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Guido de Paula Colares Neto Raquitismo e osteomalácia hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23: caracterização molecular, óssea e renal Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Programa de Endocrinologia Orientadora: Dra. Regina Matsunaga Martin São Paulo 2015

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Page 1: Raquitismo e osteomalácia hipofosfatêmicos de origem ... · Programa de Endocrinologia. Orientadora: Regina Matsunaga Martin. ... À Mariana Tenório Antunes Reis e Marcela Paula

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Guido de Paula Colares Neto

Raquitismo e osteomalácia hipofosfatêmicos

de origem genética mediados por FGF23:

caracterização molecular, óssea e renal

Tese apresentada à Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo para

obtenção do título de Doutor em Ciências

Programa de Endocrinologia

Orientadora: Dra. Regina Matsunaga Martin

São Paulo

2015

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

©reprodução autorizada pelo autor

Colares Neto, Guido de Paula Raquitismo e osteomalácia hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23 : caracterização molecular, óssea e renal / Guido de Paula Colares Neto. -- São Paulo, 2015.

Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Programa de Endocrinologia.

Orientadora: Regina Matsunaga Martin. Descritores: 1.Raquitismo 2.Osteomalácia 3.Raquitismo hipofosfatêmico

familiar 4.Hipofosfatemia 5.Hipofosfatemia familiar 6.Endopeptidase neutra reguladora de fosfato PHEX 7.Densitometria 8.Nefrocalcinose 9.Nefrolitíase 10.Ultrassonografia 11.Tomografia computadorizada por raios X 12.Densidade óssea

USP/FM/DBD-305/15

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Este trabalho foi realizado na Unidade de

Doenças Osteometabólicas e no

Laboratório de Hormônios e Genética

Molecular (LIM/42) da disciplina de

Endocrinologia do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de

São Paulo.

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Dedicatória

Dedico esta tese à minha família pelo apoio constante.

Sem ele, nada disto seria possível.

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Agradecimentos À equipe da Unidade de Doenças Osteometabólicas:

À minha orientadora, Dra. Regina Matsunaga Martin, por seu

brilhantismo, simplicidade e dedicação na condução deste projeto. Foram

cinco anos de convivência e amizade, nos quais aprendi a ter curiosidade

pelo conhecimento científico e entendi que todo aprendizado deve ser

revertido na melhoria do cuidado dos pacientes. Obrigado por ser um

modelo e inspiração no meu dia a dia.

Ao Dr. Pedro Henrique Silva Corrêa pelo estímulo na busca do

conhecimento através das suas perguntas perspicazes.

Ao Dr. Bruno Ferraz de Souza pelas valiosas discussões científicas e

conselhos que engrandeceram meu aprendizado.

À Mariana Tenório Antunes Reis e Marcela Paula Ferraz pelo convívio

nos ambulatórios.

Ao grupo do Laboratório de Hormônios e Genética Molecular/LIM-42:

À Dra. Berenice Bilharinho de Mendonça pela acolhida e apoio

durante todo este trabalho.

Ao Dr. Ivo Jorge Prado Arnhold pela generosidade e auxílio no início

deste projeto.

Ao Dr. Vinicius Nahime Brito por compartilhar os seus conhecimentos

em estatística e descomplicar este campo tão árduo.

À Mariana Funari, Mirian Nishi, Maria Aparecida Medeiros, Andresa

de Santi, Cristina Rossi e Denise Aragão por toda assistência e paciência

comigo durante a execução do trabalho de bancada.

À Helena Valassi, Luciana Leopoldino, Giselle Yuri, Fran Pereira e a

todos os funcionários do Laboratório de Hormônios e Genética

Molecular/LIM-42 pela colaboração nos exames laboratoriais e pelo convívio

sempre agradável.

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À Nilda Oliveira e Maria Aparecida da Silva pela eficiência, cuidado e

disponibilidade constante em ajudar.

Aos colaboradores desta tese:

Aos pacientes e seus familiares pela oportunidade de conhecer suas

histórias.

À Dra. Rosa Maria Pereira Rodrigues pela receptividade no

Laboratório de Metabolismo Ósseo da Disciplina de Reumatologia da

FMUSP/LIM-17 e pelas sugestões na avaliação dos parâmetros

densitométricos e estruturais ósseos.

À Liliam Takayama, Jackeline Couto Alvarenga e a todos do LIM-17

pela cooperação na realização dos exames de densitometria e HR-pQCT.

Ao Dr. Ronaldo Hueb Baroni e ao Dr. Fernando Ide Yamauchi pelo

auxílio na obtenção dos dados tomográficos.

À Dra. Maria Cristina Chammas, Dra. Andrea Cavalanti Gomes e ao

Dr. Igor Fontenele pela colaboração com os dados de ultrassonografia.

Ao Dr. Alexander Jorge e à Dra. Maria Helena Vaisbich pelas críticas

e sugestões na banca de qualificação.

A todos os assistentes e colaboradores do serviço de Endocrinologia

Pediátrica do Instituto da Criança - HCFMUSP, por terem despertado em

mim todo o fascínio e entusiasmo pela endocrinologia. Em especial,

agradeço ao Dr. Durval Damiani pelo estímulo e ao Dr. Hamilton Cabral de

Menezes Filho por ter me ensinado os primeiros conhecimentos do

metabolismo ósseo.

Àqueles que vivenciaram esta jornada comigo:

À minha mãe, Maiza Colares de Carvalho, exemplo de médica e

profissional, pelo seu incentivo constante para que eu pudesse ir além dos

meus limites.

Ao meu pai, Raimundo Ernando de Carvalho, pela sua confiança no

meu potencial e comemorações a cada vitória conquistada.

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À minha irmã, Marina Colares de Carvalho, pelo seu carinho e torcida

em todos os momentos e à minha sobrinha, Ana Maiza, por todos os

sorrisos que me proporciona.

Aos meus avós maternos, Guido de Paula Colares (in memoriam) e

Monisa Gomes Colares, avós paternos, João e Rita (in memoriam), tias, tios,

primos e todos meus familiares por compreenderem a minha distância e por

manterem seus braços sempre abertos aos meus retornos.

À Adriana Braz pelo incentivo para o início desta pós-graduação e por

possibilitar o primeiro contato com minha orientadora.

Ao Leonardo Falangola pelo companheirismo e apoio durante esta

jornada.

A todos os amigos, particularmente a JB Uchôa, Luiza Lins, Carlos

Júnior, Haniery, André, Darlan, Fláubert, Gustavo, Sidnei, Peterson e

Alexandre pelo carinho, acolhimento e simples gestos de solidariedade nos

momentos nos quais eu mais precisei.

Aos colegas do Centro de Triagem Neonatal Dr. Tatuya Kawakami,

Hospital Infantil Márcia Braido e Hospital Infantil Darcy Vargas por todo apoio

e incentivo para a conclusão deste trabalho.

Finalmente, a Deus, pelo dom da vida e por esta conquista.

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“Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.”

Clarice Lispector

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Normalização Adotada

Esta tese está de acordo com as seguintes normas em vigor no momento

desta publicação:

! Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals

Editors (Vancouver).

! Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Divisão de

Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações,

teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria

Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão,

Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 3a ed. São Paulo: Divisão de

Biblioteca e Documentação; 2011.

! Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals

Indexed in Index Medicus.

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Sumário Lista de abreviaturas e siglas Lista de figuras e gráficos Lista de tabelas Lista de anexos Resumo Summary

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 01

1.1. Metabolismo do fósforo .................................................................... 02

1.2. Raquitismo e osteomalácia .............................................................. 06

1.2.1. Raquitismo por aumento do PTH ........................................... 07

1.2.2. Raquitismo por defeitos nos NaPi-IIa e NaPi-IIc .................... 08

1.2.3. Raquitismo por aumento do FGF23 ....................................... 08

1.2.3.1. Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos

ligado ao X (XLHR) ..................................................... 09

1.2.3.2. Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos

autossômico dominante (ADHR) ................................. 10

1.2.3.3. Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos

autossômico recessivo (ARHR) ................................... 11

1.3. Avaliação da DMO e dos parâmetros estruturais ósseos ................ 12

1.4. Nefrocalcinose e nefrolitíase ........................................................... 13

2. OBJETIVOS ........................................................................................... 17

3. METODOLOGIA .................................................................................... 19 3.1. Considerações éticas ....................................................................... 20

3.2. Casuística ........................................................................................ 20

3.2.1. Pacientes ............................................................................... 20

3.2.2. Grupo controle ....................................................................... 21

3.3. Avaliação clínica e laboratorial ........................................................ 21

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3.4. Avaliação genotípica ........................................................................ 25

3.4.1. Pesquisa de mutações por PCR e sequenciamento

automático ............................................................................. 25

3.4.1.1. Gene PHEX ................................................................. 25

3.4.1.2. Gene FGF23 ............................................................... 28

3.4.2. Pesquisa de número de cópias nos genes PHEX e

FGF23 por MLPA ................................................................... 28

3.5. Avaliação da DMO e dos parâmetros estruturais ósseos ............... 29

3.6. Avaliação de nefrocalcinose e nefrolitíase ....................................... 30

3.7. Análise estatística ............................................................................ 32

4. RESULTADOS ....................................................................................... 33 4.1. Avaliação clínica e laboratorial ........................................................ 34

4.2. Avaliação genotípica ........................................................................ 38

4.2.1. Avaliação do gene PHEX ....................................................... 38

4.2.2. Avaliação do gene FGF23 ..................................................... 41

4.3. Avaliação da DMO e dos parâmetros estruturais ósseos ................ 41

4.3.1. Avaliação da DMOa por DXA ................................................. 42

4.3.2. Avaliação dos parâmetros geométricos, da DMOv e da

microarquitetura óssea obtidos por HR-pQCT ....................... 44

4.4. Avaliação de nefrocalcinose e nefrolitíase ....................................... 51

5. DISCUSSÃO .......................................................................................... 55 5.1. Estatura nos RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética

mediados por FGF23 ....................................................................... 56

5.2. Etiologia molecular dos pacientes com RQ/OM

hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23 .......... 58

5.3. DMO e os parâmetros estruturais ósseos nos XLHR ..................... 59

5.4. Nefrocalcinose e nefrolitíase nos XLHR ......................................... 63

6. CONCLUSÕES ..................................................................................... 67

7. ANEXOS ............................................................................................... 70

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS!..................................................... 80

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Listas

Lista de abreviaturas e siglas

1,25(OH)2D 1,25 diidroxivitamina D = calcitriol

25OHD 25 hidroxivitamina D = calcidiol

aa Aminoácido

ADHR Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos autossômicos

dominantes

ARHR Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos autossômicos

recessivos

ASARM Acidic Serine and Aspartic Acid-Rich Motif

ATP Trifosfato de adenosina

BV/TV Relação entre o volume ósseo e o volume total

Ca Cálcio

CAPPesq Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa

CASR Receptor sensível ao cálcio

CDC Centers for Disease Control and Prevention

Ct vBMD Densidade volumétrica cortical

Ct.area Área cortical

Ct.Th Espessura média da cortical

CTx Telopeptideo carboxiterminal do colágeno tipo 1

DMO Densidade mineral óssea

DMOa Densidade mineral óssea areal

DMOv Densidade mineral óssea volumétrica

DMP1 Dentin Matrix Phosphoprotein 1

DNA Ácido desoxirrinucleico

DP Desvio padrão

DXA Densitometria óssea de dupla emissão com fontes de raios-X

ENPP1 Ecto-nucleotide pyrophosphatase/phosphodiesterase 1

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Es/E Relação estatura sentada/estatura

FGF23 Fibroblast Growth Factor 23

FGFR1 Fibroblast Growth Factor Receptor type 1

FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

GALNT3 UDP-N-acetyl-alpha-d-GALactosamine-polypeptide N-

acetylgalactosaminyl-Transferase 3

HA Hidroxiapatita

HC Hospital das Clínicas

HR-pQCT High Resolution peripheral Quantitative Computed Tomography

IC Intervalo de confiança

KDOQI Kidney Disease Outcomes Quality Initiative

MDP-99mTc Metil-difosfonato ligado ao tecnécio radioativo

MEPE Matrix Extracellular Phosphoglycoprotein

MLPA Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification

NaPi-IIa Cotransportadores de sódio-fósforo tipo IIa

NaPi-IIb Cotransportadores de sódio-fósforo tipo IIb

NaPi-IIc Cotransportadores de sódio-fósforo tipo IIc

NC Nefrocalcinose

NL Nefrolitíase

P Fósforo

P1NP Propetideo aminoterminal do colágeno tipo 1

pb Pares de base

PCR Polymerase chain reaction

PHEX Phosphate-regulating gene with Homologies to

Endopepatidases on the X chromosome

PO4 Fosfato

PTH Paratormônio

RANKL Receptor Activator of Nuclear factor Kappa-B Ligand

RQ/OM Raquitismo e/ou osteomalácia

RX Raio-X

SD.1/Tb.N Falta de homogeneidade da rede trabecular

Tb vBMD Densidade volumétrica trabecular

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Tb.area Área trabecular

Tb.N Número médio das trabéculas

Tb.Sp Espaço médio entre as trabéculas

Tb.Th Espessura média das trabéculas

TC Tomografia computadorizada

TIO Tumor indutor de osteomalácia

Total vBMD Densidade volumétrica total

TRP Taxa de reabsorção tubular de fosfato

US Ultrassonografia

vs versus

XLHR Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos ligados ao X

Z Desvio padrão para a mesma faixa etária e sexo

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Lista de figuras e gráficos

Figura 1 - Regulação da homeostase do fósforo......................................

Figura 2 - Vias de ação dos ASARMs......................................................

Figura 3 - Manifestações clínicas e radiológicas do raquitismo................

Figura 4 - O papel da fosfatúria na litíase renal........................................

03

05

07

15

Gráfico 1 - Comparação do Z de estatura dos pacientes com RQ/OM

hipofosfatêmicos segundo a faixa etária ..................................................... 35

Gráfico 2 - Comparação do Z de estatura dos pacientes com RQ/OM

hipofosfatêmicos adultos segundo o uso de fosfato de sódio e potássio na

infância e adolescência ............................................................................... 36

Gráfico 3 – Comparação da DMOa de L1-L4 obtida por DXA entre o grupo

de pacientes com XLHR e o grupo controle ................................................ 42

Gráfico 4 – Comparação da DMOa de L1-L4 obtida por DXA entre os

pacientes com XLHR estratificados por faixa etária e seus respectivos

controles ...................................................................................................... 43

Gráfico 5 – Comparação da DMOa de 1/3 distal do rádio obtida por DXA

entre o grupo de pacientes com XLHR e o grupo controle

...................................................................................................................... 44

Gráfico 6 – Comparação da DMOv total de rádio distal obtida por HR-pQCT

entre os pacientes com XLHR e seus respectivos controles

...................................................................................................................... 45

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Gráfico 7 – Comparação da DMOv trabecular e cortical de rádio distal

obtidas por HR-pQCT entre os pacientes com XLHR estratificados por faixa

etária e seus respectivos controles ............................................................. 46

Gráfico 8 – Comparação da DMOv total de tíbia distal obtida por HR-pQCT

entre os pacientes com XLHR e seus respectivos controles

...................................................................................................................... 47

Gráfico 9 – Comparação das DMOv trabecular e cortical de tíbia distal

obtidas por HR-pQCT entre os pacientes com XLHR e seus respectivos

controles ...................................................................................................... 47

Gráfico 10 – Comparação da Tb.N de rádio distal obtida por HR-pQCT entre

os pacientes com XLHR estratificados por faixa etária e seus respectivos

controles ...................................................................................................... 48

Gráfico 11 – Comparação da Tb.Sp de rádio distal obtida por HR-pQCT

entre os pacientes com XLHR estratificados por faixa etária e seus

respectivos controles ................................................................................... 49

Gráfico 12 – Comparação da SD.1/Tb.N de rádio distal obtida por HR-pQCT

entre os pacientes com XLHR estratificados por faixa etária e seus

respectivos controles ................................................................................... 49

Gráfico 13 – Comparação das DMOv trabecular e cortical de tíbia distal

obtidas por HR-pQCT entre os pacientes com XLHR estratificados por status

metabólico e seus respectivos controles ..................................................... 50

Gráfico 14 - Distribuição dos graus de NC de acordo com a US e a TC de

rins e vias urinárias nos 39 pacientes com XLHR estratificados por faixa

etária ............................................................................................................ 52

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Lista de tabelas

Tabela 1 - Exames laboratoriais: método de dosagem e coeficientes de

variação intraensaio e interensaio ............................................................... 24

Tabela 2 - Valores de referência para os parâmetros avaliados em urina de

24h ............................................................................................................... 24

Tabela 3 - Parâmetros fornecidos pela HR-pQCT ...................................... 30

Tabela 4 - Mutações no gene PHEX em 21 casos familiais e 20 casos

esporádicos de XLHR .................................................................................. 40

Tabela 5 - Avaliação da função renal e dos fatores de risco para NC e NL

nos pacientes com XLHR estratificados por faixa etária ............................. 53

Lista de anexos

ANEXO A - Primers para a avaliação da região codificadora dos genes

PHEX e FGF23 (tabelas 1 e 2) .................................................................... 71

ANEXO B - Dados clínicos, laboratoriais e de imagem dos pacientes com

RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23 (figuras 1

e 2; tabelas 3 e 4) ........................................................................................ 73

ANEXO C - DMO, parâmetros geométricos e dados de microarquitetura

óssea obtidos por DXA e HR-pQCT: comparação entre pacientes com XLHR

e controles saudáveis (tabelas 4 a 8) .......................................................... 76

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Resumo

Colares Neto GP. Raquitismo e osteomalácia hipofosfatêmicos de origem

genética mediados por FGF23: caracterização molecular, óssea e renal

[Tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo;

2015.

Introdução: raquitismo e osteomalácia hipofosfatêmicos de origem genética

mediados por FGF23 (RQ/OM-FGF23) são caracterizados pelo aumento

patológico dos níveis séricos de FGF23 com consequentes hiperfosfatúria e

hipofosfatemia. A forma hereditária mais comum é a ligada ao X dominante

(XLHR) ocasionada por mutações inativadoras no gene PHEX. Objetivos: identificar a etiologia molecular; avaliar a densidade mineral óssea (DMO) e

a microarquitetura óssea e, determinar a prevalência de nefrocalcinose (NC),

nefrolitíase (NL) e de alterações metabólicas urinárias em 47 pacientes com

RQ/OM-FGF23 (16 crianças e 31 adultos). Métodos: as análises dos genes

PHEX e FGF23 foram realizadas pelos métodos de Sanger e MLPA. A DMO

areal (DMOa) foi avaliada por densitometria óssea (DXA), enquanto a DMO

volumétrica (DMOv) e os parâmetros de microarquitetura óssea foram

analisados por HR-pQCT. A NC foi classificada segundo uma escala de 0-3

(0 = ausência de NC; 3 = NC grave) pelas ultrassonografia (US) e tomografia

computadorizada (TC) renais. A presença de NL foi analisada pela TC renal.

Fatores de risco para NC e NL foram avaliados pela urina de 24 horas.

Resultados: foram identificadas mutações no PHEX em 41 pacientes

(87,2%). A avaliação óssea foi realizada em 38 pacientes com XLHR que

foram comparados a controles saudáveis. Os pacientes tiveram maior DMOa

em L1-L4 (p=0,03) e menor DMOa em 1/3 distal do rádio (p<0,01). Em rádio

distal, a DMOv total (Total.vBMD) e os componentes trabecular (Tb.vBMD) e

cortical (Ct.vBMD) foram semelhantes entre os grupos. Na tíbia distal, os

pacientes apresentaram menor Total.vBMD em relação aos controles devido

ao déficit no Tb.vBMD (p<0,01). Além do mais, ao separarmos por status

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metabólico, os pacientes descompensados tiveram menor Ct.vBMD em tíbia

distal comparados aos controles (p=0,02). Quanto aos parâmetros

estruturais, em rádio distal, os pacientes apresentaram menor número de

trabéculas (Tb.N; p=0,01), maior espessura trabecular (Tb.Th; p<0,01) e

maior falta da homogeneidade trabecular (SD.1/Tb.N; p=0,02). Na tíbia

distal, eles tiveram menor Tb.N (p<0,01), maior separação trabecular (Tb.Sp;

p<0,01) e maior SD.1/Tb.N (p<0,01). A avaliação renal foi feita em 39

pacientes com XLHR. A NC foi diagnosticada em 15 (38,5%) pacientes pelas

US e TC, principalmente no grupo pediátrico em uso intensivo de fosfato. A

US detectou NC em 37 (94,8%), majoritariamente como grau 1 (97%),

enquanto a TC identificou NC medular em 15 (38,5%): 10 (66,7%) como

grau 1 e cinco (33,3%) como grau 2. Quatro (10,2%) pacientes adultos

tinham NL determinada pela CT. Além da hiperfosfatúria presente em todos

os pacientes, a hipocitratúria foi a alteração metabólica mais comum

(30,7%); somente dois pacientes apresentaram hipercalciúria (5,1%) e

nenhum apresentou hiperoxalúria. Conclusões: nesta casuística, a XLHR

foi a principal forma hereditária de RQ/OM-FGF23. A HR-pQCT foi mais

informativa do que a DXA e o compartimento ósseo trabecular foi mais

afetado pela doença, particularmente na tíbia distal. Finalmente, a NC foi

mais prevalente que a NL; o principal fator de risco metabólico foi a

hiperfosfatúria e o tratamento intensivo com fosfato parece ser um agravante

na formação da NC.

Descritores: raquitismo; osteomalácia; raquitismo hipofosfatêmico familiar;

hipofosfatemia; hipofosfatemia familiar; endopeptidase neutra reguladora de

fosfato PHEX; densitometria; nefrocalcinose; nefrolitíase; ultrassonografia;

tomografia computadorizada por raios X; densidade óssea.

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Summary

Colares Neto GP. FGF23-mediated inherited hypophosphatemic rickets:

molecular characterization, bone analysis and renal evaluation [Thesis]. São

Paulo: "Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo"; 2015.

Background: FGF23-mediated hypophosphatemic rickets is a group of

diseases characterized by a pathological increase of FGF23 serum levels,

resulting in hyperphosphaturia and hypophosphatemia. In this group, the

most common form of inheritance is the X-linked dominant (XLHR) caused by

inactivating mutations in the PHEX gene. Aims: to identify the molecular

basis; to evaluate the bone mineral density and bone microarchitecture; to

determinate the prevalence of nephrocalcinosis (NC), nephrolithiasis (NL)

and their related metabolic factors in 47 patients with FGF23-mediated

hypophosphatemic rickets (16 children and 31 adults). Methods: PHEX and

FGF23 were analyzed by conventional Sanger sequencing and MLPA. The

areal BMD (aBMD) was evaluated by dual-energy x-ray absorptiometry

(DXA), while the volumetric BMD (vBMD) and the bone microarchitecture

were analyzed by high-resolution peripheral quantitative computed

tomography (HR-pQCT). NC was investigated by renal ultrasonography (US)

and computed tomography (CT) and classified using a 0–3 scale (0= no NC

and 3= severe NC). The presence of NL was determined by renal CT. Risk

factors for NC and NL were evaluated by 24-hour urinary samples. Results: 41 patients (87.2%) presented mutations in PHEX. The bone analysis was

made in 38 XLHR patients compared to healthy controls. XLHR patients

presented higher aBMD at L1-L4 (p=0.03) and lower aBMD at the distal third

of the radius (p<0.01). At the distal radius, HR-pQCT showed no differences

in the vBMD neither in its trabecular (Tb.vBMD) and cortical (Ct.vBMD)

components. At the distal tibia, the XLHR patients showed lower Total.vBMD

(p<0.01) compared to controls due to decreased Tb.vBMD (p<0.01).

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Moreover, after XLHR patients were sorted by metabolic status, the non-

compensated ones revealed lower Ct.vBMD at the distal tibia compared to

their respective controls (p=0.02). Regarding to the microarchitectural

parameters, at the distal radius, XLHR patients showed lower trabecular

number (Tb.N; p=0.01), greater trabecular thickness (Tb.Th; p<0.01) and

more inhomogeneous trabecular network (SD.1/Tb.N; p=0.02). At the distal

tibia, they had lower Tb.N (p<0.01), larger trabecular separation (Tb.Sp;

p<0.01) and greater SD.1/Tb.N (p<0.01). The renal assessment was done in

39 XLHR patients. NC was diagnosed in 15 (38.5%) patients by US and CT,

mainly in the pediatric group that was in phosphate treatment. US identified

NC in 37 (94.8%), mostly as grade 1 (97%), meanwhile CT determined

medullary NC in 15 (38.5%) patients: 10 (66.7%) as grade 1 and five (33.3%)

as grade 2. Four (10.2%) adults patients had NL determined by CT. Besides

hyperphosphaturia present in all XLHR patients, hypocitraturia was the most

common metabolic factor (30.7%); hypercalciuria occurred in only two

patients (5.1%) and none had hyperoxaluria. Conclusions: in our cohort,

XLHR was the most prevalent form of FGF23-mediated inherited

hypophosphatemic rickets. HR-pQCT was more informative than DXA and

the cancellous bone compartment was the most affected by the disease

particularly at the distal tibia. Finally, NC was more prevalent than NL; the

main metabolic risk factor was hyperphosphaturia and the intensive

treatment with phosphate seems to be an aggravating factor in the formation

of NC.

Descriptors: rickets; osteomalacia; familial hypophosphatemic rickets;

hypophosphatemia; familial; PHEX phosphate regulating neutral

endopeptidase; densitometry; nephrocalcinosis; nephrolithiasis;

ultrasonography; tomography, X-ray computed; bone density.

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!

1. INTRODUÇÃO

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! 2

1.1. Metabolismo do fósforo

O fósforo é um dos principais elementos do organismo humano. Está

presente nos cristais de hidroxiapatita do esqueleto, na estrutura base do

DNA (ácido desoxirribonucleico), na membrana plasmática e nos ATPs

(trifosfatos de adenosina); participa de reações enzimáticas e age na

sinalização intracelular. Oitenta por cento do fósforo corpóreo encontra-se no

esqueleto, cerca de 15% encontra-se no meio intracelular e o restante está

no fluido extracelular (1).

A regulação do fósforo ocorre pelo balanço entre a absorção dietética

no trato gastrointestinal e a excreção renal. Cerca de 60% do fósforo

dietético é absorvido no duodeno e jejuno por meio do transporte ativo pelos

cotransportadores de sódio-fósforo tipo IIb (NaPi-IIb) presentes na

membrana apical dos enterócitos, além da difusão passiva nos espaços

intercelulares. Oitenta a noventa por cento do fósforo excretado na urina é

reabsorvido na membrana apical do túbulo proximal pelos cotransportadores

de sódio e fósforo tipo IIa (NaPi-IIa) e cotransportadores de sódio e fósforo

tipo IIc (NaPi-IIc). Estes são importantes para a captação de fósforo pelas

células ósseas também (2) – figura 1.

Os principais reguladores do metabolismo do fósforo são o PTH

(paratormônio) e o FGF23 (Fibroblast Growth Factor 23) (3).

O PTH é produzido pelas paratireoides e eleva a calcemia ao

estimular: a reabsorção óssea, a reabsorção tubular e a absorção intestinal

de cálcio através do aumento da 1,25(OH)2D (1,25 diidroxivitamina D ou

calcitriol). É um importante hormônio fosfatúrico ao promover a endocitose e

degradação lisossomal dos cotransportadores sódio e fósforo no túbulo

proximal renal (3).

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! 3

Figura 1 - Regulação da homeostase do fósforo. Enquanto uma pequena parte do fósforo (P) dietético absorvido pelo intestino é responsável por suas concentrações extracelulares, a maior fração é depositada no esqueleto e o excedente é excretado pelos rins. O calcitriol [1,25(OH)2D] estimula a absorção do fósforo ingerido e a produção de FGF23. Por sua vez, o FGF23 aumenta a fosfatúria, inibe a síntese de calcitriol e provavelmente exerce uma ação supressora sobre as concentrações de PTH via receptor FGFR/KL. O PTH aumenta a fosfatúria e estimula a síntese de calcitriol. FGFR/KL refere-se ao complexo formado pelo FGFR1 e pelo Klotho, enquanto PTH1R representa o receptor de PTH. Adaptado de Bergwitz et al (3).

O FGF23 é uma glicoproteína constituída por 251 aa (aminoácidos) e

codificada pelo gene FGF23, constituído por três éxons e situado no locus

12p13.3 (3). É um hormônio produzido majoritariamente pelos osteoblastos e

osteócitos em áreas de remodelação ativa nos ossos. Também é expresso

em outros tecidos como o coração, fígado, tireoide, paratireoides e intestino

(4).

Para a formação da proteína madura, o FGF23 perde sua porção

aminoterminal (sequência sinalizadora composta por 24 aa) e sofre

glicosilação na região 162-228 aa pela enzima GALNT3 (UDP-N-acetyl-

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! 4

alpha-d-GALactosamine-polypeptide N-acetylgalactosaminyl-Transferase 3).

O FGF23 circulante (25-251 aa) forma um complexo ternário com o FGFR1

(Fibroblast Growth Factor Receptor type 1) e a proteína Klotho, cofator

necessário para a sua ação tecidual. Este complexo está expresso no túbulo

distal renal predominantemente. Como o principal sítio de ação do FGF23

está no túbulo proximal, acredita-se que este efeito é parácrino intermediado

por outra(s) fosfatonina(s) (3).

O FGF23 acelera a endocitose e a degradação lisossomal dos NaPi-

IIa e NaPi-IIc na membrana tubular com consequente aumento da fosfatúria.

Também, reduz a formação de 1,25(OH)2D por inibição da atividade da 1α-

hidroxilase e estímulo da 24-hidroxilase (3, 4). Seu efeito sobre osso ainda

permanece incerto, sendo considerado um possível modulador de

mineralização nos osteoblastos durante a formação óssea (1, 3).

A produção de FGF23 é regulada pelas proteínas PHEX (Phosphate-

regulating gene with Homologies to Endopepatidases on the X chromosome)

e DMP1 (Dentin Matrix Phosphoprotein 1) (3, 5) – figura 1.

O PHEX é uma endopeptidase homóloga da família M13 das

metaloproteases, composta por 749 aa e codificada por um gene de mesmo

nome, composto por 22 éxons, localizado no locus Xp22.1. Está presente na

membrana dos osteoblastos, odontoblastos e condrócitos da placa de

crescimento, nas paratireoides, nos pulmões, no cérebro, nos músculos, nas

gônadas e na pele. Uma de suas funções é controlar os níveis circulantes de

FGF23 (6, 7).

O DMP1 é uma proteína SIBLING formada por 513 aa e codificada

por um gene de mesmo nome, formado por seis éxons, situado no locus

4q21. É expressa nos tecidos ósseo e dentário, além de estar presente no

cérebro, glândulas salivares, fígado, músculo, pâncreas e rins. Sua principal

função é suprimir a secreção de FGF23, mas o seu mecanismo de ação não

está totalmente esclarecido (8).

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! 5

Os últimos 23 aa da porção carboxiterminal de proteínas da família

SIBLING, que incluem o DMP1 e o MEPE (Matrix Extracellular

Phosphoglycoprotein with ASARM motif), compõem o peptídeo ASARM

(Acidic Serine and Aspartic Acid-Rich Motif).

Figura 2 – Vias de ação dos ASARMs. (A) Via indireta: o PHEX interage com DMP1 através da sua região ASARM, promovendo a redução da expressão do FGF23. Por outro lado, a ligação do PHEX com os peptídeos ASARMs promove a degradação destes últimos. (B) Via direta: os peptídeos ASARMs estimulam a produção de FGF23 e tem uma ação direta sobre os rins com aumento da fosfatúria e diminuição da produção de calcitriol. Adaptado de David et al (9).

A degradação de proteínas SIBLING por proteases osteoblásticas,

como a catepsina B, libera peptídeos ASARM fosforilados resistentes a

proteases na circulação e no osso. Estes peptídeos aumentam a expressão

do FGF23 e inibem a reabsorção tubular de fósforo com consequente

prejuízo da mineralização óssea (9, 10) - figura 2.

Ao se unir a DMP1 pela região ASARM, o PHEX diminui a transcrição

gênica de FGF23. Além disso, o PHEX promove a clivagem dos peptídeos

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! 6

ASARM com diminuição da sua ação fosfatúrica direta e estímulo a

homeostase do FGF23 (9, 10) - figura 2.

1.2. Raquitismo e osteomalácia

O raquitismo é uma doença da placa de crescimento, exclusiva da

criança e do adolescente até a fusão epifisária. A hipofosfatemia, fator

comum de todos os tipos de raquitismos, promove um defeito na apoptose

dos condrócitos hipertróficos terminais da placa por não ativar a via

mitocondrial caspase-9 dependente e impede a adequada mineralização e

formação ósseas (2).

Em contraste, a osteomalácia é um defeito de mineralização dos

ossos cortical e trabecular com acúmulo de tecido osteoide não

mineralizado. Durante a infância e a puberdade, ela pode coexistir com o

raquitismo (2).

Na infância, via de regra, o quadro clínico envolve deformidades em

membros inferiores (geno varo, geno valgo e joelhos em vendaval) com o

início da deambulação, alargamento de punhos e joelhos, torção

anteromedial da tíbia, retardo no crescimento com baixa estatura

desproporcionada e alterações odontológicas (taurodontismo e abscessos

dentários) (11). Na criança, as imagens radiológicas características são o

alargamento metafisário e o encurvamento lateral de fêmures e/ou tíbias –

figura 3.

Quando a apresentação clínica tem início na fase adulta, os pacientes

podem apresentar: redução de estatura por colapso vertebral, fraqueza

muscular, fraturas de fragilidade, dores ósseas e articulares, entesopatias e

alterações dentárias. Radiologicamente, a osteomalácia é caracterizada por

pseudofraturas, trabeculação grosseira e rarefação óssea (1, 12, 13).

O padrão-ouro para diagnóstico de osteomalácia é a histomorfometria

da biópsia de crista ilíaca, que mostra uma taxa de formação óssea

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! 7

reduzida, hipomineralização irregular difusa e aumento do rebordo osteoide

(1).

Figura 3 – Manifestações clínicas e radiológicas do raquitismo. (A) Geno varo; (B) Alargamento de punhos; (C) Encurvamento de fêmures e alterações metafisárias na radiografia simples de membros inferiores.

Os raquitismos e/ou osteomalácias podem ser classificados pelos

mecanismos que levam à hipofosfatemia:

1.2.1. Por aumento do PTH

Nestes casos, a baixa ingestão ou má absorção de cálcio e as

alterações no metabolismo da vitamina D diminuem os níveis de cálcio

extracelular com consequente aumento do PTH via CASR (receptor sensível

ao cálcio). Valores elevados de PTH aumentam a expressão do RANKL

(Receptor Activator of Nuclear factor Kappa-B Ligand) pelos osteoblastos

que estimula a maturação dos osteoclastos culminando com o aumento da

reabsorção óssea e liberação de cálcio e o fósforo do esqueleto para o fluido

extracelular. No entanto, a diminuição da reabsorção renal de fósforo pelo

PTH leva a hipofosfatemia associada ao raquitismo e/ou osteomalácia (2).

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! 8

1.2.2. Por defeitos nos NaPi-IIa e NaPi-IIc

Algumas doenças genéticas, como a cistinose (OMIM 219800),

comprometem os túbulos renais de modo mais amplo e afetam os NaPi-IIa e

os NaPi-IIc em diferentes graus com consequente aumento da excreção

renal de fósforo, bicarbonato, aa, glicose etc. O indivíduo acometido

desenvolve raquitismo e/ou osteomalácia como resultado da hipofosfatemia

crônica (2). Nestes casos, outras manifestações, como a acidose metabólica

e o diabetes insípido nefrogênico, costumam ser encontradas (14).

Mais especificamente, o defeito genético pode comprometer

exclusivamente o gene SLC34A3 que codifica os NaPi-IIc (OMIM 241530).

Nesta situação, a perda renal é exclusiva de fósforo gerando hipofosfatemia,

aumento da produção de calcitriol e consequente hipercalciúria (2).

1.2.3. Por aumento do FGF23

Neste grupo, destacam-se doenças genéticas com forma de

transmissão distintas: o raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos

ligado ao X (XLHR), o raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos

autossômico dominante (ADHR) e o raquitismo e/ou osteomalácia

hipofosfatêmicos autossômico recessivo (ARHR) (2).

Adicionalmente, o FGF23 pode ser produzido ectopicamente por

tecidos fibrodisplásicos na displasia fibrosa poliostótica (OMIM 174800) ou

por tecidos tumorais na osteomalácia oncogênica, a qual é mais frequente

em adultos (2).

Do ponto de vista laboratorial, os níveis elevados de FGF23

determinam níveis reduzidos ou inapropriadamente normais de 1,25(OH)2D

por inibição da 1α-hidroxilase, além de diminuírem a taxa de reabsorção

tubular de fosfato (TRP; valores inferiores a 95% em vigência de

hipofosfatemia) com consequente hiperfosfatúria (15). Observa-se um

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! 9

aumento dos marcadores de formação óssea, mas a calcemia, as

concentrações de PTH e de 25 hidroxivitamina D (25OHD) estão normais

geralmente (13).

O tratamento de escolha para pacientes sintomáticos é a reposição

de calcitriol e fosfato. Na faixa pediátrica, o tratamento promove correção

parcial das deformidades, diminui o número de cirurgias e melhora a

estatura final. Nos adultos, diminui as dores ósseas e a extensão da

osteomalácia, melhora a cicatrização óssea e acelera a recuperação

cirúrgica. Os principais efeitos colaterais são: hipercalcemia, hipercalciúria,

nefrocalcinose (NC), nefrolitíase (NL) e hiperparatireoidismo. Apesar do

tratamento clínico, cirurgias corretivas em membros são necessárias

geralmente (13).

Estudos iniciais em humanos com o KRN23, anticorpo humano anti-

FGF23, sugerem um benefício potencial no tratamento dos pacientes com

XLHR. A medicação mostrou-se segura e não foram relatados efeitos

adversos significativos. Foram demonstradas melhora da TRP, do fósforo

sérico e dos níveis de 1,25(OH)2D sem aumento da prevalência de NC e

hiperparatireoidismo terciário (16, 17). Apesar disso, esta medicação ainda

está indisponível para uso comercial.

1.2.3.1. Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos ligado ao X (XLHR)

O XLHR (OMIM 307800) é a forma hereditária mais comum de

raquitismo. Entretanto, é uma doença rara com incidência de 3,9:100.000

nascidos vivos e prevalência de 4,8:100.000. Tem herança dominante ligada

ao X e é ocasionado por mutações distribuídas ao longo dos 22 éxons do

gene PHEX sem zona de hotspot. O gene defeituoso produz uma proteína

pouco ativa ou inativa determinando a elevação dos níveis de FGF23 (12,

13).

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! 10

O quadro clínico inicia-se na infância e a fraqueza muscular, sintoma

esperado nas hipofosfatemias, está habitualmente ausente, diferenciando-a

dos demais tipos de raquitismo. A ausência de fraqueza muscular ainda tem

causa incerta e, por ser um sintoma subjetivo, pode ser um fator de confusão

na classificação dos raquitismos hipofosfatêmicos (12, 13).

1.2.3.2. Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos autossômico dominante (ADHR)

Diferente da forma ligada ao X, a fraqueza muscular é um sintoma

comumente relatado no ADHR (OMIM 193100). Uma peculiaridade desta

forma é a possibilidade de início das manifestações clínicas na infância ou

na fase adulta. Em 1997, Econs et al descreveram uma família com 23

membros portadores de ADHR distribuídos em sete gerações.

Surpreendentemente, eles identificaram dois grupos de pacientes: o primeiro

com início dos sintomas na infância e o segundo com apresentação mais

tardia, durante a adolescência e a fase adulta (18). Para os casos

esporádicos de início tardio, o principal diagnóstico diferencial deve ser feito

com pacientes portadores de osteomalácia hipofosfatêmica oncogênica.

Nos pacientes com ADHR, a causa molecular envolve mutações

missense, particularmente nos códons 176 e 179 do FGF23: p.R176Q,

p.R176W, p.R179Q e p.R179W (19, 20). Esses códons são bastante

conservados e dão origem a duas argininas (RXXR motif) fundamentais para

o reconhecimento do FGF23 pela enzima responsável pela sua proteólise.

Apesar da manutenção da sua bioatividade, o FGF23 mutante torna-se

menos sensível à clivagem proteica do que o FGF23 selvagem (21). Além

disso, a mutação não interfere na mensuração do FGF23 pelos ensaios

disponíveis (22).

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! 11

1.2.3.3. Raquitismo e/ou osteomalácia hipofosfatêmicos autossômico recessivo (ARHR)

Os primeiros relatos de ARHR por mutação inativadora no gene

DMP1 (OMIM 241520) datam de 2006 (23, 24). Uma particularidade desta

forma, segundo a descrição de dois irmãos finlandeses por Makitie et al em

2010, é o agravamento da doença na vida adulta caracterizada por

hiperostose craniana, artrite generalizada, entesopatias e calcificações dos

ligamentos espinhais (25). Em outra publicação, também foram relatadas

falanges distais displásicas, anormalidades faciais e dentárias, além de

surdez neurossensorial manifesta tardiamente (26).

Mutações inativadoras do gene ENPP1 (Ecto-nucleotide

pyrophosphatase/phosphodiesterase 1), localizado no cromossomo 6q22-

q23, são relatadas como causa da calcificação arterial generalizada da

infância (GACI) (OMIM 208000). O ENPP1 codifica uma proteína envolvida

na regulação do pirofosfato inorgânico que é inibidor fisiológico da

calcificação (27).

Nos últimos anos, algumas mutações inativadoras no ENPP1 têm sido

descritas como causas de ARHR (OMIM 613312). Os pacientes com esta

forma de ARHR podem apresentar deformidades ósseas, arteriosclerose e

surdez progressiva associada (28-30).

A distinção entre XLHR, ADHR e ARHR é baseada na história clínica

do paciente e seus antecedentes familiares e, por isso, está sujeita a

limitações nos casos esporádicos e erros pela subjetividade na

caracterização de sintomas. Diante destes fatos, a análise genotípica dos

pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos foi uma das propostas do presente

trabalho, pois permite uma classificação fidedigna e a homogeneização da

casuística de acordo com o gene envolvido, o que contribui para a

compreensão de diferenças fisiopatológicas das diferentes etiologias. Além

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! 12

disso, a identificação da base molecular de um caso-índice permite o

rastreamento de casos familiares e o aconselhamento genético.

1.3. Avaliação da DMO e dos parâmetros estruturais ósseos

A massa óssea aumenta progressivamente do nascimento até a

terceira década de vida, quando atinge o seu pico. Ela sofre influência de

fatores genéticos, nutricionais, endócrinos e mecânicos que, do ponto de

vista histológico, determinarão sua geometria, sua microarquitetura e o seu

grau de mineralização (31).

Na infância e adolescência as necessidades metabólicas ósseas para

um esqueleto em crescimento são aumentadas e o tratamento é

imprescindível em pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos mediados por

FGF23. Nesta fase, os marcadores ósseos são de extrema utilidade para

avaliação do sucesso terapêutico, refletindo melhor ou pior controle.

No entanto, na fase adulta, as necessidades metabólicas são

menores e os marcadores ósseos, geralmente normais, nem sempre

refletem o real status de atividade da doença de base. Assim, a análise da

massa e da microarquitetura ósseas pode fornecer dados importantes para o

seguimento destes pacientes.

Quanto à microarquitetura, os ossos podem ser classificados em

cortical e trabecular. O osso trabecular é mais interno, apresenta aspecto

esponjoso e é mais ativo metabolicamente. Por sua vez, o osso cortical é

mais externo, formado por lamelas ósseas compactas, conferindo

propriedades de resistência e sustentação. Por estas características, suas

análises devem ser particularizadas durante a avaliação da massa óssea

(32).

A DXA (densitometria óssea de dupla emissão com fontes de raios-X)

é a técnica mais utilizada para avaliação da densidade mineral óssea (DMO)

embora apresente algumas limitações. Por se tratar de uma técnica

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bidimensional, avalia a densidade mineral óssea areal (DMOa) e está sujeita

à influência de fatores antropométricos, hormonais e extra-esqueléticos. Por

isso, pacientes com baixa estatura ou atraso puberal podem ter valores de

DMOa subestimados. Enquanto a presença de calcificações extra-

esqueléticas, na região de aquisição de imagem pela DXA, costumam

resultar em valores de DMOa superestimados. Além do mais, este exame

não distingue os componentes trabecular e cortical, nem fornece dados

sobre a microarquitetura óssea (31).

A HR-pQCT (High Resolution peripheral Quantitative Computed

Tomography), ainda pouco disponível na prática clínica, é um método novo e

mais acurado para a aquisição simultânea de dados fornecidos pela DXA e

histomorfometria ósseas. Ela mensura a densidade mineral óssea

volumétrica (DMOv) e por isso, sofre menor influência de fatores de

confusão na análise. O seu grande diferencial é a construção digital

tridimensional da microarquitetura óssea com a obtenção de dados sobre o

componente trabecular (número, espessura e separação das trabéculas

ósseas) e cortical (a espessura e porosidade) (31, 33, 34).

Tradicionalmente as informações sobre qualidade óssea de pacientes

com RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética foram geradas por

estudos histomorfométricos. Neste contexto, por ser um método não

invasivo, a HR-pQCT mostra-se como um ferramenta importante para a

obtenção de dados para a melhor avaliação da doença e do tratamento

neste grupo de pacientes (31, 33, 34). Assim, devido às poucas informações

disponíveis por HR-pQCT em pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos, um

dos objetivos deste trabalho foi a análise dos parâmetros densitométricos e

estruturais ósseos por meio deste método de imagem.

1.4. Nefrocalcinose e nefrolitíase

A NC é a deposição de cálcio no parênquima renal, enquanto a NL é

a calcificação dentro do sistema coletor renal (35, 36).

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! 14

A NC é listada como uma doença rara pelo Office of Rare Diseases of

National Institutes of Health (http://rarediseases.info.nih.gov/), porém, a

prevalência na população geral ainda não foi definida. Em um estudo italiano

recente, Piccoli et al identificaram uma prevalência de 2,4% de NC em

pacientes de um único centro de referência em Nefrologia (37). Por sua vez,

a incidência de NL em adultos é de 3-5% (38, 39), enquanto é dez vezes

menor nas crianças (35, 40).

Tanto a NC como a NL são multifatoriais. Os principais fatores de

risco envolvidos são as alterações metabólicas primárias ou secundárias, as

infecções urinárias de repetição, as malformações gênito-urinárias e o uso

de medicações como as suplementações de cálcio e fósforo (41-44). Outro

fator importante é a predisposição genética. Aproximadamente, 20-29% dos

diagnosticados com NC (42, 45) e 40% dos portadores de NL (36, 46)

apresentam história familiar positiva (42, 45).

Quanto às alterações metabólicas associadas, a hipercalciúria é o

principal fator de risco para a NC (42, 43), enquanto a hipocitratúria e a

hiperoxalúria dividem a importância com a hipercalciúria na NL (36, 46, 47).

A hiperfosfatúria é considerada um fator de risco independente para a

formação de calcificações no trato urinário. Fisiologicamente, ela leva à

hipofosfatemia com estímulo da produção de calcitriol que aumenta a

absorção intestinal de cálcio e fósforo. A formação de cristais ocorre

principalmente no segmento descendente da alça de Henle, onde há maior

reabsorção de água com aumento da concentração dos íons cálcio e fosfato.

Assim, os cristais de hidroxiapatita migram do epitélio para o interstício da

papila renal, mais precisamente nas placas de Randall, local ideal para o

crescimento do cálculo – figura 4 (48, 49).

Por estimular a hiperfosfatúria, o FGF23 tem papel importante na

patogênese das calcificações do trato urinário (48). Portanto, os RQ/OM

hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23 são considerados

um grupo de risco para estas complicações.

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! 15

Figura 4 – O papel da fosfatúria na litíase renal. O fosfato (PO4) não reabsorvido no túbulo proximal concentra-se no segmento descendente da alça de Henle devido à maior reabsorção de água nesta região. Com o aumento da concentração, o fosfato liga-se ao cálcio (Ca) e precipita. Os cristais de cálcio e fósforo são atraídos pela membrana basal e migram através do interstício para a papila onde há a formação dos cálculos renais. Adaptado de Prie et al (49).

Enquanto a NC é silenciosa, a NL pode ter sintomas como a dor

lombar e/ou abdominal, hematúria e disúria (36, 46). Na grande maioria dos

casos, os exames de imagem tem papel decisivo no diagnóstico da NC e

NL.

Para o diagnóstico de NC, alguns consideram que a US de rins e vias

urinárias é o exame de eleição (13, 35, 50). Enquanto a US apresenta uma

maior sensibilidade (96% vs 64%), a TC apresenta uma melhor

especificidade (96% vs 85%) (50). Segundo Cheidde et al, a maior

sensibilidade (92%) e especificidade (89%) são atingidas com a detecção de

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! 16

NC em dois dos exames de imagem devido às eventuais discordâncias entre

os resultados da US e da TC (43).

Para a detecção da NL, a tomografia computadorizada (TC) sem

contraste de rins e vias urinárias é o método mais sensível e específico (36,

46).

Não há relatos na literatura da avaliação de calcificações renais por

US e TC de rins e vias urinárias conjuntamente, incluindo a identificação dos

fatores de risco metabólicos para NC e NL em pacientes com RQ/OM

hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23 com diagnóstico

molecular definido. Diante deste fato, um dos objetivos do presente estudo

foi a determinação da prevalência de NC e NL e seus fatores de risco a fim

de obter dados para otimizar a vigilância destas comorbidades e prevenir

possíveis complicações nesta população.

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2. OBJETIVOS

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! 18

Em uma coorte de pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos de origem

genética mediados por FGF23, nossos objetivos foram:

2.1. Identificar a etiologia molecular;

2.2. Avaliar a DMO e os parâmetros estruturais ósseos e

2.3. Avaliar a presença de NC e/ou NL e seus fatores de risco

associados.

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3. MÉTODOS

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! 20

3.1. Considerações éticas

Este projeto foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise de

Projetos de Pesquisa (CAPPesq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) - CAAE:

15774113.7.0000.0068; registro online número 10683.

Termos de consentimentos, por escrito, foram obtidos de todos os

pacientes e controles ou pais/tutores antes do início do estudo.

3.2. Casuística

3.2.1. Pacientes

Todos os pacientes estudados foram provenientes do ambulatório de

doenças osteometabólicas do Serviço de Endocrinologia do HC-FMUSP.

A seleção foi realizada a partir do histórico médico, achados de

exame físico e exames complementares consistentes com raquitismo e/ou

osteomalácia hipofosfatêmicos. Os critérios laboratoriais de inclusão, no

momento do diagnóstico, foram: hipofosfatemia com fração de excreção de

excreção de fósforo superior a 5% (15), valores aumentados de FGF23 e/ou

marcadores ósseos elevados como a fosfatase alcalina, P1NP (propetideo

aminoterminal do colágeno tipo 1), osteocalcina e CTx (telopeptideo

carboxiterminal do colágeno tipo 1). A pesquisa de sinais de raquitismo foi

feita através de radiografias simples de punho e/ou joelhos nas crianças,

enquanto, nos adultos, a cintilografia óssea com MDP-99mTc direcionou a

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! 21

realização de radiografias simples para a pesquisa de pseudofraturas.

Foram excluídos os pacientes com outras tubulopatias e osteomalácia

hipofosfatêmica oncogênica.

Foram selecionados 47 pacientes (16 crianças e 31 adultos; 11

homens e 36 mulheres), sendo 26 casos esporádicos e 21 casos familiais

compreendendo nove casos índice. Todas as crianças (≤ 18 anos) estavam

em uso intensivo de fosfato de sódio e potássio (30-60 mg/kg/dia) e calcitriol,

enquanto a maior parte dos adultos utilizaram apenas o calcitriol. Todos os

casos de insuficiência de vitamina D foram prontamente corrigidos. Os

pacientes foram acompanhados por, aproximadamente, cinco anos em

intervalos regulares: crianças a cada quatro meses e adultos a cada seis

meses.

3.2.2. Grupo controle

Um grupo composto por 44 indivíduos saudáveis, maiores de 5 anos,

provenientes do banco de dados do LIM-17, foi pareado por sexo, idade e

estádio puberal com o grupo de pacientes que realizou DXA e HR-pQCT.

3.3. Avaliação clínica e laboratorial

A avaliação clínica foi baseada em informações obtidas dos

prontuários durante o seguimento ambulatorial e complementada por

questionamento ativo.

Na anamnese, foram investigados o histórico pessoal e familiar de

raquitismo e/ou osteomalácia, presença de consanguinidade, além de NC

e/ou NL, presença de malformações urinárias, infecções urinárias de

repetição (superior a duas por ano) e uso de medicamentos. Quanto ao

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! 22

tratamento, foram avaliados principalmente: o uso de fosfato de sódio e

potássio na infância, além da idade de início e o tempo total de uso.

No exame físico, destaque foi dado para a aferição de estatura,

estatura sentada e avaliação de deformidades ósseas (dados não

mostrados).

Utilizamos como critério de baixa estatura, valores inferiores a dois

escores de desvio padrão para a mesma faixa etária e sexo (escore Z de

estatura < -2) calculado de acordo com as curvas de crescimento do CDC de

2000 (http://www.cdc.gov/growthcharts/). O escore Z da relação estatura

sentada/estatura (Es/E) foi calculado (51) e o valor > +2 foi considerado

indicativo de baixa estatura desproporcional por comprometimento do

crescimento dos membros (52).

As dosagens bioquímicas e hormonais foram realizadas no

Laboratório Central e no Laboratório de Hormônios e Genética Molecular

LIM/42 do HC-FMUSP a partir de amostras de sangue venoso periférico e de

urina.

As coletas de sangue venoso periférico ocorreram no período

matutino e foram realizados exames referentes ao metabolismo ósseo que

são utilizados para a rotina do acompanhamento do paciente: cálcio total,

cálcio iônico, fósforo, creatinina, PTH, 25 hidroxivitamina D e marcadores do

metabolismo ósseo (fosfatase alcalina, P1NP, osteocalcina e CTx).

Para as dosagens de FGF23, optamos pela dosagem da molécula

intacta com Acs monoclonais (Kainos, Tóquio, Japão), pela sua melhor

performance (53).

Baseado em critérios clínicos, laboratoriais e radiológicos, todos os

pacientes foram categorizados, segundo seu status metabólico, em

compensados e não compensados. Na faixa etária pediátrica, foram

analisados a velocidade de crescimento para o sexo e idade, os valores de

fosfatase alcalina e a presença de sinais de raquitismo nas RX de punhos

e/ou joelhos. Nos adultos, ambos os valores de fosfatase alcalina e P1NP

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! 23

elevados foram os critérios utilizados para a determinação da

descompensação metabólica.

Por não dispormos da dosagem da fração óssea, a fosfatase alcalina

dosada é total, que inclui uma fração hepática. Assim, os aumentos desta

dosagem só foram valorizados na presença de valores normais de enzimas

hepáticas (alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase e de gama

glutamiltransferase).

Coletas de urina de 24 horas foram realizadas para as dosagens de

cálcio, fósforo, creatinina, citrato e oxalato. De acordo com os resultados

encontrados, foram determinados os números de episódios de hipercalciúria,

hipocitratúria e hiperoxalúria para cada paciente no período estudado.

Os exames realizados, a metodologia empregada e seus respectivos

coeficientes de variação intraensaio e interensaio estão descritos na tabela

1. Os valores de referência para os exames urinários estão apresentados na

tabela 2 (36).

Para os pacientes até 18 anos, a função renal foi estimada pelo

cálculo da taxa de filtração glomerular determinada pela fórmula de

Schwartz. Para os pacientes acima de 18 anos, foi utilizada a fórmula de

Cockcroft-Gault. Os resultados foram classificados segundo as diretrizes do

KDOQI e considerados normais com valores ≥ 90 ml/min/1,73 m2 (36, 54).

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Tabela 1 - Exames laboratoriais: método de dosagem e coeficientes de

variação intraensaio e interensaio

Analito Método de dosagem Variação intraensaio

Variação interensaio

Cálcio total Colorimétrico automatizado < 3,1% < 3,5%

Cálcio iônico Eletrodo íon seletivo < 0,7% < 0,3%

Fósforo Colorimétrico enzimático < 3,0% < 4,4%

Magnésio Colorimétrico automatizado < 2,1% < 2,4%

Creatinina Colorimétrico cinético < 3,2% < 2,3%

Fosfatase alcalina Cinético automatizado < 2,1% < 1,8%

P1NP Eletroquimioluminométrico < 7,0% < 5,1%

Osteocalcina Eletroquimioluminométrico < 7,0% < 4,3%

CTx Eletroquimioluminométrico < 10,0% < 4,3%

PTH Imunoquimioluminométrico < 15% < 6,7%

25OHD Quimioimunoensaio < 3,2% < 7,6%

FGF23 Enzimaimunoensaio < 5,2% < 10,5%

Cálcio urinário Colorimétrico automatizado < 4,6% < 5,9%

Creatinina urinária Colorimétrico automatizado < 3,8% < 5,9%

Fósforo urinário Colorimétrico automatizado < 9,2% < 10,6%

Citrato urinário Enzimático UV <6,4% <12,4%

Oxalato urinário Colorimétrico enzimático ND <6,8%

ND: não disponível.

Tabela 2 - Valores de referência para parâmetros avaliados em urina de 24h

Parâmetro Sexo Valores de referência

Creatinúria Ambos Crianças: 2 mg/kg ± 0,8 mg/kg Adultos:15-25 mg/kg

Calciúria Ambos 1,5-4 mg/kg/d

Citratúria Masculino > 365 mg/1,73 m2

Feminino > 310 mg/1,73 m2

Oxalúria Ambos ≤ 45 mg/1,73 m2

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! 25

3.4. Avaliação genotípica

Foram coletados 10 mL de sangue, de cada paciente, em dois tubos

contendo anticoagulante EDTA a partir dos quais o DNA genômico foi

extraído. A identificação de familiares afetados também pode ser realizada

através de amostra de sangue, de raspado de mucosa oral ou de cordão

umbilical.

A extração de DNA de sangue e de raspado de mucosa oral foi

realizada segundo o procedimento padronizado pelo LIM-42, baseado na

técnica salting out adaptada de Miller et al (55).

A extração de DNA a partir de cordão umbilical foi realizada com o

Wizard® Genomic DNA purification kit (Promega Corporation, Madison,

EUA) de acordo com as instruções do fabricante.

3.4.1. Pesquisa de mutações por PCR e sequenciamento automático

3.4.1.1. Gene PHEX

A partir do DNA genômico de cada paciente, foi amplificada toda a

região codificadora do gene PHEX através da técnica de PCR. De acordo

com a sequência da região codificadora do PHEX depositada no Genebank,

foram desenhados primers específicos flanqueando cada um dos 22 éxons

deste gene. As sequências de todos esses primers e os tamanhos dos

respectivos amplicons esperados estão descritos no ANEXO A.

Para a amplificação de cada fragmento, foram preparadas reações

com um volume final de 25 µL, utilizando-se: cerca de 100 ng de DNA

genômico, 200 µmol/L de cada desoxinucleotídeo, 10 pmol de primer F e 10

pmol de primer R referente ao éxon de interesse, 1 unidade da enzima Taq

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! 26

DNA polimerase (Promega Corporation, Madison, EUA), tampão 5x de

reação Green Go TaqTM fornecido pelo fabricante da enzima e água

ultrapura para completar o volume.

Todos os éxons foram amplificados com o mesmo protocolo que

consistiu de uma pré-desnaturação a 94ºC por 3 minutos, seguida por 35

ciclos de PCR (desnaturação a 94ºC por 30 segundos, hibridação a 54ºC por

30 segundos e extensão a 72ºC por 1 minuto) e uma extensão final a 72ºC

por 10 minutos. Todas as reações foram realizadas em termociclador

automático Mastercycler (Eppendorf AG, Hamburgo, Alemanha) ou Veriti 96

Thermal Cycler (Life Technologies Corporation, Carlsbad, EUA).

O tamanho e a concentração dos amplicons foram determinados

através da comparação com fragmentos do marcador de peso molecular 1

Kb (Invitrogen, Carlsbad, EUA), de concentração conhecida, após

eletroforese em gel de agarose a 1% (Invitrogen, Carlsbad, EUA) preparado

com tampão TAE 1x (Tris 0,004 mol/L; ácido acético glacial; EDTA 0,001

mol/L pH 8,0), corado com corante fluorescente SYBR Safe DNA Stain (Life

Technologies Corporation, Carlsbad, EUA) e observado em transiluminador

ultravioleta.

Após confirmação da amplificação, cerca de 30 ng dos produtos de

PCR foram purificados com 10 U das enzimas exonuclease I e shrimp

alcaline phosphatase do kit EXO-SAP (GE Healthcare Life Sciences,

Buckinghamshire, Reino Unido) por meio de incubação a 37ºC por 15

minutos seguida por inativação das enzimas a 80ºC por 15 minutos.

Os produtos purificados foram sequenciados com o kit ABI PrismTM

BigDye Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction Kit 3.1 (PE Applied

Biosystems, Foster City, EUA). Utilizaram-se 30 ng de produto de PCR

purificado, 1 µL de BigDye Terminator, 3 µL de tampão de sequenciamento,

5 pmol de um dos primers específicos para cada éxon (ANEXO A) e água

ultrapura para completar o volume de 10 µL. Todas as reações de

sequenciamento foram realizadas nos termocicladores citados anteriormente

e seguiram o mesmo protocolo de amplificação independente do éxon em

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! 27

questão: 25 ciclos sendo cada ciclo constituído por uma etapa de

desnaturação a 96ºC por 10 segundos, hibridação a 50ºC por 5 segundos e

extensão a 60ºC por 4 minutos.

O material resultante da reação de sequenciamento foi transferido

para uma placa de 96 poços (MicroAmp optical 96-well Reaction Plate, PE

Applied Biosystems, CA, EUA) e precipitado seguindo o protocolo de

isopropanol/etanol (PE Applied Biosystems, Foster City, EUA). Após a

adição de 15 µL de formamida (PE Applied Biosystems, Foster City, EUA)

em cada poço da placa, o produto foi submetido a uma eletroforese capilar

no equipamento ABI Prism Genetic Analyzer 3100 automatic DNA sequencer

(PE Applied Biosystems, Foster City, EUA). A análise dos dados foi realizada

com auxílio do programa Sequencher v.4.8 (Gene Codes Corporation, Ann

Arbor, EUA) e as sequências obtidas foram comparadas com as descritas no

Ensembl (Transcript ENST00000379374.4).

Quando foi identificada alguma mutação conhecida, a mesma foi

confirmada por meio de uma nova reação de PCR e de sequenciamento

automático. Para verificar se já estavam descritas, as variantes alélicas

encontradas foram pesquisadas nos bancos de dados: 1000 Genomes

(http://www.1000genomes.org/), Ensembl (http://www.ensembl.org), PubMed

(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed) e PHEXdb (http://www.phexdb.mcgill.ca/).

No caso de variantes alélicas não descritas do tipo missense, foi feita uma

predição in silico do impacto da troca de aminoácido na estrutura e função

da proteína, por meio dos programas computacionais PolyPhen-2

(http://genetics.bwh.harvard.edu/pph2/) e MutationTaster. Para variantes

alélicas com alterações no sítio de splicing, foram utilizados os programas

MutationTaster (http://www.mutationtaster.org) e Human Splicing Finder

(http://www.hmd.be/HSF/).

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! 28

3.4.1.2. Gene FGF23

Para os casos sem alterações no estudo do gene PHEX, foi avaliado

apenas o éxon 3 do gene FGF23 (região hotspot para mutações ativadoras)

pelas técnicas de PCR e sequenciamento automático descritas

anteriormente para o gene PHEX. As sequências dos primers e os tamanhos

dos amplicons esperados estão descritos no ANEXO A.

3.4.2. Pesquisa de número de cópias nos genes PHEX e FGF23 por MLPA

Nos casos em que não foram encontradas mutações na região

codificadora do PHEX nem no éxon 3 do FGF23, foi realizada a pesquisa de

número de cópias para estes genes através da técnica de MLPA (Multiplex

Ligation-dependent Probe Amplification) por meio do kit comercial MLPA

P223-B1 PHEX (MCR Holland, Amsterdam, Holanda). O kit disponibiliza:

! 28 sondas específicas complementares ao PHEX (1 sonda para cada um

dos 22 éxons e 1 sonda adicional para os éxons 1, 3, 5, 11, 12 e 15);

! 4 sondas específicas complementares ao FGF23 (1 sonda para cada um

dos 3 éxons e 1 sonda adicional para o éxon 1) e

! 10 sondas de referência (1 sonda no Xp11.23 e as demais localizadas

em autossomos).

Para cada ensaio de MLPA, foram incluídas, no mínimo, três

amostras de DNA de indivíduos controle do mesmo sexo que os pacientes

estudados.

Foram utilizados cerca de 100 ng de DNA genômico de cada amostra

(pacientes ou indivíduos controle) e a reação foi realizada de acordo com as

instruções do fabricante.

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! 29

Os produtos resultantes foram detectados e quantificados por

eletroforese capilar no sequenciador automático ABI Prism 3100 Genetic

Analyzer (PE Applied Biosystems, Foster City, EUA) e analisados pelo

programa Coffalyser.NET (MRC-Holland, Amsterdam, Holanda) fornecido

pelo fabricante.

3.5. Avaliação da DMO e dos parâmetros estruturais ósseos

Todos os pacientes, maiores de cinco anos, realizaram a DXA e a

HR-pQCT no mesmo dia no Laboratório de Metabolismo Ósseo da Disciplina

de Reumatologia da FMUSP (LIM-17).

A DXA foi feita com o aparelho Hologic DXA Scanner (QDR 4500;

Hologic, Waltham, EUA) para a avaliação da DMOa em coluna lombar (L1-

L4), fêmur proximal (colo de fêmur e fêmur total) e antebraço distal esquerdo

(rádio distal total, 1/3 distal do rádio e rádio ultradistal); nas crianças,

também foi avaliada a DMOa de corpo inteiro subtotal.

A HR-pQCT foi realizada com o aparelho Xtreme CT II (SCANCO

Medical AG, Brüttisellen, Suíça) em rádio e tíbia distais esquerdos para a

avaliação de parâmetros de DMOv e estruturais ósseos, utilizando as

recomendações definidas pelo fabricante (33, 34). O estudo de cada sítio

dura três minutos e é realizado separadamente em antebraço e perna

imobilizados em uma concha de fibra de carbono para evitar artefatos

decorrentes de movimentação. É realizado um RX simples de rádio e tíbia

distais para determinação de planos padronizados de início e término da TC

(scout view). Para que as áreas de interesse de pacientes e controles

representem regiões semelhantes, a aquisição de imagem guarda uma

mesma proporção em relação às extremidades ósseas de rádio e tíbia. São

realizadas 110 fatias compreendendo 9,02 mm ao longo do eixo axial do

osso. Posteriormente, os dados digitais são transformados em imagens

seccionais e é feita uma reconstrução tridimensional. Para que o sistema

reconheça o volume total do tecido e realize as análises, são necessárias as

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! 30

determinações do perímetro externo da cortical óssea e da divisão entre os

compartimentos cortical e trabecular. Com isso, através de algoritmos

matemáticos, os principais parâmetros ósseos são calculados - tabela 3 (33,

34).

Tabela 3 - Parâmetros fornecidos pela HR-pQCT

Sigla Parâmetros Unidade

- Área óssea total mm2

- Perímetro médio mm

Tb.area Área trabecular mm2

Ct.area Área cortical mm2

Total vBMD Densidade volumétrica total mg HA/cm3

Tb vBMD Densidade volumétrica trabecular mg HA/cm3

Ct vBMD Densidade volumétrica cortical mg HA/cm3

BV/TV Relação entre o volume ósseo e o volume total -

Tb.N Número médio das trabéculas mm-1

Tb.Th Espessura média das trabéculas mm

Tb.Sp Espaço médio entre as trabéculas mm

SD.1/Tb.N Falta de homogeneidade da rede trabecular mm

Ct.Th Espessura média da cortical mm

HA: hidroxiapatita.

3.6. Avaliação de nefrocalcinose e nefrolitíase

Todos os pacientes foram submetidos a exames de US e TC de rins e

vias urinárias, realizados no Instituto de Radiologia do HC-FMUSP (InRad).

As USs foram realizadas com os aparelhos GE LOGIQ E9 with XDclear

ultrasound system (General Eletric Company, Fairfield, EUA) e Phillips iU22

ultrasound system (Phillips Heathcare, Andover, EUA) e as TCs com os

aparelhos Phillips CT Brilliance 64 channel (Phillips Heathcare, Cleveland,

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! 31

EUA) e Toshiba Aquillion 64 channel (Toshiba Medical Systems, Otawara,

Japão). As TCs foram feitas multislice sem contraste que representa um

avanço tecnológico em relação à helicoidal (56).

As imagens obtidas pelas USs foram analisadas independentemente

por dois radiologistas com experiência no diagnóstico de NC e classificadas

segundo o escore abaixo (35):

! Escore 0: ausência de ecogenicidade;

! Escore 1: moderada ecogenicidade ao redor das pirâmides medulares;

! Escore 2: moderada ecogenicidade ao redor e dentro das pirâmides;

! Escore 3: grave ecogenicidade em todas as pirâmides.

As imagens obtidas pelas TCs de rins e vias urinárias multislice sem

contraste foram analisadas independentemente por outros dois radiologistas,

sem conhecimento dos resultados das USs, e com experiência no

diagnóstico de NC e NL por este método. A classificação da NC foi feita de

acordo com o seguinte escore (35):

! Escore 0: ausência de calcificações;

! Escore 1: uma a três calcificações pontuais;

! Escore 2: aumento da densidade das pirâmides;

! Escore 3: calcificações das pirâmides.

A presença de qualquer papila envolvida forneceu um escore maior

que 0, sem número mínimo de papilas exigidas. Quando houve a presença

de características de vários níveis ou a extensão da doença diferiu entre os

dois rins, prevaleceu o maior escore (35).

A confirmação de NC foi determinada com o resultado positivo em

ambos os métodos de imagem (43), US e TC, enquanto o diagnóstico de NL

foi realizado apenas pela TC (47).

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! 32

3.7. Análise estatística

A análise estatística foi realizada com o programa SPSS Statistics

software versão 22.0 (SPSS Inc, Chicago, EUA). Foi realizado o teste de

normalidade Shapiro-Wilk para os dados de cada variável quantitativa

estudada. Segundo o tipo de distribuição, os dados foram apresentados

como média ± desvio padrão ou mediana com valores mínimo e máximo. As

diferenças entre grupos foram testadas quanto à significância através dos

testes T-student (distribuição normal) e Mann-Whitney (distribuição não

normal). Conforme a normalidade da distribuição da variável, as correlações

foram realizadas pelos coeficientes de Spearman ou de Pearson. Para as

variáveis qualitativas, foi utilizado o teste qui-quadrado ou o teste exato de

Fisher de acordo com as frequências esperadas. A significância foi

considerada pelo valor de p < 0,05.

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!

4. RESULTADOS

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4.1. Avaliação clínica e laboratorial

Foram estudados 47 pacientes com RQ/OM hipofofosfatêmicos

mediados por FGF23, compreendendo 26 casos esporádicos e 21 casos

familiais pertencentes a nove famílias não relacionadas. Os heredogramas

das famílias I e II estão representados nas figuras 1 e 2 do ANEXO B,

respectivamente. A família III foi composta por dois irmãos, enquanto as

famílias IV a VII foram constituídas por mães e filhos.

Trinta e seis pacientes eram do sexo feminino (76,5%) e 11 do sexo

masculino (23,5%), sendo 12 mulheres e 4 homens com idade igual ou

inferior a 18 anos e 24 mulheres e 7 homens com idade superior a 18 anos.

A média de idade para os pacientes ≤ 18 anos foi de 10,9±5,0 anos

enquanto a média de idade para os pacientes > 18 anos foi de 41,8±14,7

anos. Foram calculados os escores Z de estatura e da relação estatura

sentada/estatura para cada paciente – tabela 3 do ANEXO B.

Todos os pacientes na faixa etária pediátrica estavam em uso de

fosfato de sódio e potássio na dose de 30-60 mg/kg/d, mas, entre os 31

pacientes adultos, 13 não usaram fosfato durante a infância e puberdade.

No que se refere à estatura, 38 dos 47 pacientes analisados têm

baixa estatura (80,8%): 12/16 (75%) com idade ≤ 18 anos e 26/31 (83,8%)

com idade > 18 anos. Apesar da frequência de baixa estatura ter sido alta

em ambas as faixas etárias, a média do Z de estatura dos pacientes com

idade ≤ 18 anos foi superior à média do Z de estatura dos adultos (-2,4±1,4

vs -3,5±1,5; p = 0,01) – gráfico 1.

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! 35

Além disso, a média do Z de estatura dos adultos que usaram fosfato

durante a infância e adolescência foi superior à média do Z de estatura dos

que não utilizaram o medicamento (-3,0±1,3 vs -4,2±1,5; p = 0,04) – gráfico

2. Embora não tenha sido estatisticamente significante, a média do Z de

estatura dos adultos que fizeram uso de fosfato durante a infância e

adolescência tendeu a ser inferior a dos pacientes pediátricos (-3,0±1,4 vs

-2,4±1,4; p = 0,17).

Para os pacientes na faixa etária pediátrica (idade ≤ 18 anos), não

houve correlação entre a estatura e a idade de início (p=0,408) ou duração

do tratamento com fosfato (p=0,206).

Quanto à relação Es/E, três pacientes adultos com baixa estatura não

conseguiram realizar a mensuração da estatura sentada devido às

deformidades ósseas em membros inferiores.

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! 36

Trinta e um dos 35 pacientes com baixa estatura (88,5%)

apresentaram desproporção corporal (Z > +2). Nove dos 12 pacientes

pediátricos (75%) com baixa estatura eram desproporcionados, enquanto 22

dos 26 (84,6%) pacientes adultos com baixa estatura tinham desproporção

corporal. Seis dos nove pacientes com estatura normal também

apresentaram-se desproporcionados (66,6%). Além disso, a frequência de

baixa estatura desproporcionada foi 9/11 (81,8%) nos adultos que não

usaram fosfato na infância e adolescência e 13/17 (76,4%) nos que usaram

a medicação.

Em relação às deformidades ósseas, elas estiveram presentes desde

a infância em todos os pacientes e particularmente nos membros inferiores

(dados não mostrados). Trinta e cinco pacientes foram submetidos a

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! 37

correções ortopédicas, seis deles durante a infância e puberdade e 29 após

término do crescimento longitudinal.

Na tabela 3 do ANEXO B, além de dados demográficos, são expostos

os perfis laboratoriais individualizados dos pacientes estudados. Todos

apresentaram níveis séricos elevados de FGF23, taxa de reabsorção tubular

de fosfato aumentada e hipofosfatemia. Os níveis de cálcio eram normais e

24/47 pacientes apresentaram hiperparatireoidismo secundário decorrente

da insuficiência de vitamina D e/ou baixa ingestão de cálcio. Estas

deficiências foram prontamente corrigidas no decorrer do acompanhamento

com normalização dos níveis de PTH.

Cinco adultos foram diagnosticados com hiperparatireoidismo

terciário: quatro durante o seguimento e um caso anteriormente ao estudo.

Em três pacientes, o diagnóstico do hiperparatireoidismo terciário ocorreu na

sexta década de vida (aos 50, 55 e 58 anos); todos com histórico de uso de

fosfato na vida adulta. Uma paciente foi diagnosticada aos 29 anos e

relatava uso de fosfato apenas na infância. O tratamento cirúrgico foi bem

sucedido nos quatro casos com consequente normalização bioquímica.

Apenas uma paciente não tinha histórico de tratamento com fosfato ou

calcitriol; seu diagnóstico foi feito aos 75 anos de idade e a apresentação do

hiperparatireoidismo era assintomática com hipercalcemia e aumento de

PTH discretos. Neste caso, a abordagem cirúrgica foi contraindicada devido

à hipertensão arterial de difícil controle.

Quanto aos marcadores laboratoriais, no período estudado, a

compensação metabólica não foi alcançada em 15 de 16 pacientes

pediátricos mesmo com o uso de doses altas de fosfato (60 mg/kg/d) e

calcitriol. Nos adultos, 10 de 31 pacientes estavam descompensados

metabolicamente.

A maioria dos indivíduos teve função renal normal. Apenas três

pacientes idosas apresentaram diminuição da taxa de filtração glomerular,

sendo uma em estágio 2 e duas em estágio 3 de acordo com a National

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Kidney Foundation (54). As três pacientes apresentavam hipertensão

arterial, das quais duas eram mal controladas.

4.2. Avaliação genotípica

4.2.1. Avaliação do gene PHEX

O estudo do gene PHEX através de PCR e sequenciamento

automático, pelo método de Sanger, possibilitou a determinação da base

molecular em 35 dos 47 pacientes (18 casos familiais com sete casos índice

e 17 casos esporádicos) com RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética

mediados por FGF23, classificando-os como XLHR.

Entre os pacientes identificados como XLHR, foram encontradas 24

mutações, sendo 14 inéditas na literatura: três do tipo nonsense; cinco com

microdeleções e uma com inserção de 79 pb implicando na formação de

frameshifts; uma do tipo missense e quatro na região de sítio de splicing –

tabela 4. Todas as mutações encontradas estavam distribuídas ao longo dos

22 éxons ou em suas sequências intrônicas. Além disso, nenhuma mutação

foi encontrada na região 3’-UTR.

As mutações novas do tipo nonsense e resultantes em frameshifts

foram consideradas deletérias por implicarem na formação de uma proteína

truncada.

A variante alélica p.G575R do tipo missense foi identificada em uma

paciente sem história familiar e não foi testada em seus pais. Ela foi

descartada como polimorfismo por não estar descrita nos bancos de dados

dos sites: 1000 Genomes, Ensembl, PubMed e PHEXdb. Posteriormente, foi

testada in silico (programas de predição PolyPhen-2 e MutationTaster),

considerada danosa para a proteína pelos dois programas e, portanto,

indicada como causa da doença.

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! 39

As variantes alélicas c.350-2A>G, c.1302+1G>A, c.2070+5G>A e

c.2071-1G>C, localizadas em sítios de splicing também pertencem a casos

esporádicos e não foram testadas em seus pais. Elas foram descartadas

como polimorfismos pelos mesmos motivos citados acima. Todas estavam

localizadas entre -2 e +5 pb das regiões dos sítios de splicing. A seguir,

foram testadas in silico (programas de predição MutationTaster e Human

Splicing Finder) e, por apresentarem alta probabilidade de mudança de sítio

de splicing, também foram consideradas responsáveis pela doença.

Em três casos esporádicos, sem mutações detectadas pelo método

de Sanger, a análise pela técnica de MLPA identificou deleções em

heterozigose em duas mulheres (éxons 1-19 e éxon 16) e deleção em

hemizigose, em um homem (éxons 15-22). Neste último caso, a falha na

amplificação destes éxons por PCR já levantava esta suspeita. Não foi

realizada análise de MLPA de familiares destes casos – tabela 4.

Em uma família, mãe e filha compartilharam a duplicação no éxon 12.

Adicionalmente, em outro caso com apresentação familial foi encontrada

uma deleção em heterozigose dos éxons 13-15. O pai desta menina

apresenta XLHR, porém seu DNA não foi acessível para o mesmo estudo.

Desta forma, em seis casos esporádicos com RQ/OM

hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23, não foram

identificadas alterações nas regiões codificadora e de splicing do PHEX

pesquisadas pelos métodos de Sanger e MLPA.

Além do esclarecimento etiológico de grande parte dos casos (41/47),

o estudo genético do PHEX permitiu excluir o filho da paciente 7 da família II

(figura 2 do ANEXO B) como portador de XLHR o qual nasceu no decorrer

do estudo. A análise foi realizada nos primeiros meses de vida da criança,

por meio do DNA genômico obtido do seu coto umbilical.

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Tabela 4 – Mutações no gene PHEX em 21 casos familiais e 20 casos

esporádicos de XLHR

Apresentação Localização DNA Proteína dbSNP ID/HGMD Mutações nonsense

F (n = 5) Éxon 1 c.623C>T p.R20* CM971148 F (n = 2) Éxon 5 c.1076G>T p.E171* Nova E Éxon 5 c.1105G>A p.W180* Nova E Éxon 15 c.2210C>T p.R549* CM973083 F (n = 2) Éxon 16 c.2264C>T p.R567* CM060430 E Éxon 20 c.2545G>A p.W660* Nova F (n = 4) Éxon 22 c.2804C>T p.R747* CM981530

Frameshift: inserções e deleções F (n = 2) Éxon 9 c.1550_1550delC p.H329Ifs*2 Nova E Éxon 11 c.1854_1854delA p.D430Vfs*5 Nova E Éxon 16 c.2226_2236del11nt p.E554Afs*24 Nova E Éxon 18 c.2461_2462ins79 p.N633Ifs*6 Nova E Éxon 20 c.2589_2589delG p.G675Afs*12 Nova E Éxon 21 c.2669_2669delC p.R702Efs*38 Nova

Mutações missense E Éxon 12 c.1914T>C p.L450P CM111057 E Éxon 13 c.2035A>T p.E490D rs371934258 E Éxon 17 c.2288G>C p.G575R Nova E Éxon 17 c.2300G>C p.G579R CM971166 E Éxon 22 c.2810T>C p.W749R CM981531

Mutações em sítios de splicing E Intron 3 c.350-2A>G NA Nova E Intron 11 c.1302+1G>A NA Nova F (n = 1)# Intron 14 c.1586_1586+1delAG NA Gaucher et al (57) F (n = 2) Intron 18 c.1899+1G>A NA CS092782 E Intron 20 c.2070+5G>A NA Nova E Intron 20 c.2071-1G>C NA Nova

Análise pelo MLPA E Deleção éxon 1-19 NA Nova F (n=2) Duplicação éxon 12 NA Nova F (n=1)## Deleção éxon 13-15 NA Nova E Deleção éxon 15-22 NA Nova E Deleção éxon 16 NA Nova F: familial; E: esporádica; n: número de membros afetados; NA: não se aplica; #paciente possui dois filhos afetados que não pertencem à nossa casuística; ##pai da paciente é afetado e não pertence à casuística.

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! 41

4.2.2. Avaliação do gene FGF23

Nos seis pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética

mediados por FGF23 e pesquisa negativa para mutações no PHEX, a

avaliação do éxon 3 do gene FGF23 (região hotspot para mutações

ativadoras) pelas técnicas de PCR e sequenciamento automático não

evidenciou alterações. O estudo do MLPA também não identificou alterações

no número de cópias do FGF23.

4.3. Avaliação da DMO e dos parâmetros estruturais ósseos

Com o intuito de homogeneizar a casuística, seis pacientes foram

excluídos da análise por não apresentarem mutações inativadoras no gene

PHEX. Adicionalmente, foram excluídas três crianças por terem idade

inferior a seis anos quando a reprodutibilidade da HR-pQCT não é confiável

(58). Desta forma, 38 pacientes (28 mulheres e 10 homens; 13 crianças e 25

adultos) com XLHR, confirmados com mutação no PHEX, foram

selecionados para a análise dos resultados de DXA e HR-pQCT.

Devido às deformidades esqueléticas, particularmente em membros

inferiores, e/ou a presença de objetos metálicos (placas, pinos e parafusos)

nos sítios a serem analisados, nem todos os pacientes realizaram a DXA em

fêmur proximal (n=33) e a HR-pQCT de tíbia distal (n=34).

Todos os pacientes foram pareados para a idade, sexo e estádio

puberal com indivíduos saudáveis provenientes do banco de dados do LIM-

17.

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! 42

4.3.1. Avaliação da DMOa por DXA

Os valores absolutos de DMOa obtidos pela DXA nos diferentes sítios

estudados estão mostrados nas tabelas 5 e 6 do ANEXO C.

Os pacientes com XLHR apresentaram maior DMOa em L1-L4

comparados aos seus respectivos controles (p=0,03) – gráfico 3 e tabela 5

do ANEXO C. Após a estratificação dos pacientes por faixa etária, esta

diferença desapareceu na faixa pediátrica (p=0,14) enquanto os adultos

mantiveram maior DMOa comparados aos seus controles (p<0,01) – gráfico

4 e tabela 6 do ANEXO C.

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! 43

Em colo de fêmur e fêmur total, não houve diferenças quanto à DMOa

entre os grupos (p=0,58 e p=0,83, respectivamente) - tabela 5 do ANEXO C.

Quanto ao rádio distal total, não houve diferenças na DMOa entre os

grupos estudados (p=0,19). Ao analisarmos as diferentes regiões do rádio,

os pacientes tiveram menor DMOa em 1/3 distal do rádio comparados aos

seus respectivos controles (p<0,01) sem alterações no rádio ultradistal

(p=0,38) - gráfico 5 e tabela 5 do ANEXO C. Esta menor DMOa em 1/3 distal

do rádio esteve presente nas crianças e nos adultos - tabela 6 do ANEXO C.

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! 44

A DMOa de corpo inteiro subtotal foi avaliada na faixa etária pediátrica

e não houve diferença significativa entre os grupos (p=0,39) - tabela 6 do

ANEXO C.

4.3.2. Avaliação dos parâmetros geométricos, da DMOv e da microarquitetura óssea obtidos por HR-pQCT

Os parâmetros geométricos, dados de DMOv e parâmetros referentes

à microarquitetura óssea dos grupos de pacientes com XLHR e controles

obtidos por HR-pQCT, bem como as análises estratificadas por faixa etária e

compensação metabólica, estão apresentados nas tabelas 7-9 do ANEXO C.

Quanto aos parâmetros geométricos (área óssea total, perímetro

médio, área trabecular e área cortical), não houve diferenças significativas

entre os grupos no rádio (p=0,22; p=0,63; p=0,20 e p=0,55 respectivamente)

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! 45

e na tíbia distais (p=0,27; p=0,33; p=0,32 e p=0,18 respectivamente) – tabela

7 do ANEXO C.

No rádio distal, não houve diferenças entre os grupos quanto à

densidade volumétrica total (Total vBMD; p=0,89) ou aos seus

compartimentos trabecular (Tb vBMD; p=0,31) e cortical (Ct vBMD; p=0,65) -

gráfico 6 e tabela 7 do ANEXO C. Entretanto, ao dividirmos o grupo de

pacientes por faixa etária, o grupo pediátrico apresentou maior Tb vBMD

(p<0,01) do que seus controles, sem diferenças no Total vBMD (p=0,12) e

no Ct vBMD (p=0,62). Por sua vez, os adultos não diferiram quanto ao Total

vBMD (p=0,36), à Tb vBMD (p=0,70) e à Ct vBMD (p=0,52) – gráfico 7 e

tabela 8 do ANEXO C.

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! 46

Na tíbia distal, os pacientes apresentaram menor Total vBMD

(p=0,02) do que os controles e a análise compartimental mostrou que esta

diferença ocorreu às custas de um déficit do Tb vBMD (p<0,01) uma vez que

não houve diferença da Ct vBMD (p=0,27) entre os grupos – gráficos 8 e 9 e

tabela 7 do ANEXO C.

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! 47

Ainda em relação à tíbia distal, na divisão por faixa etária, ambos os

grupos etários mantiveram menor Tb vBMD (p<0,01), sem alterações na Ct

vBMD nas crianças (p=0,64) e nos adultos (p=0,49) - tabela 8 do ANEXO C.

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! 48

Quanto às alterações da microarquitetura óssea do rádio distal, o

grupo de pacientes apresentou: menor número de trabéculas (Tb.N; p=0,01),

maior espessura das trabéculas (Tb.Th; p<0,01) e maior falta da

homogeneidade trabecular (SD.1/Tb.N; p=0,02) - tabela 7 do ANEXO C. Não

houve diferenças quanto à relação entre o volume ósseo e o volume total

(BV/TV; p=0,31), ao espaço médio entre as trabéculas (Tb.Sp; p=0,24) e à

espessura cortical (Ct.Th; p=0,70) – tabela 7 do ANEXO C.

A análise da microarquitetura do rádio de crianças e adultos revelou

algumas particularidades. Enquanto o grupo pediátrico teve maior BV/TV

(p<0,01) e maior Tb.Th (p<0,01) do que os seus controles sem outras

alterações, o grupo adulto apresentou déficits mais significativos: menor

Tb.N (p<0,01), maior Tb.Sp (p<0,01) e maior SD.1/Tb.N (p<0,01) – gráficos

10 a 12 e tabela 8 do ANEXO C.

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! 49

As alterações da microarquitetura óssea da tíbia distal foram mais

evidentes do que no rádio. Os pacientes com XLHR mostraram menor

BV/TV (p<0,01), menor Tb.N (p<0,01), maior Tb.Sp (p<0,01) e maior

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! 50

SD.1/Tb.N (p<0,01) com preservação das espessuras das trabéculas (Tb.Th;

p=0,52) e da cortical (Ct.Th; p=0,77) - tabela 7 do ANEXO C. Estas mesmas

diferenças se mantiveram com a estratificação nos grupos pediátrico e

adulto: menor BV/TV (p<0,01), menor Tb.N (p=0,04 nas crianças e p<0,01

nos adultos), maior Tb.Sp (p=0,03 nas crianças e p<0,01 nos adultos) e

maior SD.1/Tb.N (p=0,01 nas crianças e p<0,01 nos adultos) – tabela 8 do

ANEXO C.

Por último, foi realizada a estratificação quanto ao status metabólico

apenas para os pacientes adultos com XLHR, pois a maioria dos pacientes

pediátricos estava descompensada metabolicamente. Após análise das

DMOv, dos parâmetros geométricos e microestruturais de rádio e tíbia

distais, não houve diferenças entre os resultados dos pacientes

compensados e os dos pacientes descompensados com exceção da

Ct.vBMD de tíbia distal – tabela 9 do ANEXO C.

Curiosamente, os pacientes descompensados apresentaram menor

Ct vBMD do que os seus controles (p=0,02), enquanto esta diferença não foi

observada no grupo de pacientes compensados (p=0,49) – gráfico 13 e

tabela 9 do ANEXO C.

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! 51

4.4. Avaliação de nefrocalcinose e nefrolitíase

Cinco pacientes foram excluídos da análise por não apresentarem

mutações inativadoras no gene PHEX. Outros três indivíduos não realizaram

a US de rins e vias urinárias e foram retirados da avaliação também.

Portanto, 39 pacientes (30 mulheres e 9 homens; 16 crianças e 23 adultos)

com XLHR, confirmados com mutação no PHEX, foram selecionados para a

avaliação renal.

A US constatou que 37 (94,9%) indivíduos com XLHR (16 crianças e

21 adultos) apresentavam NC: 36 (97%) como grau 1 e um (3%) como grau

2 - gráfico 14. Apenas dois homens adultos, ambos com 30 anos de idade,

não apresentaram sinais de NC vistos pela US. Eles não tinham outras

alterações metabólicas exceto a hiperfosfatúria inerente ao XLHR. Além

disso, iniciaram o tratamento com fosfato tardiamente e irregularmente

conforme atestado pela baixa estatura e deformidades importantes em

membros inferiores apresentadas por ambos.

Em contrapartida, a TC identificou NC medular em 15 (38,5%)

pacientes (nove crianças e seis adultos): 10 (66,7%) como grau 1 e cinco

(33,3%) como grau 2. Nenhum paciente apresentou NC cortical nem NC

grau 3. Vinte e dois pacientes com TC normal tiveram NC diagnosticada pela

US como grau 1 principalmente. Todos os casos de NC detectados pela TC

também tinham alterações na US - gráfico 14.

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! 52

Quinze pacientes (38,5%) com XLHR foram diagnosticados com NC

considerando sua presença confirmada conjuntamente pela US e TC de rins

e vias urinárias alteradas. Curiosamente, a estratificação por faixa etária

mostrou maior prevalência de NC nas crianças (9/16 = 56,3%) em relação

aos adultos (6/23 = 26,1%), mas os graus de NC foram similares entre os

grupos.

Os dois grupos etários diferiram particularmente quanto ao tratamento

com fosfato. No momento do estudo, todas as crianças estavam em uso

intensivo de fosfato, enquanto nenhum adulto fazia uso desta medicação.

Isto explica a média da fosfatúria maior no grupo pediátrico comparado ao

grupo adulto (p<0,01). Esta diferença persistiu após a correção da fosfatúria

pela creatinina urinária (p<0,01), descartando possíveis problemas na coleta

das amostras urinárias – tabela 5.

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! 53

Tabela 5 – Avaliação da função renal e dos fatores de risco para NC e NL

nos pacientes com XLHR estratificados por faixa etária

Parâmetros analisados XLHR (n=39)

Crianças (n=16)

Adultos (n=23)

p

RFG (ml/min/1,73 m2) 152±46 186±43 128±31 <0,01*

Pu (mg/kg/d) 14,7±11,5 24,1±12,9 8,2±2,5 <0,01*

Relação Pu/Cru 1,02±0,72 1,66±0,70 0,55±0,19 <0,01*

Pacientes com hipocitratúria 11 (28,2%) 5 (31,3%) 6 (26,1%) 0,73

Pacientes com hipercalciúria 2 (5,1%) 1 (6,3%) 1 (4,3%) 1,0

Pu: fósforo urinário; Cru: creatinina urinária. Valores expressos em média±DP;*p <0,05 foi

considerado estatisticamente significante.

É importante saber que parte dos adultos não fez tratamento com

fosfato na infância e adolescência (9/23 = 39,1%). Entre os adultos que

usaram fosfato na infância (14/23 = 60,9%), o início do seu tratamento foi

mais tardio do que nas crianças (8,0±3,2 vs 2,8±2,3 anos; p<0,01).

Adicionalmente, a dose de fosfato utilizada pelos adultos quando crianças foi

menor do que a utilizada na faixa pediátrica atualmente, mas ela não pôde

ser estimada em mg/kg/peso por falta de informações nos prontuários e

pelas diferentes durações de tratamento.

Em contraste, quatro pacientes adultos sem uso de fosfato na infância

e adolescência desenvolveram NC; dos quais dois nunca utilizaram esta

medicação mesmo na fase adulta. Nenhum deles teve evidências de

hipocitratúria e/ou hipercalciúria - tabela 4 do ANEXO B.

Quanto aos fatores de risco metabólico, 12 dos 39 (30,8%) indivíduos

estudados possuíam alterações em mais de uma amostra de urina de 24

horas – tabela 5 e tabela 4 do ANEXO B. Nenhum paciente apresentou

hiperoxalúria.

A hipocitratúria foi o fator de risco mais comum (28,2%), enquanto a

hipercalciúria foi detectada em apenas uma criança sem evidências de NC e

em uma adulta (paciente 16). Hipercalciúria e hipocitratúria foram

identificadas conjuntamente somente na paciente 16. Não houve diferença

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! 54

quanto à presença de hipercalciúria e hipocitratúria entre os grupos com e

sem NC (p=1,0 em ambas as comparações).

Duas famílias estudadas (famílias I e VI – tabela 3 do ANEXO B)

tiveram mais de um membro com diagnóstico de NC. Na família I, o pai tinha

NC grau 1 e as duas filhas foram detectadas com NC grau 2 (pacientes 2, 3

e 4 – tabela 3 do ANEXO B). Nenhum deles tinha outras alterações

metabólicas com exceção da hiperfosfatúria. Na família VI, a mãe e o seu

filho (pacientes 16 e 17 - tabela 3 do ANEXO B) foram diagnosticados com

NC grau 2 e ambos apresentavam hipocitratúria. A mãe também

apresentava NL diagnosticada pela TC e, teve diagnóstico de

hiperparatireoidismo terciário no decorrer do estudo, aos 29 anos. Ela foi

tratada cirurgicamente com sucesso e consequente normalização da

calciúria.

Além deste caso, outra mulher (paciente 47 - tabela 3 do ANEXO B)

tinha antecedente de hiperparatireoidismo terciário tratado cirurgicamente

antes do estudo. Ela não apresentou hipercalciúria no decorrer da avaliação,

mas teve o diagnóstico de NC grau 1.

Em relação à pesquisa de NL, quatro adultos (10,3%) foram

identificados pela TC, dos quais duas tinham NC associada (pacientes 16 e

18 – tabela 3 do ANEXO B). Somente a paciente 16 tinha histórico de cólica

nefrética, enquanto os demais eram assintomáticos. Além dessa paciente

com alterações metabólicas urinárias, apenas uma adulta foi detectada com

hipocitratúria. Nenhuma criança foi diagnosticada com NL - tabela 4 do

ANEXO B.

Apesar da presença de NC e NL, a maioria dos indivíduos tinha

função renal normal. Somente uma idosa (paciente 1 - tabela 3 do ANEXO

B) possuía diminuição da RFG - estágio 3 de acordo com o National Kidney

Foundation (54). Ela apresentou NC grau 1 apenas pela US, nunca fez uso

de fosfato e era hipertensa mal controlada.

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!

5. DISCUSSÃO

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! 56

5.1. Estatura nos RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23

A baixa estatura foi uma característica fenotípica marcante nos

nossos pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos. Após a estratificação dos

pacientes por faixa etária e uso de fosfato na infância e adolescência, o

grupo de pacientes pediátricos, em uso intensivo de fosfato, apresentou a

maior média do Z de estatura (-2,4±1,4). Além disso, observou-se menor

média do Z de estatura no grupo de adultos que não fizeram uso de fosfato

em comparação aos que utilizaram esta medicação (-4,2±1,5 vs -3,0±1,3).

Estes dados demonstram o impacto positivo do emprego do fosfato durante

a infância e adolescência na melhora da estatura dos pacientes com RQ/OM

hipofosfatêmicos de origem genética. Dados similares já haviam sido

descritos por Reusz et al (59).

A diferença entre as médias do Z de estatura dos adultos que fizeram

uso de fosfato durante a infância e adolescência e dos pacientes pediátricos

pode estar relacionada à dose, início e/ou duração de tratamento com

fosfato. Apesar disso, não foi possível confirmar esta hipótese devido à falta

de informações em alguns prontuários e à imprecisão nos relatos dos

adultos sobre o uso de fosfato.

Neste sentido, em seus relatos, tanto Makitie et al como Vaisbich et al

alertam para a importância da precocidade no início do tratamento (60, 61).

No entanto, em nossa casuística pediátrica, não encontramos correlações

entre o Z de estatura e o início do tratamento com fosfato, nem com sua

duração. Os principais motivos para estes resultados devem estar

relacionados à casuística pequena e ao fato de não conseguirmos estimar a

aderência do paciente ao uso do fosfato. Segundo Makitie et al, a falta de

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! 57

vigilância dos pais, o gosto ruim das soluções de fosfato e a falta de

sintomas exuberantes contribui para a baixa adesão em jovens (60). A estes

fatores, acrescentamos a posologia da medicação em quatro tomadas

diárias longe das refeições preferencialmente.

Apesar do ganho estatural com melhora da velocidade de

crescimento e dos sinais de raquitismo (dados não mostrados) durante o

tratamento com fosfato de sódio e potássio, a normalização estatural não

aconteceu na maioria dos casos à semelhança do relato de Cho et al (62).

Segundo Verge et al, estes pacientes não atingem seu potencial estatural

total, pois o tratamento aparentemente não promove a cura histológica da

doença (63).

Quanto à relação Es/E, a maior parte dos pacientes estudados com

baixa estatura (88,5%) apresentou desproporção corporal devido às

deformidades em membros inferiores, principalmente os adultos que não

fizeram uso de fosfato na infância e tinham a menor média do Z de estatura.

À semelhança dos nossos resultados, Zivcnjak et al comprovaram maior

desproporção corporal com maiores valores do Z da relação Es/E em

pacientes com menor estatura (64). Estas alterações antropométricas

ocorrem por um maior comprometimento da doença nos ossos longos dos

membros inferiores e superiores em comparação ao esqueleto axial, mesmo

em pacientes com estatura normal (12, 65).

A desproporção corporal foi identificada em parte da nossa casuística

pediátrica, particularmente em adolescentes com menor estatura.

Aparentemente, esta desproporção entre os segmentos corpóreos em

pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos tem piora progressiva com o

avançar da idade e persiste apesar do controle metabólico com o tratamento

intensivo com fosfato e calcitriol (64).

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! 58

5.2. Etiologia molecular dos pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23

Ao limitarmos a população estudada aos casos de origem genética

mediados por FGF23, com base em dados clínicos e laboratoriais, houve a

constituição de um grupo relativamente homogêneo que aumentou a

probabilidade de determinação da sua etiologia molecular.

Em nossa casuística, a principal forma hereditária encontrada em

casos familiares e esporádicos foi o XLHR devido à presença de mutações

inativadoras no PHEX em 87,2% dos pacientes. Este resultado é consistente

com o percentual de mutações detectadas neste gene, 25-87%, em relatos

prévios, confirmando o XLHR como a forma mais comum de RQ/OM

hipofosfatêmico de origem genética (66-68). Portanto, neste grupo de

pacientes, o início do estudo molecular pelo PHEX constitui uma estratégia

racional.

Através da PCR e do sequenciamento automático, foram detectadas

24 mutações no PHEX dispersas ao longo de toda sua região codificadora e

sítios de splicing, sinalizando a importância de cada éxon na função do gene

e a necessidade de investigação de toda a sua extensão. Apesar de

existirem, aproximadamente, mais de 300 diferentes mutações no PHEX

descritas, os principais mecanismos envolvidos incluem mutações de ponto,

microdeleções e microinserções facilmente detectáveis pelo método de

Sanger (66, 68, 69). Desta forma, estes devem ser os primeiros tipos de

mutações a serem investigadas no gene PHEX.

Devido à localização deste gene no cromossomo X e à sua herança

dominante, pacientes do sexo feminino com deleções e/ou duplicações em

um único ou vários éxons podem não ser identificadas pelo método de

Sanger. Portanto, evidencia-se a importância de técnicas, como o MLPA, na

identificação das alterações do número de cópias em heterozigose do PHEX

no XLHR. Nesta casuística, o emprego do MLPA contribuiu para o aumento

do percentual de mutações detectadas ao identificar cinco mutações

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! 59

(12,1%): quatro deleções e uma duplicação. Este percentual foi semelhante

ao relatado por Beck-Nielsen et al (70).

Apesar dos diferentes tipos de mutações encontradas, todos os

pacientes estudados apresentaram o fenótipo clássico do XLHR, visto que o

PHEX apresenta alta penetrância (66). Variações fenotípicas foram

preferencialmente influenciadas pelo tratamento com fosfato e calcitriol.

Entretanto, há raros relatos da literatura que descrevem discordância

genótipo-fenótipo. Por exemplo, em um trabalho, enquanto o caso índice

apresentava o fenótipo evidente de XLHR, seus familiares com o mesmo

genótipo tinham apenas alterações laboratoriais (66). Diante deste fato, o

envolvimento de genes moduladores e de elementos regulatórios do PHEX

não pode ser descartado na patogênese do XLHR e no desfecho clínico das

mutações.!(9, 66, 71).!

5.3. DMO e os parâmetros estruturais ósseos nos XLHR

Nossos resultados mostraram maior DMOa em L1-L4 nos pacientes

com XLHR em relação a controles saudáveis à semelhança dos relatos de

Beck Nielsen et al (12, 65). Ao estratificarmos os pacientes por faixa etária,

este achado se manteve apenas no grupo adulto da nossa casuística.

Tipicamente, este aumento de DMOa é justificado pela presença de

calcificações extra-esqueléticas (12), particularmente representadas por

entesopatias ligamentares. Estas foram confirmadas na maioria dos

pacientes adultos estudados por meio do RX de coluna lombar (dados não

mostrados).

Geralmente, as crianças e adolescentes não apresentam estas

alterações extra-esqueléticas. Rauch explica este padrão baseado na teoria

do mecanostato, na qual o aumento da DMOa é uma consequência do

aumento da formação de osso trabecular pelo estímulo dos osteócitos como

adaptação às maiores cargas mecânicas (72).

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! 60

Por sua vez, a DMOa no colo de fêmur e fêmur total não diferiu entre

os grupos, como relatado por Beck Nielsen et al. (12). O aumento da DMOa

consequente à formação de osso trabecular contrabalança a subestimação

da DMOa pelo menor tamanho dos ossos dos pacientes com XLHR,

resultando em valores normais nestes sítios (65).

Finalmente, no rádio distal total, não houve diferenças entre os grupos

quanto à DMOa. Shore et al também relataram valores normais de DMOa no

rádio distal total de pacientes com XLHR (73), embora outros estudos

tenham demonstrado menor DMOa neste sítio (74, 75).

Apesar da ausência de alterações em rádio distal total, os pacientes

com XLHR apresentaram menor DMOa em 1/3 distal de rádio, sem

alterações da DMOa em rádio ultradistal, comparados aos controles. Dados

referentes à DMOa em 1/3 distal do rádio e rádio ultradistal no XLHR são

escassos na literatura. Considerando que a composição do 1/3 distal de

rádio é de 13% de osso trabecular e 87% de osso cortical e que a

composição do rádio ultradistal é de 55% de osso trabecular e 45% de osso

cortical (76), esse achado pode ser um reflexo dos diferentes efeitos da

doença nos componentes trabecular e cortical (77).

Diante destes fatos, a interpretação dos resultados de DXA deve ser

feita com cautela devido à interferência de fatores anatômicos e

antropométricos (78). Por outro lado, a HR-pQCT avalia a DMOv em áreas

distais e sofre menor influência do tamanho do ossos longos e da presença

de alterações extra-esqueléticas (33).

Apesar de não termos encontrado alterações geométricas na análise

da HR-pQCT de rádio e tíbia distais dos pacientes com XLHR, estudos

prévios relatam maior área total no rádio distal decorrente do aumento da

área trabecular como uma adequação para a preservação da resistência

óssea (77, 79).

No rádio distal dos nossos pacientes com XLHR, não foram

encontradas alterações na DMOv total nem nos seus componentes

trabecular e cortical. Após a estratificação dos pacientes por faixa etária, as

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! 61

crianças apresentaram maior DMOv trabecular em comparação aos seus

controles, enquanto esta alteração não foi observada nos adultos. Não foi

identificada alteração da DMOv cortical em ambos os grupos etários.

Resultados similares foram relatados por Cheung et al que

identificaram maior DMOv trabecular no rádio distal de pacientes com XLHR,

particularmente naqueles em uso de fosfato e calcitriol comparados aos que

não usaram as medicações (79). Estes dados assemelham-se aos

observados em nossa casuística, visto que as crianças estudadas estavam

em uso intensivo de fosfato e que os adultos não usavam a medicação.

Segundo Cheung et al, o aumento da DMOv trabecular seria um reflexo do

aumento da mineralização deste compartimento estimulado pelo uso de

fosfato e calcitriol e este mecanismo estaria perdido com a descontinuação

das medicações (79).

Na tíbia distal, os pacientes com XLHR apresentaram menor DMOv

total do que seus controles às custas do componente trabecular sem

alterações do componente cortical. Este déficit foi observado nas crianças e

nos adultos com XLHR. Diferentemente, Veilleux et al referem redução da

DMOv cortical sem comprometimento da DMOv trabecular em tíbia distal de

pacientes com XLHR (58).

Estas diferenças na DMOv de rádio e tíbia distais podem ser

atribuídas às cargas mecânicas distintas presentes nestes sítios. Ossos em

regiões de maior carga mecânica, como a tíbia, apresentam um maior

impacto das alterações ósseas do que as regiões com menor carga

mecânica, como o antebraço (78). Além disso, as deformidades em

membros inferiores, presentes no XLHR, modificam os pontos de tensão e

resultam na distribuição heterogênea da carga mecânica com consequente

formação óssea heterogênea e assimétrica. Desta forma, elas contribuem

para um maior déficit na aquisição de massa óssea na tíbia.

Quanto à análise da microarquitetura óssea, alterações estruturais

trabeculares foram encontradas em ambos os sítios dos pacientes com

XLHR. No rádio, os pacientes apresentaram menor número de trabéculas e

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! 62

maior perda da homogeneidade da rede trabecular; na tíbia, foram

demonstrados menor número de trabéculas, maior separação das trabéculas

e maior perda da homogeneidade trabecular. Estes achados são

consistentes com um estudo prévio com microTC de alta resolução em Hyp

mouse (modelo murino equivalente ao PHEX humano deficiente) (80) e in

vivo (77) e reforçam o efeito deletério da doença no componente trabecular

nos diferentes sítios no XLHR.

Ao separarmos os pacientes com XLHR por faixa etária, as alterações

de microarquitetura no rádio foram predominantes nos adultos, os quais não

estavam em vigência de fosfato. Ao contrário, as crianças, em tratamento

intensivo com fosfato, não apresentaram os mesmos déficits. Na tíbia, as

alterações na estrutura trabecular estiveram presentes nos dois grupos.

Estes achados podem sugerir o efeito benéfico do tratamento com fosfato na

microarquitetura óssea, sendo mais evidente no rádio pelo menor impacto

das cargas mecânicas.

Após a estratificação dos adultos pelo status metabólico, não houve

diferenças entre os pacientes com XLHR compensados e os não

compensados quanto às alterações na DMOv trabecular e aos parâmetros

estruturais encontrados em rádio e tíbia distais.

Curiosamente, na tíbia distal, os pacientes descompensados

apresentaram menor DMOv cortical do que os controles, enquanto os

pacientes compensados tiveram resultados similares aos controles. Cheung

et al comentam sobre o efeito positivo da aderência ao tratamento na

melhoria da mineralização dos componentes ósseos (79). Desta forma, em

nossa casuística, este achado indica que o tratamento efetivo pode

recuperar a mineralização nos pacientes com XLHR. Além disso, a região

óssea cortical seria restabelecida primariamente pelo tratamento, ao mesmo

tempo em que o componente trabecular teria menor capacidade de

regeneração por sofrer maior efeito deletério da doença.

Um diferencial deste estudo é a avaliação de parâmetros ósseos com

o uso conjunto de duas técnicas de imagem diferentes em uma casuística de

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! 63

pacientes com mutações no PHEX confirmadas por técnicas de biologia

molecular. Além do mais, a estratificação por grupos etários e status

metabólico trouxe novas informações sobre o XLHR. Entretanto, é

importante notar algumas limitações. Por exemplo, o tamanho da amostra e

a falta de um número maior de homens não permitiu a análise de possíveis

diferenças de gênero. Além disso, o desenho transversal do estudo limita a

interpretação das alterações a longo prazo com o manejo do tratamento.

5.4. Nefrocalcinose e nefrolitíase nos XLHR

Neste trabalho, a prevalência de NC confirmada pelos dois métodos

de imagem (US e TC) foi de 38,5% e, após a estratificação por faixa etária, o

grupo pediátrico teve maior prevalência de NC que o grupo adulto (56,3% vs

26,1%).

Na literatura médica, a prevalência de NC variou de 17 a 80% em

séries de pacientes com diagnóstico clínico de XLHR (61, 63, 81). Nestes

trabalhos, o diagnóstico de NC foi baseado apenas nos resultados da US, o

que confere menores sensibilidade e especificidade para o diagnóstico

comparada à utilização de duas técnicas radiológicas conjuntamente (43).

Ao analisar os resultados fornecidos por cada método de imagem,

notou-se que a US diagnosticou majoritariamente a NC em estágios mais

precoces (grau 1), enquanto a TC identificou maior proporção de casos mais

avançados (grau 2). Esta diferença se deve à maior sensibilidade da US e à

maior especificidade da TC no diagnóstico da NC (35, 43, 50).

Boyce et al explicam que pequenas agregações de cálcio e fosfato

atuam como fortes refletores de ondas sonoras, sendo assim detectadas

mais facilmente pelo US. Apesar disso, elas não possuem densidade

suficiente para absorver a radiação emitida pela TC e serem identificadas

neste estágio inicial de NC (35).

Embora o uso de ambos os métodos de imagem forneça maior

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! 64

acurácia no diagnóstico da NC (43), uma vantagem da US, particularmente

na faixa pediátrica, é a ausência dos efeitos deletérios a longo prazo

causados pela radiação empregada na TC (82). Assim, acreditamos que a

US é importante para a triagem e avaliação evolutiva dos casos de NC,

enquanto a TC tem papel fundamental na confirmação do diagnóstico.

Em relatos prévios, um dos principais fatores de risco considerados

para o desenvolvimento de NC é a hipercalciúria (61-63, 83). Entretanto,

nestes estudos, a maior parte dos pacientes teve o diagnóstico baseado

somente em dados clínicos e laboratoriais, podendo ter incluído outros tipos

de tubulopatias perdedoras de fósforo que cursam naturalmente com

hipercalciúria.

Diferentemente destes trabalhos, em nossa coorte, a hipercalciúria foi

encontrada em apenas uma paciente com NC durante o período no qual ela

desenvolveu hiperparatireoidismo terciário. Além disso, esta paciente

apresentava hipocitratúria e NL.

O baixo consumo de cálcio na dieta, a irregularidade no uso de

carbonato de cálcio e calcitriol pelos pacientes e o monitoramento constante

(medidas frequentes de calcemia, PTH e calciúria com ajustes das doses de

calcitriol e/ou sais de cálcio quando necessários) devem explicar este

resultado.

Embora a hipocitratúria seja considerada fator de risco para a

formação de NC (84), esta alteração metabólica não tem sido pesquisada

em indivíduos com XLHR. Apesar da detecção em um terço dos nossos

pacientes, a hipocitratúria esteve igualmente presente nos grupos com e

sem NC.

Nesta série, o principal fator de risco metabólico para a formação de

NC foi a sobrecarga renal de fosfato agravada pelo tratamento. Este dado é

realçado pela diferença da prevalência de NC entre o grupo pediátrico e o

grupo adulto (56,3% vs 26,1%). Além do mais, parte dos adultos não usaram

fosfato na infância e adolescência (39,1%) e aqueles que tomaram fosfato

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! 65

tiveram o início de tratamento mais tardio com o uso de doses menores que

as utilizadas atualmente e com menor regularidade.

Dados experimentais em coelhos, nos quais a gravidade da NC foi

diretamente proporcional às doses de fosfato ingeridas, confirmam in vivo o

efeito deletério da hiperfosfatúria sobre o tecido renal (85). Como em nossos

resultados, casuísticas menores e mais antigas sem o diagnóstico molecular

de XLHR também sugerem as repercussões danosas do uso do fosfato in

vivo (63, 83).

Apesar da importância da hiperfosfatúria na gênese da NC, não foi

possível estabelecer um valor de corte para a fosfatúria, a partir do qual

houvesse um maior risco de desenvolvimento de NC, particularmente nas

crianças em tratamento intensivo com fosfato. Isto deve ter ocorrido pelo

número limitado de pacientes e pelo desenho transversal do estudo, no qual

a análise da fosfatúria por um curto período de tempo não permite a

avaliação do efeito cumulativo desta.

O uso de fosfato agrava a hiperfosfatúria ao estimular a produção de

FGF23, mas é fundamental para a melhora da estatura final e atenuação das

deformidades esqueléticas dos pacientes com XLHR. Nossa paciente mais

jovem detectada com NC tinha três anos de idade. Nesse e em outros casos

de crianças com NC, consideramos a redução das doses do fosfato, mas a

manutenção das dosagens foram necessárias para a preservação da

velocidade de crescimento adequada, manutenção dos níveis dos

marcadores de formação óssea próximos aos valores de normalidade e

ausência de sinais radiológicos de raquitismo. A continuidade deste estudo,

por meio da avaliação evolutiva da US renal destas crianças, deve revelar

mais informações da história natural da NC em pacientes com XLHR.

Quatro pacientes adultos (4/15 = 26,7%), que não fizeram uso de

fosfato na infância e adolescência, desenvolveram NC; dos quais dois nunca

utilizaram esta medicação e não tinham hipocitratúria e/ou hipercalciúria.

Estes dados sugerem a influência da doença per si na gênese da NC no

XLHR pelo comprometimento da reabsorção de fosfato no túbulo proximal e

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! 66

consequente maior exposição do tecido renal ao fosfato independente do

tratamento.

Em contraste aos 38,5% de NC, 10,3% dos pacientes com XLHR

estudados tiveram NL, frequência superior à prevalência de NL na

população geral (37-39). Curiosamente, nenhuma criança foi diagnosticada

com NL, o que sugere uma menor influência da hiperfosfatúria no

desenvolvimento deste tipo de calcificação renal. Dos quatro pacientes com

NL, uma exibia hipocitratúria e outra tinha hipocitratúria e hipercalciúria

associadas. Apesar da amostra pequena, estes dados sugerem maior

impacto da hipocitratúria e da hipercalciúria na gênese da NL do que na

formação de NC em pacientes com XLHR. Adicionalmente, estudo recente

mostrou maior frequência de NL (15,3%) em relação à NC (10,2%)

associada à maior relação cálcio/creatina urinária em 177 pacientes com

hiperparatireoidismo primário (86).

A despeito da presença de NC e NL, a maioria dos pacientes não teve

alteração da função renal, o que indica um provável curso benigno dessas

calcificações. Mesmo com dados sugestivos da influência da doença per si

na gênese da NC e o agravo desta complicação pelo tratamento, a história

natural da NC e NL no XLHR ainda não está totalmente esclarecida.

Estudos longitudinais com o uso de anticorpo humano anti-FGF23

(KRN23) em pacientes com XLHR têm mostrado uma maior segurança e

efetividade deste novo recurso terapêutico (16, 17). Assim, esta nova

medicação deve mudar a história natural das calcificações renais

encontradas no XLHR devido à correção da hiperfosfatúria.

Os pontos fortes deste estudo foram: o maior tamanho da amostra

comparado a estudos prévios, o estudo de imagem realizado pela US e TC

conjuntamente, a homogeneidade da casuística devido à análise molecular e

o seguimento em um centro único. Entretanto, o desenho transversal limitou

a avaliação dos efeitos a longo prazo das complicações renais encontradas.

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6. CONCLUSÕES

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! 68

Nos nossos pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos de origem

genética mediados por FGF23:

• A baixa estatura desproporcionada foi uma característica fenotípica

marcante e a falta do uso de fosfato na infância e adolescência foi

determinante na sua ocorrência.

• O tratamento com fosfato na infância e adolescência teve um impacto

positivo na estatura dos pacientes embora a normalização estatural não

tenha sido atingida na maioria dos casos.

• A forma hereditária mais comum foi a XLHR devido à alta prevalência de

mutações identificadas no PHEX e este deve ser o primeiro gene

investigado neste grupo de pacientes.

Nos nossos pacientes com XLHR:

• Os valores de DMOa obtidos pela DXA devem ser analisados com

cautela devido às interferências de alterações anatômicas e

antropométricas.

• Segundo os dados obtidos por HR-pQCT, os comprometimentos da

DMOv e da microarquitetura óssea ocorreram principalmente às custas

do compartimento trabecular, sendo mais acentuados em tíbia em

relação ao rádio. Estas diferenças devem estar relacionadas às distintas

cargas mecânicas presentes nestes sítios.

• O tratamento intensivo com fosfato e/ou calcitriol parece ter um impacto

positivo na mineralização óssea, principalmente no compartimento

cortical.

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! 69

• Apesar da prevalência de NC e de NL serem superiores às encontradas

na população geral, seus portadores não cursam com prejuízo

significativo da função renal.

• O principal fator de risco metabólico associado à formação de NC foi a

hiperfosfatúria inerente à doença agravada pelo tratamento intensivo com

fosfato.

• A hipercalciúria e a hipocitratúria devem ser consideradas na gênese da

NL.

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!

7. ANEXOS

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! 71

ANEXO A - Primers para a avaliação da região codificadora dos genes

PHEX e FGF23 (tabelas 1 e 2)

Tabela 1 – Sequência dos primers para a avaliação da região codificadora

do gene PHEX, éxons amplificados e tamanho dos amplicons

Primers Sequência nucleotídea dos primers Éxon Tamanho dos amplicons

Phex 1F 5’ TTTCCTGACGGCAGTTTCTT 3’ 1 373 pb

Phex 1R 5’ ACCTATGAACGCAGGCAAAC 3’

Phex 2F 5’ TGGGTTTTGGAATACCGTGT 3’ 2 374 pb

Phex 2R 5’ GCTCCACTGTTTCACACCAA 3’

Phex 3F 5’ AAGGCTTGGAAACTGGTTGA 3’ 3 352 pb

Phex 3R 5’ AGTCATGCTTCAAATCCCAAA 3’

Phex 4F 5’ GTCTTTTCCAGGGTTGTCTGT 3’ 4 364 pb

Phex 4R 5’ TCCAGTCTTTCACAATCATTCC 3’

Phex 5F 5’ CCACCCCACCTCTTTTACCT 3’ 5 455 pb

Phex 5R 5’ ATGAGTCTCTTTCCCCAGGA 3’

Phex 6F 5’ AATATGGCTGGGATGCAGAC 3’ 6 294 pb

Phex 6R 5’ TCCTGCATTGGGAATATGGT 3’

Phex 7F 5’ GCACCATACTTTGAGTACAGAGTGA 3’ 7 398 pb

Phex 7R 5’ CAATGGGCAATGACACAAAA 3’

Phex 8F 5’ ATGCAGATGTTTTGGCACAT 3’ 8 339 pb

Phex 8R 5’ GGCATCCCAATACACAGACA 3’

Phex 9F 5’ GGATGGCAATGATCAGGAGT 3’ 9 444 pb

Phex 9R 5’ ACCGGGATTTTCCCTATGAC 3’

Phex 10F 5’ GGAGCTTTGCCAACTGTTTC 3’ 10 340 pb

Phex 10R 5’ GGCACACACACACACACAAA 3’

continua

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! 72

continuação

Primers Sequência nucleotídea dos primers Éxon Tamanho dos amplicons

Phex 11F 5’ GGGTTAGGGTGTGCAGTGTT 3’ 11 355 pb

Phex 11R 5’ GACAATACCCACAGGCCACT 3’

Phex 12F 5’ CAGAGCATGGAGTCAAGCTG 3’ 12 366 pb

Phex 12R 5’ TCTGGGGTCATTCAGAGTCA 3’

Phex 13F 5’ ATTTTTGCCCTTCACAGTGG 3’ 13 378 pb

Phex 13R 5’ CCTGGCATATTCAGGCTCAT 3’

Phex 14F 5’ CATGGCTTTGTGACTTCTGG 3’ 14 372 pb

Phex 14R 5’ AACTGGCAAGCCAGCTACTC 3’

Phex 15F 5’ GTCCAACATCCCCATTGTTC 3’ 15 312 pb

Phex 15R 5’ CAACCTTCCTTCACCAGCAT 3’

Phex 16F 5’ GAGGAGTGCCTTTCAGATGG 3’ 16 278 pb

Phex 16R 5’ TTCCATGGCTTCTTTCTGCT 3’

Phex 17F 5’ GCAGTTTATCTTGGCTTTCCA 3’ 17 338 pb

Phex 17R 5’ TTATTGCAAGCCATCACAGC 3’

Phex 18F 5’ TTTTGAAGGCTTGTCGAGGT 3’ 18 379 pb

Phex 18R 5’ TTCAGCAGGTATGGGGTAGG 3’

Phex 19F 5’ GCTGAGGATAGTTTGCCATCTT 3’ 19 398 pb

Phex 19R 5’ GGTCAATGGGGAGACACACT 3’

Phex 20F 5’ GGTGTACCTGCCTCACTGGT 3’ 20 391 pb

Phex 20R 5’ TGCTGAAAATCAAAGTCATGC 3’

Phex 21F 5’ CCTTCTACTCTGGGGATCAGA 3’ 21 393 pb

Phex 21R 5’ ATGGAAATCACACGTCCACA 3’

Phex 22F 5’ GGGCTTTAGTTGTCTCCCTGT 3’ 22 332 pb

Phex 22R 5’ TCTCCAGGCCTAAAGCAATG 3’

Tabela 2 - Sequência dos primers para a amplificação do éxon 3 do gene

FGF23 e tamanho do amplicon gerado

Primers Sequência nucleotídea dos primers Éxon Tamanho do amplicon

FGF23 3F 5’ GCTCAACGCCCTAAGAACTG 3’ 3 696 pb

FGF23 3R 5’ CCCAGAGAAGCAGCAAATTC 3’

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ANEXO B – Dados clínicos, laboratoriais e de imagem dos pacientes com

RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23 (figuras 1

e 2; tabelas 3 e 4)

Figura 1 - Heredograma da família I

Figura 2 - Heredograma da família II

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Tabela 3 – Características clínicas e laboratoriais dos pacientes com RQ/OM hipofosfatêmicos de origem genética mediados por FGF23

Família Paciente Sexo Idade (anos)

Estatura (Z)

Es/E (Z)

FGF23 (pg/mL)

P (mg/dL)

TRP (%)

FA (UI/L)

P1NP (ng/mL)

OC (ng/mL)

CTx (ng/mL)

RFG (ml/min/1,73 m2)

Ca (mg/dL)

Cai (mg/dL)

PTH (pg/mL)

25OHD (ng/mL)

1 F 76 -5,5 ND 152 2,3 70 110 88,7 24 0,29 60 10,0 5,6 90 432 M 39 -2,8 5,6 64 1,9 89 75 57,2 15 0,41 119 9,7 5,1 58 313 F 15 -2,2 1,5 81 2,8 76 213 292 49 2,06 142 9,3 4,8 83 284 F 11 -2,2 3,1 92 3,2 83 716 1038 119 3,56 185 9,8 5,2 102 175 F 7 -1,2 2,2 150 3,1 74 350 874 84 2,53 172 9,6 4,6 91 376 F 52 -3,6 4,6 58 2,2 84 78 31,2 17 0,25 112 9,0 4,7 105 267 F 33 -2,8 2,3 113 2,6 94 67 34,3 14 0,21 131 9,6 5,3 19 418 M 30 -4,0 8,9 64 2,1 80 180 92,3 50 0,75 149 9,6 5,1 111 239 F 4 0,8 1,4 68 3,0 94 403 1121 138 1,46 285 9,6 4,9 83 31

10 M 57 -3,2 8,0 89 1,7 85 114 43,5 26 0,48 126 9,0 4,6 87 3411 M 51 -2,6 7,0 99 1,9 78 93 60,8 29 0,53 108 9,5 4,6 90 4112 F 56 -5,1 6,0 65 2,4 89 171 73,7 19 0,40 119 9,8 5,1 137 2613 F 18 -3,9 3,7 98 2,2 86 209 143 53 0,91 138 9,2 4,8 88 2414 F 40 -2,4 3,7 72 2,5 94 69 35,1 13 0,18 133 9,4 5,2 43 3015 F 3 -2,3 1,2 79 3,0 90 533 1042 79 2,86 175 9,5 4,9 34 5416 F 32 -2,4 4,3 464 2,4 87 105 39,5 17 0,40 132 9,5 4,6 40 3517 M 12 -2,5 3,1 135 2,8 79 421 686 175 4,33 237 9,4 4,7 70 3718 F 41 -3,1 2,2 67 2,1 83 116 56,2 20 0,61 142 9,3 4,8 53 3819 M 7 -4,7 3,0 149 2,7 80 332 777 72 3,02 205 9,3 4,9 23 32

VIII 20 F 51 -3,7 3,7 53 1,9 62 107 48,4 29 0,68 117 9,4 4,8 118 12IX 21 F 3 -2,3 1,0 178 2,9 79 588 3132 176 2,43 252 9,7 5,2 72 59

22 M 9 -2,2 2,4 129 3,1 82 400 1116 143 3,10 149 9,8 5,0 26 4123 F 10 -1,5 6,3 129 2,8 69 434 928 99 3,23 212 9,4 4,9 157 3924 F 12 -0,4 2,1 197 2,8 64 416 821 103 2,11 167 9,8 4,6 46 4025 F 15 -4,3 4,7 60 2,9 86 436 988 116 5,01 149 9,2 5,0 141 4226 M 15 -2,8 7,6 108 2,0 64 733 1089 221 3,45 199 9,3 5,1 101 2727 F 17 -3,6 5,4 257 2,0 79 129 89,1 35 0,93 156 9,0 4,9 66 3628 F 17 -3,3 4,0 182 1,9 77 271 291 70 1,64 149 9,5 5,1 72 2029 F 21 -3,6 4,3 58 2,2 87 68 48,9 25 0,45 161 8,9 4,8 39 2530 F 23 -0,8 0,4 67 2,1 93 162 95,9 52 0,96 176 9,6 5,1 73 2131 M 23 -4,9 6,7 87 1,9 87 152 178 44 1,45 165 9,9 5,1 28 3932 F 25 -1,9 2,7 62 2,3 81 85 85,8 25 0,87 141 8,6 4,7 57 2933 F 27 -4,5 4,7 107 2,4 89 133 90,8 30 0,74 189 8,9 4,8 48 2434 F 29 -3,0 4,0 86 2,4 93 65 52,8 16 0,29 132 9,0 5,1 28 3335 F 29 -1,4 1,4 113 2,1 69 146 187 46 1,27 129 8,7 5,0 46 4636 M 30 -3,6 3,9 128 1,6 61 87 82,9 33 0,81 171 9,8 4,8 63 4537 F 31 -0,7 2,4 68 2,0 75 51 27,4 9 0,34 173 8,6 4,8 98 3438 F 32 -2,2 3,0 80 2,3 90 110 59,9 36 0,52 114 10,1 5,1 56 2939 F 37 -5,1 ND 89 2,5 93 193 59,7 17 0,32 158 8,5 5,3 40 2440 F 40 -5,2 3,7 77 2,2 91 45 28,4 11 0,26 115 9,2 4,6 54 2741 F 43 -6,2 ND 120 1,7 89 96 34,1 10 0,26 142 9,3 5,1 41 2042 F 45 -1,3 4,4 63 2,1 80 72 23,9 16 0,17 114 9,1 4,9 85 2243 M 54 -5,9 3,7 1241 1,4 76 164 91,2 13 0,30 140 10,1 5,2 86 2344 F 57 -5,8 7,2 800 1,5 61 58 30,0 20 0,30 92 9,6 4,9 42 5745 F 58 -5,2 4,5 107 2,3 87 67 41,5 15 0,38 115 9,4 4,9 30 2946 F 63 -3,4 0,1 94 2,8 74 43 30,6 11 0,35 39 8,6 4,9 77 3747 F 71 -4,5 4,2 487 2,7 76 100 40,0 24 0,43 77 9,8 5,1 18 40

10-50 1-12a: 3,4-6,2>12a: 2,7-4,5 >95

4-6a: < 2697-12a: < 300

13-17a: < 187 (F) e < 390 (M)>18a: 35-104 (F) e 40-129 (M)

Para adultos: F: 15,1-58,6M: 13,9-85,5

Para adultos: F: 11-43 M: 14-42

Para adultos: F: <0,57 M:<0,70

>902 a 12 a: 8,8-10,8

13 a 60 a: 8,4-10,261 a 90 a: 8,8-10,2

< 12a: 4,8-5,5 > 12a:4,6-5,3 15-65 >30Valores de referência:

I

II

III

IV

V

VI

VII

Esporádico

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Tabela 4 - Avaliação dos pacientes com XLHR e diagnóstico de NC e/ou NL e seus fatores de risco metabólicos

Nome NC NL Hipercalciúria Hipocitratúria Tratamento com fosfato

Na infância e adolescência

Idade de início (anos)

Duração (anos)

Crianças e adolescentes (n=9 de um total de 16) Paciente 3 Presente Não Não Não Presente 1 12 Paciente 4 Presente Não Não Não Presente 1 10 Paciente 9 Presente Não Não Presente Presente 1 3 Paciente 17 Presente Não Não Presente Presente 9 3 Paciente 21 Presente Não Não Não Presente 1 2 Paciente 22 Presente Não Não Presente Presente 2 7 Paciente 24 Presente Não Não Não Presente 5 7 Paciente 27 Presente Não Não Não Presente 3 15 Paciente 28 Presente Não Não Não Presente 4 13

Adultos (n=8 de um total de 23) Paciente 2 Presente Não Não Não Não 0 0 Paciente 11 Não Presente Não Não Presente 13 21 Paciente 16 Presente Presente Presente Presente Presente 3 9 Paciente 18 Presente Presente Não Não Não 0 0 Paciente 30 Presente Não Não Não Presente 5 15 Paciente 32 Não Presente Não Presente Presente 5 14 Paciente 44 Presente Não Não Não Não 49 6 Paciente 47 Presente Não Não Não Não 42 4

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ANEXO C – DMO, parâmetros geométricos e dados de microarquitetura óssea obtidos por DXA e HR-pQCT: comparação entre pacientes com XLHR e controles saudáveis (tabelas 5 a 9) Tabela 5 – DMOa obtida por DXA: comparação entre pacientes com XLHR e controles saudáveis

Sítios Pacientes (n)/Controles (n) DMOa (g/cm2) XLHR

DMOa (g/cm2) Controles p

L1-L4 38/38 1,17 [0,56;1,96] 0,99 [0,47;1,69] 0,03* Colo de fêmur 33/33 0,79±0,19 0,81±0,12 0,58 Fêmur total 33/33 0,91±0,17 0,90±0,13 0,83 Rádio ultradistal 37/37 0,44±0,10 0,42±0,09 0,38 1/3 distal de rádio 37/37 0,55±0,11 0,65±0,10 <0,01* Rádio distal total 37/37 0,50±0,11 0,54±0,09 0,19 Valores expressos em média±DP ou mediana [mínimo;máximo]; *p <0,05 foi considerado estatisticamente significante.

Tabela 6 – DMOa obtida por DXA: comparação entre pacientes com XLHR estratificados por faixa etária e controles saudáveis

Sítios Crianças Adultos

XLHR (n)/ Controles (n)

DMOa (g/cm2) XLHR

DMOa (g/cm2) Controles

p XLHR (n)/

Controles (n) DMOa (g/cm2)

XLHR DMOa (g/cm2)

Controles p

L1-L4 13/13 0,89±0,20 0,77±0,18 0,14 25/25 1,29 [0,76;1,96] 1,03 [0,82;1,69] <0,01* Colo de fêmur 11/11 0,72±0,12 0,73±0,11 0,74 22/22 0,83±0,20 0,85±0,11 0,63

Fêmur total 11/11 0,84±0,14 0,79±0,12 0,36 22/22 0,94±0,18 0,96±0,09 0,74

Rádio UD 12/12 0,38±0,08 0,33±0,07 0,14 25/25 0,46±0,10 0,46±0,06 0,81

1/3 distal de rádio 12/12 0,44±0,07 0,57±0,10 <0,01* 25/25 0,62 [0,33;0,82] 0,67 [0,55;0,86] <0,01* Rádio distal total 12/12 0,41±0,07 0,45±0,09 0,27 25/25 0,46±0,10 0,46±0,06 0,81

Corpo inteiro subtotal 12/12 0,73±0,12 0,78±0,14 0,39 - - - - Valores expressos em média±DP ou mediana [mínimo;máximo]; *p <0,05 foi considerado estatisticamente significante.

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Tabela 7 – Parâmetros geométricos, DMOv e dados de microarquitetura

óssea de rádio e tíbia distais obtidos por HR-pQCT: comparação entre

pacientes com XLHR e controles saudáveis

Parâmetros XLHR Controles p

Rádio distal n=38 n=38

Área óssea total (mm2) 293,4 [116,4;741,5] 281,3 [102,4;415,7] 0,22

Perímetro médio (mm) 72,8±13,9 71,4±10,7 0,63

Tb.area (mm2) 250,6 [83,4;661,4] 233,1 [82,2;356,6] 0,20

Ct.area (mm2) 46,8±25,1 43,6±22,8 0,55

Total vBMD (mg HA/cm3) 297,3±89,5 299,6±65,8 0,89

Tb vBMD (mg HA/cm3) 186,1±67,5 174,2±24,6 0,31

Ct vBMD (mg HA/cm3) 840,1 [401,7;1004,8] 850,0 [406,7;977,6] 0,65

BV/TV 0,15±0,05 0,14±0,02 0,31

Tb.N (mm-1) 1,90±0,51 2,13±0,26 0,01*

Tb.Th (mm) 0,07 [0,03;0,14] 0,06 [0,05;0,10] <0,01*

Tb.Sp (mm) 0,42 [0,26;0,97] 0,40 [0,29;0,51] 0,24

SD.1/Tb.N (mm) 0,21 [0,09;0,68] 0,16 [0,09;0,23] 0,02*

Ct.Th (mm) 0,62±0,32 0,60±0,30 0,70

Tíbia distal n=34 n=34

Área óssea total (mm2) 630,7±170,5 685,5±184,3 0,27

Perímetro médio (mm) 98,5±13,7 101,8±13,7 0,33

Tb.area (mm2) 524,6±168,9 566±169,5 0,32

Ct.area (mm2) 103,7±33,4 115,6±38,2 0,18

Total vBMD (mg HA/cm3) 261,4±78,9 297,4±43,2 0,02*

Tb vBMD (mg HA/cm3) 126,9±49,9 174,3±26,3 <0,01*

Ct vBMD (mg HA/cm3) 869,6 [649,6;1035,4] 895,7 [548,4;977] 0,27

BV/TV 0,10±0,04 0,14±0,02 <0,01*

Tb.N (mm-1) 1,31±0,50 1,86±0,39 <0,01*

Tb.Th (mm) 0,08 [0,04;0,12] 0,08 [0,06;0,11] 0,52

Tb.Sp (mm) 0,63 [0,33;1,94] 0,44 [0,30;0,74] <0,01*

SD.1/Tb.N (mm) 0,34 [0,13;1,99] 0,20 [0,11;0,43] <0,01*

Ct.Th (mm) 1,06±0,33 1,09±0,34 0,77 Valores expressos em média±DP ou mediana [mínimo;máximo];*p <0,05 foi considerado estatisticamente significante.

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Tabela 8 – Parâmetros geométricos, DMOv e dados de microarquitetura

óssea de rádio e tíbia distais obtidos por HR-pQCT: comparação entre

pacientes com XLHR estratificados por faixa etária e controles saudáveis

Valores expressos em média±DP ou mediana [mínimo;máximo];*p <0,05 foi considerado estatisticamente significante.!! !

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Tabela 9 – Parâmetros geométricos, DMOv e dados microarquitetura óssea

de rádio e tíbia distais obtidos por HR-pQCT: comparação entre pacientes

com XLHR estratificados por status metabólico e controles saudáveis

Valores expressos em média±DP ou mediana [mínimo;máximo];*p <0,05 foi considerado estatisticamente significante.

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8. REFERÊNCIAS

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