qui02 material para oficina

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VI SEMANA DE MATEMÁTICA DA UFF Oficina QUI02: Utilizando Situações Espontâneas na EJA para a Gestão de um Currículo Inovador em Matemática Autores: Andréa Thees e Alexis Silveira ATIVIDADES A casa dos nossos sonhos Desenhe a casa dos seus sonhos, começando pelo cômodo principal . No momento indicado, passe seu desenho para o colega do lado. Ao passar seu desenho você certamente recebeu outro desenho. Continue desenhando o próximo cômodo da casa dos sonhos recebida e repita o mesmo procedimento, entregando seu desenho para o colega do lado, até que a sua casa dos sonhos retorno até você. Observe a sua “nova” casa dos sonhos e, lembrando do seu desenho original, procure analisar: O que foi incorporado à sua ideia inicial? O que deixou de ser desenhado? Como você encara as mudanças e contribuições do grupo ao seu plano inicial? Vivenciando cinco situações espontâneas Após a dinâmica inicial, organize um grupo de trabalho com, no máximo, 4 componentes. Leia as situações apresentadas e reflita individualmente. Depois, discuta e analise com o seu grupo cada uma das situações, considerando nesta etapa as perguntas elaboradas para nortear a oficina. No final, iremos discutir sobre a maneira como os professores encararam as situações espontâneas e buscar sugestões de tarefas letivas que viabilizem uma gestão curricular inovadora para a EJA. Perguntas norteadoras Qual conteúdo matemático estava sendo abordado nesta situação? Qual conteúdo poderia ter sido introduzido aproveitando a situação disparadora? De que forma o assunto abordado poderia ser relacionado com a realidade do aluno? Como a situação espontânea poderia ser aproveitada em uma tarefa letiva? Como foi a interação do professor com o saberes dos alunos? Que críticas e sugestões você faria em relação à postura do professor? Na opinião do grupo, por que o professor não continuou a discutir o assunto com os alunos? Que temas socioeconômicos e políticos poderiam ter sido levantados a partir desta situação? Que outras observações seu grupo inferiu a partir da situação disparadora?

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Atividades da oficina

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Page 1: Qui02 material para oficina

VI SEMANA DE MATEMÁTICA DA UFF

Oficina QUI02: Utilizando Situações Espontâneas na EJA para a Gestão de um Currículo

Inovador em Matemática

Autores: Andréa Thees e Alexis Silveira

ATIVIDADES

A casa dos nossos sonhos

Desenhe a casa dos seus sonhos, começando pelo cômodo principal. No momento indicado, passe seu desenho para o colega do lado. Ao passar seu desenho você certamente recebeu outro

desenho. Continue desenhando o próximo cômodo da casa dos sonhos recebida e repita o mesmo

procedimento, entregando seu desenho para o colega do lado, até que a sua casa dos sonhos retorno até você. Observe a sua “nova” casa dos sonhos e, lembrando do seu desenho original, procure analisar:

O que foi incorporado à sua ideia inicial? O que deixou de ser desenhado?

Como você encara as mudanças e contribuições do grupo ao seu plano inicial?

Vivenciando cinco situações espontâneas

Após a dinâmica inicial, organize um grupo de trabalho com, no máximo, 4 componentes.

Leia as situações apresentadas e reflita individualmente. Depois, discuta e analise com o seu grupo

cada uma das situações, considerando nesta etapa as perguntas elaboradas para nortear a oficina. No

final, iremos discutir sobre a maneira como os professores encararam as situações espontâneas e buscar sugestões de tarefas letivas que viabilizem uma gestão curricular inovadora para a EJA.

Perguntas norteadoras

Qual conteúdo matemático estava sendo abordado nesta situação?

Qual conteúdo poderia ter sido introduzido aproveitando a situação disparadora?

De que forma o assunto abordado poderia ser relacionado com a realidade do aluno?

Como a situação espontânea poderia ser aproveitada em uma tarefa letiva?

Como foi a interação do professor com o saberes dos alunos?

Que críticas e sugestões você faria em relação à postura do professor?

Na opinião do grupo, por que o professor não continuou a discutir o assunto com os

alunos?

Que temas socioeconômicos e políticos poderiam ter sido levantados a partir desta

situação?

Que outras observações seu grupo inferiu a partir da situação disparadora?

Page 2: Qui02 material para oficina

Situação 1: aluguel

A turma estava silenciosa e o professor Jorge1

esperava os alunos terminarem de copiar os

exercícios resolvidos no primeiro tempo de aula. Neste instante, um aluno iniciou o seguinte diálogo com o professor:

Aluno A: – Professor, outro dia eu vi um negócio numa placa. Tinha uns números e

uma letra. Tava escrito sete zero zero eme elevado a dois, assim mesmo tudo junto.

Professor Jorge: – Numa placa? Onde? Tinha mais alguma coisa escrita?

Aluno A: – Tinha escrito “aluga-se”, tava numa loja lá no shopping.

Professor Jorge: – Ah! Então era a medida da área da loja, setecentos metros

quadrados, entendeu?

Aluno A: – Sei lá, professor?!?

E escreveu no quadro: 700 m2

O aluno se referia ao São Conrado Fashion Mall, um shopping que foi construído em São

Conrado. Fica localizado praticamente em frente ao bairro da Rocinha, local onde o aluno morava.

Outros alunos pararam de copiar e de apenas prestar atenção na aula e começaram a interagir com o que estava acontecendo na sala. Deste momento em diante, o diálogo se transformou numa conversa

animada com vários interlocutores participando ativamente:

Aluno A: – Deve ser quanto o aluguel desse troço?

Aluna B: – No shopping? Deve ser uma nota!

Aluno A: – Lá perto de casa, uma casinha com quarto, banheiro e cozinha tá uns

quinhentos reais.

Aluno C: – Essa casinha aí... É maior ou menor que a loja do shopping?

Aluna D: – Claro que uma casa é muito maior que uma loja, né?

Aluno C: – Por quê? Vai depender da casa e da loja, né, professor? Pode ser uma

casinha, um casão, uma lojinha, um lojão...

Aluno E: – Esse aluguel de quinhentos é porque é lá embaixo. Lá pra cima é mais

barato, sai por uns duzentos e cinquenta reais.

Professor Jorge: – É que lá em cima é mais perigoso!

E faz um gesto como se estivesse atirando. Professor Jorge: – Vamos, gente! E as expressões? Já terminaram?

Situação 2: calculadora

Numa determinada aula, a professora Elisa2 conduzia suas aulas explicando que ia passar uns

“probleminhas” enquanto escrevia no quadro:

1) Comprei um livro que custava R$ 32,00. Recebi um desconto de 12%. a) De quanto foi o desconto?

b) Qual foi o preço final do livro?

Nesta questão surgiu uma discussão espontânea iniciada por um aluno:

Aluna A: – O que eu tenho de fazer? Aluno B: – Calcular o desconto!

Professora Esther: – Por quê?

Aluno A: – Claro, tava na cara! Tem gente que não nasceu pra saber número.

Aluna B: – Ou então usa a calculadora.

Professora Elisa: – Mas se a calculadora quebrar ou o celular não funcionar? Como

você vai conferir seu troco?

E volta ao quadro.

1 Nome fictício. 2 Nome fictício.

Page 3: Qui02 material para oficina

Situação 3: blusa

Em outro momento da mesma aula, enquanto alguns alunos conversavam sobre o uso da

calculadora, outros mostravam interesse em resolver o problema. A professora dava mais atenção a esses enquanto caminhava pela sala, evitando entrar na discussão sobre a calculadora.

Professora Elisa: – Agora, outra historinha...

2) Com a inflação o preço de uma blusa que custava R$ 47,00 subiu 23%3.

c) Quanto foi o aumento?

d) Qual o preço final da blusa?

Situação 4: gasolina

Nesta mesma aula, a professora Elisa perguntou aos alunos:

Professora Elisa: – Onde tem número decimal no dia-a-dia?

Professora Elisa: – No posto de gasolina. Por que será que o preço da gasolina no

posto é, por exemplo, R$ 7,1994, com três casas decimais?

Aluno: – Pra enganar a gente? Professora Elisa: – Como eles vendem muito combustível, o preço faz diferença,

porque é muita quantidade. Para o dono do posto, cada centavo vale muito.

Situação 5: quadro interativo

Maria5 é professora de matemática de uma turma de 6º ano da EJA. Antes de começar a aula, a

professora precisou ajeitar o quadro para poder utilizá-lo. Na verdade, haviam dois quadros sobrepostos na sala, um verde e outro branco. O desgaste de uma parte do quadro branco obrigou a

administração escolar pregar um quadro verde por cima da metade do quadro branco. O quadro verde

estava soltando da parede e o vão que se formava entre ambos, ocasionava um balanço quando se tentava escrever neles. Para evitar o movimento e conseguir escrever, Maria usava a caixa de madeira

do apagador como calço. Porém, durante a escrita no quadro o calço ia se soltando e o quadro verde

voltava a balançar. Num desses momentos, Maria comentou com a turma que “quando ganhasse na

Mega Sena ia comprar um quadro novo para a sala”.

O silêncio foi quebrado e o clima ficou mais descontraído, com alguns alunos esboçando

modestos sorrisos cansados. Notando a reação da turma, a professora Maria comentou que “existe um

quadro interativo, que faz um monte de coisas ao mesmo tempo, é só o professor tocar e ele muda”. Um aluno ainda perguntou se “existe isso mesmo, professora?”, mas não obteve a confirmação, nem a

desejada continuação da discussão.

3 A inflação mensal, em março de 2011, foi de 0,12%. 4 Naquela época, em março de 2011, o preço do litro de gasolina estava em torno de R$ 2,90. 5 Nome fictício.