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    r Parecer APROVADO ;elo Exmq...Sr.,~, _c ••• r /(

    Procurador-Geral do Df. emq~ oJF/20_ e

    pelo Exrno. Sr. Governaaor do D ,em

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    PGDF,ItOÇUIV\DOIiUA-9fltJU,DO Qtln"lTt> ~ •••• ~

    PARECER N° 02~.t, /2016-PRCON/PGDFPROCESSO N° 0040-002.477/2015INTERESSADO(A): Secretaria de Estado de Fazenda do Distrito FederalASSUNTO: Projeto de Lei visando revogação da Lei n° 4.006/2007.

    DIREITO TRIBUTÁRIO ANTEPROJETO DE LEIPOSSIBILIDADE DE REVOGAÇÃO DA LEI W 4.006/2007 _MEDIDA DE POLITICA TRIBUTÁRIA,Porque não encontra óbices na LODF ou na ConstituiçãoFederal, merece chancela o anteprojeto de lei que visa revogara Lei n° 4.006/2007, que instituiu o recolhimento de ICMS e ISSem valores fixos mensais para microempresas.

    1. RELATÓRIO

    Trata-se de processo em que a Secretaria de Estado de Fazenda

    (SEF) solicita a emissão de Parecer desta Casa acerca de anteprojeto de lei que visa

    revogar a Lei Distrital n° 4.006/2007, que estabelece valores fixos mensais para o

    recolhimento do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e

    sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de

    Comunicação (ICMS) e do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

    devidos por microempresas optantes do Simples Nacional, nos termos do art. 18,

    §18, Lei Complementar Federal n° 123/2006 (LC n° 123/2006).

    O texto do anteprojeto prevê a revogação da atual sistemática de

    recolhimento em valores fixos mensais, que será substitulda pelo mecanismo de

    apuração previsto na regra geral do art. 18 da LC n° 123/2006 com as aliquotas

    estabelecidas em seus anexos I a IV, aplicadas sobre a receita bruta.

    As fls. 13-16, a Assessoria Jurídico-Legislativa da Secretaria de Estado

    de Fazenda (AJUSE:F) manifestou-se favoraVelmente à proposta, ressaltando que,

    segundo manifestação da Assessoria de Estudos Econômico-Fiscais da Secretaria

    de Estado de Fazenda (AEF/SEF) de fls. 10-v, essa medida resultaria em

    incremento de arrecadação estimado em R$ 17.953.904,69 (dezessete milhões

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    ·novecentos e cinquenta e três mil novec'entos e quatro reais e sessenta e novecentavos).

    As fls. 17-18, o Secretário de Estado de Fazenda fez juntar Exposição

    de Motivos, seguida do anteprojeto da lei (f/. 19), e, então, formulou a consulta orarespondida, sem quesitação específica (fI. 20).

    É o relatório.

    2. FUNDAMENTAÇÃO

    Em seu art. 146, a Constituição Federal de 1988 (CF/88) estipula que

    determinadas matérias deverão ser tratadas por Lei Complementar, entre elas umaque interessa ao presente opinativo, a conferir:

    Art. 146 - Cabe à lei complementar:

    [...]

    1/1 - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,especialmente sobre:

    [...]

    d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para asmicroempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusiveregimês especiais ou simplifiçados no caso do imposto previsto noart. 155, 1/, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, eda contribuição a que se refere o art. 239.

    O parág~afo único do mesmo art. 146 faculta seja instituído um regime

    único de arrecadação dos impostos e contribuições de competência da União, dosEstados, Distrito Federal e dos Municípios, senão veja-se:

    Art. 146 [...]

    Parágráfo único. A lei complementar de que tratá o inciso 11/, d,também poderá instituir um regime único de arrecadação dosimpostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal edos Municípios [...].

  • PROCURADORIA-.GERAL DO DISTRITO FEDERÀLPROCURADO~IA ESPECIAL DA ATIVIDADE CONSULTIVAPRCON

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    Nesse- sentido, foi editada a LC n° 123/2006, que instituiu o Estatuto

    Nacional dá Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, e que, no §18 do seuart. 18, estipulou o seguinte:

    Art. 18. [...1

    § 18 - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no âmbito dasrespectivas competências, poderão estabelecer, na forma definidapelo Comitê Gestor, independentemente da receita bruta recebida nomês pelo contribuinte, valores fixos mensais para o recolhimento doICMS e do ISS devido por microempresa que aufira receita bruta, noano-calendário anterior, de até o limite máximo previsto na segundafaixa de receitas brutas anuais constantes dos Anexos I a VI, ficandoa microempresa sujeita a esses valores durante todo o ano-calendário, ressalvado o disposto no § 18-A.

    Observa-se que o supracitado dispositivo concede aos Estados, ao

    Distrito Federal e aos Municípios a faculdade de estabelecer valores fíxos

    mensais a serem recolhidos por microempresa a título de ICMS e ISS, nos

    limites legais. Valendo-se dessa prerrogativa típica de política tributária, o Distrito

    Federal editou a Lei Distrital n° 4.006/2007, que assim dispôs:

    Art. 10 - Ficam estabelecidos os seguintes valores fixos mensais pararecolhimento do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação deMercadorias e sobre Prestações de Serviços de TransporteInterestadual e lnterrnuniclpal e de Comunicação - ICMS e doImposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS devido pormicroempresa optante pelo tratamento diferenciado e favorecido deque trata a Lei Complementar nO123, de 14 de dezembro de 2006:

    I - R$ 62,50 (sessenta e dois reais e cinqüenta centavos) paramicroempresa contribuinte do ICMS, que aufira receita .oruta no ano-calendário de até R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais);

    11 - R$ 62,50 (sessenta e dois reais e cinqüenta centavos) paramicroempresa contribuinte do ISS, que aufira receita bruta no ano-calendário anterior de até R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais).

  • PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALPROCU~ADORIA ESPECIAL DA ATIVIDADE CONSULTIVAPRCON

    ~~~

    PGDF,.1tQI;U·~A-o!1tALDa DI&T'IIlnl I'II%I •• H

    Nesse contexto, assim como a instituição de tal regime de apuração se

    situou no âmbito da discricionariedade legislativa, como medida de política fiscal, a

    correlata revogação também não se submete ao controle do Poder Judiciário e

    envolvem juízo de conveniência e oportunidade, (STF, ADI 1.643, ReI. Ministro

    Maurício Corrêa, DJ 14-03-2003), desde que mantido algum tratamento diferenciado

    em relação às empresas não optantes do SIMPLES, por força do art. 179 da CF1.

    Destarte, é prerrogativa do Distrito Federal, por razões extrafiscais,

    revogar - leia-se: com efeitos ex nunc - o regime de pagamento valor fixo mensal de

    ICMS e do ISS por parte das microempresas optantes do SIMPLES, desde que

    disso não resulte em igualá-Ias a empresas que estão fora desse regime. Todavia,

    isso não ocorrerá na espécie, pois a SEF registra que será aplicada, da revogação

    em dlante..a rnecánlca de apuração referida no art. 18 da LC nO123/20062, ainda

    especial em relação às empresas de maior porte, baseada nas alíquotas

    estabelecidas em seus anexos I a IV, aplicadas sobre a receita bruta.

    Ademais, a SEF esclarece que o DF é a única Unidade Federada que

    ainda aplica a sistemática de valores fixos mensais, bem como que na sistemática daLei nO 4.006/07 estimula a fraude/sonegação do contribuinte, à media que muitos

    excedem o limite de faturamento permitido, sendo os valores sonegados de difícil

    recuperação, em descompasso com as medidas adotadas pelo Distrito Federal paraincremento da atrécadação" (fI. 17).

    Portanto, não se vislumbram óbices jurídicos à revogação da Lei n°

    4.006/2007, que inclusive importará incremento na arrecadação, conforme estudo

    J Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresasde pequeno "porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-Ias pelasimplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação Ollredução destas por meio de lei., Art. 18. - O valor devido mensalmente pela microempresa ou empresa de pequeno porte, optante pelo SimplesNacional, será determinado mediante aplicação das allquotas constantes das tabelas dos Anexos I a' VI desta LeiComplementar sobre a base de cálculo de que trata o § 3' deste artigo, observado o disposto no § 15 do art. 3' .

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  • PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERAL

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    PGDF,AoÓcuRADOlUA.-4e~DI) lIIaTWITa I"I:D ••.• L

    realizado pela Assessoria de Estudos Econômico-Fiscais da Secretaria de Estado deFazenda (AEF/SEF).

    3. CONCLUSÃO

    Em face do exposto. não havendo óbices constitucionais, conclui-se

    que merece chancela o anteprojeto de lei que visa revogar a Lei n° 4.006/2007,

    5

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  • PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALProcuradoria Especial da Atividade Consultiva

    .ggPGDF

    PARECER N° 258/2016 - PRCON/PGDFProcesso nO:060.000.089/2016Interessado: FACIPLACAssunto: ACESSO A PRONTUÁRIO M~DICO COM FINS EDUCACIONAIS

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    PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALProcuradoria Especial da Atividade Consultiva

    QSPGDF'acolllll ••DOItI .•••• 1RALtia tIIl.,..TO_It.U

    1-RELATÓRIOCuida-se de procedimento administrativo oriundo da Secretaria de

    Estado de Saúde do Distrito Federal, no bojo do qual consta requerimento

    proveniente da Coordenação do Curso de Medicina das Faculdades Integradas da

    União Educacional do Planalto Central - FACIPLAC, dirigido ao Diretor Clfnico do

    Hospital Regional do Gama - HRG, visando ao acesso "aos prontuários médicos

    das pacientes da Ginecologia/Obstetrícia e Neonatologia do HRG-DF e de dadosfornecidos pelo Núcleo de Saúde Pública do Hospital, com o objetivo de verificar aimportância do pré-natal como fator de prevenção vertical da sífilis na gestação".

    O requerimento noticia que tais informações seriam utilizadas no

    treinamento e avaliação de alunos da disciplina chamada "Interação Comunitária VI",

    com ênfase no estudo da saúde da mulher, esclarecendo, ainda, que a instituição

    "de forma alguma promoverá publicação desses dados em revistas científicas,

    sendo que os dados serão utilizados apenas nos espaços pedagógicos de ensino e

    aprendizagem da FACIPLAC".

    Por meio da Nota Técnica nO 188/2016-AJUSES (fls. 05110), a

    Assessoria Jurídico-Legislativa do órgão consulente, sem desconhecer as

    orientações constantes de diversos opinativos desta Casa sobre o sigilo das

    informações constantes de prontuários médicos, assinala que a hipótese vertente se

    distinguiria dos casos analisados anteriormente, tendo em vista a finalidade

    educacional que embasa o requerimento.

    Assinala a AJUSES, ainda, que "as atividades a serem desenvolvidas

    pela Faculdade e pelos respectivos alunos devem ser legitimadas por meio de ajustefirmado entre a SES e a FACIPLAC (termo de cooperação técnica), objetivandoestabelecer as condições das pesquisas em questão".

    2

  • PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALProcuradoria Especial da Atividade Consultiva

    .Q!WPGDF

    Considerando, entretanto as peculiaridades do caso, solicitou-se

    pronunciamento conclusivo desta Casa sobre a matéria, tendo os autos sido

    distribuídos a este Procurador por meio do despacho de fi. 12.~------~-----.É o relatório. Folha n' 15"

    Proce•• o n' 000 8

  • •• õ

    PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALProcuradoria Especial da Atividade Consultiva

    interessado, ficando em sigilo entre ele e seu médico, muitasvezes passando despercebidos de seus próprios familiares,parentes, vizinhos e amigos, sendo desastroso que taisinformações sejam veiculadas, transmitidas, repassadas ou,enfim, por qualquer meio ou forma, divulgadas a terceiros sema prévia e expressa autorização do paciente.2- A proibição de acesso ao prontuário do paciente há de cederem casos específicos, quando a ponderação entre princípiosconstitucionais autorize afirmar que a proteção da intimidadedeve ser atenuada em comparação com outros valores deidêntica envergadura, cujo juízo de ponderação há de ser feitopelo Poder Judiciário.3- Parecer pela inviabilidade jurídica de fornecimento, pelasinstituições públicas de saúde do Distrito Federal, de prontuáriomédico a parentes, ao Ministério Público, à autoridade policialou ao IML, sem autorização do próprio paciente ou mediantedeterminação judicial.

    Nos casos anteriormente analisados pela PGDF, o traço comum é a

    vedação, salvo em hipóteses excepcionais, à disponibilização de prontuários

    médicos a órgãos, autoridades e até mesmo a parentes do paciente, sem a

    expressa autorização deste, na medida em que tal procedimento importaria a

    transposição, para fora do ambiente médico-hospitalar, dos d~dos constantes do

    prontuário, com potencial violação à privacidade do paciente (v.g., acesso ao

    prontuário para fins de investigação criminal, pagamento de prêmio de seguro,

    instrução de demanda judicial etc.).

    No caso concreto, entretanto, o pretendido acesso aos prontuários teria

    finalidade acadêmico-pedagógica, o que, a nosso ver, não se enquadra na proibição

    constante das normas ético-disciplinares editadas pelo Conselho Federal de

    Medicina, notadamente a Resolução CFM nO1.605/20001, cuja edição decorreu, em

    1 RESOLUÇÃO CFM nO 1.605/2000(Publicada no O.O.U. 29 SET 2000, Seção I, pg. 30)(Retificação publicada no O.O.U. 31 JAN 2002, Seção I, pg. 103)

    o Conselho Federal de Medicina. no uso das atribuições conferidas pela Lei nO 3.268, de 30 desetembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nO44.045, de 19 de julho de 1958, e

    4

    Rubrlc~ Matricula: 43182.6~ ..

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  • '" PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERAL•. Procuradoria Especial da Atividade Consultiva

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    PGDF.ROQ'III·.DOIlI......etItAl.DOIIIILftITCl_.u.

    grande medida, da "frequente ocorrência de requisições de autoridades judiciais,

    policiais e do Ministério Público relativamente a prontuários médicos e fichasmédices".

    CONSIDERANDO o disposto no art. 154 do Código Penal Brasileiro e no art. 66 da Lei dasContravenções Penais;CONSIDERANDO a força de lei que possuem os artigos 11 e 102 do Código de Ética Médica, quevedam ao médico a revelação de fato de que venha a ter conhecimento em virtude da profissão.salvo justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente;CONSIDERANDO que o sigilo médico é instituldo em favor do paciente, o que encontra suporte nagarantia insculpida no art. 5°, inciso X, da Constituiçl!o Federal;CONSIDERANDO que o "dever legal" se restringe à ocorrência de doenças de comunicaçãoobrigatória, de acordo com o disposto no art. 269 do Código Penal, ou à ocorrência de crime de açãopenal pública incondicionada, cuja comunicação não exponha o paciente a procedimento criminalconforme os incisos I e fi do art. 66 da Lei de Contravenções Penais;CONSIDERANDO que a lei penal só obriga a "cornunlcação", o que não implica a remessa da fichaouCONSIDERANDO que a ficha ou prontuário médico não inclui apenas o atendimento especifico, mastoda a situação médica do paciente, cuja revelação poderia fazer com que o mesmo sonegasseinformações, prejudicando seu tratamento;CONSIDERANDO a frequente ocorrência de requisicões de autoridades Judiciais. policiais e doMinistério Público relativamente a prontuários médicos e fichas médicas;CONSIDERANDO que é ilegal a reguisicllo judicial de documentos médicos quando há outrosmeios de obtencllo da jnformaCllo necessária como prova;CONSIDERANDO o parecer CFM nO22/2000;CONSIDERANDO o decidido em Sessl!o Plenária de 15.9.00,RESOLVE:Art. 1° - O médico não pode, sem o consentimento do paciente, revelar o conteúdo do prontuário ouficha médica.Art. 2° - Nos casos do art. 269 do Código Penal, onde a comunicação de doença é compulsória, odever do médico restringe-se exclusivamente a comunicar tal fato à autoridade competente, sendoproibida a remessa do prontuário médico do paciente.Art. 3° - Na investigaçl!o da hipótese de cometimento de crime o médico está impedido de revelarsegredo que possa expor o paciente a processo criminal.Art. 4° - Se na instrução de processo criminal for requisitada, por autoridade judiciária competente, aapresentação do conteúdo do prontuário ou da ficha médica, o médico disponibilizará os documentosao perito nomeado pelo juiz, para que neles seja realizada perícia restrita aos fatos emquestionamento.Art. 5° - Se houver autorização expressa do paciente, tanto na solícltação como em documentodiverso, o médico poderá encaminhar a ficha ou prontuário médico diretamente à autoridaderequisitante.Art. 6° - O médico deverá fornecer cópia da ficha ou do prontuário médico desde que solicitado pelopaciente ou requisitado pelos Conselhos Federal ou Regional de Medicina.Art. 7" - Para sua defesa judicial, o médico poderá apresentar a ficha ou prontuário médico àautoridade competente, solicitando que a matéria seja mantida em segredo de justiça.Art. 8° - Nos casos não previstos nesta resolução e sempre que houver conflito no tocante à remessaou não dos documentos à autoridade requisitante, o médico deverá consultar o Conselho deMedicina, onde mantém sua inscrição, quanto ao procedimento a ser adotado.Art. 9° - Ficam revogadas as disposições-em contrário, em especial a Resolução CFM nO999/80.Brasflia-DF, 15 de setembro de 2.000. (grifos nossos)

    5

  • PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALProcuradoria Especial da Atividade Consultiva

    ~

    PGDF

    Com efeito, o acesso aos prontuários por alunos de Medicina é

    atividade ínsita ao próprio curso de graduação - e isto reconhecido expressamente

    pelo Conselho Federal de Medicina.

    Confira-se, primeiramente, o disposto na Resolução CFM nO1.638, de

    10 de julho de 2002, que define o "prontuário médico" e torna obrigatória a criação

    da Comissão de Revisão de Prontuários nas instituições de saúde. Nos

    Consideranda da Resolução, há menção expressa à importância do prontuário para

    o ensino, a pesquisa e a prática médica. Segue o inteiro teor da norma, expressis

    verbis:

    RESOLUÇÃO CFM N° 1.638, DE 10 DE JULHO DE 2002Define prontuário médico e torna obrigatória a criação daComissão de Revisão de Prontuários nas instituições de saúde.O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso dasatribuições que lhe confere a Lei n. 3.268, de 30 de setembrode 1957, regulamentada pelo Decreto n. 44.045, de 19 de julhode 1958, eCONSIDERANDO que o médico tem o dever de elaborar oprontuário para cada paciente a que assiste, conforme previstono art. 69 do Código de Ética Médica;CONSIDERANDO que o prontuário é documento valiosopara o paciente. para o médico que o assiste e para asinstituicões de saúde. BEM COMO PARA O ENSINO, APESQUISA e os servicos públicos de saúde. além deinstrumento de defesa leqa/; CONSIDERANDO que competeà instituição de saúde e/ou ao médico o dever de guarda doprontuário, e que o mesmo deve estar disponível nosambulatórios, nas enfermarias e nos serviços de emergênciapara permitir a continuidade do tratamento do paciente edocumentar a atuação de Cada profissional;CONSIDERANDO que as instituições de saúde devem garantirsupervisão permanente dos prontuários sob sua .guarda,visando manter a qualidade e preservação das informaçõesneles contidas;CONSIDERANDO que para o armazenamento e aeliminação de documentos do prontuário devemprevalecer os critérios médico-científicos, históricos e

    16

    6Folh.n· ~JL_--. __ 1

    Metel cu I.: 43182-6·

  • PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALProcuradoria Especial da Atividade Consultiva

    DE·PGDFnoQlII~"'UA.LDa IlIIrnJITO~Al

    sociais de RELEVANCIA PARA O ENSINO. A PESQUISA EA pRA riCA MÊDICAj CONSIDERANDO .a legislaçãoarquivística brasileira, que normatiza a guarda, a temporalidadee a classificação dos documentos, inclusive dos prontuáriosmédicos;CONSIDERANDO o teor do Parecer CFM n. 30, de 2002,aprovado na Sessão Plenária de 10 de julho de 2002;CONSIDERANDO, finalmente, o decidido em Sessão Plenáriade 10 de julho de 2002, resolve:

    Art. 1° Definir prontuário médico como o documento únicoconstituído de um conjunto de informacões, sinais eimagens registradas, geradas a partir de fatos,acontecimentos e situacões sobre a saúde do paciente e aassistência a ele prestada. de caráter legal, sigiloso ecientífico. que possibilita à comunicação entre membrosda equipe multiprofissional e a continuidade da assistênciaprestada ao indivíduo.

    Art. 2° Determinar que a responsabilidade pelo prontuáriomédico cabe:I - Ao médico assistente e aos demais profissionais quecompartilham do atendimento;/I - A hierarquia médica da instituição, nas suas respectivasáreas de atuação, que tem como dever zelar pela qualidade daprática médica ali desenvolvida;11I- A hierarquia médica constituída pelas chefias de equipe,chefias da Clínica, do setor até o diretor da Divisão Médicae/ou diretor técnico. - grifos nossos.

    Por sua vez, o Código de Ética do Estudante de Medicina, editado pelo

    CRMIDF2, assinala expressamente a possibilidade de acesso do aluno aos

    prontuários médicos, ressalvando apenas o seu dever de não permitir o seu

    manuseio ou conhecimento por pessoas não sujeitas ao mesmo compromisso.

    Confira-se:

    2 Disponfvel em http://www.portalmedico.org.br/arquivoslCodigodeEticaEstudantes.pdf

    7

    Rubrtc • MatrIcula: 43182·6

  • PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALProcuradoria Especial da Atividade Consultiva

    .QJBPGDF'ROCI;IIl~..eev10.0 DI&'mITQ ,., ••••. L

    Art. 39. O estudante de Medicina não pode facilitar omanuseio ou o conhecimento de prontuários, papeletas edemais folhas de observações médicas sujeitas aosegredo profissional, por pessoas não-obrigadas aomesmo compromisso.

    Corroboram essas conclusões os termos do art. 78 do Código de Ética

    Médica (aprovado pela Resolução CFM nO1.931, de 17 de setembro de 2009), ao

    fazer referência ao dever do médico de orientar os alunos quanto à necessidade de

    observância do sigilo profissional. É o que dispõe o art. 78 da norma, expressis

    verbis:'., ."

    É vedado ao médico:Art. 78. Deixar de orientar seus auxiliares e alunos arespeitar o sigilo profissional e zelar para que seja por elesmantido.

    Evidentemente que o direito de acesso aos prontuários por alunos do

    curso de Medicina não é ilimitado, sujeitando-se também à necessária ponderação

    entre valores e princfpios consagrados na Constituição Federal e que possam estar

    em potencial conflito no caso concreto,

    Assim, na esteira da hermenêutica constitucional já devidamente

    reproduzida nos diversos precedentes da Casa sobre o tema, eventual colisão entre

    direitos fundamentais há de resolver-se mediante o emprego da razoabilidade, de

    maneira a que a prevalência de um determinado direito, no caso concreto, não

    implique a total restrição do outro direito posto em conflito.

    destina o

    finalidade

    Voltando ao caso concreto, verifica-se que, para os fins a que se

    pleito da FACIPLAC (análise estatística dos prontuários médicos com

    estritamente acadêmico-pedagó ica, é totalmente irrelevante que os

    ~

    Folha n'

    MatrIcula: 43182-6

  • '" PROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERAL.• Procuradoria Especial da Atividade Consultiva

    '~fliW.1:1(101•.,.1'1'0 ...allt.t..l

    alunos de Medicina tenham acesso aos dados pessoais das pacientes (nome,endereço, fotografia do rosto etc.), cuja utilização indevida, se ocorrer, poderá

    ensejar pretensões de indenização das pacientes em face do Poder Público,

    depositário deste repositório de informações.

    Nessa ordem de ideias, adequada se mostra, a nosso ver, a

    formalização de um termo de cooperação entre a instituição de ensino e a Secretariade Estado de Saúde, tal como assinalado pela AJUSES, sugerindo-se, desde já,que o fornecimento de cópias dos prontuários seja condicionado à ocultação de

    dados que possam permitir a identificação das pacientes, com o que se permitirá, a

    um só tempo, prestigiar a finalidade acadêmico-pedagógica que motivou o

    requerimento da instituição de ensino sem, entretanto, incorrer-se em eventual

    violação à intimidade das pacientes.

    ~II - CONCLUSÃO

    Em face do exposto, opina-se pela possibilidade de fornecimento dos

    prontuários médicos nos termos formulados pela instituição de ensino, observadas,

    entretanto, as cautelas constantes do presente opinativo.

    MatrIcula: 43182-6

    9

  • JGOVERNO DO DISTRITO FEDERALPROCURADORIA-GERAL DO DISTRITO FEDERALGabinete da Procuradora-GeralProcuradoria Especial da Atividade Consultiva

    Q~PGDFPROCURADORIA-GERALDO DISTRITO FEDERAL

    PROCESSO N°:INTERESSADO:ASSUNTO:

    MATÉRIA:

    060.00.089/2016FACIPLACParecer jurídico

    Folhllll' ~.z.. Mal. 39.154- 7Prlll:es8Q: VJC;t:J í:2ee t2% 9 L .(€ljGRUbrica:: __ ~..:::::::::::. _

    Administrativa

    APROVO O PARECER N° 0258/2016 - PRCON/PGDF, exarado pelo

    ilustre Procurador do Distrito Federal Rodrigo Alves Chaves.

    Em ~ / D5 /2016.

    JANAiNA ~05 MENDONÇAProcuradora-Chefe

    Procuradoria Especial da Atividade Consultiva

    De acordo. Restituam-se os autos à Secretaria de Estado de Saúde do

    Distrito Federal para conhecimento e adoção das providências pertinentes.

    Em OZo / O.s- /2016.

    KARLA ~ DE 50~ZA MOTTAProcuradora-Geral Adjunta para Assuntos do Consultivo

    lAS

    "Brasllia - Patrimônio Cultural da Humanidade"