psicopedagogia clínica e institucional

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PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

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Psicopedagogia clínica e institucional foi elaborado para proporcionar uma visão sobre a intervenção psicopedagógica clínica, a afetividade na intervenção psicopedagógica e a entrevista psicológica aplicada à psicopedagogia. Nesta obra o autor trata do grupo familiar, quais são as dimensões do processo de aprendizagem, apresenta os problemas da aprendizagem e seus fatores. Iremos ainda conhecer a diferença entre a função preventiva e a função curativa e tratar a relação da criança e a escola – esta última como fator desencadeante e/ ou exacerbador de neurose infantil.

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Page 1: Psicopedagogia Clínica e Institucional

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E

INSTITUCIONAL

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PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E

INSTITUCIONAL

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5Apresentação

Apresentação Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.

Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor é que foi criado este produto voltado para os anseios de quem busca informação e conhecimento com o dinamismo dos dias atuais.

Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning, com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada.

Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente, associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e a memorização de cada disciplina.

A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a interação com o assunto tratado.

Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos “Atenção”, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e o “Para saber mais”, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosida-des bem bacanas, para aprofundar a apreensão do assunto, além de recursos ilustra-tivos, que permitem a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras- -chaveemnegrito,oleitorserálevadoaoGlossário,parateracessoàdefiniçãodapalavra. Para voltar ao texto, no ponto em que parou, o leitor deve clicar na própria palavra-chave do Glossário, em negrito.

Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance doconhecimentodemaneiraobjetiva,concisa,didáticaeeficaz.

Boa leitura!

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7Prefácio

PrefácioEmalgummomentodavidaépossívelqueoindivíduoencontrealgumadificulda-de que impeça a plenitude da sua convivência e evolução.

Tratando,especificamente,doprocessodeaprendizagem,issopodeseraindamaiscomum e, quem sabe, complexo.

Muito mais do que encontrar um motivo ou razão para eventual impedimento (de aprendizagem), viabilizar a sua superação é primordial.

O questionamento que se faz nesse contexto é: a quem incumbe essa responsabi-lidade? Quais procedimentos deverão ser adotados para que o processo de apren-dizagempossafluirsemmaioresdificuldades?

A psicopedagogia, engendrada pela união de diversas áreas do conhecimento as-sumiu a responsabilidade de fomentar a aproximação interdisciplinar. A tarefa dessa atividade é o de conhecer os atores principais que integram o processo de aprendizagem visando melhorar essa relação, propiciando o aprimoramento das condições de cada um dos integrantes desse cenário.

Para conhecer um pouco mais sobre essa atividade, apresentamos a disciplina Psicopedagogia clínica e institucional que, dividida em 4 unidades, estudará cada uma de suas vertentes.

A Unidade 1 tratará da intervenção psicopedagógica clínica e a afetividade na intervenção psicopedagógica e, para tanto, explorará temas como as áreas de tra-balho da psicopedagogia, a psicopedagogia clínica, o diagnóstico e a intervenção na clínica psicopedagógica, a afetividade na intervenção psicopedagógica, entre outros assuntos.

Na Unidade 2, ao tratarmos da entrevista psicológica aplicada à psicopedagogia e o grupo familiar, temas como o funcionamento da entrevista psicológica inicial, o grupofamiliar,osignificadodosintomanafamília,dadossobreoambientesocialque ajudam ou atrapalham o desenvolvimento da criança serão abordados, além de sugestões para um desenvolvimento sadio na entrevista com os pais.

As dimensões do processo de aprendizagem e o problema da aprendizagem é o tema principal da Unidade 3, que apresentará, também, tópicos que tratarão das dimensões do processo de aprendizagem, da dimensão cognitiva e social, do or-ganismo, dos níveis da aprendizagem e dos fatores causadores dos problemas de aprendizagem, entre outros.

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Os assuntos função preventiva e a função curativa, a criança e a escola são discu-tidos na Unidade 4, que traz, ainda, o estudo de temas como a criança e a escola, as áreas emocional e afetiva, as áreas moral e sexual, bem como a escola como fator desencadeante e/ou exacerbador de neurose infantil.

Desejamos um excelente estudo.

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9Unidade 1 – A intervenção psicopedagógica clínica e a afetividade...

UNIDADE 1A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA E A AFETIVIDADE NA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Capítulo 1 As áreas de trabalho da psicopedagogia, 10

Capítulo 2 A psicopedagogia clínica, 11

Capítulo 3 Diagnóstico e intervenção na clínica psicopedagógica, 14

Capítulo 4 Afetividade na intervenção psicopedagógica, 23

Glossário, 27

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1. As áreas de trabalho da psicopedagogiaRaronãoencontrarquemumdiativessetidodificuldadesparaaprender.Osobstáculos são necessários para o processo de aprendizagem. No entanto, quan-do eles são muito intensos e recorrentes é necessário intervir. E é justamente neste momento que a psicopedagogia dá a sua contribuição aos alunos, profes-sores e aos pais, em termos de otimização do processo de ensino-aprendizagem.

Apsicopedagogiafoiconcebidacomoaconfluênciadediversasáreasdoconhe-cimento, principalmente, a Pedagogia, a Psicologia, a Didática, dentre outras, assegurando-se como um corpo de conhecimento complexo que requer uma aproximação interdisciplinar.

Essa ciência nos permite conhecer a situação do processo de aprendizagem dos sujeito com a intenção de melhorar e atuar sobre ele, para fazer o aluno apren-der efetivamente. Ela pode agir na vida do aluno, intervindo no seu processo de estudo e aprendizagem ou na vida do docente e dos recursos externos, incor-porando conhecimentos e técnicas para a melhoria da aprendizagem do aluno.

Opsicopedagogoéumprofissionalquetrabalhanoâmbitodaprevenção,dodiagnósticoedotratamentodedificuldadesdeaprendizagemescolaredeapren-dizagem, em um sentido mais amplo. Ele se dedica à análise, ao planejamento, ao desenvolvimento e à adequação dos processos educativos. Possui sólidos conhecimentos e investiga acerca de fatores que interferem nos processos de

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ensino e aprendizagem, tanto do ponto de vista do sujeito que aprende (deter-minantes neurológicos, intelectuais, afetivos) como dos contextos nos quais ele está inserido (socioculturais e educativos).

As áreas de trabalho do psicopedagogo são a institucional e a clínica. Na primei-ra, ele atuará em instituições educativas, orientando pais e docentes em rela-ção ao ensinar e ao aprender. Também poderá assumir o papel de suporte e de assessoramentoemcasodecriançascomdificuldadesdeaprendizagem,comafinalidadedegarantirasuainserçãoadequadanainstituição.Issoincluidesdeorientação e assessoramento a docente e famílias, coordenação de especialistas para planejar estratégias comuns para lidar com o caso em questão, até adap-taçõesdecurrículonocasodedificuldadesmaisseveras,permitindo,assim,aintegração de alunos portadores de necessidades educacionais especiais.

É ainda tarefa do psicopedagogo institucional intervir na concepção e na imple-mentaçãodeprogramaseprojetosdeatualizaçãoeformaçãodeprofissionaisnas áreas de educação e saúde mental, bem como supervisionar equipes inter-disciplinares envolvidas nas instituições de ensino.

Na segunda área, a Clínica, o psicopedagogo se dedica, principalmente, ao diag-nósticoetratamentodostranstornosdodesenvolvimentoedasdificuldadesdeaprendizagem em crianças e adolescentes. O trabalho é feito individualmente comopacienteeemcoordenaçãocomaescola,afamíliaeoutrosprofissionais(fonoaudiólogos, psicomotricistas, neurologistas, psiquiatras, neuropsicólo-gos, assistentes sociais, psicólogos) que são os profissionaismais frequente-mente ligados ao trabalho em psicopedagogia.

A psicopedagogia clínica exerce o papel da intervenção terapêutica/curativa, umavezqueexisteumprofissionalespecializadonocaso,opsicopedagogo,eumsujeitoquepossuidificuldadedeaprendizagem.Jáapsicopedagogiains-titucional exerce o papel preventivo, identificando possíveis perturbações noprocesso de aprendizagem e promovendo orientações metodológicas conforme as características dos indivíduos e grupos.

2. A psicopedagogia clínicaTradicionalmente, vincula-se o clínico à enfermidade. Na verdade, o termo é oriundo da medicina, já que a raiz da palavra clínica é “kliné” que, em gre-go,significa“cama”.Portanto,nãoédifícilassociaressetermocomdoença,patologia. No entanto, se partirmos do princípio de que o objeto de estudo da psicopedagogia é o ser humano, temos que parar neste momento para reconsiderar o objeto da clínica: um ser humano único, particular e integral. Uma pessoa com a qual o mapa genético foi criado de forma única. Então, a clínica não se ocupa de uma patologia ou um problema de aprendizagem,

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mas de uma pessoa concreta, real e única, que sente e pensa, e que en-contra obstáculos no seu processo de aprendizagem.

Assim, a palavra clínica remete a duas questões fundamentais: em pri-meiro lugar, implica uma escuta par-ticular do que sente/vivencia o sujei-to; em segundo lugar, a possibilidade de teorizar acerca de modelos teóri-cos que dão conta do funcionamento do sujeito como tal.

Com essa visão, o objetivo da psico-pedagogia clínica é abordar o sinto-ma, tratar suas causas, favorecendo a elaboração de um processo cogni-tivonovo,maissaudávelebenéfico,

centrado no sujeito que apresenta o sintoma.

Para Bossa (2011), o papel do psicopedagogo clínico é criar um espaço de apren-dizagem que dê ao sujeito a possibilidade de conhecer o que está em seu entor-no,oquedificultaaaprendizagem,paraquejuntosconsigammudarahistóriada não aprendizagem.

A clínica questionará por que o sujeito não aprende, se ele pode aprender, se deseja e se isso tem a ver com a sua motivação interna, e se tem possibilidades familiares e sociais para aprender. Uma visão clínica se opõe a uma visão homo-gênea como se observa com a administração de testes padronizados, sem uma análise qualitativa que forneça uma visão mais subjetiva.

ATENÇÃO! Psicopedagogia Clínica é a ciência que permite estudar a pessoa e o seu meio em diferentes estágios da aprendizagem que englobam a sua vida. Ela se de-

dica ao diagnóstico e tratamento de crianças, adolescentes e adultos com dificuldades para aprender no âmbito educativo, emocional e social.

As particularidades subjetivas, familiares, sociais e culturais devem ser o foco, e não fatores acessórios da tarefa clínica. É importante aprofundar as abordagens teóricas e ao mesmo tempo formular questões-chave para a prática em cada tipo de experiência e cada caso em particular. A clínica, por si só, já implica uma indagação constante e permanente.

Da mesma forma que a aprendizagem não é apenas sistemática, o clínico em Psicopedagogia não é só trabalho de consultório. Ter um olhar clínico é perceber

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o ser humano em sua singularidade. Falar de Psicopedagogia Clínica, então, refere-se a levar em consideração a singularidade do indivíduo ou grupo.

Objetivosespecíficosdapsicologiaclínica

A psicologia clínica possui alguns objetivos. Entre eles, temos:

a) A compreensão científica da educação em seus contextos sociais – edu-car implica uma exigência vital e cultural que tem lugar no comportamento do ser humano como consequência tanto de impulsos internos de desenvolvimento individual, quanto de exigências sociais de adaptação a situações de mudança e os ideais de “modelação” de personalidade, segundo esquemas e hierarquias de valores vigentes. A partir dessa abordagem, é possível argumentar que a educa-ção é um produto simultâneo de três pressões:

• a maturidade e o desenvolvimento interior de cada indivíduo em seu processo de crescimento;

• as condições econômicas de manutenção e transformação de uma sociedade com ritmo mais lento ou mais acelerado;

• os valores dos grupos, classes e instituições que garantem a supremacia ou renovação de certas crenças ou padrões.

A educação constitui hoje uma das principais formas de comunicação, pene-trandotodasasestruturassociais.Elaéumdosrecursosmaiseficazeseneces-sáriosdemobilidadesocialeprofissional,jáque–entendendo-aemseusentidomais amplo – se refere tanto a um processo sistemático, como o que ocorre em escolas, faculdades e universidades, quanto a um processo assistemático de formação e promoção, como o que ocorre em uma empresa. No entanto, é possí-vel dizer que a educação se encontra há algum tempo em crise. É uma crise de fundamentos e de precisão de objetivos devidamente organizados em um siste-ma estável de valores e princípios consistentes, que não se encontram submeti-dos a pressões do momento. A educação como instrumento de mudança social, deve controlar, regular e gerir a mudança, mas não ser um mero brinquedo de manifestações parciais de tal mudança. Ou seja, a educação deve ser estrutura-dacombaseemumareflexãoconscientedoseusentido,dasexpectativas,dasatitudes e das exigências;

b) Conhecimento sobre a natureza e as mudanças de desenvolvimento – o conhecimento dos princípios biológicos, psicológicos e sociais que favorecem ou dificultamodesenvolvimentodoserhumanopermitetraçarummarcoderefe-rência concreto a planos e programas de metodologia de ensino. As atividades educativaseosinstrumentosdosabersãosignificativosevaliososnamedida,mas devem ser adequados e coerentes com as fases de desenvolvimento e estar de acordo com os interesses e as disposições da aprendizagem;

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c) O processo e as formas de aprendizagem – tradicionalmente, o processo de aprendizagem tem sido um dos objetivos da psicopedagogia. Esse processo trata de ajudar o professor a entender em que situações e em que relação com outros fatores de maturação, personalidade e estímulos sociais são produzidas mudançassignificativasnocomportamento,comoconsequênciadoesforçodoser humano para se adaptar às novas condições do ambiente ou procurar mo-dificá-lo;

d) O estudo das diferenças humanas e seu envolvimento na educação – o quartoobjetivoespecíficodaPsicologiaClínicaestárelacionadocomacapaci-dade de a ciência determinar as diferenças individuais e socioculturais, para promover um ensino “personalizado”, de acordo com a individualidade do aluno e as particularidades de grupos e subgrupos culturais. Não é conveniente conti-nuarrealizandoumaeducaçãomassificadaerígida,queseaplicadeformain-discriminada, sem considerar a individualidade e diversidade dos alunos. Cada aluno tem suas próprias potencialidades que devem ser devidamente conside-radas pelo professor, permitindo ao estudante ter progressos em seu processo de formação.

3. Diagnóstico e intervenção na clínica psicopedagógicaO diagnóstico psicopedagógico é um processo através do qual se descreve, classifica,explicaocomportamentodeumsujeitonocontextodeaprendizagem.Inclui um conjunto de atividades de medição e avaliação da pessoa (ou grupo) comafinalidadedecompreenderomodocomoopacienteaprendeeosdesviosocorridos nesse processo.

ATENÇÃO! O diagnóstico psicopedagógico é um processo em que se procura encon-trar o sentido histórico subjetivo (conhecer a natureza) dos problemas de aprendi-

zagem de um sujeito através da análise de suas dificuldades de aprendizagem (sinais e sintomas). As crianças com problemas em sua aprendizagem apresentam restrições em sua produção simbólica, além de distúrbios significativos no domínio de algumas ou de todas as áreas do conhecimento.

O diagnóstico psicopedagógico tem como objetivos ou propósitos:

a)verificaroprogressodosujeitoemdireçãoàsmetaseducativasestabelecidaspreviamente no âmbito cognitivo, afetivo e psicomotor;

b)identificarfatoresdasituaçãodeensino-aprendizagemquepodeminterferirno ótimo desenvolvimento individual;

c) adequar a situação de ensino-aprendizagem às características e necessida-desdecadasujeito,afimdeassegurarseudesenvolvimentocontínuoeaju-dá-loasuperarasdificuldades.

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Levando em consideração esses objetivos, as funções principais do diagnóstico psicopedagógico são:

a) função preventiva e preditiva: trata de conhecer as possibilidades e limita-ções do indivíduo para prever o desenvolvimento e o aprendizado futuros;

b)funçãodeidentificaçãodoproblemaedasuagravidade:pretendeaveriguaras causas, os fatores pessoais ou ambientais, que prejudicam o desenvolvi-mentodosujeitoafimdemodificá-losoucorrigi-los;

c)funçãodeorientação:suafinalidadeéproporpautasparaaintervenção,deacordocomasnecessidadesidentificadas;

d) função corretiva: reorganizar a situação atual mediante a aplicação da inter-venção e de recomendações oportunas.

O diagnóstico é uma investigação em si, é uma pesquisa (Weiss 2012). Ele se faz necessário quando o sujeito não se sai bem diante de uma conduta esperada, quandonãoaprende,ouaprendecomdificuldade,oudeformalenta.

Odiagnósticoéopontochavedeumaintervençãoeficiente.Conhecertécnicaseinstrumentosnãoésuficiente,poiscadacasoéúnicoerequerdopsicopeda-gogo, além de habilidades teóricas, uma visão sensível e singular. Cada paciente tem sua história, suas particularidades e suas relações de grupo, portanto, a cada paciente, um novo começo, uma nova visão.

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Nesse sentido, o sucesso de um diagnóstico não está na quantidade de instrumen-tos utilizados, mas na sensibilidade do psicopedagogo em explorar os aspectos evidenciados em cada situação. Segundo Weiss, o objetivo do diagnóstico psicope-dagógicoéidentificarosdesvioseosobstáculosapresentadosnoModelodeApren-dizagem do indivíduo que o impossibilitam de aprender conforme o esperado.

Fernández (1991) salienta que o diagnóstico possui a mesma função que a rede tem para um equilibrista, ou seja, serve como base para a intervenção. A re-lação entre psicopedagogo e paciente também é essencial para o processo do diagnóstico. Ter empatia,istoé,identificar-secomooutro,apresentarconfian-ça, respeitar o outro, implicará na validade e na qualidade do diagnóstico. O inter-relacionamento dinâmico e de condutas interdependentes, a comunicação estabelecida entre os dois fazem com que o psicopedagogo aja sobre o paciente sempre que ele apresentar uma conduta não normal. Tudo na comunicação com o paciente deverá ser observado: a fala, a palavra, os gestos etc.

O processo do diagnóstico psicopedagógico clínico abarca várias etapas: motivo da consulta, história vital, hora do jogo, provas projetivas, entre outras.

Motivo da consulta

Entrevistam-se os pais para extrair dados importantes sobre as estruturas pre-dominantesentrefilhosepais,apartirdaanálisedaformacomoestesúltimosse apresentam e se posicionam frente ao problema da criança.

Pain (1985) destacou que, no motivo da consulta, é fundamental observar por que e por quem o paciente chegou até o psicopedagogo, se foi recomendação da escola, da professora, dos pais, do médico. Ainda de acordo com a autora, o pri-meiro momento com a família é para levantar hipóteses sobre alguns aspectos fundamentaisparaodiagnósticodasdificuldadesdeaprendizagem:asignifi-cação do sintoma para a família e na família, as expectativas que ela tem em relação à intervenção psicopedagógica etc. É essencial deixar que os pais falem livremente, sem o psicopedagogo fazer perguntas particularizadas.

Éomomentonoqualseescutaafamíliaafimdequeelaelenqueosmotivospelos quais procurou ajuda psicopedagógica e, também, os fatores que acredita serem os causadores da não aprendizagem do paciente. A entrevista do motivo da consulta possibilita conhecer as expectativas que os pais têm em relação à intervenção psicopedagógica. Muitos pais assumem as consequências e resis-tem à ação do psicopedagogo.

História vital

Após conhecer um pouco seu paciente, o psicopedagogo realiza uma segunda entrevista com os pais: o momento da história vital no diagnóstico. Dá-se a pa-

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lavra aos pais, principalmente à mãe, que falam livremente, sendo instruídos somente quanto ao tema geral.

Nessa etapa, o psicopedagogo utiliza a anamnese (do grego “anamnesis” = tra-zeràmente)significa“reunião”,“reminiscência”,“recordação”.Aanamnesetemcomo objetivo geral trazer para o presente as lembranças do passado, recupe-rando informações registradas em épocas anteriores.

ATENÇÃO! A anamnese é a reunião de dados subjetivos, relativos a um paciente, a fim de compreender sua história familiar e pessoal, experiências e, em particular,

recordações que serão usadas para investigar a situação clínica.

A anamnese ajuda o psicopedagogo a reconstruir a história de vida do paciente paraquepossacompreenderoquelevouaoaparecimentodasdificuldadesdeaprendizagem. Esta entrevista é de fundamental importância no processo de diagnóstico,umavezqueéelapermiterecuperarantecedentessignificativosdahistória do sujeito que podem incidir em suas restrições simbólicas. Para isso, é necessário reconstruir com os pais a história de vida da criança, permitindo encontrar alguns dos fatores que operam na fratura ou na restrição de suas produções.

Para iniciar a história de vida, o psicopedagogo deverá começar a indagar sobre os antecedentes natais, ou seja, sobre os aspectos relacionados às condições da criança e da sua mãe desde a gestação até o nascimento. Os antecedentes natais se subdividem em: pré-natais (durante a gravidez), perinatais (durante o nascimento) e pós-natais (depois do nascimento).

Causas pré-natais

Tem a ver com as condições de gestação e as expectativas familiares quanto à chegada da criança. Certamente, du-rante a gravidez podem ocor-rer vários fatos que afetam o sistema nervoso central do feto. As enfermidades que a mãe contrai, as intoxicações, a higiene e a nutrição durante a gravidez têm consequências sobre o desenvolvimento do feto. Recentemente, a grande preocupação tem sido quanto

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às crianças expostas “pré-natalmente” às drogas, incluindo as drogas legais como o álcool, o cigarro e os remédios.

Causas perinatais

Referem-se às circunstâncias do parto, principalmente aquelas que podem tra-zer sofrimento ou lesão ao feto. Desde muito tempo, sabe-se que as crianças nascidas prematuramente têm maior incidência de problemas de desenvolvi-mento do que as crianças que nascem no tempo certo. Muitas crianças prema-turas,noentanto,nãoexperimentamdificuldades.

Duranteonascimentotambémpodemocorrerproblemasquereduzemofluxode oxigênio do cérebro, como por exemplo, quando nascem com o cordão um-bilical enrolado ao pescoço. Felizmente, a tecnologia moderna tem contribuído para reduzir esses casos.

Falta de dilatação, postergação de parto cesárea, o uso de manobras ou pinças, feridas ou acidentes ocorridos durante o nascimento podem ocasionar algum dano cerebral, o que resultará em posteriores distúrbios de aprendizagem.

Causas pós-natais

Existem vários fatores pós-natais que podem prejudicar o sistema nervoso cen-tral, entre eles, febres muito altas com convulsões, doenças como encefalite e as feridas na cabeça provocadas por acidentes. Uma criança desnutrida pode ter umdesenvolvimentocerebraldeficiente.

Alguns fatores pós-natais podem causar distúrbios de aprendizagem mesmo quando não há danos no sistema nervoso central. Por exemplo, Valquíria so-freu muito, durante a primeira infância, com dores de ouvido. Sua audição foi afetada, o que provocou um atraso no seu desenvolvimento linguístico. Quan-do Valquíria entrou na escola, sua audição era normal, mas ainda não havia adquirido alguns conceitos que a maioria das crianças de sua idade já tinha aprendido, como as cores, os números, a compreensão de acima, abaixo etc. Suahabilidadeparaescutarecompreendernãohaviasedesenvolvidoosufi-ciente.Valquíriatinhaproblemasparaaprenderepronto:foiidentificadoumdistúrbio de aprendizagem.

Há outros motivos em que algumas crianças começam a escola sem terem sido expostas a conceitos e materiais com os quais as demais crianças já se encon-tram familiarizadas. Talvez a família não disponha de meios econômicos para promover essa exposição. Quem sabe os pais também possuam distúrbios de aprendizagem e nunca receberam ajuda na escola, e não sabem como ajudar seusfilhos.

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19Unidade 1 – A intervenção psicopedagógica clínica e a afetividade...

Ainda na lista da história de vida do sujeito, outros aspectos são indagados pelo psicopedagogo, tais como as doenças, o desenvolvimento e a aprendizagem. Com a obtenção desses dados e dos anteriores, o psicopedagogo começará a encaixar as peças e a delinear suas hipóteses.

Hora do jogo

Na clínica psicopedagógica, o jogo parece ser um dado adquirido. Ele é essencial para observar o desenvolvimento motor, social, cognitivo e afetivo do paciente. Al-guns questionamentos são feitos: de qual jogo se está falando ou a qual se refere? Qual é o jogo e a jogada passível de se realizar? As indagações são diversas.

Quando trabalhamos na clínica psicopedagógica com crianças, quer individual-mente ou em grupos, é o jogo que se “desenrola” diante de nós ou com os outros. Osfatoresqueinfluenciamsãovários:ocontextoclínicoéumdeles.Mas,den-tro desse contexto dependerá também a qualidade lúdica que o psicopedagogo irá oferecer, de modo a ampliar seus níveis de expressão ou restringi-los.

Segundo Pain (1985), o lúdico oferece informações de esquemas que integram e organizam o conhecimento em uma esfera representativa. Por isso, o jogo (a observação do jogo e do paciente) assume o papel de grande importância no diagnósticodasdificuldadesdeaprendizagemnainfância.

Naclínicapsicopedagógica,osjogosajudarãooprofissionalaanalisarcomoopaciente se aproxima do desconhecido, se apropria ou não dele. Na hora do jogo, o paciente mostrará sua maneira de agir para conhecer, aprender e resolver uma situação-problema.

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20 Psicopedagogia clínica e institucional

Uma das primeiras perguntas que surge é para onde se vai olhar. O mesmo jogo e um mesmo modo de jogar podem ser lidos a partir de vários ângulos. Depen-derá, naturalmente, do objetivo e da abordagem teórica. Os jogos e o jogar per-mitem “ler” – com extremo cuidado – muitos aspectos inerentes ao ser humano: culturais, sociais, psicológicos, de maturação etc.

Com crianças pequenas o jogo favorece a expressão simbólica e sem pressão, não só das suas projeções internas mas, também, do seu nível de pensamento. Issoserefletetantoemumjogodetabuleiroeregrado,comoemumjogodecaráter mais simbólico.

Existem jogos de regras implícitas e jogos de regras explícitas (Kishimoto, 1998). Os primeiros são aqueles cujas regras irão variar segundo cada jogador; já no segundo, as são regras são dadas de antemão. Portanto, se nós contamos com esses dois tipos de jogo, seria importante, então, considerar ambos e não nos limitarmos a um único apenas. As possibilidades de leitura que teremos em ambos os casos dependerá exclusivamente do nosso olhar.

Em jogos de regras implícitas, a regra adotada tem um caráter mais hábil e me-nos rígido do que em jogos de regras explícitas, em que o controle social também se torna presente. Em jogos de regras implícitas, os níveis de expressão podem ser maiores do que em outros jogos e, consequentemente, os níveis observados também serão diferentes.

Sequisermosconsideraro jogocomoestratégiapedagógica,afimdededuzircertos níveis pedagógicos e de aprendizagem da criança ou das crianças a par-tir de seus jogos e do seu jogar, devemos estar atentos para determinar certos aspectos, oferecendo também diversas oportunidades lúdicas, de modo a não limitar o nível de expressão.

Nesse sentido, devemos observar, para além da temática do jogo escolhido, as es-tratégias utilizadas para desenvolver o jogo e o jogar. Ao oferecer diferentes possi-bilidades de jogo podemos, em primeiro lugar, observar quais são as preferências da criança, o que, em parte (mas não totalmente), depende da idade.

ATENÇÃO! A idade não determina o jogo e jogar das crianças, mas traz algumas marcas quanto às suas preferências e possibilidades. Assim, não devemos igno-

ramos o fator cultural, que é uma variável essencial no jogo e no jogar. O jogo e o jogar cumprem diferentes funções em diversas culturas, por isso não devemos remover e/ou transpor levemente conceitos que não se correspondem.

Também devemos ter cuidado em selecionar o material que oferecemos para jogar, bem como as propostas lúdicas apresentadas. Se as propostas que rea-lizamosnãocorrespondemàrealidadeculturaldacriança,dificilmentenossaleitura responderá a parâmetros reais da criança e de sua aprendizagem.

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PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E

INSTITUCIONAL

Psicopedagogia clínica e institucional foi elaborado para propor-cionar uma visão sobre a intervenção psicopedagógica clínica, a afetividade na intervenção psicopedagógica e a entrevista psicoló-gica aplicada à psicopedagogia.

Nesta obra o autor trata do grupo familiar, quais são as dimen-sões do processo de aprendizagem, apresenta os problemas da aprendizagem e seus fatores. Iremos ainda conhecer a diferença entre a função preventiva e a função curativa e tratar a relação da criança e a escola – esta última como fator desencadeante e/ou exacerbador de neurose infantil.