quem tem farelos

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Aluno: Mônica de Paula Vieira — n. USP 9041889 — noturno (segundo horário) Docente: Marcia Arruda Disciplina: Literatura Portuguesa 1 Linhas de leitura: “Quem tem farelos?”, de Gil Vicente Na peça “Quem tem farelos?” são apresentadas cinco figuras, uma delas fala em castelhano. Caracteriza situações cotidianas, de referencia direta a aspectos sociais do período, utiliza a situação amo/criado como forma de acentuar verdade e fantasia ou mentira e realidade, pondo em cena “falsas situações” sociais, vistas pelo lado do quotidiano. A peça encena o tempo de um dia com uma rápida representação. Há marcas no texto que correspondem a essa duração temporal, no início o criado Apariço está na pousada conversando com outro criado Ordonho, quando Apariço volta para junto de seu amo este diz “Como tardaste, Apariço”, na sequência temos outras marcas: “Já ela estará na cama”, “Ide ver se está acordada”, Mea- noite deve ser”, “pois os galos cantam já”, “Cantan los galos,/yo no me duermo,/ni tengo sueño”. Quando se referem a “Quem tem farelos?” os juízos da crítica do século XX tendem a aponta-lo como exemplo da falta de intriga na farsa vicentina ou de intriga demasiado tênue exprimido decepção pelo seu final abrupto.

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Linhas de leitura LP 1 com Márcia Arruda

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Aluno: Mnica de Paula Vieira n. USP 9041889 noturno (segundo horrio)Docente: Marcia ArrudaDisciplina: Literatura Portuguesa 1Linhas de leitura: Quem tem farelos?, de Gil VicenteNa pea Quem tem farelos? so apresentadas cinco figuras, uma delas fala em castelhano. Caracteriza situaes cotidianas, de referencia direta a aspectos sociaisdo perodo, utiliza a situao amo/criado como forma de acentuar verdade e fantasia ou mentira e realidade, pondo em cena falsas situaes sociais, vistas pelo lado do quotidiano.A pea encena o tempo de um dia com uma rpida representao. H marcas no texto que correspondem a essa durao temporal, no incio o criado Apario est na pousada conversando com outro criado Ordonho, quando Apario volta para junto de seu amo este diz Como tardaste, Apario, na sequncia temos outras marcas: J ela estar na cama, Ide ver se est acordada, Mea-noite deve ser, pois os galos cantam j, Cantan los galos,/yo no me duermo,/ni tengo sueo.Quando se referem a Quem tem farelos? os juzos da crtica do sculo XX tendem a aponta-lo como exemplo da falta de intriga na farsa vicentina ou de intriga demasiado tnue exprimido decepo pelo seu final abrupto.A caminhada para o desenlace final no est acentuada. O jogo com a expectativa de quem assiste no aplicado como a resoluo progressiva de uma situao apresentada no comeo e consequente maior ou menor retardamento do desenlace. O efeito de progresso do teatro clssico substitudo por uma acumulaoque resulta em um final desmesurado, excessivo, sobrecarregado de traos caracterizadores, como um retrato transformado em caricatura pelo exagero.Aires Rosado ridculo, idiota, presumido, no tem a noo das realidades, mas mais digno de pena ou riso do que de raiva e dio. inofensivo, enganado pelo criado, empolado e vo como a sua poesia, mas tambm uma vtima desajeitada das circunstncias que contra ele se conjuram (ces, gatos etc.) e das suas fantasias. As descries que ambos os moos fazem de seus amos assemelham-se, repetem-se, definindo um tipo. E quando Aires Rosado comea a sua atuao, Ordonho comenta: Otro mi amo tenemos. Alguns do atributos usados pelos criados so: cesto (ignorante) e badajo (estpido) ditos por Ordonho; asno pelado e no tem um siso por um nabo ditos por Apario.Em alguns momentos as falas de Apario esto assinaladas com a indicao passo, que as marca como apartes, em alguns pontos do texto existem falas do criado que no apresentam tal marca, mas que parecem tratar-se a apartes porque no h uma resposta de outros personagens para tais falas como Oh Jesu! que agastamento! (208) ou E ele no tem meo po... (218).Existem elementos no texto que apontam para a comicidade do mesmo como aostentao de uma genealogia burlesca ou mesmo de uma antigenealogia, as relaes de engano entre amo e criado, a apresentao de fome como mbil de inveno de estratagemas pelos menos poderosos, o contraste entre misria real e exibio de uma aparncia enganosa.Gil Vicente escreve em um perodo de transio quando pensamos na concepo do teatro, Quem tem farelos? pode ser considerada uma obra de transio da prpria obra do poeta. Trata-se ainda de um texto medieval pela sua estrutura, mesmo estando cheio de elementos novos.