser

invertidos

Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees

inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma

segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem

vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos

envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores

meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode

fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la

A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel

substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o

meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e

compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de

tratamento

41

411 Estresse em meacutedicos

A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos

uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre

o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos

De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees

ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse

possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e

motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e

novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em

que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer

tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se

Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados

abaixo do ideal

De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por

produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma

influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente

tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas

emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais

como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes

Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na

Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos

profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no

trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma

vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do

atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho

excessiva

Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais

na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia

problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida

familiar foram os fatores mais citados

As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

42

Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria

Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22

se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados

houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os

problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho

meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse

foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva

excessiva (522)

Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados

mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia

Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram

a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o

fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento

Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do

municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos

apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia

Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade

de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123

apresentaram estresse

A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do

burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma

reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a

maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse

ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE

Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele

pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos

podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo

a um paciente

As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e

provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um

43

protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo

atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se

encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)

Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem

ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e

Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel

e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo

cliacutenica

Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece

com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo

parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos

A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da

capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e

percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes

Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser

positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a

pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink

A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al

(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas

dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo

De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles

que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma

conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila

Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute

satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e

TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio

(STEINMETZ e TABENKIN 2001)

Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem

impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith

(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de

7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no

qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos

negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)

44

cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de

sauacutede do paciente

Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a

qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de

conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a

especialistas

De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto

por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao

expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento

Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que

os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo

Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que

na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes

Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo

com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao

paciente ou a ambos

De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente

que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e

caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos

profissionais

Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)

observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos

com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o

autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus

proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas

proacuteprias reaccedilotildees emocionais

Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na

interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas

Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo

pelo meacutedico

Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para

identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente

45

O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al

(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo

interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento

De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos

processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a

flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o

paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu

humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente

Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e

Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o

envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis

cuidadosos e mais motivados

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE

Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo

em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como

Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do

conhecimento de sua farmacologia

Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute

permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse

tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional

para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)

De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais

envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte

dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se

informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede

Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e

paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por

mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo

empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes

Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave

comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por

meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os

46

humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um

fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais

Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de

emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo

transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e

natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no

passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que

antecipam no futuro

Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que

transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia

jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de

confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com

roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que

natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem

conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo

Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande

gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes

mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito

Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de

uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e

sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o

meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo

Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)

observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas

determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas

emoccedilotildees

Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e

Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do

paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais

satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente

47

percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos

foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi

determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao

paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia

sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico

percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o

meacutedico tratava o paciente

Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no

Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos

A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer

uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas

surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para

seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do

paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram

os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores

observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o

favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e

insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua

competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que

modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia

Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de

seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises

foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da

pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45

queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados

e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com

precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo

costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees

precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos

Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento

comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das

Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro

de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu

comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a

48

atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes

sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-

paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias

pregressas de encontros com outros meacutedicos

Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou

ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o

papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que

apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o

engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos

ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o

estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes

Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro

cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como

resposta um aumento da emotividade do paciente

Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de

sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila

significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes

tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a

tomada de decisatildeo

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO

Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem

explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam

diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo

variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de

como funciona esse processo

O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos

na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas

principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos

Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise

com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de

raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses

49

passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e

compreender o processo de uma doenccedila

A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo

compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica

meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento

de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica

cliacutenica tem se intensificado

Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a

forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de

qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente

De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-

se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas

logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo

quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete

erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a

compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias

O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a

decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se

inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia

todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma

avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a

probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial

Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes

ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A

prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva

a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as

hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do

paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL

KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)

Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento

heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um

diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com

Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional

50

ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas

emoccedilotildees podem influenciaacute-la

Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo

uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas

pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A

heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel

Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu

uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros

sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que

deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo

Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de

decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia

muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute

trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo

alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na

geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente

quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo

De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees

de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico

natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico

Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte

da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e

por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma

como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem

no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico

possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias

Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de

hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de

medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas

geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses

iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o

processo de diagnoacutestico final

Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais

hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas

51

agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses

especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio

intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que

reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados

limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico

A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue

um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em

evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos

De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem

duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o

que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a

informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se

encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em

que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo

consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro

geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos

Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o

ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento

emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que

complicam a decisatildeo cliacutenica

Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em

um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o

modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo

cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que

tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando

protocolos e sistemas

Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que

fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em

ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os

meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico

e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou

quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos

desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de

ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo

52

A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados

estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento

Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um

tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser

humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo

(GROOPMAN 2008 p 15)

De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo

meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores

decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo

relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores

assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem

garantir resultados eficazes

Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em

funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em

que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente

provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado

Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de

pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas

possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo

Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria

muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo

A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto

quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos

terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo

Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de

forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo

Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as

caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram

selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o

modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as

53

caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de

diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia

combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes

para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas

Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes

durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo

sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez

que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa

funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida

Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem

esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos

meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade

Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um

guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio

entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que

fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de

raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo

analiacutetica

O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees

importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees

precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos

podem ser alertados para modificar um raciociacutenio

Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam

sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de

eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em

termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os

autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de

patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera

variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico

Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-

pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver

8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo

54

algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico

claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro

sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro

Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede

de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-

pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto

em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de

incerteza diagnoacutestica

Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da

queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre

o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de

errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era

nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas

foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o

exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O

meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes

Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros

paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a

maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos

participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados

com os meacutedicos holandeses

Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e

tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico

experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o

prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)

e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo

de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos

relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no

abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de

errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos

dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de

incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos

resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos

utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo

55

Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos

holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo

interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme

definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses

diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de

tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente

estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de

tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que

era esperado pelo meacutedico

As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no

processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo

existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo

de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em

que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo

as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas

tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo

56

5 MEacuteTODO

A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados

quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o

enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode

ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-

quantirdquo

De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de

muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos

e quantitativos

Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos

mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta

pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e

qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial

explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos

51 PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas

especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte

(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo

dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina

convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de

caso com entrevista

52 INSTRUMENTOS

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de

testagem

57

Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas

de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o

International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do

meacutedico

Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do

meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente

A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico

O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm

por objetivo caracterizar a amostra

Idade________________

Sexo F ( ) M ( )

Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________

Especialidade____________________________

Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)

Consultoacuterio ( )

Hospital puacuteblico ( )

Hospital particular ( )

Universidade ( )

Outro______________________ ( )

Outro______________________ ( )

Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no

Consultoacuterio ___ h

Hospital puacuteblico ___ h

Hospital particular ___ h

Professor acadecircmico ___ h

Outro ____________________ ___ h

Outro ____________________ ___ h

____ (total de horas semanais)

Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___

58

Tempo meacutedio de atendimento ___

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a

pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em

que se encontra

Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a

fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo

Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de

adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada

Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se

novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total

de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta

inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi

quebrado na fase de alerta

Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia

fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue

pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e

esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total

desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra

emocional

Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que

um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue

concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves

podem ocorrer

Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou

sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com

15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do

estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo

59

Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as

sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo

quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)

Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e

trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados

pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes

psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e

apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo

523 IAPS ndash International Affective Picture System

O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por

imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama

de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de

700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras

As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos

participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os

participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo

emocional

As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do

Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo

estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as

gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item

que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras

escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer

A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo

induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala

Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)

pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo

(desagradaacutevelnegativa)

De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido

porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de

avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel

60

A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro

Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do

IAPS foi autorizada pelos autores

Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o

relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12

agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos

estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo

emocional das imagens

524 Entrevista semiestruturada

A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por

perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles

tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de

De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith

(1995)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil

1a Que caracteriacutesticas ele tem

1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente

atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades

2a Que caracteriacutesticas ele tem

2b Por que ele natildeo desperta dificuldades

2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso

o afeta Decirc um exemplo

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente

Como

61

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira

no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse

decorrente da profissatildeo Como lida com isso

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por

quecirc

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc

53 PROCEDIMENTOS

531 Local de coleta

A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)

532 Seleccedilatildeo dos participantes

Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de

indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos

proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento

dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo

A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de

disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a

realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em

clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico

escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise

aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O

procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise

533 Procedimento de coleta de dados

62

O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta

de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados

serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia

Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os

resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)

Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos

conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes

foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi

agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta

O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees

sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a

possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de

consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e

devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa

avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da

entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas

e depois transcritas para a anaacutelise

Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia

utilizada na aplicaccedilatildeo foi

Questionaacuterio sociodemograacutefico

Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por

favor preencha as informaccedilotildees solicitadas

International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)

Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo

com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo

responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de

respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma

sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe

parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz

ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que

mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando

um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a

63

figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se

alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta

estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se

aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X

entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no

meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a

classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o

nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os

tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam

Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem

experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os

sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou

P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs

Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a

entrevista

Entrevista semiestruturada

Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees

em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do

paciente

534 Procedimento de anaacutelise de dados

O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem

quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30

meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a

interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos

escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a

64

anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram

identificados por nomes fictiacutecios

5341 Anaacutelise quantitativa de dados

Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes

estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD

(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados

O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando

suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado

para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras

independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de

anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes

Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu

como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo

A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de

estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico

com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo

com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer

comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do

IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS

comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico

5342 Anaacutelise qualitativa de dados

A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro

clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi

escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)

meacutedicos

A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas

com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional

65

o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e

estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

535 Procedimento eacutetico

A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa

envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o

Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)

66

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou

tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo

qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo

O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa

SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de

medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas

(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes

estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes

tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de

comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o

programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se

com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro

A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade

com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir

dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes

em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante

de cada cluster para o estudo de caso

A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia

Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo

da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a

comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International

Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o

sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster

Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4

participantes em forma de Estudo de Caso

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA

67

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos

Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de

diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento

no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas

caracterizaccedilotildees

Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as

distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)

especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho

(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de

pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio

(tabela 7)

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo

Sexo N

Masculino 17

Feminino 13

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e

13 (treze) do sexo feminino

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria

Faixas etaacuterias N

20 a 34 anos 10

35 a 48 anos 7

49 a 59 anos 7

Acima de 60 anos 6

Total 30

Meacutedia 446

Desvio-padratildeo 130

Fonte proacuteprio autor

68

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7

(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade

eacute de 446 anos

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado

Tempo de formado N

05 a 10 anos 12

11 a 23 anos 6

24 a 32 anos 6

33 a 46 anos 6

Total 30

Meacutedia 194

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11

a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de

tempo de formado eacute 194 anos

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades

Especialidade N

Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8

Ortopedia 5

Ginecologia 4

Oftalmologia 3

Otorrinolaringologia 3

Endocrinologia 2

Neurologia 2

Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3

Total 30

Fonte proacuteprio autor

No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e

tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)

oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As

outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia

69

(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)

e urologia (1)

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho

Locais de Trabalho N

Apenas Consultoacuterio 10

Consultoacuterio e Hospital particular 10

Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5

Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10

(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no

hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos

trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 2

21 a 40 hsemanais 8

41 a 48 hsemanais 8

49 hsemanais e + 12

Total 30

Meacutedia 460

Desvio-padratildeo 125

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a

maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais

dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas

70

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 8

21 a 40 hsemanais 15

41 a 48 hsemanais 2

49 hsemanais e + 5

Total 30

Meacutedia 328

Desvio-padratildeo 129

Fonte proacuteprio autor

O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao

atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio

Nuacutemero de pacientesdia N

01 a 09 pacientesdia 4

10 a 22 pacientesdia 15

23 a 37 pacientesdia 6

38 a 55 pacientesdia 5

Total 30

Meacutedia 219

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219

Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a

22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais

de 38 pacientesdia no consultoacuterio

71

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta

Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N

15 a 25 minutos 13

26 a 35 minutos 12

36 a 45 minutos 4

46 a 55 minutos 1

Total 30

Meacutedia 268

Desvio-padratildeo 100

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a

consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus

pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse

que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no

consultoacuterio eacute de 268 minutos

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e

13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A

meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos

meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268

minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do

consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)

Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos

sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da

escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da

amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os

sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos

72

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Stress N Paracircmetro

Natildeo 13 433 440

Sim 17 567 560

Total 30 1000 1000

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de

estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo

geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute

dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Fase Stress N Paracircmetro

Alerta 02 67 20

Resistecircncia 15 500 530

Exaustatildeo 0 00 10

Total 17 567 560

Fonte proacuteprio autor

Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles

estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e

Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa

que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta

referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo

de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um

prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo

de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a

fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar

as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves

73

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL

5

10

2

0

2

4

6

8

10

12

Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos

Prevalecircncia de Sintomas de Stress

Prevalecircncia de sintomas N

Fiacutesicos 5

Psicoloacutegicos 10

Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2

Total 17

Fonte proacuteprio autor

Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram

predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram

diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos

projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-

estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo

muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e

insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro

De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou

psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos

decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da

amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a

vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra

uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)

apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos

paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de

resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma

sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos

mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita

de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva

Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento

encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20

74

meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e

com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em

58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na

fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram

resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas

123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e

72 apresentaram estresse

Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em

termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade

psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a

inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores

psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo

podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico

Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para

observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o

iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo

Stress Sexo Total

Masculino Feminino

Natildeo 7 6 13

Sim 10 7 17

Total 17 13 30

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do

teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo

entre o sexo e o estresse

75

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas

Stress N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t p

Idade Natildeo 13 486 138 38

150 0144 Sim 17 415 119 29

Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38

167 0106 Sim 17 162 107 26

Tempo total de

trabalho (horas

semanais)

Natildeo 13 484 142 39

091 0371 Sim 17 442 112 27

Tempo de trabalho

no Consultoacuterio (horas

semanais)

Natildeo 13 337 130 36

030 0766 Sim 17 322 133 32

Nuacutemero de

pacientesdia

Natildeo 13 255 153 42 140 0171

Sim 17 192 92 22

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

Natildeo 13 300 96 27 155 0133

Sim 17 244 100 24

Fonte proacuteprio autor

Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por

meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As

diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil

sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)

Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas

da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo

emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens

afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment

Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a

intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir

76

de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao

induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo

(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta

a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da

populaccedilatildeo

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais

Escalas N Meacutedia Desvio

padratildeo

Erro

padratildeo

t p μ

Paracircmetro

Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491

Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501

Total 30 497 044 008 0095 0925 496

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas

escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala

Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a

meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que

os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila

significativa

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico

Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave

percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se

internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia

alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional

As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais

dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de

pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta

77

Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS

Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo

Sexo N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t P

Alerta Masculino 17 504 113 027

1634 0057 Feminino 13 449 054 015

Prazer Masculino 17 509 031 007

-0646 0262 Feminino 13 518 043 012

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture

System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas

meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo

com as escalas

A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do

IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Alerta Prazer

Idade

r 035 -028

p 0031 0065

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de formado

r 032 -024

p 0043 0100

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo total de trabalho (horas

semanais)

r -0041 -0025

p 0415 0448

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de trabalho no Consultoacuterio

(horas semanais)

r 020 -040

p 0139 0014

N 30 30

78

Alerta Prazer

Nuacutemero de pacientesdia

r 002 021

p 0443 0128

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

r 036 -0204

p 0024 0140

N 30 30

A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica

descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis

O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que

indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa

que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +

032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo

de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e

o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta

Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele

ficou diante dos estiacutemulos emocionais

Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas

semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto

mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer

Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de

pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer

Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em

relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das

distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave

79

percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao

trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)

Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo

de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos

mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta

Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos

tempo

616 Agrupamento do IAPS por cluster

Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos

participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com

similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade

ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por

agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um

embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em

profundidade

O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a

cada agrupamento

80

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)

O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas

Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia

dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia

A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a

separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia

N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo F P

Alerta

Cluster 1 6 501 010 004

4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027

Cluster 3 9 377 027 009

Cluster 4 8 465 021 007

Prazer

Cluster 1 6 493 015 006

2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010

Cluster 3 9 519 016 005

Cluster 4 8 556 017 006

Fonte proacuteprio autor

81

O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo

que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)

Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos

clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos

ou mais distantes da meacutedia

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

Alerta N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055

Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004

Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000

Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009

Prazer N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265

Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038

Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011

Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000

Fonte proacuteprio autor

O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral

O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que

possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a

populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor

pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos

de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters

O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais

82

baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo

O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o

com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com

pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis

sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os

clusters

Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou

afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective

Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo

e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional

que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no

cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas

duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e

tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster

3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4

agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve

diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters

O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas

pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters

2 3 e 4

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia

em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster

83

perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos

outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia

de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam

486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181

pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos

Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e

4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam

prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a

anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de

fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os

sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer

unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa

especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente

Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de

formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente

nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que

meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se

mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas

semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e

desagradaacutevel

Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)

concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais

excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos

niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa

correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta

Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no

consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees

intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a

anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes

O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor

pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa

em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos

diante dos estiacutemulos

84

Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos

participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4

trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao

trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 233 minutos

Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5

na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com

estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de

sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram

duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos

outros clusters

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos

que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico

Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo

esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo

dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas

O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos

constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade

emocional

O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior

pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de

forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia

de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao

trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 225 minutos

Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e

3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de

resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas

psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio

entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os

participantes deste cluster

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com

menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais

85

pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os

resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de

trabalho no consultoacuterio e o Prazer

O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das

relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer

como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo

frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como

aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster

Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que

trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo

com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem

Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas

escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas

hipoacuteteses interpretativas

1ordf Tendecircncia observada

Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado

e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos

estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as

variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de

estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela

escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que

permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais

desagradaacutevel

Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente

de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses

meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o

Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas

relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem

estar menos satisfeitos

2ordf Tendecircncia observada

86

O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo

com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade

emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse

pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos

permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de

interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente

Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente

com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo

agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente

3ordf Tendecircncia observada

Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de

formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem

mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala

Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior

prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda

uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer

Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria

da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos

prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com

outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem

menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga

emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso

Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para

anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por

meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas

no quadro a seguir

87

Tabela 17 Categorias de anaacutelise

CATEGORIAS

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

A percepccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises

6221 Caso 1 Daniel (participante 12)

Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto

aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que

ficam mais tempo com o paciente nas consultas

Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute

Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta

de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha

em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute

de 45 minutos

Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e

era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando

sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de

como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem

educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como

montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um

desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que

estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas

algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar

que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

88

Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico

constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo

relatou nenhum sintoma psicoloacutegico

O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa

aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro

mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele

natildeo vai ser meacutedicordquo

Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas

situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees

de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel

fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como

atender um paciente bem se natildeo estiver descansado

Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia

mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem

porque aprendirdquo

Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o

nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o

trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre

cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo

chato natildeo eacute rabo curto como erardquo

Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-

se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu

passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho

mais tempordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o

meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos

estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos

Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as

89

consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por

estiacutemulos que despertam emoccedilotildees

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve

permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de

modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu

trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo

Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em

dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam

parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi

um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos

meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e

isso me emocionourdquo

Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o

influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o

atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e

fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se

resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas

falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo

reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo

Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios

incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma

diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo

pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer

mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao

paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava

dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a

90

lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por

que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo

Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais

envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes

sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo

paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos

que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo

O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante

que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do

diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao

cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio

ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de

suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento

mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram

o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa

ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee

chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me

obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou

trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como

esse afetassem o seu trabalho

Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou

que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees

de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser

conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com

a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo

Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o

tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute

positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto

Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais

satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo

Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees

positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades

mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades

91

mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe

paciente faacutecilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle

diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto

emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o

controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais

jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []

mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as

emoccedilotildeesrdquo

O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do

desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro

maisrdquo

Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o

controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus

pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de

brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-

presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para

essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha

a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas

desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo

Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram

desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica

remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo

Leitura analiacutetica

Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos

que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi

extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo

diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no

teste do IAPS

92

Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees

relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a

maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou

uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no

em sua seguranccedila

Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode

refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e

incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as

emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute

necessaacuteria uma atitude de controle

Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente

que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o

seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel

ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido

contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o

paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute

aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e

que parece respeitaacute-lo

No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes

percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou

ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o

senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo

ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e

com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se

ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente

O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular

de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa

Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas

estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como

demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute

cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns

iam emborardquo

Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo

permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos

93

aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de

seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os

aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o

confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e

que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de

falhar

6222 Caso 2 Alice (participante 2)

Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade

emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em

hospital puacuteblico

Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e

divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes

Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio

Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

20 minutos

Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas

vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel

Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios

momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era

solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das

questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que

uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar

algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia

preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos

prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e

cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa

94

especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando

mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a

hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e

irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do

ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os

pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam

aprender a lidar

Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades

que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo

Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem

interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em

burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso

pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda

muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []

eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou

menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das

figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma

tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o

que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter

diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas

podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de

comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a

emoccedilatildeo) influi em tudordquo

95

Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais

intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo

Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o

que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que

podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo

Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem

alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em

seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos

avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar

que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de

atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela

como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e

sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo

Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que

incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao

meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua

postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a

um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim

entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho

que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa

ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o

baixo Alerta no IAPS

Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de

exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de

pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente

e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a

relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma

compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no

96

consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo

ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo

Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas

pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de

violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria

demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo

Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo

aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo

pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e

ajuda ao outro

Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a

sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]

eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele

realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim

de se sentir uacutetilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para

proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]

quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de

pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do

caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees

psicoloacutegicas de lidarrdquo

Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em

que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e

assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou

uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo

Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata

como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o

tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no

consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo

97

Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara

com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente

parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos

Leitura analiacutetica

Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para

evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em

qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo

como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez

Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela

teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute

canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo

antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de

superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir

parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse

recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio

Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas

diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o

recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica

Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo

de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que

parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela

reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o

caso

Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo

representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos

Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel

Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia

para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja

vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda

ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas

A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice

percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os

98

sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes

Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse

estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da

entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como

vinculadas ao estresse

Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas

como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que

como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos

efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento

A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua

capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e

frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar

sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse

reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto

observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas

relaccedilotildees

Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo

projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante

dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo

6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)

Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de

Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de

formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam

menos tempo com eles

A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi

individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande

nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais

caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio

99

Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o

seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo

atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho

no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

15 minutos

O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito

cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de

atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo

para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e

agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade

suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo

assinalou nenhum sintoma fiacutesico

Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que

atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras

atividades como cirurgias e compromissos familiares

Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o

estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma

contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e

mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que

me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo

ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo

perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel

percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral

Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao

considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa

100

insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em

funccedilatildeo de um processo defensivo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre

elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente

acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo

As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e

prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma

caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc

fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como

barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo

Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho

Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela

sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor

cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo

emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo

Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as

suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a

sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo

vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []

afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando

perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)

Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender

Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet

ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees

desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo

da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar

101

o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje

em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo

quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo

Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo

traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa

desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender

[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e

mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA

dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar

para ele o que vocecirc esta querendordquo

O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o

diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de

Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu

trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se

sente bemrdquo

Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que

suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento

das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o

pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas

jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu

trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo

ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute

tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser

neutrordquo

Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de

cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito

comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o

ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser

influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto

nenhumrdquo

102

Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou

estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se

com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que

chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo

Leitura analiacutetica

Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo

Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo

O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois

trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No

entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e

insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes

O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e

o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse

Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo

Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de

que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou

subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu

papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia

negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo

vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos

emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a

gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo

Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e

controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como

meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus

atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu

julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e

entendimento

Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre

a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter

103

observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no

controle e que a atitude emocional pode ser controlada

Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para

expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que

poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo

soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo

A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra

tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute

provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as

emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do

receio de ter esse poder contestado

6224 Caso 4 Marcos (participante 13)

Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais

proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos

paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer

Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia

Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital

Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10

pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos

Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou

interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha

encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este

apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um

processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e

tem se esforccedilado muito para isso

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia

afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado

104

estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de

dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os

sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e

irritabilidade sem causa aparente

O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de

sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo

de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua

jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errarrdquo

Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo

emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto

ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura

refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro

trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua

meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas

emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo

subjetiva da emoccedilatildeo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um

caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante

em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer

isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai

da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutemrdquo

Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no

diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a

beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo

105

para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a

emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo

Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de

soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um

caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo

O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar

ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias

com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e

pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem

ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo

dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo

Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois

isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais

fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a

natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm

pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a

doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no

tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e

inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse

impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo

Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar

com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com

o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido

principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento

O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da

evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de

afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de

afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no

tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo

106

O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio

que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento

e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo

[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte

delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de

realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente

satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de

realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e

tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu

conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem

do que eu posso fazerrdquo

Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves

relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como

lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor

estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem

unicamente de mimrdquo

Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees

principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito

bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo

Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de

recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de

conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para

dar um alentordquo

Leitura analiacutetica

Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho

que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu

procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo

107

Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita

que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um

pouco da personalidaderdquo

Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e

do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc

tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para

issordquo

A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante

das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em

alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes

Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como

raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila

podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para

lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o

que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da

racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas

depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer

sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia

Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira

nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e

motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a

sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo

verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral

Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da

responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do

meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo

trabalhada

Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para

ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para

pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e

reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo

com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-

las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

108

Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais

clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos

defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees

como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e

uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma

relaccedilatildeo com o paciente

109

7 DISCUSSAtildeO

O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente

que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles

relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem

influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico

Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com

o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo

os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e

a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o

paciente

Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees

estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas

emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais

impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca

compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional

A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees

que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas

Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada

porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido

seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo

percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base

essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem

apenas sintomas da afetividaderdquo

Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e

DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que

os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a

Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas

raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse

funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico

Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se

ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer

110

insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento

semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos

sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma

segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo

de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar

romper o viacutenculo

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um

compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico

(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a

essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de

valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e

dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes

tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como

afastamento entre outras

Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um

sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das

possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida

emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional

eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos

relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um

entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios

A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se

sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas

nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente

aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro

desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente

visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando

compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o

ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer

Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo

apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo

apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser

usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute

uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo

111

subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo

Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as

suas normas e convicccedilotildees

Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do

detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode

mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo

impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a

funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos

frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou

meacutedicordquo

Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo

com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico

assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais

caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos

De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente

representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da

consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma

persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem

parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo

vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral

riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel

se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)

Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por

autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do

meacutedico

Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de

detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado

situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura

informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona

riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel

Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para

responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e

sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a

reflexatildeo

112

Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e

reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas

tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no

atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como

negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas

Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo

interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e

ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e

mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado

dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os

incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo

Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois

mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples

fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a

emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar

com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui

A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas

emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um

maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de

atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem

a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento

Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar

com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta

compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e

fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro

momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa

de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes

reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades

para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das

emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam

que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem

evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a

113

esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar

sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de

seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de

reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que

os afetava negativamente e o que os afetava positivamente

Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a

busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com

naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis

Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia

percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos

chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e

distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e

com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado

espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na

entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a

questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional

Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo

ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)

O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao

extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A

atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se

riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado

Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma

inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente

mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira

vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de

impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de

quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder

A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de

como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e

sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as

caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as

percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais

114

Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar

inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o

tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo

emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung

(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente

que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico

No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas

entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b

par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em

nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o

pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas

pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a

Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila

constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na

forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)

Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre

presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo

No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006

2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um

auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de

circuitos mentais confluentes

Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e

Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a

aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e

do processo de tomada de decisatildeo

Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco

reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do

meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-

paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a

contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na

compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e

impactar no atendimento do paciente

115

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece

quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo

desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a

incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que

despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em

geral

As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica

pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento

interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu

falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os

meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional

parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por

complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo

O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente

Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na

leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica

O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos

vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos

que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido

agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais

Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o

paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que

o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes

que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como

pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute

elemento isolado desse todo

O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao

distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a

persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o

paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si

116

Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo

colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo

de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente

repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista

institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos

reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho

Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca

havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a

medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido

ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo

de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive

vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no

primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina

curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa

profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)

A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma

aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na

busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte

de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos

necessaacuterios

A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as

defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega

estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por

exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o

impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo

Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito

individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um

psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e

contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees

Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao

meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas

de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de

Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns

hospitais

Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das

emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre

gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o

117

ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o

impacto nos processos de decisatildeo

118

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ANEXO A

129

ANEXO B

130

ANEXO C

131

132

APEcircNDICE

Caso 1 Daniel (participante 12)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles

entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais

meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes

fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo

que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica

acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar

perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus

pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um

pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o

senhor quer saber isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas

algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter

fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos

e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube

dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros

do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a

secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia

natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me

perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito

bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem

o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com

ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de

uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia

rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute

num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo

quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo

133

a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC

tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute

jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos

70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva

ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio

noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu

natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)

Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo

durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de

futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes

natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer

terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que

eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo

aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai

para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre

consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu

assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o

mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas

fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando

os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando

a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso

me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me

defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem

essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por

isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a

consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir

embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu

quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem

na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles

atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em

outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco

134

comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar

quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma

superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele

histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve

dor de barriga

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor

de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as

informaccedilotildees natildeo procura se exibir

Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo

valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees

tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque

tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de

propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia

quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute

vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da

moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu

pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse

ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude

chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que

seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se

escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e

sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira

bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos

sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom

apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees

positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas

chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo

135

emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo

mexer com nossa inseguranccedila

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e

controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo

de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu

deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo

possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de

contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha

indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar

imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais

estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse

olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e

vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu

tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o

senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram

pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar

porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de

tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns

dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele

num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e

emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro

eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a

carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc

136

vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone

tocou)

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a

me controlar

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda

hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade

quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha

taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha

que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se

controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando

me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso

com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o

sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc

definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada

Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e

provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular

quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo

Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo

ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs

ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele

escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado

depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo

estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve

um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que

essa seja a explicaccedilatildeo

137

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um

pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro

assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade

agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo

ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito

bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um

pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute

uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo

respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam

atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no

fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas

eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou

Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo

com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil

participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta

meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia

isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e

a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma

coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada

pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas

vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de

SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era

rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma

incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras

achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de

pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito

difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra

138

coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras

consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a

formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado

viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo

especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu

conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do

HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo

obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes

ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema

com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa

foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F

que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem

para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem

competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo

absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois

casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a

parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um

oacutetimo colega

139

Caso 2 Alice (participante 2)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que

mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza

Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo

paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos

paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em

hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de

paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu

consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo

sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar

vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender

Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo

sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai

esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma

agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para

fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo

vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco

de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute

mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes

mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem

140

porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta

eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica

e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue

responder acho que eacute isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas

eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir

aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo

meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo

prazer Sensaccedilotildees boas

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma

meacutedica relativamente sortuda (risos)

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)

(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo

consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito

bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito

grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela

foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e

aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu

me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para

criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela

trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava

acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles

que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana

neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas

dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no

final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que

o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho

141

menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu

achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse

bobeira doutora deixa para laacute

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de

atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor

evitar esse tipo de paciente porque vai dar m

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-

operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar

que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar

mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro

o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei

olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os

preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24

agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma

semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia

me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele

fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o

que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o

que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho

um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu

sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute

uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular

tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das

coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio

142

cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para

discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala

nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar

Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele

vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo

concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz

reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e

vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque

depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo

venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so

long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um

ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo

meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo

mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute

dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no

sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra

pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus

entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou

vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito

entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que

trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada

demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal

ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso

descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima

eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que

leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

143

Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele

estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila

que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para

ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa

entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em

condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para

explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara

com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele

faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por

semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim

sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que

vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma

psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa

sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que

realmente impacta muito a vida deles

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc

natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o

paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente

me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De

vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma

menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma

ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito

beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles

vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu

chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute

144

Caso 3 Miguel (participante 4)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem

alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute

considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves

orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo

compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me

traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu

natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute

mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de

incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu

melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E

posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse

tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se

acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela

natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o

viacutenculo

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com

a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura

fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque

145

eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa

sauacutede

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem

de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe

melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias

de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e

muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar

uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse

paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um

paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando

mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto

para dar um alento

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque

muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo

do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute

mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte

mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa

empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva

sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou

natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam

melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da

146

patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo

respondeu tatildeo bem

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma

caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou

esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave

informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores

quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso

organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar

preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de

mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente

porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma

fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma

estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem

formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia

eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a

experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo

assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive

momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos

para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem

um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa

condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te

dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

147

Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais

assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas

positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute

vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos

tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra

mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos

acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma

especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os

meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais

paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra

mas (Interrompeu paciente chegou)

148

Caso 4 Marcos (participante 13)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o

trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute

vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico

do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira

assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo

satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e

geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute

acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais

briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo

construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar

fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela

mesma

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar

explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa

como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute

uma sensaccedilotildees incocircmoda)

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil

mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu

conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar

a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha

149

passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa

que estaacute compartilhando o problema com vocecirc

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de

ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm

burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que

questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas

coisas

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que

veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas

para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-

socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico

me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me

agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma

ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois

operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha

um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral

um achado em exames tambeacutem veio me agradecer

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo

aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta

agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o

negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)

As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica

fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um

150

aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa

positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo

da pessoa

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de

emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por

hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir

uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um

compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse

agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc

faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)

Eu acho que eu administro bem

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um

pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas

vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a

pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com

sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por

uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo

me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma

coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

151

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a

falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo

estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o

paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo especialmente a Profa Dra Liliana Liviano Wahba pela parceria dedicaccedilatildeo e pelo

saber compartilhado Eacute difiacutecil definir apenas em palavras a minha imensa gratidatildeo

Aos meacutedicos que dedicaram seu tempo para esta pesquisa nas entrevistas e testes

Ao Prof Dr Mario Alfredo De Marco (in memoriam) pela inspiraccedilatildeo Sou grata pelos

momentos de interaccedilatildeo

Agrave Dra Paula Perrone pelas discussotildees e apontamentos tatildeo ricos que contribuiacuteram para meu

crescimento

Agrave Profa Yara Pisanelli Gustavo de Castro pelo apoio na construccedilatildeo da anaacutelise dos dados

estatiacutesticos

Aos professores do Nuacutecleo de Estudos Junguianos que me apoiaram neste percurso

Aos meus amigos que me incentivaram e estiveram presentes nesta jornada

Agradecimento especial agrave minha famiacutelia Vocecircs satildeo o meu alicerce

Agrave Capes pela bolsa de estudos concedida

CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem

da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o

afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30

(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4

(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos

utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a

entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram

sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo

entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve

diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo

com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento

(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o

paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros

meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados

pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a

abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias

preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao

estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees

despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar

com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e

percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos

decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para

ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes

Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente

projeccedilotildees psicologia junguiana

CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An

Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

ABSTRACT

The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception

of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in

quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen

four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the

analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults

Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured

interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is

an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the

sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference

between the sample results and the general population but differences were found in the

relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time

(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors

with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more

impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per

week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data

were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the

approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories

related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional

perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by

difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results

revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity

There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and

poorly understood which can result in projections in patients

Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship

projections Jungian psychology

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

81

Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

70

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IAPS International Affective Picture System

ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp

SAM Self-Assessment Manikin

SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees

SPSS 17 Statistical Package for the Social Science

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 12

2 OBJETIVOS 17

21 OBJETIVO GERAL 17

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17

23 QUESTOtildeES 17

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37

411 Estresse em meacutedicos 41

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52

5 MEacuteTODO 56

51 PARTICIPANTES 56

52 INSTRUMENTOS 56

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58

523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59

524 Entrevista semiestruturada 60

53 PROCEDIMENTOS 61

531 Local de coleta 61

532 Seleccedilatildeo dos participantes 61

533 Procedimento de coleta de dados 61

534 Procedimento de anaacutelise de dados 63

5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64

5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64

535 Procedimento eacutetico 65

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76

616 Agrupamento do IAPS por cluster 79

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86

6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87

6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93

6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98

6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103

7 DISCUSSAtildeO 109

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115

REFEREcircNCIAS 118

ANEXO A 128

ANEXO B 129

ANEXO C 130

APEcircNDICE 132

12

1 INTRODUCcedilAtildeO

Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada

(HILLMAN 1992 p xi)

As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as

relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e

possibilitam sensaccedilotildees como o prazer

Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a

par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e

por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e

reciacuteproco sobre o outrordquo

Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso

corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente

Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo

apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2

Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos

indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos

mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo

O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute

presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado

escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do

sentido e do significado

[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da

razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia

ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma

supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na

unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral

(JUNG 19212009a par117)

Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa

dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja

1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o

outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a

par 751)

13

pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o

trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito

Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo

em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a

emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no

momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis

respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser

levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As

emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele

lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os

de morte

Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho

(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto

das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees

De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo

pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo

profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao

mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um

caminho de evitaccedilatildeo

Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo

do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que

escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir

para ser meacutedicordquo

Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e

humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de

estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e

adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a

atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento

podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel

sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no

mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre

elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico

acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos

fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica

14

Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores

entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15

dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles

seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila

mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo

A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias

natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele

interage com o paciente

O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades

organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais

administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que

lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em

equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica

Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam

evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam

exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa

atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede

do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para

a tomada de decisotildees

Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o

dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja

falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas

palavras e nas interaccedilotildees

Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes

Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela

estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute

essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede

de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai

processar essas emoccedilotildees

As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca

atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave

contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas

relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo

15

Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia

chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que

provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos

tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)

As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por

meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa

personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da

afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)

Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o

reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base

nos fundamentos da psicologia analiacutetica

Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente

influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas

decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo

possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo

com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e

instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de

estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos

O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo

Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo

apresentados no Capiacutetulo 2

No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as

discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as

dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e

contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o

estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional

na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das

emoccedilotildees na tomada de decisatildeo

No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a

amostra os instrumentos e os procedimentos

A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6

Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de

Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na

16

anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de

estudo de caso

Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados

relacionando-os com a teoria e os fundamentos

O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho

para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema

17

2 OBJETIVOS

21 OBJETIVO GERAL

Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS

Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico

Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse

Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e

aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades

Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico

23 QUESTOtildeES

Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees

Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica

Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico

18

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES

A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista

conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo

do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao

privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e

enriquece o desenvolvimento de teorias

A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos

ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo

Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate

protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses

assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do

aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)

Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo

cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem

qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo

Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam

ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de

estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo

vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes

As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um

fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo

Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a

neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e

intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e

19

direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo

com o ambiente) (SCHERER 2005)

De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees

com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram

a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente

no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos

Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a

interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento

de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees

de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma

soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia

Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente

ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional

Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem

gerar prazer ou desprazer

Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para

suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila

o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de

cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado

conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao

tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de

incerteza

Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante

influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da

emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento

emocional

LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de

forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de

distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma

participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido

para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar

tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo

emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel

do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo

20

O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves

motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se

encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os

responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo

A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo

processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos

racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas

as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento

Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute

os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa

mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)

Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que

ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave

evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A

tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a

desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para

eventos natildeo relacionados

Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do

processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu

durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem

devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando

uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)

Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e

pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia

de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e

com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e

objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior

fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo

As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria

fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa

de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as

nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p

13)

21

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico

Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa

quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees

pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto

qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada

Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente

como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a

emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam

conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na

gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o

autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo

Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a

decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja

escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as

muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo

A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no

momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma

determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em

consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo

A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa

Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um

processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo

o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem

mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem

vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a

uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo

De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico

fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A

ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por

sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos

em emoccedilotildees e sentimentos

22

A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo

para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado

resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal

automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um

nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico

positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo

Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees

secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)

pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios

Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e

sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem

natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de

interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas

(DAMAacuteSIO 2006 p 211)

A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo

de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas

A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe

um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais

Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves

organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra

mais importante Affect Imagery Consciousnes

Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque

natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o

mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas

de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)

O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez

que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para

seu questionamento foi o afeto

3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-

organizadas

23

Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma

descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser

humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a

confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para

um estiacutemulo

A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e

de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)

De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em

afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos

estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo

Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para

evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a

vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim

um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5

Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove

afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees

dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das

expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o

mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX

2001)

Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o

sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um

indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as

possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas

O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees

eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos

Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e

referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees

Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a

convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas

4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos

5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem

concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras

24

Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees

baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria

De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se

apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz

diz e pensa

Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de

mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e

vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do

sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees

reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na

recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo

do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011

p 81)

Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa

emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se

percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar

para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e

preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas

Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta

que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que

segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo

lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo

geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas

pelo organismo ao longo de sua vida

Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas

emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-

se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem

nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo

Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco

precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas

medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que

merecem atenccedilatildeo especial

Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de

bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas

circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das

25

emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o

ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo

O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no

processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social

eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos

sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)

As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida

dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que

norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a

projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e

comportamentos

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia

A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em

Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo

sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a

um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer

tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo

quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo

Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente

que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos

para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos

Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que

natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo

Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma

estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e

dominacircncia

Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples

que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees

estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a

mensuraccedilatildeo de respostas emocionais

A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida

utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes

26

comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert

(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a

exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia

dos aspectos emocionais na memoacuteria

Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a

tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e

grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere

Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas

por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de

respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico

O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o

fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com

Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de

descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e

palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas

dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)

Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico

chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus

estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos

podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia

Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com

precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores

sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas

pois funcionam de forma independente6

A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento

ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua

relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)

A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um

estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e

LANG 1994)

6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de

Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal

27

A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do

agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva

ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo

valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema

aversivo

De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido

de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto

positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado

com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo

As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias

natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo

processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona

a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS

A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos

A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que

eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e

julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG

19041994)

A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos

aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o

estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem

valor de sobrevivecircncia

Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou

natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda

natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou

ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma

situaccedilatildeo

[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se

involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel

aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de

expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar

consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o

28

proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG

19161991 par 323)

Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se

surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou

que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era

registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito

A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as

respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias

Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa

trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A

expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de

expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um

processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade

Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos

carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas

manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado

de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)

Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do

complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa

aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o

desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica

Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e

sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma

emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica

Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos

percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes

Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma

predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de

fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que

pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o

desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par

769)

29

De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto

mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se

tornardquo

Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do

indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de

parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a

proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)

Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung

fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um

conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem

imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm

para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da

importacircncia relativa da imagem

Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande

medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se

a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees

perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores

consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo

A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees

interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos

sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia

Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos

que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos

conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao

mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)

A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o

mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual

um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao

objeto (JUNG 19332012)

30

Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos

os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um

processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia

Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante

da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute

por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo

pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo

Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo

sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser

esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos

Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com

caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e

contratransferecircncia

Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde

seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era

importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos

percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram

transferidas para o analista

Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma

exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento

psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas

ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)

A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois

pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus

pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)

E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que

neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)

revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na

esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)

Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido

negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia

Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma

repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente

pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo

31

A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com

Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza

aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da

criatividade na relaccedilatildeo

De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a

todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a

interaccedilatildeo

Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo

Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e

trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade

A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o

sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia

particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)

Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se

liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo

compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar

qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico

A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o

fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia

pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno

O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)

para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um

fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud

(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes

poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica

Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a

contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho

para o material de seus pacientes

Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo

representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se

em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo

natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do

cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra

32

passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o

analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico

Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos

e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo

de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o

autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das

desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas

atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa

Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995

2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na

teorizaccedilatildeo disso pode ser observada

Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)

importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram

na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da

contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do

paciente

Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo

para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento

teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a

contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do

paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)

A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-

determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute

indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem

acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago

colocadas no analista (RACKER 1982)

Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista

mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior

compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento

psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da

relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente

De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung

via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o

paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung

33

(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute

relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente

A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para

ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois

sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha

destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem

daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados

A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute

que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas

diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a

alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na

relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa

do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias

transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele

tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)

Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o

inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e

ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute

um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o

agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam

O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do

inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente

correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior

ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim

numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011

par 364)

De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes

reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees

de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute

presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e

temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais

duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da

contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise

Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia

possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos

34

A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome

mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o

paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia

Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de

desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem

bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus

pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes

e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute

contratransferecircncia

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos

existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um

instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico

A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica

relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e

Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre

meacutedico e paciente

Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante

influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de

lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico

[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo

como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus

conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que

pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT

1988 p 265)

Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma

atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com

isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por

outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator

quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de

funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De

acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o

35

paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho

do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente

o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do

meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo

com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma

influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988

p 47)

Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel

para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como

meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e

idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint

(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas

influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo

Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente

Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos

de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos

Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar

suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo

dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar

conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um

liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento

De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico

chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada

perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os

aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande

mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os

grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje

Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas

raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos

cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem

o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a

fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica

36

De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a

alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do

meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que

meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo

O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a

seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se

estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de

relacionamento com seu paciente

37

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA

A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes

Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS

MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp

Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr

Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr

Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr

Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom

Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed

Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx

International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg

Journal of Analytical Psychology

Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)

httpucpressjournalscomjournalphpj=jung

httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml

Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155

As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo

do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA

A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo

biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e

da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer

relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para

a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE

MARCO 2012)

Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das

pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos

38

muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem

tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional

O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo

onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma

imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os

poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano

comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)

O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional

em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos

etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico

A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa

realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de

Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram

que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram

necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas

27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles

que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios

modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar

Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas

relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano

De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o

estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a

distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo

que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para

o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer

resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente

O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em

seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver

comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento

ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos

psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico

Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a

implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os

estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa

39

Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a

comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo

com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos

encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila

de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na

educaccedilatildeo meacutedica

O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam

novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e

sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA

2001 p 8)

Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos

uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de

embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir

sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas

do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as

emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente

As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry

Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica

e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de

decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por

fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do

ambiente

Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes

despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a

maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que

essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia

O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus

sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)

a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres

e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica

De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves

necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com

situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do

paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que

inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente

40

As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma

constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve

prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas

tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de

ambas as partes

O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que

transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu

grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um

instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados

Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um

melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)

fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de

que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram

os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram

durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram

que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da

vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que

nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado

o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser

invertidos

Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees

inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma

segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem

vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos

envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores

meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode

fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la

A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel

substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o

meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e

compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de

tratamento

41

411 Estresse em meacutedicos

A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos

uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre

o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos

De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees

ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse

possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e

motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e

novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em

que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer

tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se

Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados

abaixo do ideal

De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por

produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma

influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente

tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas

emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais

como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes

Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na

Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos

profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no

trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma

vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do

atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho

excessiva

Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais

na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia

problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida

familiar foram os fatores mais citados

As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

42

Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria

Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22

se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados

houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os

problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho

meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse

foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva

excessiva (522)

Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados

mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia

Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram

a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o

fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento

Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do

municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos

apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia

Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade

de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123

apresentaram estresse

A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do

burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma

reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a

maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse

ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE

Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele

pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos

podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo

a um paciente

As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e

provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um

43

protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo

atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se

encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)

Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem

ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e

Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel

e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo

cliacutenica

Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece

com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo

parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos

A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da

capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e

percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes

Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser

positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a

pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink

A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al

(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas

dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo

De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles

que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma

conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila

Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute

satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e

TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio

(STEINMETZ e TABENKIN 2001)

Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem

impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith

(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de

7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no

qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos

negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)

44

cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de

sauacutede do paciente

Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a

qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de

conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a

especialistas

De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto

por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao

expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento

Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que

os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo

Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que

na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes

Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo

com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao

paciente ou a ambos

De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente

que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e

caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos

profissionais

Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)

observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos

com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o

autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus

proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas

proacuteprias reaccedilotildees emocionais

Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na

interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas

Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo

pelo meacutedico

Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para

identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente

45

O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al

(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo

interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento

De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos

processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a

flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o

paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu

humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente

Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e

Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o

envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis

cuidadosos e mais motivados

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE

Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo

em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como

Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do

conhecimento de sua farmacologia

Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute

permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse

tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional

para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)

De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais

envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte

dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se

informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede

Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e

paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por

mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo

empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes

Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave

comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por

meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os

46

humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um

fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais

Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de

emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo

transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e

natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no

passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que

antecipam no futuro

Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que

transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia

jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de

confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com

roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que

natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem

conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo

Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande

gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes

mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito

Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de

uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e

sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o

meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo

Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)

observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas

determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas

emoccedilotildees

Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e

Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do

paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais

satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente

47

percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos

foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi

determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao

paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia

sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico

percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o

meacutedico tratava o paciente

Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no

Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos

A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer

uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas

surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para

seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do

paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram

os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores

observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o

favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e

insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua

competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que

modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia

Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de

seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises

foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da

pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45

queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados

e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com

precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo

costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees

precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos

Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento

comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das

Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro

de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu

comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a

48

atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes

sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-

paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias

pregressas de encontros com outros meacutedicos

Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou

ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o

papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que

apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o

engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos

ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o

estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes

Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro

cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como

resposta um aumento da emotividade do paciente

Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de

sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila

significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes

tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a

tomada de decisatildeo

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO

Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem

explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam

diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo

variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de

como funciona esse processo

O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos

na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas

principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos

Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise

com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de

raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses

49

passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e

compreender o processo de uma doenccedila

A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo

compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica

meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento

de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica

cliacutenica tem se intensificado

Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a

forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de

qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente

De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-

se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas

logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo

quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete

erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a

compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias

O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a

decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se

inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia

todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma

avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a

probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial

Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes

ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A

prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva

a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as

hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do

paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL

KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)

Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento

heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um

diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com

Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional

50

ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas

emoccedilotildees podem influenciaacute-la

Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo

uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas

pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A

heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel

Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu

uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros

sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que

deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo

Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de

decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia

muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute

trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo

alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na

geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente

quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo

De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees

de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico

natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico

Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte

da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e

por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma

como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem

no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico

possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias

Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de

hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de

medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas

geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses

iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o

processo de diagnoacutestico final

Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais

hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas

51

agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses

especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio

intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que

reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados

limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico

A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue

um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em

evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos

De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem

duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o

que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a

informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se

encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em

que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo

consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro

geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos

Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o

ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento

emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que

complicam a decisatildeo cliacutenica

Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em

um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o

modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo

cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que

tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando

protocolos e sistemas

Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que

fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em

ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os

meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico

e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou

quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos

desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de

ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo

52

A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados

estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento

Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um

tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser

humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo

(GROOPMAN 2008 p 15)

De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo

meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores

decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo

relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores

assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem

garantir resultados eficazes

Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em

funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em

que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente

provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado

Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de

pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas

possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo

Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria

muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo

A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto

quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos

terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo

Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de

forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo

Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as

caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram

selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o

modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as

53

caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de

diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia

combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes

para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas

Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes

durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo

sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez

que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa

funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida

Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem

esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos

meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade

Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um

guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio

entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que

fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de

raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo

analiacutetica

O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees

importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees

precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos

podem ser alertados para modificar um raciociacutenio

Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam

sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de

eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em

termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os

autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de

patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera

variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico

Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-

pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver

8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo

54

algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico

claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro

sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro

Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede

de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-

pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto

em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de

incerteza diagnoacutestica

Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da

queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre

o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de

errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era

nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas

foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o

exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O

meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes

Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros

paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a

maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos

participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados

com os meacutedicos holandeses

Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e

tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico

experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o

prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)

e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo

de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos

relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no

abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de

errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos

dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de

incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos

resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos

utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo

55

Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos

holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo

interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme

definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses

diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de

tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente

estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de

tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que

era esperado pelo meacutedico

As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no

processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo

existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo

de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em

que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo

as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas

tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo

56

5 MEacuteTODO

A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados

quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o

enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode

ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-

quantirdquo

De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de

muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos

e quantitativos

Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos

mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta

pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e

qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial

explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos

51 PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas

especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte

(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo

dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina

convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de

caso com entrevista

52 INSTRUMENTOS

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de

testagem

57

Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas

de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o

International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do

meacutedico

Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do

meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente

A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico

O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm

por objetivo caracterizar a amostra

Idade________________

Sexo F ( ) M ( )

Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________

Especialidade____________________________

Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)

Consultoacuterio ( )

Hospital puacuteblico ( )

Hospital particular ( )

Universidade ( )

Outro______________________ ( )

Outro______________________ ( )

Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no

Consultoacuterio ___ h

Hospital puacuteblico ___ h

Hospital particular ___ h

Professor acadecircmico ___ h

Outro ____________________ ___ h

Outro ____________________ ___ h

____ (total de horas semanais)

Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___

58

Tempo meacutedio de atendimento ___

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a

pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em

que se encontra

Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a

fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo

Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de

adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada

Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se

novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total

de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta

inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi

quebrado na fase de alerta

Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia

fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue

pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e

esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total

desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra

emocional

Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que

um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue

concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves

podem ocorrer

Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou

sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com

15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do

estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo

59

Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as

sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo

quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)

Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e

trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados

pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes

psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e

apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo

523 IAPS ndash International Affective Picture System

O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por

imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama

de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de

700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras

As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos

participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os

participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo

emocional

As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do

Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo

estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as

gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item

que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras

escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer

A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo

induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala

Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)

pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo

(desagradaacutevelnegativa)

De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido

porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de

avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel

60

A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro

Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do

IAPS foi autorizada pelos autores

Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o

relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12

agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos

estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo

emocional das imagens

524 Entrevista semiestruturada

A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por

perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles

tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de

De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith

(1995)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil

1a Que caracteriacutesticas ele tem

1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente

atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades

2a Que caracteriacutesticas ele tem

2b Por que ele natildeo desperta dificuldades

2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso

o afeta Decirc um exemplo

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente

Como

61

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira

no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse

decorrente da profissatildeo Como lida com isso

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por

quecirc

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc

53 PROCEDIMENTOS

531 Local de coleta

A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)

532 Seleccedilatildeo dos participantes

Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de

indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos

proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento

dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo

A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de

disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a

realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em

clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico

escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise

aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O

procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise

533 Procedimento de coleta de dados

62

O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta

de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados

serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia

Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os

resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)

Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos

conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes

foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi

agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta

O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees

sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a

possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de

consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e

devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa

avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da

entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas

e depois transcritas para a anaacutelise

Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia

utilizada na aplicaccedilatildeo foi

Questionaacuterio sociodemograacutefico

Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por

favor preencha as informaccedilotildees solicitadas

International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)

Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo

com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo

responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de

respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma

sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe

parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz

ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que

mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando

um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a

63

figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se

alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta

estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se

aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X

entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no

meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a

classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o

nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os

tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam

Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem

experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os

sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou

P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs

Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a

entrevista

Entrevista semiestruturada

Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees

em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do

paciente

534 Procedimento de anaacutelise de dados

O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem

quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30

meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a

interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos

escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a

64

anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram

identificados por nomes fictiacutecios

5341 Anaacutelise quantitativa de dados

Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes

estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD

(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados

O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando

suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado

para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras

independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de

anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes

Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu

como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo

A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de

estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico

com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo

com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer

comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do

IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS

comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico

5342 Anaacutelise qualitativa de dados

A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro

clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi

escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)

meacutedicos

A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas

com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional

65

o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e

estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

535 Procedimento eacutetico

A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa

envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o

Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)

66

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou

tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo

qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo

O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa

SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de

medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas

(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes

estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes

tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de

comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o

programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se

com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro

A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade

com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir

dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes

em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante

de cada cluster para o estudo de caso

A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia

Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo

da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a

comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International

Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o

sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster

Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4

participantes em forma de Estudo de Caso

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA

67

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos

Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de

diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento

no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas

caracterizaccedilotildees

Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as

distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)

especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho

(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de

pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio

(tabela 7)

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo

Sexo N

Masculino 17

Feminino 13

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e

13 (treze) do sexo feminino

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria

Faixas etaacuterias N

20 a 34 anos 10

35 a 48 anos 7

49 a 59 anos 7

Acima de 60 anos 6

Total 30

Meacutedia 446

Desvio-padratildeo 130

Fonte proacuteprio autor

68

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7

(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade

eacute de 446 anos

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado

Tempo de formado N

05 a 10 anos 12

11 a 23 anos 6

24 a 32 anos 6

33 a 46 anos 6

Total 30

Meacutedia 194

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11

a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de

tempo de formado eacute 194 anos

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades

Especialidade N

Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8

Ortopedia 5

Ginecologia 4

Oftalmologia 3

Otorrinolaringologia 3

Endocrinologia 2

Neurologia 2

Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3

Total 30

Fonte proacuteprio autor

No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e

tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)

oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As

outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia

69

(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)

e urologia (1)

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho

Locais de Trabalho N

Apenas Consultoacuterio 10

Consultoacuterio e Hospital particular 10

Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5

Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10

(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no

hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos

trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 2

21 a 40 hsemanais 8

41 a 48 hsemanais 8

49 hsemanais e + 12

Total 30

Meacutedia 460

Desvio-padratildeo 125

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a

maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais

dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas

70

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 8

21 a 40 hsemanais 15

41 a 48 hsemanais 2

49 hsemanais e + 5

Total 30

Meacutedia 328

Desvio-padratildeo 129

Fonte proacuteprio autor

O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao

atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio

Nuacutemero de pacientesdia N

01 a 09 pacientesdia 4

10 a 22 pacientesdia 15

23 a 37 pacientesdia 6

38 a 55 pacientesdia 5

Total 30

Meacutedia 219

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219

Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a

22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais

de 38 pacientesdia no consultoacuterio

71

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta

Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N

15 a 25 minutos 13

26 a 35 minutos 12

36 a 45 minutos 4

46 a 55 minutos 1

Total 30

Meacutedia 268

Desvio-padratildeo 100

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a

consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus

pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse

que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no

consultoacuterio eacute de 268 minutos

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e

13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A

meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos

meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268

minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do

consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)

Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos

sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da

escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da

amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os

sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos

72

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Stress N Paracircmetro

Natildeo 13 433 440

Sim 17 567 560

Total 30 1000 1000

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de

estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo

geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute

dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Fase Stress N Paracircmetro

Alerta 02 67 20

Resistecircncia 15 500 530

Exaustatildeo 0 00 10

Total 17 567 560

Fonte proacuteprio autor

Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles

estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e

Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa

que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta

referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo

de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um

prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo

de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a

fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar

as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves

73

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL

5

10

2

0

2

4

6

8

10

12

Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos

Prevalecircncia de Sintomas de Stress

Prevalecircncia de sintomas N

Fiacutesicos 5

Psicoloacutegicos 10

Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2

Total 17

Fonte proacuteprio autor

Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram

predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram

diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos

projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-

estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo

muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e

insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro

De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou

psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos

decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da

amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a

vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra

uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)

apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos

paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de

resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma

sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos

mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita

de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva

Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento

encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20

74

meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e

com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em

58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na

fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram

resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas

123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e

72 apresentaram estresse

Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em

termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade

psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a

inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores

psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo

podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico

Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para

observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o

iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo

Stress Sexo Total

Masculino Feminino

Natildeo 7 6 13

Sim 10 7 17

Total 17 13 30

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do

teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo

entre o sexo e o estresse

75

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas

Stress N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t p

Idade Natildeo 13 486 138 38

150 0144 Sim 17 415 119 29

Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38

167 0106 Sim 17 162 107 26

Tempo total de

trabalho (horas

semanais)

Natildeo 13 484 142 39

091 0371 Sim 17 442 112 27

Tempo de trabalho

no Consultoacuterio (horas

semanais)

Natildeo 13 337 130 36

030 0766 Sim 17 322 133 32

Nuacutemero de

pacientesdia

Natildeo 13 255 153 42 140 0171

Sim 17 192 92 22

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

Natildeo 13 300 96 27 155 0133

Sim 17 244 100 24

Fonte proacuteprio autor

Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por

meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As

diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil

sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)

Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas

da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo

emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens

afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment

Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a

intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir

76

de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao

induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo

(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta

a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da

populaccedilatildeo

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais

Escalas N Meacutedia Desvio

padratildeo

Erro

padratildeo

t p μ

Paracircmetro

Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491

Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501

Total 30 497 044 008 0095 0925 496

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas

escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala

Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a

meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que

os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila

significativa

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico

Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave

percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se

internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia

alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional

As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais

dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de

pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta

77

Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS

Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo

Sexo N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t P

Alerta Masculino 17 504 113 027

1634 0057 Feminino 13 449 054 015

Prazer Masculino 17 509 031 007

-0646 0262 Feminino 13 518 043 012

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture

System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas

meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo

com as escalas

A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do

IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Alerta Prazer

Idade

r 035 -028

p 0031 0065

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de formado

r 032 -024

p 0043 0100

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo total de trabalho (horas

semanais)

r -0041 -0025

p 0415 0448

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de trabalho no Consultoacuterio

(horas semanais)

r 020 -040

p 0139 0014

N 30 30

78

Alerta Prazer

Nuacutemero de pacientesdia

r 002 021

p 0443 0128

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

r 036 -0204

p 0024 0140

N 30 30

A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica

descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis

O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que

indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa

que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +

032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo

de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e

o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta

Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele

ficou diante dos estiacutemulos emocionais

Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas

semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto

mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer

Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de

pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer

Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em

relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das

distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave

79

percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao

trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)

Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo

de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos

mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta

Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos

tempo

616 Agrupamento do IAPS por cluster

Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos

participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com

similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade

ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por

agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um

embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em

profundidade

O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a

cada agrupamento

80

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)

O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas

Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia

dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia

A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a

separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia

N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo F P

Alerta

Cluster 1 6 501 010 004

4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027

Cluster 3 9 377 027 009

Cluster 4 8 465 021 007

Prazer

Cluster 1 6 493 015 006

2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010

Cluster 3 9 519 016 005

Cluster 4 8 556 017 006

Fonte proacuteprio autor

81

O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo

que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)

Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos

clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos

ou mais distantes da meacutedia

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

Alerta N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055

Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004

Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000

Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009

Prazer N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265

Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038

Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011

Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000

Fonte proacuteprio autor

O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral

O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que

possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a

populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor

pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos

de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters

O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais

82

baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo

O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o

com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com

pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis

sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os

clusters

Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou

afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective

Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo

e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional

que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no

cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas

duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e

tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster

3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4

agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve

diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters

O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas

pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters

2 3 e 4

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia

em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster

83

perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos

outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia

de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam

486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181

pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos

Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e

4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam

prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a

anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de

fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os

sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer

unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa

especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente

Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de

formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente

nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que

meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se

mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas

semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e

desagradaacutevel

Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)

concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais

excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos

niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa

correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta

Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no

consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees

intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a

anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes

O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor

pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa

em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos

diante dos estiacutemulos

84

Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos

participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4

trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao

trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 233 minutos

Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5

na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com

estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de

sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram

duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos

outros clusters

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos

que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico

Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo

esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo

dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas

O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos

constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade

emocional

O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior

pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de

forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia

de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao

trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 225 minutos

Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e

3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de

resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas

psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio

entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os

participantes deste cluster

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com

menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais

85

pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os

resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de

trabalho no consultoacuterio e o Prazer

O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das

relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer

como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo

frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como

aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster

Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que

trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo

com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem

Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas

escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas

hipoacuteteses interpretativas

1ordf Tendecircncia observada

Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado

e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos

estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as

variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de

estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela

escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que

permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais

desagradaacutevel

Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente

de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses

meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o

Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas

relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem

estar menos satisfeitos

2ordf Tendecircncia observada

86

O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo

com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade

emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse

pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos

permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de

interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente

Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente

com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo

agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente

3ordf Tendecircncia observada

Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de

formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem

mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala

Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior

prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda

uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer

Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria

da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos

prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com

outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem

menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga

emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso

Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para

anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por

meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas

no quadro a seguir

87

Tabela 17 Categorias de anaacutelise

CATEGORIAS

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

A percepccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises

6221 Caso 1 Daniel (participante 12)

Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto

aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que

ficam mais tempo com o paciente nas consultas

Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute

Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta

de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha

em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute

de 45 minutos

Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e

era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando

sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de

como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem

educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como

montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um

desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que

estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas

algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar

que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

88

Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico

constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo

relatou nenhum sintoma psicoloacutegico

O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa

aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro

mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele

natildeo vai ser meacutedicordquo

Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas

situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees

de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel

fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como

atender um paciente bem se natildeo estiver descansado

Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia

mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem

porque aprendirdquo

Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o

nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o

trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre

cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo

chato natildeo eacute rabo curto como erardquo

Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-

se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu

passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho

mais tempordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o

meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos

estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos

Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as

89

consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por

estiacutemulos que despertam emoccedilotildees

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve

permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de

modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu

trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo

Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em

dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam

parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi

um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos

meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e

isso me emocionourdquo

Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o

influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o

atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e

fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se

resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas

falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo

reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo

Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios

incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma

diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo

pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer

mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao

paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava

dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a

90

lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por

que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo

Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais

envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes

sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo

paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos

que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo

O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante

que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do

diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao

cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio

ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de

suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento

mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram

o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa

ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee

chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me

obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou

trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como

esse afetassem o seu trabalho

Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou

que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees

de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser

conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com

a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo

Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o

tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute

positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto

Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais

satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo

Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees

positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades

mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades

91

mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe

paciente faacutecilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle

diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto

emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o

controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais

jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []

mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as

emoccedilotildeesrdquo

O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do

desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro

maisrdquo

Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o

controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus

pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de

brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-

presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para

essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha

a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas

desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo

Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram

desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica

remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo

Leitura analiacutetica

Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos

que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi

extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo

diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no

teste do IAPS

92

Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees

relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a

maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou

uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no

em sua seguranccedila

Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode

refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e

incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as

emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute

necessaacuteria uma atitude de controle

Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente

que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o

seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel

ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido

contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o

paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute

aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e

que parece respeitaacute-lo

No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes

percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou

ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o

senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo

ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e

com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se

ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente

O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular

de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa

Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas

estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como

demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute

cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns

iam emborardquo

Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo

permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos

93

aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de

seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os

aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o

confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e

que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de

falhar

6222 Caso 2 Alice (participante 2)

Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade

emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em

hospital puacuteblico

Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e

divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes

Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio

Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

20 minutos

Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas

vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel

Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios

momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era

solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das

questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que

uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar

algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia

preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos

prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e

cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa

94

especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando

mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a

hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e

irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do

ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os

pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam

aprender a lidar

Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades

que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo

Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem

interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em

burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso

pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda

muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []

eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou

menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das

figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma

tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o

que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter

diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas

podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de

comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a

emoccedilatildeo) influi em tudordquo

95

Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais

intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo

Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o

que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que

podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo

Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem

alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em

seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos

avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar

que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de

atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela

como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e

sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo

Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que

incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao

meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua

postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a

um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim

entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho

que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa

ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o

baixo Alerta no IAPS

Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de

exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de

pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente

e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a

relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma

compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no

96

consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo

ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo

Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas

pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de

violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria

demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo

Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo

aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo

pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e

ajuda ao outro

Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a

sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]

eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele

realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim

de se sentir uacutetilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para

proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]

quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de

pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do

caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees

psicoloacutegicas de lidarrdquo

Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em

que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e

assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou

uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo

Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata

como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o

tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no

consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo

97

Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara

com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente

parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos

Leitura analiacutetica

Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para

evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em

qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo

como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez

Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela

teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute

canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo

antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de

superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir

parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse

recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio

Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas

diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o

recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica

Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo

de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que

parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela

reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o

caso

Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo

representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos

Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel

Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia

para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja

vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda

ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas

A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice

percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os

98

sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes

Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse

estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da

entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como

vinculadas ao estresse

Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas

como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que

como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos

efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento

A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua

capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e

frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar

sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse

reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto

observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas

relaccedilotildees

Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo

projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante

dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo

6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)

Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de

Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de

formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam

menos tempo com eles

A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi

individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande

nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais

caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio

99

Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o

seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo

atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho

no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

15 minutos

O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito

cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de

atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo

para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e

agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade

suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo

assinalou nenhum sintoma fiacutesico

Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que

atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras

atividades como cirurgias e compromissos familiares

Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o

estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma

contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e

mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que

me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo

ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo

perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel

percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral

Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao

considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa

100

insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em

funccedilatildeo de um processo defensivo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre

elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente

acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo

As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e

prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma

caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc

fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como

barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo

Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho

Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela

sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor

cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo

emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo

Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as

suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a

sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo

vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []

afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando

perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)

Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender

Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet

ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees

desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo

da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar

101

o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje

em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo

quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo

Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo

traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa

desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender

[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e

mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA

dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar

para ele o que vocecirc esta querendordquo

O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o

diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de

Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu

trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se

sente bemrdquo

Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que

suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento

das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o

pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas

jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu

trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo

ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute

tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser

neutrordquo

Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de

cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito

comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o

ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser

influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto

nenhumrdquo

102

Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou

estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se

com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que

chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo

Leitura analiacutetica

Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo

Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo

O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois

trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No

entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e

insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes

O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e

o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse

Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo

Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de

que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou

subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu

papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia

negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo

vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos

emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a

gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo

Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e

controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como

meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus

atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu

julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e

entendimento

Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre

a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter

103

observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no

controle e que a atitude emocional pode ser controlada

Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para

expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que

poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo

soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo

A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra

tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute

provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as

emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do

receio de ter esse poder contestado

6224 Caso 4 Marcos (participante 13)

Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais

proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos

paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer

Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia

Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital

Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10

pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos

Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou

interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha

encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este

apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um

processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e

tem se esforccedilado muito para isso

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia

afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado

104

estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de

dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os

sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e

irritabilidade sem causa aparente

O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de

sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo

de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua

jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errarrdquo

Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo

emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto

ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura

refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro

trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua

meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas

emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo

subjetiva da emoccedilatildeo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um

caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante

em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer

isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai

da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutemrdquo

Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no

diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a

beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo

105

para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a

emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo

Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de

soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um

caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo

O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar

ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias

com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e

pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem

ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo

dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo

Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois

isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais

fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a

natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm

pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a

doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no

tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e

inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse

impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo

Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar

com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com

o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido

principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento

O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da

evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de

afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de

afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no

tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo

106

O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio

que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento

e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo

[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte

delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de

realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente

satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de

realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e

tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu

conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem

do que eu posso fazerrdquo

Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves

relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como

lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor

estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem

unicamente de mimrdquo

Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees

principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito

bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo

Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de

recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de

conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para

dar um alentordquo

Leitura analiacutetica

Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho

que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu

procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo

107

Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita

que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um

pouco da personalidaderdquo

Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e

do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc

tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para

issordquo

A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante

das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em

alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes

Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como

raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila

podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para

lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o

que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da

racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas

depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer

sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia

Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira

nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e

motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a

sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo

verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral

Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da

responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do

meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo

trabalhada

Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para

ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para

pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e

reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo

com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-

las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

108

Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais

clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos

defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees

como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e

uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma

relaccedilatildeo com o paciente

109

7 DISCUSSAtildeO

O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente

que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles

relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem

influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico

Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com

o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo

os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e

a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o

paciente

Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees

estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas

emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais

impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca

compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional

A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees

que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas

Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada

porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido

seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo

percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base

essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem

apenas sintomas da afetividaderdquo

Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e

DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que

os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a

Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas

raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse

funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico

Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se

ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer

110

insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento

semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos

sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma

segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo

de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar

romper o viacutenculo

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um

compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico

(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a

essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de

valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e

dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes

tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como

afastamento entre outras

Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um

sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das

possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida

emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional

eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos

relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um

entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios

A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se

sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas

nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente

aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro

desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente

visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando

compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o

ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer

Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo

apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo

apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser

usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute

uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo

111

subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo

Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as

suas normas e convicccedilotildees

Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do

detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode

mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo

impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a

funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos

frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou

meacutedicordquo

Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo

com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico

assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais

caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos

De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente

representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da

consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma

persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem

parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo

vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral

riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel

se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)

Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por

autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do

meacutedico

Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de

detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado

situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura

informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona

riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel

Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para

responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e

sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a

reflexatildeo

112

Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e

reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas

tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no

atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como

negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas

Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo

interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e

ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e

mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado

dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os

incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo

Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois

mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples

fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a

emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar

com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui

A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas

emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um

maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de

atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem

a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento

Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar

com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta

compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e

fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro

momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa

de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes

reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades

para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das

emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam

que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem

evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a

113

esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar

sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de

seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de

reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que

os afetava negativamente e o que os afetava positivamente

Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a

busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com

naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis

Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia

percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos

chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e

distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e

com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado

espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na

entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a

questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional

Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo

ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)

O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao

extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A

atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se

riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado

Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma

inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente

mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira

vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de

impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de

quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder

A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de

como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e

sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as

caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as

percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais

114

Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar

inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o

tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo

emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung

(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente

que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico

No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas

entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b

par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em

nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o

pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas

pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a

Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila

constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na

forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)

Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre

presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo

No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006

2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um

auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de

circuitos mentais confluentes

Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e

Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a

aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e

do processo de tomada de decisatildeo

Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco

reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do

meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-

paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a

contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na

compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e

impactar no atendimento do paciente

115

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece

quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo

desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a

incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que

despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em

geral

As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica

pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento

interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu

falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os

meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional

parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por

complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo

O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente

Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na

leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica

O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos

vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos

que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido

agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais

Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o

paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que

o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes

que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como

pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute

elemento isolado desse todo

O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao

distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a

persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o

paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si

116

Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo

colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo

de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente

repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista

institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos

reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho

Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca

havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a

medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido

ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo

de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive

vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no

primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina

curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa

profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)

A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma

aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na

busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte

de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos

necessaacuterios

A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as

defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega

estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por

exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o

impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo

Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito

individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um

psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e

contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees

Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao

meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas

de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de

Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns

hospitais

Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das

emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre

gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o

117

ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o

impacto nos processos de decisatildeo

118

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128

ANEXO A

129

ANEXO B

130

ANEXO C

131

132

APEcircNDICE

Caso 1 Daniel (participante 12)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles

entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais

meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes

fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo

que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica

acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar

perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus

pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um

pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o

senhor quer saber isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas

algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter

fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos

e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube

dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros

do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a

secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia

natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me

perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito

bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem

o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com

ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de

uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia

rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute

num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo

quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo

133

a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC

tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute

jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos

70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva

ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio

noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu

natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)

Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo

durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de

futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes

natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer

terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que

eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo

aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai

para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre

consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu

assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o

mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas

fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando

os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando

a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso

me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me

defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem

essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por

isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a

consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir

embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu

quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem

na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles

atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em

outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco

134

comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar

quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma

superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele

histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve

dor de barriga

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor

de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as

informaccedilotildees natildeo procura se exibir

Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo

valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees

tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque

tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de

propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia

quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute

vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da

moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu

pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse

ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude

chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que

seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se

escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e

sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira

bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos

sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom

apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees

positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas

chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo

135

emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo

mexer com nossa inseguranccedila

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e

controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo

de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu

deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo

possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de

contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha

indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar

imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais

estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse

olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e

vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu

tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o

senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram

pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar

porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de

tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns

dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele

num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e

emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro

eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a

carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc

136

vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone

tocou)

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a

me controlar

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda

hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade

quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha

taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha

que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se

controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando

me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso

com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o

sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc

definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada

Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e

provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular

quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo

Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo

ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs

ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele

escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado

depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo

estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve

um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que

essa seja a explicaccedilatildeo

137

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um

pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro

assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade

agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo

ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito

bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um

pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute

uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo

respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam

atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no

fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas

eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou

Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo

com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil

participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta

meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia

isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e

a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma

coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada

pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas

vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de

SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era

rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma

incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras

achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de

pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito

difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra

138

coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras

consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a

formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado

viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo

especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu

conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do

HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo

obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes

ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema

com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa

foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F

que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem

para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem

competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo

absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois

casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a

parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um

oacutetimo colega

139

Caso 2 Alice (participante 2)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que

mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza

Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo

paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos

paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em

hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de

paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu

consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo

sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar

vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender

Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo

sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai

esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma

agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para

fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo

vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco

de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute

mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes

mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem

140

porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta

eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica

e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue

responder acho que eacute isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas

eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir

aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo

meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo

prazer Sensaccedilotildees boas

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma

meacutedica relativamente sortuda (risos)

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)

(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo

consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito

bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito

grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela

foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e

aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu

me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para

criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela

trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava

acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles

que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana

neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas

dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no

final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que

o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho

141

menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu

achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse

bobeira doutora deixa para laacute

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de

atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor

evitar esse tipo de paciente porque vai dar m

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-

operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar

que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar

mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro

o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei

olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os

preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24

agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma

semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia

me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele

fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o

que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o

que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho

um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu

sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute

uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular

tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das

coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio

142

cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para

discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala

nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar

Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele

vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo

concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz

reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e

vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque

depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo

venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so

long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um

ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo

meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo

mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute

dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no

sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra

pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus

entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou

vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito

entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que

trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada

demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal

ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso

descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima

eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que

leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

143

Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele

estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila

que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para

ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa

entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em

condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para

explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara

com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele

faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por

semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim

sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que

vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma

psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa

sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que

realmente impacta muito a vida deles

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc

natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o

paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente

me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De

vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma

menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma

ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito

beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles

vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu

chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute

144

Caso 3 Miguel (participante 4)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem

alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute

considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves

orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo

compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me

traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu

natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute

mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de

incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu

melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E

posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse

tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se

acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela

natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o

viacutenculo

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com

a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura

fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque

145

eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa

sauacutede

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem

de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe

melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias

de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e

muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar

uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse

paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um

paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando

mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto

para dar um alento

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque

muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo

do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute

mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte

mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa

empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva

sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou

natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam

melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da

146

patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo

respondeu tatildeo bem

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma

caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou

esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave

informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores

quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso

organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar

preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de

mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente

porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma

fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma

estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem

formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia

eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a

experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo

assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive

momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos

para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem

um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa

condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te

dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

147

Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais

assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas

positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute

vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos

tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra

mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos

acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma

especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os

meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais

paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra

mas (Interrompeu paciente chegou)

148

Caso 4 Marcos (participante 13)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o

trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute

vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico

do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira

assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo

satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e

geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute

acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais

briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo

construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar

fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela

mesma

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar

explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa

como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute

uma sensaccedilotildees incocircmoda)

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil

mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu

conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar

a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha

149

passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa

que estaacute compartilhando o problema com vocecirc

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de

ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm

burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que

questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas

coisas

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que

veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas

para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-

socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico

me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me

agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma

ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois

operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha

um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral

um achado em exames tambeacutem veio me agradecer

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo

aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta

agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o

negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)

As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica

fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um

150

aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa

positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo

da pessoa

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de

emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por

hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir

uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um

compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse

agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc

faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)

Eu acho que eu administro bem

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um

pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas

vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a

pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com

sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por

uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo

me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma

coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

151

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a

falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo

estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o

paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim

CASTELHANO ML As emoccedilotildees do meacutedico na relaccedilatildeo com o paciente uma abordagem

da psicologia junguiana Tese (Doutorado em Psicologia Cliacutenica) Pontifiacutecia Universidade

Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

RESUMO

O objetivo da pesquisa foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o

afeta Este estudo utilizou o meacutetodo misto de pesquisa e avaliou na fase quantitativa 30

(trinta) meacutedicos com atuaccedilatildeo em consultoacuterio Para a fase qualitativa foram escolhidos 4

(quatro) meacutedicos para a entrevista aprofundada em forma de Estudo de Caso Os instrumentos

utilizados para a anaacutelise foram o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) e o International Affective Picture System (IAPS) e a

entrevista semiestruturada Os resultados mostraram que 567 dos meacutedicos apresentaram

sintomas de estresse iacutendice dentro do esperado pelos paracircmetros do teste e natildeo houve relaccedilatildeo

entre as variaacuteveis do sociodemograacutefico Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional natildeo houve

diferenccedila entre os resultados da amostra e a populaccedilatildeo geral mas houve diferenccedila na relaccedilatildeo

com as variaacuteveis sociodemograacuteficas idade tempo de formado tempo meacutedio de atendimento

(consulta) e horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio concluindo-se que meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado e que ficam mais tempo em consulta com o

paciente sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os outros

meacutedicos e os meacutedicos que trabalham mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma menos prazerosa que os outros meacutedicos Esses dados foram confirmados

pelos agrupamentos dos 4 (quatro) clusters Efetuou-se a anaacutelise de caso segundo a

abordagem da teoria junguiana com um representante de cada cluster a partir de categorias

preacute-estabelecidas relacionadas aos objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao

estresse a percepccedilatildeo emocional o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees

despertadas pelos pacientes difiacutecil e o que natildeo desperta dificuldades e estrateacutegias para lidar

com as emoccedilotildees Os resultados revelaram que as emoccedilotildees podem influenciar atitudes e

percepccedilotildees na atividade do meacutedico Observou-se um sofrimento por parte dos meacutedicos

decorrente de uma ferida emocional que natildeo eacute reconhecida e que encontra pouco espaccedilo para

ser compreendida passiacutevel de ocasionar projeccedilotildees nos pacientes

Palavras-chave emoccedilotildees do meacutedico percepccedilatildeo do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente

projeccedilotildees psicologia junguiana

CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An

Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

ABSTRACT

The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception

of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in

quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen

four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the

analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults

Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured

interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is

an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the

sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference

between the sample results and the general population but differences were found in the

relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time

(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors

with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more

impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per

week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data

were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the

approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories

related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional

perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by

difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results

revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity

There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and

poorly understood which can result in projections in patients

Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship

projections Jungian psychology

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

81

Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

70

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IAPS International Affective Picture System

ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp

SAM Self-Assessment Manikin

SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees

SPSS 17 Statistical Package for the Social Science

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 12

2 OBJETIVOS 17

21 OBJETIVO GERAL 17

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17

23 QUESTOtildeES 17

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37

411 Estresse em meacutedicos 41

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52

5 MEacuteTODO 56

51 PARTICIPANTES 56

52 INSTRUMENTOS 56

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58

523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59

524 Entrevista semiestruturada 60

53 PROCEDIMENTOS 61

531 Local de coleta 61

532 Seleccedilatildeo dos participantes 61

533 Procedimento de coleta de dados 61

534 Procedimento de anaacutelise de dados 63

5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64

5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64

535 Procedimento eacutetico 65

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76

616 Agrupamento do IAPS por cluster 79

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86

6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87

6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93

6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98

6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103

7 DISCUSSAtildeO 109

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115

REFEREcircNCIAS 118

ANEXO A 128

ANEXO B 129

ANEXO C 130

APEcircNDICE 132

12

1 INTRODUCcedilAtildeO

Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada

(HILLMAN 1992 p xi)

As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as

relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e

possibilitam sensaccedilotildees como o prazer

Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a

par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e

por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e

reciacuteproco sobre o outrordquo

Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso

corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente

Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo

apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2

Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos

indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos

mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo

O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute

presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado

escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do

sentido e do significado

[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da

razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia

ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma

supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na

unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral

(JUNG 19212009a par117)

Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa

dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja

1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o

outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a

par 751)

13

pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o

trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito

Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo

em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a

emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no

momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis

respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser

levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As

emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele

lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os

de morte

Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho

(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto

das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees

De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo

pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo

profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao

mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um

caminho de evitaccedilatildeo

Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo

do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que

escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir

para ser meacutedicordquo

Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e

humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de

estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e

adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a

atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento

podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel

sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no

mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre

elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico

acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos

fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica

14

Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores

entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15

dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles

seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila

mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo

A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias

natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele

interage com o paciente

O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades

organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais

administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que

lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em

equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica

Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam

evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam

exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa

atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede

do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para

a tomada de decisotildees

Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o

dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja

falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas

palavras e nas interaccedilotildees

Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes

Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela

estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute

essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede

de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai

processar essas emoccedilotildees

As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca

atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave

contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas

relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo

15

Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia

chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que

provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos

tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)

As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por

meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa

personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da

afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)

Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o

reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base

nos fundamentos da psicologia analiacutetica

Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente

influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas

decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo

possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo

com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e

instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de

estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos

O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo

Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo

apresentados no Capiacutetulo 2

No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as

discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as

dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e

contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o

estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional

na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das

emoccedilotildees na tomada de decisatildeo

No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a

amostra os instrumentos e os procedimentos

A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6

Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de

Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na

16

anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de

estudo de caso

Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados

relacionando-os com a teoria e os fundamentos

O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho

para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema

17

2 OBJETIVOS

21 OBJETIVO GERAL

Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS

Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico

Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse

Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e

aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades

Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico

23 QUESTOtildeES

Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees

Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica

Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico

18

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES

A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista

conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo

do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao

privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e

enriquece o desenvolvimento de teorias

A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos

ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo

Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate

protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses

assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do

aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)

Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo

cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem

qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo

Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam

ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de

estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo

vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes

As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um

fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo

Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a

neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e

intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e

19

direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo

com o ambiente) (SCHERER 2005)

De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees

com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram

a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente

no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos

Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a

interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento

de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees

de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma

soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia

Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente

ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional

Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem

gerar prazer ou desprazer

Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para

suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila

o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de

cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado

conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao

tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de

incerteza

Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante

influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da

emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento

emocional

LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de

forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de

distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma

participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido

para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar

tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo

emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel

do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo

20

O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves

motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se

encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os

responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo

A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo

processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos

racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas

as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento

Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute

os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa

mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)

Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que

ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave

evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A

tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a

desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para

eventos natildeo relacionados

Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do

processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu

durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem

devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando

uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)

Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e

pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia

de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e

com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e

objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior

fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo

As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria

fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa

de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as

nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p

13)

21

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico

Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa

quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees

pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto

qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada

Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente

como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a

emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam

conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na

gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o

autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo

Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a

decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja

escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as

muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo

A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no

momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma

determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em

consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo

A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa

Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um

processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo

o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem

mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem

vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a

uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo

De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico

fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A

ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por

sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos

em emoccedilotildees e sentimentos

22

A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo

para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado

resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal

automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um

nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico

positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo

Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees

secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)

pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios

Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e

sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem

natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de

interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas

(DAMAacuteSIO 2006 p 211)

A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo

de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas

A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe

um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais

Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves

organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra

mais importante Affect Imagery Consciousnes

Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque

natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o

mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas

de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)

O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez

que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para

seu questionamento foi o afeto

3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-

organizadas

23

Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma

descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser

humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a

confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para

um estiacutemulo

A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e

de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)

De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em

afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos

estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo

Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para

evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a

vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim

um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5

Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove

afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees

dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das

expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o

mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX

2001)

Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o

sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um

indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as

possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas

O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees

eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos

Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e

referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees

Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a

convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas

4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos

5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem

concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras

24

Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees

baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria

De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se

apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz

diz e pensa

Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de

mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e

vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do

sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees

reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na

recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo

do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011

p 81)

Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa

emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se

percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar

para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e

preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas

Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta

que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que

segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo

lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo

geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas

pelo organismo ao longo de sua vida

Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas

emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-

se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem

nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo

Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco

precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas

medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que

merecem atenccedilatildeo especial

Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de

bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas

circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das

25

emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o

ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo

O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no

processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social

eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos

sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)

As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida

dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que

norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a

projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e

comportamentos

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia

A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em

Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo

sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a

um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer

tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo

quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo

Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente

que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos

para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos

Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que

natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo

Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma

estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e

dominacircncia

Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples

que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees

estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a

mensuraccedilatildeo de respostas emocionais

A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida

utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes

26

comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert

(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a

exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia

dos aspectos emocionais na memoacuteria

Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a

tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e

grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere

Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas

por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de

respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico

O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o

fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com

Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de

descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e

palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas

dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)

Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico

chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus

estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos

podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia

Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com

precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores

sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas

pois funcionam de forma independente6

A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento

ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua

relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)

A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um

estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e

LANG 1994)

6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de

Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal

27

A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do

agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva

ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo

valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema

aversivo

De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido

de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto

positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado

com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo

As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias

natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo

processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona

a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS

A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos

A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que

eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e

julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG

19041994)

A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos

aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o

estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem

valor de sobrevivecircncia

Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou

natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda

natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou

ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma

situaccedilatildeo

[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se

involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel

aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de

expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar

consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o

28

proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG

19161991 par 323)

Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se

surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou

que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era

registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito

A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as

respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias

Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa

trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A

expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de

expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um

processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade

Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos

carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas

manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado

de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)

Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do

complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa

aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o

desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica

Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e

sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma

emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica

Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos

percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes

Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma

predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de

fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que

pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o

desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par

769)

29

De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto

mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se

tornardquo

Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do

indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de

parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a

proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)

Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung

fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um

conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem

imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm

para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da

importacircncia relativa da imagem

Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande

medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se

a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees

perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores

consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo

A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees

interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos

sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia

Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos

que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos

conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao

mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)

A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o

mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual

um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao

objeto (JUNG 19332012)

30

Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos

os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um

processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia

Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante

da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute

por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo

pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo

Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo

sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser

esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos

Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com

caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e

contratransferecircncia

Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde

seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era

importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos

percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram

transferidas para o analista

Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma

exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento

psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas

ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)

A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois

pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus

pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)

E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que

neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)

revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na

esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)

Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido

negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia

Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma

repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente

pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo

31

A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com

Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza

aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da

criatividade na relaccedilatildeo

De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a

todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a

interaccedilatildeo

Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo

Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e

trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade

A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o

sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia

particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)

Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se

liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo

compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar

qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico

A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o

fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia

pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno

O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)

para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um

fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud

(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes

poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica

Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a

contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho

para o material de seus pacientes

Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo

representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se

em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo

natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do

cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra

32

passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o

analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico

Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos

e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo

de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o

autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das

desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas

atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa

Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995

2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na

teorizaccedilatildeo disso pode ser observada

Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)

importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram

na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da

contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do

paciente

Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo

para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento

teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a

contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do

paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)

A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-

determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute

indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem

acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago

colocadas no analista (RACKER 1982)

Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista

mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior

compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento

psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da

relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente

De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung

via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o

paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung

33

(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute

relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente

A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para

ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois

sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha

destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem

daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados

A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute

que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas

diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a

alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na

relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa

do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias

transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele

tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)

Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o

inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e

ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute

um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o

agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam

O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do

inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente

correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior

ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim

numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011

par 364)

De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes

reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees

de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute

presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e

temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais

duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da

contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise

Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia

possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos

34

A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome

mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o

paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia

Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de

desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem

bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus

pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes

e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute

contratransferecircncia

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos

existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um

instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico

A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica

relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e

Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre

meacutedico e paciente

Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante

influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de

lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico

[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo

como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus

conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que

pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT

1988 p 265)

Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma

atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com

isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por

outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator

quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de

funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De

acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o

35

paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho

do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente

o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do

meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo

com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma

influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988

p 47)

Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel

para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como

meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e

idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint

(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas

influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo

Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente

Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos

de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos

Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar

suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo

dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar

conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um

liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento

De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico

chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada

perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os

aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande

mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os

grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje

Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas

raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos

cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem

o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a

fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica

36

De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a

alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do

meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que

meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo

O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a

seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se

estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de

relacionamento com seu paciente

37

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA

A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes

Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS

MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp

Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr

Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr

Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr

Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom

Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed

Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx

International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg

Journal of Analytical Psychology

Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)

httpucpressjournalscomjournalphpj=jung

httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml

Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155

As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo

do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA

A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo

biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e

da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer

relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para

a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE

MARCO 2012)

Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das

pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos

38

muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem

tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional

O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo

onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma

imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os

poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano

comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)

O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional

em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos

etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico

A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa

realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de

Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram

que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram

necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas

27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles

que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios

modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar

Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas

relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano

De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o

estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a

distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo

que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para

o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer

resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente

O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em

seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver

comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento

ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos

psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico

Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a

implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os

estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa

39

Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a

comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo

com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos

encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila

de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na

educaccedilatildeo meacutedica

O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam

novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e

sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA

2001 p 8)

Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos

uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de

embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir

sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas

do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as

emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente

As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry

Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica

e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de

decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por

fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do

ambiente

Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes

despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a

maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que

essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia

O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus

sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)

a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres

e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica

De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves

necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com

situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do

paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que

inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente

40

As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma

constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve

prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas

tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de

ambas as partes

O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que

transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu

grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um

instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados

Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um

melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)

fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de

que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram

os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram

durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram

que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da

vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que

nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado

o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser

invertidos

Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees

inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma

segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem

vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos

envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores

meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode

fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la

A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel

substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o

meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e

compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de

tratamento

41

411 Estresse em meacutedicos

A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos

uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre

o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos

De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees

ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse

possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e

motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e

novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em

que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer

tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se

Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados

abaixo do ideal

De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por

produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma

influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente

tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas

emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais

como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes

Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na

Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos

profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no

trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma

vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do

atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho

excessiva

Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais

na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia

problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida

familiar foram os fatores mais citados

As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

42

Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria

Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22

se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados

houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os

problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho

meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse

foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva

excessiva (522)

Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados

mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia

Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram

a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o

fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento

Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do

municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos

apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia

Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade

de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123

apresentaram estresse

A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do

burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma

reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a

maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse

ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE

Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele

pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos

podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo

a um paciente

As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e

provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um

43

protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo

atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se

encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)

Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem

ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e

Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel

e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo

cliacutenica

Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece

com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo

parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos

A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da

capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e

percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes

Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser

positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a

pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink

A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al

(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas

dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo

De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles

que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma

conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila

Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute

satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e

TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio

(STEINMETZ e TABENKIN 2001)

Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem

impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith

(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de

7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no

qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos

negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)

44

cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de

sauacutede do paciente

Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a

qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de

conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a

especialistas

De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto

por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao

expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento

Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que

os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo

Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que

na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes

Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo

com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao

paciente ou a ambos

De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente

que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e

caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos

profissionais

Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)

observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos

com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o

autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus

proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas

proacuteprias reaccedilotildees emocionais

Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na

interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas

Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo

pelo meacutedico

Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para

identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente

45

O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al

(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo

interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento

De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos

processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a

flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o

paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu

humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente

Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e

Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o

envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis

cuidadosos e mais motivados

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE

Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo

em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como

Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do

conhecimento de sua farmacologia

Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute

permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse

tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional

para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)

De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais

envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte

dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se

informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede

Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e

paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por

mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo

empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes

Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave

comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por

meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os

46

humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um

fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais

Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de

emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo

transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e

natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no

passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que

antecipam no futuro

Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que

transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia

jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de

confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com

roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que

natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem

conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo

Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande

gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes

mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito

Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de

uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e

sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o

meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo

Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)

observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas

determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas

emoccedilotildees

Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e

Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do

paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais

satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente

47

percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos

foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi

determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao

paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia

sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico

percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o

meacutedico tratava o paciente

Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no

Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos

A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer

uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas

surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para

seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do

paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram

os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores

observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o

favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e

insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua

competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que

modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia

Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de

seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises

foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da

pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45

queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados

e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com

precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo

costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees

precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos

Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento

comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das

Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro

de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu

comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a

48

atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes

sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-

paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias

pregressas de encontros com outros meacutedicos

Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou

ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o

papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que

apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o

engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos

ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o

estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes

Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro

cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como

resposta um aumento da emotividade do paciente

Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de

sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila

significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes

tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a

tomada de decisatildeo

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO

Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem

explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam

diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo

variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de

como funciona esse processo

O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos

na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas

principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos

Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise

com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de

raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses

49

passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e

compreender o processo de uma doenccedila

A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo

compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica

meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento

de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica

cliacutenica tem se intensificado

Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a

forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de

qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente

De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-

se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas

logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo

quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete

erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a

compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias

O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a

decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se

inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia

todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma

avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a

probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial

Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes

ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A

prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva

a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as

hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do

paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL

KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)

Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento

heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um

diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com

Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional

50

ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas

emoccedilotildees podem influenciaacute-la

Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo

uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas

pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A

heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel

Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu

uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros

sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que

deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo

Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de

decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia

muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute

trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo

alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na

geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente

quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo

De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees

de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico

natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico

Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte

da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e

por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma

como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem

no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico

possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias

Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de

hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de

medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas

geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses

iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o

processo de diagnoacutestico final

Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais

hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas

51

agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses

especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio

intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que

reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados

limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico

A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue

um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em

evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos

De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem

duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o

que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a

informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se

encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em

que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo

consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro

geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos

Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o

ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento

emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que

complicam a decisatildeo cliacutenica

Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em

um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o

modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo

cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que

tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando

protocolos e sistemas

Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que

fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em

ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os

meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico

e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou

quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos

desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de

ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo

52

A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados

estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento

Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um

tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser

humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo

(GROOPMAN 2008 p 15)

De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo

meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores

decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo

relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores

assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem

garantir resultados eficazes

Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em

funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em

que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente

provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado

Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de

pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas

possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo

Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria

muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo

A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto

quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos

terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo

Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de

forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo

Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as

caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram

selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o

modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as

53

caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de

diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia

combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes

para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas

Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes

durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo

sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez

que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa

funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida

Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem

esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos

meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade

Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um

guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio

entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que

fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de

raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo

analiacutetica

O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees

importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees

precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos

podem ser alertados para modificar um raciociacutenio

Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam

sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de

eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em

termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os

autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de

patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera

variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico

Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-

pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver

8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo

54

algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico

claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro

sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro

Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede

de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-

pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto

em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de

incerteza diagnoacutestica

Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da

queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre

o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de

errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era

nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas

foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o

exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O

meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes

Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros

paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a

maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos

participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados

com os meacutedicos holandeses

Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e

tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico

experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o

prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)

e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo

de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos

relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no

abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de

errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos

dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de

incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos

resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos

utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo

55

Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos

holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo

interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme

definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses

diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de

tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente

estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de

tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que

era esperado pelo meacutedico

As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no

processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo

existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo

de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em

que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo

as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas

tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo

56

5 MEacuteTODO

A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados

quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o

enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode

ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-

quantirdquo

De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de

muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos

e quantitativos

Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos

mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta

pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e

qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial

explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos

51 PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas

especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte

(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo

dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina

convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de

caso com entrevista

52 INSTRUMENTOS

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de

testagem

57

Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas

de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o

International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do

meacutedico

Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do

meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente

A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico

O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm

por objetivo caracterizar a amostra

Idade________________

Sexo F ( ) M ( )

Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________

Especialidade____________________________

Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)

Consultoacuterio ( )

Hospital puacuteblico ( )

Hospital particular ( )

Universidade ( )

Outro______________________ ( )

Outro______________________ ( )

Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no

Consultoacuterio ___ h

Hospital puacuteblico ___ h

Hospital particular ___ h

Professor acadecircmico ___ h

Outro ____________________ ___ h

Outro ____________________ ___ h

____ (total de horas semanais)

Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___

58

Tempo meacutedio de atendimento ___

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a

pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em

que se encontra

Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a

fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo

Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de

adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada

Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se

novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total

de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta

inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi

quebrado na fase de alerta

Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia

fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue

pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e

esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total

desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra

emocional

Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que

um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue

concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves

podem ocorrer

Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou

sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com

15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do

estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo

59

Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as

sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo

quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)

Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e

trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados

pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes

psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e

apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo

523 IAPS ndash International Affective Picture System

O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por

imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama

de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de

700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras

As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos

participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os

participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo

emocional

As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do

Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo

estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as

gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item

que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras

escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer

A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo

induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala

Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)

pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo

(desagradaacutevelnegativa)

De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido

porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de

avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel

60

A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro

Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do

IAPS foi autorizada pelos autores

Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o

relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12

agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos

estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo

emocional das imagens

524 Entrevista semiestruturada

A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por

perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles

tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de

De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith

(1995)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil

1a Que caracteriacutesticas ele tem

1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente

atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades

2a Que caracteriacutesticas ele tem

2b Por que ele natildeo desperta dificuldades

2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso

o afeta Decirc um exemplo

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente

Como

61

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira

no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse

decorrente da profissatildeo Como lida com isso

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por

quecirc

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc

53 PROCEDIMENTOS

531 Local de coleta

A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)

532 Seleccedilatildeo dos participantes

Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de

indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos

proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento

dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo

A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de

disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a

realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em

clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico

escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise

aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O

procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise

533 Procedimento de coleta de dados

62

O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta

de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados

serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia

Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os

resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)

Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos

conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes

foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi

agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta

O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees

sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a

possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de

consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e

devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa

avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da

entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas

e depois transcritas para a anaacutelise

Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia

utilizada na aplicaccedilatildeo foi

Questionaacuterio sociodemograacutefico

Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por

favor preencha as informaccedilotildees solicitadas

International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)

Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo

com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo

responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de

respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma

sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe

parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz

ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que

mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando

um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a

63

figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se

alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta

estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se

aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X

entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no

meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a

classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o

nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os

tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam

Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem

experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os

sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou

P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs

Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a

entrevista

Entrevista semiestruturada

Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees

em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do

paciente

534 Procedimento de anaacutelise de dados

O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem

quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30

meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a

interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos

escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a

64

anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram

identificados por nomes fictiacutecios

5341 Anaacutelise quantitativa de dados

Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes

estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD

(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados

O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando

suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado

para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras

independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de

anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes

Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu

como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo

A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de

estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico

com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo

com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer

comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do

IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS

comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico

5342 Anaacutelise qualitativa de dados

A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro

clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi

escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)

meacutedicos

A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas

com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional

65

o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e

estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

535 Procedimento eacutetico

A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa

envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o

Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)

66

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou

tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo

qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo

O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa

SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de

medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas

(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes

estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes

tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de

comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o

programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se

com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro

A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade

com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir

dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes

em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante

de cada cluster para o estudo de caso

A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia

Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo

da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a

comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International

Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o

sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster

Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4

participantes em forma de Estudo de Caso

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA

67

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos

Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de

diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento

no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas

caracterizaccedilotildees

Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as

distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)

especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho

(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de

pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio

(tabela 7)

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo

Sexo N

Masculino 17

Feminino 13

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e

13 (treze) do sexo feminino

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria

Faixas etaacuterias N

20 a 34 anos 10

35 a 48 anos 7

49 a 59 anos 7

Acima de 60 anos 6

Total 30

Meacutedia 446

Desvio-padratildeo 130

Fonte proacuteprio autor

68

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7

(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade

eacute de 446 anos

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado

Tempo de formado N

05 a 10 anos 12

11 a 23 anos 6

24 a 32 anos 6

33 a 46 anos 6

Total 30

Meacutedia 194

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11

a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de

tempo de formado eacute 194 anos

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades

Especialidade N

Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8

Ortopedia 5

Ginecologia 4

Oftalmologia 3

Otorrinolaringologia 3

Endocrinologia 2

Neurologia 2

Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3

Total 30

Fonte proacuteprio autor

No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e

tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)

oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As

outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia

69

(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)

e urologia (1)

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho

Locais de Trabalho N

Apenas Consultoacuterio 10

Consultoacuterio e Hospital particular 10

Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5

Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10

(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no

hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos

trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 2

21 a 40 hsemanais 8

41 a 48 hsemanais 8

49 hsemanais e + 12

Total 30

Meacutedia 460

Desvio-padratildeo 125

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a

maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais

dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas

70

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 8

21 a 40 hsemanais 15

41 a 48 hsemanais 2

49 hsemanais e + 5

Total 30

Meacutedia 328

Desvio-padratildeo 129

Fonte proacuteprio autor

O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao

atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio

Nuacutemero de pacientesdia N

01 a 09 pacientesdia 4

10 a 22 pacientesdia 15

23 a 37 pacientesdia 6

38 a 55 pacientesdia 5

Total 30

Meacutedia 219

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219

Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a

22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais

de 38 pacientesdia no consultoacuterio

71

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta

Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N

15 a 25 minutos 13

26 a 35 minutos 12

36 a 45 minutos 4

46 a 55 minutos 1

Total 30

Meacutedia 268

Desvio-padratildeo 100

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a

consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus

pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse

que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no

consultoacuterio eacute de 268 minutos

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e

13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A

meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos

meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268

minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do

consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)

Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos

sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da

escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da

amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os

sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos

72

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Stress N Paracircmetro

Natildeo 13 433 440

Sim 17 567 560

Total 30 1000 1000

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de

estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo

geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute

dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Fase Stress N Paracircmetro

Alerta 02 67 20

Resistecircncia 15 500 530

Exaustatildeo 0 00 10

Total 17 567 560

Fonte proacuteprio autor

Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles

estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e

Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa

que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta

referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo

de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um

prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo

de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a

fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar

as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves

73

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL

5

10

2

0

2

4

6

8

10

12

Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos

Prevalecircncia de Sintomas de Stress

Prevalecircncia de sintomas N

Fiacutesicos 5

Psicoloacutegicos 10

Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2

Total 17

Fonte proacuteprio autor

Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram

predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram

diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos

projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-

estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo

muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e

insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro

De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou

psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos

decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da

amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a

vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra

uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)

apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos

paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de

resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma

sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos

mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita

de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva

Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento

encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20

74

meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e

com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em

58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na

fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram

resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas

123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e

72 apresentaram estresse

Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em

termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade

psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a

inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores

psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo

podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico

Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para

observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o

iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo

Stress Sexo Total

Masculino Feminino

Natildeo 7 6 13

Sim 10 7 17

Total 17 13 30

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do

teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo

entre o sexo e o estresse

75

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas

Stress N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t p

Idade Natildeo 13 486 138 38

150 0144 Sim 17 415 119 29

Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38

167 0106 Sim 17 162 107 26

Tempo total de

trabalho (horas

semanais)

Natildeo 13 484 142 39

091 0371 Sim 17 442 112 27

Tempo de trabalho

no Consultoacuterio (horas

semanais)

Natildeo 13 337 130 36

030 0766 Sim 17 322 133 32

Nuacutemero de

pacientesdia

Natildeo 13 255 153 42 140 0171

Sim 17 192 92 22

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

Natildeo 13 300 96 27 155 0133

Sim 17 244 100 24

Fonte proacuteprio autor

Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por

meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As

diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil

sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)

Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas

da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo

emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens

afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment

Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a

intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir

76

de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao

induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo

(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta

a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da

populaccedilatildeo

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais

Escalas N Meacutedia Desvio

padratildeo

Erro

padratildeo

t p μ

Paracircmetro

Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491

Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501

Total 30 497 044 008 0095 0925 496

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas

escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala

Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a

meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que

os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila

significativa

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico

Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave

percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se

internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia

alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional

As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais

dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de

pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta

77

Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS

Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo

Sexo N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t P

Alerta Masculino 17 504 113 027

1634 0057 Feminino 13 449 054 015

Prazer Masculino 17 509 031 007

-0646 0262 Feminino 13 518 043 012

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture

System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas

meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo

com as escalas

A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do

IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Alerta Prazer

Idade

r 035 -028

p 0031 0065

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de formado

r 032 -024

p 0043 0100

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo total de trabalho (horas

semanais)

r -0041 -0025

p 0415 0448

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de trabalho no Consultoacuterio

(horas semanais)

r 020 -040

p 0139 0014

N 30 30

78

Alerta Prazer

Nuacutemero de pacientesdia

r 002 021

p 0443 0128

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

r 036 -0204

p 0024 0140

N 30 30

A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica

descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis

O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que

indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa

que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +

032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo

de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e

o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta

Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele

ficou diante dos estiacutemulos emocionais

Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas

semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto

mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer

Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de

pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer

Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em

relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das

distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave

79

percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao

trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)

Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo

de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos

mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta

Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos

tempo

616 Agrupamento do IAPS por cluster

Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos

participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com

similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade

ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por

agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um

embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em

profundidade

O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a

cada agrupamento

80

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)

O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas

Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia

dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia

A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a

separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia

N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo F P

Alerta

Cluster 1 6 501 010 004

4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027

Cluster 3 9 377 027 009

Cluster 4 8 465 021 007

Prazer

Cluster 1 6 493 015 006

2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010

Cluster 3 9 519 016 005

Cluster 4 8 556 017 006

Fonte proacuteprio autor

81

O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo

que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)

Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos

clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos

ou mais distantes da meacutedia

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

Alerta N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055

Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004

Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000

Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009

Prazer N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265

Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038

Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011

Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000

Fonte proacuteprio autor

O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral

O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que

possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a

populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor

pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos

de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters

O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais

82

baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo

O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o

com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com

pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis

sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os

clusters

Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou

afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective

Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo

e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional

que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no

cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas

duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e

tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster

3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4

agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve

diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters

O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas

pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters

2 3 e 4

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia

em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster

83

perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos

outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia

de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam

486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181

pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos

Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e

4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam

prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a

anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de

fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os

sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer

unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa

especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente

Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de

formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente

nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que

meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se

mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas

semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e

desagradaacutevel

Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)

concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais

excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos

niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa

correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta

Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no

consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees

intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a

anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes

O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor

pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa

em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos

diante dos estiacutemulos

84

Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos

participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4

trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao

trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 233 minutos

Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5

na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com

estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de

sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram

duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos

outros clusters

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos

que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico

Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo

esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo

dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas

O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos

constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade

emocional

O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior

pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de

forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia

de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao

trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 225 minutos

Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e

3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de

resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas

psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio

entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os

participantes deste cluster

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com

menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais

85

pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os

resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de

trabalho no consultoacuterio e o Prazer

O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das

relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer

como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo

frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como

aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster

Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que

trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo

com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem

Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas

escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas

hipoacuteteses interpretativas

1ordf Tendecircncia observada

Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado

e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos

estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as

variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de

estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela

escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que

permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais

desagradaacutevel

Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente

de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses

meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o

Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas

relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem

estar menos satisfeitos

2ordf Tendecircncia observada

86

O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo

com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade

emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse

pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos

permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de

interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente

Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente

com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo

agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente

3ordf Tendecircncia observada

Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de

formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem

mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala

Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior

prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda

uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer

Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria

da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos

prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com

outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem

menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga

emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso

Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para

anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por

meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas

no quadro a seguir

87

Tabela 17 Categorias de anaacutelise

CATEGORIAS

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

A percepccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises

6221 Caso 1 Daniel (participante 12)

Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto

aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que

ficam mais tempo com o paciente nas consultas

Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute

Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta

de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha

em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute

de 45 minutos

Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e

era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando

sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de

como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem

educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como

montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um

desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que

estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas

algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar

que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

88

Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico

constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo

relatou nenhum sintoma psicoloacutegico

O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa

aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro

mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele

natildeo vai ser meacutedicordquo

Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas

situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees

de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel

fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como

atender um paciente bem se natildeo estiver descansado

Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia

mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem

porque aprendirdquo

Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o

nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o

trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre

cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo

chato natildeo eacute rabo curto como erardquo

Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-

se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu

passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho

mais tempordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o

meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos

estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos

Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as

89

consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por

estiacutemulos que despertam emoccedilotildees

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve

permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de

modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu

trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo

Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em

dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam

parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi

um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos

meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e

isso me emocionourdquo

Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o

influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o

atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e

fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se

resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas

falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo

reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo

Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios

incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma

diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo

pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer

mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao

paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava

dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a

90

lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por

que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo

Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais

envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes

sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo

paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos

que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo

O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante

que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do

diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao

cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio

ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de

suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento

mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram

o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa

ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee

chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me

obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou

trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como

esse afetassem o seu trabalho

Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou

que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees

de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser

conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com

a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo

Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o

tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute

positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto

Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais

satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo

Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees

positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades

mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades

91

mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe

paciente faacutecilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle

diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto

emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o

controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais

jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []

mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as

emoccedilotildeesrdquo

O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do

desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro

maisrdquo

Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o

controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus

pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de

brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-

presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para

essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha

a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas

desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo

Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram

desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica

remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo

Leitura analiacutetica

Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos

que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi

extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo

diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no

teste do IAPS

92

Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees

relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a

maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou

uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no

em sua seguranccedila

Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode

refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e

incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as

emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute

necessaacuteria uma atitude de controle

Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente

que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o

seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel

ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido

contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o

paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute

aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e

que parece respeitaacute-lo

No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes

percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou

ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o

senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo

ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e

com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se

ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente

O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular

de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa

Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas

estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como

demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute

cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns

iam emborardquo

Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo

permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos

93

aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de

seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os

aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o

confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e

que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de

falhar

6222 Caso 2 Alice (participante 2)

Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade

emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em

hospital puacuteblico

Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e

divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes

Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio

Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

20 minutos

Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas

vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel

Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios

momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era

solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das

questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que

uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar

algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia

preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos

prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e

cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa

94

especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando

mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a

hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e

irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do

ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os

pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam

aprender a lidar

Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades

que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo

Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem

interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em

burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso

pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda

muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []

eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou

menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das

figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma

tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o

que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter

diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas

podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de

comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a

emoccedilatildeo) influi em tudordquo

95

Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais

intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo

Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o

que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que

podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo

Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem

alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em

seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos

avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar

que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de

atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela

como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e

sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo

Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que

incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao

meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua

postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a

um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim

entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho

que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa

ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o

baixo Alerta no IAPS

Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de

exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de

pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente

e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a

relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma

compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no

96

consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo

ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo

Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas

pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de

violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria

demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo

Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo

aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo

pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e

ajuda ao outro

Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a

sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]

eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele

realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim

de se sentir uacutetilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para

proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]

quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de

pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do

caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees

psicoloacutegicas de lidarrdquo

Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em

que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e

assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou

uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo

Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata

como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o

tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no

consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo

97

Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara

com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente

parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos

Leitura analiacutetica

Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para

evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em

qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo

como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez

Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela

teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute

canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo

antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de

superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir

parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse

recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio

Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas

diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o

recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica

Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo

de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que

parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela

reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o

caso

Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo

representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos

Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel

Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia

para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja

vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda

ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas

A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice

percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os

98

sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes

Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse

estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da

entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como

vinculadas ao estresse

Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas

como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que

como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos

efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento

A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua

capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e

frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar

sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse

reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto

observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas

relaccedilotildees

Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo

projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante

dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo

6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)

Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de

Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de

formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam

menos tempo com eles

A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi

individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande

nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais

caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio

99

Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o

seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo

atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho

no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

15 minutos

O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito

cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de

atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo

para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e

agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade

suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo

assinalou nenhum sintoma fiacutesico

Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que

atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras

atividades como cirurgias e compromissos familiares

Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o

estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma

contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e

mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que

me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo

ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo

perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel

percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral

Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao

considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa

100

insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em

funccedilatildeo de um processo defensivo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre

elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente

acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo

As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e

prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma

caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc

fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como

barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo

Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho

Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela

sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor

cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo

emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo

Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as

suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a

sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo

vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []

afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando

perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)

Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender

Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet

ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees

desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo

da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar

101

o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje

em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo

quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo

Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo

traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa

desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender

[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e

mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA

dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar

para ele o que vocecirc esta querendordquo

O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o

diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de

Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu

trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se

sente bemrdquo

Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que

suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento

das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o

pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas

jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu

trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo

ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute

tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser

neutrordquo

Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de

cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito

comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o

ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser

influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto

nenhumrdquo

102

Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou

estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se

com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que

chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo

Leitura analiacutetica

Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo

Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo

O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois

trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No

entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e

insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes

O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e

o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse

Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo

Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de

que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou

subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu

papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia

negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo

vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos

emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a

gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo

Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e

controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como

meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus

atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu

julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e

entendimento

Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre

a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter

103

observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no

controle e que a atitude emocional pode ser controlada

Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para

expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que

poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo

soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo

A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra

tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute

provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as

emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do

receio de ter esse poder contestado

6224 Caso 4 Marcos (participante 13)

Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais

proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos

paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer

Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia

Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital

Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10

pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos

Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou

interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha

encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este

apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um

processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e

tem se esforccedilado muito para isso

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia

afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado

104

estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de

dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os

sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e

irritabilidade sem causa aparente

O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de

sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo

de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua

jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errarrdquo

Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo

emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto

ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura

refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro

trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua

meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas

emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo

subjetiva da emoccedilatildeo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um

caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante

em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer

isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai

da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutemrdquo

Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no

diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a

beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo

105

para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a

emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo

Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de

soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um

caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo

O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar

ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias

com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e

pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem

ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo

dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo

Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois

isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais

fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a

natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm

pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a

doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no

tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e

inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse

impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo

Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar

com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com

o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido

principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento

O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da

evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de

afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de

afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no

tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo

106

O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio

que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento

e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo

[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte

delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de

realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente

satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de

realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e

tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu

conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem

do que eu posso fazerrdquo

Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves

relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como

lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor

estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem

unicamente de mimrdquo

Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees

principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito

bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo

Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de

recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de

conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para

dar um alentordquo

Leitura analiacutetica

Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho

que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu

procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo

107

Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita

que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um

pouco da personalidaderdquo

Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e

do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc

tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para

issordquo

A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante

das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em

alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes

Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como

raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila

podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para

lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o

que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da

racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas

depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer

sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia

Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira

nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e

motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a

sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo

verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral

Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da

responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do

meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo

trabalhada

Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para

ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para

pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e

reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo

com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-

las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

108

Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais

clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos

defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees

como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e

uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma

relaccedilatildeo com o paciente

109

7 DISCUSSAtildeO

O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente

que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles

relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem

influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico

Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com

o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo

os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e

a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o

paciente

Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees

estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas

emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais

impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca

compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional

A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees

que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas

Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada

porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido

seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo

percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base

essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem

apenas sintomas da afetividaderdquo

Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e

DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que

os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a

Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas

raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse

funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico

Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se

ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer

110

insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento

semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos

sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma

segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo

de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar

romper o viacutenculo

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um

compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico

(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a

essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de

valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e

dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes

tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como

afastamento entre outras

Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um

sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das

possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida

emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional

eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos

relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um

entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios

A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se

sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas

nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente

aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro

desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente

visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando

compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o

ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer

Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo

apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo

apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser

usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute

uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo

111

subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo

Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as

suas normas e convicccedilotildees

Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do

detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode

mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo

impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a

funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos

frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou

meacutedicordquo

Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo

com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico

assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais

caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos

De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente

representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da

consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma

persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem

parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo

vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral

riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel

se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)

Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por

autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do

meacutedico

Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de

detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado

situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura

informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona

riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel

Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para

responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e

sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a

reflexatildeo

112

Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e

reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas

tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no

atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como

negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas

Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo

interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e

ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e

mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado

dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os

incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo

Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois

mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples

fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a

emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar

com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui

A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas

emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um

maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de

atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem

a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento

Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar

com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta

compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e

fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro

momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa

de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes

reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades

para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das

emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam

que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem

evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a

113

esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar

sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de

seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de

reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que

os afetava negativamente e o que os afetava positivamente

Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a

busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com

naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis

Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia

percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos

chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e

distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e

com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado

espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na

entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a

questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional

Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo

ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)

O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao

extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A

atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se

riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado

Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma

inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente

mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira

vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de

impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de

quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder

A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de

como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e

sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as

caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as

percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais

114

Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar

inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o

tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo

emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung

(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente

que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico

No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas

entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b

par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em

nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o

pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas

pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a

Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila

constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na

forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)

Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre

presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo

No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006

2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um

auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de

circuitos mentais confluentes

Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e

Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a

aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e

do processo de tomada de decisatildeo

Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco

reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do

meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-

paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a

contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na

compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e

impactar no atendimento do paciente

115

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece

quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo

desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a

incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que

despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em

geral

As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica

pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento

interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu

falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os

meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional

parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por

complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo

O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente

Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na

leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica

O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos

vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos

que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido

agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais

Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o

paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que

o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes

que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como

pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute

elemento isolado desse todo

O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao

distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a

persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o

paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si

116

Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo

colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo

de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente

repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista

institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos

reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho

Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca

havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a

medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido

ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo

de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive

vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no

primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina

curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa

profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)

A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma

aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na

busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte

de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos

necessaacuterios

A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as

defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega

estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por

exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o

impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo

Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito

individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um

psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e

contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees

Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao

meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas

de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de

Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns

hospitais

Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das

emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre

gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o

117

ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o

impacto nos processos de decisatildeo

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128

ANEXO A

129

ANEXO B

130

ANEXO C

131

132

APEcircNDICE

Caso 1 Daniel (participante 12)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles

entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais

meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes

fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo

que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica

acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar

perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus

pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um

pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o

senhor quer saber isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas

algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter

fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos

e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube

dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros

do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a

secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia

natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me

perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito

bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem

o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com

ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de

uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia

rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute

num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo

quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo

133

a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC

tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute

jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos

70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva

ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio

noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu

natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)

Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo

durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de

futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes

natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer

terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que

eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo

aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai

para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre

consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu

assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o

mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas

fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando

os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando

a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso

me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me

defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem

essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por

isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a

consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir

embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu

quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem

na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles

atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em

outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco

134

comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar

quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma

superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele

histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve

dor de barriga

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor

de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as

informaccedilotildees natildeo procura se exibir

Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo

valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees

tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque

tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de

propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia

quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute

vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da

moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu

pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse

ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude

chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que

seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se

escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e

sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira

bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos

sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom

apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees

positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas

chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo

135

emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo

mexer com nossa inseguranccedila

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e

controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo

de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu

deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo

possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de

contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha

indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar

imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais

estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse

olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e

vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu

tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o

senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram

pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar

porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de

tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns

dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele

num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e

emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro

eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a

carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc

136

vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone

tocou)

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a

me controlar

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda

hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade

quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha

taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha

que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se

controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando

me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso

com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o

sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc

definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada

Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e

provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular

quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo

Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo

ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs

ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele

escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado

depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo

estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve

um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que

essa seja a explicaccedilatildeo

137

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um

pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro

assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade

agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo

ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito

bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um

pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute

uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo

respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam

atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no

fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas

eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou

Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo

com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil

participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta

meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia

isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e

a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma

coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada

pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas

vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de

SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era

rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma

incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras

achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de

pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito

difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra

138

coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras

consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a

formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado

viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo

especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu

conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do

HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo

obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes

ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema

com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa

foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F

que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem

para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem

competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo

absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois

casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a

parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um

oacutetimo colega

139

Caso 2 Alice (participante 2)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que

mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza

Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo

paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos

paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em

hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de

paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu

consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo

sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar

vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender

Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo

sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai

esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma

agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para

fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo

vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco

de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute

mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes

mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem

140

porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta

eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica

e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue

responder acho que eacute isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas

eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir

aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo

meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo

prazer Sensaccedilotildees boas

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma

meacutedica relativamente sortuda (risos)

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)

(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo

consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito

bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito

grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela

foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e

aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu

me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para

criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela

trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava

acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles

que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana

neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas

dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no

final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que

o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho

141

menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu

achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse

bobeira doutora deixa para laacute

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de

atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor

evitar esse tipo de paciente porque vai dar m

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-

operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar

que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar

mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro

o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei

olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os

preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24

agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma

semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia

me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele

fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o

que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o

que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho

um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu

sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute

uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular

tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das

coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio

142

cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para

discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala

nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar

Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele

vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo

concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz

reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e

vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque

depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo

venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so

long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um

ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo

meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo

mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute

dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no

sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra

pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus

entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou

vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito

entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que

trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada

demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal

ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso

descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima

eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que

leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

143

Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele

estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila

que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para

ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa

entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em

condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para

explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara

com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele

faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por

semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim

sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que

vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma

psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa

sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que

realmente impacta muito a vida deles

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc

natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o

paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente

me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De

vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma

menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma

ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito

beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles

vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu

chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute

144

Caso 3 Miguel (participante 4)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem

alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute

considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves

orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo

compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me

traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu

natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute

mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de

incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu

melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E

posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse

tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se

acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela

natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o

viacutenculo

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com

a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura

fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque

145

eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa

sauacutede

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem

de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe

melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias

de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e

muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar

uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse

paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um

paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando

mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto

para dar um alento

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque

muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo

do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute

mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte

mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa

empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva

sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou

natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam

melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da

146

patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo

respondeu tatildeo bem

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma

caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou

esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave

informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores

quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso

organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar

preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de

mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente

porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma

fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma

estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem

formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia

eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a

experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo

assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive

momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos

para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem

um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa

condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te

dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

147

Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais

assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas

positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute

vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos

tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra

mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos

acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma

especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os

meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais

paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra

mas (Interrompeu paciente chegou)

148

Caso 4 Marcos (participante 13)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o

trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute

vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico

do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira

assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo

satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e

geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute

acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais

briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo

construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar

fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela

mesma

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar

explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa

como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute

uma sensaccedilotildees incocircmoda)

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil

mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu

conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar

a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha

149

passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa

que estaacute compartilhando o problema com vocecirc

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de

ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm

burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que

questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas

coisas

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que

veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas

para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-

socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico

me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me

agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma

ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois

operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha

um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral

um achado em exames tambeacutem veio me agradecer

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo

aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta

agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o

negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)

As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica

fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um

150

aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa

positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo

da pessoa

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de

emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por

hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir

uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um

compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse

agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc

faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)

Eu acho que eu administro bem

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um

pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas

vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a

pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com

sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por

uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo

me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma

coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

151

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a

falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo

estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o

paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim

CASTELHANO ML The Doctoracutes Emotions in Relationship With the Patient An

Approach of Jungian Psychology Thesis (PhD in Clinical Psychology) Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2015

ABSTRACT

The purpose of the research was to investigate the emotions of the doctor and their perception

of the patient that affects him This study used a multimethod research and evaluated in

quantitative phase thirty (30) doctors serving in office For the qualitative phase were chosen

four (4) doctors for an in-depth interview as a Case Study The instruments used for the

analysis were sociodemographic questionnaire the Inventory of Stress Symptoms for Adults

Lipp (ISSL) and the International Affective Picture System (IAPS) and a semi-structured

interview The results showed that 567 of doctors experienced symptoms of stress which is

an index within the expected parameters of the test and there was no relationship between the

sociodemographic variables In relation to emotional perception there was no difference

between the sample results and the general population but differences were found in the

relation to sociodemographic variables age time since graduation average handle time

(consultation) and weekly hours devoted to work in the office concluding that older doctors

with more time after graduation and more time in consultation with the patient felt more

impacted on the emotional stimuli than other doctors and doctors who work more hours per

week in the office perceived the stimuli in a less pleasant way than other doctors These data

were confirmed by groups of four (4) clusters It was conducted by a case study following the

approach of Jungian theory with a representative of each cluster from pre-set categories

related to the research objectives content and factors attributed to stress emotional

perception the role of emotion in the doctor-patient relationship the emotions aroused by

difficult patient and not difficult patient and strategies for dealing with emotions The results

revealed that the emotions could influence attitudes and perceptions in the medical activity

There was a suffering from physicians due to an emotional wound that is not recognized and

poorly understood which can result in projections in patients

Keywords emotions of doctor perception of the patient doctor-patient relationship

projections Jungian psychology

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo 67

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria 67

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado 68

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades 68

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho 69

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio 70

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta 71

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paramecirctro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

72

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo 74

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas 75

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paramecirctros populacionais 76

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo 77

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas 77

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia 80

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

81

Tabela 17 Categorias de anaacutelise 87

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho 69

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

70

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL 73

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER) 80

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IAPS International Affective Picture System

ISSL Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp

SAM Self-Assessment Manikin

SPAD Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees

SPSS 17 Statistical Package for the Social Science

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 12

2 OBJETIVOS 17

21 OBJETIVO GERAL 17

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS 17

23 QUESTOtildeES 17

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL 18

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES 18

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo 18

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico 21

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas 22

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia 25

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS 27

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia 29

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo medico-paciente 34

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA 37

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA 37

411 Estresse em meacutedicos 41

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE 42

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE 45

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo 46

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO 48

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo 52

5 MEacuteTODO 56

51 PARTICIPANTES 56

52 INSTRUMENTOS 56

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico 57

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) 58

523 IAPS - International Affective Picture Systemhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 59

524 Entrevista semiestruturada 60

53 PROCEDIMENTOS 61

531 Local de coleta 61

532 Seleccedilatildeo dos participantes 61

533 Procedimento de coleta de dados 61

534 Procedimento de anaacutelise de dados 63

5341 Anaacutelise quantitativa de dados 64

5342 Anaacutelise qualitativa de dados 64

535 Procedimento eacutetico 65

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS 66

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA 66

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos 67

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL) 71

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico 74

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS) 75

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico 76

616 Agrupamento do IAPS por cluster 79

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA 82

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters 82

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso 86

6221 Caso 1 Daniel (participante 12) 87

6222 Caso 2 Alice (participante 2) 93

6223 Caso 3 Miguel (participante 4) 98

6224 Caso 4 Marcos (participante 13) 103

7 DISCUSSAtildeO 109

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 115

REFEREcircNCIAS 118

ANEXO A 128

ANEXO B 129

ANEXO C 130

APEcircNDICE 132

12

1 INTRODUCcedilAtildeO

Podemos agradecer agraves emoccedilotildees por nossa humanidade compartilhada

(HILLMAN 1992 p xi)

As emoccedilotildees estatildeo diretamente relacionadas com a dinacircmica da psique com as

relaccedilotildees e com as percepccedilotildees de mundo Funcionam como guias alertam para os perigos e

possibilitam sensaccedilotildees como o prazer

Ao definir os afetos e as emoccedilotildees e diferenciaacute-los dos sentimentos Jung (19212009a

par751) observou ldquoentendo o afeto1 por um lado como o estado psiacutequico de sentimento e

por outro como estado fisioloacutegico das inervaccedilotildees tendo cada qual efeito cumulativo e

reciacuteproco sobre o outrordquo

Emoccedilatildeoafeto eacute algo que estaacute ligado a um registro que provoca alteraccedilotildees no nosso

corpo perturba nosso pensamento e eacute de difiacutecil controle jaacute que sua forccedila eacute inconsciente

Sentimentos por outro lado dependem da nossa vontade satildeo um registro da razatildeo e natildeo

apresentam manifestaccedilotildees fiacutesicas ou fisioloacutegicas tangiacuteveis2

Nuacutecleo do complexo as emoccedilotildees influenciam as vivecircncias e as formas de ser dos

indiviacuteduos e tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois interferem nos

mecanismos projetivos Tais influecircncias podem interferir na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

principalmente nas atitudes percepccedilotildees e nos processos de julgamento e decisatildeo

O racionalismo e a tentativa constante da lsquoeliminaccedilatildeorsquo das emoccedilotildees ainda estaacute

presente no trabalho do meacutedico Jung foi um grande criacutetico do racionalismo exagerado

escrevia que por conta dessa postura o homem moderno padecia da falta da valorizaccedilatildeo do

sentido e do significado

[] o barbarismo natildeo consiste e jamais consistiraacute na pouca eficaacutecia da

razatildeo ou da verdade mas consiste em esperarmos delas esta eficaacutecia

ou em atribuirmos agrave razatildeo esta eficaacutecia a partir de uma

supervalorizaccedilatildeo supersticiosa da ldquoverdaderdquo O barbarismo consiste na

unilateralidade na falta de medida e na errocircnea proporccedilatildeo em geral

(JUNG 19212009a par117)

Aprende-se desde cedo a colocar emoccedilatildeo e razatildeo em posiccedilotildees opostas e essa

dualidade influencia a forma de pensar de decidir e de fazer escolhas Isso se daacute quer seja

1 Jung (19212009a) natildeo distingue o termo emoccedilatildeo de afeto 2 Apesar de fazer essa distinccedilatildeo entre afetoemoccedilatildeo e sentimento Jung deixa claro que a transiccedilatildeo de um para o

outro tem contornos vagos Natildeo eacute simples determinar quando se trata de um ou de outro (JUNG 19212009a

par 751)

13

pelo intenso contato com o sofrimento humano quer seja pelo intenso avanccedilo tecnoloacutegico e o

trabalho do meacutedico eacute bastante afetado por esse conflito

Em O Erro de Descartes Damaacutesio (2006) desmitificou a ideia de uma lsquorazatildeo purarsquo

em que as emoccedilotildees satildeo vistas como lsquointrusasrsquo nos processos analiacuteticos Para o autor a

emoccedilatildeo participa dos processos de escolha e tomada de decisatildeo e estaacute presente tanto no

momento em que se armazena uma informaccedilatildeo quanto na hora de selecionar as possiacuteveis

respostas ldquoA emoccedilatildeo auxilia no processo de manter agrave mente os vaacuterios fatos que precisam ser

levados em consideraccedilatildeo para chegarmos a uma decisatildeordquo (DAMAacuteSIO 2006 p 7) As

emoccedilotildees estatildeo presentes no trabalho do meacutedico de forma intensa principalmente porque ele

lida com expectativas que envolvem os maiores desejos e medos do homem os de vida e os

de morte

Autores como Balint (1988) Groopman (2008) Croskerry (2002) e Mello Filho

(2006) observam que meacutedicos lidam constantemente com o desconforto causado pelo impacto

das emoccedilotildees em sua profissatildeo e que eles tendem a negar ou defender-se dessas manifestaccedilotildees

De acordo com Groopman (2008) o meacutedico deveria tornar-se consciente de que a emoccedilatildeo

pode prejudicar a sua capacidade de escutar e de pensar Desde o iniacutecio da formaccedilatildeo

profissional o meacutedico aprende que as emoccedilotildees e o sofrimento precisam ser negados ao

mesmo tempo em que precisa entrar em contato com questotildees dolorosas ele aprende um

caminho de evitaccedilatildeo

Marco (2009) e Ramos-Cerqueira e Lima (2002) consideram que durante a formaccedilatildeo

do meacutedico ainda existe pouco espaccedilo para compartilhar ou expressar afetos tendo que

escondecirc-los por receio de ser ldquoacusadordquo de ser muito fraacutegil sensiacutevel e portanto ldquonatildeo servir

para ser meacutedicordquo

Nota-se que muitas vezes a famosa discussatildeo que polariza a questatildeo teacutecnica e

humana no discurso dos meacutedicos trata desse receio do resultado acarretado pelo alto niacutevel de

estresse vivido por nuacutemero alarmante de meacutedicos que entram em burnout depressatildeo e

adiccedilotildees chegando alguns ateacute mesmo ao suiciacutedio Na atualidade em decorrecircncia de como a

atuaccedilatildeo meacutedica se daacute esses profissionais vivem numa grande pressatildeo e a qualquer momento

podem perder o controle e lsquoexplodirrsquo E lsquoexplodemrsquo Numa revisatildeo da literatura disponiacutevel

sobre suiciacutedio entre meacutedicos Meleiro (1998) alertou para o problema crescente no Brasil e no

mundo Vaacuterias razotildees satildeo citadas para a elevada taxa de suiciacutedio entre os meacutedicos dentre

elas meacutedicos tendem a negar o estresse de natureza pessoal e o desconforto psicoloacutegico

acobertam inclinaccedilotildees suicidas e elaboram mais frequentemente esquemas defensivos

fechando-se para qualquer intervenccedilatildeo terapecircutica

14

Segundo Cole e Carlin (2009) as taxas de ansiedade depressatildeo e suiciacutedio satildeo maiores

entre os meacutedicos do que entre outros profissionais Para os autores nos EUA cerca de 15

dos meacutedicos seratildeo prejudicados em algum momento de suas carreiras o que significa que eles

seratildeo incapazes de cumprir as obrigaccedilotildees profissionais em alguns casos devido agrave doenccedila

mental dependecircncia de drogas ou ao alcoolismo

A pressatildeo constante e o estresse influenciam a praacutetica meacutedica e trazem consequecircncias

natildeo soacute na forma como o meacutedico estrutura o seu trabalho mas tambeacutem na forma como ele

interage com o paciente

O trabalho do meacutedico natildeo eacute faacutecil Ele precisa lidar com as diversidades

organizacionais e com os recursos escassos conciliar vaacuterios viacutenculos institucionais

administrar controles e demandas de relatoacuterios responsabilizar-se por laudos aleacutem de ter que

lidar com pressotildees como a grande responsabilidade de salvar vidas situaccedilotildees de trabalho em

equipe a cobranccedila excessiva e a busca pelo reconhecimento que satildeo inerentes a sua praacutetica

Eacute no entanto perigoso refugiar-se atraacutes de um discurso que sugere que meacutedicos precisam

evitar ou defender-se constantemente das emoccedilotildees porque caso contraacuterio natildeo suportariam

exercer a profissatildeo Controlar a emoccedilatildeo pode muitas vezes ser necessaacuterio mas assumir essa

atitude de forma constante negligencia aspectos que satildeo importantes natildeo somente para a sauacutede

do meacutedico e para o reconhecimento das emoccedilotildees e do sofrimento do outro mas tambeacutem para

a tomada de decisotildees

Como em qualquer relaccedilatildeo e ambiente as pessoas estatildeo constantemente lidando com o

dito e o natildeo dito Fantasia-se sente-se intui-se percebe-se mesmo que muito pouco seja

falado Essa eacute uma grande riqueza humana Comunicam-se emoccedilotildees no tom de voz nas

palavras e nas interaccedilotildees

Os meacutedicos inevitavelmente possuem respostas emocionais em relaccedilatildeo aos pacientes

Um meacutedico pode desconhecer sua resposta emocional ou pode tentar suprimi-la mas ela

estaraacute sempre presente na interaccedilatildeo Segundo Ofri (2014) a interaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute

essencialmente humana e quando os seres humanos se conectam as emoccedilotildees tecem uma rede

de interaccedilotildees No caso da relaccedilatildeo meacutedico-paciente cabe ao meacutedico decidir como vai

processar essas emoccedilotildees

As emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles tecircm de seus pacientes recebem pouca

atenccedilatildeo na medicina apesar do avanccedilo da psicologia no que se refere agrave transferecircncia e agrave

contratransferecircncia A medicina natildeo se dedica a explorar esses fenocircmenos presentes nas

relaccedilotildees e que tecircm um papel central na construccedilatildeo do que eacute ldquoser meacutedicordquo

15

Em certos processos da relaccedilatildeo meacutedico-paciente a substacircncia

chamada meacutedico produz efeitos indesejaacuteveis e involuntaacuterios que

provocam sofrimento desnecessaacuterio irritaccedilatildeo e esforccedilos infrutiacuteferos

tanto do paciente quanto do proacuteprio meacutedico (BALINT 1988 p 4)

As emoccedilotildees funcionam como guias como uma buacutessola moral eacutetica e decisoacuteria Eacute por

meio delas que se pode compreender melhor o outro ldquoA base essencial da nossa

personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem apenas sintomas da

afetividaderdquo (JUNG 19071986 par 78)

Este estudo visa explorar o tema da praacutetica meacutedica e sua vinculaccedilatildeo com o

reconhecimento das emoccedilotildees do meacutedico e os impactos na relaccedilatildeo com o paciente com base

nos fundamentos da psicologia analiacutetica

Justifica-se pelo fato de as emoccedilotildees estarem presentes na interaccedilatildeo com o paciente

influenciando o relacionamento e muito provavelmente a forma como o meacutedico toma suas

decisotildees e conduz um tratamento ou intervenccedilatildeo Supotildee-se que falhas nessa compreensatildeo

possam acarretar seacuterios problemas natildeo soacute para o meacutedico em termos de sauacutede e insatisfaccedilatildeo

com a carreira mas tambeacutem para todo o sistema de sauacutede afetando pacientes familiares e

instituiccedilotildees Esse quadro evidencia-se pelo aumento de casos de meacutedicos com queixas de

estresse e desgaste emocional e de reclamaccedilotildees de pacientes contra meacutedicos

O desenvolvimento deste estudo segue a descriccedilatildeo abaixo

Os objetivos gerais e especiacuteficos e as questotildees que nortearam a pesquisa satildeo

apresentados no Capiacutetulo 2

No Capiacutetulo 3 satildeo abordados os fundamentos teoacutericos que guiaram a pesquisa e as

discussotildees dos resultados os estudos das emoccedilotildees a relaccedilatildeo emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo as

dimensotildees emocionais a dinacircmica emocional e os complexos a projeccedilatildeo transferecircncia e

contratransferecircncia e a contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O Capiacutetulo 4 apresenta a revisatildeo das pesquisas sobre as emoccedilotildees e a praacutetica meacutedica o

estresse meacutedico as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente a comunicaccedilatildeo emocional

na relaccedilatildeo meacutedico-paciente a interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo e a influecircncia das

emoccedilotildees na tomada de decisatildeo

No Capiacutetulo 5 descreve-se o meacutetodo misto e satildeo apresentadas informaccedilotildees sobre a

amostra os instrumentos e os procedimentos

A apresentaccedilatildeo dos resultados da anaacutelise quantitativa e qualitativa estaacute no Capiacutetulo 6

Na anaacutelise quantitativa satildeo apresentados os resultados do sociodemograacutefico da Escala de

Stress (ISSL) e do International Affective Picture System (IAPS) e a relaccedilatildeo entre eles Na

16

anaacutelise qualitativa satildeo descritas as anaacutelises das entrevistas em profundidade em forma de

estudo de caso

Na Discussatildeo apresentada no Capiacutetulo 7 retoma-se a anaacutelise dos resultados

relacionando-os com a teoria e os fundamentos

O Capiacutetulo 8 sintetiza as principais contribuiccedilotildees deste estudo e propotildee um caminho

para novas pesquisas e discussotildees sobre o tema

17

2 OBJETIVOS

21 OBJETIVO GERAL

Investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente que o afeta

22 OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS

Analisar a percepccedilatildeo emocional do meacutedico

Investigar a incidecircncia de estresse no meacutedico e os fatores que ele atribui ao estresse

Compreender as emoccedilotildees relacionadas ao paciente que o meacutedico considera difiacutecil e

aquelas relacionadas com o paciente que natildeo desperta dificuldades

Compreender a influecircncia das emoccedilotildees na vivecircncia profissional do meacutedico

23 QUESTOtildeES

Q1 De que modo o meacutedico lida com as emoccedilotildees

Q2 Haacute um reconhecimento da interferecircncia das emoccedilotildees na praacutetica cliacutenica

Q3 Qual eacute a influecircncia das emoccedilotildees nas atitudes do meacutedico

18

3 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES E A DINAcircMICA EMOCIONAL

31 ESTUDO DAS EMOCcedilOtildeES

A compreensatildeo dos fenocircmenos afetivos e emocionais envolve do ponto de vista

conceitual uma problemaacutetica jaacute que por ora natildeo existe um consenso em relaccedilatildeo agrave definiccedilatildeo

do que se entende por emoccedilatildeo Tentativas vecircm ocorrendo no campo da ciecircncia que ao

privilegiar o aspecto dinacircmico da emoccedilatildeo aumenta o diaacutelogo entre as vaacuterias visotildees e

enriquece o desenvolvimento de teorias

A proposta deste item eacute explorar os estudos sobre as emoccedilotildees sob diferentes aspectos

ressaltando sua importacircncia para a interaccedilatildeo tomada de decisatildeo e compreensatildeo do outro

311 Emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo

Os estudos relacionados agraves emoccedilotildees tiveram um marco importante com o debate

protagonizado por Robert Zajonc e Richard Lazarus acontecido na deacutecada de 80 Suas teses

assentaram-se na defesa da primazia do aspecto afetivo para Zajonc e na supremacia do

aspecto cognitivo para Lazarus (CARDOSO 2008)

Segundo Lazarus (1991) as emoccedilotildees seriam geradas de um processo de avaliaccedilatildeo

cognitiva (appraisal) Jaacute segundo Zajonc (1984) as emoccedilotildees poderiam ser formadas sem

qualquer interferecircncia da consciecircncia e existirem previamente e independente da cogniccedilatildeo

Desse conflito teoacuterico aparentemente insuperaacutevel seguiram-se estudos que poderiam

ser percebidos como de predomiacutenio cognitivista Mas o avanccedilo e o desenvolvimento de

estudos e pesquisas evidenciaram a dificuldade em separar a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo que satildeo

vistas hoje pela maioria dos teoacutericos como processos associados e dependentes

As pesquisas sobre as emoccedilotildees convergiram para a definiccedilatildeo de emoccedilatildeo como um

fenocircmeno complexo que envolve diferentes subsistemas de funcionamento do organismo

Seriam componentes da emoccedilatildeo a cogniccedilatildeo (avaliaccedilatildeo de objetos e eventos) a

neurofisiologia (regulaccedilatildeo do sistema fiacutesico) a expressatildeo motora (comunicaccedilatildeo da reaccedilatildeo e

intenccedilatildeo por meio da expressatildeo facial e vocal) o componente motivacional (preparaccedilatildeo e

19

direccedilatildeo de uma accedilatildeo) e o sentimento subjetivo (monitoramento do estado interno e interaccedilatildeo

com o ambiente) (SCHERER 2005)

De acordo com LeDoux (2001) apesar de a ciecircncia cognitiva ter tratado as emoccedilotildees

com desatenccedilatildeo os cientistas que se dedicaram a estudaacute-las em nenhum momento ignoraram

a cogniccedilatildeo E foram eles em grande parte os responsaacuteveis por colocar a emoccedilatildeo novamente

no cenaacuterio de discussatildeo dos processos cognitivos

Intensificaram-se nas uacuteltimas deacutecadas os estudos que mostram prevalecer a

interdependecircncia entre a emoccedilatildeo e a cogniccedilatildeo apesar de haver divergecircncias no entendimento

de como esses dois fenocircmenos interagem De acordo com Cardoso (2008) foram as reflexotildees

de Zajonc que constituiacuteram um marco e um ponto de ancoragem capaz de incentivar uma

soacutelida sustentaccedilatildeo empiacuterica para a defesa dessa interdependecircncia

Lazarus (1991) Frijda (1994) e Scherer (2005) consideram que uma emoccedilatildeo somente

ocorre apoacutes um processo de avaliaccedilatildeo atribuindo agrave emoccedilatildeo um estado mental intencional

Para os autores apenas mediante a interpretaccedilatildeo dada pela pessoa eacute que as emoccedilotildees podem

gerar prazer ou desprazer

Apesar de Lazarus (1991) considerar a avaliaccedilatildeo consciente como necessaacuteria para

suscitar uma emoccedilatildeo o autor natildeo nega a existecircncia de avaliaccedilotildees inconscientes apenas realccedila

o papel da consciecircncia na interpretaccedilatildeo das reaccedilotildees emocionais O autor propotildee a ligaccedilatildeo de

cada emoccedilatildeo a um ldquotema relacional nuclearrdquo (core relational theme) que ao ser deflagrado

conecta experiecircncias e repertoacuterios emocionais Por exemplo a emoccedilatildeo raiva estaria ligada ao

tema ofensa humilhante agrave proacutepria pessoa ou ansiedade de enfrentar uma situaccedilatildeo de

incerteza

Segundo Scherer (2005) as emoccedilotildees preparam e motivam accedilotildees tendo importante

influecircncia no comportamento O autor considera o sentimento um dos componentes da

emoccedilatildeo que representa a resposta a uma experiecircncia subjetiva disparada por um evento

emocional

LeDoux (2001) afirma que natildeo haacute possibilidade de pensar emoccedilatildeo e cogniccedilatildeo de

forma separada pois satildeo compreendidas como funccedilotildees mentais interativas apesar de

distintas De acordo com o autor as emoccedilotildees muitas vezes satildeo deflagradas sem uma

participaccedilatildeo intencional e fazem parte de um complexo sistema neuroloacutegico desenvolvido

para que o homem seja capaz de buscar prazer e alegria e evitar situaccedilotildees que possam causar

tristeza ou sofrimento O autor ressalta no entanto que para compreender o processo

emocional natildeo basta entender como os processos interagem eacute preciso compreender o papel

do sentimento componente consciente e subjetivo da emoccedilatildeo

20

O exame do tema emoccedilatildeo exige segundo Damaacutesio (2011) atenccedilatildeo aos impulsos e agraves

motivaccedilotildees agrave investigaccedilatildeo dos variados mecanismos de autorregulaccedilatildeo da vida que se

encontram no ceacuterebro e que funcionam automaticamente e aos sentimentos que satildeo os

responsaacuteveis por reconhecer e perceber todo esse processo

A emoccedilatildeo e o sentimento embora faccedilam parte de um ciclo fortemente coeso satildeo

processos distinguiacuteveis Segundo Damaacutesio (2006 2011) apesar de natildeo serem as emoccedilotildees atos

racionais satildeo elas que por meio dos sentimentos desencadeiam o processo cognitivo Todas

as emoccedilotildees originam sentimentos no estado desperto e atento

Emoccedilotildees satildeo programas de accedilotildees complexos e em grande medida automatizados jaacute

os sentimentos satildeo ldquoas percepccedilotildees compostas daquilo que ocorre em nosso corpo e na nossa

mente quando uma emoccedilatildeo estaacute em cursordquo (DAMAacuteSIO 2011 p 142)

Certos estilos de processamento mental satildeo imediatamente implementados assim que

ocorre uma emoccedilatildeo explica Damaacutesio (2011) Uma emoccedilatildeo negativa como a tristeza leva agrave

evocaccedilatildeo de pensamentos sobre fatos negativos uma emoccedilatildeo positiva causa o oposto A

tristeza desacelera o raciociacutenio e pode levar a pessoa a ficar ruminando a situaccedilatildeo que a

desencadeou Por outro lado a alegria pode acelerar o raciociacutenio e reduzir a atenccedilatildeo para

eventos natildeo relacionados

Os sentimentos emocionais seguem-se rapidamente agrave emoccedilatildeo e constituem a legitima consequentemente e definitiva realizaccedilatildeo do

processo emocional a percepccedilatildeo composta de tudo o que ocorreu

durante a emoccedilatildeo as accedilotildees as ideias o modo como as ideias fluem

devagar ou depressa ligadas a uma imagem ou rapidamente trocando

uma por outra (DAMAacuteSIO 2011 p 143)

Damaacutesio (2006) assinala que a emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e

pode auxiliar esse processo ao inveacutes de perturbaacute-lo como se pensava O autor partiu da ideia

de que os processos da emoccedilatildeo e do sentimento satildeo indispensaacuteveis para a racionalidade e

com isso a emoccedilatildeo que antes era considerada a grande vilatilde do pensamento racional e

objetivo jaacute que era vista como uma interferecircncia passou a integrar um conjunto maior

fazendo parte de um sistema em que teria tanta importacircncia quanto a razatildeo

As emoccedilotildees e os sentimentos juntamente com a oculta maquinaria

fisioloacutegica que lhes estaacute subjacente auxiliam-nos na assustadora tarefa

de fazer previsotildees relativamente a um futuro incerto e planejar as

nossas accedilotildees de acordo com essas previsotildees (DAMAacuteSIO 2006 p

13)

21

3111 A hipoacutetese do marcador somaacutetico

Historicamente como ressalta Tran (2004) as emoccedilotildees eram vistas de forma negativa

quando se tratava de sua influecircncia sobre os comportamentos e a tomada de decisotildees

pressupondo-se que a tomada de decisatildeo deveria ser uma atividade racional portanto

qualquer interferecircncia emocional deveria ser evitada

Damaacutesio (2006) observou em seus estudos que quando a emoccedilatildeo natildeo estaacute presente

como acontece em certas doenccedilas neuroloacutegicas a razatildeo mostra-se mais falha do que quando a

emoccedilatildeo eacute considerada na hora de decidir jaacute que os sistemas cerebrais que participam

conjuntamente da emoccedilatildeo e da tomada de decisotildees estatildeo generalizadamente envolvidos na

gestatildeo da cogniccedilatildeo e do comportamento social Ao inveacutes de contrapor a emoccedilatildeo agrave razatildeo o

autor vecirc a emoccedilatildeo como auxiliar da razatildeo

Seria apropriado dizer segundo Damaacutesio (2006) que a finalidade do raciociacutenio eacute a

decisatildeo e a essecircncia da decisatildeo consiste em escolher uma opccedilatildeo de resposta Ou seja

escolher uma accedilatildeo natildeo verbal ou uma palavra uma frase ou uma combinaccedilatildeo dessas entre as

muitas possiacuteveis no momento perante uma dada situaccedilatildeo

A emoccedilatildeo pode influenciar uma tomada de decisatildeo porque ela estaraacute presente no

momento de selecionar as possiacuteveis respostas dando uma relevacircncia maior a uma

determinada premissa mantendo na mente os vaacuterios fatos que precisam ser levados em

consideraccedilatildeo para chegar a uma decisatildeo

A hipoacutetese do marcador somaacutetico de Damaacutesio (2006 2011) parte dessa premissa

Entende-se que as pessoas antes de analisarem os resultados de uma decisatildeo jaacute fizeram um

processo de eliminaccedilatildeo e opccedilotildees de escolha influenciadas pelo processo emocional Segundo

o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um lsquomarcadorrsquo da importacircncia relativa da imagem

mental O marcador somaacutetico natildeo precisa ser uma emoccedilatildeo totalmente formada e nem

vivenciada abertamente como um sentimento pode ser um sinal despercebido relacionado a

uma emoccedilatildeo da qual o indiviacuteduo natildeo se daacute conta o que denomina de predisposiccedilatildeo

De acordo com Bechara Damaacutesio e Damaacutesio (2000) a hipoacutetese de marcador somaacutetico

fornece um sistema para a tomada de decisatildeo e mostra a influecircncia da emoccedilatildeo sobre ela A

ideia principal dessa hipoacutetese eacute a de que a tomada de decisatildeo eacute um processo influenciado por

sinais ou marcadores que ocorrem em processos biorregulatoacuterios incluindo aqueles expressos

em emoccedilotildees e sentimentos

22

A funccedilatildeo do marcador somaacutetico segundo Damaacutesio (2006) eacute fazer convergir a atenccedilatildeo

para o resultado Quando um marcador-somaacutetico negativo eacute justaposto a um determinado

resultado futuro a combinaccedilatildeo funcionaria como uma campainha de alarme em que o sinal

automaacutetico protegeria uma pessoa de prejuiacutezos futuros e permitiria depois escolher entre um

nuacutemero menor de alternativas Quando ao contraacuterio fosse justaposto um marcador-somaacutetico

positivo o resultado seria ao inveacutes de alarme um incentivo

Eacute importante frisar que os marcadores baseiam-se no processo das emoccedilotildees

secundaacuterias3 o que significa que as emoccedilotildees e os sentimentos foram ligados (relacionados)

pela aprendizagem a resultados futuros previstos de determinados cenaacuterios

Os marcadores-somaacuteticos satildeo portanto adquiridos atraveacutes da experiecircncia sob o controle de um sistema interno de preferecircncias e

sob a influecircncia de um conjunto externo de circunstacircncias que incluem

natildeo soacute entidades e fenocircmenos com os quais o organismo tem de

interagir mas tambeacutem convenccedilotildees sociais e regras eacuteticas

(DAMAacuteSIO 2006 p 211)

A hipoacutetese do marcador somaacutetico destaca o papel da emoccedilatildeo e da intuiccedilatildeo no processo

de decisatildeo e evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo

312 Os afetos e as emoccedilotildees baacutesicas

A suposiccedilatildeo generalizada que existe em algumas teorias sobre a emoccedilatildeo eacute que existe

um conjunto de emoccedilotildees eou afetos que podem ser considerados baacutesicos ou fundamentais

Tomkins (2008) dedicou seus uacuteltimos anos de vida agrave compreensatildeo dos afetos agraves

organizaccedilotildees emocionais e aos papeacuteis das emoccedilotildees e destacou esses aspectos em sua obra

mais importante Affect Imagery Consciousnes

Por que natildeo haacute viacutergulas no tiacutetulo noacutes lhe perguntamos Porque

natildeo haacute nenhuma maneira de separar os trecircs conceitos interligados Afeto produz atenccedilatildeo que traz seu gatilho para a consciecircncia e o

mundo que conhecemos eacute um sonho uma seacuterie de imagens coloridas

de nossa experiecircncia de vida (NATHANSON 2008 p XI)

O autor tinha uma pergunta o que traz manteacutem e controla a atenccedilatildeo e uma vez

que se estaacute envolvido ldquoo que nos permite renunciar agrave atenccedilatildeo A resposta que obteve para

seu questionamento foi o afeto

3 Para Damaacutesio (2006) as emoccedilotildees secundaacuterias satildeo as adquiridas e as emoccedilotildees primaacuterias satildeo inatas preacute-

organizadas

23

Segundo Nathanson (2008) Tomkins partiu do ponto de vista de que o afeto era uma

descriccedilatildeo bioloacutegica da emoccedilatildeo e que fazia parte de um sistema baacutesico e universal do ser

humano O sistema afetivo evoluiacutera como uma funccedilatildeo normal do ceacuterebro para reduzir a

confusatildeo da sobrecarga de estiacutemulo e sua importacircncia estaria em direcionar a atenccedilatildeo para

um estiacutemulo

A emoccedilatildeo seria o resultado da biografia afetiva do indiviacuteduo da experiecircncia de vida e

de seus relacionamentos muitas vezes descrita como script por Tomkins (2008)

De acordo com Kelly (2009) Tomkins considerava os afetos inatos4 e os dividia em

afetos positivos negativos e neutros Os afetos positivos seriam gratificantes e os indiviacuteduos

estariam motivados a fazer coisas para obtecirc-los Seriam eles o prazer (alegria) e a excitaccedilatildeo

Os afetos negativos seriam punitivos e os indiviacuteduos estariam motivados a fazer coisas para

evitaacute-los Seriam eles o medo a anguacutestia a raiva o nojo o dissmell (mau cheiro) e a

vergonha O afeto que considerou como neutro pois natildeo representava nenhum estiacutemulo e sim

um passo anterior a outro afeto seria a surpresa5

Tomkins (2008) seguindo os passos de Darwin observou que cada um dos nove

afetos tinha um padratildeo distinto facial Em suas pesquisas Darwin analisou as expressotildees

dentro de uma mesma espeacutecie e entre espeacutecies e impressionou-se com a semelhanccedila das

expressotildees corporais (em especial as faciais) proacuteprias das emoccedilotildees entre povos de todo o

mundo independente das origens raciais ou da heranccedila cultural (EKMAN 2011 LEDOUX

2001)

Na teoria dos afetos de Tomkins (2008) o pensamento humano nunca era imparcial o

sistema afetivo estaria sempre presente e motivaria todas as escolhas importantes de um

indiviacuteduo conduzindo a uma organizaccedilatildeo para evitar afetos e emoccedilotildees negativas e ampliar as

possibilidades para vivenciar os afetos e as emoccedilotildees positivas

O trabalho de Tomkins influenciou uma seacuterie de estudos e pesquisas sobre as emoccedilotildees

eou os afetos Dentre essa gama de pesquisadores que sofreram sua influecircncia encontramos

Ekman (2011) e Izard (1991) O primeiro considerado um dos grandes nomes da atualidade e

referecircncia para o estudo sobre as emoccedilotildees

Ekman (2011) de iniacutecio considerava que as ideias de Tomkins e Darwin sobre a

convicccedilatildeo de que as expressotildees emocionais eram inatas portanto universais estavam erradas

4 Aquilo que eacute inato eacute universal e comum a todos os seres humanos

5 Sobre a surpresa Izard (1991) a incluiu como uma das nove emoccedilotildees fundamentais mas mais tarde tambeacutem

concordaria com Tomkins afirmando que surpresa natildeo eacute uma emoccedilatildeo no mesmo sentido que as outras

24

Poreacutem apoacutes inuacutemeros estudos descobriu que eles tinham razatildeo Para o autor as emoccedilotildees

baacutesicas seriam a tristeza a raiva a surpresa o medo o nojo o desprezo e a alegria

De acordo com Ekman (2011) no momento em que uma emoccedilatildeo eacute ativada ela se

apodera da pessoa nos primeiros mileacutesimos de segundos comandando o que essa pessoa faz

diz e pensa

Quando estamos sob o domiacutenio de uma emoccedilatildeo uma sucessatildeo de

mudanccedilas ocorre em uma fraccedilatildeo de segundo ndash sem que escolhamos ou tenhamos consciecircncia imediata - nos sinais emocionais faciais e

vocais nas accedilotildees predefinidas nas accedilotildees apreendidas na atividade do

sistema nervoso autocircnomo que regula nosso corpo nos padrotildees

reguladores que modificam continuamente nosso comportamento na

recuperaccedilatildeo das memoacuterias e expectativas relevantes e na interpretaccedilatildeo

do que estaacute acontecendo dentro de noacutes e no mundo (EKMAN 2011

p 81)

Um estado emocional motiva o comportamento e informa aos outros como a pessoa

emocionada se sente Segundo Ekman (2011) as emoccedilotildees normalmente ocorrem quando se

percebe justificadamente ou por engano que algo que pode afetar seriamente o bem-estar

para melhor ou pior estaacute acontecendo ou prestes a acontecer Elas se desenvolvem e

preparam as pessoas para lidar rapidamente com eventos essenciais de suas vidas

Panksepp (1998) identifica sistemas neurais geradores de processos de accedilatildeo-resposta

que estatildeo na base das expressotildees emocionais e que se relacionam com as quatro emoccedilotildees que

segundo ele satildeo baacutesicas medo expectativa pacircnico e raiva O autor utiliza a expressatildeo

lsquoemoccedilatildeo baacutesicarsquo para designar a circunstacircncia em que certas funccedilotildees cerebrais satildeo

geneticamente e hierarquicamente programadas diferenciando-as das experiecircncias obtidas

pelo organismo ao longo de sua vida

Ortony e Turner (1990) assinalam que embora muitos autores acreditem que algumas

emoccedilotildees sejam baacutesicas natildeo haacute um consenso em relaccedilatildeo a quais e por que satildeo baacutesicas Pode-

se apontar para o fato de que quase todos os que consideram as emoccedilotildees baacutesicas incluem

nesse grupo a raiva a felicidade a tristeza e o medo

Apesar de Damaacutesio (2011) considerar a tentativa de classificar as emoccedilotildees pouco

precisa admite que existem emoccedilotildees universais presentes em todas as culturas Satildeo elas

medo raiva tristeza alegria nojo e surpresa Haacute outros dois grupos de emoccedilotildees que

merecem atenccedilatildeo especial

Um desses grupos eacute representado pelas emoccedilotildees de fundo expressas em sensaccedilotildees de

bem-estar ou mal-estar calma ou tensatildeo e podem ser desencadeadas por diversas

circunstacircncias de vida ou decorrer de estados internos como a fadiga O outro grupo eacute o das

25

emoccedilotildees sociais que seriam a compaixatildeo o embaraccedilo a vergonha a culpa o desprezo o

ciuacuteme a inveja o orgulho e a admiraccedilatildeo

O mesmo conjunto de sistemas no ceacuterebro humano envolvido no

processo de pensamento com uma ecircnfase no domiacutenio pessoal e social

eacute o mesmo conjunto de sistemas envolvido nas emoccedilotildees e nos

sentimentos (DAMAacuteSIO 2006 p 96)

As emoccedilotildees satildeo desencadeadas em situaccedilotildees sociais e tecircm papeacuteis importantes na vida

dos grupos Tambeacutem satildeo necessaacuterias para dominar o conhecimento e a habilidade que

norteiam o comportamento social Por meio das emoccedilotildees e dos sentimentos eacute possiacutevel a

projeccedilatildeo de um futuro incerto e a execuccedilatildeo de um planejamento de accedilotildees atitudes e

comportamentos

313 Dimensotildees emocionais valecircncia (prazer) alerta e dominacircncia

A visatildeo teoacuterica que permite o estudo dimensional da emoccedilatildeo tem suas bases em

Wundt (apud Cardoso 2008) um dos pioneiros na procura sistematizada do sistema afetivo

sob uma metodologia experimental A dinacircmica do sistema afetivo wundtiano corresponde a

um espaccedilo tridimensional representado pelas direccedilotildees bipolares de variaccedilatildeo prazer-desprazer

tensatildeo-relaxamento e ativaccedilatildeo-desativaccedilatildeo fruto dos seus modos ou vias de expressatildeo

quantificaacuteveis em funccedilatildeo da intensidade da sua manifestaccedilatildeo

Segundo Bradley e Lang (1994) o trabalho empiacuterico tem confirmado repetidamente

que as categorias teoacutericas de Wundt estatildeo presentes na organizaccedilatildeo dos julgamentos humanos

para uma vasta gama de perceptual e estiacutemulos simboacutelicos

Um recorte possiacutevel ao estudo das emoccedilotildees pode ser representado por dimensotildees que

natildeo estatildeo ligadas a um incidente isolado e estatildeo presentes de forma constante no indiviacuteduo

Tais dimensotildees segundo Cardoso (2008) compotildeem o sistema afetivo que compreende uma

estrutura de significaccedilatildeo cuja funcionalidade se exprime pelas dimensotildees valecircncia alerta e

dominacircncia

Segundo Lang Bradley e Cuthbert (1997) a partir de uma visatildeo relativamente simples

que assume a emoccedilatildeo podem-se definir valores em um nuacutemero de diferentes dimensotildees

estrateacutegicas As dimensotildees emocionais tornaram-se uma alternativa cientiacutefica para a

mensuraccedilatildeo de respostas emocionais

A emoccedilatildeo de acordo com Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) pode ser medida

utilizando induccedilotildees de estiacutemulos que provocam alteraccedilotildees fisioloacutegicas atitudes

26

comportamentais e relatos afetivos Esses estiacutemulos de acordo com Lang Bradley e Cuthbert

(1997) podem ser verificados em um ambiente experimental permitindo o controle sobre a

exposiccedilatildeo do recurso evocativo (exemplo imagens) possibilitando a avaliaccedilatildeo da influecircncia

dos aspectos emocionais na memoacuteria

Estiacutemulos servem como indutores de respostas afetivas competindo aos sujeitos a

tarefa de proceder a julgamentos acerca do grau de prazer ou de desprazer de intensidade e

grau de domiacutenio que cada estiacutemulo afetivamente sugere

Apesar de os estudos de Wundt serem pioneiros foi a partir das pesquisas realizadas

por Osgood Sauci e Tannembaum (1957) que se criou um meacutetodo para a mensuraccedilatildeo de

respostas emocionais conhecido como o diferencial semacircntico

O meacutetodo consiste em uma escala bipolar que quantifica a intensidade nas quais o

fator de anaacutelise tem uma variedade de decisotildees verbais (ex quente-frio) De acordo com

Santos et al (2009) os autores realizaram anaacutelises fatoriais em um grande nuacutemero de

descritores verbais emocionais associados a diversos tipos de estiacutemulos (figuras sons e

palavras) e observaram que a variacircncia nas avaliaccedilotildees poderia ser explicada por duas

dimensotildees principais a valecircncia (prazerdesprazer) e o alerta (calmaestimulaccedilatildeo)

Mehrabian e Russell (1977) utilizando outras escalas de diferencial semacircntico

chegaram a conclusotildees semelhantes agraves de Osgood Sauci e Tannembaum (1957) e com seus

estudos mostraram que as decisotildees humanas sobre uma variedade de amostras de estiacutemulos

podem ser caracterizadas em termos de dimensotildees prazer excitaccedilatildeo e dominacircncia

Evidecircncias recentes apoiam-se em uma abordagem tridimensional para avaliar com

precisatildeo a resposta emocional como propuseram Mehrabian e Russell (1977) Os autores

sugerem que as dimensotildees organizam a experiecircncia semacircntica e afetiva e que satildeo autocircnomas

pois funcionam de forma independente6

A dimensatildeo alerta se refere agrave intensidade ou ao grau que varia de calma relaxamento

ateacute a excitaccedilatildeo (intensidade emocional) e estaacute associada agrave ativaccedilatildeo da amiacutegdala na sua

relaccedilatildeo com o hipocampo (DOLCOS et al 2006)

A dominacircncia reflete o niacutevel de controle da resposta emocional a pessoa diante de um

estiacutemulo pode sentir-se no controle da situaccedilatildeo ou totalmente submissa a ela (BRADLEY e

LANG 1994)

6 O Self Assessment Manikin (SAM) que seraacute utilizado nesta tese representa visualmente as trecircs dimensotildees de

Mehrabian e Russell (1977) e foi concebido como uma alternativa para o autorrelato natildeo verbal

27

A dimensatildeo valecircncia conforme Lang (1995) refere-se a uma escala que varia do

agradaacutevel ao desagradaacutevel ou do positivo ao negativo Informaccedilotildees de valecircncia positiva

ativam o sistema denominado apetitivo diferente das informaccedilotildees emocionais contendo

valecircncias de caraacuteter negativo que satildeo processadas diferentemente e que ativam o sistema

aversivo

De acordo com Watson e Clark (1994) o afeto positivo e o afeto negativo tecircm surgido

de forma confiaacutevel como as dimensotildees dominantes da experiecircncia emocional O afeto

positivo tem relaccedilatildeo com o prazer o entusiasmo e a energia o afeto negativo estaacute relacionado

com o desprazer a raiva a culpa o medo e o nervosismo

As teorias sobre as emoccedilotildees hoje principalmente com o avanccedilo das neurociecircncias

natildeo mais separam a emoccedilatildeo da cogniccedilatildeo tornando-se cada vez mais evidente que estes satildeo

processos associados e dependentes A emoccedilatildeo eacute um fenocircmeno complexo que inter-relaciona

a cogniccedilatildeo a comunicaccedilatildeo a motivaccedilatildeo humana e a subjetividade

32 A DINAcircMICA EMOCIONAL AS EMOCcedilOtildeES E OS COMPLEXOS

A teoria junguiana destaca a influecircncia dos aspectos emocionais na vida dos sujeitos

A importacircncia dos afetosemoccedilotildees para a vida psiacutequica deve-se principalmente ao fato de que

eacute uma de suas funccedilotildees conectar os componentes da psique sensaccedilotildees ideias memoacuterias e

julgamentos concedendo a cada um deles uma ldquotonalidade afetivardquo comum (JUNG

19041994)

A emoccedilatildeo segundo Hillman (1992) eacute um fenocircmeno complexo que integra muacuteltiplos

aspectos dentre eles a qualidade da experiecircncia a distribuiccedilatildeo e intensidade de energia o

estimulo simboacutelico parte consciente e parte inconsciente e sua proacutepria transformaccedilatildeo que tem

valor de sobrevivecircncia

Jung (19542000) observou que o afeto vem revelar algo desconhecido que pode ou

natildeo se apresentar agrave consciecircncia Esse desconhecido pode ser constituiacutedo de qualidades ainda

natildeo descobertas ou pode ainda manifestar possibilidades futuras de desenvolvimento ou

ainda vir acompanhado de uma explosatildeo emocional que transforma radicalmente uma

situaccedilatildeo

[] uma vez que nos momentos de afeto mostram-se

involuntariamente as verdades do outro lado eacute aconselhaacutevel

aproveitar esses momentos para que tal aspecto tenha a ocasiatildeo de

expressar-se Por isso o indiviacuteduo deveria cultivar a arte de falar

consigo mesmo numa situaccedilatildeo de afeto e em seus marcos como se o

28

proacuteprio afeto falasse sem levar em conta a criacutetica razoaacutevel (JUNG

19161991 par 323)

Desde a realizaccedilatildeo do Teste de Associaccedilatildeo de Palavras Jung (19342009c) se

surpreendia com o fato de que algumas palavras-estiacutemulo afetavam seus pacientes e observou

que o meacutetodo era perturbado por um comportamento autocircnomo da psique Aquilo que era

registrado como falha de reaccedilatildeo era o indicativo de alguma ocorrecircncia na psique do sujeito

A partir dessa observaccedilatildeo Jung (19342009c) concluiu que as emoccedilotildees afetavam as

respostas dos sujeitos e que a perturbaccedilatildeo que era emocional tecia e organizava experiecircncias

Natildeo mais poderia se pensar em processos psiacutequicos isolados tudo parecia estar ligado numa

trama ou rede Constelaccedilatildeo foi o termo que utilizou para explicar esse processo A

expressatildeo lsquoestaacute consteladorsquo indica que o indiviacuteduo adotou uma atitude preparatoacuteria e de

expectativa com base na qual reagiraacute de forma inteiramente definida A constelaccedilatildeo eacute um

processo automaacutetico que ningueacutem pode deter por proacutepria vontade

Assim ele chegou agrave formulaccedilatildeo dos complexos que satildeo compostos por nuacutecleos

carregados de afeto e apesar da trama do complexo ser inconsciente podemos observar suas

manifestaccedilotildees na consciecircncia ldquoToda constelaccedilatildeo de complexos implica um estado perturbado

de consciecircnciardquo (JUNG 19342009c par 200)

Apesar dessa manifestaccedilatildeo na consciecircncia existe uma caracteriacutestica importante do

complexo o ego natildeo tem accedilatildeo sobre ele Eacute algo que acontece em outra esfera O que interessa

aqui sobre o complexo e os conceitos de Jung eacute que as emoccedilotildeesafetos tornam-se base para o

desenvolvimento de nossa personalidade tendo uma funccedilatildeo organizadora da vida psiacutequica

Segundo Ramos (2006) todo complexo tem um padratildeo especifico de imagens e

sensaccedilotildees sinesteacutesicas o que significa dizer que quando haacute a evocaccedilatildeo ou expressatildeo de uma

emoccedilatildeo haacute uma alteraccedilatildeo fisioloacutegica

Por possuir uma base afetiva o complexo interfere na forma como os indiviacuteduos

percebem o mundo comunicam-se com os outros e nas accedilotildees e atitudes

Uma atitude segundo Jung (19212009a) eacute uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma

predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo subjetiva do complexo e uma combinaccedilatildeo de

fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo tem sempre um ponto direcional que

pode ser consciente ou inconsciente Ele exemplifica ldquoquem profundamente experimenta o

desprazer da vida teraacute uma atitude que sempre espera o desprazerrdquo (JUNG 19212009a par

769)

29

De acordo com Stein (2006 p 103) ldquoquanto mais tempo uma atitude persiste e quanto

mais frequentemente ela for chamada a satisfazer as exigecircncias do meio mais habitual ela se

tornardquo

Atitudes habituais e exigecircncias do meio direcionam a construccedilatildeo da persona do

indiviacuteduo A persona tem uma funccedilatildeo adaptativa e eacute em grande parte a necessidade de

parecer ser para ldquopertencer eacute em grande parte social pois satildeo os outros mais do que a

proacutepria pessoa os responsaacuteveis por sua formaccedilatildeo (JUNG 19161991)

Muitas das descobertas das neurociecircncias hoje caminham para os achados que Jung

fez em relaccedilatildeo aos afetos e aos complexos De acordo com Damaacutesio (2011) parece existir um

conjunto de sistemas no ceacuterebro humano dedicados ao processo de pensamento que produzem

imagens que ganharatildeo mais ou menos destaque no fluxo mental conforme o valor que tecircm

para o indiviacuteduo Segundo o autor o grau de emoccedilatildeo serve como um marcador da

importacircncia relativa da imagem

Damaacutesio (2011) estuda as emoccedilotildees como programas de accedilotildees complexos e em grande

medida automatizados que tecircm efeito sobre o nosso corpo e sobre a nossa mente Equipara-se

a Jung (19212009a) que considera a emoccedilatildeoafeto um estado caracterizado por inervaccedilotildees

perceptiacuteveis do corpo e por uma perturbaccedilatildeo peculiar do curso das ideias Os dois autores

consideram os sentimento uma funccedilatildeo valorativa da emoccedilatildeo

A emoccedilatildeo eacute parte integrante do processo de raciociacutenio e influencia as decisotildees

interferindo em tudo inclusive na comunicaccedilatildeo com o mundo Por meio das emoccedilotildees e dos

sentimentos consegue-se projetar um futuro incerto e planejar accedilotildees

321 Projeccedilatildeo transferecircncia e contratransferecircncia

Vemos o que estaacute fora de noacutes a partir das fantasias dos complexos

que alteram o valor dos objetos sobre os quais depositamos nossos

conteuacutedos [] o complexo dirige nosso modo de viver condicionando obstinadamente a versatildeo que damos aos eventos ao

mundo ao outro (PERRONE 2008 p 110)

A projeccedilatildeo eacute um processo que estaacute ligado agrave proacutepria dinacircmica da psique que conecta o

mundo interior ao mundo exterior Eacute um processo inconsciente automaacutetico por meio do qual

um conteuacutedo inconsciente eacute transferido fazendo com que sesse conteuacutedo pareccedila pertencer ao

objeto (JUNG 19332012)

30

Pertencente agrave esfera das relaccedilotildees e dos laccedilos sociais a projeccedilatildeo estaacute presente em todos

os relacionamentos humanos seu conteuacutedo geralmente eacute carregado de emoccedilatildeo e por ser um

processo automaacutetico e inconsciente dificilmente eacute submetido ao controle da consciecircncia

Compreender as relaccedilotildees humanas do ponto de vista das projeccedilotildees coloca-nos diante

da interferecircncia dos processos emocionais nos relacionamentos Segundo Gambini (1988) eacute

por isso que os complexos tecircm um papel importante na dinacircmica relacional pois a projeccedilatildeo

pode interferir nos atos de cogniccedilatildeo e percepccedilatildeo

Von Franz (1997) ressalta que diante do fenocircmeno da projeccedilatildeo os indiviacuteduos estatildeo

sujeitos a erros frequentes de julgamento e a compreensatildeo de seu funcionamento pode ser

esclarecedora no que tange os desentendimentos entre pessoas e grupos

Ao analisar-se a relaccedilatildeo meacutedico-paciente tem-se um modo de relacionamento com

caracteriacutesticas projetivas peculiares que recebem o nome na literatura de transferecircncia e

contratransferecircncia

Freud (19051996) foi o primeiro a esquematizar o conceito de transferecircncia Desde

seus primeiros estudos jaacute pressentia que existia algo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente que era

importante para o processo No decorrer do tempo ao ampliar a anaacutelise de seus casos

percebeu que as emoccedilotildees e fantasias de seus pacientes destinados a figuras parentais eram

transferidas para o analista

Ponto crucial do trabalho analiacutetico a transferecircncia era para Freud (19051996) uma

exigecircncia indispensaacutevel para o tratamento e segundo ele impossiacutevel de evitar ldquoO tratamento

psicanaliacutetico natildeo cria a transferecircncia mas simplesmente a revela como a tantas outras coisas

ocultas na vida aniacutemicardquo (FREUD 19051996 p112)

A anaacutelise do fenocircmeno da transferecircncia em Freud (19051996 19201985b) trazia dois

pontos importantes O primeiro a constataccedilatildeo de que as experiecircncias psiacutequicas de seus

pacientes eram revividas no viacutenculo atual no presente com o meacutedico (FREUD 19051996)

E o segundo a observaccedilatildeo de que os pacientes que natildeo pudessem recordar a totalidade do que

neles se achava reprimido repetiam emoccedilotildees e situaccedilotildees indesejadas (material reprimido)

revivendo-as sob a pressatildeo de uma compulsatildeo como se fosse uma experiecircncia nova atuada na

esfera da transferecircncia na relaccedilatildeo do paciente com o meacutedico (FREUD 19201985b)

Segundo Jacoby (1984) dois fatores sobre a transferecircncia pareceram a Jung terem sido

negligenciados na visatildeo freudiana Ao preocupar-se apenas com a causa da transferecircncia

Freud teria negligenciado a sua finalidade E ao acreditar que a transferecircncia era uma

repeticcedilatildeo de experiecircncia reprimida na infacircncia levaria em conta apenas o inconsciente

pessoal desconsiderando os elementos arquetiacutepicos do inconsciente coletivo

31

A concepccedilatildeo junguiana de transferecircncia e contratransferecircncia de acordo com

Byington (1985) por ser afetada pela noccedilatildeo de arqueacutetipo e inconsciente coletivo enfatiza

aleacutem dos aspectos defensivos descritos na noccedilatildeo freudiana os aspectos como o da

criatividade na relaccedilatildeo

De acordo com Jung (19462011) a transferecircncia eacute um fenocircmeno natural comum a

todos os relacionamentos e jaacute estaria presente antes mesmo do meacutedico e paciente iniciarem a

interaccedilatildeo

Ao considerar a psique como um fenocircmeno de ocorrecircncia natural Jung segundo

Hopcke (2011) removeu a transferecircnciacontratransferecircncia do acircmbito da psicopatologia e

trouxe a inevitabilidade do fenocircmeno e sua utilidade

A transferecircncia cria uma ligaccedilatildeo uma espeacutecie de relacionamento dinacircmico entre o

sujeito e o objeto e a projeccedilatildeo de conteuacutedos emocionais sempre tem uma influecircncia

particular jaacute que as emoccedilotildees satildeo contagiosas (JUNG 19291985a p 318)

Para Jung (19171987) a transferecircncia eacute necessaacuteria para que a energia psiacutequica se

liberte e siga seu curso Caso o paciente natildeo reconheccedila a transferecircncia ou meacutedico natildeo

compreenda o fenocircmeno ou o entenda mal apareceratildeo resistecircncias que vatildeo impossibilitar

qualquer relaccedilatildeo com o meacutedico

A discussatildeo sobre a transferecircncia segundo Jung (19462011) daacute a impressatildeo de que o

fenocircmeno pode ser resolvido com teacutecnica ou habilidade do meacutedico Poreacutem a transferecircncia

pode ser comparada agravequeles medicamentos que para uns satildeo remeacutedio e para outros veneno

O termo contratransferecircncia foi utilizado pela primeira vez por Freud (19101985a)

para referir-se agraves reaccedilotildees do meacutedico diante da transferecircncia do paciente Considerado um

fenocircmeno da interaccedilatildeo e portanto difiacutecil de ser evitado o meacutedico segundo Freud

(19121987 19151980) para uma boa praacutetica deveria estar ciente dos complexos pois estes

poderiam interferir na compreensatildeo do que o paciente lhe dizia e na sua percepccedilatildeo analiacutetica

Tambeacutem deveria buscar a neutralidade em relaccedilatildeo ao paciente e controlar a

contratransferecircncia pois soacute assim seus conflitos natildeo o impediriam de agir como um espelho

para o material de seus pacientes

Segundo Andrade e Herzog (2011) embora Freud tenha alertado para o perigo

representado pelas respostas afetivas dos meacutedicos em relaccedilatildeo a seus pacientes referindo-se

em alguns momentos agrave necessidade de ldquofrieza emocionalrdquo por parte do analista essa posiccedilatildeo

natildeo se sustenta Ao mesmo tempo em que o autor compara o trabalho do analista ao do

cirurgiatildeo subentendendo que o analista deve neutralizar seus sentimentos em outra

32

passagem quando se refere agrave regra da atenccedilatildeo flutuante depreende-se a possibilidade de o

analista envolver-se afetivamente no trabalho psicanaliacutetico

Segundo Racker (1982) o conceito da atitude do cirurgiatildeo presta-se a mal-entendidos

e pode induzir a uma repressatildeo da contratransferecircncia e em especial a uma negaccedilatildeo do desejo

de compreender e de conduzir o paciente a uma maior visatildeo interna e a um novo sentir Para o

autor Freud aconselhou a atitude do cirurgiatildeo para proteger o analista e o paciente das

desvantagens que trazem consigo a ambiccedilatildeo de cura e a identificaccedilatildeo sem reserva mas

atribuiacutea muita importacircncia agrave atitude ativa lutadora e ateacute calorosa

Embora inexista consenso sobre o uso da contratransferecircncia segundo Samuels (1995

2003) existem muitas correntes de teorizaccedilatildeo poacutes-freudiana e uma tendecircncia definida na

teorizaccedilatildeo disso pode ser observada

Dentre os autores encontramos o trabalho de Racker (1982) e Heimann (1950)

importantes consolidadores e que serviram como base para diversos trabalhos que seguiram

na busca pela compreensatildeo da contratransferecircncia Eles coincidem na visatildeo da

contratransferecircncia como um instrumento para compreensatildeo dos processos inconscientes do

paciente

Apesar de inicialmente Racker (1982) ter tratado contratransferecircncia como um perigo

para o trabalho do analistameacutedico posteriormente a enxergou tambeacutem como um instrumento

teacutecnico de grande importacircncia Do ponto de vista conceitual Racker (1982) compreendia a

contratransferecircncia como uma resposta emocional agrave transferecircncia (real eou e imaginaacuteria) do

paciente indicando o que sucede ao paciente na sua relaccedilatildeo com ele (analistameacutedico)

A contratransferecircncia ao co-determinar a atitude do analista diante do paciente co-

determina os destinos da transferecircncia Portanto a percepccedilatildeo da contratransferecircncia natildeo soacute

indica o conflito central do paciente em suas relaccedilotildees de objeto transferenciais mas tambeacutem

acentua as reaccedilotildees de seus objetos internos dentro e fora dele e em especial as da imago

colocadas no analista (RACKER 1982)

Segundo Heimann (1950) a contratransferecircncia eacute a resposta emocional do analista

mas eacute tambeacutem um ponteiro significativo para o processo na orientaccedilatildeo para uma maior

compreensatildeo do paciente Por isso maior atenccedilatildeo deveria ser dada ao proacuteprio funcionamento

psiacutequico do analista Para a autora a contratransferecircncia natildeo eacute apenas uma parte essencial da

relaccedilatildeo mas tambeacutem ela eacute parte da personalidade do paciente

De acordo com Samuels (1995) ao colocar o analista na relaccedilatildeo e no tratamento Jung

via a contratransferecircncia como um oacutergatildeo de informaccedilatildeo altamente importante sobre o

paciente Dois aspectos satildeo importantes ao analisarmos a contratransferecircncia em Jung

33

(19291985a 19462011) o processo dialeacutetico e a transformaccedilatildeo muacutetua e como isso estaacute

relacionado com a interaccedilatildeo meacutedico-paciente

A dialeacutetica na relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute ressaltada por Jung (19291985a) porque para

ele no encontro dois sistemas psiacutequicos se inter-relacionam e atraveacutes do contato desses dois

sistemas produzem-se novas siacutenteses Natildeo eacute somente a personalidade do paciente que ganha

destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico - o que vai aleacutem

daquilo que o meacutedico diz ou pensa ainda que esses uacuteltimos natildeo possam ser menosprezados

A transformaccedilatildeo segundo Jung (19291985a) ocorre em decorrecircncia da relaccedilatildeo jaacute

que o encontro de duas personalidades eacute como a mistura de duas substacircncias quiacutemicas

diferentes no caso de haver uma reaccedilatildeo ambas se transformam Ao utilizar a analogia com a

alquimia Jung (19462011) em Psicologia da Transferecircncia consagra a ideia de que na

relaccedilatildeo terapecircutica os participantes satildeo afetados por emoccedilotildees mutuamente o meacutedico participa

do processo psiacutequico tanto quanto o paciente e tambeacutem o expotildee aa influecircncias

transformadoras Para Jung ldquona medida em que o meacutedico se fecha a essa influecircncia ele

tambeacutem perde sua influecircncia sobre o pacienterdquo (JUNG 19351985b par 166)

Segundo Hall (1992) se o paciente pode distorcer a sua percepccedilatildeo do analista o

inverso tambeacutem eacute verdadeiro Tanto analista quanto analisando estatildeo envolvidos na relaccedilatildeo e

ambos podem ser transformados por essa interaccedilatildeo A transferecircncia ou a contratransferecircncia eacute

um campo transformador sem necessidade de especificar quem analisando ou analista eacute o

agente da transformaccedilatildeo pois eacute provaacutevel que ambos sejam

O fato de o paciente transmitir ao meacutedico um conteuacutedo ativado do

inconsciente tambeacutem constela neste uacuteltimo o material inconsciente

correspondente atraveacutes da accedilatildeo indutiva realmente exercida em maior

ou menor grau pelas projeccedilotildees Meacutedico e paciente encontram-se assim

numa relaccedilatildeo fundada na inconsciecircncia muacutetua (JUNG 19462011

par 364)

De acordo com Stein (1992) a contratransferecircncia pode ser distinguida entre atitudes

reaccedilotildees e fases A atitude de contratransferecircncia eacute um conjunto de imagens valores e padrotildees

de raciociacutenio conscientes e inconscientes que atravessam longos periacuteodos de tempo e estaacute

presente antes durante e depois da anaacutelise As reaccedilotildees de contratransferecircncia satildeo fugazes e

temporaacuterias e baseiam-se principalmente em complexos inconscientes As fases satildeo mais

duradouras que as reaccedilotildees mas estatildeo contidas na estrutura geral da atitude da

contratransferecircncia durando geralmente uma fase da proacutepria anaacutelise

Samuels (1995) observa que o que torna a comunicaccedilatildeo da contratransferecircncia

possiacutevel satildeo as imagens ateacute mesmo as que se referem agraves respostas corporais e de sentimentos

34

A esse fenocircmeno constelado na anaacutelise atraveacutes da relaccedilatildeo Samuels (1995) utilizou o nome

mundus imaginalis (ou mundo imageacutetico) que funciona como um fator de ligaccedilatildeo entre o

paciente e o analista sendo possiacutevel compartilhar e pensar o fenocircmeno da contratransferecircncia

Sob a luz das recentes evidecircncias nos campos da pesquisa ceacuterebro-mente e de

desenvolvimento infantil Wiener (2009) observa que os comentaacuterios de Jung parecem

bastante modernos uma vez que ele intuiu que analistas provavelmente satildeo afetados por seus

pacientes Segundo a autora a contratransferecircncia compreende todas as respostas conscientes

e inconscientes do paciente ou seja o que quer que o analista pense e sinta eacute

contratransferecircncia

3211 A contratransferecircncia na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Balint foi um dos grandes responsaacuteveis por reaproximar alguns dos fenocircmenos

existentes na anaacutelise e na cliacutenica psicanaliacutetica agrave medicina e fazer dessa aplicaccedilatildeo um

instrumento possiacutevel para qualquer meacutedico

A preocupaccedilatildeo de Balint (1988) era discutir e propor soluccedilatildeo para a problemaacutetica

relaccedilatildeo meacutedico-paciente e para isso estendeu os conceitos utilizados por Freud Ferenczi e

Jung sobre transferecircncia e contratransferecircncia ao processo para qualquer relacionamento entre

meacutedico e paciente

Transferecircncia e contratransferecircncia segundo Balint (1988) estatildeo em constante

influecircncia por isso o meacutedico deve ser capacitado para reconhecer suas reaccedilotildees e seu modo de

lidar com o paciente para compreender seu sentido dinacircmico

[] o mais importante material de nosso meacutetodo de ensino eacute o modo

como o meacutedico utiliza sua personalidade suas convicccedilotildees seus

conhecimentos seus padrotildees habituais de reaccedilatildeo etc fatores que

pode ser sintetizados na expressatildeo ldquocontratransferecircnciardquo (BALINT

1988 p 265)

Segundo Balint (1988) o meacutedico cria consciente ou inconscientemente uma

atmosfera particular devido a sua forma individual de praticar a medicina e pretende com

isso que seus pacientes a aceitem O meacutedico induz o paciente a adotar as suas normas Por

outro lado o meacutedico responde agrave ldquoofertardquo do paciente tendo a sua personalidade como fator

quase que absoluto na escolha da resposta adequada Balint (1988) chamou esse fenocircmeno de

funccedilatildeo apostoacutelica que satildeo atitudes particulares do meacutedico em relaccedilatildeo a seus pacientes De

acordo com o autor todo meacutedico tem uma ideia sobre o modo como deve se comportar o

35

paciente quando estaacute doente e essa ideia influi praticamente em todos os detalhes do trabalho

do meacutedico com relaccedilatildeo a seu paciente

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente de acordo com Balint (1988) eacute sempre e invariavelmente

o resultado de um compromisso entre as ofertas e exigecircncias dos pacientes e as respostas do

meacutedico Qualquer que seja a atitude do meacutedico ela influenciaraacute permanentemente sua relaccedilatildeo

com o paciente ldquoA personalidade do meacutedico e os interesses subjetivos podem exercer uma

influencia decisiva naquilo que ele nota e registra a respeito de seus pacientesrdquo (Balint 1988

p 47)

Os meacutedicos impulsionados por seu zelo apostoacutelico necessitam fazer todo o possiacutevel

para criar em seus pacientes e em si mesmos a impressatildeo de que satildeo bons e uacuteteis como

meacutedicos Essa eacute uma imagem idealizada pois todo meacutedico tem seus temperamentos e

idiossincrasias e nem sempre se mostram tatildeo bondosos e compreensivos (BALINT 1988)

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente desenvolve-se de forma mais efetiva segundo Balint

(1988) quando os envolvidos na relaccedilatildeo possuem um conhecimento do outro e de suas

influecircncias A esse processo chamou de companhia de investimento muacutetuo

Por considerar os aspectos contratranferenciais importantes na relaccedilatildeo com o paciente

Balint (1988) desenvolveu um meacutetodo de grupo para que meacutedicos pudessem relatar os casos

de seus pacientes principalmente aqueles que lhes apresentassem dificuldades Os grupos

Balint congregam de 8 a 12 meacutedicos e tecircm como objetivo incentivar os meacutedicos a valorizar

suas habilidades interpessoais e aprender a compreender os seus limites melhorar a percepccedilatildeo

dos meacutedicos e a compreensatildeo da comunicaccedilatildeo de seus pacientes e permitir aos meacutedicos tomar

conhecimento de pontos cegos em suas interaccedilotildees com os pacientes Todo grupo possui um

liacuteder que eacute treinado e coordena os trabalhos e seu desenvolvimento

De acordo com Brandt (2009) o propoacutesito nos grupos Balint eacute permitir ao meacutedico

chegar a mudanccedilas em suas formas de lidar com o outro A contratransferecircncia manifestada

perante o grupo propicia aos demais participantes a oportunidade de entrar em contato com os

aspectos emocionais No entanto ao longo dos anos os grupos tecircm sofrido uma grande

mudanccedila pois existe grande dificuldade de atrair os meacutedicos Segundo Edgcumbe (2010) os

grupos que se mantecircm precisaram adaptar-se ao trabalho do meacutedico hoje

Segundo Lichtenstein (2006) dada a necessidade de muacuteltiplas tarefas e tomadas

raacutepidas de decisotildees a praacutetica meacutedica hoje requer um meacutedico que use intuiccedilatildeo e processos

cognitivos automaacuteticos e a participaccedilatildeo em grupos Balint ajuda os meacutedicos a desenvolverem

o autoconhecimento para saberem quando usar uma forma mais deliberada de raciociacutenio a

fim de aumentar a precisatildeo da tomada de decisatildeo meacutedica

36

De acordo com Hughes e Kerr (2000) a pedra angular do tratamento na medicina eacute a

alianccedila terapecircutica mas esta pode ser distorcida pelos desejos e expectativas do paciente e do

meacutedico Portanto a boa praacutetica inclui uma atitude questionadora e um entendimento de que

meacutedicos e pacientes satildeo afetados na relaccedilatildeo

O meacutedico natildeo estaacute isento de sentir emocionar-se e desenvolver afetos em relaccedilatildeo a

seu paciente Muito pelo contraacuterio eacute condiccedilatildeo de qualquer relacionamento que isso se

estabeleccedila A forma como o meacutedico usa sua personalidade vai interferir no modo de

relacionamento com seu paciente

37

4 REVISAtildeO DE PESQUISAS SOBRE O TEMA

A revisatildeo de pesquisas sobre o tema foi realizada nas seguintes fontes

Biblioteca Virtual em Sauacutede (BIREME) que possui as seguintes bases LILACS IBECS

MEDLINE Biblioteca Cochrane SciELO- httpregionalbvsaludorgphpindexphp

Banco de teses e dissertaccedilotildees das principais universidades - httpbdtdibictbr

Portal de perioacutedicos da Capes - httpwwwperiodicoscapesgovbr

Conselho Regional de Medicina - httpwwwcremesporgbr

Revista internacional Medical Humanities - httpmhbmjcom

Base internacional de artigos meacutedicos PUB MED - httpwwwncbinlmnihgovpubmed

Journal Emotion - httpwwwapaorgpubsjournalsemoindexaspx

International Association for Analytical Psychology - wwwiaaporg

Journal of Analytical Psychology

Jung Journal ndash Culture amp Psyche (The San Francisco Jung Institute Library Journal)

httpucpressjournalscomjournalphpj=jung

httpwebmecomjung_journalJUNG_JOURNALJung_Journal_Homehtml

Revista Junguiana - httpsbpa-rjorgbrsitepage_id=155

As palavras-chave selecionadas para busca foram emoccedilotildees dos meacutedicos percepccedilatildeo

do paciente relaccedilatildeo meacutedico-paciente projeccedilotildees e psicologia junguiana

41 AS EMOCcedilOtildeES DOS MEacuteDICOS E A PRAacuteTICA MEacuteDICA

A Medicina teve um impulso consideraacutevel nos uacuteltimos anos com a adoccedilatildeo do modelo

biomeacutedico que de acordo com De Marco (2012) ainda separa a compreensatildeo da fisiologia e

da patologia do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

Tenta-se silenciar as emoccedilotildees mas elas afloram inevitavelmente em qualquer

relaccedilatildeo O seu reconhecimento em si e nos outros e seu manejo apropriado contribuem para

a construccedilatildeo de um campo emocional favoraacutevel para o desempenho da tarefa meacutedica (DE

MARCO 2012)

Talvez seja este o grande paradoxo da profissatildeo do meacutedico Ao lidar com o risco das

pressotildees emocionais por contatos constantes com o sofrimento de seus pacientes os meacutedicos

38

muitas vezes reprimem suas emoccedilotildees Poreacutem o reconhecimento e a gestatildeo emocional podem

tambeacutem auxiliar o bom desempenho como profissional

O tema de quem eacute e o que eacute a pessoa do meacutedico no mundo

onipotente suscita muitas paixotildees discussotildees e controveacutersias De uma

imagem de demiurgo onipotente sacerdote e dotado de todos os

poderes e qualidade caiu o meacutedico para uma posiccedilatildeo de ser humano

comum dotado de falhas e incompletudes e portanto passiacutevel de erros e titubeaccedilotildees (MELLO FILHO 2006 p 17)

O limite tecircnue no qual os meacutedicos trabalham aponta para uma dinacircmica profissional

em que as emoccedilotildees tornam-se o corpo de uma praacutetica que evidenciaraacute limites defesas apegos

etc e que comeccedilaraacute a ser formada na educaccedilatildeo do meacutedico

A escolha pela carreira meacutedica eacute muitas vezes feita de forma precoce Em pesquisa

realizada pela equipe do Grupo de Assistecircncia Psicoloacutegica ao Aluno da Faculdade de

Medicina da Universidade de Satildeo Paulo (GRAPAL) Millan e Arruda (2008) identificaram

que 92 dos alunos escolheram a profissatildeo meacutedica na infacircncia e na adolescecircncia e que foram

necessaacuterias duas ou mais tentativas para conseguir ingressar no curso de Medicina Apenas

27 dos alunos foi aprovado na primeira tentativa para entrar na faculdade Talvez aqueles

que escolhem ldquoser meacutedicosrdquo natildeo compreendam a trama emocional de exigecircncias sacrifiacutecios

modelos e idealizaccedilotildees com as quais iratildeo se deparar

Os alunos ao ingressarem na universidade defrontam-se com os problemas

relacionados agrave praacutetica e precisam lidar com vaacuterios desafios dentre eles o sofrimento humano

De acordo com Kovaacutecs (2003) em vaacuterios momentos da trajetoacuteria de sua formaccedilatildeo o

estudante percebe-se surpreso com reaccedilotildees ateacute entatildeo desconhecidas e considerando a

distacircncia do mundo do treino e do mundo da praacutetica aquilo que menos se aprende eacute aquilo

que mais seraacute requisitado em seu dia a dia quando estiver diante do sofrimento do outro Para

o autor a formaccedilatildeo meacutedica eacute um treinamento que objetiva retirar do aluno quaisquer

resquiacutecios de emoccedilatildeo diante do paciente

O que autores como Mascia et al (2009) Marco (2009) e Silva (2007) revelam em

seus estudos eacute que durante a formaccedilatildeo do meacutedico o aluno passa a desenvolver

comportamentos riacutegidos e estereotipados Com poucos recursos para lidar com o sofrimento

ele transforma a exclusatildeo das emoccedilotildees principalmente por conta dos mecanismos

psicoloacutegicos de defesa em uma teacutecnica necessaacuteria para o bom desempenho do meacutedico

Esforccedilos constantes tecircm sido empregados em algumas faculdades de Medicina para a

implantaccedilatildeo de meacutetodos e teacutecnicas que propiciem apoio e ajuda psicoloacutegica mas os

estudantes ainda satildeo reticentes em participar desse tipo de iniciativa

39

Ao desenvolver um meacutetodo de intervenccedilatildeo psicoloacutegica em grupos para estimular a

comunicaccedilatildeo natildeo verbal nos estudantes de Medicina e residentes e para favorecer a relaccedilatildeo

com o paciente Wahba (2001) concluiu que apesar dos mecanismos de defesa psicoloacutegicos

encontrados em parte desenvolvidos durante a formaccedilatildeo meacutedica houve indiacutecios de mudanccedila

de atitude ressaltando a importacircncia da continuidade de tais meacutetodos psicoloacutegicos na

educaccedilatildeo meacutedica

O papel profissional eacute revisto eou amadurecido quando se efetuam

novas elaboraccedilotildees e conscientizaccedilotildees sobre a identidade profissional e

sobre a maneira de se relacionar com colegas e pacientes (WAHBA

2001 p 8)

Ramos-Cerqueira e Lima (2002) ressaltam que as reformas curriculares feitas nos

uacuteltimos anos ainda satildeo insuficientes para auxiliar os alunos a elaborarem a diversidade de

embates afetivos com os quais precisaratildeo lidar e alertam que o ensino meacutedico que natildeo refletir

sobre o ser humano participaraacute de modo altamente prejudicial nas deformaccedilotildees adaptativas

do futuro profissional Como alerta Groopman (2008) os meacutedicos que natildeo considerarem as

emoccedilotildees deixaratildeo de se preocupar com o paciente

As primeiras reaccedilotildees dos meacutedicos em relaccedilatildeo aos seus pacientes segundo Croskerry

Abbass e Wu (2010) satildeo muitas vezes reaccedilotildees emocionais que ocorrem de forma automaacutetica

e que influenciam posteriormente o processamento de informaccedilotildees julgamento e tomada de

decisatildeo De acordo com os autores o estado emocional do meacutedico pode ser influenciado por

fatores que incluem as caracteriacutesticas e a interaccedilatildeo com o paciente e as condiccedilotildees do

ambiente

Com o objetivo de determinar quais circunstacircncias e comportamentos dos pacientes

despertam maior reaccedilatildeo emocional nos meacutedicos Smith e Zimny (1988) observaram que a

maior reaccedilatildeo emocional resultou de ameaccedilas agrave integridade do meacutedico ou agrave autoestima e que

essas respostas natildeo esmoreciam com a experiecircncia

O meacutedico natildeo pode desconhecer os seus limites suas possibilidades e seus

sentimentos inclusive aqueles dirigidos a seus pacientes De acordo com Mello Filho (2006)

a imaturidade emocional pode comprometer a habilidade do meacutedico de cumprir seus deveres

e isso traz repercussotildees na relaccedilatildeo meacutedico-paciente e na praacutetica meacutedica

De acordo Meier Back e Morrison (2001) meacutedicos tecircm respostas emocionais agraves

necessidades do paciente e isso reflete na forma como eles (os meacutedicos) vatildeo lidar com

situaccedilotildees que poderatildeo desencadear sentimentos de fracasso e frustraccedilatildeo quando a doenccedila do

paciente progride Para os autores os meacutedicos devem aumentar a autoconsciecircncia o que

inclui identificar e trabalhar com as emoccedilotildees que podem afetar o atendimento do paciente

40

As emoccedilotildees do meacutedico do paciente e as que resultam de suas interaccedilotildees satildeo uma

constante nos encontros cliacutenicos De acordo com Salgado (2008) o trabalho do meacutedico deve

prever que no encontro meacutedicos e pacientes experimentem sensaccedilotildees gratificantes mas

tambeacutem sensaccedilotildees de incocircmodo ansiedade frustraccedilatildeo e outros sentimentos negativos de

ambas as partes

O momento da consulta eacute um momento de interaccedilatildeo entre duas pessoas que

transportam emoccedilotildees e o cuidado que o meacutedico deve ter eacute o de natildeo as potencializar Seu

grande desafio estaacute no seu reconhecimento na sua gestatildeo fazendo das emoccedilotildees um

instrumento uacutetil para a prestaccedilatildeo de cuidados

Mas como os meacutedicos podem usar suas emoccedilotildees e experiecircncias pessoais em um

melhor serviccedilo prestado a seus pacientes Foi a pergunta que Malterud e Hollnagel (2005)

fizeram baseados na constataccedilatildeo de que a confianccedila muacutetua estava baseada na presunccedilatildeo de

que as informaccedilotildees relevantes e as emoccedilotildees devem ser compartilhadas Os autores exploraram

os eventos cliacutenicos durante os quais a vulnerabilidade e as emoccedilotildees do meacutedico apareceram

durante o encontro com o paciente e foram percebidas de forma positiva por ele Concluiacuteram

que a divulgaccedilatildeo pessoal e emocional sob certas condiccedilotildees constitui um aspecto positivo da

vulnerabilidade que favorece o atendimento das necessidades do paciente Cabe assinalar que

nem sempre a vulnerabilidade eacute algo positivo na relaccedilatildeo profissional jaacute que seria inadequado

o meacutedico expor sua fragilidade e abalar a confianccedila do paciente Os papeacuteis natildeo podem ser

invertidos

Meacutedicos podem abalar a relaccedilatildeo de confianccedila quando natildeo estatildeo abertos a situaccedilotildees

inesperadas Greenfield et al (2012) estudaram como os meacutedicos reagem agrave busca de uma

segunda opiniatildeo por seus pacientes Os resultados mostraram que os meacutedicos se sentem

vulneraacuteveis e preocupados com sua imagem e ficam por vezes decepcionados ofendidos

envergonhados e ressentem-se de seus pacientes podendo criar um conflito Para os autores

meacutedicos e pacientes podem se beneficiar da busca de uma segunda opiniatildeo que pode

fortalecer e ampliar a relaccedilatildeo meacutedico-paciente em vez de enfraquececirc-la

A hipoacutetese eacute que a temperatura emocional do meacutedico desempenha um papel

substancial na falha ou no sucesso do diagnoacutestico e do tratamento Para cuidar do paciente o

meacutedico precisa unir as competecircncias teacutecnicas e emocionais reconhecer e gerir suas emoccedilotildees e

compreender que o seu estado emocional pode influenciar o diagnoacutestico e a decisatildeo de

tratamento

41

411 Estresse em meacutedicos

A sauacutede fiacutesica e mental dos meacutedicos tem se tornado uma grande preocupaccedilatildeo nos

uacuteltimos anos Poreacutem apesar dos incentivos por parte da classe meacutedica e das discussotildees sobre

o tema os resultados em relaccedilatildeo aos programas de prevenccedilatildeo ainda satildeo baixos

De acordo com Lipp (2000) o estresse eacute uma reaccedilatildeo do organismo a situaccedilotildees

ameaccediladoras que exigem grandes mudanccedilas e adaptaccedilotildees Segundo a autora o estresse

possui uma fase positiva que pela produccedilatildeo e accedilatildeo da adrenalina torna a pessoa mais atenta e

motivada Poreacutem quando a pessoa eacute mantida por periacuteodos muito prolongados de tensatildeo e

novos estressores se acumulam a produtividade cai dramaticamente chegando a niacuteveis em

que haacute queda de resistecircncia fiacutesica e emocional em que doenccedilas graves podem ocorrer

tornando-se mais difiacutecil trabalhar e concentrar-se

Meacutedicos que natildeo estatildeo bem fiacutesica e psicologicamente podem fornecer cuidados

abaixo do ideal

De acordo com Croskerry Abbass e Wu (2010) estresse e fadiga satildeo conhecidos por

produzirem intoleracircncia irritabilidade e outras alteraccedilotildees de humor que podem exercer uma

influecircncia no julgamento As influecircncias diretamente resultantes da interaccedilatildeo com o paciente

tecircm relaccedilatildeo com os efeitos da contratransferecircncia e com o fato de natildeo saber reconhecer suas

emoccedilotildees O humor clinicamente significativo como ansiedade ou distuacuterbios emocionais

como transtornos depressivos tambeacutem satildeo influecircncias importantes

Knesebeck et al (2010) analisaram o estresse em 1311 meacutedicos de 489 hospitais na

Alemanha e concluiacuteram que esse grupo sofre mais estresse no trabalho do que outros grupos

profissionais Concluiacuteram que vinte e dois por cento (22) deles tinham alta tensatildeo no

trabalho e que cerca de um quinto deles pensaram em desistir da profissatildeo pelo menos uma

vez no uacuteltimo mecircs Quarenta e quatro por cento (44) deles consideraram que a qualidade do

atendimento ao paciente era agraves vezes ou muitas vezes prejudicada por uma carga de trabalho

excessiva

Com o objetivo de investigar as causas do estresse psicoloacutegico em 448 cliacutenicos gerais

na Nova Zelacircndia Dowell et al (2002) observaram que a papelada excessiva a burocracia

problemas na consulta pressotildees de tempo e a necessidade de conciliar o trabalho com a vida

familiar foram os fatores mais citados

As pesquisas relacionadas abaixo utilizaram o mesmo inventaacuterio deste estudo o

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

42

Fraga (2004) ao investigar os meacutedicos que trabalhavam em unidades da Secretaria

Municipal de Sauacutede de Goiacircnia concluiu que 72 dos meacutedicos apresentaram estresse e 22

se encontravam em fase de quase-exaustatildeo Em 43 dos meacutedicos considerados estressados

houve predomiacutenio de sintomas psicoloacutegicos Dentre os estressores possiacuteveis identificaram os

problemas relacionados agraves demandas do trabalho e agraves caracteriacutesticas proacuteprias do trabalho

meacutedico Os sintomas psicoloacutegicos mais marcantes apresentados pelos meacutedicos com estresse

foram irritabilidade excessiva (826) diminuiccedilatildeo da libido (522) e sensibilidade emotiva

excessiva (522)

Carvalho L (2007) analisou o iacutendice de estresse em 20 meacutedicos e os resultados

mostraram que 45 apresentaram sintomas de estresse e todos estavam na fase de resistecircncia

Predominaram os sintomas psicoloacutegicos Os estressores mais apontados pelos meacutedicos foram

a necessidade de concentraccedilatildeo intensa o trabalho repetitivo o horaacuterio e tempo de jornada o

fato de natildeo tirarem dias de folga e a falta de perspectivas para o desenvolvimento

Ao investigarem o estresse em 58 meacutedicos do Programa Sauacutede da Famiacutelia do

municiacutepio de MaceioacuteAL Soares et al (2011) concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos

apresentaram estresse e a maioria 54 estaria na fase de resistecircncia

Katsurayama et al (2011) avaliaram 33 meacutedicos dos hospitais universitaacuterios da cidade

de Manaus a maioria composta por cirurgiotildees e anestesiologistas e apenas 123

apresentaram estresse

A cronificaccedilatildeo do estresse pode desencadear problemas seacuterios como eacute o caso do

burnout Segundo Benevides-Pereira e Gonccedilalves (2009) a siacutendrome de burnout eacute uma

reaccedilatildeo agrave tensatildeo emocional crocircnica por ter que lidar excessivamente com pessoas e eacute a

maneira encontrada de enfrentar mesmo que de forma inadequada a cronificaccedilatildeo do estresse

ocupacional Sobrevecircm quando falham outras estrateacutegias para lidar com o estresse

42 AS EMOCcedilOtildeES DO MEacuteDICO E A PERCEPCcedilAtildeO DO PACIENTE

Um dos grandes problemas que o meacutedico enfrenta eacute que com o tempo de praacutetica ele

pode vir a agir de forma automaacutetica sem questionar-se Nessa accedilatildeo automaacutetica os meacutedicos

podem natildeo perceber que na base deste automatismo pode existir uma forte emoccedilatildeo em relaccedilatildeo

a um paciente

As emoccedilotildees principalmente as negativas podem embaccedilar o raciociacutenio do meacutedico e

provocar erros Podem ser erros de representatividade quando o raciociacutenio eacute guiado por um

43

protoacutetipo e o meacutedico deixa de considerar a possibilidade de contradizer esse modelo

atribuindo os sintomas agrave causa errada ou erros de atribuiccedilatildeo7 quando os pacientes se

encaixam em um protoacutetipo negativo (GROOPMAN 2008)

Historicamente a visatildeo predominante na Medicina eacute a de que decisotildees cliacutenicas devem

ser objetivas e livres de comprometimento afetivo Entretanto segundo Croskerry Abbass e

Wu (2008) afetos estatildeo presentes em quase todas as decisotildees tomadas e por isso o seu papel

e a compreensatildeo de seu funcionamento satildeo de essencial importacircncia na tomada da decisatildeo

cliacutenica

Erros processuais muitas vezes satildeo facilmente identificaacuteveis O mesmo natildeo acontece

com os erros cognitivos ou emocionais que satildeo menos visiacuteveis e os que os cometem natildeo

parecem identificaacute-los ou perceber seus impactos

A qualidade do cuidado que um paciente recebe depende da competecircncia e da

capacidade de comunicaccedilatildeo do meacutedico do conhecimento teacutecnico mas tambeacutem das atitudes e

percepccedilotildees que ele tem de seus pacientes

Os pacientes iratildeo provocar respostas afetivas em seus meacutedicos e essas poderatildeo ser

positivas mas poderatildeo tambeacutem ser negativas Podem levar os meacutedicos a referirem-se a

pacientes utilizando roacutetulos como por exemplo questionadores difiacuteceis ou heartsink

A comunicaccedilatildeo problemaacutetica entre meacutedicos e pacientes segundo Seaburn et al

(2005) eacute comum na atenccedilatildeo primaacuteria diante de sintomas sem explicaccedilatildeo meacutedica Essas

dificuldades de comunicaccedilatildeo muitas vezes levam a rotular pacientes como ldquodifiacuteceisrdquo

De acordo com Balint (1988) meacutedicos percebem os pacientes difiacuteceis como aqueles

que demandam mais do seu tempo causam irritaccedilatildeo frustraccedilatildeo e ansiedade por alguma

conduta principalmente aquelesque demonstram insatisfaccedilatildeo com o cuidado e desconfianccedila

Do ponto de vista da relaccedilatildeo o meacutedico vecirc o paciente difiacutecil como aquele que natildeo eacute

satisfeito com o atendimento tem atitudes exigentes e manipuladoras (ELDER RICER e

TOBIAS 2006 e HAHN et al 1994) ou satildeo rudes agressivos e buscam ganho secundaacuterio

(STEINMETZ e TABENKIN 2001)

Algumas pesquisas mostram que os pacientes percebidos como difiacuteceis podem

impactar negativamente na decisatildeo meacutedica e nas emoccedilotildees dos meacutedicos Segundo Smith

(1995) as consultas com pacientes difiacuteceis resultam em menor concentraccedilatildeo na efetividade de

7 ldquoErro de atribuiccedilatildeordquo eacute um termo utilizado na psicologia social e consiste em um processo de interpretaccedilatildeo no

qual o julgamento e a inferecircncia satildeo tomados por um vieacutes que fundamentalmente conduz a julgamentos

negativos em relaccedilatildeo ao comportamento dos outros (ROSS AMABILE E STEINMETZ 1977)

44

cuidados desperdiacutecio de energia pelo meacutedico reclamaccedilotildees e manutenccedilatildeo dos problemas de

sauacutede do paciente

Kushnir et al (2011) ao avaliarem como as emoccedilotildees negativas podem prejudicar a

qualidade dos cuidados ao paciente concluiacuteram que o humor negativo diminuiu o tempo de

conversa com o paciente e aumentou a prescriccedilatildeo de medicamentos e encaminhamentos a

especialistas

De acordo com Teo Du e Escobar (2013) o paciente eacute considerado difiacutecil nem tanto

por sua complexidade cliacutenica mas pelas repercussotildees na interaccedilatildeo meacutedico-paciente pois ao

expressarem insatisfaccedilatildeo podem desencadear no meacutedico frustraccedilatildeo cansaccedilo e esgotamento

Semelhante ao estudo de Garriga et al (2003) que tambeacutem observou que os sentimentos que

os pacientes difiacuteceis geram nos meacutedicos satildeo predominantemente irritabilidade e frustraccedilatildeo

Segundo Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) o meacutedico deve compreender que

na relaccedilatildeo com o paciente difiacutecil os problemas natildeo cabem exclusivamente aos pacientes

Os meacutedicos devem analisar o encontro para identificar as causas por traacutes deles De acordo

com Lorenzetti et al (2013) encontros difiacuteceis podem estar associados ao meacutedico ao

paciente ou a ambos

De Marco (2005) observou que natildeo satildeo primordialmente as caracteriacutesticas do paciente

que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas algumas percepccedilotildees e

caracteriacutesticas dos meacutedicos apontando para a importacircncia de uma atenccedilatildeo ao preparo dos

profissionais

Embora haja muitos artigos sobre gestatildeo de pacientes ldquodifiacuteceisrdquo Halpern (2007)

observa a pouca atenccedilatildeo que tem sido dada ao desafio que o meacutedico enfrenta durante conflitos

com os pacientes especialmente quando haacute sentimentos negativos em relaccedilatildeo a eles Para o

autor a praacutetica da Medicina exige cada vez mais que meacutedicos aprendam a gerir os seus

proacuteprios sentimentos de raiva e frustraccedilatildeo e desenvolver a habilidade de identificar suas

proacuteprias reaccedilotildees emocionais

Da mesma maneira que o meacutedico deve gerir os impactos das emoccedilotildees negativas na

interaccedilatildeo com o paciente haacute tambeacutem a gestatildeo do impacto das emoccedilotildees positivas

Haacute poucas pesquisas realizadas para identificar o paciente que eacute visto como positivo

pelo meacutedico

Gulbrandsen et al (2012) identificaram que os meacutedicos tiveram dificuldade para

identificar o afeto positivo e a satisfaccedilatildeo do paciente

45

O paciente valorizado pelo meacutedico em pesquisa realizada por OrsquoRiordana et al

(2008) possui como caracteriacutestica ser simpaacuteticoagradaacutevel desafiador envolvido na relaccedilatildeo

interessado e suscitar no meacutedico emoccedilotildees positivas pela sensaccedilatildeo de reconhecimento

De acordo com Isen (2001) o afeto positivo desempenha um papel regulador nos

processos cognitivos tem influecircncia sobre o pensamento e facilita a criatividade a

flexibilidade e promove a generosidade Segundo a autora os meacutedicos precisariam ver o

paciente como um consumidor preocupar-se com a sua satisfaccedilatildeo e compreender que seu

humor ou estado afetivo interfere na satisfaccedilatildeo de seu paciente

Em dois estudos realizados por Isen Rosenzweig e Young (1991) e Estrada Isen e

Young (1997) os pesquisadores relataram que o afeto positivo intensificou a relaccedilatildeo e o

envolvimento do meacutedico com o seu trabalho e com o paciente tornando-os mais flexiacuteveis

cuidadosos e mais motivados

43 AS EMOCcedilOtildeES NA RELACcedilAtildeO MEacuteDICO-PACIENTE

Ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de que se estaacute inserido em uma relaccedilatildeo

em que a personalidade constitui um fator determinante para o tratamento do paciente Como

Balint (1988) assinala ldquoo meacutedico eacute um medicamentordquo e natildeo podemos nos privar do

conhecimento de sua farmacologia

Qualquer que seja a atitude adotada pelo meacutedico ela influiraacute

permanentemente em sua relaccedilatildeo com o paciente em questatildeo [] esse

tipo de desenvolvimento reveste-se de grande importacircncia emocional

para o meacutedico (BALINT 1988 p 189)

De acordo com De Marco (2012) a percepccedilatildeo e o manejo das questotildees emocionais

envolvidas na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo profissional-paciente podem equacionar grande parte

dos conflitos que se instalam como decorrecircncia do trabalho com pacientes que buscam se

informar e participar mais ativamente dos cuidados com sua sauacutede

Fernandes (1993) enfatiza que inevitavelmente existe afetividade na relaccedilatildeo meacutedico e

paciente uma vez que esta eacute uma caracteriacutestica inerente a um contato entre pessoas e que por

mais que os meacutedicos procurem manter um distanciamento os sentimentos como afeiccedilatildeo

empatia antipatia aversatildeo medo compaixatildeo e erotismo estaratildeo sempre presentes

Roter et al (2006) demonstram quatildeo necessaacuterio eacute para o meacutedico ater-se agrave

comunicaccedilatildeo verbal mas tambeacutem agrave comunicaccedilatildeo natildeo verbal jaacute que eacute principalmente por

meio desta que o paciente perceberaacute as emoccedilotildees e os fenocircmenos relacionados com os

46

humores e os sentimentos A tese dos autores eacute que o relacionamento meacutedico-paciente eacute um

fenocircmeno no qual a comunicaccedilatildeo de conhecimentos especializados e a emoccedilatildeo satildeo centrais

Para os autores meacutedicos e pacientes durante o encontro meacutedico trazem percepccedilotildees de

emoccedilotildees de seus respectivos domiacutenios de conhecimento e vivecircncias Esses processos satildeo

transportados e repercurtem nos cuidados e nos processos por meio da comunicaccedilatildeo verbal e

natildeo verbal Meacutedicos e pacientes satildeo influenciados por emoccedilotildees que experimentaram no

passado emoccedilotildees que eles sentem no presente na interaccedilatildeo com o outro e emoccedilotildees que

antecipam no futuro

Segundo Rossi-Barbosa (2010) o meacutedico deve estar mais atento agrave mensagem que

transmite ao paciente principalmente com relaccedilatildeo a sua postura seus gestos e sua aparecircncia

jaacute que esses aspectos satildeo percebidos pelo paciente e satildeo determinantes na sensaccedilatildeo de

confianccedila Para o autor os pacientes preferem meacutedicos com o perfil mais tradicional com

roupas brancas cabelos aparados e sem acessoacuterios A maioria dos pacientes (692) disse que

natildeo se consultaria com um meacutedico de comportamento rude mesmo sendo famoso e bem

conceituado e 923 disseram que um meacutedico alegre e sorridente auxiliaria na recuperaccedilatildeo

Wahba (2001) ao discutir a falha da comunicaccedilatildeo entre meacutedicos e pacientes grande

gerador de conflito constatou que o desencontro entre paciente e meacutedico jaacute existe antes

mesmo do encontro cliacutenico propriamente dito

Em um encontro cliacutenico paciente e meacutedico jaacute construiacuteram imagens e expectativas de

uma interaccedilatildeo que ainda natildeo comeccedilou Em uma comunicaccedilatildeo as percepccedilotildees satildeo variadas e

sofrem natildeo soacute influecircncia da proacutepria relaccedilatildeo mas da imagem (ou imaginaacuterio) A forma como o

meacutedico vecirc seu paciente e como o paciente vecirc o meacutedico vai moldar essa relaccedilatildeo

431 A interferecircncia dos afetosemoccedilotildees na relaccedilatildeo

Ao analisarem consultas gravadas entre meacutedicos e pacientes Roter et al (2006)

observaram que a maioria dos pacientes captou a emotividade do meacutedico e teve suas respostas

determinadas pelo modo como o meacutedico fazia uma pergunta e o modo como reagia as suas

emoccedilotildees

Em um estudo com 29 meacutedicos e 207 pacientes de dez ambulatoacuterios Street Gordon e

Haidet (2007) avaliaram se a comunicaccedilatildeo dos meacutedicos era influenciada pela participaccedilatildeo do

paciente na consulta Meacutedicos mais centrados no paciente percebiam-nos como mais

satisfeitos e mais propensos a aderir ao tratamento Esses meacutedicos foram mais favoravelmente

47

percebidos pelos pacientes que expressaram afetos positivos e envolvimento Os meacutedicos

foram mais controversos com pacientes que eles perceberam como menos satisfeitos Foi

determinado nesse estudo que existem quatro fontes de influecircncia no atendimento ao

paciente o estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico as caracteriacutesticas dos pacientes a concordacircncia

sociodemograacutefica meacutedico-paciente e a comunicaccedilatildeo do paciente A forma como um meacutedico

percebia o paciente (simpaacutetico inteligente aderente) estava relacionada agrave forma como o

meacutedico tratava o paciente

Caprara e Rodrigues (2004) avaliaram durante trecircs anos a relaccedilatildeo meacutedico-paciente no

Programa de Sauacutede da Famiacutelia no Cearaacute por meio da anaacutelise de 400 consultas e 20 meacutedicos

A pesquisa mostrou que no comeccedilo da consulta quase todos os meacutedicos tentavam estabelecer

uma relaccedilatildeo empaacutetica com o paciente mas no decorrer do encontro uma seacuterie de problemas

surgiam e 391 dos meacutedicos natildeo explicaram de forma clara e compreensiva o problema para

seus pacientes em 58 das consultas os meacutedicos natildeo verificaram o grau de entendimento do

paciente sobre o diagnoacutestico e na maioria das consultas (9145) os meacutedicos natildeo abordaram

os medos e ansiedades dos pacientes entre outros aspectos emocionais Os autores

observaram que quando o meacutedico demonstrou natildeo estar aberto ao diaacutelogo natildeo existia o

favorecimento e o desenvolvimento da autonomia dos pacientes A maioria das queixas e

insatisfaccedilotildees dos pacientes esteve ligada agrave comunicaccedilatildeo com o meacutedico e natildeo a sua

competecircncia cliacutenica O estudo enfatiza que existe na interaccedilatildeo um componente afetivo que

modifica a relaccedilatildeo o que natildeo invalida a possibilidade de reclamaccedilatildeo por incompetecircncia

Cox et al (2007) avaliaram a precisatildeo e o impacto das percepccedilotildees de meacutedicos e de

seus pacientes sobre o desejo de envolvimento na decisatildeo sobre o tratamento As anaacutelises

foram realizadas em 190 pares de paciente-meacutedico Um total de 479 pacientes participou da

pesquisa 39 desses pacientes queriam que seus meacutedicos compartilhassem a decisatildeo 45

queriam que o meacutedico fosse o principal (28) ou o uacutenico (17) decisor sobre seus cuidados

e 16 queriam ser o principal (14) ou o uacutenico decisor (2) Meacutedicos avaliaram com

precisatildeo em 32 das consultas estudadas A pesquisa mostrou que os pacientes natildeo

costumam atingir o seu niacutevel preferido de envolvimento e que meacutedicos fazem avaliaccedilotildees

precisas das preferecircncias sobre envolvimento na decisatildeo em apenas um terccedilo dos casos

Croitor (2010) analisou a percepccedilatildeo de pacientes a respeito do comportamento

comunicativo do meacutedico O estudo contou com 106 pacientes cadastrados no Hospital das

Cliacutenicas da Universidade Federal de Minas Gerais e com dez meacutedicos auxiliares desse centro

de atendimento Uma das conclusotildees da pesquisa foi que os meacutedicos perceberam seu

comportamento comunicativo de uma forma mais positiva do que seus pacientes e que a

48

atitude do meacutedico em relaccedilatildeo ao paciente guardava relaccedilatildeo com a percepccedilatildeo dos pacientes

sobre o comportamento comunicativo do meacutedico Na relaccedilatildeo e na comunicaccedilatildeo meacutedico-

paciente a percepccedilatildeo do paciente foi especialmente influenciada pelas experiecircncias

pregressas de encontros com outros meacutedicos

Mast et al (2008) testaram o impacto do estilo do meacutedico ldquocuidadoratenciosordquo ou

ldquodominanterdquo sobre as percepccedilotildees dos participantes Estudantes universitaacuterios (167) fizeram o

papel do paciente e interagiram com um meacutedico gerado por computador virtual que

apresentou condiccedilotildees experimentais no estilo do meacutedico Meacutedicos dominantes reduziram o

engajamento do paciente no diaacutelogo e produziram submissatildeo ao passo que meacutedicos

ldquocuidadoresatenciososrdquo aumentaram a emotividade do paciente A pesquisa mostrou que o

estilo de comunicaccedilatildeo do meacutedico afetou a percepccedilatildeo e o comportamento dos pacientes

Natildeo se trata aqui de avaliar se o aumento de emotividade do paciente no encontro

cliacutenico eacute ou natildeo saudaacutevel mas de perceber que meacutedicos mais atenciosos tiveram como

resposta um aumento da emotividade do paciente

Street e Haidet (2011) ao compararem as percepccedilotildees dos meacutedicos sobre o estado de

sauacutede de seus pacientes e a avaliaccedilatildeo do proacuteprio paciente identificaram uma diferenccedila

significativa entre as percepccedilotildees de ambos Os autores ressaltam que os meacutedicos muitas vezes

tecircm uma maacute compreensatildeo de seus pacientes e isso pode influenciar a sua comunicaccedilatildeo e a

tomada de decisatildeo

44 A EMOCcedilAtildeO E OS PROCESSOS DE DECISAtildeO

Haacute na literatura meacutedica estudos sobre modelos de decisotildees meacutedicas que fornecem

explicaccedilotildees sobre como os meacutedicos pensam avaliam julgam e tomam decisotildees que impactam

diretamente no cuidado do paciente As situaccedilotildees que envolvem a decisatildeo meacutedica satildeo

variadas e a gama de informaccedilotildees e possibilidades torna muito difiacutecil o entendimento de

como funciona esse processo

O desenvolvimento dos modelos de raciociacutenio meacutedico foi influenciado por trabalhos

na aacuterea da tomada de decisatildeo que se desenvolveram fortemente em outras aacutereas

principalmente para a resoluccedilatildeo de problemas complexos

Decidir eacute escolher e isso supotildee a identificaccedilatildeo do problema uma avaliaccedilatildeo a anaacutelise

com hipoacuteteses e previsotildees de resultados que satildeo feitas atraveacutes de uma estrateacutegia de

raciociacutenio com base em dados informaccedilotildees e conhecimento Os meacutedicos utilizam esses

49

passos ao fazer um diagnoacutestico ao tomar uma decisatildeo terapecircutica e ao reconhecer e

compreender o processo de uma doenccedila

A cogniccedilatildeo meacutedica baseia-se em como os processos cognitivos tais como percepccedilatildeo

compreensatildeo tomada de decisatildeo e resoluccedilatildeo de problemas desenvolvem-se na praacutetica

meacutedica Haacute muito tempo se discutem os modelos de raciociacutenio meacutedico e devido ao aumento

de relatos sobre erros meacutedicos a necessidade de se compreender esse processo na praacutetica

cliacutenica tem se intensificado

Segundo Patel Kaufman e Arocha (2002) haacute uma consciecircncia crescente de que a

forma como as decisotildees meacutedicas satildeo tomadas desencadeia muitas vezes resultados de

qualidade inferior levando a consequecircncias adversas para o paciente

De acordo com Groopman (2008) a maioria dos erros que os meacutedicos cometem deve-

se a falhas de raciociacutenio cliacutenico e a armadilhas cognitivas causadas pelas suposiccedilotildees feitas

logo no iniacutecio da interaccedilatildeo com o paciente natildeo mais se questionando sobre elas mesmo

quando as pistas indicam uma necessidade de reavaliaccedilatildeo Para o autor todo meacutedico comete

erros de diagnoacutestico e de tratamento mas esses erros poderiam ser reduzidos mediante a

compreensatildeo das estrateacutegias de pensamento e suas influecircncias

O modelo mais utilizado nas estrateacutegias de pensamento e o mais estudado para a

decisatildeo cliacutenica eacute o meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo Esse meacutetodo possui uma sequecircncia que se

inicia com a geraccedilatildeo de hipoacuteteses de diagnoacutestico logo no iniacutecio do exame e desencadeia

todas as fases dos testes cliacutenicos Apoacutes a geraccedilatildeo de hipoacuteteses o meacutedico por meio de uma

avaliaccedilatildeo confirma ou elimina suas suposiccedilotildees e refina sua estrateacutegia utilizando a

probabilidade como recurso antes de finalizar com a verificaccedilatildeo validando a hipoacutetese inicial

Na literatura meacutedica eacute comum encontrar fatores que meacutedicos consideram importantes

ao gerar hipoacuteteses Os mais citados satildeo a prevalecircncia da doenccedila a heuriacutestica e a acuidade A

prevalecircncia da doenccedila eacute um mecanismo importante mas natildeo pode ser o uacutenico jaacute que isso leva

a considerar uma gama de etiologias A heuriacutestica possibilita que os meacutedicos selecionem as

hipoacuteteses baseados em seu conhecimento e a acuidade pode revelar dados importantes do

paciente se o meacutedico tiver uma percepccedilatildeo apurada (GROOPMAN 2008 PATEL

KAUFMAN e AROCHA 2002 KOVACS e CROSKERRY 1999)

Uma parte significativa do esforccedilo cognitivo de um meacutedico baseia-se no pensamento

heuriacutestico o qual provecirc atalhos que selecionam de forma raacutepida uma soluccedilatildeo ou um

diagnoacutestico mais proacuteximo do possiacutevel dentro do quadro apresentado De acordo com

Groopman (2008) esses atalhos cognitivos precisam ser utilizados na temperatura emocional

50

ideal ou seja o meacutedico precisa estar consciente de qual heuriacutestica estaacute utilizando e como suas

emoccedilotildees podem influenciaacute-la

Para Patel Arocha e Zhang (2004) o raciociacutenio em um contexto meacutedico envolvendo

uma populaccedilatildeo numerosa e um alto grau de incerteza agravada com as restriccedilotildees impostas

pela disponibilidade de recursos leva a uma maior utilizaccedilatildeo de estrateacutegias heuriacutesticas A

heuriacutestica impacta significativamente no processo de tomada de decisotildees Segundo Patel

Kaufman e Arocha (2002) apesar de sua utilidade eacute necessaacuterio ser cauteloso quanto ao seu

uso Essas decisotildees muitas vezes introduzem vieses resultando em uma seacuterie de erros

sistemaacuteticos que conduzem a julgar de forma errada Aleacutem disso consideram variaacuteveis que

deveriam ser ignoradas e ignoram variaacuteveis que satildeo dignas de atenccedilatildeo

Fixar-se em um diagnoacutestico leva o meacutedico a utilizar aquilo que nos modelos de

decisatildeo eacute chamado de ldquoancoragemrdquo A ancoragem eacute utilizada quando uma pessoa natildeo avalia

muacuteltiplas possibilidades aferrando-se rapidamente a uma uacutenica com a certeza de que estaacute

trabalhando com o diagnoacutestico correto Eacute importante considerar esse ponto jaacute que segundo

alguns autores como Kovacs e Croskerry (1999) os erros cognitivos geralmente ocorrem na

geraccedilatildeo de hipoacuteteses e a heuriacutestica provavelmente contribui para esses erros principalmente

quando haacute uma ldquoancoragemrdquo e falha na verificaccedilatildeo

De acordo com Croskerry (2002) a heuriacutestica eacute uma estrateacutegia adaptada agraves limitaccedilotildees

de tempo e de recursos mas precisa ser utilizada com cautela pois pode gerar se o meacutedico

natildeo tiver clareza da natureza dos sintomas erros de diagnoacutestico

Jaacute que os meacutedicos necessitam do recurso da heuriacutestica devido agrave incerteza que faz parte

da praacutetica meacutedica precisam reconhecer que satildeo estrateacutegias para lidar com o imprevisiacutevel e

por isso contecircm os riscos e as armadilhas pertinentes ao desconhecido e ao incerto A forma

como utilizam os modelos de tomada de decisatildeo influenciam a sua forma de pensar e refletem

no cuidado do paciente Tornar-se consciente desse processo eacute necessaacuterio para que o meacutedico

possa corrigir erros de julgamento ou erros cognitivos que decorrem de inferecircncias

Sisson et al (1991) ao examinarem os efeitos da experiecircncia sobre a geraccedilatildeo de

hipoacuteteses e a avaliaccedilatildeo analisaram como os especialistas de diferentes aacutereas e estudantes de

medicina diferiam em termos de nuacutemero especificidade e amplitude de hipoacuteteses diagnoacutesticas

geradas no iniacutecio do processo avaliativo Os autores argumentaram que essas hipoacuteteses

iniciais embora modificadas por dados subsequentes tiveram uma grande influecircncia sobre o

processo de diagnoacutestico final

Os resultados mostraram que em meacutedia os estudantes de medicina geravam mais

hipoacuteteses do que os meacutedicos e que as hipoacuteteses dos meacutedicos eram mais gerais se comparadas

51

agraves dos estudantes Os autores perceberam que o fato de os meacutedicos gerarem menos hipoacuteteses

especiacuteficas poderia refletir uma consciecircncia aprendida ou uma evoluccedilatildeo no raciociacutenio

intuitivo Para os autores hipoacuteteses especiacuteficas podem ser vistas como uma armadilha que

reduz as opccedilotildees disponiacuteveis para levar a um diagnoacutestico correto porque se baseiam em dados

limitados e podem resultar numa forma de fechamento prematuro do diagnoacutestico

A visatildeo tradicional do raciociacutenio meacutedico que supotildee que a inferecircncia diagnoacutestica segue

um processo hipoteacutetico-dedutivo de tirar conclusotildees por teste de hipoacuteteses baseadas em

evidecircncias cliacutenicas tem sido desafiada a partir de vaacuterios pontos

De acordo com Patel Arocha e Zhang (2004) geralmente se concorda que existem

duas formas baacutesicas de raciociacutenio o dedutivo em que a conclusatildeo evidencia ou reformula o

que foi levantado pelas premissas e o indutivo em que a conclusatildeo enuncia algo que supera a

informaccedilatildeo contida na premissa No entanto o raciociacutenio no mundo real natildeo parece se

encaixar perfeitamente em nenhum desses tipos baacutesicos Uma terceira forma de raciociacutenio em

que a deduccedilatildeo e a induccedilatildeo satildeo misturadas tem sido reconhecida e denominada de abduccedilatildeo

consiste em um processo ciacuteclico de geraccedilatildeo de hipoacuteteses e sua avaliaccedilatildeo Dentro desse quadro

geneacuterico vaacuterios modelos de raciociacutenio diagnoacutestico podem ser construiacutedos

Haacute de se considerar que existe outro fator importante em modelos de decisatildeo o

ambiente Por exemplo eacute caracteriacutestica do trabalho em um ambiente de atendimento

emergencial a informaccedilatildeo limitada e a multiplicidade de demandas e distraccedilotildees que

complicam a decisatildeo cliacutenica

Kovacs e Croskerry (1999) analisaram os meacutetodos comuns na tomada de decisatildeo em

um ambiente de emergecircncia e concluiacuteram que os meacutedicos dessa aacuterea frequentemente usam o

modelo hipoteacutetico-dedutivo de forma abreviada como uma estrateacutegia de tomada de decisatildeo

cliacutenica Esses profissionais baseiam-se fortemente na utilizaccedilatildeo de algoritmos cliacutenicos que

tecircm como objetivo simplificar o processo de diagnoacutestico baseando-se em evidecircncias criando

protocolos e sistemas

Segundo Groopman (2008) o uso de algoritmos um conjunto de regras e padrotildees que

fornece uma sequecircncia de passo a passo natildeo eacute uma praacutetica somente da medicina em

ambientes de emergecircncia jaacute que os moldes hoje seguidos pela medicina impulsionam os

meacutedicos a utilizarem esse recurso Para o autor algoritmos podem ser uacuteteis para o diagnoacutestico

e o tratamento simples mas satildeo insuficientes quando os sintomas satildeo vagos e enganadores ou

quando os resultados dos exames natildeo satildeo definitivos Segundo ele os algoritmos

desestimulam os cliacutenicos a pensar de forma independente e criativa e podem ao inveacutes de

ampliar o raciociacutenio do meacutedico limitaacute-lo

52

A medicina baseada em evidecircncias tem como princiacutepio pautar as decisotildees em dados

estatisticamente comprovados e em pesquisas no momento de escolher um tratamento

Groopman (2008) nota que o risco desse modelo eacute o de levar o meacutedico a escolher um

tratamento passivo baseado apenas em nuacutemeros ldquoas estatiacutesticas natildeo podem substituir o ser

humano que estaacute agrave sua frente estatiacutesticas dizem respeito agrave meacutedia natildeo a indiviacuteduosrdquo

(GROOPMAN 2008 p 15)

De acordo com Stolper Van Royen e Dinant (2010) os modelos de tomada de decisatildeo

meacutedica baseiam-se em probabilidades para chegar ao melhor diagnoacutestico e agraves melhores

decisotildees terapecircuticas Os modelos matemaacuteticos incorporam dados loacutegicos agrave cliacutenica e estatildeo

relacionados com o conceito de medicina baseada em evidecircncias De acordo com os autores

assume-se que esses modelos ajudam os meacutedicos a evitar erros mas nem sempre parecem

garantir resultados eficazes

Os tipos de raciociacutenio e as estrateacutegias variam entre os meacutedicos especialmente em

funccedilatildeo do conhecimento e da dificuldade do problema A busca por uma maneira uacutenica em

que meacutedicos diagnosticam problemas cliacutenicos pode natildeo ser uma meta razoaacutevel Eacute altamente

provaacutevel que mais de um tipo de raciociacutenio seja realmente empregado

Haacute que se considerar que apesar de alguns estudos ainda ignorarem no processo de

pensamento o par emoccedilatildeo quando tomamos uma decisatildeo avaliamos o valor das escolhas

possiacuteveis utilizando tanto processos cognitivos quanto emocionais

441 A intuiccedilatildeo meacutedica na tomada de decisatildeo

Embora haja pouca evidecircncia de seu valor diagnoacutestico e prognoacutestico na praacutetica diaacuteria

muitos meacutedicos tomam decisotildees levando em conta tambeacutem a intuiccedilatildeo

A intuiccedilatildeo eacute um elemento importante que pode sustentar as decisotildees cliacutenicas tanto

quanto a avaliaccedilatildeo a heuriacutestica e o julgamento Entretanto apesar de os processos intuitivos

terem um determinado valor haacute poucas pesquisas sobre o seu papel nos processos de decisatildeo

Em parte devido agrave proacutepria caracteriacutestica da intuiccedilatildeo que atua no processo de pensamento de

forma raacutepida e por isso de difiacutecil afericcedilatildeo

Ark Brooks e Eva (2007) treinaram 48 estudantes novatos para identificar as

caracteriacutesticas dos electrocardiogramas (ECG) e atribuir diagnoacutesticos Os participantes foram

selecionados e instruiacutedos a encontrar diagnoacutesticos de forma sequencial e analiacutetica seguindo o

modelo padratildeo Outro grupo foi instruiacutedo a identificar cuidadosamente todas as

53

caracteriacutesticas utilizando uma estrateacutegia de raciociacutenio combinado Uma maior precisatildeo de

diagnoacutestico foi feita apoacutes a aprendizagem contrastiva e instruccedilotildees para usar uma estrateacutegia

combinada de raciociacutenio Os resultados ressaltaram a importacircncia de capacitar os estudantes

para utilizar muacuteltiplas estrateacutegias de diagnoacutestico incluindo abordagens natildeo analiacuteticas

Meacutedicos de uma maneira geral reconhecem que existem intuiccedilotildees surgidas agraves vezes

durante uma consulta e que mostram que haacute algo de errado com o paciente mas que estes natildeo

sabem explicar exatamente o que eacute Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) uma vez

que essas situaccedilotildees satildeo caracteriacutesticas da praacutetica meacutedica eacute notaacutevel que na Medicina essa

funccedilatildeo tenha sido pouco estudada entre os meacutedicos e que natildeo seja bem compreendida

Em inglecircs gut feelings8 eacute definido como os pensamentos que vecircm agrave mente sem

esforccedilo aparente e que parecem desempenhar uma funccedilatildeo no processo de diagnoacutestico dos

meacutedicos quando eles precisam lidar com a incerteza e a imprevisibilidade

Segundo Stolper Van Royen e Dinant (2010) o conhecimento cientiacutefico natildeo eacute um

guia suficiente e na tomada de decisatildeo meacutedica o profissional precisa encontrar um equiliacutebrio

entre a razatildeo analiacutetica e uma espeacutecie de avaliaccedilatildeo intuitiva Para os autores as intuiccedilotildees que

fazem parte de uma avaliaccedilatildeo intuitiva devem ser consideradas como uma faixa separada de

raciociacutenio diagnoacutestico dos meacutedicos que complementa as outras duas faixas a analiacutetica e a natildeo

analiacutetica

O papel da intuiccedilatildeo no raciociacutenio diagnoacutestico do meacutedico tem vaacuterias implicaccedilotildees

importantes para a praacutetica da sauacutede e para a educaccedilatildeo meacutedica Isso significa que as intuiccedilotildees

precisam ser levadas a seacuterio jaacute que ao reconhecer por exemplo uma intuiccedilatildeo os meacutedicos

podem ser alertados para modificar um raciociacutenio

Dinant Knottnerus e Van Wersch (1992) acompanharam 362 pacientes que estavam

sendo vistos por um meacutedico de famiacutelia por causa de um problema na taxa de sedimentaccedilatildeo de

eritroacutecitos Os meacutedicos registraram o diagnoacutestico mais provaacutevel e marcaram suas decisotildees em

termos de grave e natildeo grave e os valores esperados da taxa antes e apoacutes o exame Os

autores concluiacuteram que o julgamento cliacutenico do meacutedico quando ele natildeo suspeitava de

patologia grave foi bastante fiaacutevel mostrando que muitas vezes o meacutedico considera

variaacuteveis natildeo analiacuteticas e intuitivas no momento de fazer um diagnoacutestico

Stolper (2010) relata que os cliacutenicos gerais na Holanda usam frequentemente niet-

pluis (NP) uma expressatildeo bem tiacutepica para indicar a incocircmoda sensaccedilatildeo de que pode haver

8 Gut feelings nesta pesquisa eacute considerada semelhante agrave intuiccedilatildeo

54

algo de errado com um paciente mesmo que ainda natildeo se tenha estabelecido um diagnoacutestico

claro A palavra pluis (P) parece indicar a situaccedilatildeo oposta na qual um meacutedico se sente seguro

sobre como lidar com a reclamaccedilatildeo de um paciente mesmo sem ter um diagnoacutestico claro

Para o autor os meacutedicos normalmente preveem um determinado resultado em relaccedilatildeo agrave sauacutede

de seus pacientes mesmo sem estar certos sobre o diagnoacutestico O conceito NPP (niet-

pluispluis) parece desempenhar um papel nesse processo de avaliaccedilatildeo e estaacute presente tanto

em meacutedicos experientes como inexperientes porque estaacute relacionado com as situaccedilotildees de

incerteza diagnoacutestica

Buntinx et al (1991) avaliaram a primeira impressatildeo que 25 meacutedicos tiveram da

queixa de dor toraacutecica em termos de pluis (que mostra quando o meacutedico se sente seguro sobre

o diagnoacutestico e tratamento do paciente) ou niet-pluis (sensaccedilatildeo de que pode haver algo de

errado com o paciente) de 318 pacientes A queixa de dor no peito ou sensaccedilatildeo de aperto era

nova nos pacientes por isso natildeo havia histoacuterico anterior A lista de queixas sinais e sintomas

foi verificada juntamente com o diagnoacutestico inicial feito pelo meacutedico imediatamente apoacutes o

exame fiacutesico O diagnoacutestico inicial foi comparado com um diagnoacutestico posterior ao exame O

meacutedico fez um diagnoacutestico inicial correto em 82 dos pacientes

Stolper Van Royen e Dinant (2010) conduziram um estudo com meacutedicos em outros

paiacuteses da Europa aleacutem da Holanda e constataram que esse tipo de intuiccedilatildeo eacute familiar para a

maioria dos meacutedicos e caracteriza-se por dois tipos de sensaccedilatildeo que foram mencionados pelos

participantes a sensaccedilatildeo de alarme e a sensaccedilatildeo de tranquilidade corroborando os achados

com os meacutedicos holandeses

Stolper et al (2009a) descreveram como um grupo focal com 28 meacutedicos mostrou e

tornou mais clara a intuiccedilatildeo na cliacutenica geral em duas situaccedilotildees emocionais quando o meacutedico

experimentava uma sensaccedilatildeo de tranquilidade (quando o meacutedico tinha certeza sobre o

prognoacutestico e tratamento embora eles nem sempre tivessem um diagnoacutestico claro em mente)

e quando o meacutedico experimentava uma sensaccedilatildeo de alarme (quando o meacutedico tinha a intuiccedilatildeo

de que algo estava errado embora argumentos objetivos estivessem faltando) Os meacutedicos

relataram que muitas vezes perceberam a sensaccedilatildeo de alarme como uma sensaccedilatildeo fiacutesica no

abdocircmen ou no coraccedilatildeo e consideraram que existia a intuiccedilatildeo de que parecia haver algo de

errado mas que natildeo tinham argumentos objetivos para explicar Concluiacuteram que os meacutedicos

dos grupos focais experimentaram sensaccedilotildees profundas como uma buacutessola em situaccedilotildees de

incerteza e confiaram nesse guia para tomar a decisatildeo O objetivo do estudo confirmou-se nos

resultados embora haja pouca evidecircncia do uso de sensaccedilotildees e intuiccedilatildeo na cliacutenica os meacutedicos

utilizam esse recurso na tomada de decisatildeo

55

Os mesmos autores Stolper et al (2009b) repetiram o estudo com 27 meacutedicos

holandeses e belgas e acrescentaram que os dois tipos de emoccedilotildees ldquoalertardquo e ldquotranquilidaderdquo

interferiam no processo de raciociacutenio do diagnoacutestico A sensaccedilatildeo de alerta ou alarme

definida como uma sensaccedilatildeo desconfortaacutevel estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses

diagnoacutesticas que poderiam envolver um resultado grave ou negativo A sensaccedilatildeo de

tranquilidade definida como uma sensaccedilatildeo de seguranccedila sobre o problema do paciente

estimulou o meacutedico a pesar hipoacuteteses diagnoacutesticas que envolvessem uma sequecircncia de

tratamento em que natildeo havia duacutevidas sobre o resultado jaacute que o resultado confirmaria o que

era esperado pelo meacutedico

As pesquisas levantadas mostram que a emoccedilatildeo e a intuiccedilatildeo estatildeo presentes no

processo de decisatildeo o que evidencia a interdependecircncia entre cogniccedilatildeo e emoccedilatildeo Natildeo

existem julgamentos neutros ou isentos de intenccedilatildeo emocional Sempre que haacute a participaccedilatildeo

de uma funccedilatildeo cognitiva haacute a participaccedilatildeo da emoccedilatildeo O encontro cliacutenico eacute um momento em

que meacutedico e paciente ligam-se e interagem tambeacutem por meio das emoccedilotildees Nessa interaccedilatildeo

as fantasias e as projeccedilotildees desempenham um papel importante natildeo soacute na comunicaccedilatildeo mas

tambeacutem no tratamento com a tomada de decisatildeo

56

5 MEacuteTODO

A pesquisa utilizou o meacutetodo misto pois coletou analisou e cruzou dados

quantitativos e qualitativos proporcionando uma visatildeo do problema de pesquisa sob o

enfoque de duas fontes de dados O meacutetodo misto eacute uma estrateacutegia de investigaccedilatildeo que pode

ser encontrada na literatura principalmente com os nomes multimodal combinados e ldquoquali-

quantirdquo

De acordo com Creswell (2010) a estrateacutegia de meacutetodos mistos eacute uma combinaccedilatildeo de

muacuteltiplas abordagens agrave coleta de dados que busca convergecircncia entre os meacutetodos qualitativos

e quantitativos

Os autores Creswell e Clark (2013) identificam seis tipos de pesquisa em meacutetodos

mistos que diferem em termos de interaccedilatildeo prioridade e fusatildeo dos resultados Nesta

pesquisa utilizou-se o projeto convergente na fase de coleta pois os dados quantitativos e

qualitativos foram coletados de forma simultacircnea e na anaacutelise o meacutetodo sequencial

explanatoacuterio pois a anaacutelise de dados quantitativos orientaram a anaacutelise de dados qualitativos

51 PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa 30 (trinta) meacutedicos homens e mulheres de diversas

especialidades Foram utilizados como criteacuterios de inclusatildeo que os meacutedicos dedicassem parte

(ou a totalidade) de seu tempo ao atendimento cliacutenicoconsultoacuterio que tivessem no miacutenimo

dois anos de experiecircncia apoacutes a conclusatildeo da residecircncia meacutedica que atuassem em medicina

convencional (cliacutenica meacutedica) Dos 30 meacutedicos da amostra 4 deles participaram do estudo de

caso com entrevista

52 INSTRUMENTOS

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram divididos em dois grupos por meacutetodo de

testagem

57

Para a avaliaccedilatildeo quantitativa o questionaacuterio sociodemograacutefico o Inventaacuterio de Sintomas

de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) para avaliar a incidecircncia do estresse e o

International Affective Picture System (IAPS) para avaliar a percepccedilatildeo emocional do

meacutedico

Para a avaliaccedilatildeo qualitativa entrevista semiestruturada para avaliaccedilatildeo das emoccedilotildees do

meacutedico e da percepccedilatildeo do paciente

A seguir a descriccedilatildeo de cada um dos instrumentos

521 Questionaacuterio sociodemograacutefico

O questionaacuterio sociodemograacutefico eacute composto por questotildees de identificaccedilatildeo que tecircm

por objetivo caracterizar a amostra

Idade________________

Sexo F ( ) M ( )

Tempo de formado (haacute quanto tempo terminou o curso) _____________________

Especialidade____________________________

Locais de trabalho (assinale com um X uma ou mais alternativas)

Consultoacuterio ( )

Hospital puacuteblico ( )

Hospital particular ( )

Universidade ( )

Outro______________________ ( )

Outro______________________ ( )

Total de horas semanais dedicadas ao trabalho no

Consultoacuterio ___ h

Hospital puacuteblico ___ h

Hospital particular ___ h

Professor acadecircmico ___ h

Outro ____________________ ___ h

Outro ____________________ ___ h

____ (total de horas semanais)

Qual a meacutedia de pacientes que atende por dia ___

58

Tempo meacutedio de atendimento ___

522 Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

O inventaacuterio ISSL eacute um instrumento uacutetil na identificaccedilatildeo da sintomatologia que a

pessoa apresenta avaliando os sintomas de estresse o tipo de sintoma existente e a fase em

que se encontra

Lipp (2000) identifica quatro fases do estresse a fase de alerta a fase de resistecircncia a

fase de quase-exaustatildeo e a fase de exaustatildeo

Fase de alerta ndash eacute a fase positiva do estresse Eacute caracterizada pela produccedilatildeo e accedilatildeo de

adrenalina que torna a pessoa mais atenta mais forte e mais motivada

Fase de resistecircncia ndash se a fase de alerta eacute mantida por periacuteodos muito prolongados ou se

novos estressores se acumulam o organismo entra em accedilatildeo para impedir o desgaste total

de energia entrando na fase de resistecircncia quando se resiste aos estressores e se tenta

inconscientemente restabelecer o equiliacutebrio interior (chamado de homeostase) que foi

quebrado na fase de alerta

Fase de quase-exaustatildeo - quando a tensatildeo excede o limite do gerenciaacutevel a resistecircncia

fiacutesica e emocional comeccedila a se quebrar Ainda haacute momentos em que a pessoa consegue

pensar lucidamente tomar decisotildees e trabalhar poreacutem tudo isso eacute feito com esforccedilo e

esses momentos de funcionamento normal intercalam-se com momentos de total

desconforto Haacute muita ansiedade nesta fase A pessoa experimenta uma gangorra

emocional

Fase de exaustatildeo - eacute a fase mais negativa do estresse a patoloacutegica Eacute o momento em que

um desequiliacutebrio interior muito grande ocorre A pessoa entra em depressatildeo natildeo consegue

concentrar-se ou trabalhar Suas decisotildees muitas vezes satildeo impensadas Doenccedilas graves

podem ocorrer

Estruturalmente o ISSL eacute composto por trecircs quadros o primeiro com 15 itens ou

sintomas de estresse tiacutepicos da fase de alerta a fase inicial do estresse o segundo quadro com

15 sintomas descritivos das fases de resistecircncia e quase-exaustatildeo as fases intermediaacuterias do

estresse e o terceiro quadro com 23 sintomas da fase de exaustatildeo

59

Aos participantes eacute solicitado marcar os itens que descrevem os estados e as

sensaccedilotildees vividas nas uacuteltimas 24 horas (no primeiro quadro) uacuteltima semana (no segundo

quadro) e uacuteltimo mecircs (no terceiro quadro)

Esse teste foi validado por Lipp (2000) e tem sido utilizado em dezenas de pesquisas e

trabalhos cliacutenicos na aacuterea do estresse As normas atuais atendem aos requisitos determinados

pelo Conselho Federal de Psicologia quanto agrave publicaccedilatildeo de atualizaccedilotildees perioacutedicas de testes

psicoloacutegicos A aquisiccedilatildeo do teste eacute feita atraveacutes da Casa do Psicoacutelogo que garante estrutura e

apoio para aplicaccedilatildeo e correccedilatildeo

523 IAPS ndash International Affective Picture System

O International Affective Picture System (IAPS) eacute um instrumento composto por

imagens afetivas que aborda diferentes eventos da vida que satildeo capazes de induzir uma gama

de estados emocionais O instrumento possui um banco de dados normatizado com cerca de

700 fotografias divididas em trecircs categorias imagens agradaacuteveis desagradaacuteveis e neutras

As imagens satildeo selecionadas de acordo com o objetivo do estudo e apresentadas aos

participantes em situaccedilatildeo controlada de experimento Quando o estiacutemulo eacute apresentado os

participantes satildeo orientados a classificar as imagens de acordo com a sua percepccedilatildeo

emocional

As respostas emocionais aos estiacutemulos satildeo classificadas subjetivamente atraveacutes do

Self-Assessment Manikin (SAM) que eacute composto por trecircs escalas uma para cada dimensatildeo

estudada (prazer alerta e dominacircncia) Cada escala possui cinco bonecos que expressam as

gradaccedilotildees emocionais que variam de 1 a 9 Os participantes marcam um ldquoXrdquo sobre o item

que mais se aproxima ao estado emocional induzido pela imagem Apenas as duas primeiras

escalas foram utilizadas neste estudo Alerta e Prazer

A escala Alerta mede a intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo

induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala

Prazer mede a valecircncia emocional que ao induzir a emoccedilatildeo por meio do estiacutemulo (figura)

pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo (agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo

(desagradaacutevelnegativa)

De acordo com Lasaitis et al (2008) o SAM eacute um instrumento confiaacutevel e vaacutelido

porque as classificaccedilotildees de prazer e alerta estatildeo altamente correlacionadas com as medidas de

avaliaccedilatildeo afetiva obtidas na Escala Semacircntica Diferencial elaborada por Mehrabian e Russel

60

A validaccedilatildeo e normatizaccedilatildeo para populaccedilatildeo brasileira foi realizado por Ribeiro

Pompeacuteia e Bueno (2004) e eacute utilizada em diversos estudos sobre as emoccedilotildees A utilizaccedilatildeo do

IAPS foi autorizada pelos autores

Para este estudo foram selecionadas 36 imagens que possuem como tema o

relacionamento interpessoal e que foram divididas em 12 imagens desagradaacuteveis 12

agradaacuteveis e 12 neutras A aplicaccedilatildeo do IAPS foi feita com a apresentaccedilatildeo dos

estiacutemulosimagem ao participante que registrou no bloco de respostas (SAM) a sua percepccedilatildeo

emocional das imagens

524 Entrevista semiestruturada

A entrevista foi elaborada exclusivamente para esta pesquisa e eacute composta por

perguntas que tecircm como objetivo investigar as emoccedilotildees dos meacutedicos e a percepccedilatildeo que eles

tecircm do paciente Utilizaram-se como modelo para a construccedilatildeo das perguntas os estudos de

De Marco (2005) Smith e Zimmy (1988) Serour Al Othman e Al Khalifah (2009) e Smith

(1995)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil

1a Que caracteriacutesticas ele tem

1b Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

1c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

1d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um paciente

atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades

2a Que caracteriacutesticas ele tem

2b Por que ele natildeo desperta dificuldades

2c Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

2d Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la Como isso

o afeta Decirc um exemplo

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir negativamente

Como

61

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma maneira

no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte estresse

decorrente da profissatildeo Como lida com isso

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada Por

quecirc

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento Por quecirc

53 PROCEDIMENTOS

531 Local de coleta

A pesquisa foi realizada no local de trabalho do meacutedico (consultoacuterio)

532 Seleccedilatildeo dos participantes

Os meacutedicos foram convidados a participar da pesquisa inicialmente por meio de

indicaccedilotildees de meacutedicos conhecidos seguido do meacutetodo ldquobola de neverdquo com indicaccedilotildees dos

proacuteprios entrevistados Segundo Dewes (2013) esse meacutetodo utiliza a rede de relacionamento

dos participantes da amostra que indicam outros indiviacuteduos para a participaccedilatildeo no estudo

A amostra quantitativa foi composta por 30 (trinta) meacutedicos e dada a dificuldade de

disponibilidade para um segundo encontro selecionaram-se aleatoriamente alguns para a

realizaccedilatildeo das entrevistas que seriam posteriormente analisadas de acordo com a divisatildeo em

clusters Caso natildeo houvesse entrevista de participante pertencente a um dos clusters o meacutedico

escolhido seria procurado novamente Foi no entanto possiacutevel empregar para anaacutelise

aprofundada em estudo de caso 4 (quatro) entrevistas das realizadas previamente O

procedimento portanto foi misto convergente para coleta e sequencial para anaacutelise

533 Procedimento de coleta de dados

62

O procedimento de coleta em um meacutetodo misto do tipo convergente envolve a coleta

de dados quantitativos e a coleta de dados qualitativos de forma simultacircnea Apesar dos dados

serem coletados em uma uacutenica etapa eles satildeo independentes e tecircm igual importacircncia

Analisa-se os dois conjuntos de dados separadamente e em um ponto de interface funde-se os

resultados dos dois conjuntos de dados para a interpretaccedilatildeo (CRESWELL e CLARK 2013)

Antes de iniciar a fase de pesquisa foram realizados testes com dois meacutedicos

conhecidos para verificaccedilatildeo dos instrumentos Apoacutes essa etapa os meacutedicos participantes

foram contatados e apoacutes a explicaccedilatildeo dos objetivos da pesquisa e aceite do meacutedico foi

agendada uma data para aplicaccedilatildeo dos instrumentos e iniacutecio da coleta

O encontro seguiu o seguinte procedimento explicaccedilatildeo do objetivo informaccedilotildees

sobre a pesquisa e sequecircncia da aplicaccedilatildeo informaccedilatildeo sobre a confidencialidade e a

possibilidade de se retirar da pesquisa a qualquer momento assinatura do termo de

consentimento que foi entregue e lido com cada participante que apoacutes aceite assinou-o e

devolveu-o ao pesquisador e aplicaccedilatildeo dos instrumentos O tempo total para a aplicaccedilatildeo dessa

avaliaccedilatildeo foi em meacutedia de 20 minutos Para os meacutedicos que participaram tambeacutem da

entrevista foram acrescidos mais 30 minutos As respostas dadas pelo meacutedico foram gravadas

e depois transcritas para a anaacutelise

Cada um dos instrumentos foi precedido de instruccedilatildeo sobre aplicaccedilatildeo A sequecircncia

utilizada na aplicaccedilatildeo foi

Questionaacuterio sociodemograacutefico

Instruccedilotildees esse questionaacuterio tem como objetivo caracterizar a amostra do estudo Por

favor preencha as informaccedilotildees solicitadas

International Affective Picture System (IAPS) e Self-Assessment Manikin (SAM)

Instruccedilotildees a seguir vocecirc olharaacute para diferentes figuras e deveraacute classificaacute-las de acordo

com o que vocecirc sentiu enquanto as via Natildeo existem respostas certas ou erradas entatildeo

responda o mais honestamente possiacutevel Para classificar cada figura deveraacute utilizar a folha de

respostas Observe que cada linha conteacutem 2 conjuntos de 5 desenhos cada arranjados em uma

sequecircncia A primeira sequecircncia de bonecos vai de agradaacutevel ateacute o desagradaacutevel A figura lhe

parece agradaacutevel ou desagradaacutevel A figura causa-lhe prazer e o deixa satisfeito alegre feliz

ou causa-lhe desprazer e o deixa infeliz irritado e insatisfeito Situe dentro da escala o que

mais se aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando

um X entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a

63

figura no meio A segunda sequecircncia de bonecos vai desde alerta ateacute relaxado Vocecirc sente-se

alerta ou relaxado diante da figura que acabou de ver A figura parece deixaacute-lo em alerta

estimulado ou deixa-o relaxado calmo tranquilo Situe dentro da escala o que mais se

aproxima de seu sentimento Vocecirc pode representar niacuteveis intermediaacuterios colocando um X

entre as figuras Se vocecirc sentiu-se completamente neutro coloque um X sobre a figura no

meio Cada figura apareceraacute por 4 segundos e vocecirc teraacute 10 segundos para responder Faccedila a

classificaccedilatildeo apoacutes a figura ter sido removida da tela Vocecirc deve ter sempre a certeza de que o

nuacutemero da fotografia corresponde ao nuacutemero de paacutegina de classificaccedilatildeo

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

Instruccedilotildees o inventaacuterio de Stress visa identificar a presenccedila de sintomas de estresse os

tipos de sintomas existentes somaacuteticos ou psicoloacutegicos e a fase em que se apresentam

Dividido em 3 quadros no primeiro vocecirc deve assinalar com F1 ou P1 os sintomas que tem

experimentado nas uacuteltimas 24 horas no segundo quadro vocecirc deve assinalar com F2 ou P2 os

sintomas que tem experimentado na uacuteltima semana e no quadro 3 deve assinalar com F3 ou

P3 os sintomas que tem experimentado no uacuteltimo mecircs

Para os meacutedicos escolhidos para participarem da anaacutelise qualitativa acrescentou-se a

entrevista

Entrevista semiestruturada

Instruccedilotildees farei algumas perguntas relacionadas agrave forma como percebe algumas situaccedilotildees

em seu dia-a-dia e que tecircm como objetivo investigar as suas emoccedilotildees e a percepccedilatildeo do

paciente

534 Procedimento de anaacutelise de dados

O processo de anaacutelise foi realizado em duas fases Na fase 1 utilizou-se a abordagem

quantitativa com a anaacutelise estatiacutestica e quantificaccedilatildeo dos dados essa etapa incluiu os 30

meacutedicos participantes da amostra A fase 2 utilizou a avaliaccedilatildeo qualitativa que permitiu a

interpretaccedilatildeo e anaacutelise em profundidade por meio do estudo de caso com 4 (quatro) meacutedicos

escolhidos Cada meacutedico recebeu um nuacutemero a partir do qual foi identificado na pesquisa e a

64

anaacutelise de dados baseou-se nessa identificaccedilatildeo Nos estudos de caso os meacutedicos foram

identificados por nomes fictiacutecios

5341 Anaacutelise quantitativa de dados

Para a anaacutelise quantitativa dos instrumentos aplicados foram utilizados testes

estatiacutesticos e os programas SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) e SPAD

(Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) para tratamento dos dados

O SPSS17 eacute um programa de tratamento estatiacutestico que descreve a amostra calculando

suas medidas descritivas e realiza testes que relacionam as variaacuteveis O programa foi utilizado

para a realizaccedilatildeo dos seguintes testes teste de uma meacutedia teste de duas meacutedias para amostras

independentes anaacutelise de variacircncia e Correlaccedilatildeo de Pearson O SPAD eacute um software de

anaacutelise estatiacutestica e foi utilizado para a comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes

Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo Hieraacuterquica para Construccedilatildeo de Cluster que serviu

como base na escolha dos participantes da fase qualitativa deste estudo

A anaacutelise quantitativa seguiu a sequecircncia anaacutelise do sociodemograacutefico anaacutelise do

Inventaacuterio de Sintomas de Stress para adultos de Lipp (ISSL) e comparaccedilatildeo do iacutendice de

estresse da amostra com o paracircmetro populacional do ISSL comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico

com o resultado do ISSL anaacutelise do Internacional Affective Picture System (IAPS) de acordo

com as especificaccedilotildees a padronizaccedilotildees do teste para as duas escalas Alerta e Prazer

comparaccedilatildeo do sociodemograacutefico com o IAPS construccedilatildeo de agrupamentos das variaacuteveis do

IAPS em clusters comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais do IAPS

comparaccedilatildeo dos clusters com o sociodemograacutefico

5342 Anaacutelise qualitativa de dados

A partir da anaacutelise de agrupamento e da criaccedilatildeo dos clusters foram criados quatro

clusters que agruparam indiviacuteduos por similaridades em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS Foi

escolhido um participante por cluster para a anaacutelise de estudos de caso somando 4 (quatro)

meacutedicos

A anaacutelise dos casos foi realizada utilizando categorias preacute-estabelecidas relacionadas

com os objetivos da pesquisa iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse a percepccedilatildeo emocional

65

o papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente as emoccedilotildees despertadas pelos pacientes e

estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

535 Procedimento eacutetico

A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos eacuteticos em pesquisa

envolvendo seres humanos preconizados pela Resoluccedilatildeo 19696 do Conselho Nacional de

Sauacutede e pelo Regimento dos Comitecircs de Eacutetica em Pesquisa da PUC-SP Constam em anexo o

Termo de Compromisso do Pesquisador (Anexo A) o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Anexo B) e o Parecer Consubstanciado do Comitecirc de Eacutetica aprovado (Anexo C)

66

6 RESULTADOS E ANAacuteLISE DOS DADOS

Os dados da pesquisa foram analisados por meio do meacutetodo misto pois se utilizou

tanto o meacutetodo quantitativo para anaacutelise dos instrumentos aplicados como o meacutetodo

qualitativo na anaacutelise de estudo de caso muacuteltiplo

O tratamento estatiacutestico dos dados quantitativos foi realizado utilizando o programa

SPSS17 (Statistical Package for the Social Science) Esse trabalho consistiu no caacutelculo de

medidas descritivas da amostra adequadas ao niacutevel de mensuraccedilatildeo das variaacuteveis envolvidas

(meacutedia desvio padratildeo correlaccedilatildeo de Pearson) Por outro lado foram aplicados testes

estatiacutesticos para um niacutevel de significacircncia de 005 O criteacuterio para a aplicaccedilatildeo desses testes

tambeacutem foi o de compatibilizaccedilatildeo com os tipos de variaacuteveis Foram utilizados testes de

comparaccedilatildeo de meacutedias para amostras independentes Anaacutelise de Variacircncia e Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de clusters Esse uacuteltimo tratamento foi realizado utilizando o

programa SPAD (Systeme Portable Pour LAnalyse des Donneacutees) Para esta fase contou-se

com o apoio da estatiacutestica Yara Pisanelli Gustavo de Castro

A fase qualitativa foi construiacuteda por meio da anaacutelise das entrevistas em profundidade

com os 4 casos escolhidos dos 8 que foram entrevistados Essa escolha foi realizada a partir

dos resultados da anaacutelise de clusters que agrupou os meacutedicos com caracteriacutesticas semelhantes

em relaccedilatildeo agrave pontuaccedilatildeo no IAPS nas escalas Alerta e Prazer Foi escolhido um representante

de cada cluster para o estudo de caso

A construccedilatildeo da anaacutelise dos resultados seguiu a seguinte sequecircncia

Dados quantitativos apresentaccedilatildeo dos dados sociodemograacuteficos com a caracterizaccedilatildeo

da amostra o resultado do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) a

comparaccedilatildeo dos resultados do ISSL com o sociodemograacutefico os resultados do International

Affective Picture System (IAPS) a comparaccedilatildeo dos resultados do IAPS com o

sociodemograacutefico e a construccedilatildeo de agrupamentos do IAPS por cluster

Dados qualitativos descriccedilatildeo qualitativa dos 4 clusters anaacutelise das entrevistas dos 4

participantes em forma de Estudo de Caso

61 ANAacuteLISE QUANTITATIVA

67

611 Resultados dos dados sociodemograacuteficos

Com o objetivo de descrever a amostra que foi constituiacuteda por 30 (trinta) meacutedicos de

diversas especialidades que dedicam uma parte ou a totalidade do seu tempo ao atendimento

no consultoacuterio seguem as distribuiccedilotildees de cada uma das variaacuteveis deste estudo e suas

caracterizaccedilotildees

Nas tabelas abaixo com a finalidade de caracterizar a amostra estatildeo apresentadas as

distribuiccedilotildees por sexo (tabela 1) faixa etaacuteria (tabela 2) tempo de formado (tabela 3)

especialidade (tabela 4) locais de trabalho (tabela 5) horas semanais dedicadas ao trabalho

(graacutefico 1) horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio (graacutefico 2) nuacutemero de

pacientesdia no consultoacuterio (tabela 6) e tempo meacutedio de atendimentoconsulta no consultoacuterio

(tabela 7)

Tabela 1 Distribuiccedilatildeo da amostra por Sexo

Sexo N

Masculino 17

Feminino 13

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete) satildeo do sexo masculino e

13 (treze) do sexo feminino

Tabela 2 Distribuiccedilatildeo da amostra por Faixa Etaacuteria

Faixas etaacuterias N

20 a 34 anos 10

35 a 48 anos 7

49 a 59 anos 7

Acima de 60 anos 6

Total 30

Meacutedia 446

Desvio-padratildeo 130

Fonte proacuteprio autor

68

Em relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria 10 (dez) meacutedicos encontram-se na faixa de 20 a 34 anos 7

(sete) de 35 a 48 anos 7 (sete) de 49 a 59 anos e 6 (seis) acima de 60 anos A meacutedia de idade

eacute de 446 anos

Tabela 3 Distribuiccedilatildeo da amostra por tempo de formado

Tempo de formado N

05 a 10 anos 12

11 a 23 anos 6

24 a 32 anos 6

33 a 46 anos 6

Total 30

Meacutedia 194

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

Na amostra 12 (doze) meacutedicos tecircm de 5 a 10 anos de formado 6 (seis) meacutedicos de 11

a 23 anos 6 (seis) de 24 a 32 anos e 6 (seis) meacutedicos de 33 a 46 anos de formado A meacutedia de

tempo de formado eacute 194 anos

Tabela 4 Distribuiccedilatildeo da amostra por Especialidades

Especialidade N

Cliacutenicos Gerais (+ especialidade) 8

Ortopedia 5

Ginecologia 4

Oftalmologia 3

Otorrinolaringologia 3

Endocrinologia 2

Neurologia 2

Outros (Nefrologia Nutrologia Urologia) 3

Total 30

Fonte proacuteprio autor

No que se refere a especialidades 8 (oito) meacutedicos relataram serem cliacutenicos gerais e

tambeacutem possuiacuterem alguma especialidade dentre elas cardiologia (3) hematologia (2)

oftalmologia (1) e infectologia (1) Apenas um meacutedico relatou ser somente cliacutenico geral As

outras especialidades presentes na amostra satildeo ortopedia (5) ginecologia (4) oftalmologia

69

(3) otorrinolaringologia (3) endocrinologia (2) neurologia (2) nefrologia (1) nutrologia (1)

e urologia (1)

Tabela 5 Distribuiccedilatildeo da amostra por locais de trabalho

Locais de Trabalho N

Apenas Consultoacuterio 10

Consultoacuterio e Hospital particular 10

Consultoacuterio e Hospital puacuteblico 5

Consultoacuterio Hospital particular e puacuteblico 5

Total 30

Fonte proacuteprio autor

Na tabela 5 temos representados os locais de trabalho dos meacutedicos da amostra 10

(dez) meacutedicos trabalham apenas no consultoacuterio 10 (dez) trabalham no consultoacuterio e no

hospital particular 5 (cinco) trabalham no consultoacuterio e no hospital puacuteblico e 5 trabalham nos

trecircs locais consultoacuterio hospital puacuteblico e hospital particular

Graacutefico 1 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao Trabalho

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 2

21 a 40 hsemanais 8

41 a 48 hsemanais 8

49 hsemanais e + 12

Total 30

Meacutedia 460

Desvio-padratildeo 125

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo agrave quantidade de horas semanais dedicadas ao trabalho verifica-se que a

maioria dos meacutedicos trabalha mais de 49 horas semanais A meacutedia de horas semanais

dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas

70

Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da amostra pelas horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio

0 2 4 6 8 10 12 14 16

12 a 20 hsemanais

21 a 40 hsemanais

41 a 48 hsemanais

mais de 49 hsemanais

Horas semanais dedicadas ao Trabalho no Consultoacuterio

Horas semanais N

12 a 20 hsemanais 8

21 a 40 hsemanais 15

41 a 48 hsemanais 2

49 hsemanais e + 5

Total 30

Meacutedia 328

Desvio-padratildeo 129

Fonte proacuteprio autor

O graacutefico 2 mostra que a maioria dos meacutedicos dedica de 21 a 40 horas semanais ao

atendimento cliacutenico no consultoacuterio A meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas

Tabela 6 Distribuiccedilatildeo da Amostra pelo nuacutemero de pacientesdia no consultoacuterio

Nuacutemero de pacientesdia N

01 a 09 pacientesdia 4

10 a 22 pacientesdia 15

23 a 37 pacientesdia 6

38 a 55 pacientesdia 5

Total 30

Meacutedia 219

Desvio-padratildeo 123

Fonte proacuteprio autor

A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos meacutedicos eacute de 219

Quatro meacutedicos atendem de 1 a 9 pacientesdia A a maioria dos meacutedicos (15) atende de 10 a

22 pacientesdia 6 (seis) meacutedicos de 23 a 37 pacientesdia e 5 (cinco) meacutedicos atendem mais

de 38 pacientesdia no consultoacuterio

71

Tabela 7 Distribuiccedilatildeo da amostra para tempo meacutedio de atendimentoconsulta

Tempo meacutedio de atendimentoconsulta N

15 a 25 minutos 13

26 a 35 minutos 12

36 a 45 minutos 4

46 a 55 minutos 1

Total 30

Meacutedia 268

Desvio-padratildeo 100

Fonte proacuteprio autor

Em relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atendimento 13 (treze) meacutedicos relataram que a

consulta com o paciente dura de 15 a 25 minutos 12 (doze) meacutedicos disseram ficar com seus

pacientes de 26 a 35 minutos 4 (quatro) meacutedicos de 36 a 45 minutos e 1 (um) meacutedico disse

que sua consulta dura de 46 a 55 minutos A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no

consultoacuterio eacute de 268 minutos

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 satildeo do sexo masculino e

13 do sexo feminino a meacutedia de idade eacute de 446 anos e de tempo de formado eacute 194 anos A

meacutedia de horas semanais dedicadas ao trabalho eacute de 46 horas e as dedicadas ao trabalho no

consultoacuterio eacute de 328 horas A meacutedia de pacientes atendidos por dia no consultoacuterio pelos

meacutedicos eacute de 219 A meacutedia do tempo de atendimento ao paciente no consultoacuterio eacute de 268

minutos As especialidades satildeo variadas e os locais de trabalho satildeo alternados aleacutem do

consultoacuterio com o hospital puacuteblico e particular

612 Resultados dos dados da Escala de Stress (ISSL)

Procurou-se observar como os meacutedicos da amostra reagiam ao estresse atraveacutes dos

sintomas relatados pela escala ISSL comparando-os com os paracircmetros populacionais da

escala Os itens apresentados nas tabelas abaixo satildeo verificaccedilatildeo do iacutendice de estresse da

amostra e comparaccedilatildeo do iacutendice de estresse da amostra com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 8) a fase de estresse da amostra e comparaccedilatildeo com os paracircmetros da escala ISSL

(tabela 9) a prevalecircncia de sintomas da amostra se fisicos eou psicoloacutegicos (graacutefico 3) e os

sintomas mais frequentes relatados pelos meacutedicos

72

Tabela 8 Distribuiccedilatildeo da amostra para Iacutendice de Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Stress N Paracircmetro

Natildeo 13 433 440

Sim 17 567 560

Total 30 1000 1000

Fonte proacuteprio autor

Dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (567) apresentaram sintomas de

estresse 13 (433) natildeo apresentaram Ao compararmos com o paracircmetro da populaccedilatildeo

geral brasileira do ISSL (LIPP e GUEVARA 1994) verifica-se que o estresse da amostra estaacute

dentro do esperado jaacute que o paracircmetro eacute de 56

Tabela 9 Distribuiccedilatildeo da amostra para Fase do Stress (ISSL) e comparaccedilatildeo com o

paracircmetro da populaccedilatildeo geral brasileira

Fase Stress N Paracircmetro

Alerta 02 67 20

Resistecircncia 15 500 530

Exaustatildeo 0 00 10

Total 17 567 560

Fonte proacuteprio autor

Dos 17 (dezessete) meacutedicos que apresentaram sintomas de estresse 2 (67) deles

estatildeo na fase de alerta e 15 (50) na fase de resistecircncia O paracircmetro do ISSL (LIPP e

Guevara 1994) para a fase de alerta eacute 20 e 53 para a fase de resistecircncia Isso significa

que a amostra teve um iacutendice dentro do esperado Os sintomas presentes na fase de alerta

referem-se ao preparo do corpo e da mente para a preservaccedilatildeo da proacutepria vida para a reaccedilatildeo

de luta ou fuga eacute a fase menos criacutetica do estresse A fase de resistecircncia ocorre por um

prolongamento de sintomas e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causando uma sensaccedilatildeo

de desgaste e cansaccedilo Natildeo houve nenhum meacutedico com estresse na fase de exaustatildeo que eacute a

fase mais negativa do estresse que pode ocasionar um processo de depressatildeo impossibilitar

as pessoas de trabalhar e causar doenccedilas mais graves

73

Graacutefico 3 Distribuiccedilatildeo da amostra para prevalecircncia de sintomas do stress ndash ISSL

5

10

2

0

2

4

6

8

10

12

Fiacutesicos Psicologicos Fisicos epsicoloacutegicos

Prevalecircncia de Sintomas de Stress

Prevalecircncia de sintomas N

Fiacutesicos 5

Psicoloacutegicos 10

Fiacutesicos e Psicoloacutegicos 2

Total 17

Fonte proacuteprio autor

Dentre os meacutedicos com sintomas de estresse (17) 10 (dez) apresentaram

predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos Os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes foram

diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita de iniciar novos

projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva Os sintomas fiacutesicos mais frequentes foram mal-

estar generalizado sem causa especiacutefica sensaccedilatildeo de ldquonoacuterdquo ou dor no estocircmago tensatildeo

muscular mudanccedila de apetite sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura frequente e

insocircnia Natildeo haacute paracircmetro quantitativo para este quadro

De acordo com Lipp (2000) a incidecircncia de estresse em uma das duas aacutereas fiacutesica ou

psicoloacutegica mostra onde se encontra a vulnerabilidade e os efeitos psicoloacutegicos eou fiacutesicos

decorrentes da reaccedilatildeo de estresse e tem relevacircncia para a sauacutede fiacutesica e mental No caso da

amostra haacute uma maior vulnerabilidade psicoloacutegica nos meacutedicos Segundo Lipp (2000) a

vulnerabilidade funciona como uma faacutebrica interna constante de estresse emocional e mostra

uma predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Resumindo dos 30 meacutedicos que participaram da pesquisa 17 (dezessete)

apresentaram sintomas de estresse representando 567 iacutendice dentro do esperado pelos

paracircmetros do teste A grande maioria dos meacutedicos da amostra (1517) estaacute na fase de

resistecircncia do estresse que ocorre quando haacute um prolongamento de sintomas causando uma

sensaccedilatildeo de desgaste e cansaccedilo natildeo eacute poreacutem a fase mais negativa Os sintomas psicoloacutegicos

mais frequentes foram diminuiccedilatildeo da libido duacutevidas em relaccedilatildeo a si proacuteprio vontade suacutebita

de iniciar novos projetos cansaccedilo e irritabilidade excessiva

Outras pesquisas realizadas com meacutedicos e que utilizaram o mesmo instrumento

encontraram resultados semelhantes Carvalho (2007) ao avaliar o iacutendice de estresse em 20

74

meacutedicos concluiu que 45 (9) encontravam-se estressados todos na fase de resistecircncia e

com prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Soares et al (2011) ao investigarem o estresse em

58 meacutedicos concluiacuteram que 5517 dos meacutedicos apresentaram estresse e 54 estariam na

fase de resistecircncia Dois outros estudos avaliaram o estresse em meacutedicos e obtiveram

resultados diferentes Katsurayama et al (2011) avaliaram o estresse em 33 meacutedicos e apenas

123 apresentaram estresse Fraga (2004) investigou o iacutendice de estresse em 32 meacutedicos e

72 apresentaram estresse

Ainda que os resultados referentes ao estresse estejam na meacutedia do esperado em

termos de paracircmetros populacionais haacute na amostra indiacutecios de uma vulnerabilidade

psicoloacutegica ao estresse por conta da prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos (1017) Isso leva a

inferir que os meacutedicos pesquisados que apresentaram estresse satildeo mais suscetiacuteveis aos fatores

psicoloacutegicos e possuem menos recursos para lidar com esses aspectos em sua profissatildeo

podendo cultivar sentimentos e accedilotildees mais negativas

613 Resultado do ISSL e o sociodemograacutefico

Apoacutes a avaliaccedilatildeo dos resultados de estresse foi feita uma anaacutelise estatiacutestica para

observar se as variaacuteveis sociodemograacuteficas deste estudo apresentavam alguma relaccedilatildeo com o

iacutendice de estresse Esta anaacutelise eacute apresentada abaixo nas tabelas 10 e 11

Tabela 10 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e Sexo

Stress Sexo Total

Masculino Feminino

Natildeo 7 6 13

Sim 10 7 17

Total 17 13 30

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo entre o iacutendice do estresse e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do

teste Fisher (p = 0538) e natildeo se encontrou significacircncia estatiacutestica Natildeo haacute na amostra relaccedilatildeo

entre o sexo e o estresse

75

Tabela 11 Comparaccedilatildeo do Stress (ISSL) e outras variaacuteveis sociodemograacuteficas

Stress N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t p

Idade Natildeo 13 486 138 38

150 0144 Sim 17 415 119 29

Tempo de formado Natildeo 13 236 135 38

167 0106 Sim 17 162 107 26

Tempo total de

trabalho (horas

semanais)

Natildeo 13 484 142 39

091 0371 Sim 17 442 112 27

Tempo de trabalho

no Consultoacuterio (horas

semanais)

Natildeo 13 337 130 36

030 0766 Sim 17 322 133 32

Nuacutemero de

pacientesdia

Natildeo 13 255 153 42 140 0171

Sim 17 192 92 22

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

Natildeo 13 300 96 27 155 0133

Sim 17 244 100 24

Fonte proacuteprio autor

Tem-se a comparaccedilatildeo do estresse com o perfil sociodemograacutefico que foi realizada por

meio do teste de duas meacutedias para amostras independentes pelo programa (SPSS) As

diferenccedilas natildeo satildeo significativas e natildeo houve relaccedilatildeo entre as variaacuteveis do perfil

sociodemograacutefico e o fato do participante possuir ou natildeo estresse

614 Resultado dos dados do International Affective Picture System (IAPS)

Na sequecircncia os resultados do IAPS foram analisados para retratar as caracteriacutesticas

da percepccedilatildeo emocional da amostra comparando a meacutedia da amostra para percepccedilatildeo

emocional com o paracircmetro da populaccedilatildeo O IAPS instrumento composto por imagens

afetivas que induzem a estados emocionais eacute classificado por meio do Self-Assessment

Manikin (SAM) que eacute composto pelas escalas Alerta e Prazer A escala Alerta mede a

intensidade emocional que por meio de uma gradaccedilatildeo induzida pelo estiacutemulo (figura) pode ir

76

de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional que ao

induzir a emoccedilatildeo atraveacutes do estiacutemulo (figura) pode ir de prazer e satisfaccedilatildeo

(agradaacutevelpositiva) a desprazer e insatisfaccedilatildeo (desagradaacutevelnegativa) A tabela 12 apresenta

a meacutedia da amostra para as escalas Alerta e Prazer comparada ao paracircmetro da meacutedia da

populaccedilatildeo

Tabela 12 Comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra do IAPS e paracircmetros populacionais

Escalas N Meacutedia Desvio

padratildeo

Erro

padratildeo

t p μ

Paracircmetro

Alerta 30 480 095 0173 -0617 0542 491

Prazer 30 513 036 0066 1857 0074 501

Total 30 497 044 008 0095 0925 496

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da amostra com os paracircmetros da populaccedilatildeo do teste para as duas

escalas foi realizada por meio do teste de uma meacutedia (teste t) feito atraveacutes do SPSS Na escala

Alerta a meacutedia da amostra foi de 480 e o paracircmetro populacional 491 Na escala Prazer a

meacutedia da amostra foi de 513 e o paracircmetro populacional 501 Esses resultados mostram que

os resultados da amostra satildeo compatiacuteveis com a populaccedilatildeo e portanto sem diferenccedila

significativa

615 Resultado do IAPS e o sociodemograacutefico

Os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em relaccedilatildeo agrave

percepccedilatildeo emocional Por isso procurou-se num segundo momento observar se

internamente na amostra em funccedilatildeo das distintas variaacuteveis do sociodemograacutefico havia

alguma tendecircncia na percepccedilatildeo emocional

As tabelas desta seacuterie apresentam as relaccedilotildees entre a percepccedilatildeo emocional e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas sexo idade tempo de formado tempo total de horas semanais

dedicadas ao trabalho horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio nuacutemero de

pacientesdia e tempo meacutedio de atendimentoconsulta

77

Na tabela 13 tem-se a comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do IAPS

Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo

Tabela 13 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e Sexo

Sexo N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo t P

Alerta Masculino 17 504 113 027

1634 0057 Feminino 13 449 054 015

Prazer Masculino 17 509 031 007

-0646 0262 Feminino 13 518 043 012

Fonte proacuteprio autor

A comparaccedilatildeo da meacutedia da amostra das duas escalas do International Affective Picture

System (IAPS) Alerta e Prazer e a variaacutevel sexo foi realizada por meio do teste de duas

meacutedias demonstrando que natildeo haacute diferenccedila significativa entre homens e mulheres na relaccedilatildeo

com as escalas

A seguir na tabela 14 verifica-se a correlaccedilatildeo entre as escalas Alerta e Prazer do

IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Tabela 14 Correlaccedilatildeo entre o IAPS e as variaacuteveis sociodemograacuteficas

Alerta Prazer

Idade

r 035 -028

p 0031 0065

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de formado

r 032 -024

p 0043 0100

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo total de trabalho (horas

semanais)

r -0041 -0025

p 0415 0448

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo de trabalho no Consultoacuterio

(horas semanais)

r 020 -040

p 0139 0014

N 30 30

78

Alerta Prazer

Nuacutemero de pacientesdia

r 002 021

p 0443 0128

N 30 30

Alerta Prazer

Tempo meacutedio de

atendimentoconsulta

r 036 -0204

p 0024 0140

N 30 30

A verificaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre as duas escalas Alerta e Prazer do IAPS e as

variaacuteveis sociodemograacuteficas foi realizada utilizando o coeficiente de Pearson estatiacutestica

descritiva que mede o grau da correlaccedilatildeo entre duas variaacuteveis

O coeficiente de Pearson entre idade e o Alerta do IAPS foi igual a + 035 o que

indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada entre a idade e a escala Alerta do IAPS Isso significa

que quanto maior a idade maior a sua pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos mais velhos sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Entre tempo de formado e o Alerta do IAPS o coeficiente de Pearson foi igual a +

032 o que indica uma relaccedilatildeo positiva e moderada Isso significa que quanto maior o tempo

de formado maior a pontuaccedilatildeo no Alerta Meacutedicos com mais tempo de formado sentiram-se

mais impactados e estimulados do que os meacutedicos mais jovens diante dos estiacutemulos

emocionais

Houve correlaccedilatildeo positiva e moderada (+ 036) entre o tempo meacutedio de atendimento e

o Alerta do IAPS o que significa que quanto maior o tempo de consulta maior o Alerta

Quanto mais tempo o meacutedico fica com o paciente durante o atendimento mais impactado ele

ficou diante dos estiacutemulos emocionais

Houve correlaccedilatildeo negativa e moderada (-040) entre o tempo de trabalho (horas

semanais trabalhadas) no consultoacuterio e a escala Prazer do IAPS o que significa que quanto

mais horas semanais dedicadas ao trabalho no consultoacuterio menor a pontuaccedilatildeo em Prazer

Natildeo houve correlaccedilatildeo entre o total de horas semanais de trabalho e o nuacutemero de

pacientes atendidos por dia e as escalas Alerta e Prazer

Resumindo os resultados gerais da amostra em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo natildeo diferiram em

relaccedilatildeo a percepccedilatildeo emocional Poreacutem ao observar internamente a amostra em funccedilatildeo das

distintas variaacuteveis sociodemograacuteficas percebeu-se algumas tendecircncias em relaccedilatildeo agrave

79

percepccedilatildeo emocional e agraves variaacuteveis idade tempo de formado horas semanais dedicadas ao

trabalho no consultoacuterio e tempo meacutedio de atendimento (consulta)

Concluiu-se que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo

de consulta sentiram-se mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais do que os meacutedicos

mais jovens com menos tempo de formado e que ficam menos com o paciente em consulta

Meacutedicos que dedicam mais horas semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os

estiacutemulos de forma mais negativa e desagradaacutevel do que os meacutedicos que trabalham menos

tempo

616 Agrupamento do IAPS por cluster

Numa procura por compreender melhor a amostra e as caracteriacutesticas dos

participantes foi utilizado o tratamento estatiacutestico para agrupar em clusters indiviacuteduos com

similaridades entre si Os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade

ou afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do IAPS Optou-se por

agrupar os participantes em 4 (quatro) clusters distintos Essa separaccedilatildeo forneceu um

embasamento para selecionar os participantes que fizeram parte da anaacutelise qualitativa em

profundidade

O graacutefico 4 ilustra como os clusters foram separados e quais participantes pertencem a

cada agrupamento

80

Graacutefico 4 Nuvem de pontos - Agrupamento das variaacuteveis do IAPS (CLUSTER)

O agrupamento do IAPS foi composto pelas meacutedias dos participantes nas escalas

Alerta e Prazer Os agrupamentos foram construiacutedos por meio de uma Classificaccedilatildeo

Hieraacuterquica para construccedilatildeo de agrupamentos do programa SPAD que considerou a meacutedia

dos participantes da amostra e a proximidade ou afastamento da meacutedia

A tabela 15 retrata um instrumento estatiacutestico que eacute empregado para comprovar que a

separaccedilatildeo por clusters foi feita de forma representativa

Tabela 15 Tabela de anaacutelise de variacircncia

N Meacutedia

Desvio

Padratildeo

Erro

Padratildeo F P

Alerta

Cluster 1 6 501 010 004

4712 0000 Cluster 2 7 612 072 027

Cluster 3 9 377 027 009

Cluster 4 8 465 021 007

Prazer

Cluster 1 6 493 015 006

2337 0000 Cluster 2 7 474 027 010

Cluster 3 9 519 016 005

Cluster 4 8 556 017 006

Fonte proacuteprio autor

81

O agrupamento entre os clusters foi considerado fidedigno estatisticamente garantindo

que existe homogeneidade interna (entre si) e heterogeneidade externa (entre eles)

Na tabela 16 verificou-se as meacutedias nas escalas Alerta e Prazer em cada um dos

clusters comparando com o paracircmetro populacional para verificar os clusters mais proacuteximos

ou mais distantes da meacutedia

Tabela 16 Comparaccedilatildeo dos clusters com os paracircmetros populacionais nas escalas

Prazer e Alerta (IAPS)

Alerta N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 501 0097 0040 491 0099 2499 0055

Cluster 2 7 612 0722 0273 491 1213 4443 0004

Cluster 3 9 377 0273 0091 491 -1135 -12475 0000

Cluster 4 8 465 0207 0073 491 -0261 -3557 0009

Prazer N Meacutedia Desvio

Padratildeo

Erro

padratildeo μ Diferenccedila t p

Cluster 1 6 493 0155 0063 501 -0079 -1256 0265

Cluster 2 7 474 0268 0101 501 -0268 -2648 0038

Cluster 3 9 519 0161 0054 501 0178 3317 0011

Cluster 4 8 556 0171 0060 501 0553 9135 0000

Fonte proacuteprio autor

O cluster 1 natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Isso significa que os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam os estiacutemulos de modo semelhante agrave populaccedilatildeo em geral

O cluster 2 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o cluster mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Alerta e eacute o que

possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia entre os clusters Os meacutedicos que foram agrupados neste

cluster perceberam as figuras de forma mais impactante do que os outros clusters e a

populaccedilatildeo geral Na escala Prazer os meacutedicos agrupados neste cluster apresentaram a menor

pontuaccedilatildeomeacutedia dentre os clusters o que significa que os meacutedicos perceberam os estiacutemulos

de forma menos agradaacutevel (mais desagradaacutevel) do que os meacutedicos dos outros clusters

O cluster 3 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Na escala Alerta eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais

82

baixa Isso o significa que os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Alerta de forma menos impactante do que os outros clusters e a populaccedilatildeo

O cluster 4 apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais Eacute o agrupamento mais distante da meacutedia da populaccedilatildeo na escala Prazer e o

com maior pontuaccedilatildeo entre os clusters Isso significa que este cluster agrupou meacutedicos com

pontuaccedilotildees altas em prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras em

Prazer de forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Apoacutes a anaacutelise dos clusters eles foram comparados com as variaacuteveis

sociodemograacuteficas Natildeo houve diferenccedila significativa entre as variaacuteveis deste estudo e os

clusters

Resumindo os clusters foram construiacutedos reunindo participantes por proximidade ou

afastamento da meacutedia em relaccedilatildeo agraves duas escalas Alerta e Prazer do International Affective

Picture System (IAPS) A escala Alerta mede a intensidade emocional da resposta ao estiacutemulo

e pode ir de tenso e impactado a calmo e relaxado A escala Prazer mede a valecircncia emocional

que pode induzir prazer e satisfaccedilatildeo ou desprazer e insatisfaccedilatildeo Os meacutedicos agrupados no

cluster 1 apresentaram avaliaccedilatildeo da emoccedilatildeo condizente com os paracircmetros populacionais nas

duas escalas Os clusters 2 3 e 4 tiveram diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos paracircmetros

populacionais nas duas escalas Os meacutedicos agrupados no cluster 2 ficaram mais impactados e

tensos diante das figuras e responderam aos estiacutemulos de modo menos agradaacutevel No cluster

3 os meacutedicos ficaram mais calmos e tranquilos diante dos estiacutemulos emocionais O cluster 4

agrupou os meacutedicos que perceberam as figuras de modo mais positivo e agradaacutevel Natildeo houve

diferenccedila significativa entre as variaacuteveis sociodemograacuteficas e os clusters

62 ANAacuteLISE QUALITATIVA

621 Descriccedilatildeo qualitativa dos clusters

O objetivo deste item foi verificar por meio da anaacutelise qualitativa caracteriacutesticas

pertinentes aos clusters que foram representativos na anaacutelise quantitativa no caso os clusters

2 3 e 4

Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional o cluster 2 eacute o que possui maior pontuaccedilatildeomeacutedia

em Alerta e menor pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster

83

perceberam as figuras de forma mais impactante e menos agradaacutevel do que os meacutedicos dos

outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais homens (5) do que mulheres (2) A meacutedia

de idade dos participantes do cluster eacute 47 anos e de tempo de formado 207 anos Dedicam

486 horas ao trabalho e em meacutedia 411 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 181

pacientesdia e o tempo de consulta eacute de 307 minutos

Dos 7 participantes que compotildeem o cluster 3 possuem estresse na fase de resistecircncia e

4 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (3) dois (2) apresentam

prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes a

anguacutestiaansiedade as duacutevidas quanto a si proacuteprio a irritabilidade excessiva e a vontade de

fugir de tudo apareceram com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster Os

sintomas fiacutesicos mais frequentes relatados foram aperto na mandiacutebularanger de dentes roer

unhas ou ponta de caneta cansaccedilo constante insocircnia mal-estar generalizado sem causa

especiacutefica matildeos eou peacutes frios noacute ou dor no estocircmago tensatildeo muscular e tontura frequente

Em relaccedilatildeo aos clusters 3 e 4 agrupou os meacutedicos mais velhos com mais tempo de

formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente

nas consultas Isso corrobora os resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que

meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado e com mais tempo de consulta sentiram-se

mais impactados diante dos estiacutemulos emocionais e que meacutedicos que dedicam mais horas

semanais ao trabalho no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais negativa e

desagradaacutevel

Haacute evidecircncias de que a idade altera a percepccedilatildeo emocional Gruumlhn e Scheibe (2008)

concluiacuteram que os adultos mais velhos percebem as figuras como mais negativas e mais

excitantes que os jovens Pocircrto Bueno e Bertolucci (2008) observaram que haacute diferenccedila nos

niacuteveis de alerta e valecircncia afetiva entre idosos e jovens e que haacute uma forte e negativa

correlaccedilatildeo entre valecircncia afetiva e niacutevel de alerta

Meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no

consultoacuterio e que ficam mais tempo com o paciente satildeo mais sujeitos a ver as relaccedilotildees

intensas e perceber o contato de forma negativa Isso parece fazer sentido quando apontam a

anguacutestia e a ansiedade como sintomas frequentes

O cluster 3 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui menor

pontuaccedilatildeomeacutedia em Alerta Eacute o agrupamento que possui os meacutedicos com meacutedia mais baixa

em Alerta pois perceberam as figuras de forma menos impactante e ficaram mais tranquilos

diante dos estiacutemulos

84

Esse cluster tem como representantes 5 homens e 4 mulheres A meacutedia de idade dos

participantes do cluster eacute 407 anos e de tempo de formado 159 anos Dos 9 meacutedicos 4

trabalham tambeacutem em hospital puacuteblico e 3 em hospital particular Dedicam 438 horas ao

trabalho e em meacutedia 297 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 189 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 233 minutos

Dos 9 participantes que compotildeem o cluster 7 possuem estresse 2 na fase de alerta e 5

na fase de resistecircncia 2 natildeo possuem estresse Eacute o cluster que possui mais meacutedicos com

estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (7) quatro (4) apresentam prevalecircncia de

sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas psicoloacutegicos mais frequentes apresentaram

duacutevidas quanto a si proacuteprio e irritabilidade sem causa aparente o que tambeacutem apareceu nos

outros clusters

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 4 agrupou os meacutedicos com mais estresse e mais meacutedicos

que trabalham aleacutem do consultoacuterio tambeacutem no hospital puacuteblico

Como o baixo alerta pode significar uma baixa tensatildeo diante de estiacutemulos em que satildeo

esperadas reaccedilotildees mais intensas o fato de terem mais estresse demonstraria uma diminuiccedilatildeo

dos processos de defesa e uma atitude mais concreta em relaccedilatildeo aos seus sintomas

O estudo de Carvalho N (2009) demonstrou que a exposiccedilatildeo a estiacutemulos violentos

constantes pode diminuir a ativaccedilatildeo emocional e causar a diminuiccedilatildeo da reatividade

emocional

O cluster 4 em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo emocional eacute o cluster que possui maior

pontuaccedilatildeomeacutedia em Prazer Os meacutedicos agrupados neste cluster perceberam as figuras de

forma mais agradaacutevel do que a populaccedilatildeo e os outros clusters

Esse cluster tem como representantes mais mulheres (5) do que homens (3) A meacutedia

de idade dos participantes eacute 389 anos e tempo de formado 149 anos Dedicam 486 horas ao

trabalho e em meacutedia 28 horas semanais ao consultoacuterio Atendem 268 pacientesdia e o

tempo de consulta eacute de 225 minutos

Dos 8 participantes que compotildeem o cluster 5 possuem estresse na fase de resistecircncia e

3 natildeo possuem estresse Dos meacutedicos que possuem estresse (5) todos estatildeo na fase de

resistecircncia e trecircs (3) apresentam prevalecircncia de sintomas psicoloacutegicos Dentre os sintomas

psicoloacutegicos mais frequentes aumento suacutebito de motivaccedilatildeo duacutevidas quanto a si proacuteprio

entusiasmo suacutebito e irritabilidade excessiva apareceram com mais frequecircncia dentre os

participantes deste cluster

Em relaccedilatildeo aos clusters 2 e 3 agrupou mais mulheres os meacutedicos mais jovens com

menos tempo de formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais

85

pacientes e que ficam menos tempo com o paciente nas consultas Isso corrobora com os

resultados encontrados na fase quantitativa que concluiu que haacute uma relaccedilatildeo entre as horas de

trabalho no consultoacuterio e o Prazer

O maior prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo uma visatildeo mais positiva das

relaccedilotildees Isso pode sugerir que os meacutedicos que apresentaram maior pontuaccedilatildeo em Prazer

como alguns relataram na prevalecircncia dos sintomas psicoloacutegicos em estresse satildeo

frequentemente surpreendidos com um aumento suacutebito de motivaccedilatildeo e entusiasmo como

aparece com mais frequecircncia dentre os participantes deste cluster

Meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de formado que

trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam menos tempo

com o paciente satildeo mais sujeitos a ter satisfaccedilatildeo e a serem mais motivados no que fazem

Analisando os resultados estatiacutesticos de cruzamento das variaacuteveis sociodemograacuteficas

escala de estresse e IAPS haacute trecircs tendecircncias que puderam ser notadas sugerindo algumas

hipoacuteteses interpretativas

1ordf Tendecircncia observada

Os resultados gerais mostraram que meacutedicos mais velhos com mais tempo de formado

e que dedicam mais tempo agraves consultas sentiram-se mais impactados (Alerta) diante dos

estiacutemulos emocionais Ao analisar os clusters esse direcionamento foi confirmado com as

variaacuteveis acima acrescido de mais horas semanais no consultoacuterio para o maior impacto de

estiacutemulos emocionais e pelo fato de perceber estiacutemulos de forma mais desagradaacutevel pela

escala de Prazer Nota-se que nos resultados gerais observou-se que os meacutedicos que

permanecem mais horas semanais no consultoacuterio perceberam os estiacutemulos de forma mais

desagradaacutevel

Seja pela prontidatildeo do meacutedico a uma relaccedilatildeo mais forte com o paciente ou decorrente

de sua experiecircncia e demanda emocional mais intensa em funccedilatildeo do modo de consultar esses

meacutedicos mais velhos parecem mais sensiacuteveis aos impactos emocionais o que diminui o

Prazer e o grau de satisfaccedilatildeo Ou seja infere-se que as exigecircncias emocionais presentes nas

relaccedilotildees com os pacientes interfeririam na relaccedilatildeo e na motivaccedilatildeo dos meacutedicos que parecem

estar menos satisfeitos

2ordf Tendecircncia observada

86

O grupo que reuniu mais iacutendices de estresse teve como caracteriacutestica dividir o tempo

com o trabalho em hospital puacuteblico Este grupo mostrou menos Alerta - menos reatividade

emocional Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional isso pode sugerir que nestes o estresse

pode ter contribuiacutedo para certo atenuamento de resposta emocional aos estiacutemulos

permanecendo a questatildeo desse fator contribuir para certo afastamento emocional passiacutevel de

interferir na empatia em relaccedilatildeo ao paciente

Seria provaacutevel que a carga sofrida em hospitais e o fato de lidar mais frequentemente

com situaccedilotildees e estiacutemulos extremos tenha ocasionado maior estresse e defesas como proteccedilatildeo

agraves demandas tidas como insuportaacuteveis na relaccedilatildeo com o paciente

3ordf Tendecircncia observada

Jaacute o grupo constituiacutedo de meacutedicos mais jovens e portanto com menos tempo de

formado em sua maioria mulheres que trabalham menos horas no consultoacuterio e atendem

mais pacientes ficando menos tempo com cada teve pontuaccedilatildeo acima da meacutedia na escala

Prazer Ou seja parecem mais sujeitos a ter ou procurar satisfaccedilatildeo e motivaccedilatildeo O maior

prazer pode significar uma maior motivaccedilatildeo e uma visatildeo mais positiva das relaccedilotildees ou ainda

uma compensaccedilatildeo e busca de prazer evitando o desprazer

Seja em funccedilatildeo de maior motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo ou como uma busca compensatoacuteria

da mesma tais fatores estariam ligados agrave idade quanto mais jovem mais estiacutemulos

prazerosos buscados Pode-se pensar que meacutedicos que dividem o tempo de trabalho com

outras atividades teriam maior fonte de prazer e satisfaccedilatildeo Outro fator eacute que ao ficarem

menos tempo com o paciente na consulta envolvem-se menos com ele e sofrem menos carga

emocional de desprazer que eacute o que acontece com o cluster da primeira tendecircncia assinalada

622 Anaacutelise das entrevistas em profundidade estudos de caso

Foram escolhidos 4 (quatro) participantes um representante de cada cluster para

anaacutelise em profundidade em forma de estudo de caso A anaacutelise dos casos foi realizada por

meio de categorias preacute-estabelecidas relacionadas com os objetivos da pesquisa visualizadas

no quadro a seguir

87

Tabela 17 Categorias de anaacutelise

CATEGORIAS

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

A percepccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Esse quadro permitiu uma leitura com o mesmo embasamento para as quatro anaacutelises

6221 Caso 1 Daniel (participante 12)

Daniel pertence ao cluster 2 Esse cluster reuniu os participantes com maior impacto

aos estiacutemulos emocionais e baixo Prazer (maior Alerta e menos Prazer) agrupou os meacutedicos

mais velhos com mais tempo de formado que trabalham mais horas no consultoacuterio e que

ficam mais tempo com o paciente nas consultas

Meacutedico haacute mais de 40 anos Daniel tem 70 anos de idade e sua especialidade eacute

Ortopedia Hoje dedica-se somente ao trabalho no consultoacuterio pois haacute alguns anos por conta

de uma doenccedila cardiacuteaca reduziu sua carga de trabalho e parou de fazer cirurgias Trabalha

em meacutedia 20 horas semanais atende de 4 a 6 pacientes por dia e o tempo meacutedio de consulta eacute

de 45 minutos

Em vaacuterios momentos da entrevista Daniel dispersava-se nas histoacuterias perdia o foco e

era necessaacuterio reestabelecer o objetivo do encontro Por exemplo quando estaacutevamos falando

sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades comeccedilou a explicar todo o processo de

como o meacutedico deve verificar a queixa de um paciente No contato mostrou-se um homem

educado que gosta de falar e se mostrou irocircnico fazendo piadas ou falando sobre como

montou o ldquoclube dos chatosrdquo As questotildees referentes agraves emoccedilotildees geraram incialmente um

desconforto em Daniel e isso repercutiu em suas respostas iniciais jaacute que as perguntas que

estavam relacionadas ao modo como lidava com as suas emoccedilotildees precisaram ser repetidas

algumas vezes Em muitos momentos ele teve dificuldade de respondecirc-las Pode-se pensar

que eacute um tema pouco refletido e discutido pelo meacutedico

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

88

Daniel natildeo apresentou estresse pela medida do Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) Dentre os sintomas fiacutesicos assinalou sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico

constante e hipertensatildeo arterial Segundo ele satildeo sintomas naturais por conta da idade Natildeo

relatou nenhum sintoma psicoloacutegico

O estresse para Daniel eacute um dos grandes problemas com os quais o meacutedico precisa

aprender a lidar em sua atividade Natildeo eacute algo esporaacutedico que ocorre com um caso ou outro

mas eacute algo constante ldquoO estresse estaacute ligado a nossa atividade quem natildeo sabe lidar com ele

natildeo vai ser meacutedicordquo

Entende ele que o meacutedico estaacute sempre no limite sendo testado e acredita que satildeo essas

situaccedilotildees de risco que geram o desgaste fiacutesico e o cansaccedilo ldquoTemos que lidar com situaccedilotildees

de risco e limite a toda hora a todo o momentordquo O desgaste e o cansaccedilo segundo Daniel

fazem o meacutedico reagir de forma mais riacutespida com seus pacientes Para ele natildeo haacute como

atender um paciente bem se natildeo estiver descansado

Daniel disse que natildeo tem estrateacutegias para lidar com essas situaccedilotildees mas que natildeo havia

mais dificuldade porque nesse tempo de praacutetica cliacutenica houver um aprendizado ldquoLido bem

porque aprendirdquo

Haacute alguns anos teve um infarto e por conta disso fez algumas mudanccedilas reduzindo o

nuacutemero de horas de trabalho e de pacientes Segundo ele isso mudou sua relaccedilatildeo com o

trabalho Antes as pessoas o percebiam como um meacutedico mais ldquoriacutespidordquo que vivia sempre

cansado e estressado ldquoA minha mulher e outras secretaacuterias dizem o senhor agora natildeo eacute tatildeo

chato natildeo eacute rabo curto como erardquo

Hoje Daniel acredita que devido agrave reduccedilatildeo de carga de trabalho consegue equilibrar-

se melhor ter uma boa qualidade de vida e uma melhor relaccedilatildeo com os seus pacientes ldquoEu

passei a atender os pacientes muito melhor nessa fase depois dos 70 anos porque eu tenho

mais tempordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Daniel eacute o

meacutedico que ficou mais impactado e reagiu mais intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos

estiacutemulos das figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos

Houve uma tendecircncia de Daniel a ficar altamente impactado diante das figuras mesmo as

89

consideradas de baixo alerta e neutras o que pode sugerir que se vecirc afetado intensamente por

estiacutemulos que despertam emoccedilotildees

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Daniel acredita que as emoccedilotildees podem influenciar a sua praacutetica mas que natildeo deve

permitir que isso aconteccedila A sua percepccedilatildeo eacute de que a emoccedilatildeo influencia o tratamento de

modo negativo Por isso sua atitude eacute de controle ldquoNatildeo deixo que afete (emoccedilotildees) o meu

trabalho hoje jaacute sei bem discernir e controlarrdquo ldquoEu aprendi a me controlarrdquo

Refere que poucas coisas lhe afetam verdadeiramente em sua praacutetica meacutedica hoje em

dia Os momentos em que relatou ter sido afetado e ter percebido suas emoccedilotildees envolviam

parentes ou pessoas conhecidas Segundo ele natildeo consegue ser neutro nesses casos ldquoEu vi

um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro eu jaacute vi muitos

meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a carinha dele e

isso me emocionourdquo

Apesar de considerar a emoccedilatildeo prejudicial para o atendimento e evitar que ela o

influencie reconhece que eacute importante que o meacutedico em geral perceba-as durante o

atendimento pois isso tornaria o meacutedico mais humano e consciente de suas fragilidades e

fraquezas Para Daniel quando os meacutedicos fogem das emoccedilotildees seria por incapacidade de se

resolver internamente Isso demostraria que natildeo erram nunca que natildeo reconhecem suas

falhas ldquo[] eles estatildeo sempre ditando regras achando que eles natildeo erram nunca natildeo

reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeordquo

Daniel aponta uma seacuterie de mudanccedilas na relaccedilatildeo meacutedico paciente que os convecircnios

incorporaram Mudanccedilas estas que afetaram a dinacircmica relacional Segundo ele haacute uma

diferenccedila entre a relaccedilatildeo meacutedico-paciente para os meacutedicos que atendem convecircnios e satildeo

pressionados pelo tempo e meacutedicos que como ele natildeo tecircm essa pressatildeo e podem permanecer

mais tempo com o paciente tendo uma melhora na qualidade do atendimento

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Inicialmente Daniel natildeo conseguiu expor ou falar sobre as emoccedilotildees relacionadas ao

paciente Quando perguntado sobre o paciente difiacutecil ou aquele que natildeo representava

dificuldades reforccedilou a questatildeo do aprendizado dizendo que a praacutetica meacutedica o ensinou a

90

lidar com as dificuldades ldquoComo eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais por

que sei torear bem essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamenterdquo

Ao ser indagado mais de uma vez conseguiu falar sobre aspectos emocionais

envolvidos na relaccedilatildeo deixando transparecer um tom emocional Para Daniel os pacientes

sempre geram uma sensaccedilatildeo de que ldquotemos que dar contardquo causando inseguranccedila ldquoTodo

paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos

que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo mexer com nossa inseguranccedilardquo

O paciente percebido como difiacutecil por Daniel eacute aquele que tem uma postura arrogante

que reclama e que jaacute vem com as informaccedilotildees e soacute espera uma validaccedilatildeo ou confirmaccedilatildeo do

diagnoacutestico de outro meacutedico Diz perceber a arrogacircncia de um paciente jaacute na sala de espera ao

cumprimentaacute-lo ldquoPercebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles entram no consultoacuterio

ateacute na maneira de cumprimentarrdquo Para exemplificar este tipo de paciente relatou uma de

suas experiecircncias ldquo[] estava a matildee internada as duas filhas e eu disse olha eu lamento

mas natildeo posso continuar por que eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e vocecircs trocaram

o cliacutenico sem falar comigo [] As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa

ldquoo senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram E a matildee

chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar porque vocecircs me

obrigaram a fazer issordquo Daniel abandonou o caso e diz ter ficado incomodado por dois ou

trecircs dias mas que rapidamente se reestabeleceu pois natildeo poderia permitir que fatos como

esse afetassem o seu trabalho

Quando perguntado sobre o paciente que natildeo despertava dificuldades Daniel relatou

que esse tipo de paciente eacute aquele que sabe ser conduzido que fornece todas as informaccedilotildees

de maneira loacutegica que natildeo procura se exibir e valoriza as suas perguntas ldquoOs que sabem ser

conduzidos [] O paciente melhor de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com

a histoacuteria e daacute todas as informaccedilotildees natildeo procura se exibirrdquo

Esses pacientes segundo Daniel satildeo aqueles que o fazem ter sensaccedilotildees positivas e o

tornam mais satisfeito com o que faz O seu primeiro contato com esse tipo de paciente eacute

positivo e tambeacutem consegue percebecirc-lo antes de iniciar a consulta ldquoQuando gosto gosto

Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees positivas me torno mais

satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas chuteirasrdquo (risos)rdquo

Apesar de Daniel considerar que existem pacientes que geram mais sensaccedilotildees

positivas do que outros ressalta que natildeo existem pacientes que natildeo despertem dificuldades

mas insiste em dizer que consegue contornar todas as situaccedilotildees ldquoNatildeo apresenta dificuldades

91

mas apresenta dificuldadesrdquo ldquo[] acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe

paciente faacutecilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Para Daniel a sua sobrevivecircncia como meacutedico exigiu dele uma postura de controle

diante de suas emoccedilotildees Confrontado com situaccedilotildees e exemplos que envolviam um impacto

emocional disse lidar com naturalidade ldquoEnfrento com a maior naturalidaderdquo Fala sobre o

controle das emoccedilotildees como uma conquista e distingue como se comportava quando era mais

jovem e hoje ldquoQuando eu era mais moccedilo eu tinha taquicardia e emoccedilotildees importantes []

mas com o tempo vocecirc vai se controlando vai se controlandordquo ldquoEacute claro que eu percebia as

emoccedilotildeesrdquo

O tempo de cliacutenica e as horas de trabalho fizeram Daniel adaptar-se a ponto do

desgaste e do cansaccedilo que antes eram prejudiciais deixarem de incomodar ldquoNatildeo sofro

maisrdquo

Ao mesmo tempo em que diz agir com naturalidade utiliza estrateacutegias para obter o

controle e parece usar da ironia e do cinismo para lidar com algumas situaccedilotildees com os seus

pacientes Daniel conta que como uma brincadeira criou um clube dos chatos ldquoEntatildeo de

brincadeira eu criei um clube um clube dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-

presidente secretaacuteria geral tem membros do conselho [] Eu digo daacute uma proposta para

essa senhora quando ela sai eu falo para a secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha

a D fulana estaacute perigando na presidecircncia natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas

desse tipordquo ldquoLido com muito bom humor tranquilo me divirtordquo

Outro aspecto importante observado em sua atitude diante das situaccedilotildees que geram

desconforto eacute a tentativa de minimizar o seu sofrimento ldquoSofri uns dois trecircs dias vocecirc fica

remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que issordquo

Leitura analiacutetica

Daniel eacute o mais velho dentre os meacutedicos formado haacute mais tempo e um dos meacutedicos

que disse ficar mais tempo com o paciente Sua pontuaccedilatildeo na escala Alerta (IAPS) foi

extremamente alta a mais alta entre todos os meacutedicos Daniel parece reconhecer-se em tensatildeo

diante da relaccedilatildeo e eacute sugestivo que ele apresente uma resposta de alto impacto em Alerta no

teste do IAPS

92

Em um primeiro momento Daniel teve dificuldade de reconhecer as suas emoccedilotildees

relacionadas ao paciente Natildeo raro ele parava refletia e voltava com a frase ldquoenfrento com a

maior naturalidaderdquo Essa fala parecia advir quando natildeo conseguia explicar uma situaccedilatildeo ou

uma emoccedilatildeo Reconheceu no entanto que todos os pacientes de alguma forma afetam-no

em sua seguranccedila

Do ponto de vista emocional sente-se inseguro diante dos pacientes e isso pode

refletir-se em uma atitude de precisar constantemente provar sua eficaacutecia e competecircncia e

incomodar-se com as situaccedilotildees em que eacute questionado Apesar de dizer que lida com as

emoccedilotildees com naturalidade Daniel acredita que elas prejudicam o atendimento e por isso eacute

necessaacuteria uma atitude de controle

Tais atitudes perante o paciente refletiram-se na forma como o percebe O paciente

que o afeta de modo negativo eacute aquele que de alguma forma questiona a sua autoridade e o

seu saber e reforccedila a inseguranccedila Verifica-se tal atitude quando no exemplo dado por Daniel

ele sentiu-se afetado por achar natildeo ter sido respeitada sua orientaccedilatildeo O fato de ter sido

contrariado afetou-o a ponto de querer retirar-se do caso horas antes da cirurgia com o

paciente jaacute no leito do hospital Por outro lado o paciente que o afeta de maneira positiva eacute

aquele que Daniel de alguma maneira consegue conduzir eacute aquele que se deixa controlar e

que parece respeitaacute-lo

No decorrer da entrevista Daniel deixou transparecer que os pacientes agraves vezes

percebem nele certa rispidez Em diversos momentos usou a expressatildeo ldquoriacutespidordquo ou

ldquorispidezrdquo para explicitar um modo de agir ldquoMuitos pacientes dizem me disseram que o

senhor era tatildeo ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo

ruacutestico eacute muito bonitordquo Agraves vezes referia-se no passado pois diz ter mudado com o tempo e

com a idade mas em alguns momentos fazia referecircncia ao presente natildeo deixando claro se

ainda enfrenta esse tipo de questionamento do paciente

O modo como lida com as situaccedilotildees e pacientes incocircmodos expotildee um modo particular

de lidar com a dificuldade Utiliza-se da ironia e do cinismo como um mecanismo de defesa

Demonstra sua preferecircncia de agir de modo distante apesar de utilizar-se de algumas

estrateacutegias racionais de aproximaccedilatildeo com o paciente por exemplo brincando com eles como

demonstra na fala ldquoEu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute

cobro a consulta na saiacuteda por que se eu natildeo agradar a senhora natildeo paga nada [] e alguns

iam emborardquo

Daniel em todo seu discurso demonstrou que o meacutedico deve controlar-se e natildeo

permitir que a emoccedilatildeo influencie Considera o autoconhecimento e a participaccedilatildeo dos

93

aspectos emocionais necessaacuterios mas natildeo apontou como seria importante na conduccedilatildeo de

seus pacientes Utiliza-se do controle e de processos defensivos (ironia) para lidar com os

aspectos emocionais configurando uma atitude de proteccedilatildeo diante dos pacientes que o

confrontam Parece projetar em seus pacientes aspectos sombrios que natildeo satildeo reconhecidos e

que desencadeiam inseguranccedila e reforccedilam o complexo de poder produzindo o receio de

falhar

6222 Caso 2 Alice (participante 2)

Alice pertence ao cluster 3 Esse cluster reuniu os participantes com menos reatividade

emocional (baixo Alerta) agrupou mais meacutedicos com estresse e que trabalham tambeacutem em

hospital puacuteblico

Formada haacute 5 (cinco) anos Alice tem 29 anos Especializou-se em Oftalmologia e

divide o seu tempo entre o consultoacuterio o Hospital Puacuteblico e a orientaccedilotildees de residentes

Dedica em meacutedia 32 horas semanais ao trabalho destas 24 horas ao trabalho no consultoacuterio

Recebe em meacutedia 12 pacientes por dia no consultoacuterio e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

20 minutos

Alice foi cordata e mostrou-se muito soliacutecita A entrevista foi interrompida algumas

vezes principalmente porque o consultoacuterio estava cheio mas fluiu de maneira agradaacutevel

Apesar de natildeo oscilar emocionalmente transmitia uma sensaccedilatildeo de abatimento Em vaacuterios

momentos Alice teve dificuldade de responder as perguntas e exemplificar quando lhe era

solicitado um caso ou uma situaccedilatildeo que pudesse demonstrar o que estava sentindo Uma das

questotildees mais difiacuteceis para ela responder foi se conseguiria lembrar-se de um caso em que

uma emoccedilatildeo forte havia sido despertada no atendimento Quando natildeo conseguia expressar

algo ficava pensativa e dizia ser difiacutecil falar sobre o que sentia Mesmo assim parecia

preocupada em refletir e ser o mais fiel possiacutevel agraves respostas

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Alice apresentou no Inventaacuterio de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)

estresse na fase de resistecircncia Essa eacute a fase em que os sintomas satildeo mantidos por periacuteodos

prolongados e tentativas de reestabelecer o equiliacutebrio causam uma sensaccedilatildeo de desgaste e

cansaccedilo Os principais sintomas fiacutesicos apresentados foram mal-estar generalizado sem causa

94

especiacutefica sensaccedilatildeo de desgaste fiacutesico constante tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando

mudanccedila de apetite insocircnia e naacuteusea Dos sintomas psicoloacutegicos aponta-se a

hipersensibilidade emotiva pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto e

irritabilidade Houve predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos o que mostra uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica e predisposiccedilatildeo para pensar sentir e agir de modo estressante

Alice reconhece que a profissatildeo do meacutedico eacute algo que demanda muito inclusive do

ponto de vista emocional Dentre os fatores estressantes aponta o relacionamento com os

pacientes o sistema de sauacutede e as questotildees administrativas com as quais os meacutedicos precisam

aprender a lidar

Apesar de considerar o estresse parte da profissatildeo ressalta que existem dificuldades

que satildeo muito difiacuteceis de superar e que isso pode levar o meacutedico a abandonar a profissatildeo

Para Alice as emoccedilotildees tecircm um papel importante na gestatildeo do estresse jaacute que podem

interferir na relaccedilatildeo e no tratamento do paciente Relata que jaacute viu vaacuterios colegas entrarem em

burnout e o risco disso eacute que quando o meacutedico estaacute num niacutevel muito alto de esgotamento isso

pode levaacute-lo a tratar mal o paciente sem ele ter feito nada ldquoPsicologicamente demanda

muito eacute estressante vaacuterios colegas meus entraram em burnout eu vi isso muitas vezes []

eu jaacute vi de tudo [] ateacute gente assim que trata mal o pacienterdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Alice ficou

menos impactada e reagiu menos intensamente agraves emoccedilotildees evocadas pelos estiacutemulos das

figuras tanto em relaccedilatildeo agrave meacutedia quanto em relaccedilatildeo aos outros meacutedicos Houve uma

tendecircncia de Alice a perceber as figuras de alto impacto emocional como de baixo impacto o

que pode sugerir que a exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse pode ter

diminuiacutedo sua capacidade de reaccedilatildeo emocional

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Alice considera importante perceber as emoccedilotildees em sua rotina de trabalho pois elas

podem afetar o tratamento do paciente Para Alice a emoccedilatildeo afeta natildeo soacute a sua forma de

comunicar-se com o paciente mas tambeacutem como o meacutedico vai analisar as suas decisotildees ldquo(a

emoccedilatildeo) influi em tudordquo

95

Acredita que os meacutedicos precisam estar preparados para os encontros emocionais

intensos em sua atividade ldquo[] ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativosrdquo

Considera a empatia como recurso necessaacuterio da avaliaccedilatildeo da situaccedilatildeo e do paciente o

que evitaria ter que lidar com pacientes potencialmente agressivos reconhecendo aqueles que

podem facilitar a interaccedilatildeo ldquoquando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de atenderrdquo

Em seu relato conta que em alguns momentos quando estaacute diante do paciente tem

alguma intuiccedilatildeo Fala sobre uma ldquopulguinhardquo ou um ldquosentido aranhardquo que parece utilizar em

seus atendimentos ldquoAquela pulguinha jaacute estava me avisandordquo ldquoNosso ldquosentido aranhardquo nos

avisa o que vocecirc natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircnciardquo Alice natildeo soube explicar

que tipo de accedilatildeo ou comportamento do paciente a leva a sentir que natildeo tem condiccedilotildees de

atendecirc-lo mas observou que cabe a ela a decisatildeo de atender ou natildeo do que eacute melhor para ela

como meacutedica e para o paciente ldquoTenho um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e

sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu sempre lembro disso quando eu vejo um pacienterdquo

Alice observa que haveraacute momentos em que teraacute que lidar com pacientes que

incomodam e satildeo difiacuteceis mas que natildeo pode tratar mal o paciente e julgaacute-lo pois cabe ao

meacutedico compreender que tecircm pacientes que despertaratildeo coisas negativas sem mudar sua

postura com ele ldquoNatildeo pode tratar mal o paciente numa ldquocontra referecircnciardquo Referindo-se a

um paciente diz ldquonatildeo eacute legal ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim

entatildeo eu tambeacutem natildeo posso descontar nelardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Alice percebe o paciente difiacutecil como aquele que duvida e desconfia do seu trabalho

que questiona e eacute agressivo Satildeo pacientes que a afetam negativamente e despertam maacutegoa

ressentimento e raiva Talvez este conflito possa desencadear um abafamento expressando o

baixo Alerta no IAPS

Falar sobre o paciente difiacutecil desencadeou na fala de Alice uma sequecircncia de

exemplos e situaccedilotildees difiacuteceis com as quais teve que lidar e de agressotildees fiacutesicas e verbais de

pacientes contra ela Apesar de num primeiro momento dizer tentar compreender o paciente

e sua situaccedilatildeo diante da fragilidade da doenccedila e o proacuteprio sistema de sauacutede o qual complica a

relaccedilatildeo conclui que muitas vezes a agressatildeo eacute tatildeo gratuita que eacute muito difiacutecil uma

compreensatildeo para tal atitude ldquoA gente eacute muito mal tratado no sistema puacuteblico e agraves vezes no

96

consultoacuterio tambeacutemrdquo ldquo[] jaacute apanhei de paciente jaacute tive paciente me chamar de FDPrdquo

ldquoeles vinham para cima de mim []rdquo

Alice sente-se ameaccedilada pela agressividade chateada com a postura de algumas

pessoas e com o desrespeito com o meacutedico ldquoNatildeo eacute faacutecil mas eacute uma agressatildeo um ato de

violecircnciardquo A percepccedilatildeo diante desse tipo de paciente eacute de decepccedilatildeo e haacute notoacuteria

demonstraccedilatildeo de ressentimento e maacutegoa ldquonatildeo preciso passar por issordquo

Existem os pacientes que de algum modo lhe despertam sensaccedilotildees positivas Satildeo

aqueles com quem consegue dialogar trocar e ter uma comunicaccedilatildeo faacutecil e fluiacuteda Satildeo

pacientes jovens ou mais velhos que despertam em Alice atitudes de compaixatildeo apoio e

ajuda ao outro

Tal tipo de paciente reforccedila sua autoestima e identidade como meacutedica propicia a

sensaccedilatildeo de reconhecimento e a sensaccedilatildeo de utilidade e faz o seu trabalho fazer sentido ldquo[]

eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir aqui na minha sala eu ajudei ele

realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo meu tempo acho que isso assim

de se sentir uacutetilrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Alice relata o forte impacto decorrente das agressotildees vividas por pacientes Para

proteger-se prefere afastar-se de casos que possam desencadear novas agressotildees ldquo[]

quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor evitar esse tipo de

pacienterdquo Diz evitar os pacientes que podem lhe causar problemas repassando ou saindo do

caso ldquoum paciente que realmente me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees

psicoloacutegicas de lidarrdquo

Apesar de sua preferecircncia por natildeo atender alguns pacientes existem momentos em

que ela deve desempenhar seu papel como meacutedica independentemente de suas preferecircncias e

assumir o caso ldquoVocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeitordquo ldquoMas laacute dentro eu sou

uma profissional entatildeo vocecirc tem que engolirrdquo

Os casos citados em que se sente agredida satildeo os mais intensos mas tambeacutem relata

como lida com pacientes com os quais se identifica e que podem impactar de modo positivo o

tratamento e as consultas ldquo[] eu meio que peguei ela para criar ela chegava no

consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolverrdquo

97

Alice parece utilizar-se da evitaccedilatildeo e da racionalizaccedilatildeo nos casos em que se depara

com pacientes que a afetem de maneira negativa Nos casos em que eacute afetada positivamente

parece criar uma interaccedilatildeo exagerada que a leva a se ldquomisturarrdquo com alguns casos

Leitura analiacutetica

Alice parece detectar a percepccedilatildeo da emoccedilatildeo como um instrumento de proteccedilatildeo para

evitar um confronto ou situaccedilotildees dolorosas como jaacute teve no passado O ato de violecircncia em

qualquer pessoa deixa marca indeleacuteveis Ressente-se e mostra-se decepcionada com o modo

como eacute tratada e parece natildeo ter recursos suficientes para lidar com situaccedilotildees de rispidez

Reconhece uma habilidade de intuir quais seratildeo aqueles pacientes com os quais ela

teraacute dificuldade o que se relaciona a experiecircncias pregressas perigosas A intuiccedilatildeo estaacute

canalizada para a experiecircncia traumaacutetica e para defender-se de uma possiacutevel agressatildeo

antecipa tal possibilidade nos outros pacientes Tal atitude pode mostrar uma dificuldade de

superaccedilatildeo de um trauma decorrente das agressotildees O ldquosentido aranhardquo que relata possuir

parece mostrar um modo de perceber ou captar possiacuteveis intenccedilotildees de agressatildeo Utiliza esse

recurso como uma forma de proteccedilatildeo e de preparo antecipatoacuterio

Como nem sempre pode escolher ou fugir das situaccedilotildees que percebe como perigosas

diante da sensaccedilatildeo de vulnerabilidade e para suportar as situaccedilotildees difiacuteceis aparenta utilizar o

recurso da racionalizaccedilatildeo com ideias e regras de como deve ser a sua conduta como meacutedica

Apesar de reconhecer e perceber algumas emoccedilotildees demonstra ter pouca compreensatildeo

de como utilizar tal reconhecimento Isso se reflete em sua atitude diante dos viacutenculos em que

parece predominar a desconfianccedila Quando o paciente natildeo demonstra confianccedila nela ela

reage negativamente fica com raiva e chateada chegando ateacute a retirar-se ou abandonar o

caso

Os pacientes com os quais consegue lidar de forma tranquila satildeo aqueles que natildeo

representam ameaccedila e natildeo a confrontam como no caso dos jovens adolescentes e dos idosos

Chega a identificar-se com eles a ponto de indiscriminar seu papel

Alice parece desmotivada e frustrada diante de algumas situaccedilotildees e com baixa energia

para alterar aquilo que acredita natildeo poder ser alterado Talvez pela idade Alice esteja

vivenciando uma fase de questionamento sobre a profissatildeo e a vida de meacutedico Parece ainda

ter poucos recursos para lidar com situaccedilotildees adversas

A baixa energia pode tambeacutem ser verificada nos resultados do IAPS em que Alice

percebeu os estiacutemulos emocionais de alto impacto como de baixa intensidade Agregando os

98

sintomas de estresse e a predominacircncia de sintomas psicoloacutegicos demonstra-se uma maior

vulnerabilidade psicoloacutegica que pode influenciar suas atitudes

Chama a atenccedilatildeo que o exemplo dado por Alice como algo que lhe causaria estresse

estaacute ligado a questotildees burocraacuteticas e administrativas de sua atuaccedilatildeo quando no decorrer da

entrevista apareceram situaccedilotildees muito impactantes e dolorosas que ela natildeo reconheceu como

vinculadas ao estresse

Diante da vulnerabilidade Alice ou evita as situaccedilotildees que por ela satildeo percebidas

como uma ameaccedila e que podem levaacute-la a abandonar o caso ou racionaliza com a ideia de que

como meacutedica eacute obrigada a suportar e atender esse tipo de paciente Haacute o reconhecimento dos

efeitos das interferecircncias emocionais e as defesas parecem natildeo conter o sofrimento

A exposiccedilatildeo de Alice a estiacutemulos agressivos e ao estresse parece ter diminuiacutedo sua

capacidade de reaccedilatildeo emocional Parece ter pouca energia para agir sente-se desmotivada e

frustrada com algumas situaccedilotildees decorrentes da praacutetica profissional que a fazem questionar

sua profissatildeo Refere reconhecer as emoccedilotildees compreende a importacircncia desse

reconhecimento na relaccedilatildeo com o paciente e sua influecircncia no tratamento no entanto

observa-se a falta de recursos para lidar com os aspectos emocionais desencadeados pelas

relaccedilotildees

Alice parece natildeo perceber a fragilidade emocional em que se encontra e ao utilizar

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo manteacutem na sombra conteuacutedos reprimidos que satildeo

projetados para as relaccedilotildees com o paciente e aumentam a sua atitude de desconfianccedila diante

dos viacutenculos e a sensaccedilatildeo de desamparo

6223 Caso 3 Miguel (Participante 4)

Miguel pertence ao cluster 4 Esse cluster reuniu os participantes com maior iacutendice de

Prazer e agrupou os meacutedicos mais jovens em sua maioria mulheres com menos tempo de

formado que trabalham menos horas no consultoacuterio que atendem mais pacientes e que ficam

menos tempo com eles

A escolha desse participante deu-se pela pontuaccedilatildeo no IAPS jaacute que foi

individualmente um dos meacutedicos com pontuaccedilatildeo mais alta na escala Prazer pelo grande

nuacutemero de pacientedia e pelo tempo reduzido de consulta apesar de natildeo encaixar nas demais

caracteriacutesticas do cluster idade sexo tempo de formado e tempo de trabalho no consultoacuterio

99

Miguel tem 51 anos e eacute formado haacute 28 anos Especializou-se em Ortopedia e divide o

seu tempo entre o consultoacuterio Hospital Puacuteblico e Particular Suas atividades no hospital satildeo

atendimento e cirurgias Dedica 65 horas semanais ao trabalho destas 40 horas ao trabalho

no consultoacuterio Recebe em meacutedia 30 pacientes por dia e o tempo meacutedio de atendimento eacute de

15 minutos

O encontro com Miguel foi bastante conturbado Sua sala de espera estava muito

cheia ele corria de um lado para o outro entrando e saindo de trecircs diferentes salas de

atendimento no consultoacuterio A dificuldade com esse meacutedico foi criar um ambiente positivo

para que ele conseguisse falar sem que focircssemos interrompidos Miguel falou muito pouco e

agraves vezes foi monossilaacutebico em suas respostas Houve pouca interaccedilatildeo e pouco contato visual

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Natildeo apresentou estresse de acordo com a escala Inventaacuterio de Sintomas de Stress para

Adultos de Lipp (ISSL) mas apresentou os seguintes sintomas psicoloacutegicos no teste vontade

suacutebita de iniciar novos projetos e pensarfalar constantemente sobre um mesmo assunto Natildeo

assinalou nenhum sintoma fiacutesico

Miguel acredita que o estresse eacute ocasionado pelo nuacutemero de pacientes que tem que

atender por hora e pela necessidade de dividir o seu tempo no consultoacuterio com outras

atividades como cirurgias e compromissos familiares

Ele diz que natildeo considera sua atividade no consultoacuterio estressante apesar de atribuir o

estresse ao nuacutemero de pacientes e atender em meacutedia 30 pacientesdia o que parece uma

contradiccedilatildeo De suas atividades considera a cirurgia a mais estressante pois eacute mais delicada e

mais passiacutevel de imprevistos Acredita que administra todas as situaccedilotildees muito bem ldquoO que

me daacute estresse eacute ter que cumprir uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo

ter um compromisso ou entatildeo um compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo

perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse agora atender natildeordquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo da emoccedilatildeo colhida utilizando o IAPS Miguel

percebeu as figuras de forma mais agradaacutevel do que os outros meacutedicos e a populaccedilatildeo geral

Isso pode sugerir que eacute mais sujeito a ter satisfaccedilatildeo e a ser motivado No entanto ao

considerar metade das figuras desagradaacuteveis como agradaacuteveis daacute indiacutecios de certa

100

insensibilidade e pouca apreensatildeo emocional das situaccedilotildees negativas que podem ocorrer em

funccedilatildeo de um processo defensivo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

Miguel diz que natildeo percebe suficientemente as emoccedilotildees pois natildeo pensa muito sobre

elas acredita que isso demandaria tempo e a rotina do trabalho natildeo permite isso ldquoA gente

acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildeesrdquo ldquoQuando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildeesrdquo

As emoccedilotildees para Miguel satildeo tidas como negativas para a interaccedilatildeo com o paciente e

prejudiciais ao atendimento Isso porque acredita que se for afetado por algo ou por alguma

caracteriacutestica negativa de seu paciente prejudicaraacute o seu humor e o atendimento ldquoSe vocecirc

fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupadordquo As emoccedilotildees satildeo percebidas como

barreiras que precisam ser ldquocercadasrdquo e ldquocolocadas de ladordquo

Quando falou sobre o reconhecimento de uma emoccedilatildeo forte e positiva no trabalho

Miguel apontou o agradecimento de alguns pacientes pelo seu trabalho principalmente pela

sua capacidade diagnoacutestica ldquo[] uma ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor

cervical benigno tambeacutem depois operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo

emoccedilotildees que depois viram fortesrdquo

Possui um entendimento de que o diagnoacutestico seraacute mais eficaz se conseguir transpor as

suas fragilidades e afetos pois tem que ser neutro e evitar a transferecircncia que pode afetar a

sua opiniatildeo ldquoEacute aquilo que a psicologia meacutedica fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo

vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa [] Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute []

afeta um pouco a opiniatildeo da pessoardquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

Miguel teve dificuldade de expressar os conteuacutedos emocionais mesmo quando

perguntado sobre os tipos de paciente (difiacutecil e o que natildeo representa dificuldades)

Dentre as caracteriacutesticas percebidas do paciente que parece ser mais difiacutecil de atender

Miguel considerou o fato de o paciente levar para a consulta informaccedilotildees colhidas na internet

ou com outros meacutedicos Miguel entende que o fato de o paciente possuir informaccedilotildees

desvaloriza o seu trabalho o que o tornaria mais questionador e detentor da ldquorazatildeordquo ldquoO tipo

da pessoa que acha que tem razatildeordquo O paciente informado segundo Miguel quer confrontar

101

o meacutedico e validar as informaccedilotildees que jaacute possui Natildeo espera do meacutedico uma interaccedilatildeo ldquoHoje

em dia com internet tem gente que jaacute vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo

quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico do que ele quer fazer questiona tudordquo

Segundo ele esse tipo de paciente natildeo percebe que tal atitude eacute prejudicial pois natildeo

traz nada de positivo para a consulta e gera nele uma sensaccedilatildeo incocircmoda pois o deixa

desmotivado e sem vontade de atendecirc-lo ldquoUma pessoa como essa natildeo daacute vontade de atender

[] daacute uma sensaccedilatildeo incocircmodardquo Esse tipo de paciente acaba demandando mais atenccedilatildeo e

mais esforccedilo de Miguel jaacute que precisa defender uma ideia ou fazer-se entender ldquoA

dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar explicar

para ele o que vocecirc esta querendordquo

O paciente que natildeo representa dificuldades eacute o paciente que busca o seu apoio aceita o

diagnoacutestico reconhece e respeita a sua opiniatildeo Eacute um paciente que desperta o interesse de

Miguel em fazer o seu trabalho e querer cuidar dele ldquoMe desperta um interesse pelo meu

trabalho de tentar ajudar ele de ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se

sente bemrdquo

Miguel aponta o reconhecimento pelo seu trabalho e o agradecimento como algo que

suscita emoccedilotildees positivas ldquouma vez teve uma senhora [] ela se queixava de formigamento

das pernas para baixa eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o

pronto socorro [] ela veio aqui me agradecerrdquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Miguel fala que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e que natildeo pode abater-se por elas

jaacute que o paciente pode suscitar emoccedilotildees negativas mas mesmo assim ele teraacute que fazer o seu

trabalho Entende que as emoccedilotildees positivas satildeo mais faacuteceis de assimilar e as negativas satildeo

ruins porque afetam a sua opiniatildeo Ele busca neutralidade na interaccedilatildeo ldquoVocecirc tem que ir laacute

tentar fechar o maacuteximordquo (as emoccedilotildees) ldquoVocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser

neutrordquo

Acredita que ainda que alguns pacientes possam afetaacute-lo a maturidade e os anos de

cliacutenica tornaram-no menos influenciado pelas emoccedilotildees Diz que esse tipo de situaccedilatildeo eacute muito

comum no iniacutecio de carreira e que quando jovem era normal ser influenciado mas o tempo o

ajudou a envolver-se menos e a natildeo ter e desenvolver afetos ldquoNo comeccedilo vocecirc pode ser

influenciado por uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto

nenhumrdquo

102

Como natildeo parece preocupar-se com suas emoccedilotildees natildeo fala sobre sua gestatildeo ou

estrateacutegias para lidar com elas e diz natildeo pensar sobre isso Acredita que refletir e conectar-se

com o paciente emocionalmente o afetaria e por isso opta por natildeo fazecirc-lo ldquoTem gente que

chega aqui eacute dor dor dor com sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo erradordquo

Leitura analiacutetica

Miguel demonstra ter dificuldade de compreender o papel das emoccedilotildees na interaccedilatildeo

Estaacute ciente de que percebe pouco suas emoccedilotildees mas acredita ser inerente agrave profissatildeo

O fato de natildeo gostar de atender pacientes que despertam emoccedilotildees negativas pois

trazem sensaccedilotildees incomodas demonstraria o quanto eacute afetado por esse tipo de paciente No

entanto natildeo consegue reconhecer que a emoccedilatildeo participa inclusive de sua motivaccedilatildeo e

insatisfaccedilatildeo com o seu trabalho mesmo tendo apontado este fatores como importantes

O paciente que o afeta de forma negativa eacute responsabilizado pela interaccedilatildeo incocircmoda e

o fato de demandar mais tempo do meacutedico com o paciente parece ser um gerador de estresse

Miguel natildeo consegue perceber o seu papel na relaccedilatildeo

Parece evitar a construccedilatildeo de viacutenculos na relaccedilatildeo com o paciente Reforccedila a ideia de

que natildeo eacute papel do meacutedico preocupar-se com os aspectos emocionais psicoloacutegicos ou

subjetivos da doenccedila de um paciente Para ele a emoccedilatildeo natildeo participa da construccedilatildeo de seu

papel e de sua interaccedilatildeo e acredita que esta natildeo deve ser considerada dada sua influecircncia

negativa Para Miguel meacutedicos natildeo devem dispor de afetos Com tal atitude Miguel natildeo

vislumbra um espaccedilo de interaccedilatildeo e a sua proacutepria dificuldade de lidar com os aspectos

emocionais dificulta a forma como vai tratar as questotildees emocionais do paciente ldquo[] a

gente natildeo tem tempo de fazer uma coisa mais longa [] agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gostardquo

Acredita que as emoccedilotildees precisam ser ldquocercadasrdquo e sua atitude eacute de negaccedilatildeo e

controle Miguel parece ter criado defesas no decorrer de seu processo de aprendizado como

meacutedico Como tem uma visatildeo negativa da emoccedilatildeo aleacutem de natildeo consideraacute-la em seus

atendimentos acha que afetam o seu trabalho A concepccedilatildeo de que a emoccedilatildeo afeta o seu

julgamento e tratamento coloca-o em uma situaccedilatildeo de defesa em vez de compreensatildeo e

entendimento

Natildeo existe espaccedilo em sua cliacutenica para olhar para si Demonstra ter conhecimento sobre

a transferecircncia mas para ele eacute necessaacuterio ignorar e ser neutro diante dos afetos Apesar de ter

103

observado que a emoccedilatildeo pode afetar a opiniatildeo do meacutedico acredita que estaacute sempre no

controle e que a atitude emocional pode ser controlada

Miguel demonstra uma restriccedilatildeo na expressividade aleacutem da sua dificuldade para

expressar emoccedilotildees e sentimentos parece ter dificuldade de percebecirc-las no outro o que

poderia causar empobrecimento afetivo e dificuldade de percepccedilatildeo do outroalteridade Natildeo

soube expressar como lida com as emoccedilotildees a natildeo ser via negaccedilatildeo e repressatildeo

A negaccedilatildeo que eacute um processo de defesa e a repressatildeo dos conteuacutedos da sombra

tornam a persona de Miguel riacutegida com expressatildeo de atitudes defensivas e unilaterais Eacute

provaacutevel que a ativaccedilatildeo de um complexo de poder ocasione dificuldade de reconhecer as

emoccedilotildees principalmente na relaccedilatildeo com o outro e provoque a projeccedilatildeo em seus pacientes do

receio de ter esse poder contestado

6224 Caso 4 Marcos (participante 13)

Marcos pertence ao cluster 1 Esse cluster reuniu os participantes com as meacutedias mais

proacuteximas da populaccedilatildeo geral natildeo apresentou diferenccedila significativa em relaccedilatildeo aos

paracircmetros populacionais nas duas escalas Alerta e Prazer

Formado haacute 22 anos Marcos tem 50 anos e eacute cliacutenico especialista em cardiologia

Divide as 56 horas semanais de trabalho entre o atendimento no consultoacuterio em Hospital

Particular e Puacuteblico Estima que gaste 30 horas semanais no consultoacuterio atenda em meacutedia 10

pacientesdia e que o tempo meacutedio de atendimento seja de 40 minutos

Marcos pareceu muito interessado em contribuir com a pesquisa Demonstrou

interesse e abertura para falar de suas emoccedilotildees mesmo que em alguns momentos tenha

encontrado dificuldade de expressaacute-las Ele relatou que faz terapia disse que foi buscar este

apoio por conta das demandas emocionais de seu trabalho Reconhece que estaacute em um

processo de aprendizagem em relaccedilatildeo ao autoconhecimento que demanda muita reflexatildeo e

tem se esforccedilado muito para isso

Iacutendice e fatores atribuiacutedos ao estresse

Marcos natildeo apresentou sintomas de estresse medido pelo Inventaacuterio de Sintomas de

Stress para Adultos de Lipp (ISSL) Observou que estava voltando de feacuterias e isso poderia

afetar o seu resultado jaacute que se sentia bem e relaxado Apesar de Marcos natildeo ter apresentado

104

estresse em nenhuma das fases assinalou os sintomas fiacutesicos aperto na mandiacutebularanger de

dentes ou roer unhas ou ponta de caneta tontura sensaccedilatildeo de estar flutuando Dentre os

sintomas psicoloacutegicos apontados no teste vontade suacutebita de iniciar novos projetos e

irritabilidade sem causa aparente

O estresse para Marcos eacute ocasionado pelas urgecircncias e emergecircncias decorrentes de

sua atuaccedilatildeo Para ele o estresse eacute uma sensaccedilatildeo de fadiga constante que eacute gerada pelo medo

de errar pela exposiccedilatildeo excessiva e pela sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter durante a sua

jornada ldquoO que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errarrdquo

Refere que um dos grandes fatores do estresse estaacute relacionado ao seu processo

emocional e acredita que pode impactar a sua sauacutede Vivencia na sua praacutetica um desconforto

ocasionado pelas situaccedilotildees de impotecircncia e isso eacute um causador do estresse ldquo[] isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresserdquo Procura

refletir sobre esses fatores principalmente o medo de errar e a inseguranccedila ldquoProcuro

trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhorrdquo

A percepccedilatildeo emocional

Do ponto de vista da percepccedilatildeo emocional colhida utilizando o IAPS Marcos teve sua

meacutedia proacutexima agrave meacutedia da populaccedilatildeo geral Isso pode significar que o meacutedico percebe suas

emoccedilotildees de modo esperado e sugerir que natildeo apresentou alteraccedilotildees em sua percepccedilatildeo

subjetiva da emoccedilatildeo

O papel da emoccedilatildeo na relaccedilatildeo meacutedico-paciente

O processo de conectar-se com as suas emoccedilotildees para Marcos eacute um percurso um

caminho necessaacuterio que tem buscado percorrer As emoccedilotildees parecem ter um lugar importante

em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-las mesmo que reconheccedila natildeo conseguir fazer

isso sempre Isso porque exige dele uma sensibilidade e um esforccedilo muito grande ldquo[] vai

da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutemrdquo

Para Marcos as emoccedilotildees auxiliam o seu trabalho como meacutedico e podem interferir no

diagnoacutestico e no tratamento do paciente mas devem ser sempre utilizadas de forma a

beneficiar o paciente Acredita que precisa individualizar o tratamento e canalizar a emoccedilatildeo

105

para lidar com o paciente de forma beneacutefica ldquotentando mostrar alternativas sempre e usar a

emoccedilatildeo de uma forma positiva sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudarrdquo

Segundo ele sua emoccedilatildeo e suas sensaccedilotildees podem ser utilizadas para a busca de

soluccedilotildees para o paciente Esse tipo de movimento do meacutedico o motiva a buscar resolver um

caso ou buscar uma soluccedilatildeo ldquoeacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeordquo

O tipo de viacutenculo empaacutetico que tem com o paciente pode segundo Marcos influenciar

ou natildeo o tratamento Para ele as duas situaccedilotildees satildeo possiacuteveis pois jaacute vivenciou experiecircncias

com pacientes com quem natildeo tinha um bom viacutenculo e responderam melhor ao tratamento e

pacientes com quem tinha um oacutetimo vinculo mas que devido agrave doenccedila natildeo responderam bem

ao tratamento ldquoPacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da patologia dele tipo

dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo respondeu tatildeo bemrdquo

Observa que o meacutedico precisa ficar muito atento agraves caracteriacutesticas do viacutenculo pois

isso interfere na forma como vai lidar com o paciente ldquoTecircm pacientes que satildeo um pouco mais

fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a

natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte mas isso demanda um certo tempo mas tecircm

pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa empatia inicialrdquo

As emoccedilotildees despertadas pelos pacientes

O paciente percebido pelo meacutedico como difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio nega a

doenccedila natildeo eacute aderente agraves orientaccedilotildees e natildeo compreende a necessidade da participaccedilatildeo dele no

tratamento Esse tipo de paciente afeta o meacutedico porque traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e

inseguranccedila ldquo[] me traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse

impotente na verdade [] mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedilardquo

Ao exemplificar um caso que o afeta contou a histoacuteria de uma matildee que precisava lidar

com o problema de um filho alcooacutelico Esse tipo de paciente o afeta porque precisa lidar com

o sofrimento de uma matildee sem perspectivas e sente que seu papel eacute pequeno e reduzido

principalmente quando natildeo haacute no paciente a intenccedilatildeo de aderir ao tratamento

O paciente difiacutecil gera emoccedilotildees como raiva mas tambeacutem pena dependendo da

evoluccedilatildeo do caso e do viacutenculo que mantenha com ele Pode chegar a gerar uma sensaccedilatildeo de

afastamento e impossibilitar o viacutenculo ldquoeacute como se acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de

afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela natildeo participaccedilatildeo dele no

tratamento (deu uma pausa longa) Satildeo pacientes que impossibilitam o viacutenculordquo

106

O paciente que natildeo desperta dificuldade eacute segundo ele o paciente que busca apoio

que se preocupa com a sauacutede que entende a necessidade de cumprir o seu papel no tratamento

e vem por necessidade de prevenccedilatildeo ldquoUm paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo

[] de preocupaccedilatildeo com a sauacutede [] aceita todas as orientaccedilotildees e procura fazer a parte

delerdquo Esse tipo de paciente desperta em Marcos sensaccedilotildees boas e gera um sentimento de

realizaccedilatildeo Evoca um sentimento de competecircncia jaacute que sente estar sendo eficaz Sente

satisfaccedilatildeo prazer e motivaccedilatildeo com o trabalho ldquoMe traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de

realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalhordquo

Estrateacutegias para lidar com as emoccedilotildees

Em um primeiro momento percebe que assume a responsabilidade pelos conflitos e

tem sensaccedilatildeo de impotecircncia e inseguranccedila Depois tenta compreender o processo ldquoAteacute eu

conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu melhor e estaacute muito aleacutem

do que eu posso fazerrdquo

Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si principalmente no que se refere agraves

relaccedilotildees apesar de Marcos utilizar-se da racionalizaccedilatildeo como uma tentativa de explicar como

lida com as emoccedilotildees ldquoProcuro trabalhar minha cabeccedila [] procuro fazer o meu melhor

estar preparado para fazer o meu melhor e saber que tecircm coisas que natildeo dependem

unicamente de mimrdquo

Marcos acredita que o bom treinamento que teve o ajuda a lidar com as situaccedilotildees

principalmente as que causam estresse ldquoposso te dizer que nestas situaccedilotildees sei lidar muito

bem com isso Tive um bom treino acadecircmicordquo

Procura recordar em sua histoacuteria e nas histoacuterias de seus pacientes os momentos de

recuperaccedilatildeo e reversatildeo para tentar minimizar o sofrimento e garantir uma sensaccedilatildeo de

conforto ldquoexiste uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto para

dar um alentordquo

Leitura analiacutetica

Marcos parece conectado e consciente de suas fragilidades assim como do trabalho

que precisa fazer para progredir nesse caminho Faz terapia o que segundo ele ajuda-o ldquoEu

procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajudardquo

107

Considera importante que os meacutedicos reconheccedilam suas proacuteprias emoccedilotildees e acredita

que possui algo em sua personalidade que o permite ser um bom cliacutenico ldquoFaz parte um

pouco da personalidaderdquo

Parece ter clareza das dificuldades de sua profissatildeo Aponta a questatildeo da cobranccedila e

do querer resolver tudo como um fator que precisa constantemente trabalhar e refletir ldquoVocecirc

tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma estrutura adequada para

issordquo

A ansiedade gerada pela impotecircncia e o medo de errar que muitas vezes sente diante

das situaccedilotildees eacute algo que dificulta o seu trabalho A sensaccedilatildeo de incapacidade que pode ter em

alguns momentos pode levar ao estresse e ao afastamento dos pacientes

Reconheceu na relaccedilatildeo com o paciente que o afeta negativamente emoccedilotildees como

raiva e pena satildeo pacientes que reforccedilam nele a sensaccedilatildeo de impotecircncia e geram inseguranccedila

podendo desencadear uma atitude de afastamento e impossibilitar viacutenculo Sua estrateacutegia para

lidar com essas emoccedilotildees num primeiro momento eacute responsabilizar-se sente-se impotente o

que gera ansiedade mas depois haacute uma tentativa de compreensatildeo por meio da reflexatildeo e da

racionalizaccedilatildeo Sua atitude diante das dificuldades eacute culpar-se o que gera ansiedade mas

depois tentar superar Nas relaccedilotildees onde percebe afetos positivos e emoccedilotildees como prazer

sente-se motivado com o trabalho elas reforccedilam o sentimento de realizaccedilatildeo e competecircncia

Interessa-se mais pelo caso e pelo paciente quando estaacute instigado de alguma maneira

nesta relaccedilatildeo Sensaccedilotildees boas que satildeo evocadas por alguns pacientes geram satisfaccedilatildeo e

motivam mais o trabalho Preocupar-se em perceber a emoccedilatildeo do paciente vai trazer a

sensibilidade para o atendimento e fazecirc-lo ficar atento natildeo soacute agraves emoccedilotildees que satildeo

verbalizadas pelo paciente mas trazidas pela linguagem de uma forma geral

Marcos parece ter clareza sobre as dificuldades de sua profissatildeo e a questatildeo da

responsabilizaccedilatildeo e da cobranccedila aparece como um fator de constante reflexatildeo por parte do

meacutedico A ansiedade gerada pela impotecircncia que muitas vezes sente eacute algo que vem sendo

trabalhada

Diz perceber as emoccedilotildees apesar de demonstrar dificuldade em alguns momentos Para

ele as suas emoccedilotildees satildeo auxiliares no tratamento do paciente e demonstram disposiccedilatildeo para

pensar e refletir sobre os impactos da relaccedilatildeo Utiliza-se de recursos de autoconhecimento e

reflexatildeo sobre os seus processos emocionais auxiliados pelo trabalho que vem desenvolvendo

com a terapia As emoccedilotildees tecircm lugar importante em sua praacutetica e ele esforccedila-se para percebecirc-

las mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

108

Parece diferenciar-se dos outros meacutedicos investigados pois tem uma percepccedilatildeo mais

clara de suas emoccedilotildees nos processos contratransferenciais e de suas estrateacutegias e processos

defensivos Haacute uma busca por uma melhor compreensatildeo de si e pela utilizaccedilatildeo das emoccedilotildees

como recurso para melhor compreender o paciente Demonstra ter uma atitude mais flexiacutevel e

uma persona menos riacutegida o que possibilita um diaacutelogo maior para a construccedilatildeo de uma

relaccedilatildeo com o paciente

109

7 DISCUSSAtildeO

O objetivo deste estudo foi investigar as emoccedilotildees do meacutedico e a percepccedilatildeo do paciente

que o afeta Observaram-se os processos emocionais em termos subjetivos e aqueles

relacionais trazidos pelo relato A anaacutelise qualitativa mostrou que afetos e emoccedilotildees podem

influenciar atitudes e percepccedilotildees e interferir na atividade do meacutedico

Os meacutedicos investigados reconhecem que as emoccedilotildees estatildeo presentes no encontro com

o paciente mas encontram dificuldade para falar sobre elas e refletir sobre ldquocomordquo e ldquoo querdquo

os afeta De modo geral notou-se que existe uma distacircncia entre o que se revela no discurso e

a forma como o meacutedico reage diante dos impactos emocionais decorrentes da interaccedilatildeo com o

paciente

Segundo Ofri (2014) mesmo um meacutedico mais experiente reconhece que as emoccedilotildees

estatildeo presentes na Medicina mas varia o modo como os meacutedicos optam por processar essas

emoccedilotildees Os resultados quantitativos apontaram que meacutedicos mais velhos sentiram-se mais

impactados diante dos estiacutemulos emocionais observando-se no estudo de caso pouca

compreensatildeo de como utilizar o recurso emocional

A contratransferecircncia tem um papel importante na dinacircmica relacional em profissotildees

que dependem de viacutenculos ocasionando respostas emocionais mais ou menos percebidas

Viu-se como exemplo o meacutedico que decidiu natildeo operar uma de suas pacientes jaacute internada

porque a indicaccedilatildeo que ele fizera de um colega para o acompanhamento cliacutenico natildeo tinha sido

seguida O meacutedico demonstrou ter sido afetado ativando um complexo de poder mas natildeo

percebeu como isso impactou sua decisatildeo Segundo Jung (19071986 par78) ldquoa base

essencial da nossa personalidade eacute afetividade Pensamento e accedilatildeo satildeo como se fossem

apenas sintomas da afetividaderdquo

Confirmando o trabalho de outros pesquisadores (STOLPER VAN ROYEN e

DINANT 2010 DE MARCO 2012 KOVAacuteCS 2003 ROTER et al 2006) verificou-se que

os meacutedicos dedicam pouca atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees o que condiz com o modo como a

Medicina eacute aplicada hoje Observa-se principalmente nos planos de sauacutede nas consultas

raacutepidas e na pouca interaccedilatildeo com o paciente que este tambeacutem passa a incorporar esse

funcionamento e parece menos preocupado com a lealdade ao meacutedico

Com respeito aos aspectos emocionais do viacutenculo percebe-se que os meacutedicos se

ressentem da falta de confianccedila e valorizaccedilatildeo de alguns pacientes que deixam transparecer

110

insatisfaccedilatildeo e vatildeo em busca de uma segunda ou ateacute de uma terceira opiniatildeo Sentimento

semelhante tambeacutem foi observado por Greenfield et al (2012) que relataram que os meacutedicos

sentem-se vulneraacuteveis ficam decepcionados e ofendidos quando seus pacientes buscam uma

segunda opiniatildeo Tal atitude que pode ser qualificada de ldquocomplexadardquo impede a percepccedilatildeo

de que o paciente muitas vezes pode requerer uma confirmaccedilatildeo sem necessariamente desejar

romper o viacutenculo

A relaccedilatildeo meacutedico-paciente eacute sempre e invariavelmente o resultado de um

compromisso entre as ldquoofertasrdquo e exigecircncias dos pacientes e as respostas do meacutedico

(BALINT 1988) Notou-se nas respostas que os meacutedicos responderam com certa frequecircncia a

essas exigecircncias revelando sentimentos como frustraccedilatildeo e impotecircncia perante a perda de

valorizaccedilatildeo a falta do reconhecimento e a falta de gratidatildeo pelos anos de sacrifiacutecio e

dedicaccedilatildeo Ainda que haja um componente objetivo de comportamento hostil de pacientes

tais sentimentos se acoplam a emoccedilotildees introjetadas e provocam atitudes defensivas como

afastamento entre outras

Infere-se das entrevistas uma forte ferida emocional que expotildee um desamparo e um

sofrimento decorrente da fragilidade e da impotecircncia diante do outro Seria talvez uma das

possiacuteveis variaacuteveis que contribuiacuteram para o resultado de menor Prazer ou seja a ferida

emocional dificultaria a obtenccedilatildeo de Prazer e satisfaccedilatildeo com seu trabalho Essa dor emocional

eacute muitas vezes muda sem expressatildeo porque natildeo encontra espaccedilo para reverberar Houve nos

relatos meacutedicos que disseram ter sido atacados e sujeitos agrave violecircncia Ou seja existe um

entorno de violecircncia com o qual precisam lidar constantemente em seus consultoacuterios

A dificuldade em expressar a dor seja pela impotecircncia ou devido agrave violecircncia a que se

sentem submetidos acarreta emoccedilotildees sombrias inconscientes que satildeo portanto projetadas

nos pacientes Observou-se que o paciente percebido como difiacutecil eacute predominantemente

aquele que questiona que eacute exigente e que o faz sentir-se impotente e inseguro

desencadeando emoccedilotildees como raiva decepccedilatildeo e ressentimento Em contrapartida o paciente

visto como positivofaacutecil eacute aquele que o reconhece e tem sentimentos de gratidatildeo despertando

compaixatildeo e fazendo-o sentir-se amado Tal paciente reforccedila o papel do meacutedico como o

ldquosalvadorrdquo e desencadeia sentimentos de valia e de prazer

Balint (1988) identificou um tipo de comportamento que denominou de funccedilatildeo

apostoacutelica representando uma imagem idealizada que reforccedila o complexo de poder A funccedilatildeo

apostoacutelica representa uma atitude comum aos meacutedicos diante de seus pacientes e pode ser

usada de uma maneira defensiva Uma atitude segundo Jung (19212009a 19342009c) eacute

uma disposiccedilatildeo da psique para agir eacute uma predisposiccedilatildeo que tem presente uma constelaccedilatildeo

111

subjetiva e uma combinaccedilatildeo de fatores ou conteuacutedos psiacutequicos que determinam a accedilatildeo

Segundo Balint (1988) os meacutedicos diante do zelo apostoacutelico induzem o paciente a adotar as

suas normas e convicccedilotildees

Pode-se inferir que essa imagem do meacutedico apostoacutelico que reforccedila a imagem do

detentor de um saber onisciente e missionaacuterio incorpora-se agrave persona do meacutedico e pode

mascarar o desamparo mediante um funcionamento defensivo Quando os meacutedicos satildeo

impactados por emoccedilotildeesafetos por meio de um processo de racionalizaccedilatildeo revalidam a

funccedilatildeo apostoacutelica e a crenccedila do que o meacutedico precisa ldquoserrdquo eacute comum nos relatos meacutedicos

frases como ldquomas eu sou meacutedico natildeo tenho afeto nenhumrdquo ou ldquopreciso suportar porque sou

meacutedicordquo

Ao revalidar uma postura de proteccedilatildeo os meacutedicos unem-se em laccedilos de identificaccedilatildeo

com outros meacutedicos e reconhecem-se como iguais Em uma rede de identificaccedilatildeo o meacutedico

assimila aspectos daquilo que ele aprendeu sobre o que eacute ldquoser meacutedicordquo e assume tais

caracteriacutesticas que geralmente satildeo representadas por uma figura distante e sem afetos

De acordo com a teoria analiacutetica o desconhecimento e a negaccedilatildeo do inconsciente

representado como a sombra constitui complexos que interferem no funcionamento da

consciecircncia sem reconhecimento do ego A unilateralidade do ego tende a constituir uma

persona mais riacutegida e dificulta a possibilidade de integraccedilatildeo da sombra As defesas fazem

parte desse quadro No estudo um dos complexos apontados seria justamente o de ldquosalvadorrdquo

vinculado ao poder junto agrave sombra da ferida emocional do desamparo Quanto mais unilateral

riacutegida e incondicional for a defesa de um ponto de vista mais agressivo hostil e incompatiacutevel

se tornaraacute o outro (JUNG 19171987)

Hopcke (1985) assinala que a persona meacutedica ldquopersona medicirdquo composta por

autoridade infaliacutevel sabedoria e poderes maacutegicos esconde as imperfeiccedilotildees humanas do

meacutedico

Os meacutedicos natildeo conseguem sair dessa imagem ideal e atribuem a si o papel de

detentores onipotentes do saber No outro polo estaria o paciente submisso e desinformado

situaccedilatildeo que tem mudado na eacutepoca atual em que cada vez mais o paciente procura

informaccedilotildees via internet e outras fontes Consequentemente a manutenccedilatildeo de uma persona

riacutegida causaraacute maior dificuldade para um diaacutelogo compreensiacutevel

Apesar de ter sido observada em todos os meacutedicos entrevistados a dificuldade para

responder as perguntas direcionadas para o modo como percebiam suas emoccedilotildees e

sentimentos na interaccedilatildeo com o paciente percebeu-se em alguns deles uma abertura para a

reflexatildeo

112

Houve uma diferenccedila no modo como os meacutedicos relataram que percebiam e

reconheciam a interferecircncia emocional e a utilizaccedilatildeo (uso) da emoccedilatildeo no atendimento Duas

tendecircncias foram observadas meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como um auxiliar no

atendimento utilizando-as como um instrumento e meacutedicos que percebem as emoccedilotildees como

negativas e acreditam que elas devam ser eliminadas

Os meacutedicos que perceberam as emoccedilotildees como um auxiliar e acreditam que a emoccedilatildeo

interfira no diagnoacutestico eou tratamento demonstram maior preocupaccedilatildeo em percebecirc-las e

ficam mais atentos a elas durante o atendimento Na entrevista pareciam mais reflexivos e

mais interessados em falar sobre suas emoccedilotildees mesmo que tambeacutem tenham encontrado

dificuldades Em relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo do paciente parecem ter mais clareza do que os

incomodava das dificuldades da relaccedilatildeo e de sua responsabilidade na interaccedilatildeo

Na perspectiva junguiana discute-se o papel de responsabilidade do meacutedico pois

mesmo que o meacutedico esteja desvinculado dos conteuacutedos emocionais do paciente o simples

fato de o paciente possuir emoccedilotildees teraacute efeitos sobre ele (JUNG 19171987) Reconhecer a

emoccedilatildeo como um auxiliar exige do meacutedico uma atenccedilatildeo especial e instrumentos para lidar

com o impacto dessas interaccedilotildees o que nem sempre ele possui

A mobilizaccedilatildeo afetiva acompanhada da falta de recursos para lidar com as demandas

emocionais refletindo-se nas atitudes foi verificada no caso da meacutedica que demonstrou um

maior desgaste e desconfianccedila diante dos viacutenculos a ponto de desencadear a recusa de

atendimentos Como estrateacutegia diante das situaccedilotildees difiacuteceis demonstrou utilizar-se de

mecanismos de defesa como a evitaccedilatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sentir e perceber as emoccedilotildees sem

a compreensatildeo de como utilizaacute-las pode desencadear momentos de sofrimento

Em outro exemplo o meacutedico que pareceu ter mais recursos e instrumentos para lidar

com confrontos afetivos e que buscou o processo terapecircutico para ajudaacute-lo nesta

compreensatildeo demonstrou maior conexatildeo e pareceu ser mais consciente de suas accedilotildees e

fragilidades Dentre as estrateacutegias utilizadas para lidar com as emoccedilotildees num primeiro

momento responsabiliza-se e sente-se impotente e ansioso mas em seguida haacute uma tentativa

de compreensatildeo oscilando entre a reflexatildeo e a racionalizaccedilatildeo Sua atitude por vezes

reflexiva por vezes racionalizada expressa-se em tentativas de superar as suas dificuldades

para ficar atento agraves suas emoccedilotildees mesmo que reconheccedila que natildeo consegue fazer isso sempre

Uma dinacircmica diferente foi percebida nos meacutedicos que perceberam a influecircncia das

emoccedilotildees de modo negativo no encontro com o paciente Esses meacutedicos que natildeo acreditam

que as emoccedilotildees interfiram no diagnoacutestico eou tratamento buscam a neutralidade e creem

evitar tal influecircncia por meio do autocontrole Tambeacutem reconhecem que natildeo ficam atentos a

113

esses aspectos No encontro da entrevista demonstraram dificuldade de se expor e de falar

sobre si Um dos meacutedicos mostrou-se prolixo fugia do foco da pergunta contava piadas de

seu cotidiano o outro interagiu e falou muito pouco Ambos mostraram dificuldade de

reconhecer as emoccedilotildees relacionadas ao paciente agraves vezes sem muita diferenciaccedilatildeo entre o que

os afetava negativamente e o que os afetava positivamente

Tais meacutedicos utilizaram como estrateacutegia para lidar com as emoccedilotildees o controle e a

busca pela neutralidade e disseram natildeo prestar atenccedilatildeo agraves suas emoccedilotildees agindo com

naturalidade mesmo nos momentos difiacuteceis

Observou-se que alguns mecanismos de defesa utilizados foram a negaccedilatildeo e a ironia

percebidas no segundo exemplo quando o meacutedico contou como havia criado o ldquoclube dos

chatosrdquo referindo-se aos pacientes incomodativos As suas atitudes eram mais racionais e

distantes Eles pareciam incomodar-se mais com as situaccedilotildees em que eram questionados e

com a demanda de trabalho excedente que um paciente poderia lhes trazer se lhe fosse dado

espaccedilo para falar mais sobre si O meacutedico que se mostrou mais fechado emocionalmente na

entrevista foi tambeacutem o meacutedico que disse ficar menos tempo com o paciente Abre-se a

questatildeo esta natildeo seria uma defesa para atenuar uma possiacutevel carga emocional

Entendendo que as exigecircncias do trabalho do meacutedico satildeo muito altas as defesas satildeo

ateacute certo ponto necessaacuterias para lidar com a carga decorrente da profissatildeo (WAHBA 2001)

O risco se encontraria no emprego excessivo dessas defesas quando uma persona riacutegida ao

extremo eacute inconscientemente acompanhada de inseguranccedila e vulnerabilidade sombria A

atuaccedilatildeo de um complexo ativado seja este de poder ou outro pode levar o meacutedico a tornar-se

riacutespido sem paciecircncia e incomodar-se com situaccedilotildees em que eacute questionado

Como tudo que eacute inconsciente eacute projetado haveraacute projeccedilotildees nos pacientes de uma

inseguranccedila que faz o meacutedico sentir-se cobrado e avaliado precisando constantemente

mostrar sua eficaacutecia Portanto o paciente difiacutecil acaba sendo aquele que de alguma maneira

vem questionar sua seguranccedila O meacutedico que projeta em determinado paciente a sensaccedilatildeo de

impotecircncia reagiraacute a ele com raiva ou incocircmodo Quem se encaixa no perfil de difiacutecil e de

quem natildeo faz o que ele orienta seria aquele que contesta o seu poder

A dificuldade natildeo se restringe ao comportamento factual do paciente mas depende de

como o meacutedico interpreta tal comportamento em funccedilatildeo de suas proacuteprias convicccedilotildees e

sentimentos De Marco (2005) chega agrave mesma conclusatildeo ao afirmar que natildeo satildeo somente as

caracteriacutesticas do paciente que produzem a condiccedilatildeo de dificuldade para ajudar mas as

percepccedilotildees e caracteriacutesticas dos profissionais

114

Balint (1988) observa que ser meacutedico eacute lidar constantemente com o fato de estar

inserido em uma relaccedilatildeo em que a personalidade constitui um fator determinante para o

tratamento do paciente A personalidade as ideias os valores os padrotildees habituais de reaccedilatildeo

emocional do meacutedico iratildeo aparecer por meio da projeccedilatildeo contratransferencial Jung

(19291985a 19462011) jaacute havia concluiacutedo que natildeo eacute somente a personalidade do paciente

que ganha destaque no tratamento psiacutequico mas tambeacutem a personalidade do meacutedico

No entanto reconhecer a contratransferecircncia natildeo eacute tarefa faacutecil como observado nas

entrevistas nas respostas dadas perante os impactos emocionais segundo Jung (19312009b

par 667) ldquogostamos simplesmente de lisonjearmo-nos com a ideia de sermos senhores em

nossa proacutepria casardquo Ainda existe na Medicina o modelo em que haacute uma cisatildeo entre o

pensamento racional e a expressatildeo emocional Essa dificuldade tambeacutem observada nas

pesquisas de De Marco (2012) constata que apesar dos avanccedilos nas neurociecircncias a

Medicina ainda separa o pensamento do corpo das vivecircncias e das emoccedilotildees

As emoccedilotildees centro dos complexos tecem e organizam experiecircncias Sua presenccedila

constante e independente da vontade da consciecircncia interfere nas atitudes e percepccedilotildees e na

forma como se percebe e se comunica com o mundo (JUNG 19041994 19342009c)

Segundo Tomkins (2008) o pensamento nunca eacute imparcial O sistema afetivo estaacute sempre

presente e motiva todas as escolhas importantes de um indiviacuteduo

No campo das neurociecircncias e principalmente em autores como Damaacutesio (2006

2011) recuperou-se o pressuposto de que a emoccedilatildeo pode e deve ser compreendida como um

auxiliar do processo racional jaacute que as emoccedilotildees e os processos cognitivos fazem parte de

circuitos mentais confluentes

Pode-se observar nos estudos de Croskerry Abbass e Wu (2010) e Meier Back e

Morrison (2001) como as emoccedilotildees podem transformar e influenciar a percepccedilatildeo a atenccedilatildeo a

aprendizagem e a autoimagem o que certamente amplia a compreensatildeo da atividade meacutedica e

do processo de tomada de decisatildeo

Nota-se que apesar dos meacutedicos reconhecerem que as emoccedilotildees estatildeo presentes pouco

reconhecem como elas atuam e influenciam suas atitudes e percepccedilotildees Dirigir o olhar do

meacutedico para a compreensatildeo desse processo traria ganhos natildeo soacute para a relaccedilatildeo meacutedico-

paciente mas para a proacutepria atividade A importacircncia de compreender as projeccedilotildees e a

contratransferecircncia no encontro cliacutenico aleacutem de desempenhar um papel importante na

compreensatildeo do outro e de si mesmo tambeacutem pode interferir nos processos decisoacuterios e

impactar no atendimento do paciente

115

8 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Quando se constata o quatildeo complexo eacute o processo emocional tambeacutem se reconhece

quatildeo difiacutecil eacute tratar o fenocircmeno das emoccedilotildees e observaacute-las em toda sua plenitude O objetivo

desta pesquisa foi explorar as emoccedilotildees dos meacutedicos avaliar a sua percepccedilatildeo emocional a

incidecircncia e os fatores do estresse a percepccedilatildeo e os afetos relacionados aos pacientes que

despertam e que natildeo despertam dificuldades e o reconhecimento das emoccedilotildees na praacutetica em

geral

As emoccedilotildees estatildeo presentes nas interaccedilotildees com o paciente mas o meacutedico ainda dedica

pouco o seu olhar para elas O modo como os meacutedicos percebem as emoccedilotildees no atendimento

interfere em suas atitudes e nos mecanismos de defesa utilizados Ainda parece ser um tabu

falar sobre o que sente o que o emociona e o que o afeta Mesmo que natildeo percebam os

meacutedicos tecircm respostas emocionais em relaccedilatildeo a seus pacientes e essa cegueira emocional

parece apontar para algumas feridas afetando o meacutedico com um sofrimento produzido por

complexos ativados como o de ldquosalvadorrdquo e sentimentos de desamparo

O trabalho do meacutedico envolve desafios relacionais Natildeo haacute meacutedico sem paciente

Refletir sobre as emoccedilotildees pode propiciar um ganho individual mas principalmente auxiliar na

leitura do ldquooutrordquo e no modo de julgar e pensar a proacutepria praacutetica

O universo da Medicina parece tatildeo rico e ao mesmo tempo tatildeo fraacutegil Os meacutedicos

vivem em uma linha muito tecircnue permeada por sentimentos de violecircncia pouco discutidos

que precisariam ser colocados em diaacutelogo do ponto de vista relacional Os meacutedicos tecircm sido

agredidos em seus consultoacuterios e nos hospitais

Persiste na classe meacutedica a valorizaccedilatildeo de um papel de poder absoluto que submete o

paciente a um controle infantilizado O meacutedico para ldquoser meacutedicordquo assume esses valores que

o prendem a uma imagem que enfatiza exageradamente a neutralidade e influencia atitudes

que podem produzir uma falta de compreensatildeo dos pacientes e de suas necessidades como

pessoas Falta o entendimento de que a expressatildeo do organismo eacute um todo e a doenccedila natildeo eacute

elemento isolado desse todo

O distanciamento afetivo que natildeo pode deixar de correr em paralelo ao

distanciamento compreensivo eacute mais intensamente perceptiacutevel em alguns meacutedicos e reforccedila a

persona ldquosem afetosrdquo Nos meacutedicos em que se percebe uma aproximaccedilatildeo maior com o

paciente nota-se uma abertura maior para a reflexatildeo e para um olhar para si

116

Em relaccedilatildeo agrave profissatildeo do meacutedico percebe-se que novas exigecircncias vecircm sendo

colocadas inclusive no relacionamento com os pacientes que tambeacutem adquiriram outro tipo

de perfil A postura e as atitudes dos meacutedicos estatildeo sendo questionadas e parece ser urgente

repensar um novo papel As transformaccedilotildees devem ser discutidas do ponto de vista

institucional mas tambeacutem individual Eacute necessaacuterio que individualmente os meacutedicos

reavaliem e recuperem a reflexatildeo sobre o sentido do trabalho

Por mais vergonhoso que possa parecer dez anos depois de formando nunca

havia ocorrido refletir sobre a finalidade da minha profissatildeo Para que serve a

medicina Se me perguntassem provavelmente teria respondido

ingenuamente que ela existia para curar pessoas [] Fiquei com raiva de mim mesmo e de todos os meacutedicos onipotentes que se atribuiacuteam o papel exclusivo

de salvadores de vidas pretensatildeo equivocada da razatildeo de existirmos [] Tive

vontade de percorrer as faculdades de medicina para dizer aos alunos no

primeiro dia de aula o que nunca ouvimos de meus professores na medicina

curar eacute objetivo secundaacuterio se tanto A finalidade primordial de nossa

profissatildeo eacute aliviar o sofrimento humano (VARELLA 2004 p 147)

A contribuiccedilatildeo da psicologia profunda realccedila a possibilidade de fornecer uma

aproximaccedilatildeo ao inconsciente e uma compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos complexos auxiliando na

busca de novos significados e modos de agir na profissatildeo O estudo revelou que haacute por parte

de alguns meacutedicos uma abertura para mudanccedila faltando-lhes justamente os instrumentos

necessaacuterios

A dificuldade reside no canal de acesso aos meacutedicos Quando se entende que as

defesas satildeo em parte necessaacuterias ao exerciacutecio de uma funccedilatildeo que tanto sobrecarrega

estrateacutegias de aproximaccedilatildeo da psicologia no campo da medicina se fazem necessaacuterias Por

exemplo poderia se fomentar a divulgaccedilatildeo de pesquisas em congressos e discussatildeo sobre o

impacto que as emoccedilotildees podem ter no atendimento e nos processos de decisatildeo

Pode-se pensar tambeacutem em um modelo de apoio aos meacutedicos a ser feito

individualmente no proacuteprio consultoacuterio Esse apoio individual seria conduzido por um

psicoacutelogo mentor ou um conselheiro que conhecesse os processos de transferecircncia e

contratransferecircncia e que pudesse auxiliaacute-los na compreensatildeo dessas interaccedilotildees

Outra possibilidade seria criar dentro das Associaccedilotildees Meacutedicas centros de apoio ao

meacutedico para que pudessem ter acesso a uma rede de informaccedilotildees para lidar com as demandas

de sua profissatildeo Nota-se que haacute um extenso trabalho de apoio conduzido com estudantes de

Medicina mas poucos conduzidos com os meacutedicos apoacutes a formaccedilatildeo a exceccedilatildeo de alguns

hospitais

Esta pesquisa abre o caminho para que novos estudos sejam aprofundados no tema das

emoccedilotildees e de sua influecircncia na praacutetica meacutedica considerando cortes como as diferenccedilas entre

gecircneros idade e especialidades Sugere-se que a sauacutede do meacutedico seja investigada sob o

117

ponto de vista emocional e que se ampliem as discussotildees sobre a percepccedilatildeo do meacutedico e o

impacto nos processos de decisatildeo

118

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ANEXO A

129

ANEXO B

130

ANEXO C

131

132

APEcircNDICE

Caso 1 Daniel (participante 12)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Alguns poucos pacientes chegam e percebe-se uma arrogacircncia na postura quando eles

entram no consultoacuterio ateacute na maneira de cumprimentar e assim atendi vaacuterios profissionais

meacutedicos desembargadores juiacutezes advogados e empresaacuterios Ele eacute difiacutecil porque agraves vezes

fica dando informaccedilotildees querendo que eu veja o exame antes de ouvir a histoacuteria dele dizendo

que onde ele foi um professor ele viu o exame principalmente o da ressonacircncia magneacutetica

acontece muito isso e nem o examinou e jaacute marcou a operaccedilatildeo e para que eu preciso ficar

perguntando coisas para ele porque que eu quero saber Eacute raro natildeo eacute frequente os meus

pacientes eu natildeo atendo convecircnio geralmente satildeo diferenciados mas de vez em quando um

pouco pela idade eu pergunto mas a senhora alevanta para urinar agrave noite Doutor por que o

senhor quer saber isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu jaacute estou acostumado enfrento com a maior naturalidade natildeo sofro mais apenas

algumas pessoas por exemplo chegam e devido a minha especialidade de traumatologia ter

fraturas e lesotildees articulares agraves vezes vem dois trecircs eu atendo e atraso a consulta 10 minutos

e a pessoa fica pressionando a secretaacuteria Entatildeo de brincadeira eu criei um clube um clube

dos chatos Satildeo poucos tem a presidente tem vice-presidente secretaacuteria geral tem membros

do conselho Eu digo daacute uma proposta para essa senhora quando ela sai eu falo para a

secretaacuteria pode dar uma proposta brinco olha a dona fulana taacute perigando na presidecircncia

natildeo sei natildeo se vamos trocar a presidente coisas desse tipo Para definir isso que vocecirc estaacute me

perguntando dar um contexto global que essa paciente eacute uma paciente chata Lido com muito

bom humor tranquilo me divirto Jaacute foi diferente a minha mulher e outras secretaacuterias dizem

o senhor agora natildeo eacute tatildeo chato natildeo eacute rabo curto como era O Dr R (meacutedico que trabalha com

ele) agora estaacute nessa fase do rabo curto ele reclama Em parte eu operava muito vocecirc saiacutea de

uma operaccedilatildeo cansativa comeccedilou agraves 630 da manhatilde e vocecirc depois de 4 ou 5 horas comia

rapidamente vinha para caacute vocecirc muda o jeito de atender porque vocecirc estaacute cansado natildeo estaacute

num bom momento para atender a pessoa natildeo soacute para atender para qualquer coisa vocecirc natildeo

quer nem ver televisatildeo e nem ler jornal vocecirc quer encostar assim e dar uma cochilada Entatildeo

133

a interpretaccedilatildeo disso hoje Ah e eu dava aula na faculdade eu era chefe de grupo no HC

tinha congressos fazia parte de comissotildees administrativas depois dos 70 anos vocecirc eacute

jubilado entatildeo eu digo eu passei a atender os paciente muito melhor nessa fase depois dos

70 anos porque eu tenho mais tempo E tambeacutem com o tempo o meacutedico tem uma curva

ascendente eu me lembro quando eu comprei isso aqui em 63 64 depois fizemos o preacutedio

noacutes comeccedilamos a trabalhar aqui em 67 eu ficava lendo jornal lendo revista tinha dia que eu

natildeo atendia ningueacutem e o meu companheiro tinha a melhor cliacutenica de SP (atendeu telefone)

Quando terminava uma cirurgia ortopeacutedica agraves vezes um polifraturado grave a operaccedilatildeo

durava 4 5 8 horas eacute claro que vocecirc precisaria fazer como fazem os atletas os jogadores de

futebol quando jogam uma partida aiacute eles entram em uma banheira satildeo massageados e noacutes

natildeo precisamos continuar trabalhando e eacute claro que aiacute vocecirc fica um pouco riacutespido Vocecirc quer

terminar logo para poder descansar um pouquinho e isso faz diferenccedila Entatildeo nessa fase que

eu estou que eu disse tem a curva de aprendizado vocecirc vai subindo a cliacutenica vai crescendo

aiacute vocecirc fica num planalto aiacute vocecirc eacute professor daacute entrevista em alguns oacutergatildeos da imprensa vai

para o exterior vocecirc marca consulta com dois meses de antecedecircncia Hoje eu tenho sempre

consulta porque eu estou na linha de descida O Dr R agora que fez 60 anos foi meu

assistente durante 15 anos e agora eacute meu companheiro de consultoacuterio meu soacutecio ele fez o

mesmo trajeto ele veio aqui me ajudando ele tinha sido residente no HC ele fazia minhas

fichas andava comigo para laacute e para caacute natildeo tinha cliente nenhum eu viajava ele ia pegando

os clientes muitos simpatizavam com ele depois continuavam com ele e assim foi formando

a cliacutenica embora ele atenda muitos convecircnios natildeo ficou soacute no particular E eu acho que isso

me permite inclusive a relaccedilatildeo meacutedico-paciente ficou muito melhor eu tenho clientes que me

defendem eu vejo seus filhos e agora continuo vendo os netos

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Como eu tenho praacutetica de atender hoje natildeo tenho tido mais porque sei torear bem

essas dificuldades antigamente eu reagia mais rispidamente Se a senhora natildeo quiser Por

isso que eu natildeo cobro a consulta na entrada como muitos meacutedicos fazem eu soacute cobro a

consulta na saiacuteda porque se eu natildeo agradar senhora natildeo paga nada Se a senhora quiser ir

embora e alguns iam embora A falta de psicologia de formaccedilatildeo psicoloacutegica tanto eacute que eu

quando jaacute era chefe de grupo eu dizia que precisaria ter a cadeira de psicologia e agora tem

na faculdade de medicina Tem uns meacutedicos que satildeo uns verdadeiros cavalos como eles

atendem e tratam o paciente e com uma superioridade eu via isso inclusive fora do Brasil em

outros paiacuteses O professor na Alemanha o maacuteximo chegava com aquele aventalzatildeo branco

134

comprido os outros assistentes praticamente se alinhavam em peacute soacute faltavam marchar

quando ele chegava Ele tratava levantando o dedo apontando para o doente com uma

superioridade como se ele natildeo tivesse segredo nenhum e aiacute eu lembro sempre daquele

histoacuteria o mordomo dele devia saber de muita coisa tem que perguntar o senhor nunca teve

dor de barriga

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

(Pensou bastante) Os que sabem ser conduzidos satildeo os mais faacuteceis O paciente melhor

de atender eacute o engenheiro que tem mais loacutegica e vem com a histoacuteria e daacute todas as

informaccedilotildees natildeo procura se exibir

Natildeo apresenta dificuldades mas apresenta dificuldades Hoje os pacientes natildeo

valorizam tanto as nossas perguntas e eacute preciso cavocar cavocar para tirar as informaccedilotildees

tanto eacute que isso hoje natildeo eacute muito ensinado nas escolas novas mas eacute importantiacutessimo porque

tanto na nossa faculdade de medicina tiacutenhamos professores de cliacutenica meacutedica fantaacutesticos de

propedecircutica a propedecircutica eacute a semiologia como colher dados do paciente entatildeo ele dizia

quando vocecirc vai enfrentar um paciente a primeira coisa pergunte a queixa e a duraccedilatildeo aiacute

vocecirc jaacute tem uma informaccedilatildeo importante depois vocecircs vatildeo fazer a histoacuteria pregressa da

moleacutestia atual aiacute ele vai contando haacute tanto tempo Ele pode ateacute cometer um erro eu

pergunto haacute quanto tempo vocecirc estaacute com dor aiacute Eu tive um deputado federal que disse

ldquofazem trecircs mesesrdquo nossa senhora vocecirc vecirc o que vocecirc tem que enfrentar mas eu natildeo pude

chamaacute-lo de apedeuta (risos) e era um deputado federal e agraves vezes falar em ldquoseje nem que

seje tambeacutem eacute muito ruim Bom para completar isso histoacuteria pregressa molestual se

escapar alguma coisa o que eacute que tem Interrogatoacuterio sobre os diferentes aparelhos e

sistemas Vocecirc vai perguntando sobre tudo o que vocecirc lembrar o senhor ouve bem Cheira

bem Tem paladar bom Enxerga bem Tem tontura Um pouco sobre problemas em oacutergatildeos

sensitivos e a parte neuroloacutegica Tem naacuteuseas Tem vocircmitos Aparelho digestivo tem bom

apetite Bom acho que eu consegui contornar todas mas natildeo existe paciente faacutecil

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Quando gosto gosto Vejo de longe jaacute na sala de espera Desperta em mim sensaccedilotildees

positivas me torno mais satisfeito com o que faccedilo e demoro mais para ldquopendurar minhas

chuteiras (risos) Mas como disse todo paciente eacute difiacutecil pois todos eles mobilizaratildeo

135

emoccedilotildees no meacutedico a sensaccedilatildeo de que temos que ldquodar contardquo e por isso natildeo tem jeito de natildeo

mexer com nossa inseguranccedila

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Se for pensar naqueles que me trazem mais coisas positivas Uns 20

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Costumo sim mas natildeo deixo que afete o meu trabalho hoje jaacute sei bem discernir e

controlar Uma que eu me lembro bem no hospital AE que posso tambeacutem dar como exemplo

de uma paciente difiacutecil Que uma senhora que chegou do exterior quebrou o tornozelo e eu

deixei-a em casa para internaacute-la de manhatilde eu ia operar de tarde para ficar o menor tempo

possiacutevel no hospital e esse eacute um princiacutepio interessante para diminuir o nuacutemero de infecccedilotildees de

contaacutegio ficar o miacutenimo possiacutevel nos hospitais E um cliacutenico que natildeo era o que eu tinha

indicado o marido da senhora chamou outro cliacutenico foi e disse precisa internar

imediatamente E internou a paciente Quando eu fui ver na casa dela ela natildeo estava mais

estava no hospital Entatildeo eu fui ao hospital estava a matildee internada as duas filhas e eu disse

olha eu lamento mas natildeo posso continuar porque eu tinha o cliacutenico que eu havia indicado e

vocecircs trocaram o cliacutenico sem falar comigo vou ter que pedir muitas desculpas para ele e eu

tambeacutem vou me retirar As duas vieram para cima de mim me puxaram pela camisa ldquonatildeo o

senhor vai operar nossa matildee tem que operar tem que operarrdquo me agrediram me puxaram

pela camisa E a matildee chorava e elas choravam E eu lamento muito aqui eu natildeo posso ficar

porque vocecircs me obrigaram a fazer isso Eu natildeo quis fazer isso Eu gosto de operar fratura de

tornozelo e saiacute do caso (Como essa histoacuteria lhe afetou Como lidou o ocorrido) Sofri uns

dois trecircs dias vocecirc fica remoendo aqui e ali mas natildeo mais do que isso

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Existe um aspecto quando vocecirc conhece uma pessoa ou eacute um parente vocecirc vecirc ele

num estado grave sofrendo com dor ou num estado terminal isso me causa sofrimento e

emoccedilatildeo Eu vi um neto meu haacute uns 10 12 anos caiu e quebrou punho aquele inchado claro

eu jaacute vi muitos meninos assim tratava profissionalmente mas o meu neto eu olhava para a

carinha dele e isso me emocionou Evidentemente quando eacute com parente algum amigo vocecirc

136

vecirc o sofrimento podem dizer que natildeo mas isso interfere vocecirc atender conhecidos (Telefone

tocou)

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo Natildeo podemos nos dar esse prazer (risos) (Perguntei de novo) Natildeo eu aprendi a

me controlar

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

Faz parte da nossa profissatildeo temos que lidar com situaccedilotildees de risco e limite a toda

hora a todo o momento Lido bem porque aprendi O estresse estaacute ligado a nossa atividade

quem natildeo sabe lidar com ele natildeo vai ser meacutedico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

(Pensou bastante) Vou te dizer uma coisa quando eu era mais moccedilo eu tinha

taquicardia e emoccedilotildees importantes Por exemplo quando eu ia falar num congresso ou tinha

que interpelar algueacutem em uma discussatildeo no hospital mas com o tempo vocecirc vai se

controlando vai se controlando E eu me lembro quando eu estava no DA (Escola) quando

me chamavam laacute na frente eu percebia que meu rosto pegava fogo ficava vermelho e isso

com o tempo vocecirc vai controlando Aiacute eacute claro que eu percebia a emoccedilatildeo hoje em dia o

sofrimento e a morte de parentes perto tambeacutem eacute claro que vocecirc sofre eacute uma tristeza vocecirc

definir o que eacute uma tristeza profunda eacute um abatimento natildeo daacute vontade de fazer mais nada

Vocecirc se encolhe e fica ali pensativo agraves vezes ateacute a muacutesica claacutessica ajuda um pouco a aliviar e

provavelmente muitas coisas foram compostas natildeo soacute na muacutesica claacutessica como na popular

quando a emoccedilatildeo era muito forte Como por exemplo aquela muacutesica famosa do Paulo

Vanzolini pena que vocecirc natildeo possa entrevistar o Paulo porque ele morreu haacute pouco tempo

ele era colega de turma do Pliacutenio (ex-soacutecio falecido) entatildeo eles se encontravam e ele compocircs

ldquoRondardquo onde ele procura ela procura vai na Avenida Satildeo Joatildeo natildeo encontra entatildeo ele

escreveu sob forte emoccedilatildeo ele falou e outro autores como o Chopin que era apaixonado

depois sofreu muito compocircs sinfonias muacutesicas muitos fortes que vocecirc percebe que a emoccedilatildeo

estaacute presente Ouvi-las talvez compense um pouco natildeo sei se muda um pouquinho absorve

um pouco a parte cerebral e isso cria vocecirc tem que prestar atenccedilatildeo na muacutesica pode ser que

essa seja a explicaccedilatildeo

137

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Eu vejo alguns paciente que sentam cumprimentam a matildeo estaacute fria agraves vezes com um

pouco de suor agraves vezes depois de conversarmos um pouquinho eu agraves vezes falo de outro

assunto e muitas pacientes dizem doutor poxa que bom o senhor me deixou agrave vontade

agora eu posso falar eu entrei aqui tatildeo nervosa me disseram que o senhorsenhor era tatildeo

ruacutestico Eu digo bom a palavra ruacutestico natildeo me desagrada inclusive o luxo ruacutestico eacute muito

bonito E aiacute a gente vai conversando mas se percebe Alguns quando vatildeo falar tremem um

pouco a matildeo agraves vezes ateacute a boca ou piscam muito vocecirc percebe isso aiacute e eacute importante Eacute

uma coisa comum as coisas chatas satildeo meacutedico dentista e barbeiro (risos)

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque isso o torna mais humano Eu vejo colegas que eu digo

respira poxa Satildeo desses que andam sempre de avental branco impecaacutevel e que andam

atravessam o saguatildeo laacute do Siacuterio ou do Einstein com a cabeccedila para cima e soacute vatildeo respirar no

fim quando ele atravessou o corredor E eles pensam muito em si e geralmente esses colegas

eu haacute muito tempo que eu dizia isso eacute soacute ir ver o tipo de automoacutevel que ele tem ou

Mercedes ou BMW quer dizer ele quer aparecer em todas as situaccedilotildees Eu tive formaccedilatildeo

com cliacutenicos meacutedicos que eram fantaacutesticos natildeo soacute aqui no Brasil como fora do Brasil

participei com de vaacuterias conferecircncias meacutedicas coisa que natildeo tem mais hoje em dia junta

meacutedica muito difiacutecil de fazer por causa do tracircnsito do estacionamento mas antes se fazia

isso o meacutedico natildeo sabia o que o doente tinha ficava em duacutevida ele reconhecia a ignoracircncia e

a incompetecircncia naquele momento e convidava outros meacutedicos para discutir o caso era uma

coisa beliacutessima O estatuto do conselho regional de medicina prevecirc a junta tanto solicitada

pelo meacutedico como pelo paciente ou famiacutelia do paciente Se aprendia e se ensinava muitas

vezes Eu participei com esses nomes que eu citei que eram os cliacutenicos importante aqui de

SP e via que eles eram principalmente modestos eu diria ateacute humildes e nenhum deles era

rico era outra caracteriacutestica Eu acredito que alguns meacutedicos fujam das emoccedilotildees por uma

incapacidade de resolver os problemas internamente Entatildeo eles estatildeo sempre ditando regras

achando que eles natildeo erram nunca natildeo reconhecem que eles podem falhar satildeo incapazes de

pedir outra opiniatildeo ou sugestatildeo mas acho que eacute uma minoria Agora hoje em dia eacute muito

difiacutecil porque uma coisa eacute vocecirc conversar com meacutedico que atende medicina particular outra

138

coisa eacute um meacutedico que trabalha a 200km por hora atende convecircnios ele vai ter outras

consideraccedilotildees completamente diferentes Quem te mandou aqui foi o Dr F eu acompanho a

formaccedilatildeo dele ele natildeo foi da nossa faculdade mas ele eacute um colega muito bem formado

viveu em Londres algum tempo onde ele acabou se consolidando como um oacutetimo

especialista e voltou e o tio dele que era um cliacutenico de primeiriacutessima linha com o qual eu

conversava frequentemente e deve ter transmitido ao F essas ideias da nossa escola meacutedico do

HC mas ele acabou como se costuma dizer hoje em dia como esses meacutedicos que satildeo

obrigados a trabalhar com o convecircnio caiu na vida e comeccedilou a atender muitos pacientes

ele trabalha muito muito muito O Dr R sempre que pode o convida Eu tive um problema

com um colega nosso aqui e ele saiu recentemente haacute uns dois anos a primeira ideia nossa

foi noacutes precisamos arrumar um colega sereno competente e aiacute veio essa avaliaccedilatildeo do Dr F

que representava isso inclusive eu disse para o R vamos ver se noacutes pegamos o F e ele vem

para caacute conosco e aiacute ele vai fazer uma cliacutenica particular porque esse eacute um meacutedico que tem

competecircncia aqui em SP para absorver disse a eles eu natildeo sou eterno vocecirc e o F vatildeo

absorver os meus pacientes Tanto eacute que para o Dr R mando quase toda semana um ou dois

casos ciruacutergicos eu natildeo estou operando porque coloquei um marca-passo estou soacute fazendo a

parte cliacutenica mas infelizmente ateacute agora o F vem muito pouco aqui eacute uma pena ele eacute um

oacutetimo colega

139

Caso 2 Alice (participante 2)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

A moccedila que acabou de sair (risos) Como que descreve (pensando) Paciente que

mostra que natildeo estaacute confiante no que vocecirc fala Paciente que fala mas vocecirc tem certeza

Como eu tenho certeza Acho que isso eacute o que incomoda mais Ou um paciente agressivo

paciente que grite com vocecirc e tudo mais Mais isso acho que isso eacute difiacutecil para todos

paciente agressivo (Jaacute aconteceu com vocecirc) Ah direto neacute A gente pega muito trabalho em

hospital puacuteblico no SUS vaacuterias situaccedilotildees da pessoa estar fora do limite jaacute apanhei de

paciente jaacute tive paciente me chamar de FDP Vocecirc ter uma pessoa que estaacute laacute em seu

consultoacuterio por exemplo nesse caso duvidando do seu trabalho Por que que vem entatildeo

sabe natildeo viesse natildeo preciso passar por isso me afeta

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Na hora daacute uma raiva imensa mas vocecirc estaacute laacute e vocecirc tem que respirar fundo e falar

vou sair daqui eu saio dou uma volta bebo uma aacutegua e peccedilo para outra pessoa atender

Dessa vez foi mais ou menos isso que aconteceu assim a mulher comeccedilou a gritar comigo

sua FDP natildeo sei o que me empurrou Disse olha a senhora vai me dar licenccedila vocecirc vai

esperar laacute fora eu saiacute pedi para algueacutem atender depois voltei Natildeo eacute faacutecil mas eacute uma

agressatildeo um ato de violecircncia mas eu estou ali em uma situaccedilatildeo que se fosse da porta para

fora eu ia virar para ela e dizer FDP eacute vocecirc Mas laacute dentro eu sou uma profissional entatildeo

vocecirc tem que engolir e dizer daacute licenccedila Eacute uma coisa meio de um pouco de raiva um pouco

de ficar magoada mesmo sabe chateada ressentida acho que eacute isso

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Graccedilas a Deus eacute pouco natildeo daacute 10 talvez menos eacute raro

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eu gosto de trabalhar com adolescente como eu sou um pouco mais jovem entatildeo eacute

mais faacutecil de se falar na liacutengua deles e eles entenderem eacute mais faacutecil de se lidar Pacientes

mais velhos tambeacutem mas que tem um certo niacutevel de educaccedilatildeo eacute faacutecil de lidar tambeacutem

140

porque vocecirc explica as coisas e rola um diaacutelogo tem uma troca entatildeo vocecirc vecirc que a consulta

eacute mais produtiva A comunicaccedilatildeo acontece com facilidade eacute faacutecil de conversar vocecirc explica

e vecirc que a pessoa estaacute entendendo que ela faz perguntas que tem sentido vocecirc consegue

responder acho que eacute isso

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Eu me sinto fazendo o meu trabalho eu estou ajudando essa pessoa ela tem duacutevidas

eu estou esclarecendo e que legal eu fiz alguma diferenccedila ele natildeo perdeu o tempo dele de vir

aqui na minha sala eu ajudei ele realmente eu servi para alguma coisa natildeo estou perdendo

meu tempo acho que isso assim de se sentir uacutetil (Pergunto mais uma vez) Ah satisfaccedilatildeo

prazer Sensaccedilotildees boas

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Acho que eu tenho sorte metade dos meus pacientes (50) Me considero uma

meacutedica relativamente sortuda (risos)

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah sim Nossa tecircm tantas histoacuterias (Muito tempo pensando - repeti a pergunta)

(Mais tempo) Difiacutecil essa hein O que vocecirc sente eacute muito complicado neacute (Eu ajudo mas natildeo

consegue) Teve uma histoacuteria que foi era uma menina da minha idade muito jovem muito

bonita ela era fisioterapeuta e ela teve uma infecccedilatildeo super grave chegou para gente jaacute muito

grave a gente natildeo queria falar para ela mas a gente sabia que ela ia ficar cega e aiacute o olho dela

foi ficando branco branco branco e aiacute era uma coisa que destoava aquele olho branco e

aquela moccedila tatildeo bonita educada tratava a gente tatildeo bem eu fiquei me sentido acho que eu

me vi um pouco nela sabe assim a gente se identificava Aiacute eu meio que peguei ela para

criar ela chegava no consultoacuterio eu a atendia jaacute queria resolver e aiacute ela viajou voltou e ela

trouxe umas tortinhas de doce de leite e na hora que eu cheguei no consultoacuterio jaacute estava

acabando quase porque ela tinha chegado mais cedo e ela falou ah doutora eu falei para eles

que natildeo era para eles porque tinha que deixar para vocecirc viu Eu falei poxa que coisa bacana

neacute Tudo o que eu fazia eu sabia que ela natildeo ia melhorar ela ia ficar cega de todo jeito mas

dava para ver que ela reconhecia sim todo esforccedilo que a gente estava fazendo por ela que no

final das contas o resultado natildeo era tatildeo importante com certeza ela queria melhorar mas que

o fato dela estaacute se sentindo cuidada e tudo mais tinha um peso Ela ficou cega de um olho

141

menos mal A gente ficava muito chateada com a questatildeo esteacutetica mas ela natildeo ligava eu

achei impressionante Ateacute falei vocecirc natildeo quer uma lente cosmeacutetica para disfarccedilar ela disse

bobeira doutora deixa para laacute

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Sim auxiliam com certeza Nossa quando rola uma empatia assim eacute muito faacutecil de

atender mas tambeacutem quando eu vejo assim que o santo natildeo bate eu jaacute sei que eacute melhor

evitar esse tipo de paciente porque vai dar m

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Teve um dia que foi exatamente isso Chegou uma rapaz jovem e tal para um preacute-

operatoacuterio de refrativa a gente adora fazer preacute-operatoacuterio de refrativa eacute cirurgia vou operar

que legal eu olhei os exames todos os exames bons estava tudo certo era o caso para operar

mas sabe aquela pulguinha atraacutes da orelha o cara fez alguma coisa eu natildeo sei eu natildeo lembro

o que foi eu falei natildeo natildeo vai dar certo eu operar esse cara e eu contraindiquei Eu falei

olha eu natildeo vou te operar porque acho que vocecirc natildeo tem perfil tal natildeo eacute o caso Todos os

preacute-operatoacuterios de refrativa eu dilato com ciclopentolato e esse medicamento tem efeito de 24

agraves vezes ateacute 48 horas esse cara teve um efeito com o medicamento que ele ficou dilatado uma

semana Ele voltou no consultoacuterio gritando brigou com a minha recepcionista falou que ia

me processar natildeo sei o quecirc Entatildeo assim aquela pulguinha jaacute estava me avisando (O que ele

fez) Teve alguma coisa que ele fez que ligou o meu radar mas eu realmente natildeo lembro o

que era ele era uma rapaz jovem trabalhava natildeo tinha nada de mais eu natildeo sei realmente o

que foi que ele falou mas ele falou alguma coisa na consulta que eu falei Hummm Tenho

um chefe que ele fala conhecimento eacute saber fazer e sabedoria eacute saber quando natildeo fazer Eu

sempre lembro disso quando eu vejo um paciente e eu digo natildeo natildeo vou operar esse cara

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

(Pensa muito) Boa pergunta Eu trabalho na BP e laacute eu coordeno os residentes e eacute

uma coisa que me toma muito tempo natildeo do meu horaacuterio comercial mas o meu celular

tocando toda hora e de fazer reuniatildeo entatildeo eacute uma coisa que consome um pouco e uma das

coisas que a gente faz eacute reuniatildeo toda terccedila a cada 15 dias entatildeo eu saio do consultoacuterio

142

cansada vou laacute fazer a reuniatildeo e aiacute a gente comeccedilou a fazer a reuniatildeo haacute 23 meses para

discutir a mudanccedila de escala e aiacute estava tudo certo entatildeo meu chefe falou entatildeo faz a escala

nova entatildeo eu fiz a escala mandei para todo mundo aiacute galera ok Posso por para rodar

Pode E pus a escala para rodar tinha dois dias que a escala estava rodando na reuniatildeo ele

vira e fala ah entatildeo eu fiquei sabendo que a escala estaacute assim assim assim e eu natildeo

concordo entatildeo eu acho que tem que mudar Nossa eu fui dessa altura como assim Eu fiz

reuniatildeo trecircs meses eu te mandei a escala agora tem dois dias que a escala estaacute rodando e

vocecirc taacute de brincadeira comigo neacute Fiquei louca E isso foi um gatilho importantiacutessimo porque

depois disso ele falou para eu refazer a escala e eu simplesmente falei natildeo natildeo vou eu natildeo

venho mais nessa reuniatildeo (risos) Se vocecirc quiser vocecirc manda no meu e-mail e bye bye so

long very well E eu realmente larguei de matildeo assim e isso para mim foi um gatilho um

ponto de virada importante realmente eu fiquei muito estressada Eu fico assim investi tudo

meu tempo de natildeo estar na minha casa com minha famiacutelia eu podia estar descansando e tudo

mais e aiacute depois que estava tudo certo ah ficou ruim PP Por que vocecirc natildeo falou entatildeo haacute

dois meses atraacutes quando eu te mandei a escala

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Sim Eacute de forma geral ser meacutedico eacute uma coisa que traz uma seacuterie de encontros

emocionais nos dois sentidos muito bons e muito negativos A gente eacute muito mal tratado no

sistema puacuteblico e agraves vezes no consultoacuterio tambeacutem e tudo mais mas a gente tambeacutem encontra

pacientes muito gratos Psicologicamente demanda muito eacute estressante vaacuterios colegas meus

entraram em burnout eu vi isso muitas vezes entatildeo assim ou vocecirc aprende a lidar (risos) ou

vocecirc larga entatildeo a gente meio que Vocecirc tem que sobreviver neacute Tem que dar um jeito

entatildeo assim eu jaacute vi de tudo jaacute vi gente que vai super bem e tudo mais e ateacute gente assim que

trata mal o paciente numa contrareferecircncia assim de agraves vezes o paciente natildeo ter feito nada

demais Por exemplo tem paciente que igual essa mulher que duvida tal assim natildeo eacute legal

ter um paciente desse no seu consultoacuterio mas ela eacute assim entatildeo eu tambeacutem natildeo posso

descontar nela de ser confrontado com uma situaccedilatildeo dessa e jaacute soltar os cachorros para cima

eacute uma situaccedilatildeo que natildeo tem necessidade Mas como eu falei jaacute vi de tudo Jaacute vi gente que

leva super bem e jaacute vi gente que precisa de ajuda de tirar feacuterias (risos)

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

143

Acho porque influi em tudo no que ele compreende do que eu estou falando se ele

estaacute realmente entendendo qual eacute o tratamento quais satildeo as consequecircncias daquela doenccedila

que ele tem se ele vai ficar cego ou natildeo E principalmente influi no que eu vou decidir para

ele Como eu falei desse rapaz que eu decidi natildeo operar ele porque eu senti alguma coisa

entatildeo assim acho acho super importante Tem paciente que vocecirc nota que natildeo estatildeo em

condiccedilatildeo de entender nada do que eu estou falando entatildeo eacute melhor trazer um familiar para

explicar de novo No consultoacuterio eacute raro casos graves mas de vez em quando a gente se depara

com casos muito graves eu tenho um paciente por exemplo que estaacute no estaacutegio terminal ele

faz hemodiaacutelise taacute bem mal jaacute ele tem um olho seco severo entatildeo ele vem uma vez por

semana e tecircm pacientes que tecircm complicaccedilotildees no poacutes-operatoacuterio entatildeo assim

sistemicamente ele estaacute bem mas agraves vezes ele tem um quadro oftalmoloacutegico muito grave que

vai ficar cego isso a gente pega muito A cegueira eacute algo que afeta muito a gente tem uma

psicoacuteloga aqui A gente eacute muito visual para tudo tudo que a gente faz na verdade a nossa

sociedade eacute muito visual propaganda computador e tudo depende da visatildeo Eacute uma coisa que

realmente impacta muito a vida deles

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho por causa daquilo que eu falei que nosso sentido aranha nos avisa o que vocecirc

natildeo deve fazer e eu tenho isso com frequecircncia Tem o sentido aranha mas tem tambeacutem o

paciente que eu sei que eu natildeo vou conseguir tratar direito Que eacute um paciente que realmente

me afeta pessoalmente e eu natildeo tenho condiccedilotildees psicoloacutegicas de lidar com aquele cara De

vocecirc virar e falar assim olha eu preciso passar a bola Como aconteceu comigo tinha uma

menininha com siacutendrome de down menina natildeo jaacute era grande quase 30 anos e ela teve uma

ulcera de coacuternea e aiacute evoluiu mal teve que ir para transplante soacute que a famiacutelia era muito

beligerante tratava a gente muito mal e fui eu quem fiz o primeiro transplante dela eles

vinham para cima de mim sabe aiacute teve uma hora que eu falei olha natildeo vai dar chamei o meu

chefe e disse eu natildeo consigo atender essa menina natildeo daacute

144

Caso 3 Miguel (participante 4)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute aquele que em princiacutepio tem uma negaccedilatildeo da doenccedila Tem

alguns sintomas e na verdade nega e natildeo tem vontade de saber o diagnoacutestico Esse eacute

considerado um paciente difiacutecil ou eventualmente tambeacutem um paciente que natildeo eacute aderente agraves

orientaccedilotildees quer sejam medidas higiecircnicas dieteacuteticas ou uso de medicamentos natildeo

compreende na verdade a necessidade da participaccedilatildeo dele no tratamento Difiacutecil porque me

traz uma sensaccedilatildeo de impotecircncia e agraves vezes eacute como se eu fosse impotente na verdade mas eu

natildeo tenho condiccedilotildees de realizar um trabalho que ele realmente deveria fazer entatildeo acho que eacute

mais que mobiliza alguma coisa minha de uma inseguranccedila

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Inicialmente eacute o que eu te falei impotente raiva e agraves vezes ateacute uma sensaccedilatildeo de

incapacidade Ateacute eu conseguir entender que na verdade eu estou tentando fazer o meu

melhor e estaacute muito aleacutem do que eu posso fazer Eu preciso da participaccedilatildeo dele E

posteriormente assim talvez um sentimento de pena e dependendo da evoluccedilatildeo desse

tratamento e do viacutenculo que eu tenho com o paciente agraves vezes eu acabo Eacute como se

acabasse gerando uma sensaccedilatildeo de afastamento me afastasse um pouco dele na verdade pela

natildeo participaccedilatildeo dele no tratamento (Pensou bastante) Satildeo pacientes que impossibilitam o

viacutenculo

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

Ah eacute pequena quer em nuacutemeros Natildeo chega nem em 10 Abaixo de 10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Um paciente que vem por necessidade de prevenccedilatildeo na verdade De preocupaccedilatildeo com

a sauacutede interesse em se cuidar em preservar a sauacutede e aceita todas as orientaccedilotildees e procura

fazer a parte dele cumprir na verdade o papel dele que eacute fundamental no tratamento Porque

145

eles tecircm vontade de estar bem aproveitam a vida gostam de viver e querem ter uma boa

sauacutede

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Me traz uma sensaccedilatildeo boa um sentimento de realizaccedilatildeo de competecircncia E tambeacutem

de satisfaccedilatildeo prazer motiva o meu trabalho

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

50 Eu tenho muito paciente idoso entatildeo envolvem outros aspectos na verdade vocecirc sabe

melhor que eu Mas idoso que eu digo eacute assim acima de 85

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Ah eu jaacute tive vaacuterias situaccedilotildees Sentimentos bons ou ruins Relatos de vida histoacuterias

de vida momentos difiacuteceis E assim eu procuro dividir com o paciente esse tipo de histoacuteria e

muitas vezes costumo contar outras histoacuterias Se for algo negativo eu sempre procuro contar

uma histoacuteria que traga algo positivo para tentar minimizar o grau de sofrimento desse

paciente (Me decirc um exemplo) Uma matildee que tem o filho etilista com vaacuterias internaccedilotildees um

paciente pouco aderente agrave terapecircutica eacute um problema seacuterio mas sempre na verdade tentando

mostrar a ela que existe uma alternativa sempre buscando uma soluccedilatildeo para dar um conforto

para dar um alento

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

Auxiliar com certeza A gente tem que saber lidar bem com isso na verdade porque

muitas vezes depende muito da caracteriacutestica do paciente como ele aceita essa aproximaccedilatildeo

do meacutedico ou natildeo Tecircm pacientes que satildeo um pouco mais fechados natildeo satildeo abertos entatildeo eacute

mais difiacutecil eles aceitarem esse tipo de participaccedilatildeo a natildeo ser que crie um viacutenculo mais forte

mas isso demanda um certo tempo mas tecircm pacientes que na verdade vocecirc tem uma certa

empatia inicial eacute tentando mostrar alternativas sempre e usar a emoccedilatildeo de uma forma positiva

sempre tentar mostrar assim que vocecirc estaacute laacute para ajudar O meu viacutenculo empaacutetico pode ou

natildeo influenciar no tratamento Eu jaacute tive as duas experiecircncias Pacientes que responderam

melhor mas em contrapartida pacientes que eu tenho um bom viacutenculo mas agrave custa da

146

patologia dele tipo dependecircncia ao aacutelcool por exemplo uma coisa difiacutecil o paciente natildeo

respondeu tatildeo bem

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Felizmente nunca de forma negativa Positiva sempre mas porque eacute uma

caracteriacutestica minha de sempre sempre individualizar Eu visto a camisa sabe eu vou

esmiuccedilar eu vou atraacutes eu me interesso muito e hoje a gente tem acesso muito faacutecil agrave

informaccedilatildeo entatildeo eacute assim sempre eacute uma energia que me ajuda muito na verdade ir atraacutes do

diagnoacutestico e buscar uma soluccedilatildeo

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O estresse na verdade eacute a resposta do nosso organismo frente aos fatores agressores

quer sejam externos ou dentro de noacutes que desencadeia uma seacuterie de agressotildees no nosso

organismo O que causa meu estresse eacute a sensaccedilatildeo de incapacidade de exposiccedilatildeo excessiva

medo de errar Procuro trabalhar minha cabeccedila para isso procuro fazer o meu melhor estar

preparado para fazer o meu melhor e saber que tem coisas que natildeo dependem unicamente de

mim Acho que os meacutedicos cada vez mais vivem uma rotina estressante principalmente

porque no iniacutecio da carreira vocecirc estaacute agrave frente de uma seacuterie de questotildees vocecirc estaacute em uma

fase de aprendizado vocecirc tem uma acircnsia de resolver tudo e muitas vezes vocecirc natildeo tem uma

estrutura adequada para isso Por exemplo eu fico em um hospital universitaacuterio tem

formaccedilatildeo de residentes e tudo mais ainda mais em uma emergecircncia na sala de emergecircncia

eu percebo assim a acircnsia deles quererem resolver Tecircm o conhecimento mas natildeo tecircm a

experiecircncia natildeo tecircm a visatildeo de como vai ser a evoluccedilatildeo daquele quadro e sempre querendo

assim poxa se a gente tivesse uma estrutura melhor tal tal tal entatildeo eu acho que isso vai

gerando uma ansiedade grande um desconforto grande capaz de gerar o estresse Jaacute tive

momentos de forte estresse principalmente nessas situaccedilotildees O maior estresse pelo menos

para mim satildeo as urgecircncias e emergecircncias mas isso depende muito do como pois se vocecirc tem

um bom treinamento isso acaba sendo medular o tratamento eacute medular ou seja eacute uma coisa

condicionada entatildeo vocecirc tem que estar muito bem treinado para isso E felizmente posso te

dizer que nessas situaccedilotildees sei lidar muito bem com isso Tive um bom treino acadecircmico

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

147

Sim talvez natildeo totalmente mas uma boa parte Talvez o que eu tenha percebido mais

assim eu percebo mais (pensou) Natildeo eu percebo bem sim tanto as negativas quanto aas

positivas Eu procuro refletir tem a questatildeo da terapia tambeacutem eacute um fator que ajuda

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

Sim porque a emoccedilatildeo natildeo eacute soacute verbal ela expressa de uma forma natildeo verbal mas aiacute

vai da sensibilidade de vocecirc conseguir perceber isso Tenho procurado me esforccedilar para isso

tambeacutem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Sim sem duacutevida Mas existem especialidades e existem pessoas tambeacutem Os cliacutenicos

tecircm uma tendecircncia a ter maior sensibilidade os cirurgiotildees um pouco menos natildeo eacute uma regra

mas isso Existem ateacute trabalhos mostrando jaacute na faculdade um perfil psicoloacutegico de meacutedicos

acadecircmicos dos doutorandos do que eles vatildeo seguir uma especialidade cliacutenica ou uma

especialidade ciruacutergica ndash entatildeo eu acho que isso faz parte um pouco da personalidade Os

meacutedicos mais sensiacuteveis procuram mais a cliacutenica gostam mais de conversar que tem mais

paciecircncia estatildeo mais abertos ao paciente o cirurgiatildeo eacute um meacutedico mais praacutetico natildeo eacute regra

mas (Interrompeu paciente chegou)

148

Caso 4 Marcos (participante 13)

1 Descreva um paciente que tenha atendido considerado difiacutecil Que caracteriacutesticas ele

tem Por que ele seria ldquodifiacutecilrdquo

Um paciente difiacutecil eacute um paciente que jaacute vem com tudo determinado Ele natildeo quer o

trabalho que vocecirc faz ele jaacute vem determinado Hoje em dia com internet tem gente que jaacute

vem com tudo determinado jaacute acha que eacute aquilo natildeo quer saber e jaacute vem com o diagnoacutestico

do que ele quer fazer questiona tudo natildeo de maneira positiva ele questiona de uma maneira

assim negativa Geralmente satildeo pessoas de personalidade assim pessoas mais briguentas natildeo

satildeo pessoas tatildeo polidas vamos dizer assim satildeo pessoas mais grossas se pode falar assim e

geralmente pessoa que briga assim tipo pessoas que discutem que brigam pessoas neacute e daiacute

acham que tecircm a razatildeo o tipo da pessoa que acha que tem razatildeo Geralmente eacute a pessoa mais

briguenta hoje mesmo veio uma aiacute Trabalha na S e questionou tudo mas natildeo

construtivamente o ideal A pessoa pode ter um conhecimento muito grande mas tentar

fazer uma coisa assim mais construtiva o que ela faz eacute uma coisa natildeo construtiva para ela

mesma

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

A dificuldade de vocecirc explicar para ele de tentar fazer ele entender ter atenccedilatildeo tentar

explicar para ele o que vocecirc estaacute querendo explicar para ele o que vocecirc vai fazer Uma pessoa

como essa natildeo daacute vontade de atender pessoas assim (Soacute depois de perguntar de novo daacute

uma sensaccedilotildees incocircmoda)

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10

2 Da mesma forma que descreveu um paciente que considera difiacutecil descreva um

paciente atendido que o senhor acredita natildeo despertar dificuldades Que caracteriacutesticas

ele tem Por que ele natildeo desperta dificuldades

Eacute gente que aceita mais o diagnoacutestico claro que aceitar totalmente eacute um paciente faacutecil

mas eacute um paciente meio inerte o ideal eacute um paciente que participa que tem seu

conhecimento que jaacute foi em outros meacutedicos etc mas ele vem para vocecirc entender vem buscar

a sua opiniatildeo Porque ele aceita Hoje veio um paciente trocar ouvir uma outra opiniatildeo tinha

149

passado com um colega ele discute ele pode nem vir a tratar com vocecirc mas eacute uma pessoa

que estaacute compartilhando o problema com vocecirc

Como ele o afeta Que emoccedilotildees ele lhe mobiliza

Emocionalmente me desperta um interesse pelo meu trabalho de tentar ajudar ele de

ser cordial ateacute com os colegas eacute um paciente que vocecirc se sente bem

Estime uma porcentagem de frequecircncia em seu consultoacuterio desse tipo de paciente

10 Os outros 80 (risos) satildeo os pacientes mais intermediaacuterios que soacute vecircm

burocraacuteticos que vecircm tratar natildeo satildeo tatildeo faacuteceis nem tatildeo difiacuteceis o normal satildeo pessoas que

questionam que agraves vezes aceitam agraves vezes natildeo aceitam seria o intermediaacuterio entre as duas

coisas

3 Quando uma emoccedilatildeo forte eacute despertada no atendimento costuma reconhececirc-la

Como isso o afeta Decirc um exemplo

Positivas satildeo muitas emoccedilotildees fortes assim uma vez teve uma senhora uma vez que

veio aqui e ela como eacute (Atendeu o telefone) Ela se queixava de formigamento das pernas

para baixo eu examinei ela e natildeo tinha pulso natildeo tinha pulso encaminhei para o pronto-

socorro e aiacute ela foi para o pronto-socorro chegou laacute e disseram que natildeo era nada o meacutedico

me ligou em todo caso encaminhou ela para a vascular e era aiacute ela operou aiacute ela veio aqui me

agradecer entatildeo isso eacute uma emoccedilatildeo forte Teve um tambeacutem que num raio-x uma

ressonacircncia tinha um achado de um tumor um tumor cervical benigno tambeacutem depois

operou e tal o cara ateacute me deu um beijo (risos) satildeo emoccedilotildees que depois viram fortes tinha

um outro paciente que tinha uma tontura pedi uma ressonacircncia tinha um aneurisma cerebral

um achado em exames tambeacutem veio me agradecer

4 Essas emoccedilotildees podem vir a auxiliar no atendimento ou somente interferir

negativamente Como

As emoccedilotildees as duas neacute vocecirc tem que ir laacute tentar fechar o maacuteximo mesmo o negativo

aquilo que fica descontente que questiona tudo que fica agressivo mesmo assim vocecirc tenta

agora eu posso fazer meu melhor com outro paciente difiacutecil os dois tipos o positivo e o

negativo eacute bom para vocecirc (E as suas emoccedilotildees) Eu tenho que aceitar (de novo pergunto)

As emoccedilotildees positivas eacute melhor que as emoccedilotildees negativas eacute aquilo que a psicologia meacutedica

fala da transferecircncia o cara chega vocecirc natildeo vai com a cara dele soacute de olhar a pessoa tem um

150

aspecto que Vocecirc tem que justamente ignorar isso aiacute tem que ser neutro e uma coisa

positiva eu acho porque uma coisa negativa eacute ruim a pessoa jaacute Afeta um pouco a opiniatildeo

da pessoa

5 Lembra-se de uma situaccedilatildeo em sua cliacutenica em que a emoccedilatildeo interferiu de alguma

maneira no diagnoacutestico eou tratamento Exemplifique

Natildeo acho que natildeo Nunca quase tive problema com paciente aqui de briga de

emoccedilatildeo mais eacute muito raro (Perguntei algumas vezes natildeo saiu disso)

6 O que constitui o estresse para o senhor Quais os momentos em que vivencia forte

estresse decorrente da profissatildeo Como lida com isso

O medico tem estresse por causa do nuacutemero de pacientes que tem que atender por

hora a agenda eacute Tem cirurgia aqui tem coisa ali o que me daacute estresse eacute ter que cumprir

uma agenda para depois ter uma cirurgia agrave noite ou entatildeo ter um compromisso ou entatildeo um

compromisso familiar vocecirc ter que ir raacutepido para natildeo perder isso daiacute eacute que me daacute o estresse

agora atender etc natildeo cirurgia sim eacute mais estressante cirurgia que eacute mais delicada que vocecirc

faz xxx aiacute que acontece no meio tem sangramento coisa assim aiacute daacute o estresse (Como lida)

Eu acho que eu administro bem

7 O senhor acha que percebe suas emoccedilotildees Em quais situaccedilotildees Como lida com elas

Natildeo a gente acaba tocando sem pensar muito nas emoccedilotildees Eacute difiacutecil porque tem um

pouco aiacute muda natildeo tem Se vocecirc fica preocupado vocecirc fica o dia inteiro preocupado Mas

vocecirc pensa um pouco nas emoccedilotildees sempre pensa mas quando vocecirc cai na rotina do trabalho

mesmo vocecirc acaba esquecendo das emoccedilotildees Acho que seria importante pensar mais a

pessoa se conheceria melhor seria melhor Tem gente que chega aqui eacute dor dor dor com

sinais de depressatildeo reclama que daacute tudo errado No comeccedilo vocecirc pode ser influenciado por

uma emoccedilatildeo dessa no comeccedilo sim mas depois que vocecirc eacute meacutedico afeto nenhum No comeccedilo

me envolvia mais agora me envolvo menos Independente tem que tratar dele

8 Acha importante reconhecer uma emoccedilatildeo em um paciente quando natildeo eacute verbalizada

Por quecirc

A gente perceber eacute importante para ele eacute difiacutecil a gente natildeo tem tempo de fazer uma

coisa mais longa agraves vezes a emoccedilatildeo eacute Tecircm pessoas que Agraves vezes eu entro mas natildeo gosto

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porque por experiecircncia minha eu vejo que o paciente natildeo gosta Quando ele se abre comeccedila a

falar sim Mulher fala mais de emoccedilatildeo do que homem

9 Acha importante que o meacutedico reconheccedila suas emoccedilotildees durante um atendimento

Por quecirc

Acho importante porque pode afetar no tratamento quando eu estou irritado natildeo

estou querendo saber ele tem que saber que encarar aquilo perceber para tentar ajudar o

paciente acho importante Eu consigo fazer isso sim