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Ra´ ızes do Desenvolvimentismo Associado: Coment´ arios sobre Sonhos Prussianos e Coopera¸ ao Panamericana no Estado Novo (1937–1945) Pedro Paulo Zahluth Bastos Instituto de Economia, Universidade de Campinas (UNICAMP), ao Paulo, Brasil O artigo indaga a emergˆ encia de um projeto de desenvolvimento in- dustrial na d´ ecada de 1930 e, sobretudo, no Estado Novo, discutindo raz˜ oes que levaram o governo brasileiro a tentar atrair sider´ urgicas estrangeiras e, fracassando, recorrer ` a “coopera¸ ao panamericana” como forma de obten¸ ao dos recursos necess´ arios aos primeiros grandes empreendimentos industriais estatais. O artigo descarta a no¸ ao de que um tipo de projeto nacionalista orientado pelo Estado que enfatizasse financiamento autˆ onomo do desenvolvimento indus- trial e rejeitasse a associa¸ ao/dependˆ encia externa (como na chamada “via prussiana”) tenha tido a implementa¸ ao vetada subita- mente por resistˆ encias locais, uma vez que n˜ ao h´ a evidˆ encias de que este tipo de projeto nacional tenha sido sequer colocado em a¸ ao de in´ ıcio. Ao contr´ ario, as indica¸ oes s˜ ao as de que o governo Vargas tentou de antem˜ ao acompanhar com fundos externos o esfor¸ co limi- tado para mobilizar recursos locais, em umcontexto hist´ orico de seve- ras restri¸ aes materiais e pol´ ıticas a um projeto de desenvolvimento “prussiano”. Revista EconomiA Dezembro 2004

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Page 1: Ra´ızes do Desenvolvimentismo Associado: Coment´arios ...anpec.org.br/revista/vol5/vol5n3p285_320.pdf · dustrial na d´ecada de 1930 e, sobretudo, no Estado Novo, ... as indicaco˜es

Raızes do Desenvolvimentismo

Associado: Comentarios sobre Sonhos

Prussianos e Cooperacao

Panamericana no Estado Novo

(1937–1945)

Pedro Paulo Zahluth Bastos

Instituto de Economia, Universidade de Campinas (UNICAMP),Sao Paulo, Brasil

O artigo indaga a emergencia de um projeto de desenvolvimento in-dustrial na decada de 1930 e, sobretudo, no Estado Novo, discutindorazoes que levaram o governo brasileiro a tentar atrair siderurgicasestrangeiras e, fracassando, recorrer a “cooperacao panamericana”como forma de obtencao dos recursos necessarios aos primeirosgrandes empreendimentos industriais estatais. O artigo descarta anocao de que um tipo de projeto nacionalista orientado pelo Estadoque enfatizasse financiamento autonomo do desenvolvimento indus-trial e rejeitasse a associacao/dependencia externa (como nachamada “via prussiana”) tenha tido a implementacao vetada subita-mente por resistencias locais, uma vez que nao ha evidencias de queeste tipo de projeto nacional tenha sido sequer colocado em acao deinıcio. Ao contrario, as indicacoes sao as de que o governo Vargastentou de antemao acompanhar com fundos externos o esforco limi-tado para mobilizar recursos locais, em um contexto historico de seve-ras restricaes materiais e polıticas a um projeto de desenvolvimento“prussiano”.

Revista EconomiA Dezembro 2004

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Pedro Paulo Zahluth Bastos

Palavras-chave: Estrategias de Desenvolvimento, DesenvolvimentoAssociado, Via Prussiana, Estado Novo, Cooperacao PanamericanaClassificacao JEL: G28, O16, O19

The paper studies the making of a development strategy in Brazilalong the 1930’s and, particularly, during Estado Novo regime,focusing the reasons which lead Brazilian government to attemptat attracting steel foreign subsidiaries and, failing, to resort to“Pan-American cooperation” in order to obtain resources neededto the first great state industrial investments. The paper also re-jects the assumption that a kind of state-oriented nationalisticproject which either emphasized autonomous funding of indus-trial development or dismissed foreign dependence as in so-called“Prussian style” had its coming of age suddenly hindered by lo-cal political resistance, for there is no evidence that this kind ofnational project had been implemented at first. Quite contrary,indications are that Vargas government tried at the start to ac-company with foreign funding the limited effort to mobilize localresources, in a historical context plenty of economic and politicalrestrictions to a “Prussian style” development strategy in Brazil.

⋆ Este artigo se baseia parcialmente em um capıtulo nao publicadode Bastos (2001). Agradeco as sugestoes de Luiz Gonzaga Belluzzo,Alonso Barbosa de Oliveira, Paul Singer, Reginaldo Moraes e Wil-son Cano sobre este capıtulo, e as de Andre Villela, Antonio Pe-dro Tota, Eli Diniz, Jose Jobson de Andrade Arruda, Luiz RobertoTarga, Niemeyer Almeida Filho e Pedro Cesar de Dutra Fonseca sobreversoes anteriores do artigo, eximindo-os dos erros remanescentes.

Email address: [email protected] (Pedro PauloZahluth Bastos).

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Raızes do Desenvolvimentismo Associado

1 Introducao

Os acontecimentos do final de 1937 resolveram um con-junto de lutas polıticas que se prolongavam desde inıciosda decada a respeito dos contornos do regime polıticoresultante da Revolucao de 1930. A revolta paulista de 1932 eo processo constituinte haviam limitado os impulsos centraliza-dores da presidencia mas, a seguir, a ameaca comunista foiusada habilmente para legitimar golpes sucessivos contra adescentralizacao de poder que, no discurso dos vitoriosos de 1937,ameacava as promessas da Revolucao. Na noite de 10 de novem-bro de 1937, um novo regime polıtico, o Estado Novo, era anun-ciado pelo presidente em nome da primazia da ordem polıticae do progresso economico e social. Ato contınuo, era outorgadaConstituicao impondo um marco legal e reformas institucionaisque consagravam ampla centralizacao de poderes no executivo:legislar por decretos; dissolver partidos; substituir governadores;intervir em sindicatos patronais e trabalhistas; aprisionar agentessubversivos; deportar espioes ou agitadores; criar novos orgaosadministrativos, direitos sociais e impostos.

No mesmo pronunciamento, as relacoes economicas interna-cionais do Brasil sofriam ruptura brusca. Vargas anunciavauma moratoria da dıvida externa com tintas de nacionalismoradical, condicionando o desenvolvimento da nacao (“reapa-relhamento”) a liberacao de um fardo intoleravel:

“A situacao impoe, no momento, a suspensao no pagamento de

juros e amortizacoes, ate que seja possıvel reajustar os

compromissos sem dessangrar e empobrecer o nosso organismo

economico. Nao podemos por mais tempo continuar a solver

dıvidas antigas pelo ruinoso processo de contrair

outras mais vultuosas, o que

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nos levaria, dentro de pouco tempo, a dura contingencia

de adotar solucao mais radical...

As nossas disponibilidades no estrangeiro absorvidas, na sua

totalidade pelo servico da dıvida e nao bastando,

ainda assim, as suas exigencias, dao em resultado nada nos

sobrar para a renovacao do aparelhamento economico,

do qual depende todo o progresso nacional”

A nova polıtica do Brasil, V, p. 27).

A Carta do Estado Novo aprofundava o ımpeto nacionalista.Nos artigos 143 e segs. da Ordem Economica, anunciava-se oprincıpio de “nacionalizacao progressiva” de minas, jazidas mi-nerais, fontes de energia e industrias basicas essenciais, alem deconsagrar o monopolio nacional de bancos de deposito, empresasde seguros, navegacao interna e profissoes liberais. Em dezembro,reformulavam-se organismos corporativos e consultivos, sobre-tudo o Conselho de Comercio Exterior. Finalmente, em fevereirode 1938, o presidente parecia jogar uma pa de cal na dependenciafinanceira que travava o desenvolvimento do paıs:

“Nao me parece que, sem maior exame, devamos

continuar afirmando um exagero de expressao que

resultou em lugar comum: a dependencia do governo de

capital estrangeiro e que, sem ele, nada sera

possıvel fazer... E sabido que, desde a guerra

mundial, a imigracao de capitais tem diminuıdo

muito e, por outro lado, o processo de formacao do

capital nacional atingiu um grau adiantado de

desenvolvimento A grande tarefa do momento, no nosso

paıs, e a mobilizacao de capitais nacionais.”

(A nova polıtica do Brasil, V,Problemas e realizacoes do Estado Novo, 1938).

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Raızes do Desenvolvimentismo Associado

Esta “grande tarefa”, porem, nao se completou ao longo do Es-tado Novo. O “reaparelhamento” das industrias basicas durantea II Guerra Mundial, cuja principal era tida consensualmentecomo a do aco, resultaria tanto ou menos da “mobilizacao decapitais nacionais” do que de recursos estadunidenses, a ponto deassistirmos um lıder da ala americanofila do governo, o chancelerOswaldo Aranha, sentir-se a vontade para escrever a um ex-expoente da ala germanofila, Ministro da Guerra Eurico GasparDutra, alertando que a melhor maneira de proteger os inter-esses do Brasil seria preservando a “preeminencia conquistada,polıtica, economica e militar, junto aos Estados Unidos... Esta,Dutra, era minha conviccao ja antes de comecar esta guerra e,agora, mais do que nunca estou convencido de que ou nos asso-ciamos, material, moral e militarmente... ou o futuro do Brasilsera de todo mundo, menos dos brasileiros” (cf. Hilton (1994),p. 411).

O que acontecera desde 1937? O presidente abandonara os “so-nhos prussianos” de industrializacao autonoma e independenciafinanceira que uma vez acalentou? Por que? Resistencias polıticasinternas? Falta de opcao? Consciencia subita do irrealismo davontade? Opcao racional de explorar oportunidades maisrapidas? Ou estes sonhos jamais foram acalentados?

Este artigo pretende levantar algumas duvidas e abordar algu-mas certezas a respeito destas questoes. O argumento e que naoha evidencias de que “sonhos prussianos” tenham sido de fatoacalentados, e que restricoes materiais, polıticas e ideologicas in-ternas dificultavam a “grande tarefa” de reaparelhar industriasbasicas com a “mobilizacao de capitais nacionais”. Assim, asraızes do desenvolvimentismo associado brasileiro, ou seja, deum projeto de industrializacao voltado para o mercado internomas dependente de financiamento externo, foram plantadas nomomento em que a centralizacao polıtica do Estado Novo nao co-

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incidiu com uma concentracao de recursos suficiente para, forada cooperacao panamericana, financiar sonhos nacionalistas ra-dicais.

2 Vargas teve sonhos prussianos?

A crise economica mundial dos anos 1930 nao abalou apenasa insercao comercial do paıs, modificando precos relativos e in-duzindo, gradualmente, a reorientacao economica para o mer-cado interno. A crise tambem estancou investimentos diretos ex-ternos, seja por causa da retracao de lucros e fundos acumuladospelas matrizes seja por causa da incerteza quanto a rentabili-dade e disponibilidade de cambio para repatriacao de lucros defiliais. Ademais, a crise abalou o sistema financeiro internacionalde modo duradouro, provocando moratorias e renegociacoes dadıvida externa que esgarcaram lacos que integravam centros fi-nanceiros a periferias endividadas: na America Latina em 1931,na Europa Central e Meridional em 1932, e finalmente o repudioalemao em 1933. No Brasil, a tatica inicial do Governo Provisoriofoi buscar um compromisso com credores externos, preparandoo cenario para uma retomada de emprestimos. Mesmo quandoa conjuntura de escassez de divisas forcou a aplicacao de novoscontroles cambiais, em setembro de 1931, a necessidade de sele-cionar usos prioritarios para as divisas se fez para satisfazer a ca-pacidade de pagamento de parte da dıvida publica externa. Istoimplicava escassez de recursos para finalidades comerciais e pro-tegia atividades manufatureiras substitutivas — mais como sub-produto da forca das articulacoes e interesses financeiros do quecomo uma polıtica deliberada de protecao contra importacoesmanufatureiras concorrentes, pelo menos de inıcio. 1

1 Cf. a elevada proporcao entre servico da dıvida e saldo comercial(a razao dos atrasados comerciais) na tabela 1. Sobre o impacto da

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Ao longo da decada, porem, a interrupcao dos influxos de ca-pital nao se mostraria temporaria, eliminando gradualmente oestımulo para continuar priorizando o pagamento de servicos fi-nanceiros. Finalmente, em dezembro de 1937, a instituicao denovo controle cambial se fez conjugando-o a moratoria da dıvidaexterna, visando liberar recursos para outras finalidades (par-ticularmente importacao para obras publicas e reaparelhamentomilitar). Neste momento, atos e discursos de Vargas sugerem quese consolidara percepcao na cupula do governo de que nao sepoderia contar imediatamente com influxos financeiros privadose que era necessario financiar o projeto de “reaparelhamento”com a mobilizacao mais decidida de capitais locais e fundos es-tatais — embora, como veremos, sem excluir a possibilidade deacompanha-los de fundos financeiros externos.

A hipotese de que, neste momento, o presidente partilhara de um“sonho prussiano”, imaginando poder levar adiante a industri-alizacao pesada brasileira “desde cima” atraves da mobilizacaoconcentrada de recursos locais sem o recurso a fundos exter-nos, e de Fiori (1988), cap. 4, e Fiori (1995), cap. 3. Segundoo autor, as resistencias internas a este projeto teriam levadoo paıs a se aproximar dos EUA a partir da Missao Aranha de

missao Niemeyer patrocinada pelos credores londrinos em 1931, verLomax (1932), Abreu (1974) e Abreu (1977), cap. 3 — e, para seu re-latorio, cf. Carone (1973), parte II. A prioridade de uso das reservas,determinada pelo controle cambial de setembro de 1931, e significa-tiva da forca dos credores: a dıvida externa e as compras do gov-ernos foram elencadas como prioridade de primeira ordem, seguidasde “importacoes essenciais” (nao definidas segundo um criterio quedistinguissem favoravelmente as importacoes fundamentais para a ex-pansao da industria, pois discriminavam as importacoes de petroleo,carvao e produtos quımicos), e remessas de lucros. Para uma descricaodas polıticas cambiais no perıodo ver Villella e Suzigan (1973), pp.309-329, Abreu (1977), cap. 4, Oliveira (1978) e Corsi (2000), cap. 1.

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1939, visualizando a possibilidade de acesso a emprestimos go-verno a governo e iniciando uma estrategia “associada” de de-senvolvimento industrial. O argumento de Fiori, embora muitoproveitoso e mesmo seminal — particularmente no que tange asorigens polıticas da crise do Estado desenvolvimentista e do ca-pitalismo associado brasileiro na decada de 1980 —, e passıvelde algumas qualificacoes historicas. 2

Algumas das qualificacoes necessarias ja foram feitas: segundoCorsi (2000), embora o inıcio do Estado Novo tenha realmenteassistido a varias declaracoes de Vargas defendendo a necessi-dade de mobilizar recursos internos, nao ha evidencias de queisto fosse imaginado em oposicao a captacao de fundos exter-

2 Nao se trata aqui de afirmar que o “modelo prussiano” nao foi com-pletamente independente de recursos externos (ja que nao foi), pois,de todo modo, o controle de Estado sobre a destinacao destes recur-sos e sobre o encaminhamento setorial da industrializacao provavel-mente nao tivera precedentes: ver Landes (1989), Kemp (1989),(1985), Pollard (1991), Barbosa-Oliveira (1985), Tilly (1986), Nadalet alii (1988), Chandler (1996), parte III, Bairoch (1997), Tomo II,Pierenkemper e Tilly (2004). Nas palavras de Fiori (1988), p. 145-6: “Em dois momentos de nossa historia talvez tenhamos estadoproximos de uma alternativa autenticamente prussiana, mais em 1938do que em 1974. . . Do ponto de vista de seu projeto economico, Var-gas apostou as fichas estatais na construcao da industria do aco,vendo nela ‘o problema capital de nossa expansao economica’. . . Masseu projeto naufragou logo a frente quando, em 9 de marco de 1939,Oswaldo Aranha assinou os acordos de Washington. . . E sobretudoredefiniu-se o rumo do projeto nacional, abdicando da via prus-siana ou japonesa quando, simbolicamente Vargas optou, frente aresistencia polıtica do empresariado e a escassez de recursos fiscais,pelo emprestimo internacional para financiar a siderurgica, marco ini-cial de nossa industria pesada. Muitos anos depois, uma versao tımidadeste sonho levou Vargas ao suicıdio e Eugenio Gudin ao Ministerioda Fazenda”.

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nos (em parte, em vista da necessidade de financiar importacoesessenciais, o que a mobilizacao de recursos internos nao resolve-ria). Assim, entre perceber que a entrada de recursos externosnao seria mais tao imediata quanto imaginado desde o inıcio doGoverno Provisorio e passar a vetar influxos posteriores vai umadistancia que Vargas nao percorrera. Precisamente por isto, es-tivera tao atento a possibilidade de desfrutar de ajuda externacaso as condicoes geopolıticas fossem favoraveis. Podemos com-plementar lembrando que, entre os discursos do inıcio do EstadoNovo, que eram marcados pela enfase na defesa da nacionalidadeem todos os flancos polıticos em questao — afirmando uma novavontade e buscando legitimar a mudanca de regime polıtico —,e a Missao Aranha, no inıcio de 1939, nao ocorrera qualquer em-bate polıtico de monta que tivesse alterado a conjuntura polıticainterna em relacao ao momento em que Vargas presumidamentetivera seu “sonho prussiano”, no sentido de vetar a concentracaode poder reforcada desde entao. O que mudara fora a conjunturaexterna, em funcao do convite estadunidense que Vargas nao hes-itou em aceitar — algo pouco provavel caso tivesse subitamentepassado a rejeitar recursos externos cerca de um ano antes (cf.Moura (1980), Moura (1984) e Moura (1991)).

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Tabela 1. Indicadores de Solvencia Externa (1931-1945) uk£milhoesAnos Export. Saldo Comercial Servicos da dıvida Servicos/ Servicos/ Saldo (%) Servicos/Receita

publica externa Exportacoes (%) Comercial fiscal (%)

1931 53,8 23,7 20,4 40,6 86,1 34,6

1932 51,2 20,7 6,8 24,4 32,9 7,5

1933 52,8 11,3 6,2 22,5 105,3 10,7

1934 58,0 16,1 7,1 21,7 78,3 22,7

1935 55,0 9,1 7,5 13,6 82,4 14,1

1936 64,5 17,8 7,9 12,2 44,4 13,5

1937 70,2 3,3 8,5 12,1 257,6 10,9

1938 60,3 0,1 0,0 0 0 0

1939 68,8 10,0 0,0 0 0 0

1940 65,2 3,1 3,4 5,5 109,7 3,7

1941 89,7 15,0 4,1 4,9 27,3 4,2

1942 100,0 35,1 4,0 4,2 11,4 4,0

1943 116,4 31,3 3,9 3,6 12,5 3,0

1944 143,0 32,5 18,8 13,9 57,9 7,1

1945 162,6 43,5 10,8 7,0 24,8 5,6

Fonte: Abreu (1977), p. 46, 149 e 236.

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Alem da moratoria externa e da criacao da CREAI (uma agenciado Banco do Brasil especializada em credito de longo prazo),Fiori cita como indıcios da existencia do “sonho prussiano” ape-nas passagens do famoso discurso de Vargas de Sao Lourenco emabril de 1938, e de outro posterior sobre os deveres dos cidadaosdiante da Nacao (mas proferido nao diante de empresarios e simde trabalhadores, criticando outra vez os “direitos” concebidospelas utopias comunistas). Mas, na pratica, nao ha qualquer ini-ciativa concreta de governo que possa ser inequivocamente in-dicada como evidencia de um projeto “prussiano” de industri-alizacao, conduzido atraves da centralizacao forcada de recursosinternos a um grau que tornasse algo superfluo (ou meramentecomplementar) o recurso a fundos externos. As limitacoes daCREAI serao discutidas adiante, mas a declaracao de moratoria,dada a deterioracao brusca do saldo comercial em 1937 (gracasao aumento acelerado das importacoes), era mais um fait ac-compli que uma opcao (como Vargas mesmo tantas vezes repe-tiria), ainda que realmente ocorresse depois de esgotada a longapaciencia na espera de novos influxos de capital externo, e emb-ora Vargas habilmente utilizasse a declaracao para a) demarcarum novo perıodo (o Estado Novo), b) consolidar sua vinculacaoao projeto de reaparelhamento militar, e c) negociar adiante umnovo acordo externo em bases mais favoraveis (e, naquele con-texto de penuria cambial, em bases viaveis e crıveis, como ateentao nao fizera). 3

3 O anuncio da moratoria nao escondia que ela era inevitavel emrazao da reducao do saldo comercial (A nova polıtica do Brasil, V,pp. 27-8). Mais tarde, Vargas seria ainda mais explicıto, como nodiscurso de final de ano de 1937 (idem, p. 122) e sobretudo nas en-trevistas de fevereiro-abril de 1938: “A suspensao da dıvida externanao foi um simples capricho. Impoe-se pela poderosa circunstancia denao dispormos dos recursos necessarios. A baixa dos precos do cafe,a reducao do saldo de nossas exportacoes, muito aquem do quan-tum exigido pelas amortizacoes, a falta de cobertura para as nossas

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Para aquem dos atos, uma avaliacao mais detalhada dos discur-sos de Vargas no inıcio do Estado Novo nao parece indicar que atarefa de mobilizacao de capitais nacionais fosse percebida comoexcludente a associacao com capitais externos. E provavel queas entrevistas de Petropolis e Sao Lourenco, em fevereiro e abrilde 1938, conjuguem de fato a peca de discurso mais indicativada necessidade de concentrar e centralizar recursos internos parafinanciar o “reaparelhamento economico”. 4

Mas um pouco antes, no pronunciamento a nacao anunciandoo Estado Novo (como outras vezes depois), afirmaria tambemque “. . . essas realizacoes exigem que se instale a grande siderur-gia, aproveitando a abundancia de minerio, num vasto programade colaboracao do Governo com capitais estrangeiros que pre-tendam emprego remunerativo, e fundando, de maneira defini-tiva, as nossas industrias de base, em cuja dependencia se achao magno problema da defesa nacional” (idem, p. 28). Na noitede 31 de dezembro de 1937, afirmaria em novo pronunciamentoa nacao: “A inversao de capitais imigrantes e, sem duvida, fator

cambiais — tudo isso criou situacao cujo remedio so podia ser esse.Trata-se, porem, de uma solucao de carater temporario. O reajusta-mento de nossa economia, certamente, nos permitira, mais adiante,retomar os pagamentos se as exportacoes deixarem margens a saldosconsideraveis” (idem, p. 186).4 Depois de listar uma bateria de projetos de desenvolvimento e in-tegracao nacional, Vargas continua: “Para esses empreendimentos, enecessario mobilizar grandes capitais. Entretanto, nao me parece que,sem maior exame, devamos continuar afirmando um exagero de ex-pressao que resultou em lugar comum: a dependencia do governo decapital estrangeiro e que, sem ele, nada sera possıvel fazer. . . E sabidoque, desde a guerra mundial, a imigracao de capitais tem diminuıdomuito e, por outro lado, o processo de formacao do capital nacionalatingiu um grau adiantado de desenvolvimento. . . A grande tarefa domomento, no nosso paıs, e a mobilizacao de capitais nacionais” (Anova polıtica do Brasil, V, pp. 165-6).

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ponderavel de nosso progresso, mas nao devemos esquecer que elaopera diante das reais possibilidades remunerativas aqui encon-tradas, contrastando com a baixa dos juros nos paıses de origem.Compreende-se, assim, o motivo porque, se nao hostilizamos ocapital estrangeiro, tambem nao podemos conceder-lhes outrosprivilegios alem das garantias normais que oferecem os paısesnovos em plena fase de crescimento” (idem, p. 122). Entre ou-tubro e dezembro de 1937, a troca de correspondencias entreVargas e Aranha (que tentava negociar emprestimos junto aoEXIMBANK logo no inıcio do Estado Novo) mostra, em con-tato reservado com colaborador de longa data, um presidentefortemente interessado no bom encaminhamento das negociacoespara a obtencao de recursos externos (cf. Corsi (2000), p. 84).

Finalmente, a cronologia das gestoes feitas para atrair filiaisestrangeiras para o setor siderurgico tambem nao corrobora ahipotese de que o governo so teria voltado-se ao capitalestrangeiro depois de experimentar resistencias a uma alterna-tiva prussiana, no inıcio do Estado Novo. Entre 1937 e1939, as gestoes brasileiras visavam atrair primeiro a DuPontantes do golpe, e depois as alemaes Demag, Krupp e Stahlunion,antes da intensa negociacao com a US.Stell entre maio de 1939 ejaneiro de 1940. Esta negociacao fracassou nao por causa de qual-quer resistencia brasileira em atender a condicoes exigidas pelaempresa, mas sim por causa do desinteresse da empresa a des-peito do desejo comum do governo brasileiro e do Departamentode Estado estadunidense. Este reves voltou a levar o governo aprocurar empresas alemaes em 1940, ao inves de induzi-lo a alter-nativa estatizante ja proposta por militares, tecnicos e polıticosnacionalistas locais. A opcao alema voltou a fracassar mas, indi-retamente, induziu Roosevelt a propor uma barganha de governoa governo depois dos celebres discursos pro-germanicos de Var-gas em meados de 1940. Assim, os recursos estadunidenses quepropiciaram a criacao da Companhia Siderurgica Nacional sequer

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resultaram de uma primeira demanda brasileira nas barganhasbilaterais mas, sim, de uma terceira ou quarta opcao, indicandoque o repudio “prussiano” a associacao com filiais externas naoera corrente antes ou depois do Estado Novo, antes pelo contrario(cf. Wirth (1970); Martins (1976); Moura (1984); Corsi (2000).

Em suma, uma preocupacao crescente com a mobilizacao de re-cursos locais manifestou-se no inıcio do Estado Novo, mas o ar-gumento de que certos discursos e decisoes indicariam algo comouma “virada” prussiana e/ou nacionalista radical parece exage-rado. Nao obstante isto, uma vez qualificada, a contribuicao deFiori aponta para a necessidade de avaliar as restricoes que secolocavam a “grande tarefa” de mobilizacao interna de recursosfinanceiros que ja era concebida como parte essencial (emboranao necessariamente preponderante) do financiamento da indus-trializacao brasileira no inıcio do Estado Novo.

3 Era possıvel financiar a industrializacao pesada comrecursos internos?

A preocupacao com a inadequacao do sistema financeirobrasileiro para investimentos de longos prazos de maturacao eamortizacao nao nasceu com o Estado Novo. Ao longo dos anos1930, ela ja surgira e convivia a) com a percepcao crescentede outras carencias como a escassez de divisas para realizarimportacoes essenciais, falta de servicos adequados deinfra-estrutura (energia e transporte) e insumos basicos (acoe petroleo); e b) com a ideia de que o Estado deveria coordenara superacao destes gargalos, uma vez que o setor privado localnao tinha condicoes ou interesse de enfrentar os riscos de in-vestimentos nos ramos de insumos basicos e infra-estrutura —caracterizados nao apenas por grandes requisitos de escala, ca-

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pital inicial e capacitacao tecnologica, como por longos prazosde maturacao e amortizacao dos investimentos. Levando isso emconta, nao deve surpreender c) a propalada ausencia de xeno-fobia do empresariado industrial, pelo menos quando se tratavade desenvolver novos ramos de producao com capitais externos,d) a concordancia dos principais lıderes industriais com a de-fesa da participacao estatal, como nas palavras de Ary Torres(1944), conselheiro no CNPIC, “naquelas atividades necessariasmas nao imediatamente lucrativas para despertarem o interessedos capitais privados”. 5

Embora os obstaculos a participacao do setor privado nacionalnos setores pesados fossem significativos, a criacao de bancosprivados de investimentos industriais nao esteve excluıda de an-temao, como uma forma de realizar a “grande tarefa” de cen-tralizar recursos financeiros. Assim, desde um estagio precoceda recuperacao economica brasileira, instituıram-se disposicoeslegais (comecando com o decreto-lei no 24.575 de 04/07/1934)favoraveis a constituicao de bancos de investimento, mas vere-mos que varios projetos foram propostos, debatidos e arquiva-dos por motivos polıticos e economicos. Enquanto as alternati-vas privadas nao avancavam, outras iniciativas de governo apon-tavam na direcao de reorientar o sistema de credito para alemdas operacoes tradicionais de credito comercial, financiamentoda especulacao imobiliaria urbana e transacoes cambiais: a refor-mulacao da Caixa de Redesconto (CARED-BB) em 24/12/1930,pouco depois da posse do Governo Provisorio; o recurso a creditos

5 Apud Diniz (1978), p. 162. Para as opinioes das liderancas em-presariais sobre as duas questoes basicas do que seria o “tripe”do desenvolvimento industrial brasileiro, cf. Carone (1977); Diniz(1978); Leme (1978); Boschi (1979); e Bielschowsky (1988). Parauma apreensao dos limites e oportunidades da industrializacao tar-dia brasileira, Tavares (1985), Cano (1990) e ?, e para uma analiseda diversificacao industrial limitada ate a II Guerra, Suzigan (1986).

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do Banco do Brasil para financiar o programa de defesa do cafee apoiar a recuperacao economica que se seguiu; a criacao daCaixa de Mobilizacao Bancaria em 1932; e a reforma da CAREDem 1935, permitindo-a descontar tıtulos agrıcolas e industriais, enao apenas letras comerciais (cf. Neuhaus (1975); Topik (1979),Topik (1981); Sochaczewski (1980); Triner (1996)).

Estas iniciativas, porem, limitavam-se a prover creditos a prazoscurtos. Neste contexto, a criacao da carteira de Credito Agrıcolae Industrial (CREAI) do Banco do Brasil (outubro de 1937) aten-dia a uma demanda geral por financiamento a longo prazo, e naoapenas de lıderes industriais. Alias, e significativo da correlacaode forcas e dos interesses a que atendia, que a carteira estivessevoltada predominantemente ao fomento a diversificacao agrıcola(financiamento da entressafra, aquisicao de maquinaria agrıcola eanimais), absorvendo em media 75% de seus recursos entre 1938e 1952. De inıcio, a carteira para credito industrial nao era se-quer autorizada a participar do financiamento a novas industriasbasicas (celulose e papel, metalurgia do alumınio e siderurgia abase de carvao mineral, dentre outras), reformulando-se nestesentido apenas depois de reivindicacoes empresariais. Seusemprestimos eram concedidos a juros subsidiados, inicialmentea prazos de cinco anos (depois a dez anos), com garantias reais,e limitados a 1/3 das estimativas de colheita agrıcola futura, ea 40% dos melhoramentos ou aquisicoes nas operacoes industri-ais. 6

6 Cf. Villella e Suzigan (1973), pp. 79-80, 187-8, 346-353, Malan et alii(1977)), pp. 242-251, e Oliveira (1996). A respeito da carteira, Var-gas afirmaria em 1940: “A disseminacao das agencias do Banco doBrasil para o fim de dar ao credito expansao crescente, atraves detodas as zonas de producao, constitui prova flagrante de que, pelaprimeira vez depois de implantado o regime republicano, o Brasilpratica uma polıtica de financiamento especializadamente executadaem proveito das forcas que promovem o desenvolvimento da economia

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Os esforcos do governo para mobilizar fundos locais nao se limi-taram a CREAI, embora isto nao possa indicar a existencia de“sonhos prussianos”. O mesmo decreto que reinstituıa o controlede cambio no final de 1937 (DL no 97, de 23/12/1937) criavaum fundo constituıdo com base em imposto de 3% sobre certasoperacoes cambiais. Em 1938, o imposto foi majorado a 6% (ereduzido a 5% um ano depois), e a partir de 1939 os recursosassim obtidos constituiriam a principal fonte do Plano Espe-cial de Obras Publicas e de Aparelhamento da Defesa Nacional(PEOPADN) — um orcamento paralelo ao federal voltado ex-clusivamente para atividades de investimento, mas com escassaracionalidade implementativa (para suas outras fontes de fundos,cf. Villella e Suzigan (1973), p. 187). Paralelamente a CREAI eao PEOPADN, permitiu-se tambem a canalizacao de reservas dosfundos de pensao (os IAP’s) para financiamento da construcao deplantas industriais com garantias hipotecarias, tambem a partirde 1937 (cf. Missao-Cooke (1948), pp. 325-339). 7

Tudo isto era suficiente para financiar o “reaparelhamento” dasindustrias basicas e da infra-estrutura que se desejava? Longe

nacional” (apud Fonseca (1989), p. 261; italicos meus). As pressoesdas organizacoes industriais para expandir o escopo da CREAI foramanalisadas por Diniz (1978), pp. 137-8.7 Em 29 de dezembro de 1943, o Plano de Obras e Equipamentos(POE) substituiu o PEOPADN para os cinco anos seguintes; apesarde separar o desenvolvimento economico das questoes militares, suasfontes de fundos e suas limitacoes eram parecidas: ver Costa (1971)e Draibe (1985), cap. 1. Na justificativa dos objetivos do PEOPADNpresente em um Relatorio do Ministerio da Fazenda de janeiro de1939, afirmava-se: “A ideia central do governo consiste em promover acriacao das chamadas industrias basicas, a execucao de obras publicasprodutivas e o aparelhamento da defesa nacional de maneira a naoafetar o resultado expresso no saldo positivo do orcamento do presenteexercıcio” (apud F.L. Corsi, p. 72).

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disto. No maximo, a CREAI e o PEOPADN (ou o POE) atenu-avam a escassez de recursos a longo prazo, sendo incapazes definanciar o “reaparelhamento economico” desejado e propiciaruma alternativa “prussiana” de industrializacao.

Para dar uma ideia da disparidade entre a oferta e a necessidadede fundos para o “reaparelhamento”, note-se que as fontes defundos proprios da CREAI advinham ate 1941 da subscricaode bonus pelo Tesouro no valor de Cr$ 75 milhoes (segundoos cruzeiros do padrao monetario de 1942), acrescidos a partirde fevereiro de 1941 de certos recolhimentos de depositos com-pulsorios (cf. Malan et alii (1977), pp. 242ff). Comparando porexemplo a magnitude desta fonte de fundos as necessidades finan-ceiras da CSN, sublinhe-se que apenas o valor dos emprestimosdo EXIMBANK aplicados na construcao da CSN foi de US$ 45milhoes, ou seja, aproximadamente Cr$ 880 milhoes a taxa livrede Cr$19,60/US$ que governava as importacoes privadas ou, ataxa oficial de Cr$16,60/US$, um valor algo em torno de Cr$ 750milhoes (muito do qual aplicado em importacao de maquinas eequipamentos sem similar nacional e nao disponıveis no mercadointernacional sem a influencia de consideracoes geopolıticas).Tanto mais porque os esforcos para a geracao autonoma de tec-nologia seriam provavelmente mais custosos, incertos e demora-dos, tal centralizacao de recursos estava muito alem da CREAI,a nao ser que suas fontes de fundos fossem radicalmente reformu-ladas, se o padrao de distribuicao de recursos entre agriculturae industria fosse bruscamente revertido e, enfim, se o volumede recursos disponıveis e a centralizacao decisoria quanto a suaaplicacao fosse muito diferente da verificada.

Lembre-se que mesmo as atividades da CREAI ultrapassaramregularmente seus recursos proprios, sendo cobertas pelas“disponibilidades gerais” do Banco do Brasil e por recursos emiti-dos pela CARED (cf. Malan et alii (1977), pp. 245-7). Ademais,

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uma correspondencia de Macedo Soares e Guilherme Guinle aVargas no final de 1942 estimava, naquele momento, que aindaseriam necessarios Cr$ 670 milhoes para gastos internos e US$20 milhoes para despesas com importacoes necessarias para con-cluir a usina (GV 42.11.05). E a ajuda federal estadunidense naose limitou a emprestimos do EXIMBANK. Durante a guerra, oBrasil ainda receberia um total de US$ 332 milhoes (algo emtorno de Cr$ 5,5 bilhoes a taxa oficial, ou Cr$ 6,5 bilhoes a taxalivre) sob os termos dos acordos de emprestimos e arrendamen-tos (Lend-Lease), correspondentes a cerca de 20% de todas asimportacoes brasileiras entre 1941 e 1945 (cf. Abreu (1977), p.332).

Se a “grande tarefa” estava alem da CREAI, as magnitudes en-volvidas estavam ainda alem da acumulacao interna de lucrosdos empresarios industriais da regiao mais prospera do paıs, in-viabilizando qualquer esforco privado nacional sem enorme fo-mento estatal. Para dar somente uma dimensao aproximada doproblema, note-se que segundo informacoes censitarias da epoca,todo o estoque de capital acumulado nas quase 13.000 fabricaspaulistas chegava a Cr$ 4,6 bilhoes em 1939, ano em que se ini-ciaram as gestoes diplomaticas que levariam mais tarde a con-strucao da CSN (cf. Villella e Suzigan (1973), p. 368). Usando odeflator proposto pelo IBGE (1990, p. 177), isso equivaleria a umestoque total cerca de Cr$6,5 bilhoes a precos de 1942, quandose estimou ainda serem necessarios fluxos novos de investimentoda ordem de Cr$ 670 milhoes em gastos internos e ainda US$20 milhoes em importacoes (cerca de Cr$ 335 milhoes a taxaoficial de 1942-3, e quase 400 milhoes a taxa livre), ou seja, umvalor superior a Cr$ 1 bilhao para concluir a usina siderurgica,ou cerca de 15% do capital das industrias paulistas em 1939.

Se isto nao bastasse, lembre-se que as maiores empresas indus-triais privadas (em estoque de capital) ainda eram texteis, isto

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e, dominavam uma base de capacitacoes tecnicas cujo horizontede diversificacao nao se aproximava (para nao falar de seus exce-dentes de capital) das capacitacoes necessarias para controlaras tecnologias da siderurgia pesada. Por outro lado, como haviahorizontes de diversificacao do capital local menos irrealistas earriscados, aproveitando incrementalmente varias das oportu-nidades mais “leves” de investimento indicadas pela estruturadas importacoes, um movimento de concentracao e centralizacaode capitais que partisse do setor privado local para superar os de-safios “pesados” da industrializacao tardia nao pode ser tomadocomo obrigatorio para garantir a reproducao microeconomica deempresas individuais, nem “espontaneo” em vista de calculos derentabilidade/risco. Ou seja, a diversificacao industrial do capi-tal local tinha condicoes de perseguir certas oportunidades deinvestimento a partir do bloqueio da pauta de importacoes, masestas oportunidades ficavam aquem dos investimentos basicosnecessarios pelo “reaparelhamento” economico do paıs. Cabefrisar que a CREAI destinava recursos para financiamentos priva-dos (nao a fundo perdido), e enquanto os emprestimos da carteirase limitassem a um maximo de 40% do capital necessario paramelhoramentos ou aquisicoes nas operacoes industriais, a mag-nitude do capital proprio a disposicao dos empresarios era umlimite a tomada de recursos para inversoes novas.

Como os recursos orcamentarios do POEPADN tambem eramrelativamente limitados (tres bilhoes de cruzeiros distribuıdosem cinco parcelas anuais entre variadas rubricas, particularmentepara os Ministerios da Guerra e Marinha, e de Viacao e ObrasPublicas), um esforco autonomo de financiamento dos variosprojetos de “reaparelhamento basico” cogitados deveria avancarpara formas de concentracao e centralizacao de recursos bemmais profundas que as que foram implementadas. Isto erapossıvel?

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4 Qual o papel das restricoes polıticas internas?

Dadas as limitacoes empresariais para financiar os projetos dereaparelhamento necessarios, qualquer esforco de centralizacaofinanceira deveria passar por projetos de governo mais profun-dos do que os da CREAI e do PEOPADN, visando concentrarrecursos para empreendimentos industriais. Por que isto nao foifeito?

Nao se pode negar a existencia de projetos empresariais solici-tando fomento governamental para bancos privados de investi-mento, pois algumas solicitacoes foram feitas e negadas (mesmoantes de visualizar-se a possibilidade de contar com fundos go-vernamentais estadunidenses para financiar projetos estatais).Mas as propostas de criacao de bancos de investimentos naotiveram exito a) pela escassez de recursos regulatorios e fis-cais para apoia-las, b) por impasses polıticos que paralisarama tramitacao dos projetos, c) pela resistencia empresa-rial a aventurar-se em projetos financeiros que envolvessem riscoe retorno a longo prazo sem amplo fomento estatal. Seus im-passes ilustram a natureza do pacto polıtico sob o qual se assen-tava o projeto industrializante no Estado Novo e os dilemas deuma industrializacao tardia. Em suma, os requisitos financeirose tecnologicos requeridos pelos investimentos pesados nos setoresde insumos basicos e infra-estrutura mostravam-se de difıcil al-cance para o setor privado local, sem a constituicao de formasmais avancadas de concentracao e a centralizacao de capitais. Ascondicoes polıticas necessarias para fomentar este processo deconcentracao/centralizacao, entretanto, nao foram reunidas. 8

8 Para a paralisia das varias propostas de bancos privados de in-vestimento industrial, cf. especialmente Diniz (1978), pp. 134-150 e,em excelente reelaboracao de suas conclusoes, Draibe (1985), 122-5;para as propostas de constituicao de banco central, cf. Sochaczewski

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As vicissitudes do projeto mais ambicioso e articulado ilustra asdificuldades polıticas e economicas envolvidas na constituicao debancos de investimento. Trata-se da difıcil tramitacao polıtica,iniciada em 1943 e rapidamente paralisada, do projeto de autoriade Luiz Betim Paes Leme, industrial e conselheiro do CTEF in-teressado em inaugurar um banco industrial com fomento gover-namental. Suas reivindicacoes basicas foram uma reforma da leidas S.A. (de maneira a favorecer os acionistas majoritarios e am-pliar a captacao) e amplo fomento direto, na forma de garantia demercado e preco mınimo. A proposta sofreu vetos cruzados nospareceres dos mais diferentes atores, antes da morte subita de seuautor: a) do banqueiro Gastao Vidigal, que resistia a modificacaolegal e as reivindicacoes de reserva de mercado e remuneracaogarantida, por motivos evidentes; b) de Eugenio Gudin, afir-mando que os financistas industriais exigiam benefıcios despro-porcionais ao esforco que pretendiam despender e aos benefıciosque poderiam oferecer; c) do DASP, afirmando que a preferenciado governo, naquele estagio, era pela constituicao de empresasestatais ou de economia mista nos setores industriais basicos.

Depois de bombardearem o projeto Paes Leme, os contendorespassaram a lutar entre si. O parecer do DASP provocou resposta

(1980), cap. 1. Nas palavras de Oliveira (1996), o governo Vargasproporia desde cedo modificacoes no sistema financeiro, e “para umaboa compreensao do sentido dessa polıtica, ha que se ter em contao importante Decreto no 24.575 de 4 de julho de 1934. Nos ‘con-sideranda’ do aludido documento o legislador argumenta: a) que odesenvolvimento industrial do paıs depende de organizacao bancariapropria que, pelo elasterio do credito, permita intensificar e aper-feicoar a producao; b) que esse amparo so pode assentar de modopermanente sobre uma organizacao bancaria especializada na con-cessao sistematica de credito industrial”. Desnecessario afirmar que oamparo jurıdico para contituir bancos privados de investimento naocorrespondeu a um amparo polıtico e economico suficiente.

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de Vidigal contra o que via como a otica exclusivista do capita-lismo de Estado (a despeito de apoiar a intervencao estatal, Vidi-gal nao a via como opcao excludente ao fomento de iniciativasprivadas viaveis, embora tambem nao considerasse viavel a pro-posta de Paes Leme); o parecer de Gudin provocou resposta deAluızio Campos, do DASP, contra a posicao intransigente inca-paz de enxergar que as condicoes peculiares a economia brasileiradesaconselhavam a aplicacao de princıpios ortodoxos — pois empaıses de estrutura agraria era impossıvel criar industrias basicasem condicoes de livre concorrencia, e negar a intervencao ofi-cial seria “querer impor ao paıs uma polıtica de permanentemanutencao da economia colonial” (apud Diniz (1978), p. 148).Sob o jogo de pressoes polıticas conflitivas, a decisao foi para-lisada, sem sequer ter recebido despacho (favoravel ou nao) deVargas. Antes e depois, outros projetos fracassaram porque naoforam capazes de reunir condicoes polıticas e fiscais necessariaspara sequer implementar o fomento que reivindicavam, ainda quea implementacao de suas reivindicacoes tampouco fosse garantiade exito: por exemplo, como atrair tomadores se a garantia deprecos mınimos (um piso para a queda da taxa de juros) limi-taria a capacidade de concorrencia com os creditos subsidiadosda CREAI? De todo modo, estes projetos nao foram barradospor dificuldades na fase de implementacao, pois nenhum delesfoi sequer decididamente apoiado pelo presidente para comecara ser implementado.

E claro que o encaminhamento destes projetos nao dependia ape-nas da vontade do presidente, sendo restringidos por obstaculosmais estruturais. Pois o que dificultava os projetos de reformafinanceira, assim como inviabilizava os projetos privados nossetores basicos (induzindo empresas estatais a desenvolve-los),era, de um lado, o tamanho do desafio da industrializacao emcondicoes historicamente tardias (que efetivamente exigia for-mas avancadas de concentracao/centralizacao de recursos); de

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outro, a ausencia de uma hegemonia polıtica que arbitrasse per-das e ganhos de um modo inequivocamente (embora nao neces-sariamente exclusivo) favoravel aos lıderes industriais do setorprivado. Em outras palavras, ao “equilıbrio instavel de compro-misso” sobre o qual manobrava o governo Vargas, escapava pro-mover em larga escala aquilo que seria muito comum em outrosprocessos tardios de industrializacao, e que talvez tenha sidocogitado mais tarde no governo Geisel (com limites conhecidos):escolher claramente alguns “campeoes nacionais” para coman-dar o processo de centralizacao financeira e industrial no setorprivado. 9

De fato, o fomento governamental a empresarios privados es-pecıficos esbarrava nos impasses polıticos e fiscais inerentes aamplitude e, as vezes, a incoerencia interna da coalizao de in-teresses que se defrontavam no interior do Estado Novo, regimefechado a representacao eleitoral mas aberto a lıderes corpora-tivos que debatiam e influenciavam as polıticas publicas no mo-mento mesmo de aprecia-las nos “conselhos tecnicos” criados.Isto e auto-evidente nos argumentos mobilizados pelas mais di-versas personagens para vetar o projeto Paes Leme, cuja unica

9 Diniz (1978), p. 149) comenta com clareza cristalina os impassesdos projetos: “A falta de consenso quanto a estruturacao de bancosdesta natureza, dadas as condicoes economicas do paıs e o irrealismoda proposta de se dar a instituicao um carater privado, contando-secom um empresariado carente de recursos. . . inviabilizaria a medida,paralisando a decisao.” Uma sıntese crıtica das justificativas do pro-jeto Paes Leme no quadro geral das propostas de constituicao debancos de investimento, defendendo a participacao nao-monopolicado Estado no setor, foi feita pelo ainda deputado federal (e futuroministro da Fazenda) Horacio Lafer: O Credito e o Sistema Bancariono Brasil, 1948, pp. 129-138. Como se sabe, Lafer seria mais tarde oresponsavel pela proposta e pela negociacao parlamentar em torno alegislacao que instituıa o BNDE: ver Martins (1976), pp. 381-389.

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semelhanca era a de estarem todas incluıdas nos conselhos doEstado Novo, combatendo umas as outras. Isto nao era umaexcecao mas uma caracterıstica essencial (tantas vezes apontada)da “Revolucao Burguesa Brasileira” representada pela Revolucaode 30 e seus desdobramentos no Estado Novo: o fato de que aagregacao de novos interesses no condomınio de poder (excetoos dos trabalhadores rurais) se fez sem expropriar as fontes depoder dos velhos interesses, e sem a constituicao de uma hege-monia da burguesia industrial local (com isto se quer dizer queembora ela pudesse se mostrar capaz de influenciar certas agen-das decisorias, nao as controlava). Se de um lado este processode agregacao de interesses conferia a cupula presidencial a possi-bilidade de se apresentar como a unica representante do interessegeral da nacao (dividindo-a para reinar na cupula), tambem frag-mentava e limitava o escopo possıvel da centralizacao de recursosdecisorios e financeiros, a medida que as reivindicacoes setoriaispressionavam recursos escassos.

Neste contexto, a proliferacao de orgaos setoriais, institutos,agencias, conselhos, comissoes nos quais eram canalizados direta-mente os interesses corporativos tinha um intuito polıtico claro:impedir ou controlar o “transbordamento” de questoes confliti-vas para fora de seus aparelhos, buscando sua resolucao interna eassegurando a reproducao do regime. No entanto, dado o amploe heterogeneo bloco de interesses representado nos aparelhos deEstado, a “resolucao” de certas questoes passava frequentementepela paralisia das propostas mais controvertidas. Assim,suprimiam-se certas mudancas que afetassem a acomodacao deinteresses alojados no condomınio de poder (sem que Vargas pre-cisasse sempre expor-se dando um despacho negativo a elas, japaralisadas antes de chegarem a cupula). Este e ao que parece ocaso das propostas de reforma financeira debatidas nos conselhos,vetadas porque propunham um grau inviavel (do ponto de vistapolıtico e fiscal) de suporte de recursos publicos para fomenta-

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las: Vargas nao precisou dar-lhes despacho desfavoravel, isto e,recusar-se diretamente a transferir o controle sobre o substancialvolume de recursos que reivindicavam, pois elas foram vetadasantes. E claro que Vargas poderia ter passado por cima dos con-selhos tecnicos, mas nao decidiu tomar partido por qualquer dosprojetos privados; se dermos credito ao represante do DASP queparticipou da consideracao e veto ao projeto Paes Leme, talvezporque o presidente considerasse que a mobilizacao e controle dadestinacao de recursos federais (e talvez o exito da empreitada)estivesse assegurado mais pela constituicao de firmas estatais doque por transferencias para empresarios privados.

Lembre-se que o veto do DASP ao projeto Paes Leme se fun-damentava na afirmacao de que a preferencia do governo ja erapela constituicao de empresas estatais ou de economia mista nossetores industriais basicos. Nao se pode dizer com certeza quea posicao do DASP se confundisse com a do proprio GetulioVargas, embora Luıs Simoes Lopes, presidente do orgao, certa-mente fosse um de seus “homens de confianca” mais proximos.Naquele contexto, porem, a intervencao direta de empresas es-tatais, embora tambem fosse objeto de resistencias, erauma estrategia que minimizava os conflitos polıticos frenteas dificuldades regulatorias e fiscais para fomentar investimen-tos privados nos setores “de base”. Do ponto de vista fiscal-financeiro, por exemplo, podia se justificar a criacao de novos im-postos (especialmente “fundos vinculados”) para financiar pro-jetos de investimento de firmas estatais, mas dificilmente parafinanciar empreendimentos privados especıficos. De fato, variosprojetos de reforma financeira esbarraram, dentre outros vetos,na recusa em decretar os novos tributos que eles explicitamentereivindicavam para serem fomentados, pois beneficiariam direta-mente empresarios especıficos. Se tal tipo de transferencia paraempreendimentos privados foi vetada, o acesso a formas maisavancadas de centralizacao financeira e decisoria mostrar-se-iam

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viaveis as empresas estatais, atraves de (i) emprestimos externosnegociados pelo governo federal, (ii) fundos para-fiscais estrita-mente vinculados a seus projetos especıficos e (iii) transferenciasfazendarias (cf. Coutinho e Reichstul (1977)).

A constituicao de empresas estatais foi, neste sentido, um meiomais rapido e direto de alcancar os objetivos que o poder regu-latorio do Estado Novo varguista (entendido como a capacidadede realizar finalidades induzindo atividades privadas na direcaodesejada) nao se mostrara ou bem capaz de realizar, ou bem dis-posto a realizar — se retido estivesse, a uma distancia segura,da intervencao direta no sistema de producao.

A criacao de estatais sofreu resistencias insuperaveis, no perıodo?Pelo contrario, as empresas estatais nao nasceram sob o signoda objecao radical dos empresarios durante a Segunda Guerra,tirante algumas resistencias isoladas. De um lado, os investi-mentos a que se propunham nao eram concorrentes mas com-plementares as areas de atuacao privilegiadas dos empresarioslocais (embora o mesmo nao possa ser dito sempre quanto aos re-presentantes de filiais, interessadas naquele momento pelo menosem “sentar” sobre concessoes de servicos publicos passıveis de ex-ploracao posterior); de outro, a expansao das carteiras de creditodo Banco do Brasil satisfazia varias necessidades correntes dosempresarios nacionais, ainda que os mantivessem aquemde tornarem-se “campeoes industriais” que comandassem os in-vestimentos pesados. Assim, tendo em vista as dificuldades parafinanciar privadamente o “reaparelhamento economico” basico ea existencia de oportunidades lucrativas de investimento privadomenos arriscadas, a criacao de empresas estatais durante a Se-gunda Guerra (financiadas, longe de imposicoes revolucionarias,por emprestimos externos negociados pela diplomacia varguista,por fundos para-fiscais estritamente vinculados a seus projetosespecıficos e por transferencias fazendarias) nao surgiu como um

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“ato de forca” imposto a despeito de resistencias — pois ondeas estatais se destinavam a realizar investimentos que sem elastalvez nao fossem realizados, nao lhes faltou, a despeito de re-sistencias parciais, amplo apoio polıtico empresarial (cf. Carone(1977); Diniz (1978); Leme (1978); Boschi (1979); e Bielschowsky(1988)).

Mas sera que a criacao de estatais nao sofreria maioresresistencias internas caso dependesse sobretudo de recursostributarios locais? A respeito, nao se pode esquecer que tantoos projetos iniciais da Companhia Vale do Rio Doce quanto daCompanhia Siderurgica Nacional foram encampados como es-tatais mas acabaram sendo largamente financiados, depois devarias negociacoes, pela transferencia internacional de recursosfederais estadunidenses, reduzindo pressoes eventuais sobre re-cursos fiscais claramente escassos e insuficientes. 10

5 Conclusao

Dito isto, podemos alegar que um projeto de financiamento daindustrializacao no “estilo prussiano” foi barrado no inıcio do Es-tado Novo, levando o governo Vargas a apelar para a cooperacaopanamericana?

10 Varias reformas incrementais do sistema tributario aumentaram aimportancia dos impostos associados ao mercado interno e a rendaate 1945, porem em todos os anos entre 1930 e 1945 nao chegavam aser suficientes sequer para impedir deficits na execucao orcamentariacorrente, quanto menos seriam para financiar tambem os orcamentospublicos de investimento, dependentes de fundos paralelos: cf. Villellae Suzigan (1973), pp. 56-7, 185, 222-4, Almeida (1978), pp. 125ff eDraibe (1985), pp. 119ff.

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Como vimos, nao ha evidencias de que este projeto tenha sido se-quer imaginado ou proposto, e muito menos implementado e blo-queado. E provavel que haveria fortes resistencias a um projetoque buscasse concentrar recursos domesticos a um grau que pos-sibilitasse financiar autonomamente a industrializacao pesada. Eestas resistencias eram em parte inerentes ao arco heterogeneode interesses atendidos pelos orgaos tecnicos ou corporativos cri-ados nos anos 1930. Mas, no curto perıodo entre o inıcio doEstado Novo e a aceitacao do convite estadunidense que levariaa Missao Aranha, nao houve alguma resistencia insuperavel con-tra a tramitacao de algum novo projeto que fizesse Vargas dar-seconta, subitamente, do irrealismo de seu presumido “sonho prus-siano”, obrigando-o a voltar-se para fora.

As resistencias de que Vargas se queixava, antes e depois doEstado Novo (o localismo, o liberalismo, o nepotismo, o pri-vatismo, o parasitismo e mesmo a covardia das oligarquias re-gionais) nao eram novas, e e possıvel que nao passassem a sersentidas com mais forca por Vargas apenas em 1938. Para quea implementacao do presumido projeto prussiano fosse vetadapor resistencias posteriores a sua iniciativa (como as que Vargasefetivamente sofreu do Congresso Nacional na decada de 1950,em relacao a algumas propostas para a superacao de “pontosde estrangulamento”), seria preciso que Vargas nao tivesse an-tecipado e internalizado certos limites polıticos ate onde pode-ria avancar; mas se tivesse, suas iniciativas irrealistas nao se-riam frustradas ex post porque nao teriam sido tentadas ex ante.Seja como for, tenha antecipado ou nao estas resistencias, tenhacogitado ou nao um presumido projeto prussiano, a verdade eque este projeto nao foi barrado depois de ter sido implemen-tado, pois nao ha sequer decisoes indicativas de uma propostaprussiana/nacionalista extrema que tenha sido sequer colocadaem acao de inıcio, ou mesmo de resistencias oriundas de lutaspolıticas locais que, mal iniciado o Estado Novo, tivessem blo-

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queado a tramitacao de algum projeto representativo do “sonhoprussiano”.

Ao contrario, como vimos, antes e depois do Estado Novo asgestoes do governo nao seguiam as propostas de militares,tecnicos e polıticos nacionalistas locais no sentido de dar umasolucao estatal para a “questao siderurgica”, explorando sim alinha de atracao de filiais estadunidenses (DuPont ou US. Steel)ou, quando confrontada pelo desinteresse delas, filiais alemaes(Demag, Krupp e Stahlunion). A insistencia do governo em atrairfiliais era tamanha que o levou a testar o pendulo entre as filiaisrivais duas vezes entre 1937 e 1940, antes de ser convidado porRoosevelt a receber recursos oficiais para a CSN — empresaestatal que nao deixara de ser criada antes de 1941 por causade derrotas polıticas locais do governo (mas sim de derrotas daala nacionalista em torno ao Comissao Nacional de Siderurgiadesde 1931), e que so foi criada depois de 1941 por causa datentativa fracassada do governo de atrair filiais e do interesseestadunidense em assegurar o alinhamento brasileiro.

Exercıcios contra-factuais sao sempre problematicas, quando naointeiramente desnecessarios. Mas suponhamos que Vargas pelomenos cogitara efetivar adiante a via prussiana antes que tivessetempo de faze-lo, e reformulemos o modo como J.L.Fiori proposentender a missao Aranha de 1939. Como se sabe, o sistemade tomada de decisoes que se consolidou no Estado Novo eracentralizado (dependente de despachos de Vargas) e excluıa gru-pos societais nao convidados — embora se buscasse avaliar asopinioes e interesses dos grupos “convocados” em foruns cor-porativos de debate e “aconselhamento”. Nas circunstancias decentralizacao decisoria do Estado Novo, se a tomada de decisoesindicativas de uma proposta prussiana/nacionalista extrema naofoi feita depois de ter sido cogitada (quanto menos barrada), issoocorreu a) ou porque se reavaliara na cupula a incapacidade de

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implementa-la depois das primeiras tratativas polıticas (supondoser a alternativa mais desejavel), ou b) porque uma alternativapercebida como mais viavel (e mais ou menos desejavel) surgirano final da decada de 1930 — antes de se ter tempo de imple-mentar o “sonho prussiano”. Este pode ser o caso da cooperacaopanamericana, que pode ter aparecido a tempo como alternativaviavel a uma estrategia “prussiana” e aos conflitos que lhe seriaminerentes. Nestas circunstancias, se Vargas cogitara arriscar-seem um via prussiana/nacionalista radical no inıcio do EstadoNovo, a luta interna necessaria para implementa-la nao viriasequer a ser travada (e, de fato, qual foi travada naquele mo-mento?), porque Vargas vislumbrara a possibilidade (politica-mente menos arriscada) de aproveitar o convite estadunidensede modo a obter os recursos para financiar o “reaparelhamentoeconomico” desejado. Neste sentido, a imagem nao e a de quetenha sido so “empurrado” para fora pela carencia de recursosfinanceiros internos e pelas resistencias polıticas antecipadas nocaso de enfrenta-las, por exemplo com maior extracao tributaria;em certo sentido, ele teria sido tambem “puxado” desde fora (ou“capturado”, “fisgado”) por uma oportunidade que nao foi cri-ada por uma imposicao sua (em funcao de necessidades internas),mas aberta por um convite estadunidense.

A possibilidade mais otimista seria, ainda, que o governo teriasucesso ao superar resistencias locais e implementar a opcaoprussiana mais tarde, caso a oportunidade panamericana naohouvesse surgido tao cedo para oferecer uma linha de menorresistencia. Mas ha outra possibilidade menos otimista, que ahistoria do perıodo tambem nao experimentou (embora a cam-panha liberal durante a crise do Estado Novo ilustre a questaoem menor escala: Bastos (2001), Bastos (2004)). A possibilidadede que as lutas polıticas internas necessarias para avancar umprojeto industrializante por meio da “grande tarefa” de mobi-lizacao de recursos locais fossem perdidas ou nao fossem sequer

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travadas, se o convite estadunidense nao ocorresse. Ou seja, apossibilidade de que o convite estadunidense e o desenvolvimen-tismo associado nao estivessem substituindo uma linha mais na-cionalista de desenvolvimento industrial, mas criando, como ummilagre, a unica possibilidade de avancarmos na industria pe-sada, dadas as possıveis resistencias que bloqueariam reformasfinanceiras e tributarias mais radicais.

E claro que nao podemos conhecer o resultado de conflitos quenao foram sequer travados. Pode-se sugerir com maior proba-bilidade de acerto, porem, que as raızes do desenvolvimen-tismo associado brasileiro, ou seja, de um projeto de indus-trializacao voltado para o mercado interno mas dependente definanciamento externo, foram plantadas no momento em que acentralizacao polıtica do Estado Novo nao coincidiu com umaconcentracao de recursos suficiente para financiar sonhos na-cionalistas radicais. Na pratica, a necessidade de recursos exter-nos obtidos ali atraves cooperacao panamericana convivia, inter-namente, com uma ampla descentralizacao de recursos voltadosa reproduzir um arco de conciliacao de interesses heterogeneos —arco polıtico este que limitava a centralizacao de recursos locaispara projetos modernizantes, alias como em outros momentos dahistoria brasileira, antes ou depois.

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