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PLANOS DE URBANIZAÇAO PARA A CIDADE DE COIMBRA LUSITANO DOS SANTOS Foto Varela Pécurto MUSEU NACIONAL DE MACHADO DE CASTRO PROGRAMA "COIMBRA ANTIGA E A VIVIFICACÃO DOS CENTROS HISTÓRICOS" / / /,/' /

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PLANOS DE URBANIZAÇAOPARA A CIDADE DE COIMBRA

LUSITANO DOS SANTOS

Foto Varela Pécurto

MUSEU NACIONAL DE MACHADO DE CASTRO

PROGRAMA "COIMBRA ANTIGA E A VIVIFICACÃO DOS CENTROS HISTÓRICOS"/

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COIMBRA-1983

MUSEU NACIONAL DE MACHADO DE CASTRO

PROGRAMA "COIMBRA ANTIGA E A VIVIFICAÇÃO DOS CENTROS HISTÓRICOS"

LUSITANO DOS SANTOS

PLANOS DE URBANIZAÇÃOPARA A CIDADE DE COIMBRA:

l-O PLANO DE GRÔER, ANOS 40

2-0 PLANO REGULADOR, ANOS 50

3-0 PLANO COSTA LOBO, ANOS 70

Com nota introdutória sobre o Programa "Coimbra Antiga"

por MATILDE DE SOUSA FRANCO

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SUMÁRIO

PáS!s.o Programa Coimbra Antiga e a Vivificação dos Centros Históricos,

por Matilde P. Figueiredo Sousa Franco . . . . . . . 5

Planos de Urbanização para a Cidade de Coimbra, por Lusitanodos Santos .

1 - O Plano De Grõer, anos 40 9

2 - O Plano Regulador, anos 50 39

3 - O Plano Costa Lobo, anos 70 63

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o PROGRAMA «COIMBRA ANTIGA

E A VIVIFICAÇXO DOS CENTROS HISTÓRICOS»,

PROMOVIDO PELO MUSEU NACIONAL

DE MACHADO DE CASTRO EM 1981/1983

por

MATILDE PESSOA DE FIGUEIREDO SOUSA FRANCO *

1981 foi o Ano Internacional de Recuperação das CidadesHistóricas. 1981 foi o ano do 70.0 Aniversário da criação doMuseu Nacional de Machado de Castro, um dos melhores museusde Portugal, situado em pleno Centro Histórico de Coimbra.

A propósito, lembrámo-nos de realizar no Museu um pro-grama dedicado a Coimbra e à conservação, recuperação e vivi-ficação das cidades e centros históricos.

Pareceu-nos este programa adequado a comemorar condigna-mente o 70.0 aniversário da criação do Museu. O decreto queo cria data de 26 de Maio de 1911 e, diferentemente do espíritocom que concebe outros museus, seus contemporâneos, o Museuentão só chamado Machado de Castro (é Nacional desde a décadade 60) foi «organizado principalmente no intuito deofferecerao estudo publico collecções e exemplares da evolução da his-toria do trabalho nacional; e que será ampliado com uma secçãode artefactos modernos, destinada a educação do gosto publicoe à aprendizagem das classes operarias». É oportuno mencionaraqui este aspecto da criação do Museu Nacional de Machadode Castro, imprimido ao referido decreto de acordo com o espí-rito do primeiro director do Museu, Mestre António AugustoGonçalves, porque esta concepção museológica é precursora.

* Directora do Museu Nacional de Machado de Castro.

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Museu é, segundo recente definição do ICOM (Conselho Inter-nacional dos Museus): «uma instituição permanente, sem finslucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento,aberta ao público, que faz pesquisa relativa aos testemunhosmateriais do Homem e do seu meio ambiente, os adquire, con-serva, comunica e expõe, especialmente com a finalidade de estudo,de educação e de deleite». O Museu deve, portanto, ter vida,sair de si próprio e vivificar.

Abrir o Museu à Cidade, à Comunidade. Neste espírito,nasceu o programa «Coimbra Antiga e a Vivificaçãodos CentrosHistóricos» - vivificar, dar vida, sintetiza e supera os aspectosde conservar, recuperar. Por isso, incluímos neste programa,dedicado ao património cultural, desde os fundamentais aspectosde sensibilização a aspectos tão variados como legislação, con-ceitos sócio-culturais, urbanismo, belas-artes, geografia, arqueo-logia industrial, rnuseologia, restauro, animação dos espaçosurbanos, tradições musicais, académicas, folclóricas, artesanais,diversas intervenções pontuais em prol do património cultural, etc.De «Coimbra Antiga» designámos o Programa. Mas antigono sentido de que ontem também já é passado, é antigo, o queimplica que a paça próxima, tendo valor, deve ser preservada.

Portugal revela um considerável atraso em relação a outrospaíses no aspecto da recuperação do património cultural emgeral e, neste caso concreto, dos centros históricos. Note-seque na nossa legislação ainda nem sequer está definido centrohistórico. Urge sensibilizar as populações para os problemasde conservação do património cultural. Urge apurar a legislaçãoe, neste sentido, está projectado, dentro do programa referido,um debate tendente a definir centro histórico. É necessáriodebater ideias, divulgar textos, projectos, realizações sobre estestemas.

o programa «Coimbra Antiga e a Vivificação dos CentrosHistóricos» procurou ser mais um meio de dar vida ao MuseuNacional de Machado de Castro, de vivificar Coimbra e o seuCentro Histórico, de vivificarCoimbra - Cidade e Distrito. Esta

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iniciativa começou em Março de 1981 e foi considerada pioneira,pelos seus múltiplos aspectos e pela duração, que se projectavaser até Dezembro de 1981; devido a inúmeros pedidos, pro-longou-se em 1982 e ainda em 1983. Como nota, aponte-seque 1983 é o ano do 70.0 aniversário da abertura ao público doMuseu Nacional de Machado de Castro.

o programa tem incluído exposições, conferências, debates(dois destes no próprio local, a Praça do Comércio, o primeirosó sobre esta Praça; devido ao seu sucesso, o segundo maisalargado, tratou, sobretudo, da Baixa de Coimbra), seminários,visitas guiadas, pedido de inscrição do Centro Histórico de Coim-bra na lista do património mundial da UNESCO (encontrando-seo respectivo processo de classificação em andamento), projecçãode filmes, um concurso de fotografia e um de desenho infantil,publicações, etc.

Pode ver-se a pormenorização das várias iniciativas inte-gradas no referido Programa num texto que elaborámos e queestá publicado pelo Museu sob o título O Programa «CoimbraAntiga e a Vivificação dos Centros Históricos», promovido peloMuseu Nacional de Machado de Castro em 1981j1983» (Coim-bra, 1983).

O estudo que agora se publica constitui o texto de uma con-ferência proferida no Museu Nacional de Machado de Castro,no âmbito deste programa, cuja elaboração e autorização de publi-cação muito se agradece ao seu Autor.

Coimbra, Novembro de 1983.

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1- O PLANO DE GROER, ANOS 40 *

1. INTRODUÇÃO

De 1940 até hoje foram elaborados para Coimbra, trêsplanos de urbanização: o plano De Grõer, «de embelezamentoe extensão» datado de 1940, o plano Almeida Garret, «regulador»,de 1955 e o plano Costa Lobo, «de gestão», de 1970 e 74 (con-celhio e da cidade, respectivamente).

Esta publicação é relativa ao Plano De Grõer. Importa,para melhor se compreender a sua descrição, delinear algumasconsiderações de carácter genérico:

- De Grõer veio para Portugal em 1938, quando o «EstadoNovo» se lançou na tarefa dos planos de urbanização e obraspúblicas. Não havendo então urbanistas portugueses (em 1942só existiam no nosso país dois urbanistas Moreira da Silva eParia da Costa, - hoje, 40 anos volvidos, pode-se afirmar quepoucos mais haverá, o governo chamou «reputados» urbanistasestrangeiros. Veio primeiro Alfred Agache (1934), que se encar-regou do Plano Regional da Costa do Sol e depois Etienne DeGrõer, seu antigo colaborador e professor do Instituto de Urba-nismo da Universidade de Paris. (A política de chamar técnicosestrangeiros para resolver os problemas nacionais - que tem osseus perigos - não foi só daquela época, mas de sempre: D. Dinischamou professores estrangeiros para a Universidade de Lisboa/Coimbra e o plano da região do Porto de 1975 foi elaborado soba co-responsabilidade dum urbanista escocez, o professor JohnsonMarshall).

Estava então em moda a «teoria» das cidades-jardim ; foi

* Conferência proferida no Museu Nacional de Machado de Castroem 20/4/82.

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em 1898 que Ebenezer Howard publicou a obra «Tomorow:a Peaceful Path to Real Reform». Nela demonstrou a viabilidadeda construção de cidades «habitáveis», desde que houvesse umasolução de compromisso na sua «urbanização».

Insere-se num movimento de resistência face à situaçãoprovocada pela revolução industrial nas cidades industriaisinglesas: o aumento incessante e rápido da densidade popula-cional, quer sob a forma do número de habitantes por hectare,quer do número de pessoas por fogo, aliado à inexistência deinfraestruturas de água, esgotos e lixos e aos despejos das casase fábricas, provocou a poluição dos poços utilizados no abaste-cimento de água, a acumulação, nas ruas, de lixos e imundíciesde toda a espécie e o consequente aparecimento das epidemiasde cólera (1832, 1848, 1866); a classe burguesa no poder, temendopela sua própria sobrevivência, empreendeu medidas tendentesà resolução do problema nas quais se inclui o movimento dascidades jardim. (Entre nós as epidemias de cólera surgiramquase na mesma época, em 1856/57 e, mais recentemente, em1974/75 .. 0 movimento actual de defesa do meio ambiente e decontrolo da poluição não deixa de ser paralelo a este movimentode reacção contra a realidade da cidade industrial de há poucomais de 100 anos).

Influenciado pelos socialistas, pelo movimento de regressoà natureza e pelo projecto utópico de Buckingham (1), Howardintroduziu no planeamento um factor importante e que o dis-tinguiu da utopia: o modo de tratar o problema do solo e dasmais valias, reservando os seus benefícios à colectividade, quepassa a ser a proprietária e administradora do solo urbano.Deixa contudo inteira liberdade à iniciativa privada, e o espíritode empresa que domina a sua concepção de cidade distingue-ado socialismo, mantendo-a dentro do âmbito do capitalismoliberal.

A imagem da cidade jardim está descrita sumariamente nocapítulo seguinte.

O) James S. Buckingharn tinha publicado em 1849 a obra «Programade Remédios Práticos para os Males Nacionais», onde descrevia o projecto.rtnma ..r,mrumi.c!adf'.w.a 1..flr.\mQ0 .hahitanw.~ qu~ -MMmiruu' '<'~1I1lR-1'á~,}>:

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Howard era estenógrafo do Parlamento Britânico e a suateoria teve de ser levada à prática por arquitectos. Foram pre-cisamente Barry Parker e Raymond Unwin que constituiram,em 1899, a «Garden City Association». Em 1903 foi fundadaa «First Garden City Limited», empresa privada destinada a cons-truir a primeira cidade jardim, Letchworth, a 55 km de Londres,prevista para 35 000 habitantes e com uma densidade de 60 habi-tantes por hectare. Foi construída e teve um certo êxito. A suaprimeira Câmara Municipal data de 1919. Contudo, e devidoprincipalmente à proximidade de Londres, acabou por trans-formar-se em satélite desta, perdendo-se o controlo da pro-priedade.

A constituição de Associações de cidades-jardim em muitosoutros países e da «International Garden City Association»com Howard como presidente trouxe a Letchworth uma famamundial, transformando-a na «Meca» do planeamento e dahabitação. Em 1920 iniciou-se a construção da segunda cidadejardim: We1wyn, prevista para 50000 pessoas e 70 habitantespor hectare. Construída mais perto de Londres do que Letch-worth teve êxito comercial mas depressa se transformou numdormitório daquela cidade.

Ora, o plano que De Grõer projectou para Coimbra assentaexactamente neste conceito das cidades-jardim: a cidade mãecom as cinco aldeias satélites por um lado e a urbanização emlotes para moradias isoladas por outro. Só que é sempre perigosaa aplicação de «receitas» importadas doutros contextos econó-mico-sociais e físicos a realidades totalmente diferentes semas necessárias adaptações e ajustamentos. Foi este o erro deDe Grõer - erro que ainda hoje é frequente entre nós - quedoença ancestral esta nossa de só considerar bom aquilo que vemde fora!

Por um lado as características topográficas e climáticasde Coimbra não eram, nem são, de molde a permitir a cons-trução duma cidade-jardim (território muito acidentado escassode terrenos adequado') a construção e clima de tipo mediter-rânico seco); por outro lado as características socio-económicasda população não eram de molde a suportar como não supor-taram, uma construção em lotes, necessariamente dispendiosa.

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Era uma concepção incompleta da cidade jardim a de De Grõer:não garantia a posse do solo pelo rnunicípio. É certo que aconse-lhava a Câmara a adquirir, por compra ou expropriação, osterrenos destinados aos arruamentos e expansões que depoispoderia vender controlando, não apenas o mercado fundiáriomas também o habitacional. Só que a Câmara não fez isso(Fê-lo a Câmara de Lisboa com o engenheiro Duarte Pacheco)e se. o fizesse e quizesse cumprir o plano não teria certamenteêxito financeiro dadas as dimensões dos lotes, o seu custo conse-quente e as possibilidades económicas da população. Faltouao plano a análise da sua viabilidade económica face à realidadeda cidade.

A imagem da. cidade proposta foi uma, a realidade outra,completamente diferente. Alguns aspectos foram porém cum-pridos.

- O plano De Grõer é um plano de construção/destruiçãodo património: a construção da Avenida de Santa Cruz ligandoa Praça 8 de Maio à Avenida Navarro, ou seja a Igreja de SantaCruz e Câmara ao Mondego, cuja antevisão se pode analisar nafigura 1, implicava a demolição das construções localizadas entreas ruas da Moeda e Bordalo Pinheiro, (ou da Louça), o desa-parecimento de alguns largos medievais típicos e a destruiçãoda Estação Nova dos Caminhos de Ferro.

- O plano De Grõer é um plano de contradição: delimitou«a antiga cidade alta» sem incluir nela a zona universitária porordem expressa do Governo, e propôs a sua conservação «precio-samente» para os tempos futuros. Parte da antiga cidade altafoi demolida para construir a cidade universitária actual (teriasido o arquitecto De Grõer, «o urbanista belga às ordens e sobo controlo de Salazar», como afirmou o Arq. Carlos de Almeida(2),ou teria sido em vez disso um mentor do regime?)

(2)ALMEIDA, Carlos de - A urbanização fascista e os trabalhadores,Coimbra, Atlântida Editora, 1974, pág, 19.

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FIG. 1 - Antevisão da Avenida de Santa Cruz, construída à custa de demoliçãodas construções localizadas entre as ruas da Moeda e Bordalo Pinheiro, dodesaparecimento de alguns largos medievais típicos e da destruição da Estação

Nova dos Caminhos de Ferro.

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- Finalmente o caso das ruínas da Igreja de S. Domingos,localizada no plano na zona arqueológica A-2 e cuja protecçãoDe Grõer recomenda como monumento histórico que são, amerecerem ser utilizadas como museu.

Estas foram hoje praticamente demolidas para em seu lugarser construído um centro comercial - talvez património cul-tural construído a conservar amanhã -, empreendimento quetem sido, aliás, objecto de forte contestação e acesa polémicajá alcançou nas bancadas da Assembleia da República.

2. HISTORIAL DO PLANO

O arquitecto Etienne De Grõer foi trazido para Portugalpelo Eng.? Duarte Pacheco em 1938 quando acumulava o cargode ministro das Obras Públicas com o de presidente da CâmaraMunicipal de Lisboa para elaborar o plano desta cidade. Deentre os planos de que foi encarregado conta-se o de Coimbra,apresentado ao município em 31 de Dezembro de 1940. Apre-ciado pelo CSOP a 7 de Março de 1945, o plano De Grõer foiaprovado pelo Ministro das Obras Públicas, Cancela de Abreu,a 14 de Setembro do mesmo ano, merecendo «uma mençãoespecial de apreço e louvor pela técnica perfeita com que estáelaborado e pelo sensato critério que revela» (3). Em 1948a Câmara decidiu fazer a sua publicação sob o título de Ante-projecto de Urbanização de Embelezamento e de Extensão daCidade de Coimbra, aceitando o parecer do CSOP que entendeuque o plano deveria ser classificado como um ante-projectosusceptível de servir de base não só ao projecto definitivo geral,como também a todos os projectos particulares que no seu con-junto englobem os trabalhos de urbanização previstos no planoapresentado» (4).

(3) Do Despacho do Ministro sobre o parecer do CSOP sobre o PlanoDe Grõer, cópia da Secretaria da Repartição de Estudos de Urbanização deDGSU em 2 de Outubro de 1945, pág. 1.

(4) CSOP - Parecer do CSOP, sobre o Plano de Grõer, CSOP, Lis-boa de 7 de Março de 1945, pág. 1.

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o próprio autor do plano, no prefácio que escreveu paraa publicação, refere a controvérsia da época relativa à desig-nação do plano: plano definitivo ou anteplano. Em sua opiniãoa designação correcta seria a de plano-programa, pois «umplano de urbanismo não pode ser senão um programa destinadoa dirigir, em linhas gerais, o desenvolvimento duma cidade ouduma região, durante um certo número de anos; um tal planonão deve compreender desenhos de execução» (5). Depois dejustificar a sua opinião citando, além de exemplos concretos,o discurso do Ministro das Obras Públicas Belga quando em 1946fez a apresentação ao Parlamento do seu país da proposta da«Lei Orgânica do Urbanismo», concluiu esperançado «de tertrazido precisões» que permitissem fechar a discussão e dar todoo seu efeito ao plano de urbanização de Coirnbra que, comourbanista, considerava terminado. (Foi em 1946 que foi publi-cado o Dec. Lei n.v 35931 de 4 de Novembro, que elevava os«Anteplanos», projectos de carácter sumário que vinham sendoelaborados, à categoria de planos gerais de urbanização).

3. ELEMENTOS CONSTITUINTES DO PLANO

O plano De Grõer para Coimbra consta das seguintes partesfundamentais:

- Anteprojecto do Plano de Urbanização de Embeleza-mento e de Extensão da Cidade de Coimbra, conjunto;

- Regulamentação das Zonas;- Regulamentação dos Talhamentos e Quarteirões;- Regulamento das Construções.

Antes de entregar o estudo de conjunto, De Grõer apre-sentou relatórios parciais relativos à «Análise do Estado Actual»,às «Bases do Projecto de Urbanização» a Regulamentação dasZonas, dos Talhamentos e Quarteirões e. o «Anteprojecto de

(5) DE GROER, E, Anteprojecto de urbanização de embelezamento ede extensão da cidade de Coimbra, tradução do arquitecto urbanista DavidMoreiradà-Silva.Ccirnbra, 1948, pág. 7.

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Urbanização da Extensão Sueste da Cidade de Coimbra». Emseguida à apresentação daquele estudo entregou outro relatóriocontendo os princípios ger.ais respeitantes à remodelação. dashabitações e dos lugares de trabalho e os espaços livres, bemcomo o regulamento das construções.

o plano foi apresentado às escalas 1/50000. e 1/5 000.Foram também entregues quatro plantas de pormenor à escala1/1000:

- planta 1 - Centro da cidade (que inclui a Antiga Cidadt:Baixa, a Antiga Cidade Alta e o Bairro de Sá da Bandeira);

- planta 2 - Montes Claros, Celas e Cumeada;

- planta 3 - O Calhabé, o Estádio e o Liceu Feminino(esta planta pretendia exemplificar o arranjo duma extensãourbana em terreno relativamente plano);

- planta 4 - Urbanização dum terreno muito íngreme(é igualmente um exemplo do aproveitamento de um terrenodeste género, neste caso o Monte Formoso e Ingote).

4. METODOLOGIA DE TRABALHO DO URBANISTA

A ordem pela qual foram entregues os relatórios evidencia,além de preocupações didácticas de cátedra, uma determinadametodologia de trabalho, que De Grõer explicitou na introduçãoescrita para o estudo de conjunto:

«... faremos o estudo da cidade bairro por bairro; exami-naremos, uma por uma, cada um das partes urbanas, pondoem relevo as suas qualidades particulares, sublinhando os seusdefeitos, e procurando, cuidadosamente, o meio de lhes pôr termo .•Encaramos como doentes, que é preciso tratar com muito cuidado,as cidades que se desenvolvem sem nenhum plano de urbanização.Cada uma das partes já construídas, cada bairro, cada casoseparado, exigirá pois um tratamento adequado, dependentedas condições especiais do estado actual do local considerado.Só na concepção do plano das partes novas de extensão seremos

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relativamente livres» (6). Concretizando a sua' metodologiadescreveu mais tarde (7) o método de trabalho do urbanista:

«Começa por instalar-se por algum tempo na cidade quedeve modificar (como se verá adiante a tarefa do urbanista cons-taria, segundo De Grõer, de dois elementos: «primeiro arranjara parte existente da cidade, de forma a torná-Ia saudável, cómodae bela quanto possível; segundo, procurar extensões suficientespara lhe permitirem desenvolver-se harmoniosamente»), comoum bom médico que se senta à cabeceira do seu doente, paraobservar o estado de saúde física e moral do cliente, para bemconhecer o mal a curar e as possibilidades que se lhe oferecempara o fazer. O urbanista dá muitos passos para percorrertodos os cantos e recantos da cidade, interroga pessoas, pes-quisa os arquivos municipais; porque lhe é preciso ver tudoe tudo saber: a importância administrativa e cultural da cidade,o seu comércio e a sua indústria, as suas vias de acesso (caminhode ferro, estradas, rios e aeropostos), as suas comunicaçõesinteriores, o seu clima, os seus ventos dominantes, as carac-terísticas do seu solo e subsolo, as riquezas naturais da sua região,as suas riquezas artísticas e históricas, a composição da suapopulação, a habitação desta, as condições da sua existência,seu estado sanitário, etc., etc. A missão do urbanista é complexae fatigante. Quando, à noite, volta ao seu quarto de Hotel,não pode mais, de tal forma andou, falou, fotografou e mediu.Mas isto, não é o pior. A sua curiosidade profissional e a suamaneira um pouco nova de julgar as coisas valem-lhe por vezesuma franca aversão por parte de pessoas que até esta alturajulgavam proceder muito bem e que, de repente, se vêem criti-cadas. Cria inimigos, muitas vezes sem que o suspeite. Mas,acontece que o advinha, e isto não é engraçado de constatar,porque, se ele é um homem honesto, as inimizades não deveminfluir sobre as suas decisões» (8).

(6) Ob. cit., pág. 49.(7) DE GROER, E. -Introdução ao Urbanismo, in Boletim de DGSU,

Lisboa, 1945-1946 (1) pág. 17-86.(8) Ob. cit., (5), pág. 49.

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5. OBJECTIVOS DO PLANO

Os objectivos do plano foram «dirigir o desenvolvimentofuturo de Coimbra, no bom caminho, a conservar as suas belezasnaturais e históricas, a melhorar aquilo que nesta cidade aindapode ser saneado, embelezado e aperfeiçoado, e a suprimir radi-calmente tudo quanto se não preste a uma transformação salutar.Também esperamos poder dotar os habitantes actuais e futurosdesta cidade com os lugares de trabalho e residenciais sadios eagradáveis, e garantir-lhes transportes fáceis e cómodos», Emtermos gerais o objectivo final dum plano de urbanização era,segundo De Grõer, «melhorar a saúde pública e moral doshabitantes da cidade e fazer aumentar o rendimento do seutrabalho» (9).

6. CONCEPÇÃO URBANISTICA

6.1. A CIDADE JARDIM

Como concepção o plano assenta na teoria das cidadesjardim de Ebenezer Howard (1860), a que já atrás fizemos refe-rência, que De Grõer considerou como «a primeira base dourbanismo moderno»:

A cidade jardim é uma cidade que não deve ultrapassaruma dimensão média fixada antecipadamente num determinadoquantitativo populacional. Deverá ser totalmente envolvidapor um espaço campestre, o cinturão verde ou zona rural, ondenão deverá ser autorizado qualquer tipo de empreendimentourbano e que servirá como reservatório de ar puro e de protecçãorelativamente à aproximação com qualquer outro aglomeradoe será ainda fornecedora dos produtos agrícolas. Se a popu-lação tiver tendência a ultrapassar o valor fixado, o excesso doshabitantes deverá constituir uma ou mais cidades satélites loca-lizadas para além do cinturão verde e ligadas à cidade mãe por

(9) Idem, pág. 51.

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meio de transportes rápidos. Cada uma destas cidades saté-lites deverá igualmente ser protegida por um cinturão verde.A cidade mãe deverá também possuir indústria. O futuromunicípio deverá adquirir previamente todo o terreno neces-sário à nova cidade e cedê-lo aos habitantes em direito de super-fície (o objectivo seria combater a especulação fundiária). A com-trução da cidade deve ser feita a partir dum plano prévio ondeesteja prevista uma distribuição racional dos diferentes bairrose as casas deverão ser moradias unifamiliares isoladas (10).

6.1.1. Moradias unifamiliares isoladas versus prédios de rendi-mento

Relativamente a este último aspecto é interessante con-cretizar as ideias de De Grõer:

«... procuramos, criando o nosso Plano de Urbanização ede Extensão, acabar, em Coimbra, a construção viciada dosnossos dias e favorecer a construção da casa unifamiliar paratodas as classes»(11). A construção viciada era a das grandescasas de rendimento, em altura, que considerava desfavorável àeducação das crianças: «Nelasas crianças definham-se,e observa-seque os laços de família enfraquecem. Nas grandes «casernas»de dependências pequenas, a promiscuidade, as querelas, apouca limpeza, o mau exemplo de alguns são contagiosos e oindivíduo, gradualmente depravado, depressa se junta às mas-sas» (12). Chamando em seu auxílio o discurso do trono de 1919do rei de Inglaterra Jorge V, «Se não queremos revolução social,devemos construir casas (unifamiliares) decentes para os operá-rios», concluiu: «Com efeito, a casa grande é um campo abertoao comunismo, não sendo, por isso, senão preconizada pelospartidos da extrema esquerda» (13). Para contrariar as objecções

(10) HOWARD, E. - Garden cities of to-morrow London, Fabered., 1966.

(11) Ob. cito (5), pág. 72.(12) Idem, pág. 20.(13) Idem.

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lde carácter economico escreveu mais tarde: «especialistas queestudaram este assunto sob o ponto de vista social e económico,afirmaram que a casa unifamiliar é a forma de habitação maisperfeita para uma família, e, ao mesmo tempo, mais barata parao construtor, apesar de precisar de um certo espaço para o seuquintal. Todos os congressos internacionais de urbanistas,desde o de Viena de 1910, até ao último antes da guerra (o con-gresso de Estocolmo em 1939) foram desta opinião» (14) eacrescentou:

«Talvez tais deduções vos admirem? Suponho que pensa:«Se eu sobrepuser três habitações, ser-me-á preciso comprar umterreno três vezes mais pequeno do que precisava querendoconstruí-Ias umas ao pé das outras; e depois, o madeiramento e otelhado de uma casa são coisas caras; portanto, se eu fizer umtelhado em vez de três, farei uma economia». Perfeitamente!Esquece-se somente, de tomar em conta o seguinte:

1) a espessura das paredes e dos alicerces aumenta como número de andares;

2) uma escada leve feita em madeira, não basta quando setrata de servir mais de um andar e que se toma obrigatório cons-truir uma escada com materiais incombustíveis e tendo umalargura razoável;

3) esta regra aplica-se igualmente às construções dossoalhos e às dimensões de todas as partes de um prédio alto,porque este não beneficia das reduções autorizadas para umacasa unifamiliar;

4) impõe-se a instalação de um elevador para cada casaque tenha mais de três andares;

5) O espaçamento entre casas altas deve ser maior, segundoos regulamentos novos, do que entre casas baixas e, como conse-quência disso, a economia que você pretende realizar sobrea quantidade do terreno necessário para a sua construção podereduzir-se a nada;

(14) Ob. cito (7), pág. 40.

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Procurando captar as famílias para a «delícia» da vidaem moradias unifamiliares disse:

«Pense o senhor: não mais escadas a subir sufocando, nãomais barulho sobre a cabeça proveniente dos inquilinos do andarsuperior, não mais qualquer trepidação produzida por camiões,táxis e autocarros que passam sob as nossas janelas; acabaramas zangas com os outros inquilinos do prédio, por causa doruído que faz a sua própria família, dos tapetes e panos sujosque se sacudam das janelas ou por causa da sujidade da escadacomum. Os vossos filhos não mais brincam na rua com peque-nos vagabundos de todas as espécies, mas divertem-se no vossopróprio quintal, sob os vossos olhos e longe de qualquer mauexemplo e de todo o contágio. A senhora não se fatigará maisem os acompanhar nos passeios, conduzindo-os pela mão aolongo de ruas barulhentas que a enervam, assim como aos seuspequeninos, e portanto não perderá mais tempo para o fazer;... o seu marido voltando à tarde do escritório ou da oficinaachará nele (o quintal) muito prazer. Em vez de ir gastar dinheironum café, numa taberna ou num outro lugar qualquer onde oshomens procuram as distracções, voltará muito contente à suacasa para poder trabalhar um pouco no seu jardim, enquantoa luz do dia lho permitir '" Toda a vossa família será saudávele sentir-se-á mais feliz. Não é assim?» (16).

~6) num bairro com prédios altos a Câmara é obrigada a

fazer ruas mais largas do que aquelas que seriam suficientesparaservir um bairro com vivendas; deve também conservar e arran-jar jardins públicos, para os inquilinos dos prédios com muitosandares, porque estes não têm jardins particulares; enfim ascanalizações, que ela deve estabelecer para um bairro denso,são muito mais grossas do que aquelas que bastam para evacuaras águas sujas de casas unifamiliares ou para abastecer estas;ora, todas as despesas da Câmara recaem sobre cada um denós, pois que indirectamente as pagamos sob a forma de impos-tos» (15).

(15) Idem, nota 1 da pág. 40.(16) Idem, pág. 39.

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6.1.2. A questão da habitação e do solo

Relativamente ao problema habitacional De Grôer consi-derou-o nos seus dois aspectos de sobreocupação e carência.

Disse quanto ao primeiro:

«Há na vida urbana, uma tara difícil de suprimir, mas queé necessário combater custe o que custar: é a saturação habi-tacional. A saturação habitacional provém de várias causascujos motivos principais são os económicos. Se o operário éincapaz de pagar um aluguer suficiente para instalar a sua familiaconvenientemente aluga uma casa barata que é, para ele, dema-siado pequena e insalubre. Muitas vezes é uma e outra coisa,e, em Coimbra, estes exemplos são numerosos» (17). Pararesolver este problema De Grõer apontou a publicação de legis-lação semelhante à inglesa (Lei contra os tugúrios de 1930 eLei de construção de casas de 1933) que proibia a ocupação duma«dependência habitável» (18) por mais de duas pessoas e a trans-ferência dos inquilinos para habitação maior e de igual rendaa fornecer pela municipalidade.

Quanto à carência habitacional, considerando que «todaa experiência da época compreendida entre as duas guerras(1919-1939) provou que a iniciativa privada era incapaz de for-necer alojamentos saudáveis às classes pobres» (19), aconselhouo Estado e as Municipalidades a encarregarem-se desse problema.Foi esta, aliás li solução empreendida por «todos os países civili-zados»: «foram a Suécia, a Inglaterra e a Holanda os países quenos deram mais belos exemplos»; Apontou as medidas relativas àaquisição do solo e sua urbanização:

«A Câmara compra, à roda do território citadino (períme-tro edificado), grandes terrenos rurais, baratos, ao preço agrí-

(17) Ob. cit., (5), pág. 73.(18) «Dependência onde o habitante se demora durante o dia ou a

noite; a cozinha é, pois, uma dependência habitável, do mesmo modo que oescritório ou oficina». Ob. cit., pág. 72.

(19) Idem, pág. 74.

22

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23

cola, e cria(!), nesses terrenos baratos, tendo todas as quali-dades possíveis, isto é, respondendo a todas as exigências dourbanismo, mesmo as mais recentes. (Se a Câmara é proprie-tária dos transportes em comum, como acontece com a de Coim-bra, pode favorecer estes bairros novos dirigindo para eles novaslinhas). Tornando-se, assim, grande proprietária, a Câmaraexerce vigilância sobre o mercado de terrenos; e, se ela própriaconstrói casas modelo, exerce igualmente vigilância sobre osalojamentos... Os terrenos excêntricos devem ser comprados atempo e, nos primeiros tempos, o plano de urbanização nãodeve ser tomado público; as compras de terrenos devem serfeitas secretamente, sem o que todos os terrenos da extensão,serão imediatamente comprados pelos especuladores, ficandoa Municipalidade impossibilitada de realizar os projectos doplano por motivos financeiros»(20).

6.2. o ZONAMENTO

A segunda base do «urbanismo moderno» citada e adoptadapor De Grõer foi a do zonamento. (ezoning» ou «zonage»),ou seja, a divisão da cidade em zonas fixas que nunca se con-fundam: as zonas de habitação, de comércio, de indústria, derecreio e descanso (os parques e jardins), etc. O «zoning» seria«a única maneira possível de proteger os habitantes e os sítiosdo seu repouso contra os ruídos, 'Osfumos, os maus cheiros e aspoeiras» (21). É uma legislação diferencial que «fixa a densi-dade e a proporção das construções dos quarteirões segundo asnecessidades dos diversos bairros» (22).

O plano de Coimbra previu as seguintes zonas:

- zona industrial (I)

- zona comercial central (C-I)

(20) Idem, pág. 75.(21) Ob. cit., (7), pág. 32.(22) Ob. cit., (5), pág. 19.

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- zona comercial local (C-2)

- zona residencial:a) habitações individuais com talhões grandes (R-I)b) habitações individuais com talhões médios (R-2)c) habitações individuais agrupadas (R-3)d) habitações operárias (R-4)e) habitações colectivas (R-5)

- zona universitária (que foi excluída do plano)- zona arqueológica e turística (A)- zona de espaços livres, públicos (E)- zona rural (ER)

o regulamento das zonas previu para as residenciais asseguintes características:

- residencial R-I - talhões com 2000 m2 ou mais, 10% desuperfície coberta e um fogo por talhão composto por rés dochão, andar e aproveitamento do vão do telhado ou envazamento,rés do chão e um andar;

- residencial R-2 -lotes de 800 m2 ou mais, 20% desuperfície coberta e um fogo por lote de características idênticasao anterior;

. -- residencial R-3 -lotes de 600 m2 ou superior, 25% de

superfície coberta e um fogo por lote também idêntico do anterior;

- residencial R-4 -lotes de 300 m2 ou mais podendodescer a 250 m2 nos talhões interiores, 30% de superfície cobertae um fogo por talhão com rés do chão e um andar;

- residencial R-5 - não foi fixada a superfície mínimado talhão e a altura dos prédios foi limitada a 3 andares acimado rés do chão.

6.3. AS INFRAESTRUTURAS URBANAS

A terceira e última base foi a da «aplicação de todas asciências técnicas ao arranjo de uma cidade», ou seja a instalação

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7.2. HORIZONTE E POPULAÇÃO RESPECTIVA

das infraestruturas de água e de esgotos, a distribuição de ener-gia eléctrica, a recolha e tratamento dos lixos, a organizaçãodos transportes públicos, a «instalação de aparelhos higiénicosem todas as casas», étc.

7. BASES DO PLANO

7.1. FASES DA ELABORAÇÃO DO PLANO

A primeira tarefa dos estudos consistiu em fixar o hori-zonte do plano, a população total a prever nessa data e as necessi-dades de área para a alojar. A segunda em estudar e estabelecera rede dos acessos e artérias da cidade que ligam as diferentespartes entre si e com o mundo exterior. A terceira em analisare propôr a urbanização dos diversos bairros existentes, «tendoem conta a individuabilidade da cidade e a necessidade de con-servar os seus monumentos e aspectos característicos, e as vistaspanorâmicas» (23) e, finalmente, estudar as «partes novas dacidade, projectadas sobre territórios destinados a diversas extensõesde Coimbra» bem como as extensões das aldeias satélites.

O horizonte do plano foi de 30 a 50 anos e a populaçãototal prevista de 100000 a 110000 habitantes. No cálculo destapopulação De Grõer estimou em 50 000 habitantes a populaçãode Coimbra e arredores no ano da apresentação do plano e admi-tiu um ritmo de crescimento igual ao verificado na década de20-30 ou seja, de 1000 habitantes por ano. O motivo dumaredução do horizonte de 50 para 30 anos deveu-se ao admitir-seque o ritmo do crescimento fosse superior ao previsto e que oquantitativo dos 100000 habitantes fosse atingido mais cedo.Considerou este valor como o ideal para as aglomerações médias,até por ter sido adoptado na construção das cidades novas norue-guesas da época.

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(23) Ob. cit., (7), pág. 49.

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7.3. COMPOSIÇÃO SOCIAL DA POPULAÇÃO, DENSIDADES E ÁREAS

NECESSÁRIAS

Fixado o quantitativo da população futura houve que deter-minar as superfícies para a alojar. Uma parte, 5000 habitantes,foi «alojada nos lugares inocupados da aglomeração actual»;para os restantes 45 000 habitantes foram previstas novas exten-sões. O cálculo destas extensões implicou a adopção de cri-térios relativos, em primeiro lugar, à composição social da popu-lação da cidade e em segundo aos valores das densidades líquidasde cada tipo de bairro.

Quanto à composição social, De Grõer considerou que aproporção das diversas classes constituintes da população dumahipotética cidade padrão era a seguinte:

classe operária 60%classe média 20%classe abastada ... . . .. ... . .. .. . .. . ... .. . .. . .. . 10%população flutuante ... . .. . .. . ... . .. . .. ... . .. 10%

As percentagens correspondentes na cidade de Lisboa namesma data eram, respectivamente, 68, 1'6, 9 e 7% mas comoCoimbra «não tem probabilidades de se transformar numacidade industrial e como, por outro lado, a sua Universidadelhe dá um certo carácter intelectual e turístico» (24) De Grõerdecidiu adaptar as proporções padrão.

Para as densidades, De Grõer, adoptou 100 habitantes porhectare nas zonas de habitação operária, 70 nas da classe médiae 30 nas da classe abastada; para a população flutuante (mili-tares, turistas e doentes dos hospitais) adoptou 80 habitantespor hectare. Justificava assim estes valores:

«Uma tal distribuição do terreno correspondente à neces-sidade de dotar cada casa operária de um modesto quintal, cujasdimensões cheguem para fornecer à família um auxílio interes-

(24) Ob. cit., (3), pág. 17.

26

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27

sante em frutas e legumes, e à necessidade de cercar as casasda classe média e da classe abastada, mais amplas do que asdos operários, de um espaço suficiente para lhes dar bastantear, luz e intimidade» (25).

Estes critérios permitiram concluir que seriam necessários613 hectares para alojar 27000 habitantes pertencentes à classeoperária (270 ha), 9000 à classe média (128 ha), 4500 à classeabastada (150 ha) e 4500 flutuantes (65 ha). De Grôer projectouquatro zonas residenciais de extensão na cidade propriamentedita (sueste, nordeste, noroeste e Santa Clara) e cinco nas aldeias--satélites (Coselhas, Tovim, Chão do Bispo, Carvalhosa (hojePortela) e Várzea (hoje Lages)).

8. PROPOSTAS

8.1. CIRCULAÇÃO E TRAFEGO

8.1.1. Acesso por ar

No respeitante aos acessos o plano considerou os acessospor caminho de ferro, pela estrada e pelo ar.

O acesso pelo ar foi previsto pelo aeródromo de Cernache,em construção; a sua ligação à cidade seria feita através daEstrada de Lisboa, a melhorar.

8.1.2. Acesso por caminho de ferro

As propostas referentes ao acesso por caminho de ferrosintetizam-se em:

-leva.ntamento dos «rails» do caminho de ferro da Lousãe transformação deste em autoestrada, utilizando as obras dearte existentes (pontes, túneis, etc.);

(25) Ob. cit., (5) pág. 74.

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(26) Ob. cit., (5) pág. 50.(27) Idem.(28) Ibidem,(29) Ibidem(30) Ibidem.

- «recuo da estação central até aos terrenos' da actualestação de mercadorias, onde uma nova estação de dimensõesmais modestas poderá ser edificada, visto não ter de servir alinha da Lousãi (26).

É interessante examinar as concepções de De Grõer relati-vamente ao problema dos transportes de massa:

«As pequenas linhas de caminho de ferro como a da Lousã,com o seu fraco tráfego, não podem lutar com os autocarros,mais cómodos e económicos para os passageiros e mais elásticospara o serviço. Os autocarros podem dar um bom rendimentomesmo quando só servem aglomerações muito pequenas, enquantoque as pequenas linhas de caminho de ferro não dão senão pre-juízos» (27).

Esta concepção traduziu-se no plano pela proposta deconstrução, ao lado da nova estação do caminho de ferro, de uma«auto estação destinada às numerosas linhas de autobuses que,já hoje, ligam os arredores a Coimbra, e aquela que, em substi-tuição do caminho de ferro, a ligará à Lousã» (28).

O recuo da estação central facilitaria a abertura de umnovo arrumamento, a Avenida Santa Cruz, de ligação da AvenidaNavarro à Praça 8 de Maio, isto é, as estações novas com o centrourbano, através da demolição dos «blocos de casas velhas situa-das entre as ruas da Moeda e Bordalo Pinheiro, ruas muitoestreitas e insalubres» (29). Assim se ampliaria a zona centrale comercial. A outra vantagem do recuo da estação bem comoda redução das suas proporções seria «dar maior largura aocais do Mondego, para que, por ele, se estabeleça melhor ligaçãoentre o Choupal e o centro da cidade» (30).

28

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29

8.1.3. Acesso por estrada

Quanto aos acessos por estrada, o plano previu seis saídas:

- a Estrada Nacional, em direcção ao Porto com um traçadosegundo a estrada de Eiras;

- a mesma estrada em direcção a Lisboa, a ser alargada«pelo menos para o dobro na sua parte baixa» e «na medida dopossível na encosta ao atravessar os. subúrbios de Santa Clara».A ponte sobre o Mondego também deveria ser reconstruída ealargada pelo menos para o dobro;

- a estrada para Figueira da Foz por Taveiro a alargarpara 25 metros;

- a estrada para Pene1aa alargar para 15metros;

- a ligação à Beira de substituição da actual estrada a cons-truir sobre a linha do caminho de ferro da Lousã;

- a melhoria da saída .por Santo António dos Olivais emdirecção a Vale de Canas reservando-lhe uma faixa de 25 metrosde largura.

A estrutura viana principal foi completada pelas vias deligação entre as novas extensões e as partes antigas da cidadee inclui ainda uma circular turística de 10 metros de larguraque partindo da ponte da Portela para poente acompanha oMondego «a uma certa distância da água» para se ir desenvolvera norte na zona rural «onde abundam paisagens atraentes» eligar à estrada do. Tovim, que por sua vez conduz de novo àponte da Porte1a.

Preocupado com a questão da execução do plano, De Grõerrelembrou à Câmara a necessidade da «criação antecipada dereservas oua expropriação de terrenos tão grandes quanto possí-vel, para as futuras estradas ou alargamento das existentes» (31).Os aspectos financeiros da operação também não foram esque-

(31) Idem, pág. 52.

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cidos: «Há sempre vantagem em expropriar largamente, de modoa permitir, mais tarde, a revenda pela Municipalidade, dos talhõeslimítrofes e a cobertura das despesas feitas com o arranjo e aconstrução das ruas novas» (32).

8.1.4. Arruamentos urbanos

A rede viária da cidade foi completada por ruas tipo, divi-didas nas seguintes categorias:

- ruas de circulação grande e média (as faixas de rodagemadoptadas foram respectivamente 11/12 e 8/9 metros);

- ruas de habitação com 5 a 6 metros de largura (6 metrossem passeios se forem sem saída e 4 metros se forem construídasem terrenos escarpados mas com desvios de onde em onde.Neste caso as casas só seriam construída~ no lado de cima);

- passagens para peões, com ou sem escadas, de 3 metrosou menos de largura e orlas plantadas.

Para os passeios foram previstas larguras variáveis «segundoas circunstâncias e o aspecto» e os declives não ultrapassaramem geral os 8% (à excepção de algumas ruas sem saída ondeatingiram 10%).

No respeitante à construção destes arruamentos De Grõerrecomendou que as grandes ruas fossem executadas em váriasfases, mas que fosse expropriado à partida todo o terrenoprevisto. De início seria construída apenas uma faixa de 5 ou6 metros e passeios de 1,5 a 2 metros. O alargamento seriafeito à medida que a circulação e a construção fossem aumentando.

8.2. ARRANJO DA CIDADE EXISTENTE

Para arranjo da parte existente da cidade De Grõer consi-derou os seguintes bairros:

- a antiga cidade baixa, delimitada «por meio duma linhaenglobando as ruas Ferreira Borges, Visconde da Luz e da Sofia e

(32) Ibidem.

30

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31

seguindo depois pelo limite da zona industrial, a Avenida Navarro,a Praça 8 de Maio e o Largo Miguel Bornbarda» (33). Estebairro foi destinado ao futuro centro comercial da cidade e nelefoi prevista a Avenida de Santa Cruz que o divide ao meio.

A parte localizada a sudoeste desta avenida foi englobadana zona Arqueológica A-l. O plano previu a sua remodelação«conservando-lhe os alinhamentos nos edifícios antigos e supri-mindo, só com o fim de arejar as partes mais densas, o mínimodas construções» (34). Previu também a reserva de algumasruas a tráfego exclusivo de peões e a elevação da cota geral dobairro para a da Praça do Comércio, a fim de o defender dasinundações do Mondego.

A parte nordeste inclui a zona Arqueológica A-2 e previua instalação de bancos e do novo mercado central. Este teria13000m2, seria construído entre a rua Direita e a rua da Sofiacom a parte central sobre a praça existente, cujas fachadas antigasse deveriam conservar. Foram previstos quatro «Parkings»para apoiar o mercado;

- a antiga cidade alta, limitada «pela Zona Universitária,a Zona Central, a Comercial, o bairro residencial da rua Alexan-dre Herculano e o vale do antigo mosteiro de Santa Cruz (AvenidaSá da Bandeira)» (35). O plano previa que este bairro, porser o mais característico da cidade, se conservasse inteiramenteno seu estado actual. Foi compreendido na zona arqueológicaA-3. Referindo-se a ele diria De Groer: «É preciso impedir,custe o que custar, o aumento da densidade das construções(aumentando por exemplo, o número de andares) e a diminuiçãoda superfície dos jardins e dos pátios. As casas deverão conservarexactamente o seu carácter e a- harmonia dos estados actuais.Numa palavra: este bairro, que encaramos como um bainomuseu emoldurando o palácio universitário do seu vértice, énecessário conservá-lo preciosamente para os tempos futuros» (36);

(33) Idem, pág. 53.(34) Ibidem.(35) Idem, pág. 54.(36) Idem. pág. 55.

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- o bairro da Avenida Sá da Bandeira, situado entre aPraça 8 de Maio e a Praça da República, que forma com os doisbairros anteriormente citados o centro de Coimbra. Foi destinadoà parte central e administrativa da cidade e integrado na zonaR-5 (residencial com habitações colectivas). O plano previu aeliminação do mercado central, a sua substituição por um -jar~dim público e o alargamento da rua Olúnpio Nicolau Fernandespara 18metros (entre o edifício dos Paços do Concelho e o ânguloda rua da Sofia), 20 metros (entre o edifício do Correio e a EscolaBrotero) e largura superior (na ligação à Avenida Sá da Bandeirae sacrificando o mercado' central};

- bairro periférico da Conchada-Montarroio, localizadoem terreno muito acidentado e limitado pela Avenida Sá daBandeira, rua da Sofia, estrada conduzindo ao cemitério daConchada e rua Dr. António José de Almeida. O plano proi-biu a criação de novas ruas e o alteamento ou aumento de densi-dade dos edifícios existentes;

- bairro periférico de Montes Claros, cuja rua principal éa Dr. António José de Almeida, O plano previu o alargamentodesta via para 12 metros, a demolição do matadouro, a trans-formação em caminhos de peões de algumas ruas existentes (porexemplo, a Rua Dr. Manuel Correia Bastos Pina) e a valorizaçãode algumas vistas panorâmicas;

- bairro periférico da Cruz de Celas, delimitado pela ruaAugusta, a parte baixa da rua Antero de Quental, as ruas Lou-renço de Almeida Azevedo, Pedro Monteiro e do Infantário,as avenidas Dr, Júlio Henriques, Dr. Mamoco e Sousa e Dr. Diasda Silva ate à rua Gomes Freire, O plano previu a supressãode algumas ruas (dr. João das Regras, Sousa Refoios, Fernandode Mello), a criação dum jardim fronteiro ao Liceu D. João lH,dum grupo escolar primário feminino e uma zona «non aedi-ficandi» do lado de baixo do Penedo da Saudade;

- bairro periférico de Celas, localizado a norte da Cruzde Celas e da rua Gomes Freire. O plano previu a construçãodum mercado local na Quinta dos Sardões e a conservação dascasas que rodeiam o mosteiro de Celas.

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- bairro periférico de Santo António dos Olivais. O planopreviu o alargamento da rua que conduz à igreja, a transformaçãoem parque público do Penedo da Meditação e um perímetro deprotecção ao sul da Igreja de Santo António;

- subúrbio do Calhabé. Serviu de ponto de partida paraa extensão sudeste;

- subúrbio de Santa Clara. Foi destinado às zonas resi-denciais R-2 e R-3 tendo sido proibida a instalação de- novasindústrias.

8.3. AS EXTENSÕES RESIDENCIAIS

Para alojar os 45 000 habitantes futuros que não tiveramlugar na cidade existente o plano previu, como se disse, as novasextensões seguintes:

- extensão sueste, de 238 hectares, localizada ao longo daEstrada da Beira até ao Calhabé e tendo como espinha dorsal acolina com este nome. Esta extensão foi objecto de estudo indivi-dualizado entregue à Câmara antes do estudo de conjunto. Foidestinado às zonas residenciais R-3 (da classe média) e R-i e R-2(das classes abastadas), por estar «longe dos lugares de trabalho».«Só os terrenos' dos lugares onde já existem pequenas casas,serão reservadas para a zona R-4 (classe operária)» (37).

A rede viária principal prevista constou, em primeiro lugar,da grande via de acesso implantada sobre a linha da Lousãcomduas praças: a principal em frente ao Estádio e a segunda nolimite da extensão. Desta última, parte, para um e outro ladoda via principal, uma artéria circular que une as duas partes deextensão e as liga à parte baixa e alta da cidade existente.

O plano previu também alguns serviços públicos nomeada-mente o. Estádio, o Liceu Feminino e dois grupos escolaresprimários;

- extensão nordeste, de 132 hectares, prevista ligada àcidade por uma rua de 18 metros de largura em prolongamento

(37) Idem, pág. 63.

3

-

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da Rua Augusto Rocha, que se bifurcará de modo a ligar aextensão à 2.a Zona Industrial e ao Penedo da Meditação e Igrejade Santo António dos Olivais.

Foi destinada às zonas residenciais R-4 (as partes próximasde Montes Claros e da Zona Industrial) R-3 e R-2 (as partesrestantes à excepção do lado da Avenida Dias da Silva, ondeforam previstos trechos R-I);

- extensão noroeste, de 150 hectares, localizada fora doslimites da cidade, «sobre as encostas que ficam para o lado decima da Estrada Velha e do Vale de Coselhas» (Monte Formosoe Ingote). Foi prevista para casas operárias.

O plano concebeu a extensão como «um conjunto quaseautónomo com o seu mercado, os seus centros comerciais, escolaprimária, igreja, sala de reuniões, banhos-duches, jardinspúblicos e campo de jogos» (38), para uma população de15000 habitantes.

Foram previstos dois acessos: o primeiro com início novale de Coselhas próximo deste aglomerado e terminando numedifício público; o segundo que começa no vale da Estrada deEiras e sobe pelo Monte Formoso. A avenida principal daextensão localiza-se na cumeada.

Foram reservados terrenos para a construção duma EscolaIndustrial;

(38) Idem, pág. 66.

- extensão de Santa Clara, de 38 hectares e 3100 habi-tantes, localizada a norte do subúrbio do mesmo no.me e consti-tuída por duas partes: a) a que se estende ao longo da Estradade Taveiro, «constituída por lindas propriedades rurais ou semi--urbanas», destinada à zona R-I; b) a parte situada à recta-guarda da precedente, reservada à zona R-4 (habitaçõesoperárias).

Foi prevista a ligação desta extensão à Zona Industrialatravés dum «passadiço» sobre o Mondego. A extensão incluium centro cívico local compreendendo «igreja, sala de reuniões

34

Page 33: Pu Para Coimbra

e lojas em volta de uma praça principal, tendo uma linha vistasobre Coimbra» (39).

8.4. AS ALDEIAS SATÉLITES

o plano De Grõer também previu, de acordo com a teoriadas cidades-jardim, extensões nas aldeias-satélites já referidas(Coselhas, Tovim, Chão do Bispo, Carvalhosa e Várzea), numtotal de 75 hectares.

Cada aldeia foi rodeada dum perímetro de extensão exte-riormente ao qual nenhuma construção seria autorizada e cujotraçado constou dum círculo de 250 metros de raio com o centrolocalizado «no próprio coração de cada aldeia», ou um polígonosimples de superfície equivalente àquele círculo.

8.5. A ZONA INDUSTRIAL

A Zona Industrial foi localizada a norte da cidade, ocupandoos terrenos do vale de Coselhas e a faixa entre a Estrada NacionalPorto-Lisboa, o Mondego e a nova estação central. Não foipermitida a instalação em Coimbra de «industrias perigosas,incómodas ou insalubres de 1.8. classe» (cprodução de amoníaco,cloro, gases asfixiantes; ácidos sulfúrico e nítrico; a fabricaçãode explosivos, etc.»). As indústrias perigosas, incómodas ouinsalubres de 2.a. classe só poderiam localizar-se na parte norteda zona industrial (vale de Coselhas) (ematadouros, fábricas detransformação de matérias orgânicas, de curtumes, etc.») (40).

8.6. A ZONA RURAL

A cidade foi protegida por uma zona rural reservada àagricultura, delimitada por uma circunferência de 5 quilóme-tros de raio com o centro localizado no centro do claustro deSanta Cruz. Nesta zona foram proibidos os talhamentos e apenas

(39) Idem.(40) Idem, pág. 25.

3S

Page 34: Pu Para Coimbra

9. o REGULAMENTO DAS CONSTRUÇÕES

poderiam ser construídas instalações agrícolas ou residenciaisdos agricultores.

Importa para finalizar, fazer uma breve referência à últimapeça que foi entregue, o Regulamento das Construções.

EPl Portugal não existia um regulamento geral das cons-truções; apenas alguns artigos do Código Civil se referiam leve-mente a este assunto e, em Lisboa, vigorava o regulamento de1936 que De Grõer considerou deficiente nos seus aspectos funda-mentais de «necessidade de ar e luz». O regulamento Geraldas Edificações Urbanas, RGEU, viria a ser publicado apenasem 1951.

De Grõer elaborou então para Coimbra um regulamento quese adaptasse «aos nossos projectos de Regulamentos das Zonase dos Talhamentos e para formar, com eles, um todo indivisívelonde expomos inteiramente os nossos princípios» (41).

Os objectivos internos do regulamento foram assim expressos:Para poder melhorar as condições de vida dos habitantes

é preciso, primeiro, proceder à reforma das habitações. A máhabitação é o motivo originário do enfraquecimento moral efísico dos habitantes das cidades. É a criança que mais sofreda falta de ar e de luz que caracteriza .as construções urbanasactuais. Se se quiser preparar um futuro melhor, é necessáriomelhorar os alojamentos e pôr termo aos casebres que são a ver-gonha das cidades» (42).

E sintetizou assim o seu regulamento:

«Neste regulamento estudaram-se, afora a higiene dos ter-renos e dos edifícios, as precauções a tomar contra o fogo, ainterdependência a estabelecer entre os edifícios dum quarteirão,é as regras sobre a estética urbana. Esta última é duma impor-tância capital para a higiene moral dos habitantes» (43).

(41) Idem, pág. 72.(42) Ibidem.(43) Idem.

36

Page 35: Pu Para Coimbra

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

2. HISTORIAL DO PLANO

3. ELEMENTOS CONSTlTmNTES DO PLANO

4. METODOLOGIA DE TRABALHO DO URBANISTA

5. OBJECTIVOS DO PLANO ..

6. CONCEPÇÃO URBANíSTICA

6.1. A cidade jardim6.1.1. Moradias unifamiliares isoladas versus prédios de

rendimento .6.1.2. A questão da habitação e do solo

6.2. O Zonamento .....6.3. As infraestruturas urbanas

7. BASES DO PLANO ••...•.

7.1. Fases da elaboração do plano7.2. Horizonte e população respectiva.7.3. Composição social da população, densidades e áreas neces-

sárias

8. PROPOSTAS.

8.1. Circulação e tráfego.8.1.1. Acesso por ar

8.1.2. Acesso por caminho de ferro8.1.3. Acesso por estrada .8.1.4. Arruamentos urbanos

8.2. Arranjo da cidade existente8.3. As extensões residenciais8.4. As aldeias satélites8.5. A zona industrial8.6. A zona rural

9. o REGULAMENTO DAS CONSTRUÇÕES

Págs.

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2-0 PLANO REGULADOR-ANOS 50*

1- HISTORIAL DO PLANO

A 13 de Agosto de 1953 a Câmara recebe uma carta doprof. Almeida Garrett com a proposta da revisão do Plano deUrbanização De Grõer estabelecendo um prazo de 6 meses paraelaboração dos estudos e honorários de 70 cc (cerca de 2/3 docusto dum novo plano). A Câmara aprovou a proposta (1).

O engenheiro urbanista apresentou o 1.0 volume dos estudos,«Comunicações» em 1954. O 2.0 volume, «Plano Reguladorde Coimbra» em Março de 1955.

O processo para apreciação no Conselho Superior de ObrasPúblicas deu entrada a 25 de Julho de 1956e incluia os pareceresda Câmara Municipal, do Concelho Municipal e das ComissõesMunicipais de Higiene e de Arqueologia (2).

A 19 de Março de 1957 o CSOP emitiu o seu parecer, quefoi homologado em 28 do mesmo mês pelo Ministro das ObrasPúblicas, Arantes e Oliveira, aprovando o Plano Regulador. Foivogal relator o eng. Mesquita Lima (3).

Em 1959foi entregue na 2.a Zona de Urbanização, Coimbra,a 2.a revisão do Plano Regulador. Em 21 de Outubro de 1963o eng. chefe da zona, Matos Cardoso, elaborou parecer aprovandoo Plano, aprovação homologada pelo Ministro das Obras Públicasa 17 de Fevereiro de 1964. A 29 de Julho deste ano foi estaaprovação comunicada à Câmara Municipal.

* .Conferência proferida no Museu Nacional de Machado de Castroem 4/5/82.

(1) Anais do municipio de Coimbra 1940-1959 pág. 272.(2) Folha dactilografada anexa ao plano.(3) Obra citada 1, pág. 417 a 420;

-

Page 37: Pu Para Coimbra

Nem a Câmara, nem o Conselho Municipal elaboram parecersobre esta revisão (4).

2 - OS ELEMENTOS CONSTITUINTES DO PLANOREGULADOR DE 1959

Peças escritas

Memória descritiva, justificativa e regulamento subdivididaem três partes:

- Síntese da cidade de Coimbra, contendo -dois cartogra-mas à escala de 1/25000;

- Principais problemas de Coimbra e soluções propostas,com 12 capítulos, contendo 4 cartogramas à escala de1/25000, dois cartogramas de estatísticas de trânsito,perfis transversais tipo dos arruamentos à escala de 1/1000e um cartograma de organização;

- Regulamento com dois capítulos.

Peças desenhadas (5)

I - Planta de ocupação actual - transgressões - zona-mento, escala 1/5000;

2 - Planta de comunicações, escala 1/5000;3 - Planta de zonamento, escala 1/5000;4 - Planta de zonas - ferroviárias, industriais, portuárias,

escala 1/5000.

3 ~ OBJECTIVOS DO PLANO

A finalidade principal dos estudos encomendados aoprof. Almeida Garrett foi a revisão do Plano De Grõer que setinha mostrado inadequado às condições reais da cidade.

40

(4) Ofício da DGSU para a Câmara de 29 de Julho de 1964.(5) Citadas na informação n.O 255/63 da 2." Zona de Urbanização,

Coimbra, pág. 2.

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AI

Almeida Garrett admitiu. duas razões para o desacerto doplano De Grõer:

.«A pri~eira, a de se ter considerado possível uma urb,~i~açãode cidade jardim num território escasso em terrenos própriospara as edificações - o que tomou, praticamente, inacessíveis ostalhões para as classes menos favorecidas e deu lugar a constantestransgressões sem que a municipalidade pudesse intervir eficaz-mente.

A segunda, a de se ter considerado o anteplano como umplano de urbanização definitivo, que se quiz seguir à risca, quandoapenas devia traduzir uma sugestão a pormenorizar e a corrigironde fosse conveniente ou até mesmo indispensável» (6). «Asplantas por ele usadas na representação do ante-plano à escala1/5000 não podiam permitir uma planta de trabalho» (7).

O engenheiro urbanista não exprime os grandes objectivosa atingir com o seu plano. É de admitir porém que não fossemdiferentes dos propostos por De Grõer, nomeadamente a con-servação das belezas naturais e históricas da cidade. De factoAlmeida Garrett mantém as disposições anteriores' relativas aopatrimónio arqueológico e artístico, miradouros e pontos devista a conservar acessíveis.

O capítulo «Síntese da cidade» permite-lhe identificar osproblemas de Coimbra, e enumerar assim sete objectivos a alcançarcom o plano:

«1 - Defender das cheias do Mondego os excelentes terrenosbaixos de uma e outra margem, tão necessários à sua expansãocomercial e industrial;

2- Desviar do atravessamento da cidade a linha férrea daLousã e o troço da EN 1;

3 - Melhorar, na medida do possível, as ligações da zonaAlta com a Baixa.. e para sudeste ;

(6) Garrett, A. Plano Regulador da Cidade de Coimbra, Memória,pág. 1.

(7) Garrett, A. Palestra em Coimbra sobre o seu plano. regulador,pág. 1. Importa contudo referir que De Grôer entregou quatro plantas depormenor à escala 1/1000.

Page 39: Pu Para Coimbra

4- Adoptar a sua urbanização residencial a um terreno deforte relevo que se apoie numa rede mestra de artérias colectoras;

5 - Urbanizar extensões do território para uma fácil expan-são, onde caibam as actividades e habitações para todas as classes(impõe-se uma decisiva intervenção camarária nesta preparaçãode terrenos edifícáveis):6 ---"Dar organização urbana aos seus agrupamentos popula-cionais, mesmo aos exteriores ao perímetro fixado para a cidade;

7 - Dotar Coimbra de água em mais abundância, e estabe-lecer-lhe uma rede de esgotos eficientes» (8).

(8) Obra citada (7), pág. 6.

4 - CONCEPÇÃO DE PLANEAMENTO E DE ORGANI-ZAÇÃO URBANA

4.1. PLANO REGULADOR

Almeida Garrett designou o seu plano por «Plano Reguladorda Cidade de Coimbra», Esta designação tinha implícita umaconcepção de planeamento:

----em primeiro lugar elabora-se para a cidade um planoregulador, ou director, que fixe a orientação a seguir perante asquestões fundamentais «de forma a que toda a actividade urba-nística venha a fazer-se ordenadamente, no respeito dos condi-cionamentos das linhas mestras nele estabelecidas.

Tal plano regulador deverá, portanto, traçar as principaisvias de comunicação em continuação das inter-urbanas definidasno plano regional, se existente, ou fixadas por estudos das enti-dades responsáveis, bem como as vias internas fundamentais;tratar da organização da cidade pelo estabelecimento dum zona-mento racional, em que se tenham em conta os agrupamentoslocais existentes, as predisposições do território e as exigênciasde expansão, de tal forma que cada zona reuna o máximo decondições de espaço e ambiente favorável à eficiência da sua

42

Page 40: Pu Para Coimbra

utilização própria, sem prejuízo das outras com finalidade dife-rente, e que se possa vir a dotar cada um dos vários agrupa-mentos e seus conjuntos orgânicos dos bens deconforto, higiene,beleza e cultura que criem bem estar e orgulho da sua terra emtodos os conimbricenses.

Todos esses condicionamentos que constituem um planoregulador de urbanização, se exprimem em desenhos, se justi-ficam numa memória e se tornam efectivos por um regula-mento» (9);

- em segundo lugar estudam-se, à medida das necessidadese possibilidades de actuação, os planos parciais de arranjo e deextensão das zonas definidas no plano regulador. O regula-mento e o plano regulador contém as normas para a elaboraçãodestes planos parciais.

4.2. UNIDADES RESIDENCIAIS

Como concepção urbanística o Plano Regulador assentana «concepção actual da organização do território em unidadesresidenciais», ou seja na teoria das unidades de vizinhança, queAlmeida Garrett justificou assim numa publicação de divul-gação que escreveu sobre o Plano Regulador da Cidade doPorto:

«Se não é possível que todos se conheçam numa grandecidade, uma falsa orientação da vida tem feito perder o interessepelos nossos semelhantes, quando é neles que podemos "encon-trar o ambiente favorável à nossa própria felicidade.

Numa aldeia, os senhores são como que protectores naturaisdos mais necessitados que sabem ter neles um amparo - e osprimeiros se sentem moralmente a isso obrigados. Todos seconhecem e contam todos uns com os outros, Se morre umpobre, não lhe falta acompanhamento dos vizinhos, qualquerque seja a sua situação económica.

(9) Obra citada (7) pág, 20 e 21.

43

Page 41: Pu Para Coimbra

Só em ambiente amigo o homem pode se1?-tir-sebem.·Ora nas cidades o ambiente é o da vizinhança próxima e

o da profissão de cada um.No nosso bairro sabemos onde está o médico! a farmácia!

a igreja, o cinema, a escola, o correio, a mercearia, o talho, aesquadra da polícia e as casas de famílias vizinhas amigas a quempoderemos recorrer em casos de necessidade.

Todos estes elementos constituem o meio da nossa vida enão nos podem ser indiferentes.

Quando uma nova urbanização situa as habitações despidasdestes· elementos indispensáveis, tudo falta, e as dificuldadessurgem a toda a hora.

Torna-se indispensável voltar à organização local naturale completá-Ia da maior soma de benefícios que a vida actualproporciona. A fusão dos pequenos agrupamentos para aformação de outros maiores, com mais amplas possibilidadesde dotação no seu equipamento administrativo, social e cultural,não deve fazer-se com a perda total da sua individualidade pró-pria, tão à medida do homem que tiveram formação natural» (10).

Observando o nosso modo de viver Almeida Garrett concluiuserem três os escalões naturais: o da vizinhança; que recons-titui a aldeia; o do bairro, que reconstitui a pequena vila e o daunidade residencial que reconstitui a freguesia.

Acima da unidade residencial entende que deve ser consi-derado outro escalão, que designou por unidade urbana. Paraa cidade do Porto considerou «unidades urbanas em potencial»que não foram julgadas necessárias às expansões durante a vigên-cia do plano regulador e que designou por «unidades rurais».

Para efeitos de elaboração dos Planos reguladores assentesnas unidades de vizinhança Almeida Garrett teorizou assim osdiferentes escalões:

(10) Obra citada (6) pág. 7ge 80.

1.0 escalão, a vizinhança. Tendo por base a escola primáriade duas salas de 40 alunos, masculinos e femininos. Recons-titui a aldeia. 600 a 1000 habitantes. Os pais conhecem-sepela convivência dos filhos. Pode ocupar uma área de 8 hectares

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Page 42: Pu Para Coimbra

e os percursos de casa à escola não deverão ultrapassar os300 metros. O equipamento, que terá de ser rudimentar e apenasligado às necessidades mais imediatas e de todos osdias incluirá:

jardim escola-creche de 0,62 m2 por habitante; escola primáriacom recreio de 1,0 m-por habitante; um fontenário; uma cabinetelefónica e uma caixa de correio.

2.0 escalão, o bairro. Tendo por base a escola primáriade 8 salas (ou equivalente) isto é, quatro vezes maior que a davizinhança. Corresponde à pequena vila. 2 000 a 4 000 habi-tantes. Já não é possível tão fácil conhecimento dos pais peloconvívio dos filhos na escola. O equipamento incluirá: recintoinfantil; núcleo comercial com padaria, talho, mercearia e con-feitaria, peixaria e uma loja cooperativa; lavadouro e balneário--sentina pública; jardim de bairro com 1,0 m2 por habitantecom biblioteca popular; posto de puericultura; posto clínicoda Federação das Caixas de Previdência; posto de bombeiroscom cruz vermelha e ambulância; correios e telefone; uma capelaou igreja com patronato; um café; um clube com salão de reu-niões e festas; algumas oficinas de pequenas reparações; sapa-teiro, carpinteiro, picheleiro, etc.; praça de taxis.

3.o escalão, unidade residencial ou freguesia. Tendo porbase uma organização administrativa e religiosa bem definida.Podendo ir de 5 000 a 12 000 habitantes, atinge um nível urbanomais perfeito e semelhante ao das nossas vilas. O equipamentoincluirá: centro cívico; centro administrativo com seus edifíciospúblicos, regedoria e junta de freguesia; centro comercial e umlocal para pequenas feiras; ensino técnico, comercial e indus-trial segundo as conveniências; parque com terrenos de desportode 3,20 m2 por habitante; piscina, estação dos CTT; esquadrade polícia; igreja paroquial com salão de catequese, patronato,conferências, etc.; centro social com teatro, sala de conferências,exposições, dança e biblioteca; hotel-restaurante.

4.o escalão a unidade urbana.. Tendo por base a plenitudedos benefícios da agregação, culturais e de higiene. Englo-bará umas tantas unidades residenciais, com 25000 a 75 000 habi-tantes, 'sendo aconselhável 40 000; considerados como limite à

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Page 43: Pu Para Coimbra

plena utilização dos· bens comuns, O equipamento incluirá:

centro cívico de ordem superior; mercado municipal; ensinosecundário: liceus e institutos comerciais e industriais com seusterrenos de jogos de 1,15m2 por habitante, museus; grande par-que de 23 hectares com campos de jogos de competição de 3 m2

por habitante; piscina de competições; hospital de algumascamas com apetrechamento moderno de internamento de urgên-cia; autogares e estações de Caminhos de Ferro; electricos eautocarros (11).

O Plano Regulador de Coimbra considera unidades resi-denciais de extensão, que corresponderão a novas freguesias, ena zona urbana mantém as freguesias de Almedina, Santa Cruz,S. Bartolomeu e Sé Nova, mais reduzidas em área mas com fortepopulação.

Prevê que mais tarde a cidade venha a exigir a organizaçãoem duas unidades urbanas separadas pelo limite natural que éo rio Mondego. Para a unidade residencial de Santa Clara,mais pequena, o plano prevê desde já zonas comercial, indus-trial, ferroviária e portuárias, além das residenciais.

O ajustamento do equipamento dentro de cada unidaderesidencial deverá ser feito por plano de pormenor. O PlanoRegulador enumera e localiza os principais edifícios públicos ede interesse público.

4.3. ZONAMENTO

Importa referir também a concepção de Almeida Garrettrelativamente ao zonamento e o planeamento das unidades resi-denciais. Defende, contrariamente a De Grõer, uma misturadas diferentes classes sociais. De facto, escreveu: «O que éimportante é que nos planeamentos das unidades residenciaisse alojem pessoas das várias classes sociais, tanto quanto possíveldentro da composição de Coimbra, e se não estabeleçam, comose fez no ante-plano, zonas preponderantemente duma classe,como no Loreto e em Santa Clara, embora no intuíto de colocar

(11) Obra citada (6) pág. 80 e 81 e obra citada (7), extra-texto 2.

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Page 44: Pu Para Coimbra

- Zonas residenciais

RI - para classe abastadaR2 - para classe remediadaR3 - para classe médiaR4 - para classe operáriaR5 - residencial central e centro cívico (mista)R3B - residencial central geral

os operários na proximidade da zona industrial. ...Os percursosem Coimbra não são excessivos, não representam um encargonem um desconforto» (12).

O Plano Regulador de Coimbra considerou as seguinteszonas:

- Zonas industriais- Zonas ferroviárias- Zonas portuárias- Cidade universitária- Zonas desportivas- Zonas arqueológicas e turísticas- Zonas urbanas locais

- Zonas comerciais

CI - da Avenida Fernão de MagalhãesCIB - comercial antigaCI C - de Santa ClaraC2 - comercial local

Manteve a estrutura de zonas proposta no ante-plano,acrescentadas das zonas portuárias, ferroviárias, desportivas eurbanas locais.

As grandes diferenças verificaram-se na regulamentação daszonas residenciais.

(12) Obra citada (6) pág. 77.

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Page 45: Pu Para Coimbra

Assim as zonas RI e R2, para as classes abastada e média,são estritamente residenciais, «que convém defender de intro-missões prejudiciais ao seu carácter, tais como oficinas, fábricas,tabernas, lojas e outros serviçoss(B). Nas R3 e R4' «podemexistir pequenos estabelecimentos comerciais ou industriais quea Câmara considere não prejudicarem o seu carácter» (14).

Mas foi no que diz respeito às dimensões mínimas dos lotese número de fogos a construir em cada lote que as alteraçõesforam mais radicais. Traduziram-se fundamentalmente por umaumento de densidade. O objectivo era tornar viável economi-camente a construção.

Assim na zona RI passou a ser possível construir I fogoem lote de I 000 metros quadrados ou dois em lote de 1 500m2•O plano De Grõer apenas permitia um fogo para lote de 2000 m2.A percentagem de superfície coberta passou de 10 para 15%.

Nas zonas R2, R3 e R4 passou a ser possível construir deI a 3 fogos, com área de lotes inferiores, para 1 fogo, às previstasno plano De Grõer. Este apenas previa a construção de 1 fogo.

Passou também a ser possível construir, nas zonas R3 e R4blocos residenciais para lotes de, respectivamente, I 800 e I 000 m-,que não eram permitidos pelo Ante-Plano.

O quadro 1 apresenta a caracterização geral das zonas resi-denciais, mistas e comerciais propostas no Plano Regulador.

(13) Obra citada (7), regulamento, pág, 3.(14) Idem, pág. 4

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Page 46: Pu Para Coimbra

QUADRO 1

CARACTERÍSTICAS DAS ZONAS RESIDENCIAIS

% de área (0- área mi- % máxima n." detal da zona a nima do de super- fogos por densidade

Zona urbanizar re- late [lcie lote caracterís ticas dosservada a coberta prédios e fogos

espaços livrespublicas (m2) co (hab/ha)

classeI três pavimentos:abastada R 1 40 15 40rés do chão, andar esotão ou cave, rés do

I chão e andar

I---------

1000 1 30 casas unifamiliares1500 2 40 casas de dois fogos2000 3 45 casas de três fogos

(eliminadas pelo csor)----

classeremediada R2

I40

I20 60 três pavimentos:

rés do chão, andar esotão ou cave, rés dochão e andar

600 1 50 casas unifamiliares1000 2 60 casas de dois fogos1400 3 64 casas de três fogos

classe média R 3 30 25 100 três pavimentos:rés do chão, andar esotão ou cave, rés dochão e andar

1. Prédiosisolados400 1 87.5 casas unifamiliares700 2 110.0 casas de dois fogos1000 3 105.0 casas de três fogos

2. Prédiosgémeos,3 faces360 90m2 1 casas unifarniliares525 132 m2

I 2 casas de dois fogos650 162m2 3 casas de três fagos

3. Prédiosinterioresdos cor-dões

I2 faces340 85 m2 1 casas unifamiliares490 122m2 2 casas de dois fogos

I600 150m2 3 casas de três fogos

(%)

I 1800 30 blocos residenciais

Page 47: Pu Para Coimbra

---_.~-~============------------------

% de área to- área mi- % máxima n:" detal da zona a nima do de super- fogos por densidade

Zona urbanizar re- late jície lote características dosservada a

Icoberta prédios e fogos

espaços livrespublicas (m)2 co (hab/ha)

classe

operária R4 30 (%) 200 dois pavimentos:cave, rés do chão eandar ou rés do chão,andar e vão do telhado

1.Prédiosisolados

200] 30 I 175 casas unifamiliares300 30 2 233 casas de dois fogos400 casas de três fogos

2.Prédiosgémeos ecom 3 fa-ces180 54 m2 casas unifamiliares240 72 m2 casas de dois fogos290 84 m2 casas de três fogos-----3. Prédiosinteriorescom 2 fa-ces170 51 m2 casas unifamiliares225 67.5m2 casas de dois fogos260 78 m2 casas de três fogos1000 blocos residenciais

(%)centro cívico R 5 40 casas colectivas:

rés do chão e 3 andares(ou mais um pavimentono caso de desafogo oupartido arquitectónicode valor)

central R3B 25 casas isoladas ou se-guidas:rés do chão e doisandares(ou mais um pavimentono caso de desafogo oupartido arquitectónicode valor)

comercialcentral C 1 identico à R 5comerciallocal C2 identico à R 3

Page 48: Pu Para Coimbra

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5 - BASES DO PLANO

5.1. POPULAÇÃO

O horizonte do plano foi fixado em 1990. A populaçãoprovável foi a indicada pelo parecer do Conselho Superior deObras Publicas elaborado para o Relatório das Comunicações:120000 habitantes. De Grõer tinha estimado para a mesmadata 100000 a 110000 habitantes.

A população em 1955, ano da elaboração do plano, foiestimada em 50000 habitantes (em 1950a cidade tinha 48 858habi-tantes).

Durante o período de vigência do plano a cidade aumentavade 70000 habitantes. Almeida Garrett considerou, tal comoDe Grõer que 5000 habitantes se alojariam nos espaços livresda aglomeração actual e que os restantes 65 000 seriam alojadosnas extensões a prever, dimensionadas com base no princípiodas unidades residenciais.

As unidades residenciais foram projectadas para todas asclasses e segundo a composição social da população de Coimbra.

O arquitecto De Grõer tinha admitido que Coimbra nãotinha probabilidades de se transformar numa cidade industrial,pelo que considerou a composição social da população de umacidade padrão. Almeida Garrett, por outro lado, constatandoo grande desenvolvimento industrial de Coimbra, verificadosobretudo ao longo da EN 1 na direcção do Porto, admitiu ocontrário (15). Considerou então a seguinte composição socialda população:

classe operáriaclasse médiaclasse remediadaclasse abastadapopulação flutuante

zona central60%12%10%8%10%

extensões66,713,211,28,9

(15) Obra citada (6) pág. 7.

Page 49: Pu Para Coimbra

Aparece uma nova classe, a remediada por redução daspercentagens das classes média e abastada. As caracteristicasda composição social duma cidade industrial foram conside-radas apenas nas extensões, dado não existir aí população flutuante.

Para dimensionamento dos espaços a ocupar por esta popula-ção o plano considerou 200 habitantes por hectare para a classeoperária, 100 para a média, 60 para a remediada e 40 para aabastada: De Grõer tinha considerado, respectivamente paraas classes operária média e abastada, 100, 70 e 30 habitantespor hectare.

Estes dois critérios permitiram concluir que seriam neces-sários 567,6 hectares para alojar 43300 habitantes pertencentesà classe operária (216,5 ha), 8700 à classe média (87,0 ha), 7300à classe remediada (121,6 ha) e 5700 à classe abastada (142,5 ha).

5.2. EXTENSÕES E ARRANJO DAS ÁREAS URBANAS

Almeida Garrett aceitou como boas as direcções de expansãoconsideradas pelo arquitecto De Groer e considerou as seguintesseis zonas para extensões da cidade:

- Zona do Loreto-Coselhas, que corresponde à extensãonoroeste do ante-plano De Grõer;

- Zona da Conchada-Montarroio-Celas, que correspondeà nordeste;

- Zona de Santo António dos Olivais, a leste da de Celase até Tovim;

- Zona do Calhabé, que corresponde à extensão sueste- Zona de Cheira, a sueste da linha da Lousã;- Zona da Arregaça, para poente da de Cheira;- Zona de Santa Clara Nova, que corresponde à extensão

de Santa Clara proposta no plano De Grõer,

o plano previu que estas zonas fossem organizadas em uni-dades residenciais a pormenorizar em planos parciais e que apenasfossem ocupados os terrenos mais favoraveis. Foram indicadasas características de cada zona e considerar nos planos de por-

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Page 50: Pu Para Coimbra

" Área Área Área Urba- Povoa- População DensidadeTotal Rural nizável mento média na

zonaBa. Ba. Ba. Bab./Ba. Bab. Bab./Ba.

LoretoCoselhas 135 44 91 75 6800 50ConchadaMontarroio 120 40 80 100 8000 67Celas 90 20 70 150 10500 116St. o Antôniodos Olivais 160 82 78 100 7800 48,5Calhabé 96 17 79 150 11800 123Cheira 104 34 70 75/150* 5250/10500* 50/100,96*Arregaça 73 21 52 75/100* 3900/5200* 53/71,2*Santa ClaraNova 157 I 77 80 100 8000 51

menor, nomeadamente as densidades médias de ocupação 'popula-cional segundo a natureza do terreno e o carácter social prepon-derante: «mais densas em Celas e no Calhabé-150 habJha;menos densas no Loreto-Coselhas, na Cheira e na Arregaça- 75 hab/ha» (16). O quadro seguinte apresenta as caracteris-ticas de cada zona. «Em cada uma das unidades residenciaisse procurará dispor o equipamento de escolas, jardins, edifíciosreligiosos e serviços vários que lhe garantam uma vida própriamais cómoda, sem grandes deslocações para o necessário diaa dia» (17).

TotaiS 100 162050/68600*166/73,37*935 335 600

•. alteração pelo CSOP.

A Coimbra de então foi dividida em três zonas:

- Zona comercial central, na Baixa e à saída da pontedo lado de Santa Clara;

(16) Obra citada (7) pág, 17.(17) Idem.

53

Page 51: Pu Para Coimbra

- Zona residencial central, o restante território comexclusão da

- Cidade Universitária.

A cidade universitária não foi, tal como no ante-plano,considerada pelo engenheiro urbanista. Contudo o parecer doCSOP entendeu, e o Ministro aprovou, que o plano reguladordeveria prever «qualquer extensão para ampliação futura, eque pode vir a ser necessária para a criação de novas faculdades,institutos de investigação, etc. ou mesmo para residencias dosestudantes.

Como relativamente próximo e em óptimas condições deexposição e de relevo se encontram localizados dois grandesestabelecimentos que, talvez, no futuro - a exemplo do que jáse tem feito noutras cidades do país - mereçam ser retiradosdo centro de Coimbra e que são a Penitenciária e o Quartel deInfantaria n.v 12» (18), Almeida Garrett ampliou a zona daCidade Universitária abrangendo aqueles dois edifícios.

5.3. CIRCULAÇÃO E TRÁFEGO

(18) Obra citada (6) pág. 67.(19) Obra citada (7) pág. 9.(20) Idem, pág. 9.

5.3.1. Por Caminho de Ferro

Por Portaria de 16 de Abril de 1943 foi nomeada uma Comis-são para «reunir os elementos, e estudos necessários e proporos esquemas das obras a realizar tendo em atenção os aspectosurbanísticos e hidraulicos» (19) do rio Mondego, e os resultadosforam apreciados no parecer do Conselho Superior de ObrasPúblicas n.v 1 547 de 21 de Setembro de 1945. O Plano Regu-lador de 1959 tomou em consideração estes dois documentospelo que, no que diz respeito à circulação ferroviária, apontouas seguintes soluções (20):

- criação de nova estação para a Linha do Norte comespaço suficiente para um bom desafogo e para a instalação de

54

Page 52: Pu Para Coimbra

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armazéns e depósitos. O local indicado situou-se a poente daactual Coimbra B nos terrenos que se estendem até ao Rio Velhodepois de convenientemente aterrados;

~ eliminação do Ramal de Coimbra, vencendo-se a dis-tância do centro da cidade por um eficiente transporte colectivo;

- transferência da «Linha da Lousã para Santa Clara,utilizando a actual ponte da C.P. e passando em túnel o montepara seguir paralela ao rio Mondego até ao rio Ceira, vencidoo qual por uma ponte, retomaria a actual linha ao Km 6,200para Lousã e Serpins».

O CSOP entendeu ainda que se deveria prolongar esta linhaaté ligação com a da Beira Baixa nas proximidades de Gouveia.

Deste modo a cidade ficaria ligada por caminho de ferro aoNorte e ao Sul (linha do Norte), ao interior (Lousã-Beira Alta)e ao mar (Alfarelos-Figueira).

5.3.2. Por estrada

O Plano previu, no que diz respeito à rede viária, soluçõespara os dois aspectos a considerar: a circulação exterior e ainterior.

Relativamente à circulação exterior o maior problema foi oda ENI:

- para libertar Coimbra do tráfego de passagem, muitointensivo, da ENI a JAE propôs alterações ao seu traçado queincluiam a construção duma nova ponte a montante da actualda Linha do Norte.

Assim a ENI passaria a seguir por variante sobre a Estradade Eiras até ao nó de Coselhas, atravessava o rio e no nó doAlmegue seguia paralela ao Mondego até encontrar o percursoinicial para Lisboa;

- a ligação para poente far-se-ia a partir do nó do Alme-gue pelo alargamento da EN 110-2 para Alfarelos;

- também a ligação para Penela se faria a partir do nó doAlmegue.

Page 53: Pu Para Coimbra

A partir da grande praça de distribuição em frente aCoselhas, nó de Coselhas, o plano propôs o lançamento dumacircular a contornar a cidade por leste, seguindo o Vale de Coselhasde modo a servir a Zona Industrial e as áreas residenciais deAlto Celas, Santo António dos Olivais e Tovim, para descer aoCalhabé com ligação para a Portela e às EN 110 para Penacovae Mangualde e EN 17 para a Lousã e a Guarda.

A rede das principais vias interiores ficou assim constituída:

- grande artéria marginal ao Mondego partindo do nó deCoselhas pelo leito do actual ramal de Coimbra até à nova pontede Santa Clara;

- completamento da penetração da Avenida Fernão deMagalhães pelo seu prolongamento até ao Largo da Portagem.

Para melhoria do acesso da zona Norte à Baixa foram previs-tas as seguintes ligações:

- manutenção da Avenida de Santa Cruz proposta porDe Grõer ;

-ligação, a partir da Rua da Sofia pela ladeira do Carmoà Travessa de Montarroio e daí à Conchada, que ligará toda azona da Rua António José de Almeida à Baixa e ao futuro Mer-cado a localizar no terreiro da Erva;

-ligação, a partir da Rua da Figueira da Foz ao largoda Conchada, em frente ao Cemitério, de modo a ligar maisrapidamente esta zona à estação. Ê a actual Rua de Aveiro.

Para a zona Sul, que tem na Estrada da Beira a sua princi-pal ligação, entendeu o urbanista conveniente prever outra liga-ção para atender ao desenvolvimento que se pretende dar àsunidades residenciais do Calhabé, da Cheira e da Arregaça.Manteve assim a ideia de Avenida de Lousã prevista pelo ar qui-tecto De Grõer sobre a actual linha do Caminho de Ferro daLousã,a desaparecer.

Para atender às necessidades do tráfego de passageiros oplano previu a construção de duas centrais de camionagem:uma localizada próximo da estação dos Caminhos de Ferro e a

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Page 54: Pu Para Coimbra

57

outra mais central, possíve1menteno local da actual estação deCoimbra B, prevista desaparecer.

O Plano inclui os perfis transversais tipo para ruas de 10;11,5; 12; 14,50; 15; 17 e 22 metros e recomendou as seguinteslargura consoante o tipo de vias:

20 m20 mmelhorar e alargar tanto quantopossívelvariantes com 20 m, ou alarga-mento até 15 m se não forempossíveis as variantes

radiais secundárias 15 m

artérias principais de área central 20 m

tipoCircular exteriorCircular médiaCircular interior

largura

radiais principais

5.3.3. Fluvial

O rio Mondego foi outrora navegável até ao Porto da-Raiva.Almeida Garrett deu, no seu plano, grande relevo ao Mondegoconsiderando-o nos seus quatro aspectos:

- como meio de comunicação;- como vazadouro dos esgotos da cidade;- como local para actividades desportivas;- como elemento de valorização estética.

O rio Mondego foi igualmente objecto de estudos da Comis-são acima referida. «Ao urbanista encarregado da revisão doante-plano De Grõer só competia ter em atenção tais estudos,pronunciando-se pelas soluções aí apontadas que fossem maisfavoráveis à urbanização deCoimbra».

Manteve as seguintes sugestões da Comissão:

- construção deum canal anexo à nova estação dos caminhosde ferro;

- construção de uma doca na margem esquerda que loca-lizou junto da Zona Industrial de Bencanta;

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- arranjo das rampas e cais existentes na margem direitado rio;

- fixação de um único leito ao rio a montante da linhaférrea do norte, deixando bom terreno livre, necessário à novaestação dos caminhos de ferro e ao desenvolvimento da cidadepara poente (21).

Almeida Garrett propôs que a defesa do rio se fizesse pelamargem direita do Rio Velho, «que será o canal para a doca daestação e servirá de descarregador na ocasião das cheias», e pelamargem esquerda do actual rio.

5.4. ZONAS INDUSTRIAIS

o plano De Grõer apenas tinha previsto as zonas industriaisNorte e de Coselhas. O engenheiro Almeida Garrett propôsseis zonas industriais assim distribuidas:

Para indústria média- Vale de Coselhas - apenas com instalações fabris na

parte alta e defendendo os terrenos agrícolas;- Loreto - a norte da estação, prolongada até ao Mata-

douro e até à variante a ENl pela estrada de Eiras;- Cheira;-Arregaça.Para indústria pesada- Bencanta.

Estas áreas foram assim distribuídas para atenderem àsnecessidades crescentes da procura industrial em Coimbra e poroutro lado para se localizarem próximo das residencias operárias.

5.5. ZONAS DE DESPORTOS NÁUTICOS DE SANTA CLARA

O plano previu a utilização do rio Mondego para actividadesdesportivas náuticas. Propôs então a construção de um «dique

(21) Obra citada (7) pág. 7 e 8.

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descarregador junto ao choupal que desse permanentemente, emfrente à cidade, um mínimo de meio metro de água» (22). O localque o urbanista considerou mais adequado à instalação de des-portos náuticos foi a margem esquerda próximo da Ponte deSanta Clara, por o terreno ser fundo «e facilitar o estabelecimentodum braço de alimentação duma grande piscina» (23).

Entendeu o urbanista que aí se poderiam consentir as insta-lações pedidas pelo Sport Clube Conimbricense e pelo ClubeFutebol 'de Santa Clara, bem como construir as instalaçõesdesportivas da Associação Académica «e não no terreno sempreacanhado e insuficiente do Parque de Santa Cruz» (24).

6 - OS PROBLEMAS DE GESTÃO URBANÍSTICA

O plano regulador inclui um capítulo, designado por «Urba-nizações Particulares» (25) onde trata da questão da imple-mentação do plano.

Criticando «o sistema adoptado em Coimbra de serem osparticulares a definir o plano da expansão da cidade propondoa abertura de ruas e o parcelamento dos terrenos que possuem»observa que «nem sempre» se conseguirá assim um crescimentometódico e orgânico da cidade.

Considerou que esta política foi resultante dos «fracos recursosdo Munícipio que lhe não permitem fazer largos investimentosno campo de terrenos». Considerou também que sem essesrecursos não é possível outra forma de urbanizar, mas já é possívelcoordenar e orientar a iniciativa privada subordinando-os aointeresse geral.

Foi de resto esta opinião do CSOP que o Ministro apoiou:

«A dificuldade de grandes investimentos das administraçõesmunicipais na aquisição dos terrenos necessários para a expansãodos aglomerados populacionais mais importantes, pode efectiva-

(22) Obra citada (7) pág. 9.(23) Obra citada (6) pág. 104(24) Idem. Em 1959 já estavam adiantadas as obras da «Zona Des-

portiva Universitária».

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mente ser suprida pelo concurso daquelas actividades (parti-culares). Tudo está em que estas sejam subordinadas a normasrigorosas e cuidadosamente estudadas, que obviem aos gravesinconvenientes, infelizmente tão frequentes, de que pode enfer-mar semelhante orientação».

Almeída Garrett propõe então as seguintes medidas:

- elaboração de planos parciais das unidades residenciaise outras zonas do plano de molde a definir a orientação geral adar a essas zonas e à qual a iniciativaparticular se terá de submeter«no interesse da cidade e portanto, também no próprio»;

- consideração nos planos parciais de todos os parcela-mentos já autorizados, sendo respeitados desde que não preju-diquem o resultado geral a atingir;

- quando forem os particulares que cedam os terrenos paraas ruas, deverá ser feito o estudo económico do custo das obrasde urbanização (pavimentação, infraestruturas, etc.) e entregue,em terrenos, o valor desse custo acrescido da mais valia sobreos terrenos sobrantes;

- expropriação, sempre que se torne conveniente, peloMunícipio dos terrenos necessários à abertura de novas ruas erespectivas faixas de 50 metros, como a lei permite.

(25) Obra citada (6) pág. 90 e 91.

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ÍNDICE

Págs.1. HISTORIAL DO PLANO 39

2. os ELEMENTOS CONSTITUINTES DO PLANO REGULADOR DE 1959 40

3. OBJECTIVOS DO PLANO • 40

4. CONCEPÇÃO DE PLANEAMENTO E DE ORGANIZAÇÃO URBANA 42

4.1. Plano Regulador 42

4.2. Unidades Residenciais 43

4.3. Zonamento 46

5. BASES DO PLANO 51

5.1. População 51

5.2. Extensões e arranjo das áreas urbanas 52

5.3. Circulação e Tráfego 54

5.3.1. Por caminho de ferro . 54

5.3.2. Por estrada 55

1 - Circulação externa 55

2 - Circulação interna 56

3 - Perfis transversais 57

5.3.3. Fluvial 57

5.4. Zonas industriais 58

5.5. Zona de desportos náuticos de Santa Clara 58

6. os PROBLEMAS DA GESTÃO URBANíSTICA 59

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3-0 PLANO COSTA LOBO-ANOS 70*

1. INTRODUÇÃO

Julga-se que, dos três planos de urbanização elaborados,desde 1940até hoje, para a cidade de Coimbra, nenhum foi tãofortemente criticado e contestado como o Plano Costa Lobo.Igualmente criticado e contestado foi, e continua a ser, o urbanistaseu autor e consultor da Câmara.

De facto foi logo após o 25 de Abril de 1974que, em reuniãopública realizada no Salão Nobre da Câmara Municipal «cercade 200 técnicos, proprietários e municípes da cidade aprovaramum documento em que foi entregue ao Presidente da ComissãoAdministrativa. Em tão notável documento, em nome de todaa cidade, os «municípes, técnicos, industriais de construção,proprietários, trabalhadores e patrões de actividade e de bens,de longe ou de perto interessados na Construção Civil e Urba-nização da cidade», por considerarem «precários e inaceitáveiso funcionamento, organização e consequente incapacidade dosdepartamentos municipais» ligados à construção e urbanizaçãolocais, e lesivas as «decorrentes relações de tais departamentoscom municípes e técnicos inscritos»; por terem, ainda, por«anárquica, insuficiente, contraditória e incapaz toda a regula-mentação técnica e administrativa» que lhes respeita, requeriam«imediatas e eficientes medidas» para um saneamento e reestru-turação do serviço de obras e de urbanização municipal, a revisãoe substituição de toda a regulamentação técnica e administrativainteressante e a imediata rescisão do contrato com o urbanista» (1).

* Conferência proferida no Museu Nacional de Machado de Castroem 25/05/82.

(1) Almeida, C. - A urbanização Fascista e os Trabalhadores, Atlãn-tida Editora, Coimbra (1974), págs, 20 e 21.

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Poder-se-ia pensar, porém, que tais contestações e críticasfossem exclusivamente fruto dos momentos mais confusos eexaltados da «revolução» e com eles se acabassem. Tal não severificou, pois, uma vez «acalmados os ânimos», continuou aser frequente ler «ataques» nos jornais, de âmbito local e nacional,ao plano e ao urbanista. Tal leitura deixou perceber que oplano e o seu autor eram os únicos responsáveis por todos os«males» da cidade. Sindicâncias foram superiormente ordenadas.O urbanista a tudo sobreviveu.

Seria importante, para a história do planeamento em Por-tugal, dissecar rigorosamente todo este processo e aclarar osmotivos que levaram as pessoas a dizer e contradizer. Talporém, não é o objectivo deste trabalho. É apenas o de analisaro Plano de Coimbra (1974) que dizem que Coimbra não tem.

2. HISTORIAL DO PLANO

O estudo do Plano de Coimbra 1974 começou com a ela-boração do Plano Concelhio de 1970. De facto, embora inexis-tente como figura legal, foi entregue em 20 de Dezembro de 1970o «Plano de Urbanização de Coimbra 1970, Ordenamento doConcelho», elaborado conjuntamente pelo Gabinete de Urba-nização da Câmara e pela equipa do urbanista consultor.

Previsto, para ser totalmente executado nos Serviços TécnicosCamarários acabou, por dificuldades de pessoal e prazo, porpor ser concluído pela equipa do urbanista consultor. Cobroueste, de honorários, 300 contos.

Foi estudado em sequência do Plano Regulador de Coimbra,de autoria do Prof. Eng. o Almeida Garrett, que, «aprovado pordespacho ministerial de 17 de Fevereiro de 1964, começava arevelar-se desactualizado» (2).

A sua elaboração foi acompanhada, por despacho minis-terial em resposta à solicitação da Câmara proposta pelo urbanista,

(2) Parecer de revisão n.v 17. Plano Geral de Urbanização do Con-celho de Coimbra, pág. 1.

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pelo Inspector Superior de Obras Públicas, arquitecto InácioPeres Femandes, relator do Conselho Superior de Obras Públicas,coadjuvado pelo arquitecto Vasco Geraldes Cardoso e peloEngenheiro José de Matos Cardoso da Direcção Geral dos Ser-viços de Urbanização. «Por intermédio destes técnicos mantevea Direcção Geral um contacto permanente com o urbanista,quer no próprio «atelier», em Lisboa, quer na Câmara Municipalde Coimbra onde o trabalho esteve exposto e patente aopúblico» (3).

Enviado à Direcção Geral dos Serviços de Urbanizaçãofoi objecto do Parecer de Revisão n.> 17 de 23 de Junhode 1972 elaborado pela Comissão de Revisão constituído peloarquitecto Luis Xavier e pelo Engenheiro Matos Cardoso. Talparecer concluiu que «o trabalho assenta em bases sólidas deinquérito e traduz, por suas linhas mestras, todo um contextode normas e directrizes ajustadas à realidade.

Como consequência, uma vez completado, de acordo como Dec. Lei n.v 560/71e Decreto Lei n.O561/71,com os elementosexigidos por esse diploma legislativo, julga-se merecedor deaprovação como ponto base para os estudos complementares(planos parciais de urbanização e planos de pormenor) que terãode seguir-se para lhe conferir a necessária objectividade» (4).

Enviado, conjuntamente com este parecer e os das outrasentidades oficiais(5) ao Conselho Superior de Obras Públicasfoi objecto do Parecer n.v 3908 de 27 de Fevereiro de 1973tendosido relatores o Engenheiro Inspector Geral Felix do Amaroe o Engenheiro Inspector Superior Barbosa Perdigão que concluíaque o plano «constitui um trabalho digno do maior apreço emerece aprovação tanto para prosseguimento dos estudos como

(3) Idem, pág, 1 e 2.(4) Idem, pág. 37.(5) Direcção Geral das Construções Escolares, Direcção Geral dos

Serviços Hidráulicos, Direcção Geral dos Serviços Industriais, DirecçãoGeral das Construções Hospitalares, Direcção Geral dos Edifícios e Monu-mentos Nacionais, Junta Autónoma das Estradas e Direcção Geral dos Ser-viços Agrícolas.

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<

para orientar desde já a utilização do território do concelho, umavez tidas em conta as observações formuladas» (6).

Este parecer foi homologado a 18 de Julho de 1973 peloSecretário de Estado de Urbanismo e Habitação Luis Nogueirade Brito, «salvo no que respeita à caracterização do Plano que,não se integrando em qualquer dos esquemas definidos noDec, Lei n.v 560/71 de 17 de Setembro, vai aprovado, nos termospropostos pelo Conselho, como elemento base de orientaçãopara ser utilizado pela Câmara Municipal na revisão do PlanoGeral de Urbanização de Coimbra, bem como na elaboraçãode quaisquer outros planos que venham a mostrar-se necessá-rios» (7).

O Secretário de Estado não homologou, portanto, o parecerdo CSOP aprovando o plano no sentido de «orientar desde jáa utilização do território concelhio». De facto a legislaçãourbanística então em vigor não previa a elaboração de planosde escalão concelhio e o Secretário de Estado, como jurista,não podia aceitar a aprovação efectiva dum plano deste escalão.

Importa referir que os planos de escalão concelhio apenasviriam a ficar consagrados na lei depois de 25 de Abril de 1974,com as Leis n.v 79/77, Atribuições das Autarquias e Competên-cias dos respectivos orgãos e Lei 208/82, Plano Director Muni-cipal. Por outro lado, e apesar de legalmente inexistentes, nãofoi o Plano de Coimbra o primeiro plano concelhio a ser ela-borado pelo urbanista; Antes dele foram elaborados, entreoutros, os planos concelhios de Figueiró dos Vinhos, 1969,Silves e Elvas.

Sendo hoje evidente a necessidade da elaboração de PlanosDirectores Municipais que definam as linhas mestras de desen-volvimento dos concelhos e portanto dos seus aglomerados,nem sempre essa evidência foi patente.

Foi uma longa luta travada na discussão teórica e na práticaprofissional dos urbanistas mais responsáveis que conduziu a

(6) Parecer n.O 3908 do CSOP sobre o Plano de Urbanização de Coim-bra 1979. Ordenamento do Concelho, pág. 95.

(7) Idem, pág. 1.

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essa evidência. Apesar disso as leis urbanísticas de 1971 nãoconsagraram essa figura. Foi preciso uma revolução.

Ainda como estudos prévios indispensáveis à elaboraçãodo plano de urbanização da cidade importa referir dois trabalhosde investigação relacionados com o enquadramento de Coimbrae levadas a efeito a pedido da Câmara Municipal (também porproposta do urbanista).

Trata-se, no primeiro caso, dos estudos de enquadramentoda cidade de Coimbra como polo da Região Centro e suas poten-cialidades de desenvolvimento, elaborado pelo Centro de Estudosde Planeamento do Secretariado Técnico de Planeamento, depen-dente da Presidência do Conselho (8) e, no segundo caso, doestudo do limite urbano da cidade e sua relação com o povoa-mento envolvente, elaborado pelo Centro de Estudos de Urba-nismo e Habitação Engenheiro Duarte Pacheco (9).

Embora estes trabalhos tenham sido publicados posterior-mente à conclusão do Plano, o seu conteúdo «foi tido na devidaconta, mercê dos estreitos contactos mantidos com os referidosCentros de Estudo» (10).

O Plano Geral de Urbanização de Coimbra, Plano de Coim-bra 1974 elaborado praticamente na sua totalidade nos ServiçosTécnicos da Câmara (11), foi apresentado à população em 1975.Foi sujeito a discussão pública (12) e sofreu alterações até 1976,ano em que foi enviado à Direcção Geral de Planeamento Urba-nístico para apreciação.

Entregue no início de 1971 à Direcção Geral dos Serviçosde Urbanização para apreciação o Plano Concelhio viria a seraprovado com condicionantes a 18 de Julho de 1973 com odespacho do Secretário de Estado. Portanto, e apesar do acom-

(8) CEP - Enquadramento de Coimbra na Região.(9) CEHUDP - Concelho de Coimbra, estudo preliminar para o

ordenamento, CEHUDP, DGSU, MOP, sem data.(10) Obra citada 6, pág. 77.(11) O Gabinete de Urbanização foi reforçado por vezes com 2 ou 3

técnicos da equipa de Lisboa.(12) Em reunião de 30 de Julho de 1975 a Comissão Administrativa

da Câmara deliberou por 'unanimidade, que o Plano fosse exposto para conhe-cimento e debate público.

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panhamento da sua elaboração, o Plano Concelhio levou doisanos e meio a ser apreciado.

Em 1979, não estando ainda apreciado o Plano da Cidade,foi elaborado e enviado à DGPU uma «proposta de alteração»com base na Lei n.v 794/76 e designada de «Medidas Preventivas»no sentido de obter cobertura legal para implementação doplano enquanto se aguardava a sua aprovação superior. Talnão foi autorizado, e estas «Medidas Preventivas», foram apenasconsideradas na elaboração do parecer pela Comissão de Revisão.

A Comissão de Revisão, constituída pelos arquitectos LuisXavier, Jaime Dias e João Marta, considerando que «o PlanoGeral de Urbanização de Coimbra (1974) constitui um trabalhode uma maneira geral, bem desenvolvido embora, em algunsaspectos carecendo de melhores esclarecimento e concreti-zação ... (l3) propõe que «enquanto não for aprovado o plano,seja aceite a utilização dos índices indicados no Parecer de Revisão»e recomenda «que a Câmara Municipal promova com urgênciaa correcção e completamente dos elementos em falta, afim dese poder formalizar a aprovação do Plano Geral de Urbanizaçãode Coimbra nos termos legais em vigor» (14).

Este parecer mereceu a concordância do Secretário de Estadode Habitação e Urbanismo por despacho de 28 de Dezembrode 1981 (15).

Durou este processo sete anos. Ou seja, no total, já queo plano da cidade é uma consequência do plano concelhio, noveanos e meio.

Neste momento estão em curso os estudos de revisão dosPlanos 70 e 74.

(13) Parecer da Comissão de Revisão sobre o Plano Geral de Urba-nização de Coimbra, sem data, pág. 73.

(14) Idem pág. 76.(15) Ofício 205/DSEU dirigido à Câmara Municipal de Coimbra

pela DGPU.

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3. ELEMENTOS CONSTITUINTES DO PLANO

O plano de Coimbra 1974 foi apresentado num único volumecontendo as peças escritas e as peças desenhadas.

As peças escritas contém 9 capítulos. O segundo, Cons-tituição do Plano e sua Efectividade, sintetiza a organização doplano afirmando que assim se fez «para satisfação do Dec. Lein.v 560/71» (16).

Podem considerar-se estruturadas em quatro partes funda-mentais:

- elementos de carácter geral (capítulos 0,1 e 2);- análise e diagnóstico da situação (capítulos 3 e 4);- descrição e justificação da solução proposta (capítulo 5);- aspectos de gestão e implementação do plano (capítulos 6, 7

e 8, sendo este o Regulamento).

As peças desenhadas, no total de 49, foram apresentadasem dois conjuntos:

- um con~unto relativo à fase de inquérito, constituído -por34 peças à escala 1/10.000 (com excepção da peça 9a,«Protecção a imóveis classificados» que foi desenhadaà escala 1/5.000);

- outro conjunto, de 15 peças, relativo à fase de proposta.Este segundo grupo, que constitui o plano no seu aspectoformal, pode por sua vez considerar-se integrado portrês importantes sub-conjuntos:

- o primeiro, inclui 5 peças à escala 1/10.000, rela-tivas à Potencialidade dos Espaços (34), Estrutu-ras (35), Sistema Viário e de Circulação (36 e 37),Património Monumental (38) e Zonas Verdes (39).Cada peça faz ressaltar, portanto, um aspectoparticular importante a considerar no Plano;

- o segundo é constituído pela Planta de Síntesedesdobrada em oito folhas. Esta peça é a mais

(16) C. M. C. j OUjGU - Plano de Coimbra 1974, pág, 6.

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importante das peças exigidas pelo referido Dec.Lei. Foi elaborada à escala 1/10.000 para operímetro urbano da cidade, 1/25.000 para a ZonaRural de Protecção e 1/5.000 para a grande malhacentral da área urbana;

- finalmente o terceiro subconjunto é constituídopor uma única e importante peça, a Planta deGestão.

4. CONCEPÇÃO DE PLANEAMENTO E DE ORGANI-ZAÇÃO URBANA

O Plano não inclui um capítulo exclusivamente dedicadoàs concepções urbanísticas do autor. Contudo a sua leituramais atenta permite identificar as principais ideias referentes,quer ao conceito de planeamento quer de plano.

4.1 - CONCEITO DE PLANEAMENTO

Assim, no que respeita a concepções de planeamento podemapontar-se as seguintes:

- integração de espaços desde o nível local ao regional enacional;

- actividade contínua a ser conduzida por equipa perma-nente que inclui a própria administração (integração dotempo);

- actividade participada pela população;- actividade de gestão das iniciativas privadas e públicas;- comando do desenvolvimento urbanístico da cidade

através da iniciativa pública.

De facto, e no que diz respeito à primeira concepção apontada,os estudos concelhio e de enquadramento regional anterior-mente referidos evidenciam esta preocupação. É verdade que oPlano De Grõer afíora ligeiramente o nível sub-regional aotratar das aldeias satélites e das ligações de Coimbra ao exterior,

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tal como, aliás, o Plano Almeida Garrett. Porém, em nenhumdos casos foi dado tratamento condigno à inserção da cidade noespaço que organiza. Esta preocupação é tanto mais de realçarquanto é verdade que, conforme também foi referido, não haviacobertura legal para a elaboração de planos concelhios.

De resto o próprio urbanista ao referir-se ao planeamentoconsidera que se trata «duma actividade que não pode deixarde ser permanente e sem soluções de continuidade no espaço» (17).

A segunda preocupação ressalta por um lado desta mesmaopinião e por outro das propostas de reestruturação dos orgãostécnicos e de decisão camarários e intermunicipais.

De facto o urbanista sugere a criação dum Gabinete deUrbanização Inter-Concelhio constituído por II Serviços e12 técnicos superiores permanentes e um Conselho de Gestãopresidido por um delegado da Direcção Geral da AdministraçãoLocal (18). Propõe ainda a «organização imediata dum Gabi-nete de Urbanização para o concelho de Coimbra (forma embrio-nária do Gabinete Inter-Concelhio) ...» sob a égide do Conselhode Gestão e com a participação de representantes locais e dasJuntas de Freguesia que «manteriam uma posição de partici-pação na definição de políticas de desenvolvimento urbanístico»,dotado de meios financeiros adequados (19).

A concepção de planeamento como actividade de gestãodas iniciativas privadas e públicas com o desenvolvimento urba-nístico da cidade comandado pela iniciativa pública ressalta

(17) CMCjSOUjGU. Plano de Urbanização de Coimbra 1970,ordenamento do Concelho, pág. 3.

(18) Ob. cito 15, pág. 66, 67, 68 e 69. O Gabinete de Urbanizaçãoseria constituído pelos seguintes serviços: Informação e Controle, EstudosComplementares, Plano Geral de Enquadramento, Banco de Dados e Inqué-rito, Cartas, Fotografias e Topografia, Relações Exteriores, PaisagísticoUrbano e Rural, Acompanhamento da Habitação, Banco de Terrenos, Con-cessão de Alvarás e Negociação de Acordos, Operacionais e de Intervenção.O Conselho de Gestão constaria além do presidente, de vogais delegados daDirecção Geral dos Serviços de Urbanização, da Comissão da Região Planodo Centro (ou da Junta Distrital) e das Autarquias (1 pessoa por cada 16.000habitantes).

(19) Idem, pág. 69.

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por um lado das próprias conce-pções urbanísticas, adiante des-critas, por outro das estruturas técnicas e de decisão propostase finalmente pelas áreas de expropriação sistemática apontadasnos estudos (Ingote e Santa Clara além de «cinco soluções, nãoalternativas mas complementares das anteriores») (20).

É esta uma concepção de planeamento radicalmente dife-rente da vigente entre nós à época. Embora alguns aspectosdesta concepção já tivessem sido afiorados no Plano de 1970,foi certamente a revolução de Abril que criou condições para astentar implementar. Afirmou o urbanista:

«Em nosso entender, há que renovar os métodos de estudoe de apresentação dos planos de urbanização. Iremos tentarseguir uma fórmula simultaneamente dinâmica, estruturante eintegrada na legislação vigente. Conta-se também, com a posiçãoactiva por parte da Câmara Municipal e da população emgeral» (21).

4.2 - CONCEITO D E PLANO E MODELOS URBANÍSTICOS

Também no que diz respeito ao plano foi inovadora a con-cepção do urbanista:

«o que está concluído é a apresentação gráfica do Plano 1974,que é um instantâneo do verdadeiro plano, pois este é um p1ano--processo que tem, além daquele, a dimensão tempo» (22). Por-tanto o plano constituindo o «out-put» do processo de planea-mento em determinado momento, e com um carácter dinâmicoe não estático. A concepção tradicional vigente concebia oplano como uma antevisão estática da cidade no horizonte pre-visto (23), - uma bonita «pintura» para «enfeitar» os gabinetesdos presidentes das câmaras, como se veio a verificar.

Um outro aspecto da concepção do urbanista relativo aoplano é considerá-lo como mero instrumento de gestão: «entendo

(20) Ibidem, pág. 63.(21) Ibidem, pág. l.(22) Costa Lobo, na informação de apresentação do plano à Câmara.(23) Designado «blue print», cópia ozalid, na terminologia da língua

inglesa.

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que o planeamento deve ser participado e o plano, deve, assim,permitir gerir o espaço dando oportunidades a todos os indivíduosreduzindo a reacção com um factor distributivo da possibilidadede aproveitamento do solo. Prevalentes são, portanto, os indi-cadores de gestão» (24).

Como instrumento de gestão o plano, foi concebido comtrês linhas mestras fundamentais:

- definidor de aptidões do solo para os diferentes usos;- definidor das principais condicionantes e salvaguardadas

a garantir a todo o custo (linhas de drenagem principais,vias e enfiamentos, património monumental, valoresculturais e turísticos, etc.);

- estruturante dos diferentes espaços através da definiçãode malhas e enfiamentos principais bem como da defi-nição duma rede viária de interligação entre as malhase entre a cidade e a região.

Quanto aos aspectos relativos ao arranjo da área urbana oplano considerou três componentes:

- as malhas como unidades urbanas básicas de organi-zação da cidade e os sectores (sub-divisão das malhas)como «unidades para estudos urbanísticos de pormenor,índices e áreas de cedência» (25);

- um modelo de 8 hectares orientador das acções de gestãoe base de estruturação da ocupação das malhas;

- um zonamento, radicalmente diferente, em termos dasclasses sociais, dos popostos nos planos De Gréier eAlmeida Garrett.

As malhas foram definidas pelos grandes enfiamentos exis-tentes e propostos que atravessam a área urbana. «Têm umacirculação viária interna independente dessas mesmas grandesvias, além de ligações por meio de nós, nivelados ou não, numa

(24) De entrevista com o urbanista.(25) Ob. cito 16, pág. 35.

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perspectiva de conveniente hierarquização do sistema viário» (26).Os sectores foram «adaptados à geografia física do terreno»Uma malha completa é a dimensão adequada para os estudoscomplementares de urbanização ou de enquadramento de even-tuais loteamentos propostos sem prejuízo das relações de ordemgeral mais ampla e de coordenação do equipamento de ordemsuperior» (27).

A área urbana foi organizada em 7 malhas e 27 sectores.A grande malha central da área urbana, malha 1, é constituídapor 9 sectores: Alta, Baixa, Montes Claros/Montarroio, SantaCruz, Celas/Olivais, Tovim, Loios, Estádio e Combatentes.

O modelo de 8 hectares «como esquema de equilíbrio paraorientar as acções de gestão» (28) distribui a ocupação do espaçodo modo seguinte:

(dentro do perímetro urbano)- 1 ha - área líquida residencial (para 400 habitantes);- 0,5 ha - zona verde da unidade residencial;- 0,5 ha - equipamento de unidade residencial;- 1 ha - zonas de trabalho e respectivo enquadramento;- 0,5 ha - áreas centrais e comerciais;- 0,5 ha - zonas de recreio urbano;

(fora do perímetro urbano)- 1 ha - grandes áreas verdes sub-urbanas;- 1 ha - reservas naturais e de interesse cultural;- 2 ha - zona agrícola (cerca de 500 m2 por habitante).

(26) Idem. pág. 29.(27) Ibidem, pág. 83.(28) Ibidem, pág. 65.

Para justificar este modelo afirmou o urbanista:

«... partimos duma densidade líquida média de 400 hab/hapor nos parecer a máxima admissível. Máxima para defesados interesses económicos da colectividade, dos proprietáriosde terrenos e dos empresários de construções e urbanizações,mas admissível quanto ao nível de conforto e demais condições

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desejáveis para as zonas residenciais a criar. Esta densidademédia implica uma política de abandono de soluções extensivascom lotes individuais e moradias isoladas .

... Além das áreas residenciais líquidas, poderão encarar-sefora delas, mas dentro das unidades residenciais, as zonas verdes ede equipamento, constituindo, o total, a área bruta. Aquiencontraremos dh = 200 hab/ha e ih = 0,5. O perímetrourbano incluirá, ainda, as zonas de trabalho, as áreas centrais,as zonas de recreio. Finalmente encontraremos, no exteriordos perímetros urbanos, as grandes zonas verdes, sub-urbanas,as reservas naturais e de interesse cultural, as áreas agrícolas...Densidade global urbana, 100 bab/ha, no território considerado,50 hab/ha» (29).

No respeitante ao zonamento o plano considerou as zonashabitacionais, industriais, de equipamento, verdes e mistas.As zonas babitacionais são residenciais integradas. A zonaexterior ao perímetro urbano foi designada de zona rural deprotecção.

A zona rural de protecção, que abrange todo o territórioconcelhio, foi por sua vez subdividida nos quatro sectoresseguintes:

-«A - áreas interiores aos perímetros urbanos (...);- B - áreas de especial interesse agrícola, a defender

doutras utilizações;- C - áreas de mata a estabilizar;- D - áreas fundamentalmente agrícolas e florestais; reser-

vas para futuras expansões urbanas e grandes zonasverdes, protecção paisagísticas» (30).

5. OBJECTlVOS DO PLANO

Os objectivos que o urbanista procurou alcançar com oseu plano aparecem expressamente definidos dos capítulos 1.0 e

(29) Ob. cito 17, pág. 118 e 120.(30) Ob. cito 16, pág. 78.

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4.° do Plano 74 e 9.° do Plano 70. Não surgem como tendosido enunciados pela Administração - posição coerente com oconceito de Planeamento anteriormente referida - mas simpropostos pelo urbanista e aceites por aquela (admitindo quetenha lido e analisado cuidadosamente os planos).

Podem considerar-se dois grupos de objectivos: gerais e«operacionais» .

O mais importante dos objectivos gerais que o urbanistaconsiderou dever alcançar com o seu plano foi «contribuir parao bem comum (31), consciente embora de que «o planeamentourbanístico é uma condição necessária, mas não suficiente,paraatingir os objectivos que as comunidades humanas aspiramatingir», concluindo que «uma boa arrumação, ou o seu planea-mento, para pouco podem servir se outras condições paralelasnão forem satisfeitas. Estão neste caso os aspectos económicosde produção e repartição de benefícios, as garantias de condiçõesde subsistência e de trabalho, a organização social e a coberturaassistencial,a divulgaçãoda cultura, a eficáciada administração,...»

Outros dois objectivos de carácter geral considerados, quealiás decorrem do anterior, podem sintetizar-se em «acelerar ocrescimento da cidade em termos económicos»(32) e «fomentar eapoiar o desenvolvimento... sem prejuízo da qualidade paisa-gística e ambiental da cidade». Quanto a este aspecto opinouo urbanista: «Há que refrear os crescimentos «deslumbrantes»que, afinal, interessam só a muito poucos».

Não se limitando a enunciar estes objectivos o autorrelem-brou as acções propostas no plano para os atingir:

- no que respeita aos aspectos socio-económicos,a operaçãoda Expansão Programada, através da aplicação do Dec.Lei n.v 576/70, proposta já no Plano de 1970, e a levara cabo com o auxílio e patrocínio do Fundo de Fomentoda Habitação e o estabelecimento dum parque industriale doutras zonas industriais com o auxílio e participaçãoda Empresa Pública dos Parques Industriais;

(31) Idem, pág, 37.(32) Ibidem, pág. 3.

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- no que respeita aos aspectos estético-culturais, o inícioda recuperação da antiga Baixade Coimbra com a aberturada Via Central e a implementação do «plano verde»para a cidade.

Outro objectivo geral expresso no plano foi «facilitar odesenvolvimento da cidade de Coimbra como polo regional,orientando a política de terrenos no sentido de garantir a dis-ponibilidade de locais em tempo, lugar e condições úteis para aimplementação de equipamento de interesse regional» (33).

É evidente que não chega indicar objectivos e meios paraos alcançar. Há que verificar se as propostas estão cornpati-bilizadas com eles e é indispensável que a Administração estejainteiessada em os implementar (daí a vantagem em que seja elaa defini-los). Não é, porém, esta a ocasião para dissecar taisproblemas.

Os objectivos, que o autor designou de «operacionais»foram os seguintes (34):

~ de organização da informação e dos estudos - Bancode Dados;

- de enquadramento e retroacção em face do desenvolvi-mento e planeamento regional e nacional - funções dacidade;

- salvaguarda de valores culturais e recursos económicose ecológicos;

- de determinação de capacidades e vocações;- de estruturação espacial, com alternativas e exploração

de consequências e processos de avaliação - valores ecustos sociais;

- de definição dos processos e meios de gestão e partici-pação - dinamização;

- de resolução de problemas-chave e de especial valorestratégico.

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(33) Ob. cito 17, pág. 114.(34) Ob. cito 15, pág. 40.

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Trata-se afinal do enunciado de aspectos da metodologiade planeamento seguida e critérios urbanísticos adoptados.Este enunciado, embora com outra forma, já tinha sido feitono Plano 1970 que concluia: «Estes objectivos implicam a acei-tação da nova medida da cidade do futuro, que poderá ser acidade de hoje, se nós quizermos» (35).

6.1 - DELIMITAÇÃO DA ÁREA URBANA

6. BASES DO PLANO

São três as bases em que assentam as propostas do Planode Coimbra 1974: delimitação da área urbana, população epotencialidades.

O Plano de 1974apenas refere que «A escolha do perímetrourbano e ligações exógenas foram justificadas no Plano de Coim-bra de 1970»(36).

Também os estudos elaborados pelo CEP e pelo CEU-HEDP (8,9) contribuiram para a delimitação da área urbana.Foram cinco os critérios utilizados:

- população, mobilidade geográfica inter-distrital (CEP);

- transferências da população freguesias do centro - fre-guesias da periferia (CEP);

- movimentos pendulares diários (CEP);

- áreas contíguas urbanizadas (CEUHEDP);

- densidades por freguesia (CEP).

(35) Ob. cito 15, pág. 114 e 115.(36) Ob. cito 16, pág. 41.

A delimitação final proposta no Plano Concelhio funda-mentou-se também nos cartogramas com a densidade popula-cional por quadrícula referente a 1969, nos edifícios construídos

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entre 1960 e 1969 e tomou ainda em consideração os limites defreguesia e de áreas inundáveis. Concluiu:

«São quase exclusivamente urbanas as freguesias de Alme-dina, S. Bartolomeu, Sé Nova e Santa Cruz. Também se estãoa preencher e a adensar rapidamente as freguesias de SantoAntónio dos Olivais, Santa Clara, São Martinho do Bispo eEiras. São estas freguesias de incluir, indiscutivelmente noperímetro urbano, como se fez. Também se inclui parte dafreguesia de S. Paulo de Frades, geograficamente integrada noconjunto das freguesias de Santa Cruz, dos Olivais e Eiras.

No sentido poente, na margem esquerda do rio Mondego,parece possível incluir, no perímetro urbano, Ribeira de Fradese parte de Taveiro (além de uma pequena área de Antanhol,para coerência do perímetro). Esta inclusão deve-seao seu impor-tante crescimento» (37).

Foi esta, portanto, a área urbana considerada. O autortem, contudo, consciência da transitoridade desta delimitaçãoquando afirma: «Na sequência dos estudos e numa próximareconsideração do Plano de Coimbra à escala 1/10.000 é deponderar a hipótese de alargar a Ceira o seu perímetro, tendoem conta a vontade manifestada pela sua Junta de Freguesiaem reunião de Outubro de 1974»(38).

6.2 - POPULAÇÃO

O Plano 1974não contém um capítulo relativo aos estudospopu1acionais. O mesmo se verifica no Plano concelhio. É con-tudo neste que se podem descortinar alguns elementos relativosà previsão da população. De facto lê-se, no sub-capítulo quetrata dos aspectos económicos:

«Aceitando um crescimento médio de quase 3% ao ano,nos próximos 10 anos, para a população de Coimbra, que esti-mamos actualmente em cerca de 75.000 habitantes, resultaria

(37) Ob. cito 17, pág, 44.(38) Ob. cito 16, pág, 43.

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um aumento populacional de cerca de 2000 habitantes por ano,aproximadamente 500 fogos» (39).

Lê-se, mais à frente:«Faz-se notar que a previsão de crescimento demográfico

da cidade de 30% por década pressupõe a conjugação dumapolítica central, para fomentar a constituição dum polo regionale duma política local, para lhe permitir o desenvolvimento urba-nístico harmónico e evitar a especulação ou outras situaçõesentravantes do processo sócio-económico. Neste ritmo, passariaa cidade dos seus 75.000 habitantes actuais para 95.000em 1980,120.000em 1990, 155.000em 2000 e 200.000 em 2010. Numahipótese mínima, crescimento de 20% por década, seriam atin-gidos 130.000 habitantes no ano 2000 e 155.000 no ano 2010(dez anos de atraso, nessa altura, em relação do esquema dos30%)>>(40).

QUADRO 1

EVOLUÇÃO POPULACIONAL DE COIMBRA

Anos Concelho Cidade De Grõer Almeida CostaGarrett Lobo

1820 62478 300101930 77439 396471940 85702 41766 50000----1950 98027 I 488581955 50.000--1960 106404 525091970 114586 72142* H2=100.000 75.0001981 147173 93631* 95.000

1990 H1=100.000 120.000 120.000--2000

I

H1=155.000H2=130.oo0

2010

II Hl =200.000H2=155.0oo

* inclui as Freguesias de Eiras e S. Martinho do Bispo; A hipótese H1de Costa Lobo prevê um crescimento de 30% a década; a H2 20%. A hipó-tese H2 de De Grõer deve-se a uma redução no Horizonte do Plano de 50para 30 anos.

(39) Ob. cito 17, pág. 120.(40) Idem, pág. 124.

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Foram estes, supõe-se, os pressupostos populacionais doPlano.

Importa talvez analisar sumariamente o que tem sido aevolução populacional da cidade de Coimbra e comparar comas propostas dos urbanistas. Tal se encontra sintetizado noQuadro 1.

6.3 - POTENCIALIDADES

A terceira base em que assentam as propostas do Plano édesignada de Potencialidades. Trata-se muito simplesmente daclassificação do espaço nas suas características de aptidão parao uso urbano e do cálculo do quantitativo populacional que épossível instalar nos designados «espaços potenciais».

Lê-se no plano de 1974:«Analisando a área em estudo damo--nos conta de dois grandes espaços potenciais. Um, incluindotoda a zona a Norte do Vale de Coselhas e o outro, a extensaárea desde Santà Clara a Taveiro» (41).

Foram considerados espaços «non aedificandi», ou sejanão potenciais, os ocupados pelas linhas de água mais acentuadase todas as encostas voltadas a Norte e aquelas cujo declive fossesuperior a 30%. Não se tiveram em conta, nestas considerações,«a área da cidade considerada antiga, visto já não dispor deespaços livres, nem as zonas que têm já projectado o respectivoplano de ocupação - Santa Clara, Tovins, Vale das Flores,Arregaça e Norton de Matos, Casa Branca e Quinta da Por-tela» (42).

No respeitante aos quantitativos populacionais refere oplano concelhio: «No cartograma n.o 24 procurou introduzir-seuma noção quantitativa das potencialidades de povoamento doconcelho, independentemente dos valores de evolução previstos.Assim, com densidades globais de cerca de 50 habjha em cadamalha, e possível antever a formação de unidades urbanàs com50.000 e 100.000 habitantes, atingindo cerca de 300.000 habi-

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(41) Ob. cito 16, pág. 30.(42) Idem, pág. 31.

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tantes praticamente no perímetro actual da cidade e mais de meiomilhão do perímetro mais amplo assinalado no mesmo .car-tograma» (43).

A Planta de Estrutura elaborada para o Plano 1974 prevê,para a área urbana, um valor máximo de capacidade de 245.000habitantes distribuídos do modo seguinte:

Santa ClaraSão Martinho - TaveiroArregaça - Pinhal de MarrocosZona CentralIngote

SOMA

60.000 hab.55.000 hab.35.000 hab.65.000 hab.30.000 hab.

245.000 hab.

Tendo, portanto, uma capacidade potencial disponívelde 245.000 habitantes admitiu-se que, na hipótese mais opti-mista, a população da cidade atingiria, no ano 2010 (horizontede 40 anos) o total de 200.000 habitantes. A implementar-seo modelo dos 8 hectares a cidade não estaria, nessa data, saturada.

7. PROPOSTAS

7.1":"'- ESTRUTURA

O cartograma n.o 35,' Estrutura, sintetiza a organizaçãodo espaço proposto no plano.

Por um lado são definidas as afectações de uso dos espaços(área central e futuro eixo, expansões prioritárias e outras expan-sões e áreas industriais principais) e por outro a rede viária eferroviária estruturante dele (auto-estrada, principais rodoviasexteriores às malhas e as ferrovias e respectivos centros de coor-denação de transportes).

(43) Ob. cito 17, pág. 110 e 111.

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7.2 ---,CIRCULAÇÃO E TRÁFEGO

Os problemas 'de circulação e tráfego aparecem tratadosdum modo global que inclui as infraestruturas viárias, ferro-viárias, estacionamentos e centros de coordenação de trans-portes, sugestões à circulação de transportes colectivos, medidasde controlo de estacionamento e políticas de preços, com o objec-tivo de evitar a congestão da Baixa.

7.2.1 - Rede viária

No tocante à rede viana o plano considerou o possívelitinerário da futura Auto-Estrada do Norte, o reticulado propostopara o concelho e a necessidade de prever' um sistema viáriohierarquizado.

Assim na margem direita do Mondego «onde os problemassão mais difíceis» o plano previu quatro vias principais: a Cir-cular Externa, a Marginal ao Mondego, a Circular Interna e aAvenida da Lousã.

A Circular Externa contorna a cidade por Nascente e Norte(Vale de Coselhas) e destina-se a facilitar o escoamento do tráfegoprocedente das Beiras com destino ao Norte do País. A CircularInterna é uma duplicação da Externa na parte Norte e que énecessária «dada a diferença de nível existente» (44)~ A Mar-ginal ao Mondego e a Avenida da Lousã facilitam o acesso aocentro. A Marginal ao Mondego é uma via paisagística e aAvenida da Lousã, que separa a grande malha central da malha 4é reforçada pelas ruas do Brasil e da Arregaça.

Ainda na margem direita do Mondego o Plano apontououtras vias «que deverão ser defendidas e beneficiadas, evitandograndes aproveitamentos marginais, problemas de cargas edescargas e dificuldades de estacionamento» (45). Trata-se doseixos Via Central-Avenida Sá da Bandeira, Avenida LourençoAlmeida Azevedo-Olivais, Rua Alexandre Herculano, Alameda

(44) Ob. cito 16, pág. 52.(45) Idem.

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do Jardim Botânico e Avenida Dias da Silva, Ruas de Aveiroe Nicolau Chanterene e também das ruas dos Combatentes,Cidral, Loios, Bissaia Barreto e Celas-Coselhas,

Para a saída Norte o plano propôs uma variante à ENlseguindo pela Estrada de Eiras.

Na margem esquerda as vias principais consideradas foram aAvenida de Bencanta e a Circular Sul que facilitam o escoamentodo tráfego proveniente de Oeste e a variante à ENl para o tráfegoproveniente do Sul.

Todo este esquema assentou na construção da ponte açudee respectivos nós do Almegue e Coselhas e dum anel constituídopor esta, pela de Santa Clara e duas vias de ligação marginandoo Mondego.

Importa ainda referir a opinião do autor quanto ao problemada auto-estrada: «consideramos de rever a urgência do traçadoda auto-estrada em Coimbra, eventualmente concentrando oinvestimento na variante à ENl de Antanhol ao Choupal, NovaPonte sobre o Mondcgo e variante ao ramo Norte da ENl.Este dispositivo incluiria os nós do Almegue e de Coselhas eos acessos ao Centro de Coordenação de Transportes.

Esta obra, feita com o necessário desafogo, permitiria,eventualmente, protelar por alguns anos a realização da auto-"estrada na zona de Coimbra. Em qualquer caso, o dispositivoproposto é indispensável para o funcionamento correcto dacidade» (46).

7.2.2 - Rede ferroviária

Relativamente à rede ferroviária é difícil descortinar notexto as propostas do plano. Parece contudo razoável concluir-seque assentam na transformação do Ramal de Coimbra e dotroço da Linha da Lousã entre a Estação Nova e a Portela demodo a permitirem a circulação dum «eléctrico rápido».

Na Portela localizar-se-ia a estação terminal da Linha daLousã e a cidade ficaria liberta das pesadas composições ferro-

(46) Idem, pág. 51.

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vianas. o tema será retomado no sub-capítulo dos transportescolectivos.

7.2.3 - Parques de estacionamento

o plano previu parques de estacionamento interiores àmalha central e de periferia, estes dissuasores da penetraçãono Centro.

Do primeiro tipo foram previstos 6 parques sob o futuroCentro Cívico: Estação Nova, Via Central, Adro de SantaJusta, Arnado e Av. Fernão de Magalhães/Auto Industrial.

Foram previstos 12 parques dissuasores localizados nosacessos à Área Central:

- 2 do lado Norte, junto ao Centro de Coordenação deTransportes da Estação Velha e no nó de Coselhas;

- 3 do lado Sul, S. José, passagem superior da Arregaçae Sul do Parque da cidade;

- 4 na parte Alta da cidade, evitando o acesso ao centroda Baixa, sob o Mercado, sob a Av. Sá da Bandeira(Poente) sob o actual Campo de Santa Cruz e na Ruade Tomar (terrenos da actual Penitenciária);

- 3 na margem esquerda, variante da ENl, Liceu D. DuartejConvento de Santa Clara a Velha e Estádio Universitário/Hotel.

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7.2.4 - Centros de Coordenação de Transporte

O Plano previu 6 centros de Coordenação de Transporteslocalizados na Estação Velha, S. José, Arregaça, Vale da QuintaAgrícola, Adémia e Portela (47).

7.2.5 - Transportescolectivos

Também no que diz respeito ao problema de transportescolectivos de massa se podem encontrar na memória descritivapropostas relativas a circulação e políticas.

(47) Ob. cito 13, pág. 30 e ob. cito 17, cartograma 35.

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(48) Ob. cito lb, pág. 53.(49) Idem, pág. 54.

7.2.5.1 ,..,--Circulação ferroviária

No tocante à circulação pela rede nacional dos Caminhos deFerro o plano sugere o estabelecimento duma ligação pela Linhado Norte entre Taveiro e Adémia. Diz o autor: «seria impor-tante prever, a longo prazo, a possibilidade de estabelecer umacirculação duplicando a linha de Caminho de Ferro, entreTaveiro e Adérnia com a hipótese de fechar a circulação emtorno dos campos do Mondego» (48).

Sugere também a transformação, como se referiu, da linhados Caminhos de Ferro desde a Estação Velha à Portela de moldea poder aí funcionar um «eléctrico rápido» (Metro de Coimbra)com paragens intermediárias no Amado, Estação Nova, Parque,Ladeira do Baptista, Arregaça, S. José e Casa Branca.

7.2.5.2 - Circulação rodoviária

No tocante à circulação rodoviária o plano distinguiu car-reiras urbanas e sub-urbanas.

As principais carreiras urbanas sugeridas foram:

- do Choupal a S. José, passando pelo Centro;=-Centro, Av.- Sá da Bandeira e contorno do Parque de

Sta. Cruz;

- Volta da Guarda Inglesa atravessando as duas pontes.

A frequência dos transportes colectivos nestas carreiras,refere o autor, «deveriam ser tais que levassem naturalmenteos utentes do Centro a não conduzir para lá o seu transporteprivado». Ainda quanto a políticas de circulação lê-se a seguir:

«0 sistema, associado a uma política de preços de estacionamentoe de proibições de ocupação da via pública na Baixa, teria a elas-ticidade suficiente para se ir adaptando às circunstâncias e àsfases de desenvolvimento da cidade» (49).

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Verifica-seassim que as soluçõese políticas apontadas assen-tam num reforço dos transportes colectivos visando evitar acongestão da Baixa.

Quanto às ligações sub-urbanas o plano, tanto quanto épossível extrair do texto (50), aponta as seguintes:

- para Leste, Penacova;- para Sul, Condeixa e Conimbriga, Cernache, Castelo

Viegas e Ceira;- para Poente, Montemor o Velho, Campos do Mondego,

Figueira da Foz;- para Norte, Bairrada, Curia, Luso-Buçaco.

Trata-se, ao que se supõe, de circuitos sub-urbanos de lazerque complementam os «caminhos de peões, espaços verdes erecintos de recreio e desporto» previstos no plano.

7.3 - PLANO VERDE

Uma das propostas mais importantes do Plano foi a queficou conhecida por «Plano Verde». Tratou-se afinal de definiruma mancha verde da cidade com três objectivos fundamentais:recreio e protecção paisagística, protecção do solo e valorizaçãoestético-cultural da cidade.

Houve a preocupação de interligar o sistema de zonas verdes,e o autor realçou o interesse do «Anel Verde Central que, arealizar-se, seria uma solução do maior interesse para a quali-dade da cidade e sua área central» (51).

Entre as propostas do Plano Verde vale a pena citar:

-ligação do Jardim Botânico ao Parque da Cidade e aoRio;

- aquisição de sítios ao longo do Mondego, para montante,nomeadamente na margem direita e com acesso possível

(50) Neste caso, como aliás noutros, é difícil interpretar a memóriadescritiva do plano. Pode ler-se «também se poderiam facilitar os acessoscolectivos para ...» Idem, pág, 54.

(51) Idem, pág. 50.

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da estrada para Penacova, pequenos espaços onde selocalizariam, à medida da procura, locais de recreio,de repouso, de serviços e de convívio...» (52).

- idêntica aquisição de sítios «para jusante, na margemesquerda e cabeceiras dos Campos do Mondego, espaçosamplos, nomeadamente para os estabelecimentos deparques de campismo, ...».

Integrada no Plano verde pode considerar-se a proposta daconstrução duma ponte de peões sobre o Mondego, ligandoSanta Clara e Estádio Universitário ao Centro Cívico (53).

7.4 - ÁREAS INDUSTRIAIS

No tocante aos espaços reservados para a indústria refereo plano:

«Quanto a áreas industriais, além das que se estendem paraNorte, prevê-se a localização de importantes zonas industriaispara a expansão Oeste. Para Sul, também algumas áreas ficamapontadas para esse fim. Dum modo geral, fica a possibilidadee recomendação de incluir pequena indústria e serviços em todasas malhas da cidade, ressalvados os incómodos para as áreashabitacionais e garantido o bom funcionamento dos tecidos» (54).

7.5 - SÍNTESE E REGULAMENTO

A peça desenhada que formalmente apresentou o Planofoi a Planta de Síntese que, como se referiu, foi desdobrada emoito folhas. Sintetiza, como o nome indica, todas as propostasrelativas aos usos do espaço e sua articulação. Cada folharepresenta uma malha e identifica as áreas preferencialmenteaptas a habitação, equipamento, indústria e verdes bem como arespectiva rede viária interna estruturante.

(52) Idem, pág. 5l.(53) Idem, pág. 53.(54) Idem, pág. 43.

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o último capítulo da memória descritiva foi constituída pelo«Regulamento do Plano de Coimbra 1974». Foi organizadoem três partes, Caderno geral, Normas de protecção aos valoresmateriais e culturais e Gestão do controle urbanístico. Inclui,na parte final quadros de síntese relativos aos índices aplicáveisa loteamentos e construções em cada malha e sector, bem comonotas relativas a áreas e outras observações.

É face aos objectivos que se pode avaliar a coerência dumplano (incluindo o regulamento), e é face ao regulamento que sepode ajuizar do rigor da sua implementação. Também não éeste o momento para tratar destas importantes questões.

8. IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO

8.1 - os PROBLEMAS DA GESTÃO

Tratando-se de um plano classificado «de gestão» serianatural que contivesse, como contém, um capítulo sobre estamatéria. De facto o capítulo 6 debruça-se sobre as medidasde gestão urbanística entre as quais se contam o modelo dos 8 hec-tares e a reestruturação dos órgãos técnicos e de decisão anterior-mente citados, pontos de partida e meios para garantia de umaequilibrada gestão.

Os dois aspectos fundamentais em que o urbanista fez assen-tar as suas propostas de gestão foram o «controlo de expansãourbanas promovidas pela iniciativa privada» e o papel desem-penhado pelas «iniciativas públicas».

Para a iniciativa pública reservou um papel preponderanteconsiderando-a como fundamental para controlar .a privadaatravés da existência de «expansões planeadas e promovidas pelomunicípio, empresa pública para o efeito criada ou sociedadesmistas». Sabedor de que um dos aspectos fundamentais decontrolo é o da propriedade do solo o urbanista recomendou quea Câmara preparasse as estratégias adequadas no sentido de sergarantida a disponibilidade de terrenos «nomeadamente com orecurso generalizado à associação com os proprietários das

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zonas em causa ou, em alternativa, a' . expropriação siste-mática» (55)~

Não se .limitando às recomendações o urbanista propôsduas áreas para expropriação sistemática, Ingote e Santa Claraalémde outras cinco «não alternativas mas complementares dasanteriores: Vale das Flores e Quinta da Portela, Quinta da Várzea(Lages), Vale dos Tovins, Casas Novas e Taveiro, concluindo:«As várias hipóteses atrás expostas permitirão por sua vez umapanóplia de soluções alternantes,atacando uma ou várias frentesao mesmo tempo, graduando prioridades e fazendo ein cadaárea pequenas operações de expropriação sistemática, .de umaforma progressiva ou não» (56).

Para expansão da zona industrial o plano propôs a expro-priação da área Loreto-Pedrulha.

8.2 - FASEAMENTO E FINANCIAMENTO

o Plano inclui ainda um capítulo relativo ao faseamentoe financiamento da sua implementação.

Foram 14 as operações e obras urbanas que o urbanistaconsiderou mais urgentes, à cabeça das quais apontou a «Aqui-sição de 100 ha na área de expropriação sistemática, mais 50%noutros lados, para faixas de. protecção. paisagística, equipa-mento e reconversão de zonas» (57).

Quanto ao orçamento o plano apenas apresentou uma lista-gem genérica, embora sistematizada, das operações urbanísticassugerindo que a partir dela se estabelecessem as respectivasestimativas de custo.

No tocante ao financiamento o' urbanista sugeriu apenasque «As verbas não cobertas pela Câmara Municipal de Coim-bra e pelo Estado deveriam obter-se por derramas junto à popula-ção, de forma equilibrada» (58).

.(55) Idem, pág. 56.(56) ~Idem, pág. 63 e 64.. (57) Idem, pág.72.(58) Idem, pág. 76.

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Importa, para concluir esta análise sumária do Plano deCoimbra 1974, referir as principais sugestões e críticas que lheforam feitas. A parte Ill do parecer da Comissão de Revisão (13)é, neste aspecto, de uma importância fundamental. De factoaí contém sintetizados os pareceres das diferentes entidades oficiaisque foi necessário ouvir bem como as reclamações da população.

Foram consultados 13 organismos oficiais (59) dos quaisapenas a Junta Autônoma das Estradas não respondeu. Ospareceres elaborados referem, em geral, considerações e recomen-dações de pormenor:

- «O Convento das Carmelitas não está classificado comoMonumento nem sequer imóvel de Interesse Público»(DGEMN) (60);

- «Em relação a zonas industriais para Taveiro, as 'Opçõesexigem cuidados de reflexão, dado encontrar-se em grandeparte em terrenos de boa aptidão agrícola... » (DGSI) (61);

- «Aponta o problema da escolha da localização da EstaçãoCentral de Camionagem de Coimbra ...» (DGTT) (62);E por aí adiante.

9.. RECLAMAÇÕES, SUGESTÕES E CRÍTICAS

Quanto às reclamações da população não as houve porescrito. Contudo o Gabinete de Urbanização promoveu algumasreuniões com Comissões de Moradores, técnicos da cidade e

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(59) Câmara Municipal de Coimbra, Direcção Geral dos Edifícios eMonumentos Nacionais, Direcção Geral dos Recursos e AproveitamentosHidráulicos, Direcção Geral das Construções Escolares, Direcção Geral dosServiços Industriais (actual DGQ) Direcção Geral dos Transportes Terrestres,Serviços de Reconhecimento e Ordenamento Agrário (actual DGHEA),Direcção Geral do Património Cultural (actual IPPC), Direcção Geral dosServiços Eléctricos (actual DGE), Direcção Geral do Saneamento. Básico,Direcção Geral de Turismo, Direcção Geral das Construções Hospitalarese Junta Autónoma das Estradas.

Ob. cito 13, pág. 39.(60) Idem, pág. 40.(61) Idem, pág. 42.(62) Idem, pág. 43.

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serviços públicos em geral das quais ressaltaram os seguintespontos fundamentais:

- «Apoio generalizado ao Plano Verde da Cidade ...»- «Crítica à política que tem possibilitado ferir valores e,

nomeadamente às ocupações que vem sendo efectuadasna margem esquerda (instalações dos Serviços Municipa-lizados, localização do hotel no Almegue, etc.) ...»

- «Comentários contrariando os índices (há quem os consi-dere baixos e quem não admita os seus aumentos)»

- Das intervenções dos técnicos da cidade retira-se quepretenderiam um plano mais concretizado na definiçãodas ocupações que terão assim de ter rapidamente contra-partida em Planos de Pormenor para que sejam obtidosdados concretos.

.- Registam-se também opiniões controversas ácerca dolançamento da Avenida Central (63).

A questão dos índices e a «política que tem possibilitadoferir valores» são, de facto, os dois aspectos que continuam alevantar mais acesas polémicas..

Quanto aos índices podem alinhar-se quatro posições prin-cipais:

- são demasiado rígidos;. - não é possível definir ocupações por números devendo

ser utilizados outros critérios ~- não dão garantias de boa qualidade estética tomandopossível a construção dum edifício alto ao lado doutro

baixo;- são baixos.

Sobre estas posições comentou o urbanista (64):

- «foi voluntária a inflexibilidade dos índices. Os índicessão um plafond de salvaguarda geral e uma tentativa demoralização do sector da construção civil;

(63) Idem, pág. 46 e 47.(64) De entrevista com o urbanista.

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- a qualidade estética ficaria garantida se a construçãofosse feita a partir dos Planos de Pormenor e não do-Plano Geral. Por outro lado a uniformidade de cérceasé uma questão de moda: tempos houve em que se diziamal da cércea;

- os índices estão efectivamente altos em relação ao equipa-mento da cidade».

Quanto à «política que tem possibilitado ferir valores»,que é visível e contínua (Golden Shopping Center, Torre doAmado, etc.), não é, julga-se, um problema do plano mas simda sua implementação.

Deixou-se, para final, por mais importantes, as conclusõesda Comissão de Revisão que, aliás, tomaram em consideraçãotodas as reclamações e pareceres anteriores:

«Considera-se que o Plano Geral de Urbanização de Coim-bra 74 constitui um trabalho, de uma maneira geral, bem desen-volvido embora, em alguns aspectos carecendo de melhor esclare-cimento e concretização...

... Nas circunstâncias referidas e tendo em atenção que asnotas de correcção apresentadas se destinam essencialmente acompletar um trabalho que, no momento presente, se afirmafundamental para uma gestão camarária eficiente e assente embases técnicas mais sólidas, propõe-se que, enquanto não foraprovado o plano, seja aceite a utilização dos índices indicadosno presente Parecer de Revisão.

Recomenda-se no entanto, que a Câmara Municipal pro-mova com urgência a correcção e completamente dos elementosem falta, a :fimde se poder formalizar a aprovação do PlanoGeral de Urbanização de Coimbra nos termos legaisemvigor» (65).

93

(65) Ob. cito 13, pág. 73, 75 e 76.

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

PállS.63

2. HISTORIAL DO PLANO 64

3. ELEMENTOS CONSTITUINTES DO PLANO 69

4. CONCEPÇÃO DE PLANEAMENTO E DE ORGANIZAÇÃO URBANA

4.1. Conceito e Planeamento . . . . . . . . .4.2. Conceito de Plano e Modelos Urbanísticos

707072

5. OBJECTIVOS DO PLANO 75

6. BASES DO PLANO . .

6.1. Delimitação da6.2. População6.3. Potencialidades

Área Urbana.78

78

7981

7. PROPOSTAS. '.'

7.1. Estrutura.

7.2. Circulação e Tráfego7.3. Plano Verde . .7.4. Áreas Industriais

7.5. Síntese e Regulamento.

82

828387

8888

8. IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO •.

8.1. Os Problemas de Gestão.8.2. Faseamento e Financiamento

898990

9. RECLAMAÇÕES, SUGESTÕES E CRíTICAS. 91

95

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COMPOSTO E IMPRESSO NAS OFICINAS DA <<IMPRENSA DE COIMBRA»

LARGO S. SALVADOR, 1 A 11- COIMBRA

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1--"

PUBLICAÇÕES DO MUSEU NACIONAL DE MACHADO DE CASTRO

I - CATÁLOGOS

- Arte Flamenga (1972)- Criptopórtico (1983)- Ourivesaria (1971)- Paramentos (1973)- Pintura do séc. XVI (1973)

II - PROGRAMA «COIMBRA ANTIGA E A VIVIFICAÇÃO DOS CENTROSHISTÓRICOS»

- FRANCO, Matilde Pessoa de Figueiredo Sousa - O Programa «Coimbra Antiga e aVivificação dos Centros Históricos», promovido pelo Museu Nacional de Machado deCastro em 1981/1983

- LOBO,Manuel L. Costa - A Recriação da Imagem de Coimbra e os seus Valores Cultu-rais (1983)

- LOBO, Manuel L. Costa - Zonas de Protecção aos Monumentos (1983)- LOPES,Luís M. C. Amoroso - A Alteração de Pedra em Monumentos e as Acções da

Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (1983)- MENDES,José Maria Amado - Subsídios para a Arqueologia Industrial de Coimbra (1983)- PORTAS,Nuno - Conservar Renovando, ou Recuperar Revitalizando (1983)- SANTOS,Lusitano dos - Planos de Urbanização para a cidade de Coimbra - 1: O Plano

de Grõer. Anos 40; 2: O Plano Regulador. Anos 50; 3: O Plano Costa Lobo. Anos 70 (1983)

III - OBRAS DIVERSAS

- BORGES,Nelson Correia - A Capela do Tesoureiro da Antiga Igreja de São Domingos (1980)- DIAS, Pedro e FIGUEIREDO,Matilde Pessoa de - «Pintura Maneirista de Coimbra» (1983)- FIGUEIREDO,Matilde Pessoa de - Arte Moderna em Coimbra (1982)- FRANCO,Matilde P. F. Sousa e outros - Colecções Orientais do Museu Nacional de

Machado de Castro (J 983)- FRANCO,Matilde P. F. Sousa - Três Anos na Direcção do Museu Nacional de Machado

de Castro (1983)- GONÇALVES,António Nogueira - O Tesouro de D. Isabel de Aragão Rainha de Por-

tugal (1983)- MATOS,João da Cunha - Montemor-o- Velho. Sua História. Sua Arte (tradução em

inglês, 1983)-:- Riscos das Obras da Universidade de Coimbra, com introdução de Matilde de Sousa

Franco- RODRIGUES,Sebastião Antunes - 7.° Centenário do Casamento de D. Dinis com a Prin-

cesa de Aragão D. Isabel. A Cultura da Rainha Santa (1982)- SOARES,Mário de Oliveira - Técnicas de Decoração em Azulejo (texto em português e

em francês, 1983)

IV-POSTAIS, SLIDES E DESDOB.RÁVEIS

- Postais e slides com dezenas de motivos de algumas das mais significativas peças doMuseu Nacional de Machado de Castro

- Carteiras de slides com texto- Desdobrável com ilustrações do Museu e texto

V - AUTO-COLANTES