qut library, · 2013. 11. 6. · — jose carlos salata 195 estudos basicos para novos cruzamentos...

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QUT Library, Realizacao: COPERSUCAR Cooperativa Central dos Produtores de Acucar e Alcool do Estado de Sao Paulo Disclaimer: In some cases, the Million Book Project has been unable to trace the copyright owner. Items have been reproduced in good faith. We would be pleased to hear from the copyright owners. Queensland University of Technology. Brisbane, Australia

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  • QUT Library,

    Realizacao: COPERSUCAR Cooperativa Central dos Produtores de Acucar e Alcool do Estado de Sao Paulo

    Disclaimer: In some cases, the Million Book Project has been unable to trace the copyright owner. Items have been reproduced in good faith. We would be pleased to hear from the copyright owners. Queensland University of Technology. Brisbane, Australia

  • APRESENTACAO

    Data de varios anos o desenvolvimento do amplo e consistente programa da COPERSUCAR no aprimoramento de nossa tecnologia acucareira, abrangendo, em sua interdependencia, tanto a area agrfcola como a industrial.

    Sendo entao incipiente nosso estaigio tecnologico, exigiu-se a formacao de muitas equipes tecnico-cientfficas e a implantacao de uma vasta infra-estrutura operacional, representada por estacoes experimentais, laborat6rios, apareihagens, equipamentos altamente especializados, etc.

    Nao sem arduo e intenso trabalho, nem sern a inversao planejada de vultosos recur-sos humanos, tecnicos e financeiros, desenvolveu-se todo um laborioso e dinamico processo de grande envergadura e profundidade.

    A partir de entao, acumularam-se conhecimentos da maior importancia e extensao, representando um cabedal de estudos, pesquisas e experimentos, que abrangem desde o campo da assistencia tecnica e economica, agrfcola e industrial, ate o de-senvolvimento dos recursos humanos, do saneamento basico e das tecnicas da se-guranca agroindustrial.

    Apresentar, debater e consolidar uma grande parte desse acervo tecnico-cientifico sem paralelo no Pais foi, em suma, o objetivo, plenamente atingido, do III Seminairio COPERSUCAR da Agroindustria Acucareira.

    Por oportuno, vale destacar o imperativo do desenvolvimento tecnologico em nossa area, pois e ela, ao mesmo tempo, causa e efeito do prestigio e projecao do acucar brasileiro, no exterior, hoje posicionando o Brasit como o maior produtor de acucar de cana do mundo.

    Por outro lado, congregando 77 Usinas Cooperadas, a COPERSUCAR, responsavel pela metade da producao de acucar e dois tercos da de alcool no Brasil, esta certa do importante papel que Ihe cabe no desenvolvimento de uma tecnologia eminente-mente brasileira no setor.

    A notavel tarefa vencida, que teve seu ponto culminante neste Seminario e que alias ambiciona outros exitos e performances,tem no nome de seus tecnicos e cientistas — notadamente os Srs. Albert Mangelsdorf e John Payne — o credenciamento de sua alta importancia, tao bem caracterizada no conclave.

    Cabe registrar, tambem, que o III Seminario COPERSUCAR da Agroindustria Acuca-reira se salientou por sua finalidade de encontro preparat6rio para o congresso da In-ternational Society of Sugar-Cane Tecnologists, a se realizar em Sao Paulo em 1977.

    Ao Presidente do Instituto do Acucar e do Alcool, General Alvaro Tavares Carmo, cuja ilustre presenca e brilhante palestra inaugural tanto contribuiram para o exito do III Seminario COPERSUCAR da Agroindustria Agucareira, aqui consignamos o nosso especial agradecimento.

    COPERSUCAR Jorge Wolney Atalla Presidente

  • INDICE GERAL

    Perspectivas da producao e mercado acucareiros — General Alvaro Tavares Carmo 9

    Receitas para o desenvolvimento da agroindustria acucareira — Dr. Jorge Wolney Atalla 27

    Aspectos economicos da producao de cana, acucar e alcool — Julio Maria Martins Borges 37

    Pagamento da cana-de-acucar pelo teor de sacarose — Antonio Celso Sturion — Antonio Carlos Fernandes 79

    Organizacao e sistemas na agroindustria acucareira — Professor Waldemar Pinho de Mello 101

    Vantagens dos programas de seguranca agroindustrial — Joao Bidin 105

    Saneamento do meio, relacoes com o estado de saude e economico da comunidade — Professor Walter Engracia de Oliveira 111

    0 radar meteorologico — Professor Marcio Falcao Lopes 125

    Perspectivas tecnoldgicas do cultivo da cana — Dr. A. J. Mangelsdorf 185

    Consideracoes sobre obtencao de variedades — Jose Carlos Salata 195

    Estudos basicos para novos cruzamentos — Massahiro Nagumo 205

    Termoterapia em gemas isoladas para controle do raquitismo da soqueira — Wilson Marcelo da Silva 211

    Levantamento da intensidade de infestacao do complexo broca-podridoes do colmo da cana-de-acucar — Geraldo M. Andrade Silva — Renato M. Pompeo 219

    Influencia do ataque do complexo broca-podridoes na composicao da cana-de-acucar — Geraldo M. de Andrade Silva — Rogerio B. Campos 233

    Determinacao das perdas ocasionadas pelo complexo broca-podridoes na cana-de-acucar (resumo) — Geraldo M. de Andrade Silva — Antonio 0. Roccia — Rogerio B. Campos 241

    Controle biologico da broca da cana-de-acucar nas Usinas Cooperadas — F. Oscar Teran 245

    Nematoides e cana-de-acucar — Wilson Roberto Trevisan Novaretti 253

  • Controle de nematóides, principalmente do gênero meloidogyne spp -- Antônio O. Roccia 263

    Estudo da influência de dois tipos de calcários sobre a acidez do solo e a produção da cana-de-açúcar — Eduardo Guimarães - Isaltino Degaspari

    — Marcíl io do Amaral Gurgel — Oswaldo Alonso 279

    Estudos da profundidade de plantio para cana-de-açúcar Eduardo Guimarães Isaltino Degaspari

    — Marcílio do Amaral Gurgel 289

    Avaliação de produtos químicos (maturadores) para o controle da sacarose na cana-de-acúcar — Antônio Carlos Fernandes 297

    Estudos preliminares de dessecante em cana-de-açúcar (paraquat) Antônio Carlos Fernandes

    — Tomaz Caetano Ripoli 315

    Implementos de operações combinadas de subsolagens, adubação, cultivo e aplicação de herbicidas em cultivo de cana-de-açúcar -- José Roberto Dória de Vasconcelos 329

    Estudo comparativo entre três métodos de corte da cana-de-açúcar Tomaz Caetano Ripoli José Carlos Righi Carlos Alberto Pexe 335

    Estudos básicos para quantificação de colhedoras e veículos de transporte L. A. Balastreire

    — Tomaz Caetano Ripoli 345

    Critérios propostos para controle operacional e econômico de máquinas agrícolas — Tomaz Caetano Ripoli — Luiz Jonas de Castro 355

    Técnicas utilizadas no corte da cana-de-açúcar — José Carlos Ismael Righi 367

    Deterioração de toletes de cana-de-açúcar — Antônio Celso Sturion — Luciano Jorge Ferreira — Adilson José Rosseto 381

    Perspectivas tecnológicas da industrialização da cana — Dr. John H. Payne 389

    Moagem — Pierre M. A. M. Chenu 403

    Recomendações práticas para moagem — Deon J. L Hulett 431

    Moendas — detalhes de projeto do rolo de pressão t ipo "COPERSUCAR" — Sidney Brunelli 435

    Preparo de cana — descrição dos jogos de facas tipo "COPERSUCAR" — Sidney Brunelli 445,

  • Estudo preliminar do controle da infecção de moendas através de bactericida — Elmo da Silva 473

    Estudo sobre a neutralização do caldo de cana nas usinas de açúcar. III — qualidade da cal empregada nas usinas do Estado de São Paulo — Nadir Almeida da Glória — Elmo da Silva — A. Salmeron 495 Estudo sobre a neutralização do caldo de cana nas usinas de açúcar. IV — carbonatação e conservação da cal virgem — Nadir Almeida da Glória — Elmo da Silva — A. Salmeron 503

    Estudo da conservação da cal virgem — Elmo da Silva — Nadir Almeida da Glória 511

    Estudo sobre a composição das incrustações de usinas de açúcar e destilarias. II — levantamento da composição das incrustações durante a safra de 1973. — Nadir Almeida da Glória — Elmo da Silva — E. de Nadai Fernandes — A. R. de Almeida 521

    Estudos sobre a composição das incrustações de usinas de açúcar e destila-rias. III — relação entre a composição inorgânica dos caldos misto e clarifi-cado e das incrustações — Nadir Almeida da Glória — Elmo da Silva — E. de Nadai Fernandes — A. Salmeron — R. F. Santos 531

    Melhoria da eficiência da seção de cozimento — Florenal Zarpelon 533

    Sistemas de três massas — Divisão industrial da COPERSUCAR 541

    Estudos sobre cristais de massa cozida final — José Félíx Silva Júnior 597

    Balanço térmico e energético em usina de açúcar — Pierre M. A. M. Chenu 615

    Controle químico em usina de açúcar — W. G. Galbraith — John H. Payne — Ftorenal Zarpelon 631

    Determinação de cinzas em processo — José Félix Silva Júnior 641

    Efluentes líquidos de usinas de açúcar — Florenal Zarpelon — Armando V. Viotti — M. G. Oliveira 649

    Armazéns de açúcar — Pierre M. A. M. Chenu 665

  • PERSPECTIVAS DA PRODUÇÃO E MERCADO ACUCAREIROS

    General Álvaro Tavares Carmo (*)

    Meus Senhores,

    É com prazer que atendo hoje o amável e honroso convite da COPERSUCAR'para abrir este encontro, dirigindo-me a produtores de São Paulo e de todo o Brasil.

    Na direção do Instituto do Açúcar e do Álcool, desejo, de início, render minha home-nagem à pujante agroindústria açucareira deste Estado, que hoje ocupa uma posição de elevado destaque no contexto da economia nacional.

    Proponho-me uma rápida análise da situação atual da nossa agroindústria açucarei-ra, partindo das condições em que se encontrava no início desta década, para, em seguida, procurar discernir o seu futuro a médio prazo, isto é, até 1980, com base nos dados atualmente disponíveis.

    Para isso, tentaremos avaliar as dimensões futuras dos mercados — interno e exter-no — bem assim a capacidade de expansão de nossa indústria açucareira, em con-fronto com a de nossos principais concorrentes.

    Creio que, a uma administração de mais de cinco anos, se poderá permitir um ligeiro retrospecto do que foi feito nesse lustro, não para justificar possíveis erros ou acer-tos, mas para situar, na justa medida, os atuais problemas da agroindústria do açúcar no contexto da economia do país e no panorama mundial.

    No início de 1970 qualquer diagnóstico que se tentasse, com respeito às deficiên-cias da nossa agroindústria açucareira, acabaria, inevitavelmente, indicando os se-guintes pontos críticos, a exigir urgente terapêutica:

    • Uma superprodução, de caráter crônico, dando origem ao famigerado contingen-ciamento.

    • Uma baixa produtividade agrícola e industrial, embora variável de uma para outra região geoeconômica, de um Estado para outro e até de certa área para outra, dentro de um mesmo Estado.

    (*) Presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool.

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    • Uma producao extremamente onerada pelo alto custo financeiro, consequente de investimentos sem planejamento adequado e altamente nocivos.

    A baixa produtividade colocava a producao brasileira em posicao desvantajosa quan-do em confronto com a de outros paises grandes produtores de acucar de cana, como Australia e Africa do Sul, e ate com outros produtores latino-americanos.

    Havia urgencia em se atacar esse ponto crit ico, verdadeiro calcanhar-de-aquiles de toda a nossa agroindustria, e o Governo, por intermedio da Autarquia Acucareira es-tabeleceu as bases de um amplo planejamento, abrangendo tanto a area industrial como a area agricola, dando-Ihe respaldo legal na Lei n0 5.654, de 14 de maio de 1971, e em dois decretos-lei que devem ser considerados verdadeiros marcosquan-do for escrita a hist6ria desta agroindustria nos anos 70. Refiro-me ao Decreto-lei n0 1.186, de 27 de agosto de 1971, complementado posteriormente pelo Decreto-lei n0 1.266, de 26 de marco de 1973.

    Em sintese, propunha-se o Governo criar condigoes para que a empresa privada pu-desse realizar na area industrial:

    • A eliminacao das pequenas faibricas antieconomicas e inviaveis, atraves de fusoes, incorporates e relocalizacoes, visando a economia de escala, com a criacao de centrais agucareiras de porte medio ou grande, dentro dos padroes internacionais, isto e, acima de 40 mil toneladas de producao anual.

    •A modernizacao do parque industrial existente, onde nao fossem aconselhadas as operacoes acima indicadas.

    Paralelamente, na cirea agricola, o Governo se propos promover a extensao, em cara-ter nacional, das iniciativas privadas e dispersas ja existentes, visando a implantacao e execucao de projetos de pesquisa integrados, nos campos da generics, da fitossa-nidade e da agronomia, com o prop6sito de obter novas variedades de cana-de-acucar, ecologicamente especializadas e de elevados indices de produtividade agri-cola e industrial.

    A esse programa chamou-se Planalsucar e sua execupao, podemos afirmar, constitui hoje algo que ja repercute nos meios especializados do exterior como um modelo de planejamento e organizacao.

    Criou, assim, o Governo, todo um sistema de estimulos fiscais e financeiros para que a empresa privada pudesse transformar a sua estrutura arcaica, muitas vezes obsole-ta, numa industria moderna e de alta rentabilidade, ao mesmo tempo que assumia diretamente os onus de promover, atraves de pesquisa tecnol6gica, a melhoria dos padroes de produtividade da lavoura canavieira.

    E evidente que um programa de tais proporcoes exigiria recursos ponderaveis e mui-tos anos, para que fossem atingidos os seus objetivos basicos.

    0 que, em 1972, tinha em mente o Governo, nada mais era do que implantar as ba-ses da modernizacao de toda uma atividade economica que apresentava ja alguns si-nais de deterioracao, em geral atribuidos aos baixos precos fixados para a comercia-

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    lizacao do produto. Era, em outras palavras, dar apenas o primeiro passo naquilo que, em condicoes normais, seria certamente uma longa e aspera jornada.

    Mas eis que, na segunda metade de 1973, algo de novo, e ate certo ponto imprevisi-vel, comecou a acontecer no mundo apucareiro internacional.

    A classica situacao de superproducao que caracterizava a economia do acucar cedeu lugar a uma nova conjuntura, caracterizada pela escassez do produto.

    A posicao estatistica alterada em favor do produtor logo se refletiu nos precos inter--nacionais, que iniciaram uma tendencia altista incontrolavel, ate atingir, em no-vembro de 1974, indices jamais imaginados.

    Urn ano antes, em outubro de 1 973, a reuniao promovida pela UNCTAD para a rene-gociapao do Acordo Internacional do Acucar se havia desfeito, ja sob a influencia das novas tendencias da conjuntura apucareira mundial, sem que se chegasse a qualquer acordo entre os representantes dos paises exportadores e importadores.

    Em consequencia, extinto o regime de cotas, paises que, como o Brasil, estavam com a sua produpao fortemente recalcada, puderam exportar livremente seus esto-ques acumulados. Para n6s, isto representou a possibilidade de embarcar cerca de 3 milhoes de toneladas metricas, ainda no mesmo ano de 1973.

    0 fantasma do contingenciamento foi, pela primeira vez em muitos anos, escorraca-do para a regiao das sombras, de onde jamais sairia, segundo o desejo de todos.

    Mas uma das mais positivas conseqiiencias dos altos precos foram os saldos Vulto-sos que comecaram a aparecer no Fundo Especial de Exportacao e cuja aplicacao foi , desde logo, disciplinada pelo Decreto-lei n0 1.266, de 26 de marco de 1973, e por resolucoes do Conselho Monetario Nacional.

    Fixaram esses instrumentos legais as normas para que a inversao de substancial par-te desses saldos nos financiamentos a empresa privada se fizesse em condicoes ex-tremamente favorciveis, entre as quais avulta a ausencia de qualquer correcao mone-taria nos retornos do capital investido, a realizar-se ate daqui a dez anos, ou mesmo mais tarde.

    De tudo resultou que foi possivel, sem duvida gracas a uma conjuntura internacional favoravel, apressar o ritmo do processo de modemizacao, tanto industrial como agri-cola. Destaque-se, porem, o fato de que essa conjuntura ja encontrou a agroindustria apucareira nacional com planejamento adequado para colher os beneficios da nova situapao, tornando assim possivel, com alguma antecipapao em relacao aos seus concorrentes externos, o inicio do processo de correqao de suas deficiencias, o que Ihe dara a potencialidade necessaria para enfrentar, no fu ture uma conjuntura me-nos promissora.

    Os resultados dessa politica governamental, nao obstante tao polemizada, atingiram, a 31 de margo ultimo, valores que merecem ser revelados, para a devida meditacao:

    • Em financiamentos de fusoes, incorporagoes, relocalizapoes ou modernizagoes de usinas: 4,8 bilhdes de cruzeiros.

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    • Em financiamentos a lavoura para incorporagao de novas cotas, mSquinas e equi-pamentos agrfcolas etc.: 854 milhoes de cruzeiros.

    0 processo, ainda em plena evolugao, ja envolve 155 usinas do pais ou seja, quase 70% das que existem atualmente.

    Nao estao inclufdos acima os vencimentos do Planalsucar, na infra-estrutra de ex-portagao e os emprestimos para reforgo do capital de giro das Cooperativas de Pro-dutores, com o que se elevaria as cifras ao respeitcivel montante de 7,4 bilhSes de cruzeiros, ou seja, perto de 1 bilhcio de ddlares.

    Podemos afirmar, sem receio de contestag3o, que nenhum pais produtor de agucar investiu nesta atividade econ6mica, nos ultimos tres anos, qualquer coisa que se aproxime desse montante. E note-se que o fizemos nao ainda em feibricas novas mas tao-somente na reforma do parque industrial existente e na expansjio da produgSo agricola necessa>ia a nova capacidade fabril que se estS instalando.

    Penso, com os elementos acima, ter estabelecido a base de partida para a anaMise que me propus.

    Entendamos preliminarmente que, como resultado de todo este processo moderniza-dor, podemos esperar um aumento de capacidade instalada, em termos globais, da ordem de 50% em relagao a atual produgSo, ao passo que a expansao da produgao agrfcola tera" de ser compatfvel com a nova situapao industrial.

    Admitindo que pelo menos a maioria das usinas remanescentes venha a ingressar no processo de modemizagao, tomando o ano de 1980 como meta por coincidir com os objetivos do II PND, somos levados a considerar que a produgao brasileira de agucar podera alcangar, no fim desta d^cada, em termos globais, 10 milhoes de toneladas metricas, ou seja, cerca de 1 70 milhoes de sacos, com um acrescimo de 55 milhoes em relagao a produgao da atual safra 1974-75, que sera" de 115 milhoes de sacos, aproximadamente.

    A esta altura, a indagagao que se impoe, e que, acredito, corresponde a grande preo-cupagao dos empresSrios, nao s6 de Sao Paulo como de todo o Brasil, e com respei-to a capacidade de absorgao do mercado de agOcar face a esse aumento previsivel da produgao nacional.

    0 problema comporta uma an£lise que visualize, sucessivamente, o mercado interno e as possibilidades do mercado externo.

    0 consumo de agucar per capita, no Brasil, embora sempre ascendente, n§otem tido um comportamento linear e uniforme.

    Em 1946, segundo informam as estatisticas, era de 20,6 kg e, dez anos mais tarde, de 33,1 kg. Decorridos outros dez anos, em 1 966, o consumo era apenas de 35 kg, o que indica um ritmo de crescimento muito mais lento do que na decada anterior.

    Em 1970 ja se verificava um indice de 37,90 kg e, finalmente, em 1974, o consumo per capita alcangava 41,20 kg, o que signifioa exatamente o dobro do de 1946, por-tanto 28 anos antes.

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    Se projetarmos, ate 1980, o ritrno de crescimento dos ultimos cinco anos, que pode ser considerado normal no estagio de desenvolvimento do pats, o indice de 1974, iremos encontrar um consumo per capita da ordem de 46 kg (valor cru) que, multipli-cado pela provavel populagao do Brasil, no fim desta decada, que segundo a previ-sao do II PND sera de 125 milhoes de habitantes, nos dara um consumo interno glo-bal da ordem de 5,75 milhoes de toneladas metricas.

    Mas esse consumo per capita esta sujeito a uma serie de fatores que poderao influencia-lo para mais ou para menos.

    E ele, em primeiro lugar, funcao do padrao de vida do povo e de seus habitos alimen-tares tradicionais, mas, por outro lado, podera ser influenciado fortemente pelas va-riacoes de prego do produto.

    No caso brasileiro, por exemplo, o ritmo de crescimento esta estreitamente vincula-do as epocas em que o produto foi mais acessivel a bolsa do consumidor, como e, sem duvida, a epoca atual, ou aqueles momentos em que o surto do desenvolvimen-to econ&mico foi mais visivel.

    Na China continental, com seus 800 milhoes de habitantes, o consumo de agucar per capita nao alcanca o indice de 5 kg, evidentemente porfalta de habito com res-peito a este tipo de alimento.

    Ainda na Asia, vamos encontrar o Japao, pais industrializado e de alto padrao de vi-da, consumindo apenas 30 kg per capita, menos do que o consumidor brasileiro.

    A media do consumo de agucar por habitante na Europa, da ordem de 40 kg, e tam-bem inferior a verificada atualmente no Brasil.

    Por outro lado, nos Estados Unidos, um dos paises em que o consumo e mais eleva-do, sobretudo sob a forma de produtos industrializados, o indice per capita e de 50 kg anuais.

    Fizemos esta digressao apenas para assinalar que, embora os indices brasileiros de consumo de agucarja sejam bastante satisfat6rios, mesmo num confronto com pai-ses plenamente desenvolvidos, pode-se esperar um acrescimo substancial no consu-mo per capita, devido ao ritmo de crescimento acelerado da economia do pais nos ultimos anos — que, tudo leva a crer, se projetara ate o fim da decada — e ao fato de que ainda estamos longe de atingir aquele ponto de saturagao fisiologica que os especialistas costumam situar em 50 kg anuais por pessoa, exatamente o indice americano atual.

    Nao sera demais lembrar que a participagao do agucar sob a forma industrializada no total do nosso consumo interno e\ ainda, bastante reduzida, ao contrario do que se verifica nos paises mais desenvolvidos, com alto padrao de vida, como e o caso dos Estados Unidos, onde esse consumo, atraves de sorvetes, refrigerantes, chocolates etc., atinge 80% do total, restando 20% para o consumo direto, dito familiar, da dona de casa.

    O campo que se abre, pois, para o consumo domestico de agucar e ainda bastante ampio, na medida em que a elevagao do padrao de vida do povo resulte num maior consumo do produto sob a forma industrializada.

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    Voltando a encarar o problema do ponto de vista global e nao individual, o outro fa-tor a se levar em conta, isto e, o crescimento vegetativo da populacao, avaliada, con-forme o II PND, em 125 milhoes para 1980, parece-nos de imediata aceitacao, dis-pensando maiores consideragoes, de modo que a perspectiva de urn consumo do-mestico da ordem de 5,75 milhoes de toneladas metricas (valor cru) foi considerada vi£vel e serviu de base ao planejamento do aumento de producao, ora em estudo na Autarquia.

    E importante ainda, com respeito a capacidade de absorpao de nosso mercado inter-no, urn outro aspecto que convem focalizar, pois se trata de assunto sujeito a contro-versia.

    Refiro-me a politica de baixos precos internos para o acucar, em vigor ha alguns anos, em decorrencia do esforgo antiinflacionario do Governo Federal, politica que, estimulando o consumo interno, estaria d iminuindo as disponibilidades para a expor-tacao, numa conjuntura internacional favoravel, como e a atual.

    Nao posso, nem devo, abordar aqui a debatida questao da remuneracao insuficiente que tal politica estaria acarretando para o produtor, problema que, a meu ver, encon-traria solucao adequada no aumento da produtividade agricola e industrial.

    Gostaria, no entanto, de externar o meu ponto de vista pessoal a respeito do outro aspecto da questao, isto é o que se refere ao est imulo que esta politica esta de fato proporcionando para um maior consumo doméstico.

    Sou inteiramente favoravel a um mercado interno de acucar o mais amplo possivel, particularmente no nosso caso, dada a carencia de outros elementos energeticos ao alcance da reduzida capacidade aquisitiva do consumidor medio brasileiro.

    Se pudesse apresentar indices de consumo relativos a outros alimentos — sobretu-do os que Ihe fornecem protemas — semelhantes aos do acucar, o nosso povo seria um dos mais bem alimentados do mundo, mesmo em confronto com os povos dos paises mais evolu'idos e industrializados, com indices de higidez muito mais satisfa-torios do que hoje em dia.

    Tirar-lhe, pois, a possibilidade de consumir, com relativa largueza, um importante ali-mento, do qual o pais e o maior produtor mundial, em beneficio de um eventual au-mento na pauta da exportacao, parece-me um contra-senso, muito embora tal polit i-ca tenha seus defensores.

    Mas há ainda um outro forte argumento a favor de um amplo mercado interno.

    Exportando hoje cerca de 1/3 do apucar produzido e consumindo no mercado interno os 2/3 restantes tern a nossa agroindustria acucareira uma solida base para a colo-cac2o de sua producao. Base segura e estável que a coloca a salvo, em grande parte, das vicissitudes do mercado internacional e de suas bruscas oscilacoes, muitas vezes imprevisfveis.

    0 mesmo nao acontece com outros grandes produtores, como, por exemplo, Cuba, que exporta 90% de seu acucar e tern nesse produto a base de seu comercio externo.

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    ou a Australia, outro grande produtor, que exporta 75% de sua producáo total, ou ainda a Republica Dominicana, exportando 85% do que produz e na inteira depen-dencia desse produto para o equilibrio de sua balanca comercial.

    E certo, porem, que a longo ou mesmo a medio prazo, esta posicao invejável quanto a proporcao do que se consome internamente e do que se exporta, em termos de acucar, dificilmente poderá ser mantida, visto que o mercado externo, de dimensoes muito mais amplas, oferece maiores oportunidades para a expansao do que o merca-do interno. Nao obstante, nao nos parece aconselháivel precipitar, atraves de uma politica inadequada, a inversao da situacao atual.

    Essas sao, pois, as perspectivas do nosso mercado domestico, analisadas e expostas com as limitagoes inerentes ao reduzido tempo de que dispomos.

    Passaremos agora a examinar as possibilidades do nosso acucar no mercado exter-no, isto e, no chamado mercado livre mundial, uma vez que, com a extincao do Sugar Act , a 31 de dezembro de 1 974, interrompeu-se a nossa exportacao direta com des-t ino ao mercado americano, e toda a nossa producao exportável terá de ser comer-cializada no referido mercado livre mundial.

    Estima-se que a capacidade de absorpao desse mercado, no corrente ano, seja da or-dem de 16 milhoes de toneladas mátricas, ai já incluidas as necessidades de impor-tapáo dos Estados Unidos, avaliadas em 5 milhoes de toneladas, e que nossa partici-pacao possa atingir 2,5 milhoes de toneladas, ou seja. praticamente 1 5,5% do mes-mo mercado.

    Tentaremos avaliar as dimensoes do mercado livre mundial dentro de um lustro, con-siderando que qualquer estimativa alem de 1980 será creditada a futurologia, cien-cia um tanto desacreditada desde que nao conseguiu prever nem a nova politica de precos dos produtores de petroleo nem a atual depressao economica mundial, su-bestimando, por outro lado, de modo um tanto primário, o ritmo de desenvolvimento da economia brasileira.

    Nesta analise, e obvio que tomaremos como ponto de partida a conjuntura atual, mas nao nos devemos fixar, atribuindo-lhes maior importáncia, nas flutuacoes exces-sivas que vem caracterizando as cotacoes do produto, visto que essas oscilacoes nao traduzem a verdadeira posicáo estatistica, e podemos considerar tao anormal os al-tos indices de novembro de 1974 como os dos ultimos dias, inferiores aqueles em mais de 50%.

    E sabido que o mercado internacional do acucar e extremamente sensivel a influen-cias diversas que, freqiientemente, Ihe emprestam uma imagem irreal e distorcida.

    Tentaremos colocar-nos numa posicao que permita uma visao tao panorámica quan-to possivel, e, para interpretar corretamente a atual conjuntura, lembramos o que já" dissemos anteriormente: o acucar foi, tradicionalmente, um produto com tendencia a superproducao, exceto nas raras ocasioes em que a oferta foi prejudicada por fa-tores climaticos desfavoraveis.

    Os diversos acordos internacionais que se sucederam, congregando nao sá os paises exportadores como tambem os importadores. decorreram dessa situacao cronica

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    que explica, por outro lado, a política de controle sobre a produção que, em maior ou menor grau, sempre adotaram os principais países produtores e que, entre nós, deu origem à criação do Instituto do Açúcar e do Álcool.

    Essa tendência para a superprodução era fator preponderante para a deterioração dos preços do produto, tão baixos, por vezes — como, por exemplo, no início da dé-cada de 60 —, que o açúcar se tornou gravoso para muitos países produtores, inclu-sive o Brasil.

    Foi numa dessas emergências que se criou o Fundo Especial de Exportação, como medida de amparo ao produtor, assegurando-lhe a continuação de sua atividade que, de outro modo, se ressentiria profundamente, não obstante o volume então exporta-do não atingir 25% da produção total do país.

    Desde o início dos anos 70, no entanto, a situação do açúcar experimentou acentua-da melhora no mercado internacional, com preços mais favoráveis para o produtor.

    Essa nova tendência, porém, não podia ainda ser atribuída a um aumento sensível do consumo mundial, devendo-se, antes, às safras prejudicadas por fatores climáticos, como ocorreu naquela época com a URSS e Cuba.

    No segundo semestre de 1973, representantes dos países exportadores e importa-dores reuniram-se em Genebra, sob os auspícios da UNCTAD, para renegociar o Acordo, cuja vigência deveria extinguir-se a 31 de dezembro do mesmo ano, e um dos pontos fundamentais da discussão seria o estabelecimento de novas cotas de exportação para cada país signatário, bem como a f ixação de uma nova faixa de pre-ços.

    0 clima da conferência era, então, bem diferente do reinante em 1968, época da as-sinatura do Acordo prestes a expirar, isso porque o mercado internacional de açúcar já começava a definir tendência francamente favorável aos vendedores.

    Não obstante, os países exportadores, inseguros quanto ao futuro, defendiam a pror-rogação do Acordo em bases realísticas e consoantes com nova conjuntura, propon-do uma faixa de preços que oscilaria entre um mínimo de 110 dólares (obrigação de compra) e uma máximo de 264 dólares (obrigação de suprimento) por tonelada mé-trica.

    Mais inseguros ainda do que os exportadores, os representantes dos países importa-dores, liderados pelo Canadá e pelo Japão, rejeitaram a modesta proposta, daí resul-tando a impossibilidade de renovação do Acordo.

    Naquela ocasião, o Brasil, cuja exportação passara de 1 milhão de toneladas métri-cas para 2,6 milhões em 1972, e caminhava para fechar o ano de 1973 com cerca de 3 milhões de toneladas — performance que só foi possível graças ao regime de cotas liberadas e à utilização dos estoques então disponíveis —, definia a sua posi-ção pela palavra do chefe da delegação e presidente do IAA, nos seguintes termos:

    "Nunca fomos partidários de uma política altista quanto aos preços do açú-car. Achamos, ao contrário, que o ideal seria um preço flexível que, sem fu-

  • 17

    gir as leis econõmicas da oferta e da demanda, pudesse oscilar dentro de li-mites razoaveis, cujo máximo nao seja um desestimulo para o consumo e cujo minimo nao venha a ser desencorajador para os que produzem".

    Nao obstante, o que se passou depois no mercado internacional do acucar foi total-mente inedito e imprevisivel, escapando mesmo a minuciosa ancilise do Comite de Estatistica da OIA: uma pressao inesperada e sem precedentes da demanda que acarretou desde logo uma tendencia altista incontrolSvel, fazendo com que os precos se elevassem ate atingir os altos indices de novembro de 1974, ao passo que os es-toques mundiais baixavam a niveis perigosos, situagao que persiste ate o momen-to: 15 milhoes de toneladas metricas para um consumo de 80 milhoes. ou seja, me-nos de 20%, o limite tecnico considerado indispenseivel a seguranca do abasteci-mento mundial.

    Mas o importante e constatar que a causa fundamental dessa nova posicao estatisti-ca era de ordem estrutural e nao conjuntural: tratava-se de um sensivel aumento do consumo mundial, sobretudo nos pafses em desenvolvimento, cujo ritmo a producao nao estava em condicoes de atender.

    A verdade e que, no momento, se verifica uma sensivel queda nesse mesmo consu-mo, sobretudo em determinados pafses grandes importadores, dando a impressao de que se atingiu o ponto de reversao, ou melhor, da inversao das tendencias do merca do.

    E fato,porem, que a posicao estatistica ainda nao foi sensivelmente alterada e tudo leva a crer que, tao logo desaparecam as causas circunstanciais que sao identifica-das, nSo como um aumento da oferta em termos mundiais, que alias continua escas-sa, mas sim como uma queda do consumo, devido nao so aos precos excessivamen-te altos do fim do ano proximo passado, mas tambem a depressao economica que atingiu os paises altamente desenvolvidos e industrializados, nao so da Europa como os Estados Unidos e o Japao, a real posicao estatistica ha de prevalecer, dai resul-tando precos estaiveis e estimulantes nao so para o consumidor como para o produ-tor.

    0 que, no entanto, interessa a nossa analise nao sao propriamente as circunstancias do momento atual mas o que podera ocorrer no mercado internacional do acucar dentro dos proximos cinco anos e, para chegar a isso, impoe-se uma visao retrospec-tiva do consumo mundial nos ultimos anos.

    Esse consumo, informam as estatisticas, seguiu uma tendencia regular de cresci-mento durante a decada de 60, constatando-se um aumento m6dio anual de 3,94% tanto na primeira metade da decada como na seguinte.

    Em valores absolutos, esse consumo passou de 53 milhoes de toneladas metricas em 1961 para 72 milhoes em 1970, um aumento, portanto, de 19 milhoes de tone-ladas em dez anos.

    Esse crescimento resultou nao s6 do aumento vegetativo da populacao mundial mas tambem do aumento do consumo per capita.

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    Durante a decada de 60, a populacao mundial cresceu, em media,2% ao ano, ao pas-so que o aumento de consumo de agucar foi de quase duas vezes mais, demonstran-do que, durante este perfodo, o aumento per capita foi um fator tao importante quan-to o crescimento vegetativo da populacao.

    Para a presente decada de 70, as previsoes da ONU sobre o aumento da populapao mundial s3o de 11% para o perfodo 1970-75 e de 10,2% entre 1975 e 1980.

    Quanto as previsdes do consumo per capita, o segundo elemento para o calculo do consumo global, e necessario ter em conta que ele e influenciado por diversos fato-res.

    Como ja vimos anteriormente, ha" uma especie de "teto fisiologico" que se admite estar em torno de 50 kg por pessoa. Uma vez atingido este nfvel, o aumento do con-sumo passa a depender apenas do aumento da populacao.

    Alem disso, o consumo per capita e altamente influenciado pelo fator preco.

    Nao obstante essas dificuldades, varias organizacoes especializadas fizeram suas previsoes para o consumo mundial de acucar em 1980.

    F. 0. Licht, por exemplo, previu em 1970 um aumento, nesta decada, igual ao da de-cada anterior, isto e, de 3,9%. Isto daria para 1980 um total de 100 milhoes de tone-ladas metricas, no minimo, abrangendo o consumo interno de todos os paises, os di-versos mercados preferenciais e o mercado livre mundial.

    Na verdade, essas previsoes nao se confirmaram ate 1974, e«e profunda depressao economica mundial, prejudicando sensivelmente o consumo de acucar em muitos paises, como ja tivemos ocasiao de registrar, mudou sensivelmente as previsoes do inicio da decada.

    Mais recentemente, no Coloquio Internacional do Acucar, realizado em Londres, em marco ultimo, o Dr. Albert Viton, chefe da Divisao de Acucar da FAO, revendo seus estudos anteriores e levando em conta todos os fatores que, a seu ver, poderao inter-ferir no consumo mundial de acucar, coloca a sua previsao para 1980 numa faixa en-tre 88,5 e 89,5 milhdes de toneladas metricas apenas, formulando duas hipoteses sobre o comportamento dos precos: a primeira seria a da vigencia de precos "nor-mais" ou "reais" e daria a maior demanda; a segunda seria a de precos "duros", isto e, excessivos para o consumidor, e corresponderia ao menor consumo.

    As previsoes do Dr. Viton, no entanto, foram consideradas um tanto pessimistas em outros depoimentos feitos no mesmo Coloquio de Londres. nos quais se lembra a ne-cessidade de reajustar os estoques de seguranca, de modo a atingir os 20% do con-sumo mundial, o que, por si s6, elevaria as previsdes do tecnico da FAO em 1 milhao de toneladas, no minimo.

    E preciso, por outro lado, esclarecer que, em seus calculos, o Dr. Viton, realistica-mente, admite que parte das necessidades de acucar pode ser satisfeita pelo aumen-to da producao de edulcorantes caloricos e nao-caloricos, producao esta estimulada pelos altos precos alcancados pela sacarose.

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    Nos Estados Unidos, por exemplo, o xarope de milho, rico em frutose, aparece como concorrente da sacarose para suprir as necessidades energeticas do consumidor.

    Essas substituigoes, porem, tem suas limitagoes, citando-se entre outras o alto pre-go das materias-primas, os habitos alimentares arraigados etc., de modo que, embo-ra nao desprezivel, a concorrencia dos edulcorantes nio chega ainda a ser alarmante, e so o sera se os precos excessivamente altos do acucar virem a impedir praticamen-te o seu consumo

    admite do con-

    im suas

    As atuais previsoes do Dr. Viton, mais modestas do que as feitas dois anos atras, ad-mitem, ainda assim, um acrescimo do consumo mundial, nesta decada, entre 16,5 e 16,7 milhoes de toneladas metricas e, proporcionalmente, um mercado livre mundial capaz de absorver em 1980 cerca de 18,6 milhoes de toneladas de agucar.

    A fatia da exportacao brasileira, guardado o atual percentual de nossa participacao no mercado livre, seria entao da ordem de 3 milhoes de toneladas metricas apenas, mas, nesse computo, ha que se admitir a interferencia dos fatores decorrentes da enorme potencialidade da agroindustria agucareira nacional e da praticamente ilimi-tada capacidade de expansao de suas lavouras em areas ecologicamente aptas, fato-res que, devidamente considerados, indicam que a nossa participao futura no mer-cado livre mundial nao pode ser calculada com base apenas na divisao proporcional ja existente no mercado atual.

    Em outras palavras, quero dizer com isto que teremos de disputar a nossa fatia com nossos concorrentes, dispondo no entanto de condigoes excepcionais para faze-lo.

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    Resta-nos agora examinar as perspectivas da produao mundial e, com os dados dis-ponfveis, compara-las com as futuras necessidades do consumo, nas bases acima formuladas.

    E fora de duvida que altos pregos durante largos perfodos de tempo incentivam in-vestimentos, estimulam a expansao das lavouras e outros empreendimentos indus-trials, tanto na modernizacao do parque ja existente, como estamos fazendo no Bra-sil, quanto em faibricas totalmente novas.

    E muito mais provavel que essa expansao venha a ocorrer mais na area da cana do que na da beterraba, devido ao alto custo da terra ja" em disputa com outros tipos de lavoura e o custo industrial de produgao cada vez mais alto, seguramente muito mais elevado do que o da produgao oriunda da cana-de-agucar.

    Os paises tropicais e subtropicais, em geral subdesenvolvidos, dispoem, em regra, de recursos abundantes em terras ecologicamente aptas para o cultivo da cana e tern ainda mao-de-obra farta e barata, podendo aumentar a sua producao apenas com melhor tecnologia.

    Para esses paises, a produgSo de agucar, e mesmo a expans§o do que produzem atualmente, nao deixa de ser atraente, na medida em que proporcional empregos para centenas de milhares de pessoas.

    Mas essa expansao esbarra fundamentalmente num obstaculo intransponivel para muitos deles: o alto custo do investimento.O capital dom6stico e insuficiente ou en-

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    contra aplicacoes mais atraentes e de mais facil retorno, ao passo que o capital es-trangeiro 6, nao raro, visto com reservas quando se propoe correr o risco que em-preendimentos dessa natureza sempre apresentam, inclusive os de ordem polftica.

    0 conferencista que se ocupou dos aspectos tecnicos e financeiros do desenvolvi-mento da producao acucareira mundial no ja" citado Col6quio de Londres, em marco ultimo, apos tecer comentarios a respeito da supremacia do acucar de cana sobre o de beterraba, devido ao seu custo mais baixo, a desnecessidade de utilizar petroleo como combustivel, as grandes reservas de mao-de-obra ainda existentes nos paises tropicais em desenvolvimento, alem da competicao da terra ainda disponivel entre a beterraba e o cultivo de cereais e plantas forrageiras, aborda o problema dos investi-mentos, agravado ultimamente pela inflacao de carater mundial, e conclui afirmando que o capital necessario para uma nova fabrica, aos precos internacionais vigentes, e da ordem de 1.000 dolares por tonelada de acucar a ser produzida, abrangendo o in-vestimento agrfcola e industrial. Apenas admite que esse custo pode ficar reduzido a uma faixa entre 240 e 480 d6lares se a aplicacao for feita em unidades ja existentes e com a adequada expansao das lavouras.

    Mas logo adverte quanto a dificuldade de se encontrar capitais de tal vulto que se deixem atrair por uma atividade economica que nao proporciona r^pido retorno e lembra ainda o problema da mSo-de-obra qualificada, de modo geral escassa nos paises em desenvolvimento.

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    Finalmente, o conferencista poe em destaque a condicao imprescindivel para a viabi-lidade de tais empreendimentos: a existencia de urn mercado com prepos estaveis e remunerativos.

    Apesar de tudo, e fato verificado que muitos investimentos se estao fazendo, em todo o mundo, na industria de acucar e que as fabricas de equipamentos estao satu-radas de encomendas. Nao obstante, uma usina de apucar, em qualquer parte do mundo, para atingir seu pleno rendimento exige pelo menos quatro ou cinco anos, desde os primeiros passos para a implantacao das lavouras.

    O vazio que a agroindustria agucareira mundial tera" de veneer entre a producao atual de 80 milhoes de toneladas metricas e a necessaria para assegurar o mesmo equilibrio estatistico producao-consumo, em 1980, e de 20 milhoes de toneladas, segundo as perspectivas mais otimistas, ou, pelo menos, de 10,5 milhoes, segundo os ccilculos mais prudentes do Dr. A. C. Viton.

    Qual a situacao da nossa agroindustria diante desse quadro mundial? Nao estamos atrasados nessa competigao e temos condigoes favoraveis para disputar o nosso lu-gar ao sol que, em termos quantitativos, pode ser definido pela meta de exportar 4 milhoes de toneladas em 1980.

    0 nosso programa de expansao de produgao, pela modernizacao industrial e agrico-la, nao foi uma decorrencia dos altos precos do agucar no ano passado, pois ele )& estava em plena execugao ha" cerca de tres anos ou, mais precisamente, desde a vi-gencia do Decreto-lei n° 1.186, de 27 de agosto de 1971.

    Inexiste, por outro lado, no caso brasileiro, o problema do capital, pois ate agora nao houve necessidade de qualquer investimento de origem externa para a realizacao do

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    nosso programa de expansão, atendido totalmente pelos saldos do Fundo Especial de Exportação, e num vulto tal que, seguramente, não encontra similar em qualquer outro país produtor de açúcar no momento atual. i Há finalmente, no nosso caso, o que poderíamos chamar de válvula de segurança da agroindústria açucareira, e essa válvula foi criada naturalmente, independente mes-mo de iniciativa nossa, no exato momento em que os países produtores de petróleo decidiram dar a sua grande cartada, aumentando de forma inesperada e imprevisível o preço desse produto, até então comercializado por preço irrisório no mercado inter-nacional.

    Tornando economicamente viável a mistura carburante álcool-gasolina, já tecnica-mente admitida até o nível de 25%, o aumento dos preços do petróleo criou paralela-mente a viabilidade de uma produção alcooleira, como alternativa para a produção de açúcar, situação ímpar e invejável para qualquer país produtor.

    Encarando, com mais amplitude ainda, a nova situação do álcool como carburante, o professor americano Melvin Kalvin, Prêmio Nobel de Química em 1961, declarou re-centemente em Brasília:

    "O Brasil é o único país do mundo com capacidade de realizar um plano de aproveitamento energético da cana-de-açúcar, não como um substitu-to do petróleo, mas como um adicional, embora possa tomar o seu lugar, em cem anos".

    Mas álcool carburante é assunto apaixonante e que não cabe nos propósitos desta nossa palestra.

    Meus senhores.

    Alinho-me entre aqueles que pensam que, se o otimismo ingênuo, por si só, nada constrói, o pessimismo tornado um hábito é profundamente destruidor na medida em que cria a descrença e a insegurança, amolecendo ou aniquilando a vontade de realizar, de construir.

    Procurei, com a responsabilidade de meu cargo e com as informações ora disponí-veis, dar-lhes uma visão ampla e genérica das perspectivas da produção de açúcar em termos mundiais e, nesse contexto, o que o futuro pode proporcionar para a agroindústria açucareira nacional.

    Procurei manter-me no justo meio, realisticamente, sem devaneios mas também sem ceticismos injustificados ou temores exagerados.

    Tenho a convicção de que, no que respeita à agroindústria açucareira, do mesmo modo que sob tantos outros aspectos, o Brasil tem um destino de grandeza à sua es-pera.

    Muito obrigado pela atenção que me dispensaram.

  • 22

    DEBATE

    Dr. Jorge Wolney Atalla — A palestra que o Senhor Presidente do Instituto do Açú-car e do Álcool, general Álvaro Tavares Carmo, acabou de proferir esgotou todo o assunto quanto às perspectivas do açúcar no mercado interno e internacional, bem como responde à maioria das dúvidas que as empresas de açúcar tinham. Apesar disto, o Senhor Presidente coloca-se à disposição do plenário para responder a qual-quer pergunta que lhe desejem fazer. Pediríamos, entretanto, que tais questões fos-sem formuladas por escrito e assinadas pelos representantes das empresas.

    A palavra está livre e a Mesa acha-se pronta para receber as perguntas.

    Pergunta; A indagação refere-se a um assunto que sempre preocupou muito o em-presário. As palavras do presidente do IAA às 81 Usinas Cooperadas — aqui repre-sentadas por seus diretores e técnicos e responsáveis por 5 1 % da produção nacional — foram de estímulo à produção; nós as entendemos e temos certeza de que o em-presariado de São Paulo, das Usinas Cooperadas, dos outros Estados, corresponderá a esse fim. Mas há um ponto muito importante, que tem causado apreensão junto ao empresariado. Apesar de entendermos que os preços internacionais não devem atin-gir níveis que estimulem a concorrência e ameacem a posição do Brasil, nós temos sentido, no mercado interno, falta de preço compatível com os nossos custos. Infeliz-mente, até agora — não por culpa do Instituto do Açúcar e do Álcool, que sabemos ter sempre encaminhado aos órgãos competentes das áreas ministeriais os estudos correspondentes ao valor técnico do preço do açúcar para que haja efetivamente um desenvolvimento da agroindústria açucareira a níveis que venham permitir uma pro-dução condizente com a programação da política traçada pelo Senhor Presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool —, os preços do mercado interno não são efetiva-mente compatíveis com os custos, com uma justa remuneração aos produtores, tan-to da área da lavoura como da indústria. Nós pediríamos ao Senhor Presidente escla-recimentos quanto às medidas que estão sendo tomadas para que possamos ter, realmente, um preço compatível com os custos e para que possamos desenvolver e atingir a meta de produção preconizada pelo Instituto.

    Resposta: Como os senhores vêem, essa primeira pergunta é de balançar a rede, não é? Mas eu vou tentar responder de maneira, pelo menos, satisfatória. Em pri-meiro lugar, quero dizer que acho também que a reivindicação mais elementar de qualquer produtor, de qualquer empresário, é a de que seu produto possa obter um preço que lhe deixe pelo menos uma margem de lucro razoável. Tratando-se de uma economia altamente dirigida, digamos assim, como é a do açúcar, acho tambérn legítimo que essa reivindicação seja levada ao conhecimento po Governo, como, aliás, tem acontecido, e entendo que o Instituto é realmente o órgão apropriado para receber reivindicações dessa natureza. No caso específico do açúcar, é forçoso reco-nhecer que a política antiinflacionária do Governo nos últimos anos tem comprimido bastante os preços, não só na área industrial como na área agrícola, e isso talvez te-nha levado à perda daquilo que nós poderíamos chamar de lucro razoável, de lucro mínimo razoável, embora, se os senhores me permitem a ressalva, tal fato seja sem-

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    23

    pre mais sensível naqueles produtores de baixa produtividade. 0 subsídio dado pelo Governo como componente da remuneração é um esforço, foi um esforço no sentido de dar ao produtor uma remuneração pelo menos próxima daquilo que reivindicava, sem pesar demasiadamente ao consumidor. 0 Instituto, preocupado com a questão, altamente controversa, firmou com a Fundação Getúlio Vargas um convênio, a fim de serem apurados os verdadeiros custos da produção na indústria e na lavoura. Fi-zemos um convênio de cinco anos. Este ano os resultados estão próximos de ser apresentados; não terão ainda a profundidade que esperamos; quer dizer, não haverá ainda pesquisa na própria indústria, no próprio campo. Será uma avaliação, será um trabalho de gabinete, digamos, mas feito por um órgão altamente técnico e cujo re-sultado merece, sem dúvida, crédito. Com isso, o Instituto, além de cumprir uma exi-gência legal, procura dar ao Governo não digo uma base, mas pelo menos um subsí-dio para que o preço na próxima safra se aproxime daquilo que o produtor acha que merece o seu produto.

    Pergunta: Nós temos mais uma pergunta, que vamos passar ao Senhor Presidente. É a seguinte: o Instituto prevê a hipótese de o preço do açúcar vir a cair no mercado internacional, já em 1976, a níveis inferiores a 200 dólares a tonelada. Nesse caso quais seriam as conseqüências para a produção brasileira?

    Resposta: Bem, a resposta é a seguinte: de acordo com os dados disponíveis, não se pode admitir, levando em conta os custos atuais da produção em termos mundiais, que o açúcar venha a cair a esse preço de 200 dólares. Os preços reais, aqueles que nós consideramos remunerativos para o produtor e estimulantes para o consumidor, evidentemente estão longe dos vigentes no passado. Hoje a conjuntura é diferente, há inflação mundial, o investimento é muitíssimo mais caro do que três anos atrás. O custo da produção é muitíssimo mais elevado, sobretudo em áreas em que se produ-zem a cana e a beterraba nestas condições; o preço abaixo de 200 dólares sejia ir-real, seria um preço que nenhuma produção e que nenhum produtor do mundo pode-ria suportar. Eu completo esclarecendo que os preços que eu considero reais devem estar seguramente — aliás, neste sentido, são preços razoáveis, normais das indús-trias — acima da faixa dos 500 dólares. Deixo em aberto o limite.

    Pergunta: Com referência à viabilidade, no Brasil, do uso de álcool como sucedâneo do petróleo na indústria petroquímica, pensa o IAA colocar em sua programação, desde já, investimentos que permitam abrir esse importante campo de pesquisa, que evidentemente dependerá de uma coordenação de todos os setores interessados e, principalmente, de recursos financeiros?

    Resposta: O que eu posso esclarecer no momento é o seguinte: não quero falar de maneira tão ampla quanto a do técnico americano que encarou o problema. Vamos falar de coisas mais próximas à realidade atual: a possibilidade de álcool ser produzi-do para se misturar à gasolina na proporção de 10,1 5, 25% mesmo; produzido como uma alternativa da produção açucareira no caso de uma superprodução; ou, então, produzido diretamente para a indústria alcooleira, sem levar em conta essa necessi-dade da alternativa. Bem, eu vou dizer primeiro a minha opinião e depois o que há a respeito do problema. Eu considero que a cartada dos países árabes aumentando os preços deu, a nós, essa arma, essa válvula, porque antes não era economicamente viável misturar álcool à gasolina, pela simples razão de que ele era caro, ele encare-cia a mistura da gasolina. Quando os árabes aumentaram o preço do petróleo, a ga-

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    solina passou, evidentemente, a ser muito mais cara do que antigamente e então o preço do álcool passou a ter condições de competir economicamente. Quando eu digo este preço, é o preço de qualidade. É um preço tal que o produtor possa fazer ál-cool ou açúcar de acordo com a programação que lhe foi dada. Isto tem que ser pro-gramado. Muito bem. Então a viabilidade econômica passou a existir. Agora, o mon-tante disso, a dimensão disso,é que nós podemos considerar; se nós o fizermos na base da alternativa, vamos fazer na base de destilarias autônomas, isto é, que vão trabalhar com álcool residual, ou vamos fazer álcool na expectativa de uma redução na produção programada de açúcar. Bem, na minha opinião, isso não basta para re-solver o problema energético. Isso resolve plenamente o nosso problema, o proble-ma da indústria açucareira. Temos a alternativa, mas não resolve o problema energé-tico. 0 que vamos produzir, diante das necessidades, é uma migalha. O consumo de gasolina anda na ordem de, se não me engano, 14 ou 15 bilhões de litros, este ano. 1 0% disto significa 1,5 bilhão para misturar. Nós fizemos 700 milhões de litros de ál-cool na base do residual, exclusivamente na base do residual, este ano. E, para isto, tivemos que tirar o álcool hidratado. Então é uma migalha a posição do álcool, desse álcool. Essa é a minha opinião e eu sei que há opiniões divergentes a respeito. É uma migalha do que se pode produzir numa usina anexa, para resolver o problema ener-gético. Esse problema teria que ser resolvido em grande escala, na base da destilaria autônoma, naturalmente em áreas não canavieiras, não tradicionalmente canaviei-ras, porque o produto nobre ainda continuará a ser o açúcar; não vamos perturbar o que existe sistematizado a respeito do açúcar, distinguindo bem a parte destinada a fazer álcool. Jamais faltará mercado para esse álcool. Qualquer que seja a quantida-de produzida no Brasil. A não ser no caso de o petróleo, quase por absurdo, baixar ao preço de dois anos atrás. Neste caso, toda essa função passaria a ser antieconômi-ca. Eu acho vantagem misturar, mesmo que o Brasil fosse auto-suficiente em petró-leo. Bem, não sei se respondi à sua pergunta, andei fazendo uma digressão. O que há a respeito é o seguinte: todo o trabalho do Instituto foi feito. A decisão está em nível ministerial. Tem que ser um dispositivo legal que dê um preço de qualidade que o produtor perceberá por seu produto — álcool para mistura —, de um modo geral, e também as condições de criar essa capacidade industrial que hoje não existe no Bra-sil, existe só em São Paulo. No Brasil não existem destilarias anexas para fazer esse álcool de que nós precisamos. Então, é preciso criar um investimento, a facilidade do investimento desse mesmo programa que nós estamos realizando; de uma organiza-ção de usinas para criar destilarias anexas. Pelo menos numa primeira fase mais am-pla, em minha opinião, nós temos que ir além disso. Nós temos que fazer isso atra-vés de uma destilaria autônoma, espalhada por esse Brasil imenso. Essa é a minha opinião, acho que não tenho mais nada a dizer.

    Pergunta: Como entende o Senhor Presidente do IAA o avanço da porcentagem do subsídio no preço final do açúcar?

    Resposta: Essa eu tiro de letra, essa é facílima. Eu entendo que o subsídio é um ar-tifício, que é dado numa emergência, para atingir uma conjuntura; que ele não deve ser aumentado; pelo contrário, ele deve tender, progressivamente, a ser reduzido a zero, porque é, sobretudo, artificial. Quem tem que arcar com o verdadeiro preço do açúcar é quem consome açúcar. Essa é a minha opinião e acho que está bem clara. E, além disso, há uma série de outras conseqüências até para os próprios produtores. É uma quantidade vultosa de recursos que se tira da área de investimentos. Como idéia de grandeza, em 1974, 1,5 bilhão de cruzeiros foi aplicado em subsídio e pode-ria estar em investimento. 1,5 bilhão de cruzeiros, para subsidiar o consumidor. Por-

  • m do

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    que, na realidade, é o consumidor que é subsidiado. É verdade que, em última análi-se, é o consumidor estrangeiro, o árabe, o africano, o canadense, que está subsidian-do o nosso consumidor. Mas, de qualquer maneira, é um artifício, é irreal; eu acho que deve tender a desaparecer. Uma outra conseqüência é que as taxas de contribui-ção da assistência social são calculadas, hoje, sobre a metade da remuneração que o produtor recebe. Isso causa realmente uma queda brusca na receita das cooperati-vas e do próprio IAA também. A nossa taxa de contribuição é reduzida em 50%, por-que ela incide somente sobre a parcela preço de remuneração e não sobre o subsí-dio. Logo, há uma série de considerações, de distorções, que nos leva a ser contra o subsídio. Eu acho que ele tende a desaparecer e penso que essa é a idéia do Gover-no. Não digo que possa desaparecer de uma hora para outra. Nós temos que digerir isto aos poucos.

  • RECESTAS PARA © DESENVOLVIMENTO DA AGROINDUSTRIA ACUGARE1RA

    Jorge Wolney At alla (*)

    Introducao

    As condicoes do mercado internacional tem sido particularmente favoraveis ao agu-car nos tres ultimos anos. Com muita facilidade e com raciocfnio bastante simplista, tem-se inferido que a boa performance dos pregos, no mercado internacional, signifi-ca um periodo auspicioso para os produtores.

    Tal racioifnio 6 errfoneo e distante da realidade. Esta nos mostra um setor altamente controlado, sofrendo um dos maiores confiscos da historia economica do Pais.

    Os produtores sio o primeiro elo da cadeia que resulta nos elevados pregos e na transformacao do Brasil no maior produtor de acucar de cana do mundo; no entanto, nao participam diretamente das vantagens obtidas, ao mesmo tempo em que sofrem todos os desestimulos que recaem sobre a atividade.

    A regulamentacao vigente no setor faz com que as decisoes fiquem exclusivamente com as autoridades governamentais, que as tomam com base no modo como inter-pretam a conjuntura nacional e internacional. Dada a demora com que se concreti*-zam essas decisoes, o que tern ocorrido, ao longo do tempo, e uma defasagem entre o nivel de problemas enfrentados pelos produtores e as solugoes necessarias.

    0 pensamento dos produtores de cana, acucar e alcool e o de que a extraordinaria condicao do mercado externo deve ser aproveitada para a solugSo de um grande nu-mero de problemas que afetam e comprometem a eficiencia e, consequentemente, a rentabilidade do setor. 0 Pais deve buscar a consolidacao do parque produtor, o que possibilitara a efetivacao de uma posigao no mercado internacional. Essa consolida---o — orientada por uma polftica que tenha como escopo maiores nfveis de eficifin-cia — ensejara uma melhor capacitacao, a fim de serem enfrentadas as flutuagoes de pregos.

    A aspiracao e a de que os grandes resultados das exportacoes sejam canalizados para uma habilitagao do setor no sentido de que este assuma uma posicao vanguar-dista, pela busca de maiores retornos aos investimentos realizados na agricultura. Este raciocinio esta perfeitamente coordenado com as proposicoes do II Piano Na-cional de Desenvolvimento que indicam para o setor agrlcola um ritmo altamente

    f) Presidente da COPERSUCAR.

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    empresarial. Para que tal proposicao venha a tornar-se realidade, e necessario que as autoridades governamentais responsaveis encarem os varios problemas ligados ao comportamento da agroindustria agucareira com realismo e praticidade, de tal forma que a nacao se aproveite de todas as vantagens oferecidas a curto prazo e, ao mes-mo tempo, se prepare para fomecer grandes parcelas da demanda interna e externa, nos proximos anos.

    A analise que se segue enfoca os principais pontos de estrangulamento da atividade acucareira. 0 seu equacionamento e consequentes solugoes, postas em pratica, vi-riam moldar um setor da atividade economica, dentro de padroes de eficiencia e competitividade que serviriam como modelo para outros setores agroindustriais da nossa economia.

    Pregos

    0 desestimulo ao produtor, provocado pela irrealista politica de pregos, pode serve-rificado atraves do quantum recebido pelos produtores de cana, agucar e alcool, si-tuado a niveis bastante baixos, o que e causa da continuada descapitalizagao da a-rea. 0 distanciamento entre pregos e custos incorridosfaz subsistir uma pequena re-muneragao aos fatores de produgao empregados, o que e particularmente grave, da-das as implicapoes decorrentes.

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    A substituigao da cultura de cana por outras mais rentaveis — fato que vem ocorren-do nas ultimas safras — e um indicador dos mais relevantes quanto a ma remunera-gao vigente no setor agrfcola e industrial. Esse fato se reveste do maior significado, pois o desestimulo de precos, gerando o abandono da cultura, compromete o nivel geral da produgao, o que e particularmente importante, em fungcao das favoraveis condicoes do mercado intemacional e da necessidade de divisas que apresenta o ba-lango de pagamentos brasileiro. 0 que se pode inferir da polftica de pregos praticada para o setor, nos ultimos anos, e uma preocupagao de fixacao dos pregos de modo a minimizar a troca de atividade agricola em volumes significantes. A necessidade de incremento da produgao exige que sejam consolidadas as atuais areas produtoras e que, ao mesmo tempo, subsistam condigoes de incentivo a produgSo. 0 receio de que os estimulos de pregos venham a gerar o deslocamento das regioes produtoras de agucar e infundado, pois a expansao da fronteira agrfcola e uma das metas priori-tarias fixadas pelo II Piano Nacional de Desenvolvimento.

    No que diz respeito ao setor industrial, cabe uma observagSo quanto a progressiva redugao da sua rentabilidade. Tendo atravessado um perfodo de superprodugao, com seu ponto maximo na safra 1 965-66, as usinas trabalharam com capacidade ociosa, durante o perfodo posterior a essa safra, ate 1972-73, quando a pressao de deman-da externa forpou a liberagao de cotas de produgao. 0 Estado de Sao Paulo, em fun-gao de possuir elevados investimentos em canaviais, pode responder a esse substan-cial aumento de produgao e atingir, assim, um nivel bastante alto de utilizagao dos equipamentos instalados nas usinas.

    Passando a usar o seu imobilizado de maneira mais intensa, tiveram as usinas uma diminuigao de seus custos fixos, o que representou alguma compensacao a rentabili-dade, comprometida seriamente nos anos anteriores.

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    E S T i M U L 0 A PRODUCAO DE ALCOOL ANiDRO CARBURANTE ATRAVES DA PARIDADE DE PRECoS

    No que diz respeito a este capitulo, desde 1958 tern havido uma politica no sentido de desenvolver a mistura carburante, para o alcool anidro, ate mesmo com preco in-ferior ao seu custo de produgao, porquanto foi atraves da mistura carburante que a industria agucareira paulista pode suportar a crise que atravessamos nas safras de 1965 a 1972. Unicamente porque era permitida essa mistura, foi possivel manter-mos os nossos canaviais em pe trazendo ao Governo os beneficios da utilizagao des-ses canaviais, na transformagao em agucar, quando a demanda do mercado assim o exigiu, de 1 973 em diante. E hoje, em face da nova conjuntura internacional tragada pelos paises produtores de petrbleo, tornou-se um problema de interesse da segu-ranpa nacional. Assim e que o Governo, com base num trabalho apresentado pela Cooperativa, ainda recentemente, esta" com um decreto pronto para ser publicado, estabelecendo a paridade de pregos para a mistura carburante, garantindo o abaste-cimento deste tipo de combustivel e evitando, com isso, uma maior importagao de petr6leo e a evasao de divisas.

    0 decreto preconiza nao so a paridade de pregos do alcool destinado a mistura car-burante aos pregos do agucar, para que a industria agucareira possa produzir agucar ou aMcool independentemente de sua remuneragao, mas ainda fixa as prioridades dos financiamentos, principalmente estabelecendo uma escala desses financiamentos.

    Em primeiro lugar, serao financiadas as usinas que necessitem ampliar a sua instala-cao de destilarias anexas. Em segundo lugar, serao financiadas usinas que nao pos-suam destilarias anexas. E, em ultimo lugar, serao financiadas, se houver saldo de re-curso, as destilarias autonomas.

    M U D A N C A DE ORIENTACAO DA POLITICA DE EXPORTACGES

    A possivel queda do nivel da demanda internacional — decorrentente alguns fatores, como a substituicao do agucar por sucedaneos proximos ou artificiais, os estoques formados pelos importadores, a entrada de produtores marginais e a diminuicao do consumo — e uma perspectiva inquietante para os produtores. Esse possivel decli-nio de pregos seriaagravado se o Pais fosse surpreendido sem garantias contratuais de entrega do produto a longo prazo e sem programas que objetivem maior eficiencia do parque produtor.

    E, portanto, de primordial importancia o abandono da politica de maximizacao dos pregos no mercado externo, atualmente praticada, por uma posicao de maiores ga-rantias, atraves de acordos bilaterais de maximizacao da receita a longo prazo.

    E bem verdade que, a titulo de equilibrar o deficit atualdo balanco pagamentos, o Pais deve usufruir os elevados pregos atualmente vigentes no mercado internacional. Por outro lado, deve-se ter sensibilidade suficiente para detectar a necessidade de modificar essa posigao no tempo, vez que ela representard estimulo ao desenvolvi-mento de sucedaneos, redugoes de consumo, formacao de estoques e expansao da producao em outros paises.

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    A possibilidade de diminuicao dos atuais nfveis da demanda mundial de apucar de cana e a mais seria das ameacas, se for levado em consideracao que a industria do acucar, por suas caracteristicas de utilizacao dos fatores de producao, apresenta uma grande rigidez quanto a "desmobilizacao" dos mesmos. Como consequencia dessa caracterizacao, torna-se relevante optar pela adocao de uma politica de incen-tivo a novas areas de produpao interna e, ao mesmo tempo, contribuir para evitar o surgimento de novas areas produtoras no exterior. Um outro dado a ser adicionado a essa an^lise refere-se ao sensfvel encarecimento sofrido pela producao de acucar de beterraba, cuja participacao no mercado internacional se situa em torno de 40% do total transacionado.

    A possibilidade de ganho de uma parcela dessa demanda representa a oportunidade de substituicao do apucar de beterraba, obtido a custos maiores, pelo de cana, a ser produzido em novas a>eas que convem estimular atraves da vinculapSo a contratos de fornecimento a longo prazo.

    AMPLIACAO E REFORMULACAO DOS CRITERIOS PARA FINANCIAMENTOS COM RECURSOS DO FUN DO ESPECIAL DE EXPORTACOES

    Essa necessidade de adequagao das lavouras de cana ao potencial de produpao das industrias exige que estas contem com recursos suficientes e na hora certa, para a concretizapio de inversoes, particularmente aquelas voltadas para insumos moder-nos (fertilizantes, corretivos e defensivos), rriciquinas e implementos agrfcolas.

    Torna-se necessario que o financiamento para o setor agrfcola seja feito com os re-cursos do Fundo Especial de Exportapoes, atraves de analise e aprovapao das solici-tapdes pelo Instituto do Apucar e do Alcool.

    Como decorr§ncia dos comentarios anteriormente formulados, a sugestjio concreta seria no sentido de que os financiamentos fossem concedidos de acordo com as se-guintes normas:

    a) Juros de 8% ao ano para o Centro-Sul e 1% ao ano para o Norte-Nordeste, em to-dos os setores da agroindustria apucareira;

    b) Os projetos de financiamento de lavouras, equipamentos agrfcolas e obras de infra-estrutura do setor rural serao encaminhados e decididos pelo IAA, sendo o Banco do Brasil agente financeiro;

    c) 0 calculo da capacidade de pagamento dos projetos deve ser feito com base na efetiva capacidade da empresa proprieta>ia da usina e nSo em relapao ao projeto que estiver sendo apresentado;

    d) Inclusao de uma clausula de correcao automatica dos investimentos, para que, quando da liberapao das verbas, estas sejam condizentes com a realidade dos prepos dos equipamentos e instalapoes.

    e) Os encargos financeiros, decorrentes de dividas comprovadamente contrafdas em outras fontes para os projetos de modernizacao, devem ser subsidiados pelo Insti-

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    tuto do Agucar e do Alcool, sendo reduzidos as taxas dos financiamentos dos pro-jetos aprovados pela autarquia. Esse ponto e particularmente importante no caso dos equipamentos, pois, dado o aumento da demanda ocorrido no setor produtor, nao sio mantidos os precos para a epoca da entrega, tendo em vista a propria de-correncia dos indices inflacionarios do Pais.

    INFRA-ESTRUTURA DE MOVIMENTACAO DE ACUCAR NO MERCADO INTERNO E EXTERNO

    D INAMIZACAO DA IMPLANTACAO DO TERMINAL DE EXPORTACAO DO PORTO DE SANTOS

    Sobre esses dois aspectos, que sao interligados, podemos informar a voces que du-rante a visita do presidente do Instituto do Acucar e do Alcool a Sao Paulo, na reu-niao que tivemos com S. Exa. o governador do Estado, pudemos deixar definida esta politica.

    Ja ha" cinco anos a Cooperativa vem, atraves de seu trabalho, procurando fazer com que S3o Paulo efetivamente tenha seu terminal acucareiro.

    Seria inconcebivel, inacreditavel, que o Estado ao qual correspondem 50% das ex-portacSes brasileiras de acucar nao viesse a ter o seu terminal, objetivando, assim, dar uma garantia de permanencia dos nossos ntveis de exportacao, quando a situa-

    cao se equilibrar entre a demanda e a produgao no decorrer dos anos. 0 IAA, por orientagao do Governo Federal, conferiu prioridade ao investimento em terminals nos Estados de Pernambuco e Alagoas, visando a que estes investimentos fossem feitos prioritariamente naquelas areas por motivos de ordem social.

    Agora, devido aos nfveis de prego que vem sendo obtidos no mercado internacional e ao resultado da receita de exportacao, foi-nos possivel consolidar esse nosso desejo. Na reuniao que tivemos com o governador do Estado e o presidente do Instituto do Agucar e do Alcool, ficou definido que o IAA ira" fazer agora o terminal.

    As providfincias tomadas anteriormente pelo governador do Estado trouxeram os seus resultados, fazendo com que, realmente, tambem o IAA se interessasse na sua execucao; repito: agora se interessa porque dispoe de recursos com que anterior-mente nao contava. Assim sendo, dentro de uma orientagao tecnica, o terminal do porto de Santos ter i o

    seu projeto iniciado ainda este ano, visando a que, no prazo maximo de dois anos, o mesmo esteja implantado. Isso tambem 6 do interesse do Governo, pois, caso o ter-minal nao fique pronto nesse prazo, podera haver uma crise no porto de Santos, pela sua incapacidade de movimentar todos os produtos de exportacao daquela area.

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    Ao mesmo tempo, paralelamente, será criada uma infra-estrutura no Planalto, infra-estrutura esta que receberá o açúcar das usinas que produzem para exportação e do mercado interno, na forma a granel. Faz parte de um projeto da Cooperativa, propos-to para que tenhamos um único tipo de açúcar a ser produzido em uma usina, objeti-vando com isso reduzir o custo de produção nas unidades produtoras e o máximo de rendimento industrial.

    Com um único tipo de açúcar para movimentarmos, tanto para fim de uso no merca-do interno como no mercado internacional, poderemos, com menores investimentos, tanto na fábrica como nas operações intermediárias e finais, fazer com que as Usinas Cooperadas tenham o máximo de rendimento na sua produção industrial, com me-nores gastos, e também menor custo operacional na movimentação do produto.

    Para isto, uma das hipóteses que está sendo desenvolvida é a de que o nosso termi-nal açucareiro em Santos seja feito para utilizarmos a injeção de mel, como se usa na África do Sul. E, ao mesmo tempo, a nossa refinaria ou as nossas refinarias (digo a "nossa" refinaria no caso da refinaria de Paulínia; e digo "nossas" refinarias no caso das refinarias coligadas pertencentes à União dos Refinadores, da qual a Cooperativa é acionista quase que exclusiva) irão também utilizar esse mesmo tipo de açúcar para refino e entrega direta ao consumidor.

    Sobre esse ponto gostaríamos também de informar-lhes que o projeto da nossa refi-naria, da Cooperativa, que será instalada em Paulínia, prevê uma capacidade de refi-no de 12.000.000 (doze milhões) de sacos de açúcar por ano, de vários tipos de açú-car — açúcar amorfo, granulado, líquido — sendo que parte dele, principalmente o granulado, será destinada ao mercado internacional. Porque a nossa política tem que ir ao encontro dos objetivos sociais da empresa: operar com o máximo de redução de custos, procurando-se que as empresas tenham a maximização da sua rentabilidade, aos menores custos, trazendo assim um benefício direto ao consumidor e à política econômica do País.

    Essa refinaria que está sendo projetada também visa a receber exclusivamente açú-car a granel.

    Assim sendo, ficará integrado o sistema de exportação e mercado interno com um ú-nico tipo de açúcar, quando se operar em conjunto com as Usinas Cooperadas. Nós também devemos todos estar ansiosos para que seja definida uma política de distri-buição de cotas oficiais; para que as empresas possam efetivamente traçar os seus planos de desenvolvimento.

    REDISTRIBUIÇÃO DAS COTAS OFICIAIS

    0 Governo reconhece que há necessidade de definição das cotas oficiais de produ-ção das usinas, a qual trará também uma definição de contingente de fornecedores. Isso fará com que a agroindústria açucareira possa planejar a sua atividade, nos pró-ximos cinco anos. Para isso, o IAA está dependendo exclusivamente de uma portaria do Ministério da Indústria e do Comércio, a qual definirá o contingente nacional de produção, ficando o IAA na forma de legislação, incumbido de estabelecer o critério de fixação das cotas de produção das usinas. Isso está em pleno desenvolvimento e integra o desejo dos produtores, transmitido às autoridades.

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    A INTEGRAÇÃO DO TRABALHADOR RURAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO

    Um dos indicadores de qualquer economia em processo de desenvolvimento é a crescente liberação de mão-de-obra, do setor rural para o setor urbano. Entretanto, no caso brasileiro, tal transferência se acentuou ao longo dos anos, de forma a com-prometer o próprio desempenho da economia, em vista dos enormes problemas so-ciais que essa transferência acarreta.

    A parte do processo normal de migração rural urbana, foram os fatores de ordem institucional que mais contribuíram para a não-fixação do homem no campo. 0 trata-mento desigual dispensado ao rurícola, em termos de legislação previdenciária, en-contra subsídios na tese de a atividade agrícola ser dotada de uma organização ad-ministrativa e empresarial não incipiente. Isto tem fornecido argumentos para justifi-car as dificuldades e os desacertos em implantar leis que consolidem o posiciona-mento do trabalhador rural na sociedade brasileira e lhe permitam um melhor está-gio de segurança social.

    A primeira tentativa efetiva de equacionar o problema veio com o Estatuto do Traba-lhador Rural. Regulamentando-se a situação do homem do campo, era de esperar que, automaticamente, seu nível de renda real melhorasse e o índice de desemprego automaticamente sofresse baixa. Assim, uma etapa estaria vencida e se abriria cami-nho à extensão do sistema previdenciário geral ao meio rural. Todavia, por não estar o ambiente rural preparado, na época, para tão profundas mudanças, e porque elas não se alicerçaram em bases sólidas, viu-se agravada a situação. Ao mesmo tempo em que se abriram novas perspectivas ao trabalhador rural, gerou-se uma série de conflitos que resultaram no aumento do êxodo rural, e, em conseqüência, na substi-tuição de residentes por não-residentes, e no aumento do número de volantes, os co-nhecidos bóias-frias; daí ser lícito concluir que os malefícios de tal legislação suplan-taram, em muito, os benefícios que dela deveriam provir.

    O Governo, ciente das dificuldades que envolvem este nível de problemática, tem procurado agir com cautela e isenção, de modo a não causar desarticulação no setor. A COPERSUCAR, cônscia das dificuldades que emanam de tal situação, tem-se mostrado pronta a contribuir com as reais intenções governamentais, no sentido de factibilizar o bem-estar do trabalhador rural. Uma primeira tentativa de se equacionar o problema previdenciário foi por nós formulada, ao propugnarmos que se instituísse uma legislação para o trabalhador rural, idéia que vimos, em parte, atendida pela criação do Prorural.

    A introdução do Prorural, em 1972, tinha por finalidade garantira aposentadoria dos trabalhadores de 65 anos de idade (com remuneração igual a 50% do safário míni-mo), auxílio-invalidez, pensão por morte aos dependentes, serviços de saúde (total ou parcial) na escala permitida pelos recursos do Funrural, seu órgão executor. Não obstante a inclusão de mais benefícios ao rurícola através do Prorural, não existem razões para o tratamento desigual deste, ao se comparar sua situação previdenciária à do trabalhador industrial. E é exatamente esse aspecto que vem atuando de forma decisiva quanto às distorções ocasionadas pela não-inclusão do trabalhador rural dentro do mesmo escopo de amparo das leis previdenciárias.

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    A universalização, pela extensão dos benefícios da atual sistemática previdenciária do Prorural à previdência geral, deverá ser conduzida de modo a corrigir tal distorção, contando-se com recursos governamentais, a fim de que não se comprometa o de-sempenho do setor agrícola, tendo em vista sua posição estratégica dentro da eco-nomia brasileira.

    A par disso, o setor rural está a merecer ação suplementar do Governo, em termos de programas sanitários preventivos, particularmente voltados ao saneamento bási-co de habitações rurais e da saúde do trabalhador, inclusive pelo controle profilático das doenças e, em especial, das verminoses. Ao se conceder tal tratamento ao setor rural, o atual Governo, além de possibilitar o melhor relacionamento entre o homem do campo e seu ambiente original, estaria ratificando, de maneira inconteste, que a tônica da atual política desenvolvimentista se acha, realisticamente, cada vez mais voltada para o bem-estar do homem brasileiro.

    Neste ponto, gostaríamos de trazer ao conhecimento de todos que, no decorrer do ano passado, preocupados exatamente com esta tese que em parte já foi exposta, le-vamos ao IAA um projeto pelo qual a Cooperativa propunha que parte das verbas de assistência social viesse a ser aplicada exclusivamente em investimento para a fixa-ção do trabalhador rural, na área de sua origem, isto é, nas propriedades agrícolas.

    Visando não só à melhoria das instalações das residências, mas especialmente ao trabalho de saneamento básico nas habitações e à saúde do trabalhador, tivemos a felicidade de receber a aprovação do IAA quanto a essa tese. Ficou, entretanto, con-dicionado que a Cooperativa deveria apresentar ao órgão responsável um projeto bá-sico dentro dessa filosofia, a fim de que fosse possível definir os valores da aplicação desses recursos, sem prejuízo das outras finalidades das verbas de assistência social.

    Para isso, a Cooperativa vem mantendo contato com os órgãos governamentais es-taduais especializados, cuja palestra já foi aqui desenvolvida, e junto com esses ór-gãos governamentais responsáveis iremos, dentro de pouco tempo, apresentar ao Governo o projeto básico de saneamento das habitações rurais, visando assim ao controle profilático das doenças e verminoses. Porque de nada adianta tratar da saú-de do trabalhador rural se não eliminarmos essas fontes de contaminação.

    Os resultados da universalização do sistema previdenciário, abrangendo toda a po-pulação brasileira economicamente ativa, deverão ser observados através da melho-ria da produtividade da mão-de-obra, fixando-a, ademais, em seu meio, e do incre-mento do nível de relação de trocas entre os setores. A melhoria econômica entre os setores induzirá, a médio prazo, à criação de mercados, ao mesmo tempo em que possibilitará a elevação do status social do trabalhador rural a níveis condizentes com a sua real importância dentro da sociedade brasileira.

    Esses são os pontos que viemos apresentar a vocês nesse encerramento do congres-so; e, antes de darmos por encerrada a reunião, deixamos a palavra livre para as per-guntas que desejarem fazer. Solicitamos que quem desejar fazer uso da palavra se identifique indicando seu nome e o da empresa a que pertença.

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    DEBATE

    Pergunta: Quando o senhor discorreu sobre o terminal de Santos, eu entendi que fi-cou definido que ele seria feito pelo IAA e que deveria haver também equacionamen-to no Planalto sobre o assunto de transporte a granel. De quem seria esse equacio-namento no Planalto?

    Resposta: 0 equacionamento no Planalto, no que diz respeito â movimentação para exportação, será feito pelo Governo do Estado de São Paulo {a parte de ferrovias, movimentação). E quanto à parte das instalações-pulmão previstas, embora ainda, não esteja definido se são necessárias ou não, há duas teses: uma é a de que não há necessidade de se construir esse depósito; e outra é a de que é melhor, fazer investi-mentos nas próprias usinas. Se se decidir a construir o depósito-pulmão, isso será por conta do Instituto; caso contrário, o investimento nas usinas será por conta do empresário. No que diz respeito à movimentação, ou seja, estradas de ferro, preparo de vagões, desvios ferroviários junto às usinas, isso será por conta do Governo do Estado; é assim que ficou decidido.

    Sr. Agenor, definindo agora aquela sua preocupação, pois várias vezes o senhor tem estado em contato conosco, pedindo uma resolução para o problema, a fim de que as usinas possam orientar-se quanto ao tipo de armazém a construir, a atual garantia do Governo, conclusão deste acordo nesta semana, faz com que realmente as usinas devam realizar os seus investimentos em armazéns graneleiros.

    Agradecimento — Senhor Presidente, em primeiro lugar quero agradecer à CO-PERSUCAR pelo amável convite para participar deste simpósio, e o faço em nome da ISSCT. Na qualidade de seu presidente, quero também congratular-me pelo es-plêndido êxito deste conclave e pelos resultados positivos que dele advirão para o desenvolvimento e aprimoramento técnico da indústria açucareira do Brasil. O trans-curso deste congresso, pois seria essa a denominação mais apropriada, a rigidez da observância dos horários, o calor empregado pelos expositores e a fogueira provoca-da pelas réplicas, trazem-me a perspectivas para a realização do 169 Congresso da ISSCT.

    Senhor Presidente, com o apoio da COPERSUCAR e a colaboração da maravilhosa mocidade que forma hoje a nova geração de tecnologistas açucareiros, e que partici-pou deste simpósio, estou certo de que o congresso da ISSCT, em 1977, será, como foi este, uma esplêndida realidade. Obrigado.

  • ASPECTOS ECONÔMICOS DA PRODUÇÃO DE CAMA, AÇÚCAR E ÁLCOOL

    Julio Maria Martins Borges (*)

    Introdução

    0 presente trabalho pretende abordar alguns aspectos econômicos da produção de cana, açúcar e álcool, com o intuito de se delinearem alguns possíveis ganhos de efi-ciência econômica para a agroindústria açucareira.

    A base deste trabalho é a pesquisa de custos realizada pela COPERSUCAR junto às Usinas Cooperadas na safra 1973-74 ('). Alguns comentários sobre esta pesquisa serão objeto do capítulo 1.

    Numa segunda etapa, abrangendo os capítulos 2 e 3, serão feitas considerações sobre os resultados econômicos obtidos na safra 1973-74 pela lavoura de cana e pela fabricação de açúcar, atentando-se para os motivos que, possivelmente, esta-riam contribuindo para diferenciar a eficiência econômica das firmas pertencentes ao setor.

    Finalmente, serão analisados os mais importantes mercados de fatores de produção utilizados pela agroindústria açucareira no sentido de se fazer uma previsão dos cus-tos para a safra 1975-76.

    1. A Pesquisa de Custos de Produção realizada pela COPERSUCAR

    A agroindústria açucareira no Brasil é um setor controlado pelo Governo, tan-to no que diz respeito a preços como no tocante a quantidades. Resta, então, ao empresário, na tentativa de alcançar para sua firma um ótimo resultado econômico da produção, lançar mão da tecnologia de produção, que deve abranger tanto os aspectos da eficiência técnica como os da eficiência eco-nômica.

    A eficiência econômica traduz-se, em última análise, no mínimo custo para se obter desejado nível de produção. Olhando a questão de outro ângulo, pode-

    (*) Economista da Divisão Econômica — COPERSUCAR, responsável pelo Setor de Análise de Custos de Produção.

    ( 1 ) 0 autor expressa agradecimentos a todos os componentes da Divisão Econômica, do Departa-mento Técnico — COPERSUCAR, pelas sugestões e discussões realizadas quando da feitura deste trabalho: em particular, a Luiz Roberto Peixoto Martins Silveira, que contribuiu de maneira efetiva, principalmente na aplicação, processamento e análise da pesquisa de custos da safra 1973-74.

  • 38

    se afirmar que a eficiência econômica na agroindústria açucareira é o instru-mento de maximização de lucros ou minimização de prejuízos, na medid