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RE D E S a AGROECOLOGIAS EXPERIÊNCIAS NO BRASIL E NA FRANÇA

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Page 1: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

R E D E S aAGROECOLOGIAS

E X P E R I Ecirc N C I A S NO BRASIL E NA FR A N Ccedil A

Depoacutesito legal junto agrave Biblioteca Nacional conform e Lei ndeg 10994 de 14 de dezem bro de 2004

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Bibliotecaacuteria responsaacutevel Luzia Glinski Kintopp CRB9-1535

Curitiba - PR

E314 Redes de agroecologias experiecircncias no Brasil e na Franccedila Organizadores Alfio Brandenburg Jean-Paul BillaudClaire Lamine mdash Curitiba Kairos Ediccedilotildees 2015248 p 228 cm

ISBN 978-85-63806-30-7 Vaacuterios autores

1 Agroecologia - Brasil 2 Agroecologia - Franccedila 3 Redes cientiacuteficas 4 Agricultura orgacircnica - Movimentos sociais5 Redes de mercados alternativos 6 Sustentabilidade 7 Eacutetica ambiental 8 Ecologia agriacutecola 9 Sociologia rural I Tiacutetulo

CDD 30772

IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

KAIROSE D I Ccedil Otilde E S

Antocircnia Schwinden - Coordenaccedilatildeo Editorial Thaiacutessa Falcatildeo- Assistente Editorial

Stella Maris Gazziero - Diagramaccedilatildeo Caroline Schroeder - Capa

R E D E S A L IM E N T A R E S A LT E R N A T IV A S E N O V A S R E LA Ccedil Otilde E S P R O D U Ccedil Atilde O - C O N S U M O NA F R A N Ccedil A E NO B R A S IL 1

Moacir Roberto Darolt Claire Lamine Maria de Cleacuteofas Faggion Alencar e Lucimar Santiago Abreu

1 IN TR O D U Ccedil Atilde O

As redes alimentares alternativas (alternative food networks - AFNs) como satildeo

conhecidas na literatura internacional (GOODMAN et al 2012) satildeo uma categoria

geneacuterica de anaacutelise acadecircmica para o estudo de alternativas ao modelo agroalimentar

industrial Para esses autores as AFNs tecircm algum as caracteriacutesticas centrais que

incluem cooperaccedilatildeo social e parcerias entre produtores e consumidores reconexatildeo

entre produccedilatildeo e consumo dentro de padrotildees sustentaacuteveis dinamizaccedilatildeo de mercados

locais com identidade territorial e revalorizaccedilatildeo da circulaccedilatildeo de produtos de qualidade

diferenciada como eacute o caso de produtos de base ecoloacutegica2 Para Wilkinson (2008) essas

redes e movimentos sociais favoreceram a reinserccedilatildeo econocircmica de agricultores familiares

brasileiros excluiacutedos do processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola A institucionalizaccedilatildeo das

redes e movimentos de base ecoloacutegica aconteceu na Franccedila nos anos de 1980 e no Brasil

nos anos de 1990 pautado em princiacutepios de confianccedila equidade e novas relaccedilotildees sociais

entre produtores e consumidores que contribuem para a emergecircncia de uma democracia

alimentar fundada sobre a racionalidade socioambiental (BRANDENBURG 2002)

As redes alimentares alternativas satildeo muito diversas e privilegiam os circuitos

curtos3 (CC) de comercializaccedilatildeo (feiras do produtor entrega de cestas pequenas lojas

de produtores venda na propriedade ligada ao agroturismo venda institucional para

alimentaccedilatildeo escolar entre outras formas de venda direta) Para Marsden et al (2000)

o mais importante para caracterizar um circuito curto ou cadeia curta eacute o fato de um

1 Este trabalho integra o projeto Agroecologia na Franccedila e no Brasil entre redes cientiacuteficas movimentos sociais e poliacuteticas puacuteblicas apoiado pelo acordo CAPESCOFECUB 7162011 Texto publicado na revista Ambiente amp Sociedade (2015)

2 Neste trabalho o conceito de sistema de produccedilatildeo de base ecoloacutegica abrange os denominados orgacircnico ecoloacutegico agroecoloacutegico biodinacircmico natural regenerativo bioloacutegico permacultura e outros que atendam os princiacutepios estabelecidos pela Lei ne 108312003 que dispotildee sobre o sistema orgacircnico de produccedilatildeo agropecuaacuteria no Brasil Na Franccedila o sistema eacute conhecido como agricultura bioloacutegica (bio) a partir da legislaccedilatildeo de 1980 mas existem produtos de outras formas de agricultura alternativa (agriculture paysanne agroeacutecologie) que se dizem mais ecoloacutegicas e satildeo encontradas em circuitos curtos

3 Circuitos Curtos (CC) ou cadeias curtas de comercializaccedilatildeo satildeo definidos como um sistema de inter-relaccedilotildees entre atores que estatildeo diretamente engajados na produccedilatildeo transformaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo de alimentos (RENTING et al 2012) Essa definiccedilatildeo traz dois pontos importantes (inter-relaccedilotildees e interdependecircncia) e deixa aberta uma ampla gama de formas de articulaccedilatildeo entre produccedilatildeo e consumo

111

produto chegar nas matildeos do consumidor com informaccedilotildees que lhe permitam saber onde o

produto foi produzido (lugar) por quem (produtor) e de que forma (sistema de produccedilatildeo)

ao contraacuterio da alim entaccedilatildeo padronizada da agricultura industrial caracterizada por

Ploeg (2008) como impeacuterios alimentares Entretanto Goodman (2009) alerta que essas

redes e novas formas econocircmicas se desenvolvem em sociedades capitalistas e natildeo em

um universo paralelo Por isso eacute necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica que busque avaliar as

relaccedilotildees de poder e a distribuiccedilatildeo social dos ganhos entre os atores envolvidos

As vendas em circuitos curtos canalizaram metade do valor total das compras

da produccedilatildeo orgacircnica certificada no m ercado interno brasileiro em 2010 (BLANC e

KLEDAL 2012) No Brasil 42 dos consum idores jaacute compram produtos orgacircnicos em

lojas especializadas e 35 em feiras do produtor apesar de a maioria (72) ainda comprar

em canais longos como eacute o caso de superm ercados (KLUTH BOCCHIJR CENSKOWSKY

2011) Na Franccedila a situaccedilatildeo eacute similar 79 dos consumidores compram em super e

hipermercados o que representou 46 do valor total das compras de produtos orgacircnicos

(bio) em 2013 Cabe destacar que na Franccedila a maioria das compras de alimentos em geral

eacute feita em circuitos longos Entretanto parte dos consumidores ainda prefere comprar

em circuitos curtos (33 compram em feiras do produtor (marcheacute paysan) 29 em lojas

especializadas e 19 diretamente nas propriedades o que representou 48 do valor

total das compras) principalmente por motivos de sauacutede qualidade sabor e seguranccedila

alim entar (AGENCE BIO 2014) Em am bos os paiacuteses uma das especificidades dessas

redes eacute o fato de questionar alguns princiacutepios baacutesicos do sistema convencional como

a homogeneizaccedilatildeo a padronizaccedilatildeo de produtos e o grande nuacutemero de intermediaacuterios

na com ercializaccedilatildeo em grandes d istacircncias (LAM INE 2012) Nesse sentido as redes

alternativas propotildeem novos princiacutepios de troca relocalizaccedilatildeo dos alimentos retomam

valores tradiccedilotildees e novos tipos de relaccedilotildees entre produtores e consumidores

Um dos p rin c ip a is q u e stio n am e n to s levantados pela literatura cientiacutefica

internacional eacute a capacidade de essas redes alimentares alternativas gerarem mudanccedilas

estru tura is em uma escala m aior (G O O D M A N 2003 DEVERRE LAM INE 2010)

Para esses autores as redes podem contribuir para uma transformaccedilatildeo das relaccedilotildees

de poder no acircmbito dos sistem as alim entares incluindo um maior peso e participaccedilatildeo

de consumidores e produtores na definiccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo troca e consumo

(a noccedilatildeo de autonomia) Enfatizam ainda a ligaccedilatildeo necessaacuteria entre experiecircncias concretas

e movimento social e poliacutetico de oposiccedilatildeo ao modelo convencional dominante

112

Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para

tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra

e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby

poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute

um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e

agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER

2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo

considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas

democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento

(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes

de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005

LEVKOE 2006)

Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os

agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para

a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso

recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos

coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental

Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas

para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem

as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade

via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila

alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees

sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos

de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia

alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou

ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)

Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN

em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como

parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)

A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da

produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas

que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos

que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes

alimentares como mostrou Maye (2013)

113

De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e

convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de

transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes

alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores

e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo

com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural

a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo

produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)

que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas

sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila

reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade

O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas

e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais

diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e

consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e

facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis

Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica

eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas

com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento

dessas iniciativas

Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de

circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que

participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de

comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades

para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo

Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes

alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo

na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)

como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para

produtores e consumidores

2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S

A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir

de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi

realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto

114

com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias

de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de

base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade

regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos

mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas

Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille

e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)

duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma

Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos

como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na

propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil

paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo

sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e

bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura

orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema

O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas

20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo

foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil

Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias

do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas

de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede

Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um

diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo

em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo

funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens

para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades

A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias

e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de

desenvolvimento de cada experiecircncia estudada

As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos

econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em

consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares

4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)

115

apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais

poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura

de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento

para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de

concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo

rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil

Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura

orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares

e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)

e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa

extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base

ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior

desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero

de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu

um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea

plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)

Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros

pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas

governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem

algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo

frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um

niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita

a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem

origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros

caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe

tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo

proacuteximo aos grandes centros urbanos

Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes

experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que

permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais

com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores

em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais

116

3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Depoacutesito legal junto agrave Biblioteca Nacional conform e Lei ndeg 10994 de 14 de dezem bro de 2004

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Bibliotecaacuteria responsaacutevel Luzia Glinski Kintopp CRB9-1535

Curitiba - PR

E314 Redes de agroecologias experiecircncias no Brasil e na Franccedila Organizadores Alfio Brandenburg Jean-Paul BillaudClaire Lamine mdash Curitiba Kairos Ediccedilotildees 2015248 p 228 cm

ISBN 978-85-63806-30-7 Vaacuterios autores

1 Agroecologia - Brasil 2 Agroecologia - Franccedila 3 Redes cientiacuteficas 4 Agricultura orgacircnica - Movimentos sociais5 Redes de mercados alternativos 6 Sustentabilidade 7 Eacutetica ambiental 8 Ecologia agriacutecola 9 Sociologia rural I Tiacutetulo

CDD 30772

IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

KAIROSE D I Ccedil Otilde E S

Antocircnia Schwinden - Coordenaccedilatildeo Editorial Thaiacutessa Falcatildeo- Assistente Editorial

Stella Maris Gazziero - Diagramaccedilatildeo Caroline Schroeder - Capa

R E D E S A L IM E N T A R E S A LT E R N A T IV A S E N O V A S R E LA Ccedil Otilde E S P R O D U Ccedil Atilde O - C O N S U M O NA F R A N Ccedil A E NO B R A S IL 1

Moacir Roberto Darolt Claire Lamine Maria de Cleacuteofas Faggion Alencar e Lucimar Santiago Abreu

1 IN TR O D U Ccedil Atilde O

As redes alimentares alternativas (alternative food networks - AFNs) como satildeo

conhecidas na literatura internacional (GOODMAN et al 2012) satildeo uma categoria

geneacuterica de anaacutelise acadecircmica para o estudo de alternativas ao modelo agroalimentar

industrial Para esses autores as AFNs tecircm algum as caracteriacutesticas centrais que

incluem cooperaccedilatildeo social e parcerias entre produtores e consumidores reconexatildeo

entre produccedilatildeo e consumo dentro de padrotildees sustentaacuteveis dinamizaccedilatildeo de mercados

locais com identidade territorial e revalorizaccedilatildeo da circulaccedilatildeo de produtos de qualidade

diferenciada como eacute o caso de produtos de base ecoloacutegica2 Para Wilkinson (2008) essas

redes e movimentos sociais favoreceram a reinserccedilatildeo econocircmica de agricultores familiares

brasileiros excluiacutedos do processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola A institucionalizaccedilatildeo das

redes e movimentos de base ecoloacutegica aconteceu na Franccedila nos anos de 1980 e no Brasil

nos anos de 1990 pautado em princiacutepios de confianccedila equidade e novas relaccedilotildees sociais

entre produtores e consumidores que contribuem para a emergecircncia de uma democracia

alimentar fundada sobre a racionalidade socioambiental (BRANDENBURG 2002)

As redes alimentares alternativas satildeo muito diversas e privilegiam os circuitos

curtos3 (CC) de comercializaccedilatildeo (feiras do produtor entrega de cestas pequenas lojas

de produtores venda na propriedade ligada ao agroturismo venda institucional para

alimentaccedilatildeo escolar entre outras formas de venda direta) Para Marsden et al (2000)

o mais importante para caracterizar um circuito curto ou cadeia curta eacute o fato de um

1 Este trabalho integra o projeto Agroecologia na Franccedila e no Brasil entre redes cientiacuteficas movimentos sociais e poliacuteticas puacuteblicas apoiado pelo acordo CAPESCOFECUB 7162011 Texto publicado na revista Ambiente amp Sociedade (2015)

2 Neste trabalho o conceito de sistema de produccedilatildeo de base ecoloacutegica abrange os denominados orgacircnico ecoloacutegico agroecoloacutegico biodinacircmico natural regenerativo bioloacutegico permacultura e outros que atendam os princiacutepios estabelecidos pela Lei ne 108312003 que dispotildee sobre o sistema orgacircnico de produccedilatildeo agropecuaacuteria no Brasil Na Franccedila o sistema eacute conhecido como agricultura bioloacutegica (bio) a partir da legislaccedilatildeo de 1980 mas existem produtos de outras formas de agricultura alternativa (agriculture paysanne agroeacutecologie) que se dizem mais ecoloacutegicas e satildeo encontradas em circuitos curtos

3 Circuitos Curtos (CC) ou cadeias curtas de comercializaccedilatildeo satildeo definidos como um sistema de inter-relaccedilotildees entre atores que estatildeo diretamente engajados na produccedilatildeo transformaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo de alimentos (RENTING et al 2012) Essa definiccedilatildeo traz dois pontos importantes (inter-relaccedilotildees e interdependecircncia) e deixa aberta uma ampla gama de formas de articulaccedilatildeo entre produccedilatildeo e consumo

111

produto chegar nas matildeos do consumidor com informaccedilotildees que lhe permitam saber onde o

produto foi produzido (lugar) por quem (produtor) e de que forma (sistema de produccedilatildeo)

ao contraacuterio da alim entaccedilatildeo padronizada da agricultura industrial caracterizada por

Ploeg (2008) como impeacuterios alimentares Entretanto Goodman (2009) alerta que essas

redes e novas formas econocircmicas se desenvolvem em sociedades capitalistas e natildeo em

um universo paralelo Por isso eacute necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica que busque avaliar as

relaccedilotildees de poder e a distribuiccedilatildeo social dos ganhos entre os atores envolvidos

As vendas em circuitos curtos canalizaram metade do valor total das compras

da produccedilatildeo orgacircnica certificada no m ercado interno brasileiro em 2010 (BLANC e

KLEDAL 2012) No Brasil 42 dos consum idores jaacute compram produtos orgacircnicos em

lojas especializadas e 35 em feiras do produtor apesar de a maioria (72) ainda comprar

em canais longos como eacute o caso de superm ercados (KLUTH BOCCHIJR CENSKOWSKY

2011) Na Franccedila a situaccedilatildeo eacute similar 79 dos consumidores compram em super e

hipermercados o que representou 46 do valor total das compras de produtos orgacircnicos

(bio) em 2013 Cabe destacar que na Franccedila a maioria das compras de alimentos em geral

eacute feita em circuitos longos Entretanto parte dos consumidores ainda prefere comprar

em circuitos curtos (33 compram em feiras do produtor (marcheacute paysan) 29 em lojas

especializadas e 19 diretamente nas propriedades o que representou 48 do valor

total das compras) principalmente por motivos de sauacutede qualidade sabor e seguranccedila

alim entar (AGENCE BIO 2014) Em am bos os paiacuteses uma das especificidades dessas

redes eacute o fato de questionar alguns princiacutepios baacutesicos do sistema convencional como

a homogeneizaccedilatildeo a padronizaccedilatildeo de produtos e o grande nuacutemero de intermediaacuterios

na com ercializaccedilatildeo em grandes d istacircncias (LAM INE 2012) Nesse sentido as redes

alternativas propotildeem novos princiacutepios de troca relocalizaccedilatildeo dos alimentos retomam

valores tradiccedilotildees e novos tipos de relaccedilotildees entre produtores e consumidores

Um dos p rin c ip a is q u e stio n am e n to s levantados pela literatura cientiacutefica

internacional eacute a capacidade de essas redes alimentares alternativas gerarem mudanccedilas

estru tura is em uma escala m aior (G O O D M A N 2003 DEVERRE LAM INE 2010)

Para esses autores as redes podem contribuir para uma transformaccedilatildeo das relaccedilotildees

de poder no acircmbito dos sistem as alim entares incluindo um maior peso e participaccedilatildeo

de consumidores e produtores na definiccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo troca e consumo

(a noccedilatildeo de autonomia) Enfatizam ainda a ligaccedilatildeo necessaacuteria entre experiecircncias concretas

e movimento social e poliacutetico de oposiccedilatildeo ao modelo convencional dominante

112

Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para

tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra

e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby

poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute

um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e

agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER

2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo

considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas

democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento

(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes

de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005

LEVKOE 2006)

Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os

agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para

a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso

recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos

coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental

Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas

para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem

as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade

via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila

alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees

sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos

de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia

alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou

ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)

Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN

em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como

parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)

A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da

produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas

que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos

que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes

alimentares como mostrou Maye (2013)

113

De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e

convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de

transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes

alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores

e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo

com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural

a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo

produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)

que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas

sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila

reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade

O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas

e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais

diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e

consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e

facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis

Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica

eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas

com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento

dessas iniciativas

Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de

circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que

participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de

comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades

para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo

Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes

alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo

na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)

como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para

produtores e consumidores

2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S

A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir

de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi

realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto

114

com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias

de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de

base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade

regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos

mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas

Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille

e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)

duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma

Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos

como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na

propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil

paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo

sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e

bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura

orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema

O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas

20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo

foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil

Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias

do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas

de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede

Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um

diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo

em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo

funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens

para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades

A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias

e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de

desenvolvimento de cada experiecircncia estudada

As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos

econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em

consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares

4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)

115

apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais

poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura

de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento

para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de

concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo

rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil

Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura

orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares

e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)

e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa

extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base

ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior

desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero

de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu

um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea

plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)

Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros

pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas

governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem

algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo

frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um

niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita

a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem

origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros

caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe

tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo

proacuteximo aos grandes centros urbanos

Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes

experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que

permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais

com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores

em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais

116

3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

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hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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R E D E S A L IM E N T A R E S A LT E R N A T IV A S E N O V A S R E LA Ccedil Otilde E S P R O D U Ccedil Atilde O - C O N S U M O NA F R A N Ccedil A E NO B R A S IL 1

Moacir Roberto Darolt Claire Lamine Maria de Cleacuteofas Faggion Alencar e Lucimar Santiago Abreu

1 IN TR O D U Ccedil Atilde O

As redes alimentares alternativas (alternative food networks - AFNs) como satildeo

conhecidas na literatura internacional (GOODMAN et al 2012) satildeo uma categoria

geneacuterica de anaacutelise acadecircmica para o estudo de alternativas ao modelo agroalimentar

industrial Para esses autores as AFNs tecircm algum as caracteriacutesticas centrais que

incluem cooperaccedilatildeo social e parcerias entre produtores e consumidores reconexatildeo

entre produccedilatildeo e consumo dentro de padrotildees sustentaacuteveis dinamizaccedilatildeo de mercados

locais com identidade territorial e revalorizaccedilatildeo da circulaccedilatildeo de produtos de qualidade

diferenciada como eacute o caso de produtos de base ecoloacutegica2 Para Wilkinson (2008) essas

redes e movimentos sociais favoreceram a reinserccedilatildeo econocircmica de agricultores familiares

brasileiros excluiacutedos do processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola A institucionalizaccedilatildeo das

redes e movimentos de base ecoloacutegica aconteceu na Franccedila nos anos de 1980 e no Brasil

nos anos de 1990 pautado em princiacutepios de confianccedila equidade e novas relaccedilotildees sociais

entre produtores e consumidores que contribuem para a emergecircncia de uma democracia

alimentar fundada sobre a racionalidade socioambiental (BRANDENBURG 2002)

As redes alimentares alternativas satildeo muito diversas e privilegiam os circuitos

curtos3 (CC) de comercializaccedilatildeo (feiras do produtor entrega de cestas pequenas lojas

de produtores venda na propriedade ligada ao agroturismo venda institucional para

alimentaccedilatildeo escolar entre outras formas de venda direta) Para Marsden et al (2000)

o mais importante para caracterizar um circuito curto ou cadeia curta eacute o fato de um

1 Este trabalho integra o projeto Agroecologia na Franccedila e no Brasil entre redes cientiacuteficas movimentos sociais e poliacuteticas puacuteblicas apoiado pelo acordo CAPESCOFECUB 7162011 Texto publicado na revista Ambiente amp Sociedade (2015)

2 Neste trabalho o conceito de sistema de produccedilatildeo de base ecoloacutegica abrange os denominados orgacircnico ecoloacutegico agroecoloacutegico biodinacircmico natural regenerativo bioloacutegico permacultura e outros que atendam os princiacutepios estabelecidos pela Lei ne 108312003 que dispotildee sobre o sistema orgacircnico de produccedilatildeo agropecuaacuteria no Brasil Na Franccedila o sistema eacute conhecido como agricultura bioloacutegica (bio) a partir da legislaccedilatildeo de 1980 mas existem produtos de outras formas de agricultura alternativa (agriculture paysanne agroeacutecologie) que se dizem mais ecoloacutegicas e satildeo encontradas em circuitos curtos

3 Circuitos Curtos (CC) ou cadeias curtas de comercializaccedilatildeo satildeo definidos como um sistema de inter-relaccedilotildees entre atores que estatildeo diretamente engajados na produccedilatildeo transformaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo de alimentos (RENTING et al 2012) Essa definiccedilatildeo traz dois pontos importantes (inter-relaccedilotildees e interdependecircncia) e deixa aberta uma ampla gama de formas de articulaccedilatildeo entre produccedilatildeo e consumo

111

produto chegar nas matildeos do consumidor com informaccedilotildees que lhe permitam saber onde o

produto foi produzido (lugar) por quem (produtor) e de que forma (sistema de produccedilatildeo)

ao contraacuterio da alim entaccedilatildeo padronizada da agricultura industrial caracterizada por

Ploeg (2008) como impeacuterios alimentares Entretanto Goodman (2009) alerta que essas

redes e novas formas econocircmicas se desenvolvem em sociedades capitalistas e natildeo em

um universo paralelo Por isso eacute necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica que busque avaliar as

relaccedilotildees de poder e a distribuiccedilatildeo social dos ganhos entre os atores envolvidos

As vendas em circuitos curtos canalizaram metade do valor total das compras

da produccedilatildeo orgacircnica certificada no m ercado interno brasileiro em 2010 (BLANC e

KLEDAL 2012) No Brasil 42 dos consum idores jaacute compram produtos orgacircnicos em

lojas especializadas e 35 em feiras do produtor apesar de a maioria (72) ainda comprar

em canais longos como eacute o caso de superm ercados (KLUTH BOCCHIJR CENSKOWSKY

2011) Na Franccedila a situaccedilatildeo eacute similar 79 dos consumidores compram em super e

hipermercados o que representou 46 do valor total das compras de produtos orgacircnicos

(bio) em 2013 Cabe destacar que na Franccedila a maioria das compras de alimentos em geral

eacute feita em circuitos longos Entretanto parte dos consumidores ainda prefere comprar

em circuitos curtos (33 compram em feiras do produtor (marcheacute paysan) 29 em lojas

especializadas e 19 diretamente nas propriedades o que representou 48 do valor

total das compras) principalmente por motivos de sauacutede qualidade sabor e seguranccedila

alim entar (AGENCE BIO 2014) Em am bos os paiacuteses uma das especificidades dessas

redes eacute o fato de questionar alguns princiacutepios baacutesicos do sistema convencional como

a homogeneizaccedilatildeo a padronizaccedilatildeo de produtos e o grande nuacutemero de intermediaacuterios

na com ercializaccedilatildeo em grandes d istacircncias (LAM INE 2012) Nesse sentido as redes

alternativas propotildeem novos princiacutepios de troca relocalizaccedilatildeo dos alimentos retomam

valores tradiccedilotildees e novos tipos de relaccedilotildees entre produtores e consumidores

Um dos p rin c ip a is q u e stio n am e n to s levantados pela literatura cientiacutefica

internacional eacute a capacidade de essas redes alimentares alternativas gerarem mudanccedilas

estru tura is em uma escala m aior (G O O D M A N 2003 DEVERRE LAM INE 2010)

Para esses autores as redes podem contribuir para uma transformaccedilatildeo das relaccedilotildees

de poder no acircmbito dos sistem as alim entares incluindo um maior peso e participaccedilatildeo

de consumidores e produtores na definiccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo troca e consumo

(a noccedilatildeo de autonomia) Enfatizam ainda a ligaccedilatildeo necessaacuteria entre experiecircncias concretas

e movimento social e poliacutetico de oposiccedilatildeo ao modelo convencional dominante

112

Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para

tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra

e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby

poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute

um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e

agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER

2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo

considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas

democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento

(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes

de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005

LEVKOE 2006)

Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os

agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para

a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso

recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos

coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental

Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas

para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem

as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade

via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila

alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees

sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos

de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia

alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou

ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)

Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN

em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como

parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)

A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da

produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas

que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos

que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes

alimentares como mostrou Maye (2013)

113

De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e

convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de

transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes

alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores

e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo

com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural

a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo

produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)

que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas

sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila

reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade

O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas

e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais

diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e

consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e

facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis

Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica

eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas

com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento

dessas iniciativas

Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de

circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que

participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de

comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades

para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo

Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes

alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo

na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)

como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para

produtores e consumidores

2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S

A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir

de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi

realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto

114

com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias

de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de

base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade

regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos

mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas

Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille

e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)

duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma

Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos

como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na

propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil

paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo

sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e

bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura

orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema

O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas

20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo

foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil

Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias

do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas

de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede

Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um

diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo

em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo

funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens

para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades

A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias

e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de

desenvolvimento de cada experiecircncia estudada

As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos

econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em

consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares

4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)

115

apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais

poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura

de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento

para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de

concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo

rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil

Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura

orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares

e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)

e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa

extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base

ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior

desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero

de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu

um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea

plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)

Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros

pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas

governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem

algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo

frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um

niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita

a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem

origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros

caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe

tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo

proacuteximo aos grandes centros urbanos

Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes

experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que

permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais

com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores

em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais

116

3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Page 4: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

produto chegar nas matildeos do consumidor com informaccedilotildees que lhe permitam saber onde o

produto foi produzido (lugar) por quem (produtor) e de que forma (sistema de produccedilatildeo)

ao contraacuterio da alim entaccedilatildeo padronizada da agricultura industrial caracterizada por

Ploeg (2008) como impeacuterios alimentares Entretanto Goodman (2009) alerta que essas

redes e novas formas econocircmicas se desenvolvem em sociedades capitalistas e natildeo em

um universo paralelo Por isso eacute necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica que busque avaliar as

relaccedilotildees de poder e a distribuiccedilatildeo social dos ganhos entre os atores envolvidos

As vendas em circuitos curtos canalizaram metade do valor total das compras

da produccedilatildeo orgacircnica certificada no m ercado interno brasileiro em 2010 (BLANC e

KLEDAL 2012) No Brasil 42 dos consum idores jaacute compram produtos orgacircnicos em

lojas especializadas e 35 em feiras do produtor apesar de a maioria (72) ainda comprar

em canais longos como eacute o caso de superm ercados (KLUTH BOCCHIJR CENSKOWSKY

2011) Na Franccedila a situaccedilatildeo eacute similar 79 dos consumidores compram em super e

hipermercados o que representou 46 do valor total das compras de produtos orgacircnicos

(bio) em 2013 Cabe destacar que na Franccedila a maioria das compras de alimentos em geral

eacute feita em circuitos longos Entretanto parte dos consumidores ainda prefere comprar

em circuitos curtos (33 compram em feiras do produtor (marcheacute paysan) 29 em lojas

especializadas e 19 diretamente nas propriedades o que representou 48 do valor

total das compras) principalmente por motivos de sauacutede qualidade sabor e seguranccedila

alim entar (AGENCE BIO 2014) Em am bos os paiacuteses uma das especificidades dessas

redes eacute o fato de questionar alguns princiacutepios baacutesicos do sistema convencional como

a homogeneizaccedilatildeo a padronizaccedilatildeo de produtos e o grande nuacutemero de intermediaacuterios

na com ercializaccedilatildeo em grandes d istacircncias (LAM INE 2012) Nesse sentido as redes

alternativas propotildeem novos princiacutepios de troca relocalizaccedilatildeo dos alimentos retomam

valores tradiccedilotildees e novos tipos de relaccedilotildees entre produtores e consumidores

Um dos p rin c ip a is q u e stio n am e n to s levantados pela literatura cientiacutefica

internacional eacute a capacidade de essas redes alimentares alternativas gerarem mudanccedilas

estru tura is em uma escala m aior (G O O D M A N 2003 DEVERRE LAM INE 2010)

Para esses autores as redes podem contribuir para uma transformaccedilatildeo das relaccedilotildees

de poder no acircmbito dos sistem as alim entares incluindo um maior peso e participaccedilatildeo

de consumidores e produtores na definiccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo troca e consumo

(a noccedilatildeo de autonomia) Enfatizam ainda a ligaccedilatildeo necessaacuteria entre experiecircncias concretas

e movimento social e poliacutetico de oposiccedilatildeo ao modelo convencional dominante

112

Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para

tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra

e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby

poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute

um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e

agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER

2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo

considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas

democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento

(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes

de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005

LEVKOE 2006)

Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os

agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para

a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso

recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos

coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental

Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas

para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem

as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade

via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila

alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees

sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos

de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia

alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou

ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)

Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN

em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como

parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)

A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da

produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas

que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos

que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes

alimentares como mostrou Maye (2013)

113

De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e

convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de

transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes

alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores

e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo

com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural

a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo

produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)

que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas

sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila

reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade

O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas

e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais

diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e

consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e

facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis

Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica

eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas

com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento

dessas iniciativas

Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de

circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que

participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de

comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades

para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo

Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes

alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo

na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)

como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para

produtores e consumidores

2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S

A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir

de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi

realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto

114

com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias

de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de

base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade

regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos

mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas

Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille

e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)

duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma

Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos

como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na

propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil

paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo

sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e

bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura

orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema

O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas

20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo

foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil

Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias

do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas

de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede

Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um

diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo

em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo

funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens

para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades

A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias

e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de

desenvolvimento de cada experiecircncia estudada

As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos

econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em

consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares

4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)

115

apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais

poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura

de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento

para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de

concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo

rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil

Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura

orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares

e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)

e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa

extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base

ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior

desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero

de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu

um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea

plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)

Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros

pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas

governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem

algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo

frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um

niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita

a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem

origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros

caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe

tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo

proacuteximo aos grandes centros urbanos

Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes

experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que

permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais

com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores

em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais

116

3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Page 5: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para

tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra

e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby

poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute

um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e

agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER

2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo

considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas

democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento

(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes

de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005

LEVKOE 2006)

Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os

agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para

a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso

recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos

coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental

Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas

para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem

as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade

via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila

alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees

sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos

de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia

alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou

ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)

Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN

em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como

parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)

A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da

produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas

que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos

que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes

alimentares como mostrou Maye (2013)

113

De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e

convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de

transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes

alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores

e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo

com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural

a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo

produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)

que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas

sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila

reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade

O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas

e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais

diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e

consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e

facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis

Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica

eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas

com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento

dessas iniciativas

Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de

circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que

participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de

comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades

para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo

Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes

alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo

na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)

como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para

produtores e consumidores

2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S

A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir

de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi

realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto

114

com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias

de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de

base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade

regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos

mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas

Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille

e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)

duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma

Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos

como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na

propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil

paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo

sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e

bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura

orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema

O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas

20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo

foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil

Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias

do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas

de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede

Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um

diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo

em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo

funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens

para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades

A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias

e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de

desenvolvimento de cada experiecircncia estudada

As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos

econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em

consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares

4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)

115

apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais

poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura

de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento

para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de

concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo

rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil

Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura

orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares

e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)

e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa

extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base

ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior

desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero

de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu

um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea

plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)

Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros

pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas

governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem

algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo

frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um

niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita

a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem

origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros

caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe

tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo

proacuteximo aos grandes centros urbanos

Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes

experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que

permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais

com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores

em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais

116

3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Page 6: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e

convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de

transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes

alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores

e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo

com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural

a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo

produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)

que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas

sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila

reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade

O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas

e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais

diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e

consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e

facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis

Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica

eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas

com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento

dessas iniciativas

Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de

circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que

participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de

comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades

para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo

Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes

alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo

na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)

como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para

produtores e consumidores

2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S

A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir

de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi

realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto

114

com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias

de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de

base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade

regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos

mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas

Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille

e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)

duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma

Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos

como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na

propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil

paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo

sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e

bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura

orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema

O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas

20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo

foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil

Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias

do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas

de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede

Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um

diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo

em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo

funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens

para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades

A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias

e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de

desenvolvimento de cada experiecircncia estudada

As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos

econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em

consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares

4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)

115

apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais

poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura

de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento

para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de

concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo

rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil

Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura

orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares

e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)

e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa

extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base

ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior

desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero

de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu

um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea

plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)

Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros

pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas

governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem

algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo

frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um

niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita

a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem

origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros

caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe

tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo

proacuteximo aos grandes centros urbanos

Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes

experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que

permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais

com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores

em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais

116

3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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133

Page 7: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias

de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de

base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade

regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos

mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas

Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille

e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)

duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma

Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos

como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na

propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil

paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo

sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e

bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura

orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema

O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas

20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo

foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil

Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias

do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas

de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede

Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um

diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo

em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo

funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens

para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades

A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias

e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de

desenvolvimento de cada experiecircncia estudada

As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos

econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em

consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares

4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)

115

apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais

poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura

de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento

para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de

concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo

rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil

Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura

orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares

e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)

e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa

extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base

ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior

desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero

de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu

um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea

plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)

Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros

pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas

governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem

algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo

frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um

niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita

a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem

origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros

caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe

tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo

proacuteximo aos grandes centros urbanos

Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes

experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que

permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais

com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores

em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais

116

3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Page 8: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais

poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura

de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento

para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de

concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo

rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil

Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura

orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares

e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)

e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa

extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base

ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior

desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero

de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu

um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea

plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)

Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros

pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas

governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem

algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo

frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um

niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita

a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem

origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros

caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe

tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo

proacuteximo aos grandes centros urbanos

Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes

experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que

permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais

com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores

em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais

116

3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O

O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os

circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em

tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica

a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns

especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo

e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal

e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica

e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser

destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de

socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade

2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento

3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade

(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i

2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de

CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na

relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo

numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso

a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim

considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e

consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado

local e pelo produto agroecoloacutegico

Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito

curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a

favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores

No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008

WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT

2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras

que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos

haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre

a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre

agricultores e consumidores

117

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Page 10: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo

mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que

mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE

e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta

(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda

indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa

uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)

Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade

(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas

para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre

consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)

preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar

o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre

produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees

(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os

circuitos curtos

4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S

A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste

trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i

(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda

direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta

em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo

denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes

dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas

entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por

se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso

de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo

de pessoas)

118

FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

R E FE R Ecirc NC IA S

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FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS

Tipologia de Circuitos Curtos

Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)

Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio

I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos

Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade

Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)

Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos

bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos

Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer

naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)

FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)

Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos

histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas

de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um

significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para

sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos

entre aacutereas rurais e urbanas

Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos

produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do

produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo

(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)

Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos

de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de

agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo

(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais

pela internet

A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel

de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil

de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos

agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores

na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas

redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de

produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento

119

TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL

TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)

Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio

Lojas de produtos orgacircnicos independentes

Lojas de cooperativas de produtores e consumidores

Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -

Venda na propriedade

Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)

Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)

Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais

Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)

FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito

desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)

As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no

Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local

As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre

produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa

do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras

O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste

p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que

as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo

menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas

coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das

dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo

que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)

satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com

produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras

tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas

tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau

(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a

saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e

impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns

120

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Page 13: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo

(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca

e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse

periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis

O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)

Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em

Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de

1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores

neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos

proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km

em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo

dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o

tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e

qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de

novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)

e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos

produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na

loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o

consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no

sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo

Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no

Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)

satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as

chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo

para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000

inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)

e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)

Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de

inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes

Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor

pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados

mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro

no processo

121

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Page 14: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila

em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas

espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os

produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos

representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil

parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de

produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)

Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores

familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores

Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder

puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet

ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees

com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados

As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no

tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades

estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de

circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia

no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas

As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto

no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees

metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido

neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas

entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias

da vida moderna

5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL

A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do

governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)

O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social

5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)

122

hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado

como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou

das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades

de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas

poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo

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poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil

dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa

de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)

Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica

comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar

da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos

socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a

transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante

pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos

seguindo a sazonalidade e as realidades locais

Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam

ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na

liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida

(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de

poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento

e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na

formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras

alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo

de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das

agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para

leite carnes e derivados)

Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition

Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda

escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo

para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais

(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional

Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo

plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades

de produtos entre escolas e produtores

123

Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o

poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos

ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica

O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de

recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no

comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)

O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos

curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores

envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular

a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar

processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar

os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e

promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade

6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE

Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo

e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios

se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser

agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo

ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem

vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e

circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)

Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem

de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos

visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa

A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de

intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo

de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social

Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)

frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE

ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas

em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e

grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar

dos agricultores da rede

124

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

R E FE R Ecirc NC IA S

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Page 17: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino

(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados

a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos

entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do

processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento

de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para

alimentaccedilatildeo escolar

7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S

Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em

circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque

para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em

meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos

Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho

intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto

Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos

curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura

leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades

orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais

e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos

princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo

Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada

agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em

determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos

com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta

alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)

Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)

Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor

em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com

empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o

planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt

125

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

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TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

R E FE R Ecirc NC IA S

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133

Page 18: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos

Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em

sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala

A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades

que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre

agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees

como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo

social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com

a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma

nova opccedilatildeo de consumo

FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)

A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos

complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade

Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)

eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que

possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida

do consumidor na propriedade por exemplo)

A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar

em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura

disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas

utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho

se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com

M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos

126

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

R E FE R Ecirc NC IA S

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133

Page 19: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste

entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em

circuitos curtos quando comparado a um circuito longo

8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O

Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo

ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que

isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo

semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao

consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis

Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental

pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte

Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na

comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam

que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com

o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e

menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento

em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo

satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta

e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores

brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando

o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a

agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia

e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel

127

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

R E FE R Ecirc NC IA S

AGENCE BIO Baromegravetre de consommation et de perception des produits biologiques en France Paris Agence Bio eacutedition 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwagencebioorggt Acesso em 20 ago 2014

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WILKINSON J Mercados redes e valores o novo mundo da agricultura familiar Porto Alegre UFRGS 2008

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Page 20: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO

ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES

Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)

bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod

Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo

bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)

FONTE Elaborado pelos autores

Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades

para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto

a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo

saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes

alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas

rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar

que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos

consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento

das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de

regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial

e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica

128

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

R E FE R Ecirc NC IA S

AGENCE BIO Baromegravetre de consommation et de perception des produits biologiques en France Paris Agence Bio eacutedition 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwagencebioorggt Acesso em 20 ago 2014

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DEVERRE C LAMINE C Les systegravemes agroalimentaires alternatifs Une revue de travaux anglophones en sciences sociales Economie Rurale v 3 n 317 p 57-73 2010

DUBUISSON-QUELLIER S LAMINE C LE VELLY R Is the consumer soluble in the citizen Mobilization in alternative food systems in France Sociologia Ruralis v51 n3 p 304-323 2011

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131

GOODMAN D DUPUIS M GOODMAN M Alternative Food Networks knowledge practice and politics New York Routledge 2012 308 p

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MAYE D Moving Alternative Food Networks beyond the Niche International Journal of Sociology of Agriculture and Food v 20 n 3 p 383-389 2013

132

MESSMER JG Les circuits courts multi-acteurs emergence dorganisations innovantes dans les filiegraveres courtes aiimentaires Paris Rapport INRA-MaRS 2013 69 p

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MUNDLER P GUERMONPREZ B PLUVINAGE J Les logiques de fonctionnement des petites exploitations agricoles Pour n 194 p 55-62 2007

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PEREZ-CASSARINO J Agroecologia construccedilatildeo social de mercados e a constituiccedilatildeo de sistemas agroalimentares alternativos uma leitura a partir da rede ecovida de agroecologia In NIEDERLEP ALMEIDA L VEZZANI FM(Org) Agroecologia praacuteticas mercados e poliacuteticas para uma nova agricultura Curitiba Kairoacutes 2013 p 171-214

PLOEG JD van der Camponeses e impeacuterios alimentares lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globalizaccedilatildeo Porto Alegre (RS) Editora da UFGRS 2008

REDE ECOVIDA Alguns nuacutemeros da rede Disponiacutevel em lthttp wwwecovidaorgbr a-redegt Acesso em 12 ago 2014

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SCHIM Ili CL GRISA C Agroecologia mercados e poliacuteticas puacuteblicas uma anaacutelise a partir dos instrumentos de accedilatildeo governamental In NIEDERLEP ALMEIDA L VEzzANI FM(Org) Agroecologia praacuteticas mercados e poliacuteticas para uma nova agricultura Curitiba Kairoacutes 2013 p 215-266

SCHNEIDER S As novas formas sociais do trabalho no meio rural a pluriatividade e as atividades rurais natildeo-agriacutecolas Revista Redes Santa Cruz do Sul - RS v 9 n 3 p 75-109 2005

TRICHES RM amp SCHNEIDER S Alimentaccedilatildeo Escolar e agricultura Familiar reconectando o consumo agrave produccedilatildeo Sauacutede e Sociedade v 19 n4 p 933-945 2010

WILKINS J Eating Right Here Moving from Consumer to Food Citizen Agriculture and Human Values v 22 n3 p 269-273 2005

WILKINSON J Mercados redes e valores o novo mundo da agricultura familiar Porto Alegre UFRGS 2008

133

Page 21: RE D E S a - ainfo.cnptia.embrapa.brainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/140963/1/2015CL10.pdf · que a constituição de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc

9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O

Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos

ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais

circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar

dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo

De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo

imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona

o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e

tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma

o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar

soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes

contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de

desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-

produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais

Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito

agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo

e consumo

O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem

as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo

ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos

agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da

paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)

Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas

puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais

organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de

distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa

como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas

de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores

(AMAPs) na Franccedila

O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser

superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as

poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas

129

como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente

com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em

circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como

as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas

singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores

procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos

valores e resgate da autonomia dos agricultores

Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas

envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados

locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-

distribuiccedilatildeo-consumo

130

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LAMINE C Changer de systegraveme une analyse des transitions vers lagriculture biologique agrave lechelle des systegravemes agri-alimentaires territoriaux Terrains et Travaux n 20 p 139-156 2012

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WILKINSON J Mercados redes e valores o novo mundo da agricultura familiar Porto Alegre UFRGS 2008

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como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade

na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de

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circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave

alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo

de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas

especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na

fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica

Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara

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as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem

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envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o

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LAMINE C Changer de systegraveme une analyse des transitions vers lagriculture biologique agrave lechelle des systegravemes agri-alimentaires territoriaux Terrains et Travaux n 20 p 139-156 2012

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