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05/02/2016 Publicacao [27092013658900Acórdãos02/02/2016Acórdãos] http://www.trt9.jus.br/internet_base/plc/impressaoPlc.do?evento=F12Imprimir&impIntel=S 1/32 CNJ: 000090458.2013.5.09.0658 TRT: 02709201365809000 (RO) Publicacao [27092013658900 Acórdãos02/02/2016Acórdãos] Emitido em 05/02/2016 11:59:24 PUBLICAÇÃO PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO "Conciliar também é realizar justiça" 3ª TURMA ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. AÇÃO AJUIZADA PELA MÃE DO EMPREGADO FALECIDO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. O artigo 114, inciso VI, da Constituição Federal, estabelece que "Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:" "as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho". O inciso XI do mesmo artigo 114 da Constituição Federal dispõe sobre a competência da Justiça do Trabalho para "outras controvérsias decorrentes da relação de emprego". Os pedidos postos na lide são decorrentes do óbito de empregado em consequência de acidente do trabalho ocorrido em momento no qual prestava serviços para a empregadora, isto é, a origem da lide está na relação de emprego mantida entre a empregadora e o trabalhador. A competência para processar e julgar o feito é da Justiça do Trabalho. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSOS ORDINÁRIOS, provenientes da VARA DO TRABALHO DE FOZ DO IGUAÇU, sendo recorrentes ROQUETE CONSTRUÇÃO CIVIL LTDA. EPP e ADELINA CHAVES e recorridos OS MESMOS, ELETRO INSTALADORA K LUZ LTDA. e COPEL GERAÇÃO E TRANSMISSÃO S.A.. I RELATÓRIO Inconformadas com a sentença de fls. 436454, complementada pela decisão resolutiva de embargos de fls. 516518, ambas proferidas pela Exma. Juíza do Trabalho Augusta Pölking Wortmann, que acolheu parcialmente os pedidos, recorrem a autora e a ré Roquete Construção Civil Ltda. EPP. Por meio do recurso ordinário de fls. 457503 a ré postula a reforma da sentença quanto aos seguintes temas: incompetência da justiça do trabalho, acidente do trabalho, dano moral, dano material, constituição de capital e juros de mora. Custas recolhidas à fl. 504. Depósito recursal efetuado à fl. 505.

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05/02/2016 Publicacao [2709­2013­658­9­0­0­Acórdãos­02/02/2016­Acórdãos]

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CNJ: 0000904­58.2013.5.09.0658TRT: 02709­2013­658­09­00­0 (RO)

Publicacao [2709­2013­658­9­0­0­Acórdãos­02/02/2016­Acórdãos]

Emitido em05/02/201611:59:24

PUBLICAÇÃO

PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO"Conciliar também é realizar justiça"

3ª TURMA

ACIDENTE DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS EMATERIAIS. AÇÃO AJUIZADA PELA MÃE DO EMPREGADO FALECIDO.COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. O artigo 114, inciso VI, daConstituição Federal, estabelece que "Compete à Justiça do Trabalho processar ejulgar:" "as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes darelação de trabalho". O inciso XI do mesmo artigo 114 da Constituição Federaldispõe sobre a competência da Justiça do Trabalho para "outras controvérsiasdecorrentes da relação de emprego". Os pedidos postos na lide são decorrentes doóbito de empregado em consequência de acidente do trabalho ocorrido emmomento no qual prestava serviços para a empregadora, isto é, a origem da lideestá na relação de emprego mantida entre a empregadora e o trabalhador. Acompetência para processar e julgar o feito é da Justiça do Trabalho.

V I S T O S, relatados e discutidos estes autos de RECURSOS ORDINÁRIOS,provenientes da 2ª VARA DO TRABALHO DE FOZ DO IGUAÇU, sendorecorrentes ROQUETE CONSTRUÇÃO CIVIL LTDA. ­ EPP e ADELINA CHAVESe recorridos OS MESMOS, ELETRO INSTALADORA K LUZ LTDA. e COPELGERAÇÃO E TRANSMISSÃO S.A..

I ­ RELATÓRIO

Inconformadas com a sentença de fls. 436­454, complementada pela decisãoresolutiva de embargos de fls. 516­518, ambas proferidas pela Exma. Juíza doTrabalho Augusta Pölking Wortmann, que acolheu parcialmente os pedidos,recorrem a autora e a ré Roquete Construção Civil Ltda. ­ EPP.Por meio do recurso ordinário de fls. 457­503 a ré postula a reforma da sentençaquanto aos seguintes temas: incompetência da justiça do trabalho, acidente dotrabalho, dano moral, dano material, constituição de capital e juros de mora.Custas recolhidas à fl. 504. Depósito recursal efetuado à fl. 505.

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Custas recolhidas à fl. 504. Depósito recursal efetuado à fl. 505.Contrarrazões apresentadas pela autora às fls. 529­541.Por meio do recurso ordinário de fls. 521­528 a autora postula a reforma dasentença quanto aos seguintes temas: responsabilidade subsidiária e dano moral.Contrarrazões apresentadas pela ré Roquete Construção Civil Ltda. ­ EPP às fls.543­546.Apesar de devidamente intimadas, as rés Eletro Instaladora K Luz Ltda. e COPELGeração e Transmissão S.A. não apresentaram contrarrazões.Os autos não foram enviados ao Ministério Público do Trabalho ante adesnecessidade de seu pronunciamento.

II ­ FUNDAMENTAÇÃO

ADMISSIBILIDADE

Presentes os pressupostos legais de admissibilidade, CONHEÇO dos recursosordinários interpostos, assim como das respectivas contrarrazões.

MÉRITO

RECURSO ORDINÁRIO DE ROQUETE CONSTRUÇÃOCIVIL LTDA. ­ EPP

1. Incompetência da justiça do trabalho

Quanto ao tema em epígrafe, o Juízo de primeiro grau decidiu nos seguintestermos:"A tese é a de que a Justiça do Trabalho não poderia examinar o pedido da autora,por ela ter feito em nome próprio, sendo ela 'apenas' a mãe e sucessora dotrabalhador que faleceu em acidente típico do trabalho.Em que pese tenha sido anulada a Sentença da lavra da Exma. Sra. Dra. Juíza doTrabalho Substituta CHRISTIANE BIMBATTI AMORIM, por concordar com osargumentos por aquela já detalhada e pormenorizadamente explicados, emhomenagem à qualidade do seu trabalho e ao Princípio da Economia Processual,peço ( )vênia para transcrevê­los em parte, adotando­os como razões da presenteSentença.Com efeito, o Tribunal Pleno do STF, no julgamento do CC nº 7.545­7/SC ,concluiu pela competência desta Justiça Especializada para processar e julgar açãoque envolva pedido de indenização por danos materiais e morais decorrentes deacidente do trabalho mesmo quando proposta pelos sucessores do empregadofalecido, in verbis:CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CONSTITUCIONAL. JUÍZO ESTADUAL DE PRIMEIRAINSTÂNCIA E TRIBUNAL SUPERIOR. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMOTRIBUNAL FEDERAL PARA SOLUÇÃO DO CONFLITO. ART. 102, I, "O", DA CB/88.JUSTIÇA COMUM E JUSTIÇA DO TRABALHO. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DAAÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES DE

ACIDENTE DO TRABALHO PROPOSTA PELOS SUCESSORES DO EMPREGADOFALECIDO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA LABORAL.1. Compete ao Supremo TribunalFederal dirimir o conflito de competência entre Juízo Estadual de primeira instânciae Tribunal Superior, nos termos do disposto no art. 102, I, "o", da Constituição doBrasil. Precedente [CC n. 7.027, Relator o Ministro CELSO DE MELLO, DJ de

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Brasil. Precedente [CC n. 7.027, Relator o Ministro CELSO DE MELLO, DJ de1.9.95]2. A competência para julgar ações de indenização por danos morais emateriais decorrentes de acidente de trabalho, após a edição da EC 45/04, é daJustiça do Trabalho. Precedentes [CC n. 7.204, Relator o Ministro CARLOS BRITTO,DJ de 9.12.05 e AgR­RE n. 509.352, Relator o Ministro MENEZES DIREITO, DJe de1º.8.08].3. O ajuizamento da ação de indenização pelos sucessores não altera acompetência da Justiça especializada. A transferência do direito patrimonial emdecorrência do óbito do empregado é irrelevante. Precedentes. [ED­RE n. 509.353,Relator o Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ de 17.8.07; ED­RE n. 482.797,Relator o Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 27.6.08 e ED­RE n. 541.755,Relator o Ministro CÉZAR PELUSO, DJ de 7.3.08].Conflito negativo de competênciaconhecido para declarar a competência da Justiça do Trabalho." (STF­CC­7545­7/SC, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, DJE 14/8/2009) ­ grifos acrescentadosNo mesmo sentido, citam­se precedentes de Turmas do Tribunal Superior doTrabalho:INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES DE ACIDENTEDE TRABALHO. AÇÃO AJUIZADA PELOS SUCESSORES DO EMPREGADO FALECIDO.COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Em face do advento da EmendaConstitucional nº 45/2004, que introduziu o inciso VI ao art. 114 da Carta Magna,bem como da decisão proferida nos Conflitos de Competência nº 7.204 e nº 7.545,o Supremo Tribunal Federal passou a adotar o entendimento de que compete àJustiça do Trabalho apreciar e julgar pedido de indenização por danos morais epatrimoniais decorrentes de acidente de trabalho, nos termos da redaçãooriginária do art. 114 c/c o inciso I do art. 109 da Constituição Federal.Competência que remanesce ainda quando a ação é ajuizada ou assumida pelossucessores do trabalhador falecido, pois a causa remota do pedido de indenizaçãocontinua sendo o acidente sofrido pelo trabalhador. Decisão agravada que semantém. Agravo de instrumento a que se nega provimento." (AIRR­104340­26.2006.5.03.0050, Rel. Min. Walmir Oliveira da Costa, 1ª T., DEJT 2/7/2010 ) ­grifos acrescentados(...) 2. DANO MORAL E MATERIAL. AÇÃO PROPOSTA PELO DEPENDENTE DOEMPREGADO FALECIDO EM ACIDENTE DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇADO TRABALHO. SÚMULA Nº 392.A Justiça do Trabalho é competente para dirimircontrovérsias referentes à indenização por danos morais e materiais decorrentesde acidente de trabalho. O fato de o dependente do de cujus pleitear aindenização, em nome próprio, não afasta a competência desta JustiçaEspecializada, pois a indenização pretendida tem como origem a relação detrabalho. Precedentes. Recurso de revista não conhecido. (...)" (RR­73100­78.2008.5.09.0665, Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, 2ª T., DEJT13/5/2011 ) ­ grifos acrescentadosDestarte, rejeito tais preliminares".A recorrente argumenta que "A sentença não merece ser mantida pois a presenteação não trata apenas de uma ação acidentária decorrente da relação de trabalho.Versa a presente ação sobre pedido de indenização por danos materiais e moraisem razão de acidente de trabalho ocorrido com o Sr. Marcos Chaves, filho daReclamante" e que, conforme se constata da petição inicial, "O que se presenciano caso em análise é que a Reclamante (Recorrida) não postula direito

personalíssimo do trabalhador acidentado, mas direito personalíssimo próprio, pelador que sente como mãe em razão do acidente havido com seu filho".Postula a reforma da "sentença para o fim de ver­se declarada a incompetência daJustiça do Trabalho para análise da matéria e remetendo os autos à JustiçaComum para apreciação".

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Comum para apreciação".Sem razão.O artigo 114, inciso VI, da Constituição Federal estabelece, taxativamente, que"Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:" "as ações de indenização pordano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho". Não se deveolvidar que e o inciso XI do mesmo artigo 114 da Constituição Federal dispõesobre a competência da Justiça do Trabalho para "outras controvérsias decorrentesda relação de emprego". No presente caderno processual, os pedidos postos na lide são decorrentes doóbito de empregado em consequência de acidente do trabalho ocorrido emmomento no qual prestava serviços para a empregadora, isto é, a origem da lideestá na relação de emprego mantida entre a recorrente e o de cujus. Assim sendo,frente ao dispositivo constitucional antes reproduzido, a competência paraprocessar e julgar o feito é desta Justiça do Trabalho; "Competência queremanesce ainda quando a ação é ajuizada ou assumida pelos dependentes dotrabalhador falecido, pois a causa do pedido de indenização continua sendo oacidente sofrido pelo trabalhador" (RE­AgR 503043/SP ­ SÃO PAULO, STF ­ 1ªTurma; Ministro Carlos Ayres Britto ­ DJ 1.6.2007).Realmente, "consoante redação do inciso VI do artigo 114 da Constituição Federal,atribuída pela Emenda Constitucional nº 45/2004, e decisão proferida nos Conflitosde Competência nºs 7.204 e 7.545 pelo Supremo Tribunal Federal, ainda que aação de indenização por danos morais seja ajuizada por terceiros, a exemplo doespólio ou dos sucessores do empregado, em nome próprio, é competente estaJustiça Especializada para apreciá­la e julgá­la. Isso porque a razão determinantepara fixação da competência da Justiça do Trabalho é a matéria, e não as pessoasem litígio e, assim, se a causa remota do pedido contido na ação indenizatória é oacidente de trabalho sofrido pelo empregado, falecido ou não, o qual decorre darelação de trabalho, cabe a esta Justiça Especializada analisar os contornos e oconteúdo dessa relação" (Processo: RR ­ 17200­21.2006.5.08.0015 ­ Data deJulgamento: 16/5/2012 ­ Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta ­ 2ª Turma­ Data de Publicação: DEJT 25/5/2012). No citado Conflito de Competência nº 7.545, o Excelso Supremo Tribunal Federal,por meio do voto do relator, Exmo. Ministro Eros Grau, deixou claro que aquelaCorte firmou o "entendimento de que após a edição da EC 45/04 é da Justiça doTrabalho a competência para julgar ações de indenização por danos morais emateriais de acidente de trabalho", sendo que "O ajuizamento da ação deindenização pelos sucessores não altera a competência da Justiça especializada. Atransferência do direito patrimonial em decorrência do óbito do empregado éirrelevante".Considerando o exposto, não há como anuir com o argumento da recorrente,calcado na teoria da intransmissibilidade do dano moral, de que "a Reclamante(Recorrida) não postula direito personalíssimo do trabalhador acidentado, masdireito personalíssimo próprio, pela dor que sente como mãe em razão do acidentehavido com seu filho", pois, como explicado pelo Exmo Ministro Carlos Alberto Reisde Paula em acórdão de sua lavra (Processo: RR ­ 114300­39.2006.5.18.0001­ Data de Julgamento: 14/11/2007 ­ 3ª Turma ­ Data de Publicação: DJ7/12/2007):

"O pedido de indenização diz respeito aos danos morais resultantes de acidente dotrabalho seguido de morte.O artigo 114 da Constituição da República, em seu inciso IV, dispõe que compete aesta Justiça Especializada processar e julgar as ações de indenização por danomoral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho.

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moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho.Portanto, é incontroversa a competência da Justiça do Trabalho para julgar açãode indenização por danos moral e material provenientes de infortúnio do trabalhopelo empregado (ex vi Súmula 392 do TST).Ademais, esta Corte tem pacificado entendimento no sentido de que acompetência material assim consolidada não sofre alteração na hipótese de,falecendo o empregado, o direito de ação for exercido pelos seus sucessores.Por conseguinte, a transferência dos direitos sucessórios deve­se à norma doartigo 1784 do Código Civil de 2002, a partir da qual os sucessores passam a deterlegitimidade para a propositura da ação, em razão da transmissibilidade do direitoà indenização, por não se tratar de direito personalíssimo do de cujus, dada a suanatureza patrimonial, mantida inalterada a competência material do Judiciário doTrabalho, em virtude de ela remontar ao acidente de que fora vítima o ex­empregado" (grifos acrescidos).Pelo exposto, nada a deferir.

2. Acidente do trabalho

A tese da recorrente é que o acidente do trabalho ocorreu por culpa exclusiva davítima, pois "não prendeu corretamente o cabo condutor de energia 397 MCM,desobedecendo por demais normas e procedimentos regulamentares", "emborativesse pleno conhecimento da forma de como executar o trabalho e dos riscosexistentes, a própria vítima, tomou atitudes isoladas e de extrema imprudência,que culminaram com o evento danoso".Na sequência, discute o elemento culpa por outro viés ao argumentar que "ospróprios peritos atestaram que após bateria de testes, todas as normas desegurança foram obedecidas pela empresa, inclusive constatando­se adequado oEPI utilizado pela vítima, sem prejuízo de que contava com exame de saúde etreinamento em dia e que o indicava apto para realização de trabalhos emaltura"; que "o esticador utilizado pelo falecido era o apropriado para linha morta,inexistindo trava, por ser instalado manualmente"; que as testemunhas"comprovaram tratar­se de uma fatalidade, já que todas as medidas de segurançapossíveis foram tomadas pela empresa Roquete"; "que todo o trabalho realizadopelo falecido, era fiscalizado por agente da Copel que estava presente no localquando do acidente", o qual, "ao acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos daReclamada, ora contestante, não observou qualquer irregularidade noprocedimento adotado" e que "não há qualquer comprovação do comportamentoculposo por parte da empresa Recorrente, que justifique sua condenação".Para postular a reforma da sentença, conclui que "não há que se falar em culpa daempregadora. A autora, antes de iniciar suas atividades junto, recebeu todo otreinamento necessário para o bom e seguro desempenho de suas funções".Sem razão.De início, torna­se imprescindível fixar as premissas fático­probatórias que seextraem do presente caderno processual.A relação de emprego entre a recorrente e o "de cujus" teve início em1º/2/2013 (fl. 20, 25 e sentença, fl. 441­442); o evento morte ocorreu em15/2/2013 (fl. 18), em consequência de um acidente do trabalho (fl. 30). O labor

do "de cujus" no momento e no local do acidente era decorrência de contratocelebrado entre a 1ª e a 2ª rés. Pelo que consta da petição de fl. 180, a "A COPELDISTRIBUIÇÃO S/A contratou a 2ª Reclamada ELETRO INSTALADORA K­LUZ LTDApara realizar a execução de obras para implantação da Linha LT 138 KV Londrina ­Rolândia 2, nos municípios de Londrina ­ Cambé e Rolândia". De seu turno,

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Rolândia 2, nos municípios de Londrina ­ Cambé e Rolândia". De seu turno,conforme elucidado pela 2ª ré na contestação (fl. 139), esta "subempreitou a 1ªReclamada para prestar seus serviços na linha de transmissão de energia entre ascidades de Londrina, Cambé e Rolândia em virtude do contrato firmado com a 3ªReclamada". O contrato entre a 2ª ré e a empregadora foi celebrado em28/1/2013 (fl. 167). Com a petição inicial foi juntado o documento de fls. 30­53 ­ Laudo de exame delocal de acidente de trabalho e morte ­, produzido pelo Instituto de Criminalística,no qual consta que o acidente ocorreu "em estrada rural no município de Cambé,próximo à Rodovia PR 445, km 86" (fl. 30), "pista rural com leito natural, em meioa área de cultivo agrícola, na qual encontrava­se plantada lavoura de soja" (fl.33). O acidente teve lugar quando "estava sendo realizado o lançamento de cabosda torre 14 à torre 15 em nova linha de transmissão de 138 kV (cento e trinta eoito quilovolts) desenergizada, no trecho Londrina ­ Rolândia, quando ocolaborador (vítima) saiu sobre o cabo condutor (deitado sobre este) emprocedimento rotineiro para 'armear' (instalar um segundo 'camelong', espécie depresilha junto a uma 'langada', ou pedaço de cabo). O objetivo desteprocedimento era descer a ponta do cabo condutor 397 IBIS (de alumínio comalma de aço) até o solo, onde outros trabalhadores iriam prensar as luvasterminais com auxílio de uma prensa hidráulica, mas em dado momento o cabocondutor onde a vítima encontrava­se para realizar o 'armeziamento' deslizouentre as garras do esticador 'camelong' provisório, que estava fixado junto a umacatraca que encontrava­se presa na estrutura da torre 15, vindo ambos, vítima ecabo, impactarem­se contra o solo, levando a vítima a óbito" (fl. 31).Da análise de vestígios ou elementos existentes no local onde foi encontrado ocadáver e do próprio cadáver, foi confirmado que houve "Rompimento parcialpróximo da extremidade de um dos cabos (o terceiro contado de cima para baixo)da rede de transmissão de energia na qual eram realizados os trabalhos, instaladana torre próxima ao corpo (torre 15). Apresentava 'esparçamento' dos fios dealumínio externos do cabo condutor, produzido por ação de força orientada nosentido do eixo de tração do cabo, orientado no centro para a extremidade docabo, com aproximadamente 6,10 m (seis metros e dez centímetros) e fim naregião aproximadamente 5,50 m (cinco metros e cinquenta centímetros) daextremidade solta do cabo" (fl. 36).Do documento "Laudo de exame de local de acidente de trabalho e morte" de queora se cuida, também consta que "No alto da torre, na região onde usualmentesão presos os isoladores da rede, encontrava­se presa por correntes uma catraca,utilizada para tracionar o cabo de transmissão", que "Este equipamentoapresentava ranhuras transversais na superfície que fica em contato direto com ocabo de transmissão de energia" que "O equipamento não contava com qualquerdispositivo que garantisse que o cabo permanecesse apenas na posição ideal,sendo possível que o mesmo fosse colocado no equipamento em uma posição quenão fosse ideal" e que "Preso ao cinto de segurança utilizado pela vítima observou­se uma corda, na qual encontrava­se equipamento trava­quedas" (fl. 37).A denominada Polícia Científica fez constar do laudo que verificou: a) "que omodelo de esticador utilizado quando da ocorrência do acidente apresentava falhade projeto, permitindo que o cabo fosse posicionado de uma forma INCORRETA,

fora de um perfeito alinhamento com a linha longitudinal do equipamento,causando assim um esforço de compressão na cardoalha de alumínio (metal comcaracterística de ter menor resistência mecânica que o aço) e provocando orompimento dos fios" e; b) "que o outro modelo de esticador utilizado durante ostestes contava com uma presilha, que garantia uma melhor acomodação do cabo

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testes contava com uma presilha, que garantia uma melhor acomodação do cabono interior do equipamento, evitando que o mesmo permanecesse fora da posiçãoideal" (fl. 47).No capítulo destinado às "considerações finais", no laudo estampou­se (fl. 52):"7.2 O equipamento esticador utilizado para ancoragem/fixação/sustentação docabo condutor de energia, sobre o qual a vítima se encontrava apresentava falhade projeto e não contava com dispositivo que garantisse que o cabo permanecesseapenas em sua posição correta e ideal, expondo a cordoalha externa do cabo aesforços maiores que os suportados pelo cabo, provocando assim seu rompimentoe consequente queda.7.3 O procedimento aplicado para execução do serviço não previu a falha doequipamento esticador, bem como a aplicação dos Princípios da Vida Segura e daRedundância, para o caso de falha do mencionado esticador, como ocorreu.Diante das considerações apresentadas e dos testes e exames realizados, podemos Peritos Criminais concluírem que o acidente que culminou com a morte dapessoa apontada como sendo MARCOS CHAVES se deu em decorrência deCONDIÇÃO INSEGURA, devido à falha do equipamento esticador de sustentação docabo condutor de energia sobre o qual a vítima encontrava­se realizando serviço,ou seja, não foram previstos para o presente caso os princípios da Falha Segura eda Redundância".Com a contestação da 2ª ré, Eletro Instaladora K­Luz Ltda., foram apresentadoso certificado de fl. 172 relativo a "treinamento de operações em altura" recebidopelo "de cujus" no período de 3 a 5/2/2013, perfazendo um total de 16 horas eo certificado de fl. 174 referente ao treinamento de segurança nas atividades daempregadora, com participação do "de cujus" de 6 horas em 2/2/2013. Oscertificados, emitidos pela recorrente, Roquete Construção Civil Ltda. estãoassinados pela técnica em segurança Simone Pasini e pelo Eng. EletricistaAriovaldo Adilson Lourenço. Este último também assina o documento produzidopela recorrente denominado "demonstrativo dos tipos usualmente de esticadores"de fl. 132. Assim, segundo posto pela recorrente nesse documento, existiriam doistipos de esticadores, sendo um "para trabalho em linhas de transmissãodesligadas" e outro para "linhas de transmissão ligadas", sendo que neste último,"A trava que existe é apenas para que sua instalação seja feita a distância".Além da prova documental, também foi produzida prova testemunhal. Na ocasiãoforam ouvidas duas testemunhas conforme segue:Testemunha Simone Pasini:"1) que trabalha na primeira reclamada há 3 anos, na função de técnica desegurança; 2) que a vítima do acidente estava com os exames de saúde em dia;3) que a vítima recebeu treinamentos de NR10 básica e o SEP (Sistema Elétrico dePotencialização) e NR35 (Trabalho em altura); 4) que o esticador utilizado pelavítima era apropriado para linha morta; 5) que o agente da terceira reclamadafiscalizava o serviço dos empregados da primeira reclamada; 6) que haviafiscalização no dia do acidente; 7) que todos os procedimentos de segurançaforam realizados pela primeira e terceira reclamadas; 8) que a depoente nãoestava presente no momento do acidente; 9) que os funcionários recebemcertificado de treinamentos realizados, sem exceção; 10) que os empregadosassinam uma ficha de EPIs informando os equipamentos recebidos; 11) que a

vítima também assinou essa ficha. Nada mais".Testemunha Eleandro Fidel:"1) que trabalha na primeira reclamada há três anos, na função de encarregado;2) que trabalhou juntamente com a vítima; 3) que estava presente no momentodo acidente; 4) que o esticador utilizado pela vítima era apropriado para a linha

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do acidente; 4) que o esticador utilizado pela vítima era apropriado para a linhamorta; 5) que o fiscal da terceira reclamada estava acompanhando o trabalho nadata do acidente; 6) que o depoente realizou treinamentos; 7) que a vítimaparticipou juntamente com o depoente de treinamentos sobre riscos, queda demateriais, escalada em altura, como utilizar EPIs; 8) que quando o depoenteiniciou na reclamada, a vítima chegou pouco tempo depois para trabalhar; 9) quea primeira reclamada possui técnico em segurança do trabalho (Simone) e estaestava presente no momento do acidente; 10) que além do fiscal da terceirareclamada, o próprio depoente era quem fazia a fiscalização; 11) que após ostreinamentos, todos recebiam certificados; 12) que quando o funcionário recebeEPI, assina uma ficha de recebimento; 13) que logo que foi contratado, teve suaCTPS assinada. Nada mais".Nada obstante as considerações da recorrente quanto ao ônus da prova, estaadotou como linha defensiva a tese, reiterada no arrazoado recursal, de que "oacidente ocorreu por culpa exclusiva da vítima". De tal alegação, portanto, deveriater feito prova concreta, convincente e, por isso, robusta, conforme se dessume doestabelecido nos artigos 818 e 333 da CLT e do CPC, respectivamente.A alegação de que "a vítima não prendeu corretamente o cabo condutor de energia397 MCM, desobedecendo por demais normas e procedimentos regulamentares"permaneceu apenas no terreno das alegações. No conjunto probatórioproduzido neste caderno processual, como se constata do que foi antesexposto, inexiste prova acerca do fato esgrimido como defesa pela recorrente ouposto como óbice às pretensões deduzidas na petição inicial. Ademais, se como alegado pela recorrente, "todo o trabalho realizado pelofalecido, era fiscalizado por agente da Copel que estava presente no local quandodo acidente" e esse "fiscal, ao acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos daReclamada, ora contestante, não observou qualquer irregularidade noprocedimento adotado", não há como entender que a recorrente,concomitantemente assevere que houve irregularidade no procedimentoadotado, já que o "de cujus" desobedeceu "normas e procedimentosregulamentares".Mais, a fiscalização do trabalho seguro e com isso, a certeza de que o labor estavasendo realizado em condições propícias e isentas de falhas, é tarefa doempregador e não de terceiros. De acordo com o art. 7º, XXII, da ConstituiçãoFederal, é direito fundamental do trabalhador a "redução dos riscos inerentes aotrabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança". Nos termos do art.2º da CLT, "Considera­se empregador a empresa, individual ou coletiva, que,assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestaçãopessoal de serviço".Da junção dos dispositivos transcritos há que inferir que a empregadora, aoassumir os riscos da atividade econômica, admitindo, assalariando e dirigindo aprestação de serviços do empregado, também assumiu a obrigação de oferecer umambiente de trabalho sadio, hígido, livre de riscos à saúde do trabalhador.Segundo lição de Sebastião Geraldo de Oliveira ("Proteção jurídica à saúde dotrabalhador". 5 ed. São Paulo: LTr, 2010, p. 14), "a primeira atuação doempregador deve ter como objetivo eliminar totalmente os riscos à vida ou àsaúde do trabalhador. Mas quando isso não for viável tecnicamente, a redução

deverá ser a máxima possível e exequível de acordo com os conhecimentos daépoca. Dizendo de outra forma; a exposição aos agentes nocivos deverá ser amínima possível e, mesmo assim, deverá reduzir progressivamente na direção derisco zero".Nessa senda, dispõe o art. 157, incisos I e II, da CLT, que "cabe às empresas: I ­

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Nessa senda, dispõe o art. 157, incisos I e II, da CLT, que "cabe às empresas: I ­cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II ­instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções atomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais".Destarte, nesse quadro, não há como aceitar a alegação (sem provas) de que teriahavido desobediência do empregado quanto às normas e procedimentos desegurança. Nos termos do parágrafo único do art. 158 da CLT, "Constitui atofaltoso do empregado a recusa injustificada: a) à observância das instruçõesexpedidas pelo empregador na forma do item II do artigo anterior; b) ao uso dosequipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa". Ou seja, porqualquer ângulo que se analise o assunto, incumbia à recorrente exigir e fiscalizaro bom e correto andamento dos serviços, até punindo, se necessário, oempregado faltoso ou desrespeitoso em relação às medidas de segurança.A propósito, nos autos não há prova de que, de algum modo, a recorrente tenhacuidado de "instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto àsprecauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doençasocupacionais" (CLT, art. 157, II). Ademais, o argumento de que a vítima teria desobedecido normas desegurança não está em consonância com os dispositivos legaisantes apontados e com a obrigação da recorrente de fazer cumprir as normase proporcionar um ambiente de trabalho seguro e confiável. Tampouco seapresenta em harmonia com o argumento da própria recorrente de "que todos osprocedimentos de segurança foram rigorosamente observados pela Recorrente".Observo que a testemunha Sr. Eleandro Fidel disse "que além do fiscal da terceirareclamada, o próprio depoente era quem fazia a fiscalização". A assertiva,contudo, não se sustenta. Isto porque a testemunha também afirmou "que aprimeira reclamada possui técnico em segurança do trabalho (Simone) e estaestava presente no momento do acidente"; a própria Simone, contudo,também ouvida como testemunha, foi categórica ao informar "que a depoente nãoestava presente no momento do acidente".Além disso a testemunha declarou que realizou treinamentos, "sobre riscos, quedade materiais, escalada em altura, como utilizar EPIs", dos quais "a vítimaparticipou juntamente com o depoente", todavia, quando a testemunha "iniciou nareclamada, a vítima chegou pouco tempo depois para trabalhar". Como foi acimamencionado, o contrato de prestação de serviços entre a recorrente e a 2ª ré, foiassinado em 28/1/2013. A contratação do "de cujus" ocorreu em 1º/2/2013 e ostreinamentos ou cursos foram oferecidos e ministrados entre 2 e 5/2/2013. Oacidente teve lugar em 15/2/2013. Três dias de treinamento ou cursos em umtotal de 22 horas não torna a testemunha apta a fiscalizar com esmero eproficiência normas de segurança e não permite dizer que testemunha e vítimaestavam aptos a desenvolver, trabalho de risco em condições deperfeita segurança, sem fiscalização e orientação da recorrente por meiode pessoa com experiência e realmente habilitada para tanto. Tenha­se presenteque tanto a testemunha como o "de cujus" foram contratados na mesma época,quando a recorrente se comprometeu com a execução de serviços, por meio docontrato assinado com a 2ª ré. A rigor, como se infere do resultado morte ocorrido no acidente do trabalho

verificado nestes autos, o treinamento recebido foi incipiente, exíguo e ineficaz,tanto para a vítima como para aquele que, contratado poucos meses antes, estavaencarregado de fiscalizar a realização do trabalho.Necessário acrescentar que o contrato celebrado entre a 2ª e 3ª ré (K­Luz e Copel,respectivamente), nada obstante mencione que o "termo 'trabalhadores' se refere

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respectivamente), nada obstante mencione que o "termo 'trabalhadores' se referea quaisquer empregados e dirigentes da CONTRATADA" (Cláusula VI, § 4º, fl.230), estabelece que a 2ª ré "se obriga a observar que em nenhuma hipótese serápermitido o acesso ao local de execução das obras/serviços a trabalhadores quenão tenham sido submetidos à integração de segurança da CONTRATANTE"(Cláusula VI, § 3º, fl. 230) e que nos autos inexiste notícia, muito menoscomprovação, de que o "de cujus" tenha sido submetido à integração desegurança da COPEL. Da "integração de segurança" trata o § 8º da mesmacláusula VI.De outro norte, o art. 166 da CLT, taxativamente estabelece que "A empresa éobrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteçãoindividual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação efuncionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completaproteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dosempregados". Consoante se infere desse dispositivo, a empregadora devecomprovar documentalmente que cumpriu com a norma inserida na CLT. Não éoutro o motivo pelo qual as testemunhas informaram "que os empregados assinamuma ficha de EPIs informando os equipamentos recebidos" e "que a vítimatambém assinou essa ficha" (Simone Pasini) e "que quando o funcionário recebeEPI, assina uma ficha de recebimento" (Eleandro Fidel).Essa "ficha" não foi colacionada aos autos. Conquanto no laudo policial conste que"Foram apresentados aos Peritos pelos responsáveis da empresa envolvida" "Cópiada Declaração de Recebimento de Equipamento de Proteção Individual (EPI) eResponsabilidade de Uso e Guarda, fornecidos à vítima", neste caderno processualinexistem recibos de entrega de equipamentos de proteção individual e, muitomenos, de que os equipamentos fornecidos estavam devidamente certificados peloMinistério do Trabalho, consoante dispõe o art. 167 da CLT.De qualquer modo, é necessário assinalar que no laudo foi apontado que "Nasproximidades do corpo haviam vários equipamentos de proteção individual, comocapacetes, pares de luvas de couro e cintos de segurança" (fl. 36) e que "Osobjetos anteriormente descritos foram apresentados ao representante daautoridade policial presente no local, após a realização do exame pericial. O cintode segurança que era utilizado pela vítima, o esticador (descrito no item 5.2.4.) ea porção final do cabo de transmissão, onde ocorreu esgarçamento dos fios(descrito no item 5.2.6.) foram coletados pelo Perito no local [...]" (fl. 37).Com base no que foi até aqui explicitado, não há como anuir, pela ausência deprovas, com as alegações recursais de que "o acidente ocorreu por culpa exclusivada vítima, posto que todos os procedimentos de segurança foram rigorosamenteobservados pela Recorrente, sendo que, somente a conduta imprudente da vítimaexplica a ocorrência do acidente" e que teria contribuído "para o acidente "a nãoutilização correta pelo acidentado dos EPI'S que dispunha no momento do sinistro,mesmo tendo conhecimento de sua obrigatoriedade, utilidades e funções". Aalegação está calcada em documento produzido pela 3ª ré (fl. 168), no qual,aleatoriamente e sem conexão com a descrição do acidente, incluiu­se essaafirmativa de que teria concorrido para a ocorrência do acidente a não utilizaçãocorreta de equipamentos de proteção individual. A asserção, além de desconexacom a descrição do acidente, sequer indica qual seria o EPI que não foi

corretamente utilizado, sem olvidar que pelas alegações da recorrente e pelasinformações das testemunhas, técnico da 3ª ré estaria fiscalizando a operação nomomento do acidente. Diante dessa constatação, o técnico da 3ª ré, nomínimo, deveria ter alertado a vítima de que havia alguma falha na utilização dedeterminado EPI.

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determinado EPI.Além da ausência de provas no tocante à tese defensiva e recursal, nada obstantea opinião diversa da recorrente, nos autos há elementos suficientes ademonstrar a culpa da recorrente, pois foi efetivamente negligente, submetendoempregado recém contratado, sem experiência, a realizar trabalho de risco, semuma supervisão correta e acorde com o perigo da tarefa realizada. Uma dasfinalidades do contrato de experiência celebrado entre as partes (fl. 25) é,justamente, a do empregador aferir ou verificar aptidões e qualidade profissionaisdo empregado para o exercício das atividades que lhe serão confiadas e atribuídas.Todavia, a embargante permitiu que empregado nessa condição de experiênciarealizasse trabalho sabidamente perigoso sem exercer fiscalização concreta e deresultados, circunstância que também demonstra que a recorrente foi negligente.Porém, não é só. O arrazoado recursal foi silente sobre elemento central que,constante do conjunto probatório, incute no julgador o convencimento quantoà culpa da recorrente: "o acidente que culminou com a morte da pessoa apontadacomo sendo MARCOS CHAVES se deu em decorrência de CONDIÇÃO INSEGURA,devido à falha do equipamento esticador de sustentação do cabo condutor deenergia sobre o qual a vítima encontrava­se realizando serviço, ou seja, não foramprevistos para o presente caso os princípios da Falha Segura e da Redundância"(laudo, fl. 52).Por outras palavras, a recorrente foi também negligente ao permitir a realizaçãode um trabalho com base em um projeto sem condições essenciais de segurança,pois, "o princípio de falha segura requer que um sistema entre em estado seguro,quando ocorrer falha de um componente relevante à segurança. A principal pré­condição para a aplicação desse princípio é a existência de um estado seguro emque o sistema pode ser projetado para entrar nesse estado quando ocorreremfalhas" (NR 12, anexo IV, glossário). No caso, o trabalho foi projetado oudesenvolvido sem cuidar ou pensar em possíveis falhas de componentes, deequipamentos e até humana, deixando a situação a mercê da iniciativa dosempregados (empregados que, como já foi demonstrado, haviam sido contratadospoucos dias ou meses antes do acidente). O sistema de trabalho implementadonão previu eventuais falhas e, com isso, redundou na "condição insegura" detrabalho anotada no laudo policial.A recorrente foi também negligente ao celebrar um contrato de prestação deserviço para o qual não dispunha de pessoal devidamente treinado e, ainda,por realizar o serviço por meio de um processo de trabalho que não cuidou daredundância, isto é, a "aplicação de mais de um componente, dispositivo ousistema, a fim de assegurar que, havendo uma falha em um deles na execução desua função o outro estará disponível para executar esta função" (NR 12, anexo IV,glossário). Por fim, a recorrente foi igualmente negligente por não ter "usado o princípio devida segura, que requer a aplicação de redundância e de componentes de altaconfiabilidade para se ter a certeza de que o sistema sempre funcione" (NR 12,anexo IV, glossário).Como posto com percuciência pela Exma. Des. Rosemarie Diedrichs Pimpão emacórdão de sua lavra (TRT­PR­01188­2011­411­09­00­1 ­ publicaçãoem 21/10/2014), "Não se afigura razoável que mais de três séculos após o início

da Revolução Industrial ­ que teve início na Inglaterra no século XVIII ­ aindaprevaleça o nefasto modelo de produção então introduzido, fundamentado naEscola Política Clássica, privilegiando o capital pelo capital, tornando cada vez maiscrescente o índice de acidentes do trabalho, em detrimento dos princípios voltadosà valorização do trabalho, que compõem a dignidade do trabalhador (artigo 1º,

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à valorização do trabalho, que compõem a dignidade do trabalhador (artigo 1º,inciso III, da Constituição Federal)".Definitivamente, o caso não é de culpa exclusiva da vítima, de descumprimento denormas de segurança por parte do empregado (sobre as quais não há prova nocaderno processual) ou de uso incorreto de equipamentos de segurança. O caso éde culpa da recorrente por desrespeito ao estabelecido nos citados artigos 7º,XXII, da Constituição Federal e 157, I e II, da CLT, por ausência de previsãoquanto aos "princípios da Falha Segura e da Redundância".Ademais, "tratando­se de doença ocupacional, profissional ou de acidente dotrabalho, essa culpa é presumida, em virtude de o empregador ter o controle e adireção sobre a estrutura, a dinâmica, a gestão e a operação do estabelecimentoem que ocorreu o malefício. Registre­se que tanto a higidez física como a mental,inclusive emocional, do ser humano são bens fundamentais de sua vida, privada epública, de sua intimidade, de sua autoestima e afirmação social e, nesta medida,também de sua honra. São bens, portanto, inquestionavelmente tutelados, regrageral, pela Constituição (art. 5º, V e X). Assim, agredidos em face decircunstâncias laborativas, passam a merecer tutela ainda mais forte e específicada Constituição da República, que se agrega à genérica anterior (art. 7º, XXVIII,CF/88)" (Processo: ARR ­ 820­75.2011.5.02.0382 Data de Julgamento:20/05/2015, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data dePublicação: DEJT 22/05/2015).Portanto, no caso em tela estão presentes os três elementos essenciais daresponsabilidade civil: dano, nexo causal e culpa e, com isso, está patenteado odever da recorrente indenizar. O dever jurídico de indenizar o dano provocado peloempregador no empregado encontra supedâneo na regra dos incisos V e X doartigo 5º da Constituição Federal, "é assegurado o direito de resposta,proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou àimagem" e são "invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem daspessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moraldecorrente de sua violação" e artigos 186 ("Aquele que, por ação ou omissãovoluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito") e 927 ("Aquele que, por atoilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará­lo"), ambosdo Código Civil.De qualquer modo, mesmo que assim não fosse, faz­se necessário contextualizaroutro aspecto sobre o qual o arrazoado recursal também permaneceu silente e quefoi corretamente posto na sentença: a atividade desenvolvida pela recorrentepermite aplicar, ao caso concreto, o preceituado no parágrafo único do art. 927 doCC: "Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casosespecificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autordo dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem".Com efeito, "A regra geral no Direito Brasileiro é a responsabilidade subjetiva, quepressupõe a ocorrência concomitante do dano, do nexo causal e da culpa doempregador. Sem a conjugação de todos esses requisitos, não há de se falar emresponsabilidade. É o que se extrai da exegese do art. 186 do Código Civil.Tratando­se, todavia, de acidente de trabalho em atividade de risco, há normaespecífica para ser aplicada à responsabilidade objetiva (independente de culpa),

conforme se extrai do parágrafo único do art. 927 do Código Civil. Desse modo,nos casos em que a atividade empresarial implique risco acentuado aosempregados, admite­se a responsabilidade objetiva, ou seja, independe de culpado empregador, já que a exigência de que a vítima comprove erro na conduta doagente, nessas hipóteses, quase sempre inviabiliza a reparação. No caso em tela,

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agente, nessas hipóteses, quase sempre inviabiliza a reparação. No caso em tela,o empregado trabalhava na instalação de torre de transmissão de energia elétrica,a uma altura média de 10/15 metros, portanto em situação de risco acentuado, oque possibilita a aplicação do parágrafo único do art. 927 do Código Civil,conforme reiteradas decisões desta Corte" (Processo: AIRR ­ 131300­61.2010.5.16.0003 Data de Julgamento: 05/08/2015, Relatora Ministra: Maria deAssis Calsing, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/08/2015).Pelo exposto, nada a deferir.

3. Dano moral

Condenada ao pagamento de indenização por dano moral no valor de R$197.446,81 (decisão de embargos de declaração de fl. 518), a recorrente pugnapela "reforma da sentença, eis que tem­se vertente o pedido de indenização pordano patrimonial ou pessoal, sob a forma inclusive de pensão vitalícia, não cabe asua cumulação com dano moral", argumentando, também, que sobre o dano moral"prevalece nos Tribunais brasileiros, inclusive no Excelso Pretório, mesmo após oadvento da Constituição Federal de 1988, a tese da sua irreparabilidade".Na sequência, a recorrente investe contra o valor da condenação, asseverando"que a condenação no importe de R$ 200.000,00 a título de danos morais emdesfavor do Recorrente, em que pese a argumentação considerar o porte da ré,mostra­se aviltante"; que "conforme contrato social juntado pela Reclamada, oraRecorrente, o capital social é de R$ 48.000,00" de modo "que mostra­setotalmente desproporcional ao valor da condenação sofrida pelo Recorrente, semprejuízo, inviabilizará a atividade comercial da empresa Recorrente, em obediênciaao principio da preservação da empresa"; que o valor da indenizaçãocomporta "redução de R$ 200.000,00 para R$ 50.000,00"; que há "violação aosprincípios da razoabilidade, proporcional idade e equivalência da reparação, razãopela qual pretende a minoração da condenação a tal título para R$ 50.000,00";"que referido numerário já fora oferecido pela Recorrente, conforme Ata deAudiência de fls. 249", que "Ainda que não seja o desejado, mas é o valor que aRecorrente, com grande custo, poderá arcar para o fim de ver o presente extinto";"que o salário mensal do falecido era contabilizado à razão de R$ 5,15 por hora"e que devem ser abatidas "as quantias já pagas à Recorrida (Seguro de vida R$42.553,19 e auxílio funeral R$ 7.800,00)".Postula "a reforma da sentença para excluir da condenação da Recorrente o valorde R$ 200.000,00 eis que, por demais de excessivo. Em não sendo acolhido talpedido, que seja reduzido o valor da condenação à R$ 50.000,00, abatendo­se onumerário já pago à genitora do 'de cujus'".Com parcial razão.Defender que o dano moral é irreparável agride texto expresso da ConstituiçãoFederal, pois nesta estabeleceu­se que "é assegurado o direito de resposta,proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou àimagem" e que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagemdas pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moraldecorrente de sua violação" (art. 5º, incisos V e X, respectivamente).De outro lado, nos termos da Súmula 37 do c. STJ, "São cumuláveis as

indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato". Com aedição dessa Súmula, em 1992, o assunto foi pacificado, de modo que não hácomo dar guarida à tese da recorrente de que inexiste possibilidade de cumulaçãoda indenização por dano moral com a de dano moral, construída a partir deemendas ou entendimentos da Justiça comum anteriores à edição da Súmula 37

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emendas ou entendimentos da Justiça comum anteriores à edição da Súmula 37por parte do Superior Tribunal de Justiça.Diversamente do que sustenta a recorrente alicerçada em antigos julgados, aposição defendida no arrazoado recursal não encontra amparo no excelso SupremoTribunal Federal, o qual "orientou­se no sentido de que é admissível a cumulaçãode reparações por danos materiais e morais oriundos do mesmo fato", conforme"Inteligência do inciso V do art. 5º da Constituição Federal que preconiza apenas aexistência de indenização por ofensa à moral das pessoas, não cuidando de suaseventuais causas" (AI 431854 AgR / DF ­ Relatora: Min. ELLEN GRACIE ­Julgamento: 13/12/2005 ­ Órgão Julgador: Segunda Turma ­ Publicação DJ3/3/2006).De qualquer forma, não é excessivo ressaltar que "a ordem jurídica acolhe apossibilidade de cumulação de indenizações por dano material, dano moral e danoestético, ainda que a lesão acidentária tenha sido a mesma. O fundamental é queas perdas a serem ressarcidas tenham sido, de fato, diferentes (perda patrimonial,perda moral e, além dessa, perda estética)" (Processo: RR ­ 576­88.2011.5.08.0121 Data de Julgamento: 04/06/2014, Relator Ministro: MauricioGodinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/06/2014).Assim, como alertado no acórdão de lavra do Des. convocado José Maria Quadrosde Alencar (Processo: AIRR ­ 450­89.2010.5.02.0040 Data de Julgamento:01/10/2014, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/10/2014), a tese de nãocumulação de indenizações em casos de acidentes do trabalho, encontra­se"superada por iterativa, atual e notória jurisprudência do Colendo TribunalSuperior do Trabalho, conforme a qual é devida indenização compensatória pordano moral, indenização reparatória por dano material e dano estético de formacumulada".Insustentável, de igual modo, o argumento de que seria incabível a "indenizaçãopor dano moral, preço da dor, em parcela autônoma a parentes do morto". Nocaso vertente, o pedido de dano moral está pautado nas premissas de que arecorrente deveria ser condenada a "indenizar a dor moral sofrida pelaReclamante", pois "A perda do filho desnorteou completamente a família e causou­lhes prejuízo moral e afetivo, além do econômico" (fl. 6) e que "As garantias legaisvigentes asseguram o direito da Autora a ser reparada por todos os danos, quermateriais, quer morais", porquanto "A morte do filho querido causou dor esofrimento à Autora e toda a sua família".De tal sorte, o pedido de indenização por dano moral tem como causa o acidentedo trabalho ocorrido em 15/2/2013, que acabou ocasionando a morte dotrabalhador, filho da autora e o inegável dano moral por esta sofrido diante dofalecimento do seu filho.Diante dessa causa de pedir, "Em se tratando de dano moral trabalhista, é possívelque, além da ação manejada pelo espólio, visando à recomposição patrimonialdecorrente da lesão aos direitos personalíssimos do de cujus, seja intentada açãoautônoma pelos sucessores, em que requeiram o chamado dano moral porricochete, fundado na lesão ao seu próprio patrimônio imaterial" (Processo: RR ­7600­83.2010.5.21.0011 Data de Julgamento: 22/09/2015, Relator Ministro:Guilherme Augusto Caputo Bastos, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT02/10/2015).

Realmente, "O dano moral, em situações como essa experimentada pelaReclamante, mãe do empregado falecido, é presumível (dano 'in re ipsa'), pois ossentimentos de dor e sofrimento, que abalam a esfera íntima (art. 5º, V e X, daCF/88), lesando seus direitos personalíssimos, são consequências lógico­naturaisde quem teve um filho morto em serviço" (Processo: AIRR ­ 137600­

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de quem teve um filho morto em serviço" (Processo: AIRR ­ 137600­53.2006.5.01.0017 Data de Julgamento: 26/08/2015, Relator DesembargadorConvocado: Américo Bedê Freire, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT28/08/2015).No atinente ao valor da indenização, cabe ressaltar que o dano moral éimensurável por critérios puramente matemáticos, pois não há como provar aintensidade de um sentimento que é próprio de cada pessoa, razão pela qual seconsidera para sua quantificação a gravidade do dano causado, a condição socialdo autor, a situação econômica do réu, o grau de culpa deste, e a dupla finalidadeda indenização: de confortar a mãe da vítima pela inegável dor em função doinfortúnio ocorrido com o resultado morte e de desestimular o réu a praticar ilícitosda mesma natureza.Dessa maneira, o valor da indenização não pode constituir sanção irrisória aocausador do dano, nem implicar enriquecimento sem causa para a vítima. Esses,contudo, são apenas parâmetros que devem nortear o arbitramento do valor daindenização, com os quais se busca atender ao que determina o art. 944 doCódigo Civil.Na verdade, "Na fixação do montante da indenização por danos morais, levam­seem consideração os critérios da proporcionalidade, da razoabilidade, da justiça eda equidade, não havendo norma legal que estabeleça a forma de cálculo a serutilizada para resolver a controvérsia. Assim, o montante da indenização varia deacordo com o caso examinado e a sensibilidade do julgador, ocorrendo de maneiranecessariamente subjetiva" (Processo: RR ­ 27600­70.2006.5.15.0057 Data deJulgamento: 22/06/2011, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, 5ª Turma,Data de Publicação: DEJT 01/07/2011).Por conseguinte, a quantificação é tarefa que representa dificuldades extremas,exigindo juízo de razoabilidade e a proporcionalidade. De qualquer modo, mesmoadotando todas as cautelas e observando todas as variáveis possíveis, o normal éque o valor fixado acabe por descontentar aquele que é obrigado a satisfazer opagamento, defendendo que o valor deve ser diminuído e àquele a quem sedestina a indenização, argumentando que o valor da indenização deve ser alteradopor exíguo.Com essas premissas em mente, entendo que o valor da indenização pelo danomoral fixado no primeiro grau e superior aos valores usualmente praticados nesteTribunal e não atende aos critérios da proporcionalidade e razoabilidade. Diante doque preceitua o art. 944 do CC, o valor da indenização por dano moral deve serreduzido para R$ 120.000,00, valor este que não caracteriza enriquecimentoindevido da parte autora e não se configura em importância irrelevante.Muito embora os precedentes não sejam fator essencial para fixar o valor daindenização, notadamente porque esse valor deve ser fixado com base nascircunstâncias que exsurgem da cada caso concreto, o valor acima ventilado estáem harmonia com precedente deste Colegiado consubstanciado na decisão deminha relatoria, produzida nos autos TRT­PR­03818­2013­872­09­00­7(publicação em 10/2/2015).Outrossim, alerto que, no caso vertente, o capital social da empresa não éparâmetro correto e seguro para fixar o valor da indenização ou, com base nessedado alegar que uma vez que o "capital social é de R$ 48.000,00", condenação

superior ao valor sugerido pela recorrente resultaria em ferimento ao principio daproteção da empresa ou inviabilizaria "a atividade comercial da Recorrente".Considere­se, como exemplo do princípio da preservação da empresa, diversasvezes citado pela recorrente, que com este se objetiva "permitir a manutenção dafonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,

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fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo àatividade econômica" (art. 47 da Lei nº 11.101/2005). No caso em tela, além deinexistir prova no caderno processual de que a atividade da recorrente se tornariainviável, tal alegação (assim como o valor do capital social) não pode ser acolhidacomo variável prudente ou incontestável quando se verificam os valores doscontratos que resultaram no labor do "de cujus" e, com este, no infortúnio queacabou tirando­lhe a vida. Com efeito, pela cláusula VII do contrato celebradoentre a 2ª e a 3ª ré, pela execução do contrato, o preço acordado é de R$1.653.746,00 (fl. 231). De seu turno, o preço avençado pela 2ª ré e a recorrente,para a execução do contrato, foi de R$ 618.570,80 (fl. 153). Por outras palavras, arecorrente receberia, para realizar o trabalho que culminou com a morte doempregado, importância praticamente 13 vezes superior ao decantado valor docapital social. Ainda como asseverado pela recorrente, para contribuir como cumprimento da avença contratual, ou seja, para embolsar o preço ajustado, arecorrente contratou o "de cujus" mediante o pagamento de R$ 5,15 por hora,"refletindo mensalmente o equivalente à R$ 906,40 mensais" (fl. 488).Diante desses valores e tendo em conta, como dito, a ausência de provas sobrepossíveis problemas com a atividade comercial da recorrente, não há como anuircom a tese recursal, nomeadamente porque, no caso, se está tratando dorecebimento, por apenas um único contrato, de valor mais de 12 vezes superior aocapital social registrado da recorrente. Observe­se que não há notícia, nos autos,de que a recorrente prestasse serviços somente para a 2ª ré.Por fim, é necessário consignar que não há relação, pela natureza jurídicadiversa, entre a indenização por dano moral, correlacionada às consequênciaslógico­naturais de quem teve um filho morto em serviço, representadaspelos sentimentos de dor e sofrimento que, sem dúvida, abalaram a esfera íntimada autora, lesando seus direitos personalíssimos, com abatimentos das "quantiasjá pagas à Recorrida (Seguro de vida R$ 42.553,19 e auxílio funeral R$7.800,00)". Conforme acima pontuado, a indenização por dano moral, nocaso, rege­se por uma dupla finalidade: compensatória e dissuasiva que, a todaevidência, não podem ser encontradas no contrato de seguro que originou opagamento que o recorrente pretende compensar. Da mesma forma e pela mesmarazão, isto é, a incompatibilidade da natureza jurídica, não há como se falar emcompensar o valor do pagamento das despesas relativas ao funeral realizado pelarecorrente com o valor da indenização pelo dano moral.Pelo exposto, reformo para reduzir o valor da indenização por dano moral para R$120.000,00.

4. Dano material

Na sentença julgou­se "procedente o pedido de indenização por pensionamentovitalício (lucros cessantes), a partir da data do acidente, no valor de 50% daremuneração que o de cujus recebia no dia do acidente e os reajustesconvencionais seguintes, até a data do óbito da autora, incluindo, pelo duodécimo,o 13º salário e o terço de férias. Esclareça­se que as férias em si não representamacréscimo salarial, já que substituem o salário obreiro do mês de afastamento,

mas o terço sim. O percentual de 50% é fixado considerando que o de cujusutilizava parte de sua remuneração para sustento próprio. Julgo improcedentequalquer compensação com benefício previdenciário, por ser relação de naturezadistinta, de titularidade da pensionista, e julgo improcedente o pedido depagamento antecipado, vez que desvirtuaria a finalidade do instituto, que é a de

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pagamento antecipado, vez que desvirtuaria a finalidade do instituto, que é a deprover a subsistência do pensionista. Não há que se falar em desconto de 1/3 doque o de cujus gastaria com ele mesmo, por ser argumento retórico esdrúxulo econtrário à lógica, uma vez que ele não mais está vivo para gastar tal valor (o queseria a premissa inexistente da conclusão existente). Não há necessidade decomprovação de necessidade financeira da autora, uma vez que ainda que ela nãotivesse necessidade, teria o direito em comento, eis que baseado emresponsabilidade civil, não tendo a ver com direito previdenciário".Ainda na sentença foi julgado "parcialmente procedente o pedido de compensaçãodo valor do seguro pago, mas somente no que passou do valor mínimo (que erade R$ 40.000,00) uma vez que a beneficiária (titular da indenização) já era aautora, o que era assegurado por Convenção Coletiva de trabalho, e julgoimprocedente o pedido de compensação do que foi pago para a funerária, porconsiderar que foi a empregadora quem deu causa ao acidente que culminou coma morte do autor, conforme acima julgado". Resiste a essa decisão a recorrente sustentando que "A sentença não merece sermantida", pois, segundo defende, "O ilícito, mesmo quando tenha intensarepercussão moral ou patrimonial, deve se limitar à manutenção da situaçãofinanceira anterior, sendo imperativo, para tanto, a comprovação da dependênciaeconômica que a Autora tinha em face da vítima" e que "conforme posicionamentodo STJ, a pensão devida à genitora, economicamente dependente do filho falecidoem acidente de trabalho, é de 2/3 (dois terços) dos ganhos da vítima fatal até adata em que completaria 25 (vinte e cinco) anos de idade, passando a 1/3 (umterço) a partir de então, quando se presume que o falecido constituiria família ereduziria o auxílio dado aos seus dependentes".Nada obstante a profusa argumentação quanto ao posicionamento do e. STJ(notadamente no que se relaciona com o valor ou base da pensão) não foramefetuados pedidos com esse alicerce ou fundamento e, assim sendo, a recorrentenão pretendeu amoldar a sentença a esse posicionamento. O pedido concreto é de"reforma da sentença para excluir da condenação o pagamento de pensão mensalvitalícia à parte autora desde a data do acidente mortal, no valor de 50% daremuneração que o de cujus recebia no dia do acidente e os reajustesconvencionais seguintes, até a data do óbito da autora, incluindo o 13º salário e oterço de férias" (fl. 497, grifos acrescidos). Além do pedido relativo à exclusão da condenação ao pagamento da pensão, arecorrente também postula "a reforma da sentença para abater da indenização(que ora se pleiteia seja reduzida) o valor já pago à Recorrida a título de seguro devida (R$ 42.553,19 ­ COMPENSAÇÃO INTEGRAL) e auxílio funeral (R$ 7.800,00),VALOR ESTE CORROBORADO COM DEPOIMENTO DA PROPRIA GENITORA DO 'DECUJUS'". Sem razão.Inicialmente, assinalo que, conforme acima reproduzido, a recorrente argumentaser imperativa "a comprovação da dependência econômica que a Autora tinha emface da vítima" ou ser necessária a "investigação da situação patrimonial daAutora em período anterior à morte da vítima". Tal argumentação, sem maiordesenvolvimento, acaba sendo soterrada pelo documento de fl. 129, pela assertivacontida na petição inicial de que "O filho da Reclamante era solteiro, jamais teve

qualquer companheira, e era responsável pelo sustento da mãe, haja vista ser oúnico filho solteiro" e e pela ausência de combate à inferência do Juízo de primeirograu de ser incontroverso que o de cujus "era provedor do lar".De tal sorte, em especial a partir do citado documento de fl. 129, declaraçãorealizada pela autora de ser a única herdeira, efetivamente, há que se ter como

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realizada pela autora de ser a única herdeira, efetivamente, há que se ter comoincontroversa a relação havida entre o de cujus e a reclamante, presumindo­se arelação de dependência financeira da reclamante em relação ao filho falecido;presunção essa corroborada pelo documento de fl. 14, por meio do qual aautora "declara, sob as penas da lei", "que não está em condições de pagar ascustas do processo" sem prejuízo do seu próprio sustento.Considere­se, igualmente, que assim como "A declaração firmada a propósito pelaesposa e filho menor da vítima possui força comprobatória necessária para oreconhecimento de que dependiam da vítima para sobreviver, só podendo serelidida por prova em contrário, cujo ônus é da parte contrária" (AI 853878 AgR /DF ­ Relator: Min. LUIZ FUX ­ Julgamento: 24/4/2012 ­ Órgão Julgador: PrimeiraTurma ­ Publicação 16/5/2012), também há que se entender da mesma forma emrelação à declaração assinada pela mãe da vítima, como no caso vertente.Ademais, conforme lição de Sebastião Geraldo Oliveira, "A prestação de assistênciaaos pais necessitados, além de ser um dever moral, é uma garantia prevista naConstituição da República de 1988, que prevê no art. 229: 'Os pais têm o dever deassistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever deajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade'" ("Indenizações porAcidente do Trabalho ou Doença Ocupacional". 4 ed. São Paulo: LTr, 2014, p.241).Portanto, a reclamante, dependente do de cujus, faz jus ao pensionamento, o qualnão pode ser compensado com os valores recebidos a título de benefícioprevidenciário. Assim sendo, não há se falar em exclusão da condenação,conforme postulado pela recorrente.De qualquer forma, uma vez que, como cediço, esta instância julgadora não estávinculada ao respeitável posicionamento do e. STJ, convém salientar que oentendimento deste Colegiado no que se refere ao valor da pensão, é que deve tercomo base 2/3 da remuneração do de cujus, pois se presume que o trabalhadordespenderia de 1/3 dessa remuneração com seus gastos pessoais caso fosse vivo.No que concerne ao valor da remuneração do de cujus a ser adotado como basede cálculo da pensão mensal, esta Turma tem entendimento consolidado nosentido de que a indenização material em pensionamento mensal terá como basede cálculo o salário fixo recebido no mês em que ocorrido o acidente de trabalho ea pensão é devida desde a morte do empregado (CC, art. 948, II; Lei nº8.213/1991, art. 29, §§ 7º e 8º).Na sentença, entretanto, foram fixados limites inferiores àqueles que conformam oentendimento deste Colegiado, pois, o Juízo de primeiro grau estabeleceu,consoante acima transcrito, que a pensão deve obedecer ao "valor de 50% daremuneração que o de cujus recebia no dia do acidente", esclarecendo­se que "Opercentual de 50% é fixado considerando que o de cujus utilizava parte de suaremuneração para sustento próprio". Quanto ao ponto, portanto, pelas razões declinadas pela recorrente, não hámodificação a ser feita na decisão monocrática.No respeitante a pedido de reforma da sentença para compensar o valorcorrespondente ao seguro de vida recebido pela autora e o valor despendido pelarecorrente com o funeral, há que trazer à baila a fundamentação deduzida,precedentemente, nesta decisão, no capítulo 3 (dano moral), quando se analisou

o pedido de compensação das mesmas verbas com o valor da indenização pordano moral. Remeto, portanto, ao que foi expendido naquelecapítulo, notadamente para evitar a reiteração de fundamentos. Nada obstante,para dar remate àquele raciocínio, acrescento que além da natureza jurídicadiversa, as verbas que a recorrente pretende ver compensadas não fazem parte

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diversa, as verbas que a recorrente pretende ver compensadas não fazem partedo cálculo do valor da pensão e transcrevo, na sequência, para integrar afundamentação, a seguinte ementa:"[...] COMPENSAÇÃO ­ SEGURO DE VIDA ­ INDENIZAÇÕES ­ DANO MORAL EMATERIAL ­ ACIDENTE DE TRABALHO. Esta Colenda Corte, por meio da Subseção IEspecializada em Dissídios Individuais, manifestou seu posicionamento no sentidode que, diante da diversidade entre as naturezas jurídicas das verbas emquestão (seguro de vida e indenizações por danos morais e materiais,decorrentes de acidente de trabalho que vitimou fatalmente otrabalhador), revela­se inviável a compensação ou o abatimento entre osvalores. Precedentes. [...]" (Processo: RR ­ 1535­82.2012.5.09.0093 Data deJulgamento: 22/04/2015, Relator Desembargador Convocado: João PedroSilvestrin, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 24/04/2015) (grifos acrescidos). Pelo exposto, nada a deferir.

5. Constituição de capital

O Juízo de primeiro grau determinou que "Para o cumprimento do pagamento depensão mensal, deverá a primeira ré constituir capital que o assegure, e, de formasubsidiária, a segunda ré, nos termos do art. 475­Q do CC c/c 8º da CLT".A recorrente alega que "a sentença não merece ser mantida, pois poderá, emeventual condenação, ser incluído o nome da Requerente na folha de pagamentoda Requerida, consoante têm entendido nossos Tribunais Superiores" e "requer areforma da sentença para excluir da condenação a constituição do fundo decapital".Sem razão. Tanto a constituição de capital como a "inclusão do beneficiário da prestação emfolha de pagamento de entidade de direito público ou de empresa de direitoprivado de notória capacidade econômica", disposta no § 2º do art. 475­Q doCPC, a que faz referência a recorrente, são faculdades do julgador. Conformealertado pelo Exmo. Ministro José Roberto Freire Pimenta em acórdão de sua lavra(Processo: AIRR ­ 64200­78.2008.5.05.0193 ­ Data de Julgamento: 17/10/2012 ­2ª Turma ­ Data de Publicação: DEJT 26/10/2012), "Essa faculdade está inseridano poder discricionário do juiz que a própria lei processual expressamente lheatribui, de modo a garantir de forma mais eficaz o pagamento da indenizaçãopedida".Dentro desse poder discricionário concedido ao julgador, entendo que, no caso,deve ser mantida a decisão de primeiro grau que determinou a constituição decapital, nos termos do disposto no art. 475­Q do CPC: "Quando a indenização porato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderáordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento dovalor mensal da pensão".Com efeito, a constituição de capital é uma garantia para o credor, conforme sedessume do preceituado na súmula 313 do STJ, segundo a qual, "Em ação deindenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou cauçãofidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente dasituação financeira do demandado". Ainda que se possa cogitar da idoneidade

financeira da reclamada, isso não substitui a necessidade de constituição de capitalna hipótese dos autos, mormente considerando as incertezas econômicas do diasatuais.Precedente deste Colegiado nesse sentido nos autos TRT­PR­00681­2013­072­09­00­3 (acórdão de minha relatoria publicado em 12/6/2015).

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00­3 (acórdão de minha relatoria publicado em 12/6/2015).Nada a deferir.

6. Juros de mora

A recorrente argumenta que foi condenada "ao pagamento de pensão mensal,atribuindo­se juros de 1% ao mês, pro rata die, incidindo­se desde oajuizamento"; porém, "A sentença não merece ser mantida, pois os juros somentesão devidos a partir da citação, quando a Requerida ficou constituída em mora".Sem razão.Diversamente do que sustenta a recorrente, a matéria encontra­se pacificada noâmbito deste Regional, pois o item V da Súmula 12 do TRT9 estabelece: "V ­Danos materiais. Pensão mensal. Juros. Verbas vencidas. O marco inicial dos jurosem ações de indenização por danos materiais, sob a forma de pensionamento,decorrentes de acidente do trabalho ou doença ocupacional será a data doajuizamento da ação, nos termos dos artigos 883 da CLT e 39, § 1º, da Lei8.177/1991, para as parcelas vencidas quando da propositura da ação".Nada a deferir.

RECURSO ORDINÁRIO DE ADELINA CHAVES

1. Responsabilidade subsidiária

Em relação ao pedido de responsabilidade subsidiária da terceira ré, o Juízomonocrático decidiu nos seguintes termos:"Ficou comprovado que a terceira ré contratou com a segunda uma obra, qualseja, a instalação de uma linha de transmissão (LT) de 138 kV entre Londrina eRolândia, através de regular procedimento licitatório, com materiais por conta dacontratada, inclusive com a instalação de portes de concreto armado, torres detransmissão, cabos, etc., conforme documentos de fls. 226­239 (cláusula I ­objeto ­ letras a, b e c).Como dono da obra, a terceira ré já pagou o preço considerando o risco incluso,tendo ficado a responsabilidade da obra por conta da empreiteira (segunda ré),nos termos da jurisprudência dominante, conforme OJ 191 da SDI 1 do TST.Assim, julgo improcedente o pedido formulado contra a terceira ré".A recorrente alega que essa decisão não merece prosperar "quanto aoafastamento da responsabilidade subsidiária da terceira Reclamada COPELGERAÇÃO E TRASMISSÃO S.A, pois inteiramente divorciada dos preceitos legais";que "encontramos a nulidade da sentença ora Recorrida em virtude ausência defundamentação quanto à responsabilidade subsidiária da COPEL" eargumenta "que a sentença deve ser reformada no sentido de manter a COPEL nopolo passivo para responder subsidiariamente a condenação judicial, isso porque,temos matéria sumulada e jurisprudência pacífica nesse sentido" e "pugna pelareforma da sentença ora recorrida a fim de ver incluída a terceira Reclamada nopolo passivo da lide, ressaltando inclusive que a mesma fez parte de todo o cursoprocessual conforme nota­se".Com razão a recorrente no tocante ao pedido de responsabilidade subsidiária da 3ª

ré.Muito embora, conforme acima transcrito, o pedido recursal seja de reforma dasentença quanto ao afastamento da responsabilidade subsidiária da terceiraReclamada" e também para "ver incluída a terceira Reclamada no polo passivo dalide", uma vez que a recorrente alega ter encontrado nulidade na sentença, há que

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lide", uma vez que a recorrente alega ter encontrado nulidade na sentença, há quese deixar assentado que há que se entender que o Juízo a quo cumpriusatisfatoriamente o disposto no dispositivo constitucional mencionado pelarecorrente (CF, art. 93, IX), bem assim cumpriu suficientemente com o dispostonos artigos 852­I da CLT e 458 do CPC, pois fundamentou sua decisão, ainda quede forma concisa, expondo e esclarecendo os elementos do convencimento dojulgador.O que se depreende da sentença é que o contrato celebrado entre a 2ª e a 3ª rés,no qual houve a contratação da obra de "instalação de uma linha de transmissão(LT) de 138 kV entre Londrina e Rolândia" é o elemento que define a aplicação daOJ 191 da SDI­1 do c. TST, na qual está previsto que o dono da obra nãoresponde de forma "solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídaspelo empreiteiro".Não se olvide que fundamentação sucinta não necessariamente denota ausênciade fundamentação, como pretende a recorrente e acrescente­se que decisãocontrária aos interesses da parte não significa decisão nula. Não vislumbrocontrariedade aos dispositivos legais antes mencionados.Tampouco há se falar em inclusão da "terceira Reclamada no polo passivo da lide",já que não se vislumbra que a decisão monocrática a tenha excluído.No que se relaciona com a responsabilidade subsidiária da 3ª ré, com todorespeito ao entendimento deduzido na sentença, no caso vertente não há se falarem aplicação da OJ 191 da SDI­1 do c. TST e, sim, na incidência dos itens V e VIda Súmula 331 do c. TST, isto é, respectivamente:"V ­ Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondemsubsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a suaconduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993,especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legaisda prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade nãodecorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pelaempresa regularmente contratada.VI ­ A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas asverbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral".Na contestação, a 3ª ré alegou que "não admitiu, assalariou ou dirigiu os serviçosprestados pelo Sr. Marcos Chaves" e que "Os riscos da atividade econômica eramda empregadora ROQUETE CONSTRUÇÃO CIVIL LTDA.", de modo que "Face àsrazões expostas, outra não pode ser a conclusão sobre o pedido de condenação daContestante como responsável subsidiária/solidária, senão pela falta de respaldolegal".Na sequência acrescentou que "Não se pode olvidar o fato de estarmos diante deuma circunstância que decorre de uma contratação para execução de obra certa,em que a COPEL DISTRIBUIÇÃO S/A é a proprietária da obra"; que "Como bemevidenciado pelo contrato firmado entre a COPEL DISTRIBUIÇÃO S/A e a segundaReclamada ELETRO INSTALADORA K­LUZ LTDA, o objeto do contrato é a execuçãode obras para implantação da Linha LT 138 KV Londrina ­ Rolândia 2. Tanto é umaobra, que a função exercida pelo Sr. Marcos Chaves era meio oficial" e invocou aOJ 191 da SDI­1 do c. TST.Para efeito da responsabilidade subsidiária é irrelevante que a 3ª ré não tenha

admitido, assalariado ou dirigido os serviços do empregado falecido emdecorrência do acidente; bem como também é irrelevante o fato de que os riscosda atividade econômica eram suportados pela 1ª ré.Por outro lado, quando a 3ª ré asseverou que o caso seria de "uma contrataçãopara execução de obra certa", como estaria evidenciado pelo contrato firmado com

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para execução de obra certa", como estaria evidenciado pelo contrato firmado coma 2ª ré, ao mencionar o objeto do contrato, para justificar o seu ponto de vista,alterou o que consta do respectivo instrumento. A alteração éaltamente significativa e indicativa de que no caso o contrato celebrado entre asrés não pode ser compreendido como "contrato de empreitada de construção civil"a que faz referência a OJ 191 da SDI­1/TST. Foi a celebração desse contratoque deu origem à prestação de serviço do "de cujus" em favor da 3ª ré; prestaçãode serviço que culminou em acidente com o resultado morte.Segundo a contestação, o objeto do contrato, conforme acima transcrito, "é aexecução de obras para implantação da Linha LT 138 KV Londrina ­ Rolândia 2";do instrumento respectivo (fl. 226), entretanto, consta que o objeto do contrato éa "execução dos serviços" para implantação da linha de transmissão ("LT 138KV Londrina ­ Rolândia 2"). Além de não se tratar de "execução de obras" comoalegado e, sim, de "execução de serviços", o objeto do contrato insere­se nasatividades da 3ª ré, pois, está relacionado com a manutenção e até ampliação dainfraestrutura necessária para o manejo, transmissão e fornecimento da energiaelétrica.O contrato celebrado entre as rés que originou o trabalho do "de cujus" em favorda 3ª ré refere­se à prestação de serviços que compreende: "a) Execução dasobras civis com fornecimento de todos os materiais de construção; b) Implantaçãode postes de concreto armado, montagem de torres metálicas e acessórios; c)Montagem e instalação de todos os materiais eletromecânicos, como caboscondutores e para­raios, isoladores, amortecedores, espaçadores e demaisacessórios" (fl. 226).Acrescente­se que, de acordo com os atos constitutivos da 2ª ré, "O objeto socialé prestação de serviços de eletricidade em alta e baixa tensão, serviços deengenharia em geral e comércio varejista de materiais e equipamentos elétricos"(cláusula 2ª, fl. 162).Portanto, trata­se de empresa distribuidora e fornecedora de energia elétrica quecontratou a execução de serviços de sua própria atividade como o é a implantaçãode linha de transmissão de energia elétrica; execução a ser realizada por empresaque se dedica a prestar "serviços de eletricidade em alta e baixa tensão", isto é,atividade inserida naquelas da contratante. Nesse passo, se empresa de energiaelétrica contrata outra empresa para realização de serviços relacionados com suaatividade­fim, a conclusão que deve ser retirada é que não há se falar quea situação fática se amolda aos termos da OJ 191 da SDI­1 do c. TST. A rigor, sefor para aplicar esse entendimento jurisprudencial seria, por analogia, quanto àexceção prevista na última parte: "salvo sendo o dono da obra uma empresaconstrutora ou incorporadora". Na hipótese da OJ o dono da obra de construçãocivil por ser empresa construtora ou incorporadora, ou seja, da mesma atividade,responde, dependendo da situação, de forma solidária ou subsidiária; na hipótesedos autos, a 3ª ré, empresa encarregada da transmissão e fornecimento deenergia elétrica, por ter contratado a prestação de serviços para sua própriaatividade, responde de forma subsidiária.Observe­se que, conforme alertado pelo Exmo. Ministro Renato de Lacerda Paivaem acórdão de sua lavra (Processo: RR ­ 90740­85.2007.5.01.0040 ­ Data deJulgamento: 4/5/2011 ­ 2ª Turma ­ Data de Publicação: DEJT 13/5/2011) "A partir

da interpretação teleológica da Orientação Jurisprudencial nº 191 da SBDI­1 destaCorte, conclui­se que o entendimento nela contido não visa a exclusão daresponsabilidade dos que contratam obras diretamente relacionadas com a suaatividade­fim. Corrobora tal conclusão o disposto na parte final da referidaOrientação Jurisprudencial, o qual não afasta a responsabilização do dono da obra,

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Orientação Jurisprudencial, o qual não afasta a responsabilização do dono da obra,nos casos em que desenvolve atividades como construtora ou incorporadora, pelasobrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro. Assim, deve serresponsabilizada subsidiariamente pelo inadimplemento das verbas trabalhistas eisque, em que pese a sua caracterização como dona da obra, contratou serviçosrelacionados com sua atividade­fim".De qualquer forma, o que aqui se está sustentando, consoante acima mencionado,é que a 3ª ré terceirizo parte dos seu serviços; desse modo, para compor oraciocínio e patentear as razões do convencimento (CPC, art. 131), é necessárioconsignar que o documento de fl. 130, produzido pela 1ª ré, denominado de"Descrição dos serviços realizados no momento do acidente", revela que quando oempregado foi vitimado estava "realizando o lançamento de cabos da torre 14 àtorre 15 na linha de transmissão 138 kV Londrina ­ Rolândia". Na mesma via, demodo a conformar o convencimento do julgador, no documento de fl. 170 (APR ­Análise preliminar de risco), consta que a 1ª ré e empregadora (Roquete)executava serviço de "lançamento de cabos condutores e cabos para­raios(lançamento, nivelamento e grampeamento)". Esse tipo de serviço, reiterando,afeto à atividade­fim da 3ª ré, não pode ser considerado como "contrato deempreitada de construção civil" que seria o elemento definidor da aplicação da OJ191 da SDI­1 do c. TST.Outrossim, ao tratar de situação similar, contrato celebrado entre a Copel Geraçãoe Transmissão S.A. e a empresa Santa Rita Comércio e Instalações Ltda., "paraimplantação de linha de transmissão LT Foz do Iguaçu ­ Cascavel Oeste ­ 525 Kv",a 4ª Turma deste Regional, em acórdão de lavra do Exmo. Des. Cassio ColomboFilho (TRT­PR­01960­2012­095­09­00­7 ­ publicado em 26/7/2013), a quem peçovenia para transcrever e utilizar também aqui como razão de decidir, deixouestampado que:"[...] Somente em certas e específicas situações é que o tomador de serviços(dono da obra) não responde pelas verbas trabalhistas devidas pela empresaprestadora de serviços, não sendo o caso dos autos, uma vez que, como é deconhecimento geral, a contratação de tais serviços pela COPEL é habitual, comoforma de viabilizar a concretização de seu objetivo econômico­social. O contratopactuado entre a recorrente COPEL e a SANTA RITA, prestadora de serviços, nãofoi de empreitada, ao menos quanto ao conceito dentro da seara trabalhista,porquanto, repiso, os serviços contratados ligam­se diretamente à consecução dosobjetivos sociais da COPEL (atividade­fim). Desse modo, fica afastada a incidência,in casu, da OJ 191 da SBDI­1 do C. TST e o art. 455 da CLT.Impende destacar a seguinte ementa do C. TST, oriunda de processo com amesma reclamada (COPEL) em situação semelhante:AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. HIPÓTESE DETERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA. SÚMULA 331, IV/TST. INAPLICABILIDADE DA OJ191/SBDI­1/TST. A não­responsabilização do tomador de serviços mantém­sepreservada apenas na hipótese do art. 455 da CLT, ou seja, quando se tratar deempreitada ou prestação de serviços contratada a terceiros por pessoa física oumesmo por pessoa jurídica que, de modo comprovadamente eventual eesporádico, pactuasse específica obra ou prestação enfocada. Vislumbradaterceirização em torno da atividade­fim da empresa tomadora de serviços,

inaplicável, pela ausência de correlação fático­jurídico, a OJ 191/SBDI­1 desteTribunal. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR ­ 39040­82.2003.5.09.0656 ,Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 23/04/2008, 6ªTurma, Data de Publicação: 09/05/2008) [...]".Com supedâneo no exposto e no fato de que a prestação de serviços do "de

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Com supedâneo no exposto e no fato de que a prestação de serviços do "decujus" em favor da 3ª ré é fato incontroverso, embora que contratado pela 1ª ré eprestando serviços em decorrência de contrato celebrado entre a empregadora e a2ª ré, infere­se que a hipótese é de terceirização de serviços e, assim sendo, comojá dito, requer a aplicação da Súmula 331 do c. TST, conforme se passa a expor.De início, vale destacar que o item V da Súmula em tela, retro transcrito, foiincluído em função do que foi decidido pelo Excelso Supremo Tribunal Federal naAção Direta de Constitucionalidade nº 16 pela constitucionalidade do artigo 71 daLei nº 8.666/1993. Desse modo, a responsabilidade subsidiária da AdministraçãoPública pode ser reconhecida quando seja constatada sua atuação culposa nafiscalização do contrato como tomadora de serviços. Assim, caberáa subsidiariedade, com amparo no estabelecido nos artigos 186 e 927 do CódigoCivil e nos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e do valorsocial do trabalho, expressamente previstos nos incisos III e IV do artigo 1º daConstituição Federal, quando evidenciada a "conduta culposa no cumprimento dasobrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização documprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço comoempregadora".De igual forma, esse entendimento se ampara nos preceitos constitucionais elegais concernentes à proteção dos direitos trabalhistas, à evolução do conceito deresponsabilidade civil (teoria do risco) e à prevalência na ordem jurídica do valordo trabalho, pois revela a preocupação em não deixar desamparado o trabalhadorou, como no caso, aquela que dele dependia para sua subsistência, mediante aresponsabilidade indireta daquele que se beneficiou da atividade laboral.Segundo lição de lição de Helder Santos Amorim, Márcio Túlio Viana e GabrielaNeves Delgado ("Terceirização ­ Aspectos Gerais: Última Decisão do STF e aSúmula 331 do TST ­ Novos Enfoques", in Revista do TST, nº 01/2011, vol. 77/76­83):"Daí porque a fiscalização do fiel cumprimento dos direitos dos trabalhadoresterceirizados constitui elemento intrínseco à fiscalização do contrato de prestaçãode serviços, tal como decorre expressamente de dispositivos da Lei de Licitações edas normas que a regulamentam no nível federal, em observância aos preceitosconstitucionais que consagram a dignidade da pessoa humana e os valores sociaisdo trabalho e da livre iniciativa como fundamento da República (CF, art. 1º, III eIV), que instituem como objetivo da República construir uma sociedade livre, justae solidária (art. 3º, I), que fundamentalizam os direitos essenciais dostrabalhadores (art. 7º), que fundam a ordem econômica na valorização dotrabalho humano (art. 170) e que alicerçam a ordem social no primado do trabalho(art. 193). No plano infraconstitucional, o dever da Administração Pública defiscalizar o cumprimento de direitos dos trabalhadores terceirizados decorreprimeiramente de dispositivos da Lei de Licitações, mas o padrão fiscalizatório, quediz respeito à extensão e profundidade deste dever de fiscalizar, encontra­seemoldurado na integração deste diploma legal com preceitos da InstruçãoNormativa (IN) nº 02/08, alterados pela Instrução Normativa (IN) nº 03/09, doMinistério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), que regulamentam amatéria no âmbito da Administração Pública Federal.(...)

E estando assim evidentes os extensos limites do dever constitucional e legal daAdministração de fiscalizar o cumprimento dos direitos dos trabalhadoresterceirizados, disso decorre naturalmente que a inobservância deste dever defiscalização implica a responsabilidade da Administração pelo inadimplemento dosdireitos que deveriam ser fiscalizados. Esta responsabilidade não se esgota com a

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direitos que deveriam ser fiscalizados. Esta responsabilidade não se esgota com ademonstração de uma simples verificação superficial da formalização dos vínculosde emprego, pois o padrão fiscalizatório acima retratado exige o envolvimentodireto e diário da Administração com a rotina das práticas trabalhistas da empresacontratada. A Administração só se desincumbe deste seu dever quando demonstraa promoção eficaz de todos os procedimentos legais de controle, além daquelesque, embora não previstos expressamente na lei, sejam indispensáveis à eficiênciada fiscalização na obtenção dos seus resultados, em respeito ao princípio daeficiência administrativa que rege a Administração Pública (Constituição, art. 37).Lado outro, a ausência de fiscalização ou a fiscalização insuficiente,descomprometida com a efetividade dos direitos fiscalizados, implica inadimplênciado ente público contratante para com o seu dever de tutela, dever decorrente dasua própria condição de Administração Pública." (grifei)Além das regras "da Instrução Normativa (IN) nº 02/08, alterados pela InstruçãoNormativa (IN) nº 03/09, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão(MPOG)", antes referidas, o dever do ente público de fiscalizar de forma eficaz aexecução do contrato, inclusive no tocante ao adimplemento de direitostrabalhistas, está previsto no artigo 67 da Lei nº 8.666/1993, nos seguintestermos:"A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por umrepresentante da Administração especialmente designado, permitida a contrataçãode terceiros para assisti­lo e subsidiá­lo de informações pertinentes a essaatribuição.§ 1º O representante da Administração anotará em registro próprio todas asocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o que fornecessário à regularização das faltas ou defeitos observados.§ 2º As decisões e providências que ultrapassarem a competência dorepresentante deverão ser solicitadas a seus superiores em tempo hábil para aadoção das medidas convenientes."De outro giro, ainda que inexista lei prevendo expressamente a responsabilidadesubsidiária do ente público, a jurisprudência é fonte de direito expressamenteprevista no art. 8º da CLT. Deste modo, não há como se aceitar, por exemplo,alegação de violação ao princípio da legalidade (art. 5º, II, da CF), considerandoque, de acordo com o E. Supremo Tribunal Federal, "o procedimento hermenêuticodo Tribunal inferior ­ quando examina o quadro normativo positivado pelo Estado edele extrai a interpretação dos diversos diplomas legais que o compõem, para, emrazão da inteligência e do sentido exegético que lhes der, obter os elementosnecessários à exata composição da lide ­ não transgride, diretamente, o princípioda legalidade". (Ag. Reg. no AI­855.738­RS. Rel. Min. Celso de Mello. Publicado noDJE de 24/08/2012)."Acrescente­se que uma das funções do Tribunal Superior do Trabalho é anecessidade de uniformizar a jurisprudência trabalhista, tendo no recurso derevista, seu principal instrumento, uma vez que este "se destina à proteção dodireito objetivo e não do direito subjetivo, à regularidade da aplicação da normajurídica, em primeiro lugar e só em segundo plano o direito das partes, àuniformização da jurisprudência e não à justiça do caso concreto" (ABDALA,Vantuil. Pressupostos intrínsecos do conhecimento do recurso de revista. Revista

do TST. v. 65, n. 1, Brasília, 1999, p. 42).Nessa tarefa, aquela Corte elabora suas Súmulas, as quais se traduzem noconhecimento de formas continuadas de apreciar e decidir uma matéria. Dessamaneira, na Súmula estão contidos, interpretados e aplicados os dispositivoslegais que incidem na matéria, podendo ser citados, apenas de forma ilustrativa,

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legais que incidem na matéria, podendo ser citados, apenas de forma ilustrativa,os artigos 1º, III e IV; 3º, I, III e IV; 4º, II; 6º, 7º, caput e incisos; 100 e 170,III, todos das Constituição Federal.Registre­se, igualmente, que "A Súmula nº 331 do TST é fruto da interpretação detoda a legislação que disciplina a responsabilidade trabalhista do tomador deserviços na terceirização e expressa a jurisprudência consolidada desta Corte arespeito da matéria. Portanto, ao resolver a controvérsia com base na Súmula nº331, VI, do TST, o Tribunal Regional decidiu com amparo no art. 8º da CLT, emque se reconhece expressamente a jurisprudência como fonte de direito"(Processo: ARR ­ 67­56.2011.5.04.0029 Data de Julgamento: 27/08/2014, RelatorMinistro: Fernando Eizo Ono, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 05/09/2014).Imprescindível assinalar que, nada obstante da sentença conste que ocontrato entre as rés foi celebrado "através de regular procedimento licitatório", talassertiva é mera ilação que não encontra suporte no conjunto probatório, pois,neste caderno processual, não há prova de que a contratação da 2ª ré tenhaobedecido "regular procedimento licitatório". Realmente, inexiste nos autos adocumentação destinada a provar, por exemplo, os termos e a existência do editalda licitação, não foram colacionadas as certidões que demonstrem que acontratada ostentava as condições necessárias para ser declarada vencedora dalicitação, conforme exigências impostas pela Lei nº 8.666/1993, em especialaquelas referentes à capacidade técnica e econômica (ilustrativamente, balançopatrimonial e demonstrações contábeis). Dessa forma, a inexistência de provadocumental é elemento que não afasta a culpa "in eligendo" da 3ª ré.Além da ausência de prova documental da realização do processo licitatório, nãose argumente que não se pode atribuir culpa "in eligendo" a quem contratamediante processo licitatório, pois o fato de não dispor o ente público de amplaliberdade para contratar aquele que irá lhe prestar serviço não exclui por completoeventual culpa "in eligendo". É certo que a contratação recairá sobre a vencedorada licitação, mas tal fato não implica a presunção de que a idoneidade econômico­financeira dos licitantes e, como no caso vertente, a capacidade técnica da 2ª ré esua subcontratada, foi corretamente avaliada pela 3ª ré. Não se olvide que 3ª ré édetentora de todos os documentos relativos à empresa contratada, de maneiraque lhe cabia apresentá­los em Juízo, a fim de elidir a sua culpa "in eligendo".Porém, como antes afirmado, não há nos autos prova em tal sentido.Não bastasse a ausência de prova quanto à realização da licitação que teriaresultado na contratação da 2ª ré, da análise das provas produzidas nos autos, a3ª ré, na condição de tomadora dos serviços prestados pelo "de cujus", emboraque por meio do contrato celebrado entre a 2ª e a 1ª ré, omitiu­se no seu deverde fiscalizar a execução do contrato mantido com a 2ª ré, razão pela qual incorreutambém na denominada culpa "in vigilando".A primeira e principal demonstração de que a 3ª ré se omitiu no seu dever debem fiscalizar a execução do contrato está dada pela ausência de quaisquerdocumentos que demonstrem que a 3ª ré aprovou "alguma subcontratação,conforme critérios previstos nas condições gerais de contrato" (fl. 228), sendoque o "de cujus" prestou serviços em favor da 3ª ré em virtude de umasubcontratação. Conforme registrado alhures, nos autos inexiste prova de que o"de cujus" tenha sido submetido "à integração de segurança" da 3ª ré (fl. 231);

nada obstante, foi permitido seu ingresso ao local de realização dos serviços com oresultado morte, diversas vezes mencionado na presente decisão. Não se olvideque de acordo com o contrato assinado pelas rés, o início da execução dos serviços"em campo" somente poderia acontecer "após a aprovação dos documentos pelaárea de segurança" da 3ª ré (não trazidos aos autos) e que a 3ª ré tampouco

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área de segurança" da 3ª ré (não trazidos aos autos) e que a 3ª ré tampoucoapresentou documentos relativos à "indicação do gestor e do suplente de gestor"do contrato de prestação de serviços (fl. 235).Finalmente, tornou­se manifesta a ausência de uma íntegra, eficaz, competente e,principalmente, completa fiscalização da prestação de serviço quando se verifica,pela prova testemunhal, que "o agente da terceira reclamada fiscalizava o serviçodos empregados da primeira reclamada" e "que havia fiscalização no dia doacidente" (testemunha Sra. Simone Pasini) ou que "o fiscal da terceira reclamadaestava acompanhando o trabalho na data do acidente" (testemunha Sr. EleandroFidel) e, depois, a 3ª ré emite o documento de fl. 168, segundo o qual um dosfatores que teriam contribuído para a ocorrência do acidente seria a "Nãoutilização correta pelo acidentado dos EPI'S que dispunha no momento dosinistro". Por outras palavras, além de ter permitido a prestação de serviço detrabalhador sobre o qual não há notícia (muito menos comprovação) de que tenhaparticipado da "integração de segurança", contratado por empresa sobre a qualtampouco ha prova nos autos de que sua subcontratação tenha sido autorizada, a3ª ré permitiu que esse trabalhador supostamente trabalhasse sem o usoadequado dos equipamentos de proteção individual.De fiscalização da execução do contrato não há como falar no caso concreto. Aomissão da 3ª ré é patente e inquestionável e, o que transforma essa ausência defiscalização ainda em mais grave é que o trabalhador, com 20 anos e escasso eineficiente treinamento para o serviço, acabou perdendo a vida. Em decorrência, tem­se como caracterizada a culpa in vigilando, que acabaderivando na responsabilidade civil da 3ª ré. Frise­se que a culpa in vigilando"decorre da falta de atenção com o procedimento de outrem, cujo ato ilícito oresponsável deve pagar" (DINIZ, Maria Helena. "Curso de direito civil brasileiro".v. 7, 14 ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 43) e que os artigos 186 e 927 do CC,precedentemente citados, dispõem, respectivamente, que "aquele que, por açãoou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano aoutrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito" e que "aquele que porato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará­lo".A toda evidência, a 3ª não cumpriu com seu dever de bem fiscalizar a execução docontrato e, nessa via, insistindo, no caso concreto, frente à omissão da 3ª ré, estácaracterizada sua culpa in vigilando.Tenha­se presente que, consoante destacado pelo Exmo. Ministro Celso de Mello(relator do Ag. Reg. na Reclamação 12.580 São Paulo, julgamento em 21/2/2013,publicação em 12/3/2013, órgão julgador: Tribunal Pleno), "o dever legal dasentidades públicas contratantes de fiscalizar a idoneidade das empresas que lhesprestam serviços abrange não apenas o controle prévio à contratação ­ consistenteem exigir, das empresas licitantes, a apresentação dos documentos aptos ademonstrar a habilitação jurídica, a qualificação técnica, a situação econômico­financeira, a regularidade fiscal e o cumprimento do disposto no inciso XXXIII doartigo 7º da Constituição Federal (Lei nº 8.666/93, art. 27) ­, mas compreende,também, o controle concomitante à execução contratual, viabilizador, dentreoutras medidas, da vigilância efetiva e da adequada fiscalização do cumprimentodas obrigações trabalhistas em relação aos empregados vinculados ao contratocelebrado (Lei nº 8.666/93, art. 67)".

Cumpre assinalar, igualmente, que o dever legal das entidades públicascontratantes de fiscalizar a idoneidade das empresas que lhes prestam serviçosabrange não apenas o controle prévio à contratação ­ consistente em exigir, dasempresas licitantes, a apresentação dos documentos aptos a demonstrar ahabilitação jurídica, a qualificação técnica, a situação econômico­financeira, a

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habilitação jurídica, a qualificação técnica, a situação econômico­financeira, aregularidade fiscal e o cumprimento do disposto no inciso XXXIII do artigo 7º daConstituição Federal (Lei nº 8.666/93, art. 27) ­, mas compreende, também, ocontrole concomitante à execução contratual, viabilizador, dentre outras medidas,da vigilância efetiva e da adequada fiscalização do cumprimento das obrigaçõestrabalhistas em relação aos empregados vinculados ao contrato celebrado (Lei nº8.666/93, art. 67).Muito embora na contestação, a 3ª ré não tenha feito menção ao artigo 71 da Leinº 8.666/1993 e não tenha demonstrado a realização, no caso vertente, darealização do processo licitatório, é necessário frisar que o dispositivo visaa isentar os entes da Administração Pública da responsabilidade principal ouprimária, atribuída ao contratado, afastando a possibilidade de vinculação deemprego em desacordo com o artigo 37, II, da Constituição Federal. Não exclui aresponsabilidade subsidiária da Administração Pública quando esta contrataempresa prestadora de serviços inidônea ou se descuida na sua fiscalização.Somente se exclui a responsabilidade quando a Administração atendeintegralmente aos princípios previstos no artigo 37, "caput", da ConstituiçãoFederal, firmando contrato com empresa idônea e com garantias suficientes para oadimplemento das obrigações resultantes e não se descuida da efetiva fiscalizaçãoquanto ao cumprimento das referidas obrigações.No caso concreto, como foi precedentemente demonstrado, descuidou o entepúblico de sua obrigação legal, segundo a qual deveria fiscalizar o cumprimento docontrato em seus integrais termos. Dessa maneira, com sua conduta omissiva,patenteou sua responsabilidade subsidiária consoante o item V da Súmula 331 doc. TST. Portanto, esta decisão não está pautada em um mero inadimplemento porparte da prestadora de serviços de suas obrigações trabalhistas e, sim, nanegligência da 3ª ré no seu dever de fiscalizar. Ressalto que eventual cláusula contratual prevendo a responsabilização exclusivada contratada ou da subcontratada opera efeitos apenas entre as partes, podendojustificar eventual ação de regresso.Destarte, diante de todo o exposto, não se alegue violação ao art. 71, § 1º da Leinº 8.666/1993 e nem aos arts. 5º, II e 37, caput, da CF. Da mesma forma, não secogite de ofensa ao princípio da reserva de plenário e à Súmula Vinculante 10 doSTF, porquanto não houve declaração de inconstitucionalidade de qualquerdispositivo legal. Por apego à argumentação e pelo dever de ofício de fundamentar as decisões,assevero que ainda que se considerasse que o contrato celebrado entre as résdeve ser tido, em consonância com os termos da OJ 191 SDI­1/TST, como"contrato de empreitada de construção civil entre o dono da obra e o empreiteiro",como feito pelo Juízo de primeiro grau, ainda assim, há como vislumbrar aresponsabilidade da 3ª ré, conforme se dessume do excerto a seguir transcrito,extraído do acórdão de lavra do Exmo. Ministro Renato de Lacerda Paiva(Processo: RR ­ 39500­02.2005.5.17.0131 ­ata de Julgamento: 10/9/2014 ­ 2ªTurma ­ Data de Publicação: DEJT 19/9/2014):"[...] Ainda que não exista dispositivo de lei que subsidie a atribuição, ao dono daobra, de responsabilidade quanto às obrigações trabalhistas contraídas peloempreiteiro, há como responsabilizar aquele, solidariamente, no que concerne ao

pagamento de indenização por dano decorrente de acidente de trabalho.Isso porque o art. 455 Consolidado relaciona­se a 'obrigações derivadas docontrato de trabalho' e a Orientação Jurisprudencial nº 191, por sua vez, fazreferência a 'obrigações trabalhistas' (que não alcançariam o dono da obra).Porém, a indenização por dano moral e/ou material não é uma obrigação

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Porém, a indenização por dano moral e/ou material não é uma obrigaçãotrabalhista, não deriva do contrato de trabalho. De fato, a responsabilidade civil(obrigação de indenizar) prescinde da existência do vínculo de emprego ou darelação de trabalho. Assim, as ações indenizatórias decorrentes de acidentes detrabalho têm cunho civilista, embora sejam julgadas na Justiça do Trabalho(mormente após a edição da Emenda Constitucional nº 45 e do julgamento, peloSTF, do Conflito de Competência nº 7.204­1).Em outras palavras, o pleito relativo à indenização por dano moral e/ou materialoriundo de acidente de trabalho, ainda que tenha, na relação de emprego,antecedente necessário, possui natureza civil. Com a Emenda Constitucional nº 45,tal pedido (de cunho civilista) é julgado na Justiça Trabalhista, pois decorrente darelação de trabalho. Significa dizer que essa Especializada, por evidente, não está'restrita à apreciação dos dissídios envolvendo direitos tipicamente trabalhistas,teoria esta ultrapassada, além de insustentável, ante o que dispõe o art. 8º,parágrafo único, da CLT', que legitima' 'o direito comum como fonte subsidiária dodireito do trabalho', além do que preceitua o art. 114 da Constituição Federal, coma redação a ele dada pela EC nº 45/2004 (PAROSKI, Mauro Vasni. Dano moral esua reparação no Direito do Trabalho, 2ª ed. Curitiba: Juruá Ed., 2008, p. 212).Repita­se, portanto, que a indenização por dano moral/material decorrente deacidente de trabalho não é um direito 'tipicamente trabalhista', embora esse sejaprocessado e julgado na Justiça do Trabalho. As ações indenizatórias decorrentesde acidente de trabalho envolvendo empregado contratado por empreiteiro ousubempreiteiro não devem, por conseguinte, ser interpretadas à luz do art. 455 daCLT ou à luz da Orientação Jurisprudencial nº 191 da SBDI­1/TST, dada a naturezacivil das mesmas.Afastado o óbice da mencionada norma e do citado verbete, poder­se­ia, ainda,argumentar que é inviável a responsabilização do dono da obra, inclusive no queconcerne à indenização por dano moral e/ou material oriunda de acidente detrabalho, porquanto o empreitante é um consumidor, que 'adquire ou utilizaproduto ou serviço como destinatário final' (art. 2º do CDC).Dessa forma, em se tratando 'da contratação de serviços de um arquiteto,engenheiro (...), não se configura relação de trabalho, na sua acepção de gerar oufazer circular riquezas, mas, sim, relação de consumo. Afinal, o tomador dosserviços é o destinatário final, ou seja, é o consumidor que não tem fins lucrativosou negociais com o advento da reforma' ou da obra (Cf. RAMOS, Augusto Cesar. 'AEmenda Constitucional n° 45 e a nova competência da Justiça do Trabalho.Relação de trabalho'. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 935, 24 jan. 2006.Disponível em <http://jus.com.br/revista/texto/7841>).Na esteira desse raciocínio, não haveria como responsabilizar o dono da obra, poisé impossível 'compatibilizar a convergência em uma só pessoa da figura dofragilizado consumidor com a de tomador de serviços que foi beneficiado pela forçade trabalho de outrem' (Id., ibid.).Ora, nem é preciso referir­se ao fato de que na Justiça do Trabalho, quase sempre,o consumidor em questão (empreitante) é pessoa jurídica com grande podereconômico e cuja obra, resultante do contrato de empreitada, no mais das vezesirá beneficiar/ampliar seus negócios, havendo em geral desnível considerável depoder entre ele e o empregado do empreiteiro ou subempreiteiro. E não é

necessário suscitar esses fatos, porque, se faz sentido excluir a responsabilidadeda dona da obra quando se fala em débitos trabalhistas propriamente ditos (emface do art. 455 da CLT, da OJ nº 191 da SBDI­1/TST e até do argumento queressalta que o proprietário da obra é um consumidor), esse sentido deixa de existirquando a questão tangencia a obrigação de indenizar, em virtude do ato ilícito que

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quando a questão tangencia a obrigação de indenizar, em virtude do ato ilícito quecausou dano ao trabalhador ou em razão de certas atividades de risco que causemdano independentemente de culpa, conforme a dicção do artigo 927, III, doCódigo Civil. É que incide, no caso, a regra geral da responsabilização civil, comobem ressaltado no seguinte aresto, da lavra do Exmo. Ministro Horácio R. deSenna Pires:DANO MORAL. ACIDENTE DE TRABALHO. ACÓRDÃO DO TRT QUE MANTÉM ACONDENAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO DONO DA OBRA. CONTRARIEDADE ÀORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 191 DA E. SBDI­1. INEXISTÊNCIA. Cinge­se acontrovérsia a se saber se a Orientação Jurisprudencial nº 191 da e. SBDI­1estende­se ou não à indenização por danos morais devida pelo empregador emrazão de acidente de trabalho. Com efeito, a possibilidade de o dono da obra, noscontratos de empreitada, eximir­se da responsabilidade em relação às obrigaçõestrabalhistas contraídas pelo empreiteiro, constitui uma exceção à regra geral daresponsabilização, e portanto deve ser interpretada e aplicada da forma maisrestritiva possível, conforme princípio elementar de Hermenêutica Jurídica. Assim,o entendimento desta Corte Trabalhista, consubstanciado na OrientaçãoJurisprudencial nº 191 da e. SBDI­1, é no sentido de se afastar a responsabilidadedo dono da obra somente em relação aos débitos trabalhistas em sentido estrito.Ora, em se tratando de indenização decorrente de acidente de trabalho, nosmoldes fixados no nosso Ordenamento Jurídico, o legislador constituinte quisestabelecer o grau de responsabilidade do agente na esfera extracontratual(responsabilidade aquiliana do empregador) e não na esfera contratual. Por outrolado, o dano moral ou material não decorre da natureza do contrato, mas de atoilícito que causa dano a outrem, ou em razão de certas atividades de risco quecausem dano independentemente de culpa, conforme a dicção do artigo 927, III,do Código Civil. Dessa forma, se da prestação do serviço resultou dano físico aoempregado, a questão da responsabilidade civil e do direito à reparação éconsequência que se impõe por força de lei, e deve ser enfrentada. De fato, seriaum absurdo admitir que um trabalhador contratado, que teve sua integridadefísica atingida, não encontrasse proteção jurídica, contrariando o que dispõe oartigo 5º, X, da Constituição Federal. Reforça ainda a conclusão acerca dainaplicabilidade da Orientação Jurisprudencial nº 191 da e. SBDI­1 o reiteradoentendimento do excelso STF no sentido de que, para fim de apreciação de danomoral decorrente do trabalho, impõe­se a análise de dispositivos de natureza civil,e não trabalhista. Precedentes. Finalmente, esta e. Turma já decidiu ser aOrientação Jurisprudencial nº 191 do TST inaplicável à responsabilidade dotomador de serviços por acidente de trabalho ocorrido durante e em razão darelação contratual com a empreiteira (TST­AIRR­17040­60.2007.5.18.0054, 3ªTurma, Rel. Min. Horácio de Senna Pires, DEJT 07/05/2010). Incólumes, portanto,o artigo 455 da CLT, a Orientação Jurisprudencial nº 191 da e. SBDI­1 e a Súmulanº 331. (RR ­ 77500­40.2005.5.17.0012. Relator Ministro: Horácio Raymundo deSenna Pires, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/10/2011 ­ grifei)Assim, já começa a haver jurisprudência nesta Especializada, com espeque na LeiCivil, posicionando­se no sentido de que a dona da obra pode ser responsabilizadapor indenizar dano a terceiro (empregado da empreiteira ou subempreiteira)decorrente de acidente de trabalho.

Exemplos desse novo entendimento quanto à responsabilização do dono da obra,no que tange a esta Corte, além do já citado acórdão da lavra do Exmo. MinistroHorácio Raymundo de Senna Pires, encontram­se nos julgados que se seguem:'LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM E RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DONODA OBRA. ACIDENTE DO TRABALHO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. CULPA NA

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DA OBRA. ACIDENTE DO TRABALHO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. CULPA NAOCORRÊNCIA DO EVENTO. INAPLICABILIDADE DA ORIENTAÇÃOJURISPRUDENCIAL N.º 191 DA SBDI­I DESTA CORTE SUPERIOR. 1. Segundo oentendimento desta Corte superior, sedimentado na Orientação Jurisprudencial n.º191 da SBDI­I, a isenção da responsabilidade solidária ou subsidiária do dono daobra decorre, sobretudo, da ausência de disciplina legal a regular asresponsabilidades do dono da obra de construção civil e somente alcança asobrigações de natureza trabalhista contraídas pelo empreiteiro. Significa dizer quea caracterização da condição de dono da obra não é fator suficiente para eximir otomador dos serviços de toda e qualquer responsabilidade, ainda mais quandoflagrante o dano causado a terceiro advindo da execução do contrato deempreitada. 2. Não é lógico invocar o entendimento sedimentado na OrientaçãoJurisprudencial n.º 191 da SBDI­I, se a controvérsia diz respeito àresponsabilização civil do dono da obra por acidente de trabalho ocorrido durante ocumprimento do contrato de empreitada e se evidencia que, assim como oempreiteiro, não adotou as precauções necessárias à proteção do obreiro, aindaque sabedor e consciente dos riscos aos quais esse trabalhador encontrava­seexposto. 3. Agravo de instrumento não provido.Processo: AIRR ­ 145340­66.2005.5.04.0291 Data de Julgamento: 11/10/2011, Relator Ministro: LelioBentes Corrêa, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/10/2011.''RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. DONO DA OBRA. ACIDENTE DE TRABALHO .REDE ENERGIZADA. Não se cogita do óbice da OJ 191 da C. SDI, a afastar aresponsabilidade subsidiária da reclamada, na medida em que o julgado regionallevou em consideração a culpa in vigilando e in eligendo, quanto ao acidente detrabalho e também a responsabilidade pela indenização ao empregado pelo danosofrido, em acidente de trabalho, porque ocorrido em razão do contrato deprestação de serviços para a ora reclamada. A matéria relacionada à efetivaresponsabilidade pelo acidente de trabalho, e a culpa direta/indireta doempregador (prestador dos serviços) e do tomador dos serviços é tema queimplica em apreciação desvinculada da relativa ao status de dono da obra, pois aproteção ao empregado não decorre da prestação de serviços, em si, masprincipalmente dos elementos que norteiam a responsabilidade por culpa, de quemtoma os serviços para atividade de risco e não adota a precaução necessária àproteção do empregado. Recurso de revista não conhecido. RR ­ 79500­58.2005.5.17.0191 Data de Julgamento: 17/03/2010, Relator Ministro: AloysioCorrêa da Veiga, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 30/03/2010.'"Pelo exposto, reformo para, no presente feito, reconhecer a responsabilidadesubsidiária da 3ª ré, COPEL Geração e Transmissão S.A.

2. Dano moral

Diante do que foi precedentemente decidido, ao apreciar o recurso da ré, no tópicodano moral, no sentido de reduzir o valor da indenização por dano moral de R$197.446,81 para R$ 120.000,00, pelos motivos então postos, aos quais remetopara evitar a reiteração de fundamentos, inexiste provimento a ser dado ao pedidoda recorrente de reformar a sentença que ao determinar o abatimento de valoresrelativos ao seguro de vida, transformou o valor da indenização de R$ 200.000,00

para os mencionados R$ 197.446,81.Não é demais sublinhar que o valor de R$ 120.000,00 então arbitrado, semincidência de descontos do seguro de vida ou da quantia paga pela recorrida pelofuneral, foi o valor que este Colegiado entende acertado, considerando,primordialmente, os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, sem olvidar da

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primordialmente, os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, sem olvidar daextensão do dano (art. 944 do CC) e dos valores usualmente praticados nesteTribunal, consoante precedente turmário citado na oportunidade.Nada a deferir.

III ­ CONCLUSÃO

Pelo que,ACORDAM os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, porunanimidade de votos, CONHECER DOS RECURSOS ORDINÁRIOS DASPARTES, assim como das respectivas contrarrazões. No mérito, por igual votação,DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO ORDINÁRIO DA RÉ para, nostermos da fundamentação, reduzir o valor da indenização por dano moral para R$120.000,00; e DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO ORDINÁRIO DAAUTORA para, nos termos da fundamentação, no presente feito, reconhecer aresponsabilidade subsidiária da 3ª ré, COPEL Geração e Transmissão S.A..Custas alteradas para R$ 3.500,00, calculadas sobre o novo valor da condenação,provisoriamente arbitrado em R$ 175.000,00.Intimem­se.Curitiba, 20 de janeiro de 2016.THEREZA CRISTINA GOSDALRELATORA