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ANO XVIII - São Caetano do Sul - Dezembro de 2007 RAÍZES 36

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ANO XVIII - São Caetano do Sul - Dezembro de 2007

RAÍZES 36

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Nossa capa coloca emrelevo o assuntoprincipal da revista:

os bailes que agitaram acidade, ao longo dos anos.Desejamos retratar, na capadesta edição, o imaginário e afantasia, que sempre foram oestofo desses acontecimentossociais.

Na contra capa, oconvite do 1º Baile Brancorealizado em São Caetano doSul. Impresso sobre fundomadrepérola, devolve aosque participaram desseinesquecível evento doceslembranças, ao mesmotempo em que permite aosleitores uma viagem peloscostumes e sonhos dasociedade da época.(NeusaSchilaro Scaléa)

22 J U L H O - 2 0 07 R A Í Z E S

Ano XIX - Número 36Publicação semestral / Distribuição gratuita

ISSN 1415-3173Publicação da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul

Dezembro de 2007

Avenida Dr. Augusto de Toledo, 255, bairroSanta Paula, Sáo Caetano do Sul.CEP 09541-520. Fone: 4221-9008. Fax: 4221-7420.www.fpm.org.bre-mail: [email protected] e [email protected]

Jornalista ResponsávelD. Glenir Santarnecchi (MTb 21.269)

Redação

Revisão de textos:Lilian Crepaldi Pesquisa: Cristina Toledo de Carvalho, IsabelCristina OrtegaSecretaria e Coordenação:Maria Aparecida M. FedattoDigitalização de imagens:Sandra R.B.Gouveia

N o s s a C a p a

E x p e d i e n t e Assessoria:Paula Fiorotti e Eduardo Koga

Conselho Editorial:Cristina Toledo de Carvalho, Clovis AntonioEsteves, D. Glenir Santarnecchi(Presidente), Humberto Pastore, JocimaraSperate Figueiredo, Lilian Crepaldi, MariaAparecida M. Fedatto, Mario Del Rey,Mário Porfírio Rodrigues e Paula Fiorotti.

ImagensFotografia:Antônio Reginaldo Canhoni Capa:Neusa Schilaro Scaléa

Projeto Gráfico e EditoraçãoAntonio Devanir Leite Júnior

Fotolitos e ImpressãoAcadcom Gráfice e Editora

A revista está aberta à colaboração depesquisadores da História do ABC paulista.A seleção do material é de responsabilidadedo Conselho Editorial. Originaisencaminhados à redação não serãodevolvidos, com exceção de fotografias.Opiniões emitidas nos artigos são deexclusiva responsabilidade de seus autores enão refletem, necessariamente, a opinião darevista.

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Notícia, Memória e História: três palavras mágicas

A Revista Raízes comemora a sua maioridade. Lançadaem julho de 1989, surgiu para noticiar a memória e a história deSão Caetano do Sul e, por extensão, de toda a região do GrandeABC. Desde o início, a revista abriu suas páginas parahistoriadores, pesquisadores e outros interessados em contribuircom o resgate e a preservação do patrimônio histórico. Asnotícias, artigos, fotos e charges contribuíram para compreendera identidade da cidade e de toda a região situada ao sudeste daGrande São Paulo, cuja origem histórica tem um núcleo comum.

A Fundação Pró-Memória sempre teve o seu padrão depesquisa histórica: um Centro de Documentação com um acervovalioso e muito bem organizado; uma Pinacoteca voltada para asartes, com um rol de obras importantes e bem conservadas. Semfalar no tradicional Museu Histórico, que existe há muito maistempo do que a Fundação, cujas peças representam a história dacidade.

Mas o nosso carro-chefe é a revista Raízes, editadasemestralmente. É um trabalho insano da nossa equipe, doscolaboradores externos e, principalmente, da população sul-sancaetanense, que nos oferece a matéria-prima para a suaexecução.

Em seus 130 anos, inicialmente ocupada pelaagricultura, São Caetano do Sul transformou-se, nos dias atuais,numa cidade de grande concentração urbana do país. Esseprocesso ocorreu pelas condições de infra-estrutura que a cidadeoferece: educação, saúde, saneamento e lazer. A cidade orgulha-se de ter zerado o analfabetismo.

Nesta edição vamos embarcar em diversas histórias depessoas que ajudaram a erigir o município que, a cada década,dá um salto no seu desenvolvimento em direção ao futuro,modificando a imagem urbana. As novas gerações têm pressaem crescer para deixar um legado de realizações às suasdescendências.

O dossiê desta edição volta seu olhar ao passado,recordando o primeiro Baile Branco das debutantes, realizadohá 37 anos, sob o patrocínio do Lions Clube São Caetano do Sul.Algumas jovens da sociedade, hoje simpáticas senhoras,puderam, num clima de alegria, rever fotos e prestar depoimentode um evento cuja renda beneficente era destinada à construçãoe manutenção do Lar dos Velhinhos Nossa Senhora das Mercês,no Bairro Santa Maria.

Para que essa memória não seja esquecida, éimportante resgatar e buscar informações que chegaram até nóspor meio da língua, dos costumes e de depoimentos espontâneosdos filhos, netos e bisnetos dos imigrantes e migrantes.

Acompanhe-nos!

D. Glenir SantarnecchiPresidente da Fundação Pró-Memória

Raízes volta a um passado nem tãodistante em sua edição 36 e relembramomentos que marcaram a história de SãoCaetano do Sul, em uma área poucopesquisada por memorialistas: oentretenimento.

Certamente, ainda estão vivos naslembranças de boa parte da população osbailes dos anos 60 e 70. Quantas amizades eoutros relacionamentos surgiram ao som dasorquestras nos salões sancaetanenses daquelaépoca.

Ao mesmo tempo, essa edição vairesgatar a trajetória de imigrantes vênetostanto em São Caetano do Sul quanto emAlfredo Chaves, no Paraná. E vai além, aocontar a história de outros personagens queajudaram a construir nossa cidade.

Eis uma característica marcante destapublicação: a mescla editorial, bem dosada,entre os vários momentos históricos de SãoCaetano do Sul. Com isso, Raízes vemconseguindo, inclusive, atrair novos leitoresa cada dia, firmando-se como leituraobrigatória.

Boa leitura a todos.

José Auricchio JúniorPrefeito Municipal de São Caetano do Sul

E d i t o r i a l P a l a v r a d o P r e f e i t o

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D o s s i ê / N o s s o s B a i l e s

05 - Embalos de uma época: Panorama dos bailes que agitaram São Caetano até a década de 1970Cristina Toledo de CARVALHO

14 - Orquestra enche a frente e os fundosJoão Tarcísio MARIANI

20 - A magia do primeiro Baile BrancoCristina ORTEGA

28 - Orquestras e bandas que embalaram os encontros dançantes e marcaram época

31 - Os Grandes Bailes do Clube dos 60Oscar GARBELOTTO

A r t i g o s

35 - As colônias de São Caetano e de Alfredo Chaves: imigrantes vênetos nas províncias de São

Paulo e ParanáEliane MIMESSE e Elaine MASCHIO

39 - Bartolomeu Lopez de Carvalho: um visitante da São Paulo seiscentistaJuarez Donizete AMBIRES

43 - Loja Maçônica comemora Jubileu de PérolaMario DEL REY

49 - Os 100 anos da Sociedade Beneficente União Operária de São Caetano do SulClovis Antonio ESTEVES

52 - Presença centenária das Irmãs Clarissas no BrasilC u l t u r a

55 - AbstracionismoNeusa Schilaro SCALÉA

59 - Ética e Técnica: por uma prática consciente de Conservação e RestauraçãoMarilúcia BOTTALLO

P e r s o n a g e n s

62 - Comendador Amêndola: um batalhador de dois mundosGlenir SANTARNECCHI

67 - João Lins Pereira: o sindicalista dos anos 50, 60, 70, 80Humberto Domingos PASTORE

D e p o i m e n t o s

73 - A saga da família Souza: nas veias, leite, sorvete e muita lutaJô Sperate FIGUEIREDO

78 - André Américo da Silva, um simpático mecânico

82 - Ondina Rezende Cunha: do terreno do Banco de Londres ao Jardim São Caetano

85 - Filho de São Caetano por amor

88 - Triângulo amoroso: Antônio Guido Rampazzo, Abrigo Irmã Tereza e Lar Escola IrmãoAlexandreE s p o r t e s

90 - Luiz Mori: um nome que fez história no futebol de São CaetanoFabiana CHIACHIRI

C r ô n i c a s e C a u s o s

94M e m ó r i a F o t o g r á f i c a

99R e g i s t r o

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Í n d i c e

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São Caetano, nofinal do século XIX, davaos primeiros passos comonúcleo colonial. Asdificuldades e osobstáculos inerentesàquele período nãoesmoreciam a pequena

população aqui instalada. Os moradores dacolônia, que, em sua maioria, provinhamde famílias de origem italiana, procuravamenfrentar e superar os problemas e ascarências reinantes na localidadeentregando-se à labuta diária. A durarotina de trabalho só era quebrada duranteas alegres e descontraídas reuniõesfamiliares e em ocasiões especiais, comoos festejos juninos e a festa dedicada aosanto padroeiro, São Caetano. Taisfestividades possuíam quermesses, leilões,apresentação de bandas musicais e queimade fogos de artifício. Todos os eventosdesse período festivo ocorriam nasproximidades da atual Paróquia de SãoCaetano, no Bairro da Fundação, e atraíam

não só os habitantes locais, como tambémmoradores de São Paulo e região.Entretanto, reuniões sociais desse porte sóocorriam esporadicamente.

Mesmo após a fundação daSociedade de Mútuo Socorro Principe diNapoli, em 11 de dezembro de 1892, e daSociedade Beneficente InternacionalUnião Operária de São Caetano, em 15 denovembro de 1907, a vida social na cidadecontinuou restrita a eventos e programasesporádicos. Isso porque a finalidade deambas era assistencial. Portanto,

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D o s s i êCristina Toledo de CARVALHO (*)

Embalos de uma época:Panorama dos bailes que agitaramSão Caetano até a década de 1970

(...) fubá e parafina espalhados pelochão iriam permitir o deslizamento

necessário para os pés-de-valsa. E lá iao baile até às quatro da manhã (...)

(Oscar Garbelotto, no livro UmaHistória de Campeões: os 89 anos do

São Caetano Esporte Clube,do jornalista Ademir Medici)

O conjunto musicalJ. Negro e seu Jazzdurante umconvescote(piquenique) doGrêmio InstrutivoRecreativo Ideal, emSantos, na décadade 1920. Foi um dosprimeiros jazz-bandsformados em SãoCaetano. Animavabailes e reuniõesespeciais. Em pé, daesquerda para adireita: Chelso(Vicente) Negro,Ângelo Veronesi,João Barile eCasério Veronesi.Sentados, daesquerda para adireita: JacomoNegro, AntônioFernandes e BatistaNegro

Fotos: Acervo/Fundação Pró-Memória

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promoviam festas e entretenimentosomente em ocasiões especiais. Essasituação começou a se modificar com osurgimento dos primeiros clubesesportivos e recreativos. Objetivandoaumentar, cada vez mais, seu número desócios, tais agremiações ofereciam àpopulação da pequena São Caetano umaconstante programação social comvariadas opções de lazer, como teatro,esportes, excursões, convescotes(piqueniques) e bailes.

Bailes de antigamente

Antes do período de domínio dasentidades esportivas e recreativas na vidasocial de São Caetano, bailes animados jáocorriam na cidade. Segundo relatos, eramorganizados, com freqüência, nas casas dealgumas famílias. Esses encontrosfamiliares eram embalados pelosanfoneiro Olympio. Manoel ClaudioNovaes, em seu livro Nostalgia, registrouuma crônica que resgata o assunto:“Quando organizavam bailes em casa dosCavana ou dos Ferrari, o nome doOlympio era sempre lembrado. Bailes

familiares, realizados aossábados à noite, em que asjovens eram acompanha-das pelos pais. A salailuminada, a princípio,por lamparinas queforneciam luz vermelha efraca (...)”

Mesmo com oaparecimento das agre-miações, os bailes nãoperderam o caráterfamiliar. Era comum ospais acompanharem asfilhas até os clubes, nosdias de partida dançante,como o baile também era

chamado antigamente. Isso se verificavaconstantemente, pois todo final de semanahavia baile nos clubes da época. Asreuniões dançantes estavam, portanto,enraizadas no cotidiano dos moradores dacidade. Um anúncio publicado na ediçãode 11 de agosto de 1929, do São CaetanoJornal, evidencia isso. Ao divulgar osserviços da tinturaria Modelo,estabelecimento que se localizava naantiga rua São Caetano, 127, a propagandaretrata uma conversa informal entre doisamigos, conforme segue:

- Olá compadre! Como vai?- Vou indo bem, obrigado. E você,onde vai assim todo formoso....- Ah! Eu vou ao baile dançar coma minha eleita...- Sim, está certo... E essa suaroupa nova está de fato muitobonita!- Roupa nova?! Esta roupa é amesma de sempre! O que tem éque mandei reformar, limpar epassar!...

(...)

O diálogo reflete a importância dosbailes naquele período. Encarados comoum grande evento social, exigiam de seusfreqüentadores uma grande preparação.Quando não era possível adquirir trajesnovos, o serviço de um tintureiro eraindispensável. Afinal de contas,apresentar-se bem vestido a um programasocial de longo alcance, como os bailes,era um requisito. E os preparativos não selimitavam apenas à estética e à boaaparência. Para fazer sucesso também erapreciso saber dançar os ritmos da moda,entre os quais o fox-trote, a valsa, o tango,o samba-canção etc. Para isso, os clubesofereciam ensaios para os rapazes quepretendiam aprender a arte da dança.Henry Veronesi, em artigo publicado na

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Giuseppe DeMartini, o Bepo daSanfona, outronome bastanterequisitado paraanimar festas,bailes e reuniõesfamiliares, na SãoCaetano deantigamente

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Revista Raízes nº13, assim descreveu oassunto: “Nesses ensaios não entravammoças. O par era formado por dois moços,um que sabia dançar e um outro que nãosabia. Dessa forma eram formados osdançarinos da época. Havia grandeinteresse nas realizações desses ensaios,pelos clubes. Era a forma de angariaremmais sócios e aumentarem a freqüêncianos bailes de sábados e domingueiras”.

Outro artifício encontrado pelosclubes para reforçar a receita mensal era aexecução de uma contradança extradurante os bailes. Isso porque talcontradança era paga. Ao resgatar parte dahistória do Grêmio Instrutivo RecreativoIdeal, Veronesi relatou, em Raízes nº 5, oseguinte: “Os freqüentadores dos bailes jásabiam quando a contradança era extra. Obaterista da orquestra, repicando nacaixinha da bateria por alguns segundos,batendo em seguida com o pedal nobumbo com todo vigor e junto com asbaquetas no prato, parandorepentinamente, anunciava no megafone:Extra. Como era uma honra dançar umacontradança extra, os cavalheiros (...)tiravam as damas para dançar, sem receiode levar uma tábua, isto é, sem receio dereceberem um não ao convite. A orquestracomeçava a tocar e o par saía dançando.Lá pela metade da contradança, aorquestra parava de tocar, e, como eracostume, o par ficava parado no meio dosalão, batendo papo, enquanto osdiretores do clube faziam a coleta dodinheiro que era o tributo (...) pago paradançar aquela contradança. (...) Omomento da extra era aguardado commuita ansiedade pelos rapazes e moçasque estavam na ocasião tirando linha(flertando). Era o momento propício paraa conquista, para o início de um namoro(...)”

Ensaios no LázioAté meados dos anos 60, quando houve a

grande revolução do rock, dançar a dois, à modatradicional, era muito importante. Por isso os jovens -particularmente os rapazes - que não podiam fazerfeio, tratavam de aprender os passos das maisvariadas danças. Já corriam os anos 40 quando aminha curiosidade voltou-se para o salão do Lázio, àsquartas-feiras, à noite. Eu freqüentava as aulas deginástica no clube, mas, naquela noite da semana,tudo era fechado para poder receber apenas rapazes:eram os famosos ensaios do Lázio. Mulheres ecrianças não...

A nós crianças, sempre movidos pelacuriosidade, restava pendurar-se às altas janelas quedavam para a Rua Rio Branco e, de lá, presenciar ocurioso ritual da época: baile de homem comhomem!!! Depois as explicações. Eram amigos, jádançarinos, ensinando a amigos e parentes a difícilarte de mover os pés, acompanhando fox, samba, fox-trote, valsas e outras danças da época.

Tudo era organizado de acordo com um bailecomum: orquestra, parafina no salão e olhar atentodos mestres-salas... Apenas os pares... homens, sóhomens. Imaginem a gozação da molecada!!! (OscarGarbelotto)

O Bando da Lua e seu Jazz, em foto da década de 1930. Animava osbailes ocorridos no Grêmio Instrutivo Recreativo Ideal e no ClubeEsportivo Lázio. A partir da esquerda: a pianista Elisa, Veríssimo,Mário, Antônio Fernandes, Baiano, Casério Veronesi e João Barile.Em primeiro plano, Agostinho Pannunzio e Maria Fiori

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Por tais razões, os bailes geravamuma grande expectativa entre seusfreqüentadores. Daí a necessidade doapelo aos ensaios de dança, principalmentepor parte dos mais tímidos e embaraçados.

Há registro da organização deensaios dessa natureza no São CaetanoEsporte Clube. Segundo consta, em 1923,Júlio Marcucci, então procurador daagremiação, propôs a realização de umconcurso de dança. Aprovado oregulamento, que, entre outras coisas,previa a entrega aos vencedores de umamedalha de prata (cavalheiro) e de umleque (dama), foi dado início aospreparativos para o evento. Devendoconstar de uma valsa francesa, o concursogerou euforia e expectativa entre os sóciosdo São Caetano. Tanto é que Américo Polie mais 14 associados chegaram a pedirautorização para a organização de ensaios,a fim de se prepararem adequadamentepara o grande dia. Conforme informaçõescontidas no livro Uma História deCampeões, do jornalista Ademir Medici, aautorização foi concedida, mas aosfreqüentadores de tais ensaios coube opagamento semanal de 500 réis à diretoriado clube.

Uma nota publicada em 11 deagosto de 1929, na coluna social do SãoCaetano Jornal, comprova a seriedadecom que a dança era tratada na cidade,graças até aos freqüentes bailes queempolgavam a sociedade local. Em talnota, divulgou-se a notícia de que oGrêmio Instrutivo Recreativo Ideal abririaum curso de dança para “proporcionar aosseus inúmeros associados ocasião para seaperfeiçoarem nesse elegante esporte”. Anota apontou ainda o nome de VicentePanariello como o escolhido pelo clubepara dirigir a empreitada.

O semanário São Caetano Jornaltambém dava ampla cobertura, em suacoluna social, aos bailes ocorridos na

cidade. Levando em conta que asagremiações promoviam bailes rotineiros(ou seja, os que ocorriam nos finais desemana, como as matinês e soiréesdomingueiras) e bailes comemorativos dedatas especiais, como ano novo, carnavaletc, o São Caetano Jornal não passavauma semana sem registrar os que estavamsendo preparados pelos clubes ou os járealizados. Por exemplo, no dia 10 defevereiro de 1929, o jornal noticiou aprogramação estabelecida pelos clubesIdeal, São Caetano, Monte Alegre eSaldanha da Gama para a comemoração docarnaval daquele ano, informando aspartidas dançantes à fantasia que seriamorganizadas por cada um deles. Umasemana depois, mais precisamente naedição de 17 de fevereiro, o jornalpublicou matéria apontando, com detalhese humor, o desenrolar da festa no GrêmioIdeal e no Monte Alegre Futebol Clube.Alguns trechos são apresentados abaixo.

Revestiram-se de máximobrilhantismo os festejos a Rei Momo,levados a efeito pelo conhecido GrêmioIdeal.

Nada deixaram a desejar aspomposas partidas dançantes à fantasia,realizadas nos dias dedicados aoimperador da alegria.

(...)Cada um possuía a sua fantasia, a

sua máscara. (...) Entre elas destacamos:Lydia T., admirável Maria Antonieta;Escolastica L., graciosa pierrô (...); apequena Malavasi, linda turquinha (...);Zezito, um galante pirata; Lydio, umestupendo carlitos-pirata; Esperidião,muito bem em seu jovem fraque; Ernesto,impagável em seu terninho branco;Laurindo e Joãosinho, irriquietos comsuas barulhentas gaitinhas (...); o Paolonequase que pereceu asfixiado no meio detantos confetes e lança-perfumes; o

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Durante limitava-se a soltar gostosasgargalhadas; o Octavio Tegão divertia-seem atirar confetes e serpentinas. (...)Sylvio Buzo, o extraordinário barqueiro edepois Jeca-Tatu, foi o herói, pois soubeconquistar os prêmios de fantasia originale ridícula (...)

E, destarte, na melhor harmonia efranco entusiasmo, foram fechadas com“chave de ouro” as homenagens aoquerido Momo em sarau dançante,abrilhantado pelo irrepreensível jazz-band Ideal.

O Cine Parque Monte Alegre viveu(também naquele carnaval) horas alegrese agradáveis (...), pois o simpático MonteAlegre F.C. fez aí realizar os seus bailes àfantasia (...) Dentre as lindas fantasiaspudemos notar as seguintes: (...)Paschoalina e Josephina Adduci,interessantes borboletas; Adelia Adduci,altiva colombina (...); Maria Adduci,curiosa meia-lua; Julia Fernandes, ClaraRayes, D. Philomena Molinari, DrucinaCoppini, perfeitas espanholas; FranciscoPaulino Mello, interessante chinês;Angelo Duran, destemido toureiro;Américo Marzano, bravo sportman (...)

O jazz-band Americano, dirigidopela exímia pianista D. Elisa Nelsen Regode Abreu, mereceu calorosos aplausos (...)

A intensa programação de bailesera suspensa durante a Quaresma, sendosomente retomada no Sábado de Aleluia(véspera da Páscoa), ocasião na qual osclubes preparavam grandes e animadasfestas. Foi numa dessas ocasiões que asociedade local presenciou uma hilária efictícia cerimônia de casamento.

O fato ocorreu no São CaetanoEsporte Clube, em 1934, graças àiniciativa de um grupo de 13 amigos quese autodenominaram Bloco dos Livres(pois nenhum deles tinha namorada) e doqual faziam parte Vicente Genga, Antônio

Naranjo, João Dal´Mas, Reinaldo Lodi,Adelino Gallo, Francisco Adelino Fiorotti,entre outros. Durante os preparativos parao casamento, ficou decidido que ReinaldoLodi seria o noivo, Colletta (morador doIpiranga) a noiva, Naranjo e Gallo ospadrinhos, Linda Molinari e CarmelaCapuano as madrinhas. Dal´Mas ficariacom o papel de padre e Fiorotti com o decoroinha. No dia do baile, reuniram-se navenda de Eduardo Lorenzini (que ficavaem frente à Matriz Velha), de ondeiniciaram um desfile pelas ruas 28 deJulho, Rio Branco e Perrella, indo até àsantigas porteiras da estrada de ferro, antesde entrar no clube. Vestidos a caráter,foram acompanhados por fogos e umabanda musical, cujos membros não sabiamtocar nenhum instrumento, o que deixou ofato ainda mais engraçado. Quandoentraram no clube, o Baile de Aleluiaestava no começo. Todos a postos, afictícia cerimônia foi então iniciada. “Opadre Dal´Mas fez o sermão, a benção.Logo após a valsa dos noivos, a grandefesta do São Caetano Esporte Clubeprosseguiu animada”, conforme OscarGarbelotto, na narrativa que fez sobre odivertido episódio no 18º número daRevista Raízes.

Esse foi o primeiro Baile deAleluia que o São Caetano realizou em suasede da rua Perrella. Inaugurada no dia 9de dezembro de 1933, apresentava grandeestrutura. Seu salão de bailes possuía umaárea de 350 m² e um formidável palco quese igualava aos importantes teatros daépoca.

Festivais dramático-dançantese outros mais

Quando o São Caetano EsporteClube inaugurou sua sede da rua Perrella,a cidade apresentava um crescente

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desenvolvimento cultural. O trabalho dosgrupos amadores de teatro, pertencentes aclubes locais, foi um dos fatores geradoresde tal situação. As peças teatrais,chamadas genericamente de dramas, eramfreqüentemente encenadas na cidade.Assistir às montagens era um dosprogramas sociais mais importantes ebadalados da São Caetano de antigamente.Isso porque a população, além daoportunidade de prestigiar o desempenhode competentes e dedicados atores degrupos cênicos locais, era, logo após osespetáculos, brindada com animadosbailes. Por tal razão, os eventos dessanatureza ficaram conhecidos comofestivais dramático-dançantes.

Já no primeiro ano de circulação,em 1928, o São Caetano Jornal passou adivulgar, praticamente toda semana, osmencionados festivais, tal era a freqüênciacom que eram realizados pelos clubes.Entre estes últimos estavam agremiaçõescomo o Grêmio Instrutivo RecreativoIdeal, o São Caetano Esporte Clube, oMonte Alegre F. C., o Clube Flor do Mar,o A.A. Almirante Saldanha da Gama etc.Posteriormente, outras entidades surgiramna cidade, também promovendoconcorridos festivais dramático-dançantes.

Foi o caso do Clube Esportivo Lázio,fundado em 1º de maio de 1930, doGrêmio Recreativo 14 de Julho e doGrêmio Recreativo Dramático DançanteGuarany.

Em algumas edições de 1928 e1929 do São Caetano Jornal,encontraram-se referências a festivaisorganizados por uma entidade denominadaSociedade Recreativa Dramática DançanteMonte Alegre. Pesquisas maisaprofundadas poderão apontarinformações preciosas a respeito de suaorigem, desvendando, assim, se havialigação de ela e o Monte Alegre F. C.,hipótese esta bem provável. Mas isso étarefa para uma outra ocasião, cabendo, deimediato, a retomada do assunto sobre osfestivais dramático-dançantes.

Como já foi dito anteriormente, aida a bailes era um programa que envolviatoda a família, assim como os festivaisdramático-dançantes. Nestes, era grande acooperação do público. Segundo relatos, aprópria platéia, após o espetáculo,incumbia-se de retirar do meio do salão ascadeiras para que, desta forma, o bailepudesse começar. Oscar Garbelotto, nolivro Uma História de Campeões: os 89anos do São Caetano Esporte Clube, ao

Sábado deAleluia de 1934,no São CaetanoEsporte Clube.Em destaque, osparticipantes docasamentofictício,organizado peloBloco dos Livres.À esquerda, ospadrinhosAntônio Naranjoe Linda Molinari.Atrás desse casal,FranciscoAdelino Fiorotti eJoão Dal’Mas(de chapéumaior). Aocentro, os noivosReinaldo Lodi eColletta. Naseqüência, ospadrinhosCarmelaCapuano eAdelino Gallo. Ascrianças, aocentro, são ÍtaloDal’Mas eNorma Marcucci

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retratar os festivais dramático-dançantesrealizados pela agremiação, afirma:

Terminada a sessão de teatro,diretores, voluntários e as criançasretiravam as cadeiras do meio do salãocolocando parte nas laterais onde asfamílias se sentavam e outra parte ficavafora do salão para dar espaço à pista dedança. Uma breve limpeza do assoalho efubá e parafina espalhados pelo chãoiriam permitir o deslizamento necessáriopara os pés-de-valsa. E lá ia o baile até àsquatro da manhã, inclusive com apresença das crianças dormindo nascadeiras, após cansarem com asbrincadeiras de escorregar pelo chão ecorrer pelo mezanino no salão da RuaPerrella.

(...)Às peças e bailes compareciam

todas as famílias locais. Eram sempreeventos sociais de muita importância paraSão Caetano e momento de reencontroentre famílias. Daí o comparecimento detoda a família (...) Era comum, durante osespetáculos, ver mães amamentando seusfilhos.

Além dos dramático-dançantes,outros festivais agitaram a cidade. Aodivulgar os eventos sociais quemobilizavam a população, no final dadécada de 1920, o São Caetano Jornalregistrou a organização de diferentes esugestivos festivais, entre os quais osesportivo-dançantes, os lítero-dançantes eos cômico-dançantes. Estes últimos, naverdade, distinguiam-se dos dramático-dançantes apenas em relação ao gênero dapeça encenada. De acordo com aquelesemanário, no dia 6 de julho de 1929,realizou-se um festival cômico-dançante,no antigo Cine Parque Monte Alegre. Naocasião, o Grupo dos Quebradosapresentou “a hilariante farsa cômica,

Abençoados pontapés”. Na seqüência,“um pomposo baile familiar” encerrou oevento. Seis meses antes, o mesmo jornalnoticiou a realização de um festival lítero-dançante, com os seguintes termos:

Na sede social do Grêmio I. R.Ideal realizou-se terça-feira última umgrandioso festival lítero-dançante,promovido pela filial da SociedadeLituana do Brasil, que esteve bastanteconcorrido no meio da maior harmonia,até as primeiras horas do dia seguinte.

É de se supor que tal festival, emrazão da denominação recebida, tivesse,em sua primeira parte, apresentaçõesliterárias. Por outro lado, os detalhes sobreo modo como se desenrolavam e osgêneros que abordavam devem ficar porconta da imaginação, uma vez quenenhuma informação objetiva a respeitofoi encontrada. Já em relação aos festivaisesportivo-dançantes, as informaçõesexistentes são minuciosas e precisas, taiscomo as encontradas na edição de 30 dejunho de 1929, do São Caetano Jornal. Naocasião, foi noticiado que o São CaetanoEsporte Clube estava preparando, para odia 6 de julho, um festival daquelanatureza a fim de promover um encontroentre suas equipes de tênis de mesa(naquela época, ainda, chamado de

Convite para ofestival

dramático-dançante,

organizado peloGrêmio

InstrutivoRecreativo

Ideal, no dia 12de janeiro de

1935, porocasião da

passagem de seu

13o aniversário.Na ocasião, oclube possuía

sede na ruaSanta Catarina

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pingue-pongue) e as do Aliança do Norte,de São Paulo. Após a divulgação dosconfrontos previstos, o jornal encerrou amatéria anunciando o “grandioso bailefamiliar” que também estava sendopreparado para o evento.

Enfim, momentos especiais sempreensejavam a organização de bailes. Essatradição manteve-se nas décadasposteriores, adquirindo, naturalmente,diferentes roupagens, conforme asadaptações aos costumes e valores de cadaperíodo histórico.

E os embalos continuaram

Já na década de 1920, a cidadecomeçou a apresentar sinais decrescimento econômico. Ao longo dasduas décadas seguintes, esses sinais seintensificaram de tal modo que criaramcondições para a elevação de São Caetanoà categoria de município, após dois anosde campanha autonomista (1946-1948).Vale lembrar que uma campanha desseporte já havia sido observada, semsucesso, na cidade, em 1928.

Com a obtenção da autonomiapolítico-administrativa, São Caetanopassou a ter perspectivas dedesenvolvimento. Mas muita coisa tinhade ser feita e coube aos primeiros prefeitose aos vereadores das primeiras legislaturas

a missão de estruturar os vários setores dorecém-criado município. Nesse período, avida social da cidade tornou-se ainda maisintensa. O surgimento de novasagremiações esportivas, recreativas eestudantis (entre estas o Grêmio Estudantil28 de Julho e o Centro Acadêmico deSão Caetano do Sul, fundados,respectivamente, em 1954 e 1955)contribuiu muito para isso.

No tocante aos bailes, pode-seafirmar que as opções se diversificaramainda mais, diante de tal situação. Aos jáconhecidos e consagrados, como osorganizados pelos clubes em datasespeciais do ano e as tradicionaisdomingueiras, somaram-se outros que, emrazão da grande aceitação do público,tornaram-se bailes obrigatórios naprogramação social anual de São Caetano.Foi o caso dos bailes da Pipoca, doPingüim, do Calouro, do Baile Branco,entre tantos outros, que também marcaramépoca em São Caetano do Sul.

O Baile da Pipoca era uma grandefesta junina promovida pela AssociaçãoCultural e Artística de São Caetano do Sul(Acascs), entidade fundada em 24 dejaneiro de 1957. Entre as principaisatrações estava a apresentação dequadrilha, um dos momentos maisaguardados do baile. Foi realizado, pelaprimeira vez, em 14 de junho de 1958, noClube Comercial, antigo GrêmioInstrutivo Recreativo Ideal. A animaçãodesse primeiro Baile da Pipoca ficou porconta da orquestra de Totó e da cantoraJuanita Cavalcante.

O Baile do Pingüim, organizadopelo Grêmio Estudantil 28 de Julho, eraoutro evento que gerava expectativa emSão Caetano. E não podia ser diferente,pois prestava homenagem às pessoas quese destacavam nos diferentes setores dasociedade sul-sancaetanense. Sua primeiraedição ocorreu em 15 de agosto de 1959 e

Flagrante deuma das ediçõesdo Baile daPipoca, nadécada de 1960

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integrou as comemorações do quintoaniversário daquela agremiação estudantil.Realizado no Clube Comercial, contoucom a animação da premiada orquestra dePocho.

Outro baile promovido por umaagremiação de estudantes era o Baile doCalouro. Anualmente, o CentroAcadêmico de São Caetano do Sul,entidade que congregava os universitáriosresidentes na cidade, preparava a festa. Aprimeira foi realizada em 2 de maio de1959, também no Clube Comercial, sendoabrilhantada pela famosa orquestra deSylvio Mazzucca. O Baile Branco, poroutro lado, era o luxuoso evento deapresentação das debutantes à sociedadede São Caetano. Promovido pelo LionsClube local, foi realizado, pela primeiravez, em 1º de junho de 1963, nos salões doClube Comercial e da Acascs, localizadosno Edifício Vitória (esquina das ruasBaraldi e Santo Antônio).

Neste sentido, cabe tambémmenção a um baile dessa naturezapromovido pelo General Motors EsporteClube, em 1959. Segundo informaçõescontidas no Jornal de São Caetano, oevento em questão, denominado BaileAzul e Branco, ocorreu em 30 de maio,nos salões do clube. Abrilhantado porZezinho da TV e sua orquestra, apresentouas debutantes “pertencentes à famíliageneralense”.

Quando o primeiro Baile Brancofoi organizado, São Caetano do Sul estavasob a euforia inicial da chamadabeatlemania. Em razão disso, aparticipação de conjuntos de rock nosbailes ocorridos na cidade passou a sercada vez mais constante, ao longo dadécada de 1960. Sendo assim, astradicionais orquestras, que, até então,reinavam de forma absoluta, tiveram dedividir espaço com aqueles conjuntos, dosquais podem ser destacados Os Botões e

Porão 99. Foi sob este contexto que bailescomo o dos Paqueras e o Loloyansurgiram em São Caetano. Muitoirreverentes, eram sempre animados porbandas de rock. O Jornal de São Caetano,na edição de 17 de fevereiro de 1968, aodivulgar aquele último baile, informou queo traje apropriado para quem fosseprestigiá-lo era o hippie. E foi sob ainfluência do movimento que pregava paze amor a um mundo conturbado pelaGuerra Fria que os embalos continuaramna São Caetano do final dos anos 60.

Na década seguinte, foi a vez dadisco music pedir passagem. Motivadospor essa tendência, novos espaços dedança se espalharam pela cidade, como,por exemplo, as discotecas Papadopulus,Master, Fábio’s, Tommy’s, Hipnoses2000, Discotheque 54 e Skilu’s. Paraacompanhar esta febre, clubes como o SãoCaetano, o Monte Alegre e o Cerâmicapassaram também a promover bailes aosom dos ritmos da disco music. Tamanhaera a repercussão desse gênero que até umconcurso de dança de discoteca, intituladoDancing Night, foi organizado na cidade,em 1978. O palco desse evento foi oantigo Buso Palace, que ficava na avenidaGoiás, 3.363. A era disco deixava, assim,a sua marca em São Caetano, da mesmaforma que, em outras épocas, o fox-trote, osamba-canção, o tango, a valsa, o bolero, orock e outros ritmos deixaram a sua nosbailes que agitaram e embalaram a cidade.

(*) Cristina Toledo de Carvalho,historiadora da Fundação Pró-Memóriade São Caetano do Sul

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São Caetano,final da décadade 50. Vocêsse lembram darotina dasmanhãs de

domingo?Os jovens da cidade, como

programa básico, iam à missa das 10horas, na Matriz Sagrada Família (quecompletou 70 anos desde a suainauguração em 1937). Os rapazes vestiamterno e gravata e as moças trajavam seusvestidos mais lindos. Melhor seria dizerque as moças iam participar da missa,enquanto os rapazes iam participar dasaída da missa.

Após a missa, uma rápida paquerana praça e as moças seguiam paraprogramas caseiros, enquanto os rapazessimplesmente perambulavam. Para quemconhecia os hábitos de muitas cidades dointerior paulista, a situação chocava pelamonotonia. Afinal, todas as cidades que seprezavam tinham seus clubes que

recebiam os jovens após a missa dominicalpara reuniões musicais ou dançantes,encontros alegres que se prolongavam atéa hora do almoço.

Curiosamente, quase todas ascidades tinham esses clubes com osmesmos nomes, tais como: Recreativa...ou Tênis Clube...ou Automóvel Clube,entre outros.

O Centro Acadêmico de S.Caetano, precisamente em 1958, possuíauma diretoria que acabara de assumir o seumandato. Vários diretores traziamexperiências de cidades do interior,conforme foi mencionado acima, nas quaisos hábitos sociais eram um poucodiferentes de São Caetano.

O espírito da nova diretoria era ode integrar a juventude de forma maisparticipativa, como nas outras cidades. E,dentro dessa filosofia, os diretores sequestionaram: Por que nas cidades dointerior se consegue realizar bailes, comgrandes orquestras, e nós, em SãoCaetano, não conseguimos?

A partir deste ideal é que se conta ahistória do primeiro Baile do Calouro, quefoi exatamente a resposta ao desafio: Porque não promover um tremendo baile e,logo de cara, com a melhor orquestra doBrasil?

A juventude de São Caetano, noinício de 1959, começava a se agitar com a

1144

D o s s i êJoão Tarcísio MARIANI (*)

Orquestra enchea frente e os fundos

Publicado no Jornal de São Caetano, em 4 de abril de 1959

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perspectiva de ver, pela primeira vez nacidade, a orquestra mais famosa da época.No auge de sua carreira o maestro SylvioMazzucca comandava a mais requisitadaorquestra de bailes de São Paulo e doBrasil.

Para contratar Sylvio Mazzucca eranecessária uma enorme antecedência, 50%do preço (caríssimo) no ato da reserva e osoutros 50% antes de o baile começar. Sepagasse, haveria baile; se não pagasse, afesta acabava antes de iniciar.

O desafio foi enfrentado eempreendido pela diretoria, de quemgostaríamos de lembrar todos os nomes ecargos, mas, infelizmente, a memóriavirou apenas vislumbres e estes já não sãotão bons quanto aqueles diretores forampara o Centro Acadêmico e para SãoCaetano. Assim, vamos nomear os quepudermos recordar, deixando de lado ostítulos que hoje eles possuem e lembrando-os, simplesmente, como acadêmicossonhadores e corajosos.

O presidente era Oscar Garbelotto;o vice-presidente Paschoal Giardullo; otesoureiro Ayrton Filleti; o diretor socialNorberto Victor Barile; tambémparticipavam os irmãos Gelson e MarleneIezzi, Leopoldo Luiz, Arnaldo Bellotto,Marcos Rezende, Walter Dal’Bó, Delmo

Nicoli e Arnaldo Sante Locoselli e outrosque, por favor, nos perdoem e, melhor queisso, nos contatem para que,oportunamente, possamos fazer-lhesmenção, memória e justiça.

Se sobrava ideal a essa turma, oque realmente faltava era grana. Osingleses têm uma expressão apropriadapara essa situação, ou seja, quando oproblemaço é esse, eles dizem “it’s onlymoney!” (é uma simples questão dedinheiro!).

Os nossos arrojadosempreendedores, ao decidirem talempreitada, sabiam perfeitamente que nãohavia dinheiro no caixa do CentroAcadêmico. O que fizeram então?

Oscar Garbelotto e PaschoalGiardullo foram falar com o Sr. VerinoFerrari, diretor do Banco Real. Graças auma boa conversa, ou como se dizia naépoca, graças à lábia, e também aossobrenomes respeitados de nossospersonagens, eles saíram do banco comum empréstimo. A promissória foiassinada pelos dois, mais o tesoureiroAyrton e, para completar a façanha, com oaval do Sr. Hermógenes Walter Braido(também diretor do banco).

A diretoria arriscou tudo: a própriaidoneidade, a reputação do Centro

Frente e verso do convitedo Baile dos Calouros

Acervo/Oscar Garbelotto

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Acadêmico e, até mesmo, o bom nome dacidade.

Se eles tivessem parado parapensar em tudo isso não teriam contratadoa orquestra. O fato é que, no ardor dajuventude e da ousadia, eles não cogitarama lei das probabilidades, que só se aprendecom a vivência ou estudando Estatística.Ou seja, não eram apenas 50% e 50% asparcelas a pagar, mas também 50% e 50%as possibilidades de dar certo ou errado oenorme investimento no baile.

Quais as garantias que eles teriamoferecido ao banco? Sabe-se que, se fossenecessário um penhor de bens, o CentroAcadêmico poderia oferecer: as mesas demini-snooker e de pebolim, um armáriovelho e um tabuleiro de xadrez com todasas peças.

Para contratar a orquestra, OscarGarbelotto escalou Delmo e Leopoldo paratentar convencer Sylvio Mazzucca e, quemsabe, conseguir alguma vantagem. Com ajá citada lábia, os dois conseguiram fazercom que o empréstimo desse para pagar osinal da orquestra e ainda sobrou algumdinheiro para pequenas despesas iniciais.

Na época, o maestro teve receio delevar um chapéu (linguagem da época), oupagar um mico (linguagem atual), daturma de São Caetano. A prova disso foiuma imposição de que pagassem, emdinheiro vivo, os 50% restantes no dia dobaile diretamente nas mãos do SylvioMazzucca e, lógico, antes do começo dafesta.

Por causa disso, este seria oprimeiro baile em São Caetano no qual asdamas pagariam, um verdadeiro escândalopara a época. Diante da repercussão

negativa dessa notícia, e antes queisso atrapalhasse o evento, acriativa diretoria saiu a campopara tentar contornar a situação.

Primeira saída: as damassó pagariam meio convite, o quetambém não soou nada atraente.

Segunda saída: as damas poderiam setornar patronesses, condição esta que lhespermitiria ganhar quatro convites e maismesa de pista. Esta solução foiconsiderada uma jogada de mestre emmatéria de marketing. Sendo patronesses,as moças ainda figurariam em fotos ereportagens no jornal da cidade e teriamseus nomes nos convites, além de teremdireito a um coquetel de apresentação daspatronesses, que seria realizado no próprioClube Comercial.

Mas o que as patronesses teriam defazer para ganhar estes benefícios? Elasdeveriam vender apenas quatro mesas e 40convites cada uma. Como a vaidadefeminina não diminui nem cresce com opassar do tempo, porque ela sempre foi eserá infinita, diversas patronessesapareceram no Centro Acadêmico.

Já mencionamos que a diretoria doCentro Acadêmico era ativa e criativa;pois bem, se grande parte da divulgação dobaile já estaria garantida pelas patronesses,a outra parte ficou por conta da divulgaçãosimples, prática e barata que os própriosdiretores criaram.

Foram feitas duas enormes placaspintadas com os dizeres alusivos ao baile(data, local, horário e outras informações)e a figura de um enorme burro com osugestivo título Baile do Calouro. Essescartazes foram inteligentemente colocadosjunto às bilheterias do Cine Max (graçasaos Lorenzini) e do Cine Vitória (graçasaos Dal’Mas). Basta lembrar que esteseram os dois cinemas mais centrais, maisconhecidos e mais freqüentados da cidade.

A partir daí, a repercussão do

Publicado no Jornal de São Caetano, em 1º de maio de 1959

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evento cresceu exponencialmente com opassar do tempo, de tal modo que, na noitedo baile, dia 2 de maio de 1959, umaverdadeira multidão de jovens seamontoava em frente ao Edifício Vitória(ruas Baraldi, Roberto Simonsen e SantoAntônio), onde ficava o Clube Comercial,palco da festa.

Esbaforidos, suados e de terno egravata, Oscar e Ayrton corriam de umlado para outro, atônitos com aefervescência reinante à porta do salão eansiosos para pagar o maestro SylvioMazzucca antes do início do baile.

A jogada genial das patronessesfora decisiva para o resultado final: todasas moças bonitas disponíveis em SãoCaetano estavam lá naquela noite. Porconseguinte, todos os rapazes bonitos,feios ou sem classificação definida debeleza, de São Caetano e de fora, tinhamacorrido ao acontecimento.

Uma hora antes do início do baile,o salão do Comercial já estava lotado.Oscar combinou com Ayrton que maisalguns convites poderiam ser vendidospelo dobro do preço original. E os moçoscontinuavam se acotovelando na entradado salão e pagando um caro passaportepara ver as beldades presentes.

Ayrton, como futuro engenheiro,fazia contas tentando descobrir se alotação máxima já fora atingida ou secaberia mais gente. Na dúvida, ele optoupor vender mais alguns poucos ingressos.Porém, como bom tesoureiro, vendeu aopreço de quatro vezes o valor prévio dosconvites. Finalmente, Oscar, Ayrton e umdos responsáveis pelo Clube Comercialdecidiram fechar as entradas do salão.Quem conheceu as dependências do ClubeComercial sabe muito bem o quesignificou receber duas mil pessoasnaquela noite!

Oscar e Ayrton, por medida desegurança, guardaram o dinheiro vivo dos

convites em todos os bolsos possíveis e emquantidades cabíveis. A habitual silhuetamagra dos nossos dois personagenscontrastava com a proeminente gorduravirtual projetada pelos bolsos inflados degrana.

Um pouco antes do início do baile,o público estava espremido em todos osespaços do Clube Comercial. Do lado defora, alguns moços inconformadosqueriam saber se, pagando mais do quequatro vezes, era possível conseguir umconvite.

Finalizada a exaustiva, masgratificante, cobrança de convites, osdiretores correram em direção ao maestropara descarregar os incômodos fardos dedinheiro que estavam em seus bolsos.

Ao entrarem no corredor que davaacesso ao palco, eles viram os músicos,todos a postos e maravilhosamentetrajados, e o maestro, com aquela cara felizde quem já reconhecera o sucessoretumbante alcançado por aqueles que ele,tempos atrás, tinha até imaginado comotratantes e que, agora, comprovavamorgulhosamente sua condição decontratantes.

A cena a seguir é antológica e, seainda não foi devidamente inscrita nosanais da história do Centro Acadêmico,fica a sugestão para os arquivos daFundação Pró-Memória.

Imaginem, frente a frente, a figuraelegante do maestro Sylvio Mazzucca emseu impecável smoking e os queridosdiretores, com pinta de malotes dedinheiro, discutindo para valer: o primeiro,porque decidira só receber a grana depoisdo baile; e os segundos, porque queriamdesfilar e dançar no salão, mas de que jeitocom aqueles enchimentos nos bolsos?

A discussão estava se agravandoquando o bom senso prevaleceu e todos,de comum acordo, resolveram acertar opagamento antes, nem que fosse

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necessário atrasar o início do baile. Afinalde contas, quem iria reclamar depois daverdadeira odisséia para conseguir entrarno salão?

Sylvio Mazzucca só reclamoumesmo de ter de desamassar tantodinheiro, enquanto que os nossos doispersonagens, satisfeitos da vida depois dedarem um jeitinho para descarregar o restoda grana que ainda sobrou, voltaramtriunfalmente ao salão e entraram decabeça no baile. E de cabeça erguida.

O resultado do baile foi algo fora dequalquer previsão mais otimista e a alegriados diretores maior do que o lucro.

A maioria dos membros daqueladiretoria, responsável pelo estrondososucesso do evento pioneiro, felizmente estáviva. Hoje, são seminovos (muito melhordo que velhos), e a eles podemos atribuir apossibilidade de terem criado duasprofissões: a de cambista, que, mesmo quejá existisse, ganhou um cunho muito maisprofissional, e a de marqueteiro (temos aconvicção de que Periscinoto, Olivetto,Medina, Guanaes e outros aprenderammuito sobre o assunto com os diretores doCentro Acadêmico).

Dias depois, o tesoureiro Ayrton,com caixa suficiente, foi realizar um velhosonho da diretoria. Comprou o tãoalmejado jogo de camisas de futebol,vermelhas e brancas, finalmente dando oprimeiro uniforme ao Centro Acadêmico!

Como é óbvio, o título destahistória se refere ao público que aorquestra reuniu na frente do ClubeComercial e aos fundos (dinheiro) com osquais ela encheu o caixa do CentroAcadêmico.

O melhor da história, porém, érelembrarmos que aqueles jovens diretoresenxergaram São Caetano como umagrande família, que merecia o esforço e aoportunidade de participar do que demelhor e mais agradável a sociedade local

O DOCE

"CALVÁRIO DOS

CARECAS"Três eram os grandes eventos sociais da época:

o Baile Branco, do Lions Centro, o Baile da Pipoca,da ACASCS, e o Baile do Calouro, do CentroAcadêmico. Este último era o preferido da juventudeestudantil, pois apresentava à sociedade os novosacadêmicos da cidade.

Diz a história que a idéia de cortar o cabelo dosnovos estudantes nasceu na Universidade de Coimbra,por iniciativa dos universitários nobres pararecepcionar os menos nobres: com a desculpa de queos estudos deveriam ser priorizados, todo estudanteque fosse encontrado perambulando pelas ruas deCoimbra, após a meia noite, tinha o seu cabeloraspado. Era o Calvário dos Carecas.

Essa tradição milenar transportou-se para ostempos contemporâneos, ficando arraigada à nossacultura. Oscar Garbelotto e sua atuante Diretoriaencontraram uma fórmula de amenizar o calvário dosnovos carecas: os acordes da melhor orquestrabrasileira de então, Sylvio Mazzuca, e a inspiração dorei da valsa, Johann Strauss II.

Era motivo de orgulho pertencer ao Jornal deSão Caetano. Ricardo Amaral e Ibrahim Suederam os colunistas sociais de maior prestígio no paíse, ao lado dos amigos Alécio Strabelli e OsvaldoNadal, idealizamos a Ronda Social, sendo comumencontrar, até hoje, pessoas com recortes dasnotinhas, a maioria na base de trocadilhos. Era muitolida. Certa feita,coloquei na capa uma expressiva fotode uma moça da cidade, reputando-a como a maisbonita da cidade. Era uma patronesse. O telefone daredação não parou de tilintar a semana inteira, atrás dodiretor Nicolau Delic: ...eram as mães das outrasmoças, reclamando.... Quase perdi o emprego...(João da Costa Faria)

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poderia almejar. A orquestra de SylvioMazzucca representou um marco na vidasocial da cidade e, a partir deste baile,abriram-se as portas para as grandesapresentações musicais que se seguiram.Logicamente, este evento se consagroucom o nome de Baile do Calouro e foirepetido muitas vezes, servindo comomarca registrada para a apresentação dosnovos universitários da cidade, a cada ano.

Calouros a ser Homenageados(extraído do Jornal de São Caetano, 1º de

Maio de 1959)

São os seguintes os calouros queserão homenageados, dos quais todos ossancaetanenses podem se orgulhar:Faculdade de Direito - Angelin Darcie eValter Silvestre (Mackenzie); Adir AssefAmmad (São Francisco); Faculdade deFilosofia – Arnaldo S. Conceição(Univ.Católica de S.Paulo); Ana Figueira(Univ.de São Paulo); Faculdade deMedicina – Ernani Gianini (Paulista deMedicina); Leopoldo Luiz (Medicina eCirurgia da Universidade do Brasil); MarliCravo (Medicina de Curitiba); Faculdadede Engenharia – Clovis Rodrigues e MarioBernardino (Politécnica); UbirajaraQuaglia e Henrique Fernandes Ribeiro(Mackenzie); Faculdade de CiênciasEconômicas – Toshio Kawakani, EuclidesVetorazzi e Augusto Pompermayer (SantoAndré) – Faculdade de Odontologia –Aurélio Baltser Burse (Univ.de SãoPaulo); José Francisco Bosco de Resende,

Airton Salvo, Adolfo Quaglia e NiltonCorreia (Alfenas); Faculdade deArquitetura – Haron Cohen (Univ.Mackenzie).

Aos personagens que aqui citamose aos que, involuntariamente, deixamos dedestacar, mas que, graças a Deus, foram esão nossos amigos, queremos deixar aqui oregistro de admiração pelas iniciativaspioneiras, pelo espírito que permitiu darverdadeiro sentido à palavraconfraternização e pela vocaçãoempreendedora. Empreendedorismo, aliás,que foi posto em evidência neste baile eem tantas outras realizações, queenriqueceram aqueles bons tempos econtribuíram para que São Caetano tivesseuma vida social mais bonita e maisgostosa.

Agradecemos pelas alegrias queproporcionaram àqueles quecompartilharam dos momentos mágicos,como os narrados nesta crônica, e que nós,singelamente, deixamos aqui assinalados,como homenagem e memória.

(*) João Tarcísio Mariani, consultor deempresas nascido em São Caetano do Sul

Publicado no Jornal de São Caetano, em 9 de maio de 1959

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1963. São Caetano do Sul era aindauma pequena cidade. As jovensencontravam-se em bailinhos caseiros,ante a autoridade do pai em nãopermitir a saída para festas fora destapacata cidade. Grandes bailes faziam

parte do imaginário das meninas, ao lerem revistase jornais que, deslumbrantemente, descreviam aspessoas, os vestidos, as orquestras. Mas tudo nãopassava de um sonho...

Até que, no início de 1963, a diretoria do

Lions Clube, presidida pelo Dr. Walfredo RamosBrandão, pensou na organização de um grandebaile de debutantes, o primeiro da cidade, umainiciativa pioneira com finalidade filantrópica: aconstrução do Lar dos Velhinhos Desamparados.

E assim, no início do ano, começavam ospreparativos para o primeiro Deb. Seriamconvidadas quinze meninas de famílias tradicionaisda sociedade sul-sancaetanense.

Foi composta uma comissão organizadora,que se encarregaria dos convites às famílias das

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D o s s i êCristina ORTEGA (*)

A magia do primeiro Baile Branco

“Durante o dia-a-dia, o sol chega mais cedo e demora mais a ir-se embora.À noite, a brisa fresca, o luar, as estrelas.Nos campos, as flores brotando vicejantes.

Na alma, uma alegria incontida e esperança se renovam.No salão, flores humanas, florindo em primaveras, abrindo-se em sonhos, sorrindo, dançando e

encantando...É o Baile Branco. Um misto de poesia e encantamento ...”

(Glenir Santarnecchi - 1970)

Foto das debutantes de 1963 com o apresentador Tavares de Miranda. Da esquerda para a direita: Ethel Rodrigues Neves, Dagmar TerezaTimpani, Maria Tereza de Barros Araújo, Marisa Torres Campanella, Ana Beatriz de Almeida Santos, Maria José Teixeira Brandão,Tarcila Mirtes Puccetti, Vivien Maria Ferraris, Tavares de Miranda, Silvia Lúcia Guilhermino, Luci Garrido Lourenço, Marilda IoneDal’Mas, Hedely Maria Perrella, Marli Ferrentini, Maria Lúcia F.Moraes Alves, Ondina Pedro e Elizabete Garbelotto

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debutantes, do salão onde seria realizado obaile, da orquestra, do apresentador dasmeninas-moças, da escolha da patronessede honra e de outras tantas atribuições queum baile desse porte pedia.

Dona Nenê Penteado, esposa doDr. Ruy Penteado (presidente do Lions,eleito para exercer o mandato em1963/1964), estava determinada aoferecer seus préstimos sociais à entidadee às debutantes para a realização dobrilhante baile.

Quinze meninas-moças foramconvidadas, o que acabou sendo, ao final,dezesseis. Eram elas:

Marisa Torres Campanella – filha deAracy e Anacleto CampanellaEthel Rodrigues Neves – filha deDiamantina e Luiz Rodrigues NevesHedely Maria Perrella – filha de Rosalinae Luiz PerrellaOndina Pedro – filha de Aziris e AlbertoPedroSilvia Lúcia Guilhermino – filha deHelena e José GuilherminoMarilda Ione Dal’Mas – filha de Judith eEttore Dal’MasMaria Lúcia Faleiros Moraes Alves –filha de Eunice e José Geraldo MoraesAlvesTarcila Mirtes Puccetti – filha de Anésiae Nicolino Puccetti

Dagmar Tereza Timpani – filha deMarilha e João TimpaniMaria Tereza de Barros Araújo – filha deIrse Ivonete e Argemiro de Barros AraújoVivien Maria Ferraris– filha de Marion eGiorgio Carlos FerrarisMarli Ferrentini -Elizabeth Garbelotto – filha de Laura eAntonio Nardino GarbelottoMaria José Teixeira Brandão – filha deTilde e José BrandãoLuci Garrido Lourenço – filha de Luiza eJosé Garrido LourençoAna Beatriz dos Santos – filha de Clara eIlioti de Almeida Santos

Foram escolhidos os dois salões debailes do Edifício Vitória, o ClubeComercial e a Acascs. As orquestrascontratadas foram a de Breno Sauer, comrepertório e ritmos espetaculares, e a deErlon Chaves, que animariam os salões.

Dona Aracy Torres Campanella,esposa do prefeito Anacleto Campanella,foi convidada para ser a patronesse dehonra do grande dia.

E assim começavam ospreparativos para o baile.

Para o aprimoramento social dasdebutantes, contratou-se Danuza doAmarante, professora de etiqueta do Riode Janeiro, que ensinou as meninas a fazer

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Convite do I BaileBranco, realizado em1 de Junho de 1963

Aracy TorresCampanella

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análise do tipo de pele, correção de traçose maquiagem. A postura social tambémfazia parte do aprimoramento, como sesentar, levantar-se, como vestir ou tirarum casaco, a estola, como carregar abolsa, luvas. Tudo fazia parte do quechamavam de etiqueta, ou melhor, comose portar em público.

As meninas foram convidadas umaa uma e seus sonhos começaram a setornar realidade. A euforia tomava contadas debutantes, que pensavam nos seusvestidos, na escolha dos padrinhos para avalsa e contavam os dias para o deb.

Em geral, todas estudavam noExternato Santo Antonio ou no GinásioEstadual de São Caetano (Bonifácio deCarvalho). Como todas as jovens daépoca, seus ídolos eram Ray Charles,Miltinho, Santana, Moacir Franco, RayConnif e, claro, apreciavam o ritmo domomento: a bossa nova, colecionandoLP’s de João Gilberto, Tito Madi, dentreoutros. Algumas freqüentavam asdomingueiras da Acascs, do Bossa NovaClub ou reuniões no Clube dos Castores,enquanto outras participavam de bailinhosfamiliares realizados em casa.

O aprendizado de piano, violão ouacordeom fazia parte da educação dasmoças e o esporte, como a natação, o vôleiou basquete, era o complemento de umajuventude sadia.

E os preparativos para o bailecontinuavam. Tavares de Miranda,jornalista de São Paulo, ícone das colunassociais, foi convidado para fazer aapresentação das debutantes. Por seralguém de renome na sociedadepaulistana, era um orgulho tê-lo comomestre de cerimônia de um evento tãoesperado.

Grande parte das debs mandouconfeccionar seus vestidos com a modistamais famosa da cidade, Madame DorindaLocozelli, que só costurava com tecidos

importados e tinha seu atelier na rua 28 deJulho. Outras modistas da cidade, comoAda Bortoletto, Dona Helenice e DonaOdete Cardoso, também confeccionaramvestidos para algumas debutantes, semprerecorrendo a revistas importadas para aescolha dos modelos e escolhendo tecidosfinos, como o shantung, seda, tafetá, rendagypir, brocados e bordados com pedrarias,de acordo com a preferência de cadadebutante. Luvas de cetim e sapatosforrados com o tecido do vestidocomplementavam os luxuosos trajes.

Para que todas tivessem um visualimpecável, a cabeleireira escolhida foi aElza, com salão na rua das Esmeraldas,em Santo André, onde todas fizeram seuspenteados.

Muitos ensaios foram feitos na2222 D E Z E M B R O - 2 0 07 R A Í Z E S

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finíssima residência do Dr. Ruy Penteado,que ficava na avenida D.Pedro, em SantoAndré. No local, também compareceramos pais, para treinar a valsa e receber todasas instruções para a noite do baile,orientados por Danusa Amarante. Todosse empenharam em colaborar para que afesta fosse coroada de êxitos.

Na mesma casa foi oferecido umchá para as debutantes, que estavamacompanhadas por suas mães. Na ocasião,

destacou-se a presença do presidente doLions Clube, Dr. Walfredo RamosBrandão, e do secretário do Lions, Sr.Luiz Rodrigues Neves, além daspresenças de Nicolino Puccetti e GiorgioCarlos Ferraris.

Finalmente, o tão esperado dia 1ºde junho de 1963.

A sociedade sul-sancaetanenselotava os salões do Comercial e doAcascs, que, pela primeira vez, eraconvidada a participar de uma promoçãodesse gabarito.

Na noite do Baile Branco, MarildaDal’Mas trajava um vestido de tecidofrancês, em seda pura, com bordadosazuis; Marisa Campanella, um vestido derenda valenciana; Hedely Perrella, comvestido em musseline de seda pura,bordado com fitas e canutilhos; OndinaPedro usava um vestido em tafetá de seda,com bolero de renda gypir; ElizabeteGarbelotto, um vestido de tecido brocado,bordado com lágrimas de pérola; TarcilaPuccetti usava vestido em tafetá de seda,vindo da Itália, rebordado com pequenaspérolas; Ethel Rodrigues Neves trajavaum cetim natural, bordado com pérolasbrancas e lilázes, completando avestimenta com luvas lilázes; DagmarTereza Timpani usava vestido brocado,com uma capa de lamê prateada.

É chegada a hora da apresentaçãooficial das meninas-moças.

Acervo/ Ondina Pedro

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Pais das debutantes. Da esquerda para a direita: 1-Nicolino Puccetti, 2- Giorgio Carlos Ferraris, 3- (?),4- Ettore Dal’Mas, 5 (?), 6- Luiz Rodrigues Neves, 7-José Garrido Lourenço, 8- Anacleto Campanella, 9-José Brandão, 10- Moraes Alves, 11- Luiz Perrella,12- João Timpani. À frente, Danuza Amarante

João Timpani e Dagmar Tereza Timpani

Da esquerda para a direita, as debutantes: TarcilaMirtes Puccetti, Dagmar Tereza Timpani, Maria JoséTeixeira Brandão, Marisa Torres Campanella, LuciGarrido Lourenço, Ethel Rodrigues Neves, Ana Beatrizde Almeida Santos, Ondina Pedro, Marilda IoneDal’Mas, Maria Tereza de Barros Araújo, Maria LúciaF. Moraes, Silvia Lúcia Guilhermino, ElizabeteGarbelotto, Vivien Maria Ferraris, Hedely Perrella eMarli Ferrentini

Da esquerda para adireita: OndinaPedro, Maria LúciaF.Moraes, DagmarTereza Timpani eMaria José TeixeiraBrandão

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Uma noite de gala. Todasricamente vestidas, ostentando graça ebeleza em flor. Dois salõescompletamente lotados, com duasorquestras. Todas as debutantes eram alvode inúmeros elogios por sua graça eelegância. As mesas dos pais estavamdispostas ao redor da passarela. Ao serchamada por Tavares de Miranda, cadadebutante, segurando um botão de rosavermelha, descia uma pequena escadaria,sendo esperada e recebida por seu pai, quea encaminhava até sua mesa, entregando obotão de rosa para sua mãe.

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Nicolino Puccetti e Tarcila Mirtes Puccetti

Tavares de Miranda e Ethel Rodrigues Neves

Elizabete Garbelotto e Antonio Garbelotto

Dagmar Tereza Timpani

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Após a chamada de todas asmeninas-moças, ao som de uma valsa,todas dançaram com seus pais e, depois,com seus padrinhos.

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Elizabete Garbelotto e Antonio Garbelotto

Ethel Rodrigues Neves e José Rodrigues Neves Júnior

Ana Beatriz de Almeida Santos dançando a valsa comseu padrinho, Rubens Puccetti

Marisa Torres Campanella e Anacleto Campanella

Elizabete Garbelotto e Dr. Walfredo Ramos Brandão

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Da esquerda para a direita: Luci Garrido Lourenço,Maria Theresa de Barros Araújo, Maria Lúcia F.Moraes e Ondina Pedro

Da esquerda para a direita: Hedely Perrella, EthelRodrigues Neves, Maria José Teixeira Brandão,Marilda Ione Dal’Mas, Ondina Pedro, MarliFerrentini, Silvia Lúcia Guilhermino, Tarcila MirtesPuccetti, Maria Theresa Barros de Araújo, MariaLúcia F. Moraes Alves, Luci Garrido Lourenço,Elizabete Garbelotto, Marisa Torres Campanella eMaria Beatriz dos Santos

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As debutantes foram presenteadascom um pequeno troféu oferecido peloLions e um corte de tecido oferecido pelaMatarazzo-Boussac.

Ao final, uma bela jóia - umbroche de ouro com rubi oriental, ofertadopela Joalheria Leal - foi sorteada entre asdebutantes, cabendo a Dagmar TerezaTimpani o valioso presente.

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Como finalização da festapatrocinada pelo Lions, todas asdebutantes participaram de um chá deencerramento no Clube Comercial, ondedesfilaram com seus longos vestidos, numclima de grande descontração, com todosos familiares, adultos e crianças.

Um ano depois, o Lions Clubehomenageia as ex-debutantes e, mais umavez, todas elas emprestam sua graça ebeleza em benefício ao Lar dos Velhinhos,desfilando os últimos modelos napassarela do Clube Comercial.

Passados 44 anos do primeiroBaile Branco, a Fundação Pró-Memóriaconseguiu reunir, em agosto de 2007,algumas debutantes, hoje jovens esimpáticas senhoras, que, num clima dealegria, reviram as fotos e prestaramdepoimentos interessantes, pitorescos eengraçados, que ocorreram desde ospreparativos até o grande dia.

Marilda Ione Dal’Mas Bompan émãe de Renata Monte Alto e LeandraBenadiba. É avó de Amanda, Bruno,Brenda e Sara.

Ondina Pedro Quaglia é mãe de BeatrizQuaglia Pereira e Lílian Quaglia.

Elizabete Garbelotto Ramos é mãe deRodrigo Garbelotto Ramos, FernandaGarbelotto Geiger e Paula GarbelottoFoster e avó de Henrique, Isabela eGuilherme.

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Tarcila Mirtes Puccetti é mãe de DanielaPuccetti Leandrini e Fábio PuccettiLeandrini e avó de Clara.

Dagmar Tereza Czernysz é mãe de Elton eEndel Czernysz.

Hedely Perrella de Rezende é mãe de CaioPerrella de Rezende e Ciro Perrella deRezende.

Ethel Neves Ferreira é mãe de LuizArmando Neves Ferreira, Arnaldo deMoraes Ferreira Júnior, Maria MônicaNeves Ferreira e Maria Angélica NevesFerreira e avó de Isabella, Lucca e Bárbara.

A festa que São Caetano assistiunaquela noite ficará na memória de todosque lá puderam estar. A utopia dos mesesanteriores a 1º de junho de 1963 tornou-seuma realidade que fixou, definitivamente, amaioridade no último reduto a serconquistado: a consciência de que existeuma verdadeira sociedade sul-sancaetanense.

(*)Cristina Ortega, pedagoga, advogada epesquisadora da Fundação Pró-Memória.Esta matéria contou com a colaboração deNanci Navarrete, relações públicas daFundação Pró-Memória

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Fundado em 27 de junho de 1955, o Lions Clube deSão Caetano do Sul - Centro recebeu a sua Carta

Constitutiva, enviada pela Associação Internacionaldos Lions Clubes, no dia 19 de novembro de 1955.Posteriormente, foram criados o Lions Clube Santa

Paula (29 de outubro de 1968), o Lions ClubeBarcelona (23 de dezembro de 1971) e o LionsClube Fundação (27 de outubro de 1976). Estesforam os presidentes que promoveram o Baile

Branco, ao longo dos anos: 1962/63 - WalfredoRamos Brandão - I Baile Branco; 1963/64 - RuyPenteado - I Baile Branco; 1964/65 - HerminioMoreira - II Baile Branco; 1965/66 - Ivanhoé

Spósito - III Baile Branco; 1966/67 - José Alt - IVBaile Branco; 1967/68 - Armando Chagas - V BaileBranco; 1968/69 - Péricles de Faria Pinto - VI Baile

Branco; 1969/70 - Leonardo Sperate - VII BaileBranco; 1970/71 - Theonillo Lima Moraes - VIII

Baile Branco; 1971/72 - Henry Veronesi - IX BaileBranco; 1972/73 - Antonio Amaro - X Baile

Branco; 1973/74 - Rodolpho Zetone - XI BaileBranco; 1974/75 - Hélcio Penna - XII Baile

Branco; 1975/76 - Nelusko Linguanotto Jr. - XIIIBaile Branco; 1976/77 - Juventino Borges - XIVBaile Branco; 1977/78 - Oswaldo Cipullo - XV

Baile Branco; 1978/79 - Itamar Andrade Junqueira- XVI Baile Branco; 1979/80 - Ernani Giannini -XVII Baile Branco; 1980/81 - Sergio Palandri -

XVIII Baile Branco; 1981/82 - Alécio Castaldelli -IXX Baile Branco; 1982/83 - Santo Crepaldi - XXBaile Branco; 1983/84 - José Teixeira Gonçalves -

XXI Baile Branco; 1985/86 - Manoel MartinsMartins - XXII Baile Branco; 1986/87 - Antonio

Cláudio de Souza - XXIII Baile Branco. Os bailespossuíam caráter benemérito. A renda era destinadaao Lar dos Velhinhos Nossa Senhora das Mercedes,

atualmente grafado "Mercês", entidadeassistencialista localizada na Rua Arlindo

Marchetti, 627.

LIONS CLUBE DE SÃO CAETANO DO SUL

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Anos 50, 60 e 70. A cada ano,uma explosão de fatos eacontecimentos históricos. Oque une cada década supera alinha do tempo. A música e osbailes fazem parte da memória

de cada um de nós. Estilos no modo de sevestir, de dançar e de ritmos são ascaracterísticas que demarcaram cadadécada. A força de uma época reuniu osjovens em diversos salões, clubes e atégaragens. Por lá, passaram bandas,orquestras e conjuntos musicais que

revelaram ícones do rock, twist, do jazz, damúsica popular brasileira, do hard rock ede tantos outros estilos musicais.

Revelaram ídolos, moda erebeldias. A contracultura era mundial. E oglamour dos bailes fazia emergir os gruposmusicais. São Caetano do Sul faz partedesta lista, com inúmeras vozes, sinfoniase músicos. Os espaços para apresentaçõeseram os mais diversificados.

Entre as décadas de 30 e 60 foraminaugurados muitos clubes: GrêmioInstrutivo Recreativo Ideal, São Caetano

2288 D E Z E M B R O - 2 0 07 R A Í Z E S

D o s s i ê

que embalaramos encontros dançantes

e marcaram época

Orquestras e bandas

Acervo/Fundação Pró-Memória Acervo/Fundação Pró-Memória

No Clube Comercial, anos 50, o cantor Adoralício Felipe anima obaile

Orquestra Panamá Ritmos em um dos seus muitos bailes da cidade

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Esporte Clube, Clube Atlético MonteAlegre, GR14 de Julho, Clube EsportivoLazio, Clube Esportivo Rio Branco,Cerâmica Futebol Clube e outros já citadosna Revista Raízes (ver edição 17, página20).

Da criação dos clubes surgiramorquestras e bandas memoráveis:Orquestra de Waldemar Fâmula,Orquestra Tiroleza de Nicolay Beringher,Conjunto de Ritmos Copacabana, Narcisoe sua Orquestra, Orquestra Guarany,Orquestra Copacabana, Toscano e as jazz-bands São Caetano, São Bento, Cine Park,Americano e outras também citadas naRaízes (ver edição 17, página 21).

As três décadas foram mágicaspara a realização de eventos dançantes. Osjornais da época trazem, em suas colunassociais, uma infinita lista de bailes, quereuniram jovens, empresários, políticos eautoridades de São Caetano do Sul.

O São Caetano Esporte Clube, oClube Comercial e o General MotorsEsporte Clube foram alguns dos palcospara a apresentação musical de bandas,orquestras e conjuntos. Muitos destesbailes eram realizados para a arrecadaçãode fundos para a construção do HospitalBeneficente São Caetano, por exemplo,concursos de beleza, comemorações deaniversário da cidade, formaturas e tantosoutros eventos.

A década de 50 trouxe ritmos dorock norte-americano, uma fusão de bluese country. O som de Bill Haley, LittleRichard, Buddy Holly, Jerry Lee Lewis eChuck Berry inspirou as bandas eorquestras responsáveis pelosacontecimentos dançantes.

O Baile da Miss São Caetano,realizado no Clube Comercial em 1953,foi embalado pela Orquestra Copacabana,uma das mais tradicionais, que tambémanimou centenas de bailes carnavalescos.

Anos 60

Nas garagens, os bailinhosaconteciam ao som dos long-play ecompact-disc, que giravam nas rádio-vitrolas conhecidas por Negrinhos e seusblue caps. Também ferviam os salões debailes, embalados por orquestras e bandasde São Paulo e São Caetano do Sul.

No estacionamento, os Fuscas,Dauphinis, Gordinis, Aero Willis e SincaChambord levaram os jovens sul-sancaetanenses aos bailes da época: osmeninos, com elegantes calças de tergal,enquanto as meninas usavam vestidostubinhos, estampados e curtos. Elesdançavam ao som de grandes orquestrascomo Toscano ou Sylvio Mazzuca. OGrupo Botões também marcou o períodoao ritmo de Beatles, com jovens músicos

Acervo/Fundação Pró-Memória Fonte: Diário do Grande ABC

Ritz Band anima o baile de carnaval do General Motors EsporteClube

Brutos, Aparecido Moraes, Oscar, Hélio Viola, Armandinho,Valtinho e Rosário (ritmista)

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3300 D E Z E M B R O - 2 0 07 R A Í Z E S

de São Caetano.Os salões eram, praticamente, os

mesmos usados na década de 50, mas asfinalidades e os acordes musicais eramoutros. O Lions Clube São Caetano do Sulfoi uma das entidades de destaque queutilizaram os encontros dançantes paraarrecadação de fundos destinados às obrasassistenciais. A grande característicadestes bailes foi a apresentação deorquestras e conjuntos famosos e comnúmeros expressivo de músicos e vocais.

Anos 70

Pink Floyd, Gênesis, Yes, EltonJohn, Maria Bethânia, Gilberto Gil eCaetano Veloso foram responsáveis pelaforça sonora dentro dos salões de bailes. Adiscoteca foi um dos símbolos da décadade 70 e os tapes invadiram o mundo queantes era formado por grandes orquestras.Gênios da música eletrônica deram vida ànova era musical.

John Travolta invadiu as telas e osEmbalos de Sábado à Noite deram formaaos novos e alucinantes ritmos nas pistasde dança.

Mesmo assim, São Caetano do Sulconseguiu manter seus salões e clubesfuncionando com bailes ao estilotradicional. O São Caetano Esporte Clube,o Clube da General Motors, o Patropi, a

Cerâmica São Caetano, o Clube EsportivoRecreativo São José, a União CulturalArtística São Caetano do Sul (Teuto), oBuso Palace, SBEROC (SociedadeBeneficente Esportiva e RecreativaOswaldo Cruz), o Centro Esportivo eRecreativo São José, a ACASCS(Associação Cultural e Artística de SãoCaetano do Sul), o Centro Acadêmico, oClube Bossa Nova, o Grêmio Estudantil“28 de Julho”, o Saad Esporte Clube etantos outros continuaram com seusencontros dançantes com novo ritmo, mascom som ao vivo dos conjuntos eorquestras.

Socialites, jovens e casais sul-sancaetanenses dançaram, nos anossetenta, com bandas e conjuntos comoSuper Som TA, Musical Paiol, MusicalStilo Novo, Big Som, Phobos, TransaShow, Grupo Som Fórmula 3, Equipe 4,Brazilian Show, Caribe Som 5, Avanço2000, Aladin Ban, Conphas, Casa dasMáquinas, Thunders, Pholhas, Musisec doSaad Esporte Clube, Roberto Ferri,Toscano e uma infinidade de grupos econjuntos que sobreviveram à era disco.

(Pesquisa e texto do Serviço de DifusãoCultural da Fundação Pró-Memória deSão Caetano do Sul)

Acervo/Fundação Pró-Memória Acervo/Fundação Pró-Memória

Cícero, Bruno, Narcizo, Zé Marani, Oscar, José Conti, a cantoraEleninha, Aragão e Barroso

Osvaldinho, Triunfo, Angelin São Caetano, Sebastião Filono,Carioca, Oscar, Veríssimo, Estoqui, Zé Marani, Dona Eliza e ocantor Felipe

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As décadas de 50 e 60, em SãoCaetano do Sul, forammarcadas pela importanteatuação dos estudantes locais,tanto em grêmios estudantisorganizados nas duas grandes

escolas, Cel.Bonifácio de Carvalho eInstituto de Ensino, como no CentroAcadêmico que congregava os estudantesuniversitários aqui residentes. Suasrealizações, particularmente as sociais,que são objeto deste trabalho,movimentavam toda a sociedade local.Neste contexto, duas se destacaram: oBaile dos Calouros (vide artigo nestaRevista) e o Baile do Pingüim, promovidopelo Grêmio 28 de Julho, do “Bonifáciode Carvalho”.

Terminada essa época de ouropromovida pelos estudantes, não se viu nacidade realizações sociais estudantis quepudessem congregar e motivar os jovens,como outrora. Outros objetivos erambuscados pelos dirigentes.

Em 1983, um grupo de coroas, quetinha vivenciado toda aquelamovimentação própria da juventude,passou a se reunir em restaurantes,pizzarias e outros locais com o objetivo derememorar e curtir os bons momentos dopassado. Liderados pelo entusiasmo deRamis Sayar, ex-presidente do Grêmio“28 de julho” e posteriormente ex-presidente do Centro Acadêmico, o grupocrescia a cada reunião. Era evidente oentusiasmo do reencontro, agora tambémcom esposas.

Eis que surge uma idéia: porquenão fazer um baile à moda antiga, umbaile dos Anos 60? O grupo topou,inclusive considerando a possibilidade deassumirem eventual prejuízo. Daí para aação foi um pulo: os salões do BusoPalace foram reservados e, sem qualquerdúvida, Ramis foi contratar a badaladaorquestra de Silvio Mazzuca.

No dia l7 de abril de 1984, oprimeiro Baile dos Anos 60 foi realizadocom grande sucesso. Até mesmo um fartocafé da manhã foi encomendado na últimahora, para atender aos que insistiamprolongar o baile além das quatro horasmesmo sem a orquestra que, afinal,acabou dando uma colher de chá.

O balanço financeiro dapromoção, que abrigou mais de milconvidados, foi altamente satisfatório.Fuad Sayar, o tesoureiro, sorria, até umpouco espantado: o que fazer com odinheiro? A resposta do grupo veiorápida: formar um clube e continuar compromoções saudosistas que tanta alegriatrouxe já neste primeiro baile.

Uma nova reunião escolheu onome de Clube dos 60 e sua data defundação foi a mesma do primeiro baile:17 de abril de 1984.

Os objetivos eram claros: reviveros anos dourados, agora com esposas efilhos. Os grupos atuantes nas décadasanteriores se uniram, sob a mesmabandeira, e formou-se a diretoria:Presidente Ramis Sayar, ex-Grêmio 28 dejulho, o grande idealizador e incentivador

3311 D E Z E M B R O - 2 0 07 R A Í Z E S

D o s s i êOscar GARBELOTTO (*)

Os Grandes Bailes do Clube dos 60

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do novo clube; Vice-Presidente OscarGarbelotto, ex-Centro Acadêmico. Osdemais diretores eram experientes jovensdas equipes que marcaram nossa cidadecom grandes realizações: Fuad Sayar,Nelson Rela, Wilton Roveri, João TarcisioMariani, Delmo Nicoli, José Bonifácio deCarvalho, Antonio Cláudio de Souza, RuyCelso Marchesan, nio Campoi, GersonPasianoti, Osvaldo Medeiros, PauloRoberto Raymundo, Luiz Eduardo daCruz Carvalho, Roberto Antonio Filleti,Paulo Marchesan, Thércio de Almeida,Nelson Jacob João, Jair Benuce, DanteMalavasi e, como Presidente do Conselho,Arnaldo Sante Locoselli.

As realizações foram tantas,facilitadas pela inauguração de bela sedena rua Pernambuco, com boate, piscina erestaurante privativo, que tornaria estacrônica um livro. Por isso vamos relataralgo apenas dos grandes bailes.

Os bailes dos anos 60

Após o sucesso do primeiro baile ea fundação do clube, os jornaisanunciavam que “os bons temposvoltaram” (Diário do Grande ABC -Claudete Reinhart, 23 de julho de 1985).Acrescentava: “... será o mais badaladoclube privée da região! Uma idéia que deucerto, partindo do princípio que,realmente, os bons tempos voltaram”.

Em abril de 1985, acontece osegundo baile com a Orquestra de OsmarMilani, no Buso Palace. Na cidade, era oúnico salão com estrutura para abrigarrealização de tal envergadura, comoocorreria em todos os bailes seguintes.

O sucesso repetiu-se e a alegriasaudosista ganhava adeptos também entreos jovens. O baile levava,definitivamente, a família de volta aossalões. Neste segundo baile, uma grandesurpresa. A presença de dois astros da

música brasileira, nascidos em SãoCaetano e freqüentadores assíduos dosgrupos estudantis da época: Jerry Adrianie Oscar Ferreira. Ambos vieram matar assaudades dos velhos amigos e retribuíramcom belas e românticas canções.

Para o terceiro baile, em três demarço de 1986, uma outra surpresa. Sob ocomando de Oscar Garbelotto e ArnaldoS. Locoselli, a decoração do salão recebeuum grande efeito nostálgico. O tema foiCine Max. O projeto englobou aconstrução, em tamanho real, da bilheteriado cinema, que ocupou o centro do hall deentrada, com a enorme estátua à sua frentelembrando um leão sentado junto àesfinge egípcia. Para sua execução, emmadeira e gesso, foi contratado o artistaPaulo T. Domingues.

Paulo, que foi o pintor dos cartazesdos cines Max e Vitória por vários anos,executou também cartazes anunciando osvelhos clássicos do cinema queornamentaram as escadas de acesso e aentrada do salão. Nas extremidades dopalco, enormes emblemas dos grêmios eCentro Acadêmico, além dos clubesfreqüentados pelos jovens da época:Comercial e Bossa Nova.

A entrada do salão,obrigatoriamente, era pelas bilheterias,quando as mulheres recebiam rosas dasmãos das jovens. Ao lado, um texto,especialmente elaborado por OscarGarbelotto, evocava os bons tempos daprimeira sessão do Cine Max:

Poucos das últimas gerações deR A Í Z E S 3322D E Z E M B R O - 2 0 07

Fonte: Publicado no Diário do Grande ABC, em 31 de dezembro de 1985

Baile dos Anos 60,realizado pelo

Clube dos 60. Daesquerda para

direita: MiguelÂngelo Gissoni,Oscar Ferreira,Jerry Adriani e

Fuad Sayar

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São Caetano do Sul, não passaram pelasemoções proporcionadas pelo inevitávelponto de encontro dos jovens dos anos 60que foi o Cine Max. Particularmente aconcorrida 1ª sessão, aos domingos. Sãoesses momentos e essas mesmas emoçõesque, hoje, o Clube dos 60, quer relembrar.Ao passar por esta bilheteria, vocêsestarão adquirindo ingressos para viverum real retorno àquele tempo. Aperte,carinhosamente, a mão de sua esposa;sinta, ao dar o braço ao seu marido, amesma emoção de seu primeiro encontrocom ele... Talvez tenha sido bem na frentedesta bilheteria, onde tantos encontrosforam marcados. Sintam todo o calor dosaconchegos que iniciavam exatamente aosom dos três badalos e da singelaStephanie. Ao dançarem, logo mais,encostem seus rostos – da mesma maneirameio sem graça, como faziam logo aoapagar das luzes do cinema – e, diante dobeijo roubado (mas sempre esperado):olhem-se profundamente nos olhos edigam Eu te amo!

Antecedendo o baile, JoséBonifácio de Carvalho, ao som dominueto Stephanie, que anunciava o iníciodas sessões do Cine Max, declamou outrotexto romântico, também de autoria deGarbelotto, sendo seguido pela OrquestraSaint Paul com Moonligth Serenade, ogrande clássico romântico de GlennMiller. A pista lotou literalmente...

A sensível evocação dos bonstempos, a boa escolha de ótimasorquestras, o selecionado público e aexcelente organização garantiam osucesso absoluto dos bailes.

O festejado cronista Urames Piresdos Santos, ao comentar o baile, escreveu:“A existência do Clube dos 60 que reúneos principais líderes da juventude daqueleperíodo, se constitui num marco indelévelda história de São Caetano”.(in

Sancaetanense Jornal – 22 de março de1986).

A maioridade dos bailes dos Anos60, em crescente sucesso, incentivou adiretoria a dar um ousado passo: arealização de um outro baile no mesmoano, com o nome de Baile dos AnosDourados. Com data marcada para 17 deoutubro de 1986, contratou-se asuperbadalada Orquestra Tabajara, do Riode Janeiro, do maestro Severino Araújo.Pela primeira vez em São Caetano.

O Jornal de São Caetano dizia: “OClube dos 60, como poucos, sabepromover seus eventos... A OrquestraTabajara apesar de cara sua contratação,trás o carisma de uma época de ouro dosgrandes bailes brasileiros. Lembra HotelCopacabana, Quitandinha, Cassino doUrca, Pinheiros, Clube Homs...” (11 deoutubro de 1986).

O sucesso ultrapassou as fronteirasda região e o seleto público paulistanocompareceu para dançar ao som daTabajara, ao redor de fontes de água emuitas flores, tema escolhido para aornamentação.

Para 1987, duas grandesrealizações confirmadas: o IV Baile dosAnos 60, para 11 de abril, e o II Baile dosAnos Dourados, para 17 de outubro.Orquestras e decorações sempre erammotivos de grandes cuidados. Assim, parao Baile dos Anos 60, a orquestra escolhidafoi a consagrada Banda Reveillon e, paraanimar os Anos Dourados, Osmar Milani.

Na decoração, definiu-se pelapermanência do ambiente florido eromântico do primeiro baile, com fontesd’água e muitas flores para o Baile dosAnos Dourados. Para o Baile dos Anos60, dando continuidade ao ladosaudosista, a praça Cardeal Arco Verde,com a Igreja Matriz e seu coreto, erareproduzida pelas mãos mágicas de PauloDomingues. Todos puderam rememorar

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os bons momentos da missa das dez horasde todos os domingos, tradição dajuventude das décadas passadas.

Sobre esta tradição, um texto,especialmente preparado por OscarGarbelotto e distribuído no baile, dizia:“Assim iniciavam os domingos na pacataSão Caetano. Existia naqueles encontrosuma magia incomum: muitos delesiniciados nas escadarias terminaram como ‘sim’ definitivo no altar da Matriz”.

Chegamos em 1988: o V Baile dosAnos 60 repetia a Banda Reveillon eevocava o Cine Vitória, sempre comcenografia de Paulo Domingues,homenageando o pioneirismo de VictorioDal’Mas e sua família na construção doprimeiro grande prédio local e do luxuosocinema.

Por sua vez, o III Baile dos AnosDourados trouxe a Orquestra Saint Paul.

A imprensa novamente ressaltou ogrande sucesso dos grandes bailes doClube, que se esmerava na suaorganização.

Em 1989, porém, algumasdificuldades começaram a surgir. Opúblico exigia sempre boas novidades,principalmente com orquestras, e já nãohavia ofertas que não fossem repetitivas ebastante conhecidas pelo público. Assim,para o VI Baile dos Anos 60, foinovamente contratado Sylvio Mazzuca.Mas o que se constatou foi o improviso daorquestra, montada só para o evento, semo carisma dos velhos tempos. O baile foi oúltimo da série organizado pelo Clube, em12 de maio de 1989.

Praticamente o mesmo ocorreucom o IV Baile dos Anos Dourados, em27 de outubro de 1989. Um públicoreduzido prestigiou o evento que, pelaterceira vez, repetia a Banda Reveillon,diante da impossibilidade de encontraroutra.

Após dez bailes evocando um

passado recente, os saudosistas, ao queparece, renderam-se às modernidades enão se entusiasmavam mais com os bailesfamília, marca do Clube dos 60. Bailesnos quais terno e gravata eramobrigatórios para os cavalheiros e trajesocial para as damas. Bailes nos quaistoda a família comparecia junta, inclusiveos menores, que se abrigavam junto aospais, como nos antigos salões.

Os diretores do Clube entenderamos sinais e os bailes dos Anos 60 e dosAnos Dourados foram encerrados,deixando na lembrança de muitos aevocação de uma época romântica, bela,repleta de boas recordações. Na verdade,não só dos “anos 60”, mas a época dajuventude de cada um, das paqueras, doscinemas, dos bailes, dos namoros, docasamento...

(*) Oscar Garbelotto, advogado eprofessor-fundador do Imes. Pesquisadorda história local, ocupou diversos cargosna administração municipal: Diretor deEducação e Cultura, Diretor do Imes ePresidente da Fundação Pró-Memória

Fonte: Publicado no Diário do Grande ABC, em 4 de abril de 1987

Réplica do CineMax que serviu

como decoraçãopara o baile do

Clube dos 60,realizado em 3 de

março de 1986

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AAAAA

D E Z E M B R O - 2 0 07

Apretensão desse estudo partiu daobservação do desenvolvimento

desigual de dois núcleos coloniais, criadosa partir de uma meta única do governo.Somando-se a isso, a população de ambosos núcleos era proveniente da mesmaregião da Itália, com reivindicações querecaíam sobre os mesmos quesitos.

O desenrolar da colonização foisimilar entre as 28 famílias do primeirogrupo que desembarcou em São Caetano,em 1877. Já na colônia Alfredo Chaves, noParaná, as 40 famílias vindas do litoralchegaram em 1878. Contudo, a políticadiferenciada dos governos provinciaispossibilitou um crescimento diferente nasduas localidades. A existência da estrada

de ferro, e a posterior criação de umaestação de trem no núcleo de São Caetano,contribuiu para o progresso e o contatocom outras localidades. Na colôniaAlfredo Chaves, o progresso e odesenvolvimento só foram possíveis apósa chegada dos imigrantes italianos, vistoque, até então, tratava-se de uma regiãoisolada e habitada por poucas famílias debrasileiros. A religiosidade foi outro fatorcomum entre os dois núcleos, tendo emvista a preocupação contínua com asmissas, a permanência de um padre nalocalidade, a criação das irmandades e aconstrução de uma igreja matriz queabrigasse todos os moradores em seuinterior.

A r t i g o sEliane MIMESSE (*) - Elaine MASCHIO (**)

As colônias de São Caetano e de Alfredo Chaves:imigrantes vênetos nas províncias de São Paulo e Paraná

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Igreja Matriz de Colombo em dia festivo na primeira década do século XX

Acervo/Paróquia Nossa Senhora do Rosário - Colombo

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Com a publicação da LeiProvincial nº 29, de 21 de março de 1855,o governo passou a promover a imigraçãona província do Paraná. A necessidade demão-de-obra estrangeira foi o interessecentral para que a política imigratóriafosse viabilizada por meio de contratoscom empresários que seresponsabilizavam pelo transporte dosimigrantes e pela formação de colônias. Aentrada de imigrantes europeus no Paranáteve a finalidade de garantir aprodutividade da agricultura desubsistência. Assim, a colonização deterras nos arredores da cidade de Curitiba,calcada na pequena propriedade, propiciouo desenvolvimento da produção agrícolade gêneros alimentícios e a construção econservação de estradas para facilitar oescoamento.

A partir dessas iniciativas,inúmeras colônias foram criadas nos anosseguintes à instalação da província doParaná, tanto no interior como nosarredores de Curitiba. Somente a partir de1875 o Paraná recebeu um númerosignificativo de imigrantes denacionalidade italiana, em decorrência deum contrato entre o presidente da

província e o empresário Sabino Tripoti,no ano de 1871 (Balhana, 1958)1. Muitosimigrantes foram instalados, inicialmente,na Colônia Alexandra, no litoral, criadaem 1875. A proposta política dedistribuição de terras era aparentementevantajosa, dinamizada para os imigrantesque desejassem a posse da terra ebuscassem o desenvolvimento agrícola eeconômico. Contudo, os imigrantes quebuscavam condições propícias no Paranásofreram as conseqüências da falta deinteresse e de responsabilidade dos agentesda imigração, quando de seu ingresso einstalação no país (Maschio, 2005) .2

O empresário Tripoti, conhecidopela falta de responsabilidade, fundou aColônia Alexandra na região litorânea,movido por interesses pessoais.Localizada próxima ao Porto deParanaguá, despenderia poucos recursospara o transporte dos colonos. Dessaforma, o empresário poderia trazer umnúmero muito maior de imigrantes com ametade dos recursos que o governo lhepagaria. Para isso, o empresárioconfeccionou folhetos denominados Cartaao Amico Colono, que traziaminformações enganosas sobre a realidadedaquela colônia.

As conseqüências dessa políticanão demoraram a aparecer. O mauplanejamento colocava em evidência asituação lastimável da colônia, tornandoquase impossível para a sobrevivência dosimigrantes. A localidade tornou-sepequena para o grande número deimigrantes que ali aportava. Os poucoscolonos que conseguiram terras nãotiveram êxito com a produção devido aoclima, que não era propício para o tipo decultivo trazido do norte da Itália. A maiorparte deles era composta por camponesescontadini, que procediam do Vêneto,região de clima muito frio.

Inúmeras reclamações da ColôniaAlexandra chegavam a Curitiba. Muitos

Mapa contendo adivisão de lotes daColônia AlfredoChaves - 1878

1 BALHANA, Altiva P.Santa Felicidade: umprocesso de assimilação.Curitiba: J. Haupt &Cia, 1958.2 MASCHIO, ElaineCátia Falcade. Aconstitução do processode escolarizaçãoprimária no municípiode Colombo - Paraná( 1 8 8 2 - 1 9 1 2 ) .Dissertação (Mestrado).UFPr, 2005.

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imigrantes desejavam, até mesmo, retornarà Itália, pois julgavam ter sido enganadospelas falsas promessas das propagandas.Para os imigrantes, a melhor solução seriaa assistência e a remoção para outro lugar.Assim, o governo rescindiu o contrato como empresário e promoveu, diretamente, aimigração e a reimigração de colonos.Assim, em 1877, criou-se a Colônia NovaItália, em Morretes, para remover osimigrantes que não desejavam permanecerna Colônia Alexandra, que também nãoprosperou. Segundo Balhana (1958)3, amaior parte do contingente de imigrantesestabelecido no litoral dirigiu-se aCuritiba. Muitos imigrantes deixaram olitoral por conta própria e instalaram-se emcolônias já existentes, mas a maior parte sefixou em novas colônias nos arredores deCuritiba.

Embora criadas no mesmomomento, as colônias dinamizaram formasde organização social condizentes comcada grupo de imigrantes que nelas seestabeleceu e de acordo com a interaçãoque os imigrantes fizeram com apopulação brasileira. Assim, enquantoumas mantiveram por mais tempo umacultura ligada a seu país de origem, outrassofreram mais rapidamente um processode integração com a populaçãoparanaense, como foi o caso da ColôniaAlfredo Chaves.

Na colônia de São Caetano, osimigrantes eram provenientes da região deVitório-Vêneto, no nordeste da Itália.Embarcaram em 1877, no vapor Europa,na cidade portuária de Gênova, edesembarcaram em Santos. Vieram detrem para a Hospedaria dos Imigrantes, nacidade de São Paulo, local para onde todosos imigrantes se dirigiam quandochegavam ao país, permanecendo lá poroito dias. Traziam um prospetto contendoas condições mínimas para o imigrante quetivesse pretensões de fixar-se em umnúcleo, na província de São Paulo, nalocalidade que o governo disponibilizasselotes. Era possível escolher entre três tiposde lotes, com preços e formas depagamento diferentes, de acordo com aárea. Os colonos que conseguissem quitaro lote antes do prazo teriam um desconto.Mas isso não ocorreria na colônia de SãoCaetano.

Depois da parada obrigatória naHospedaria, os italianos foram para SãoCaetano, de trem. A ferrovia, construídapelos ingleses, fora inaugurada emfevereiro de 1867, com algumas paradasnos locais considerados mais importantes.Em São Caetano, ainda não existia umaestação para o desembarque das pessoas,obrigando os imigrantes a saltarem dotrem com suas bagagens. (Mimesse,2001)4

Vista doMunicípio deColombo na

década de 1910

3 BALHANA, Altiva P.op.cit.

Acervo/Paróquia Nossa Senhora do Rosário - Colombo

4 MIMESSE, Eliane. Aeducação e osimigrantes italianos: daescola de primeirasletras ao grupo escolar.São Caetano do Sul:Fundação Pró-Memória,2001.

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Porto de Gênova(Itália), de ondepartiu o vaporEuropa, no dia1ºde julho de1877, trazendo osimigrantes daregião vêneta parao Núcleo Colonialde São Caetano.Ilustração - cercade 1875

Acervo/José de Souza Martins

Mapa do Núcleo Colonial de São Caetano, onde aparece a demarcação doslotes de terra, distribuídos aos imigrantes entre 1878 e 1891. Eram 93 nototal, entre lotes rurais e urbanos

Acervo/Fundação Pró-Memória

Embora vindos da mesma regiãoda Itália, a trajetória desses dois grupos deimigrantes foi marcada por significativasdiferenças. Uma série de fatores contribuiupara que isso ocorresse, mas o principal foia política imigratória adotada por cadaprovíncia. Não devemos nos esquecer deque, em São Paulo, houve também umintenso fluxo imigratório italiano queocorreu por volta de 1880. As condiçõesde trabalho para os imigrantes que láaportavam eram bem diferentes daquelasdos imigrantes que vieram para o sul.

No sul do país, a imigração seguiuuma economia agrícola alicerçada nadistribuição de pequenos lotes para odesenvolvimento de uma agriculturafamiliar, caso da Colônia Alfredo Chaves,diferente do que ocorreu em São Paulo.Genericamente, esse era o intuito daimigração em massa. O núcleo de SãoCaetano formou-se como centro agrícola,mas, anos depois, iniciaram-se outrasatividades. Os italianos passaram afabricar tijolos e vendê-los ao mercadolocal e regional. Esse foi o ponto de partidapara a ampliação das relações comercias ea instalação de outras fábricas nalocalidade.

Mesmo apresentando caracte-rísticas de uma colônia agrícola, como acolônia Alfredo Chaves, São Caetanosofreu as conseqüências da políticaimigratória paulista. O governo provincialdo Paraná concedeu mais benefícios aosseus imigrantes do que o governo paulista.Os vênetos habitantes na província doParaná desfrutaram da vantagem de umapolítica imigratória calcada napreocupação de ocupação do território.Essa ocupação dava-se pela aquisição dapequena propriedade e, conseqüentemen-te, da produção da agricultura desubsistência. Os italianos moradores dosdois núcleos coloniais sofreram revesesnos anos iniciais de sua chegada às terras,mas lutaram bravamente pela suasobrevivência e conseguiram concretizarseus sonhos, contribuindo para o progressoe o desenvolvimento das localidades, queos acolheram na nova pátria.

(*) Eliane Mimesse, Doutora emEducação pela Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo(**) Elaine Maschio, Mestra em Educaçãopela Universidade Federal do Paraná

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Tanto a América Portuguesa quanto oBrasil independente receberam

inúmeros viajantes. Grande é o número derelatos de viagem que deixaram - todos,certamente, carregando seus teores devalimento ao atestar, com mais ou menospropriedade, sobre a terra e suas gentes emmomentos históricos distintos.

Entre estes viajantes, destacam-sealguns pelo renome que em suas praças deorigem possuíam; despontam outros peloespírito aventureiro que os conduziu;pontificam uns poucos pela seriedadecientífica de suas empresas e, ainda, unstantos que visitaram a terra e nem por issopontificam, despontam ou se destacam.Há, além disso, vários que sequer são, porsua vez, associados à idéia de viajantes ou

A r t i g o sJuarez Donizete AMBIRES (*)

BartolomeuLopez de

Carvalho:um visitante

da São Pauloseiscentista

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Região de São Paulo, no fim do século XVII

Reprodução/Livro Catolicismo em São Paulo: 450 anos de Presença da Igreja Católica em São Paulo (1554 - 2004)

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visitantes, encobertos que estão por suasatividades, nos meandros dofuncionalismo da América Portuguesa,presos que estão às malhas da burocracia,na situação de serviçais régios. É o caso,por exemplo, de Bartolomeu Lopez de

C a r v a l h o ,personagemem destaqueneste artigo e,na dimensãoque daremosaos fatos queo envolvem,um visitante atrabalho naSão Pauloseiscentista.

II

D a t aespecífica daestadia deBar to lomeuLopez de

Carvalho em São Paulo não temos.Entretanto, segundo informe de JohnMonteiro no livro Negros da Terra, apersonagem, na situação de funcionáriorégio ou de representante da coroa, teriaaqui estado na década de 1690 e, em nossaindução, no início desta cronologia.

Manifesto a Sua Majestade é odocumento que escreve como relatório desua estadia e, por seus teores, tomamosconhecimento de que o visitanteenvolvera-se como parecerista emepisódio de importância para os paulistase, afirmamos, para toda a AméricaPortuguesa. Se autores fôssemos de umaHistória da Capitania, a esta ocorrência oufato chamaríamos de “episódio do pedidode administração direta dos índios”,interesse já publicamente manifestado porpaulistas (os mais mercantilizados,

acreditamos) ao menos desde a décadaanterior.

Assim, na função de visitante eaveriguador de fatos, teria aqui chegado ofuncionário régio para colocar-se emdemanda que, em sua essência, é o marcopelo qual se mede a sociedade da épocacomo um todo. Referimo-nos, no caso, aoassunto “escravidão” e, no fato paulista, àescravidão do índio, recurso que nacapitania vai atuar, até o século XIX,como a única mão-de-obra devido à faltade cabedal mais consistente, em planointerno, para a aquisição do etíope etambém devido à inexistência definanciamentos vindos de fontes externas,segundo Luiz Felipe de Alencastro em seulivro O Trato dos Viventes.

A petição paulista – a deadministrar sem intermediações a força detrabalho de seus índios – sofreu, contudo,oposição e, em nossa leitura, os parecerescontrários à legitimidade do reivindicadosão os fatores que justificam, naquelaaltura, a presença de Bartolomeu Lopezem São Paulo.

Ao que tudo indica, os opositoresfizeram-se ouvir em várias instâncias,dizendo da impropriedade do pedido. Àocasião, à frente deste grupo está ninguémmenos que Antônio Vieira – jesuítaconsiderado autoridade de peso quando oassunto é, na colônia, o índio e voz, nacircunstância, a ser consultada e ouvida,segundo os dizeres do próprio D. Pedro II,o rei de Portugal na cronologia.

Vieira, em sua atitude contrária aoconcedimento, alega que a administraçãodireta exercida pelos paulistas seria areprodução, em terras portuguesas, daencomienda espanhola, regime no qual oíndio é livre apenas no papel. Nas vias darealidade, sua situação é a do escravo,porque é isentado do justo salário, direitonatural de todo trabalhador liberto. Emoutra instância, alega ainda Vieira que, em

D. Pedro II, rei dePortugal, na épocada visita deBartolomeu Lopezde Carvalho a SãoPaulo

Crédito: http://topazio1950.blogs.sapo.pt/2006/12/

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São Paulo, o que se pratica com o índio éescravidão, porque o silvícola é, para oque lhe consta, legado em testamento, fatoque só pode se concretizar quando se temestabelecida uma posse. Além disso, omesmo Vieira defende, em paralelo, aprerrogativa de que comida, alojamento,agasalho e conversão não podem serentendidos como pagamento de serviçosprestados ou recebidos, estando por talfato sempre tocada de inverossímil areivindicação paulista.

Em meio a estacontenda que seestabeleceu, ossolicitantes buscaramapoio e conseguiram-no nos interiores daprópria companhia.Esta base aliadatornou-se oposição aVieira e doreivindicante umaliteral apologista.

Em nossainterpretação, BartolomeuLopez de Carvalho é, em meioa isto, a terceira vertente – a dacoroa que tem atrelada a si o poder deescolha do vencedor na contenda que,parece-nos repercutiu com algum vultoem Portugal à época, informando-nosVieira desta dimensão em suacorrespondência. Tal fato está registradono livro Cartas do Padre Antônio Vieira,de João Lúcio Azevedo.

A repercussão se deuconcomitantemente na colônia, em seucentro administrativo. Da Bahia, D. Joãode Lencastre – governador entre 1694 e1702 – põe-se contra o pedido dospaulistas, defendendo a idéia de que aposse direta do índio pode levar a práticasde autonomismo, procedimento que eleenxerga como perigoso e próprio dadinâmica de vida do povo de São Paulo e

também das gentes da Casa da Torre, cujoherdeiro à época – Garcia d’Ávila Pereira– quer controlar a administração de índiosem suas terras no sertão baiano.

Assim, após a visita que não seadstringiu apenas a São Paulo,Bartolomeu Lopez de Carvalho emitiu,como já o dissemos, parecer, em forma derelatório, endereçado ao rei. Deste modo,também por ele calçadas, cartas régias de

1696 concederão ao paulista osolicitado, fato que, com

alguma obviedade, deixaentrever os teores que

assumirá a escrita dovisitante, comentadaem alguns de seusaspectos na parteseguinte.

III

O Manifesto a SuaMajestade é

essencialmente texto deteor laudatório ao paulista;

em mesma essência, dele sepode dizer que é discurso no qual

se faz a defesa de alguém que, com isto,está recebendo um elogio que é,obviamente, favorável apresentação paraque o elogiado caia em graças, no caso asdo rei. Para tanto, o autor dá conta de suapassagem por capitanias do Sul e damatéria que o levou a empreender talviagem. O índio surge, então, como suajustificativa e, particularmente, o índioreduzido a cativeiro pelos moradores deSão Paulo.

A partir deste fato, começa a haverpaulatina inversão de proposta, e odestaque do texto, nas observações dofuncionário, começa a ser o paulista nasituação de colono e o quanto toda a terradesde o seu descobrimento por PedroÁlvares Cabral tem utilizado a força de

Padre AntônioVieira, um dos

principais opositoresda petição paulista

de administraçãodireta dos índios

Crédito: www.estacio.br/rededeletras/numero16/

mirante/texto2.asp

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trabalho do silvícola.Os descimentos do sertão,

contudo, ainda se justificam, porque são omodo de o indígena abandonar a suacondição de gentilidade e a conversão aocristianismo é processo ligadodiretamente a isto. O desencadeador danova e superior proposição é, por sua vez,o colono e, no caso mais específico, opaulista – verdadeiro desbravador a quemo império muito deve.

Noutra sintonia, justifica-se maisuma vez o cativeiro (e, nas entrelinhas, apetição de administração direta) porqueviver na terra sem o serviçal indígena é,em verdade, tornar-se um deles, já que asobrevivência cotidiana está muitomarcada pela cultura gentia que dá osustento ao colono, mas deve ser praticadapor índios, para que as posições não seconfundam.

Meritório sempre será, então, oprocedimento do paulista, porque trazligado a si o descobrimento da terra.Assim, não deixar os índios à deriva oupor conta e risco é favor e, em essênciaúltima, caridade, já que o silvícola é,muitas vezes, naturalmente corrompido evingativo, cabendo ao colono a cristã

incumbência de cerceamento e controledesta índole com tantas tendências para omal.

Atrelado ao fato, outro aspectopositivo da ação do colono é promover otrabalho, para que a tendência espontâneada terra – que é a preguiça – se reverta. Nocaso, a reversão será plantios, criatórios,expedições ao sertão e buscas de metalprecioso, todos elementos de importânciapara a grandeza do reino e fatos queridos,ansiados, cabendo, por isto, o louvor dopaulista.

Deixando, por sua vez, as vias dadenúncia do conteúdo direto, o texto deBartolomeu Lopez de Carvalho mereceser destacado pela retórica ou aparato quecarrega. Primordialmente é tese e prepara-se para tal. Está, assim, crivado doslugares comuns que marcam o seu tipo definalidade.

Como se isto não bastasse, háainda nele a recorrência aos argumentosde autoridade, havendo, por conta do fato,episódios em que se lança mão depersonagens da cultura clássica e desantos e doutores da Igreja. Deste modo,cabe a Cícero – príncipe dos oradores queé – ser o primeiro na linha das citaçõesque vêm para reforço da honorabilidadeda idéia defendida. Acompanhando-o,entra em cena a autoridade teológica quedá o tom do indubitável aos teores eexplicita, em essência última, uma razãode Estado (no texto representada pelopaulista) que se confirma no divino, naconstante fusão entre o plano terreno e osobrenatural, síntese perfeita e desejo deuma época.

(*) Juarez Donizete Ambires, professor deLíngua e Literatura Portuguesa no CentroUniversitário Fundação Santo André edoutorando em Literatura Brasileira naUniversidade de São Paulo

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Bibliografia

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes.São Paulo: Cia das Letras, 2000.AMBIRES, Juarez Donizete. Os Jesuítas e aAdministração dos Índios por Particulares em SãoPaulo, no Último Quartel do Século XVII. Dissertação demestrado. FFLCH/USP, 2000.AZEVEDO, João Lúcio (org.). Cartas do Padre. AntônioVieira (tomo III). Coimbra: Imprensa da Universidade,1928.MATOS, Odilon Nogueira. Saint-Hilaire e o Brasil. SãoPaulo: Arquivo do Estado, 1980.MONTEIRO, John M. Negros da Terra. São Paulo: Ciadas Letras, 1995.

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AAAAA

30anos

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AAugusta, Respeitável e BeneméritaLoja Simbólica Luz do Oriente - n°

2.140 comemorou, no dia 10 de maio de2007, o trigésimo aniversário da suafundação (9 de maio de 1977).A Luz do Oriente n°2.140 é uma lojamaçônica e, antes de escrever um poucosobre a sua história e seu jubileu depérola, acreditamos ser interessante daralgumas breves explicações sobre o que éa Maçonaria.

O artigo primeiro da Constituiçãodo Grande Oriente do Brasil afirma:

A Maçonaria é uma instituiçãoessencialmente iniciática, filosófica,filantrópica, progressista e evolucionista.Proclama a prevalência do espírito sobrea matéria. Pugna pelo aperfeiçoamentomoral, intelectual e social dahumanidade, por meio do cumprimentoinflexível do dever, da práticadesinteressada da beneficência e dainvestigação constante da verdade. Seusfins supremos são Liberdade, Igualdade eFraternidade. Além disso:

I. Condena a exploração do homem, osprivilégios e as regalias, enaltecendo,porém, o mérito da inteligência e davirtude, bem como o valor demonstradona prestação de serviços à Ordem, àPátria e à Humanidade;II. Afirma que o sectarismo político,religioso ou racial é incompatível com auniversalidade do espírito maçônico.Combate a ignorância, a superstição e atirania;III. Proclama que os homens são livres eiguais em direitos e que a tolerânciaconstitui o princípio cardeal nas relaçõeshumanas, para que sejam respeitadas asconvicções e a dignidade de cada um;IV. Defende a plena liberdade deexpressão do pensamento, como direitofundamental do ser humano, admitida acorrelata responsabilidade;V. Reconhece o trabalho como deversocial e direito inalienável; julga-odignificante e nobre sob quaisquer desuas formas;VI. Considera Irmãos todos os Maçons,quaisquer que sejam suas raças,

A r t i g o sMario DEL REY (*)

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Loja Maçônica comemoraJubileu de Pérola

“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás;mas só pode ser vivida olhando-se para a frente”

Soren Kierkegaard

“O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo,muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam.

Mas, para os que amam, o tempo é eternidade”William Shakespeare

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nacionalidade, convicções ou crenças;VII. Sustenta que os Maçons têm osseguintes deveres essenciais: amor àfamília, fidelidade e devotamento à Pátriae obediência a Lei;VIII. Determina que os Maçons estendame liberalizem os laços fraternais que osunem a todos os homens esparsos pelasuperfície da terra;IX. Recomenda a divulgação de suadoutrina pelo exemplo e pela palavra ecombate, terminantemente, o recurso àforça e à violência para a consecução dequaisquer objetivos;IX. Adota sinais e emblemas de elevadasignificação simbólica que são utilizadosem suas oficinas de trabalho e servempara que os Maçons se reconheçam e seauxiliem onde se encontram.

Por meio desse artigo primeiro,acreditamos ter dado uma idéia geral doque é a Maçonaria, instituição que possuicerca de cinco milhões de membros emtodo o mundo. Mais informações podemser encontradas no nosso livro impressopela Fundação Pró-Memória de SãoCaetano do Sul, no ano de 2004: Históriada Maçonaria em São Caetano do Sul. Naobra, os leitores ficam sabendo, porexemplo, que São Caetano do Sul tevequatro prefeitos maçons: AnacletoCampanella, Oswaldo Samuel Massei,Raimundo da Cunha Leite e Luiz OlintoTortorello.

Antes de contar um pouco dahistória dessa Loja, uma últimainformação técnica: a palavra loja (lodgeem inglês, loge em francês, logia em

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Estandarte da LojaLuz do Oriente

Visão interna do templo da Loja

Outro aspecto do templo da Luz do Oriente

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espanhol, loggia em italiano) possuiorigem gótica, significando alpendrecoberto de palha, galpão, abrigo, cabana,referindo-se a uma construção temporária,um local para abrigo e oficina dostrabalhadores das grandes construções dascatedrais medievais.

A loja pode designar: o local,ritualmente preparado, onde se reúnem osmaçons; a reunião de maçons numaoficina, ritualmente organizada. A loja édirigida pelos seus oficiais, que,geralmente, são denominados: VenerávelMestre, Primeiro Vigilante, SegundoVigilante, Orador, Secretário, PrimeiroDiácono, Segundo Diácono, Mestre deCerimônias, Tesoureiro, Chanceler,Hospitaleiro e Cobridor.

A origem da Loja Luz do Orienteremonta ao início do ano de 1977 quandodois membros da Fraternidade SãoBernardo, o autor e José GonçalvesSobrinho, se dirigiam ao municípiovizinho de São Bernardo do Campo paraparticipar de mais uma reunião maçônica.No caminho, já cansado de ter de sedeslocar para a cidade vizinha, Gonçalvesaventa a possibilidade de se ter uma lojado Rito Escocês Antigo e Aceito(subordinada ao Grande Oriente de SãoPaulo) em São Caetano do Sul.

Até aquela ocasião só existiamduas lojas maçônicas nesta cidade: aFraternidade São Caetano (do GrandeOriente de São Paulo) e a 28 de Julho (daGrande Loja do Estado de São Paulo). Aprimeira praticava o Rito Adoniramita e asegunda, apesar de praticar o Rito EscocêsAntigo e Aceito, era de Potência Maçônicadiversa da nossa.

A partir desse dia, as conversasrelativas à fundação de uma nova lojamaçônica em São Caetano do Sul foramcompartilhadas com mais dois membrosda Fraternidade São Bernardo quemoravam em São Caetano e que, amiúde,

dividiam o mesmo carro para o transladoaté São Bernardo do Campo: JoãoCaparroz Ruiz e seu tio Antônio CaparrozGuevara. Com muito entusiasmo, edevido ao grande número de outrosamigos maçons que conhecia, JoãoCaparroz Ruiz tomou a iniciativa deconvidar outros maçons para essaempreitada.

A primeira reunião ocorreu noescritório de João, que ficava na ruaManoel Coelho, 500, no sétimo andar.Dessa primeira reunião participaram:

Antônio Caparroz Guevara;Cláudio Musumeci;Dalmo Campoi;João Caparroz Ruiz;Mario Del Rey;Naur Ferraz de Mattos;Oscar Pereira de Paiva Filho;René Crepaldi eThomaz Idineu Galera.

Após várias reuniões na sede doRotary Club Centro, situada na ruaBaraldi, foi elaborada a Ata de Fundação,no dia 9 de maio de 1977. Conforme oLivro de Atas, estiveram presentes osseguintes membros, muitos exercendoseus respectivos cargos, formando assim a

Nas reuniões maçônicas costuma-se prestar homenagem à bandeira do Brasil

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primeira Administração, como segue emordem alfabética:

Entre os vários nomes indicadospara a Loja foi aceito o sugerido peloautor: Augusta e Respeitável LojaSimbólica Luz do Oriente. Da mesmaforma, após a apresentação de váriosdesenhos, o timbre escolhido foi oapresentado pelo autor deste artigo.

A regularização da Loja ocorreuem 22 de outubro de 1977, no Templo daAugusta e Respeitável Loja Simbólica

Fraternidade de São Bernardo do Campo,situada na rua Egeu, 57. Nesse mesmolocal foram realizadas as primeirasiniciações da Luz do Oriente: no dia 9 dedezembro de 1977, Leopoldo FranciscoInglez e Luiz Carlos Piacitelli; no dia 12de maio de 1978, Marco Antônio Sellani eEdélcio Leme de Almeida.

Outras datas importantes para aLuz do Oriente e a maçonaria de SãoCaetano do Sul foram a fundação pelosmembros da Loja: em 28 de Outubro de1982 – Sublime Capítulo Rosa-Cruz Luzdo Oriente; em 22 de dezembro de 1982 –Augusta Loja de Perfeição Luz doOriente; em 27 de Agosto de 1994 –Capítulo Luz do Oriente da OrdemDeMolay; em 15 de Julho de 2000 –Ilustre Conselho Filosófico de Kadosh nº102. Já foi permitida pela direção da loja areunião no templo do grau inglêsdenominado Arco Real.

Na cerimônia de comemoraçãodos trinta anos de fundação da Loja ehomenagem aos membros fundadores,compareceram, entre outras autoridadesmaçônicas: o Grão-Mestre Geral Adjuntodo Grande Oriente do Brasil, Marcos Joséda Silva; o Grão-Mestre Estadual doGrande Oriente de São Paulo, Cláudio

1. Agustin Martin Buosi;2. Antônio Caparroz Guevara;3. Cláudio Musumeci; (Hospitaleiro)4. Dalmo Campoi; (Chanceler)5. João Caparroz Ruiz; (Venerável Mestre)6. Joaquim Cambaúva Rebello;7. José Gonçalves Sobrinho; (Mestre de Cerimônias)8. Lívio Xella;9. Mario Del Rey; (Secretário)10. Mario Frito; (2º Vigilante)11. Maurício Hoffman; (2º Diácono)12. Naur Ferraz de Mattos;(Tesoureiro)13. Oscar Ferreira de Paiva Filho; (1º Vigilante)14. Raimundo da Cunha Leite; (1º Diácono)15. René Crepaldi; (Orador)16. Thomaz Idineu Galera; (Secretário-adjunto) e17. Vagner Abadio.

No dia comemorativo do Jubileu de Prata estiveram presentes, daesquerda para a direita: Cláudio Roque Buono Ferreira (Grão-Mestre Estadual do GOSP), Marcos José da Silva (Grão-MestreAdjunto do Grande Oriente do Brasil) e Paulo Linhares Sobrinho(Venerável Mestre da Loja Luz do Oriente)

Padre Olavo Paes Barros (falecido), ao visitar a Loja Luz doOriente, oferece a João Caparroz Ruiz (falecido) uma Bíblia, queserá lida no início de cada reunião

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Roque Buono Ferreira e o Grão-MestreAdjunto Estadual do G.O.S.P., BeneditoMarques Ballouk Filho.

Antes de terminar este sucintoartigo, com algumas palavras do meuafilhado, José Roberto Espíndola Xavier,vamos ressaltar um trabalho beneficenteque a Loja Luz do Oriente faz, juntamentecom o auxílio das demais lojas maçônicasde São Caetano do Sul. Mensalmente, osmembros da loja colaboramfinanceiramente com a Creche OswaldoCruz, entidade presidida por maçom emparceria com a Prefeitura Municipal danossa cidade. Além disso, existe umaajuda extra aos mais necessitados e aoutras associações de cunho assistencial.

Acreditamos que a Luz do Orientefaz jus ao seu nome, pois, desde a suafundação, nestes trinta anos de existência,

tem ajudado a darLuz nos caminhosdos homens, amorem seus coraçõese coragem em suasalmas.

A b a i x or e p r o d u z i m o sparcialmente odiscurso feito porJosé RobertoEspíndola Xavierquando do inícioda construção dosalão de festas daLuz do Oriente,em 21 de outubro

de 1983. Ele é válido até hoje, passados24 anos!

Sobre este chão, haverá de pisarhomens de boa vontade que saibamtambém conduzir os passos de seussemelhantes, nos momentos de dor eincerteza (quem não os tem?),verdadeiros irmãos na acepção maispura da palavra. Luz do Oriente leva-noscom você. Estrela de Belém, ilumine paraseus obreiros a estrada tão difícil dafraternidade entre os homens. Ensine-noso sentido perdido da palavrademocracia, faça-nos acreditarnovamente naquela anciã cega chamadajustiça. Dê-nos a medida certa daambição, da decência e do dever. Exercesua função de Escola do Espírito.

Unamo-nos meus irmãos, paraR A Í Z E S 4477D E Z E M B R O - 2 0 07

Relação dos Veneráveis Mestres da Loja1 - João Caparroz Ruiz (1977 – 1979)2 - Thomaz Idineu Galera (1979 – 1981)3 - Oscar F. Paiva Filho (1981 – 1983)4 - Odair Manzini (1983 – 1985)5 - Octávio Lima Filho (1985 – 1987/1995 - 1997)6 - Adolfo Sousa Leão (1987 – 1999)7 - Flávio Denise Sorbo (1999 – 1991)8 - Marcos Antônio Cardoso (1991 – 1993)9 - Carlos Alberto Coelho (1993 – 1995)10 - Reinaldo Luiz Salmazo (1997 – 1999)11 - Nahor Pedroso Filho (1999 – 2001)12 - Walter Alborghetti Filho (2001 – 2003)13 - Márcio Alves Oliveira (2003 – 2005)14 - Humberto Togni Neto (2005 – 2006)15 - Paulo Linhares Sobrinho (2006 – 2007/2007 – 2008)

Foto 07Benedito Marques

Ballouk Filho(Grão-Mestre

Estadual do GrandeOriente de São

Paulo, na ocasiãoda comemoração

era o Grão-MestreAdjunto do GOSP)

Foto 08Marcos José da

Silva (Grão-MestreAdjunto do GrandeOriente do Brasil),

ladeado à esquerdapor Mario Del Rey e

a direita por PauloLinhares Sobrinho

Foto 09Marcos Antônio

Sellani fala arespeito da história

da Loja Luz doOriente

987

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escrevermos na medida das nossas forças,a história dessa pequena Grande Loja. Demaneira que, mais tarde, no fim da nossaperegrinação, ao olharmos para opassado, seja uma história bonita, umahistória de amor, que na cabeceira denossos filhos ou netos possamos felizescontar-lhes, sem mágoas ou rancores, erauma vez um grupo de irmãos queaprendeu o que era liberdade, igualdade efraternidade.

Levante-se Luz do Oriente,caminha firme e serena; perscrute oinfinito e ouça a amplidão: O infinito é dohomem que caminha para Deus e naamplidão, escute, os sinos, hoje, dobrampor você.

Finalizando este artigo,reproduzimos abaixo uma poesia do autor,que dá uma idéia do que vem ser aMaçonaria.

O autor agradece as fotosgentilmente cedidas por Carlos AugustoMarconi, Marcelo Januzi dos Santos eErmelindo de Jesus Corral.

(*)Mario Del Rey, membro da UniãoBrasileira de Escritores, AcademiaParaibana de Letras Maçônicas eAmerican Historical Association

10 11 12

Foto 10Três fundadoresforam homenageadosrecebendo na ocasiãoa Medalha JoãoCaparroz Ruiz. Dadireita paraesquerda: CláudioMusumeci, Mario DelRey e AugustinMartin Buosi

Foto 11Três alegres membrosda esquerda para adireita: Márcio Alvesde Oliveira(Deputado Federal daLoja), Paulo LinharesSobrinho (VenerávelMestre) e WalterAlborghetti Filho(Presidente doColégio deVeneráveis de SãoCaetano do Sul)

Foto 12Dois membros daLoja Luz do Oriente.À esquerda, MauroRusso (conhecidoadvogado da nossacidade) e Evandro J.S. Mazutti (VenerávelMestre da Loja SirArthur Conan Doyle)

MAÇONARIAMario Del Rey

Modelo elevado de saber confidencialponte do Conhecimento e da Justiça

Luz da Verdade.Para além das incertezas e preconceitos

um turbilhão de ideais

Paradigma para a sociedadevórtice da Sabedoria.Nas asas da Virtude

um saber-fazerdevotado à democracia.

Veículo do Iluminismonos símbolos infinitamente plásticos

ensinamentos ilimitados.Em passagens graduais

a difusão do Humanismo.

Receptáculo da solidariedadeno traçado e talhadoa estrutura espiritual.

Na arquitetura da Razãoa construção de um futuro melhor.

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EEEEE

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Em 1907, São Caetano não poderiamais ser designado um simples

povoado do subúrbio do município de SãoPaulo, pois aqui havia mais de 350habitantes, que trabalhavam para seusustento nas fazendas, no pequenocomércio e nas indústrias que começarama surgir no final do século XIX, e que jámudavam o panorama econômico destaregião. Eram trabalhadores vindos de SãoPaulo e de outras cidades do interior àprocura de empregos, pois já faltava mão-de-obra para suprir as necessidades locais.

Os italianos que aqui residiamdesde o início do núcleo colonial, que foiimplantado pelo Imperador D. Pedro II,em 1877, já não eram soberanos à frentedos negócios e trabalho, pois portugueses,espanhóis, alguns alemães e brasileirostambém compunham a mão-de-obraoperária da região.

Mas São Caetano ainda vivia sobcondições adversas. Não existiammédicos, hospital e infra-estruturaadequada. As doenças eram constantes e avaríola continuava a matar os habitanteslocais. Os doentes não tinham a quemrecorrer. Quando o pior acontecia, que erao chefe da família adoecer, os demaismembros passavam sérias dificuldades.

Existia em São Caetano, desde1892, a Società di Mutuo SocorsoPríncipe di Napoli, que abrigava somentesócios italianos e seus descendentes.Desta forma, os excluídos pelo estatuto daSocietà, por não serem italianos, jávinham se organizando. Este gruporeunia-se nas festas, nos finais de semana.Cada um levava o seu instrumentomusical e, mesmo que improvisada, abanda alegrava a ocasião, que era umaverdadeira mistura de culturas. O grupo

A r t i g o sClovis Antonio ESTEVES (*)

R A Í Z E S 4499

União Operária de São Caetano do SulOs 100 anos da Sociedade Beneficente

Primeira e atualbandeira da

SociedadeBeneficente União

Operária de SãoCaetano

Crédito/Fotos: Gislene Simonetti/Soc.Beneficente União Operária

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divertia-se bebendo cerveja e dançandomúsicas de suas origens.

Em junho de 1907, José MarianoGarcia Junior, homem popular em SãoCaetano, resolveu tomar frente destegrupo e decidiu organizar esta banda. Osmúsicos tinham de colaborar com o quepodiam para comprar instrumentos,partituras e cervejas. O dinheiro queentrava e saía da conta da banda ficavaregistrado em um livro-caixa, queestampava em sua capa SociedadeMusical Internacional União Operária deSão Caetano.

O surgimento de uma banda demúsica para divertir e entreter acomunidade foi o princípio de umaorganização com fins maiores. Apósalguns meses de reuniões e negociaçõescom empresários da região, com adiretoria da Príncipe di Nápoli e comrepublicanos de São Bernardo, uma vezque São Caetano era Distrito Fiscal destemunicípio, esta nova Sociedade ganhavaforça.

Contudo, havia uma certadesconfiança nos meios empresariais, poisa reunião de operários em uma entidadepoderia significar um risco para osnegócios, uma vez que as organizaçõescom espírito sindical já começavam aexistir com o intuito de proteger edefender a classe operária. Mas a elite deSão Caetano conseguiu superar taistemores ao participar da criação e dardirecionamento a essa nova Sociedade.

Um grande evento foi preparadopara a inauguração da SociedadeBeneficente Internacional União Operáriade São Caetano. Porém, era necessária aparticipação de, pelo menos, um políticoimportante pertencente à GuardaNacional, a nova ordem republicana deSão Paulo.

Assim, no dia 15 de novembro de1907, às 5 horas da manhã, chegava umtrem à Estação de São Caetano, trazendoum ilustre cidadão, o Capitão Virgínio deRezende, vindo de São Paulo paraparticipar dos festejos da criação destanova Sociedade. Junto à banda, umacomissão de três pessoas aguardava oCapitão Virgínio.

Após os cumprimentos esaudações, o Capitão foi conduzido à sededa Sociedade, que era em frente à EstaçãoFerroviária, hoje rua Serafim Constantino.No local, fez um discurso “saudando anova Sociedade Internacional” e foiagradecido por parte dos sócios e pelosmembros da Diretoria. Antes de sedespedir, foi eleito Presidente Honorário eentregou um donativo de 50 mil réis, quehoje equivale a 64 mil reais.

As 10h30 minutos da mesmamanhã, o distinto convidado foiacompanhado por vários sócios e pelabanda, que continuava tocando sucessosinternacionais, até a Estação Ferroviária,onde embarcou rumo a São Paulo.

A fundação, no dia daProclamação da República, era o maior

Ata nº 1 decriação daSociedade

Placa dePropriedade

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indicativo das intenções políticas da novaSociedade. Todo o cortejo e festejo emtorno da presença do Capitão Virgínio deRezende faziam parte da valorização danova organização para a Sociedade.

Aquela celebração, a encenaçãocom o convidado especial e a generosadoação eram o começo de um novo tempopara os operários de São Caetano.

A palavra Internacional no nomeda nova Sociedade tinha a função dedeixar explícita sua oposição conceitual àPríncipe di Nápoli. Já o termo Operária,também em seu nome, servia comodeclaração da universalidade à qual anova Sociedade se propunha.

Naquela época, a palavra operárionão significava apenas o funcionário dasgrandes indústrias. Era também a palavrautilizada para designar todo e qualquerhomem que provinha o sustento para suafamília por meio de um trabalho, sejaindustrial, agrícola ou manual.

Assim foi fundada a SociedadeBeneficente Internacional União Operáriade São Caetano, com o intuito de ajudarnão somente os italianos, seusdescendentes e os mais abastados, massim de abraçar uma sociedade a qualpertenciam descendentes de qualquernacionalidade e, principalmente, osbrasileiros.

A Sociedade resistiu a duas

Guerras Mundiais, revoluções, ditaduras,inflação, planos econômicos, confiscos econtinua firme no propósito de mútuosocorro, auxiliando, ainda hoje, os seus125 sócios no atendimento médico,hospitalar, odontológico e laboratorial,além de auxílio de medicamentos,invalidez e funeral.

No dia 15 de novembro de 2007,com o nome de Sociedade BeneficenteUnião Operária de São Caetano Do Sul, aSociedade completou, com muito trabalhoe dedicação de seus fundadores edescendentes, 100 anos de existência,marco que poucos ou nenhum de seusprimeiros sócios imaginariam alcançar.

(*) Clovis Antonio Esteves, historiador eprofessor. Atualmente é supervisor doMuseu Histórico Municipal de SãoCaetano do Sul

Referências bibliográficas

LIVROS de Atas da S.B.U.O.S.C.S.MARTINS, José de Souza. Subúrbio: vida cotidianae história no subúrbio da cidade de São Paulo: SãoCaetano, do fim do Império ao fim da RepúblicaVelha. São Paulo: Hucitec; São Caetano do Sul:Prefeitura de São Caetano do Sul, 1992.

Estatuto defundação

Sede da SociedadeBeneficente União

Operária nadécada de 50

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NNNNNNo Brasil, a instalação das IrmãsClarissas Franciscanas Missionárias

do Santíssimo Sacramento ocorreu em1907, com a chegada de um grupo demissionárias italianas da congregação àcidade mineira de Itambacuri, no Vale doRio Doce. Segundo consta, esse grupo eraformado por quatro religiosas: irmãBernardina do Santíssimo Nome de Jesus;irmã Francisca dos Estigmas; irmã Anados Inocentes e irmã Benedita doRedentor.

Assim que se instalaram no país,as Irmãs Clarissas deram início aos seustrabalhos missionários, fundando umaescola destinada à educação das meninasindígenas e das filhas dos colonos daquelaregião. Em 1908, essa escola, querecebera o nome de Colégio Santa Clara,já abrigava 58 alunas, sendo 26 internas e32 externas. E o número de alunas

continuou crescendo, com o passar dosanos. Em seu período áureo, a escolachegou a apresentar 500 alunas, das quais200 internas e 300 externas.

Dentre as inúmeras freqüentadorasdo Santa Clara, destaca-se o nome deJulieta Ramos, filha única de uma famíliade fazendeiros da região. Nascida emTeófilo Otoni, em 1913, viria a ser a irmãJulieta de Lourdes, uma missionáriaclarissa que se tornou bastante conhecidae respeitada em São Caetano do Sul,graças ao profícuo trabalho desenvolvidona cidade.

São Caetano

Na qualidade de religiosa daCongregação das Clarissas Franciscanas,irmã Julieta passou por vários colégios deMinas Gerais, nas cidades de Belo

A r t i g o s

R A Í Z E S

Irmã Julietarealizando

palestra noRotary Clube deSão Caetano do

Sul, em 1954

Crédito: Livro Um Jornal, Uma Vida. p.181

Presença centenária dasIrmãs Clarissas no Brasil

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Horizonte, Governador Valadares eCurvelo. Entre os anos de 1964 e 1970,chegaria à Itália e Espanha comopromotora vocacional. Mas, antes dessegrande trabalho no exterior, a religiosa jáhavia marcado presença em São Caetanodo Sul, ao fundar o Instituto NossaSenhora da Glória.

Em 1950, irmã Julieta, entãosuperiora da Fundação Paulista deAssistência à Infância, em São Paulo,solicitou a Ângelo Raphael Pellegrino,prefeito de São Caetano, na época, umterreno onde a congregação pudesseconstruir um conjunto de obrasassistenciais. Após a mobilização doprefeito e de outras autoridades emunícipes, como Giácomo Benedetti,Verino Segundo Ferrari, Oswaldo SamuelMassei e Olga Montanari de Mello, paraconseguir o dito terreno, eis que surge ocasal Arnaldo Rodrigues Reis e IsauraRosa de Jesus, manifestando intenção dedoar às irmãs clarissas três lotes de terrasituados na rua Amazonas. E tal severificou. No dia 19 de outubro daqueleano de 1950, o contrato de doação doterreno foi assinado. No ano seguinte,mais precisamente no dia 21 de outubro,era solenemente lançada a pedrafundamental da entidade que viria a ser oInstituto Nossa Senhora da Glória.

Após a assinatura do contrato dedoação do terreno, a sociedade localcomeçou a mobilizar-se, tendo em vista aarrecadação de fundos para a construçãoda entidade. Sendo assim, eventos denatureza diversa, como concursos deboneca viva, concertos musicais, bingos equermesses, passaram a ser promovidosem prol daquele empreendimento. Nessacampanha, as Irmãs Clarissas contaramcom o decisivo apoio da comunidade sul-sancaetanense e de instituições como oRotary Clube local e o Jornal de SãoCaetano.

Definidos os seus estatutos, ficouestabelecido que o instituto ofereceria:creche, escola maternal, escola primária,escola profissional e ambulatório médico.No dia 29 de março de 1953, autoridadesmunicipais e religiosas, além de umgrande número de populares,compareciam à cerimônia de inauguraçãodo primeiro pavilhão do Instituto NossaSenhora da Glória. Quando começou afuncionar, apresentava 280 criançasmatriculadas no curso primário e 36 nomaternal. Em 1954, já possuía 318 alunosno curso primário, 116 no jardim deinfância, 86 na escola maternal e 12meninas internas. E o número de alunoscontinuou crescendo. Para atender a essacrescente demanda, as Irmãs ClarissasFranciscanas trataram de providenciar aampliação das instalações da entidade.Para tanto, contaram, mais uma vez, coma ajuda de Arnaldo Rodrigues Reis, que secomprometeu a vender ao instituto umterreno de 1.462 m², a longo prazo e semjuros.

Erguidas em tal terreno, as novasdependências do Instituto Nossa Senhorada Glória foram inauguradas em 9 defevereiro de 1958, com uma cerimôniaque contou com a presença do então bispoda Diocese de Santo André, D. JorgeMarcos de Oliveira, que procedeu abenção das novas instalações da escola.

Irmãs ClarissasFranciscanas, em

foto tirada noInstituto Nossa

Senhora da Glória,em 1960

Acervo/Fundação Pró-Memória

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Desta forma, as Irmãs Clarissas puderamampliar o atendimento à população sul-sancaetanense e, assim, darprosseguimento à missão de educar eprestar assistência na cidade. Nessetrabalho, irmã Julieta foi assessorada poroutras clarissas abnegadas, entre as quais,irmã Rosália (que chegou a São Caetanojuntamente com irmã Julieta, em 1950),irmã Lídia (secretária do instituto), irmãLaurentina, entre tantas outras quetambém colaboraram com as obrasmissionárias da congregação, nomunicípio.

Além das atividades no InstitutoNossa Senhora da Glória, as IrmãsClarissas também passaram a prestarserviços no Hospital São Caetano, cujoprimeiro pavilhão foi inaugurado em 25de julho de 1954.

Em decorrência do surgimento deparques infantis municipais na cidade,fato que começou a ser observado já emfins da década de 1950, a congregaçãoentendeu que não seria mais necessária apermanência das Irmãs Clarissas noInstituto Nossa Senhora da Glória. Alémdo mais, as missionárias teriam tarefas acumprir em regiões carentes,principalmente no Peru e na Bolívia.Diante disso, no final da década de 1960,as religiosas resolveram encerrar as

atividades daquele instituto, alugar suasinstalações e aplicar o rendimento emobras missionárias.

Falecida em 6 de dezembro de1998, irmã Julieta deixou para SãoCaetano do Sul os frutos de sua dedicaçãoe empenho para com o próximo. Dandocontinuidade a esse trabalho, as ClarissasFranciscanas desenvolvem, atualmente,na cidade, atividades sociais eevangelizadoras, tais como, distribuiçãode alimentos aos carentes, atendimentoespiritual aos doentes (que delas recebema Eucaristia), círculo bíblico e catequese.

Homenagens

Para comemorar o centenário dachegada das Irmãs Clarissas FranciscanasMissionárias do Santíssimo Sacramentoao Brasil, muitas homenagens foramprestadas às religiosas. Em Minas Gerais,berço dos trabalhos da congregação,houve, entre os dias 3 e 14 de julho,intensa programação de atividades eeventos para celebrar a data especial,como homenagens na AssembléiaLegislativa e na Câmara Municipal deBelo Horizonte, mostra cultural, festivalde dança e caravana para Itambacuri.Durante a homenagem na AssembléiaLegislativa, no dia 9 de julho, madreRegina Lúcia Abreu Lima Rezende,superiora-geral do Instituto das IrmãsClarissas Franciscanas, destacou quecomemorar o centenário “é fazer memóriade cada rosto, de palavras, silêncios,ações, sacrifícios, alegria, compromisso,generosidade, que, neste longo tempo degraça, nos permitiu estar aqui hoje, juntos,para cantar a fidelidade do nosso Deus.”

(Pesquisa e texto do Serviço de DifusãoCultural da Fundação Pró-Memória deSão Caetano do Sul).

Irmãs ClarissasFranciscanas emfrente à gruta com aimagem de NossaSenhora, no antigoInstituto NossaSenhora da Glória,na década de 1960

Acervo/Fundação Pró-Memória

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C u l t u r aNeusa Schilaro SCALÉA (*)

Usando um simbolismo meio simplista,mas de efeito claro e para fins

didáticos, podemos comparar a obrafigurativa com uma canção com versos.Ao ouvirmos a interpretação do cantor,percebemos com facilidade o que ocompositor nos deseja contar. A obraabstrata, por sua vez, pode ser comparada

AbstracionismoAbstração

Em geral entende-se como abstração toda a atitudemental que se afasta ou prescinde do mundo objetivo

e seus múltiplos aspectos.Refere-se, por extensão, no que tange à obra de artee ao processo de criação, suas motivações e origens ,

a toda a forma de expressão que se afasta da imagem figurativa.

Max Perlingeiro, in “Abstração como linguagem: perfil de um acervo” Editora Pinakotheke. SP

No contexto da Arte moderna, o sucesso da chamada arte abstrata foi tão grande quea conceituação a respeito passou a ser feita muitas vezes apressadamente, sem a devida atenção ao

significado legítimo de “abstração”. Esse conceito se refere à operação de abstrair, que significa, emprincípio, retirar, separar ou eliminar certas características ou certos elementos de um todooriginalmente integrado. Por meio da operação abstrativa é possível efetuar-se a seleção de

determinados aspectos semelhantes – a fim de que a atenção possa melhor concentrar-se neles.

Jayme Mauricio in “Abstração como linguagem” Editora Pinakotheke. SP

Obra figurativa:Nome: Mulher com jarra de água

Autor : Johannes VermeerData: 1660

Acervo Marquand Colletion of The MetropolitanMuseum of Art – N.Y.

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a uma melodia sem versos. E cabe aoouvinte deixar-se levar pela música esentir, quase sem nenhuma indicaçãoexplícita, a proposta do compositor.

Mas, para entender a arte abstrataem sua complexidade, recomenda-seampliação do repertório de conhecimentossobre Arte, visitando exposições, lendo,vendo e, principalmente, visitando aHistória.

A pintura dentro do fazer artístico,até meados do século XVIII, seguianormas rígidas nas soluções epreocupações dos artistas com a figura.Tanto assim que as academias ensinavamque havia quatro temas a seremdesenvolvidos na pintura: natureza morta,retrato, paisagem e marinha, e um temadenominado alegoria, ou pinturaalegórica.

Na natureza morta, os objetos oufiguras apresentam-se em um ambienteinterno afastado da natureza. Sãorepresentados seres vivos, mas que se sabeinanimados (daí o termo natureza morta,traduzido do francês, e que recebeu eminglês a denominação de still life). Flores efrutos, mesmo que frescas e viçosas,aparecem nas telas repousadas sobresuperfícies ou colocadas com esmero emjarros ou vasos de materiais diversos.

Animais de caça e pesca à espera docozinheiro. Pães, facas e cestos surgemsobre um planejamento calculadamentedespojado.

O retrato, quase sempre, colocavao personagem em posturas estudadas, comluzes e sombras perfeitamente controladase, dependendo da maior ou menorhabilidade e sensibilidade do artista-retratista, a personalidade do retratadopoderia emergir nas feições e na posturado modelo.

As paisagens são, talvez, as obrasfigurativas mais apreciadas antes dosurgimento das regras acadêmicas e depoisda decadência delas. A paisagem situa aspessoas em locais diversos do seucotidiano, e a nostalgia transmitida peloestar- não-estar sempre encanta.

O mesmo pode-se dizer dasmarinhas: rios ou mares revoltos; plácidasareias de uma praia tranqüila; azuiscelúreos ou névoas espessas; o brilho e aescuridão das águas profundas.

A pintura alegórica está ligada aoconhecimento, aos signos, e conta, pormeio de símbolos, as passagens,momentos ou políticas ligadas maisdiretamente ao tempo e ao espaço onde sedesenvolve. Provoca sentimentos esensações, mas exige erudição.

Obra figurativa:Nome Flores e doces

Autor: Pedro AlexandrinoData: 1900

Acervo: Pinacoteca do Estado de SP

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Portanto, todas essas sensaçõesestão bem claras nas obras figurativasclássicas. E a pergunta que surge é: Comoe por que os artistas abandonaram essaspropostas estéticas tão apreciadas, jáintrojetadas no inconsciente e aceitas deimediato ao primeiro olhar?

A Arte não é estática. O artista éum ser ligado ao passado e ao futuro, umcriador, traz em si o espírito do cientista ea perspicácia do pesquisador. Seusinteresses estão nos desafios, nasinquietações e no mergulho sem fim nocosmos, no imponderável, no infinito.Interessa-lhe as rupturas e osquestionamentos. E, se assim não for, nãoserá um artista. Acomodar-se não é partedo seu ser e, se gosta, luta pela aceitação.Também luta e gosta de sua própriaindividualidade. Paradoxos à parte, é issoque move a arte e que a eleva e transforma.

Entendendo o motor contínuo daHistória e inserido irremediavelmentenele, o artista é impelido sempre a criar.Daí surgem as correntes, as estéticas, aspoéticas, os movimentos estéticos. Note-seque não estamos falando de um setor dasociedade que busca o novo pelo novo, ogosto pela novidade apenas para consumi-

la e descartá-la. Pelo contrário, o artistadigno dessa classificação – desse nome tãomassificado e desgastado - não fazconcessões aos desejos do consumidor dearte, não produz aquilo em que nãoacredita.

Devido a isso temos obras que sãomarcos importantes na história da arte eoutras tantas que foram criadas comocópias mal acabadas e depois descartadas.O grande momento da pintura figurativaocorreu, seguramente, entre os séculosXVII e XVIII. A perfeição alcançada pelosacadêmicos é tal que ainda encanta osolhos. Mas e o espírito? As emoções?

Não por acaso, as preocupaçõescom os sentimentos e as sensações surgemno final do século XIX. A busca deconhecimentos mais profundos sobre apsique humana; o comportamento maislivre das imposições sócio-políticas; avalorização do interior, do cerne, daquiloque não está visível, aparente ereconhecido de imediato: isso tudo érelatado pelas novas formas de arte quesurgem com o modernismo. Abstrai-se,retira-se o relato que a figura traz e incita-se o intelecto e a emoção de buscar novasrelações de espaço, tempo, cor, forma.

Obra abstrataTítulo Estaleiro VelrômeAutor: Lucio PegoraroData: 1986Acervo do autor.

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Dizer que a pintura foi modificadaem razão do surgimento da fotografia ésimplismo.

Os pintores de ofício perderamseus clientes não em razão da fotografia,mas por não terem muito mais a dizer emseus retratos posados, estudados, emfórmulas repetidas.

Os impressionistas saíram dosateliês, procuraram a luz natural, criaramum novo modo de pintar, romperam com aacademia e, em suas buscas incessantes,mudaram a pintura. Buscavam colocar afigura, a paisagem, o mundo em uma novaorganização ditada pelas impressões queestas lhe causavam. Os impressionistasvalorizavam os sentimentos dosprotagonistas, sejam pessoas, árvores,janelas ou qualquer outra figura.

Vicente Van Gogh, Paul Klee, PaulGauguin, Arp, Munck, Picasso, Braque,Miro e tantos outros.

Quando René Magritte, em 1927,nos diz literalmente em sua obra “isto nãoé um cachimbo” mas a representação deum cachimbo, coloca a questão damistificação do figurativo, darepresentação da realidade, da polissemiada obra de arte, ao lado de outras questõespropostas por Kandinski, Chagall, entreoutros.

O valor da arte influenciada ouditada pelas práticas acadêmicas éinegável, mas o movimento de ruptura,denominado Moderno, transformou essevocábulo em sinônimo de algo inadequadoe cheio de bolor. Como o modernismo seimpôs de forma total e eficiente, por maisde 100 anos, no momento contemporâneo– pós-moderno – o academismo é vistocomo o produto de uma época, de umdeterminado momento e... ponto.

A Arte abstrata descarta a figuraconhecida e recoloca o mundo visível nainformalidade das formas, cores, linhas,texturas, planos e volumes. O gesto traduza intenção e sua liberdade libera também aexpressão interior transformadora.

As polêmicas que as correntesabstracionistas provocaram já estãoaplacadas e descoradas. A chamada arte-abstrata não mais traz choques ouindignação, mas apenas aquilo a que sepropõe: reflexão.

(*)Neusa Schilaro Scaléa, fotógrafa,professora, designer gráfica, especialistaem museus de arte. Atualmente écoordenadora da Pinacoteca Municipalda Fundação Pró-Memória de SãoCaetano do Sul

Obra abstrataG. A.4

Autor :Gerard RichterData : 1984

Acervo: Museu de Arte Moderna – Nova York

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C u l t u r aMarilúcia BOTTALLO (*)

Nos debates em foros especializadosna esfera da conservação e

restauração de bens patrimoniais,discutia-se, até recentemente, se essaatividade poderia se enquadrar no campodas artes, da tecnologia ou da ciência. Seformos considerar a afirmação deDomingos Tellechea de que “a ciênciarequer o conhecimento de leis e princípiosmetodicamente ordenados”1, observa-seque os métodos e técnicas de intervenção,a aplicação de princípios de conservaçãopreventiva e as diversas tecnologiasaplicadas no âmbito da preservaçãopodem, de fato, ser enquadrados dentro deuma perspectiva verdadeiramentecientífica.

O parti-pris científico modifica,necessariamente, a atitude do profissionaldiante do seu objeto de investigação. Nãoé mais possível aceitar que umconservador/restaurador seja alguém quedesconhece desenvolvimentos científicose aplicações tecnológicas na sua área deinteresse. Tampouco se aceita que seja ummero executor de procedimentos e tarefassobre as quais não exerce seu poder dereflexão.

Ao examinarmos a história darestauração, seguramente seremoscompelidos a compreender modificaçõessignificativas no uso de materiais e nastécnicas do trabalho, bem como nos

critérios de intervenção. Portanto, énecessário à Conservação/Restauraçãoque se imponham proposições diretoras,tais como: o que restaurar, como, quando,quem está habilitado a executar umprocedimento e, acima de tudo, porquefazê-lo. Mais do que especulaçõesteóricas são esses princípiosepistemológicos baseados em conceitoscontemporâneos de preservação quedevem orientar a conduta do profissional.

A preservação deve colocar emxeque a proposição errônea, e um poucoprepotente, de que as técnicas sãoinstrumentos neutros. Longe de qualqueraspecto de neutralidade, a tecnologia e osmétodos de trabalho científico são formasde interferência, recursos a serviço deuma idéia, de um conceito, uma teoria queas precede e, de certa forma, as determina.Assim, a tecnologia aplicada àsexigências da conservação/restauraçãoprecisa ser precedida do debate sobreconceitos de patrimônio, história,memória, preservação e outros princípiosimbricados em uma idéia mais ampla decultura. Ao entendermos com qualconceito de cultura lidamos em umadeterminada sociedade, há comoidentificar o conjunto de condiçõesmateriais, históricas e, por conseqüência,éticas, que envolvem a sociedade e suasdiferentes manifestações.

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Ética e Técnica:por uma prática consciente

de Conservação e Restauração

1 Tellechea, DomingosIsaac – A Sociedade e aRestauração. Revista daBiblioteca Mário deAndrade. Imagensliterárias de São Paulo ePreservação de BensCulturais. SecretariaMunicipal de Cultura, SãoPaulo, 1994 (130-144).2 Para Cesari Brandi arestauração “é ummomento metodológico dereconhecimento da obrade arte em suaconsistência física e na suadupla polaridade estético-histórica com o objetivode transmiti-la ao futuro.”Conferir: Brandi, C.Teoria da Restauração.Ateliê Editorial, SãoPaulo, 2005.3 Sobre o assunto ver:International Council ofMuseums. ICOM Statutes.Code of ProfessionalEthics. Paris:ICOM, 1990.

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A partir dessa compreensão,podemos reconhecer que a prática daintervenção restauradora de benspatrimoniais na contemporaneidade nãopode se afastar de sua finalidade essencial,que não se resume na aplicação detécnicas mais ou menos sofisticadas, massim na adequação de métodos quereconheçam características do objeto emquestão visando sua preservação. Oquestionamento sobre o porquê e comopreservar objetos e referênciaspatrimoniais advém do princípio de que arestauração é, de fato, uma interferência, eque deve acontecer quando forabsolutamente indispensável para amanutenção do objeto sem alterações quearrisquem sua autenticidade.2

As técnicas aplicadas devemresponder a um conceito de preservaçãobaseado nos princípios de: integridade doobjeto; padrão único de excelência notratamento de todo objeto patrimonial;limites na intervenção balizados porpremissas de equilíbrio e manutenção devalores de caráter estético e histórico;insubstituição da imagem; manutençãodas lacunas; possibilidade de aplicação doprincípio da reversibilidade, entre outros.3

A noção de preservação nacontemporaneidade questiona as funçõesdo patrimônio e busca entendê-lo comoresultado da produção humana e, portanto,desloca o eixo de atenção do objeto em sipara focalizá-la no ser humano, produtorresponsável pela criação de taistestemunhos. Os objetos têm seu caráteraurático diminuído e passam a se integrarno processo da vida, refletindo aspectosdo relacionamento do ser humano com omeio ambiente. Se admitirmos que osvalores que circundam um objeto sãosempre atribuídos, então, inexoravel-mente, transformam-se com o tempo. Noentanto, o que permanece inalterado parahistoriadores, estetas, museólogos,

colecionadores, curadores é apossibilidade de explorar o potencialeducativo e o aspecto testemunhal dosobjetos. Para manter inalteradas taiscaracterísticas, conservadores/restau-radores devem focar atenção namanutenção da verdade documental dosobjetos.

Nunca é demais destacar que opotencial de comunicação que circunda osobjetos patrimoniais é essencialmentenão-verbal. Assim, seus possíveissignificados se evidenciam pelacapacidade de permitir uma extensa gamade interpretações e compreensão sob osaspectos afetivo, cultural, antropológico,sociológico, comportamental, religioso,ritual, entre tantos outros. O princípioético de manutenção e insubstituição daimagem traduz a preocupação com averdade documental do objetopatrimonial.

Ser profissional da Conser-vação/Restauração de bens patrimoniaissignifica a oportunidade de trabalhar coma matéria-prima da história, quer dizer,com cultura material, com os testemunhosdo passado. As técnicas são recursos quedevem se submeter aos princípiospreservacionistas, que buscam manter alegibilidade de uma obra sem modificarseu aspecto. Não podemos perder de vistaque o desenvolvimento da noçãocontemporânea de preservaçãopatrimonial e os investimentos, cada vezmaiores, em conservação preventivafazem parte de uma discussão mais ampla,relacionada com a preocupação global demanutenção do meio-ambiente e atreladaaos planos de combate à destruiçãoacelerada de habitats naturais e melhoriada qualidade de vida das populaçõesurbanas.

Ressaltamos que, junto a umconhecimento amplo e seguro deprocessos científicos e tecnologias

2 Para Cesari Brandi arestauração “é ummomento metodológico dereconhecimento da obrade arte em suaconsistência física e na suadupla polaridade estético-histórica com o objetivode transmiti-la ao futuro.”Conferir: Brandi, C.Teoria da Restauração.Ateliê Editorial, SãoPaulo, 2005.3 Sobre o assunto ver:International Council ofMuseums. ICOM Statutes.Code of ProfessionalEthics. Paris:ICOM, 1990.

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aplicadas, o conservador/restaurador deveaproveitar toda oportunidade que seapresente para aprofundar discussões quepossam melhorar o nível deconscientização coletiva. Preservar benspatrimoniais pode representar apossibilidade de manter registros do nossopassado e a reconstrução de nossasmemórias – coletivas ou individuais. Osobjetos preservados, em meio a umaambiência adequada e uma conservaçãoresponsável, podem estimular o

pensamento, a reflexão, o questionamentoe, no limite, as possibilidades do exercíciodos princípios de uma cidadaniaparticipante e consciente.

(*)Marilúcia Bottallo, MuseólogaDocumentalista, Professora de Ética eHistória da Restauração e Membro doConselho de Orientação Artística daPinacoteca do Estado de São Paulo

Em 1996 foi feito um trabalho de conservação/restauração da jaqueta de Músico da BandaCasa de Savóia (1905), pertencente ao Museu Histórico Municipal, sob a coordenação geral de

Teresa Cristina Toledo de Paula (Conservação de Têxteis Históricos Museu Paulista –Universidade de São Paulo)

Vista geral (anverso e verso) da jaquetaantes da execução do trabalho

Resultado final do trabalho.A jaqueta, restaurada e exposta na vitrine

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P e r s o n a g e n sGlenir SANTARNECCHI (*)

Francesco Amêndola é uma daquelasfiguras marcantes por onde passa.

Repleto de alegria, disposição e otimismo,nunca vê dificuldades para realizar aquiloque deseja na vida. Chegando hoje aos 87anos, lúcido e em plena atividade,certamente não faltam histórias paracontar. Histórias que fascinam, nãoapenas sobre episódios que marcaram suavida, mas também por mostrarem diretaou subliminarmente o contexto social noqual se deram.

Amêndola é professor de italianoe, há muitos anos, fixou residência emRibeirão Pires. Sua trajetória pessoalconfunde-se com um importante edramático momento da história do séculopassado: a Segunda Guerra Mundial, queteve, o até então estudante universitário,como um de seus protagonistas,defendendo as trincheiras da Itália, antigaaliada da Alemanha.

Em 18 de agosto de 1920, nasciaAmêndola, na cidade de Palermo, naSicília – Itália. Ele lembra que, aos 20anos, em 1941, teve de abandonar o cursosuperior de Letras, pois fora convocadopara servir às tropas da aeronáuticaitaliana nas Ilhas Dodecaneso, no MarEgeu, que então pertenciam à Itália. Os

horrores da guerra, no entanto, nãoabalaram seu gosto pela literatura, paixãoque o jovem combatente tratava dealimentar nas poucas horas de folga,quando se lançava sobre os livros naesperança de um dia conquistar suagraduação. O apreço pela leituradespertava a curiosidade doscompanheiros de tropa e, principalmente,de seu comandante, Bullio, coinci-dentemente um capelão que, para servir àstropas da Itália, também tivera de deixarseu posto de reitor da Universidade deRodos, também nas Ilhas Dodecaneso.

“Ao me olhar estudando, ocomandante prometeu ajudar e me levouaté à Universidade. Então, me matriculoue conseguiu um monte de apostilas detodas as matérias, que passei a estudar nashoras vagas”, conta, ao lembrar que foi

Comendador Amêndola:Comendador Amêndola:um batalhador de dois mundosAos 87 anos e com muita vitalidade, Francesco Amêndola conta que sua paixão pela

literatura sobreviveu nas trincheiras da Segunda Guerra Mundial

FrancescoAmêndola em foto

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essa providencial ajuda que permitiu quese graduasse, não apenas em Letras, mastambém em Filosofia, em 1943. Nestemesmo ano, a Itália, após um golpe militarque derrubou o ditador fascista Mussolinie instituiu o regime republicano, rompeu aaliança com a Alemanha. “Fiz todas asprovas e passei com destaque”, orgulha-se.

Prisioneiro de guerra

Amêndola conta que, tão logosoube da decisão da Itália de romper comas tropas nazistas, a Alemanha ocupoutodas as bases italianas, cujos soldados seviram diante do seguinte ultimato:continuar com os alemães ou seguir paraos campos de concentração. “Comogostava muito do comandante Bullio,resolvi aderir junto com ele para não irpara o campo de concentração”, lembraAmêndola, ao contar que, na primeiraoportunidade, fugiu das trincheirasalemãs, mas pouco depois foi pego etransformado em prisioneiro das tropasnazistas. Amêndola lembra que, a essaaltura, quando a guerra já estava no fim, onavio alemão onde estava preso quebrou eficou à deriva.

Após alguns dias do término doconflito mundial, com a derrota daAlemanha e seus aliados, um navio inglêstentou resgatar os soldados, mas nãoconseguiu por causa do porte das duasembarcações que colidiam ao seaproximarem, por conta do vento e do marrevolto. Um outro navio, de cujanacionalidade não se lembra, fez a mesmatentativa, mas fracassou pelos mesmosmotivos. Finalmente, uma embarcaçãoitaliana de pequeno porte conseguiuaproximar-se e, com um tiro deespingarda, lançou um barbante amarradoem uma corda para que os alemãesprendessem-na em um gancho.

“O navio italiano, quetinha o nome de Mas, já sepreparava para partir, quandoseu comandante gritou sehavia algum siciliano abordo. Gritei dizendo que euera siciliano, então melevaram com eles”, conta,acrescentando que, poucodepois, descobriu já estar emterritório italiano. O benfeitortambém amenizou sua sagade volta para casa, dando-lheum barco a remo, umamochila com comida, umabermuda e uma camisa. “Percorri mais de400 quilômetros, de barco e a pé, já que,depois da guerra, muitas cidades foramdestruídas e não havia sistemas detransporte”, recorda.

Miséria do pós-guerra

Se a volta para casa trouxe-lhealegria por rever a família, trouxe tambémdesalento ao constatar a miséria queassolava seus parentes, assim como toda aSicília. “Em 1945, não existiam fábricas,nem oficinas, nem lojas; não existia maisnada nas cidades italianas, a não sermontes de ruínas. Coitado daquelepovo!”. Mas Amêndola não esquentouassento em casa e, para tristeza da mãe,seguiu à procura de trabalho até a cidadede Turim, onde agarrou a primeiraoportunidade de emprego que encontrou:fazer malabarismos com motocicleta namuralha da morte em um circo.

Um ano depois atendeu a umanúncio de jornal que recrutavatrabalhadores para uma mina de carvão naBélgica, onde foi admitido e ficou por trêsanos, sempre mandando parte do seusalário à família. “Como percebi que namina morriam mais trabalhadores do que

FrancescoAmêndola, em

Arezzo, em fotodatada de 4 dejulho de 1941

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soldados na guerra, depois de três anos,quando minha família já estava maisou menos estabilizada, resolvi que erahora de pensar em meu futuro”, contaAmêndola, lembrando dos váriosconselhos dados pelos amigos, algunsapontando como destino os EstadosUnidos, onde havia muitos italianos, e aVenezuela, país promissor por conta deseus poços de petróleo. Mas ficou mesmocom a sugestão de seguir para o Brasil.“Ao ouvir sobre o Brasil, sei lá, essapalavra me cativou”, explica.

Mas, ao contrário de tantoscompatriotas, cujas viagens forammarcadas por dificuldades, Amêndolaconta com entusiasmo sobre os momentosagradáveis que viveu no navio que otrouxe da Itália para o Brasil. “Foram osmelhores dias de minha vida”, garante, aoexplicar a boa convivência com outrosestrangeiros que, como ele, vinham embusca de uma vida melhor. Os primeiros90 dias após aportar em Santos foram

extremamente difíceis, o que levou ojovem Francesco, então com 28 anos, a setransferir para São Caetano, aonde chegouapenas com uma mala amarrada comcordão, mas logo se tornou comerciante,vindo a prosperar e se tornar figurabastante conhecida no meio social.

Construção de uma nova vida

Em São Caetano, permaneceu até1980, quando, num trágico acidenteautomobilístico, perdeu a esposa e umfilho, o que o levou à depressão.Amêndola trocou a mansão onde vivia emSão Caetano por uma casa simples emuma chácara que possuía no bairro SantaLuzia, em Ribeirão Pires, onde mora atéhoje com a segunda esposa, Solange, comquem teve três filhos. Uma quarta filha,nascida do primeiro casamento, casou-se efoi morar em Miami, nos Estados Unidos,onde faleceu recentemente.

Entre bombardeios e poesia

A paixão pela literatura foi tantoum alento contra os horrores da guerra,quanto uma forma encontrada porAmêndola para registrar momentosdramáticos. Um deles aconteceu em 1941,quando, após o rompimento da aliança, aAlemanha bombardeou Rodos, matando300 soldados italianos. O episódio, queele conta com especial emoção, entretantos outros que presenciou emconseqüência dos combates, também lheajudou a formar uma convicção: “A Itálianão estava preparada para a guerra”. Suaimpressão sobre o bombardeio foiimortalizada no poema Eran 300, erangiovani e forti e sono morti (Eram 300jovens, fortes e estão mortos), que hojefaz parte do currículo escolar deestudantes italianos, por decisão doMinistério da Educação da Itália, ao qual

Foto do Posto F.Amêndola, ano de

1953

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Amêndola enviou uma cópia já quando seencontrava no Brasil.

Já no Brasil, ganhou um concursopromovido pelo Consulado Geral daItália, com a poesia L’italiano che c´`e nelmio cuoro, que, além de enaltecer a terranatal, também aborda a mulher brasileira.

Colônia Italiana

A cultura de seu país de origem foidifundida, principalmente, por meio daACISCS (Associação Colônia Italiana deSão Caetano do Sul), que Amêndolafundou e dirigiu por muitos anos,juntamente com outros italianos locais eseus descendentes. Mais tarde, quando setransferiu para Ribeirão Pires, fundou edirige, até hoje, a Colônia Italiana daquelacidade. Em São Caetano, ganhou grande

notoriedade por conta das açõesassistenciais em prol das famíliasnecessitadas e dos compatriotas e seusdescendentes, além do ensino do idiomaitaliano, ministrado e reconhecido peloConsulado Geral da Itália. Depois deradicado no Brasil, Amêndola retornou àItália, onde fez pós-graduação em Letras.

A popularidade logo enfrentou oassédio do meio político. “Queriam que eume naturalizasse brasileiro para entrar napolítica, mas não aceitei, porque políticotem de fazer muitas promessas que nãovai conseguir cumpri-las. E eu não sou deprometer e, se assim fizer, tenho decumprir”. A contribuição social junto àcolônia italiana já rendeu muitas honrariasa Francesco Amêndola, que recebeu ostítulos de Comendador, sugerido peloentão Governador Adhemar de Barros, e a

Francesco Amêndoladurante a SegundaGuerra Mundial – Rodi

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Loba de Roma, comenda concedida pelaAssembléia Legislativa do Estado de SãoPaulo. Ribeirão Pires também reconheceuo seu trabalho e concedeu o Título deCidadão Ribeirãopirense, pela EgrégiaCâmara Municipal.

O currículo literário doComendador Amêndola poderia ser maisrico, não fosse uma enchente quedanificou totalmente seu livro La Spia H13 (A Espiã H 13), que possuía mais de200 páginas recheadas de aventuras, masnão chegou a ser editado, uma vez que ocomendador não tinha uma cópia do texto.Desgostoso, Amêndola nem tentoureescrever a história, mas espera melhorsorte com sua autobiografia, da qual, porenquanto, só definiu o título: La Mia vitaSocial (A minha vida social), mas esperaescrever quando se aposentardefinitivamente como professor. “Essedeve ser o último ano que leciono. Apesarde minha mulher falar que todo ano digoisso”, brinca.

Curso de Italiano

Nos últimos anos, Amêndolalecionava italiano em curso gratuito noCentro Educacional Ibraim Alves Lima,

mediante convênio com a Prefeitura deRibeirão Pires, porém o convênio não foirenovado para 2007. No entanto, oprofessor explica aos interessados quecontinuará lecionando num salão em suaprópria residência, no bairro Santa Luzia,cobrando apenas valores simbólicos, serestarem vagas em cada início desemestre.

Para a redação deste texto, utilizeiuma entrevista pessoal realizada em suaresidência, em maio de 2007, e vídeo deuma entrevista concedida ao ProgramaABC Brasil, do Canal 45UHF e 14 deVivax, na época Canbras, realizada no dia30 de junho de 1996, além da convivênciacom Francesco Amêndola desde meadosda década de 60.

(*) Domingo Glenir Santarnecchi,jornalista, advogado, pesquisador damemória da região do ABC e presidenteda Fundação Pró-Memória de SãoCaetano do Sul

Francesco Amêndoladirigindo uma Assembléiada Colônia Italiana, tendo

ao seu lado os diretoresGlenir Santarnecchi e

Gentil Monte

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o sindicalista dos anos50, 60, 70, 80

NNNNN

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No final dos anos vinte, duas famíliasuniam-se pelos laços do matrimônio.

Uma de origem portuguesa, os Pereira, eoutra oriunda de holandeses, os Lins.Josefa Lins tornou-se Pereira por se casarcom Alfredo Luiz Pereira. Este casal teveseis filhos: quatro homens e duasmulheres. No final de 1934, Josefa estavagrávida do terceiro filho. A família viviaem Bonito, uma cidade a 130 quilômetrosde Recife, a linda capital pernambucana.Ali nasceu, no dia 4 de dezembro, omenino João Lins Pereira.

Em pleno agreste pernambucano,Bonito ainda era uma cidade rural. Emplena década de 1930, já era a mais antigae possuía grande prestígio na região.Tanto que até a grande Caruaru, hoje asegunda mais importante do Estado,naquele tempo não passava de um distritode Bonito. Seu povo vivia do cultivo dofeijão, favo, cará, milho, batata doce, café,verdura, pimenta-do-reino e também dacriação de gado. João nasceu nas terras dofazendeiro Davino Coelho, com quem seupai tinha um acordo para cuidar daplantação.

Quando ele tinha quatro anos, suafamília saiu de Bonito para ir morar emBezerro, uma cidade abaixo de Caruaru,mais precisamente em Serra Negra, umvilarejo com muitos sítios e fazendas quecultivavam algodão e mamona. Seu paiagora trabalhava nas terras de Samuel

Cunha, que era dono do único motor quegerava energia para a cidade, que ficavailuminada só das 7 às 23 horas. Depoistudo caia num imenso breu. O detalhe éque os produtos que o pai plantava tinhamde ser comercializados no própriomercado do Sr. Samuel.

Viu o fim da Segunda Guerra

Em 1945, Lins tinha onze anos econseguira um emprego como office-boynuma casa de família, onde tinha de ajudarna limpeza e fazer as compras. Ele aindase recorda de que as torneiras de bronzetinham de ficar amarelinhas, mas, comoqualquer dedão deixava tudo manchado,recebia uma grande bronca da dona dacasa, que o fazia limpar novamente. Opróprio Lins cita que era meio relaxadopara fazer aquele serviço, mas que a dona,uma presbiteriana ranheta, exagerava nascobranças e chegava a lhe dar puxões naorelha.

Naquela época se vivia um tempode guerra. Os bombardeios eram naEuropa, mas por aqui o medo imperava.Por causa do incidente com o submarinobrasileiro que foi afundado na costa daBahia, os navios não queriam maisnavegar para o Nordeste e, com isso, ocomércio foi bastante afetado. As famíliasaté possuíam dinheiro, mas não havia oque comprar.

P e r s o n a g e n sHumberto Domingos PASTORE (*)

João Lins Pereira:

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A missão do pequeno Lins eraacordar toda manhã, por volta das 4 horasda madrugada, e sair à procura dequalquer comida que pudesse sercomprada. Numa dessas ocasiões, trouxeuma lingüiça para ser servida no almoço equase matou toda a família e a si próprio:é que ela estava estragada. Após almoçar,pegou um ônibus para levar a roupa nalavanderia. Não deu tempo de chegar. Nomeio do caminho, começou a suar frio esó depois de jogar tudo para fora é que foimelhorando. De volta à casa, viu que ummédico atendia toda a família pelo mesmomotivo.

Outra lembrança de Lins é otérmino da Segunda Guerra Mundial. Eramaio de 1945. Naquela noite, houve umculto especial e toda a família, que erapresbiteriana, compareceu na IgrejaBatista, até hoje localizada na avenidaCônego da Boa Vista. Como sentou nofundo, ouviu o som da Banda do ClubeToureiro, uma espécie de blococarnavalesco, que estava comemorando ofim da guerra. Lins não pensou duas vezese foi atrás do alegre som, mas marcou bemo tempo para retornar antes do término doculto. Até hoje a sua patroa não soube doocorrido.

Por falar em patroa, ele vivia emconstante acirramento com a mesma.Numa ocasião, Lins bateu no filho dela.Mas o dia em que ela ficou enfurecida foiquando Lins pegou seu salário, que era dedois mil réis, e foi comprar uma calçacomprida, que era um símbolo para quemjá se sentia homem. Até então, os garotossó podiam usar calça curta. Quandochegou em casa todo orgulhoso, mal tevetempo de se proteger da ira da patroa, queveio para cima dele com uma rispidezimensa. Para se defender, Lins pegou umavassoura e a enfrentou. Viu, todavia, quenão tinha outra alternativa: deu no pé e foipara a rua. Seu pai voltou no dia seguinte

para pegar o restante do dinheiro dopagamento que faltava. Nunca maisvoltou àquela casa.

O começo da vida sindical

Próximo da fábrica de moagemacontecia, num determinado dia dasemana, uma feira de frutas e os operáriossentavam na calçada para chupar laranja.Foi numa destas ocasiões que apareceramalguns homens estranhos fazendoperguntas. Eles queriam saber se oOsvaldo Muniz, o Bartolomeu Marques eo Joaquim Gomes eram os sóciosproprietários da empresa. E receberamuma resposta afirmativa.

Lins, o menor do grupo, ficavaouvindo e querendo entender tudo.Descobriu que aqueles homens eram daFederação dos Sindicatos da Alimentação,e que os proprietários da moagem tambémpertenciam ao grupo. Contudo, comoagora eram donos da empresa, nãopoderiam mais continuar comorepresentantes do sindicato dosempregados.

Os sindicalistas fizeram convitepara que eles entrassem na diretoriarepresentando os trabalhadores. Linsgostou da idéia, mas logo ficou sabendoque, por ser menor de idade, não poderiaocupar o cargo.

Lins não se tornou diretor, mas erao grande incentivador para que osempregados se sindicalizassem eparticipassem das assembléias. Foi destaforma que o futuro grande lídersindicalista entrou para o mundo sindical,ou seja, pelas portas do Sindicato dosTrabalhadores nas Indústrias deTorrefação e Moagem de Café do Estadode Pernambuco.

Mas não pense que era fácil. Àsvezes, Lins era ameaçado por algumapeixeira, um tipo de facão que se usa na

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cintura. A ameaça partia dos própriosoperários, que diziam: “Menino, aquininguém quer saber de sindicato e iamlogo puxando a peixeira”.

Nessa época Lins morava na Praiano Pino e, às vezes, aparecia em casa comalguns amigos para comer e dormir com oobjetivo de, no dia seguinte, participar dealguma atividade sindical. Curiosamente,não perguntava para a mãe se tinha ou nãocomida, e aí a confusão estava armada.

Quando se tornou um metalúrgico

Nos anos 1960 o Brasil vivia ogrande boom da siderurgia. O setor demetalurgia crescia muito e surgiam novasvagas de empregos. Lins, que na época jáera maior de idade, foi em busca desteemprego. Em 1961 entrava na CompanhiaSiderúrgica do Nordeste, cuja sedelocalizava-se na rua Aurora, no bairroSanto Amaro, para atuar como ajudante nalaminação. Logo aprendeu o serviço degancheiro e passou a auxiliar dedesbastador. Um ano depois, já atuavacomo desbastador.

Tudo caminhava para um futurogarantido, quando sua veia de sindicalistapulsou mais forte. Liderou um movimentopara conquistar aumento salarial eorganizou uma greve, inclusive sem oapoio do sindicato, que pouco aparecia naporta da fábrica e nada fazia pelacategoria. Evidentemente, Lins não deuoutra. Ele e mais nove, que eram

considerados os cabeças do protesto,foram demitidos por justa causa.

Estávamos no final do ano e Linsteve de amargar um Natal sem peru.Apenas em meados de 1963, os demitidosconseguiram um acordo com a empresa ereceberam seus direitos.

Mas Lins não ficava desem-pregado muito tempo. Soube que emGoiana, no distrito de Pau Seco, tinha umametalurgia de um português que estavacontratando. Era a Siderúrgica Aço NorteS.A., onde atuou na função de contra-mestre. O serviço era muito puxado e osalário desanimador. Logo percebeu queteria de trabalhar como um burro de cargae, com pouco mais de dois meses de casa,pediu a conta. Foi tentar a sorte no Rio deJaneiro.

A terra prometida

O Estado de São Paulo sempre foiconsiderado a Terra Prometida, aonde aspessoas chegavam e arranjavam oemprego que modificaria suas vidas. Apóso período de experiência, Lins decidiu queseu futuro não estava no Rio de Janeiro eque deveria se aventurar em São Paulo,onde tinha um amigo que morava emJacareí. E foi assim que, num domingo,bateu na casa do João Manoel doNascimento, o popular Cabaço, que oacolheu e o levou no dia seguinte naempresa onde trabalhava, localizada emSão José dos Campos.

Sindicalista João LinsPereira em três momentos:década de 1970, década de1980 e em 2006

Fotos: João Lins Pereira

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Lins conseguiu o emprego nafábrica, mas só poderia começar em 60dias, tempo necessário para o conserto doforno que explodira. Como não podiaesperar, tomou um trem e desceu sozinho,sem conhecer ninguém e nenhuma rua, empleno Brás. Comprou o jornal O Estado deS. Paulo e, sentado no banco da praça,procurou nos classificados algumaoportunidade de emprego. Mas não achounada.

Pedindo informação, foi orientadoa seguir até São Caetano do Sul, ondehavia diversas empresas, como AçosVillares, a Jafet e a Indústria MetalúrgicaSão Caetano (atualmente, todas estãofechadas).

Como não encontrou nada, seguiua pé pelo trilho do trem até a Vila Carioca,onde também não teve sucesso nas duasmetalúrgicas do Brás. Seguiu de trem atéMogi das Cruzes para receber mais nãos.Como o dinheiro era pouco, hospedou-senuma pensão, onde passou a noite lutandocontra as pulgas. Durante a semana,visitou dezenas de empresas. Era difícilandar num lugar desconhecido e, namaioria das vezes, só perdia tempo.

Uma mudança radical

Desanimado com a cidade grandede São Paulo, Lins voltou para o Rio deJaneiro. A cidade se preparava parafestejar o Dia de São João, que, a exemplodos estados do Nordeste, são comemo-rações bastante animadas.

No Rio, lendo o Jornal do Brasil,descobriu vagas numa empresa de Niterói,mas era necessário levar um currículo queservisse como carta de apresentação. Ojeito foi recorrer a um primo, que eracapitão da marinha e vivia na zona nortecarioca. Seu parente fez a carta e orientou-o para que a levasse pessoalmente, pois,pelo correio, ninguém a leria.

Assim foi orientado e assim fez. Oresultado foi a conquista da vaga. Em 15dias estaria trabalhando. Bastava fazer osexames e se mudar de vez para o Rio deJaneiro. Decidiu passar o Dia de SãoPedro em São Paulo, e, no dia 30 de julho,voltou para Jacareí.

Mesmo com a vaga garantida noRio de Janeiro, no dia 1º de julho de 1963,com 29 anos, tentou, pela última vez,arranjar um emprego em São Paulo.Tomou o trem e desceu em São Caetano.E não é que ao chegar na futuraMannesmann encontrou uma vaga dedesbastador!

No mesmo dia fez os examesmédicos. Comprou uma calça paratrabalhar, além de um par de tamancões euma blusa, já que em São Paulo faz maisfrio do que no Rio de Janeiro. No diaseguinte, às 14 horas, no início do seuturno de trabalho, apresentou-se com partedos exames e perguntou ao Davi, chefe daportaria, se poderia entrar para trabalhar.Um dos chefes escutou a conversa edecidiu que poderia começar o trabalho, jáque havia bastante serviço. Esse chefe eraAntero Gomes, que seria um dos seusgrandes amigos no futuro, e, inclusive,diretor sindical quando esteve à frente doSindicato de São Caetano.

Onde passar a noite

O turno encerrava-se às 22 horas.Neste horário Lins se deu conta de quenão havia lugar para passar a noite. Mascomo ninguém fica desamparado em SãoPaulo, recebeu o convite de um novocolega, o Zé Bonitinho, para que passassea noite em sua casa, no Jardim Ana Maria,em Santo André. Explicou que sua esposaestava na casa de uns parentes no interior.

Às 4 horas da madrugada, acordoue pensou na sua situação. Levantou,conversou com seu acolhedor e disse que

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estava indo até Jacareí pegar suas coisas.Às 14 horas, estava na portaria da empresapronto para trabalhar e com uma pequenamaleta com seus poucos pertences.

Esta maleta ficou na portaria poruns três dias, enquanto Lins dormia nacasa do amigo Zé Bonitinho, até conseguirum lugar para morar. Sua nova moradiaera a pensão Flor do Morro, na rua dosJunquilhos, na Vila Alpina, em São Paulo.

O caso do baile no Zé do Bode

Lins tinha poucas amizades.Praticamente não conhecia ninguém, nemas qualidades das pessoas com as quaistrabalhava. Na primeira semana, os seuscolegas de turno, Zé Quebra-Galho eChicão Cabelo Branco, fizeram umconvite para ir ao baile do Zé do Bode, umsalão que ficava na avenida Costa Barros,na Vila Alpina.

Chegou o sábado. Lins preparou-se e foi para o baile que era até bemanimado. Certa hora da noite, enquantodançava uma rumba com uma dama,alguém lhe bateu nas costas e pediu quesaísse do salão. Quando saiu, deparou-secom três guardas civis batendo no seuamigo Zé Quebra-Galho. Num impulso,para evitar que ele continuasseapanhando, chamou-o e pediu para selevantar. Em seguida, entraram nocamburão e seguiram para a delegacia.

Na Delegacia de Vila Prudente, ocaso se revelou. No mês anterior, ZéQuebra-Galho e Chicão Cabelo Brancoarranjaram uma briga no mesmo salão eagrediram firmemente um policial. Agora,pagariam pelo delito.

O delegado foi taxativo com Lins.Comprovara que, no dia da primeira briga,estava no Rio de Janeiro e que, portanto,não participara do caso. Lins foi liberado,mas recebeu um pito para que, no futuro,escolhesse melhor os seus amigos.

Conclusão: Lins voltou a pé para casa,sem saber direito qual rua seguir e os doismetidos a valentão amargaram umasemana de cadeia. Lins nunca maisapareceu neste salão.

Missão amorosa: buscar a namorada

João Lins Pereira ficou poucotempo no Rio de Janeiro, mas o necessáriopara prender seu coração. A razão de suapaixão era uma pernambucana como ele,que morava na mesma rua de sua pensão,no bairro de Nilópolis.

Sua namorada era a Zana, quevivia com a irmã Gilda, o irmão Gilbertoe a mãe Maria Soledad. Quando Linschegou em Nilópolis com seu amigoSeverino Grandão, as pessoascomentavam sobre a chegada de doishomens de Recife, um moreno forte e umrapaz branco e Zana teria dito, sem vê-los:“O branco é meu”. E realmente, logoestavam com suas vidas entrelaçadas.

Seu retorno para São Paulo emnada modificou sua paixão. Prometeu queviria buscá-la e, três meses depois, cum-priu o prometido. Quando perguntamos sea futura sogra concordara facilmente comesta decisão, Lins contou que MariaSoledad gostava muito dele e ele tambémnutria grande veneração por ela,considerando-se uma grande mulher, umamulher de fibra. Naquele tempo, Linsperdera sua mãe atropelada por um

Credencial de JoãoLins Pereira do

Sindicato dosMetalúrgicos de São

Caetano do Sul

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caminhão no dia 31 de maio de 1964. Aocasar com Zana, Lins não só ganhou umasogra, como alguém que pudesse amar nolugar de sua mãe que havia partido para oreino do Pai Celestial.

Para iniciar a vida a dois, Linsguardou as economias, alugou um quartoe cozinha na rua Maria do Carmo ecomprou os móveis básicos. Não tevecasamento na Igreja, e, no cartório civil,só aconteceu meses depois, apósdescobrirem que ela estava grávida. Ogarotão nasceu no dia 11 de dezembro de1964 e recebeu o nome de João LinsPereira Filho.

A casa ficou pequena e a famíliamudou-se. Primeiro, foram para umaresidência na rua Hermeto Lima. Depois,para a casa da rua Lombros. Em seguida,para a rua das Giestas, onde possuía umabanca de jornal, que era tocada pelamulher Zana e pelo sobrinho Mário. Em1970, vendeu a banca e mudou-se para umnovo endereço, a rua Nairú.

Em 1971, mudou-se para a ruaGiácomo Dalcin, no Bairro Mauá, em SãoCaetano do Sul, pois, em 1967,inscrevera-se na Cooperativa Habitacionaldos Metalúrgicos e, três anos, sua novaresidência ficara pronta. Este importantefato aconteceu na manhã do dia 18 desetembro, um sábado.

O popular Miguel Arraes

Na Mannesmann, Lins perma-neceu por 22 anos. Ali seu apelido eraMiguel Arraes, que se elegera governadorde Pernambuco e se tornara uma figurapolítica de renome nacional. Todossolicitavam histórias deste político, masLins pouco sabia, já que apenas votaranele e só descobriu o resultado quandoestava chegando no Rio de Janeiro.Mesmo assim, o apelido ganhou força e,até hoje, os mais antigos os chamam por

este apelido.Com três meses de trabalho nesta

empresa filiou-se ao Sindicato dosMetalúrgicos de São Caetano do Sul.Naquele tempo, o presidente era ÂngeloSegatti e seu vice Antonio CândidoLindolfo. Lins era só um filiado, mas jános primeiros dias foi mostrando a sualiderança, sua forte ação como ativistasindical.

Era comum a greve começar naVillares e, em seguida, na Mecânica(Saad). Só depois as outras empresas eramvisitadas pelo sindicato. Mas, em 1964, ascoisas começaram a se modificar. Logodepois da assembléia, Lins juntou osfuncionários da Mannesmann e, quando aequipe do sindicato chegou, todos jáestavam de braços cruzados, do lado defora da fábrica com as máquinasdesligadas.

Esta empresa já tinha umrepresentante sindical, que estava maispreocupado em organizar festinhas eexcursões. Quando o pessoal viu opotencial de Lins, fizeram a mudança,pois ele se mostrara mais disposto à luta esabia realmente fazer política sindical.

A direção do sindicato tambémreconheceu esta notoriedade de Lins e,prontamente, fizeram o convite para queele fosse o representante. Lins conta quemais dois companheiros ajudaramimensamente nas lutas reivindicatórias:Antero Queixada e o José Cabeça de Jeep.

Sindicalismo no tempo da ditadura

Quando estourou o golpe militarde 31 de março, os sindicatos passaram aser administrados por interventores. EmSão Caetano do Sul foi designado oBernardino Testa, que ficou no comandoaté o final de 1964. Ele entrou no lugar doantigo presidente Ângelo Segatti.

Bernardino preparou a eleição na

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qual concorreram Manezinho e JoãoTessarini. Lins apoiou Tessarini, queacabou eleito e, anos depois, seria vice-prefeito do município.

O mandato foi para o período de1965 até março de 1967, quandoManezinho voltou a concorrer e, destavez, com o apoio de João Lins. Aliás, osdois grupos queriam o representante daMannesmann, mas o popular MiguelArraes preferiu compor a chapa deManoel Constantino, o popularManezinho, e de Onélio de Oliveira, quese tornou o novo presidente eleito. Nestaadministração, Lins ocupou o cargo noConselho Efetivo da Federação.

Dois anos depois, em 1969,aconteceu nova eleição. Desta vez,Manezinho encabeçava a chapa e Lins jáocupava o cargo de 2º Tesoureiro.

As peças que a vida prega

O presidente Onélio foi orepresentante da cidade no Congressorealizado na Europa e promovido pelaFitim (Federação Internacional dosTrabalhadores na Indústria Metalúrgica).Antes Onélio não tivesse ido, pois suavida nunca mais seria a mesma.

O delegado representante daVenezuela descobriu que Onélio erahomossexual, e divulgou para todos osparticipantes esta preferência sexual docongressista brasileiro. Hoje estaafirmação não teria peso nenhum, masvivíamos o início dos anos de 1970 e oconceito moral vigente era bem diferentedeste novo milênio. O preconceito eramuito grande.

O escândalo estava armado. Osdirigentes da Federação Internacional,assim como os dirigentes daConfederação Brasileira, repudiaram ofato e incentivaram Onélio a tirar umalicença e não voltar para o Sindicato.

Infelizmente, o caso ganhou proporçõesmaiores.

O vice Manezinho viu aí umaoportunidade de assumir mais uma vez osindicato e, desta vez, sem eleição.Matreiramente, sugeriu que o funcionárioGildo, hoje falecido, escrevesse uma cartade renúncia a ser assinada por Onélio. ELins, inocentemente, foi incumbido delevar a carta na residência do presidenteque morava com a mãe, em uma casa naVila Bela, bairro vizinho a São Caetanodo Sul.

Lins, comentando o fato, foitaxativo ao afirmar que hoje não aceitariaparticipar desta trama. Disse que temamizade por Onélio e que este foi vítimade uma situação de momento. Tambémcontou que participara de forma ingênuadevido a uma motivação maléfica doManezinho, que se aproveitou dosdissabores que o companheiro estavavivendo. Ou seja, não foi leal ao amigo,que, desiludido com a vida sindical,voltou a ser feirante.

Na eleição de 1972, duas chapasconcorreram. Uma chamada deJoaquinlhada, por causa dos muitosJoaquins que faziam parte dela,encabeçada pelo Joaquim Candido eNilton Vigiano. E na outra novamenteManezinho na cabeça, tendo João Linscomo secretário e na tesouraria o Sechi.

Os fatos motivados pelo golpemilitar modificaram a vida sindical daregião. João Lins acabaria ocupando apresidência do Sindicato e, nas eleiçõesseguintes, as urnas dariam-lhe váriasvitórias. Mas estas histórias ficam paraoutro narrador.

(*) Humberto Domingos Pastore,jornalista profissional e atua com suaempresa no setor de assessoria deimprensa

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nas veias, leite, sorvete e muita luta

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Resgatar a memória de São Caetano doSul é trabalhar a história de grandes

homens, de grandes forças, que ajudaramno crescimento sócio-econômico dacidade. A saga da família Souza,descendente do casal Antonio de Souza eRosa Valente, permite-nos uma viagemno tempo. Além de serem responsáveispela primeira sorveteria da cidade,viveram uma história de luta, superandoracionamentos e dificuldades de guerra.

Quem narra a vida da famíliaSouza é o filho Walter. Seus 81 anos eseus cabelos brancos não impediram umdepoimento rico em detalhes, datas enomes, reconstruindo acontecimentos etransportando-nos, em palavras eemoções, ao cenário do antigo comérciode São Caetano.

A história deste casal, descen-dentes de italianos e espanhóis, começaem 1919, quando Antonio de Souza eRosa Valente vieram morar em SãoCaetano do Sul, na época distrito de SantoAndré. O filho Walter, dono de umamemória invejável, descreve a história

com clareza e resgata a realidade vividaem outro tempo.

“Papai veio em busca de um localmais saudável para viver”, conta Walter,explicando que o médico de seu pai oorientara a sair da Mooca, onde morava,para procurar uma cidade com ar maispuro. “Ele optou por São Caetano, ondealguns parentes já moravam e garantiramque a cidade era excelente para morar eestabelecer algum tipo de comércio”.Acertou na escolha, pois, em poucotempo, Antonio já se sentia bem melhor.

Antonio e Rosa foram morar à ruaSão Caetano (atualmente avenida CondeFrancisco Matarazzo). Como o comércioera o melhor caminho para asobrevivência do jovem casal, montaramuma leiteria na própria residência. “O leiteera fornecido por José Lopes Rodrigues,em latões de 50 litros. Com uma conchamedidora, papai vendia leite às senhorasque apareciam munidas com canecas,panelas e leiteiras”, conta.

O movimento era muito bom, poisa leiteria estava próxima ao centro e à

D e p o i m e n t o sJô Sperate FIGUEIREDO (*)

A saga da família Souza:

Walter de Souza, emjulho de 2007, no diado seu depoimento naFundação Pró-MemóriaC

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estação de trem. “Mas o leite era vendidoapenas na parte da manhã. As tardes eramociosas. Foi então que papai teve a felizidéia de fabricar sorvetes”. A leiteriapassou a se chamar Sorveteria Para Todose transformou-se num ponto de encontroda cidade.

O sorvete, totalmente artesanal,era produzido em uma máquina repleta degelo. “Papai e mamãe se revezavam namanufatura do creme. A manivela damáquina não podia parar até formar amassa do sorvete”.

O sorvete ficou famoso e Antoniopassou a ser reconhecido nas ruas comoAntonio Sorveteiro. O produto trouxeorgulho à família, conforme atesta o relatodo filho Walter. “Nenhum produtoquímico era adicionado ao creme. Papaiusava leite puro e frutas naturais. Do cocoextraía-se o leite. O abacaxi passava pelomoedor de carne. Tudo improvisado, masdeliciosamente natural”.

A Sorveteria Para Todos contavacom um cardápio bastante variado. Entreos principais sabores, Walter destaca os deamendoim, tapioca e abacate. Sabores tãocuidadosamente elaborados, que a famíliatrabalhava de domingo a domingo para

atender às centenas de clientes que haviaconquistado.

“A freguesia de papai não estavarestrita aos vizinhos e pessoal de SãoCaetano. A fama do sorvete se espalhou e,graças à proximidade da estação de trem,fregueses do Brás, da Mooca e de SantoAndré fizeram da Sorveteria para Todosum passeio obrigatório aos domingos”.

Com o passar do tempo, asorveteria prosperou e a família cresceu.Por volta dos anos trinta, Antonio e Rosajá estavam às voltas com três crianças:Anna, Olga e Walter. Logo depois, maistrês meninas completaram o clã Souza,com o nascimento de Leonor, Amélia eHélia. “Mamãe se desdobrava para cuidarda casa, da sorveteria e das crianças. Mas,numa provação divina, mamãe foi picadapor um inseto. A infecção gerou umaferida profunda, que nunca se curou.Mesmo assim, com a saúde reduzida, aforça de vontade daquela mulher,descendente de italianos, não se abalou.Não parou de trabalhar um instante. Nãoreclamou de dores. Pelo contrário, mamãetrabalhou cada vez mais, com o objetivoúnico de não faltar nada a seus filhos”.

Rosa de Souza, no seu dia a dia,

A Sorveteria paraTodos no centro de

São Caetano, noinício dos anos trinta.

Vemos, à frente,Antonio e a filha

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fazia justiça ao seu sobrenome de solteira:Valente. Graças ao trabalho incansáveldesta mulher de fibra, sempre ao lado domarido, pôde realizar o sonho de uma casamelhor, que pudesse acomodar a família ea sorveteria. “Papai construiu uma casa,no centro mesmo: dois quartos, cozinhagrande, banheiro dentro, um luxo para aépoca, e uma boa frente para a sorveteria,que passou a abrigar mesinhas e cadeiraspara os fregueses”.

Nessa casa, Antonio, a pedido damulher, construiu um grande forno comtijolos. O pedido se fez para aumentar ocardápio de vendas. Rosa passou a fazerdoces, salgados e massas. Fez dasorveteria uma verdadeira lanchonete. “Avitrine ficava repleta das delícias quemamãe cozinhava. Os fregueses, que jáaprovaram os sorvetes, ficaram maisassíduos com a diversidade de produtos àvenda”.

A lanchonete de AntonioSorveteiro era destaque no centrocomercial de São Caetano. Diversosvizinhos, também prósperos, eramclientes de Antonio e Rosa. “O comércioera pequeno, mas se encontrava de tudo.Tinha casa de material de construção, de

Guilherme da Silva Dias; o cartório, deOtávio Tegão; a barbearia do Walter; atorrefação de café, da família Gianpetro; apapelaria do Pacheco; a farmácia doPaolone e outra do Macedo; a CasaWeigand; a padaria dos Morelatos; ocinema e muito mais”.

Antonio e Rosa sobreviviam dalanchonete, mas nunca chegaram aguardar fortuna ou adquirir imóveis. Aherança deixada aos filhos sempre foi umalição de vida incomparável a qualquer tipode riqueza material. “Papai e mamãesouberam educar cada um dos seis filhos,nada faltou, mas não chegamos a ficarricos. Todos estudaram no SenadorFláquer. Educação e dignidade eramfilosofias de vida da família. Nenhum dosfilhos se rebelou com as dificuldades.Éramos felizes e sobrava amor e respeitoentre nós”, emociona-se Walter, ao falardesses fortes laços familiares.

Tempos difíceis

A Revolução de 1932 e a SegundaGuerra Mundial, nos anos quarenta,marcaram a vida de todos. Independentedo produto comercializado, todo

Nosso narrador,Walter, a mulherMercedes e a filhaRose, na casa darua HeloisaPamplona, em1950

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comerciante sofreu com as privações quea guerra impõe. Com o racionamento detrigo, sal e açúcar, a família de Antonio foiobrigada a comprar mercadorias nocâmbio negro para não fechar lanchonete.“Foram tempos marcantes e difíceis paratodos. Lembro-me como se tudo tivesseacontecido ontem. As campanhas paradoações de jóias e alumínio, oracionamento e a dificuldade financeirasão coisas que estão registradas namemória. A Revolução e a Guerra foramos dois fatos mais marcantes e quecolocaram à prova a união e o esforço danossa família”.

Nessa época, Antonio e Rosafaziam as refeições no mesmo prato, nãopor economia, mas para discutiremsoluções dos problemas do cotidiano. “Oretrato mais interessante que guardo é depapai e mamãe dividindo o jantar nomesmo prato. Sentavam bem juntinhos.Dessa forma, podiam conversar bembaixinho, aos cochichos, para que osfilhos não pudessem ouvir sobre suasaflições”.

Com as dificuldades da guerra, aeconomia do Brasil com problemas e seisfilhos para criar, Antonio e Rosadecidiram vender a lanchonete. Em busca

de melhores condições econômicas,optaram pelo caminho errado. “Papaiacreditou que a venda da lanchonete e oinvestimento em um armazém seriam asmelhores opções para o momento. Ocaminho não foi acertado. O fiado e afamosa caderneta levaram papai,praticamente, à falência. Apesar dosorvete e dos lanches de mortadela, a nãoquitação dos devedores prejudicou oarmazém”.

O ano de 1943 marcou o fim dosempreendimentos do leite, do sorvete edos lanches de Antonio e Rosa, mas ogrande legado dessa família perdura porgerações. “Minhas filhas, netos e bisnetostrazem nos seus corações e nas suas almasum sentimento fraterno de muito amor,respeito e dignidade”.

A família ganhou novossobrenomes, pois outras famílias seuniram aos Souza. Mesmo assim, osvalores estabelecidos no passado pelocasal Antonio Souza e Rosa Valentepermaneceram intactos com o passar dostempos e o devir das novas gerações. Umasaga de períodos conflitantes, dedificuldades financeiras, de doenças, detristezas. Uma saga vitoriosa baseada emsentimentos simples, como o respeito, a

A família em 1946,da esquerda para a

direita: Antonio,Rosa, Leonor,

Amélia, Hélia, Olga,Anna, Walter e

Iberani. No colo:Iberanice

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honestidade, a força de vontade e a união.Um retrato de destaque dentre os muitosexistentes na família São Caetano do Sul.

A família

Em 1920, eram apenas doisjovens: Antonio de Souza e Rosa Valente.Eles geraram seis filhos: Anna, Olga,Walter, Leonor, Amélia e Hélia.

Anna casou-se com Irineu Gallo,com quem teve quatro filhos: Iberani,Iberanice, Irineu e Iracy. Da família Gallosão cinco netos e dois bisnetos.

Olga casou-se com José Melone etiveram quatro filhos: Miriam, AntonioCarlos, Rosely e Márcia. Da famíliaMelone, quatro netos.

Walter, o nosso narrador, casou-secom Mercedes Moreno. Geraram trêsfilhas: Rosemary, Arlete e Lílian. Daunião vieram 10 netos e cinco bisnetos.

Leonor casou-se com Diógenes

Massucato. Tiveram três filhos: Edson,Ernesto e Elisete. São três netos.

Amélia casou-se com Darcy dePaula. Geraram dois filhos: Sergio eCélia.Vieram dois netos e um bisneto.

Hélia, a caçula, casou-se comHélio Fiorotti, com quem teve dois filhos:Emerson e Edson. Por enquanto, um neto.

Antonio e Rosa geraram e foramos grandes responsáveis por uma famíliaque hoje está na quinta geração, com 70componentes. Todos os domingos, amaior parte ainda se reúne para ostradicionais almoços.

Rosa morreu em 1956 e Antonio,em 1978.

(*)Jô Sperate Figueiredo, jornalista e foiDiretora de Comunicação da Prefeiturade São Caetano e Assessora de Cultura doDepartamento de Educação e Cultura deSão Caetano do Sul

Cinco geraçõesformaram-se a partir

de Antonio e Rosa.Filhos, netos,

bisnetos etataranetos

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D e p o i m e n t o s

ARevista Raízes, dando prossegui-mento ao seu trabalho de divulgação

das histórias e lembranças de moradoresantigos do município, conta, nesta sua 36ªedição, um pouco da trajetória de AndréAmérico da Silva, um simpático eexperiente mecânico que adotou SãoCaetano do Sul como sua cidade.

Nascido em 26 de fevereiro de1931, em Bueno Brandão, sul de MinasGerais, veio para a cidade no dia 16 demarço de 1949, juntamente com seus paise irmãos. Na época de sua chegada, SãoCaetano vivia um momento bastanteespecial, pois tinha acabado de eleger oprimeiro prefeito municipal, Dr. ÂngeloRaphael Pellegrino (eleito no pleito de 13de março daquele ano). Os anseios dedesenvolvimento da população local,diante daquele momento histórico doentão recém-criado município de SãoCaetano do Sul, coincidiam, de uma certaforma, com as aspirações da numerosafamília de André Américo da Silva.

Almejando melhores condições de

vida, seus pais resolveram deixar MinasGerais. “Nós viemos para São Caetano,porque a situação lá era difícil, muitodifícil. Meu pai tinha, na época, dezfilhos, então, tinha que trabalhar parasustentar aquele monte de criança”. Nesseperíodo, André trabalhava numa oficinamecânica, em Ouro Fino (também no sulde Minas), onde residia com sua famíliaquando a decisão de vir para São Caetanofoi tomada. Foi nessa oficina quecomeçou a aprender os segredos daprofissão de mecânico. Lá permaneceu até1948, aproximadamente.

Ao chegar na cidade, a famíliaSilva foi morar no atual bairro SantaMaria, mais precisamente na rua hojechamada São Francisco. André Américoda Silva recorda que, assim que seinstalou em São Caetano, já conseguiuemprego. “No primeiro lugar que fomosprocurar, achamos emprego”. O local aoqual ele se refere ficava na rua JoãoPessoa, 114. Tratava-se de uma oficinamecânica de propriedade de Pensolo e

André Américo da Silva,um simpático mecânico

André Américo da Silva durante depoimento à Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul, no dia 5 de junho de 2007

Foto: Antonio Reginaldo Canhoni/Fundação Pró-Memória

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Salvador Campanella. André ressalta que,além da oficina, os dois sócios possuíamtambém uma loja de autopeças, que ficavana própria rua João Pessoa, no número116.

Depois de um período de poucomais de um ano na oficina mecânica dePensolo e Salvador Campanella, começoua trabalhar na Empresa de Auto ÔnibusSanto André (Eaosa), cuja garagem selocalizava no atual bairro Prosperidade.Dessa empresa, André foi para uma outrado ramo, a Empresa de Ônibus SãoBernardo, onde permaneceu até ingressarna Auto Viação Irmãos Bechara Ltda., em1953. Pertencente a David e JoãoBechara, fazia a linha Estação - VilaBarcelona.

André Américo da Silva, antes decomeçar a relatar a fase em que trabalhoucom esses dois irmãos, fez revelaçõesimportantes. Conforme informa, a famíliaBechara dedicava-se ao comércio. Eraproprietária de um bar e sorveteria, queficava na avenida Conde FranciscoMatarazzo, 68, e de duas lojas de artigospara presente (uma funcionava na ruaAmazonas e a outra na Manoel Coelho).

Destacou também a participação de DavidBechara na política local como vereador,pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro),entre 1953 e 1957.

Quando foi contratado, os irmãosBechara estavam começando no ramo detransporte coletivo. André lembra que, noinício, os ônibus da empresa saíam da ruaBaraldi, em frente à praça CardealArcoverde. Posteriormente, passaram asair da antiga Casa Weigand, que selocalizava na esquina da avenida CondeFrancisco Matarazzo com a rua SerafimConstantino. Antes de a empresa instalarsua garagem na alameda Cassaquera, amanutenção dos ônibus era feita em frenteà praça Cardeal Arcoverde. Segundomencionou, os veículos da IrmãosBechara (quatro no total) eram das marcasFord, Chevrolet e Man (marca alemã) e osproblemas que apresentavam eram,normalmente, os relacionados com a partede embreagem e câmbio. André chegava asair de madrugada para prepará-los paracircular logo de manhã. Sobre issoafirmou, bem humorado, o seguinte: “Ele(João Bechara) chegou a me chamar umahora da manhã. Pegava o macacão, que

Ônibus GM Coach,da Empresa de AutoÔnibus Santo André(Eaosa), na avenidaSouza Ramos (hojetrecho da avenidaGoiás), no início dadécada de 1950.André Américo daSilva aparece aocentro

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quase parava em pé de sujo, punha evamos lá. A hora que chamava, eu estavalá. Era bom, era divertido. Tinha o ladobom”.

Em relação aos demaisfuncionários da empresa, citou algunsnomes, como os dos motoristas FranciscoMartins, o Chico, e Nelson Gardesani, oMarinheiro. A respeito desse apelido,André relatou: “Pusemos o apelido nelede Marinheiro, porque ele usava umaroupa branca e um boné. Então, quandoele entrou lá, já pusemos o apelido nele deMarinheiro.” Ressaltou ainda queGardesani foi funcionário da Prefeitura,trabalhando por muitos anos na GaragemMunicipal. Quanto aos assuntosadministrativos, destacou que João eDavid Bechara eram auxiliados pela irmãMaria Bechara, que era chamadacarinhosamente de dona Cotinha.

Em 1958, a Auto Viação IrmãosBechara Ltda. encerrou as atividades.Nessa época, São Caetano já estavausufruindo os benefícios obtidos porocasião de sua transformação emmunicípio. As ruas começaram a sofrermelhorias e modernas frotas de ônibuspassavam, pouco a pouco, a circular pelacidade, atendendo, assim, à crescente

demanda da população. Com o fim daempresa Bechara, André conseguiuemprego na João Gava & Filhos Ltda.,uma indústria agroquímica localizada noIpiranga, em São Paulo. Era responsávelpela manutenção dos caminhões dessaempresa. Executava, assim, serviços queiam desde a parte elétrica e de mecânicaaté a de funilaria.

O trabalho nessa indústria ficoumuito sacrificado para André, quando foitransferido para Perus, onde ficava umaoutra instalação da agroquímica da famíliaGava. Além disso, o aumentosignificativo do número de caminhões daindústria dificultou ainda mais a situação,sobrecarregando-o. Diante disso, resolveusair da firma e investir numa atividadecuriosa para os dias de hoje: a deinstalação de antenas de televisão. Elepróprio montou, no fundo de sua casa,uma pequena firma. Nessa época, AndréAmérico, já casado e com dois filhos (JoséRoberto e Celso Roberto), residia em SãoPaulo. No início, essa sua pequenaempresa comprava as antenas queinstalava, passando, depois, a fabricá-las.O clima de apreensão que tomou conta dopaís, em decorrência da renúncia dopresidente da república Jânio Quadros, no

O casal AndréAmérico da Silva eRita Coutinho coma sobrinha Iraci, emfoto tirada no inícioda década de 1950,no atual bairroSanta Maria

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Ônibus Ford 1948 da antiga Auto Viação Irmãos Bechara, emfoto tirada na garagem da empresa, na alameda Cassaquera.Junto ao veículo, o motorista Nelson Gardesani (Marinheiro).Década de 1950

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dia 25 de agosto de 1961, contribuiu parao encerramento da atividade de instalaçãode antenas. “Quando o Jânio renunciou,esse comércio caiu. Não se vendia maistelevisão”, frisou.

Na tentativa de contornar osproblemas surgidos com o fim da fábricade antenas, André Américo da Silvaresolveu retornar a São Caetano. De voltaà cidade, novas perspectivas começaram asurgir. Sua esposa Rita Coutinho da Silvahavia engravidado de Mariselma, a filhacaçula, acontecimento que trouxeesperança e alegria à família. O retorno aomunicípio foi também marcado por outraboa notícia. O conhecimento de Andrésobre auto-elétrica ajudou-o a conseguirum emprego, em São Bernardo, numaoficina do ramo que pertencia a umalemão. Depois de um período de dezmeses como empregado dessa oficina,André Américo a arrendou, por conta daida do proprietário para os EstadosUnidos. Quando este voltou para o Brasil,a oficina foi entregue e André resolveuabrir uma do gênero na rua Maceió, emSão Caetano. Depois de muitos anos dededicação ao trabalho de mecânico, Andrése aposentou. José Roberto, seu filho maisvelho, abraçou também a profissão,

possuindo uma auto-elétrica na ruaTiradentes.

Antes de finalizar o depoimento, osimpático mecânico ressaltou a amizademantida com Sandra e Paulo Bechara,filhos de seu antigo patrão, João Bechara,cujo vigor e espírito de luta admiravabastante. Ao referir-se à família, faloucom muito carinho da esposa (que faleceudias depois dessa entrevista), dos filhos edos netos Letícia, Vítor e Carolina. Fezquestão de comentar também a respeito deum outro dom: o de escrever versos.Conforme destacou, começou atransformar episódios simples docotidiano em singelas poesias a partir de1966. Entre suas composições, está amarchinha Sorriso da Ritinha, queescreveu em homenagem à esposa, em1975.

(Pesquisa e texto do Serviço de DifusãoCultural da Fundação Pró-Memória deSão Caetano do Sul)

O Man era outro ônibus da frota da empresa Irmãos Bechara. Bastantecompacto, circulava com facilidade pelas ruas de terra da São Caetano deantigamente. Nesta imagem, ele aparece na garagem da empresa. Décadade 1950

Mariselma e Celso Roberto, filhos de André Américo da Silva,em frente à residência da família, na rua Sílvia. O carro é damarca inglesa Hilma. Final da década de 1960

Acervo/André Américo da Silva Acervo/André Américo da Silva

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Ondina Rezende Cunha:do terreno do Banco de Londres ao Jardim São Caetano

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D e p o i m e n t o s

Ahistória da urbanização do JardimSão Caetano tem nome e sobrenome:

Manoel Rezende Santana. Sua filha,Ondina Rezende Cunha, é quem nos narraa luta dramática e apaixonante pelodesenvolvimento de um dos bairros maiselegantes e charmosos de São Caetano doSul.

Quando se fala em Jardim SãoCaetano, o cenário, rapidamente, se formacom belíssimas residências, jardinsexuberantes e ruas urbanizadas etranqüilas. Mas o que hoje reflete luxo eelegância já foi terra de pequenasguerrilhas armadas, violência por posseindevida e um aspecto rural em toda suaextensão.

A área, com aproximadamente 36alqueires, pertencia ao Banco de Londres.“O Banco tomou posse de todo o terrenoporque o verdadeiro proprietário, umturco que não lembro o nome, não quitousua dívida. O que se comentava era que oturco devia cerca de 700 mil contos e não

pagou”, começa a narrativa a senhoraOndina, filha de Manoel.

A história da família tem início nasterras mineiras. “Meu pai era mecânico etambém cuidava da roça de um sítio.Trabalhava todos os dias da semana, comsol ou com chuva. Lembro bem dosofrimento e do cansaço de papai.Pensando em prosperar mudou-se paraSão Paulo, em Osasco, mas não seadaptou. Veio em busca de trabalho naCerâmica São Caetano. Foi o ponto inicialdas nossas vidas”.

Já com 18 anos, a primeiraresidência de Ondina foi à rua Perrela, emuma propriedade da família Cavassani.Depois, mudou para a rua Monte Alegre e,em seguida, para o Jardim São Caetano.“Papai era um funcionário exemplar daCerâmica, com reconhecimento do chefeArmando Arruda Pereira”.

Gerentes do Banco de Londres eramamigos de Armando e enfrentavamproblemas com invasores de terras, que

Fotos: Acervo/ Ondina Rezende Cunha

A filha Lúcia como avô ManoelRezende Santanae a mamãeOndina, quandojovem

Ondina com as filhas Lúcia, Giselda e Madalena

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resistiam e tomavam posse ilegalmente deboa parte do terreno. O Banco estava àprocura de um zelador para as terras esolicitou ao Armando de Arruda Pereira aindicação de um nome para preencher avaga. “Imediatamente, o senhor Armandoindicou o nome do mau pai, fornecendo asmelhores informações sobre seu caráter,dedicação ao trabalho e honestidade. Masnem imaginávamos o quanto a famíliadeveria ser forte”.

O Banco de Londres instalou afamília de Manoel em uma casa, ondeatualmente funciona a imobiliária da filhade Ondina, Lúcia Oliveira Leite. “Naépoca, éramos papai, mamãe, meusirmãos, Ormezinda e Edgar, e eu. Era1930, ano que o terreno do Banco deLondres passou a ser cuidado por papai.Ele enfrentou, corajosamente, os grileiros.Eles chegavam em grupos, armados enada amistosos. Queriam construir seusbarracos à força. Mas papai osexpulsava”.

Diante das repressões, a força dosposseiros diminuiu e a rotina de invasõesfoi desaparecendo. “Para manter a ordem,papai saía de casa às quatro horas damanhã e percorria toda a área do Banco deLondres”.

Manoel fez justiça à confiançadepositada por seu chefe, o engenheiroArmando de Arruda Pereira. Seu caráter esua força de vontade impediram queposseiros se apropriassem das terras. Suadedicação foi respeitada e reconhecida.“Papai recebeu o apelido de Anjo doBanco, pois homem nenhum havia sededicado a proteger aquela área”.

Ondina, com a família maistranqüila, casou-se com Luiz SantanaCunha. “Mesmo casada continueimorando na casa de papai e não perdi nemum minuto do crescimento do bairro”.Ondina refere-se ao início dosloteamentos. O Banco de Londres,

juntamente com aCompanhia City,acreditou nodesenvolvimentolocal e resolveucomercializar oslotes. “Para isso,o Banco construiu uma nova casa para afamília e destruiu a nossa para estabeleceros limites das áreas. Eu já estava comcinco filhas: Lúcia, Ligia, já falecida,Giselda, Madalena e a caçula Ruth, quetambém morreu”.

Para sobreviver, a família plantava evendia mandioca, criava porcos e vendialeite, ordenhado pelos membros dafamília. “A vida não era fácil. Tudo eramuito longe. No bairro havia poucas casase nenhum comércio. Tudo queprecisávamos deveria ser comprado a pé.Os dias de chuva eram os piores. Oscaminhos ficavam alagados”.

Com a morte da mãe, Ondina era obraço direito do pai no sustento e noscuidados com a família. “Com os lotesprontos, voltamos ao local onde foi nossaprimeira casinha. Com a ajuda do Banco,que cedeu todo o material, conseguimosuma boa casa. Minha filha Lúcia, jácasada, também construiu a sua e seumarido, Pedro Antonio de Oliveira Leite,torna-se o primeiro corretor oficial navenda de terrenos no Jardim São Caetano.Pedro morreu e minha filha Lúcia,atualmente, cuida da imobiliária”.

Grande parte das primeirasresidências contou com o apoio do Bancode Londres, que doou todo material deconstrução.

Ondina também enfrentou diasdifíceis. Com a morte do marido aos 44anos, Ondina foi obrigada a cuidar dascinco filhas. “Papai já estava aposentado.Ele sofria com os problemas do coração.Nosso sustento era a soma das vendas doleite, porcos e mandioca com o pouco que

Ondina e uma desuas paixões: as

flores

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papai recebia da sua aposentadoria”.A dor das mortes do marido e da

mãe transformou Ondina em uma mulherforte e valente. “Quem enfrenta a perda damãe, do marido e, depois, de duas filhassabe superar qualquer dificuldade. Sabecomo lutar. Encontrei força na religião, nafé”.

Foi assim que Ondina enfrentouseus dias. Passou a freqüentar,assiduamente, a Congregação Cristã. “Faz70 anos que freqüento a Congregação. Noinício, era um barracão na rua SantaCatarina. Ia a pé. Papai ainda chegou atocar clarinete na igreja e ensinou algunsjovens da Congregação a tocar. Se nãofosse a fé e a paz encontrada na igreja, nãoconseguiria enfrentar tantos dissabores docotidiano conturbado, do início daformação do bairro”.

Ondina, essa moradora histórica,fala com paixão do crescimento do JardimSão Caetano. “Tenho orgulho de poderestar viva e ver o quanto o bairro cresceu,se transformou e ficou um dos maisbonitos da cidade. As ruas tomaramforma, cada árvore, cada flor, de cadajardim eu vi crescer e florescer. Sei da lutade papai para que esse futuro pudesseacontecer”.

Os passeios

A vida de Ondina Rezende Cunhapreencheu-se das mais variadas formas detrabalho, lutas, amores e fé. Mas nada

impediu que Ondina tivesse seu tempo delazer. E uma de suas paixões era o cinema.Apesar da distância e do caminhocomplicado, ela colocava seu melhortraje, arrumava os cabelos com fitas emarcava presença no cinema.

“Dois grandes filmes não consigoesquecer. Lembro com detalhes dosfilmes King Kong e Fausto, com músicaslindas. Adoro música. Mas não ia aocinema para namorar. Papai só deixavasair entre irmãos e amigos”.

Dia e hora marcada para osnamoros. É assim que Ondina lembra dosseus dias junto com Luiz, que seria seumarido. “Meu marido, na épocanamorado, primeiro e único, recebeu asregras de namoro logo no início. Papaiestabeleceu as terças, quintas, sábados edomingos para o namoro. Às 21 horas,meu pai apontava para o relógio e pedia aoLuiz que fosse para sua casa”.

Outros passeios memoráveis efelizes fazem parte das lembranças deOndina. “Além do cinema, o circoaparecia às vezes no centro de SãoCaetano. Quando chegava era dia de festa.Tenho na memória os animais, o sorrisodos palhaços, o colorido da tenda.Acredito que o circo é mágico e por issoinesquecível”.

Ondina gerou cinco filhas, criou-as,viu-as casar, conviveu com as dores damorte, conquistou novos amores, porintermédio de seus l4 netos, 22 bisnetos ecinco tataranetos. “Reuni-los é uma festa,uma benção. Nossos encontros aqui noJardim São Caetano me fazem ver quepassado, presente e futuro da minha vidatem endereço certo: o terreno do Banco deLondres, o Jardim São Caetano”.

(Pesquisa e texto do Serviço de DifusãoCultural da Fundação Pró-Memória deSão Caetano do Sul)

Lígia (neta), Giselda(filha), Ondina,Lúcia (filha), Elda(neta) e Raquel(neta)

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Opersonagem deste texto não é nascidoem São Caetano do Sul, nem

tampouco tem pais ou parentes quefizeram a história da cidade. Mas é poramor que Cezar Estefano Espolador sedefine como filho e cidadão sul-sancaetanense. Aliás, já faz 67 anos queele mora na cidade e se dedica, desdeentão, ao crescimento de São Caetano doSul.

A história de Cezar EstefanoEspolador com São Caetano do Sulcomeça no fim de 1939. Nascido emMococa, no interior de São Paulo, em 9 dejulho de 1917, Cezar veio para a capitalcom 23 anos em busca de emprego(naquela época, era comum as pessoasvirem do interior do estado em busca deuma vida melhor na capital). “Morava emPresidente Bernardes e não queria maisficar naquela cidade. Precisava crescer navida, então resolvi vir para a capital.Estava parado na estação da Luz e escuteiuma voz vindo do guichê de passagens:‘São Caetano embarque na plataformatal.’ Vou ver onde fica essa cidade.Comprei a passagem e embarquei no trem.Cheguei em São Caetano e logo que descina estação fui parar na rua Perrela. Vi umponto de táxi e perguntei para o motoristaonde eu poderia arrumar um emprego?

Ele me respondeu que, se eu seguisseaquela rua direto, sairia nas IndústriasMatarazzo”, lembra.

Com um sonho na cabeça e avontade de vencer na vida, Cezar foi àsIndústrias Matarazzo. Lá chegandoencontrou um grande amigo de PresidenteBernardes. “Disse a ele que precisava deum emprego. Me levou no departamentopessoal da empresa e, no dia seguinte,comecei a trabalhar. Achei tudo muitobom por aqui, pois, no mesmo dia quecheguei, consegui um emprego, tirei meusdocumentos, arrumei uma pensão para meinstalar. Deu tudo certo. Pensei: ‘corritanto na vida, mas aqui é o meu lugar. Vouparar por aqui e ficar em definitivo’.Desde então, não saí mais de SãoCaetano”, diz.

D e p o i m e n t o s

Filho de São Caetanopor amor

Da esquerda para adireita, a segundaesposa de Cezar,Conceição AparecidaAntunes, Lúcia(sobrinha) e GracieteCastro (cunhada).Foto de 1937

Fotos: Acervo/Cezar Estefano Espolador

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Fazia só cinco dias que Cezarestava trabalhando nas IndústriasMatarazzo e seu encarregado lhe chamoupara conversar. Queria colocá-lo paratomar conta de uma seção com 50mulheres. “Não aceitei. Não queria ficarali. O serviço era muito pesado.Trabalhava de turno. Tinha de lavar asbobinas de fios de seda. À noite, ficava atécom os olhos inchados de tanto trabalhar.Aquilo não era para mim. Tinha profissãode marceneiro e pintor. Não precisavadaquilo”.

Quando Cezar foi até odepartamento pessoal pedir suas contas, oencarregado perguntou o motivo pelo qualele estava tendo aquela atitude. “Inventeiuma história e, por fim, ele me deu razão.Saí e arrumei serviço com um pintorchamado José Moretti. Trabalhei com eledurante três meses. Em um belo dia,

passei em frente a Texaco e vi que elesprecisavam de meio-oficial de pintor. Nodia seguinte fui até a empresa”, lembra.

Texaco

Chegando na Texaco, Cezarencontrou uma fila com mais de 30pessoas atrás da vaga. Ficou meiodesiludido, mas não desistiu. O chefe dodepartamento pessoal foi até a fila e disseàs pessoas: ‘vocês são candidatos a apenasuma vaga. Teremos de ir poreliminatória’. E assim foi até que Cezarficou com mais dois candidatos. “Fomosem três até o consultório do doutor SouzaPenteado, perto da General Motors.Fizemos o exame médico e eu fuiaprovado. Depois de três meses, meefetivaram”, conta.

Na Texaco Cezar ficou durantesete anos. Lá aprendeu muita coisa.“Desmontava as bombas de gasolina,pintava, montava de novo... Depois,mandaram um encarregado embora e mecolocaram no lugar dele. Foi um tempobom”. Com o fim da Segunda Guerra, em1947, Cezar pediu para sair da Texaco efoi trabalhar por conta própria. E assimtrabalhou durante 11 anos.

Depois desse período, Cezartrabalhou na Massari (metalúrgicapesada), na Bizelli, na Corona, voltou paraa Bizelli e se aposentou na Corona (nessaépoca, a empresa já era em Diadema), em1974.

A esposa

A vida amorosa de Cezar tambémteve algumas pedras no meio do caminho.Seu primeiro casamento durou poucomais de dois anos. “Casei-me com 20anos. Morava em Presidente Bernardes.Com minha primeira esposa tive doisfilhos: o Roberto e o Clarimério. Com 22anos, fui servir o exército no Mato

Em pescaria noMato Grosso, em1934, da esquerdapara a direita,Cezar e o contadorda empresa IrmãosBreme, dePresidenteBernardes

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Grosso. Lá, recebi uma proposta paramorar com a filha de um fazendeiro rico,mas não aceitei. Quando voltei paraBernardes fiquei casado só mais algunsmeses. Minha mulher foi embora e, atéhoje, não sei o que aconteceu”, lembra.

Mas esse homem batalhador nãose deu por vencido. “Sem mulher e semcasa fui à luta novamente. Arrumei depintar a casa de um homem chamadoCarlos Itassi Castro. Mas veja como são ascoisas. Foi exatamente lá que encontrei econheci minha segunda esposa, aConceição, com quem vivi durante 54anos. Com ela tive mais dois filhos: oEdson, que mora em Minas Gerais, e oEmerson, que mora em São Caetano”, diz.

Cezar tem profunda admiração poruma de suas noras: Margareth Gimenes,mulher de Emerson. “Ela é mais que umafilha. Me dá bronca, puxa minhas orelhas,mas não me deixa faltar nada. Vocêacredita que ela e o Emerson me fizeramuma festa surpresa esse ano (em 9 de julhoCezar completou 90 anos e foipresenteado com uma festa em PresidentePrudente, na qual estavam todos os netos,filhos, sobrinhos e outros parentes)?”,diz, com um sorriso largo nos lábios.

(Pesquisa e texto do Serviço de DifusãoCultural da Fundação Pró-Memória deSão Caetano do Sul)

Cezar, foto de 1942

Margareth Gimenes (nora), Nair Gimenes (mãe deMargareth), Raíssa (neta), Iano (neto), Emerson(filho) e Cezar em festa dos 80 anos

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Arelação que Antônio GuidoRampazzo, personagem destetexto, tem com as casas sul-

sancaetanenses Abrigo Irmã Tereza,que cuida de pessoas idosas, eAssociação Lar Escola IrmãoAlexandre, que atende criançascarentes, é uma verdadeira história deamor. Ele é considerado um dosfundadores das duas instituições, quesão as primeiras da cidade a dedicaramor e alegria àqueles que buscam umpouco de dignidade para viver.

Nascido em 30 de setembro de1914, na cidade de Dois Córregos, nointerior de São Paulo, próximo a Jaú,Antônio é filho de pai italiano e mãeportuguesa. Veio para São Caetanocom 24 anos, em 1938, depois deservir o Exército no Mato Grosso.“Vim para São Paulo em busca deemprego. Na minha cidade não tinhatrabalho. Meu pai tinha uma olaria etodo mundo da família trabalhava lá.Quando cheguei aqui pensei: ‘vamosvender tudo o que temos no interior emorar aqui’”, lembra.

E assim a família Rampazzofez. Antônio, hoje com 93 anos, contaque foi o primeiro a se mudar para SãoCaetano. “Eu vim primeiro e arrumeiemprego na Cerâmica São Caetano.

Como trabalhava na olaria do meu paifoi mais fácil arrumar emprego.Depois fui trabalhar na GeneralMotors. Foi difícil entrar lá porqueeles só contratavam estrangeiros.Além do mais, não tinha ofício.Aprendi a profissão de ofício aqui.Trabalhei até a Primeira GuerraMundial, em 1939. Quando começoua Guerra, a GM mandou todo mundoembora. Não tinha como manter afábrica funcionando, já que nãoexistiam peças para a gente trabalhar.Fui um dos últimos a sair. Então faleipara a minha mãe vir para SãoCaetano. Tinha medo que meusirmãos passassem fome em DoisCórregos”. Depois que saiu da GM,Antônio conseguiu emprego naDaimlerChrysler. “Fui chefe depintura lá”, lembra.

O início do Abrigo Irmã Tereza

Após o fim da Guerra,Antônio e seus oito irmãos já viviamem São Caetano. Começaram aperceber que existiam muitos idososnecessitados na cidade. Um dia,Alexandre, irmão mais novo deAntônio, disse: “vamos construir umasilo para abrigar essas pessoas”.

D e p o i m e n t o s

Triângulo amoroso:Antônio Guido Rampazzo,

Abrigo Irmã Tereza eLar Escola Irmão Alexandre

Antônio Guido Rampazzo emdepoimento realizado naFundação Pró-Memória

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Então, começaram a pensar no quepoderiam fazer para apaziguar osofrimento daqueles que não tinham o quecomer e nem onde morar.

De acordo com Antônio, ele e seuirmão Alexandre procuraram um grupo depessoas que tinha o mesmo objetivo. Juntocom Vitório Célio Montanheiro, JoséRosa, Antonio Parra, Raul Mazin,Guilherme Mattenhauer e Anelite BissoliMontanheiro buscavam recursos paraconstruírem estas duas casas que hojetanto servem à comunidade. “Foramtempos difíceis. Trabalhava durante asemana e, nos fins de semana, buscavarecursos para construir o asilo. Asarrecadações eram feitas de porta emporta, por meio de campanhas de rua,bingos e sorteios. Quantas vezesescutávamos que éramos vagabundos.Aquilo machucava, mas não desistimos”,conta Antônio.

Depois de muita luta, compraramum terreno de 2.500 metros quadrados narua Lourdes, no bairro Nova Gerti.Finalmente, em 12 de dezembro de 1949,foi lançada a pedra fundamental doAbrigo Irmã Tereza. E, em 25 de julho de1953, inaugurada a casa que atualmentetem capacidade para atender 115 pessoas.

A Associação Lar Escola IrmãoAlexandre

Mais novo que o Abrigo IrmãTereza, a Associação Lar Escola Irmão

Alexandre também tem as mãos deAntônio Guido Rampazzo. Fundada em31 de março de 1979, a instituição tem oobjetivo de abrigar crianças órfãs eabandonadas com características de umverdadeiro lar.

“Depois que conseguimosinaugurar o Abrigo Irmã Terezacomeçamos a buscar recursos para aconstrução da Associação Lar EscolaIrmão Alexandre. Gosto muito de criançase não podia aceitar que elas ficassemdesamparadas”, lembra Antônio.

Como toda grande obra começacom a primeira pedra, em 1976 foilançada a pedra fundamental em terrenocedido em comodato pela Prefeitura, nagestão do prefeito Walter Braido, comuma área de 7.293 metros quadrados. Apartir daí, iniciou-se uma verdadeirabatalha para angariar fundos por meio deeventos e campanhas de arrecadação emfrente a cinemas, igrejas e estádio.

“Sempre trabalhei para o bem.Sinto orgulho em dizer que estas casasforam construídas com o suor do meutrabalho. Me sinto responsável em poderdar um pouco de felicidade para os maisnecessitados”, diz Antônio, com lágrimasnos olhos.

(Pesquisa e texto do Serviço de DifusãoCultural da Fundação Pró-Memória deSão Caetano do Sul)

Inauguração danova ala Abrigo

Irmã Tereza, com apresença do prefeito

e demaisautoridades

municipais. Vê-se daesquerda para adireita: Oswaldo

Samuel Massei,Maria Braido eWalter Braido

Inauguração do AbrigoIrmã Tereza. Da esquerdapara a direita, emdestaque, FlorianoLeandrini, VitórioMontanheiro e esposa. Emsegundo plano, ao centro,João Azzi

Acervo/Fundação Pró-Memória Acervo/Fundação Pró-Memória

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Muitas pessoas ainda pensam que otime de futebol de São Caetano

surgiu em 1989, quando a AssociaçãoDesportiva São Caetano foi fundada, em 4de dezembro. No entanto, os antecedenteshistóricos do esporte mais popular doBrasil em São Caetano do Sul são dignosde registro e admiração.

No início do século passado, maisprecisamente no dia 1º de maio de 1914,surgia o São Caetano Esporte Clube,primeira agremiação que levava o nomeda cidade em sua bandeira. O maior feitodesse clube aconteceu em 1928, quando otime de futebol amador conquistou o títulode Campeão Estadual do Interior,vencendo a equipe do Botafogo deRibeirão Preto.

Depois do São Caetano EsporteClube, a cidade teve várias outrasagremiações, como o Clube AtléticoMonte Alegre, de 1917; o Cerâmica SãoCaetano Futebol Clube, de 1925; oGeneral Motors Esporte Clube, fundadoem 1935; o Atlético Vila Alpina, que teveuma vida de 30 anos, entre 1936 e 1966; aAssociação Atlética São Bento, quesurgiu da fusão do São Caetano EsporteClube e do Comercial Futebol Clube deSão Paulo, em 1954; o Saad EsporteClube, que foi fundado em 1961; e oTransauto Futebol Clube, que teve apenas

um ano de vida, de 1965 a 1966. Masnenhum desses levava o nome da cidadena camisa, muito menos tiveram seusnomes conhecidos na primeira divisão dofutebol estadual, exceto o Saad que, em1973, conquistou o Torneio dos Dez eteve acesso à elite do futebol paulista,permanecendo por dois anos.

Amantes da cidade e do bomfutebol não se conformavam que SãoCaetano não tivesse uma equipe paraostentar o nome da cidade em sua camisa.Sentiam-se esquecidos, mesmo tendo noSaad jogadores que ganharam do Santosde Pelé, na Vila Belmiro. Para esse grupode empresários, comerciantes e pro-fissionais liberais sul-sancaetanenses eramuito pouco torcer pelo Saad. Elesqueriam um time que ficasse marcado nahistória.

Primeiro presidente doSão Caetano Atlético Clube

Foi com essa idéia fixa na cabeçaque, em 13 de janeiro de 1972, esse grupode amigos, formado por 50 pessoas,fundou o São Caetano Atlético Clube.Luiz Mori, nome conhecido no meioesportivo naquela época e que esteve àfrente do Jabaquara, no bairroProsperidade, e do 7 de Setembro, no

E s p o r t eFabiana CHIACHIRI (*)

um nome que fezhistória no futebol de São CaetanoLuiz Mori:

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bairro Olímpico, foi eleito o primeiropresidente do clube. “O sonho do meu paiera ver o nome de São Caetano na elite dofutebol. Infelizmente, ele não conseguiuisso, já que morreu em fevereiro de 1973.No entanto, credito muito do sucesso daatual Associação Desportiva São Caetanoa ele, pois depois do São Caetano EsporteClube, a única agremiação que levou onome da cidade foi a do São CaetanoAtlético Clube. Tenho certeza que, se meupai estivesse vivo, ele estaria envolvidocom o AD São Caetano, já que adoravafutebol”, diz Newton Mori, filho maisnovo de Luiz Mori.

A primeira diretoria do SãoCaetano Atlético Clube era formada porJosé Alt, vice-presidente geral; GeraldoPrates, vice-presidente esportivo; MárioClementino Moreira, vice-presidentesocial e cultural; Nicolino Pucetti, vice-presidente recreativo; João Batista deToledo, secretário; Celso Mendes PuppoNogueira, segundo secretário; CarlosPaez, primeiro tesoureiro; ManoelCardeña Lucas, segundo tesoureiro;Antônio José Dall’Anese, diretor geral deesportes; José Jaime Tavares Soares,diretor de relações públicas; e AntônioJúlio Pedroso de Moraes, diretor deimprensa e propaganda. A festa da posseaconteceu em 2 de junho de 1972, nosalão do Clube Patropi, na rua SantoAntônio, no centro de São Caetano. “Meupai estava extremamente feliz. Foi tudomaravilhoso. Para ele, aquele momentofoi muito importante”, lembra Newton.

O texto, escrito no verso doconvite, dava uma impressão de quantoaqueles amigos amavam a cidade.

Criado para desenvolver eincrementar a prática de todos osesportes, o São Caetano Atlético Clubetem por finalidade a montagem de umagrande equipe de futebol profissional e

para isso já está ativamente trabalhando,realizando treinos de seleção entre osatletas amadores da cidade, da região ede todo o estado, desde o último dia 13 demaio. O objetivo é a disputa da primeiradivisão de profissionais e a ascensão àdivisão especial.

Uma das primeiras tentativas deter o nome de São Caetano no futebol foidialogar com Felício Saad, presidente doSaad Esporte Clube, para fundir os ideais.Luiz Mori tentou convencer o empresárioSaad que a melhor coisa para a cidade erater um time com o nome de São CaetanoEsporte Clube ou São Caetano FutebolClube. “O Luiz Mori fez de tudo para queisso se tornasse realidade. Foram muitas

Convite para aposse da primeira

diretoria do SãoCaetano Atlético

Clube. A festaaconteceu no salão

do Clube Patropi, nocentro de São

Caetano

Reprodução/Fundação Pró-Memória

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reuniões e conversas, mas não houveacordo. Meu pai tinha conseguido estádio,apoio de empresários, mas nadaconvenceu o senhor Felício. Até mesmoos jornais que existiam na épocaapoiavam a idéia de ter uma equipe com onome da cidade na camisa, mas o Saad foiirredutível”, lembra Newton.

Apesar de não conseguir unir asforças, Luiz Mori não desistiu de ver oSão Caetano Atlético Clube na elite dofutebol. Depois de fundar o clube,começou a luta para angariar dinheiro eformar uma equipe de ponta. “Fazíamosfestas, rifas, bingos... Buscávamosdinheiro de porta em porta. Tudo com oobjetivo de contratar profissionais paratransformar o São Caetano Atlético Clubeem uma agremiação conhecida”, dizNewton.

A primeira equipe

Depois de muitas festas e reuniões,no dia 12 de abril de 1972 foi realizada aprimeira peneira para a escolha de nomes

que comporiam a equipe. Sob acoordenação do diretor de EsportesAntônio José Dall’Anese, do técnicoWalter Rocca e do preparador físicoNelson Perdigão, mais de 120 jogadoresde vários times amadores da cidade, alémdos 15 atletas que integravam a seleção domunicípio, compareceram ao campo doCerâmica Futebol Clube. Foramescolhidos 40 jogadores, que passaram atreinar duas vezes por semana no campodo Estádio Distrital Natale Cavalheiro, nobairro São José.

Com a equipe pronta, o SãoCaetano Atlético Clube saiu para jogar.“Mas o maior problema é que não tinhadinheiro para bancar esse pessoal.Quantas vezes vi meu pai e muitos outrosdiretores e conselheiros do clube colocar amão no bolso dentro do vestiário parapagar os atletas. Todos queriam ver o SãoCaetano na elite do futebol, mas isso nãoaconteceu. Não existia apoio do poderpúblico e de grandes empresas comoacontece hoje. Eram os próprios diretorese conselheiros que custeavam tudo. Íamos

O estádio Lauro Gomes deAlmeida, atual Anacleto

Campanella, foi o objetode desejo do São Caetano

Atlético Clube. Em 1971, opresidente do SCAC

conquistou o espaço. Nafoto vemos, da esquerdapara a direita, Ivanhoé

Spósito, o prefeitoOswaldo Samuel Massei e

Luiz Mori

Acervo/Fundação Pró-Memória

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viajar para lá e para cá às custas dadiretoria do clube. Não tínhamos apoio deninguém. Hoje o time do São Caetano estáonde está porque tem apoio da Prefeiturae de empresários”, afirma Newton.

Os primeiros jogos

O primeiro jogo do qual o SãoCaetano Atlético Clube participou foicontra a equipe da Associação AtléticaAlumínio, da região de Sorocaba, em 11de junho de 1972. O jogo terminouempatado em 0 a 0. Jogaram pelo SãoCaetano: Português, Nico, Dadinho,Colete, Miranda, Zé Luiz, Zé Carlos,Guilherme, Douglas, Tchê e Reginaldo.Também atuaram Biba, no lugar deGuilherme; Paulinho, no lugar de Tchê; eSapinho em substituição a Reinaldo.

Outros jogos-treino foramrealizados pelo Caetanão, como a equipeficou carinhosamente conhecida. Mas aemoção e empolgação da torcidaexplodiram mesmo em 20 de agosto de1972, quando o time do São Caetanoestreou, oficialmente, em um jogoamistoso contra o Santo André, realizadono estádio Lauro Gomes de Almeida, oatual Anacleto Campanella. O jogoterminou empatado em 1 a 1. Atuarampelo São Caetano: Claudionor, Nico,Dadinho, Coleti, Miranda, Zé Luiz, ZéCarlos, Biba, Sauá, Paulinho e Sapito. Nobanco, ficaram os reservas: Português,Mayer, João Flávio, Douglas, Guina eJairo. O técnico daquele jogo foi ArnaldoRazante.

O Jornal de S.Caetano, fervorosoapoiador na criação e campanha do SãoCaetano Atlético Clube, publicou em suaspáginas, na edição de 26 de agosto, umtexto que colocava a responsabilidade dacontinuidade da equipe nas mãos de todosos sul-sancaetanenses:

Continuar, robustecer econsolidar o São Caetano Atlético Clubeé tarefa de todos os esportistas, de toda acidade. Ajudar no princípio, dar oprimeiro impulso, é tarefa do poderpúblico. Continuar é tarefa de todos nós.

O campo

No início de 1971, após a posse dadiretoria do São Caetano Atlético Clube,Luiz Mori, então presidente daagremiação, foi em busca de um campopara a futura equipe treinar e jogar. Naépoca, o prefeito de São Caetano eraOswaldo Samuel Massei.

Em uma das negociações, LuizMori foi até o estádio Lauro Gomes deAlmeida (atual Anacleto Campanella),acompanhado do amigo Ivanhoé Spósito,para negociar com o prefeito Massei. “Foio começo de tudo. Meu pai tentavanegociar a liberação do campo, que era daprefeitura, para o time treinar. Eleconseguiu o espaço e ficou muito felizcom a conquista”, diz Newton.

(*) Fabiana Chiachiri, jornalista

Atualmente, a equipede futebol mais

conhecida da cidadeé a da Associação

Desportiva SãoCaetano, fundada em

1989. Em 2000 e2001, a equipe,carinhosamente

chamada de Azulão,foi vice-campeã

brasileira de futebol.Foto de dezembro de

2001

Foto: Yoji Agata/Tribuna do ABCD

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C r ô n i c a s & C a u s o s

AAAAAAqueles que tiveram a paciência deler alguma crônica, queescrevemos em Raízes anteriores,

já sabem que as nossas raízes estão nobairro Fundação. Lá nascemos epercorremos a infância na rua Ceará, naépoca em que todos conheciam todos quelá moravam. E, se alguém era novo nopedaço, que tratasse logo de se apresentaraos vizinhos, pois a pior coisa que umapessoa recém-chegada poderia receber erao fato de ser ignorada, excluída. Pior doque isso só mesmo se a galeraconsiderasse o novo morador persona nongrata, aí, meus amigos, não adiantavanem saber os motivos, porque a vida deleiria ser muito difícil e a permanênciamuito curta.

Não estamos querendo levantar ahipótese de que havia injustiça naavaliação das pessoas, pelo contrário, asabedoria popular julgava entre gente dobem e gente do mal com muito critério ebom senso, levando-nos a ser muito gentiscom os bons e extremamente rigorososcom os marvados. Do alto de suaprudência todos achavam que os recém-chegados tinham a obrigação de aceitar, seadaptar e compartilhar das normas nuncaescritas, mas sempre respeitadas pelosmoradores antigos ou novos do feudo.

E, por falar em normas e feudo, ébom lembrar que havia, por parte damaioria, uma espécie de conhecimento erespeito pelo papel de cada um naconvivência diária. Isto significava que aspessoas tinham a obrigação deconhecerem as características, umas dasoutras, para encontrar a forma de sefamiliarizar com os costumes e o jeitão davizinhança.

Tudo isso funcionava muito bematé o momento em que entrasse em cenauma emoção exagerada, na hora errada,com as pessoas erradas, em dia de luaerrada.

Vocês entenderam tudo, menostalvez a lua errada, não é? Pois acreditemque os antigos associavam ocomportamento de certas pessoas com asfases da lua. Assim, se alguém tivesse ummodo de ser instável, imprevisível, oratranqüilo, ora agitado, os outros já orotulavam com o título de ele é da lua.Muito tempo depois surgiu umaexpressão, cujo significado também serviaa esse propósito, e que logo foi sendoesquecida: ele ou ela é figurinhacarimbada. Esta alusão tinha a ver com osálbuns em que se colecionavam figurinhas(normalmente de jogadores de futebol),onde as mais difíceis de conseguir, porque

Batalha no Bairro da Fundação

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eram editadas em pequena quantidade,vinham com um carimbo e, na maioria dasvezes, eram dos jogadores consideradosmelhores.

Mas voltemos às pessoas da ruaCeará, especialmente, às de lua ou àsfigurinhas carimbadas.

Numa das casas, a famíliacomposta de casal e cinco filhos, genteboa e tranqüila, tinha duas exceções: airmã mais nova, na ocasião em que vamosfocar esta estória, tendo uns 20 anos deidade, e o irmão mais velho, com 35 anos.Ela tinha doença mental, que, graças àfalta de conhecimento generalizado sobreas várias patologias desse gênero,resultara no carinhoso apelido delouquinha, o que por si só já explica acitada exceção. O irmão mais velho, porsua vez, não tendo nenhum desequilíbriomental, mas tendo gênio forte, foraenquadrado na classe dos de lua.

Um belo dia (expressão típica decrônica, mas falsa, pois estava cinzento eameaçando chuva), logo de manhã, alouquinha era uma das poucas pessoasque estava na rua. O outro personagemque estava lá fora era um menino de seus6 anos, filho único dos vizinhos quemoravam na casa do outro lado da ruaCeará, bem em frente à da família dalouquinha.

É preciso esclarecer que essa moçacom problemas mentais morava com afamília e, freqüentemente, andava sozinhapela rua, não só porque isso era comum naépoca, devido ao reduzido número delocais destinados a esse tipo de doentes,mas também pela falta de condiçõesfinanceiras das famílias. Acrescen-taríamos, ainda, o fato de ela ser calma, namaior parte do tempo e, em certosmomentos, até afável com os outros.

Mas, naquele dia, com o tempomeio esquisitão, a fase da lua não muitofavorável, as pessoas erradas, nos lugares

errados e na hora errada, só podia darconfusão.

O menino foi mexer com ovespeiro e provocou, com a irreverênciaprópria de sua idade, a louquinha, quesaiu correndo atrás dele. A Ceará era umarua de terra e pedriscos de forma que, emdado momento, a louquinha em suatresloucada carreira apanha uma pedra,não tão pequena, e a arremessa na direçãodo garoto. A pontaria foi coisa de louco,uma vez que a pedra acertou bem nococuruto do menino, que desencadeouberros amplificados vindos do fundo dospulmões para que toda a rua ouvisse elogo buscasse portas e janelas para saberse o tamanho do estardalhaçocorresponderia à expectativa dacatástrofe.

O garoto entrou correndo em suacasa com um filete de sangue jáescorrendo da cabeça ao peito,manchando imediatamente a camisetabranca.

A mãe do menino deixou-o aoscuidados da avó em sua casa e saiu aosgritos que ecoavam pela rua Ceará e pelobairro Fundação anunciando, aos que nãosabiam o que havia acontecido, o quadrodramático e traumático.

A louquinha, assustada, entrara emsua casa, que já assinalamos era defronte àdo menino. Ela, obviamente, não tinhacondições de explicar nada. Por outrolado, o menino já havia chegado berrandoà mãe e à avó que ele, sem ter feito nada,sofrera a covarde agressão.

Está faltando adicionar à estóriauma figura essencial, que era o pai domenino. Encanador, caçador, mentiroso emetido a valente, apesar de franzino.Precisa mais?

A mãe do menino gritava pela rua,e depois parada na frente da casa dalouquinha, que o garoto estava muito male, ao mesmo tempo, bradava que o seu

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marido, no final do dia, quando chegassedo trabalho, iria partir para uma vingançaimplacável.

O decorrer daquele dia na ruaCeará foi algo épico a partir do momentoem que a vizinhança delineou o cenáriocriado pelas circunstâncias.

De um lado, o pai do menino, dequem se poderia esperar qualquer atitude,lógica ou absurda, ponderada ou violenta.

Do outro lado, o irmão mais velhoda louquinha, caminhoneiro, homem decompleição física notável (hojesimplesmente sarado) e cara de poucosamigos.

Na primeira hipótese, a vizinhançavislumbrou uma briga, tipo vale-tudo, nomeio da rua e na frente das duasresidências ao final da tarde.

Numa segunda alternativa,alimentada pelos comentários dospróprios componentes das duas famíliasenvolvidas, haveria um enfrentamentocom armas, já que tanto o caminhoneiroquanto o encanador eram chegados noassunto. O encanador porque era caçadore o caminhoneiro porque era colecionadorde armas.

Daí para frente tudo passou para oterreno das especulações, ou melhor, dasfofocas. Alguém lembrou do tamanho dofacão que o caçador possuía e com o qualmatava porcos para fazer lingüiça de vezem quando.

Outro já desbancava qualquerpossibilidade de utilizar o facão contraalguém como o caminhoneiro, que pareciadispor de vários tipos de armas, emboranunca ninguém tivesse visto, mas todosouviam falar.

De manhã até à noite não secomentava outra coisa na rua. Com opassar do tempo e a aproximação dohorário de retorno do trabalho, todas asnuances foram pensadas, todas asalternativas do embate avaliadas, enfim,

toda a criatividade extravasada, numacrescente escalada de violência quesomente a imaginação da vizinhança e osvideogames de hoje poderiam desenhar deforma virtual.

Próximo das seis horas da tarde,ninguém mais ousava sair à rua. As mãesjá haviam providenciado que as criançaspermanecessem dentro de casa, bem comooutros filhos que chegassem mais cedo dotrabalho.

O clima de briga, de luta, debatalha, estava no ar, combinando com océu carrancudo. As pessoas estavam compresença física em casa, mas com olhos ecabeça voltados para a rua na direção dasduas casas, à espera do duelo próprio dosfilmes de bang-bang, tão apreciados naépoca.

Eis que chega primeiro oencanador que, por ser mais fracofisicamente, decidiu marcar logo de carauma posição ofensiva. Entrou e logodepois saiu à porta de sua casa com a suamelhor espingarda de caçador e fezexibidas demonstrações, tanto de comoengatilhá-la quanto de fazer caprichadamira na direção da casa da louquinha.

Aguardava-se a qualquer momentoe com incontida ansiedade a chegada docaminhoneiro, de quem se esperava, nomínimo, alguma arma da coleção quesuperasse a espingarda do encanador.

Como se tudo estivesse devida-mente orquestrado pelo céu, quanto aohorário, ao volume, à intensidade, àduração e às conseqüências, eis quedesaba uma chuva monumental que, apósalgumas horas, colocara todo o pessoal darua Ceará e adjacências de prontidão e, emseguida, em mutirão. Era o salve-se-quem-puder das famosas enchentes do rioTamanduateí, que atingiam preferen-cialmente as conhecidas casas doMatarazzo, ali do ladinho. E, onde antesse imaginara um palco montado para a

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violência, agora só restara lugar para asolidariedade.

Ao se juntarem todos, incluindo afamília da louquinha e a família domenino, na mútua colaboração parasuperar os problemas da grave enchente,como que por encanto, a chuva lavou asmáguas (combinação de mágoas comáguas).

No dia seguinte, já sem chuva, asdonas-de-casa ajeitavam o lamaçal da ruaCeará em frente de suas casas. Enquantoisso, o menino brincava, sem qualquercurativo na cabeça, colocando barro sobreo seu caminhãozinho de madeira. Alouquinha, com uma faixa de gaze naperna, que torcera ao entrar correndo em

casa após a famosa pedrada, calmamenteassistia a tudo, sem entender nada domundo dos que se achavam não-loucos.

A diferença daquele tempo para osnossos dias é que lá atrás o pessoalprometia violência da boca para fora, masdepois, ao primeiro apelo em favor dopróximo, lá estavam todos dispostos aajudar. Isto queria dizer que o número debandidos ou gente do mal era pequeno.

Que saudades daquele tempo,daquela rua, daquelas armas que quasenunca tiravam vidas!

Como comparar com este tempo,estas ruas, estas armas e com estas balasperdidas? (João Tarcísio Mariani)

““““““OOOOOObilontra abusou dahospedagem e da amizadeque lhe dispensavam.

Ofereceram-lhe uma xícara de café e quislogo um beijo. A mulher, um desses tiposque vai rareando, ficou indignada. E,ameaçada, contou ao marido. Este, najusta revolta que o fato lhe provocara naalma e no instinto, esperou, dissimulou efoi às de cabo, com quatro tiros derevólver.

Nunca um beijo teria custado tãocaro!

Sabemos, da história da política eda diplomacia, de beijos que têm mudadoo destino de impérios, assim como os deHelena de Tróia, os de Cleópatra, daDomitila de Castro, a linda e trêfegaMarquesa de Santos. Mas este beijo, que

deveria, como todos os outros, representaro amor, fonte da vida, gerou a morte, emorte violenta e sem beleza.

O progresso da civilização estámudando o sentido das cousas nobres emais belas que a vida tem para nosembalar. Beija-se por capricho e morre-se, pouco depois, indignamente. Pontoróseo sobre o “ï” do verbo “aimer” – disseRostand. Para o infeliz leiteiro de SãoCaetano do Sul, foi ponto rubro final no“i” de uma vida mal vivida.

Uma tragédia terrível, cujabrutalidade faz com que a nossa condiçãode homens seja, num instante, diante dosanimais, um motivo de vergonha paranós.” (Crônicas da Cidade - ReproduçãoJornal de São Caetano, 17 de fevereiro de1951, matéria de Carlos Louzada)

Quatro tiros por um beijo

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EEEEEEstes são os dizeres de uma placaafixada na fachada da casa 184 daRua Goiás, aqui em São Caetano.“E verdade mesmo, é para meu

filho”, disse o sr. Nicola M., proprietáriodo referido prédio.

Felício, como se chama o rapaz, éaposentado depois de ter trabalhado 15anos em uma fábrica de bebidas. Umacidente alijou-o do serviço tornando-oincapaz para os trabalhos normais. O pai,com 73 anos, sofre do fígado e doestômago e a mãe não enxerga nada bem.Morando os três sozinhos em uma casa,precisam de alguém que cuide deles, desuas roupas, da comida e da casa.

Diz o sr. Nicola que não fazquestão de beleza, de raça, de cor outamanho. Não pode ser é muito jovem.Uma candidata de 29 anos, a primeira quese apresentou, não foi aceita. Pode serinclusive viúva, basta não ter filhos.

A candidata deve fazer um

compromisso, além de casar com oFelício. Deve comprometer-se a cuidartambém dos dois velhos e a continuarmorando na mesma casa enquanto algumdeles viver. Será um compromisso porescrito que lhe dará direito a uma casadecente e honesta, além de uma apreciávelherança.”(Crônicas da Cidade - Reprodução Jornalde São Caetano, 28 de abril de 1961)

"Procura-se uma mulher de35 a 45 anos para casarcom rapaz de 45 anos,

boas referências".

" Procura-se uma esposa"

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M e m ó r i a F o t o g r á f i c a

Foto tirada em 2 de fevereiro de 1962, em frente à Matriz Sagrada Família, após a celebração da missa dos formandos de DesenhistasProjetistas da Escola de Tecnologia 28 de Julho, hoje Escola de Desenho. Foram identificados: da esquerda para a direita, primeira fila:Roque Almendra, Paulo Stoeco, Cristovam Romero, José B. Pra, (?), (?), Paulo Toth, (?), (?), Sebastião M. Escada e (?). Segunda fila:Moacir Gritti, Darci Ferreira, (?), Fermin V. Ivorra, Arcílio Madella, Rubens B.Gerrero, Sergio Korolkovas, Helio Gallo, FernandoMinguini, Bonaventura Frare, Edwin Lüscher, (?), (?). Terceira fila: (?), (?), Dionísio Missio, (?), Walter Martorelli, Alaercio Caneo,Maurício Chitero, (?), José D. Balaguer e (?)

Acervo/Bonaventura Frare – Foto Guerrero

Fachada da antiga Padaria e Confeitaria Central, na década de 1940. O estabelecimento, que pertencia àfamília Morelatto, localizava-se na avenida Conde Francisco Matarazzo

Acervo/Fundação Pró-Memória

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Dois flagrantes da rua Heloísa Pamplonaem dia de feira, em outubro de 1939

Acervo/Fundação Pró-Memória

Cerimônia de juramento à bandeira da 1ª turma de reservistas do Tiro de Guerra 277, de São Caetano do Sul, no dia 16 de abril de 1952,em frente à Igreja Matriz Sagrada Família. Foram identificados: Prof. Benedito de Moura Branco, Ângelo Raphael Pellegrino (entãoprefeito de São Caetano do Sul), Padre Ézio Gislimberti, Daniel Giardullo, Bruno Bisquolo e José Bonifácio de Carvalho

Acervo/Fundação Pró-Memória

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Visita do prefeito Oswaldo Samuel Masseiao Rotary Clube de São Caetano do Sul. Naocasião, Massei discursou sobre o sistemaviário municipal e foi saudado pelopresidente da entidade (gestão 1971-1972),Mustapha Abdouni, que aparece emprimeiro plano, ao centro. À esquerda deAbdouni, Sebastião Sampaio de Assis. Aofundo, da esquerda para a direita, foramidentificados: Oscar Leite, Jordano PedroSegundo Vincenzi e Urames Pires dosSantos

Acervo/Fundação Pró-Memória

Acervo/Fundação Pró-Memória

Acervo/Fundação Pró-Memória

Em 17 de outubro de 1979, SãoCaetano recebeu o governador doRotary Clube Distrito 461 de São

Paulo, Eulógio Emílio Martinez, e suamulher, Olga Martinez. Na ocasião, a

primeira dama do município, MariaDulce Cerqueira Leite, e as rotarianas

acompanharam Olga Martinez navisita à Fundação Municipal Anne

Sullivan

Da esquerda para a direita: JosefaFiletti, Walley Cavalheiro, YolandaFiletti e Alice Filetti, em foto de1946. Ao fundo, o antigo Armazémde Secos e Molhados Monte Alegre

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Parque de diversão na esquina dasruas Visconde de Inhaúma eCavalheiro Ernesto Giuliano, nadécada de 1950

Esquina das ruasAlagoas e Santo

Antônio, na décadade 1950

Acervo/Antônio Rodriguero

Acervo/Fundação Pró-Memória

Acervo/Fundação Pró-Memória

Entrega de certificados às turmas queconcluíram os cursos de formaçãodoméstica no CAD 9 (Centro deAprendizagem Doméstica), do Sesi (ServiçoSocial da Indústria), na sede do Clube doTrabalhador nº 4 (rua Santa Catarina, 25).Discursando em nome das colegas, LourdesManzini. Ano de 1955

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Jantar de recepção às autoridades doGabinete Civil da Presidência da República,que visitaram obras educacionais de SãoCaetano, durante a primeira gestão municipalde Hermógenes Walter Braido (1965 - 1969).Da esquerda para a direita: Oscar Garbelotto(então diretor de Educação), Elizabete PardiGarbelotto, Wilma Musumeci e ClaudioMusumeci (então diretor da FazendaMunicipal)

Acervo/Fundação Pró-Memória

Antiga Praça dosEstudantes, na esquinada avenida Goiás coma rua Goitacazes, emmeados da década de

1960

Esquina da avenida Conde FranciscoMatarazzo com a rua SerafimConstantino. Foto de 14 de outubro de1937. Destaque para o edifício queabrigou a papelaria Ao Carioca. Àesquerda, prédio no qual funcionou aCasa Weigand

Acervo/Fundação Pró-Memória

Acervo/Fundação Pró-Memória

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Em 23 de abril de 1974, o consagradojornalista Joelmir Betting proferia palestra noTeatro Paulo Machado de Carvalho, a convitedo IMES. Da esquerda para a direita: prof.Fernando Contro, Cláudio Musumeci(Ass.Financeiro da Prefeitura), Joelmir Betting,prof. Oscar Garbelotto (diretor do IMES), prof.Argemiro de Barros Araújo e prof. ClaudioDall’Anese (vice-diretor do IMES)

Acervo/Oscar Garbelotto

Acervo/Oscar Garbelotto

Em 22 de março de 1968, ocorreu ainauguração do Centro Educacional

Bosque do Povo. Em destaque o prefeitoHermógenes W. Braido, discursando,

deputado estadual Oswaldo SamuelMassei, governador Abreu Sodré eesposa e Maria Braido, esposa do

prefeito

Entrada da Relojoaria Gallo que, naépoca, se localizava na rua ConselheiroAntônio Prado, 266. Da esquerda paraa direita: Tihany Tereskovae, ManoelTiburtino e Irineu Gallo. Foto do fimda década de 1960

Acervo/João Gallo

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Público no Teatro Santos Dumontdurante a apresentação da peçaQuatro num Quarto, em 22 de julho de1963. O espetáculo integrou aprogramação dos festejos do 86ºaniversário da cidade

Acervo/Fundação Pró-Memória

Grupo de amigos de SãoCaetano, em foto de 1941. Daesquerda para a direita: José

Bellotti dos Santos, OscarCosta, Mário Dal´Mas eAccacio Spachacquercia

(sentado)

Acervo/José Bellotti dos Santos

Funcionários da FerroEnamel S.A, no pátio daempresa, em 1944. Daesquerda para a direita: JoséBellotti dos Santos, MárioPorfírio Rodrigues eHamilton Vareda

Acervo/José Bellotti dos Santos

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Acervo/Fundação Pró-Memória

Entrada do antigo CineUrca (rua ManoelCoelho) durante umcarnaval da década de1950

Maria Ferrante, Giuseppe De Martini eRicardo Ferrante, em foto tirada na rua

Engenheiro Rebouças, em 1948

Construção do antigo Parque Infantil JoséMariano Garcia Júnior, na rua Flórida. Foiinaugurado no dia 25 de julho de 1959

Acervo/Fundação Pró-Memória

Acervo/Fundação Pró-Memória

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R e g i s t r oPaula FIOROTTI (*)

Depois de promover a exposiçãoCiesp: 50 anos em São Caetano, quecirculou por vários espaços da cidade, aFundação Pró-Memória, em parceria coma Delegacia Municipal do Centro dasIndústrias do Estado de São Paulo, lançou,no dia 8 de novembro, o livro Daschaminés à Robótica: 50 anos do Ciespem São Caetano.

Organizado pelo jornalistaAleksandar Jovanovic, a publicaçãointegra o Projeto Editorial da Pró-Memória e celebra o Jubileu de Ouro doCiesp em São Caetano. Em 120 páginas, oautor narra a trajetória da entidade e traça

um panorama da evolução histórica eeconômica da cidade e do país desde adécada de 1950 até a atualidade.

Ilustrado com fotografias deeventos promovidos pelo Ciesp e suasparticipações em convenções, além deimagens da cidade, o livro apresenta 11testemunhos, entre eles os de seismembros da primeira diretoria daDelegacia Municipal.

Imagens das comemorações docinqüentenário também fazem parte dapublicação, que ainda traz relações dosmembros de todas as gestões da diretoriado Ciesp, desde 1957.

Publicações

Das chaminés à Robótica:50 anos do Ciesp em São Caetano

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Exposições

Ciesp: 50 anos em São Caetano do Sul

A Fundação Pró-Memória de SãoCaetano do Sul abriu, dia 22 de maio, aexposição Ciesp: 50 anos em São Caetanodo Sul, no Campus II da UniversidadeImes. A mostra foi uma homenagem aocinqüentenário da Delegacia Municipal doCiesp (Centro das Indústrias do Estado deSão Paulo).

Por meio de imagens do Centro deDocumentação Histórica da Pró-Memóriae do acervo pessoal de antigos associadosdo Ciesp, foram retratados os primeiros

anos de atividades do Ciesp local. As 23imagens mostraram os primeirosconselheiros e diretores, flagrantes departicipações em eventos importantes,como as Convenções dos Industriais doInterior, e outros encontros.

A exposição ficou em cartaz noCampus II da Universidade Imes até o dia30 de junho. Em seguida, ela passou peloCampus I (16 a 31 de agosto) e pelaAssociação Comercial e Industrial de SãoCaetano do Sul (2 a 31 de julho).

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A Fundação Pró-Memóriacelebrou o Dia das Mães por meio daexposição Eternamente Mães, abertano Salão de Exposições II, no EspaçoVerde Chico Mendes, no dia 31 demaio.

Reunindo 28 imagens doCentro de Documentação Histórica dainstituição, a exposição mostroualgumas mães de antigamente emsingelos momentos com seus filhos.Imagens das décadas de 1920 a 1950retrataram a mulher no papel de mãe.Fotos mais recentes, dos anos 60 e 70,apresentaram comemorações oficiaisda data na cidade.

Eternamente Mães aindatrouxe um pequeno histórico sobre aorigem do Dia das Mães no mundo equando foi comemorado pela primeiravez no Brasil. A exposição ficou noSalão de Exposições II até 31 dejulho.

De 19 de julho a 15 de setembro,quem visitou o Museu HistóricoMunicipal fez uma verdadeira viagempelas mais belas paisagens do Brasil e domundo com a exposição Viajando peloMundo: Cartões-postais de Ontem e deHoje .

Havia cartões-postais de todos osEstados brasileiros na exposição,

divididos por regiões. A jornadacontinuou, passando por todos oscontinentes do mundo. Mais de 2 milpostais foram expostos em sistema derodízio.

A mostra reuniu cartões-postaisnovos e antigos, especialmente da décadade 1940. A curiosidade ficou por conta depostais de países desconhecidos da grande

Eternamente Mães

Viajando pelo Mundo:Cartões-postais de Ontem e de Hoje

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A Fundação Pró-Memória de SãoCaetano do Sul abriu no dia 3 de agosto aexposição Pai Herói, no Salão deExposições II, no Espaço Verde ChicoMendes, em comemoração ao Dia dosPais, celebrado no segundo domingo deagosto.

O Dia dos Pais surgiu nos EstadosUnidos em 1910. No Brasil, a primeiracomemoração foi em 1953. As 27imagens da mostra retrataram momentosde afeto e amor, e também cenascotidianas entre pais e filhos. Haviaflagrantes de todas as décadas naexposição. As fotografias mais antigaseram do início do século passado e a maisrecente de 2006. Pai Herói ficou emcartaz no local até 5 de outubro.

Pai Herói

maioria, como Ilha Maurícia (África),Ilhas Reunião (território francês noOceano Índico), Ilhas Guadalupe(território francês no Caribe), Moldávia(país do Leste Europeu), entre outros.

Ainda fizeram parte da exposiçãocartões-postais da região do ABC e algunsinstitucionais, além de 500 cartõestelefônicos.

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A Paróquia Sagrada Família,popularmente conhecida como MatrizNova, comemorou, neste ano, 70 anos desua inauguração. Como parte dascomemorações, a Fundação Pró-Memóriapromoveu, de 12 de agosto a 4 denovembro, a exposição Igreja MatrizSagrada Família: 70 anos de história e fé.

Os painéis expositivos,localizados nas seis capelas doscorredores laterais da igreja, apresentaram70 imagens que contaram a história daparóquia sob diversos aspectos.

Um dos seis temas da mostratratou da construção da paróquia. Uma dasimagens era da fase inicial das obras, em1932. Famílias que colaboraram com a

edificação do templo também foramlembradas. Outra parte da mostra tratou dapintura artística da igreja, executada pelosirmãos Pedro e Ulderico Gentili, eapresentou detalhes da obra.

A história da Matriz continuoucom o resgate dos dez párocos quefizeram parte dessa evolução, começandocom o padre Alexandre Grigolli, que ficouna paróquia até 1946. Casamento foi outrotema abordado. A exposição resgatouflagrantes de enlaces passando por todasas décadas desde a inauguração da igreja.As celebrações realizadas na igrejaencerraram a mostra, com retratos demissas, apresentações musicais e teatrais,além de cerimônias solenes.

Igreja Matriz Sagrada Família: 70 anos de história e fé

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A arte abstrata de dois artistas deSão Caetano compôs a mostra OAbstracionismo Poético. Bete Bovo eFabrizio Dell’Arno ficaram lado a lado naexposição, que ficou em cartaz de 14 deagosto a 5 de novembro, na Pinacoteca.

A artista plástica Bete Bovo,formada em Artes Plásticas e DesenhoIndustrial pela Faap, já fez parte deexposições na região do ABC e SãoPaulo. Participou de cursos com artistascomo Evandro Carlos Jardim, UbirajaraRibeiro, Carlos Moreira, e outros.

Bete apresentou, na exposição,guaches e óleos sobre papel, fotografias,além de livros-objeto (livros para ver, nãopara ler, segundo definição da artista).Seu tema preferido é a integração entrehomens, natureza e os universos interior e

exterior, assunto registrado de formapoética em suas obras.

O sul-sancaetanense FabrizioDell’Arno atualmente mora na Itália,onde trabalha como docente assistente naRome University of Fine Arts. Formadoem Publicidade e Propaganda, fez pós-graduação em História da Arte na Faap.Dell’Arno também estudou na School ofVisual Arts, em Nova Iorque.

Suas participações em exposiçõescoletivas incluem São Paulo, Itália eAlemanha. O artista já promoveu mostrasindividuais no Brasil e na Itália.

O nascimento, o milagre da vida ea perfeição da natureza estavam nasformas e cores do trabalho de Dell’Arno,que veio em pinturas a óleo sobre tela,calcografias e esculturas.

O Abstracionismo Poético

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A Sociedade Beneficente UniãoOperária de São Caetano do Sul foi criadaem 15 de novembro de 1907 por um grupode moradores da cidade, com a finalidadeprincipal de mútuo socorro. Como partedas comemorações aos 100 anos dasociedade, o Museu Histórico Municipalpromoveu a exposição Os 100 anos daSociedade Beneficente União Operária deSão Caetano do Sul, de 16 de outubro a 14de dezembro.

Por meio de objetos, placas, livros,diplomas, bandeiras, fotografias edocumentos, a exposição retratou a

O Dia das Crianças (12 de outubro)sempre é celebrado com muita alegria ediversão. Para festejar a data, a FundaçãoPró-Memória de São Caetano do Sul abriu,no dia 5 de outubro, no Salão deExposições II, a exposição SempreCriança. Apresentando 27 fotografias, amostra rememorou inesquecíveismomentos da infância de algunsmoradores da cidade.

As crianças, alguns bebês e outrosjá mais crescidinhos, apareceram emgrupos (de irmãos ou de amigos), sozinhas,em momentos de brincadeiras, fantasiadas,e em fotos produzidas em estúdios. Aexposição começou no início do século 20,com uma imagem de 1909, e passou porseis décadas, chegando ao ano de 1965.Sempre Criança ficou no Salão deExposições II até 7 de dezembro.

Sempre Criança

Os 100 anos da Sociedade Beneficente UniãoOperária de São Caetano do Sul

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Dentro das comemorações da Semanada Autonomia, a Fundação Pró-Memóriapreparou a Exposição Comemorativa daAutonomia, aberta no dia 19 de outubro, no

hall do Complexo Educacional. No local até odia 17 de novembro, a mostra reuniu 22imagens dos principais momentos domovimento autonomista.

trajetória da sociedade, suas dificuldades eseus sucessos, e explicou como, depois detantos anos, a instituição éfinanceiramente estável e continuaatendendo seus objetivos e prestandoauxílio médico, hospitalar, odontológico esocial a seus sócios.

A exposição foi complementadapor painéis fotográficos que tinham comotema a classe operária de São Caetano,que passou a ser bastante numerosa nacidade a partir do final do século 19,devido ao surgimento de empresas dediferentes ramos da produção fabril.

Exposição Comemorativada Autonomia

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Projetos

O projeto São Caetano em Postaisfoi lançado no dia 19 de julho, data daabertura da exposição Viajando peloMundo. A Fundação Pró-Memóriaselecionou dez imagens antigas da cidadee as transformou em cartões-postais. Acoleção, que teve edição limitada, reúnefotografias de locais como a Praça CardealArcoverde e vistas panorâmicas como darua João Pessoa.

Férias na Pinacoteca

Oferecer um momento agradávelde lazer para famílias no mês de julho é aintenção do projeto Férias na Pinacoteca,lançado no dia 13 de julho. Promovidosomente nos meses de julho e dezembro,o projeto consiste em encontros informaiscom grupos de pais e filhos, para arealização de atividades lúdicas naPinacoteca.

O objetivo é incentivar o gostopela arte e criar o conceito de que umespaço expositivo pode ser uma opção deentretenimento para adultos e que não ésomente um lugar para ser visitado pelascrianças em excursões da escola.

As famílias presentes nosencontros participam de jogos depercepção visual, tátil e auditiva, equebra-cabeças. A programação aindainclui atividades no ateliê pedagógico daPinacoteca, onde os visitantes produzemsuas próprias obras de arte.

Os primeiros encontrosaconteceram nos dias 13 e 30 de julho.

Encontros Culturais

No dia 17 de maio, a FundaçãoPró-Memória deu início ao projetoEncontros Culturais, desenvolvido pelaPinacoteca Municipal, com o objetivo delevar a Arte ao alcance de um maiornúmero de pessoas, e incentivar aapreciação e o gosto pelas Artes Plásticas.

O programa dos encontros ésempre baseado na exposição em cartazna Pinacoteca. Iniciado com aapresentação de um vídeo sobre amanifestação artística da mostra, o eventocontinua com uma visita ao espaçoexpositivo da Pinacoteca, para que osparticipantes possam observar as obras eexercitar sua sensibilidade econhecimento. Os encontros sãofinalizados com uma atividade no AteliêPedagógico, onde cada participantecoloca a mão na massa, ou na tinta, e criasua própria obra de arte.

Dois encontros foram realizadosnos dias 17 de maio e 23 de agosto.

São Caetano em Postais

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Cidadão da História

A Fundação Pró-Memória deucontinuidade ao projeto Cidadão daHistória no segundo semestre de 2007.Realizado como parte do programa Bairroa Bairro, iniciativa da AdministraçãoMunicipal que beneficia toda a cidade, oprojeto já passou por 10 bairros de SãoCaetano.

O projeto homenageia as pessoascom mais tempo de moradia. O objetivo éreconhecer a participação dos cidadãos dacidade na formação de cada bairro. Dejaneiro a outubro deste ano, 200munícipes foram homenageados ereconhecidos como “cidadãos dahistória”.

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Criado em março de 2006, oprojeto Era uma vez... está contando ahistória da educação infantil em SãoCaetano. Uma exposição fotográfica,instalada nos corredores do quiosqueprincipal do Espaço Verde Chico Mendes,retrata momentos importantes e atividadescotidianas de cada instituição. Além disso,um folheto, que apresenta um resumohistórico da escola, é distribuído aos pais ealunos da instituição e visitantes daexposição.

Em 2006, as Emei’s (EscolasMunicipais de Educação Infantil) Primeirode Maio, João Barile e José MarianoGarcia Júnior foram retratadas peloprojeto. As histórias das Emei’s Irineu daSilva, Francisco Falzarano, Emílio Carlose José Corona foram apresentadas peloprojeto em 2007. Era uma vez... continuano ano que vem.

Era uma Vez

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Aproveitando a temporada dosJogos Pan-americanos de 2007, aFundação Pró-Memória colocou umavitoriosa equipe de basquete feminino,formada em São Caetano na década de1960, nas páginas da revista Raízes elançou sua edição de número 35. Olançamento aconteceu no dia 26 de julho,no São Caetano Esporte Clube,agremiação defendida pelas atletas na faseáurea do esporte na cidade.

O principal tema da revista, naseção Dossiê, enfoca a época de ouro dobasquete feminino em São Caetano doSul. Os textos trazem histórias de vitórias,conquistas e sucessos das atletas queatuaram na cidade entre os anos de 1968 e1974, como Delcy, Elzinha, Norminha,Marlene e Hortência.

Artigos sobre essas esportistas,que formaram o time dos sonhos ealcançaram diversos títulos nacionais einternacionais, ocupam 33 páginas darevista, que tem 120 no total.

Outros artigos recheiam as demaisseções de Raízes. Alguns destaques sãotextos sobre o cinqüentenário daDelegacia Municipal do Ciesp e a históriada fábrica de móveis escolares MóveisBarga, presente em São Caetano há 54

anos. O simpático casal Jaime e AlféaPinton conta sua história na revista, queainda resgata a trajetória de AccácioNovaes, primeiro presidente da CâmaraMunicipal de São Caetano.

A publicação também retrata acarreira de Helena Moretin, maisconhecida como Heleninha, que cantou,durante 12 anos, ao lado de FranciscoPetrônio, na Orquestra Real Baile daSaudade. Além disso, a revista traz muitosoutros artigos, variados temas, efotografias antigas, principalmente naseção Memória Fotográfica.

Esta edição comemora os 18 anosda revista Raízes e veio com novidades. Acapa passou por uma reformulação e ficoucom um design mais leve e atual, queacompanhará todas as edições seguintes.

Mais de 300 pessoas lotaram o SãoCaetano Esporte Clube para olançamento. Uma das principais atraçõesfoi uma apresentação da cantoraHeleninha. As ex-jogadoras Norminha,Marlene, Delci, Maria Tereza e Vandaestavam presentes e fizeram sucesso entreo público.

(*) Paula Fiorotti é jornalista,especializada em Relações Públicas

EventosRaízes 35

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SEDE ADMINISTRATIVACENTRO DE DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICAPINACOTECA MUNICIPALAvenida Dr. Augusto de Toledo, nº 255Telefones: 4221-9008 ou 4221-7420

MUSEU HISTÓRICO MUNICIPALRua Maximiliano Lorenzini, nº 122Telefone: 4229-1988

SALÃO DE EXPOSIÇÃOEspaço Verde Chico MendesRua Fernando Simonsen, nº 566

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PUBLICAÇÕESLivros e revistas,história da cidade, história dos bairros,pontos históricos, fotografias, mapas,programação de exposições, eventos, notícias e muito mais!

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ANO XVIII - São Caetano do Sul - Dezembro de 2007

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