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Editorial

Por Fabio da Silva Barbosa

O ponto de ônibus estava cheio de genteaglomerada. Queriam evitar a forte chuvaque caía. Os carros passavam jogando águanos pedestres que corriam tentando atra-vessar as ruas ou chegar até as marquises.Fechou o sinal para os carros. Nesse mo-mento ele vem pulando na água e virandocambalhotas. Passa entre os carros e dásocos nas laterais dos ônibus.- Arruma um troco aí, madame? - Perguntaao se apertar entre as pessoas do ponto deônibus.Algumas senhoras se limitam a segurar asbolsas com maior força, outras olham parao lado oposto fingindo não ouvir. Ummagrão estalou a língua aborrecido.- Por que não vai arrumar trabalho? – Ques-

tionou um baixinho.- Você me daria trabalho? – Respondeu atre-vido.Depois de percorrer todo o ponto sem con-seguir uma moeda sequer, voltou para achuva e fez um sinal de agradecimento aoinclinar o corpo.- Muito agradecido pela ajuda de todos evão se foder.Voltou a se meter entre os carros que a essaaltura estavam em movimento, pois o sinaljá estava aberto de novo. Entre saltos edanças estranhas ele chegou ao outro lado.O trajeto foi acompanhado por buzinas exingamentos dos motoristas. Seguiu a cal-çada, bailando sob a água que caída. Suaface demonstrava uma alegria marota. Do-brou a esquina deixando os rostos carran-cudos para trás.

São Sempre poucas as páginas e sempreficam coisas de fora, mas consegui por muitodo que queria neste novo número do Rebo-co. O mano Panda Reis, desta vez nos brin-da com um texto escrito em junho deste a-no. Embora o zine já tenha saído um mêsdepois, o escrito continua servindo a refle-xão. Como a maioria dos trabalhos expos-tos aqui, não tem data de validade. Infe-lizmente as mudanças são lentas demais eo caos continua a imperar. Exemplo dissotambém é o texto de minha autoria, “O pre-sente sem futuro”. Escrevi ano passado

quando a discussão sobre a diminuição damaior idade penal estava em pauta. Agoraela volta a ser debatida enquanto escrevoessas linhas. Lamentável. Temos tambémentrevistas, um escrito mais que poéticodo mano Jonatan O. Borges e um quadri-nho que o grande companheiro João da Sil-va fez enquanto lia o e-book que lancei noinício deste ano. Boa leitura e mantenhama mente aberta e atenta, pois antes de me-lhorar ainda vai piorar. E vai melhorar?Não sei. Vou fazendo a minha e me diver-tindo enquanto luto. A capa é de Rael Brian

Dançando na chuva

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Por Amanda Paz Duarte

Buracos suburbanos, onde SÓzinha en-contro pensamentos, pelas ruas da cidadevariantes, mulheres compartilhando seuscorpos a cada via, chove, segue a noitegelada na Farrapos POA/RS, pixadorestomando os topos dos prédios, Estadonão reconhecendo a problemática que é afalta de moradia, garotinhos zumbis portodos os lados... que seria sem a música,sem a tinta, sem a brisa…

UM CASO DE ASASPor Jonatan O. Borges

” Um breve conto de uma experiência pes-soal que me fez acreditar na poesia parasempre."

Certa vez uma libélula voava na altura dosolhos das crianças na saída da escola. Ha-via certa magia na ignorância de sua con-dição natural de inseto que desconhece amaldade, pois sua vida é tão frágil e breveque nada mais resta a uma libélula do quevoar descuidada de si na urgência de vi-ver e viver-se. Não sabendo do perigo, elavoava em meio a infância que explodia narua. Que explodia como num reino fantás-tico. Um menino tentava acertá-la com umapequeno galho seco… Um menino tenta-va acertá-la! O menino tal como a libélula,ignorante que era de sua condição huma-na, nem sabia o motivo daquela súbitavontade de destruir a beleza daqueleserzinho em pleno voo: O caçador, odominador desperto. Tudo é muito incons-tante quando criança, a vontade de se fa-zer algo passa, e dá vontade de fazer umoutro algo. Sua atenção voltou-se paraoutra cena. Ele não conseguiu destruir nemdestruir-se. E que alívio sentiu um outromenino que contemplativo observava todaa cena. Um alívio de poder ver… ver que

em tudo aquilo havia uma beleza que trans-cendia eras, e saber meio ainda ignorante-mente, pois ainda era só um menino, que nãose tratava da vida da libélula ou da açãodestrutiva do outro menino: Ali havia umencontro das forças que regem o firmamento:Vida e morte numa eterna valsa de tão lindadança, e com qualquer coisa de tango de tãotrágicos que são os bailarinos. Até hoje nãosabe se (o que testemunhou após a ação inútildo menino ) foi um prêmio-graça-benção oucastigo-penitência-carma que seus olhos ealma receberam no instante seguinte: A libé-lula voou ainda vacilante e meio indecisa emsua direção e tinha muito sol e era inverno etinha um vento gelado e tinha também umainfância solta e muitas possibilidades encan-tadas em toda parte e um inseto que por umbreve momento em seu voo arriscado e tãonatural fez como faz o beija-flor: Ficou para-lisado em pleno voo, suspenso no ar… emfrente aos olhos da criança e se foi só porcausa da luz do sol ou um delírio infantil, elenunca soube ou saberá, mas as asas da libé-lula emitiram-refletiram uma luz de um doura-do tão intenso e forte e bonito, e ele aindanão sabia o termo correto pra contar pra mãequando chegou em casa, ofegante, suaren-to, mas falava sem parar, ininterruptamentedaquela coisa redonda que brilha na cabeçados bebês no quadro da sala junto com aque-le homem barbudo na cruz, e que eram assasenormes e sentiu certa sagrada paz e… e…e… Que ele achava quê.

O presente sem futuro?Por Fabio da Silva Barbosa

Bebês, crianças, pré e adolescentes... Todosos dias menores de idade sentem o saboramargo dos frutos do abandono, da violênciae de abusos mil. São casos dos mais diversos,a maioria beirando o inacreditável, chegandoaos extremos do bizarro e do inaceitável.Enquanto isso, os tais cidadãos de bem sepreocupam com a segurança de seus

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celulares e ipods, argumentando que nãotêm nada com isso e que nada podem fazer.Esses seres ignorados pelos que desejamapenas se enquadrar, consumir e seacomodar, vão se acumulando pelos cantosmais sombrios e deteriorados das cidades.São os restos, os que não são úteis para apodre sociedade, os que não servem.Alguns são recolhidos e postos em abrigos,em instituições. Existem os que nuncasouberam o que é ter uma casa, alguém quese preocupe, os que nunca se sentiramprotegidos e amados. Aprendem no meioda barbárie dos ditos civilizados a se virar ea sobreviver dia após dia, fazendo o que forpreciso. Forças da natureza quedesconhecem palavras como respeito ouafeto. Alguns conseguirão crescer e serãocobrados, exigido consciência social, entreoutras palavras e expressões que nãopossuem o menor sentido de onde vieram.I., aos 5 anos, nunca tinha visto vasosanitário ou chuveiro. Até entender queaquelas coisas não lhe fariam mal, choravadesesperadamente cada vez que tinha deusá-las. I. nasceu em uma capital, cidadegrande, mas nunca teve banheiro em casa.T., 15 anos, não conheceu o pai e a mãemorreu na prisão. Ainda bem pequenapassou por alguns parentes que nãosouberam entender sua dor. Sem ter ninguémque a quisesse, foi abandonada a própriasorte.M. tem 14 anos. Todo dia de manhã eraacordada pelo padrasto sob uma chuva depancadas e depois estuprada pelo mesmo.Quando resolveu contar o que estavaacontecendo para a mãe, essa lhe bateu depau, pedra e garrafa. Disse que a culpa eradela.A., 12 anos, era obrigada pela mãe,dependente química, a roubar e trazerdinheiro para casa. Um dia A. disse que nãoqueria mais roubar. A mãe lhe deu uma surrabrutal, tentou afogá-la e a pôs para fora de

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casa.Enquanto os corruptos pedem peladiminuição da maior idade penal, entreoutras loucuras, existem pessoas cuidandode I., T., M., A. e muitas outras crianças eadolescentes para que não virem mais umnúmero contribuindo para a lotação dascadeias ou para as estatísticas de mortesde menores de idade. Sempre atuei dealguma forma na área social e esses sãoapenas alguns exemplos de históriasverídicas com que tive contato. Conheçovárias do tipo, observadas em diferentespartes, em diversos períodos. O que possodizer com esse acúmulo de experiências éque mudar é preciso. Não é questão dequerer, mas de necessidade. Essasexperiências continuam se acumulandodevido a minha insistência nesse caminho.Não posso dizer que o contato diário comtudo isso tenha me proporcionado noitesde sono tranquilas, mas também nãoacredito que fingir a inexistência de tudoisso me fizesse dormir melhor. Se alienar eentregar a vida a hipocrisia nunca foi umaopção que tenha levado em conta. Desdeque tomei consciência do inferno social aminha volta, mergulhei profundamente nouniverso dos marginalizados, querendo ircada vez mais fundo. Alguns dirão que tôsendo bonzinho, mas a questão é outra. Aquestão é ver que assim não dá e que paramudar só levantando a bunda do sofá eindo fazer a parte que cabe a cada um denós. Viver a mudança desejada, participardesse novo mundo. Constantemente tentamnos fazer acreditar que o mundo sempre foiassim e sempre será, mas o mundo já foi devárias formas e a mudança continuaindependente do que os bundas molesqueiram que acreditemos. A diferença é sevamos ajudar para que ele vá para um rumomelhor ou piore de vez.

DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?

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Por Fabio da Silva Barbosa

Quando montei a última TARDE MULTI-CULTURAL SEM FRONTEIRAS, estavaaguardando algumas fotos que meu amigofotógrafo Mauricio Porão iria enviar paraexpor durante o evento. Nesse meio tempoele me falou de um cara chamado FlavioDario Pettinichi que também gostaria departicipar. Fiz contato com ele e gostei doseu trabalho. Como havia tempo e aindaestava montando a programação, não penseiduas vezes e o incluí. As fotos chegaram,participaram do evento ao lado das fotosdo Porão e no fim ainda foram doadas parao espaço cultural que recebeu o evento. Ocontato com Flavio continuou e pensamosessa pequena entrevista.

Flavio Dario Pettinichi

A multiplicidade do seu trabalho:Nasci dentro de um âmbito de artes. Meupai era artista plástico e diretor de teatro(tipo mambembe, só que na argentina). Ele

fazia o Histori Board, a cenografia, ailuminação, os cartazes, os volantes e tudoo que tivesse a ver com a peça de teatro.Mas com cinco filhos, o teatro não davapra sustentar, então a profissão dele eraPintor de letras, retratista e coisas ligadasa arte. Por outro lado, minha mãe tinha quecuidar de nós e apesar de não ser artistanos incentivava a fazer coisas relacionadas(construir brinquedos com sucata, bonecosde barro ou fazer chapéus de crochê comumas agulhas grandes de pau que ela tinhainventado). Tudo isto sempre acompa-nhado de muitos livros e amigos ‘’cabeças”que visitavam a família. Na minha casatínhamos uma biblioteca que sempre foimais importante que a TV. Eu adorava lerrevistas em quadrinho, na argentina tinhammuitas na época, então não tinha jeito.Lembro bem que num natal alguémperguntou o que eu ia fazer quando fossegrande, eu tinha 5 anos , e não tive dúvidasem responder ARTISTA. Aos 12 anos fiz aminha primeira exposição de esculturas emmadeira, aos 16 anos copiava quadros deartistas famosos e os vendia, com essaidade também já era pintor de letras e comuma mochila nas costas e alguns pinceisfui conhecer o mundo. Conheci todo tipode artistas e “realizadores de arte”, com osquais aprendi muito. Aprendi gravura empedras, em madeira, borracha ou metais.Não gostei muito desse assunto de repetira obra, mas foi bom. Aprendi joalheria,trabalhei nisso 3 ou 4 anos, fiz design dejoias e artesanato fino um bom tempo.Conheci e trabalhei no processo de CeraPerdida para produção em série de joias.Um dia abandonei essa profissão por acharque era algo muito perigosa e anti ecológicapor natureza. Parti para aprender cerâmicae modelado. Tive uma indústria de arte emcerâmica até os chineses invadirem a méricalatina com seus produtos importados a

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No próprio trabalho com fotos podem serobservadas mais de uma etapa. Além da etapafotográfica, ainda temos a parte da arte digital.Como foi a decisão de integrar essas duasartes e com qual objetivo?Quando comecei a me interessar pela imagemestática, não tinha nem ideia o que era umacâmera fotográfica e muito menos o seuprocesso, mas para eu entender o que era,precisava por as mãos na massa. Comecei aver que se eu não era um bom “profissionaltécnico”, ao menos era um curioso criativo(nem câmera profissional tinha). Conheci doisgrandes fotógrafos. Um deles era um gaúchocarioca, André Amaral, que tentava me explicartoda a questão técnica e o outro um Italianoalucinado, Sergio N, que mostrou a arte nafotografia. Então comecei a fotografar tudo,criar um banco de imagens e pensar em algumprojeto. Como nesse meio tempo tinha queviver de alguma coisa, comecei a manipularimagens fotográficas de paisagens da cidadeonde eu morava na época, Cabo frio, e fazercartões postais. Desde colocar gaivotas ondenão tinha até fazer surgir um arco-íris de den-tro de um bote. Quando dei por mim, tinha mi-nha primeira expo e estava vendendo essasfotos em cartões postais. Aprendi também,talvez o mais importante, que a máquina foto-gráfica era uma ferramenta fantástica para pro-duzir arte. Sempre falo que não sou fotógrafo,sou um artista que utiliza uma maquina-fer-ramenta que me dá a possibilidade de exploraroutras formas de fazer arte. E também digoque não é a qualidade da câmera o que faz oartista. Seria o mesmo que perguntar a P. Pi-casso que tipo de pincel ou óleo ele utilizavapra ser ele o artista que era. (amiguinhos, nãose enganem: Arte se faz de dentro e não de fo-ra). Resolvido o conhecimento básico de foto-grafia e edição digital, parti para uma pesquisasobre o que fazer com este conhecimento.

Dia desses você estava falando sobre o nu ea questão social. Poderíamos divagar um

Pag 5 REBOCO CAÍDO- 31preço de capim bravo. Já casado e comdois filhos continuava pintando,desenhando e tentando ver aonde ia pora corporaleidade dos meus desenhos, ouseja fazer esculturas, mas com que material(O assunto era cuidar do meio ambiente )Nesse tempo tinha escrito um tratadosobre Arte e Ecologia e vendido ele aoGov. para ser ministrado aos professoresdo ensino médio. Um pedaço de correntede ferro, achado no asfalto, mudaria meudestino para sempre. Decidi que iria fazeresculturas com sucata de ferro. Trabalheifazendo esculturas durante 5 ou 6 anos evendi todas elas na Argentina. Depois vimpro Brasil, lugar que eu já tinha moradoantes, e continuei a realizar esculturas.Mais 5 anos de trabalho ininterrupto comferro. Vendi mais de 60 esculturas parauma galeria de arte e comecei a pesquisaro mundo da fotografia e o áudio visual.Aprendi a editar vídeos e a ter algumasnoções básicas de fotografia. Trabalheicom isso alguns anos, fiz alguns curtasexperimentais, intervenções urbanas,criei, junto a outras pessoas, dois cineclubes (um para adultos e outro pracrianças), trabalhei como fotografo paravárias entidades, tanto públicas comoprivadas, dei cursos de fotografia e arteetc e fiz mais de meia dúzia de exposiçõesde fotografia com nus diversos e atéganhei dinheiro. Aliás, sempre vivi daminha arte. Hoje vivo de realizar esculturaem madeira.

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pouco sobre?

Sim. Eu considero onu ainda uma questão com muito campo paraexplorar, no bom sentido. Muito tem sefotografado sobre o tema, quase sempremulheres, e pouco foi pesquisado realmente.Sempre se apostou na estética aristotélica epoucas vezes na questão do “Nu Absoluto”,onde a modelo não é preparada, não temnenhuma relação de profissionalismo (comomodelo) e geralmente é marginalizada pelasociedade, seja porque já passou dos 20anos, seja porque mora numa favela (e nãofoi descoberta pela grande mídia), ou porquenão responde aos padrões de uma estéticaque é manipulada dentro do campo das artesou na questão comercial. Fiz exposições commulheres idosas, mulheres com problemasjudiciais, mulheres que tiveram ou tem câncerde mama e muitas mulheres anônimas quese sentiam abandonadas por uma sociedadeque exige delas mil e uma utilidades, masque vira as costas na questão íntima damulher, seus desejos, seus medos, seu temposexual e sensual e acima de tudo a suacondição humana. É uma pergunta que parate dar uma resposta clara teríamos queescrever um ensaio.

Você chegou ao Brasil em uma época bemconturbada, passou maus pedaços nas mãosda ditadura e rodou bastante por aí.Cheguei ao Brasil nos anos 80, já no final daditadura. Estava Figueiredo como presiden-te ditador. Fui trabalhar para um jornal de um

gaúcho que tinha sido preso político,Juvêncio Mazzarolo, do Jornal NossoTem-po. Eu era desenhista, fazia charges,ilus-trava editoriais, etc. O jornal era deoposi-ção, claro. Um dia a Polícia Civilme pegou na rua e me sequestrou porqueficaram sa-bendo que eu era o desenhistado jornal. Fui torturado, perseguido e sónão passou a maiores porque o Jornalcomprou a briga e abriram um processocontra a Polícia (que deu em nada, acho).Tempos depois, 4 ou 5 meses, não pareide desenhar, fui se-questrado novamente,desta vez pela poli-cia militar, e de novofui torturado. Fizeram um simulacro defuzilamento na beira do rio Paraná, chutes,coronhadas e até tiros, já que meintimaram a forjar uma fuga para assimme fuzilar com uma razão. Conseguiescapar me jogando no mato e daí fuiembo-ra pra uma praia deserta. Soubedepois que o jornal novamente comproua briga, mas eu, nessa altura, não queriame expor de novo. Uma coisa engraçada:parte do acer-vo desse jornal estádigitalizado na Internet e pouca coisaaparece desses anos. Ainda guardo empapel parte desse material.

Existem projetos futuros?Um artista nunca tem planos futuros. Ele éo seu plano constante, presente e ativo desi mesmo. Mas se quer uma resposta sim-ples: continuar a fazer arte e lutar por ummundo mais justo até o final dos meus dias!Estou atualmente fazendo entalhe em ma-deira, procurando uma parceria com oIBAMA para reutilizar parte do material se-questrado das derrubadas ilegais, querodar aulas de entalhe (grátis) para a comuni-dade do lugar onde moro atualmente.

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Por Panda ReisSão Paulo, Junho de 2016, o inverno nemcomeçou oficialmente e já registra marcashistóricas de frio, a mais fria das últimas duasdécadas e meia. Novamente começa ocalvário para aquela população que estáabaixo da linha de pobreza, eu diria abaixo dalinha de miséria, aquelas pessoas que nãotêm nem mesmo um barraco de madeirite sobo córrego podre e as ratazanas que disputamespaço nas vielas, aqueles que são invisíveisperante a grande maioria da sociedade. Nãofalo de indiferença, falo de cegueira coletiva,esquecimento social, nenhuma açãoparlamentar e pouca ação coletiva, pois atépara o mais pobre morador de favela, essaspessoas não existem. Se ouve falar, comentar,principalmente quando essa população“incomoda” os condomínios de luxo,rasgando lixos e perambulando por espaçosque eles “não deveriam” circular. Aí elesaparecem, aparecem em discursos e falascarregadas de pré-conceitos e generalizaçõesestúpidas que em nada ajudam essapopulação de moradores de rua que, além deserem privados de tudo que o Estado dispõepara a sociedade, além de serem invisíveis evistos como parte da arquitetura da cidade(ou do lixo da cidade) vem sendo privados,nesse inverno paulistano, das calçadas e daproteção dos viadutos, pois já fazem algunsanos que, a prefeitura vem instalando piso“anti- mendigo” nos viadutos da cidade. Nãobastasse isso, esse ano, os governantesdessa cidade, alcançaram o ápice na luta peloextermínio dessa população. Não estoufalando do aumento no índice de agressões aessa população, nem da repressão ehumilhação que a polícia proporciona paraeles, muito menos dos ataques orquestradosde neo- nazistas e de playboys nacionalistasde extrema direita, estou falando dainstitucionalização da tentativa de homicídiopromovida pela prefeitura da cidade de São

Hipotermia ConstitucionalPaulo. Não bastassem todos osproblemas que um morador de ruaatravessa, esse ano, nosso prefeitoHaddad e sua guarda municipal (GCM)estão recolhendo cobertores, papelõese as barracas, que esses cidadãos utilizampara se protegerem do frio, justamenteno ano em que as temperaturas baixasestão batendo recordes, chegando a quasezero aqui na capital. A Prefeitura iniciouuma ação que vem retirando tudo dessepovo e existem relatos que atédocumentos e objetos pessoais estãosendo confiscados.A desculpa do nosso prefeito é que essapopulação estaria privatizando o espaçopúblico. As pessoas não podem seproteger do frio, espaço público deve serlimpo e sem obstáculos (como se gente ,humano, fosse um objeto, um obstáculo),como se as calçadas da Paulista, dosJardins ,de Pinheiros, já não fossemprivatizadas há anos por mesas e cadeirasde bares lotados de jovens da classemédia e burguesa, como se as ruas aoentorno das faculdades não fossemprivatizadas por carros com som potentesque arrastam milhares de jovens para seusbailes a céu aberto, como se o espaçopúblico já não fosse privatizado porlogísticas extraordinárias, como ocorridodurante a copa do mundo, onde quartei-rões foram isolados para promover atranqüilidade de delegações de paísesricos, os mesmos que patrocinam a misé-ria que joga essa população na rua. A pri-vatização da área pública ocorre quandoa tropa de choque fecha quarteirõesporque não quer que a população protesteperto da casa de um parlamentar.Enquanto essa população é generalizadacomo crackeiros e viciados em álcool enão se perceberem como iguais a essapopulação que vem lutando pra sobrevier

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nas ruas, veremos ações de higienizaçãocada dia mais sistemáticas, afinal de contasé preciso “limpar” o espaço, “limpar” ocentro para uma reestruturação imobiliária.Pouco se importam que para isso ocorrermais rápido se utilizem de métodos de ex-termínio como se vem usando aqui em SãoPaulo. Mais de cinco moradores morreram

nas ruas da cidade nos últimos dias e se-gundo a prefeitura a culpa é deles por esta-rem na rua atrapalhando o espaço públicoe a mercê do frio glacial da cidade. En-quanto isso, aqueles empresários do “patoamarelo” estão ocupando um espaçopúblico muito maior em frente a FIESP esão tratados como heróis da resistência.

Por Fabio da Silva Barbosa

Mais um papo com o mano Gustavo

De nossa entrevista anterior para essa, muita coisa aconteceu. Vários shows rolandopor aí. Sempre estou conversando com um@ amig@ de algum estado diferente e el@me diz que assistiu as apresentações e gostou muito. A que se deve essa apreciação dopúblico e o que mais aconteceu de lá para cá?Eu acho que as pessoas curtem mais a nossa sinceridade, falas, do que o som em si.Acho que quando conversamos estávamos a caminho do nordeste do Brasil. Depoisfizemos uma turnê na Argentina e Uruguai, participamos de eventos em prol de tatuagem,em prol de presos políticos e Feiras de Livros.

O Blatta Knup se diferencia não só por sua formação (um dueto), mas também por suasonoridade. Embora existam outras bandas com propostas parecidas, podemos captaralgo diferente no som de vocês. O que é?Eu não sei explicar. Não sou um músico. Apenas tento tocar o que sinto e consigo. Helo équem escreve as melhores letras do Blatta Knup.

Vi que algumas apresentações aconteceram junto com o Dischaos, sua antiga banda. Vocêvoltou para a formação da banda ou foi algo que aconteceu naquele momento?Foi só uma reunião de 10 anos mesmo. Não temos a intenção de voltar. Pelo menos nãoneste momento.

“Que a resistência continue e se

espalhe.”

Tem uns manos e umas manas que volta emeia volto a enviar algumas perguntas. Sãopessoas que persistem na estrada, sempreestão envolvidas em alguma novidade...pessoas para quem a luta nunca termina. Seacomodar é incompatível com viver. Assim éGustavo Merdinha Knup, que junto com asuper Helo Lolx formam o Blatta Knup.

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Pag 9 REBOCO CAÍDO- 31O que está por vir?Esperamos viajar para Bolívia, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela (ainda está em processode organização) e no meio de 2017 uma turnê na Europa. Além disso, queremos gravaralguns SPLITs.

A extrema direita vem se mostrando cada vez menos tímida e expondo todo seu venenosem nenhum recato nos meios de comunicação de massa, na política partidária e em outrosterrenos onde antes tentavam permanecer mascarados. Isso se reflete também nas ruas.Tempos difíceis estão por vir? Digo: piores. Difíceis já estão faz tempo.Acredito que sim e este é um cenário mundial. Direitos conquistados estão sendo retiradosem todo o globo. Quando o capital entra em crise, a direita se fortalece muito com o medoe a insegurança gerados na sociedade. A direita tem promessas imediatas que conquistammultidões menos atentas a política (sem contar o apoio das mídias que facilita esteprocesso).

E essa disputa partidária que tá rolando e que só serve para distrair a população dosproblemas reais?Ela faz parte do jogo político. O capital necessita de crises e guerras….As disputaspartidárias não fazem diferença. Todos os partidos só querem o poder.

Mudando agora o foco para situações mais produtivas: Como definir a atuação dosestudantes nas ocupações das escolas e em outras ações que estão ocorrendo?Eu acho muito massa. A molecada tá vendo que existe política além do voto e que se elesnão tentarem tomar controle da própria vida, alguém tomará por elxs. Que a resistênciacontinue e se espalhe.

Outra atitude que merece ser destacada é o crescimento do interesse por veganismo esustentabilidade. Modismo ou conscientização?Eu acho que o interesse vem por parte de conscientização geral. O aquecimento global éalgo visível, a falta de água, entre outros, porém o capitalismo se apropria e torna tudomercadoria. Temos que tomar cuidado para não estarmos apenas consumindo por consumire ainda achando que estamos fazendo algo diferente.

Pra concluir:Agradeço mais uma vez pela oportunidade de poder nos expressar no Reboco Caído.Resistiremos até o final contra tudo aquilo que nos oprime. Punk é mais que visual emúsica.

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LivroPoemas

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nenhum acordo ortográfico, novo ou anti-

go. Não estou de acordo com nada disso.”

N o v ol i n kp a r abaixarno sitec o m -p le t a -menter e m o -deladoda edi-torawww.lampar i n al u m i -n o s a.com

108páginasde puraliteratu-

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