pÓs-graduaÇÃo “educaÇÃo para o desenvolvimento€¦  · web viewprojecto “cultura,...

47
PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO PROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida) Escola Superior de Educação do Porto Ana Alves

Upload: others

Post on 27-Sep-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O

DESENVOLVIMENTO

PROJECTO “Cultura, Educação e Saberes”(A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Escola Superior de Educação do PortoAna Alves(Associação Empresarial de Fafe, Cabeceiras de Basto e Celorico de Basto)

Carminda Teixeira(DREN – Direcção Regional de Educação do Norte

Cristina Campelos(Sol do Ave – Associação para o Desenvolvimento do Vale do Ave)

Marta Coutada(Sol do Ave – Associação para o Desenvolvimento do Vale do Ave)

Miguel Mendes(Centro Social Paroquial de Barrosas (Stª Eulália)

Page 2: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

ÍNDICEI - Sumário Executivo........................................................................................................3II - Fundamentação............................................................................................................4

II.1. Fundamentação teórico-metodológica...................................................................4II.2. Análise da realidade.............................................................................................12

III – Parceiros..................................................................................................................18IV - Público-alvo.............................................................................................................19V - Finalidade..................................................................................................................20VI - Objectivos gerais......................................................................................................20VII - Estratégias...............................................................................................................20VIII - Expoentes-chave....................................................................................................20XIX - Estrutura Organizativa..........................................................................................23X - Infra-estrutura de apoio.............................................................................................25XI - Mecanismos de avaliação........................................................................................28XII - Cronograma............................................................................................................31BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................32

Page 3: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

I - Sumário ExecutivoEste projecto visa, acima de tudo, efectuar a necessária ligação entre a

aprendizagem ao longo da vida, no seu sentido mais lato, e as actividades culturais,

fundamentalmente, aquelas ligadas à cultura popular. É por acreditarmos na multi-

aprendizagem e na sua crescente importância numa época de crescente incerteza e

em evolução constante, característica da pós-modernidade, que nos propomos a

revalorizar as aprendizagens efectuadas em contextos não formais, não como

alternativa irreconciliável à aprendizagem formal, mas sim como um seu complemento,

enriquecimento e elo de ligação aos interesses e motivações dos indivíduos.

Tendo como primeira motivação esta ideia de cruzamento entre aprendizagem

formal e não formal, esta última na forma de actividades culturais, encontramos uma

nova significação para o projecto enquadrando-o, por um lado, na Iniciativa Novas

Oportunidades e, por outro, nas dinâmicas que estão a surgir em torno de Guimarães

– Capital Europeia da Cultura 2012 e que ultrapassam os limites fronteiriços deste

concelho.

Neste sentido, e tendo em consideração os recursos já existentes nos três

concelhos envolvidos (Fafe, Guimarães e Vizela), acreditamos que a melhor forma de

levar a cabo estes “cruzamentos” e atingirmos os objectivos do projecto, é estabelecer

uma articulação entre as diversas instituições ligadas à educação/formação e as

ligadas à cultura, constituindo uma Rede de Parcerias dinâmica e aberta, sendo a

realização deste projecto o primeiro resultado deste trabalho em rede.

Saliente-se a forma participada como se construiu este projecto, através da

dinamização de dois grupos de discussão em cada um dos três concelhos com a

participação dos representantes de várias instituições ligadas à educação e à cultura.

Estes grupos de discussão abrangiam dois objectivos: por um lado, criar e envolver a

rede de parcerias e, por outro lado, em conjunto conceber o projecto que de seguida

apresentamos. Para uma melhor compreensão junto anexamos um resumo descritivo

deste processo.

Por fim, acreditamos que a cultura é de todos e para todos, como tal, é nosso

dever criar as condições que permitam uma aproximação desta aos públicos mais

desmunidos (social, económica e educacionalmente), promovendo a democratização

da cultura, assim como uma cidadania activa e consciencializada.

Este documento é, assim, a estratégia que iremos seguir para concretizar as ideias

que nos mobilizam, especificando a finalidade e objectivos do projecto, bem como, as

suas principais actividades, enquadrando-o no contexto mundial, nacional e local.

3

Page 4: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

A seguir, apresentamos um fluxograma explicativo do enquadramento do projecto

na Iniciativa Novas Oportunidades:

II - Fundamentação

II.1. Fundamentação teórico-metodológica

PARADIGMA: O HOMEM CONSTRUTOR DO SEU MUNDO

A fundamentação teórica deste projecto “Cultura, Educação e Saberes”, cujo

tema central é a educação de adultos e o direito à cultura, necessita de clarificação

prévia: a primeira, consiste em afirmar a interacção constante entre um conceito global

de educação e o campo mais específico da educação de adultos; a segunda, salienta

que existe uma linha de fundo que é a abordagem do processo educativo como pólo

de transformação social.

Estamos numa sociedade em constante transformação, pelo que os objectivos da

educação e formação deverão estar direccionados para a Aprendizagem ao Longo da

Vida, entendendo-a como um continuo de interesses, necessidades e motivações

pessoais, enquadradas num tempo e num espaço definidos, que requerem resposta.

As finalidades desta educação que parte do indivíduo assenta numa variedade de

formas de existência e actividades humanas: actividade social, técnica, artística,

manual, intelectual, entre outras.

4

Page 5: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Desta forma, a educação não se pode circunscrever às actividades e tarefas. O

seu objectivo último visa alcançar as possibilidades de todo o processo cultural

individual ou colectivo, sabendo que o desenvolvimento cultural e educativo do

Homem ocorre fundamentalmente através da sua participação activa no Mundo

concreto da civilização, quer na dimensão social quer na cultural.

Associado ao acto educativo aparecem conceitos como: integração,

interdisciplinaridade e globalização, que no entender de autores como Suchodolski,

indissociam a pedagogia da sociologia numa perspectiva sociológica de cariz

humanista.

Imersa no tecido social, a educação é sobretudo o esforço de uma esperança

racional.

A atitude radicalmente passiva da maioria dos homens da sociedade pós-industrial

de hoje é um dos aspectos patológicos mais característicos. Esta passividade elimina

toda a criatividade e iniciativa ao nível do planeamento qualitativo das situações e

problemas.

O homem sem esperança e passivo é um homem profundamente desumanizado,

que segundo Fromm, vai perdendo integridade e identidade.

A crise do nosso tempo só poderá ser superada mediante a recuperação, por parte

do homem, da vida plena e do ser activo.

Para isso é necessário garantir e consolidar o desenvolvimento coerente e

harmónico das pessoas, o que traz grandes desafios à educação. A filosofia da

educação aponta para a teoria geral do processo criativo e crescente do homem

imerso na sociedade e na cultura.

Ele é por natureza um ser activo e criativo, que configura a sua própria existência

social e material, muito particularmente o mundo da ciência, da técnica e da arte.

É um importante desafio considerar o desenvolvimento permanente do homem

através da criação do seu próprio mundo.

“O homem é o mundo do homem” – (Suchodolski, 2005).

O fenómeno da globalização tem gerado consequências profundas no mundo em

que vivemos. Na era industrial, os sindicatos estabeleceram, após diversas lutas, com

o capitalismo um pacto social, porque a crença no desenvolvimento e no progresso

era partilhada por ambos. O período que se seguiu à segunda guerra mundial foi um

período próspero para o mundo desenvolvido – a designada “época feliz do

capitalismo”, em que existia uma confiança ilimitada no crescimento económico, tendo-

se conjugado a lógica económica com as exigências sociais.

No período em que nos encontramos, da informação e comunicação, a lógica

dominante das redes torna difícil não apenas a negociação e o acordo como também a

5

Page 6: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

própria luta. A única alternativa, que os grupos e movimentos sociais têm, é retirar-se

e procurar reconstruir tudo a partir de um sistema de valores e de crenças

completamente diferente. As diversas comunidades de resistência identitária

pretendem romper com a sociedade no seu conjunto e tudo rebater, não de “baixo”

para cima, como era característico do movimento sindical de outrora, mas antes na

perspectiva dos de “dentro” contra os de “fora”, opondo um “nós” aos “outros”. Esta

ruptura radical com os valores da sociedade e com as instituições coloca um grave

problema: o risco de desmontar a sociedade sem capacidade de a refazer. Para que

seja possível a reconstrução das instituições sociais torna-se necessário que as

chamadas “instituições-resistência” se transformem em “identidades-projecto”, de

modo a tornarem possível a reconstrução de uma sociedade civil renovada e de um

novo Estado.

“Exige-se o aprofundamento da democracia porque os velhos mecanismos da

governação não funcionam numa sociedade em que os cidadãos partilham com os

governantes os mesmos meios de informação plena. (…) A melhoria da democracia a

todos níveis é um combate que vale a pena travar, pois pode ser bem sucedido. Este

nosso mundo que parece desatinado, não precisa de menos governo, mas de mais

governo - isto é algo que só as instituições democráticas podem proporcionar”

(Giddens, 2005).

Defendemos a “pós-modernidade progressista e crítica”, tal como Freire a

apresenta: uma sociedade mais justa e plenamente democrática em que a

solidariedade, o colectivismo, o diálogo como pedagogia, o respeito às diferenças, a

valorização do saber popular, a ética, o repúdio pelas ditaduras, a criatividade e o

conhecimento problematizado sejam uma referência, investindo no respeito pelas

diferenças, diversidade, questões de género e de etnia, direitos responsáveis por uma

cidadania plena (onde se inclui naturalmente a cultura, a educação e a aprendizagem

ao longo da vida) multicultural para os que não tiveram voz e vez e que continuam

desprotegidos e sem esperança.

A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso neoliberal anda à solta no

mundo, no dizer de Paulo Freire, e com ares de pós-modernidade, insiste em

convencer-nos de que nada podemos contra a ordem global imposta.

Contrariamente, será necessário desenvolver uma consciência crítica que conduza

ao sentido de responsabilidade partilhada e à cidadania activa das populações,

rompendo com o estado de passividade, mesmo apatia, e desesperança em que a

sociedade actual se encontra mergulhada - herança cultural da sociedade pós-

industrial.

6

Page 7: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Este processo social e cultural que se impõe traz uma dimensão utópica que não é

em absoluto alheia à realidade. Exige criatividade que deve ser entendida como

comunicação, invenção e produção. Toda a planificação educativa está ligada ao

conceito de desenvolvimento pessoal e colectivo, e reconhece uma multiplicidade de

factores que interagem: as estruturas sociais, os valores culturais e os

comportamentos éticos.

Em movimentos sociais organizados, trabalhando em rede sem hierarquias,

lutando pela inclusão social através de campanhas, fóruns, marchas, etc.,

radicalizando a democracia, (re)conquistando direitos, acreditamos que a participação

seja efectivamente concretizada.

PROJECTO: EDUCAÇÃO COMO (RE)CONSTRUÇÃO DA EXPERIÊNCIA

O local, descrito como o espaço da comunidade, ora postulando a sua autonomia,

como espaço periférico do Estado, ora postulando a sua dependência, configura-se

como um universo compósito, pois para além do princípio único de justiça configurado

pelo Estado como garante da igualdade de oportunidades, confrontam-se hoje, no

plano local, uma multiplicidade de princípios, como o Estado, a comunidade e o

mercado.

Stephen Ball realça a crescente colonização da política educacional pelos

imperativos da economia e Peter McLaren observa “vagarosa, mas seguramente, a

educação tem sido reduzida a um subsector da economia”.

Em Portugal, o discurso político, nos últimos dois anos, com a criação do

Programa Novas Oportunidades, vê a Educação subordinada à economia e à

competitividade, fala-se nesse sentido da Educação e da Formação como uma

necessidade urgente com vista ao desenvolvimento económico do país.

É um facto, a sociedade portuguesa está completamente desajustada do contexto

europeu ao nível das qualificações e da escolaridade o que tem fortes impactos no

crescimento económico, na competitividade. Mas há outras dimensões do problema

não menos graves, como a coesão social, a qualidade de vida e o bem-estar dos

cidadãos que não podem ser menosprezados.

Não nos parece que os valores do mercado competitivo devam dominar sobre a

política educativa.

A construção da “Europa dos cidadãos” é apresentada como uma aquisição muito

dependente da Educação e, especialmente da Formação e da Aprendizagem ao longo

da Vida. A responsabilidade individual sai reforçada tal como as motivações

7

Page 8: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

económicas ou as pressões para a competição, bem expressos, por exemplo nos

objectivos do Processo de Bolonha.

“Uma cidadania deslocalizada, pretensamente global, a ponto de prescindir de

contextos concretos de acção, transformar-se-ia numa abstração, em algo

extremamente genérico e fluído, mas sem correspondência de facto com os direitos

sociais concretos e em actualização” (Memorando sobre a Aprendizagem ao Longo da

Vida, Comissão das Comunidades Europeias, 2000:4). Já uma cidadania insularizada,

encravada em balizas restritas, de tipo paroquial, se arriscaria à guetização e à

imposição da monoculturalidade.

Boaventura Sousa Santos (2001:69) afirma que “aquilo a que chamamos

globalização é sempre a globalização bem sucedida de determinado localismo”. Um

local de tipo cosmopolita e não insular, um local sem muros, que por essa via se abre

criticamente ao global será o locus indispensável ao exercício de uma cidadania

democrática, impedindo-a da insularidade.

A possibilidade de a Educação se tornar definitivamente uma reconstrução da

experiência permite a “dúvida global” a que alude Homi K. Bhabha, como uma ética

essencial das políticas de inclusão. A mesma dimensão ética e a estética deverá ser

tratada a partir da ideia de cosmopolitismo vernáculo, um instrumento novo que

decorre da experiência global das minorias nacionais e da diáspora, que é o

instrumento eficaz de integração, por ser aberto a todos na base de “direito à diferença

em igualdade” e assim responder de forma eficaz à hegemonia da globalização (Cf.

Ribeiro Apud Bhabha; 2007:12).

METODOLOGIA: A APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA

“A aprendizagem é uma actividade que modifica as possibilidades de um ser vivo

de maneira duradoira” (FRAISSE, 1957).

A característica mais importante da espécie humana é a capacidade de aprender,

de aprender sempre, com todos e em qualquer lugar, torna-se claro, que será através

da aprendizagem, e consequente flexibilidade do comportamento, que o ser humano

se conseguirá adaptar às condições do ambiente sempre em mudança.

Perspectivando a aprendizagem numa linha interaccionista e construtivista, tal

como Piaget a entendeu, dir-se-á que o que se aprende tem de se conservar e, como

tal não podemos aprender sem recordar, nem recordar sem aprender. Assim a

aprendizagem está intimamente ligada à memória, sendo os conhecimentos, as

8

Page 9: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

experiências anteriores que nos permitem seleccionar, organizar e reconhecer as

informações actuais.

Podemos definir aprendizagem como uma mudança relativamente estável e

duradoura do comportamento e do conhecimento. Esta mudança do comportamento

está relacionada com o exercício, a experiência e com a descoberta, podendo ocorrer

de forma consciente ou inconsciente, num processo individual ou interpessoal. E tudo

o que o Ser Humano aprende ocorre no contexto da sua cultura.

Portanto, a aprendizagem tem associada uma forte dimensão social; as pessoas

aprendem observando e imitando os outros.

Bandura fala sobre importância da aprendizagem por observação, ou seja, a

aprendizagem resultante da interacção e da imitação social. Segundo ele muitos dos

nossos comportamentos são aprendidos através da observação e imitação de um

modelo. É pela observação que aprendemos saberes mais operativos, e é através da

prática que desenvolvemos essas aptidões.

No mundo dominado pelos meios de comunicação social, muito se aprende

através da observação de programas transmitidos na televisão e no cinema. Também

se aprende nos contextos sociais e profissionais, como tal quanto mais ricos e

diversificados forem esses contextos maior é o nível de desenvolvimento do indivíduo.

A aprendizagem por observação é influenciada por factores como: a proximidade e

o peso afectivo do modelo. Por isso a família, os amigos, os professores, as pessoas

com quem interagimos no dia a dia servem-nos de modelos e com eles aprendemos,

em primeiro lugar a ser, e depois a agir e a fazer, domínios onde a imitação acontece

mais frequentemente.

Para resolver problemas é necessário mobilizar saberes e recorrer a experiências

anteriores de resolução de problemas semelhantes:

Em primeiro lugar, percepcionamos os dados do problema, os elementos que o

constituem; compreendemos a sua dificuldade e definimos os objectivos; nesta etapa

identificamos o problema; em seguida, definimos e escolhemos as estratégias para a

sua resolução; depois de termos optado pelas estratégias que consideramos mais

adequadas, ensinamo-las, ensaiamo-las aplicando-as e em seguida, avaliamos os

resultados.

Muitas vezes este processo é mais complexo, demora mais tempo, desiste-se

temporariamente, o que pode conduzir a uma outra via de resolução, designada

incubação. Enquanto a pessoa está ocupada com outras actividades e a resolver

outros problemas, surge-lhe, de repente, a solução por insight.

É de referir vários factores que influenciam a aprendizagem: motivação, idade,

contextos de aprendizagem, momento da vida, personalidade, inteligência, estilos

9

Page 10: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

próprios de pensar e de sentir, autoconfiança, aspectos relacionais, familiaridade com

os conteúdos, com a linguagem usada e projectos de futuro…

Outros factores relacionados com a escola influenciam a aprendizagem:

representação da função social da escola, experiência anterior, expectativas

depositadas no aprendente, estratégias pedagógicas, relação professor-aluno, clima e

organização do espaço de aprendizagem…

A maioria dos assuntos que se aprendem não são inteiramente novos, têm mais

ou menos uma certa relação com aprendizagens anteriores. A experiência passada

influencia profundamente as aprendizagens, frequentemente mediatizada pela

motivação do sujeito.

Na experiência escolar pretende-se que as aprendizagens anteriores sejam a

base, sejam facilitadoras das novas aprendizagens. O entrosamento dos saberes

adquiridos e das experiências anteriores está na base do sucesso escolar.

É assim, que as pessoas aprendem num processo individual e colectivo, quer seja

por via formal, não formal ou informal, o que deverá sempre ser considerado,

reconhecido e, se possível certificado, com vista ao encaminhamento para percursos

formativos mais estruturados e consistentes, na lógica de aprendizagem ao longo da

vida; uma vez que o conhecimento é condição essencial à vida digna, que se pretende

para todos sem excepção. Para tal terão de ser criados mecanismos, espaços e

momentos de aprofundamento da pesquisa-acção, em que se promova o diálogo entre

o saber científico ou humanístico (que a universidade produz) e os saberes leigos,

populares, tradicionais, urbanos, camponeses, provindos das mais diversas culturas

(indígenas, de origem africana, oriental, etc.) que circulam na sociedade.

A designada “Ecologia de Saberes”, tal como Boaventura Sousa Santos a define,

consiste num conjunto de práticas que promovem uma nova convivência activa de

saberes no pressuposto que todos eles, incluindo o saber científico, se podem

enriquecer no diálogo (entre conhecimento científico, conhecimentos práticos e úteis),

deverá ser entendida como pólo dinamizador da relação entre a Universidade e a

Sociedade, concretizando-se em “oficinas de ciência” (science shops).

ESTRATÉGIA: REDE DE CULTURA – DIÁLOGO LOCAL/GLOBAL

“Estimular (…) os gostos culturais dos cidadãos. O gosto pela Cultura, a urgência

da Cultura nas suas diferentes expressões, deve ser vista como um músculo - que se

pretende exercitar e desenvolver não o deixando atrofiar. Este esforço não se deve

limitar ao ensino. Pelo contrário, a pedagogia da Cultura e a promoção do seu

10

Page 11: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

consumo deverão ser politicas que acompanhem os cidadãos ao longo das suas

vidas” (BARROS, M. & ESPANHA, R.; 2005).

É hoje consensual e ideia de que a cultura tem um papel muito mais importante do

que se julgava na organização das comunidades humanas. Este reconhecimento

político e social conduziu a uma aposta estratégica na cultura como factor de

desenvolvimento, por isso não há, hoje autarquia que não tenha a sua agenda cultural

diversificada, resta saber se essa cultura é imposta do exterior para o interior ou é um

diálogo da cultura local com a global.

Apesar da cultura ser um fenómeno dinâmico, que parte de uma leitura sobre a

realidade e que é concebida para destinatários concretos, não consegue fazer chegar

aos públicos os diferentes bens culturais, quer seja por preconceito por parte do

público, quer seja por incapacidade logística dos agentes culturais, quer seja pelo

custo dos bens culturais, quer seja pela inexistência de equipamentos aptos a receber

os espectáculos e as acções, o que é facto é que a maioria das pessoas se vêem

privadas da cultura. Tornar a cultura acessível a todos, independentemente do local

em que residem e das condições económicas, deverá ser uma preocupação num

estado de direito.

A escola, através do currículo oculto, é o principal veículo, ou pelo menos o ideal,

para transmitir os valores da humanidade, sensibilidade e criatividade podendo, e

devendo, ter em conta que os factores culturais e sócio-culturais afectam,

necessariamente, o desenvolvimento do país. Mas, num país com tão baixa

escolaridade como o nosso, é natural que boa parte da população se tenha visto

excluída do acesso a recursos culturais e intelectuais, até porque não se revê, e por

vezes não entende essa cultura elitista que domina a maioria das propostas culturais

apresentadas.

O desenvolvimento cultural de uma região desenvolvem o bem-estar individual e

colectivo e como tal é uma área chave para o desenvolvimento global.

A cultura é estruturante para uma região, como tal deverão ser pensadas

estratégias de promoção da educação pela arte, cultivando o gosto e o respeito pela

actividade artística, estimulando os valores culturais locais nas suas mais diversas

formas de expressão, fazendo a pedagogia da Cultura e a promoção do seu consumo

que deverão acompanhar os cidadãos ao longo das suas vidas, evitando a

padronização da cultura por parte das instituições e do estado ao imporem um gosto

oficial, colocando as pessoas, quer como produtores quer como consumidores, no

centro da actividade cultural, entre outras medidas.

O Público deve ser respeitado pelo lugar que ocupa. A capacidade de transmiti

algo de comunicar, é a essência da arte, se o receptor não for tido em consideração

11

Page 12: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

não estamos perante uma verdadeira manifestação artística, o que curiosamente é

frequentemente ignorado; não quer isto dizer que a arte deva ir atrás daquilo que o

público quer. Ela deverá estar à frente do seu tempo e dar lugar à experimentação e à

investigação.

É fundamental cultivar o gosto geral pela arte para promover o bom gosto, o

espírito crítico, a auto-estima, a criatividade, a cultura e o bem-estar.

Compete aos agentes e responsáveis localmente pela cultura do território

salvaguardar, divulgar e promover o seu património cultural, seja ele móvel, imóvel ou

imaterial. Esse património é a herança histórica à qual todos têm direito; faz parte da

memória colectiva que caracteriza a identidade cultural.

Será portanto que se preservem os imóveis dando-lhes vida e animando-os, em

permanente articulação com artistas e criadores, que têm a capacidade de revitalizar

usos e modos de estar e fazer, renovando os públicos.

Esta dinâmica de qualificação do património integrada numa lógica global de

interacção entre os diferentes agentes culturais e a participação/adesão do público são

uma aposta de requalificação vivencial do património e de renovação cultural.

O Estado tem que ser uma parte activa do processo, mas a sua principal função é

potencializar a circulação de informação e criar condições para a descentralização da

Cultura, num processo que se quer integrado e transversal. A sociedade civil deverá

ser também chamada a essa responsabilidade, para o que se torna imprescindível

criar bases de entendimento, de forma a que as iniciativas culturais tenham o efeito

desejado - desenvolver pessoas, instituições e territórios, projectando, as primeiras,

para processos e/ou percurso formativos mais consistentes de aprendizagem, ao

longo de toda a vida.

A cultura é de todos e para todos!

II.2. Análise da realidade

A EDUCAÇÃO DE ADULTOS NO CONTEXTO PORTUGUÊS1

Até 2010, pretende-se certificar 650.000 adultos em Centros Novas Oportunidades

e 350.000 em cursos de Educação e Formação de Adultos, para se atingir 1.000.000

portugueses com qualificações equivalentes ao 9º e 12º anos. Como mobilizar um tão

grande número de pessoas? Como convencê-los da importância aprendizagem e

qualificação?

1 Elaborado com a colaboração de Dr. Eduardo Meira, parceiro do projecto pela Área Educativa de Braga

12

Page 13: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

A existência até 2010 de 500 Centros em Portugal a cobrir todo o território

nacional, está longe de corresponder às exigências quantitativas e qualitativas, que

esta meta coloca. Estes Centros serão, nesta lógica, para 2/3 dos portugueses em

processo de qualificação. É necessário, neste caso, repensar o modo organizacional e

as dinâmicas a criar paralelamente, para que a população portuguesa se mobilize em

massa, de forma voluntária e consciente.

Releva-se daqui a importância da articulação em rede ou da sua participação em

plataformas de partenariados, com outras organizações especializadas no campo da

formação bem implantadas no território num trabalho duradoiro de proximidade com as

populações, de forma a que este dispositivo encontre as complementaridades necessárias para a realização de um processo de certificação que qualifique as

pessoas e não que as diplome de modo meramente administrativo para cumprimento

de metas.

A experiência mostra que só um número reduzido de adultos destes Centros é que

está em condições de certificação completa ao nível do 9ºano, a maioria, cerca de

80%, tem que fazer formação complementar, ou formação centrada em uma ou várias

áreas de competência, ou ainda tem que frequentar formações mais longas e

estruturadas, caso dos cursos EFA, ou então, deveria, conforme referencia o PO

Potencial Humano, participar em acções modulares de qualificação por áreas de

competência a partir de um mapa de formação desenhado em termos de projecto.

Se atendermos aos indicadores de participação de adultos em acções de

educação e formação, referenciados no PO Potencial Humano, e referentes ao ano de

2005, para a população 25-64 anos, verificamos uma incipiente e débil frequência

destes em acções de formação. A percentagem (4,6%) de pessoas em acções de

educação e formação de adultos está longe de ser um valor de referência no espaço

europeu.

Desta participação importa salientar que a população jovem tem um nível de

participação mais elevado, 11%, e que as pessoas com habilitações médias, 14,2%, e

superiores, 11,4%, se desviam no sentido ascendente do valor médio.

Isto demonstra que quanto maior é o nível habilitacional maior é a procura de

formação. Coloca-se a questão de como vamos atenuar esta perspectiva dual, que

põe em causa a coesão da sociedade ao aumentar o fosso já existente entre os

qualificados, que serão cada vez mais qualificados, e os outros, a grande maioria da

população portuguesa, que estará cada vez mais afastada dos patamares

habilitacionais de referência.

Não será socialmente aceitável e sortirá efeito desejável, o recurso a medidas de

“natureza coerciva” que obriguem as pessoas a entrar em processos formativos.

13

Page 14: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Por outro lado, o recurso a estratégias de sensibilização ou de marketing social

revelam-se insuficientes. É, portanto necessário apelar às consciências individuais,

mas mais do que isto é preciso criar dispositivos paradoxais de participação voluntária.

Para tal é necessário pensar soluções particularmente ajustadas à realidade

económica, política e social do país, em geral, e dos territórios em particular.

ÂMBITO GEOGRÁFICO DO PROJECTO

O Projecto em questão terá como âmbito geográfico três concelhos do Vale do

Ave: Fafe, Guimarães e Vizela -, municípios estes que integram a NUT III/Ave. Para

uma melhor clarificação da área total abrangida pelo projecto mostramos, no quadro a

seguir apresentado, a área total de cada concelho, bem como o número de freguesias

que constituem cada um deles.

Quadro I – Área Km2 e Freguesias/Concelho, 2001

Concelho Área Km2 TotalFreguesias

Fafe 218,9 36Guimarães 241,9 68

Vizela 23,7 7Fonte: Censos 2001, INE. Elaboração própria.

Dado que estes concelhos integram o Vale do Ave e que esta região, por sua vez,

se distingue em três sub-regiões morfologicamente distintas, designadas por Baixo

Ave, Médio Ave e Alto Ave, tentaremos, a seguir, fazer uma pequena descrição desta

zona, dando especial ênfase às características territoriais do Médio Ave, por ser nesta

sub-região que se inscrevem os concelhos que irão desenvolver este projecto.

Assim, será pertinente salientar que o Médio Ave se caracteriza por uma elevada

densidade populacional, já que é aqui que se encontram, juntamente com o Baixo Ave,

os concelhos mais industrializados e consequentemente aos maiores centros urbanos.

Por sua vez o Alto Ave insere os concelhos de índole rural, com uma população

substancialmente inferior. Tal facto poderá ser analisado no quadro que a seguir

expomos.

Quadro II – População Residente do Vale do Ave, 2001

14

Page 15: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

População Residente1991 2001

AVE 466074 509969

Fafe 47862 52757

Guimarães 143984 159577

Trofa 32820 37581

Santo Tirso 69773 72396Póvoa de Lanhoso 21516 22772

Vieira do Minho 15775 14724

V.N. Famalicão 114338 127567

Vizela 20006 22595Fonte: Censos 91 e Censos 2001, INE. Elaboração própria.

De acordo com o último Recenseamento Geral da População, em 2001 residiam

no Vale do Ave 509969 habitantes, reflectindo um crescimento de cerca de 9,4%

relativamente ao mesmo indicador em 1991, o equivalente a uma densidade

populacional média aproximada de 410 hab/km2.

Nas sub-regiões do Baixo Ave e Médio Ave, compostas pelos concelhos de Santo

Tirso, Trofa e Famalicão, Guimarães, Vizela e parte ocidental de Fafe,

respectivamente, a problemática do desenvolvimento coloca-se essencialmente ao

nível industrial, enquanto que nos concelhos do Alto Ave – Vieira do Minho e parte

oriental de Fafe – esta questão está intimamente relacionada com o desenvolvimento

rural.

NÍVEL EDUCACIONAL DO TERRITÓRIO DE INTERVENÇÃO

O Vale do Ave, é considerado um território demográfico e economicamente

dinâmico, e é uma das regiões mais jovens do País e da Europa, apresentando,

porém, baixos níveis de escolarização da sua população residente activa.

No âmbito educacional, em 1991, a Taxa de Analfabetismo atingia os 9.5% e em

2001 desceu para os 7.7%, valores ainda assim inferiores aos registados para a

Região Norte, com 9.9% em 1991 e 8.3% em 2001. Esta região apresentava uma

elevada percentagem de população que sabia ler e escrever sem possuir grau de

ensino ou possuindo apenas o ensino básico primário.

15

Page 16: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Apresentam-se, a seguir, dados relativos aos níveis de escolaridade da população

dos três concelhos contemplados neste projecto.

Quadro III – Distribuição da População Residente segundo o Nível de Instrução, 2001

Fonte: Censos 2001, INE. Elaboração própria.

Como se pode verificar, a maior parte da população do Vale do Ave, incluindo a

dos três concelhos em análise, possui apenas o 1º Ciclo do Ensino Básico, seguido do

2º Ciclo, havendo ainda uma considerável fatia da população sem qualquer nível de

ensino, embora muitos destes saibam ler e escrever.

O abandono e insucesso escolar da população jovem vem, igualmente, reforçar e

agravar os baixos níveis de escolaridade deste território. De salientar, aqui, a

percentagem significativa de abandono escolar dos concelhos de Fafe, Guimarães e

Vizela.

 

Distribuição da População Residente Segundo o Nível de Instrução

Ave Fafe Guimarães Vizela

Sem Nível de Ensino 70759 13,9% 7357 14,2% 19350 12,3% 3070 13,8%

1º Ciclo do Ens. Bás. 198426 38,9% 20539 39,6% 61912 39,4% 9690 43,4%

2º Ciclo do Ens. Bás. 89594 17,6% 10447 20,1% 26962 17,2% 3981 17,8%

3º Ciclo do Ens. Bás. 57859 11,3% 5525 10,7% 18789 12,0% 2493 11,2%

Ensino Secundário 60023 11,8% 4916 9,5% 19406 12,4% 2137 9,6%

Ensino Médio 2000 0,4% 150 0,3% 666 0,4% 63 0,3%

Ensino Superior 31307 6,1% 2920 5,6% 9873 6,3% 880 3,9%

16

Page 17: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Quadro IV – Abandono Escolar no Vale do Ave, 2001

Abandono escolar (%)

Fafe 3,9Guimarães 3,7Póvoa de Lanhoso 4,3Santo Tirso 2,7Trofa 2,5

Vieira do Minho 5,6Vila Nova Famalicão 2,0Vizela 4,0AVE 3,2Portugal 2,6

Fonte: INE / Ministério da Educação, Censos 2001.

De facto, segundo dados de 2001, 3.2% das crianças e jovens em idade de

escolaridade obrigatória não concluíram o 3º ciclo, nem se encontravam a frequentar a

escola, taxa esta superior à média registada no País.

Assim, pode-se caracterizar o Ave, em geral, como uma região de escolarização

muito baixa, com elevadas taxas de insucesso escolar e de abandono precoce da

escola, o que se encontra relacionado não só com as precárias condições económicas

em que parte das famílias vive, mas também com a predominância de modelos

empresariais predatórios das reservas locais de mão-de-obra precocemente saídas do

sistema educativo.

Tendo em conta o panorama da baixa escolarização e do abandono escolar no

Vale do Ave, tem havido um grande esforço por parte de várias entidades ligadas à

educação e formação, públicas e privadas, para contrariar esta tendência,

nomeadamente através do desenvolvimento de Cursos de Educação e Formação de

Adultos, da implementação do Sistema Nacional de Reconhecimento, Validação e

Certificação de Competências, do Ensino Recorrente, dos cursos de Ensino

Profissional e de Educação-Formação. No entanto, apesar da evolução sentida neste

campo, reconhece-se que é necessário continuar e, mesmo, reforçar esta “aposta”

pela elevação dos níveis educacionais da população do Ave.

Dinâmicas Culturais: Espaços de Cruzamento de Identidades Locais

17

Page 18: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Numa tentativa de caracterizarmos a dinâmica cultural dos concelhos abrangidos

pelo projecto, iremos de seguida apresentar aquilo que nos parecem ser as principais

semelhanças e diferenças culturais de Fafe, Guimarães e Vizela.

À partida, em termos de dinâmica cultural o concelho de Guimarães é, sem dúvida,

aquele que mais se destaca, não só em termos de equipamentos e infra-estruturas

culturais, mas também em termos de actividades e iniciativas. Desde logo, pelo seu

património histórico edificado, enriquecido e potenciado pelo investimento municipal

que tem vindo a ser feito na recuperação do mesmo e na dinamização de actividades

culturais, esforço este reconhecido internacionalmente pela atribuição, pela UNESCO,

do título de Património Cultural da Humanidade e, mais recentemente, pelo convite

para Capital Europeia da Cultura 2012.

Reportando-nos, agora, ao concelho de Vizela, de salientar que a sua dinâmica

cultural reflecte a juventude deste concelho, criado apenas em 1999, estando, por

isso, ainda numa fase de procura de identidade cultural, assim como de

desenvolvimento de infra-estruturas e equipamentos culturais. No entanto, verifica-se

já alguma dinâmica na realização de actividades diversas de índole cultural, notando-

se, apesar de tudo, uma maior adesão da população às iniciativas de carácter popular.

São estas iniciativas de cultura popular aquelas que mais se destacam e

caracterizam a dinâmica cultural do concelho de Fafe. De facto, sendo este um

concelho mais rural, as suas actividades e iniciativas culturais têm um carácter de

cultura rural popular, ainda genuinamente ligada aos interesses locais: o lazer, o

desporto, as festas religiosas, o artesanato, entre outras. Denota-se aqui, também, um

grande esforço por parte da autarquia para dinamizar actividades mais diversificadas e

dirigidas a um novo público. Saliente-se o grande número de instituições e

associações locais ligadas à cultura e ao desporto populares, o que pode constituir um

grande potencial para este projecto.

Assim sendo, estamos perante um cruzamento de espaços culturais que, apesar

de terem em comum bastantes actividades de cultura popular, de carácter

local/comunitário, também demonstram um esforço em abranger uma cultura mais

cosmopolita e erudita.

III – Parceiros

Um projecto deste tipo nunca poderia ser implementado sem a constituição de uma

Rede de Parceiros vasta e activa. Assim, procurou-se envolver na parceria inicial uma

18

Page 19: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

série de entidades, públicas e privadas, de índole cultural e educativo, que pudessem

prestar um importante contributo à definição do projecto.

Neste sentido, estas são aquelas entidades que responderam, desde logo, ao desafio

que lhes foi colocado, constituindo, por isso, o “núcleo gerador” do projecto. No

entanto, esta pretende ser uma Rede de Parceiros em constante dinâmica e, por isso,

aberta a novas entidades e pessoas.

Saliente-se, igualmente, que apesar de algumas entidades abaixo mencionadas não

terem estado presentes nos Grupos de Discussão, por motivos de agenda,

manifestaram o seu interesse em participar activamente no projecto.

Guimarães

Sol do Ave – Associação para o Desenvolvimento Integrado do Vale do Ave

Câmara Municipal de Guimarães – Rede Social e Cultura

ADCL – Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Locais

A Oficina – Centro de Artes e Mesteres Tradicionais, CRL

CNO Escola Secundária das Taipas

CNO AMAVE

Centro de Formação Francisco de Holanda

Área Educativa de Braga

Fafe

Associação Empresarial de Fafe, Cabeceiras de Basto e Celorico de Basto

Núcleo da Cruz Vermelha de Fafe

Coordenação Educativa de Braga

ARA – Associação Recreativa e Artística do Bugio

Câmara Municipal de Fafe

Restauradores da Granja

Associação Cultural e Recreativa Leões de Ferro

Grupo Nun’Alvares

Área Educativa de Braga

Vizela

Centro Social Paroquial de Barrosas (Sta. Eulália)

Duodifusão

Escola Secundária de Vizela e CNO

ACIV – Associação Comercial e Industrial de Vizela

Fundação Jorge Antunes

Câmara Municipal de Vizela

Área Educativa de Braga

19

Page 20: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

IV - ParticipantesEste projecto tem como participantes preferenciais a população desfavorecida e,

de algum modo, excluída de processos de aprendizagem ou socialização. Pretende-

se, por um lado, mobilizar as pessoas a participar nas mais diversas actividades

culturais, despertando-lhes a motivação pela aprendizagem ao longo da vida e, por

outro lado, facultar novas oportunidades de aprendizagens não formais e informais aos

adultos inseridos em processos formativos, nomeadamente em processos de

Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) nos Centros

Novas Oportunidades. Nesta lógica de validação de competências adquiridas em

contextos informais e formais de aprendizagem, os adultos que participam em

actividades de foro cultural poderão integrar estes processos de certificação,

valorizando-se, dessa forma, o envolvimento e participação nessas actividades.

V - FinalidadePromover o direito à educação, à participação, à criação e à fruição cultural,

tornando-o acessível a todos num quadro de uma rede territorial de trabalho sócio-

educativo e cultural.

VI - Objectivos gerais Potenciar o campo das oportunidades de aprendizagem ao longo da vida,

numa lógica de proximidade;

Proporcionar a mobilidade, o conhecimento e as práticas intra, inter e trans-

culturais;

Atribuir sentido educativo e/ou formativo às actividades culturais;

Valorizar a participação e os resultados das aprendizagens não formais e

informais, traduzindo-os em competências certificáveis;

VII – Estratégias/Expoentes-chave

Rede de Cultura Popular

Um dos objectivos do projecto será aproveitar as infra-estruturas das entidades

parceiras e as actividades já dinamizadas ou outras a criar, promovendo

espaços/momentos comuns de intercepção e partilha culturais. Desta forma, as

20

Page 21: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

actividades terão lugar em pontos diversos dos concelhos, estando próximas de várias

comunidades.

Algumas associações existentes em Fafe, Guimarães e Vizela tornaram-se

especializadas em algumas áreas culturais específicas e esse capital cultural será

respeitado e mobilizado para este projecto.

As actividades a desenvolver são:

“Itinerário Cultural”, actividade que marcará o início do projecto e consistirá na

abertura das várias entidades culturais à população, no sentido de darem a

conhecer as actividades por ela promovidas e a cultura inerente àquele local

específico, demonstrando às populações dos territórios abrangidos as

potencialidades educativas das várias artes;

Ateliers de desenvolvimento de competências integradas (artísticas, culturais,

educativas…), tendo por base os referenciais de competências-chave, ou seja,

dinamizar em conjunto com os parceiros actividades nas áreas do teatro,

canto, música, pintura, escrita, leitura, literatura oral, escultura e outras áreas;

Oficinas de Artes Populares/Cultura Popular serão espaços onde se recuperará

as artes tradicionais, nomeadamente a dança folclórica, os cantares e poesias

populares, o artesanato e outras, respeitando a sua singularidade, percebendo

as suas origens;

Ateliers de Inovação da Tradição, os quais funcionarão com objectivo de

trabalhar as artes tradicionais, atribuindo-lhes estéticas e componentes

modernos, renovando/recriando e/ou mantendo as suas funcionalidades,

finalidades e objectivos;

Convívios, Percursos Pedestres, visitas culturais, Exposições,

Roteiros/Itinerários Culturais, procurando outras formas de saber, através da

fruição da cultura, da natureza e das relações interpessoais;

Feira da Cultura será uma actividade conjunta organizada pelas entidades

culturais, pelos colaboradores activistas e pela comunidade participante em

todo o projecto, criando uma mostra das dinâmicas, actividades, competências

e saberes desenvolvidas durante a execução do projecto, bem como das suas

potencialidades.

Às actividades que se venham a desenvolver, para além do cunho cultural que já

possuem, ser-lhes-á conferido um significado educativo, de forma a estabelecer um

paralelismo entre as competências adquiridas na participação, organização, ou fruição

cultural com as competências-chave expressas nos referenciais de competências,

21

Page 22: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

quer de nível básico, quer do secundário. Assim sendo, conseguir-se-á valorizar as

aprendizagens informais e não formais, de base comunitária, relacionando-as e

reconhecendo-as em processos formais de educação e formação, no âmbito da

“Iniciativa Novas Oportunidades”.

Rede de “Colaboradores Activistas”

Será constituída por elementos chave da comunidade, que se foram assumindo

como líderes naturais, próximos das populações e das instituições/actividades

culturais, de modo a incentivarem a participação da comunidade, isto é a mobilizarem

a população para a aprendizagem ao longo da vida, no seu sentido mais amplo. Terão

um papel fundamental na execução do projecto, daí serem denominados por grupo de

colaboradores-activistas. Além destes elementos, outros parceiros terão um papel

fundamental na divulgação do projecto e das diversas actividades e na mobilização de

públicos, nomeadamente as Câmaras Municipais, os Centros Novas Oportunidades,

as entidades formadoras e as próprias entidades culturais e recreativas.

Rede Virtual

Trata-se de uma plataforma virtual que permitirá a comunicação e colaboração

entre os diversos parceiros, entre estes e a comunidade, entre educadores, entre

estes e os agentes culturais e entre outros; a divulgação do projecto e das iniciativas

locais e a calendarização dos eventos, para além de permitir ao exterior participar no

projecto, procedendo a sugestões ou críticas, funcionando também como um meio de

monitorização e avaliação do projecto. O endereço provisório desta plataforma de

comunicação é http://altoave.wordpress.com.

Intercâmbios

Serão realizados mediante a organização de Workshops, seminários, Fóruns de

Discussão/Reflexão, Publicações, que permitirão a troca de experiências e a partilha

de saberes, cultura, tradições, etc. Além disso, consideramos que a integração neste

projecto de imigrantes que actualmente estão em Portugal é uma mais valia pois

possibilitará a divulgação e conhecimento de outras culturas, havendo, assim, um

enriquecimento mútuo entre as culturas de outros povos que actualmente residem em

Portugal e as comunidades locais.

22

Page 23: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

XIX - Estrutura Organizativa2

2 A estrutura organizativa do projecto poderá estar sujeita a alterações dependendo da fonte de financiamento a que se recorrer e da respectiva regulamentação. No entanto, esta estrutura reflecte as nossas preocupações de base em termos organizativos.

23

Page 24: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

X - Infra-estrutura de apoio

Organigrama – Funções

Descrição dos diversos elementos do Organograma

1. Conselho de Parceiros - Delibera e avalia;

2. Equipa Coordenadora - Monitoriza o projecto;

3. Equipa Operacional – Operacionaliza;

4. Equipa Técnica – de Certificação - Colabora na definição de actividades formativas direccionadas

para as necessidades diagnosticadas pelos CNO; define planos formativos direccionados para a

certificação; interpreta, descodifica e desoculta competências, à luz do Referencial de Competências-

chave;

5. Equipa Técnica – de Comunicação e Marketing – Câmaras Municipais - Divulga as actividades nas

agendas culturais; articula iniciativas intra e interterritoriais; transmite informação relativa a ofertas

culturais/ concursos existentes;

6. Equipa Técnica – de Comunicação e Marketing - Parceiros - Publicita as iniciativas junto da sua

população-alvo; recolhe pareceres, opiniões e propostas; procede à recepção de elementos de avaliação;

7. Equipa Técnica – Formação – Elementos da DREN – Organiza a articulação em Rede dos diversos

actores; colabora em formação de carácter pedagógico-didáctico; participa e anima fóruns de discussão

com vista à interpretação de contextos, situações de vida e actividades conducentes à qualificação em

diferentes domínios do saber: Cultura, Língua, Comunicação, Sociedade, Tecnologia, Ciência, Cidadania

e Profissionalidade;

8. Equipa Técnica – Formação – Elementos das Entidades Formadoras - Colabora na dinamização e

implementação de formação no âmbito da Iniciativa Novas Oportunidades; analisa e divulga boas práticas

formativas na Educação e Formação de Adultos e na Educação Extra-escolar;

9. Equipa Técnica – Formação – Elementos das Escolas - Colabora na dinamização e implementação

de formação no âmbito da Iniciativa Novas Oportunidades; analisa e divulga boas práticas formativas na

Educação e Formação de Adultos e na Educação Extra-escolar;

10. Equipa Técnica – Formação – Formadores, Tutores e Animadores - Dinamiza os ateliers e a

formação; acompanha os adultos nas mais diversas iniciativas estabelecendo pontes com ofertas

formativas mais estruturadas; orienta os adultos nos seus projectos pessoais de aprendizagem; motiva

para a ALV;

11. Equipa Técnica – Artes - Define percursos formativos nas diferentes áreas artísticas;

12. Equipa de Colaboradores/Activistas - Mobiliza as pessoas para os diferentes projectos, apresenta

propostas e colabora nas iniciativas; e

13. Equipa de Projecto - Elabora Planos de Acção, candidaturas pedagógicas e financeiras; participa em

iniciativas de divulgação de projectos; acompanha as iniciativas e avalia-as com vista a melhorias.

24

Page 25: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Um projecto desta dimensão, caso não fosse dinamizado através de uma rede de

parcerias, necessitaria, sem qualquer dúvida, de uma enorme infra-estrutura de apoio

quer material, quer humana.

No entanto, sendo executado em rede, será possível criar sinergias entre os

diversos parceiros, rentabilizando os recursos já existentes e, sempre que necessário,

criando outros em conjunto.

Em termos materiais, este projecto terá que contar, fundamentalmente com os

seguintes recursos:

Uma Plataforma Informática de interacção entre os parceiros e destes com o

exterior;

Espaços Físicos para as actividades a desenvolver, sendo que estes são os

dos parceiros;

Espaço que funcione como “sede” do projecto, enquanto espaço/momento de

reunião, partilha e decisão;

Material pedagógico, nomeadamente um “quadro de referência de

competências” das diversas expressões artísticas e culturais que estabeleça

um paralelo com os referenciais de competências-chave do nível básico e

secundário; uma “caderneta de competências” desenvolvidas no âmbito do

projecto, que funcione como registo de créditos no âmbito do sistema ECVET.

Para além do material acima mencionado, o sucesso deste projecto dependerá em

grande medida dos recursos humanos que dinamizarão o mesmo. Este é, sem

dúvida, um aspecto muito importante e que deverá ser analisado com todo o cuidado,

quer no que respeita à definição do perfil dos técnicos, quer das suas tarefas e

responsabilidades no projecto. Resumidamente, quanto aos recursos humanos,

poderemos distinguir a existência dos seguintes níveis:

1. Representantes Institucionais das entidades parceiras, que participarão das

reuniões do Conselho de Parceiros;

2. Representantes Técnicos das entidades parcerias, que participarão

activamente na equipa operacional, mais concretamente, nas suas diversas

equipas técnicas;

3. A Equipa do Projecto, especialmente contratada para dinamização do mesmo,

e que poderá incluir pessoas com as seguintes formações de base: Educação,

Animação Sócio-educativa/Sócio-cultural, Artes, Sociologia, de entre outras;

4. A Equipa de Colaboradores-Activistas, uma por concelho.

25

Page 26: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Todas estas pessoas deverão estar devidamente sensibilizadas para a finalidade

do projecto, assim como devidamente empenhadas no sucesso do mesmo.

Por outro lado, o projecto terá vários técnicos que assumirão papeis de mediação,

sendo de destacar os elementos da equipa Operacional e, dentro destes, sobretudo,

os grupos dos Colaboradores-Activistas, os quais procurarão (re)estabelecer laços

sociais através da participação nas actividades culturais ou na vida associativa,

estabelecendo uma ponte entre os diversos parceiros e a comunidade em geral.

MEDIAÇÃO SOCIALTendo em consideração que o público-alvo privilegiado deste projecto é a população mais

desfavorecida, afastada de processos de aprendizagem e de participação cultural e associativa,

podemos considerar que está implícita a mediação social como forma de aproximação de

comunidades, territórios e culturas. Trata-se de uma estratégia de intervenção junto daqueles que

por circunstâncias várias (sociais, culturais, económicas, políticas, entre outras) apresentam baixos

índices de escolaridade e se encontram alheios a processos de aprendizagem, nomeadamente de

índole cultural, podendo, desta forma, colaborar na sua qualificação escolar, no restabelecimento

de redes de relações sociais e, consequentemente, na sua integração sócio-cultural.

Por outro lado, está incluído no plano de actividades deste projecto o intercâmbio entre diferentes

culturas, recorrendo a emigrantes em Portugal que possam dar a conhecer a sua História e

Cultura, permitindo não só o enriquecimento cultural, mas também a integração social dos

imigrantes, valorizando a multiculturalidade, permitindo a mediação cultural. Desta forma, o

projecto engloba processos de interacção que permitem uma transição cultural e intelectual

indispensável à compreensão entre os sujeitos. Além disso, não podemos esquecer que vivemos

na era da globalização, dai a importância de se conhecer as diversas culturas.

Portanto, estaremos perante uma mediação sócio-cultural, que permitirá a ligação de percursos de

aprendizagens formais, não formais e informais à comunidade, apelará à participação em

actividades culturais e associativas, possibilitará a transmissão e conhecimento de valores éticos,

contribuindo para a socialização, integração sócio-cultural, participação cidadã, autonomia dos

sujeitos e desenvolvimento pessoal e territorial. (Cont…)

26

Page 27: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Mediação – Acessibilidade

O projecto:

favorecerá e facilitará o acesso a serviços culturais e

educativos

Mediação – Sociabilidade

O projecto:

trabalhará as relações do indivíduo com as organizações

culturais-recreativas e, consequentemente com a

comunidade;

criará relações interpessoais entre o público-alvo, os

indivíduos já integrados em actividades culturais e em

entidades de cariz cultural, estabelecendo novos laços

sociais;

estabelecerá momentos de aprendizagem e de partilha

de experiências e conhecimentos, valorizando o capital

cultural de cada indivíduo, nomeadamente de

emigrantes.

Mediação – Consciencializaçã

o

O projecto:

desenvolverá competências nos participantes;

tornará o sujeito mais interventivo social e civicamente.

Mediação – Dinamização

O projecto:

permitirá o desenvolvimento de competências relacionais,

criando novas de redes de relacionamento e de formas

de participação social.

Mediação – Formação

O projecto:

dinamizará a participação em momentos de

aprendizagem informais e não formais (estratégia de

empowerment), estabelecendo um paralelismo com a

certificação escolar (educação formal) e vice-versa, ou

seja, incentivará os indivíduos integrados em percursos

de aprendizagem formais a participar em actividades

culturais.

Uma outra dimensão fundamental é a forma de financiamento deste projecto,

surgindo, aqui, as seguintes possibilidades:

1. Elaborar um só projecto, promovido por uma só entidade e com a parceria das

restantes, sendo este submetido ao Programa Operacional Temático do

Potencial Humano, no âmbito do QREN 2007-2013, ou, ao Sub-programa

Gruntvig, no âmbito do Programa Europeu Aprendizagem Ao Longo da Vida;

(Cont.)

NOTA: O papel da mediação social/cultural neste projecto insere-se no Módulo de Mediação Social da Pós-Graduação e, apesar de se ter dado início à reflexão pretendida neste documento, ela irá ser desenvolvida no trabalho final do curso.

27

Page 28: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

2. Elaborar 3 projectos, sendo um por município, com a fundamentação,

finalidade, objectivos gerais e específicos, expoentes-chave, mecanismos de

monitorização e avaliação em comum, mas com actividades diferentes,

consoante as especificidades de cada município, candidatando-os em

simultâneo ao Programa Operacional Temático do Potencial Humano;

3. Constituir este projecto como um “chapéu” enquadrador de vários sub-

projectos, de dimensão variada, promovidos pelas várias entidades parceiras e

submetidos a diversas fontes de financiamento, consoante a sua natureza a

sua adequabilidade aos mesmos, nomeadamente, aos programas acima

mencionados, assim como ao Programa Operacional da Região Norte, à

Iniciativa Comunitária Leader, ao Programa Comunitário da Cultura, de entre

outros.

Todas estas formas de financiamento são possíveis, sendo que a mais complexa,

apesar de mais interessante e mais potenciadora do desenvolvimento local, poderá

ser a última, uma vez que obrigará a que todos os sub-projectos tenham uma linha

condutora comum e a um esforço de coordenação entre os mesmos muito maior.

XI - Mecanismos de avaliação

No que respeita a esta dimensão, faremos uma distinção entre mecanismos de

monitorização e mecanismos de avaliação. Embora se possam confundir, a

monitorização e a avaliação de um projecto são dimensões distintas, apesar de

complementares.

Assim, por monitorização entende-se “registo quotidiano do que acontece num

projecto que permite acompanhar, controlar e gerir o projecto (…). A monitorização

incide sobre o cumprimento das actividades planeadas em termos (a) da própria

realização dessas actividades; (b) do calendário traçado; (c) dos recursos materiais e

financeiros programados”; (d) dos efeitos desejados” (Schiefer et al., 2006, p. 258).

A avaliação centra-se na informação recolhida pelo sistema de monitorização mas

ultrapassa-o, ou seja, tem por objectivo comparar os resultados e processos

monitorizados do projecto com os resultados e processos projectados/planeados.

Assim, a avaliação é conduzida em intervalos específicos de modo a que se possam

comparar dados e pretende analisar detalhadamente os resultados, efeitos e impactes

do projecto, tendo em vista a introdução de eventuais correcções, reformulações ou a

extracção de conclusões.

28

Page 29: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Neste sentido, este projecto terá um sistema de monitorização e um sistema de

avaliação.

O sistema de monitorização será efectuado pela própria equipa do projecto,

sendo uma responsabilidade do coordenador da mesma, podendo para o efeito utilizar

diversos instrumentos, nomeadamente, relatórios, tabelas, cronogramas, planos de

acção das equipas, contributos registados na Rede Virtual, etc… A título de exemplo,

poderá ser utilizada a seguinte tabela que permite, a todo o momento, ter uma visão

alargada e objectiva do estado das actividades do projecto:

Tabela de Monitorização de ActividadesActividades Calendário

(Meses)Recursos Humanos

Recursos Materiais

Custos Organização Responsável

Pessoa Responsável

Observa-ções

Actividade 1

A1 Efectiva

Actividade 2

A2 Efectiva

(…)

Extraído de : Schiefer, Ulrich, Lucinia Bal Dobel, António Batista, Reinald Dobel, João Nogueira e Paulo Teixeira

(2006), MAPA - Manual de Planeamento e Avaliação de Projectos, Cascais, Principia

O sistema de avaliação, tratando-se este de um projecto de animação sócio-

cultural, privilegiará modelo de avaliação qualitativo (ainda que não se descure o

modelo quantitativo) e realizar-se-á em dois momentos:

Avaliação “on-going”: a aplicar no fim de cada ano de execução do projecto,

de carácter fundamentalmente formativo, orientado para a melhoria contínua

do projecto, incidindo sobre o processo e o desenvolvimento do programa, e

que apresenta um forte elemento prático ao permitir que os resultados sejam

integrados na acção com vista a uma maior qualidade do trabalho;

Avaliação “ex-post”: a aplicar no final do projecto, de carácter sumativo, com

o objectivo de analisar a eficiência e eficácia do projecto, e se este gerou os

resultados esperados.

Este processo de avaliação será levado a cabo pela equipa operacional do

projecto, com o apoio e orientação de um avaliador externo, podendo assim haver

lugar a um cruzamento olhares complementares.

Para além disso, este processo deverá ser o mais dinâmico e participado possível,

envolvendo para isso todos os stakeholders – parceiros (decisores e técnicos),

destinatários, representantes da comunidade local, etc, – do projecto.

29

Page 30: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

Os instrumentos de avaliação a utilizar centrar-se-ão em torno da realização de

grupos de discussão ou workshops com os stakeholders, podendo a informação

resultante destes momento ser complementada com a administração de questionários,

realização de entrevistas e observação.

30

Page 31: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

XII - Cronograma

31

Page 32: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

BIBLIOGRAFIA

ÁLVARO, E. (1977). “Portugal 76. Vanguardas Alternativas. Albuquerque/Da Rocha/Dixo/Graça Morais/Grupo Puzzle/Vítor Fortes”. Artes Plásticas. 7/8, p.28.

BAUMAN, Z. (2001). Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar.

CARDOSO, G. (Coord.). (2006). 20 Ideias para 2020.Inovar Portugal. Porto: Campo das Letras.

Cembranos, F. & Montesinos, D. “La Animación Sociocultural: Una Propuesta Metodológica”. Editorial Popular

Comissão das Comunidades Europeias (1995) Livro Branco Sobre a Educação e a Formação. Ensinar e Aprender. Rumo a Sociedade Cognitiva, Bruxelas: CEE.

Comissão das Comunidades Europeias (2000) Memorando sobre a Aprendizagem ao Longo da Vida, Bruxelas: CEE.

FERREIRA, F. (2005). O Local em Educação, Animação, Gestão e Parceria. Lisboa: FCG.

FONSECA FERREIRA, A. (2005). Gestão Estratégica de Cidades e Regiões. Lisboa: FCG.

FOSTER, H. (Ed.). (1985, 5ª ed 2002),. La posmodernidad. Barcelona: Kairós.

FOSTER, H. (Ed.). (1987). Discussions in contemporary culture. Seattle: Bay Press.

FREIRE, P. (1994 a).in M. Escola, A. L. Fernández, G. Guevares-Niebla with Paulo Freire, Paulo Freire on Higher Education:a dialogue.at the Nacional University of Mexico, Albany: Suny Press.

GIDDENS, A. (2002). Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Zahar.

GIDDENS, A. (2005). O Mundo na Era da Globalização. Lisboa: Presença.

GIRARDET, H. (2005). Creating Sustainable Cities. Reino Unido: Green Books.

GUERRA, I. (2002). “Fundamentos e Processos de uma Sociologia de Acção”. Cascais: Principia

HEURGON, E., STATHOPOULOS, n, (1999). Les Métiers de la ville – Les nouveaux territoires de l’áction collective. La Tour d’Aigues. Èditions de l’Aube.

LIPPARD, L.R. (1997). The lure of the local: senses of place in a multicentered society. New York: New Press.

MORAZA, J. (1989). Ornamento y Ley. Procesos de contemporización. Murcia: Cendeac.

32

Page 33: PÓS-GRADUAÇÃO “EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO€¦  · Web viewPROJECTO “Cultura, Educação e Saberes” (A ligação entre a cultura e a aprendizagem ao longo da vida)

PITEIRA, S.; GUILHERME, J. (2005). “A Escultura de âmbito público”Arte Pública. Margens e Confluências: Um olhar Contemporâneo sobre as artes (Arte Pública). 9, p 34.

SCHIEFER, U., BAL-DOBEL, L., BATISTA, A., DOBEL, R., NOGUEIRA, J., & TEIXEIRA, P. (2006). “Manual de Planeamento e Avaliação de Projectos”. Cascais: Principia

33