quando a luta vira uma arte

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Quando a luta vira uma arte Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 nº 1974 Calçado Se a história da agricultora Ana Cristina Pimentel de Lucena, 36 anos, que mora no Sítio do Meio, no município de Calçado, fosse resumida em uma palavra, seria: luta. Única mulher entre dois irmãos, ela conheceu, ainda menina, a responsabilidade de trabalhar para ajudar a família. “Quando eu era criança, a minha mãe já vivia doente, então eu cresci sabendo o que é lutar. Aos 10 anos, comecei a vender bijuterias e roupas. Tudo o que eu arrecadava era destinado para o meu estudo e para ajudá-la”, afirmou. Contar a história da vida de Ana Cristina é falar também do amor incondicional de uma filha pela mãe. Casada há 10 anos com o agricultor David Raimundo Pereira de Lucena, 33 anos, ela destaca o cuidado que sempre dedicou à mulher que a gerou. “Muitas vezes, eu largava da escola, à noite, e quando chegava em casa, precisava levá-la ao hospital. A maior dificuldade que já enfrentei na minha vida foi quando precisei sair de casa, no momento que casei, mas mesmo assim nunca me afastei dela, até o último dia de vida dela”, recordou. As mesmas mãos que têm o dom de cuidar de pessoas e de cultivar flores, também são habilidosas em vários tipos de artes, pois além de agricultora, Ana Cristina também é artesã. Divide o tempo que tem entre a casa, o trabalho da roça e da criação de pequenos animais com o artesanato. Ela conta que tudo começou através da cunhada que, ao ver o descontentamento da agricultora sem ter uma renda, sugeriu que pintasse panos de prato para vender. ‘‘Foi minha cunhada que me inspirou. Eu tinha o talento da pintura, porque eu já pintava para as escolas desfilarem, mas, até então, eu não tinha desperta- Julho/2014 A história de uma mulher que descobriu, em meio às dificuldades financeiras, um talento para o artesanato Ana Cristina, 36 anos, agricultora e artesã Tecendo em crochê o bico do pano de prato

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Conheça a história de uma mulher que descobriu, em meio às dificuldades financeiras, um talento para o artesanato.

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Quando a luta vira uma arte

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 nº 1974

Calçado

Se a história da agricultora Ana Cristina Pimentel de Lucena, 36 anos, que mora no Sítio do Meio, no município de Calçado, fosse resumida em uma palavra, seria: luta. Única mulher entre dois irmãos, ela conheceu, ainda menina, a responsabilidade de trabalhar para ajudar a família. “Quando eu era criança, a minha mãe já vivia doente, então eu cresci sabendo o que é lutar. Aos 10 anos, comecei a vender bijuterias e roupas. Tudo o que eu arrecadava era destinado para o meu estudo e para ajudá-la”, afirmou.

Contar a história da vida de Ana Cristina é falar também do amor incondicional de uma filha pela mãe. Casada há 10 anos com o agricultor David Raimundo Pereira de Lucena, 33 anos, ela destaca o cuidado que sempre dedicou à mulher que a gerou. “Muitas vezes, eu largava da escola, à noite, e quando chegava em casa, precisava levá-la ao hospital. A maior dificuldade que já enfrentei na minha vida foi quando precisei sair de casa, no momento que casei, mas mesmo assim nunca me afastei dela, até o último dia de vida dela”, recordou.

As mesmas mãos que têm o dom de cuidar de pessoas e de cultivar flores, também são habilidosas em vários tipos de artes, pois além de agricultora, Ana Cristina também é artesã. Divide o tempo que tem entre a casa, o trabalho da roça e da criação de pequenos animais com o artesanato. Ela conta que tudo começou através da cunhada que, ao ver o descontentamento da agricultora sem ter uma renda, sugeriu que pintasse panos de prato para vender. ‘‘Foi minha cunhada que me inspirou. Eu tinha o talento da pintura, porque eu já pintava para as escolas desfilarem, mas, até então, eu não tinha desperta-

Julho/2014

A história de uma mulher que descobriu, em meio às dificuldades financeiras, um talento para o artesanato

Ana Cristina, 36 anos, agricultora e artesã

Tecendo em crochê o bico do pano de prato

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

do para isso. No início, ela me deu alguns panos de prato e eu consegui vender todos. Quando fui entregar o dinheiro, ela não aceitou e disse que eu podia usá-lo para começar a comprar os materiais. Finalmente, chegou um período que eles não eram mais suficientes e passei a fazer conjuntos de cozinha com 5 peças: botijão de gás, fogão, garrafão de água, geladeira e liquidificador.” Já se passaram 7 anos e, com o passar do tempo, a clientela, que é toda da região onde mora só aumenta. ‘‘Não tem coisa pior do que uma dona de casa depender do marido. Quando casamos, não tínhamos geladeira nem televisão, pra ser sincera, eu não tinha nem enxoval, pois eu tinha consciência que era uma coisa que minha mãe não tinha condições de me presentear devido aos custos com atendimento médico e remédios e, por isso, eu nunca pedi”, afirmou. ‘‘Com o dinheiro já comprei colchão, cômoda, máquina de lavar, sofá, coloquei portas na casa, entre outras coisas (risos). Faço minhas pinturas, meus crochês e crio minhas galinhas, não é possível viver na mordomia, com luxo, mas, graças a Deus, nunca nos faltou o que comer’’, finalizou, orgulhosa pelo trabalho que realiza. ‘‘Faço minhas peças com o maior cuidado, pois quero que as pessoas que comprem fiquem satisfeitas com o resultado. Gosto de fazer com calma, tranquila. Às vezes, tenho vontade de parar, mas eu vou na horta, no meu galinheiro e, quando penso que não, já estou fazendo ar tesanato novamente’’, completou.

Para fazer encomendas, entre em contato pelos números (87) 8125-0640 e/ou 8101-0487.

Realização Apoio

É no terreiro de casa, em meio as flores que cultiva, que a artesã gosta de fazer o que gosta: artesanato.

Ana Cristina exibe o conjunto de cama pintado com flores