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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ DIEGO BAIXO QUESTÕES NORMATIVAS E PROCEDIMENTAIS DA ARBITRAGEM: aspectos destacados da Lei 9.307/1996 Tijucas 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

DIEGO BAIXO

QUESTÕES NORMATIVAS E PROCEDIMENTAIS DA ARBITRAGEM:

aspectos destacados da Lei 9.307/1996

Tijucas

2006

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DIEGO BAIXO

QUESTÕES NORMATIVAS E PROCEDIMENTAIS DA ARBITRAGEM:

aspectos destacados da Lei 9.307/1996

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Tijucas. Orientador: Prof. MSc. Fernando Francisco Afonso Fernandez

Tijucas

2006

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ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Tijucas (SC), 20 de novembro de 2006.

________________________________

Diego Baixo

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DIEGO BAIXO

QUESTÕES NORMATIVAS E PROCEDIMENTAIS DA ARBITRAGEM:

aspectos destacados da Lei 9.307/1996

Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de

Tijucas.

Área de Concentração: Direito Privado

Tijucas, 20 de novembro de 2006.

Prof. MSc. Fernando Francisco Afonso Fernandez

UNIVALI-CE Tijucas

Orientador

Prof. MSc. Leonardo Matioda

UNIVALI-CE Tijucas

Membro

Prof. Esp. Edemir Aguiar

UNIVALI-CE Tijucas

Membro

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A Deus, que me guiou pelos caminhos difíceis e me possibilitou

a concretização de sonhos.

Aos meus pais, que me incentivaram na busca pelo

conhecimento e na luta por um mundo melhor.

Ao meu irmão pelo auxílio e credibilidade depositada em minha

pessoa.

A minha companheira pelas horas dedicadas e pela paciência

demonstrada no transcorrer do percurso.

Enfim, a todas as pessoas que direta ou indiretamente

influenciaram em minha formação e sempre acreditaram na justiça

como forma expressiva da isonomia humana.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares e minha namorada Patrícia que me acompanharam nessa jornada

em busca de um objetivo a ser alcançado.

A amiga Balnei Beal Fröhlich, responsável pelo Juizado Especial da Comarca de

Tijucas, com quem obtive grande parte de meu aprendizado em determinado período de

estágio, por sua paciência, carinho e determinação para com os estagiários, bem como, para os

que lá buscavam conforto e compreensão.

Ao Prof. MSc. Dr. Vilson Fontana, ex-juiz de direito da Comarca de Tijucas, que

possibilitou o ingresso como Conciliador no Juizado Especial Cível, me habilitando para os

encargos da vida profissional.

Aos amigos do Juizado reunidos durante a jornada, Alexandre, Cíntia, Caroline, Jadna,

Letícia, Luiz, Juliana, Leandro, e em especial a Leonardo e Celso que sempre demonstraram

credibilidade e fraternidade.

Aos demais funcionários do Fórum da Comarca de Tijucas, bem como aos colegas e

amigos de aula, que me acompanharam durante todo o período de formação, unindo forças

para juntos vencermos as dificuldades e desfrutar dos bons momentos no transcorrer do

percurso.

Em especial, ao Prof. MSc. Fernando Francisco Afonso Fernandez, Juiz Leigo do

Juizado Especial da Comarca de Tijucas, que foi grande parceiro e orientador dos estagiários

da Comarca e que me orientou na confecção deste trabalho, sempre com uma postura de total

equilíbrio e dedicação, demonstrando verdadeiro interesse pelo âmbito acadêmico.

E, por fim, a todos os professores pelos ensinamentos transmitidos, demais

funcionários do Campus da Univali de Tijucas, aos demais amigos e a todos aqueles que de

alguma forma lutam na busca pela igualdade e justiça.

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Urge que o moderno jurista, para fazer jus a sua contemporaneidade,

procure sem estorvo da ordem jurídica adrede constituída, conciliar e

incentivar critérios alternativos de composição de litígios, sem as

peias de um formalismo mais rigoroso, hoje sabidamente uma

enfermidade crônica que corrói e desacredita o Poder Judiciário.

Dr. Belizário Antônio de Lacerda

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RESUMO

O tema pesquisado tem como objetivo explorar conhecimentos relacionados ao instituto da

Arbitragem, forma extrajudicial de solução de conflitos regulada no Brasil pela Lei nº

9.307/1996, demonstrando a possibilidade de se ter um meio mais rápido e eficaz, capaz de

trazer paz à sociedade, estabelecendo regras entre as partes e retirando do Estado o monopólio

da tutela jurisdicional. Desta forma passa-se a tratar da matéria, abordando os principais

tópicos concernentes à aplicação da Arbitragem, passando ao particular o condão da

composição de conflitos, com maior economia e tecnicidade, demonstrando verdadeira

legitimidade do instituto frente à efetivação da justiça. O estudo visa evidenciar as

particularidades da Lei, possibilitando aos envolvidos a solução do litígio com base no

Direito, na Eqüidade e nos Princípios Gerais do Direito. Sendo que para isto, são

demonstrados os mecanismos criados como forma de materializar o instituto, como as

peculiaridades da escolha do Árbitro, capaz de julgar fazendo uso de conhecimentos técnicos

específicos como base para o julgamento, ensejando sanar possíveis lacunas ou obscuridades

da Lei, bem como, as características que cercam a Sentença Arbitral, que independente de

homologação judicial, faz Coisa Julgada e é dotada de caráter executivo, estando desta forma,

no mundo jurídico, em pé de igualdade com a sentença proferida pelo juiz togado. Portanto,

esta será a seara a ser abordada, que, visto sua vasta amplitude, não visa o esgotamento do

assunto, mas sim a ratificação da Arbitragem como forma de se buscar uma sociedade mais

justa e igualitária.

Palavras Chaves: Arbitragem. Árbitro. Procedimiento Arbitral. Sentença Arbitral.

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RESUMEN

El tema pesquisado tiene como objetivo explorar conocimientos relacionados al instituto de

Arbitraje, forma extrajudicial de solución de conflictos regulada en Brasil por la Ley nº

9.307/1.996, demostrando la posibilidad existencia de un medio mas rápido y eficaz, capaz de

traer paz a la sociedad, estableciendo reglas entre las partes y retirando del Estado el

monopolio de la tutela jurídica. De esta forma pasa a tratarse de la materia, abordando los

principales tópicos concernientes a demostrar la plausibilidad de la aplicación del

Arbitramiento, pasando al particular la posibilidad de la composición de contiendas, con

mayor economía y tecnicidad, demostrando verdadera legitimidad do instituto frente a la

efectividad de la justicia. El estudio pretende evidenciar las particularidades de la Ley,

posibilitando a los envueltos la solución del litigio con base en el Derecho, en la Equidad y en

los Principios Generales de Derecho. Para tanto, se demuestran los mecanismos creados como

forma de materializar el instituto, como las peculiaridades de la elección del Árbitro, capaz de

juzgar haciendo uso de conocimientos técnicos específicos como base para el juzgamiento,

pretendiendo sanar posibles lagunas o oscuridades da ley, bien como, las características que

cercan la Sentencia Arbitral, que independiente de homologación judicial, hace Cosa Juzgada

y es dotada de carácter ejecutivo, estando de esta forma, en el mundo jurídico, en pié de

igualdad con la sentencia proferida por el juez letrado. Por tanto, este será el ámbito a ser

abordado, que, visto su vasta amplitud, no pretende agotar el asunto, mas si la ratificación del

Arbitramiento como forma de buscar una sociedad mas justa e igualitaria.

Palabras clave: Arbitraje. Árbitro. Procedimiento Arbitral. Sentencia Arbitral.

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CATEGORIAS BÁSICAS E CONCEITOS OPERACIONAIS

Administração Pública: “[...] O conjunto de órgãos subordinados ao Poder

Executivo. A atividade cotidiana desse Poder” (SIDOU, p. 1998, p. 30).

Arbitragem: “É uma forma de solução de litígios, referentes a direitos patrimoniais

disponíveis, através da intervenção de um ou mais árbitros que recebem poderes através de

uma convenção privada (compromisso arbitral), decidindo com base nesta convenção, sem a

intervenção do Estado, sendo uma decisão destinada a assumir eficácia de sentença judicial, e

com vantagem de ser irrecorrível” (SILVA, 2004, p. 30).

Arbitragem de Direito: “Se o julgamento for de direito cria-se necessariamente

vínculo com as regras jurídicas imperantes, subordinando os árbitros aos ordenamentos que

foram sistematicamente os mandamentos legais de ordem interna e internacional”

(STRENGER, 1998, p. 19).

Arbitragem por Equidade: “[...] os árbitros ficam livres para decidir o litígio a eles

submetido segundo o seu sentido comum sem ter de restringir-se à aplicação do direito em

sentido estrito” (MORAIS, 1999, p. 191).

Árbitro: “Juiz de fato e de direito, escolhido livremente pelas partes mediante

compromisso arbitral, com o fim de solucionar conflitos privados sobre direitos patrimoniais

disponíveis” (SIDOU, 1998, p.63, grifo do autor).

Bons Costumes: “é o complexo de regras e princípios impostos pela moral, os quais

traçam a norma de conduta do indivíduo em suas relações domésticas e sociais, para que estas

se articulem, segundo as elevadas finalidades da própria vida humana” (SILVA, 1967, apud

LACERDA, 1998, p. 41).

Capacidade Civil: “[...] Aptidão legal para o exercício de direitos por pessoa natural

ou jurídica” (SIDOU, 1998, p. 117).

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Capacidade Processual: “É a capacidade que possui a pessoa habilitada a ingressar

em juízo, seja na condição de autor, de réu ou de terceiro” (ROSA, FONTANELLA, 2002, p.

25).

Cláusula Compromissória: “A cláusula compromissória ou arbitral é a convenção

através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios

que possam surgir” (MORAIS,1999, p. 202).

Coisa Julgada: “É a decisão judicial, de que já não caiba mais recurso. É a decisão

formulada por uma sentença definitiva, que já não pende do recurso de apelação” (SILVA,

2004, p. 95).

Compromisso Arbitral: “O compromisso arbitral é, então, o instrumento de que se

valem os interessados para, de comum acordo, atribuírem a terceiro (denominado árbitro) a

solução de pendências entre eles existentes” (MARCATO, 1995, apud SILVA, 2004, p. 52,

grifo do autor).

Conflito: “[...] Estado resultante da divergência ou entrechoque de interesses”

(SIDOU, 1998, p. 189).

Contratos de Adesão: “São caracterizados os contratos estabelecidos unilateralmente

por um dos contratantes, no qual a outra parte ‘adere’, sem poder discutir ou modificar seu

conteúdo” (ROSA, FONTANELLA, 2002, p. 36).

Convenção de Arbitragem: “[...] Ajuste de caráter abstrato que as partes estabelecem

no próprio contrato ou em instrumento autônomo, no sentido de, ante eventual litígio,

solucioná-lo por meio de juízo arbitral” (SIDOU, 1998, p. 217, grifo do autor).

Costumes: “[...] é precisamente a regra da vida social que, por sua observância geral,

constante e uniforme, passa a ser considerada obrigatória pela opinião comum (opinio juris

vel necessitatis)” (STRENGER, 1998, p. 28).

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Direitos Disponíveis: “[...] são aqueles que o ordenamento jurídico assegura que

sejam exercidos livremente pelos seus titulares. São direitos cujos titulares podem alienar,

transacionar ou renunciar, ou seja, livremente dispor” (SANTOS, 2004, p. 59).

Direitos Indisponíveis: “[...] Diz-se dos direitos que, embora nascidos de natureza

privada, o Estado chama à sua órbita por imperativo de necessidade social” (SIDOU, 1998, p.

294).

Eqüidade: “É a adaptação razoável da lei ao caso concreto ou a criação de uma

solução própria para uma hipótese em que a lei é omissa. Deve ser utilizada pelo intérprete

por exigência de uma aplicação justa no caso concreto, tendo em vista a falta de norma

jurídica e dos outros meios de integração” (ROSA, FONTANELLA, 2002, p. 55).

Exceção: “Meio de defesa indireta mediante o qual as partes podem requerer o

reconhecimento da suspeição, impedimento do juiz, do ministério público ou do perito, bem

assim a incompetência relativa do juízo” (ROSA, FONTANELLA, 2002, p. 56).

Fumus boni iuris: “Expressão que significa que o alegado direito é plausível (fumaça

do bom direito)” (SILVA, 2000, p. 372).

Funcionário Público: “[...] Pessoa que, aprovada previamente em concurso público

de provas e títulos, é investida em cargo ou emprego da administração pública direta, das

autarquias e das fundações públicas” (SIDOU, 1998, p. 771).

Incapazes: “Trata-se de pessoas que não atingiram um grau adequado de maturidade

ou que, em virtude de moléstia ou de alguma limitação pessoal, não podem cuidar

eficazmente de seus interesses” (RODRIGUES, 2002, p. 172).

Lei: “Norma jurídica escrita, elaborada por órgão competente, imposta à obediência

de todos” (ROSA, FONTANELLA, 2002, p. 78).

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Lide: “Debate jurídico no qual as duas partes exprimem pretensões em conflito, para

efeito de decisão de mérito” (SIDOU, 1998, p. 505).

Menor Púbere: “[...] Os maiores de 16 e os menores de 18 anos. A lei, neste caso,

admite que o indivíduo já tenha atingido certo desenvolvimento intelectual, que, se não basta

para dar-lhe o inteiro discernimento de tudo que lhe convém nos negócio, chega, entretanto,

para possibilitar-lhe atuar, pessoalmente, na vida jurídica” (RODRIGUES, 2002, p. 49, grifo

do autor).

Ordem Pública: “[...] complexo legal positivo de um país juridicamente organizado

que lhes possa garantir o funcionamento de suas instituições e poderes constituídos,

necessários e essenciais à sobrevivência do Estado e da própria coletividade” (LACERDA,

1998, p. 101).

Periculum in mora: “[...] é a expressão utilizada na linguagem jurídica para significar

a necessidade de uma medida acautelatória do direito, para evitar que este pereça, por chegar

tarde a prestação jurisdicional, tornando-se, por isso, inócua” (NÁUFEL, 2000, p. 656).

Pessoa Física: “[...] Denominação vulgarizada, conquanto imprecisa, para o ser

humano, que é corpo, mas também dotado de vontades e razão, atributos que não são físicos”

(SIDOU, 1998, p. 627).

Pessoa Jurídica: “[...] Ente criado pela técnica jurídica, como unidade orgânica e

estável de pessoas para fins de natureza pública ou privada, completamente distinta dos

indivíduos que o compõem, e dotada de personalidade jurídica idêntica a da pessoa natural

para efeito de ter direitos e contrair obrigações” (SIDOU, 1998, p. 628).

Princípios Gerais do Direito: “São os princípios que dão embasamento à criação de

toda e qualquer norma, inclusiva a Constituição, bem como os valores sociais que afetam o

sistema. Normas de valor genérico que orientam a compreensão do sistema jurídico em sua

aplicação e sua integração” (ROSA, FONTANELLA, 2002, p. 98).

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Procedimento Arbitral: “São as normas procedimentais que estruturam o juízo

arbitral, determinando a conduta das partes, do árbitro e de eventuais auxiliares como peritos,

secretários, e estabelecendo a forma e o prazo em que as condutas devem ser praticadas [...]”

(SANTOS, 2004, p. 74).

Prova: “Alegação que determina, de imediato ou não, a convicção do julgador”

(SIDOU, 1998, p. 682).

Regras Internacionais de Comércio: “[...] é a expressão ampla que alcança os meios

para solução pacífica de conflitos, abarca os tratados, convenções, acordos, convênios,

conferências etc [...]” (STRENGER,1986, apud MUNIZ, 2002, p. 123).

Sentença Arbitral: “Decisão proferida em juízo arbitral e que produz os mesmos

efeitos da sentença de juiz estatal” (SIDOU, 1998, p. 762).

Sentença Arbitral Estrangeira: “[...] A que é proferida por Juízo Arbitral fora do

território nacional [...]” (SIDOU, 1998, p. 762).

Sentença Judicial: “provinda de um juiz togado, inserido entre os agentes públicos da

atividade jurisdicional do Estado, ou seja, é a composição estatal da lide” (SILVA, 2004, p.

30).

Sucumbência: “Conseqüências jurídicas suportadas pela parte perdedora da ação,

consiste no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios” (ROSA,

FONTANELLA, 2002, p.115).

Título Executivo: “O título executivo é o documento dotado de eficácia para tornar

adequada a tutela executiva de determinada pretensão” (GONÇALVES, 2004, p. 15).

Tribunal Arbitral: “[...] Órgão constituído de árbitros, em número singular ou ímpar,

escolhido pelas partes na convenção de arbitragem, com o fim de conhecer e decidir de

causas envolvendo direitos patrimoniais disponíveis” (SIDOU, 1998, p. 627, grifo do autor).

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Usos: “práticas generalizadas em certos meios econômicos, que nascem da reiteração

uniforme e constante de certos comportamentos -(...)- durante um intervalo de tempo

significativo” (VICENTE, 1990, apud MUNIZ, 2002, p. 122).

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 18

1.1 TEMA ................................................................................................................................ 18

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA............................................................................................. 18

1.3 OBJETIVOS DE PESQUISA............................................................................................ 18

1.4 PROBLEMAS DE PESQUISA......................................................................................... 19

1.5 HIPÓTESES....................................................................................................................... 20

1.6 METODOLOGIA.............................................................................................................. 20

1.7 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS..................................................................................... 21

2 ASPECTOS GERAIS DA ARBITRAGEM ..................................................................... 22

2.1 CONCEITOS GERAIS DE CONFLITO E SUAS FORMAS DE COMPOSIÇÃO......... 22

2.2 TRAÇO HISTÓRICO DA ARBITRAGEM...................................................................... 24

2.2.1 A Arbitragem na Legislação Brasileira........................................................................... 26

2.3 CONCEITO DE ARBITRAGEM...................................................................................... 27

2.4 NATUREZA JURÍDICA DA ARBITRAGEM................................................................. 29

2.5 PRINCÍPIOS INFORMADORES DA ARBITRAGEM................................................... 31

2.5.1 Princípio da Autonomia da Vontade............................................................................... 31

2.5.2 Princípios da Garantia Processual................................................................................... 32

2.5.2.1 Princípio do contraditório............................................................................................. 33

2.5.2.2 Princípio da igualdade das partes................................................................................. 33

2.5.2.3 Princípio do livre convencimento ou da persuasão racional do julgador..................... 34

2.5.2.4 Princípio da imparcialidade do julgador...................................................................... 34

2.5.3 Princípio da Obrigatoriedade da Sentença...................................................................... 35

2.6 CAMPO DE ATUAÇÃO DA ARBITRAGEM................................................................. 36

2.7 CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM..................................................................... 37

2.8 DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9.307/1996..................................................... 39

3 DA INSTITUIÇÃO DA ARBITRAGEM......................................................................... 42

3.1 DAS PARTES.................................................................................................................... 42

3.2 DO ÁRBITRO.................................................................................................................... 44

3.2.1 Princípios que Norteiam a Atuação dos Árbitros............................................................ 47

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3.2.2 Das Causas de Impedimento e Suspeição do Árbitro...................................................... 48

3.3 FORMAS DE ARBITRAGEM.......................................................................................... 50

3.3.1 Arbitragem de Direito..................................................................................................... 51

3.3.2 Arbitragem por Eqüidade................................................................................................ 52

3.3.3 Arbitragem com Base nos Princípios Gerais do Direito, Usos e Costumes e nas

Regras Internacionais de Comércio..........................................................................................

53

3.4 DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM.......................................................................... 54

3.4.1 Da Cláusula Compromissória.......................................................................................... 55

3.4.1.1 Execução da cláusula compromissória......................................................................... 57

3.4.2 Do Compromisso Arbitral............................................................................................... 58

3.5 DO PROCEDIMENTO ARBITRAL................................................................................. 61

3.5.1 Da Instrução no Procedimento Arbitral........................................................................... 64

4 FASE DECISÓRIA ARBITRAL....................................................................................... 67

4.1 DAS MEDIDAS CAUTELARES NA ARBITRAGEM.................................................... 67

4.2 DA SENTENÇA ARBITRAL........................................................................................... 69

4.2.1 Classificação da Sentença Arbitral.................................................................................. 71

4.2.2 Requisitos de Forma e Elementos da Sentença Arbitral................................................. 73

4.2.3 Efeitos da Sentença Arbitral............................................................................................ 76

4.2.4 Retificação e Interpretação da Sentença Arbitral............................................................ 80

4.2.5 Nulidade da Sentença Arbitral........................................................................................ 82

4.3 DA SUCUMBÊNCIA NO PROCESSO ARBITRAL....................................................... 86

4.4 RECONHECIMENTO E EXECUÇÃO DE SENTENÇAS ARBITRAIS

ESTRANGEIRAS....................................................................................................................

88

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 96

ANEXO.................................................................................................................................... 100

LEI 9.307/1996......................................................................................................................... 100

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1 INTRODUÇÃO

1.1 TEMA

O tema de pesquisa pertence ao ramo do Direito Civil, concentrando-se nas relações

de Direito Privado, visando à abordagem de questões normativas e procedimentais que

vislumbrem as características e peculiaridades da Arbitragem, forma extrajudicial de solução

de conflitos, através de uma análise quanto a aspectos destacados da Lei 9.307/1996, mais

conhecida como a Lei de Arbitragem.

Essa nova forma de prestação jurisdicional, já prevista em legislações anteriores, mas

sem, no entanto, surtir efeitos quanto a sua eficácia, estabelece inovações permitindo ao

particular recorrer a um julgamento rápido e sem demais protelações, resolvendo a Lide de

forma eficaz, submetendo à apreciação de um ou mais Árbitros competentes e capacitados

para prolatar uma sentença justa e irrecorrível.

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Quanto a sua delimitação, trata-se de um estudo da Arbitragem no Brasil, após o

advento da Lei 9.307, em 23 de setembro de 1996, para demonstrar as inovações trazidas pelo

instituto, delimitando sua forma e aplicabilidade, decorrentes de sua concretização efetiva no

território nacional.

1.3 OBJETIVOS DE PESQUISA

Além de o presente trabalho trazer informações pertinentes ao leitor, capazes de

instruir na busca por uma justiça rápida e eficiente, este possui o objetivo geral de analisar

questões normativas e procedimentais da Arbitragem, buscando demonstrar as inovações

oferecidas pelo instituto, como forma de aproximar a justiça do cidadão comum.

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Quanto aos Objetivos específicos, destacam-se:

a) verificar a possibilidade de atuação dos Árbitros, visto tratar-se da prestação da

tutela jurisdicional desvinculada do poder estatal, procurando demonstrar as diferentes formas

de composição de conflitos concebidas pela Arbitragem;

b) compreender a admissão do uso da Eqüidade como princípio base para o

julgamento dos conflitos, buscando a justiça com probidade e retidão;

c) investigar a possibilidade da concessão de medidas cautelares na Arbitragem,

capazes de assegurar a efetividade da demanda, através de meios rápidos e apropriados a

garantir a tutela final visada no julgamento.

1.4 PROBLEMAS DE PESQUISA

Para tanto, busca-se no transcorrer da pesquisa, a solução para os seguintes problemas

apresentados:

a) Visto o instituto da Arbitragem tratar-se de forma extrajudicial de solução de

conflitos, que retira do Estado o monopólio da prestação jurisdicional, passando ao particular

o condão de prestar a respectiva tutela, tal método não se demonstra inconstitucional

confrontando com o princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário na solução dos litígios,

elencado no artigo 5o, XXXV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988?

b) Visto que a Lei 9.307/1996 permite ao Árbitro proferir suas decisões com base na

Eqüidade como princípio norteador, é possível que este se abstenha do uso do direito,

desvinculando-se das regras legais vigentes?

c) Levando-se em consideração que a Sentença Arbitral é proferida por um Árbitro,

escolhido pelas partes, e independe da homologação do juiz togado, qual a sua validade e

eficácia perante o mundo jurídico?

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1.5 HIPÓTESES

Desta forma, apresentam-se como soluções preliminares aos problemas apresentados,

as seguintes hipóteses:

a) o instituto apresenta-se como verdadeira busca pela justiça, visto que as partes

fazem uso do princípio da autonomia da vontade, amparados pela liberdade de contratar,

permitindo às partes a criação do direito através do contrato, ademais o preceito constitucional

da inafastabilidade do Poder Judiciário na solução dos litígios, visa uma garantia ao cidadão

contra abusos do próprio Estado, e a opção pela sua renúncia não desvirtua sua finalidade;

b) a Lei 9.307/1996 permite ao Árbitro o uso da Eqüidade como base para o

arbitramento, demonstrando-se perfeitamente possível o julgamento com base neste princípio,

desde que o mesmo seja utilizado para sanar possíveis lacunas ou obscuridades da Lei, como

prerrogativa excepcional na busca do bem comum, não agindo no sentido contrário ao direito;

c) a Sentença Arbitral independente de homologação judicial, faz Coisa Julgada e é

dotada de caráter executivo, estando desta forma, no mundo jurídico, em pé de igualdade com

a sentença proferida pelo juiz togado. Contudo, o juízo arbitral não se reveste do poder de

executar seus julgados, que não cumpridos voluntariamente necessitam da força estatal para a

então satisfação da pretensão requerida.

1.6 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da presente pesquisa, utiliza-se do Método Dedutivo, como

base lógica da investigação científica. Nos dizeres de Pasold (2003, p. 103), o método

dedutivo procura “estabelecer uma formulação geral, e em seguida, buscar as partes do

fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral”.

Como técnicas de pesquisa, conceituado por Pasold (2003, p. 104) como sendo “[...]

um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para

realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas

investigatórias”, serão utilizadas a doutrina majoritária no campo arbitral, bem como a

legislação pertinente.

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1.7 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS

O Capítulo inicial trata-se de uma análise sob os aspectos gerais da Arbitragem, com

uma perspectiva introdutória aos Capítulos seguintes, para tanto, realiza-se um estudo quanto

aos conceitos gerais de Conflito e suas formas de composição, traçando um esboço histórico

da Arbitragem no tempo e no espaço, busca-se formar um conceito do instituto e definir sua

natureza jurídica, bem como, examinar seus princípios informadores, campo de atuação e

características principais, finalizando com uma apreciação quanto à constitucionalidade da Lei

9.307/1996.

O Capítulo intermediário está reservado ao estudo da instituição da Arbitragem

conforme a Lei 9.307/1996, onde se dá início ao procedimento, mais precisamente no que diz

respeito às partes, os Árbitros, as formas de Arbitragem, a convenção e o Procedimento

Arbitral.

O Capítulo final apresenta uma perspectiva acerca da fase decisória do processo

arbitral, onde o Árbitro ou Tribunal Arbitral procede a prestação da tutela, seja provisória ou

definitiva, examinando a respeito da concessão das medidas cautelares na Arbitragem, a

Sentença Arbitral, a Sucumbência do processo arbitral e o reconhecimento e execução de

Sentenças Arbitrais Estrangeiras.

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2 ASPECTOS GERAIS DA ARBITRAGEM

2.1 CONCEITOS GERAIS DE CONFLITO E SUAS FORMAS DE COMPOSIÇÃO

Para se iniciar a análise do instituto em questão, bem como, para a formação de um

conceito de Arbitragem, importante é a definição do conceito de Conflito, momento

específico onde os dissídios são iniciados.

Conforme Sidou (1998, p. 189), Conflito significa o: “[...] Estado resultante da

divergência ou entrechoque de interesses”

Desta forma, atrelado ao conceito de Conflito, está um duelo entre duas ou mais

pessoas, originando uma pretensão resistida.

Compartilhando do mesmo entendimento, Boulding (1998, apud SILVA, 2004, p. 27,

grifo do autor) define Conflito como sendo: “uma situação de concorrência, onde as partes

estão conscientes da incompatibilidade de futuras posições potenciais, e na qual cada uma

delas deseja ocupar uma posição incompatível com os desejos de outra”.

Parafraseando Silva (2004), a palavra Conflito traz um sentimento negativo e

ameaçador, alertando a necessidade das pessoas se defenderem, agindo de forma a buscar

situações favoráveis de manter sua integridade física, psicológica e financeira.

Opera-se assim, devido à insatisfação e ao inconformismo, através de um instinto de

preservação, a procura de uma conjuntura confortável para si, marchando, na maioria das

vezes, em sentido contrário aos interesses de terceiros.

Esses conflitos caracterizam-se por situações em que uma pessoa pretendendo para si determinado bem, não pode obtê-lo – seja porque (a) aquele que poderia satisfazer a sua pretensão não a satisfaz, seja porque (b) o próprio direito proíbe a satisfação voluntária da pretensão (p. ex., a pretensão punitiva do Estado não pode ser satisfeita mediante um ato de submissão do indigitado criminoso) (CINTRA, GRINOVER, DINAMARCO 2005, p. 22).

Desta forma, quando uma ou mais partes postulam em favor de seus interesses,

buscando sua satisfação na resistência das outras, instituído está o Conflito e necessário a sua

composição.

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Durante os séculos, diversas formas se apresentaram para compor as desavenças,

conforme Cintra, Grinover e Dinamarco (2005), no início das civilizações não existia um

poder estatal autoritário, responsável por dirimir as controvérsias entre os cidadãos,

prevalecendo assim a autotutela como forma majoritária e primitiva para determinar o fim da

Lide, onde os particulares utilizavam-se da força para impor sua vontade sobre os demais,

fazendo prevalecer o mais forte sobre o mais fraco, ausente de qualquer juiz ou terceiro que

interviesse no julgamento.

Outra forma não menos importante e que da mesma forma nasceu dentre os

primórdios da civilização, foi a autocomposição, onde também apenas figuravam particulares.

São três as formas de autocomposição (as quais, de certa maneira, sobrevivem até hoje com referência aos interesses disponíveis): a) desistência (renúncia à pretensão); b) submissão (renúncia à resistência oferecida à pretensão); c) transação (concessões recíprocas). Todas essas soluções têm em comum a circunstância de serem parciais – no sentido de que dependem da vontade e da atividade de uma ou de ambas as partes envolvidas (CINTRA, GRINOVER, DINAMARCO, 2005, p. 23, grifo do autor).

Mas a busca pela imparcialidade como forma de se fazer verdadeira justiça, levou a

apreciação da demanda a um terceiro de louvor e confiança para que este solucionasse o

problema. Desta forma nasceu a Arbitragem, foco deste trabalho, onde os particulares

escolhiam Árbitros desvinculados do Estado, geralmente sacerdotes e anciãos, sábios que

teriam uma visão imparcial do Conflito (CINTRA, GRINOVER, DINAMARCO, 2005).

Com o passar do tempo, o Estado percebeu a necessidade de intervir na sociedade para

dirimir os conflitos, tirando do particular essa função, instituindo a jurisdição, onde o juiz

como representante do Estado, examina as pretensões e resolve os litígios (MUNIZ, 2002).

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2.2 TRAÇO HISTÓRICO DA ARBITRAGEM

Uma vez adentrado na ceara dos Conflitos, ressalta-se que desde os primórdios da

humanidade os litígios existiam e durante os séculos foram alteradas suas formas de

composição.

Quanto à introdução da Arbitragem na solução de conflitos, destaca Muniz (2002, p.

21) que:

Dentre os meios se solução pacífica de conflitos, destacamos a arbitragem, um dos institutos jurídicos internacionais mais antigos que teve sua origem nos costumes. Já era encontrado entre os povos antigos havendo registros na doutrina de sua utilização pelo Egito, Assíria, Babilônia, Kheta e pelos hebreus.

Contudo, entre os povos antigos, foi na Grécia e em Roma que o instituto teve maior

êxito. A Arbitragem na Grécia era forma de solução de conflitos tanto entre particulares

quanto entre cidades-estados, citando como exemplo o Tratado de Paz estabelecido entre

Atenas e Esparta em 445 a.C. (MORAIS, 1999).

Ainda, sobre a Arbitragem grega, relata Muniz (2002, p. 21) que:

A prática da arbitragem era reflexo da própria religião grega cuja cultura trazia em sua mitologia a resolução das questões entre deuses e heróis através da presença de um terceiro chamado a intervir. A evolução do instituto acompanhou o desenvolvimento da sociedade grega, a princípio dentro da delimitação de cada cidade e, aos poucos, foi se inserindo e delineando sua forma nos costumes, leis e tratados firmados entre as cidades gregas.

Furtado e Bulos (1998, p.21, grifo do autor) complementam que:

No direito grego, os contendores podiam submeter suas controvérsias à árbitros privados, e se tem notícia de que alguns tribunais (ligas enfitônicas) era reservada competência para dirimir conflitos entres cidades gregas, como verdadeiros juízes arbitrais, distintos dos então chamados árbitros públicos.

Não diferente em Roma, o instituto fora largamente empregado. “Em Roma,

conquanto embrionário o juiz estatal, a justiça dos árbitros era vigorosamente empregada com

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a eleição, pelas partes, de árbitros privados que lhe resolvessem pendências” (FURTADO,

BULOS, 1998, p. 21).

Nos povos Romanos, as leis empregadas eram muito semelhantes as do atual instituto,

proporcionando ao Árbitro a aplicação de mecanismos eficientes que evitassem o formalismo

do direito puro, de forma mais satisfatória às partes (MORAIS, 1999).

Na Idade Média o uso da Arbitragem foi muito difundido, principalmente devido à

inserção da Igreja Católica no poder estatal, que muitas vezes acabavam se confundindo.

A influência da Igreja devia-se tanto à sua ingerência nas questões dos Estados e soberanos, quanto aos tratados que lhe davam tal poder ou, até mesmo, aos decretos dos suseranos que reconheciam aos enviados, ou representantes do Papa, o direito de atuarem como árbitros para resolverem litígios públicos ou particulares nas mais variadas formas de solução de controvérsias (entre soberanos, sobre questões de território, ou sobre partilha, parentesco, tutela etc.) (MUNIZ, 2002, p.23).

Assim, nesta época, diante das controvérsias internacionais entre os países, que eram

resolvidas pelo Papa, através de meios políticos informais, nasceu à Arbitragem internacional

(FURTADO, BULOS, 1998).

Já na era moderna, o poder de dizer o direito, isto é, prestar a tutela jurisdicional, fora

usurpado pelo Estado, trazendo uma série de atrasos ao método consuetudinário.

Com o surgimento do ESTADO MODERNO e a concentração de poder dentro deste, ligada à noção de soberania, da qual decorria que a lei e a ordem seriam impostos dentro do território pelo próprio poder dominante sem intermediários ou superiores ao poder estatal vigente, a lei passa a ter um caráter territorial, com maiores restrições a sua aplicação, e passam a surgir peculiaridades que vão diferenciar a ordem jurídica de uma e de outra sociedade política, perdendo a lei muitas de suas características comuns (MUNIZ, 2002, p. 24, grifo do autor).

A Arbitragem passa então, a atuar de forma menos expressiva entre os particulares,

paralelamente ao poder estatal que trouxe para si o encargo de dizer o direito.

Ao final do século XVIII foi que o instituto voltou à tona, visto a criação de órgãos

internacionais e o estabelecimento de tratados que visavam à ordem e a paz entre os Estados,

tomando grande impulsionamento a partir de 1950, devido ao grande desenvolvimento da

economia mundial dado pela abertura dos mercados, reafirmando-se desta forma, não só

como mecanismo para solução de conflitos entre os particulares, mas também, entre os

sujeitos de direito público externo (MUNIZ, 2002).

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2.2.1 A Arbitragem na Legislação Brasileira

No direito brasileiro, a Arbitragem apresenta-se como herança lusitana, sendo, há

muito, prevista nas principais legislações nacionais, como é o caso da Constituição do Império

de 1824:

A Constituição do Império (1824) dispunha sobre a matéria no art. 160, no Título destinado a tratar do Poder Judiciário, in verbis: “Nas cíveis, e nas penaes civilmente intentadas, poderão as Partes nomear Juízes Árbitros. Suas sentenças serão executadas sem recurso, se assim o convencionarem as mesmas partes” (FIGUEIRA JÚNIOR, 1999, p. 32).

Outras constituições também previram em seu texto a possibilidade da implantação da

jurisdição arbitral, “A Constituição de 1934 estabeleceu, entre as competências privativas da

União (art. 5o, XIX), a de legislar sobre ‘normas fundamentais da arbitragem comercial’”

(SANTOS, 2001, p. 19).

Indiferente, a Constituição sucessora de 1937, conforme Santos (2001, p. 19): “[...]

(art. 18, letra ‘d’) permitiu aos Estados legislar sobre: ‘organizações públicas, com o fim de

conciliação extrajudiciária dos litígios ou sua decisão arbitral’”.

Além dos artigos referentes à Arbitragem comercial no Código Comercial de 1850,

Lima (2000, p. 89) coloca que: “O Código Civil de 1916 e o Código de Processo Civil de

1973 também previam a arbitragem, porém sujeitando-a à homologação pelo Poder

Judiciário”.

No atual contexto nacional, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

elenca em seu artigo 114, § 1o e § 2o a composição da Arbitragem na solução de litígios

trabalhistas:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] § 1o Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2o Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou a arbitragem, é facultado as mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. [...].

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Entretanto, no Brasil, antes da vigência da Lei 9.307/1996, o uso da Arbitragem

praticamente não possuía nenhuma expressão, apesar de previsto em diversos textos legais,

seu uso não fora difundido. Com o advento da Lei em 23 de setembro de 1996, o instituto

tomou força e diversas Câmaras e Tribunais Arbitrais foram criados, visto que mecanismos

foram concebidos para a adaptação da Arbitragem ao contexto nacional.

O novo regime da arbitragem é simplesmente mais um instrumento válido e colocado à disposição dos interessados para a solução de conflitos de natureza patrimonial disponível, ao lado de outras formas alternativas de composição, bem como da jurisdição estatal, que se realiza através da ponte imaginária que é o processo civil tradicional (FIGUEIRA JÚNIOR, 1999, p. 36).

Fica assim, à disposição das partes, mais uma forma de composição de litígios, capaz

de atuar na ceara dos Direitos Patrimoniais Disponíveis, visando aproximar a justiça ao

cidadão comum.

2.3 CONCEITO DE ARBITRAGEM

Após uma abordagem sobre o conceito de Conflito, que aponta a Arbitragem como

uma de suas formas de composição e uma análise quanto ao histórico do instituto, importante

concretizar o conceito do mesmo, determinando seu significado semântico e doutrinário.

“O vocábulo arbitragem é de origem latina, vem de ‘arbiter’ (juiz, louvado, jurado), e

designa o ‘processo que se utiliza, a fim de se dar solução a litígio ou divergência, havida

entre duas ou mais pessoas’” (SILVA, 1984, apud MUNIZ, 2002, p. 39).

Na origem da palavra, denota-se a figura de um terceiro (juiz, louvado, jurado), a

quem se atribui a apreciação do julgamento a fim de se decidir a contenda.

De forma mais ampla e genérica, encontra-se maior facilidade na definição de

Arbitragem, como bem coloca Lima (2000, p. 10): “Em um conceito lato sensu, a arbitragem

é um meio célere de solução de controvérsias, realizada fora do Poder Judiciário e detentora

de força executiva”.

Da mesma forma Rosa e Fontanella (2002, p. 18) caracterizam o instituto como:

“Método de resolução de conflitos envolvendo direitos disponíveis, segundo o qual um árbitro

escolhido pelas partes emite decisão sobre o caso, com força de sentença judicial (Lei n º

9.307/96)”.

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Contudo, Guerreiro (1993, apud MORAIS, 1999, p. 185, grifo do autor) coloca que:

“O conceito de arbitragem refoge a uma determinação precisa, seja por incertezas

metodológicas, seja, sobretudo, por motivos mais profundos”. Demonstrando assim, uma

certa dificuldade em formar um conceito fechado de Arbitragem, havendo variações

conceituais quanto à fundamentação utilizada por cada autor.

Entretanto, frente à necessidade de se determinar às diretrizes operacionais do mesmo,

Silva (2004, p. 30, grifo do autor) define que:

A Arbitragem: É uma técnica de solução de litígios, referentes a direitos patrimoniais disponíveis, através da intervenção de um ou mais árbitros que recebem poderes através de uma convenção privada (compromisso arbitral), decidindo com base nesta convenção, sem a intervenção do Estado, sendo uma decisão destinada a assumir eficácia de sentença judicial, e com a vantagem de ser irrecorrível.

Nota-se, que o doutrinador coloca a Arbitragem como uma técnica de solução de

conflitos, alertando que a demanda poderá atender aos interesses dos litigantes quando

tratarem de Direitos Patrimoniais Disponíveis.

Já Strenger (1992, apud MUNIZ, 2002, p. 40), conceitua o instituto como “[...]

instância jurisdicional, praticada em função de regime contratualmente estabelecido, para

dirimir controvérsias entre pessoas de direito privado e/ou público, com procedimentos

próprios, e força executória perante tribunais estatais”.

Enfatizando assim, a característica jurisdicional de aplicação do direito que reveste a

Arbitragem, no mesmo sentido, Muniz (2002, p. 40) a caracteriza “[...] como procedimento

jurisdicional privado para a solução de conflitos, instituído com base contratual, mas de força

legal, com procedimento, leis e juízes próprios estabelecidos pelas partes, e que subtrai o

litígio da jurisdição estatal”.

Compilando os doutrinadores, resta que, a Arbitragem trata-se de um instituto privado

de solução de conflitos, onde as partes, litigando quanto a Direitos Patrimoniais Disponíveis,

elegem um ou mais Árbitros, que externa à jurisdição estatal, com princípios e procedimentos

próprios, põe fim ao litígio estabelecendo a paz entre os litigantes.

Importante, para a real compreensão do instituto, a definição de Direitos Patrimoniais

Disponíveis, que serão posteriormente abordados quando do estudo do campo de atuação da

Arbitragem.

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2.4 NATUREZA JURÍDICA DA ARBITRAGEM

Encerrada análise do conceito de Arbitragem, necessária a definição de sua natureza

jurídica. Para tanto, Muniz (2002) apresenta três correntes: a contratualista ou privatista, a

jurisdicional ou publicista e a teoria híbrida.

Acentua Silva (2004, p. 45), concernente à teoria contratualista/privatista, que:

Os privatistas se apegam à natureza do ato que deu origem à arbitragem, que a seu ver é um ato de natureza privada, instituída através da cláusula arbitral, ou do compromisso de arbitragem, que é proveniente de um negócio jurídico de natureza privada. Por esse motivo a função do Árbitro tem caráter privado e a eficácia de sua decisão depende, basicamente, de chancela estatal, pois equivale a um parecer ou laudo técnico.

Desta forma, a tese contratual fundamenta-se na origem do instituto, quando de sua

formação pela cláusula ou pelo Compromisso Arbitral, visto tratar-se de um contrato

estabelecido entre as partes optando pela solução na esfera extrajudicial e não na jurisdição

estatal.

Morais (1999) reforça a teoria contratualista, colocando que além de sua origem de

caráter privado, a qualidade dos Árbitros também delimitam o caráter contratual da natureza

jurídica da Arbitragem.

Nos ditames do doutrinador, os Árbitros não se revestem do caráter jurisdicional, não

possuem a qualidade de Funcionário Público, mas através do contrato, estabelecem um

vínculo com as partes, para atuar sobre dissídios patrimoniais disponíveis, sendo que, devido

ao princípio da autonomia da vontade, o Estado não pode privar os particulares de tal escolha.

Alega ainda, a falta do poder de imperium1 da justiça arbitral que não possui a coerção

necessária para executar seus julgados.

Outra corrente veemente defendida é a da jurisdição, também conhecida como teoria

publicista.

1 “[...] o poder e as atribuições de certos magistrados: pretores, questores, censores, tribunos e edis, no campo de seu múnus” (SIDOU, 1998, p 421).

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Os publicistas vêem o aspecto teleológico da função do Árbitro, no seu aspecto finalista, sendo que a função, evidentemente, é pública e o ato é que é privado. Esta teoria adota o entendimento jurisdicional e atribui ao árbitro todas as funções inerentes à jurisdição, exceto o poder de império, privativo dos juízes togados (SILVA, 2004, p. 45).

Assim, a Arbitragem funciona de forma substitutiva da jurisdição, estando limitada

aos parâmetros impostos pela Lei, onde os Árbitros atuam como verdadeiros juízes na solução

dos litígios.

Neste sentido complementa Muniz (2002, p. 32, grifo do autor):

Os jurisdicionalistas têm em conta que jurisdição também é atividade para se fazer atuar o direito ao fato concreto. A arbitragem também atua neste sentido, só que com a participação do indivíduo a quem é possibilitado definir as normas e o juiz da questão, o que reafirma seu caráter de participação popular na justiça, seu fim social, e caracteriza o fim político da jurisdição como procedimento, atividade para se chegar à solução de conflitos e a realização da justiça. Ou seja, o árbitro, nomeado pelo particular, exerce atos de jurisdição, aplicando a regra geral ao caso concreto, pronunciando uma sentença arbitral, com força de título executivo judicial, que possui força executiva no sentido potencial, no sentido da possibilidade de procurar o uso da força.

Visto que, a Arbitragem institui a jurisdição, quando oferece a tutela para a solução

dos conflitos, seguindo princípios e procedimentos próprios e gerando uma sentença que

possui força executiva, a corrente jurisdicionalista, conforme Silva (2004, p. 46): “[...] tem

sido mais prestigiada e reconhecida no direito comparado e a que foi adotada pelo legislador

pátrio”, mas como não se pode deixar de lado o caráter contratual que origina todo o

Procedimento Arbitral, instituiu-se uma terceira corrente, chamada de teoria híbrida.

No entendimento de Muniz (2002), a natureza híbrida da Arbitragem deriva de dois

momentos distintos, a natureza contratual em uma primeira fase, quando a Arbitragem é

instituída através do compromisso ou da Cláusula Compromissória, e em uma segunda fase

contempla-se a jurisdição como forma privada de solução de litígios estabelecida por Lei,

investindo no Árbitro poderes de decidir equiparados ao juiz estatal.

Sinteticamente, podemos dizer que o direito de opção foi dado ao indivíduo, o poder de dizer o direito foi entregue ao árbitro, mas o uso da força permaneceu com o Estado. Devemos encarar a arbitragem olhando-a em seu todo: sua fase pré-arbitral, onde encontramos a convenção arbitral, de natureza contratual; e, sua fase arbitral propriamente, que se inicia com a instituição jurisdicional (MUNIZ, 2002, p. 39).

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Conclui-se, portanto, segundo Muniz (2002), pela teoria híbrida como sendo a corrente

que melhor caracteriza a natureza jurídica da Arbitragem, visto que, não se pode vislumbrar

apenas a sua origem contratual, assim como, levar em consideração somente a Arbitragem em

si instituída, quando atuante na prestação da tutela jurisdicional, mas sim, deve ser analisada

conjuntamente, contemplando ambas as fases para se chegar a um denominador comum,

capaz de vislumbrar o instituto como um todo.

2.5 PRICÍPIOS INFORMADORES DA ARBITRAGEM

Visto tratar este trabalho de um estudo abordando questões normativas e

procedimentais da Arbitragem, através de uma análise à aspectos destacados da Lei

9.307/1996, faz-se importante realizar uma análise aos princípios informadores da

Arbitragem, que regem os preceitos fundamentais do instituto, estabelecendo sua forma e

conjectura.

2.5.1 Princípio da Autonomia da Vontade

Como afirma Muniz (2002), o princípio da autonomia da vontade, configura o mais

importante dos princípios orientadores do sistema, possuindo no Brasil aplicação plena, que

possibilita às partes, através da convergência de vontades, a adoção de uma forma concreta

que se

adapte a real necessidade dos contratantes para a solução da controvérsia.

Na visão de Amaral Neto (1991, apud MUNIZ, 2002, p. 207):

A esfera da liberdade de que o agente dispõe no âmbito do direito privado chama-se autonomia, direito de reger-se por suas próprias leis. Autonomia da vontade é, portanto, o princípio de direito privado pelo qual o agente tem a possibilidade de praticar um ato jurídico, determinando-lhe o conteúdo, a forma e os efeitos. Seu campo de aplicação é, por excelência, o direito obrigacional, aquele que o agente pode dispor como lhe aprouver, salvo disposição cogente em contrário.

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Assim, podemos destacar o princípio como sendo aquele onde o sujeito é livre para

criar o direito através do contrato, impondo sua própria vontade no decorrer da relação

obrigacional, capaz de possibilitar a submissão do Conflito à apreciação do Árbitro, bem

como, decidir quanto à própria regulamentação do procedimento, desde que coerente com a

Ordem Pública e o sistema legal vigente.

2.5.2 Princípios da Garantia Processual

Como indaga Muniz (2002), instituído o Procedimento Arbitral, necessário que se

estabeleçam instrumentos para que o mesmo se torne efetivo e válido. Desta forma mesmo

vigorando o princípio da autonomia da vontade, as partes não podem deixar de lado os

preceitos que orientam o devido processo legal.

Para tanto, não basta oferecer a solução ao Conflito, mais que esta solução esteja

amparada pelos preceitos legais e respectivas garantias constitucionais.

Neste mesmo entendimento se posiciona o doutrinador Carmona (1993, apud MUNIZ,

2002, p. 73):

[...] embora a atual lei tenha deixado o procedimento arbitral à livre disposição das partes, também prestigiou os princípios básicos do devido processo legal (contraditório, igualdade das partes, imparcialidade do árbitro e livre convencimento). Se as partes não estabelecerem normas procedimentais próprias ou as de instituição de arbitragem, ficará a cargo do órgão arbitral fazê-lo, porém, em qualquer dos casos, devem ser atendidos os princípios da garantia processual.

Assim, o Árbitro ao apreciar a demanda deve ser imparcial, tendo, contudo, a

liberdade para formar seu livre convencimento, não podendo admitir que pressões internas ou

externas interfiram em sua decisão, bem como, manter uma postura igualitária às partes,

possibilitando às mesmas o contraditório.

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2.5.2.1 Princípio do contraditório

Como bem orienta a doutrina, o princípio do contraditório encontra-se intimamente

ligado à validade do processo:

O princípio do contraditório também indica a atuação de uma garantia fundamental de justiça: absolutamente inseparável da distribuição da justiça organizada, o princípio da audiência bilateral encontra expressão no brocardo romano: audiatur et altera pars. Ele é tão intimamente ligado ao exercício do poder, sempre influente sobre a esfera jurídica das pessoas, que a doutrina moderna considera inerente mesmo à própria noção de processo (CINTRA, GRINOVER, DINAMARCO, 2005, p. 57).

Desta forma, o juízo arbitral deve ser revestido pelo manto do contraditório, que traz

em seu bojo a garantia de fornecer a ambas as partes litigantes a possibilidades de

apresentarem sua defesa. Como ressalta Bastos e Martins (1989, apud MUNIZ, 2002, p. 75):

O contraditório é por exteriorização a própria defesa, (...) A todo ato produzido caberá igual direito da outra parte opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão que lhe convenha, ou ainda de fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor (...) Daí o caráter dialético do processo que caminha através de contradições a serem superadas pela atividade sintetizadora do juiz.

Não pode então, o Árbitro deixar de apreciar as alegações apresentadas pelas partes,

respeitando o curso do devido processo legal, demonstrando um forte vínculo com o princípio

da igualdade das partes.

2.5.2.2 Princípio da igualdade das partes

Como fora dito anteriormente, o princípio da igualdade das partes encontra-se

fortemente ligado com o do contraditório, pois devido ao tratamento igualitário, proporciona-

se aos litigantes, iguais possibilidades de manifestação no processo.

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A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação de igualdade perante o juiz: da norma inscrita no art. 5o, caput, da Constituição, brota o princípio da igualdade processual. As partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, para que tenham as mesmas oportunidades de fazer valer em juízo as suas razões (CINTRA, GRINOVER, DINAMARCO, 2005, p. 57).

Assim, o postulado constitucional orienta o juízo arbitral para que uma das partes não

se prevaleça sobre a outra de forma imperiosa e prejudicial ao processo, ou seja,

proporcionando a uma delas, diferentes formas e oportunidades que lhe favorecessem, o que

invalidaria o ato, tornando nulo o procedimento.

2.5.2.3 Princípio do livre convencimento ou da persuasão racional do julgador

Argumentam Cintra, Grinover e Dinamarco (2005, p. 69) que: “Tal princípio regula a

apreciação das provas existentes nos autos, indicando que o juiz deve formar livremente sua

convicção”.

Fica evidenciado que o presente princípio possibilita que o julgador forme seu

convencimento através da interpretação do conteúdo dos autos com liberalidade de

apreciação, contudo, acentua Muniz (2002, p.77) que: “A liberdade de formação do

convencimento não pressupõe arbítrio, o julgador não pode se desfazer das provas e dos fatos

e julgar como lhe aprouver; tem que se pautar pela verdade trazida à sua presença”.

Agindo assim, com a devida racionalidade na apreciação da demanda, motivando sua

decisão nas razões mais coerentes com as provas apresentadas, para atuar com a devida

imparcialidade.

2.5.2.4 Princípio da imparcialidade do julgador

Conforme os ensinamentos de Muniz (2002, p. 79): “A imparcialidade do julgador é

um dos requisitos essenciais para que possa conduzir o procedimento, dando igual tratamento

às partes, e decidir de acordo com a justiça e o contido nos autos”.

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Complementam Cintra, Grinover e Dinamarco (2005, p. 53) que: “O juiz coloca-se

entre as partes e acima delas: esta é a primeira condição para que possa exercer sua função

dentro do processo. A imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual se

instaure validamente”.

Seguindo esse entendimento, o Árbitro deve estar isento quanto ao interesse das

partes, colocando-se na posição de julgador imparcial, imune a fatores internos e externos que

lhe desvirtuem para uma possível parcialidade.

2.5.3 Princípio da Obrigatoriedade da Sentença

Garantidos os preceitos constitucionais para a validade da sentença, esta, para obter

verdadeira efetividade no mundo jurídico, reveste-se de caráter obrigacional e imutável,

sujeitando as partes ao seu conteúdo.

Neste sentido, acentua Muniz (2002, p. 82):

A lei de arbitragem denomina a decisão arbitral de sentença arbitral e lhe outorga o caráter de definitividade e a mesma força da sentença do judiciário, constituindo-se, inclusive, em título executivo judicial, sem necessidade de homologação. Portanto, as partes não podem se opor ao seu cumprimento, pois a autoridade da sentença arbitral é outorgada pela lei e é independente da vontade dos litigantes ou do juiz que não podem se furtar ao seu cumprimento ou alterar-lhe a força e eficácia. Ou seja, é definitiva e imutável, devendo as partes sujeitarem-se à autoridade do órgão arbitral.

Desta forma, como indaga Muniz (2002), a Sentença Arbitral que será analisada nos

próximos capítulos, reveste-se da atribuição de Coisa Julgada, haja vista, a previsão legal que

confere o poder ao Árbitro de proferir sua decisão sem a necessidade da outorga estatal,

garantindo sua eficácia pela vinculação das partes à sentença, que revestida de

obrigatoriedade e executoriedade, fornece a devida segurança e estabilidade que valorizam o

caráter jurisdicional do instituto.

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2.6 CAMPO DE ATUAÇÃO DA ARBITRAGEM

O artigo primeiro da Lei 9.307/1996 institui: “Art. 1º. As pessoas capazes de contratar

poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais

disponíveis”.

Desta forma, a própria Lei limita o campo de atuação da Arbitragem aos litígios que

envolvam Direitos Patrimoniais Disponíveis, estes, segundo Carmona (1998, apud, SILVA,

2004) se classificam como sendo àqueles inerentes aos bens particulares, livres e

desembaraçados, tendo o alienante, capacidade jurídica para transacioná-los.

Direito patrimonial disponível é todo aquele direito que, advindo do capital ou do trabalho, ou da conjugação de ambos, bem como ainda dos proventos de qualquer natureza, como tais entendidos os acréscimos patrimoniais não oriundos do capital ou do trabalho ou da conjugação de ambos, pode ser livremente negociado pela parte, eis que não sofre qualquer impedimento de alienação, quer por força da lei, quer por força de ato de vontade (LACERDA, 1998, p. 40, grifo do autor).

Ficam caracterizados assim, os bens suscetíveis de alienação, que podem ser

livremente dispostos pela parte.

Neste mesmo sentido, Silva (2005, p. 10, grifo do autor) relata que “Ao falar em

direitos disponíveis temos que entender como DISPONÍVEIS os direitos vinculados a bens

alienáveis, ou apropriáveis, que estão no comércio jurídico. Patrimoniais os direitos sobre

bens que podem ser apreciados quantitativa, econômica e monetariamente”.

Quanto aos Direitos Indisponíveis, estes cabem sua apreciação pelo Poder Judiciário

competente, pois são de proteção do Estado por tutela da Lei, conforme reza o artigo 25, da

Lei 9.307/1996:

Art. 25. Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos indisponíveis e verificando-se que de sua existência, ou não, dependerá o julgamento, o árbitro ou o tribunal arbitral remeterá as partes à autoridade competente do Poder Judiciário, suspendendo o procedimento arbitral.

Sendo assim, o Árbitro, ao vislumbrar-se da existência de Direito Indisponível sendo

discutido na esfera extrajudicial, suspenderá o Procedimento Arbitral que será remetido à

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autoridade judiciária competente para analisar a questão, pronunciando-se quanto ao

prosseguimento ou não da Arbitragem.

2.7 CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM

Dentre os aspectos principais que circundam o instituto, destacam-se a rapidez, a

economia, a tecnicidade, a liberdade de contratação, executividade da Sentença Arbitral e o

sigilo.

Quanto à rapidez, acentua-se que o Procedimento Arbitral se desenvolve e põe termo

ao litígio de forma mais célere que o procedimento judicial, como bem informa Morais (1999,

p. 188, grifo do autor), a Arbitragem: “Possibilita uma maior celeridade na solução dos

conflitos, previsto em média para seis meses, e faculta às partes, inclusive, estabelecer prazo

para a sentença arbitral, podendo as mesmas responsabilizar o árbitro que descumprir o prazo

estipulado [...]”.

Ademais, os Árbitros não se encontram sobrecarregados com tantos processos quanto

os juizes togados, e contam ainda com sua especificidade técnica, atuando em uma área de seu

conhecimento (ALBUQUERQUE FILHO, 2002).

Além da celeridade nos julgamentos, outro fator importante para o atual contexto

nacional, é a economia.

A respeito da economia, quando da utilização da arbitragem, comparando-se com as despesas e custas em processos, além dos gastos com a citação ou intimações (pelo oficial de justiça, correio, edital), somente haverá os honorários dos árbitros, economizando-se com honorários de peritos, assistentes técnicos, custas processuais e honorários advocatícios. Assim, eliminam-se muitas despesas que teriam na justiça estatal e renunciam a vários recursos processuais (ALBUQUERQUE FILHO, 2002, p. 5, grifo do autor).

Os gastos no Procedimento Arbitral demonstram-se inferiores ao da justiça estatal,

favorecendo àqueles que não possam arcar com os autos custos do processo judicial na busca

pela solução do Conflito.

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Concernente a tecnicidade, “É considerada uma justiça de técnicos, onde uma vez

atendidos pressupostos da capacidade civil, poderão as partes escolher livremente os árbitros a

que confiem para que dêem a solução do litígio” (MORAIS, 1999, p. 188).

Possibilita assim, a escolha de um julgador especialista quanto ao objeto da demanda,

que trará mais segurança e satisfação aos litigantes.

Referente a liberdade de contratação, esta se concentra na liberdade das partes em

estabelecer o objeto do litígio, inclusive versar sobre a forma de atuação do Árbitro, definindo

as regras a serem utilizadas no julgamento, como o uso da Eqüidade, Usos e Costumes, Leis

específicas, etc (MORAIS, 1999).

Atinente a executividade da Sentença Arbitral, que será abordada posteriormente em

tópico específico, resta neste momento, destacar que:

A eficácia da sentença arbitral como título executivo judicial, decorre de sua própria prolação, havendo condenação, não mais necessitando essa de qualquer homologação pelo órgão do Poder Judiciário, como anteriormente se exigia. Desapareceu com a Lei nº 9.307, de 23-9-96, a figura da homologação pelo Poder Judiciário, pelo que a sentença proferida pelo árbitro ou pelo tribunal arbitral, terá a eficácia de uma sentença proferida por tal órgão, independentemente de qualquer interferência deste (PARIZATTO, 1997, p. 100).

Concluindo, resta a análise quanto ao sigilo do Procedimento Arbitral, que

diferentemente dos procedimentos na Justiça Comum, que na sua grande maioria ocorrem

publicamente, estes, conservam a contenda em segredo, apenas entre os Árbitros e os

interessados.

Por esse processo há a confidencialidade de todo o procedimento, evitando-se, dessa forma, a divulgação de fatos e documentos, o que é procedimento comum no Poder Judiciário (salvo segredos de justiça), o que faz com que certas demandas não ocorram, pois o sigilo empresarial deve ser preservado (ALBUQUERQUE FILHO, 2002, p. 5, grifo do autor).

Como bem acentua o doutrinador, existem processos em que o sigilo é imprescindível,

assim, os litigantes que demandarem na justiça arbitral, não precisarão se preocupar com o

vazamento de informações importantes ou mesmo a divulgação de documentos confidenciais.

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2.8 DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9.307/1996

Devido à existência de alguns preceitos maiores, questiona-se sobre a

constitucionalidade da Lei 9.307/1996, devido à possível renúncia de tais preceitos

ocasionada pelos indivíduos que optam pela escolha da jurisdição arbitral.

Conforme Muniz (2002), a questão é levantada principalmente no que se refere ao

princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário na solução dos litígios, previsto no artigo 5o,

XXXV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, porém, também são

questionados os princípios constitucionais da vedação dos tribunais de exceção e do juiz

natural (artigo 5o, XXXVII e LIII, da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988), bem como, as garantias processuais (artigo 5o, LIV e LV, da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988), relativas ao devido processo legal, o contraditório, ampla

defesa, igualdade das partes e imparcialidade do julgador, além ainda, referente ao duplo grau

de jurisdição.

Quanto ao princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário na solução de litígios, reza

o mencionado inciso XXXV, do artigo 5o, que: “[...] a lei não excluirá da apreciação do Poder

Judiciário, lesão ou ameaça a direito”.

Haja vista, que ao Poder Judiciário, como representante do Estado, devem ser

submetidos os exames dos conflitos que atormentam a sociedade, indaga-se, se a opção pela

esfera arbitral para a resolução dos mesmos não estaria contrariando tal preceito.

No entendimento de Albuquerque Filho (2002), a faculdade da eleição do

Procedimento Arbitral não contraria tal regra, visto que, ao optar pela demanda arbitral, as

partes estão amparadas pelos princípios da liberdade de contratar e da solução pacífica dos

conflitos, ambos princípios que norteiam as relações de direito privado.

Acrescenta ainda o doutrinador que, a justiça estatal seria tão somente afastada e não

alienada, na busca consensual pela celeridade na solução do litígio.

Ademais, indaga Muniz (2002, p. 57) que:

Na Constituição Brasileira, vigente atualmente, a proibição contida no art. 5o, XXXV visa proteger o cidadão de eventual desvio cometido pelo Executivo ou Legislativo. Nos casos de abuso de direito, de ato arbitrário ou ilegal não podem as autoridades vedar ao cidadão o acesso à jurisdição do Estado, mas estes podem escolher, dentro do âmbito de sua liberdade, da autonomia da vontade, se renunciam ou não.

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O preceito constitucional seria então, uma garantia ao cidadão contra abusos do

próprio Estado, e a opção pela sua renúncia não desvirtuaria sua finalidade, visto que, o

cidadão estaria apenas utilizando uma via alternativa para a solução da demanda.

Resta ainda, que, a solução do litígio pela jurisdição arbitral, não retira a soberania do

Estado, mas a fortalece, quando esta, realiza a execução de seus julgados, denota-se que o uso

da força continua sob domínio exclusivo do Estado.

Referente aos princípios da vedação dos tribunais de exceção e do juiz natural:

Não se trata de tribunal de exceção, uma vez que a possibilidade de criação e as normas que irão regê-lo encontram-se estabelecidas em lei. Nem se trata de negação ao juiz natural, uma vez que as partes não o renunciam, mas o transferem a um destinatário privado, além disto, a determinação da competência, dos poderes, da investidura e dos limites de atuação do árbitro é feita pelo Estado, através da lei e, nada mais natural, do que aquele julgador indicado pelas partes e merecedor de sua confiança (MUNIZ, 2002, p. 64).

Fica claro então, que não ocorre uma renúncia ao juiz natural, há apenas a

transferência da jurisdição estatal para uma justiça privada, nem se trata de um Tribunal de

exceção por estarem todas as normas, quanto a sua concepção e regimento, estabelecidas em

Lei.

Referente às demais garantias processuais, acrescenta Muniz (2002, p. 64, grifo do

autor) que:

Em relação às garantias processuais, previstas no art. 5o LIV e LV, que se referem ao devido processo legal e aos princípios asseguradores deste, respectivamente, a nova lei estabeleceu como princípios norteadores do procedimento arbitral (sem os quais há sua nulidade) o contraditório, a ampla defesa, a igualdade, a imparcialidade e o livre convencimento do julgador (art. 21, § 2o).

Desta forma, como abordado anteriormente, serão respeitadas as garantias processuais,

que inclusive regem a Arbitragem, conforme disposto no § 2o, do artigo 21, da Lei

9.307/1996: “§ 2o Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do

contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre

convencimento”. Ato contrário acarretaria a nulidade da sentença que porventura vier a ser

proferida.

Resta então, a análise quanto ao duplo grau de jurisdição, se estaria ou não sendo

violado pela Lei 9.307/1996. Concernente ao assunto, Furtado e Bulos (1998) afirmam que

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devido à possibilidade das partes poderem recorrer ao Poder Judiciário para requerer a

anulação da sentença, conforme o disposto no artigo 33, da Lei 9.307/1996, o princípio

recursal não é violado, contudo, questiona-se quanto ao disposto no artigo 18 do mesmo

diploma legal, que proclama a não sujeição da Sentença Arbitral a recurso ou homologação

pelo Judiciário.

Porque o que se está levando em conta nesta hipótese é a extrema plausibilidade do acordo feito entre as partes, sendo inadmissível voltar atrás, exceto em casos muito determinados, previstos pela legislação. Trata-se daquela velha máxima segundo a qual o que foi pactuado deve ser cumprido. É a certeza de que a necessidade de se resolver a pendência partiu de uma extrema convicção das partes. Elas não tiveram dúvidas em se valer do juízo arbitral para solucionar o litígio, escolhendo livremente, espontaneamente e conscientemente um árbitro (FURTADO, BULOS, 1998, p. 9, grifo do autor).

Ademais, conclui Muniz (2002, p. 64, grifo do autor) sobre o duplo grau de jurisdição

que:

E no que diz respeito à dupla instância de julgamento (art. 5o, LV, CF) que se refere ao controle das sentenças proferidas, cumpre salientar que as partes podem estabelecer órgão revisor a quem caberá julgar possíveis recursos dentro do próprio juízo arbitral. Cabe, ainda, revisão pelo Judiciário através de ação de nulidade, ficando assegurado tanto o princípio constitucional, quanto a celeridade do procedimento e a liberdade das partes de pactuarem, dando certeza e segurança ao que foi decidido de comum acordo. O controle do Judiciário pode ser verificado, ainda, no caso de controvérsia sobre direitos indisponíveis, que suspende o procedimento arbitral, remetendo a questão prejudicial à autoridade judiciária competente.

Destarte, é possível o controle das decisões arbitrais em três momentos distintos,

quando as partes anteriormente convencionarem um órgão revisor dentro do próprio juízo

arbitral para analisar a decisão, através da ação de nulidade da sentença, submetendo sua

apreciação ao Poder Judiciário e ainda quando da existência de uma questão prejudicial que

suspende o Procedimento Arbitral e também submete ao juízo comum a apreciação da

pendência.

O próximo Capítulo desta monografia está reservado ao estudo da instituição da

Arbitragem conforme a Lei 9.307/1996, mais precisamente no que diz respeito às partes, o

Árbitro, as formas de Arbitragem, a convenção e o Procedimento Arbitral.

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3 DA INSTITUIÇÃO DA ARBITRAGEM

3.1 DAS PARTES

O já mencionado artigo 1o, da Lei 9.307/1996, dispõe que apenas as pessoas capazes

de contratar poderão atuar na justiça arbitral.

Isso se deve à bilateralidade contratual que rege o instituto, onde apenas pessoas

capazes, estariam aptas a dispor total ou parcialmente de seus bens no decorrer do

procedimento.

Ademais, o contrato onde é firmada a opção pelo julgamento arbitral, como negócio

jurídico que é, necessita da capacidade das partes para sua validade.

Quanto a definição de pessoa, Parizatto (1997, p. 13) acentua que:

Pessoa indica todo ser, capaz ou suscetível de direitos e obrigações. Não se fez distinção entre pessoa física ou jurídica, pelo que ambas poderão valer-se da arbitragem, eis que onde a lei não distingue não deve o intérprete distingui-la Ubi lex no distinguit, nec interpres distinguere debet.

Desta forma, tanto a Pessoa Física quanto a Pessoa Jurídica poderão figurar em ambos

os pólos do Procedimento Arbitral, visto que a Lei não exclui qualquer das espécies, somente

restringe àquelas capazes de contratar.

Compartilhando do mesmo entendimento, Lima (2000, p.15) informa que: “Existindo

capacidade civil, pessoas físicas ou jurídicas podem optar pela arbitragem, como forma

acordada entre elas para solucionar possíveis conflitos de interesses que porventura surjam”.

Para tanto, no que se refere à personalidade civil das Pessoas Físicas, esta se inicia

com o nascimento com vida, conforme reza o artigo 2o, do Código Civil: “Art. 2o A

personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a

concepção, os direitos do nascituro”.

Contudo, a capacidade na forma da Lei civil, conforme o artigo 5o do mesmo diploma

legal, é atribuída: ao maior de 18 (dezoito) anos, o emancipado, o casado, o exercente de

emprego público efetivo, o graduado em nível superior e aquele estabelecido civil,

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comercialmente ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o

menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha economia própria.

Deste modo, os Incapazes não poderão ingressar na via arbitral, ademais: “Trata-se de

pessoas que não atingiram um grau adequado de maturidade ou que, em virtude de moléstia

ou de alguma limitação pessoal, não podem cuidar eficazmente de seus interesses”

(RODRIGUES, 2002, p. 172).

Furtado e Bulos (1998) posicionam ainda, que os absolutamente e os relativamente

Incapazes, devidamente representados ou assistidos, bem como, os que tenham apenas

poderes de administração, não poderão valer-se da Arbitragem.

Contudo, o artigo 180, do Código Civil, prescreve que: “Art. 180. O menor, entre

dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se

dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se,

declarou-se maior”.

Assim, se o Menor Púbere firmar pela demanda arbitral, ocultando sua idade ou

declarando-se maior, esta será instaurada, não podendo o menor pleitear sua anulação.

No que tange as Pessoas Jurídicas, conforme artigo 45, do Código Civil vigente, sua

existência começa com o registro dos atos constitutivos no órgão competente:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição dos atos constitutivos no respectivo registro, procedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se ao registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

Além do que tange quanto à Capacidade Civil, Furtado e Bulos (1998), ainda

mencionam quanto à necessidade da Capacidade Processual, isto é, a capacidade de estar em

juízo, haja vista que apenas os que revestem desta qualidade, estariam aptos a participar das

relações obrigacionais, consoante o contido no artigo 7o, do Código de Processo Civil: “[...]

Toda pessoa que se acha no exercício dos seus direitos tem capacidade para estar em juízo”.

Nesta prerrogativa, Silva (2004) confirma que, devido a Arbitragem traduzir-se como

negócio jurídico bilateral, tanto a Pessoa Física quanto à Jurídica estão aptas a ingressar na

esfera arbitral, desde que possuam capacidade para estar em juízo.

Desta feita, a Capacidade Processual seria aquela atribuída ao sujeito habilitado para

ingressar em juízo, não sendo diferente no âmbito da Arbitragem, devendo a parte também

revestir-se desta qualidade.

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Convém frisar ainda, que a escolha pelo Procedimento Arbitral é facultativa, por isso,

não pode revestir-se de vícios que tornem nulo o consentimento das partes, que deve ser livre

e manifestamente expresso. (MUNIZ, 2002).

Grande discussão existe quanto à possibilidade da Administração Pública fazer uso da

via arbitral, pois a maioria das suas relações estão vinculadas a Direitos Indisponíveis,

entretanto, como afirma Tácito (2002), nem sempre os contratos administrativos envolvem

Direitos Indisponíveis, podendo haver casos onde não há alienação ou o comprometimento do

patrimônio estatal, mas apenas a fruição de vantagens ou o uso de bens públicos.

Deste modo, Tácito (2002, p. 28) conclui que: “Em síntese, na nossa opinião, o juízo

arbitral, adotado por acordo, é compatível com a margem da discricionariedade administrativa

na medida em que comporte direitos e interesses disponíveis”.

Ou seja, tratando-se de litígios envolvendo Direitos Disponíveis, poderá a

Administração Pública valer-se da Arbitragem como forma alternativa para solução do

eventual Conflito.

3.2 DO ÁRBITRO

O Árbitro compõe a figura principal do estudo em questão, visto que a ele é submetido

o julgamento das demandas propostas na jurisdição arbitral.

Sidou (1998, p. 63, grifo do autor) estabelece o conceito de Árbitro como sendo: “Juiz

de fato e de direito, escolhido livremente pelas partes mediante compromisso arbitral, com o

fim de solucionar conflitos privados sobre direitos patrimoniais disponíveis”.

Da mesma forma, o artigo 18, da Lei 9.307/1996, institui que o Árbitro é juiz de fato e

de direito.

Para Silva (2004, p. 62):

É juiz de fato em relação aos poderes que lhe atribuem, de investigação dos fatos da demanda e de valoriza-los, segundo a sua convicção. É juiz de direito porque possui a incumbência de realizar a subsunção desses fatos às normas legais incidentes ou o poder de julgar por eqüidade, desde que expressamente autorizado pelas partes, consoante o determinado no art. 11, inc. II da Lei nº 9.307/96.

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Isto é, juiz de fato devido à origem de sua investidura e de direito, visto que, ao caso

concreto aplica as normas legais.

Prescreve o artigo 13, da Lei 9.307/1996:

Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha confiança das partes. § 1o As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também, os respectivos suplentes. § 2o Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados, desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originalmente, o julgamento da causa a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto no art. 7o desta Lei. § 3o As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada. § 4o Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do tribunal arbitral. Não havendo consenso, será designado presidente o mais idoso. § 5o O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um secretário, que poderá ser um dos árbitros. § 6o No desempenho de sua função o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição. § 7o Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar as partes o adiantamento de verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.

Assim, quanto à possibilidade de ser Árbitro, Lacerda (1998) entende que, conforme a

Lei, basta a capacidade do agente, referindo-se aqui à capacidade de ser juiz de fato, ou seja,

além de ser capaz de conduzir sua pessoa e administrar seus bens, não pode haver

impedimentos ou suspeição que o iniba de realizar o julgamento, neste caso, são imputados ao

Árbitro os mesmos impedimentos previstos ao juiz comum.

A falta de capacidade do Árbitro acarretaria a anulabilidade da decisão. “A

conseqüência é tornar anulável a sentença proferida por tribunal no qual um membro não

tenha tido capacidade de ser árbitro segundo a lei nacional ou a lei de procedimento escolhida

pelas partes” (STRENGER, 1998, p. 93).

Podem assim, atuar como Árbitros, desde que capazes, tanto homens quanto mulheres,

visto o princípio basilar estampado no artigo 5o, I, da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988, que coloca ambos com igualdades de direitos e obrigações, inclusive o

estrangeiro, desde que, fluente no idioma nacional (PARIZATTO,1997).

Lima (2000, p. 33) informa ainda que:

O árbitro deve ser pessoa física, isto porque a arbitragem, mesmo que seja efetuada por árbitro pertencente aos quadros de um Tribunal Arbitral, será sempre uma pessoa física, que deve possuir a confiança das partes, embora possa ser indicada, por delegação, pela entidade escolhida pelas partes.

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Evidencia-se assim, outro aspecto importante que reveste a figura do Árbitro, a

confiança das partes. Como bem frisa Parizatto (1997), as partes apenas permitirão que um

terceiro proceda ao julgamento de determinada questão, verificando tratar-se de pessoa de sua

confiança.

No que tange a nomeação dos Árbitros, convém destacar que a Lei 9.307/1996 permite

às partes, a livre escolha dos mesmos ou ainda, convencionalmente estabelecer o processo de

escolha ou adoção de regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada,

sempre em número ímpar, para evitar o impasse e garantir um Árbitro desempatador,

inclusive podendo ser nomeados os respectivos suplentes.

Caso as partes nomearem um número par de Árbitros, estes estão autorizados a

realizar a escolha de mais um. Havendo discordância entre as mesmas, estas poderão recorrer

ao Judiciário para resolver o incidente.

A possibilidade de nomeação dos Árbitros pelas partes, talvez seja o ponto alto do

instituto, pois permite a escolha de alguém realmente de sua confiança, mais familiar ao

ambiente de Conflito que circunda os litigantes, facilitando o julgamento e o tornando mais

justo.

Além disso, outra característica importante, é a possibilidade de serem eleitos Árbitros

técnicos na área objeto do litígio, apresentando ainda, maior qualificação para decidir a

demanda.

Conforme Figueira Júnior (1999, p. 37), os Árbitros:

[...] são técnicos especializados na área científica sobre a qual recai o objeto do litígio, e via de regra, do mais alto quilate científico e respeitabilidade. Esses atributos conferem às partes um julgamento seguro e rápido, sobretudo se confrontados com os atropelos verificados na jurisdição pública, que se forma por um exercício de juízes (quase) irresponsáveis [...].

Destacam-se, portanto, maior eficácia e garantia ao instituto, quando submetido o

julgamento à especialista na área em questão, capacitado para dirimir a controvérsia.

No caso de serem nomeados vários Árbitros para que se proceda a Arbitragem, a Lei

9.307/1996 prevê ainda, quanto à eleição do presidente do Tribunal, que deverá ser escolhido

dentre os mesmos, por maioria de votos, em havendo impasse, deverá ser designado o mais

idoso.

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Ao presidente, é facultada a escolha de um secretário, que poderá ser selecionado

dentre os demais Árbitros, contudo, nada impede que seja nomeada uma terceira pessoa

estranha ao Tribunal.

Para dar ainda mais garantia às partes, a Lei 9.307/1996, em seu artigo 17, equiparou o

Árbitro, no exercício de suas funções, ao Funcionário Público para os efeitos da legislação

penal.

Assim, enquadram-se nos dispositivos que disciplinam os crimes praticados por funcionários públicos, tais como o peculato, em suas várias modalidades, o extravio, a sonegação ou inutilização de livro ou documento, o emprego irregular de verbas ou rendas públicas, a concussão, o excesso de exação, a corrupção passiva, a prevaricação, a condescendência criminosa, a violência arbitrária etc (FURTADO, BULOS, 1998, p. 73).

Ficam então, os Árbitros, sujeitos as penas previstas no Código Penal Brasileiro,

cometidas por Funcionários Públicos no desempenho de seu ofício.

3.2.1 Princípios que Norteiam a Atuação dos Árbitros

No que se refere às funções do Árbitro, a Lei delimita cinco princípios norteadores:

imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição.

Concerne à imparcialidade, anteriormente tratada quando da análise dos princípios

norteadores da Arbitragem, aqui basta recordar que “[...] pressupõe que o árbitro deve decidir

justamente, sem deixar que sua conveniência ou a de outrem interfiram em seu julgamento,

decidindo, assim, de forma justa, sem pender para qualquer dos lados” (MUNIZ, 2002,

p.107).

O Árbitro, assim como o juiz togado, deve revestir-se de total imparcialidade, sem

permitir que fatores intrínsecos ou extrínsecos interfiram em sua decisão.

Referente a independência, leciona Parizatto (1997, p. 52): “Significa assim que o

árbitro não esta preso a nada, exceto no convencionado pelas partes, sendo esse livre na

direção e prática de atos referentes à arbitragem que irá proceder”.

Portanto, a atuação do Árbitro não está vinculada a nada, a não ser ao conteúdo da

Convenção Arbitral que limite a atuação do mesmo.

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No quesito competência: “Significa que, ao julgar, para o correto desempenho deste

encargo, deve o árbitro utilizar toda sua capacidade, aptidão e conhecimento da matéria em

questão na arbitragem, requisito pelo qual foi escolhido” (MUNIZ, 2002, p. 109).

A competência está intimamente ligada ao conhecimento técnico do Árbitro à matéria

da demanda, devendo aplicar toda sua aptidão e capacidade no julgamento do litígio.

Quanto à diligência, esta “[...] significa cuidado, desempenho, exatidão, tratando-se do

cuidado que o Árbitro deverá ter em sua função no sentido desta se realizar da melhor forma

possível para as partes” (SILVA, 2004, p. 64).

Isto é, o cuidado a ser tomado pelo Árbitro no desempenho de sua função, atuando da

melhor forma possível ao interesse das partes.

Finalmente, quanto à discrição, “é a qualidade de quem é discreto. É a decência, a

reserva a prudência que a pessoa deve ter em sua vida, especialmente em sua profissão,

guardando para si os segredos inerentes a esta, para não violar a confiança que a parte lhe

depositou” (SILVA, 2004, p. 64).

Trata-se aqui, do caráter confidencial que rege a Arbitragem, onde os segredos

confiados aos Árbitros devem ser mantidos fora do alcance do público, diferentemente do que

ocorre na Justiça Comum.

3.2.2 Das Causas de Impedimento e Suspeição do Árbitro

O artigo 14, da Lei 9.307/1996, equipara os Árbitros aos juízes togados para efeitos de

impedimento e suspeição no tocante à atuação da atividade jurisdicional.

Relativo ao impedimento, Diniz (1998, p. 768) classifica como sendo a: “Causa que

priva o magistrado do exercício de suas funções num certo caso, em razão de sua relação com

o objeto de causa”.

Suas hipóteses de incidência encontram-se discriminadas no artigo 134, do Código de

Processo Civil:

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Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário: I- de que for parte; II- em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha; III- que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão; IV- quando nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consangüíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau; V- quando cônjuge, parente , consangüíneo ou afim, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau; VI- quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa. [...]

Excetuada a hipótese do inciso I, do citado artigo, ou seja, no caso do Árbitro figurar

como uma das partes da demanda, podem as outras ser devidamente afastadas, desde que

cientes as partes sem, contanto, fazerem objeções (FURTADO, BULOS, 1998).

Quanto à suspeição, caracteriza-se pelo “Fato de se duvidar da imparcialidade do juiz.

Constitui motivo para levantar-se exceção” (NÁUFEL, 2000, p. 764).

O Código de Processo Civil, em seu artigo 135, dispõe sobre as causas de suspeição:

Art. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando: I- amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes; II- alguma das partes credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes deste, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau; III- herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes; IV- receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do litígio; V- interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes. Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se impedido por motivo íntimo.

Incorrendo o Árbitro, em alguma das hipóteses prescritas, deve ser considerado

suspeito, não estando apto para proceder ao julgamento, sendo que, constitui dever do Árbitro,

antes de aceitar a nomeação, revelar sobre a existência de fato que ponha em dúvida a

imparcialidade e independência do julgamento.

Contudo, asseveram Furtado e Bulos (1998), que laços de amizade não

necessariamente tornam-se causa de suspeição, pois um fator importante na justiça arbitral é a

confiança das partes no Árbitro, que pode advir de uma relação pessoal entre os mesmos.

A recusa do Árbitro, só poderá ser argüida por motivo ocorrido ulteriormente a sua

nomeação, salvo nos casos de não ter sido nomeado diretamente pelas partes ou ter-se, o

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motivo determinante da recusa, conhecido somente após a sua nomeação (PARIZATTO,

1997).

As partes, conforme o artigo 15, da Lei 9.307/1996, podem argüir tanto o

impedimento quanto à suspeição, através da respectiva Exceção, diretamente ao Árbitro ou ao

Tribunal Arbitral, devidamente fundamentada, na primeira oportunidade que tiver de se

manifestar após a instituição da Arbitragem.

Conforme Silva (2004, p. 67): “As exceções podem ser argüidas por qualquer das

partes, tendo conhecimento posterior da causa do impedimento, suspeição ou incapacidade

relativa do Árbitro, representando um obstáculo à parcialidade do mesmo”.

Acolhida a respectiva Exceção, o Árbitro será afastado, assumindo o substituto

previsto no compromisso, se este nada dispuser, adotar-se-ão as regras do órgão arbitral

constantes na convenção, que se omissa, e não chegando as partes a um acordo, ensejará à

apreciação pelo Poder Judiciário. O mesmo ocorre no caso de escusa do próprio Árbitro, não

aceitando atuar na demanda, ou na decorrência de seu falecimento. Tendo as partes, na

convenção, estipulado a não aceitação de substituto, a Arbitragem será extinta (LACERDA,

1998).

Se a argüição não for acolhida, esta poderá ser analisada pelo Poder Judiciário em

eventual ação de nulidade da sentença arbitral

.

3.3 FORMAS DE ARBITRAGEM

A Lei 9.307/1996 possibilitou às partes, a faculdade de eleger diferentes formas de se

proceder ao julgamento de suas demandas. O artigo 2o, da referida Lei, estabelece que:

Art. 2o A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes. § 1o Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública. § 2o Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.

Assim, destaca-se que a Arbitragem poderá ser de Direito ou por Eqüidade, havendo

ainda, a possibilidade das partes convencionarem a instauração da mesma, levando-se em

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conta, os Princípios Gerais de Direito, os Usos e Costumes e as Regras Internacionais de

Comércio, que serão abordadas a seguir.

3.3.1 Arbitragem de Direito

Realizada a opção pela tutela com base no Direito, Strenger (1998, p. 19) manifesta

que: “Se o julgamento for de direito cria-se necessariamente vínculo com as regras jurídicas

imperantes, subordinando os árbitros aos ordenamentos que foram sistematicamente os

mandamentos legais de ordem interna e internacional”.

Desta forma, o Árbitro deve concentrar-se nas regras legais vigentes, nacionais ou

estrangeiras, desde que, em conformidade com os Bons Costumes e a Ordem Pública,

limitando de certa forma a autonomia das partes, em estabelecerem as regras de direito a

serem aplicadas.

Quanto aos Bons Costumes, Silva (1967, apud Lacerda, 1998, p. 41, grifo do autor),

informa que: “é o complexo de regras e princípios impostos pela moral, os quais traçam a

norma de conduta do indivíduo em suas relações domésticas e sociais, para que estas se

articulem, segundo as elevadas finalidades da própria vida humana”.

É, portanto, a conduta consuetudinária atribuída uniformemente pela sociedade, que

regida pela moral, demonstra-se ideal para a convivência de seus membros.

Quanto à Ordem Pública, Strenger (1998, p. 23) coloca que:

Por ordem pública entende-se um conjunto de princípios, implícita ou explicitamente conhecidos na ordenação jurídica, que, considerados fundamentais, impõem-se imperativamente, excluindo qualquer validade a relações jurídicas volitivas que lhe sejam contrárias.

Deste modo, assim como os Bons Costumes, a Ordem Pública é um fator que varia

dependendo do núcleo em que se encontra, pois ambos tratam-se de valores agregados a

princípios basilares que coordenam o convívio social e o mantém estável, não podendo o

Árbitro desviar-se destes preceitos.

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3.3.2 Arbitragem por Eqüidade

O julgamento por Eqüidade é outro fator inovador do instituto, que somente pode ser

consagrado devido à autonomia da vontade das partes, que expressamente aderirem a tal

procedimento.

Conforme Morais (1999, p. 191), na Arbitragem eqüitativa: “[...] os árbitros ficam

livres para decidir o litígio a eles submetido segundo o seu sentido comum sem ter de

restringir-se à aplicação do direito em sentido estrito”.

Convém esclarecer, que o uso da Eqüidade na esfera arbitral, não visa somente

preencher lacunas ou obscuridades da Lei, mas oferecer ao Árbitro a discricionariedade para a

resolução do litígio, possibilitando assim, o julgamento conforme seu senso de justiça,

aplicando de forma mais coerente e com maior probidade, seu posicionamento ao caso

concreto, ante a ineficiência da norma positivada.

Como bem esclarece Silva (2004), a Lei positiva fixa um conteúdo geral, não se

especificando quanto aos casos excepcionais, tornando-se muitas vezes injusta e ineficaz

àquele caso concreto, assim o uso da Eqüidade possibilita uma melhor leitura da contenda,

aplicando a justiça não de forma contrária ao direito, mas adaptando a regra ao fato real.

Nesta dinâmica, afirma Strenger (1998, p. 19) que:

A eqüidade configura um fim procurado pelo árbitro, indefinidamente perfectível, que tende a ultrapassar as interpretações provisórias do direito positivo e supõe o reconhecimento de um direito superior aos direitos estatais. Assim, essa conduta seria, para os árbitros, uma tentativa de exceder o direito em nome do próprio direito.

Ou seja, a restauração do direito violado pelo uso da razão e boa-fé, torna-se oportuno,

frente ao preceito jurídico que não mais atinge sua finalidade, seja por tratar-se de norma por

muito ultrapassada, seja por tratar-se de norma extremamente rigorosa que naquele caso

contraria a vontade do legislador.

Ademais, como frisado anteriormente, a opção pela Eqüidade é inerente às partes, sua

vontade deve prevalecer, não podendo o Árbitro utilizar tal procedimento sem a devida

permissão expressa das mesmas.

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3.3.3 Arbitragem com Base nos Princípios Gerais do Direito, Usos e Costumes e nas Regras

Internacionais de Comércio

Amplia-se aqui o poder interpretativo do Árbitro, permitindo que este faça seu

julgamento, levando em consideração fatores que possibilitam uma alternativa informal para a

solução do Conflito.

Como Princípios Gerais do Direito, Parizzato (1997, p. 20) coloca que, “[...] são as

normas elementares a serem observadas para toda e qualquer ação judicial, constituindo-se o

próprio pilar de sustentação do Direito”.

Isto é, os Princípios Gerais de Direito são a estrutura para a construção do direito,

fixando diretrizes gerais para a criação da norma, mesmo que não estejam expressos na

mesma, encontra-se, de certa forma, implícitos no ordenamento jurídico.

A Lei 9.307/1996 admitiu seu uso para “[...] cobrir a omissão da lei acerca de

determinado assunto, de modo a se decidir determinada questão, dando-lhe uma regra

específica ao caso ventilado, mediante a análise de provérbios, máximos e brocardos jurídicos

[...]” (PARIZATTO, 1997, p. 20).

Vicente (1990, apud MUNIZ, 2002, p. 122), coloca os Usos como sendo as “práticas

generalizadas em certos meios econômicos, que nascem da reiteração uniforme e constante de

certos comportamentos -(...)- durante um intervalo de tempo significativo”.

Os Usos e Costumes compõem o direito consuetudinário, ou seja, aquele inerente às

ações reiteradas dos povos, que através dos tempos estabeleceram regras primitivas de

conduta para o convívio social.

Não se trata, pois, de regra jurídica propriamente dita, mas de fatores oriundos do

próprio meio social, sendo utilizado como forma de integração do direito as relações

interpessoais.

Quanto aos Costumes, “[...] é precisamente a regra da vida social que, por sua

observância geral, constante e uniforme, passa a ser considerada obrigatória pela opinião

comum (opinio juris vel necessitatis)” (STRENGER, 1998, p. 28).

Sobrepõem-se, deste modo, dois fatores principais a serem observados, a repetição

constante e uniforme dos atos e a convicção de sua obrigatoriedade pela opinião comum, que

transformam os Costumes em fontes de direito.

Torna-se assim, significante a introdução dos Usos e Costumes na Arbitragem, visto

que, a Lei por mais detalhista que seja, é incapaz de reger todas as relações sociais,

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principalmente quanto às praticas de determinadas localidades, onde através dos tempos, os

Costumes de seus antepassados se solidificaram como diretrizes legais para seus atuais

membros.

Finalizando, Strenger (1986, apud MUNIZ, 2002, p. 123, grifo do autor) quanto às

Regras Internacionais de Comércio, coloca que:

Regras internacionais de comércio é a expressão ampla que alcança os meios para solução pacífica de conflitos, abarca os tratados, convenções, acordos, convênios, conferências etc., assim como, todos os instrumentos próprios das operações mercantis, tais como modalidade de crédito, contratos, garantias, seguros, transportes, soluções jurisdicionais específicas, etc., e evidenciam a atividade mercantil internacional, envolvendo mecanismos de compra e venda de mercadorias, transferência de tecnologia, investimentos, representações, entre outros.

Caracteriza-se, pois, pela solução pacífica dos conflitos através de regras de cunho

internacional, aderidas pelo país signatário da convenção ou do tratado, possibilitando a

integração econômica de diversos países, por facilitar as relações jurídicas internacionais,

fornecendo regras de cunho geral a serem observadas na formalização dos negócios jurídicos

estabelecidos.

Contudo, para sua aplicação, devem ser observadas a natureza do litígio e a

reconhecida experiência do Árbitro, por requerer um conhecimento apurado de hermenêutica

e cientificidade (LACERDA, 1998).

3.4 DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM

A Convenção de Arbitragem é o ato das partes que formaliza a opção pela via arbitral

para a solução do litígio, conforme o disposto no artigo 3o, da respectiva Lei 9.307/1996:

“Art. 3o As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral

mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o

compromisso arbitral”.

Trata-se, pois, de uma cláusula ou compromisso, firmado pelos interessados, ou seja,

deve necessariamente ser aceito por ambos os pólos da demanda, onde, surgido o litígio, este

será submetido a julgamento não mais à justiça estatal, mas levado à apreciação de Árbitros.

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A convenção, segundo Furtado e Bulos (1998), pode ser designada desde logo pelas

partes quando surgido o litígio, ou ser firmada com natureza preventiva, para deliberar sobre

litígios futuros, que possam vir a surgir de uma respectiva relação jurídica.

A convenção não só institui a Arbitragem, mas delimita o objeto da demanda,

estabelece a escolha dos Árbitros e fixa as normas a serem empregadas no procedimento.

Sua validade, por sua natureza contratual, depende do preenchimento dos requisitos essenciais aos contratos, respeitadas as especificidades relativas a ela, tais como a capacidade das partes, livre manifestação da vontade que, na arbitragem, deve ser expressa, objeto lícito (necessariamente o objeto do litígio deve ser direito disponível e transacionável) e forma não defesa ou prescrita em lei a qual exige seja firmada a convenção por escrito (MUNIZ, 2002, p. 86, grifo do autor).

Necessário então, para a validade da convenção arbitral, preencher os requisitos do

artigo 104, do Código Civil, sejam estes, o agente capaz; objeto lícito, possível, determinado

ou determinável; e forma prescrita ou não defesa em Lei, ou seja, os requisitos essenciais para

a validade de qualquer negócio jurídico.

3.4.1 Da Cláusula Compromissória

O artigo 4o, da Lei 9.307/1996, define Cláusula Compromissória como sendo a “[...]

convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à

arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato”.

Como bem acentua Silva (2004, p. 49):

Cláusula compromissória (pactum de compromittendo), é aquela constante no contrato realizado entre as partes, com o objetivo de levarem a termo as divergências existentes entre elas, ficando a questão submetida à arbitragem, que se realizará pelos árbitros escolhidos pelas mesmas. Mediante esta cláusula, as partes comprometem-se a aceitar a arbitragem que for realizada em seus interesses, no que se refere às divergências no tocante à matéria contratual, que poderão ocorrer.

Nada mais é então, do que o pacto firmado entre as partes, inserido em um contrato, ou

mesmo, em documento a este apartado, desde que faça expressa remissão àquele instrumento,

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para dirimir futuros conflitos na via arbitral, que possam decorrer daquela mesma relação

contratual.

O § 1o, do artigo 4o, do referido diploma, menciona a necessidade da Cláusula ser

obrigatoriamente estipulada por escrito, conforme Parizatto (1997, p. 25): “Só será válida a

cláusula compromissória se for à mesma estabelecida por escrito no próprio contrato,

inadmitindo-se assim a forma verbal de sua estipulação”. Devida exigência é feita, como

forma de se provar a realização e veracidade da convenção.

Tratando-se de Contratos de Adesão, em conformidade com o § 2o, do artigo 4o, da Lei

9.307/1996, faz-se necessária a iniciativa expressa do próprio aderente pela instituição da

Arbitragem, podendo ser estabelecida em documento anexo que se refira ao contrato, ou

constar em negrito no próprio instrumento com visto especial para essa cláusula, do contrário,

inválida e ineficaz será a adesão da Arbitragem, pois, devido ao princípio da autonomia da

vontade que rege o instituto, não pode o mesmo ser instituído compulsoriamente.

Poderão ainda, as partes, na Cláusula Compromissória, reportar-se às regras de algum

órgão arbitral institucional ou entidade especializada, que realizará a Arbitragem conforme as

regras da própria instituição, ou, conforme as regras pactuadas pelas mesmas na própria

cláusula (PARIZATTO, 1997).

Reza ainda o artigo 8º, da Lei. 9.307/1996, que:

Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que tiver incerta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória. Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.

Configura a autonomia da Cláusula Compromissória em relação ao contrato, que

mesmo contendo vícios, não necessariamente implicarão na nulidade da mesma.

O caráter autônomo da cláusula arbitral é capaz de superar os vícios do contrato, que não se comunicam com ela. A cláusula compromissória é norma inserida em contrato, prevendo que as partes, em surgindo alguma divergência posterior, poderão recorrer à solução arbitral, porquanto se trata do ajuste celebrado em conflito, optando pela arbitragem como meio ideal de buscar a solução da pendência que está estabelecida (LIMA, 2000, p. 26).

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Pode ainda, o Árbitro, para afastar maiores protelações, decidir de ofício ou a

requerimento das partes, acerca da existência, validade e eficácia da Convenção de

Arbitragem e do contrato que contiver a Cláusula Compromissória, observando a legalidade

da convenção e eficácia do pacto firmado pelas partes.

3.4.1.1 Execução da cláusula compromissória

Uma vez firmada a Cláusula Compromissória, esta afasta a jurisdição estatal,

vinculando as partes à via alternativa para a solução do litígio, podendo inclusive, no caso de

resistência de uma delas, recorrer ao Judiciário para fazer valer o convencionado.

Ou seja, a cláusula compromissória possui caráter obrigatório e efeito vinculante, obrigando as partes a instituir a arbitragem. Assim, existindo a cláusula, em caso de negativa do outro contratante na instauração do juízo arbitral, poderá a parte interessada requerer, em ação própria (a execução específica), que seja firmada a cláusula arbitral (art. 7º) (MUNIZ, 2002, p. 88, grifo do autor).

Fica assim, a critério do interessado propor a ação adequada para obrigar o desistente a

lavrar o compromisso, sendo competente o juízo que originariamente caberia a apreciação da

causa.

Gianullo (1996, apud Coutinho, 1999, p. 62) afirma que “Trata-se, portanto, de

processo especialíssimo (processo de conhecimento com rito próprio fixado na nova lei,

aplicando-se, no que couber, as regras do CPC) e de cognição muito reduzida”.

O autor da ação indicará o objeto do litígio, instruindo o pedido com o documento

comprobatório da Cláusula Compromissória. Comparecendo as partes a audiência designada,

o juiz tentará a conciliação acerca do litígio, não obtendo sucesso conduzirá as mesmas a

celebração do Compromisso Arbitral.

Strenger (1998) entende que, cabe ao juiz tentar a conciliação apenas quanto às

questões relativas ao compromisso, e não quanto à matéria objeto do litígio, pois seria

inadmissível na sistemática arbitral, onde o Árbitro ao tomar conhecimento da demanda já

atua como conciliador, devendo o juiz buscar a conciliação, apenas para evitar

prolongamentos do dissídio quanto às regras a serem consolidadas no compromisso.

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Caso as partes não concordarem quanto aos termos do compromisso, o juiz, após

ouvido o réu, na própria audiência ou no prazo de dez dias, decidirá a questão, cabendo

recurso de apelação contra a sentença, que será recebido apenas no efeito devolutivo

(PARIZATTO, 1997).

Pode ainda, o juiz, ouvidas as partes, estatuir a nomeação dos Árbitros, no caso de

omissão da Cláusula Compromissória, podendo ser nomeado Árbitro único para a solução da

Lide.

Constatando-se a ausência do autor na audiência designada, sem justo motivo,

importará a extinção do processo sem julgamento de mérito, dada a ausência do réu, o juiz,

ouvido o autor, estabelecerá a respeito do conteúdo do compromisso, nomeando Árbitro

único.

Julgado procedente o pedido, a sentença valerá como Compromisso Arbitral. “Aqui, a

sentença tem o único efeito de suprir a omissão de manifestação de vontade do réu no sentido

de firmar o compromisso arbitral” (LACERDA, 1998, p. 56, grifo do autor).

3.4.2 Do Compromisso Arbitral

Prescreve o artigo 9o, da Lei 9.307/1996, que: “[...] O compromisso arbitral é a

convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais

pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial”.

O Compromisso Arbitral configura a segunda forma de se convencionar pelo

Procedimento Arbitral, conforme Furtado e Bulos (1998, p. 60): “[...] é o veículo do juízo

arbitral; é o negocio jurídico processual de que se valem as partes em litígio para submeter a

decisão de um ou mais árbitros suas controvérsias podendo ser judicial ou extrajudicial [...]”.

Para Pontes de Miranda (1959, apud MUNIZ, 2002, p. 91): “Chama-se ‘compromisso’

o contrato pelo qual os figurantes se submetem, a respeito de direito, pretensão, ação ou

exceção, sobre que há controvérsia, à decisão de árbitro. Entra na classe dos contratos que têm

por fim a eliminação de incerteza jurídica”.

Diferentemente da Cláusula Compromissória, o compromisso geralmente é

estabelecido após a instauração do litígio, e não para dirimir futuros conflitos que

eventualmente possam surgir daquela relação, contudo, prevendo as partes que o litígio será

inevitável e não se satisfazendo com os limites da cláusula, podem as mesmas firmar

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anteriormente o compromisso, especificando maior número de elementos constitutivos

(STRENGER, 1998).

Santos (2004, p. 50) enumera algumas vantagens que o Compromisso Arbitral possui

em relação à Cláusula Compromissória:

a) a existência prévia do litígio permite o estabelecimento de limites mais precisos para a competência do árbitro, no que diz respeito à matéria que deverá ser objeto da arbitragem; b) o conhecimento do litígio já surgido permite que as partes estabeleçam os elementos mais adequados para a resolução da controvérsia, tais como: escolha de árbitro com conhecimentos técnicos sobre a matéria arbitrável (expert); escolha de um procedimento mais adequado para a resolução do litígio; indicação de um direito de fundo mais apropriado ao mérito da disputa; c) a escolha da arbitragem torna-se mais consciente. As partes passam a deter o prévio conhecimento sobre a dimensão da disputa e poderão sopesar, de maneira mais lúcida, sobre as vantagens e desvantagens de realizar a delegação de competência ao árbitro ao mesmo tempo que optar pelo afastamento da competência do órgão Poder Judiciário para conhecer do mérito do conflito.

Contudo, a existência prévia do litígio pode trazer certo prejuízo para a realização da

convenção, isto devido à falta de consenso que pode abalar o ânimo dos contratantes,

dificultando um acordo quanto à estipulação da mesma.

A Lei 9.307/1996 prevê a possibilidade do compromisso ser judicial, ou extrajudicial.

Será judicial quando, por exemplo, as partes estiverem discutindo uma questão no Judiciário e resolvem submeter sua solução via arbitragem. Neste instante, o compromisso será firmado por termo nos autos, perante o juiz ou tribunal superior onde a demanda está em curso, transferindo dessa forma a jurisdição pública para a jurisdição privada (art. 9o) (SILVA, 2004, p. 52).

Quanto à firmada extrajudicialmente, será celebrada em escrito particular, assinado

pelas partes ou por mandatário que legalmente as represente, provido de procuração que lhes

outorgue poderes especiais para tanto, e por duas testemunhas que confirmem o ato, ou

mesmo através de instrumento público lavrado por tabelião (PARIZATTO, 1997).

Para a validade e eficácia do compromisso, o artigo 10, da Lei 9.307/1996, elenca

algumas formalidades que obrigatoriamente precisam ser observadas:

Art. 10. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral: I- o nome, profissão, estado civil e domicilio das partes; II- o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros; III- a matéria que será objeto da arbitragem; e IV- o lugar em que será proferida a sentença arbitral.

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Primeiramente, a Lei requer a qualificação das partes que compõe o compromisso,

requisito inerente aos atos jurídicos. “Como contrato bilateral que é, não pode o

compromisso arbitral deixar de conter o nome das partes contratantes e suas respectivas

qualificações, essas últimas necessárias para afastar questões sobre homonímia”

(LACERDA, 1998, p. 59, grifo do autor).

Faz-se também obrigatório, a qualificação do Árbitro, ou dos Árbitros se mais de um,

ou a identificação da entidade escolhida pelas partes com a função de realizarem a designação

dos mesmos, contudo, a simples indicação não gera a obrigação em realizar o julgamento ou

proceder a designação, sendo necessária a aceitação por parte dos selecionados.

Quanto ao objeto da Arbitragem, Barros (1988, apud PARIZATTO, 1997, p. 40)

coloca que:

O terceiro requisito é a fixação do objeto do litígio. Essa fixação é de ser ampla e completa, sem quaisquer vazios, para evitar-se o vício da decisão fora ou além do pedido, bem como a perplexidade do árbitro, quando não investido de autoridade para decidir questão não prevista, mas que seja influente no resultado. O compromisso é celebrado, para que seja resolvida uma pendência. Essa pendência precisa, por isso, ser muito bem conhecida em seu conteúdo e seus limites.

Deve ser estabelecida assim, detalhadamente a matéria a qual versará a Arbitragem,

descrevendo seu conteúdo e estabelecendo seus limites.

Como último requisito, a Lei prescreve a necessidade de ser fixado o lugar em que

será prolatada a sentença, importante para se identificar a nacionalidade da mesma, pois, caso

esta seja proferida fora do território nacional, far-se-á necessária à homologação pelo órgão

brasileiro competente, conforme será posteriormente abordado.

Caso o compromisso firmado não contenha um dos requisitos elencados, este será

nulo, acarretando também a nulidade da sentença proferida a seu dispor, por isso importante

se faz à observância destes elementos para a eficácia plena do procedimento.

Além dos requisitos obrigatórios, a Lei faculta ainda a adoção de uma série de outros

(artigo 11, da Lei 9.307/1996), cuja ausência não acarreta a nulidade do compromisso,

contudo sua fixação traz maior segurança às partes, por trazer maior número de informações

quanto à instauração da Arbitragem.

Como requisitos opcionais, destacam-se: o local onde será desenvolvida a

Arbitragem; autorização para o julgamento por Eqüidade (caso assim seja convencionado);

prazo para apresentação da sentença; indicação da Lei nacional ou das regras corporativas a

serem aplicadas (caso assim seja convencionado); a declaração da responsabilidade pelo

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pagamento dos honorários e das despesas com a Arbitragem e a fixação dos honorários dos

Árbitros.

Quanto à fixação dos honorários, Furtado e Bulos (1998, p. 62) mencionam que:

O árbitro tem direito a receber a quantia honorária estabelecida, em comum acordo, pelas partes, pela apresentação dos seus serviços. Cabe às partes, pois, fixar os honorários no compromisso arbitral. Caso inexista tal estipulação, o Poder Judiciário, quando provocado pelo árbitro, deverá fixar via sentença, que valerá como título executivo, o quantum devido ao árbitro. Determinando as partes os honorários arbitrais e deixando elas de efetuar o pagamento, o árbitro poderá ajuizar ação de cobrança.

A Lei 9.307/1996 prescreve ainda, três formas de extinção do Compromisso Arbitral: a

escusa do Árbitro, não aceitando a nomeação, e as partes tenham declarado, expressamente,

que não aceitam Árbitro substituto; falecendo o Árbitro ou ficando impossibilitado de proferir

seu voto, também no caso das partes terem expressamente declarado a não aceitação de

substituto e, se expirado o prazo fixado para a apresentação da sentença sem ter o Árbitro

proferido a decisão, desde que notificado o mesmo ou o presidente do Tribunal Arbitral,

concedendo prazo de 10 (dez) dias para a efetivação do ato.

Tal condição decorre de uma das principais ratio essendi do compromisso arbitral que é a celeridade do julgamento da divergência das partes. Se a prolação e apresentação da sentença arbitral, a qual tem prazo para ser proferida, não tivesse uma penalidade específica para o caso de procrastinação do prazo convencionado, tornar-se-ia letra morta a cláusula de fixação do tempo em que a sentença deveria ser apresentada (LACERDA, 1998, p. 64, grifo do autor).

Constata-se que não configuram forma de extinção do compromisso, o falecimento das

partes nem no caso de haver divergência dos Árbitros quando da necessidade da nomeação de

mais um julgador (LIMA, 2000).

3.5 DO PROCEDIMENTO ARBITRAL

Para Rocha (1999, apud SANTOS, 2004, p. 73), o procedimento é o “[...] conjunto de

normas que estabelecem as condutas a serem observadas no desenvolvimento da atividade

processual pelos sujeitos do processo [...]”.

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Desta forma, o Procedimento Arbitral regula a forma em que irão se desenvolver os

atos processuais para atingir a conclusão da demanda.

Destaca Santos (2004, p. 74) que:

O procedimento arbitral é organizado pelo árbitro de acordo com regras previamente estabelecidas. São as normas procedimentais que estruturam o juízo arbitral, determinando a conduta das partes, do árbitro e de eventuais auxiliares como peritos, secretários, e estabelecendo a forma e o prazo em que as condutas devem ser praticadas, significa dizer que o desenvolvimento do procedimento arbitral encontra-se condicionado à prévia delimitação do conjunto de regras jurídicas aplicáveis à matéria. É através da lei aplicável ao procedimento que as partes e o árbitro tomam conhecimento das normas suscetíveis para colocar em curso o juízo arbitral.

O procedimento propriamente dito, ou seja, aquele pós-contratual, onde se inicia a fase

jurisdicional com a instituição da Arbitragem, se dá, conforme artigo 19, da Lei 9.307/1996,

com a aceitação do Árbitro à nomeação que lhe foi conferida, ou no caso de mais de um,

quando todos o tiverem aceito.

Conforme Lima (2000), a aceitação do Árbitro pode ser expressa ou tácita, podendo o

mesmo sanar quaisquer omissões constantes na cláusula, efetuar correções e até mesmo

realizar esclarecimentos e detalhes, elaborando um adendo que integrará a convenção.

Nos ditames do artigo 20, da Lei 9.307/1996, na primeira oportunidade que a parte

tiver de se manifestar após a instituição da Arbitragem, poderá argüir quanto à competência,

suspeição ou impedimento do Árbitro ou Tribunal Arbitral, ou ainda, concernente à nulidade,

invalidade ou ineficácia da convenção.

A suspeição e o impedimento foram anteriormente abordados em tópico específico,

resta analisar a competência do juízo, nulidade, invalidade e ineficácia da convenção.

Concernente à competência, ressalta Silva (2004, p. 67):

A competência é a capacidade jurídica do Árbitro para o exercício de suas funções jurisdicionais. É a aptidão outorgada legalmente para que o Árbitro seja juiz, e que possa julgar a questão submetida ao seu julgamento. Poderá ser argüida tanto em razão da matéria (ratione materiae), quanto em razão do local (ratione loci) ou em razão da pessoa (ratione persona).

Podem assim, ser levantada a incompetência em relação à matéria, quando o objeto do

litígio não for passível de arbitramento; em razão do local, quando as partes houverem

estipulado na convenção, local diferente a ser realizada a Arbitragem; e em razão da pessoa,

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quando realizada por Árbitro sem a qualificação técnica requisitada pelas partes e estipulada

na convenção.

Quanto à nulidade da convenção, esta é decorrente da falta de condições obrigatórias

para sua validade; a invalidade provém da não observância de requisitos previstos em Lei ou a

princípios cogentes; e por último, a ineficácia, que se refere ao devido préstimo da

Arbitragem (PARIZATTO, 1997).

Em conformidade com o § 2o, do artigo 20, da Lei 9.307/1996, sendo reconhecida a

incompetência do Árbitro ou Tribunal Arbitral, ou no caso de nulidade, invalidade ou

ineficácia da convenção, serão as partes remetidas ao Poder Judiciário competente para julgar

a causa.

Conforme o artigo 21, da Lei 9.307/1996, tendo sido estipulado o procedimento a ser

seguido pelas partes, quando da elaboração da convenção, este será obedecido, ou se

convencionado quanto às regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada,

estas serão observadas, podendo ainda, caso as partes delegarem ou no caso de omissão, ser o

procedimento estabelecido pelo próprio Árbitro ou Tribunal Arbitral.

Em todo o procedimento devem ser respeitados os princípios do contraditório, da

igualdade das partes, da imparcialidade e do livre convencimento do julgador, anteriormente

abordados, sendo que a não observância dos mesmos acarretará a nulidade da sentença.

Quanto à representação postulatória, conforme o preceito constitucional que institui o

advogado como sendo indispensável à administração da justiça, na jurisdição arbitral, as

partes possuem a faculdade de serem assistidas ou representadas por um profissional

habilitado na defesa dos seus direitos.

O acompanhamento não é obrigatório, contudo, assevera Parizatto (1997, p. 69):

Ainda que seja facultativa a representação das partes através de advogado, não há dúvida da conveniência e oportunidade de tal intervenção, pois que o advogado, conhecedor do direito, terá melhores condições de assegurar às partes a existência de uma arbitragem legal, justa e de acordo com as regras convencionadas pelas mesmas.

A representação ficará a critério das partes, devendo sempre ser observadas as regras a

serem aplicadas e a complexidade da demanda.

Importante ainda salientar, que durante o transcorrer do Procedimento Arbitral, o

Árbitro ou Tribunal deve sempre buscar a conciliação entre as partes. Conforme Lacerda

(1998), a celeridade visada pela via arbitral torna-se ainda mais eficaz se mediante um acordo

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as partes colocarem fim ao litígio. Tamanha sua importância que a não observância da

tentativa da transação acarreta a nulidade do procedimento e da sentença que vier a ser

proferida, podendo ser argüida pelas partes nos próprios autos, ou através de embargos na

execução judicial.

3.5.1 Da Instrução no Procedimento Arbitral

Como ocorre no procedimento judicial, na Arbitragem também se faz necessário à

instrução do processo, como forma de se demonstrar as alegações dos litigantes, fornecendo

elementos ao Árbitro para prolatar sua decisão.

Conforme Batista (apud NAUFEL, 2000, p. 696), Prova: “É tudo que nos pode

convencer da certeza de algum fato, circunstância, ou proposição controvertida; as provas,

portanto, são elementos que determinam a convicção do juiz”.

Na sua generalidade, o ônus da Prova cabe à parte que alega, podendo, no juízo

arbitral, ser apreciados todos os meios de Prova em direito admitidos, a serem requeridos

pelas partes ou solicitadas de ofício pelo Árbitro ou Tribunal Arbitral.

A fase probatória decorre com a produção das provas solicitadas pelas partes e admitidas pelo direito aplicável ao procedimento. Em certos casos, por ser o destinatário da prova, o árbitro poderá determinar de ofício a realização de provas não requeridas pelas partes, desde que as repute fundamentais para a formação do seu convencimento (SANTOS, 2004, p. 81).

Ressalta Lima (2000, p. 58) que: “As provas que podem ser produzidas, a

requerimento das partes ou pelo árbitro, são: 1. o depoimento das partes; 2. oitiva de

testemunha; 3. perícias; 4. qualquer outra prova, inclusive a atuação in loco do árbitro,

objetivando a verdade formal e real, para a solução da controvérsia”.

No caso de depoimento pessoal das partes e na oitiva das testemunhas, ambas serão

realizadas em local, dia e hora previamente comunicados, devendo seus depoimentos ser

reduzidos a termo e rubricados pelo depoente ou a seu rogo, caso analfabeto, e pelo Árbitro.

Ocorrendo a falta injustificada de uma das partes depoentes, não acarretará sua

confissão, contudo, o Árbitro ou o Tribunal poderá levar em consideração o comportamento

da parte faltosa ao decidir a Lide, inclusive se ocorrer a revelia de uma destas em nada

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impedirá a prolação da sentença, conforme o disposto no § 3o, do artigo 22, da Lei

9.307/1996.

Na falta de alguma testemunha, poderá esta inclusive, se não haver justo motivo, ser

encaminhada pela autoridade judiciária, bastando para tanto o requerimento do órgão arbitral

ao juiz competente, lembrando-se que, no que couber, aplicam-se as regras previstas no

Código de Processo Civil, referentes à produção da Prova testemunhal.

Quanto à produção da Prova pericial, Silva (2004, p. 73) informa que:

Quando a natureza do fato permitir, a perícia poderá consistir apenas na inquirição do perito, pelo Árbitro, e dos assistentes, das coisas que houverem informalmente examinado ou avaliado. Sendo requerida a prova pericial, o Árbitro nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo. O perito cumprirá de ofício, no prazo estipulado na convenção arbitral, empregando toda a sua diligência. Na inexistência de prazo fixado, caberá ao Árbitro tal fixação, levando em conta a complexidade da prova pericial a ser realizada. O perito poderá escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. E se por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá pelos prejuízos causados à parte, ficando inabilitado por 2 anos a funcionar em outras perícias e incorrerá na sanção que a lei penal estabelecer.

Podem as partes alegar a Exceção de impedimento e de suspeição do perito nomeado,

desde que devidamente fundamentado e comprovado o pedido.

Há ainda a possibilidade de se produzirem outras provas, como a inspeção pelo

próprio Árbitro, visando averiguar situações concernentes ao local designado ou até mesmo o

uso de “[...] mecanismos probatórios desconhecidos pelo legislador pátrio [...]”

(CARMONA, 1998, apud SILVA, 2004, p. 70, grifo do autor), desde que coerentes com os

Bons Costumes e a Ordem Pública.

Resta ainda, ressaltar quanto a Prova documental, visto que se demonstra a mais

importante e a mais comumente utilizada no Procedimento Arbitral. No entender de Souza

(2004, p. 81) “O documento deve ser entendido dentro de uma perspectiva ampla como sendo

todo meio que a ciência reconhece como capaz de expressar um pensamento”.

A Prova documental poderá ser apresentada em diversos momentos no decorrer da

demanda, que serão fixados conforme o procedimento adotado pelas partes na convenção ou

estipulado pelo Árbitro ou Tribunal, bem como, sua ordem de apresentação, fixação dos

respectivos prazos de entrega etc.

Caso o Árbitro nomeado seja substituído no transcorrer do procedimento, o substituto

tem a prerrogativa de determinar a repetição de provas já produzidas, se entender que estas

não se demonstram eficazes à instrução da demanda.

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O próximo Capítulo será reservado para a análise acerca da fase decisória do processo

arbitral, mais precisamente sobre as medidas cautelares na Arbitragem, a Sentença Arbitral, a

Sucumbência do processo arbitral e o reconhecimento e execução de Sentenças Arbitrais

Estrangeiras.

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4 FASE DECISÓRIA ARBITRAL

4.1 DAS MEDIDAS CAUTELARES NA ARBITRAGEM

O § 4o, do artigo 22, da Lei 9.307/1996, permite ao Árbitro, havendo a necessidade de

medidas coercitivas ou cautelares, a solicitação ao Poder Judiciário para a efetivação da

medida, como forma de se tornar ainda mais eficaz a prestação da tutela jurisdicional.

Contudo, grande é a discussão quanto à competência do Árbitro para a concessão de

medidas cautelares, uma vez que este, deve limitar-se ao estabelecido na Convenção de

Arbitragem e não possui o poder de executar suas decisões.

Para Furtado e Bulos (1998, p. 97)

Não tem, ainda, o árbitro ou o tribunal competência para processar e julgar a ação cautelar, que porventura se faça necessária no curso do procedimento arbitral. [...] Mas, em havendo necessidade da propositura da ação cautelar, é ao juiz de direito, perante a Justiça Comum, que se haverá de pedir a providência de assegurar a prova, ou bens, ou, ainda, para obstaculizar a ameaça de dano, iminente ou irreparável, ao interesse tutelado no processo principal.

Contudo, Silva (2004, p. 75) afirma que: “Ao Árbitro, repetimos, foram outorgados

poderes para apreciar e julgar todas as questões relativas à causa. Logo, cabe ao mesmo juízo

de valor (discricionário), o seu convencimento da necessidade de se deferir a medida e da

relevância na adoção da mesma”.

Compartilhando do mesmo entendimento, Carneiro (1995, apud COUTINHO, 1999,

p. 90), enfatiza que: “[...] a Lei de arbitragem atual não contém dispositivo legal que proíba o

árbitro de conceder liminares, ao contrário, confere-lhe poderes equiparados àqueles dos

juízes e atribui as suas decisões os mesmos efeitos daquela proferida pelo juiz togado”.

Parece coerente a função do Árbitro em assegurar a efetividade da demanda, dispondo

para isso, de meios rápidos e capazes de garantir essa efetividade.

Desta forma, a concessão da medida cautelar cabe ao Árbitro, visto que, este, deve

decidir quanto à matéria do litígio, se faz ou não necessária à adoção de uma tutela de

urgência.

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Entretanto, sua execução fica adstrita ao Judiciário, que possui o condão de fazer-valer

as decisões, não cabendo a ele discutir o mérito da questão, mas dar efetividade à medida, do

contrário, estaria invadindo a esfera arbitral.

Complementa Coutinho (1999, p. 91) que: “[...] ao juiz estatal, quando pleiteada a

execução, só cabe analisar os aspectos de nulidade essencial e ofensa à Ordem Pública, não

lhe cabendo rever a conveniência ou o mérito da decisão do árbitro, porque de outra forma

tornaria inócuo o processo arbitral”.

Conclui Silva (2004, p. 76, grifo do autor) que: “Apreciado uma vez o pedido, e o

Árbitro ou o Tribunal estando convencido da existência do Fumus boni iuris e o Periculum

in mora, concederá a medida”.

Evidencia-se assim, dois requisitos a serem observados para a concessão de medidas

cautelares, o Fumus boni iuris, que segundo Silva (2000, p. 372) caracteriza a “Expressão que

significa que o alegado direito é plausível (fumaça do bom direito)”, ou seja, é a

demonstração da existência concreta de um direito a ser tutelado, e o Periculum in mora, que

para Náufel (2000, p. 656):

“Periculum in mora” é a expressão utilizada na linguagem jurídica para significar a necessidade de uma medida acautelatória do direito, para evitar que este pereça, por chegar tarde a prestação jurisdicional, tornando-se, por isso, inócua. Assim, em muitos casos, se for aguardar o desfecho do processo, mediante sentença definitiva, quando ocorrer a prolação desta, a coisa já terá ocorrido o evento que se pretendia evitar, tornando ineficaz a decisão.

Caracteriza-se então, pela necessidade imediata do provimento jurisdicional que não

pode aguardar a demora na solução da Lide.

Preenchidos este requisitos, confirma-se a necessidade da medida acautelatória,

devendo o Árbitro requisitar ao juiz seu imediato cumprimento.

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4.2 DA SENTENÇA ARBITRAL

A sentença é o fim buscado pelo processo arbitral, conforme Venosa (2005, p. 623):

“A sentença arbitral encerra a atividade dos árbitros e põe termo ao compromisso (art. 29)”.

No mesmo sentido, Rocha (1998, apud SANTOS, 2004, p. 92) afirma que a Sentença

Arbitral: “É o ato final do procedimento arbitral, através do qual os árbitros esgotam sua

função jurisdicional, salvo o poder de corrigir, esclarecer ou integrar a sentença”.

Parafraseando Santos (2004), a Sentença Arbitral é, em alguns ordenamentos

jurídicos, apontada como laudo arbitral, visto que, sua eficácia ainda depende da

homologação pelo Poder Judiciário, contudo, a Lei 9.307/1996 adotou o termo sentença,

devido ao aspecto jurisdicional da Arbitragem, analisando a matéria e prolatando a decisão,

possuindo no Brasil, a mesma força da Sentença Judicial.

Neste contexto, “A sentença arbitral tem mais ou menos a mesma estrutura da

sentença judicial, incorpora julgamento com força de coisa julgada material entre as partes

exclusivamente (limite subjetivo) e nos termos do compromisso (limite objetivo)” (MORAIS,

1999, p. 211).

Quanto ao prazo a ser proferida a sentença, a Lei 9.307/1996 prevê que se

convencionado pelas partes, o Árbitro deve prolatá-la no prazo estabelecido, caso as partes em

nada tenham se manifestado quanto ao prazo, este não deve ultrapassar seis meses, ato que

poderia acarretar a nulidade da mesma.

A contagem do prazo inicia-se do momento da instituição da Arbitragem, ou caso

tenha havido substituição do Árbitro, do momento em que se efetive a instituição pelo Árbitro

substituto.

A não observância do prazo, como já mencionado, pode acarretar a nulidade da

sentença, contudo, este pode ser prorrogado se de comum acordo com as partes.

Como bem acentua Parizatto (1997, p. 84):

A sentença arbitral deverá, assim, ser prolatada no prazo estipulado pelas partes, cujo prazo poderá ser prorrogado, de comum acordo, entre as partes e os árbitros, à evidência, pelo fator necessidade. Poderá ocorrer de as partes fixarem um determinado prazo para a prolação da sentença arbitral, não prevendo eventuais contratempos que poderão ocorrer durante a arbitragem. Logo, será lícito, às mesmas em conjunto com o árbitro, prorrogar tal prazo, fixando-se outro para que seja proferida a sentença.

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Como mencionado anteriormente, no tópico concernente aos campos de atuação da

Arbitragem, sobrevindo dúvida acerca dos direitos tutelados, não pode o Árbitro proferir sua

decisão de mérito se verificar que seu julgamento depende da confirmação quanto à existência

ou não, de Direito Indisponível no litígio.

Neste caso, a Arbitragem é suspensa e a questão é submetida à apreciação do

Judiciário, que se pronuncia quanto ao prosseguimento ou não da Arbitragem. Sendo

favorável à mesma, esta terá normal prosseguimento após a juntada aos autos da sentença ou

do acórdão transitado em julgado.

Desta feita, Furtado e Bulos (1998), visto a omissão da Lei 9.307/1996, entendem que

o prazo para proferir a sentença recomeça a correr após a juntada da decisão judicial

transitada em julgado que versar sobre questões prejudiciais.

A sentença pode ser prolatada por Árbitro uno ou por um colegiado. Caso figurem

vários Árbitros na demanda, a decisão será tomada por maioria de votos, caso não haja acordo

majoritário, o presidente do Tribunal dará o voto vencedor, por isso se faz importante a

escolha de número ímpar de Árbitros, afastando a possibilidade de empate na decisão.

Existindo Árbitro divergente, este possui a faculdade de proferir seu voto em separado.

“Assim, não ocorrendo unanimidade na votação, qualquer árbitro poderá declarar seu voto em

separado, expondo suas razões particulares de discordância” (LIMA, 2000, p. 65).

Tal medida pode se demonstrar importante à parte que sucumbir na demanda, podendo

buscar posteriormente a nulidade da sentença na via judicial caso o voto evidencie alguma

causa de nulidade da mesma.

Nos ditames do artigo 29, da Lei 9.307/1996: “[...] proferida a sentença arbitral, dá-se

por finda a Arbitragem [...]”. Com a publicação da Sentença Arbitral, é prestada a respectiva

tutela buscada pelas partes, para tanto, faz-se necessária à comunicação dos interessados da

decisão tomada pelo julgador.

Parizatto (1997, p. 93) assim, manifesta que:

Uma vez proferida a sentença arbitral, o árbitro ou o presidente do Tribunal arbitral, deverá remeter uma cópia da decisão às partes, mediante correspondência registrada com A.R. (aviso de recebimento), ou através de qualquer outro meio de comunicação, também mediante comprovante de recebimento. Facultar-se-á, ainda, a entrega de cópia da sentença, diretamente às partes, ou a quem as represente (art. 21, parágrafo 3o), mediante assinatura de recibo atestando tal ocorrência. Na hipótese de terem as partes advogados que as assista na arbitragem, têm-se que a cópia da sentença poderá ser endereçada a estes, que firmarão em nome de seus constituintes, o respectivo recibo acerca da cópia recebida.

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Pode assim o Árbitro proferir sua decisão em gabinete, não sendo necessário a

realização de audiência para a publicação da sentença, mas imperativa a comprovação da

ciência das partes, pois a partir daí começam a contar os prazos para promover a respectiva

execução ou para propor ação de nulidade da sentença (FURTADO, BULOS, 1998).

4.2.1 Classificação da Sentença Arbitral

Santos (2004) classifica as sentenças arbitrais como sentenças de mérito e sentenças

terminativas. Nas de mérito, o Árbitro decidirá a matéria da demanda, dando procedência ou

não ao pedido das partes. Nas terminativas, o Árbitro põe termo ao processo, sem, contudo,

analisar o mérito do litígio, como nos casos de reconhecimento de nulidade da convenção ou

ao decretar a impossibilidade de Arbitragem quanto ao objeto da demanda.

A Sentença Arbitral de mérito, tanto quanto a proferida pelo juiz togado, pode ter

natureza declaratória, constitutiva, condenatória ou executiva.

A sentença declaratória “[...] É a sentença que se limita a declarar a existência ou

inexistência de uma relação jurídica, a autenticidade ou falsidade de documento” (SILVA,

2004, p. 79).

Quanto às constitutivas, Santos (2004, p. 93) coloca que: “[...] são aquelas em que a

pretensão é criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica”.

As sentenças condenatórias “[...] são aquelas em que a pretensão da parte é obter a

condenação da partes contrária a observar uma determinada conduta” (SANTOS, 2004, p.

93).

E, finalmente, a executiva, que impera no caso da não obediência pela parte vencida

em acatar a decisão do Árbitro, fazendo-se necessário o uso da força para fazer-valer a

decisão.

Conforme Silva (2004, p. 80): “Caso a sentença seja executiva, basta que o árbitro

solicite ao Poder Judiciário, que seria originariamente competente para julgar a causa, que

efetue medida para a satisfação do vencedor no plano material”.

A Sentença Arbitral possui caráter executivo, contudo, ao juízo arbitral não foi dada a

prerrogativa de executar suas decisões, tendo a parte vencedora do litígio, para ver satisfeita

sua pretensão, caso não cumprida voluntariamente pela parte vencida, que recorrer ao Poder

Judiciário competente, ou seja, àquele onde originariamente seria proposta a demanda se

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porventura o litígio fosse argüido na Justiça Comum, fazendo uso dos mecanismos

processuais vigentes que regem o processo de execução.

Fouchard, Gaillard e Goldman (1996, apud Santos, 2004) ressaltam a presença de

sentenças parciais, quanto às decisões de questões prejudiciais ocorridas no decorrer do

procedimento.

Através das sentenças parciais, o árbitro pode decidir, por exemplo, exceções de competência do juízo arbitral, suspeição e impedimento do árbitro, incidente de falsidade documental, sobre a concessão de tutelas de urgência (cautelar e antecipação de tutela), escolha das regras do procedimento e do direito de fundo, nos casos das partes não exercerem tal direito e reconhecimento de litigância de má-fé da parte. A possibilidade do árbitro de proferir sentenças arbitrais parciais é facultativa. O árbitro tem o poder de optar por proferir uma única sentença, em que enfrente tanto as questões prejudiciais quanto as questões de mérito do litígio (SANTOS, 2004, p. 93).

São, portanto, facultativas as sentenças parciais, pois em determinados casos, pode o

Árbitro decidir tanto quanto as questões prejudiciais, quanto às questões inerentes ao objeto

da demanda, na própria sentença de mérito.

Pode ainda o Árbitro, nos preceitos do artigo 28, da Lei 9.307/1996, proferir sentença

homologatória de acordo que venha a surgir no curso da Arbitragem, podendo versar sobre

todo o litígio ou apenas sobre parte dele, mas nunca sobre matéria que não esteja inserida na

Convenção de Arbitragem, com a grande vantagem de se tratar de Sentença Arbitral de

mérito, isto é, possui força executiva e faz Coisa Julgada (SANTOS, 2004).

Contudo, assevera Strenger (1998, p. 155) que:

Enfim, os exemplos mostram realmente que os acordos supervenientes no correr de uma arbitragem têm o significado íntegro de uma sentença com todos os requisitos de que são investidos em condições normais, armando-se de força executória, mas, em consonância com a disposições sub examen, as decisões deverão respeitar as imposições constantes do art. 26.

Isto é, para a validade e eficácia da homologação do acordo na esfera arbitral, é

necessário que este preencha os mesmos requisitos obrigatórios previstos para a Sentença

Arbitral, que serão abordados no tópico subseqüente.

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4.2.2 Requisitos de Forma e Elementos da Sentença Arbitral

A Sentença Arbitral como ato formal que é, faz-se obrigatoriamente necessária sua

documentação. Assim como a Convenção de Arbitragem, a sentença também precisa ser

proferida por escrito, não se admitindo sentença prolatada oralmente.

A formalidade escrita é da essência da decisão arbitral. Como já fora ressaltado, somente a forma escrita possibilitará às partes contrastá-la com os elementos contidos nos autos, e via de conseqüência com a própria lei ou eqüidade na qual se fundou a decisão, tanto em seu aspecto fático quanto em seu aspecto jurídico (LACERDA, 1998, p. 86, grifo do autor).

Sendo escrita, a sentença comprova sua existência e as disposições acerca da decisão,

neste sentido, Santos (2004) afirma quanto à existência de outro elemento que também poderá

demonstrar-se indispensável, seja este, o idioma a ser proferida a sentença, pois em

determinados casos podem as partes na própria convenção requisitar idioma que lhes seja

mais conveniente, principalmente quando se tratarem de sentenças a serem executadas em

país estrangeiro.

Contudo, essa escolha pela língua estrangeira precisa estar de acordo com as regras

aplicáveis àquele procedimento.

Além da forma escrita, a sentença proferida no juízo arbitral, do mesmo modo que a

Sentença Judicial, para sua total validade e eficácia, necessita preencher alguns requisitos

obrigatórios previstos em Lei. Neste caso, prescreve o artigo 26, da Lei 9.307/1996:

Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral: I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio; II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito, mencionando-se expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade; III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; IV - a data e o lugar em que foi proferida. Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.

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Quanto ao relatório, esclarece Parizatto (1997, p. 88), que:

O relatório a ser feito pelo árbitro visa esclarecer todos os atos e elementos que aconteceram durante a arbitragem, inclusive na instrução deste. Faz-se, assim, um resumo do litígio, objeto da arbitragem, declinando-se, ainda, os nomes das partes, a fim de individualizá-las, identificando-se a arbitragem.

Trata-se de um relato sistemático dos acontecimentos ocorridos no decorrer do

processo arbitral, devendo registrar o nome das partes, mencionar o estabelecido no

compromisso, resumir os fatos alegados por ambas as partes, delimitar o objeto da Arbitragem

e expor quanto à instrução processual.

Os fundamentos consagram a motivação do Árbitro na formação da sua decisão.

Conforme Furtado e Bulos (1998, p. 106): “Nela o árbitro, ou os árbitros, dirá de sua

convicção sobe os fatos da demanda e exporá as razões de seu convencimento”.

Neste contexto, Muniz (2002, p. 133) acrescenta que:

É a fundamentação que protege a justiça do arbítrio e da parcialidade, trazendo a certeza e a segurança para as partes, o que propicia a decisão confiabilidade, estabilidade, força e executoriedade. Ela é, também, uma garantia constitucional com a finalidade de esclarecer as partes acerca dos motivos que formaram o convencimento do julgador (art. 93, IX CF).

Ou seja, na fundamentação, o Árbitro analisará as questões de fato e de direito

argüidas e provadas, demonstrando o raciocínio e as razões que o levaram a decisão final.

Caso o julgamento seja com base na Eqüidade, a Lei 9.307/1996 requer ainda que o

Árbitro mencione expressamente tal fato. “Não havendo esse registro, desnatura-se a

metodologia, podendo levar o intérprete ao cometimento de erros, principalmente se alguma

questão for versada perante o Judiciário concernente aos fundamentos da decisão”

(STRENGER,1998, p. 153).

Santos (2004) enfatiza que em determinados casos, a exigência da fundamentação,

poderia comprometer o sigilo que norteia o processo arbitral, motivo que leva muitos a aderir

o sistema, visto que a sentença pode vir a ser executada no Judiciário, ficando expostos ao

público os motivos que embasaram a decisão.

Quanto à parte dispositiva, ou seja, àquela onde o Árbitro resolverá as questões que

lhe foram submetidas, assevera Muniz (2002, p. 133, grifo do autor) que:

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[...] dispositivo, ou conclusão propriamente, é a parte em que o árbitro vai registrar a conclusão da operação lógica que desenvolveu na fundamentação, devendo ater-se ao conteúdo da controvérsia que lhe foi apresentada; não pode ir além, aquém, ou fora do pedido. Ou seja, é a decisão ou a solução apresentada pelos árbitros às questões que lhe foram submetidas e o prazo para o seu cumprimento espontâneo.

Assim, resta aqui a parte conclusiva da sentença, responsável em prolatar a decisão do

Árbitro quanto à solução da demanda, acolhendo ou rejeitando (total ou parcialmente) o

pedido das partes, sempre em consonância com os motivos apontados na fundamentação para

que não resulte contradição em seu contexto.

Ainda fazem-se necessário, constar a data e o lugar em que foi proferida a sentença.

Quanto à data, salienta-se que o marco temporal dos atos processuais é sempre de

grande importância, pois delimita o momento em que aquele ato foi praticado e estabelece o

momento da contagem dos prazos que conseqüentemente regem aquele procedimento.

Na Sentença Arbitral, esta serve de “[...] marco interruptivo da prescrição da ação de

conhecimento do juízo arbitral e, ao mesmo tempo, como um marco inicial da prescrição da

ação de execução” (LACERDA, 1998, p. 89, grifo do autor).

Ou seja, interrompe o prazo legal (seis meses) ou aquele fixado pelas partes para que o

Árbitro profira a decisão, evitando a caducidade da convenção, bem como, pode delimitar o

início da contagem do trânsito em julgado da mesma.

No que se refere ao local, indaga Santos (2004, p. 76), que:

[...] o local onde foi proferida a sentença arbitral comporta certas considerações quanto a sua importância. Em certos ordenamentos jurídicos que não fazem a distinção expressa entre a arbitragem internacional e nacional, o lugar em que venha a ser proferida a sentença arbitral pode vir a estabelecer a distinção entre as sentenças locais e as sentenças estrangeiras, para efeitos de posterior execução e, também, a determinação de qual órgão do Poder Judiciário torna-se competente para conhecer dos eventuais pedidos de nulidade da sentença arbitral.

Delimita basicamente a nacionalidade da sentença e a competência para sua execução

perante a Justiça Comum, bem como, para a proposição de qualquer ação que vise a nulidade

da sentença.

Furtado e Bulos (1998) concluem ainda, que embora não exista a previsão legal, a

Sentença Arbitral deve levar em consideração dois elementos importantes, sejam a clareza e

precisão.

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A clareza recomenda linguagem simples, em bom vernáculo, com aproveitamento, quando for o caso, da palavra técnica, do vocabulário jurídico. [...] A sentença deve ser precisa, isto é, certa, limitada. Deverá traduzir certeza, como ato de inteligência ou como ato da vontade. Por ela se dirimem controvérsias e se resolve quanto ao pedido, donde ser incompatível com a dúvida (SANTOS, apud FURTADO, BULOS, 1998, p. 108).

Por fim, a Lei requer, a assinatura do Árbitro ou dos Árbitros que proferiram a

decisão, importante para demonstrar se os Árbitros correspondem àqueles nomeados pelas

partes na convenção.

Tratando-se de colegiado, pode acontecer de algum dos Árbitros não poder ou mesmo

se recusar a assinar a sentença por discordar com a mesma, cabendo neste caso ao Presidente

do Tribunal a tarefa de certificar tal fato.

Para sanar tal circunstância, Santos (2004, p. 96) informa que:

Nesses casos, a superação do problema depende das regras aplicáveis ao procedimento que podem, por exemplo: a) dispensar-se a assinatura do árbitro que apresentou a recusa ou a sua impossibilidade; b) permitir que o Presidente do Tribunal Arbitral substitua a assinatura do árbitro que se recuse ou esteja impossibilitado de assinar com uma declaração quanto a recusa ou impossibilidade do árbitro; c) autorizar que os demais membros do Tribunal Arbitral substituam a ausência de firma do árbitro que apresentou a recusa ou que esteja impossibilitado de assinar com uma declaração sobre a referida recusa ou impossibilidade.

Enfim, a solução advém do procedimento posteriormente adotado, sendo este,

geralmente instituído pelo Tribunal Arbitral, que possui forma própria estabelecida para suprir

tais entraves.

4.2.3 Efeitos da Sentença Arbitral

Muitos dos efeitos da Sentença Arbitral já foram mencionados no decorrer do estudo,

contudo, é necessária uma análise mais aprofundada quanto às peculiaridades de cada uma

das particularidades oriundas da sentença.

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Para tanto, prescreve o artigo 31, da Lei 9.307/1996 que: “[...] A sentença arbitral

produz, entre as partes, e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelo órgão

do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo”.

A Lei garante as partes e até mesmo a seus sucessores, a equiparação da Sentença

Arbitral à Sentença Judicial. Neste sentido, se manifesta o artigo 475-N, IV, do Código de

Processo Civil, acrescentado pela Lei n º 11.232, de 22 de dezembro de 2005, classificando a

Sentença Arbitral como Título Executivo judicial.

O antigo texto legal, previsto no artigo 584, VI, do Código de Processo Civil, que fora

revogado pela Lei acima mencionada, frente à necessidade de se dar efetividade ao artigo 31,

da Lei 9.307/1996, já estipulava tal equiparação, tendo sido incluído na legislação processual

pela Lei 10.358, de 27 de dezembro de 2001.

Essa equivalência é por demais importante para produzir o objetivo buscado pela

Arbitragem, dando a sentença proferida pelo Árbitro ânimo de Coisa Julgada, atributo que até

o advento da Lei 9.307/1996, não lhe era conferida.

Conforme Silva (2004, p. 95), a Coisa Julgada: “É a decisão judicial, de que já não

caiba mais recurso. É a decisão formulada por uma sentença definitiva, que já não pende do

recurso de apelação”.

Acrescenta Muniz (2002, p. 136, grifo do autor) que:

Os limites dos efeitos e da autoridade da coisa julgada na sentença arbitral atingem diretamente as partes, estendendo seus efeitos a seus sucessores (art. 31), e, indiretamente, podem atingir a terceiros, ocasionando-lhes prejuízos de fato, mas não estão obrigados a se sujeitar ao prejuízo jurídico, pois a coisa julgada não tem autoridade em relação ao terceiro, mas somente eficácia.

Furtado e Bulos (1998) manifestam-se também no sentido de que a autoridade da

Coisa Julgada alcança diretamente as partes litigantes, e indiretamente terceiros, sendo que

eventualmente podem os efeitos da mesma, vir a atingir àqueles que não participaram da

relação processual. Quanto aos sucessores, estes, assim como as partes, estão vinculados a

autoridade e aos efeitos da Coisa Julgada.

Assim, a autoridade da Sentença Arbitral atinge as partes, mas produz seus efeitos

contra todos (MUNIZ, 2002).

Outro benefício trazido pela equiparação à Sentença Judicial é a desnecessidade de

homologação por parte do Poder Judiciário para conferir o caráter de Título Executivo à

Sentença Arbitral, requisito previsto nas legislações anteriores.

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A eficácia da sentença arbitral como título executivo judicial, decorre de sua própria prolação, havendo condenação, não mais necessitando essa de qualquer homologação pelo órgão do Poder Judiciário, como anteriormente se exigia. Desapareceu com a Lei nº 9.307, de 23-9-96, a figura da homologação pelo Poder Judiciário, pelo que a sentença proferida pelo árbitro ou pelo tribunal arbitral, terá a eficácia de uma sentença proferida por tal órgão, independentemente de qualquer interferência deste (PARIZATTO, 1997, p. 101).

Essa propriedade tornou a Arbitragem ainda mais célere e atrativa, dispensando o

crivo do Judiciário a toda questão analisada pelo Árbitro ou Tribunal Arbitral.

Como bem salienta Silva (2004, p. 84):

Essa inovação, sem sombra de dúvida, proporciona maior efetividade, agilidade e confiabilidade ao procedimento da arbitragem, visto que às partes, após ser proferida a sentença arbitral, não restará outra alternativa senão cumprir o que foi decidido, permitindo que o instituto da arbitragem seja encarado com maior seriedade. Uma vez prolatada a sentença, as partes que se derem por insatisfeitas, não poderão com o mérito da sentença arbitral, maliciosamente, reabrir a discussão no Poder Judiciário.

Como já mencionado, a Sentença Arbitral é um Título Executivo judicial, para

Gonçalves (2004, p. 15): “O título executivo é o documento dotado de eficácia para tornar

adequada a tutela executiva de determinada pretensão”.

Na via arbitral, procura-se sempre atuar com o mínimo de intervenção do Poder

Judiciário, desta forma, preza-se sempre pelo cumprimento voluntário da parte vencida à

obrigação que lhe foi imposta na sentença, contudo nem sempre o derrotado acata a

determinação do Árbitro, sendo necessário o uso da força para constrangê-lo ao cumprimento

da decisão.

Desta forma, assevera Coutinho (1999, p. 45) que: “[...] se a sentença proferida em

arbitragem não for cumprida voluntariamente e de boa fé, ensejará diretamente sua execução

perante o juiz ordinariamente competente para conhecer da ação, como se fazia no sistema

anterior (CPC)”.

Mesmo sendo classificada como Título Executivo judicial, a Sentença Arbitral

somente será imposta coercitivamente ao vencido através do Judiciário, que detém o

monopólio para fazer-valer as decisões.

Neste sentido, conclui Strenger (1998, p. 161) que: “Obtida, assim, uma sentença

arbitral, a parte vencedora terá em mãos título executivo, mas que, para tornar-se efetivo,

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dependerá de execução forçada, segundo as regras do processo civil e através do exercício do

Poder Judiciário, que terá em suas mãos as rédeas desse procedimento”.

Fato que eiva a possibilidade de se agilizar a efetiva prestação da tutela arbitral, é a

impossibilidade do Árbitro em poder executar suas próprias decisões, tendo este que se ater

apenas a decidir a demanda e buscar que o vencido voluntariamente cumpra com sua

obrigação.

Como acentua Dinamarco (2002, p. 330), “O árbitro não tem o poder de exercer

constrições sobre pessoas ou coisas, em busca da efetividade da tutela, mas lhe é lícito impor

sanções ao descumprimento, agravando a situação jurídico-substancial do inadimplente”.

Convém salientar que mesmo não podendo executar a sentença, pode o Árbitro impor

sanções àquele que descumprir sua decisão, para tanto, pode fixar prazo para seu

cumprimento, como forma de criar uma força psicológica para que se conclua a prestação

jurisdicional extrajudicialmente.

Apresenta ainda, a Sentença Arbitral, uma característica particular que a torna por

vezes mais célere para a solução do litígio, qual seja, a irrecorribilidade da sentença.

Amaral (2003, apud Santos, 2004, p. 99) define recurso “[...] como o poder de

provocar o reexame de uma decisão, pela mesma autoridade [...], ou por outra,

hierarquicamente superior, visando a obter a sua reforma ou modificação”.

Conforme Muniz (2002, p. 140):

A sentença arbitral não está sujeita a recurso ao Judiciário. A lei, levando em conta a livre, espontânea e consciente vontade das partes em escolherem a arbitragem para resolver a pendência e valendo-se de uma faculdade (não se trata de imposição ou exigência) posta pelo Estado a serviço da justiça e do indivíduo, concede certeza e segurança àquilo que foi decidido e acordado pelas partes, devendo prevalecer a máxima segundo a qual o que foi pactuado deve ser cumprido.

Como bem assevera Silva (2004, p. 84): “A irrecorribilidade deriva da profunda

necessidade social de evitar a perduração do litígio, tanto mais quando, sendo o Árbitro

pessoa de confiança das partes, muito mais difícil se torna a má-fé, e, sendo técnico ou perito,

mais raro o erro”.

Contudo, podem as partes adotar procedimento com o fim de estabelecerem a revisão

da sentença por outro Árbitro ou órgão arbitral. Os chamados recursos internos não são

obrigatórios e se demonstram um tanto inconvenientes, pois protelam o desfecho da demanda

arbitral (MORAIS, 1999).

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Silva (2004) menciona, que se a parte se achar inconformada com a sentença, duas são

as possibilidades de se atacar à decisão, a primeira oferecendo embargos à execução e a

segunda, requerendo a nulidade da Sentença Arbitral via ação de nulidade, que serão

posteriormente abordadas no estudo quanto à nulidade da Sentença Arbitral.

Contra a decisão do Árbitro, cabe também o pedido de retificação ou interpretação da

sentença, procedimento equivalente aos embargos de declaração do processo civil, que será

analisado no tópico subseqüente.

4.2.4 Retificação e Interpretação da Sentença Arbitral

Na prestação da tutela jurisdicional, a sentença proferida pelo Árbitro ou Tribunal

Arbitral, poderá conter algum erro material, obscuridade, dúvida, contradição ou omissão em

seu conteúdo. Para sanar tais defeitos, a parte poderá valer-se do pedido de retificação e

interpretação da sentença, procedimento análogo aos embargos de declaração previsto na

legislação processual civil vigente, conforme reza o artigo 30, da Lei 9.307/1996:

Art. 30. No prazo de cinco dias, a contar do recebimento da notificação ou da ciência pessoal da sentença arbitral, a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que: I- corrija qualquer erro material da sentença arbitral; II- esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral, ou se pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual deveria manifestar-se a decisão. Parágrafo único. O árbitro ou tribunal arbitral decidirá, no prazo de dez dias, aditando a sentença arbitral e notificando as partes na forma do art. 29.

Assim, da data em que fora recebido a notificação, ou daquela que fora dada ciência

pessoal às partes do conteúdo da sentença, inicia-se a contagem do prazo de 05 (cinco) dias

para que, mediante comunicado a outra parte, seja requerida ao Árbitro ou ao Tribunal, a

correção de qualquer erro material da sentença ou para que se esclareça alguma obscuridade,

dúvida, contradição, bem como, se pronuncie sobre ponto omitido em que deveria ter-se

manifestado na decisão.

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Quanto ao erro material, Lima (2000, p. 71) esclarece que:

Erro é uma falsa percepção da realidade, que influi na vontade do sentenciante, impedindo que surja sua verdadeira intenção. O ser humano é falível, suscetível a equívocos na redação, digitação e cálculos. A parte interessada deve imediatamente solicitar a retificação da sentença ao árbitro.

Parizatto (1997, p. 96) informa que: “Ocorre obscuridade quando há falta de clareza

acerca de determinado ponto da decisão, não se esclarecendo de forma satisfatória ponto da

lide, impossibilitando-se o perfeito entendimento pela parte”.

No tocante a dúvida e a contradição, Muniz (2002, p. 142, grifo do autor) explica que:

A dúvida, a que se refere a lei, é a objetiva, decorrente da expressão obscura ou contraditória do pensamento pelo órgão arbitral, não permitindo a apreensão do sentido da decisão. A subjetiva, existente somente na mente da parte que não conseguiu alcançar o conteúdo da decisão, não é ensejadora do recurso. E a contradição ocorre quando há incoerência nas proposições utilizadas na sentença, de maneira que o que se disse no corpo da decisão não se concilia com o decidido.

Resta ainda examinar a omissão, que segundo Furtado e Bulos (1998, p. 113): “É

lacuna, ausência de apreciação do fato e do direito argüidos pelas partes ou examináveis de

ofício, pelo árbitro, ou pelo tribunal. É o silêncio da sentença acerca de ponto que

obrigatoriamente devia ter sido objeto de pronunciamento”.

Caracterizam assim, praticamente os mesmos fundamentos dos embargos de

declaração previsto na legislação processual civil, cabendo ao Árbitro ou Tribunal acatar ou

não o pedido, que se procedente, acarretará a respectiva emenda na sentença, contudo não

pode o julgador alterar nenhum conteúdo de mérito, restringindo-se apenas a correção de

erros materiais e prestação de demais esclarecimentos (STRENGER, 1998).

O Árbitro ou Tribunal terá o prazo de 10 (dez) dias para manifestar-se sobre o assunto,

devendo notificar as partes quanto a sua decisão.

Acrescenta ainda Lacerda (1998, p. 91, grifo do autor), que:

Cumpre ainda observar que conquanto fale a lei que a complementação da sentença pode ser requerida pela parte interessada, pode acontecer também, e nenhum óbice legal existe para que a integração da sentença seja solicitada por ambas ou por todas as partes, desde que aquela referida integração possa interessar a todas as partes engalfinhadas no processo arbitral, objeto da sentença a se integralizada.

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Deste modo, estende-se a capacidade do pedido a todos os litigantes da demanda, e

não apenas ao interessado na integração da sentença.

Segundo Santos (2004, p. 99): “O pedido de retificação ou de interpretação obsta os

efeitos da coisa julgada da sentença arbitral e adota um procedimento próprio, estabelecido

nas regras aplicáveis ao procedimento arbitral”.

Assim, enquanto não for decidido o pedido de integração da Sentença Arbitral, não

haverá a solução definitiva do litígio, por isso a necessidade de se comunicar todas as partes

do pronunciamento final da decisão.

4.2.5 Nulidade da Sentença Arbitral

Trata-se a sentença de um ato jurídico, e dada essa prerrogativa, pode ser anulada

como qualquer ato jurídico se revestida de algum vício.

Conforme Venosa (2005, p. 626):

Duas são as formas de pleitear judicialmente a nulidade, invalidade ou ineficácia da sentença arbitral: por meio de ação própria de nulidade e dos embargos do devedor, conforme o art. 741 ss do CPC. É evidente que os embargos somente podem ser opostos se houver execução, e dentro do âmbito da matéria que pode ser versada nesses embargos, conforme o estatuto processual. Caso contrário, deve a parte interessada propor ação para decretação de nulidade da sentença arbitral, no prazo estabelecido de 90 dias, a qual seguirá o procedimento comum do CPC (art. 33 da Lei n º 9.307/96).

Rocha (1998, apud Santos, 2004, p. 101) coloca que: “[...] a impugnação da sentença

arbitral, através do pedido de nulidade, constitui-se em ação impugnativa autônoma, com

natureza jurídica de ação e não de recurso, pois decorre da instauração de novo processo,

perante órgão distinto e não da continuidade do processo arbitral para reexame”.

Convém frisar que a Lei 9.307/1996 prevê o prazo de 90 (noventa dias), contados da

respectiva notificação da sentença ou de seu posterior aditamento, para o ajuizamento da ação

de nulidade da Sentença Arbitral.

Quanto aos embargos à execução, complementa Silva (2004), que somente podem ser

propostos no caso de Sentença Arbitral condenatória, quando da sua execução no Judiciário,

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através de embargos do devedor, como forma de atacar diretamente à execução e

indiretamente à sentença.

No caso dos embargos à execução, Venosa (2005) conclui que não estão sujeitos ao

prazo de 90 (noventa) dias, ficando adstrito à iniciativa da parte vencedora em realizar a

respectiva execução, estando subordinado ao prazo prescricional de 10 (dez) anos, das ações

pessoais previstas no Código Civil vigente.

A Lei 9.307/1996 enumerou os casos de nulidade da sentença, em seu artigo 32:

Art. 32. É nula a sentença arbitral se: I - for nulo o compromisso; II - emanou de quem não podia ser árbitro; III - não contiver os requisitos do art. 26 desta lei; IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem; V - não decidir todo o litígio submetido a arbitragem; VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III desta lei; VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, parágrafo 2o desta lei.

Como mencionado anteriormente, a nulidade do compromisso, acarreta a nulidade da

Sentença Arbitral. De acordo com Parizatto (1997, p. 102): “O compromisso arbitral (art. 9o)

é a essência da arbitragem, visando-se a prolação de uma sentença que resolva a questão

existente entre as partes. Sendo nulo o compromisso, tem-se a contaminação de toda

arbitragem, culminando na nulidade da sentença arbitral que vier a ser proferida”.

Os casos de nulidade do Compromisso Arbitral fundamentam-se no não atendimento

aos requisitos previstos no artigo 10, da Lei 9.307/1996, tendo sido abordados anteriormente

no tópico referente ao estudo do Compromisso Arbitral.

Parizatto (1998) entende que a inobservância das condições previstas nos §§ 1o e 2o,

do artigo 9o, da Lei 9.307/1996, sejam estas, a celebração do Compromisso Arbitral judicial

por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal da demanda e a necessidade de instrumento

público ou particular assinado por duas testemunhas para a celebração do Compromisso

Arbitral extrajudicial, também constituem causas de nulidade do compromisso.

Outra causa de nulidade da sentença, se verifica quando esta “for proferida por quem

não podia ser árbitro, vale dizer, o incapaz ou aquele que não goza de confiança das partes,

no caso de impedimento ou suspeição (artigos 13 e 14)” (MUNIZ, 2002, p. 138, grifo do

autor).

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Nula também será a sentença que não preencher os requisitos obrigatórios do artigo

26, da Lei 9.306/1996, anteriormente abordados quando do estudo sobre os requisitos de

forma e elementos da sentença, destacando-se aqui a necessidade do relatório, os

fundamentos, o dispositivo, a data e o lugar em que foi proferida a sentença, bem como a

assinatura do Árbitro ou dos Árbitros que proferiram a decisão.

Se proferida fora dos limites da Convenção de Arbitragem, como bem acentua

Parizatto (1997, p. 103):

A sentença in casu, distorcia-se daquilo que fora avençado pelas partes (art. 2o e seus parágrafos e art. 11, II e IV), quando da instituição da arbitragem para solução de determinada questão. A arbitragem como já frisamos é instituída justamente pela vontade das partes em submeterem a solução de seus litígios ao juízo arbitral. A manifestação de vontade das partes deverá ser preservada e observada quando da prolação da sentença arbitral, cumprindo-se aquilo que fora avençado anteriormente entre as mesmas, para que não se decida contra tal vontade. Deve, pois, a sentença arbitral, adequar-se aos limites da convenção de arbitragem firmada entre as partes.

Trata-se, pois, de julgamento ultra petita2 ou citra petita3, caracterizando a nulidade

pela perda da legitimidade da sentença que excedeu a vontade previamente estabelecida pelas

partes (STRENGER, 1998).

Lacerda (1998, p. 92, grifo do autor) informa que também constitui causa de nulidade

da sentença: “Quando não decidir todo o litígio submetido à arbitragem, eis que é dever legal

da sentença decidir sobre toda a matéria posta pelas partes pelo juízo arbitral”.

Assim, deve sempre o Árbitro privar pelo bom desempenho da Arbitragem, sendo sua

obrigação, ao proferir a sentença, decidir sobre toda a matéria objeto do litígio.

Mais uma causa de nulidade da sentença comentada por Muniz (2002, p. 138, grifo do

autor) ocorre quando a sentença:

Comprovadamente, foi proferida com prevaricação, concussão ou corrupção passiva do órgão arbitral, isto se deve ao fator confiança, requisito essencial ao desempenho da função do árbitro, e a ocorrência desses tipos penais compromete ou retira a credibilidade da sentença. A prova pode ser produzida na própria ação de nulidade não havendo necessidade da existência de processo criminal.

2 “[...] Expressão empregada para qualificar a decisão judicial que ultrapassar o interesse manifestado pelas partes na ação” (SIDOU, 1998, p. 849). 3 “Espécie de decisão que deixa de apreciar o pedido conforme a pretensão formulada, e que resulta em julgamento nulo” (SIDOU, 1998, p. 148).

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O crime de prevaricação encontra-se tipificado no artigo 319, do Código Penal, como:

“[...] Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato e ofício, ou praticá-lo contra

disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

A concussão encontra-se no artigo 316, do mesmo diploma legal, prevendo como

crime o ato de: “[...] Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da

função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida”.

Por fim, o crime de corrupção passiva, também tipificado no Código Penal, em seu

artigo 317, pelo ato de: “[...] Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou

indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem

indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”.

Tratam-se de crimes próprios de Funcionários Públicos, caráter atribuído aos Árbitros

pelo artigo 17, da Lei 9.307/1996, que equiparou a figura do Árbitro a do Funcionário Público

para os efeitos da legislação penal.

A não observância do prazo estipulado na convenção para que seja proferida a

sentença, respeitado o artigo 12, III, da Lei 9.307/1996, conforme já mencionado, também

causa a nulidade da mesma. Entretanto, Strenger (1998, p. 164) comenta que:

Este item é exagerado, pois, será muito considerar-se nula sentença que ultrapassa o limite temporal de prolação, mesmo porque a ressalva com base no art. 12, III, praticamente neutraliza a disposição inicial, ao possibilitar a prorrogação “desde que a parte interessada tenha notificado o árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, concedendo-lhe o prazo de dez dias para a prolação e apresentação da sentença arbitral”.

Como última hipótese de nulidade da sentença, a Lei 9.307/1996 prevê que a mesma

será nula se desrespeitar os princípios previstos em seu artigo 21, III, sejam eles o princípio

do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do Árbitro e do seu livre

convencimento.

Tais preceitos basilares do processo arbitral foram anteriormente abordados no estudo

quanto aos princípios norteadores da Arbitragem, convém aqui apenas ressaltar que a não

observância dos mesmos ofende a ordem jurídica e causam a nulidade da sentença. “Porque se

trate de princípios que retratam a garantia do cidadão, uma vez ofendidos, não há como salvar

a sentença: o Judiciário a declarará definitivamente sem validade e sem eficácia.

Comprometida a arbitragem, comprometida estará a sentença” (FURTADO, BULOS, 1998, p.

121).

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Silva (2004) informa que nos casos dos incisos III, IV e V do artigo 32, supra

transcrito, ou seja, caso a sentença não contenha todos os requisitos do artigo 26, for proferida

fora dos limites da convenção ou que não tenha decidido todo o litígio sob análise, causam a

nulidade da sentença, mas não do processo, devendo, para sanar tal defeito, o Árbitro apenas

proferir outra sentença. Contudo, nos demais casos do artigo 32, tanto a sentença quanto o

procedimento serão anulados.

Strenger (1998) coloca ainda, que o citado artigo não é taxativo, mas exemplificativo,

podendo ainda, outros casos levarem a nulidade da sentença, como a ofensa à Ordem Pública,

corrupção, fraude ou nos casos do objeto da demanda tratarem-se de Direitos Indisponíveis.

4.3 DA SUCUMBÊNCIA NO PROCESSO ARBITRAL

Sucumbência, segundo Rosa e Fontanella (2002, p.115) trata-se das “Conseqüências

jurídicas suportadas pela parte perdedora da ação, consiste no pagamento das custas

processuais e honorários advocatícios”.

O § 7o, do artigo 13, da Lei 9.307/1996, permite que o Árbitro ou Tribunal determine o

adiantamento de verbas para o custeio de diligências.

Baseia-se o levantamento de verbas no valor da causa a ser estipulado, com o devido acompanhamento das partes. Não se destina esse adiantamento de verbas a custear os honorários dos árbitros; tem ele o objetivo específico de custear as diligências que se fizerem necessárias à solução do litígio. (FURTADO, BULOS, 1998, p. 68-69)

Essas verbas, não se referem àquelas honorárias, e serão fixadas conforme o estipulado

por cada Tribunal, no entanto, o processo arbitral também gera custas e despesas no decorrer

do procedimento, devendo assim o Árbitro, na sentença, estabelecer quanto à Sucumbência

processual.

Conforme o artigo 27, da Lei 9.307/1996: “[...] A sentença arbitral decidirá sobre a

responsabilidade das partes acerca das custas e despesas com a arbitragem, bem como sobre

verba decorrente de litigância de má-fé, se for o caso, respeitadas as disposições da convenção

de arbitragem, se houver”.

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Disporá assim, quanto às custas e despesas da Arbitragem, bem como, à litigância de

má-fé, sempre em consonância com o estipulado na convenção.

Neste sentido, Lacerda (1998, p. 89, grifo do autor) comenta que:

O art. 27 dispõe sobre a sucumbência, como tal entendida a responsabilidade das partes sobre as custas e despesas processuais e, eventualmente, sobre a verba decorrente da litigância de má-fé se esse for o caso. A sucumbência é uma sujeição processual da partes perdedora ao pagamento das custas e despesas processuais, nessas últimas incluídos os honorários advocatícios. Mas como se cuida aqui de um juízo informal, instituído no exclusivo interesse das partes, essas podem, na convenção, dispor diferentemente sobre a sucumbência, inclusive invertendo-lhe o ônus estabelecido pelo processo civil comum.

Concretiza-se assim, mais uma manifestação do princípio da autonomia da vontade

que rege o instituto, permitindo a convenção acerca da Sucumbência, ou seja, as partes estão

aptas a ajustar, antes mesmo da instituição da Arbitragem, a responsabilidade quanto ao

pagamento das custas, despesas e honorários advocatícios, que eventualmente surgirem no

transcorrer da demanda.

Importante ainda salientar, como acima frisado, que pode a parte ser condenada por

litigância de má-fé. “Diz-se litigante de má-fé, a parte que deliberadamente pautou-se de

artifícios ou inverdades no procedimento arbitral. O ideal seria a boa-fé dos participantes da

arbitragem, porém, nem sempre as partes são éticas” (LIMA, 2000, p. 69).

O artigo 17, do Código de Processo Civil, estabelece as hipóteses de incidência da

litigância de má-fé:

Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que: I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI - provocar incidentes manifestamente infundados; VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Incorrendo alguma das partes num destes casos previstos, o Árbitro ou Tribunal detém

a capacidade, inclusive de ofício, de condenar a parte transgressora à multa de um por cento

sobre o valor da causa, bem como, a indenizar a parte contrária dos prejuízos sofridos,

conforme estabelecido no artigo 18, do Código de Processo Civil.

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4.4 RECONHECIMENTO E EXECUÇÃO DE SENTENÇAS ARBITRAIS

ESTRANGEIRAS

Diante da grande utilização da Arbitragem nas inúmeras relações internacionais, que

geram efeitos na ordem jurídica nacional, fez-se necessário o reconhecimento das Sentenças

Arbitrais Estrangeiras, bem como, a sua execução perante a justiça brasileira, como forma de

se efetivar o cumprimento das decisões arbitrais proferidas em outros países.

Como bem frisa o parágrafo único, do artigo 34, da Lei 9.307/1996: “[...] Considera-se

sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional”.

Neste sentido, Parizatto (1997) informa que a Arbitragem realizada em outro país para

ser válida deve estar prevista e obedecer às normas daquele ordenamento jurídico estrangeiro.

Para tanto, a Lei 9.307/1996 prevê que o reconhecimento e a execução das sentenças

estrangeiras no Brasil se dará em conformidade com os tratados internacionais e na sua falta,

com base estritamente nos ditames desta Lei.

Antes de tudo, importante ressaltar a distinção existente entre homologação,

reconhecimento e execução:

A homologação é o procedimento necessário à obtenção das condições de execução da sentença estrangeira, apesar de não rediscutir o litígio em si, mas a homologação ou não; trata-se de uma ação que visa a constituição da existência das condições para que os efeitos da sentença se produzam plenamente em nosso Estado, legitimando a execução forçada, se for o caso. O reconhecimento é a aceitação da sentença estrangeira como válida e apta a produzir efeitos, que podem ser executórios, declaratórios, constitutivos; pode ser utilizada como prova ou como documento. A execução é decorrente de requerimento da parte para que o juiz, reconhecendo a sentença, estenda seus efeitos ao foro (MUNIZ, 2002, p. 172, grifo do autor).

O presente trabalho visa apenas à análise quanto ao processo de reconhecimento e

execução através da Lei 9.307/1996, que em seu artigo 35, requer unicamente, a homologação

da Sentença Arbitral Estrangeira pelo Supremo Tribunal Federal.

Ocorre que, o antigo texto constitucional trazia em seu artigo 102, I, “h”, a

competência do Supremo Tribunal Federal para a homologação das sentenças estrangeiras,

contudo, tal encargo foi revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de 8-12-2004, que

transferiu tal incumbência ao Superior Tribunal de Justiça, acrescentando a alínea “i”, ao

inciso I, do artigo 105, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:

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Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I – processar e julgar, originariamente: [...] i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; [...].

Desta forma, a competência para a homologação das sentenças arbitrais estrangeiras

foi delegada ao Superior Tribunal de Justiça, que procederá conforme o disposto na Lei

9.307/1996.

O interessado fará o pedido de homologação através de petição inicial, conforme os

parâmetros do artigo 282, do Código de Processo Civil, e obrigatoriamente deverá instruir a

petição com o original da sentença, ou cópia autenticada pelo consulado brasileiro, junto da

sua tradução oficial, bem como o original da convenção, ou cópia certificada também com a

respectiva tradução.

Tal obrigação se deve, pois se tornaria inviável proceder a homologação sem alguma

destas peças, uma vez que impossibilitaria a análise dos parâmetros requeridos na legislação

vigente no Brasil (FURTADO, BULOS, 1998).

O artigo 38, da Lei 9.307/1996, elenca o rol dos casos em que pode ser negado o

pedido de homologação da Sentença Arbitral.

Configura a primeira hipótese, na incapacidade das partes ao firmarem a convenção,

que conforme Muniz (2002, p. 175), neste caso: “[...] o critério para determinação da

capacidade é do Estado em que foi firmada a arbitragem”.

Outro fator que imputaria na denegação do pedido de homologação substancia-se na

invalidade da Convenção Arbitral segundo a Lei escolhida pelas partes ou na sua falta, àquela

do país de origem da decisão.

E tal ocorre por que a convenção de arbitragem não tem o condão de afrontar a lei existente a respeito, criando em seu lugar “uma lei particular das partes”. Mesmo se as partes não submeterem a convenção à lei pertinente, mas se afronta o direito do país onde foi proferida, também constitui motivo justo para deixar de ser homologada (LACERDA, 1998, p. 99, grifo do autor).

Em terceiro lugar, consta a comprovação pelo réu de que não foi notificado da

designação do Árbitro ou do procedimento da Arbitragem, bem como a violação do

contraditório, impossibilitando a ampla defesa.

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Parizatto (1997, p. 122) menciona que:

Qualquer que seja o país por onde tenha ocorrido a arbitragem e tenha sido proferida a sentença arbitral, têm-se que haverá necessidade de se dar conhecimento da arbitragem à outra parte, instando-a a se manifestar. Com a violação do contraditório, não haverá oportunidade de defesa, contaminando-se todo o processo arbitral, pelo que a homologação da sentença arbitral proferida nesta hipótese não deverá ocorrer.

A homologação também será denegada se a sentença foi proferida fora dos limites da

convenção, não sendo possível separar a parte excedente daquela submetida ao arbitramento.

Neste caso, complementam Furtado e Bulos (1998), que não se trata de sentença extra

petita4, que obrigatoriamente seria nula, mas de sentença ultra petita, onde havendo a

possibilidade de se separar o excedente, ou seja, a parte que ultrapassou os limites da

convenção, não acarretando sua nulidade, podendo ser deferida sua homologação no tocante

ao contido nos limites da convenção.

Constitui outra hipótese de nulidade no caso de ocorrer desacordo entre o

compromisso ou a Cláusula Arbitral com a instituição de Arbitragem.

Conforme Silva (2004, p. 103):

[...] Competira ao réu demonstrar que a instituição da arbitragem não está de acordo com os termos do compromisso arbitral elaborado entre as partes, o mesmo ocorrendo com a cláusula compromissória, quando também haverá obstáculo à homologação da respectiva sentença, proferida em desacordo com o que fora pactuado [...].

Finalmente, o artigo 38, da Lei 9.307/1996, prevê ainda que a sentença estrangeira será

denegada no caso de ainda não ter se tornado obrigatória às partes, tenha sido anulada ou

suspensa por órgão judicial em seu país de origem.

Complementa Strenger (1998), quanto à obrigatoriedade da sentença, que somente

podem ser homologadas sentenças certificadamente definitivas, pois se trata de uma condição

formal de admissibilidade da mesma. No que se refere à anulabilidade, o autor menciona que

esta ocasiona a perda de identidade da sentença, somente podendo ser anulada pelos órgãos

judiciais competentes do país de origem da sentença estrangeira, não podendo assim outros

ordenamentos jurídicos externos acatar pelo deferimento da sentença anulada.

4 Fora do pedido. A sentença não deve tratar de coisa que não foi pedida pelo autor [...] (FÜHRER, 2003, p. 144).

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O mesmo ocorre com a suspensão da sentença pelo seu país de origem, contudo,

assevera Muniz (2002, p. 175) que: “No caso de suspensão, pode o interessado renovar o

pedido de homologação, uma vez comprovada sua cessação”.

Além dos casos do artigo 38, o artigo 39, da Lei 9.307/1996 permite ainda mais duas

hipóteses capazes de denegar a homologação da Sentença Arbitral Estrangeira, quando o

objeto do litígio, segundo a Lei brasileira, não ser passível de Arbitragem e se constatada

ofensa à Ordem Pública nacional.

Como bem acentua Parizatto (1997, p.125):

Face a lei brasileira, a arbitragem só poderá ser utilizada para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis (art. 1o). Somente, pois, tais direitos são suscetíveis de serem resolvidos por arbitragem, devendo ser observada a incidência de tal hipótese na sentença arbitral estrangeira.

Quanto à Ordem Pública nacional, esta se configura pelo “[...] complexo legal positivo

de um país juridicamente organizado que lhes possa garantir o funcionamento de suas

instituições e poderes constituídos, necessários e essenciais à sobrevivência do Estado e da

própria coletividade” (LACERDA, 1998, p. 101, grifo do autor).

Convém frisar que a citação das partes residentes ou domiciliadas no Brasil na forma

prevista pela Lei 9.307/1996 ou pela legislação processual do país estrangeiro que proferiu a

sentença, não constitui ofensa à Ordem Pública, podendo inclusive valer-se de citação postal,

conforme o parágrafo único do artigo 39, da Lei 9.307/1996.

Caso a sentença estrangeira tiver sua homologação, para reconhecimento ou execução

da sentença estrangeira denegada por vícios formais, não obstará na renovação do pedido pela

parte interessada, desde que sanados todos os vícios.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho não possui o escopo de esgotar todo o assunto pertinente à

Arbitragem, mais de realizar uma análise quanto a questões normativas e procedimentais da

mesma, vislumbrando as inovações, características e aplicabilidade da Lei 9.307/1996, como

forma de se obter a solução extrajudicial de conflitos, permitindo ao particular recorrer a um

julgamento rápido e sem demais protelações, resolvendo o Conflito de forma eficaz através de

um ou mais Árbitros competentes e capacitados para prolatar uma sentença justa e

irrecorrível.

O estudo foi realizado com base na pesquisa da legislação pertinente e nas obras dos

doutrinadores mais conceituados no assunto, buscando sempre traçar para uma conclusão

lógica que demonstrasse as particularidades à cerca dos temas abordados.

O objetivo geral da pesquisa foi alcançado, abordando as questões normativas e

procedimentais, proporcionando ao leitor informações capazes de instruí-lo no encalço de

uma tutela eficiente e econômica, através do uso da Arbitragem como fonte geradora da paz

social, capaz de aproximar a justiça ao cidadão comum.

Para tanto, o Capítulo inicial, tratou quanto aos aspectos gerais da Arbitragem,

procurando demonstrar o Conflito como fonte geradora do litígio, suas respectivas formas de

composição até o surgimento da Arbitragem, trançando-se um esboço histórico através do

tempo e espaço e seu respectivo desenvolvimento procurando compor um conceito

contemporâneo, definindo sua natureza jurídica e seus princípios informadores, bem como,

seu campo de atuação, buscando demonstrar a constitucionalidade da Lei 9.307/1996.

Após, o Capítulo Intermediário, abordou a instituição da Arbitragem nos ditames da

Lei 9.307/1996, tratando a respeito das partes, dos Árbitros, das formas da Arbitragem, da

convenção e do Procedimento Arbitral.

Concluindo, o Capítulo Final, explanou sobre a fase decisória Arbitral, abordando a

respeito da concessão das medidas cautelares na Arbitragem, a Sentença Arbitral, a

Sucumbência do processo arbitral e o reconhecimento e execução de Sentenças Arbitrais

Estrangeiras.

Quanto aos objetivos específicos, procurou-se verificar a possibilidade de atuação dos

Árbitros, visto a desvinculação do poder estatal, visando demonstrar as diferentes formas de

composição de conflitos concebidas pela Arbitragem.

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Ficou evidente no transcorrer do estudo, que aos Árbitros, fora atribuída pela Lei

9.307/1996 a capacidade de proferir suas decisões com total independência do Poder

Judiciário, sempre é claro, em conformidade com a Convenção de Arbitragem e com os

ditames da Lei, para não acarretar a nulidade da sentença.

Ocorre, entretanto, que a capacidade executória manteve-se monopolizada ao Estado, e

a imposição das decisões arbitrais dependem do mandado judicial para sua eficácia ante o não

acatamento voluntário da parte vencida, que pode acarretar no atraso do procedimento,

incorrendo contra a celeridade, que configura um dos objetivos principais da Arbitragem.

A Lei 9.307/1996 possibilitou que a Arbitragem fosse realizada com base no Direito,

ou seja, realizado com base no ordenamento jurídico vigente; na Eqüidade, buscando a justiça

através de um senso comum, através do uso da razão e boa-fé; ou ainda, a Arbitragem com

Base nos Princípios Gerais do Direito, Usos e Costumes e nas Regras Internacionais de

Comércio, possibilitando uma alternativa informal para a solução dos conflitos.

Buscou-se também como objetivo específico, compreender a admissão do uso da

Eqüidade como princípio base para o julgamento da demanda, buscando a justiça com

probidade e retidão, devendo ser considerado, que o julgamento exclusivo pela Eqüidade

somente poderá ser realizado se expressamente permitido pelas partes.

Por último, objetivou-se investigar a possibilidade da concessão de medidas cautelares

na Arbitragem, capazes de assegurar a efetividade da demanda, através de meios rápidos e

apropriados a garantir a tutela final visada no julgamento.

Tal medida demonstra-se por demais apropriada, ademais, em nada adiantaria ao final

do julgamento, observar a perda de seu objeto, por não se ter anteriormente agido para

garantir a futura execução. Assim, cabe ao Árbitro decidir se faz ou não necessária à adoção

de uma tutela de urgência, visto que a este cabe toda a análise quanto à matéria do litígio,

todavia, sua execução é feita através do Poder Judiciário, utilizando-se do mesmo

procedimento previsto para a Sentença Arbitral.

No transcorrer do estudo buscou-se também a solução de três problemas apresentados,

sendo que em um primeiro momento, questionava-se a constitucionalidade da Arbitragem, por

confrontar com o princípio constitucional da inafastabilidade do Poder Judiciário na solução

dos litígios (art. 5o, XXXV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988),

devido à remoção do Estado na prestação da tutela jurisdicional.

Em prévia análise, constatou-se que o instituto apresenta-se como a verdadeira busca

pela justiça, visto que as partes fazem uso do princípio da autonomia da vontade, permitindo a

criação do direito através do contrato, ademais o preceito constitucional da inafastabilidade do

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Poder Judiciário na solução dos litígios, visa uma garantia ao cidadão contra abusos do

próprio Estado, e a opção pela sua renúncia não desvirtuaria sua finalidade.

Confirma-se tal hipótese, como ficou evidenciado, as partes estão amparadas pelos

princípios da autonomia da vontade, não retirando a soberania do Estado, que é a única capaz

de fazer-valer as decisões, não há renúncia ao juiz natural, apenas a transferência da jurisdição

estatal para uma justiça privada.

Como segundo problema, foi questionado quanto à possibilidade do Árbitro em se

abster do uso do direito, desvinculando-se das regras legais vigentes ao proferir suas decisões

com base na Eqüidade como princípio norteador.

Em prévia análise, constatou-se que a Lei 9.307/1996 permite ao Árbitro o uso da

Eqüidade como base para o arbitramento, ensejando sanar possíveis lacunas ou obscuridades

da Lei, demonstrando-se perfeitamente possível o julgamento com base neste princípio, desde

que o mesmo seja utilizado como prerrogativa excepcional na busca do bem comum, não

agindo no sentido contrário ao direito.

Tal hipótese é parcialmente confirmada, pois através do estudo verificou-se que o uso

da Eqüidade não visa somente preencher lacunas ou obscuridades da Lei, mas oferecer ao

Árbitro a discricionariedade para a resolução do litígio, possibilitando assim, o julgamento

conforme seu senso de justiça, aplicando de forma mais coerente e com maior probidade, seu

posicionamento ao caso concreto, ante a ineficiência da norma positivada.

Deve sim, ao utilizar-se desse método, o Árbitro agir conforme os ditames da Lei

previstos para a validade do julgamento, mas desnecessário que este se restrinja à aplicação

do direito em sentido estrito.

Como último problema apresentado, questionou-se quanto à validade e eficácia da

Sentença Arbitral perante o mundo jurídico, haja vista que é proferida por um Árbitro

escolhido pelas partes e independe de homologação do juiz togado.

Previamente, constatou-se que a Sentença Arbitral independe de homologação judicial,

faz Coisa Julgada e é dotada de caráter executivo, estando desta forma, no mundo jurídico, em

pé de igualdade com a sentença proferida pelo juiz togado. Contudo, como anteriormente

mencionado, o juízo arbitral não se reveste do poder de executar seus julgados, que não

cumpridos voluntariamente, necessitam da força estatal para a então satisfação da pretensão

requerida.

Tal hipótese é confirmada, a Lei 9.307/1996 equiparou a Sentença Arbitral à sentença

judicial, inclusive prevendo uma série de requisitos para a sua validade. O fato de ser

proferida por um Árbitro escolhido pelas partes, como foi demonstrado, enseja apenas na

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transferência da jurisdição estatal para uma justiça privada, possibilitando um julgamento

técnico e com maior confiabilidade.

A desnecessidade de homologação torna o instituto mais atrativo, pois proporciona um

procedimento mais célere por não depender do crivo do Judiciário, que prolongaria o

julgamento, produzindo, a sentença, efeito imediato.

Além do que, o instituto ainda permite maior celeridade por possibilitar a

irrecorribilidade das decisões e a estipulação de prazo a ser proferida a sentença.

Ao encerrar este trabalho, urge mencionar que a Arbitragem vem crescendo a cada dia,

contudo, ainda engatinha no território nacional, onde as pessoas estão habituadas a buscar no

Estado a solução para seus conflitos, ocasionando o engessamento do Judiciário que se

encontra abarrotado de ações, impossibilitando uma prestação jurisdicional rápida e eficaz.

Ao evoluírem as civilizações, novas relações jurídicas surgem entre seus adeptos e

necessária a criação e manutenção de novas formas para se resolver os litígios decorrentes

destas relações.

No caso da Arbitragem, denota-se que a muito fora utilizada por povos antigos que

desenvolveram uma forma privada para a solução dos conflitos, sendo posteriormente

usurpada tal função pelo Estado, que atraiu para si a responsabilidade de prestar a respectiva

tutela.

No contexto atual, o Estado, por si só, já não possui condições de resolver todos os

litígios, cabendo assim a Arbitragem, aproximar a justiça ao cidadão comum, trazendo paz à

sociedade conflitante.

A Arbitragem demonstra-se assim, uma ferramenta útil para a solução dos litígios, e

com certeza será futuramente a grande responsável pela composição de grande número das

demandas que tratem de Direitos Disponíveis, podendo cada vez mais abranger sua ceara de

atuação, compondo novas relações que venham a surgir no transcorrer da vida social.

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ANEXO

LEI 9.307/1996

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 9.307, DE 23 DE SETEMBRO DE 1996.

Dispõe sobre a arbitragem.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e

eu sanciono a seguinte Lei:

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir

litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes.

§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na

arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.

§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base

nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.

Capítulo II

Da Convenção de Arbitragem e seus Efeitos

Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo

arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o

compromisso arbitral.

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Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um

contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,

relativamente a tal contrato.

§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta

no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.

§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente

tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua

instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou

visto especialmente para essa cláusula.

Art. 5º Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão

arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de

acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em

outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.

Art. 6º Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a parte

interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal ou

por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento,

convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral.

Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo, recusar-se

a firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda de que trata o art. 7º

desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, originariamente, tocaria o julgamento da

causa.

Art. 7º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição

da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer

em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fim.

§ 1º O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o

documento que contiver a cláusula compromissória.

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§ 2º Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação

acerca do litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de

comum acordo, do compromisso arbitral.

§ 3º Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz, após

ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de dez dias, respeitadas as

disposições da cláusula compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10 e 21, § 2º, desta

Lei.

§ 4º Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, caberá

ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a solução do

litígio.

§ 5º A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavratura do

compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito.

§ 6º Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, estatuir a

respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único.

§ 7º A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral.

Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em ralação ao contrato em que tiver

incerta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula

compromissória.

Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício ou por provocação das partes, as

questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato

que contenha a cláusula compromissória.

Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um

litígio à arbitragem de uma ou mias pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.

§ 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo

ou tribunal, onde tem curso a demanda.

§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular,

assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.

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Art. 10. Constará obrigatoriamente do compromisso arbitral:

I - o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;

II - o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou da entidade à qual as

partes delegarem a indicação dos árbitros;

III - a matéria que será objeto da arbitragem;

IV - o lugar em que será proferida a sentença arbitral.

Art. 11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter:

I - local ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem;

II - a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por eqüidade, se assim for

convencionado pelas partes;

III - o prazo para a apresentação de sentença arbitral;

IV - a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem,

quando assim convencionarem as partes;

V - a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das despesas

com a arbitragem;

VI - a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros.

Parágrafo único. Fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no

compromisso arbitral, este constituirá título executivo extrajudicial; não havendo tal

estipulação, o árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria competente para julgar,

originariamente, a causa que os fixe por sentença.

Art. 12. Extingue-se o compromisso arbitral:

I - escusando-se qualquer dos árbitros, antes de aceitar a nomeação, desde que as

partes tenham declarado, expressamente, não aceitar substituto;

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II - falecendo ou ficando impossibilitado de dar seu voto algum dos árbitros, desde que

as partes declarem, expressamente, não aceitar substituto; e

III - tendo expirado o prazo a que se refere o art. 11, inciso III, desde que a parte

interessada tenha notificado o árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, concedendo-lhe o

prazo de dez dias para a prolação e apresentação da sentença arbitral.

Capítulo III

Dos Árbitros

Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes.

§ 1º As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo

nomear, também, os respectivos suplentes.

§ 2º Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados,

desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do

Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento da causa a nomeação do árbitro,

aplicável, no que couber, o procedimento previsto no art. 7º desta Lei.

§ 3º As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos

árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.

§ 4º Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do

tribunal arbitral. Não havendo consenso, será designado presidente o mais idoso.

§ 5º O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um

secretário, que poderá ser um dos árbitros.

§ 6º No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade,

independência, competência, diligência e discrição.

§ 7º Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adiantamento de

verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.

Art. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham, com as

partes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que caracterizam os

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casos de impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-lhes, no que couber, os mesmos

deveres e responsabilidades, conforme previsto no Código de Processo Civil.

§ 1º As pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da

aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua imparcialidade

e independência.

§ 2º O árbitro somente poderá ser recusado por motivo ocorrido após sua nomeação.

Poderá, entretanto, ser recusado por motivo anterior à sua nomeação, quando:

a) não for nomeado, diretamente, pela parte; ou

b) o motivo para a recusa do árbitro for conhecido posteriormente à sua nomeação.

Art. 15. A parte interessada em argüir a recusa do árbitro apresentará, nos termos do

art. 20, a respectiva exceção, diretamente ao árbitro ou ao presidente do tribunal arbitral,

deduzindo suas razões e apresentando as provas pertinentes.

Parágrafo único. Acolhida a exceção, será afastado o árbitro suspeito ou impedido, que

será substituído, na forma do art. 16 desta Lei.

Art. 16. Se o árbitro escusar-se antes da aceitação da nomeação, ou, após a aceitação,

vier a falecer, tornar-se impossibilitado para o exercício da função, ou for recusado, assumirá

seu lugar o substituto indicado no compromisso, se houver.

§ 1º Não havendo substituto indicado para o árbitro, aplicar-se-ão as regras do órgão

arbitral institucional ou entidade especializada, se as partes as tiverem invocado na convenção

de arbitragem.

§ 2º Nada dispondo a convenção de arbitragem e não chegando as partes a um acordo

sobre a nomeação do árbitro a ser substituído, procederá a parte interessada da forma prevista

no art. 7º desta Lei, a menos que as partes tenham declarado, expressamente, na convenção de

arbitragem, não aceitar substituto.

Art. 17. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam

equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal.

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Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a

recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.

Capítulo IV

Do Procedimento Arbitral

Art. 19. Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo árbitro, se

for único, ou por todos, se forem vários.

Parágrafo único. Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral

que há necessidade de explicitar alguma questão disposta na convenção de arbitragem, será

elaborado, juntamente com as partes, um adendo, firmado por todos, que passará a fazer parte

integrante da convenção de arbitragem.

Art. 20. A parte que pretender argüir questões relativas à competência, suspeição ou

impedimento do árbitro ou dos árbitros, bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da

convenção de arbitragem, deverá fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se manifestar,

após a instituição da arbitragem.

§ 1º Acolhida a argüição de suspeição ou impedimento, será o árbitro substituído nos

termos do art. 16 desta Lei, reconhecida a incompetência do árbitro ou do tribunal arbitral,

bem como a nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, serão as partes

remetidas ao órgão do Poder Judiciário competente para julgar a causa.

§ 2º Não sendo acolhida a argüição, terá normal prosseguimento a arbitragem, sem

prejuízo de vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário competente, quando

da eventual propositura da demanda de que trata o art. 33 desta Lei.

Art. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na

convenção de arbitragem, que poderá reportar-se às regras de um órgão arbitral institucional

ou entidade especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao

tribunal arbitral, regular o procedimento.

§ 1º Não havendo estipulação acerca do procedimento, caberá ao árbitro ou ao tribunal

arbitral discipliná-lo.

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§ 2º Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do

contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre

convencimento.

§ 3º As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sempre, a

faculdade de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral.

§ 4º Competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral, no início do procedimento, tentar a

conciliação das partes, aplicando-se, no que couber, o art. 28 desta Lei.

Art. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir

testemunhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias,

mediante requerimento das partes ou de ofício.

§ 1º O depoimento das partes e das testemunhas será tomado em local, dia e hora

previamente comunicados, por escrito, e reduzido a termo, assinado pelo depoente, ou a seu

rogo, e pelos árbitros.

§ 2º Em caso de desatendimento, sem justa causa, da convocação para prestar

depoimento pessoal, o árbitro ou o tribunal arbitral levará em consideração o comportamento

da parte faltosa, ao proferir sua sentença; se a ausência for de testemunha, nas mesmas

circunstâncias, poderá o árbitro ou o presidente do tribunal arbitral requerer à autoridade

judiciária que conduza a testemunha renitente, comprovando a existência da convenção de

arbitragem.

§ 3º A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral.

§ 4º Ressalvado o disposto no § 2º, havendo necessidade de medidas coercitivas ou

cautelares, os árbitros poderão solicitá-las ao órgão do Poder Judiciário que seria,

originariamente, competente para julgar a causa.

§ 5º Se, durante o procedimento arbitral, um árbitro vier a ser substituído fica a critério

do substituto repetir as provas já produzidas.

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Capítulo V

Da Sentença Arbitral

Art. 23. A sentença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada tendo

sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado da

instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro.

Parágrafo único. As partes e os árbitros, de comum acordo, poderão prorrogar o prazo

estipulado.

Art. 24. A decisão do árbitro ou dos árbitros será expressa em documento escrito.

§ 1º Quando forem vários os árbitros, a decisão será tomada por maioria. Se não

houver acordo majoritário, prevalecerá o voto do presidente do tribunal arbitral.

§ 2º O árbitro que divergir da maioria poderá, querendo, declarar seu voto em

separado.

Art. 25. Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos

indisponíveis e verificando-se que de sua existência, ou não, dependerá o julgamento, o

árbitro ou o tribunal arbitral remeterá as partes à autoridade competente do Poder Judiciário,

suspendendo o procedimento arbitral.

Parágrafo único. Resolvida a questão prejudicial e juntada aos autos a sentença ou

acórdão transitados em julgado, terá normal seguimento a arbitragem.

Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;

II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito,

mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade;

III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem

submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e

IV - a data e o lugar em que foi proferida.

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Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros.

Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder

ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.

Art. 27. A sentença arbitral decidirá sobre a responsabilidade das partes acerca das

custas e despesas com a arbitragem, bem como sobre verba decorrente de litigância de má-fé,

se for o caso, respeitadas as disposições da convenção de arbitragem, se houver.

Art. 28. Se, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao litígio, o

árbitro ou o tribunal arbitral poderá, a pedido das partes, declarar tal fato mediante sentença

arbitral, que conterá os requisitos do art. 26 desta Lei.

Art. 29. Proferida a sentença arbitral, dá-se por finda a arbitragem, devendo o árbitro,

ou o presidente do tribunal arbitral, enviar cópia da decisão às partes, por via postal ou por

outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, ou, ainda,

entregando-a diretamente às partes, mediante recibo.

Art. 30. No prazo de cinco dias, a contar do recebimento da notificação ou da ciência

pessoal da sentença arbitral, a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá

solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que:

I - corrija qualquer erro material da sentença arbitral;

II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral, ou se

pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão.

Parágrafo único. O árbitro ou o tribunal arbitral decidirá, no prazo de dez dias,

aditando a sentença arbitral e notificando as partes na forma do art. 29.

Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos

efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui

título executivo.

Art. 32. É nula a sentença arbitral se:

I - for nulo o compromisso;

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II - emanou de quem não podia ser árbitro;

III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;

IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;

V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem;

VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;

VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e

VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta Lei.

Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a

decretação da nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.

§ 1º A demanda para a decretação de nulidade da sentença arbitral seguirá o

procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo

de até noventa dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu

aditamento.

§ 2º A sentença que julgar procedente o pedido:

I - decretará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, incisos I, II, VI, VII e

VIII;

II - determinará que o árbitro ou o tribunal arbitral profira novo laudo, nas demais

hipóteses.

§ 3º A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser argüida

mediante ação de embargos do devedor, conforme o art. 741 e seguintes do Código de

Processo Civil, se houver execução judicial.

Capítulo VI

Do Reconhecimento e Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras

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Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de

conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua

ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei.

Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida

fora do território nacional.

Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira

está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal.

Art. 36. Aplica-se à homologação para reconhecimento ou execução de sentença

arbitral estrangeira, no que couber, o disposto nos arts. 483 e 484 do Código de Processo

Civil.

Art. 37. A homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte

interessada, devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, conforme o art.

282 do Código de Processo Civil, e ser instruída, necessariamente, com:

I - o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada

pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial;

II - o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada,

acompanhada de tradução oficial.

Art. 38. Somente poderá ser negada a homologação para o reconhecimento ou

execução de sentença arbitral estrangeira, quando o réu demonstrar que:

I - as partes na convenção de arbitragem eram incapazes;

II - a convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes a

submeteram, ou, na falta de indicação, em virtude da lei do país onde a sentença arbitral foi

proferida;

III - não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de arbitragem, ou

tenha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando a ampla defesa;

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IV - a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem, e

não foi possível separar a parte excedente daquela submetida à arbitragem;

V - a instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbitral ou

cláusula compromissória;

VI - a sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes, tenha

sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a sentença arbitral

for prolatada.

Art. 39. Também será denegada a homologação para o reconhecimento ou execução

da sentença arbitral estrangeira, se o Supremo Tribunal Federal constatar que:

I - segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resolvido por

arbitragem;

II - a decisão ofende a ordem pública nacional.

Parágrafo único. Não será considerada ofensa à ordem pública nacional a efetivação da

citação da parte residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção de arbitragem

ou da lei processual do país onde se realizou a arbitragem, admitindo-se, inclusive, a citação

postal com prova inequívoca de recebimento, desde que assegure à parte brasileira tempo

hábil para o exercício do direito de defesa.

Art. 40. A denegação da homologação para reconhecimento ou execução de sentença

arbitral estrangeira por vícios formais, não obsta que a parte interessada renove o pedido, uma

vez sanados os vícios apresentados.

Capítulo VII

Disposições Finais

Art. 41. Os arts. 267, inciso VII; 301, inciso IX; e 584, inciso III, do Código de

Processo Civil passam a ter a seguinte redação:

"Art. 267.........................................................................

VII - pela convenção de arbitragem;"

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"Art. 301.........................................................................

IX - convenção de arbitragem;"

"Art. 584...........................................................................

III - a sentença arbitral e a sentença homologatória de transação ou de

conciliação;"

Art. 42. O art. 520 do Código de Processo Civil passa a ter mais um inciso, com a

seguinte redação:

"Art. 520...........................................................................

VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem."

Art. 43. Esta Lei entrará em vigor sessenta dias após a data de sua publicação.

Art. 44. Ficam revogados os arts. 1.037 a 1.048 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de

1916, Código Civil Brasileiro; os arts. 101 e 1.072 a 1.102 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro

de 1973, Código de Processo Civil; e demais disposições em contrário.

Brasília, 23 de setembro de 1996; 175º da Independência e 108º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Nelson A. Jobim