raízes negras

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  • 8/8/2019 Razes negras

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    Razes negrasCultura dos escravos contribuiu para a formao do Brasil - Candombl: herana n egra no BrasilA partir de meados de 1500, aconteceu uma crise de mo-de-obra nas recm i nstaladas lavouras de cana-de-acar do Nordeste do Brasil. Os ndios, que foramescravizados para trabalhar nos engenhos, ou eram dizimados por epidemias, ou fugiam ou resistiam escravido. Desse modo, os senhores de engenho se viramobrigados a importar o que chamavam de "peas da Guin", os seja, os escravos das colnias portuguesas no territrio africano.

    Seqestrados na frica, cerca de 4 milhes de pessoas aqui aportaram ao longo de 300 anos, at que o trfico internacional fosse extinto em 1850. Estima-se que outros 4 milhes teriam morrido na travessia do Atlntico, nos pores dos navios negreiros ou assassinados pelos traficantes.Origens do trfico de escravosQuando as primeiras caravelas po rtuguesas chegaram ao territrio africano, ainda no sculo 15, viram que os reis daquelas terras tinham escravos, uma forma detrabalho que fora extinta na Europa med ieval. Os escravos africanos, em geral, eram inimigos aprisionados no s conflitos tribais. Vislumbrando a poss ibilidade deobter mo-de-obra barata para Portugal, onde faltavam braos na lavoura, os navegantes ofereceram ferramentas e armas aos reis e chefes tribais em troca deescravos.

    Os principais portos de embarque eram dos negros escravizados para Portugal e Brasil estavam n os territrios que hoje so os seguintes pases: Senegal,

    Benin, Nigria, So Tom e Prncipe, Guin, Angola e Moambique.Em 1482, Portugal iniciou a construo da fortaleza de So Jorge de Mina, na costa do golfo da Guin. Outras tantas seriam construdas em diversospontos do litoral africano. Essas imensas construes eram centrais de negcios entre pases. Com o passar dos sculos, hav ia fortalezas portuguesas, francesas einglesas ao longo de toda costa da frica.

    Navios chegavam com pinga, fumo de corda e bzios do Brasil. E voltavam ab alroados com escravos. A poltica portuguesas de controle na regio dasfortalezas era a mesma das colnias brasileiras: a violncia pura e simples.Chegando ao BrasilAssim que desembarcavam no Brasil, os negros sobreviventes da travessia eram batizados e recebiam nomes catlicos. Passavam a trabalhar sem descanso e, comsorte, viviam at 10 anos aps sua chegada. Tanto o trabalho nos engenhos de acar, quanto nas minas de ouro, era muito pesado. A sorte s era um pouco melhorpara os homens ou mulheres escolhidos para o trabalho domstico.

    Os feitores cuidavam que no se descuidassem do trabalho e tambm se encarregavam de aplicar os castigos. med ida que os negros foram seintegrando ao novo pas, a fuga tornou-se uma possibilidade de vida livre. Nos sertes nordestino, no incio do sculo 17, surgiram os primeiros quilombos-acampamentos onde os negros se refugiavam. O maior deles foi o Quilombo dos Palmares, ao sul da capitania de Pernambuco, atual Alagoas, na Serra da Barriga.

    Estima-se que, por volta de 1670, 20 mil pessoas viviam ali. Inicialmente liderados por Ganga-Zumba, logo conheceram a fora de Zumbi, guerreiro quemilitarizou o quilombo e enfrentou o governo senhorial. Contudo, em 1694, Palmares foi destrudoe quase dois anos depois Zumbi morria, trado por um companheiro.Dia-a-diaEm princpio, nenhum tipo de posse era permitida aos escravos. S lhes restavam as lembranas e a memria, exercitada por meio de festividades, cantos quemarcavam o ritmo do trabalho e um cu lto disfarado aos seus deuses originai s. As deidades africanas passaram a ser identificadas com os santos catlicos, num

    fenmeno conhecido como sincretismo religioso. Assim surgiram o xang, em Pernambuco, o candombl, na Bahia, a umbanda, no Rio de Janeiro e no sudeste dopas.

    Alm da religio, porm, outros elementos culturais dos negros - em especial a msica e a dana - foram ganhando terreno na evoluo cultural do Brasil.O mesmo se pode dizer a respeito da culinria e at da linguagem, pois so muitas as palavras do portugus que usamos cuja origem africana. Desse modo, osnegros exerceram uma profunda influncia na civilizao brasileira.

    Convm lembrar que os senhores brancos portugueses, e tambm os brasileiros, freqentemente no resistiam aos encantos das mu lheres negras, dequem se tornavam amantes. Desse modo, a mestiagem tornou-se uma caracterstica marcante de nosso povo.A abolio e o depoisA escravatura foi abolida legalmente no Brasil em 13 de maio de 1888. Entretanto, no houve a mnima preocupao em se integrarem os antigos escravos sociedadebrasileira. Ao contrrio, como a imigrao de trabalhadores europeus aconteceu quase que simu ltaneamente ao fim da escravido, os negros tornaram-semarginalizados e se viram, em geral, na mesma situao de misria anterior sua libertao.

    O preconceito racial e a desigualdade econmica com fundo racial ainda so uma realidade no Brasil. A situao tem melhoradocom o passar dos anos,mas ainda num ritmo muito lento. So muitos e grandes os problemas que os negros enfrentam no Brasil de hoje e eles ainda esto longe de encontrar uma soluo.

    Resenha (Edio n 14)"'Negro no entra na igreja: espia da banda de fora' - protestantismo e escravido no Brasil I mprio", por Mrcia Leito Pinheiro (*)Dados do livro resenhado:Ttulo da obra: "Negro no entra na igreja: espia da banda de fora" protestantismo e escravido no Brasil Imprio||| ||

    Em tempos de expanso do protestantismo, um estudo oferece um panorama sobre a instalao dessa vertente crist no Brasil e a relao com a escravido no pas.A nfase recai no sculo X IX, permitindo-nos visualizar que pouco se fala sobre as relaes encetadas e as idias defendidas por partidrios da Reforma no Brasi l.Trata-se de um trabalho que apresenta elementos da histria das religies e do pas, mas que timidamente abordamos no cotidiano.O livro "Negro no entra na igreja: espia da banda de fora", cujo ttulo uma referncia a Silvio Romero e sua viso acercado lugar atribudo ao negro na sociedadebrasileira e nas igrejas protestantes, est dividido em trs captulos dedicado s anlise da implantao, estratgia e posio protestante diante da escravido,sendo que a organizao em subcaptulos permite explorar fontes diversas, demonstrando que o comeo da implantao do protestantismo no foi tarefa de fcilrealizao. A leitura do livro indica que Barbosa explorou as contradies, as tenses e as complexidades que permearam as relaes entre os pastores, a imprensareligiosa e os interesses polticos e econmicos da elite dominante. Destaca tambm que o protestantismo se caracterizou pela ausncia de confrontos diretos - fossecom o catolicismo, com a dimenso poltica, ou com a esfera jurdica e seu suporte religiooficial - com o objetivo de assegurar a permanncia dos missionrios noBrasil. Esses visavam a implantao e consolidao de uma nova f, tendo por estratgia a organizao de escolas, de jornaise a realizao de proselitismo.No primeiro captulo, intitulado Jardim 'feixado' onde no pode entrar animal d aninho, fragmento do livro de Luiz Gona lves dos Santos, de 1837, padre radical quedefendia a primazia da Igreja Catlica; as fontes privilegiadas so os dirios de v iajantes, cartas, material de imprensa e reflexes de polticos e religiosos,possibilitando a Barbosa destacar as distines do servio religioso protestante empreendido no Brasil, como contemplou a escravido e as dificuldades enfrentadas.O autor apresenta o trabalho missionrio, sendo o primeiro perodo caracterizado pela vigncia do servio de capelania e vo ltado ao imigrante. O momento seguintefoi demarcado pela atuao entre os brasileiros catlicos. Os protestantes chegados ao Brasil entendiam haver a necessidade de ao com cautela em sol o nacional,pois os ultramontanos, representados por padre Perereca, os vigiavam, e combatiam sua presena e trabalho no pa s; a oposio entre catlicos e protestantes erasignificativa com representantes religiosos destacando os el ementos negativos dos dois grupos religiosos. Diante dessa tenso, Barbosa apresenta o desafio para os

    missionrios de conquistar o pas devido religiosidade catlica , sustentada constitucionalmente e muito presente na v ida cotidiana. A sada seria, apesar dasdistines internas entre as denominaes, o estabelecimento de uma estratgia comum, com base na sustentao de uma unidade teolgica, expressa na adoo deum livro de hinos.Sobre os missionrios, Barbosa provoca uma inquietao por levar o leitor a co nstatar seu desconhecimento sobre os agentes religiosos responsve is pela fundaodas igrejas protestantes. Pouco se sabe qu em eram, suas orientaes polticas, seus posicionamentos diante de questes p olticas como, por exemplo, a escravido.Porm no livro vemos que a maioria do s missionrios era de origem norte-americana, defensores do liberalismo, da democracia, da educao incondic ional, daliberdade de pensar e da separao entre Estado e Igreja. Diante isso, o trabalho missionrio, em seu d esenvolvimento no Brasil, apresentou contradies pois noteve como caractersticas a contestao social e a atuao nos problemas polticos nacionais. A atividade desenvolvida no esteve voltada s mudanas da ordemsocial nem ao questionamento da desigualdade social como um problema dessa vida e no pertinente ao fim dos tempos. Os missionrios mantiveram-se distantesdas questes polticas, porm indicando que os novos convertidos poderiam libertar os escravos sob seu domnio.No segundo captulo Estratgia missionria, a nfase dada ao ensino empreendido pelas denominaes evanglicas interessadas em transformar a sociedade. Aimportncia dada a ela revela que os partidrios da Reforma tinham o projeto de conquistar mais que do o esprito dos brasileiros. A alfabetizao asseguraria aalterao da mentalidade ao transplantar para o Brasil uma educao voltada ao individualismo, ao pragmatismo e ao liberalismo. possvel acessar um lado doempreendimento educacional protestante ao ver que os fi lhos de brasileiros no estavam interessados no aspecto religioso, mas na educao pragmt ica e, portanto,distinta daquela vigente nas escolas ministradas por sacerdotes catlicos. Barbosa indica que o saber apregoado pelos miss ionrios era visto como eleme ntofundamental transformao pessoal e social, no podendo ficar restrito elite. Ao dar educao um carter abrangente, os missionrios entendiamque ela deveriatambm ser direcionada aos negros n ascidos depois da promulgao da Le i do Ventre Livre, imped indo que se tornassem seres perigosos. Tratava-se de um projeto

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    civilizatrio que, para os agentes envolvidos, resguardaria a sociedade dos filhos de escravos livres vistos como possuidoresde "perigos vitaes", como apontava oeditor de um jornal protestante, em 1881.Ao utilizar material de imprensa, Barbosa reconstri o debate que evidenciava a oposio entre catolicismo e protestantismo e seus traos peculiares. Diante dareao catlica presena de protestantes no pas, os missionrios e pastores brasileiros desenvolveram polmicas distintas com o catolicismo, apontando as falhasda igreja romana pelo distanciamento d o conhecimento bblico. Ao observar esse aspecto pode ocorrer de o leitor tomar a objeo protestante ao catolicismo comoalgo nico, porm o autor demonstra as distines no interior do protestantismo e os nveis de oposio ao catolicismo. Para Barbosa, o s protestantes estrangeirostiveram uma postura mais brandaenquantoos pastores brasileiros criticaram os padres de modo mais agressivo. O autor tambm evidencia os interesses dosmissionrios estrangeiros em agir cautelosamente com a finalidade de no provocar a es fera poltica e o risco de deportao, recebendo apoio de suas den ominaes,entendedoras da necessidade de atuao em uma sociedade sem liberdade religiosa. J os pastores brasileiros recebiam ateno significativa por parte de vigilantescatlicos, pois vistos como apstatas e defensores de uma outra f eram tratados de maneira diferenciada. Ento, a abordagem apresenta traos instigantes aomostrar que as tenses no estavam restritas ao antagonismo entre catlicos e protestantes; indo mais alm, aponta para a reserva adotada pelas igrejas protestantesem relao aos pastores brasileiros que, muitas vezes, recebiam parco apoio e espao para explanao. Isso se dari a devido crtica ac irrada que exercitavam,provocando os pastores estrangeiros que sugeriam cautela s lideranas, pois consideravam as exposies de pastores brasileiros comprometedoras por provocar

    perseguies e colocar em risco o projeto de imp lantao das igrejas crists reformadas.No terceiro captulo A mensagem institucional protestante e a questo da escravido, a partir da manipulao de material de imprensa, produzido pelas esferasreligiosa e poltica, documentos da Igreja Metodista e os construdos por polticos ao redor d a discusso sobre a libertao do negro, Barbosa apresenta a relaoentre as igrejas protestantes e a escravido. A densidade da leitura est em p erceber a posio contraditria adotada pelas denominaes p rotestantes diante daescravido praticada nos Estados Unidos, qual o peso que teve nos projetos i migrantistas, realizados aps a guerra civil norte-americana, e como isso influenciou osmissionrios que atuaram no Brasil, destacando a v iso que passaram a ter sobre a escravido e o negro e qual o dilogo estabelecido com os ideais abolicionistas.O autor encaminha sua anlise focal izando as denominaes e suas aes no sul dos Estad os Unidos, pois essa foi a regio de origem de parte dos mi ssionrios queatuaram no Brasil. Barbosa focaliza o anglicanismo em vigor nos Estados Unidos, j no sculo XVII, diante do trabalho escravopois, com a incorporao, o laborpassou a ter sentido diferenciado. Ao se beneficiar com a escravido, os anglicanos fracamente evangelizaram os negros, pois no cabia em seu credo religioso,explorar o trabalho de um igual; nesse sentido, a igualdade estaria definida a partir do professar uma mesma f. Tal situaolevaria o converso liberdade,ocorrendo, caso o proselitismo fosse presente entre os negros, um problema de grande monta para os senhores. A conduo dessa exposio fundamental parademonstrar a tenso posterior entre missionrios e senhores de escravos.Para falar sobre a proteo dos interesses dos b eneficiados pela escravido, Barbosa utiliza documentos produzidos por missionrios e centra sua anlise na IgrejaMetodista. Ele revela oposies e negociaes que envolviam a atuao religiosa e os interesses econmicos, demonstrando as mudanas de posio dosmissionrios e as a lteraes ocorridas no sul dos Estados Unidos com a converso de negros. A Igreja Metodista assumira posio anti-escravista, baseada noConclio de Baltimore, de 1780, proibindo aos metodistas a posse de escravos, sob pena de expulso. Tambm o revivali smo religioso, ocorrido no sul, possibilitou osurgimento de diversos negros pastores, podendo-se dizer que, em fins d o sculo XVIII, hav ia mais de 12.000 negros metodistas. Todavia, o cenrio alterou-se,registrando-se, no sculo XIX , um recrudescimento diante da escravido, ocor rendo modificaes no trabalho missionrio metodista, deixando de ser valorizado o

    discurso emancipacionista; isso se deu devido presena de senho res nas igrejas que, aos po ucos, assumiram a direo delas. Diante da situao, o trabalhomissionrio mudou para que no de ixasse de ser realizado entre os escravos, conforme a presso dos senhores. A fim de evitar o encerramento dessa ativi dade, aliderana metodista props que a salvaoespiritual do escravo, e no a sua liberdade e igualdade fsicas, passasse a ser enfatizada, fazendo coro com os interessesdos senhores. Essa diretriz passou a ser corrente tambm nas demais igrejas.A instalao de um novo processo prod utivo, baseado no contrato, levou abertura do Brasil a diversos grupos de imigrantes, oriundos de partes da Europa, emdetrimento do ndio e do negro, vistos como preguiosos e perigosos, respectivamente. Alm dos europeus, havia um empreendimento visando imigrao norte-americana que agradou aos representantes do protestantismo nacional e de conservadores norte-americanos. Barbosa sublinha a complexidade da presenaprotestante no pas, pois parte dos missionrios estrangeiros era contra a esc ravido, mas no se man ifestava visivelmente e, por outro lado, apoiava a imigrao desulistas norte-americanos. O autor constri sua exposi o trazendo a polmica estabelec ida com partidrios da emancipao do trabalho escravo como, p or exemplo,Quintino Bocayuva que destacava a libertao e criticava a presena dos sulistas favorveis economia baseada na proteo grande propriedade e no uso dotrabalho escravo. Portanto, apesar de a escravido ser reprovada por missionrios, eles consentiram na imigrao norte-americana que, para os abolicionis tas, levaria manuteno de um sistema cada vez mais contestado pelo senso de justia da poca. Mesmo diante de manifestaes contrrias,os norte-americanos dirigiram-separa o Par e tambm para o Rio de Janeiro e So Paulo, sendo o grupo formado por religiosos, militares, pequenos proprietrios rurais e alguns latifundirios,animados pela possibilidade de vigncia de propriedade monocultora e escravocrata.Apesar de alguns missionrios serem adeptos do abolicionismo, o que marcou o trabalho protestante no Brasil foi a indiferena em relao escravido e situaodo negro na sociedade. Isso fica bem expresso no suporte dado imigrao de sulistas norte-americanos. O autor afirma que poucas referncias ou exposies eramrealizadas nos veculos de comunicao das denominaes como, por exemplo, houve, por parte de um dos lderes, a manifestao acerca da situao de crianas,principalmente filhos de escravos, deixadas n o "asilo dos expostos" ou "casa da roda". No mais, os posic ionamentos sobre o tema defendiam a liberdade do esprito eno a do corpo, mesmo quando a sociedade brasileira estava mobil izada ao redor do fim da escravido. Entre as igrejas atuantes no Brasil ficava aberto aos dirigentesestabelecer a atuao de seus membros e incentivar a libertao dos negros mantidos sob seus domnios.Barbosa tambm focaliza a imprensa do sculo XIX que a base sobre a qual oferece um quadro p ertinente participao dos protestantes no debate e aoposicionamento diante das leis que contemplavam da escravido. Isso coloca elementos significativos compreenso que tinham sobre o negro e a escravido- semesquecer a circulao entre os protestantes da noo de escravido, haja vista que era comp reendida como elemento fundamental para que os homens brancosexercitassem a grandeza da libertao. Alm de pequenos jornais, com edies quinzenais ou mensais, Barbosa destaca os jornais "Imprensa Evanglica", da IgrejaPresbiteriana, fundado em 1864, e "O Novo Mundo", editado em Nova Iorque, em fins da dcada de 1860, com a finalidade de ilustrar o distanciamento do debate sobrea emancipao dos negros. Por vo lta de 1880, a ab olio da escravido passa a ser contemplada por esses ve culos atravs de artigos, comentrios e reproduo dematrias de outros jornais. O artifcio ut ilizado pelos editores foi o de publ icar reflexes de terceiros como, por exemp lo, Joaquim Nabuco e cartas de C.BeneditoOttoni enviadas ao Centro Abolicionista. B arbosa sublinha que em "Imprensa Evanglica" o destaque estava na imigrao, em apontar a incompatibilidade entre aescravido e a justia crist e em criticar as leis surgidas at o momento. Em "O Novo Mundo", cujo ed itor era favorvel imigrao de americanos sul istas, ocorreu adivulgao da situao dos Estados Unidos, aps a guerra civil, com vistas a demonstrar o progresso do pas, principal mente no sul, com o f im da escravido. O temaabordado foi o da emancipao, ocorrendo o dilogo com os senhores de escravos, alertando-os sobre a proximidade de um novo momento com a escravido quefindava. Nesse sentido, o negro estava ausente de seu espao comu nicacional, sendo que a escravido era tida como um mal a prejudicar nao, e o seuencerramento incorreria em colocar o pas em direo ao progresso. O fim da escravido instalaria uma nova etapa, cujo incio seria demarcado pela abdicao doescravo e de seu trabalho medida que a nao o compraria e com isso no haveria prejuzos para o senhor, que passaria a investir no trabalho livre e racio nal;figurando, assim, os grandes proprietrios e senhores de escravos como o principal pil ar na construo do Brasil. Com i sso, o pas seria a grande nao livre do mal,

    da irracionalidade e, por sua vez, associado verdadeira religio de inspirao bblica.Por fim, Barbosa demonstra que o protestantismo guardava profunda correspondncia com os interesses d aqueles que detinham o domnio na sociedade e isso eravisvel na imprensa protestante. Sem trazer a lume a opini o dos leitores, Barbosa aponta que a imprensa protestante teria eleito os senhores de terras e de escravoscomo interlocutores, sendo que o negro no era contempl ado como agente histrico da mudana. Para o autor, a reflexo protestante sobre o negro foi desenvolvidano sentido de indicar que o escravo deveria ser resgatado, regenerado e educado de acordo com o en sino e a moral p rotestantes, tornando-o humilde, afastando operigo da revolta ou da falta de labor, pois sem conhecimento religioso no alcanaria o estatuto de homem p rodutivo e no teria participao na vida soc ial. Otrabalho de Barbosa uma contribuio reflexo das negociaes realizadas pelos protestantes, visve is na imprensa, voltadas a quebrar a primaz ia da IgrejaCatlica e a assegurar aos grupos protestantes um lugar na soci edade brasileira. Portanto, a imprensa foi pea-chave na propaganda d a defesa da democracia, doindividualismo, do trabalho livre, da educao irrestrita, associando-os nova religiosidade que seria o caminho para a construo de uma nao livre e moderna.++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++Espinho: a desconstruo da racializao negra da escravido", por Elielma Ayres Machado (*)O livro de autoria de Miriam Rosa resultou da sua dissertao de mestrado, escrita em 2000 e apresentada ao Programa de Ps-graduao em Antropologia Social daUniversidade de Braslia. O livro, assim como a dissertao, tem por finalidade apresentar impresses da autora sobre o chamado povo do Espinho - Gouveia (MG). Asimpresses relatadas derivam do contato travado, em trs ocasies di ferentes, entre a autora e os moradores da comu nidade de Espinho. Miriam Rosa conheceu olocal em 1996 e depois desse primeiro encontro, esteve l duas outras vezes, totalizando 61 dias de contato.

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    O livro se subdivide em seis partes: uma breve introduo e cinco captulos. No h concluso. Logo na introduo, a autora adverte ao leitor que quando esteve pelaprimeira vez em Gouveia, soube que havia um local que era conhecido como lugar ondes tem preto ou resto de quilombo. Mas ela afirma que a comunidade deEspinho no se reconhece como remanescente de quilombo. No entanto, Miriam Rosa tem opinio d iversa. Para ela a comunidade seria mesmo remanescente dequilombo. Para resolver este impasse, a autora adotou a seguinte medida: o objeto [de estudo] deslocou-se para anlise d as estratgias da comunidade frente aopreconceito e das narrativas, contos que recontam sua prpria histria. Assim qu e este trabalho procura utilizar de forma superficial a id iaderrideana dedesconstruo que neste trabalho diz respeito desconstruo da racializao negra, presente no discurso, narrativas mticas e na v ida cotidiana do povo d eEspinho (p. 13 e 14).Dessa forma, nas pginas seguintes, a autora procede com a desconstruo da racializao negra. A desconstruo tem como base apontar e valorizar osaspectos que, por vezes, encontram-se dissimulados em muitas narrativas etnogrficas.Para alcanar tal intento, Miriam Rosa cita entre as referncias bibliogrficas, autores e etnografias considerados clssicos da Antropologia, tais como: Evans-Pritchard, Edmund Leach, Marcel Mauss, Lvi-Strauss e Clifford Geertz, ao lado de outros como HomiBhabha, Stanley T ambiah, James Clifford, considerados ps-Modernos; alm de Jacques Derrida, de quem toma de emprstimo a noo de desconstruo. O processo de escrita adotado no livro uma demonstrao da adesoda autora perspectiva da escrita etnogrfica como u m processo polifnico. Tanto assim que um captulo foi escrito na primeira pessoa do singular, dois outros deforma impessoal, alternando formas de escrita. Dentro dessa perspectiva a etno grafia constituda por muitas vozes. Assim seria revelada a percepo da autoraacerca das aes e relaes simblicas vivenciadas por outros e tambm seria possvel identificar o ponto de vista do nativo. Este estilo narrativo temsidoutilizado por muitos antroplogos nos dias atuais e, por vezes, tem possibilitado identificar outras dimenses da relao sujeito-objeto, principalmente os aspectossubjetivos inerentes relao pesquisador-pesquisado". Esta relao est presente nos textos antropolgicos, de forma indireta desde Bronislaw Malinowski, nolivro Argonautas do Pacfico Ocidental, com as notas sobre os imponderveis da pesquisa etnogrfica e, de maneira direta no Dirio no Sentido Estrito doTermo[1]. Ou seja, este tema perpassa grande parte da produo etnogrfica h quase um scu lo e, a considerar a produo etnogrfica atual, no h sinais deesgotamento do assunto. Ao contrrio, a nfase nos aspectos subjetivos tem dado po ssibilidade de surgirem outros temas correlatos. Nesse sentido, cito comoexemplo as relaes de gnero e raa. Quando mulheres[2] e antroplogos (as) com diferentes caractersticas fsicas (no -brancos) vo a campo, outras relaes etemas eclodem em decorrncia do contato com os nativos. Em seu livro, Miriam Rosa parece indicar estas relaes, mas h poucos relatos de como suascaractersticas influenciaram a pesquisa. E fica no ar ainda a questo sobre qual racializao precisa ser desconstruda: a racializao negra ou a escrava?Como descrita no trabalho, a categoria remanescente de quilombo foi criada para garantir direitos (fundirios e culturais). Dessa forma, o artigo 68 d a Seodos Atos das Disposies Transitrias da Constituio Federal de 1988, no apenas reconheceu o direito que as comun idades remanescentes de quilomb os tm sterras que ocupam, como criou esta categoria poltica e sociolgica. Remanescente e quilombo, so categorias sociais e, como tal, podem adq uirir diferentessignificados.

    Faltam no trabalho anlises importantes sobre comunidades remanescentes de quilombo, especialmente as obras de F ry& Vogt e Arruti. Para estes autores, aarticulao entre linguagem e identidade tnica um ponto central na imbricada relao entre estas comunidades especficas e os mecanismos ado tados por elasfrente a outros segmentos e grupos sociais.A partir da indicao de Arruti pode-se perceber como nos estudos antropolgicos sobre comun idades remanescentes de quilombo torna-se necessrio demonstrarcomo as categorias sociais so articuladas por indivduos e grupos sociais. Com tal procedimento poss vel descrever e analisar as formas de classificao e deautoclassificao de cor/raa. Revela-se assim, a importncia de se estabelecer genealogias como mtodo de investigao sobre os usos das categorias sociais. Aose recuperar os nomes, tambm se reconstri a histria dos indivduos, dos grupos e das instituies que eles nomeiam.Na minha opinio, a categoria Espinho presente no ttulo do livro de Miriam Rosa mereceria uma genealogia, posto que esta categoria central na experincianarrada, por nomear a comunidade em foco. O mesmo ocorre com outras categorias nativas, tais como: bichos do mato, tipuca, alm das categorias de corutilizadas pelos moradores de Espinho. Algo similar ocorre com a trucagem. Ao descrever a trucagem como sendo o achado da pesquisa d e campo, tal prticaadquire ainda mais importncia . Posto que a trucagem ou trucar no apenas jogar em momentos de lazer, tambmuma linguagem prpria, que se utiliza degestualidade performtica e de uma verbalizao exuberante... (p.43). Assim, caberia demonstrar detalhadamente como tal prtica feita. A trucagem parece seralgo de fundamental importncia na articulao dos indivduos como comunidade organizada. Mas como esta categoria apenas mencionada, no h como saberquais os seus significados. O mesmo ocorreu com outras informaes e dados relativos comunidade pesquisada. Cito como exemplo o fato de que a lm da partetextual, h ilustraes entre os captulos do livro. Trata-se de imagens de pessoas com aparncia cor da pe le negra, as quais suponho que representem os

    moradores de Espinho. No entanto, no h como saber, uma vez que no tm legendas. Este e outrosaspectos so indicativos de como a autora preferiu guardar parasi e no desvelar o significado do Espinho.O livro de Miriam Rosa, no tem concluso e apenas no ltimo pargrafo aparece a afirmao de que no pretendeu chegar a umaconcluso definitiva. Dessa forma,como se trata de uma dissertao de mestrado, fica a expectativa de um outro trabalho da autora mais elucidativo sobre a comunidade de Espinho.

    Os indgenasA colonizao do territrio brasileiro pelos europeus representou em grande parte a destruio fsica dos indgenas atravs de guerras e escravido, tendosobrevivido apenas uma pequena parte das naes indgenas originais. A cultura indgena foi tambm parcialmente eliminada pela ao da catequese e intensamiscigenao com outras etnias. Atualmente, apenas algumas poucas naes indgenas ainda existem e conseguem manter parte da sua cultura original.Indgena brasileiro, representando sua rica arte plumria e de pintura corporal.Apesar disso, a cultura e os conhecimentos dos indgenas sobre a terra foram determinantes durante a colonizao, influenciando a lngua, a culinria, o fol clore e ouso de objetos caseiros diversos como a rede de descanso. Um dos aspectos mais notveis da influncia indgena foi a chamada lngua geral (Lngua geral paulista,Nheengatu), uma lngua derivada do Tupi-Guarani com termos da lngua portuguesa que serv iu de lingua franca no interior do Brasil at meados do sculo XVIII,principalmente nas regies de influncia paul ista e na regio amaznica. O portugus brasileiro guarda, de fato, inmeros termos de origem indgena, especialmentederivados do Tupi-Guarani. De maneira geral, nomes de origem indgena so frequentes na designao de animais e plantas nativos (jaguar, capivara, ip, jacarand,etc), alm de serem muito frequentes na toponmia por todo o territrio.A influncia indgena tamb m forte no folclore do interior brasileiro, povoado de seres fantsticos como o curupira, o saci-perer, o boitat e a iara, entre ou tros. Na

    culinria brasileira, a mandioca, a erva-mate, o aa, a jabuticaba, inmeros pescados e ou tros frutos da terra, alm de pratos como os pires, entraram na alimentaobrasileira por influncia indgena. Essa influncia se faz mais forte em certas regies do pas, em que esses grupos conseguiram se manter mais distantes da aocolonizadora, principalmente em pores da Regio Norte do Brasil.Os africanosA cultura africana chegou ao Brasil com os povos escravizados trazidos da frica durante o longo perodo em que durou o trfico negreiro transatlntico. Adiversidade cultural da frica refletiu-se na diversidade dos escravos , pertencentes a diversas etnias que falavam idiomas d iferentes e trouxeram tradies distintas.Os africanos trazidos ao Brasil incluram bantos, nags e jejes, cujas crenas religiosas deram origem s religies afro-brasileiras, e os haus e mals, de religioislmica e alfabetizados em rabe. Assim como a indgena, a cultura africana foi geralmente suprimida pelos colonizadores. Na colnia, os escravos aprendiam oportugus, eram batizados com nomes portugueses e obrigados a se converter ao catolicismo.Os africanos contriburam para a cultura brasileira em uma enormidade de aspectos: dana, msica, religio, culinria e idioma. Essa influncia se faz notar em grandeparte do pas; em certos estados como Bahia, Maranho, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, So Paulo e Rio Grande do Sul a cultura afro-brasileira particularmente destacada em virtude da migrao dos escravos.Os bantos, nags e jejes no Brasil colonial criaram o candombl, religio afro-brasileira baseada no culto aos orixspraticada atualmente em todo o territrio.Largamente distribuda tambm a umbanda, uma religio s incrtica que mistura elementos africanos com o catol icismo e o espiritismo, incluindo a associao desantos catlicos com os orixs.A influncia da cultura africana tambm evidente na culinria regional, especialmente na Bahia, onde foi introduzido odendezeiro, uma palmeira africana da qual seextrai o azeite-de-dend. Este aze ite utilizado em vrios pratos de inf luncia africana como o vatap, o caruru e o acaraj.

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    Na msica a cu ltura africana contribuiu com os ritmos que so a base de boa parte da msica popular brasileira. Gneros musicais coloniais de influncia a fricana,como o lundu, terminaram dando origem b ase rtmica do maxixe, samba, choro, bossa-nova e outros gneros musica is atuais. Tambm h alguns instrumentosmusicais brasileiros, como o berimbau, o afox e o agog, que so de origem africana. O berimbau o instrumento utilizado para criar o ritmo que acompanh a ospassos da capoeira, mistura de dana e arte marcial criada pelos escravos no Brasil colnial.

    Histria, antropologia e a cultura afro-americana: o legado da escravidoRECENTE edio no Brasil do livro de Sidney Mintz e Richard Price,O nascimento da cultura afro-americana: uma perspectiva antropolgica, publicado

    originalmente em ingls em 1976, uma boa oportunidade para se efetuar um balano suscinto das discusses sobre o pape l da histria e antropologia no estudo dasculturas afro-americanas.A verdade inescapvel no estudo da Afro-Amrica a humanidade dos oprimidos e a desumanidade dos sistemas que os oprimiram. Mas nem todos os sistemasescravagistas oprimiram igualmente todos os escravos, e nem todos os escravos lidaram damesma maneira com sua opresso1.COM ESSAS PALAVRAS Sidney Mintz e Richard Pricefecharam seu livro O nascimento da cultura afro-americana: uma perspectiva antropolgica, recm-lanado noBrasil. Mintz e Price so dois renomados antropolgos norte-americanos, especialistas respectivamente no estudo das sociedades do Caribe e do Suriname, cujaproduo teve e ainda tem grande repercusso nas pesquisas sobre a escravido e as culturas negras nas Amricas. Alguns dos pressupostos centrais do livro foram

    bem salientados na passagem ac ima: a necessidade da compreenso integrada da histria da Amrica e da frica, a importncia da comparao entre os diferentessistemas escravistas do Novo Mundo, o papel dos escravos como sujeitos histricos para a conformao dos sistemas em que viviam. Esses pressupostos, por suavez, tinham um objetivo preciso: dialogando com uma longa vertente de estudos sobre a cultura afro-americana, Mintz e Price pretendiam discutir criticamente asteses sobre as culturas escravas nas Amricas que as concebiam como totalmente "aculturadas" ou estritamente "africanas".

    De fato, quando saiu a primeira edio do livro em 1976 (baseada em uma conferncia que Mintz e Price proferiram em 1973), osestudos sobre a questocontinuavam polarizados em posies marcadamente d istintas. Por um lado, havia os que adotavam a "tese da catstrofe" cultural que a escravido teriarepresentado para os africanos e seus descendentes nas Amricas. Essa seria a histria de "um longo desastre, uma crnica de ho rrores na qual os negrosexperimentaram todas as formas concebveis de explorao, humilhao e sofrimento nas mos de seus opressores brancos"; de acordo com essa viso, o negroteria sido despojado culturalmente de suas razes africanas, e "forado a s e aculturar ao modo de vida e pensamento de seu opressor branco". Dentre os formuladoresda tese da catstrofe cultural, estavam o socilogo norte-americano Franklin Frazier, o antroplogo francs Roger Bastide e o historiador norte-americano StanleyElkins. Por outro lado, os estudiosos que defendiam a "tese da sobrevivncia" das formas culturais africanas no Novo Mundo postulavam a capacidade que os neg rostiveram para sobreviver opresso branca, mantendo relativamente intactas suas expresses culturais trazidas da frica. O nome mais destacado, aqui, era o doantroplogo norte-americano Melville Herskovits2.Cabe salientar que toda essa produo se deu entre as dcadas de 1930 e 1960. Com efeito, o d ebate entre Frazier e Herskovits teve incio a inda nos anos de 1930, aopasso que as principais publicaes de Bastide e Elkins vieram a lume na dcada de 1950. A quantidade de ttulos sobre o assunto, contudo, ainda era restrito. Nadcada seguinte, houve um notvel incremento nos estudos sobre o passado escravista nas Amricas. Como h muito assinalado, oboom da historiografia sobre aescravido verificado a partir dos anos de 1960 foi uma resposta direta a questes sociais e polticas como a campanha pelos direitos civis nos Estados Unidos, a lutapela independncia dos pases africanos ou a luta antiimperialista no Terceiro Mundo3.Nessa virada, a tese da sobrevivncia tomou a dianteira. Os pesquisadores e o movimento negro reagiram em especial s vises mais extremadas do catastrofismo,como a de Stanley Elkins, que negavam aos escravos e aos afro-descententes qualquer agncia n a construo de seu devir4. A reao, no entanto, veio muito mais dahistria que da antropologia. At fins dos anos de 1960, poucos foram os antroplogos que trataram do passado escravista dos afro-descendentes no Novo Mundo, e,mesmo os que o f izeram excetuando-se os trabalhos inovadores de Herskovits tendiam a n ivelar a trajetria do escravismo nas Amricas em um passadoanistrico, encarando-o unicamente sob o prisma da continuidade em direo ao presente.O silncio a respeito da escravido no campo da antropologia, sugere Igor Kopytoff, derivou do prprio carter que esse saberadquiriu entre as dcadas de 1920 e1960. A nfase no trabalho de campo, alm de restringir o arco das sociedades que o pesqui sador poderia investigar, levou a uma crescente indiferena pela h istriaentre os antroplogos, mesmo quando o passado da sociedade sob anlise pudesse ser recomposto. Como escreve Kopytoff, "uma certa arrogncia a respeito dasuperioridade da percepo antropolgica tornou fcil desqualificar os registros dos viajantes coevos, administradores coloniais e missionrios como tendenciosos eingnuos"5. Por todas essas razes, as simp lificaes a respeito do passado afro-americano viraram moeda corrente, e, no po r acaso, alguns antroplogoscomearam a sentir, em fins d os anos de 1960, a necessidade de uma abordagem histrica substantiva para melhor compreender o presente afro-americano6.Mas os problemas no eram exclusivos do campo da antropologia. O peso crescente da tese da sobrevivncia estava conduzindo a alguns impasses interpretativos,como o escamoteamento do impacto que a escravido teve para a conformao da cultura afro-americana. Do mesmo modo, a escrita da histria com base nosmarcos territoriais dos Estados nacionais levava os historiadores a verem a exp erincia afro-americana de forma isolada, no-comparativa, e a natureza das fonteslegadas pelos escravos e seus d escendentes (em geral restritas cultura material e tradio oral) dificultava o trabalho de investigao. Portanto, o quadro geral dosestudos sobre a cultura afro-americana no comeo da dcada de 1 970 poderia ser resumido da seguinte forma: os antroplogos davam lugar secundrio histriacomo ferramenta para examinar o presente afro-americano, enquanto os historiadores quando no comprometidos politicamente a provar a tese da sobrevivncia a

    qualquer custo sentiam a falta de um instrumental analtico adequado para a vanar na questo7

    .O ensaio de Mintz e Price, redigido entre 1972 e 1973, props uma soluo clara para o impasse , e com esse esprito foi concebido. Afinal, como esclarecem no novoprefcio para a edio de 1992, o livropretendeu ser uma profisso de f e um manual. Estvamos inquietos com algumas polarizaes que vinham despontando nos estudos afro-americanos. [...] Assi m,concentramo-nos nas estratgias ou abordagens do estudo do passado afro-americano, em vez de apresentar os resultados atualizados desses estudos, na esperanade incentivar historiadores e outros pesquisadores que estivessem ingressando nesse campo a empregarem modelos conceituais que ficassem plenamente alturada complexidade de seu tema8.No que consiste a proposta? Em primeiro lugar, a idia de que sem o cruzamento da histria com a antropologia imposs vel compreender devidamente as culturasafro-americanas. Tal cruzamento deve contemp lar sobretudo os mtodos desses dois campos do saber, englobando a comparao , o uso de fontes pouco exploradase de novas tcnicas para analis-las. Em sua concluso, Mintz e Price deixam claro quea postura terica que adotamos neste ensaio que o passado deve ser v isto como a c ircunstncia condicionadora do presente. No cremos que o p resente possa ser"compreendido" no sentido de se explicarem as relaes entre diferentes formas institucionais contemporneas sem referncia ao passado9.O segundo elemento da proposta consiste em destacar o peso do escravismo para a compreenso das culturas afro-americanas, em especial o papel que os escravosdesempenharam na criao de novos v alores, instituies e formas culturais. Os autores ressaltam que as condies d o povoamento europeu e africano do NovoMundo foram profundamente distintas: afora o fato de os europeus portarem uma cultura relativamente homognea enquanto os africanos carregaram con sigo"heranas culturais relativamente variadas", o status d e ambos os grup os diferiu radicalmente. Isto, por sua vez, teve impacto decisivo na continuidade ou noreordenamento cultural, pois "os sistemas legais, os sistemas econmicos, os sistemas de ensino, as instituies religiosas emuitas outras coisas puderam serestabelecidas e desenvolvidas pelos europeus atravs de meios que no estavam ao alcance dos escravos"10. Sendo assim, toda a ao escrava no sentido da criao

    de uma cultura prpria teve que remar contra a corrente do poder escravista.Questionando a idia da un idade cultural da frica ocidental apresentada por Herskovits, Mintz e Price defendem a hiptese de que, no n vel das formas manifestas ecrenas explcitas, as culturas africanas das regies que abasteceram o trfico negreiro transatlntico foram marcadas por grande heterogeneidade. Os autores nonegam a existncia de uma herana cultural comum aos africanos, mas afirmam que ela teria de ser observada em um outro nvel, o dos "princpios gramaticaisinconscientes" e das "orientaes cognitivas", e no poderia ser automaticamente associada a manifestaes culturais explcitas, visto que estas estariam semprediretamente ligadas's formas institucionais que as articulavam. A natureza do fluxo migratrio dos africanos para a Amrica representou enorme obstculo para atransposio cultural simples, pois as instituies que conferiam organicidade s diversas culturas africanas no puderam ser trazidas nos navios negreiros. Oscativos tiveram que cri-las nas Amricas por meio de sua prpria agncia, mas sempre com base naqueles "princpios gramaticais" mais profundos.As constries da escravido devem ser levadas em conta em qualquer investigao sobre a formao da cultura afro-americana. Com efeito, a relao escravista eraprofundamente assimtrica, com uma enorme concentrao de poder nas mos dos senhores. Nos primeiros tempos, dadas essas constries, apenas alguns tiposde instituio puderam ser desenvolvidos pelos escravos, mas ainda na travessia atlntica os africanos teriam comeado a estabelecer os laos de novas redes desociabilidade, base para as futuras formaes culturais. Progressivamente, a lgica de funcionamento do sistema de plantation e a resistncia escrava aos ditamessenhoriais abriram espao para a elaborao de uma cultura afro-americana autnoma. As instituies culturais criadas pelos escravos nos embates contra seusdonos assumiram sua forma dentro do s parmetros do monoplio senhorial do po der, mas eram separadas das instituies senhoriais. Ademais, a heterogeneidadecultural forou os escravos a reinventarem seus compromissos no Novo Mundo, imprimindo s primeiras culturas afro-americanas grande dinamismo. Tratar-se-iamde quadros culturais abertos novidade, mas sempre informados pelas orientaes cognit ivas mais profundas trazidas da frica.

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    Aps a primeira edio de O nasc imento da cultura afro-americana, uma parte substantiva da historiografia sobre a escravido nas Amricas valeu-se dos mtodos edas hipteses de pesquisa apresentados por Mintz e Price, ainda que algumas de suas proposies tenham sido criticadas11. De todo modo, trata-se de um livro quemarcou poca e que mantm sua atualidade. No caso da historiografia sobre a escravido brasileira, i sso pode ser facilmente observado pela influncia que exerceuem algumas das obras mais importantes publicadas nas ltimas duas dcadas, e que abordaram temas variados como as expresses religiosas e festivas dosafricanos e seus descendentes, as estruturas de parentesco, a cosmoviso e a rebeldi a escravas, dentre outros12. A publicao no Brasil desse clssico dos estudosafro-americanos, enfim, mais que bem-vinda.+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++A Cultura NegraDesde o sculo XVI , poca que comeou nossa colonizao, o negro participou ativamente da formao da cultura brasileira com seu trabalho, suas crenas, seuscostumes, seu jeito de ser e viver.Os negros africanos foram traficados para o Brasil como escravos. Eles v ieram de diferentes regies da frica: Senegal, Guin, Serra Leoa, Costa do Marfim, Benin(antigo Daom), Nigria, Congo, Angola, Moambique... O comrcio dos negros africanos muito beneficiou os traficantes, que, na frica, os trocavam por mercadorias

    baratas e vendiam, no Brasi l, por preos altos; os senhores de engenhos que os utilizavam como mo-de-obra escrava e a Coroa portuguesa que cobrava impostospelo comrcio humano.No Brasil, durante os anos que predominou o regime de trabalho escravo, os negros foram utilizados como mo-de-obra nas plantaes de cana-de-acar, nostrabalhos domsticos, na minerao, nas lavouras de cacau e caf.

    As principais culturas africanas vinda para o Brasil so: a banto e a nag. Fixou-se na Bahia a cultura dos nags e no R io de Janeiro a cultura dos bantos.A cultura negra marcante no Brasil. Dentre as manifestaes culturais afro-brasileiras, podemos destacar o candombl, as danas (a capoeira, samba de roda,maculel), os instrumentos musicais, a culinria.Formao cultural do Brasil ou Brasileiros: Quem somos ns? Em busca da identidade nacionalQuem so os brasileiros? Quem somos ns? sempre a mesma questo! A viso da formao do povo brasileiro escrita na Histriado Brasil comea com aexplicao de trs raas: a branca, a indgena e a africana. Esta viso das trs raas surge ainda no Brasil Imprio, no seio de pesquisadores naturalistas, e ganha aadeso de cronistas e escritores, a exemplo de Jos de Alencar, Machado de Assis, Li ma Barreto, Alvarez de Azevedo entre ou tros, em meio s teorias da poca quereuniam os saberes biolgicos com os sociais.A idia da miscigenao racial muito presente nos tericos do sculo XX ainda persiste no inconsciente coletivo. O Brasil nose esquiva de festejar datascomemorativas de santos catlicos, com uma pitada de esttica afro-religiosa, assim como no deixa de festejar o carnaval na forma que mostra a cultura indgenaidealizada. Nesta festa, os ricos v iram pobres e os pobres viram reis e rainhas. O patro dana ao lado do empregado e o branco junto ao negro. Especialmente agoraque j comemoramos 500 anos de descobrimento do Brasil, lembramos das etnias que consolidaram nesta nao hospitaleira a doura da culinria, o afago, a

    amabilidade e a alegria festiva.Mas ser verdade que o Brasil v ive um paraso racial? A mitologia da brasilidade mestia, dentre tantas outras, tentava difundir verticalmente que aqui era o parasoracial no qual os diversos povos conseguiam conviver, apesar das suas d iferenas, pacificamente. Trataremos um pouco desse assunto neste bloco.Liberdade racial no Brasil, o que isto?Segundo o dicionrio Michaelis, liberdade independncia, autonomia. E o termo racial relativo raa. comum o tratamento de pessoas independente de sua raano Brasil? Quando voc passa pe la rua e vem um indivduo negro do lado contrrio, voc segura com mais firmeza os seus pertences? E se fosse um branco? Poisbem, l na escrav ido o negro no tinha como se equiparar ao branco num s istema onde homem branco gozava do priv ilgio de seus traos fsicos e culturais. Comoera de se esperar, o mun do dos escravos sempre permanecia aqu m do dos seus senhores. Na tentativa de conquistar alguma regalia, muitos negros, escravizadosou no, tentaram a negao dos traos afros, buscando assimilar o padro fsico e cultural do dominador, como uma via para obter os benefcios da Casa-Grande.Porm, no final do sculo X IX e comeo do XX, com a i migrao macia de europeus, a mo-de-obra negra oficialmente livre foi substituda pela dos alemes eitalianos, dentre outros brancos ou amarelos, que s imbolizavam o progresso que chegava a estas terras atrasadas. E o resultado disso? O nascimento das favelas. Ede que cor a maioria dos favelados ainda hoje

    Cultura afro-brasileira- Negros jogando capoeira no Brasil (Rugendas, c. 1830).Denomina-se cultura afro-brasileira o conjunto de manifestaes culturais do Brasil que sofreram algum grau de influncia da cultura africana desde os tempos doBrasil colnia at a atualidade. A cultura da frica chegou ao Brasil, em sua maior parte, trazida pelos escravos negros na poca do trfico transatlntico de escravos .

    No Brasil a cultura africana sofreu tambm a influncia das culturas europeia (principalmente portuguesa) e indgena, de forma que caractersticas de origem africanana cultura brasileira encontram-se em geral mescladas a outras referncias culturais.Traos fortes da cultura africana podem ser encontrados hoje em variados aspectos da cu ltura brasileira, como a ms ica popular, a religio, a culinria, o folclore e asfestividades populares. Os estados do Maranho, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Esprito Santo, Rio de Janeiro, So Paulo e Rio Grande do Su l foram osmais influenciados pela cul tura de origem africana, tanto pela quantidade de e scravos recebidos durante a poca do trfico como pe la migrao interna dos escravosaps o fim do cic lo da cana-de-acar na regio Nordeste.Ainda que tradicionalmente desvalorizados na poca colonial e no sculo XIX, os aspectos da cultura brasileira de origem africana passaram por um processo derevalorizao a partir do sculo XX que continua at os dias de hoje.

    De maneira geral, tanto na p oca colonial como durante o sculo XIX a matriz cultural de origem europeia foi a mais valorizada no Brasil, enquanto que asmanifestaes culturais afro-brasileiras foram muitas vezes desprezadas, desestimuladas e at proibidas. Assim, as religies afro-brasileiras e a arte marcial dacapoeira foram frequentemente perseguidas pelas autoridades. Por o utro lado, algumas manifestaes de origem folclrico, como as congadas, assim comoexpresses musicais como o lundu, foram toleradas e at estimuladas.Entretanto, a partir de meados do sculo XX, as expresses culturais afro-brasileiras comearam a ser gradualmente mais aceitas e admiradas pelas elites brasileirascomo expresses artsticas genuinamente nacionais. Nem todas as manifestaes culturais foram aceitas ao mesmo tempo. O samba foi uma das primeirasexpresses da cultura afro-brasileira a ser admirada quando ocupou posio de destaque na msica popular, no incio do sculo XX.Posteriormente, o governo da ditadura do Estado Novo de Getlio V argas desenvolveu polticas de incentivo do n acionalismo nas quais a cultura afro-brasileiraencontrou caminhos de aceitao oficial. Por exemplo, os desfiles de escolas de samba ganharam nesta poca aprovao g overnamental atravs da Unio Geral dasEscolas de Samba do Brasil, fundada em 1934.

    Outras expresses culturais seguiram o mesmo caminho. A capoeira, que era considerada prpria de bandidos e marginais, foi apresentada, em 1953, por mestreBimba ao presidente Vargas, que ento a chamou de "nico esporte verdadeiramente nacional".A partir da dcada de 1950 as perseguies s religies afro-brasileiras diminuram e a Umbanda passou a ser seguida por parte da classe mdia carioca[1]. Na dcadaseguinte, as religies afro-brasileiras passaram a ser cel ebradas pela elite intelectual branca.Em 2003, foi promu lgada a lei n 10.639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB), passando-se a exigir que as escolas brasileiras de ensinofundamental e mdio incluam n o currculo o ensino da histria e cultura afro-brasileira.Estudos afro-brasileirosO interesse pela cultura afro-brasileira manifesta-se pe los muitos estudos nos campos da sociologia, antropologia, etnologia, msica e lingustica, entre outros,centrados na expresso e evoluo histrica da cultura afro-brasileira.Muitos estudiosos brasileiros como o advogadoEdison Carneiro, o mdico legistaNina Rodrigues, o escritor Jorge Amado, o poeta e escritor mineiro Antonio Olinto, oescritor e jornalistaJoo Ubaldo, o antroplogo e muselogoRaul Lody, entre outros, alm de estrangeiros como o socilogofrancsRoger Bastide, o fotografo PierreVerger, a pesquisadora etnlogaestadunidenseRuth Landes, o pintor argentinoCaryb, dedicaram-se ao levantamento de dados sob re a cultura afro-brasileira, a qualainda no tinha sido estudada em detalhe[2].Alguns infiltraram-se nas religies afro-brasileiras, como o ca so de Joo do Rio, com esse propsito; outros foram convidados a fazer parte do Candombl comomembros efetivos, recebendo cargos honorificos como Ob de Xang no Il Ax Op Afonj e Ogan na Casa Branca do Engenho Velho, Terreiro do Gantois, eajudavam financeiramente a manter esses Terreiros.

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    Muitos sacerdotes leigos em literatura se dispuseram a escrever a histria das religies afro-brasileiras, recebendo a ajuda de acadmicos simpatizantes ou membrosdos candombls. Outros, por j possurem formao acadmica, tornaram-se escritores paralelamente funo de sacerdote, como caso d os antroplogosJlioSantana Braga e Vivaldo da Costa Lima, as IyalorixsMe Stella e Giselle Cossard, tambm conhecida como Omindarewa a francesa, o professor Agenor Miranda, aadvogada Clo Martins e o professor de sociologiaReginaldo Prandi, entre outros.Ver:Anexo:Lista de livros com tema afro-brasileiro[editar]ReligioOs negros trazidos da frica como escravos gera lmente eram imediatamente batizados e obrigados a seguir o Catolicismo. A converso era apenas superficial e asreligies de origem africana conseguiram permanecer atravs de prtica secreta ou o sincretismo com o catolicismo.Algumas religies afro-brasileiras ainda mantm quase que totalmente suas razes africanas, como o caso do Candombl e do Xang do Nordeste; outras formaram-se atravs do sincretismo relig ioso, como o Batuque, o Xamb e a Umbanda. Em maior ou menor grau, as religies afro-brasileiras mostram influncias do Catolicismoe da encataria europeia, assim como da pajelanaamerndia[3]. O s incretismo manifesta-se igualmente na tradio do batismo dos filhos e o casamento na IgrejaCatlica, mesmo quand o os fiis seguem abertamente uma religio afro-brasileira.J no Brasil colonial os negros e mulatos, escravos ou forros, muitas vezes associavam-se em irmandades religiosas catlicas. A Irmandade da Boa Morte e aIrmandade de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos foram das mais importantes, servindo tambm como ligao entre o catolicismo e as rel igies afro-brasileiras. A prpria prtica do catolicismo tradicional sofreu influncia africana no culto de santos de origem africana como So Benedito, Santo Elesbo, SantaEfignia e Santo Antnio de Noto (Santo Antnio do Categer ou Santo Antnio Etope); no culto preferencial de santos facilmente associados com os orixs africanoscomo So Cosme e Damio (ibejis), So Jorge (Ogum no Rio de Janeiro), Santa Brbara (Ians); na criao de novos santos populares como a Escrava Anastcia; eem ladainhas, rezas e festas religiosas (como aLavagem do Bonfim onde as escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim em Salvador, Bahia so lavad as comgua de cheiro pelas filhas-de-santo do candombl).As igrejas pentencostais do Brasil, que combatem as religies de origem africana, na realidade tm vrias influncias destas como se nota em prticascomo obatismo do Esprito Santo e crenas como a de incorporao de ent idades espirituais (vistas como malficas). Enquanto o Catolicismo nega e existncia d e orixs eguias, as igrejas pentencostais acreditam na sua existncia, mas como demnios.Segundo o IBGE, 0,3% dos brasileiros declaram seguir religies de origem africana, embora um nmero maior de pessoas sigam essas religies de forma reservada.Inicialmente desprezadas, as religies afro-brasileira foram ou so praticadas abertamente por vrios inte lectuais e artistas importantes como Jorge Amado, DorivalCaymmi, Vincius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethnia (que freqentavam o terreiro de Me Menininha), Gal Costa (que foi iniciada para oOrixObaluaye), Mestre Didi (filho da iyalorixMe Senhora), Antonio Risrio, Carib, Fernando Coelho, Gilberto Freyre e Jos Beniste (que foi iniciado n o candomblketu).Religies afro-brasileiras

    y Babau - Pary Batuque - Rio Grande do Suly Cabula - Esprito Santo, Minas Gerais, Rio de

    Janeiro e Santa Catarina.

    y Candombl - Em todos estados do Brasily Culto aos Egungun - Bahia, Rio de Janeiro, So

    Paulo

    y Culto de If - Bahia, Rio de Janeiro, So Pauloy Macumba - Rio de Janeiroy Omoloko - Rio de Janeiro, Minas Gerais, So

    Paulo

    y Quimbanda - Rio de Janeiro, So Pauloy Tambor-de-Mina - Maranhoy Terec - Maranho

    y Umbanda - Em todos estados do Brasily Xamb - Alagoas, Pernambucoy Xang do Nordeste - Pernambucoy Confrariay Irmandade dos homens pretosy Sincretismo

    Arte- Tecel do terreiro de Candombl Il Ax Op Afonj, Salvador, BahiaO Alak africano, conhecido como pano da costa no Brasil produzido por tecels do terreiro de Candombl Il Ax Op Afonj em Salvador, no espao ch amado deCasa do Alak[4]. Mestre Didi, Alapini (sumo sacerdote) do Culto aos Egun gun e Assgb (supremo sacerdote) do culto de Obaluaiy e Orixs da terra, tambmescultor e seu trabalho voltado inteiramente para a mitologia e arte yorubana.[5] Na pintura foram muitos os pintores e desenhistas que se dedicaram a mo strar abeleza do Candombl, Umbanda e Batuque em suas telas. Um exemplo o escultor e pintor argentino Caryb que dedicou boa parte de sua vida no Brasil esculpindoe pintando os Orixs e festas nos mnimos detalhes, suas esculturas podem ser vistas no Museu Afro-Brasileiro e tem alguns livros publicados do seu trabalho. Nafotografia o francs Pierre Fatumbi Verger, que em 1946 conheceu a Bahia e ficou at o ltimo dia de vida, retratou em preto e branco o povo brasileiro e todas asnuances do Candombl, no satisfeito s em fotografar passou a fazer parte da religio, tanto no Brasil como na frica onde foi iniciado como babalawo, ainda emvida iniciou a Fundao Pierre Verger em Salvador, onde se encontra todo seu acervo fotogrfico.CulinriaA feijoada brasileira, considerada o prato nacional do Brasil, frequentemente citada como tendo sido criadanas senzalas e ter servido de alimento para os escravos

    na poca colonial. Atualmente, porm, considera-se a feijoada brasileira uma adaptao tropical da feijoada portuguesa que no fo i servida normalmente aosescravos. Apesar disso, a cozinha brasileira regional foi muito influenciada pela cozinha africana, mesclada com elementos culinrios europeus e indgenas.A culinria baiana a que mais demonstra a influncia africana nos seus pratos tpicos como acaraj, vatap e moqueca. Estespratos so preparados com o azeite-de-dend, extrado de uma palmeira africana trazida ao Brasil em tempos coloniais. Na Bahia existem duas maneiras de se prepararestes pratos "afros". Numa, maissimples, as comidas no levam muito tempero e so feita nos terreiros de candombl para serem oferecidas aos orixs. Na outra maneira, empregada fora dosterreiros, as comidas so preparadas com muito tempero e s o mais saborosas, sendo vend idas pelas baiana do acaraj e degustadas em restaurantes e residncias.[editar]CapoeiraCapoeira uma arte marcial criada por escravos negros no Brasil durante o perodo colonial. Conta-se que os escravos diziam aos senhores que era apenas umadana e, ento, o treino era permitido. Assim, a capoeira sempre praticada com instrumentos de percusso, msica cantada, dana e, em algumas verses,acrobacias.A capoeira marcada por movimentos que enganam o oponente, geralmente feitos no solo ou completamente invertidos.Recentemente, a capoeira tem sido bastante po pularizada, sendo at o tema d e vrios jogos de computador e filmes. Freqentemente mencionada na msicapopular brasileira.[editar]Msica e danaBloco carnavalesco Olodum na Bahia Bloco carnavalesco de Maracatu no RecifeA msica criada pelos a fro-brasileiros uma mistura de influncias de toda a frica subsaariana com elementos da msica portuguesa e, em menor grau, amerndia,que produziu uma grande variedade de estilos.

    A msica popular brasileira fortemente influenciada pelos ritmos africanos. As expresses de msica afro-brasileira mais conhecidas so o samba, maracatu, ijex,coco, jongo, carimb, lambada e o maxixe.Como aconteceu em toda parte do continente americano onde houve escravos africanos, a msica feita pelos afro-descendentes foi inicialmente desprezada e mantidana marginalidade, at que ganhou notoriedade no incio do sculo XX e se tornou a mais popular nos dias atuais.Instrumentos afro-brasileiros

    y Afoxy Agogy Atabaquey Berimbauy Tambory Xequer

    [editar]Ver tambm

    y Conferncia de Intelectuais da frica e daDispora

    y Conferncia Mundial da Tradio dos Orixs eCultura

    y Congresso Luso-Afro-Brasileiro de CinciasSociais

    y Congresso Afro-Brasileiroy Alaiand Xiry Festival de Vero de Salvador

    NTRODUO:ENTENDENDO NOSSA CULTURA"A grande aspirao do negro brasileiro ser tratado como um hommem comum". (Milton Santos, 1995)

    Estudar e entender o Continente Africano de grande importncia para compreendermos a enorme di versidade cultural do nosso pas. Po r cultura entende-semuitas coisas. Cultura o resultado de uma histria particular e que inclui por sua vez as relaes com as outras culturas,as quais podem ter caractersticas bem

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    diferentes.Cada sociedade ou grupo social tem uma lgica interna a qual devemos procurar conhecer para que faam sentido s suas prticas, costumes, concepes e

    transformaes pelas quais estas passam.O continente africano caracteriza-se pela diversidade cultural. A Histria desse continente rica e esta intimamente l igada Histria do Brasil. Os africanos, foram

    arrancados dos seus pases de origem e trazidos para nosso pas como escravos, entre os sculos XVI e XIX, enriqueceram a cultura brasileira com seus costumes,rituais religiosos, culinria, danas e muito mais. Somente no sculo XIX, com o movimento abolicionista, os negros ganharama liberdade com a assinatura da Leiurea (1888), lembrando que, em 1988 tomou outra significao, O 13 de maio passou a ser o dia da LUTA CONTRA O RACISMO. A Lei urea deu a liberdade semigualdade.

    Neste contexto, estabelecer e reconhecer novas perspectivas educacionais para uma compreenso do papel do trfico, da escravido e da dispora africana comoelementos formadores da configurao do mundo con temporneo constituem pressupostos bsico para traar um novo perfil do papel das culturas negras naformao do Brasil. Ter respeito e va lorizar as diferenas culturais e tnicas em um territorio no significa aderir aos valores do outro, mas sim, ter respeito comoexpresso da diversidade.

    Afirmao da identidade negra"Conhecer as origens fundamental para a ampliao da conscinc ia social e histrica do povo brasileiro (...). frica, Europa e Amrica percorreram juntas umatormentosa trajetria, especialmente nos ltimos cinco sculos. O futuro, para a barbrie ou para a luz, tambm ter que ser construdo em conjunto". Com essaspalavras do professor Amauri Mendes Pereira, ativista h istrico da causa afro-brasileira, Nei Lopes explicita suas intenes ao elaborar o livro H istria e culturaafricana e afro-brasileira, lanado em 2009 p ela Editora Barsa, e agraciado, no mesmo ano -- 1 lugar da categoria Livro didtico e paradidtico -- com o Prmio Jabuti.

    A obra atende Resoluo n 1, de 17 de junho de 2004, que regulamentou a Lei Federal 10.639/ 03, tornando obrigatrio o ensino da Histria e da Cultura Afro-brasileira e Indgena como contedo bsico na grade curricular no currculo escolar do ensino fundamental e mdio.Nei Lopes, reconhecido pesquisador, compositor e escr itor, autor de mais de vinte livros, entre os quais Dicionrio l iterrio afro-brasileiro, O racismo explicado aosmeus filhos, Enciclopdia bras ileira da dispora africana, Bantos, Ma ls e identidade negra, alm de infantojuvenis e romances, afirma que "a afirmao de umaidentidade negra, principalmente, a partir do resgate do verdadeiro passado da frica e da real histria dos africanos e descendentes no Brasil, uma tarefa de todos.

    Para Lopes, "assim como sabemos que o patrimnio cultural dos negros hoje a recriao dos va lores de nossas civilizaes ancestrais, compreendemos tambmque essas civilizaes foram caudatrias de con tribuies tanto asiticas quanto ocidentais". Nessa linha de pensamento, mas sem se furtar ao debate e denncia, olivro aborda o passado africano em suas conexes com o Brasil, mostrando a resistncia ao trfico e escravido, no sem condenar possveis colaboracionismos, erevela a real dimenso de instituies at hoje incompreendidas, como a religiosidade negra e suas manifestaes culturais.

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    As oito Unidades do livro, que vo da Histria da frica: das c ivilizaes e organizaes pr-coloniais Identidade brasileira: o mito da democracia rac ial e a defesa d eaes afirmativas, tm um glossrio com os termos-chave do texto, alm de atividades especficas especialmente desenvolvidas por Carmem Lcia Campos comsugestes de livros, filmes e sites para subsidiar o debate entre alunos e professores, estimulando a reflexo sobre os temas abordados e promovendo a fixao docontedo.Histria e cultura africana e afro-brasileiraNei LopesBarsa Planeta144 pgs.Consulte o preo pelo telefone (11) 3225-1900

    Histria da Escravido: IntroduoAo falarmos em escravido, difcil no pensar nos portuguese s, espanhis e in gleses que sup erlotav am os por es de seu s nav ios de negros africanos,colocando-os a venda de forma desumana e cruel por toda a regio da Amric a.Sobre este tema, difcil no nos lembrarmos dos capites-de-mato que perseguiam os negros que haviam fugido no Brasil, dos Palmares, da Guerra deSecesso dos Estados Unidos, da dedicao e idias defendidas pelos a bolicionistas, e de muitos outros fatos ligados a este assunto.Ape sar d e toda s e stas cita es, a e scrav ido bem mais antiga do que o trfico do povo africano. Ela vem desde os primrdios de nossa histria,

    quando os povos vencidos em batalhas eram e scravizados por seus conquistadores. Podemos citar como exemplo os hebreus, que foram vendidos comoescravos desde os comeos da Histria.Muitas civilizaes usaram e dependeram do trabalho escravo para a execuo de tarefas mais pesadas e rudimentares. Grcia e Romafoi uma de las,estas detinh am um grande nmero de escravos; con tudo, muitos de seus escravos eram bem tratados e tiveram a chance de comprar sua liberdade.Escravido no BrasilNo Brasil, a escravido teve incio com a p roduo de acar na primeira metade do sculo XVI. Os portugueses traziam os negros africanos de suas colni as nafrica para utilizar como mo-de-obra escrava nos engenhos de acar do Nordeste. Os comerciantes de escravos portugueses vendiam os a fricanos como se fossemmercadorias aqui no Brasil. Os mais saudveis chegavam a valer o dobro daqueles mais fracos ou velhos.O transporte era feito da frica para o Brasil nos pores do navios negreiros. Amontoados, em condies desumanas, muitos morriam antes de chegar ao Brasil,sendo que os corpos eram lanados ao mar.Nas fazendas de acar ou nas minas de ouro (a partir do sculo XVI II), os escravos eram tratados da pior forma possvel. Trabalhavam muito (de sol a sol), recebendoapenas trapos de roupa e uma alimentao de pssima qualidade. Passavam as noites nas senzalas (galpes escuros, midos e compouca higiene) acorrentadospara evitar fugas. Eram constantemente castigados fisicamente, sendo que o aoite era a punio mais comum no Brasil Colnia.Eram proibidos de praticar sua religio de origem africana ou de realizar suas festas e rituais africanos. Tinham que seguir a religio catlica, imposta pelos senhoresde engenho, adotar a lngua portuguesa na comunicao. Mesmo com todas as imposies e restries, no deixaram a cultura africana seapagar. Escondidos,realizavam seus rituais, praticavam suas festas, mantiveram suas representaes artsticas e at desenvolveram uma forma de luta: a capoeira.As mulheres negras tambm sofreram muito com a escravido, embo ra os senhores de engenho u tilizassem esta mo-de-obra, principalmente, para trabalhosdomsticos. Cozinheiras, arrumadeiras e at me smo amas de leite foram comuns naqueles tempos da colnia.No Sculo do Ouro (XVIII ) alguns escravos conseguiam comprar sua l iberdade aps adquirirem a carta de alforria. Juntando alguns "trocados" durante toda a v ida,conseguiam tornar-se livres. Porm, as poucas oportunidades e o preconceito da sociedades acabavam fechando as portas para estas pessoas.O negro tambm reagiu escravido, buscando uma vida digna. Foram comuns as revoltas nas fazendas em que grupos de escravos fugiam, formando nas florestasos famosos quilombos. Estes, eram comunidades bem organizadas, o nde os integrantes viviam em liberdade, atravs de uma organizao comunitria aos moldes doque existia na frica. Nos quilombos, podiam praticar sua cultura, falar sua lngua e exercer seus rituais religiosos. O maisfamoso foi o Quilombo de Palmares,comandado por Zumbi.Campanha Abolicionista e a Abolio da EscravaturaA partir da metade do sculo X IX a escravido no Brasi l passou a ser contestada pela Ingl aterra. Interessada em ampliar seu mercado consumidor no Brasil e nomundo, o Parlamento Ingls aprovou a Lei Bill Aberdeen (1845), que proibia o trfico de escravos, dando o poder aos ingleses de abordarem e aprisionarem navios depases que faziam esta prtica.Em 1850, o Brasil cedeu s presses inglesas e aprovou a Lei Eusbio de Queirz que acaboucom o trfico negreiro. Em 28 de setembro de 1871 era aprovada a Leido Ventre Livre que dava liberdade aos filhos de escravos nascidos a part ir daquela data. E no ano d e 1885 era promulgada a Lei dos Sexagenrios que g arantialiberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade.

    Somente no final do sculo XIX que a escravido foi mundialmente proibida. Aqui no Brasil, sua abolio se deu em 13 de maio de 1888 com a promulgaoda Lei urea, feita pela Princesa Isabel.

    Escravido no BrasilPublicado em 27/04/2009 por Redao, nas categorias Histria.

    INTRODUO: ESCRAVIDO ATRAVS DOS TEMPOSDesde os primrdios dos tempos, o homem tem e scravizado outros homens, a fim de satisfazer suas necessidades de mo-de-obra e, princ ipalmente, para demonstrare aumentar seu poder.As grandes civilizaes tiveram a mo de obra escrava como seu principal meio de produo. Na Antigidade podemos citar comoexemplo mais claro, o ImprioRomano, que chegou a ter mais escravos do que cidados Romanos.Nos tempos modernos podemos c itar Portugal, que desenvolveu o maior e mais lucrativo empreendimento escravista d a poca. O sistema econmico implantado noBrasil e em outras colnias portuguesas, fez do comrcio de negros africanos, homens e mulheres, um eficaz meio de at ingir o lucro rpido e fcil.Mas, aps a libertao dos escravos no Brasil, o ltimo local a manter esta mo-de-obra, pode-se que dizer acabou a escravido? O trabalho de homens, mu lheres ecrianas nas fbricas inglesas, no auge da Revoluo Industrial, no pode ser considerado escravismo? Focalizando os nossos dias,ainda podemos citar formas deescravido? Alm da escravido fsica, isto , utilizao de mo-de-obra nas fbricas, nas usinas, nas carvoarias, no campo etc., ex istem outras formas deescravido?

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    A mdia desempenha diariamente um papel massificador. Atravs da propaganda ela ordena: consuma! Faa como as pessoas bem sucedidas, seja um deles.Consuma e descarte. Quanto custa consumir? Para onde vai o que voc descarta e quais as conseqncias disso ao ambiente?Isso , ou no, escravido?DA FRICA AO BRASILAo contrrio do que a histria oficial ens ina em muitas es colas brasileiras, os portugueses no encontraram na frica um b ando de negros, selvagens, semi-nus,mas sim encontraram civilizaes adiantadas e ricas.A religio, a poltica e os costumes sociais de Ioruba davam o modelo de uma vasta zona. Os negros de Ioruba eram princ ipalmente agricultores, mas os seu steceles, os seus ferreiros, os seus artistas em cobre, ouro e madeira j gozavam de merecida reputao e e xcelncia. Criavam-se animais de sub sistncia cabras,carneiros, porcos, galinhas e pombos. O cavalo era conhecido h muitos sculos, devido ao contato com osrabes. O fundador do reino de Ioruba representava-se,nos mitos, montado num corcel. Em Gana e na Nigria utilizavam-se enxadas de ferro antes que o s portugueses soubessem o que era isso.Para caar os negros na frica, Portugal estimulou as guerras entre tribos. Os portugueses firmavam alianas com chefes de algumas tribos, que perseguiam outras.E cumpriam as regras do jogo, s embarcando os negros realmente escravos. Os portugueses iniciavam o contato com os chefes dando presentes, como tecidosfinos, vinhos, espadas, enfeites. Em troca, iam pedindo coisas. Primeiro coisas de comer, depo is gente, depois os chefes j estavam dependentes dos produtos

    portugueses, estes passavam a cobrar impostos.Em 1620 havia 204 chefes africanos obrigados a entregar escravos aos portugueses, alm de animais, panos, e etc. Isso gerou muitas tenses e revoltas na frica. Osnegros que eram presos e entregues aos portugueses eram marcados com ferro em brasa, e trabalhavam perto do porto, em roas de mandioca e outros trabalhos, ato embarque. Mesmo na frica, os negros nunca aceitavam passivamente a escravido.As marchas e a longa viagem pelo Atlntico ocorriam em condies terrveis. Eram jogados nos pores imundados e abafados dosnavios negreiros ou tumbeiros. Sum em cada trs africanos capturados sobrevivia. B aseado nisso, especialistas ca lculam que a escravido negra vitimou cerca de sessenta milhes de pessoas entreos sculos XV e XIX.Os negros eram embarcados na costa ocidental africana, depois de capturados nas regies onde hoje f icam Guin-Bissau, Costa do Marfim, Angola e Moambique.Alguns percorriam milhares de quilmetros na selva, acorrentados, antes de embarcar nos navios negreiros.A distribuio dos negros no Brasil obedeceu a ciclos econmicos. Os primeiros grupos entravam pelo nordeste e se espa lharam nas plantaes de acar, cacau, efumo. Durante o sculo XVIII, os negros foram usados na minerao, com predominncia em Minas Gerais, Gois e Mato Grosso. Nosculo XIX, trabalharam nasplantaes de caf de Rio, So Paulo e nas charqueadas do Rio Grande Do Sul.A maioria dos negros destinados ao Sul e ao Sudeste pertencia etnia banto, majoritria no centro-sul da frica. Para a regio Nordeste predominou o trfico deIorubas, negros oriundos da Guin e das proximidades da Nigria (noroeste da frica).Submetidos a jornadas dirias de at dezoito horas de trabalho braal, os negros escravos sobreviviam dez anos. Quando morriam, eram imediatamente repostos. Eramais barato ao proprietrio comprar um africano novo do que esperar uma criana crescer para se transformar em escrava.A igreja apoiou o trfico de negros. O papa Nicolau V , em 1454 autorizou o mercado escravo de africanos pela bu la RomanusPontifex. A Igreja justificava o trficodizendo que o negro era pago, e a escravido era uma forma de sa lvar o negro, salvar sua alma, prometendo-lhe a vida eterna, depois da morte.

    O NEGRO NA SOCIEDADE AUCAREIRA medida que o trfico negreiro se intensificou e se transformou num elemento estrutural da colonizao, a escravido foi se convertendo em escravismo, portantonum sistema.O escravismo colonial, d iferentemente do escravismo antigo, foi estruturalmente mercantil , porque a produo aucareira estava toda voltada para o mercado externo,almejando o lucro. Os escravos eram produ tores de mercadorias a serem vendidas pelos senho res de engenho.Por outro lado, o prprio escravo era adquirido atravs do comrcio entre senhores de engenho e traficantes que pertenciam burguesia metropolitana.Portanto o escravismo colonial no perodo aucareiro estruturou-se como sistema integrando trs camadas sociais: o es cravo, o senhor de engenho e a b urguesiametropolitana, na qual se inclu iu o traficante de escravos.Como o prprio nome indica, o escravismo colonial um sistema que se baseia numa dupla explorao: a escravista e a colonial. E, conforme se observa no esquema, a explorao escravista refere-se explorao dos senhores de engenho. Oc orre, entretanto, que tendo a explorao um carter colonial, a ma ior parte da riquezaacabava se transferindo para as mos da burguesia mercantil e, tambm, para o Estado metropolitano.Eram fiscalizados pelo feitor do engenho, um trabalhador livre, com carta branca do senhor na administrao da negrada. Havia ainda os capites-do-mato,responsveis pela captura de negros fugitivos vivos ou mortos e por dar o bom exemplo aos demais negros, aplicando castigos muito cruis, a ponto de matarentre chicotadas, sal nas costas e risos estridentes e estarrecedores.Inventou-se que a raa negra era inferior, que n egro no tinha alma, os jesutas eram indiferentes sua escravido e tortura continua. O negro era mercadoria e, comotal, considerado mquina de trabalhar. Gente nunca. Mesmo assim, contra todas essas advertncias, os negros no se submeteram escravido .O NEGRO NA SOCIEDADE MINERADORAPor serem grandes as incertezas, a at ividade mineira no permitia a constituio de empresas de grande vulto, em carter permanente, salvo em casos reduzidssimosdos grandes mineradores. Para as empresas de menor tamanho, devido s incertezas e voracidade fiscal, a situao geral era a impermanncia, oque resultou numaforma muito especial de trabalho escravo.No podendo arcar com os custos da manuteno de uma escravaria numerosa, os pequenos mineradores davam aos escravos, em geral uma autonomia e liberdadede iniciativa que no se conheceu nas regies aucareiras. Muitas vezes trabalhavam longe de seu senhor ou mesmo por iniciativa prpria, obrigados apenas entrega da parte de seus achados. Essa situao possibilitou aos e scravos acumularem para si um certo volume de riqueza que, posteriormente, foi utilizado nacompra de sua alforria.Apesar disso, no se deve con cluir que a escravido fosse menos rigorosa nas minas. Tal como nos centros aucareiros, a d esigualdade foi reproduzida com amesma intensidade e a pobreza contrastava com a opulncia de uma minoria. Ao contrrio do que se acreditava, a minerao nofoi mais democrtica.O NEGRO NA SOCIEDADE CAFEEIRAInicialmente, todos os trabalhadores das fazendas de caf eram escravos, que os fazendeiros j possuam ou adquiram dos mineradores, visto que o plantio de cafexigia elevada quantidade de trabalhadores. Sem abundncia de capital, o escravo representava para os cafeicultores mo-de-obra de baixo custo, uma vez que oprincipal fator de produo da lavoura cafeeira era a terra e esta os fazendeiros possuam em grande quantidade.A prosperidade da lavoura cafeeira acabava estimul ando a transferncia de trabalhadores escravos da regi o nordeste proveniente da lavoura de cana-de-acar, jem decadncia, para os cafezais da regio sudeste.Com a proibio do trfico internacional de es cravos, decretado pela Inglaterra e a posterior abolio d a escravatura no Brasil, a utilizao de mo-de-obra j no eramais possvel e representava alto custo, visto que era necessrio, ago ra, remunerar o trabalhador.Os fazendeiros preferiram estimular e imigrao de trabalhadores provenientes da Europa, principalmente Itlia e Alemanha ao invs de remunerar o negro liberto,

    tendo sido o estado de So Pau lo o principal estimulador e facilitador da importao destes imigrantes, que ao contrrio do que acontecia com os escravos,trabalhavam em troca de salrio ou at mesmo participao na colheita.A primeira fase da expanso cafeeira aconteceu utilizando-se de recursos preexistentes e subtilizados e foi adequando-se no decorrer do processo, influenciada poracontecimentos externos e internos, conforme citado.O QUILOMBO DOS PALMARESA origem de Palmares anterior a 1600. No se sabe exatamente o ano. Sabe-se que os escravos de um engenh o se rebelaram, e tomaram o eng enho. Ficaram entodiante de um problema: se ficassem no engenho, seriam esmagados pelas tropas do governo. Se levantassem aldeias no litoral, ficariam livres por um certo tempo,mas seriam apanhados mais cedo ou mais tarde pelos capites do mato. Os escravos decidiram ento ir para uma regio desconhecida, perigosa e temida p elosbrancos : a regio de Palmares . O nome Palmares foi dado porque havia mata fechada, sem luz, cheia de mosquitos e animais perigosos. A floresta se estendia pormuitas serras, cercadas por precipcios. Homens, mulheres e crianas caminharam por muito tempo pela floresta, at escolheremum lugar para fundar uma aldeia. Olugar escolhido, na serra da Barriga, foi o incio da Repblica dos Palmares.No comeo, viviam de caa, pesca , coleta de frutos. Para os africanos isso era voltar para trs, pois na frica tinham sido povos agricultores, pastores, artesos,comerciantes e artistas. Era preciso de mais gente em Palmares, pois com mais braos seria possvel desenvolver mais o quilombo. Pouco a pouco a populao dePalmares aumentou. E a produo econmica tambm. Havia palmarinos com muitos conhecimentos de metalurgia do ferro, com tcnicas trazidas da frica. Agora,em Palmares, podiam criar, com seu conhecimento, o que era necessrio ao quilombo. Tambm houve crescimento na agricultura.Palmares chegou a ter onze povoaes conhecidas, os quilombos chegaram a cobrir uma rea de 350 q uilmetros, de norte a sul, em terras que hoje pertencem aoestado de Pernambuco e ao estado de Alagoas. As principais vilas perto de Palmares eram Porto Calvo, Alagoas, So M iguel, Una, Ipojuca e Serinham.

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    Desde seu incio, Pa lmares estava aberto a todos os p erseguidos pelo sistema colonial . Vinham para Palmares negros com as mais d iferentes origens africanas,inclusive com diferentes tradies religiosas e de costumes. Vinham ndios, vinham brancos po bres, vinham mestios. Os q uilombolas no tinham preconceito de corou raa .O que os unia era o fato de que todos eram pobres, oprimidos e explorados.Dentro dos povoados palmarinos havia uma rua. Os maiores tinhamtrs a quatro ruas. Ao longo da rua havia casas de madeiras, cobertas com folhas de palmeiras. No centro havia um largo, com uma casa de conselho, uma capela,oficinas dos artesos, mercado e poo.Cada povoao tinha um chefe, escolhido por sua fora, inteligncia e habilidade. Tinha tambm um conselho, que controlava ochefe. As decises sobre osproblemas mais complicados eram tomadas em uma assemblia geral, da qual participavam todos os adultos da povoao. Havia leis rigorosas, com pena de mortepara roubo, adultrio, homicdio e desero.A lngua falada era uma lngua prpria, misturando portugus, lnguas africanas e indgenas. Na re ligio, combinavam e lementos das religies africanas e crist. Ascapelas tinham imagens dos dois tipos. A presena d a lngua portuguesa e da religio crist nos quilombos, misturada com outras lnguas e religies, se deve a muitacoisa. Uma das coisas que se pode d izer que provavelmente serviam para un ificar pessoas que vinham de culturas muito diferentes. Isto , na frica, os negros queagora estavam em palmares tinham pertencido a tribos diferentes, e at mesmo inimigas. E a religio e a lngua de Palmares tinham de incluir a todos, sem privilegiar

    uma tribo em prejuzo de outra. Para isto, os negros pegavam no cristianismo aqu ilo que eles tm de libertados, e jogavam fora o cristianismo que era ensinadopelos padres nas senzalas, ensinando o escravo a ser passivo e submisso ao senhor de engenho.Em 1602 houve uma primeira perseguio contra Palmares. Quem ia nas expedies contra Palmares sempre buscava com isso conseguir vantagens pessoais. Haviasenhores de engenho, interessados em arrebentar uma rebelio de escravos. Havia oficiais militares, interessados em impressionar o rei de Portugal e ganhar algumacoisa em troca. A maioria da tropa era formada por mamelucos , brancos pobres e negros libertos, que pretendiam capturar negros e depois vend-los. Havia tambmndios, que se contentavam com pequenos presentes. Alguns pretendiam capturar negros para comerem. Todos esses pobres buscavam melhorar um pouco a misriaem que viviam.Essa primeira expedio vo ltou dizendo que tinha destrudo totalmente o quilomb o. Alis, as expedies seguintes, por anos e anos, sempre voltavam dizen do isso. Esempre era falso. Logo vinham notcias das atividades dos palmarinos nas redondezas.Em 1630 os holandeses invadiram a capitania de Pernamb uco. Ate certo ponto, Palmares saiu ganhand o com isso, porque os p ortugueses passaram a guerrear comos holandeses. Quando os holand eses invadiram Olinda, e as tropas portuguesas se retiraram, os escravos saem as ruas, incendiando a cidade. As tropas holandesasentram na cidade, apagam o incndio e saqueiam a cidade por 24 horas.Os portugueses e os senhores de engenho organizam a defesa contra os holandeses, util izando a guerra de guerrilhas. Mas em 1635 os holandeses conseguemvencer a resistncia.Os portugueses enfrentam duas frentes de batalha: de um lado os holandeses, de ou tro os escravos e os ndios. Mu itos ndios se passam para o lado dos h olandeses,contra os portugueses, descarregando sobre estes toda crueldade de que haviam sido vtimas. Uns poucos permanecem com os portugueses, sob o comando deFelipe Camaro, a maioria por dinheiro.Os negros, entretanto, no escolhem nem portugueses, nem holandeses. Sabiam que nenhum dos d ois era flor que se cheirasse. Na Bahia, os holandeses haviam tido

    apoio de negros, e depois os entregaram aos portugueses para serem novamente escravos. Foi uma das muitas guerras onde ricos usaram pobres.Em 1644, o governador holands Mauricio de Nassau enviou uma primeira expedio contra Palmares. Pouco conseguiu. Em 1645 , Nassau organizou outra expediocontra Palmares, comandada por um especialista em guerra de emboscada. F oi um fracasso total. A expedio nem conseguiu avistar o inimigo, encontrou apenasduas aldeias abandonadas.Outra expedio parte. Fez alguns prisioneiros, que foram repartidos entre sol dados. Ainda em 1655 houve mais duas ou tras expedies, uma armada pelos senhoresde engenho, outra pelo governador; ambas sem resultados.Em 1674, o governador de Pernamb uco comea a preparar uma grande expedi o. Promete aos voluntrios a propriedade dos negros presos; manda vir ndios daParaba e do Rio Grande do Norte e convoca os negros organizados sob o comando de Henrique Dias, cuja tropa chama-se Tero dos Henriques. Mas a expedionovamente fracassa.Quando o governador convidou os para atacar Palmares, em 1675, eles no aceitaram. Estavam acostumados a caar ndios, que se expunham aos ataques, mesmocom inferioridade de armas, e morriam assim aos milhares. J os negros eram to hbeis na guerra que haviam derrotado grandes militares de Pernambuco. Osnegros tinham tticas de recuo, de emb oscada, de fortificao e muitas armas. Assim, o governador organiza outras expedies com gente da regio, mas semsucesso.Em 1676 partem novas expedies. Em uma delas, so capturados parentes de Ganga-Zumba. Os portugueses propem a seguinte negociao: garantia de terra,direitos e liberdade aos negros que se rendessem.No dia 18 de junho de 1678, entra em Recife uma embaixada de Palmares, com quinze pessoas, incluindo trs filhos de Ganga-Zumba, para fazer acordo. Era umatraio aceitar este acordo, pois ele diz ia que os negros nascidos fora de Palmares voltariam escravido. Mas Ganga-Zumba aceitou o acordo. Houve muita lutadentro de Palmares. Uma pequena parte da populao acompanhou Ganga-Zumba. Em novembro do mesmo ano, Ganga Zumba foi a Recife, confirmar p essoalmenteo acordo. Foi recebido solenemente pelo governador. Pouco depois, partia para Cuca, distante 32 quilmetros de Serinham, onde viveriam nas novas terrasprometidas pelo acordo. Enquanto isso, o go vernador distribuiu 150 lguas de terras palmarinas a grandes proprietrios pernambucanos. Como sempre, os livres epobres que esperavam terras como recompensa , nada receberam. Mas nem o s premiados conseguiram tomar posse de suas terras. Quand o tentaram nelas entrar,foram violentamente repelidos pelos palmarinos.Palmares no havia morrido. Foi apenas uma pequena parte que acompanhou Ganga-Zumba. A maioria ficou, agora sob comando d e um general que lutaria at amorte pela liberdade dos negros : Zumbi.Muito jovem ainda, Zumbi j era chefe de um das povoaes. Na poca do acordo feito com Ganga-Zumba, 1678, Zumbi era tambm chefe das foras armadas dePalmares.No entanto, a classe dominante procurou ocultar a grandeza. Hoje, o nome Zumbi visto como nome de assombrao, saci ou diabo. Isso porque Zumbi assumiu aluta de seu povo. E os bandeirantes, que na verdade foram uns selvagens, so vistos como h eris.Muitos chefes militares importantes desertaram junto com Ganga-Zumba. Era um grande perigo para os que ficavam, pois os portugueses poderiam ter informaescompletas sobre a organizao de Palmares. En to Zumbi reorganiza toda a vi da de Palmares, em funo da guerra, que mais cedo ou mais tarde certamente viria.Em 1692, o bandeirante Jorge Velho chega a Palmares, ataca, mas combatido pelos palamarinos, que o obrigam a recuar. Cego edio, o bandeirante descarregousua loucura degolando duzentos ndios. Ainda em 1692, o padre Antnio Vieira escreve ao rei de Portugal, dizendo que no havia