queiroz, maria izaura. o campesinato brasileiro

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COLEÇÃO ESTUDOS BRASILEIROS/3 CONSELHO ORIENTADOR JOSÉ MARQUES DE MELO EGON SCHADEN LUIZ BELTRÃO FICHA CATALOGR.U'IC\ (Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte do Sinàicato Nacional dos Editores de Livros, GB) Queiroz, Maria Isaura Pereira de Q45c O campesinato brasileiro: ensaios sobre civili- i3-0318 zação e grupos nisticos no Brasil [por[ Maria Isaura Pereira de Queiroz. Petrópolis, Vozes 1973 242p. 19cm. (Estudos brasileiros, 3) Bibliografia. l. Sociologia rural - Brasil. 2. Folclore bra- sileiro - Aspectos religiosos. 3. Igreja católica no Brasil. I. Titulo. II. Série. o CDD - 301.350981 398.4 282.81 CDU - 301.185(81) 398:282(81)

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UEIROZ, Maria Izaura. O Campesinato Brasileiro

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Page 1: QUEIROZ, Maria Izaura. O Campesinato Brasileiro

COLEÇÃO

ESTUDOS BRASILEIROS/3

CONSELHO ORIENTADOR

JOSÉ MARQUES DE MELO EGON SCHADEN LUIZ BELTRÃO

FICHA CATALOGR.U'IC\

(Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte do Sinàicato Nacional dos Editores de Livros, GB)

Queiroz, Maria Isaura Pereira de Q45c O campesinato brasileiro: ensaios sobre civili-

i3-0318

zação e grupos nisticos no Brasil [por[ Maria Isaura Pereira de Queiroz. Petrópolis, Vozes

1973 242p. 19cm. (Estudos brasileiros, 3)

Bibliografia.

l. Sociologia rural - Brasil. 2. Folclore bra­sileiro - Aspectos religiosos. 3. Igreja católica no Brasil. I. Titulo. II. Série.

o CDD - 301.350981

398.4 282.81

CDU - 301.185(81) 398:282(81)

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O CAMPESINA fO BRASILEIRO

ENSAIOS SOBRE CIVILIZACÃO

E GRUPOS RÚSTICOS NO BRASIL

MARIA ISAURA PEREIRA DE QUEIROZ

2' edição

EDITORA VOZES L TOA.

Petrópolis 1976

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1 O SITIANTE TRADICIONAL

BRASILEIRO E O PROBLEMA DO CAMPESINATO

DESDE FINS do século passado, o meio rural brasileiro tornou-se objeto de estudo, devido à curiosidade

que despertava entre os citadinos, admirados de que se conservassem no interior estilos de vida que tinham desaparecido das cidades grandes. O folclore, os cos­tumes, atraíram a atenção de um estudioso como Sylvio Romero'; pouco depois, a tragédia sangrenta de Canudos inspirava a Euclides da Cunha a epopéia dos "Sertões" e propunha as primeiras hipóteses explicativas sobre a conservação de modos de ser que pareciam inteiramente, desligados daqueles que se observava nas áreas urba71

nas.' Apoiadas nas teorias da época, as hipóteses ga­nharam foros de explicação definitiva, e constituíram daí por diante as coordenadas dentro das quais os fenômenos do mundo rural brasileiro passaram a ser observados. Isto - é, estes foramvÍStos ___ sempre- -afrãvês de interpretações que agiam como limitadores das ob­servações e das conclusões.

Uma_ d~ª _ _l!!~~~R~e~ªç_Q~~--==- de que uma nociva mes­tiçagem retardava o progresso do povo brasileiro, uma vez que o mestiço era tido como racial e fisicamente desequilibrado, - não resistiu aos estudos efetuados dentro e fora do Brasil, pouco a pouco foi sendo des­truída. Os crimes terríveis cometidos pelos nazistas,

' Romero, Sylvio - 1883, 1888. ' Cu;iha, Euclides da - 1936.

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indivíduos de "raça pura", muito contribuíram para pôr em xeque preconceitos raciais que se voltavam não apenas contra o mulato e o mestiço, mas também contra negros, contra judeus e contra outras minorias étnicas. Assim, a explicação de que o meio rural brasileiro era atrasado e conser_Y-ªYª ço~tumes arcaicos porque povoado de mestiçQ!'>. inãptos a uma evo-lução socTo:econ.Õmfrã~ nãü - en-êontrou mais base de sustentação em teorias científicas.

A segunda interpretação dada por Euclides da Cunha, que ele apresentava como fruto de sua observação di­reta e não como result:mte de teorias existentes, era a do isolamento das populações do interioL...do país, em contraste com as do litoral. Se no fundo das províncias brasileiras persistiam mores e maneiras de ser que re­montavam à época colonial, era porque aquela gente se tinha mantido ilhada em suas glebas, separada das cidades da costa, nas quais tinha IL~gar o progresso. O

:>:Brasil não era cortado por estradas. Cada povoado, ;; cada grupo de vizinhança estava separado de outro · semelhante por lêguas de aesertos; voltados sobre si mesmos, giravam em círculo, reproauzindo décadas após décadas os mesmos modos de vida dos primeiros colo­nizadores da região.

A grande marcha que tiveram de percorrer os exér­citos em demanda de Canudos, a paisager: 1 inóspita do Sertão seco, a falta de habitantes, que haviam fugido para o interior por serem adeptos do Conselheiro, ou tinham demandado o litoral, temerósos da luta que se desenrolava, levavam o grande escritor patrício a pensar que aquela terra era quase desabitada. E isso apesar de reconrecer que se tratava de uma área de povoa­mento antigo no Brasil, onde este era também muito denso; e isso apesar de registrar que a localização de Canudos, excelente principalmente do ponto de vista comercial, na encruzilhada de vários caminhos, tornava o burgo um ponto de passagem obrigatória para quem, da costa, buscava paragens longínquas do interior. Ape­sar de Euclides da Cunha reconhecer explicitamente

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estes pontos, ainda assim predominou sua sensibilidade, diante da paisagem, sobre o raciocínio diante dos fatos; criou então a lenda do isolamento das populações ca­boclas, que perdura até hoje como explicação aceita sem maiores críticas por parte dos estudiosos, ou melhor, passando a constituir o primeiro dado que se constata, quando se empreende a análise de um grupo rural tra­uicional. E ninguém procurou definir o que, significa "distância" ou "isolamento" em termos de vida cabocla real ou da maneira de pensar dos indivíEl-uos que a essa vida estão ligados.

Em seguida aos trabalhos de Euclides da Cunha, outro autor marcou época também - Oliveira Vianna, descrevendo e interpretando as Populações Meridionais do Brasil. • Segundo Euclides da Cunha, nas fazendas de gado não havia distinção social nítida entre fazen­deiros e vaqueiros, quando habitando no mesmo local; seja qual for a posição social, seu gênero de vida é semelhante. A diferenciação se estabelece quando há uma distância geográfica de permeio, e o fazendeiro, habi­tando a cidade, é um absenteísta em relação ao campo. Desaparecida a distância geográfica, a distância social diminui e pode se tornar mesmo imperceptível, às vezes.

As observações de Oliveira Vianna, no sul do país, mostram o contrário. Encontrou nas grandes propriedades rurais grande distância social entre os aristocráticos fa­zendeiros e os trabalhadores da gleba, fossem escravos ou não. Entre estes dois estratos, a comunicação é praticamen­te inexistente; embora complementares e indispensáveis um ao outro, estão estritamente separados. Segundo Oliveira Vianna, raízes biológicas explicariam também esta dis­tinção fundamental. Entre os dois estratos, não exis­tiriam camadas intermediárias; os pobres caipiras livres que habitam fora da propriedade não se distinguem dos trabalhadores da fazenda senão por uma miséria ainda' maior, uma vez que lhes falta o apoio paternal do fa­zendeiro. Além disso, trata-se de população preguiçosa

' Oli\'eira \'ianna - 1920, 1923.

,/ ·-./ .-··. 9

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~ vadia, inaprovcitáveLpf!.GLML trabalh(} regular,por isso mesmo que é de origem mestiça; ~mente quando domi­nada por uma autm idade que se lhe imponha - como: é o caso do fazendeiro - tais indivíduos podem chegar; a produzir. Novamente reaparece em Oliveira Vianna a interpretação biológica, explicativa do atraso caboclo. Com o correr do tempo, porém, esta base biológica foi desaparecendo; as observações sócio-culturais persistiram todavia como interpretação válida para toda a sociedade rural brasileira.

A obra sedutora de Gilberto Freyre ·, esteada em vasta e erudit.r-bibliog1 afia, tão cabalmente documentada, pare­ceu trazer novas provas de que a paisagem social do meio rural brasileiro se partilhava tão-somente entre Casa Grande e Senzala. Esta dicotomia mais tarde se trans-

1 ! portou para as cidades, separando radicalmente Sobrados

e Mocambos. A camada intermediária continuava a não -existir, do ponto de vista sócio-econômico. Do ponto de

vista étnico, o mulato e o mestiço são reconhecidos como intermediários; porém do ponto de vi.iliL.Hnlrn soJru!Jlte._ Gilberto Freyre observa com muita propriedade que am­bos se incorporam ora às camadas superiores, ora às camadas inferiores, conforme as conjunturas e vicissitu­des de sua formação profissional e de sua instrução. Um dos melhores capítulos da obra é sem dúvida o que trata da ascensão social do mulato através da instrução. Com os trabalhem de Gilberto Freyre, a interpretação racial parece relegada inteiramente a ~egundo plano. Mas a existência de uma camada social intermediária, que apa­recera na obra de Euclides da Cunha e que desaparecera, porém, do cenário dos estudiosos brasileiros desde as explicações de Oliveira Vianna, continuava não sendo reconhecida. _ _No cmtaflto, qaanao se passa dos estudos sócio-an­tropológicos para outros setores das Humanidades, a existência dessa população que, no campo, não era nem senhor e nem escravo, não era grande fazendeiro mas também não era trabalhador sem terra, avultava. O cai-

' freyre, Gilberto - 1933, 1936.

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pira, o tabaréu, o caboclo figuravam nas narrativas fol­clóricas e eram descritos por escritores. Assim Monteiro Lobato dava vida ao extraoràiriãrlo Sítio do Picapau Amarelo, em que vivem uma velha sitiante, D. Benta, e seus dois netos•, - numa existência que nada tinha a ver com a de fazendeiros mas que era uma continuação quase dos matutos que Martins Pena fizera viver em seu teatro, quase um século antes.• Bitolados pelas explica­\'Ões existentes, os estudiosos do meio rural brasileiro, mal saíam ao campo, verificavam a existência de apenas duas camadas na sociedade, e constatavam imediatamente o isolamento dos grupos campesinos. Repeliam assim as

1 evidências que lhes eram trazidas em quantidade por outras fontes - memorialistas, romancistas, folcloristas - e não tinham o cuidado - que é a base de toda a ciência - de pôr em dúvida o que lhes parecia óbvio.

Ca_[g_Era_q() Jr~. foi talvez o primeiro a dar um lugar na paisagem soé1al do meio rural brasileiro a esta camad~ que não podia ser incluída nem entre os fazendeiros nem entre os trabalhadores sem terra.• Mais tarde, Jacques Lambert chama a atenção para esta camada social, que com suas roças policultoras assegura o abastecimento de gêneros à maioria da população: "ao passo que as grandes culturas de exportação cobrem apenas milhão e meio de hectares, as culturas de víveres ocupam qua­t<Jrze milhões", escrevia ele em 1959. Por isso o Brasil devia ser co.nsiderado um país preponderantemente po­licultor; a roça do sitiante "fornece alimentação aos :-;essenta milhões de habitantes do Brasil e emprega a maioria dos homens do campo".• Em seu excelente tra­balho sobre o NDrdeste, Manoel Cor~a de Andrade\

.. ··-- -----··-··". -· .

mostra, à saciedade, que existiram ali sitiantes por toda a parte. ' 1 ndica também como o aparecimento. de novas( produções, na mesma área ou em regiões vizinhas, pode muitas vezes determinar o aparecimento de uma nova

' !llo~telro Lobato - 1939, 1946. ' .\lartins Pena - 1956. ' Prado Jr., Calo - 1963. • Lambert, Jacques - 1959, p. 142. ' An<.lrade, Manoel Corrêa de - 1963.

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camada social, diferenciada das que anteriormente exis­tiam; assim, a risicultura com suas transformações mo­difica a estratificação social de certas áreas.

Quem, porém, definiu com perfeita clareza e estudou os pequenos lavradores em São Paulo foi Nice Lecocq MUiier, num trabalho hoje clássico na literatura sobre o meio rural brasileiro. Segundo a autora, os sitiantes são responsáveis pelas plantações que cultivam; trabalham direta e pessoalmente a terra com o auxílio de sua fa­mília e, ocasionalmente, com um ou dois assalariados. 'º Esta definição não exprime a relação do homem com a terra, podendo ele ser proprietário ou não, desde que seja o responsável pelo cultivo. Exprime, isso sim, trabalho do homem sobre a terra: trabalho independente, eco­nomia doméstica; estas duas características estão em geral acompanhadas de uma terceira - são plantações efetuadas com técnicas rudimentares. 11 Outra caracterís­tica dos sitiantes é sua mobilidade espacial - característi­cas que conservam desde os tempos coloniais. Utilizando técnicas rudimentares, empregando queimadas, viam-se constrangidos a abandonar a terra "cansada" e partir para mais longe, depois de certo tempo. A pobreza de seu gênero de vida lhes facilitava a partida; a casa de pau-a-pique e· de sopapo era facilmente abandonada e reconstruída mais adiante, os pobres utensílios e objetos não eram difíceis de carregar: rusticidade e precariedade de vida sempre os distinguiram.

Ninguém melhor do que Anton_io Cândido descreveu suas condições específicas de existência. u Mostrou An­tonio Cândido como era ilusória a primeira impressão de isolamento dos caipiras, morando cada família em suas terras; na verdade, estavam presos a uma orga­nização de vizinhanç<1, o "bairro rural", de contornos suficientemente consistentes para dar aos habitantes a noção de lhes pertencer, e ·levando-os a distingui-lo dos

·:2fLecocq MUiier, Nice - 1951, pp. 27 a 30. i. "Atualmente existem no Estado de São Paulo Inúmeras pequenas plantações

em que se emprega a mão-de-obra famlllar e que no entanto utllizam técnicas modernas: horticulturas, floriculturas, fruticulturas. Formou-se assim uma cate­goria de sitiantes modernos. Pereira de Queiroz - 1972.

'" Antonio Cândido - 1971.

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demais bairros da zona; este sentimento de localidade era primordial na vida caipira, determinando a configu­ração do grupo, tanto no espaço geográfico quanto no espaço social. Cada "bairro" se compunha de famílias conjugais autônomas, autárquicas, lavrando independente­mente suas roças quando e como queriam, isto é, cada bairro se compunha de famílias de sitiantes, tais com,Q__ os havia definido Nice Lecocq Müller; centralizado por uma capela e uma vendinha, servia este núcleo de centro 1

de reunião para a vizinhança dispersa. Configuração itr-"'-, tcrmediária entre a família, de um lado, e de outro lado o arraial, ou a vila, ou a cidadezinha, o bairro apresenta as formas mais elementares de sociabilidade da vida rústica. Relativamente autônomos, não estão no entanto os bairros desgarrados uns dos outros; pelo contrário, congregam-se numa zona e conhecem que assim estão dispostos. Não estão, pois, isolados; integram-se em con­juntos que se alargam em diferentes graus: a) relações dos bairros entre si; b) relações com a região; e) re­lações com o exterior (isto é, com tudo que ultrapasse; a região).

Dentro desta mesma linha, pudemos nós mesmo levar mais adiante as pesquisas e mostrar que realmente 1J

isolamento do caipira, do tabaréu, do caiçara, enfim de todos os habitantes do meio rural que não sejam nem fazendeiros, nem trabalhadores sem terra, é realmente uma ilusão. " Pudemos verificar que os sitiantes não ficam restritos ao âmbito do município nem às únicas relações com a sede municipal, de tal maneira que co­nhecem várias regiões e várias realidades sócio-econô­micas. O que vimos, portanto, foi que os sitiantes estavam cm constante circulação dentro de sua região, solicitados a sair de seus bairros ora pelas atividades econômicas, ora pelas práticas religiosas, e servindo-se de todos os pretextos para não ficarem isolados e trancados dentr') de seu grupo de vizinhança. Verificou-se que quando todos os outros fatores que arrancam o sitiante à sua vida no bairro estão praticamente desaparecidos - quando

'·' l'crcira Jc Quoiroi - 19i2.

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não registra seus filhos nem casa legalmente; quando não vota por ser analfabeto; quando comparece somente às festas religiosas de seu bairro e não freqüenta ro­marias ", - ainda assim a economia o força a sair do círculo restrito em que vive, mesmo que seja para vender o excedente de um produto qualquer na sede municipal.

'Entra, pois, sempre em contato com uma realidade sócio­econômica diferente da sua. Assim, a ~conomia constitui o fator mais importante para arrancar os sitiantes de seu isolamento.

Todos estes trabalhos mostraram, pois, que ao con­trário do que antigamente se pensava, havia pelo menos mais uma camada social rural, além da dos fazendeiros e da mão-de-obra sem terra - camada intermediária formada pelos sitiantes. Esta camada existiu sempre, desde o início da colonização do país, e seria interessante rebuscar nos relatos de viajantes e de memorialistas, em todos os documentos enfim, dados que revelem como vivia, quais os seus caracteres. Por outro lado, não se trata de gente isolada, mas, pelo contrário, de gente que se movimenta em sua vida quotidiana, conhecendo outros ambientes e outras configurações sociais diferentes da sua. Qual a classificação que convém a estes sitiantes, entre os tipos de agricultores e de lavradores já defi­nidos pela moderna Sociologia Rural? De acordo com as definições de Redfield ... , retomadas na França por Henri Mendras 'º, o sitiante tradicional brasileiro se clas­sificaria como um camponês.

Que é um camponês? Duas orientações principais são seguidas nos modernos estudos sobre conjuntos campo­neses, ou sobre o campesinato. Uma, histórica, em que a definição tem lugar a partir da gênese deles, podendo­se citar como exemplo os trabalhos do historiador francês Marc Bloch sobre a história rural de seu país. A segunda, sócio-antropológica, em que se procura definir tais con-

" Muitas vezes a pobreza e a decadência Impedem os sitiantes de participar destas práticas religiosas que tanto prezam. Ver Pereira de Queiroz e Garcia - 1968, b).

,. Redfleld, Robert - 1956, 1964. ,. Mendras, Henri - 1965.

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juntos dentro do rnntexto sócio-econômico e antropoló­gico atual, relacionando-se com diferentes tipos sociais atuais; foi a orientação de Robert Redfield, antrop{J!ogo norte-americano. Examinando estas duas orientações, cmnpreende-se melhor a realidade que o termo "campcsi­nato" procura exprimir.

A França foi durante muito tempo um país em que <JS camponeses representaram importante papel na eco­nomia e na demografia, chegando a ser caracterizada como habitada primordialmente por camponeses. .Marc Bloch admite que, nas épocas mais antigas, eram comuns os grandes conjuntos de parentelas ou de linhagens, cnmpostas de várias gerações de muitas famílias cola­terais, localizadas na mesma vizinhança. Cada família­mcmbro cultivava individualmente sua parcela para a subsistência, exercendo assim a policultura; e o excedente era vendido ou tro.:adu, se a ocasião se apresentasse, a fim de se obter outros produtos de que se necessitasse. As parcelas cultivadas passavam de pais a filhos. No entanto, o que caracteriza a sociedade camponesa fran­cesa, diz Marc Bloch ", é sua relação com a instituição senhorial, sem a qual não seria possível compreender nem a primeira nem a segunda: esquecer um dos dois tcrmos do binômio seria deformar de antemão a reali­dade. Embora existissem na França, desde muito tempo, comunidades campesinas formadas de "famílias exten­sas" ou de linhagens, na grande maioria do país, depois da queda do Império Romano, o scnhoriato surgiu como elemento da maior importância para definir o carnpesinato."

A origem do senhoria to é dupla; a própria comuni­dade camponesa o gerou muitas vezes, enquanto noutras

" Rloch, !1\arc - 1960. 111 O termo "carnpesinato" é de origem recente em portugu~s. e vem sendo

empregado principalmente no domínio das Ciências Sociais para significar o conjunto de camponeses; e um substantivo coletivo. O aparecimento do termo rrovavelmente se prendeu ao desenvolvimento de estudos sobre os indivíduos rusticos, tanto em língua francesa quanto Inglesa e traduzidos para o português, tendo sido necessário forjar uma palavra que significasse "paysannerie" e .. peasantry", ambos significando a condição de -ser campon~s e o conjunto de camponeses (Petit Larousse flfustré; The Oxford Dictionary). Deriva.· do adjetivo 11 campesino", que é sinônimo de campestre, Je rústico. Os substantl',.:.os correlatos são camponês e campônio, isto é, habitante do campo, aldeao, individuo rústico.

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vezes se constituiu num prolongamento das grandes pro­priedades que datavam do Império Romano. Nalgumas aldeias, um membro do grupo se destacou do conjunto, ou por suas qualidades pessoais, ou por ser mais rico, sendo rodeado por seguidore:; que lhe emprestaram apoio e o impuseram aos demais; não sendo a comunidade camponesa perfeitamente igualitária, do ponto de vista sócio-econômico; existindo no seu interior, tanto dife­renças de recursos quanto diferenças de prestígio, esta heterogeneidade facilitava o aparecimento de um tipo de senhoriato de origem puramente camponesa. O outro tipo era de origem mais antiga. Nos últimos tempos do Im­pério Romano, coexistiam em muitas propriedades gau­lesas duas espécies de trabalhadores: o escravo, "animal doméstico" que o senhor alimenta, veste e abriga, cujo tempo está integralmente ao serviço de senhor; e o "co­lono", homem livre ao qual foi entregue uma parcela que ele trabalha por sua própria conta, para seu sustento e da família, pagando ao senhor o aluguel da terra com parte da colheita. Rareando cada vez mais o braço escravo, devido a circunstâncias sócio-econômicas da época, foram aumentando nas propriedades as parcelas arrendadas a "colonos", que também, cada vez mais, foram sendo denominadas "parceiros". Segundo Marc Bloch, "na economia de domínio senhorial, as parcelas arrendadas constituíam antes de mais nada um reserva­tório de mão-de-obra para a cultura de domínio senho­rial, para os transportes, para as ocupações artesanais". "Colonos" e parceiros "deviam ao senhor dias de trabalho que, conforme o caso, eram dedicados à lavoura, ao transporte, à construção, ao artesanato". As terras arren­dadas passavam também de pais a filhos, e leis costu­meiras defendiani a posse destes parceiros. À medida que desaparecia a escravatura, que deixa de existir por volta do século X, também o senhor vai abandonando o cultivo de seu domínio, que em parte continuava em suas mãos; o domínio todo fica partilhado entre parceiros,

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que não dão mais serviço ao senhor, porém pagam sem­pre a este o aluguel da terra. '°

Comunidades livres de pequenos lavradores indepen­dentes; domínios senhoriais originados da evolução in­terna de comunidades camponesas; domínios senhoriais que passaram por uma transformação de trabalho, da escravatura para a parceria; em todos estes tipos de <lrganização sócio-econômica os caracteres que dinstin­guem o campesinato são semelhantes. O habitat mais cumum é em aldeias; em certas zonas, porém, existe u habitat disperso formando grupos de vizinhança. Num e 1wutro caso, as comunidades desenvolveram todo um sis­tema de direitos coletivos sobre pastos, áreas florestais, rios, lagoas, que são exercidos por todos os membros, e que os camponeses defendem zelosamente contra o :-;cnhor, o qual por sua vez busca por todos os meios anulá-los. Esta luta incipiente desenvolve rigorosa soli­dariedade no interior da comunidade camponesa, nesse período, mas solidariedade que paradoxalmente não ul­trapassa os limites do domínio, da aldeia, ou do grupJ de vizinhança; eles se distinguem com nitidez uns dos 1lutros, às vezes colaborando em tarefas que os unem, porém, no mais das vezes, estão separados por rivalida- '-1

eles e disputas. Assim, apesar do nível e gênero de vida / ser sempre semelhantes, não se verifica a formação de/ um se1Rli11ento ou de uma consciência de classe unindo( os diversos grupos.

Muito embora esta consciência não existisse como um tato social, naquela época, o campesinato francês no seu inicio se define sociologicamente em oposição ao senho­riato. Isto é, efetuando-se a comparação ao nível da so­ciedade global, só se pode compreender o campesinat°" como uma camada subordinada, em relação a uma ca­lllJcla superior, que é a camada senhorial. Seus laços c:fc tkpendência para com esta são fundamentais, determi­nando uma exploração do homem pelo homem de que não conseguem os camponeses se livrar, ~ que só vai

" Blocll, Marc - 1960.

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se extinguindo com a paulatina modificação das estru­turas sócio-econfünicas francesas.

A complexidade cada vez maior da sociedade global francesa, o empobrecimento dos senhores, fazem com que a dependência vá se extinguindo. Por('lll seu desapareci­mento determina ainJa uma últillla exploração: as fran­quias não. são 111era111cnte concedidas pdos senhores, ou destes arrancadas por meio de luta; são vendidas às vezes família P'lí familia, outras vezes aldeia por aldeia, numa tentativa da parte do scnhoriatq de melhorar suas finanças. O desaparecimento cios laços de dependência de homem a homem não significou, porém, que a camada camponesa francesa ascendesse a uma posição social mais elevada dentro d a sociedade global;. permaneceu em po­sição subordinada, nãq mais com relação a um senhoi·, e sim com relaç:i() a um conjunto de camadas sociais no qual se insere corno inferior."

Os caracteres do campcsinato continuam os mesmo;;, conforme mostram diversos autores. A família constitui sempre a unidade social de trabalho e de exploração da propriedade, sendo que os produtos, regra geral, satis­fazem às necessidades essenciais da vicia; as tarefas do trabalho se dividem entre todos os membros do grupo doméstico, cm função das faculdades de cada um, for­mando assim uma equipe de trabalho. A família assegura a subsistência de todos os membros; a combinação fa­mília-empresa agrírnla faz com que se estabeleça uma comunidade de posse e uma comunidade de consumo, além da comunidade de trabalho, sob a autoridade de um membro, que é o pai de família. Comunidade autár­quica, a família camponesa é também em geral autori­tária. Por outro lado, o grupo econômko autônomo cons­tituído pela família camponesa tem tendência a urna forte centralização, procmando se perpetuar por meío de uma ligaç.'.io \·ig1Jrosa com seus mdoc; de subsistência (isto é, com o patrimunio a ser transmitido aos descen­dentes), e para tanto negando aos membros o direito de dela se apartar para criar situações sócio-econômicns

'º Bloch, Marc - 19Gü.

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distintas. Sobre estes núcleos autônomos, o grupo de \·ízin!Jança ou a aldt'ia exerceu seu controle e, cm certa 1m·dida, um poder de coordenação, devido à existência, 11<:ste segundo caso. de serviços e de direitos rnletivos SL'llH:lhantcs para todL)S os membros da comunidade mai'l a111pla."

.\pesar desta unifc1rn1idade aparente, distinguem-se di­' (·rsos níveis e divisões na camada camponesa, que nunca t11i nem homogênea, nem igualitária, como erroneamente t11i considerada por alguns historiadores; mesmo durante a 1 daue /\\(·e! ia, as cl iferenças de nível tiveram existência rL"<II. ü tamanho das áreas cultivadas sempre variou muito ,, 111 furme as famílias. assim como a quantidade de braços 1':11 a cultivá-las; estas diferenças fundamentais davam l11gar a diferenças no paga111ento dos foros e dos arren­d:1111cntos. A maior ou menor abastança dos camponeses, q11L'r fossem proprie:,írios, quer arrendatários, se exprimiu ";11pre na posse ele ani111ais de lavoura e de transporte 1 il•>is. cavalos, jumen:os, etc.). Assim, diferenças de ta­n1:111llí> das áreas, diferenças de recursos monetários, dc­IL'rminaram a existência de três níveis diversamente colo­L:id<>s de um ponto de vista hierárquico: os camponeses ric• >s, ott "lavradores", dotados de animais para a laÍJuta d:1 tnra; os camponeses remediados ou "braçais", utili-1:111d'> 1ls braços ela familia como força de trabalho; os ··i11rnaleiros", ou trabalhadores sem terra, que muitas \ l' zcs eram alimentados, abrigados e vestidos pelo patrão, rl'cellcndo ainda pequeníssimo salário ("jornada" ou "diá­ria"). Estes últimos são em pequena quantidade. A grande divis:ío elas ca1iiadas segue ern geral a linha dos recur­s<1s econl>rnicos, separando os camponeses que dispunham dl' animais de labor, daqueles que trabalhavam unica­r11ente com o braço doméstico. A separação não era, pois, :i posse ou não da terra - muitas vezes "o lavrador" n;1 um arrendatário" - e sim a posse e a manutenção d"s animais e dos instrumentos aratórios.

Uma vez terminada a fase da dominação senhoriato­,a111pcsinafo, dentro da própria camada camponesa os

"' ,\\cnuras, Henri - 19ô5.

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ricos lavradores tomam o lugar dos senhores,· nas rela­ções para com os camponeses "braçais". A posse de ani­mais e de instrumentos é um dos primeiros fatores desta nova fase de subordinação: dententor de todos os ins­trumentos aratórios, o rico lavrador alugava-os a quem não os pudesse adquirir, exigindo como preço do aluguel parte da colheita. O mesmo acontece com a terra, ou qualquer outro bem. Assim, os lavradores mais abastados e mais hábeis tornam-se cada vez mais ricos, detendo o poder econômico com relação aos "braçais" e aos sem terra. Quando novas descobertas técnicas são feitas na agricultura, estes camponeses abastados têm possibilida­des de delas se valer, para aumentar ainda mais sua produção. A chamada Revolução Agrária, que antecede a Revolução Industrial, pois data do início do século XVIII .. , possibilita a difusão de empresas agrárias em moldes capitalistas, isto é, cujo objetivo é a produção e a venda em primeiro lugar, destacando-se pequena parte para o sustento do proprietário - objetivo que leva à decadência a policultura, nestas propriedades, substituída pela monocultura.

Assim, a partir do século XVIII, empresas agrárias de tipo capitalista coexistem na França (e na Europa tam­bém, em geral) com unidades agrárias camponesas. Com o passar do tempo, as primeiras vão tendendo a aumen­tar, onde quer que existam ricos lavradores; nas regiões de agricultura pobre, persistem as unidades camponesas. Uma outra transformação se acentua com a Revolução Francesa: a subordinação do campesinato à sociedade urbana. As cidades, com seu desenvolvimento, desempe­nham cada vez mais funções de administração e de orga­nização para com a zona rural. Durante a Revolução Fran­cesa, a desapropriação dos bens da nobreza e do cloro pos­sibilitou, de um lado, a venda de terras a burgueses, que sem abandonar sua posição de citadinos, passam também a possuir áreas agrícolas que alugam ou arrendam a cam­poneses; e de outro lado a multiplicação dos pequenos proprietários camponeses, anteriormente sem terra ou

"" Augé - Laribé, Michel - 1955.

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C"lll peque11inus lotes. gue podem se tornar compradores de paredas maiores. A integra<;ão do campesinato com a 1n .. dcrna socil·dade mhana se Já então de duas maneiras: tnr11a11d1J os camponeses fornecedores da cidade, onde \j11 \'Cnder o excedente de suas colheitas, mas tamh(·m d.:rndo-ll!cs indivídu11~ do meio urbano como "patrão".

Embora se transforme a sociedade francesa (e a euro­p(·ia), o campesina to conserva-se sempre dentro da so­L'iL·dade global em posição de inferioridade. No decorrer d11 s(·culo XIX, o antigo conjunto dos lavradores abasta­d· is cada vez mais se modifica, passando a agricultores ;, !L'sta de empreendimentos de tipo capitalista, de tal 111 d1i que a camada camponesa passa também cada vez 111:1is a se caracterizar pelas pequenas unidades policul­t11ras que utilizam o braço familiar para o trabalho. As c'"lilllllÍdades campesi ias (aldeias, grupos de vizinhança) p:1:;san1 a ser comandadas por elementos citadinos (pro­kssor prima no, v1gano, funcionários públicos, etc.). O carátu de subordinação sócio-econômica e política do carnpesinato se mantém, apesar das transformações da sllciedade global; pode-se dizer, pois, que nem no passa­do. nem no presente. chega ele a alcançar poder político 1· prestígio.

Constantemente na posição de camada inferior, nãll 1,·;1giu u campesinato jamais contra esta situação? Os 111ovimentos de rebelião existiram na Europa Medieval, sohretuúo sob a forma de movimentos religiosos; foram 111:iis numerosos e englobaram maior número de adeptos d11 que os movimentos leigos. Estes tornaram em geral a f, 1rrna Je revolta de comunidades contra o senhor do d11mínio senhorial, não se estendendo para além de uma I• icalidaúe ou de uma zona. Os movimentos religiosos, por(·m, algumas vezes tomaram conta de muitas locali­d:ides, embora também nunca chegassem a reunir os r;1111puneses de uma vasta região; isto é, embora mais :i111plos do que os movimentos leigos, permaneceram tam-1i.: 111 circunscritos no espaço. Por outro lado, raramente t·sll's movimentos. leigos ou religiosos, foram revolucio-11 :'1 ri• is no sentido ele pretenderem destruir a estrutura

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social existente, substituindo-a por outra. Seu objetivo era mudar as pessoas que ocupavam os postos hierárqui­cos, conservando porém as hierarquias. Assim vários mo­vimentos religiosos alçam aos postos nobiliárquicos mais elevados os adeptos do líder, conservando no entanto a mesma disposição hierárquica anterior. Estes movimentos - entre os quais os mais interessantes são os chamados "messiânicos" - se apresentam pois com caracteres re­formistas. Pouco estudados ainda, não se chega a per­ceber porquç não sublevaram os habitantes de vastas regiões." ,, '

) A segunda orientação nos estudos sobre o campesinato ié aquela em que a definição deste se prende à sua posi-ção com relação a tipos diferentes de sociedades. Robert Redfield é o autor que melhor exprime esta orientação.,. Em seus estudos na península do Yucatan, verificou a coexistência de três tipos diversos de sociedade. Uma, na qual a cidade é inexistente; outra, na qual cidade. e meio rural coexistem, porém em situação mais ou menos equi­librada; a terceira, na qual a cidade adquire grande im­portância, eclipsando o meio rural. E' na segunda fase que se incluem os camponeses. O que os define, parl Redfield, é o binômio cidade-campo, porém uma cidade que não ultrapassou ceffÕ número de habitantes, que não se tornou ainda uma metrópole; pois neste último caso, age também como fator de transformação das unidades familiares de trabalho agrícola em empresas de tipo ca­pitalista. Para Redfield, sem cidade não há "civiliza ão". Assim, as sociedades formadá :- - :e-:--ãe tribos, isto é, de unidades independentes e auto-suficientes, não são civilizadas. As cidades, q1:1e podem ter de 700 a 20.000 habitantes, instituem a tributação para com os grupos rurais, e se lhes impõem como núcleos de centralização e de administração. Nelas são encontradas a elite admi­nistrativa, as profissões liberais, os sacerdotes, os mer­cadores, os artesãos especializados, superiores aos cam­poneses.

u Pereira de Queiroz - 1965. •• Redlleld, Robert - 1956, 1964

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A fim de abastecer estes indivíduos desligados do tra­balho da terra, a cidade exige o apoio econômico de uma área rural cada vez mais ampla, habitada por cámponeses. "Não havia camponeses antes das primeiras cidades, afir­ma Redfield, e os povos primitivos que sobrevivem e que não vivem em fução da cidade, não são camponeses'::__ A relação entre o camponês e a cidade é de complemen­tação econômica. O camponês traz à cidade os produtos que consome; por sua vez adquire na cidade produtos desta. Porém esta complementação econômica se subor­dina a uma dominação política: a cidade age como um poder central, existindo no povoado ou no grupo de vi­zinhança um representante dela, que pode ser um cita­dino ali integrado ou um camponês que adquiriu conhe­cimentos citadinos ou, mesmo, líderes camponeses para tanto habilitados.

Redfield considera que o camponês se caracteriza por suas atitudes práticas e utilitárias com relação à natureza; por uma "valorização tão positiva do trabalho que o define não apenas produtivo do ponto de vista material, mas também como o cumprimento de uma ordem divina"; por sua maior preocupação com a segurança do que com a aventura; pela elevada valorização da procriação e dos filhos; pelo desejo de enriquecer; por noções éticas bási­cas, derivadas da junção da valorização do trabalho com a justiça social (isto é, pela consideração de que somente ns trabalhadores enriquecem, numa atitude muito próxi­ma da da formiga, na célebre fábula de La Fontaine). Subordinado à cidade, o camponês tem para com ela atitudes de manifesta ambigüidade:. reconhece sua pró­pria subordinação a ela e de certo modo a valoriza; porém também a encara de maneira negativa, como centro de difusão de erros e vícios. Assim, antagonismo e con­flito são comuns entre citadinos e camponeses: "as re­lações entre a gente da cidade e a gente do campo formam uma grande separação, uma das principais fron­teiras das relações humanas". Acha o camponês que a gente da cidade é uma gente "sem tradições nem reli-

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g1ao, inteiramente prosaica, astuta, improdutiva e que despreza profundamente o homem do campo"."'

O segundo dos tipos de sociedade definido por Red­f ield é assim aquele no qual, dentro de uma sociedade global, o campesinato, essencialmente votado às lides agrárias, constitui uma camada social inferior, submissa à camada urbana. Este campesinato é formado de uni­dades domésticas de produção, orientadas primeiramente para a subsistência d.1 família. Os instrumentos de tra­balho são rudimentares; o excedente da produção é ven­dido ou trocado em mercados locais. Sendo a produçfü) destas unidades familiares reduzida, não podem também as cidades ultrapassar certo volume de população, sob pena de miséria e fome. Para que as cidades possam crescer além de certo limite, é preciso que a organização da produção rural se transforme: desapareçam as uni­dades domésticas de produção policultora, e surjam em seu lugar as unidades empresariais, praticando a mono­cultura de abastecimento para o mercado urhano. Mas desde que isto se dê, rompe-se também o antigo equilíbrio entre campo e cidade, perdendo este cada vez mais seus habitantes, para uma cidade que cresce desmesurada­mente. E que pode crescer, pois o aumento do volume de produção não depende mais do aumento de braços hu­manos ou da força animal, e sim de aplicação de novos sistemas de cultivo, da utilização da força mecânica.

Poder-se-ia admitir que as análises de Robert Redfield, feitas a partir de uma experiência de pesquisa na penín­sula de Yucatan, são válidas para a América Latina em geral. No entanto, como o campesinato desta tem sido muito estudado, é inten:ssante lançar uma vista d'olhos por alguns textos representativos, verificando-se a seguir o que ocorre no Brasil. Na América Latina, Richard P. Schaedel encontra camponeses falando línguas diferentes, envergando trajes os mais variados, apresentando diver­sas colorações de pele, com traços físicos dissemelhantes, mas todo um conjunto de caracteres lhes são comuns. Praticam a policultura e a criação em pequena escala;

• Redfleld, Robert - 1956, 1964.

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são iletrados; sua tecnologia é pré-industrial; cultivam pequenas áreas, consagrando uma porção significativa da colheita para sua subsistência; utilizam mão-de-obra fa­miliar em suas plantações, e ocasionalmente poderão utilizar também algum trabalhador exterior à família, remunerando-o de variada maneira. "Embora estes cam­poneses possam ser pequenos produtores, e, ao mesnw tempo, parceiros, servos, arrendatários ou assalariados de outrem - atividades econômicas que exercem em tempo parcial - distinguem-se por possuir, no sentido de usu­fruir, uma parte da terra que cultivam, sendo então cha­mados minifundiários, camponeses, habitantes, parceiros, cjidatários, conforme as regiões".•• A família é a unidade econômica de base, e se insere num grupo de vizinhança, que pode ser uma configuração isolada, dotada de vida prélpria (as "comunidades indígenas" de vários países latino-americanos), ou se inserir numa unidade social mais vasta - o município - por meio da qual entra cm contato com a sociedade global, pois ali existem administração, serviços públicos, etc. Há casos em que a terra, sendo de boa qualidade ou muito abundante, o trabalho dos membros da família é suficiente para garan­tir-lhes integralmente o sustento. Quando tal não se dá, membros da família são forçados a procurar outras ati­vidades econômicas; eis por que muitas vezes os homens adultos se tornam trabalhadores itinerantes. Nos casos em que a extensão da terra é demasiada para poder ser toda ela explorada pela família, o excedente é em geral alugado sob a forma de parceria a outras famílias, que remuneram o proprietário com parte da colheita. Carac­terística essencial: a economia da família camponesa sen­do autárquica, podem as cidades desaparecer sem gran­des inconvenientes; o camponês sobrevive pois produz rara sua própria alimentação, para se vestir, constrói sua própria casa e assegura sua defesa. Assim, politica­mente dependente das cidades, para as quais é um su-

• Schaedel, Richard P. - 1967 - Veja-se que este autor afasta da definição •l< campon~s o "jornaleiro", Isto é, o trabalhador assalariado sem terras, que º' autores tranceses consideram como formando a camada inferior dentro do campesina to.

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bordinado, no entanto o campesinato pode facilmente manter sua independência econômica com relação a esta5.

No Brasil, durante muito tempo se negou a existência de uma camada camponesa; supunham os autores que, abolida a escravatura, durante a qual os escravos haviam desempenhado todos os trabalhos agrícolas, o trabalho assalariado ou então uma servidão disfarçada viera subs­tituí-Ia nas empresas rurais do tipo capitalista. Na ver­dade, houve em todos os tempos um campesinato livr~ brasileiro, coexistindo tanto com as fazendas monocul­toras, quanto com as fazendas de criação de gado e tendo a seu cargo a produção de abastecimento para estas empresas e para os povoados. Sua coexistência com as monoculturas da exportação e com as fazendas de· criar assumiu formas variadas. Não raro, o fazendeirn admitia em suas terras moradores que cultivavam para sua própria subsistência, pagando o aluguel da terra com parte da colheita e dando ainda dias de trabalho nas plantações do proprietário; constituíam assim viveiros de mão-de-obra. Nas fazendas de gado acontecia o mesmo. Porém estes moradores tinham por obrigação constituir uma espécie de "milícia" do criador de gade, defenden­do-o nas lutas de família, nas lutas pela posse da terra, nas lutas políticas, pois o trabalho com os rebanhos não exigia quantidade apreciável de mão-de-obra. "' Também havia nas zonas das grandes monoculturas e das f azen­das de gado, sitiantes independentes. Ocupavam as faixas de terra menos fértil, quando a zona era de monocultura, ou então os vales úmidos e as beiras dos rios, nas zonas secas de criação. Contribuíam para o abastecimento das fazendas em víveres e constituíam reservas de mão-de­obra para qualquer tipo de serviço. Sua subordinação aos plantadores e criadores de gado era característica. Foram estes seus protetores, padrinhos de seus filhos, seus ban­queiros, seus advogados, seus chefes políticos, isto é, seus elementos de ligação com a sociedade global, fatores. de sua integração nesta. A melhor maneira de caracterizá­Jos é como "clientela" dos fazendeiros e criadores de gado.

n Pereira de Queiroz - 1968, a).

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Embora suas relações com fazendeiros e criadores lem­brem a situação do camponês medieval descrita por Marc Bloch, cumpre não esquecer que fazendas de monocultura de exportação ou de gado não constituíram, nem mesmo no período colonial, feudos em economia autárquica e quase fechada. Constituíram desde o início empresas comerciais dominadas pelo propósito de lucro. Foram estabelecimentos típicos de uma sociedade capitalista comercial.

Nas regiões em que não existiram grandes fazendas e em que portanto, os sitiantes tradicionais constituíram os únicos produtores, formou-se entre eles uma hierarquia dos mais abastados aos mais pobres, em que o critério de diferenciação foi muito nitidamente o critério econô­mico. Os sitiantes mais abastados, possuidores de animais de transporte, açambarcavam a comercialização da pro­dução agrícola, uma vez que só eles poderiam transpor­tá-la para as zonas que dela necessitassem. Pois, dada a economia camponesa do local em que eram produzidos, não era necessária ali a troca ou a venda desses produtos, já que todos produziam a mesma coisa, e para se manter. Este relacionamento pe.Mste até hoje. Os sitiantes abasta-· dos impõem aos menos favorecidos os preços que bem entendem, e pouco a pouco passam de sitiantes a comer­ciantes. Não abandonam, porém, suas próprias planta­ções. Valem-se de sua maior disponibilidade econômica para aumentar seu patrimônio em terras, que loteiam entre parceiros. Alcançam assim um nível mais elevado do ponto de vista econômico, porém raramente modificam seu gênero de vida, que persiste muito semelhante ao de outros sitiantes. Do ponto de vista de prestígio, passam a constituir a "elite" local, e tornam-se chefetes políticos. Todavia, não podem competir com os fazendeiros mono­cultores ou os grandes criadores de gado de regiões vi­zinhas. Nas relações estabelecidas ao nível regional, per­manecem sempre em segundo plano com relação a estes.

A relação do camponês brasileiro com a terra foi sem­pre variada. A extensão de sua propriedade nunca foi homogênea, indo das propriedades de grande tamanho

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até os minifúndios - estes últimos em muito maior quan­tidade do que os primeiros. Além dos camponeses pro­prietários, existiram sempre os posseiros, localizados em terras devolutas ou em terras já apropriadas mas sem autorização do proprietário; os parceiros, pagando o alu­guel de terra com uma porcentagem da colheita ou o equivalente cm dinheiro; os arrendatários, cujo aluguel da terra é fixo, independentemente da quantidade que colhem; os moradores ou agregados, habitando nas pro­priedades monocultoras, porém cultivando nelas gêneros, com permissão do proprietário e dando em pagamento a este dias de serviço.

/Sempr-e- dependentes de uma camada supedor - fosse es.ta composta de fazendeiros, de criadores de gado, de comerciantes, de chefes políticos, de citadinos endinheira­dos - os camponeses esposavam-lhes as disputas e par­tilhavam-lhes as lutas. Integravam-se assim na sociedade global brasileira, porém sempre em posição de inferiori­dade, como camada desfavorecida do ponto de vista de prestígio e de poder. Sofriam mais do que quaisquer outros as conseqüências dos conflitos constantes, carac­terísticos da estrutura sócio-econômica brasileira tradicio­nal. Este traço, juntamente com a fluidez também carac­terística desta mesma estrutura, deram sempre lugar entre eles a um estado de anomia endêmico. As reações a este estado de coisas são em geral de tipo religioso: líderes sagrados surgem, cuja ação é restauradora da ordem perdida; sobrepondo-se aos chefes políticos locais, tem por missão pacificar e disciplinar zonas e regiões, e mos­tram para com os camponeses um co,mportamento pro­tetor. Reorganizava-se então o trabalho, incrementa-se a produção; certo surto de progresso sobrevém, com me­lhoria de vida de todos os níveis sociais, e tudo é atri­buído às qualidades sobrenaturais do líder. O próprio tipo de estrutura sócio-econômica rural brasileira tornava e torna mais viável este tipo de reação do que aquele resultante de organizações como os sindicatos, as asso­ciações profissionais, as cooperativas. A solidariedade

-brasileira tradicional é vertical, dificultando a adoção

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deste segundo tipo de associação que se baseia numa solidariedade horizontal. ..

O campesinato brasileiro encontra-se hoje em vias de desaparecimento. Persiste ainda em certas regiões devido/ às condições locais. Noutras, porém, entram os sitiantes tradicionais em decadência, pois a produção hoje tende mais e máis a se organizar sob a forma capitalista, vol­tada para o lucro e para o mercado. O primeiro sintoma de transformação surge na faixa de consumo. O camponê·s hrasileiro era um consumidor de seus próprios produtos L' só secundariamente adquiria mercadorias; estas redun­davam sempre de um consumo ostentatório, visavam con­solidar o prestígio do consumidor. Na medida em que o meio urbano vai produzindo mercadorias cada vez mais cobiçadas, o consumo do sitiante tradicional se desequi­libra, pois vê-se impelido a consumir muito mais merca­dorias e muito mais caras, a fim de demonstrar seu pres­tigio econômico. Esta é uma das causas de sua decadência, fruto do desenvolvimento em que se encontra o país -causa estudada por Antonio Cândido. ••

A descrição das características do campesinato, vistas por diversos autores, e em regiões diferentes, faz chegar à conclusão de que certos traços o definem, sejam quais !orem os detalhes que diferenciam os camponeses de re­giiíes diversas do globo. Estes traços são os seguintes: "'· o camponês é um trabalhador rural cujo produto se des­tina primordialmente ao sustento da própria família, po- ) dcndo vender ou não o excedente da colheita, deduzida a parte do aluguel da terra quando não é proprietário; devido ao destino da produção, é ele sempre policultor. O caráter essencial da definição de camponês é, pois, o destino dado ao produto, pois este governa todos os ou tros elementos com ele correlatos. Assim, dificilmen cultivará grandes extensões de terra; por outro lado, n o senc.lo a colheita destinada à obtenção de lucro, não d ve ela ultrapassar certo nível de gastos a fim de fl'ão onerar a disponibilidade econômica familiar - de onde se em-

" Pereira de Queiroz - 1965. " Antonio Cândido - 1971.

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pregar preferencialmente sistema de cultivo e instrumentos rudimentares, e se utilizar a mão-de-obra familiar. Desde que o destino da produção se modifique, isto é, desde que o lavrador se disponha a plantar para vender (e não mais plantar para consumir), sua organização de trabalho também se modifica, pois deve alcançar uma quantidade muitíssimo maior do produto colhido, não podendo para isso se contentar com o trabalho do braç0 familiar apenas.

-- Economicamente, define-se pois o !camponês pelo seu objetivo de plantar para o consumo. Sociologicamente, o campesinato constitui sempre uma camada subordinada

,,dentro de uma sociedade global - subordinação eco­nômica, política e social. A camada superior tanto pode ser constituída por uma camada senhorial, quanto por camadas urbanas. Mesmo que os camponeses, à testa de pequenas autarquias de produção, sejam economica­mente autônomos (por exemplo, quando são proprie­tários de suas terras, de seus instrumentos de lavoura, de seus animais de tração), ainda assim são sempre subordinados do ponto de vista social e político a outras camadas, ou a outros grupos sócio-econômicos (como os citadinos). Todavia, rrão se desenvolve e.ntre eles uma solidariedade horizontal ou classista, por razões que não foram até hoje estudadas, e desse modo seus movimen­tos de reação, seja do caráter que forem, não alcançam ultrapassar o âmbito de uma localidade ou de uma zona. • Por outro lado, dadas as suas peculiaridades culturais, foram sempre mais freqüentes no campesinato os movi­mentos religiosos de reação do que os leigos.

Diante destes ·caracteres específicos do campesinato, verifica-se que é impróprio falar em "sociedades campo­nesas", como tem feito alguns autores. Como as socie­dades se caracterizam sempre pelas suas camadas do­minantes, não existiram nunca sociedades camponesas. O que sempre existiu foi um campesinato, isto é, um conjunto de camponeses ocupando ná sociedade globa! uma posição de inferioridade sócio-econômica e política;

00 Pereira de Queiroz - 196~

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muito embora possa constituir a massa majoritária da população.

E' como um campesinato que se define a camada in­termediária da população rural brasileira, colocada entre os fazendeiros e os escravos, no período colonial; colo­cada entre os fazendeiros e os trabalhadores sem terra, fno período pós-colonial. 01 Sua situação ora se conforma com as descrições de Marc Bloch "' e de Henri Mendras" para o campesinato francês tradicional e para o ainda hoje existente - e isso quando coexiste com grandes fazendas monocultoras ou de criação, pois então o sitiante se define por oposição a uma camada social superior de produtores rurais, como na França o carnpesinato se definia por oposição à camada senhorial; ora se aproxima das des­crições de Robert Redfield .. e de Richard P. Schaedel ", que os consideram dependentes das cidades - e isto nas regiões brasileiras em que existiram sozinhos, porque ali não se implantaram monoculturas de exportação ou fa­zendas de gado ... Numa e noutra situação, não estão eles isolados e, quanto à sua caracterização étnica, é ela a mais variada, como em toda a população brasileira. Assim, os modernos estudos sobre esta camada interme­diária da população rural brasileira, para cuja impor­t.incia Jacques Lambert chamou a atenção com veemência em sua obra 11, dizem respeito a uma população que se configura como "campesina", de acordo com as duas correntes de definição deste termo. Como vive, como pensa, como reage esta camada, eis o objetivo que tem norteado as preocupações de tantos de nossos folcloris­tas, de nossos geógrafos, de nossos etnólogos, de nossos sociólogos, entre os quais nos incluímos também.

ª lembremos que de acordo com a definição de Richard P. Schaedel, o campon~s ~ aquele que, mesmo não possuindo, usufrui a terra, o que o afasta d• mio-de-obra assalariada pérmanente ou volante. Esta definição se aproxima da de Nice lecocq Müller, que define o sitiante como aquele que é autõnomo •m 'tt' trabalho - e portanto usufrui a terra na qual trabalha, mesmo não 'fndo proprietário.

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