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∗ Editorial .........................................................................∗ Lançamentos editoriais .................................................

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.

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Sumário

∗ As novidades da soja ....................................................∗ Fabricação caseira de colorau na Ilha de Santa Catarina∗ Brusone-do-arroz e brusone-do-trigo: similaridades ediferenças ........................................................................∗ Cultivo de trigo-mourisco traz benefícios a agricultoresem Santa Catarina ............................................................∗ Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) na culturado caquizeiro ...................................................................∗ III Congresso Brasileiro de Agroecologia .....................∗ Pesquisa constata presença de fungos em frutas secas∗ Mastite é vilã nas fazendas leiteiras ..............................∗ Peçonhas valiosas .........................................................∗ Pesquisa determina valor nutricional de cogumelos ....∗ ∗ ∗ ∗ ∗ Hemerocallis: além da beleza, o sabor ........................∗ Metodologia detecta presença da aflatoxina em 10segundos .........................................................................

∗ Qualidade na produção de batata .................................∗ Desempenho de hortaliças em sucessão de culturas,sob cultivo convencional e orgânico, no Litoral SulCatarinense ......................................................................

∗ Estudo da mesofauna edáfica em diferentes sistemasde manejo do solo e fontes de nutrientes ........................∗ Morfologia de gemas dormentes com um ano e dois anosde macieiras cultivadas em regiões com insuficiência de friohibernal .............................................................................∗ Influência da temperatura e do período de molhamentofoliar (PMF) na incidência e severidade damancha-foliar-da-gala (Colletotrichum spp.) ...................

∗ Uso de feromônio sexual sintético para o monitoramentoda flutuação populacional da traça-do-tomateiro Tutaabsoluta no Planalto Norte Catarinense ..........................∗ Identificação da raça 73 de Colletotrichumlindemuthianum , agente causal da antracnose-do-feijoeiro,em dois municípios do Alto Vale do Itajaí, SC ..................∗ ∗ ∗ ∗ ∗ Cultivares de morangueiro para sistema de produçãoorgânica ............................................................................∗ Tempo de imersão de cistos em solução de metidatiompara controle da pérola-da-terra, Eurhizococcusbrasiliensis .....................................................

∗ Administrar a água ........................................................∗ A importância do capital de giro no agronegócio .........

∗ Castel Gala – Nova cultivar precoce de macieira ...........∗ Orizicultura – Canal de irrigação aumenta produção daslavouras ............................................................................∗ Um olhar sobre a cerca ..................................................∗ Cooperativas e agroindústrias beneficiam agricultoresfamiliares .........................................................................∗ Agricultura – Sem saudades do último verão ...............

∗ Estiagem provocou sérios prejuízos à produçãocatarinense ......................................................................

∗ Ginseng-brasileiro – Novo estímulo para o campo e parao corpo .............................................................................

Registro

Opinião

Conjuntura

Reportagem

Plantas bioativas

Artigo Científico

Nota Científica

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10101111121213

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∗ ‘Castel Gala’ – mutação da macieira ‘Gala’ com baixanecessidade de frio e maturação precoce ......................... 78

Germoplasma e Lançamento de Cultivares

∗ Como aumentar a eficiência econômica dos recursos naprodução de hortaliças ....................................................∗ Viabilidade do uso de fosfitos no controle dasarna-da-macieira .............................................................

Informativo Técnico

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REVISTA QUADRIMESTRAL EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Dorvalino Furtado FilhoEditor: Roger Delmar FleschEditores-assistentes: Ivani Salete Piccinin Villarroel,Paulo Henrique Simon

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO : Janice da Silva Alves

PADRONIZAÇÃO: Rita de Cassia Philippi

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Vânia Maria Carpes

CAPA: Foto de Frederico Denardi

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, MariaTeresinha Andrade da Silva, Nauana Gaivota Silveira(estagiária), Mariza Martins, Selma Rosângela Vieira,Zilma Maria Vasco

15 DE JULHO DE 2005

INDEXAÇÃO: Agrobase

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publica-ção da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Exten-são Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri –, RodoviaAdmar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502,88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone:(48) 239-5500, fax: (48) 239-5597, internet:www.epagri.rct-sc.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente:Athos de Almeida Lopes, Diretores: Anselmo BenvindoCadorin, José Antônio da Silva, Valdemar Hercilio deFreitas, Valmor Dall´Agnol

A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina

ISSN 0103-0779

Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

FICHA CATALOGRÁFICAAgropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianó-polis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou

a ser quadrimestral1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira eZulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P. 502,fones: (48) 239-5595 e 239-5535, fax: (48) 239-5597ou 239-5628, e-mail: [email protected], 88034-901Florianópolis, SC.Assinatura anual (3 edições): R$ 22,00 à vista.

PUBLICIDADE: Laertes Rebelo: GMC/Epagri – fone:(48) 239-5620, fax: (48) 239-5597 ou 239-5628

CDD 630.5Impressão: Reuter Editores Gráficos Ltda.

olhar atento do téc-nico-produtor emseu pomar tornou

possível que Santa Catarina,o Estado maior produtor eexportador de maçãs, tivesseoutra cultivar de macieiradisponível aos produtores.Trata-se de uma mutaçãoespontânea que ocorreu emum dos ramos da cultivar demacieira Gala. Diferen-ciando-se da planta-mãeapenas pela floração ante-cipada e necessidade demenos frio hibernal, a novacultivar Castel Gala tem umfuturo promissor, princi-palmente em áreas comaltitudes inferiores a 1.000m.A manutenção das demais

características da cultivarGala, que ocupa 45% dasvendas no mercado nacio-nal, permite inferir que a‘Castel Gala’ ocupará nichosde mercado – maçãs frescasem janeiro e antecipação dasexportações – que resul-tarão em ganhos de capi-tal aos produtores e aoEstado.

O setor agropecuáriocatarinense sofreu uma daspiores secas de sua históriaem fevereiro e março de 2005,cujas perdas somaram cercade R$ 800 milhões. Dezenasde municípios entraram emestado de emergência. Aquicabe uma pergunta: paraonde foram as águas daschuvas abundantes dosmeses anteriores? Paísescom apenas um terço damédia anual da precipitação

de Santa Catarina, que jásentiram esse problema,tomaram providências dearmazenamento para osmomentos de escassez.Devemos ir atrás destes e deoutros bons exemplos eadaptá-los à nossa reali-dade. Felizmente, algunspassos já começam a serdados, porém, maisinvestimentos e esforçosdevem ser feitos paraconscientizar e orientar oprodutor a armazenar aágua em época de farturae utilizá-la na falta. Os da-nos com a estiagem afetamtodos os segmentos da ca-deia produtiva do agrone-gócio e as perdas repre-sentam tamanha monta dedinheiro, do qual nem osprodutores nem o Estadopodem prescindir.

O

Catarinense

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5Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Doenças da videira e seu controle emSanta Catarina. 2004. 90p.

Esta publicação reúne informações depesquisas, tanto nacionais como estrangeiras,para consulta dos profissionais da área daagronomia, para facilitar o diagnóstico corretoe o controle integrado das doenças da videira.Assim agindo, será possível reduzir o uso deagrotóxicos e a poluição ambiental, combenefícios para toda a sociedade.

Contato: [email protected].

Receitas à base de aipim. 2005. 33p.Proveniente do esforço conjunto de

extensionistas e agricultoras que percebemser a alimentação correta um alicerce para asaúde humana, o presente trabalho tem oobjetivo de divulgar as várias formas deaproveitamento do aipim através de umasérie de maravilhosas receitas, as quais sãosimples, fáceis e possíveis de serempreparadas pelas donas de casa.

Contato: [email protected].

Avaliação de cultivares para o Estadode Santa Catarina – 2005/2006. 2005. 159p.

Este documento é resultado deexperimentos conduzidos nas principais regiõesedafoclimáticas de Santa Catarina e permiteidentificar as cultivares com melhor sanidadee maior potencial de produção regional.

Contato: [email protected].

Manual de referênciastécnico-econômicas desistemas de produçãoagropecuários de SantaCatarina. 2005. 413p.

O presente trabalhoapresenta referências para 48sistemas de produção, utilizando--se para isso de tabelas e figuraspara facilitar ao leitor a máximavisualização possível doconteúdo. Espera-se que asinformações oferecidas por estemanual possam ser úteis atécnicos, agricultores, admi-nistradores e lideranças ruraisregionais no trato da agriculturafamiliar e de sua viabilidadeeconômica, social e ambiental.

Contato: [email protected].

Considerações sobre aprodução e o mercado depescados. 2005. 42p.

As informações contidas nestapublicação são resultantes de umestudo exploratório baseado emdados secundários da produção edo mercado de pescados. É umaexcelente fonte de consulta paraaqueles que desejam iniciar naatividade, bem como paratécnicos que querem aprofundarseus conhecimentos na área.

Contato: [email protected].

Normas técnicas para o cultivo davideira em Santa Catarina. 2005. 67p

A publicação aborda dados referentes àcultura da uva em Santa Catarina, suaspráticas culturais e as atividades de pós-co-lheita. As informações oferecidas por estedocumento são úteis a técnicos, a agricul-tores e àqueles que desejam iniciar naatividade.

Contato: [email protected].

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6 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

As novidades da sojaAs novidades da sojaAs novidades da sojaAs novidades da sojaAs novidades da soja

A ’BRS Sinuelo’ é indicada para ostrês Estados da Região Sul

ez novas cultivares conven-cionais de soja da EmbrapaTrigo, Passo Fundo, RS,

foram desenvolvidas em parceriacom a Fundação Pró-Sementes.Numa avaliação geral, as dezcultivares (BRS Invernada, BRSTorena, BRS Macota, BRS Tebana,BRS Sinuelo, BRS Querência, BRSCandiero, BRS Cambona, BRSGuapa e BRS Raiana) apresentamresistência à mancha-olho-de-rã e aocancro da haste. Somente a BRSInvernada se mostrou suscetível àpodridão-parda-da-haste. “As cul-tivares estarão disponíveis paralavoura comercial para a safra2005/06 e já podem ser adquiridaspelos produtores junto aosinstituidores da Fundação Pró-Se-mentes”, informa o melhorista daEmbrapa Trigo, Paulo Bertagnolli.

As novas cultivares de soja sãoas seguintes:

BRS Invernada: é indicada paracultivo no PR e SP, onde a produ-tividade variou de 3.000 a 3.500kg/ha. É suscetível à podridão-parda--da-haste ao oídio e ao mosaico-co-mum e resistente ao nematóide-de--cisto – raça 3. Apresenta ciclo dematuração precoce.

BRS Macota: avaliada nosensaios de produtividade em 24

locais, a BRS Macota manteve amédia de 3.000kg/ha nos Estados doRS, SC, PR e SP. É moderadamenteresistente ao nematóide-de-galha eà pústula-bacteriana, mas alta-mente suscetível ao oídio e aocrestamento-bacteriano. Apresentaciclo de maturação precoce.

BRS Raiana: a produtividade degrãos alcançou 3.400kg/ha no PRe 3.007kg/ha em SP, Estadospara onde a cultivar é indicada.É resistente ao mosaico-comum emoderadamente resistente aooídio. O ciclo de maturação é pre-coce.

BRS Sinuelo: o diferencial destacultivar é a resistência à maioria dasdoenças que incidem na soja. Alémda resistência à mancha-olho-de-rã,ao cancro-da-haste e à podridão--parda-da-haste, a BRS Sinuelo semostrou resistente ao mosaico-co-mum e ao oídio. A cultivar é alta-mente resistente ao acamamento,problema comum na Região Sul (PR,SC e RS). A produtividade médiaficou em 3.250kg/ha. O ciclo émédio.

BRS Tebana: também indicadapara as regiões frias do RS, SC ecentro-sul e sudeste do PR. Ésuscetível ao nematóide-de-galha eao oídio, mas resistente ao mosaico-

-comum e ao aca-mamento. Possuiuma produtividademédia de 3.200kg/ha e é classificadacomo de ciclomédio.

BRS Cambona:a rusticidade dacultivar garante aresistência ao oídioe ao acamamento.Apresenta ciclomédio no PR, SP esul do MS e ciclosemitardio no RS eSC. É suscetível aomosaico-comum eao nematóide-de--galha. As produ-

tividades ficaram em 3.200kg/ha noRS e SC, 3.400kg/ha no PR e SP,chegando a 3.560kg/ha no sul do MS.

BRS Candiero: materialsemelhante à BRS Cambona,também é suscetível ao mosaico-co-mum e ao nematóide-de-galha,mas moderadamente resistenteao oídio. Com ampla adaptação, éindicada para cinco Estados (RS,SC, PR, SP e sul do MS). Asprodutividades variam de 3.100kg/ha no RS a 3.500 kg/ha no sul doMS. É classificada como de ciclosemitardio.

BRS Guapa: forte, vigorosa, aBRS Guapa se mostrou suscetívelapenas ao nematóide-de-galha. Ociclo é semitardio no RS e em SC emédio no PR, SP e no sul do MS.Tem produtividade semelhante à daBRS Candiero e BRS Cambona,partindo de 3.070kg/ha no RS até3.700kg/ha no sul do MS.

BRS Querência: a baixaestatura garante a resistência aoacamamento. É indicada para o RSe SC. A produtividade média é de3.100kg/ha. É suscetível ao oídio, ao

A ‘BRS Invernada’ é indicada para o cultivo noParaná e São Paulo

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Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005 7

mosaico-comum e ao nematóide-de--galha e é classificada como de ciclotardio.

BRS Torena: tem indicação decultivo para RS, SC e centro-sul e

A ‘BRS Candiero’ tem amplaadaptação

A ‘BRS Torena’ tem ciclo tardio

sudeste do PR. A BRS Torena foiavaliada em 28 ensaios no período1999/01 e apresentou a pro-dutividade média de 3.250kg/ha.É resistente ao mosaico-comum,mas suscetível ao oídio e aonematóide-de-galha. O ciclo ésemitardio.

Oito novas cultivares de sojatransgênica foram lançadas emmarço pela Embrapa e já estãoregistradas no Registro Nacionalde Cultivares do Ministério daAgricultura. Estas cultivares foramdesenvolvidas com a introdução deum gene que torna as plantastolerantes ao glifosato, umherbicida utilizado para o controlede plantas daninhas. As cultivares,o ciclo e a indicação de locais decultivo são:

BRS 242 RR – precoce eindicada para SC, PR e SP.

BRS 243 RR – semiprecoce eindicada para RS, SC, PR e SP.

BRS 244 RR – de ciclo médio,com indicação para RS, SC, PR e SP.

BRS 245 RR – de ciclo médio eindicada para SC, PR e SP.

BRS 246 RR – de ciclo médio,com indicação para RS, SC, PR e SP.

BRS 247 RR – de ciclo semitar-dio e indicada para SC, PR e SP.

BRS Charrua RR – de ciclotardio e indicada apenas para o RS.

BRS Pampa RR – de ciclosemitardio e também só indicadapara o RS.

Conforme o diretor da FundaçãoPró-Sementes, Rui ColvaraRosinha, do total de oito cultivaresde soja transgênica desenvolvidasna parceria Embrapa Trigo/Fundação Pró-Sementes, apenas acultivar BRS 244 RR dispõe desementes para a safra 2005/06.

Mais informações com EmbrapaTrigo, fone: (54) 311-3444, ou nowww.cnpt.embrapa.br.

FFFFFabricação caseira de colorau na Ilha de Santa Catarinaabricação caseira de colorau na Ilha de Santa Catarinaabricação caseira de colorau na Ilha de Santa Catarinaabricação caseira de colorau na Ilha de Santa Catarinaabricação caseira de colorau na Ilha de Santa Catarinama antiga tradição das co-munidades litorâneas deSanta Catarina está sendo

resgatada pelo Grupo de Trabalhosobre Plantas Medicinais (Seove),com sede no Bairro Campeche, emFlorianópolis, SC. Trata-se da

Retirada das sementes de urucum

fabricação caseira de colorau, o póvermelho oriundo das sementes daplanta nativa brasileira urucum, daqual os índios utilizam as sementesverdes para pintura. Quando assementes estão maduras e secas éfeito o colorau, misturando o pó como fubá de milho, resultando nocondimento muito apreciado e quesubstitui o tomate nos molhos.

O processo é simples. A senhoraMaria Francelina Rodrigues e Ma-ria de Lourdes Martins, ambas comidade acima dos 60 anos e moradorasdo Bairro Campeche e Costeira,ensinam que após colher assementes maduras do urucummisturam com fubá e batem numpilão com um pau grosso de madeira,até virar em pó vermelho que, apóspeneirado, está pronto para o uso.Detalhes desta prática serãomostrados em oficina no IIICongresso Brasileiro de Agroeco-logia, em Florianópolis, SC, de 17 a20 de outubro de 2005.

Contatos com: Ubiratan de

U Mattos Saldanha e João AfonsoZanini Neto pelos fones: (48) 237-3405, 9967-7042 e 222-9536.

Preparo do colorau no pilão

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8 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

BrusoneBrusoneBrusoneBrusoneBrusone-----dododododo-arroz e-arroz e-arroz e-arroz e-arroz ebrusonebrusonebrusonebrusonebrusone-----dododododo-trigo:-trigo:-trigo:-trigo:-trigo:similaridades e diferençassimilaridades e diferençassimilaridades e diferençassimilaridades e diferençassimilaridades e diferenças

brusone-do-trigo é umadoença que ocorre em váriospaíses do mundo, mas no

Brasil tem sido associada com perdaseconômicas importantes, espe-cialmente no norte do Paraná e naregião dos Cerrados. Apesar de tersido registrada em nosso país em1986, no Sudoeste da Ásia já haviasido observada há muitos anos. Éuma doença que provoca queda naprodutividade e na qualidade degrãos, deixando-os enrugados,pequenos, deformados e com baixopeso específico.

O agente causal da brusone dotrigo, o fungo Pyricularia grisea(Cooke) Sacc., é o mesmo que causaa doença na cultura do arroz,também conhecida por brusone.Entretanto, tem-se verificadodiferenças bastante significativasentre os isolados do fungo obtidos de

plantas de arroz e de plantas detrigo, principalmente em relação àgama de hospedeiros, fertilidade ecompatibilidade sexual, inoculaçõescruzadas e composição molecular.

Atualmente, a estratégia maisestudada para controlar a doença nacultura do arroz é baseada,principalmente, no desenvolvimentode cultivares resistentes. Noentanto, a “quebra” ou “perda” daresistência das cultivares, depois detrês a quatro anos de seu cultivointenso e contínuo, tem minimizadoa eficiência desta alternativa decontrole. Os aspectos que envolvem

a resistência à brusone-do-arroz sãobastante conhecidos, tendo sido des-critos em torno de 30 genes de resis-tência, sendo cerca de dez destesassociados com resistência parcial e20 com resistência completa. Destesúltimos, dois deles já foram clonados.

Na cultura do trigo, o nível deconhecimento sobre a brusone aindaé muito restrito. De maneira geral,com exceção da cultivar BR-18, queapresenta um grau de susceti-bilidade moderada, as demaiscultivares indicadas para uso noBrasil são suscetíveis ou muitosuscetíveis à doença. Assim, torna--se necessário identificar genótipospara servir de fontes de resistência.Uma alternativa é a utilização deespécies de plantas acendentes dotrigo, como as do gênero Aegilops.

Em relação ao manejo realizadono Brasil, um aspecto comum àsduas culturas é que a severidade dadoença varia de acordo com a épocade semeadura das lavouras. Adiferença é que na cultura do arroza doença é favorecida pelasemeadura tardia, enquanto que notrigo está associada às semeadurasprecoces. Considerando que umacultura é de verão e a outra deinverno, supõe-se que haja umaépoca do ano mais propícia àdisseminação de esporos do pató-geno, provavelmente no final do ciclodo arroz e início do ciclo do trigo.

Mais informações com opesquisador da Embrapa Trigo JoãoLeodato Nunes Maciel, fone: (54)311-3444, ou pela internet www.cnpt.embrapa. br.

A

Brusone-do-arroz

Brusone-do-trigo

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9Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Cultivo de trigoCultivo de trigoCultivo de trigoCultivo de trigoCultivo de trigo-mourisco traz benefícios a agricultores-mourisco traz benefícios a agricultores-mourisco traz benefícios a agricultores-mourisco traz benefícios a agricultores-mourisco traz benefícios a agricultoresem Santa Catarinaem Santa Catarinaem Santa Catarinaem Santa Catarinaem Santa Catarina

Joana Juraszek e filha com o extensionista Paulo em lavoura detrigo-mourisco florido

ma tradição quase esque-cida no Sul do Brasil, masque ainda permanece em

algumas regiões, é o cultivo do trigo--mourisco ou trigo-sarraceno,trazido ao País por imigranteseslavos, principalmente poloneses eucranianos.

No município de SantaTerezinha, no Alto Vale do Itajaí,quase no Planalto Catarinense,encontra-se a família Juraszek, quemantém viva a tradição dos avós decultivarem o trigo-mourisco emsuas terras. O casal Baltazar eJoana Juraszek cultua também aarte da culinária polonesa na qualse inclui, entre outros, o fabrico depão com trigo integral, centeio etrigo-mourisco, a sopa de tatarka(sopa com galinha caipira e trigo--mourisco), a kischka, que é amistura de trigo-sarraceno(“hretschka”, em ucraniano) comchouriço, e o popular haluski, feitocom arroz, trigo-mourisco e carnemoída, enrolado em folha de couve.

O trigo-mourisco – Fagopyrumesculentum – é da família daspoligonáceas. No Brasil, plantasdesta família encontram-se emestado silvestre e algumas sãousadas na medicina popular, como éo caso da erva-de-bicho. No livroPlantas de Cobertura do Solo, doengenheiro agrônomo ClaudinoMonegat, da Epagri/Cepaf, emChapecó, o autor informa que,além da alimentação humana, otrigo-mourisco também servepara alimentar animais e é umaótima planta nectarífera, ou seja,produz de 110 a 170kg de mel/ha,com uma florada de um mêssomente.

O trigo-mourisco é uma plantaque se desenvolve bem em solosarenosos até argilosos, desde quebem drenados, e tolera bem a acidez.Ele produz em terras cansadas epossui grande capacidade deabsorver nutrientes do solo, taiscomo cálcio e fósforo. Tem sidoutilizado no Sul do Brasil, entre os

pequenos agricultores familiares,como adubo verde de inverno,propiciando uma boa cobertura dosolo e controlando ervas espon-tâneas. Alguns especialistasentendem que a decomposição dasraízes do trigo-mourisco inibe agerminação das ervas indesejadas.

O sarraceno, apesar de planta declima frio, é sensível às geadas,mas, segundo o engenheiroagrônomo Paulo Roberto LisboaArruda, extensionista da Epagri emSanta Terezinha, na Região do AltoVale é costume fazer duas colheitasanuais. O primeiro ciclo vai desetembro a dezembro e o seguinte,de dezembro a março. A famíliaJuraszek costuma cultivar nosistema orgânico e colhe em tornode 20 sacos/ha.

Além da tradição, a tecnologia ea inovação também fazem parte docotidiano destes agricultoreseslavos. O senhor CelestinoJuraszek, pai de Baltazar, inventoupioneiramente uma máquina dedescascar as sementes triangularesdo tatarka. Este seu invento,duplicado e aperfeiçoado recen-temente pelo filho, permite agilizaro descasque das sementes, quepossuem uma casca bem dura. Noprocesso tradicional, bastanterústico e feito manualmente, utiliza--se uma pedra de moinho, a jorna,que descasca 5kg de sementes limpaspor dia, ao passo que a máquinaatinge 30kg, ou seja, é seis vezesmais produtiva, além de não quebraros grãos, fato comum com autilização da jorna. A máquina,movida à eletricidade, tem sidomuito utilizada pela família Juraszeke por vizinhos e agricultores daregião. O desafio dos Juraszek agoraé tentar patentear o invento paraque ele possa ser multiplicado paraoutras comunidades, evitando asconstantes viagens de famílias quevêm beneficiar o produto.

Mais informações com o enge-nheiro agrônomo Paulo RobertoArruda Lisboa, fone: (47) 556-0265,e-mail: [email protected].

U

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10 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

A

A

Antracnose (Antracnose (Antracnose (Antracnose (Antracnose (ColletotrichumColletotrichumColletotrichumColletotrichumColletotrichumgloeosporioidesgloeosporioidesgloeosporioidesgloeosporioidesgloeosporioides)))))na cultura do caquizeirona cultura do caquizeirona cultura do caquizeirona cultura do caquizeirona cultura do caquizeiro

cultura do caquizeiro abran-ge uma área aproximada de6 mil hectares no Brasil. Os

maiores produtores são o Estado de

São Paulo, do Rio Grande do Sul,do Paraná e de Santa Catarina.Na safra 2002/03, no Estado deSanta Catarina, a área cultivadaera de 515,4ha, com tendência deincremento de plantio de novasáreas.

A antracnose na cultura docaquizeiro, causada pelo fungoColletotrichum gloeosporioides(Penz.,) Penz. & Sacc.(= Colletotrichum kaki Maffei),apresenta nível crescente de inci-dência e severidade na Região doPlanalto Norte Catarinense, bemcomo no Estado do Paraná. Aocorrência da doença se dá duranteo período vegetativo, especialmenteem anos quentes e úmidos.

É sugerido que a sobrevivênciado fungo no pomar ocorrasaprofiticamente nas lesões dosramos e folhas. Os principais agentesde disseminação do fungo sãorespingos de água e insetos.

Os sintomas da doença podem

Figura 1. Lesões arredondadas,deprimidas, de coloraçãopardo-escura a negra em frutosjovens de caqui

aparecer nas folhas, ramos e frutos,embora sejam mais severos nosramos e nos frutos. Nos ramosocorre a formação de grandescancros, com esporulação abundantedo fungo, que resulta na anelagem,murcha e seca da região superior.Nos frutos, os sintomas iniciam compequenas manchas arredondadas decoloração pardo-escura a negra.Rapidamente essas manchasaumentam de dimensão e profun-didade, seguidas de podridão, ondetambém o fungo esporula abun-dantemente (Figuras 1 e 2). Os frutosatingidos pela doença perdem valorcomercial.

Para o controle da doença, sãorecomendados tratamentos deinverno e após a floração, durante operíodo de desenvolvimento dosfrutos.

Mais informações com GilsonJosé Marcinichen Gallotti, fone: (47)624-1144, e-mail: [email protected].

III Congresso Brasileiro de AgroecologiaIII Congresso Brasileiro de AgroecologiaIII Congresso Brasileiro de AgroecologiaIII Congresso Brasileiro de AgroecologiaIII Congresso Brasileiro de Agroecologiasociedade construindo co-nhecimentos para a vida” é otema central do III Con-

gresso Brasileiro de Agroecologia –III CBA –, que será realizado noperíodo de 17 a 20 de outubro de2005, no Centro de Cultura e Eventosda Universidade Federal de SantaCatarina, em Florianópolis. Oevento é uma promoção daAssociação Brasileira de Agroe-cologia e, nesta edição, SantaCatarina terá a honra de recebertodos que estão comprometidos coma construção da ciência agroeco-

lógica. O III CBA é uma realizaçãoconjunta de várias entidades,instituições da esfera governa-mental e não-governamental dasociedade catarinense.

A ciência da agroecologia é umreferencial de conhecimentos embusca de novas relações sociais eambientais que possibilitem aemergência da sustentabilidade nosagroecossistemas, da saúdeintegral, da eqüidade e do bem-estarentre todos os seres humanos e emtodas as comunidades.

A organização convida todos a

oferecerem sua contribuição naforma oral, de pôster ou oficina.Além desse espaço, haverá umaprogramação propositiva compalestras, conferências, mesas-re-dondas, oficinas, eventos culturaise feira de sabores e saberes. Aestrutura básica do evento pode servisualizada pela internet: www.agroecologia2005.ufsc.br.

Informações e sugestões pelos e-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected].

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Figura 2. Lesões arredondadas, deprimidas, negras comesporulação do fungo em frutos maduros de caqui

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11Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Mastite é vilã nas fazendas leiteirasMastite é vilã nas fazendas leiteirasMastite é vilã nas fazendas leiteirasMastite é vilã nas fazendas leiteirasMastite é vilã nas fazendas leiteirasprincipal vilã das fazendasleiteiras é capaz de provocarperdas de 12% a 15% na

produção. São 2,8 bilhões de litrosde leite a menos por ano noBrasil. A vilã: a mastite, umainflamação da glândula mamária davaca leiteira. O problema não éexclusivo do Brasil. Em todo omundo, a mastite é o terror dos

produtores de leite.Bactérias e fungos são os cau-

sadores da mastite. A doença édividida em dois grandes grupos, deacordo com a forma de mani-festação: mastite clínica e subclí-nica. A forma clínica é aquela emque há sinais evidentes da infla-mação na glândula mamária, comoinchaço, aumento da temperatura,

endurecimento, dor , pus, entreoutros. Já a mastite subclínica nãodá sinais no animal, mas no leiteproduzido por ele. Em ambos os ca-sos, a produção fica comprometida.Estudos apontam que entre 30% e40% das vacas brasileiras estãoinfectadas por mastite subclínica.

Alguns estudos apontam prejuí-zo de cerca de US$ 184/vaca/ano porcausa da mastite. “Desse total, 70%são atribuídos à mastite subclínica,enquanto os restantes 30% sãorelativos à mastite clínica.”

O tratamento das vacas noperíodo seco, o tratamento imediatode todos os casos clínicos de mastite,o funcionamento adequado dosistema de ordenha, o corretomanejo com ênfase na desinfecçãodas tetas após a retirada do leite, odescarte de vacas com mastitecrônica, a boa higiene e conforto naárea de permanência dos animaissão algumas medidas que podemproteger o rebanho contra as perdasprovocadas por esta doença.

Mais informações com a Divisãode Saúde Animal da Pfizer : www.pfizersaudeanimal.com.br, fone:0800 11 19 19.

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PPPPPesquisa constata presença de fungos em frutas secasesquisa constata presença de fungos em frutas secasesquisa constata presença de fungos em frutas secasesquisa constata presença de fungos em frutas secasesquisa constata presença de fungos em frutas secass frutas secas importadasencontradas nas prateleirasde supermercados podem

esconder riscos à saúde doconsumidor. Uma avaliação daqualidade desses produtos foirealizada pela engenheira dealimentos Beatriz Thie Iamanaka,na Faculdade de Engenharia deAlimentos – FEA – da Unicamp, queidentificou a presença de fungos emboa parte das amostragens, mesmoestando dentro do prazo de validade.O trabalho revelou que as frutascom maior incidência de fungos etoxinas foram o figo e a uva-passaescura. Tâmaras e ameixastambém apresentaram contami-nação, mas em níveis menores. Asfrutas secas que não acusaramnenhuma contaminação por fungos

e micotoxinas foram o damasco secoe a uva-passa clara.

Fungos e toxinas – Em geral,a presença de fungos no produto nãosignifica necessariamente queesteja contaminado com micoto-xinas, pois nem todas as espéciessão capazes de produzi-las. Para queo fungo produza as toxinas devehaver condições propícias como, porexemplo, a alta contaminação inicialda matéria-prima ou uma secageminadequada. Desta forma, aocratoxina A e a aflatoxina podemestar presentes em quantidadesvariáveis no produto.

Os efeitos danosos ao organismohumano e de animais decorrentesda ação das micotoxinas não sãoagudos, mas crônicos. Sua ingestãoem quantidades significativas pode

causar, a longo prazo, problemasrenais, no caso da ocratoxina, eproblemas hepáticos, no caso dasaflatoxinas. Em animais, estudosapontam para o efeito cancerígeno.Por isso, a engenheira defende anecessidade de cuidados especiaispara a manutenção da qualidade dasfrutas importadas, principalmenteno caso da uva-passa. Geralmenteelas são consumidas in natura. “Oideal seria que o País tivesse umalegislação pertinente, com limitesseguros de ingestão de cadamicotoxina. Um controle maisacurado e o monitoramento daqualidade desses produtos tambémseriam procedimentos adequados”,sustenta.

Fonte: Jornal da Unicamp –edição no 286.

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12 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

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PPPPPesquisa determina valor nutricional de cogumelosesquisa determina valor nutricional de cogumelosesquisa determina valor nutricional de cogumelosesquisa determina valor nutricional de cogumelosesquisa determina valor nutricional de cogumeloscrescente interesse do con-sumidor por fontes naturaisde vitaminas levou Regina

Prado Zanes Furlani, sob orientaçãoda professora Helena TeixeiraGodoy, a desenvolver a tese dedoutorado “Valor nutricional decogumelos cultivados no Brasil”. Oestudo, realizado na Faculdade deEngenharia de Alimentos daUnicamp, baseou-se em trêsespécies de cogumelos cultivados e

PPPPPeçonhas valiosaseçonhas valiosaseçonhas valiosaseçonhas valiosaseçonhas valiosasEstudos com animaisvenenosos resultaramno licenciamento desete patentescandidatas amedicamentos

intetizadas a partir do venenoda jararaca, da cascavel, dascerdas da taturana e da saliva

do carrapato-estrela, moléculasdesenvolvidas pelo Centro deToxicologia Aplicada – CAT –, comsede no Instituto Butantan, járesultaram em sete patentes licen-ciadas pelo Consórcio Farmacêutico(Coinfar), formado pelos Labora-tórios Biolab-Sanus, União Químicae Biosintética.

Três dessas patentes são de anti--hipertensivos chamados de evasins,

obtidos do veneno da jararaca(Bothrops jararaca). Esses anti--hipertensivos estão na fase deensaios pré-clínicos há mais de doisanos, na Universidade Federal deMinas Gerais – UFMG.

Duas outras patentes referem--se à proteína lopap, retirada dascerdas que recobrem o corpo dataturana (Lonomia obliqua) , quemostrou ter potencial para transfor-mar-se em um medicamento paratratar a trombose. A primeirapatente da lopap trata da obtenção ecaracterização da proteína a partirdas cerdas e sua indicação de uso naprevenção de trombose; e a segundadiz respeito à obtenção e ao uso daproteína recombinante produzida apartir de bactérias geneticamentemodificadas.

As duas últimas patenteslicenciadas tratam, respectiva-mente, de uma proteína com poder

analgésico chamada enpak, obtidado veneno da cascavel (Crotalusterrificus), e de uma proteínainibidora de fator de coagulação,extraída da saliva do carrapatoAmblyomma cajennense, aamblyomin-X. Em uma única dose,a enpak mostrou ter um poder deanalgesia 600 vezes mais potenteque o da morfina. Já a amblyomin-Xmostrou ter ação em várias culturasde células tumorais, porém sematingir as normais, conta Ana MarisaChudzinski-Tavassi, do Laboratóriode Bioquímica e Biofísica do InstitutoButantan, coordenadora daspesquisas da lopap e da amblyomin-X. “Camundongos com melanomativeram remissão completa do tumore, um ano depois, ainda estão vivose saudáveis”, diz Ana Marisa.

Fonte: Revista Fapesp. Repor-tagem de Dinorah Ereno. Edição no

110.

comercializados no Brasil: aAgaricus bisporus – o conhecidochampinhom de Paris –, a Lentinulaedodes – o shiitake – e a Pleorotusostreatus – o shimeji.

Segundo a pesquisadora, oscogumelos apresentam “conside-rável quantidade de fósforo, mas osteores de vitamina C não permitemconsiderá-los fonte dessa vitamina,porém constituem-se em rica fontede folatos (ácido fólico), na dietaalimentar”. Ela revela umasurpresa: “Embora presentes, asvitaminas B1 e B2 aparecem comteores insignificantes, não sendoconsideradas fontes dessasvitaminas, pois sua contribuição nadieta é inexpressiva”.

A pesquisadora encontrou teoresde folatos que variaram de 551µg a1.431µg em 100g de cogumelo,dependendo do lote e da espécie: “Éum alto teor e sem dúvida oscogumelos constituem umaexcelente fonte de folatos”. Estudosmostram que os folatos evitam a má

formação do feto e más formaçõescongênitas, previnem certos malescardíacos e doenças cardiovascula-res, desordens mentais, câncer, malde Alzheimer, etc. O Valor Diário deReferência (VDR) para fibras é de25g e os cogumelos analisadosfornecem, em 100g, de 6 a 15,6 doVDR. Apresentam uma quantidadeconsiderável de fósforo, quantidaderazoável de proteínas e menos de5% de gorduras: “Sem dúvida, trata--se de um alimento saudável”.

As civilizações orientais consa-graram os cogumelos há milênioscomo alimento funcional. No mundoocidental sua disseminação é maisrecente. Em 1993, a produçãomundial foi de 1,95 milhão detoneladas, que saltou para 3,19milhões em 2003. O Brasil nãopossui dados oficiais sobre a produ-ção de cogumelos, e o seu maiorcentro produtor localiza-se no AltoTietê, em São Paulo.

Fonte: Jornal da Unicamp,edição no 277.

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13Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

HemerocallisHemerocallisHemerocallisHemerocallisHemerocallis: além da beleza, o sabor: além da beleza, o sabor: além da beleza, o sabor: além da beleza, o sabor: além da beleza, o sabor

Hemerocallis é uma plantada família das Liliáceas, fácilde cultivar e que exige pouco

cuidado. É comum em canteirosurbanos e jardins, atrai o olhar eenfeita os locais onde é cultivado.Além de embelezar, sua flor temtambém utilidade na culinária. Épalatável, digestiva, nutritiva e temum leve amargor, o que sugere seuuso em saladas e alguns tipos demolhos leves e sopas quentes oufrias. Os asiáticos, principalmenteos chineses, aproveitam suaspétalas coloridas para obterdiferentes sabores e dar um belovisual aos pratos. Além disso, eletambém oferece propriedadesmedicinais em seus caules e raízes,que são usados como analgésicos.Na cozinha, é indicado o uso dasflores de cores mais suaves, e paraaproveitá-las em todo o seu sabordevem ser colhidas ainda tenras,dois dias antes de o botãodesabrochar.

Originário da Europa Central eÁsia, o Hemerocallis é conhecidotambém por ser a flor predileta nos

Estados Unidos, onde é maiscultivado para decoração. A floraçãovai de setembro a março, compequena variação, dependendo doclima. Devido à sua beleza,rusticidade e praticidade, ele vemconquistando cada vez mais omercado.

Fonte: Jornal A Notícia.

Ingredientes: 1/2kg detoucinho de porco em cubos,1 e 1/2L de água, 1 xícara (chá)de batata e cenoura em cubos,2 xícaras (chá) de botões deHemerocallis, 1 cebola picada,sal e pimenta a gosto, 1 colher(chá) de vinho e 2 pedaços degengibre.

Modo de preparar : fritarrapidamente o toucinho deporco com a cebola picada.Adicionar o vinho, ferver eentão acrescentar água.Adicionar as batatas ecenouras e temperar com sale pimenta a gosto. Ferversuavemente por mais oumenos 1 hora. Enfeitar comos botões de Hemerocallis ecom o gengibre mais oumenos 5 minutos antes deservir.

Sopa de Sopa de Sopa de Sopa de Sopa de HemerocallisHemerocallisHemerocallisHemerocallisHemerocallisO

Metodologia detecta presença da aflatoMetodologia detecta presença da aflatoMetodologia detecta presença da aflatoMetodologia detecta presença da aflatoMetodologia detecta presença da aflatoxinaxinaxinaxinaxinaem 10 segundosem 10 segundosem 10 segundosem 10 segundosem 10 segundos

aflatoxina é uma substânciatóxica produzida por fungospresentes em vários pro-

dutos agrícolas, em especial nassementes do amendoim. A aflatoxinapode causar intoxicação aguda, emcasos excepcionais, e levar aosurgimento do câncer hepático,quando ingerida por períodoprolongado. Preocupados emcontrolar esse tipo de contaminaçãoem alimentos, pesquisadores doInstituto de Química da Unicampdesenvolveram uma técnica originalpara a identificação e quantificaçãodessa microtoxina. O método já estásendo patenteado pela Unicamp. Ogrupo trabalhou com um espec-

trômetro de massas e aplicou atécnica denominada Maldi-Tof, querendeu o prêmio Nobel de Químicade 2002 ao pesquisador japonêsKoichi Tanaka.

A partir das amostras coletadas,a nova metodologia é capaz deconfirmar a presença da aflatoxinaem apenas 10 segundos, de formaextremamente precisa. Pelosmétodos tradicionais, o resultadonão é tão rápido e são necessáriostestes adicionais para obter aconfirmação.

Especificamente sobre o amen-doim, o controle da aflatoxinaprecisa ser rígido, pois os fungosque dão origem à essa microtoxina

(Aspergillus flavus e Aspergillusparasiticus ) podem ser gerados emqualquer estágio da cadeia deprodução. O grande problema, nessecaso, é a umidade. Se o grão estiverem condições inadequadas, o fungopode surgir no campo, no armazém,durante o transporte, na gôndola dosupermercado ou até na geladeirado consumidor. Uma vez presenteno amendoim, o fungo pode ser re-movido, porém, a microtoxina não,pois fica impregnada no grão. Comoa aflatoxina não tem gosto nemcheiro, ela não pode ser percebidacom facilidade pelas pessoas.

Fonte: Jornal da Unicamp –edição no 277.

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Foto de Agrícola da Ilha

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Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 200514

A

Administrar a águaAdministrar a águaAdministrar a águaAdministrar a águaAdministrar a água

pesar de apresentar índicespluviométricos médiosanuais altos, da ordem de

1.500 a 2.000mm, Santa Catarina,assim como o restante do Sul doBrasil, tem sido severamentecastigada por estiagens cíclicas nasúltimas décadas. As chuvas são maldistribuídas no tempo e no espaçogeográfico. Um exemplo dessa mádistribuição fica evidenciado aoanalisarmos os índices pluvio-métricos da parte sul do OesteCatarinense, onde em janeiro de2005 choveu cerca de 130% da médiahistórica, porém em fevereiro aprecipitação variou entre 4% e 31%,apenas. No mesmo mês de janeiro,o Litoral Sul de SC teve umaprecipitação de apenas 35% da suamédia histórica.

Embora na mais recente seca doSul do Brasil a influência dosfenômenos La Niña e El Niño nãofosse determinante, estes provocamuma série de desequilíbriosclimáticos, incluindo a falta dechuvas. O aquecimento globalprovocado pela poluição e odesmatamento também contribuempara esse desequilíbrio, através doaumento da evaporação queintensifica o impacto das secas.Segundo dados estatísticos, no verãode 2004/05 registrou-se a pior secados últimos 42 anos na região.Estudos da Epagri indicam que cercade 80% das perdas de produtividadenas lavouras de milho em SC sedevem à deficiência hídrica. Segundodados do LevantamentoAgropecuário Catarinense – LAC –,em 23% dos estabelecimentosagropecuários falta água para o

agrícola (Proagro) e outros socorrosemergenciais diretos como o bolsa--seca.

A Tabela 1 apresenta as perdasestimadas em volume e percentualde alguns produtos da agriculturade SC para a safra 2004/05, ocorridasaté março. O valor das perdas,somente para os produtos listados,chega próximo a R$ 800 milhões.

Diante desse quadro, cabeperguntar: se essa não foi a últimaseca e se mesmo em anos deocorrência de estiagem o volume dechuvas pode ser alto, o que poderiaser feito para “administrar” a águadisponível visando minimizar osimpactos da irregularidade daschuvas?

Em países onde a questão dafalta de água é um problema maissério – na verdade, uma questão desobrevivência –, essa pergunta jáencontrou resposta. Na Austrália,que é considerado um dos paísesmais secos do planeta, tem-se umexemplo muito claro disso. Mesmonas áreas de grande produçãoagrícola, chove apenas entre 600 e800mm/ano. Com essa escassez, os

1Eng. agr., administrador de empresas, Ph.D., Epagri/Gerência Técnica e de Planejamento, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone:(48) 239-5610, e-mail: [email protected].

Airton Spies1

consumo humano e animalocasionalmente ou freqüentemente.Os prejuízos econômicos sãosignificativos e quantificáveis.Entretanto, a esses deve-se somaros prejuízos sociais, causados pelaperda da auto-estima e motivaçãodos agricultores familiares parapermanecer na agricultura, diantede tantos riscos e falta de renda.

Em SC, a mais recente secaobrigou 172 municípios a decretarestado de emergência. Isso obrigouos poderes públicos locais, o estaduale o federal a gastar elevadas somasde recursos com medidas paliativascomo transporte de água, seguro

Tabela 1. Perdas com as estiagens em SC (safra 2004/05)

Produto Perda estimada

t %

Milho 1.340.000 32,4

Soja 319.000 35,0

Feijão 1a safra 38.700 30,0

Feijão 2 a safra 17.300 48,0

Arroz 15.630 1,5

Fumo 7.500 2,6

Mandioca 19.080 4,5

Uva 6.000 20,0

Maçã(1) 65.906 34,2

Leite(2) 57.772 16,5

Banana 2.511 18,0

(1)Somente as perdas da região de São Joaquim.(2)Perdas do trimestre dez./04, jan./fev./05.Fonte: Adaptado de IBGE e Instituto Cepa/SC e Epagri/Ciram.

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15Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

produtores rurais, e mesmo aspopulações urbanas, tiveram queaprender a “colher” e guardar a água,quando ela é abundante, para utilizá--la depois, com parcimônia, quandoa chuva está em falta. Parapreservar esse recurso precioso, hácotas de volumes de água controladaspor hidrômetros, que podem serutilizados por propriedade rural. Láse costuma dizer que a propriedaderural vale a quantidade de água quetem guardado e é uma questão deorgulho para o produtor dizer quetem água suficiente para irrigar suaslavouras e pastagens. Situaçãosemelhante ocorre na NovaZelândia, onde as comunidadesaprenderam a guardar a água dodegelo das montanhas para usomultifuncional, aproveitando o efeitoda gravidade. Ao entrevistar umprodutor rural, este nos afirmouque a história de sua comunidadeestava nitidamente dividida entre“antes e depois da água”, pois oinvestimento em reservatórioscomunitários de água lhes abriuoportunidades de produzir comsegurança e utilizar tecnologias deponta em lavouras e produtos dealta densidade econômica.

Alternativas para aagricultura familiar

Algo imprescindível a ser feitocom urgência é implantar sistemasde captação e armazenagem de água,guardando-a em reservatóriosseguros, que evitem perdas efacilitem sua utilização paramúltiplos fins. Dentre as váriasalternativas que se oferecem paratal, estão desde cisternas, que sãoadequadas para coletar a água detelhados e prover água para oconsumo doméstico e adessedentação de animais, areservatórios maiores, tantoindividuais como comunitários, quepodem ser açudes, represas etanques revestidos de plástico paraevitar perdas de água. A água deveser captada quando é abundante,sem causar impacto ambientalnegativo, o que pode ser controladopor órgãos ambientais através demarcadores de nível nos córregos erios. Portanto, os corpos naturais

de água não devem ter seus fluxosinterrompidos ou comprometidospelas barragens e pontos decaptação. Trata-se de retirar a águaexcedente, que de outra forma seriaperdida e muitas vezes até causariadanos.

Parece que a abundância nos fezadiar os investimentos necessáriospara usarmos com mais cuidado aágua que temos aqui no Brasil. Nessesentido, temos muitas lições aaprender com quem já convive eresolveu problemas de escassez deágua. Felizmente diversas inicia-tivas estão sendo tomadas para quese amenize o problema, como, porexemplo, o Projeto Microbacias 2 eo Projeto Água da Chuva, da Se-cretaria de Estado da Agricultura eDesenvolvimento Rural de SC, quetem por objetivo construir cisternaspara armazenagem de água empropriedades rurais. Iniciativasregionais, como os consórciosformados pelos municípios para oabastecimento de água, também sãolouváveis, pois representaminvestimentos públicos que geramsoluções duradouras e definitivaspara o problema.

Impactos

A disponibilidade de água abreinúmeras possibilidades de uso, tantopara produção animal e vegetal comopara lazer, consumo humano,

higiene e limpeza. Os principaisimpactos da disponibilização deágua no campo são a imediatapossibilidade de aumento da rendadas famílias rurais, através demelhores produtividades, e aredução de riscos de perdas deprodução por estiagens. A segurançaoferecida pela irrigação serve deestímulo à adoção de tecnologiasmais produtivas e a adoção deatividades de maior densidadeeconômica, como produção depeixes, hortaliças, frutas e flores.Com isso, áreas impróprias para ocultivo de lavouras anuais podemser utilizadas para outros fins maisapropriados, como o reflores-tamento, uma vez que áreasmenores cultivadas com culturasirrigadas têm condições de absorvero trabalho familiar e gerar rendasuficiente para assegurar boaqualidade de vida.

É preciso que se defina comurgência uma política e inves-timentos para a captação, conser-vação e uso racional da água naagricultura. São necessários tam-bém investimentos em pesquisa eestudos para definir a formamais sustentável de preservar aágua, distribuí-la adequadamente,sem causar impactos ambientais.Assim, a primeira batalha dagrande guerra do futuro pelosdireitos de uso da água já estarásendo vencida.

Vista do Rio Amola Faca, em Turvo, SC, durante uma estiagem

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Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 200516

A importância do capital deA importância do capital deA importância do capital deA importância do capital deA importância do capital degiro no agronegóciogiro no agronegóciogiro no agronegóciogiro no agronegóciogiro no agronegócio

Evaristo Câmara Machado Netto1

empre que uma catástrofenatural se abate sobre aagricultura, os produtores

rurais brasileiros enfrentam amesma situação desesperadora: faltadinheiro para pagar os finan-ciamentos e empréstimos contraídospara o plantio. A mesma situação serepete quando o preço de alguma“commodity” sofre alteração nomercado internacional. Os doisexemplos recentes, e graves, seabateram nos últimos meses sobrea agricultura brasileira – a secaprejudicou principalmente aprodução no Sul do País e o preço dasoja caiu em nível global. Comoconseqüência, os agricultores vãoamargar prejuízos consideráveis em2005.

O Brasil é uma potênciaagropecuária: é o terceiro maiorexportador agrícola mundial, atrásapenas dos Estados Unidos e daUnião Européia. Desponta como oprimeiro produtor e exportador decafé, suco de laranja e açúcar. É osegundo maior na produção de sojae tem a liderança na exportaçãodesse grão. Também está na segundacolocação no ranking mundial emprodução e exportação de farelo eóleo de soja.

Para manter este ranking ecrescer com as oportunidades quesurgem pela demanda mundialpor alimentos, o governo deve

mudar a forma de encarar aagricultura. Para evitar ouminimizar perdas futuras, existemdois caminhos possíveis. O primeiropassa pelo governo. São açõesbásicas: investir em políticas clarase de longo prazo para o setor,ofertar um seguro rural quegaranta a renda do produtor ecriar mecanismos para equilibraro mercado, usando um estoqueregulador de produtos quando fornecessário. No caso do seguro derenda, a medida está ao alcance dogoverno. Basta implementar. Não setrata de subvenções, proteção ouajuda, mas de criar condições quegarantam a estabilidade destemercado influenciado a cada safrapor variáveis incontroláveis, comoo tempo.

Com o governo dando a base,podemos começar a trilhar osegundo caminho, ou seja, aformação de capital de giro naspropriedades. Hoje, o agricultorconsegue apenas sobreviver e viveo momento. Comemora safrasrecordes e não faz reservas porquequase sempre é arrojado e reinvesteo que ganha. Aliás, esta é umacondição essencial para se manterno mercado, mas acaba serefletindo em outra realidade:com a implantação de técnicas eequipamentos modernos, aprodução tende a aumentar e os

preços caem. O produtor não temsaída: se parar de investir, sai domercado; se modernizar a produção,vê os preços caírem. A lógica é cruele, neste ciclo, dificilmente sobraalgum recurso para criar fundos dereservas.

O capital de giro, comum nasempresas, é peça-chave para aestabilidade da agricultura e daprópria economia. Quando oagricultor perde uma safra, todaa cadeia ao seu redor se de-sestabiliza, com reflexos quasesempre geradores de problemasmais sérios, como o aumento doêxodo rural. Outra conseqüênciadireta é o reflexo no comércio dosmunicípios de economia agrícola. Aqueda brusca de renda pode in-viabilizar a administração daspequenas cidades. Sem dinheiro, oagricultor não compra, o comer-ciante não vende e os pequenosmunicípios ficam ainda maispequenos.

O produtor rural precisapoupar, mas hoje ele não consegue.Sem seguro de renda, políticas delongo prazo, medidas de emergênciapara controlar os preços e regularo mercado, a situação não vaimelhorar. A mudança é cultural eprecisa acontecer para que oagronegócio continue apresentandoos bons resultados dos últimosanos.

1Presidente do Sistema Ocesp/Sescoop-SP, (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo e Serviço Nacional de Aprendizagemdo Cooperativismo em São Paulo), Rua Correia Dias, 185, 04104-000 Paraíso, São Paulo, SP, contatos: [email protected].

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Para entender o significado desse projeto, nada melhor que a palavra

dos beneficiados.

Microbacias 2Para entender

o significado desse projeto, nada melhor que a palavra

dos beneficiados.

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20 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

A

Estiagem provocou sérios prejuízosEstiagem provocou sérios prejuízosEstiagem provocou sérios prejuízosEstiagem provocou sérios prejuízosEstiagem provocou sérios prejuízosà produção catarinenseà produção catarinenseà produção catarinenseà produção catarinenseà produção catarinense

Simão Brugnago Neto1

estiagem que na safra2003/04 já havia prejudicadoseriamente a produção

catarinense de grãos voltou a afetar,com maior intensidade, a produçãoda safra 2004/05.

O clima relativamente favoráveldurante o período da semeadura,conjugado com a projeção de umpequeno aumento na área total aser plantada, projetava, de início,um cenário bastante otimista quantoao potencial da produção catari-nense.

Em novembro de 2004, o IBGE/GCEA/SC estimou a área a sercultivada com arroz, feijão, milho esoja em 1.424,8 mil hectares, ouseja, num montante levementemaior que os 1.419,5 mil hectaresplantados na safra 2003/04. Com talárea e com clima normal, a previsãoera de que a produção desses grãospoderia alcançar 6.320,4 miltoneladas, volume 25% acima dos5.055,0 mil toneladas colhidas nafrustrada safra 2003/04.

Todavia, a falta de chuvas emníveis adequados e a má distribuiçãoque se registrou desde o final de2004, acentuada nos primeirosmeses de 2005, causou forte impactosobre a produção estadual,especialmente no que concerne àsculturas de milho, soja e feijão. Nocaso do arroz, embora o cultivoirrigado tenha registrado umaevolução praticamente normal, ocultivo de sequeiro foi severamenteprejudicado.

Além da produção de grãos, ofenômeno também repercutiunegativamente na safra de fumo ena produção leiteira. No caso do

leite, o prejuízo decorreu do fato deas pastagens terem ficado bastantecomprometidas, tanto em qualidadequanto em quantidade.

O comportamento de cada culturapode ser assim sumariamentedescrito:

Milho – apesar de as lavourassemeadas em setembro e nosprimeiros dias de outubro teremapresentado rendimentos normais,as cultivadas a partir de então foramseveramente afetadas, uma vez quea maioria delas encontrava-se nasfases mais suscetíveis à falta deágua. No global, a produçãoinicialmente prevista em 4,14milhões de toneladas sofreu umaperda de 32,4%, caindo, segundo oIBGE, para apenas 2,8 milhões detoneladas. Em razão da forte quebrada produção o déficit do cereal, queinicialmente estava sendo projetadoem pouco mais de 800 mil toneladas,cresceu para algo próximo de 1,9milhão de toneladas.

Soja – ao contrário do milho, aslavouras de soja, em razão de oplantio concentrar-se nos meses deoutubro e novembro, foramatingidas, em sua grande maioria,quando se encontravam em floraçãoe formação de grãos, fases críticaspara seu desenvolvimento. Alémdisso, a irregularidade do climaproporcionou uma maturaçãodesuniforme, fato que não sóaumentou a perda de produtividade,como provocou a diminuição daqualidade do produto colhido. Emtermos médios, os prejuízos sesituaram em 34,8%, com redução dopotencial de produção de 918 milpara 599 mil toneladas.

Feijão – o cultivo da primeirasafra da leguminosa ocorre, namaioria das regiões do Estado, nosmeses de setembro e outubro. Comoé uma cultura de ciclo curto, grandeparte das lavouras já se encontravacolhida ou por colher antes doperíodo de ocorrência do fenômeno.Todavia, nas microrregiões doPlanalto Sul, em razão do climamais frio, a semeadura acontecemais tardiamente. Como decor-rência disso, grande parte das la-vouras encontrava-se nas fases defloração ou de enchimento de grãos.Como estas são fases críticas para acultura, a falta de chuvas provocouperdas bastante acentuadas,especialmente na microrregião deCuritibanos. No total da primeirasafra, as perdas atingiram 29,7%, oque reduziu o potencial da produçãode 130,5 mil para 91,8 mil toneladas.

No que concerne à segunda safra,cuja semeadura acontece entre asegunda quinzena de janeiro e asegunda dezena de fevereiro, a faltade chuvas, além de ter prejudicadoo desenvolvimento impediu quegrande parte da área fosse semeada,fato que reduziu o plantio de 35,5mil para apenas 28,5 mil hectares. Aprodução que em condições normaisde semeadura e clima poderia atingirperto de 35,5 mil toneladas, situou--se em apenas 18,2 mil, apresen-tando uma perda de 48%.

Arroz – no caso do arroz, apesarde o cultivo irrigado ter apresentadouma redução de apenas 0,2% naprodução, o cultivo de sequeiro teveseu potencial reduzido de 12,9 milpara apenas 2,6 mil toneladas. Nosomatório, a quebra situou-se em

1Eng. agr., Instituto Cepa/SC, C.P. 1.587, 88034-000 Florianópolis, SC, fone: (48) 239-3922, fax: (48) 334-2311, e-mail: [email protected].

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Agropec. Catarin., v.17, n.3, nov. 2004 21Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

15,6 mil toneladas, montante querepresentou um decréscimo de 1,5%em relação aos 1,06 milhão detoneladas inicialmente previstas.

Em termos gerais, as perdas naprodução de milho, feijão soja e arrozsomaram pouco mais de 1,76 milhãode toneladas, ou seja, 27% daprodução inicialmente estimada.Com essas perdas a produçãocatarinense de grãos atingiu o menorpatamar das últimas três safras(Tabela 1).

No que diz respeito ao fumo e aoleite, a falta de chuvas provocouprejuízos menos acentuados que osregistrados no caso dos grãos. Paraessas atividades a situação foi aseguinte:

Fumo – a carência de umidade,além de ter acarretado perda naprodutividade, que redundou em umdecréscimo de 7,5 mil toneladas naprodução (menos 2,6% em relação àinicialmente prevista), provocoudanos à qualidade do produtocolhido. Como os prejuízos decor-rentes da perda de qualidade sóserão conhecidos após o final dacomercialização da safra, o valordas perdas está sendo calculadoapenas sobre a redução do volumefísico da produção. É certo,entretanto, que as perdas quali-tativas serão maiores que as quan-titativas, já que, ao comprometer aclassificação do fumo, reduzirásensivelmente o preço médio aosprodutores.

Leite – as perdas foramestimadas em aproximadamente16,5% da produção do período,dezembro a fevereiro. Nesse períododeixou-se de produzir cerca de 57,8

Tabela 2. Santa Catarina, perdas com as estiagens

Produto Perda Valor Perda

t R$/t Mil R$

Milho 1.340.000 292,00 391.280,0

Soja 319.000 533,00 170.027,0

Feijão 1a safra 38.700 1.154,00 44.659.8

Feijão 2a safra 17.300 1.154,00 19.964,2

Arroz 15.630 460,00 7.189,8

Subtotal grãos 1.730.630 - 633.120,8

Fumo 7.500,0 4.500,00 33.750,0

Mandioca 19.080 140,00 2.671,2

Uva 6.000 500,00 3.300,0

Banana 2.511 182,00 456,5

Maçã 65.906 500,00 32.953,0

Leite (mil L) 57.772 480,00 27.730,6

Total geral 733.982,1

Fontes: IBGE e Instituto Cepa/SC.

Tabela 1. Evolução da produção estadual de grãos

SafraProduto

2002/03 2003/04 2004/05

.............................Mil t.............................

Arroz 1.034,6 1.011,6 1.047,8

Feijão 188,6 143,9 110,1

Milho 4.310,9 3.257,8 2.800,0

Soja 712,2 641,7 599,0

Total 6.246,3 5.055,0 4.556,9

Fonte: IBGE/GCEA/SC.

milhões de litros. É importanteressaltar que as perdas maissignificativas ocorreram emfevereiro, mês em que os efeitos dasestiagens se fizeram sentir demaneira mais aguda na produção deleite do Estado.

Além desses produtos, tambémforam relatados prejuízos nasculturas de banana, maçã, mandiocae uva.

Em termos monetários, quandoconsiderados os preços maiscomuns ofertados em nível deprodutor, o somatório dos prejuízos

ascenderam a 733,982 milhões dereais (Tabela 2).

Além das perdas descritas, deve--se levar em conta também que oscustos de produção, em razão doforte incremento dos preços dosinsumos, sofreram expressivoscrescimentos, fatores que, aliados àredução dos preços internos do arroze ao declínio acentuado do câmbio edas cotações internacionais do milhoe da soja, provocaram substancialredução na renda dos produtores.

Neste contexto, há que seconsiderar ainda que os prejuízosestão se refletindo no movimentofinanceiro, no comércio, na arreca-dação dos impostos, além de obri-garem os governos a promove-rem ações para a sustentação darenda dos produtores e de nego-ciações referentes à postergação deparcelas dos financiamentos con-tratados.

Além disso, não se devedesconsiderar os prováveis reflexossobre o plantio da nova safra, o qual,diante das dificuldades financeirasdos produtores, poderá acusar nãosó algum declínio na área a sersemeada como, e principalmente, aredução de produtividade em razãoda perspectiva de diminuição do usode insumos.

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22 Agropec. Catarin., v.18, n.1, mar. 2005

Castel GalaCastel GalaCastel GalaCastel GalaCastel GalaNova cultivar precoce de macieiraNova cultivar precoce de macieiraNova cultivar precoce de macieiraNova cultivar precoce de macieiraNova cultivar precoce de macieira

Celívio Holz1

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 239-5647, e-mail: [email protected].

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Agropec. Catarin., v.18, n.1, mar. 2005 23

nova cultivar de macieiraCastel Gala pode se tornaruma importante alternativa

para regiões de invernos amenospor oferecer maçãs frescas maiscedo para um nicho de mercado,tanto interno quanto externo, compreços muito atrativos ao produtor.

O personagem

Jânio José Seccon, engenheiroagrônomo, formado em Lages, em1984, na Udesc, começou a trabalharem Mato Grosso com arroz, soja emilho. Dois anos depois voltou aSanta Catarina onde trabalhou naRenar, em Fraiburgo, no período de1986 a 1990. De 1990 a 1997 atuouna Pomifray, também emFraiburgo, sempre com maçã.Voltou a trabalhar na Renar, ondeficou até 1999. De lá para os diasatuais está trabalhando no seumunicípio de origem: MonteCastelo, SC. Além de produtor demaçã, Jânio é consultor daprefeitura no Programa Municipalde Fruticultura. Desde 1998, Secconé produtor de maçãs ‘Eva’, cultivarpouco exigente em frio e dematuração precoce, com a colheitainiciando na primeira quinzena domês de janeiro. Atualmente, cultivacerca de 5ha de ‘Eva’ e ‘Gala’, alémde 2ha de caqui.

A

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24 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

A descoberta

No início de agosto de 1999,enquanto vistoriava seu pomar demacieira ‘Gala’, Jânio notou que umgalho de uma planta estava todoflorescido, sendo que os demaispermaneciam dormentes. Marcou ogalho para observação e no anoseguinte notou que o fato se repetia.Tratava-se de uma mutação genéticaespontânea. A partir deste galhoconseguiu, através da enxertia,produzir nove mudas para observarse esta característica se repetiria.Em 2001 produziu mais 20 mudas,com porta-enxertos diferentes,também para observação. E acaracterística inicial observada foimantida em todas as plantas novas.Os porta-enxertos usados paraestudo da ‘Castel Gala’ foram:Maruba (vigoroso), Maruba com“filtro” de M-9 (intermediário) eM-9 (anão). Em algumas observaçõesjá se evidenciou que, usando o porta--enxerto M-9, a qualidade dos frutosfoi melhor. O uso do porta-enxertoMaruba com “filtro” de M-9 produzuma planta com porte intermediárioe com frutos de boa qualidade, tendoa vantagem de não ser necessária acondução do pomar na forma deespaldeira, como é o caso das plantasenxertadas em porta-enxertos anões,como o M-9.

As estratégias de cultivopara antecipar e escalonara colheita

Uma das grandes vantagens da‘Castel Gala’ sobre a ‘Gala’ é a

precocidade de colheita. As maçãscomercializadas antes desta últimaalcançam, via de regra, preços muitoatrativos ao produtor. Assim,qualquer técnica ou processo queantecipe a maturação dos frutos éinteressante neste caso. Oengenheiro agrônomo FredericoDenardi, pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Caçador,diz que, “via de regra, quanto maisanão o porta-enxerto, mais precoceé a maturação dos frutos da copasobre ele.” Seguindo este raciocínio,o uso do Maruba como porta-en-xerto, embora requeira menosinvestimento de implantação dopomar, não é indicado, pois retardaa maturação por ser muito vigoroso.

Ressalta Denardi que “porta-en-xertos muito vigorosos, além demenos produtivos, dificultam omanejo do pomar.” A opção maiscerta para assegurar boas produçõesde maçãs graúdas, de melhoraparência, e ainda antecipar acolheita e facilitar o manejo dopomar, é o uso de porta-enxertoanão. Porém, a combinação ‘CastelGala/Maruba mais filtro de M-9’,embora possa retardar em algunsdias a colheita, é interessante pordispensar o uso de tutoramento dasplantas. “Este processo de conduçãodas plantas em espaldeira éobrigatório quando usamos porta--enxerto anão e representa um fatorde elevação significativa dos custosde produção,” lembra o pesquisador.“Além disto, a maior quantidade demudas necessárias para adequar oespaçamento ao se usar porta-en-xerto anão é outro fator de elevaçãodos custos de implantação do pomarcom porta-enxertos anões.” Asugestão do técnico é que o produtormescle estas duas combinações, ouseja, use parte do pomar dire-tamente sobre porta-enxerto anãoem plantio de alta densidade complantas tutoradas, visando ante-cipar a colheita, e parte sobre acombinação ‘Maruba/M-9’. “Estaestratégia permite escalonar melhora colheita e a comercialização,iniciando-se sobre o M-9 eencerrando a colheita sobreMaruba/M-9,” completa Denardi.

Jânio José Seccon

A aparência da maçã ‘Castel Gala’ é muito boa

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25Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

As características maisimportantes

Segundo Seccon, pelos contatoscom pessoas que atuam no mercadode maçãs, além de visitas que temrecebido de compradores tradicionaisda fruta, todos estão admirados coma nova cultivar pela qualidade dafruta e também pela precocidade damaturação. A ‘Castel Gala’enxertada no M-9 já no segundo anocomeça a produzir. Quanto àfenologia das plantas, a floraçãoacontece em agosto e a maturaçãodos frutos no início de janeiro, paraa região de Monte Castelo (comocomparativo, a ‘Gala’ tradicional naregião de Fraiburgo começa amaturação dos frutos no final domês de janeiro). A época dematuração dos frutos da ‘Castel Gala’,de 25 de dezembro a 15 de janeiro, éo período do ano no qual as maçãstêm a melhor cotação no mercado.Existem outras cultivares demacieiras precoces, como a Eva e aCondessa, cujos frutos são colhi-dos na mesma época da ‘CastelGala’, mas perdem em termoscompetitivos, visto a consagraçãoda ‘Gala’ no Brasil, que representahoje em torno de 45% das maçãsoferecidas ao nosso mercadoconsumidor. A ‘Castel Gala’ levavantagem em relação à ‘Gala’ quantoà exigência em necessidade de frio.A ‘Gala’ necessita, pelo menos, 800horas de frio ≤ 7,2oC para que ocorraboa brotação na primavera; já a‘Castel Gala’ não necessita mais doque 400 horas para garantir boasproduções. Como parâmetro paraauxiliar o leitor, a altitude do pomardo Jânio, em Monte Castelo, é de860m e a quantidade de horas de friohibernal naquele local fica em tornode 400 horas por ano.

Potencial da ‘Castel Gala’

Segundo Seccon, o potencial da‘Castel Gala’ é muito bom para omercado interno, pois permiteoferecer maçãs frescas desde logoapós o Natal. Pode também ser umaboa alternativa para exportação,porque as empresas exportadorasnormalmente entram no mercadoexterno a partir de fevereiro commaçãs ‘Gala’. Com a ‘Castel Gala’, épossível antecipar a oferta de maçãs

tipo ‘Gala’ em praticamente um mês,principalmente quando cultivada emclimas de invernos amenos,antecipando as exportações paraatender a um nicho de mercado naEuropa.

Disponibilidade de mudas

A partir de 2006 estarãodisponíveis no mercado asprimeiras 50 mil mudas da novacultivar Castel Gala, todas járeservadas.

Nos anos seguintes, serãoproduzidas 300 mil mudas por ano,todas em Monte Castelo. Em virtudede ter requerido a proteçãointelectual desta cultivar junto aoServiço Nacional de Proteção deCultivares, em Brasília, o enge-nheiro agrônomo Jânio Seccon temo direito de exclusividade naprodução e na comercialização dasmudas.

A Epagri/Estação Experimentalde Caçador vem auxiliando o Jânionas pesquisas de caracterizaçãoagronômica e marketing da ‘CastelGala’ sob convênio de cooperação.Em contrapartida, será repassado10% do valor das mudas comer-cializadas na forma de “royalties”,conforme estabelece o contrato deparceria firmado entre as partes.

A parceria

Em 2003, depois de observaçõesda nova descoberta, Jânio mantevecontato com a Epagri de Caçador econvidou os pesquisadores a avaliaras plantas e realizar todos os testes

de qualidade do produto. Daífirmou-se a parceria, em que aEpagri encarregou-se também derealizar o registro e a proteçãointelectual da cultivar em nome deseu criador e os testes mínimos paraa confirmação das característicasnecessárias para lançamento nomercado. Em julho de 2004 a novacultivar Castel Gala foi lançada noVII Enfrute – Encontro Nacional deFruticultura –, realizado emFraiburgo, SC. O nome Castel Galafoi sugerido pelo criador da cultivarem homenagem a Monte Castelo,cidade onde nasceu.

Os testes

O engenheiro agrônomoFrederico Denardi, que acompanhaas avaliações da ‘Castel Gala’ desdeo início, diz que o teste maisimportante realizado é o dacapacidade de conservação da fruta.Via de regra, maçãs que amadurecemmais cedo têm menor capacidade deconservação, por apresentaremmenor ciclo “plena floração/colheita”.Havia a suspeita de que, pelo fato deamadurecer quase um mês antes da‘Gala’, a ‘Castel Gala’ pudesse termenor capacidade de conservação.Testes feitos em laboratório com acolaboração do pesquisador LuizCarlos Argenta, da Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador e suaequipe de pós-colheita, num períodode zero a 90 dias, mostraram queisto parece não ser verdadeiro. Acapacidade de conservação das frutasda ‘Castel Gala’ não é diferente daconservação das maçãs ‘Gala’. Por

Pomar de macieira cultivar Castel Gala

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26 Agropec. Catarin., v.18, n.1, mar. 2005

se tratar de cultivar de maturaçãomuito precoce, a rigor não haverianecessidade de os frutos da ‘CastelGala’ terem um período muito

grande de conservação,pois os mesmos sãoi m e d i a t a m e n t ecomercializados após acolheita. No entanto, apreocupação maior, se-gundo Denardi, é queela mantenha ascaracterísticas defirmeza, suculência esabor em temperaturaambiente por períodode, no mínimo, dez dias.A capacidade de con-servação tanto emcâmara fria quanto emprateleira foi muitosemelhante à obser-vada para a ‘ImperialGala’, hoje a maisplantada em SantaCatarina. O pesqui-sador da Epagri con-sidera que a divul-gação e o marketingdesta nova cultivar sãotarefas menos árduas,pois em termos dequalidade de frutos“estamos trabalhandocom a ‘Gala’ que temconceito universal”,

reforça ele. Ela tem aceitaçãomuito boa em qualquer mercadointerno ou externo pelo equilíbriono sabor, aroma e aparência. A

‘Castel Gala’ tem preservadastodas as características da ‘Gala’;apenas requer menos frio e osfrutos amadurecem bem antes.Além disso, por ser mais bemadaptada que a ‘Gala’, em climas deinvernos amenos a ‘Castel Gala’vem produzindo frutos de maiorcalibre, ótima coloração e menos“russeting”, distúrbio fisiológicoque se acentua em climas maisquentes.

A visão do futuro

Pela experiência que Jânio játinha com o cultivo de macieira,conta ele que no momento em quedescobriu aquele galho florescidono mês de agosto, diferente de todosos outros daquela planta, disse:“Eureka!!!” Ele sentiu que estavadiante de uma mutação espontâneaque poderia mudar a sua vida. Oagrônomo descobridor da ‘CastelGala’, na sua modéstia, diz apenas“garanti minhas férias”, num sorrisoentrecortado com uma satisfaçãointerna bem mais entusiástica que,por sua formação, ele não permiteextravasar.

Mais detalhes técnicos da cul-tivar Castel Gala são apresen-tados na seção Germoplasma eLançamento de Novas Cultivares,nesta edição.

Detalhe de produtividade da cultivar Castel Gala

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27Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Reportagem de Paulo Sergio Tagliari1

OriziculturaCanal de irrigação aumenta produção das lavouras

OriziculturaCanal de irrigação aumenta produção das lavouras

m total de 33 famílias pro-dutoras de arroz irrigado,em uma área de 300ha com-

põem a Associação de Drenagem eIrrigação Núcleo Gava, a Adinga,situada entre o município de NovaVeneza e Siderópolis, na Região SulCatarinense, perto de Criciúma.Água foi o motivo que uniu essasfamílias e que impulsionou a criaçãoda associação. E esse recurso, dosmais preciosos, faltava para amaioria desses agricultores, quecoletavam-na num pequeno córregoque cortava suas propriedades. Essecórrego era de vazão limitada e nãoatendia a demanda das lavouras.

Com a construção da Barragemdo Rio São Bento, logo a montantedas propriedades, os produtoresvislumbraram a saída lógica paraseus problemas. A barragem, quecontém um volume d’água daordem de 58 bilhões de litros, foiconstruída recentemente para oabastecimento urbano de váriosmunicípios da região que tam-bém sentiam falta deste recurso,como Criciúma, Nova Veneza,Forquilhinha, Morro da Fumaça eoutros. Outros objetivos dabarragem são o atendimento dairrigação de parte das lavouras dearroz de Nova Veneza e

Forquilhinha, o controle de cheiase o desenvolvimento do turismorural.

Para conseguir a tão almejadaágua para as lavouras, osagricultores contaram com o apoiodo engenheiro agrônomo DonatoLucietti, extensionista da Epagri deNova Veneza, que elaborou oprojeto de um canal de irrigaçãoque capta as águas do Rio São Bentoarmazenada na barragem de mesmonome. O projeto consistiu naconstrução de um canal coletivo deirrigação envolvendo um trecho de800m revestidos com tubos deconcreto armado com diâmetro

U

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 239-5533, fax: (48) 239-5597, e-mail: [email protected].

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28 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

interno de 80cm e 2.200m de canala céu aberto, além da construção decaixas de inspeção, caixas deconexão, sifão invertido, medidor devazão e comporta.

“Foi a união de todos quepossibilitou a conclusão da obra”, dizDonato Lucietti, que teve o pro-cesso de licenciamento ambientalconcedido pela Fatma, a entidadeambiental do Estado. Semconseguirem financiamento, osagricultores resolveram tocar oempreendimento. Compraramcimento, tijolo, areia, tubos deconcreto, etc. e construíramsozinhos, com mão-de-obra própriae também com seus próprios trato-res, sob a supervisão e orientaçãodo engenheiro Donato. Os serviçosde escavação, colocação e enterriodos tubos foram executados por umaescavadeira hidráulica da Cidasccom custos subsidiados. O custototal do projeto foi de R$ 150 mil.

Mais de 80% dovalor foi assumidopelos agricultores.

Orizicultoresfestejam aobra

“Esta é umaobra que espe-rávamos há mais de20 anos. Tivemosque quebrar muitasbarreiras, licençasambientais, desâ-nimo, desenten-dimentos, etc. Masse não fosse o en-tusiasmo e a de-dicação do Donato edos nossos asso-ciados, acho queteríamos sériosproblemas”, revela opresidente daAdinga, o orizicultorDário Gava, dacomunidade de SãoBento Alto, em NovaVeneza.

Para o extensionista DonatoLucietti, o suprimento de água dabarragem foi fundamental para apermanência das famílias no campo.“Com um volume adequado de água,o orizicultor pode manejar melhorsua lavoura, manter as quadras como nível de água recomendadodurante o cultivo, favorecer odesenvolvimento das plantas dearroz e controlar as plantasinvasoras da cultura e isto resultaem produtividades elevadas”,explica o agrônomo, que revela queoutras famílias vizinhas tambémforam beneficiadas, apesar de nãoserem associadas à Adinga.

Mas o resultado mais esperadofoi bastante festejado pelosorizicultores. O produtor AdemirAlbônico, segundo tesoureiro daassociação, vizinho do Dário Gavaem São Bento Alto e que plantou22ha de arroz, falou entusiasmadodo aumento da produção e

Colocação dos tubos de concreto no canal da Adinga

Donato Lucietti (esquerda) e DárioGava em frente ao canal de irrigaçãoa céu aberto

produtividade de sua lavoura.“Calculo que colhi 500 sacos a maisdo que no ano passado, cerca de 10%de incremento, e só não colhi maisporque a obra do canal terminou umpouco atrasada, pois se tivesse sidoconcluída antes de dezembro de 2004teríamos mais água disponível”,relatou. Com ele concorda o vizinhoe produtor Alexandre Gava, quecultiva 45ha de arroz, sendo 23ha naárea da Adinga. “A água da barragempermite a nós, produtores, gastarmenos energia com bombas queretiravam o líquido precioso dospequenos córregos de água quepassam atrás de nossas casas, malatendendo com água alguns. Commais água disponível, eu manejomelhor a lavoura, gasto menosherbicida e agrotóxicos, portanto,consigo mais lucro no final”, falasatisfeito.

Outro produtor, o SidneiMondardo, que é o atual vice-pre-sidente da associação e que plantaum total de 63ha, entre arren-dados e próprios, lembra tambémque a disponibilidade de água

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Agropec. Catarin. , v.17, n.1, mar. 2004 2929Agropec. Catarin., v.18, n.1, mar. 2005

Produtividade do arroz subiu 15% após construção do canal de irrigação

permite que as variedades de altaprodutividade e qualidade daEpagri, tais como a Epagri 108, 109,112 e 113, utilizadas pelosorizicultores, consigam expressarseus rendimentos máximos,permitindo com isso umaremuneração melhor para osprodutores. Sidnei informa que orendimento máximo conseguido porele anteriormente era de 120 a 130sacos de arroz por hectare, e nestaúltima safra, colhida agora no finalde março, atingiu facilmente os 150sacos, ou seja, 7.500kg/ha, 15% amais. Este valor supera a médiaestadual catarinense, que hoje estápor volta de 6.500kg/ha e é a maiordo País.

III Congresso Brasileiro de AgroecologiaIII Seminário Estadualde Agroecologia

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Promoção:Associação Brasileira de Agroecologia

Apoio:

A sociedade construindo conhecimento para a vida.

De 17 a 20de outubro de 2005Florianópolis, SC

De 17 a 20de outubro de 2005Florianópolis, SC

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30 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

1Apoio técnico em comunicação, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 239-5649, fax: (48) 239-5647, e-mail:[email protected].

Reportagem de Eonir Teresinha Malgaresi1

a Nova Zelândia, uma ex-pressão se tornou muito co-nhecida e respeitada pelos

produtores de leite: “aprender,olhando sobre a cerca”. Lá, assimcomo na Austrália, França eInglaterra, é comum o produtorabrir as porteiras da proprie-dade para troca de idéias, inter-câmbio de experiências e apren-dizagem com outros produtoresque compartilham os mesmosinteresses. São os chamadosGrupos de Discussão e GestãoAgrícola. O coordenador do ProjetoAdministração Rural e So-cioeconomia da Epagri, AirtonSpies, diz que esta metodologia éutilizada em muitos países com

agricultura desenvolvida. “O que sebusca é que os produtoresaprendam uns com os outros ejuntos encontrem soluções paramelhorar o desempenho daatividade”, reforça o técnico.

Não tão longe assim, os gruposde discussão também estãomovimentando os produtores e setornando uma importanteferramenta para encurtar adistância do conhecimento. É o casode um grupo de 18 produtores deleite, de nove municípios da regiãode Tubarão. O grupo foi formado nofinal de 2003 e reúne produtores quehá vários anos têm o acompa-nhamento de administração ruralna propriedade.

Tudo anotado na ponta dolápis

Há quase 20 anos o produtorLourenço Hemkemeier, de RioFortuna, SC, faz a administraçãorural. Em um caderno, ele anotatudo o que compra, o que vende e ouso da mão-de-obra. Nada passadespercebido ao olhar atento deLourenço. Essas anotações sãopassadas para os técnicos da Epagrie transferidas para um programa decomputador que faz a contabilidadeagrícola. Lourenço diz que odesempenho da atividade leiteiramelhorou muito depois que elepassou a fazer a administração. Hoje,ele possui 11 vacas em lactação e a

N

Um olhar sobre a cercaUm olhar sobre a cercaUm olhar sobre a cercaUm olhar sobre a cercaUm olhar sobre a cerca

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31Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Ver e aprender com experiências de sucesso

produção média é de 220L de leitepor dia. “Com esse controle, a gentevê o caminho que está sendopercorrido e não andamos noescuro”, conta o produtor.

A administração rural é um dos30 projetos executados pela Epagriem Santa Catarina. O agricultorque participa faz um completoregistro de todas as atividades dapropriedade. Assim, ele temcondições de calcular os resultadostécnicos e econômicos de cadaproduto e também da propriedadecomo um todo. São mais de 200indicadores observados que ajudamo produtor a tomar decisões e, assim,administrar melhor o negócioagrícola. “O resultado dapropriedade depende do melhor usoque pode ser dado aos fatores deprodução disponíveis, como a terra,a mão-de-obra e o capital. Portanto,o produtor precisa tomar boasdecisões sobre o que faz, como faz,quanto faz, quando faz e como vende.A administração rural permite queele faça ajustes e planeje as melhoriasde curto, médio e longo prazo”,destaca Spies.

Análises como estas passaram afazer parte do dia-a-dia dosprodutores envolvidos no programa.Com a visão de gerenciamento, apropriedade ganhou “aresempresariais”. Para o grupo daregião de Tubarão foi assim. Alémde produtores, eles se tornaramadministradores rurais. A cadaquatro meses, o grupo se reúne

para discutir temas relacionados àgestão da atividade leiteira eaprender novas tecnologias comespecialistas convidados.

Nivelando por cima

A realidade de cada produtorenvolvido no grupo de discussão édiferente. Há os que estão maisevoluídos na atividade, outrosmenos. Aqueles que têm umaperformance melhor acabamservindo de inspiração para ajustaros sistemas de produção daquelesque têm condições parecidas, masque não têm os mesmos resultados.Essa é chave da questão. Como ométodo se baseia na observação

Produtividade: a chave do sucesso para a produção de leite em pequenapropriedade

prática, o agricultor aprende commais facilidade e adota as mudançasporque “viu alguém fazer e deucerto”.

Os técnicos chamam a atençãopara um aspecto importante, quesão as visitas a campo durante asreuniões do grupo. Ganha apropriedade visitada e também osprodutores que estão visitando.Spies tem a explicação: “Apropriedade visitada se beneficia aoreceber sugestões de todo o grupopara resolver problemas que ela estáenfrentando, e o grupo, ao ver ediscutir as práticas e técnicas que apropriedade está aplicando comsucesso”. É uma via de mão dupla. Ogrupo ensina e aprende ao mesmotempo, permitindo assim onivelamento por cima.

Busca constante do novo

Em cada encontro, o grupo buscauma informação técnica nova,através de palestras com técnicosespecialistas em assuntos que maispreocupam os produtores. Nutriçãoanimal, sanidade, reprodução,produção de pastagens e pastoreiorotativo são alguns dos temas jáapresentados. Com o aprimo-ramento das tecnologias deprodução, o produtor consegueaumentar o rendimento da atividade,viabilizando assim a permanênciada família em propriedades comáreas inferiores a 20ha.

É o caso do produtor Dário Rohlin,de Braço do Norte. A propriedade épequena, tem 13ha. Dário possui 20

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32 Agropec. Catarin., v.18, n.1, mar. 2005

vacas de leite em produção e vendeaté 230L de leite por dia. Hoje, ele,a esposa Maria de Fátima e trêsfilhos estão satisfeitos com osresultados, mas nem sempre foiassim. Por pouco Dário não vendeua propriedade porque não conseguiatirar o sustento para manter afamília. Agora, a situação mudou.Até o filho mais velho, que trabalhana cidade, está pensando em voltarpara o campo porque viu que aatividade leiteira está dando bonsresultados.

O segredo? Dário faz questão decontar. “Tem que se dedicarbastante, investir em pastagens,manejo, sanidade”, diz ele,empolgado. Até construiu uma novasala de ordenha, toda equipada, edividiu a pastagem em piquetes parao uso racional do pasto. E é nesteambiente que Dário e a esposarecebem o grupo de discussão, jáque a propriedade deles foi escolhidapara ser visitada. Em meio a muitaconversa, eles vão encontrando

respostas para as dúvidas que têm.Na visita, por exemplo, uma questãolevantada foi como administrarmelhor o uso de suplemento comração. A conclusão foi que, como osistema de produção é à base depasto, é preciso primeiro conhecer aqualidade nutritiva das forragens.Juntos, eles decidiram então fazercoleta de amostras de pastagens emcada propriedade e, em grupo, enviarpara análise em laboratório. Aanálise é feita somente em Lages eSanta Maria, no Rio Grande do Sul.Se fosse individualmente? Bom, otempo para tomar esta decisão, comcerteza, seria muito maior. É o quedizem eles.

De olho nos resultados

Com uma planilha na mão,recheada de números, o técnico daEpagri Luiz Augusto Araújo,responsável pelo Projeto deAdministração Rural na Região Suldo Estado, mostra a evolução nos

Pastoreio rotativo x pastoreio convencional: diferenças na qualidade e naquantidade de pasto

índices técnicos e econômicos dogrupo de produtores. Em 1997 aprodução média era de 3.120L/vaca/ano e em 2004 passou para 4.970L/vaca/ano. A produção de leite porhectare de pasto teve umcrescimento extraordinário. De3.821L/ha passou para 11.020L/ha.Ao preço de hoje, isso representauma renda bruta de R$ 5.600,00/ha/ano. “Temos caso de produtor queatinge quase 20 mil litros de leitepor hectare de pasto, índice superiorà média de países tidos comoreferência, como é a Nova Zelândia”,analisa o técnico.

Na área econômica não édiferente. O número médio de vacaspor produtor também aumentou,passando de 21 para 29 animais, e olucro por litro de leite triplicou. Oprodutor Anderson Kesteiring, deSão Ludgero, é o coordenador dogrupo. Há 12 anos Anderson faz ocontrole completo das atividadesdesenvolvidas na propriedade. Umensinamento que aprendeu com opai. “Eu segui o mesmo caminhoporque vi que é muito importanteconhecer melhor as dificuldades eoportunidades da propriedade”, dizele.

Para Anderson, Dário, Lourençoe outros 15 produtores de leite daregião de Tubarão, as cercas podemseparar as propriedades, os piquetesdos animais, mas não separam oconhecimento e as experiências desucesso. É olhando sobre as cercas,vendo e discutindo os resultados eproblemas com os colegas produtoresque os conhecimentos se ampliam.Assim como a roda já foi inventada,existem muitas soluções criativassendo aplicadas com sucesso “nooutro lado da cerca”. Por que nãocompartilhá-las?

A produtividade média do alho catarinense é de 7,6t/ha. Boa parte dos produtores assistidos pela Epagri chega a colher 16t/ha.

Fique saben do!

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33Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Reportagem de Paulo Sergio Tagliari1

Cooperativas e agroindústriasCooperativas e agroindústriasCooperativas e agroindústriasCooperativas e agroindústriasCooperativas e agroindústriasbeneficiam agricultores familiaresbeneficiam agricultores familiaresbeneficiam agricultores familiaresbeneficiam agricultores familiaresbeneficiam agricultores familiaresCooperativas e agroindústriasCooperativas e agroindústriasCooperativas e agroindústriasCooperativas e agroindústriasCooperativas e agroindústriasbeneficiam agricultores familiaresbeneficiam agricultores familiaresbeneficiam agricultores familiaresbeneficiam agricultores familiaresbeneficiam agricultores familiares

Pequenos e médios agricultores catarinenses estão investindo naagroindustrialização de seus produtos e se organizando em

cooperativas familiares para reduzir custos emelhorar a comercialização

stá cada vez mais difundidano Sul do Brasil, entre osagricultores familiares, a

prática de beneficiamento ouagroindustrialização da matéria--prima produzida nas propriedades.Os agricultores estão ficando cadavez mais conscientes de que agregarvalor aos seus produtos, em vez devendê-los in natura , propiciavaloração de suas atividades, geramais emprego e renda e ajuda afrear o êxodo rural. Aliada a isso, a

comercialização dos produtos destasagroindústrias, por meio decooperativas familiares, vemfacilitando a vida de centenas,quem sabe de milhares, numfuturo próximo, de famílias ruraisde pequenos e médios agriculto-res.

Várias entidades governamentaise não-governamentais estãoauxiliando e prestando assistênciatécnica a grupos de agricultoresfamiliares, no sentido de

organizarem, e capacitarem-se paradesenvolver atividades de agre-gação de valor. Em Santa Cata-rina, além de trabalhos pioneirosde Ongs e prefeituras, a Epagri,por meio do Projeto Agregação deValor aos Produtos e Serviços daAgricultura Familiar e da PescaArtesanal, mais conhecido comoProjeto de Agregação de Valor,presta apoio, assessoria e orien-tação às agroindústrias de pequenoporte.

E

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 239-5533, fax: (48) 239-5597, e-mail: [email protected].

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34 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

O Projeto Agregação deValor

O engenheiro agrônomoFrederico Büchele, coordenador doprojeto, relata que uma preocupaçãoprimordial é estimular e apoiarpreferencialmente os empreen-dimentos coletivos, principalmentevia organização de cooperativas,com orientação e assessoramentoem todas as etapas de implantação.Ele informa que a Epagri procuraorientar também nas questões demercado e comercialização além deconsolidar empreendimentos jáexistentes e implantar novos, comespecial atenção àqueles compotencial no âmbito das comu-nidades trabalhadas no ProjetoMicrobacias.

Além disso, a Epagri, por meio deseus cursos de profissionalização deagricultores, capacita os produtores,afora as técnicas próprias deagroindustrialização específicaspara os diversos produtos – leite,frutas, hortaliças, derivados de cana,etc. –, no programa de Boas Práticasde Fabricação, o chamado BPF, queé o que vai assegurar a qualidadedos produtos. “Hoje as exigências davigilância sanitária são muitorigorosas, e os consumidores cadavez mais procuram aqueles doces,cucas e geléias caseiras,diferenciados, mas com qualidade.Por isso, temos a preocupação deestimular e assessorar os pequenosempresários para atender estemercado cada vez mais exigente”,ressalta Frederico.

Quanto a sua estrutura, o projetoconta com 22 técnicos responsáveisnas diversas regiões de atuação daEpagri no Estado e possui duasequipes de apoio em engenharia,sendo cada uma delas composta porengenheiro civil, engenheirosanitarista e engenheiro dealimentos, localizadas em Chapecóe Rio do Sul. Estas equipes elaboramo projeto arquitetônico, elétrico,hidrossanitário, sistema detratamento de efluentes e leiautedos equipamentos.

Frederico Büchele destaca que,no triênio 2004/2006, o ProjetoAgregação de Valor tem como metaassistir mais de mil empreen-dimentos novos e existentes, entregrupais e individuais, envolvendo

13 mil famílias rurais e gerando5.670 empregos diretos. As fontesde recursos envolvidos originam-sedo Programa Nacional deFortalecimento da AgriculturaFamiliar – Pronaf – e Microbacias 2.

Cooperativa agiliza asvendas reduzindo custos

Um dos empreendimentos maispromissores que estão surgindo, eque está sendo articulado eestimulado pelo Projeto Agregaçãode Valor, é a formação de novascooperativas familiares deprodução. Estas reúnem asiniciativas de grupos ou associaçõesde agricultores ou mesmoindivíduos e se organizam sob aforma jurídica de uma cooperativapara comercializar, semintermediação, os produtos daagroindústria familiar. Exemplopioneiro nesta área é a Cooperativade Produção AgroindustrialFamiliar de Concórdia, aCopafac, que funciona desde2001 e hoje conta com 20empreendimentos e 160associados. Ela reúneunidades de beneficiamentode ovos, hortaliçasminimamente processadas,pescado, processamento demel, artesanatos, derivadosda cana-de-açúcar, frangocolonial, derivados do leite,derivados dos suínos ebovinos, doces e conservas.

O mais interessante destetipo de cooperativa é que elanão possui sede, edificaçõesou estrutura própria, o queajuda a reduzir drasti-camente os custos. Osempreendimentos sãoconstruídos com o capital doassociado, pessoa física, e,através de um contrato decomodato entre as partes, asunidades são repassadas paraa Copafac, o que permite aoassociado comercializar osprodutos fabricados naunidade com nota fiscal dacooperativa. O contratoprevê um período defuncionamento e poderá ounão ser renovado.

Outra característicaimportante é que a Copafacadotou a figura do articulador

de vendas, um associado dacooperativa, membro da diretoria,que faz a pré-venda dos produtos dasdiversas unidades. O articuladortrabalha por comissão, não sendoum funcionário da cooperativa. Como trabalho deste articulador, acooperativa ganha mais poder debarganha na comercialização eelimina a concorrência que vinhaacontecendo entre os associados,com a qual cada um vendia o seuproduto isoladamente. “Hoje osassociados se enxergam mais comoparceiros, não como concorrentes”,pondera o engenheiro agrônomoOsvaldir Dalbello, responsável peloAgregação de Valor na região deConcórdia. Ele reforça que nacooperativa não existem recursosimobilizados em infra-estrutura,imóveis, móveis ou veículosautomotores. Desta forma, oagricultor realmente se apropria darenda ao longo de toda a cadeiaprodutiva, fortalecendo os associados

Doces Vó Nina: cooperativa facilita as vendas

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35Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

e o cooperativismo. “Na cooperativa,alguns valores como participação,transparência e honestidade sãopontos fundamentais”, acrescentaDalbello.

O associado da cooperativa, vendeseus produtos com mais facilidade,como é o caso da dona NatalinaScortegagna, que produz doces egeléias de laranja e abóbora, sob onome de Doces Vó Nina. São muitoapreciados no mercado de Concórdiae vendidos inclusive para aCompanhia Nacional doAbastecimento – Conab –, atravésdo Programa Fome Zero, queabastece a merenda escolar, ascreches, os asilos e as Apaes. Aliás,a Conab dá preferência de com-pra às cooperativas. Dona Nata-lina e o marido, o senhor RomeuScortegagna, que moram naComunidade 8 de Maio, não tinhammais como conduzir sozinhos apropriedade da família, onde o aviárioera a principal fonte de renda, e nãopodiam mais contar com os filhos,que foram todos morar na cidade.Com o curso profissionalizante deconservação e beneficiamento defrutas, ministrado pela Epagri, elaresolveu investir no novo negócio.Onde existia o aviário, agora é umconsórcio de abóbora e mudas delaranjeiras, e no morro ao lado ocasal cultiva um pomar de laranjas.Com recursos do Pronaf, daprefeitura municipal e próprios e

orientados pela Epagri e prefeituramunicipal, o senhor Romeu e a donaNatalina construíram uma pequenaagroindústria na garagem da casa,com azulejos nas paredes, pisosadequados, banheiro, equipamentos,tudo dentro dos padrões técnicos esanitários requeridos pela legislaçãovigente. A venda média é de 500vidros de conserva por mês, sendo aembalagem de 760g comercializadaa R$ 3,00. “Estou satisfeita com estaminha atividade, pois este tipo detrabalho é adequado a muitos dosagricultores de maior idade, já quenossos filhos mais velhos vão para acidade”, conta dona Natalina.

Mas, a agroindústria caseiratambém está atraindo os jovens parao campo. É o caso da família Beber,de Lajeado Andrade, interior deJaborá, que demonstra ser possívelgerar emprego e renda no meiorural. Desde março de 2004, donaVanilce e o sr. Alécio Beberinauguraram uma panificadora, umempreendimento associado à CooperJaborá, outra cooperativasemelhante à Copafac e a outrasseis que já existem na região deabrangência do Projeto Agregaçãode Valor (16 municípios daAssociação dos Municípios do AltoUruguai Catarinense – Amauc), quecontabiliza 586 associados. Estapanificadora motivou um filho dafamília a voltar para a propriedade,e há possibilidade de retorno também

de uma filha. A unidade produz pães,cucas, bolos, bolachas e salgados;atende a festas no interior domunicípio, mercados, mercearias evende direto aos consumidores, decasa em casa. Os Bebercomplementam sua renda comatividades como cultivo de milho,suínos, leite e avicultura. “Aspessoas perguntam por queconstruir uma padaria no interior enão na cidade. Se a gente é felizonde está, por que sair dapropriedade?”, pondera donaVanilce.

Solidariedade ao invés daconcorrência

O sucesso do modelo dascooperativas familiares da região deConcórdia está atraindo a atençãode outras regiões de Santa Catarina.É o caso da recém-criada Cooperativade Produção Agropecuária Familiardo Planalto Sul Catarinense, aCoplasc, fundada em julho de 2004.O princípio de funcionamento ésemelhante ao da Copafac, sendo asunidades produtivas chamadas decélulas ou núcleos, e trabalhamindependentes, ou seja, se umaagroindústria ou grupo de associadosquebra ou tem um problemaespecífico, isto não afeta os demais,a cooperativa mantém-sefuncionando normalmente, umaunidade não tira dinheiro ourecursos da outra.

As unidades e os ramos deatividades foram formados a partirde projetos prioritários elencadosem diversas reuniões e discussõesentre os agricultores e as liderançasda região de Campos Novos, dasquais participaram a Epagri, aAssociação dos Municípios doPlanalto Sul Catarinense – Ampasc–, com a coordenação da Secretariade Estado do DesenvolvimentoRegional. Com a discussão e aescolha dos projetos prioritários naregião, os produtores ruraisentenderam que a melhor forma deviabilizar suas atividades seria pormeio de uma cooperativa. Assim,hoje a Coplasc possui os núcleos deapicultura, bovinos de leite, frangoe ovos caipiras, plantas bioativas econdimentares, agriculturaorgânica, entre outras. “A tendênciade nossos empreendimentos é pelalinha da produção agroecológica”,

Dalbello: participação, honestidade e diversificação são fundamentais parao cooperativismo

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36 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

informa o engenheiro agrônomoVitor Hugo Poletto, responsável peloProjeto Agregação de Valor da Epa-gri na região, e ressalta que estesprojetos e atividades da cooperativatêm o total suporte da extensão e dapesquisada da Epagri. Na EstaçãoExperimental de Campos Novos aspesquisas estão lado a lado com asnecessidades e demandas dos asso-ciados da Coplasc.

Poletto lembra também que oProjeto Agregação de Valor adotaalgumas normas básicas para queum agricultor possa ingressar nosempreendimentos assessorados pelaEpagri, que são: ser pequeno oumédio agricultor, produzir, nomínimo, 50% da matéria-primautilizada na agroindústria, estarcapacitado para a atividade esco-lhida, legalizar o empreendimento,utilizar mão-de-obra familiar ou dogrupo de agricultores e tercompromisso com a qualidade doproduto. Além disso a cooperativautiliza pontos de venda de empresasda região, as quais já têm mercadoe rede de distribuição.

No Litoral Sul do Estado, aEpagri vem desenvolvendo váriosprojetos de agregação de valor etambém ali estão se formando no-vas cooperativas familiares de pro-dução, a começar pela CooperativaFamiliar Agroindustrial Sul Catari-nense, a Coofasul, que foi fundadarecentemente e está em processode registro. O processo de formaçãoda cooperativa foi feito por meio devárias reuniões com possíveis sócios,até a elaboração final do estatuto.Foram 11 os sócios fundadores dediversos municípios da região deCriciúma, contando com 22 associa-dos, além de outros que querem seassociar. O produtor Jacioni Delo-renzi Canever, a esposa Maria Isabele mais uma filha possuem uma casacolonial de produtos caseiros à beirada rodovia estadual que ligaUrussanga a Criciúma. Além davenda de diversos produtos – licores,queijos coloniais, cachaça, etc. –, afamília Canever tem um parreiralde uva ao lado da casa e quer investirna produção de suco de uva, nafabricação de vinho e também nacachaça colonial. O mesmo objetivotêm outros sócios fundadores, comoo agricultor José Zanatta Neto eAnarcísio Denoni, ambos tambémdo município de Urussanga, cujapretensão é aprimorar as suas

produções de cachaça colonial. “Eutenho um grande desafio pela frente.Do jeito que eu até agora estava pro-duzindo a cachaça, não teria condi-ções de entrar no mercado, poisnecessito investir em novos equipa-mentos, na qualidade e atender àlegislação sanitária”, conta o pro-dutor Zanatta Neto, que também évitivinicultor, inclusive com vinhospremiados.

“Estes e outros sócios se capacita-ram nos cursos da Epagri e agoraestão procurando melhorar seusprocessos de fabricação, procurandoatender às normas vigentes. Casocontrário, não poderão comercia-lizar”, explica o engenheiro agrôno-mo Fernando Damian Preve Filho,do Agregação de Valor. Ele revelatambém que está prevista aconstrução, com recursos do Pronaf,de uma unidade engarrafadora decachaça da cooperativa, com 180m2,em uma área doada pela prefeituramunicipal de Urussanga. “Isto vaidar qualidade e abrir mais espaçopara o produto catarinense, já quegrande volume de cachaça que entrano mercado vem de fora, principal-mente de São Paulo, e as cachaçascoloniais carecem da legalidadenecessária”, acrescenta o técnico.

Já no município de Nova Veneza,ao sul de Criciúma, foi criada aCoofanove, em julho de 2004. Játem estatuto e registro na junta co-mercial, e cada unidade agroindus-trial associada (são 23 os sóciosatuais) está se regularizando,inclusive com contrato de comodatocom a cooperativa. São várias unida-des produtivas, incluindo doces,geléias, sucos, hortigranjeiros, com

A extensionista Maristela Bresciani em reunião com os associados daCoofanove

destaque para os produtos pani-ficáveis.

A dona Maria Regina RomagnaPazetto trabalha há muito tempocom pães e massas, mas sempreesteve na informalidade. Há quatroanos regularizou sua atividadecriando uma microempresa. “Só queos impostos são muitos; sou filha deagricultor, me criei no campo, porisso decidi sair da microempresa eentrar na cooperativa, pois elafacilita muito para mim, além de tero apoio e a assessoria da Epagri”,conta Maria Regina, que participoude cursos de capacitação na área depanificação. O rol de seus produtosengloba biscoitos, pães, salgadinhos,massas, docinhos de aniversário,panetones, etc. Ela trabalha com aajuda do marido, o sr. Idalino JoséPazetto, um filho e duas ajudantes.Ela mesma faz entrega dos produtosutilizando uma camioneta dafamília, vendendo em mercados deNova Veneza, clubes de mães, nasprefeituras de cidades vizinhas,inclusive participando da feira livrede Criciúma, que acontece às terças,sextas e aos sábados.

A extensionista MaristelaOenning Bresciani é a responsávelpelo Agregação de Valor em NovaVeneza. Ela conta que a açãoprincipal agora com os associadosda cooperativa é fazer reuniões etreinamentos na área dorelacionamento e da solidariedade,a fim de fortalecer e aprimorar acoesão do grupo. “Queremos tirardo associado a idéia da concorrência,o medo de alguém estar tirandoproveito do outro. O sol nasce paratodos igualmente”, arremata.

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37Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Reportagem de Maria Laura G. Rodrigues1 eMaurici Monteiro2

agricultura foi um dos seto-res mais afetados pela estia-gem que atingiu o Estado de

Santa Catarina no último verão.Esta estiagem foi mais umepisódio a compor uma longa sériede períodos com escassez de chuvano Sul do Brasil. No litoral, osturistas lotavam as praias, apro-veitando os belos dias de sol, muitosdesconhecendo as dificuldades queenfrentavam os setores de abaste-cimento de água e o agropecuário.De onde tirar água para manter onível dos reservatórios, alimentar

os animais, irrigar os arrozais doVale do Itajaí e do Sul do Estado,limpar os currais de gado e dechiqueiros no Oeste e Meio-Oeste?

Em um dia típico do verãocatarinense, as poucas nuvens logose dissipam nas primeiras horas damanhã, dando lugar a um sol quebrilha até a maior parte da tarde.As temperaturas sobem rapida-mente, e por volta das 14 horas ocalor é máximo. A partir daícomeçam a se formar aquelasnuvens do tipo “couve-flor”,denominadas pelos meteorologistas

de cúmulos-nimbos. Quanto maioro calor e a umidade, mais favorávelpara o desenvolvimento destasnuvens, que resultam em trovoadae pancadas de chuva. Estes“aguaceiros” de verão são tãolocalizados que às vezes atingemapenas alguns bairros oucomunidades, mas a freqüência e aintensidade destas chuvas sãosuficientes para manter o soloúmido e um nível satisfatório derios, lagos e açudes.

As pancadas de final de tarde,características de verão, fazem desta

1Meteorologista, M.Sc., Epagri/Ciram, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 239-8053, e-mail: [email protected], M.Sc., contrato Epagri/Fundagro, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 239-8053, e-mail: [email protected].

A

AgriculturaAgriculturaAgriculturaAgriculturaAgriculturaSem saudades do último verãoSem saudades do último verãoSem saudades do último verãoSem saudades do último verãoSem saudades do último verão

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uma das mais chuvosas estações doano em Santa Catarina. Nos mesesde janeiro e fevereiro, os totaismensais de chuva ficam em tornode 170 a 200mm, em média, tantoem municípios do Oeste como doLitoral do Estado. Mas não foi dessemodo que as coisas aconteceram noverão 2004/2005.

Dias ensolarados e sem achuva característica doverão

Entre dezembro de 2004 e marçode 2005, o sol predominou no Oestede Santa Catarina. Dos 121 dias quecompreendem este período (dequatro meses), foram cerca de 40dias com precipitação. Mesmo aschuvas de final de tarde foramescassas, pois os baixos índices deumidade do ar inibiram a formaçãodas esperadas nuvens cúmulos-nim-bos.

Como exemplo dos baixos totaisde precipitação basta comparar osdados da estação meteorológica domunicípio de Chapecó, pertencenteà rede do Instituto Nacional deMeteorologia – INMET/Epagri,mostrados na Figura 1, com ostotais mensais de precipitação

registrados entre janeiro e abril de2005 e as respectivas médiasclimatológicas mensais, ou seja, ovalor normal de chuva esperado emcada um destes meses. Nos trêsprimeiros meses do ano as chuvasficaram abaixo da média normal,sendo fevereiro o mês mais crítico:em Chapecó, foram 8,2mm deprecipitação para uma médiaclimatológica de 193,8mm.

Desde dezembro, as chuvas jácomeçaram a ficar escassas emSanta Catarina. A primeiraquinzena de janeiro começouchuvosa, mas a partir da últimasemana do mês voltou a choverpouco no Estado, permanecen-do esta situação durante todo omês de fevereiro e primeiraquinzena de março. O alíviomesmo veio somente em abril,quando as chuvas voltaram aocorrer com maior intensidade efreqüência no Estado e os totais dechuva superaram a média climato-lógica.

Para os agricultores, ficaram asperdas de mais uma estiagem. Houveracionamento de água em diversosmunicípios do Oeste e Meio-Oeste echegou a faltar água para o consumohumano. Conforme informações da

Defesa Civil Estadual de SantaCatarina, 157 municípios catari-nenses, especialmente aqueleslocalizados no Oeste e Meio-Oeste,decretaram estado de emergência.No município de São Carlos,próximo a Chapecó, no Oeste, foidecretado estado de calamidadepública. Para o major Mauro daCosta, diretor da Defesa CivilEstadual, um dos agravantes emsituações de estiagem são os poucoslocais de captação de água disponíveisnos municípios. Devido à falta deinvestimentos em obras de sanea-mento, estes pontos de captação sãoos mesmos de 20 anos atrás, nãoatendendo às necessidades atuais.Além disto, o major ressalta oproblema do desperdício de água.Os agricultores e suinocultores nãodispõem de cisternas, a não ser asnaturais, nem mesmo de caixasd’água de tamanho adequado, nãoaproveitando os períodos de chuvaabundante. Diante disto, a DefesaCivil do Estado está encaminhandoao Governo Federal projetos para odesenvolvimento de obras quepermitam aos municípios umaestrutura adequada em situaçõesde estiagem.

Mas a estiagem não afetousomente o Oeste Catarinense. EmIçara, no Litoral Sul do Estado, maisde 90 pequenos açudes foramabertos no interior do municípiopara o gado beber água. Emmunicípios do Sul Catarinense ondeo solo é mais arenoso e com menorcapacidade de armazenamentod’água, agricultores perderam quasemetade das lavouras de milho. “Afalta de chuva no momento daformação dos grãos resultou emespigas do tipo restolho, falhadas”,explica Marcio Sônego, engenheiroagrônomo e pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Urus-sanga. Na Figura 2 observa-se umalavoura de milho, cujas folhas,embora verdes, aparecem enroladas,em estágio inicial de murchamentocausado pelo estresse hídrico. Omilho, feijão e a mandioca estãoentre as lavouras mais afetadas,além das pastagens e dos bananais,que tiveram seu crescimentoretardado. Sônego comenta que em

Figura 1. Comparação entre os totais mensais de chuva registrados nomês de janeiro, fevereiro, março e abril de 2005 e a média climatológicado mês, em Chapecó, Oeste de Santa Catarina

Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

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39Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

verões com chuva normal as bana-neiras lançam uma folha porsemana, enquanto que no verão de2005 esta média ficou em uma folhaa cada duas semanas, por falta deumidade no solo. Com o desenvol-vimento retardado, as bananeirasproduziram cachos com menor pesodo que o normal.

E o que dizem osmeteorologistas?

Analisando as causas da estia-gem, Gilsânia Araújo, meteoro-logista da Epagri/Ciram, comentaque neste período verificou-se umpredomínio de massas de ar seco nosEstados do Sul do Brasil, enquantoa atividade chuvosa, ao longo dolitoral brasileiro, concentrou-seentre as Regiões Sudeste eNordeste, especialmente no sul daBahia. “No Sul do Brasil, o ardesprovido de umidade nãofavoreceu a formação de nuvens e,conseqüentemente, a chuva nãoocorreu. As frentes frias, sistemasque normalmente trazem chuvapara a região, passaram com poucafreqüência no verão de 2004/2005.”Em Santa Catarina, as poucaschuvas que ocorreram, emassociação à passagem de frentesfrias, atingiram municípios entre oPlanalto e o Litoral, sendo o Oestee Meio-Oeste as regiões maisafetadas pela estiagem.

Gilsânia lembra ainda que umfator agravante para uma estiagemem meses de verão é a evaporaçãointensa verificada nesta época doano, quando ocorre um maiornúmero de horas de brilho solar.Isto contribui para diminuir aindamais o nível dos reservatórios emanter o solo seco.

Para quem acha que períodos deestiagem estão sempre relacionadosa episódios de La Niña, ameteorologista alerta não ser tãosimples assim. “Em Santa Catarina,nem todos os registros de estiagemocorreram em anos de La Niña,como podemos ver nos episódios dosúltimos anos, que aconteceram emanos de normalidade climática, istoé, sem influência do fenômeno Enso(El Niño – Oscilação Sul).”

Nos últimos anos, o Sul do Brasilfoi marcado por períodos de estia-gem. Os setores da agropecuária ede abastecimento de água aindalembram o verão passado (2003/2004) e a estiagem dos meses deoutono e inverno de 2003, uma dasmais críticas. Em 2003, a maiorparte dos meses foi com chuva abaixoda média climatológica, nosmunicípios catarinenses, e osreservatórios de usinas hidrelétricasoperaram com vazões abaixo damédia normal.

As séries de vazões médiasmensais, no ano de 2003 e 2005, doreservatório da Usina Hidrelétricade Machadinho podem ser conferidasna Figura 3. A série históricarepresenta a vazão normal esperadaem cada mês. As vazões registradasem 2003 ficaram bem abaixo davazão normal entre o mês de abril enovembro. Operando desde 2001, oreservatório de Machadinho teveseu mês mais crítico em setembrode 2003, quando a vazão médiamensal ficou cerca de 86% abaixo damédia normal, segundo informaçãoda engenheira sanitarista ambientalVanderléia Schmitz, da Epagri/Ciram. Em fevereiro de 2005, asvazões ficaram 71% abaixo da vazãonormal. No primeiro trimestre de

2005, as vazões mantiveram-seabaixo da média e a recuperação doreservatório ocorreu somente emabril.

A previsão para oinverno/2005

Para o mês de julho e agosto de2005, as previsões climáticas paraSanta Catarina indicam umaquantidade de chuva dentro donormal, ou seja, não deve ocorrernem excesso nem déficit de chuvaacentuado. Segundo o meteoro-logista Clóvis Corrêa, da Epagri/Ciram, nestes meses de inverno ostotais de chuva ficam em torno de100mm nos municípios do Litoral ePlanalto, enquanto no Oeste e Meio--Oeste a média climatológica é de150mm, sendo estes, portanto, osvalores esperados para o inverno de2005. “Mas os agricultores devemficar atentos, pois as chuvas serãorápidas e mal distribuídas. Chovedurante um ou dois dias, ficando umintervalo de vários dias sem chuva.Este intervalo de tempo estável podeaté superar uma semana. A entradade massas de ar frio, trazendo diascom declínios bruscos detemperatura, será intercalada comdias de temperatura elevada”,

Fonte: Jornal Panorama (Sérgio Costa).

Figura 2. Lavoura de milho, no sul de Santa Catarina, durante a estiagemdo verão 2004/2005: folhas em estágio inicial de murchamento

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40 Agropec. Catarin., v.18, n.1, mar. 2005

ressalta Corrêa. Portanto, osagricultores devem ficar atentos àsprevisões divulgadas pelosmeteorologistas.

Para que não seja pego desurpresa, o agricultor deve planejara implantação da sua lavoura,anualmente, de modo a escalonar oplantio das culturas em diferentesépocas. É também importanteadotar práticas de manejo econservação do solo que tenham porobjetivo conservar ou melhorar ascondições físicas, químicas ebiológicas do solo. Para tanto érecomendado o uso de coberturapermanente do solo, do plantiodireto ou cultivo mínimo e darotação de culturas, além daimplantação de terraços oupatamares, práticas estas capazes deminimizar a erosão, diminuir oescoamento superficial, facilitar ainfiltração e o armazenamento daágua no solo.

Figura 3. Vazões médias mensais no reservatório da Usina Hidrelétricade Machadinho (Piratuba, SC): média climatológica, vazões em 2003(ano crítico de estiagem) e vazões entre janeiro e abril de 2005

Governo do Estado de Santa CatarinaSecretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento RuralEmpresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. Govern o do Est ado

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catarinense

Nova cu ltivar de macie ira

Ad minist ração d a águaAg roindustrialização na agricultura familiar

Ginsen g br asileiroHo rtaliças em cultivo conven cional e orgânico

Castel GalaCastel Gala

Ad minist ração d a água

Ag roindustrialização na agricultura familiarGinsen g br asileiro

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Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005 41

Ginseng-brasileiro – novo estímulo para oGinseng-brasileiro – novo estímulo para oGinseng-brasileiro – novo estímulo para oGinseng-brasileiro – novo estímulo para oGinseng-brasileiro – novo estímulo para ocampo e para o corpocampo e para o corpocampo e para o corpocampo e para o corpocampo e para o corpo

Antônio Amaury Silva Júnior1 eCecília Cipriano Osaida2

Etnobotânica

Também conhecido comoacônito-do-mato, corango-sempre--viva, fáfia, ginseng-do-pantanal,milagroso e paratudo, o ginseng--brasileiro (Pffafia glomerataSpreng. Pedersen – família Amaran-thaceae) assemelha-se ao seuepônimo oriental – Panax ginseng,cujas propriedades e característicasde raiz são algo parecido. Ginsengna língua chinesa quer designar aforma do ser humano, tendo em vis-ta que as raízes de ambos os ginsengstêm tendência ao formato huma-nóide.

O ginseng-brasileiro cresceespontaneamente nas barrancas eilhas do Rio Paraná e em MatoGrosso, Goiás e norte de Minas Ge-rais. É muito rara a sua ocorrêncianatural em Santa Catarina, tendosido encontrado apenas em PortoUnião. É uma planta arbustiva,perene, ramosa, que cresce cerca de2 a 2,5m em altura (Figura 1); apre-senta caule nodoso e ereto quandojovem. As raízes podem atingir 2 a3m de comprimento por 7 a 10cm deespessura aos cinco anos de idade. Oformato bifurcado das raízes lembraas pernas humanas, mas podemexistir outros formatos (Figura 2).

Com base nos conhecimentosetnobotânicos, as raízes e folhas daplanta têm sido utilizadas ancestral-mente como estimulantes gerais,tranqüilizantes, anti-reumáticas,antidiarréicas, antiinflamatórias,antidiabéticas, febrífugas, cicatri-zantes internas e externas, anti-

hemorróidicas, melhoradoras da vi-são e da memória e para o tratamentode distúrbios gástricos, artrite,artrose, anemia, astenia e dores.Não obstante, a ciência modernatem confirmado algumas destas pro-priedades e descoberto outras, alémde revelar sua composição fito-química.

Propriedadescomprovadascientificamente

Pesquisas realizadas comanimais têm demonstrado que asraízes da planta incrementam onúmero de glóbulos vermelhos e ataxa de hemoglobina, estimulam etonificam o cérebro e o coração,reduzindo a fadiga mental e física ealiviando estados de estresse edepressão.

O extrato liofilizado das raízesdemonstra efeito estimulante agudo,reversão no déficit de memória,interferência na evolução ponderalde ratos idosos tratados cronica-mente, incremento no índice de mo-vimentação, aumento do número dehemácias, hemoglobina, hemató-crito, glicose e bilirrubina e diminui-ção dos níveis de creatina, uréia,ácido úrico, colesterol total e albu-mina no sangue.

O extrato alcoólico das raízes(500mg via intraperitonial) protegeroedores das convulsões induzidaspelo convulsionante pentilenote-trazóleo e incrementa o tempo desono induzido por barbiturato.

O extrato seco atua comorelaxante. Já o extrato hidroalcoólicoa 10% do caule apresenta um efeitoanalgésico superior ao extratoetanólico da raiz e com açãocomparável à dipirona.

O ácido oleanólico – um dos bio-componentes da planta – apresentaatividade anticolesterolêmica, anti--hepatotóxica, antioxidante, an-tiinflamatória, antifúngica eantibiótica. Este ácido inibe ocrescimento de tumores e de

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 341-5244, fax: (47) 341-5255, e-mail:[email protected] rural, Harmonia Natural, Rua Geral do Moura, Vila Nova, 88230-000 Canelinha, SC, fone: (48) 264-5160, e-mail:[email protected].

Figura 1. Planta de ginseng--brasileiro

t ado

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42 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

patógenos orais, é eficaz contra apsoríase, é antagonista em choquesanafiláticos, protege a pele da açãoda luz e reverte a resistência daleucemia P388 à vimblastina. Aalantoína é cicatrizante, o ácidopfáfico é antitumoral, analgésico eestimulante sexual e o germânioatua como agente de oxigenaçãocelular.

Outra espécie de ginseng-bra-sileiro (Pfaffia paniculata) melhorao desempenho copulatório de ratosmachos sexualmente apáticos ouimpotentes.

Fitoquímica e formas deuso

As raízes contêm rubrosterona,ácido oleanólico, oleanolato deβ-glicopiranosilo, fafosídeos, sapo-ninas, ácido pfáfico, ecdisterona,alantoína, estigmasterol, germânio,sitolesterol, β-ecdisona e vitaminaA, B, C, D e F. O teor de β-ecdisonenas raízes varia de 0,4% (raiz de umano) até 0,75% (raiz de mais de 2anos).

O uso terapêutico da planta temsido feito de distintas formas depreparo:

• Infusão: usam-se as folhas parabaixar a febre. Aquecer a água eantes da fervura adicionar, eminfusão, duas folhas grandes porxícara de chá.

Figura 2. Algumas formas de raízesde ginseng-brasileiro

• Decocção: aquecer 1L de águaaté ferver e adicionar 10g da raiz.Tomar duas xícaras ao dia, depoisdo desjejum e do almoço.

• Pó da raiz: utiliza-se a dose de5 a 10g/dia.

• Ungüento: misturar umacolher das de chá do pó em trêscolheres de vaselina. Aplicartopicamente em ferimentos. Temefeito cicatrizante.

Atenção: As raízes da planta sãocontra-indicadas para pessoas hiper-tensas. Doses acima de 10g/dia po-dem resultar em nervosismo,hipertensão, erupções na pele,diarréia e insônia.

As raízes também são utilizadasno preparo de refrigerantes e aplanta é considerada apícola eforrageira.

Domesticação

O ginseng-brasileiro é umaespécie de clima tropical, emborapossa adaptar-se ao subtropical.Prefere áreas plenamente expostasao sol e solos siltosos, com um bomteor de umidade e fértil em cálcio ematéria orgânica humificada. Solosarenosos facilitam a colheita e alimpeza de raízes, porém em solosargilosos, mais férteis, as raízes sãomais produtivas.

Por ser uma espécie aindaconsiderada silvestre, que sepropaga naturalmente porsementes, ocorre uma amplavariabilidade genética. Populaçõesde ginseng-brasileiro cultivadasexperimentalmente em Canelinhae em Itajaí, SC, demonstram havervariações fenotípicas paraarquitetura da parte áerea e dasraízes da planta, comprimento deinter-nós, formato, pilosidade etamanho de folhas, densidade floral,cromotopismo caulinar, rendimentode raízes e teor de matéria seca. Épossível que ocorram variações naconcentração dos fitoquímicos, comatenção especial ao beta-ecdisona –seu biocomponente principal.Plantas com folhas estreitas, maispilosas, com maior densidade foliare com a base do caule de coloraçãoarroxeada apresentam maiorresistência à ferrugem (Uromycesplatensis). Genótipos de folha finasão mais prolíficos do que os de folhalarga.

Cultivo

A produção de mudas pode serfeita através de sementes (Figura 3)ou segmentos nodais (Figura 4). Assementes apresentam um baixoíndice de pureza (30% a 35%) devido

Figura 3. Sementes de ginseng-brasileiro

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Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005 43

Tabela 1. Produtividade de raízes frescas e secas de ginseng-brasileiro doprimeiro ao terceiro ano de cultivo. Média de produções em Canelinha eItajaí

Colheita Raízes frescas Raízes secas Matéria seca

Meses ..........................t/ha....................... %

12 6,61 1,85 0,28

24 10,17 3,05 0,30

36 12,43 3,98 0,32

ao elevado índice (65% a 70%) desementes mortas e chochas. Noentanto, o índice de germinação desementes viáveis é cerca de 93% a95%, sendo que a emergência ocorreem cerca de quatro dias, àtemperatura de 25oC. Um grama desementes contém cerca de 6.200 a6.300 sementes. A semeadura podeser feita diretamente em tubetesplásticos, bandejas de isopor ousaquinhos plásticos contendosubstrato organo-mineral. As mudaspodem ser produzidas em abrigoscom cobertura plástica e tela plásticacom 50% a 70% de sombreamento.Mudas oriundas de sementesapresentam crescimento inicialmais lento do que mudas obtidas porestaca, porém geram raízes menosramificadas.

Utilizam-se também segmentosde nós dos caules para oenraizamento tipo estaquia. Asmelhores estacas são aquelassemilenhosas, com dois nós, ouestacas de colo, com peso superior a6g. Podem ser obtidas mudas deapenas um nó, porém são menosvigorosas e tardias. As estacas sãopostas a enraizar em cinza de cascade arroz, sob telado com 70% desombra ou em áreas sombreadas. Arizogênese ocorre em cerca de oitodias e o índice de enraizamento dasestacas é de 100%.

Plantas oriundas de estacas dãoorigem a mudas mais uniformes.

As mudas são repicadas para ocampo no espaçamento de 1 x 0,4m,20 a 30 dias após a semeadura ouestaquia. A adubação básica consistena aplicação de 10t/ha de compostoorgânico ou cama-de-aviário. Oplantio pode ser feito o ano inteiro,no litoral, e a partir da primavera,no planalto.

Em solos arenosos pode ocorrerMeloidogyne javanica , umnematóide que infecta plantas dediferentes idades. A planta éeventualmente atacada porLyriomyza sp., inseto minador queescava galerias ao longo doparênquima da folha.

A colheita inicia a partir doprimeiro ano, se os níveis deβ-ecdisona estiverem acima de 0,7%.O rendimento de raízes é de 1,85 e3,98t/ha de raízes secas, no primeiroe segundo ano de corte,respectivamente (Tabela 1).

Figura 4. Segmentos nodais de ginseng-brasileiro

Figura 5. Raízes fatiadas de ginseng-brasileiro visando a secagem

Não se observa uma variaçãosignificativa no teor de β-ecdisonanas colheitas feitas no primeiro ousegundo ano. O rendimento de raízescolhidas no terceiro ano pode chegar

a quase duplicar em relação aoprimeiro ano.

Após o arranquio das raízes, estasdevem ser bem lavadas (sistemalava-jato) sobre bancadas teladas,

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44 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

cortadas em fatias finas (Figura 5) edesidratadas à temperatura de 50oCem estufas com fluxo contínuo dear. O material a ser secado deve serrevolvido duas vezes ao dia parasecagem mais homogênea e rápida.O material desidratado pode seracondicionado em sacos plásticosresistentes com capacidade de 20kg,sobreembalados com sacos de ráfia.O armazenamento dos sacos deveser feito em local arejado, salubre eabrigado do sol. As raízesdesidratadas podem ainda ser moídaspara se obter o pó bioativo (Figura6), que pode ser encapsulado paracomércio ou misturado com água ousuco de frutas para consumoimediato. Figura 6. Pó das raízes de ginseng-brasileiro

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Seção Técnico-científica

∗ ∗ ∗ ∗ ∗ Como aumentar a eficiência econômica dos recursos na produção de hortaliças..Irceu Agostini

Antonio Carlos Ferreira da Silva∗ ∗ ∗ ∗ ∗ Viabilidade do uso de fosfitos no controle da sarna-da-macieira .....................

José Itamar BonetiYoshinori Katsurayama

∗ ∗ ∗ ∗ ∗ Qualidade na produção de batata .........................................................Zilmar da Silva Souza

∗ ∗ ∗ ∗ ∗ Desempenho de hortaliças em sucessão de culturas, sob cultivo convencional eorgânico, no Litoral Sul Catarinense .........................................................

Antonio Carlos Ferreira da SilvaLuiz Augusto Martins Peruch

Darci Antonio Althoff

∗ Estudo da mesofauna edáfica em diferentes sistemas de manejo do solo e fontes denutrientes ........................................................................................

Carla Maria PandolfoCarlos Alberto Ceretta

Milton da VeigaEduardo Girotto

∗ ∗ ∗ ∗ ∗ Morfologia de gemas dormentes com um ano e dois anos de macieiras cultivadas emregiões com insuficiência de frio hibernal ..................................................

Ruy Inacio Neiva de CarvalhoFlávio Zanette

∗ Influência da temperatura e do período de molhamento foliar (PMF) na incidência eseveridade da mancha-foliar-da-gala (Colletotrichum spp.) ..............................

Natasha Akemi Hamada

∗ Uso do feromônio sexual sintético para o monitoramento da flutuação populacional datraça-do-tomateiro Tuta absoluta no Planalto Norte Catarinense ........................

Alvimar BavarescoAndré Nunes Loula Tôrres

Geraldo Pilati∗ Identificação da raça 73 de Colletotrichum lindemuthianum, agente causal daantracnose-do-feijoeiro, em dois municípios do Alto Vale do Itajaí, SC ................

Jean Carlos LoffaguenViviane Talamini

Marciel João Stadnik∗ ∗ ∗ ∗ ∗ Cultivares de morangueiro para sistema de produção orgânica ......................

Luiz Augusto Ferreira VeronaCristiano Nunes Nesi

Eloi Erhard SchererCarla Gheller

Rogério Grossi∗ Tempo de imersão de cistos em solução de metidatiom para controle dapérola-da-terra, Eurhizococcus brasiliensis ..................................................................

Eduardo Rodrigues HickelEnio Schuck

Informativo Técnico

Artigo Científico

Nota Científica

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Germoplasma e Lançamento de Cultivares

∗ ‘Castel Gala’ – mutação da macieira ‘Gala’ com baixa necessidade de frio e maturaçãoprecoce ...........................................................................................

Frederico DenardiJânio José Seccon

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Catarinense

Catarinense

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ISSN 0103-0779

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Indexada à Agrobase

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICO-CIENTÍFICOS NESTA EDIÇÃO: Antônio Carlos Ferreira da Silva, Alvadi Antônio BalbinotJúnior, Alvimar Bavaresco, Áurea Teresa Schmitt, Carlos Leomar Kreuz, Clori Basso, Darci Camelatto, Eduardo Carlos Humeres Flores, EduardoRodrigues Hickel, Eliane Rute de Andrade, Ernildo Rowe, Faustino Andreola, Flávio Gilberto Herter, João Américo Wordell Filho, Jonas Ternes dosAnjos, José Itamar da Silva Boneti, José Luiz Petri, José Maria Milanez, Leandro do Prado Wildner, Luis Augusto Araújo, Luiz Antonio Chiaradia,Moacir Antonio Schiocchet, Murito Ternes, Nelson Cortina, Onofre Berton, Roger Delmar Flesch, Walter Ferreira Becker

Catarinense

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47Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

O

Como aumentar a eficiência econômica dosComo aumentar a eficiência econômica dosComo aumentar a eficiência econômica dosComo aumentar a eficiência econômica dosComo aumentar a eficiência econômica dosrecursos na produção de hortaliçasrecursos na produção de hortaliçasrecursos na produção de hortaliçasrecursos na produção de hortaliçasrecursos na produção de hortaliças

Irceu Agostini 1 eAntonio Carlos Ferreira da Silva2

objetivo do agricultor étransformar o resultado desua atividade agrícola em

mais dinheiro no bolso. Riscos àparte, certamente ninguém duvidadesta afirmação. Entretanto, naspoucas vezes em que sãomencionados, seja na literaturaagronômica, seja em reuniõestécnicas, os indicadores econômicossão quase sempre expressos em“mais lucro por hectare” e não em“mais dinheiro no bolso doprodutor”. Isto vem a ser a mesmacoisa? Em outras palavras, nacomparação entre dois sistemas,sempre que aumenta o lucro porhectare entra mais dinheiro nobolso do agricultor?

A análise tradicional esua limitação

Sob o ponto de vista da análisetradicional isto realmente é amesma coisa, ao menosaparentemente. Na prática, porém,este raciocínio esconde apressuposição de que o agricultorpode cultivar toda a área disponívele na forma de cultivo que desejar(densidade de plantio, no caso destetrabalho) que não lhe faltará mão--de-obra nem capital, o que nemsempre é verdadeiro. Veja-se o caso de um agricultorque optar pela densidade de plantioque lhe proporcione o maior lucropor hectare, mas a quantidade de

mão-de-obra e/ou capital que eledispõe só é suficiente para o cultivode apenas uma parte da áreadisponível. Este agricultor terá quefazer uma escolha: cultivar só umaparte da área utilizando a densidadede maior lucro por hectare oucultivar uma área maior (numadensidade menor) contentando-secom um lucro por hectare menor.Qual escolha resultará em maisdinheiro no bolso do produtor? Estaé a questão que se pretenderesponder com este trabalho.

Não há como fazer esta escolhacorretamente sem que se saiba qualdos três fatores de produção (terra,capital e mão-de-obra) é o maislimitante. Assim, a resposta a estaquestão terá que ser obtida pelaanálise sistêmica, pois pela análisetradicional a escolha é sempre feitade maneira mecanicista, com baseapenas no maior lucro por hectare,o que nem sempre é correto.

Conceitos

Análise tradicional é aquela quese baseia apenas no recurso terra,o que implica pressupor que esteseja o recurso mais limitante,independentemente do tipo decultura ou forma de cultivo, seintensiva ou extensiva. É o tipo deanálise que predomina nos meiostécnicos.

Análise sistêmica é aquela emque todos os fatores de produção são

examinados, não apenas a terra, daío nome “sistêmica”. No presentetrabalho o conceito de análisesistêmica é bem restrito. Suaabrangência é menor que aencontrada na maior parte dostrabalhos publicados e se resumetão somente a uma rápida análiseda terra, do capital e da mão-de--obra, com a finalidade de definirqual destes fatores é o maislimitante. Este é o tipo de análiseefetuado pelos produtores, quasesempre de modo intuitivo.

Fator de produção (ou recurso)mais escasso (ou mais limitante) éaquele utilizado até o máximo desua disponibilidade e, por isso, é oque acaba limitando a produção,mesmo que haja sobra nos outrosfatores.

Objetivos

Este trabalho destina-se atécnicos não familiarizados com aeconomia e com a administraçãorural e teve como objetivo geral: a)verificar a possibilidade de seaumentar a eficiência econômica nouso dos recursos de uma proprie-dade através de uma análisesistêmica; b) estabelecer umconfronto da análise sistêmica coma tradicional.

Especificamente, pretendeu-se:a) verificar a densidade de plantiomais econômica na cultura dabatata, tanto para a análise

Aceito para publicação em 17/11/2004.1Eng. agr., M.Sc., Embrapa/Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 341-5244, fax: (47) 341-5255, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone/fax: (48) 465-1209, e-mail:[email protected].

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tradicional como para a análisesistêmica; b) verificar em quanto atecnologia proposta neste trabalho(a análise sistêmica) pode contribuirpara o aumento do lucro de umsistema de produção através de umnovo arranjo dos recursosexistentes na propriedade.

Dados

O tema deste trabalho fazreferência às hortaliças apenascomo um exemplo, por tratar-se decultivos intensivos. Neste tipo decultivo a análise tradicional é poucoapropriada por ser pouco provávelque o fator de produção maislimitante seja a terra, o pressupostodesta análise.

A fonte dos dados é umexperimento executado na Epagri/Estação Experimental de Itajaí, nosanos de 1984 a 1986 (Silva et al.,1988), com a cultura da batata paraconsumo, plantio de outono. Foiconsiderado o capital como o recursomais limitante nesta cultura,enquanto a mão-de-obra foiconsiderada como não-limitante e,por isso, ela não aparece na análise.No Boletim Técnico no 101 (Agostini& Silva, 1998) pode ser encontradoum exemplo com pepino paraconserva, cujo recurso maislimitante é a mão-de-obra nacolheita.

A moeda utilizada para os cál-culos envolvendo dinheiro é cha-mada neste trabalho de unidade mo-netária (u.m.). Pode-se imaginá-la

como uma moeda qualquer que sejade boa estabilidade.

Metodologia

O método empregado nestetrabalho baseou-se no princípio deque o sistema mais econômico é oque apresenta o maior lucro emrelação ao recurso mais escasso.Assim, se o recurso mais escasso éa terra, que é o pressuposto daanálise tradicional, então o sistemamais econômico é aquele queapresenta o maior lucro porhectare. Entretanto, se o recursomais escasso é a mão-de-obra, entãoo sistema mais econômico é aqueleque apresenta o maior lucro por dia--homem trabalhado. E se o recursomais escasso é o capital, então osistema mais econômico é aqueleque apresenta a maior taxa deretorno (definida como o lucro porreal investido, expresso empercentual).

Identificação do fatormais limitante

Para fazer a identificação dofator mais limitante bastaperguntar ao agricultor por que elenão amplia a área do cultivo emquestão (a batata, no caso).Certamente ele não terá muitadificuldade em responder, pois issofaz parte do seu cotidiano. Nestetrabalho identificou-se que o recursomais limitante é o capital financeiropara a compra da “semente” e do

adubo, já que o custo destes insumospode representar até 60% do custototal da cultura da batata. Por causadeste alto custo o produtor costumautilizar “semente” própria em boaparte da área, o que é um problemaporque normalmente ela é de baixaqualidade.

Resultado e discussão

Observa-se na Tabela 1 que naanálise tradicional a área é fixa(porque a terra é, por pressuposto,o fator mais limitante), variando ocapital, que é o custo com “semente”e adubo. Já na análise sistêmica, oque é fixo é o capital (porque sepressupõe que seja este o recursomais limitante), variando a área.

Sistema mais econômico

Se o produtor identificar que orecurso mais limitante é a terra,pressuposto da análise tradicional,então a densidade mais econômicaé a de 58 caixas por hectare, porapresentar o maior lucro porhectare. Seu valor é 132 unidadesmonetárias. Esta densidade é a queresulta em mais dinheiro no bolsodo produtor, tanto para a análisetradicional como para a análisesistêmica. Só ocorre estacoincidência no caso em que orecurso mais limitante é a terra.Nota-se que, nesta densidade, ataxa de retorno não é máxima.

Por outro lado, se o produtoridentificar que o recurso maislimitante é o capital e não a terra,então a análise tradicional nãoserve para este caso e,conseqüentemente, a densidade de58 caixas por hectare não é a maiseconômica. Observa-se na Tabela 1que com o mesmo capital empregadono cultivo de 1ha na densidade de58 caixas por hectare (361 u.m.),torna-se possível cultivar 1,57ha sefor empregada apenas a metade dadensidade (29 caixas por hectare).O lucro total deste sistema é de181,3 u.m., um valor bem acima das132 u.m. obtidas com o sistemamais econômico, segundo a aná-lise tradicional. Esta é a den-sidade que resulta em maisdinheiro no bolso do produtorpara situações em que o capitalé o recurso mais limitante.

Vista pacial do experimento sobre densidade de plantas em batata-consumo,na Epagri/Estação Experimental de Itajaí, SC

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Tabela 1. Determinação da densidade mais econômica na cultura da batata para consumo para dois tipos deanálise econômica. Os valores monetários estão em unidades monetárias (u.m.) (1). Santa Catarina, junho de 2004

Análise tradicional(3) Análise sistêmica(4)

Densidadede Custo com Lucro

Área Produção LucroTaxa(10)

plantio(2) “semente” e Rendimento por deadubo(5) hectare(6) total(8) total(9) total(7)

retorno

Caixas/ha u.m./ha t/ha u.m./ha ha t u.m. %

20 190,0 11,4 9,0 1,90 21,66 17,1 2,3

25 212,5 12,9 39,0 1,70 21,93 66,3 9,7

29 230,5 15,6 115,5 1,57 24,49 181,3 26,8

39 275,5 16,9 116,0 1,31 22,14 152,0 24,4

58 361,0 19,8 132,0 1,00 19,80 132,0 23,5

75 437,5 20,6 83,5 0,83 17,10 69,3 13,1

100 550,0 21,8 13,0 0,66 14,39 8,6 1,7

150 775,0 22,2 -198,0 0,47 10,43 -93,1 -20,3

(1) Unidade monetária (u.m.): imagine-se uma moeda qualquer, que seja de boa estabilidade.(2)Foram selecionados apenas os tratamentos economicamente mais relevantes do experimento.(3) Na análise tradicional a área está fixada (1ha), variando o custo com “semente” e adubo.(4) Na análise sistêmica o que está fixada é a disponibilidade de capital em 361 u.m., enquanto a área, a produçãoe o lucro variam em função desta disponibilidade de capital.(5) O custo do adubo é de 100 u.m. (para cada tratamento) e o restante do custo refere-se à “semente”.(6) Lucro por hectare. O cálculo em cada tratamento é: lucro por hectare = rendimento x preço – custo total porhectare. O preço da batata-consumo é de 35 u.m./t. O custo total por hectare é o custo da “semente” e do adubomais 200 u.m. (para cada tratamento) referentes aos demais custos.(7) É a área que pode ser cultivada supondo uma disponibilidade de 361 u.m. para comprar a “semente” e o adubo.Cálculo: 361/190 = 1,90; 361/212,5 = 1,70; 361//230,5 = 1,57 e, assim, sucessivamente.(8) É a produção obtida para uma disponibilidade de 361 u.m. para comprar a “semente” e o adubo. O cálculo emcada tratamento é: produção total = rendimento x área.(9) Lucro total: é o lucro do sistema. O cálculo em cada tratamento é: lucro total = lucro por hectare x área.(10) Taxa de retorno = (lucro por hectare)/(custo total por hectare) x 100, para cada tratamento. Ela também podeser calculada sobre o lucro total e o custo total que o resultado é o mesmo, lembrando que custo total = custototal por hectare x área.Fonte: Silva et al. (1988).

Nota-se que, nesta densidade, olucro por hectare não é máximo.

Como chegar ao sistemamais econômico

A disponibilidade de capital foiestipulada em 361 u.m. por ser aquantia necessária para o cultivo de1ha na densidade de 58 caixas porhectare, que é o sistema maiseconômico na análise tradicional.Parte-se desta disponibilidade decapital para facilitar comparações,mas pode-se partir de qualqueroutra. Assim sendo, com 361 u.m. oprodutor pode cultivar 1,90ha (361/190 = 1,90) na densidade de 20 cai-xas por hectare, ou 1,70ha (361/

212,5 = 1,70) na densidade de 25caixas por hectare, ou 1,57ha (361/230,5 = 1,57) na densidade de 29caixas por hectare, que é a mais eco-nômica, e assim sucessivamente. Apartir da área é possível calcular osdemais itens da Tabela 1.

Aplicações da análisesistêmica

A análise sistêmica desenvolvidaneste trabalho poderá ser útil todavez que se desejar fazer umacomparação de dois cultivos comrequerimentos muito diferentes deterra, mão-de-obra e capital ou deduas formas de produção para ummesmo cultivo ou criação, uma mais

intensiva e outra mais extensiva.As diferenças na disponibilidade

de terra, mão-de-obra e capitalentre os produtores são umponto-chave na escolha do sistemade produção mais econômico. Nopresente trabalho foi possívelaumentar em 37% o lucro doprodutor apenas com um novoarranjo entre estes recursos. Noentanto, a literatura agronômicanão tem dado a devida importânciaa este tema nas suas reco-mendações tecnológicas. Ela tem sepreocupado quase que exclusiva-mente com as diferenças agronô-micas entre produtores, comomicroclima e solo, quando tambémdeveria dar atenção para as

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50 Agropec. Catarin., v.18, n.1, mar. 2005

tecnologias de cunho gerencial,como os resultados obtidos nestetrabalho mostram.

A racionalidadeeconômica dosagricultores

A propósito da combinação maiseconômica (que reúne a área e adensidade) para situações em que ocapital é o recurso mais limitante,este trabalho permite levantar ahipótese de que existe uma razãode fundo econômico que justifica anão-adoção de algumas tecnologias,sobretudo aquelas voltadas para oaumento da produtividade “porhectare”. Um exemplo disso ocorrena produção de tomate, por ser umadas atividades que utiliza muitamão-de-obra (500 dias-homem porhectare) e muitos insumos. Orecurso mais limitante certamentenão será a terra, mas a mão-de-obraou o capital, dependendo doprodutor. Quando o produtor se vêcolocado diante de uma situaçãocomo esta, ele poderá preferiraumentar a produção pelo aumento

da área cultivada, o que é freqüente,e não pelo aumento da pro-dutividade. Se isto for feito elepoderá estar tomando uma decisãoracional do ponto de vistaeconômico, como mostram osresultados deste trabalho, emboraisto não implique afirmar que osagricultores sejam sempre racionaisem todas as suas decisõeseconômicas.

O preço da comodidade

A análise tradicional estabelecea pressuposição implícita de que orecurso mais limitante é a terra.Ocorre que, se a pressuposição nãoé verdadeira, o sistema com o maiorlucro por hectare não é aquele queresulta em mais dinheiro no bolsodo produtor. A diferença pode sergrande. Sabe-se que os produtores,cotidianamente, se vêem obrigadosa fazer, ainda que de forma intuitiva,a identificação do recurso maisescasso nos seus sistemas deprodução pois eles precisam destainformação para a condução dosmesmos. É possível até que ela sejafeita de modo mais adequado pelos

produtores do que pelos técnicos,porque os primeiros sentem maisfacilmente “onde o sapato aperta” eporque, certamente, já experi-mentaram o gosto amargo de umaidentificação mal feita.

É importante que em todas asanálises esta identificação seja feita,porque ajuda a entender maisfacilmente o processo utilizadopelos agricultores quanto àavaliação econômica das tecnologiase a entender a razão de suapreferência pelo aumento da áreacultivada do que pelo aumento dorendimento.

Literatura citada

1. AGOSTINI, I.; SILVA, A.C.F. da.Análise econômica de cultivosintensivos: enfoque tradicional xenfoque sistêmico. Florianópolis:Epagri, 1998. 35p. (Epagri. BoletimTécnico, 101).

2. SILVA, A.C.F. da; MULLER, J.J.V. ;AGOSTINI, I.; MIURA, L. Tecnologiasreduzem o custo de produção de batata--consumo. Agropecuária Catarinense ,Florianópolis, v.1, n.1, p.14-18, mar.1988.

Semeando conhecimento, colhendo qualidade.

Fique saben do!

toneladas por ano. Este é o número que faz de Santa Catarina o maior produtor de ostras e mexilhões do Brasil. Além de sua

importância cultural, a atividade gera mais de 6 mil empregos no litoral do Estado.

8 mil

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Viabilidade do uso de fosfitos no controleViabilidade do uso de fosfitos no controleViabilidade do uso de fosfitos no controleViabilidade do uso de fosfitos no controleViabilidade do uso de fosfitos no controleda sarna-da sarna-da sarna-da sarna-da sarna-da-macieirada-macieirada-macieirada-macieirada-macieira

José Itamar Boneti 1 e Yoshinori Katsurayama2

sarna (Figura 1) é a principaldoença de primavera emmacieira no Sul do Brasil,

principalmente nas regiões de maioraltitude, onde as condiçõesclimáticas são muito favoráveis paraa sua ocorrência (Boneti et al., 1999).Atualmente, o uso de fungicidas é aprincipal medida de controle, hajavista que as cultivares comerciaisplantadas no Brasil, Gala e Fuji, sãomuito suscetíveis a esta doença.Para tanto, são utilizados fungicidasprotetores, curativos e erradicantes,de acordo com a fenologia damacieira e dos períodos de infecçãodeterminados com uso da Tabela deMills (Mills, 1944). Alguns fungicidasprotetores, como mancozeb,chlorothalonil e benzimidazóis,estão com o número de aplicaçõescontrolado no sistema de produçãointegrada de maçãs, pois sãomaléficos aos inimigos naturais daspragas da macieira. Por outro lado,os fungicidas curativos, nota-damente os inibidores da biossíntesede ergosterol (IBE), utilizados parao controle da sarna, também nãopodem ser utilizados repetidamentepor problemas de resistência (Koller& Scheinpflug, 1987; Katsurayama& Boneti, 1997), o que requer abusca de produtos eficientes e maisseguros ao homem e ao meioambiente.

Descobrimento da açãofungicida dos fosfitos

Na década de 70, foram introdu-zidos vários fungicidas sistêmicospara o controle de oomicetos(Phytophthora, Pythium, etc.) emvárias culturas. Fosetyl-Al,pertencente ao grupo químico Etil--fosfanatos, foi um dos maisestudados. Segundo Cohen & Coffey(1986), este produto é degradadorapidamente nos tecidos da plantaaté formar o ácido fosforoso (H3PO3)

e CO 2. Enquanto que Fosetyl-Alapresenta baixa atividade in vitro, oseu metabólito, ácido fosforoso, émuito ativo na inibição de váriasespécies de Phytophthora ePythium. O H3PO3 é um compostocristalino, higroscópico, extrema-mente solúvel em água e muitofitotóxico. Entretanto, quandoneutralizado por uma base(hidróxido de potássio, hidróxido desódio ou hidróxido de amônio),resulta num sal denominado defosfito (ex.: KH2PO3, K2HPO3,). Estes

Aceito para publicação em 17/11/2004.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, Rua João Araújo Lima, 102, C.P. 81, 88600-000 São Joaquim, SC, fone/fax: (49) 233-0324, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, e-mail: [email protected].

A

Figura 1. Sintomas da sarna na (A) folha e no (B) fruto da macieira, coma presença de lesões esporuladas

A B

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compostos não são fitotóxicos eapresentam alta atividade fungicidana planta (Cohen & Coffey, 1986).

O fosfito de potássio, produto in-troduzido em 1977, por apresentaralta eficiência no controle de diversasdoenças causadas por Phytophthoraspp., tem sido muito estudado edesenvolvido para uso em váriasculturas na Austrália (Wicks et al.,1990). Apesar da eficiência observadano controle de algumas doenças,ainda não se conhece muito bem omodo de ação dos fosfitos sobre ospatógenos, havendo controvérsiasse eles apresentam efeito direto ouindireto. Vários trabalhosdemonstram que o fosfito atuadiretamente sobre o fungo (Fenn &Colley, 1984; Fenn & Coffey, 1985),enquanto que outros atribuem suaeficiência a um efeito indireto pormeio da ativação dos mecanismosde defesa da planta (Guest, 1986;Saindrenant et al., 1988; Sain-drenant et al., 1990). Neste caso, aaplicação do fosfito estimularia aprodução de fitoalexinas. Asfitoalexinas são compostos produ-zidos pelas plantas resistentes ouquando estas são infectadas poralgum patógeno e atuam protegendoa planta contra a infecção. SegundoSaindrenant et al. (1988), a aplicaçãoisolada de fosfito numa planta sadianão incita a produção de fitoalexinas.Estes compostos são produzidossomente quando as plantas tratadascom fosfito são infectadas por algumpatógeno. Por outro lado, algunstrabalhos (Smille et al., 1989;Jackson et al., 2000) têm demons-trado que o fosfito pode atuar tantodiretamente sobre os patógenosquanto indiretamente, e que a açãodepende da concentração e da suainteração com o patógeno ehospedeiro. Segundo estes autores,quando a concentração do fosfitodentro dos tecidos da planta é baixa,este interage com o patógeno noponto de penetração estimulando omecanismo enzimático de defesa daplanta. Por outro lado, se aconcentração for alta, o fosfito atuadiretamente sobre o patógenoinibindo o seu crescimento antesque este seja capaz de estabeleceruma associação com o hospedeiro.Neste caso, o mecanismo de defesada planta permanece inalterado.

Os fosfitos são rapidamente

absorvidos pelas plantas, por meiodas raízes, folhas ou tronco.Apresentam ação sistêmica e sãotranslocados via xilema ou floema(Guest & Grant, 1991). Dependendoda cultura, a translocação das folhaspara as raízes pode ocorrer numprazo de até 24 horas (Rohrbach &Schenck, 1985) e permanecer ativapor até 160 dias, conforme observadoem cítrus (Matheron & Matjka,1988).

Apesar de muito estudadosquanto à ação fungicida, os fosfitostêm sido mais utilizados para ocontrole de míldios e doençascausadas por Phytophthora emvárias culturas, tais como cítrus,abacate, abacaxi, videira, essênciasflorestais, pastagens e hortaliças demodo geral. São poucos os trabalhosrelacionados com o controle dasdoenças na cultura da macieira. NaNova Zelândia, Geelen (1999) relataa boa eficiência do fosfito no controleda sarna e oídio-da-macieira, emcondições de baixa pressão dedoença. Este autor menciona aindaque os melhores resultados foramobtidos com a mistura de fosfito e ofungicida metiram. No Brasil, váriostrabalhos têm evidenciado opotencial dos fosfitos para o con-trole das doenças da macieira(Katsurayama & Boneti, 1999;Valdebenito-Sanhueza, 1999;Katsurayama et al., 2001; Boneti &Katsurayama, 2002a e 2002b), cujosresultados serão apresentados ediscutidos neste trabalho. Todos osresultados foram baseados emresultados obtidos com as seguintesformulações: fosfito de K (Fitofos KPlus - 0% de N, 40% de P2O5 e 20% deK2O), captan (Captan SC – 480g/L decaptan) e Score 250 CE (difeno-conazole – 250g/L).

Uso dos fosfitos no controleda sarna-da-macieira(Venturia inaequalis)

No ciclo 2000/01, quando ascondições climáticas foram muitofavoráveis para a ocorrência da sarna(94% e 74,8% de sarna nas folhas enos frutos das plantas testemunhas,respectivamente), observou-se quedez aplicações semanais do fosfitode K (250ml/100L), durante todo ociclo primário, foram muitoeficientes no controle da sarna. Não

houve diferença entre o uso do fosfitoe da mistura de fungicidas-padrão(difenoconazole + captan – 10ml +200ml de p.c./100L) para o controledesta doença. As misturas de fosfitode K com fungicidas convencionaistambém foram muito eficientes. Ofosfito de K não aumentou aseveridade de “russeting” em relaçãoà testemunha, observando-se apenasuma leve clorose nos bordos dasfolhas e estreitamento dos folíolosdos ramos terminais da macieira(Figura 2). Entretanto, cessadas asaplicações do fosfito de K, ossintomas de clorose desapareceramsem causar nenhum dano aparenteàs plantas.

No ciclo 2001/02 a pressão dasarna (27% e 48% nas folhas e nosfrutos das plantas testemunhas,respectivamente) não foi tão altaquanto a verificada no ciclo anterior.Nesta condição, o fosfito de Ktambém apresentou bomdesempenho quando misturado emdiferentes doses com o fungicidacurativo difenoconazole, utilizadoem aplicações semanais. Não houvediferença entre as doses de 100, 150e 200ml/100L do fosfito de K emmistura com difenoconazole (10mlde p.c./100L). Nestas doses não seobservou o efeito de clorose dasnervuras das folhas. Nas aplicaçõesefetuadas em mistura de tanquecom o fungicida captan, o fosfito deK também apresentou a mesmaperformance, não diferindo damistura-padrão (difenoconazole +captan).

O intervalo entre as aplicaçõesapresentou a tendência deinfluenciar a performance do fosfitode K. A eficiência no controle dasarna nas folhas não foi tãoinfluenciada quanto a observada nosfrutos. Melhores resultados foramobtidos com aplicações realizadas acada sete a dez dias. Nas aplicaçõesefetuadas a cada dez e 14 dias houvea tendência de maior severidade dadoença nos frutos. Não se observoudiferença entre as doses de 200 e250ml/100L.

Na condição de alta pressão desarna (88% e 97,5% nas folhas e nosfrutos das plantas testemunhas,respectivamente), conforme obser-vado no ciclo 2002/03 o fosfito de K,aplicado isoladamente a cada setedias, foi muito eficiente no controledesta doença nas folhas da macieira,

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não se observando diferença entreas doses de 200 e 250ml/100L. Entre-tanto, o controle foi ainda melhorquando este produto foi misturadocom captan (170ml de p.c./100L) oudifenoconazole (10ml de p.c./100L).Neste caso, foi tão eficiente quantoa mistura-padrão de fungicidas(difenoconazole + captan). Na ava-liação da sarna nos frutos, observou--se que o fosfito de K aplicado isolada-mente não foi tão eficiente quanto oaplicado nas folhas, cuja incidênciafoi de 23%. Entretanto, apesar daalta incidência de sarna nos frutos,observou-se que as lesões eram pe-quenas e apresentavam um aspectode manchas erradicadas (Figura 2)semelhantes ao observado apósaplicação do fungicida dodine. Estaconstatação de possível efeitoerradicante necessita ser compro-vada. Por outro lado, quando o fosfitode K foi misturado com os fungicidasdifenoconazole (10ml de p.c./100L)ou captan (170ml de p.c./100L),observaram-se altos níveis decontrole, não diferindo da mistura--padrão de fungicidas.

Nos ensaios realizados em casa--de-vegetação (Figura 3), com aplica-ções em pré e pós-inoculação, o fos-fito apresentou alta eficiência so-mente quando aplicado sete diasantes da inoculação. Nas aplicaçõesrealizadas um dia, três e cinco diasantes da inoculação, a eficiência foimédia ou baixa. Além disso, quandoeste produto foi aplicado um dia,dois, três e quatro dias após a

inoculação (efeito curativo), aeficiência foi muito baixa. Estesresultados indicam que, no caso dasarna-da-macieira, o fosfito de Kpode atuar tanto direta quantoindiretamente, uma vez que aresposta de controle só se manifestacerca de sete dias após a aplicação.Seria importante conhecer melhoro período de maior proteção dasplantas após a aplicação do fosfito,sua concentração no interior dostecidos da planta e a comprovaçãoda produção de fitoalexinas ououtros compostos após a aplicaçãodeste produto, na presença ou nãode infecção.

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Figura 2. Clorose, (A) estreitamento da folha e (B) lesão nos frutos damacieira causados pela aplicação seqüencial de fosfito

Fonte: Boneti & Katsurayama (2002a e 2002b).

Figura 3. Efeito do fosfito de K (300ml/100L) aplicado antes (1 dia, 3, 5 e7 dias) e após (1 dia, 2, 3 e 4 dias) a inoculação de V. inaequalis, no controleda Sarna. T = Testemunha (plantas não pulverizadas)

A B

0

20

40

60

80

1 2 3 4 T

Dias após a inoculação

Sar

na (%

)

0

20

40

60

80

1 3 5 7 T

Dias antes da inoculação

Sar

na (

%)

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Governo do Estado de Santa CatarinaSecretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento RuralEmpresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.

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55Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Qualidade na produção de batataQualidade na produção de batataQualidade na produção de batataQualidade na produção de batataQualidade na produção de batata

Zilmar da Silva Souza1

processo de globalização daeconomia associado à rapi-dez de disseminação das

informações tem aumentado acompetitividade de mercado e aexigência dos consumidores debatata. Neste contexto a qualidadepode ser um fator diferencial desucesso e de sobrevivência naatividade. A produção com qualidadesignifica melhor resultado epossibilidade de crescimento.Qualidade pode ser um conjunto decaracterísticas do produtoconsideradas relevantes para ocliente. A qualidade da batata édeterminada pela cultivar,condições climáticas, regiãoprodutora, insumos utilizados,tecnologia de produção, manejo pós--colheita, bem como pelo propósitoda produção: batata-semente,batata-consumo ou matéria-primapara processamento industrial. Estetrabalho objetiva realizar umaabordagem geral sobre os principaisfatores que afetam a qualidade naprodução de batata.

Componentes daqualidade da batata

Na produção de batata-sementeexistem normas e padrões oficiaisde certificação, que visam assegurarum nível mínimo de qualidade aoconsumidor. A qualidade da batata--semente está relacionada com aausência de mistura de cultivares,tubérculos de tamanho médio, comboa sanidade e conservação, idadefisiológica apta ao plantio, bomrendimento e certificação por umórgão competente.

Na produção de batata paraconsumo in natura, a qualidade estárelacionada às característicasexternas e internas dos tubérculos.O mercado brasileiro valoriza muitoo aspecto visual externo,relacionado a batatas com películaamarela, lisa e brilhante, graúdas,com polpa amarela ou creme, comgemas rasas, não esverdeadas, sembrotos, danos mecânicos, doençasou escurecimento na polpa e comboas qualidades culinárias. Ascultivares mais valorizadas paraconsumo in natura são Ágata,Asterix, Baraka, Bintje, Cupido,Monalisa e Mondial.

Atualmente a produção de batatasem agroquímicos, ou com usomínimo destes produtos, está setornando um importante fator dequalidade para o consumidor.

A produção de batata paraindústria tem exigências espe-cíficas com relação à qualidade damatéria-prima. No Brasil, poucascultivares atendem a estesrequisitos com custo de produçãocompatível. As principais formas deindustrialização da batata são:“chips”, frita, batata-palha e pré--frita. Outros produtos como flocos,purê, produção de amido, enlatadose demais derivados têm menorimportância no Brasil. Os principaisrequisitos de qualidade são aquelesrelacionados ao rendimento paraindústria, tais como altaporcentagem de matéria seca,baixos teores de açúcares redutores,tubérculos graúdos, nãoesverdeados e sem brotos, formatotípico da cultivar, boa sanidade econservação, gemas rasas, ausência

de manchas internas, de defeitosmorfofisiológicos ou de danosmecânicos. A cor da polpa pode serum fator de qualidade paradeterminados segmentos demercado, pois o aspecto, a cor, o teorde gorduras e o sabor são decisivospara a qualidade do produto final.

A matéria seca e os açúcaresredutores são os fatores maisrelevantes na avaliação do potencialqualitativo da matéria-prima, sendoque estão negativamentecorrelacionados (Lisinska &Leszczynski, 1989). Eles sãoinfluenciados por: cultivar, local deprodução, qualidade da batata-se-mente plantada, fotoperíodo,temperatura, intensidade luminosa,suprimento de água, condições desolo e adubação (Midmore, 1987). Aporcentagem de matéria seca deveestar entre 20% e 24% e os açúcaresredutores, entre 0,2% e 0,3% do pesoda batata (Beukema & Zaag, 1990).Existe correlação positiva entre acoloração escura do produtoprocessado e a concentração deaçúcares redutores na matéria--prima. A cor escura é geralmenteassociada a um sabor amargo, fatorque limita o uso comercial doproduto final (Lisinska &Leszczynski, 1989).

Atualmente as cultivares maisutilizadas na indústria brasileira sãoAtlantic e Panda. Entretanto,outras cultivares têm potencial deuso, tais como Agria, Asterix,Baraka, Bintje, Catucha, Donald,Hertha, Kennebec, Lady Rosseta,Novachip, Marijke, Pepo, Rooster eSaturna. A importante cultivarnorte-americana Russet Burbank e

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, C.P. 81, 88600-000 São Joaquim, SC, fone: (49) 233-0324, e-mail:[email protected].

O

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a canadense Shepody, interna-cionalmente utilizadas, nãoapresentam boa adaptação àsregiões de produção no Brasil.

Fatores que afetam aqualidade da batata

A escolha da cultivar é um fatorprimordial em função do objetivoque se destina à produção (batata--semente, mesa ou processamento).Cada cultivar tem uma adequaçãode uso. O consumidor brasileiroainda não associou a cultivar àaptidão de uso. O conhecimento dascaracterísticas das cultivaresdisponíveis para plantio vaipossibilitar a escolha da maisapropriada para cada situação.

As cultivares de batata têmcaracterísticas específicas dequalidade para a finalidade deutilização. A cultivar Ágata, indicadapara mercado de consumo innatura , tem o aspecto externo dostubérculos melhorado após obeneficiamento. A cultivar Atlanticnão apresenta uma boa aparênciaexterna mas tem boa qualidade paraprocessamento industrial (Figura1).

A batata é uma planta típica declima temperado, mas se adapta àstemperaturas de regiões de maioraltitude nos trópicos. Quando écultivada em condições de tem-peraturas amenas, como as sul-bra-sileiras, são observadas certasalterações na fisiologia da plantaque influenciam na sua adaptação eno seu potencial produtivo. Osprocessos biológicos atingem umótimo na faixa dos 20 a 25oC, após a

qual se observa uma redução daeficiência produtiva (Midmore,1987).

O preparo do solo influencia naformação do sistema radicular, narápida emergência, na formação dosestolões, bem como no aumento donúmero de tubérculos, na maiortolerância a estiagens e na reduçãoda ocorrência de defeitosfisiológicos. Também é importanteobservar a localização do plantio,pois áreas com má drenagem sãoimpróprias para o desenvolvimentodas plantas e podem causarpodridões nos tubérculos, reduzindoa produção e a qualidade.

A produção de batata tambémexige fertilização equilibrada emnitrogênio, fósforo e potássio,associados com micronutrientes,para um alto rendimento comercial.O desequilíbrio nutricional reduz aporcentagem de matéria seca,aumenta os açúcares redutores e aocorrência de manchas internas nostubérculos (Lisinska & Leszczynski,1989). Doses altas de adubo acimada recomendação técnica afetamnegativamente a qualidade damatéria-prima para processamento.

A qualidade fitossanitária efisiológica da batata-semente afetaa emergência, o desenvolvimento,o rendimento e o tamanho comer-cial dos tubérculos produzidos. Paraa produção de batata-sementeutilizam-se espaçamentos menores,enquanto que para a produção debatata-consumo ou indústria énecessário maior espaçamento parase obter alta produtividade eelevada porcentagem de tubérculosgraúdos (Beukema & Zaag, 1990).

Um eficiente controle fitos-sanitário também é fator impor-tante na obtenção de altas produçõese boa qualidade comercial. Perdasna folhagem durante o ciclovegetativo pelo ataque de doençasou pragas reduzem o ciclo, aprodução, o tamanho dos tubérculos,alteram a composição química,reduzem a quantidade de matériaseca e aumentam os açúcaresredutores (Lisinska & Leszczynski,1989). A ocorrência de algumasviroses pode causar manchasinternas e externas nos tubérculos.O ataque de doenças fúngicas nafolhagem, como requeima(Phytophthora infestans) e pinta--preta (Alternaria solani), podecausar podridões nos tubérculos. Aocorrência de bacterioses nostubérculos, como a murchadeira(Ralstonia solanacearum), a canela--preta (Erwinia spp.) ou outras,inviabiliza a utilização da batata.Em adição, outras doenças, comofusariose (Fusarium spp.),rizoctoniose (Rhizoctonia solani),sarna-comum (Streptomices scabies)e sarna-pulverulenta (Spongosporasubterranea ), também causamredução na produção e na qualidadeda matéria-prima (Lisinska &Leszczynski, 1989).

A água, elemento essencialpara a sobrevivência dos seresvivos, constitui cerca de 70% a 80%da batata. O abastecimento deágua pela chuva ou irrigação emcada estágio de desenvolvimentoda planta é muito importantepara assegurar boa qualidade dostubérculos. Na fase de formaçãodos tubérculos, o suprimento insu-ficiente de água reduz o número

destes e aumenta a ocorrênciade sarna-comum. Com a falta deágua, o crescimento das plantase a produtividade são menores.Em função da ineficácia deutilização da energia luminosa,o ciclo vegetativo é reduzido,há maior incidência de defeitosfisiológicos internos (coraçãooco e manchas ferruginosas) eexternos (embonecamento,rachaduras e crescimentosecundário), com redução doconteúdo de matéria seca eaumento dos açúcares reduto-res.

Tubérculos mantidos no solopor mais de 30 dias após secar a

Cultivar Ágata Cultivar Atlantic

Figura 1. Cultivares de batata antes do beneficiamento e após

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folhagem perdem aspecto visual equalidade para comercialização.Temperaturas elevadas nesteperíodo também aumentam asperdas pela aceleração darespiração.

Muitos danos mecânicos sãocausados na colheita por máquinase equipamentos agrícolas ou pelomanuseio impróprio. Colheitas emperíodos de seca aumentam os danosfisiológicos internos dos tubérculos,enquanto que esta operaçãorealizada com solo muito úmidodesfavorece a qualidade peloaparecimento de podridões noarmazenamento ou durante acomercialização. As quedas nocarregamento ou descarregamentodevem ser evitadas e as partesmetálicas dos equipamentos devemser protegidas com borracha.

O armazenamento deve serrealizado com o objetivo de reduziros prejuízos causados pelo ambienteem pós-colheita. Nesta fasetambém se exigem cuidados com olocal e o manuseio para evitarperdas de qualidade. Isto pode serplanejado na colheita com o uso deembalagens apropriadas. Oambiente de armazenamento deveter ventilação suficiente para evitara multiplicação de doenças quecausam perdas de qualidade. Emcondições de temperaturas abaixode 7oC, ocorre a formação deaçúcares redutores que depreciama qualidade para processamento,alterando a cor dos produtoselaborados (Beukema & Zaag,1990).

Outro aspecto importante é quebatatas destinadas ao consumo ouao processamento devem serarmazenadas protegidas da luz, poisesta provoca esverdeamento. Oesverdeamento ocorre devido àformação de clorofila na película dostubérculos, acompanhada pelaformação de glicoalcalóides, que sãosubstâncias tóxicas para o homem(Beukema & Zaag, 1990). En-tretanto, o esverdeamento é umfator positivo para a batata-se-mente, já que promove maiorresistência da película a doenças,maior conservação e formação debrotação mais vigorosa.

Antes da comercialização, ostubérculos devem ser classificadosem tamanhos determinados pelopadrão oficial (batata-semente) ou

conforme a exigência do mercadocomprador de batata para consumoou indústria. Na fase de classificaçãopodem também ocorrer perdas emqualidade devido ao manuseioimpróprio. A classificação érealizada para eliminar tubérculosportadores de doenças, atípicos emachucados. Nesta fase, danos nostubérculos alteram a composição deaçúcares.

No tubérculo de batata emrepouso, muitas reações químicascontinuam após a colheita e noarmazenamento (Zaag, 1993). Oproduto deve ser acondicionado emembalagens próprias, conformedetermina o mercado ou o cliente.Muitas perdas de qualidade sãoobservadas nos locais decomercialização. Tubérculosexpostos à luz em supermercados eoutros pontos de venda tornam-seesverdeados e impróprios para aalimentação. As cultivares maissensíveis iniciam o esverdeamentodos tubérculos a partir do terceirodia de exposição.

Considerações finais

A produção de batata nosegmento semente, consumo e

indústria deverá acompanhar astendências de mercado. Para tantoé necessário priorizar a qualidadedurante toda a cadeia produtiva. Aprodução voltada para a qualidadedeverá iniciar muito antes dopreparo do solo, na aquisição deinsumos, no plantio e na conduçãoda lavoura. A condução com base empadrões técnicos a fim de satisfazero cliente é condição fundamental.Estes fatores vão permitir aos pro-dutores melhorar a rentabili-dade e a sustentabilidade da ati-vidade.

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Vista de uma lavoura de batata tecnicamente bem conduzida na SerraCatarinense

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58 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Desempenho de hortaliças em sucessão de culturas, sobDesempenho de hortaliças em sucessão de culturas, sobDesempenho de hortaliças em sucessão de culturas, sobDesempenho de hortaliças em sucessão de culturas, sobDesempenho de hortaliças em sucessão de culturas, sobcultivo convencional e orgânico, nocultivo convencional e orgânico, nocultivo convencional e orgânico, nocultivo convencional e orgânico, nocultivo convencional e orgânico, no

Litoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul Catarinense

Antonio Carlos Ferreira da Silva1, Luiz Augusto Martins Peruch2 eDarci Antonio Althoff3

preocupação com a saúde e aprocura por alimentos sau-dáveis é uma tendência

mundial. Os alimentos orgânicos,por não utilizarem fertilizantes eagrotóxicos de síntese química noprocesso de produção, sãoconsiderados ideais para o consumo.Quando comparados aos produzi-dos no cultivo convencional, os orgâ-nicos apresentam uma composiçãomais diversificada e rica emminerais, fitormônios, aminoácidose proteínas, bem como maioresteores de carboidratos e matériaseca (Souza, 2003a). Além do maiorcusto, devido à dependência externa,os agroquímicos contaminam olençol freático e córregos de água,colocando em risco a saúde doprodutor, do consumidor e do meioambiente.

A exploração equilibrada do solo,através da sucessão de culturasnuma mesma área, é fundamentalna produção de hortaliças, poispermite explorar os nutrientesracionalmente, através daalternância de espécies comdiversidade na exigência denutrientes e/ou mais rústicas,evitando o esgotamento do solo,além de aproveitar melhor opotencial do solo com os diferentessistemas radiculares (Souza, 2003a).

O trabalho teve como objetivoavaliar o desempenho de hortaliças,em sucessão de culturas, quanto àincidência de doenças, produtividadee qualidade, no cultivo convencionale orgânico.

Condução da unidade deobservação

A unidade de observação,conduzida entre junho de 2001 e

dezembro de 2004 na Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga (Figu-ra 1), foi instalada em solo PodzólicoVermelho-Amarelo cascalhentoepieutrófico ócrico (argissolo deorigem granítica). Os sistemas deprodução, espécies utilizadas emsucessão e as análises químicas dosolo realizadas no período constamda Tabela 1. A correção da acidez ea adubação de plantio e de coberturaforam realizadas com base na análise

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone/fax: (48) 465-1209, e-mail:[email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

A

Figura 1. Vista parcial do cultivo orgânico de batata-doce, couve-flor efeijão-vagem

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do solo, seguindo-se a recomendaçãoda Sociedade Brasileira de Ciênciado Solo (1995). A irrigação poraspersão foi utilizada quandonecessária. A composição químicada cama de aviário e compostosorgânicos utilizados estão na Tabe-la 2. As práticas culturais foramrealizadas de acordo com asrecomendações técnicas para cadaespécie. Na cebola, no tomate e navagem adotou-se o sistema de cultivomínimo.

As hortaliças foram avaliadasquanto ao rendimento total ecomercial, em parcelas de 12m2

(4mx3m), sem repetição. Os danoscausados pelos patógenos foramquantificados através do índice deseveridade da doença (ISD),calculado pela expressão ISD = Σ S /Σ NF, sendo S o grau de severidadeda folha e NF o somatório de folhas.A severidade das doenças foi avaliadacom auxílio de escalas diagramáticascom graus de severidade de zero a100% para cebola e descritivasvariando de zero a 50% para cenoura(Azevedo, 1998).

Manejo do sistema deprodução convencional

A adubação de plantio e decobertura foi com salitre-do-chile enitrato de cálcio, respectivamente,na cebola, tomate, cenoura e couve--flor. No tomate e cenoura aplicou--se também, com antecedência,10t/ha de cama de aviário de corte.A adubação de plantio na alfaceconstou de 10 a 15t/ha de cama deaviário de corte e nitrato de cálcio,em cobertura. Nas demais culturasaplicou-se apenas o nitrato de cálcioem cobertura. Não se utilizou adubofosfatado de síntese química devidoao alto teor de fósforo encontradono solo (Tabela 1).

No feijão-vagem semeadodiretamente na cova aplicou-se comantecedência um herbicida à basede glifosate. No cultivo de cenouraaplicou-se um herbicida à base delinuron, logo após a semeadura. Notomate e cebola foram realizadas 15pulverizações, sendo 12 comfungicidas de contato à base demancozeb e oxicloreto de cobre etrês com sistêmicos à base de

Tabela 1. Valores médios do pH e teores de P, K, matéria orgânica, Ca eMg no solo, em diferentes sistemas de sucessão de culturas, no cultivoconvencional e orgânico – 2001 (valores iniciais) e média de 2002, 2003 e2004. Epagri/EEUR, Urussanga, SC, 2005

Sistema de cultivo pH P K M.0. Ca(1) Mg(1)

Água ...mg/L... % ...cmolc/L...

Sistema “tomate/feijão-vagem”

• Valores iniciais (2001) 5,6 232 130 2,2 - -

Cultivo convencional 5,8 280 225 2,2 5,3 1,2

Cultivo orgânico 6,1 437 255 2,4 5,9 2,1

Sistema “cenoura/alface/couve-flor”

• Valores iniciais (2001) 5,6 228 147 2,2 - -

Cultivo convencional 5,8 339 197 2,3 5,6 1,5

Cultivo orgânico 6,6 454 237 3,2 7,1 3,0

Sistema “cebola/batata-doce/aveia”

• Valores iniciais (2001) 5,4 106 60 1,8 - -

Cultivo convencional 5,7 49 80 1,8 4,0 1,4

Cultivo orgânico 6,4 301 124 2,6 6,1 2,3

(1)Os teores de cálcio e magnésio em 2001 (valores iniciais), foramanalisados em conjunto, totalizando 3,7; 4,0 e 3,6cmolc/L, no sistema“tomate/vagem”, “cenoura/alface/couve-flor” e “cebola/batata-doce/aveia”,respectivamente.Nota: mg/L = ppm; cmolc/L = me/dl.

Tabela 2 . Análise de macro e micronutrientes de compostos orgânicos ecama de aviário utilizados na produção de hortaliças, no período de 2001a 2004(1) . Epagri/EEUR, Urussanga, SC, 2005

Tipo Macronutriente Micronutrientede compostoorgânico N P K Ca Mg Fe Mn Zn Cu B

....................%.................... ........mg/kg = ppm........

A 0,34 0,15 0,02 1,06 0,14 18.460 64 64 256 1

B 2,99 3,24 2,61 6,04 1,62 2.293 691 549 169 46

C 2,75 1,39 1,44 2,60 0,72 4.105 526 401 64 13

Cama de aviário

Postura 2,04 2,49 2,80 9,84 1,06 918 239 160 23 47

Corte 1,75 1,84 0,84 3,30 0,84 13.787 730 420 70 15

(1) Análises realizadas pelo Laboratório de Nutrição Vegetal da EstaçãoExperimental de Caçador.A = Composto orgânico elaborado na EEUR em 2001 (bagaço de cana-de--açúcar + cama de aviário de corte).B = Composto elaborado em 2002 (capim-elefante-anão novo = 3 meses +cama de aviário de postura).C = Composto elaborado em 2003 (capim-elefante-anão mais velho = 4 a5 meses + cama de aviário de corte).

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metalaxyl (tomate) e bromoconazole(cebola). No controle de pragasrealizaram-se cinco pulverizaçõescom inseticida à base dedeltamethrin.

Manejo do sistema deprodução orgânico

A cebola, tomate, cenoura, alfacee couve-flor foram adubados comcomposto orgânico, por ocasião doplantio, na quantidade de 30t/ha(capim-elefante-anão + cama deaviário de postura) a 50t/ha (bagaçode cana + cama de aviário de corte)ou 20t/ha de cama de aviário decorte (Tabela 2). No feijão-vagem ena batata-doce aplicou-se apenasadubação de cobertura com compostoorgânico ou cama de aviário de corte,na quantidade máxima de 20 e5t/ha, respectivamente.

Na cebola realizaram-se 15pulverizações com calda bordalesa(1%) para o manejo da alternariose(Alternaria porri) e com óleo de nim(Azadirachta indica) para pragas,quando necessário. O manejo darequeima (Phytophthora infestans)no tomate foi feito com 15pulverizações de preparados casei-ros, em sucessão (chá de cavalinha--do-campo e chorume de urtiga a10%, diluídos em água a 10%, caldabordalesa e calda sulfocálcica a0,1%). No manejo de pragas dotomateiro aplicou-se óleo de nim(0,5%) e Bacillus thuringiensis, apartir do início da frutificação.

Produtividade equalidade das hortaliças

• Sistema “tomate/feijão-vagem”

Em relação ao rendimento totale comercial de frutos de tomate,verificou-se a superioridade doconvencional sobre o orgânico em34% e 40%, respectivamente (Tabela3). A ocorrência intensa da requeima(Figura 2) explica os resultados, oque está de acordo com Souza(2003ab). A elevada quantidade defrutos não-comerciais no cultivo

Figura 2. Requeima: doença foliar que mais limita o cultivo orgânico detomate

convencional e orgânico foi devida àocorrência de podridões. A podridãoapical (Figura 3) afetou metade dototal dos frutos considerados refugosno cultivo convencional em 2003,apesar da aplicação de nitrato decálcio em cobertura e da irrigação.Por outro lado, a requeima favo-receu o apodrecimento dos frutosno cultivo orgânico. Neste sistema,praticamente não ocorreu podridãoapical em função, provavelmente,do elevado teor de cálcio contido nocomposto orgânico utilizado (Tabe-la 2).

O rendimento do feijão-vagemno cultivo convencional e orgânicofoi semelhante, na média de trêsanos (Tabela 3). O sistema “tomate/feijão-vagem” permitiu ainda umganho com a sucessão de culturas,pelo uso do mesmo tutor e economiade mão-de-obra e adubos.

• Sistema “cenoura/alface/couve-flor”

O rendimento médio de raízescomerciais de cenoura no cultivoconvencional e orgânico foi seme-lhante, alcançando 43,5 e 40,8t/ha,respectivamente; no entanto,analisando-se as produtividades nosdiferentes anos, verificou-se quehouve tendência de maiorrendimento de raízes no sistemaorgânico em relação ao convencionalno segundo e terceiro ano de cultivo

(Tabela 4). A alternariose (Alternariadauci), principal doença da cenoura,foi mais severa no cultivo conven-cional, quando comparado aoorgânico (Figura 3). As pequenasdiferenças de severidades (ISD) nosdois sistemas de produção podemser explicadas pelo uso da cultivarBrasília, conhecida pela resistênciaà alternariose (Fanceli, 1997).

Na alface de verão, com exceçãode 2003, observou-se pequenavantagem do cultivo convencionalsobre o orgânico (Tabela 4).

Na couve-flor, o cultivoconvencional (17,8t/ha) superou oorgânico (12,6t/ha) em 41%, namédia de dois anos. No entanto, no

Figura 3. Podridão apical: distúrbionutricional que afeta o cultivoconvencional de tomate

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61Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Tabela 3. Rendimento total e comercial de tomate (‘Santa Clara’) efeijão-vagem (‘Macarrão preferido Ag-482’), em sucessão de culturas, nocultivo convencional e orgânico. Epagri/EEUR, Urussanga, SC, 2005

Sistema Rendimento de frutos de tomate(1) Rendimentode decultivo Total Comercial vagens(2)

....................................t/ha....................................

Convencional 50,8 41,0 12,3

Orgânico 37,8 29,2 11,7

(1)Média de 2001, 2002, 2003 e 2004.(2)Média total e comercial de 2002, 2003 e 2004.Nota: Época de plantio/semeadura: tomate (agosto) e vagem (janeiro).

Tabela 4. Rendimento comercial de cenoura (‘Brasília’), alface (‘Regina’),couve-flor (‘Barcelona Ag-324’), cebola (‘Epagri 363-Superprecoce’) ebatata-doce (seleção EEU-003), em sucessão de culturas, no cultivoconvencional e orgânico. Epagri/EEUR, Urussanga, SC, 2005

Rendimento comercialSistemas de Anocultivo Cenoura Alface Couve- Cebola Batata-

-flor -doce

..................................t/ha...............................Cultivoconvencional 2001 32,9 - - 13,7 -

2002 31,6 27,2 25,6 26,8 5,8

2003 49,2 21,8 - 21,6 18,3

2004 60,2 21,7 10,1 16,9 8,7

Média 43,5 23,5 17,8 19,8 10,9

Cultivoorgânico 2001 20,3 - - 13,7 -

2002 33,6 22,1 14,3 21,3 7,2

2003 53,0 25,1 - 14,5 26,6

2004 56,4 15,4 10,8 14,3 20,4

Média 40,8 20,8 12,6 16,0 18,0

Nota: Época de plantio/semeadura: cenoura (agosto), alface (janeiro),couve-flor (fevereiro), cebola (julho) e batata-doce (novembro).

2003 e 2004 (Tabela 4). A maiorexigência da cebola (cultivo anterior)e batata-doce em potássio e osmenores teores deste nutrienteencontrados no solo no sistemaconvencional (Tabela 2), bem comoa adubação orgânica realizada emcobertura no cultivo orgânico,explicam em parte os resultados. Ascondições climáticas ocorridas(maior freqüência de chuvas emenor radiação solar, especialmenteem janeiro) explicam a baixaprodutividade em 2002, nos doissistemas de produção.

A cultura da aveia, utilizada emsucessão à batata-doce, apresentoucobertura satisfatória de massaverde no outono/inverno, inibindo apresença de plantas espontâneas efacilitando o cultivo mínimo da cebolana próxima safra.

Considerações finais

Dentre as hortaliças, a batata--doce foi a que mais respondeu aocultivo orgânico. A cenoura, o feijão--vagem e a alface apresentaramdesempenhos semelhantes nos doissistemas de produção. Na couve--flor, embora o cultivo convencionaltenha sido superior ao orgânico, namédia de dois anos, o desempenhofoi semelhante no segundo ano decultivo.

O cultivo de tomate e cebola nosistema orgânico, apesar de limitadopelas doenças foliares, pode ser boaopção de renda ao produtor, emfunção do maior valor de mercado emenor custo de produção em relaçãoao sistema convencional. Novasalternativas no manejo de doençasnestas culturas devem serestudadas.

As análises químicas do solo(Tabela 2) mostraram umatendência de melhoria da fertilidadedo solo no cultivo orgânico quandocomparado ao convencional. Autilização de compostagem (matériaorgânica estabilizada) e o aumentodo pH explicam em parte osresultados obtidos, que estão deacordo com os obtidos por Souza(2003a). Os resultados indicamtambém a necessidade de monitoraros nutrientes, através de análise

ano de 2004 os rendimentos foramsemelhantes (Tabela 4).

• Sistema “cebola/batata-do-ce/aveia”

Na cebola, o cultivo convencional(19,8t/ha) superou o orgânico(16t/ha) em 24%, quanto à produti-vidade, na média de quatro anos. Amaior incidência de alternarioseexplica o menor rendimento no cul-tivo orgânico (Figura 3). No cultivoconvencional, esta doença foi

manejada com fungicidas protetorese sistêmicos, o que resultou emmenor severidade.

Avaliando-se o rendimento deraízes comerciais de batata-doce, namédia de três anos, verificou-se queo cultivo orgânico (18t/ha) superouo convencional (10,9t/ha) em 65%.Analisando-se a produtividade porano, constatou-se a superioridadedo sistema orgânico sobre oconvencional, especialmente em

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Figura 4. Severidade (ISD) da alternariose na cenoura e cebola nosistema convencional e orgânico no ano de 2002 e 2003. Epagri/EEUR, Urussanga, SC, 2005

química do solo, visando arecomendação adequada deadubação.

Literatura citada

1. AZEVEDO, L.A.S. Manual dequantificação de doenças de plantas.São Paulo, 1998. 114p.

2. FANCELI, M.I. Doenças da cenoura. In:KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIMFILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.;REZENDE, J.A.M. (Eds.). Manual defitopatologia: Doenças das plantascultivadas. 3.ed. São Paulo: Ceres, 1997.v.2, p.245-250.

3. SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Recomendaçõesde adubação e calagem para estados doRio Grande do Sul e Santa Catarina.3.ed. Passo Fundo: SBCS/NúcleoRegional Sul, 1995. 224p.

4. SOUZA, J.L. de. Manual de horticulturaorgânica. Viçosa: Aprenda Fácil, 2003a.564p. il.

5. SOUZA, J.L. de. Tomateiro para mesaem sistema orgânico. InformeAgropecuário, v.24, n.219, p.108-120,2003b.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Convencional Orgânico Convencional Orgânico

Cenoura Cebola

Sev

erid

ade

(%)

2002 2003

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Estudo da mesofauna edáfica em diferentes sistemas deEstudo da mesofauna edáfica em diferentes sistemas deEstudo da mesofauna edáfica em diferentes sistemas deEstudo da mesofauna edáfica em diferentes sistemas deEstudo da mesofauna edáfica em diferentes sistemas demanejo do solo e fontes de nutrientesmanejo do solo e fontes de nutrientesmanejo do solo e fontes de nutrientesmanejo do solo e fontes de nutrientesmanejo do solo e fontes de nutrientes11111

Carla Maria Pandolfo2, Carlos Alberto Ceretta3,Milton da Veiga4 e Eduardo Girotto5

Introdução

O funcionamento do solo éafetado pela abundância e peladiversidade de organismos domesmo (Loranger et al., 1998). Osolo oferece aos macro, meso emicrorganismos uma grandevariedade de recursos e habitats, ou

Resumo – As práticas agrícolas afetam a fauna edáfica, que exerce importantes funções no solo como aincorporação e a degradação dos resíduos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência, a médio prazo, desistemas de manejo do solo e fontes de nutrientes na abundância e diversidade da mesofauna edáfica. A avaliaçãofoi realizada em um experimento na Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, SC, após nove anos decondução, cujos tratamentos amostrados foram combinações de cinco sistemas de manejo do solo (plantio direto,preparo reduzido, preparo convencional, preparo convencional com palha queimada e preparo convencional compalha removida) com quatro fontes de nutrientes (esterco de aves, esterco líquido de bovinos, esterco líquido desuínos, fertilizante mineral) e uma testemunha (sem aplicação de nutrientes). Os sistemas de manejo do solo quemantêm a palha (na superfície, semi-incorporada e incorporada) aumentaram o número de organismos damesofauna pela disponibilidade de alimento, porém não afetaram a diversidade do solo. Os resultados obtidos nãopermitiram diferenciar as fontes de nutrientes quanto a sua influência na mesofauna do solo.Termos para indexação: esterco, plantio direto, plantio convencional, fauna do solo.

Soil mesofauna under different soil tillage systems and nutrient sources

Abstract – The agricultural practices affect the soil fauna which has an important role in the soil such asincorporation and decay of crop residues and to assist the action of microorganisms. The objective of this study wasto analyze the influence of soil tillage systems and nutrient sources on soil mesofauna abundance and diversity.This study was carried out in Campos Novos, SC, Brazil, after nine years of trials. The treatments were fivearrangement of soil tillage (no till, reduced tillage, conventional tillage, conventional tillage with burned straw andconventional tillage with removed straw) and five nutrient sources (poultry litter, liquid cattle manure, liquid swinemanure, mineral fertilizers and control). Soil mesofauna was higher at soil management systems where straw waskept on the field which is related to food availability, but diversity was not affected. Nutrient sources did not affectabundance and diversity of soil mesofauna at sampling time.Index terms: manure, no-till, conventional tillage, soil mesofauna.

seja, apresenta uma mistura da faseaquática e aérea altamentecompartimentalizada (Lavelle,1996). Dentre os organismos quehabitam o solo, a mesofauna exerceum importante papel na degradaçãoe na incorporação de materiaisvegetais ao solo, favorecendo a açãode microrganismos. A mesofauna do

solo é constituída por vários gruposde organismos, como Collembola,Acarina, Isoptera, Aranae,Coleoptera, Oligochaeta, entreoutros (Lavelle, 1996). A ação dohomem, por meio das práticasagrícolas, afeta em maior ou menorgrau os microrganismos e a fauna,que utilizam o solo como habitat

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Parte do trabalho de tese do primeiro autor.2Eng. agr., doutoranda em Ciência do Solo/UFSM, Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos,SC, fone/fax: (49) 541-0748, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Departamento de Solos/CCR/UFSM, 97105-9000 Santa Maria, RS, fone: (55) 220-8256, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, e-mail: [email protected]êmico de Agronomia, bolsista de iniciação científica, UFSM, Santa Maria, RS, e-mail: [email protected].

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(Lavelle et al., 1989) e que, por suavez, exercem funções importantesno solo, como, por exemplo, aciclagem de nutrientes (Assad,1997). De maneira geral, estesorganismos são afetados pelacompactação do solo (aeração, águae mobilidade), diminuição daquantidade e da qualidade domaterial orgânico (fonte de ener-gia) e pelas mudanças nas con-dições pedoclimáticas, como secaprolongada e inundação (Assad,1997). Além disto, há irregularidadena distribuição dos grupos da faunaedáfica nos sistemas de produção eas práticas de manejo do solo podemafetar a fauna, com diminuição nonúmero ou na diversidade deorganismos, dependendo do grau derevolvimento do solo e dapermanência ou não dos resíduosculturais sobre os solos (Santos etal., 2003).

O objetivo deste trabalho foiavaliar a influência, a médio prazo,de sistemas de manejo do solo efontes de nutrientes na abundânciae na diversidade da mesofaunaedáfica.

Material e métodos

Uma única coleta de solo foirealizada em abril de 2003, apósnove anos de condução de umexperimento instalado em umNitossolo Vermelho distrófico, naEpagri/Estação Experimental deCampos Novos, situada na região doPlanalto Sul Catarinense. Doisfatores foram analisados, manejodo solo e fontes de nutrientes, sendoambos aplicados em faixas (Figura1). Nas faixas longitudinais foramaplicados cinco sistemas de manejodo solo: sistema plantio direto (SPD),preparo reduzido com umaescarificação mais uma gradagem(PRE), preparo convencional comuma lavração mais duas gradagens(PCO), preparo convencional compalha queimada (PCQ) e preparoconvencional com palha retirada(PCR). Em faixas transversais àsdos sistemas de manejo, foramaplicadas cinco fontes de nutrientes:5t/ha/ano de esterco de aves (EA)em base úmida, 40m 3/ha/ano deesterco líquido de suínos (ELS),60m 3/ha/ano de esterco líquido debovinos (ELB), adubação mineral demanutenção (AM), de acordo com a

Sociedade Brasileira de Ciência doSolo (1995), e sem aplicação denutrientes (TT). Desta forma, odelineamento experimental foi emblocos casualizados, em arranjofatorial 5x5, aplicados em faixas,com três repetições. No período denove anos, três ciclos de rotação decultura foram conduzidos com asseguintes culturas: triticale/soja/ervilhaca comum/milho/aveia/feijão/trigo-mourisco. Todavia, apartir do segundo ciclo o triticale foisubstituído por centeio e o trigo--mourisco, por nabo forrageiro.

As amostras de solo foramcoletadas aproximadamente seismeses após a realização dos preparosdo solo e da aplicação das fontes denutrientes. Duas subamostras desolo foram coletadas aleatoriamentena área de cada parcela. Na coletado solo utilizou-se um trado tipocaneco, com 7cm de diâmetro e 12cmde profundidade, sendo as amostrasacondicionadas em potes plásticospara posterior extração da fauna.Por se tratar de um solo muitoargiloso e com forte agregação, antesda extração dos organismos asamostras foram saturadas comaproximadamente 400ml de umdispersante (1:10) preparado com37,5g de hexametafosfato de sódio e7,94g de bicarbonato de sódio anidroem 1L de água, permanecendo porno mínimo 15 minutos imersas nodispersante e, posteriormente,

submetidas ao processo de flutuação(procedimento utilizado porQuadros, 2004). Cada subamostrafoi colocada em balde de 10L,completando-se o volume com águae agitando-se vagarosamente com amão. Após aproximadamente 1minuto, a mistura água maismaterial sobrenadante foi vertidaem um jogo de peneiras de 2mm (9mesh) e 0,3mm (48 mesh), repetindo--se o processo por no mínimo cincovezes ou até que a água estivesseclara. O material recolhido napeneira de 48 mesh foi guardado emálcool 70%. A contagem da faunaedáfica foi efetuada em microscópioestereoscópio com aumento de até40 vezes.

Os grupamentos dos sistemas demanejo do solo e das fontes denutrientes foram realizados pormeio de dendogramas de ligaçõessimples (método de Joing, TreeClustering) e através do Índice deSimpson (IS = Diversidade = N(N-1)/Σni(ni-1), em que N é o número deindivíduos e ni é o número deindivíduos da espécie i; o valormínimo é 1. O IS foi utilizado pordiversos autores, entre eles, Santoset al. (2003) e Alves et al. (2003), e foiestimado para cada repetição etratamento. O índice apresentadopor manejo de solo ou fontes denutrientes corresponde à média de15 observações. São apresentadosos números de organismos por

Figura 1. Faixas com os sistemas de manejo do solo

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65Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

manejo do solo e por fonte denutrientes (média de 30 observações)nos principais grupos, bem como amagnitude de resposta tanto paraos sistemas de manejo do solo quantopara as fontes de nutrientes. Amagnitude de resposta levou emconta a abundância média dos gruposCollembolla, Acarina e Oligochaetae foi obtida utilizando-se o índice V(relação entre tratamentos tomadosdois a dois) e de sua interpretaçãodentro das categorias fornecidas porWardle (1995), citado em Kladivko(2001), que variam de extremamenteinibidos a extremamente estimu-lados.

Resultados e discussão

Os principais grupos demesofauna edáfica encontradosnaquela época de coleta, consi-derando a abundância relativa emtodo o experimento, foram:Oligochaeta (45%), Collembola(23%), Acarina (22%), Hymenoptera(5%) e Coleoptera (3%) (Figura 2).Segundo Kladivko (2001), dentro damesofauna, os principais microar-trópodes consistem em colêmbolos(Collembola) e ácaros (Acarina), oque coincide com os grupos avaliadosneste trabalho em que a abundânciarelativa de ambos os grupos foi de45%. Observou-se, ainda, que onúmero de indivíduos no grupo dasoligoquetas (Oligochaeta) destacou-se dos demais grupos. Dentro destegrupo foi encontrado um númeroexpressivo de enchitreídeos(Enchytraiedae), que podem ter sido

favorecidos pela metodologia deextração utilizada, em detrimentode organismos maiores como oshimenópteros e coleópteros, porexemplo. Este número expressivode indivíduos no grupo oligoquetaevidenciou-se no sistema de manejodo solo SPD, PRE e PCO em relaçãoaos demais e também foi maior nasfontes de nutrientes ELB e ELS emrelação às restantes (Figura 3).Verificou-se que o Índice de Simpsonvariou de 2,63 a 3,41 entre ossistemas de manejo do solo e de 2,19a 2,87 para as fontes de nutrientes.Assim, não houve diferençasignificativa entre fontes denutrientes e manejos de solo,provavelmente, por causa da grandevariabilidade existente nos dados,conforme pode ser verificado nos

valores de intervalos de confiança(Figura 3). Entre os sistemas demanejo, a menor diversidade demesofauna foi observada no preparoconvencional com palha e, entre asfontes de nutrientes, com a aplicaçãode esterco líquido de suínos.Observou-se que as fontes denutrientes favoreceram aconcentração dos indivíduos emdeterminadas classes, enquanto queos sistemas de manejo promoverammaior diversidade.

Ao comparar-se o incremento oudecréscimo na abundância dosindivíduos através do índice V paraas classes Collembola, Acarina eOligochaeta, chegou-se a umaexpressão de magnitude de respostadestas aos manejos de solo e àaplicação das fontes de nutrientes.

23%

45%

3%

22 %

5%

2%

Collem bolla

O ligochaet a

Coleoptera

A carina

Hym enoptera

O ut ros

Figura 2. Abundância relativa dos grupos de mesofauna edáficaobservada em todo o experimento, em abril de 2003

Figura 3. Número médio de indivíduos, Índice de Simpson e seu intervalo de confiança nos principais gruposda mesofauna edáfica nos sistemas de manejo do solo e nas fontes de nutrientes

0

10

20

30

40

50

mer

o d

e in

div

ídu

os

TT EA ELB ELS AM

Fontes de nutrientes

Collembola

Oligochaeta

Coleoptera

Acar ina

Hymenoptera

Outros

2,55 2,77 2,32 2,19 2,87 ±0,6 ±0,7 ±0,5 ±0,4 ±0,4

0

10

20

30

40

50

me

ro d

e in

div

íduo

s

SPD PRE PCO PCQ PCR

Ma nejos do solo

Collembola

Oligochaeta

Coleoptera

Acarina

Hymenoptera

Outros

3,21 3,13 2,63 3,41 2,89 ±0,5 ±0,5 ±0,4 ±0,8 ±0,3

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66 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Alguns exemplos encontram-se naTabela 1. Observou-se que ainfluência de determinados preparosde solo sobre outros ou de fontes denutrientes sobre a testemunha ouadubo mineral na abundância damesofauna edáfica variou demoderadamente inibido amoderadamente estimulado. Comrelação aos preparos do solo,somente para as oligoquetas houveexpressão de inibição moderadaquando se comparou o PCQ e o PCRcom o PCO. Com relação às fontesde nutrientes comparadas àtestemunha, o EA exerceu moderadainibição nos colêmbolos e ácaros, oELB exerceu moderada estimulaçãonos ácaros e o ELS, moderadaestimulação nas oligoquetas. Emmuitas comparações, a magnitudeda expressão levemente estimuladoou inibido originou-se de índices Vmuito baixos, próximo a zero,indicando igual abundância deindivíduos nos dois tratamentoscomparados. Quando foramanalisadas todas as combinaçõespossíveis entre os manejos do solo eentre as fontes de nutrientes (dadosnão mostrados), observou-se que amaior freqüência na respostamoderadamente inibido/estimuladofoi para o grupo das oligoquetas. Aspráticas de preparo do solo alteramo conteúdo da água, a temperatura,a aeração e o grau de mistura dosresíduos vegetais dentro do solo(Kladivko, 2001) e, sendo assim,maiores expressões de resposta

Tabela 1. Expressão da magnitude de resposta(1) de um determinadomanejo do solo ou fonte de nutriente em relação a outro, em termos deabundância média de três grupos da fauna edáfica

Comparação Grupos da mesofauna edáficado 1o emrelação ao 2o Collembola Acarina Oligochaeta

PRE/SPD LI LI LI

PCO/SPD LE LI LE

PCQ/PCO LE LI MI

PCR/PCO LE LI MI

EA/TT MI ME LE

ELB/TT LI ME LE

ELS/TT LI LE ME

AM/TT LI LE LE

EA/AM LI LE LI

ELB/AM LI LE LE

ELS/AM LE LE LE

(1)Interpretado a partir do valor V (Wardle, 1995, citado por Kladivko,2001).Notas: – (LI = Levemente inibido, LE = Levemente estimulado, MI =Moderadamente inibido, ME = Moderadamente estimulado).– PRE = preparo reduzido, SPD = sistema plantio direto, PCO = preparoconvencional, PCQ = preparo convencional com palha queimada, PCR =preparo convencional com palha retirada, EA = esterco de aves, ELB =esterco líquido de bovinos, ELS = esterco líquido de suínos, AM = adubomineral e TT = testemunha.

Figura 4. Dendograma das ligações simples a partir da análise de grupamentos dos sistemas de manejode solo e fontes de nutrientes em função da mesofauna edáfica, baseado na distância euclidiana

Man ejo s do so lo

(Dlin

k/D

max

)*10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

PCR PCQ PCO PRE SPD

Fon tes de nu tr ient es

(Dlin

k/D

max

)*1

00

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

ELS ELB AM EA TT

poderiam ocorrer logo após arealização dos preparos ou daaplicação das fontes de nutrientes.Bandyopadhyaya et al. (2002),estudando os efeitos de fatores físicose práticas agrícolas em Collembolla

em três rotações de culturas,verificaram que a aplicação de aduboorgânico (oriundo de propriedade)induziu um aumento na populaçãode colêmbolos, mas o efeito defertilizantes e outros tratamentos

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67Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

não foi tão significativo quanto ainfluência sazonal e das culturas.

Quando se efetuou uma análisede grupamento buscando-sesemelhanças entre os sistemas demanejo, observou-se a formação dedois grupos distintos em relação àabundância da mesofauna edáfica(Figura 4). Em um grupo encontram--se o PCR e o PCQ, com umasemelhança mínima de 75%. Nooutro grupo observa-se, em umprimeiro nível, uma semelhança deaproximadamente 47% entre o PCOe os outros dois sistemas e, em umsegundo nível, uma semelhança deaproximadamente 62% (distância deligação de aproximadamente 38%)entre o SPD e o PRE. Os resultadossugerem que a presença ou não depalha é um fator que diferenciou amesofauna edáfica presente nestessistemas de manejo do solo, porestar relacionada com adisponibilidade de alimentos. Comrelação ao grupamento entre asfontes de nutrientes verificou-se,também, a formação de dois gruposdistintos. No primeiro grupo estão oELS e o ELB, com uma semelhançade no mínimo 50%. No segundoobserva-se, em um primeiro nível,uma semelhança de aproxi-madamente 48% entre o TT e asduas outras fontes de nutrientes e,em um segundo nível, uma distânciade ligação de aproximadamente 36%entre o EA e o AM (semelhança deaproximadamente 64%). A separaçãodo ELS e ELB das demais fontes denutrientes e testemunha sugere anecessidade de estudos quanto àinfluência dos estercos naabundância da mesofauna do soloem diferentes épocas após aaplicação.

A ação da fauna do solo aconteceprincipalmente na primeira fase doprocesso de degradação da matériaorgânica, elevando bastante a áreasuperficial dos resíduos vegetais(Venturini, 2003). As práticasagrícolas normalmente interferemestimulando ou inibindo a atividadebiológica. Neste trabalho, adisponibilidade de palha foideterminada pelo tipo de sistema demanejo do solo. Assim, a adoção deboas práticas agrícolas, quefavoreçam a presença de palha,

propiciará condições biológicasfavoráveis ao bom funcionamentodo solo.

Conclusão

Os sistemas de manejo do soloque mantêm a palha (na superfície,semi-incorporada e incorporada)aumentam o número de organismosda mesofauna pela disponibilidadede alimento, porém não afetam adiversidade do solo.

Os resultados obtidos nãopermitem diferenciar as fontes denutrientes quanto ao número e àdiversidade da mesofauna.

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68 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Morfologia de gemas dormentes com um ano e doisMorfologia de gemas dormentes com um ano e doisMorfologia de gemas dormentes com um ano e doisMorfologia de gemas dormentes com um ano e doisMorfologia de gemas dormentes com um ano e doisanos de macieiras cultivadas em regiões comanos de macieiras cultivadas em regiões comanos de macieiras cultivadas em regiões comanos de macieiras cultivadas em regiões comanos de macieiras cultivadas em regiões com

insuficiência de frio hibernalinsuficiência de frio hibernalinsuficiência de frio hibernalinsuficiência de frio hibernalinsuficiência de frio hibernal11111

Ruy Inacio Neiva de Carvalho2 eFlávio Zanette3

Resumo – O objetivo deste trabalho foi caracterizar a morfologia interna e externa de gemas dormentes emramos de um ano e dois anos em macieiras cultivar Imperial Gala durante o outono e inverno, cultivadas emlocalidade de baixa ocorrência de frio. Os ramos com gemas dormentes foram coletados em sete datas distintasno ano de 2000 (19/4, 10/5, 31/5, 21/6, 12/7, 2/8 e 23/8) e levados ao laboratório para análise. Um grupo de ramosfoi submetido ao teste biológico de estacas de nós isolados para monitoramento da intensidade de dormência nasgemas em cada data de coleta. Apesar de existirem diferenças na intensidade de dormência em cada período, nãoforam detectadas diferenças morfológicas internas e externas nas gemas entre as datas de coleta. Há diferençasna morfologia entre gemas de um ano e dois anos devido à formação de um primórdio caulinar no interior dasgemas de dois anos, perfeitamente ligado ao ramo no qual a gema está inserida. Gemas de dois anos têmpotencial de brotação e formação de novos ramos na planta se as condições favoráveis lhes são propiciadas pormeio do manejo das plantas.Termos para indexação: Malus domestica, ‘Imperial Gala’, fisiologia, dormência.

Morphology of one and two year old dormant buds of apple trees in regionswith insufficient chilling

Abstract – The aim of this study was to characterize the internal and the external morphology of dormantbuds of one and two year old twigs of apple trees cultivar Imperial Gala during Autumn and Winter in a region ofinsufficient chilling. Twigs carrying dormant buds were collected in seven distinct dates throughout the year of2000 (April 19 th, May 10th, May 31 st, June 21st, July 12 th, August 2nd and August 23 th) and taken to the laboratory foranalysis. Part of the twigs was submitted to the biological test of single node cuttings in order to monitor theintensity of dormancy in each collection date. Despite the differences in dormancy intensity in each period, nointernal or external morphological differences among buds were detected for the different collection dates. Thisindicates that, from April to August, no visible changes occurred. There were morphological differences betweenone and two year old buds due to the formation of a cauline primordium in the interior of the two year old buds,perfectly connected to the stem tissue were the bud was inserted. Two year old buds have the potential to burstand to originate new shoots if favourable conditions are provided through plant management.Index Terms : Malus domestica , ‘Imperial Gala’, physiology, dormancy.

Introdução

As respostas das gemas demacieira, de acordo com a exposiçãoàs baixas temperaturas, variamsegundo as cultivares analisadas,

tipo de gema e sua localização naplanta (Petri et al., 1996; Putti etal., 2003a; Putti et al., 2003b). Aidade das gemas também interferena resposta de brotação emdecorrência do frio ocorrido, pois

gemas dormentes de dois anos emmacieiras adultas podem apresentarbrotação espontânea quandoocorrem temperaturas elevadas noinverno, enquanto gemas de umano permanecem dormentes. Estas

Aceito para publicação em 22/3/2005.1 Parte da tese de doutorado do primeiro autor.2 Eng. agr., Dr., professor titular do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. RodoviaBR-376, km 14, 83010-500 São José dos Pinhais, PR, fone: (41) 299-4300, e-mail: [email protected] Eng. agr., Dr., professor de Fruticultura do Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo da Universidade Federal do Paraná, Ruados Funcionários, 1.540, 80035-050 Curitiba, PR, fone: (41) 350-5650, e-mail: [email protected].

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69Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

gemas poderiam ser importantesna correção da copa da planta oupara renovação de ramosprodutivos, porém ao final daendodormência (julho e agosto) einício da ecodormência (agosto esetembro), período em que abrotação não ocorre por fatoresexternos à planta (Lang et al.,1987), a capacidade de brotação degemas de um ano já se tornamaior que a das gemas maisvelhas. As gemas mais novasbrotam, assumem a dominância donovo ciclo de crescimento e inibema brotação das gemas maisvelhas, caracterizando a acrotoniaem plantas lenhosas (MengHorn et al., 1975), fato indese-jável em pomares comerciais demacieira.

A capacidade de brotação degemas de um ano de idade éhabitualmente estudada pois refle-te mais diretamente o potencial decrescimento e produção da plantanas safras seguintes. Porém, acaracterização e o conhecimento dopotencial de brotação de gemasmais velhas e sua relação com ohistórico das temperaturas ocorridasdurante os outonos e os invernosanteriores podem esclarecer afisiologia da dormência das mesmase fornecer subsídios para uso detécnicas que favoreçam a suabrotação.

O objetivo deste trabalho foimonitorar a dormência de gemaspor meio do tempo médio parabrotação e caracterizar a morfologiainterna e externa de gemasdormentes em ramos de um ano edois anos de macieiras ‘ImperialGala’ durante o outono e o inverno,cultivadas em região de baixaocorrência de frio.

Material e métodos

O trabalho foi realizado comgemas dormentes de um ano e doisanos de idade de macieira ‘ImperialGala’ coletadas no período de abril aagosto de 2000 em pomar com cincoanos de idade, conduzido em plantioadensado (4 x 1,35m) na FazendaAgropecuária Boutin, em PortoAmazonas, PR (25,55o de latitudeSul, 49,90o de longitude Oeste e795m de altitude). A operação dequebra de dormência nesse pomar érealizada em agosto por meio da

aplicação de cianamida hidroge-nada (CH2N2) a 1,96% mais óleomineral a 8%.

A quantificação do frio ocorridona região durante o outono e invernodo ano anterior (1999) e do anoestudado (2000) foi determinadasegundo os métodos de número dehoras de frio (HF) abaixo de 7,2oC ede unidades de frio (UF), conformemodelo de Shaltout & Unrath (1983)(Tabela 1).

Ramos com inserção e disposiçãoespacial oblíqua contendo gemasdormentes foram coletados em19/4, 10/5, 31/5, 21/6, 12/7, 2/8 e23/8. Em cada data, 40 ramos egemas foram levados ao laboratóriopara serem analisados quanto àmorfologia interna e externa emmicroscópio estereoscópico. Aanálise interna das gemas foirealizada por meio de dissecaçãogradual dos catáfilos (escamas) eprimórdios foliares até detecção daregião meristemática e, também,por meio de cortes longitudinais dosramos para verificação do modelode inserção de suas gemas.

Um grupo de 40 ramos foisubmetido ao teste biológico deestacas de nós isolados paramonitoramento da intensidade dedormência nas gemas em cada datade coleta. Estacas de um ano e doisanos com 7cm de comprimento, nasquais foi mantida apenas a gemasuperior, permaneceram em sala decrescimento em temperatura de25oC e fotoperíodo de 16 horas por

40 dias para avaliação do tempomédio para brotação (TMB).

Resultados e discussão

O frio ocorrido no outono e noinverno nos dois anos analisados foide baixa intensidade. Em 1999ocorreram 276 horas de frio abaixode 7,2oC ou 362 unidades de frio eem 2000 ocorreram 386 horas defrio abaixo de 7,2 oC ou 211,5unidades de frio, conforme modeloapresentado na Tabela 1. O frioocorrido foi abaixo dos níveismínimos requeridos pela macieira‘Gala’, a qual originou a ‘ImperialGala’, que exige, no mínimo, 600horas de frio para superação dadormência (Petri et al., 1996).

As gemas de um ano e dois anosisoladas em estacas para o testebiológico de avaliação de dormênciaapresentaram brotações dentro dospadrões característicos da espécie,sob o ponto de vista morfológico,fisiológico e sanitário, ou seja,presença de folhas novas e ramosem constante processo dealongamento sem tecidos cloróticosou necrosados.

As gemas de um ano, emdecorrência do tempo médio parabrotação no teste biológico,apresentaram dormência maisprofunda em 12 de julho, enquantoas gemas de dois anos nãoapresentaram um pico de dormênciadefinido, oscilando do final de maioaté o início de agosto (Tabela 2).

Tabela 1. Modelo da conversão de temperaturas em unidades de frioadotado para quantificação do frio conforme modelo de Shaltout &Unrath (1983)

Faixa de temperatura Unidades de frio

oC UF

< -1,1 0

-1,0 a 1,6 0,5

1,7 a 7,2 1,0

7,3 a 13,0 0,5

13,1 a 16,5 0

16,6 a 19,0 -0,5

19,1 a 20,7 -1,0

20,8 a 22,1 -1,5

> 22,2 -2,0

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Carvalho (2001) determinou que asgemas de um ano e dois anos demacieiras ‘Imperial Gala’, domesmo pomar em que foramrealizadas as coletas para esteexperimento, apresentaram médiade 44,3% e 44,6% de brotação,respectivamente, em testesbiológicos. Gemas submetidas a1.440 horas de frio adicional de 4 a7oC, apresentaram brotação de93,9% e 91,8%, respectivamente,indicando que ambas, indepen-dentemente da idade, têm potencialpara brotação quando a dormênciaé superada e outros fatores estimu-lantes lhe são proporcionados, comoa poda.

Apesar das diferentes inten-sidades de dormência em cada dataestudada, não foram detectadasdiferenças morfológicas internas eexternas nas gemas no período deabril a agosto. Por outro lado,gemas de um ano e dois anosapresentaram importantes dife-renças morfológicas entre si,decorrentes de alterações ocorridasantes da entrada em dormência, ouseja, no período de pleno cres-cimento da planta ou no período depreparação para a dormência.Segundo Larcher (2000), as gemaspassam por um pré-condicio-namento durante a entrada emdormência, influenciado pelaredução da temperatura e foto-período, desenvolvendo resistência

a condições desfavoráveis como ocongelamento e a desidratação.Este período coincide com asenescência natural das folhas dasplantas lenhosas caducifólias(Salisbury & Ross, 1992).

Por meio da análise morfológicaexterna das gemas detectou-se queas escamas das gemas de um anocontêm mais pêlos e são maiores,possivelmente, devido à maiorquantidade de água em relação àsgemas de dois anos. Estascaracterísticas também garantem amanutenção da temperatura aoredor dos tecidos internos comoforma de prevenção ao excesso defrio e até mesmo ao congelamento.Já as gemas de dois anos possuemescamas menores e quase sempêlos, porém de aparênciaressecada, indicando que asescamas das gemas formadas emum ano também sofrem pequenasalterações, como a desidratação,quando não ocorre a brotaçãonatural da gema (Figura 1A e 1B).A dessecação das escamas podetorná-las menos permeáveis,cumprindo a função de proteção dagema em períodos desfavoráveis.

As maiores diferenças entre asgemas de um ano e dois anos foramencontradas na morfologia interna.As gemas de um ano apresentaramtecidos meristemáticos bem visíveisladeados por primórdios foliares,estando todo este conjunto

envolvido por escamas compresença de pequenos pêlos. Maisde 50% das gemas de dois anosapresentaram um primórdio deramo em seu interior (Figura 1C e1D). Este pequeno ramo éresultante de um início dedesenvolvimento do meristema naprimavera do ano anterior que nãoatingiu capacidade total paracontinuar o desenvolvimento,permanecendo dormente dentro dasescamas da gema. No interior dagema de dois anos com primórdiosde ramos existe uma regiãomeristemática localizada no ápicedeste primórdio de ramo, porémoutros meristemas laterais podemser encontrados no mesmo. Destaforma, a dormência de gemas dedois anos está relacionada àdormência de um grupo de gemasdentro das escamas, possivelmentecom diferentes potenciais decrescimento e desenvolvimento.Provavelmente, o meristema apicalseja o responsável por uma brotaçãoextemporânea. Estas característicasexplicam, em parte, a baixaeficiência dos indutores de brotaçãonas gemas mais velhas da planta,pois, uma vez que a ação dosindutores é localizada em cadagema, a localização protegida domeristema apical em gemas de doisanos dificulta a indução da bro-tação.

A análise das gemas e tecidosadjacentes por meio de corteslongitudinais nos ramos revelou queas gemas de dois anos apresentaramuma comunicação mais definida como ramo em que estava inserida,provavelmente em conseqüência deum pré-desenvolvimento no períodode crescimento anterior, quepermitiu que os tecidos seorganizassem de forma a direcionara condução de água e de reservaspara suprir um possível novo fluxode crescimento (Figura 2).

Estas observações permitem aformulação da hipótese de queexiste um início de desenvolvimentoda região meristemática no interiorda gema de um ano não brotada aolongo do período de crescimentoseguinte da planta (primavera,verão ou outono) como umatentativa de expressão decrescimento que, por sua vez, étotalmente inibida por outros órgãos

Tabela 2. Tempo médio para brotação (TMB) em teste biológico com gemasde um ano e dois anos de idade de macieira ‘Imperial Gala’

TMB(1)

Datas de avaliaçãoGemas de um ano Gemas de dois anos

..............................Dias..............................

19/4 14,0 c 15,6 d

10/5 21,7 b 19,8 bc

31/5 21,2 b 24,7a

21/6 23,4 b 20,8 b

12/7 28,5a 22,5ab

02/8 22,9 b 22,4ab

23/8 11,2 c 16,8 cd

(1)Médias seguidas por letras distintas nas colunas diferem entre si peloteste de Tukey no nível de significância de 5%.

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71Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

da planta, caracterizando aparadormência descrita por Lang etal. (1987). A competição por água enutrientes entre as folhas e porçõesde ramos com as gemas parece seruma razão para a ausência debrotação, uma vez que a desfolha daplanta permite a brotação dealgumas gemas (Crabbé & Barnolla,1996). Com a passagem do equinóciode outono, a redução do fotoperíodopoderia induzir um início dedesenvolvimento de gemas maisvelhas de plantas lenhosas (conceitode basitonia segundo Meng Horn etal., 1975), porém com intensidadefraca a ponto de não superar o efeitoinibitório das folhas e outras gemaspróximas. Na ausência de condiçõesfavoráveis à brotação, esta pré-es-truturação no interior das gemas deum ano permaneceria inalterada eos novos tecidos entrariam na faseda endodormência, na qual o não--desenvolvimento da gema éresultante de uma série de eventosbioquímicos e fisiológicos queacontecem nos meristemas oumuito próximos deles (Lang et al.,1987), formando as gemas de doisanos, que muitas vezes nãobrotarão.

Em comparação com osresultados de Carvalho (2001), asdiferenças morfológicas internas eexternas das gemas de um ano e doisanos não interferem nas suacapacidade de brotação quando adormência é eliminada, de formaque as gemas de dois anos têm plenopotencial para brotação quando ascondições lhes são favorecidas pormeio do manejo das plantas.

Conclusão

Há diferenças na morfologiainterna e externa de gemas demacieira com um ano e dois anos deidade, havendo no interior das dedois anos a formação de umprimórdio caulinar, perfeitamenteligado ao ramo no qual a gema estáinserida, e a existência de escamasmenores e com poucos pêlos.

Por meio do monitoramento dadormência das gemas, conclui-se quegemas dormentes de dois anos demacieira também têm potencial parabrotação e formação de novos ramosna planta.

Figura 1. Morfologia de gemas de macieira ‘Imperial Gala’; externa de (A)um ano e de (B) dois anos e interna de (C) um ano e de (D) dois anos

Figura 2. Morfologia interna de ramos e gemas de macieira ‘ImperialGala’. (A) ramos e gemas de um ano e (B) ramos e gemas de dois anos

A B

A B

C D

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72 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

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As normas para publicação na revista Agropecuária Catarinense poderão ser acessadas pelainternet no endereço www.epagri.rct-sc.br. Procure por

Revista Agropecuária e, a seguir, por Normas para publicação na revista.

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Influência da temperatura e do período deInfluência da temperatura e do período deInfluência da temperatura e do período deInfluência da temperatura e do período deInfluência da temperatura e do período demolhamento foliar (PMF) na incidência e severidade damolhamento foliar (PMF) na incidência e severidade damolhamento foliar (PMF) na incidência e severidade damolhamento foliar (PMF) na incidência e severidade damolhamento foliar (PMF) na incidência e severidade da

mancha-foliarmancha-foliarmancha-foliarmancha-foliarmancha-foliar-----da-da-da-da-da-gala (gala (gala (gala (gala (Colletotrichum Colletotrichum Colletotrichum Colletotrichum Colletotrichum spp.)spp.)spp.)spp.)spp.)

Natasha Akemi Hamada1

Resumo – Visando observar o comportamento do fungo sob diferentes condições de ambiente, plantas de macieiracultivar Gala foram inoculadas com suspensão de conídios de Colletotrichum gloeosporioides e submetidas adiferentes períodos de molhamento foliar (PMF), sob temperaturas de 12 e 16oC. A 12oC a manifestação dossintomas foi mais demorada e necessitou de um PMF maior do que em relação a 16oC (oito dias com PMF de 72horas e seis dias com PMF de 24 horas, respectivamente). De acordo com o que foi observado, 12oC constitui-seem temperatura marginal para a mancha-foliar-da-gala, pois sob esta temperatura o fungo infecta a planta, masos sintomas manifestam-se apenas quando o PMF é longo (>72 horas).Termos para indexação: macieira, doença, epidemiologia.

Influence of temperature and leaf wetness period (LWP) on the incidence andseverity of gala leaf spot (Colletotrichum spp.)

Abstract – To understand the life cycle of the causal agent of gala-leaf-spot (GLS), potted apple plants cultivarGala were inoculated using spore suspension of C. gloeosporioides and submitted to different leaf wetness periods(LWP) at temperatures of 12 and 16oC. At 12oC, the symptoms appeared later and it required longer LWP than at16oC (after eight days with 72 hours LWP, and after six days with 24 hours LWP, respectively). According to theresults temperature of 12oC is marginal to GLS infection, as in this temperature the fungus is able to establish onapple leaf but did not manifest symptoms until the occurrence of higher temperatures.Index terms: apple tree, disease, epidemiology.

Introdução

O cultivo da macieira no Brasil,iniciado na década de 70, é hoje umaatividade consolidada, sendo que aprodução concentra-se nos Estadosde Santa Catarina e Rio Grande doSul, responsáveis por cerca de 90%da produção nacional (ABPM, 2003).

Afora as dificuldades normaispara o cultivo desta espécie, como afalta de adaptação das plantas emalgumas regiões, deve-se ressaltara importância das doenças, as quais

podem comprometer a produção,caso não sejam eficientementecontroladas.

Com o passar do tempo, novasdoenças foram surgindo, a exemploda mancha-foliar-da-gala (MFG), quepode causar desfolhamento superiora 75% e, conseqüentemente, afetara produção do ano seguinte (Bonetiet al., 1998) (Figura 1). O primeiroagente causal identificado foiGlomerella cingulata (Colletotri-chum gloeosporioides) (Leite Junioret al., 1988). Posteriormente,

observou-se que Colletotrichumacutatum e uma espécie ainda nãoidentificada de Colletotrichumtambém estão associadas a essadoença, mas a primeira espécie é amais importante por sua freqüênciae por seu potencial patogênico(Boneti et al., 2001).

As variáveis meteorológicasmais importantes para o estabe-lecimento e progresso desta doençasão a precipitação, temperatura,PMF e umidade relativa do ar(Katsurayama et al., 2004). O

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Eng. agr., mestranda em Recursos Genéticos Vegetais na Universidade Federal de Santa Catarina, Rua Tenente Silveira, 514, apto.902, 88010-301 Florianópolis, SC, fones: (48) 333-3668, 9963-2131, e-mail: [email protected].

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aparecimento dos sintomas da MFGpode ocorrer de acordo com ascondições climáticas observadas naprimavera (Figura 2), sendo que asmedidas de controle devem sertomadas logo que forem observadasas condições favoráveis aodesenvolvimento da doença.

Normalmente, a doença se tornasevera quando as precipitações setornam freqüentes ou contínuas equando predominam os períodos demolhamento foliar longos e de altaumidade relativa, principalmente

quando a temperatura média éelevada, superior a 20 oC(Valdebenito-Sanhueza et al., 2002).O efeito da temperatura de 20oC oumais foi detalhado por Katsurayama& Boneti (2003) e Boneti &Katsurayama (2003), em ensaios invitro e in vivo com plantas de ‘Gala’em vaso. Entretanto, a influênciadas baixas temperaturas (em tornode 12oC) na epidemiologia da doençaainda não é bem conhecida.

Deste modo, com o objetivo decomplementar as informações

existentes, foram realizados ensaiosem casa de vegetação para detalharo efeito de baixas temperaturas (12e 16oC), em diferentes PMFs, sobreo processo de infecção de C.gloeosporioides.

Material e métodos

Os trabalhos foram conduzidosna Epagri/Estação Experimental deSão Joaquim, durante os meses desetembro e outubro de 2003. Foramrealizados dois ensaios, um emtemperatura de 12oC e outro, de16oC. Em ambos foram utilizadasmudas de macieira ‘Gala’, enxer-tadas sobre o porta-enxerto M-7,plantadas em vaso plástico con-tendo 2L de solo e mantidas em casade vegetação.

O inóculo utilizado foi prove-niente do isolado CG-197, de C.gloeosporioides, previamenterepicado em placas de Petri commeio de cultura (BDA) mantidas emestufa regulada a 24oC por umperíodo de aproximadamente 72horas.

A suspensão de conídios foi obtidaatravés de raspagem superficial dasplacas e posterior filtragem. Aconcentração da suspensão foi entãodeterminada por meio de umhemacitômetro e ajustada para 106

conídios/ml (no ensaio a 16oC) e para3 x 106 conídios/ml (no ensaio a12oC). Essa diferença na concen-tração das suspensões deve-se aofato de que em temperaturas limitesa pressão da doença deve ser maiorpara que esta se manifeste, comoobservado em estudo prévio onde seconstatou a necessidade de umaconcentração de inóculo maior doque 106 conídios/ml para que a doençase manifestasse a 12oC.

As plantas foram inoculadas como auxílio de um compressor (5lb/pol2), sendo as folhas pulverizadastanto na face adaxial quanto naabaxial. Cada planta apresentavaapenas uma haste com crescimentovigoroso, na qual foi inoculado ofungo. Na extremidade de cadahaste, logo acima da última folhaaberta, colocou-se uma etiqueta paraseparar as folhas onde se inoculou ofungo daquelas que sedesenvolveram posteriormente.

Após a inoculação as plantasforam levadas à câmara úmida (100%UR e 12 horas de fotofase) regulada

Figura 1. Plantas de ‘Gala’ desfolhadas (à esquerda) ao lado de plantas de‘Fuji’

Figura 2. Lesões típicas de mancha-foliar-da-gala em folhas de macieira‘Gala’

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Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005 75

em 12 ou 16oC, onde permaneceramdurante os diferentes PMFsapresentados na Tabela 1.

Completado o PMF programado,as plantas foram levadas paraBiotron (70% UR e 12 horas defotofase) regulado em 12 ou 16oC,conforme o ensaio. A partir doaparecimento dos primeirossintomas da doença, foram reali-zadas avaliações diárias (durantesete dias) e foi quantificada aseveridade nas sete primeiras folhascontadas a partir da etiquetacolocada previamente, de acordo coma área foliar atingida. A incidênciada doença também foi determinadaatravés da contagem da quantidadede folhas que apresentavamsintomas em relação ao total defolhas avaliadas.

Todos os ensaios foram condu-zidos seguindo o delineamentointeiramente casualizado, sendoque o ensaio a 12oC constou de novetratamentos e o de 16oC, de seistratamentos. Ambos os ensaiosforam realizados com trêsrepetições, com uma planta porparcela. Os resultados obtidos foramsubmetidos à análise de regressãopolinomial utilizando-se o software“Table Curve”.

Resultados e discussão

Sob temperatura de 12 oC,observou-se o aparecimento desintomas quando as plantas foramsubmetidas a um PMF de 72 horasou mais, sendo que o aparecimentodos primeiros sintomas ocorreu oitodias após a inoculação. Em PMFigual ou inferior a 60 horas, nãohouve manifestação dos sintomas dadoença. Isso comprova os dadosapresentados por Boneti et al.(2001), que afirmam que sobtemperatura de 12oC e PMF de 48horas os sintomas da doença não semanifestaram nem mesmo após dezdias de incubação. Resultadosobtidos por Katsurayama & Boneti(2003) mostram que em tempe-ratura de 12oC o PMF necessáriopara o estabelecimento do patógenona planta hospedeira é muito longo,superior a 72 horas, reforçando osdados observados no presenteensaio. A partir de 72 horas de PMFa severidade da doença aumentouproporcionalmente com o aumentodo PMF (Figura 3), bem como a

incidência da doença (Figura 4).Essas condições (12oC e PMFsuperior a 72 horas) são comumenteobservadas no início da primaverana Região Sul do Brasil, o queressalta a importância domonitoramento climático comoforma de prevenir o aparecimentoda doença a campo.

As plantas submetidas à tempe-ratura de inoculação e incubação de16oC apresentaram os primeirossintomas da doença seis dias apósa inoculação, quando os PMFforam iguais ou superiores a 24horas. Seis dias após a inoculação,as plantas submetidas a PMF de24 e de 30 horas apresentaramseveridade em torno de 4% (Figura5A), diferentemente dos dadosapresentados por Crusius (2000),que sob temperatura de 16oCencontrou severidade de zero e0,38% para plantas mantidas sob24 e 32 horas de PMF, respec-

Tabela 1. Períodos de molhamento foliar (PMF) estudados sob temperaturasde 12 e 16oC

Temperatura PMF

oC Horas

12 12, 18, 24, 36, 48, 60, 72, 84, 96

16 12, 18, 24, 30, 36, 42

tivamente. A partir de 13 dias apósa inoculação, a severidade da doençapermaneceu praticamente constan-te nas plantas inoculadas (Figura5B), sugerindo que nesta tempe-ratura a manifestação máxima dossintomas ocorre aproximadamenteapós passados 13 dias da inocu-lação. Observou-se ainda que, alémda severidade, a incidência dadoença também aumentouproporcionalmente ao incrementodo PMF, a partir de 24 horas demolhamento (Figura 6). Através daobservação dos dados é possívelconstatar que em temperatura de16 oC o patógeno necessita de umtempo de molhamento relati-vamente longo, superior a 24 horas,para causar dano econômicosignificativo.

Pela análise de regressãoconstatou-se (através de umaequação polinomial de segundo grau)que a severidade da doença a 16 oC,

Figura 3. Severidade da mancha-foliar-da-gala em plantas de macieira‘Gala’ submetidas a 72, 84 e 96 horas de período de molhamento foliar(PMF) a 12oC. São Joaquim, SC. 2003

0,0%

0,1%

0,2%

0,3%

0,4%

0,5%

0,6%

0,7%

18 24 36 48 60 72 84 96

PMF (horas)

Sev

erid

ade

(%)

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

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em relação ao PMF, seguiu o modelologístico, ou seja, foi inicialmentemuito pequena, quase insignificante,e sofreu um incremento significativoa partir de 24 horas de PMF,estabilizando-se quando o PMF foiigual a 36 horas ou maior (Figura 7).Os dados obtidos nas plantasmantidas em 12oC não foramsubmetidos à análise de regressãodevido ao baixo nível de severidadeapresentado.

De acordo com as observações dopresente ensaio, a penetração de C.gloeosporioides na planta, causandosintomas de mancha-foliar-da-gala,é altamente dependente dascondições ambientes, principal-mente da temperatura e do PMF, aocontrário da observada em outrospatossistemas, nos quais apenetração do fungo é dependenteprincipalmente da fisiologia dohospedeiro, como no caso dopatossistema C. gloeosporioides :manga, em que o fungo só atravessaa cutícula com o amadurecimentodo fruto (Prior et al., 1992).

Conclusões

• O patógeno (C. gloeosporioides)pode se estabelecer em tempe-ratura de 12oC quando as plantassão submetidas a PMF igual ousuperior a 72 horas, e os sin-tomas podem surgir aproxima-damente oito dias após a ino-culação. Sob essa temperatura(12oC) os sintomas não se desen-volvem com 60 horas ou menos dePMF.

• Quando o período de incubaçãoocorre sob temperatura de 16oC ecom PMF igual ou superior a 24horas, os sintomas da doença sãoobservados aproximadamente seisdias após a inoculação; períodos demolhamento foliar inferiores a 24horas não proporcionam odesenvolvimento dos sintomas.

• O estabelecimento de C.gloeosporioides, agente causal damancha-foliar-da-gala, nas folhas demacieira ‘Gala’ é altamentedependente das condições am-bientes, e não apenas da fisiologiado hospedeiro.

Figura 4 . Incidência da mancha-foliar-da-gala em plantas de macieira‘Gala’ submetidas a diferentes períodos de molhamento foliar (PMF) a12oC. São Joaquim, SC. 2003

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

18 24 36 48 60 72 84 96

PMF (horas)

Inci

dên

cia

(%)

35

30

25

20

15

10

5

0

Figura 5. Severidade da mancha-foliar-da-gala (A) seis dias após ainoculação e (B) 13 dias após a inoculação em plantas de macieira ‘Gala’submetidas a diferentes períodos de molhamento foliar (PMF) a 16 oC

0%

2%

4%

6%

8%

10%

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12 18 24 30 36 42

PMF (horas)

Se

ver

ida

de

(%

)

0%

10%

20%

30%

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12 18 24 30 36 42

PMF (horas)

Sev

erid

ade

(%)

12

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8

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4

2

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40

30

20

10

0

A

B

PMF (horas)

PMF (horas)

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Figura 6. Incidência da mancha-foliar-da-gala em plantas de macieira‘Gala’ submetidas a diferentes períodos de molhamento foliar (PMF) a16oC. São Joaquim, SC. 2003

0%

20%

40%

60%

80%

100%

12 18 24 30 36 42

PMF (horas)

Inci

dên

cia

(%) 100

80

60

40

20

0

Figura 7. Progressão da severidade da mancha-foliar-da-gala em plantasde macieira ‘Gala’ submetidas a diferentes períodos de molhamento foliar(PMF) a 16oC

Agradecimentos

À Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural deSanta Catarina S.A. – Epagri – pelapossibilidade de realização destetrabalho, em especial à EstaçãoExperimental de São Joaquim, SC.Ao pesquisador YoshinoriKatsurayama pelo constante apoioe informações disponibilizadas.

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0,4

0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

010 20 30 40

PMF (horas)

Sev

erid

ade

(%)

Rank 1068 Eqn 1213 Iny = a+bx+cx^2r^2 = 0.99693612 DF Adj r^2 = 0.99234029 FitStoEn = 0.01121708

Fstat = 488.07463a = 15.384311b = 0.76485161

c = 0.010175338

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‘Castel Gala‘Castel Gala‘Castel Gala‘Castel Gala‘Castel Gala’ – mutação da macieira ‘Gala’ – mutação da macieira ‘Gala’ – mutação da macieira ‘Gala’ – mutação da macieira ‘Gala’ – mutação da macieira ‘Gala’ com baixa’ com baixa’ com baixa’ com baixa’ com baixanecessidade de frio e maturação precocenecessidade de frio e maturação precocenecessidade de frio e maturação precocenecessidade de frio e maturação precocenecessidade de frio e maturação precoce

Frederico Denardi1 e Jânio José Seccon2

Introdução

A produção brasileira de maçãsna safra 2003/04 atingiu 977.900t,quase toda colhida na Região Sul(Síntese anual..., 2003). A maiorparte desta produção provém decultivares de alta necessidade de friohibernal, cultivadas em condiçõesclimáticas insuficientes paraassegurar brotação e produçãosatisfatória sem o uso de trata-

Resumo – Em 2004, a produção brasileira de maçãs ficou em torno de 980.000t. Mais de 70% desta fruta foiproduzida em regime de frio hibernal insuficiente para assegurar boa produtividade e boa qualidade de frutos. Amaior parte provém de cultivares que requerem mais frio hibernal que o disponível em altitudes inferiores a 1.200mna Região Sul do Brasil. A deficiência de frio hibernal afeta diretamente a brotação, a floração, a qualidade dos frutose, conseqüentemente, a produtividade. A cultivar Castel Gala necessita pouco frio hibernal e apresenta maturaçãodos frutos muito antes da colheita da ‘Gala’. Esta nova cultivar floresce de 20 a 25 dias antes da ‘Gala’ e tem coloraçãoda epiderme similar à desta, assim como sabor e textura de polpa. Embora a maturação seja antecipada, os frutosda cultivar Castel Gala apresentam capacidade de conservação semelhante à da ‘Imperial Gala’. Estas características,aliadas à baixa necessidade de frio, mostram que esta nova cultivar é uma boa opção para regiões de invernos menosfrios que os recomendados para a cultivar Gala e Fuji.Termos para indexação : Malus domestica , nova cultivar, adaptação climática, precocidade.

‘Castel Gala’ – a ‘Gala’ apple mutation for low chilling and early ripening

Abstract – The Brazilian apple production in 2004 was around 980.000t. More than 70% of this amount washarvested under warm climatic conditions, where chilling hours is insufficient to ensure good yield and good fruitquality. Most of the apple production comes from cultivars with high chilling requirement, a condition not satisfiedin regions with altitudes lower than 1.200m in Southern Brazil. The lack of chilling has direct negative effects onbud breaking, flowering, and fruit quality. Castel Gala is a low chilling apple cultivar with very early fruit ripening.This new apple cultivar have a blooming time from 20 to 25 days earlier than cultivar Imperial Gala, which iscurrently the most planted apple cultivar in Southern Brazil. ‘Castel Gala’ apples have similar skin color, flavorand texture of those of ‘Gala’. Although their fruits ripe much earlier than those of ‘Gala’, fruits of both cultivarshave similar storage and shelf-life capacity. These characteristics, in addition to the low chilling requirement, make‘Castel Gala’ a good option for fruit growers to produce apples of good fruit quality and high yield at warmer winterclimate than that recommended for ‘Gala’ and ‘Fuji’.Index terms: Malus domestica, new cultivar, climatic adaptation, precocity.

mentos para a quebra da dormênciadas gemas (Petri et al., 2002; João,2004).

Para regiões onde a quantidadede frio hibernal não ultrapassa 600horas ≤ 7,2 oC, são necessáriascultivares de menor necessidade defrio que a atual ‘Gala’, ‘Fuji’ e seusclones de epiderme mais colorida,visto que a falta de adaptaçãoclimática promove uma série deanomalias na vegetação e na

frutificação, afetando a produ-tividade e a qualidade dos frutos(Petri et al., 1996). Com estascultivares, nestas condições,produtividade e qualidade de frutossatisfatória, via de regra, só podemser obtidas mediante o uso deagentes indutores da quebra dedormência artificial (Petri et al.,2002). Por conta desta técnica,verificam-se, atualmente, ten-dências de expansão dos plantios de

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000, Caçador, SC, fone: (49) 561-2000, e-mail:[email protected]. agr., fruticultor, fone: (47) 9136-1290, e-mail: [email protected].

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macieiras de alta necessidade defrio hibernal em regiões marginais,onde estes tratamentos sãoeficientes somente quando usadosem concentrações acima dasrecomendadas para climas maisfrios, elevando os custos de produção.Cultivares com menor necessidadede frio hibernal para estas regiõesdispensam o uso destes agentesquímicos, resultando em menorcusto de produção, menos agressãoao meio ambiente e, ao mesmotempo, melhor qualidade de frutos.

Em termos globais, emboravenha ocorrendo expansão daprodução de maçãs, verificam-setendências de estabilização daprodução de maçãs de cultivarestradicionais, como Delicious, GoldenDelicius e Granny Smith, e rápidaexpansão de plantios de cultivaresnovas, como Fuji, Gala, Braeburne Pink Lady (O’Rourke, 2003).Considerando-se conjuntamente aprodução mundial e as tendênciasde crescimento, a cultivar Gala eseus clones coloridos representamum dos grupos de maior expansão(O’Rourke, 2003). SegundoCastellarnau et al. (2000), isto sedeve, fundamentalmente, à altaqualidade dos frutos e à boaprodutividade das plantas do grupo‘Gala’. Embora esteja ocorrendorápida expansão dos plantios, asmaçãs ‘Gala’ foram responsáveis porapenas 4,7% da produção mundial,com 2,8 milhões de toneladas em2002 (O’Rourke, 2003). Entretanto,no mercado interno, pelo menos45% da produção provém destegrupo (Boneti et al., 2002), o quemostra a boa aceitação peloconsumidor brasileiro de maçãs dogrupo ‘Gala’.

A Castel Gala caracteriza-se porser uma cultivar de baixanecessidade de frio hibernal, altaqualidade de frutos, boa produ-tividade e maturação precoce,características que a credenciamcomo boa opção em substituição aosclones tradicionais de ‘Gala’ de altanecessidade de frio para climas deinvernos amenos. Para as regiõestradicionais produtoras de maçã,como Fraiburgo e região, em SC, eVacaria, Bom Jesus e região, no RS,esta nova cultivar poderá ser umaboa opção de produção, visandoantecipar as exportações de maçãs‘Gala’ para o hemisfério norte.

O objetivo deste estudo foi avaliara fenologia e o comportamentoagronômico desta nova cultivar demacieira em condições de climasubtropical, visando determinar seupotencial de produção e qualidadede frutos em regiões no Sul do Brasilonde a quantidade de frio hibernalnão ultrapassa 500 horas.

Origem da cultivar CastelGala

A ‘Castel Gala’ originou-se de umramo lateral de uma planta dacultivar Gala, no município de MonteCastelo, SC, situado a 860m dealtitude, com ± 380 horas de friohibernal ≤ 7,2oC. No final do invernode 1999 observou-se em um pomarcomercial da ‘Gala’ um ramo jábrotado em uma planta, enquantoos restantes permaneciam emestado dormente, o que indicavatratar-se de material de menornecessidade de frio hibernal. Noinverno do ano seguinte, iniciou-sea multiplicação deste material paraestudos.

Caracterização dacultivar

Planta – a cultivar Castel Galaapresenta as mesmas característicasda ‘Gala’ em termos de reação àsprincipais doenças fúngicas e pragasda macieira que ocorrem no Sul doBrasil. É suscetível à sarna (Venturiainaequalis), à mancha-foliar-da-gala(Colletotrichum spp.), ao oídio(Podosphaera leucotricha) e àpodridão-amarga (Glomerellacingulata). Por outro lado, é atacadapela mosca-das-frutas (Anastrepha

fraterculus), pela mariposa-oriental(Grapholita molesta) e pelo ácaro--vermelho-europeu (Panonychusulmi). No entanto, difere em termosde necessidade de frio hibernal,caracterizando-se como cultivar querequer menos frio que a ‘Gala’original (Seccon et al., 2004).

Brotação – nas condiçõesclimáticas do Sul do Brasil, em geral,o índice de brotação tem relaçãoinversa com a necessidade de frio dacultivar. Por outro lado, cultivarescom pouca necessidade de friotendem a brotar mais cedo (Petri etal., 2002). Por se tratar de umacultivar com menor necessidade defrio hibernal, as plantas da ‘CastelGala’ alcançam o final da dormênciaantes, brotando entre 20 e 25 diasmais cedo que a Gala, cultivar dealta necessidade de frio. No entanto,mantém o mesmo ciclo “plenafloração/colheita” que esta última.

Na ausência de quebra artificialda dormência, ao contrário do quese observou na ‘Gala’, a brotação na‘Castel Gala’ foi bastante uniforme,resultando em formação abundantede esporões de frutificação e,praticamente, ausência de ramos‘ladrões’ (Figura 1A). Já na ‘Gala’, abrotação nas condições de climaameno onde foram conduzidos estesestudos foi desuniforme ao longodos ramos, com tendência deemissão de ramos ladrões (Figura1B), indicativo de falta de adaptaçãoclimática.

Floração – embora podendovariar muito de um ano para outro,ocorre entre 20 e 25 dias antes dafloração da ‘Gala’. Nas condições emque foram realizados estes estudos(altitude de 860m, com 380 horas de

Figura 1. Ramos laterais de macieira na primavera sem tratamentoquímico para quebra de dormência das gemas: (A) ‘Castel Gala’; (B) ‘Gala’.Município de Monte Castelo, SC – ciclo 2004/05

A B

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frio hibernal e ausência de quebraartificial da dormência), a floraçãoda ‘Castel Gala’ iniciou no últimodecêndio de agosto, enquanto que afloração da ‘Gala’ iniciou no se-gundo decêndio de setembro (Ta-bela 1).

Estudos realizados durante o ciclo2003/04 mostraram que a ‘CastelGala’ tem período de floração maiscurto que o da ‘Gala’ (Seccon et al.,2004). Segundo Petri et al. (2002), afalta de adaptação climática resultaem brotação e floração prolongada.

Tanto a ‘Castel Gala’ quanto a‘Gala’ tiveram floração abundante;porém, esta última apresentou baixafrutificação efetiva, apesar da boafloração e da coincidência com aspolinizadoras.

Produção – a adaptaçãoclimática de uma cultivar é fatordeterminante para a produtividadee para a qualidade dos frutos (Petri,et al., 2002). A melhor adaptaçãoclimática da ‘Castel Gala’ nascondições em que foram realizadosestes estudos resultou em maiornúmero e tamanho de frutos e, emconseqüência, houve maiorporcentagem de frutos nascategorias superiores de calibre emelhor eficiência produtiva, quandocomparada à ‘Imperial Gala’,submetida à quebra artificial dadormência (Tabela 1 e 2). SegundoPetri et al. (2002), a boa adaptaçãoclimática da cultivar é essencial paraque ocorra boa brotação, resultandoem maior densidade de gemasfloríferas na planta e, conse-qüentemente, maior potencialprodutivo. Na ‘Imperial Gala’, a baixafrutificação efetiva resultou embaixa produção por planta.

Fruto – a ‘Castel Gala’, pormanter o mesmo ciclo “plenafloração/colheita” que a ‘Gala’, mascom floração bem mais cedo,apresenta maturação dos frutosentre 20 e 25 dias antes desta (Tabela2; Figura 2). Por outro lado, mantémas mesmas características decoloração da epiderme e formatodos frutos da ‘Gala’. Estudos dascaracterísticas físico-químicasmostraram que, embora ama-durecendo entre 20 e 25 diasantes da ‘Gala’, os frutos da ‘CastelGala’ mantêm a capacidade deconservação muito semelhanteaos daquela (Vieira et al., 2004).

Tabela 1. Dados de fenologia, produção, eficiência produtiva e reação adoenças e pragas da cultivar de macieira Castel Gala e Imperial Galasobre Maruba/M-9. Monte Castelo, SC – safra 2004/05

Características da planta‘Castel ‘ImperialGala’ Gala’(1)

Exigência em frio hibernal(2) Baixa Alta

Início de floração(3) 1o/9 20/9

Início de maturação (3) 5/1 25/1

Produção (kg/planta) (4) 35,5 9

Eficiência produtiva (kg de frutos/cm2 de ATC) (5) 0,98 0,57

Reação às principais doenças

– Sarna (V. inaequalis) Suscetível Suscetível

– Oídio (P. leucotricha) Suscetível Suscetível

– Mancha-foliar-da-gala (Colletrotrichum spp.) Suscetível Suscetível

– Podridão-amarga (G. cingulata) Suscetível Suscetível

Reação às principais pragas

– Mosca-das-frutas (A. fraterculus) Suscetível Suscetível

– Mariposa-oriental (G. molesta) Suscetível Suscetível

– Ácaro-vermelho-europeu (P. ulmi ) Suscetível SuscetívelPrecocidade de frutificação (anos após enxertia) Média Média

(2o ano) (2o ano)(1) Quebra da dormência artificial das gemas feita apenas na ‘ImperialGala’, com 4% de óleo mineral + 1,2% de Dormex, aplicados quando haviaem torno de 5% de gemas no estádio ponta verde.(2) Para as condições climáticas da Região Sul do Brasil, considera-se baixaexigência em frio valores menores do que 500 horas ≤ 7,2oC, e altaexigência em frio valores acima de 700 horas ≤ 7,2oC.(3) A floração e a maturação dos frutos são influenciadas pelas condiçõesclimáticas durante o inverno, podendo variar de um ano para outro emfunção da quantidade de frio hibernal.(4) Espaçamento de cultivo: 4x1m; idade das plantas: quatro anos.(5) ATC = área transversal do caule da copa a 5cm acima do ponto deenxertia.

Figura 2. Frutos de macieira em diferentes estágios de maturação em13/1/05, de plantas sem tratamento para quebra de dormência das gemas:(A) ‘Castel Gala’ – frutos maduros; (B) ‘Gala’ – frutos verdes. Municípiode Monte Castelo, SC – ciclo 2004/05.

AB

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Tabela 2. Características visuais e físico-químicas dos frutos da cultivarde macieira Castel Gala e Imperial Gala sobre Maruba/M-9. Monte Castelo,SC – safra 2004/05(1)

Indicativo‘Castel ‘ImperialGala’ Gala’(2)

Características visuaisFormato Arredondado- Arredondado-

-cônico -cônico

.....................g.....................

Tamanho (peso médio) Médio (146,7a) Pequeno (99,3b)

.....................%.....................

Categoria de tamanho – caixa de 18kg(3)

• 90 a 120 frutos por caixa 42,8 2,3

• 135 a 180 frutos por caixa 53,7 39,2

• ≥ 198 frutos por caixa 3,5 58,5

Incidência de “russeting” nos frutos(4)

• Ausência 9 a 2,6 a

• Restrito à cavidade peduncular 68,2 a 36,4 b

• Extrapolando a cavidade peduncular 22,8 b 61,0 a

Características físico-químicas

Degradação de amigo(5) 8,7 7,3

.....................lb.....................

Firmeza da polpa 14,6 a 14,7 a

.....................%.....................

Sólidos solúveis totais – SST 12,5 b 13,7 a

Ácido málico 0,29 a 0,27 a

Relação SST/ácido málico 42,8 b 49,7 a

(1) Valores seguidos pela mesma letra em cada linha não diferem entre sipelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.(2) Quebra da dormência artificial das gemas feita apenas na ‘Imperial Gala’,com 4% de óleo mineral + 1,2% de Dormex, aplicados quando havia emtorno de 5% de gemas no estádio de ponta verde.(3)O número de frutos por caixa define a categoria comercial. Frutosmaiores têm maior valor.(4) Para maçãs tipo extra, o mercado nacional tolera até 10% de “russeting”,desde que restrito à cavidade peduncular.(5) Conforme escala de valores, onde: 1 = frutos totalmente verdes; 10 =frutos totalmente maduros.

Estes estudos mostraram tambémque a ‘Castel Gala’ contém menossólidos solúveis totais (açúcares) quea ‘Imperial Gala’ (Tabela 2). Istotambém foi constatado por Vieira etal. (2004).

O “russeting” é um distúrbiofisiológico incidente na epiderme,que deprecia a aparência dos frutose reduz seu valor comercial (Basso,2002). Em Monte Castelo, SC, a‘Castel Gala’ mostrou menorincidência deste distúrbio fisiológicoque a ‘Imperial Gala’ (Tabela 2). O“russeting” pode estar relacio-nado também à adaptaçãoclimática das plantas, pois, em geral,observa-se menos incidência destedistúrbio fisiológico na mesmacultivar nas maiores altitudes noSul do Brasil.

Perspectivas comerciaispara a cultivar Castel Gala

Para condições climáticassubtropicais, a menor necessidadede frio hibernal destaca-se comocaracterística diferencial e favorávelà ‘Castel Gala’ em relação à ‘Gala’,resultando em melhor adaptaçãoclimática em altitudes inferiores a1.000m na Região Sul do Brasil.Como resultado, a produtividade émaior e, ao mesmo tempo, os frutossão de melhor qualidade. Estascaracterísticas, aliadas à maturaçãodos frutos mais precoce que na ‘Gala’,fazem da ‘Castel Gala’ uma melhoralternativa de produção de maçãstipo ‘Gala’ para estas regiões. Emcondições de invernos amenos – 350a 400 horas de frio ≤ 7,2oC – a ‘CastelGala’ pode produzir satisfato-riamente, mesmo sem tratamentoartificial para a quebra da dormênciadas gemas. A precocidade dematuração permite a comercia-lização da produção quando a cotaçãode preços da maçã está no seu auge.Alia-se a isto o sabor e a aparênciasimilar à dos frutos da ‘Gala’ original,atualmente uma das maçãs demelhor aceitação mundial, confe-rindo alto valor competitivo às maçãs‘Castel Gala’ em relação a outrasmaçãs precoces.

Limitações da cultivarCastel Gala

Clima – devido à baixa neces-sidade de frio, a ‘Castel Gala’ inicia

a brotação e a floração muito maiscedo do que os demais clones de‘Gala’. Por isto, em altitudes acimade 1.200m na Região Sul do Brasil,a floração poderá ser danificada porgeadas tardias.

Fitossanidade – a exemplo dacultivar da qual se originou, asuscetibilidade da ‘Castel Gala’ àsprincipais doenças e pragas da

macieira requer o mesmo rigor nomanejo de controle fitossanitário da‘Gala’.

Disponibilidade dematerial

A ‘Castel Gala’ está sob regimede proteção intelectual, requeridapelo co-autor, engenheiro agrônomo

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Jânio José Seccon, que detém todosos direitos sobre esta nova cultivarpara multiplicação e venda demudas. O início da comercializaçãode mudas está previsto para oinverno de 2006. Contatos paraencomendas de mudas devemser feitos diretamente pelo fone(47) 654-0322 ou pelo [email protected] ou,ainda, com a Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador, RuaAbílio Franco, 1.500, Bairro BomSucesso, C.P. 591, 89500-000Caçador, SC, fone: (49) 561-2000,ramal 2016, e-mail: [email protected].

Literatura citada

1. BASSO, C. Distúrbios fisiológicos. In:EPAGRI. A cultura da macieira .Florianópolis, 2002. p.609-636.

2. BONETI, J.I. da S.; CESA, J.D.; PETRI,J.L.; BLEICHER, J. Evolução da cultura

da macieira. In: EPAGRI. A cultura damacieira. Florianópolis, 2002. p.37-57.

3. CASTELLARNAU, I.I.; PERICAY, J.C.;ROCAS, J.B.; BARBAROJA, R.D.;FEIXA, G.G.; SANGRÀ, R.M.; TORRES,A.M.; PAGÈS GRAU, J.M. Manzano: lasvariedades de más interés. Barcelona:Institut de Recerca i TecnologíaAgroalimentàries, 2000. 240p.

4. JOÃO, P.L. (Coord.). Levantamento dafruticultura comercial do Rio Grandedo Sul – 2003/2004. Porto Alegre:Emater/RS, 2004. 89p.

5. O’ROURKE, D. World production, trade,consumption and economic outlook forapples. In: FERREE, D.C.;WARRINGTON, I.J. Apples : Botany,production and uses. Cambridge, Mass:CABI Publishing, 2003. 660p.

6. PETRI, J.L.; PALLADINI, L.A.;SCHUCK, E.; DUCROQUET, J.P.H.J.;POLA, A.C. Dormência e indução dabrotação de fruteiras de climatemperado. Florianópolis: Epagri, 1996.110p. (Epagri. Boletim Técnico, 75).

7. PETRI, J.L.; PALLADINI, L.A.; POLA,A.C. Dormência e indução da bro-tação da macieira. In: EPAGRI: A culturada macieira . Florianópolis, 2002.743p.

8. SECCON, J.J.; DENARDI, F.;MONDARDO, M. Mutação de maciei-ra portadora de baixa exigência em friohibernal e maturação precoce dosfrutos. CONGRESSO BRASILEIRO DEFRUTICULTURA, 28., 2004, Floria-nópolis, SC. Anais... Florianópolis, SC:SBF, 2004. CD-ROM.

9. SÍNTESE ANUAL DA AGRICULTURADE SANTA CATARINA – 2002-2003.Florianópolis: Instituto Cepa, 2003.287p.

10. VIEIRA, M.J.; DENARDI, F.;ARGENTA, L.C.; KRAMMES, J.G.Maturação e qualidade pós-colheita demaçãs ‘Castel Gala’, novo mutanteda ‘Gala’. CONGRESSO BRASI-LEIRO DE FRUTICULTURA, 28.,2004, Florianópolis, SC. Anais...Florianópolis, SC: SBF, 2004. CD-ROM.

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A

Uso de feromônio seUso de feromônio seUso de feromônio seUso de feromônio seUso de feromônio sexual sintético para o monitoramentoxual sintético para o monitoramentoxual sintético para o monitoramentoxual sintético para o monitoramentoxual sintético para o monitoramentoda flutuação populacional da traça-da flutuação populacional da traça-da flutuação populacional da traça-da flutuação populacional da traça-da flutuação populacional da traça-dododododo-tomateiro-tomateiro-tomateiro-tomateiro-tomateiro

TTTTTuta absolutauta absolutauta absolutauta absolutauta absoluta no Planalto Norte Catarinense no Planalto Norte Catarinense no Planalto Norte Catarinense no Planalto Norte Catarinense no Planalto Norte Catarinense

Alvimar Bavaresco1, André Nunes Loula Tôrres 2 eGeraldo Pilati3

traça-do-tomateiro Tuta ab-soluta (Lepidoptera: Gele-chiidae) é uma das principais

pragas da cultura do tomateiro noBrasil, estando distribuída empraticamente todas as regiões

Resumo – A flutuação populacional de adultos da traça-do-tomateiro Tuta absoluta (Lepidoptera: Gelechiidae)foi avaliada utilizando feromônio sexual, no período de outubro de 2002 a setembro de 2003, no Planalto NorteCatarinense, abrangendo as safras de agosto a janeiro e de fevereiro a julho, em tomateiro cultivado em ambienteprotegido e a céu aberto. A população de adultos apresentou comportamento variável entre as áreas avaliadas,havendo diferenças no número de insetos capturados por semana e no momento da ocorrência dos incrementospopulacionais, não sendo possível caracterizar sincronismo entre picos populacionais definidos. O monitoramentopor meio do feromônio sexual se mostrou adequado para identificar o momento de ocorrência dos incrementospopulacionais da traça-do-tomateiro e tem potencial para ser utilizado para definir limites de controle de pragas.Termos para Indexação: Insecta, ecologia, população, controle, tomate.

Use of synthetic sexual pheromone for monitoring the seasonal fluctuation ofTuta absoluta in Planalto Norte of Santa Catarina State

Abstract – Seasonal fluctuation of the tomato leafworm Tuta absoluta (Lepidoptera: Gelechiidae) adults wasevaluated in Planalto Norte of Santa Catarina State from October/2002 to September/2003 using pheromonelures. The experiment was carried out from August to January and from February to July in tomatoes crops,cultivated in greenhouses and in the field. Seasonal fluctuation of tomato leafworm adults varied in quantity ofmales captured in delta traps and in the period of occurrence, and among areas evaluated. Pest managementsystem adopted by growers affected the standard of the population fluctuation in the studied areas. The monitoringprocess using sexual pheromone in delta traps was adequate to identify the time of tomato leafworm populationalincrements, and has potential to be used to define thresholds for pest control.Index terms: Insecta, ecology, population, control, tomato.

produtoras do País (Imenes et al.,1990; Souza & Reis, 2000). Suaimportância reside não apenas noselevados danos causados em folhas,ponteiros e frutos do tomateiro(Figura 1), mas também na

dificuldade encontrada para seumanejo, requerendo muitas vezeselevado número de aplicações deinseticidas para seu controle(Gonçalves et al., 1997; Souza &Reis, 2000).

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 624-1144, e-mail:[email protected]. agr., Dr., Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – Adab –, Rua Hélio Borges, s/no, Bairro São João, 46808-000 Itaberaba,BA, e-mail: [email protected]. agr., Epagri/Gerência Regional de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 624-1144, e-mail: [email protected].

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Na Região Planalto NorteCatarinense o tomateiro é cultivadoem abrigos plásticos ou a céu aberto.No cultivo em abrigos plásticos, osprodutores realizam duas safras,uma plantada no final de agosto/início de setembro e outra entrejaneiro e fevereiro. No cultivo a céuaberto, o período de plantio seestende do final de setembro atémeados de dezembro, adotando-se,geralmente, plantios escalonados.De modo geral, o tomateiro daprimeira safra, cultivado em abrigosplásticos, sofre menor intensidadede ataque da traça-do-tomateiro.Entretanto, no tomateiro dasegunda safra, produzido emabrigos, e nos cultivos a céu aberto,onde o plantio é mais tardio, osdanos da praga geralmente sãoseveros, podendo comprometergrande parte da produção. Em funçãodisso, os produtores realizam uma aduas aplicações de inseticidas porsemana, de modo sistemático, semavaliar o nível populacional da praga.Essa prática de controle, além deonerar os custos de produção, podetrazer diversos efeitos negativos,como a ressurgência de pragas,morte de insetos benéficos,intoxicação humana, contaminação

ambiental e desenvolvimento deresistência dos insetos a inseticidas(Siqueira et al., 2000).

Para o estabelecimento de umprograma racional de manejointegrado de pragas (MIP) éfundamental a existência demétodos de monitoramentoeficientes, pouco onerosos e de fácilaplicação pelos produtores, bemcomo o conhecimento da dinâmicapopulacional dos insetos-praga dacultura. Neste sentido, sistemas demonitoramento baseados emferomônios sexuais apresentam-secomo alternativa prática para adeterminação da flutuaçãopopulacional e monitoramento depragas a campo (Cardé & Elkinton,1984). O uso de feromônios sexuaisem armadilhas permite aconstatação da entrada dos insetosnas lavouras ou de seu aumentopopulacional, identificando-se omomento adequado para a adoçãode medidas de controle, planejando--se as intervenções de acordo coma flutuação populacional da praga(Botton et al., 2001).

Este trabalho teve por objetivoverificar a viabilidade do uso doferomônio sexual sintético para omonitoramento da flutuação

populacional de T. absoluta nacultura do tomateiro.

A flutuação populacional da traça--do-tomateiro foi monitorada noperíodo de outubro de 2002 asetembro de 2003, no Planalto NorteCatarinense, nos sistemas de cultivode tomateiro protegido e a céuaberto. No cultivo protegido, avaliou--se a flutuação populacional da pragaem abrigos de 10 x 50m, no municípiode Canoinhas, Três Barras, Mafra eItaiópolis (dois abrigos pormunicípio). No cultivo a céu aberto,avaliou-se uma área comercial deaproximadamente 2.500m 2, nomunicípio de Mafra.

Nos cultivos protegidos aprimeira safra de tomate foitransplantada no período de 21 deagosto a 10 de setembro de 2002. Nasegunda safra, o período detransplante foi de 27 de janeiro a 10de fevereiro de 2003. No cultivo acéu aberto, o produtor adotou duasdatas de transplante, em 9 desetembro de 2002 e em 20 dedezembro de 2002, sendo o segundotransplantio realizado antes doencerramento da colheita doprimeiro. O tutoramento foirealizado com fitilhos plásticos e asplantas foram conduzidas emespaldeira com duas hastes, noespaçamento de 1 x 0,5m. Ascultivares utilizadas foram Hilda,Sofia, Funny e Carmen. A adubaçãofoi realizada de acordo com asrecomendações de Raij et al. (1996).

Para o monitoramento da pragaforam empregadas armadilhasmodelo Delta de cor branca, iscadascom feromônio sexual sintético paraT. absoluta (acetato de (E,Z,Z)-3,8,11-Tetradecatrienila e de (E,Z)-3,8-Tetradecadienila), impregnadoem septos de borracha, utilizadoscomo evaporador de feromônio (IscaTecnologias Ltda., Rio Grande doSul, Brasil). Em cada área deavaliação foi instalada umaarmadilha fixada em um suporte demadeira, posicionada no centro doabrigo ou da lavoura a céu aberto.As armadilhas foram mantidas a0,2m acima do topo da cultura eelevadas à medida que as plantascresciam, até a altura máxima de1,80m, conforme recomendaçõestécnicas do fornecedor do feromônio.As aberturas das armadilhas foramdispostas no sentido das linhas dacultura. Os septos foram substituídos

Figura 1. (A) Lagarta de T. absoluta (B), danos em folhas e (C e D) em frutosde tomateiro

A B

C D

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a cada 20 dias e o piso adesivo,quando havia acúmulo de detritosque prejudicavam a captura doinseto. As inspeções das armadilhaspara contagem do número deindivíduos capturados foramrealizadas a cada sete dias, sempreno período da tarde. Em cada áreaforam aplicados tratamentosfitossanitários conforme ocalendário estabelecido pelosprodutores.

A presença de adultos da tra-ça-do-tomateiro nas áreas do estudofoi detectada desde o momento dainstalação das armadilhas, em 7/10/2002 (Figura 2 a 6). Nos cultivos sobabrigo a flutuação populacional doinseto apresentou comportamentodesuniforme, havendo grandevariação no número de mariposascapturadas nos diferentes abri-gos, bem como no momento daocorrência de acréscimos edecréscimos nas capturas (Figura 2a 5).

O número de insetos capturadosnas armadilhas, no final da primeirasafra, atingiu os maiores valores noabrigo 1 em Canoinhas (Figura 2),no abrigo 2 em Três Barras (Figura3) e no abrigo 1 em Mafra (Figura5). Nestes abrigos, o número deaplicações de inseticidas durante aprimeira safra foi menor do que nosdemais, o que pode ter contribuídopara o aumento populacional dapraga. Isso demonstra a importânciado monitoramento para realizar ocontrole no momento adequado,quando se observar o incremento decapturas nas armadilhas. Por outrolado, a estratégia utilizada poroutros produtores, de aplicações porcalendário desde o início da primeirasafra, também é inadequada, umavez que até meados ou fim denovembro o número de adultoscapturados nas armadilhas foirelativamente baixo, como obser-vado nos dois abrigos em Mafra eItaiópolis e no abrigo 1 em TrêsBarras (Figura 3 a 5).

Na segunda safra a freqüência deaplicação de inseticidas foi de umaa duas por semana em todos osabrigos. Em virtude disso, observou--se que o número de insetoscapturados nos picos mais elevadosmanteve-se no mesmo patamarobservado no final da primeira safraou apresentou a tendência deredução (Figura 2 a 5). No abrigo 1

Figura 2. Flutuação populacional de adultos de T. absoluta em cultivoprotegido de tomateiro no município de Canoinhas, SC. Safra 2002/03.(R1 = retirada dos restos culturais da primeira safra; T2 = transplante dasegunda safra; R2 = retirada dos restos culturais da segunda safra. Emazul para o abrigo 1 e em verde para o abrigo 2)

Figura 3. Flutuação populacional de adultos de T. absoluta em cultivoprotegido de tomateiro no município de Três Barras, SC. Safra 2002/03.(R1 = retirada dos restos culturais da primeira safra; T2 = transplante dasegunda safra; R2 = retirada dos restos culturais da segunda safra. Emazul para o abrigo 1 e em verde para o abrigo 2)

Figura 4. Flutuação populacional de adultos de T. absoluta em cultivoprotegido de tomateiro no município de Itaiópolis, SC. Safra 2002/03. (R1= retirada dos restos culturais da primeira safra; T2 = transplante dasegunda safra; R2 = retirada dos restos culturais da segunda safra. Emazul para o abrigo 1 e em verde para o abrigo 2)

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Out. Nov . D ez . Jan. Fev . Mar. Abr. Maio J un. Jul . Ago. Set.

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Abrigo 1 Abrigo 2

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em Canoinhas, 2 em Três Barras e2 em Itaiópolis a redução nascapturas entre o final da primeirasafra e o início da segunda foi maisacentuada (Figura 2 a 4),provavelmente em função dadestinação correta dos restosculturais da primeira safra. Nestaspropriedades, logo após a últimacolheita, as plantas foram retiradasdos abrigos e queimadas, enquantoque nas demais os restos culturaisforam abandonados em locais nãomuito distantes dos abrigos.

No cultivo a céu aberto a capturade adultos de T. absoluta nasarmadilhas foi baixa durante o mêsde outubro (Figura 6). A partir do

Figura 5. Flutuação populacional de adultos de T. absoluta em cultivoprotegido de tomateiro no município de Mafra, SC. Safra 2002/03. (R1 =retirada dos restos culturais da primeira safra; T2 = transplante dasegunda safra; R2 = retirada dos restos culturais da segunda safra)

Figura 6. Flutuação populacional de adultos de T. absoluta em lavoura acéu aberto de tomateiro no município de Mafra, SC. Safra 2002/03. (R1= retirada dos restos culturais da primeira safra; T2 = transplante dasegunda safra; R2 = retirada dos restos culturais da segunda safra)

início de novembro, observou-seaumento gradual no número deindivíduos coletados, até meados dedezembro. As maiores capturasocorreram de meados de dezembroa abril, com acentuada oscilação nonúmero de adultos coletados noperíodo. Mesmo após o final do cicloda cultura, em maio, a captura deadultos permaneceu relativamenteelevada até o início de julho, quandopassou a apresentar decréscimoconstante até o final de agosto(Figura 6).

As armadilhas de feromôniosexual foram eficientes paraverificar a flutuação populacional datraça-do-tomateiro e constatar os

momentos de incrementos napopulação do inseto. Observaram-sediferenças no número de insetoscapturados nas armadilhas e, emmenor grau, no momento daocorrência dos picos populacionaisentre os locais em estudo (Figura 2a 6), sendo necessário oacompanhamento da população dapraga individualmente em cadapropriedade.

Literatura citada

1. BOTTON, M.; ARIOLI, C.J.;COLLETTA, V.D. Monitoramento damariposa oriental Grapholita molesta(Busck, 1916) na cultura do pessegueiro.Bento Gonçalves: Embrapa-CNPUV,2001. 4p. (Embrapa-CNPUV. Comu-nicado Técnico, 38).

2. CARDÉ, R.T.; ELKINTON, J.S. Fieldtrapping with attractants: methods andinterpretation. In: HUMMEL, H.E.;MILLER, T.A. (Eds.). Techniques inpheromone research . New York:Springer-Verlag, 1984. p.111-129.

3. GONÇALVES, N.P.; SILVA, R.A.;ALVARENGA, C.D. Manejo integradode pragas do tomateiro. Belo Horizonte:Epamig, 1997, 12p. (Epamig. BoletimTécnico, 49).

4. IMENES, S.D.L.; UCHOA FERNAN-DES, M.A.; CAMPOS, T.B.;TAKEMATSU, A.P. Aspectos biológicose comportamentais de traça-do-to-mateiro Scrobipalpula absoluta(Meyrick,1917) (Lepidoptera: Gele-chiidae). Arquivos do InstitutoBiológico , São Paulo, v.57, n.1/2, p.63-68, 1990.

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6. SIQUEIRA, H.A.A.; GUEDES, R.N.C.;PICANÇO, N.C. Insecticide resistancein populations of Tuta absoluta(Lepidoptera: Gelechiidae). Agricul-tural and Forest Entomology, Oxford,v.2, n.2, p.147-153, 2000.

7. SOUZA, J.C.; REIS, P.R. Traça-do--tomateiro: histórico, reconhecimento,biologia, prejuízos e controle. 3.ed. BeloHorizonte: Epamig, 2000. 32p. (Epamig.Boletim Técnico, 57).

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87Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Identificação da raça 73 de Identificação da raça 73 de Identificação da raça 73 de Identificação da raça 73 de Identificação da raça 73 de ColletotrichumColletotrichumColletotrichumColletotrichumColletotrichumlindemuthianumlindemuthianumlindemuthianumlindemuthianumlindemuthianum, agente causal da, agente causal da, agente causal da, agente causal da, agente causal da

antracnoseantracnoseantracnoseantracnoseantracnose-----dododododo-feijoeiro, em dois municípios do-feijoeiro, em dois municípios do-feijoeiro, em dois municípios do-feijoeiro, em dois municípios do-feijoeiro, em dois municípios doAlto VAlto VAlto VAlto VAlto Vale do Itajaí, SCale do Itajaí, SCale do Itajaí, SCale do Itajaí, SCale do Itajaí, SC

Jean Carlos Loffaguen1, Viviane Talamini2 eMarciel João Stadnik3

fungo Colletotrichum linde-muthianum Sacc. & Magnusé o agente etiológico da

antracnose-do-feijoeiro, consideradaa mais importante doença dessacultura. Pode causar perda total dalavoura quando os fatores cultivarsuscetível, ambiente favorável aopatógeno e sementes infectadasestiverem simultaneamentepresentes. É uma doença facilmentediagnosticada, pois apresenta alguns

Resumo – A antracnose-do-feijoeiro causada por Colletotrichum lindemuthianum é considerada a principaldoença dessa cultura, em função das perdas de produtividade que provoca nas lavouras atacadas. Uma das formasmais eficientes de controle dessa doença é por meio de cultivares resistentes. No caso da antracnose, a resistênciade uma cultivar está diretamente relacionada às raças do fungo presentes na região de plantio. O presente trabalhoteve por objetivo identificar a raça presente em duas lavouras severamente infectadas por C. lindemuthianum nosmunicípios de Ituporanga e Petrolândia. Após o isolamento monospórico do fungo identificou-se, com o auxílio de12 cultivares diferenciadoras, a raça 73 a partir dos dois isolados coletados na Região do Alto Vale do Itajaí, em SantaCatarina.Termos para indexação: antracnose, raças patogênicas, Phaseolus vulgaris.

Identification of race 73 of Colletotrichum lindemuthianum, the causal agent ofthe common bean anthracnose, in two municipalities of Alto Vale do Itajaí,

Santa Catarina, Brazil

Abstract – Bean anthracnose caused by Colletotrichum lindemuthianum is the main disease constraint factorfor low yield in this crop. Disease resistance is one of the most efficient control methods and, in the case ofanthracnose, the cultivar resistance is directly associated to actual fungus races. The objective of this study wasto identify the races present in severely infected plants grown in Ituporanga and Petrolândia, Santa Catarina,Brazil. After monosporic isolation, fungus race was determined by 12 differential cultivars. Isolates from both AltoVale do Itajaí localities were identified as race 73.Index terms: anthracnose, pathogenic races, Phaseolus vulgaris.

sintomas típicos como lesõesnecróticas de coloração marrom-es-cura nas nervuras da face inferiorda folha (Figura 1A). Em vagens,produz lesões geralmente depri-midas e circulares, de coloraçãomarrom, com os bordos escuros esalientes.

O controle da antracnose estánormalmente associado à utilizaçãopreventiva de fungicidas, uso desementes sadias e cultivares

resistentes. Considerando a atualconjuntura econômica e ecológica,a utilização de cultivares resistentespassa a ser considerada medidaobrigatória para o controle dessadoença, já que permite, além daredução dos custos de produção,diminuir a contaminação do meioambiente e do consumidor, pelomenor uso de agrotóxicos. Porém, ouso do controle genético da antrac-nose por cultivares resistentes é

O

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Eng. agr., UFSC/Laboratório de Fitopatologia, Rod. Admar Gonzaga, 1.346, 88034-001 Florianópolis, SC, fone: (48) 331-5424.2Eng. agr., Dr., UFSC/CCA, e-mail: [email protected]. agr., Dr., UFSC/CCA, fone: (48) 331-5338, e-mail: [email protected].

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complexo, devido principalmente àgrande variabilidade genética dessefungo. As cultivares de feijãodisponíveis apresentam resistênciadiferenciada às raças de C.lindemuthianum , em função dosgenes de resistência que apre-sentam. A identificação das raçaspresentes em cada região énecessária, a fim de se poder utilizaresse critério na escolha da cultivara ser utilizada.

Trabalhos para determinação deraças de C. lindemuthianum usandoconjuntos de cultivares diferen-ciadoras vêm sendo realizados noBrasil desde 1966, visto que já foramdetectadas mais de 25 raças só noSul do País, com predominância daraça 65, 73, 81 e 89, todas do grupoAlfa (Balardin, 1997; Rava et al.,1994; Sartorato, 2002; Talamini etal., 2004).

A partir de 1990, após a PrimeiraReunião Latino-Americana daAntracnose do Feijoeiro, realizadano Ciat (Cali, Colômbia), os trabalhosde identificação de raças forampadronizados pelo uso das 12cultivares diferenciadoras, sendoelas: Michelite, Michigan Dark Red

Kidney (MDRK), Perry Marrow,Cornell 49-242, Widusa, Kaboon,México 222, PI 207262, TO, TU,AB136 e G2333 (CIAT, 1990).

Diante da escassez de trabalhosque visem identificar raças deColletotrichum lindemuthianum naRegião do Alto Vale do Itajaí, noEstado de Santa Catarina, foirealizado um estudo para identificara raça de dois isolados do patógeno,coletados de lavouras do municípiode Ituporanga e Petrolândia, durantea safra de 2003/04. Para tanto, foramcoletadas vagens com os sintomastípicos da antracnose a partir deduas lavouras com a cultivar IPRUirapuru, localizadas no municípiode Ituporanga e Petrolândia. Após acoleta, as vagens foramencaminhadas ao laboratório deFitopatologia do Centro de CiênciasAgrárias – CCA – da UFSC, ondeforam realizados os trabalhos deisolamento e identificação do fungo.

Para o isolamento do fungo,inicialmente foram retiradosfragmentos das lesões encontradasnas vagens coletadas. Essesfragmentos foram plaqueados emmeio BDA (Batata Dextrose Ágar) e

posteriormente incubados a 22oCcom fotoperíodo de 12 horas. Após aobtenção das colônias puras (Figura1B), uma suspensão com conídiosfoi repicada para placas de Petri,com meio de cultura ágar-ágar. Após24 horas, com o auxílio de micros-cópio ótico, esporos germinadosforam retirados e transferidos parameio BDA para obtenção da culturamonospórica.

Após o crescimento da culturamonospórica fragmentos da colôniaforam repicados para vagens defeijoeiro esterilizadas, parcialmenteimersas em meio ágar-ágar. Esseprocedimento garante a maiorprodução de conídios do fungo, umavez que a esporulação é abundantesobre as vagens e preserva avirulência.

Em condições de casa-de-vege-tação foi realizada a semeaduradas 12 cultivares diferenciadoras,mais uma cultivar suscetível (IPRUirapuru). As sementes dasdiferenciadoras foram fornecidaspelo Laboratório de Melhoramentode Plantas da Universidade Federalde Lavras, MS. Foram utilizadasduas bandejas de isopor com 128células cada uma, tendo comosubstrato solo misturado com cascade arroz. Semearam-se oitosementes de cada cultivar. Asbandejas foram mantidas em casa-de-vegetação até a expansãocompleta das folhas primárias,estádio em que foram inoculadas.

Para inoculação, utilizou-se umasuspensão de 1,2 x 106 conídios/ml.A aplicação foi feita com pulverizadormanual, em ambas as faces dasfolhas e no talo da plântula até oponto de escorrimento. As bandejasforam mantidas por 48 horas a 95%de umidade, 22oC e fotoperíodo de12 horas. Após foram transferidaspara casa-de-vegetação, mantidaspor sete dias e então avaliadas.Mensurou-se a severidade daantracnose utilizando-se a escala denotas com índices de 1 a 9, propostapor Rava et al. (1993). Foramconsideradas resistentes (reaçãoincompatível) as plantas com notasde 1 a 3,5 e suscetíveis (reaçãocompatível) as com notas de 3,6 a 9.

A raça identificada a partir dosdois isolados coletados foi a 73,

Figura 1. (A) Folha de feijoeiro apresentando sintomas da antracnose e(B) colônias puras do isolado de Colletotrichum lindemuthianumproveniente de Petrolândia, SC

B

A

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pertencente ao grupo Alfa (Tabela1). A raça 73 encontrada nos isoladosda região tem se caracterizado comode maior ocorrência nos países daAmérica, devendo servir dereferencial quanto aos genesmínimos que devem estar presen-tes em uma cultivar de feijãorecomendada para estas regiões(Balardin, 1997).

Foram observadas, durante acoleta das amostras, lavouras dacultivar BRS Valente com nível zerode incidência de antracnose, mesmoquando cultivadas próximas dacultivar IPR Uirapuru, que, por suavez, apresentava alta severidade dadoença. De acordo com o InstitutoAgronômico do Paraná – Iapar –, acultivar IPR Uirapuru apresentamoderada suscetibilidade às raçasdo grupo alfa e delta e suscetibilidadeàs raças do grupo mi, teta, épsilon,zeta e eta (Iapar, 2001). Porém, deacordo com o observado na Regiãodo Alto Vale do Itajaí, essa cultivar

dos genes de resistência e o contínuomonitoramento das raças dopatógeno presentes no local sãoimprescindíveis para o sucesso nocontrole da doença.

Literatura citada

1. BALARDIN, R.S. Identificação de raçasfisiológicas de Colletotrichumlindemuthianum no Rio Grande do Sul– Brasil. Fitopatologia Brasileira ,

Brasília, v.22, n.1, p. 50-53, 1997.

2. CIAT. Programa del Frijol . Cali, 1990.p.128-129. (Working Document, 72).

3. EMBRAPA. Cultivar de feijão BRSValente. Disponível em: \<www.cnpt.embrapa.br/c_fevalente.htm>. Acessoem: 29/09/2004. 2004.

4. IAPAR. Cultivar de feijão IPRUIRAPURU. Londrina, 2001. (IAPAR.Informativo Técnico).

5. RAVA, C. A.; MOLINA, J.; KAUFFMAN,

M.; BRIONES, I. Determinación derazas fisiológicas de Colletotrichumlindemuthianum en Nicarágua.Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.18,p.388-391, 1993.

6. RAVA, C.A.; PURCHIO, A.F.;SARTORATO, A. Caracterização depatótipos de Colletotricum linde-

muthianum que ocorrem em algumasregiões produtoras de feijoeiro comum.Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.19,p.167-172, 1994.

7. SARTORATO, A. Determinação davariabilidade patogênica do fungoColletotrichum lindemuthianum(Sacc.) Scrib. CONGRESSO NACIO-NAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7.,

2002, Viçosa, MG. Resumosexpandidos... Viçosa: UFV, 2002. p.114-116.

8. TALAMINI, V.; SOUZA, E.A.; POZZA,

E.A.; CARRIJO, F.R.F.; ISHIKAWA,F.H.; SILVA, K.J.; OLIVEIRA, F.A.Identificação de raças patogênicas deColletotrichum lindemuthianum a

partir de isolados provenientes deregiões produtoras de feijoeiro comum.Summa Phytopathologica , Botucatu,v.30, n.1, p.371-375, 2004.

apresentou-se altamente suscetívelà raça 73 de C. lindemuthianum.

Do ponto de vista domelhoramento genético, a cultivarMichigan Dark Red Kidney (MDRK),Perry Marrow, Cornell 49-242,Kaboon, PI 207262, TO, TU, AB136e G2333 apresentam resistência àraça 73 e poderiam ser utilizadasnos programas de melhoramento dofeijoeiro para as regiões compredominância dessa raça (Talaminiet al., 2004).

A cultivar BRS Valente apresentaresistência a 19 raças de C.lindemuthianum, incluindo a raça73. Esta cultivar já vem sendoutilizada na Região do Alto Vale doItajaí e tem demonstrado resistênciaà antracnose, sendo uma boaalternativa de cultivo (Embrapa,2004). No entanto, vale ressaltarque a eficiência do controle genéticoda antracnose-do-feijoeiro nãodepende apenas de uma merasubstituição de cultivares. O manejo

Tabela 1. Reação das cultivares diferenciadoras aos isolados deColletotrichum lindemuthianum e identificação das raças patogênicas

Isolados(2)

Cultivares diferenciadorasPetrolândia Ituporanga

Michelite (20)(1) - -

Michigan Dark Red Kidney (2 1) + +

Perry Marrow (22) - -

Cornell 49-242 (23) + +

Widusa (24) - -

Kaboon (25) - -

México 222 (26) + +

PI 207262 (27) - -

TO (28) - -

TU (29) - -

AB136 (210) - -

G2333 (211) - -

Testemunha (Uirapuru) + +

Denominação da raça 73 73

(1)Sistema binário usado para a denominação numérica das raças deColletotrichum lindemuthianum (Ciat, 1990).Nota: + = reação de suscetibilidade, - = reação de resistência.

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90 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Cultivares de morangueiro para sistemaCultivares de morangueiro para sistemaCultivares de morangueiro para sistemaCultivares de morangueiro para sistemaCultivares de morangueiro para sistemade produção orgânicade produção orgânicade produção orgânicade produção orgânicade produção orgânica

Luiz Augusto Ferreira Verona1, Cristiano Nunes Nesi2, Eloi Erhard Scherer 3,Carla Gheller4 e Rogério Grossi4

Resumo – Para o desenvolvimento de sistemas orgânicos de produção de morangos é fundamental a escolha decultivares adequadas a esse sistema, as quais, submetidas ao manejo e às condições ecológicas da região,determinarão a produtividade e a qualidade dos frutos. O objetivo desse trabalho foi avaliar a produtividade e asuscetibilidade da cultivar Tudla, Tangi, Camarosa, Toyonoca e Seascape às doenças e às pragas em cultivoorgânico. Todas as cultivares apresentaram boa adaptação ao sistema de cultivo orgânico. Houve destaque naprodutividade da cultivar Tangi, Tudla e Camarosa. A cultivar Tudla e a Tangi mostraram-se menos suscetíveisàs doenças foliares.Termos para indexação: cultivo orgânico, produtividade, doenças.

Strawberry cultivars for organic cultivation system

Abstract – In the organic production of strawberries, one of the most important factors is the right choice ofcultivars. The objective of this study was to assess the yield and the susceptibility of the cultivars Tudla, Tangi,Camarosa, Toyonoca and Seascape to diseases in an organic cultivation. The studied cultivars showed adequateadaptation to the organic cultivation system. The cultivars with the highest productivity were Tudla, Tangi andCamarosa, while the cultivars Tudla and Tangi were less susceptible to foliar diseases.Index terms: organic cultivation, disease, yield.

o Brasil, a produção de mo-rango se expande a cada ano,predominando o cultivo em

pequenas áreas e em propriedadescom mão-de-obra familiar. No Oestede Santa Catarina, a preferência domercado é por morangos produzidosna região no sistema agroecológico(Scherer et al., 2003). Atualmente,o cultivo do morangueiro apresentavários problemas fitossanitários. Porisso, os agricultores usam agro-químicos em larga escala, contami-nando o meio ambiente e causandoresistência ao consumo dos frutos(Fernandes Júnior et al., 2002).Assim, os agricultores estão buscan-do técnicas de cultivo e novas culti-vares para desenvolver e aperfeiçoaro sistema de produção orgânica demorangos, não utilizando fertili-zantes sintéticos nem fungicidas e

inseticidas. Para manter a produ-tividade das cultivares e a capaci-dade produtiva do solo utilizam,principalmente, esterco de animais,adubação verde, resíduos orgânicos,controle biológico de pragas e doençase rotação de culturas (Altieri, 1999).A adubação orgânica fornecenutrientes às plantas, melhora ascondições físicas e biológicas do soloe a absorção dos nutrientes aplicados(Scherer et al., 2003).

No Oeste Catarinense, as doen-ças mais comuns em morangueirossão as manchas foliares causadaspor fungos, principalmente micos-ferela e dendrofoma. A micosferela(Mycosphaerella fragariae ) ocorre emtodo o ciclo da cultura e reduzsensivelmente a área foliar daplanta. A mancha de dendrofoma,causada por Dendrophoma obscu-

rans, ocorre comumente depois dacolheita, com temperaturas maiselevadas. A doença caracteriza-sepor aparecer quase que exclusi-vamente nas folhas mais velhas. Omanejo dessas doenças pode ser feitocom o uso de cultivares resistentese adaptadas à região, mudas sadias,remoção de folhas em senescênciaou com sintomas de doenças e como uso de cultivo protegido (Veronaet al., 2003). A rotação de culturas éfundamental no manejo das condi-ções fitossanitárias do morangueiro,pois reduz a pressão de inóculo.Contudo, essa prática é conflitantecom o padrão de pequenas proprie-dades rurais encontradas no OesteCatarinense, em especial quando seadota algum tipo de cultivoprotegido, devido à dificuldade demudança das estruturas.

Aceito para publicação em 22/3/2005.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49)361-0600, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected]ários do curso de Agronomia da Unochapecó, Servidão Anjo da Guarda, 252, 89809-085 Chapecó, SC.

N

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91Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Um dos principais aspectos a seobservar no cultivo do morangueiroem sistema orgânico é a escolhaadequada da cultivar, pois as suascaracterísticas, quando submetidasàs condições ecológicas da área e daregião, somadas ao manejo adotadoé que determinarão a produtividadee a qualidade do fruto (Souza, 2004).O objetivo desse trabalho foi avaliara produtividade e a resistência àsdoenças e às pragas de cinco culti-vares de morangueiro no sistemaorgânico.

O experimento foi instalado nasegunda quinzena de abril de 2003,em uma propriedade que cultivasomente em sistema orgânico,situada na Vila Zonta, em Chapecó,SC, com clima subtropical úmido esolo classificado como LatossoloVermelho (Figura 1). A área foicultivada anteriormente com aveia.A adubação foi realizada de acordocom a análise de solo, utilizando-secama de aviário (20t/ha), fosfatonatural (800kg/ha) e calcário (10t/ha). Os canteiros medindo 1,20m delargura e 0,20m de altura foramcobertos com filme de polietilenopreto. O espaçamento entre plantasfoi de 0,30 x 0,30m. A irrigação foifeita por gotejamento e monitoradavisualmente. Utilizaram-se túneisbaixos (altura de 0,70m), que foramabertos todos os dias pela manhã efechados à noite ou em diaschuvosos.

O delineamento experimental foiem blocos ao acaso, com quatro repe-tições. As parcelas foram compostaspor 48 plantas, com 20 plantas naárea útil. As cultivares avaliadasforam Seascape, Tangi, Tudla,Toyonoca e Camarosa (denominadaCamarosa-1), com mudas prove-nientes da primeira multiplicaçãode material em cultura de tecidos.Além disso, avaliou-se a cultivarCamarosa com mudas oriundas deplantas do ano anterior, denominadaCamarosa-2. Foram avaliados onúmero e o peso de frutos (classi-ficados em comerciais ou danificadospor doenças e pragas), total de folhase de folhas retiradas por parcela (emsenescência ou com sintomas dedoença). Efetuaram-se 57 colheitas(duas a três por semana), iniciando--as em 18/7/2003 e encerrando-asem 17/12/2003 (Figura 2).

As porcentagens de folhasretiradas em sete avaliações

foram utilizadas para estimar aárea abaixo da curva de pro-gresso da retirada de folhas(AACP), empregando-se a fórmula,

em que

1y e 2y são as porcenta-gens defolhas retiradas em duas avaliaçõessucessivas e , o intervalo detempo (em dias) entre elas. Osdados foram submetidos à análisede variância, complementada porcomparações múltiplas de médiaspelo teste de Duncan a 5% deprobabilidade de erro. Antes daanálise de variância, asporcentagens de frutos danifi-cados por doenças ou por pragasforam submetidas à transfor-

mação , em quex é a proporção de frutos danifica-dos.

A produção de morangos dascultivares testadas foi distribuídaentre os meses de julho e dezembro,com maior concentração emoutubro (Figura 3).

A produtividade foi alta paratodas as cultivares, destacando-se acultivar Tudla, Tangi, Camarosa-1e Camarosa-2. A cultivar Toyonocae a Seascape foram as menosprodutivas. Com relação ao peso dosfrutos, destaca-se a Camarosa-2seguida pela Seascape, enquantoque a Tudla apresentou menor peso(Tabela 1). Esses resultados sãosemelhantes àqueles obtidos porCastro (2004). Por outro lado,Scherer et al. (2003) encontraramprodutividade média e frutosgrandes para a cultivar Tangi. Otamanho grande dos frutos dacultivar Seascape também foidestacado por Verona et al. (2004).

Figura 1. Vista parcial do canteiro cultivado com morangueiros. Chapecó,SC, 2003

Figura 2. Colheita dos morangos do experimento. Chapecó, SC, 2003

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92 Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Figura 3. Distribuição da produção de frutos em cinco cultivares demorangueiro. Chapecó, SC, 2003

Tabela 1. Produtividade, peso médio dos frutos, porcentagem de frutosdanificados por doenças e por pragas e área abaixo da curva de progressoda retirada das folhas (AACP) em cinco cultivares de morangueiro.Chapecó, SC, 2003(1)

Peso Frutos Frutos

Cultivar Produti- dos danifica- danifica- AACP(4)

vidade(2)frutos(2) dos por dos por

doenças(3) pragas(3)

t/ha g ..................%..................

Tudla 57,85a 7,40 d 1,30 b 2,03a 11,0 c

Tangi 53,85a 9,95 c 2,50a 0,79 c 10,6 c

Camarosa-2 53,08a 12,68a 0,30 d 0,79 c 19,5 b

Camarosa-1 46,63ab 9,55 c 0,35 cd 1,61ab 25,1a

Toyonoca 39,05 b 9,60 c 0,82 bc 0,72 c 19,6 b

Seascape 35,40 b 11,27 b 0,27 d 0,91 bc 19,4 b

CV (%) 15,56 5,27 26,29 19,77 15,22

(1)Médias seguidas por letras iguais nas colunas não diferem entre si peloteste de Duncan a 5% de probabilidade de erro.(2)Média de quatro repetições, considerando a área útil da parcela.(3) Antes da análise os dados foram submetidos à transformação

100xsenarcy = , em que x é proporção de frutos doentes oudanificados por pragas.(4)AACP = área abaixo da curva de progresso da retirada de folhas.

A porcentagem de frutosdanificados por doenças foi baixapara todas as cultivares, alcançandono máximo 2,5% na cultivar Tangi(Tabela 1). A incidência de frutosdanificados por pragas também foibaixa, com as maiores porcentagensna cultivar Tudla e na Camarosa-1.Essas perdas de frutos devem-se,principalmente, aos frutos colhidosapós a época ideal de colheita, já quea precipitação no período esteveabaixo da média histórica (61%

abaixo em outubro), desfavorecendoo aparecimento de doenças.

A área abaixo da curva deprogresso da retirada de folhas dascultivares foi obtida após seteavaliações de campo (Tabela 1).Quanto maior a AACP, maior é aporcentagem de folhas retiradas porplanta, o que está relacionado comsensibilidade das cultivares àsdoenças foliares. A cultivarCamarosa-1 apresentou a maiorAACP, diferindo significativamente

das demais. A cultivar Tudla e aTangi destacaram-se pela menorporcentagem de folhas retiradas(Tabela 1). Castro (2004) observoususcetibilidade moderada àmicosferela na cultivar Camarosa eVerona et al. (2004) ressaltaram aresistência média às doenças foliaresda cultivar Tangi e a baixaresistência da cultivar Seascape.

Nas condições do experimento,todas as cultivares de morangueiroapresentaram adaptação ao sistemade cultivo orgânico sob túnel baixo,com boa resistência às doenças e àspragas de frutos. As altasprodutividades da cultivar Tudla,Tangi e Camarosa as credenciampara cultivo orgânico no OesteCatarinense.

Literatura citada

1. ALTIERI, M.A. As bases agroecológicaspara uma agricultura familiar sustentável.In: SEMINÁRIO ESTADUAL SOBREAGROECOLOGIA, 1, 1999, Rio do Sul, SC.Anais ... Florianópolis: Seagro-SC, 1999.p.19-41.

2. CASTRO, R.L. de. Melhoramento genéticodo morangueiro: Avanços no Brasil. In:ENCONTRO DE PEQUENAS FRUTAS EFRUTAS NATIVAS, 1., 2004, Pelotas, RS.Anais ... Pelotas: Embrapa ClimaTemperado, 2004. p.21-35.

3. FERNANDES JÚNIOR, F.; FURLANI,P.R.; RIBEIRO, I.J.A; CARVALHO, C.R.L.Produção de frutos e estolhos domorangueiro em diferentes sistemas decultivo em ambiente protegido . Bragantia,Campinas, v.61, n.1, p.25-34, jan. 2002.

4. SCHERER, E.E.; VERONA, L.A.F.; SIG-NOR, G.M.; VARGAS, R.; INNOCENTE, B.Produção agroecológica de morango no OesteCatarinense. Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.16. n.1, p.20-24, mar. 2003.

5. SOUZA, J.L. Enfoque da pesquisa naprodução orgânica de morangos. In:ENCONTRO DE PEQUENAS FRUTAS EFRUTAS NATIVAS, 1., 2004, Pelotas, RS.Anais ... Pelotas: Embrapa ClimaTemperado, 2004. p.185-205.

6. VERONA, L.A.F.; SCHERER, E.E.; NESI,C.N.; SIGNOR, G.M. Avaliação de produtosalternativos em sistema de cultivo orgânicode morango. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 1.,2003, Porto Alegre, RS. Anais... PortoAlegre: Emater/RS: ASCAR, 2003. p.1-4.

7. VERONA, L.A.F.; NESI, C.N.; SCHERER,E.E.; SIGNOR, G.M. Morango. In: EPAGRI.Avaliação de cultivares para o Estado deSanta Catarina 2004/2005 . Florianópolis,2004. p.117. (Epagri. Boletim Técnico,125).

0

10

20

30

40

50

60

70

Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Pro

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)

C. Nova C. Velha Se ascape Tangi Toyonoca Tudla Mês

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93Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

TTTTTempo de imersão de cistos em solução deempo de imersão de cistos em solução deempo de imersão de cistos em solução deempo de imersão de cistos em solução deempo de imersão de cistos em solução demetidatiom para controle da pérola-metidatiom para controle da pérola-metidatiom para controle da pérola-metidatiom para controle da pérola-metidatiom para controle da pérola-da-terra,da-terra,da-terra,da-terra,da-terra,

Eurhizococcus brasiliensisEurhizococcus brasiliensisEurhizococcus brasiliensisEurhizococcus brasiliensisEurhizococcus brasiliensis

Eduardo Rodrigues Hickel 1 e Enio Schuck2

controle da pérola-da-terra,Eurhizococcus brasiliensis(Hempel) (Homoptera:

Margarodidae), através da inseti-gação foi desenvolvido por Hickel etal. (2001) como alternativa parareduzir os danos da praga em videira,numa época em que não se dispunha

Resumo – A imersão de raízes de mudas de videira em solução inseticida é uma prática recomendada no pré--plantio para eliminar eventuais infestações pela pérola-da-terra, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel). Contudo,falta determinar o tempo mínimo de imersão na calda inseticida para se obter 100% de mortalidade dos insetos esaber se estes, eventualmente protegidos por torrões de terra, sobrevivem à ação do inseticida. Com estes objetivos,cistos limpos e incrustados da pérola-da-terra foram imersos por zero, 1, 10, 60 e 120 segundos em soluçãoformulada com metidatiom (0,08% do ingrediente ativo). Os cistos incrustados em casca fúngica foram utilizadosem simulação à condição de proteção por torrões de terra. Cada unidade experimental, em três repetições, foicomposta de 20 cistos limpos ou cerca de dez cistos incrustados. A cada 15 ou 20 dias foi contado o número de cistosmortos que foi transformado em porcentagem de mortalidade. A mortalidade dos insetos foi diretamenteproporcional ao tempo de imersão na calda inseticida, sendo que com 120 segundos obteve-se 100% de mortalidadede cistos, limpos ou incrustados, sendo este o tempo mínimo para a imersão de raízes de videira em calda inseticidade metidatiom.Termos para indexação: Insecta, insetos de solo, controle químico, uva, Vitis.

Immersion time of cysts in metidathion solution to control ground-pearlEurhizococcus brasiliensis

Abstract – The root immersion of grapevine seedlings in insecticide solution is a pre-planting techniquerecommended to control some eventual infestation of ground-pearl, Eurhizococcus brasiliensis (Hempel) (Homoptera:Margarodidae). However the minimum time in order to get 100% of insect mortality as well as the eventual insectprotection against insecticide in clods must be determined. Clean and incrusted cysts of ground-pearl wereimmersed for zero, 1, 10, 60, and 120 seconds in a 0.08% a.i. metidathion solution. Incrusted cysts in fungi coat wereused to simulate the clod protection against insecticide. Each experimental unit, replicated three times, had 20clean cysts or almost 10 incrusted cysts. The number of death cysts was checked in 15 or 20 days intervals andwas transformed in percent of insect mortality. The percentage of insect mortality was proportional to theimmersion time in insecticide solution and the time of 120 seconds resulted in 100% mortality, for both clean andincrusted cysts. So 120 seconds is the minimum time for grapevine root immersion in metidathion solution in orderto control 100% of ground-pearl infestation.Index terms: Insecta, soil insect, chemical control, grape, Vitis.

de inseticidas eficientes e regis-trados para este fim na cultura. Poresta técnica, a calda inseticida, aoinvés de ser pulverizada nas plantas,é regada no solo para que o ingre-diente ativo se infiltre e atinja os in-setos nas raízes. Nos testes realiza-dos, os ingredientes ativos metida-

tiom e diazinom foram os que propor-cionaram os melhores níveis de con-trole deste inseto. Posteriormente,com base na técnica da insetigação,desenvolveu-se a imersão de raízesde mudas de videira em calda inse-ticida, como forma de evitar o plantiode mudas infestadas pela praga.

Aceito para publicação 5/5/2005.1Eng. agr., D.Sc., Epagri/Estação Experimental de Videira, C. P. 21, 89560-000 Videira, SC, fone/fax: (49) 566-0054, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Videira, e-mail: [email protected].

O

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Apesar da fiscalização a que estásubmetido o comércio de mudas,ainda ocorre a comercialização demudas de fruteiras de climatemperado, inclusive as de videira,infestadas pela pérola-da-terra. Istoocorre porque os viveirosnormalmente situam-se nas regiõesprodutoras destas frutas, onde estapraga encontra-se disseminada (DalBó & Crestani, 1988). Assim, aimersão de raízes em caldainseticida é hoje uma práticarecomendada no pré-plantio davideira (Schuck, 2003).

Não obstante, ainda permanecemdúvidas quanto a detalhes da técnica,tais como o tempo mínimo que asraízes devem permanecer na caldainseticida para provocar 100% demortalidade da praga e se insetos,protegidos por eventuais torrões deterra aderidos às raízes,sobreviveriam à calda inseticida.Desta forma, montou-se um ensaioem laboratório objetivandoresponder a estes questionamentos.

Neste ensaio foram utilizadosindivíduos de pérola-da-terra nosestágios de cisto médio (5 a 6mm decomprimento) e cisto pequeno (3 a4mm de comprimento), coletadosem raízes de ameixeiras, em maiode 2003. Parte dos cistos estavalimpa e parte envolta por cascafúngica, conforme descrevem Bottonet al. (2003). Os cistos incrustadosna casca fúngica foram assimutilizados em simulação à proteçãopor eventuais torrões de terradurante a imersão em caldainseticida.

A imersão em inseticida foi feitamergulhando-se os cistos, comauxílio de uma peneira, em umasolução de metidatiom a 0,08% doingrediente ativo, variando-se otempo em zero segundo(testemunha sem imersão), 1segundo, 10, 60 e 120 segundos. Odelineamento experimental foiinteiramente casualizado emparcelas subdivididas, sendo asparcelas os tempos de imersão e assubparcelas com e sem incrustaçãofúngica. Cada unidade experimentalfoi composta de 20 cistos, sendo cadatratamento repetido três vezes. Nocaso dos cistos incrustados, em quenão era possível determinar onúmero de cistos dentro dosenvoltórios, utilizou-se certaquantidade de envoltórios

estimando-se número similar decistos por tratamento.

Após a imersão em caldainseticida, os cistos foram mantidosem placas de Petri forradas compapel filtro mantido umedecido comágua destilada e acondicionados emambiente escuro à temperaturaambiente. Quando da primeiracontagem de cistos mortos, oenvoltório dos cistos incrustados foicuidadosamente retirado. A cada 15ou 20 dias foram contados os cistosmortos em cada unidadeexperimental, sendo os valorestransformados em porcentagem demortalidade pela fórmula deHenderson & Tilton (1955) e plotadosem gráficos. As contagens finais decistos mortos foram submetidas àanálise de variância, usando modeloslineares generalizados com errosbinomiais corrigidos parasobredispersão, sendo as médiascomparadas pelo teste F através decontrastes ortogonais (Crawley,1993).

O período de avaliação damortalidade dos insetos foi de 4 dejunho a 23 de outubro de 2003,quando não mais restaram cistosamarelos nos tratamentos comimersão em inseticida, quer pelamorte dos mesmos, quer pelamudança para a coloração branca. Atransformação de cistos amarelos

em cistos brancos caracteriza o iníciodo processo reprodutivo do inseto(Hickel, 1996), indicando que osindivíduos que passaram por estatransformação sobreviveram aotratamento com inseticida.

A evolução da porcentagem demortalidade nos diferentes trata-mentos pode ser visualizada naFigura 1. Na testemunha houvecerta mortalidade inicial, provavel-mente devido à manipulação doscistos em laboratório, que foicompensada pela fórmula deHenderson & Tilton (1955) nosdemais tratamentos. A porcen-tagem de mortalidade foi direta-mente proporcional ao tempo deimersão na calda inseticida.

As variações pontuais entretratamentos provavelmente sedevem à dificuldade em aferirvisualmente a morte da pérola-da--terra, que depende basicamente daalteração de cor (escurecimento) doscistos. Alguns cistos escureceramrapidamente depois de mortos,porém outros permaneceramamarelos por mais tempo,dificultando as avaliações. No ensaiode Hickel et al. (2001) também foinecessário um longo tempo deobservação para a comprovação damorte dos cistos.

Excetuando a testemunha, todosos outros tratamentos resultaram

Figura 1. Evolução temporal da porcentagem de mortalidade de cistos dapérola-da-terra resultante da imersão em calda de metidatiom (0,08% doingrediente ativo) por diferentes tempos de imersão. Para a linha datestemunha plotou-se a mortalidade absoluta

16/5 6/6 27/6 18/7 8/8 29/8 19/9 10/10 31/10

0

20

40

60

80

100

1 segundo 10 segundos 60 segundos 120 segundos Testemunha

% m

orta

lidad

e c

orrig

ida

Data de avaliação

Mor

talid

ade

corr

igid

a (%

)

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95Agropec. Catarin., v.18, n.2, jul. 2005

Os resultados de mortalidadeentre cistos limpos e supostamenteprotegidos (cistos incrustados) nãodiferiram (Tabela 1, Figura 2), einclusive mais repetições em que seobteve 100% de mortalidadeocorreram entre cistossupostamente protegidos. Umapossível explicação talvez resida nofato de o envoltório dos cistos ficarembebido na calda inseticida e assim,em tese, ter aumentado o tempo decontato do inseticida com os cistosincrustados.

Considerando que eventuaisinfestações de mudas pela pérola--da-terra ocorreram com cistosescondidos, principalmente quandoinstalados em reentrâncias dasraízes ou encobertos por torrões deterra, a imersão das raízes dasmudas em calda inseticida demetidatiom por no mínimo doisminutos (120s) é suficiente paraeliminar a praga antes do plantio.

Literatura citada

1. BOTTON, M.; HICKEL, E.R.; SORIA,S.J. Pragas. p.82-105. In: FAJARDO,T.V.M. Uvas para processamento:Fitossanidade. Brasília: EmbrapaInformação Tecnológica, 2003. 131p.(Embrapa. Frutas do Brasil, 35).

2. CRAWLEY, M.J. GLIM for ecologists .Oxford: Blackwell ScientificPublications, 1993. 379p.

3. DAL BÓ, M.A.; CRESTANI, O. Controlede margarodes: tratamento das mudasevita disseminação. AgropecuáriaCatarinense, Florianópolis, v.1, n.1, p.10-11, 1988.

4. HENDERSON, C.F.; TILTON, E.W.Tests with acaricides against brownwheat mite. Journal of EconomicEntomology, v.48, p.157-161, 1955.

5. HICKEL, E.R. Pragas da videira e seucontrole no Estado de Santa Catarina.Florianópolis: Epagri, 1996. 52p. (Epagri.Boletim Técnico, 77).

6. HICKEL, E.R.; PERUZZO, E.L.;SCHUCK, E. Controle da pérola-da--terra, Eurizocccus brasiliensis(Hempel) (Homoptera:Margarodidae),através da insetigação. NeotropicalEntomology, v.30, n.1, p.125-132, 2001.

7. SCHUCK, E. Manejo da cultura davideira. In: ENCONTRO NACIONALSOBRE FRUTICULTURA DE CLIMATEMPERADO, 6., 2003, Fraiburgo.Anais... Fraiburgo: Epagri, 2003. p.184-191.

Tabela 1. Mortalidade absoluta final (média ± desvio padrão) de cistoslimpos e incrustados da pérola-da-terra nos diferentes tempos de imersãoem calda de metidatiom (0,08% de ingrediente ativo)

Tempo Mortalidade(1)

deimersão Cisto limpo Cisto incrustado Total

Segundo ..........................................%.........................................

0 18,33 ± 2,89 bA 35,19 ± 13,98cA 26,76 ± 12,91 c

1 91,67 ± 7,64aA 78,57 ± 25,75 bA 85,12 ± 18,44 b

10 91,67 ± 10,41aA 100,00 ± 0,00aA 95,83 ± 8,01ab

60 96,67 ± 2,89aA 100,00 ± 0,00aA 98,33 ± 2,58a

120 100,00 ± 0,00aA 100,00 ± 0,00aA 100,00 ± 0,00a

(1)Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas colunas e maiúsculanas linhas, são semelhantes entre si (P < 0,05).

16/5 6/6 27/6 18/7 8/8 29/8 19/9 10/10 31/10

0

20

40

60

80

100 Cistos limpos 1 segundo 10 segundos 60 segundos 120 segundos

% m

ort

alid

ade

corr

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a

16/5 6/6 27/6 18/7 8/8 29/8 19/9 10/10 31/10

0

20

40

60

80

100

Cistos incrustados 1 segundo 10 segundos 60 segundos 120 segundos

% m

orta

lida

de c

orr

igid

a

em altas taxas de mortalidade(Tabela 1) e, embora semdiferenciação estatística, apenas aimersão por 120 segundos resultouem 100% de mortalidade de cistos(limpos ou incrustados). Como no

tratamento de raízes com caldainseticida não pode restar dúvidaquanto à presença de insetos vivos(Schuck, 2003), apenas a imersãopor 120 segundos satisfaz essacondição.

Figura 2. Evolução temporal da porcentagem de mortalidade de cistosincrustados e limpos da pérola-da-terra em calda de metidatiom (0,08%de ingrediente ativo) por diferentes tempos de imersão

Mor

talid

ade

corr

igid

a (%

)

Data de avaliação

Data de avaliação

Mor

talid

ade

corr

igid

a (%

)