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Niterói - 2011 VALÉRIA UBALDO ARAUJO VIDAL PUERICULTURA E AUTONOMIA DAS MÃES: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL? Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Inês Nogueira Co-orientador: Prof. Dr. Túlio Batista Franco Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde da Comunidade da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Saúde Coletiva

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Niterói - 2011

VALÉRIA UBALDO ARAUJO VIDAL

PUERICULTURA E AUTONOMIA DAS MÃES:

UMA RELAÇÃO POSSÍVEL?

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Inês Nogueira

Co-orientador: Prof. Dr. Túlio Batista Franco

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde da Comunidade

da Universidade Federal Fluminense, como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestre em Saúde Coletiva

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V649 Vidal, Valéria Ubaldo Araujo

Puericultura e autonomia das mães: uma relação

possível? / Valéria Ubaldo Araujo Vidal. –

Niterói: [s. n.], 2011.

115f., 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) –

Universidade Federal Fluminense, 2011.

1. Cuidado da Criança. 2. Relações Mãe-Filho.

3. Promoção da Saúde. 4. Neonatologia. I. Título.

CDD 618.9201

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VALÉRIA UBALDO ARAUJO VIDAL

PUERICULTURA E AUTONOMIA DAS MÃES: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL?

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de

Saúde da Comunidade da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para

obtenção do grau de Mestre em Saúde Coletiva.

Aprovada em: Niterói, ________________

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________

Maria Inês Nogueira

Prof.ª Adjunta da Universidade Federal Fluminense

_______________________________________

Túlio Batista Franco

Prof. Adjunto da Universidade Federal Fluminense

________________________________________

Rosângela Caetano

Prof.ª Adjunta do IMS-Universidade do Estado do Rio de Janeiro

________________________________________

Ivia Maksud

Prof.ª Adjunta da Universidade Federal Fluminense

_______________________________________

Lenita Barreto Lorena Claro

Prof.ª Associada da Universidade Federal Fluminense

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A meus pais, que contribuíram para a construção da minha autonomia: minha mãe,

exemplo de determinação e meu pai, que me despertou o interesse pela Pediatria.

A Pepinho, companheiro de todas as horas.

A meus amáveis filhos, Rafael e Camila.

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer a todas as pessoas que de alguma forma colaboraram e me

incentivaram no desenvolvimento desta dissertação.

Quero manifestar minha gratidão de maneira especial à Maria Inês Nogueira, minha

orientadora, que com presteza e dedicação, sempre com palavras de incentivo, me guiou neste

estudo, e ao meu co-orientador, Túlio Batista Franco, que norteou inicialmente este trabalho.

A todos os meus professores que contribuíram para minha formação, desde o Jardim

de Infância até a conclusão deste Mestrado em Saúde Coletiva, o meu profundo

agradecimento e reconhecimento.

Também agradeço aos funcionários da secretaria do Programa de Pós-Graduação em

Saúde Coletiva da UFF, em especial a Sonia Nogueira Leitão, pelo incentivo no início,

quando pensei em desistir.

Agradeço à Diretora da Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March, Maria

Lúcia Freze S. C. Pires, e a todos os funcionários desta Policlínica, onde trabalho, que

possibilitaram a realização desta pesquisa, principalmente à assistente social Luciana Freitas

Barbosa. Agradeço à Diretora Denise Helena Stroligo Chevrand, à fonoaudióloga Leila Maria

Machado de Abreu e a todos os funcionários da Policlínica Comunitária do Cantagalo

Professor Barros Terra, que me receberam de portas abertas e onde fui acolhida por todos.

Agradeço também a todas as mães que participaram das entrevistas e a todos os

pacientes com quem aprendo a cada dia.

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Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

Antoine de Saint-Exupéry

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Resumo

Este estudo teve como objetivo principal interrogar as potencialidades da prática da

Puericultura para a construção da autonomia das mães no cuidado com crianças menores de

um ano. A partir do referencial teórico-conceitual que norteou a discussão, problematizou-se a

Puericultura em suas duas dimensões: como prática controladora, normatizadora e impositiva

e como instrumento de transformação a serviço da emancipação e construção da autonomia

das mães. A investigação foi desenvolvida através de uma pesquisa qualitativa, com a

realização de entrevistas semi-estruturadas com vinte mães de crianças menores de 1 ano de

idade em acompanhamento de Puericultura em duas Policlínicas do município de Niterói-RJ.

Também foram entrevistadas a assistente social e a fonoaudióloga que participam do

Acolhimento Mãe-Bebê nestas Policlínicas. Os dados obtidos foram tratados pela análise de

conteúdo e do material coletado nas entrevistas foram construídas as seguintes categorias

temáticas: ser mãe; amamentação (alimentação do bebê e sentimentos sobre a amamentação);

percepção da mãe sobre a saúde de seu filho; situações de insegurança das mães;

contribuições da Puericultura; contribuições exteriores à Puericultura; críticas e expectativas

em relação à Puericultura. Assim, a partir dos discursos das entrevistadas, algumas conclusões

se destacaram: 1ª) A maioria das mães das crianças em acompanhamento de Puericultura nas

duas Policlínicas relatou satisfação com o atendimento, tanto com as consultas quanto com o

Acolhimento Mãe-Bebê. 2ª) O Acolhimento Mãe-Bebê mostrou-se um espaço privilegiado

para facilitar a autonomia das mães. 3ª) Quando há uma boa relação com o médico, a consulta

de Puericultura é bastante satisfatória e esclarecedora para as mães. 4ª) Grande parte dos

problemas relatados nos serviços analisados está relacionada à gestão local. 5ª) O apoio de

familiares, vizinhas e amigas também se mostrou importante na construção da autonomia das

mães no cuidado com a criança. Tendo em vista que a autonomia será sempre relativa e

produzida em permanente tensão e interação, algumas considerações finais podem ser

delineadas. A autonomia desenvolve-se com a vivência de um processo gradativo, no qual as

mães vão se tornando preparadas para o cuidado com a criança e tomando decisões de forma

consciente. As estratégias humanizantes da Saúde Coletiva, ao favorecerem a relação que se

estabelece no encontro de subjetividades do profissional de saúde com a dupla mãe-filho,

possibilitam uma ressignificação da tradicional prática da Puericultura, contribuindo assim

para a construção da autonomia das mães no cuidado com a criança.

Palavras-chave: Puericultura, autonomia, acolhimento, promoção de saúde, educação em

saúde

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Abstract

This study had as main objective to inquire the potentialities of the Puericulture

practice for the construction of the mothers’ autonomy in less than one year children caring.

Having as a starting point the theoretical-conceptual referential which guided the discussion,

the Puericulture was considered in their two dimensions: as controlling practice, normative

and authoritative, and as an instrument of transformation serving as emancipation and

independence for the mothers. The inquiry was developed through a qualitative research,

produced by semi-structured interviews with twenty mothers with babies of less than one-year

old being followed by the Puericulture in two Polyclinics in Niterói-RJ County. The social

worker and a speech therapist who participated in the Mother-Baby Sheltering in those

Polyclinics were interviewed as well. The data collected were treated by the analysis of

content and with the material collected during the interviews were built the following

thematic categories: being a mother, breastfeeding (baby feeding and feelings towards

breastfeeding); mother’s perception about the health of your child; mothers’ insecurity

situations; contributions of Puericulture; contributions outside the Puericulture; expectations

and critical comments towards Puericulture. Thus, from the interviewed discourses, some

conclusions emerged such as: 1st) Most mothers with children being taken care of in

Puericulture in the two Polyclinics reported to be satisfied with the solicitude, during the

consultations as well as with the Mother-Baby Sheltering. 2nd

) The Mother-Baby Sheltering

has shown to be a privileged space to facilitate mothers’ autonomy. 3rd

) When there is a good

relationship with the doctor, the Puericulture consultation is quite satisfactory and clarifying

for the mothers. 4th

) Most part of the problems reported in the analyzed services is related to

local management. 5th

) Support of family, neighbors and friends have also shown to be quite

important in the construction of mothers’ autonomy during the child care. In regard to the

autonomy, it will always be relative and produced within permanent tension and interaction,

therefore, some final considerations can be outlined. The autonomy is developed with an

increment process of knowledge, in which mothers become more prepared to take care of

children and make conscious decisions. The strategies humanizing of Collective Health,

which favor the relationship established at the meeting of subjectivities of the health

professional with the mother-son pair, enable a redefinition of the traditional practice of the

Puericulture, thus contributing to the construction of mothers’ autonomy in the caring of the

child.

Key-words: Puericulture, autonomy, sheltering, health promotion, health education

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Sumário

1 - Introdução 9

2 - Puericultura: origem e pressupostos 12

3 - Autonomia como pré-condição para a saúde 16

4 - Atenção Integral à Saúde da Criança 21

5 - Aleitamento materno e promoção da saúde 26

6 - Cuidado integral em saúde 36

6.1 - Acolhimento em saúde 43

6.2 - Puericultura e tecnologias relacionais 47

7- Objetivos 50

7.1 - Objetivo Geral 50

7.2 - Objetivos Específicos 50

8 - Discussão Metodológica 51

8.1 - Pesquisa Qualitativa 51

8.2 - Descrição do campo 53

8.3 - Entrevistas 56

8.4 - Aspectos Éticos 59

9 - Apresentação e Discussão dos Resultados 61

9.1 - O Acolhimento Mãe-Bebê em duas Policlínicas de Niterói 61

9.2 - Ouvindo as mães 65

9.3 - Síntese dos resultados 95

10 - Considerações Finais 99

Referências 104

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1 - Introdução

Nestes anos de exercício na Pediatria, trabalhando com a Puericultura, observei que

muitas mães, independente do nível sócio-econômico, se sentem seguras no cuidado com seu

filho. Outras são inseguras, dependentes do sistema de saúde, tendo que recorrer a vários

médicos e a outros profissionais de saúde, pois se “apavoram” com facilidade. As mães

poderiam se sentir mais apoiadas diante de suas inquietações se houvesse uma melhor

interação entre elas e os profissionais de saúde, ou seja, com o uso de tecnologias relacionais

na Puericultura. Outra situação extrema é a mãe não ter noção da gravidade do caso e demorar

a procurar atendimento. Portanto, todo atendimento médico, principalmente quando se trata

de uma criança, deveria contemplar também orientações das mães quanto a sinais de piora,

sinais de alerta e provável evolução do caso (plano de ação). Através do acolhimento, do

apoio e do compartilhamento de informações, a mãe poderá adquirir segurança e se apropriar

de ferramentas para cuidar e acompanhar seu filho. Ao se falar de promoção da saúde da

criança, mais importante ainda se torna a troca de informações entre os profissionais de saúde

e as mães, procurando contribuir para sua autonomia.

Nessa perspectiva, o objeto deste estudo é a prática da Puericultura no primeiro ano de

vida, tendo como objetivo interrogar a sua potencialidade para contribuir na construção da

autonomia das mães no cuidado com a criança através de uma pesquisa qualitativa. Foi

mantido o tradicional termo “Puericultura” (que se refere ao Acompanhamento do

Crescimento e Desenvolvimento da Criança), porque ele continua sendo utilizado no

cotidiano das unidades de saúde, permitindo assim uma análise da trajetória e das possíveis

ressignificações desta prática.

Historicamente, a Puericultura (assim como as demais práticas médicas) pode ser vista

como uma prática autoritária. No entanto, a partir do conceito de “Clínica Ampliada”, torna-

se possível pensar em como a prática da Puericultura pode ser colocada a serviço da

emancipação das mães no cuidado com a criança.

A Puericultura é uma prática que está sujeita aos mais diversos fatores políticos,

econômicos e sociais. Como as influências sociais e ambientais têm grande impacto na saúde

e bem-estar das crianças e de seus familiares, necessitam também ser foco de atenção da

Pediatria. Os problemas de saúde variam largamente entre as nações do mundo dependendo

de vários fatores que estão frequentemente interligados. Dentre estes fatores estão a

prevalência de agentes infecciosos e seus hospedeiros, a frequência de gens para algumas

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desordens, o clima e a geografia, assim como as considerações educacionais, econômicas,

sociais e culturais (BEHRMAN, 2003).

A abordagem da Puericultura se dá na fase precoce da vida da criança, promovendo

saúde, procurando evitar inúmeros transtornos na idade adulta. Quanto mais cedo iniciarem-se

as ações de promoção da saúde, melhores os resultados. Quanto menor a criança, maior sua

dependência dos cuidados maternos e maior a importância da autonomia das mães. A

alimentação, a vacinação e o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança

são fundamentais, principalmente no primeiro ano de vida, fase de crescimento rápido e de

grandes aquisições, com reflexos positivos durante toda a vida. A Puericultura preocupa-se

com o acompanhamento integral do processo de desenvolvimento da criança.

Dentro da Puericultura, o aleitamento materno assume grande importância na

promoção da saúde da criança. O incentivo ao aleitamento materno é uma das principais

práticas em saúde, estando associado à diminuição de doenças, de alergia alimentar e da

mortalidade na infância. Apesar do grande incentivo à amamentação nas unidades de saúde e

na mídia, a prevalência do aleitamento materno ainda não corresponde à preconizada pela

OMS (BRASIL/MS, 2009b). Há, entretanto, um crescente aumento das taxas de aleitamento

materno no Brasil, decorrentes de trabalhos de órgãos governamentais e não governamentais

na sua promoção e incentivo (ANTUNES et al, 2008).

Por outro lado, diversas são as dificuldades maternas relacionadas à amamentação e

aos cuidados com o recém-nascido, que muitas vezes terminam por levar à insegurança

materna e ao desmame precoce. Após a alta da maternidade, o acompanhamento de

Puericultura é fundamental para o apoio e para a manutenção da amamentação (OLIVEIRA,

CAMACHO e SOUZA, 2005).

Consideramos então que a Puericultura é uma oportunidade valiosa para a promoção

da saúde da criança. Para que se garanta o cuidado e a integralidade das ações de saúde, é

importante a reorientação dos serviços de saúde na direção da concepção da promoção da

saúde, além do provimento de serviços assistenciais (BUSS, 2000).

Para Merhy (1998), as tecnologias do trabalho em saúde, num modelo assistencial

centrado no usuário, devem ser operadas por equipes multiprofissionais, de forma

interdisciplinar, com compromisso de acolher, responsabilizar e autonomizar. Para tal

finalidade, devemos buscar tecnologias que permitam a produção de um maior grau de

autonomia da relação do usuário no seu modo de estar no mundo, de andar na vida. Assim, a

autonomia (auto=próprio, nomos=norma, regra, lei) é categoria central da atuação em

promoção da saúde. Do mesmo modo, a promoção da saúde busca ampliação da autonomia de

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indivíduos e de comunidades, ampliação do controle dos indivíduos e comunidades sobre os

determinantes de sua saúde (TEIXEIRA et al, 2008).

Segundo Czeresnia (2003), promoção da saúde é o “fortalecimento da capacidade

individual e coletiva para lidar com a multiplicidade nos condicionantes da saúde.” A autora

propõe o “fortalecimento da saúde por meio da construção de capacidade de escolha”

(CZERESNIA, 2003, p. 48).

Quando se fala em saúde, entende-se como autonomizadora toda intervenção que

amplie a capacidade das pessoas de agirem sobre os determinantes de sua saúde. Nesse

sentido, a Puericultura pode ser vista como uma prática promotora de saúde que busca a

ampliação do conhecimento das mães sobre os determinantes da saúde e a valorização do

cuidado da mãe com a criança, a partir do desenvolvimento de comportamentos reconhecidos

como saudáveis. Sob esse enfoque, esta prática buscaria produzir maior autonomia das mães

no cuidado com a criança com repercussões positivas na saúde da criança.

A autonomia do indivíduo nos serviços de saúde é um tema muito complexo, com

muitas questões envolvidas, e este trabalho não tem a pretensão de dar conta delas. No sentido

de abordar a teia de relações que envolve o cuidado de crianças no primeiro ano de vida,

utilizamos neste estudo as seguintes categorias analíticas: autonomia, atenção integral à saúde

da criança, aleitamento materno, cuidado integral e tecnologias relacionais em saúde. Estas

categorias nos auxiliaram a interrogar a relação entre a autonomia das mães e a prática da

Puericultura.

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2 - Puericultura: origem e pressupostos

A preocupação com a Puericultura no Brasil vem desde os tempos coloniais. As

famílias viviam num relativo isolamento social, cabendo ao homem o relacionamento com o

mundo exterior enquanto as mulheres permaneciam em casa envolvidas com as atividades

domésticas. A taxa de mortalidade infantil era muito elevada nessa época e as grandes

alterações sociais, econômicas e políticas do século XIX tiveram profundas repercussões na

medicina. A atuação do médico foi orientada no sentido de impedir o surgimento das doenças

através de intervenções diretas sobre o modo de ser e de viver das pessoas. A família foi um

dos grandes centros de preocupação da medicina nesse período. A higienização das cidades,

estratégia do Estado moderno, esbarrava frequentemente nos hábitos e condutas que repetiam

a tradição familiar (LOYOLA, 1983).

A partir da segunda metade do século XIX, a preocupação com a criança aparece de

forma cada vez mais clara para a construção do futuro do país. Houve valorização da infância

como futuro da nação e elevação da ciência como caminho para a construção da

nacionalidade e as mulheres desempenhavam um papel central através de sua função

maternal. A maternidade foi colocada na dimensão de questão de ordem pública, devendo ser

amparada e protegida, por questões demográficas, sanitárias ou patrióticas. Assim, surgiu um

movimento que preconizava a necessidade de educação das mulheres para o exercício da

maternidade. A ciência foi acionada na conformação do modelo de maternidade científica. A

função maternal com o caráter de cientificidade e modernidade permitiu a valorização e

inserção das mulheres no espaço público e na vida social. A medicina, com a aplicação dos

conhecimentos da higiene e da eugenia, fundamentou o surgimento da Puericultura no Brasil,

como campo de atuação médica e legitimou o exercício da maternidade científica em

oposição às práticas guiadas pelo instinto, o que alcançou seu apogeu na década de 1920

(FREIRE, 2009).

Costa (1989), no seu livro “Ordem Médica e Norma Familiar”, desenvolveu um estudo

sobre as táticas médico-higienistas que se insinuaram na intimidade da família burguesa do

século XIX no Brasil. Demonstrou que as famílias se desestruturaram por terem seguido à

risca as normas de saúde e equilíbrio que lhes foram impostas como manipulação política e

econômica pela burguesia.

Segundo o sociólogo francês Boltanski (apud Loyola), a prática da Puericultura tinha

por objetivo controlar os atos de vida das pessoas na sociedade, inclusive os mais privados:

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A difusão da puericultura no final do século passado, como atualmente, não se deu

de forma espontânea nem por acaso; é o resultado de um projeto mais amplo, mais

ambicioso: regular todos os atos de vida, inclusive os mais íntimos e os mais

privados, os que se realizam no seio do lar. (BOLTANSKI, 1969 apud LOYOLA,

1983).

Para Donzelot (1986), a aliança entre os médicos e as famílias na França foi proveitosa

para as duas partes, pois garantia a autoridade dos médicos sobre a medicina popular das

comadres e concedia às mulheres burguesas um status social através da valorização da função

materna. Esta aliança, a partir do final do século XVIII, parece ter sido capaz de abalar a

autoridade paterna e, a promoção da mulher como mãe e auxiliar médica, serviu como ponto

de apoio para as principais correntes feministas do século XIX. As mulheres adquiriam um

valorizado papel social e os médicos tinham afirmação profissional numa relação de parceria

na qual o médico estabelecia os padrões de normalidade, cabendo às mães cumpri-los. Os

interesses dos movimentos higienistas e feministas quanto à valorização da maternidade

contribuiu para a relação de aliança em torno dos princípios da Puericultura.

A Puericultura oferecia ensinamentos técnicos (novas práticas científicas e racionais)

para guiar as mulheres na criação de seus filhos em substituição aos antigos dogmas religiosos

ou palpites de vizinhas e avós (práticas tradicionais baseadas em crendices e costumes). O

discurso puericultor foi se tornando cada vez mais impositivo e normatizador e as mulheres

eram alertadas sobre o risco de qualquer iniciativa autônoma, o que as mantinha dependentes

da orientação médica. Costumes e atos simples do cotidiano eram transformados em atividade

científica e requeriam aprendizado, como o banho de sol, arrumação do quarto da criança e

alimentação infantil, o que permitia às mulheres exercerem a ciência no lar (FREIRE, 2009).

Para Freire (2009), a Puericultura não se reduziu à autoridade dos médicos, mas

emergiu da interação de seus interesses com os das mulheres. Diante das tentativas de

normatização do exercício da maternidade por parte dos médicos, as mulheres fizeram

incorporações e rejeições dos conceitos científicos, adaptando-os aos próprios saberes de

forma particular. Houve também interação entre a indústria farmacêutica e os médicos na

construção da maternidade científica A indústria de medicamentos e produtos alimentícios

infantis usava a legitimação dos médicos para aumentar suas vendas e os médicos recorriam

às prescrições de medicamentos para qualificar sua orientação e reforçar o caráter técnico da

medicina.

Segundo Loyola (1983) a Puericultura vem desempenhando função de controle social

desde suas origens. Colidindo com suas pretensões científicas, há uma volta da Puericultura à

natureza e ao “empirismo”, uma “reentrega da criança à mãe” sob o aval dos psicólogos e dos

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nutricionistas atualmente incorporados às normas da Puericultura. A campanha em favor do

aleitamento materno, desde a década de 1970, é evidência desta contradição. Assim, Loyola

aponta: “toda a ciência médica e das áreas afins é mobilizada para restaurar a naturalidade do

que a própria ciência desnaturalizou – o aleitamento materno –, transferindo às mães a

solução dos problemas, cuja origem, até o presente, a puericultura ajudou a camuflar.”

Segundo Campos (1996, 1997), em certa medida, a Medicina nunca perdeu sua

capacidade de exercer controle social sobre a maioria das pessoas e continuam vigentes seu

poder de árbitro e seu discurso sobre temas ligados à vida. Nota-se um grau cada vez maior de

afastamento, desinteresse, fixação em procedimentos técnicos e dificuldade de comunicação

dos profissionais de saúde em relação aos sujeitos dependentes de seus cuidados.

O termo Puericultura, etimologicamente quer dizer: Puer = criança e cultur = criação,

cuidados dispensados a alguém. A Puericultura tem raiz antropológica e se ocupa, sobretudo,

da infância normal, com ênfase no crescimento e no desenvolvimento, promoção da saúde e

prevenção de agravos, considerando a criança como uma individualidade biopsicossocial e

relacionando-a ao meio ambiente físico e psicossocial que a cerca. A Puericultura exige

conhecimentos, habilidades e valores incorporados a partir de vivências que superam o

possível de ser aprendido na escola médica (MARCONDES, 2003).

Segundo Ricco et al (2000), as linhas filosóficas que norteiam a Puericultura não

devem ser abandonadas devido a práticas distorcidas como a de “polícia médica” (propagada

a partir de Boltanski), que considerou a prática da Puericultura como intromissão na

privacidade dos lares e atuação policial na imposição de valores próprios das classes

dominantes a quem ela servia. Com esta tendência, suprimiu-se o termo Puericultura, ficando

sua prática parcialmente abrigada sob outras denominações, como: Pediatria Preventiva,

Pediatria Social, Cuidados primários, Atenção Básica, etc. De acordo com o autor, é

importante resgatar a filosofia original, aprofundada e atualizada da Puericultura, tendo como

norte a prevenção dos agravos e a promoção da saúde da criança com o objetivo de propiciar

condições para o pleno desenvolvimento de suas potencialidades. O puericultor é um

orientador e educador para a saúde e deverá dar destaque privilegiado para a mãe, trabalhando

a autoestima materna e o vínculo mãe-filho (RICCO et al, 2000).

A Puericultura, ao longo do tempo, foi se transformando gradativamente em uma

prática com aplicações muito mais amplas e abrangentes e passou a ser desenvolvida como

um processo multiprofissional. Por outro lado, há o fato da formação deficiente proporcionada

pelas escolas médicas na área de promoção da saúde. A Puericultura é a base da prática

pediátrica procurando levar apoio aos pais. A criança deve ser vista dentro do contexto de sua

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família e o pediatra deve aprimorar suas habilidades em comunicação e estratégias para

melhorar seu desempenho. O caminho é a integração do médico com outros profissionais na

prestação de serviços de promoção de saúde e de prevenção, com a utilização efetiva de todos

os recursos dos serviços de saúde (BLANK, 2003).

Campos (1996, 1997) propõe uma reforma da clínica moderna com o deslocamento da

ênfase na doença para centrá-la sobre o sujeito concreto: a Clínica Ampliada (uma “Clínica do

Sujeito”). O autor sugere a ampliação do objeto de saber e de intervenção da clínica, o que

inclui a doença, o contexto e o próprio sujeito. Esta ampliação da clínica traz em si a produção

de maior grau de autonomia do sujeito. Esta clínica ampliada e compartilhada, estimuladora

da autonomia, pode nos ajudar a lidar com as dimensões subjetivas e sociais, que co-existem

na produção da saúde, e resgata a possibilidade de se pensar em cada caso, sem descaso com o

coletivo (CAMPOS e CAMPOS, 2006).

Ao se pensar a Puericultura utilizando o conceito de Clínica Ampliada, de modo a

compreender as necessidades da dupla mãe-filho, podemos colocá-la a serviço da

emancipação e construção da autonomia das mães no cuidado com a criança. Precisamos ficar

atentos aos riscos de medicalização logo no início da vida e para que as estratégias médicas da

Puericultura não desqualifiquem as experiências e saberes das mães e das famílias em nome

da ciência. Os saberes dos profissionais de saúde no processo de cuidado devem ser aliados

das mães na promoção da saúde da criança.

Conhecendo um pouco da origem da Puericultura e seus pressupostos, podemos então

melhor refletir sobre as possibilidades dessa prática colaborar para a construção da autonomia

das mães no cuidado com a criança.

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3 - Autonomia como pré-condição para a saúde

Os avanços na qualidade de vida e saúde se apóiam em medidas preventivas, na

promoção da saúde e na melhoria das condições de vida em geral. Isto tem ocorrido graças

aos progressos políticos, econômicos, sociais e ambientais, e aos avanços na saúde pública e

na medicina. A educação em saúde é elemento importante para esse objetivo (BUSS, 2000).

A prevenção em saúde define-se como intervenção orientada a evitar o surgimento de

doenças específicas, reduzindo sua incidência e prevalência nas populações. A promoção da

saúde tem um significado bem mais amplo que a prevenção, pois refere-se a medidas que não

se dirigem a uma determinada doença ou desordem, mas servem para aumentar a saúde e o

bem estar-gerais. As estratégias de promoção enfatizam a transformação das condições de

vida e de trabalho que servem de base para os problemas de saúde, demandando uma

abordagem intersetorial (CZERESNIA, 2003).

A promoção da saúde visa assegurar a igualdade de oportunidades e proporcionar os

meios que permitam a todas as pessoas realizar completamente seu potencial de saúde.

Ambientes favoráveis, acesso à informação, habilidades para viver melhor, bem como

oportunidades para fazer escolhas mais saudáveis, estão entre os principais elementos

capacitantes. É imprescindível a divulgação de informações sobre a educação para a saúde, o

que deve ocorrer no lar, na escola, no trabalho e em outros espaços coletivos (BUSS, 2000).

A promoção da saúde não é somente responsabilidade do setor saúde, mas o resultado

de ações intersetoriais e multidisciplinares, apoiadas por políticas públicas saudáveis, isto é,

promotoras de qualidade de vida. A saúde é valorizada como componente central do

desenvolvimento humano (FERREIRA e BUSS, 2001).

As medidas de promoção de saúde propõem uma atuação onde possam ser criadas

oportunidades para justiça social, em que diferenças biológicas e de livre escolha sejam

respeitadas, e sejam asseguradas condições mínimas para uma sobrevivência digna. A

melhoria das condições de saúde e de vida da população se apoiam no exercício da cidadania.

A promoção da saúde pretende desenvolver a autonomia dos indivíduos e se foca na educação

como uma estratégia para desenvolver o exercício da cidadania e conseguir atitudes que

levem à melhoria nas condições de saúde e de vida. (BYDLOWSKI, WESTPHAL e

PEREIRA, 2004). Ações de promoção de saúde visam desenvolver conhecimentos,

habilidades para o autocuidado e a prevenção das condutas de risco em todas as oportunidades

educativas. Consistem em proporcionar à população as condições necessárias para melhorar e

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exercer o controle sobre sua saúde (GONÇALVES et al, 2008).

A autonomia é categoria norteadora para promoção da saúde porque é um

determinante positivo fundamental para a saúde. A ampliação da autonomia é protetora à

saúde, assim como sua restrição é fator de risco dos principais grupos de agravos e patologias.

A promoção da saúde busca a ampliação da autonomia de indivíduos e comunidades

(TEIXEIRA, P. el al, 2008).

Assim como a promoção da saúde norteia o sentido verdadeiramente positivo de

qualidade de vida, a qualidade de vida tem no conceito de promoção de saúde seu foco mais

relevante (MINAYO, HARTZ e BUSS, 2000). Nessa perspectiva, os indivíduos devem ser

pensados como cidadãos de direitos e donos de uma capacidade crítica de reflexão e de

eleição mais autônoma dos modos de levar a vida (CAMPOS, 2000).

Ressalta-se a importância da elaboração de políticas públicas intersetoriais, voltadas à

melhoria da qualidade de vida das populações através da promoção da saúde, além dos

serviços assistenciais. A promoção da saúde apóia-se na democratização das informações, na

descentralização do poder e em ações intersetoriais (BUSS, 2000).

O conceito de autonomia é relativo e relacional, inseparável da dependência, não

havendo autonomia absoluta. Ser autônomo não é ser independente e começa pelo

reconhecimento e aceitação das inúmeras redes de dependência da existência humana.

Precisamos do cuidado do outro. Precisamos tanto do conhecimento de um profissional,

quanto do afeto e apoio emocional deste profissional, além dos amigos e dos familiares. Isto

não diminui a autonomia de uma pessoa e pode até fortalecê-la. O que se considera

indesejável é uma relação de dependência e sujeição. Desse modo, é importante caminhar no

sentido de possibilitar a construção e expansão da autonomia. Por outro lado, é difícil pensar

em autonomia no campo da saúde sem que haja autonomia no campo mais geral da política e

da vida. A possibilidade de gerir a própria vida passa pelo reconhecimento dos limites, das

alternativas existentes e por uma perspectiva democrática e ética (SOARES e CAMARGO

JR., 2007).

Segundo o conceito canguilhemiano, saudável é o que tem capacidade para incorporar

normas diferentes das até então vigentes, e até mesmo normas patológicas, sem se perder a

capacidade de ação. Podemos estar fora da média dos ideais culturais de saúde e estarmos

capazes e ativos. A saúde vivenciada é a que importa e não a saúde de um ideal científico.

Nesse sentido, é sempre importante que se reconheça a autonomia do paciente (MARTINS,

2004).

Para Canguilhem (2009), estabelecer a separação entre o normal e o anormal, a

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disfunção científica da normalidade, parece inacessível. Ele considera que os indivíduos se

afastam mais ou menos de um modelo estatístico, e é precisamente nisso que consiste sua

individualidade. A idéia de saúde ou de normalidade deixa de se apresentar como idéia de

conformidade a um ideal externo e se apresenta como uma idéia relativista e individualista.

Atribui-se ao próprio indivíduo a responsabilidade de distinguir o momento em que começa a

doença, remetendo-se assim à autonomia do indivíduo. Canguilhem afirma: “O que

caracteriza a saúde é a possibilidade de ultrapassar a norma que define o normal momentâneo,

a possibilidade de tolerar infrações à norma habitual e de instituir normas novas em situações

novas (CANGUILHEM, 2009, p. 77).”

A Biomedicina tem como característica a perspectiva da normalidade em oposição à

patologia. A Biomedicina é uma ciência das doenças e a nova concepção de doença passa a

ser categoria central do saber e da prática médica. O sistema de diagnóstico busca a

identificação das doenças e a terapêutica é hierarquizada segundo sua capacidade de atingir as

causas das doenças. Os exames complementares ganham grande importância no lugar da

semiologia. Dentre as técnicas de intervenção terapêutica, na prática, apenas medicamentos e

cirurgias são considerados. Outras técnicas de intervenção como dietas, exercícios e

orientações são pouco valorizadas, assim como a intervenção coletiva através da medicina

preventiva. Temos um modelo de atenção que de certa forma garante o uso excessivo de

exames complementares, a desvalorização da subjetividade do paciente e do médico e a

medicalização excessiva. É importante recuperar o papel central dos aspectos especificamente

humanos da prática médica. A prática médica atua concretamente sobre o individual apesar

das intenções generalizantes da teoria médica (CAMARGO JR., 2003).

Ao invés de medicalizar o usuário, de ditar o que é correto e recomendável, muitas

vezes implicando na redução de saberes e costumes, os serviços de saúde poderiam contribuir

para a construção de sua autonomia. Os serviços de saúde precisam estar comprometidos com

uma concepção ampliada de direito à saúde para que respondam às necessidades de saúde da

população.

Historicamente, a medicina moderna pode ser considerada uma prática de controle

social e os serviços de saúde tradicionalmente atuam como controle social para a reprodução

da força de trabalho. De um modo geral, os serviços de saúde desempenham um papel

ambíguo, com duas faces distintas: de um lado, a positividade da prestação de serviços à

população, sob esse enfoque a saúde é vista como um direito social e, de outro, a dimensão do

controle social (controlador e reprodutor da estrutura social), em detrimento da autonomia do

indivíduo (NOGUEIRA, 1993).

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O usuário, em sua relação com os profissionais de saúde, precisa ser considerado

como um ser único, com saberes e valores, e ao mesmo tempo inserido no coletivo. O usuário

deveria ser estimulado a se tornar mais ativo, consciente e responsável pelo processo saúde-

doença e a ter maior empoderamento neste processo (SOARES e CAMARGO JR., 2007).

Para Paulo Freire (1996), a autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é

processo, é vir a ser. Tem que estar centrada em experiências estimuladoras de decisão e de

responsabilidade, em experiências respeitosas da liberdade. A educação é uma forma de

intervenção no mundo. O ser humano se torna educável na medida em que se reconhece

inacabado. Precisa-se apoiar o educando para que ele mesmo vença suas dificuldades, sendo o

criador de sua formação, estando atento a difícil caminhada da heteronomia para a autonomia.

Assim, a autonomia vai se construindo na experiência de decisões que vão sendo tomadas.

Transportando estas idéias para o campo da saúde, poderia se pensar em como as ações em

saúde poderiam contribuir para a construção e fortalecimento da autonomia do indivíduo. No

caso deste estudo, autonomia das mães no cuidado com a criança.

Segundo Ivan Illich (1975), somos condicionados a confundir e aceitar serviço em vez

de valor e a ver os valores como resultado de serviços ou tratamentos e assim confundir

cuidado em saúde com tratamento médico. As pessoas são condicionadas a obter as coisas e

não a fazê-las, para assim encontrarem seu próprio caminho. O que pode ser fornecido e

consumido toma o lugar do que pode ser feito. A superprodução heteronômica dos cuidados

médicos bloqueia os cuidados autônomos e priva o indivíduo da possibilidade de visão crítica

de seus hábitos. Qualquer forma de dependência se torna obstáculo à capacidade de se cuidar,

de se adaptar e de se curar. Este obstáculo priva as pessoas do poder de transformar suas

condições de vida e de trabalho, condições que as tornam doentes. Ivan Illich critica as

instituições na sociedade contemporânea e acredita que a institucionalização de valores leva a

impotência psíquica – as pessoas perdem o incentivo de crescer com independência, com

autonomia.

Num conceito amplo, a autonomia é uma precondição para a saúde e para a cidadania,

e implica em grande responsabilidade consigo e com os outros. O fortalecimento das relações

entre pacientes e profissionais de saúde e entre pacientes e seus familiares é fundamental para

o cuidado e para a saúde. É por meio deste cuidado que a autonomia pode se construir. Para se

alcançar a capacidade de autonomia é essencial a democratização dos saberes, de informações

e das relações entre os profissionais de saúde e pacientes, com necessidade de transformações

profundas na educação e na cultura (SOARES e CAMARGO JR., 2007).

A autonomia é definida sempre de forma relativa à heteronomia e se dá em graus. O

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desenvolvimento de um maior grau de autonomia não depende apenas do indivíduo, mas de

vários fatores. Resultaria da interligação das condições externas ao sujeito, como a cultura, o

contexto político, as organizações e instituições nas quais o sujeito está inserido e também das

microrrelações e de características do próprio sujeito, como sua capacidade de refletir e agir

nesse contexto e de lidar com outros sujeitos (FIGUEIREDO e FURLAN, 2008).

De acordo com as reflexões de Campos (2006), autonomia é um processo de co-

constituição de uma maior capacidade dos sujeitos compreenderem e agirem sobre si mesmo e

sobre o contexto conforme objetivos democraticamente estabelecidos. A co-constituição da

autonomia depende de um conjunto de fatores, por isto se fala em co-produção de autonomia,

co-constituição de capacidades ou co-produção do processo saúde-doença. A co-produção de

maiores coeficientes de autonomia depende do acesso dos sujeitos à informação e de sua

capacidade de utilizar este conhecimento e interpretá-lo, para reflexão e ação. Os objetivos

essenciais do trabalho em saúde seriam, portanto, a produção de saúde e a co-construção da

autonomia dos sujeitos envolvidos nesses processos (CAMPOS e CAMPOS, 2006).

É preciso repensar modelos de atenção que reforcem a educação em saúde para

ampliar a autonomia, a capacidade de intervenção das pessoas sobre suas próprias vidas

(CECCIM e FEUERWERKER, 2004).

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4 - Atenção Integral à Saúde da Criança

A Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (ATSCAM) do

Ministério da Saúde propõe modelos de atenção que integram ações de promoção, vigilância,

prevenção e assistência em “linhas de cuidado”, que interrelacionam-se visando à atenção

integral à saúde da criança. Quatro linhas de cuidado prioritárias têm norteado as ações da

ATSCAM: Incentivo e Qualificação do Acompanhamento do Crescimento e

Desenvolvimento; Atenção à Saúde do Recém-Nascido; Promoção, Proteção e Apoio ao

Aleitamento Materno; Prevenção de Violências e Promoção da Cultura de Paz (BRASIL,

2011).

A partir das ações desenvolvidas para garantir uma atenção Integral à Saúde da

Criança constitui um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, desempenhadas

para a promoção da saúde, a prevenção dos agravos e ações de assistência aos problemas de

saúde da criança, abrangendo o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da

saúde (BRASIL/MS, 2004). Dentro da Atenção Integral à Saúde da Criança, inúmeros progressos na sobrevivência

e no desenvolvimento da criança vêm ocorrendo: menores taxas de mortalidade infantil,

menores taxas de mortalidade de menores de cinco anos, maiores taxas de aleitamento

materno exclusivo até seis meses, maior cobertura vacinal, acesso a saneamento básico,

maiores taxas de escolaridade e diminuição da desnutrição infantil.

A Atenção Integral à Saúde da Criança é uma estratégia importante de promoção de

saúde, além de oportunizar o tratamento de problemas que afetam a criança. É importante que

essas ações se concretizem logo no início da vida. O cuidado com a saúde infantil está entre

as ações essenciais do Ministério da Saúde. Os índices de mortalidade infantil vêm reduzindo

ao longo dos anos, mas ainda são altos. As causas perinatais, a pneumonia e a diarréia

associada à desnutrição são as principais causas de morte no primeiro ano de vida. A

promoção do nascimento saudável, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento,

imunização, promoção do aleitamento materno e alimentação saudável, prioridade para a

vigilância à saúde das crianças de maior risco e o cuidado às doenças prevalentes são ações

que devem ser realizadas em toda sua plenitude para que a criança possa crescer e

desenvolver todo seu potencial. Dentre estas ações, o aleitamento materno tem grande

potencial transformador no crescimento, desenvolvimento e prevenção de doenças na infância

(BRASIL/MS, 2004).

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O uso de material audiovisual, a entrega de orientações impressas às famílias e o

atendimento em grupo de mães têm se mostrado úteis como veículos para a promoção da

saúde da criança. A seleção de métodos educativos deve ser feita de acordo com as

necessidades e características dos pais e das informações a serem transmitidas (GLASCOE et

al, 1998). Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), podem ser afixados cartazes ou pôsteres

educativos com orientações sobre aleitamento materno, alimentação e outras informações que

podem ser vistos enquanto se aguarda a consulta. É importante a integração de condutas

educativas dentro das ações em saúde.

O Ministério da Saúde propõe um cronograma de sete consultas de rotina, para o

acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento da criança no primeiro ano de vida,

para as crianças que não foram classificadas como de alto risco (BRASIL/MS, 2009a). A

atenção à saúde deve ser personalizada e flexível, e se adaptar às necessidades da criança e da

família e dos recursos do serviço de saúde. O pediatra junto à equipe de saúde precisa adaptar

as condutas às necessidades da população-alvo.

Na consulta de atenção à saúde da criança, o profissional de saúde deve avaliar e

orientar sobre: aleitamento materno, alimentação complementar, peso, altura e perímetro

cefálico, vacinas, desenvolvimento, cuidados para a saúde, prevenção de acidentes e

identificar problemas ou riscos para a saúde (BRASIL/MS, 2009a). A Caderneta de Saúde da

Criança contém informações e orientações para ajudar a família a cuidar da saúde da criança.

Esta Caderneta de Saúde da Criança permite o registro de informações de saúde da criança e

presta orientações às mães quanto a dificuldades na amamentação, dúvidas em relação aos

cuidados com a criança, orientações sobre etapas do desenvolvimento, saúde bucal, ocular e

auditiva, além de conter o calendário vacinal. A Caderneta de Saúde da Criança é um

instrumento que auxilia o acompanhamento da criança e seu uso adequado permite estreitar o

vínculo da criança e da mãe com o serviço de saúde. Vale salientar seu papel como uma

ferramenta para o desenvolvimento da autonomia das mães.

É necessário ressaltar a importância da realização do Teste do Pezinho (Triagem

metabólica neonatal), Teste da Orelhinha (Triagem auditiva neonatal) e Teste do Olhinho

(Teste do reflexo vermelho), que são testes de triagem neonatal.

No Brasil, atualmente, o Programa Nacional de Triagem Neonatal adota a triagem

metabólica neonatal para fenilcetonúria, hipotireoidismo e hemoglobinopatias. São doenças

que embora não sejam frequentes, com intervenção precoce consegue-se grande melhora na

qualidade de vida da criança. A coleta do sangue deve ser feita a partir de 24 horas de vida e

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preferencialmente até o sétimo dia de vida, sendo, no entanto, realizada a coleta nas unidades

de saúde, em geral, até os dois meses de vida.

A triagem auditiva neonatal consiste em Teste Auditivo Comportamental e Teste de

Emissão Otoacústicas Evocadas e deve ser realizado preferencialmente nos primeiros três

meses de vida, para que se possa detectar perdas da audição precocemente. Geralmente é

realizado por Fonoaudiólogos.

O exame dos olhos e da visão é essencial para detecção de condições que resultam em

cegueira. O Teste do Reflexo Vermelho permite detectar doenças oculares como catarata,

opacidades da córnea, retinoblastomas, entre outras, que podem ameaçar a visão da criança. A

detecção precoce é fundamental para o sucesso terapêutico. O exame deve ser realizado

preferencialmente nas maternidades, nas primeiras 48 horas de vida.

O acompanhamento do peso e estatura da criança em curvas padronizadas é indicador

do estado de saúde e é importante para a tranquilização dos pais. Seu desvio sinaliza que algo

não está bem.

A cada consulta deve-se verificar se a vacinação da criança encontra-se em dia e

lembrar a ocasião da próxima vacina, que habitualmente encontra-se anotado a lápis no cartão

de vacinação da criança, de acordo com o Calendário Básico de Vacinação da Criança

preconizado pelo Ministério da Saúde (disponível em: <http://www.saude.gov.br>). Vacina

antimeningocócica C, antipneumocócica conjugada, contra varicela e contra hepatite A são

recomendadas pela Associação Brasileira de Imunizações (SBIm), segundo Calendário de

Vacinação da Criança (disponível em: <http://www.sbim.org.br>), porém não são

contempladas pelo Ministério da Saúde para todas as crianças. São fornecidas apenas para

pessoas em situação de risco aumentado para determinadas infecções, como portadores de

cardiopatia crônica, diabetes mellitus, imunodepressão entre outras. Estas vacinas

complementares são fornecidas pelo Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais

(CRIE). Estas doenças preveníveis podem evoluir com complicações, internações e com

grande gravidade. Além disto, as doenças representam desgaste emocional para as famílias,

absenteísmo escolar e falta ao trabalho pelos pais. Em outubro de 2010, houve a

disponibilização da vacina antipneumocócica 10 valente e da vacina antimeningocócica C na

rede pública para inclusão no calendário básico de vacinação, apenas para as crianças até dois

anos de idade. Contudo, a inclusão destas vacinas representa um grande avanço para a saúde

pública no Brasil.

Outros tópicos que devem ser abordados na consulta são: riscos do fumo passivo,

riscos do coleito (criança dormir na cama dos pais), posição do recém-nascido ao dormir (não

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dormir em pronação), malefícios da chupeta, transporte em automóveis e riscos de injúrias

físicas. O pediatra deve orientar sobre a prevenção de acidentes inerentes a cada etapa do

desenvolvimento infantil, para melhorar o conhecimento dos pais visando à adoção de

medidas de segurança (BLAIR, 2001).

Dentro do contexto de atenção primária à saúde, a Puericultura causa impacto positivo

sobre a taxa de amamentação exclusiva na população. As mães necessitam de maior

conhecimento e maior apoio para amamentar, principalmente as de grupos mais vulneráveis e

a intervenção deve envolver periódicos contatos (FALEIROS, 2005).

Primeira Semana Saúde Integral

Segundo a Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da

Mortalidade Infantil (2004), a ação “Primeira Semana Saúde Integral” é uma estratégia e

oportunidade de atenção à saúde da mulher e da criança, em um momento especial e de maior

vulnerabilidade na vida de ambos. Na “Primeira Semana Saúde Integral,” o recém-nascido e

sua mãe devem ser acolhidos na unidade de saúde. A equipe de saúde deverá atender

integralmente a criança e a mulher, com avaliação das condições de saúde da criança, da mãe,

incentivo ao aleitamento materno e apoio às dificuldades apresentadas, aplicação de vacinas

para a puérpera e a criança, agendamento da consulta de pós-parto e planejamento familiar

para a mãe e de acompanhamento para a criança. Na “Primeira Semana Saúde Integral”

procura-se acolher à mulher e ao recém-nascido e identificar a criança de risco ao nascer. As

crianças de risco ao nascimento ou associado/adquirido precisam ser priorizadas para o

desenvolvimento das ações de vigilância à saúde. É importante que a mãe e seu bebê se

sintam acolhidos ao procurarem o serviço de saúde. O acolhimento do recém-nascido e da

mãe na unidade de saúde pode ser feito de forma individual ou em grupo na dependência de

cada serviço.

O trabalho na forma de grupos é uma alternativa que serve de apoio às mães no

cuidado com a criança no início da vida, quando, frequentemente, existem muitas

dificuldades. O trabalho de grupo pode ser uma forma de auxiliar na promoção da

compreensão de situações enfrentadas pelo indivíduo e reunir pessoas movidas por

necessidades semelhantes que podem compartilhar experiências comuns. Entre os benefícios

do trabalho de grupo temos: elevar a autoestima, melhorar o autocuidado e ajudar as pessoas a

buscarem comportamentos mais saudáveis (DIAS, SILVEIRA e WITT, 2009). Os grupos têm

sido utilizados principalmente nas ações de educação em saúde como grupos de diabéticos, de

hipertensos, de gestantes e também no nível de atenção à saúde da criança e da puérpera como

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o Acolhimento Mãe-Bebê. Estes grupos são mediados por equipes interdisciplinares

(CARDOSO e PEREIRA, 2010).

A ação educativa na atenção primária se estabelece a partir de programas

determinados verticalmente ou ligada às ações de promoção de saúde e prevenção de doenças

junto à comunidade. As situações em que a educação em saúde se aplica são as que exigem

participação ativa dos sujeitos, possibilitando a transformação de suas atitudes,

conhecimentos e habilidades para lidar com os problemas de saúde (DIAS, SILVEIRA e

WITT, 2009).

O atendimento em grupo de mães tem a vantagem de mesclar as orientações com a

troca de experiências entre os participantes para conferir conhecimentos às mães e promover

interação mãe-filho (GLASCOE et al, 1998). O profissional de saúde age como facilitador da

discussão dos temas propostos. Na dinâmica de grupo podem ser abordadas questões de

interesse e preocupação dos pais, com oportunidade de esclarecerem dúvidas e de haver troca

de experiências entre os participantes. O grupo é um espaço de aprendizado, diálogo e

formação de vínculo.

O acolhimento à mãe e ao bebê realizado em grupo ou de forma individual procura

apoiar as mães no cuidado com a criança.

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5 - Aleitamento materno e promoção da saúde

Dentro da Puericultura o incentivo ao aleitamento materno é uma questão

fundamental. A Puericultura pode ajudar as mães a superarem dificuldades e inseguranças em

relação à amamentação. O aleitamento materno tem um forte impacto na promoção da saúde

integral da criança, sendo a infância, principalmente o primeiro ano de vida, um período de

desenvolvimento de grande parte das potencialidades humanas. O incentivo ao aleitamento

materno tem, portanto, grande repercussão na Saúde Coletiva. A implementação das ações de

promoção do aleitamento materno depende de esforços coletivos intersetoriais e constitui

enorme desafio para o sistema de saúde.

Segundo o Ministério da Saúde (2009b), nos últimos 30 anos, as políticas nacionais de

apoio ao aleitamento materno se basearam principalmente na perspectiva hospitalar ou no

apoio legal, mas houve pouco estímulo para o estabelecimento destas ações no âmbito da

atenção básica para o cuidado integral à saúde da criança. Apesar de todas as evidências da

importância da amamentação e dos esforços dos órgãos nacionais e internacionais, as taxas de

aleitamento materno no Brasil estão bastante aquém do recomendado. O profissional de saúde

tem um papel fundamental na promoção e apoio ao aleitamento materno, mas para isto ele

precisa estar preparado, com um olhar atento e abrangente, ajudando a mãe a superar

dificuldades e inseguranças, com respeito ao saber de cada mulher. É preciso buscar formas

de interagir com a população para transmitir a importância da prática saudável da

amamentação.

A OMS e o Ministério da Saúde recomendam o aleitamento materno exclusivo por

seis meses e complementado até dois anos ou mais. Segundo o Ministério da Saúde (2009b), a

introdução precoce de outros alimentos está associada a: maior número de episódios de

diarréia, maior número de hospitalizações por doença respiratória, risco de desnutrição, menor

absorção de nutrientes do leite materno como o ferro e o zinco, menor eficácia da lactação

como método anticoncepcional e menor duração do aleitamento materno.

Segundo a OMS, as formas de aleitamento materno podem ser classificadas em:

-Aleitamento materno - quando a criança recebe leite materno, independente de receber ou

não outros alimentos.

-Aleitamento materno exclusivo - quando a criança recebe somente leite materno, sem outros

líquidos ou sólidos.

-Aleitamento materno predominante - quando a criança recebe, além do leite materno, água

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ou bebidas à base de água, sucos de frutas e fluidos rituais (chás).

-Aleitamento materno complementado - quando a criança recebe, além do leite materno,

qualquer alimento sólido ou semi-sólido com a finalidade de complementá-lo, e não de

substituí-lo.

-Aleitamento materno misto ou parcial - quando a criança recebe leite materno e outros tipos

de leite.

A superioridade do leite materno sobre leites de outras espécies está comprovada por

estudos científicos. A amamentação produz vínculo mãe-filho, proteção e nutrição para a

criança, com redução da morbimortalidade infantil. Sua importância é ainda maior entre as

crianças de menor nível socioeconômico. O aleitamento materno tem grande impacto na

redução das mortes de crianças menores de cinco anos, sendo maior a proteção quanto menor

é a criança (WHO, 2000). O leite materno protege a criança contra diarréia, principalmente

entre os mais pobres, além de exercer influência na gravidade da doença. Protege também

contra infecção respiratória, diminuindo sua gravidade e reduz o risco de alergia à proteína do

leite de vaca, a incidência de dermatite atópica e de alergias respiratórias (BRASIL/MS,

2009b). Como mais uma das inúmeras vantagens, o aleitamento materno tem efeito protetor

contra o sobrepeso na infância. Os indivíduos amamentados têm menor risco de hipertensão

arterial, colesterol alto e de diabetes a longo prazo (BALABAN et al, 2004).

O leite materno possui todos os nutrientes essenciais para o crescimento e

desenvolvimento da criança, além de ser mais facilmente digerido do que o leite artificial.

Supre as necessidades nutricionais da criança nos primeiros seis meses de vida e continua

sendo uma importante fonte de nutrientes no segundo ano de vida. O exercício de sucção da

mama é muito importante para o desenvolvimento da cavidade oral da criança, preparando

para a mastigação, deglutição, respiração adequada e a articulação dos sons da fala. Há

evidências de que o aleitamento materno contribui para o desenvolvimento cognitivo da

criança. Traz benefícios psicológicos para a criança e para a mãe. O aleitamento materno

fortalece os laços afetivos entre mãe e filho e desenvolve sentimentos de segurança e proteção

na criança e de autoconfiança e de realização na mãe (BRASIL/MS, 2009b).

A amamentação representa menores custos financeiros. Protege a mulher contra o

câncer de mama e é um método anticoncepcional nos primeiros seis meses após o parto, desde

que a mãe esteja amamentando exclusivamente o bebê e ainda não tenha menstruado. Há

também perda mais rápida de peso pela mulher na vigência da amamentação exclusiva (REA,

2004).

O aleitamento materno proporciona melhor qualidade de vida para as famílias. As

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crianças amamentadas adoecem menos, necessitam de menos atendimento médico,

hospitalizações e medicamentos, com menos gastos e menos faltas ao trabalho pelos pais.

Há um descompasso entre o avanço do conhecimento científico a respeito dos

benefícios do leite humano e a amamentação como prática socialmente instituída. As

vantagens da amamentação, comprovadas pela ciência e difundidas na sociedade, não tem

sido suficientes para garantir a introjeção de valores culturais capazes de reverter a presente

tendência ao desmame, que tem caráter multicausal (ALMEIDA e NOVAK, 2004).

No Brasil, a partir de 1981, a preocupação com o desmame precoce originou o

Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM), como política estatal em

favor da amamentação. As ações do PNIAM se fundamentavam em resgatar o aleitamento

materno, concebido como um ato natural, instintivo, biológico, em que a mãe detém a

responsabilidade sobre a saúde de sua criança, reproduzindo a concepção higienista de

amamentação. Reduzia as questões relacionadas ao aleitamento materno à dimensão

biológica. Há limites na prática da amamentação e a mãe necessita desenvolver um

aprendizado, evidenciando que o ato de amamentar não é instintivo (ALMEIDA e GOMES,

1998). A mulher precisa ser assistida e apoiada para que possa desempenhar o seu novo papel

social. As estruturas assistenciais precisam estar preparadas para atuar efetivamente no apoio

à mãe e a seu filho.

Com o objetivo de apoiar, incentivar e proteger o aleitamento materno, a Iniciativa

Hospital Amigo da Criança (IHAC) foi implantada internacionalmente no início da década de

90. A implementação do Programa IHAC no Brasil, a partir de 1992, incorporou o significado

de proteção e apoio ao aleitamento materno. Ao se focalizar a amamentação com lentes da

relação promoção-proteção-apoio, passamos a vê-la como um fato social, revelando o

equívoco das formulações políticas que a vêem apenas como uma prática natural. As questões

da amamentação devem ser contextualizadas às circunstâncias decorrentes da pós-

modernidade, com compatibilização entre determinantes biológicos e condicionantes

socioculturais, que configuram a amamentação como uma categoria híbrida entre natureza e a

cultura. A categorização da amamentação como um híbrido natureza-cultura faz uma

abordagem da amamentação como reflexo de determinantes biológicos e fatores sociais,

econômicos, políticos e culturais (ALMEIDA e NOVAK, 2004).

A estratégia IHAC prioriza a mudança de atitude dos profissionais de saúde de

hospitais e maternidades. Para que um hospital ou maternidade se transforme em Hospital

Amigo da Criança é necessário mobilizar os profissionais de saúde no intuito de gerar

mudanças em condutas e rotinas existentes, visando prevenir o desmame precoce. O Brasil foi

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um dos primeiros países a implantar a IHAC, estimulando a adoção dos “Dez Passos para o

Sucesso do Aleitamento Materno” em seus hospitais (WHO, 1989; ARAUJO, OTTO e

SCHMITZ, 2003). As seguintes orientações foram normatizadas pela OMS e UNICEF: 1- Ter

uma norma escrita sobre aleitamento materno, que deverá ser rotineiramente transmitida a

toda a equipe de cuidados de saúde; 2- Treinar toda a equipe de cuidados de saúde,

capacitando-a para implementar esta norma; 3- Informar todas as gestantes sobre as vantagens

e manejos do aleitamento materno; 4- Ajudar as mães a iniciar a amamentação na primeira

hora após o parto; 5- Mostrar as mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se

vierem a ser separadas de seu filho; 6- Não dar ao recém- nascido nenhum outro alimento ou

bebida além do leite materno, a não ser que seja indicado pelo médico; 7- Praticar o

alojamento conjunto (permitir que as mães e os bebês permaneçam juntos 24 horas por dia);

8- Encorajar o aleitamento sob livre demanda; 9- Não dar bicos artificiais ou chupetas a

crianças amamentadas ao seio; 10- Encorajar a formação de grupos de apoio à amamentação

para onde as mães devem ser encaminhadas, logo após a alta do hospital ou ambulatório.

O benefício desta estratégia tem sido apontado por alguns estudos que avaliaram seu

impacto. As intervenções educativas e de mudanças de práticas propiciadas pela IHAC

tendem a favorecer a amamentação de forma muito mais efetiva se houver um conjunto maior

de atores sociais envolvidos, permitindo reforço daqueles passos que demandam um maior

suporte extra-hospitalar. O envolvimento de maior número de atores sociais torna-se mais

propício quando existem várias unidades hospitalares credenciadas como Amigas da Criança

(CALDEIRA e GONÇALVES, 2007). Isto implica um maior número de profissionais

capacitados, promovendo e apoiando a prática da amamentação, num trabalho em equipe.

O desmame precoce tem se mostrado ainda intenso, principalmente no primeiro mês

de vida. Entende-se que o momento de intervir e de apoiar as mães é especialmente no pré-

natal e durante as duas primeiras semanas após o parto. É nesse período que a mulher precisa

de mais apoio e disto depende sua decisão de amamentar. A Iniciativa Hospital Amigo da

Criança tem contribuído para aumentar a incidência e a duração da amamentação, mas ainda

está longe dos patamares desejados. O potencial de impacto desta estratégia tem limites, pois

a alta da maternidade ocorre no primeiro ou segundo dia após o parto, antes da amamentação

estar plenamente estabelecida. Um hospital que se preocupa com a promoção ao aleitamento

materno deve também apoiar sua continuidade através de encaminhamento das mães para

grupos de apoio à amamentação. É provável que a falta de apoio contínuo seja um fator

importante no desmame precoce. Há necessidade de estratégias que dêem suporte contínuo às

mães após a alta hospitalar para fortalecimento e manutenção do aleitamento materno. Após a

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alta da maternidade, o acompanhamento de Puericultura é fundamental para o apoio e

manutenção do aleitamento materno (ARAUJO, OTTO e SCHMITZ, 2003; OLIVEIRA,

CAMACHO e SOUZA, 2005).

Ao longo dos anos, outras ações têm favorecido o aleitamento materno, como a

adoção da Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de

Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (BRASIL/MS, 2001) e a participação mais

ativa de órgãos governamentais e não-governamentais na promoção, proteção e apoio a

prática da amamentação. Novas iniciativas devem ser promovidas, principalmente as que

reforcem os grupos de apoio e as atividades educativas durante o pré-natal e durante o

acompanhamento da criança após a alta hospitalar.

Uma das estratégias adotadas na política de promoção do aleitamento materno no

Estado do Rio de Janeiro, lançada em 1999, é a Iniciativa Unidade Básica Amiga da

Amamentação (IUBAAM). Esta iniciativa tem por objetivo a promoção, proteção e apoio ao

aleitamento materno nos serviços de pré-natal e de pediatria, através da mobilização das

Unidades Básicas de Saúde para adoção dos Dez Passos para o Sucesso da Amamentação na

Atenção Básica à Saúde. Tem também um importante papel de suporte às famílias que, por

meio das UBS, em conjunto com os hospitais, pode tornar o aleitamento materno uma prática

universal (OLIVEIRA, CAMACHO e SOUZA, 2005). Resultados positivos foram

observados em estudo após a implantação da estratégia IUBAAM, tanto em relação ao

aumento da proporção de crianças amamentadas, principalmente de forma exclusiva em

menores de 6 meses, quanto sobre a diminuição da freqüência de consultas motivadas por

morbidades comuns entre lactentes. Esta iniciativa se mostrou uma ferramenta transformadora

de processo de trabalho e estes resultados são relevantes para a promoção da saúde da criança

e para a prevenção de agravos comuns na atenção à saúde da criança (CARDOSO et al,

2008).

A promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno devem ser vistas como

responsabilidade primordial das Unidades Básicas de Saúde. A implementação da IUBAAM

implica em treinamento específico de profissionais de saúde para que as ações sejam

desenvolvidas de forma consistente. É necessário o domínio de técnicas de manejo da

amamentação pela equipe de saúde, construção de diálogo no lugar da atual conduta básica

prescritiva para atuar de forma efetiva na promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno.

A unidade de saúde pode se constituir em um espaço de apoio à mulher para amamentar. As

atividades de grupos de gestantes e de mães são oportunidades para compartilharem suas

expectativas e experiências em relação à amamentação. Com a orientação dos profissionais de

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saúde, os grupos podem prevenir e sanar dificuldades e permitem às mães lidarem com a

ansiedade, insegurança e problemas relacionados ao aleitamento materno (OLIVEIRA,

CAMACHO e SOUZA, 2005).

Algumas mães, principalmente as primíparas, precisam de ajuda para iniciar com

sucesso a amamentação. A técnica da amamentação precisa ser aprendida. O ensino das

técnicas de pega e posição corretas, de retirada do leite das mamas e do armazenamento do

leite deve contemplar todas as mães, para que em qualquer intercorrência, possam fazê-lo

adequadamente (ARAUJO, OTTO e SCHMITZ, 2003).

A amamentação deve ser em livre demanda, sem restrições de horários e de tempo de

permanência na mama. É importante o esvaziamento adequado da mama para que a criança

receba o leite do início e o do final da mamada, que é mais calórico, promovendo saciedade

no bebê. O uso de água, chás e outros leites deve ser evitado, pois está associado ao desmame

precoce (WHO, 1989). A mamadeira pode levar a “confusão de bicos,” levando ao desmame.

O uso de chupeta pode interferir negativamente na duração do aleitamento materno e é fonte

de contaminação da criança (PARIZOTO et al, 2009).

Segundo o Ministério da Saúde (2009b), várias são as dificuldades relacionadas à

amamentação relatadas pelas mães. Quando, por qualquer motivo, o esvaziamento das mamas

é prejudicado, pode haver uma diminuição na produção do leite por inibição mecânica e

química. A sucção do bebê e o esvaziamento da mama garantem a reposição total do leite

removido. A liberação do hormônio responsável pela expulsão do leite da mama (ocitocina)

ocorre pelo estímulo provocado pela sucção da criança e em resposta a estímulos

condicionados como visão, cheiro e choro da criança, e a fatores de ordem emocional como

motivação, tranquilidade e autoconfiança. A dor, estresse, ansiedade, insegurança e falta de

autoconfiança podem inibir a liberação de ocitocina, prejudicando a saída do leite da mama. É

importante que a mãe tenha a informação que, em geral, é capaz de produzir mais leite do que

a quantidade necessária para o seu bebê e que desenvolva tranquilidade, autoconfiança e

autonomia. A sucção do bebê é um ato reflexo, mas é preciso que a pega da mama seja

adequada. A técnica de amamentação, a maneira como a dupla mãe-bebê se posiciona para

amamentar, é fundamental para o sucesso da amamentação, para que o bebê consiga mamar

de forma eficiente e para não machucar os mamilos da mãe, provocando dor ao amamentar. É

importante que a mãe sinta que o profissional se interessa pelo bem estar dela e de seu filho,

para que adquira confiança e se sinta apoiada e acolhida.

Nos estudos que buscaram compreender o desmame com base no que a mãe

verbalizava, o leite fraco ou pouco leite figuraram como principal fator explicativo. Contudo,

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as disfunções lactogênicas mamárias são raras, o que permite afastar com fundamento

científico a existência de leite fraco e de hipogalactia (ALMEIDA e NOVAK, 2004). Em

estudo qualitativo sobre as alegações maternas para o desmame, Ramos e João Almeida

(2003) encontraram a figura do “leite fraco, pouco leite e leite secou”, associado ao choro e à

fome do bebê, como verdadeiros condicionantes para o curso da amamentação. A insegurança

materna diante do choro do filho se apresentou como elemento desencadeador do desmame.

As intercorrências da mama surgiram como o segundo fator interveniente no curso da

amamentação em ordem de importância. Outras alegações maternas para o desmame foram:

falta de experiência materna, fardo ocasionado pela amamentação frente às atividades do

cotidiano, inadequação entre suas necessidades e as da criança, interferências externas de

familiares e amigos, trabalho materno e ambiguidade entre o querer e o poder amamentar.

Estiveram presentes, em todos os momentos das entrevistas, a solidão e isolamento da

mulher-mãe e a necessidade de obter apoio para conseguir amamentar.

Alguns problemas enfrentados pelas mães durante a amamentação, se não forem

precocemente identificados, podem levar a interrupção do aleitamento materno. É preciso

manejo precoce dos problemas e suporte emocional para as mães. Os profissionais de saúde

têm um papel importante na prevenção e manejo das dificuldades. A queixa bastante comum

de leite fraco ou pouco leite é, muitas vezes, reflexo da insegurança materna quanto a sua

capacidade de nutrir plenamente o seu bebê (WHO/UNICEF, 1993). Esta insegurança é,

muitas vezes, reforçada por pessoas próximas. Na amamentação, é preciso o apoio da família,

evitando palpites que vão conduzir ao desmame, e que a mãe esteja bem orientada.

Os primeiros dias após o parto são fundamentais para o sucesso da amamentação e é

um período de intenso aprendizado para a mãe e o bebê. O entendimento sobre as

necessidades do bebê é fundamental para que a mãe tenha tranquilidade. O bebê tem

comportamento muito variável e dependente de vários fatores como sua personalidade e

sensibilidade, fatores orgânicos, fatores emocionais e o estado emocional da mãe. É

importante lembrar à mãe que cada bebê é único e responde de maneira diferente às diversas

situações. O choro do bebê, muitas vezes, é interpretado pela mãe como fome, sendo uma

importante causa de desmame. Na maioria das vezes, o bebê se acalma se aconchegado ou se

colocado no peito, pois necessita se sentir seguro e protegido. As mães que ficam tensas e

ansiosas com o choro do bebê tendem a transmitir estes sentimentos para o filho, causando

mais choro. A suplementação com outros leites, muitas vezes, melhora a tensão materna e

esta tranquilidade é repassada ao bebê que passa a chorar menos. Uma vez iniciada a

suplementação, o bebê passa a sugar menos o peito e, como consequência, haverá menor

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produção de leite, o que com frequência culmina com a interrupção da amamentação. Após a

descida do leite, que costuma ocorrer até o 3º ou 4º dia após o parto, a produção do leite

materno depende basicamente do esvaziamento da mama. O número de vezes que a criança

urina ao dia e a evacuações frequentes são indicativos da ingestão do leite materno. O melhor

indicativo que a criança está recebendo volume adequado de leite é o acompanhamento de seu

crescimento, seu ganho ponderal (BRASIL/MS, 2009b).

A mãe precisa receber ajuda centrada nas dificuldades específicas e nas suas crises de

autoconfiança. Aconselhamento em amamentação é uma forma de atuação do profissional de

saúde com a mãe onde ele a escuta, procura compreendê-la e oferece ajuda para propiciar que

a mãe planeje, tome decisões e se fortaleça para lidar com pressões, aumentando sua

autoconfiança e autoestima (BUENO e TERUYA, 2004). O curso de “Aconselhamento em

Amamentação: um Curso de Treinamento”, com suporte do Ministério da Saúde e de

secretarias de saúde, tem como objetivo treinar o profissional de saúde em algumas

habilidades específicas para facilitar a comunicação, considerando as bases fisiológicas da

lactação. (WHO/UNICEF, 1993). A linguagem deve ser simples e direta. Em vez de dar

ordens, é melhor sugerir. O relacionamento do profissional de saúde com a mãe é fortalecido

quando há empatia, escuta qualificada e há valorização do que a mãe faz corretamente, sem

julgamentos, para que se sinta confiante, aumentando sua autonomia. A mãe pode se tornar

suscetível à pressão de familiares e conhecidos para o desmame quando perde a confiança em

si mesma. A mãe com autoestima assegurada é capaz de resistir a pressões contra a

amamentação (BUENO e TERUYA, 2004).

As incertezas da mãe quanto a sua capacidade de cuidar de seu filho, principalmente se

a criança tem algum problema ou dificuldade, também podem afetar o vínculo da mãe com o

bebê (WHO/UNICEF, 1993). Mães com necessidades especiais como limitações físicas,

auditivas ou visuais exigem maior habilidade em relação à orientação em saúde e maior

suporte por parte da família e dos profissionais de saúde em relação às dificuldades no manejo

do aleitamento materno.

A mãe necessita ser orientada quanto a uma alimentação adequada durante a lactação,

pois costuma haver um aumento do apetite e da sede neste período (WHO, 1989). É

importante manter a lactação após o retorno ao trabalho. O leite poderá ser ordenhado,

armazenado em geladeira por 12 horas ou no congelador por 15 dias e aquecido em banho-

maria. Deve ser oferecido à criança de preferência por meio de copo ou colher, evitando

mamadeira (BRASIL/MS, 2009a).

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As situações em que o aleitamento materno precisa ser interrompido são poucas.

Recomenda-se que, previamente a prescrição de medicações às nutrizes, se consulte o Manual

Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias (BRASIL/MS, 2010).

É preciso treinamento dos profissionais de saúde para promoção, proteção e apoio ao

aleitamento materno. Contudo, a promoção do aleitamento materno não é só responsabilidade

dos serviços de saúde, de algum programa de saúde ou de alguma categoria profissional. O

aleitamento materno deve ser visto como uma importante política de saúde e nutrição que

merece encorajamento de todos na sociedade. Vendo outras mulheres amamentarem,

especialmente na mesma família ou grupo social, a mulher tende a desenvolver atitudes

positivas em relação à amamentação. A importância do aleitamento materno deve ser

ressaltada durante ações educativas dirigidas à mulher e à criança. Esta orientação deve ser

iniciada no acompanhamento de pré-natal, inclusive com a participação dos familiares (WHO,

1989).

A mãe necessita de constante incentivo e apoio dos profissionais de saúde, da família

e, sobretudo, do pai para uma amamentação bem sucedida. O pai pode participar dos cuidados

com o bebê, dando suporte a mãe. Outras pessoas, principalmente a avó, podem ter uma

participação importante no dia a dia das mães e das crianças e podem exercer grande

influência sobre as mães, o que pode favorecer ou dificultar o aleitamento materno. É

importante incluir as avós no aconselhamento em amamentação. A família deve procurar

ajudar a mãe nas tarefas de casa para que ela possa se dedicar ao recém-nascido

(BRASIL/MS, 2009b).

É importante que o profissional de saúde conheça as leis e outros instrumentos de

proteção ao aleitamento materno. A licença maternidade de 120 dias consecutivos, sem

prejuízo do emprego e da remuneração (Constituição Federal de 1988, artigo 7º, inciso

XVIII), é um direito da mulher que contribui para o aleitamento materno. A Lei Federal nº

11770, de 9 de setembro de 2008, cria o Programa Empresa Cidadã, que visa prorrogar a

licença maternidade para 180 dias, mediante incentivo fiscal às empresas. Esta Lei permite

que a criança possa permanecer em aleitamento materno exclusivo até seis meses de vida,

conforme a recomendação da OMS e do Ministério da Saúde. Muitos estados e municípios já

concedem licença maternidade de seis meses com o objetivo de fortalecer suas políticas de

promoção e proteção ao aleitamento materno (BRASIL/MS, 2009b).

A mulher tem direito a duas pausas de 30 minutos cada, durante a jornada de trabalho,

para amamentar o filho até que ele complete seis meses de idade. Este período poderá ser

aumentado a critério da autoridade competente. Todo estabelecimento que empregue mais de

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trinta mulheres com mais de dezesseis anos de idade deverá dispor de local apropriado para

vigilância e assistência de seus filhos no período de amamentação. As creches poderão ser

mantidas diretamente ou mediante convênios (BRASIL/MS, 2009b).

É preciso que as mães realmente sintam-se motivadas e acreditem que amamentar é

uma boa opção. O aleitamento materno tem diferentes significados para a mulher, de acordo

com suas crenças que fazem parte de uma herança sociocultural. A decisão de amamentar

depende da importância atribuída a esta prática (RAMOS e ALMEIDA, J. 2003). Neste caso,

é importante a atuação dos profissionais de saúde para o incentivo à amamentação,

enfantizando-se a necessidade de treinamento dos mesmos. “A mulher que amamenta vê

reconfortada sua capacidade de continuar gerando vida através do alimento que brota do seu

corpo” (ANTUNES, 2008, p. 108).

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6 - Cuidado integral em saúde

O cuidado em saúde assume grande importância na promoção da saúde da criança,

principalmente no primeiro ano de vida. Quanto menor a criança, mais dependente ela é dos

cuidados maternos e do cuidado em saúde. Segundo Pinheiro (2008a), define-se como

cuidado um “modo de fazer na vida cotidiana” que se caracteriza pela atenção,

responsabilidade, zelo e desvelo com pessoas e coisas em lugares e tempos distintos de sua

realização. A produção do cuidado deve ser contextualizada no espaço da vida social e

cultural de cada usuário. O cuidado consiste em um modo de agir que é produzido como

experiência de um modo de vida específico e é delineado por aspectos políticos, sociais,

culturais e históricos, que se traduzem em práticas em uma dada sociedade. A produção do

cuidado exerce efeitos e repercussões na vida dos sujeitos e se transforma em experiência

humana, daí a grande importância do cuidado em saúde desde o início da vida.

A produção do cuidado deve ser norteada pela necessidade de saúde do outro, no caso

o usuário. O outro tem o caminho para a construção do seu cuidado, e o profissional de saúde

que se responsabiliza pelo cuidado tem a tarefa de garantir-lhe a autonomia no seu “modo de

andar na vida” (PINHEIRO, 2008a). Na atenção integral à saúde da criança, o profissional de

saúde deve estar sensível às necessidades das crianças e das mães que procuram os serviços

de saúde. Deve-se procurar ajudar as mães nas suas dificuldades nos cuidados com a criança,

dificuldades com o aleitamento materno e nas dúvidas em relação à saúde da criança, visando

produzir maior segurança e autonomia das mães.

Tradicionalmente, a prática do cuidado vem sendo exercida no interior das famílias

pelas mulheres e sua realização demanda um saber adquirido no cotidiano, passado de

geração em geração. Atualmente, as mulheres cuidam da casa, dos filhos, além do trabalho

fora de casa em grande parte das famílias. Poucas vezes, o pai vai à unidade de saúde com a

criança ou acompanhando a mãe e a criança nas consultas e em outros procedimentos. A mãe

é quem geralmente assume a responsabilidade pelo cuidado da criança. A dedicação e o

sentimento de responsabilidade são atributos fundamentais para a realização do cuidado.

A idéia da maternidade como função primordial da mulher tem origem remota,

vinculada à natureza feminina. A partir da década de 1920, estudava-se a maneira científica

de cuidar da criança. Apoiando-se nos preceitos da higiene, visava-se difundir a idéia do

exercício da maternidade fundamentado em bases científicas. A Puericultura apontava um

conjunto de técnicas científicas destinadas aos cuidados dos filhos, de forma a preservar sua

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saúde e garantir seu crescimento e desenvolvimento adequados. Era consenso que as próprias

mães deviam se encarregar dos cuidados com os filhos, sem se apoiar apenas em seu instinto,

mas acrescentando outros elementos como a moral, o patriotismo e civilidade, sob supervisão

médica (FREIRE, 2008).

A prática de cuidar está histórica e culturalmente ligada ao gênero feminino. Desde a

Grécia Antiga a gestão do cuidado era tarefa feminina. Até os dias de hoje permanece a idéia

da mãe como “cuidadora” de seus filhos, uma responsabilidade bastante repetida em muitos

cotidianos familiares (PINHEIRO, 2008a).

Construção do cuidado integral em saúde

O cuidado no campo da saúde é a sua própria razão de ser. É o meio e o fim das ações

desenvolvidas pelos profissionais de saúde. Com isso, o cuidado pode ser usado como uma

categoria analítica para interrogar os modos como as ações de saúde são produzidas e como

são organizadas as instituições responsáveis por essa produção (SILVA JUNIOR, ALVES e

ALVES, 2005).

A demanda por cuidado em saúde vem se complexificando, o que tem exigido cada

vez mais a atuação de diferentes profissionais. O demandante cada vez mais requererá atenção

e responsabilidade com suas aspirações e especificidades, de modo a incluí-lo na tomada de

decisão sobre sua vida e sobre sua saúde. O cuidado em saúde deve permear as práticas de

saúde como uma dimensão da integralidade em saúde, não podendo ficar restrito a tarefas

técnicas, pois o acolhimento, o vínculo e a escuta são inerentes à sua constituição. Além do

saber profissional e das tecnologias necessárias, o cuidado abre espaço para negociação e a

inclusão do saber e das necessidades do usuário. O cuidado em saúde não é apenas um nível

de atenção do sistema de saúde ou um procedimento técnico, mas uma ação integral que visa

compreender a saúde como o direito de ser, respeitando as diferenças dos sujeitos. É também

garantir acesso a outras práticas terapêuticas e permitir ao usuário participar ativamente da

decisão acerca da melhor tecnologia médica a ser utilizada. O cuidado em saúde é uma ação

integral fruto de interações positivas entre usuários, profissionais de saúde e instituições, que

se traduzem em tratamento digno, com qualidade, acolhimento e vínculo. O cuidado em saúde

é uma atitude interativa que inclui o envolvimento e o relacionamento entre as partes, com

escuta do usuário, respeito pelo seu sofrimento e história de vida (PINHEIRO, 2008a).

A biomedicina teve grandes avanços na área tecnológica e medicamentosa, mas ainda

assim apresenta fracassos na prática clínica, sobretudo ao se lidar com fenômenos subjetivos

no indivíduo que demanda por cuidado. Muitas vezes, a prevenção e o controle de doenças

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somente poderão ser alcançados com sucesso através da mudança dos padrões de

comportamento humano e pela adoção de um modelo de cuidado no qual o usuário participe

desse processo (NOGUEIRA, 2009). De acordo com essa perspectiva, é fundamental que haja

um melhor entendimento do usuário sobre sua saúde e sua doença, para que o mesmo possa

exercer o autocuidado, desenvolvendo assim sua autonomia.

O novo Código de Ética Médica que entrou em vigor no dia 13 de abril de 2010,

enfoca questões importantes como o reforço à autonomia do paciente. É vedado ao médico,

segundo o Art. 24, “Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente

sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo.” O novo

Código tenta resgatar questões importantes, que foram negligenciadas ao longo do tempo,

como a boa relação com o paciente. Se não houver uma relação de sintonia entre o

profissional e o usuário, a probabilidade desse encontro caminhar no sentido produtivo fica

comprometida. O importante é que essas mudanças impactem positivamente no cotidiano, nas

relações com o usuário.

O cuidado em saúde pode não só diminuir o impacto do adoecimento, mas ajudar a

promover saúde. A promoção da saúde assume grande importância no início da vida. O

profissional de saúde pode colaborar no desenvolvimento da autonomia das mães, para que

possam exercer o cuidado de seus filhos com segurança.

O trabalho interdisciplinar e a articulação dos profissionais de saúde e gestores dos

serviços de saúde e usuários em redes, de forma que todos participem ativamente, podem

ampliar o cuidado em saúde. O cuidado integral em saúde permite inserir as preocupações

com o bem-estar dos indivíduos, com a qualidade de vida e devolver a esses indivíduos a

capacidade de julgar quais são suas necessidades de saúde (PINHEIRO, 2008a). Da mesma

forma, a ação intersetorial para a saúde visa alcançar resultados de saúde de forma mais

efetiva do que poderia alcançar o setor saúde agindo isoladamente. Ação intersetorial

pressupõe conjugação dos esforços de diferentes setores como saúde, educação, saneamento,

segurança, transporte, habitação e outros, visando à transformação das atividades

desenvolvidas para que tenham maior efetividade e impacto sobre as necessidades sociais

(TEIXEIRA e PAIM, 2000). É importante a articulação do setor saúde com os demais setores

de governo para a promoção da saúde e prevenção de doenças. A atenção à saúde deve incluir

ações de prevenção de riscos e agravos e de promoção de saúde para além dos muros das

unidades de saúde, nos territórios onde vive e trabalha a população. A ênfase da atenção à

saúde deve se deslocar da recuperação da saúde de doentes para a prevenção de riscos e

agravos e promoção da saúde, o que implica em tomar como objeto os problemas de saúde e

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seus determinantes. As ações e serviços poderão incidir sobre as condições de vida, trabalho e

lazer, sobre o modo de vida das pessoas, com melhoria da qualidade de vida, em um processo

de empoderamento político e cultural (TEIXEIRA, 2006).

Ocorreram grandes avanços na construção de um sistema de saúde mais equitativo,

universal e democrático no Brasil, mesmo com adversidades. Para que esta luta avance é

necessário o fortalecimento da integralidade em saúde, que é um compromisso histórico do

movimento pela Reforma Sanitária Brasileira. A integralidade do cuidado precisa ser o eixo

central para que haja mudança no modelo de atenção à saúde (BARROS, 2006).

A integralidade no cuidado à saúde é um conceito de difícil realização, que deve ser

construído cotidianamente. A integralidade como definição legal e institucional é um conjunto

articulado de ações e serviços de saúde, preventivos e curativos, individuais e coletivos, em

cada caso, nos níveis de complexidade do sistema. Na experiência do cotidiano a

integralidade ganha sentido mais ampliado e pode ser concebida como uma ação social que

resulta da interação democrática entre os atores no cotidiano de suas práticas, no cuidado de

saúde, nos diferentes níveis de atenção do sistema. É uma estratégia de um fazer coletivo em

defesa da vida (PINHEIRO, 2008b).

A integralidade é reconhecida nas práticas que valorizam o cuidado e que consideram

o usuário como sujeito a ser atendido e respeitado em suas necessidades. O acolhimento é um

dispositivo para o desenvolvimento de práticas integrais em saúde, buscando a

responsabilização, a intervenção resolutiva e o vínculo com o usuário, em modelo de atenção

centrado no usuário (FRANCO, BUENO e MERHY, 1999). O modelo de atenção precisa

estar comprometido com a produção dos atos de cuidar do indivíduo e do coletivo, isto é,

comprometido com necessidades enquanto valores de uso (MERHY, 1998).

Segundo Teixeira (2006), a transformação do modelo de atenção, numa perspectiva

ampliada, exige a conjunção de propostas e estratégias sinérgicas em três dimensões:

dimensão gerencial (relativa aos mecanismos de condução do processo de reorganização das

ações e serviços), dimensão organizativa (estabelecimento de relações entre as unidades de

prestação de serviços) e dimensão técnico-assistencial (relações estabelecidas entre os sujeitos

das práticas e seus objetos de trabalho que operam no processo de trabalho em saúde). Tudo

isso é necessário, mas não é suficiente para a transformação propriamente dita do modelo de

atenção à saúde. Para que ela ocorra, deve haver implementação de mudanças no processo de

trabalho. O modelo de atenção à saúde precisa ter como eixo central a busca da

universalização, integralidade e equidade na prestação de serviços.

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Segundo Merhy (1998), só construindo um modelo que explore positivamente a

capacidade cuidadora do conjunto de trabalhadores de saúde é que reformaremos o sistema de

saúde na defesa da vida individual e coletiva. A mudança do modelo de atenção só de fato

ocorrerá se puder impactar o modo como é cotidianamente produzido o cuidado em saúde

junto aos usuários. O modelo assistencial deve ser centrado no usuário, dependente de

tecnologia relacional, comprometido com uma gestão mais coletiva dos processos de trabalho

em saúde de forma multiprofissional e interdisciplinar. A abordagem assistencial de um

profissional de saúde junto a um usuário produz-se através de um trabalho vivo em ato, em

um processo de relações, no encontro do trabalhador de saúde e o usuário. Todo profissional

de saúde detém uma dimensão de cuidador, é um operador do cuidado. É importante que haja

um compromisso permanente com a tarefa de acolher, responsabilizar, resolver e

autonomizar. O usuário representa necessidade de saúde como expressão de uma utilidade

desejada, a saúde enquanto autonomia no seu modo de andar na vida (MERHY, 1998). O

acolhimento é um dispositivo para se repensar a organização do trabalho e dos serviços de

saúde para melhor escuta das necessidades de saúde dos usuários.

Franco e outros autores (2009) consideram o cuidado em saúde uma produção social

no cenário da micropolítica e práticas de saúde e também uma produção subjetiva, expressa

pela força desejante de cada trabalhador, usuário e gestor do SUS. O trabalhador de saúde, em

seu trabalho vivo em ato, tem certo grau de liberdade, o que lhe dá a possibilidade de

construir práticas de cuidado muito singulares. A atividade cotidiana de cada profissional se

diferencia entre si no essencial, mesmo que sob uma orientação técnica e protocolar

homogênea. Ele é quem decide sobre a relação com o usuário, o cuidado e sua intensidade, na

sua singularidade, operando em ato. O trabalhador e o usuário têm grande capacidade de se

afetarem mutuamente, com base na relação que estabelecem no momento do cuidado. Cada

trabalhador produz no cotidiano o cuidado aos usuários partindo do pressuposto de que

haveria uma produção subjetiva do cuidado em saúde no âmbito do processo de trabalho e, ao

mesmo tempo, há produção de si mesmo como sujeito do trabalho. A subjetividade é social e

historicamente construída, com base em acontecimentos, encontros e vivências múltiplas de

um sujeito. Na mesma medida que o trabalhador produz o mundo do cuidado em saúde, ele é

produzido por este mesmo mundo, nas relações que se realizam entre si mesmo e os outros. O

trabalhador da saúde é produtor e produto ao mesmo tempo de determinados modelos

tecnoassistenciais. A mudança no processo de trabalho e na produção do cuidado requer a

produção de uma nova subjetividade deste trabalhador, muito mais do que mudança em

qualquer dispositivo normativo. A mudança na produção do cuidado é marcada por novas

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subjetividades, num modo de trabalhar em saúde que tem como centro o campo relacional,

abrindo o encontro com os usuários para espaços de fala, escuta e olhares. Portanto, o núcleo

de produção do cuidado é o processo de trabalho, que é determinado pelo sujeito que o opera

e para mudanças na saúde é preciso mudanças nas subjetividades (FRANCO, ANDRADE e

FERREIRA, 2009).

A atenção básica à saúde, o chamado nível primário de atenção, não é autossuficiente

para proporcionar o cuidado integral em saúde. A maior qualificação da atenção básica tem

exigido novas atitudes e novos aportes de conhecimentos nos demais níveis de assistência. Há

necessidade de articulação do trabalho das diversas equipes e serviços através de uma rede de

cuidados. Essa articulação não é feita só por normas e formulários, mas pela discussão

conjunta de processos de trabalho e objetivos pactuados entre si e com a população. As linhas

de cuidado devem ser viabilizadas na rede de serviços num acordo assistencial que garanta:

disponibilidade de recursos, fluxos assistenciais facilitando o usuário a “caminhar na rede” e

instrumentos que garantam uma referência segura e contrarreferência aos diversos recursos da

rede. Essa rede, ao invés de ser hierarquizada tradicionalmente, pode ser visualizada numa

perspectiva circular, com múltiplas entradas, conforme a necessidade dos usuários, onde se

busca assegurar as possibilidades de satisfação dessas necessidades. Contudo, uma rede

cuidadora não é restrita aos serviços de saúde e pressupõe a articulação com outros recursos

da sociedade como apoio familiar, econômico, moradia e outros que compõem as redes

sociais (SILVA JUNIOR, ALVES e ALVES, 2005).

Para haver integralidade no cuidado é preciso que haja responsabilidades entre

serviços e população, humanização das práticas da saúde, estabelecimento de vínculo entre

profissionais de saúde e a população, estímulo ao exercício do controle social e o

reconhecimento da saúde como direito de cidadania. A integralidade é concebida como uma

construção coletiva, que ganha forma e expressão no espaço de encontro dos diferentes

sujeitos implicados na produção do cuidado em saúde (PINHEIRO, 2008b).

A necessidade de transformação do modelo assistencial emergiu como questão

prioritária para consolidação do SUS como sistema universal, humanizado e de qualidade, ao

se buscar uma prática clínica ampliada e integradora das dimensões biopsicossociais e capaz

de promover o cuidado em saúde mediante o trabalho em equipe multidisciplinar

(NOGUEIRA, 2009).

Para que ocorram mudanças que atendam a um novo modelo de atenção à saúde é

necessário intervir na formação dos profissionais de saúde, visado à integralidade em saúde

numa perspectiva de multiprofissionalidade, operarando de forma transdisciplinar. Para a

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efetiva prática da integralidade é necessário o cuidado multiprofissional em saúde (BARROS,

2006).

A perspectiva transdisciplinar busca a interferência entre as disciplinas, rompendo

fronteiras rígidas que marcam o funcionamento das disciplinas. A multiprofissionalidade a

partir da transdisciplinaridade significa colocar em questão os limites entre as disciplinas,

interrogando os especialismos. Permite a comunicação máxima entre os diferentes saberes, o

que não significa negar as especificidades dos saberes e suas singularidades (BARROS,

2006).

As experiências dos profissionais devem ser valorizadas, não a despeito das evidências

científicas, mas no sentido de que o próprio trabalho possa ser um espaço educativo e

transformador.

Os processos de construção do cuidado e de formação dos profissionais de saúde são

interdependentes. A formação precisa ser direcionada para consolidação de práticas de

cuidado integrais, presentes na construção social da demanda em saúde. A incorporação das

demandas sociais no processo de formação dos profissionais de saúde é um desafio, pela

necessidade de construção de um modelo de atenção à saúde usuário-centrado. A

incorporação da centralidade da demanda social no processo de formação em saúde é uma

necessidade para a mudança do modelo de atenção à saúde (OLIVEIRA, KOIFMAN e

PONTES, 2005).

Na maioria dos casos, a formação médica continua privilegiando a técnica e o

conhecimento biológico, dissociado dos aspectos históricos, sociais, psicológicos e culturais

que permeiam a saúde e o adoecimento das pessoas (NOGUEIRA, 2009). Estas questões

podem ser extrapoladas para a formação dos profissionais da área de saúde de forma geral.

Assim, o princípio da integralidade pode orientar a organização das práticas no

cotidiano dos serviços, nos processos de trabalho em saúde e nos processos formativos em

saúde. As práticas de saúde e de formação precisam estar articuladas com as várias esferas de

gestão do sistema de saúde e instituições formadoras o que permite avançar na implementação

dos princípios e diretrizes do SUS. O ensino nas universidades tem o potencial de assumir um

compromisso com a construção e consolidação de políticas públicas na saúde e com outros

setores, na perspectiva da intersetorialidade. As ações intersetoriais agregam diferentes

setores em ações articuladas (OLIVEIRA, KOIFMAN e PONTES, 2005).

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6.1 - Acolhimento em saúde

O direito à assistência de forma humanitária deve estar presente na essência das

políticas de promoção de saúde. Fatores sócio-econômicos e políticos definem em grande

parte a estrutura e organização dos serviços, no que se refere a aspectos da macropolítica.

Porém, o funcionamento e o perfil assistencial são resultantes dos processos micropolíticos e

das tecnologias de trabalho, meios pelos quais ocorre a efetiva produção do cuidado à saúde

(FRANCO e MERHY, 2003). O trabalho em saúde é centrado no trabalho vivo em ato permanentemente. O trabalho

vivo em saúde não pode ser globalmente capturado, pela própria natureza tecnológica deste

trabalho, expressando-se como autogoverno e processos intercessores entre trabalhador e

usuário. Este campo de ação do trabalho vivo em ato é o lugar de novas possibilidades de

intervenções e mudanças no setor saúde (MERHY, 2003).

O trabalhador de saúde tem certa autonomia sobre o modo de prestar a assistência e

muitas vezes é o que determina o perfil do modelo assistencial. Não basta mudar a estrutura,

os recursos e seus formatos para modificar os modelos assistenciais e suas micropolíticas

instituintes. Além disto, é necessária uma mudança nos valores e comportamentos dos

profissionais de saúde. Segundo Franco e Merhy (2003), os trabalhadores de saúde podem ser

dispositivos de mudanças dos serviços assistenciais. O trabalho nos serviços de saúde deve ser

guiado por valores humanitários, de solidariedade, de cidadania em torno da assistência à

saúde. Para se instituir um novo modelo assistencial, se pressupõe a formação de uma nova

subjetividade entre os trabalhadores de saúde para acompanhar a técnica utilizada na

produção do cuidado em saúde. O novo modelo assistencial é entendido pelos autores a partir

das diretrizes do Acolhimento, Vínculo/Responsabilização e Autonomização.

Na assistência à saúde deve haver comprometimento com o cuidado, proteção,

tratamento, recuperação, prevenção e, sobretudo, promoção de saúde. O Acolhimento, como

prática nas ações de atenção à saúde, favorece uma relação de confiança e compromisso entre

usuários e serviços de saúde. O Acolhimento é importante diretriz na promoção da saúde.

Acolher expressa uma ação de aproximação e uma atitude de inclusão e consideração.

Isto implica em estar em relação com algo ou alguém. O Acolhimento é uma das diretrizes de

maior relevância ética, estética e política da Política Nacional de Humanização do SUS. Ética

pois há compromisso com o reconhecimento do outro, na atitude de acolhê-lo em suas

diferenças. Estética porque traz, para as relações do dia-a-dia, estratégias que contribuem para

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a dignificação da vida e do viver. Política porque implica o compromisso coletivo de

envolver-se nestes encontros (BRASIL/MS, 2006).

Como etapa do processo de trabalho, o acolhimento pode evidenciar as dinâmicas e os

critérios de acessibilidade a que os usuários estão submetidos. O acolhimento, como diretriz

operacional do modelo assistencial, propõe reorganizar o serviço de saúde para garantir o

acesso universal, resolubilidade e atendimento humanizado. O acolhimento parte dos

seguintes princípios (FRANCO, BUENO e MERHY, 1999):

- atender a todas as pessoas que procuram o serviço de saúde, com escuta qualificada,

garantindo a acessibilidade universal;

- reorganizar o processo de trabalho, deslocando o seu eixo central do médico para uma

equipe multiprofissional (equipe de acolhimento);

- qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve se dar por parâmetros humanitários, de

solidariedade e cidadania.

O trabalho nas unidades de saúde, de maneira geral, é centrado na pessoa do médico,

ficando os outros profissionais de saúde com seu potencial para assistência sub-aproveitado.

A maioria das pessoas que procura os serviços de saúde busca uma consulta médica, trazendo

questões que poderiam ser conduzidas por outros profissionais de saúde. Isto reduz a oferta de

serviços nas unidades e faz com que algumas pessoas fiquem excluídas dos serviços por falta

de vagas (FRANCO, BUENO e MERHY, 1999).

É necessária uma integração multidisciplinar entre os profissionais de saúde com

envolvimento dos trabalhadores no seu processo de trabalho. Muitas vezes o usuário é tratado

de forma burocrática e impessoal. Deve-se construir vínculo solidário entre os profissionais de

saúde e o usuário, com empenho na construção de estratégias que promovam mudanças nos

serviços. A prática do Acolhimento vem mudar o modelo assistencial tradicional.

Um novo modelo de organização da assistência à saúde se dá a partir da reorganização

dos processos de trabalho. É importante que cada profissional possa atuar com novas práticas,

a partir de seus microespaços de trabalho, com valorização da clínica na atenção ao usuário e

das equipes de saúde multiprofissionais. É necessária a ruptura com o processo de trabalho

centrado no médico e na produção de procedimentos. O modelo de assistência deve ser

usuário-centrado. Apenas modificar a estrutura não garante que a relação dos profissionais

com os usuários seja realizada sob novos parâmetros de compromisso com o usuário. O que

define o perfil da assistência é o fazer no cotidiano de cada profissional, na relação que se

estabelece no encontro profissional de saúde-usuário, com a construção de uma nova

subjetividade em cada profissional e usuário. Nesta nova relação, tanto o profissional quanto o

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usuário podem ser produtores de saúde. Os diversos saberes se articulam e em “relações

intercessoras com o usuário” o cuidado é produzido (FRANCO e MERHY, 2003).

Algumas vezes, a noção de Acolhimento nas unidades de saúde tem ocorrido como

uma dimensão espacial, traduzido em recepção e ambiente confortável ou como uma ação de

triagem administrativa e repasse de encaminhamentos para serviços especializados. O

Acolhimento poderá ocorrer em todos os locais e momentos do serviço de saúde. O

Acolhimento, como dispositivo técnico-assistencial, permite a mudança nos modos de operar

a assistência de forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo suas

necessidades, procurando resolubilidade e responsabilização, e estabelecendo articulações

com a rede de serviços de saúde quando necessário (BRASIL/MS, 2006). A integralidade da

atenção à saúde é realizada através da conjugação de esforços entre os diversos serviços,

devendo haver interação entre a rede básica e outros níveis tecnológicos de cuidado. O

Acolhimento questiona toda a rede de serviços, pois busca o cuidado e a resolubilidade da

atenção (FRANCO e PANIZZI, 2004).

Alguns serviços implantam equipes de acolhimento para atender o usuário através de

uma escuta qualificada do seu problema de saúde e esta equipe estabelece o fluxo do usuário

no serviço de saúde. Esta equipe pode ser formada por profissionais de nível superior como

enfermeiros, dentistas, médicos, assistentes sociais e outros, assim como técnicos e auxiliares

de enfermagem. É importante garantir a retaguarda do atendimento realizado. Protocolos

podem orientar enfermeiros na prescrição de vários exames e medicamentos, aumentando a

resolubilidade e autonomia na assistência.

Os problemas de saúde são complexos e requerem projetos terapêuticos

complementares, com soma de diversos saberes articulados para resolvê-los de fato. No

trabalho em equipe multiprofissional, o conhecimento para a resolução dos problemas é muito

maior, pois trabalha-se com a noção de multicausalidades na produção da doença. O usuário

deve interagir com os profissionais de saúde e deve ser colocado como sujeito do seu próprio

processo cuidador, exercendo o autocuidado. Para a mudança do modelo assistencial na

saúde, necessita-se construir “Projetos Terapêuticos Cuidadores”, centrados no usuário e suas

necessidades, criando maior segurança do usuário para viver a vida, ou seja, maior autonomia

(MERHY, 2002b).

Técnicas de atendimento de grupos podem ser muito eficazes para determinados

usuários. Os grupos programáticos são uma forma de acolhimento. São capazes de elevar a

autoestima do usuário, aumentar a adesão ao tratamento, contribuindo para o sucesso do

projeto terapêutico e para o autocuidado. Estas ações coletivas devem fazer parte do conjunto

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de atos de saúde pensados a certos grupos de usuários. As ações programáticas são eficazes

por incorporarem vários campos de saberes e práticas, com conhecimentos da epidemiologia,

sociologia, pedagogia, psicologia, entre outros saberes (FRANCO e PANIZZI, 2004). Os

programas são atividades fundamentais para garantir a integralidade da assistência, na medida

em que resolvem grande parte da demanda e são dirigidos para grupos prioritários de atenção.

O Acolhimento visa à produção de relações de escutas e responsabilizações, as quais

se articulam com vínculos e compromissos com projetos de intervenção. Estes objetivam

atuar sobre as necessidades para controle do sofrimento e/ou produção da saúde (FRANCO,

BUENO e MERHY, 1999). O Acolhimento proporciona maior acessibilidade dos usuários

aos serviços de saúde, com maior rendimento dos profissionais de saúde, utilizando todo seu

potencial, com maior resolubilidade da equipe de acolhimento e maior interação dos

profissionais. Espera-se de uma equipe um grande patrimônio de conhecimento, com troca de

saberes, podendo ofertar aos usuários diversos recursos de cuidado em saúde (FRANCO e

PANIZZI, 2004).

O Acolhimento potencializa o trabalho de todos os profissionais, com a inserção de

todos na assistência direta aos usuários. A interação no trabalho produzida pela equipe

multiprofissional pode gerar troca de saberes e multiplica as possibilidades de ofertas aos

usuários das diferentes tecnologias de cuidado. Com isto, o cuidado é produzido de forma

integral. Há maior qualificação do trabalho dos profissionais e da assistência, porque o

Acolhimento intervém sobre as necessidades dos usuários. A percepção dos campos de

necessidades do usuário, para que ele desenvolva maior autonomia, é aguçada com o

acolhimento (FRANCO e PANIZZI, 2004). Devemos buscar tecnologias de trabalho que

permitam maior grau de autonomia do usuário para construir sua trajetória de vida. O sentido

último de qualquer serviço de saúde deve ser o de se centrar no usuário e intervir a partir de

seus problemas, procurando contribuir para sua autonomia (MERHY, 1998, 2003).

A partir do foco na interação entre profissional de saúde e usuário, com incentivo a

posturas relacionalmente responsáveis, possibilita-se a geração do vínculo, da confiança e da

construção de um projeto terapêutico comum. Surge a autonomia responsável e relacional, ou

seja, “a interação gerando vínculos e pertencimento que permita ao usuário ter as rédeas de

sua vida em suas escolhas” (BORGES, MISHIMA e MCNAMEE, 2008).

Desta forma, o Acolhimento, como etapa do processo de trabalho usuário-centrado e

que busca maior grau de autonomia do usuário, tem como objetivo proporcionar melhoria na

assistência e promoção da saúde. A Puericultura, aliada a prática do Acolhimento, é de grande

importância para a promoção da saúde da criança, principalmente no início da vida.

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6.2 - Puericultura e tecnologias relacionais

O momento do trabalho em saúde expressa o trabalho vivo em ato e, esse momento, é

marcado pela possibilidade do trabalhador agir com autogoverno. O trabalho vivo em ato é

um tipo de força que opera em processos e em relações, opera com tecnologias leves

(MERHY, 2002a).

De acordo com Merhy (2002a), as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde são

classificadas como:

- leves – tecnologias de relações do tipo produção de vínculo, autonomização,

acolhimento e gestão como forma de governar processo de trabalho.

- leve-duras – saberes bem estruturados como a clínica médica, a clínica psicanalítica,

a epidemiologia.

- duras – equipamentos tecnológicos do tipo máquinas, normas, estruturas

organizacionais.

Acolhimento, responsabilização e vínculo são tecnologias leves de intervenção

produtoras de cuidado. É fundamental ressaltar a importância das tecnologias leves no

atendimento de Puericultura na perspectiva do desenvolvimento de autonomia das mães.

É importante o incentivo à Puericultura, com a orientação dos pais quanto à

necessidade da busca do serviço de saúde para o acompanhamento contínuo da saúde da

criança, o que envolve ações educativas (BLANK, 2003). Para que o serviço de Puericultura

ganhe potência é necessário olhar para o modo como a mãe vivencia e o significado que ela

atribui ao serviço de Puericultura que lhe é oferecido. Do mesmo modo, é preciso que a dupla

mãe-filho tenha acesso facilitado ao atendimento de Puericultura.

A matrícula para o atendimento da criança na unidade de saúde pode ser feita

idealmente no primeiro mês de vida, época em que a mãe procura a unidade de saúde para

aplicação da vacina BCG e realização do Teste do Pezinho, ocasião que sempre pode ser

aproveitada para orientação quanto à Puericultura.

Os serviços de assistência pré-natal e das maternidades têm papel fundamental na

orientação de gestantes e mães, encaminhando-as junto com seus filhos para o serviço de

Puericultura próximo à sua residência (CIAMPO, ROSA, RICCO, 1994). Todo contato da

criança com o serviço de saúde deveria ser encarado como uma oportunidade para a

promoção de saúde. É também importante a estruturação de ações educativas nas escolas,

creches, pré-escolas e unidades de saúde com abordagem das ações de promoção de saúde.

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Segundo Merhy (1998) o trabalho vivo em saúde deve se abrir para práticas criadoras,

para gerar alterações no modo de se trabalhar em saúde e enfrentar a temática das

necessidades de saúde. Os modelos de assistência precisam ser definidos principalmente pelos

territórios de necessidades e os problemas de saúde colocados pela população. A saúde é

representada pelo usuário como algo útil, por lhe permitir estar no mundo e poder viver de

modo autodeterminado, com autonomia. O usuário busca nos serviços de saúde um meio de

ser mais autônomo no seu modo de caminhar na vida. Tradicionalmente, os serviços de saúde

têm se baseado na realização de procedimentos médicos independentemente das reais

necessidades de saúde da população.

Os processos produtivos em saúde ocorrem no espaço relacional trabalhador-usuário.

É nesse encontro que ocorre um dos momentos mais singulares do processo de trabalho do

profissional de saúde como produtor de cuidado. Esses processos são regidos por tecnologias

leves. A produção do cuidado realiza o encontro entre o usuário e seu mundo de necessidades.

As produções de atos de saúde são compostas por práticas de dimensão cuidadora e de saberes

profissionais específicos. A dimensão cuidadora visa produzir processos de falas e escutas,

posicionamento ético, articulação de saberes, relações de acolhimento e vínculo e relações

intercessoras com o mundo subjetivo do usuário, como ele constrói suas necessidades de

saúde. O trabalho em saúde pode ser um dispositivo que permita ao usuário manter sua

autonomia no seu modo de andar a sua vida, ao se tomar o seu mundo de necessidades como

objeto central (MERHY, 2002b).

Em geral o usuário não reclama da falta de conhecimento tecnológico no seu

atendimento, mas sim da falta de interesse e de responsabilização dos diferentes serviços. Os

usuários sentem-se inseguros, desamparados, desinformados e desrespeitados. Os atos de

saúde devem visar à satisfação de uma necessidade do usuário, produzindo saúde, com ganhos

dos graus de autonomia no modo do usuário andar na sua vida, que é o que se entende como

saúde (MERHY, 1998).

As tecnologias leves devem se articular com as outras tecnologias na assistência à

saúde. Além das tecnologias leves, o serviço de saúde precisa dispor de exames para

esclarecimento de um problema de saúde e de um saber clínico a serviço do paciente

(MERHY, 1998).

O serviço de Puericultura, constituído por uma equipe multiprofissional, permite a

articulação de saberes para a produção do cuidado. O pediatra, nutricionista, assistente social,

enfermeira e fonoaudióloga precisam trabalhar de forma integrada para que a prática da

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Puericultura possa ser desenvolvida como um processo interdisciplinar e em parceria com as

famílias e comunidades.

Na Puericultura é importante criar vínculo no atendimento, orientar as dúvidas

maternas, ajudando a fortalecer a autonomia das mães no cuidado com a criança. A

Puericultura visa o cuidado integral da criança. Na consulta de Puericultura, o pediatra poderá

dispor das diversas tecnologias no seu trabalho em saúde. As tecnologias relacionais têm

grande importância na Puericultura e devem se articular com as outras tecnologias. As mães

precisam sentir-se apoiadas e a criança deve ser vista dentro do contexto de sua família e

comunidade. É preciso saber ouvir e valorizar as preocupações das mães e ao mesmo tempo

dar informações claras, com uma atitude acolhedora, de cumplicidade e responsabilização em

torno da dificuldade a ser enfrentada pela mãe (BLANK, 2003).

A Puericultura depende do profissional de saúde, do seu trabalho vivo em ato, o que

inclui toda a equipe de saúde. A utilização de tecnologias relacionais é fundamental na

Puericultura para que se possa buscar maior autonomia das mães no cuidado com a criança.

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7 - Objetivos

7.1 - Objetivo Geral:

Este estudo teve como objetivo principal interrogar as potencialidades da prática da

Puericultura para a construção da autonomia das mães no cuidado com crianças menores de

um ano.

7.2 - Objetivos Específicos:

1 – Compreender os significados atribuídos à maternidade pelas mães entrevistadas.

2 – Identificar a percepção das mães sobre a saúde de seus filhos.

3 – Avaliar a percepção das mães sobre o Acolhimento Mãe-Bebê e as consultas médicas de

Puericultura em duas Policlínicas do município de Niterói.

4 – Discutir a importância das tecnologias relacionais para o processo de construção da

autonomia das mães no cuidado da criança no primeiro ano de vida.

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8 - Discussão Metodológica

8.1 - Pesquisa Qualitativa

Nos estudos qualitativos, os profissionais de saúde se apropriam parcialmente de

teorias, métodos e instrumentos da Antropologia para iluminar seus objetos de estudo sem,

contudo, visarem atingir um aprofundamento da disciplina. Com a troca de saberes são

construídos os elementos teóricos e metodológicos básicos para a inclusão da questão social

como inerente ao fenômeno da saúde e do adoecimento, visando humanizar a saúde e buscar

respostas (MINAYO, 2005b).

As demandas da sociedade para o setor saúde se complexificaram. A Antropologia

ajuda a evidenciar o sentido amplo e significativo dos fenômenos que recobrem o campo da

saúde e da doença, para compreendermos a visão de mundo dos diferentes grupos e

populações e as relações entre os indivíduos e a sociedade. Ao analisarmos qualquer problema

de saúde precisamos entender suas dimensões biológicas no contexto das condições

estruturais, políticas e subjetivas em que ocorrem. Qualquer fato, fenômeno ou processo que

envolva o ser humano individual ou em coletividade deve ser contextualizado (MINAYO,

2005b). Todas as ações clínicas e as técnicas, de tratamento, de prevenção ou de planejamento

precisam levar em conta os valores, crenças e atitudes das pessoas a quem a ação se dirige. As

ciências da saúde não se tornam menos científicas ao ampliar suas bases conceituais incluindo

o social e a subjetividade, mas, ao contrário, se aproximam com maior luminosidade da

realidade dos fenômenos (MINAYO, 2008).

Este estudo teve como objetivo interrogar a potencialidade da prática da Puericultura

no primeiro ano de vida para construção da autonomia das mães no cuidado com a criança.

Para o desenvolvimento deste estudo foram escolhidas duas Policlínicas no município de

Niterói. Esta prática é desenvolvida através do Acolhimento Mãe-Bebê (termo utilizado no

município de Niterói em correspondência à “Primeira Semana Saúde Integral”) e pelas

consultas de Puericultura. Os recém-nascidos e seus responsáveis (mãe, pai ou outros) que

procuram a unidade de saúde para realização do Teste do Pezinho e aplicação da vacina BCG,

participam do Acolhimento Mãe-Bebê em grupo ou em atendimento individual. A partir daí,

estas crianças são acompanhadas no primeiro ano de vida em consultas médicas de

Puericultura.

Deste modo, este estudo tem a finalidade de avaliar a contribuição do Acolhimento

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Mãe-Bebê e das consultas de Puericultura para a autonomia das mães no cuidado com a

criança no seu primeiro ano de vida.

Segundo Minayo (2008), a escolha da metodologia deve corresponder à necessidade

de conhecimento do objeto. Ao se desenvolver uma proposta de estudo e no desenrolar das

etapas de uma pesquisa, trabalha-se com o reconhecimento, a conveniência e a utilidade dos

métodos disponíveis, em face do tipo de informações necessárias para os objetivos do

trabalho. A proposta metodológica deve contemplar e detalhar todas as etapas de

operacionalização da pesquisa.

Partindo deste enfoque, foi utilizado como referencial para esta pesquisa a

Metodologia Qualitativa. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas para avaliar a

percepção das mães sobre a contribuição do Acolhimento Mãe-Bebê e das consultas de

Puericultura para os cuidados com a criança no primeiro ano de vida. De forma

complementar, foram também realizadas entrevistas semi-estruturadas com a assistente social

e com a fonoaudióloga que participam do Acolhimento Mãe-Bebê nas respectivas unidades de

saúde escolhidas para este estudo.

A grande contribuição da Antropologia é a sua tradição de compreensão da cultura

(oferece instrumentos que permitem compreendê-la) e as interpretações dos diferentes atores

sociais, de acordo com sua posição e seus interesses, sobretudo em relação a questões que

atingem suas vidas. O fenômeno saúde/doença, além de sua configuração biológica, é também

uma realidade construída e o doente é um personagem social. Neste sentido, as Ciências

Sociais e Humanas vem colaborando para mostrar o valor do conhecimento que nasce da

experiência e da vivência (MINAYO, 2005b).

De acordo com os critérios de validação de pesquisas que utilizam o método

qualitativo, devo problematizar minha interferência no estudo em questão, pois trabalho e

participo do Acolhimento Mãe-Bebê em uma das Policlínicas do estudo. Para minimizar

possíveis vieses que comprometessem os resultados, não foram realizadas entrevistas com as

mães atendidas por mim nas consultas de Puericultura.

Para Deslandes (2008), o conhecimento científico é sempre histórico e socialmente

condicionado e o pesquisador opera escolhas, mesmo sem ter a percepção clara disto, tendo

como horizontes sua posição social e a mentalidade de um momento histórico. O pesquisador

quando define o que pesquisar, a partir de que base teórica e como pesquisar, está fazendo

escolhas que são ideológicas.

Existe um envolvimento inevitável com o objeto de estudo e isso não constitui um

defeito ou imperfeição (VELHO, 1978). Não se pode manter a neutralidade ideal, que

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teoricamente permitiria ver todas as situações, de todos os ângulos, se estamos tratando de

fatos e de pessoas que acabam por nos envolver nos seus dramas, projetos e fantasias

(DAMATTA, 1987).

Segundo DaMatta (1987) devemos aprender a realizar uma dupla tarefa que pode ser

resumidamente contida nas seguintes fórmulas: transformar o exótico em familiar e/ou

transformar o familiar em exótico. Transformar o exótico em familiar implica em

compreender o ponto de vista do outro. Por outro lado, quando algo parece familiar e suponho

que conheço tudo o que está em minha volta, eu apenas assumo a atitude do senso comum.

A realidade, familiar ou exótica, sempre é filtrada por um determinado ponto de vista

do observador (pesquisador). O rigor científico deve ser percebido enquanto objetividade

relativa e sempre interpretativa (VELHO, 1978).

8.2 - Descrição do Campo

O presente estudo foi realizado em duas unidades de saúde da Fundação Municipal de

Saúde de Niterói: Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March (PRGM) e Policlínica

Comunitária do Cantagalo Professor Barros Terra (PCBT). O trabalho de campo foi

desenvolvido em duas unidades de saúde na tentativa de ampliar o leque de informações para

enriquecer o objeto de estudo. Estas Policlínicas não fazem parte da Iniciativa Unidade Básica

Amiga da Amamentação.

Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March

A Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March, onde trabalho desde sua

inauguração em 2005, pertence à Regional Norte I da Rede ambulatorial de assistência à

saúde de Niterói. Esta Policlínica presta atendimento aos usuários dos bairros Fonseca,

Cubango, Viçoso Jardim e Caramujo. Procura dar suporte as Unidades Básicas de Saúde e aos

Programas de Médico de Famílias (PMF) desta região. Oferece atendimento de Puericultura

às crianças que não moram na área de abrangência dos PMF e das UBS desta Regional.

Mães e outros familiares que procuram a PRGM para a realização do Teste do Pezinho

e vacina BCG nos recém-nascidos são convidados a participar do grupo de Acolhimento Mãe-

Bebê, por nós denominado Grupo de Puericultura, que acontece às quintas-feiras pela manhã.

Este grupo é mediado por mim e por uma assistente social e tem o objetivo de acolher as mães

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e recém-nascidos ao procurarem o serviço de saúde. Neste grupo há uma troca de experiências

entre as mães, com orientações quanto aos cuidados com o recém-nascido, mediadas pelo

profissional de saúde. É explicada a finalidade do Teste do Pezinho, do Teste da Orelhinha e

do Teste do Reflexo Vermelho, que são exames de triagem neonatal. É salientada a

importância das vacinas, do acompanhamento da criança em consultas na unidade de saúde e

da Caderneta de Saúde da Criança - Ministério da Saúde. É feito incentivo ao aleitamento

materno exclusivo, procurando-se apoiar as mães para a amamentação, orientando-as nas

dificuldades iniciais, na tentativa de evitar as possíveis causas de desmame. Também são

esclarecidas dúvidas quanto ao banho, cuidados com o umbigo, banho de sol, alimentação da

nutriz ou qualquer outra questão relacionada a esta fase da infância que as mães tragam para o

grupo. Problemas ou questões específicas detectados no grupo são levados para o atendimento

individual.

Logo após a dinâmica de Grupo, é realizado o Teste Auditivo Comportamental pela

fonoaudióloga. É também realizado o Teste do Pezinho e aplicação de vacinas BCG e contra

Hepatite B (para os que não a receberam na maternidade). As crianças que não fizeram o

Teste do Reflexo Vermelho na maternidade são encaminhadas para sua realização na ABRAE

(Associação Brasileira de Assistência ao Excepcional), instituição filantrópica localizada em

São Gonçalo - RJ.

Após este trabalho conjunto, é feito agendamento de consultas de Puericultura nesta

Policlínica para as crianças que moram na região de abrangência da unidade. Na PRGM,

quatro pediatras prestam atendimento em consultas de Puericultura para menores de 1 ano de

idade. Os moradores de outras regiões são orientados a agendar consultas próximo à sua

residência, em Programa de Médico de Família ou UBS. As mães são orientadas a fazer o

agendamento da consulta médica de puerpério no local onde fizeram o seu pré-natal.

A divulgação do Grupo de Puericultura é feita através de cartaz afixado na recepção,

bem como o incentivo ao aleitamento materno se dá através de cartazes colocados nas paredes

da Policlínica.

Na consulta de Puericultura procura-se dar continuidade ao trabalho desenvolvido no

Grupo de Puericultura. Na consulta, o pediatra deve orientar as mães quanto à alimentação da

criança, com reforço ao aleitamento materno e quanto à vacinação e, também, verificar se há

anormalidades no exame físico, se o ganho ponderal e estatural estão adequados, bem como

os marcos de desenvolvimento psicomotor da criança. Apesar de algumas normas científicas e

consensos, as condutas nas consultas ficam a critério de cada médico. As condutas e a relação

pediatra-criança-mãe é individualizada, sob a responsabilidade do pediatra. No atendimento,

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devem ser adotadas as recomendações da Caderneta de Saúde da Criança do Ministério da

Saúde, que é entregue às famílias na maternidade por ocasião do nascimento da criança. As

crianças devem ser acompanhadas utilizando-se os gráficos de peso, estatura e perímetro

cefálico da Caderneta de Saúde da Criança. Para facilitar o acompanhamento e vínculo, ao

final da consulta é agendada a próxima consulta para o mesmo profissional.

No caso de intercorrências (longe da data da consulta agendada), as mães procuram o

setor de acolhimento, onde a queixa é avaliada por uma enfermeira e, de acordo com a

necessidade, é feito o atendimento médico (na dependência da presença de pediatra na

Policlínica). Caso contrário, as crianças são atendidas em setores de emergências pediátricas

nos hospitais de referência da Rede Municipal de Saúde de Niterói e posteriormente

acompanhadas na Policlínica.

Policlínica Comunitária do Cantagalo Professor Barros Terra

A Policlínica Comunitária do Cantagalo Professor Barros Terra pertence à Regional

Pendotiba da rede ambulatorial de assistência à saúde de Niterói. Esta Policlínica presta

atendimento aos usuários dos bairros de Cantagalo, Matapaca, Badu, Vila Progresso, Maria

Paula e Muriqui. Esta Policlínica procura atender a comunidade e dar suporte ao Programa

Médico de Família desta região. Oferece atendimento de Puericultura às crianças desta região

que não moram na área de abrangência dos PMF (os PMF não abrangem toda a região).

O Acolhimento Mãe-Bebê na Policlínica do Cantagalo é realizado em atendimento

individual. Acontece às quartas-feiras à tarde e procura dar apoio à mãe e ao bebê na primeira

semana de vida da criança. Participam deste acolhimento uma fonoaudióloga, uma

enfermeira, uma técnica de enfermagem e uma pediatra. Em média são atendidas 5 crianças

nesta tarde de acolhimento. Inicialmente, a criança recebe a vacina BCG e depois é realizado

o Teste do Pezinho. Em seguida, a mãe e a criança vão para outra sala onde são atendidas pela

fonoaudióloga e/ou pela pediatra, que preenchem um formulário onde são colhidas

informações sobre a primeira semana mãe-bebê, onde constam perguntas sobre a história

gestacional e perinatal, dificuldade para amamentar, problemas com o bebê, condições de

saúde da mãe, ansiedade ou depressão materna e se a mãe tem apoio em casa. Mediante as

respostas a estas perguntas, é avaliado o risco e marcada a consulta de Puericultura. Neste

acolhimento são vistas as questões mais imediatas e a fonoaudióloga faz o agendamento das

consultas de Puericultura, se a criança for da região de abrangência da Policlínica, ou orienta

para o acompanhamento no PMF. Já deixa agendada também a consulta de puerpério da mãe.

A fonoaudióloga realiza em seguida o Teste Auditivo Comportamental. A vacina BCG e o

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Teste do Pezinho também são realizados às quitas-feiras à tarde nesta Policlínica.

Três pediatras trabalham com a Puericultura nesta Policlínica. A cada consulta de

Puericultura já é marcada a próxima consulta para o mês seguinte.

8.3 - Entrevistas

A entrevista é um dos instrumentos do trabalho de campo na pesquisa qualitativa.

Neste estudo foi utilizada a entrevista semi-estruturada, com indagações que visam contribuir

para o esclarecimento do objeto. A entrevista semi-estruturada foi realizada a partir de um

roteiro elaborado previamente, o que facilita a abordagem de temas pressupostos na conversa,

mas também teve o cuidado de explorar questões de relevância trazidas na entrevista. A

entrevista semi-estruturada busca o que é representativo, tanto as invariâncias quanto as

singularidades de uma determinada realidade (MINAYO, 2008).

Os pesquisadores, nos estudos qualitativos, precisam levar em consideração a maneira

como são percebidos pelos entrevistados e os efeitos na entrevista (BRITTEN, 2009). O

entrevistador precisa ter habilidade para controlar as impressões que causa no entrevistado e

vice-versa. Deve-se selecionar indivíduos que têm uma vinculação mais significativa para o

problema a ser investigado. A boa seleção dos sujeitos ou casos a serem incluídos no estudo é

aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em suas múltiplas

dimensões (DESLANDES, 2008).

Na pesquisa qualitativa, o universo em questão não são os sujeitos em si, mas as

representações, conhecimentos, práticas, comportamentos e atitudes. Seria impossível

demarcar o número total destas variáveis, muito menos o tamanho da amostra que seria

representativa desta totalidade. Opta-se por definir o número de sujeitos incluídos na pesquisa

por inclusão progressiva, que é interrompida pelo critério da saturação, ou seja, quando as

concepções, explicações e sentidos começam a ter uma regularidade de apresentação

(DESLANDES, 2008).

Por ocasião da consulta médica de Puericultura, após dois meses de acompanhamento,

foram realizadas entrevistas com as mães das crianças. Foram selecionadas, de forma

aleatória, mães de crianças menores de 1 ano, em acompanhamento de Puericultura nas

Policlínicas, atendidas pelas pediatras que prestam consultas de Puericultura no primeiro ano

de vida. A entrevista buscou avaliar a percepção da mãe sobre as orientações no Acolhimento

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Mãe-Bebê (em grupo ou individual), nas consultas de Puericultura e também a percepção da

mãe sobre a saúde de seu filho. Também foram entrevistadas duas profissionais de saúde que

participam do Acolhimento Mãe-Bebê nas Policlínicas.

As entrevistas foram gravadas e transcritas para fornecer um registro do que foi dito.

Os dados obtidos foram tratados pela análise de conteúdo. A análise de conteúdo, segundo

Bardin, pode ser definida como:

Um conjunto de técnicas de comunicação visando obter, por procedimentos

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores

(quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às

condições de produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 1979, p. 42).

Procedimentos de análise são formas de organização dos dados e os passos

empreendidos para a produção de inferências explicativas ou de descrição. Análise de

conteúdo diz respeito a técnicas de pesquisa que permitem tornar replicáveis e válidas

inferências sobre dados de um determinado contexto, por meio de procedimentos

especializados e científicos. Busca a interpretação do material de caráter qualitativo. Dentre as

modalidades de análise de conteúdo, foi utilizada a análise temática por ser a mais simples e

considerada apropriada para as investigações qualitativas em saúde. A análise temática

consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença e

freqüência tenham significado para o objeto em questão (MINAYO, 2008). Utilizou-se a

modalidade de análise temática, orientada a partir do roteiro das entrevistas.

A – A percepção das mães sobre a Puericultura em duas Policlínicas do município de

Niterói

Nesta pesquisa, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas nas duas Policlínicas

com dez mães de crianças menores de um ano de idade atendidas em cada serviço. A

entrevista semi-estruturada baseou-se em um roteiro (Anexo C), previamente construído, com

as seguintes questões:

- Identificação da mãe (idade, escolaridade, ocupação da mãe e cônjuge, renda

familiar, estado civil, religião, moradores da casa, número de filhos);

- Sentimentos em relação à maternidade e ao nascimento deste filho;

- O processo de amamentação: facilidades e/ou dificuldades durante a amamentação;

- Alimentação do bebê, se está em aleitamento materno exclusivo;

- Dificuldades no cuidado com o bebê/Contribuições do Acolhimento Mãe-Bebê e da

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consulta de Puericultura para os cuidados com o bebê;

- Segurança nos cuidados com o filho;

- Apoio dos profissionais de saúde para cuidar do filho;

- Apoio dos familiares para cuidar do filho;

- Conhecimento e compreensão sobre a saúde do filho;

- Avaliação do atendimento na Policlínica/Críticas e sugestões.

B – O olhar da assistente social sobre o Grupo de Puericultura da Policlínica Regional

Dr. Guilherme Taylor March

Foi realizada entrevista semi-estruturada com a assistente social que participa do

Grupo de Puericultura visando descrever as atividades desenvolvidas no Grupo. A entrevista

baseou-se em um roteiro (Anexo D) com as seguintes questões:

- Identificação (idade, tempo de atividade profissional, tempo de participação no

Grupo de Puericultura);

- Motivação para a construção do Grupo de Puericultura, tempo de implantação;

- Seleção dos temas para o Grupo;

- Assuntos abordados no Grupo de Puericultura;

- Percepção da importância do Grupo para as mães;

- Dificuldades no cotidiano do trabalho do Grupo;

- Avaliação.

C – O olhar da fonoaudióloga sobre o Acolhimento Mãe-Bebê na Policlínica

Comunitária do Cantagalo Professor Barros Terra

Foi realizada entrevista com a fonoaudióloga que participa do Acolhimento Mãe-Bebê

em atendimento individual na Policlínica Comunitária do Cantagalo Professor Barros Terra

visando descrever o funcionamento da Puericultura nesta Policlínica.

A entrevista semi-estruturada com a fonoaudióloga baseou-se em um roteiro (Anexo

E) com as seguintes questões:

- Identificação (idade, tempo de atividade profissional);

- Tempo de atividade na Puericultura nesta Policlínica;

- Funcionamento do Acolhimento Mãe-Bebê;

- Funcionamento das consultas de Puericultura;

- Número de pediatras que fazem atendimento de Puericultura para menores de um

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ano nesta Policlínica.

8.4 - Aspectos Éticos

Esta pesquisa é de relevância social, pois visa contribuir para uma melhor interação

entre os atores sociais (profissionais de saúde, mães e crianças) envolvidos na prática da

Puericultura. Como critério de inclusão foram selecionadas para entrevista mães que

participaram do Acolhimento Mãe-Bebê e cuja criança, menor de um ano de idade,

encontrava-se em acompanhamento de Puericultura, por pelo menos dois meses, na

Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March ou na Policlínica Comunitária do Cantagalo

Professor Barros Terra. Foi também realizada entrevista com a assistente social que participa

do Grupo de Puericultura da Policlínica Dr. Guilherme Taylor March e com a fonoaudióloga

que participa do Acolhimento Mãe-Bebê na Policlínica Comunitária do Cantagalo Professor

Barros Terra. As mães, a assistente social e a fonoaudióloga foram convidadas a participar das

entrevistas que foram realizadas em salas de consulta das Policlínicas. Não existiu outro

critério de exclusão.

Cada mãe selecionada (anexo A), a assistente social e a fonoaudióloga (anexo B)

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e voluntariamente participaram da

pesquisa. O Termo de Consentimento foi obtido pela pesquisadora que também realizou as

entrevistas. No caso de mães menores de dezesseis anos, o consentimento deve ser dado pelo

seu responsável legal. O consentimento de mãe maior de dezesseis e menor de dezoito anos

deve ser dado com a assistência de um dos pais ou responsável. No caso de mãe e/ou seu

responsável analfabeto, o Termo deve ser lido em voz alta para a mãe e seu responsável na

presença de duas testemunhas, que firmam também o documento. Estas recomendações foram

acatadas. Cada participante recebeu uma via do referido termo, no qual se garantiu o

anonimato de qualquer informação obtida, a possibilidade de afastamento da pesquisa a

qualquer momento e se esclareceu que a participação na pesquisa não envolveu nenhuma

contrapartida financeira por parte do pesquisador. O estudo não contou com nenhum

financiamento externo.

As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas pelo próprio pesquisador.

As informações coletadas nas entrevistas estarão sob a guarda do pesquisador por cerca de

dois anos, quando serão destruídas.

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O risco potencial era a possibilidade de quebra da confidencialidade e privacidade

das informações que foram coletadas no âmbito da pesquisa, com a identificação do

participante, mas foi garantido o anonimato. As entrevistas, a princípio, não incorporaram

nenhuma questão que pudesse constranger os participantes. Porém, caso ocorresse algum

constrangimento ou alteração emocional durante as entrevistas, estas poderiam ser

interrompidas a qualquer momento.

No Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foram expostos a natureza, os

objetivos, a metodologia, os benefícios previstos e os eventuais riscos da pesquisa, a

instituição envolvida e a garantia da confidencialidade das informações prestadas.

Os participantes foram esclarecidos da relevância da pesquisa em questão, podendo

contribuir para a melhoria no atendimento de Puericultura no primeiro ano de vida, o que

poderá repercutir futuramente na saúde da população geral.

Os resultados da pesquisa e os dados científicos produzidos a partir da mesma

poderão ser utilizados em congressos, demais eventos e publicações de cunho acadêmico-

científico, desde que se garanta a confidencialidade das informações de cada participante.

Será entregue à direção de cada Policlínica um exemplar da dissertação, visando divulgar os

resultados da pesquisa entre os pesquisados.

O início da pesquisa se deu após a autorização da direção da Policlínica Regional

Dr. Guilherme T. March e da Policlínica Comunitária do Cantagalo Professor Barros Terra.

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal

Fluminense (CEP/UFF nº 310/2010) em conformidade com a Resolução nº. 196/1996 do

Conselho Nacional da Saúde do Ministério da Saúde (Brasil, 1996). Somente após receber

aprovação deste Comitê, teve início o trabalho de campo (Anexo F).

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9 - Apresentação e Discussão dos Resultados

9.1 - O Acolhimento Mãe-Bebê (Primeira Semana Saúde Integral) em duas

Policlínicas de Niterói – O olhar dos profissionais de saúde

Acolhimento Mãe-Bebê na Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March - Grupo de

Puericultura

O Grupo de Puericultura na Policlínica Regional Dr. Guilherme Taylor March surgiu

como uma forma de acolher mães e recém-nascidos ao procurarem o serviço de saúde nas

primeiras semanas de vida do bebê. O Grupo de Puericultura fazia parte de uma proposta de

implantação do Acolhimento nesta Policlínica, logo após sua inauguração em 2005, o que não

ocorreu de forma plena. Outros grupos como o Grupo de Gestantes, de Planejamento familiar

e Grupo de Hipertensos também foram implantados.

Segundo entrevista com a assistente social que participa do Grupo de Puericultura, o

grupo foi um pedido da direção da unidade, quando a unidade foi formada:

Eu já fazia este trabalho em outra unidade de saúde, só que eu não fazia em grupo. Eu

fazia este trabalho de receber as crianças e as mães individualmente e a demanda era

bem menor. Então quando eu vim pra cá, eu quis fazer este trabalho, eu já estava

disponível para fazer.

Aproveitei para perguntar se ela achava melhor fazer este trabalho individual ou em

grupo. Ela me respondeu que “no grupo você consegue promover a troca de informações entre

as pessoas que estão participando”.

Os conteúdos selecionados para o Grupo foram: apoio e incentivo ao aleitamento

materno, cuidados com o recém-nascido, vacinação, testes de triagem neonatal e a

importância da Puericultura. O Grupo de Puericultura prioriza o incentivo ao aleitamento

materno. Quanto aos assuntos abordados no Grupo, a assistente social informou:

Dentro destes temas, a gente procura que as pessoas que estão participando do

grupo, elas levantem as suas dúvidas. Então, existem assuntos que a gente fala, que a

gente acha que é importante, mas mais importante que isto é o que as pessoas

colocam no grupo, que são suas dúvidas, as suas perguntas.

Como estratégias para abordagem dos conteúdos, são utilizadas a dinâmica de grupo e

a exposição dialogada. O Grupo tem duração de aproximadamente 1 hora e acontece todas às

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quintas-feiras às 8:30 h (a vacina BCG só é aplicada às quintas-feiras pela manhã nesta

Policlínica). O Grupo é realizado em uma sala com cadeiras dispostas em círculo e contamos

com uma boneca modelo e um modelo de mama de pano para demonstrações. Ao final do

Grupo, as mães são orientadas a agendar a consulta de puerpério, consulta de Puericultura e

são informadas sobre o Grupo de Planejamento Familiar. As crianças de risco ao nascer,

como prematuros, baixo peso ao nascer (< 2500g), crianças que foram internadas ou com

intercorrências na maternidade são atendidas em consulta individual de Puericultura logo após

o grupo. As crianças que chegam mais tarde, após o término do Grupo, são encaminhadas

para os procedimentos e a assistente social verifica se há alguma situação de risco.

O Grupo se inicia com a apresentação de todos os participantes. Participam do Grupo

de Puericultura mães, pais e outros familiares, com o bebê, geralmente com poucos dias ou

até um mês de vida, que procuram a Policlínica para realização do Teste do Pezinho e

aplicação da vacina BCG e para hepatite B. O Grupo é aberto e o número de participantes é

bastante variável, contando em média com catorze adultos e sete bebês. Em média, são

aplicadas dez vacinas BCG e realizados dez Testes do Pezinho neste turno. Muitas destas

crianças são acompanhadas em consultas de Puericultura na Policlínica, outras em Programa

de Médico de Família e UBS, dependendo do seu local de moradia, ou através da saúde

suplementar.

Ao perguntar à assistente social sobre sua percepção da importância do Grupo para as

mães, ela respondeu:

Eu acho importantíssimo. É um espaço que a gente promove aqui na unidade que ela

pode não só fazer perguntas sobre o que ela tem dúvida, mas também trocar

informações com outras mães, o que é muito importante. Nem sempre o que o

profissional fala, vai ter tanto impacto quanto o que uma outra pessoa fala, que já

vivenciou, que já amamentou, que já teve dor, que já teve rachadura e agora

melhorou. Ela tá vendo a experiência. Isto tem muito mais importância pra mãe que

tá escutando, que tá vendo que a outra teve uma rachadura e melhorou, do que a fala

do profissional. Então eu acho que a gente consegue juntar a fala do profissional

com as experiências vividas.

Deve-se procurar valorizar o conhecimento prévio das mães, articulando os novos

conhecimentos com a realidade. No Grupo, há formulação de questões, com troca de

experiências entre as mães, sendo mediado pelo profissional de saúde. Qualquer dúvida ou

dificuldade das mães podem ser trazidas para a discussão. O Grupo de Puericultura tem por

objetivo ser um espaço de acolhimento, educação para saúde e elo entre os procedimentos

realizados com o recém-nascido.

Quando perguntei sobre sua avaliação do Grupo, a assistente social respondeu que

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gostava muito de participar do Grupo e comentou que os assuntos e as dúvidas das mães se

repetem:

Apesar disto, cada grupo é um grupo. E assim, exige da gente, que é profissional, ter

sensibilidade pra lidar com isto também. [...] Mesmo que as dúvidas sejam as

mesmas, a forma como as pessoas perguntam, a forma como as pessoas estão no

grupo, é sempre diferente. Então, eu acho que é sempre um aprendizado e acho que

pras pessoas que estão ali participando é muito bom. A gente já teve retorno muito

positivo do grupo, das pessoas que aproveitam, que elogiam e isto eu acho que é um

retorno bom pra gente, que é profissional, que está fazendo este trabalho.

Em relação às dificuldades no cotidiano do Grupo, a assistente social apontou a falta

de cadeiras. Outra dificuldade já vivenciada foi quanto a divulgação do horário do Grupo pela

recepção, que pedia para as pessoas chegarem cedo demais e o grupo só começa às 8:30 h.

Outra situação, que ocorre eventualmente, é que algumas crianças que têm plano de saúde vão

à Policlínica apenas para receber a vacina BCG e os pais, algumas vezes, não querem

participar do Grupo, sendo então aplicada a vacina e a criança liberada.

São questões frequentes trazidas à tona no Grupo pelas mães: dificuldades no

aleitamento materno (fissuras mamárias, pouco leite, muito leite, “leite fraco”), cólicas,

soluços, golfadas, cuidados com o umbigo, chás e água para o bebê, reação após as vacinas,

produtos para a higiene do bebê e alimentação da nutriz.

Algumas práticas passadas de uma geração a outra, de mãe para filha, ajudam no

cuidado com a criança e no aleitamento materno. O apoio dos familiares é muito importante

neste momento. Porém, em outros casos, palpites de vizinhos e familiares podem atrapalhar,

como é o caso de dar chás, água e mamadeira para o bebê, do uso de cinteiro e pingar leite

materno nos olhos e ouvidos da criança. Outra questão bastante comum é a mãe fazer uma

grande restrição alimentar (numa fase em que sua necessidade de nutrientes está aumentada)

acreditando que vários alimentos poderão “fazer abrir os pontos”. É preciso ter habilidade

para orientar e contornar estas questões.

O Grupo de Puericultura é importante para o apoio às mães, ajudando-as a superar

dificuldades e inseguranças em relação ao aleitamento materno e aos cuidados com a criança.

Porém, como é um encontro único, a continuidade do apoio e das orientações deverá ocorrer

através das consultas de Puericultura.

Acredito que mais estratégias que visem desenvolver conhecimentos, habilidades para

o cuidado e apoio às mães são importantes para a ampliação da autonomia das mães e

ampliação do conhecimento das mães sobre os determinantes da saúde da criança.

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Acolhimento Mãe-Bebê na Policlínica Comunitária do Cantagalo Professor Barros

Terra

O Acolhimento Mãe-Bebê é feito de forma individual nesta Policlínica. Procura dar

apoio à mãe e ao bebê na primeira semana de vida da criança. Participam deste Acolhimento,

uma fonoaudióloga, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem e uma pediatra.

Nesta Policlínica, inicialmente o bebê recebe a vacina BCG e depois é realizado o

Teste do Pezinho e a enfermeira faz as orientações quanto a estes procedimentos. Em seguida

a mãe e o bebê são avaliados pela fonoaudióloga e/ou pela pediatra, que preenchem um

formulário onde são colhidas informações sobre a primeira semana mãe-bebê e mediante as

respostas é avaliado o risco e marcada a consulta de Puericultura. A fonoaudióloga realiza

logo em seguida o Teste Auditivo Comportamental.

Ao perguntar como é feito o Acolhimento Mãe-Bebê nesta Policlínica, a

fonoaudióloga que participa deste acolhimento respondeu:

[...] a gente avalia toda a questão da gestação, se fez o pré-natal, se houve algum

problema, como foi o parto, qual a maternidade o neném nasceu. A gente também

questiona se já registrou o bebê, a importância do cartão de vacina e a gente avalia

se ela está com algum problema na amamentação. A gente avalia o estado emocional

da mãe, pergunta se ela tem apoio, se está com alguma ansiedade ou depressão.

Então, a gente tem uma ficha que a gente vai questionando se ela está dormindo, se

ela está evacuando, se ela está se alimentando, se o bebê ficou internado.

Quando perguntei o que ela achava deste acolhimento, respondeu que achava muito

bom e o acolhimento tentava suprir as dúvidas das mães:

[...] orientar bastante para que a amamentação dê certo, orientar quanto à questão da

Puericultura, que é o acompanhamento que aquele bebê tem que passar naquele

primeiro ano de vida, tomar conta daquelas vacinas, não atrasar. Então, eu acho

muito bom, eu acho até melhor que o particular [riso].

A mãe e o bebê são também atendidos em consulta de enfermagem com uma

professora da Universidade Federal Fluminense, junto com os alunos de enfermagem. Ela

presta orientações sobre o aleitamento materno, condições de saúde da mãe e faz exame físico

do recém-nascido. Esta consulta só ocorre durante o período letivo e foi implantada no início

de 2010.

Quanto ao agendamento da consulta de Puericultura, a fonoaudióloga respondeu que

após esse primeiro contato, a criança já sai com o primeiro agendamento desta consulta, que é

feito por ela mesma: “Então, ela já sai com o cartãozinho, com a consulta dela já marcada e

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toda consulta que ela vier ela já vai deixar marcada a próxima pro mês seguinte. Então, até o

primeiro ano do bebê, eles têm as consultas mensalmente.”

Em caso de intercorrência longe da data da consulta, respondeu que o atendimento

entra no fluxo normal das consultas de Pediatria. Procura-se vaga para atendimento naquele

dia e, se não há, é feita a marcação para outro dia.

Este Acolhimento Mãe-Bebê realizado individualmente é importante para o apoio às

mães, para ajudá-las a superar as dificuldades iniciais nos cuidados com a criança, havendo

interesse e disponibilidade dos profissionais de saúde neste trabalho.

9.2 - Ouvindo as mães

Perfil das mães – Quem são elas?

Foram entrevistadas vinte mães de crianças de dois meses a um ano de idade em

acompanhamento de Puericultura, sendo dez mães de crianças em acompanhamento em cada

Policlínica. As entrevistas tiveram em média vinte minutos de duração, foram realizadas

durante os meses de abril e maio de 2011 e as transcrições das mesmas realizadas no mesmo

período.

A faixa etária das mães variou de 17 a 43 anos, sendo que 2 tinham até 20 anos, 10

tinham de 20 a 30 anos e 8 tinham mais de 30 anos, tendo 1 mãe 43 anos. Em relação à

escolaridade, 7 tinham o ensino médio completo, 5 tinham o ensino médio incompleto, 3

tinham o ensino fundamental completo e 5 incompleto (2 mães estudaram apenas até a 3ª série

do ensino fundamental). Quanto à ocupação, 3 mães eram estudantes, 6 do lar e 11

trabalhavam fora de casa como babá, empregada doméstica, faxineira, auxiliar administrativo,

professora, costureira, vendedora e balconista. Algumas mães estavam afastadas do trabalho

em função da maternidade. Quanto ao estado civil, 18 mães eram casadas e 2 separadas. A

ocupação dos cônjuges variou dentre eletricista, auxiliar de escritório, auxiliar de obra,

empreiteiro, mecânico, taxista, entregador, office-boy, serviços gerais, vendedor autônomo,

vendedor de peixe, balconista de restaurante, encarregado de obra, servente de obra e

aposentadoria por invalidez.

A renda familiar mensal variou de R$ 400,00 a R$ 6000,00 (em apenas 1 das famílias,

cujo cônjuge era taxista). A média da renda familiar mensal das entrevistadas ficou em torno

de R$ 1000,00. Dez mães eram evangélicas, 5 católicas, 1 se identificou como cristã, 2 não

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tinham religião e 2 não informaram. O número de moradores da casa variou de 2 a 8 pessoas e

o número de filhos variou de 1 a 5 filhos (10 mães tinham 1 filho, 4 tinham 2 filhos, 3 tinham

3 filhos, 1 tinha 4 filhos e 2 tinham 5 filhos).

Todos os nomes que surgiram no decorrer das entrevistas foram trocados para evitar

qualquer identificação. Os nomes das mães foram substituídos pela sua letra inicial e

colocados juntamente com as iniciais de cada Policlínica.

Tabela - Perfil das mães entrevistadas

Mãe Idade Escolaridade Ocupação Estado civil Nº filhos Religião

RS-PRGM 22 a EM babá separada 1 evangélica

RP-PRGM 31 a EM do lar casada 3 evangélica

MS-PRGM 17 a EF inc estudante casada 1 não tem

MJ-PRGM 35 a EM professora casada 1 evangélica

MB-PRGM 31 a EM professora casada 1 evangélica

FG-PRGM 24 a EF do lar casada 2 católica

U-PRGM 18 a EM inc estudante casada 1 não informou

FC-PRGM 31 a EF inc do lar casada 5 evangélica

JA- PRGM 32 a EM balconista casada 1 católica

MC-PRGM 20 a EF do lar casada 1 evangélica

FS-PCBT 24 a EM inc do lar casada 2 evangélica

MG-PCBT 23 a EM inc doméstica casada 1 cristã

MF-PCBT 27 a EF inc doméstica casada 4 evangélica

L-PCBT 26 a EM inc costureira casada 3 evangélica

C-PCBT 43 a EF inc faxineira separada 2 não informou

JM-PCBT 32 a EF inc balconista casada 5 católica

MA-PCBT 26 a EF estudante casada 3 evangélica

MP-PCBT 22 a EM desempregada casada 1 não tem

RA-PCBT 33 a EM inc do lar casada 2 católica

D-PCBT 29 a EM aux. administrativo casada 1 católica

EF = Ensino Fundamental; EF inc = Ensino Fundamental incompleto; EM = Ensino Médio; EM inc = Ensino Médio incompleto

A partir do material coletado nas entrevistas com as mães, foram construídas as

seguintes categorias temáticas: ser mãe; amamentação (alimentação do bebê e sentimentos

sobre a amamentação); percepção da mãe sobre a saúde de seu filho; situações de insegurança

das mães; contribuições da Puericultura; contribuições exteriores à Puericultura; críticas e

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expectativas em relação à Puericultura.

1 - Ser mãe

Ser mãe assume diferentes significados, sentidos e propósitos para a mulher. Esta

condição é permeada por influências culturais e sócio-econômicas, sendo que muitas

modificações ocorrem ao longo do tempo.

A maternidade tem diferentes representações para a mulher. As experiências relativas

à maternidade são reflexos das diferentes trajetórias percorridas pelas mães. A vivência da

maternidade é um percurso singular para cada uma das mães entrevistadas. A grande maioria

das mães relatou que o nascimento do filho trouxe um sentimento de felicidade. Algumas

mães tiveram a gravidez planejada e outras não. Mesmo aquelas que não haviam planejado a

gravidez, renderam-se ao sentimento de felicidade:

Acho maravilhoso porque é uma alegria que vai ficar pra sempre. Pra mim é uma

coisa única, é ótimo (MS-PRGM).

Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu queria ter ele, entendeu...

Minha família, todo mundo acha que pra mim foi aquele famoso aconteceu, mas pra

mim, eu que quis, entendeu? (RS-PRGM).

Ah, eu assim, ele não tava programado né, pra vim assim, mas aconteceu. Eu tô

adorando, tô me sentindo assim, realizada, ao mesmo tempo, mas com a vinda dele

assim eu aceitei, entendeu? Ser mãe é proteger, é cuidar, é fazer tudo né? (JA-

PRGM).

Ah, eu me senti muito feliz, fiquei muito contente, gostei muito. Porque os outros 2

não é desse marido que eu estou agora, meus outros 2 filhos é do meu primeiro

casamento e ele que é agora (L-PCBT).

Vamos dizer que a gente começa a ver a vida de outro jeito né, de outra maneira,

começa a entender melhor, né? Ah, pra mim tá sendo maravilhoso (MP-PCBT).

A maternidade foi vista por várias mães entrevistadas como a razão da própria

existência, representando tudo que elas têm na vida:

Pra mim foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Não foi esperado, mas

quando soube também foi uma realização, ele tem saúde... Ser mãe pra mim é a

melhor coisa da minha vida, é tudo, é a minha vida (FC-PRGM).

Ser mãe pra mim, digamos assim, é se completar, entendeu? Porque eu acho que a

mulher veio pra isso, né? Então, tipo assim, se a mulher é uma mulher que não pode

dar a luz, assim no caso eu acho que não é uma mulher completa, né? Mãe pra mim

é ser realizada (MA-PCBT).

Ser mãe é... ser mãe é tudo, né? Ser mãe, na verdade, é a gente que recebe um

presente, a mãe que recebe um presente (RP-PRGM).

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Algumas mães, apesar de felizes com a maternidade, expressaram preocupação, medo

e dificuldades com a experiência da maternidade. A maior preocupação é com a saúde e a

vida da criança:

Ah, foi muito bom, eu fiquei muito feliz. É tudo, meio trabalhoso, mas é bom,

compensa (FG-PRGM).

É muito bom e, ao mesmo tempo, dói lá dentro assim, quando ele chora, quando, por

exemplo, ele tá com hérnia. Tudo que eu penso que pode dar dor nele é muita

preocupação. Ser mãe? Eu não tenho nem palavras, é mágico (MB-PRGM).

Pra mim é um amor doído, porque a gente ama muito e fica por tudo preocupado.

Qualquer coisinha que tem a gente fica com o coração na mão. É um amor muito

grande, mas doído, sofrido ao mesmo tempo (MJ-PRGM).

Ah, eu me sinto bem, né? Bem, só quando fica doente que a gente fica preocupante

né, mas foi ótimo, maravilhoso (FN-PCBT).

Uma das entrevistadas apresentou provável depressão pós-parto, que foi superada a

partir do terceiro mês de vida do bebê: “Eu agora, eu me sinto muito bem, mas não foi sempre

assim não. No começo, eu me senti muito entristecida, ele chorava muito. É, parece pirraça.

Isto melhorou a partir do terceiro mês. Eu demorei muito a me apegar a ele.” (MJ-PRGM).

Ser mãe é um ato de doação que faz a mulher se sentir responsável pelo cuidado com o

filho e pela sua criação:

Ah, pra mim é tudo. Ah, ser mãe é você estar ali sempre presente quando o seu filho

precisar de você, entendeu? Ser mãe é cuidar também, é saber cuidar do seu filho,

estar sempre presente, cuidar, dar amor também, dar carinho pro filho (MC-PRGM).

Ser mãe? É cuidar, né? É cuidar, dar carinho, ensinar, né? (MF-PCBT).

Muda muita coisa né? É uma coisa muito gostosa, né? A gente aprende muita coisa,

a educar, pensa como vai ser a educação. [...] Significa muita coisa, né? A gente

aprende a dar valor à nossa mãe, porque a gente acha que tudo que eles falam pra

gente é bobeira, mas não é (D-PCBT).

Ah, ser mãe é ser companheira, é cuidar, é dar carinho. Porque assim, no passado eu

não tive isso do meu pai, aí dos meus filhos eu quero, sabe, dar carinho pra eles [se

emocionou] (FN-PCBT).

Algumas mães apontaram, nas suas falas, inseguranças em relação aos cuidados com o

filho e a necessidade de adquirir autonomia nos cuidados com a criança. A noção de

maternidade instintiva ou necessidade fundamental é refutada e aparece o “aprender” como

um mecanismo de adaptação ao meio e ao próprio projeto pessoal de ser mãe (GONÇALVES,

2008):

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Ser mãe é muito difícil. Porque a gente não sabe onde está errando, onde está

acertando, entendeu, acho muito difícil, muito. Ser mãe é uma coisa boa, assim uma

coisa gostosa sabe, mas é difícil (RA-PCBT).

É um prazer, é uma sensação única, uma alegria, porque ela foi planejada e foi muito

bem vinda. É um amor único, próprio, que não existe, não tem igual, uma

preocupação assim... Ao mesmo tempo que eu senti alegria, eu... como que eu vou

cuidar dela, o que que eu vou fazer? Não sei, mas eu sou a mãe dela, eu vou

aprender, mas ninguém me ensinou nada. Eu ainda não aprendi nada que fazer, mas

assim como se dizem, a gente aprende sozinho, ninguém ensina. Eu fui aprendendo,

eu fui fazendo e com o tempo fui aprendendo sozinha, mas foi muito gostoso, uma

sensação maravilhosa que só sabe quem é mãe, né? (MG-PCBT).

No conjunto dos discursos das mães entrevistadas, esta fala representa bem o que é ser

mãe para essas mulheres:

Ah, ser mãe pra mim é ser companheira, é estar presente no dia a dia da criança, é

dar o que ela precisa, é amor, é carinho, atenção, paparicar muito, é

responsabilidade... e muitas outras coisas (MG-PCBT).

2 - Amamentação (alimentação do bebê e sentimentos sobre a amamentação)

O aleitamento materno tem grande importância dentro da Puericultura e é preciso que

as mães se sintam assistidas e apoiadas para que possam amamentar, sendo importante tanto o

apoio dos familiares quanto dos profissionais de saúde. A promoção do aleitamento materno

depende de esforços intersetoriais, com intervenções educativas e de mudanças de práticas.

As mães entrevistadas, de uma forma geral, relataram sentimentos de satisfação com o

aleitamento materno. Várias mães se sentiram valorizadas por poderem amamentar:

No caso você olha e vê que aquela criança indefesa precisa da gente, a gente é a

única que pode estar ajudando mesmo, amamentando (RS-PRGM).

Uma satisfação enorme que vem de dentro, algo que eu não sei explicar, que eu não

sentia ainda, mas pela primeira vez foi muito bom, uma satisfação enorme (MG-

PCBT).

Ah, eu me sinto feliz, mais útil, a gente se sente uma pessoa útil, né, a gente tá dando

de mamar, dando alimento a uma pessoa (MP-PCBT).

Ah ,você fica olhando, você sente que ele depende de você pra sobreviver. [...] Eu

fico muito feliz (FG-PRGM).

Outras mães falaram do vínculo com a criança, estabelecido com o aleitamento

materno, e da proteção da criança pelo leite materno:

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Ah, eu sinto que, ah, que é bom pra ele, pra mim. Poder tá vendo ele assim se

desenvolvendo, que é bom pra saúde dele e o amor fica mais intenso, né? Você tá ali

com o seu neném. Eu sempre que estou amamentando seguro na mãozinha dele e ele

gosta, né, fica olhando pra mim. Aí, eu fico feliz por poder estar alimentando ele (L-

PCBT).

Ah, é muito gostoso! Só de saber que eu posso alimentar minha filha né, e olhar os

olhinhos dela, como se estivesse me agradecendo, é muito bom (FC-PRGM).

Não sei como explicar não, fico feliz amamentando. A mãe poder amamentar seu

filho é muito bom, né? [...] Você ver seu filho assim perto de você, feliz... Eu fico

feliz, sinto alegria (MC-PRGM).

Ah, eu sentia algo muito bom sabe, que saia dentro de mim, que tava alimentando

ela sabe, que o leite ia proteger (FN-PCBT).

Ah, eu me sinto feliz, assim, de poder dar pra ela, assim, um leite que é bom pra ela,

entendeu? Ah, eu me sinto feliz! É uma coisa que não tem nem explicação (RA-

PCBT).

Duas mães responderam à pergunta – “Como você se sente amamentando?” –, de

forma concreta, remetendo a sensações físicas do corpo na amamentação:

Não sentia nada não, quase não amamentei. Foi só 15 dias só, depois não tinha mais

mesmo, não saia mais leite (C-PCBT).

Não sinto nada [riso]. Ah, eu acho bonitinho né? Ela fica assim [fez um bico], aí

pára e olha pra minha cara e ri (U-PRGM).

Muitas mães não tiveram dificuldade para amamentar. Dentre as vinte mães

entrevistadas, nove não relataram dificuldade para amamentar, sendo que destas, duas eram

primíparas (dez mães eram primíparas, das vinte entrevistadas). As que não tiveram

dificuldade na amamentação não necessariamente mantiveram o aleitamento materno

exclusivo até seis meses e outras mães tiveram dificuldades iniciais superadas, conseguindo

assim manter o aleitamento materno.

Quanto às dificuldades para amamentar, diversas questões foram apontadas pelas

mães, como, por exemplo, demora na descida do leite, fissura mamária e pouco leite:

Ele, eu tive um pouquinho, não foi muito, porque meu leite demorou vim um

pouquinho, não foi igual aos outros 2 filhos.[...] Aí quando o leite foi vindo com

mais intensidade, a médica tirou o complemento e ele ficou só no peito (L-PCBT).

Não, porque assim, dói muito, né, fica o peito dolorido, mas passou 1 semana e

depois foi aliviando as dores (FN-PCBT).

Tive, eu tive muito pouco leite porque eu tomei muito remédio pra pressão, então

inibiu o leite, o leite demorou quase 1 mês pra vim. Aí quando o leite veio, ele já

estava tomando leite em pó demais, aí não queria pegar o peito direito. Aí teve

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“confusão mamilar”, pra mamar é um custo. Aí, ele mamou bem até os 6 meses

(MJ-PRGM).

Não, só agora que tá tendo porque não tem muito leite, então tô dando complemento

pra ele (D-PCBT).

Algumas mães receberam apoio para o aleitamento materno na maternidade e

conseguiram, então, manter o aleitamento, mostrando a importância do apoio, incentivo e

proteção ao aleitamento materno pelos profissionais de saúde nas maternidades:

Eu sei que... nos primeiros dias ele não mamou. Aí eu fui fazendo, aí o peito foi

inchando e aquilo foi, sei lá, me desesperando, né? Aí só depois que as enfermeiras

de lá da maternidade foram dando leite pra ele no copinho. [...] e aí depois que ele

foi pegando, pegou o peito, né? Aí, eu me senti aliviada (JA-PRGM).

Ela no começo não queria pegar o peito, até o terceiro dia assim, ela não queria

pegar o peito. O acompanhamento médico na maternidade que foi incentivando até

ela a pegar o peito. Aí, depois ela continuou normal, quando eu saí da maternidade,

ela já estava mamando normal (MP-PCBT).

Uma das mães teve filho prematuro, que ficou em Unidade de Terapia Intensiva e

depois em Unidade Intermediária, e recebeu apoio para amamentação durante a internação da

criança, que inicialmente não podia ser amamentada:

Tive quando ele estava na UI, ele ficou 1 mês na UI. Ele demorou pra pegar o peito,

foi assim desesperador pra mim. [...] Eu comecei a dar o peito lá. Ele ficou na sonda 1

mês, aí quando ele fez 2 quilos começou o copinho, e ao mesmo tempo eu oferecia o

peito. Ele demorou a pegar, ele não pegava de jeito nenhum. [...] Me ensinaram a

amamentar lá. A fono ensina a gente, vigia o tempo de mamada dele, faz estimulação

nele pra aprender, ele foi estimulado pra aprender a sugar (MB-PRGM).

Outras mães receberam incentivo dos profissionais de saúde para o aleitamento

materno na consulta de pré-natal, em grupos de gestantes e no acolhimento na unidade de

saúde. As unidades de saúde devem apoiar a mulher para a amamentação, tanto durante o pré-

natal quanto depois da alta da maternidade:

Durante a gravidez, eu fiz massagem com a buchinha, eu peguei sol no bico, não sei

se foi isso. A minha obstetra me ensinou a fazer massagem, botar no sol. Aí como eu

fiz isso, não sei se foi por causa disso, não rachou. Acredito que foi, né, porque eu

cuidei da mama antes dele nascer (MB-PRGM).

[...] essas orientações, eu acho que a gente teve durante a gestação, porque aqui a

gente tem palestras. Aí, teve palestra com pediatra, com a ginecologista, durante a

gestação (MP-PCBT).

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No começo da minha gravidez, assim que ele nasceu, eu estava desempregada e meu

marido também. Então, aquilo começou a mexer comigo, comecei a ficar nervosa,

então eu não tive leite. [...] Aí,quando eu comecei a trabalhar, o meu leite desceu. Aí

ele começou a mamar com muita vontade, eu quase perdi os dois bicos do peito,

ficou os dois pendurados. Aí eu vim aqui e a menina me ensinou a dar mamar. [...]

Ela teve a maior paciência comigo. Parou, aí me ensinou, me levou lá pro cantinho e

me ensinou (RS-PRGM).

Quanto à persistência no processo de amamentação, dezesseis mães dentre as

vinte mães entrevistadas estavam amamentando. Apenas quatro mães não estavam

amamentando seus filhos, sendo que uma delas amamentou até seis meses e outra até

dez meses e as outras duas amamentaram por menos de um mês. Três mães alegaram

que o bebê “largou o peito”, não quis mais, e uma disse que não tinha leite:

Não, não tenho leite não. [...] Só 2 semanas só, depois não sou de ter leite, quando

eu tive ele [apontou pro outro filho] também não tinha. [...] aí depois não saiu mais,

aí comprei leite em pó. Ele começou a chorar, chorar, aí eu fui e comprei leite em

pó. Aí, desde que nasceu, eu dou leite em pó (C-PCBT).

A falta de apoio contínuo das mães é um provável fator importante no

desmame precoce. É preciso estratégias que dêem suporte contínuo às mães após a alta

da maternidade para fortalecimento e manutenção do aleitamento materno. A

Puericultura é fundamental para o apoio e manutenção da amamentação (OLIVEIRA,

M., CAMACHO e SOUZA, 2005).

Apenas uma das mães entrevistadas, que alegou que o bebê “largou o peito”,

referiu falta de apoio para amamentar:

Mamava muito bem, gostava de mamar, poxa que bom, eu tinha bastante leite, à

beça, muito leite, fartura e ela largou com 25 dias [...] Me senti insegura. Eu me

senti... o que que tá faltando... Eu não entendi o porquê. Eu acho que isso acabou

atrapalhando um pouco a amamentação. [...] alguma coisa que me deixasse forte.

[...] mais gente pra eu me senti mais forte, com garra, pra ter investido mais ainda,

acho que faltou um pouco isso. Eu só tinha o meu esposo comigo, mais ninguém,

minha família mora longe (MG-PCBT).

Vários bebês ficaram em aleitamento materno predominante antes dos seis meses

(receberam água ou chás), e outros em aleitamento materno misto ou complementado. Seis

mães mantinham as crianças em aleitamento materno exclusivo ou mantiveram o aleitamento

materno exclusivo até seis meses, conforme o recomendado pela OMS e Ministério da Saúde:

Bom, hoje ela está completando 6 meses né, então hoje que eu vou tentar começar

com a alimentação dela, mas até então era só o leite materno (FC-PRGM).

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Até agora tá mamando. [...] Aí, depois dos 6 meses, eu fui introduzindo, com o

acompanhamento da nutricionista e da pediatra, né, que falavam isso e também as

pessoas que eu conheço falavam isso (JA-PRGM).

De uma forma geral, as mães relataram que tiveram apoio para amamentar. Contudo,

muitas crianças não permaneceram em aleitamento materno exclusivo até seis meses e quatro

crianças não estavam mais sendo amamentadas, mostrando que as ações para promoção do

aleitamento materno precisam ser mais valorizadas durante a Puericultura. Parece que a

questão fundamental, o grande desafio, consiste em ajudar as mulheres a persistir no processo

de amamentação.

3 - Percepção da mãe sobre a saúde de seu filho

O discurso médico “científico” não contempla o significado mais amplo da saúde. A

saúde não é objeto que se possa delimitar e não pode ser traduzida em conceito científico

(CZERESNIA, 2003). Segundo esta autora: “A saúde e o adoecer são formas pelas quais a

vida se manifesta. Correspondem a experiências singulares e subjetivas, impossíveis de serem

reconhecidas e significadas integralmente pela palavra” (CZERESNIA, 2003, p. 42).

Nesse sentido, em relação à pergunta – “Você acha que o seu filho tem saúde e por

quê?” –, as respostas foram bem variadas. Todas as mães responderam que seus filhos tinham

saúde, com diversas justificativas. Algumas mencionaram o fato da criança se alimentar bem

e estar em aleitamento materno, valorizando os benefícios do leite materno:

Tem. Ah, por comer coisas, peito principalmente, porque ele pode comer comida,

mas tá sempre no peito. Aí, pelo menos o que me falam, é que peito até pelo menos

1ano - 2 anos é bom. Tá sempre no peito, tá sempre comendo direitinho, entendeu?

Ele tá muito fortinho (RS-PRGM).

Tem, acho. [...] mas eu olhando assim eu acho que ela tem saúde. Primeiro por causa

do leite de peito, ah não sei... [riso] (RA-PCBT).

Tem. Porque ele come bem, ele mama bem, ele brinca à beça, nunca teve febre (MJ-

PRGM).

Estar com um bom desenvolvimento foi a justificativa de várias mães para considerar

seu filho com saúde:

Ah, tem, tem. Muito arteiro [riso]. Com 3 meses já faz coisa que a gente fica assim

bobo, né? Já é duro, coisa que criança com 3 meses ainda é molezinho, né, tenta

falar, observa tudo... (D-PCBT).

Eu acho que ele tem saúde. Porque ele tá desenvolvendo, tá bem esperto, sabe,

presta atenção no que a gente fala, no que tá conversando (MF-PCBT).

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Muitas mães relacionaram a saúde com a ausência de doença:

Ó, saúde ela tem. Graças a Deus ela tem saúde, mas tem aquelas fraquezazinhas, né,

porque ela tem bronquite. Então fica assim meio debilitada em algumas coisas, né,

acho assim algumas fraquezas, fica gripada facilmente (RP-PRGM).

Eu acho que ele tem. Graças a Deus é difícil ele ficar gripado, as vacinas que ele

tomou não deu febre nenhuma, todas elas não deu febre nenhuma. Ele não tem nada,

é difícil ele ficar gripado, é muito difícil... (C-PCBT).

Muita saúde, ele é muito forte. [...] febre só quando dá vacina, nunca teve dor de

ouvido assim é... nunca me deu nada, entendeu? (JA-PRGM).

Outras mães, além da ausência de doença, mencionaram outros fatores como a

alimentação, bom crescimento e desenvolvimento:

Eu acho que ele tem. Tirando essas gripes que ele teve, né? [...] Ah, porque ele não é

uma criança assim de chorar o tempo todo, ele mama direitinho, não come, mas

mama. Só mesmo teve agora o resfriado que eu fui orientada que infelizmente nessa

idade pega mesmo, do irmão que tá no colégio, então fica gripado e passa pra ele.

(L-PCBT).

Acho. Bem, até agora ela não apresentou nenhum sintoma de risco, entendeu,

raramente fica, raramente não, não fica resfriada. Ficou resfriada essa semana, mas

até agora não tive nenhum problema assim sério assim. Porque ela é esperta, ela tem

um bom desenvolvimento pra idade dela (MA-PCBT).

Ah, eu acho. Porque por tudo que ele passou ele não teve complicação nenhuma. Até

o CPAP ele usou só 4 dias. Ele nasceu com 1485g. Ele ganha peso muito rápido, ele

se alimenta bem, por isso eu acho que ele tem saúde, apesar dele ser chorão (MB-

PRGM).

Estas mães além de relacionarem a saúde com o bom ganho ponderal da criança ou

com a ausência de doença, mencionaram, também, o cuidado que elas têm com o filho:

Quando eu vou pesar ele, tá sempre acima assim do peso [...] Pra mim ele é uma

criança saudável, entendeu? Meu filho é muito bem tratado, eu cuido dele muito

bem, entendeu? Tem dia que eu só tiro o dia pra ele, entendeu? (MC-PRGM).

Não é porque deu uma pneumonia nela... [...] Eu acho que meus filhos é sim cheio

de saúde. [...] Primeiro lugar porque papai do céu está cuidando dela. Os cuidados

que eu e meu esposo, a gente tem com ela e com o Eduardo... (FN-PCBT).

Acho que sim. Porque eu tô sempre ali, eu não deixo faltar uma consulta, eu tô

sempre, o tempo todo que eu posso, eu tô do lado dela. Eu procuro fazer minhas

coisas, às vezes até na madrugada pra deixar o tempo que eu posso pra me dedicar a

ela e os outros também (FC-PRGM).

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Algumas mães associam a saúde com alegria e felicidade e com o fato da criança ser

bastante ativa:

Porque ela é alegre, sorridente, brinca, come, se alimenta direitinho, nunca deu

trabalho com nada (U-PRGM).

Ela é muito ativa, muito animada, muito agitada até demais, o que eu acho estranho,

entendeu, muito agitada demais. Já ri, aquela gargalhada gostosa que ela dá. [...] Por

ela estar muito adiantada pra ter 4 meses (MG-PCBT).

Sei lá, não sei te explicar não. Não sei, elétrica do jeito que é [riso]. Mexe em tudo, é

difícil de tá doente, mas não se entrega, entendeu? Pra mim, ela tem muita saúde,

com certeza (JM-PCBT).

Ah, eu acho, de sobra. [...] Ela é muito agitada, ela tem muita disposição, tá vendo

aqui. Ela faz bagunça o tempo todo dentro de casa e também na rua (MP-PCBT).

Acho. Eu acho que ela tem saúde porque ela brinca muito, ela é bem ativa, ela

acorda de manhã rindo, fica brincando, só chora quando está com fome. É uma

criança alegre e tem saúde também, já tá ficando em pé, já tá engatinhando (FG-

PRGM).

É uma criança feliz sabe, é uma criança muito feliz. Então você vê que tem

disposição, já faz as artezinhas dela, a gente vê que tem saúde (FC-PRGM).

A saúde do filho é percebida e vivida de forma singular pela mãe dentro do seu

cotidiano e o cuidado de cada mãe com seu filho se torna fundamental na construção da saúde

da criança.

4 - Situações de insegurança das mães

Com relação à pergunta – “Como você se sente cuidando do seu filho?” Você se sente

segura?”–, a maioria das mães respondeu que se sente segura cuidando de seu filho:

Me sinto, eu me sinto muito segura. Porque é uma forma deu demonstrar o meu

amor por ela, entendeu, de observar cada dia que ela tá fazendo uma coisinha

diferente, tá desenvolvendo bem. Isto pra mim é muito bom (FC-PRGM).

Eu me sinto responsável por uma criança (MS-PRGM).

Ah, eu me sinto a melhor mãe do mundo [riso] (FN-PCBT).

Ah, toda poderosa [riso]. Só eu que posso ter contato com ele assim. Eu tenho medo

também das pessoas maltratarem entendeu, aí eu prefiro eu mesma cuidar (JA-

PRGM).

Me sinto muito segura, até mais que com a minha primeira filha (RA-PCBT).

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Algumas mães já relataram uma transformação, foram adquirindo segurança com o

passar do tempo, com a vivência da maternidade:

Olha só, no começo eu não me sentia não, entendeu? Antes de ganhar ele, ficava

imaginando, como é que eu vou cuidar do meu filho, eu nunca cuidei de criança

nenhuma. [...] Aí eu ficava com medo, mas agora eu me sinto segura, porque a gente

pega responsabilidade tão grande, né, que a gente nunca imagina que ia pegar aquela

responsabilidade assim (MC-PRGM).

Agora eu me sinto mais segura, antes não. Antes eu tinha muito medo até de segurar

ela. [...] É relativo, isso aí você com o tempo você vai pegando, vai se sentindo

segura, vai pegando certa confiança, que vou conseguir, vou chegando, conseguindo,

é... já faço coisas que não conseguia fazer (MG-PCBT).

Ah, eu me sinto segura porque como eu já tenho outros 2 filhos, né, aí com o tempo

a gente vai... Antes eu tinha certas dúvidas, certos medos e com ele eu já sei mais ou

menos como é que é, então eu me sinto (L-PCBT).

Eu acho que eu sou a melhor de todas [riso]. [...] Nos primeiros 2 meses assim me

deu um desespero. Agora não, passou. [...] Era muito ruim, ele era muito agitado.

Não sei se eu que aprendi mais ou se ele que foi melhorando, sei lá, ou eu (MJ-

PRGM).

Poucas mães responderam que se sentiam inseguras no cuidado com o filho:

Ah, eu tenho dúvida se eu tô fazendo certo, se é isso mesmo, tenho muita dúvida

mesmo, porque primeiro filho a gente sente mesmo (MP-PCBT).

Um pouco. Quando ele começa a chorar muito, eu fico muito nervosa. Aí é a hora

que eu chamo minha irmã, minha irmã vem, aí brinca com ele, acalma ele e aí eu

termino de fazer as coisas (D-PCBT).

Quando ele está chorando, não. O choro dele sempre me dá insegurança, se tem

alguma coisa que eu ainda não descobri (MB-PRGM).

Às vezes, uma mãezona, às vezes a gente fica meio que insegura [pausa]. É o que

que acontece, desde que ele nasceu, eu sempre fiquei com ele sozinha (RS-PRGM).

A maioria das mães, tanto as que responderam que se sentiam seguras como

inseguras, relataram alguma situação de insegurança quando foram questionadas se

lembravam de alguma situação em que se sentiram inseguras ou intranquilas em relação aos

cuidados com o filho. Grande parte das mães referiu insegurança diante do adoecimento da

criança:

Ah, eu fiquei assim a primeira vez que ela ficou gripada. Eu fiquei apavorada porque

ela tossia muito, muito, muito (FG-PRGM).

Acho que não, só quando ela ficou com febre, que foi há pouco tempo. Que a febre

dela tava alta, aí eu levei ela no médico (U-PRGM).

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Não, quando ela assim ficou com início de pneumonia, faz 1 mês atrás, acho que

nem tem isso, eu me senti assim, poxa, será que eu não tô cuidando da minha filha

direito, por que que, sabe, deu início de pneumonia? (FN-PCBT).

Ah, foi quando ele ficou com um resfriado muito forte, aí eu fiquei muito

preocupada porque eu não sabia o que era, aí eu fiquei um pouco preocupada (L-

PCBT).

Estas mães referiram insegurança com a amamentação, sendo que uma delas recebeu

apoio para amamentar na maternidade e manteve o aleitamento materno exclusivo até seis

meses e a outra amamentou apenas por quinze dias. Elas também referiram insegurança com o

adoecimento da criança:

Acho que foi mesmo quando ela nasceu mesmo, que foi nessa situação que ela não

mamava, né, não mamava no peito, foi só nessa época. [...] quando eu saí da

maternidade ela já estava mamando normal. [...] É quando ela pega um resfriado,

acontece alguma coisa assim, eu sinto (MP-PCBT).

Me senti insegura. Eu me senti... o que que tá faltando, o que faltou pra ela não... Eu

não entendi o porquê. Eu acho que isso acabou atrapalhando um pouco a

amamentação. [...] Quando ela teve febre. Eu fiquei nervosa, eu fiquei desesperada

achando que ela tava com dengue, o que que ela tem, chorei, orei (MG-PCBT).

Uma situação de provável depressão pós-parto, que melhorou a partir do terceiro mês

de vida do bebê foi relatada por uma das mães:

Eu agora eu me sinto muito bem, mas não foi sempre assim não. No começo eu me

senti muito entristecida, ele chorava muito, é, parece pirraça. [...] Eu demorei muito a

me apegar a ele. [...] Nos primeiros 2 meses assim me deu um desespero. [...] Ah sim,

ficava totalmente perdida (MJ-PRGM).

Questionei o fato dela não ter comentado com alguém ou ter pedido ajuda profissional.

Ela referiu que comentou com a irmã e sentiu falta de ajuda profissional, mas não comentou

sobre sua tristeza com nenhum profissional de saúde: “É, eu fiquei mais assim na minha, né,

pensando se eu falo com alguém os outros vão pensar que eu não gosto do meu filho, sei lá.”

(MJ-PRGM).

Esta mãe foi a única mãe dentre as entrevistadas da PRGM que não participou do

Grupo de Acolhimento Mãe-Bebê. Ao ser convidada a participar da entrevista disse que

esteve no acolhimento, mas durante a entrevista esclareceu que quem participou do grupo foi

sua irmã: “Quem assistiu pra mim foi a minha irmã que veio comigo, porque eu fui fazer a

ficha dele e tirar meus pontos. Meus pontos estavam muito inflamados” (MJ-PRGM). Talvez

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o grupo de acolhimento tivesse sido uma oportunidade para essa mãe expor o seu problema ou

de uma percepção do problema pelos profissionais de saúde.

Esta mesma mãe, referiu como situações de insegurança, o adoecimento da criança e o

retorno ao trabalho. Esta foi a única mãe entrevistada que relatou dificuldade no retorno ao

trabalho:

Só quando ele ficou com essa gripe muito tempo, que ainda tá um pouquinho ainda,

e agora tá pesquisando pra ver se é alergia, se é bronquite. [...] É, no começo eu,

quando eu voltei a trabalhar de novo eu fiquei um pouco (insegura). Eu deixei ele

com a minha irmã, mas depois eu passei a levar (MJ-PRGM).

O trabalho assume diferentes sentidos para a mulher. As mulheres de diferentes

camadas sociais têm objetivos diversos em relação ao trabalho. Nas camadas médias, o

trabalho feminino é um projeto individual. É voltado para a satisfação pessoal que

proporciona status, leva ao crescimento individual e faz parte da construção da identidade

feminina. Nas camadas populares, o trabalho feminino representa uma necessidade e assume

mais o sentido de um benefício para a família do que uma satisfação individual. A dificuldade

em conciliar o trabalho e a função materna adquire maior visibilidade nas camadas médias da

população (ALMEIDA, L., 2007).

Outra situação de insegurança relatada foi em relação à reação vacinal: “Foi no dia em

que ele tomou vacina e, tomou vacina aqui na coxinha, e começou a sentir febre. Aí eu, nem

meu esposo, sabia o que a gente ia fazer, entendeu? Fiquei preocupada porque a febre dele

começou a aumentar.”(MC-PRGM).

O choro do bebê foi motivo de insegurança de algumas mães:

O choro dele sempre me dá insegurança, se tem alguma coisa que eu ainda não

descobri (MB-PRGM).

Muita coisa eu pergunto para minha irmã, né? Porque cólica, às vezes ele chora

muito e eu não sei o que é. Aí ela fala: é cólica, bota na barriga e ele para (D-PCBT).

A golfada com engasgo foi relatada por duas mães como situação de insegurança:

Um pouco porque teve uma vez que ele golfou, né, então ele engoliu e quase morreu

(D-PCBT).

Ah sim, uma vez que ele se engasgou com o golfo dele, aí ele ficou sem respirar. Aí,

eu fiquei desesperada e chamei ela [a tia acompanhante] pra me ajudar, foi um

desespero só (MS-PRGM).

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Uma das mães da PRGM mencionou uma situação de insegurança durante a gravidez:

Lembro, eu tava com 7 meses, a bolsa rompeu e eu procurei auxílio e o médico

simplesmente falou pra mim que eu tinha que procurar um posto de saúde, entendeu,

que aquilo não era nada de mais, era simplesmente coisa da minha cabeça. Aquilo

me deixou, me tirou o chão, porque eu não sabia o que estava acontecendo com o

meu corpo e ele tendo estudado pra aquilo não me ajudou (FC-PRGM).

Esta mesma mãe, mãe de cinco filhos, relatou insegurança inicial de como cuidar da

filha prematura pois os outros filhos foram de gestação a termo: “Na forma de como agir com

ela né, porque sete meses, muito pequena, muito pequenininha, aí eu fiquei com medo do que

poder usar, de como cuidar dela, aquilo me deixou insegura.” (FC-PRGM).

Uma situação de insegurança com o atendimento médico em um episódio de

adoecimento da criança foi relatado por uma das mães. A criança foi atendida na Policlínica

com suspeita de infecção urinária, havendo divergência de informações entre o atendimento

da Policlínica e da UPA (Unidade de Pronto-Atendimento):

Eu não lembro o nome da médica. Aí ela veio, pegou, aí examinou o Paulo, leu o

exame e falou: seu filho tá com um pouquinho de anemia, um pouquinho de

infecção urinária, aquela coisa toda. Aí passaram pra ele fazer uma ultra-sonografia

de rins, aí eu comecei a ficar desesperada. Fui, bati uma ultra dele com o meu

dinheiro e acabou que ele não tinha nada. Aí nessa eu fiquei meio com medo, porque

a gente não entende. Aí meu pai foi, fez um plano pra ele de saúde. [...] eu antes

tinha levado ele na UPA e eles tinham falado uma coisa e a médica aqui tinha me

falado outra. Então, eu fiquei naquela que eu não sabia na real o que meu filho tinha.

Aí, foi quando eu corri pro particular (RS-PRGM).

A mãe não sabia em quem acreditar, não havia um vínculo de confiança no

atendimento de Puericultura. Esta criança não era acompanhada na unidade de saúde sempre

pelo mesmo pediatra. A mãe se sentiu insegura, o que a fez procurar a Saúde Suplementar,

onde também não ficou satisfeita. Neste caso faltou um maior esclarecimento no atendimento

médico. É fundamental o uso de tecnologias relacionais, com estabelecimento de vínculo e

responsabilização no atendimento. É importante que o profissional de saúde não diminua nem

minimize o problema do paciente e sim mostre com clareza quais são os caminhos para a

condução da questão ou do problema de saúde. Com isto a mãe se sentirá mais segura e

acolhida.

Outro fator a ser apontado neste caso é a dificuldade de se conseguir alguns exames

complementares no SUS (as chamadas tecnologias duras), dificultando assim o

acompanhamento e a credibilidade do paciente no tratamento.

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Nesta outra situação, descrita a seguir, vemos que é importante a valorização da

queixa da mãe, mesmo que esta pareça sem fundamento, pois para a mãe não é. Tentar

esclarecer a questão de acordo com a capacidade de entendimento da mãe, o que às vezes se

torna difícil para o médico:

Quando ela tava com uma alergiazinha assim, umas micosezinhas na testa, eu trouxe

na doutora e eu achei que pra doutora tudo tava sendo normal, [...] porque assim às

vezes a gente como mãe acha uma coisa e a doutora acha outra e eu não tava

achando que aquilo ali era normal porque no caso eu vi ela nascer, eu sei como é que

tava. Então, eu sei que aquilo ali não era normal. Então, ela pegou virou pra mim e

falou que era normal a micosezinha no rosto dela, e não passou pomada naquele

mês, só passou no outro (RA-PCBT).

No atendimento de Puericultura é de fundamental importância que o profissional de

saúde desenvolva uma boa comunicação com as mães. Segundo Merhy (1998), o profissional

de saúde é um operador do cuidado e deveria ser capacitado para atuar no terreno das

tecnologias relacionais como modos de produzir acolhimento, responsabilização e vínculo,

buscando a autonomia do usuário.

5 - Contribuições da Puericultura (Acolhimento Mãe-Bebê e consultas)

De forma geral, há uma transição progressiva para uma postura de maior autonomia e

autoconfiança das mães nos cuidados com a criança. Esta conquista depende, em grande

medida, da existência de apoios exteriores, tanto fontes de ajuda representadas pelos

familiares e pessoas significativas, como fontes de informações representadas pelos

profissionais de saúde (GONÇALVES, 2008), no espaço da Puericultura.

Dentro da Puericultura, a maioria das mães informou que o Acolhimento Mãe-Bebê

ajudou bastante nos cuidados com a criança. Em relação ao Grupo de Puericultura na PRGM

as mães relataram algumas situações de apoio e incentivo ao aleitamento materno e também

quanto aos cuidados com o bebê:

Muito. Uma coisa que me disseram e eu faço até hoje: Eu estou tentando diminuir o

complemento pra vê se eu consigo, quem sabe, fazer com que ele pare o

complemento e fique só no peito. [...] Eu tinha dúvida das cólicas, me ensinaram a

massagenzinha, que eu podia fazer pra ajudar ele. Eu lembro as vacinas também, eu

ia dar a BCG, mas eu nem sabia pra que servia. Me ajudou em relação a amamentar

ele (MB-PRGM).

Eu perguntei à beça, eu pergunto à beça. [...] Ela comentou sobre no caso como

amamentar, é... escolher tipo de fralda, como segurar a criança para amamentar. [...].

Até meu marido foi comigo, ele aprendeu comigo. (RS-PRGM).

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O que me ajudou é que eu estava agasalhando muito ela [riso], sem necessidade

(RP-PRGM).

Ajudaram. [...] O neném pegar bastante a boca no peito, a aréola, aquela rodela, dar

banho de sol, quando for golfar botar pra arrotar pra não engasgar (MS-PRGM).

Ah, ajudou. [...] Muita coisa eu não sabia e eu aprendi ali. Eu não sabia que quando

amamenta... eu sabia que tinha que esvaziar primeiro uma mama toda pra depois dar

a outra, mas eu não sabia que primeiro matava a sede e depois vinha o leite mais

gorduroso (FG-PRGM).

Me ajudou sim, me ajudou muito. Ela nasceu prematura, então eu tinha dúvidas

porque os outros vieram de 9 meses, ela era a única. Então, eu consegui tirar

dúvidas, os cuidados que eu tinha que ter com ela, então me ajudou muito (FC-

PRGM).

Elas falavam que se o bebê mamar só no peito tem mais saúde, né, é... ele é mais

protegido pelo peito da mãe, pelo leite materno (JA-PRGM).

Ah, me ajudou bastante porque quando ele mamava no meu peito, meu peito ficava

todo machucado e eu chorava à beça pra dar mamar ele e eu não queria dar. [...] Só

que ela falou que o leite do peito é melhor, que a criança digere mais rápido,

entendeu? Não é que não enche, entendeu, mas digere mais rápido porque não é que

nem a mamadeira, entendeu? A mamadeira demora pra fazer a digestão na criança,

entendeu? Ah, eu aprendi um monte de coisa [...] Ah, aprendi como você botar a

criança no colo pra dar mamar, entendeu? Encostar a criança assim, bem assim, na

sua barriga, assim (MC-PRGM).

Na PCBT, as mães informaram que o Acolhimento Mãe-Bebê ajudou nos cuidados

com a criança. Entretanto, algumas mães não se lembraram muito bem das orientações

recebidas individualmente no dia do Acolhimento Mãe-Bebê:

No dia que eu vim fazer o Teste do Pezinho... não falaram muita coisa não, que eu

lembre não. Me chamaram, me deram os cuidados, as orientações e fizeram o

Testizinho do Pezinho e eu chorei junto com ela porque ela chorou muito [riso]. [...]

Ah, tem 4 meses, xô vê o que eu lembro desse dia... As meninas são legais, elas me

orientaram, mas o que elas me orientaram eu não lembro agora. [...] Ah, guardar

coisas assim... Não tô lembrando (MG-PCBT).

Deram, deram sim. A orientação de... Me atenderam, deram a vacina e depois

também teve o Teste Auditivo, apesar do que não falaram nada assim não porque eu

acho que não tem reação, né? (MF-PCBT).

[...] porque a gente sempre vê no Posto e na televisão que é pra continuar dando o

peito até os 2 anos, se puder até mais, orientações básicas. [...] Eu lembro que a

médica, a moça que tava aqui deu até um papelzinho de amamentação. Aí falou pra

mim continuar dando, eu falei que tava com pouco leite. Aí ela falou: mas mesmo

assim você tenta, estimula, que é muito importante pra ele e tal e me deu uma

cartilhazinha de amamentação. [...] Acho que foi só isso mesmo (L-PCBT).

Ah [riso], não lembro não, falou um monte de coisa. Ela falou ali, no planejamento,

ela falou quando veio fazer o Testinho do Pezinho (C-PCBT).

Lembro até hoje. Pra criança até 8 meses e pouco assim, só amamentar no peito,

entendeu? Que é importante, que evita muita doença e levar ela na Puericultura (JM-

PCBT).

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Só pediu pra eu segurar ele e botar no peito. Aí explicou sobre a injeção (BCG), que

tem que inflamar, né? Se desse pus não era pra espremer, né, só. [...] Ela orientou.

Fez o testezinho... (D-PCBT).

Não, essas orientações eu acho que a gente teve durante a gestação, porque aqui a

gente tem palestras. Aí teve palestra com pediatra, com a ginecologista, durante a

gestação, no dia do teste não. No dia do Teste, ela fez a BCG, fez o Teste do

Pezinho e fez com a Fono o Teste da Orelhinha (MP-PCBT).

As mães, de uma forma geral se mostraram satisfeitas com o Acolhimento Mãe-Bebê.

As mães que participaram do Grupo de Puericultura na PRGM (Acolhimento Mãe-Bebê em

grupo) relataram mais situações de apoio quanto ao aleitamento materno e os cuidados com o

bebê em relação às mães que participaram do Acolhimento Mãe-Bebê individual na PCBT.

Em relação às consultas médicas de Puericultura, as opiniões quanto à contribuição

para os cuidados com a criança foram bastante variadas. A maioria das mães respondeu que as

consultas têm ajudado nos cuidados com a criança:

Tem, tem ajudado muito, muito boa. [...] A doutora é uma ótima pediatra. Às vezes

eu digo: tá assim, tá assado e ela fala: faz assim, assim, assim que vai melhorar, pra

não dá mais. [...] Ajudou, ajudou. Se você fizer assim certinho, vai parar de tossir, a

falta de ar vai embora e ela vai ficar mais calminha, mais tranquila. Ajuda muito

(FG-PRGM).

Porque assim eu tiro muitas dúvidas, né? Então, quando eu não tiro aqui no Posto,

eu tenho minha irmã que ela sempre vem com a filha dela também. [...] tenho com a

pediatra dele, né, ela explica bem, tudo detalhado. [...] Tudo que eu tenho dúvida, eu

pergunto a ela e ela tira. Eu fico bem aliviada (D-PCBT).

Neste outro caso, a mãe avaliou positivamente a atuação do pediatra, valorizando o

exame físico e as orientações recebidas e não a prescrição de medicamentos, o que a faz se

sentir segura. O relato da mãe sobre a consulta de Puericultura mostrou que se estabeleceu um

forte vínculo de confiança entre ela e o pediatra:

Tem, o Dr. João é..., acho que é o melhor pediatra que eu encontrei sabe, ele é

ótimo. Porque assim, eu levava lá, não que eu esteja falando mal sabe, porque eu

acho assim quando você vai no pediatra, o pediatra tem que examinar tudo: boca,

cabeça, barriga, tudo. Tem que tirar a roupinha, não só tipo assim, ah seu filho tá

com que, deu febre? Sai receitando geral, isso não é uma consulta. Então Dr. João,

ele examina, tira a roupa, vê garganta, vê ouvido, vê tudo. Ele orienta como cuidar:

mãe isso tá certo, isso tá errado. Então, pra mim até hoje, foi só ele, ele é o melhor

pediatra que eu encontrei pra cuidar dos meus filhos (FN-PCBT).

Diante da situação de insegurança com a pneumonia da filha, esta mãe comentou: “Dr.

João me deixou também tranqüila. Ele falou que não era nada grave, era só um iniciozinho,

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que eu cuidasse bem dela e que ela ia ficar boa. [...] Aqui sim, mas quando eu era do outro

setor, eu não tinha apoio nenhum.” (FN-PCBT).

Outra mãe, que tinha cinco filhos, e se sentia insegura nos cuidados com sua filha

prematura, demonstra que foi adquirindo autonomia nos cuidados com a criança com o

auxílio da Puericultura:

Tem, tem me ajudado. Tudo que eu tenho dúvida, eu tiro na consulta. Por mais que

eles são muitos, mas sempre traz uma surpresa né, uma coisa nova. [...] Me ajudou

sim. Passou vitaminas pra ela poder tomar e o cuidado não foi nada de... era só

mesmo coisa da minha cabeça, não tinha nada de mais, era só uma insegurança

minha, mas me ajudou (FC-PRGM).

Chama atenção o fato de algumas mães valorizarem a prescrição de medicamentos até

mesmo no atendimento de Puericultura. Tradicionalmente, nas consultas médicas, há uma

hiper-valorização do medicamento pela crença no poder dos fármacos. Do mesmo modo, isso

ocorre também em algumas consultas de Puericultura, fazendo do medicamento o ponto

principal do atendimento. Como exemplo, temos as falas destas mães que referiram como

principal ajuda da consulta de Puericultura no cuidado com a criança a prescrição de

medicamentos:

Ele tava com uma alergiazinha no saquinho dele, uma alergiazinha, aí a médica

passou pomadinha, deu resultado, sarou direitinho. Tava também com o narizinho

dele ficando muito entupido, aí passou também remédio pra pingar, também

resolveu (MF-PCBT).

Ah, tem me ajudado bastante. [...] Ah, às vezes é uma alergia, igual ele teve uma

alergia, eu tava passando um produto, mas não resolveu. Ela foi e me passou uma

outra pomada. Ele também tava tendo muito resfriado, teve 2 princípio de

pneumonia, um atrás do outro, num mês e no outro. Aí, ela falou pra mim dá

vitamina C pra ele, tá tomando vitamina C e sulfato ferroso pra poder ajudar na

proteção dele. Aí, agora até que ele não tem ficado gripado mais não (L-PCBT).

Nesta outra situação, embora a mãe valorize a orientação na Puericultura, não as

seguiu completamente e omitiu o fato de estar dando suco para a criança por receio de ser

repreendida, indicando que essa relação médico-paciente precisa ser revista: “Ela explica

direitinho sobre a alimentação, que não pode né, que só depois dos seis meses. Eu não falei

pra ela que eu tava dando o suquinho, eu não falei porque eu fiquei com medo dela brigar

comigo, aí eu não falei.” (RA-PCBT).

Neste outro caso, a mãe apresentou provável depressão pós-parto e disse que as

consultas de Puericultura a ajudam bastante nos cuidados com seu filho. Por outro lado, sentiu

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falta de ajuda profissional para lidar com suas dificuldades emocionais e ficou com receio de

comentar o problema:

Muito, muito, muito. Fico doida pra chegar outro mês pra poder trazer, pra perguntar

as coisas que eu tenho dúvida, pra ver a alimentação dele direito porque eu fico com

medo de dar qualquer coisa e fazer mal, né? [...] No começo, eu me senti muito

entristecida, ele chorava muito, é, parece pirraça, isto melhorou a partir do terceiro

mês. Eu demorei muito a me apegar a ele. [...] Ah, não sei, acho que mais ajuda

profissional mesmo. [...] É, eu fiquei mais assim na minha né, pensando se eu falo

com alguém os outros vão pensar que eu não gosto do meu filho, sei lá (MJ-PRGM).

Uma das mães, ao ser questionada se sentia falta de apoio dos profissionais de saúde

da Policlínica, falou sobre a dificuldade para realização de exames, para marcação de consulta

e sua conformidade com a situação. Sua resposta revela o descrédito com o serviço público:

Ah, aqui é público, é meio complicado, né? Aqui, você vem, às vezes você faz um

exame e fica difícil arranjar, é meio complicado pra você pegar o resultado, demora,

mas a gente tá até acostumado, entendeu? A gente tá até acostumado, porque público

é assim mesmo. A gente vai tentando levar como é que dá, né, mas... [...] Ah é

complicado porque em saúde você não tem esse apoio, você tem que correr muito

atrás, até pra uma consulta é complicado. Até a Puericultura dele no começo não

tava marcando aqui no Posto. Ele ficou uns 3-4 meses sem tá marcando. [...] Assim

que ele nasceu, não tava, ficou 4 meses mais ou menos sem tá marcando a

Puericultura (L-PCBT).

Porém, quando perguntei a esta mãe descrente do serviço público se ela gostava da

consulta e se saía da consulta com dúvidas, respondeu: “Gosto. Essa médica eu gostei

bastante dela, por isso eu tô voltando. [...] Eu sempre pergunto e ela sempre esclarece

direitinho. Só se eu esquecer, fora isso ela me esclarece direitinho.” (L-PCBT).

Esta outra mãe não fazia o acompanhamento do seu filho com um mesmo pediatra,

não estabelecendo vínculo com um profissional:

Tem, tem, é boa. Graças a Deus, com ele eu tô me dando bem. [...] É, o que que

acontece, eu antes tinha levado ele na UPA e eles tinham falado uma coisa e a

médica aqui tinha me falado outra. Então eu fiquei naquela que eu não sabia na real

o que meu filho tinha. Aí, foi quando eu corri pro particular. [...] É, alimentação

quem conversou muito comigo sobre alimentação foi aquele, o Dr. José. Muito bom,

eu adorei ele. Ele me ensinou, conversou à beça comigo. [...] Você vê, hoje eu vim

aqui dei a vacina nele e já vim direto já... pra tentar arrumar vaga e já consegui (RS-

PRGM).

Nesta outra situação, a mãe também não faz acompanhamento de Puericultura com um

mesmo pediatra e alega o problema das faltas dos profissionais. Desse modo, não se

estabelece vínculo no atendimento. “Prefere” procurar a Policlínica sem estar marcada:

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Tem ajudado. O que eu não concordo muito assim quando a gente marca a pediatra,

a gente desmarca tudo que a gente tem que fazer e às vezes ela não vem. Isso me

chateia muito. [...] por isto eu prefiro um encaixe do que a marcação. [...] Quando eu

sou atendida eu fico satisfeita. [...] Toda vez que eu precisei, muitas vezes ela ficou

doentinha, porque ela pegou pneumonia, depois pegou uma infecção urinária, não

tava marcada, mas eu vinha até a unidade de saúde, pedia um encaixe, e eu tô sendo

encaixada agora no momento (RP-PRGM).

Esta situação mostra que a população usuária “cria” as suas próprias formas de

utilização dos serviços de saúde, de acordo com suas necessidades. O argumento alegado por

essa mãe era que sua filha não era acompanhada pelo mesmo pediatra por dificuldade de

marcação de consulta e referiu: “Eu venho só quando eu preciso mesmo do atendimento

médico. [...] No caso, agora, eu tô aqui porque minha filha tá com febre, ela já tá com

conjuntivite. Esse atendimento de acolhimento eu acho que é necessário ter.” (RP-PRGM).

Neste caso, o acolhimento é reduzido a um pronto atendimento para questões

emergenciais. Algumas vezes, a doença é o principal motivo da busca pelo serviço de saúde.

Esta mãe parece procurar a Policlínica somente quando a criança está doente, não criando

vínculo no atendimento e nem fazendo de fato o acompanhamento de Puericultura. Esta mãe

referiu durante a entrevista dificuldade na alimentação da criança, o que poderia talvez ter

sido evitado com as orientações na Puericultura quanto à alimentação. A mãe se queixa da

alimentação de sua filha: “É horrível. Porque tem que ser bem dizer tudo induzido. O mingau,

conforme ela estiver dormindo, aí pega a chupeta e aproveita tira a chupeta pra botar a

mamadeira. A comida tem que bater, ela tem dez meses, só batida, porque não aceita a

mastigação.” (RP-PRGM).

Esta outra mãe já demonstra ter outras necessidades de saúde, querendo um diálogo

maior, buscando mais orientações e se mostra tímida nas consultas de Puericultura:

Olha, eu trago ela pra consulta, mas assim eu fico meio envergonhada de falar com a

doutora, mas eu falo, pergunto o que eu quero perguntar. Mas eu gostaria que a

pediatra perguntasse mais pra arrancar mais da gente porque a gente não tem

coragem de falar... [silêncio]. A doutora falou, como é que se diz, dá o leitinho pra

ela, trazer pras vacinas direitinho, fez as perguntas... [...] Eu queria falar tudo que eu

vejo diferente nela assim e receber uma resposta satisfatória, mas não, é normal...

mas pra mim não é normal. Não sei se é porque sou mãe pela primeira vez. [...] É

coisas pequenas que você perguntar, ter um diálogo mais aberto com a doutora, uma

coisa mais aberta (MG-PCBT).

Em relação ao apoio dos profissionais de saúde da Policlínica, esta mãe respondeu que

eles dão bastante atenção: “Eles fizeram palestras durante a gravidez também, agora acho que

tem palestra de vez em quando, eles estão incentivando sempre...” (MG-PCBT).

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Na resposta de uma das mães está embutida uma queixa sobre a consulta de

Puericultura. Fica bem clara a necessidade de uma maior interação com os profissionais

médicos, de se estabelecer mais comunicação na consulta. Há uma crítica a consulta

protocolar, normativa, burocrática, como se fosse um atendimento maquinal:

Bem, elas só não são muito boas. Tem médica que conversa mais, tem umas que só

observam, falam: só no peito, pronto, acabou e só, entendeu? Só isso, ela não, como

é que eu vou falar... Então, tipo assim, rotina mesmo, olha, fala: ela tá bem, o peso

dela tá ótimo e só, mais nada. Aí por enquanto só no peito, tá bom e mais nada. [...]

Bem, pra mim a única coisa que ajuda assim é só o peso que a gente fica sabendo

todo mês e o comprimento, se a criança cresceu, alguma coisa assim, fora de resto

eu acho que... (MA-PCBT).

A Puericultura depende do profissional de saúde, do seu trabalho vivo em ato, o que

inclui toda a equipe de saúde. O trabalhador de saúde tem certa autonomia sobre o modo de

prestar a assistência e, muitas vezes, é o que determina o perfil assistencial (FRANCO e

MERHY, 2003). A Puericultura precisa do uso das tecnologias relacionais, com

estabelecimento de vínculo, responsabilização e acolhimento. Esta relação vai depender da

subjetividade de cada profissional de saúde. Ao perguntar a esta mãe sobre o apoio da equipe

de profissionais de saúde da Policlínica, complementou:

Em relação aos profissionais daqui, isso varia de médico para médico, eu não posso

dar uma opinião de todos, varia de médico para médico. Tem médico aqui que é

muito bom e outro muito fraco. Só que é muito difícil conseguir vaga para ele,

quando ele é bom, não é tão fácil achar uma vaga pra ele. Enfermeira aqui tem a

Cláudia que é ótima, super boa, o resto eu não conheço muito... E a fonoaudióloga

também é ótima (MA-PCBT).

A partir das falas das mães ficou evidente que quando há uma boa relação com o

médico, a consulta de Puericultura é bastante satisfatória e esclarecedora para as mães.

Quanto às dificuldades encontradas temos: problemas estruturais e organizacionais nos

serviços de saúde, a falta de conscientização de algumas mães sobre a importância do

acompanhamento sequencial na Puericultura e, principalmente, problemas na relação

estabelecida entre a mãe e o profissional de saúde.

6 - Contribuições exteriores à Puericultura (ajuda de familiares, amigas, vizinhas, etc)

Até hoje é difundido em nossa sociedade que os cuidados infantis são atribuições da

mulher. No entanto, diante da tarefa complexa de cuidar dos filhos, as mães buscam auxílio

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de avós, tias, filhos mais velhos, babás, creches, amigas, vizinhas e do marido para conciliar o

trabalho (quando trabalham fora do lar) e as tarefas domésticas (ALMEIDA, L., 2007):

Minha irmã me ajuda muito. Minha irmã e minha mãe. [...] Eu fico mais na minha

mãe porque minha mãe é que vai ficar com ele quando eu voltar a trabalhar. Agora

minha cunhada que tá começando a pegar ele um pouquinho e às vezes eu deixo lá

pra eu poder fazer as coisas dentro de casa, porque ele não deixa eu fazer nada [riso]

(D-PCBT).

Me ajuda muito. Tem a minha avó, a minha sobrinha que é essa pequena que

também me ajuda: Ah, madrinha eu olho ela pra senhora lavar a louça, sei lá. E tem

a minha irmã também que fica, brinca com ela, bota na cama e fica brincando um

tempão (FG-PRGM).

A minha irmã e a minha prima que tomam conta dela, quando eu tô no trabalho. [...]

A minha família toda, porque tem muita gente, a minha família é grande. Minha tia,

minha mãe, meus filhos... [...] Vizinho até ajuda, mas ela não é muito de vizinho não

(JM-PCBT).

A maioria das entrevistadas recebe apoio de familiares, vizinhas e amigas nos

cuidados com o filho. Vale destacar também a participação do marido:

Não, minha irmã sempre me ajudou bastante, minha mãe também na medida do

possível. Eu sempre ligava pra ela, qualquer coisa eu perguntava pra ela (MJ-

PRGM).

Eu não sinto não porque eu tenho minha mãe (riso), minha mãe e minha tia que me

ajudam (MC-PRGM).

Muito, muito minha filha, porque meu esposo trabalha, mas quando ele chega em

casa ele pega, ele pergunta se estou precisando de ajuda. Final de semana também,

mas durante a semana, é minha filha, não tem outra pessoa. [...] não tem gente da

minha família perto de mim (RA-PCBT).

Meu marido, minha irmã me apóiam muito. Lá onde eu moro, eu não tenho parente

lá, só minha irmã (MB-PRGM).

Não, porque assim a minha sogra sempre tá ali, minha cunhada, minhas irmãs. Então

o meu esposo acorda pra dar mamadeira, assim, pra dormir ele coloca o Eduardo, ele

dá banho. Então, assim, ele me ajuda muito (FN-PRGM).

O apoio de familiares, amigas e vizinhas têm se mostrado importante na construção da

autonomia das mães no cuidado com a criança, o que se pode evidenciar nestas falas:

Quando eu me sinto insegura, pergunto a alguém alguma coisa, pergunto mãe, pai,

vizinho e aí eu me sinto segura sim. Também o pai dele me ajuda muito, acompanha

muito. O pai dele é muito presente, então aí é melhor né, me ajuda bastante (L-

PCBT).

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[...] desde que ele nasceu, eu sempre fiquei com ele sozinha. Então, eu me acostumei a

cuidar dele sozinha. Lógico que quando tinha alguma dúvida, alguma coisa, eu corria

pra casa de alguém (RS-PRGM)

[...] poxa, será que eu não tô cuidando da minha filha direito, por que que, sabe, deu

início de pneumonia? Será então o que que tá faltando pra eu cuidar dela, pra não dar

essas coisas? Mas assim aí meu esposo conversou comigo e falou: isso acontece, não

que você não cuida bem, mas é que acontece, não tem como se prevenir dessas coisas

(FN-PCBT).

[...] Fiquei preocupada porque a febre dele começou a aumentar [...] Aí minha tia foi

lá e me ensinou como eu tinha que dar remédio a ele. Deu um banho de água fria,

quebrou a friagem, foi aí que ele melhorou. Aí, agora eu fico mais, agora eu acho que

eu sei, se ele tiver febre, eu já sei como fazer, entendeu, mas nesse dia eu fiquei com

medo, fiquei assustada (MC-PRGM).

O fato das famílias morarem juntas, às vezes no mesmo terreno, pode facilitar a ajuda

mútua: “O pai dele me ajuda e tem tia, avó, todo mundo no mesmo quintal.” (MF-PCBT).

Estas duas mães referem se sentirem seguras como mãe no momento, não sentem falta

de apoio de outras pessoas pra cuidar do filho e contam com o apoio apenas do marido:

Bem, quando ela nasceu eu tinha uma certa dificuldade mesmo, porque não tinha

ninguém pra me ajudar. Meu marido trabalha no Rio e aí eu tinha que me virar

sozinha. De vez em quando é que vinha uma vizinha e me ajudava, não tive apoio de

família não. Agora não, agora já estou melhor, já me recuperei, consigo dar conta

dos dois. [...] Só meu marido quando tá em casa, quando ele chega assim, ele fica

com ela pra eu poder fazer as coisas (MA-PCBT).

Agora eu me sinto mais segura, antes não. [...] Não, porque o meu esposo, ele me dá

todo o apoio que eu preciso. [...] Tomo conta dela quanto da casa, da roupa, da

comida, de tudo e do meu trabalho também. [...] Não deixo de dar atenção pro pai

dela por causa dela, os dois, nós somos bem entrosados um com o outro, nos damos

muito bem. [...] Eu procuro não pedir, não ocupar... Eu não tenho amigas, isso é

coisa minha mesmo, dentro de minha pessoa. Não confio em ninguém, confio

desconfiando, confio longe de mim. Não, não, jamais vou deixar minha filha com

ninguém, a não ser com o pai (MG-PCBT).

A fala de algumas mães nos remete a ponderações sobre relações de gênero. A

expressão gênero se refere às diferenças culturais entre os sexos e a papeis socialmente

construídos e atribuídos culturalmente ao homem e a mulher (CARDOSO e PEREIRA, 2010).

Seis mães referem e valorizam a participação paterna nos cuidados com a criança. Outra mãe

considera o fato de cuidar sozinha dos filhos como atribuição feminina:

Sinto sim, sinto. É eu sozinha. É eu e os meus 5 né. O meu marido é marido, mas

não faz, não ajuda muito nesse papel junto comigo, não está muito presente. [...]

Não, sou eu sozinha. Os parentes moram distante e os vizinhos [riso], encontro uma

vez por semana, bem reservados, aí sou só eu mesmo com eles (FC-PRGM).

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Esta outra mãe também diz não sentir falta de apoio pra cuidar dos filhos, se sente

segura e refere cuidar dos filhos sozinha. Acredita que, pela questão da dificuldade na

alimentação, só ela sabe cuidar adequadamente da criança, mas tem ajuda quando precisa sair:

“Ajuda, mas até por causa da alimentação dela, é difícil alguém querer ficar com ela pra

poder... Eu que tenho que ficar mesmo, eu que já sei o ritmo dela. [...] Quando eu preciso sair

alguma coisa assim, minha mãe e minha sogra.” (RP-PRGM).

Nesta outra situação, uma mãe primípara de dezessete anos dizia sentir falta do apoio

de sua mãe que mora longe, mas conta com o apoio de outros familiares. A tia acompanhante

refere auxiliar a sobrinha com o que aprendeu na Puericultura de seu filho. Quando perguntei

se alguém a ajudava a cuidar de seu filho respondeu: “Ela, minhas tias, meu marido, minha

sogra.” A tia interveio: “Eu não largo ela um minuto. [...] Tudo que meu filho Caio, desde

quando ele nasceu, eu acompanho aqui com a pediatra, eu passo tudo pra ela. Os cuidados que

eu tive com ele, eu falo com ela e ela presta atenção e faz tudinho.” (MS-PRGM).

Esta mãe da PCBT referiu se sentir segura nos cuidados com o filho, conta

principalmente com o apoio do marido e foi a única mãe que demonstrou desejo de colocar o

filho em creche comunitária para voltar a trabalhar. Esta creche ainda não foi inaugurada e

não há mais vagas. Há poucas creches comunitárias e a maioria das famílias não pode pagar

uma creche particular. Esta creche receberá crianças a partir de quatro meses. Refere que

existe outra creche na região, mas não aceita crianças menores de três anos: “Já botei até o

nome dele na creche, eu botei o nome pra esperar a vaga vim ainda. Nesse tempo de espera, a

vaga vim e tal aí eu vou ficando com ele, tentando. [...] A creche nem abriu, é nova, nem

abriu e não tem vaga mais.” (L-PCBT).

7 - Críticas e expectativas em relação à Puericultura

Foi perguntado a cada mãe se tivessem que recomendar o atendimento de Puericultura

a uma amiga, que qualidades seriam mencionadas, e, depois, quais os defeitos que

apontariam.

Em relação à PRGM, os problemas relatados foram mais concretos, como: dificuldade

para marcação de consultas, principalmente para especialistas, perda de prontuários, atrasos

dos médicos, espera na fila da farmácia, mas de maneira geral se mostraram satisfeitas com o

atendimento em consulta de Puericultura. Estas mães não apontaram nenhum problema

específico com a Puericultura:

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Ah, eu sempre falo que aqui é muito bom, entendeu? [...] É que tem um Posto lá

onde minha mãe mora, que eu ia começar até a fazer meu pré-natal lá entendeu, ia

começar a me consultar lá. Só que desde o dia que minha mãe levou minhas coisa

pra fazer lá, foi a mesma coisa que nada, entendeu? E aqui foi tudo muito rápido.

[...] É, meu pré-natal e a consulta dele, entendeu? Eu acho esse Posto aqui é um

ótimo Posto. [...] Ah, a pediatra aqui, os médicos aqui são muito bom. [...] Ah, pra

falar verdade, não vi defeito ainda não. Até agora tá tudo bem (MC-PRGM).

Ah, eu falaria muito bem. De todos eles sempre me ajudou. [...] Então, se tiver

amiga minha precisando de atendimento, com certeza eu indicaria aqui. [...] Eu acho

tão bom. [...] O Grupo tá ótimo, fala bastante coisa, ensina pra aquelas que não

sabem ainda, pra mim tá ótimo (FC-PRGM).

Esta mãe fala da atenção dos profissionais, também não aponta nenhum problema e

ressalta a importância do acolhimento:

Da atenção dos profissionais, das marcações que são sempre perto e essa coisa que a

gente consegue... Minha irmã, por exemplo, ela traz aqui há mais tempo, né?

Quando o menino tá um pouco ruinzinho, ela vem aqui e consegue adiantar a

consulta pra mais perto pra pediatra ver. Isto eu acho que é o acalanto de toda mãe

[riso] (MB-PRGM).

Esta outra mãe mencionou ser bem atendida na Puericultura, fala da atenção dos

profissionais de saúde e como problema relatou a falta de comunicação no caso de

cancelamento da consulta:

Que aqui dá muita atenção, que passa sempre exames se precisar, ajuda orientando

na alimentação, o que pode dar o que não pode, dá vacina. [...] O problema que eu vi

aqui foi... Por exemplo, a doutora não tá aqui, aí eles não tem comunicação com a

gente (MJ-PRGM).

Outra mãe aponta como qualidade o bom atendimento e a facilidade de marcação de

consulta: “Que aqui é bom o atendimento, que eles explicam bem, se tiver dúvida você volta e

pergunta. [...] Na marcação, porque eu marco, você consegue marcar né.” Como problema

apontou o atraso do médico e a fila da farmácia e sugeriu uma fila só para crianças e que a

médica chegasse mais cedo: “Sempre de manhã é muita gente..., pra pegar remédio, atraso das

pessoas, fila da farmácia é grande. [...] Uma fila pras crianças e que a médica chegasse um

pouco mais cedo, mas o atendimento é bom.” (MS-PRGM).

Esta mãe elogia o atendimento de Puericultura, mas também reclama do tempo de

espera:

Muito boa. Em comparação assim a reportagem que eu vejo, né, muito, muito bom.

O atendimento, o dia que eu venho eu sou bem atendida, As pessoas que trabalham,

entendeu, dão atenção, eu acho legal. [...] Precisava ser modificado? Assim é

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[pausa], o atendimento é bom, mas é as coisas ser mais rápida. O tempo de espera,

entendeu, é muito grande (JA-PRGM).

Esta outra mãe referiu estar satisfeita com o atendimento de Puericultura e apontou

problema na recepção: “Ah, aqui eu gosto ué do atendimento daqui. Nunca houve nada de

errado, tudo certinho [...] Ah, lá na recepção, uma bagunça danada. Sempre some os papel, só

isso. É o prontuário. Já sumiu o dela.” (U-PRGM).

Outra mãe que também se mostrou satisfeita com o atendimento de Puericultura,

mencionou dificuldade para marcação de consulta para especialidades e de Pediatria geral,

mas não para marcação da consulta de Puericultura:

Eu falaria que a palestra é muito boa, que as pessoas são comunicativas, ajudam, se

tiver dúvida explica, são atenciosas, tem a paciência de sentar e conversar,

explicando o que passa, coisas que em muitos lugares aí não tem. [...] Eu acho que

um problema daqui é a marcação de consulta, é muito difícil. É muito difícil pra

marcar uma nutricionista, uma dermatologista que a criança precise, é muito difícil a

marcação. [...] Pra pediatra, tem dia que eu venho aqui e eu saio e vou lá marcar a

consulta pro outro mês. Ah, não, hoje não pode não, só, hoje é terça, só na quinta.

[...] Já deixo marcado (a Puericultura), mas a criança maior tem que fazer isso (FG-

PRGM).

Duas das entrevistadas não faziam de fato acompanhamento de Puericultura e estavam

procurando atendimento médico por motivo de doença. Uma destas mães da PRGM, que não

fez vínculo de acompanhamento de Puericultura, foi atendida em consulta por diferentes

pediatras e apresentou um depoimento bastante divergente. Apontou como qualidade o fato de

conseguir uma consulta sem estar agendada e o fato de adquirir a medicação prescrita na

farmácia da Policlínica e não apontou nenhum problema. No entanto referiu no decorrer da

entrevista uma situação de insegurança com um dos atendimentos médicos prestados na

Puericultura, já relatado anteriomente, o que a levou a procurar a saúde suplementar:

Ah, primeiro o fato só deu explicar que eu estou trabalhando e eles conseguirem um

encaixe para mim foi importante, pra eu não ficar naquele desespero de estar

procurando médico. O outro é o fato que você conversa com a médica, ela pega e

olha ele todinho e aí... ela passa o remedinho e geralmente tem o remédio aqui e é

outra coisa que me ajuda à beça (RS-PRGM).

Quando perguntei sobre os problemas, respondeu: “Não sei... Porque o lance de pesar,

sempre está pesando ele direitinho, tá marcando, outra coisa que eu fui no particular e eles

não fizeram, eles não medem o meu filho, eles não pesam, aqui já faz. [...] É... pra mim tá me

ajudando bastante.” (RS-PRGM).

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Esta outra mãe também não acompanha sua criança com um mesmo pediatra e referiu

que o atendimento de Puericultura era bom e indicou como problema a falta dos profissionais

e dificuldade na marcação das consultas. Parece que só tem procurado atendimento médico

quando a criança está doente, não fazendo de fato o acompanhamento de Puericultura:

Eu já indiquei aqui. O atendimento é bom, as qualidades são boas. As doutoras são

atenciosas. [...] É, esse problema da marcação é o pior de todos. [...] No caso agora eu

tô aqui porque minha filha tá com febre, ela já tá com conjuntivite. Esse atendimento

de acolhimento eu acho que é necessário ter. [...] Toda vez que eu preciso eu consigo,

eu não sei as outras pessoas. [...] Que nem algumas vezes eu já vim marcar, era

atendida neste mês, Puericultura é todo mês. Mês que vem eu precisava de outra

consulta pra minha filha, aí não tem pro mês que vem, só no outro. Então ela ficava 1

mês sem consulta. Aí eu deixei de marcar por isso. Eu venho só quando eu preciso

mesmo do atendimento médico (RP-PRGM).

Em relação à PCBT, a maioria das mães relatou estar satisfeita com as consultas de

Puericultura. Grande parte das mães apontou como problema o longo tempo em que ficam

aguardando a consulta. Também foi apontado dificuldade para realização de exames,

dificuldade para marcação de consulta e erro de marcação de consulta pela recepção. Duas

mães não se mostraram satisfeitas com as consultas de Puericultura, não satisfazendo suas

expectativas em relação ao atendimento de Puericultura.

Muitas mães elogiaram a consulta de Puericultura. Estas mães não apontaram nenhum

problema:

Qualidade? Boa. Se tiver dúvida, a médica tira, se tiver que passar algum remédio

ela vai passar, entendeu? [...] Nada. Pra mim tá tudo bem (D-PCBT).

Ah, eu falaria que é muito bom. Que foi assim a melhor coisa que eu fiz foi ter me

mudado pra cá. [...] Ah, aqui só tem gente profissional, que cuida bem. Eu não

passei ainda pelo médico aqui, mas os pediatras são ótimos aqui. Todos tratam você

super bem [...] (FN-PCBT).

Eu sempre falo bem desse Posto. O médico que trata dele, eu gosto muito dele, o Dr.

João. Quando ele nasceu (mostrou o outro filho) tratou com ele também. [...] Ah,

não vejo nada de mais não, cuida bem das crianças... Não tenho nada pra falar daqui

não, não tenho mesmo (C-PCBT).

Esta mãe ressalta como qualidade a facilidade para marcação de consulta e fala da

falta de pontualidade da consulta:

Aqui tem mais facilidade pra você marcar médico, pra poder se consultar. Porque no

outro Posto, que eu até consultava lá, tinha dificuldade de conseguir vaga pra

qualquer coisa... [...] Eu acho que só o horário certo mesmo. Eu acho que demora,

porque tem criança pequena, tem criança até recém-nascida mesmo, né, com menos

de 1 mês, fica ali fora. Eu acho que o horário tinha que ser melhorado sim. A

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pontualidade: se marcou pra um horário, sabe, atender naquele horário, não atender

2 horas depois (MF-PCBT).

Esta outra mãe reclama da dificuldade para fazer exame, do tempo de espera da

consulta e parece se conformar com a situação, mas diz que gostou do atendimento na

consulta de Puericultura:

Aqui, assim, em vista de outros lugares não é ruim, até que melhorou, porque eu já

me consulto aqui desde o meu primeiro neném. O tempo que botava um examezinho

demorava muito mais e agora demora, mas tá demorando menos, entendeu? Você

por mais que às vezes costuma ser... você sempre consegue médico, entendeu?

Melhorou bastante, pelo que era, eu acho que o atendimento melhorou bastante. [...]

Essa médica eu gostei bastante dela, por isso eu tô voltando. [...] eu sempre pergunto

e ela sempre esclarece direitinho. Só se eu esquecer, fora isso ela me esclarece

direitinho. [...] Ah, eu acho que é só o tempo de espera mesmo que é muito grande,

fora isso, tá bom. Tirando o tempo de espera não tá ruim não, tá dando pra levar (L-

PCBT).

Quando perguntei o que poderia ser melhorado, esta mesma mãe falou da dificuldade

para marcação de consultas em situação de urgência. Relatou que quando precisou de uma

consulta de urgência para sua filha, teve que “tentar uma vaga de desistência”, mas acabou

conseguindo o atendimento na Policlínica.

Neste caso a mãe elogia o atendimento médico e também o interesse da funcionária da

pré-consulta e fala do atraso do médico:

Ah, eu falaria muito bem daqui porque o médico é maravilhoso, o atendimento, as

pessoas atendem bem, se preocupa em saber das crianças. Por exemplo, hoje eu

levei ela ali, a moça: ela só tá com 7 quilos e 200. Eu: é pra você vê. Mas ela come

direitinho? Come. Se alimenta bem? Se alimenta. Ela: é, mas ela tá um pouquinho

abaixo do peso. Ela ao menos se preocupou. [...] O médico também pra mim é

excelente, o melhor médico do Posto pra mim é ele. [...] Olha, o que eu reclamei foi

sobre esse negócio de demora. Porque tem muita mãe que tá na hora e tem que

trabalhar. Eu acho que o horário, já que é criança pequena tem que ser mais cedo. O

médico tem que chegar mais cedo pras crianças irem mais cedo pra casa também.

(JM-PCBT).

Esta mãe se mostrou satisfeita com o atendimento de Puericultura, mas acha que as

consultas tinham que ser mais frequentes e aponta problema na marcação da consulta de

Puericultura em decorrência de licença médica da profissional de saúde:

Da atenção com as crianças. Eu acho, pelo menos assim, o pouco tempo que eu

trago ela aqui, a gente não entra na sala um minuto e sai logo não. A doutora tira a

roupinha, examina tudo. Então eu acho isso muito importante. [...] Ah, eu acho que a

gente podia vir com mais freqüência, eu acho. [...] Eu tenho vindo todo mês, mas por

exemplo, mês passado a doutora não marcou pra esse mês. [...] ela entrou de licença

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e também não indicou pra outro, deixou pra nós responsáveis vim aqui, ficar vendo

quando pode marcar (RA-PCBT).

Um problema evidenciado neste caso é a dificuldade de substituição do profissional de

saúde quando este se encontra afastado por qualquer motivo no setor público. A demanda pelo

atendimento permanece a mesma devendo ser absorvida pelos outros profissionais de saúde, o

que nem sempre é possível, ou ser feita a reposição deste profissional de saúde, o que na

maioria das vezes é um processo difícil e demorado.

Esta mãe respondeu de forma inicialmente confusa quando perguntei sobre as

qualidades do atendimento de Puericultura da Policlínica e o que poderia ser melhorado. Fala

da morosidade no atendimento dos funcionários e acha que a pediatra poderia conversar mais:

O atendimento é bom, é rápido, saudável, é... vale a pena, é...você sai daqui com

dúvidas totalmente esclarecidas... [...] Eu acho, poderia ser melhor, mas... [...] Olha,

o tempo de espera é muito, o atendimento é ótimo, mas poderia ser melhor a maneira

de todos trabalharem, como se diz, ter mais agitação no lugar, serem menos lerdos,

dormir menos no ponto [...] A pediatra poderia conversar mais, puxar mais assunto

da mãe, porque é tão rápido que a mãe fica acanhada pra falar e ela não pergunta

porque ela não sabe se a mãe tem a dizer, eu acho que é isso (MG-PCBT).

Em outro momento da entrevista perguntei: “O que você queria saber mais, sobre

quais assuntos você gostaria de saber mais? Que informações ainda faltam?” A mãe

esclareceu melhor suas expectativas em relação à Puericultura, gostaria de ter uma melhor

relação com o médico e cita que irá procurar a saúde suplementar:

Eu quero fazer mais por ela. Em relação ao choro, o que que eu posso fazer, o que

ela quer, porque nem tudo eu sei. Às vezes ela faz uns gestos que me preocupam, o

que ela tem que a médica não me fala? A médica só examina o coração, vê que tá

bem e não me fala mais nada, a médica poderia me falar mais alguma coisa. É, sei

lá... curiosidade de mãe, né? Aí ela começa chorar, ela faz manha, mas deve ser de

criança mesmo. Eu fico preocupada, será que ela tem alguma coisa que eu não sei o

que que é? Eu acharia também que a consulta tinha que ser de 15 em 15 dias, não

poderia ser mensal, né? É muito tempo, daí nesse decorrer de 30 dias a criança pode

adoecer, você não sabe o que fazer. Tudo bem, procurar o Pronto-Socorro. O

planozinho de saúde dela já vou fazer logo agora semana que vem (MG-PCBT).

Esta outra mãe elogia apenas alguns profissionais da Policlínica e fala do erro de

agendamento de consulta pela recepção:

Ah, como qualidade acho que só o médico Dr. João mesmo daqui porque o resto,

entendeu... [...] Tem um enfermeiro que é bom, tem a enfermeira Cláudia que

também é boa, a doutora da fono. [...] Mães marcaram consultas, na carteirinha dela

tá 12:30h, mas na agenda tá 7h da manhã. Aí falta de atenção, entendeu, às vezes má

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vontade também dos funcionários assim que marcam as consultas, entendeu? (MA-

PCBT).

Nessa outra situação, a mãe reclama do tempo de espera para o atendimento e da

dificuldade para marcação de consulta de Puericultura:

O médico tava marcado pra 12:30 h, já vai dar 2 h e a gente não foi atendido, né? [...]

Acho que a dificuldade do tempo pra marcar. Eu vim aqui, por exemplo, pra marcar

médico pra ela no dia vinte e pouco do mês passado, só consegui pra hoje dia

dezenove, um intervalo de tempo muito grande. [...] Já fica marcada, mas como com

ela aconteceu esse imprevisto da médica entrar de licença [...] Nesse intervalo de

tempo, ela pegou uma virose, que ela vomitou bastante, ela teve diarréia, ela tava

emagrecendo e eu não tive acompanhamento médico daqui (MP-PCBT).

Esta mesma mãe com bastante clareza, responde que a Puericultura depende do

médico:

Qualidades? Eu acho, aqui na Puericultura depende do médico. Tem médico que dá

uma atenção ótima, que examina mesmo a criança de cima a baixo. Já têm outros

que demora a chegar, que atende de qualquer jeito, não dá muita informação,

depende muito do médico que faz a Puericultura. Como tem aqui, por exemplo, o

Dr. João, Dr. João faz excelente Puericultura. Ele olha a criança, examina, pergunta,

ele quer saber como a criança tem passado, pergunta tudo, examina bem a criança.

Às vezes, as pessoas reclamam, nossa, esse médico demora muito, mas é porque ele

examina bem a criança mesmo. Mas tem médico que chega, olha pra criança, nem

bota a mão e tá liberado (MP-PCBT).

9.3 - Síntese dos Resultados

A grande maioria das mães entrevistadas relatou que o nascimento do filho trouxe um

sentimento de felicidade e, mesmo aquelas que não haviam planejado a gravidez, renderam-se

a este sentimento com a maternidade. A maternidade foi vista por várias mães como a razão

da própria existência e outras falaram da sua responsabilidade pelo cuidado com a criança.

Algumas mães, apesar de felizes com a maternidade, expressaram preocupação, medo,

dificuldade e insegurança em relação aos cuidados com o filho e a necessidade de adquirir

autonomia nos cuidados com a criança.

Quanto à percepção das mães sobre a saúde de seu filho, todas as mães responderam

que seu filho tinha saúde. Apontaram diversas justificativas, como: o fato da criança se

alimentar bem, estar em aleitamento materno, ter bom crescimento e desenvolvimento, a

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ausência de doença e associaram a saúde com alegria e felicidade. Algumas mães

mencionaram também o cuidado que elas têm com o filho.

Grande parte das mães entrevistadas referiu sentimento de insegurança diante do

adoecimento da criança. Outras situações de insegurança relatadas foram: retorno ao trabalho,

reação vacinal, amamentação, choro do bebê, golfada com engasgo e insegurança com o

atendimento médico em um episódio de adoecimento da criança. Algumas mães referiram que

foram adquirindo segurança com o passar do tempo, com a vivência da maternidade.

A maioria das mães das crianças em acompanhamento de Puericultura nas duas

Policlínicas relatou satisfação com a Puericultura, tanto com as consultas quanto com o

Acolhimento Mãe-Bebê. Ressaltaram a atenção e o interesse dos profissionais de saúde, o

acolhimento e o fato de adquirir a medicação prescrita na farmácia da Policlínica.

O Acolhimento Mãe-Bebê mostrou-se um espaço de apoio às mães para facilitar sua

autonomia. O Acolhimento Mãe-Bebê em grupo pareceu ser mais satisfatório que o individual

na medida em que as mães que participaram do Acolhimento Mãe-Bebê em grupo se

lembraram e relataram mais situações de apoio quanto ao aleitamento materno e aos cuidados

com o bebê do que as mães que participaram deste Acolhimento individualmente.

As duas profissionais de saúde entrevistadas que participam do Acolhimento Mãe-

Bebê nas Policlínicas relataram que acham este trabalho importante para o apoio às mães. A

assistente social que participa do Acolhimento Mãe-Bebê em grupo ressaltou que no grupo se

consegue promover a troca de informações e experiências entre os participantes.

De fato, espera-se que o profissional de saúde trabalhe em prol da produção da saúde,

coloque a dimensão técnica do trabalho a serviço das estratégias de vida dos usuários, com

resgate da dimensão da autonomia e de sua co-produção (CAMPOS e CAMPOS, 2006).

Em relação às consultas médicas de Puericultura, apenas duas mães relataram não

estarem satisfeitas com a consulta, e duas mães não fizeram vínculo no atendimento de

Puericultura e apresentaram durante a entrevista um relato contraditório.

Uma das mães, que não se mostrou satisfeita com a consulta de Puericultura, relatou

que gostaria que a pediatra conversasse mais com ela. A outra mãe qualificou apenas um dos

pediatras da Policlínica e afirmou que “a Puericultura depende do médico”.

O discurso das mães mostrou que é fundamental o uso das tecnologias relacionais no

atendimento de Puericultura – acolhimento, responsabilização e vínculo. A Puericultura

depende do profissional de saúde, do seu trabalho vivo em ato. O trabalhador de saúde tem

certa autonomia sobre o modo de prestar a assistência e muitas vezes é o que determina o

perfil assistencial (FRANCO e MERHY, 2003).

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As duas mães que não formaram vínculo no atendimento eram atendidas a cada

consulta por diferentes pediatras – conclui-se que não estavam fazendo de fato o

acompanhamento de Puericultura. Uma delas referiu uma situação de insegurança com um

atendimento médico prestado na Policlínica e a outra mãe parece que só tem procurado

atendimento médico quando a criança está doente e alegou como justificativa para tal fato a

falta dos profissionais e a dificuldade para marcação da consulta de Puericultura.

As situações relatadas anteriormente deixam claro que é importante que a dupla mãe-

filho tenha acesso a um cuidado baseado no vínculo, na construção de um projeto terapêutico

individual, com co-participação e responsabilização (CAMPOS e CAMPOS, 2006).

De um modo geral, nos relatos das mães sobre as contribuições da Puericultura para o

cuidado com seus filhos, algumas questões se destacaram: 1ª) O Acolhimento Mãe-Bebê

mostrou-se um espaço privilegiado para facilitar a construção da autonomia das mães,

principalmente em grupo. 2ª) Quando há uma boa relação com o médico, a consulta de

Puericultura é bastante satisfatória e esclarecedora para as mães.

As mães apontaram vários problemas nos serviços de Puericultura: a falta dos

profissionais, dificuldade para marcação das consultas, principalmente para especialistas, o

longo tempo de espera pela consulta, atraso dos médicos, falta de comunicação no caso de

cancelamento da consulta, perda de prontuário e erro de agendamento de consulta pela

recepção, espera na fila da farmácia, morosidade no atendimento dos funcionários e

dificuldade para realização de exames. Vale ressaltar que esses problemas acontecem nos

serviços de saúde em geral, não são especificidades do setor de Puericultura, mas são entraves

que geram insatisfação entre as usuárias.

A maioria das entrevistadas relatou receber apoio de familiares, vizinhas e amigas nos

cuidados com os filhos e algumas destacaram a participação do marido. O apoio de familiares,

vizinhas e amigas se mostrou importante na construção da autonomia das mães no cuidado

com a criança.

Dentre as vinte mães entrevistadas, dez eram primíparas. As mães primíparas

referiram mais dificuldades com a amamentação que as multíparas: sete mães multíparas e

duas primíparas não relataram dificuldade para amamentar. Várias mães tiveram dificuldades

iniciais superadas, conseguindo assim manter o aleitamento materno. Apenas quatro mães não

estavam amamentando seus filhos, sendo que duas amamentaram por menos de um mês, uma

amamentou por um período de seis meses e outra até dez meses. Muitas mães se sentiram

valorizadas por poderem amamentar e outras falaram do vínculo com a criança e da proteção

da criança pelo leite materno.

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Não foi constatada nenhuma associação entre a manutenção do aleitamento materno e

a escolaridade, a faixa etária destas mães e nem com o fato de terem ou não outros filhos. O

aleitamento materno exclusivo também não se associou com a idade, com a escolaridade e

nem com o fato das mães serem ou não primíparas, porém todas as seis mães em aleitamento

materno exclusivo referiram se sentirem seguras, sendo que algumas tinham apoio de

familiares e outras não. As duas mães que amamentaram por menos de um mês não contavam

com ajuda de familiares, sendo que uma delas contava apenas com o apoio do marido.

De uma forma geral, as mães relataram que tiveram apoio dos profissionais de saúde

para amamentar. Contudo, apenas seis mães mantinham as crianças em aleitamento materno

exclusivo ou mantiveram o aleitamento materno exclusivo até seis meses, conforme o

recomendado pela OMS e Ministério da Saúde e quatro crianças não estavam mais sendo

amamentadas, mostrando a necessidade de mais ações de apoio ao aleitamento materno,

principalmente durante a Puericultura.

Trazendo o conceito de Clínica Ampliada para esta discussão, é possível concluir que

é necessária uma ampla reorganização dos serviços de Puericultura, com ênfase tanto na

formação integral dos profissionais de saúde quanto na transformação dos modelos de gestão

e de atenção, para se buscar a co-construção da autonomia das mães no cuidado com a criança

(CAMPOS e CAMPOS, 2006).

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10 - Considerações Finais

Tentando responder à questão que motivou o desenvolvimento desse estudo, acredito

ser a Puericultura e a autonomia das mães uma relação possível, porém com um difícil

caminho a ser percorrido. Puericultura e autonomia das mães deveriam caminhar juntas, numa

estreita relação, com as ações na Puericultura procurando contribuir para esta autonomia,

tendo em vista a autonomia como pré-condição para a saúde. A autonomia é difícil de ser aferida por ter múltiplos fatores envolvidos na sua

construção. Como então verificar se a prática da Puericultura está contribuindo para a

autonomia das mães no cuidado com a criança? Este estudo não buscou avaliar ou comparar

serviços de Puericultura e sim tentar responder se a prática da Puericultura tem contribuído

para a autonomia das mães através da diversidade de opiniões obtidas nas entrevistas e de

situações analisadas. Todas as informações que emergiram do trabalho de campo

contribuíram para esta reflexão.

Em muitas situações descritas nesse estudo foi possível verificar a contribuição da

prática da Puericultura na construção desta autonomia. Em outras, observou-se um grande

distanciamento entre o que é desejável e a realidade, o que se evidenciou através do discurso

de várias mães. Outro ponto a ser ressaltado é sobre como as mães apresentam suas

necessidades de saúde e suas expectativas em relação à Puericultura.

Refletindo sobre as dificuldades nessa relação entre Puericultura e autonomia das

mães, observo que às vezes há um conflito de interesses nesta relação. Quanto aos

profissionais de saúde, observo que contribuir para a construção da autonomia das mães dá

trabalho. É mais fácil prescrever, medicalizar o paciente e liberá-lo rapidamente do que

orientar. Orientar despende um tempo que, às vezes, o profissional de saúde não dispõe ou

não quer dispor. E até que ponto os profissionais de saúde estão preparados para um trabalho

de educação em saúde? Não se recebe esta formação nas universidades e nem sempre os

serviços de saúde têm este direcionamento. Outro fato é que, por vezes, o profissional de

saúde também pode querer, por interesses privados, manter essa relação de dependência da

mãe, que terá sempre que recorrer aos seus serviços, por questões que poderiam ser resolvidas

se a mãe tivesse maior autonomia para tal. Em relação às mães, tenho observado que, algumas

vezes, muitas delas não querem ou não conseguem construir essa autonomia. Algumas mães

são inseguras e parecem preferir uma relação de dependência. Autonomia implica em

responsabilização, em cuidado, e, às vezes, é mais fácil transferir esta responsabilidade ao

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profissional de saúde, não assumindo essa responsabilidade pelo cuidado do filho. Os serviços

e os profissionais de saúde têm limites na sua capacidade de contribuir para a autonomia das

mães.

A prática da Puericultura depende da relação que se estabelece entre o profissional de

saúde e o usuário, neste caso a mãe. Relação que envolve subjetividades - vínculo,

acolhimento e responsabilização – para que haja uma contribuição efetiva para a construção

da autonomia das mães no cuidado com a criança.

Entretanto, muitas ações podem ser desenvolvidas para se caminhar no sentido da

construção da autonomia das mães. Os serviços de atenção básica à saúde ainda são muito

ineficientes; precisam mostrar maior resolubilidade. Embora algumas mudanças já tenham

ocorrido, o atual modelo de atenção ainda é centrado na figura do médico, com solicitação

excessiva de exames complementares (nem sempre de fácil realização), desvalorização da

subjetividade do paciente e do médico e com farmacologização excessiva (CAMARGO JR.,

2003).

O eixo central da terapêutica atual é o medicamento, o que é fruto da crença no poder

dos fármacos. O consumo exagerado de medicamentos começa logo no início da vida, como

traço da sociedade de consumo em que vivemos, traço da nossa cultura imediatista e

materialista, que busca adequação a valores idealizados. O medicamento é valorizado como

instrumento de adequação a padrões culturais. A divulgação de medicamentos pelos meios de

comunicação de massa, agências de propagandas e varejistas contribui para a medicalização

excessiva. A propaganda atua associada à ideologia de consumo disseminada na sociedade

contemporânea como caminho mais rápido de se alcançar saúde, bem-estar e a felicidade

(NASCIMENTO, 2005; NASCIMENTO, 2007).

O simbólico do medicamento é muito forte na nossa sociedade e, consequentemente,

para a maioria dos pacientes que procura o atendimento médico. Até mesmo na Puericultura,

as mães buscam e valorizam a prescrição do medicamento para os seus filhos. Por outro lado,

o autocuidado é negligenciado e até mesmo combatido. As pessoas desaprendem a cuidar de

si, se desapropriam de um saber e ficam a mercê de produtos industriais. Segundo Illich

(1975), a medicina corrobora com os interesses da sociedade industrial, ao divulgar e

internalizar o discurso médico legitimado cientificamente. Com a medicalização social, retira-

se a autonomia das pessoas – o indivíduo perde a autonomia de cuidar de si, gera-se

dependência e, muitas vezes, a iatrogenia é o resultado obtido.

A promoção da saúde se contrapõe a medicalização. Na Puericultura se trabalha com a

promoção da saúde desde o início da vida. Promover a autonomia das mães é permitir que

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elas assumam a responsabilidade pela saúde de seus filhos, resgatando o controle sobre suas

próprias vidas. Nesta perspectiva, os profissionais de saúde através da educação em saúde

seriam parceiros na reorientação de atitudes, crenças e hábitos.

A autonomia no cuidado em saúde se abre como espaço de atuação das tecnologias

relacionais. A mãe cuidadora tem conceitos e vivências que necessitam ser percebidos e,

quando estes oferecerem algum tipo de risco, podem ser desconstruídos, com a ajuda dos

profissionais de saúde, a partir do conhecimento prévio da mãe. É preciso trabalhar de onde

ela construiu aquele conhecimento de risco. E, ao mesmo tempo, valorizar e reforçar os

conhecimentos que são bons, o que aumenta a autoconfiança da mãe.

Um dos caminhos possíveis seria a criação de mais ações em saúde voltadas para a

educação em saúde, dentro da Puericultura, partindo de demandas das mães, em seu contexto,

e, a partir daí, contribuir para a autonomia nos cuidados com a criança, num trabalho em

equipe multiprofissional.

Não me refiro a educação em saúde com o papel de controle social dos doentes ou

população de risco com a finalidade de prevenir ou manipular as contradições geradas pelas

condições sociais. A educação em saúde não deveria ser vista de forma reducionista, como

um conjunto de práticas impositivas e prescritivas de comportamentos ideais, desvinculados

do contexto social (BRASIL, 2007). Mas, ao contrário, enfocar a educação em saúde através

da convivência cotidiana dos profissionais com a população nos serviços de saúde, numa

relação educativa entre os serviços de saúde e a população, que respeite a autonomia do

indivíduo.

A educação popular é uma estratégia de construção da participação popular no

redirecionamento da vida social. Busca promover o crescimento da capacidade de análise

crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento. A

valorização do saber e dos valores do educando permite que ele mantenha suas iniciativas. A

educação popular em saúde diminui a distância entre a assistência que representa a

intervenção pontual sobre a doença e o cuidado que significa o estabelecimento de relações

intersubjetivas em tempo contínuo e espaço de negociação e inclusão dos saberes, dos desejos

e das necessidades do outro. É um instrumento de construção de uma ação de saúde mais

integral e mais adequada à vida da população (BRASIL, 2007).

A educação popular em saúde compartilha dos princípios da educação popular

formulados por Paulo Freire, tendo como princípio metodológico a problematização, com a

análise crítica dos contextos envolvendo processos de ação-reflexão-ação. Os problemas

podem ser caracterizados e articulados com a realidade social e as soluções parciais

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103

encaminhadas, num processo de reflexão-ação-reflexão. A problematização das questões

levantadas produz reflexão, levando a uma releitura da realidade. Este processo é gerador de

consciência (BRASIL, 2007).

No contexto da Puericultura, é importante saber ouvir, partindo da maneira como as

mães entendem a realidade, para despertar nas mesmas a consciência crítica por meio de um

processo de ação-reflexão-ação.

Os conhecimentos construídos sobre as necessidades de saúde estão expressos no

modo como a mãe representa sua demanda, como reivindica o cuidado em saúde e como

exerce o cuidado da criança, o que nos leva a refletir como as necessidades de saúde são

construídas.

Na construção compartilhada do conhecimento fundamentada na pedagogia

problematizadora de Paulo Freire, os saberes anteriores do sujeito são confrontados com a

realidade. A prática da educação em saúde deve ser pautada pela busca de autonomização. A

pedagogia problematizadora é a ação metodológica mais adequada para este processo

construtor de autonomia. Estratégias pedagógicas como oficinas, dinâmicas de grupo, o uso e

construção coletiva de material educativo podem ser utilizadas nos serviços de saúde como

práticas pedagógicas orientadas pelo instrumental da educação popular (BRASIL, 2007).

De acordo com os resultados verificados nesse estudo, o Grupo de Acolhimento Mãe-

Bebê mostrou-se como um espaço de possibilidades para a educação em saúde e,

principalmente, como um elo entre os procedimentos realizados com o recém-nascido e a

experiência da mãe.

Além do enfoque individual, na construção da autonomia como pré-condição para

saúde estão envolvidas questões sociais, econômicas e culturais que não podem ser deixadas

de lado quando se fala de autonomia em saúde. Necessitamos de ações intersetoriais que

visem o empoderamento individual e coletivo através de mudanças sócio-políticas,

econômicas e culturais por uma sociedade mais justa e saudável (BUSS, 2000).

Nestas considerações finais, vale retomar algumas questões que emergiram a partir do

trabalho de campo. A maioria das mães de crianças em atendimento de Puericultura, nas duas

Policlínicas que subsidiaram este estudo, referiu que a Puericultura tem ajudado nos cuidados

com a criança. Em algumas situações relatadas evidenciou-se que a Puericultura contribuiu

para a autonomia das mães no cuidado com a criança, porém muitos problemas foram

referidos. Grande parte desses problemas está relacionada à gestão local. São problemas que

dificultam o acompanhamento de Puericultura e sinalizam a necessidade de um maior

direcionamento e investimento na qualificação destes serviços. As mães apontaram como

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principais problemas: a falta dos profissionais, dificuldade para marcação das consultas,

principalmente para especialistas, o longo tempo de espera pela consulta, atraso dos médicos,

falta de comunicação no caso de cancelamento da consulta, perda de prontuário e erro de

agendamento de consulta pela recepção, espera na fila da farmácia, morosidade no

atendimento dos funcionários e dificuldade para realização de exames.

A maioria das mães referiu estar satisfeita com o Acolhimento Mãe-Bebê e com as

consultas de Puericultura, porém algumas se queixaram do atendimento nestas consultas, pois

suas expectativas em relação à Puericultura se mostravam maiores. Algumas mães

estabeleceram uma relação direta entre a Puericultura e a atuação do médico. Além disso,

parece que quando não se estabelece um vínculo entre a mãe e o pediatra, as possibilidades de

insegurança das mães são mais comuns. Vale ressaltar também a necessidade de orientação

das mães quanto à importância do acompanhamento na Puericultura, para que não procurem

atendimento somente por motivo de doença. Uma outra questão visualizada neste estudo foi

que o apoio de familiares, vizinhas e amigas também se mostrou importante na construção da

autonomia das mães no cuidado com a criança.

A autonomia será sempre relativa e produzida em permanente tensão e interação

(BRASIL, 2007). Desenvolve-se com a vivência de um processo gradativo, no qual as mães

vão se tornando preparadas para o cuidado com a criança, tomando decisões de forma

consciente. Autonomia implica em responsabilização e compromissos a partir de suas

próprias experiências e vivências. As estratégias humanizantes da Saúde Coletiva, ao

favorecerem a relação que se estabelece no encontro de subjetividades do profissional de

saúde com a dupla mãe-filho, possibilitam uma ressignificação da tradicional prática da

Puericultura, contribuindo assim para a construção da autonomia das mães no cuidado com a

criança.

O “conhecimento médico” não representa a totalidade do acervo necessário a uma boa

prática médica. A ciência fornece ferramentas valiosas para o trabalho médico, porém a

medicina não é uma aplicação imediata das teorias científicas (CAMARGO JR., 1998). Há

um núcleo de saber que orienta a prática. Algumas normas e diretrizes são elaboradas com

base em evidências científicas, que podem orientar a atuação do profissional. Porém, utilizar

as normas, diretrizes e consensos como norte e, ao mesmo tempo, atender a dupla mãe-filho

de forma personalizada e individualizada depende fundamentalmente da atuação do médico e

dos outros profissionais de saúde. Esse é o desafio que se coloca para a construção de práticas

de saúde que operem com a co-produção de autonomia.

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112

ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva - Instituto de Saúde da Comunidade

Título do Projeto: Puericultura e autonomia das mães: uma estreita relação?

Pesquisador responsável: Valéria Ubaldo Araujo Vidal Telefone para contato: 96788000

Nome do voluntário:________________________________________________________________

Idade:_____________ RG:________________________

Responsável legal (quando for o caso):_________________________________________________

RG Responsável legal:_____________________________

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A senhora está sendo convidada a participar do projeto de pesquisa “Puericultura e autonomia

das mães: uma estreita relação?”, de responsabilidade da pesquisadora Valéria Ubaldo Araujo Vidal.

O principal objetivo dessa pesquisa é conhecer a importância da Puericultura para a autonomia

das mães nos cuidados com a criança, contribuindo para a prática da atenção básica à saúde da criança

no primeiro ano de vida, com a finalidade de melhorar o atendimento de Puericultura nas Unidades de

Saúde.

Serão realizadas entrevistas com as mães, que serão gravadas e depois desgravadas. As

informações serão confidenciais e ficarão sob a guarda da pesquisadora, sendo garantido o seu

anonimato. A entrevista será realizada com privacidade e poderá ser interrompida caso cause qualquer

constrangimento e se assim desejar. Sua participação é voluntária, sem receber qualquer incentivo

financeiro e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. O benefício esperado

é a contribuição para melhoria no atendimento de Puericultura no primeiro ano de vida nas Unidades

de Saúde.

Na divulgação do resultado da pesquisa, será garantido o sigilo do nome das entrevistadas, não

comprometendo, assim, a sua integridade. Em caso de qualquer dúvida ou arrependimento, a

participante poderá solicitar esclarecimentos e a não divulgação da sua entrevista entrando em contato

com a pesquisadora responsável por meio do telefone acima, sem prejuízos no atendimento na

Unidade de Saúde.

Eu,________________________________________________, RG nº__________________ declaro

ter sido informada e concordo em participar, como voluntária, do projeto de pesquisa acima descrito.

OU

Eu,_________________________________________________, RG nº____________________

responsável legal por ______________________________________________, RG

nº____________________ declaro ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, do

projeto de pesquisa acima descrito.

Niterói, ___ de _________________ de ______

________________________________________ ______________________________________ Nome e assinatura da participante ou seu responsável legal Nome e assinatura do responsável por obter o consentimento

________________________________________ ______________________________________

Testemunha Testemunha

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113

ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva - Instituto de Saúde da Comunidade

Título do Projeto: Puericultura e autonomia das mães: uma estreita relação?

Pesquisador responsável: Valéria Ubaldo Araujo Vidal Telefone para contato: 96788000

Nome do voluntário:________________________________________________________________

Idade:_____________ RG:________________________

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A senhora está sendo convidada a participar do projeto de pesquisa “Puericultura e autonomia

das mães: uma estreita relação?”, de responsabilidade da pesquisadora Valéria Ubaldo Araujo Vidal.

O principal objetivo dessa pesquisa é conhecer a importância da Puericultura para a autonomia

das mães nos cuidados com a criança, contribuindo para a prática da atenção básica à saúde da criança

no primeiro ano de vida, com a finalidade de melhorar o atendimento de Puericultura nas Unidades de

Saúde.

Sua entrevista visa descrever as atividades desenvolvidas no Grupo de Puericultura. A

entrevista será gravada e desgravada após sua transcrição, assim como as entrevistas com as mães. As

informações serão confidenciais e ficarão sob a guarda da pesquisadora, sendo garantido o seu

anonimato. A entrevista será realizada com privacidade e poderá ser interrompida caso cause qualquer

constrangimento e se assim desejar. Sua participação é voluntária, sem receber qualquer incentivo

financeiro e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. O benefício esperado

é a contribuição para melhoria no atendimento de Puericultura no primeiro ano de vida nas Unidades

de Saúde.

Na divulgação do resultado da pesquisa, será garantido o sigilo do seu nome na entrevista, não

comprometendo, assim, a sua integridade. Em caso de qualquer dúvida ou arrependimento, você

poderá solicitar esclarecimentos e a não divulgação da sua entrevista entrando em contato com a

pesquisadora responsável por meio do telefone acima.

Eu,________________________________________________, RG nº__________________ declaro

ter sido informada e concordo em participar, como voluntária, do projeto de pesquisa acima descrito.

Niterói, ___ de _________________ de ______

________________________________________ ___________________________________ Nome e assinatura da participante Nome e assinatura do responsável por obter o consentimento

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114

ANEXO C – Roteiro da entrevista com as mães

- Identificação da mãe (idade, escolaridade, ocupação da mãe e cônjuge, renda

familiar, estado civil, religião, moradores da casa, número de filhos);

- Como você se sente com o nascimento do seu filho? O que é ser mãe pra você?

- Você teve dificuldades para amamentar? O que você sente quando está

amamentando?

- Como você está alimentando seu bebê? Seu bebê está mamando no peito? Ele recebe

algum outro alimento ou água, além do leite materno? Se afirmativo, quando iniciou outro

alimento?

- O Grupo de Puericultura ou Acolhimento Mãe-Bebê te ajudou no cuidado com seu

filho? Por quê? As consultas de pediatria têm te ajudado nos cuidados com seu filho?

- Como você se sente cuidando do seu filho? Você se sente segura? Você sente falta de

apoio para cuidar do seu filho e para amamentar?

- Lembra de uma situação em que você se sentiu intranquila ou insegura. A partir do

que foi dito, perguntar se algo dito no Acolhimento Mãe-Bebê ou na consulta lhe ajudou. O

que você entendeu do que foi dito? Ou situação mencionada a partir das seguintes questões –

retorno ao trabalho, introdução de alimentos, dificuldade na amamentação, no cuidado com a

criança, dentição, vacinação,... O que o pediatra disse que te ajudou? Quais os assuntos que

precisariam de maiores esclarecimentos? Quais as informações que faltaram? Que dúvidas

você ainda têm?

- Quais as outras pessoas que te ajudam a cuidar do seu filho, além dos profissionais

de saúde? Familiares, vizinhas, amigas, outras instituições?

- Você acha que seu filho tem saúde? Por quê?

- Se você tivesse que recomendar o Acolhimento Mãe-Bebê e as consultas de

Puericultura daqui a alguma amiga quais qualidades você mencionaria? E os problemas? O

que você acha que deve ser modificado no atendimento de Puericultura? E o que não deveria

ser mexido?

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115

ANEXO D – Roteiro da entrevista com a assistente social

- Identificação (idade, tempo de atividade profissional, tempo de participação no

Grupo de Puericultura);

- Qual a motivação para a construção do Grupo de Puericultura? Como foi construído

e por quê? Há quanto tempo foi implantado?

- Como foi feita a seleção dos temas para o Grupo?

- Quais os assuntos abordados no Grupo de Puericultura?

- Qual a sua percepção da importância do Grupo para as mães?

- Quais as dificuldades no cotidiano do trabalho no Grupo?

- Qual a sua avaliação do Grupo?

ANEXO E – Roteiro da entrevista com a fonoaudióloga

- Identificação (idade, tempo de atividade profissional);

- Há quanto tempo você trabalha com a Puericultura nesta Policlínica?

- Como é feito o Acolhimento Mãe-Bebê nesta Policlínica? O que você acha deste

acolhimento? Quais os profissionais que trabalham neste acolhimento?

- Como é feito o agendamento das consultas de Puericultura? E em caso de

intercorrência longe da data das consultas?

- Quantos pediatras trabalham com a Puericultura nesta Policlínica?

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116

ANEXO F – Parecer sobre o Projeto de Pesquisa