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Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 1

ISSN 0103-0779

NESTNESTNESTNESTNESTA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOSeções

Editorial .........................................................................Atualidades ....................................................................Lançamentos editoriais ....................................................Vida Rural ......................................................................Normas para publicação na revista Agropecuária Catarinense .

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Opinião

Nota Técnica

Reportagem

Registro

Tomate em plantio direto: menos agrotóxico, mais renda emais saúde (Paulo Sergio Tagliari) ................................................ 24

As matérias assinadas não expressamnecessariamente a opinião da revista e são

de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento,mesmo que parcial, só será permitida

mediante a citação da fonte e dos autores.

Eficiência técnica de um sistema de produção com gadomestiço para as bacias leiteiras dos Estados do Piauí e doMaranhão (João Avelar Magalhães; Expedito Aguiar Lopes;Braz Henrique Nunes Rodrigues; Raimundo Bezerra de AraújoNetto; Newton de Lucena Costa; Lúcio Lopes Neto e EduardoEsmeraldo Augusto Bezerra) ............................................................Avaliação do uso de fosfitos para o controle do míldio davideira (Marco Antonio Dalbó e Enio Schuck) ..............................Fogo bacteriano: uma das principais doenças quarentenáriasda macieira e da pereira no Brasil (Yoshinori Katsurayama eJosé Itamar Boneti) ............................................................................

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Segurança alimentar, agricultura familiar e extensão rural(Eros Marion Mussoi) ........................................................................ 18

Encontro de mulheres agricultoras .....................................Associação de produtores de Marema, SC, busca viabilizar aagricultura familiar ..........................................................Epagri adota novo processo de gerenciamento .....................Latino-americanos conhecem o sistema de plantio direto emSanta Catarina ................................................................Técnico da Epagri participa de evento internacional sobreagricultura conservacionista em Cuba .................................Ecoagricultura modelo em Santa Catarina ............................Segurança alimentar: o consumidor prefere produtos naturaiscom qualidade ................................................................Levantamento Agropecuário: “Abra a porta e o coração” .......

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ConjunturaEpagri – 12 anos contribuindo para o desenvolvimento (CarlosLuiz Gandin; Edmundo Otto Bublitz e Zenório Piana) ................... 22

Prevalência da brucelose ovina em carneiros no Estado deSanta Catarina (Volney Silveira de Ávila; Guilherme CaldeiraCoutinho; Vilson Korol e Anildon de Oliveira Ribeiro) ..................Rotação de culturas para hortaliças no Litoral Sul Catarinense(Antonio Carlos Ferreira da Silva e Darci Antonio Althoff) .........Ampliação de receitas na cultura da macieira com o uso doRetain (Aminoethoxivinilglicine) (Carlos Leomar Kreuz eJosé Luiz Petri) ....................................................................................

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Germoplasma e Lanç. de cultivaresJoaquina: nova cultivar precoce de macieira resistente à sarna(Adilson José Pereira; José Itamar da Silva Boneti;Emílio Brighenti; Frederico Denardi e Anísio Pedro Camilo) ....... 70

Artigo CientíficoPropagação de videira in vitro: produção de plantas matrizesbásicas de porta-enxertos (Aparecido Lima da Silva; EnioSchuck; Robison Borges; Flávia Maia Moreira; MarceloBorghezan; Liziane Kadine Antunes de Moraes; Célio AirMikulski e Carolina Quiumento Velloso) .........................................Análise de coliformes fecais na água de policultivo de peixesintegrados à suinocultura (Osmar Tomazelli Júnior; Jorge deMatos Casaca e Renato Dittrich) .....................................................Substratos e fungos micorrízicos arbusculares nodesenvolvimento vegetativo de Citrange Troyer (Paulo VitorDutra de Souza; Edgar Carniel; José Antônio Kröeff Schmitz eSamar Velho da Silveira) ...................................................................

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Informativo TécnicoPerfil, hábitos de consumo e preferências dosconsumidores finais de mexilhões (Euclides João Barni;Maurício César da Silva; Rita de Cássia Cordini Rosa eRoque Ângelo Ogliari) ........................................................................A fruticultura no Litoral Sul de Santa Catarina (Márcio Sonego;Ademar Brancher; Claudino Madalosso e Luiz Carlos Zen) .........Efeito da palha de ervilhaca sobre a incidência de plantasespontâneas e a produtividade do milho (Alvadi AntonioBalbinot Junior; José Alfredo da Fonseca; André Nunes LoulaTôrres e Alvimar Bavaresco) .............................................................

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Vol. 16, nº 3, nov. 2003 - R$ 6,00 ISSN 0103-0779

Ervilhaca na proteção do solo

Mercado de mariscos

Fosfito contra o míldio da videira

Tomate em plantio direto

Ervilhaca na proteção do solo

Mercado de mariscos

Fosfito contra o míldio da videira

2 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Editorial

REVISTA QUADRIMESTRAL COMITÊ DE PUBLICAÇÕES TÉCNICAS:Presidente: Dorvalino Furtado Filho, Secretário: Paulo SergioTagliari, Membros: César Itaqui Ramos, Eduardo Rodrigues Hickel,Gilson José Marcinichen Gallotti, Jefferson Araújo Flaresso,José Ângelo Rebelo, Luis Carlos Vieira, Luiz Augusto MartinsPeruch, Luiz Carlos Argenta, Valdir Bonin

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDI-ÇÃO: Álvaro Graeff, Anísio Pedro Camilo, Canuto Leopoldo AlvesTorres, Carlos Alberto Rebelo, Carlos Leomar Kreuz, ClaudioGranzotto Paloschi, Edemar Brose, Elói Ehard Scherer, FaustinoAndreola, Francisco Carlos Deschamps, Gilmar Roberto Zaffari,Gilson José Marcinichen Gallotti, Hilton Amaral Junior, IvanDagoberto Faoro, João Lari Félix Cordeiro, José Alberto Noldin,José Itamar da Silva Boneti, Luiz Alberto Lichtemberg, MárcioSônego, Milton Luiz Silvestro, Moacir Antônio Schiocchet, Nel-son Cortina, Onofre Berton, Osvino Leonardo Koller, Roger DelmarFlesch, Sérgio Tamasia, Takazi Ishiy, Vilmar Zardo, VilsonMarcos Testa, Walter Ferreira Becker

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves

PADRONIZAÇÃO: Rita de Cassia Philippi

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Vânia Maria Carpes

CAPA: Foto de Jamil Abdalla Fayad

QUARTA CAPA: Epagri/Estação Experimental de São Joaquim,foto de José Carlos Gelfleufter

WEBMASTER: Jorge Luis Zettermann

PRODUÇÃO EDITORIAL: Ana Carolina Basto Vilela (estagiá-ria), Anderson Luiz Rodrigues, Daniel Pereira, Maria TeresinhaAndrade da Silva, Mariza Martins, Marlete Maria da SilveiraSegalin, Paulo Sergio Tagliari, Selma Rosângela Vieira, ZilmaMaria Vasco

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira e ZulmaMaria Vasco Amorim - GMC/Epagri, C.P. 502, fones:(048) 239-5595 e 239-5535, fax: (048) 239-5597, 88034-901Florianópolis, SC.Assinatura anual (3 edições): R$ 15,00 à vista.

PUBLICIDADE: Florianópolis: GMC/Epagri - fone: (048)239-5673, fax: (048) 239-5597 Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) - Florianópolis: Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 - )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou a ser

quadrimestral1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa

Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC. II.Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SantaCatarina, Florianópolis, SC.

15 DE NOVEMBRO DE 2003

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação daEmpresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SantaCatarina S.A. – Epagri –, Rodovia Admar Gonzaga, 1.347,Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901 Florianópolis, SantaCatarina, Brasil, fone: (048) 239-5500, fax: (048) 239-5597,internet: www.epagri.rct-sc.br, e-mail: [email protected]

CENTRAL DE ATENDIMENTO: (048) 239-5599

RAC ON LINE: www.epagri.rct-sc.br/rac

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente: Athos deAlmeida Lopes, Diretores: Anselmo Benvindo Cadorin, JoséAntônio da Silva, Valdemar Hercilio de Freitas, Zenório Piana

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Dorvalino Furtado FilhoEditor: Anísio Pedro CamiloEditores-assistentes: Ivani Salete Piccinin Villarroel, RogerDelmar Flesch

CONSELHO EDITORIAL: Anísio Pedro Camilo, Élio Holz,Luiz Carlos Robaina Echeverria, Paulo Henrique Simon, PauloSergio Tagliari, Sérgio Leite Guimarães Pinheiro, Zenório Piana

A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Política Rural.

ISSN 0103-0779

Impressão: Floriprint CDD 630.5

Nesta última edição, comemo-rando os seus 15 anos, a revistaAgropecuária Catarinense – RAC– traz algumas inovações. Foramintroduzidas duas novas seçõestécnicas: “Artigo Científico”, quesubstitui “Artigo Técnico”, e“Germoplasma e Lançamento deCultivares”. Esta última foi cria-da para divulgar as novas cul-tivares e seleções desenvolvidaspela pesquisa e que sejam de in-teresse para nossos agricultorese/ou para futuros programas demelhoramento genético. Há quemencionar, ainda, que nestaedição a RAC vem com o maiornúmero de páginas de sua histó-ria.

Outra alteração foi a substitui-ção das seções “Agribusiness”,“Flashes” e “Novidades de Merca-do” por uma única que passamos achamar de “Atualidades”.

A mais significativa mudançaa partir desta edição foi a introdu-ção de resumo em inglês em cada

trabalho técnico. A RAC, nestes 15anos de existência, tem se firmadocomo uma revista bastante requi-sitada, não só no Brasil, mas tam-bém no exterior. Atualmente,nossa revista é enviada para maisde 20 países, englobando Améri-cas, Europa, Ásia e África. Nestespaíses, a RAC está disponibilizada,principalmente em bibliotecas deinstituições públicas, o que sig-nifica que seu universo de leito-res vai muito além do número deassinantes. Um resumo em inglêsfacilitará a leitura para aquelesque não dominam o português.Além disso, facilitará, igualmente,a divulgação das matérias atravésdas bases de dados internacionais.

Merecem especial destaque nes-ta edição os seguintes tópicos: usode fosfitos como alternativas defungicidas no controle do míldio,principal doença fúngica da videi-ra; um alerta de como evitar aentrada do fogo bacteriano, conhe-cido também como “fire blight”,

uma séria doença da pereira e damacieira, mas ainda não intro-duzida no Brasil; estudo sobre apotencialidade de consumo de me-xilhões ou mariscos nas três capi-tais do Sudeste brasileiro; estudosobre o uso da palha da ervilhaca,uma leguminosa, na cobertura dosolo e sua relação com a incidên-cia de plantas espontâneas; lança-mento de uma nova cultivar demacieira, a Joaquina, resistenteà sarna, como opção de poli-nizadora para a ‘Catarina’; discus-são de um estudo sobre a incidên-cia de coliformes fecais em águaonde se integram suínos e peixes,dentre outros assuntos interes-santes.

Também merece atenção areportagem sobre o plantio di-reto de tomateiro com menosagrotóxicos.

Desejamos a todos uma boaleitura.

O editor

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 3

Atualidades

Com cerca de 20 mi-lhões de vacas ordenha-das, o Brasil possui o se-gundo maior rebanhomundial, além de ser oquinto maior produtor deleite do mundo, com oleite mais barato dentretodos os países (US$0,16/L – maio/2003). Porisso, o setor deve buscarcada vez mais a pro-fissionalização da ativi-dade, tendo como focouma maior produtivi-dade e, conseqüente-mente, maiores ganhos.

Para que essa espe-cialização ocorra, é pre-ciso que o setor estejaatento a fatores impor-

tantes como nutrição, sa-nidade e manejo no que serefere à alimentação dorebanho. Afinal, a produ-ção de leite é uma ativida-de que começa pelo desen-volvimento do animal.

A alimentação das va-cas é um dos itens quemais influencia a produ-ção de leite, portanto, aredução dos gastos comalimentação tem impactodireto nos custos de pro-dução e no preço final doleite. Atualmente o con-sumidor busca, além deum produto com melhorqualidade, preços maisbaixos, e isso somentepode ser obtido com uma

redução no custo total daprodução do leite, que de-pende da diminuição doscustos de alimentação dasvacas.

Para se alcançar esseobjetivo é preciso investirem uma alimentação maisnutritiva, que minimize osgastos com a comple-mentação da ração e pro-porcione um melhor de-senvolvimento do reba-nho. Pensando nisso, aSyngenta Seeds está lan-çando a geração Silus, oprimeiro milho híbrido domercado com tratamentoespecífico para silagem.

O novo híbrido possuiuma característica impor-tante. Proporciona maisenergia por hectare, sen-do especialmente indica-do para a alimentação ani-mal, evitando problemascomo perda de peso e va-lor nutricional do grão.Deve-se sempre ter emmente que a qualidade dogrão – ingrediente funda-mental na alimentação debovinos – é um item quedepende de diferentes ca-racterísticas físicas e bio-químicas, tanto do grãocomo da planta, que asse-guram sua qualidade. Ageração Silus pode pro-porcionar um melhor va-lor nutricional, permitin-

do aos produtores redu-zirem os gastos com ou-tros ingredientes utiliza-dos no preparo da raçãocomo o farelo de soja,reduzindo sensivelmen-te os gastos com a ração.É preciso entender que aqualidade começa pelasemente, na fazenda enão na indústria.

Existem no mercadovários híbridos que têmsido utilizados para asilagem, mas que nãoatendem, especificamen-te, a necessidade dos pro-dutores. A geração Silusfoi lançada com a fina-lidade de agregar va-lor, unindo qualidadebromatológica e alta pro-dutividade, característi-cas essenciais para a ali-mentação do gado leitei-ro.

As sementes são tra-tadas com micronu-trientes balanceados,para suprir a maior ca-rência da cultura na fasede instalação. Para des-tacar os benefícios do tra-tamento, a semente pos-sui a tonalidade verde.

Mais informaçõescom Renato Mendes,fone: (011) 3044-4966,fax: (011) 3845-8025,e-mail: [email protected].

Um dos maiores problemas nos cerrados são osbrotos de pastagens. E eliminá-los vinha sendo umgrande desafio para os proprietários rurais. Após anosde pesquisa, a Ikeda Divisão Agrícola desenvolveu umequipamento inédito, o Matabroto, que resolve esseproblema e proporciona a recuperação das pastagens.

“Para nós foi o único implemento que conseguiurecuperar as pastagens que estavam sendo invadidaspelos brotos”, afirmou o engenheiro agrônomoAnselmo Dimas Ferrari, gerente de mecanizaçãoagrícola da Agro-Pecuária CFM. Falou ainda que estaé a única solução para grandes áreas porque corta asraízes dos brotos, não interfere no capim e incentivaa rebrota no período das águas. “Pelo sistema tradi-cional, com a roçada que funciona como uma poda, ainvasora volta com mais vitalidade. Já o Matabroto fazo serviço contrário: corta a raiz pivotante do broto docerrado, que não interfere mais na raiz do capim. Porisso é um tremendo sucesso quando feito o serviçocom a umidade correta”, destacou o gerente.

Os interessados podem obter mais informaçõesatravés do e-mail: [email protected], do endereço:www.ikedamaq.com.br ou do fone: (014) 3408-1008.

Buscando viabilizar uma parceria com a EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa –,vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, estiveram na Embrapa Gado de Corte(Campo Grande, MS), dia 31 de julho, o pesquisadorCarlos Borroto, vice-presidente do Centro deEngenharia Genética e Biotecnologia de Havana (Cuba)e responsável pelo Programa Biotecnológico

Nova máquina elimina brotosNova máquina elimina brotosNova máquina elimina brotosNova máquina elimina brotosNova máquina elimina brotosdas pastagens de cerradosdas pastagens de cerradosdas pastagens de cerradosdas pastagens de cerradosdas pastagens de cerrados

Lançado o primeiro milhoLançado o primeiro milhoLançado o primeiro milhoLançado o primeiro milhoLançado o primeiro milhohíbrido desenvolvido parahíbrido desenvolvido parahíbrido desenvolvido parahíbrido desenvolvido parahíbrido desenvolvido para

silagemsilagemsilagemsilagemsilagem

Cubanos buscam parceria paraCubanos buscam parceria paraCubanos buscam parceria paraCubanos buscam parceria paraCubanos buscam parceria paravacina de controle do carrapatovacina de controle do carrapatovacina de controle do carrapatovacina de controle do carrapatovacina de controle do carrapato

4 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Atualidades

Agropecuário de Cuba, e Eddisel Rosario Alfonso,secretário do Pólo Científico da Embaixada de Cuba noBrasil. A intenção é firmar uma parceria paradesenvolver, juntamente com o pesquisador daEmbrapa Renato Andreotti, uma vacina polivalentepara o controle do carrapato.

O carrapato (Boophilus microplus) é um parasitade grande importância econômica em bovinos. Osprejuízos causados estão estimados na ordem deUS$ 2 bilhões/ano. Hoje, o controle químico vemapresentando problemas de seleção para resistência.O Brasil ainda não possui uma vacina de controle doparasita. Existem equipes desenvolvendo trabalhosnessa área. “Temos o interesse de firmar uma parceriacom os cubanos e desenvolver a vacina polivalentecom a combinação da BM-86 (cubana) e da BMTI (emestudo pela Embrapa), que, já se sabe, são compatíveis”,afirma Andreotti.

A tecnologia agiria em diferentes fases da vida docarrapato, potencializando o efeito do produto. ABM-86 tem efeito de proteção nos animais em torno de50% e a desenvolvida pelo pesquisador da Embrapa,BMTI, 72,8%. “Uma vacina polivalente seria menosdependente ou independente do controle químico, quedeixa resíduos nos alimentos, causa impacto ambientale é de alto custo”, ressalta Andreotti.

De acordo com o pesquisador cubano, asperspectivas em relação à vacina são grandes. “Estamosentusiasmados com as possibilidades do produto. Acombinação das duas vacinas traria um efeito maisrápido, mais amplo, além de evitar que o parasita crieresistência”, afirma Borroto. Ainda, segundo ele, aparceria das duas instituições iria acelerar a obtençãoda vacina, que deveria ser introduzida no mercado emaproximadamente quatro anos.

Mais informações com Embrapa Gado de Corte,fone: (067) 368-2142, e-mail: [email protected].

Já se sabe que o con-sumo de peixes diminuio risco de morte súbita.Um novo estudo foipublicado na revista Cir-culation, com o objetivode avaliar a relação en-tre a ingestão de peixese a freqüência cardía-ca (número de bati-mentos do coração por

minuto).Pesquisadores da

França e da Irlandaanalisaram 9.758 homenscom idades entre os 50 e59 anos e que não eramportadores de doençacoronária, entre os anosde 1991 e 1993. Afreqüência cardíaca e osfatores de risco para

doença coronária foramcomparados entre quatrocategorias de consumo depeixes, que eram: (a) me-nos de uma vez por semana(n = 2.662), (b) uma vezpor semana (n = 4.576), (c)duas vezes por semana (n= 1.964), e (d) mais de duasvezes por semana (n =556). A dosagem degorduras e de fosfolípideseritrocitários foi realizadade maneira casualizadaem 407 pessoas.

Nos resultados obtidos,os triglicérides, a pressãoarterial sistólica e apressão arterial diastólicaeram menores entreaqueles que consumiammais peixes, quandocomparados aos homensque consumiam menospeixes; os níveis do HDL

colesterol (conhecidocomo “bom colesterol”)eram maiores entre osque consumiam maispeixes.

A freqüência cardíacapermaneceu de maneirainequívoca mais lentaentre consumidores depeixes do que entre osnão-consumidores. Co-mo a freqüência car-díaca mais elevada estárelacionada diretamen-te com o risco de mortesúbita, esta associaçãopode explicar, ao menosem parte, o menor riscode morte súbita obser-vado entre consumidoresde peixe.

Fonte: Panoramaaqüícola, setembro,2003. Endereço: www.panoramaaquicola.com.br.

Instituto mostra pesquisas que geram economiasustentável para a região amazônica.

O processo de industrialização de frutas nativas,como o cubiu e o camu-camu, e a fabricação de farinhade pupunha são alguns dos trabalhos que o InstitutoNacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa – apresentouno Amazontech 2003, em setembro do mesmo ano.

A coordenadora de Pesquisa da Ciência da Saúdedo Inpa, Lúcia Yuyama, que atua com projetos na áreade doenças endêmicas, alimentos e nutrição, expôs osestudos realizados com o aproveitamento e a utilizaçãodos alimentos preparados com frutas regionaispotencialmente nutritivas.

Exemplo disso são as pesquisas realizadas com autilização da farinha de pupunha na recuperação depessoas que apresentam hipovitaminose A (carênciade vitamina A no organismo).

Charles Clement, pesquisador do Inpa, falou sobrea utilização das frutas da Amazônia durante oAmazontech 2003, especialmente as originárias daparte ocidental da região.

Do ponto de vista econômico, Clement apontoucomo as mais importantes a pupunha, a sapota-do--solimões, o abiu, o biribá, o amapati e o araçá-boi, que

Consumo de peixes estáConsumo de peixes estáConsumo de peixes estáConsumo de peixes estáConsumo de peixes estáassociado à freqüência cardíacaassociado à freqüência cardíacaassociado à freqüência cardíacaassociado à freqüência cardíacaassociado à freqüência cardíaca

mais lentamais lentamais lentamais lentamais lenta

Inpa investe em frutas comoInpa investe em frutas comoInpa investe em frutas comoInpa investe em frutas comoInpa investe em frutas comooportunidade de negóciosoportunidade de negóciosoportunidade de negóciosoportunidade de negóciosoportunidade de negócios

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 5

Atualidades

chegam em pouca quantidade aos mercados da região.“Trabalhar com essas frutas é uma grandeoportunidade de negócios”, avalia o cientista.

Portal da ciência construído na Amazônia, o Inpa,em cinco décadas de atividades, tem dado umaextraordinária contribuição ao conhecimento científicoe tecnológico da Amazônia. O conjunto dessesconhecimentos constitui o maior e mais importantebanco de informações científicas sobre a região, cujaconsulta se tornou indispensável para uma corretaformulação de políticas públicas regionais.

Criado em 1952, o Inpa tem como principal objetivopromover o estudo científico do meio físico e dascondições de vida da região, tendo em vista o bem-es-tar humano e os interesses nacionais.

O herbário do Inpa possui o quinto maior acervo dopaís, com aproximadamente 220 mil amostras férteisdisponíveis, sendo o mais representativo acervobrasileiro de coleções botânicas da região amazô-nica.

As pesquisas do Inpa estão sendo direcionadas commais ênfase agora para o núcleo de negócios e asincubadoras, sintonizadas com uma demanda de vidada região, que busca formas de promover a geração deriquezas e maior qualidade de vida para a população,baseada no conceito de sustentabilidade.

Mais informações pelo fone: 0800-99-2030 ou peloendereço: www.sebrae.com.br.

Jaraguá do Sul, naRegião Norte do Estadode Santa Catarina, é omunicípio onde a em-presa Duas Rodas Indus-trial possui fazendasprodutoras de bananasorgânicas. Com capaci-dade para processamentode 200t/dia de banana innatura, a empresa produzpurê de bananas conven-cional, a partir da frutade produtores da região,e purês especiais bioló-gicos, a partir de bananasde fazendas próprias.

Aproximadamente95% da produção é

exportada, e os maioresmercados são da Europa,da América do Norte e doJapão. O principal mercadoconsumidor de produtosorgânicos são as indústriasque produzem alimentosinfantis.

Sendo uma indústriade alimentos, todos os re-síduos gerados no proces-so são orgânicos. Na em-presa existe um sistemade compostagem que re-cebe todo o resíduo gera-do (uma média de 100 a120t/dia). O total dos resí-duos é transformado emadubo orgânico, com ren-

dimento de 10% a 12%.Este adubo é utilizado nasfazendas que produzem asbananas orgânicas.

Com tecnologia moder-na nos processos de mani-pulação e industrialização,o produto é controlado emtodas as fases, garantindoa uniformidade e a quali-dade, e reconhecido mun-dialmente pela certifica-ção com o selo de produtobiológico ou orgânico.

Pesquisas recentesapontaram o Estado deSanta Catarina como omaior exportador de

bananas, com mais de60% do volume exporta-do pelo País, exportando162,7 mil toneladas eganhando US$ 17,1 mi-lhões com a venda dafruta para o mercadoexterno. Em 2002, foramcultivados 29,1 mil hec-tares, com expectativa deprodução de 626 mil to-neladas.

Mais informaçõescom FM Comunicação –Assessoria de imprensae eventos, fone: (011)3253-3084, e-mail:[email protected].

A maioria dos produtores rurais está preparadapara atender às novas regras para produção ecomercialização de leite estabelecidas pela InstruçãoNormativa no 51, do Ministério da Agricultura, Pecu-ária e Abastecimento – Mapa –, que entrará em vigora partir de 1o de julho de 2005. É o que indicam osdados laboratoriais obtidos nos anos 2000, 2001, 2002,até agosto de 2003 pela Rede Brasileira de Laborató-rios Centralizados de Qualidade do Leite – RBQL.

De acordo com a Secretaria de Defesa Agropecuária,o trabalho foi realizado em dez Estados, inclusive oDistrito Federal, junto a aproximadamente 40 milprodutores, envolvendo uma média de 2,5 milhões deamostras de leite cru/mês. Aproximadamente 90%das amostras analisadas enquadram-se nas disposi-ções legais que entrarão em vigor daqui a dois anos.Com o início da vigência da Instrução Normativa, oMapa estima que a Rede abrangerá cerca de 400 milprodutores.

A RBQL reúne sete unidades operacionais, dasquais cinco já estão em operação – Embrapa Gado deLeite (Juiz de Fora, MG), Escola Superior de Agricul-tura Luiz de Queiroz – Esalq/USP –, Universidade dePasso Fundo – UPF –, Universidade Federal de Goiás– UFG – e Universidade Federal do Paraná– UFPR. Apenas as unidades da Universidade Federalde Minas Gerais – UFMG – e da Universidade Federal

Exportação de purê de bananasExportação de purê de bananasExportação de purê de bananasExportação de purê de bananasExportação de purê de bananasorgânicasorgânicasorgânicasorgânicasorgânicas

Produtores de leite estãoProdutores de leite estãoProdutores de leite estãoProdutores de leite estãoProdutores de leite estãopreparados para atender àspreparados para atender àspreparados para atender àspreparados para atender àspreparados para atender às

novas regras denovas regras denovas regras denovas regras denovas regras deprodução e comercializaçãoprodução e comercializaçãoprodução e comercializaçãoprodução e comercializaçãoprodução e comercialização

6 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Atualidades

Rural de Pernambuco – UFRPe – encontram--se emfase final de instalação. Além das unidades laboratoriaisdestas instituições, a RBQL contará, ainda, com umaunidade de referência localizada no Laboratório deApoio Animal do Mapa, no município de PedroLeopoldo, MG.

O objetivo da RBQL é montar uma estruturalaboratorial ágil e integrada, capaz de fornecer aoServiço de Inspeção Federal – SIF –, aos produtoresrurais e à indústria informações técnicas objetivassobre a qualidade do leite, considerando a legislaçãosanitária em vigor. Também define os protocolos paraharmonização dos procedimentos laboratoriais deanálises, de organização das informações e de contro-le de qualidade e sua integração aos padrões interna-cionais. Além disso, a Rede deve estruturar um bancode dados para subsidiar o governo na formulação depolíticas públicas sobre a evolução da qualidade doleite produzido no País, aperfeiçoando seus índices dequalidade e aumentando a produtividade.

Entre outras ações, o produtor que aderir às novasdeterminações do Mapa deverá entregar o leite nausina no máximo até 2 horas após a ordenha. Apósesse prazo o produto deverá ser refrigerado na fazen-da. Além disso, o transporte do leite até a usina seráfeito em caminhões isotérmicos de forma a manter amesma temperatura. Para os produtores que preci-sam investir na compra de equipamentos, o governodestina linha de financiamento com recursos da or-dem de R$ 100 milhões no âmbito do Programa deIncentivo à Mecanização, ao Resfriamento e ao Trans-porte Granelizado da Produção de Leite – Proleite. Olimite de crédito é de R$ 80 mil por beneficiário, jurosfixos de 8,75% ao ano e prazo de cinco anos parapagamento, incluindo até dois anos de carência. Alémdisso, o governo destina verba para este fim noPrograma Nacional de Apoio à Agricultura Familiar –Pronaf –, com juros ainda mais favorecidos.

Mais informações com Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento, fones: (061) 218-2203/2204/2005, fax: (061) 322-2880, e-mail: [email protected].

O Brasil é o terceiromaior produtor mundialde frutas, atrás apenas

da China e da Índia. Ospomares de frutas de altaqualidade e sanidade conti-

nuam se expandindo noPaís. Ainda neste semes-tre, o Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abas-tecimento – Mapa – deve-rá criar mais quatropólos de Produção Inte-grada de Frutas – PIF –: ode melão no Ceará e noRio Grande do Norte, o debanana em São Paulo eSanta Catarina, o de pês-sego no Rio Grande do Sule o de figo e goiaba em SP.Hoje, há outros quatro emfuncionamento: maçã emSC e RS, manga e uva noVale do São Francisco(Bahia/Pernambuco), ma-mão no Espírito Santo ena BA e caju no CE eRN.

Até o final deste ano,as exportações de frutasfrescas devem alcançarUS$ 340 milhões, repre-sentando cerca de 950 miltoneladas, segundo proje-ções do Instituto Brasilei-ro de Frutas – Ibraf. Issosignificará um aumento de30% em receita e em volu-me em relação a 2002,quando as vendas exter-nas do País atingiramUS$ 241 milhões, o equi-valente a 669 mil tonela-das. De janeiro a julho de2003, as exportações cres-ceram 40%, totalizandoUS$ 139,5 milhões, emcomparação com igual pe-ríodo do ano passado,quando somaram US$ 99,6milhões.

Uma das ações previs-tas no Programa de De-senvolvimento da Fruti-cultura – Profruta – é quea PIF faça parte da estra-tégia brasileira para ele-var as vendas externas einternas de frutas, alémde criar novos empregos.

Esse sistema objetiva apro-dução de frutas dealta qualidade e sanida-de, seguindo os requisi-tos da sustentabilidadeam-biental, da seguran-ça alimentar e da viabili-dade econômica, medi-ante o uso de tecnologiasnão--agressivas ao meioambiente e ao homem. Afruticultura gera, emmédia, três empregosdiretos por hectare.

As frutas produzidasnesse sistema vão para omercado com um selo deconformidade, atestandoque foram cultivadas deacordo com as normaspreconizadas pela produ-ção integrada. Isso tam-bém permite o rastrea-mento do produto. Atu-almente, esse selo jáconsta da maçã originá-ria do pólo de SC e RS.Manga e uva, mamão ecaju, dos outros três pó-los, serão as próximas aconter o selo.

Dados do Mapa reve-lam que a PIF já resul-tou em uma redução de63,4% na aplicação deagroquímicos nos poma-res de manga, de 50%nos de mamão, de 32%nos de uva e de 30% nosde maçã. Laranja, limaácida, coco, caqui, mara-cujá, morango e abacaxitambém deverão inte-grar os projetos de pro-dução integrada de fru-tas até 2006.

Mais informaçõescom Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abas-tecimento, fones: (061)218-2203/2204/2205, fax:(061) 322-2880, e-mail:[email protected].

Mapa vai criar mais quatro pólosMapa vai criar mais quatro pólosMapa vai criar mais quatro pólosMapa vai criar mais quatro pólosMapa vai criar mais quatro pólosde produção integrada de frutasde produção integrada de frutasde produção integrada de frutasde produção integrada de frutasde produção integrada de frutas

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Atualidades

ainda mais para a carne brasileira conquistar o mer-cado externo. “Os resultados são surpreendentes eestão recebendo especial atenção da Lagoa da Serra.Afinal, acabamos de ultrapassar os próprios australi-anos na exportação de carne bovina, com 1,2 milhãode toneladas/ano. Com esse comprovado potencialgenético para maciez, poderemos incrementar aindamais nossos embarques, principalmente para os mer-cados mais exigentes”, entende Cornachini.

Mais informações pelo fone: (011) 3675-1818 oue-mail: [email protected].

Comprovação, feita a partir de análises de amos-tras de DNA de touros Nelore da Central deInseminação Lagoa da Serra, derruba mito de que acarne de zebuínos não é macia o suficiente paraatender às exigências dos consumidores.

É curioso, mas uma empresa australiana, exata-mente do maior concorrente do Brasil no mercadointernacional da carne bovina, acaba de confirmar queo nosso gado zebuíno tem, sim, potencial genéticopara maciez da carne. E que esse potencial assemelha--se, em algumas linhagens, às raças européias. Esta éa conclusão após análise genômica, examinando oDNA de touros Nelore do Brasil e detectando formasdo gene da calpastatina (enzima correlacionada gene-ticamente com a maciez da carne), feita pela empresaaustraliana Genetic Solutions em 96 reprodutores decorte em coleta na Central de Inseminação Lagoa daSerra, Sertãozinho, SP. Foram avaliados 71 touroszebuínos, 21 europeus e 4 sintéticos.

A Genetic Solutions disponibiliza o GeneStar, oprimeiro teste de DNA do mundo para característicasde maciez e marmoreio. Por meio da avaliação, os tou-ros puderam ser classificados com estrelas – nenhu-ma, quando há ausência do gene; uma, com maciez;duas, que representam muito potencial para maciez.

“A freqüência encontrada do gene para a maciez dacarne foi de 77,5% nos reprodutores de raças zebuínas,com média de 1,55 estrela por touro. Nos animais dasraças européias, a freqüência foi de 78,5%, com médiade 1,57 estrela por touro”, informa Maurício Lima,gerente de Desenvolvimento de Produtos e Exporta-ção da Lagoa da Serra.

Segundo o geneticista Luiz Fries, consultor emmelhoramento genético da Lagoa da Serra, as infor-mações vindas da Austrália confrontam-se com asanálises feitas pelo Meat Animal Research Center –Marc –, de Clay Center, Nebraska, EUA, que apontama carne zebuína como dura. “Provavelmente os resul-tados publicados pelo Marc foram baseados em análi-ses feitas com amostras de gado Brahman, Sahiwal epoucos exemplares Nelore. O potencial genético paramaciez da carne existe sim no nosso Nelore”, afirmao especialista.

Para Lucio Cornachini, gerente de Vendas eMarketing da Lagoa da Serra, o resultado contribuirá

Epagri Semeando conhecimento,colhendo qualidade.

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Nova tecnologia deNova tecnologia deNova tecnologia deNova tecnologia deNova tecnologia dearmazenagemarmazenagemarmazenagemarmazenagemarmazenagem

Acaba de chegar ao Bra-sil uma nova tecnologiapara o armazenamento degrãos secos. Trata-se doSiloBag, uma bolsa produ-zida com lâminas espe-ciais de polietileno de bai-xa densidade, com forma-to de um túnel de 60m decomprimento por 2,10mde diâmetro. Com capaci-dade para armazenar cer-ca de 180t de grãos, o quecorresponde a 3 mil sacasde 60kg, o SiloBag permi-te o armazenamento degrãos por um período deaté 12 meses. A tecnologiaestá sendo implementadapela IpesaSilo, empresaargentina especializadana fabricação de silos ho-rizontais.

Segundo Osmar Berga-maschi, representante daempresa no Brasil, entreas principais vantagensapresentadas pelo SiloBagestão a redução de custosde armazenamento e dedespesas com frete e a fle-xibilidade para a comer-cialização da safra. Produ-zido com uma tricapa de

polietileno, que mantémas condições herméticase propicia proteção con-tra os raios UV, o SiloBagnão precisa passar pornenhuma limpeza ou tra-tamento químico iniciaispara ser utilizado. OSiloBag também possibi-lita o armazenamento degrãos com umidade su-perior às condições decomercialização e permi-te que sejam armazena-das desde pequenas agrandes quantidades degrãos ou sementes, deforma separada e dife-renciada por lote, origeme qualidade. Depois deserem embutidos noSiloBag, os grãos consu-mirão todo o oxigênio dis-ponível, gerando umaatmosfera rica emdióxido de carbono, queinibe o próprio processorespiratório e assegurauma ótima conservaçãodos grãos ali deposita-dos.

Fonte: Jornal doSindarroz, n.43, p.3, set.2003.

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Lançamentos editoriais

Acerola – tecnologia de produção, pós-colhei-ta, congelamento, exportação, mercados. 2003.394p.

A publicação descre-ve as doenças, pragas, osprejuízos e as medidas decontrole, a determinaçãodo ponto de colheita e comofazê-la, os tratamentos depós-colheita, o congela-mento, armazenamento,transporte e aproveita-mento dos frutos. É umtrabalho mais completo eatualizado sobre a cultura,tornando-se indispensávelpor ser de grande auxíliopara professores, pesqui-sadores, extensionistas, es-tudantes de agronomia, téc-

nicos agrícolas e produtores de frutas, especialmentede acerola.

Contato: [email protected].

Essentia herba: plantas bioativas. 2003. 441p.Volume 1.

Análise da competitividade de atividadesagrícolas na região de Caçador, Santa Catarina.2003. 52p.

A publicação abordainformações quanto aosestrangulamentos queocorrem no sistema pro-dutivo, quanto ao custode produção, ao preço demercado e à taxa de re-torno sobre o investimen-to, importantes para o in-vestidor interessado emalguma das principais ati-vidades do setor primárioda região de Caçador. Fazuma análise comparativadas alternativas de inves-timento. As atividadesagrícolas em destaque na região são as seguintes:alho, maçã, pêra, pínus e tomate.

Contato: [email protected].

Mandioca. 2003.116p.

Plantas recicla-doras de nutrientes ede proteção do solo,para uso em sistemasequilibrados de pro-dução agrícola. 2003.91p.

O presente trabalhotem como objetivos prin-cipais o aumento da pro-dutividade, a qualidade daprodução e, especialmen-te, a rentabilidade da cul-tura da mandioca. Pelareunião de conhecimen-tos e inovações tecno-lógi-cas abordadas, a publica-ção constitui-se numa ex-celente fonte de consultapara extensionistas e pes-soas interessadas no as-sunto.

Contato: (019) 3743-3700.

Neste volume podem-se encontrar subsídios im-portantes para aplicabilidade de 19 plantas medicinaismais utilizadas no mundo e com comprovada atuaçãoterapêutica, além do relato da importância dabiodiversidade e da preservação do meio ambiente,que nos conduzem à necessidade de mudanças nomodo de pensar da sociedade. De forma clara eobjetiva, a publicação oferece informações sobre estesagentes fitoterápicos, objetivo central desta obra,utilizando referências conceituadas cientificamente.

Contato: [email protected].

Este trabalho objeti-va criar uma massa críti-ca de técnicos – pesqui-sadores e extensionistas– visando a dar sustenta-bilidade à diversificaçãoagropecuária, no contex-to do equilíbrio ambien-tal e do crivo da raciona-lidade de uso dos fatorese meios de produção, emsintonia com os avançoscientíficos.

Contato: [email protected].

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Encontro de mulheres agricultorasEncontro de mulheres agricultorasEncontro de mulheres agricultorasEncontro de mulheres agricultorasEncontro de mulheres agricultoras

Associação de produtores de Marema, SC,Associação de produtores de Marema, SC,Associação de produtores de Marema, SC,Associação de produtores de Marema, SC,Associação de produtores de Marema, SC,busca viabilizar a agricultura familiarbusca viabilizar a agricultura familiarbusca viabilizar a agricultura familiarbusca viabilizar a agricultura familiarbusca viabilizar a agricultura familiar

A organização dos pequenosprodutores rurais em associaçõese cooperativas tem se mostradouma alternativa para buscar a

viabilidade das pequenas proprie-dades rurais. A compra conjunta deinsumos, máquinas e equipamen-tos, bem como a comercialização

em grupo dos produtos geradosnas propriedades, tem diminuídocustos e agregado valor à produ-ção.

Ser competitivo no atual mer-cado não tem se mostrado tarefafácil para a agricultura familiar,porém, muitas das dificuldadesvêm sendo superadas com a uniãoe a organização dos trabalhadoresrurais. Exemplo disso vem acon-tecendo no município de Marema,Oeste do Estado de Santa Catarina,onde os agricultores, com o apoiodas entidades municipais, funda-ram a Cooperativa dos Produto-res de Leite de Marema –Cooperma –, que organiza ecomercializa a produção de lei-te.

Marema é um pequeno muni-cípio caracterizado basicamentepela agricultura familiar. São cer-ca de 310 propriedades, onde pre-dominam o cultivo de milho efumo, a criação integrada de avese suínos e a produção de leite. ACooperma conta hoje com 136associados e uma produçãomensal comercializada de cercade 15 mil litros de leite. Acomercialização conjunta da pro-dução tem melhorado os preços,em média, em R$ 0,06 por litropago ao produtor, além de todosos associados receberem o mes-mo valor por litro comercializado,situação esta que se diferencia dosistema atual de comercialização,em que o produtor com maiorprodução recebe incentivos en-quanto o de menor produção épenalizado com preços mais bai-xos. Outro benefício ao municípioé que toda a comercialização éfeita através de notas fiscais, ge-rando retorno na arrecadação. Aaquisição de sais minerais e me-dicamentos veterinários, em con-junto, também tem barateado oscustos de produção.

Segundo o presidente da Coo-perativa, Nelsir Zilli, o objetivo decriar a Cooperativa dos Produto-res de Leite partiu de um grupo deagricultores, juntamente com odepartamento técnico da Secreta-

No último dia 14 de agosto, aEpagri e a Prefeitura Municipalde Gaspar promoveram o XI En-contro Regional de Agricultoras,na Comunidade de Belchior Alto.O Encontro teve também o apoiodas prefeituras municipais da re-gião do Médio Vale do Itajaí e daFoz do Rio Itajaí, bem como dosescritórios municipais da Epagri,grupos de agricultoras e clubes demães. Segundo a coordenadora doevento, a extensionista da Epagriem Gaspar, Sônia Maria deMedeiros, o Encontro procuroupromover o senso de organização,oportunizar o desenvolvimento doconhecimento e a integração cul-tural.

Além de momentos culturais efolclóricos, o Encontro teve pales-tras importantes, como a da depu-tada federal Luci Choinascki, co-nhecida batalhadora pelos direi-tos das mulheres agricultoras. Oponto alto do evento foi a palestrada professora e engenheira agrô-noma Ana Maria Primavesi,especialista em manejo dossolos tropicais e reconhecidamundialmente como uma dasmaiores defensoras da agricultu-ra ecológica, a agroecologia. Nasua palestra, a professora, que épesquisadora e doutora em Ciên-cias Agrárias, ressaltou que o agri-cultor não é um indivíduo igno-rante, como muita gente pensa,pois ele tem muita experiência ecapacidade de resolver muitas si-tuações problemáticas do dia-a--dia. Segundo ela, os técnicos têmmuito o que aprender com os agri-cultores familiares, pois estes de-senvolveram e adaptaram muitas

técnicas adequadas às condiçõesdas pequenas propriedades do Suldo Brasil.

Ela também ressaltou que a cha-mada Revolução Verde, emboratenha trazido aumento de produ-ção e produtividade em algumasculturas, causou impactos violen-tos aos solos tropicais e subtropicaisdo Brasil, resultando em erosão emanejo inadequado. As tecnologiaspreconizadas pela Revolução Ver-de tiveram origem no HemisférioNorte, onde os solos são rasos,neutros e frios, ao contrário dossolos profundos, ácidos e quentesdo Hemisfério Sul. Por exemplo,ela cita que a monocultura preconi-zada pela Revolução Verde é muitoimpactante ao solos, ao passo que aconsorciação de culturas, a rota-ção, a cobertura verde, a diversifi-cação são técnicas bastante utiliza-das pela agricultura familiar e quedeveriam ser mais divulgadas eestudadas. Ela reconhece, no en-tanto, que as entidades oficiais depesquisa e extensão, nos últimosanos, têm dedicado mais estudos epesquisas que se adaptam melhor àagricultura familiar brasileira e quea agroecologia tem mais susten-tabilidade ambiental, social e eco-nômica para a maioria dos agricul-tores brasileiros, em todas as re-giões do País.

Por fim, a extensionista Sôniaassinalou que o sucesso do Encon-tro Regional de Agricultoras de-veu-se muito ao apoio das entida-des envolvidas e, principalmente,ao empenho das extensionistas edos extensionistas da Epagri queorganizaram os grupos para parti-cipar e atuar no evento.

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ria Municipal da Agricultura, aEpagri e o Sindicato dos Trabalha-dores da Agricultura Familiar, coma finalidade de organizar os pro-dutores, melhorar a produção e opreço dos produtos comercia-lizados. A venda individual enfra-quece os produtores, e com a ven-da coletiva da produção se conse-guiu um preço melhor e igualpara todos, haja vista que as ou-tras empresas pagam o produto

por faixa de produção. “Vendendoorganizadamente conseguimos au-mentar o valor recebido, além deadquirir insumos (sal mineral emedicamentos) mais baratos. Se osgrandes grupos estão se unindopara se fortalecer, os agricultorestambém precisam de organizaçãopara poder melhor competir nomercado, tanto na compra deinsumos quanto na venda da pro-dução”, concluiu o presidente.

Latino-americanosLatino-americanosLatino-americanosLatino-americanosLatino-americanosconhecem o sistemaconhecem o sistemaconhecem o sistemaconhecem o sistemaconhecem o sistemade plantio direto emde plantio direto emde plantio direto emde plantio direto emde plantio direto em

Santa CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta Catarina

Epagri adota novo processo deEpagri adota novo processo deEpagri adota novo processo deEpagri adota novo processo deEpagri adota novo processo degerenciamentogerenciamentogerenciamentogerenciamentogerenciamento

A Gerência Técnica e de Pla-nejamento – GTP – da Epagri estáadotando um novo e moderno pro-cesso de gerenciamento. Trata-sedo acompanhamento in loco dostrabalhos de pesquisa e extensãorural, onde profissionais da áreatécnica e administrativa da Em-presa, lotados na Sede, emFlorianópolis, deslocam-se cons-tantemente ao interior do Estadode Santa Catarina para visitar ostrabalhos desenvolvidos em cadauma das oito Unidades de Plane-jamento Regional – UPR.

“Não se trata de uma fis-calização ou supervisão de tra-balho, mas de um processo maisenvolvente, participativo e eficaz,que resulta em melhorias geraisdas ações finalísticas da Empresa’’assinala o diretor técnico daEpagri, engenheiro agrônomoJosé Antonio da Silva. Os técnicosda GTP deslocam-se para as UPRspara acompanhar atividades nasunidades de pesquisa da Epagri,nas estações experimentais, noscentros de treinamento e tambémnos escritórios locais, onde atuamos extensionistas rurais. SegundoJoel Vieira de Oliveira, gerenteda GTP, as visitas objetivam nãosó acompanhar as ações emdesenvolvimento, mas discutir oPlano Diretor da Epagri com ostécnicos em seus locais de trabalho.As visitas duram normalmente

quatro dias, começando na terça-feira de manhã e terminando nasexta-feira ao meio dia. Ini-cialmente é feita uma reunião comrepresentantes da região visitada,em que se analisam os planos detrabalho da região, partindo dodocumento intitulado EstudoBásico Regional, depois o PlanoDiretor, e seguindo para os PlanosMunicipais e Anuais de Trabalho.Discutem-se também o fun-cionamento e atribuições, dentrodo Plano Estratégico da Epagri, daschamadas figuras programáticas(plano, programa, projeto,subprojeto, plano anual de traba-lho e relatório anual) e doscomponentes do sistema deplanejamento (UPR, ComissãoTécnica de Planejamento –CTP –, Comissão de Planejamento– CPE – e os profissionais doProjeto, líderes, responsáveis porsubprojeto e equipe). Após oprimeiro dia de discussões, ostécnicos partem ao campo erealizam visitas aos trabalhosdiários dos extensionistas epesquisadores, verificandoproblemas e ações promissoras,trocando idéias, informações eexperiências. Enquanto isso, aDiretoria da Empresa se reúne comos demais dirigentes regionais:gerente, chefe de estação eadministrador de centro detreinamento. Na sexta-feira todos

voltam para a sala de reuniões, afim de avaliar as visitas reali-zadas.

Muitos técnicos das regiões vi-sitadas elogiaram a iniciativa daatual Diretoria da Epagri que,através desta metodologiagerencial, está indo a campo cons-tatar os problemas e, se possível,resolvê-los rapidamente ou bus-car soluções a curto e médio pra-zos. A determinação dos diretoresda Epagri é continuar este traba-lho no ano que vem, tornandoeste sistema de gerenciamentoparticipativo uma rotina.

Uma comitiva composta por65 produtores, profissionais daárea agrícola e autoridades doUruguai, da Colômbia, da Gua-temala e, principalmente do Mé-xico, estiveram no mês de maioem Videira, SC. A comitiva fez umroteiro de visitas ao Brasil, ini-ciando pelo Agrishow, realizadoem Ribeirão Preto, SP, seguindopara Foz do Iguaçu, PR, Epagriem Videira, Embrapa em PassoFundo, RS, uma fábrica de máqui-nas em Não me Toque, RS, PortoAlegre, RS, e, após duas semanas,retornaram aos seus países.

Essa visita faz parte de umplano de expansão do plantio dire-to naqueles países, cuja área comesse sistema fica em torno de 3%da área plantada, muito inferiorao Brasil, que é o segundo país emárea no mundo, o primeiro emexpansão anual e pioneiro no sis-tema de plantio direto de hortali-ças. As atividades agrícolas na-queles países são parecidas com

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Técnico da Epagri participa de eventoTécnico da Epagri participa de eventoTécnico da Epagri participa de eventoTécnico da Epagri participa de eventoTécnico da Epagri participa de eventointernacional sobre agriculturainternacional sobre agriculturainternacional sobre agriculturainternacional sobre agriculturainternacional sobre agricultura

conservacionista em Cubaconservacionista em Cubaconservacionista em Cubaconservacionista em Cubaconservacionista em Cuba

assume para a escolha da sede daVII Reunião Bienal. O coordena-dor Leandro do Prado Wildner,representando a Epagri e o Brasil,destacou, em especial, o trabalhorealizado pelo Dr. Milton da Veiga,também da Epagri, tanto para adifusão da agricultura conser-vacionista quanto para a inte-gração entre as organizações detécnicos e dos agricultores quetrabalham em prol da agriculturaconservacionista e, também, a ne-cessidade de integrar todos os paí-ses latino-americanos dentro darede. Agradeceu ainda aos repre-sentantes de Cuba pela organiza-ção do evento. Após a apresenta-ção dos candidatos e votação pelosrepresentantes dos países presen-tes, ficou definido que Costa Ricaserá a sede da VII Reunião Bienalda Relaco em 2005. A coordenaçãoda Relaco, para o biênio 2003-2005ficará sob a responsabilidade doengenheiro agrônomo AlbertoGómez Ruiz, pesquisador do Inicae coordenador da VI ReuniãoBienal.

as praticadas no Brasil, diferindo--se na produção em escala de hor-taliças. Alguns produtores da co-mitiva plantam, individualmen-te, 800ha/ano de tomate e desco-nheciam completamente o plan-tio direto desta cultura.

Em Videira, os engenheirosagrônomos Remi NatalimDambrós, da Epagri, e CelsoBrancher, da Prefeitura Munici-pal, realizaram uma programa-ção com dinâmica de máquinas nalavoura, procurando discutir osfundamentos do plantio diretopara que os visitantes desenvol-vam os sistemas conforme a rea-lidade de seus países. Houve oenvolvimento de 15 produtores do

município de Videira que adotam osistema há dez anos, com troca deexperiências para dirimir dúvidasda atividade.

Os integrantes da comitiva de-monstraram interesse em adotar osistema de plantio direto e fazerintercâmbio de tecnologias no se-tor de hortaliças sob plantio direto.Eles surpreenderam-se com a di-versidade e a capacidade do produ-tor familiar catarinense em desen-volver várias atividades econômi-cas em pequenas propriedades edesejam retornar a Santa Catarinaem dezembro de 2003 para acom-panhar a estrutura da pesquisa eextensão rural em diversos muni-cípios.

O engenheiro agrônomoLeandro do Prado Wildner,pesquisador da Epagri/Centro dePesquisa para AgriculturaFamiliar – Cepaf –, em Chapecó,participou da VI Reunião Bienalda Rede Latino-americana deAgricultura Conservacionista –Relaco –, realizada em maio desteano, em Havana, Cuba.

O evento foi organizado peloInstituto Nacional deInvestigaciones de la Caña deAzúcar – Inica – e teve como temacentral “Pecuária, preservação edesenvolvimento”. Participaramda VI Relaco 42 técnicos represen-tando 10 países latino-america-nos, 1 representante dos EstadosUnidos e 2 da Espanha.

Fizeram parte da programa-ção oficial a apresentação de 5conferências, 13 trabalhos orais e32 painéis técnicos. Durante doisdias também foram realizadasviagens técnicas e de campo paraconhecer algumas instituições depesquisa ligadas à Universidade

Agrária de Havana e ao Ministérioda Agricultura e também algumasexperiências com redução de pre-paro do solo em lavouras de cana--de-açúcar, demonstrações de má-quinas agrícolas e cultivos intensi-vos em propriedades de agriculto-res.

O pesquisador da Epagri foi con-vidado pela organização do eventopara apresentar uma conferênciasobre “O papel dos agricultoresna difusão da agricultura con-servacionista”. Leandro abordou otema com ênfase especial na difu-são do plantio direto no Paraná eRio Grande do Sul e do cultivomínimo e plantio direto nas peque-nas propriedades de Santa Cata-rina, durante o Projeto MicrobaciasI (1991 a 1998).

Antes do final oficial do eventofoi realizada a Assembléia Geraldos membros da Relaco para apre-sentar um relato das atividadesrealizadas pela última coordena-ção e a apresentação de um planode trabalho da coordenação que

EcoagriculturaEcoagriculturaEcoagriculturaEcoagriculturaEcoagriculturamodelo emmodelo emmodelo emmodelo emmodelo em

Santa CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta Catarina

Rosa Sell, ecoagricultora deSanta Catarina, foi premiada pelainiciativa de resgatar métodos tra-dicionais de uma agricultura quenão visa apenas resultados, masestá totalmente voltada para odesenvolvimento sustentável.

Rosa e Glaico Sell sãoecoagricultores que cultivam a ter-ra em Paulo Lopes, a 55km deFlorianópolis. Sem dúvida, o mé-rito deles é resgatar métodos tra-dicionais de agricultura, cultivan-do com elementos orgânicos e res-peitando o tempo e as necessida-des da natureza. Mas não é fácilpensar de forma ecológica em ummundo onde os orgânicos ainda

12 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

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são alimentos considerados carose inacessíveis. Apesar de crescercerca de 30% ao ano, o mercado deorgânicos ainda é vinculado a pre-ços mais altos e a um modo devida alternativo.

“A demanda é muito maior doque a oferta nesse mercado deorgânicos”, afirma a agrônomaMaria José Guazzelli, pioneira emagricultura ecológica no Brasil.Para ela, “os pequenos agriculto-res são agentes de mudança”, sãoeles que estão modificando o modode vida das pessoas e criando, aospoucos, um sistema que garanteagricultura com sustento e esta-bilidade.

Rosa e Glaico utilizam méto-dos considerados obsoletos paramuitos, num mundo onde usarpesticidas e Organismos Geneti-camente Modificados – OGMs – éconsiderado ideal, e fogem da es-cala de comercialização que enca-rece o produto, o que resultou nabusca de lugares alternativos paravender seus produtos e garantir osustento da família. Uma saída foimontar, junto com outros produ-tores, a Feira Ecológica, a primei-ra de Santa Catarina.

A Ecofeira funcionava no Cen-tro de Ciências Agrárias da Uni-versidade Federal de SantaCatarina – CCA/UFSC. Hoje elaacontece na Lagoa da Conceição.Com essa iniciativa, o casal cami-nha na direção inversa e quebrauma hegemonia de mercado,comercializando diretamente como consumidor. Esse foi um dosmotivos que levou Rosa a serindicada para a premiação inter-nacional.

Reconhecimentointernacional

O prêmio Criatividade da Mu-lher no Meio Rural foi entregueatravés da Fundação Cúpula Mun-dial da Mulher, situada em Gene-bra, Suíça. Entre pessoas e orga-nizações do mundo inteiro, doBrasil foram premiados Rosa e oGrupo de Mulheres Decididas a

Vencer, que também trabalha comalimentos orgânicos. May East,relações internacionais do Movi-mento Global das Ecovilas, mos-trou o trabalho de Rosa e GlaicoSell para o mundo. Indicação en-dossada pela Fundação Gaia, peloEncontro de Economia Sustentá-vel – Ecosust –, pela CooperativaEconomia Solidária – Ecosol – e osintegrantes da Ecofeira.

O Movimento das Ecovilas foidesignado pela ONU, em 1998,como uma das 100 melhorespráticas para promover ummodo de vida sustentável. Nestemodelo, estão previstas algumasdas iniciativas do casal, que viveda agricultura ecológica em umsítio na Grande Florianópolis. Aprincipal delas é a permacultura,um método agrícola que consistena reciclagem e no reapro-veitamento de tudo, inclusive daságuas utilizadas, procurando seaproximar ao máximo dos ciclos danatureza.

Adquirido através do programaFundo de Terras, do governo esta-dual, em 1996, o sítio possui apenas15.000m2. A terra de Rosa e Glaicoera uma área semidesértica, comsolo pobre, de composição gra-nulométrica aproximada de: 90%areia, 5% argila e 5% silte, comteores insignificantes de matériaorgânica (0,6%). No entanto, obom manejo do solo transformoua paisagem local, e hoje a pros-peridade pode ser vista nas coresdas verduras e frutas produzidas.“Hoje, ainda tem coisa pra fazer,e muitas vezes falta recurso,equipamento ou pessoal”, contaRosa.

No entanto, os produtos são elo-giados e os fregueses são fiéis editam o que e em que quantidadedeve ser cultivado. Nesse cardápiode produtos naturais estão frutasdiferentes, como várias espécies debanana, difíceis de serem encon-tradas, como a vinho, a coco e adedo-de-moça. Existe ainda umaênfase no resgate de alimentoscultivados pela gente mais velha dolugar, os quais quase desaparece-

ram do mercado, como a batata-abóbora, rica em betacaroteno eque pode virar um prato sofistica-do, e a batata-roxa, cuja polpaescurece ao ser cozida.

A compostagem criada por Rosae feita na própria plantação já estáservindo de modelo para outrosagricultores no Estado: “Sem mu-dar o adubo de lugar, aproveita-semais da vida que ele produz”, ga-rante ela. Para comprovar o quena prática já começava a dar re-sultados, Rosa e Glaico foram par-ticipar de cursos que desenvolves-sem um pensamento mais sólidoe didático sobre o assunto. Algoque pudesse ajudá-los a, num fu-turo, passar esse conhecimentoadiante e promover um modo devida mais ligado à natureza e pau-tado no respeito mútuo e paracom a terra.

Exemplo de vida emharmonia

Com 40 anos muito bemvividos, Rosa hoje trabalha a terrapensando no futuro do planeta.Junto com o marido, Glaico, e osquatro filhos, Rosa obtevedestaque na região, pela suadedicação à agricultura ecológicae pelo envolvimento em movi-mentos que têm como objetivopromover uma vida mais saudávelpara todos.

O casal participa, por exemplo,da Rede Ecovida de Agroecologia,uma iniciativa que congregavárias entidades democráticas epopulares que atuam em todo oSul do Brasil, e participou pelasegunda vez da feira anual deeconomia solidária e também dosegundo Ecosust – rede de pessoasinteressadas nas técnicas desustentabilidade do planeta.

Essas informações seriam su-ficientes para se ter uma idéia daabrangência do pensamento e dasações de Rosa e entender porqueMay East se impressionou tantocom a garra e o empreendedorismodessa mulher. No entanto, nãopára por aí: é possível ver o casal,

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Registro

quinzenalmente, nas feiras pro-movidas pelo Clube de TrocasEcosol, um grupo de economiasolidária que se reúne para trocade produtos e serviços ou conheci-mento. A pequena propriedadeestá inserida, também, na rede daAssociação dos Agricultores Eco-lógicos das Encostas da SerraGeral – Agreco –, que prevê atroca da merenda escolar atualpor alimentos produzidos de for-ma ecológica. Rosa pretende inse-rir Paulo Lopes na rede e acreditaque o mesmo deveria ser feitoinclusive em hospitais.

O futuro? Rosa acredita que o

prêmio só veio assinar o trabalhorealizado. “Provar que estamos nocaminho certo”, ela enfatiza. Masele continua e não tem um fim.“Quem sabe no futuro, quando nos-sa pequena fazenda estiver nasmãos dos filhos, possamos reunirum grupo de pessoas em um trailere sair por esse Brasil ensinando aecoagricultura e divulgando a eco-logia, o respeito à natureza e umaforma de vida mais saudável e fe-liz”.

Mais informações com Rosa eGlaico Sell, pelo fone: (048) 253-0444, ou com Mário Corrêa pelosfones: (048) 232-6473/6930.

Segurança alimentar: o consumidor prefereSegurança alimentar: o consumidor prefereSegurança alimentar: o consumidor prefereSegurança alimentar: o consumidor prefereSegurança alimentar: o consumidor prefereprodutos naturais com qualidadeprodutos naturais com qualidadeprodutos naturais com qualidadeprodutos naturais com qualidadeprodutos naturais com qualidade

O processo é global e irrever-sível. O consumidor moderno nãoquer correr riscos sobre a segu-rança dos alimentos que leva àmesa. Além disso, ele exige com-promisso dos fornecedores com orespeito à natureza e está preocu-pado com a nutrição dos animais,que está diretamente relacionadaà qualidade das carnes, dos ovos edo leite.

Essas informações foramexaustivamente discutidas na 13a

Ronda Latino-Americana, eventopromovido pela Alltech, empresade soluções naturais em saúde ealimentação animal, realizado emRecife, PE, e em Campinas, SP,em 23 de setembro, por quatroespecialistas internacionais em ali-mentação. O bioquímico irlandêsPearse Lyons e os Ph.Ds. JohnSonderman, Peter Ferket e JuanTricarico vieram ao Brasil espe-cialmente para falar sobre as so-luções naturais a cerca de 400profissionais ligados à nutrição,especialmente de grupos produto-res de alimentos de origem ani-mal.

“O consumidor quer ter a se-gurança de estar ingerindo car-

nes, leite e ovos saudáveis, produ-zidos de maneira confiável e quenão haja riscos de conter ingre-dientes prejudiciais a si e a suafamília, como resíduos de produtosquímicos. Estaria ele querendo de-mais?”, questiona Lyons. Para ele,os fornecedores de alimentos quenão assumirem a postura respon-sável perante a segurança alimen-tar poderão perder a confiança dosconsumidores. “A partir de 2006, aUnião Européia banirá definitiva-mente todos os antibióticos promo-tores de crescimento utilizados naalimentação animal. Esta é umaexigência dos consumidores euro-peus. Não tenho dúvida de que esseprocesso será acompanhado poroutras regiões, como América doNorte e Japão. Não por acaso essessão os maiores importadores mun-diais de alimentos. Países como oBrasil, que têm o foco na exporta-ção de produtos, inclusive de ori-gem animal, precisam atender aessas exigências sob pena de estarfora desses importantes mercados”,enfatizou Lyons.

O professor John Sonderman,Ph.D. em Nutrição e Reproduçãopela Universidade do Estado do

Colorado, EUA, é enfático. Paraele, “o poder está no varejo”. Issosignifica que os produtores devemouvir os seus clientes e ofertaralimentos com as especificaçõesque o mercado exige. “Os exem-plos se sucedem. Apenas um casodo mal-da-vaca-louca no Canadá,no início do ano, derrubou paraperto de zero as exportações decarne bovina daquele país. A UniãoEuropéia caminha para o bani-mento total de antibióticos pro-motores de crescimento e exigerastreabilidade e certificação deorigem dos seus fornecedores in-ternacionais. A questão ambientale o bem-estar animal já são men-cionados em pesquisas com con-sumidores pelo mundo como itensimportantes para a escolha dosalimentos. O que mais os produto-res precisam para acompanharesse movimento em prol da segu-rança alimentar?”, questionaSonderman.

Nutrição animal, o foco – nes-sa discussão, ganha importância aqualidade dos nutrientes ofereci-dos aos animais – frangos, aves depostura, suínos, bovinos de cortee de leite, além de pequenos ani-mais, eqüinos e outras espécies.O professor Peter Ferket, Ph.D.em Nutrição Animal pela Univer-sidade Estado de Iowa, EUA, res-salta a importância da nutriçãoanimal no âmbito da segurançaalimentar. “O paradigma globalde hoje é a ênfase em eficiênciaprodutiva associada à segurançapública. Nada ilustra melhor essamudança que as questões relacio-nadas à utilização de antibióticospromotores de crescimento. Nasúltimas décadas, eles foram utili-zados em produção animal paramelhorar o desempenho de ganhode peso e proteger os animaiscontra os efeitos adversos de mi-crorganismos entéricos, pato-gênicos e não-patogênicos. Atual-mente, são alvos de exame minu-cioso na espécie humana, decor-rente da utilização prolongada.Nesse cenário, a indústria de pro-dução animal precisa de alternati-

14 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Registro

vas a essa classe de antibióticos,ou, pelo menos, reduzir o seu usosubstancialmente sem prejudi-car a eficiência da atividade pro-dutiva, proporcionando carne,ovos e leite seguros”, explicaFerket.

Produtividade – esta é a pala-vra-chave da moderna avicultura,suinocultura e pecuária (corte eleite), entende Juan Tricarico,Ph.D. em Nutrição de Ruminan-tes pela Universidade deKentucky, EUA. Para ele, a ciên-cia trabalha em ritmo aceleradopara oferecer alternativasnutricionais que sejam naturais eseguras, mas que garantam osníveis de eficiência produtiva, vi-sando manter a competitividadedas atividades. “Enzimas, levedu-ras (cepa 1026) e minerais orgâni-cos aparecem como opções ex-tremamente positivas – e eco-nômicas – para garantir os níveisde produtividade alcançados apósanos e anos de investimentos emgenética, sanidade, manejo e ali-mentação”, esclarece Tricarico.

Especializada no desenvolvi-mento de soluções naturais emsaúde e alimentação animal, be-néficas para o animal, para o con-sumidor e para o meio ambiente,a Alltech promove a Ronda Lati-no-Americana há 13 anos, semprecolocando em discussão temas deimportância mundial, esclarecen-do dúvidas sobre a qualidade dosalimentos e o movimento globalem torno da segurança alimen-tar. “A cadeia da indústria de ali-mentação começa na nutrição dosanimais. E o consumidor é cadavez mais exigente e cobraposicionamento claro dos seusfornecedores de alimentos. Nopassado, a regra era: a indús-tria produz o que quer e o consu-midor compra; hoje, o consumi-dor pede e nós temos de produzirsob pena de falir”, ressalta PearseLyons.

Mais informações com SimoneRubim, pelo fone: (011) 3675-1818ou e-mail: [email protected].

Levantamento Agropecuário:Levantamento Agropecuário:Levantamento Agropecuário:Levantamento Agropecuário:Levantamento Agropecuário:“““““Abra a porta e o coração”Abra a porta e o coração”Abra a porta e o coração”Abra a porta e o coração”Abra a porta e o coração”

A falta de dados e informações,referentes ao meio rural cata-rinense, dificulta o investimento eauxílio neste setor porque se des-conhece a realidade agrícola atual.Objetivando melhoras na agricul-tura catarinense, o Governo do Es-tado de Santa Catarina desenvol-veu o projeto “LevantamentoAgropecuário”. Através de dados einformações coletados em 6.833setores censitários rurais e urba-nos nos 293 municípios de SantaCatarina, o planejamento governa-mental, destinado a atender o pro-dutor rural catarinense, torna-semais eficaz tendo em vista que osinvestimentos serão direcionadosconforme a realidade de cada umdos estabelecimentos agrope-cuários.

A Secretaria de Estado da Agri-cultura e Política Rural, amparadapelas 29 Secretarias de Estado doDesenvolvimento Regional, é aprincipal encarregada do Levanta-mento Agropecuário que será exe-cutado pela Ceasa, Cidasc, Epagri epelo Instituto Cepa. Parceiros comoCiasc, Embrapa, Fecam, Funcitec,IBGE, Mapa, universidades esta-duais, Sistema Acafe, Banco Mun-dial, prefeituras e associações mu-nicipais também auxiliarão no pro-cesso. Totalmente gratuito, o le-vantamento será aplicado porentrevistadores – identificados comcolete e crachá – através de umquestionário fundamentado em in-formações primordiais ao futuroplanejamento agrope-cuário: dadossobre a população residente e amão-de-obra ocupada nos estabele-cimentos rurais, estruturafundiária, utilização das terras,meio ambiente, condições de

habitabilidade e saneamento bá-sico das residências, estrutura deprodução, efetivo dos rebanhos,produção animal e vegetal, uso deinsumos, indústria rural, valordas receitas e das despesas ocorri-das no estabelecimento, entreoutras informações. As visitas aosestabelecimentos agropecuáriosserão realizadas até dezembrodeste ano.

Visando maior segurança, pre-cisão e confidencialidade da trans-missão e armazenagem das infor-mações coletadas, será emprega-da na pesquisa socioeconômicauma inovadora tecnologia de le-vantamento de dados. Cadaentrevistador fará uso de um com-putador de mão ou PDA (“PersonalDigital Assistant”) e um aparelhoreceptor de GPS (“Global PositionSystem”), constituindo assim ochamado KitColeta. Os dadosregistrados diretamente no com-putador de mão são gravados pe-riodicamente em cartão de me-mória adicional (“backup”) eenviados para o Servidor de Ban-co de Dados da Secretaria de Esta-do da Agricultura e Política Ruralvia internet, onde são, enfim, crip-tografados. Além do processo decoletagem e armazenagem das in-formações, cada estabelecimentoagropecuário visitado e os pontosimportantes nas suas imediações(abatedouros, pontes, represas,lixões, escolas, igrejas, povoados,etc.) serão georreferenciados, ouseja, suas coordenadas geográfi-cas serão registradas pelo GPS,facilitando, portanto, a sua locali-zação geográfica dentro do setorcensitário.

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Vida Rural

AlimentaçãoAlimentaçãoAlimentaçãoAlimentaçãoAlimentaçãoorgânicaorgânicaorgânicaorgânicaorgânica

promovendo a saúdepromovendo a saúdepromovendo a saúdepromovendo a saúdepromovendo a saúde

A dieta tem um papel funda-mental na promoção da saúdehumana e na prevenção de doen-ças. Os povos mais longevos emais saudáveis, como os colonosdas serras gaúchas, têm em co-mum a ingestão de alimentos lo-cais, frescos ou pouco processa-dos, provenientes do seu meio ede sua própria cultura alimentar.Eles seguem a sazonalidade dassuas colheitas e comem de formaequilibrada todos os alimentos dis-poníveis. O conceito de saudávelrepousa na dieta e na qualidade devida como um todo e não somenteem nutrientes, alimentos ou prá-ticas milagrosas, dissociadas docontexto de vida local.

A abordagem alimentar aquiapresentada não é restritiva e estábaseada na proposta da alimenta-ção integral orgânica. Essa formade se alimentar proporcionamaior disposição e vigor físico efortalece o sistema imunológico,tornando as pessoas mais resis-tentes às doenças. É preciso con-siderar o potencial do sistema deprodução orgânica de alimentoscomo um instrumento de defesado meio ambiente e de revi-talização da agricultura familiar,promovendo saúde em nívelambiental e social. A seguir apre-senta-se um esquema de reco-mendações gerais para que aspessoas se mantenham saudáveis:

• Alimente-se devagar e man-tenha o horário entre as refei-ções. Não beba líquidos durante

as mesmas, preferindo, após, umchá de ervas digestivas.

• Evite ao máximo os alimentosindustrializados com excesso deaditivos, gordura hidrogenada, açú-car branco, farinhas, sal e açúcarrefinados. Prefira sempre alimen-tos frescos, caseiros, de origemorgânica, sem agrotóxicos e drogasveterinárias.

• Use com moderação sal mari-nho, açúcar mascavo, mel e mela-do.

• Utilize ervas condimentares,verdes e desidratadas, que auxi-liam a digestão.

• Use e varie sempre que possí-vel os cereais e as farinhas inte-grais como fonte de fibras. Enri-queça as farinhas brancas com ce-reais integrais, fibras e sementes.

• Escolha frutas e verduras daépoca consumindo-as, de preferên-cia, cruas e frescas. Evite-as comosobremesas e utilize-as em refei-ções leves ou em lanches.

• Os vegetais pasteurizados,congelados e enlatados devem serevitados.

• Cascas, talos e folhas são ex-celentes fontes de fibras.

• Aproveite a água de cocçãodos vegetais em sopas, molhos eoutras preparações.

• Coma as saladas antes do pra-to principal, variando os molhos, ascores e as diferentes partes da plan-ta: folhas, frutos, flores, brotos eraízes.

• Evite os leites tipo longa vidaou em pó, bem como os queijosgordurosos e condimentados. Senão houver restrição dietética,prefira leite pasteurizado integral,queijos brancos ou frescal e utili-ze os acidificados (iogurte, ricota,coalhada).

• Não substitua a manteigapela margarina. Use manteiga,com moderação, numa dieta ricaem fibras. Nunca frite a mantei-ga. Para o cozimento, prefiraóleos vegetais e para as saladas,azeite de oliva.

• Varie ao máximo as fontesprotéicas de carnes, peixes, quei-jos, ovos caipiras e leguminosas(feijões, soja, lentilha, ervilha).Evite carnes e peixes congela-dos.

• Os alimentos mais ricos emgorduras e de difícil digestão nãodevem ser ingeridos após às 15horas, dando então preferência àsrefeições leves.

Boa alimentação, sono regu-lar, exercícios físicos, respiraçãoadequada e uma vida emocionalequilibrada fazem parte de umcontexto amplo e verdadeiro desaúde física, emocional e espiri-tual. Sem radicalismo e com bomsenso, pode-se encontrar a me-lhor forma de viver e se alimen-tar, procurando manter a formamais natural possível dos alimen-tos.

Fonte: AZEVEDO, E. Alimentosorgânicos: ampliando conceitos desaúde humana, social e ambiental.Florianópolis: Insular, 2003.198p.

16 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Receitas com laranja37p. 2002 – R$ 8,00Boletim Didático n 13o

Catálogo de produtoresde flores e plantasornamentais de Santa Catarina131p. 2002 – R$ 10,00

Receitas com mariscos19p. 2001 – R$ 3,00Boletim Didático n 39o

Receitas culinárias domeio rural de Ouro, SC67p. 2003 – R$ 10,00Boletim Didático n 49o

Cultive uma hortae colha qualidadede vida70p. 2002 – R$ 7,00Boletim Didático n 43o

Arroz irrigado: Sistemapré-germinado273p. 2002 – R$ 30,00Livro

Cadeias produtivas doEstado de Santa Catarina:Maçã94p. 1999 – R$ 8,00Boletim Técnico n 105o

Cadeias produtivas doEstado de Santa Catarina:Tomate67p. 2000 – R$ 6,00Boletim Técnico n 113o

A escaldadura dasfolhas da ameixeiraem Santa Catarina55p. 2001 – R$ 6,00Boletim Técnico n 118o

Variação sazonal naprodução de mandiocaem solo Areias QuartzozasDistróficas, na RegiãoSul Catarinense33p. 2001 – R$ 4,00Boletim Técnico n 116o

Caracterização desintomas visuais dedeficiências nutricionaisem alface57p. 1997 – R$ 8,00Boletim Técnico n 87o

A introdução da mucunaem Santa Catarina30p. 2000 – R$ 5,00Documentos n 204o

Estudos do mercado demexilhões em São Paulo,Curitiba e Porto Alegre43p. 2003 – R$ 7,00Documentos n 210o

Planilhas para cálculosde custo de produçãode peixes38p. 2001 – R$ 6,00Documentos n 206o

Essentia herbaPlantas bioativas Volume 1441p. 2003 – R$ 80,00Livro

Nashi, a pêra japonesa341p. 2001 – R$ 30,00Livro

Métodos de extensãorural163p. 2001 – R$ 10,00Livro

Sistema de Produçãopara Cebola - SantaCatarina (3 revisão)91p. 2000 – R$ 8,00Sistema de Produção n 16

a

o

Usos do gesso agrícola31p. 2000 – R$ 5,00Boletim Técnico n 122o

Publicações da Epagri a venda

Enviar cheque nominal à Epagri ou fazer depósito na conta 85020-9, agência 3191-7 do Banco do Brasil.Enviar cópia do comprovante de pagamento para a Epagri, fax: (048) 239-5597, com nome e endereço para remessa.

Formas depagamento

Prepare receitas combananas33p. 2002 – R$ 5,00Boletim Didático n 21o

SA NTA C ATA RI N A

Governo do E st ado de San ta Ca tar inaSec ret ar ia de Es tado do Desenv ol viment o R ural e da Agr icu lt u raEm pres a de P es quisa A gropecuár ia e Ex tensão R ural de S ant a C ata rina S.A .

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Receitas de docinhos18p. 2002 – R$ 5,00Boletim Didático n 8o

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Governo do Estado de Santa CatarinaSecretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da AgriculturaEmpresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.

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Receitas com mandioquinha-salsa48p. 2002 – R$ 7,00Boletim Didático n 47o

SANTA CATARI NA

Governo do Estado de Santa CatarinaSecretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da AgriculturaEmpresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.

BOLETIM TÉCNICO N 122 ISSN 0100-7416O

Usos do gesso agrícola

Névio João NuernbergTássio Dresch Rech

Clori Basso

Objetivos e atitudes dospequenos agricultoresdiante de novas tecnologias105p. 2000 – R$ 7,00Documentos n 208o

Análise da competitividadede atividades agrícolasna região de Caçador, SC52p. 2003 – R$ 8,00Documentos n 209o

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 17

Vídeos da Epagri a venda

Administração Rural

Apicultura

Assuntos fundiários

Cebola

••

Combate ao desperdício de energia - Celesc Rural 25’00” - Fita S-26 (R$ 30,00)

Terrinha e Zé Veneno - 20’00” - Fita B-01 (R$ 30,00)

Apicultura - como produzir mais e melhor - 52’00”Fita S-07 (R$ 40,00)Criação de abelha rainha - 32’00” - Fita A-319 (R$ 30,00)

Rizipiscicultura - 30’00” - Fita S-24 (R$ 30,00)Arroz irrigado em Sistema pré-germinado - 45’00”Fita B-31 (R$ 30,00)

Agrotóxicos

Arroz

••

Bovinocultura (corte e leite)

Conservação dos recursos naturais

••

•••

••••

Vídeo terra - 33’00” - Fita B-02 (R$ 20,00)O 25 de maio - 32’08” - Fita B-03 (R$ 20,00)

Gado franqueiro parte 1 e 2 - 48’00” - Fita B-03 (R$ 30,00)Morcego hematófago - 23’37” - Fita B-02 (R$ 20,00)

Como produzir mudas de alta qualidade - 25’50”Fita A-323 (R$ 20,00)

O mundo dos manguezais - 52’00” - Fita B-04 (R$ 30,00)Recuperação das áreas mineiradas a céu aberto - 27’45”Fita B-05 (R$ 20,00)Essências florestais - 26’00” - Fita B-05 (R$ 20,00)Mata Atlântica - 31’00” - Fita B-05 (R$ 20,00)Manejo de florestas - exóticas - 21’36” - Fita B-05 (R$ 20,00)Manejo de florestas - nativas - 16’05” (R$ 20,00)Controle do borrachudo - 18’00” - Fita S-15 (R$ 30,00)Estação meteorológica - 35’00” - Fita S-19 (R$ 30,00)A gota d’água - 21’00” - Fita B-04 (R$ 30,00)

Fruticultura

Maricultura

Ovinocultura

Profissionalização

Tecnologias adaptadas

•••

••

Mosca-das-frutas - 26’00” - Fita S-12 (R$ 30,00)Colheita da maçã - 19’30” - Fita B-03 (R$ 30,00)Produção de mudas de pereira japonesa - 20’00” Fita B-16 (R$ 20,00)Sistemas de condução e poda da pereira japonesa 21’40” - Fita B-13 (R$ 20,00)Polinização da pereira japonesa - 12’35” - Fita B-13 (R$ 20,00)Raleio e ensacamento dos frutos da pereira japonesa 13’00” - Fita B-13 (R$ 20,00)Colheita e armazenagem da pêra japonesa - 14’20” Fita B-13 - (R$ 20,00)Cultivo da pereira japonesa - 67’40” - Fita B-16 (R$ 40,00)Colheita da maçã - 17’00” - Fita B-04 (R$ 20,00)Classificação e embalagem da maçã - 15’00”

Fita B-07 - (R$ 20,00)Poda e condução da macieira - 15’00” - Fita B-08 (R$ 20,00)Polinização e frutificação da macieira - 16’00”

Fita B-10 - (R$ 20,00)Manejo de pragas na cultura da macieira - 25’30” Fita B-25 - (R$ 20,00)Cultivo da maçã - 90’00” - Fita B-22 (R$ 40,00)

Embutidos e defumados de ovinos - 34’00” - Fita S-24(R$ 30,00)

Ostreicultura - práticas de manejo - 12’00” - Fita B-33(R$ 20,00)

Cultivo protegido de hortaliças - 40’00” - Fita S-21(R$ 40,00)

Artesanato com lã de ovelha I - 60’00” - Fita S-18(R$ 40,00)Artesanato com lã de ovelha II - 57’00” - Fitas S-19(R$ 40,00)

Vinte receitas com banana - 70’00” - Fita B-05(R$ 30,00)

Centros de treinamento em Santa Catarina - 20’00”Fita S-05 (R$ 20,00)Casa familiar rural - 15’30” - Fita S-16 (R$ 30,00)

Diarréia em leitões - vídeo educativo - 25’08” Fita B-06 - (R$ 20,00)

Mostra de máquinas e equipamentos adaptados - 60’00”Fita B-06 (R$ 30,00)

Industrialização caseira

Olericultura

Preparo de alimentos

Suinocultura

O pedido poderá ser feito por e-mail, fax, na Sede da Epagri ou nos seus escritórios regionais e municipais.O pagamento deverá ser feito por meio de depósito bancário na c/c 85020-9, agência 3191-7 do Banco do

Brasil. Enviar comprovante de depósito via fax (048) 239-5647, com endereço para remessa, nome que deve constar no recibo e título dos pacotes ou vídeos.

18 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Opinião

Segurança alimentarSegurança alimentarSegurança alimentarSegurança alimentarSegurança alimentar, agricultura familiar e e, agricultura familiar e e, agricultura familiar e e, agricultura familiar e e, agricultura familiar e extensão ruralxtensão ruralxtensão ruralxtensão ruralxtensão rural

quantificou o número de miserá-veis nos países em que atua. Oestudo da Cepal considerava comofamintos todos aqueles que ingeri-am, diariamente, menos que 2.242calorias, 53g de proteínas e 32g degorduras, então recomendadas pelaOrganização das Nações Unidaspara a Alimentação e a Agricultura– FAO.

No início da década de 90, o Ins-tituto Brasileiro de Pesquisas Eco-nômicas – Ipea – juntou ao estudoda Cepal três grupos de dados: a)Censos demográficos de 1980 e1991; b) Pesquisa Nacional deAmostragem por Domicílios –PNAD – de 1990, do IBGE; c) Estu-do nacional de despesa familiar,realizado pelo IBGE entre 1974 e1975.

A partir da composição de umacesta básica, em que são levadasem conta as necessidadesnutricionais de cada região, os há-bitos de consumo, os preços e adisponibilidade de alimentos nomercado, calculou-se o que cadafamília gastaria para comer a quan-tidade recomendada: 1,9 saláriomínimo, em valores de 1990. Todasas famílias com renda igual ou infe-rior foram classificadas como indi-gentes. Resultado: isto classificavacomo indigente um quinto dapopulação brasileira. No entan-to, é fundamental diferenciar a fomeda má nutrição, já que as duas sãofundamentais em termos de umapolítica pública de segurança ali-mentar. Enquanto a fome é a faltageneralizada de comida, desnutri-ção seria a ingestão insuficiente,em quantidade e/ou qualidade. Istosem dúvida elevaria, em muito, opercentual de brasileiros com pro-blemas alimentares. Mesmo por-

que, segundo o IBGE, estudos so-bre a pobreza absoluta, utilizandoa linha de pobreza única (equiva-lente, em valor per capita, a umquarto do maior salário mínimovigente no País em 1980) e devalor reconhecidamente baixopara garantir o atendimento dasnecessidades básicas, pelo menosem áreas metropolitanas, onde seconcentram cerca de 30% da po-pulação brasileira, mostram queo número de pobres no Brasilteria evoluído de 29,4 milhões em1980 para 39,2 milhões em 1990.

A perda crescente de poderaquisitivo da população, aliada aum processo drástico de concen-tração de renda, explica de formadefinitiva a principal causa dasdificuldades no atendimento dasnecessidades básicas e o efetivodecréscimo do padrão nutricional.

A evolução do salário mínimocom respeito a seu poder aquisiti-vo de alimentos pode ser verificadarelacionando-se o custo da raçãoalimentar individual com o salá-rio mínimo. Sendo assim, em 1959a ração alimentícia básica repre-sentava 27% do salário mínimo,em 1967, 40%, em 1974, 62%, em1980, 66% e em 1981, 81%. To-mando-se como base as pessoasque ganham até meio salário mí-nimo, verifica-se que em áreasrurais a proporção de pobres variade um mínimo de 48% para aRegião Sul a 84% para o Nordeste.

Estas informações permitemvislumbrar um quadro de calami-dade social, que tende a se agra-var à medida que são assumidasposturas liberalizantes e que nãose enfrentem de maneira decisivaquestões de fundo, como será tra-tado adiante.

(1)Eng. agr., Dr., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-5533, fax: (048) 239-5597, e-mail: [email protected].

PEros Marion Mussoi(1)

or muito tempo a questão dafome constituiu-se numa espéciede tabu, matéria proibida sobre aqual ninguém se atrevia a tocarde maneira mais séria. Foi então(1946) que se começou a ouvirJosué de Castro, com seu livroGeografia da Fome: “O silênciosobre a fome é um silênciopremeditado, fruto de nossacultura ocidental: os interesses eos preconceitos de ordem moral,política e econômica destacivilização fizeram da fome umtema proibido”.

O fenômeno da fome não énovo. Na verdade, existe há mi-lhares de anos. O que Josué deCastro apontou, e mais atualmen-te Betinho e outros tantos desco-briram e denunciaram, foi estasua realidade como força social, oconhecimento de suas causas e deseus efeitos na marcha da histó-ria. Novo não é o fenômeno e sima perspectiva pela qual se percebesua trágica realidade.

Sem dúvida, é recente a im-portância relativa que a sociedadee, principalmente, os meios decomunicação de massa dão ao pro-blema. Notícias como a existênciade 32 milhões de miseráveis, damulher que catava restos de cadá-veres num lixão em Pernambucopara alimentar a família, de pes-soas que se alimentam com ratos,estarreceram a população emmeados da década de 90.

Diagnosticando

A identificação da magnitudedo problema começa com um es-tudo realizado em 1986 pela Co-missão Econômica para a Améri-ca Latina e Caribe – Cepal –, que

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 19

Opinião

Dados recentes do ProjetoFome Zero apontam que há noPaís 54,4 milhões de pessoas quenão possuem renda suficiente paraos gastos básicos com alimenta-ção, vestuário, moradia e saúde,dos quais cerca da metade, ou 24milhões de pessoas, não têm ren-da suficiente sequer para se ali-mentar adequadamente.

Procurando entender

Quando se trata a questãofome/deficiência alimentar, é fre-qüente tentar buscar resposta namaior produção de alimentos e nocontrole populacional, a partir deidéias malthusianas. No entanto,o que se verifica num quadro his-tórico é que há um declínio nataxa de crescimento demográficono País, situando-se esta em 1,9%na década de 80, contra 2,5% nadécada de 70, 2,9% na década de60 e 3% na década de 50. Estedeclínio está associado à queda dataxa de fecundidade total, que pas-sou de 6,2 filhos em média pormulher, nas décadas de 30 e 40,para 6,3 na década de 50, 5,8 nadécada de 60, 4,4 na década de 70e 2,7 filhos por mulher na décadade 80.

A agricultura, apesar da faltade uma política de médio e longoprazos, vem cumprindo o seu pa-pel. Conforme o Projeto FomeZero, a partir da disponibilidadede alimentos no País, tomandocomo base os dados de produçãolocal, o saldo comercial agrícola eos estoques de alimentos, está em2.960kcal a disponibilidade de ali-mentos por pessoa e por dia, mui-to acima, portanto, do mínimorecomendado pela FAO de1.900kcal diárias. Se a disponibili-dade interna “bruta” de alimentosé superior às necessidades mé-dias diárias da população em ter-mos de proteínas e calorias, oproblema se situa noutra questãofundamental. A questão é que ouso de parâmetros “médios”, nocaso brasileiro, oculta uma situa-ção paradoxal em que, em algu-

mas regiões, populações mais po-bres consomem 1.240kcal (ou nemisto) enquanto os mais ricos conso-mem até 4.290kcal/dia.

Observando-se a relação inter-nacional “Norte–Sul”, países de-senvolvidos/países em desenvolvi-mento, pode-se verificar situaçãosemelhante em termos nutricionaise em termos de apropriação doalimento produzido, visto que 24países considerados ricos, o cha-mado “Norte”, consomem 60% daprodução mundial de alimentos,ainda que tenham 15% da popula-ção.

A situação brasileira aponta que,nas últimas décadas, a agriculturavem apresentando ganhos signifi-cativos de produtividade e de pro-dução. Sem dúvida, isto se deve àprodução e à incorporação de novosconhecimentos técnico-científicos,além da ampliação e intensificaçãodas áreas de cultivos. No entanto,dados da década de 90 apontavamque este crescimento de produçãonão era acompanhado pela rendaauferida pelo setor agrícola. Pelocontrário, relacionando-se a evolu-ção da produtividade e da produçãodo setor agrícola, pode-se perceberque a renda proveniente do valorda produção é inversamente pro-porcional. Por exemplo, no períodoreferente a 1982/94 (em que a pro-dução e a produtividade cresceramsignificativamente), o valor da pro-dução caiu a uma taxa de 5,46% aoano e os preços pagos ao produtordesabaram à taxa média de 8,76%ao ano. Sintetizando: a produçãocresceu 33% e a renda do setor caiu42%. Esta tendência é drasticamen-te preocupante para um país quenão tem uma clara política de segu-rança alimentar e, por isto, passafome. Isto, sem dúvida, reflete con-seqüências do modelo de desenvol-vimento e das políticas públicasque viabilizaram este modelo, prin-cipalmente nas últimas quatrodécadas. Este modelo impôs à agri-cultura um novo dinamismo doponto de vista técnico-econômico,que determinou transformaçõessignificativas para determinada

parcela do setor agropecuário, be-neficiando atividades dinâmicas(de exportação e/ou vinculadas àagroindústria de transformação),beneficiando também o capital fi-nanceiro e as corporações que in-dustrializam e comercializaminsumos agrícolas. Por outro lado,o modelo mostrou-se agressivoambientalmente e crescentemen-te excludente, tendo em vista quemarginaliza dos seus “benefícios”boa parte da agricultura familiar,justamente aquela que é respon-sável por 85% da produção de ali-mentos da cesta básica e de gran-de importância regional/local.Esta “opção política” determinauma queda relativa na disponibili-dade per capita dos produtos vol-tados à alimentação básica.

É evidente que a agricultura(principalmente a de base fami-liar) tem muito a contribuir nasuperação desta problemática ge-ral, seja pelo aumento qualificadoda produção de alimentos, sejapela diversificação da produçãorespeitando as especificidades,potencialidades e necessidadesregionais/locais, seja pelo resgatede culturas alimentares, hábitose produção local, seja pela ofertainterna de empregos no setor ouintersetorialmente (pela agrega-ção de valor via agroindus-trialização descentralizada,interiorizada e observada na pers-pectiva de redes).

Por produção qualificada dealimentos se entende uma nova erealmente moderna perspectivade produção de alimentos de for-ma massiva dentro de uma baseecológica. Os alimentos ecológi-cos não podem mais ser de acessoexclusivo de populações de médiae alta renda. Com isto, deve ficarclaro para o debate a relação funda-mental entre segurança alimen-tar e agricultura familiar. Aagricultura familiar representa-da por mais de 4 milhões de agri-cultores e agricultoras no País,pelas suas características especí-ficas e regionais, significa um efe-tivo potencial da erradicação da

20 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Opinião

fome. A agricultura familiar, pelasua especificidade espacial (encon-trando-se em todas as regiões doPaís), produtiva (produção alta-mente diversificada) e de conheci-mento (um conhecimento próprio,construído historicamente e comum poder de adaptação a situa-ções e especificidades regionais/locais) deve ter uma atençãoprioritária em termos de um pro-grama de segurança alimentar.

Políticas diferenciadas e per-manentes para apoio a este tipode agricultura são fundamentais.O repensar da pesquisa agrope-cuária, procurando priorizar aadaptação do conhecimento gera-do à (e da) agricultura familiar eagroecológica, uma política deextensão rural de natureza públi-ca, gratuita e de qualidade, procu-rando a transição para estilos deagricultura mais sustentáveis eecológicos, uma política de crédi-to rural adequada a estas novasnecessidades, políticas de estímu-lo à organização social e aoassociativismo e políticas de abas-tecimento que proporcionem umarelação mais direta entre agricul-tores familiares e consumidorespoderão trazer uma nova dinâmi-ca num Programa Geral de Segu-rança Alimentar.

No caso específico da extensãorural como política pública, é deconsiderar sua particularidade,uma vez que, pela capilaridadecaracterística deste tipo de servi-ço público, é a forma mais eficien-te de possibilitar que os demaisinstrumentos de política públicatenham a penetrabilidade e adescentralização necessárias, atin-gindo assim seus objetivos. Alémdisto, e principalmente, a exten-são rural pública e gratuita deveser um instrumento de animaçãode processos de desenvolvimentorural sustentável, por meio demetodologias participativas edialógicas nas quais o conheci-mento técnico-científico é sinteti-

zado com o saber popular, produ-zindo assim uma nova dinâmicapedagógica e epistemológica (e aquiassume uma natureza fundamen-tal a concepção de perfeita articula-ção com a pesquisa participativa),que traz o verdadeiro protagonismodas populações e o necessário con-trole social.

Novos paradigmas nasuperação da fome

A complexidade do problema nosleva à conclusão de que a supera-ção da fome (e a busca da cidadaniaplena) não virá, única e exclusiva-mente, pela maior produção, me-lhor distribuição de alimentos e/oupor programas assistencialistas.Estes fatores, fundamentais numenfoque emergencial, são insufi-cientes como componente estraté-gico.

Torna-se necessário pensar emperspectivas mais abrangentes eintegradoras, a partir de uma sériede fatores que possibilitem rever opróprio modelo de desenvolvimen-to e suas conseqüências, de formaa recuperar algumas dimensõesfundamentais. O resgate da enor-me dívida social com a camadahistoricamente marginalizada e asdimensões ambiental, econômica,cultural e política precisam ser con-siderados, na busca de um desenvol-vimento sustentável, abrangente ejusto socialmente. Correndo algunsriscos de omissão e superficialida-de, a seguir são enumerados pon-tos que não podem ser esquecidosno enfrentamento da fome:

• é fundamental a formulaçãode uma política de segurança ali-mentar de médio e longo prazos,objetivando o acesso, a todas aspessoas e em todos os momentos, auma alimentação suficiente parauma vida ativa e saudável;

• é necessário rever o modeloalimentar que está sendo gradati-vamente imposto por corporaçõesnacionais e internacionais (que, por

questões mais de lucro do quequalidade nutricional, estão “co-piando” os padrões alimentaresconsumistas e industrializados depaíses desenvolvidos), procuran-do-se estimular as potencia-lidades, os produtos regionais e oshábitos alimentares próprios(2);

• a questão da concentraçãofundiária não suporta mais adia-mento. Ou se dá uso social à terra,permitindo o seu acesso a quemefetivamente nela produz e traba-lha, dando-se apoio creditício etecnológico adequado, ou conde-na-se o País à dependência ali-mentar, condenando-se tambémuma camada da população cadavez maior a uma vida subumana,seja no campo ou seja na cidade;

• é imperativo interiorizar-seo desenvolvimento para o meiorural/pequenas cidades; é precisoproporcionar condições dignas devida e perspectivas para quemtem no meio rural sua forma devida. Saúde, saneamento, habita-ção, lazer, comunicação e educa-ção (dentro de uma nova perspec-tiva de escola adequada ao meiorural em todos os níveis) preci-sam ser interiorizados;

• a formulação de políticas pú-blicas estimulantes (e mesmo com-pensatórias) que caracterizem umapoio diferenciado à agriculturafamiliar e à produção de alimen-tos básicos, ao lado de uma políti-ca justa de preços, torna-se funda-mental num programa de segu-rança alimentar;

• buscar políticas que aumen-tem a geração de empregos nomeio rural (seja pela reforma agrá-ria, seja pelo uso de força de traba-lho no próprio processo de produ-ção ou pela interiorização da in-dústria processadora/agregadorade valor);

• é necessária a recomposiçãode uma política nacional de exten-são rural, instrumento fundamen-tal na interiorização das demaispolíticas públicas para a agricul-

(2)No mundo existem 80 mil espécies alimentares. No entanto, o padrão ocidental urbano-industrial está determinando que 90% daalimentação mundial esteja concentrada em 50 espécies.

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 21

Opinião

tura familiar. A extensão ruraldeverá ser preocupação do Estado(nos seus três níveis federativos),portanto pública e gratuita, e se-guir princípios de descentralizaçãoadministrativo-gerencial, sendocapilar e com alto controle social,seguindo uma pedagogia constru-tivista, que harmonize o saberpopular e o conhecimento técni-co-científico, buscando favoreceruma transição do modelo conven-cional de desenvolvimento parauma agricultura agroecológica esustentável;

• é necessário rever esta polí-tica desumana de achatamentosalarial no meio urbano, que éfator determinante na perda dopoder aquisitivo da população que,aliada a uma política séria de ge-ração de emprego, pode formaruma nova massa consumidora(hoje subconsumidora) que trarianova dinâmica ao processo de de-senvolvimento;

• dentro da dimensão política,

a superação da fome e a busca dacidadania plena só virão com umaativa participação política de todosos cidadãos, através da emergênciae colocação em prática de mecanis-mos de protagonismo efetivo nadefinição e execução de todos osprojetos de desenvolvimento, emtodos os seus momentos;

• o pano de fundo geral do pro-cesso de desenvolvimento implicaem um novo tratamento à questãoambiental, dentro de uma perspec-tiva de desenvolvimento sustentá-vel, de maneira que os recursos se-jam utilizados de forma equilibra-da e responsável, garantindo às ge-rações futuras a sua sustentabi-lidade e a garantia de diversidade;

• é necessária uma política cla-ra que estimule a transição agroe-cológica em termos de concepçãodo processo produtivo agrícola, pe-cuário, pesqueiro e florestal. Oacesso a alimentos e produtosagroecológicos não deve ser privi-légio de minorias.

Literatura consultada

1. Castro, A.M. de (Org.). Fome,um tema proibido – Últimosescritos de Josué de Castro.Petrópolis: Vozes, 1984. 154p.

2. Castro, J. Geopolítica da fome.São Paulo: Brasiliense, 1968.1v.

3. George, S. O mercado da fome– as verdadeiras razões da fomeno mundo. Rio de Janeiro: Paze Terra, 1978. 307p.

4. INSTITUTO DA CIDADANIA.Projeto Fome Zero – uma pro-posta de política de segurançaalimentar para o Brasil. SãoPaulo: Instituto da Cidadania/Fundação Djalma Guimarães,2001.

Para que o seu projeto saia do papel, é fácil. Fale com a Fundagro.Quem trabalha no setor agropecuário precisa de apoio. A principal especialidade da Fundagro é a parceria. Além de viabilizar projetos tecnológicos, ambientais e de extensão rural, a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável sabe valorizar as boas idéias. Se você quer que a sua idéia receba atenção especial, converse com a gente.

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22 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Conjuntura

Epagri – 12 anos contribuindo para o desenvolvimentoEpagri – 12 anos contribuindo para o desenvolvimentoEpagri – 12 anos contribuindo para o desenvolvimentoEpagri – 12 anos contribuindo para o desenvolvimentoEpagri – 12 anos contribuindo para o desenvolvimento

Carlos Luiz Gandin(1); Edmundo Otto Bublitz(2) eZenório Piana(3)

do Estado de Santa Catarina –Fetaesc – e demais setores dainiciativa privada proporciona ouso mais racional dos recursos,introduzindo um novo modelo dedesenvolvimento baseado noaumento da eficiência econômicae na sustentabilidade. O objetivoé articular os órgãos do governoem seus vários níveis (federal,estadual e municipal), juntamentecom a iniciativa privada, para queas ações sejam executadasatendendo à realidade do meiorural catarinense. De acordo comestes princípios, o desenvol-vimento deve ser construído naperspectiva de um futuro em queos agricultores possam, comresponsabilidade e consciência nagestão de suas atividades diárias,viver em harmonia e integradosao seu meio ambiente, com rendasuficiente e exercendo plena-mente a sua cidadania (comdisponibilidade dos serviços bási-cos).

O Estado de Santa Catarina,pela diversidade e riqueza de seupatrimônio natural e pelaestrutura fundiária, caracteriza--se pelo predomínio da agricul-tura familiar. Do ponto de vistaagrícola, destaca-se pelos resul-tados atribuídos a este modelo. Éum dos seis principais Estadosprodutores de alimentos, com bonsíndices de produtividade, graçasà capacidade de trabalho e inova-ção dos agricultores e ao empregode tecnologias adequadas. Estasituação aponta para um modelo aser preservado, o qual, inclusive,serve de exemplo para outrosEstados da Federação, que buscam

(1)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Gerência Técnica e de Planejamento, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-5534, fax: (048)239-5597, e-mail: [email protected].(2)Méd. vet., M.Sc., Epagri/Gerência de Informações, fone: (048) 239-5575, e-mail: [email protected].(3)Eng. agr., Dr., Epagri/Diretoria Executiva, fone: (48) 239-5500, e-mail: [email protected].

m Santa Catarina, o desen-volvimento está diretamenterelacionado ao setor primário,particularmente o agropecuário,que se caracteriza pela predo-minância de pequenas unidadesfamiliares de produção agrícoladiversificada. Sintonizado comesta situação, o Governo de SantaCatarina delegou à Epagri,empresa pública vinculada àSecretaria da Agricultura ePolítica Rural, instituição oficialdo Estado, a missão de gerarconhecimento, tecnologia eextensão para o desenvolvimentosustentável do meio rural, embenefício da sociedade catari-nense. Integrada aos demaisórgãos públicos e com a iniciativaprivada, seu principal objetivo é ode executar a política estadual deciência e tecnologia agrope-cuária, contribuindo para o desen-volvimento rural sustentável,pela integração dos serviços depesquisa, difusão de tecnologia,assistência técnica e extensãorural, nas áreas agropecuária,florestal e pesqueira.

A Epagri, como instrumentode desenvolvimento nas diversasregiões do território catarinense,proporciona o adequado apoio àagropecuária, aos recursosflorestais e à pesca catarinense,bem como aos seus agronegócios.Visa, acima de tudo, à definiçãoe/ou à correção de políticas públicase privadas e busca proporcionaras melhores alternativas deprodução e comercialização, paraque os agricultores, osaqüicultures e os pescadores, comsuas respec-tivas famílias, possam

ter no trabalho a fonte de renda e agarantia de sua dignidade esatisfação.

As políticas públicas e privadasvoltadas para o meio rural demons-tram que, em Santa Catarina, odesenvolvimento é possível, desdeque bem fundamentado e apoiado.Neste particular, a Epagri obje-tiva, além do aumento da produçãoagropecuária, a melhoria dascondições de vida do agricultor,traduzidas pelo acesso à saúde, àcapacitação, ao lazer e à cultura,pelo respeito ao meio ambiente,pelo aumento da oferta de emprego,pela geração de renda, peloexercício da cidadania e pelaparticipação efetiva nos processosdecisórios. Como agente detransformação no espaço rural, tempapel fundamental no desenvol-vimento ambiental, social eeconômico. Dada a natureza de suamissão e objetivos, este papel pode,também, ser desempenhado emparceria com outras instituiçõespúblicas e privadas, cada umaatuando na sua área de compe-tência, porém de forma integrada,no estabelecimento de um processoparticipativo de planejamento,organização e operacionalização dosinstrumentos apropriados deexecução das ações, visando aodesenvolvimento rural sustentávelde todo o território catarinense.

A integração das ações entre osdiversos órgãos do serviço públicoestadual e também com as coope-rativas, prefeituras, agroindús-trias, os sindicatos, a Federação daAgricultura do Estado de SantaCatarina – Faesc –, a Federaçãodos Trabalhadores na Agricultura

E

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 23

Conjuntura

aqui informações e tecnologiaspara subsidiar o seu desenvol-vimento.

Desta forma, cabe à Epagri,dentre outras atribuições previstasem seu estatuto, participar,juntamente com os órgãos inte-grantes da Secretaria de Estadoda Agricultura e Política Rural,na formulação, no planejamentoe na execução da política de geraçãode tecnologia e de assistênciatécnica e extensão rural, promo-vendo o desenvolvimento ruralsustentável, através da integraçãodos serviços de geração, adaptaçãoe difusão de tecnologia agrope-cuária, florestal, aqüícola e pes-queira, obedecendo às diretrizes eaos objetivos estratégicos dessaSecretaria. Para a consecução dosseus objetivos, a Epagri podetambém celebrar convênios, con-tratos ou ajustes com prefeiturase órgãos da administração públicadireta ou indireta e/ou entidadesprivadas, no campo da geração,adaptação e difusão de tecnologiasvoltadas para o setor primário daeconomia.

O Plano de Trabalho da Epagrié formado por dois programas:Programa de DesenvolvimentoRural Sustentável, composto por23 projetos, e Programa deModernização Organizacional,com cinco projetos. Os 28 projetosestão constituídos por 260subprojetos. A Empresa tambémexecuta atividades complemen-tares, destinadas a facilitar ageração, adaptação e difusão detecnologias e melhorar o apro-

veitamento dos resultados de suaspesquisas, como produção desementes e mudas básicas, análisesquímicas, físicas, bromatológicas efitossanitárias, informaçõesagrometeorológicas, assessorias etreinamentos.

Para cumprir com suas atri-buições, a Epagri conta com umasede administrativa localizada emFlorianópolis e 15 gerências regio-nais estrategicamente dis-tribuídasno Estado, que admi-nistram 293escritórios municipais de formadireta; uma rede integrada de noveestações experimentais, localizadasem Urussanga, Itajaí, Ituporanga,Canoinhas, Lages, São Joaquim,Campos Novos, Videira e Caçador;um Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar – Cepaf –,localizado em Chapecó; um CentroIntegrado de Informações deRecursos Ambientais – Ciram –;um Centro de Referência emPesquisa e Extensão Apícola –Cepea –; um Centro de Desen-volvimento em Aqüicultura e Pesca– Cedap –; uma rede de laboratórioslocalizados nas unidades depesquisa, desenvolvendo trabalhosnas áreas de sementes, solos, água,entomologia, fitopatologia, fisio-logia, nutrição animal e vegetal,genética e melhoramento, culturade tecidos, tecnologia de aplicaçãode defensivos, enologia, apicultu-ra, imunologia, microbiologia,biologia molecular, sanidadeanimal, produção de larvas e ale-vinos, produção de inseticidabiológico; 12 centros detreinamento, localizados em São

Miguel do Oeste, Chapecó, Con-córdia, Videira, Campos Novos,Canoinhas, São Joaquim, Agro-nômica, Itajaí, Florianópolis,Tubarão e Araranguá.

A infra-estrutura de capitalhumano é composta por 1.975empregados, sendo 419 de apoiotécnico, 382 de apoio adminis-trativo, 427 técnicos de nível médioe 747 técnicos de nível superior.Destes, 318 são bacharéis, 179,especialistas, 204, mestres e 46,doutores.

Afinal, um modelo para odesenvolvimento rural catari-nense não pode ser importado emuito menos copiado, poisdepende da força local, prin-cipalmente da agricultura fami-liar. Neste contexto, a Epagri, nodesempenho de sua missão,também mantém acordos econvênios com instituiçõesnacionais e estrangeiras, visandoao intercâmbio técnico-científico,para o desenvolvimento ruralsustentável. Assim, a Epagri,como mola propulsora dodesenvolvimento, através dosprocessos dinâmicos que seoriginam nos municípios e nasmicrorregiões do Estado, consti-tui-se num instrumento capaz depromover a melhoria da qualidadede vida da população. Representae potencializa a transformaçãodas bases econômicas e daorganização social em nível locale regional, resultante damobilização da própria sociedade,que explora suas capacidades esuas potencialidades.

24 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Reportagem Tomate – plantio direto

TTTTTomate em plantio direto:omate em plantio direto:omate em plantio direto:omate em plantio direto:omate em plantio direto:menos agrotóxico, mais renda e mais saúdemenos agrotóxico, mais renda e mais saúdemenos agrotóxico, mais renda e mais saúdemenos agrotóxico, mais renda e mais saúdemenos agrotóxico, mais renda e mais saúde

Reportagem de Paulo Sergio Tagliari

Um trabalho pioneiro desenvolvido pela Epagri, em conjunto com instituiçõesde ensino, de assessoria e representativas dos agricultores, está trazendo novasperspectivas para a agricultura familiar no Sul do Brasil. Trata-se do sistema

de plantio direto de tomate que está conseguindo reduzir sensivelmente oscustos de produção, diminuindo a erosão do solo e protegendo a saúde dos

agricultores e consumidores.

O sistema de plantio direto de tomateiro em palhada está crescendo na região de Caçador, principal produtora deSanta Catarina, e se espalhando para outros municípios do Estado e do País

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 25

Reportagem Tomate – plantio direto

riginário do Peru, do Equadore da Bolívia, o tomate (Lycoper-sicum esculentum), da família dasSolanáceas (a mesma do fumo e dabatata), foi cultivado no México,antes de Colombo, de onde teriasido levado para a Europa. Na Itá-lia ficou famoso inicialmente pelavariedade amarela, daí o nome ita-liano pomodoro (maçã de ouro).Nos séculos seguintes, as delicio-sas massas e pizzas italianas, tem-peradas à base de tomate, se espa-lharam mundo afora. Os mais fa-mosos cozinheiros não rejeitam otomate em seus pratos, desde osmais simples até os mais comple-xos e chiques. Rica em vitaminas esais minerais, a hortaliça (na ver-dade, tecnicamente é um fruto)preferida pelas donas de casa nomundo inteiro também tem reve-lado qualidades medicinais impor-tantes. Substâncias como olicopeno, que previne câncer depróstata e de mama, e a coberturagelatinosa das sementes, que re-duz a formação de coágulos, sãoapreciadas pelos consumidores queestão se conscientizando da impor-tância da boa alimentação e da

qualidade dos alimentos.Apesar do valor alimentício e

medicinal do tomate, em geral ocultivo agrícola deste vegetal aindautiliza muitos agroquímicos, o queneutraliza, em parte, as suasqualidades medicinais. Mas istocomeça a mudar. Um projetopioneiro no Brasil, iniciado porpesquisadores da Epagri/EstaçãoExperimental de Caçador (cerca de400km de Florianópolis, no AltoVale do Rio do Peixe) e de outrasinstituições que trabalham com aagricultura familiar, estáacompanhando 22 lavouras deestudos em propriedades deagricultores e utiliza um novosistema de cultivo do tomate, demenor impacto ambiental e de custoreduzido. Trata-se do sistema deplantio direto, onde a muda dotomateiro é plantada sobre a palhade outros vegetais, o que evita ocustoso e tradicional preparo dosolo que consiste na aração,gradeação e abertura de sulcos paraplantio e irrigação. O sistema deplantio direto tem como objetivoevitar a erosão e reduzir o uso deadubos químicos industriais

altamente solúveis e de agrotóxicos.Outra grande vantagem do sistemaé a diminuição dos custos deprodução, o que beneficia a agri-cultura familiar da região, que jáprocurava outras alternativas derenda devido à constante ameaçade êxodo rural. No município deCaçador, o cultivo de tomate é ocarro-chefe da agricultura, pois, das1.800 famílias de agricultores, 1.200plantam a hortaliça. O sistema deplantio direto é um trabalho deconversão da agricultura tradi-cional para um modelo de desen-volvimento rural sustentável,agroecológico.

Pesquisa pioneira

O sistema de produção pratica-do pelos agricultores da região ébaseado no monocultivo de hortali-ças, principalmente do tomateiro,com mobilização excessiva do soloe com utilização indiscriminada deágua, fertilizantes de alta solubili-dade e agrotóxicos. Esta situaçãooriginou uma crescente dependên-cia de insumos externos, que con-tribuiu para o endividamento doagricultor familiar, causou a de-gradação do meio ambiente e pre-judicou a sua saúde e a do consumi-dor. Para ver as possíveis saídasdesta situação, foram iniciadas dis-cussões entre pesquisadores eextensionistas da Epagri, envolven-do também agricultores e técnicosde organizações não-governamen-tais (ONGs). O pesquisador daEpagri Jamil Abdalla Fayad, atual-mente lotado na Estação Experi-mental de Ituporanga, iniciou osistema de plantio direto de horta-liças em experimentos de tomate emoranga híbrida. O primeiro passofoi a determinação das curvas dastaxas diárias de absorção de nutri-entes para essas culturas. A partirdas curvas foi possível calcular as

O

O sistema de plantio de tomateiro em morros, na região de Caçador, éfavorecido pela cobertura vegetal

26 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Reportagem Tomate – plantio direto

Com a sensível redução no uso dos agrotóxicos, os passarinhos voltarama fazer seus ninhos nos tomateiros

quantidades diárias de nutrientes(nitrogênio, fósforo e potássio) queas plantas absorvem, esclarece apesquisadora Marcia Mondardo, daEpagri/Estação Experimental deCaçador. O detalhe é que a aduba-ção utilizada por Jamil foi aplicadavia irrigação por gotejamento, quepoupa adubo e também água e tra-balho. Com este estudo, o pesqui-sador notou que as plantas necessi-tam menos da metade do aduboque estava sendo utilizado pelostomaticultores da região.

Para fazer o plantio direto, Jamilexplica que é necessário ter cober-tura do solo o ano todo e planejar arotação de culturas. No caso, foiadotado o plantio de milho, no ve-rão, e um coquetel de plantas decobertura, no inverno, compostode aveia + vica + nabo forrageiro.Em meados de setembro é feita arolagem das plantas de cobertura(aveia, vica e nabo) com o rolo-faca,da qual resulta um tapete de palhacom aproximadamente 5cm de es-pessura. Jamil sugere que o ideal ésemear o coquetel de adubos ver-

des sobre a palhada de milho, poisassim vai haver uma cobertura dosolo bem maior, o que possibilitater uma produção anual de palhaentre 12 e 15t/ha até o final dacolheita do tomate. Essa coberturaajuda a manter a umidade e a tem-peratura do solo, serve de alimento

para os microrganismos, reduz aincidência de plantas espontânease protege contra a erosão. Com aajuda de uma máquina de traçãoanimal ou tratorizada, projetadapelo pesquisador Remi NatalimDambrós, da Epagri/Estação Expe-rimental de Videira, é feita umapequena abertura na palhada, sufi-ciente para jogar o adubo orgânico(esterco de frangos, a chamadacama de aviário) e o adubo químicofosfatado.

Jamil explica que, a partir deuma análise de solo para ajudar ainterpretar as condições de acideze fertilidade, são determinadas asquantidades de fertilizantes a utili-zar na adubação de base (na im-plantação da cultura), evitando-seo desperdício dos mesmos. Levan-do-se em conta todas as etapas deadubação, o sistema de plantio di-reto está economizando 60% noscustos de fertilização em relação aosistema convencional. Diferente-mente do sistema convencional, nosistema de plantio direto não seutiliza irrigação por sulco, quecomprovadamente favorece a ero-

Um dos segredos do plantio direto é a palhada que recobre o solo, evitandoa erosão

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 27

são (muitas das áreas de cultivo sãoem morros) e tem alto consumo deágua, mas o sistema de irrigaçãopor gotejamento, que é aproveita-do para também fertilizar. “Nossoobjetivo é aplicar água e adubo quea planta realmente necessita, naquantidade e na época certa”, ga-rante Jamil.

Outra preocupação da pesquisafoi definir uma estrutura da plantade tomate que fosse melhor paraeste sistema. Após alguns experi-mentos estudando número de ca-chos por planta, sistemas de condu-ção e espaçamentos, a pesquisachegou à conclusão de que umaplanta com cinco cachos, uma has-te, conduzida na vertical, numespaçamento de 35cm entre plan-tas, seria mais adequada ao plantiodireto. Além da boa produtividadedo sistema, os técnicos consideram

que esta planta recebe mais luz,tem melhor aeração e que, nestascondições, tende a diminuir os pro-blemas com pragas e doenças, comredução do uso de produtos paracontrolá-las.

Embora já se pense em mudar oespaçamento e usar duas hastespor planta, com nove cachos, paradiminuir o custo das sementes, apesquisa partiu para o estudo decaldas alternativas para o manejode doenças. Foram testadas váriascaldas e, até agora, a calda bordalesana dosagem de 300g de sulfato decobre com 300g de cal hidratadaapresentou o melhor resultado.Para resolver o problema daqueimadura dos frutos foramrealizados experimentos queapontaram ótimos resultados coma pulverização da planta com ocloreto de cálcio. É bom que se diga

que só a calda bordalesa não controlatodas as doenças. Por isso, énecessário um manejo mais amplo,que envolva um conjunto detécnicas, tais como uma plantaadequadamente nutrida, conduzidana vertical, com número adequadode cachos, com um solo mais vivo,com mais microrganismos. Tudoisso contribui para um maiorequilíbrio solo–planta e um melhormanejo de doenças e pragas. “E istoé o que está sendo perseguido pelosistema. Não temos todas asrespostas ainda, talvez não seconsiga, mas vamos avançandopasso a passo”, confirma JamilFayad.

Jamil e Marcia relatam outroimportante trabalho desenvolvidona pesquisa do sistema de plantiodireto. Trata-se de um novo tomateobtido por seleção massal a partirde uma cultivar crioula. Estetomate passou por várias etapas deseleção, nos últimos cinco anos, ehoje a pesquisa está lançandoesta variedade de boa qualidade,rusticidade e produtividade. Ospesquisadores citam outrasvantagens deste tomate: consis-tência firme, carnudo, saboroso eboa conservação na prateleira. Asua aparência também agrada aoconsumidor, pois é de um ver-melho intenso. O ciclo do plantio àprimeira colheita é de 100 a 110dias.

Trabalho participativo

O técnico ressalta, antes de tudo,que este sistema de plantio diretode hortaliças é resultado de umtrabalho conjunto e tem bases nastécnicas de plantio direto de cereaisdifundidas principalmente pelosprogramas de microbacias. “É osomatório dos esforços de técnicose pesquisadores por este Brasilafora que têm se dedicado em

Reportagem Tomate – plantio direto

Sistema deplantiodiretovertical detomateiroe...

...sistemacruzado de

plantio diretodo tomateiro

28 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Reportagem Tomate – plantio direto

preservar nosso solo, nossa saúdee nosso ambiente’’, assinala Jamil,e prossegue: “Este sistema não é sóda pesquisa, mas conta com afundamental e decisiva participaçãodo coletivo dos agricultores e desuas organizações, num processoverdadeiramente participativo’’.Ele conta que estas tecnologiasforam apresentadas à diretoria doSindicato dos Trabalhadores Ruraisde Caçador e Macieira – Sitruc – eà equipe do Centro de Assessoria eApoio aos Trabalhadores Rurais –Cepagri –, em dezembro de 2000.Estas entidades decidiram, então,realizar um trabalho junto àagricultura familiar para estudar emelhorar o sistema de plantio diretode hortaliças, que organizasse estesagricultores, que ocasionassemudanças nos seus valores e queformasse novas lideranças nocampo. Para organizar estetrabalho, foi criado um grupo com-posto pelo Sitruc, pelo Cepagri epela Epagri. Mais tarde, passarama fazer parte deste grupo o Centro

Detalhe da quantidade de massa verde após passagem do rolo-faca e daabertura dos sulcos pelo equipamento de plantio direto

de Ciências Agroveterinárias daUniversidade do Estado de SantaCatarina – CAV/Udesc – e a Pastoralda Juventude Rural – PJR.

Durante dois anos, foi desenvol-vido, nas comunidades, o trabalhocom plantio direto de tomate, ini-cialmente em cinco lavouras deestudo desenvolvidas junto à agri-cultura familiar de Caçador. Estaslavouras de estudo serviram paratestar, adaptar e criar novastecnologias para o sistema. No de-correr do ciclo 2002/03, foi amplia-do para 20 lavouras no municípiode Caçador, 1 em Rio das Antas e 1em Videira. Ao longo destes doisanos foram testados diferentes adu-bações, sistemas de condução deplantas, espaçamentos de plantio emanejo de doenças em combinaçãocom calda bordalesa. Técnicos eagricultores, com suas lideranças,realizaram reuniões, seminários,grupos de discussão, tudo com oobjetivo de, a partir das cons-tatações dos próprios agriculto-res, construir um processo partici-

pativo que culminou, no início des-te ano, com a proposta de elabora-ção de uma cartilha que contém asexperiências técnicas das diversaslavouras de tomate em plantio di-reto.

Este ano estão sendo conduzidasmais lavouras de estudo nos muni-cípios de Videira e Rio das Antas, eo município de Tangará está ini-ciando com duas lavouras. Além deampliar o número de agricultoresfamiliares que adotam o sistema deplantio direto em tomate, a Epagrie o CAV/Udesc pretendem publicarum livro técnico-científico e tam-bém promover cursos de atualiza-ção para técnicos, bem como plane-jar a realização do 1o Encontro Téc-nico-Científico do Sistema de Plan-tio Direto de Hortaliças – SPDH.

Técnicas agradam aosagricultores

A reportagem da revistaAgropecuária Catarinense foi verin loco as experiências dosagricultores familiares de Caçadorcom este sistema inovador de plantiodireto na cultura do tomate.Inicialmente, na Comunidade deRio Bugre, nove mulheres daPastoral da Saúde, reunidas na salaparoquial local, deram seudepoimento como agricultorasenvolvidas no plantio direto. ASenhora Vanilde Menin, esposa doprodutor Sérgio Menin, revelou quesentiu muita diferença com osistema de plantio direto. “Com aadubação química exagerada queusávamos, as plantas vinham muitoviçosas, mas pegavam muitadoença”, conta. Já Márcia Suzinfalou que quando começou a uti-lizar a adubação verde em suapropriedade, além do tomate, atéos parreirais e pomares de pêssegoestão crescendo mais fortes. OdilaSuzin Sabedote confessou que

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 29

Reportagem Tomate – plantio direto

Nas extremas, produtores da Comunidade Rio Bugre e da ComunidadeSerra Azul. Ao centro, os pesquisadores Jamil Abdalla Fayad e MarciaMondardo e o editor da RAC, Anísio Pedro Camilo

ainda não iniciou o cultivo emplantio direto porque o custo dasmangueiras para fertirrigação estáum pouco alto, mas que este anovai iniciar de qualquer jeito. “Nosistema convencional o aduboquímico ficou muito caro esteano, pois passou de R$ 20,00 paraR$ 40,00 a saca, o que representa30% no custo total de produção”,constata a agricultora. Falando emnome das mulheres reunidas, aagricultora Márcia Suzin ressaltouque o novo sistema vem, antes detudo, proteger a saúde das famílias,do solo e da água, pois utiliza bemmenos venenos, e não ara, nemgradeia mais a terra, aplicando umacobertura de palha que retém aumidade e evita a erosão.

Os agricultores comprovaram oque as mulheres falaram. NarcisoScapinelli, da Comunidade RioBugre, que planta o tomateiro nosistema cruzado (as estacas quesustentam a planta ficam cruza-das), informa que adotou o modoconvencional numa área e o plan-tio direto em outra área da pro-priedade. “A economia é maior noplantio direto. Usei menos adubo emenos veneno. Poupei nos insumos,mas a qualidade e produtividade semantêm”, garantiu Narciso. O de-poimento de Ezequiel Piroli e seupai Vitalino Piroli, da ComunidadeSerra Azul, que utilizam o sistemade condução das plantas na verti-cal, revelou que não usaramagrotóxico contra os insetos na úl-tima safra. Antes usavamfosforados e piretróides, que sãotóxicos aos seres humanos. Tam-bém exageravam no uso do aduboquímico, mas diminuíram bastan-te com o sistema de fertirrigação,que é equilibrado, na dosagem cer-ta. “Uma grande vantagem do plan-tio direto que nós sentimos é quepoupamos muito na mão-de-obra”,assinala Ezequiel. No início, eles

tiveram problemas com o desen-volvimento das mudas de tomate,entretanto, em relação às doenças,com a utilização de calda bordalesae Fitofós, os problemas diminuí-ram.

A família Piroli tem mais o quecomemorar. Na ponta do lápis, elesargumentam que o lucro no cultivode tomate em plantio direto é umarealidade e até superou o sistematradicional. Eles cultivaram 5 milpés este ano e pretendem ampliarpara 10 a 12 mil na próxima safra.“Tiramos 419 caixas por mil pés detomate, a um custo de R$ 1,87 porcaixa contra R$ 6,00 a R$ 7,00 nosistema convencional’’, contabilizaEzequiel. Outro agricultor, LuizPetrycowski, da Comunidade Cai-xa d’Água, não teve tanto rendi-mento quanto Ezequiel Piroli, masadmitiu que, com suas 195 caixasobtidas por mil pés, obteve 100% delucro.

A pesquisadora Marcia assegu-ra que, “nos últimos três anos de

pesquisas e observações nos expe-rimentos e lavouras de estudos, otomate em plantio direto reduziu ocusto para os agricultores e utili-zou menos mão-de-obra, isto semfalar na questão da saúde das pes-soas e preservação ambiental”.

Através das discussões e da tro-ca de experiências que se acumula-ram em torno das lavouras de estu-do, está ocorrendo a melhoria doconjunto de técnicas que compõe oSistema de Plantio Direto de Hor-taliças. Várias alterações no siste-ma já foram feitas no sentido detorná-lo mais adaptado às condi-ções da agricultura familiar da re-gião. A mudança de valores e aformação de novas lideranças nocampo foram parcialmente atingi-das, o que já é um avanço impor-tante. Falta, ainda, segundo JamilFayad, a consolidação de uma novaorganização da agricultura fami-liar que tenha como proposta aconstrução de um modelo de de-senvolvimento sustentável.

30 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Nota Técnica Gado de leite – sistema de produção

(1)Méd. vet., M.Sc., Embrapa Meio-Norte, C.P. 341, 64200-970 Parnaíba, PI, fone: (086) 315-1200, fax: (086) 315-1201, e-mail:[email protected].(2)Eng. agr., M.Sc., Embrapa Caprinos, C.P. D-10, 62011-970 Sobral, CE, fone: (088) 677-7000, e-mail: [email protected].(3)Eng. agr., M.Sc., Embrapa Meio-Norte, C.P. 341, 64200-970 Parnaíba, PI, fone: (086) 315-1200, fax: (086) 315-1201, e-mail:[email protected].(4)Eng. agr., M.Sc, Embrapa Meio-Norte, C.P. 001, 64200-000 Teresina, PI, fone: (086) 225-1141, fax: (086) 225-1611, e-mail:[email protected].(5)Eng. agr., M.Sc., Embrapa Rondônia, C.P. 406, 79912-19 Porto Velho, RO, fone: (069) 216-6500, e-mail: [email protected],(6)Méd. vet., B.Sc., Cooperativa Agropecuária do Baixo Parnaíba, 64200-000 Parnaíba, PI.(7)Méd. vet., B.Sc., Infoleite/Secretaria Municipal de Agricultura – Parnaíba, 64200-000 Parnaíba, PI.

Eficiência técnica de um sistema de produção comEficiência técnica de um sistema de produção comEficiência técnica de um sistema de produção comEficiência técnica de um sistema de produção comEficiência técnica de um sistema de produção comgado mestiço para as bacias leiteiras dos Estados dogado mestiço para as bacias leiteiras dos Estados dogado mestiço para as bacias leiteiras dos Estados dogado mestiço para as bacias leiteiras dos Estados dogado mestiço para as bacias leiteiras dos Estados do

Piauí e do MaranhãoPiauí e do MaranhãoPiauí e do MaranhãoPiauí e do MaranhãoPiauí e do Maranhão

João Avelar Magalhães(1); Expedito Aguiar Lopes(2); Braz Henrique Nunes Rodrigues(3);Raimundo Bezerra de Araújo Netto(4); Newton de Lucena Costa(5);

Lúcio Lopes Neto(6) e Eduardo Esmeraldo Augusto Bezerra(7)

A atividade de produção de leitena Região Meio-Norte, compreen-dendo os Estados do Piauí e doMaranhão, tem enfrentado fortecompetição do leite importado. Essasituação reflete a baixa capacidade

Resumo – Na Embrapa Meio-Norte/Parnaíba foi testado, durante os anos de 1999 e 2000, um sistema deprodução de leite no qual se avaliaram, de maneira integrada, várias tecnologias adaptadas e/ou geradas na região.Foram utilizadas 35 vacas girolandas, que foram mantidas em pastagens diversificadas de capim-elefante,braquiária, capim mombaça e capim tanzânia, com períodos de pastejo que variaram de três a cinco dias. Alémdisso, foi feito uso adicional de leucena (Leucaena leucocephala) na forma de banco de proteína. Os animais emlactação com produção superior a 5kg de leite receberam concentrado à razão de 1kg de ração para cada 3kg deleite produzido. O intervalo entre partos (14,5 meses), o período de lactação (284,8 dias), a produção de leite porvaca por dia (8,8kg) e por lactação (2.492,6kg) confirmam a eficiência técnica do sistema.Termos para indexação: leite, pastagem, suplementação, Nordeste.

Technical efficiency of a production system with mestizo cattle for the dairybasins of Piaui and Maranhão States

Abstract – A system for dairy cattle was tested at Embrapa Middle-Northern Parnaíba, PI, Brazil, during 1999and 2000. In this system were evaluated, in an integrated way, several technologies adapted or generated for thatregion. Thirty-five girolanda cows were used, and maintained grazing on diversified pastures of elephant,brachiaria, mombaça and tanzania grasses. The pasture periods varied from three to five days, with additionaluse of leucaena (Leucaena leucocephala) as protein supply. Cows in lactation producing above 5kg of milk a dayreceived a ration supply of 1kg for each 3kg of produced milk. The interval between deliveries (14,5 months),nursing period (284,8 days), milk production for cow a day (8,8kg), and for lactation (2.492,6kg) confirm thetechnical efficiency of this system.Index terms: milk, grassland, northern Brazil.

de reação dos produtores,observada, não só pela falta deinvestimento no setor, comotambém pela precária organizaçãoprodutiva, tornando difícil amelhoria tecnológica para obtenção

de altos níveis de produtividade. Aregião produz 223 milhões de litrosde leite por ano, com produtividademédia de 1,35L/vaca/dia noMaranhão e 1,09L/vaca/dia noPiauí, índices bem inferiores à

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 31

Nota Técnica Gado de leite – sistema de produção

produtividade média nacional, queem 2000 era de 3,10L/vaca/dia(Forte, 2002), o que mostra o seubaixo grau de especialização naprodução de leite. Apenas as baciasleiteiras de Teresina, BaixoParnaíba, Centro e OesteMaranhense alcançam níveissuperiores. Nessas localidades osistema de produção é semi-in-tensivo, com predominância devacas girolandas e de reprodutoresda raça holandesa, nem semprepuros, com manejo reprodutivo ealimentar deficientes. Aalimentação das vacas em lactaçãoé feita à base de concentrados dealto custo. As pastagens formadassão incorretamente manejadas,uma vez que poucos são osprodutores que fazem uso regularda irrigação e da fertilizaçãoquímica.

Apesar dos esforços que vêmsendo desenvolvidos para melho-rar a qualidade genética do reba-nho e a capacidade de produção,tanto os grandes como os pequenosprodutores ainda não se sentemestimulados a explorar a pecuárialeiteira em nível empresarial. Essefato está fortemente relacionadoaos processos empíricos de explo-ração. A baixa produtividade napecuária leiteira brasileira é cau-sada pelo mau gerenciamento defatores como alimentação, mane-jo, sanidade e genética do rebanho.Em estudo conduzido em váriossistemas de produção de leite doPará, foi verificado que o rebanhopossuía um padrão racial razoável.Entretanto, o potencial de produ-ção não era evidenciado pelas con-dições inadequadas de alimentaçãoe manejo, resultando em uma pro-dutividade média de 4,5L/vaca/dia,quando poder-se-ia atingir, pelascaracterísticas do rebanho, 8L deleite (Simão Netto et al., 1987). EmRondônia, a utilização detecnologias como inseminação ar-tificial, desmame precoce,suplementação alimentar de acor-do com a produção de leite, pastejorotativo e controle de ecto eendoparasitos permitiram índices

de produtividade satisfatórios (Sil-va Netto et al., 1996). Neste casoalcançou-se, em média, 76% de taxade parição, 14 meses de intervaloentre partos, 9,5kg de leite/vaca/dia e 2.793kg de leite/vaca/lactaçãoem 294 dias de lactação.

O objetivo deste estudo foi tes-tar um sistema de produção noqual se avaliaram váriastecnologias adaptadas e/ou gera-das na Região Meio-Norte brasilei-ra, de maneira integrada.

O trabalho foi conduzido naUnidade de Execução de Pesquisade Parnaíba, pertencente àEmbrapa Meio-Norte, localizada naregião litorânea do Piauí, no períodode 1998 a 2000. Essa regiãoapresenta um clima Aw, comprecipitação anual média de1.300mm e período chuvoso dejaneiro a junho. A temperaturamédia anual é 27oC e a umidaderelativa média do ar é 75%. O soloda área experimental é tipo areiaquartzosa álico e distrófico comrelevo plano.

Foram utilizadas 35 vacasgirolandas com graus de sangue de½ a ¾ holandês/zebu. As vacas emlactação foram mantidas em pasta-gens diversificadas, de capim-ele-fante (Pennisetum purpureum),braquiarão (Brachiaria brizantha),capim mombaça (Panicummaximum) e capim tanzânia (P.maximum), com períodos de pastejoe descanso, variando de três a cincodias e 30 a 45 dias, respectivamen-te. Além disso, esses animais tive-ram acesso a um banco de proteínade leucena (Leucaena leucocephala).Os animais em lactação receberamconcentrado segundo os seguintescritérios: abaixo de 5kg de leiteproduzido, 0kg de ração; de 5kg a8kg de leite produzido, 1kg de ra-ção; de 8,1kg a 11kg de leite produ-zido, 2kg de ração; de 11,1kg a 14kgde leite produzido, 3kg de ração; de14,1kg a 17kg de leite produzido,4kg de ração; de 17,1kg a 20kg deleite produzido, 5kg de ração; de21,1kg a 23kg de leite produzido,6kg de ração.

As gramíneas destinadas às va-

cas em lactação eram irrigadas porum sistema de aspersão conven-cional fixo de baixa pressão e baixavazão. Utilizando-se da técnica defertirrigação, essas áreas de pasta-gens foram adubadas com 220kg denitrogênio e 135kg de cloreto depotássio/ha, distribuídos de julho adezembro. O manejo reprodutivoconstou de inseminação artificialcom sêmen de touros holandeses e,às vezes, um reprodutor no repas-se. Era usado um rufião para iden-tificação das fêmeas em cio. O des-mame dos bezerros foi realizado de24 a 48 horas após o nascimento,sendo posteriormente alimenta-dos no balde com 3L de leite/dia,além de concentrado e pastejo emárea com Tifton 85 (Cynodon sp.).O desaleitamento era feito quandoos animais atingiam peso deduas a duas vezes e meia aonascer, que, em média, alcança-ram aos 102 dias de idade. O reba-nho recebeu vacina contra aftosae brucelose, além do controle deecto e endoparasitos. As ordenhaseram feitas manualmente, pelamanhã e à tarde.

Na Tabela 1 encontram-se asmédias dos resultados obtidos nosanos de 1999 e 2000. As crias, ma-chos e fêmeas, apresentaram pesomédio ao nascer, aos seis e 12meses, respectivamente, de 31,50e 29,17kg; 97,05 e 98,05kg; e 173,3e 169,7kg. Esses dados aproxi-mam--se dos obtidos em Rondônia(Mendonça et al., 1990) e Pará (Si-mão Neto et al., 1987) em bezerrosdesmamados precocemente.

A taxa de parição obtida no pe-ríodo foi de 74,59% e o intervaloentre partos foi de 14,48 meses,igualando-se àqueles obtidos emrebanhos eurozebus em Rondônia,Roraima e na Bahia, em sistemasde produção de leite em pastagensdiversificadas com suplementaçãoalimentar (Silva Netto et al., 1996;Guimarães, 1990 e Santana & Pe-reira, 1999). As taxas de mortalida-de de matrizes (0%) e crias (2,7%)foram praticamente nulas. Essesdados estão próximos dos obtidosem Pernambuco (Guimarães Filho

32 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Nota Técnica Gado de leite – sistema de produção

& Soares, 1999), em um sistema deprodução de leite integrado (caa-tinga, buffel e leucena), e bem infe-riores aos encontrados nas baciasleiteiras do Meio-Norte.

Com relação à produtividade deleite, os resultados obtidos foramconsiderados satisfatórios para ani-mais em pastagens cultivadas comsuplementação alimentar, desta-cando-se: 8,83kg de leite/vaca/dia,2.492,58kg de leite/vaca/lactação e284,83 dias de lactação. Esses re-

sultados estão próximos dos obser-vados em outras regiões do Paísem sistemas de produção de leite apasto e são superiores à médiaregional. Em Goiânia, Goiás, emum sistema de produção de leiteem pastagens cultivadas(Andropogon gayanus, B.decumbens, B. brizantha e Cynodonnlemfuensis) com suplementaçãode silagem de milho ou cana-uréiaforam obtidos como índices de pro-dutividade: 8,10kg de leite/vaca/

dia, 2.393kg de leite/vaca/lactaçãoe 299 dias de lactação (Viana, 1988).

A adoção de um sistema de cria-ção baseado em pastagens cultiva-das, adubadas e irrigadas durante operíodo seco do ano possibilita aprodução de leite nos tabuleiroscosteiros do Meio-Norte brasileirocom índices técnicos satisfatórios.

Literatura citada

1. FORTE, G. Solução para cadeia do leite.Anuário DBO 2002, São Paulo, n.256,p.70-73, 2002.

2. GUIMARÃES, F.Z. Modelo físico de sistemade produção de leite em Boa Vista: resulta-dos zootécnicos e econômicos do período dejulho de 1987 a junho de 1990. Boa Vista,RR: Embrapa-UEPAE de Boa Vista, 1990,28p. (Embrapa-UEPAE de Boa Vista. Do-cumentos, 1).

3. GUIMARÃES FILHO, C.; SOARES, J.G.G.Avaliação de um modelo físico de produçãode bovinos no semi-árido integrado: caatin-ga, capim-buffel e leucena. PesquisaAgropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.9,p.1721-1727, 1999.

4. MENDONÇA, J.F.B.; MAGALHÃES, J.A.;COSTA, N. de L. Sistema físico de produçãode leite de vacas holandozebu em pasta-gens tropicais. In: REUNION DE LA REDINTERNACIONAL DE EVALUACION DEPASTOS TROPICALES – AMAZÔNIA, 1.,1990, Lima, Peru. Memórias... Cali: CIAT,v.2, 1990. p.1103-1108.

5. SANTANA, J.R.; PEREIRA, J.M. Sistemade produção de leite a pasto em Itajú doColônia (BA). In: CONGRESSONORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL,1., 1998, Fortaleza, CE, Anais... Fortaleza:SNPA, 1999. v.2. p.165.

6. SILVA NETTO, F. da S.; PEREIRA, R.G.de A.; TAVARES, A.C.; MAGALHÃES, J.A.;COSTA, N. de L. Comportamento produti-vo e reprodutivo de bovinos leiteiros empastagens cultivadas em Rondônia. In:CONGRESSO PANAMERICANO DE CI-ÊNCIAS VETERINÁRIAS, 15., CampoGrande, MS. Anais... Campo Grande:SBMS, 1996. p. 347.

7. SIMÃO NETO, M.; GONÇALVES, G.P.C.da; SILVA, E.D.; RODRIGUES FILHO,J.A.; CARDOSO, L.Z.; PEREIRA, P. de B.;FALCÃO, M.R.B. Características dossistemas de produção de leite da regiãoBragantina. Belém: Embrapa-UEPAEBelém, 1987. 48p. (Embrapa-UEPAEBelém. Documentos, 9).

8. VIANA, H.A. Desempenho de fêmeas ½sangue holandês x zebu em Goiás. In:SIMPÓSIO NORDESTINO DE ALIMEN-TAÇÃO DE RUMINANTES, 2., 1988, Natal.Anais... Natal: Emparn, 1988. p.258.

Tabela 1. Desempenho zootécnico do sistema de produção de leite comgado mestiço para as bacias leiteiras do Piauí e Maranhão

ResultadosIndicadores

1999 2000 Médias

...........................kg..........................

Matriz ao parto 467,42 506,00 486,71

Fêmeas ao nascer 29,87 28,47 29,17

Machos ao nascer 32,00 31,10 31,50

Fêmeas aos 180 dias 104,20 91,90 98,05

Machos aos 180 dias 104,10 90,50 97,05

Fêmeas aos 12 meses - 173,30 -

Machos aos 12 meses - 169,00 -

.......................meses.....................

Intervalo entre partos 14,20 14,77 14,48

..........................%..........................

Natalidade 74,19 75,00 74,59

Infertilidade 8,57 2,85 5,71

Mortalidade de 0 a 12 meses 4,80 0,60 2,70

Mortalidade de 12 a 24 meses 0,00 0,00 0,00

Adultos 0,00 0,00 0,00

...................kg/vaca/dia.................

Produtividade do leite 8,20 9,45 8,83

..............kg/vaca/lactação.............

Produtividade do leite 2.353,00 2.631,77 2.492,38

................ kg/vaca/ano..................

Produtividade do leite 2.950,00 3.449,25 3.199,63

........................dias..........................

Período de lactação 287,00 282,66 284,83

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 33

Nota Técnica Uva – fitopatologia

Avaliação do uso de fosfitos para o controle doAvaliação do uso de fosfitos para o controle doAvaliação do uso de fosfitos para o controle doAvaliação do uso de fosfitos para o controle doAvaliação do uso de fosfitos para o controle domíldio da videiramíldio da videiramíldio da videiramíldio da videiramíldio da videira

Marco Antonio Dalbó(1) e Enio Schuck(2)

O míldio (Plasmopara viticola) éuma das doenças mais destrutivasda videira, desenvolvendo-se mui-to rapidamente em condições favo-ráveis (temperaturas altas e águalivre na superfície das folhas). Es-sas condições são freqüentementeobservadas nas regiões vitícolas do

Resumo – O míldio é uma das principais doenças da videira nas condições do Sul do Brasil. O controle destadoença é feito normalmente através da aplicação preventiva de fungicidas. Durante o ciclo vegetativo 2000/01,que foi muito favorável à doença, avaliou-se o efeito do fosfito de potássio no controle da doença comparado comfungicidas tradicionais. Aplicações preventivas de fosfito, com intervalo entre aplicações de sete a nove dias,controlaram eficientemente a doença, de maneira semelhante a outros fungicidas sistêmicos testados (metalaxyl,cymoxanil e benalaxyl), que são fungicidas-padrão para o controle da doença. Entretanto, no decorrer doexperimento, ocorreram sintomas de fitotoxicidade, decorrentes de aplicações muito freqüentes do produto. Emoutro experimento, avaliou-se o efeito curativo do fosfito em aplicações posteriores ao aparecimento de sintomasfoliares da doença. Nestas condições, os tratamentos com fosfito de potássio proporcionaram o melhor controleda doença, dentre as opções testadas. Considerando-se os aspectos de eficiência, custo e risco ambiental, o usode fosfitos pode ser recomendado para o controle do míldio da videira, tomando-se o cuidado de alternartratamentos com outros fungicidas para evitar problemas de fitotoxicidade quando for necessário um númeroelevado de aplicações.Termos para indexação: Vitis, Plasmopara viticola, uva, fungicida.

Evaluation of fosfites to control downy mildew in grapevines

Abstract – Downy mildew is one of the most important grape diseases in Southern Brazil. The disease is usuallycontrolled with preventive fungicide sprays. During the season 2000/01, which was very favorable to the diseasedevelopment, it was evaluated the effect of potassium fosfite to control downy mildew compared to traditionalfungicides. Preventive sprays of potassium fosfite, at intervals of seven to nine days, efficiently controlled thedisease, similarly the other systemic fungicides tested (metalaxyl, cimoxanil e benalaxyl), which are standardfungicides to control downy mildew. However, phytotoxicity symptoms appeared during the experiment due tofrequent sprays with fosfite. In another experiment, it was evaluated the curative effect of fosfites applied afterthe appearance of foliar symptoms of the disease. In that conditions, treatments with potassium fosfite resultedin the best control among the tested options. Considering the aspects of efficiency, cost and environmental risk,the use of fosfites can be recommended to control grape downy mildew with the precaution of alternatingtreatments with other fungicides to avoid phytotoxicity problems when a high number of sprays is needed.Index terms: Vitis, Plasmopara viticola, fungicide, grape diseases

Sul do Brasil, de modo que o con-trole com fungicidas é feito rotinei-ramente, mesmo em cultivares comresistência à doença.

O período crítico para o controledo míldio ocorre na época defloração, quando os tecidos estãomais tenros e o potencial destrutivo

da doença é muito maior. Como odesenvolvimento do fungo é muitorápido, os fungicidas são aplicadospreventivamente. Outro agravan-te é que, uma vez a doença instala-da no parreiral, fica muito maisdifícil o seu controle. Neste caso,são aplicados fungicidas sistêmicos

(1)Eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, 89560-000 Videira, SC, fone/fax: (049) 566-0054, e-mail:[email protected].(2)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Videira, e-mail: [email protected].

34 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Nota Técnica Uva – fitopatologia

para erradicar eventuais focos deinfecção resultantes de falhas nocontrole.

A safra 2000/01 ficou caracteri-zada como uma das mais difíceispara o controle de doençasfúngicas da videira. Períodos favo-ráveis à incidência de míldio sesucederam de maneira quase con-tínua durante o ciclo vegetativo dacultura. As precipitações foram fre-qüentes e muitas de alta intensida-de, ocasionando a lavagem dosfungicidas e o atraso nas pulveriza-ções. Por isso, muitos viticultorestiveram perdas de produção, ape-sar do uso intenso de fungicidas, oque fez com que se levantassemhipóteses sobre a perda de eficiên-cia dos fungicidas, como o sistêmicometalaxyl.

As condições meteorológicas ex-tremas foram ideais para os testesde fungicidas. Em particular, pro-curou-se avaliar a eficácia do usode fosfito de potássio, que, por teração fungicida sistêmica e baixatoxicidade, representa uma opçãopromissora no controle da doença.Na Epagri/Estação Experimentalde Videira, foram conduzidos doisensaios de comparação de produtospara o controle do míldio da videi-ra.

Experimento 1 – Efeito protetordos fungicidas: foram comparadosquatro produtos (benalaxyl +mancozeb, metalaxyl + mancozeb,cymoxanil + maneb e fosfito depotássio) para o controle do míldioda videira, cultivar CabernetSauvignon. O experimento consis-tiu de cinco tratamentos, comquatro repetições e quatro plantaspor parcela. O intervalo entreaplicações variou de sete a novedias, no período de 1o/11 a 28/12/2000. Neste experimento, todos osprodutos testados foram eficientesem evitar o aparecimento de míldionas plantas (Tabela 1). Issodemonstra que, além das opçõestradicionais (metalaxyl e cymo-xanil), opções de uso mais recente(benalaxyl e fosfitos) se mostrarameficientes, ao menos quando apli-cadas em intervalos curtos e preven-tivamente. Entretanto, observou--se que o tratamento com fosfito

começou a apresentar sintomas defitoxicidade nas folhas, provavel-mente decorrentes de aplicaçõesmuito freqüentes e/ou dosagensmuito elevadas. Além disso,ocorreram algumas queimadurasnas bordas das folhas da videiraquando a aplicação foi feita nashoras mais quentes do dia comintensa radiação solar. Ainda nesteexperimento, as últimas duasaplicações de todos os produtosforam feitas em intervalos de 12 a13 dias, e todas as plantas tratadascomeçaram a mostrar sintomas domíldio nas folhas, com exceçãodaquelas tratadas com fosfito.

Experimento 2 – Efeito curativodos fosfitos: procurou-se avaliar oefeito curativo dos fosfitos, com-parado com fungicidas tradicio-nalmente utilizados no controle domíldio. Também foi incluído umtratamento com fosfato de potássiopara separar o efeito nutricional.Foram utilizadas plantas da cultivarRiesling Itálico que haviam sidocortadas com o objetivo de seremeliminadas. Para o experimento,foram aproveitadas quatro plantaspor tratamento, repetidas quatrovezes, sendo que os rebrotes foramconduzidos até a altura do arameno decorrer do experimento. Aprimeira aplicação foi feita no dia19/11/2000, quando a maioria dasfolhas apresentavam sintomasclaros de ataque de míldio. Foramfeitas mais quatro aplicações, comintervalos variando de 13 a 19 dias,

sempre após o reaparecimento dossintomas. A avaliação da queda defolhas induzida pela doença foi feitaantes da última aplicação dosprodutos (8/2/2001) e a avaliação dapresença de sintomas nas folhasrestantes, oito dias após estaaplicação (Tabela 2).

As condições climáticas foramfavoráveis à incidência de míldiodurante praticamente todo o perío-do de execução do experimento,resultando em mais de 90% de des-folhamento das plantas não-trata-das (Tabela 2 e Figura 1).

Os tratamentos com fosfitos fo-ram superiores aos demais, o quepode ser observado visualmente(Figura 1). Comparados com osfungicidas tradicionais (metalaxyl+ mancozeb), observou-se que oreaparecimento dos sintomas dadoença após a realização dos trata-mentos ocorria ao mesmo tempo(sete a dez dias). Porém, no casodos fosfitos, a evolução ocorreu maislentamente e as plantas mantive-ram as folhas por mais tempo. Umapossível explicação reside no meca-nismo de ação atribuído aos fosfitosque consiste na ativação do siste-ma de defesa da planta, a qual teriaum efeito adicional e mais prolon-gado em relação à ação direta dofosfito sobre o fungo (Smilli etal.,1989). As plantas tratadas comfosfito continuaram a emitir folhasnovas com mais intensidade quenos demais tratamentos, o que re-sultou num maior enfolhamento

Tabela 1. Efeito de diferentes produtos no controle do míldio davideira (Plasmopara viticola) na cultivar Cabernet Sauvignon.Epagri/Estação Experimental de Videira. Ciclo 2000/01

Dose Folhas doentes Cachos doentesTratamento (g/100L

de água) 23/11/00 11/12/00 9/1/01 23/11/00 11/12/00 9/1/01

.....................................no..........................................

Testemunha - 49 100 100 38 74 87

Benalaxyl+Mancozeb 25+200 0 0 3 0 0 0

Metalaxyl+Mancozeb 25+200 0 0 2 0 0 0

Cymoxanil+Maneb 25+200 0 0 7 0 0 0

Fosfito de K (Fitofos K)(1) 300 0 0 0 0 0 0

(1)Produto comercial.

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 35

Nota Técnica Uva – fitopatologia

ao final do experimento (Figura 1).O uso de fosfitos mostrou-se

eficiente no controle do míldio(Plasmopara viticola), mas não paraa antracnose (Elsinoe ampelina).Alguns sintomas de antracnose fo-ram observados na cultivar Rieslingnos tratamentos com fosfitos. Nacultivar Cabernet Sauvignon, istonão foi observado, o que pode serdevido tanto à maior freqüência detratamentos como à diferença deresistência das cultivares.

Evidentemente, a metodologiado experimento 2 – aplicação apósa instalação da doença no vinhedo– não deve ser considerada comonormal, mas é utilizada freqüente-mente em anos chuvosos. Nessecaso, a aplicação de fosfitos foi amelhor opção entre os produtostestados, porém o nível de controlenão pode ser considerado satisfa-tório.

Com base nos resultados con-cluiu-se que o uso de fosfitos podeser considerado uma opção muitointeressante, tanto do ponto de vis-ta econômico como ecológico. Naprodução orgânica, admite-se a apli-cação de produtos à base de cobre,para o controle do míldio, cujosriscos ambientais são maiores, prin-cipalmente pela persistência dessemetal no ambiente.

Uma desvantagem dos fosfitos

Figura 1. Efeito de diferentes tratamentospara controle do míldio da videira aplicadosapós aparecerem os sintomas da doença.(A) Testemunha; (B) fungicida (metalaxyl);(C) Fosfito de potássio

Tabela 2. Efeito de diferentes tratamentos para controle do míldio apóso aparecimento dos sintomas

TratamentoDesfolha- Folhas com

ProdutoDose(3) mento(1) Sintomas(2)

(p.c./100L)

........................%........................

Fosfito de K (Fitofos K) 250ml 47 a(4) 8 a

Fosfito de K (Eurofit) 250ml 53 ab 14 a

Fungicidas(5) - 72 abc 83 b

Fosfato de K (KH2PO4) 200g 82 bc 100 c

Testemunha - 94 c 100 c

(1)Avaliação feita um dia antes da última aplicação (7/2/01).(2)Avaliação feita oito dias após a última aplicação (16/2/01).(3)Quantidade de produto comercial por 100L de água.(4)Médias seguidas de letras iguais não diferem entre si pelo teste de Duncana 5% de probabilidade.(5)Com exceção da segunda aplicação (Cymoxanil 25g/100L + Maneb 200g/100L), as demais foram feitas com metalaxyl + mancozeb (25g/100L + 200g/100L).

doenças, o uso de fosfitos isolada-mente possa controlar efetivamen-te o míldio da videira. A questão dafitotoxicidade também precisa sermelhor avaliada. Observações prá-ticas feitas posteriormente têmindicado que os sintomas defitotoxicidade podem ser evitadospelo uso intercalado com outrosfungicidas, quando for necessárioum número elevado de tratamen-tos. Entretanto, considerando-se osaspectos avaliados, principalmen-te quanto à eficiência, ao custo e aorisco ambiental, o uso de fosfitospode ser uma opção recomendadapara o controle do míldio da videi-ra.

Literatura citada

1. SMILLIE, R.; GRANT, B.R.; GUEST,D. The mode of action of phosphite:evidence for both direct and indirectmodes of action on three Phytophthoraspp. in plants. Phytopathology, v.79,n.9, p.921-926, 1989.

2. SÔNEGO, O.; CZERMAINSKI, A.B.C.Avaliação de fosfitos no controle domíldio da videira. Fitopatologia Brasi-leira, v.23, p.284, supl. 1998.

A B C

é justamente sua instabilidade, oque demanda a preparação de for-mulações que evitem a sua conver-são para fosfatos (forma não-ativa)(Tabela 2). No experimento 2, fo-ram testadas duas formulações co-merciais. Embora algumas diferen-ças tenham sido observadas, estasnão foram estatisticamente signifi-

cativas. No ano seguinte,observou-se que uma for-mulação comercial nãocontrolou o míldio da vi-deira. Portanto, há neces-sidade de testar as dife-rentes formulações comer-ciais existentes, para seter certeza da eficiênciade cada uma delas.

Em ensaios realizadosem outros locais, obser-vou-se que os fosfitos fo-ram eficientes no controledo míldio da videira (Sone-go & Czermainski, 1998).Os resultados obtidos nãosão conclusivos, sendonecessários mais estudos.É possível que, para ascultivares mais resisten-tes ou em anos mais favo-ráveis para o controle das

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Nota Técnica Maçã e pêra – fitopatologia

Fogo bacteriano: uma das principais doençasFogo bacteriano: uma das principais doençasFogo bacteriano: uma das principais doençasFogo bacteriano: uma das principais doençasFogo bacteriano: uma das principais doençasquarentenárias da macieira e da pereira no Brasilquarentenárias da macieira e da pereira no Brasilquarentenárias da macieira e da pereira no Brasilquarentenárias da macieira e da pereira no Brasilquarentenárias da macieira e da pereira no Brasil

Yoshinori Katsurayama(1) eJosé Itamar Boneti(2)

Resumo – O mundo cada vez mais globalizado tem facilitado tanto o intercâmbio de conhecimentos quanto ode material genético. Com isso, aumentou-se drasticamente a possibilidade da introdução de doenças e pragasque podem comprometer a viabilidade econômica de uma cultura. Este trabalho visa a alertar sobre o risco e asconseqüências da introdução, juntamente com material propagativo sem controle quarentenário, do fogobacteriano, uma das mais temíveis doenças quarentenárias das pomáceas, no Sul do Brasil.Termos para indexação: Mallus domestica, Erwinia amylovora, identificação.

Fire blight: one of the most important quarantine diseasesof apples and pears in Brazil

Abstract – Nowadays with the globalization of the economy it is very easy and fast to exchange knowledge andgermoplasm over the world. In the other hand, the possibility of introducing new pests and disease has increasedthe risks of economic losses. This paper is an alert for the temperate fruit growers that want to introduce newvegetative materials in order to propagate them in Brazil without quarantine service. The fire blight caused bya bacterium is one of the most severe quarantine diseases of the pome fruits in Southern Brazil.Index terms: Malus domestica, Erwinia amylovora, fire blight.

A cultura da macieira e da pe-reira está sujeita a várias doenças,entre elas o fogo bacteriano causa-do por Erwinia amylovora (Burrill)Winslow et al. Esta doença é consi-derada a bacteriose mais impor-tante das pomáceas (macieira, pe-reira e marmeleiro) pois não hámedida de controle eficaz e, confor-me a severidade, pode inviabilizara exploração econômica do pomarem poucos anos.

A Erwinia amylovora foiconstatada pela primeira vez nosEstados Unidos, em 1780, e em1957 a doença chegou à Inglaterra.Porém, encontra-se atualmentedisseminada nas principais regiõesprodutoras de pomáceas da Europa

(Zwet, 1994; Zwet & Beer, 1992;www.agr icul tura .gov .br /sda /pomaceas.htm). No Hemisfério Sulsó foi relatada na Nova Zelândia. Orisco da introdução dessa bactériano Brasil, juntamente com materialde propagação vegetativa, é muitoalto se medidas quarentenárias nãoforem executadas.

Todo o Sul do Brasil, onde secultivam pomáceas, pode ser consi-derado zona de risco devido às con-dições climáticas favoráveis (preci-pitação, temperatura e umidaderelativa altas), e à expansão doplantio de porta-enxertos de ma-cieira altamente suscetíveis (M.9 eM.26) juntamente com cultivarestambém altamente suscetíveis, ou

seja, Gala e Fuji.

Epidemiologia

A introdução do patógeno numaárea de produção de pomáceas isen-ta de fogo bacteriano geralmenteocorre junto com o material depropagação aparentemente sadio.Neste, as bactérias podem sobrevi-ver tanto externamente (comoepífita ou saprófita) quantoendofiticamente (no interior doxilema e na medula das plantas) e,mais tarde, causar a doença.

As aves e os insetos poderãorapidamente disseminá-la de umpomar para outro, sendo a doençamais severa em áreas cultivadas

(1)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, C.P. 81, 88600-000 São Joaquim, SC, fone/fax: (049) 233-0324, e-mail:[email protected].(2)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, e-mail: [email protected].

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Nota Técnica Maçã e pêra – fitopatologia

com porta-enxertos altamente sus-cetíveis. Dentro do pomar, a disse-minação da bactéria se dá pelosrespingos de chuva e pelo vento,dizimando o pomar em poucos anos,devido à inexistência de medidaseficientes de controle. Além damacieira, da pereira e domarmeleiro, E. amylovora infectaas plantas do gênero Pyracantha,Cotoneaster e Crataegus, entreoutras, cultivadas como plantasornamentais no Sul do Brasil.

Sintomas

O sintoma que melhor descrevea doença é o aspecto de uma plantaqueimada pelo fogo, daí o seu nome(Figura 1). Ocorre enegrecimentoprogressivo dos cachos florais, dasfolhas e dos ramos (Figura 2). Osfrutos infectados apresentam man-chas escuras, secas e deprimidas e,quando jovens, permanecem ade-ridos aos ramos. Outro sintomacaracterístico do fogo bacteriano éa curvatura da porção apical dosramos em crescimento, lembrandoum cabo de guarda-chuva ou de

Figura 1. Sintoma do fogo bacteriano na macieira: vista de pomar atacadoapresentando ramos de aspecto queimado

Figura 2. Sintoma do fogo bacteriano na macieira: folhas e frutos firmementepresos no cacho floral morto

bengala (Figuras 3 e 4). Estadoença pode ser confundida coma bacteriose causada porPseudomonas syringae, que tam-bém infecta a macieira e a pereira.Portanto, para o diagnóstico corre-to da doença, é necessário realizaro teste em laboratório.

Controle

Pelo fato de o fogo bacterianoainda não ocorrer no Brasil, deve--se adotar a prática da quarentenana introdução de materialpropagativo de macieira e pereira,

principalmente quando oriundo daNova Zelândia, dos Estados Unidose de vários países da Europa.

Antes de se importar materialvegetal de macieira e de pereiradeve-se contatar o Ministério daAgricultura/Secretaria de DefesaAgropecuária, que informará dosprocedimentos necessários para aimportação desse tipo de material.Informações complementaressobre esses procedimentos poderãoser obtidas no endereço eletrônicodo Ministério da Agricultura:www.agricultura.gov.br. Medidascomo esta devem ser consideradaspara se evitar a introdução de novasdoenças e pragas, como foi o casodo cancro de Nectria, através dematerial propagativo de macieira.

Será muito difícil realizar umcontrole eficiente caso o fogobacteriano seja introduzido no Bra-sil. Como medida paliativa, são re-comendadas as podas de limpezapara redução do inóculo e as pulve-rizações com bactericidas específi-cos, além de produtos cúpricos.Alguns estudos indicam que as pe-reiras, de um modo geral, e ascultivares de macieira Gala e Fuji,que representam mais de 90% daárea plantada no Brasil, são extre-mamente suscetíveis a estabacteriose (Breth et al., 2001). Nomesmo estudo, estes autores en-contraram como muito suscetíveisas cultivares Braeburn, GrannySmith, Jonagold e Jonathan. Poroutro lado, as cultivares GoldenDelicious, Liberty, Empire,McIntosh, Prima e Priscilla, entreoutras, bem como as cultivares

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Nota Técnica Maçã e pêra – fitopatologia

Figura 3. Sintoma do fogo bacteriano:encurvamento do ápice do ramo emcrescimento, com exsudação bacterianano pecíolo

pertencentes ao grupo Delicious,foram consideradas moderadamen-te resistentes. Os porta-enxertosde macieira M.7 e MM.106 são con-siderados, respectivamente, resis-tentes e moderadamente resisten-tes e M.9 e M.26, extremamentesuscetíveis (Norelli et al., 2001).Não há informação conclusiva so-bre a resistência do Marubakaido,porém, trabalho realizado em NovaIorque sugere que este porta-en-xerto, juntamente com MM.111, éresistente.

As pereiras européias mais co-nhecidas no Brasil, ‘Bartlett’,‘Highland’, ‘Packam’s Triumph’,‘Starkrimson’ e ‘Winter Nelis’, são

consideradas suscetíveis,não havendo informaçãosobre a suscetibilidadedas cultivares de origemasiática. Os porta-enxer-tos P. calleryana e P.betulae-folia, recomenda-dos para a cultura da pe-reira, são classificadoscomo resistentes.

A E. amylovora éapenas um dos pató-genos de importânciaquarentenária, havendovários outros agentesnão menos destrutivos,tais como Monilinia mali,que causa lesões nas

folhas e podri-dões em frutosjovens, e Alter-naria mali e A.alternata (=A.kikuchiana), quecausam lesõesnas folhas e nosfrutos da maciei-ra e da pereira.

Para a pre-servação da po-micultura brasileira, por-tanto, todo cuidado é pou-co.

Literatura citada

1. http://www.agricultura.

gov.br/sda/pomaceas.htm.

2. BRETH, D.I.; BHASKARA

REDDY, M.V.; NORELLI, J.;

ALDWINCKLE, H. Success-

ful fire blight control is in the

details. Compact Fruit Tree,

v.34, n.1, p.6-11, 2001.

3. NORELLI, J.; ALDWIN-

CKLE, H.; MOMOL, T.;

Figura 4. Amoreira com sintoma de fogobacteriano: encurvamento do ápice, típico dadoença

JOHNSON, B.; DEMARREE, A.;

BHASKARA-REDDY, M.V. Fire blight

of apple rootstocks. The Compact Fruit

Tree, v.34, n.1, p.12-15, 2001.

4. ZWET, T. van der. Present distribution

of fire blight and its mode of

dissemination – a review. Acta

Horticulturae, n.367, p.391-401,

1994.

5. ZWET, T. van der; BEER, S.V. Fire

blight – its nature, prevention, and

control; A practical guide to integrated

disease management. Washington:

U.S. Department of Agriculture, 1992.

83p. (Agriculture Information Bulletin,

631).

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 39

Informativo Técnico Mexilhões/marisco – estudo de mercado

PPPPPerfil, hábitos de consumo e preferências doserfil, hábitos de consumo e preferências doserfil, hábitos de consumo e preferências doserfil, hábitos de consumo e preferências doserfil, hábitos de consumo e preferências dosconsumidores finais de meconsumidores finais de meconsumidores finais de meconsumidores finais de meconsumidores finais de mexilhõesxilhõesxilhõesxilhõesxilhões

Euclides João Barni(1); Maurício César da Silva(2);Rita de Cássia Cordini Rosa(3) e Roque Ângelo Ogliari(4)

Introdução

O cultivo de moluscos tem gran-de importância social e econômicapara Santa Catarina. A atividade édesenvolvida por pescadoresartesanais, que exploram a ativida-de, predominantemente, em regi-me de economia familiar. Levanta-mentos realizados pela Epagri re-velam que o Estado é o maior pro-dutor nacional de mexilhões culti-vados (mais de 95%), com uma pro-dução estimada em 11.365t de me-xilhões in natura ou 2.273t de car-ne, na safra 2000.

No Estado, aproximadamente

Resumo – Como parte de um trabalho que estuda o mercado de produtos agrícolas e pesqueiros, fez-se umapesquisa qualitativa sobre o comportamento do consumo de mexilhões em três capitais brasileiras, objetivandogerar informações mercadológicas a partir da demanda, de modo a subsidiar os agentes da cadeia produtiva natomada de decisões. Tais informações proporcionam a oportunidade de se conhecer mais sobre as expectativase necessidades daqueles que compram e consomem os produtos da maricultura.Termos para indexação: mariscos, mercado, estudo de mercado, fruto do mar.

Profile, consumption habits and preference of mussel consumers

Abstract – This qualitative survey was carried out to evaluate the consumption behavior of mussels in threebrazilian state capitals. The objetive was to gather market information from consumers to help the productivechain agents on the decision-taking process. This information provides the opportunity to know more about theexpectative and needs from those who buy and consume seafoods.Index terms: shellfish, marketing study, seafood.

mil famílias estão diretamenteenvolvidas no cultivo de moluscosmarinhos e outras tantas sãoabsorvidas durante o processoprodutivo e contratadas nas fasesde maior demanda de mão-de-obra.Estima-se também que um nú-mero igualmente significativo depessoas sejam beneficiadasindiretamente pela atividade,principalmente durante o proces-samento e a comercialização doproduto.

Atualmente, a comercializaçãodos mexilhões produzidos no Esta-do ocorre localmente, logo após acolheita, nas formas in natura (na

concha) ou desconchado (miolo),processado pelos produtores atra-vés das cooperativas às quais estãoassociados, ou, ainda, em ranchos,e, neste caso, de forma precária.No entanto, o crescente aumentodo volume de produção exige areorganização da produção, dalogística de distribuição, bem comoa comercialização do produto emnovos mercados.

Material e métodos

Os dados foram obtidos a partirde entrevista pessoal com questio-nário estruturado, aplicada em

(1)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone (047) 346-5244, e-mail: [email protected].(2)Economista, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].(3)Enga agra, M.Sc., Epagri/Gerência Regional de Florianópolis, C.P. 1.549, 88010-970 Florianópolis, SC, fone (048) 239-8039, e-mail:[email protected].(4)Administrador de empresas, Epagri/Gerência Regional de Itajaí, e-mail: [email protected].

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Informativo Técnico Mexilhões/marisco – estudo de mercado

amostra simples de consumidoresdecisores de compra, em super-mercados. Embora tivesse sido pos-sível captar toda a variabilidade deperfis socioeconômicos, cabe regis-trar que a opção metodológica im-pôs um limite à pesquisa, sendotrabalhado o consumidor urbanocom maior poder de compra e clien-te atual deste canal de comercia-lização.

Para efeito dos objetivos desteestudo, foram selecionadas variá-veis que fornecem indicações sobreo perfil e o comportamento do con-sumidor, conforme discutido porHooley & Saunders (1996) e Kotler(1996). Estas variáveis foram in-corporadas a um questionário, con-tendo quatro módulos, sendo: (a) operfil do consumidor, (b) hábitosde consumo, (c) características ouatributos desejáveis do produto e(d) fatores que afetam a decisão decompra. Assume-se que os módu-los (c) e (d) estejam associados aosvalores culturais dos consumido-res.

O tamanho da amostra foidefinido conforme discutido porBarbetta (1998) e Mattar (1997),para uma população desconhecida,com nível de significância de 95%.A análise de consistência de dadosfoi feita utilizando-se o testeestatístico do Qui-quadrado,calculado com base em freqüênciasteóricas iguais para todas ascategorias estudadas.

Foram selecionadas arbitráriae estrategicamente lojas de super-mercados em dez dos principaisbairros de cada capital estudada(São Paulo, Curitiba e Porto Ale-gre). Para a realização da pesquisae a seleção das lojas trabalhadasobteve-se a colaboração de dirigen-tes de um grupo supermercadista.As entrevistas ocorreram no perío-do de julho a setembro de 2000.

Resultados e discussões

Perfil do consumidor/decisorde compra

Constatou-se que na população

estudada a maioria dos decisoresde compra de alimentos em super-mercados é do gênero feminino,em São Paulo e Porto Alegre; emCuritiba a decisão de compra éequilibrada, sendo praticamenteigual entre homens e mulheres;possuem grau de escolaridade equi-valente ao segundo grau ou supe-rior e idade superior a 30 anos. Amaioria do público pesquisadoapresentou renda familiar men-sal entre três e 20 salários míni-mos (Figura 1). Também se verifi-cou forte concentração em famíliascom duas a quatro pessoas, nastrês capitais estudadas.

Hábitos de consumo demexilhões ou mariscos

Os consumidores de mexilhõesse constituem em minoria napopulação estudada (29% em SãoPaulo e Porto Alegre e cerca de47% em Curitiba). O consumoocorre, principalmente, em casa(cerca de 50%) e nos restaurantes(cerca de 35%), poucas vezes no anoe, principalmente, nos meses deverão (Figura 2). Ficou evidente opouco conhecimento do consumidore também dos restaurantes poropções mais sofisticadas de preparodo alimento, ficando o consumo

Figura 1. Distribuição de freqüência do entrevistado/decisor de compraem relação à renda familiar mensal, em salários mínimos

Figura 2. Distribuição de freqüência dos consumidores/decisoresde compra entrevistados de acordo com a intensidade e o local deconsumo

Somente em ocasiões especiais

Poucas vezes no ano

Várias vezes no ano

Somente nos meses de verão

Quase todas as semanas

Outro local de consumo

Em restaurantes

Na casa de amigos

Em casa

Não é consumidor

É consumidor

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Informativo Técnico Mexilhões/marisco – estudo de mercado

limitado às formas de preparotradicionais: ao bafo, ao vinagretee na forma de risoto em São Pauloe Curitiba; as duas primeiras,especialmente, consumidas comoaperitivo. Em Porto Alegre há maiordiversidade quanto às formas deconsumo.

Não-consumidores

As principais razões para o não--consumo, apontadas pelos entre-vistados/decisores de compra (cer-ca de 70%) em ordem decrescente,foram: não gostam, não conheceme o preço é muito alto (Figura 3).Entre os fatores já citados, o baixoconsumo de mexilhões pode aindaestar associado: (a) à falta de opçãode compra pelos consumidores de-vido à pequena ou até ausência deoferta de mexilhões nos locais tra-dicionais de venda de pescados,como supermercados, peixarias,mercados públicos, etc., e de con-sumo principalmente nos restau-rantes; (b) a experiências negati-vas como, por exemplo, o consumode pratos mal preparados, princi-palmente por desconhecimento dasdiversas formas de preparo queconferem ao produto um sabor agra-dável; (c) à falta de hábito de consu-

mo, e isto está fortemente associa-do a valores culturais; (d) ao fato deno Brasil o cultivo comercial serrelativamente recente, data de cer-ca de 15 anos; até então a ofertaexistente era produto doextrativismo, ocorrendo, pratica-mente, nas regiões litorâneas enos meses de verão; (e) ao fato de opreço do produto no mercado serequivalente ao de carnes nobres,ficando o consumo restrito às clas-ses com maior poder aquisitivo;(f) à ausência de divulgação e pro-moção do produto; g) outros.

Embora o raciocínio não possaser linear, considerando todas asvariáveis que envolvem a decisãode compra de qualquer produto, oresultado da pesquisa serve deindicativo e revela as possibilidadese o longo caminho a ser percorridoou espaço de mercado que pode serconquistado. Os não-consumidoressão, na realidade, consumidorespotenciais.

Uma vez que a produção é con-centrada e os produtores estão or-ganizados em pequenas cooperati-vas, os problemas verificados deescoamento da produção catari-nense possivelmente são decorren-tes de um deficiente gerenciamentooperacional e da atividade comer-

cial. A promoção do produto visan-do estimular o consumo pode seconstituir num bom investimento,desde que os demais componentesdo “mix de marketing”, ou seja, oproduto, o preço e a distribuição,sejam satisfatórios. No entanto, ésabido que as ferramentas demarketing disponíveis sãosubutilizadas, tanto pelos pescado-res/maricultores, cooperativas einstituições representativas de clas-se quanto pelos distribuidores, va-rejistas e por outras instituiçõespúblicas e privadas envolvidas naatividade.

Fatores que afetam a decisãode compra

Na análise da percepção dosconsumidores das três capitaisestudadas constatou-se que o sabor,a qualidade (avaliada pela aparên-cia/pelo aspecto externo do produto)e o prazo de validade são os princi-pais atributos que afetam a decisãode compra. Estes atributos estãoassociados a valores como gratifi-cação gustativa, satisfação visual esegurança (Tabelas 1, 2 e 3).

Outras variáveis de interesse

O produto desconchado (miolo),a granel e a forma de conservação“resfriado” têm uma acolhida maisfavorável no mercado consumidor.Isto pode estar associado à facilida-de de verificação da qualidade doproduto.

O ingresso crescente da mulherno mercado de trabalho, com aconseqüente redução do tempo de-dicado aos afazeres domésticos, fa-vorece o consumo de produtos pré--processados, especialmente entreas famílias com maior poder aquisi-tivo. Quando escolhem produtospré-processados, os consumidoresestão optando por fatores como

Figura 3. Distribuição de freqüência dos entrevistados/decisores de com-pra não consumidores de mexilhões

Outra razão

Não gosta

Problemas de saúde

Preço

Dificuldade de avaliar a qualidade

Indisponível no lugar habitual de compra

Não sabe preparar

Não conhece

42 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Mexilhões/marisco – estudo de mercado

mento deste tipo de demanda.A logística de distribuição do pro-

duto deve privilegiar os supermer-cados – principal canal decomercialização do produto nas ca-pitais estudadas – sem, no entanto,negligenciar o potencial dos merca-dos públicos e peixarias de bairro,especialmente em São Paulo eCuritiba onde cerca de 40% dosconsumidores realizam suas com-pras de pescados.

Aproximadamente 85% das fa-mílias dos consumidores entrevis-tados declararam que consomemmenos de 2kg de mexilhões porano, sendo que a maioria consomemenos de 1kg (54% em São Paulo,66% em Curitiba e 55% em PortoAlegre) (Figura 4). Considerandouma família média de quatro pes-soas, significa que há um consumoper capita por ano, pela maioria dosconsumidores atuais, de menos de250g, isto é, menos de um quarto doconsumo médio per capita mundial.

Considerações finais

É necessário que todos os agen-tes da cadeia produtiva se prepa-rem para atender às expectativasdo consumidor. Essa preparaçãoenvolve a modernização dos proces-sos de produção e a geração denovas técnicas de processamento ede venda dos produtos. A atual eprecária estrutura de comercia-lização dos maricultores sugere ofortalecimento do associativismo ea formação de parcerias. Existe umaforte relação de interdependênciaentre os diversos agentes da cadeiaprodutiva para atendimento das ne-cessidades do mercado.

Já não é suficiente produzir umproduto em condições de ser consu-mido e com preço razoável. O consu-midor valoriza sabor, qualidade(aparência), segurança, higiene,classificação, etc. Existem indi-

Tabela 1. Distribuição de freqüência dos conceitos atribuídos pelosconsumidores/decisores de compra entrevistados de acordo com a suapercepção, em relação aos atributos físicos e qualitativos do produto

Atributos físicos São Paulo Curitiba Porto Alegre

e qualitativos Freqüência

....No.... ......%..... ....No.... ......%...... ....No.... ......%......

Sabor 102 23,61 163 26,90(1) 56 25,57(1)

Tamanho 47 10,33(2) 117 19,31 29 13,24(2)

Odor/aroma 88 20,37 119 19,64 47 21,46

Coloração 107 24,77 82 13,53(2) 41 18,72

Textura da carne 88 20,37 125 20,63 46 21,00

Total de citações 432 100,00 606 100,00 100,00

(1)Significativamente superiores às freqüências teóricas esperadas.(2)Significativamente inferiores às freqüências teóricas esperadas.Nota: A questão é de respostas múltiplas ordenadas. A tabela apresenta a somadas freqüências absolutas e a média das freqüências relativas (média aritmé-tica das freqüências relativas referentes às variáveis ordenadas em 1o, 2o e 3o

lugares) de um mesmo atributo.

Tabela 2. Distribuição de freqüência dos conceitos atribuídos pelosconsumidores/decisores de compra entrevistados de acordo com a suapercepção, em relação a fatores que afetam a decisão de compra demexilhões

São Paulo Curitiba Porto AlegreOutros fatores

Freqüência

....No.... ......%..... ....No.... ......%...... ....No.... .....%....

Qualidade 131 31,26(1) 166 27,53(1) 61 30,81(1)

Disponibilidade 65 15,51 107 17,74 33 16,67

SIF 73 17,42 117 19,40 38 19,19

Exigência no preparo 72 17,18 102 16,92 31 15,66

Origem do produto 78 18,62 111 18,41 35 17,68

Total de citações 419 100,00 603 100,00 198 100,00

(1)Significativamente superiores às freqüências teóricas esperadas.Nota: A questão é de respostas múltiplas ordenadas. A tabela apresenta asoma das freqüências absolutas e a média das freqüências relativas (médiaaritmética das freqüências relativas referentes às variáveis ordenadas em 1o,2o e 3o lugares), de um mesmo atributo.

praticidade, facilidade de preparo,higiene, qualidade e aparência, en-tre outros. Aproximadamente 20%dos consumidores consomem o pro-

duto pré-processado, principalmen-te na cidade de São Paulo. Estesnúmeros mostram que ainda hágrandes possibilidades de cresci-

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 43

Informativo Técnico Mexilhões/marisco – estudo de mercado

Tabela 3. Distribuição de freqüência dos conceitos atribuídos pelosconsumidores/decisores de compra entrevistados de acordo com a suapercepção, em relação a fatores que afetam a decisão de compra demexilhões

São Paulo Curitiba Porto AlegreFatores

Freqüência

....No.... ......%..... ....No.... ......%...... ....No.... .....%....

Embalagem 100 23,64 120 20,00 34 16,92

Preço 75 17,73 158 26,33 47 23,38

Prazo de validade 120 28,37(1) 182 30,33(1) 60 29,85(1)

Marca 37 8,75(2) 50 8,33(2) 23 11,44(2)

Valor nutricional 91 21,51 90 15,00 37 18,41

Total de citações 423 100,00 600 100,00 201 100,00

(1)Estatisticamente superiores às freqüências teóricas esperadas.(2)Estatisticamente inferiores às freqüências teóricas esperadas.Nota: A questão é de respostas múltiplas ordenadas. A tabela apresenta asoma das freqüências absolutas e a média das freqüências relativas (médiaaritmética das freqüências relativas referentes às variáveis ordenadas em 1o,2o e 3o lugares), de um mesmo atributo.

Figura 4. Distribuição de freqüência dos consumidores/decisores decompra em relação à quantidade consumida

cativos de que ele está disposto apagar mais pela qualidade e segu-rança dos produtos que consome,parâ-metros cada vez mais decisivospara as compras. Dessa forma, paradeterminados segmentos da po-pulação, o preço deixa de ser o prin-cipal fator que limita o consumo.

A concentração em poucasformas de consumo indica acarência de informações que amaioria dos consumidores temsobre outras formas de preparo doalimento. Os restaurantes (sejamos especializados em frutos do mar,restaurantes “a quilo”, pizzarias ou

restaurantes industriais einstitucionais) contribuem efetiva-mente para a formação do gosto edo hábito de consumo.

Há clara preferência peloproduto a granel, desconchado(miolo) e fresco (resfriado). Noentanto, devido à sua naturezaperecível e à sua limitada capa-cidade de armazenagem, exigem--se melhorias nas embalagens,redução dos custos de distribuiçãoe um transporte rápido, econômicoe confiável. Observa-se também atendência, especialmente, pelasfamílias com maior poder aquisitivo,da preferência por produtos pré--processados, sendo necessária aadaptação do varejo para atenderesta clientela.

Santa Catarina é responsávelpela produção de mais de 95% dosmexilhões cultivados no País, sendoa produção concentrada e osprodutores relativamente organi-zados em pequenas cooperativas;isto confere ao produtor catari-nense quase que o monopólio sobrea produção. Existem indicativos deque os problemas de escoamentoda produção catarinense – demandaou problema que deu origem àpesquisa – não sejam decorrentesda ausência de mercado para oproduto, mas sim, de um deficientegerenciamento operacional e daatividade comercial.

Literatura citada

1. BARBETTA, P.A. Estatística aplicadaas ciências sociais. 2.ed. Florianópolis:UFSC, 1998. 283p.

2. HOOLEY, G.J.; SAUNDERS, J.Posicionamento competitivo. São Pau-lo: Makron Books, 1996. 367p.

3. KOTLER, P. Administração emarketing: análise, planejamento,implementação e controle. 4. ed. SãoPaulo: Atlas, 1996. 676p.

4. MATTAR, F.N. Pesquisa de marketing:metodologia, planejamento, execuçãoe análise. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1997.v.2, 225p.

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Informativo Técnico Fruticultura Sul Catarinense – generalidades

A fruticultura no Litoral Sul de Santa CatarinaA fruticultura no Litoral Sul de Santa CatarinaA fruticultura no Litoral Sul de Santa CatarinaA fruticultura no Litoral Sul de Santa CatarinaA fruticultura no Litoral Sul de Santa Catarina

Márcio Sonego(¹); Ademar Brancher(²);Claudino Madalosso(³) e Luiz Carlos Zen(4)

Introdução

A fruticultura ocupa cerca de 11mil hectares do Litoral Sul de San-ta Catarina, constituindo-se numaimportante atividade agrícola. Estaregião apresenta clima subtropicalcom verão quente e inverno amenoe chuvas bem distribuídas ao longodo ano (Nimer, 1989). Este tipoclimático permite a exploração co-mercial de inúmeras espécies fru-tíferas de clima tropical, subtropicale algumas temperadas de baixaexigência em frio, destacando-se a

Resumo – A fruticultura é uma importante atividade agrícola no Litoral Sul de Santa Catarina, ocupando cercade 11 mil hectares de área cultivada. As principais frutas comercialmente cultivadas são a banana, o maracujá,a uva, o pêssego, a ameixa, os citros e o abacaxi. A região apresenta clima e solo apropriados ao cultivo de frutastropicais e subtropicais, e até mesmo temperadas de baixa exigência em frio. Devido à característica regional serde agricultura familiar em pequenas propriedades, credita-se à fruticultura um importante papel socioeconômicopor absorver intensiva mão-de-obra familiar e resultar em alto rendimento econômico por área. O presente estudoanalisa aspectos atuais da fruticultura regional, seus problemas e suas potencialidades, além de ressaltarpeculiaridades de agricultura orgânica praticada há muitos anos nessa região.Termos para indexação: banana, uva, pêssego, ameixa, maracujá, abacaxi.

Fruit crops grown in southeastern Santa Catarina State, Brazil

Abstract – Fruit production is an important agricultural activity on southern coast of Santa Catarina State,Brazil, where more than 11 thousand hectars are cultivated with fruit trees. The main fruits grown commerciallyare banana, passion fruit, grape, peach, plum, citrus and pineapple. The region has a suitable climate and soiltype where tropical, subtropical and some temperate fruit species perform well. Farms are small and mostly usefamily labor. The potential for good economic returns to growers is high and at least equivalent to other alternateland uses. Sustainable production is dependent on a suitable growth environment, stable labor, a high demandfor the products and good prices for quality fruit. In this paper an analysis is given of the current status of localfruit production, and reasons are given for the variation in production levels and competitiveness. Comparisonsare made with organic fruit production that has been practiced for a number of years by many local farmers.Index terms: banana, grape, peach, plum, passion fruit, pineapple.

banana, a uva, o maracujá, os citros,o pêssego, a ameixa e o abacaxi(Tabela 1).

A região engloba os 43municípios que compõem a Asso-ciação dos Municípios da Regiãode Laguna – Amurel –, aAssociação dos Municípios da Re-gião Carbonífera – Amrec – e aAssociação dos Municípios doExtremo Sul Catarinense –Amesc –, a qual, em 1995,apresentava uma população totalde 763.987 habitantes. A estruturafundiária é caracterizada por

pequenas propriedades familiares,sendo que, em 1995, 70% dosestabelecimentos agropecuários daregião possuíam menos de 20ha(Neubert, et al., 2000).

Devido à predominância da agri-cultura familiar em pequenas pro-priedades, credita-se à fruticulturaum importante papel socioeco-nômico por absorver intensa mão--de-obra familiar e resultar em altorendimento econômico por área.Além disto, o número de consumi-dores da região, a proximidade decentros urbanos maiores como

(1)Eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone: (048) 465-1209, e-mail:[email protected].(2)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].(3)Eng. agr., Rua Líbero Ducione, 101, 88803-560 Criciúma, SC, fone: (048) 433-4736.(4)Licenciado em Biologia, Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 45

Informativo Técnico Fruticultura Sul Catarinense – generalidades

Porto Alegre e Curitiba e o intensofluxo de turistas nos meses de ve-rão favorecem a expansão regionalda fruticultura, quer para venda innatura, quer como produto indus-trializado.

Destaque-se que é muito comumo cultivo de frutas em pomares defundo de quintal, tanto em áreasrurais como urbanas. O presenteartigo, porém, trata apenas daproblemática dos pomares comer-ciais das frutas predominantes naregião.

Banana

A cultura da bananeira ocupacerca de 8,5 mil hectares no LitoralSul de Santa Catarina, sendo asegunda maior região produtora doEstado (Figura 1). O cultivo naregião iniciou há cerca de umséculo, com a cultivar Branca deSanta Catarina, na forma semi-extra-tivista. A partir dos anos 50intensificou-se o plantio da cultivarEnxerto, que passou a ser a maisplantada na região por apresentarcaracterísticas semelhantes às da

cultivar Branca de Santa Catarina,mas com porte mais baixo e commaior resistência ao tombamentopelo vento. Estima-se que 80% dosbananais na região sejam ocupadoscom as cultivares Branca e Enxerto,pertencentes ao subgrupo Prata,

por apresentarem maiorrusticidade ao clima local ealcançarem melhor preço nomercado. Apenas na década de 70 éque foram introduzidas cultivaresdo subgrupo Cavendish na região,sendo as mais plantadas a Nanica,a Nanicão e a Grande Naine. Estas,mais resistentes ao mal-do-panamá,passaram a substituir as bananasdo subgrupo Prata em áreas comhistórico da doença. Entretanto, asbananas do subgrupo Cavendishaqui produzidas eram de qualidadeinferior às produzidas no Norte doEstado, tendo enfrentado problemade comercialização e preço.Atualmente o produtor local vemproduzindo frutos de melhorqualidade devido às exigências domercado consumidor.

Deve-se ressaltar que consi-derável parcela das bananas dosubgrupo Prata ainda são produ-zidas de forma semi-extrativista,com pouca tecnologia, razão pelaqual muitos bananais podem serconsiderados orgânicos por nãoreceberem nenhum tipo de produtoquímico (pesticidas, fertilizantes).

Problemas e ameaças

• Alta incidência da doença mal-

Tabela 1. Principais frutíferas cultivadas comercialmente no Litoral Sulde Santa Catarina, estimativa da área plantada e principais municípiosprodutores, no ano 2000

ÁreaFruta cultivada(1) Principais produtores

......(ha)......

Banana 8.500 Jacinto Machado, Santa Rosa do Sul,Criciúma, Siderópolis, Treviso, Timbé do Sul,Praia Grande, Turvo, Içara, Nova Veneza,Meleiro e Urussanga

Citros 1.500 Cocal do Sul, Criciúma, Içara, Santa Rosa doSul, Sombrio e São João do Sul

Maracujá 400 Jacinto Machado, Santa Rosa do Sul, SãoJoão do Sul, Araranguá, Sombrio, Içara eGravatal

Uva 300 Pedras Grandes e UrussangaPêssego eAmeixa 150 Pedras Grandes e UrussangaAbacaxi 60 São João do Sul, Santa Rosa do Sul, Jaguaruna

e Armazém(1)Estimativa da área cultivada, segundo os escritórios municipais daEpagri.

Figura 1. A cultura da bananeira ocupa as áreas de encostas e de maiordeclividade do Litoral Sul Catarinense

46 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

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-do-panamá (Fusarium oxysporumf.sp. cubense) em cultivares dosubgrupo Prata.

• Alta severidade da doençasigatoka-amarela (Mycosphaerellamusicola), especialmente emcultivares do subgrupo Cavendish.

• Possibilidade da entrada dasigatoka-negra (Mycosphaerellafijiensis) na região, vinda de Estadosdo Norte do País.

• Ataque de nematóide (Rado-pholus similis e outros) e da broca--da-bananeira (Cosmopolitessordidus), especialmente emcultivares do subgrupo Cavendish.

• Tombamento de plantas edanos à folhagem causados pelovento.

• Danos causados pela geada.• Falta de tratamento pós-co-

lheita em casas de embalagem.• Excesso de bananas nas caixas

de comercialização.• Caixas de comercialização

além do peso acordado com oprodutor.

• Comercialização feita porintermediários, a qual reduz osganhos do produtor.

• Desorganização dos produto-res.

• Falta de crédito para investi-mento e na época oportuna.

• Conservação das estradasdentro do bananal.

• Grande número de produtoressem treinamento.

• Falta de trabalhos de pesquisadirigidos para a região.

Potencialidades

• As condições edafoclimáticasda região permitem a produção debananas de boa qualidade e altaprodutividade.

• Produção de banana orgânicana região devido à rusticidade dascultivares do subgrupo Prata.

• Recente lançamento de novascultivares resistentes ao mal-de--sigatoka e ao mal-do-panamá quefacilitarão a produção orgânica(Lichtemberg et al., 2001).

• Possibilidade da industriali-zação de banana em forma de polpa,

passas e doces.• Perspectiva de melhorar a

qualidade da banana produzidaobtendo-se melhor remuneração.

• Proximidade dos mercados dosul de Santa Catarina e do Estadodo Rio Grande do Sul.

Uva

A viticultura foi introduzida naregião com a vinda dos coloni-zadores italianos em 1878 (Figura2). Devido à rápida expansão dacultura na região de Urussanga, oMinistério da Agriculturaimplantou, em 1942, a Sub-Estaçãode Enologia e Fermentação, atualEstação Experimental deUrussanga – EEUR –, pertencenteà Epagri. Nos anos 50, ofortalecimento da indústria demineração, que oferecia atrativaremuneração à mão-de-obra,provocou o declínio da importânciada viticultura na economia local. Odesinteresse pela cultura conti-nuou nos anos 60, com baixatecnologia empregada nos par-reirais da região, resultando em

produtividade em torno de 6t/ha,o que inviabilizava economi-camente a cultura. A partir de 1979,o serviço público de extensão ru-ral passou a incentivar a viti-vinicultura na região de Urussanga,seguida pela retomada daspesquisas em 1989, na EEUR. Cabedestacar que até o início da décadade 80 a EEUR foi a granderesponsável pela distribuição deporta-enxertos para a produção demudas de videira na região. Em1995, esta estação de pesquisapassou a controlar a qualidade dosvinhos coloniais da região e, em1998, iniciaram-se os cursosprofissionalizantes de produção devinhos coloniais em sua unidadedidática.

Atualmente a área plantada naregião ocupa quase 300haconcentrando-se, principalmente,nos municípios de Urussanga ePedras Grandes. Cerca de 50% dauva produzida destina-se aomercado in natura, enquanto queos produtores de vinho aindaimportam uvas do Rio Grande doSul por falta de matéria-prima local.

Problemas e ameaças

• Alto custo de implantação doparreiral.

• Baixa produtividade da uva‘Goethe’, cultivar típica da região.

Potencialidades

• A região apresenta potencialedafoclimático para a expansão daviticultura, desde que de formaorganizada e direcionada para omercado in natura e/ou para aprodução de sucos e vinhos.

• A uva tem apresentado umrendimento econômico homogêneoano após ano.

• A produção regional de uvasnão é suficiente para abastecer asindústrias de vinho regionais.

• A uva in natura pode ser todacomercializada no mercado re-gional.

• Cultivo orgânico de uvas paraconsumo in natura.

Figura 2. Os parreirais são marcastípicas da cultura italiana nosmunicípios de Urussanga e PedrasGrandes

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 47

Informativo Técnico Fruticultura Sul Catarinense – generalidades

• A viticultura é importantepara a tradição e cultura regionais,de origem italiana.

Maracujá

O cultivo comercial do maracujáno Litoral Sul de Santa Catarinateve início no ano de 1990 com aFloresul e a família Casagrande,em Jacinto Machado. A partir de1994, um grande número deprodutores passou a se dedicar àcultura, com aumento significativode área até 1998, quando mais de1,5 mil hectares foram cultivados(Figura 3). Em 1995, a EEURiniciou pesquisas com sistema desustentação e poda, introdução decultivares, melhoramento genéticobuscando frutas de qualidade eresistência às doenças, além deoferecer cursos profissionalizantes.No ano 2000 houve redução naárea cultivada com maracujá emfunção da queda de preços e dorigoroso inverno que causou amorte de plantas no campo e demudas no viveiro. A culturaconcentra-se mais nas regiões dosvales dos Rios Araranguá eMampituba, predominando omaracujá amarelo azedo.

Problemas e ameaças

• Uma das características dacultura tem sido o seu caráternômade devido à incidência dedoenças como a bacteriose (Xan-thomonas campestris pv. passi-florae), a verrugose (Cladosporiumherbarum) e a antracnose(Glomerella cingulata), as quaisimpedem o estabelecimento dalavoura por mais de cinco anos nomesmo terreno.

• Expansão desordenada da áreaplantada em épocas de bom preço.

• Necessidade do uso de quebra--vento em áreas litorâneas.

• Cultura sensível à geada.• Falta de assistência técnica

no campo.

Potencialidades

• As condições edafoclimáticasda região são favoráveis ao cultivodo maracujá doce e do maracujáazedo.

• Possibilidade de torná-lacultura permanente dentro daregião usando-se da rotatividadede áreas e, até mesmo, com o surgi-mento de cultivares resistentes àsdoenças e adaptadas à região.

• Facilidade na comercialização,por ser um produto que não exigemuitos cuidados em pós-colheita, eno transporte, mesmo a longasdistâncias. O maracujá produzidotem sido comercializado princi-palmente em São Paulo, Rio deJaneiro, Belo Horizonte, PortoAlegre e Brasília.

• A cultura tem sido umaimportante fonte de renda paramuitas famílias rurais de pequenapropriedade.

• Possibilidade de redução de80% no uso de pesticidas pelastécnicas de seleção de materialresistente e práticas de agriculturaecológica.

• O maracujá doce tem potencialde expansão de área pela existênciade cultivares promissoras queapresentam bom valor de mercado,além de utilizar intensivamentemão-de-obra familiar.

Frutas de caroço (pêssegoe ameixa)

As frutas de caroço ocupamcerca de 150ha, principalmente nosmunicípios de Pedras Grandes eUrussanga. O incremento da áreaplantada com frutas de caroço sedeu a partir de 1984 com o trabalhode extensão rural, seguido pelaimplantação, em 1988, de umacoleção de cultivares de pêssego eameixa na EEUR. Antes disto haviaalguns pequenos pomares depessegueiro em Azambuja,município de Pedras Grandes, depouca expressão econômica. Nosúltimos anos a área plantada temse mantido constante devido à faltade cultivares de maturação precoce(Figura 4).

Problemas e ameaças

• Falta de cultivares precoces,com maturação entre setembro emeados de novembro, para nãocoincidir com grandes regiões pro-dutoras, como o Vale do Rio doPeixe, SC, a Serra Gaúcha ePelotas, RS.

Figura 3. A cultura do maracujá azedo tem bom desempenho no Litoral SulCatarinense e já chegou a ocupar 1,5 mil hectares de área cultivada

48 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

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• No caso da ameixa, além damaturação precoce, deve-se buscarcultivares resistentes à escal-dadura (Xylella fastidiosa) e comfrutos de melhor qualidade do queos atuais.

• Os produtores que se mantêmna atividade necessitam de umaárea mínima estimada em 1,5hapara que possam atender àsnecessidades dos mercados em quecomercializam, além de umaestrutura mínima de galpão paraseleção, embalagem, armazena-mento e transporte.

Potencialidades

• A região incrustada entre aserra e o litoral é tida comofavorável para cultivar frutas decaroço de baixa exigência em frio,desde que direcionada paraprodução de setembro a meados denovembro.

• Na busca de opções paraaumentar a rentabilidade daagricultura familiar, característicada pequena propriedade do LitoralSul Catarinense, o pêssego e a

ameixa despontam pela rentabi-lidade por área.

Citros

As frutas cítricas sempre foramcultivadas nos pomares domésticosda região para consumo familiar.Na década de 80 foi iniciado o plantiode pomares comerciais em SãoLudgero e Orleans. Porém, o maiorimpulso no plantio de citros deu-sea partir de 1990 com as empresasFloresul e grupo Baschiroto, compomares próprios e em parceriacom agricultores, na expectativada implantação de uma fábrica desucos usando matéria-prima local.Atualmente, a área cultivada situa--se em cerca de 1,5 mil hectares.

Problemas e ameaças

• Despreparo técnico dos produ-tores para o cultivo comercial, nadécada passada.

• Os baixos preços alcançadospelo produtor em função daexcessiva oferta de frutas vindas deSão Paulo, que esteve associada aobaixo preço internacional do sucona última década, desestimularamos produtores, resultando emredução na área plantada com citrosa partir da safra 1998/99.

• Falta de assistência técnicaespecífica para a cultura.

Potencialidades

• As condições edafoclimáticase fitossanitárias da região sãofavoráveis ao cultivo de citros,obtendo-se boas produtividade equalidade de frutos.

• Pouca necessidade de mão-de--obra e bom escalonamento dasatividades, sendo uma fontealternativa de renda em todas aspropriedades rurais.

• Existência de cultivares comdiferentes épocas de maturaçãopossibilitando produção por, no

mínimo, dez meses durante o ano.• Ausência, no Litoral Sul

Catarinense, das doenças declínio,CVC e morte súbita, que estãodizimando pomares paulistas.

Abacaxi

A cultura do abacaxi ocupa umaárea de aproximadamente 60ha,concentrando-se nos municípios deSão João do Sul, Santa Rosa do Sul,Jaguaruna e Armazém (Figura 5).Estima-se que em décadas passadasa cultura tenha ocupado maior área,havendo redução de área plantadapor problemas como a gomose(Gibberella fujikuroi), o ataque dabroca-do-fruto (Thecla basalides), afalta de mudas de boa qualidade eem quantidade suficiente e a faltade técnicos especializados naregião. A partir de 1995, a EEURiniciou pesquisas com materiaisgenéticos próprios do Litoral Sulde Santa Catarina, além deexperimentos de adubação.

Problemas e ameaças

• Falta de mudas a preçosacessíveis.

• Falta de assistência técnicaespecífica para a cultura.

Potencialidades

• As condições edafoclimáticasregionais são favoráveis à cultura,desde que em locais livres de geada.

• A época de colheita, em janeiroe fevereiro, coincide com o intensofluxo de turistas no litoralcatarinense.

• A cultura permite ao produtorescolher a época de colheita atravésde técnicas de cultivo (época deplantio, tamanho de muda, induçãofloral).

Fruticultura orgânica

Obedecendo a tendência

Figura 4. O cultivo do pessegueiroé uma alternativa de fruta de caroçopara o Litoral Sul Catarinense

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 49

Informativo Técnico Fruticultura Sul Catarinense – generalidades

mundial e local pela procura deprodutos orgânicos, devem serfomentados trabalhos de pesquisae de assistência técnica na produçãode frutas sem o uso de adubosquímicos e agrotóxicos sintéticos.Além disto, o atual sistemaprodutivo de frutas é extrema-mente dependente de insumosexternos à propriedade e utilizauma quantidade significativa deprodutos químicos.

A região apresenta bonsexemplos de produção de frutassem uso de insumos sintéticos,como é o caso de muitos bananais epomares de citros. Porém, estesprodutores devem ser orientadosde forma a produzir frutas orgânicascertificadas por órgão competente,tornando-os aptos a ingressar nomercado de frutas orgânicas.

Problemas e ameaças

• Necessidade de maiorconhecimento de técnicas deagricultura orgânica em fruti-cultura.

• Garantia de comercialização.• Necessidade de treinamentos

tanto para técnicos como paraprodutores.

Potencialidades

• Tendência atual de aumentono consumo de frutas orgânicas.

• Facilidade do cultivo orgânicode bananas do subgrupo Prata e demateriais recentemente lançados(Lichtemberg et al., 2001).

• Cultivo orgânico de uva,pêssego e abacaxi, a exemplo doque é feito em Ituporanga, PraiaGrande e Santa Rosa do Sul,respectivamente.

• Cultivo orgânico de tange-rinas, pela baixa incidência damosca-das-frutas.

Considerações finais

A região do Litoral SulCatarinense apresenta caracte-rísticas favoráveis ao cultivo defrutas tropicais, subtropicais etemperadas de baixa exigênciaem frio. Os aspectos edafocli-máticos, a estrutura fundiáriade pequena propriedade familiare a proximidade dos centros

consumidores fazem desta umaregião propícia para o cultivocomercial de frutas.

A banana e a uva são as frutasde maior destaque comercial naregião, sendo consideradasculturas centenárias, precisandopor isto receber maior atençãopelos órgãos de pesquisa eassistência técnica.

A fruticultura orgânica precisaser incentivada na região, em faceda crescente demanda poralimentos considerados limpos.Para tanto, necessita-se buscarmaiores conhecimentos através depesquisas, além de treinamentospara técnicos e produtores.

Destaque-se, porém, que um dosmaiores problemas enfrentadospelos fruticultores locais é aestrutura de comercialização.Normalmente os produtores locaisnão têm acesso direto ao mercadoconsumidor, vendendo suaprodução através de intermediários.

Portanto, a fruticultura doLitoral Sul Catarinense apresentapotencial econômico de expansão,primando-se, acima de tudo, pelamelhoria da fruta aliada à melhoriadas formas de comercialização.

Literatura citada

1. LICHTEMBERG, L.A.; MALBURG,

J.L., ZAFFARI, G.R.; HINZ, R.H.

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SC). Avaliação de cultivares para

o Estado de Santa Catarina 2001/2002.

Florianópolis, 2001.149p. p.31-37.

2. NEUBERT, E.O., DUFLOT, J.H.;

BATISTA, K.M. Evolução da estrutura

fundiária e da ocupação de terras no

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Ciências Humanas, Criciúma, SC, v.6,

n.1, p.37-48, 2000.

3. NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio

de Janeiro: IBGE, 1989. 421p.

Figura 5. A cultura do abacaxi ocupa áreas de solos arenosos do Litoral SulCatarinense

50 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Milho – controle de invasoras

Efeito da palha de ervilhaca sobre a incidência deEfeito da palha de ervilhaca sobre a incidência deEfeito da palha de ervilhaca sobre a incidência deEfeito da palha de ervilhaca sobre a incidência deEfeito da palha de ervilhaca sobre a incidência deplantas espontâneas e a produtividade do milhoplantas espontâneas e a produtividade do milhoplantas espontâneas e a produtividade do milhoplantas espontâneas e a produtividade do milhoplantas espontâneas e a produtividade do milho

Alvadi Antonio Balbinot Junior(1); José Alfredo da Fonseca(2);André Nunes Loula Tôrres(3) e Alvimar Bavaresco(4)

Introdução

A utilização de culturas de co-bertura é uma prática importantena melhoria das condições quími-cas, físicas e biológicas do solo(Biederbeck et al., 1998). Seus efei-tos têm sido constatados na prote-ção do solo, mediante a redução dasperdas por erosão, o que propor-ciona manutenção ou até ganho dematéria orgânica (Alcântera et al.,2000), aumento da capacidade de

Resumo – A utilização de culturas de cobertura no inverno melhora as condições químicas, físicas e biológicasdo solo, além de reduzir os problemas com plantas espontâneas nas culturas de verão. O objetivo desse trabalhofoi avaliar a emergência e o crescimento de plantas espontâneas, bem como a produtividade do milho submetidoà competição com infestantes, em diferentes quantidades de palha de ervilhaca sobre o solo. Para isso, foiconduzido um experimento na safra 2002/03. As quantidades de palha de ervilhaca utilizadas foram: ausência depalha, 4,7t/ha e 9,4t/ha. Avaliaram-se a densidade e o acúmulo de massa aérea pelas plantas espontâneas, aprodutividade e os componentes do rendimento do milho. Houve menor emergência e crescimento de plantasespontâneas na presença de 9,4t/ha de palha, tratamento que também proporcionou maior produtividade de grãosde milho em relação aos demais.Termos para indexação: Zea mays, Vicia villosa, plantio direto, plantas de cobertura.

Effect of hairy vetch mulching on the incidence of weeds and corn yield

Abstract – The use of winter annual cover crops improves chemical, physic and biological attributes of the soil,and the problems with weeds in summer crops. The objective of this experiment was to evaluate the reducesemergence and the growth of weeds, and the yield of the corn in competition with weeds, in different amountsof hairy vetch mulching on the soil. The experiment was carried out in the harvest 2002/03 and the quantity ofmulching used was: straw absence, 4,7t/ha and 9,4t/ha. Weed density and weed mass accumulation, corn yieldand the components of the yield were evaluated. There were low emergence and growth of weeds in the presenceof 9,4t/ha of mulching, which was the treatment that provided a greater yield of corn grains.Index terms: Zea mays, Vicia villosa, no tillage, cover crops, weeds.

troca de cátions e da reciclagem denutrientes (Favaretto et al., 2000),ameniza os problemas de compac-tação por meio da redução da den-sidade global (Alcântera et al.,2000), auxilia no controle denematóides (Mojtahedi et al., 1993)e de plantas espontâneas (Caamal--Maldonado et al., 2001).

Poucos estudos têm sido condu-zidos visando determinar os efeitosdas culturas de cobertura sobre adinâmica das plantas espontâneas

nas lavouras (Ross et al., 2001).Constatou-se que resíduos de aveia--preta e aveia-branca controlam ainfestação de papuã (Brachiariaplantaginea Hitchc.) na cultura dasoja, reduzindo significativamentea dependência de herbicidas(Roman, 1990). Resíduos de cultu-ras de cobertura modificam as con-dições em que as sementes dasplantas espontâneas germinam. Aemergência destas é dificultada pelamenor incidência de luz, menor

(1)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (047) 624-1144, fax: (047) 624-1079, e-mail: [email protected].(2)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].(3)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].(4)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 51

Informativo Técnico Milho – controle de invasoras

amplitude térmica do solo entre odia e a noite, liberação de alelo-químicos e pela barreira físicaimposta pela palha (Teasdale,1996).

Elevada porcentagem das áreasagrícolas de Santa Catarina é culti-vada com aveia-preta no invernopara obtenção de forragem, oumesmo para cobertura viva do soloe fornecimento de palha para ocultivo estival. Atualmente, alémda aveia-preta, recomenda-se a se-meadura de outras espécies de co-bertura, em cultivo solteiro ou con-sorciado com aveia-preta, e dentreessas espécies se destaca aervilhaca, devido ao elevado poten-cial de fixação do nitrogênio atmos-férico (Borkert et al., 2003).

Existem estudos que já deter-minaram a influência benéfica dapresença de palha de ervilhaca so-bre a produtividade do milho culti-vado sem a interferência exercidapor plantas espontâneas. Por outrolado, há escassez de pesquisas quevisem determinar o efeito de dife-rentes quantidades de palha deervilhaca sobre as relações de com-petição entre o milho e as plantasespontâneas, bem como a produti-vidade da cultura sob a interferên-cia de infestantes.

A hipótese desse estudo foi deque a maior quantidade de palha deervilhaca sobre o solo reduz a emer-gência e o crescimento de plantasespontâneas, aumentando a pro-dutividade de grãos de milho culti-vado em presença de infestantes.Nesse contexto, o objetivo dessapesquisa foi avaliar o efeito de dife-rentes quantidades de palha deervilhaca em cobertura do solo so-bre a emergência e o crescimentode plantas espontâneas, bem comosobre a produtividade do milho.

Material e métodos

O experimento foi realizado nasafra 2002/03, em propriedade ru-ral situada no município de Major

Vieira, SC, à altitude de 800m. Odelineamento experimental utili-zado foi o inteiramente casualizado,com cinco repetições. A área decada parcela foi de 22,5m2 (4,5 x5m) e a área útil, de 10,8m2 (2,7 x4m). Foram avaliadas três quanti-dades de palha de ervilhaca peluda(Vicia villosa Roth.), em coberturamorta do solo: ausência de palha,4,7t/ha e 9,4t/ha. Essas quantida-des foram obtidas através de remo-ção e adição de palha nas parcelasaté atingir a massa desejada.

Antes da execução do experi-mento, havia cultivo de pastagemna área. No mês de abril de 2002, osolo foi preparado por meio delavração e gradagem; após, foisemeada a ervilhaca. O manejo dacobertura vegetal foi realizado atra-vés de rolo-faca no mês de novem-bro de 2002. No mesmo dia em quefoi realizada a rolagem das plantasde ervilhaca, semeou-se o milho,variedade de polinização abertaCaiano, na densidade de 45 milsementes/ha e espaçamento entrefileiras de 0,9m. Entretanto, devi-do à elevada precipitação pluvialocorrida após a semeadura, a den-sidade média de plantas de milhoficou em torno de 30 mil plantas/ha. O milho foi cultivado de acordocom os princípios da agroecologiae, por isso, não houve aplicação defertilizantes e inseticidas no expe-rimento. As plantas espontâneasque emergiram na área experimen-tal foram mantidas até o final dociclo da cultura. As principais espé-cies espontâneas presentes no ex-perimento foram: junquinho(Cyperus ferax Rich.), gramapensacola (Paspalum saurae L.),guanxuma (Sida rhombifolia L.) enabo (Raphanus raphanistrum L.).

Aos 25 dias após a semeadura(DAS) determinou-se em 0,25m2

por unidade experimental a densi-dade de plantas espontâneas não--gramíneas e gramíneas presentesna área. Aos 25, 60, 120 e 150 DASdeterminou-se a massa seca da

parte aérea acumulada pelas plan-tas espontâneas. Para isso, cole-tou-se a parte aérea das infestantesem 0,25m2, em cada parcela, a qualfoi colocada em estufa à tempera-tura de 65oC, com ventilação força-da de ar, até atingir peso constan-te.

Por ocasião da colheita, avalia-ram-se as seguintes variáveis: es-tatura final das plantas de milho(foram amostradas ao acaso dezplantas por parcela, nas quais foimedida a distância da superfície dosolo até o ápice do pendão); númerode espigas por planta (foramamostradas ao acaso dez plantasem cada unidade experimental, nasquais determinou-se o número deespigas formadas por planta); nú-mero de grãos por espiga (foramamostradas ao acaso dez espigaspor parcela, nas quais determinou--se o número de grãos formadospor espiga); peso médio de grãos(foi determinado pelo peso de 500grãos, corrigido para 13% de umi-dade); produtividade de grãos (foiobtida por colheita das espigas daárea útil de cada unidade experi-mental, as quais foram trilhadas eos grãos pesados, sendo os resulta-dos expressos em kg/ha, corrigidospara 13% de umidade).

Os dados obtidos foram subme-tidos à análise de variância, atra-vés do teste F a 5% de probabilida-de de erro. Efetuou-se análise deregressão polinomial para a variá-vel massa seca das plantas espon-tâneas. As médias das demais vari-áveis foram comparadas pelo testede Tukey a 5% de probabilidade deerro. Dados referentes às densida-des de gramíneas e não-gramíneasforam transformados em x 1.

Resultados e discussão

Não houve diferença significati-va na densidade de plantas espon-tâneas gramíneas entre as quanti-dades de palha investigadas (Tabe-

52 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Milho – controle de invasoras

la 1). Por outro lado, a densidade deplantas espontâneas não-gramí-neas foi cerca de 12 vezes maior naausência de palha, em relação àutilização de 9,4t/ha de palha, de-monstrando o grande efeito da pre-sença de cobertura morta sobre aemergência de sementes destasinfestantes. Não houve diferençasignificativa em densidade de plan-tas espontâneas não-gramíneasentre 4,7 e 9,4t/ha de palha.

Ocorreu diferença significativaem acúmulo de massa seca da par-te aérea de plantas espontâneasentre os tratamentos avaliados (Fi-guras 1 e 2). Constata-se que amassa de infestantes acumuladadurante a evolução do ciclo do mi-lho em ausência de palha foi, emgeral, oito vezes superior ao trata-mento com 9,4t/ha de coberturamorta. Também houve maioracúmulo de massa pelas plantasespontâneas quando havia somen-te 4,7t/ha, em comparação à utili-zação de 9,4t/ha de palha, eviden-ciando que a quantidade de palhainfluencia, além da densidade, ocrescimento das plantas espontâ-neas.

Nesse sentido, quando se utili-

zou elevada quantidade de palha(9,4t/ha), provavelmente houvereduzida competição por água, luze nutrientes entre as plantas es-pontâneas e o milho. Já nos trata-mentos sem palha e com 4,7t/ha,ocorreram altos níveis de competi-ção pelos recursos do meio entreplantas espontâneas e a cultura.Esses resultados indicam a neces-sidade de produção de elevada quan-tidade de massa vegetal, nas esta-ções de outono e inverno, para

manejar adequadamente as plan-tas espontâneas incidentes no cul-tivo do verão subseqüente, princi-palmente em sistemas agrícolasque não utilizam herbicidas e/oucapina.

É importante considerar que,mesmo com elevada quantidade depalha, houve presença de plantasespontâneas, que pode reduzir, emalgum grau, a produtividade domilho. Pesquisas têm mostrado quea utilização de culturas de cobertu-ra no inverno reduz os problemasoriundos da presença de plantasespontâneas em culturas de verão;contudo, não consegue substituirplenamente os herbicidas (Fisk etal., 2001). Assim, o manejo adequa-do de plantas espontâneas devecontemplar outras práticas cultu-rais, além da utilização de cobertu-ra do solo, as quais devem serempregadas de forma integrada noagroecossistema.

Plantas de milho obtiverammaior estatura quando cultivadassobre 9,4t/ha e 4,7t/ha de palha, emrelação à ausência de palha (Tabela3). Em relação à produtividade degrãos, verifica-se maior rendimen-to em 9,4t/ha de palha em relaçãoaos demais tratamentos. É prová-vel que isso tenha ocorrido devidoà menor competição com plantasespontâneas não-gramíneas e àmaior quantidade de nitrogênio li-berado pela palha durante o pro-

Figura 1. Massa seca da parte aérea acumulada pelas plantasespontâneas na cultura do milho. Epagri/Estação Experimental deCanoinhas, 2003

Dias após a semeadura

5 sem palha, y = -147,14 + 6,42x -0,0187x2 ; R2 = 0,95

g 4,7t/ha de palha, y = -106,91 + 4,77x -0,0183x2; R2 = 0,95

h 9,4t/ha de palha, y = 1,135 + 0,352x;r2 = 0,71

Tabela 1. Densidade de plantas espontâneas gramíneas e não-gramíneasna cultura do milho em diferentes quantidades de palha de ervilhaca emcobertura do solo. Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, 2003

Densidade de plantas espontâneas (25 DAS)(1)

TratamentoGramíneas Não-gramíneas

....................Plantas/m2........................

Sem palha 14,4 a(2) 73,5 a

4,7t/ha de palha 10,6 a 24,6 b

9,4t/ha de palha 3,2 a 6,4 b

Média 9,4 34,8

C.V.(%) 47,4 28,8(1)DAS = Dias após a semeadura.(2)Médias seguidas de letras distintas, nas colunas, diferem entre si peloteste de Tukey a 5% de probabilidade.Nota: C.V. = Coeficiente de variação.

Mas

sa s

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s (g

/m2 )

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 53

Informativo Técnico Milho – controle de invasoras

cesso de decomposição, além dopossível efeito da palha sobre aretenção de água no solo. A maiorprodutividade de grãos observadaem 9,4t/ha de palha, em relaçãoaos outros tratamentos, decorre,principalmente, do maior númerode grãos formados por espiga e damaior massa do grão (Tabela 3).Não houve diferença em númerode espigas por planta entre os tra-tamentos.

Os resultados dessa pesquisademonstram a importância da pre-sença de alta quantidade de cober-tura morta sobre o solo para que seobtenha sucesso no manejo cultu-ral de plantas espontâneas no cul-tivo do milho. Contudo, há necessi-dade de novas pesquisas que deter-minem práticas culturais que con-

Tabela 3. Estatura de planta, produtividade de grãos e componentes derendimento da cultura do milho semeada em diferentes quantidades depalha de ervilhaca. Epagri/Estação Experimental de Canoinhas,2003

EstaturaProduti-

Espigas Grãos PesoTratamento de por por de 500

plantasvidade

planta espiga grãos

......m...... ....kg/ ha.... ....No.... ....No.... ....g....

Sem palha 2,33 b(1) 2.044 b 0,97 a 279 b 163 b

4,7t/ha de palha 2,73 a 2.408 b 1,09 a 300 b 180 a

9,4t/ha de palha 2,93 a 3.455 a 1,20 a 332 a 183 a

Média 2,66 2.636 1,07 304 175

C.V. (%) 6,33 19,6 12,7 12,6 4,5

(1)Médias seguidas de letras distintas, nas colunas, diferem entre si pelo testede Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 2. Plantas espontâneas presentes nas parcelas. Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, 2003

Tratamento 60 dias após a semeadura 120 dias após a semeadura

Sem palha

4,7t/ha

9,4t/ha

54 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Milho – controle de invasoras

firam elevada produção de massapelas plantas de cobertura do solono inverno.

Conclusões

• A emergência das plantas es-pontâneas não-gramíneas na cul-tura do milho é reduzida pelapresença de elevada quantidadede palha de ervilhaca sobre osolo.

• O acúmulo de massa pelasplantas espontâneas na culturado milho é reduzido pela presen-ça de alta quantidade de palhade ervilhaca em cobertura dosolo.

• Alta quantidade de palha deervilhaca, em cobertura morta dosolo, confere maior produtividadedo milho.

Agradecimentos

Aos produtores Jair e VanderleiGuth por terem cedido a área emque foi desenvolvido o trabalho.

Literatura citada

1. ALCÂNTERA, F.A. et al. Adubaçãoverde na recuperação da fertilidade deum Latossolo Vermelho-Escuro degra-dado. Pesquisa Agropecuária Brasilei-ra, Brasília, v.35, n.2, p.277-288, 2000.

2. BIEDERBECK, V.O. et al. Soil qualityattributes as influenced by annual le-gumes used as green manure. SoilBiology and Biochemistry, Oxford,v.30, n.8/9, p.1177-1185, 1998.

3. BORKERT, C.M. et al. Nutrientes mi-nerais na biomassa da parte aérea emculturas de cobertura do solo. PesquisaAgropecuária Brasileira, Brasília, v.38,n.1, p.143-153, 2003.

4. CAAMAL-MALDONADO, J.A. et al.The use of allelopathic legume coverand mulch species for weed control incropping systems. Agronomy Journal,Madison, v.93, n.1, p.27-36, 2001.

5. FAVARETTO, N. et al. Efeito darevegetação e da adubação de áreadegradada na fertilidade do solo e nascaracterísticas da palhada. PesquisaAgropecuária Brasileira, Brasília, v.35,n.2, p.289-297, 2000.

6. FISK, J.W.; HESTERMAN, O.B.;SHRESTHA, A. Weed suppression byannual legume cover crops in no-tillagecorn. Agronomy Journal, Madison,v.93, n.2, p. 319-325, 2001.

7. MOJTAHEDI, H.; SANTO, G.S.;INGHAM, R.E. Suppression ofMeloidogyne chitwoodi withsudangrass cultivars as green manure.Journal of Nematology, Lakeland, v.25,n.2, p.303-311, 1993.

8. ROMAN, E.S. Effect of cover crops onthe development of weeds. In:INTERNATIONAL WORKSHOP ONCONSERVATION TILLAGESYSTEMS, 1990, Passo Fundo, RS.Proceedings… Passo Fundo: CIDA;Embrapa-CNPT, 1990. p.218-230.

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10. TEASDALE, J.R. Contribution ofcover crops to weed management insustainable agricultural systems.Journal of Production Agriculture,v.4, n.3, p.475-479, 1996.

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Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 55

Informativo Técnico Ovinos – doenças

PPPPPrevalência da brucelose ovinarevalência da brucelose ovinarevalência da brucelose ovinarevalência da brucelose ovinarevalência da brucelose ovina em carneiros noem carneiros noem carneiros noem carneiros noem carneiros noEstado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa CatarinaEstado de Santa Catarina

Volney Silveira de Ávila(1); Guilherme Caldeira Coutinho(2);Vilson Korol(3) e Anildon de Oliveira Ribeiro(4)

Introdução

A brucelose ovina, causada pelaBrucella ovis, é uma doençainfecciosa que acomete os ovinos,determinando manifestaçõesclínico-patológicas relacionadas aosistema reprodutivo. SegundoDargatz et al. (1990), essaenfermidade, também conhecidapor epididimite ovina, é uma dasprincipais causas de infertilidadeem carneiros (Figura 1).

Os achados clínicos maiscaracterísticos nos machos é aepididimite, caracterizada poraumento de volume e consistênciafirme do epidídimo (Cardoso et al.,

Resumo – Com objetivo de determinar a prevalência de anticorpos contra Brucella ovis foram examinados 95carneiros provenientes de 23 cabanhas localizadas em 13 municípios de Santa Catarina. Foram realizados examesclínicos externos do aparelho reprodutor por palpação e coleta de sangue. Os soros desses animais foramsubmetidos à prova de gel difusão para pesquisa de anticorpos contra a Brucella ovis e reagiram negativamente.No exame clínico, não se observaram alterações nos órgãos reprodutores dos carneiros.Termos para indexação: Brucella ovis, ovinos, anticorpos, teste sorológico.

Prevalence of brucellosis in sheeps in Santa Catarina State

Abstract – Ninety five sheeps from twenty three farms located in thirteen municipalities were analysedconcerned to prevalence of Brucella ovis antibodies. External exams by touching scrotal organs and serologicalexams were done. The serum was submitted to the immunodiffusion gel agar test for antibodies of Brucella ovis.All samples reacted negatively to serological test and no clinical symptoms of Brucella ovis from the scrotum wereobserved.Index terms: Brucella ovis, sheep, antibiodies, serological test.

1989). Sinais de inflamação aguda,como edema do escroto e dostestículos, também podem serobservados em alguns casos. Nasfêmeas, os sinais clínicos são osabortos ou a parição de maiornúmero de cordeiros debilitados oumortos (Blood & Henderson, 1978).Para Buddle (1966), citado porRamos (1966), essas manifestaçõespodem ser transitórias e o animalinfectado pode tornar-se trans-missor assintomático da bactériavia sêmen. A principal via deinfecção é a genital, pela qual oscarneiros contraem a doença einfectam as ovelhas.

O reconhecimento dessa bacté-

ria como o agente etiológico dainfecção foi relatado na NovaZelândia (Buddle & Boyes, 1953). Apartir desta constatação, aepididimite dos carneiros tem sidoobservada praticamente em todosos países do mundo onde aovinocultura encontra lugar dedestaque na exploração pecuária,com exceção da Grã-Bretanha(Spencer & Burgess, 1984).

No Brasil, a primeira referênciasobre epididimite ovina foipublicada em 1966, após levan-tamento realizado em 15 municí-pios do Rio Grande do Sul, abran-gendo um total de 121 propriedades.O mesmo foi efetuado sobre 3.317

(1)Méd. vet., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone/fax: (049) 224-4400, e-mail: [email protected].(2)Méd. vet, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: [email protected].(3)Méd. vet., Epagri, C.P. 27, 89650-000 Treze Tílias, SC, fone: (049) 537-0844, fax: (049) 537-0166.(4)Eng. agr., Epagri, C.P. 202, 89520-000 Curitibanos, SC, fone: (049) 245-0849.

56 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Ovinos – doenças

reprodutores machos ovinos erevelou porcentagem de 6,5% deportadores de lesões clínicas daenfermidade, confirmada emgrande número de casos pelasprovas laboratoriais (Ramos et al.,1966). Em levantamento maisrecente, realizado por Magalhães& Gil-Turnes (1996) no mesmoEstado, em soros de 1.536 carneirosprovenientes de 76 rebanhos, foidetectada a presença de anticorposem 13,4% e manifestações clínicasem 9,8% dos animais. No Estado deSão Paulo, trabalho semelhante foirealizado por Marinho & Mathias(1996), em que foram examinadossoros sangüíneos de 850 ovinos,pertencentes a 18 rebanhossituados em 15 municípios. Apesquisa de anticorpos e os dadosclínicos e epidemiológicosconcluíram que nenhum dosanimais que fizeram parte do estudoestavam infectados pela Brucellaovis.

Em Santa Catarina, no ano de1997, foram examinados 69carneiros quanto a lesões genitaisexternas, provenientes de 20propriedades do município de

Lages. No exame clínico, 18,8%dos carneiros apresentaramalterações nos órgãos, comofibrose, aderência, cicatrizes,aumento e diminuição deconsistência e aumento ou reduçãode volume nos órgãos genitais,porém os exames sorológicos deimunodifusão em gel de ágar nãodetectaram a presença deanticorpos contra a B. ovis (Schaferet al., 1997).

Tendo em vista que em 1995foram importadas 22 mil ovelhasdo Uruguai e que a comercializaçãode carneiros é um processocontínuo, justifica-se a necessidadede nova determinação da atualprevalência de anticorpos contra abrucelose ovina em carneiros dasprincipais cabanhas do Estado.

Material e métodos

O trabalho foi realizado numaparceria entre a Empresa dePesquisa Agropecuária e ExtensãoRural de Santa Catarina S.A. –Epagri – e a Associação Catarinensede Criadores de Ovinos – ACCO –junto às 23 principais cabanhas de

Santa Catarina. Foram examinados95 carneiros pais de cabanha, comidade superior a um ano, das raçasTexel, Ille de France, HampshireDown, Suffolk, Polypay, Berga-macia e crioula, durante o ano de2002.

O exame clínico foi realizadopela palpação para verificar ovolume e a consistência dosepidídimos e testículos (Figura 2).Na oportunidade também foicoletado sangue para a prova de geldifusão, para pesquisa de anticorposcontra brucelose. O materialcoletado foi remetido para oInstituto de Pesquisas Veterinárias“Desidério Finamor”, em Eldoradodo Sul, RS, que realizou a referidaprova.

Resultados e discussão

Todos os 95 animais submetidosaos exames clínico e imunológiconão apresentaram alterações devolume e consistência dosepidídimos e dos testículos. Quantoàs provas de gel difusão, tambémforam negativas na pesquisa deanticorpos contra a Brucella ovis(Tabela 1). Resultados similaresforam obtidos no Estado de SãoPaulo por Marinho & Mathias(1996) e diferiram dos trabalhosrealizados no Rio Grande do Sulpor Ramos et al. (1966) e Magalhães& Gil-Turner (1996), ondeencontraram uma prevalência de6,5% e 13,4%, respectivamente, deanimais portadores de lesõesclínicas no epidídimo, confirmadaem grande número de casos pelasprovas laboratoriais. Segundo estesmesmos autores, somente o exameclínico é falho no diagnóstico,devendo estar associado ao exameda morfologia do sêmen e/ou dasprovas sorológicas. Esta afir-mação concorda com Schäfer et al.(1997), que diagnosticaramalterações clínicas nos órgãosgenitais de 18,8% dos carneirosexaminados, porém, aos examessorológicos de imunodifusão, foramnegativos.

Figura 1. A epididimite ovina é uma das causas de infertilidade emcarneiros

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 57

Informativo Técnico Ovinos – doenças

Conclusão

Constatou-se que as cabanhasde ovinos avaliados do Estado deSanta Catarina estão livres dabrucelose ovina e sugere-se a

Figura 2. O exame externo é uma forma de avaliar possíveis alterações noaparelho reprodutivo

necessidade de um controle rígidopara manter essa condição, que éfundamental para comercializaranimais destinados à reprodução.Também ficaram evidentes oscuidados sanitários que os

produtores estão tendo ao adqui-rirem reprodutores.

Literatura consultada

1. BLOOD, D.C.; HENDERSON, J.A.Medicina veterinária. 4.ed. Rio deJaneiro: Guanabara Koogan, 1978.871p.

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Tabela 1. Resultados da prova de imunodifusão em gel de ágar (IDGA)obtidos contra antígeno de Brucella ovis, em carneiros das principaiscabanhas do Estado de Santa Catarina

Município Propriedades Soros testados IDGA

...............................No...............................

Campos Novos 3 15 0

Água Doce 3 9 0

Caçador 1 3 0

Concórdia 2 2 0

Chapecó 1 2 0Canoinhas 1 5 0Bom Jardim da Serra 1 1 0Lages 4 5 0

Irani 1 1 0

Joinville 1 1 0

Campo Alegre 3 25 0Curitibanos 1 25 0Joaçaba 1 1 0Total 23 95 0

58 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Hortaliças – rotação de culturas

RRRRRotação de culturas para hortaliças nootação de culturas para hortaliças nootação de culturas para hortaliças nootação de culturas para hortaliças nootação de culturas para hortaliças noLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul Catarinense

Antonio Carlos Ferreira da Silva(1) eDarci Antonio Althoff(2)

Introdução

O típico olericultor catarinenseutiliza o solo intensamente,produzindo diversas hortaliças empequenas áreas. A limitação deterra, aliada ao plantio de espéciessuscetíveis às mesmas doenças epragas, tem aumentado o uso deagrotóxicos, colocando em risco omeio ambiente, a saúde do produtore do consumidor.

O surgimento de pragas estárelacionado, principalmente, àsimplificação do agroecossistema,

Resumo – Com o objetivo de avaliar sistemas de rotação de culturas para hortaliças, conduziu-se umexperimento na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, no período de agosto de 1994 a junho de 2000. Setehortaliças e as culturas de aveia e mucuna foram arranjadas em sistemas com um, dois e três anos de rotação.O efeito da rotação foi significativo na produtividade e na qualidade da batata-doce, da cenoura, da beterraba edo repolho. O cultivo da aveia e da mucuna reduziu as capinas e facilitou o cultivo mínimo do tomateiro. A rotaçãode culturas reduziu a incidência de doenças na cultura da cenoura. Os níveis de fósforo no solo elevaram-se,acentuadamente, a partir do terceiro ano de cultivo, em todos os sistemas de rotação. A matéria orgânica do soloaumentou gradativamente, em todos os sistemas.Termos para indexação: olericultura, qualidade, doenças, pragas, fertilidade do solo.

Crop rotation for vegetables in southern coastland of Santa Catarina State

Abstract – This paper describes a study to evaluate crop rotation systems for vegetables. The experiment wascarried out at Epagri/Urussanga Experiment Station, in Santa Catarina State, Brazil, from August 1994 to June2000. Seven vegetable species plus oats and mucuna were arranged in systems for one, two and three years ofcrop rotation. Crop rotation increased significantly the yield for crops such as sweet potato, carrot, beetroot andcabbage, and decreased the incidence of diseases for carrot crop. Growing oats and mucuna gave more effectiveweed control and reduced the need for hoeing and made easier the minimum tillage for tomato cultivation. Levelsof phosphorus in the soil had a significant increase after the third year in all of the crop rotation systems. Soilorganic matter increased, gradually, in all systems of crop rotation.Index terms: horticulture, quality, diseases, pests, soil fertility.

através do cultivo de extensas áreascom apenas uma espécie de planta(Santos & Reis, 2001). SegundoBeets (1982), culturas botanica-mente semelhantes podem estarsujeitas a pragas e a doençascomuns e, por isso, não deveriamser plantadas ao mesmo tempo enem em seqüência.

O cultivo continuado de umaespécie nas mesmas área e estaçãode crescimento (monocultivo) es-gota certos nutrientes do solo, en-quanto que outros se mantêm emníveis elevados, podendo inclusive

inibir a absorção de nutrientes es-senciais. O desequilíbrio nutricionaldas plantas é ainda agravado pelouso abusivo de adubos, que tam-bém podem reduzir a produtivida-de e a qualidade, além de favorecera incidência de doenças e pragas.

O cultivo intensivo de hortali-ças, mesmo em terrenos com pe-quena declividade, pode provocarerosão do solo, em função do mane-jo inadequado, da matéria orgâni-ca, das práticas culturais emprega-das, da quantidade e da qualidadeda cobertura vegetal.

(1)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, C.P. 49, 88840-000 Urussanga, SC, fone/fax: (048) 465-1209, e-mail:[email protected].(2)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected].

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Informativo Técnico Hortaliças – rotação de culturas

Cada cultivo é geralmente in-festado por espécies espontâneasque possuem as mesmas exigên-cias da cultura e apresentam osmesmos hábitos de crescimento.Quando são aplicadas as mesmaspráticas culturais seguidamente,ano após ano, no mesmo solo, asplantas espontâneas tendem a semultiplicar rapidamente aumen-tando sua competição com a cultu-ra (Pereira, 1987).

A rotação de culturas tem sidocitada na literatura como sendouma das alternativas que reduz eaté elimina certas doenças em hor-taliças (Lopes, 1997). Ao avaliarsistemas de rotação de culturas, noLitoral Sul Catarinense, Vieira etal. (1999) constataram que o culti-vo de gramíneas favoreceu o culti-vo da batata, elevando a produtivi-dade em até 80%, melhorando aqualidade e reduzindo a incidênciada sarna (Streptomyces scabies),doença propagada pela batata--semente e pelo solo.

O trabalho objetivou avaliar osefeitos da rotação de culturas sobrea produtividade e qualidade das

hortaliças, verificar a ocorrênciade doenças, pragas e plantas espon-tâneas e acompanhar a fertilidadedo solo, nos diferentes sistemas decultivo.

Princípios básicos darotação de culturas

A rotação de culturas pode serdefinida como o cultivo alternadode diferentes espécies vegetais nomesmo terreno e na mesma esta-ção do ano, seguindo-se um planopré-definido de acordo com princí-pios básicos. A rotação, muitas ve-zes, é confundida com sucessão deculturas, que é o estabelecimentode duas ou mais espécies em se-qüência na mesma área, em umperíodo igual ou inferior a 12 me-ses.

O olericultor catarinense, loca-lizado próximo aos centros consu-midores, normalmente, faz suces-são e não rotação de culturas, poisnão leva em consideração os princí-pios básicos desta prática milenar,conforme destacado por Bonin(1990):

• não cultivar, em seqüência,espécies da mesma família botâni-ca, pois estão sujeitas às mesmasdoenças e pragas (Figuras 1 e 2); éo princípio de “matar de fome” opatógeno que provoca a doença e,também, o inseto que causa danosàs plantas;

• utilizar espécies mais exigen-tes em elementos minerais e, em

Figura 1. Família botânica das solanáceas: o plantio destas espécies namesma área aumenta a incidência de doenças e pragas

Figura 2. Família botânica das brássicas: espécies com doenças e pragascomuns

60 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Hortaliças – rotação de culturas

seguida, explorar a mesma áreacom outras menos exigentes, paraaproveitar o adubo residual;

• alternar espécies com dife-rentes sistemas radiculares;

• empregar culturas que forne-çam diferentes quantidades e qua-lidade do material orgânico a serincorporado no solo, alternadas comoutras que favoreçam sua decom-posição.

Material e métodos

O experimento foi instalado emagosto de 1994, na Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga, emsolo Podzólico Vermelho-Amarelocascalhento epieutrófico ócrico(argissolo de origem granítica). Aárea utilizada esteve em pousio ouocupada com adubos verdes, noperíodo 1987-93.

A análise química do solo, porocasião da instalação do experi-mento, consta na Tabela 1. Anual-mente, após cada final de safra(junho), fez-se análise química dosolo em todos os sistemas de rota-ção, conforme Tabela 2.

O delineamento experimentalutilizado foi de blocos ao acaso, comquatro repetições. As culturas e ossistemas de rotação de culturasconstam na Tabela 2. A análise dasculturas foi feita separadamente, afim de se verificarem os efeitos darotação.

As práticas culturais foram rea-lizadas de acordo com as recomen-dações técnicas para cada espécie.A adubação e a correção da acidezdo solo foram baseadas na análisequímica, conforme a SociedadeBrasileira de Ciência do Solo (1995).No cultivo do feijão-vagem, da ba-

tata-doce e da aveia não foi realiza-da nenhuma adubação no plantio.Na cultura da alface realizou-seapenas a adubação orgânica, apli-cando-se 10t/ha de cama de aviário,15 dias antes do transplante. Notomate, em sistemas cultivadosapós a aveia e a mucuna, efetuou--se o cultivo mínimo, realizando-seapenas a abertura de covas. Emtodos os sistemas de rotação aplica-ram-se, anualmente, de 20 a 30t/hade cama de aviário. Em função doalto nível de fósforo no solo não seutilizou adubação química com estenutriente, a partir da safra 1997/98, nos diferentes sistemas de rota-ção.

As avaliações realizadas no pe-ríodo 1994-00 foram: rendimentototal e comercial das hortaliças,observações visuais sobre a inci-dência de doenças, pragas e plantasespontâneas e acompanhamentoanual da fertilidade do solo, atra-vés de análises químicas.

Todas as espécies foram repeti-das a cada ano (Tabela 2) paradeterminar-se, com o auxílio deanálise estatística, o efeito ocorri-do devido à rotação ou ao ano decultivo. Os dados obtidos relativosà alface, no cultivo de verão, nãoforam analisados devido à ocorrên-cia de excesso de precipitação emanejo inadequado da cultura.

Os resultados obtidos foramanalisados nas safras 1998/99 e1999/00, quando completou-se oprimeiro ciclo do sistema de trêsanos de rotação. As médias foramcomparadas entre si pelo teste deDuncan, a 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

Efeito da rotação naprodutividade e na qualidadedas hortaliças

O efeito da rotação de culturas,quanto à produtividade e à qualida-de, foi significativo para cenoura,beterraba, batata-doce e repolho,nos diferentes sistemas de cultivo.

Tomate/feijão-vagem

A análise dos resultados obtidosnas safras 1998/99 e 1999/00 reve-

Tabela 1. Valores médios de pH e teores de P, K, M.O., Ca e Mg no solo,em diferentes sistemas de rotação – média das análises realizadas em1998 e 1999. Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 2003Sistemas de pH em

P K M.0. Ca Mgrotação água

.......mg/L....... ..%.. .........cmolc/L.........

Valores iniciais(1) 5,3 8,4 104,3 1,2 2,2 1,3

Tomate/feijão-vagem(2)

Sem rotação 5,9 248,5 149,5 2,0 5,8 1,0

Um ano de rotação 5,8 193,2 74,0 2,0 4,9 1,0

Dois anos de rotação 6,0 268,5 68,2 1,9 5,8 1,1

Três anos de rotação 5,9 121,2 98,3 2,0 5,2 1,2

Cenoura/alface/repolho(2)

Sem rotação 5,8 162,2 93,2 1,8 5,4 1,0

Um ano de rotação 5,4 173,8 140,8 1,9 4,9 0,9

Dois anos de rotação 5,9 139,5 87,8 1,8 5,0 0,9

Três anos de rotação 5,6 123,2 106,2 1,9 4,8 1,2

Beterraba/batata-doce/aveia(2)

Sem rotação 6,2 91,8 72,8 1,8 5,2 1,2

Dois anos de rotação 5,8 209,2 94,0 2,0 5,3 1,2

Três anos de rotação 5,8 148,8 60,8 1,8 5,0 1,0

(1)Valores iniciais da área em 1994, ano de implantação do experimento.(2)Valores médios obtidos nas análises de 1998 e 1999, em quatro repetições, realizadasno final de cada safra (junho).Nota: mg/L = ppm, cmolc/L = me/dl.

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Informativo Técnico Hortaliças – rotação de culturas

lou que não houve diferenças signi-ficativas entre os sistemas testa-dos nas culturas de tomate e feijão--vagem, quanto à produtividade e àqualidade. Os rendimentos de fru-tos de tomate e vagens variaram de72,6 a 87,1t/ha e 9,2 a 13,4t/ha,respectivamente, nos diferentessistemas de rotação de culturas.

Cenoura/alface/repolho

Avaliando-se o rendimento to-tal e comercial de raízes de cenou-ra em 1998, constatou-se a superio-ridade dos sistemas com rotaçãoem relação ao sem rotação (Tabela3). A maior ocorrência da doençaqueima das folhas, causada por umcomplexo patológico no qual estão

envolvidos os fungos Alternariadauci e Cercospora carotae e a bac-téria Xanthomonas campestris pv.carotae, explica, em parte, a me-nor produtividade de raízes no sis-tema sem rotação.

Embora não tenham ocorridodiferenças significativas entre ossistemas em 1999, observa-se umatendência de maior produção totale comercial de cenoura com a prá-tica da rotação de culturas. Os sis-temas com um, dois e três anos derotação, na média dos dois anosavaliados, foram superiores ao semrotação em 37,8%; 27,8% e 29%,respectivamente, quanto ao rendi-mento comercial de cenoura (Ta-bela 3).

A cultura da alface, incluída no

sistema cenoura/alface/repolho,não foi avaliada, em função de pre-juízos na produtividade em todosos sistemas de rotação. As plantasestiolaram precocemente devido àocorrência de freqüentes e eleva-das precipitações e, também, aouso inadequado da proteção desombrite.

Na cultura do repolho, o efeitoda rotação foi significativo paraprodutividade em 1999 (Tabela 4).O maior rendimento do sistemacom dois anos de rotação, em relaçãoao sem rotação, pode ser explicadopelo maior peso das cabeças derepolho.

Embora não tenham ocorridodiferenças significativas entre ossistemas em 2000, verifica-se uma

Tabela 2. Sistemas de rotação de culturas e hortaliças utilizadas no experimento, no período de 1994 a 2000.Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 2003

Sistemas de Safras

rotação1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00

Sem rotação

To/vagem To/vagem To/vagem To/vagem To/vagem To/vagem

Ce/alf/rep Ce/alf/rep Ce/alf/rep Ce/alf/rep Ce/alf/rep Ce/alf/rep

Bet/bat/av Bet/bat/av Bet/bat/av Bet/bat/av Bet/bat/av Bet/bat/av

Um ano de rotação

To/vagem Ce/alf/rep To/vagem Ce/alf/rep To/vagem Ce/alf/rep

Ce/alf/rep To/vagem Ce/alf/rep To/vagem Ce/alf/rep To/vagem

Dois anos de rotação

To/vagem Ce/alf/rep Bet/bat/av To/vagem Ce/alf/rep Bet/bat/av

Ce/alf/rep Bet/bat/av To/vagem Ce/alf/rep Bet/bat/av To/vagem

Bet/bat/av To/vagem Ce/alf/rep Bet/bat/av To/vagem Ce/alf/rep

Três anos de rotação

To/vagem Ce/alf/rep Bet/bat/av Mv/mu To/vagem Ce/alf/rep

Ce/alf/rep Bet/bat/av Mv/mu To/vagem Ce/alf/rep Bet/bat/av

Bet/bat/av Mv/mu To/vagem Ce/alf/rep Bet/bat/av Mv/mu

Mv/mu To/vagem Ce/alf/rep Bet/bat/av Mv/mu To/vagem

Nota: – Espécies utilizadas: to = tomate (‘Santa Clara’), vagem = feijão-vagem (‘Macarrão Itatiba’), ce = cenoura (‘Brasíliaalta seleção’), alf = alface (‘Regina’), rep = repolho (híbrido Fuyutoyo), bet = beterraba (‘Tal Top Wonder Precoce’),bat = batata-doce (‘Brazlândia rosada’), av = aveia-preta, mv = milho-verde (híbrido Ag-519), mu = mucuna-cinza.

– Épocas de plantio: agosto – tomate, cenoura e beterraba; outubro – milho verde; novembro – batata-doce; dezembro– mucuna-cinza; janeiro – alface; fevereiro – feijão-vagem e repolho; abril – aveia-preta.

62 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Hortaliças – rotação de culturas

tendência de maior produtividadee peso médio de cabeças de repolho,utilizando-se dois e três anos derotação de culturas (Tabela 4).

Beterraba/batata-doce/aveia

Quanto ao rendimento comer-cial de beterraba, verifica-se em1999 que os sistemas de rotaçãosuperaram o sem rotação, em fun-ção, principalmente, do maior pesodas raízes. Por outro lado, não seconstatou o efeito da rotação, quan-to ao rendimento total de raízes debeterraba em 1998 e 1999 (Tabela5). No entanto, observou-se namédia dos dois anos avaliados umatendência de maior produção deraízes com a prática da rotação.

Ao se compararem os sistemasquanto ao rendimento comercialde beterraba, na média dos doisanos avaliados, observa-se avantagem dos sistemas com dois etrês anos de rotação em 14% e16,8%, respectivamente, em relaçãoao sem rotação (Tabela 5).

A análise dos dados no ano de2000 revelou efeito significativo darotação de culturas para a batata--doce, quanto à produtividade e àqualidade de raízes (Tabela 6 eFigura 3). Ao avaliar-se o rendi-mento comercial, verificaram-se asmaiores produtividades no sistemacom dois e três anos, superiores ao

Efeito da rotação naincidência de doenças,pragas e plantasespontâneas

Em relação à incidência de do-enças, observou-se que a queimadas folhas, especialmente no finaldo ciclo da cultura da cenoura, foi aque mais prejudicou o rendimentode raízes no sistema sem rotação(Figuras 4 e 5). O efeito da rotação,provavelmente, seria maior casofosse utilizada uma cultivar maissuscetível à doença. A cultivarBrasília, empregada neste traba-lho, é conhecida por sua resistên-cia às doenças foliares.

Embora tenham ocorrido doen-ças foliares no tomate e na beterra-ba, não se observou o efeito darotação nos diferentes sistemas.Nas demais culturas não ocorre-ram doenças no período avaliado.

Quanto às pragas, não se obser-vou o efeito da rotação nas hortali-ças testadas. No entanto, consta-taram-se ataques esporádicos devaquinha e ácaros no feijão-vagem,broca pequena, traça e vira-cabeçano tomateiro, lagarta do curuquerêe traça no repolho. No plantio deverão (janeiro/fevereiro), observa-ram-se danos severos de grilos nasculturas do feijão-vagem e do repo-

Tabela 3. Efeito da rotação de culturas na produtividade de cenoura em1998 e 1999, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 2003

Produtividade de cenoura(1) Vantagemcompa-

Sistemas de Total Comercial rativarotação dos

1998 1999 1998 1999 sistemas(2)

.............................t/ha........................... ......%.....

Sem rotação 53,7 b 69,2 a 40,7 b 38,6 a 100,0

Um ano de rotação 73,6 a 75,1 a 62,2 a 46,9 a 137,8

Dois anos de rotação 59,3 b 81,4 a 53,1 a 48,0 a 127,8

Três anos de rotação 70,5 a 76,9 a 56,8 a 45,4 a 129,0

(1)Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo testede Duncan, a 5% de probabilidade.(2)Comparação dos sistemas quanto ao rendimento comercial de cenoura (médiade 1998 e 1999).

sem rotação de culturas em 99,2%e 89,5%, respectivamente.

Embora em 1999 não tenhamocorrido diferenças significativasentre os sistemas, quanto aorendimento total e comercial deraízes de batata-doce, observa-sena média dos dois anos vantagemdos sistemas com dois e três anosem relação ao sem rotação (Tabela6). Os sistemas com dois e três anosde rotação foram superiores ao semrotação em 58,1% e 37,1%,respectivamente.

Tabela 4. Efeito da rotação de culturas na produtividade de repolho em1999 e 2000, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 2003

Produtividade de repolho(1) Vantagem

Peso médio/compa-

Sistemas de Total rativarotação

cabeçados

1999 2000 1999 2000 sistemas(2)

...........t/ha.......... ..................g................... .....%.....

Sem rotação 38,2 b 56,1 a 1.824,0 b 2.312,2 a 100,0

Um ano de rotação 38,9 b 51,8 a 1.895,5 b 2.318,0 a 96,2

Dois anos de rotação 43,1 a 61,2 a 2.126,5 a 2.674,2 a 110,6

Três anos de rotação 40,5 b 63,4 a 1.936,0 b 2.591,2 a 110,1

(1)Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo testede Duncan, a 5% de probabilidade.(2)Comparação dos sistemas quanto ao rendimento comercial de repolho (médiade 1999 e 2000).

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 63

Informativo Técnico Hortaliças – rotação de culturas

lho, especialmente nos sistemasem que ocorreu o cultivo mínimo.

Em relação às plantas espon-tâneas, observou-se que toda vezque o tomateiro foi plantado após aaveia, com preparo somente da cova(Figura 6), evitou-se uma capina.Este fato é explicado pelos efeitosinibidores da aveia sobre as plantasespontâneas. O mesmo ocorreuquando a cultura do tomateiro foiimplantada após o sistema milhoverde/mucuna, favorecendo acobertura do solo e abafandoeventuais plantas espontâneas(Figura 7). A batata-doce, por suarusticidade e rápida cobertura dosolo no verão (Figura 8), mostrouser uma ótima opção para incluirem esquemas de rotação, pois, alémde reduzir a infestação de plantasespontâneas, é uma alternativapara diversificar a renda doagricultor, com baixo custo deprodução. Mesmo que não traga retornoeconômico imediato, através daredução de doenças e pragas e doaumento da produtividade, comoocorreu com as culturas do toma-teiro e do feijão-vagem, a rotaçãode culturas é um investimento napropriedade, pois garante o uso dosolo por um período mais longo. A prática da rotação de culturas,embora seja altamente recomen-

dável para uma agricultura susten-tável e menos dependente dosagrotóxicos, não deve ser utilizadaisoladamente. Outras práticas, taiscomo a escolha de áreas não sujei-tas a encharcamentos, eliminaçãoe destruição de restos vegetais, usode semente de boa qualidade e cul-tivar resistente às principais doen-ças e pragas, adaptadas à região decultivo, irrigação e adubação equi-librada e tratamentos fitossani-tários adequados, devem estar as-sociadas à rotação de culturas, parao sucesso na produção de hortali-ças.

Efeito da rotação deculturas na fertilidadedo solo

As análises químicas do solo,realizadas anualmente, revelaramalterações no pH e nos teores defósforo, potássio, matéria orgânica,cálcio e magnésio, nos diversossistemas de rotação (Tabela 1).

Em relação ao pH do solo, veri-ficou-se um aumento quando secomparou o valor inicial com amédia dos anos de 1998 e 1999, emtodos os sistemas de rotação (Tabe-la 1). Este resultado pode ser expli-cado pelo efeito da calagem realiza-da na implantação do experimento.

Os níveis de fósforo no solo, emtodos os sistemas de rotação,alcançaram níveis altíssimos, namédia dos anos avaliados, mesmonão se adubando no plantio a bata-ta-doce, o feijão-vagem e a aveia,culturas utilizadas em sucessão. Aadubação química realizada paraas diversas hortaliças, nos primei-ros anos de cultivo, e a adubaçãoorgânica feita anualmente,associada com a baixa exigênciadas culturas em relação aofósforo, explicam em parte osresultados obtidos. Além disso, oaumento do pH do solo,proporcionado pela calagemrealizada em 1994, provavelmentepromoveu maior disponibilidadede fósforo para as plantas em

Tabela 5. Efeito da rotação de culturas na produtividade de beterrabaem 1998 e 1999, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 2003

Produtividade de beterraba(1) Vantagemcompa-

Sistemas de Total Comercial rativa dosrotação dos

1998 1999 1998 1999 sistemas(2)

.............................t/ha........................... ....%.....

Sem rotação 19,9 a 30,4 a 15,0 a 27,8 b 100,0

Dois anos de rotação 21,6 a 33,6 a 16,5 a 32,2 a 114,0

Três anos de rotação 21,1 a 36,0 a 16,2 a 33,8 a 116,8

(1)Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo testede Duncan, a 5% de probabilidade.(2)Comparação dos sistemas quanto ao rendimento comercial de beterraba(média de 1998 e 1999).

Tabela 6. Efeito da rotação de culturas na produtividade de batata-doceem 1999 e 2000, na Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 2003

Produtividade de batata-doce(1) Vantagemcompa-

Sistemas de Total Comercial rativarotação dos

1998 1999 1998 1999 sistemas(2)

.............................t/ha........................... .....%.....

Sem rotação 29,1 a 30,8 b 17,3 a 12,4 b 100,0

Dois anos de rotação 34,0 a 43,9 a 22,0 a 24,7 a 158,1

Três anos de rotação 28,4 a 46,4 a 17,1 a 23,5 a 137,1

(1)Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo testede Duncan, a 5% de probabilidade.(2)Comparação dos sistemas quanto ao rendimento comercial de batata-doce(média de 1999 e 2000).

64 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Hortaliças – rotação de culturas

todos os sistemas de rotação.Os níveis de potássio no solo

variaram de médio a suficiente emquase todos os sistemas de rotação,na média dos anos avaliados(Tabela 1). Os maiores teoresapresentados no sistema semrotação (tomate/feijão-vagem) ecom um ano de rotação (cenoura/alface/repolho e tomate/feijão--vagem) foram proporcionadosprincipalmente pela adubação dotomateiro, muito exigente empotássio no plantio e em cobertura.

As diferentes exigências dashortaliças, associadas aos níveisvariados de fósforo e potássio en-contrados no solo, nos diferentessistemas de rotação, mostram anecessidade de monitorar estesnutrientes, anualmente, através deanálises químicas do solo, visandoa recomendação adequada de adu-bação. O uso de determinadas fór-mulas de adubo, comumente utili-zadas para algumas culturas, semanálise do solo, é desaconselhável,pois pode-se fornecer excesso deum tipo de nutriente e escassez deoutro, com prejuízo à produção e àqualidade do produto, além de one-rar ainda mais o custo de produçãoe, em alguns casos, aumentar aincidência de doenças.

Embora a matéria orgânica do

solo ainda permaneça com baixoteor (<2%), verificou-se que estaaumentou, em média, 58%, em to-dos os sistemas de rotação, quandocomparada a 1994 (Tabela 1). Asadubações anuais com esterco deaves explicam, em parte, os resul-tados obtidos.

De modo geral, constataram-seacréscimos significativos de cálcio(Tabela 1) na média dos anos de

1998 e 1999, quando comparadosao valor inicial, nos diferentes sis-temas de rotação. Na média dossistemas de rotação, o teor de cál-cio alcançou 5,2cmolc/L, valor con-siderado alto no solo. A calagemefetuada em 1994 e a aplicação docálcio em cobertura na cultura dotomate, além de sua presença sig-nificativa no esterco de aves aplica-do anualmente, explicam o cresci-mento médio de 136,3% nos teoresdeste nutriente. A contribuição dosaltos níveis de cálcio no solo, emtodos os sistemas de rotação, podeser avaliada na cultura do tomate,que não apresentou podridão apical– distúrbio nutricional causado peladeficiência deste nutriente.

Os teores de magnésio aumen-taram após a aplicação do calcáriodolomítico, decrescendo gradati-vamente a partir de 1997. Estes,porém, ainda permaneceram emníveis considerados altos (>1,0) paratodos os sistemas de rotação. Namédia dos anos de 1998 e 1999,houve decréscimo nos teores demagnésio em relação a 1994, emtodos os sistemas de rotação deculturas (Tabela 1). A maior absor-ção, especialmente pelas culturasde beterraba, cenoura e repolho,associada, provavelmente, àlixiviação do nutriente, explica emparte os resultados obtidos.

Figura 3. Raízes de batata-doce produzidas nos sistemas sem rotação(superior) e com dois anos de rotação (inferior)

Figura 4. Cultura da cenoura (cultivar Brasília) no sistema sem rotação(inferior) e com um ano de rotação (superior)

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 65

Informativo Técnico Hortaliças – rotação de culturas

Conclusões

• A rotação de culturas é efici-ente para aumentar a produtivida-de e melhorar a qualidade da ce-noura, do repolho, da beterraba eda batata-doce.

• O cultivo sucessivo de cenou-ra na mesma área aumenta a inci-dência de doenças.

• A inclusão de espécies como aaveia e a mucuna, em esquemas derotação com hortaliças, além demanter o solo coberto no inverno everão, possibilita o cultivo mínimodo tomate e o controle inicial dasplantas espontâneas.

• A variação nos teores de po-tássio e fósforo no solo, associada

às exigências diferentes das cultu-ras, nos sistemas de rotação, indicaa necessidade de monitoramentodestes nutrientes através de análi-ses químicas.

Literatura citada

1. BEETS, W.C. Multiple cropping andtropical farming systems. Boulder:WESTVIEW, 1982. 156p.

2. BONIN, V. Rotação de culturas na pro-dução de hortaliças. AgropecuáriaCatarinense, Florianópolis, v.3, n.1,p.41-42, 1990.

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7. VIEIRA, S.A.; SILVA, A.C.F. da;ALTHOFF, D.A. Efeitos da rotação deculturas sobre o rendimento e qualida-de da batata no Litoral Sul Catarinense.Agropecuária Catarinense, v.12, n.3,p.33-38, set. 1999.

Figura 5. Cultura da cenoura (cultivar Brasília) nosistema com três anos de rotação

Figura 6. Preparo de covas para o plantio de tomateirono final do inverno, sucedendo a cultura de aveia

Figura 7. Milho verde/mucuna: ótima opção paraincluir em esquemas de rotação de culturas parahortaliças

Figura 8. Cultura de batata-doce: rusticidade,cobertura do solo no verão e renda para apropriedade

66 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Informativo Técnico Maçã – reguladores de crescimento

Ampliação de receitas na cultura da macieira com oAmpliação de receitas na cultura da macieira com oAmpliação de receitas na cultura da macieira com oAmpliação de receitas na cultura da macieira com oAmpliação de receitas na cultura da macieira com ouso do Ruso do Ruso do Ruso do Ruso do Retain (Aminoethoetain (Aminoethoetain (Aminoethoetain (Aminoethoetain (Aminoethoxivinilglicine)xivinilglicine)xivinilglicine)xivinilglicine)xivinilglicine)

Carlos Leomar Kreuz(1) e José Luiz Petri(2)

Introdução

O Retain (Aminoethoxivi-nilglicine), também conhecido porAVG, apresenta-se como um pro-duto químico que pode trazer umasérie de benefícios quando aplicadona cultura da macieira. Bramlageet al. (1980) verificaram que a apli-cação do AVG provocava o atrasona colheita dos frutos da macieira.Já Chun et al. (1997) concluíramque, conforme a época de aplicaçãodo Retain, este produto reduz aqueda dos frutos que ocorre antesda colheita. Lurie (2000) concluiuque o uso do Retain, além de retar-dar o período de colheita, aumentao potencial de armazenagem dosfrutos, uma vez que inibe abiossíntese do etileno em váriostecidos da planta. Além destes efei-tos, Watkins et al. (1997) concluí-

Resumo – O presente estudo analisa o aumento na lucratividade que o uso do Aminoethoxivinilglicine (AVG)traz para a cultura da macieira cultivar Imperial Gala. Quantificam-se os benefícios da redução na queda dosfrutos, da ampliação do peso médio, da ampliação do período de colheita e do aumento do potencial dearmazenagem dos frutos. Os resultados da análise mostram que o Retain se apresenta como uma nova tecnologiapromissora, do ponto de vista do aumento da lucratividade, para o fruticultor.Termos para indexação: rentabilidade, Malus domestica, regulador de crescimento.

Improving incomes in apple production using Retain (Aminoethoxivinilglicine)

Abstrat – This study analyses economic benefits from the use of Retain (Aminoethoxivinilglicine) to ImperialGala apple production. Pre-harvest fruit drop, fruit weight, expansion of harvest period and maintenance of fruitquality during storage were used as variables. Results show that Retain is a new technology that can be used inorder to improve incomes to fruit grower.Index terms: Malus domestica, harvest period, growth regulator.

ram que o Retain reduz aescaldadura dos frutos durante operíodo de armazenagem.

Em Santa Catarina, estudosrecentes realizados na cultura damacieira (Petri & Spengler, 2002;Petri et al., 2002) mostram que ouso do Retain repete os resultadosobtidos em outros países. Estesestudos, conduzidos com a maciei-ra, cultivar Imperial Gala, mos-tram que o uso deste regulador decrescimento possibilita os seguin-tes efeitos: a) retardamento da épo-ca de colheita; b) redução da quedapré-colheita de frutos; c) aumentodo peso médio dos frutos; d) au-mento do potencial de armazena-gem.

O presente estudo busca avaliaro impacto, em termos de aumentoda lucratividade, que o uso doRetain possibilita a cada hectare de

pomar da cultivar Gala que vier aser tratado com este produto. Es-pecificamente, discute-se a amplia-ção de receitas associadas aos di-versos benefícios que a aplicaçãode Retain traz ao produtor de maçãcultivar Imperial Gala.

Benefício da redução daqueda dos frutos

A macieira cultivar Gala carac-teriza-se por uma maturação rápi-da dos frutos no período de colheitacomercial e pela sensibilidade àqueda pré-colheita dos frutos(Argenta, 1992). Dado que os frutosque caem ao solo antes de seremcolhidos perdem o seu valor comer-cial, a redução da queda de frutosbeneficia o fruticultor, uma vezque este disporá de um maior volu-me para ser comercializado. Por-

(1)Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (049) 563-0211, e-mail: [email protected].(2)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].

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Informativo Técnico Maçã – reguladores de crescimento

tanto, em se reduzindo a queda defrutos, estar-se-á aumentando alucratividade na cadeia produtiva.

Em um ensaio conduzido nomunicípio de Fraiburgo, SC, foiencontrada resposta positiva emtermos de redução da queda defrutos com o uso de Retain (Petri &Spengler, 2002). Na Tabela 1, per-cebe-se que a queda dos frutos emplantas que não receberam o trata-mento (testemunha) chega a 14,8%do total. Com o uso do Retain, aqueda média dos frutos reduz-separa 4,6% (média dos tratamentos1, 2 e 3). Desta forma, pode-se dizerque o uso deste regulador de trata-mento traz como benefício umaredução de 10,2% (14,8% - 4,6%) naqueda dos frutos.

Para exemplificar o impactodeste produto nas receitas da em-presa produtora, simulam-se po-mares de diferentes produtivida-des (Tabela 2). Supõe-se, por exem-

plo, um pomar com uma produçãopotencial de 35t/ha. Caso o mesmonão seja tratado com Retain, a pro-dução se reduz para 29,82t. Já se omesmo for tratado, sua produçãofinal será de 33,39t. Portanto, o usodo Retain possibilita a colheita de3,57t a mais em cada hectare. Es-tas 3,57t representam, consideran-do um preço médio de venda deR$ 0,60/kg (12/2002), um acrés-cimo na receita da ordem deR$ 2.140,00/ha.

Benefício na ampliaçãodo peso médio dos frutos

O uso do Retain possibilita aampliação do peso médio dos fru-tos. Na Tabela 3 percebe-se que osfrutos cujas plantas não foram tra-tadas com Retain atingiram umpeso médio de 126,2g. Já em plan-tas com tratamento, o peso médiovariou de 126,6 até 140,8g. Portan-

to, na média o peso médio de frutosoriundos de plantas tratadas atin-giu 133,7g, ou seja, uma ampliaçãode 5,9% em relação à testemunhanão tratada.

O impacto de uma ampliação de5,9% no peso médio dos frutos sereflete diretamente na produtivi-dade do pomar e nas receitas daempresa. Desta forma, um pomarcom capacidade de produção de35t/ha amplia a mesma para37,07t/ha, ou seja, serão colhidas2,07t de frutas a mais em cadahectare. Considerando um preçode venda para a maçã da ordem deR$ 0,60/kg, tem-se uma ampliaçãode receitas em R$ 1.240,00/ha (Ta-bela 4).

Benefício na ampliaçãodo período de colheita ede armazenagem

O uso do Retain amplia o perío-do de colheita das frutas. A Tabela5 mostra a possibilidade de amplia-ção no período de colheita superiora um mês, havendo uma relaçãodireta entre a concentração do pro-duto e a postergação da colheita.

O benefício econômico da am-pliação do período de colheita é dedifícil mensuração. De qualquerforma ele existe, uma vez que aconcentração da colheita leva, en-tre outros aspectos, ao estrangula-mento no componente mão-de-obrado custo de produção. Ou seja, semo uso deste regulador de cresci-mento todos os pomares da culti-var Gala serão colhidos em ummesmo período. Por outro lado,nos pomares onde se aplicar oRetain, a colheita estará sendo pos-tergada. Assim, a aplicação de Re-tain em alguns pomares possibilitaum melhor aproveitamento dosfuncionários fixos da empresa, bemcomo das máquinas, dos equipa-mentos, dos bins e de outros uten-sílios.

Para a quantificação do benefí-cio, considera-se apenas o compo-nente mão-de-obra. Parte-se de quea necessidade de mão-de-obra paraa colheita de 1ha é estimada em680 horas (Kreuz, 2002). Supondo--se um valor de R$ 2,00 por hora de

Tabela 1. Efeito da concentração do Retain, aplicado quatro semanasantes da colheita, na queda de frutos na pré-colheita de macieirascultivar Imperial Gala. Fraiburgo, SC

Tratamento Concentração Queda de frutos.......g/ha....... .........%.........

Testemunha 0 14,8

1 60 8,5

2 90 2,7

3 120 2,5

Fonte: Petri & Spengler (2002).

Tabela 2. Simulação do efeito em diferentes níveis de produtividade daredução da queda pré-colheita de frutos em pomares de macieira cultivarImperial Gala, ocasionado pela aplicação de Retain

Produtividade potencialDescrição em tonelada por hectare

25 30 35 40 45 50

..................................t/ha....................................

Sem Retain 21,30 25,56 29,82 34,08 38,34 42,60

Com Retain 23,85 28,62 33,39 38,16 42,93 47,70

Benefício do Retain 2,55 3,06 3,57 4,08 4,59 5,10.............................mil R$/ha...............................

Benefício do Retain 1,53 1,84 2,14 2,45 2,75 3,06

68 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

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trabalho, chega-se a um valor deR$ 1.360,00 para a mão-de-obra.Parece bastante razoável suporuma economia de 10% no custo damão-de-obra por ocasião da colhei-ta, uma vez que o escalonamentoda colheita, advindo do uso doRetain, leva a um uso mais racio-nal das pessoas envolvidas com amesma.

É possível obter, ainda, um ga-nho associado à qualidade da pro-dução oriundo do uso do Retain. Ouseja, o escalonamento da colheitafaz com que esta possa ser feita deforma mais tranqüila, o que deveinterferir no número de frutos ba-tidos e frutos com ausência depedúnculo. Apesar de as perdascom frutos batidos e frutos sempedúnculo serem expressivas, su-gerem-se estudos para tentar ava-liar o benefício que o Retain possatrazer neste sentido.

Os resultados encontrados porPetri & Spengler (2002) tambémlevam a uma ampliação do poten-cial de armazenagem dos frutos.Os autores estimam uma amplia-ção de dois meses no período defrigoconservação face, principal-mente, a maior firmeza da polpados frutos oriundos de pomarestratados com Retain.

O impacto nas receitas destebenefício se dá, principalmente,pela melhora do preço de venda dafruta. Quanto mais o fruticultorconseguir postergar o período decomercialização, melhor tenderáser o preço de venda (Kreuz &Argenta, 2003). Desta forma, su-põe-se que os frutos tratados comRetain atingirão um preço líquidode venda superior em, pelo menos,5%. Isto indica que um pomar ondeserão colhidas 35t/ha terá um acrés-cimo de receita (Tabela 6) na or-dem de R$ 1.050,00 (35.000kg/haR$ 0,60/kg x 5%).

O custo da aplicação

O Retain é considerado um pro-

duto caro. A aplicação de 90g/harepresenta um custo de R$ 1.800,00/ha (preços de 12/2002). A este valorhá necessidade de se acrescentar ocusto da aplicação (equipamentos eserviço), estimado em R$ 30,00/ha.Portanto, o custo médio para se ter1ha com Retain aplicado totalizaR$ 1.830,00.

Considerações finais

O uso do Retain em pomares demacieira cultivar Imperial Gala trazdiversos benefícios, possibilitandoa ampliação das receitas. Supondo--se um pomar de 35t/ha, a reduçãoda queda de frutos leva a um acrés-cimo na receita da ordem de R$2.140,00/ha; a ampliação do pesomédio dos frutos leva a uma am-pliação de receitas em R$ 1.240,00/

ha; o escalonamento da colheitapossibilita uma redução de gastosde R$ 136,00; e a ampliação do pe-ríodo de armazenagem possibilitauma ampliação de receitas deR$ 1.050,00. Já o custo da aplicaçãototaliza uma despesa de R$ 1.830,00.

Assim, o benefício líquido espe-rado para quem fizer uso destanova tecnologia em um pomar de35t/ha gira em torno de R$ 2.740,00/ha/ano (Tabela 7). Este resultadopode ser considerado expressivo.Isto porque as receitas de umpomar de 35t/ha são estimadas emR$ 21.000,00 (35t x R$ 0,60/kg). Jáo custo de produção aproxima-se deR$ 9.821,80(3). Desta forma, a mar-gem para a cobertura dos tributose custos de comercialização situa--se em R$ 11.178,82. Esta margempode ser ampliada em 24,5% com o

Tabela 3. Efeito da concentração do Retain, aplicado quatro semanasantes da colheita, no peso médio dos frutos de macieira cultivar ImperialGala. Fraiburgo, SC

Tratamento Concentração Queda de frutos.......g/ha....... .........%.........

Testemunha 0 126,2

1 60 140,8

2 90 133,8

3 120 126,6

Fonte: Petri & Spengler (2002).

Tabela 4. Simulação do efeito em diferentes níveis de produtividade daampliação do peso médio dos frutos de macieira cultivar Imperial Gala,ocasionado pela aplicação de Retain

Produtividade potencialDescrição em tonelada por hectare

25 30 35 40 45 50

..................................t/ha....................................

Sem Retain 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00

Com Retain 26,48 31,77 37,07 42,36 47,66 52,95

Benefício do Retain 1,48 1,77 2,07 2,36 2,66 2,95.............................mil R$/ha...............................

Benefício do Retain (mil R$/ha) 0,89 1,06 1,24 1,42 1,59 1,77

(3)Este valor foi obtido atualizando-se o custo encontrado por Kreuz (2002) pela variação cambial, câmbio oficial (R$ 5.043,63/1,90 x 3,70= R$ 9.821,80).

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 69

uso do Retain.Sugerem-se novos trabalhos

sobre este tema buscando-se, tam-bém, a determinação de qual seriaa dosagem ideal do Retain.

Tabela 5. Efeito da concentração do Retain, aplicado quatro semanasantes da colheita dos frutos, na época de colheita dos frutos de macieiracultivar Imperial Gala. Fraiburgo, SC

Concentração Frutos colhidos

Tratamento ..................dia/mês................4/2 21/2 27/2 6/3

.......g/ha....... ......................%.......................

Testemunha 0 66,0 21,6 12,4 0,0

1 60 0,0 47,8 35,2 17,0

2 90 4,1 39,0 41,2 15,7

3 120 2,6 30,1 36,4 30,9

Fonte: Petri & Spengler (2002).

Tabela 6. Simulação do efeito do tratamento com Retain no faturamentooriundo da ampliação do período de armazenagem em pomares dediferentes produtividades potenciais de macieira cultivar Imperial Gala,ocasionado pela aplicação do Retain

Produtividade potencialDescrição em tonelada por hectare

25 30 35 40 45 50

.............................mil R$/ha...............................

Benefício do Retain 0,75 0,90 1,05 1,20 1,35 1,50

Tabela 7. Ampliação de receitas com o uso do Retain em macieiracultivar Imperial Gala, em diferentes níveis de produtividade

Produtividade potencialDescrição em tonelada por hectare

25 30 35 40 45 50

..................................t/ha....................................

Benefício redução queda de frutos 1,53 1,84 2,14 2,45 2,75 3,06

Benefício ampliação peso médio 0,89 1,06 1,24 1,42 1,59 1,77

Benefício escalonamento colheita 0,14 0,14 0,14 0,14 0,14 0,14

Benefício ampliação armazenagem 0,75 0,90 1,05 1,20 1,35 1,50

.............................mil R$/ha...............................

Custo do Retain aplicado -1,83 -1,83 -1,83 -1,83 -1,83 -1,83

Benefício líquido (mil R$ /ha) 1,48 2,11 2,74 3,38 4,00 4,64

Informativo Técnico Maçã – reguladores de crescimento

Literatura citada

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5. KREUZ, C.L.; ARGENTA, L.C. O usodo 1-MCP para a geração de valor nacadeia produtiva da maçã. AgropecuáriaCatarinense. Florianópolis, v.16, n.2,p.59-62, 2003.

6. LURIE, S. Manipulating fruitdevelopment and storage quality usinggrowth regulators. In: BASRA, A. S.(Ed.). Plant growth regulators inagriculture and horticulture: their roleand commercial uses. Binghamton,New York: Food Products Press, 2000.p.175-196.

7. PETRI, J.L.; ARGENTA, L.C.;SPENGLER, M. M. Manejo na colheitacom o uso de Retain. In.: ENCONTRONACIONAL SOBRE FRUTICULTU-RA DE CLIMA TEMPERADO, 5., 2002,Fraiburgo, SC. Anais... Caçador: Epagri,p. 141-148.

8. PETRI, J.L.; SPENGLER, M.M. Efeitoda época de aplicação e concentração deRetain na queda pré-colheita ematuração dos frutos da macieira. In.:CONGRESSO BRASILEIRO DE FRU-TICULTURA. Belém, PA. Anais...Belém: SBF, 2002 (CD).

9. WATKINS, C.B.; STOVER, J.;HALSEY, J.B.; TORRICE, C.J. Retain– Experiences with ‘McIntosh’ and‘Jonagold’ in New York. In:HARVESTING HANDLING ANDSTORAGE WORKSHOP, 1997,Cornell, NY. Apple harvesting,handling and storage: proceedings…Cornell, NY: New York AgriculturalExperiment Station, 1997. p.19-25.

70 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Germoplasma... Maçã – melhoramento genético

Joaquina: nova cultivar precoce de macieiraJoaquina: nova cultivar precoce de macieiraJoaquina: nova cultivar precoce de macieiraJoaquina: nova cultivar precoce de macieiraJoaquina: nova cultivar precoce de macieiraresistente à sarnaresistente à sarnaresistente à sarnaresistente à sarnaresistente à sarna

Adilson José Pereira(1); José Itamar da Silva Boneti(2);Emílio Brighenti(3); Frederico Denardi(4) e

Anísio Pedro Camilo(5)

Introdução

Doenças e pragas são consi-deradas os principais problemas dacultura da macieira no Brasil.

Resumo – Doenças e pragas são consideradas os principais problemas da cultura da macieira no Brasil. Dentreestas, a sarna, causada pelo fungo Venturia inaequalis (Cke.) Wint., é a mais importante e, se não controladaadequadamente, pode causar perdas de até 100% da produção. A hibridação que originou a cultivar Joaqui-na foi efetuada na Epagri/Estação Experimental de Caçador, na primavera de 1982, entre as cultivaresCoop-14 e NJ-76, sendo que as sementes foram enviadas para a Epagri/Estação Experimental de SãoJoaquim, onde foi realizado todo o trabalho de seleção. As plantas oriundas deste cruzamento, em número de 446,foram inoculadas com suspensão de conídios (1x105 conídios/ml) de V. inaequalis previamente obtida. A plantadesta nova cultivar é de porte semivigoroso. Observa-se também boa coincidência na brotação e floração,principalmente com a cultivar Catarina, podendo as mesmas serem utilizadas como polinizadoras entre si,viabilizando a implantação de pomares com cultivares resistentes à sarna. A ‘Joaquina’ apresenta maturaçãoprecoce, coincidindo a época de colheita com a cultivar Gala. Os frutos são grandes (200 a 230g), de coloraçãovermelho-rajada, com fundo amarelado e polpa de cor amarelo-creme.Termos para indexação: nova cultivar, resistência à sarna, maturação precoce.

Joaquina: new early ripening scab resistant apple variety

Abstract – Diseases and pests are the major problems to the apple industry in Brazil. Apple scab caused byVenturia inaequalis is the most important disease and if it’s not well controlled can cause up to 100% of losses.The hybridization that originated Joaquina variety was done at Epagri/Caçador Experiment Station in the springof 1982 between the selections Coop-14 and NJ-76. The seeds were sent to Epagri/São Joaquim ExperimentStation where the screening was done. The 446 seedlings originated of that hybridization were inoculated withconidia (1x105 conidia/ml) of the fungus V. inaequalis. The resistant seedlings were selected and grafted onto M.7rootstock in order to observe the commercial characteristics of the plant and the fruits. The new resistant varietyJoaquina is semi-vigorous and the bud break and bloom periods are coincident with Catarina apple resistantvariety. These two varieties can be planted together. Joaquina is an early ripening variety, like Gala with redstripe color, sweet and with yellow-cream flesh.Index terms: apple, scab resistance, summer variety.

Dentre estas, a sarna, causada pelofungo Venturia inaequalis (Cke.)Wint., é a mais importante, e senão controlada adequadamentepode causar perdas de até 100% da

produção (Boneti et al., 1999). Ocontrole é feito por meio deaplicações semanais de fungicidasespecíficos, a partir da brotação(ponta verde) até o final do mês de

(1)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim. C.P. 81, 88600-000 São Joaquim, SC, fone: (049) 233-0324, e-mail:[email protected].(2)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim. e-mail: [email protected].(3)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, e-mail: [email protected].(4)Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (049) 662-1211, e-mail:[email protected].(5)Eng. agr., Ph.D., Epagri/Gerência de Marketing e Comunicação, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-5606, e-mail:[email protected].

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 71

Germoplasma... Maçã – melhoramento genético

novembro, quando termina o cicloprimário da doença.

As cultivares mais plantadas noBrasil são a Gala e a Fuji, com 46%e 45% de participação, respectiva-mente. Recentemente, estão sen-do introduzidas outras cultivares,como Fuji Suprema, Kiku®,Michima Fuji, Royal Gala, Lisgalae Imperial Gala, as quais produ-zem frutos mais coloridos e de altovalor comercial. Entretanto, ape-sar da excelente qualidade de fru-tos, estas cultivares apresentamum grande inconveniente que é asuscetibilidade a várias doenças,principalmente à sarna.

Atualmente, existe uma fortepressão da sociedade para que seproduzam frutos de boa qualidade ecom o menor uso de agrotóxicos.Além disso, os produtores demacieira no Brasil estão sempreem busca de redução dos custospara se manterem competitivos.Assim, a introdução de cultivaresresistentes às principais doenças,além de diminuir a poluição domeio ambiente e a contaminaçãodo homem, pode também contribuirpara a estabilidade financeira dosetor, bem como possibilitar ocultivo orgânico de maçãs.

Para tanto, a Epagri vem desen-volvendo, desde o início da décadade 70, um programa de melhora-mento genético, visando à obten-ção de novas cultivares bem adap-tadas ao clima do Sul do Brasil, comforte apelo comercial e resistentesà sarna e a outras doenças. Até opresente momento já foramlançadas as cultivares Primicia(Denardi et al., 1992), Fred Hough(Denardi & Camilo, 1994), Catarina(Boneti et al., 1996), todas conten-do o gene Vf, oriundo de Malusfloribunda, que confere resistênciaà sarna.

O objetivo do presente trabalhoconsiste no lançamento da novacultivar Joaquina, a qual, além daresistência à sarna, apresenta fru-tos com ótima aparência em formae coloração (Figura 1), maturaçãoprecoce e que pode ser utilizadacomo polinizadora da ‘Catarina’.

Origem e seleção

A nova cultivar Joaquina origi-nou-se do cruzamento das seleçõesCoop-14 e NJ-76, realizado naEpagri/Estação Experimental deCaçador, na primavera de 1982. Assementes dos frutos deste cruza-mento foram enviadas para aEpagri/Estação Experimental deSão Joaquim, onde foram realiza-dos os trabalhos de inoculações dasarna e adaptação das plântulas.

A origem genética da cultivarJoaquina está apresentada na Fi-gura 2.

As plantas oriundas deste cru-zamento, em número de 446, fo-ram inoculadas com suspensão deconídios (1x105 conídios/ml) de V.inaequalis, previamente obtida deacordo com o método de Williams(1976). Após, as plantas foram incu-badas por 48 horas em câmara deinoculação (18oC e 100% de UR) e,em seguida, transferidas para casa

Jonathan10.147

F226829-2-2

Coop-14 Golden DeliciousNJ-14

EdgewoodMollies Delicious

Joaquina Red GravensteinNJ-4

CloneGolden Delicious

NJ-76Sungol

Figura 2. Genealogia da cultivar Joaquina

Figura 1. Fruto da cultivar Joaquina e aspectos produtivos da planta

72 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Germoplasma... Maçã – melhoramento genético

de vegetação. A avaliação das plan-tas foi efetuada 14 dias após ainoculação, com base nos trabalhosde Hough et al. (1970) e de acordocom as seguintes classes: 0 = au-sência de sintomas, 1 = pequenaspontuações deprimidas semesporulação, 2 = lesões cloróticasou necróticas sem esporulação, 3 =lesões com esporulação restrita,4 = mistura das classes 2 e 3, 5 =lesões com esporulação abundan-te. Foram selecionadas 291plântulas que apresentaram as clas-ses 0, 1 e 2, consideradas resisten-tes. Durante a permanência em

Tabela 1. Características agronômicas e dados fenológicos das cultivaresJoaquina, Gala e Catarina – valores médios de três anos a partir doterceiro ano de idade das plantas sobre o porta-enxerto M.7. Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, 2003

CultivaresIndicativo

Joaquina Catarina Gala

Características da planta

Porte da copa Semivigoroso Vigoroso Semivigoroso

Hábito vegetativo Semi-aberto Aberto Semi-aberto

Tipo de reação a doenças

Sarna Resistente Resistente Suscetível

Oídio Pouco suscetível Pouco suscetível Muito suscetível

Podridão amarga Suscetível Muito suscetível Suscetível

Mancha da gala Muito suscetível Resistente Muito suscetível

Dados fenológicos(1)

Início de brotação 25/8 27/8 30/9

Floração

Início 9/9 16/9 12/9

Plena 20/9 25/9 4/10

Fim 30/9 2/10 12/10

Maturação dos frutos

Início 19/2 27/3 22/2

Final 1/3 16/4 6/3

................................kg/planta..................................

Produção(1) 43,5 35,0 48,0

(1)Dados médios de quatro anos durante os ciclos 1998 a 2001, em plantas comidade superior a cinco anos.

casa de vegetação foramselecionadas as plantas mais vigo-rosas e também as mais resisten-tes ao oídio, sendo que apenas 45delas foram enxertadas sobre oporta-enxerto M.9 e plantadas nocampo para acelerar o início defrutificação e possibilitar a avalia-ção da qualidade dos frutos. Nosdez anos seguintes foramselecionadas três plantas com boaqualidade de frutos e com poten-cial produtivo, as quais foram en-xertadas sobre o porta-enxerto M.7e plantadas no espaçamento de 5,0x 2,5m para avaliação do início da

brotação, floração (início, plena,fim), maturação (início e fim),adaptação climática, resistênciaem nível de campo ao oídio(Podospheria leocotricha), à podri-dão amarga (Colletotrichum spp.), àpodridão branca (Botryospheriadothidea) e à mancha da Gala(Colletotrichum spp.), produtivida-de das plantas e qualidade dos fru-tos (coloração e aparência daepiderme, tamanho e formato, co-loração, sabor e capacidade de con-servação).

Na Tabela 1, são apresentadasas características agronômicas e osdados fenológicos comparativosentre as cultivares Joaquina, Galae Catarina. Quanto às caracte-rísticas da planta, esta novacultivar é de porte semivigoroso ede média exigência em friohibernal. Observa-se também boacoincidência na brotação e flo-ração com a cultivar Catarina.Isto permite que a cultivar Joa-quina possa ser utilizada comopolinizadora da cultivar Catarina,viabilizando a implantação depomares com cultivares resisten-tes à sarna. A ‘Joaquina’ apresentamaturação precoce, coincidindo naépoca de colheita com a cultivarGala.

As principais características dosfrutos da cultivar Joaquina podemser observadas na Tabela 2 e naFigura 1. A coloração da epiderme évermelho-estriada com tonalidademais atrativa que a ‘Gala’ e a‘Catarina’. O formato do fruto émais achatado e de tamanho maiordo que o da ‘Gala’. O teor de sólidossolúveis totais é mais elevado que oda ‘Gala’ e inferior ao da ‘Catarina’.A firmeza da polpa é menor que a deambas as cultivares, indicando quesua comercialização deve ser feitalogo após a colheita. Quanto àincidência de “bitter pit”, até omomento não se observou apresença deste distúrbio fisioló-gico, que é muito freqüente na‘Catarina’.

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 73

Germoplasma... Maçã – melhoramento genético

cer logo após a colheita, pois nãoapresenta boa conservação emcâmara frigorífica.

Disponibilidade dematerial

Mudas da cultivar Joaquina po-dem ser adquiridas através dos se-guintes viveiros credenciados:

1. Agro Industrial LazzeriLtda., Estr. Federal, BR-285, km 6,C.P. 305, 95200-000 Vacaria, RS,Brasil.

2. Clone Propagação de Plan-tas, Rua Manoel Eufrásio, 634, apto.101 C, 80540-010 Curitiba, PR.

3. SANJO, Av. Irineu Bor-nhausen, 677, 88600-000 São Joa-quim, SC.

4. Viveiro Raízes, Rua GregórioCruz, 211, Rod. SC-438, km 64,88600-000 São Joaquim, SC.

Literatura citada

1. BONETI, J.I.S.; RIBEIRO, P.A.;DENARDI, F.; CAMILO, A.P.;BRIGHENTI, E.; PEREIRA, A.J. Epagri402-Catarina - Nova cultivar demacieira resistente à sarna.Agropecuária Catarinense, Floria-nópolis v. 9, n.2, p. 51-54, 1996.

2. BONETI, J.I.S.; RIBEIRO, L.G.;KATSURAYAMA, Y. Manual deidentificação de doenças e pragas damacieira. Florianópolis: Epagri, 1999.149p.

3. DENARDI, F.; HOUGH, L.F.; CAMILO,A.P. Primícia e Princesa – novascultivares de macieira para SantaCatarina. Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.5, n.1, p.17-19,1992.

4. DENARDI, F.; CAMILO, A.P. Fred-Hough – Nova cultivar de macieira comimunidade à sarna. Revista Brasileirade Fruticultura, v.16, n.1, p.1-6,1994.

5. HOUGH, L.F.; WILLIAMS, E.B.;DAYTON, D.F.; SHAY, J.R.; BAILEY,C.H.; MOWRY, J.B.; JANICK, J.;EMERSON, F.H. Progress andproblems in breeding apples for scabresistance. ANGERS FRUIT BRDG.SYMPOSIUM, 1970. Proceedings…[s.l.: s.n.], 1970. p.217-230.

6. WILLIAMS, E.B. Handling the applescab organism in laboratory andgreenhouse. In: APPLE AND PEARWORKSHOP, 1976, Kansas City.Proceedings..., Kansas City, MI, 1976.p.16-18.

Tabela 2. Dados comparativos das características dos frutos das cultivaresJoaquina, Gala e Catarina. Epagri/Estação Experimental de São Joaquim,2003

CultivaresCaracterísticas

Joaquina Catarina Gala

Cor da epiderme Vermelha Vermelho- Vermelho--estriada -estriada

Cor de fundo Amarela Amarela Amarela

Formato do fruto Achatado-globoso Globoso-cônico Globoso-cônico

Pedúnculo Curto Médio Médio

Cor da polpa Amarelo-creme Amarelo-creme Branco-creme

“Russeting” – incidência Baixa Ausência Baixa

“Bitter pit” – incidência Ausência Alta Baixa

.........................................g..............................................

Peso médio 200 a 230 220 a 250 160 a 180

.........................................%..............................................

Brix (SST) 13,5 14,5 12,7

Ácido málico 0,34 0,38 0,37

.......................................AT..............................................

Acidez titulável 2,53 2,85 2,76

....................................lb/cm2..........................................

Firmeza da polpa 15,3 17,8 16,3

Frigoconservação

......................................mês..........................................

Câmara comum 3 6 3

Atmosfera controlada 5 10 5

As plantas da cultivar Joaquina,quando inoculadas com conídios deV. inaequalis, apresentaram reaçãodo tipo 1, ou seja, pequenas pontua-ções deprimidas com ausência deesporulação. Entretanto, no camponão se observou nenhum sintomada doença, caracterizando a altaresistência desta cultivar à sarna.Assim, os tratamentos fitossa-nitários devem ser dirigidos para ocontrole do oídio, da mancha daGala, da podridão branca e dapodridão amarga.

Perspectivas e problemas

A cultivar Joaquina apresentagrande perspectiva de sercomercializada antes da cultivarGala, porque seus frutos são debom sabor, ótima coloração e decalibre superior à ‘Gala’ e seusclones coloridos.

O problema que esta nova culti-var poderá enfrentar é o desfo-lhamento devido à suscetibilidadeà mancha da gala. A comer-cialização dos frutos deve aconte-

74 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Artigo Científico Uva – cultura de tecidos

PPPPPropagação de videira ropagação de videira ropagação de videira ropagação de videira ropagação de videira in vitroin vitroin vitroin vitroin vitro: produção de plantas: produção de plantas: produção de plantas: produção de plantas: produção de plantasmatrizes básicas de porta-matrizes básicas de porta-matrizes básicas de porta-matrizes básicas de porta-matrizes básicas de porta-enxenxenxenxenxertosertosertosertosertos

Aparecido Lima da Silva(1 ); Enio Schuck(2); Robison Borges(3);Flávia Maia Moreira(4); Marcelo Borghezan(5); Liziane Kadine Antunes de Moraes(6);

Célio Air Mikulski(7) e Carolina Quiumento Velloso(8)

Resumo – As técnicas de cultura in vitro apresentam um grande potencial para a produção de plantas matrizese mudas de alta qualidade genética e sanidade comprovada. O objetivo deste trabalho foi estabelecer porta-en-xertos de videira in vitro, avaliar os parâmetros morfológicos fundamentais à micropropagação e multiplicarplantas matrizes básicas. Os porta-enxertos ‘Paulsen 1103’, ‘VR043-43’ e ‘Gravesac’ foram introduzidos emultiplicados in vitro pelo método de gemas axilares em meio de cultura DSD1. A taxa de estabelecimento in vitrofoi de 65%, e nas condições de cultura in vitro o crescimento, a área foliar e o peso seco foram diferentes entregenótipos. O porta-enxerto ‘Paulsen 1103’ foi superior em número de folhas, comprimento de raízes, área foliare produção de biomassa, e o ‘Gravesac’, em comprimento de caule e número de raízes. A taxa média desobrevivência de plantas na aclimatização foi 95%. Os porta-enxertos de videira avaliados apresentaramcaracterísticas morfológicas apropriadas para a micropropagação e aclimatização.Termos para indexação: Vitis, micropropagação, mudas certificadas.

In vitro vine propagation: production of basicplants for rootstocks

Abstract – Techniques in vitro are useful in order to generate basic material with high genetic quality andadequate sanitary standards. The present study aimed at the in vitro production of vine rootstocks to evaluatemorphological parameters during micropropagation. Axillar buds of ‘Paulsen 1103’, ‘VR043-43’ and ‘Gravesac’rootstocks were inoculated on DSD1 culture medium. The rate of responsive cultures was 65% and in in vitrocondition the leaf area and the dry weight were different among the genotypes, being the rootstock ‘Paulsen 1103’the best one in terms of number of leaves, length of roots, leaf area and biomass yield. ‘Gravesac’ presented thebest results for stem length and root number. The rate of survival in the acclimatization was 95%. The evaluatedrootstocks showed adequate morphologic features for micropropagation and acclimatization.Index terms: Vitis, micropropagation, certified plant stock.

(1)Eng. agr., prof., Dr., Departamento de Fitotecnia, CCA/UFSC, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC, e-mail: [email protected].(2)Eng. agr., Epagri/Estação Experimental de Videira, C.P. 21, 89560-000 Videira, SC, fone/fax: (049) 566-0054, e-mail: [email protected].(3)Eng. agr., Cidasc/Gerência Estadual de Defesa Vegetal, C.P. 256, 88034-001 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-6536, e-mail:[email protected].(4)Bióloga, bolsista do CNPq, doutoranda no Istituto San Michele all’Adige (Trento-Itália), Via E. mach 38010, S. Michele all’Adige, Trento,Itália.(5)Eng. agr., prof., Departamento de Fitotecnia, CCA/UFSC, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC, fone: (048) 331-5324, fax: (048) 331-5335, e-mail: [email protected].(6)Eng. agr., mestranda em Recursos Genéticos Vegetais, CCA/UFSC, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC.(7)Acadêmico de Agronomia, bolsista UFSC/DAEX, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC.(8)Acadêmica de Agronomia, bolsista UFSC/DAEX.

Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003 75

Artigo Científico Uva – cultura de tecidos

Introdução

A vitivinicultura é uma atividadede grande importância socioeconô-mica para os Estados do Sul. A áreaocupada pela videira no Brasil ésuperior a 63.800ha. Destes,3.433ha pertencem ao Estado deSanta Catarina, em regiões deaspectos socioeconômico-culturaisde descendência italiana, com umaestrutura fundiária de pequenaspropriedades e agricultura familiar.Porém, a produção estadual aindaé insuficiente para suprir ademanda, e grande parte da uvaconsumida vem do Rio Grande doSul (Epagri, 2002; Protas et al.,2002).

Na década de 90, ocorreu umaqueda acentuada na produtividadedos vinhedos e redução da áreaplantada em Santa Catarina. Alémdas viroses, as principais causasforam a fusariose, causada pelofungo Fusarium oxysporum Sch. f.sp. herbemontis, a cochonilhaEurhizoccocus brasiliensis, conhe-cida como margarodes ou pérola--da-terra, e a falta de porta-enxer-tos adaptados às condições de ele-vada acidez e alta saturação dealumínio dos solos. Na busca daresolução dos problemas mencio-nados, a utilização de genótiposresistentes poderá ser uma alter-nativa eficiente e economicamenteviável para o setor vitivinícolacatarinense (Schuck et al., 1993).

O aumento no consumo devinhos tintos de qualidade e a fortedemanda de matéria-prima (uvapara vinhos e sucos) têmimpulsionado a viticulturacatarinense, tornando-se ummercado altamente atrativo.Iniciaram-se novos plantios,necessitando, portanto, de umagrande quantidade de mudascertificadas (Protas et al., 2002;Silva, 2002).

No entanto, a baixa disponi-bilidade de plantas matrizes e mudasde qualidade genética e sanitária(livres de viroses) em grandequantidade para a aquisiçãoimediata é um fator que temdificultado aos produtores a

implantação de novos vinhedos, oumesmo a renovação dos jáexistentes (Silva, 2002).

Para solucionar as dificuldadesde multiplicação de plantasmatrizes e produção de mudascertificadas, torna-se necessário ouso de novas metodologias depropagação de plantas.

Assim, a biotecnologia, atravésda cultura de tecidos vegetais, podeoferecer inúmeras vantagensquando comparada aos métodosclássicos de multiplicação da videiraem larga escala. Dentre essasvantagens, destacam-se a alta taxade multiplicação, a produção deplantas uniformes e isentas depatógenos, propagadas em curtoespaço de tempo, em espaço físicoreduzido e durante todo o ano (Biasiet al., 1998; Moreira, 2000 eTorregrosa & Bouquet, 1995).

O objetivo deste trabalho foiavaliar os parâmetros morfológicosimportantes à micropropagação deporta-enxertos de videira, visandoa produção de plantas matrizesbásicas de qualidade genética esanitária comprovada.

Metodologia

Os experimentos foram rea-lizados no Departamento deFitotecnia do Centro de CiênciasAgrárias – CCA – da UniversidadeFederal de Santa Catarina –UFSC –, no período de maio aagosto de 2002.

Foram selecionados os porta--enxertos ‘Paulsen 1103’ (Vitisberlandieri x V. rupestris) resisten-te à fusariose, sendo atualmente omais importante para a viticulturado Sul do Brasil, ‘VR043-43’ (V.vinifera x V. rotundifolia) resisten-te à fusariose e tolerante àmargarodes, ambos recomendadosoficialmente pela Epagri, e‘Gravesac’ [161-49 (V. riparia x V.berlandieri) X 3309 (V. riparia x V.rupestris)] selecionado por apre-sentar tolerância a solos ácidos.

As plantas matrizes básicas fo-ram mantidas em casa de vegeta-ção, sob controle de nutrição e sani-

dade (Figura 1 A), sendo avaliadaspelo teste sorológico Elisa (EnzymeLinked Immunosorbent Assay)para as seis principais viroses davideira, definidas no protocolo dosistema estadual de certificação demudas.

A partir dessas plantas, foramretiradas gemas axilares que pas-saram por um processo de assepsia(álcool etílico 70% e hipoclorito desódio 1,5%) para introdução e mul-tiplicação in vitro em meio de cul-tura DSD1 (Silva & Doazan, 1995),sem uso de reguladores de cresci-mento. As culturas foram mantidasem sala de crescimento, sob condi-ções controladas de temperatura(25±10C), fotoperíodo (16 horas deluz), intensidade luminosa(45μmol/m2/s) e umidade relativa(60% a 70%).

As avaliações das culturas invitro foram realizadas aos 60 diasde cultivo e os parâmetros avalia-dos foram: número de folhas e deraízes e comprimento do caule e deraízes, que foram medidos com umpaquímetro manual. Na análise daárea foliar, as folhas foramescaneadas e as imagens foramavaliadas com o auxílio do softwareIDRISI Versão 2.0. A determinaçãoda biomassa seca foi feita pela pe-sagem das partes das plantas quepermaneceram em estufa por 48horas a 70oC.

No processo de aclimatização,as plantas procedentes da culturade tecidos foram podadas, conser-vando-se três a quatro folhas basaise raízes com 2 ou 3cm de compri-mento. O plantio foi feito em ban-dejas de isopor contendo o substratoPlantmax®, que foram colocadasem caixas plásticas e cobertas comvidro (atmosfera saturada), sendotransferidas para sala deaclimatização, onde permanecerampor 30 dias. Cada unidade experi-mental foi constituída de 20 plan-tas e cinco repetições e o delinea-mento experimental foi completa-mente casualizado. Dados de por-centagem de sobrevivência foramcoletados aos 30 dias de cultivo exvitro.

76 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Artigo Científico Uva – cultura de tecidos

Resultados e discussão

Observou-se que a porcentagemmédia de sobrevivência dosexplantes introduzidos in vitro foide 65% para os três genótipos tes-tados. O melhor resultado de so-brevivência in vitro foi verificadopara o porta-enxerto ‘Paulsen 1103’(73%), seguido por ‘Gravesac’ (69%)

te aérea e do sistema radicular(Figura 1 B, C e D). Os resultadosdas características morfológicasavaliadas são apresentados na Ta-bela 1. Observaram-se diferençasde crescimento entre os trêsgenótipos. O porta-enxerto‘Paulsen 1103’ demonstrou superi-oridade para a maioria dosparâmetros avaliados.

O maior número de folhas porplanta foi obtido com o ‘Paulsen1103’ (7,3) diferindo significa-tivamente dos porta-enxertos‘VR043-43’ e ‘Gravesac’ (Tabela 1).O número de raízes por planta va-riou de 1,3 a 2,3 com superioridadepara o porta-enxerto ‘Gravesac’.Estas características morfológicastambém foram avaliadas por ou-tros pesquisadores em cinco híbri-dos de Vitis vinifera cruzada comVitis rotundifolia (Torregrosa &Bouquet, 1995), na seleção in vitrodos porta-enxertos Gravesac eFercal (Silva & Doazan, 1995) e namultiplicação de porta-enxertos devideira Jales (Biasi, 1998). Paraestes autores, os resultados obser-vados estão sempre relacionadosao genótipo testado e à composiçãodo meio de cultura.

Em relação ao comprimento docaule, o porta-enxerto ‘Gravesac’apresentou um crescimento in vitrode 11,7cm de altura, diferindo do‘Paulsen 1103’ e do ‘VR043-43’, osquais apresentaram um compri-mento de caule de 6,5 e 3,1cm,respectivamente. A variedade‘Paulsen 1103’ apresentou o maiorcrescimento radicular (9,8cm). Ascondições in vitro, principalmenteo meio de cultura, apresentam efei-tos positivos sobre o crescimento eenraizamento de videira (Roube-lakis-Angelakis & Zivanovitc,1991). Os resultados para os com-primentos de caule e raízes, obser-vados neste trabalho, são superio-res aos genótipos de porta-enxer-tos de videira avaliados na propa-gação in vitro por Roubelakis-Angelakis & Zivanovitc (1991) eBiasi et al. (1998). Esta superiori-dade observada possivelmente estárelacionada ao meio de cultura

e ‘VR043-43’ (53%) (dados não mos-trados). As taxas de indução degemas, observadas neste trabalho,podem ser consideradas boas quan-do comparadas a outros métodospara a introdução in vitro de videi-ra (Biasi et al., 1998; Moreira, 2000).

As plantas, após 60 dias de cul-tura in vitro, apresentaram umpadrão ideal de crescimento da par-

Figura 1. (A) Plantas matrizes básicas de porta-enxertos de videira (UFSC),(B, C e D) multiplicação in vitro de porta-enxertos de videira, (E e F) plantasaclimatizadas do porta-enxerto ‘Paulsen 1103’, (G) plantas matrizes de‘Paulsen 1103’ de cultura in vitro (Rodeio, SC)

A

B C D E F

G

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Artigo Científico Uva – cultura de tecidos

DSD1 que foi desenvolvido para aseleção in vitro de porta-enxertos(Silva & Doazan, 1995).

A maior área foliar foi observa-da com o porta-enxerto ‘Paulsen1103’ (14cm2), tendo diferido signi-ficativamente do ‘Gravesac’. A áreafoliar, possivelmente, afetou de for-ma positiva os demais parâmetrosde crescimento (Tabela 1). Os re-sultados observados são similaresaos obtidos na propagação in vitrodos porta-enxertos ‘Paulsen 1103’e ‘VR043-43’ (Moreira, 2000) e infe-riores aos observados para o‘Gravesac’ (Silva & Doazan, 1995).Para estes autores existe uma altacorrelação entre a superfície foliare a produção de biomassa total,destacando a importância desteparâmetro na fotossíntese da videi-ra in vitro.

Quanto à produção de biomassadas plantas in vitro, observou-seque o ‘Paulsen 1103’ apresentou oacúmulo de matéria seca (33mg)significativamente maior emrelação ao ‘Gravesac’ (24mg) e‘VR043-43’ (22mg). A produção debiomassa total também foi umparâmetro de avaliação de cresci-mento para diferentes porta-enxer-tos de videira in vitro (Moreira,2000 e Schuck et al., 1993). Estesautores observaram que a produ-ção de biomassa total é o parâmetromais confiável para avaliar o cres-cimento, a alocação de carbono e apropagação de plantas in vitro.

Os resultados observados nafase de aclimatização para as três

variedades de porta-enxertos sãoapresentados na Figura 2. O porta--enxerto ‘Paulsen 1103’ apresentoutaxa de 96% de sobrevivência naaclimatização, não diferindo dosporta-enxertos ‘Gravesac’ (95%) e‘VR043-43’ (93%).

Os resultados de 93% a 96% deplantas sobreviventes no processode aclimatização, como mostra aFigura 1 E e F, indicam que ométodo utilizado foi apropriado paraa transferência de videira in vitropara as condições ex vitro (Biasi,1998 e Moreira, 2000).

Esta alta taxa de sobrevivênciaobservada na aclimatização de por-ta-enxertos de videira pode estarrelacionada, além de com o meca-nismo fotossintético, com um efici-ente controle de perda de água,acúmulo adequado de biomassa e

de reservas e controle fisiológicoadaptado às condições in vitro(Moreira, 2000 e Schuck et al.,1993).

As plantas micropropagadas eaclimatizadas do porta-enxerto‘Paulsen 1103’ foram transferidaspara a Vinícola San Michele, emRodeio, SC, sendo mantidas e mul-tiplicadas em túnel plástico (Figu-ra 1 G) como plantas matrizes bási-cas de alto valor genético e sanitá-rio para a produção de mudas cer-tificadas de videira, conforme anorma estadual, sob o controle daCompanhia Integrada de Desen-volvimento Agrícola de SantaCatarina – Cidasc.

Esses resultados demonstramque a micropropagação é uma téc-nica viável para a produção de plan-tas matrizes básicas de videira dequalidade genética e sanitária com-provada.

Conclusões

• A micropropagação de porta--enxertos de videira pode ser reali-zada a partir de gemas axilares emmeio de cultura DSD1.

• A avaliação dos diferentesparâmetros morfológicos em por-ta-enxertos de videira in vitro de-monstra que a variabilidadegenotípica se manifesta no cresci-mento, enraizamento e na distri-buição da biomassa.

Tabela 1. Características morfológicas de porta-enxertos de videiraavaliados aos 60 dias de cultura in vitro. UFSC, Florianópolis, SC

Porta- Comprimento Área PesoFolhas Raízes foliar seco-enxerto(1)

Caule Raízes total

...............No............... ..............cm.............. ......cm2...... .....mg......

‘Paulsen 1103’ 7,3±0,5a 1,3±0,5b 6,5±0,6b 9,8±1,9a 14,0±1,7a 33±5,0a

‘VR043-43’ 5,9±0,7b 1,6±0,6ab 3,1±0,6c 5,8±1,6b 12,7±1,0ab 22±2,0b

‘Gravesac’ 6,7±0,5b 2,3±0,8a 11,7±1,0a 5,6±0,2b 11,1±2,3b 24±5,0b

(1)Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo testeStudent-Newman-Keuls (SNK) a 5% de probabilidade; os valores das variáveis sãoapresentados como média ± desvio-padrão.

Figura 2. Taxa de sobrevivência de porta-enxertos de videira ao processode aclimatização. UFSC, Florianópolis, SC

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• O método usado na aclima-tização de videira in vitro é eficaz,proporcionando 95% de plantas so-breviventes.

• A micropropagação é uma téc-nica eficiente para multiplicar plan-tas matrizes básicas e certificadasde videira.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Sebraee à Província Autonoma di Trento(Itália), via Associazione Trentininel Mondo, pelo apoio técnico efinanceiro para a realização destetrabalho.

Literatura citada

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Artigo Científico Uva – cultura de tecidos

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Artigo Científico Coliformes – análise de água

Análise de coliformes fecais na água de policultivoAnálise de coliformes fecais na água de policultivoAnálise de coliformes fecais na água de policultivoAnálise de coliformes fecais na água de policultivoAnálise de coliformes fecais na água de policultivode peixde peixde peixde peixde peixes integrados à suinoculturaes integrados à suinoculturaes integrados à suinoculturaes integrados à suinoculturaes integrados à suinocultura

Resumo – Como a suinocultura está presente na maioria das pequenas propriedades rurais do OesteCatarinense, criou-se um cenário favorável para a produção de peixes em policultivo com fertilização através dedejetos de suínos. Embora reconhecido por especialistas que este sistema de cultivo vem colaborar com a melhoriada qualidade ambiental, o produtor rural tem enfrentado críticas de que a piscicultura integrada à suinoculturaestaria promovendo a contaminação dos riachos que recebem seus efluentes. O objetivo deste trabalho foi estudara qualidade da água dos efluentes produzidos pela piscicultura com ênfase em indicadores de contaminação fecal.Durante dois anos foram monitorados 26 viveiros nos três modelos de aporte de dejetos: horizontal, vertical evariável, de um total de 161 viveiros no município de Chapecó. A concentração de coliformes fecais deaté 1.000NMP/100ml nos efluentes ocorreu em 69,9%; 77,8% e 86,5% das 396 amostras analisadas nos modelosvertical, horizontal e variável, respectivamente. A concentração de até 4.000NMP/100ml ocorreu em pelo menos88,5% das amostras analisadas, para os três modelos de aporte de dejetos. A legislação ambiental de SantaCatarina estabelece para os corpos receptores de efluentes o índice-limite de 1.000NMP/100ml de coliformesfecais em 80% ou mais de, pelo menos, cinco amostras mensais para águas de classe II e 4.000NMP/100ml paraáguas de classe III. Assim, a qualidade da água dos efluentes da piscicultura integrada à suinocultura analisadaneste estudo está dentro dos limites tolerados segundo a legislação ambiental para os corpos receptores de classesII e III.Termos para indexação: piscicultura, qualidade de água, efluente.

Fecal coliform analysis in water of fish polyculture integratedwith piggery wastes

Abstract – As pig raising is present in the majority farms of the West region of Santa Catarina State, Brazil,a favorable scenario was created for fish production in polyculture with fertilization through piggery wastes.Although recognized by specialists that this system comes to assist in the improvement of environmental quality,the rural producer has been facing critics that this system would be promoting the contamination of streams thatreceive its effluentes. The purpose of this work was to study the water quality of the effluents produced by themanured ponds with emphasis to indicators of fecal contamination. For two years 26 ponds were monitored inthree different models for pig waste receptions: horizontal, vertical and variable, of a total of 161 ponds in themunicipality of Chapecó. In the effluents of the fish raising ponds, horizontal, vertical and variable models, theconcentration of fecal coliform up to 1,000NMP/100ml was 69,9%; 77,8% and 86,5% respectively, in 396 samplesanalyzed. The concentration up to 4,000NMP/100ml occurred in at least 88,5% of the analyzed samples, for thethree models for waste receptions. The environment legislation in Santa Catarina State establishes for theeffluents receptive streams the index limit up to 1,000NMP/100ml of fecal coliform in 80% or more than at leastfive monthly samples for water of class II and 4,000NMP/100ml for water of class III. Therefore, the water qualityfrom the polyculture integrated with pig raising effluentes analyzed in this study is within the tolerated limitsaccording to the enviroment legislation for the receptive streams in class II and III.Index terms: fish raising, water quality, effluent.

Osmar Tomazelli Júnior(1); Jorge de Matos Casaca(2) eRenato Dittrich(3)

(1)Oceanógrafo, especialista em Aqüicultura, Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC,fone: (049) 328-4277, e-mail: [email protected].(2)Méd. vet., especialista em Aqüicultura, Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar, e-mail: [email protected].(3)Eng. agr., M.Sc., Univali/Centro de Ciências da Saúde, C.P. 360, 88302-200 Itajaí, SC, fone: (047) 341-7693, e-mail: [email protected].

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Artigo Científico Coliformes – análise de água

Introdução

A Região Oeste de SantaCatarina tem seu desenvolvimen-to socioeconômico baseado na pro-dução agropecuária, destacando-sea avicultura e a suinocultura, en-tre outras. O rebanho de suínos noEstado é de cerca de 3,6 milhões decabeças, sendo que em torno de80% concentram-se na Região Oes-te (Síntese..., 1999).

Devido à disponibilidade de fer-tilizantes orgânicos oriundos dasuinocultura, à facilidade de distri-buição em viveiros de piscicultura,à pouca exigência de mão-de-obra,à inexistência de comércio paraesse resíduo in natura e à boaqualidade destes como fertilizan-tes para a piscicultura, além depoder ser usado na adubação orgâ-nica de lavouras e pastagens, criou--se um cenário favorável ao desen-volvimento da piscicultura integra-da à suinocultura no Estado deSanta Catarina.

Um dos sistemas mais desen-volvidos da engenharia ecológicaé a criação de peixes empolicultivo. As relações tróficas,bem como a ecologia das espécies,são bem conhecidas, utilizadas,estimuladas e controladas, obten-do-se um ganho ótimo na despesca.O viveiro de piscicultura é umhabitat para o peixe, um lugar parao desenvolvimento de alimentonatural, para a decomposição damatéria orgânica e para areciclagem dos nutrientes (Folke& Kautsky, 1992).

A aplicação de dejetos de suínosnos viveiros de piscicultura permi-te aumentar a produção do alimen-to natural para os peixes. Quandocorretamente adubados e povoa-dos com a quantidade ideal de pei-xes de hábitos alimentares diferen-tes (policultivo), consomem o ali-mento natural (comunidadeplanctônica) e bactérias que se de-

senvolvem sobre as partículas or-gânicas, removendo nutrientes quede outra forma seriam poluentesem potencial (Schroeder, 1978).

A produtividade deste sistemade cultivo varia de 4.000 a 6.000kgde peixe/ha/ano. O custo de produ-ção está em torno de R$ 0,40/kg depeixe produzido, e o preço médio devenda é de R$ 1,30/kg de peixe vivocomercializado (Casaca & Toma-zelli, 2002).

As principais vantagens para opiscicultor são o efetivo aumentode sua renda e a possibilidade dereciclar dejetos de alto poder depoluição, contribuindo para amelhoria do ambiente e produzin-do pescado em boas condições sani-tárias.

Uma característica importanteda piscicultura integrada àsuinocultura é a incapacidade deutilizar dejetos de suinoculturasintensivas (Kestemont, 1995). Nãose caracteriza, portanto, como umasolução para a utilização de gran-des quantidades de dejetos, mascomo uma atividade que utiliza umapequena parcela destes resíduoscomo um insumo à fertilização dosviveiros.

Embora reconhecido por espe-cialistas que este sistema de culti-vo colabora com a melhoria da qua-lidade ambiental (Kestemont 1995;Mara & Cairncross, 1990), há críti-cas de que em algumas regiões doEstado o sistema estaria promo-vendo a poluição dos mananciaishídricos, principalmente comcoliformes de origem fecal. A pre-servação do meio ambiente e aobtenção de bons índices de produ-tividade são os desafios enfrenta-dos pelos piscicultores. O conheci-mento e o controle da qualidade daágua tornam-se indispensáveispara que esta atividade obtenha olicenciamento ambiental, dandocontinuidade ao seu desenvolvi-mento.

O objetivo deste trabalho foiestudar a qualidade da água emviveiros de cultivo de peixes inte-grado à suinocultura, dando ênfasea indicadores de contaminaçãofecal, e compará-los, quando possí-vel, com a legislação ambientalvigente.

Material e métodos

A população pesquisada foi de161 viveiros de policultivo de pei-xes integrados à suinocultura, lo-calizados no município de Chapecó.Desta população foi extraída umaamostra cujo tamanho foi definido,a priori, em 31 viveiros. A variáveldimensionadora foi a área de cadaviveiro, a qual foi submetida à aná-lise de conglomerados ("clusteranalysis") para dividi-la em estra-tos com variância mínima. De cadaestrato foi obtida uma amostra detamanho ni diretamente proporcio-nal ao produto do tamanho do es-trato pelo seu desvio padrão. Asoma das amostras por estrato re-sultou na amostra deste trabalho.Dos 31 viveiros sorteados, foramutilizados 26 até o final do trabalho.Assim sendo, a fração amostral fi-nal foi de 16,14%.

As coletas de água foram reali-zadas mensalmente a partir de ja-neiro/97 até julho/00, coletando-seem cada período uma amostra sim-ples para o cultivo e para o efluente.As coletas dentro do viveiro foramrealizadas entre o ponto de aportede matéria orgânica e a saída deágua do viveiro, a 2m da margem ea 30cm de profundidade. Foi utili-zada uma garrafa coletora tipoVan-Dorn com 3,2L de capacidade.As coletas no efluente gerado fo-ram realizadas a jusante, imedia-tamente no ponto de saída da águapela tubulação de drenagem do vi-veiro. No momento das coletas deágua era contado o número de suí-nos utilizados para fertilizar os vi-

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veiros e anotados seus pesos. Asvariáveis analisadas foramcoliformes totais e fecais, pela téc-nica de tubos múltiplos, segundoStandard Methods 18ª edição. Avazão dos viveiros foi medida utili-zando balde de 15L e cronômetro ea do corpo receptor, através devertedor retangular (Chiossi,1975).

Os resultados foram compara-dos com os parâmetros constantesna Tabela 1, de acordo com a legis-lação vigente.

As análises das variáveis foramrealizadas dividindo-se os 26 vivei-ros em aporte vertical (Figura 1),horizontal e variável, respec-tivamente com 18, 4 e 4 unidades.O aporte foi considerado verticalquando as baias dos suínos esta-vam construídas sobre o viveiro,horizontal quando os dejetoseram canalizados diretamente apartir da canaleta das baias e va-riável quando os dejetos eramtransportados e espalhados ma-nualmente.

Tabela 1. Valores máximos e mínimos permitidos para coliformes totaise fecais para o corpo receptor

Variável Classe de água Legislação Ponto referencial

Coliformes totais II < 5.000NMP/100 ml(1) Corpo receptor

III < 20.000NMP/100ml Corpo receptor

Coliformes fecais II < 1.000NMP/100ml Corpo receptor

III < 4.000NMP/100ml Corpo receptor

(1)NMP = número mais provável.Fonte: Decreto no 14.250/81: Concentração para 80% ou mais de pelo menoscinco amostras colhidas num período de até cinco meses consecutivos.

Artigo Científico Coliformes – análise de água

Figura 1. Visão parcial de um viveiro de policultivo com aporte de dejetosno modelo vertical

Resultados e discussão

As concentrações de coliformesfecais e totais foram analisadas emum total de 396 ensaios, tanto nocultivo como no efluente dos vivei-ros de policultivo (Tabela 2).

Os microrganismos do grupo doscoliformes são bons indicadores decontaminação fecal. Os coliformesfecais indicam a ocorrência de umamicroflora variada, na qual predo-mina a Escherichia coli, tendo seuhabitat exclusivo no trato intesti-nal de animais de sangue quente.

A legislação ambiental vigenteno Estado de Santa Catarina esta-belece a concentração máxima decoliformes totais e fecais para ocorpo receptor, ou seja, rios e ria-chos que recebem água provenien-te dos cultivos (Tabela 1), não ha-vendo citação para os efluentes. AOrganização Mundial da Saúde –OMS – sugere que, enquanto nãoforem estabelecidas normas bacte-riológicas definitivas de qualidadede água para a piscicultura, sejautilizada uma concentração de até1.000 coliformes fecais/100ml comoreferência, sendo epidemiologi-camente segura e tecnicamenteviável (Mara & Cairncross, 1990).

A concentração de coliformesfecais nos efluentes liberados pelosviveiros de piscicultura amostrados(Tabela 2) está bem próxima doexigido pela legislação para rios declasse II (Figura 2) nos modelosvertical e horizontal, e o modelovariável está em conformidade coma mesma. Para águas de rios eriachos de classe III, as orientaçõesencontram-se na norma bacterio-lógica estabelecida pela legislaçãoambiental (Figura 3).

A quantidade de suínos por hec-tare de área alagada recomendadapara a região é de 60 suínos/ha(Tomazelli & Casaca,1998). Devidoàs diferenças de solo, qualidade deágua e manejo entre as proprieda-

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des, esta indicação pode variar. Es-tes suínos são da fase final de en-gorda com peso inicial de 20kg efinal de 100kg, com fornecimentode dejetos aos viveiros de 35kg dematéria seca/ha/dia.

Verificou-se através de obser-vações que, ao longo dos anos, estarecomendação não causa proble-mas como acúmulo de matéria or-gânica no fundo do viveiro duranteo inverno e não provocadesoxigenação da água durante overão. Na prática, um número fixode suínos entre inverno e verãopossui um significado valioso, queé a economia de mão-de-obra einstalações. Pode haver perda deprodução no verão por não estarsendo utilizada a carga máximaneste período, mas, por outro lado,diminuem-se os riscos de mortali-dade dos peixes.

No modelo de aporte verticalhouve uma variação de dez a 150suínos/ha com 46,8% das proprie-dades utilizando até 60 suínos/ha.No modelo de aporte horizontalhouve uma variação de dez a 90suínos/ha com 75,8% das proprie-dades utilizando até 60 suínos/ha(Figura 4). O número máximo de

Artigo Científico Coliformes – análise de água

Tabela 2. Freqüência das amostras de água analisadas no cultivo e noefluente nos três modelos de aportes de dejetos: vertical, horizontal evariável

Concentração Vertical Horizontal Variávelde coliformesem NMP/100ml(1) Cultivo Efluente Cultivo Efluente Cultivo Efluente

Coliformes fecais

....................................................%.................................................

0 a 1.000 74 69,9 83,6 77,8 86,8 86,5

1.000 a 4.000 14,7 18,7 7,5 19,0 11,3 13,5

Acumulado 88,6 88,5 91,0 96,8 98,1 100

> 4.000 11,4 11,5 9,0 3,2 1,9 -

Coliformes totais

....................................................%.................................................

0 a 5.000 75,2 74,8 79,1 88,9 94,3 100

5.000 a 20.000 21,5 22,4 19,4 9,5 5,7 -

Acumulado 96,7 97,1 98,5 98,4 100 100

> 20.000 3,3 2,9 1,5 1,6 - -

(1)NMP = Número mais provável.

Figura 2. Freqüência das amostras dos efluentes da piscicultura integradaà suinocultura com até 1.000NMP/100ml

suínos observado para fertilizar osviveiros, 150 suínos/ha, aporta emtorno de 70kg de matéria seca/ha/dia de área alagada. É possível apli-car matéria orgânica na taxa de até

100kg/matéria seca/ha/dia em vi-veiros de piscicultura (Schroeder,1978).

Não foi observado correlaçãosignificativa (R = 0,0429) entre onúmero de suínos por hectare deárea alagada, máximo encontradode 150 suínos/ha, e a concentraçãode coliformes fecais na água decultivo. Isto provavelmente se deveà grande diluição dos dejetos e aofato de que as bactérias do grupocoliforme competem em meioaeróbico com bactérias mais adap-tadas a este meio.

A vazão dos corpos receptoresfoi, de no mínimo, cinco vezes mai-or que a vazão dos viveiros de pis-cicultura. Isto significa dizer que,pelas concentrações encontradasde coliformes fecais, os efluentesda piscicultura integrada não trans-ferirão características ao corpo re-ceptor em desacordo com a legisla-ção ambiental. Em 29,4% das

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Figura 4. Análise de freqüência do número de suínos/ha utilizados parafertilizar os viveiros de piscicultura

amostragens não houve liberaçãode efluentes.

Conclusão

As concentrações de coliformestotais e fecais presentes nosefluentes gerados pelo policultivode peixes integrado à suinoculturaestão dentro dos limites toleradospela legislação ambiental vigente,

Figura 3. Análise de freqüência das amostras dos efluentes da pisciculturaintegrada à suinocultura com até 4.000NMP/100ml de coliformes fecais

conforme Decreto no 14.250, de 5de junho de 1981, para os corposreceptores de classes II e III.

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Epagri

Semeandoconhecimento,

colhendoqualidade.

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Artigo Científico Citros – substrato com micorriza

Substratos e fungos micorrízicos arbusculares noSubstratos e fungos micorrízicos arbusculares noSubstratos e fungos micorrízicos arbusculares noSubstratos e fungos micorrízicos arbusculares noSubstratos e fungos micorrízicos arbusculares nodesenvolvimento vegetativo de Citrange Tdesenvolvimento vegetativo de Citrange Tdesenvolvimento vegetativo de Citrange Tdesenvolvimento vegetativo de Citrange Tdesenvolvimento vegetativo de Citrange Troyerroyerroyerroyerroyer

Paulo Vitor Dutra de Souza(1); Edgar Carniel(2);José Antônio Kröeff Schmitz(3) e Samar Velho da Silveira(4)

Resumo – O presente estudo teve por objetivos avaliar o efeito da composição do substrato e da inoculação deduas espécies de fungos micorrízicos arbusculares (FMA) (Glomus clarum e Acaulospora scrobiculata) sobre odesenvolvimento vegetativo, o conteúdo em substâncias de reserva nos tecidos e a porcentagem de colonizaçãoradicular por FMA em Citrange Troyer (Poncirus trifoliata L. RAF. x Citrus sinensis L. Osb.). Os tratamentosconsistiram de dois substratos: S1 = solo + areia (1:1, v:v) e S2 = solo + areia + resíduo decomposto de casca deacácia-negra (2:2:1, v:v:v) ambos com e sem inoculação isolada de duas espécies de FMA (G. clarum e A.scrobiculata). Constatou-se que a adição de resíduo decomposto de casca de acácia-negra melhorou ascaracterísticas químicas e físicas do substrato, permitindo um maior desenvolvimento vegetativo e acúmulo desubstâncias de reserva às plantas de Citrange Troyer em relação ao substrato solo + areia. A eficiência da simbiosefoi variável com o substrato e com a espécie de FMA, em que o efeito positivo dos FMA foi observado apenas nosubstrato solo + areia, mais pobre nutricionalmente, sendo A. scrobiculata a espécie mais eficiente.Termos para indexação: Citrus sp., porta-enxerto, endomicorrizas, cultivo protegido.

Influence of growing media and arbuscular mycorrhizal fungi on the vegetativedevelopment of Citrange Troyer

Abstract – The present study had the aim of evaluating the effects of substrate composition and the inoculationof two species of arbuscular mycorrhizal fungi (AMF) (Glomus clarum and Acaulospora scrobiculata) on thevegetative development, carbohidrate contents and percentage of radicular colonization settling by AMF inCitrange Troyer (Poncirus trifoliata L. RAF. x Citrus sinensis L. Osb.). The treatments consisted of twosubstrates: S1 = soil + sand (1:1, v:v), and S2 = soil + sand + decomposed residue of acacia (2:2:1, v:v:v). Bothtreatments were submited to inoculation with two species of AMF (G. clarum e A. scrobiculata) and no inoculation.The addition of a source of O. M. (decomposed residue of acacia bark) in S2, improved the chemical and physicalproperties of the substrate, resulting in better vegetative development of the citrus plants. Also, a significantinteraction between type of substrate and effect of AMF on dry matter (aerial part and roots) and carboidratecontents was determined. Efficiency of symbiosis varied according to substrate composition and AMF species. Apositive effect of AMF was noted only when the mixture soil + sand was used, a poorer substrate, being A.scrobiculate the most efficient species.Index terms: Citrus sp., rootstocks, endomycorrhizae, protected croping.

(1)Eng. agr., Dr., professor adjunto, Departamento de Horticultura e Silvicultura, Faculdade de Agronomia, UFRGS, bolsista CNPq, C.P.776, 91710-000 Porto Alegre, RS, fone: (051) 3316-6583, e-mail: [email protected].(2)Eng. agr., mestrando em Fitotecnia, Faculdade de Agronomia, UFRGS.(3)Eng. agr., M.Sc., doutorando em Ciência dos Solos, Faculdade de Agronomia, UFRGS, bolsista Capes.(4)Eng. agr., M.Sc., doutorando em Fitotecnia, Faculdade de Agronomia, UFRGS, bolsista CNPq, e-mail: [email protected].

Introdução

O Citrange Troyer (Poncirustrifoliata L. RAF. x Citrus sinensisL. Osb.) é um porta-enxerto muito

empregado na citricultura interna-cional, como na Espanha, por exem-plo, com grande potencial para serusado nas condições do Rio Grandedo Sul. Além disso, apresenta uma

grande dependência por fungosmicorrízicos arbusculares (Souza,1995).

A produção tradicional de mu-das de Citrange Troyer (Poncirus

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trifoliata L. RAF. x Citrus sinensisL. Osb.) no Rio Grande do Sul éfeita em viveiros a céu aberto, cul-tivadas diretamente no solo, favo-recendo a infestação por patógenos.Outra desvantagem do sistema tra-dicional é o longo período (trêsanos) necessário para produção demudas de citros. Neste sentido, ocultivo protegido com uso desubstrato livre de patógenos per-mite a produção de mudas sadias eem menos tempo (Schmitz, 2000).

No entanto, o emprego desubstratos esterilizados faz com queestes não apresentem fungosmicorrízicos arbusculares (FMA),os quais são benéficos, incre-mentando o crescimento das mu-das cítricas e reduzindo o estressedo transplante (Souza, 1995). Omutualismo planta – FMA é influ-enciado pela cultivar de citros epelas características do substratoempregado (Silva et al., 2002).

Na região produtora de mudasde citros do Rio Grande do Sul,situada no Vale do Rio Taquari eRio Caí, existem indústriasextratoras de tanino de acácia-ne-gra (Acacia mearnsii De Wild.). Estaatividade gera resíduo (casca deacácia-negra) que pode ser usadocomo componente de substratos,reduzindo seu custo e podendomelhorar as características quími-cas e físicas das misturas.

O objetivo deste experimentofoi testar o uso de resíduo decom-posto de casca de acácia-negra comocomponente de substrato e o efeitode FMA sobre o desenvolvimentovegetativo, o conteúdo de substân-cias de reserva nos tecidos e por-centagem de colonização radicularpor FMA em Citrange Troyer.

Material e métodos

O experimento foi conduzido emcasa de vegetação, no período de25/8/1997 a 9/1/1998, no Setor de

Horticultura da Estação Experi-mental Agronômica da UFRGS, km146, BR-290, município de Eldoradodo Sul, RS.

Cultivou-se o Citrange Troyer(Poncirus trifoliata L. RAF. x Citrussinensis L. Osb.) em dois substratos(S1 = solo + areia, 1:1, v:v e S2 =solo + areia + resíduo decompostode casca de acácia-negra (RDCA),2:2:1, v:v:v), inoculados e nãoinoculados isoladamente, com duasespécies de FMA (Glomus clarumNicol. & Schenck, Acaulosporascrobiculata Trappe).

O material de solo utilizado nacomposição do substrato foi coletadodo Horizonte B, ArgissoloVermelho distrófico típico, unidadede mapeamento São Gerônimo(Embrapa, 1999) na EstaçãoExperimental Agronômica daUFRGS. A areia utilizada possuíagranulometria média (entre 0,6 e1mm).

O resíduo decomposto de cascade acácia-negra (Acacia mearnsiiDe Wild.) foi coletado em umdepósito a céu aberto da empresaTanac/SA (Montenegro, RS). Ossubstratos sofreram desinfestaçãoprévia com solução de formo-laldeído a 7%.

Foram analisadas as caracterís-ticas químicas: (pH em água, teortotal de sais solúveis (TTSS), capa-cidade de troca de cátions (CTC),teor de carbono orgânico, substân-cias de reserva e físicas (densidadeseca – DS, porosidade total (PT),espaço de aeração (EA), água dispo-nível (AD), água facilmente dispo-nível (AFD), água tamponante (AT)e água remanescente (AR-100) dosdois substratos. Estas análises fo-ram realizadas no Laboratório deBiotecnologia do Departamento deHorticultura e Silvicultura daFaculdade de Agronomia daUFRGS.

Para determinação da poro-sidade total, do espaço de aeração e

da água disponível, os materiaiscomponentes foram caracterizadosseguindo a metodologia propostapor De Boodt & Verdonck (1972).

A semeadura foi feita em bande-jas alveoladas de isopor (156ml/alvéolo), colocando-se duas semen-tes por alvéolo. A germinação ini-ciou-se 30 dias após a semeadura,selecionando-se apenas umaplântula por alvéolo.

Os tratamentos micorrizadosreceberam 10g/alvéolo de solorizosférico e raízes de aveia (Avenastrigosa) colonizadas com as espé-cies de FMA. A adição do inóculo foifeita imediatamente antes da se-meadura. As testemunhas nãoreceberam inóculo de FMA. Qua-tro meses após a semeadura ava-liaram-se a altura (desde o colo atéo ápice), o diâmetro do colo dasplantas e a matéria seca das mes-mas, após mantê-las em estufa, a650C, até o peso constante.

Após a secagem, as plantas fo-ram moídas em moinho acopladocom peneira de 20 malhas por pole-gada. Após moídas, 1g de cada amos-tra foi submetido à digestão, se-gundo adaptações ao método des-crito por Priestley (1965), citadopor Souza (1990), para determina-ção do teor de substâncias de reser-va dos tecidos.

Para determinação da coloniza-ção radicular com FMA, foram ana-lisados 30 segmentos de raízes se-cundárias de aproximadamente1cm, por repetição, que foram tin-gidos segundo método descrito porPhillips & Hayman, citado por Sou-za (1990).

O delineamento experimentalutilizado foi o de blocos casua-lizados, com dois fatores, dez plan-tas por parcela e quatro repetições.Para a interpretação dos resulta-dos, foi utilizada a análise devariância, sendo a significânciadas diferenças entre as médiasavaliada pelo teste de Duncan, a5% de probabilidade.

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Tabela 1. Características químicas e físicas de dois substratos, antes deserem cultivados com plantas de Citrange Troyer (Poncirus trifoliata L.RAF. x Citrus sinensis L. Osb.). Porto Alegre, 1997

Características S1(1) S2(2)

Químicas

pH 5,8 5,4

.............g/L............

TTSS (teor total de sais solúveis) 0,35 0,83

........cmolc /L.........

CTC (capacidade de troca de cátions) 3,8 15,5

..........% MS...........

Corg (carbono orgânico) 0,8 3,7

Físicas

..........kg/m3...........

DS (densidade seca) 1.487,0 1.062,0

..........m3/m3...........

PT (porosidade total) 0,406 0,602

EA (espaço de aeração) 0,181 0,268

AD (água disponível) 0,089 0,158

AFD (água facilmente disponível) 0,077 0,156

AT (água tamponante) 0,12 0,002

AR-100 (água remanescente) 0,136 0,176

(1)S1 = solo + areia (1:1, v:v).(2)S2 = solo + areia + resíduo decomposto de casca de acácia-negra (2:2:1,v:v:v).

Tabela 2. Altura e diâmetro do colo de plantas de Citrange Troyer(Poncirus trifoliata L. RAF. x Citrus sinensis L. Osb.), cultivadas em doissubstratos e inoculadas com fungos micorrízicos arbusculares. PortoAlegre, RS, 1997(1)

Altura Diâmetro do coloSubs-trato Teste- G. A. Teste- G. A.

munha clarum scrobiculata munha clarum scrobiculata

.........................................................mm................................................................

S1(2) 47,00 bA 48,5 bA 58,70 aA 1,51 aA 1,70 aA 1,64 aA

S2(3) 51,75 aA 52,5 aA 47,75 aB 1,62 aA 1,58 aA 1,68 aA

(1)Médias seguidas de mesma letra, minúscula na linha e maiúscula na coluna,não diferem entre si, ao nível de 5%, segundo teste de Duncan.(2)S1 = solo + areia (1:1, v:v).(3)S2 = solo + areia + resíduo decomposto de casca de acácia-negra (2:2:1, v:v:v).

Resultados e discussão

A adição de uma fonte de maté-ria orgânica tornou o substrato 2(S2) mais ácido, adicionou sais,cátions e carbono orgânico em re-lação ao substrato 1 (S1) (Tabela 1).Comparando-se os valores obtidosneste experimento com dados daliteratura (Verdonck et al., 1981;Penningsfeld, 1983), observa-se queenquanto o substrato 1 apresentouvalores de pH e de teor total de saissolúveis (TTSS) mais adequados, osubstrato 2 apresentou melhoresíndices de capacidade de troca decátions (CTC) e carbono orgânico.

Considerando-se que os compo-

nentes orgânicos, formadores deagregados estruturais, são as úni-cas fontes de nitrogênio no subs-trato, excetuando-se a adubaçãoquímica, e fonte de outros nutrien-tes para as plantas (principalmenteenxofre e fósforo) (Malavolta, 1981),conclui-se que S2 é um substratomais rico em nutrientes do que S1,apresentando um teor de salinidadeum pouco mais elevado, mas nãoem níveis tóxicos, mesmo para es-pécies cítricas, consideradas plan-tas sensíveis à salinidade, segundoBlack (1968), citado por Oliveira(1991).

Em relação às característicasfísicas, observa-se que a adição deum material orgânico (RDCA) emS2 melhorou consideravelmente adensidade seca, a porosidade total,o espaço de aeração, a água dispo-nível, a água facilmente disponí-vel, a água tamponante e a águaremanescente, em relação a S1,comparando-se com valores de lite-ratura (De Boodt & Verdonck,1972;Penningsfeld, 1983).

A densidade seca mais elevadade S1, em relação a S2, diminui aporosidade total, gerando menorespaço de aeração e menor dis-ponibilidade de água às plantas (Ta-bela 1). Nesse sentido, observa-se

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no S2 que o volume de água dispo-nível e de água facilmente disponí-vel quase duplicou em relação a S1(Tabela 1), facilitando, portanto, aabsorção de água pelas plantas nelecultivadas.

Encontrou-se uma interação sig-nificativa entre efeito de substratoe de espécies de FMA para alturade Citrange Troyer (Tabela 2). Ainoculação com A. scrobiculata pro-porcionou maior altura das plan-tas, quando estas foram cultivadasno S1, em relação às plantas teste-munhas e as inoculadas com G.clarum, ao passo que quando culti-vadas no S2 as plantas inoculadascom esta espécie de FMA não tive-ram sua altura alterada em relaçãoaos outros tratamentos (Tabela 2).

A inoculação com G. clarum nãoalterou a altura das plantas emnenhum dos substratos estudados,em relação à testemunha. O diâ-metro do colo não foi alterado pelossubstratos, nem pelos FMA estu-dados (Tabela 2).

Nos parâmetros de matéria secada parte aérea e de raízes doCitrange Troyer, também se en-controu uma interação significati-va entre efeito de substrato e efeitode espécies de FMA (Tabela 3). Asplantas de Citrange Troyer apre-sentaram maior matéria seca departe aérea e de raízes ao seremcultivadas no S2, quando em au-sência de FMA. Assim como paraaltura das plantas, a inoculaçãocom FMA somente foi eficaz nasplantas cultivadas no S1, principal-mente quando em presença de A.scrobiculata. A ação dos FMA nasplantas cultivadas no S2 foi nulapara G. clarum e prejudicial paraA. scrobiculata, não alterando ma-téria seca de parte aérea e raízes.

O maior desenvolvimentovegetativo das plantas cultivadasno S2 pode ser atribuído às suasmelhores condições físicas e quími-cas em relação ao S1 (Tabela 1).

Figura 1. Teor de substâncias de reserva em plantas de Citrange Troyer(Poncirus trifoliata L. RAF. x Citrus sinensis L. Osb.) cultivadas em doissubstratos (S1 = solo + areia (1:1, v:v); S2 = solo + areia + resíduodecomposto de casca de acácia-negra (2:2:1, v:v:v) e inoculadas com FMA(G. clarum e A. scrobiculata)

Tabela 3. Matéria seca da parte aérea e das raízes de plantas de CitrangeTroyer (Poncirus trifoliata L. RAF. x Citrus sinensis L. Osb.),cultivadas em dois substratos e inoculadas com fungos micorrízicosarbusculares. Porto Alegre, RS, 1997(1)

Matéria seca da parte aérea Matéria seca de raízesSubs-trato Teste- G. A. Teste- G. A.

munha clarum scrobiculata munha clarum scrobiculata

.........................................................g................................................................

S1(2) 0,93bB 0,98abB 1,25aA 1,07bB 1,30abA 1,61aA

S2(3) 1,51aA 1,38abA 1,30bA 1,43aA 1,30aA 1,17bB

(1)Números seguidos de mesma letra, minúscula na linha e maiúscula nacoluna, não diferem entre si, ao nível de 5%, segundo teste de Duncan.(2)S1 = solo + areia (1:1, v:v).(3)S2 = solo + areia + resíduo decomposto de casca de acácia-negra (2:2:1, v:v:v).

Saggin-Júnior & Siqueira (1996),em concordância com os resulta-dos deste trabalho, citam que ainfluência da matéria orgânica nodesenvolvimento vegetativo demudas micorrizadas é variável deacordo com a espécie de FMA e aquantidade de matéria orgânicapresente no sistema. Nos substratospobres nutricionalmente os FMAsão importantes por acelerarem o

desenvolvimento das plantas, situ-ação verificada nas plantas cultiva-das no S1. As hifas micorrízicasexternas às raízes funcionam comoextensão do sistema radicular, au-mentando sua capacidade deexplorar maior volume de solo, pos-sibilitando maior absorção de nu-trientes do solo (Rosand & Dias,1985).

À semelhança do ocorrido para

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altura e matéria seca, em S1 oconteúdo de substâncias de reser-va nos tecidos das plantasmicorrizadas foi superior ao dasnão micorrizadas. Não se observouo mesmo em S2 (Figura 1). Nestesubstrato a inoculação com FMAnão alterou os teores de substân-cias de reserva das plantas.

Apesar de diferentes respostasobtidas com as duas espécies deFMA estudadas, relacionadas aodesenvovimento vegetativo e àssubstâncias de reserva, verifica-seque a colonização radicular foialta nas duas espécies (acima de90%), independentemente dosubstrato estudado. Isso indica quea pouca eficiência da simbiose plan-ta – FMA não necessariamentepassa pela baixa colonizaçãoradicular.

De uma forma geral, houve umacorrelação, em S1, entre osparâmetros altura, matéria secada parte aérea e de raízes e quanti-dade de substâncias de reserva.Nesse sentido, a espécie A.scrobiculata propiciou maior pesodo sistema radicular. No substratoS2, o seu nível nutricional e as suasmelhores características físicaspropiciaram condições para maiordesenvolvimento do sistemaradicular das plantas, diminuindoa dependência da planta aos FMApara absorver água e nutrientes.Neste estudo, a espécie A.scrobiculata comportou-se comoparasítica em S2, pois a altura dasplantas micorrizadas com esta es-pécie foi inferior à testemunha emS2. A espécie G. clarum, no entan-to, não propiciou maior desenvolvi-mento às plantas, mas tambémnão apresentou atividade parasíticaem nenhum dos substratos testa-dos.

Dessa forma, pode-se dizer quea eficiência da simbiose foi variávelcom o substrato e com a espécie deFMA, comportamento este já veri-

ficado em outros estudos (Saggin--Júnior & Siqueira, 1996).

Conclusões

• A adição de resíduo decompos-to de casca de acácia melhora ascaracterísticas químicas e físicasde um substrato constituído desolo + areia, permite maiordesenvolvimento vegetativo emaior quantidade de substânciasde reserva às plantas de CitrangeTroyer.

• A eficiência da simbiose variacom o substrato e com a espécie deFMA, em que o efeito positivo dosFMA é observado apenas nosubstrato mais pobre nutri-cionalmente, sendo A. scrobiculataa mais eficiente.

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Normas para publicação

68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média dessestrês anos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumesde calda de raleantes químicos(1)

Tratamento Peso médio dos frutos Produção

média

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/pulverizadormanual1.900L/hac/turboatomizador

C.V. (%) 6,1Probabilidade α >F 0,0002(*) 0,0011 0,0004(**) - -(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan segundo o valor

de α apresentado.(*) e (**) Significativo a 5% e 1% de probabilidade, respectivamente.Fonte: Camilo & Palladini.

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113 d122 cd131abc134ab122 cd128abc138a

125 bc

133ab

4,8

95 d110 bc121a109 bc100 cd107 bc115ab

106bc

109bc

6,4

80 d100ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104a

94 kbc

95abc

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3 -

1993 1994 1995 Média

.............................g............................. .......kg/ha.....

90 Agropec. Catarin., v.16, n.3, nov. 2003

Normas para publicação

problemas da nova cultivar ougermoplasma, Disponibilidade dematerial e Literatura citada.

9 As tabelas deverão vir acompanha-das de título objetivo e serem auto--explicativas, bem como, de informa-ções sobre a fonte. Recomenda-selimitar o número de dados da tabela,a fim de torná-la de fácil compreen-são, e numerá-la conforme a sua apre-sentação no texto. As abreviaturas,quando necessárias, deverão serexplicadas quando aparecerem pelaprimeira vez. As tabelas deverão serabertas à esquerda e à direita, semlinhas verticais e horizontais, comexceção daquelas para a separação docabeçalho e do fechamento, evitan-do-se o uso de linhas duplas. As cha-madas devem ser feitas em algaris-mos arábicos sobrescritos, colocadosentre parênteses, em ordem crescen-te (ver modelo).

10 As figuras (fotos e gráficos) devemser numeradas em ordem crescentee acompanhadas de legendas clarase objetivas, contendo todos os ele-mentos que permitam sua compre-ensão. Os títulos devem ser auto-ex-plicativos e colocados abaixo das figu-ras.

11 As fotografias devem ser em papelfotográfico ou em diapositivo e acom-panhadas das respectivas legendas.Serão aceitas fotos digitalizadas, des-de que em alta resolução (>300dpi).

12 Recomenda-se que autores subme-tam suas matérias a dois revisores desua escolha antes de enviá-las à RAC.

13 Todas as matérias apresentadas nasseções Opinião, Registro e Conjun-tura devem se orientar pelas normasdo item 2 no que se refere às mar-gens, aos parágrafos e ao tamanhode letras.

13.1 Opinião – as matérias para publica-ção nessa seção devem ser exclusi-vas e discorrer sobre assuntos queexpressam a opinião pessoal doautor sobre o fato em foco e nãodeverão ter mais que quatro pági-nas.

13.2 Registro – são publicadas nessa se-ção as matérias que tratam de fatosoportunos que mereçam ser divulga-dos. Seu conteúdo é a notícia, que,apesar de atual, não chega a merecero destaque de uma reportagem. Nãodeverão ter mais que quatro pági-nas.

13.3 Conjuntura – são enquadradas nes-sa seção as matérias que, com exclu-sividade, enfocam fatos atuais ba-seados em uma análise econômica,social ou política, cuja divulgação éoportuna. Não deverão ter mais queseis páginas.

14 Literatura citada

As referências bibliográficas deverãoestar restritas à Literatura citada no textoe de acordo com a ABNT.

• Periódicos

AUTOR(ES), Título da matéria. Títu-lo do periódico, local, volume, número,paginação inicial final, mês e ano de publi-cação.

Exemplos:

– Periódico

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRA-SIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE, v.59, 2000.

CENSO AGROPECUÁRIO 1995-1996:Santa Catarina. Rio de Janeiro: IBGE,n.21, 1997.

– Artigo de periódico

STUKER, H.; BOFF, P. Tamanho daamostra na avaliação da queima-acinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira, Brasília, v.16, n.1,p.10-13, maio 1998.

FIORANÇO, J.C. Podridão estilar dalima ácida “Tahiti”. Revista Brasileira deFruticultura, Cruz das Almas, v.17, n.2,p.7-15, jun. 1995.

– Artigo de periódico em meio eletrô-nico

SILVA, S.J. O melhor caminho para

atualização. PC world, São Paulo, n.75,set. 1998. Disponível em: www.idg.com.br/abre.htm>. Acesso em: 10 set.1998.

SILVA, I.G. da. Pena de morte parao nascituro. O Estado de São Paulo, SãoPaulo, 19 set. 1998. Disponível em:<http : /www.prov ida l fami l ia .org /pena_morte_nascituro.htm>. Acessoem: 19 set. 1998.

• Livros

AUTOR(ES), Título: sub-título. Edi-ção. Local de publicação: editora, ano depublicação, no do volume ou total depáginas (nota de série).

Exemplo:

SILVA, S.P. Frutas Brasil. São Paulo:Empresa das Artes, 1991. 166p.

• Capítulo de livro

AUTOR (ES). Título do capítulo ou partecitada, In: AUTOR (ES). Título da publi-cação no todo. Edição. Local depublicação:editora, ano de publicação,volume, número do capítulo e páginainicial e final da parte citada.

Exemplo:

SCHNATHORST, W.C. Verticillium wilt.In: WATKINS, G.M. (Ed.) Compendiumof cotton diseases. St.Paul: The AmericanPhytopathological Society, 1981. part 1,p.41-44.

• Tese

AUTOR. Título, data, número de folhas.Categoria da Tese (Grau e Área de Con-centração) – Instituição, Universidade,Local.

Exemplo:

CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos da ilumina-ção artificial sobre o cultivo do maracu-jazeiro amarelo (Passiflora edulis Sims f.flavicarpa Deg.), 1998. 134f. Dissertação(Mestrado em Produção Vegetal), Facul-dade de Ciências Agrárias e Veterinári-as, Universidade Estadual Paulista,Jaboticabal, SP.