racismo institucional: dificuldades e alternativas no ... fileassistente social e na coordenação...
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Tânia Maria Guelpa Clemente
Racismo institucional: dificuldades e alternativas no
enfrentamento à epidemia de DST/Aids
Monografia apresentada ao curso de Especialização em
Prevenção ao HIV/Aids no quadro da Vulnerabilidade e
Direitos Humanos do Departamento de Medicina
Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Casco
São Paulo 2011
Tânia Maria Guelpa Clemente
Racismo institucional: dificuldades e alternativas no
enfrentamento à epidemia de DST/Aids
Monografia apresentada ao curso de Especialização em
Prevenção ao HIV/Aids no quadro da Vulnerabilidade e
Direitos Humanos do Departamento de Medicina
Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Casco
São Paulo 2011
iii
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é resultado de anos de atuação no sistema público de saúde como
assistente social e na coordenação do Programa de DST/Aids e Hepatites Virais do
Município de Bragança Paulista-SP. Agradeço ao meu companheiro, médico
infectologista José Ribamar Borges Mendes, que muito me incentivou, apoiou e
contribuiu com comentários preciosos na elaboração deste texto, da minha vivência
profissional e no meu processo de aprendizado. A todos os profissionais do Programa
de Aids de Bragança Paulista que acompanharam esta trajetória, em especial à
Psicóloga Patrícia de Mello Santos, colega de curso, amiga, que apesar da
adversidade do momento pessoal de sua vida ficou sempre firme nos desafios que
nos foram apresentados. Ao Prof. Dr. Ricardo Casco, meu orientador, que com sua
capacidade de me guiar trouxe a possibilidade de refletir sobre a história dos negros
em mares que nunca antes havia navegado. Ao Programa Estadual DST/Aids, da
Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, em especial à coordenação: Dra. Maria
Clara Gianna e Dr. Artur O.Kalichman e à Diretora Técnica de Divisão da Gerência
de Prevenção, Ivone Aparecida de Paula, que acreditaram e viabilizaram a minha
participação neste curso. Às Pessoas Vivendo com HIV que com suas histórias de
vida nos impulsionam a desafiar os modelos existentes e a alicerçar e construir novas
políticas para verso e reverso da mesma moeda, cuidado e prevenção.
iv
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
LISTA DE GRÁFICOS
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1
1.1. Questões sobre o racismo no Brasil......................................................................4
1.2. Perspectiva teórica e problemas de pesquisa.........................................................7
2. OBJETIVOS.......................................................................................................14
3. DESCRIÇÃO DA PESQUISA (PROCEDIMENTOS E MÉTODOS).............15
3.1. Critérios de seleção das fontes bibliográficas....................................................15
3.2. Fontes de pesquisa.............................................................................................15
3.3. Procedimentos analíticos...................................................................................17
Capítulo 1 - RACISMO INSTITUCIONAL: O QUE SE PASSA NAS
UNIDADES DO SUS? ............................................................................18
Capítulo 2 - AS REIVINDICAÇÕES DO MOVIMENTO NEGRO:
RESISTÊNCIA E OBJETIVAÇÃO DAS PRÁTICAS
DISCRIMINATÓRIAS.........................................................................28
Capítulo 3 - RESPOSTAS PARA O COMBATE À DISCRIMINAÇÃO DO
NEGRO NO SISTEMA DE SAÚDE: BALANÇO DOS AVANÇOS
DO MOVIMENTO................................................................................33
Capítulo 4 - O PROGRAMA MUNICIPAL DE DST/AIDS DE BRAGANÇA
PAULISTA............................................................................................39
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................42
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................47
v
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Taxa de Desemprego, por gênero e raça, 1992-2001...............................10
vi
Resumo
Clemente TMG. Racismo institucional: dificuldades e alternativas no enfrentamento
à epidemia de DST/Aids. [Monografia]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade
de São Paulo; 2011.
INTRODUÇÃO: O Sistema Único de Saúde (SUS) garantiu a saúde como direito universal
de cidadania e dever do Estado. Entretanto todo o esforço que tem sido dispensado na
expansão do SUS não tem tido resultado igual entre brancos e negros, diferenças entre os
dois grupos populacionais estão expressos em vários indicadores de saúde inclusive nos
dados epidemiológicos de HIV/Aids.. O Movimento Negro Organizado tem conquistado a
formulação de políticas de saúde que visam a igualdade racial. Nesta monografia analisamos
as principais reivindicações do Movimento Negro para o enfrentamento à epidemia de
HIV/AIDS e as principais políticas públicas direcionadas para a população negra,
procurando identificar seus limites e potencialidades. MÉTODOS: Os textos selecionados
em livros, periódicos científicos, base de dados bibliográficos e sítios de busca da Internet e
foram agrupados em três tipos de artigos: história dos negros no Brasil e do racismo;
história, organização e reivindicações do movimento negro; resposta governamental.
RESULTADOS: As evidências levantadas demonstram tratamento desigual entre brancos e
negros no SUS, desde a Atenção Primária até os serviços especializados, como é o caso dos
serviços de Aids. Homens e mulheres negros morrem mais em decorrência da Aids, tem
menor acesso aos insumos de prevenção e menor acesso aos serviços de saúde. Existe
carência na gestão e capacitação dos profissionais na identificação do racismo institucional e
no seu enfrentamento comprometendo assim a integralidade na atenção à saúde. O
Departamento Nacional de DST/Aids e Hepatites Virais, com os programas estaduais e
municipais, tem sido a vanguarda no estabelecimento de políticas de acesso à prevenção e de
tratamento. Existe uma coerência entre as reivindicações do Movimento Negro e as respostas
oferecidas como políticas públicas. Entretanto há um hiato com relação a efetivação destas
políticas, fato este que vem sendo questionado pelo Movimento Negro. Relatamos ações que
vem sendo desenvolvidas no município de Bragança Paulista - SP, para ressaltar a
importância de intervir na esfera municipal para responder ao racismo camuflado, escondido
no manto da “democracia racial” e desmentida nos dados apresentados e nos relatos
auscultados no nosso cotidiano profissional. CONCLUSÕES: O racismo e a discriminação
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racial são fatores determinantes das condições de saúde. Ações conjuntas dos serviços de
saúde e do movimento social são necessárias para implementar à prevenção às DST/HIV
entre homens e mulheres negros. O racismo fragiliza as pessoas e pode colocá-las em
condição de maior vulnerabilidade e de negação de direitos. Executar e monitorar a
implantação das políticas públicas direcionadas à população negra é uma necessidade.
Descritores: Racismo institucional; Movimento Negro; HIV/Aids.
1. INTRODUÇÃO
O Sistema Único de Saúde (SUS), fruto da luta da população brasileira por
condições dignas de saúde, garantiu a saúde como direito universal de cidadania e
dever do Estado. São princípios fundamentais do SUS: a Universalidade,
compreendida como o direito à saúde a todos os cidadãos e o acesso sem
discriminação ao conjunto das ações e serviços de saúde ofertados pelo sistema;
Integralidade pressupõe considerar as varias dimensões do processo saúde-doença
que afetam os indivíduos e as coletividades e pressupõe a prestação continuada do
conjunto de ações e serviços visando garantir a promoção, a proteção, a cura e a
reabilitação dos indivíduos e dos coletivos; a Equidade no acesso às ações e aos
serviços de saúde traduz o debate atual relativo à Igualdade, prevista no texto legal,
e justifica a prioridade na oferta de ações e serviços aos segmentos populacionais que
enfrentam maiores riscos de adoecer e morrer em decorrência da desigualdade na
distribuição de renda, bens e serviços. (Vasconcelos e Pasche,2006)
O respeito aos princípios do SUS não tem sido algo simples na
implementação do sistema. Vivemos em uma sociedade marcada por desigualdades
sociais e por violação de direitos, atuar a favor da equidade e da justiça social exige
mais que competência técnica, sendo imprescindível um posicionamento ético e
político ante as violações, que se contraponha a qualquer forma de discriminação e
preconceito.
Nos cursos de formação dos profissionais da área da saúde e das ciências
humanas, pouca ênfase é dada a temática racial e isto terá reflexo no exercício
profissional.
2
No cotidiano do trabalho no Sistema Único de Saúde e no Programa
Municipal de DST/Aids há anos causa-me indignação o tratamento desigual, acesso
diferenciado e até mesmo a negação do direito à saúde para a população negra. Esta
indignação se transformou em sede de aprofundar conhecimento durante o Curso de
Especialização em Prevenção ao HIV/Aids no quadro da Vulnerabilidade e Direitos
Humanos, principalmente com o conteúdo apresentado na disciplina “Estigma e
Discriminação. Este fato foi o que me motivou a fazer a presente pesquisa a fim de
verificar se a percepção aleatória, de racismo institucional no SUS, tem confirmação
ou não nos autores que produziram conhecimento cientifico com este recorte e nos
dados epidemiológicos.
Se analisarmos o SUS tomando como base as relações raciais
observamos que o esforço para criar um sistema de saúde
equânime, universal e integral tem produzido resultados tais como
a expansão do acesso à saúde, da cobertura dos serviços e
disponibilidade de procedimentos de média e alta complexidade.
Porém, estes resultados têm impacto diferenciado sobre brancos e
negros no Brasil, uma vez que foram mantidas as diferenças de
desempenho em saúde destes dois grupos populacionais,
permanecendo os negros com as maiores taxas de mortalidade
infantil, mortalidade materna, mortes por causas externas, mortes
por causa evitável e menor esperança de vida. (Oliveira e
Figueiredo, 2005)
Na década de 1990, o movimento negro, juntamente com o Ministério da
Saúde, propõe ações que orientem a formulação de políticas de saúde direcionadas à
população brasileira afro-descendente (BRASIL / MS, 2001), reacendendo as
discussões de algumas doenças mais prevalentes nessa população. Destaca-se a
publicação da portaria nº 3.947/GM (Diário Oficial da União, 14/01/99), que
preconizou, a partir de 1º de janeiro de 1999, a inclusão do campo raça/cor, de
acordo com os atributos adotados pelo IBGE. Os sistemas e bases de dados do
3
Ministério da Saúde devem utilizá-lo como dado complementar para o
reconhecimento do indivíduo assistido nos sistemas de informação que assim o
requererem, permitindo analisar os dados epidemiológicos e de assistência à saúde
com um recorte racial.
Garantir a institucionalização da política de igualdade racial implica avançar
na transversalidade, isto é, criar mecanismos para que os órgãos setoriais incorporem
a diretriz em seu planejamento e tenham ações coordenadas.
Com isto o presente trabalho pretende analisar a existência do racismo
institucional no âmbito do SUS, muitas vezes imperceptível e negado para àqueles
que não o sofrem, sendo a discussão motivo de admiração e contestação dos
usuários, trabalhadores e gestores não negros. Talvez esta negação dificulte a
implantação/implementação de políticas que garantam o respeito ao direito
constitucional e principio do SUS de tratamento igual para todos.
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1.1.Questões sobre o racismo no Brasil
A abolição oficial da escravatura dos negros não foi capaz de abolir o racismo
silencioso e não declarado. No Brasil, diferentemente da história de outros países,
como os Estados Unidos e África do Sul, sempre se negou o racismo e a
discriminação contra negros e se propagandeou a convivência pacifica e harmônica
entre os desiguais, o mito da democracia racial, ou o racismo cordial, como
denominaram Turra e Venturi (1995).
Como assinala Schwarcz “no Brasil convivem duas realidades absolutamente
diversas: de um lado a descoberta de um país profundamente mestiçado em suas
crenças e costumes de outro, o local de um racismo invisível e de uma hierarquia
arraigada na intimidade. O fato é que, no Brasil, „raça‟ é, conjuntamente, um
problema e uma projeção”(2010, p.87).
Por sua vez, Sheppard (2001, p. 187) assinala que
[...] ironicamente, enquanto a maior parte dos brasileiros cultos nos
idos de 1930 houvesse negado o racismo científico, os médicos
brasileiros pareciam ter descoberto raça como variável importante
na medicina, pois nas décadas de 1930 e 1940 as revistas médicas
atolaram-se com trabalhos sobre as ditas doenças dos negros.
Isto pode ser explicado, segundo Carrara (2004), pelo fato de que, nesse
período, apesar de estratégias anticoloniais para construção de uma identidade
nacional mais positiva terem sido levadas a cabo pelos intelectuais brasileiros, os
termos da inferioridade brasileira foram mantidos, e a raça e o sexo continuaram a
ser pontos de passagem quase obrigatórios para entender tal inferioridade.
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Nesta passagem, as escolas de direito e de medicina, tiveram um papel de
destaque, pois colocaram esta discussão no âmbito das diferenças biológicas e da
filosofia política liberal. Vale ressaltar “O espetáculo das raças" de Lilia Schwarcz
(1993) que aprofunda toda esta análise até a década de 30.
Com o fim da escravatura e a vinda de mão de obra européia, notadamente para as
culturas de café, produzem junto às elites da região Norte e Nordeste uma inconformação.
Se de um lado tem-se a região sul e sudeste o desejo do processo de “embranqueci mento”,
na região nordeste tem-se a “democracia social e étnica” apregoada por Gilberto Freire,
notadamente em Casa Grande e Senzala. Na realidade existia aqui uma disparidade entre
os interesses das elites dominantes da época. De um lado a região norte/nordeste assistia a
perda de poder dos latifundiários luso brasileiros, pelo crescimento e valorização da
cultura do café no sul, que já a época delineava as disparidades econômicas e sociais
destas regiões, conferindo poder de decisão na política nacional.
Se durante os quatro séculos da escravidão os negros rebeldes se aglutinaram
nos quilombos na luta contra a escravidão e pela instauração do trabalho livre, na
monarquia os negros assumiram a defesa do regime, chegando a contar com uma
Guarda Negra, para reprimir os comícios e manifestações pró republicanas,
idealizado por José do Patrocínio. Com a República, os negros se incorporaram a
movimentos populares, como foi o caso da Guerra de Canudos e a Revolta da
Chibata, que foi talvez o último movimento de rebelião.
Domingues (2007) nos seus apontamentos históricos nos traz a trajetória da
imprensa negra paulista na década de 20 e 30 e o papel importante na organização político-
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partidária, contribuindo para a formação da Frente Negra Brasileira, que tinha um
programa político e ideológico autoritário e ultranacionalista.
A Frente fez aliança com o governo de Getulio Vargas, numa política de
barganha, conquistando inclusive o aval para que os negros pudessem ingressar na
Guarda Civil Metropolitana de São Paulo. Entretanto, teve curta duração, uma vez
que com o Estado Novo, todos os partidos foram considerados ilegais e dissolvidos.
O movimento negro passa a seguir por uma fase de resistências de cunho cultural
(religião, música, dança, teatro). Vale aqui ressaltar a importância em 1944 do Teatro
Negro Experimental na cidade do Rio de Janeiro, que teve como idealizadores e figuras
principais Abdias do Nascimento e Guerreiro Ramos, que buscou criar uma consciência
de negritude e tratar da questão do racismo a partir da arte, mas com inserção política.
Guerreiro Ramos já aquela época se opunha à posição dos negros assumirem a
responsabilidade pela educação do seu povo e colocou como fundamental a defesa do
direito à educação como grupo inserido na Nação Brasileira.
Era o prenuncio do movimento de vanguarda da década de 50 e 60,
notadamente na música, cinema e teatro entre os americanos, que muito influenciou
o Brasil e que deu origem às políticas afirmativas para negros norte-americanos,
conseqüências das lutas incansáveis por direitos civis.
No Brasil a luta por justiça e igualdade também se fortaleceu com o exemplo
dos imigrantes europeus, que se engajam nos movimentos sociais com os setores
progressistas da sociedade, rompendo com a posição isolacionista.
Estas décadas foram marcadas por uma tendência política, que dividiu o
mundo em dois blocos: socialista e capitalista, tendo como reflexo no Brasil e na
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América do Sul a instalação de regimes ditatoriais e repressivos. A luta por mudanças
comportamentais, como o movimento feminista, a favor dos negros e dos
homossexuais, traduz a contestação dos costumes e da ordem política vigente.
O Movimento Negro integra a luta pela redemocratização do país e em 1978
acontece à fundação do Movimento Negro Unificado, que assume discurso radical,
aliando a luta anticapitalista e contra a discriminação racial.
Domingues (2006, p.113) relata marco significativo na história da
rearticulação do movimento negro.
No contexto de rearticulação do movimento negro, aconteceu uma
reunião em São Paulo, no dia 18 de junho de 1978, com diversos
grupos e entidades negras (CECAN, Grupo Afro-Latino América,
Câmara do Comércio Afro-Brasileiro, Jornal Abertura, Jornal
Capoeira e Grupo de Atletas e Grupo de Artistas Negros). Nesta
reunião, decidiu-se criar o Movimento Unificado Contra a
Discriminação Racial (MUCDR), e a primeira atividade da nova
organização foi um ato público em repúdio à discriminação racial
sofrida por quatro jovens no Clube de Regatas Tietê e em protesto
à morte de Robson Silveira da Luz, trabalhador e pai de família
negro, torturado até a morte no 44º Distrito de Guaianases. O ato
público foi realizado no dia 7 de julho de 1978, nas escadarias do
Teatro Municipal em São Paulo, reunindo cerca de 2 mil pessoas, e
“considerado pelo MUCDR como o maior avanço político
realizado pelo negro na luta contra o racismo”.
Na década de 80 e 90 muitas batalhas foram vencidas e muitas bandeiras de
lutas conquistadas. A voz dos negros brasileiros foi ouvida pelo mundo, ganhando
apoio e fazendo uma pressão interna para que políticas públicas fossem implantadas
para garantir a equidade racial entre os brasileiros.
1.2. Perspectiva teórica e problemas de pesquisa
Tomando-se por base as reflexões levantadas por Munanga e Kalckmann
(2004, 2007), o conceito de raça não é igual nos diferentes países e sociedades, pois
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não é um conceito biológico e sim ideológico. É uma construção sociológica em que
se atribui a algumas características físicas, genéticas, religiosas e culturais, juízos de
valor que buscam justificar no âmbito das relações sociais a dominação ou exclusão.
Adotamos neste trabalho o conceito de racismo como um
processo de hierarquização, exclusão e discriminação contra um
sujeito ou toda uma categoria social que é definida como diferente
com base em uma marca física externa (real ou imaginada), a qual é
re-significada em termos de uma marca cultural interna que define
padrões de comportamento. Por exemplo, a cor da pele sendo negra
(marca física externa) pode implicar na percepção do sujeito
(individuo ou grupo) como preguiçoso, agressivo, alegre (marca
cultural). É uma redução do cultural ao biológico, uma tentativa de
fazer o primeiro depender do segundo. (Lima et al.,2004)
O racismo não existe simplesmente no âmbito individual, mas também no
institucional e cultural. Como o foco de nossa análise recai sobre o racismo no SUS,
adotamos como definição de racismo institucional
a produção sistemática de segregação étnico-racial, nos processos e
relações institucionais. Manifesta-se por normas, práticas e
comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano de
trabalho, resultantes de ignorância, falta de atenção, preconceitos
ou estereótipos racistas. (Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra, 2010, p.16).
É comum querer explicar as desigualdades sociais existentes no Brasil, unicamente
sob o prisma sócio econômico, como um problema de classes sociais e colocando no
acesso à educação a principal solução para acabar com esta iniqüidade. Entretanto, existe
uma desigualdade na hierarquia social e econômica da nossa sociedade marcada pela cor
da pele. Ainda hoje somente 11% da população de 25 a 64 anos têm diploma universitário,
o que coloca o Brasil em último lugar entre os emergentes, segundo levantamento feito
pelo especialista em análise de dados educacionais Ernesto Faria, a partir da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE. Mas quando se faz um
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recorte dos indicadores educacionais entre brancos, pretos e pardos apesar da redução da
desigualdade entre os grupos, em 2009 os pretos não haviam atingido os indicadores de
brancos apresentavam em 1999. (Brasil, IBGE, 2010)
Com relação às condições sócio-econômicas da população negra, dados do
IPEA que mostram a distribuição percentual de pessoas residentes em domicílios
particulares permanentes com Renda Domiciliar Per Capita- RDPC - menor que
meio salário mínimo, segundo raça ou cor no período de 1992 à 2009, indicam que
embora no período tenha ocorrido diminuição de população vivendo nestas
condições, 54,86% (1992) para 35,26% (2009), deste total 42,33%, em 1992, eram
brancos e em 2009 25,35%. Nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, esse percentual
em 2009 representa 50,04% e 58,32% respectivamente, confirmando que as políticas
sociais implantadas na última década, embora tenham reduzido o percentual de
pobreza e miséria, ainda mantém a condição de desigualdade da população negra
(Brasil, IPEA, 2011). As taxas de desemprego da época mostravam as mulheres
negras piores que dos homens negros, que por sua vez são piores que os das
mulheres brancas, como se pode observar no gráfico a seguir.
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Gráfico 1- Taxa de Desemprego, por gênero e raça, 1992-2001
Fonte: Roberto Martins, Relatório apresentado à OIT Brasil (abril 2003)
Quando se analisa as relações de trabalho e de renda entre brancos e negros,
contata-se que a renda dos trabalhadores negros nas mesmas funções dos brancos é
menor (OIT Brasil, 2003). Esses dados sugerem a ocorrência de discriminação
salarial, mesmo quando os negros têm nível mais alto de escolaridade. O fenômeno
ocorre em todas as regiões do país independente da distribuição da população local,
com pequenas variações regionais, mesmo em estados com população negra
proporcionalmente maior a disparidade está presente.
A discriminação leva a exclusão explicita de indivíduos e segmentos sociais,
como aponta o Seminário da População Negra (2004):
São paradigmáticos, nesse sentido, os episódios em Brasília,
noticiados em fevereiro e março de 2004, em que negros do
movimento social ou que no governo foram conduzidos a posições
proeminentes foram preconceituosamente tratados: 1)
representantes quilombolas que não foram aceitos em pensão
porque iriam „sujar os lençóis‟; 2) sete ilustres dirigentes negras
foram destratadas como suspeitas de não terem com que pagar a
conta no Hotel Nacional em Brasília; 3) um secretário executivo do
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Ministério dos Esportes foi levado, com seu sobrinho, para ser
revistado pela policia. “Eles estavam de bermuda, camiseta e
sandália. E surgiram do nada, naquele horário, em frente a um hotel
cinco estrelas. Tinha o direito de desconfiar, declarou o motorista
de taxi, autor do ato preconceituoso. (Seminário Nacional da
População Negra, 2004, p. 23)
A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial de
1966 e a Lei nº 7716 de 05/01/1989 (atualizada em 1990 e 1997) define como crime o
preconceito de raça, cor, etnia. Destaca o impedimento ou obstrução de acesso a cargos
ou empregos, espaços físicos de instituições e estabelecimentos públicos e privados,
comerciais ou de serviços determinando penalidades. Até mesmo na redação da lei
ocorre atitude discriminatória, pois ao fazer o detalhamento de espaços onde não pode
ocorrer discriminação, dá a entender que existiriam espaços onde ela seria permitida.
Conceber os usuários como sujeitos portadores de direitos é o maior desafio
no Sistema Único de Saúde – SUS. Paiva (2010), ao abordar a concepção
emancipatória com base na hermenêutica diatópica, enumera cinco momentos em
que no nosso entendimento devam ser cumpridos para a efetivação das políticas
afirmativas para a população negra, a saber:
1. Analisar a interação saúde-direitos humanos para a
população negra. As interferências na auto-estima, na
dificuldade de acesso às consultas ginecológicas de qualidade
para a mulher negra, ao acesso aos insumos de prevenção
(teste para DST/HIV, preservativos masculinos e femininos) e
principalmente o racismo institucional, serão indicadores de
vulnerabilidade individual, programática e social
2. A vida cotidiana, foco central da análise. As relações étnico-
raciais, de gênero, sociais podem produzir sofrimento e
adoecimento. A desigualdade social não pode ser
desconsiderada no planejamento das ações de saúde.
3. Conceber as ações de saúde como um encontro de
especialistas- Cada sujeito é visto como um especialista da
sua vida (contexto individual e social) e os profissionais são
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detentores de um saber técnico que deve ser compartilhado e
acrescido pelos saberes trazidos pelos usuários, necessitando
de atualizações freqüentes.
4. Conceber o usuário como sujeito portador de direitos –
Tornar isto realidade nas nossas intervenções e nas unidades de
saúde é o principal desafio. Não podemos continuar encarando a
saúde como apenas um produto a ser consumido, mas sim como
um direito inalienável garantido constitucionalmente a todos os
cidadãos brasileiros e com controle social.
5. Analisar a qualidade dos serviços prestados em pelo menos
sete dimensões:
5.1. Disponibilidade dos serviços para todos os cidadãos em
todos os níveis de resolutividade. Garantir a cobertura
territorial, com as equipes de saúde da família cumprindo
com seu papel de universalidade à saúde na atenção
primária e ter uma rede regionalizada e hierarquizada em
todos os níveis de atenção. Que a cor da pele não seja um
diferencial neste acesso!
5.2. Acessibilidade dos serviços, fisicamente e sem
discriminar e violar o direito à saúde integral.
5.3. Atuação de profissionais qualificados, com
remuneração justa e que apliquem técnicas baseadas no
sentido ético-politico e técnico - cientifica, onde os
conhecimentos se complementam e onde haja
oportunidade para discussões e reflexões capazes de
propiciar o repensar sobre as práticas aplicadas nos
serviços.
5.4. a aceitabilidade dos serviços como definidora de
qualidade, respeitando os valores e a cultura dos seus
usuários, com participação dos usuários inclusive na
gestão, por ex. através de conselhos locais de saúde
realmente representativos e que façam com que as
reivindicações sejam implementadas como práticas de
melhoria na atenção e no cuidado.
5.5. a participação de grupos afetados por determinadas
doenças, garantindo sua promoção e proteção através do
respeito aos seus direitos. No caso especifico do HIV,
favorecer a organização e participação em todos os níveis
de pessoas vivendo com HIV na formulação de políticas
que atendam suas necessidades, como no planejamento
da Programação de Ações e Metas anualmente, no
monitoramento das ações executadas e principalmente
identificando as dificuldades em implementá-las para
poder replanejar.
5.6. Disseminação do conjunto de direitos garantidos pela
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Constituição que sejam relevantes para cada sujeito. Faz-
se indispensável a construção de canais institucionais que
possam receber denúncias de desrespeito de direitos e
que agilizem a apuração para construir diretrizes eficazes
para superar os problemas;
5.7. Transprogramação e a integração multisetorial –
traçar políticas públicas capazes de garantir a integração
de diversos segmentos institucionais como educação,
assistência social, judiciário, trabalho entre outros para
que ocorra a complementaridade, com enfoque único de
garantia de direitos, contribuindo para a redução das
iniqüidades e desigualdades sociais. (PAIVA, 2010, p. 10)
A adoção desta abordagem emancipatória dos direitos humanos irá favorecer
o acesso dos negros ao SUS, assumindo a defesa da igualdade daqueles que por
serem “diferentes” (negros) se encontram em condição de inferioridade, e
reconhecendo que a desigualdade racial é uma das desigualdades estruturais da
sociedade e compõe os três aspectos indissociáveis da vulnerabilidade (individual,
social e institucional).
A Dra. Damiana Miranda, citada por Silva (2004) afirma:
O racismo é provavelmente o maior acidente histórico sofrido
pelos africanos e seus descendentes, podendo ser descrito como a
negação pura e a desvalorização sistemática dos atributos humanos
dos afro-descendentes, que são impedidos de exercitar plenamente
a sua cidadania. (2004, p.129)
Para romper com o racismo, proposituras de ações afirmativas tem se
efetivado como um componente de justiça reparatória (compensatória), ou
distributiva para populações de origem africana, ou afro-descendentes. Visam o
empoderamento tanto de sujeitos como de populações historicamente marcadas pelo
preconceito e opressão, com caráter preventivo de coibir a discriminação.
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2. OBJETIVOS
Esta monografia tem por objetivo:
(1) identificar as principais reivindicações do Movimento Negro -
constituídas, notadamente, pelas redes negras de saúde - de implementação de
políticas públicas para o combate à epidemia de HIV/Aids;
(2) analisar algumas das principais políticas públicas em relação à infecção
HIV direcionadas para a população negra, seus limites e potencialidades.
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3. DESCRIÇÃO DA PESQUISA
(PROCEDIMENTOS E MÉTODOS)
3.1. Critérios de seleção das fontes bibliográficas
A fim de cumprir os objetivos propostos na pesquisa realizou-se busca em
livros, artigos em periódicos científicos, consulta às bases de dados bibliográficos e
em sítios de busca da Internet. O material selecionado esta inserido no período de
1989 a 2011, principalmente de 2005 à 2011.
Para leitura do material selecionado fizemos uma divisão em três tipos de
artigos: 1. Aqueles que tratam da história dos negros no Brasil e do racismo; 2.
Bibliografia voltada à história do movimento negro, selecionando os artigos que
faziam referência a organização dos negros na sociedade brasileira e suas
reivindicações, elaborando um recorte para a área da saúde; 3. Resposta
governamental, pesquisa feita principalmente em sites governamentais, boletins
epidemiológicos e legislação específica.
3.2. Fontes de pesquisa
Foi consultada a Biblioteca Virtual em Saúde1, Banco de Dados
Bibliográficos da USP (DEDALUS)2, encontrando-se 13 registros. Destes, foram
selecionados oito e excluídos cinco registros relacionados a outros assuntos que não
1 http://regional.bvsalud.org/php/index.php
2 www-sbi.if.usp.br
16
o nosso foco de interesse (pneumopatia, polimorfismo genético, infecção pelo HTLV
e anomalias dentárias). Os textos selecionados foram lidos na íntegra3.
Para realizar a pesquisa acerca dos Movimentos Negros organizados e suas
reivindicações utilizou-se a base de dados da BVS – Biblioteca Virtual em Saúde.
Com as palavras chaves: movimento negro and saúde, encontramos 10 (dez)
referências, sendo quatro textos completos. Destes, selecionamos seis textos, dentre
os quais se destaca a “Saúde da População Negra – Brasil, Ano 2001” da
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS); Oliveira (2002), pois foi a partir
desse estudo que surgiu a proposta da “Política Nacional de Saúde da População
Negra: uma questão de equidade”, fruto do debate e elaboração de ativistas e
profissionais de saúde que se dedicaram à construção de uma proposta de Saúde da
População Negra no Brasil. Os textos não selecionados não tinham relação direta
com o objetivo da monografia.
Lançamos também na BVS as palavras chaves: política de Aids and negros e
encontramos 16 publicações; destas, selecionamos três publicações em português
relacionadas às políticas brasileiras, objeto do nosso estudo.
Utilizou-se, ainda, como fonte para as pesquisas epidemiológicas e para as
respostas governamentais, com recorte raça/cor, o site do Departamento Nacional de
HIV/Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde do Brasil.
3 Guiei-me pelo conteúdo apresentado no Curso de Especialização em Prevenção ao HIV/Aids no
quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos, principalmente nas aulas e literatura do Prof.
Alessandro de Oliveira dos Santos; na bibliografia que me foi apresentada pelo orientador Prof.
Ricardo Casco, do XII Curso de Difusão Cultural CEA/USP Aspectos da Cultura e da História do
Negro no Brasil e em livros indicados, além da pesquisa na base de dados acima descrita.
17
3.3. Procedimentos analíticos
Para fazer a análise dos dados encontrados foram priorizados aqueles que
ajudavam a contextualizar os negros na nossa sociedade, as expressões do racismo e
do racismo institucional. Os dados sociais, de saúde e relacionados às DST/HIV
igualmente foram priorizados para fins de análise, bem como os dados das
organizações negras e as respostas governamentais.
Os dados foram organizados por temas com o intuito de reconhecer as
reivindicações do movimento negro com relação à política de saúde e como elas
foram consideradas nas respostas constituídas nas políticas governamentais.
A apresentação dos resultados desta monografia está organizada em quatro
partes: na primeira, apresenta-se o balanço das análises já empreendidas sobre as
formas como o racismo se expressa no atendimento dos SUS; na segunda, um
balanço das reivindicações do movimento negro em relação às políticas de saúde e o
próprio atendimento dos cidadãos negros no SUS; na terceira, algumas conquistas do
movimento negro relativas às políticas voltadas à saúde desta parcela da população;
por fim, apresenta-se como o Município de Bragança Paulista vem desenvolvendo
políticas de saúde para atender essa parcela da população.
18
Capítulo 1 - RACISMO INSTITUCIONAL: O QUE SE PASSA NAS
UNIDADES DOS SUS?
Pelas fontes consultadas, é possível afirmar que nos serviços de saúde o
racismo institucional tem se manifestado como discriminação racial. Os negros tem
sido vitimizados institucionalmente, sofrendo humilhações, tratamento desigual que
produz sofrimento e dor. O acesso às ações de prevenção, diagnóstico e tratamento
dá-se de forma desigual e a conseqüência é o adoecimento e morte da população
negra em maior proporção se comparados à população branca.
Segundo Chor e Lima (2005),
Os piores indicadores de mortalidade, em termos de sua
distribuição etária ou magnitude de causas evitáveis de óbitos
(exemplo: mortalidade materna), são apresentados por pretos e
indígenas. Além disso, a proporção de óbitos por causa mal
definidas e também aqueles sem assistência médica podem ser
considerados evidências das diferenças entre os grupos étnico-
raciais, no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde e/ou
tratamento. (...) O perfil de mortalidade dos grupos raciais nos
homens entre 40 e 69 anos também é diferente: entre pretos
predomina as doenças cerebrovasculares, mais associadas à
pobreza em períodos precoces da vida do que a doença isquêmica
do coração, principal causa de morte entre brancos. (p.39)
As atitudes racistas estão incorporadas nas instituições e geram tratamentos
desiguais, que para a sociedade tornam-se imperceptíveis, mas para os negros são
atos persecutórios.
Essa situação causa diversos transtornos físicos e psíquicos às
vítimas, incluindo taquicardia, ansiedade, ataques de pânico,
depressão, dificuldade de se abrir, ataques de raiva violenta e
aparentemente não provocada, depressão, hipertensão arterial,
úlcera gástrica, alcoolismo, entre outros.” (Silva, 2004, p.130)
19
A epidemia de HIV/Aids tem atingido em todo o mundo de forma mais intensa
as populações excluídas e discriminadas. De acordo com o CDC, nos Estados Unidos
42% das 362.827 pessoas que viviam com HIV até dezembro de 2001 eram negras e o
número de mortes, permaneceu maior na população negra em relação aos brancos.
Entre os diferentes agravos que acometem a saúde da população, a Tuberculose é
a 3ª causa de morte por doença infecciosa no Brasil. Acomete mais homens com taxa de
incidência de 49,6% (Ministério da Saúde, dados 2010). Quando analisamos os casos
novos de tuberculose e comparamos o percentual por raça/cor nota-se que 59,1% são de
pardos e pretos. (Ministério da Saúde, dados 2010)
Em relação à prevenção das DST/HIV, pesquisa nacional realizada em 1999,
em domicílios da zona urbana (MS/CEBRAP, 2000), mostra que o uso do
preservativo masculino é mais comum entre a população jovem brasileira que entre
os adultos (46% para aqueles de 16 a 24 anos contra 18% para aqueles com 25 anos
ou mais). Embora a população jovem aparentemente esteja adotando práticas sexuais
mais seguras, notam-se disparidades brutais no grupo das meninas: enquanto 42%
das meninas brancas protegem-se utilizando preservativo, apenas 28% das negras o
fazem (Pinho e col., 2002).
O Boletim Epidemiológico de 2010 destaca a epidemia entre jovens e analisa
a razão de sexos: em 1990 eram 37 homens para cada 10 mulheres, em 1998 cai, 11
homens para cada 10 mulheres e no ano 2000 ocorre uma inversão, 09 homens para
cada 10 mulheres. Entre 2007 e 2009 os jovens do sexo masculino voltam a ter maior
participação nos casos de Aids.
20
Pesquisa realizada em São Paulo e Recife (Garcia e Souza, 2010) mostrou
que não houve diferença por faixa etária e raça no que diz respeito à negociação do
uso do preservativo, uma vez que a confiança no parceiro é referida como prática de
prevenção em todos os discursos. Esse dado torna, por exemplo, as mulheres do
Recife, mais expostas ao risco da infecção, os homens alegam que não usam
preservativos, pois as amantes são classificadas como parceiras estáveis.
Em outra pesquisa nacional realizada pelo Ministério da Saúde, com o auxílio
do IBOPE, observou-se que, para a população negra sexualmente ativa, de 14 anos e
mais, o preço do preservativo é um dos principais impeditivos do uso. Para cada
branco que citou o preço em primeiro lugar, existiram 2,2 negros citando-o. Para
45% desse grupo, o uso de preservativo em todas as relações faria diferença no
orçamento contra 37,6% relatado pela população branca sexualmente ativa. Em
função do ônus da compra em seu orçamento familiar, os negros dependem mais do
serviço de saúde para obter o recurso preventivo, embora tenham menos
conhecimento sobre a distribuição gratuita dos mesmos (MS/IBOPE, 2003). No
mesmo estudo destaca-se o fato de a proporção de realização do teste anti-HIV ser
maior entre os não-negros que entre os negros, 33,2% versus 27,1% (França Junior e
col., 2003).
A falta de acesso aos recursos preventivos (teste e preservativo), ou a falta de
habilidades para utilizar ou negociar sua utilização, no caso do preservativo
masculino, incrementam a vulnerabilidade de mulheres e homens negros,
independentemente de sua idade. Esse cenário das múltiplas dimensões da
vulnerabilidade é ilustrado com os dados do município de Porto Alegre: nos bairros
em que se registrou o maior número de casos novos de Aids, mais de 80% da
21
população se autodeclara negra (preta ou parda). No Estado de São Paulo, a análise
de uma série histórica traçada para pacientes atendidos no Centro de Referência e
Treinamento em DST-Aids, da Secretaria de Estado da Saúde, de 1980-2000, foi
evidente o aumento do número de negros inscritos no serviço, bem como do
percentual de óbitos entre os mesmos (CEDST/Aids, 2001). Ainda em São Paulo,
Luppi (2001) observa que, entre as mulheres que buscaram realizar o teste anti-HIV
num Centro de Testagem, a maioria que teve diagnóstico de infecção era negra.
A vida com HIV apresenta-se especialmente difícil para as mulheres negras.
É o que mostram as pesquisas realizadas por Guimarães (2001), no Rio de Janeiro, e
Lopes (2003), em São Paulo. De acordo com Guimarães (2001), as mulheres negras
doentes de Aids vivenciam mais histórias de peregrinação em busca de internação e
tratamento que as demais. Em São Paulo, mulheres negras atendidas em 3 Centros de
Referência, apresentavam as piores condições de escolaridade, moradia, rendimento
individual e rendimento familiar. Com maior freqüência, elas figuravam como as
principais responsáveis pelo orçamento familiar e cuidavam de uma quantidade
maior de pessoas.
Em sua maioria, as negras tiveram seu diagnóstico realizado em virtude do
próprio adoecimento, adoecimento ou morte do parceiro ou filho; deixaram de
receber orientação anterior e posterior ao teste; e, após terem chegado ao serviço
especializado de saúde, tiveram menos chances de receber informações corretas e
adequadas sobre seu estado clínico, sobre redução de danos no uso de drogas
injetáveis e sobre uso de antiretrovirais para o recém-nascido. Ainda no serviço
especializado, elas relataram: maiores dificuldades em entender o que os médicos –
22
infectologista e ginecologista – diziam; maiores dificuldades em tirar dúvidas e falar
sobre suas preocupações; em conversar sobre sua vida sexual e solicitar orientação.
Em 2000, a taxa de mortalidade por Aids foi de 10,61/100mil para as
mulheres brancas, 21,49/100mil para as pretas, 22,77/100mil para os homens brancos
e 41,75/100mil para os pretos (Batista e col., 2004).
Esses resultados devem ser analisados levando em consideração as evidências
de persistência ou até mesmo aumento, em algumas localidades e regiões, das
condições de vulnerabilidade e de exposição à epidemia do HIV/Aids, na população
auto-referida como preta e parda. A interpretação deve ser feita com o necessário
cuidado, levando em conta que a epidemia da Aids no Brasil é concentrada em
homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis e profissionais
do sexo que continuam apresentando vulnerabilidade maior à infecção pelo HIV do
que a população geral.
A análise da tendência à pauperização e interiorização da epidemia, está
argumentada pelo aumento da incidência nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
do país, onde há maior concentração da população negra e parda. Entretanto, a
epidemia continua concentrada nos grandes centros urbanos.
A negação de direitos a que os negros estão submetidos (escolaridade, renda,
longevidade), a construção de auto-imagem negativa aliada à pobreza, violência e
dificuldade de acesso aos serviços de saúde podem contribuir para aumentar a
vulnerabilidade às DST/HIV. Mesmo com a estabilização no número de casos de
Aids no Brasil nos últimos anos, a transmissão da doença atingiu com mais
intensidade a população negra. Os dados ainda são insuficientes, mas revelam essa
23
situação. Estatísticas do Programa Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde,
mostram que entre 2001 e 2004 houve aumento de 25% de notificações de casos de
Aids entre mulheres negras. Esse fato pode ter associação com o racismo
institucional. A distinção por raças dificulta o acesso à informação e afasta os negros
das unidades de saúde.
Santos, apresenta sugestões, tendo como fonte Lopes (2005), em Saúde da
População Negra no Brasil: contribuições para a promoção da equidade:
Promover treinamento dos profissionais de saúde para lidar com a
diversidade da sociedade brasileira e as peculiaridades do processo
saúde/doença da população negra.
Realizar ações de prevenção com grupos específicos ligados à
cultura negra, como por exemplo: adeptos das religiões afro-
brasileiras, escolas de samba, grupos de capoeira, quilombolas e
jovens do movimento hip-hop. São exemplos de ações que podem
ser feitas com esses grupos: as oficinas de sexo seguro; advocacy
articulação com o poder público e a sociedade civil visando à
formulação de leis,programas e políticas públicas); aconselhamento
em DST/Aids; produção de materiais informativos e educativos;
realização de campanhas sobre racismo, população negra e Aids.
Promover atividades em grupo voltadas para pessoas negras
atingidas pela violência, discriminação e pelo racismo, visando o
cuidado e a promoção de sua saúde mental e o apoio no
encaminhamento de suas demandas em saúde.
Organizar seminários e oficinas onde sejam trabalhados os temas
saúde, direitos humanos e relações raciais.
Incentivar a participação de representantes do movimento negro
organizado e membros das religiões de matrizes africanas nos
espaços de controle social do SUS.
Incluir o tema “vulnerabilidade, prevenção e racismo” e “saúde da
população negra” em todos os materiais e atividades de formação
dos conselheiros e profissionais de saúde (2010, p.16 ).
Ao abordar o tema do HIV/Aids faz-se necessário traçar um percurso
conceitual desses 30 anos de epidemia e que trouxeram interferências tanto nas ações
de prevenção, como no cuidado das pessoas que vivem com HIV. O início foi
marcado pelo risco de adquirir a doença limitado a alguns grupos populacionais,
24
“grupos de risco” (homossexuais, hemofílicos, profissionais do sexo, usuários de
drogas injetáveis) e que pode ter contribuído para baixa eficácia das ações de
prevenção, notadamente entre as mulheres. A evolução da epidemia mostrou a
inconsistência desta contextualização populacional e a ciência passou a adotar
“comportamento de risco” que por sua vez culpabilizava e responsabilizava as
pessoas pela infecção, pois não sabiam se proteger e não adotavam práticas sexuais
seguras.
A epidemia de Aids trouxe a necessidade de respostas mais efetivas e
construída por várias ciências e saberes. Ayres traz o quadro conceitual de
vulnerabilidade, introduzido por Mann e col. (1993) de forma sumária:
os estudos de vulnerabilidade buscam compreender como
indivíduos e grupos de indivíduos se expõem a dado agravo à
saúde a partir de totalidades conformadas por sínteses
pragmaticamente construídas com base em três dimensões
analíticas: aspectos individualizáveis (biológicos,
comportamentais, afetivos), que implicam exposição e
suscetibilidade ao agravo em questão; características próprias a
contextos e relações socialmente configurados, que
sobredeterminam aqueles aspectos e, particularizado a partir destes
últimos, o modo e o sentido em que as tecnologias já operantes
nestes contextos (políticas, programas, serviços, ações) interferem
sobre a situação - chamadas, respectivamente, de dimensão
individual, social e programática. (2009, p. 16)
Existe uma implicação direta do racismo com o aumento da vulnerabilidade a
que está sujeita a população negra, pois este compromete os direitos e a integralidade
da atenção à saúde.
No aspecto individual, pelas fragilidades causadas pelo preconceito,
injustiças, desrespeitos e discriminação que podem acarretar problemas psíquicos,
que podem levar a doenças mentais.
25
A pressão social acaba por criar contexto de vulnerabilidade aumentada a
essas populações, como são os casos dos locais de maior concentração de negros nas
grandes cidades, territórios estes marcados pela estigmatização. Segundo Rolnik,
O estigma foi formulado a partir de um discurso etnocêntrico e de
uma prática repressiva; do olhar vigilante do senhor da senzala ao
pânico do sanitarista em visita ao cortiço; do registro
esquadrinhador do planejador urbano à violência das viaturas
policiais nas vilas e favelas. (1989, p.16 )
Se no mundo escravocrata, a forma de ver o negro era a subumanidade, na
atualidade virou marca de marginalidade. Nesses espaços de desigualdades sociais
vivem parcela significativa de negros com renda per capita familiar inferior, com
menor acesso à educação de qualidade, à saúde, vivendo em habitações precárias,
com taxas maiores de subemprego e desemprego, com pouco acesso a cultura e lazer.
Se não bastasse tudo isto, ficam expostos a vulnerabilidade programática das
instituições públicas e privadas, que na ausência ou no não preenchimento do quesito
cor nos instrumentos de registro e informação, por exemplo, desrespeitam o
preconizado na Portaria 3947 de 1999. Apontam uma das formas do racismo, através
do silêncio das informação que mantém a invisibilidade racial, comprometendo a
propositura de políticas que possam tratar a omissão/violação de direitos. Além disto,
dificultam o acesso desta população desde a atenção básica até a especializada,
repercutindo nos indicadores de morbi/mortalidade.
Existe uma intersecção entre as três dimensões da vulnerabilidade, que
repercutem no cotidiano da vida, que é única. “A pessoa no contexto e o contexto
na pessoa”.
26
Saber que uma parcela muito significativa da nossa população vive
cotidianamente situações de violência, de exclusão social, de desrespeito, de negação
de direitos nos ajuda a entender que a discussão de relação de gênero e dos papeis
sociais que assumem é uma necessidade. Para uma população que é tida como mais
ativa sexualmente, com maiores taxas de incidência de doenças como sífilis,
gonorréia e outras DST, além dos níveis altos de ocorrência de Aids na África, a
simples possibilidade de carregar mais um estigma, incomoda e causa repulsa.
Conciliar a necessidade de respostas efetivas ao enfrentamento das DST/HIV
junto à população negra, o respeito aos Direitos Humanos nas intervenções, a não
culpabilização pela ocorrência da infecção e o entendimento dos contextos onde elas
ocorrem, deve ser a diretriz para traçar as políticas governamentais em todas as
instâncias e que, infelizmente, não têm se apresentado no nosso cotidiano.
Estas diretrizes estão colocadas nos documentos governamentais que definem
a Política Nacional de Saúde da População Negra; é, portanto, necessário tirá-las do
papel.
As evidências levantadas demonstram tratamento desigual entre brancos e
negros no Sistema Único de Saúde – SUS. Esse fato ocorre tanto na Atenção
Primária como na especializada, como é o caso dos serviços de atenção às Pessoas
Vivendo com HIV. Os indicadores epidemiológicos demonstram que homens e
mulheres negros morrem mais em decorrência da Aids, têm menor acesso aos
insumos de prevenção e compõe a parcela da população com menor acesso aos
serviços públicos. Além disso, existe carência na gestão e na capacitação dos
profissionais do SUS na identificação do racismo institucional e na forma como
27
enfrentá-lo para fazer valer o direito à integralidade na atenção à saúde e na
igualdade de tratamento.
28
Capítulo 2 - AS REIVINDICAÇÕES DO MOVIMENTO NEGRO:
RESISTÊNCIA E OBJETIVAÇÃO DAS PRÁTICAS
DISCRIMINATÓRIAS
O movimento negro é composto por pessoas e entidades que lutam contra o
racismo em diferentes contextos (religioso, cultural, político). O estar junto, atuar em
grupo e instituições fortalece cada um destes sujeitos e assume características que irão
variar de acordo com o grau de consciência, trabalho que desenvolvem e onde vivem.
As diferentes organizações, ao assumirem atividades e ações específicas,
muitas vezes acabam também produzindo vulnerabilidades acrescidas em seus
participantes. Percebe-se que entidades de cunho cultural e recreativo, se apartam das
discussões centrais relacionadas à inserção dos negros nas políticas públicas,
notadamente as sociais. Muitos movimentos se institucionalizam, recebem repasse de
recursos públicos e por esse e outros motivos acabam tendo uma fragilidade na
representação sócio-política, lidando com situações emergentes, sem conseguir
intervir nas prioridades.
O movimento negro historicamente tem um marco importante já citado: o dia 7
de Julho de 1978, quando um ato público organizado em São Paulo contra a
discriminação sofrida por quatro jovens negros, no Clube de Regatas Tietê, deu origem
ao Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial - MNU. A data,
posteriormente, ficaria conhecida como o „„Dia Nacional de Luta Contra o Racismo”.
A partir daí viu-se o surgimento de várias instituições de pesquisa, de defesa
de direitos, culturais, recreativos, musicais em diferentes estados e municípios do
país. Foi a Constituição de 1988 que impulsionou movimentos pelo reconhecimento
29
de direitos da população negra, como a propriedade de terra dos antigos quilombos, a
definição de crimes resultantes de preconceito e a introdução da questão racial na
agenda governamental, redundando em Ações Afirmativas para a população negra.
A mobilização e participação das organizações negras e sindicais na III
Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e
Intolerância Correlata em 2001, em Durban, África do Sul, foi marcante. Destaque
especial teve a Organização de Mulheres Negras Brasileiras que alertaram para a
duplicidade de vitimização e discriminação, por serem mulheres e negras.
Especificamente em relação à saúde, existe nos movimentos um posicionamento
bastante comum de acreditar que isto é coisa para especialistas, profissionais de saúde.
As redes de representações que não tem a saúde como objeto principal de intervenção
apresentam dificuldade em incorporar ações com este enfoque nas suas atividades
rotineiras.
Oliveira (2001) apresenta as reivindicações do Movimento Negro na área da
saúde contida nos seguintes documentos: Conferência Nacional de Saúde e Direitos
da Mulher (Brasília, DF, 1986); Introdução do quesito cor no Sistema Municipal de
Informação da Saúde (São Paulo, SP, 1992); Marcha Zumbi dos Palmares Contra o
Racismo, pela Cidadania e a Vida (Brasília, DF, 1995); II Reunião Nacional de
Mulheres Negras (Belo Horizonte, MG, 20 e 21/09/1997); Pré-Conferência Cultura e
Saúde da População Negra (Brasília, DF, 13 a 15/09/2000); Documento Alternativo
do Fórum Nacional de Entidades Negras (Rio de Janeiro, RJ, maio de 2000) e; Nós,
Mulheres Negras: Diagnóstico e propostas – Articulação de Organizações de
30
Mulheres Negras Brasileiras rumo à III Conferência Mundial contra o Racismo,
Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância (2001).
Esses documentos trazem muito do momento histórico em que ocorreram: A
Conferência Nacional de Saúde e Direitos da Mulher, 1986, retrata uma fase pré SUS e pré
Constituição, onde a tônica é a defesa da Reforma Sanitária, a construção de um Sistema
Único de Saúde universal e ressalta a importância da organização política e sindical das
mulheres. Os referidos documentos também trazem reivindicações como a criminalização
do racismo, o respeito ao culto afro brasileiro, a defesa da atenção integral à saúde, direito
à informação e a métodos contraceptivos, fazendo menção às Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST). Discutem, ainda, a legalização do aborto, o reconhecimento da
profissão das prostitutas e retratam a importância da organização do Movimento das
Mulheres na história política e na construção da Constituição e do SUS.
Outro evento importante para o reconhecimento da necessidade de políticas
governamentais que atendessem as necessidades da população negra foi a Marcha
Zumbi dos Palmares. A Marcha foi um marco na história do movimento negro.
Ocorreu em 20 de outubro de 1995 em Brasília, e foi a partir dela que as políticas de
ações afirmativas para a população negra passaram a ser implementadas. Nesta
ocasião, foi entregue ao presidente da república o documento: Por uma política
nacional de combate ao racismo e à desigualdade racial. O documento reivindica a
inclusão do quesito cor nos prontuários e serviços de saúde e atestados de óbitos, a
implementação do Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher – PAISM e um
Programa de Saúde Reprodutiva que contemple as necessidades dos homens negros
com continuidade dos programas de prevenção de DST/Aids.(Oliveira,2003)
31
A Pré-Conferência Cultura e Saúde da População Negra (Brasília, DF, 13 a
15/09/2000); Documento Alternativo do Fórum Nacional de Entidades Negras (Rio
de Janeiro, RJ (maio de 2000) e Nós, Mulheres Negras: Diagnóstico e propostas –
Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras rumo à III Conferência
Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, 2001,
trazem a preocupação com o aprofundamento das discussões e proposituras para III
Conferência Mundial Contra o Racismo. Demonstram que apesar do tempo
decorrido desde a implantação de políticas afirmativas, as ações ainda apresentavam
resultados tímidos, com pouca incorporação do recorte racial na consolidação das
políticas e nas respostas às reivindicações históricas, como o Programa Nacional da
Anemia Falciforme. Apontam, ainda, a presença de atitudes e práticas
discriminatórias, dificuldade de acesso e baixa qualidade da atenção.(Oliveira, 2003)
De todo modo, a mobilização em prol da melhoria dos serviços de saúde para a
população negra vem garantindo expressivas conquistas para essa parcela da população.
Vitimas de injustiças, tratamento desumano, racismo e discriminação, aliada
à falácia da “democracia racial,” os negros necessitaram unir esforços para lutar pela
garantia dos direitos humanos e em especial pelo respeito à dignidade da pessoa
humana. Para exercer a cidadania tem que criar/lutar por seus direitos e o elenco de
reivindicações e fóruns demonstram que esta mobilização gerou conquistas na
implementação de políticas afirmativas para o acesso à saúde.
A Portaria 1.820 de 13/08/2009 em seu Art. 4º no Parágrafo único explicita o
direito da pessoa, na rede de serviços de saúde, a ter atendimento humanizado,
acolhedor, livre de qualquer discriminação, restrição ou negação em virtude de idade,
32
raça, cor, etnia, religião, orientação sexual, identidade de gênero, condições
econômicas ou sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou deficiência.
A publicação da portaria confirma a existência de discriminação. Na
realidade o que se verifica são resultados tímidos das Políticas Afirmativas, baixa
incorporação do recorte racial na consolidação de políticas e respostas, o Programa
Nacional de Anemia Falciforme com carência de referências e a manutenção de
praticas discriminatória, dificultando o acesso aos serviços e baixa qualidade na
atenção prestada.
33
Capítulo 3 - RESPOSTAS PARA O COMBATE À
DISCRIMINAÇÃO DO NEGRO NO SISTEMA DE
SAÚDE: BALANÇO DOS AVANÇOS DO
MOVIMENTO
A Secretaria Especial de Direitos Humanos e o Ministério da Saúde, tendo em
vista as reivindicações do Movimento Negro, desde 2002 vêm trabalhando
na implantação de políticas e programas de humanização dos
serviços, alem da inserção do quesito raça/cor em todos os seus
bancos de dados e a adoção de adequados procedimentos de coleta
deste quesito, que permitam conhecer a população negra usuária do
SUS. Também é importante destacar o trabalho articulado do
Ministério da Saúde com a sociedade civil organizada e o
movimento negro, possibilitando a realização das seguintes ações:
Seminário Nacional de Saúde da População Negra; Introdução da
variável étnico/racial no Curso de Capacitação dos Gestores em
Saúde; Instalação do Comitê Técnico sobre Saúde da População
Negra no Ministério da Saúde; Elaboração da Política Nacional de
Saúde da População Negra; Criação da Comissão Intersetorial de
Saúde da População Negra no Conselho Nacional de Saúde.
(Santos, 2010).
As respostas governamentais com implantação de políticas, programas e
ações direcionadas a população negra, são fruto da organização do Movimento
Negro que durante toda a sua história recente e passada inseriu-se em diferentes
cenários políticos e sociais para levantar a bandeira da igualdade e da garantia de
direitos. A construção e conquista do SUS rompeu com a exclusão. Parcela
significativa da nossa população era tratada como indigente por não estar no mercado
formal de trabalho, época dos Institutos de Aposentadoria e Pensões – IAPs, que
ofereciam assistência médica a diferentes categorias de profissionais (Lei Eloi
Chaves de 1923) e unificados em 1966 no INPS e chegando ao INAMPS em 1974.
34
A construção do Sistema Único de Saúde que contou e conta com ampla
participação de representações populares na sua construção, implantação e
implementação, coloca a saúde como direito de todos os cidadãos brasileiros. Em
2005, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR
criou Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de revisar e estabelecer
indicadores com metas para o período 2008 a 2011. Foram definidas como metas
prioritárias a redução da mortalidade precoce da população negra; ampliação dos
serviços básicos voltados para a população negra com o fortalecimento da Estratégia
Saúde da Família; implementação da política de atenção integral às pessoas com
doença falciforme e outras hemoglobinopatias: prevenção e combate aos distúrbios
nutricionais da população negra e suas doenças relacionadas à alimentação e
nutrição.(Brasil, 2008)
A Fundação Cultural Palmares, instituição vinculada ao Ministério da Cultura
e fruto da organização do Movimento Negro, foi o primeiro órgão federal criado com
o objetivo de promover a preservação dos valores sociais e econômicos decorrentes
da influência negra na formação da sociedade brasileira. Em seu site apresenta as
principais ações afirmativas conquistadas pelo Movimento Negro Brasileiro:
2003. Criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial (SEPPIR), com status ministerial e do Conselho
Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR (Lei 10.678).
2003. Instituição da Política Nacional de Promoção da Igualdade
Racial (Decreto 4.886).
2003. Regulamentação do procedimento para identificação,
reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos
(Decreto n. 4.887).
2003. Inclusão do estudo da história e da cultura afro-brasileira no
currículo do ensino básico (Lei 10.639).
35
2003. Criação do Fórum Intergovernamental de Promoção da
Igualdade Racial – FIPIR.
2004. Lançamento do Programa Brasil Quilombola.
2005. Realização da 1ª Conferência Nacional de Promoção da
Igualdade Racial.
2005. Criação do Programa de Combate ao Racismo Institucional.
2006. Aprovação da Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra.
2007. Instituição da Agenda Social Quilombola (Decreto 6.261).
2009. Aprovação do Estatuto da Igualdade Racial na Câmara dos
Deputados.
2009. Criação do Programa de Bolsas de Iniciação Científica para
alunos cotistas das Instituições de Ensino Superior.
2009. Lançamento do Plano Nacional de Promoção da Igualdade
Racial.
2009. Realização da 2ª Conferência Nacional de Promoção da
Igualdade Racial.
2001-2009. Implantação de programas de ações afirmativas para
estudantes negros em 40 universidades públicas brasileiras.
2003-2010. 1.573 comunidades quilombolas certificadas; 93
comunidades tituladas; e 996 processos de regularização fundiária
em curso (Decreto 4.887).
2009. Realização da 2ª Conferência Nacional de Promoção da
Igualdade Racial.
2001-2009. Implantação de programas de ações afirmativas para
estudantes negros em 40 universidades públicas brasileiras.
2003-2010. 1.573 comunidades quilombolas certificadas; 93
comunidades tituladas; e 996 processos de regularização fundiária
em curso (Decreto 4.887).
Entre outras ações governamentais em prol da garantia de direitos, visando
combater a discriminação racial e estimular ações de saúde em benefício da
população negra, destaca-se o Plano Estratégico de Ações Afirmativas Populações
Negras e Aids, iniciativa do Ministério da Saúde. A iniciativa faz parte do Programa
36
Integrado de Ações Afirmativas para Negros (Brasil AfroAtitude), do Ministério da
Saúde. O Plano é realizado em parceria com órgãos dos governos federal, estaduais e
municipais e com entidades da sociedade civil como a Associação Cultural de
Mulheres Negras (Asmun) e a Associação Nacional de Pesquisadores Negros
(ANPN). (Brasil, Secretaria de Vigilância em Saúde, 2005)
O Plano Estratégico de Ações Afirmativas: População Negra e Aids tem
como objetivo geral a promoção da equidade e dos direitos humanos da população
negra e como objetivos especificos: 1. Implementação de políticas nacionais e planos
de ação de combate ao racismo e discriminação; ampliar acesso aos serviços,
insumos e informação em HIV/Aids para a população negra; aplicar a política de
ações afirmativas e a promoção da igualdade racial em todas as atividades, internas e
externas do Departamento Nacional. 2. Promoção de Parcerias ,fortalecer as redes de
solidariedade pela formação de novas parcerias e mobilização de parceiros, incluindo
organizações da sociedade civil, universidades, centros de pesquisa, estabelecimentos
de ensino e capacitação e ONG. 3. Produção de conhecimento, aprimorar os sistemas
de informação nas questões específicas de vulnerabilidade da população negra.
Articular as capacidades institucionais dos diferentes atores envolvidos para
promover pesquisa, educação e comunicação no combate ao racismo e outras formas
de discriminação e sua interface com o HIV/Aids. 4. Capacitação e comunicação,
disseminar boas práticas de superação do racismo, intolerância e discriminação,
incluindo a discriminação contra portadores do HIV/Aids.
A capacitação de profissionais de saúde, a introdução do quesito raça/cor nos
bancos de dados e a ação articulada da sociedade civil têm propiciado a realização de
37
ações afirmativas para a população negra nas três esferas de governo. Entretanto, o
impacto destas intervenções ainda ocorre muito timidamente. Negar a atualidade do
racismo e suas conseqüências em relação às desigualdades e admitir a necessidade de
novas ações são o principal desafio identificado. Garantir a institucionalização da
política de igualdade racial implica avançar na transversalidade, isto é, criar
mecanismos para que os órgãos setoriais incorporem a diretriz em seu planejamento
e tenham ações coordenadas.
Uma fonte para avaliação do nível de institucionalização da política de
igualdade racial foi propiciada pela Pesquisa de Informações Básicas Municipais
(MUNIC), do IBGE. Mesmo não tendo a pesquisa um tópico específico sobre
igualdade racial, em 2009, incorporou questões relacionadas à gestão municipal de
políticas de direitos humanos, encontrando-se nesta e em outras seções da pesquisa a
temática racial em políticas locais. Dos 609 municípios inseridos, em um quarto foi
identificado órgão gestor de direitos humanos e em 29% destes, ações voltadas à
promoção da igualdade racial. A maior parte dessas estruturas tem ações voltadas
para crianças e adolescentes (89%); idosos (77%), pessoas com deficiência (68,7%) e
mulheres (65,6%). Dessa forma, pactos e programas integrados são necessários com
outros órgãos, especialmente em municípios onde inexistem instâncias específicas
para a questão racial.
O Brasil foi o último país no mundo a acabar com a escravidão de negros que
se perpetuou por quase quatro séculos. Pressões internacionais a partir da década de
noventa, aliada às reivindicações do Movimento Negro Organizado, com inserção
nos movimentos sociais e políticos, levaram o governo brasileiro a entender a
38
necessidade de sair da democracia formal para uma democracia onde haja igualdade
de tratamento e de oportunidades. Passou a formular legislações que visam garantir o
direito universal e que estabelece punições para o desrespeito/ violação de direitos. O
Departamento Nacional de DST/Aids e Hepatites Virais, juntamente com os
programas estaduais e municipais, tem sido a vanguarda na área da saúde no
estabelecimento de políticas de acesso à prevenção, aos insumos, à informação, ao
tratamento de qualidade, à saúde sexual e reprodutiva e à prevenção da transmissão
vertical do HIV. Faz-se necessário ampliar essas ações para todos os serviços
públicos e privados, sendo este um desafio colocado a toda sociedade em que se
torna indispensável a intervenção conjunta de vários setores e segmentos.
39
Capítulo 4 - O PROGRAMA MUNICIPAL DE DST/AIDS DE
BRAGANÇA PAULISTA
Segundo critérios adotados por Granjeiro, Escuder & Castilho (2010) para
analisar magnitude da epidemia de HIV/Aids nos municípios brasileiros de 2002-
2006, Bragança Paulista é um município de grande porte (+ 99 mil hab.) e apresenta
uma epidemia de grande magnitude, uma vez que acumulou mais de 210 casos no
período. O município também tem uma epidemia antiga, de 23 anos. De acordo com
os dados publicados no Boletim Epidemiológico (2010), Bragança Paulista acumula
0,2% do número total de casos no Estado de São Paulo.
De acordo com os dados do Boletim Epidemiológico CRT – DST/Aids. CVE
(Ano XXVII – Nº1) de dezembro de 2010, Bragança Paulista ocupa o 57º lugar entre
os 150 municípios de residência com maior número de casos do Estado de São Paulo
e 75° considerando a taxa de incidência por 100 mil habitantes entre os 150
municípios prioritários. O Programa Municipal acompanha 388 pacientes, sendo que
265 fazem uso de Terapia Antirretroviral (desse total, 7 estão na faixa etária até 14
anos).
A ocorrência de casos de Aids está concentrada na faixa etária 30 a 49 anos.
A variável raça/cor passou a fazer parte da ficha de notificação de Aids em 2000. Nos
primeiros anos, a proporção de ignorados ou em branco era grande. A partir de 2003
esta proporção foi diminuindo, melhorando a qualidade do preenchimento das fichas,
fruto da qualificação dos profissionais na coleta deste dado. Desde 2004 as fichas de
notificação não apresentam esta informação como ignorado ou em branco.
40
A raça/cor branca predomina na epidemia de Bragança Paulista. Tal tendência
também é verificada no Estado de São Paulo, onde os brancos correspondem a
59,4% dos casos (Boletim Epidemiológico, 2010). No Município de Bragança
Paulista a raça/cor preta ocupa o segundo lugar no número de casos, já no Estado de
São Paulo está em terceiro.
Um dos objetivos do Programa Municipal de DST/Aids de Bragança Paulista
é Incluir ações de intervenção de mitigação do estigma e discriminação com jovens
universitários e das escolas públicas que visam reduzir o racismo, introduzindo os
temas: ética, saúde, racismo, pluralidade cultural e orientação sexual, abordando a
prevenção da Aids, A intervenção programática é desenvolvida em parceria com a
Diretoria de Ensino,com a Universidade São Francisco, através dos cursos da área
da saúde, o núcleo da Rede de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde instalada no
município e com a Associação Recreativa e Cultural Afro Brasileira – ARCAB,
fundada em 1988, com objetivo de valorizar a cultura negra, através das atividades
culturais e recreativas no município e região.
O envolvimento de diversas instituições agindo em parceria pôde contribuir
em muito, para a efetivação desta proposta. Estudos apontam que a intimidação,
insegurança, segregação e isolamento vulnerabilizam física e psicologicamente,
influenciando negativamente o exercício da cidadania. Ações conjuntas que
combatam atitudes racistas de privação de direitos devem ser construídas em
conjunto com setores municipais, estaduais e em consonância com organizações
governamentais, como a Ordem dos Advogados do Brasil, Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, Secretária Especial de Políticas para
Mulheres, Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde,
41
Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania do Governo do Estado de
São Paulo, Programa Estadual de DST/Aids.
Já no ano de 1985, os religiosos de matrizes afro-brasileiras,
particularmente do Candomblé, produziram, com apoio do
Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, um manual de
como manipular navalhas e tesouras nos seus rituais de modo
seguro, preocupados em garantir a não-extinção de seus rituais, já
que poderiam ser mais uma vez acusados de “coisas ruins”: “desta
vez, de espalhar o vírus da Aids”. Em 1986, organizou-se o
GECAIDS (Grupo Especial de Cultura, Candomblé e Aids),
quando já se contavam dezenas de sacerdotes desta tradição entre
os doentes de aids”. (Sousa et al., 2010)
O Grupo de Trabalho Aids e Religião, do Programa Estadual de São Paulo,
tem contribuído para introduzir a ações de prevenção junto as religiões afro
brasileiras respeitando-se os saberes do povo dos terreiros, suas crenças, rituais e
construindo respostas conjuntas, capazes de interferir nas situações de
vulnerabilidade destas pessoas e populações. O Programa de Bragança participa de
forma consistente desse GT e essa participação tem alavancado a parceria com a
Universidade São Francisco, com professores e alunos dos cursos da área da saúde,
sensibilizando-os para o direito à diversidade religiosa.
Incluir esta discussão na Rede de Atenção Básica de Saúde do município,
inclusive com os Agentes Comunitários de Saúde, tem contribuído para desmistificar
todos os preconceitos construídos socialmente e visitas passaram a ser realizadas nas
casas onde funcionam os terreiros.
Além disso, o fato de promover seminários, reuniões, ações de prevenção nos
terreiros, campanhas educativas em ambientes de socialização como nos barracões
das escolas de samba, desenvolver atividades de prevenção no Dia da Consciência
42
Negra, e outras datas comemorativas tem dado maior visibilidade para a população
negra no município.
Bragança Paulista sediou, no Dia Mundial para Eliminação da Discriminação
Racial em 2010, o V Seminário Paulista da Rede Nacional de Religiões Afro-
Brasileiras e Saúde, que foi organizado pelo Núcleo Estadual da rede e o
GVTR/Grupo de Valorização do Trabalho em Rede com o apoio da Secretaria
Municipal de Saúde/Programa DST/Aids e Hepatites Virais.
Ter um núcleo da Rede de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde no município,
atuando cotidianamente nas ações de prevenção do Programa Municipal de
HIV/Aids, faz toda a diferença. O representante da Rede atua como Agente de
Prevenção do Programa Municipal e assim conseguimos identificar e intervir nas
situações em que se detecte a ocorrência de racismo institucional.
Existe a participação de representações do Programa Municipal nos fóruns
regionais, estadual e nacional do Movimento Negro organizado e acreditamos que
isto é necessário para fortalecer nossas intervenções no âmbito municipal.
Se estas ações estão de fato impactando no acesso institucional dos negros e
diminuindo o preconceito contra religiosidades e origens étnico-raciais, é algo que
necessita ser explorado por estudos que adotem abordagem qualitativa ou
quantitativa. Destinar recursos humanos e financeiros para a realização deste estudo
pode ser contemplado na Programação anual de Ações e Metas.
O Programa Municipal de DST/Aids, em parceria com a Diretoria de Ensino
da Região Bragantina, a realização do III Seminário de Prevenção e neste ano de
2011 irá desenvolver atividades no programa “Escola da Família” que, além da
43
prevenção às DST/Aids, focará o Dia da Consciência Negra, com atividades
conjuntas nas escolas e com participação da ARCAB.
Intervir na esfera municipal é necessário e ao mesmo tempo um desafio.
Deparamos-nos no cotidiano com sinais do racismo camuflado: dirigentes e
funcionários dos serviços públicos negam a sua existência, entretanto relatos de
negros, usuários e funcionários, o confirmam.
Avanços ocorreram, melhoramos a qualidade da informação do quesito
raça/cor nas notificações e no sistema de informação de toda a rede pública de saúde,
ações de prevenção nas atividades das religiões afro e nos terreiros estão implantadas
e existe a participação das entidades do movimento negro no planejamento das ações
quando da elaboração da programação anual (PAM).
Não atuamos de forma isolada, estamos inseridos nos Movimentos e Fóruns
regionais, estadual e nacional. A intersetorialidade tem sido efetivada com parcerias
significativas com a Secretária de Educação, Ação e Desenvolvimento Social,
Cultura e com a Universidade.
Apresentamos este breve relato da experiência desenvolvida no município de
Bragança Paulista para mostrar que mesmo de forma incipiente, é possível
desenvolver ações programáticas em parceria com representações do Movimento
Negro. A construção deste leque de atividades pode interferir tanto no âmbito da
formação dos profissionais da área da saúde, como também na melhoria do acesso
da população negra aos serviços de saúde.
44
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O racismo vivenciado tem impacto nas condições de acesso à
saúde e tem se refletido na maior vulnerabilidade de homens e
mulheres negros para a infecção de HIV. Os elementos de
afirmação da identidade racial contribuem para a promoção da
saúde da população negra. Ações conjuntas entre os serviços de
saúde e o movimento social possibilitam condições de
fortalecimento de uma política de enfrentamento das DST/ aids
entre as negras e os negros brasileiros. (Spiassi,2010)
Na pesquisa bibliográfica verificou-se uma pequena quantidade de artigos
científicos que sistematizam reivindicações do movimento negro em relação à saúde,
bem como em relação ao HIV/Aids. A maioria das redes negras tem como atuações
prioritárias: cultura, política, religião e educação, como demonstrou pesquisa
realizada com entidades do movimento negro de sete cidades da região do ABC
paulista. O plano de análise dos dados desta pesquisa ficou centrado no discurso dos
sujeitos representantes destas entidades, e demonstra que - por ser a agenda bastante
ampla- pouca ênfase é dada a questão da prevenção das DST/Aids. Quando coloca
em discussão a saúde da população negra, o tema mais lembrado e mais freqüente é a
anemia falciforme, fato que pudemos confirmar também em outras redes e outros
estudos. Entender a fragilidade da tratativa do tema saúde nos movimentos negros
está intimamente relacionado à dificuldade de acesso aos serviços, a discriminação
que sofrem e a pequena quantidade de negros nas funções mais especializadas do
setor saúde. Entretanto, as maiores preocupações dos movimentos negros
organizados estão relacionadas aos determinantes sociais da saúde, como
participação social, política, econômica, consciência racial, educação, dentre outros.
O racismo compromete a auto-estima e a qualidade de vida das pessoas,
fragilizando-as e colocando-as inclusive em condição de maior vulnerabilidade. As
45
desigualdades sociais não podem ser menosprezadas no planejamento das políticas
de prevenção e a parceria com as organizações existentes em todos em níveis
governamentais torna-se indispensável na propositura de respostas eficazes. Do
ponto de vista de políticas públicas de saúde e especificamente voltadas para a
prevenção de DST/Aids, percebemos a existência de coerência entre as
reivindicações do Movimento Negro organizado e as respostas oferecidas. Mas isto
não é suficiente! Na vivência cotidiana dos nossos serviços nos deparamos ainda
com diversas situações de negação de direitos.
Admitindo a existência do racismo e sua operação e de que saúde e a doença
não são fatalidades ou "obras do destino", ativistas, pesquisadores, profissionais de
saúde, gestores e outros atores políticos devem orientar suas práticas em busca da
equidade. O racismo e a discriminação racial são fatores determinantes das condições
de saúde.
Tem-se um desafio: monitorar a implantação das políticas públicas
direcionadas à população negra e saber se elas estão respondendo as necessidades
elencadas por essa população organizada. Algumas indagações podem ser
levantadas: Como está a implantação da Política Nacional de Atenção Integral a
Saúde da População Negra? O acesso a atenção básica e as causas prevalentes de
mortalidade estão sendo evitadas? Houve melhoria na qualidade do pré-natal das
mulheres negras? Os trabalhadores da saúde foram treinados para o enfrentamento
do racismo institucional? As ações de DST/Aids direcionadas à população negra
estão implantadas/implementadas com continuidade e estão sendo avaliadas? Os
recursos financeiros para as ações desenvolvidas tanto pelas organizações
governamentais como não governamentais estão sendo monitorados, bem como o
46
repasse para os municípios com comunidades quilombolas? Os Centros de
Atendimento Especializados de média complexidade para atenção a Anemia
Falciforme e outras heglobinopatias estão implantados? Como se dá a representação
do Movimento Negro nos Conselhos de Saúde, nas suas diferentes instâncias?
Estas são algumas perguntas que nossa pesquisa bibliográfica não respondeu
e que devem ser objeto de investigação para que se possa analisar a efetividade das
respostas capazes de enfrentar as desigualdades aqui apontadas.
47
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