instruÇÃo criminal perante o juizado especial …siaibib01.univali.br/pdf/adelia de andrade...

91
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ADÉLIA DE ANDRADE BAIXO INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL: com vigência no novo Código de Processo Penal Tijucas 2010

Upload: doanthien

Post on 16-Oct-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ADÉLIA DE ANDRADE BAIXO

INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL:

com vigência no novo Código de Processo Penal

Tijucas

2010

Page 2: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

ADÉLIA DE ANDRADE BAIXO

INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL:

com vigência no novo Código de Processo Penal

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas. Orientador: MSc. Fernando Francisco Afonso Fernandez

Tijucas

2010

Page 3: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

ADÉLIA DE ANDRADE BAIXO

INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL:

com vigência no novo Código de Processo Penal

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.

Área de Concentração/Linha de Pesquisa: Direito Público/Direito Processual Penal

Tijucas, 11 de novembro de 2010.

Prof. MSc. Fernando Francisco Afonso Fernandez Orientador

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

Page 4: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

Dedico este trabalho aos meus Pais e a meu esposo Leonardo que

acreditaram nos sonhos plantados em outrora, regados através de

apoio, e que, agora, os brotos começam a surgir.

A todas as pessoas que acreditam que podem fazer alguma coisa, por

menor que seja, para melhorar o mundo em que vivemos. A você,

dedico este trabalho.

Page 5: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

A Deus, fonte suprema de todo saber.

À minha família, e meu esposo Leonardo pela confiança que depositaram em mim.

Ao Professor Orientador, Fernando Francisco Afonso Fernandez, norte seguro na orientação

deste trabalho.

A Balnei Beal Fröhlich, responsável pelo Cartório Crime do Fórum de Tijucas, cujos

ensinamentos serviram de base para minha formação como profissional do Direito.

Aos Professores do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, campus Tijucas, que

muito contribuíram para a minha formação jurídica.

Aos que colaboraram com suas críticas e sugestões para a realização deste trabalho.

Aos colegas de classe, pelos momentos que passamos juntos e pelas experiências trocadas.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta pesquisa.

Page 6: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

Se um homem tem talento e não se sabe empregá-lo, já fracassou. Se tem talento e serve-se apenas da metade dele, já fracassou em parte. E, se tem talento e aprende a utilizá-lo todo, já é gloriosamente bem sucedido, alcançando satisfação e triunfo que poucos homens conhecem..

Robert J. Oreilly

Page 7: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Tijucas, 11 de novembro de 2010.

Adélia de Andrade Baixo Graduanda

Page 8: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo demonstrar o procedimento do Juizado Especial Criminal, fazendo comentário da parte de regula os juizados Especiais Criminais. Já que NE seu exercício de jurisdição alicerça-se nos seus princípios orientadores, previstos em seu artigo sessenta e dois, o resultado de sua aplicação prática, destarte, consiste em assumir a roupagem de inovador procedimento por ele mesmo constituído, baseado na oralidade, informalidade, celeridade e economia processual, rompendo definitivamente com o formalismo arraigado que sempre orientou o processo comum. Desta forma, são princípios instituídos por diploma em estudo que estabelecem o diferencial quanto aos demais procedimentos já existentes. Além da análise geral introdutória, acerca do Juizado Especial Criminal, três fatores procedimentais são fundamental importância para o estudo desta lei, tidas, por conseguinte, como o objeto de pesquisa deste trabalho, quais sejam: a criação dos juizados especiais, seus princípios norteadores e acesso a justiça, as audiência preliminares e instrutórias e; a Instrução criminal os Juizados Especiais. Apesar dos Juizados Especiais Criminais tratarem de crimes que não ultrapassem a pena de dois anos, existem casos em que o réu mesmo condenado com pena que ultrapasse a este período poderá se beneficiar com tal tutela jurisdicional, tal previsão também será avaliada neste trabalho. Portanto, este será o universo da pesquisa intentada, que não tem a preocupação de exaurir o tema em estudo, mas sim de resgatar aspectos importantes para a consolidação de um modelo de justiça popular no país. Palavra-chave: Juizado Especial. Menor Potencial Ofensivo. Pena restritiva de Direito.

Page 9: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

RESUMEN

Este trabajo tiene como objetivo mostrar el procedimiento del Juzgado Especial Criminal, haciendo comentario de la parte que regula los Juzgados Especiales Criminales. Ya que (NE???) el ejercicio de jurisdicción se fundamenta en los principios orientadores, previstos en su artículo sesenta y dos, el resultado de su aplicación práctica, consecuentemente, consiste en asumir la vestimenta de innovador procedimiento por el mismo constituido, basado en la oralidad, informalidad, celeridad y economía procesal, rompiendo definitivamente con el formalismo arraigado que siempre orientó el procedimiento común. De esta forma, son principios instituidos por la Ley en estudio que establecen el diferencial cuanto a los demás procedimientos ya existentes. Además de análisis general introductoria, acerca del Juzgado Especial Criminal, tres factores procedimentales son de fundamental importancia para el estudio de esta ley, habidas, por consiguiente, como el objeto de pesquisa de este trabajo, cuales sean: la creación de los juzgados especiales, sus principios norteantes y el acceso a la justicia, las audiencia preliminares e instructoras y; la Instrucción criminal los Juzgados Especiales. A pesar de los Juzgados Especiales Criminales tratar de crímenes que no ultrapasen la pena de dos años, existen casos en que el reo mismo condenado con pena que ultrapase a este período podrá beneficiarse con tal tutela jurisdiccional, tal previsión también será abordada en este trabajo. Por tanto, este será el universo de la pesquisa intentada, que no tiene la preocupación de agotar el tema en estudio, más sí de rescatar aspectos importantes para la consolidación de un modelo de justicia popular en el País. Palabras-llave: Juzgado Especial. Menor Potencial Ofensivo. Pena restrictiva de Derecho.

Page 10: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

art. Artigo CF. Constituição Federal CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CP Código Penal CPP Código de Processo Penal Inc. Inciso JECC Juizados Especiais Cíveis e Criminais

Page 11: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

Lista de categorias1 que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu

trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2.

Juizados Especiais Um microssistema de natureza instrumental e de instituição constitucionalmente obrigatória (o que não se confunde a competência relativa e a opção procedimental) destinado á rápida e efetiva atuação do direito, estando a exigir dos estudiosos da ciência do processo uma atenção toda particular, seja a respeito a sua aplicabilidade no mundo empírico como do seu funcionamento técnico-procedimental3.

Processo O processo é um instrumento utilizado para solucionar o conflito de interesses, compor a lide, que é a função da jurisdição, fazendo atuar o direito objetivo, a lei4.

Constituição Lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos5.

Transação Penal A transação Penal nada mais é do que a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa feita pelo Ministério Público ao autor do fato6.

Infração Penal A lei entende como menor potencial ofensivo os crimes cuja pena não ultrapasse a dois anos, cabendo a aplicação de tal almejada despenalização, com o conciliação e transação penal7.

1 Denomina-se “categoria” a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. Cf. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8. ed. Florianópolis: OAB Editora, 2003, p. 31. 2 Denomina-se “Conceito Operacional” a definição ou sentindo estabelecido para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas ao longo do trabalho. Cf. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito, p. 43. 3 TOURINHO Neto, Fernando da Costa. Juizados Especiais Cíveis e Criminais, 6 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 41. 4 TOURINHO Neto, Fernando da Costa. Juizados Especiais Cíveis e Criminais, 6 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 779. 5 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 36. 6 BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva. 2009. p.267. 7 BASSETTI Neto, Pedro. Juizados Especiais Criminais, São Paulo, Iglu, 1999, p. 14.

Page 12: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

Conciliação A conciliação aproxima as partes, afasta a animosidade e colabora para o entrelaçamento pessoal dos cidadãos, tratando-se, de um negócio jurídico processual, envolvendo diretamente os litigantes, constituindo, assim, no principio dominante deste procedimento especial8.

Rito Sumariissimo Pela lei dos juizados especiais cíveis e criminais (9099/95), o rito sumaríssimo se aplica aos crimes de menor potencial ofensivo (com penas que não ultrapassem dois anos) 9.

8 BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ivens Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva. 1997. 9 Lei 9.099/95, art. 61.

Page 13: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................. 5 RESUMEN ........................................................................................................................... 6 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .......................................................................... 7 LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS............................. 8 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 12 2 A FORMAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS E SEUS PRINCIPIOS NORTEADORES............................................................................................................... 16 2.1 DA CRIAÇÃO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL ................................................ 16 2.2 OS PRINCIPIOS NORTEADORES............................................................................... 20 2.2.1 Princípio de Oralidade................................................................................................. 21 2.2.2 Principio da Economia Processual............................................................................... 22 2.2.3 Principio da Informalidade .......................................................................................... 23 2.2.4 Principio da Celeridade ............................................................................................... 24 2.2.5 Principio da Simplicidade............................................................................................ 25 2.2.6 Principio da Ampla defesa........................................................................................... 25 2.2.7 Princípio do Contraditório ........................................................................................... 26 2.2.8 Princípio da Oficialidade ............................................................................................. 27 2.2.9 Princípio da Obrigatoriedade ....................................................................................... 28 2.2.10 Principio da Indisponibilidade da Ação ..................................................................... 28 2.2.11 Principio da Oportunidade e Conveniência ................................................................ 28 2.2.12 Principio da Disponibilidade da Ação........................................................................ 29 2.2.13 Principio da Indivisibilidade da Ação ........................................................................ 29 2.3 A COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS ....................................................... 29 2.4 COMPOSIÇÃO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL............................................... 34 2.4.1 Dos juízes.................................................................................................................... 34 2.4.2 Do Ministério Público ................................................................................................. 35 2.4.3 Do Advogado .............................................................................................................. 35 2.4.4 Do Juiz Leigo e Conciliador ........................................................................................ 36 3 AS AUDIÊNCIAS ........................................................................................................... 40 3.1 A CONCILIAÇÃO E AS VANTAGENS DE OBTER O ACORDO .............................. 40 3.1.1 Homologação da composição de danos civis ............................................................... 43 3.1.1.1 Renúncia ao direito de queixa ou de Representação .................................................. 44 3.2 TRANSAÇÃO PENAL.................................................................................................. 46 3.2.1 Dosimetria da Transação Penal.................................................................................... 47 3.2.2 Pressupostos da Transação Penal................................................................................. 49 3.2.3 Procedimentos da Transação Penal.............................................................................. 50 3.2.4 Da aceitação................................................................................................................ 51 3.2.5 Da Inexistência de Transação ...................................................................................... 52 3.3 DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ................................................... 53 3.3.1 Inexistência do Direito Subjetivo do Acusado ............................................................. 55 3.3.2 Aceitação da Suspensão Condicional do Processo ....................................................... 56 3.3.3 Da audiência de Instrução e Julgamento ...................................................................... 57

Page 14: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

3.4 AS PENAS APLICADAS NOS JUIZADOS ESPECIAIS.............................................. 58 3.4.1 Diferença entre a Prestação Pecuniária e a Pena de Multa............................................ 59 4 INSTRUÇÃO CRIMINAL NO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL........................... 61 4.1 FASE POLICIAL........................................................................................................... 61 4.2 FASE JUDICIAL........................................................................................................... 64 4.2.1 Comunicações de atos processuais - intimações e citações........................................... 65 4.2.1.1 Da citação ................................................................................................................ 65 4.2.1.2 Das intimações e notificações................................................................................... 66 4.3 DAS AUDIÊNCIAS PRELIMINARES ......................................................................... 68 4.4 DA DENÙNCIA OU QUEIXA CRIME......................................................................... 68 4.4.1 Comunicações de atos processuais - intimações e citações........................................... 72 4.4.1.1 Pressupostos processuais .......................................................................................... 73 4.4.1.2 Condições genéricas da ação .................................................................................... 74 4.4.1.3 Condições de específicas ou de procedibilidade........................................................ 75 4.4.1.4 Justa causa................................................................................................................ 75 4.4.2 Da resposta à acusação ................................................................................................ 76 4.4.3 Da testemunha............................................................................................................. 78 4.5 DA INSTRUÇÃO E JULGAMENTO............................................................................ 79 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 83 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 86

Page 15: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objeto o estudo do procedimento do Juizado Especial

Criminal.

A importância deste tema reside em uma nova forma de prestação jurisdicional acabou

de caracterizar um avanço legislativo de origem eminentemente constitucional, que veio a

proteger os antigos anseios e necessidades de todo o cidadão, assim como aqueles que se

encontram na camada mais baixa da sociedade, ou melhor, os menos favorecidos

economicamente, proporcionando uma justiça apta a garantir uma prestação de tutela simples,

rápida, econômica e segura, capaz de levar á liberação da indesejável litigiosidade,

configurando-se para tanto, num mecanismo hábil de ampliação ao acesso da ordem jurídica

justa.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito

na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório monográfico também vem

colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não poder ser tratado como

novidade no campo jurídico, na dimensão social-prática ainda pode ser tratado como elemento

novo e repleto de nuances a serem destacadas pelos intérpretes jurídicos.

O presente tema, na atualidade, encontra-se em constante mudança, sendo que a lei

que rege o Juizado Especial é usada subsidiariamente ao Código de Processo Penal.

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal do pesquisador em demonstrar a

diferença entre a Instrução criminal no Juízo Comum e no Juizado especial criminal,

especificando os benefícios concedidos pela proposta de Conciliação e Transação penal, bem

como a suspensão condicional do processo, demonstrando quem pode ser beneficiário de tal

procedimento, assim como para instigar novas contribuições para estes direitos na

compreensão dos fenômenos jurídicos-políticos, especialmente no âmbito de atuação do

Direito Penal.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho.

Demonstrar as regras previstas no Código de processo penal onde o autor do fato poderá ser

Page 16: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

13

beneficiado pela Lei 9.099/95, ou seja, que existe a possibilidade de transformar quando o réu

não reincidente e for condenado entre dois a quatro anos, poderá ter o beneficio do sursis, e

assim cumprir sua pena conforme previsão no Juizado Especial, onde deverá prestar alguma

das penas prevista no art. 89 da mesma lei, podendo ser ressalvado a prestação de serviços

comunitários ou prestação de pena pecuniária, conjuntamente das penas restritivas de direto

prevista no art. 43 do C.P.

O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de Bacharel

em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas,

campus de Tijucas.

Como objetivo específico, pretende-se demonstrar a Instrução criminal nos Juizados

Especiais Criminais, suas regras e possibilidades de uma justiça rápida e eficaz.

A análise do objeto do presente estudo incidirá sobre as diretrizes teóricas propostas

por Fernando da Costa Tourinho Neto, na obra Juizados Especiais Estaduais Cíveis e

Criminais: comentários à Lei 9.099/95. Este será, pois, o marco teórico que norteará a

reflexão a ser realizada sobre o tema escolhido.

Não é o propósito deste trabalho adentrar nos recursos ou julgamentos em segundo

grau. Por certo não se estabelecerá um ponto final em referida discussão. Pretende-se, tão-

somente, aclarar o pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o ao procedimento

nos juizados especiais Criminais em primeiro grau de jurisdição.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram formulados os seguintes

questionamentos:

a) Levando-se em consideração a formação dos Juizados Especiais Criminais, seus

princípios norteadores e o acesso a este meio de justiça, qual seria a competência a ser

aplicada neste sistema?

b) Levando-se em consideração as audiências preliminares, que segundo o art. 62 da

lei 9.099/95 a preferência é de reparação de danos sofridos pela vitima, sempre que possível, a

audiência de transação penal que deverá ser ato continuo caso haja representação não

prejudicaria a vítima, uma vez que esta poderá estar desacompanhada de advogado e,

consequentemente, desprovida de defesa?

Page 17: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

14

c) Na Lei 9.099/95 prevê que a denúncia deverá ser oral, bem como a defesa, isso não

prejudica o autor do fato, sendo que o Código de Processo penal prevê o prazo de defesa?

Já as hipóteses consideradas foram as seguintes:

a) A diferença na instrução criminal nos ritos ordinário, sumário e sumariissimo são

bem parecidas, sendo que no Juizado especial criminal, ou seja, rito sumariissimo as penas

são aplicadas como forma de beneficio, sendo que sua instrução, não cabe pena de prisão e

em alguns casos depende de representação da vitima;

b) As penas a serem aplicadas nos juizados especiais criminais, são as penas

alternativas, ou seja, as penas restritivas de direito, não cabendo pena privativa de liberdade.

As Concessões destas penas dependem dos requisitos propostos na Lei 9.099/95 e enunciados;

c) Na maioria os casos a aplicação da pena se dá pela transação penal, não cabendo

processo criminal e não gerando antecedentes criminais. Com a não aceitação deste o

procedimento tem continuidade sendo o autor do fato denunciado e respondendo

criminalmente ao suposto crime.

Finalmente, buscou-se nortear as hipóteses formuladas com as seguintes variáveis:

a) A Lei 9.099/95 foi criada para que a justiça fosse informal e rápida, mas o próprio

legislador já previu no art. 92 da referida Lei que a aplicação seria subsidiaria ao Código de

Processo Penal.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em três capítulos, podendo-se, inclusive,

delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente a Criação dos

Juizados Especiais criminais e Seus Princípios Norteadores; a segunda, As audiências

Preliminares e as penas aplicadas nos juizados Especiais Criminais; e, por derradeiro, A

Instrução Criminal nos Juizados Especiais Criminais.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi utilizado

o método dedutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto

na base lógica dedutiva10, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se

posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a

prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

10 Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125.

Page 18: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

15

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do referente, da categoria,

do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica11.

Os acordos semânticos que procuram resguardar a linha lógica do relatório da pesquisa

e respectivas categorias, por opção metodológica, estão apresentados na Lista de Categorias e

seus Conceitos Operacionais, muito embora algumas delas tenham seus conceitos mais

aprofundados no corpo da pesquisa.

A estrutura metodológica e as técnicas aplicadas nesta monografia estão em

conformidade com o padrão normativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

e com as regras apresentadas no Caderno de Ensino: formação continuada, Ano 2, número 4;

assim como nas obras de Cezar Luiz Pasold, Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas

úteis ao pesquisador do Direito e Valdir Francisco Colzani, Guia para redação do trabalho

científico.

A presente monografia se encerra com as Considerações Finais, nas quais são

apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos

estudos e das reflexões sobre os juizados Especiais Criminais.

Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este

estudo: Instrução Criminal perante os Juizados Especiais Criminais.

11 Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.

Page 19: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

2 A FORMAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS E SEUS

PRINCIPIOS NORTEADORES

Os Juizados Especiais é fruto do projeto de Lei 1.489-B, com substitutivo do Senado

por meio de Projeto 1.480-C e, por último, do 1.480-D, todos editados em 1989, que levaram

à discussão da criação do Juizados Especiais Cíveis e Criminais nos termos preconizado no

artigo 98, I, da Constituição Federal, que impõe a obrigação de instituírem as referidas

unidades jurisdicionais. Sendo que sua criação foi instituída em 1995 pela Lei 9.099, o qual a

finalidade de julgar os casos de menor potencial ofensivo, ou seja, aqueles que a pena não

ultrapasse a um ano, sendo alterado em 2001, pela Lei 10.259. Por fim foi em 28 de junho de

2006, foi sancionada a Lei 11.313 que alterou o conceito de crime de menor potencial

ofensivo, alterando a penalidade destes crimes para que não ultrapassem dois anos.

Neste capítulo serão abordados criação, os princípios que regem e a competência dos

Juizados Especiais Criminais.

2.1 DA CRIAÇÃO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

Com o surgimento da vida organizada pelo homem em Sociedade, levando em

consideração a sua própria condição, definida sociologicamente como um ser social, depara-

se o mesmo com um conflito de interesses, que exige solução para restabelecimento do

equilíbrio rompido pelo aparecimento de uma pretensão resistia, a fim de que a vida em

Sociedade possa, enfim prosseguir. E, face de tais dificuldades, a humanidade a cada dia,

sentia-se mais necessitada em se outorgar a um terceiro, imparcial, a solução desses conflitos

de interesses, o que acabou por assegurar ao Estado o dever de garantir a imparcialidade da

decisão em a efetividade do cumprimento desta12.

Os Juizados Especiais Criminais foram criados com a finalidade de que pudessem ser

julgados crimes com pena inferior a um ano, ainda envolvendo as contravenções penais.

12 FRIGINI, Ronaldo. Comentários á Lei dos juizados Especiais Civis. São Paulo: lED - Editora de Direito Ltda., 2000.

Page 20: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

17

Juntamente com o rito ordinário, vem o legislador, buscando soluções, alcançar a

modificação do rito processual em determinadas causas, atendendo a critérios

preestabelecidos de valores e de matérias, criando no universo jurídico, o denominado rito

sumário, destinado a solução mais célere de determinados conflitos. Entretanto tal esforço não

obteve êxito, sendo que no rito sumário ainda demanda maior prazo de tramitação, assim

como no rito ordinário.

A Lei 7.244/84, muito embora tenha sido revogada pela lei 9099/95, constitui uma referência legislativa importantíssima para a definição dos institutos e a perfeita compreensão do microssistema processual dos Juizados especiais (ABREU, 1996, p. 42)13.

Passados dez anos da edição da Lei 7.244/84, e consagrada a nova justiça, e hora de

aperfeiçoar, inclusive com ampliação de conflitos submetidos a tais regras, surgindo assim

através da Lei 9.099/95, o rito sumaríssimo, instituindo os Juizados Especiais, criados pela

Constituição da República Federativa do Brasil no seu artigo 98, I.

O art. 98, I, da Constituição Federal estabelece que a União, no Distrito Federal e nos

Territórios, e os estados devem criar Juizados Especiais, providos de juízes togados, ou

togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de infrações

penais de menor potencial ofensivo, mediante o procedimento oral e sumaríssimo, permitido,

nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de

primeiro grau.

E ainda que se entendesse que as infrações penais de menor potencial ofensivo,

reguladas no art. 98, I, CF, são as mesmas pequenas causas a que se refere o art. 24, X, CF, a

atribuição constitucional da competência concorrente à União autorizaria, e recomendaria

mesmo que a lei federal estabelecesse as normas gerais de processo e procedimento para a

conciliação, julgamento e execução das referidas infrações14.

Visa esta norma constitucional agilizar e abreviar a justiça, afastando das mazelas do

cárcere privado, os autores de crimes de menor potencial ofensivo, com a despenalização,

contribuindo para o descongestionamento das prisões.

13 ABREU, Pedro Manoel. Juizados Especiais Cíveis e criminais - aspectos destacados. Pg. 42, Florianópolis: Obra jurídica, 1996. 14 GRINOVER, Ada Pellegrini, GOMES FILHO, Antonio Magalhães, FERNANDES Antonio Scarance, GOMES, Luiz Flávio, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários à Lei 9.099 de 26.09.1995, 3ª Edição, revista e atualizada, Ed. Revista dos tribunais, pg. 32, 1999.

Page 21: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

18

Estas infrações de menor potencial ofensivo é que podem ser objeto de transação entre

as partes.

Conforme Bassetti Neto “O legislador inovou e evoluiu o sistema criminal, evitando

processos morosos, dando maior efetividade de sansão penal e maior proteção à vítima, tudo

na busca da almejada paz social, baseada nas modernas tendências criminologias” 15.

A Lei n. 9.099/95 criou instrumentos destinados a viabilizar, juridicamente, processos

de despenalização, com a inequívoca finalidade de forjar um novo modelo de Justiça criminal,

que privilegie a ampliação do espaço de consenso, valorizando, desse modo, na definição das

controvérsias oriundas do ilícito criminal, a adoção de soluções fundadas na própria vontade

dos sujeitos que integram a relação processual penal.

Em sua aparente simplicidade, a Lei 9.099/95 significa uma verdadeira revolução no

sistema processual penal brasileiro. A aplicação imediata da pena não privativa de liberdade,

antes mesmo do oferecimento da acusação, não só rompe o sistema tradicional do nulla poena

sine judicio, como até possibilita a aplicação da pena sem antes discutir a questão da

culpabilidade16. (GRINOVER, GOMES FILHO, FERNANDES E GOMES, P.35) 17.

Merece ser lembrado o artigo de Wunderlich, citado na obra de Carvalho; falando

sobre o desenvolvimento dos juizados pós-Constituição de 1988, estes se traduzem como

“mísseis inteligentes” contra os inimigos, proporcionando o aparato penal, neste relato o autor

falava sobre os crimes como as contravenções penais e delitos de trânsito que caiam no

esquecimento sem o devido aparato legal18.

Com o surgimento da lei 9.099/95 muitas vítimas, que jamais conseguiram qualquer

reparação no processo de conhecimento clássico, saem agora dos Juizados Criminais com

indenização. Permitiu-se à aproximação entre o infrator e a vítima. O sistema de

Administração de Justiça está gastando menos para a resolução desses conflitos menores. E

atua com certa rapidez. 15 BASSETTI neto, Pedro- JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS –ilustrado, p.13, São Paulo, Iglu, 1999. p. 13. 16 GRINOVER, Ada Pellegrini, GOMES FILHO, Antonio Magalhães, FERNANDES Antonio Scarance, GOMES, Luiz Flávio, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários à Lei 9.099 de 26.09.1995, 3ª Edição, revista e atualizada, Ed. Revista dos tribunais, pg. 35, 1999. 17 GRINOVER, Ada Pellegrini, GOMES FILHO, Antonio Magalhães, FERNANDES Antonio Scarance, GOMES, Luiz Flávio, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários à Lei 9.099 de 26.09.1995, 3ª Edição, revista e atualizada, Ed. Revista dos tribunais, pg. 32, 1999. 18 CARVALHO, Salo de, A CRISE DO PROCESSO PENAL - e as novas formas de administração de justiça criminal, p. 174, Porto Alegre-RS- Notadez. 2006. P. 174.

Page 22: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

19

A Lei 9.099/95, como se percebe inovou profundamente nosso ordenamento juridico-

penal.

No ano de 2001 foi promulgada a lei 10.259, que instituiu os Juizados Especiais

Criminais da justiça federal, as quais se aplicam, no que não houver conflito, as regras da Lei

9.099/95.

Este novo diploma legal, em seu artigo 2º, parágrafo único, deu nova definição legal às

infrações penais de menor potencial ofensivo, in litteris: "Parágrafo único. Consideram-se

infrações penais de menor potencial ofensivo, para efeitos desta lei, os crimes a que a lei

comine pena máxima dois anos, ou multa".

No texto da lei 9.099/95 em seu art. 61 a lei comina pena máxima não superior a um

ano e muito embora o texto da lei 10.259 tenha sido redigido para os Juizados Federais,

alguns juristas entenderam que em âmbito estadual também deveria ser adotado esta alteração.

Segundo artigo publicado no site do Jus Navigandi pelo Dr. Cláudio Calo Sousa

(08/2002) A maioria dos doutrinadores (Fernando da Costa Tourinho Filho, Damásio E. de

Jesus, Alberto Silva Franco, Luiz Flávio Gomes, dentre outros) entende que não há dúvidas de

que com o advento da Lei n. 10.259/2001, a referida lei deve ser aplicado à esfera estadual,

face aos princípios constitucionais da proporcionalidade e da isonomia. Em sendo assim,

citam como exemplo o fato de que se uma pessoa desacata uma autoridade federal teria direito

aos institutos da Lei n. 9.099/95, já se desacata uma autoridade policial estadual, em havendo

dois conceitos distintos de infração penal de menor potencial ofensivo, não faria jus àqueles

institutos, o que geraria um vício de inconstitucionalidade, violando o artigo 5º da CRFB/8819.

Desta forma não havendo qualquer vício de inconstitucionalidade na Lei n.

10.259/2001, fica certo que o novo conceito de infração penal de menor potencial ofensivo

deve levar em conta todas as contravenções penais e os crimes cuja pena máxima não

ultrapassa dois anos, ressalvado aqueles que possuem rito especial.

Passa-se para análise dos princípios que norteiam os preceitos dos Juizados Especiais

Criminais.

19 SOUSA, Cláudio Calo. O ART. 2º DA LEI N. 10.259/2001 XO ART. 61 DA LEI N. 9.099/95. E as infrações com rito especial?. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3042>. Acesso em: 02 mar. 2010.

Page 23: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

20

2.2 OS PRINCIPIOS NORTEADORES

Uma vez que se trata este trabalho de um estudo acerca dos Juizados Especiais

Criminais, importa-se que se inicie o mesmo com o exame dos princípios gerais do processo

criminal que têm reflexos acentuados no mencionado estatuto.

Conforme Junior, Princípios processuais são um complexo de todos os preceitos que

originam, fundamentam e orientam o processo20.

Os princípios tem que estar de forma explícita ou implícita na Constituição ou

Legislação infraconstitucional.

Os princípios regentes do Juizado Especial vêm enumerados no art.62 da Lei 9.099/95,

sendo importante mencionar que todos os demais, considerados fundamentais à orientação do

universo processual criminal e que estejam em sintonia com o espírito dos Juizados Especiais

tais como o contraditório, ampla defesa, igualdade, possuem ampla e irrestrita aplicabilidade

neste microssistema.21.

Portanto, cabe aos princípios a tarefa se tornar procedimento um meio de resolução

mais ágil dos conflitos sociais de interesse, fazendo, desta forma, um sistema efetivo de

pacificação social, cujo processo se torna um mecanismo de resultado rápido à pretensão das

partes envolvidas na lide22.

Os Juizados Especiais Criminais são regidos pelos princípios da oralidade,

informalidade, economia processual e celeridade, a teor do que dispõe o artigo 62, da Lei

Federal n. 9.099/95, in verbis:

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Note-se, que a redação do artigo supramencionado omitiu o princípio da simplicidade,

como norteador dos Juizados Criminais.

20 JUNIOR, Joel Dias Figueira, NETO, Fernando da Costa Tourinho, Juizados especiais estaduais cíveis e criminais, comentários da Lei 9.099/1995, 4ª Ed., Editora revista dos Tribunais, 2005. p. 68. 21 BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Gandra, Comentários à Constituição do Brasil, São Paulo, Saraiva, 1997. 22 COSTA, Hélio Martins. Lei dos Juizados Especiais anotada e sua interpretação jurisprudencial. 2 ed. Belo Horizonte: Livraria El Rey Editora, 2000.

Page 24: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

21

Contudo, o artigo 2º, da Lei Federal n. 9.099/95, indica, ainda, como princípio dos

Juizados Especiais Cíveis e Criminais a simplicidade.

2.2.1 Princípio de Oralidade

No que diz respeito ao principio de oralidade, tal instituto fundamenta-se o fato do

Juizado Especial visar assegurar a rápida solução dos conflitos, para que se possa utilizar ao

máximo da economia processual e da instrumentalidade das formas. Conseqüência natural é a

sua inserção no referido procedimento, uma vez que o mesmo vem a exigir a forma oral no

tratamento da causa.

No que tange ao principio a oralidade [...] nada mais significa do que a existência precípua da forma oral no tratamento da causa sem que com isso se exclua por completo a utilização da escrita, o que, aliás, é praticamente impossível, tendo em vista a imprescindibilidade na documentação de todo o processo e a conversão em termos, no mínimo de suas fases e atos principais, sempre ao estritamente indispensável. Ademais, processo oral não é sinônimo de processo verbal. (FIGUEIRA JÚNIOR e LOPES, 2000, p.67)23.

Pode-se dizer que a oralidade gera a concentração de atos, já que tudo o que importa

para o julgamento da lide é deduzido e decidido em audiência. Geando ainda, a imediação,

com o contato direto do juiz com as partes litigantes, com as provas produzidas e tudo o mais

que seja considerado necessário para o deslinde do conflito de interesses qualificado por uma

pretensão resistida.

Portanto, alega Chimenti que “o legislador priorizou o critério da oralidade desde a

apresentação do pedido inicial [...] até a fase da execução dos julgados, reservando a forma

escrita apenas aos atos considerados essenciais”24.

Por este motivo o Juiz deve tomar cuidado para não abolir a documentação dos atos

processuais por completo, eis que tal prática se pode acelerar o, mandamento processual em

uma primeira fase, porém, trazendo o risco de, em havendo recurso, acarretar o perdimento de

todo o tempo que se logrou economizar.

Ante a redação do artigo 62 da Lei dos Juizados Especiais ela se tornou princípio de

direto positivo além de ser uma defluência lógica da sistemática da oralidade. Encontramos 23 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias, LOPES, Mauricio Antônio Ribeiro. Comentário à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. 24 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais Cíveis, 3. Ed. São Paulo: Saraiva. 2000.

Page 25: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

22

reflexos da oralidade em outras passagens da lei Como: art. 69, caput (termo circunstanciado),

art.65, §3º (registro dos atos), art. 75, caput (representação verbal), art. 77, caput e § 3º

(acusação oral), art. 81, caput (defesa oral).

Conforme Nucci “o princípio da oralidade significa o predomínio da palavra oral a

palavra escrita, o que traz, sem dúvida, celeridade e eficiência,....Ressalte-se, ainda, que a

adoção da oralidade é determinação constitucional (art.98,I, CF)” 25.

É um diálogo que o Juizado Especial Criminal tem como forte aliado para simplificar

o andamento do processo, posto que são feitos somente registros necessários, evitando

processos volumosos.

Conforme Freire Júnior:

[...] cabe destacar que o Juiz Criminal deve ter muito cuidado com a regra legal que determina a sentença deva ser proferida em audiência. Apesar de ser louvável a preocupação do legislador com a imediata e a duração razoável do processo, a sentença é um ato que requer do magistrado um tempo mínimo de maturação sobre as provas colhidas naquela própria audiência26.

A oralidade é um grande aliado para o desafogamento do Judiciário, mas o Juiz tem

que ter muito cuidado com a sentença proferida em audiência, tem que ser justo, e ponderar

sua decisão.

2.2.2 Principio da Economia Processual

Este princípio tem por objetivo, obter o máximo resultado com o mínimo emprego

possível de atividades processuais.

Segundo Chimenti “O principio da economia processual visa à obtenção do máximo

rendimento da lei com o mínimo de atos processuais. Para o alcance de tal fim, importa que se

tenha em mira o aproveitamento dos atos processuais, mesmo diante da irritualidade

processual”27.

25 NUCCI, Guilherme de Souza, Leis penais e processos penais comentadas, 2. Ed.rev. atualizada e ampliada- São Paulo: Editora Revista dos tribunais, 2007, p. 666. 26 FREIRE JUNIOR, Américo Bedê, Princípios do processo penal, entre o garantismo e a efetividade da sentença, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 363. 27 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais Cíveis, 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p.10.

Page 26: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

23

Por este principio se atribui ao julgador o dever de proferir a decisão mais célere

possível, a fim de assegurar a concreta solução do litígio, desde que não contrarie o texto

legal.

Conforme Nucci: “significa que o ganho de tempo é fundamental, motivo pelo qual o

processo não pode ter longa duração” 28.

A economia processual deve ser sempre, examinada segundo a fiel balança entre a

segurança e a rapidez. Já, nos casos em que a celeridade importar em grave desgaste da

segurança, há que se afastar a primeira, para evitar-se que em nome da economia processual

sejam permitidos verdadeiros abusos de direito, com subvenção os próprios critérios da

justiça.

Este princípio dá ensejo a um maior número de atos judiciais numa mesma audiência,

aliviando os cofres do poder Judiciário e das partes.

2.2.3 Principio da Informalidade

Conforme Nucci “o principio da informalidade quer dizer que os atos processuais

devem ser produzidos sem cerimônia ou burocracia inútil, livres, portanto, de fórmulas rígidas

para a sua consecução”29.

A forma do ato processual é meio, e, em se tratando de Juizado Especial, o meio

utilizado nunca deve prejudicar o fim que se destina. Não há, pois, qualquer solenidade nas

formas. Á única exigência que se faz é que esteja presente o mínimo exigível para a

inteligência da manifestação da vontade e a conseqüente solução de conflitos.

O princípio da informalidade pode corresponder ao registro do que seja realmente

necessário, bem resumido, sem os excessos inúteis, que, em regra, constam dos autos dos

processos.

Seguindo orientação, já firmada pela Lei 7.244/84, o novo diploma legal demonstra que a maior preocupação do operador do sistema os Juizados Especiais deve ser a material de fundo, a realização da justice de forma simples e objetiva. Por isso, independentemente da forma adotada, os atos

28 NUCCI, Guilherme de Souza, LEIS PENAIS E PROCESSOS PENAIS COMENTADAS, 2. Ed.rev. atualizada e ampliada- São Paulo, Editora Revista dos tribunais, 2007, p.666. 29 NUCCI, Guilherme de Souza, LEIS PENAIS E PROCESSOS PENAIS COMENTADAS, 2. Ed.rev. atualizada e ampliada- São Paulo, Editora Revista dos tribunais, 2007, p.666.

Page 27: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

24

processuais são considerados válidos sempre que atingirem sua finalidade (art.13 da Lei especial). (FIGUEIRA JÚNIOR e LOPES, 2000, p.9)30.

Portanto, reforçando a noção de que o processo não tem um fim em si mesmo, o

legislador explica que nenhuma nulidade será reconhecida sem a demonstração do prejuízo.

2.2.4 Principio da Celeridade

Segundo os ensinamentos de Chimenti: “A maior expectativa gerada por esse sistema,

ou seja, a sua promessa de celeridade sem violação do principio da segurança das relações

jurídicas” 31.

Essa regra, aliás, já era entendida pela lei 7.244/84, que previa a necessidade das

demandas serem rápidas a solução dos conflitos (inclusive processando-se no período de

férias forense), simples no tramitar, informais nos seus atos, bem como, econômicas e

compactas na consecução das atividades processuais.

No entendimento de Nucci: “decorrência da economia processual, significa a

realização rápida de atos processuais, o que permite encurtar a instrução e garantir a eficiência

do estado na persecução penal” 32.

Portanto, pode-se dizer que a lei 9.099/95 não esta muito preocupada com a forma em

si mesma, pois sua atenção fundamental dirige-se para a matéria de fundo, ou seja, a

concretização, a efetivação do direito jurisdicionado que buscou o judiciário para fazer valer

sua pretensão com a maior simplicidade e rapidez possível.

Não podemos esquecer que a celeridade não pode atropelar os princípios

constitucionais que protegem os acusados. A obediência a estes princípios permite a

democratização da administração da justiça.

Além dos princípios informadores do procedimento sumaríssimo devemos, entender

“processo legal” em sentido amplo, ou seja, como procedimento idôneo na busca da verdade

real e conectado aos demais princípios basilares do direito processual e constitucional, não um

30 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias, LOPES, Mauricio Antônio Ribeiro. Comentário à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. 31 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais Cíveis, 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p.12. 32 NUCCI, Guilherme de Souza, LEIS PENAIS E PROCESSOS PENAIS COMENTADAS, 2. Ed.rev. atualizada e ampliada- São Paulo, Editora Revista dos tribunais, 2007, p.666.

Page 28: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

25

conjunto de atos meramente formais, onde marcam presença pura e simplesmente a acusação,

a defesa e o julgamento, tendo como finalidade a solução de uma lide.

Com efeito, apesar de em certos casos, e dentro de um procedimento judicial comum,

o suposto autor de um “delito em tese” não querer utilizar-se de algumas prerrogativas, dentre

elas a própria ampla defesa, inconcebível ele dispor antecipadamente de seu estado de

inocência, sem ter sido sequer acusado pela prática de qualquer fato típico e antijurídico, nem

muito menos ter a oportunidade de contraditar, até porque os princípios do contraditório e

ampla defesa devem ser utilizados no desenrolar de um litígio, o que não ocorre no instituto

da transação penal, um procedimento meramente pré-processual, mas deverá ser utilizado no

decorrer do processo legal.

2.2.5 Principio da Simplicidade

No que diz respeito ao Principio da Simplicidade, fundamenta-se que tal instituto deve

ser simples, natural, sem aparato, franco, espontâneo, a fim de deixar seus interessados à

vontade para poderem expor seus objetivos.

Na visão de Nucci “significa que o desenvolvimento do processo deve dar-se de

maneira facilitada, sem obstáculos, valendo também a atuação os operadores do Direito, em

qualquer das fases, livre de formalismos ou afetação” 33.

A forma do ato processual é meio, e, se tratando de juizado Especial, o meio utilizado

nunca deverá prejudicar o fim a que se destina. Não há, pois, qualquer solenidade de formas.

A única exigência que se faz é que esteja presente o mínimo exigível para a inteligência da

manifestação da vontade e a consequência solução de conflitos.

Além desses princípios gerais que regem os Juizados Especiais Criminais não

podemos excluir os princípios genéricos e fundamentais como o contraditório e ampla defesa.

2.2.6 Principio da Ampla defesa

A ampla defesa é garantia do demandado inerente ao Estado de Direito.

Segundo os ensinamentos de Feitoza, o princípio da ampla defesa significa que o

Estado tem o dever de proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal, seja 33 NUCCI, Guilherme de Souza, LEIS PENAIS E PROCESSOS PENAIS COMENTADAS, 2. Ed.rev. atualizada e ampliada- São Paulo, Editora Revista dos tribunais, 2007, p.666.

Page 29: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

26

técnica (art.5º, LV, CR), bem como o prestar assistência jurídica integral e gratuita aos

necessitados (art.5º, LXXXIV,CR)34.

A análise da ampla defesa, como princípio fundamental do direito constitucional, se

traduz em algo da maior importância para a sua aplicação no campo do direito processual.

Entretanto, em observação em seus ensinamentos Feitoza, “o Supremo Tribunal

Federal reduz a amplitude deste principio. Neste sentido a Súmula n. 523 o STF, ainda em

vigor, estabelece: No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua

deficiência só anulará se houver prova de prejuízo para o réu”35.

Por outro lado, que o direito possui outras insígnias tão significantes quanto o instituto

da ampla defesa, que reclamam aplicação simultânea, no decurso da tramitação processual,

seu raio de aplicação não se limita exclusivamente a beneficiar o réu, posto que vise também

favorecer outros sujeitos da relação processual. Sendo assim, não é errôneo dizer que á ampla

defesa constitui direito que protege tanto o réu quanto o autor, bem como terceiros

juridicamente interessados. Diante disso, é forçoso reconhecer que somente haverá ampla

defesa processual quando todas as partes envolvidas no litígio puderem exercer, sem

limitações, os direitos que a legislação vigente lhes assegura, dentre os quais se podem

enumerar o relativo à dedução de suas alegações e à produção de prova.

2.2.7 Princípio do Contraditório

Tal princípio está consagrado constitucionalmente, conforme se extrai do artigo 5º da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, mais precisamente no inciso LV,

sendo considerado um reflexo da legalidade democrática.

É inspirado no dever de colaboração que ambas as partes tem para com o juiz, já que

antes de decidir qualquer questão o julgador ouve a versão das mesmas, para, somente após,

dar razão àquela que a tem.

Como Corolários, temos os princípios da isonomia processual (a parte contrária deve ser ouvida em igualdade de condições), da igualdade processual( igualdade de direitos entre as partes acusadora e acusada) e da

34 FEITOZA, Deilson. DIREITO PROCESSUAL PENAL, teoria, critica e práxis- 6ª Ed., Revista Ampliada e atualizada com a Reforma Processual Penal, Niterói, RJ: Impetus. 2009. p.143. 35 FEITOZA, Deilson. DIREITO PROCESSUAL PENAL, teoria, critica e práxis- 6ª Ed., Revista Ampliada e atualizada com a Reforma Processual Penal, Niterói, RJ: Impetus. 2009. p. 144.

Page 30: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

27

liberdade processual (faculdade que tem o acusado de nomear advogado de sua preferência, de apresentar provas, etc.)36.

Como bem prevê este princípio o juiz, por força de seu dever de imparcialidade,

coloca-se as partes para ouvi-las, sendo que, ouvindo uma não poderá deixar de ouvir a outra,

pois somente assim dará as ambas à possibilidade de expor suas razões, de apresentar suas

provas e de influir sobre o convencimento do Juiz.

O contraditório e a ampla defesa são “assegurados” nos processos judiciais e

administrativos, o que não significa que tenham que ocorrer como se fosse essência dos

processos. O que interessa é se foram efetivamente assegurados.37.

Neste passo conclui Grinover: “Em virtude da natureza constitucional do

contraditório, deve ele ser observado não apenas formalmente, mas, sobretudo pelo aspecto

substancial, sendo de se considerar inconstitucionais as normas que não a respeitem” 38.

Nos Juizados Especiais Criminais ainda se fala de Ações Públicas e Privadas tendo

que ser obedecido os princípios próprios dessas ações.

2.2.8 Princípio da Oficialidade

Conforme Gonçalves “pelo qual o titular exclusivo da Ação Pública é o Ministério

Público, instituição oficial”39.

Quando um delito é cometido contra o Estado, será levado a juízo por meio da Ação

Penal. Ela é exercida por meio de órgão do Estado, o Ministério Público, que tem o exercício

da ação penal, mas essa não lhe pertence, mas sim ao Estado.

Como o Estado tem o dever jurídico de reintegrar a ordem jurídica abalada com o

crime, o Ministério Público tem o dever de promover a ação penal de ofício, daí o princípio da

oficialidade.

36 FEITOZA, Deilson. DIREITO PROCESSUAL PENAL, teoria, critica e práxis- 6ª Ed., Revista Ampliada e atualizada com a Reforma Processual Penal, Niterói, RJ: Impetus. 2009. p. 143. 37 FEITOZA, Deilson. DIREITO PROCESSUAL PENAL, teoria, critica e práxis- 6ª Ed., Revista Ampliada e atualizada com a Reforma Processual Penal, Niterói, RJ: Impetus. 2009. p. 143. 38 GRINOVER, Ada Pellegrini. TEORIA GERAL DO PROCESSO, 16, Ed. São Paulo, Malheiros, 2000. p.57. 39 GONÇALVES, Victor Eduardo Reis, Juizados especiais criminais: doutrina e jurisprudência atualizadas, 3.rev.e atual. São Paulo, Saraiva, 2007. p.8.

Page 31: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

28

2.2.9 Princípio da Obrigatoriedade

Conforme Gonçalves “que significa que, havendo indícios e autoria e de

materialidade, o Ministério público está obrigado a oferecer a denúncia” 40.

Pelo princípio da obrigatoriedade o Ministério Público está obrigado a promover a

denúncia, não lhe é permitido fazer juízos sobre a conveniência ou oportunidade da acusação

penal. Uma vez tendo ciência da prática de um crime de ação pública, e, existindo indícios da

sua autoria, o Promotor de Justiça está obrigado a desencadear o exercício da ação penal.

2.2.10 Principio da Indisponibilidade da Ação

Conforme Gonçalves “Segundo o qual o Ministério público não pode desistir da ação

pública já proposta e do prosseguimento do recurso já interposto (arts. 42 e 576 do CPP)”41.

O Ministério Público tem o dever de promover a ação penal pública incondicionada,

mas essa não lhe pertence. Não pode, portanto, desistir da ação, transigindo ou acordando.

2.2.11 Principio da Oportunidade e Conveniência

Conforme Gonçalves, “segundo o que o ofendido ou seu representante legal têm a

livre opção de propor ou não a ação penal”42.

O ofendido tem a faculdade de propor ou não a ação de acordo com a sua

conveniência, ao contrário da ação penal pública, informada que é pelo princípio da

legalidade.

40 GONÇALVES, Victor Eduardo Reis, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS: doutrina e jurisprudência atualizadas, 3.rev.e atual. São Paulo, Saraiva, 2007. p. 9. 41 GONÇALVES, Victor Eduardo Reis, JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS: doutrina e jurisprudência atualizadas, 3.rev.e atual. São Paulo, Saraiva, 2007. 42 GONÇALVES, Victor Eduardo Reis, JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS: doutrina e jurisprudência atualizadas, 3.rev.e atual. São Paulo, Saraiva, 2007.

Page 32: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

29

2.2.12 Principio da Disponibilidade da Ação

Conforme Gonçalves “pelo qual, após o oferecimento e recebimento da queixa-crime,

o querelante pode abrir mão seu prosseguimento mediante o perdão, a perempção (art.60 do

CPP) e até mesmo desistência do recurso já interposto” 43.

Na ação privada, a decisão de prosseguir ou não até o final é do ofendido. É uma

decorrência do princípio da oportunidade.

2.2.13 Principio da Indivisibilidade da Ação

Conforme Gonçalves “de acordo com o qual a queixa contra qualquer dos autores do

crime obriga o processo a todos (art.48 do CPP)” 44.

O ofendido pode escolher entre propor ou não a ação. Não pode, porém, escolher

dentre os ofensores qual irá processar. O Ministério Público não pode aditar a queixa para

incluir outros ofensores.

2.3 A COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Para efetivação da jurisdição, há necessidade de estabelecimento de critérios práticos,

a fim de possibilitar a sua aplicação.

Foi na busca desses critérios que surgiu a competência, no intuito de investir de

poderes cada órgão jurisdicional para, então, delimitar-se a aplicabilidade da jurisdição,

fazendo, pois, que o judiciário venha conhecer e julgar determinadas causas, nos limites que a

lei determinar.

Para fins de fixação da competência perante os Juizados Especiais é importante

avaliação do grau de ofensividade social da conduta do agente, refletida pela pena cominada

em seu grau máximo, isoladamente considerada, situação que, em absoluto, se confunde com

os requisitos que norteiam a aplicação das medidas despenalizadoras previstas na sua

legislação regente, os quais seguem critério diverso, conforme enunciado 243 do Superior

Tribunal de Justiça.

43 GONÇALVES, Victor Eduardo Reis, JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS:doutrina e jurisprudência atualizadas, 3.rev.e atual. São Paulo, Saraiva, 2007. 44 GONÇALVES, Victor Eduardo Reis, JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS: doutrina e jurisprudência atualizadas, 3.rev.e atual. São Paulo, Saraiva, 2007.

Page 33: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

30

O art.60 da Lei 9.099/95 fixou a competência dos juizados especiais Criminais para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo”. (BOMFIM, 2009, p.561) 45.

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação dada pela Lei n. 11.313, de 2006)

Parágrafo único: Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

A composição dos Juizados Especiais Criminais decorre da legislação estadual

339/2006 do artigo 95 da Lei 9.099/95, que traz em sua redação: “Art. 95. Os Estados,

Distrito Federal e Territórios criarão e instalarão os Juizados Especiais no prazo de seis

meses, a contar da vigência desta Lei”.

A Lei estadual pode estabelecer que o juizado seja composto apenas de juizes

Togados, ou por Juizes Leigos, que atuarão sob a orientação dos primeiros, na função de

conciliadores, na tentativa de composição de danos civis, conforme estabelece o artigo 74 da

lei 9.099/95.

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.

Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.

Os conciliadores não podem colher provas, homologar acordos civis ou penais,

tampouco sentencias, sendo considerados auxiliares a justiça, conforme dispõe o art. 73 da

referida Lei.

Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.

Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.

45 Bonfim, Edilson Mougenot. CURSO DE PROCESSO PENAL, 4. ed. São Paulo: Saraiva, , 2009.

Page 34: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

31

Quanto à questão da competência, estabeleceu a Constituição federal em seu artigo 98,

I, que apenas os julgamentos de infrações de menor potencial ofensivo, tratando de

competência em razão da matéria.

Por sua vez, em face do artigo 60, parágrafo único dado pela Lei 11.313/2006, traz em

sua redação:

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo respeitado as regras de conexão e continência.

Parágrafo único. “Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

O Juizado Especial Criminal adota a teoria da Ubiqüidade, ou seja, lugar do crime é

aquele em que se realizou qualquer um dos atos criminosos, não se confundindo com o artigo

98, I, da Constituição Federal, que dispõe sobre a competência em razão da matéria.

A Lei 9.099/95 traz em seu artigo 63: “Art. 63. A competência do Juizado será

determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal”.

Podemos concluir neste artigo que o lugar será determinado pelo local da ação ou

omissão, ainda que seja outro o local do resultado.

Segundo Gonçalves “Há, todavia, entendimento o sentido de que a expessão ‘lugar em

que foi praticada a infração penal’, mencionada no art.63 da Lei 9.099/95, devem ser

interpretadas nos termos do art. 6º do Código Penal, que adotou a teoria da ubiqüidade,

segundo o que compete tanto o local onde se deu a ação ou omissão como aquele onde

ocorreu o resultado” 46.

Sendo o caso da infração ser praticada em duas jurisdições distintas será usada a regra

do artigo 71 do código de Processo penal que traz em sua redação: “Art. 71. Tratando-se de

infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a

competência firmar-se-á pela prevenção”.

46 GONÇALVES, Victor Eduardo Reis, JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS:doutrina e jurisprudência atualizadas, 3.rev.e atual. São Paulo, Saraiva, 2007.

Page 35: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

32

No caso do Juizado especial o recebimento do termo circunstanciado prevenirá o

Juízo.

Eis a lição da doutrina:

Havendo conexão ou continência, deve haver separação de processos para julgamento da infração de competência dos Juizados Especiais Criminais e da infração de outra natureza. Não prevalece a regra do art. 79, caput, que determina a unidade de processo e julgamento de infrações conexas, porque, no caso, a competência dos Juizados Especiais é fixada na Constituição Federal (art. 98, I), não podendo ser alterada por lei ordinária." Sidney Eloy Dalabrida assim entende:

"Havendo conexão ou continência entre infrações de menor potencial ofensivo e outras de natureza diversa, via de regra, impõe-se a disjunção de processos, devendo o promotor de justiça, portanto, oferecer denúncias em separado perante os respectivos juízos competentes, face à inaplicabilidade do art. 78, II do CPP, por importar sua incidência em afronta à Constituição Federal 47.

Caso as penas sejam de igual gravidade, deverá prevalecer a competência do local

onde tenha ocorrido o maior número de infrações, se esses critérios não resolverem a questão,

a competência será firmada por prevenção.

Sendo que por outro lado houver conexão ou continência entre infração de menor

potencial ofensivo e outra mais grave que refugie à jurisdição do juizado, prevalecerá a

competência da justiça Comum, inclusive em relação ao rito processual48.

A tese é defendida com maestria pelo Juiz e Professor Cláudio Dell’orto, conforme

podemos ver no trecho abaixo transcrito, extraído de artigo publicado na internet, Vejamos:

A alteração do art. 61 da Lei 9.099/95 torna-se inevitável e, até mesmo, obrigatória, em homenagem ao princípio da igualdade. Se não fosse alterado o conceito de infração penal de menor potencial ofensivo e prevalecesse a expressão ‘para os efeitos desta lei’ contida no art. 2º, parágrafo único da Lei 10.259/2001, teríamos situações como a do art. 351 do CP, onde a promoção de fuga de preso de um estabelecimento federal, seria infração penal de menor potencial ofensivo, tendo o réu direito a medidas despenalizadoras e ao processo e julgamento pelo Juizado Especial Criminal Federal, enquanto

47 Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCCrim, n. 57, agosto/1997. 48 GONÇALVES, Victor Eduardo Reis, JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS: doutrina e jurisprudência atualizadas, 3.rev.e atual. São Paulo, Saraiva, 2007.

Page 36: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

33

que, no âmbito estadual, o crime seria da competência da Vara Criminal comum, com a aplicação de suspensão condicional do processo, se cabível49.

Podemos, ressaltar, a competência dos juizados especiais criminais para o

conhecimento de causas relacionadas como infrações de menor potencial ofensivo,

estabelecida pela regra do artigo 98, I da Constituição Federal, onde prevê, a modificação de

competência, para transferi-la ao Juízo Criminal comum, quando inviabiliza a citação pessoal

(art.66, parágrafo Único, Lei 9.099/95), decerto indispensável à realização dos objetivos de

celeridade e consensualidade,..., se autorizando a disposição da legislação infraconstitucional,

prevista ainda a modificação da competência quando verificada a complexidade ou

circunstâncias especiais (art.77, §§ 2º e 3º, da Lei 9.099/95)50.

Segundo Mirabete não é admissível que o processo estabelecido para os juizados

especiais Criminais seja objeto de feitos em curso no juízo Comum, estadual e federal...

Nenhum principio genérico pode sobrepor-se ás normas expressas da carta Magna51.

Em se tratando, ainda, de competência, importante se faz o exame dos fóruns

competentes para se ajuizar uma ação do Juizado Especial, uma vez que, competência é o

limite da jurisdição da cada órgão do Poder Judiciário.

Tal tema não apresenta dificuldade, pois está claramente definido no artigo 63 da Lei,

que dispõe a competência territorial, ou seja, o lugar em que foi praticada a infração. Neste

local, serão atribuídas ao Juizado as infrações de menor potencial ofensivo, definidas no

artigo 61, exceto quando o acusado não tenha sido encontrado para ser citada, a causa seja

complexa ou apresente circunstâncias especiais.

Mirabete define como lugar de infração, como sendo aquele que se consuma o crime,

ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução, ou seja,

lugar da consumação do crime52.

49 DELL’ORTO, Cláudio. A nova definição de "infração penal de menor potencial ofensivo. Efeitos da Lei 10.259, que instituiu os Juizados Especiais Criminais no âmbito da JF. http.//buscalegis.ccj.ufsc.br/arquivos/artigos.(04/05/2010). 50 KARAM, Maria Lucia, COMPETENCIA NO PROCESSO PENAL, 3 ed. Ver. E atual.- São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2002. 51 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002. 52 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002.

Page 37: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

34

Nem mesmo a existência de varas privativas pode alterar a competência rationi loci,

cabendo os Estados somente à delimitação territorial dos Juizados.

2.4 COMPOSIÇÃO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

Considerando que a jurisdição é poder-dever do Estado, este o faz através de seus

juízes que, por sua vez, são indispensáveis para o estabelecimento da relação jurídico-

processual.

Os Juizados Especiais são integrados por juízes de Direito de primeira instância que

homologam acordos, decidem as causas e também julgam recursos. Além de juízes de Direito,

os Juizados são compostos de conciliadores, atermadores e servidores que trabalham em uma

Secretaria de Juízo, como escrivães, escreventes, oficiais de Justiça, contadores e demais

auxiliares. Para o seu bom funcionamento, é necessária a presença de magistrados, de

promotores de justiça, de advogados, de defensores público, de serventuários da Justiça e de

conciliadores.

2.4.1 Dos juízes

O juiz é o guardião dos interesses públicos e privados, é responsável em dizer a última

palavra sobre o Direito, como dever institucional de que está privativamente investido.

A Lei no 9.099/95 deu ampla condição ao juiz para melhor formar sua convicção

determinando, quando lhe convier, as provas a serem produzidas, podendo inclusive limitar,

nesse campo, a atividade das partes sem que haja qualquer cerceamento de defesa.

Segundo o artigo 5º da Lei n. 9.099/1995, tem-se que: “O Juiz dirigirá o processo com

liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las e para dar especial

valor às regras de experiência comum ou técnica.”.

Tais regras são extraídas pelo julgador examinando aquilo que ordinariamente

acontece nas relações humanas; são as máximas de experiência, dentro do conceito de

normalidade comum das coisas.

Page 38: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

35

2.4.2 Do Ministério Público

O Ministério Público é uma instituição que, a partir da Constituição de 1988,

apresentou-se como guardiã das liberdades públicas e privadas e dos direitos de cidadania,

com uma atuação digna de registro pela maneira com que vem desempenhando seu ofício,

num exercício combativo na luta pela concretização dos direitos de cidadania.

O Ministério Público, na esteira do que estabelece o artigo 127 da Constituição

Federal, “é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe

a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais

indisponíveis”. É inerente ao desempenho do munus, primordialmente, a defesa do interesse

público, tanto ligado ao autor, ao réu, ou mesmo desfavorável a ambos já que ressalta a

obediência aos ditames legais. A sua atuação no processo não decorre de vontade própria, mas

dos casos especificados na norma de processo (civil ou penal), seja para agir como parte, seja

para funcionar como custos legis.

È de competência do Ministério Público perante o juizado Especial criminal realizar

proposta de transação ou suspensão condicional do processo, caso haja representação da

vitima no prazo legal no caso de ação pena privada.

ENUNCIADO N. 27: Caso o Promotor de Justiça deixe de formular a proposta de

transação ou suspensão do processo, ou não concorde o Juiz com as razões para a não

apresentação da proposta, o feito será submetido ao Procurador-Geral, por aplicação analógica

do artigo 28 do Código de Processo Penal.

O Ministério Público tem o elevado encargo de defender a lei e o bem comum perante

todos os Tribunais. O fiscal da lei não está exclusivamente a serviço da manutenção da ordem

jurídica, nem mesmo do interesse social público, mas, sobretudo da Justiça.

2.4.3 Do Advogado

O artigo 133 da Constituição Federal dispõe que “o advogado é indispensável à

administração da Justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da

profissão, nos limites da lei”.

Numa interpretação simplista do dispositivo, conclui-se que a indispensabilidade do

advogado perante a Justiça se refira unicamente à formação do tripé de estabilização

Page 39: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

36

processual: autor, juiz, réu. No entanto, a função do advogado vai mais além do exercício do

jus postulandi, isto porque incumbe-lhe também colaborar para que a Justiça se efetive,

independentemente de estar deste ou daquele lado da lide.

Vige para o Juizado Especial Criminal a regra subsidiária do processo no Juízo

comum, de que, quando da nomeação de defensor ou advogado dativo, fica ressalvado o

direito de, a todo tempo, o acusado nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-

se, caso tenha habilitação (art. 263, do Código de Processo Penal).

O art. 68 da Lei 9.099/95 é claro ao estabelecer que, desde o momento da intimação da

parte para o seu comparecimento à audiência preliminar, já deve essa ser cientificada da

necessidade do acompanhamento por advogado, advertindo, ainda, que à parte que

comparecer sem seu patrono, será designado defensor público.

O acompanhamento técnico se faz necessário em virtude de eventuais falhas nos

esclarecimentos. As partes apresentam maior tranqüilidade quando ao lado está sentado

alguém que as fazem sentir-se em posição de equivalência com as demais, podendo negociar a

solução de forma mais equilibrada.

2.4.4 Do Juiz Leigo e Conciliador

O Juiz leigo e o Conciliador são auxiliares da Justiça, recrutados os primeiros,

preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, dentre advogados com mais de

cinco anos de experiência, nos termos do artigo 7o da Lei no 9.099/95.

Os juízes leigos são conciliadores que, auxiliares da Justiça, estarão sempre sob

orientação do juiz (art. 73, caput e parágrafo único, da Lei no 9.099/95).

Aos leigos, chamados conciliadores caberão conduzir o entendimento das partes com

vista a um ato final de composição.

A presença e a atuação constante dos conciliadores permitem uma inequívoca

agilidade e dinamismo processual com a efetiva solução de um número extraordinário de

demandas contribuindo valorosamente para a eficiência dos Juizados e a realização da Justiça

cidadã. Os conciliadores são peças fundamentais para o bom desempenho dos Juizados

Especiais.

Segundo Julio Fabrini Mirabete:

Page 40: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

37

[...] o conciliador tem como função presidir, sob orientação do juiz, a tentativa de conciliação entre as partes, como auxiliar da Justiça que é, nos limites exatos da lei. Não há possibilidade que interfira, por exemplo, na tentativa de transação, já que esta implica imposição de pena, matéria exclusivamente de ordem pública a cargo do Ministério Público e do juiz. Violar-se-ia com sua interferência preceito constitucional (art. 5º, LIII, da CF) 53.

Discordo do posicionamento acima transcrito, visto que no termo conciliação

constante no artigo 73 da Lei no 9.099/95 está inserto o acordo civil e a transação penal, pelo

que não haveria vulneração do artigo 5o, LIII da Carta Constitucional, mormente

considerando o disposto no artigo 98, I, da Constituição Federal que prevê que:

[...] os Juizados Especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos orais e sumaríssimos, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

Neste sentido, é o Enunciado 47: “A expressão conciliação prevista no art. 73 da Lei

no 9.099/95 abrange o acordo civil e a transação penal, podendo a proposta do Ministério

Público ser encaminhada pelo conciliador, nos termos do art. 76, § 3o da mesma lei”54.

O juiz leigo e o conciliador são funções relevantes que contribuem com a sua

participação para a racionalização da Justiça.

Nos Juizados Especiais Criminais, as funções de que estão incumbidos o juiz e o

promotor, a despeito de serem distintas e independentes, estão imbricadas na análise da

conduta do suposto acusado, possibilitando, sempre que possível, tanto a reparação dos danos

sofridos pela vítima, quanto a proposição do Ministério Público da aplicação imediata, pelo

juiz, de pena restritiva de direitos ou multa, a ser especificada na proposta. Trata-se de um

exercício de tutela de cidadania e de um esforço despenalizador, em compasso harmônico

com os novos ideais, princípios e valores contemporâneos do Estado Democrático Sociais de

Direito. A despeito de eventuais falhas, o modelo do Juizado Especial representa um avanço

extraordinário para a realização da Justiça.

53 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997. 54 Enunciados Cíveis e Criminais do Fórum Permanente de Juízes Conciliadores dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil, atualizado até novembro de 2001.

Page 41: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

38

A audiência de Conciliação é presidida pelo juiz, sendo que o conciliador não tem

função jurisdicional.

Conforme Damásio de Jesus:

A atuação dos Juízes Leigos visa a conceder maior celeridade e facilidade na conciliação, agindo como auxiliares da justiça criminal, função que pode ser exercida pessoas que não pertencem aos seus quadros, Não podem executar nenhum ato judicial, como a homologação do acordo civil ou a transação55.

A participação dos conciliadores na audiência prevista pelo art. 72 da lei cessa com o

encerramento da fase de reparação civil dos danos entre ofensor e ofendido, qualquer que seja

o seu resultado.

O juiz Leigo orienta os trabalhos dos conciliadores, auxiliando, desse modo, o juiz

togado.

Segundo Mirabete não poderá o legislador estadual, ao criar os juizados especiais

Criminais estaduais, conceder aos leigos o poder de julgar, quebrando ou mitigando o

monopólio estatal da jurisdição penal. Nos termos da lei 9.099/95, a homologação da

composição dos danos e a imposição de penas decorrentes da transação ou do processo

sumaríssimo caberão sempre ao juiz56.

O conciliador atuará apenas na área de satisfação do dano. Se o legislador criou dois

institutos, conciliação (para a satisfação dos danos) e transação (para a aplicação da pena não

privativa de liberdade), e se conferiu ao juiz ou conciliador a tarefa de conduzir a conciliação,

por óbvio ficará ele arredado da transação, mesmo porque, nesta, formulada a proposta,

cumpre ao autor do fato dizer se a aceita ou não, pode-se, conforme foi visto, formular uma

contraproposta.

Para garantir a imparcialidade do juiz leigo, bem como oferecer maior segurança aos

litigantes, a lei proíbe expressamente que o mesmo exerça advocacia em qualquer dos

55 JESUS, Damasio E. de, LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ANOTADA, 4. rev. E ampl., São Paulo, Saraiva, 1997. 56 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002.

Page 42: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

39

juizados especiais da comarca onde funciona como auxiliar da justiça, enquanto indicado para

o desempenho de suas funções57.

Tem-se ainda, nos Juizados especiais a figura do conciliador, que destina a auxiliar a

juiz togado e Juiz Leigo, sendo-lhe atribuída a função de conduzir a audiência conciliatória,

portanto, pode-se dizer que os conciliadores, em regra, são auxiliares de justiça que atuam

voluntariamente exercendo serviço público relevante e com a função precípua de buscar a

composição entre as partes. Portanto, pode-se dizer que os conciliadores em regra, são os

auxiliares da justiça que atuam voluntariamente exercendo serviço público relevante e com a

finalidade precípua de buscar a composição entre as partes.

Por fim, pode-se dizer que muito mais que um recrutamento preferencial entre

bacharéis de Direito. Depara-se de uma verdadeira necessidade de que seja o conciliador não

apenas portador de conhecimentos técnicos, mas também vocacionado á magistratura e

particularmente interessado pelo fascinante instituto da conciliação, significando dizer que

não basta apenas o saber jurídico, a isso se deve acrescentar o requisito da tendência

conciliatória, como perfil marcante de sua personalidade.

O próximo capitulo desta monografia, esta reservada ao estudo dos tipos de audiências

cabíveis, bem como as penas aplicadas nos Juizados Especiais Criminais e os requisitos para

tal benefício.

57 FRIGINI, Ronaldo, COMENTÀRIOS À LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS, São Paulo, Editora de Direito, 2000.

Page 43: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

3 AS AUDIÊNCIAS

3.1 A CONCILIAÇÃO E AS VANTAGENS DE OBTER O ACORDO

A Lei 9.099/95 á grande ênfase a conciliação, ressaltando, para tanto, o papel do juiz

(togado ou leigo) e do conciliador junto às partes, na tentativa de se buscar uma solução

negociada para a lide e, via de conseqüência, a paz social.

A conciliação aproxima as partes, afasta a animosidade e colabora para o

entrelaçamento pessoal dos cidadãos, tratando-se, de um negócio jurídico processual,

envolvendo diretamente os litigantes, constituindo, assim, no princípio dominante deste

procedimento especial58.

A Infração além de ofender interesse público, pode gerar a responsabilidade civil.

Uma das proposições da Lei 9.099/95 é facilitar a reparação imediata dos danos sofridos pelo

ofendido em decorrência do ilícito penal.

Conforme Mirabete: “a finalidade do processo penal comum, de descobrir a verdade

real, é colocada em plano secundário nas infrações penais de menor potencial ofensivo,

predominando a busca da paz social com o mínimo de formalidade”59.

A Composição Civil não impede que a vítima procure indenização na esfera civil caso

a vitima comprove que o valor recebido a titulo de composição civil dos danos ficou aquém

do prejuízo sofrido.

Conforme Bonfim “Havendo composição civil dos danos, será ela homologada pelo

Juiz mediante sentença irrecorrível, que terá eficácia de titulo executivo judicial” 60.

A forma mais rápida para obtenção deste tipo de audiência é que as partes registram

um boletim de ocorrência, onde a delegada ou em alguns casos já permitidos em lei o

58 BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Gandra, Comentários à Constituição do Brasil, São Paulo, Saraiva, 1997. 59 Mirabete, Julio Fabbrini, Juizados Especiais Criminais, comentários, jurisprudências e legislação, 5 ed. São Paulo, Atlas, 2002. p. 110. 60 BONFIM, Edilson Mongenot, CURSO DE PROCESSO PENAL, 4º Ed., São Paulo, Saraiva. 2009.

Page 44: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

41

Comandante da Polícia Militar lavra o termo circunstanciado, notificando a data e horário que

as partes deverão comparecer em juízo para audiência previamente designada.

Na audiência preliminar, deve-se ser tentadas a composição os danos civis ou transação, ou seja, nos termos da lei, a aplicação imediata da pena não privativa de liberdade (art.98, I da CF). Além disso, resultando não ocorrer uma ou outra, possibilita-se o oferecimento de denúncia61.

Deverá ser esclarecido pelo Juiz em audiência que havendo a conciliação civil, não

haverá possibilidade de representação criminal, assim o autor dos fatos não responderá

criminalmente pelo fato ocorrido.

Conforme Mirabete, explica que “... deve o Juiz dirigir-se aos envolvidos sobre a

possibilidade da composição dos danos, esclarecendo que a proposta aceita e homologada, em

caso de ação pena de iniciativa privada ou de ação pública depende de representação, implica

renúncia ao direito de queixa e representação, extinguindo-se a punibilidade do autor do

fato”62.

Diferente quando se tratar de ação publica incondicionada onde não impedirá a

proposta de transação penal, o a instauração de ação penal quando esta não ocorrer.

A finalidade do processo penal comum, de descobrir a verdade real, é colocada em plano secundário nas infrações penais de menor potencial ofensivo, predominando a busca da paz social com um mínimo de formalidade. Torna-se a reparação do dano prioritária de acordo com o principio orientador do procedimento de competência do Juizado Especial Criminal” 63.

Há que se ressaltar, porém a impossibilidade de conciliação nas hipóteses em que o

sujeito passivo do ilícito é somente o Estado.

Damásio de Jesus explica que “a composição de danos constitui forma de

despenalização, uma vez que, em determinados crimes, como os de ação penal privada e de

61 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002. p.104. 62 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002. 63 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002. p.110.

Page 45: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

42

ação penal pública condicionada à representação, conduz à extinção da punibilidade (art.74,

parágrafo único, da Lei 9.099/95)”64.

Efetuado o acordo entre as partes a respeito da composição dos danos, deve ser ele

reduzido a termo, firmando elas a documento, bem como as demais pessoas interessadas,

sendo indispensável que o termo contenha, ainda que implicitamente, a imposição das

prestações devidas pelo autor do fato.

Mirabete lembra que “a homologação de acordo civil, só pode ser exercida pelo juiz

togado, nunca por conciliador ou pessoa estranha à carreira de Magistratura, sob pena de

afrontar-se um dos elementares princípios da jurisdição, que é a indelegabilidade”65.

A homologação do acordo gera Titulo executivo, o qual não devidamente cumprido a

vitima poderá executá-lo nos termos do Código de Processo Civil.

O Titulo fornecido, aliás, é abrangido pelo Art. 584, III, do Código de Processo Civil

que dá essa qualidade à sentença homologatória de transação, conciliação ou de laudo arbitral.

A homologação irregular, além de recorrível, pode ser alvo de medida judicial (ação

anulatória do art. 486 do Código de Processo Civil, mandado de segurança)66.

A conciliação é o fim maior que se busca no Juizado Especial, e não a punição,

buscando-se sempre que possível o acordo entre as partes.

Bonfim entende que inovou a Lei dos Juizados, primeiro porque criou hipótese de

renúncia ao direito de representação, segundo porque excepcionou o art. 104, parágrafo único,

2ª parte, do CP. Assim, para as infrações de menor potencial ofensivo, a conciliação

homologada pelo Juiz (recebimento da indenização do dano ex delicto) tornou-se causa de

renúncia67.

No caso de ação pública incondicionada a homologação do acordo civil não impede o

processo, a qual deve seguir os trâmites, nos termos os arts. 75, 76, 77 e ss. da Lei 9.099/95.

64 JESUS, Damasio E. de, LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ANOTADA, 4. rev. E ampl., São Paulo, Saraiva, 1997. 65 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002. 66 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002. 67 BONFIM, Edilson Mongenot, CURSO DE PROCESSO PENAL, 4º Ed., São Paulo, Saraiva. 2009.

Page 46: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

43

Tourinho Neto traz que “A conciliação não se restringe a composição de danos civis,

podendo ajudar na realização da transação, aconselhando autor da infração e vitima”68.

No mesmo sentido o Enunciado do FONAGE n. 71 “A expressão conciliação prevista

no art. 73 da Lei 9.099/95 abrange o acordo civil e a transação penal, podendo a proposta do

Ministério Público ser encaminhada pelo conciliador ou pelo Juiz Leigo, nos termos do art..

76, § 3º, da mesma Lei” (nova redação do Enunciado 47- Aprovado no XV Encontro-

Florianópolis/SC)”.

Não havendo conciliação entre as partes, deve prosseguir-se a audiência preliminar,

passando-se à fase em que se possibilita a transação.

3.1.1 Homologação da composição de danos civis

Cumprida a formalidade da redução por escrito do acordo sobre os danos sofridos pela

vitima, deve o juiz homologá-la.

Esta homologação só poderá ser realizada pelo Juiz Togado, nunca por conciliador ou

pessoa estranha à carreira da magistratura. Não podendo o Juiz homologá-lo se ficar revelado

que o fato não é considerado de menor potencial ofensivo, já que a lei estabelece que a

composição seja permitida se a infração penal é a atribuída o interessado.

Mirabete, pg.114, traz que “da decisão que não homologa o acordo, por ilegal ou

injusto, cabe apelação. O mesmo recurso cabível se o Juiz, na homologação, reduz ou amplia

os limites do acordado”69.

A lei 9.099/95 prevê em seu artigo 83 § 3º, que os erros matérias poderão ser

corrigidos de oficio pelo Juiz ou a pedido das partes.

Já na concepção de Figueira Junior a decisão que o juiz homologa, ampliando ou

contrariando a vontade das partes, pode ser atacado por mandado de segurança, instrumento

constitucional previsto para proteger direito liquido e certo, não amparado por habeas corpus

e habeas data, quando o responsável pala ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública

68 TOURINHO NETO, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS: comentários à Lei 9.099/95, Ed. 6, Editora Revista dos Tribunais, 2010. 69 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002.

Page 47: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

44

ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público- art. 5º, LXIX, da

Constituição Federal70.

A lei ainda não prevê a homologação extrajudicial, não impedindo que comparecendo

as partes diante do Juízo e preenchendo os requisitos legais, tal acordo não seja homologado

pelo Juiz, independentemente de qualquer formalidade.

3.1.1.1 Renúncia ao direito de queixa ou de Representação

No caso de ação privada onde o prosseguimento da ação depende da manifestação da

vitima, a lei 9.099/95, criou o principio da autonomia da vontade, ficando a critério da vitima

perante o prazo legal de seis meses da data do fato representar ou não o autor do fato, para

que este responda criminalmente sob o fato ocorrido.

Conforme Mirabete “fica excluída pela norma especial do art. 74, portanto, a regra

geral de que não implica renúncia o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado

pelo crime (art. 104, parágrafo único, o CP). Assim, havendo composição homologada pelo

Juiz, a vítima renúncia ao direito de queixa, dispondo, voluntariamente, de suas garantias

constitucionais” 71.

No caso de não haver a composição civil entre as partes, a vítima ou seu representante

legal, manifestará na própria audiência oralmente a representação criminal contra o autor do

fato, sendo tomada por termo. O que não impede que a vítima apresente por escrito o pedido

de representação, a qual deverá ser juntado nos autos.

Embora facultando ao ofendido o imediato exercício do direito de representação ou queixa oral, na própria audiência de conciliação, a lei não restringe a faculdade de oferecimento de ambas no prazo legal de seis meses (art.103, CP), de modo que o direito potestativo do ofensivo não fica afetado, se a manifestação de vontade não se der na audiência de conciliação (GRINOFER, 1999, p.135)72.

Se, o ofendido exercer seu direito de representação ou queixa, a audiência prosseguirá,

nos termos do art.76 da Lei 9.099/95.

70 TOURINHO NETO, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CIVIS E CRIMINAIS, Comentários da Lei 9.099/95, 4 ed. ampl. e Atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 71 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002. 72 GRINOVER, Ada Pellegrini. TEORIA JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários a Lei 9.099, de 26.09.1995, 3 Ed. Revista dos tribunais, 1999.

Page 48: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

45

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.

§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei.

§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível73.

No mesmo sentido Bonfim menciona que “Caso não composição civil de danos, será

dada oportunidade ao ofendido para representar verbalmente. Contudo, o não oferecimento da

representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser

exercido dentro do prazo decadencial de 6 meses, nos termos do art. 38 do CPP”74.

Encerrada a tentativa de conciliação civil, com ou sem resultado, passa-se, na mesma audiência, para a transação penal.

73 Lei 9.099/95 74 BONFIM, Edilson Mongenot, CURSO DE PROCESSO PENAL, 4º Ed., São Paulo, Saraiva, 2009.

Page 49: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

46

3.2 TRANSAÇÃO PENAL

Conforme Bonfim “A transação Penal nada mais é do que a proposta de aplicação

imediata de pena restritiva de direitos ou multa feita pelo Ministério Público ao autor do

fato”75.

A palavra transação penal corresponde ao vernáculo ao vocábulo latino transactio

como, passar além, traspassar, transportar certos limites, também significa último grau da

ação, a sua terminação ou transformação.

Á aplicação da transação penal, não se discute o mérito, o autor do fato concilia-se

com o Ministério Público, abrindo mão de sua defesa.

Conforme o art.76 da lei 9.099/95 pode ser aplicada quando houver representação da

vitima no prazo de até 6 (seis) meses, contados do ocorrido, sendo esta representação feita na

delegacia de policia onde o lesionado deverá registrar um boletim de ocorrência ou em

audiência preliminar no foro de justiça, onde o Ministério Público deverá propor na aplicação

imediata de pena restritiva de direitos ou multas.

O artigo 76 § 2º da Lei 9.099/95 enumera as causas impeditivas para oferecimento da

proposta de Transação Penal que são:

I) Ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, a pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

Para que se verifique esse impedimento, deve-se observar o prazo de 5 anos previsto para a reincidência.

II) Ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de 05 anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo.

Dispõe o § 4º do art. 76 que a sentença homologatória da transação penal será registrada apenas para impedir novamente o mesmo beneficio, no prazo de 5 anos.

III) Não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motives e circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

75 BONFIM, Edilson Mongenot, CURSO DE PROCESSO PENAL, 4º Ed., São Paulo, Saraiva, 2009

Page 50: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

47

As penas aplicadas no Juizado Especial Criminal, não geram antecedentes criminais

contra o autor da infração, mas gera um controle no judiciário para não ser beneficiado no

prazo estabelecido por lei pelo mesmo beneficio.

3.2.1 Dosimetria da Transação Penal

Apesar da disponibilidade que detém quanto à propositura da ação penal e à ampla

discricionariedade que detém quanto à fixação da transação penal, o Ministério Público não

pode aleatoriamente definir em que consistirá esta e qual será sua duração, devendo, dessa

forma, observar alguns parâmetros.

Moraes, Pazzaglini Filho, Smanio e Vaggione salientam que:

[...] a opção entre a pena restritiva de direitos e multa deve atender às finalidades sociais da pena, aos fatores referentes à infração praticada (tais como: motivo, circunstância e conseqüências) e a seu ator (antecedentes condutas sociais, personalidade, reparação do dano à vítima).” (SMANIO, 1998, p. 48)76.

Assim, ao optar pela aplicação da pena restritiva de direitos, o representante do

Ministério Público estará adstrito às situações arroladas no art. 43 do Código Penal:

Art. 43 - As penas restritivas de direitos são:

I - prestação pecuniária;

II - perda de bens e valores;

III - (vetado)

IV - prestação de serviços à comunidade ou à entidades públicas;

V - interdição temporária de direitos;

VI - limitação de fim de semana77.

No que tange à pena restritiva de direitos, deverá o Promotor de Justiça, ao elaborar a

proposta, realizar uma operação mental consistente em calcular o tempo que seria cominado

76 SMANIO, Gianpaolo Poggio, Criminologia e juizado Especial criminal: Modernização no processo penal, controle social, 2ª edição, São Paulo, editora Atlas, 1998. 77 Código Penal Brasileiro, Saraiva, 2009.

Page 51: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

48

se a medida aplicada fosse uma pena restritiva de liberdade e, então, determinar o lapso

temporal que a transação abrangerá.

Já na fixação de Pena Pecuniária, na fixação de multa, também se realizará o mesmo

procedimento fundamental, sendo que o valor a ser determinado deverá levar em conta os

rendimentos do indiciado..

Em face disso e do disposto no artigo 45, § 1º do Código Penal, tem-se um problema,

qual seja, quando se está diante de uma pessoa de renda baixa, sem possibilidade de prestar

serviços à comunidade ou entidades públicas, devido ao seu trabalho, mormente aquela cujo

rendimento mensal é, comprovadamente, de um salário mínimo, tendo a lei fixado o mínimo

valor a ser pago em caso de prestação pecuniária, neste montante, qual seria o procedimento a

ser adotado.

Se a transação é um instituto que visa beneficiar o acusado, mediante concessões

mútuas, entre este e o Representante do Ministério Público, por equidade, podemos concluir

que sim, uma vez que o próprio artigo 76, § 2º, III, leva em conta a necessidade e a suficiência

da medida para o caso concreto.

Art. 76 - Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

§ 2º - Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida. (Lei 9.099/95, 2010)

A transação penal deve ser ofertada levando em conta aspectos objetivos, quais sejam,

o delito praticado, sua relevância jurídica e social e as conseqüências deste, bem como

subjetivos, ou seja, a personalidade do infrator e sua condição financeira.

Não podemos nos prender à literalidade do texto da lei, utilizando-a de forma

anacrônica e prejudicando aqueles que mais necessitam da tutela jurisdicional, para evitar que

se consubstancie a “desgastada tríade ‘preto, pobre e puta’, empregada como metáfora para os

destinatários do sistema entre juristas e leigos”.

Page 52: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

49

Deve, então, tal instituto, ser proporcional à lesão contra o bem jurídico realizada e

suficiente para que o autor do delito se sinta inibido de, posteriormente, voltar a praticar o

mesmo, de forma que esta proporcionalidade deverá ser analisada no caso concreto.

3.2.2 Pressupostos da Transação Penal

A elaboração da proposta e a homologação da transação penal submetem-se a

condições, especificadas nos três incisos do § 2º do art. 76.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

Assim cabe ao Ministério Público em primeiro lugar, constatar através de certidão de

antecedentes expedida pelo Cartório se o autor do fato pode ou não ser beneficiário de tal

restrição.

Conforme Grinover “Não se trata de ação, pois esse momento processual ainda não há

ação nem processo. Cuida-se simplesmente de requisitos em cuja ausência a proposta de

transação não poderá ser formulada e muito menos o acordo homologado por sentença: ou

seja, se causas impeditivas da proposta e de sua homologação” 78.

Não sendo constatados pelo Ministério Público impedimentos para a transação penal,

caberá ao Juiz não homologar o acordo penal, caso haja alguma das causas impeditivas

enumeradas na lei.

Conforme Gianpaolo Poggio Smanio são os seguintes pressupostos para a realização

da transação penal:

78 GRINOVER, Ada Pellegrini. TEORIA JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários a Lei 9.099, de 26.09.1995, 3 Ed. Revista dos tribunais, 1999.

Page 53: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

50

a. Tratar-se de ação penal pública incondicionada, ou ser efetuada a representação, nos casos de ação penal publica condicionada;

b. Em ambas as hipóteses, não ser o caso de arquivamento do termo circunstanciado;

c. Não ter sido o autor condenado por sentença definitiva (com trânsito em julgado), pela prática de crime, pena privativa de liberdade;

d. Não ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela transação penal;

e. Os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicar a adoção da medida;

f. Formulação da proposta pelo Ministério Público e aceitação por parte do autor da infração e seu defensor79.

Na prática, se o Ministério Público não conseguir demonstrar uma das causas

impeditivas arrolada na Lei 9.099-95 a proposta deverá ser formulada e a transação deverá ser

homologada por sentença.

Grinover diga-se por último, que as balizas impostas pelo legislador no tocante às

causas impeditivas da transação penal se enquadram no aspecto de regulamentação legislativa

própria do instituto da discricionariedade regrada”80.

Isso, não exclui a possibilidade de autor de o fato trazer a prova de inexistência das

causas impeditivas, sendo ele o maior interessado.

3.2.3 Procedimentos da Transação Penal

Na ação penal pública incondicionada, independe do acordo entre as partes, podendo

ser efetuada mesmo assim.

Na ação penal pública condicionada, porém, somente haverá possibilidade da

transação penal se não houver acordo entre as partes, ou no caso de menor seu representante

legal oferecer representação.

79 SMANIO, Gianpaolo Poggio, Criminologia e juizado Especial criminal: Modernização no processo penal, controle social, 2ª edição, São Paulo, editora Atlas, 1998. 80 GRINOVER, Ada Pellegrini. TEORIA JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários a Lei 9.099, de 26.09.1995, 3 Ed. Revista dos tribunais, 1999.

Page 54: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

51

3.2.4 Da aceitação

O autor poderá ou não aceitar a proposta de transação, efetuando uma contraproposta

por parte do autor ou seu defensor. No entanto a lei traz no §3 do art. 76 da referida lei:

“Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, esta será submetida à

apreciação do juiz.”

O que vale dizer que havendo a proposta do Ministério Público, o Juiz poderá

homologar transação sem consenso das partes.

Pelo entendimento de Damásio E. de Jesus “A transação por meio da proposta do

Ministério Público é bilateral, dependendo de aceitação do autor do fato e de seu defensor.

Dispensa a prova técnica (laudo de exame de corpo delito). A acusação só prova a imputação

se o autor do fato alega inocência e se recusa a aceitar a proposta.” 81.

Respeita-se a vontade do acusado, que não é obrigado a aceitar a proposta, abrindo-se

prazo para contraproposta e defesa.

Grinover manifestasse no sentido em que “A proposta, para ser homologada pelo juiz,

deve necessariamente contar com a aceitação expressa do autuado e de seu defensor (sobre a

presença obrigatória do advogado do autuado e seu significativo em termos de garantias

constitucionais)”82.

Quando houver divergência entre autor e advogado na aceitação da proposta ofertada,

será considerada a manifestação do autor.

Mirabete “è inadmissível, alias, por força do §3º do art.76, a homologação da

transação na ausência do advogado constituído ou do defensor nomeado, não se pode

homologar a transação na ausência do agente, dado como em lugar incerto ou não sabido, por

aceitação do defensor do réu, constituído apud acta, sem a outorga de poderes especiais para

tal fim”83.

81 JESUS, Damasio E. de, LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ANOTADA, 4. rev. e ampl., São Paulo, Saraiva, 1997. 82 GRINOVER, Ada Pellegrini. TEORIA JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários a Lei 9.099, de 26.09.1995, 3 Ed. Revista dos tribunais, 1999.

Page 55: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

52

A aceitação da sanção penal não significa reconhecimento da culpabilidade penal,

tampouco importa ela em reconhecimento da responsabilidade civil. Configurando a

submissão voluntária à Pena não privativa de liberdade, não indicando o reconhecimento

penal, nem tampouco gerando reincidência.

3.2.5 Da Inexistência de Transação

A proposta de Transação penal é proibida se o autuado foi condenado anteriormente,

em sentença transitada em julgado, por qualquer crime, a Pena privativa de liberdade Art.76,

§ 2, da Lei 9.099/95), não significando sentença recorrível, mas sentença transitada em

julgado, pois ao contrário infringiria o art. 5º, LVII, da constituição federal, pelo qual

“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal

condenatória”, não havendo impedimento se o feito anterior, em que foi proferida a sentença

condenatória, estiver em fase de recurso, inclusive o extraordinário.

Por outro lado se o autor for reincidente, respondido ação penal com pena restritiva de

direito ou privativa de liberdade no prazo de 05 (cinco) anos, é vedado ao representante do

Ministério Público oferecer proposta. Porém a lei não proíbe que seja oferecida proposta se o

autor foi condenado anteriormente com mera contravenção, independe da pena aplicada. A lei

não impede que a proposta seja realizada se o autor do fato estiver sendo processado por outra

infração penal.

Conforme Mirabete “Os antecedentes criminais, mesmo os que ainda não redundaram

em condenação, a má ou sofrível conduta social e uma personalidade agressiva reveladas pelo

agente, bem como a motivação e demais circunstância em que foi praticada a infração de

menor potencial ofensivo podem indicar que a aplicação de pena restritiva de direitos ou

multa sejam insuficientes para reprimir o delito ou preveni-lo com relação ao agente”84.

Sendo possível a aplicação de pena mais severa, deixando assim o Ministério Público

de propor, justificativamente, as penas menos rigorosas.

Ainda existe a prerrogativa do autor do fato recusar a aplicação imediata de pena

restritiva de direito, onde o Julio Mirabete se manifesta no seguinte:

84 MIRABETE, Julio Fabrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, Comentários, Jurisprudência, Legislação, 5ª edição, São Paulo, Atlas, 2002.

Page 56: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

53

Efetua a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direito e recusada pelo autor do fato ou por seu advogado, a audiência prosseguirá e o representante do Ministério Público poderá oferecer de imediato a denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis à instauração da ação penal pública85.

Não havendo a transação penal, o Ministério Público oferecerá denuncia oral ou

requisitara vista dos autos em gabinete, se não houver necessidade de diligências, inicia-se

assim o procedimento sumaríssimo, deixando o réu de ser autor do fato e passando a ser

denunciado.

3.3 DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Conforme Gianpaolo Poggio a suspensão destina-se aos crimes com pena mínima

igual e inferior a dois anos, abrangendo, portanto, mais crimes do que aqueles considerados,

pela lei, infrações de menor potencial ofensivo, sendo possível a conversão de alguns crimes

julgados em ritos diferentes a tal pena86.

Conforme o inciso III do art. 76 da Lei 9.099/95 esta será aplicada quando na análise

dos antecedentes do autor houver impedimento subjetivo a obtenção da transação penal pela

presente lei, seguindo a mesma regra da transação penal, onde o autor não poderá ser

beneficiado durante cinco anos com este beneficio.

A suspensão foi regulada pela Lei 9.099/95 no seu art. 89 e § que conforme sua

redação que traz:

Art. 89 - Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a dois anos, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

§ 1º - Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:

I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

86 SMANIO, Gianpaolo Poggio, Criminologia e juizado Especial criminal: Modernização no processo penal, controle social, 2ª edição, São Paulo, editora Atlas, 1998

Page 57: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

54

II - proibição de freqüentar determinados lugares;

III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;

IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

§ 2º - O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

§ 3º - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.

§ 4º - A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.

§ 5º - Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

§ 6º - Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.

§ 7º - Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.

A lei somente permite a suspensão através do oferecimento do Ministério Público e a

aceitação do acusado, homologado pelo juiz de direito, como forma de transação penal,

conforme disposição constitucional em seu artigo 98, I.

I - Juizados Especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos orais e sumaríssimos, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

Assim, atenuando os princípios de ampla obrigatoriedade da ação penal, contraditório

e ampla defesa.

A aceitação da proposta pelo acusado não implica em confissão, reconhecimento de

culpa ou de responsabilidade, exatamente como na Transação Penal.

Page 58: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

55

3.3.1 Inexistência do Direito Subjetivo do Acusado

O legislador constituinte consagrou, dentro do respeito à teoria dos “freios e

contrapesos”, ou sejam a separação do órgão acusador do órgão julgador, sendo que a ação

penal deverá ser de titularidade exclusiva do Ministério Público, conforme em redação do

artigo 129, I, da Constituição Federal que traz: “Art. 129. São funções institucionais do

Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma de lei”.

Sendo, assim o Ministério poderá oferecer juntamente com a denúncia a proposta de

suspensão do processo, que somente poderá ser homologada pelo poder judiciário, após

expressa aceitação do acusado e análise de sua legalidade.

Quando o Promotor de Justiça entender que não é o caso de formulação da proposta

deverá este fundamentar esta decisão.

Portanto, quando o magistrado, da análise das provas, verificar a possibilidade de dar

ao fato definição jurídica diversa da articulada na peça vestibular, resultando na aplicação de

pena igual ou inferior a dois anos, poderá baixar o processo para que o Ministério Público se

pronuncie a respeito da suspensão do processo e, em caso positivo, faça o aditamento da

denúncia, apresentando a proposta de suspensão condicional do processo, obviamente, desde

que presentes as demais condições exigidas, conforme preceitua o art. 89 da referida Lei

acima citado, aplicando por analogia os dispositivos acima analisados.

Pode-se, contudo o Ministério Público não concordar com a nova capitulação. Bem, o

magistrado não está restrito à definição jurídica apresentada na denúncia. Portanto, mesmo

que o Ministério Público não concorde, ele pode e deve reconhecer na sentença a nova

capitulação para o fato. Pode-se argumentar, todavia, que já será tarde porque o juiz já

esgotou sua função no processo, não pode mais suspendê-lo. Tanto é verdade que a dicção

legal é o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo.

É pacífico que em matéria de direito penal, quando a lei diz que o juiz pode fazer algo

que beneficie o réu, na verdade entende-se que o juiz deve fazer. Contudo, entendo que neste

caso não é esta a mens legis, mesmo porque se assim o fosse, seria tal norma inconstitucional

por atentar contra a privatividade da ação penal pública. Entender de outra forma é obrigar

dominus littis a desistir do processo.

Page 59: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

56

Na melhor das hipóteses, a fim de prover maiores garantias ao acusado, seria o caso de aplicar-se, também por analogia, o art. 28 do CPP, encaminhando-se os autos ao Procurador Geral de Justiça para que indique outro membro do Parquet para fazer o aditamento ou o faça ele mesmo - princípio da devolução (neste sentido: Súmula 696 do STF).

Não há, portanto, qualquer dificuldade, do ponto de vista do direito positivo, para a

aplicabilidade do instituto da suspensão condicional do processo na hipótese aqui aventada.

Os instrumentos processuais encontram-se na própria Lei n. 9.099/95 e no Código de

Processo Penal, além é claro, dos princípios aplicados ao processo penal.

Conforme entendimento de Pazzaglini Filho, Alexandre de Moraes, Gianpaolo Smanio

e Luiz Fernando Vaggione, citada na obra de, Tourinho Neto “Existindo, pois, ius puniendi e

ius punitionis do Estado na aplicação e efetivação da pena pela autoridade judicial

competente, por crime definido em lei, através do devido processo legal, não há como

sustentar existência de direito subjetivo do acusado á suspensão condicional do processo”87.

No mesmo sentido o STF pacificou mediante Súmula 696, de que, “reunidos os

pressupostos legais permissivos da Suspensão Condicional do Processo, mas se recusando o

Promotor de Justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador Geral,

aplicando-se por analogia o artigo 28 do Código de Processo Penal”88.

Evidentemente, o acusado não pode ficar prejudicado pelo equivoco do órgão

acusador.

3.3.2 Aceitação da Suspensão Condicional do Processo

Aceita a proposta de Suspensão, não caberá retratação. Não existe limite para

aceitação da proposta, devendo ser tomado como limite máximo a interrogatório do réu.

Devendo o réu estar ciente que se não der cumprimento às condições estabelecidas na

Suspensão poderá ser revogada.

Conforme entendimento de Bonfim, traz que “hipóteses de revogação facultativa, se o

Juiz decidir não revogar a suspensão, não poderá, ante o silêncio da lei, exasperar as

87 JUNIOR, Joel Dias Figueira, NETO, Fernando da Costa Tourinho, JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS CÍVEIS E CRIMINAIS, comentários da Lei 9.099/1995, 4ª Ed., Editora revista dos Tribunais, 2005. 88 STF, Súmula 696, página acessada no dia 30 de agosto de 2010.

Page 60: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

57

condições impostas. Há que entenda poder o Juiz advertir o acusado... Revogada a Suspensão,

o processo retomará seu curso, reiniciando-se a contagem do prazo prescricional”89.

Além da revogação o Juiz terá a possibilidade de prorrogação do período da prova,

caso haja descontinuidade justificada do cumprimento das condições.

Bonfim explica que “a prorrogação pode ser uma solução para a evitar a revogação da

suspensão, fato esse que seria mais gravoso ao beneficiado” 90.

No mesmo sentido Bonfim traz uma decisão do STJ que em seu texto explica que “não

há que se falar em constrangimento ilegal decorrente da decisão que, dando a lei interpretação

extensiva, prorroga o período de suspensão condicional do processo, ao invés de revogar o

beneficio, ante a desídia do denunciado, ao descumprir a condição de comparecimento

semestral em Juízo” 91.

Caso o réu aceite a suspensão e dê integral cumprimento as condições o Juiz declara a

extinção de punibilidade do mesmo, sendo que conforme o art. 89, § 5º da Lei 9.099/95 traz

que, expirado o prazo sem revogação, o juiz declarará extinta a punibilidade.

Extinta a punibilidade não poderá o réu ser portador de maus antecedentes, podendo

em outros processos gozar dos benefícios previstos em lei.

Quando não aceita a suspensão o Juíz de oficio, abrirá prazo de 10(dez) dias do

presente ato, para apresentação de defesa preliminar para prosseguimento do feito, bem como

a instrução processual.

3.3.3 Da audiência de Instrução e Julgamento

A audiência de instrução e julgamento nos Juizados Especiais, corre em um mesmo

ato, ou seja, é una. Não sendo aceita a proposta de transação penal abrirá prazo de 10 (dez)

dias para o denunciado apresente defesa preliminar, devendo nesta constar o rol de

testemunhas.

Conforme Grinover “a Lei 9.099/95 simplificou consideravelmente o procedimento

das infrações penais considerada de menor potencial ofensivo, concentrando em uma única

89 BONFIM, Edemilson Mongenot, CURSO DE PROCESSO PENAL, 4. ed. São Paulo, Saraiva. 2009. 90 BONFIM, Edemilson Mongenot, CURSO DE PROCESSO PENAL, 4. ed. São Paulo, Saraiva, 2009 91 BONFIM, Edemilson Mongenot, CURSO DE PROCESSO PENAL, 4. ed. São Paulo, Saraiva, 2009

Page 61: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

58

audiência a resposta do acusado, a decisão sobre a admissibilidade da acusação, os atos

instrutórios, aí incluídos não só os probatórios, mas também as alegações das partes, e a

decisão final da causa” 92.

Sendo mais tarde também adotado a mesma regra pela audiência no rito sumário e

ordinário, com redação dada no Código de Processo Penal brasileiro em 2009.

3.4 AS PENAS APLICADAS NOS JUIZADOS ESPECIAIS

As Penas a serem aplicadas nos Juizados Especiais se baseiam em vários aspectos,

sendo tratadas como penas restritivas de direito as que se referem especificamente restrição de

direitos.

Conforme Cezar Roberto Bitencourt podem se classificadas em:

a. Limitação do Fim de semana: ou seja, o autor não poderá freqüentar bares, danceterias, ingerir bebida alcoólica, durante os fins de semana, normalmente é estipulado um horário, por volta das 22h00min.

b. Prestação de Serviços a Comunidade: O autor terá que realizar trabalhos voluntários em uma instituição devidamente cadastrada em período e carga horária estipulado pelo juiz, onde no final de tal prazo deverá apresentar em juízo o relatório devidamente preenchido pela instituição devidamente assinado por ambos.

c. Multa: O autor tem que pagar um determinado valor, em prazo estipulado pelo juiz a uma entidade da comarca.

d. Advertência: Esta pena é exclusiva para consumo de drogas. O autor é chamado a juízo em audiência direta com o Promotor para ser advertido sobre os efeitos da droga. Esta pena só pode ser aplicada uma única vez.

e. Suspensão do Processo: Tal benefício é para o autor que já foi beneficiado com as demais penas, sendo denunciado pelo Ministério Público, ficando advertido que deverá comparecer em juízo durante dois anos para justificar suas atividades.

f. Composição Civil: Comumente utilizada em Acidente de Transito sem vitimas, onde autor e vitima realizam um acordo judicial.93.

92 GRINOVER, Ada Pellegrini, (et.al), comentários a Lei 9.099, de 26.09.1998, 3. ed., rev.e atual., São Paulo, Ed. Revista dos tribunais, 1999. 93 BITENCOURT, Cezar Roberto, Falência da Pena de Prisão: Causas Alternativas, 3ª Edição, São Paulo, Editora Saraiva, 2004.

Page 62: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

59

Em 1998, foram alteradas as penas restritivas de direito sendo que em sua nova

redação foram previstas quatro novas sansões restritivas de direito, sendo elas a Prestação

Pecuniária em favor da vitima, perda de bens e valores, proibição de freqüentar determinados

lugares e prestação de outra natureza, sendo que atualmente contamos com dez modalidades

de penas substitutivas.

Tais penas são comumente chamadas de transação penal, sendo levadas para o sistema

da corregedoria, dando acesso a todas as comarcas, onde o autor não poderá ser beneficiado

com tais benefícios durante cinco anos.

Estas penas não são somente aplicadas em crimes de menor potencial ofensivo,

havendo a possibilidade de substituição de penas privativas de liberdade, desde que a pena

seja inferior a quatro anos.

Conforme Franciele Silva Cardoso:

Quanto aos requisitos para se operar referidos substituição, esses consistem nos seguintes: a pena aplicada ser inferior a quatro anos – excluídos os crimes com grave violência ou grave ameaça à pessoa ou a qualquer que seja a pena, se o crime for culposo. [...] Faz-se necessário, ainda, que a culpabilidade, antecedentes, conduta ou personalidade ou ainda os motivos e circunstâncias recomendem a substituição94.

Essas medidas são entendidas por alguns autores como despenalizadoras, ou seja, que

evitam a pena de prisão (ainda que indiretamente), a referida lei previu os institutos da

composição civil nos crimes de ação penal privada e condicionada à representação, da

transação penal, da necessidade de representação para início da persecução criminal referente

ao crime de lesões corporais leves ou culposas, e, finalmente, da suspensão condicional do

processo (Arts. 74, 76, 88 e 89 da Lei no. 9.099/95). A não imposição de prisão em flagrante

do art. 69, § único da mesma lei constitui medida descarcerizadora, ou seja, limitadora de

prisão cautelar.

3.4.1 Diferença entre a Prestação Pecuniária e a Pena de Multa

A prestação pecuniária é estabelecida ou pena de multa é baseada no artigo 49 do

Código Penal onde traz que a pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da

quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa, não devendo ser confundida a pena de 94 CARDOSO, Franciele Silva, PENAS E MEDIDADE ALTERNATIVAS, análise da efetividade de sua aplicação, Editora Método, São Paulo, 2004. p. 94.

Page 63: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

60

multa com a prestação pecuniária no sentido em que a pena pecuniária e uma espécie de pena

restritiva de direitos.

Conforme Tourinho Neto, 2005, p. 550, “A prestação pecuniária consiste no

pagamento em dinheiro a vitima, e seus dependentes ou à entidade pública ou privada com

destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem

superior a trezentos e sessenta salários mínimos” (CP, §1º do art. 45)” 95.

Sendo que a pena de multa deve ser recolhida ao Fundo Penitenciário Nacional.

No mesmo sentido Lima traz que “[...] No caso de proposição de pena de multa, o

membro do Ministério Público estipulará o seu quantum, verificando o fato cometido e as

condições econômicas do autor do fato, e, em se tratando de pena restritiva de direito, será

indicado o tempo de sua duração” 96.

Assim deve-se concluir que a prestação pecuniária tem como base o tempo da pena

estipula pela infração ocasionada e o prejuízo ocasionado a vitima.

No próximo capítulo a Instrução criminal nos Juizados Especiais Criminais será mais

bem especificada.

95 TOURINHO Neto, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS CIVEIS E CRIMINAIS: comentários à Lei 9.099/1995, 4. ed., reform., atual., e ampl., Ed. Revista dos tribunais, 2005. 96 LIMA, Marcellus Polastri, Juizados Especiais Criminais (na forma das Leis n. 10.259/01, 10.455/02 e 10.741/03), Ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2005.

Page 64: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

4 INSTRUÇÃO CRIMINAL NO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

A Instrução Criminal no Juizado Especial Criminal tem inicio pela autoridade policial

que toma conhecimento da ocorrência e lavrará um Termo Circunstanciado sobre os fatos e

encaminhará ao Juizado Especial as providencias periciais tomadas e a respectiva conclusão.

4.1 FASE POLICIAL

Qualquer autoridade policial poderá ter conhecimento do fato que poderia configurar,

em tese, infração penal, lavrará o Termo Circunstanciado e encaminhara ao Juizado da

comarca que ocorreu o fato, em consonância ao art. 69, da Lei 9.099/95 que traz em sua

redação:

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.

Nada impede que a autoridade policial instaure em alguns casos Inquérito Policial, e

auto de prisão em flagrante em crimes de competência do Juizado Especial Criminal.

Conforme Silva

“[...] quando o autor dos fatos delituosos se negar a comparecer no Juizado quando possível se encaminhamento imediato ou não assumir o compromisso de lá comparecer. Da mesma forma, será exigida do autor dos fatos a prestação de fiança nessas circunstâncias, conforme interpretação a

Page 65: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

62

contrário senso da norma inserida no parágrafo único do art. 69 da lei específica” 97.

Cabe lembrar que o arbitramento de fiança pela autoridade policial só poderá se

efetuada em favor do autor do fato delituoso, quando não for caso de reclusão, sendo que a

pena que prevê pena de reclusão cabe ao Juiz o arbitramento da fiança.

Tourinho Neto traz que, “A autoridade policial toma conhecimento do fato tido por

delituoso por meio da notitia criminis, que se dá por diversas formas, como, por exemplo,

oralmente (a pessoa mesmo sendo estranha ao fato, dirige-se a Delegacia e comunica o que

ocorreu), por carta, telefonema, e-mail, ofício, telegrama. Se o crime de ação pública, a

autoridade policial deve determinar de pronto, as investigações, se for de ação pública

condicionada ou privada, é necessário que o ofendido se faça presente” 98.

Conforme alguns doutrinadores a secretaria do Juizado Especial também é competente

para a lavratura de Termo Circunstanciado.

Neste sentido Grinover “A expressão autoridade policial referida no art. 69

compreende todas as autoridades reconhecidas por lei, podendo a Secretaria de o Juizado

proceder à lavratura do termo de ocorrência e tomar as providências devidas no referido

artigo” 99.

A lavratura do termo circunstanciado deve ser registrada a vontade da vitima de

processar o autor do fato, não precisa ser formalmente sendo que em Juízo a vitima deverá

retificar ou não sua representação, sendo que o juizado tem a finalidade da conciliação.

Bassetti Neto relata em sua obra, destaca que o termo circunstanciado conterá:

1. Do autor do fato e do ofendido, as qualificações e endereços residenciais e comerciais;

2. A narrativa do fato, circunstanciada, data, hora, local e versões das partes envolvidas;

3. A relação de instrumentos da infração e dos bens apreendidos;

97 SILVA, Luiz Claúdio. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL: prática e teoria do processo. Rio de Janeiro: Editora Forense. 1999. 98 TOURINHO NETO, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS: comentários à Lei 9.099/95, Ed. 6, Editora Revista dos Tribunais, 2010. 99 GRINOVER, Ada Pellegrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, 3ª Ed., revista e atualizada, Editora Revista dos tribunais, São Paulo, 1999.

Page 66: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

63

4. O rol testemunhal com qualificações e endereços, bem como, síntese dos fatos que presenciaram;

5. A determinação os exames periciais requisitados,

6. Croquis no caso de acidente de transito;

7. Outros dados relevantes e necessários sobre o fato;

8. Informações, se existir, dos antecedentes do autor do fato para viabilização ou não da transação penal;

9. Menção sobre o comparecimento espontâneo do autor dos fatos, em caso de impossibilidade de comparecimento imediato;

10. Assinaturas dos presentes à lavratura do termo circunstanciado100.

E importante ressaltar que na pratica a autoridade policial, na feitura do termo

circunstanciado, já comunica a necessidade de comparecimento do autor do fato ao juizado,

não sendo usado e encaminhamento imediato como consta na Lei.

Tourinho Neto ressalta que: “O encaminhamento pela autoridade policial dos

envolvidos no fato delituoso ao Juizado Especial será precedido, quando necessário, do

agendamento da audiência de conciliação com a Secretaria do Juizado, por qualquer meio

idôneo de comunicação aplicando-se o exposto do art. 70” 101.

No mesmo sentido Damasio de Jesus, citado na obra de Lima traz que:

“Tratando-se de um crime de ação penal pública depende de representação, a autuação sumária e encaminhamento das partes ao juizado pelo Delegado de Policia não ficam subordinados à representação do ofendido ou de seu representante legal (...) o simples comparecimento da vitima a Policia solicitando providências já traduz vontade de que o autor do fato venha a ser processado, Isso, entretanto, para a Lei, não significa representação do ofendido na ação penal pública condicionada nem requerimento do ofendido na ação penal exclusivamente privada. Nesses casos de iniciativa do ofendido, entretanto a autoridade policial, sem aquiescência, não pode constrangê-lo e comparecer perante o Juizado. Convém, pois, nessas

100 BASSETTI Neto, Pedro, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ILISTRADO, São Paulo, Iglu, 1999. 101 TOURINHO NETO, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS: comentários à Lei 9.099/95, Ed. 6, Editora Revista dos Tribunais, 2010.

Page 67: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

64

hipóteses, que o delegado de Policia consulte o ofendido a respeito de sua intenção de exercer o direito de queixa ou de representação” 102.

O termo circunstanciado deve ser sucinto, devendo ser narrado o fato, circunstâncias

principais, identificação e qualificação da autoria, sendo reduzidas as versões os envolvidos e

indicando-se as testemunhas. Deverá ser encaminhado junto às partes imediatamente, não

sendo possível deverá ser agendado pela secretaria do Juizado para o disposto nos artigos 72,

74,76 da Lei 9.099/95.

Sobre a confecção do tremo Circunstanciado Tourinho Neto, traz que:

[..] significa que um termo com todas as particularidades de como ocorreu o fato - a demonstração da existência de um ilícito penal, de suas circunstâncias e de sua autoria - e o que foi feito na delegacia, constando, assim o resumo do interrogatório do autor do fato, dos depoimentos da vitima e das testemunhas. Esses depoimentos serão tomados por termo [...] 103.

No mesmo Tourinho Neto ainda relata que

Havendo necessidade de realização de diligências, como, por exemplo, exame de corpo delito, mencionar-se-á o fato no boletim circunstanciado e, depois de realizadas, serão, com maior brevidade, encaminhadas ao juizado especial em aditamento ao boletim circunstanciado104.

È com base nos depoimentos e registros no termo circunstanciado confeccionados pela

Delegacia que o Ministério Público formará a opinio delictio ou o ofendido poderá oferecer

queixa crime.

4.2 FASE JUDICIAL

Remetido o termo circunstanciado a Juízo e não sendo possível a audiência

imediatamente, será marcada nova data para esta, ficando os presentes cientes da data.

Caso a realização da audiência preliminar seja a ausência de uma das partes

esta será intimada por mandado, sendo informado que deverá comparecer em juízo

102 LIMA, Marcellus Polastri, Juizados Especiais Criminais (na forma das Leis n. 10.259/01, 10.455/02 e 10.741/03), Ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2005. 103 TOURINHO NETO, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS: comentários à Lei 9.099/95, Ed. 6, Editora Revista dos Tribunais, 2010. 104 TOURINHO NETO, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS: comentários à Lei 9.099/95, Ed. 6, Editora Revista dos Tribunais, 2010.

Page 68: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

65

acompanhado de procurador e que de sua falta deste, será nomeado Defensor Público.

(enunciado 09 o FONAJE.).

4.2.1 Comunicações de atos processuais - intimações e citações

As comunicações dos atos processuais são feitas, segundo diploma legal, mediante

citação e intimação.

Conforme Bitencourt “o formalismo na realização das comunicações dos atos

processuais, notadamente das citações, notificações e intimações, tem sido uma das grandes

entraves impeditivos da tão almejada celeridade processual.” 105.

O Código Processual Penal de 1941 preocupava-se mais com o formalismo do que

com a efetividade processual com a mudança do Código processual penal, o que com a Lei

9.099/95 foi estabelecido que no caso de infrações penais, contravenções e crimes de menor

potencial ofensivo seria obedecida o principio da celeridade, agora com a reforma do Código

de Processo Penal de 2009, o processo penal tem menos atos, ou seja, ficaram mais

centralizadas as fases processuais, com a finalidade de torná-las mais céleres.

Galdino Siqueira, citado na obra de Tourinho Neto explica que, “o processo judicial é

o movimento dos atos da ação em Juízo” e que ”primeiro ato deste movimento não pode

deixar de ser o chamamento do réu a juízo para ver-se-lhe propor a ação”: a citação106.

No caso do juizado Especial não a uma ação, não houve uma denúncia formal até a

presente data, por isso e realizado uma notificação ou intimação para comparecimento em

Juízo, que deverá ser pessoal.

4.2.1.1 Da citação

Na explicação de Tourinho Neto, p. 461, “citação é o ato pelo qual se dá ciência ao

autor do fato da acusação que lhe é feita, chamando-o a Juízo para se defender, dando-lhe

105 BITTENCOURT, Cezar Roberto, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS FEDERAIS, Analise Comparativa das Leis n. 9.099/95 e 10.59/2001, 2º edição, Saraiva, São Paulo, 2005. 106 TOURINHO Neto, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS E CRIMINAIS, Comentários a Lei 9.099/1995, 4ª Ed., ED. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2005.

Page 69: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

66

ciência do dia e da hora em que deverá comparecer para ser interrogado e assistir a instrução

até o final da sentença transitada em julgado” 107.

A citação somente existe se houver denuncia ou queixa, sendo citada no processo uma

única vez. A citação tem que ser pessoal, devendo quando possível ser realizada no próprio

juizado.

Conforme entendimento de Bittencourt, 2005, p. 80, “A citação para fins de juizado

especial será sempre pessoal. Isso quer dizer que não se admite citar o acusado na pessoa de

procurador, ainda que disponha de poderes específicos, devidamente formalizados.

Igualmente significa a inadmissibilidade de citação mediante edital.” 108.

Na interpretação dão artigo 66 da Lei 9.099/95, se não for possível a citação pessoal

do acusado, deverão ser encaminhadas para o Juízo comum as peças processuais.

Neste sentido Bittencourt ainda no traz que, “a forma tradicional de citação, tanto no

processo civil quanto no criminal, é por mandado. Essa modalidade vem reforçada nos arts.

66, caput, 68 e 78, § 1º. A formalidade da citação representa a garantia de prova de sua

efetivação.” 109.

Sendo que o oficial de justiça tem fé pública e que o acusado não poderia negar que

ficou ciente do ato processual.

4.2.1.2 Das intimações e notificações

As intimações e notificações deverão ser realizadas por AR/MP, ou seja,

correspondências em mão próprias. Por este motivo a delegacia ou a autoridade policia que

lavrou o termo circunstanciado deverá fornecer o endereço completo das partes, bem como o

número de telefone se tiver.

Conforme Mirabete, citado por Tourinho Neto, “Intimação é á ciência dada à parte, no

processo, da prática de um ato, despacho ou sentença. A notificação é a comunicação à parte

107 TOURINHO Neto, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS E CRIMINAIS, Comentários a Lei 9.099/1995, 4ª Ed., ED. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2005. 108 BITTENCOURT, Cezar Roberto, JIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS FEDERAIS, Analise Comparativa das Leis n. 9.099/95 e 10.59/2001, 2º edição, Saraiva, São Paulo, 2005. 109 BITTENCOURT, Cezar Roberto, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS FEDERAIS, Analise Comparativa das Leis n. 9.099/95 e 10.259/2001, 2º edição, Saraiva, São Paulo, 2005.

Page 70: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

67

ou a outra pessoa, do lugar, dia e hora de um ato processual a que deve comparecer. Refere-se

ao futuro, ao ato que vai ser praticado” 110.

As intimações nos juizados Especiais Criminais estão regulamentadas pelo arts. 67 e

68 da Lei 9.099/95 que trazem em sua redação:

Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.

Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.

Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.

No mesmo sentido Lima explica que” Ao contrário da citação, que se refere ao

chamamento do réu para se ver processar, assegurando a incidência dos princípios

constitucionais da ampla defesa e contraditório, a intimação, na verdade, é a cientificação ou

comunicação a parte de o ato praticado no processo, já realizado, sendo que a notificação seria

a ciência ou comunicação para a parte, advogados, testemunhas ou auxiliares da justiça, de ato

praticado e à qual deve comparecer, no futuro.” 111.

Diante deste contexto, devemos entender que a intimação é a comunicação do ato já

ocorrido no processo, enquanto a notificação é a comunicação para interessados de ato que ira

ser realizado no futuro, cientificando que deverá comparecer ao mesmo.

Tanto na intimação, notificação ou citação deverá constar que a parte deverá

comparecer acompanhada de advogado, se não constar deverá ser adiada a audiência para que

a parte constitua advogado, a não ser que informe que não pode constituir ai será nomeado o

Defensor Público e sanada a irreguralidade, na falta deste o juiz nomeara o defensor dativo.

110 TOURINHO Neto, Fernando da Costa, JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS E CRIMINAIS, Comentários a Lei 9.099/1995, 4ª Ed., ED. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2005. 111 LIMA, Marcellus Polastri, Juizados Especiais Criminais (na forma das Leis n. 10.259/01, 10.455/02 e 10.741/03), Ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2005.

Page 71: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

68

4.3 DAS AUDIÊNCIAS PRELIMINARES

As audiências Preliminares já foram tratadas no capitulo anterior, sendo que merecem

serem lembradas neste momento.

A audiência Preliminar, ou seja, as que não cabem a composição civil deverá ser

encaminhada para a Transação Penal, caso haja representação da vitima, quando não for o

caso de arquivamento, sempre obedecendo às regras elencadas no art. 76 § 2º e incisos da Lei

9.099/ 1995, que traz:

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente à adoção da medida.

Assim, o impedimento da lei dirige-se em primeiro lugar ao Ministério Público, que

não poderá formular proposta de transação penal, tendo o dever de justificar em um dos

incisos em questão a recusa de transacionar, após a ordem é voltada ao Juiz que fica impedido

de homologar o acordo penal se verificar a presença de qualquer das causas impeditivas

enumeradas pela Lei.

4.4 DA DENÙNCIA OU QUEIXA CRIME

A denúncia deverá ser oferecida pelo Ministério Público, sempre que o autor do fato

não poder ser beneficiado pela Transação Penal, ou não dar cumprimento à reprimenda

imposta a este em Audiência Preliminar.

Neste sentido o legislador traz no art. 77 da Lei 9.099/95:

Page 72: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

69

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.

§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.

§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.

§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam à adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.

Em audiência Preliminar será perguntado ao vitima se a possibilidade de acordo ou

conciliação, no caso de ação civil condicionada, caso negativo, será perguntado a vitima se

deseja representar criminalmente o autor do fato, caso positivo, será na mesma audiência a

possibilidade de oferecimento de transação penal, caso negativo, será encaminhado para que o

Ministério Público ofereça denúncia, a Lei prevê a denúncia ou queixa oralmente, caso não

necessite de diligências imprescindíveis conforme elencadas no caput o art. 77 da lei

9.099/95.

Neste contexto, Grinover:

“Prevê-se o oferecimento da acusação oralmente, pelo MP ou pelo querelante, a concentração de todos os atos instrutórios em uma só audiência, na qual também serão realizados os debates finais e proferida a sentença, e a previsão de julgamento de eventual apelação por turma de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição” 112.

Apesar da informalidade que deve dominar o processo nos Juizados Especiais, a peça

acusatória deverá seguir os requisitos do art. 41 do CPP:

112 GRINOVER, Ada Pellegrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, 3ª Ed., revista e atualizada, Editora Revista dos tribunais, São Paulo, 1999.

Page 73: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

70

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as

suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa

identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Ainda nesta mesma denúncia, quando for o caso, deverá trazer a proposta de

Suspensão Condicional do Processo, sendo que no caso de omissão poderá ser sanada a

qualquer tempo conforme o art. 569 do CPP que traz:

Art. 569. As omissões da denúncia ou da queixa, da representação, ou, nos processos

das contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas

a todo o tempo, antes da sentença final.

A denúncia será oferecida com base no termo circunstanciado, no caso, deste não

apresentar elementos suficientes para a denúncia, o Ministério Público deverá requerer sua

baixa a Delegacia de Policia de origem para que seja complementado.

No caso de ação privada, o ofendido pode oferecer de imediato, queixa oral ou pode

deixar para oferecê-la, posteriormente, dentro do prazo decadencial. Oferecida a queixa é

facultativo o aditamento pelo Ministério Público nos termos do arts. 45 e 48 do CPP que traz:

Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser

aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subseqüentes do

processo.

Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos,

e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.

Neste sentido pelo Supremo Tribunal Federal consolidou o seguinte entendimento: “É

concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,

condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de

servidor público em razão do exercício de suas funções.” (Súmula 714).

Silva cita em sua obra o Enunciado Criminal 100 do Fonaje traz que:

A procuração que instrui a ação penal privada, no Juizado Especial, deve atender aos requisitos do art. 44 do CPP (“A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento de mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente

Page 74: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

71

requeridas no Juízo Criminal”). “Aprovado no XXII Encontro de Manaus/AM 113.

Sendo da alçada do Ministério Público avaliar das diligências tidas por necessárias

para formação da opinio delicti. Acaso propugnado, o Juiz determinará arquivamento ou a

providência prevista no artigo 28 do CPP:

Art. 28 - Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento de inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

O oferecimento de denúncia ou queixa oralmente, como alternativa, é extremamente

saudável, pela agilidade e simplicidade que caracteriza o ato, mas, fixar como única forma

possível de oferecê-las seria quiçá pior, mais trabalhoso, contraproducente e lamentável para

as ambiciosas preensões de uma justiça mais célere. No entanto o Código de Processo Penal é

aplicável subsidiariamente, embora não haja nenhuma referência ao oferecimento de denúncia

ou queixa por escrito, entende-se perfeitamente possível esta formalização ao direito posto.

Importante a citação de Bittencourt que traz em sua redação que “Tanto a denúncia

quanto a queixa, evidentemente, sofrem a limitação da “complexidade ou circunstâncias do

caso” (art. 77, §§ 2º e 3º, da Lei 9.099/95), podendo alterar a competência do Juizado,

inclusive.” 114.

Sendo que as infrações penais de menor potencial ofensivo dispensam a necessidade

de inquérito policial, bem como os requisitos elencados no art. 158 do CPP, prova pericial

entre outros, será excluída da competência do Juizado Especial.

Oferecida a denúncia ou queixa, se oral, deverá ser reduzida a termo, do qual será

entregue uma cópia ao acusado, que ficará citado na mesma oportunidade.

Nos procedimentos ordinários e sumários, adotados subsidiariamente pelo

Sumariissimo, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-

113 SILVA, Antônio Julião da LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS E CRIMINAIS, Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 interpretada jurisprudencialmente (contendo enunciados do FONAJE e roteiros práticos de atuação dos conciliadores), Ed. Juruá, Curitiba, 2010. 114 BITTENCOURT, Cezar Roberto, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS FEDERAIS, Analise Comparativa das Leis n. 9.099/95 e 10.259/2001, 2º edição, Saraiva, São Paulo, 2005.

Page 75: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

72

la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10

(dez) dias. É o que dispõe o caput do art. 396, sendo que o parágrafo único esclarece que no

caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do comparecimento

pessoal do acusado ou do defensor constituído.

Desse modo, a decisão sobre o recebimento da denúncia ou da queixa deverá ser

fundamentada, devendo a inicial ser rejeitada quando falta um dos requisitos enumerados no

art. 395, a seguir comentados.

4.4.1 Comunicações de atos processuais - intimações e citações

A denúncia e a queixa, para não serem declaradas ineptas, devem ser formuladas de

acordo com os requisitos do art. 41, do CPP, que são:

a) exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias;

b) a qualificação do acusado ou esclarecimento pelos quais possa ser identificado;

c) a classificação do crime e, quando necessário,

d) o rol de testemunhas.

Conforme Boschi “Maior relevância apresenta a descrição pormenorizada dos fatos,

pois é deles que o acusado se defende; também, permitirá que o juiz afira sobre a efetiva

ocorrência de fato típica, delimitando o campo temático a ser discutido no processo, até o seu

final” 115.

Nos juizados Especiais o Ministério Público se baseia no fato registrado no Termo

Circunstanciado, podendo requisitar diligências para melhor elucidação do caso.

O segundo requisito é a qualificação do acusado, o que significa informar seu nome

completo e, sempre que possível, os demais dados de identificação, inclusive o seu RG, se o

possuir, para evitar complicações com homônimos.

115 BOSCHI, José Antonio Paganella. Ação penal: denúncia, queixa e aditamento. Rio de Janeiro: Aide, 2002.

Page 76: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

73

Nos Juizados Especiais não cabe citação por edital, tendo que a Delegacia de Policia

na hora de instaurar um termo circunstanciado certificar o nome e endereço completo do autor

fato, alcunha, telefone quando houver, bem como ponto de referencia em local de difícil

acesso.

Outro dos requisitos formais de elaboração da denúncia ou da queixa é a classificação

do crime.

Como assinala Oliveira, “a exigência visa atender a duas ordens distintas de interesses.

A primeira consiste na afirmação inicial da competência jurisdicional, em face das regras de

distribuição de competência constantes da Constituição Federal e das leis de organização

judiciária.” 116.

A segunda visa assegurar a ampla defesa, permitindo ao acusado, desde logo, o

conhecimento, o mais completo possível, da pretensão punitiva contra ele instaurada.

Essa classificação, isto é, a capitulação legal do fato, como se sabe, é provisória e só se

tornará definitiva com a sentença transitada em julgado.

Finalmente, o art. 41 se refere ao rol de testemunhas. Em regra, há necessidade de se

arrolar testemunhas, para comprovação do alegado. O número de testemunhas varia de acordo

com o rito do processo.

4.4.1.1 Pressupostos processuais

Os pressupostos processuais podem ser subjetivos e objetivos ou de validade.

Pressupostos subjetivos dizem respeito à competência e imparcialidade do juiz e à capacidade

das partes.

Neste sentido Oliveira diz “Os objetivos referem-se a formalidades do processo, como

a citação válida, a adoção do procedimento adequado, a aptidão da inicial, a inexistência de

litispendência, coisa julgada ou de nulidades” 117.

Portanto, ao decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, além analisar a peça

acusatória sob o aspecto formal, cumpre ao juiz averiguar a existência dos pressupostos da 116 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. 117 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.

Page 77: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

74

relação processual, velando pela regularidade do processo, em cumprimento ao artigo 251 do

CPP que traz em sua redação:

Art. 251 - Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.

Satisfeitas as condições mínimas para o exercício do direito de ação, resta ao juiz

investigar se também estão satisfeitas as condições mínimas de viabilidade da relação

processual.

4.4.1.2 Condições genéricas da ação

Para que seja recebida a peça inicial da acusação, ou seja, denúncia ou queixa, é

necessário conferir-se a presença das condições genéricas da ação, isto é, verificar se estão

presentes os requisitos mínimos indispensáveis para a formação da relação processual, o juiz

deverá constatar se estão presentes as três condições da ação:

a) possibilidade jurídica do pedido

b) legitimidade

c) interesse de agir.

São chamadas de condições genéricas porque comuns a todo tipo de ação, distintas das

condições específicas ou de procedibilidade, exigíveis em hipóteses determinadas.

No entendimento de Moura “O CPP não contempla, exatamente, essas três condições,

como se pode conferir no seu art. 43, mas a doutrina transpôs para o processo penal as

condições da ação, nos moldes em que traçadas para o processo civil, com adaptações” 118.

A Legitimidade para a causa é definida como a pertinência subjetiva da ação, a qual

somente poderá ser exercida pelo titular de uma situação jurídico-material. Diz respeito, à

titularidade ativa e passiva da ação penal. Sua ausência provoca nulidade absoluta (CPP, art.

564, II).

118 MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. Justa causa para a ação penal: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

Page 78: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

75

No processo penal, em regra, o sujeito ativo é o Estado, como titular do direito de

punir, cuja função é exercida, privativamente, pelo Ministério Público (CF, art. 129, I).

Segundo lição adotada por Maurício Zanoide de Moraes,... Em virtude da ocorrência

de um fato tido como delituoso, que gera um estado de intranqüilidade social, surge à

necessidade do exercício jurisdicional, visando à pacificação, pois de acordo com o art. 5°,

LIV, da CF, "ninguém será privado de sua liberdade e de seus bens sem o devido processo

legal". Assim, o interesse de agir tem como causa a controvérsia surgida com o cometimento

da infração. E, para que haja a ‘controvérsia’, é imprescindível a presença doe trinômio

conduta, ius puniendi e ius libertatis” 119.

4.4.1.3 Condições de específicas ou de procedibilidade

Como visto, as condições genéricas são exigíveis a todo tipo de ação. Porém, em

alguns casos, a lei exige o preenchimento de determinadas e específicas condições para o

exercício da ação penal. É o caso, por exemplo, das ações públicas condicionadas, em que o

Ministério Público somente poderá ingressar com a ação mediante representação ou

requisição do Ministro da Justiça.

4.4.1.4 Justa causa

É certo, que o exercício do direito de ação penal exige que o termo circunstanciado ou

inquérito policial contenham elementos sérios e idôneos demonstrando que houve uma

infração penal, e indícios, mais ou menos razoáveis, de que o seu autor foi a pessoa apontada

no processo informativo ou nos elementos de convicção.

Existe uma corrente de defende que existe interesse de agir na ação penal de natureza

condenatória quando houver fumus boni iuris ou justa causa, vistos como idoneidade do

pedido. Em caso contrário, o juiz pode declarar desde logo inadmissível a acusação,

porquanto, faltando justa causa, inexistirá interesse processual.

Conforme entendimento de Moura que diz que “O art. 43, do CPP, que cuidava das

hipóteses de rejeição da ação penal, expressamente, não exigia tais elementos, para o

recebimento da denúncia ou queixa; no entanto, pela sistemática do código, já se podia 119 MORAES, Maurício Zanoide de. Interesse e legitimação para recorrer no processo penal brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

Page 79: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

76

perceber a exigência, tanto que o art. 648, I, do CPP diz que haverá constrangimento ilegal

"quando não houver justa causa". E é com fundamento nesse dispositivo que os Tribunais

vêm "trancando a ação penal", seja pública, seja privada, todas as vezes que ela não se arrime

em elementos razoáveis de convicção quanto ao fato infringente da norma e sua autoria.” 120.

Com a reforma, o CPP passa a prever expressamente a justa causa, como requisito de

admissibilidade da acusação. Se inexistente, a inicial deverá ser rejeitada, uma vez que a

denúncia ou queixa apenas deve ser oferecida (e recebida) quando estiver amparada em

provas mínimas de autoria e materialidade do crime, evitando-se acusações temerárias.

4.4.2 Da resposta à acusação

Após o oferecimento da denúncia ou queixa, quando oral, as partes ficarão cientes da

data de audiência de Instrução e Julgamento, conforme o artigo 78 e §§ da Lei 9.099/95.

Grinover traz que, “..., no procedimento sumaríssimo aqui tratado, a defesa prévia

(resposta à acusação) é feita no início da audiência de instrução e julgamento e o

interrogatório constituirá ato final da instrução probatória... o próprio acusado deverá trazer as

suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes de

sua realização” 121.

Ao Juiz, quando da análise da denúncia cabe verificar a correspondência entre os fatos,

conforme narrados e o tipo penal. Constando sua evidente inadequação, deve permitir o

aditamento e adequação por parte do Ministério Público, sobretudo quando tal providência

implica a modificação de rito e competência. Havendo adequação cabe o Juiz ao feito do rito

da lei 9.099/95, com defesa preliminar. Em caso de cumular competência para os juizados

Especiais, tem a possibilidade de igualmente permitir a defesa preliminar, e após receber

parcialmente a denúncia.

Com a reforma do CPP de 2008, a Lei n. 11.719/08, ao modificar o procedimento para

julgamento de crimes de competência do juízo monocrático, instituiu verdadeira balbúrdia no

ordenamento processual, diante da alteração da redação dos arts. 396 e 399 do Código de

Processo Penal, que passaram a ter o seguinte teor:

120 MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. Justa causa para a ação penal: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. 121 GRINOVER, Ada Pellegrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, 3ª Ed., revista e atualizada, Editora Revista dos tribunais, São Paulo, 1999.

Page 80: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

77

Art. 396. Nos procedimentos ordinários e sumários, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

[...]

Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.

Assim, aparentemente, a nova lei trouxe dois momentos para o recebimento da

denúncia: um logo após o seu oferecimento, e antes de citado o réu; outro após a citação e a

defesa preliminar, ocasião em que o magistrado enfrentará as situações previstas no art. 397,

podendo, então, absolver sumariamente o denunciado.

No mesmo sentido Silva traz que “Até o recebimento da denúncia é possível declarar a

extinção da punibilidade do autor do fato pela renúncia expressa da vitima ao direito de

representação” 122.

Diante dessa antinomia, diversas foram as soluções propostas pela doutrina. Houve

quem sustentasse que, a partir da nova lei, dois seriam os momentos de recebimento da

denúncia, devendo o juiz, no segundo momento, ratificar o recebimento provisório

anteriormente efetuado. Também se sustentou que a denúncia seria recebida no primeiro

momento, de modo que a regra do art. 399 do CPP referir-se-ia apenas à análise das causas de

absolvição sumária do art. 397. Por fim, doutrinadores de nomeada têm sustentado que o

recebimento da denúncia somente pode ocorrer após o contraditório prévio. Para esses, a regra

do art. 396 deve ser interpretada conforme a Constituição, de modo que o termo citação deve

ser substituído por notificação, desprezando-se o termo "recebê-la-á" constante do art. 396.

Entendo que a solução é encontrada de forma simples, atenta ao texto expresso da lei e

partindo da interpretação histórica. Assim, para que se possa averiguar o real alcance da

reforma do Código de Processo Penal, é importante que se atente para as ocorrências que se

deram no curso de sua aprovação.

A redação original do Projeto de Lei n. 4.701/01, que deu origem à Lei n. 11.719/08,

previa, em seu art. 395, a ocorrência de um contraditório anterior ao recebimento da denúncia.

122 SILVA, Antônio Julião da LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS E CRIMINAIS, Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 interpretada jurisprudencialmente (contendo enunciados do FONAJE e roteiros práticos de atuação dos conciliadores), Ed. Juruá, Curitiba, 2010.

Page 81: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

78

Contudo, foi oferecida emenda na Câmara dos Deputados que alterou o teor da norma,

incluindo o termo "recebê-la-á" ao então art. 396.

Diante dessa alteração substancial do conteúdo da norma, pode-se construir uma

afirmação: se inicialmente o legislador pretendia que o recebimento da denúncia fosse

precedido de contraditório, essa vontade desapareceu a partir do acolhimento da emenda

acima citada. Num raciocínio inverso, pode-se concluir que, a partir da tal emenda, tudo o que

o legislador não quis foi ver o recebimento da denúncia precedido de contraditório prévio,

pois, se o quisesse, bastaria ter mantido a redação original do projeto.

Conforme Bittencourt:

A relevância da defesa preliminar nos Juizados Especiais (art.81) consiste no fato de poder levar ao magistrado a não receber ou rejeitar a denúncia ou queixa. Na verdade, após a apresentação da defesa preliminar, oralmente, o magistrado reexaminará a existência de justa causa à luz dos argumentos expendidos e das provas apresentadas, decidindo se recebe ou não a peça preambular da acusação123.

Ainda no mesmo sentido Silva diz que:

O despacho que recebe a denúncia ou a queixa, embora tenha também conteúdo decisório, não se encarta no conceito de ‘decisão’, como previsto no art. 93, IX, da constituição Federal, não sendo exigida a sua fundamentação (CPP, art. 394); a fundamentação é exigida, apenas, quando o Juiz rejeita a denúncia ou a queixa (CPP, art. 516), aliás, único caso em que cabe recurso (CPP, art. 581, I) 124.

Lembramos que o art. 92 da Lei 9.099/95 manda aplicar subsidiariamente o Código de

Processo Penal.

4.4.3 Da testemunha

Conforme já falando anteriormente o Ministério Público deverá apresentar juntamente

com a denúncia o rol de testemunhas e quando couber a proposta de Suspensão Condicional

do Processo, obedecendo aos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal que traz em

sua redação:

123 BITTENCOURT, Cezar Roberto, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS FEDERAIS, Analise Comparativa das Leis n. 9.099/95 e 10.259/2001, 2º edição, Saraiva, São Paulo, 2005. 124 SILVA, Antônio Julião da LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS E CRIMINAIS, Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 interpretada jurisprudencialmente (contendo enunciados do FONAJE e roteiros práticos de atuação dos conciliadores), Ed. Juruá, Curitiba, 2010.

Page 82: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

79

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

A lei não precisa o numero de testemunhas que pode ser arrolada pelas partes, sendo

aplicados os termos do artigo 92 da Lei 9.099/95, ou seja, subsidiariamente ao Código de

Processo Penal.

Grinover traz que:

Diante do que dispõe o art. 129, I, da Constituição de 1988, tem sido corrente o entendimento de que o procedimento sumário das contravenções não teria sido recepcionado pela nova ordem constitucional e, com isso, o rito a ser adotado seria o do art. 539, CPP, que prevê a inquirição de, no máximo, cinco testemunhas125.

Segundo o art. 396-A, na defesa, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o

que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas

pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando

necessário, processando-se a exceção em autos apartados (art. 396 A § 1.º).

Não podemos esquecer que a respeito de impedimentos, isenções, compromisso,

forma de depoimento, etc., também é o adotado subsidiariamente pelo CPP, uma vez que o

diploma comentado nada inovou em relação ao Código.

Após haver a audiência preliminar, passar para a denúncia, apresentada a defesa

devidamente instruída passa-se para a audiência de Instrução e Julgamento.

4.5 DA INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

Oferecida a denúncia ou queixa, ficará o acusado cientificado do dia e hora da

audiência de instrução e julgamento, momento em que haverá mais uma tentativa de

conciliação, ou, até mesmo, de proposta de transação penal, desde que não tenha havido a

possibilidade do seu oferecimento na fase preliminar. Levando-se em consideração os

princípios informativos dos JEC’s, são perfeitamente cabíveis as propostas de transação penal

e conciliação no início da audiência de instrução e julgamento, configurando rigidez forma

desnecessária e que contraria frontalmente o escopo da lei a sua negativa. 125 GRINOVER, Ada Pellegrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, 3ª Ed., revista e atualizada, Editora Revista dos tribunais, São Paulo, 1999.

Page 83: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

80

Conforme Bittencourt, 2005, p. 101,

Ainda que tenha havido a tentativa fracassada na audiência preliminar, mesmo assim, deve-se oportunizar a transação, preliminarmente, na audiência de instrução e julgamento. Deve-se propiciar, enfim, na audiência de instrução e julgamento, não só a transação penal, mas também a composição civil126.

No Juizado serão ouvidas a vitima e testemunhas de acusação e defesa bem como será

interrogado o autor do fato, denunciado, no mesmo ato. Com vistas à celeridade, e para evitar

transtornos que só atrasam o processo, a lei determinou que "nenhum ato será adiado,

determinado o juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer"

(art. 180). Logicamente que tal dispositivo deve ter temperamentos, pois inúmeras serão as

situações em que não se poderá dar continuidade à audiência, como, por exemplo, falecimento

de alguma das partes, viagens, doença, etc. Não devemos, pois, interpretar de forma rígida tal

dispositiva, que deverá ser aplicado de acordo com o caso concreto.

Como nenhum ato pode ser adiado, a testemunha que não comparecer poderá ser

conduzida coercitivamente (art.80), além de ficar sujeita a multa, as despesas da diligência,

sem prejuízo de responder pelo crime de desobediência, no caso do não comparecimento da

vitima, injustamente, será causa de perempção (art. 60, III, do CPP).

Grinover sustenta que após o interrogatório do acusado, as partes terão oportunidade

de oferecer alegações orais. È através da argumentação apresentada ao Juiz, nessa ocasião,

que acusação e defesa poderão criticar as provas produzidas, construindo as respectivas

versões sobre fatos, e também demonstrar o direito aplicável ao caso, tudo no sentido de

influenciar positivamente o convencimento judicial” 127.

Nesta audiência poderá pelo Ministério Público ser oferecida a Suspensão Condicional

do Processo, caso aceita, serão dispensadas as testemunhas e vitima, entendendo-se que houve

o recebimento implícito da denuncia, com a conseqüente interrupção do prazo prescricional.

A idéia de desnecessidade da pena, uma vez que o magistrado se limitará a impor

condições ao réu, que, se aceitas, ensejarão a suspensão do processo. Busca também a medida 126 BITTENCOURT, Cezar Roberto, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS FEDERAIS, Analise Comparativa das Leis n. 9.099/95 e 10.259/2001, 2º edição, Saraiva, São Paulo, 2005. 127 GRINOVER, Ada Pellegrini, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, 3ª Ed., revista e atualizada, Editora Revista dos tribunais, São Paulo, 1999.

Page 84: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

81

a reabilitação do escopo de reeducação do processo penal, possibilitando que o próprio

acusado, de acordo com a sua conveniência, opte pelo cumprimento das condições ou pelo

prosseguimento do processo.

Não se trata de mero ato discricionário, sendo direito do réu a proposta de suspensão

do processo. Além disso, estando presentes os requisitos legais, o acusado tem direito a

deferimento da medida, como forma de preservar os princípios informativos da lei 9.099/95.

Não aceita a proposta de Suspensão, dará prosseguimento ao interrogatório, sendo que

conforme previsão legal do art. 402 do CPP que traz: "ao final da audiência, o Ministério

Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja

necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.", o que significa que

tais requerimentos devem ser feitos de imediato e não mais em 24 horas, o que não impede

que, considerando-se a complexidade do processo, seja deferido às partes um prazo maior

para tais requerimentos, atentando-se apenas para que não se protele injustificada e

demasiadamente o andamento processual. As primeiras diligências devem ser requeridas

desde logo, ou seja, quando do oferecimento da peça acusatória ou na resposta preliminar. Já

as diligências previstas no art. 402 são aquelas outras, cuja necessidade adveio após a

instrução.

Se forem requeridas diligências, fatalmente a audiência será sobrestada para o

cumprimento do que foi requerido. Neste caso, prevê o art. 404 que "a audiência será

concluída sem as alegações finais". "Realizada, em seguida, a diligência determinada, as

partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por memorial,

e, no prazo de dez dias, o juiz proferirá a sentença." (parágrafo único).

Bittencourt traz que:

A culminância da persecutio criminis ocorre com a prolação da sentença, que também se apresenta renovada em sua forma, isto é, sem relatório. [...] As partes devem conhecer o caminho percorrido pelo raciocínio do Juiz para chegar ao resultado final [...] para demonstrar à partes e ao Segundo grau, que não presidiu a instrução probatória, é indispensável que a decisão condenatória ou absolutória, esteja devidamente fundamentada128.

A lei 9.099/95 prevê que a sentença será proferida em audiência, imediatamente, após

os debates orais, devendo ser resumidas em termo de audiência, sendo que a disposição do § 128 BITTENCOURT, Cezar Roberto, JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS FEDERAIS, Analise Comparativa das Leis n. 9.099/95 e 10.259/2001, 2º edição, Saraiva, São Paulo, 2005.

Page 85: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

82

3º do art. 81 permite que o pronunciamento do Juiz deixe de fazer relatório, mas ressalta a

necessidade de serem mencionados os elementos de convicção, devendo atender os requisites

dos arts. 381,386 e 387 do CPP, de aplicação subsidiária.

Page 86: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho não possui o escopo de esgotar todo o assunto pertinente aos

juizados especiais Criminais, mas trazer com esta análise alguns aspectos destacados sobre o

tema ora trabalhado, de suma importância, levando-se em consideração todo o universo

jurídico que o envolve, causando diversas conclusões interpretativas acerca da Lei 9.099/95.

Há, neste estudo, conclusões polêmicas trazidas à tona, por orientações de

respeitáveis doutrinadores, já que a presente pesquisa fora delineada a partir de suas obras.

Com isso, foi possível estabelecer um estudo sobre o procedimento deste rito, extraindo-se

questões relevantes para, ao final, resgatar, fundamentalmente, a visão ideológica desse

sistema.

Afinal, a visão social do processo, como forma de servir ao próprio direito como

instrumento de efetivação, é um grande desafio a ser vencido, no interesse de se conseguir

construir uma nova justiça e um novo país, mas justo e mais digno, e principalmente mais

comprometido com o povo.

E foi com base neste desejo, que o presente trabalho teve como fundamento fazer a

comparação entre a lei 9.099/95 e Código de Processo penal. Constatando-se de forma clara e

precisa, seus reais objetivos, demonstrando para tanto, os seus institutos, criados para garantir

uma melhor condução dos processos, uma vez que, não se pode conceber, neste sistema, uma

solução que perdure por muito tempo, ou que demonstre o formalismo existente no processo

comum.

Portanto, no primeiro capitulo, ao tratar sobre a formação do Juizado, seus princípios

norteadores e sua competência, tem-se uma análise introdutória a pesquisa, demonstrando a

necessidade dos homens em outorgar a um terceiro a solução dos conflitos, surgindo, assim, a

jurisdição.

Continuando, demonstrou-se quais os princípios que norteiam os preceitos da Lei

9.099/95, sendo base de desenvolvimento deste sistema.

Page 87: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

84

Por fim, adentrou-se no procedimento dos Juizados especiais Criminais, demonstrando

como se dá o acesso a justiça, enfatizando-se para tanto, a questão da competência, bem como

o papel do Juiz togado, Ministério Público, do advogado e do Juiz Leigo e Conciliadores.

Dentro de um contexto que envolve o primeiro capitulo, levantou-se o problema da

competência nos juizados especiais Criminais, ou seja, seria a mesma absoluta ou relativa? No

desenrolar do tema, constata-se que há uma divergência doutrinária que está longe de ser

pacificada, porém, a maior parte dos doutrinadores, considera como sendo absoluta, pois tal

sistema prevê a possibilidade do procedimento ser no local do fato, neste caso eu acato a

referida hipótese de pesquisa.

Superada a fase introdutória, cuidou o segundo capitulo de demonstrar o procedimento

das audiências preliminares. Nele, destaca-se o andamento das referidas audiências, bem

como a importância em se obter entre as partes integrantes da lide, apresentação da denuncia

ou representação e quanto preciso produção de provas segundo o rito da lei em estudo.

Levando em consideração as audiências acima mencionadas, levantou-se o problema

envolvendo o teor do art. 75 da referida Lei, que prevê o fato das mesmas serem uma. Desta

forma, não estaria, sendo prejudicada a parte demandada? Neste caso, segundo o que se

extraiu da pesquisa, o prolongamento da designação da audiência para proposta de transação

penal e suspensão condicional do processo, deverá, sob pena de prejudicar a parte, constar da

citação, a fim de que o autor do fato ou denunciado obtenha um prazo para apresentar defesa

querendo, realizar tal procedimento sem a prévia ciência para o ato importa reconhecer

cerceamento de defesa, caracterizando vicio de absoluta nulidade para o respectivo processo.

Em relação a este problema também acato a hipótese de pesquisa mencionada.

No ultimo capitulo, em analise a previsão a alteração do Código de processo penal

ocorrido em 2009, levantou-se o problema se com esta mudança alteraria ou não o

procedimento dos juizados especial, sendo que, com a nova redação o procedimento ficaria

mais rápido. Portanto, comparando a Lei 9.099/95 com a nova redação do Código Penal

verificou-se que não alteraria, pois, a Lei 9.099/95 já previa audiência de Instrução e

julgamento onde todas as testemunhas e partes seriam ouvidas no mesmo ato. Por esta razão

não acato a hipótese de pesquisa em relação a este assunto, uma vez que havia previsão legal

na lei 9.099/95.

Ao encerrar este trabalho, importa mencionar que, levando-se em consideração o

tempo de vigência da lei em estudo, a sua aceitação social demonstrou tão aprovada que já

Page 88: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

85

houve várias modificações em seu texto legal, afim que sejam adequadas suas normas legais

com a realidade social em que vivemos, possibilitando uma contínua manutenção dos fins

previstos por este louvável instituto.

Por esta razão, vêem-se os juizados como a Justiça do futuro, sendo adotado pelo

Código de Processo Penal a unificação dos atos já previstos nesta Lei.

Page 89: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Pedro Manoel. Juizados Especiais Cíveis e criminais - aspectos destacados. Florianópolis: Obra jurídica, 1996.

BASSETTI neto, Pedro. Juizados Especiais Criminais – ilustrado. São Paulo, Iglu, 1999.

BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ivens Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva. 1997.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão: Causas Alternativas, 3. ed. São Paulo: Saraiva. 2004.

BITTENCOURT, Cezar Roberto, Juizados Especiais Criminais Federais, Analise Comparativa das Leis n. 9.099/95 e 10.59/2001, 2. ed. São Paulo: Saraiva. 2005.

Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCCrim, n. 57, agosto/1997.

BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva. 2009.

BOSCHI, José Antonio Paganella. Ação penal: denúncia, queixa e aditamento. Rio de Janeiro: Aide, 2002.

CARDOSO, Franciele Silva, Penas e medidas alternativas, análise da efetividade de sua aplicação, São Paulo: Editora Método. 2004.

CARVALHO, Salo de. A crise do processo penal - e as novas formas de administração de justiça criminal. Porto Alegre: Editora Notadez. 2006.

CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e prática dos juizados especiais cíveis, 3. Ed. São Paulo: Saraiva. 2000.

Código Penal Brasileiro, Saraiva. 2009.

COSTA, Hélio Martins. Lei dos Juizados Especiais anotada e sua interpretação jurisprudencial. 2 ed. Belo Horizonte: Livraria El Rey Editora, 2000.

COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico. Curitiba: Juruá, 2001. 245 p.

DELL’ORTO, Cláudio. A nova definição de "infração penal de menor potencial ofensivo. Efeitos da Lei 10.259, que instituiu os Juizados Especiais Criminais no âmbito da JF. http//buscalegis.ccj.ufsc.br/arquivos/artigos.(04/05/2010).

FEITOZA, Deilson, Direito processual penal, teoria, critica e práxis- 6ª Ed., Revista Ampliada e atualizada com a Reforma Processual Penal, Niterói, RJ: Impetus. 2009.

Page 90: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

87 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias, LOPES, Mauricio Antônio Ribeiro. Comentário à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

FREIRE JUNIOR, Américo Bedê. Princípios do processo penal: entre o garantismo e a efetividade da sentença, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.

FRIGINI, Ronaldo. Comentários á Lei dos juizados Especiais Civis. São Paulo: IED - Editora de Direito Ltda. 2000.

GONÇALVES, Victor Eduardo Reis. Juizados especiais criminais: doutrina e jurisprudência atualizadas, 3. ed. rev. e atual. São Paulo, Saraiva. 2007.

GRINOVER, Ada Pellegrini. Juizados especiais criminais, comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995, 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. 16, ed. São Paulo: Malheiros, 2000.

JESUS, Damasio E. de. Lei dos juizados especiais criminais anotada, 4. rev. e ampl., São Paulo: Saraiva, 1997.

JUNIOR, Joel Dias Figueira, NETO, Fernando da Costa Tourinho. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais: comentários da Lei 9.099/1995, 4. ed., São Paulo: Editora revista dos Tribunais, 2005.

KARAM, Maria Lucia. Competência no processo penal. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

Lei 9.099/95

LIMA, Marcellus Polastri. Juizados Especiais Criminais (na forma das Leis n. 10.259/01, 10.455/02 e 10.741/03). Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris. 2005.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais: comentários, jurisprudência, legislação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

MORAES, Alexandre. Curso de. Direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 36.

MORAES, Maurício Zanoide de. Interesse e legitimação para recorrer no processo penal brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. Justa causa para a ação penal: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processos penais comentadas. 2. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

Page 91: INSTRUÇÃO CRIMINAL PERANTE O JUIZADO ESPECIAL …siaibib01.univali.br/pdf/Adelia de Andrade Baixo.pdf · com vigência no novo Código de Processo Penal Monografia apresentada

88 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 5. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8. ed. Florianópolis: OAB Editora, 2003. 243 p.

SILVA, Antônio Julião da. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais, Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 interpretada jurisprudencialmente (contendo enunciados do FONAJE e roteiros práticos de atuação dos conciliadores), Ed. Juruá, Curitiba, 2010.

SILVA, Luiz Claúdio. Juizado especial criminal: prática e teoria do processo. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1999.

SMANIO, Gianpaolo Poggio. Criminologia e juizado Especial criminal: Modernização no processo penal, controle social, 2. ed. São Paulo: Editora Atlas, 1998.

SOUSA, Cláudio Calo. O art. 2º da lei n. 10.259/2001 x o art. 61 da lei n. 9.099/95. E as infrações com rito especial? Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3042>. Acesso em: 2 mar. 2010.

STF, Súmula 696, página acessada no dia 30 de agosto de 2010.

TOURINHO Neto, Fernando da Costa. Juizados especiais cíveis e criminais: Comentários a Lei 9.099/1995, 4. ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005.

TOURINHO Neto, Fernando da Costa. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais. 6 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. Elaboração de trabalhos acadêmico-científicos. Itajaí: Univali, 2003. [Cadernos de Ensino – Formação Continuada]. Ano 2, n. 4. 101 p.