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Protocolo nº 201202547111
SENTENÇA
Trata-se de ação civil pública proposta pelo O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
, por conduto da Promotora de Justiça em execução nesta Comarca, em face doGOIÁS
ex-Prefeito , do Gestor Municipal FÁBIO GABRIEL DO AMORIM VALDIVINO TOTÓ
e de , , DE ALMEIDA FÁBIO JOSÉ DE LIMA CLAUDIMIRO AUGUSTO GONÇALVES
, LUZIANE TEODORO GONÇALVES, HENRIQUE RIBEIRO DE SOUZA RAQUEL
e , porque, no segundoPASSOS DE OLIVEIRA WANDER DA SILVA GUIMARÃES
semestre de 2011, Valdivino Totó de Almeida, ocupante do cargo de Gestor Municipal, e o
ex-Prefeito, Fábio Gabriel de Amorim, doaram, verbalmente, aos demais corréus, lotes da área
institucional pertencente ao Residencial Paraiso, desafetada pela Lei Municipal nº 250/11,
dando-lhes autorização para construírem suas casas, com a promessa de transferirem os terrenos
no CRI depois das Eleições de 2012.
A presente ação objetiva: declarar a nulidade da Lei Municipal 250/2011, que desafetou a(a)
área institucional do Residencial Paraíso para dividi-la em oito lotes, por violação da Lei
Federal nº 6.766/1979 e da Constituição Federal de 1988; condenar o ex-Prefeito Fábio(b)
Gabriel de Amorim e o Gestor Municipal Valdivino Totó de Almeida por improbidade
administrativa, nos termos do artigo 10, e inciso III, c/c artigo 12, inciso II, da Leicaput
8.429/1992, ou, residualmente, nos moldes do artigo 11, , c/c artigo 12, III, do mesmocaput
diploma legal; e determinar a desobstrução da área institucional ocupada pelos ?donatários?,(c)
com demolição das casas nela construídas.
A inicial veio instruída com os documentos de fls. 27/140.
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Notificados, nos termos do artigo 17, § 7º, da Lei nº 8.429/1992, as partes demandadas
ofereceram respostas escritas não acolhidas por este Juízo, que recebeu a petição inicial e
determinou as respectivas citações.
Citados, os réus FÁBIO JOSÉ DE LIMA, CLAUDIMIRO AUGUSTO GONÇALVES,
LUZIANE TEODORO GONÇALVES, HENRIQUE RIBEIRO DE SOUZA, RAQUEL
PASSOS DE OLIVEIRA e WANDER DA SILVA GUIMARÃES, ao oferecerem contestação,
foram unânimes em afirmar que o réu FÁBIO GABRIEL DE AMORIM, ex-prefeito do
Município de Nazário, é quem realizou, pessoalmente, a ?doação verbal? dos lotes da área
institucional, desafetada pela Lei Municipal nº 250/11, se comprometendo a regularizá-las
futuramente, e que, por serem possuidores de boa fé, devem ser legitimados como donos nos
terrenos ganhados.
Citado, o demandado FÁBIO GABRIEL DE AMORIM reconhece, em sua contestação, que
encaminhou a desafetação da área institucional pertencente ao Residencial Paraiso à Câmara de
Vereadores, quando era prefeito do Município de Nazário, não havendo nenhuma irregularidade
nessa conduta. Ao mesmo tempo, adverte que não autorizou sua invasão, tampouco doou ou
alienou lotes nela situados a qualquer pessoa, não tendo, por isso, praticado nenhum
procedimento equiparável à improbidade administrativa, nem agido com má-fé ou com dolo ou
causado dano ao Erário.
O demandado VALDIVINO TOTÓ DE ALMEIDA, devidamente citado, deixou transcorrer in
o prazo para apresentar contestação.albis
Instado, sustenta que os réus VALDIVINO TOTÓ DEO MUNICÍPIO DE NAZÁRIO
ALMEIDA e FÁBIO GABRIEL DE AMORIM cometeram todos os fatos que lhes foram
atribuídos pelo Ministério Público.
No curso do processo, , e CARLA ADRIANA DIAS CLAUDIONOR PEREIRA CAMPOS
peticionaram nos autos e requereram suas inclusões no polo passivoLUZIANE DAMACENO
da demanda como litisconsortes necessários, por serem beneficiários dos lotes doados na área
institucional pelo ex-Prefeito demandado.
Às fls. 479/480v, este Juízo deferiu o ingresso de , CARLA ADRIANA DIAS CLAUDIONOR
e como litisconsortes necessários passivos.PEREIRA CAMPOS LUZIANE DAMACENO
No decorrer da instrução, colheram-se os depoimentos pessoais das partes, seguindo as
alegações finais, na forma de memoriais, em que o Ministério Público manifestou-se pela
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procedência dos pedidos nos termos da inicial, enquanto o demandado Fábio Gabriel de
Amorim defendeu a legalidade da desafetação da área institucional, bem como a ausência de
conduta desonesta, visto que destinou os lotes a pessoas necessitadas, sem provocar danos ao
Erário.
O Município de Nazário, também em memoriais, postulou pelo reconhecimento da ilegalidade
das doações e sua reintegração na posse da área institucional, visando sua regular utilização.
O demandado Valdivino Totó de Almeida não apresentou razões finais.
Os demais corréus alegaram que receberam os bens imóveis de boa fé e que as doações atendem
o direito social de moradia e a função social da propriedade.
Antes de proferir sentença, este Juízo converteu o processo em diligência, para o Ministério
Público manifestar sobre a possibilidade de regularização fundiária do assentamento autorizado
pela própria Administração Pública municipal, por meio de ex-Alcaide, o demandado Fábio
Gabriel do Amorim.
A Promotora de Justiça opinou contrariamente à regularização fundiária do assentamento
irregular, devido à natureza de área institucional do imóvel público.
Relatados. Fundamento e decido.
Esta ação almeja: declarar a nulidade da Lei Municipal 250/2011, que desafetou a área(a)
institucional do Residencial Paraíso para dividi-la em oito lotes, por violação da Lei Federal nº
6.766/1979 e da Constituição Federal de 1988; condenar o ex-Prefeito Fábio Gabriel de(b)
Amorim e o Gestor Municipal Valdivino Totó de Almeida por improbidade administrativa, nos
termos do artigo 10, e inciso III, c/c artigo 12, inciso II, da Lei 8.429/1992, ou,caput
residualmente, nos moldes do artigo 11, , c/c artigo 12, III, do mesmo diploma legal; e caput (c)
determinar a desobstrução da área institucional ocupada pelos ?donatários?, com demolição das
casas nela construídas.
Dispõem o artigo 1º, § 3º, e o artigo 2º, da Lei Municipal nº 250/2011:
?Fica desafetado da sua destinação originária os bens imóveis
abaixo descritos:
[...]
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§ 3º - Imóvel registrado no Cartório de Registro de Imóveis da
Comarca de Nazário, Livro 2-F, fls.147 e verso, registro de nº
R-01-1554, área institucional pertencente ao patrimônio do
município de Nazário, de uso comum do povo, com designação da
quadra 03 (três) medindo 4.556m², compreendida entre os lotes de
nºs. 01,02,03, 05 e 06 pelo lado Sul, 07,08,09,10,11 e 12 pelo lado
Norte, e as Ruas Jeconias Vieira da Paixão, pelo lado Leste e
Manoel Fernandes Teixeira pelo lado Oeste.
Art. 2º Os imóveis destinados ao uso comum da administração
serão destinados, dentre outras finalidades, para regularização de
pendências de doações de gestores anteriores. ?
Pois bem. A matéria fática restou bem esclarecida pelos depoimentos pessoais das partes,
inclusive pelas declarações do Ex-Prefeito Fábio Gabriel de Amorim, que confessou,
expressamente, que, depois da desafetação da área institucional do Residencial Paraíso por meio
da Lei Municipal 250/2011, realizou, de forma verbal, a ?doação? dos respectivos lotes e
autorizou que os beneficiários construíssem suas residências no local. Explicou que assim
procedeu para atender o sonho da casa própria dos agraciados, bem como porque não era
possível, em razão da proximidade das Eleições Municipais de 2012, regularizar o loteamento e
doar formalmente os terrenos. Destacou que foram feitas inscrições e observados critérios
objetivos na escolha dos ?donatários?. Admoestou, porém, que as inscrições feitas na AGEHAB
tinham por destinatários os inscritos para o loteamento Residencial Vitória e não os inscritos
para o Loteamento Residencial Paraíso.
O depoimento pessoal do demandado , sob o crivo doFÁBIO GABRIEL DE AMORIM
contraditório e pelo sistema audiovisual, pode ser assim resumido:
Em 2012 não houve nenhuma doação de lotes. Em 2010 e 2011
foram mais de quatrocentos lotes doados na cidade toda. Não
existe qualquer projeto específico de doação, mas apenas um geral
de interesse social, que visava instalar, por exemplo, água e
energia nos loteamentos. Na época, o Município possuía um
convênio com a AGEHAB, de forma que os interessados faziam a
inscrição dentro do próprio sistema (programa) dessa agência. Não
sabe como, mas essas inscrições desapareceram, sem qualquer
explicação, do sistema da AGEHAB. Tinha conhecimento que as
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doações não poderiam ser realizadas no ano eleitoral. As
doações foram feitas ?de boca? porque o tempo não era
suficiente para conseguir a VTO, a liberação de carga e
. conclusão dos projetos da CELG e do meio ambiente Nós
tínhamos as áreas e buscamos realizar o sonho da casa
própria, uma das demandas da comunidade. Muita gente
queria ter o lote para construir. Por isso, nós fizemos tudo
Nopara acelerar, mas aí veio o ano da eleição e não deu tempo.
ano de 2012, depois de realizar pesquisas e ver que poderia ser
reeleito, é que me candidatei. Eram critérios da doação: que as
pessoas fizessem a inscrição, que não tivessem imóvel e que
fossem carentes. . As escolhasNão fazia sorteios dos lotes
ficavam a cargo da Assistência Social, das quais eu não
participava. Os interessados me procuravam bastante. Às vezes,
por conhecer as pessoas, falava: ?essa aqui merece, pois é carente
e reside há vários anos em Nazário?. A AGEHAB chegou a
mandar uma relação de inscritos com mais de mil pessoas,
inclusive fazendo um critério de pontuação, indicando aquelas que
mais precisavam para que fossem selecionados quarenta
beneficiários para o programa Minha Casa Minha Vida. Essa
seleção tinha por objeto o Residencial Vitória e não os oito lotes
. do Residencial Paraíso Para o beneficiário entrar no lote, nós
tínhamos uma equipe da Assistência Social na Prefeitura, que
fazia o estudo, uma análise para identificar as pessoas
carentes, aí, então, nós passávamos para os funcionários da
. coletoria, como o Roniel, e ele marcava o lote Era um grupo
de servidores formado pelo ?Jiboia?, pelo Roniel e outros
funcionários, que conhecia a realidade do município e
. autorizava os beneficiários a entrarem nos lotes Nenhum dos
. oito lotes foram invadidos Como eu disse: adotamos o critério
de beneficiar quem não tinha imóvel e demos autorização para
.os oito selecionados entrarem nos seus respectivos lotes
Igualmente, o demandado , que era funcionário deVALDIVINO TOTÓ DE ALMEIDA
confiança do Ex-prefeito Fábio Gabriel de Amorim, também depôs judicialmente pelo sistema
audiovisual, dizendo que atuava em várias áreas da gestão pública, tipo um coringa e em
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parceria com o Alcaide, e que tinha ciência que os agraciados recebiam o número dos lotes e
neles podiam entrar e construir, motivo pelo qual ressaltou que não ocorreu invasão de nenhum
dos terrenos. Acrescentou, ainda, que, nos oitos lotes existentes na área desafetada, três casas
estão quase prontas e uma acabada, com o beneficiário nela residindo, e que os outros estão
livres e sem construção.
O depoimento pessoal do demandado , extraído dasVALDIVINO TOTÓ DE ALMEIDA
declarações colhidas pelo sistema audiovisual durante a instrução do processo, contém o
seguinte pronunciamento:
?Era funcionário da Prefeitura e trabalhava em vários
seguimentos, em vários setores. Dava suporte na Saúde, na
Educação, onde precisava, tipo um coringa. Volta e outra
. Tinha umaacompanhava a questão habitacional da cidade
pessoa que cuidava do cadastramento dos beneficiários dos lotes.
Conheço todos os beneficiários. O Braz é uma das pessoas que
media os lotes. O Prefeito sabia das coisas que estavam
acontecendo, de remanejamento, de áreas vazias e de áreas que
. precisavam ser habitadas Ele acompanhava do jeito que podia
e eu colaborava quando necessitava de mim. Nós
. trabalhávamos juntos Os pretendentes foram cadastrados e
. Não presenciei o cadastramento, nem sei quaisdepois sorteados
foram as pessoas cadastradas. A pessoa sorteada pegava o
. São oito os lotes doados no Residencialnúmero do lote e pronto
Paraiso. Os funcionários que cuidavam das coisas do
. O Prefeitoloteamento cumpriam ordem dada pelo Prefeito
conhecia todo mundo. Existem, na área doada, três casas quase
prontas e uma acabada, com o beneficiário residindo nela.Os
. Eu saí da Prefeituraoutros lotes estão livres, sem construção
junto com o Prefeito, porque exercia cargo de confiança. Tem
trinta e oito anos que moro em Nazário. Não houve invasão de
.nenhum dos lotes
Embora o demandado Fábio Gabriel de Amorim defenda que realizou as ?doações verbais? sem
participar da escolha dos beneficiários, todos eles disseram que Fábio é quem lhes agraciou com
os lotes, inclusive os procurando pessoalmente para lhes comunicar sobre a liberalidade e
autorizá-los a edificarem suas casas. A maior parte deles, aliás, revelou que não passaram por
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nenhum processo de triagem. Dos oito beneficiários, três afirmaram que estão com suas
construções em ponto de acabamento e um deles informou que sua obra está concluída e que,
desde 2012, reside no local. Os outros ponderaram que fizeram pequenos gastos nos terrenos,
basicamente com instalação de água e de energia pela SANEAGO e pela CELG. Esses serviços
somente foram disponibilizados pelas estatais em razão de ofícios expedidos pelo Município por
meio do servidor .VALDIVINO TOTÓ DE ALMEIDA
Registrem-se os depoimentos pessoais das partes beneficiadas com lotes, dos quais sobressaem
as assertivas descritas acima:
FÁBIO JOSÉ DE LIMA: Participei de uma entrevista da
AGEHAB. Então, o Fábio me deu o lote e disse que eu podia
. passar para dentro e construir minha casa Estou com uma
construção bem adiantada no lote, que está paralisada por
. Gastei uma boa economia nela. determinação judicial Existem
quatro casas quase prontas no local e muro levantado em um
dos outros lotes. A minha casa está coberta com telhas,
faltando colocar piso. Eu gastei de R$ 40.000,00 a R$ 45.000,00
. O meu lote tem oito metros deaté a data de paralisação da obra
frente, oito de fundo e trinta e quatro de comprimento. Eu possuía
umas economias pessoais e contraí um empréstimo no Itaú
. para construir A Prefeitura me forneceu ofícios para a
instalação de energia e de água. Depois, a CELG e a
SANEAGO realizaram a ligação da energia e da água. Era
. muito leigo, pensava que podia entrar no imóvel e construir
.Na época, existia um mapa dos lotes, ?tudo arrumadinho?
Uma pessoa me ligou, fez algumas perguntas e disse que eu me
encachava nas exigências. Essa pessoa, que me entrevistou, veio
de fora, pegou meus documentos e me deu alguns papéis para
preencher. .Eu conheci meu lote pelo mapa
CLAUDIMIRO AUGUSTO GONÇALVES: Recebi o lote em
doação realizada por Fabinho. Eu precisava de um lote, porque
minha menina ia mudar de Goiânia para cá. Então, eu conversei
com ele e ele me deu o lote. O Fabinho é quem levou minha
esposa até o lote. Levantei um muro no lote e coloquei água.
. Parei a construção por determinação judicial Não possuo
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. documento de doação. Ela foi só verbal Não sabia que a
doação era ilegal. Não passei por entrevista, quem me deu o
lote foi o Fabinho. O lote era para construir uma casa para
. Eu não tenho casa.minha filha
CLAUDINEI DA SILVA LOPES: Na época, salvo engano, em
2011, eu morava aqui e fiquei sabendo que estavam sendo doados
alguns lotes. Então, eu procurei o Prefeito e ele me arrumou um
. O rapaz que me levou até o lote, chama-se Roniel. lote Depois, eu
estive na Prefeitura, que expediu ofício para a CELG e a
SANEAGO, autorizando que eu colocasse água e energia no
terreno. A documentação do terreno seria arrumada
posteriormente. Pensava que a doação fosse legal. Estava
construindo uma casa no local, mas parei por embargo da
Justiça. Na época, gastei uns trinta e poucos mil reais, dinheiro
. Atualmente,da venda de um carro e de economias que eu tinha
resido em Doverlândia. Quem me deu o ofício, foi Valdivino
. A minha esposa fez um cadastramento na Prefeitura quandoTotó
saiu o loteamento do Residencial Antônio Tio. O Prefeito é quem
me procurou para doar o lote. Primeiramente, tive um contato
.com Fábio e depois, com Roniel
PAULO HENRIQUE RIBEIRO DE SOUZA: Eu fui atrás do
Prefeito para conseguir uma doação, porque naquela época estava
sendo feitas doações de vários terrenos aqui para quem morasse de
aluguel. Aí ele falou que ia designar um funcionário para me
. Aí esse funcionário foi lá e demarcou o meu lote edar um lote
disse que depois seria regularizada a questão de documentação.
Como eu morava de aluguel e precisava de construir minha
casa, eu fui até a Prefeitura e peguei um ofício para levar na
SANEAGO e na CELG para ligar a água e a energia, e poder
. construir Na época eu tinha um carro usado de mais ou menos
seis mil reais, que vendi, e financiei o material em uma casa de
construção. Então, construí uma casa com três cômodos e mudei
. Quando eu estava morando lá, chegou o Oficial de Justiçapara lá
e comunicou que a obra estava embargada e que eu não poderia
construir mais nada. Eu resido nesse imóvel, com minha esposa e
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. meus dois filhos Em 2010, minha esposa fez uma inscrição
junto a AGEHAB, mas a doação do lote não teve nenhuma
ligação com essa inscrição. Uma coisa não teve nada a haver
com a outra. O Prefeito só me deu o lote para eu sair do
. aluguel Tenho noção de mais ou menos quanto gastei na
construção. Já fiz os cálculos. Gastei em torno de R$ 40.000,00
. com mão de obra e material Pensava que o ato era legal,
porque várias famílias estavam sendo beneficiadas com
terrenos, inclusive no loteamento Antônio Tio. Recebi o lote no
final de 2011 ou início de 2012. Todos os beneficiários
ganharam os lotes e começaram a construir na mesma época.
Quando procurei saber da escritura na Prefeitura, fiquei
sabendo que seria providenciada futuramente, mas aí o
. Por isso, entrei com advogado para provarPrefeito foi cassado
que não invadi o lote e, sim, que o recebi em doação.
WANDER DA SILVA GUIMARÃES: Eu fiz inscrição na
Prefeitura na época e, passado algum tempo, me ligaram, dizendo
que havia sido contemplado. Então, estive com o Roniel,
responsável pela marcação dos lotes, que me levou até o terreno e
disse: ?esse aqui é o seu?. O meu lote está cercado de muro e a
. Não me recordo secasa no ponto de receber o madeiramento
ganhei o lote em 2011 ou em 2012. Não passaram o lote para o
meu nome. . Só liberaram ofício para puxar água e energia
Gastei uns R$ 30.000,00 na construção. Apliquei o dinheiro de
uma indenização que recebi depois de sofrer uma lesão na perna.
. Tudo que tinha, coloquei no lote Assim que o loteamento saiu,
Fábio falou comigo. Falei com Valdivino Totó para obter
.autorização para colocar água e energia
CARLA ADRIANA DIAS: Eu procurei o Fábio pessoalmente e
fiz o pedido do lote. Ai ele falou que ia olhar para mim e depois
ele mandou um rapaz falar comigo. Quem falou comigo e me
. . Naquela época,levou no lote foi Roniel Não construí no lote
morava de aluguel. Agora moro na casa que era da minha mãe, a
qual me está sendo cedida. Passei por um processo de triagem na
Prefeitura, deixando documentação e respondendo algumas
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perguntas. Não recebi a escritura do lote. Somente tomei
. Oconhecimento da quadra, do número e das metragens do terreno
lote está vago até hoje, sem instalação de água e energia.
CLAUDIONOR PEREIRA CAMPOS: O Fábio ligou para mim
e disse para eu descer na Prefeitura, e olhar três ou quatro lotes
. que restavam e escolher um. Ai eu ganhei o lote Não passei por
. nenhum processo de triagem para receber a doação O negócio
. O Roniel é quem me levou até o lote.ocorreu entre mim e Fábio
Não recebi documentação do lote, que era para ser repassada
posteriormente. Só coloquei a caixinha de água no lote e isso
, expedido pelo finadodepois que peguei um ofício na Prefeitura
?Charlinho?. Quando recebi o lote, não existia nenhuma exigência
ou prazo para construção.
LUZIANE DAMASCENO: Eu fiquei sabendo que estava
. havendo distribuição de lotes na cidade Então, eu procurei o
Fábio e pedi um lote para mim. Aí ele me deu o lote. Essa
conversa foi diretamente com Ele. Eu levei alguns documentos
para a Prefeitura e entreguei para Nandiara, mas não participei
. de nenhum processo de triagem ou de escolha de candidatos Eu,
até agora, só dividi o valor do muro de fundo com meu vizinho e
. Eu tinha a intenção demandei colocar a caixinha de água
construir, mas, como houve embargo, eu não mexi mais. Não
tenho imóvel e não recebi documento desse lote. Ganhei o lote só
. na conversa mesmo, ficando sua regularização para o futuro Não
. O rapaz, que marcava os lotes, me procurou e memarcaram data
levou até o local, mostrando qual era o meu.
Pelos depoimentos pessoais das partes e pela confissão do ex-Prefeito, Fábio Gabriel de
Amorim, não existem dúvidas sobre o seu . De forma consciente e voluntáriamodus operandi
(dolo), ele escolheu os beneficiados e doou os oito lotes da área institucional do Residencial
Vitória ?de boca?, sem qualquer Lei Municipal autorizando a doação e definindo os critérios
objetivos de seleção dos candidatos. Assim obrou, segundo suas palavras, porque não
conseguiria aprová-la antes das Eleições de 2012.
Quatro dos ?agraciados?, pessoas incautas, para os quais o Prefeito, na condição de
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representante maior do Município, possuía autoridade para permitir que eles tomassem posse
dos lotes, investiram tudo que tinham e contraíram dívidas para construírem suas casas, cujas
edificações só estão paradas em razão de embargo judicial.
Com efeito, querendo ou não, , agindo por meio do Prefeito daquela época,o próprio Município
o réu Fábio Gabriel de Amorim, instituiu, de fato, um loteamento irregular no Residencial
Paraíso e contemplou pessoas por ele escolhidas com os respectivos lotes, inclusive
utilizando-se de funcionários públicos municipais para executarem suas ordens, bem como de
dois órgãos estatais para instalação e prestação de serviços aos ?donatários?, isto é, a
SANEAGO e a CELG.
Portanto, estamos diante de uma situação , um loteamento irregular promovido pelosui generis
próprio Município, por meio do alcaide, em área institucional, com edificações de residências
bem dizer consolidadas em quatro dos oito lotes, de modo que os que ali investiram tudo que
tinham não podem ser considerados meros invasores, detentores sem qualquer direito, que
deverão suportar a demolição de suas construções.
Em situações como essa, devemos buscar dentre os meios de solução, aquela que menor trauma
causará à comunidade, pois se é certo que a área institucional tem por escopo atender o direito
coletivo, por exemplo, a construção de uma escola ou de um posto de saúde (CF, art. 182),
também é certo que o direito de moradia não é menos importante, tendo em vista que possui a
mesma envergadura constitucional (CF, art. 6º).
Aliás, em demanda idêntica, em que houve desafetação de área institucional e edificação de
imóveis residenciais, o Superior Tribunal de Justiça, por meio de voto da lavra da Ministra
Regina Helana Costa, exarado em 16 de dezembro de 2016, no Agravo em Recurso Especial nº
360.373-MG (2013/0190051-5), decidiu que ?obstar adquirentes ou, mesmo mutuários, de
finalizarem suas construções e residirem nos imóveis que, na maioria das vezes, são
adquiridos à custa de muito esforço e renúncia pessoal, pode vir a ofender direitos individuais
?.tão importantes quanto aqueles invocados pelo Ministério Público
Pensando dessa forma, indispensável visualizar a imagem retirada do , mesmo queGoogle Maps
não correspondente com a situação atual, e os depoimentos pessoais dos ?donatários?, para
compreender que metade da área institucional está ocupada por uma creche construída no local e
que somente a outra metade é que está desafetada e dividida em oito lotes. E mais, que desses
oito lotes, apenas quatro possuem edificações levantadas pelos demandados FÁBIO JOSÉ DE
e LIMA, CLAUDINEI DA SILVA LOPES, PAULO HENRIQUE RIBEIRO DE SOUZA
. Vale dizer, a metade da metade da área institucionalWANDER DA SILVA GUIMARÃES
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ainda está livre e pode ser usada para instalação de novos equipamentos públicos. Por
consequência, basta a regularização fundiária de apenas ¼ do terreno (quatro lotes com
edificações) para preservar o direito social de moradia e para o Residencial Paraíso permanecer
com espaço físico, ainda que bem reduzido, para a construção de futuros edifícios públicos.
ocupados, predominantemente, por população de baixa renda, nosassentamentos irregulares
casos indicados pelo artigo 47, inciso VII, da , com redação parcialmenteLei nº 11.977/2009
alterada pela Lei nº , bem como pela , artigo 9º e seguintes.12.434/2011 Lei nº 13.465/2017
Aliás, o § 1º do artigo 11 da Lei nº 13.465/2017 dispõe que ?para fins da Reurb, os Municípios
poderão dispensar as exigências relativas ao percentual e às dimensões de áreas destinadas
ao uso público ou ao tamanho dos lotes regularizados, assim como a outros parâmetros
?.urbanísticos e edilícios
Como se vê, a regularização fundiária urbana de assentamentos irregulares regulada pelo § 1º do
artigo 11 da Lei nº 13.465/2017 alcança as situações de ocupação de áreas institucionais, ao
permitir a dispensa das exigências relativas ao percentual e às dimensões das áreas
.destinadas ao uso público
Decidindo sobre matéria análoga, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo entendeu que a
demolição de residências construídas em área institucional afrontaria o direito constitucional de
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moradia, impondo à Administração Municipal o dever de promover a regularização fundiária do
assentamento irregular, na forma da Lei Federal nº 11.977/09 (?Programa Minha Casa, Minha
Vida?). Vejamos:
?AÇÃO CIVIL PÚBLICA ? LOTEAMENTO DENOMINADO
?CONDOMÍNIO HABITACIONAL JULIETA MARIA DO
VALE? EM ITUVERAVA - OCUPAÇÃO DE ÁREA
RESERVADA PARA A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE
LAZER E ÁREA INSTITUCIONAL ? ÁREA DE DOMÍNIO
PÚBLICO - CONSTRUÇÃO DE PRÉDIOS RESIDENCIAIS
DURANTE OS ANOS DE 1998 A 2003 ? DESOCUPAÇÃO E
DEMOLIÇÃO DOS IMÓVEIS EM AFRONTA AO DIREITO
CONSTITUCIONAL DE MORADIA ? SITUAÇÃO DE FATO
CONSOLIDADA ? REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE
ASSENTAMENTOS URBANOS A SER PROMOVIDA PELO
MUNICÍPIO ? APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL Nº 11.977/09
(?PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA?) ? SENTENÇA
REFORMADA ? PARCIAL PROCEDÊNCIA QUE SE
DECRETA - RECURSOS DOS RÉUS/OCUPANTES
PROVIDOS EM PARTE, PREJUDICADO O RECURSO DA
MUNICIPALIDADE. (TJSP; Apelação
0001297-81.2005.8.26.0288; Relator (a): Ferraz de Arruda; Órgão
Julgador: 13ª Câmara de Direito Público; Foro de Ituverava - 2ª.
Vara Judicial; Data do Julgamento: 09/11/2016; Data de Registro:
16/11/2016)
Para melhor motivar esta decisão, transcrevo trecho do voto condutor da ementa supracitada, em
que o manifesta-se contrário ao posicionamento do depróprio Ministério Público de 2º Grau
1ª Instância, defendendo que determinar a demolição de casas residenciais, construídas em área
institucional com o incentivo do Poder Público Municipal, ? ?,não seria fazer Justiça Social
quando possível a regularização fundiária, nos termos da Lei Federal nº 11.977/2009 e do artigo
6º da Constituição Federal. :Vide
?O art. 17 da Lei Federal nº 6.766/79 acima mencionada, veda a
alteração da destinação dos espaços livres de uso comum, das vias
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e praças, das áreas destinadas a edifícios públicos e outros
equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial
descritivo.
No mesmo sentido segue o art. 22 da referida Lei que prevê:
?Desde a data de registro do loteamento, passam a integrar o
as vias e praças, os espaços livres e as domínio do Município
áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos
.?urbanos, constantes do projeto e do memorial descritivo
Por conseguinte, não há que se falar em posse, muito menos em
propriedade, pois o terreno indevidamente ocupado é bem público
, tratando-se, portanto, de mera detenção/ocupação de área de
domínio público.
Contudo, apesar de ser bem público dotado com as características
de inalienabilidade, imprescritibilidade e impenhorabilidade, nos
exatos termos dos artigos 100 e 102, ambos do Código Civil e
artigo 183, §3º, da Constituição Federal, é certo que a própria
Constituição Federal contempla o direito social fundamental à
(art. 6º) e a que tem por objetivos omoradia política urbana
desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia do
bem-estar de seus habitantes (artigo 182).
Tanto que o artigo 183, §1º, da Constituição Federal prevê a
concessão de uso, instituto regulamentado pela Medida Provisória
n° 2.220/01 que prevê, inclusive, a concessão de uso especial dos
.bens públicos para fins de moradia
Referida temática tem aplicação no caso em concreto,
especialmente no tocante às disposições da Lei Federal nº
11.977/2009 que regulamenta o ?Programa Minha Casa, Minha
Vida?, no aspecto referente à regularização fundiária urbana,
questão trazida pelo douto Procurador de Justiça, Dr. Jorge Luiz
Ussier, às fls. 1053/1057v.
Com efeito, a regularização fundiária de assentamentos
consiste no conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas,urbanos
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ambientais e sociais que visam à regularização de assentamentos
irregulares e à titulação de seus ocupantes, de modo a garantir o
direito social à moradia, o pleno desenvolvimento das funções
sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 46 da Lei 11.977/09).
O artigo 48 da referida lei determina que a regularização fundiária,
respeitadas as diretrizes gerais da política urbana estabelecidas na
Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade), observará os seguintes
princípios: da ampliação do acesso à terra urbanizada pela
população de baixa renda, com prioridade para sua permanência na
área ocupada (inc. I), articulação com as políticas setoriais de
habitação, de meio ambiente, de saneamento básico e de
mobilidade urbana (inc. II), participação dos interessados em todas
as etapas do processo de regularização (inc. III), estímulo à
resolução extrajudicial de conflitos (inc. IV) e concessão do título
preferencialmente para a mulher (inc. V).
Assim, considerando que o autor da ação é o próprio Ministério
Público, entendo perfeitamente possível o acolhimento do parecer
do D. Procurador de Justiça oficiante em segundo grau que opinou
pela impossibilidade de acolhimento de todos os pedidos
formulados na inicial, postulando pela regularização do loteamento
na forma do disposto nos artigos 46 e seguintes da Lei 11.977/09,
considerando que a edição da referida lei foi superveniente ao
ajuizamento da demanda (art. 462, CPC/73 e arts. 322, §2º e 493,
ambos do NCPC).
Como bem destacou o D. Procurador de Justiça, [...] à hipótese dos
fatos noticiados nos autos poderia ser aplicada, em tese, as
disposições da Lei nº 11.977/09, com a concessão do direito real
de moradia, o que não importa em transferência da propriedade,
mas no reconhecimento da ocupação do local para fins de
moradia, uma vez que ainda em tese a hipótese não caberia
legitimação de posse, mas regularização fundiária de interesse
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social, havendo comando normativo nessa lei (art. 58, §3º), que
determina que o Poder Público deverá assegurar o direito à
moradia (fl. 1054, terceiro parágrafo).
Ressaltou, ainda, o D. Procurador de Justiça que o objetivo desta
ação é a ordenação do uso do solo, o que seria possível com a
realização da regularização fundiária urbana, concedendo o
direito real de moradias aos munícipes que indevidamente ocupam
(fl. 1054, último parágrafo).área pública
E mais, lembrou que [...] há dispositivo expresso nesta Lei (artigo
50) no sentido de que a regularização fundiária poderá ser
promovida pela União, pelos Estados, pelo distrito Federal e pelos
(fl. 1054v, primeiro parágrafo), além de que [...] Municípios
simplesmente acolher os pedidos formulados nesta ação, com a
retirada das famílias e demolição de suas moradias, sem observar
o direito trazido pela nova lei (concessão do direito real de
. (fl. 1054v, segundomoradia) não seria fazer Justiça Social
parágrafo).
Ora, realmente impossível solução diversa para o presente caso,
sob pena de afronta ao direito constitucional de moradia, eis que o
Poder Público Municipal simplesmente permitiu a ocupação de
área de domínio público, deixando que ela avançasse no tempo,
sem qualquer oposição, contando com permissão verbal de agentes
públicos para que as construções se iniciassem e fossem levadas a
termo.
Trata-se de uma situação de fato consolidada, eis que as ocupações
se deram entre os anos de 1998 a 2003 (fls. 793/799 e 1054v), de
modo que se mostra cabível a regularização fundiária da área, com
base nos instrumentos normativos previstos na Lei 11.977/09,
atendidos os requisitos legais.
Fixo o prazo de doze meses para a devida regularização, nos
termos do art. 6º, §1º, da MP nº 2.220/01, prazo previsto para os
casos de obtenção do título de concessão de uso especial para fins
de moradia administrativamente. ?
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Atine-se que, se é correto que a Municipalidade está suportando uma lesão ao patrimônio
público pela perda de parte da área institucional do Residencial Paraíso, também é certeiro que o
ex-Alcaide réu deu causa à consolidação do assentamento irregular, de modo a impor à
Administração Pública, pela sua atuação inconsequente, o dever de zelar pelo direito
fundamental à moradia, que confere à União Federal, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, no exercício de suas competências comuns e concorrentes, a promoção de
programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento
básico (CF, art. 23, IX).
Ainda em outra situação análoga, o Tribunal de Justiça de São Paulo, em vez de mandar demolir
as casas construídas em área institucional, determinou que o Município adquirisse outro terreno
para compensar a área ocupada, para onde a própria Administração levou toda a infraestrutura
para beneficiar os ?invasores?. :Vide
?AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Doação de lotes para fins habitacionais
em áreas destinadas ao uso público não desafetadas ocupação
consolidada, tendo o poder público levado para o local agua, luz,
rede de coleta de esgoto, pavimentação e iluminação pública, -
Condenação do Município a compensar as áreas públicas ocupadas
irregularmente. RECURSO NÃO PROVIDO?. (TJSP; Apelação
0000352-67.2001.8.26.0213; Relator (a): José Luiz Germano;
Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito Público; Foro de Guará -
Vara Única; Data do Julgamento: 18/09/2012; Data de Registro:
19/09/2012)
Por outro lado, tendo , por meio do ex-Prefeito, dado causa à construçãoo próprio Município
de quatro casas na área institucional do Residencial Vitória, para que ocorresse a demolição das
edificações, os ?donatários? dos lotes deveriam, no mínimo, ser indenizados previamente, para
não padecerem as tardanças de um processo judicial.
Em atenção a fundamentação até aqui sustentada e para preservar o direito de moradia dos
quatro ?donatários? que construíram suas residências, entendo, mesmo declarando-se a nulidade
da Lei Municipal nº 250/2011 que desafetou a área institucional do Residencial Paraíso, ser
possível a regularização fundiária da parte do terreno edificado, levando em conta a redação do
§ 1º do artigo 11 da Lei nº 13.465/2017, cujo enunciado normativo nasceu justamente para
hipóteses como a dos autos e possui a mesma origem legislativa e nível hierárquico da Lei
6.766/1979.
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Observe-se que a declaração de nulidade da Lei Municipal nº 250/2011, por infração à Lei
Federal nº 6.766/1979, decorre da vedação constitucional da legislação municipal regular
matéria de forma incompatível àquela regulada pelo legislação federal, bem como que a
declaração de nulidade da referida lei municipal não interfere na viabilidade da regularização
fundiária tratada pela Lei 13.465/2017. Isso porque são duas realidades distintas e
independentes. Primeiro, porque as Leis Federais 6.766/1979 e 13.465/2017 possuem o mesmo
nível hierárquico. Segundo, porque nada impede no âmbito constitucional que uma lei posterior
de mesma estatura hierárquica crie ressalvas, modifique ou revogue a anterior. O que não se
pode é uma lei municipal desrespeitar diretrizes traçadas por lei federal, sob pena de
.inconstitucionalidade
Avise-se que a Lei Municipal 250/2011 não é norma de natureza geral ou abstrata, mas um ato
administrativo de natureza concreta, passível de controle difuso pelo Poder Judiciário, sem que
isso signifique ofensa à independência dos poderes.
Portanto, ultrapassado exame dos pedidos de nulidade da Lei Municipal nº 250/2011 e de
desocupação e desobstrução da área institucional, cabe a análise da perpetração de ato de
improbidade administrativa pelos demandados FÁBIO GABRIEL DE AMORIM e de
VALDIVINO TOTÓ DE ALMEIDA.
Respondem os demandados Fábio Gabriel do Amorim e Valdivino Totó de Almeida pelo
disposto no artigo 10, inciso III, da Lei nº 8.429/1992, :verbis
?Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa
lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que
enseje , desvio, apropriação, malbaratamentoperda patrimonial
ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art.
1º desta Lei, e notadamente:
[...]
III - ou jurídica bem como ao entedoar à pessoa física
despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistenciais,
, rendas, verbas ou valores do bens patrimônio de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, sem observância
?.das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie
[GRIFEI]
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O fato cominado ao demandado Fábio Gabriel de Amorim enquadra-se perfeitamente ao
enunciado normativo do dispositivo precitado, porquanto, pelos depoimentos pessoais das partes
e pela confissão do então Prefeito, não existem dúvidas sobre o seu . De formamodus operandi
consciente e voluntária (dolo genérico), ele escolheu os beneficiados e doou os oito lotes da área
institucional do Residencial Vitória ?de boca?, sem qualquer Lei Municipal autorizando a
doação e definindo os critérios objetivos de seleção dos candidatos. Assim operou, segundo suas
palavras, porque não conseguiria aprová-la antes das Eleições de 2012.
Portanto, o demandado Fábio Gabriel do Amorim, então Prefeito de Nazário, deixou de observar
o regramento concernente à alienação de bens públicos, notadamente as diretrizes definidas no
artigo 17 da Lei Federal nº 8.666/1993, :verbis
?Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública,
subordinada à existência de interesse público devidamente
, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintesjustificado
normas:
I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para
e entidades autárquicas eórgãos da administração direta
fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais,
dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de
, dispensada esta nos seguintes casos:concorrência
[...]
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito
real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis
residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados no
âmbito de programas habitacionais ou de regularização fundiária
de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da
administração pública;
[...]
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito
real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis de uso
comercial de âmbito local com área de até 250 m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas
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de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por
órgãos ou entidades da administração pública?.
O próprio ex-Prefeito demandado, em audiência judicial, declarou, expressamente, que não
submeteu à Casa Legislativa nenhum projeto de lei tratando da doação questionada pelo
Ministério Público.
Se não houve para as liberalidades, pode-se concluir, com maior razão,autorização legislativa
que o ex-Prefeito Fábio Gabriel de Amorim não seu ato em nenhum motivou formalmente
, tampouco a área alienadainteresse público devidamente justificado avaliou previamente
verbalmente.
Por conseguinte, além da insofismável mácula à , não há qualquer conformidadelegalidade
entre o ato administrativo de ?doação? e os demais princípios norteadores da Administração
Pública esculpidos na Constituição Federal, sobretudo os da e da .impessoalidade moralidade
Ademais, a motivação eleitoreira para prática das liberalidades é matéria indiscutível, tendo em
vista que o demandado Fábio Gabriel de Amorim teve seu mandato de prefeito cassado e
decretada sua inelegibilidade na , por ter doadoAção Judicial Eleitoral nº 336.780/2012
verbalmente 538 lotes em três setores distintos: Residencial Antônio Tio (220), Residencial
Vitória (310) e .Residencial Paraíso (08)
Não é só. O prejuízo ao erário é evidente. O Município de Nazário perdeu parte da área
institucional destinada a edificações de prédios públicos. Agora, quando precisar de terreno para
esse desiderato, terá que desapropriá-lo e indenizar o respectivo dono. Por isso, deverá o
ex-Prefeito ressarcir ao erário o dano que causou.
Com efeito, esse procedimento do ex-Prefeito subsume-se aquele definido no artigo 10,
.inciso III, da Lei nº 8.429/1992
Por outro lado, ainda que desconsiderássemos a lesão ao erário, residualmente, a conduta de
doação irregular de lotes pelo ex-Prefeito demandado, em que direcionou, pessoalmente, a
escolha dos beneficiários, sem prévia aquiescência da Câmara Municipal, de avaliação do
terreno e motivação do interesse público, em período pré-eleitoral, constitui ato de improbidade
administrativa por violação dos princípios regedores da Administração Pública, consoante reza o
artigo 11 da Lei nº 8.429/1992.
A esse respeito leciona Emerson Garcia que ?o art. 11 da Lei nº 8.429/1992 é normalmente
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intitulado de 'norma de reserva' o que é justificável, pois ainda que conduta não tenha causado
danos ao patrimônio público ou acarretado o enriquecimento ilícito do agente, será possível a
configuração da improbidade sempre que restar demonstrada a inobservância dos princípios
.? (Improbidade Administrativa, 5ª edição, Editora ,regentes da atividade estatal Lumen Juris
2010).
Por essa razão, estabelece o artigo 37 da Constituição da República de 1988 que a
Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência.
Além disso, a Lei de Improbidade Administrativa preconiza expressamente, no artigo 4º, que é
dever dos agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia, velar pela estrita observância dos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe
são afetos.
O inciso I do artigo 11 da Lei 8.429/92 dispõe que constitui ato de improbidade administrativa
que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente
praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de
competência.
Como se apreende de todo contexto fático e probatório, o ex-Prefeito demandado apresentou, ao
autorizar os assentamentos irregulares na área institucional do Residencial Paraíso, um padrão
de atuação de forma intensa e reiterada contra os ditames da boa e séria administração. A
impressão que se tem é que ele geria a coisa pública como quem gere, de forma temerária e
irresponsável, uma herança havida sem o menor esforço, apenas e tão só para se reeleger,
atentando, desta forma, contra o patrimônio público ou, no mínimo, contra os princípios da
Administração Pública e violando os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e
lealdade assumidos quando da sua posse, no pleito de 2008, no cargo de Chefe do Executivo do
município de Nazário-GO.
Por último, entendo que a instrução processual, aliada aos elementos informativos colacionados
pelo , revela, estreme de dúvidas, a presença do elemento subjetivo para a prática dosParquet
atos imputados. Frise-se, por oportuno, que consoante pacificada jurisprudência, não se exige,
para a configuração da improbidade administrativa, o dolo específico ou a ?má-fé? para a
dilapidação do patrimônio público, bastando a comprovação do dolo genérico, este confessado
tanto pelo agente público como pelos beneficiários do ?ato administrativo?.
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Não bastasse, ainda que assim não fosse, para a consubstanciação dos atos ímprobos definidos
no artigo 10 da Lei nº 8.429/1992, basta a prova da culpa, neste caso sendo sim punidos os
administradores negligentes, imprudentes ou imperitos.
Com relação ao demandado VALDIVINO TOTÓ DE ALMEIDA, sobressai dos elementos
de convicção carreados aos autos à sua condição de mero executor das ordens dadas pelo
ex-Prefeito Fábio Gabriel de Amorim, não havendo como apená-lo como ímprobo pelo
simples fato de expedir ofícios à SANEAGO e à CELG em nome da Prefeitura de Nazário,
para instalação e prestação de serviços aos ?donatários?. Como também não é admissível
sancionar quaisquer outros servidores municipais que cumpriram determinação do
ex-Alcaide para concretização do assentamento irregular. Inclusive, nenhum dos
?donatários?, em seus depoimentos pessoais, indicaram Valdivino Totó de Almeida como a
pessoa que intermediou as ?doações? censuradas, pois todos destacaram que receberam
.seus lotes diretamente do ex-Prefeito demandado
Demonstrado o cometimento de improbidade administrativa pelo réu Fábio Gabriel de Amorim,
.resta passar à aplicação da penalidade à espécie
Dispõe o artigo 12, inciso II, e parágrafo único, da Lei nº 8.429/1992:
?Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e
administrativas previstas na legislação específica, está o
responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente,
de
[...]
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda
dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se
concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão
dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos, pagamento de
multa civil de até 2 (duas) vezes o valor do dano e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de 5 (cinco) anos;
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[...]
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz
levará em conta a extensão do dano causado, assim como o
proveito patrimonial obtido pelo agente.? [GRIFEI]
Destaque-se que a aplicação dessas sanções pressupõe a observância dos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, exigindo entre a natureza da conduta decorrelação
improbidade e a penalidade a ser imposta, como forma de atingir a punitiva doexemplariedade
agente desonesto.
O Superior Tribunal de Justiça consagrou este entendimento:
?ADMINISTRATIVO ? IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ?
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 12 DA LEI N. 8.429/92 ?
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE ? REVISÃO DE
PREMISSAS FÁTICAS ? SÚMULA 7/STJ. 1. É sabido que, no
campo sancionatório, esta Corte entende que a interpretação deve
conduzir à dosimetria relacionada à e à exemplariedade
da sanção, critérios que compõem a razoabilidade dacorrelação
punição, sempre prestigiada pela jurisprudência da Casa. (REsp
1.113.200/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
8.9.2009, DJe 6.10.2009.) 2. A partir de elementos convincentes
da postura desprestigiosa do recorrente em relação à moralidade,
ao senso comum de honestidade, à boa-fé, ao trabalho à ética das
instituições, as sanções impostas, ,primus ictus oculi
evidenciam-se coerentes, inclusive, com os postulados da
proporcionalidade e razoabilidade: elementos integrativos da
extensão da legalidade do ato sancionatório. 3. Sendo assim, não
se observando, no caso concreto, desarrazoabilidade nas sanções
aplicadas ao agravante, a análise aprofundada da dosimetria
importa em ponderar sobre premissas de natureza fática, o que
esbarra no óbice imposto pelo enunciado da Súmula 7 do STJ.
Agravo regimental improvido.? (AgRg no REsp 1189357/SP, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 19/08/2010, DJe 03/09/2010) [GRIFEI]
Feitas essas ponderações, buscando uma correlação entre as sanções do artigo 12 da Lei nº
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8.429/1992 e o caso concreto, observo que o ato de improbidade atribuído ao demandado é
extremamente grave, pois feriu de morte o processo democrático, causando a anulação da
Eleição de 2012 para o cargo de prefeito, bem como lesão ao erário pela perda de parte da área
institucional do Residencial Paraíso.
Com efeito, entendo que o gravíssimo comportamento ímprobo cometido pelo demandado Fábio
Gabriel de Amorim está relacionado diretamente com a nulidade do processo democrático
eleitoral municipal de 2012, com o desrespeito aos princípios governantes da Administração
Pública e com a disposição de bens públicos como se fossem coisa particular, deles se
desfazendo prodigamente. Tais consequências indicam como sanções mais pertinentes ao caso:
a suspensão dos seus direitos políticos, a proibição de contratar com o Poder Público ou(a)
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios; a perda do cargo público que exerce(b)
atualmente, até mesmo como implicação da suspensão dos direitos políticos; e o(c)
ressarcimento integral do dano causado ao patrimônio público.
Explane-se que não está o juiz obrigado a aplicar todas as sanções previstas no inciso II do
artigo 12 da Lei nº 8.428/1992 cumulativamente, haja vista que os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade aconselham a incidência de uma ou de algumas das
reprimendas, para que a punição seja adequada e suficiente para correção do infrator e para
prevenção geral.
Pois bem. A suspensão dos direitos políticos é punição que retira do agente provisoriamente sua
qualidade de cidadão, na medida que não pode usufruir dos seus direitos políticos, de votar e ser
votado, bem como de diversos direitos que são decorrentes da cidadania (por exemplo, exercer
cargo público, contratar com o Poder Público, ajuizar ação popular e participar de reunião
política), tendo, por isso, maior amplitude que as causas de inelegibilidades pontificadas na
Legislação Eleitoral.
Ao comentar sobre a suspensão dos direitos políticos, MARIA SYLVIA ZANELLA DI
doutrina que ?o sujeito ativo da improbidade administrativa poderá ser atingido emPIETRO
diferentes direitos: [...] o de exercer os direitos políticos, que de certa forma engloba o de
exercer função pública, já que não se pode conceber que uma pessoa privada dos direitos
políticos, ainda que transitoriamente, possa continuar a exercer mandato ou exercer cargo,
Na realidade a principal penalidade é aemprego ou função dentro da Administração Pública.
suspensão dos direitos políticos; as demais praticamente constituem efeitos civis e
administrativos da penalidade maior? (Direito Administrativo, Editora Gen/Forense, 30ª edição,
p. 1027). [GRIFEI]
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Não bastasse, de acordo com o artigo 337 do Código Eleitoral, em não estando o agente no
gozo dos seus direitos políticos, consubstanciará infração penal a sua participação em
atividades partidárias, inclusive comícios e atos de propaganda em recintos fechados ou
.abertos
A despeito da severidade dos efeitos da suspensão dos direitos políticos, o Superior Tribunal de
Justiça entende que essa é a sanção adequada e essencial para o agente político que menoscaba,
deliberada e imoralmente, os princípios constitucionais que dirigem a Administração Pública,
com o desiderato de coibir a sua reeleição e a reiteração de atos de improbidade. Anote-se:
?IMPROBIDADE ADMINISTRATVA. DESPESAS SEM
EMPENHO E AQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS SEM O
REGULAR PROCEDIMENTO LEGAL. APLICAÇÃO DA LEI
DE IMPROBIDADE AOS AGENTES POLÍTICOS.
POSSIBILIDADE. ART. 11 DA LEI N. 8.429/1992. SANÇÕES
APLICADAS COM OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE. 1. O Superior Tribunal de Justiça já
sedimentou o entendimento de que a Lei n. 8.429/1992 se aplica
aos agentes políticos; nesse sentido, vide: Rcl 2790/SC, Rel.
Ministro Teori Albino Zavascki, Corte Especial, DJe 4/3/2010. 2.
Nos termos do art. 12 da Lei n. 8.429/1992, as sanções por atos de
improbidade, conforme o caso, devem levar em consideração a
extensão do dano causado, o proveito patrimonial obtido pelo
agente e a gravidade do fato. 3. No caso, a conduta descrita pelo
acórdão recorrido denota que o réu menospreza os princípios
constitucionais aos quais deve obediência no exercício do
múnus público que lhe foi outorgado, demonstrando não ter a
moralidade necessária àqueles que devem ocupar ou
. 4. permanecer em cargos públicos Nesse contexto, a pena de
suspensão dos direitos políticos não se mostra desproporcional,
mas, ao contrário, necessária, porquanto, além de efetivamente
obstar que o agente político possa voltar à prática de atos de
improbidade em eventual caso de tentativa de reeleição, após o
trânsito em julgado da decisão condenatória, cumpre
importante finalidade pedagógica, mormente diante do fato de
a sociedade não aceitar agentes políticos que não observam os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade
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.?às instituições a que servem. Recurso especial improvido
(REsp 1424418/ES, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 12/08/2014, DJe 19/08/2014)
Elucide-se que, a despeito da sanção de suspensão dos direitos políticos engendrar a perda do
cargo ou função pública e de outros direitos que dependem do exercício da cidadania, não
ocorrerá diretamente, mas sim como efeito derivado daquela sanção. É, por isso, que o Supremo
Tribuna de Federal resolveu que, se a sentença aplicar a punição, a Casa Legislativa,
devidamente comunicada, não tem outra alternativa senão a de declarar a cassação do mandato
(RE 225.019, Pleno, Rel. Min. NELSON JOBIM, DJ de 22/11/1999). Vale dizer, mutatis
, no caso de servidor público efetivo, essa comunicação deverá ser realizada ao órgãomutandis
público do qual ele faz parte, a quem caberá decretar a perda do cargo público por ele exercido.
Esse é o pensamento de , para quem, na hipóteseJOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO
de suspensão dos direitos políticos, ?claro que tal sanção poderá vir a gerar a perda do cargo
público ou função, mas, nesse caso, está não ocorrerá diretamente, e sim como efeito derivado
daquela. A consumação da perda da função, porém, atenderá, aí sim, ao procedimento
? (Manual de Direito Administrativo, 31ºespecial decorrente da especificidade do regime
edição, Editora Gen/Atlas, p. 1174).
Seguindo o movimento do , a previsão da perda do cargo ou funçãodecisum
pública exercidos pelo agente público que prática ato de improbidade administrativa deflui
como consequência lógica da constatação da incompatibilidade da personalidade do agente
.com a gestão da coisa pública
Por essas razões, deve a sanção alcançar todos os vínculos que o agente tenha
com a Administração Pública por ocasião da sentença condenatória, mormente diante de uma
.interpretação teleológica do artigo 20 da Lei nº 8.429/1992
Não bastasse, como anteriormente aludido, havendo suspensão dos direitos
políticos, a perda do emprego, função ou cargo que o agente público está exercendo também é
uma das suas consequências lógicas, porquanto, enquanto não transcorrer o prazo de suspensão
dos direitos de cidadania, não poderá ele agir em nome do Estado perante os usuários dos seus
serviços.
Sobre o tema, assim professam e EMERSON GARCIA ROGÉRIO
:PACHECO ALVES
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?Em razão da mencionada incompatibilidade entre a
personalidade do agente e a gestão da coisa pública, o que se
tornou claro com a prática do ato de improbidade, deve a
sanção de perda da função, quando aplicada, extinguir todos
os vínculos laborais existentes junto ao Poder Público. O art.
12, em seus três incisos, fala genericamente em perda da
função, que não pode ser restringida àquela exercida por
ocasião da prática do ato de improbidade. Isso sob pena de se
permitir a prática de tantos atos ilícitos quantos sejam os
vínculos existentes, em flagrante detrimento da coletividade e
dos fins da lei. Ainda que o agente exerça duas ou mais
atribuições, de origem eletiva ou contratual, ou uma função
distinta daquela que exercia por ocasião do lícito, o
provimento jurisdicional haverá de alcançar todas,
determinando a completa extinção das relações existentes entre
o agente e o Poder Público.
Assim, é irrelevante que o ilícito, verbi gratia, tenha sido
praticado em detrimento de um ente municipal e o agente, por
ocasião da aplicação da sanção, mantenha uma relação
funcional com a administração estadual, pois a dissolução
haverá de abranger todos os vínculos mantidos com o Poder
Público, designativo que abrange os sujeitos passivos do ato de
.improbidade
[?]
Ademais, prevalecendo entendimento diverso e sendo aplicada a
sanção de suspensão dos direitos políticos ao agente, ter-se-ia a
inusitada situação de o mesmo, embora privado de sua cidadania,
continuar a exercer outra atividade de interesse coletivo que exige
aptidões e virtudes que já demonstrara não possuir? (Improbidade
Administrativa, 7ª edição, Editora Saraiva, p. 641/643). [GRIFEI]
Compartilhando de igual sentir, assinala queDANIEL AMORIM ASSUNÇÃO NEVES
?parcela majoritária da doutrina... entende que a função que será
perdida é aquela exercida pela agente improbo no momento do
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trânsito em julgado, mesmo que diferente daquela exercida à época
em foi praticado o ato de improbidade administrativa. Nesse
sentido também o Superior Tribunal de Justiça. Além de ser
interpretação que dá maior eficácia à sanção ora analisada, é a
única que afasta o agente improbo de sua vinculação com a
Administração Pública. Que sentido teria reconhecer que o agente
é ímprobo e mantê-lo nos quadros da Administração Pública,
dando-lhe total condição para que venha a repetir a prática de tais
atos?? (Manual de Improbidade Administrativa, 2ª edição, Editora
Método, p. 217/218)
Por sua vez, pontifica:PEDRO ROBERTO DECOMAIN
?A sanção de perda da função pública somente se torna efetiva
com o trânsito em julgado da sentença, consoante previsto às
expressas no do artigo 20 da Lei nº 8.429/92. Até em razãocaput
dessa circunstância, forçoso reconhecer que a sanção de perda da
função, cargo ou emprego atinge qualquer cargo, emprego ou
função que o requerido esteja exercendo no momento do trânsito
em julgado da sentença, ainda quando se trate de cargo, emprego
ou função distinto daquele em cujo exercício praticou o ato de
improbidade? (Improbidade Administrativa, 2ª edição, Editora
Dialética, p. 239).
Esse também é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça que, no REsp n°
924.439 - RJ (2007/0020069-2), de relatoria da Ministra , assim seELIANA CALOMN
pronunciou:
?ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - ART. 12 DA LEI
8.429/1992 - PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA -
ABRANGÊNCIA DA SANÇÃO - PARÂMETROS: EXTENSÃO
DOS DANOS CAUSADOS E PROVEITO OBTIDO - SÚMULA
7/STJ - RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM.1. Hipótese em que
o Tribunal de origem deixou de condenar o agente na perda da
função pública, sob o fundamento de que o mesmo não mais se
encontrava no exercício do cargo, no qual cometeu os atos de
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improbidade administrativa. 2. A Lei 8.429/1992 objetiva coibir,
punir e afastar da atividade pública todos os agentes que
demonstraram pouco apreço, pelo princípio da juridicidade,
denotando uma degeneração de caráter incompatível com a
3. natureza da atividade desenvolvida. A sanção de perda da
função pública visa extirpar da Administração Pública aquele
que exibiu inidoneidade ou inabilitação moral e desvio ético
para o exercício da função pública, abrangendo qualquer
atividade que o agente esteja exercendo ao tempo da
4. A simples configuração do ato decondenação irrecorrível.
improbidade administrativa não implica condenação automática da
perda da função pública, pois a fixação das penas previstas no art.
12 da Lei 8.429/1992 deve considerar a extensão do dano e o
proveito obtido pelo agente, conforme os parâmetros disciplinados
no parágrafo único desse dispositivo legal. Precedente do STJ. 5. É
indispensável que se faça uma valoração da extensão dos danos
causados, bem como do proveito obtido pelo agente, ao aplicar a
sanção de perda da função pública. Análise obstaculizada, em
recurso especial, em razão da Súmula 7/STJ. 6. Recurso especial
provido, para determinar o retorno dos autos à origem, para que se
verifique a possibilidade de condenação do recorrido na perda da
função pública.? (STJ, REsp n° 924.439 ? RJ (2007/0020069-2),
Rel. Min. Eliana Calmon) [GRIFEI].
A respeito do tema, o Sodalício goiano não dissente. :Vide
?APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PRELIMINARES.
CERCEAMENTO DE DEFESA. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA
(ART. 17 DA LEI 8.247/92). AUSÊNCIA DE PREJUÍZO.
DEPOIMENTO PESSOAL. OITIVA DE TESTEMUNHA.
PRECLUSÃO. MEMORIAIS. INVERSÃO DA ORDEM.
MANIFESTAÇÃO TARDIA. PERÍCIA JUDICIAL.
IMPUGNAÇÃO. INEXISTÊNCIA. SENTENÇA EXTRA E
ULTRA PETITA. INOCORRÊNCIA. ATO ÍMPROBO.
OCORRÊNCIA. APLICAÇÃO DAS PENAS. MANUTENÇÃO.
1. Quanto às preliminares aventadas, prevalecente o entendimento
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segundo o qual inexiste nulidade sem prejuízo, conforme dicção
do art. 250, parágrafo único, do CPC. 2. A simples ausência da
notificação prévia prevista na Lei nº 8.247/92, art. 17, não possui o
condão de invalidar o processo, sob pena de agredir a celeridade e
a economia processual sem acarretar benefício real e legítimo aos
litigantes. 3. Sabido que as particularidades contidas na Lei n.º
8.429/92 devem ser aplicadas sistematicamente com as normas
previstas na Lei n.º 7.347/85, de modo que, no caso, não houve
incompatibilidade dos procedimentos, porquanto ajuizada
demanda com pedidos previstos naquela legislação (LIA). 4.
Inexiste cerceamento de defesa, quando a parte não recorre em
momento oportuno, quanto à não oitiva de sua testemunha,
sobretudo quando o respectivo rol não foi apresentado em tempo
hábil. 5. Ausência da colheita do depoimento pessoal do Réu não
contamina o processo, eis que sua defesa foi amplamente
abordada, via do oferecimento da contestação e das alegações
finais, não se observando, portanto, prejuízos nesse aspecto. 6.
Inexistentes prejuízos, quanto ao exercício da defesa, não há falar
em irregularidade com a inversão da ordem de intimação para
apresentação dos memoriais, mormente se apresentado após o
prazo decenal. 7. Quanto ao laudo pericial produzido, preclusa
discussão sobre seu mérito, vez que, da decisão que homologou o
laudo pericial e, inclusive, respondeu à impugnação feita pelo
apelante, não foi interposto qualquer recurso. 8. Constatada a
utilização, pelo Réu/Apelante, de máquinas pertencentes ao
CRISA e mão de obra de servidores públicos, na realização de
melhorias em sua propriedade rural, com a finalidade de promover
e ampliar obras tanto na estrada municipal que dá acesso à
Fazenda quanto no interior desta, caracterizado está o ato de
improbidade administrativa descrito nos incs. IV e XII, do art. 9º
da Lei 8.429/92. 9. Inexiste julgamento ultra e extra petita
quando, embora tenha-se praticado a conduta há uma década,
é condenado o réu à perda da função pública referente ao
eventual cargo que exerce atualmente, vez que sua
inidoneidade moral é dissonante para o exercício de qualquer
10. Pertinente à dosimetria das penalidades, sabidocargo público.
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que podem ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, de acordo
com a gravidade do fato, levando-se em conta a extensão do dano
causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente,
além de serem observados os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, pelo que, no caso, devem ser afastadas as
condenações relativas à suspensão dos direitos políticos e
proibição de contratar com o Poder Público. 11. Por possuir
natureza punitiva, a multa civil deverá ser corrigida,
monetariamente, a partir do arbitramento da sanção, e juros de
mora, a partir do trânsito em julgado. 12. APELO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.? (TJGO, APELACAO CIVEL
215172-59.1999.8.09.0049, Rel. DES. OLAVO JUNQUEIRA DE
ANDRADE, 5A CAMARA CIVEL, julgado em 09/10/2014, DJe
1652 de 17/10/2014) [GRIFEI]
Dessa forma, a sanção de perda da função pública deverá ser aplicada a todos os
demandados que, na data da sentença, exerçam cargo ou função pública em qualquer esfera da
Administração Pública (federal, estadual e municipal) e deverá alcançar todos os vínculos
existentes com o Poder Público.
Portanto, a aplicação da sanção de perda do cargo ou função pública é medida
que se impõe ao demandado, porque a simples leitura dos fatos e das provas coligidas aos autos
demonstra que o desvio de personalidade do demandado é totalmente inconciliável com o
exercício do serviço público que exerce perante o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
(Escrivão Judiciário).
Noutro ponto, tenho que a proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios deriva naturalmente da sanção de suspensão dos direitos
políticos, pois para qualquer pessoa celebrar negócios com a Administração Pública precisa
estar no pleno exercício dos direitos da cidadania.
Como diz ?MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, na realidade a principal penalidade é
a suspensão dos direitos políticos; as demais praticamente constituem efeitos civis e
? (Direito Administrativo, Editora Gen/Forense, 30ª edição,administrativos da penalidade maior
p. 1027).
Por último, o ressarcimento integral ao erário nasce naturalmente da perda patrimonial gerada ao
Município de Nazário pelo assentamento irregular autorizado pelo ex-Alcaide na área
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institucional do Residencial Paraíso, ao ?doar verbalmente? o terreno e ao consentir que os
?donatários? edificassem suas residências no local.
Segundo escólio de , ?Os termos do parágrafoMARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO
único do artigo 12, ?na fixação das penas previstas nesta Lei o juiz levará em conta a extensão
?. do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente Trata-se de critérios
para orientar o juiz na fixação da pena, cabendo assinalar que a expressão extensão do
dano tem que ser entendida em sentido amplo, de modo que abranja não só o dano ao
erário, ao patrimônio público em sentido econômico, mas também o patrimônio moral do
? (Direito Administrativo, Editora Gen/Forense, 30ª edição, p. 1027).Estado e da Sociedade
Na mesma vertente, articula que ?O art. 12,JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO
parágrafo único, da Lei nº 8.429/1992, pretende indicar os elementos valorativos para a
imposição da penalidade: deve o juiz considerar à extensão do dano causado e o proveito
patrimonial obtido pelo agente. A lei aqui disse menos do que queria, porque, a ser assim,
não se poderiam aplicar sanções nas hipóteses do art. 11, que pune apenas a violação de
. princípios Se é certo que tais elementos devem ser valorados, sempre existiram outros que
poderão servir como parâmetros para a dosimetria da sanção, como a intensidade do dolo,
a reincidência, a natureza da participação dos agentes, as circunstâncias etc. É lícito, pois,
ao juiz socorrer-se dos elementos de valoração previstos no art. 59, do Código Penal,
? (Manual de Direitointeiramente adequados à fixação das sanções de improbidade
Administrativo, 31º edição, Editora Gen/Atlas, p. 1167). [GRIFEI]
Após realizar ponderações no mesmo sentido, e EMERSON GARCIA ROGÉRIO
apontam as seguintes circunstâncias judiciais que devem ser valoradasPACHECO ALVES
para o estabelecimento da dosimetria da pena: personalidade do agente; vida pregressa na
administração pública; grau de participação no ilícito; reflexo de seus atos na organização da
administração pública; reflexos dos seus atos na consecução do interesse público; extensão do
(Improbidade Administrativa, 7ªdano causado; e do proveito patrimonial obtido pelo agente
edição, Editora Saraiva, p. 702/703).
Como resultado, o ato de improbidade do demandado deve ser reprovado em grau elevado,
tendo em vista a nele verificada. A intensidade do dolo vida pregressa na administração
também lhe é desfavorável. Apenas para exemplificar, (1) na Ação de Improbidade sob o
protocolo nº 201503539894, o demandado respondeu e foi condenado por quatro atos de
improbidade, suportando como sanções a suspensão dos direitos políticos, a proibição de
contratar com o Poder Público e de receber benefícios fiscais ou creditícios, a perda do cargo
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público de Escrivão Judiciário e o ressarcimento de R$ 28.000,00 acrescidos ilicitamente ao
; e seu patrimônio (2) no Processo Eleitoral nº 336780/2012, com sentença transitada em
julgado, a Justiça concluiu que ele doou verbalmente 538 lotes antes das Eleições de 2012
(inclusive para advogados e pessoas com bom poder aquisitivo), com a promessa de
documentá-los somente no futuro, após sua reeleição, deixando para as administrações
posteriores todas as responsabilidades para regularização dos loteamentos e pela realização da
totalidade da infraestrutura (Verbi gratia: pavimentação das ruas, instalação de iluminação
. O épública e implantação do sistema de água e esgoto) grau de participação nos ilícitos
abissal, posto que o demandado é quem detinha o domínio dos fatos, deles participando
diretamente. Da do demandado extraída das condutas ímprobas desponta umapersonalidade
pessoa despida de freios morais e, por isso, despreocupada com as consequências de suas ações.
O (escrivão judiciário) é circunstância desfavorável ao demandado.nível intelectual
Lado outro, tendo o demandado assumido, literalmente, a responsabilidade pelo assentamento
, expondo que autorizou os ?donatários? a ingressarem nos lotes e a construírem suasirregular
residências, tenho que essa atitude deve ser entendida como , paracircunstância atenuante
reduzir o tempo de suspensão dos direitos políticos.
Feitas tais avaliações, com relação às reprimendas temporais, observando os prazos previstos no
inciso II, do artigo 12, consoante estudado em tópico anterior, entendo cabível a suspensão dos
direitos políticos do demandado por 06 (seis) anos, bem como a sua proibição de contratar com
o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de 05 (cinco) anos; também, com fundamento no artigo 12, inciso II, deverá ressarcir
integralmente ao erário o valor dos quatro lotes que foram ocupados com construções
residenciais, que deverá ser apurado em liquidação de sentença por arbitramento; por derradeiro,
é impositiva a cominação de perda do cargo efetivo de Escrivão Judiciário ao demandado,
porque demonstrou possuir uma personalidade incompatível com a dignidade do múnus público
por ele desempenhado como servidor do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.
Ressalve-se que, como em razão dana Ação de Improbidade sob o protocolo nº 201503539894,
pluralidade de atos de improbidade administrativa (quatro no total), este Juízo adotou o
para evitar a somatória das penas temporais previstas noprincípio da absorção ou consunção
artigo 12 da Lei nº 8.429/1992. Logo, as penas de suspensão dos direitos políticos e da proibição
de contratar com o Poder Público e de receber benefícios fiscais e creditícios, nesta ocasião
fixadas, a despeito de correr processo distinto daquele, observarão a lúcida lição de EMERSON
e :GARCIA ROGÉRIO PACHECO ALVES
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?Considerando a delimitação temporal e inexistindo nesta seara
norma semelhante àquelas previstas nos arts. 69, 70 e 71 do
Código Penal e no art. 111 da Lei de Execução Penal, não há que
se falar em soma das sanções aplicadas em diferentes processos,
pois, ante as nefastas consequências que daí advirão, podendo
culminar com a suspensão dos direitos políticos do cidadão por
várias dezenas de anos, somente norma específica pode amparar
tal entendimento, não a analogia.
Ante a ausência de lei específica e por ser mais benéfico ao
agente, deve-se adotar o denominado sistema da absorção,
segundo o qual a sanção temporal mais grave absorve as
demais da mesma espécie. Assim, à possibilidade de aplicação
de tais sanções em diferentes processos deve-se correlacionar o
entendimento de que elas poderão se sobrepor a acarretar a
efetividade de somente uma. Sendo aplicada, v.g., a sanção de
suspensão dos direitos políticos em distintos processos, com
diversos termos a quo, será facilmente identificada a presença
de períodos de superposição ou mesmo eficácia isolada daquela
que for por último aplicada ou que seja fixada em níveis mais
elevados. De qualquer modo, será inadmissível a soma das
sanções.
Igual entendimento será aplicado em sendo os diferentes atos de
improbidade apurados no mesmo processo, o que, em termos
práticos, culminará com a aplicação de uma única sanção de cada
espécie, utilizando-se o órgão jurisdicional de maior determinação
relativa (limites mínimo e máximo) prevista no art. 12. Neste caso,
identificada a maior reprovabilidade da conduta e o possível hábito
do agente em praticar tais ilícitos, será imperativa a exasperação da
sanção. ? (Improbidade Administrativa, 7ª edição, Editora Saraiva,
p. 702/703) [GRIFEI]
Com relação à , não possuindo natureza de reprimendasanção de perda da função pública
temporal, uma vez decretada, não importa se decorrente deste ou daquele ato de improbidade,
ou de todos eles, o efeito será um só.
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As demais sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativas podem ser somadas, tendo
em vista que são todas de natureza pecuniária, sendo essa a corrente doutrinária e pretoriana
predominantes.
Ante o exposto, ,JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE A PRETENSÃO INICIAL
nos termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil, para:
DECRETAR a nulidade da Lei Municipal 250/2011, mas, ao mesmo tempo,
a regularização fundiária de parte do terreno ocupado pelos demandadosDETERMINAR
FÁBIO JOSÉ DE LIMA, CLAUDINEI DA SILVA LOPES, PAULO HENRIQUE
e , com fundamento naRIBEIRO DE SOUZA WANDER DA SILVA GUIMARÃES
Lei nº 13.465/2017, artigo 9º e seguintes;
SUSPENDER os direitos políticos do demandado Fábio Gabriel do Amorim pelo prazo
de 06 (seis) anos;
PROIBIR o demandado Fábio Gabriel do Amorim de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 05 (cinco)
anos;
DECRETAR a perda pelo demandado Fábio Gabriel de Amorim do cargo público de
Escrivão Judiciário do qual é titular perante o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás; e
CONDENAR o réu Fábio Gabriel de Amorim a ressarcir o valor da perda patrimonial
suportada pelo erário municipal em razão da redução da área institucional do Residencial
Paraíso, que deverá ser apurado em liquidação de sentença por arbitramento.
As sanções de suspensão dos direitos políticos e de perda do cargo público somente produzirão
efeitos após o trânsito em julgado do .decisum, nos termos do artigo 20 da Lei nº 8.429/1992
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Custas pelo réu Fábio Gabriel do Amorim, porque deu causa à lide.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Nazário, 04 de setembro de 2017.
AILTON FERREIRA DOS SANTOS JÚNIOR
JUIZ DE DIREITO
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