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Universidade Estadual de Montes Claros Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências Biológicas PROSPECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE LINHAGENS FÚNGICAS PRODUTORAS DE COMPLEXOS ENZIMÁTICOS LIGNOCELULOLÍTICOS PROVENIENTES DE RESÍDUOS DE AMBIENTE CANAVIEIRO Maria Lúcia Gomes e Souza Montes Claros, Minas Gerais 2011

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Universidade Estadual de Montes Claros

Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências Biológicas

PROSPECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE LINHAGENS

FÚNGICAS PRODUTORAS DE COMPLEXOS ENZIMÁTICOS

LIGNOCELULOLÍTICOS PROVENIENTES DE RESÍDUOS DE

AMBIENTE CANAVIEIRO

Maria Lúcia Gomes e Souza

Montes Claros, Minas Gerais

2011

ii

Maria Lúcia Gomes e Souza

PROSPECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE LINHAGENS

FÚNGICAS PRODUTORAS DE COMPLEXOS ENZIMÁTICOS

LIGNOCELULOLÍTICOS PROVENIENTES DE RESÍDUOS DE

AMBIENTE CANAVIEIRO

Prof. Dr. Dario Alves de Oliveira – Orientador

Prof. Dr. Henrique Maia Valério – Co-orientador

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências

Biológicas da Universidade Estadual de

Montes Claros como requisito necessário para

conclusão do curso de Mestrado em Ciências

Biológicas.

Montes Claros, Minas Gerais

2011

iii

SUMÁRIO

Pág

RESUMO....................................................................................................... v

ABSTRACT.................................................................................................... vi

LISTA DE FIGURAS...................................................................................... vii

LISTA DE TABELAS...................................................................................... ix

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 4

2.1 Fontes de energia – resíduos lignocelulósicos......................................... 4

2.1.1 Celulose................................................................................................. 6

2.1.2 Hemicelulose......................................................................................... 9

2.1.3 Lignina................................................................................................... 10

2.2 Hidrólise da lignocelulose......................................................................... 10

2.3 Sistemas enzimáticos............................................................................... 12

2.3.1 Celulases............................................................................................... 12

2.3.1.1 Produção de celulases....................................................................... 14

2.3.2 Hemicelulases....................................................................................... 17

2.3.3 Ligninases............................................................................................. 18

2.4 Microrganismos celulolíticos..................................................................... 18

2.4.1 Aspectos ecológicos das comunidades que degradam a celulose....... 21

3 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ 23

3.1 Local de coleta......................................................................................... 23

3.2 Isolamento dos microrganismos............................................................... 24

3.3 Manutenção das linhagens....................................................................... 25

3.4 Pré seleção dos microrganismos lignocelulolíticos.................................. 25

3.5 Fermentação dos microrganismos isolados ativos................................... 27

iv

3.5.1 Quantificação dos microrganismos durante as fermentações............... 30

3.6 Extração das enzimas.............................................................................. 30

3.7 Determinação das atividades e concentrações enzimáticas do

complexo celulolítico e hemicelulolítico..........................................................

31

3.7.1 Atividade Carboximetilcelulase – CMCase........................................... 31

3.7.2 Atividade FPase.................................................................................... 31

3.7.3 Atividade glicosidase......................................................................... 32

3.7.4 Atividade hemicelulase (xilanase)......................................................... 32

3.7.5 Cálculo da atividade enzimática........................................................... 32

3.8 Identificação taxonômica......................................................................... 34

3.9 Análise estatística..................................................................................... 34

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................... 35

4.1 Isolamento dos fungos filamentosos........................................................ 35

4.2 Manutenção e viabilidade dos isolados.................................................... 38

4.3 Seleção dos fungos com atividade lignocelulolítica................................. 39

4.4 Análise da atividade celulolítica e hemicelulolítica................................... 43

4.5 Identificação taxonômica.......................................................................... 57

5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS........................................................... 58

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 60

APÊNDICES .................................................................................................. 68

ANEXOS......................................................................................................... 78

v

RESUMO

O potencial bioenergético do Brasil está representado em grande parte

pelo setor sucroalcooleiro, pois a cana-de-açúcar constitui uma fonte de

energia renovável e abundante. Além do aproveitamento do caldo para a

produção de etanol e do emprego do bagaço para fins energéticos, os

polissacarídeos (principalmente a celulose) podem ser liberados por hidrólises

enzimáticas para serem fermentados a etanol e outros produtos de maior valor

agregado. O elevado custo das enzimas celulolíticas representa o maior

desafio para a viabilidade do processo. Atualmente os principais fornecedores

de enzimas lignocelulolíticas para a indústria são os fungos. O conhecimento

da diversidade e potencialidade dos fungos do ambiente é ainda pouco

explorado. Portanto, neste trabalho, fungos filamentosos foram isolados e

selecionados do solo de ambiente canavieiro da região Norte do Estado de

Minas Gerais, com o objetivo de obter linhagens com potencial para produção

de enzimas lignocelulolíticas. Foram coletadas amostras de solo e resíduos de

cana-de-açúcar nos períodos pós-estiagem e pós-chuvas. As coletas foram

realizadas em pontos estrategicamente pré-selecionados, perfazendo um total

de 16 amostras. Foram isolados 230 morfotipos dos quais 124 identificados

como celulolíticos, através de testes qualitativos, destes 5 também

hemicelulolíticos e 7 lignolíticos. Os fungos Trichoderma reesei RUT C-30

(ATCC 56765) e Aspergillus awamori B.361 U2/1 foram empregados como

referência de linhagens produtoras de celulases e hemicelulases. Em relação à

análise enzimática quantitativa, foram testados em fermentação submersa em

frascos sob agitação mecânica e em fermentação semi-sólida em frascos sob

cultivo estacionário, 19 morfotipos celulolíticos. Destes, 5 morfotipos foram

identificados taxonomicamente, 2 a nível de gênero e 3 espécies, sendo eles:

Coriolopsis sp. (basidiomiceto); Aspergillus cf. phoenicis; Penicillium raistrickii;

Penicillium angulare e Penicillium variabile. Em cultivo submerso com lactose, o

Coriolopsis sp. apresentou maior atividade endoglucanase (CMCase 7,8946

UI/mL); e os Penicillium angulare e Penicillium raistrickii, maior atividade

FPase, 0,7103 e 0,6631UI/mL respectivamente. O Penicillium variabile se

destacou por apresentar maior atividade -Glicosidase 1,3356 UI/mL, maior

que o controle Aspergillus awamori nas mesmas condições de cultivo. A

atividade hemicelulósica (xilanase) foi melhor apresentada pelo Penicillium

raistrickii, 5,2161UI/mL. O bagaço de cana-de-açúcar se apresentou como bom

substrato e indutor em cultivo submerso para atividade CMCase produzida

pelos Penicillium raistrickii e Penicillium angulare, bem como para todas as

enzimas analisadas produzidas pelo Coriolopsis sp., comparando-se com o

cultivo com lactose ou farelo de trigo.

Palavras-chave: celulase, isolamento, resíduos, fungos.

vi

ABSTRACT

The bioenergetic potential of Brazil is represented largely by the alcohol and

sugar sector, because the sugar-cane is a source of renewable and abundant

energy. Besides the use of the sugar-cane juice for ethanol production and use

of bagasse for energy purposes, the polysaccharides (mainly cellulose) can be

released by enzymatic hydrolysis to be fermented into ethanol and other

products with higher added value. The high cost of cellulolytic enzymes

represents the biggest challenge to the viability of the process. Currently, the

fungi are the main producers of industrial enzymes lignocellulolytic. The

Knowledge of the diversity and potential of the fungi from the environment is still

a little explored. Therefore, in this study, filamentous fungi were isolated and

selected from sugarcane soil environment of the northern region of Minas

Gerais state, with the aim of obtaining strains with potential for production of

enzymes lignocellulolytic. The samples were collected from soil and waste of

sugar cane in post-drought and post-rains periods. The Samples were collected

at pre-selected points strategically for a total of 16 samples. 230 morphotypes

were isolated of which 124 identified as cellulolytic, through qualitative tests,

and of these 5 also hemicellulolytic and 7 lignolytics. The fungus Trichoderma

reesei RUT C-30 ATCC 56765 and Aspergillus awamori B.361 U2/1 were used

as reference of producer strains of cellulases and hemicellulases. In relation to

the quantitative enzymatic analysis, were tested in submerged fermentation in

mechanical shaken flasks and in solid state fermentation in stationary culture

flasks, 19 morphotypes cellulolytic. Of these, five morphotypes were identified

taxonomically, 2 genus and 3 species, namely: Coriolopsis sp. (Basidiomycete),

Aspergillus cf. phoenicis, Penicillium raistrickii; Penicillium angulare and

Penicillium variabile. In submerged culture with lactose, the Coriolopsis

sp. presented the highest endoglucanase activity (CMCase 7.8946 IU/ mL), and

the Penicillium angulare and Penicillium raistrickii, increased activity FPase,

0.7103 and 0.6631 IU/ mL respectively. The Penicillium variabile stood out due

to its higher activity -glucosidase 1.3356 IU/ mL, greater than the Aspergillus

awamori control in the same cultivation conditions Hemicellulosic activity

(xylanase) was better presented by Penicillium raistrickii, 5.2161 IU/

mL. Sugarcane bagasse is presented as a good substrate and inducer in

culture submerged for CMCase activity produced by Penicillium angulare and

Penicillium raistrickii as well as for all analysed enzymes produced by

Coriolopsis sp., compared with cultivation with lactose or wheat bran.

Keywords: Cellulase, isolation, waste, fungi

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Composição da lignocelulose ......................................... Pág. 6

Figura 2 – Estrutura da celulose (A) ligações -glicosídicas. (B)

Estrutura esquemática de uma fibrila ...............................................

Pág. 7

Figura 3 – Estrutura das fibras de celulose ...................................... Pág. 8

Figura 4 – Sinergismo entre endoglucanases, celobiohidrolases e

-glicosidases ...................................................................................

Pág. 13

Figura 5 – pH de cada ponto de coleta nos 2 períodos sazonais ... Pág. 37

Figura 6 – Correlação da diversidade fúngica com pH nos 2

períodos sazonais ............................................................................

Figura 7 – Fotos de halos de degradação em meio sintético com

CMC ou xilana .................................................................................

Pág. 37

Pág. 40

Figura 8 – Quadro representativo dos IEs dos fungos filamentosos

isolados ............................................................................................

Pág. 42

Figura 9 - Concentração enzimática de endoglucanase (CMCase)

e proteína total, obtidas do cultivo dos isolados em meio Mandels

& Weber com lactose.......................................................................

Pág. 44

Figura 10 - Concentração enzimática de exoglucanase (FPase) e

proteína total, obtidas do cultivo dos isolados em meio Mandels &

Weber com lactose..........................................................................

Pág. 45

Figura 11 - Concentração enzimática de -glicosidase e proteína

total, obtidas do cultivo dos isolados em meio Mandels & Weber

com lactose......................................................................................

Pág. 46

Figura 12 - Concentração enzimática de xilanase e proteína total,

obtidas do cultivo dos isolados em meio Mandels & Weber com

lactose...............................................................................................

Pág. 47

Figura 13 - Comparativo meio Mandels & Weber (1969) com

lactose e com bagaço. Maiores concentrações CMCase (UI/mL)

obtidas em cultivo submerso por até 120 h......................................

Figura 14 - Comparativo meio Mandels & Weber (1969) com

Pág. 48

viii

lactose e com bagaço. Maiores concentrações FPase (UI/mL)

obtidas em cultivo submerso por até 120 h.....................................

Figura 15 - Comparativo meio Mandels & Weber (1969) com

lactose e com bagaço. Maiores concentrações de -glicosidase

(UI/mL) obtidas em cultivo submerso por até 120 h.........................

Figura 16 - Comparativo meio Mandels & Weber (1969) com

lactose e com bagaço. Maiores concentrações de xilanase (UI/mL)

obtidas em cultivo submerso por até 120 h.....................................

Pág. 48

Pág. 49

Pág. 50

Figura 17 - Cultivo submerso meio Breccia (1995) modificado com

farelo de trigo ou bagaço 1,5 % e 3,0 % do isolado 67. Controle

sem farelo ou bagaço. Concentração enzimática máxima

obtida...............................................................................................

Pág. 51

Figura 18 - Cultivo submerso meio Breccia (1995) modificado com

farelo de trigo ou bagaço 1,5 % e 3,0 % do isolado 87. Controle

sem farelo ou bagaço. Concentração enzimática máxima

obtida.................................................................................................

Figura 19 - Concentração CMCase em cultivo semi sólido por 33

dias, comparativo substrato farelo de trigo e bagaço.......................

Pág. 52

Pág. 53

Figura 20 - Concentração FPase em cultivo semi sólido por 33

dias, comparativo substrato farelo de trigo e bagaço.......................

Pág. 53

Figura 21 - Concentração -glicosidase em cultivo semi sólido por

33 dias, comparativo substrato farelo de trigo e bagaço..................

Figura 22 - Concentração xilanase em cultivo semi sólido por 33

dias, comparativo substrato farelo de trigo e bagaço.......................

Figura 23 – Concentração média máxima de enzimas produzidas

pelo isolado S87 em cultivo semi-sólido nos diferentes substratos

(bagaço 3,0%; farelo de Trigo 3,% e mistura bagaço 1,5% e farelo

de trigo 1,5%)....................................................................................

Figura 24 – Concentração média máxima de enzimas produzidas

pela referência A. awamori em cultivo semi-sólido nos diferentes

substratos (bagaço 3,0%; farelo de Trigo 3,% e mistura bagaço

1,5% e farelo de trigo 1,5%)..............................................................

Pág. 54

Pág. 54

Pág. 55

Pág. 55

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Composição do meio sintético CMC 1% ........................ Pág. 25

Tabela 2 – Composição do meio para detecção de lacase.............. Pág. 26

Tabela 3 – Composição do meio Mandels & Weber (1969)

modificado (pH 5,0)...........................................................................

Pág. 28

Tabela 4 – Composição do meio Breccia et al. (1995) modificado .. Pág. 28

Tabela 5 – Composição da solução nutritiva (pH 5,0) para meio

semi-sólido .......................................................................................

Pág. 29

Tabela 6 – Número de fungos filamentosos (x104 UFC/mL) ........... Pág. 35

Tabela 7 – Diversidade de morfotipos encontrados por ponto de

coleta ................................................................................................

Pág. 36

Tabela 8 – Número de fungos filamentosos com atividade

enzimática ........................................................................................

Pág. 41

Tabela 9 – Seleção de fungos celulolíticos com IE ≥ 3,5 ................. Pág. 42

Tabela 10 – Identificação taxonômica de 5 fungos celulolíticos ...... Pág. 56

AGRADECIMENTOS

À Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES pela oportunidade de

participar do Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas.

À BIOMM SA, em especial ao diretor científico Luciano Vilela, pela permissão e

apoio em participar do programa de pós-graduação enquanto funcionária da

empresa.

À FINEP pelo financiamento e apoio ao projeto maior “Desenvolvimento de

processo para a obtenção industrial de misturas enzimáticas celulolíticas

destinadas à produção de biocombustíveis a partir de biomassa” no qual este

trabalho está inserido.

Ao Dr. Dario Alves de Oliveira, pela orientação, confiança e acolhimento, meus

sinceros agradecimentos.

Ao co-orientador Dr. Henrique Maia Valério, pela amizade, orientação,

incentivo, apoio e valorosas discussões e correções ao longo deste trabalho.

Ao Dr. Torquato Gonçalves da Fonseca pelo apoio, interesse, disponibilidade

do seu precioso tempo e concordância na coleta de material de sua

propriedade.

Ao IBAMA pela autorização de acesso e de remessa de amostra de

componente do patrimônio genético.

À Profa. Dra. Elba Bon pelo envio e permissão do uso das cepas referência

utilizadas neste trabalho.

À Escola técnica de Montes Claros (FEMC) por ceder o laboratório de

Bioquímica e Microbiologia à BIOMM para desenvolvimento do projeto FINEP,

no qual este trabalho foi realizado.

Às colegas de pós-graduação Leide e Patrícia, pelo companheirismo, por tornar

o período de execução dos créditos obrigatórios do programa menos

estressante.

Aos queridos amigos e alunos de iniciação científica da FACIT (Clara, Patrícia,

Bárbara(s), Mariana, Helbert e Laiane) os quais contribuíram significativamente

para a realização deste trabalho por alguns períodos ou durante todo o projeto

e pelos momentos de descontração, meus sinceros agradecimentos.

Ao José Carlos pela valiosa colaboração no estoque dos fungos isolados.

Aos meus colegas da BIOMM, pelo apoio e amizade e em especial à Heloísa

Tunes pelo constante incentivo e contribuição com a estatística.

Aos meus queridos amigos, sempre presentes mesmo que de longe, Andréa,

Rosi, Mônica, Simone, Élder, Denise, Lúcia, Luiz, Janete, Henrique, Fernanda,

Gustavo, Mauro, Alessandra e os mais recentes Dayane e José Carlos, muito

obrigada pela torcida, carinho, alegrias e momentos de descontração.

Aos responsáveis pela minha iniciação na pesquisa científica, Dr. Marcos

Mares Guia (in memoriam) e Dr. Joseph Ernest Thiemann, meu eterno

reconhecimento.

À minha família, queridas irmãs que sempre me incentivaram, obrigada pelo

amor incondicional e carinho.

Aos meus pais, que já estão em outro plano, mas que sempre sinto por perto,

por todo o amor e orientação para a vida.

Ao meu querido Arthur, meu orgulho e minha alegria.

E meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas e instituições que

tornaram de alguma forma possível a realização deste trabalho.

1

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de tecnologia para produção de energia alternativa é

criticamente importante devido à crescente produção dos gases de efeito

estufa causado pelo aumento do uso de combustíveis fósseis, fator

preponderante no esgotamento das reservas e aumento dos preços do

petróleo. A bioconversão da biomassa lignocelulósica tem significativas

vantagens ambientais e econômicas sobre outras estratégias de energia

alternativa, pois sendo a lignocelulose o principal componente estrutural de

todas as plantas, corresponde ao material orgânico renovável mais abundante

do planeta (DASHTBAN et al., 2009; PANDEY et al., 2000; GOMEZ et al.,

2008; LIN & TANAKA, 2006).

A lignocelulose consiste de três principais componentes: celulose,

hemicelulose e lignina, os quais variam em proporção de espécie para espécie.

Em média os resíduos agrícolas contêm de 20 a 60% de celulose, 20 a 30% de

hemicelulose e 15 a 30% de lignina. O bagaço da cana-de-açúcar contém

cerca de 25 a 40% de celulose e o restante de hemicelulose (20 a 35%) e

lignina (15 a 35%) (COWLING & KIRK, 1976).

Desses três polímeros a celulose é a principal fonte de açúcares

fermentos-alvos em etanol, pois é constituída de polímeros de glicose, que uma

vez hidrolisada é facilmente fermentada em etanol pela levedura

Saccharomyces cerevisiae em processos industriais aprovados e com bom

desempenho (WARZWODA et al., 2006).

O processo de produção de etanol no Brasil ocorre pela via de

fermentação alcoólica do caldo de cana-de-açúcar e gera como resíduos a

vinhaça, a palha e o bagaço, os quais são parcialmente utilizados através da

queima para geração de energia (vapor e elétrica) e para adubação das áreas

de plantio. Parte considerável deste subproduto não é utilizada, e causa

transtornos e problemas no que se refere a sua destinação e processamento

(SILVA et al., 2009).

A área ocupada pela cana-de-açúcar no Brasil e destinada ao setor

sucroalcooleiro alcança 8,1 milhões de hectares na safra 2010/11, ou 9,2% a

mais do que no ciclo anterior. A previsão de produção total de cana-de-açúcar

2

a ser moída pela indústria sucroalcooleira no país na safra 2010/11 é de 664,33

milhões de toneladas. Deste total de cana-de-açúcar a ser esmagada, cerca de

54,6% (362,8 milhões de toneladas) se destina à produção de 28,5 bilhões de

litros de álcool. Já a outra parte, cerca de 45,4% (301,6 milhões de toneladas),

se destina à produção de 38,7 milhões de toneladas de açúcar. Baseado nesta

previsão, cerca de 150 milhões de toneladas de bagaço e 120 milhões de

toneladas de palha serão gerados (CONAB, 2010).

A produção de etanol de segunda geração é obtida através da

transformação dos materiais lignocelulósicos, que se destacam como fontes

energéticas, como bagaço e palha de cana-de-açúcar, em etanol. Uma

tonelada de cana contém a energia equivalente a 1,2 barris de petróleo, sendo

que cerca de 1/3 dessa energia está armazenada quimicamente no caldo

(açúcares) e o restante na biomassa de cana: metade no bagaço e metade na

palha, aproximadamente. A produção de etanol através da utilização de

resíduos lignocelulósicos pode representar um adicional significativo de 15% na

produção (GOES, 2008).

A bioconversão dos substratos lignocelulósicos pode ser feita por muitos

microrganismos, dentre bactérias, actinomicetos, protozoários e fungos,

através da produção de celulases. Aqueles microrganismos os quais produzem

níveis apropriados do complexo enzimático em ação conjunta e sinérgica,

destacando-se: exoglucanases (celobiohidrolases), endoglucanases,

celobiases (ß-glicosidase) e fenoloxidases, são capazes de transformar os

resíduos lignocelulósicos em compostos de fácil assimilação para o

metabolismo (VALASKOVÁ & BALDRIAN, 2006, LYND et al., 2002, KUMAR et

al., 2008).

As celulases foram investigadas inicialmente há várias décadas atrás

para bioconversão de biomassa, abrindo caminho para pesquisas de

aplicações industriais das enzimas em ração animal, alimentos, têxteis,

detergentes e na indústria de papel. Com a diminuição dos combustíveis

fósseis e o aumento da necessidade de encontrar fontes alternativas para

combustíveis e energia renovável, existe uma renovação do interesse na

bioconversão da biomassa lignocelulósica usando celulases e outras enzimas

(SUKUMARAN et al., 2005).

3

As pesquisas voltadas para os mecanismos enzimáticos da celulose e

os problemas envolvidos na conversão direta da biomassa lignocelulósica em

produtos úteis por meio de enzimas isoladas ou de microorganismos

lignocelulolíticos tem aumentado nas últimas décadas (SCHWARZ, 2001).

Ressalta-se que o custo atual das enzimas existentes no mercado ainda

é a maior limitação para o emprego potencial destas enzimas na hidrólise de

resíduos lignocelulósicos e implantação desta tecnologia (KUMAR et al., 2008,

SUKUMARAN et al., 2005, WYMAN, 1994).

Os microrganismos utilizados nas fermentações industriais devem

preencher uma série de requisitos a fim de tornar operacional o processo do

qual participam (HESSELTINE & HAYNES, 1973).

Este trabalho teve como objetivo principal buscar na natureza cepas

potencialmente interessantes do ponto de vista industrial para possibilitar o

desenvolvimento de processos tecnológicos mais competitivos.

4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Fontes de energia - resíduos lignocelulósicos

O carbono atmosférico foi capturado por plantas há milhões de anos

atrás, pelo processo da fotossíntese, e passado o tempo foi manifestado em

petróleo bruto e carvão. No entanto, desde a revolução industrial, nós temos

usado muito destas fontes de energia, causando excessiva liberação de

carbono de volta para a atmosfera. Assim, nos últimos 150 anos os níveis de

CO2 na atmosfera aumentaram de 280 para 380 ppm. Em troca, isto tem sido

potencialmente a causa da elevação das temperaturas ao redor do mundo

levando às mudanças climaticas globais (DASHTBAN et al., 2009, GOMEZ et

al. 2008).

A produção global de petróleo bruto é prevista para diminuir 5 vezes até

o ano de 2050. Baseado nos cálculos do World Energy Council (WEC), o

consumo mundial de energia primária é aproximadamente equivalente a 12

bilhões de toneladas de carvão/ano. Os cálculos das Nações Unidas têm

mostrado que a população mundial irá aumentar para cerca de 10 bilhões de

pessoas em 2050 o que aumentará a demanda de energia para equivalente de

no mínimo 24 bilhões de toneladas de carvão/ano (2x o consumo de hoje)

dependendo econômica, social e politicamente do desenvolvimento

(DASHTBAN et al., 2009).

O aumento do consumo de energia, o esgotamento dos combustíveis

fósseis e aumento das preocupações com o meio ambiente se tornaram fortes

justificativas para geração de energia aplicada ao uso de biocombustíveis. Os

resíduos lignocelulósicos são produzidos em larga escala por diferentes

indústrias incluindo florestal, polpa e papel, agricultura e de alimentos, além de

diversos resíduos do lixo sólido municipal e resíduos animais. Significantes

esforços, muitos dos quais têm tido sucesso, tem sido realizados para

converter estes resíduos lignocelulósicos em produtos de valor como

biocombustíveis, químicos e alimentação animal. Estes materiais de potencial

valor foram tratados no passado em muitos países como lixo, e ainda hoje em

5

alguns países desenvolvidos, o que levanta muitas preocupações ambientais

(RAGAUSKAS et al., 2006, PRASAD et al., 2007).

O etanol como combustível é usado em mistura (10 a 22%) com a

gasolina ou puro (95% etanol e 5% água). Por ser um combustível oxigenado

que contém 35% de oxigênio, reduz a emissão de partículas e NOx da

combustão. Com a escassez das reservas de petróleo, aumento da poluição do

ar e acúmulo de CO2 na atmosfera, o etanol terá um papel significativo na

matriz energética do planeta (LIN & TANAKA, 2006, PRASAD et al., 2007).

Um dos cultivos comerciais de maior importância em todo o mundo, a

cana-de-açúcar, ocupa mais de 20 milhões de hectares, com destaque para o

Brasil, que, com uma área plantada de mais de 7 milhões de hectares,

corresponde a cerca de 42% do total produzido. Grande quantidade de

resíduos é gerada no processamento da cana-de-açúcar para a produção de

álcool. Para cada tonelada de cana, aproximadamente 250 a 280 Kg de bagaço

é produzido.

Grandes investimentos estão sendo efetuados para viabilizar a produção

de combustível a partir de celulose, estimando-se que, em 2020, apenas nos

EUA, cerca de 30 bilhões de litros de álcool poderiam ser obtidos dessa fonte.

Será necessário investir recursos elevados em PD&I, especialmente na

hidrólise da celulose (EMBRAPA, 2006).

A lignocelulose é um material orgânico e principal componente estrutural

das plantas, além de ser o produto principal da fotossíntese em ambientes

terrestres, e a mais abundante fonte de energia renovável produzida na

biosfera - cerca de 100 bilhões de toneladas seca/ano (ZHANG, 2006).

A composição da lignocelulose consiste de 3 principais componentes:

celulose, hemicelulose e lignina (Figura 1). Em adição, pequenas quantidades

de outros materiais como proteínas e pectina tem sido encontrados em

resíduos lignocelulósicos, em diferentes proporções, dependendo da fonte. A

quebra da biomassa lignocelulósica envolve a formação de longas cadeias de

polissacarídeos, principalmente celulose e hemicelulose, e subseqüente

hidrólise destes polissacarídeos em cadeias de açúcares compostas por 5 e 6

carbonos. Na produção de biocombustível, estes açúcares podem ser

6

convertidos em bioetanol através do processo de fermentação (DASHTBAN et

al., 2009).

Figura 1 – Desenho esquemático da estrutura da lignocelulose e seus componentes

De acordo com BON et al. (2008), dentre os resíduos agroindustriais de

composição lignocelulósica de maior importância destacam-se: bagaço e palha

de cana-de-açúcar; sabugo e palha de milho; palhas de trigo e arroz, restos de

madeira processada e lixo baseados em papel.

O desenvolvimento de tecnologias para efetivamente converter resíduos

florestais e de agricultura de baixo custo para açúcares fermentáveis oferece

um potencial para gerar benefícios de interesse nacional através de: melhorar a

estratégica de segurança; diminuir os déficits comerciais; salutar a economia

rural; melhorar a qualidade do ambiente; exportar tecnologia; e fornecer fonte

de energia sustentável (ZHANG, 2006).

2.1.1 - Celulose

A celulose é o principal constituinte de todo o material das plantas,

dominante na agricultura, é a molécula orgânica mais abundante na Terra,

representante de cerca de 1,5x1012 ton de biomassa total anual produzida

através da fotossíntese especialmente nos trópicos, e é considerada uma fonte

quase inesgotável de matéria prima para diferentes produtos (SUKUMARAN et

al., 2005, DASHTBAN et al., 2009).

Fonte: Sticklen (2008)

Pectina

Microfibrila

de celulose

Hemicelulose

Proteínas

solúveis

Lignina

7

Na natureza podemos encontrar a celulose quase que exclusivamente

na parede celular das plantas, apesar de ser produzida por alguns animais (ex.

tunicatos) e poucas bactérias. A despeito de grandes diferenças na

composição e na estrutura anatômica da parede celular de várias plantas, um

alto conteúdo celulósico – cerca de 35 a 50% do peso seco da planta – é uma

característica geral (LYND et al., 2002).

Sua estrutura molecular consiste em um biopolímero linear de moléculas

de anidroglucopiranose, conectados por ligações -1,4-glicosídicas (Figura 2A).

Figura 2 – Estrutura da celulose. (A) Ligações -glucosídicas. (B) Estrutura esquemática de

uma fibrila.

O polímero é insolúvel em água e de massa molecular que varia entre

50 mil e 2,5 milhões de Daltons, dependendo da origem da amostra. A celulose

é composta por unidades monoméricas de celobiose, a qual é formada pela

junção de duas moléculas de glicose seguida da eliminação da água através

das hidroxilas ligadas ao carbono 1 e 4 (FILHO, 2008).

Independentemente da sua orientação, as cadeias são rígidas por

pontes de hidrogênio intra e inter cadeias. Segmentos adjacentes se

sobrepõem entre si e são unidos por fracas ligações de Van der Waals.

Aproximadamente 30 moléculas individuais de celulose são montadas

em grandes unidades conhecidas como fibrilas elementares (protofibrilas), as

Fonte: Béguin & Aubert (1994)

Celobiose Glicose

Região cristalina Região cristalina

Região amorfa

8

quais são empacotadas em grandes unidades chamadas microfibrilas, e estas

por sua vez são montadas nas conhecidas fibras de celulose (Figura 3).

Figura 3 – Estrutura das fibras de celulose

A natureza cristalina da celulose implica em uma organização estrutural

na qual todos os átomos são fixados em posições distintas em relação ao

outro. Uma importante característica do arranjo cristalino é que os

componentes moleculares das microfibrilas individuais são ―empacotados

hermeticamente‖ para prevenir a penetração não só de enzimas, mas também

de pequenas moléculas como a água (BÉGUIN & AUBERT, 1994).

Apesar de a celulose formar estruturas cristalinas distintas, as fibras de

celulose naturais não são puramente cristalinas. O grau de cristalinidade é

variável, deixando regiões amorfas com variados graus de organização das

fibrilas (Figura 2B). Além das regiões amorfas e cristalinas as fibras de celulose

contêm vários tipos de irregularidades, tais como dobras ou torções das

Fonte: Wyman,C.E. 2009

Cultura de bioenergia

Celulose

Células

Hemicelulose

Lignina

microfibrila

Moléculas

de açúcar Glicose

9

microfibrilas, ou vazios tais como microporos da superfície, buracos grandes e

capilares. Alguns microporos e capilares são suficientemente grandes para

permitir a penetração, em alguns casos, de enzimas celulolíticas (LYND et al.,

2002, DASHTBAN et al., 2009).

Na natureza, em alguns casos, como no algodão, a celulose está

presente em um estado quase puro, enquanto na maioria dos casos, as fibras

de celulose são embebidas na matriz de outros polímeros estruturais,

principalmente hemiceluloses e lignina, os quais compreendem,

respectivamente, 20 a 35 e 5 a 30% do peso seco das plantas. Apesar dessa

proporção ter variações de acordo com o tipo e a maturidade da planta, estes

polímeros são a estrutura dominante e limitante da velocidade e do grau de

utilização da biomassa não tratada (SUKUMARAN et al., 2005).

2.1.2 - Hemiceluloses

As hemiceluloses, o segundo componente mais abundante da biomassa

lignocelulósica, são polímeros heterogêneos de pentoses (incluindo xilose e

arabinose), hexoses (principalmente manose, menos glucose e galactose),

ácidos urônicos e grupos acetila. Sua estrutura apresenta ramificações e

cadeias laterais que interagem facilmente com a celulose, dando flexibilidade

ao agregado (DASHTBAN et al., 2009).

A composição das hemiceluloses é muito variável na natureza e

depende da fonte da planta, as madeiras em geral possuem de 20 a 30% de

hemicelulose na composição geral, enquanto que nas gramíneas esse valor é

de 20 a 40% (BORTOLAZZO, 2011).

A porção de hemiceluloses nas plantas contribuem significativamente

como potencial para a produção de combustíveis a partir da lignocelulose. No

entanto, espécies de leveduras e bactérias comumente usadas na produção de

etanol não são muito eficientes na metabolização de açúcares pentose tais

como xilose e arabinose, e do contrário, estes açúcares podem inibir a

atividade desses organismos. Uma das abordagens para superar este

problema em particular é a identificação na natureza ou engenheiramento de

microrganismos que possam usar eficientemente as pentoses (GOMEZ, 2008).

10

2.1.3 - Lignina

A lignina, o terceiro principal polímero heterogêneo dos resíduos da

lignocelulose, geralmente contém 3 álcoois aromáticos incluindo álcool

cumárico, coniferílico e sinapílico.

Segundo BON et al. (2008), a lignina representa um dos maiores

estoques de carbono/energia da natureza e é ainda, o maior depósito natural

de estruturas químicas aromáticas, constituindo-se em uma fonte potencial de

valiosos insumos para a indústria química.

A lignina, junto com a hemicelulose e a pectina, preenche os espaços

entre as fibrilas de celulose e além de atuar como material ligante entre os

componentes da parede celular, age como barreira e previne a penetração de

enzimas lignocelulolíticas no interior da estrutura lignocelulósica.

Mesmo presente em quantidades menores em relação à celulose, a

lignina confere limitação suficiente para retardar, ou mesmo impedir

completamente, a atuação microbiana sobre o material. Não

surprendentemente, a lignina é o principal componente recalcitrante do material

lignocelulósico a degradar (DASHTBAN et al., 2009).

2.2 - Hidrólise da Lignocelulose

A hidrólise enzimática da celulose na natureza é comumente um

processo incompleto e lento. Embora em intervalos de 48 horas, observam-se

exemplos de consumação satisfatória, como a da flora microbiana do rúmen

bovino, hidrolisando de 60-65% da celulose disponível e também de cupins

capazes de assimilar até 90% de celulose da madeira (FILHO, 2008). Enquanto

isso, em sistemas mais complexos, como o apodrecimento de uma árvore no

solo, essa degradação pode levar meses para ser completada (SCHWARZ,

2001).

A conversão inicial da biomassa em açúcares é o gargalo chave no

processo de produção de biocombustíveis e novas soluções biotecnológicas

são necessárias para melhorar sua eficiência, o que pode reduzir o custo global

da produção de bioetanol (BON et al., 2008).

11

Uma estratégia promissora para eficiente utilização de resíduos

lignocelulolíticos é a hidrólise microbiana e fermentação dos açúcares

resultantes para produção dos metabólitos desejados ou produção de

biocombustível.

A utilização da biomassa lignocelulósica é mais complexa do que a

celulose pura, não somente devido à complexa composição com a presença de

hemicelulose e lignina, o que impede às celulases de acessarem o substrato

eficientemente (ZHANG et al., 2006), mas também por causa da diversa

arquitetura das células das plantas. O tecido das plantas difere tremendamente

com respeito ao tamanho e organização. Assim, em adição às restrições

impostas pela estrutura da celulose, limitações adicionais são impostas pela

difusão e transporte do agente celulolítico ao local de ataque. Estas restrições

podem limitar fortemente a utilização em alguns habitats (LYND et al, 2002).

A molécula de celulose é muito estável, com meia vida de 5-8 milhões

de anos para clivar as ligações -glicosídicas a 25ºC, enquanto o processo de

degradação da celulose dirigido pelas enzimas é muito mais rápido e vital para

retornar o carbono dos sedimentos para a atmosfera (ZHANG et al., 2006).

Dessa maneira, para utilização industrial, a conversão efetiva da

lignocelulose recalcitrante a açúcares fermentáveis requer um pré-tratamento o

qual deve ao mesmo tempo produzir uma polpa celulósica com elevada

acessibilidade e reatividade da fibra aos agentes hidrolíticos ácidos ou

enzimáticos (digestibilidade), garantir adequada recuperação das pentoses,

além de limitar a geração de compostos inibidores aos microrganismos usados

na fermentação e às enzimas. Adicionalmente, aspectos associados ao uso de

catalisadores de baixo custo, reciclagem de insumos e geração de subprodutos

de alto valor agregado a partir da lignina caracterizam sistemas de pré-

tratamento eco-eficientes (BONOMI, 2007).

ZHANG et al. (2006) e BON et al. (2008) comentam os diferentes

métodos aplicáveis ao pré-tratamento da lignocelulose. Alta temperatura e

ácido foram usados inicialmente para degradar quimicamente a celulose e

ainda são usados no pré-tratamento de resíduos lignocelulósicos em escala

industrial. Entretanto esta abordagem é cara, lenta e ineficiente. Além do mais,

o rendimento global do processo de fermentação será diminuído por causa

12

deste pré-tratamento pela liberação de inibidores tais como ácidos fracos,

compostos furano e fenólicos. Outras tecnologias propostas de pré-tratamento

da lignocelulose propostos incluem, moagem, irradiação, explosão da fibra por

amônia, explosão a vapor, reciclagem de percolação com amônia e cal, ação

de solventes orgânicos e tratamento com fungos da podridão branca.

Não existe um tratamento único aplicável a todas as biomassas e um

mesmo pré-tratamento pode ser aplicado com diferentes graus de severidade.

De acordo com o pré-tratamento utilizado pode ocorrer: a remoção da

hemicelulose ou da lignina, em proporções variáveis; a redução da

cristalinidade da celulose; e o aumento da porosidade (BON et al., 2008).

A degradação microbiana dos resíduos celulósicos e dos produtos

derivados resulta da ação corrigida de várias enzimas principalmente das

celulases as quais são produzidas por muitos microrganismos e incluem

diferentes classificações enzimáticas. O principal desafio na conversão da

biomassa a bioetanol é alcançar rendimentos que tornam seu custo competitivo

aos combustíveis fósseis (SUKUMARAN et al., 2005).

2.3 - Sistemas enzimáticos

2.3.1 - Celulases

Na natureza, a degradação da biomassa celulósica é realizada por

misturas de enzimas hidrolíticas conhecidas como celulases. As celulases

hidrolisam a celulose (ligações -1,4-D-Glucan) e produzem como principal

produto glicose, celobiose e celo-oligossacarides. Existem 3 principais tipos de

enzimas celulolíticas: as exoglucanases formadas pela Celodextrinases (1,4-b-

D-glicana-glicano-hidrolase, EC 3.2.1.74) e pela Celobiohidrolase (CBH ou 1,4-

-D-glicana-celobio-hidrolase, EC 3.2.1.91); as endoglucanases (EG ou endo-

1,4, -D-glican 4-glicano-hidrolase, EC 3.2.1.4); e as Celobiases ou -

glicosidase (BG- EC 3.2.1.21) (BÉGUIN & AUBERT,1994).

O mecanismo mais aceito para hidrólise enzimática da celulose envolve

ação sinergística pela endoglucanase, exoglucanase ou celobiohidrolase, e -

glicosidase. Endoglucanases hidrolizam randomicamente em locais internos

amorfos as ligações -1,4-glucosídicas intramoleculares acessíveis das

13

cadeias de celulose para produzir oligossacarídeos de vários comprimentos e

consequentemente novos finais de cadeia. Exoglucanases clivam as cadeias

de celulose nos finais redutores ou não redutores para liberar celobiose solúvel

ou glicose. Exoglucanases podem também agir na celulose microcristalina,

presumivelmente descascando as cadeias de celulose da estrutura

microcristalina. As -glucosidases hidrolizam celodextrinas solúveis e celobiose

a glicose a fim de eliminar a inibição por celobiose. Estes 3 processos de

hidrólise ocorrem simultaneamente (Figura 4).

Figura 4 – Sinergismo entre endoglucanases, celobiohidrolases e -glicosidases

A ação combinada de endoglucanases e exoglucanases modifica as

características da superfície da celulose ao longo do tempo, resultando em

Fonte: Béguin & Aubert, 1994

Endoglucanases

Região

cristalina

Região amorfa Adsorção de celulases

Celobiohidrolases

-glicosidases

14

rápidas mudanças na taxa de hidrólise (BÉGUIN & AUBERT,1994, LYND et al,

2002, ZHANG et al., 2006).

Para a caracterização de preparações brutas de celulases com relação à

sua atividade de endoglucanases ou exoglucanases são utilizados substratos

diferentes, ressaltando-se, entretanto, que a sinergia existente entre dois tipos

de enzima impede uma quantificação precisa. Para a atividade de

endoglucanase utiliza-se, como substrato, derivado de celulose substituída

como a carboximetilcelulose (CMC), que é solúvel. A enzima ataca o polímero

em uma forma randômica, produzindo uma mudança rápida no grau de

polimerização. Após a reação enzimática é determinada a formação de

açúcares redutores; sendo esta atividade conhecida como CMCase. A medida

da atividade enzimática utilizando como substrato o papel de filtro Whatman

nº1 (FPase) é comumente utilizada como referência para determinação da

atividade celulósica global tanto em trabalhos acadêmicos quanto para

preparações enzimáticas comerciais (GHOSE, 1987).

A atividade endoglucanase também pode ser detectada facilmente por

exame de ―halos‖ em placas de ágar sólido usando CMC como substrato,

seguido por coloração por Vermelho Congo e lavagem. Altas taxas de hidrólise

geralmente resultam em grandes halos. Esse método é semi-quantitativo, e

está bem adaptado ao monitoramento de um grande número de amostras. Não

é surpresa que tantos relatos de exemplos de endoglucanases têm sido

selecionados pelo uso do método Vermelho Congo/CMC (KIM et al., 2000,

WANG et al., 2005; ZHANG et al., 2006; BORTOLLAZO, 2011).

2.3.1.1. Produção de celulases

As celulases são enzimas relativamente caras e têm uso comercial

significativo no mercado mundial: na indústria textil para amolecimento do

algodão e acabamento do brim; no mercado de detergentes para o cuidado da

cor, limpeza e anti-resíduos; na industria alimentícia para trituração; e nas

industrias de polpa e papel, no descoloramento, melhoria de drenagem e

modificação da fibra (BHAT & BHAT, 1997).

15

O mercado de celulase tem expectativa de expandir muito quando as

celulases forem usadas para hidrolisar material celulósico pré-tratado à

açúcares, o qual pode ser fermentado a produtos como bioetanol e produtos

biológicos produzidos em larga escala. Por exemplo, o mercado de celulase

potencial tem sido estimado ser mais alto que US$400 milhões por ano se as

celulases forem usadas para hidrolisar palha de milho no meio oeste dos

Estados Unidos (ZHANG et al., 2006). Este cenário do mercado representa um

aumento de cerca de 33% no total do mercado de enzimas industriais dos

Estados Unidos. O grande potencial de mercado e o importante papel das

celulases na bioenergia emergente e bioprodutos industriais representam uma

motivação maior para desenvolver preparações melhores de celulase para

hidrólise da celulose da parede celular das plantas (ZHANG et al., 2006,

HIMMEL et al., 2007).

As celulases são enzimas induzíveis e alguns desafios na sua produção

industrial envolvem o desenvolvimento de bioprocessos adequados e meio de

fermentação, ao lado de identificação de substratos e indutores baratos

(SUKUMARAN et al., 2005, RECZEY et al., 1996).

Aproximadamente 90% de todas as enzimas industriais são produzidas

através da fermentação submersa, frequentemente usando microrganismos

geneticamente otimizados. Por outro lado, quase todas as enzimas podem ser

também produzidas através de fermentação semi-sólida usando

microrganismos selvagens. A fermentação semi-sólida pode ser biologicamente

vantajosa para alguns microrganismos, uma vez que as condições de cultivo se

assemelham mais ao seu habitat natural. Tais vantagens incluem alta

produtividade da fermentação, menor repressão catabólica, baixa demanda de

água e, portanto, baixa demanda de esterilidade devido à baixa atividade da

água, cultivo de microrganismos que requerem um suporte sólido e cultivo

misto de vários fungos (HOLKER et al., 2004).

Sob o ponto de vista econômico e ambiental, a seleção de resíduos

agroindustriais que atuem como substratos e possam ser utilizados em cultivo

semi-sólido de microrganismos celulolíticos, se faz interessante (SINGHANIA et

al., 2007).

16

A grande disponibilidade de biomassa lignocelulósica de baixo custo,

como a do bagaço de cana-de-açúcar, no Brasil, estimula a busca por

microrganismos mais eficientes no uso desse resíduo (BASSO, et al., 2010).

De acordo com ZHANG et al. (2006), estratégias baseadas em celulases

que farão a biorefinaria processar com maior economia incluem: aumento da

produtividade em volume da enzima comercial, produção de enzimas usando

substratos baratos, produzindo preparações enzimáticas com maior

estabilidade para processos específicos, e produção de celulases com mais

alta atividade específica nos substratos sólidos.

Recentemente as empresas de biotecnologia Genencor International e

Novozymes Biotech tem relatado o desenvolvimento da tecnologia que tem

reduzido o custo do processo de celulose a etanol de US$5,40 por galão de

etanol para aproximadamente 20 centavos por galão de etanol. Para tal foram

necessárias 2 principais estratégias: melhoria econômica na produção de

celulase para reduzir o custo por grama de enzima como, por exemplo, através

de meio de cultivo mais barato e sistema indutor alternativo, e melhoria na

performance da enzima celulase para reduzir a quantidade de enzima

necessária para alcançar equivalente hidrólise por coquetéis e aperfeiçoamento

do componente. A afirmação de expressiva redução no custo não tem sido

largamente aceita porque a mistura de celulase foi testada somente para um

substrato lignocelulósico pré-tratado específico e não pode ser aplicado a

outras lignoceluloses pré-tratadas (ZHANG, et al., 2006).

Sistemas celulolíticos completos são produzidos por diferentes gêneros

e espécies de fungos e bactérias. Atualmente a maioria das celulases

comerciais são produzidas por espécies de Trichoderma e Aspergillus. O

sistema enzimático dos fungos Trichoderma tem sido estudado extensivamente

e mostra insuficiente atividade -glicosidase para a eficiente sacarificação da

celulose. Altos níveis de -glicosidase são importantes para a completa

conversão da celulose devido à inibição por celobiose, das atividades exo e

endoglucanases. Desta forma a alta produção de -glicosidase por algumas

espécies de Aspergillus complementam o sistema (GARCIA-KIRCHNER et al.,

2005).

17

A modificação genética dos produtores de celulases para melhorar a

atividade da celulase tem sido um longo caminho para proporcionar melhores

produtores com altos títulos de enzimas, mas ainda assim a economia de

produção de celulases tem de ser melhorada para a produção comercial de

etanol a partir da biomassa (SUKUMARAN et al., 2005).

2.3.2 Hemicelulases

As endoxilanases (EC 3.2.1.8) são as hemicelulases mais estudadas.

Para a completa hidrólise das hemiceluloses, ainda é necessária a ação das

enzimas desramificadoras dos grupos laterais ligados à cadeia principal de

xilana: -1,4-xilosidase, -glicuronosidase, -arabinosidase e acetil xilana

estearase (KROGH et al., 2004).

De acordo com BON et al. (2008), o desenvolvimento comercial de

hemicelulases para a hidrólise de materiais lignocelulósicos não está tão

avançado quanto o de celulases, pois as preparações celulásicas comerciais

correntes têm sido principalmente desenvolvidas para a hidrólise de biomassa

pré-tratada com ácido diluído, em que a hemicelulose é removida antes da

sacarificação de celulose. No entanto, com o desenvolvimento de pré-

tratamentos totalmente enzimáticos, as hemicelulases serão compulsoriamente

requeridas.

Além da atuação das enzimas celulolíticas, da -glicosidase e das

xilanases, estão recebendo atenção crescente as enzimas acessórias que

possuem papel facilitador para a degradação da celulose. Assim é que

pectinases, tanases e feruloil esterase atuam na desconstrução da biomassa

através da degradação de diferentes ligações covalentes intra e inter-

poliméricas. Existe muito interesse atualmente na enzima feruloil esterase que

rompe ligações entre a lignina e a hemicelulose, facilitando o acesso das

celulases à fibra de celuloses. Assim sendo, misturas enzimáticas eficientes na

desestruturação da biomassa precisam apresentar um conjunto de atividades

enzimáticas acessórias além da atividade das enzimas típicas do complexo

celulolítico e xilanolítico (BON at al.,2008; KANG et al., 2004).

18

2.3.3 Ligninases

Apesar da necessidade de investigação de vários de seus aspectos, a

degradação da lignina pode ser entendida como um processo multienzimático

por reação não específica, resultante da ação coordenada de uma série de

enzimas ligninolíticas intra e extracelulares: peroxidases – lignina peroxidase

(Lip) e manganês peroxidase (Mnp); lacases – fenol oxidase e outras oxidases

produtoras de peróxido de hidrogênio e de metabólitos intermediários de baixa

massa molecular as quais, desestabilizam as ligações da macromolécula,

causando assim seu colapso (FILHO, 2008).

As aplicações mais estudadas dessas enzimas, especialmente as

lacases, incluem a deslignificação de polpas na indústria de papel e celulose,

branqueamento de corantes têxteis, degradação de efluentes, modificação de

biopolímeros e o uso dessas enzimas como um componente na fabricação de

detergentes (DASHTBAN et al., 2009).

2.4 Microrganismos celulolíticos

Em 1880 já era observada a presença de fungos contaminando o

algodão em fábricas de tecidos (ABOU-ZEID & EL- DIWANY, 1978).

A partir da década de 60 descobriu-se que preparados de enzimas

extracelulares eram responsáveis pela ação hidrolítica, despertando o interesse

pelos fungos. A idéia de aproveitar essas enzimas na conversão de resíduos

celulósicos em produtos de interesse alimentar e energético surgiu em 1973 e

em 1979 a equipe do Laboratório de Pesquisas em Natick, Massachussets,

anunciou o isolamento de cepas mutantes de Trichoderma reesei com poder

hidrolítico aproximadamente vinte vezes superior ao da cepa nativa

(BORTOLLAZO, 2011).

Os microrganismos celulolíticos são encontrados entre os grupos

taxonômicos mais variáveis. A maioria entre eubactéria e fungos, mas

microrganismos anaeróbicos também têm sido identificados no rúmen bovino.

Podem ser encontrados em todas as biotas onde resíduos celulósicos são

acumulados. Eles geralmente ocorrem em populações mistas compreendendo

19

espécies celulolíticas e não celulolíticas, as quais interagem sinergisticamente

(BÉGUIN & AUBERT, 1994).

Os fungos são agentes conhecidamente decompositores de matéria

orgânica em geral e de substratos celulósicos em particular e ocorrem no solo,

colonizando vegetais, suas raízes e resíduos, com importante função de

reciclagem de nutrientes. Na natureza, existe uma grande variedade de

microrganismos que produzem celulases, entretanto apenas alguns são

conhecidos como verdadeiros celulolíticos, isto é, são capazes de degradar a

celulose natural (LYND et al.,2002)

Entre os organismos que degradam a celulose e outras fibras da parede

celular das plantas através da produção de altos níveis de múltiplas enzimas,

os mais estudados incluem: espécies fúngicas – Trichoderma, Humicola,

Penicillium, Aspergillus; bactérias - Bacillus, Pseudomonas, Cellulomonas

Cellovibrio e Cytophaga; e actinomicetos – Streptomyces e Actinomucor.

Entretanto, os microrganismos comercialmente explorados para preparações

de celulases são principalmente limitados ao T. reesei, H. insolens, A. niger,

Thermomonospora fusca, Bacillus sp., e poucos outros organismos

(SUKUMARAN et al., 2005).

O Trichoderma reesei foi descoberto por ser a causa do desgaste de

roupas e tendas durante a segunda guerra mundial (ABOU-ZEID & EL-

DIWANY, 1978). O T. reesei selvagem e seu melhor mutante produtor de

celulase extracelular (RUT C-30) produzem pequenas quantidades de -

glicosidase, o que inibe a hidrólise da celulose devido ao acúmulo de produto

final (celobiose) (DASHTBAN et al., 2009).

Espécies de Aspergillus são conhecidas como bons produtores de -

glicosidase (GARCIA-KIRCHNER et al., 2005).

Os microrganismos utilizam de diferentes ações para hidrolisar

efetivamente a celulose, o que ocorre em partículas insolúveis ou embebidas

dentro de polímeros de hemicelulose e lignina. Os fungos filamentosos

celulolíticos (e bactérias actinomicetos) têm a habilidade de penetrar nos

substratos celulósicos através das extensões das hifas (SUKUMARAN et al.,

2005).

20

Apesar desta discussão focar principalmente a ação de hidrólise do

sistema enzimático na celulose, essa ação deve se realizar também na

hemicelulose e as enzimas hemicelulases são comumente co-produzidas por

microrganismos celulolíticos. Adicionalmente os fungos produtores de enzimas

lignolíticas são muitos e incluem espécies além do ascomiceto T. reesei,

basidiomicetos incluindo fungo da podridão branca (P. chrysosporium), da

podridão marrom (Fomitopsis palustris) e finalmente poucas espécies

anaeróbias (Orpinomyces sp.) os quais degradam a celulose no trato intestinal

de ruminantes (DASHTBAN et al., 2009).

Muitas são as espécies de fungos da podridão branca, sendo a maioria

destas Basidiomycotina, seguidas por alguns Ascomycotina. A degradação da

lignina por estes fungos da podridão branca é mais rápida do que a causada

por outros microrganismos. O crescimento destes fungos diminui em condições

limitadas de nitrogênio e carbono, e a atividade de enzimas lignolíticas aparece

como forma de metabolismo secundário (BORTOLLAZO, 2011).

Os fungos da podridão marrom degradam a celulose e hemicelulose

sem alterar a lignina. No entanto, basidiomicetos de podridão marrom são

conhecidos por serem responsáveis por grave deterioração das paredes das

células lenhosas. Portanto, os fungos chamados de podridão marrom

efetivamente digerem componentes celulósicos sem a remoção da lignina. O

que retarda ataques microbianos em hidratos de carbono lenhosos

(BORTOLLAZO, 2011).

Os fungos da podridão branda, geralmente pertencentes às divisões

Ascomicotina e Deuteromicotina, são fungos que podem causar a degradação

da madeira de forma suave, de aparência úmida. Estes fungos colonizam e

degradam madeiras duras de alta umidade, mas também degradam madeiras

moles, porém com uma taxa de hidrólise mais lenta quando comparada com

fungos de podridão branca e marrom, e são mais eficientes na

despolimerização de compostos sintéticos de lignina. Em contraste com outros

tipos de apodrecimento, o índice de deterioração decorrente da podridão mole

é diretamente proporcional à quantidade de nitrogênio e por isso ela é mais

ativa na madeira que está em contato com o solo ou com a água que

contenham este nutriente em solução (FILHO, 2008).

21

A aplicação de microrganismos como os fungos, por exemplo, espécies

de fungos termofílicos tais como Sporotrichum thermophile, Thermoascus

aurantiacus e Thielavia terrestris têm sido propostos como bons candidatos

para bioconversão de resíduos lignocelulósicos para açúcares e oferecem um

grande potencial a ser explorado em escala industrial. A aplicação de fungos

termofílicos em escala industrial também permite a economia de energia

porque o custo da refrigeração após o pré-tratamento por vapor é evitado e as

taxas de sacarificação são melhoradas. Estes fungos têm sido mostrados como

produtores de celulases e degradam a celulose natural; entretanto a atividade

enzimática de organismos termofílicos é geralmente baixa comparada a fungos

mesofílicos como T. reesei (DASHTBAN et al., 2009).

2.4.1 Aspectos ecológicos das comunidades que degradam a

celulose

Como um processo microbiano, a utilização da celulose está sujeita a

condições químicas e físicas do ambiente. Os efeitos da temperatura são

particularmente dramáticos. Uma comparação das espécies celulolíticas

através da máxima taxa de crescimento revela uma forte dependência da

temperatura de crescimento. Dois outros parâmetros ambientais, pH e

potencial redox, afetam a taxa e extensão de utilização da celulose (GAUTAM

et al., 2010).

Diferentes habitats em que a celulose é amplamente disponível, pelas

suas diferentes características (disponibilidade de água, de oxigênio, potencial

redox, variabilidade da temperatura e nível de nutrientes), têm promovido o

desenvolvimento de estratégias de utilização da celulose, que diferem na

arquitetura e apresentação da enzima, velocidade e extensão da celulólise,

atividades hidrolíticas acessórias, destino dos produtos de hidrólise e

interações entre microorganismos celulolíticos e não celulolíticos (BELL et al.,

2009).

A maioria, ou talvez todos os microrganismos que provavelmente

desempenham um papel importante na hidrólise da celulose na natureza

evoluíram estratégias que aproximam a celulose à superfície da célula e

22

possibilitam ao organismo celulolítico o ―primeiro acesso‖ aos produtos de

hidrólise (BELL et al., 2009; LYND et al., 2002).

Nos solos, a celulose está disponível primeiramente na forma de

serrapilheira (material vegetal morto) que é relativamente recalcitrante, devido

ao alto conteúdo de lignina das plantas terrestres. As necessidades nutricionais

para crescimento das espécies celulolíticas incluem a disponibilidade de

nitrogênio, fósforo e enxofre, além de macro e micro nutrientes padrão e várias

vitaminas. Assim, uma falta de nitrogênio fixado e outros nutrientes podem

secundariamente limitar o crescimento microbiano (LYND et al., 2002).

A estratégia dos fungos para a celulólise envolve celulases

extracelulares que trabalham ao lado do sistema de enzimas lignolíticas do

qual requer eficiência de produção contínua de espécies reativas de oxigênio

(por ex. pelas peroxidases associadas). De acordo com VARDAVAKIS (1989),

a atividade celulolítica diminui com a profundidade do solo, sugerindo que a

utilização da celulose é predominantemente um processo aeróbico, e a bactéria

celulolítica primária isolada foi da espécie Cytophaga, apesar de linhagens de

Bacillus e Cellulomonas também terem sido isoladas. Em compostagem de

estrume de gado, bactérias filamentosas do gênero Micromonospora,

Cytophaga, e Sporocytophaga foram numericamente as isoladas mais

abundantes e fungos foram muito menos abundantes (GODDEN &

PENNINCKX, 1984).

De acordo com RUEGGER & TAUK-TORNISIELO (2004) fungos

produtores de celulases, na natureza, não ocupam o mesmo nicho ecológico

em cultura pura, onde não existe competição, ao contrário, eles interagem com

outros organismos celulolíticos ou não e com aqueles que degradam vários

polímeros, microrganismos os quais nem sempre são revelados pelas técnicas

de isolamento em laboratório. Essa associação é responsável pela completa

mineralização dos substratos celulósicos nos ecossistemas onde estes

organismos estão inseridos.

23

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local de coleta

O local escolhido para a coleta de amostras pertence à propriedade

particular rural (Fazenda São Lucas), com área de plantio de cana-de-açúcar

com produção estimada entre 400 a 500 toneladas/ano. A área faz parte da

comunidade de Inhaúma, parte da antiga Fazenda Lagoa Grande, Distrito de

São Roberto de Minas, Município de São João da Lagoa, região norte de MG,

S 16º 44′ 16,2", W 44º 12′ 36,5", coordenadas X 584.193 Y 8.149.280 (Mapa no

ANEXO 1).

O local de coleta foi estabelecido seguindo as determinações do

Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) sob autorização de

acesso e remessa de amostra de componente do patrimônio genético nº

014/2009 concedida pelo IBAMA (ANEXO 1).

As amostras foram coletadas ao final do período de estiagem (mês de

Setembro/09) e após o período de chuvas (mês de Abril/10). Foram coletados

resíduos de bagaço e palha de cana-de-açúcar, bem como porções do solo

(até 15 cm de profundidade), provenientes de oito ambientes pré-selecionados

na propriedade.

Os pontos de coleta foram concentrados em duas regiões da fazenda

(destacadas no mapa – Anexo 1) e foram definidos para ambos os períodos e

assim descritos e caracterizados:

Ponto 01 - Piquete 2 – Canavial existente a 10 anos . Resíduo de cana no solo

até 15 cm de profundidade.

Ponto 02 - Piquete 2 – Raiz da cana e solo até 15 cm de profundidade na base

do colmo das plantas.

Ponto 03 – Canavial da Tiririca - existente a 4 anos. Solo (superfície) de palha

de cana.

Ponto 04 – Canavial da Tiririca até 15 cm de profundidade do solo do canavial

24

Ponto 05 – Área de confinamento do gado – Bagaço da cana-de-açúcar,

superfície do solo abaixo do cocho de alimentação do gado.

Ponto 06 – Casa de ração animal, área coberta. Monte de cana-de-açúcar

picada.

Ponto 07 – Engenho – área de moagem de cana a céu aberto. Parte interior do

monte de bagaço de cana-de-açúcar.

Ponto 08 – Engenho – área de moagem de cana a céu aberto. Parte superior

do monte de cana – bagaço de cana-de-açúcar ―verde‖.

Cerca de 100 a 200 g de cada amostra foram coletadas com auxílio de

uma pá de jardim, armazenadas em sacos plásticos devidamente identificados

e acondicionados em caixa de isopor até completar o transporte ao laboratório.

3.2 Isolamento dos microrganismos

Os fungos filamentosos foram isolados a partir do processamento das

amostras em meio de cultura BDA (2% Ágar, 20% Batata, 2% Dextrose),

estrategicamente preparado com pH acidificado para 5,0 acrescido de

antibiótico tetraciclina 100 g/mL.

O processamento das amostras consistiu em diluição seriada (1/10) a

partir de 10g do material de cada ponto de coleta, em solução salina estéril

(NaCl 0,9%) e após homogeneização através de agitação por 1 hora. Em

seguida foram realizadas medida e registro do pH de cada amostra e

plaqueamento de alíquotas de 100 l das diluições 10-3, 10-4 e 10-5, incubadas

a 28ºC ±2 durante 7-9 dias em BDA.

Após o crescimento dos fungos as colônias individualizadas foram

contabilizadas, plaqueadas e diferenciadas, com base nos caracteres

macroscópicos das mesmas, em meio BDA, e submetidas novamente à

incubação durante 7 dias à 28ºC ± 2.

A técnica de microcultivo em lâmina foi utilizada para observação

microscópica das estruturas morfológicas reprodutivas típicas dos fungos

filamentosos (RIDELL, 1950).

25

3.3 Manutenção das linhagens

O estoque para manutenção das linhagens foi preparado em tubos de

ensaio com ágar BDA inclinado, mantidas a 4ºC e renovado a cada 6 meses e

também de acordo com Castellani (1967) do seguinte modo: após o

crescimento da colônia em meio BDA, discos de aproximadamente 0,7 cm de

diâmetro contendo micélio foram transferidos para tubos de ensaio com tampa

contendo água estéril e armazenados a 4ºC.

3.4 Pré-seleção dos microrganismos lignocelulolíticos

Os morfotipos isolados foram pré-selecionados baseando-se na

morfologia macroscópica e microscópica e por testes em meio sólido para

avaliação de atividade lignocelulolítica.

Os fungos filamentosos foram selecionados como produtores de

enzimas celulolíticas, especificamente endoglucanase, pela análise em placa

de Petri com meio sintético acrescido de 1% (p/v) CMC (Carboximetilcelulose)

como única fonte de carbono e substrato indutor de celulases (Tabela 1).

Componentes Concentração (g.L-1

)

NaNO3 3,0

K2HPO4 1,0

MgSO4

KCl

FeSO4 . 7H2O

CMC

Ágar

0,5

0,5

0,01

10,0

20,0

Tabela 1 – Composição do meio sintético CMC 1% (RUEGGER & TAUK-TORNISIELO, 2004)

Os inóculos foram feitos com utilização de palitos estéreis em 3 pontos

equidistantes no centro das placas de Petri. Estas foram incubadas por 2-4 dias

26

a 28ºC ± 2 e em seguida submetidas a choque térmico por 16 h a 50ºC. Após

esse período, foram adicionados 10 mL de solução corante Vermelho Congo

(0,5 g.L-1) em tampão Tris HCl 0,1 M, pH 8,0. Após 30 minutos a solução foi

descartada e as placas lavadas com 5 mL de solução de Cloreto de sódio

(NaCl) 0,5 M neste mesmo tampão. Os diâmetros das colônias e dos halos

produzidos foram medidos com paquímetro (MULLINGS, 1985; RUEGGER &

TAUK-TORNISIELO, 2004; NOGUEIRA & CAVALCANTI, 1996).

O choque térmico a 50ºC por 16 horas antes da revelação com o corante

permite rápida hidrólise da celulose e a seleção de espécies que produzem

enzimas celulolíticas termoestáveis (NOGUEIRA & CAVALCANTI, 1996).

Através do cálculo do Índice Enzimático, de acordo com Nogueira e

Cavalcanti, 1996, (IE = diâmetro da colônia + diâmetro do halo formado/

diâmetro da colônia), foram selecionados aqueles morfotipos com maiores

valores de IE, para na sequência, serem avaliados quantitativamente pela

produção de enzimas (celulases e hemicelulases) em frascos agitados.

A indicação de morfotipos produtores de hemicelulase (xilanase)

também foi realizada em placa de Petri com a utilização do mesmo meio

sintético usado para revelar endoglucanases, sendo o substrato CMC

substituído pela Xilana solúvel (1% p/v). Da mesma forma o halo de

degradação foi revelado com o Vermelho Congo.

A análise para detecção da produção de enzimas ligninolíticas dos

isolados em meio sólido com bagaço de cana peneirado a 1,19 mm, foi

realizada com Guaiacol como descrito na Tabela 2.

Componentes Concentração

Bagaço de cana de açúcar 2,0 g.L-1

Guaiacol 0,1 mL.L-1

Ágar 16,0 g.L-1

Tabela 2 – Composição do meio para detecção de lacase (FILHO, 2008)

Da mesma maneira que o teste em placa com CMC, o inóculo foi feito

com a utilização de palitos estéreis para fazer o repique. As placas foram

incubadas a 28ºC± 2 por até 7 dias para visualização do halo avermelhado ao

27

redor da colônia formado pela oxidação do guaiacol causado pela ação das

enzimas fenoloxidases, mais especificamente lacases (OKINO et al., 2000;

FILHO, 2008).

3.5 Fermentação dos microrganismos isolados ativos

Uma vez pré-selecionados os fungos isolados os quais apresentaram

maiores índices enzimáticos, estes foram submetidos à fermentação submersa

em condição aeróbica em frascos (Erlenmeyers) agitados e aqueles isolados

os quais apresentaram maiores valores de atividade enzimática foram

escolhidos para novos testes em fermentação submersa e fermentação semi-

sólida em cultivo estacionário.

Cepas conhecidas como boas produtoras de celulases, Trichoderma

reesei RUT C-30 (ATCC 56765) e Aspergillus awamori B.361 U2/1, gentilmente

cedidas pela Dra. Elba Pinto da Silva Bon do Laboratório de Tecnologia

Enzimática do Instituto de Química da UFRJ, foram utilizadas como referência.

KHALID et al., 2006 apontam que vários meios de cultura contendo

todos os nutrientes essenciais, são úteis para os estudos de fungos, embora

nenhum deles representem o substrato ideal. Suas deficiências são evidentes,

pois certos fungos não são cultiváveis em meios artificiais.

Sabendo-se da importância das fontes de carbono, nitrogênio e fósforo,

assim como a taxa C/N oferecida e elementos traço, os meios MANDELS &

WEBER (1969) e BRECCIA et al. (1995) modificados foram utilizados neste

trabalho (Tabelas 3 e 4).

O uso de Tween 80 teve como objetivo aumentar a solubilidade do meio

e, portanto o acesso ao substrato. A adição de Tween 80 no meio de cultura

dobrou os rendimentos de -glicosidase em culturas submersas de Aspergillus

niger C-6 (GARCIA-KIRCHNER et al., 2005).

28

Componentes Concentração

Uréia - CO(NH2)2 0,3 g/L

Sulfato de amônio - (NH4)2SO4 1,4 g/L

Fosfato de Potássio monobásico - KH2PO4 0,2 g/L

Cloreto de Cálcio - CaCl2 0,3 g/L

Sulfato de Magnésio heptahidratado - MgSO4.7H2O 0,3 g/L

Sulfato Ferroso heptahidratado - FeSO4.7H2O 0,005 mg/L

Cloreto de Cobalto hexahidratado - CoCl2.6H2O

Sulfato de Manganês tetrahidratado - MnSO4.4H2O

0,02 mg/L

0,0016mg/L

Sulfato de Zinco heptahidratado - ZnSO4.7H2O 0,0014 mg/L

Extrato de Levedura 0,6% (p/v)

Tween 80 0,5 mL/L

Fonte de Carbono*1 3,0% (p/v)

Tabela 3 – Composição do meio Mandels & Weber (1969) modificado (pH 5,0) para cultivo

submerso.

Componentes Concentração

Nitrito de sódio - NaNO3 1,2 g/L

Fosfato de Potássio monobásico - KH2PO4 6,0 g/L

Fosfato de Potássio dibásico – K2HPO4 3,0 g/L

Cloreto de Cálcio - CaCl2 . 2H2O 0,05 g/L

Sulfato de Magnésio heptahidratado - MgSO4.7H2O 0,2 g/L

Sulfato Ferroso heptahidratado - FeSO4.7H2O 0,005 mg/L

Cloreto de Cobalto hexahidratado - CoCl2.6H2O Sulfato de Manganês tetrahidratado - MnSO4.4H2O

0,02 mg/L 0,0016mg/L

Sulfato de Zinco heptahidratado - ZnSO4.7H2O 0,0014 mg/L

Extrato de Levedura 1,2% (p/v)

Tween 80 0,5 mL/L

Fonte de Carbono*1 3,0% (p/v)

Tabela 4 – Composição do meio BRECCIA et al. (1995) modificado (pH 5,0).

Nota (*1): A fonte de carbono usada nestes meios pode ser lactose ou bagaço de cana-de-açúcar ou

farelo de trigo.

29

O micélio fúngico foi utilizado como inóculo na forma de discos de 7 mm

de diâmetro em meio Mandels & Weber (1969) modificado. O bagaço de cana-

de-açúcar moída ou lactose comercial foram avaliados como fonte de

carbono*1 e substrato indutor da expressão enzimática.

O bagaço de cana-de-açúcar utilizado nos meios, seja submerso ou

semi-sólido, não foi submetido a nenhum pré-tratamento específico, a não ser

pelo processo de esterilização por 20 minutos a 121ºC.

O meio Breccia et al. (1995) modificado (Tabela 4) com farelo de trigo

3%, foi utilizado para os testes de fermentação submersa, por vezes

substituindo o farelo de trigo por bagaço de cana-de-açúcar, como fonte de

carbono*1 e indutor da produção de enzimas.

Os frascos foram esterilizados a 121ºC por 15 minutos, e posteriormente

os inóculos foram incubados a 28ºC ± 2 durante 5 a 10 dias sob agitação 150

rpm.

O cultivo em meio semi-sólido foi utilizado como alternativo e comparativo ao

cultivo submerso e seguiu os mesmos procedimentos para inóculo tal como

descrito acima, no entanto o meio foi composto por 20 mL de solução nutritiva

(Tabela 5), e o bagaço de cana ou o farelo de trigo como substrato indutor do

mesmo modo que para fermentação submersa, porém em maior proporção,

30g por frasco Erlenmeyer de 500 mL de capacidade, acrescidos de 10 g de

casca de arroz para possibilitar maior aeração do meio.

Componentes Concentração

Fosfato de amônio dibásico - (NH4)2HPO4 2,5 g/L

Sulfato de magnésio heptahidratado - MgSO4.7H2O 0,5 g/L

Cloreto de potássio - KCl 0,5 g/L

Tween 80 0,5 mL/L

Tabela 5 – Composição da solução nutritiva (pH 5,0) para meio semi-sólido.

Os frascos que continham a solução nutritiva e o substrato indutor foram

esterilizados a 121ºC por 15 minutos e após os inóculos feitos foram incubados

a 28ºC ± 2 durante cerca de 30 ou mais dias em cultivo estacionário.

30

3.5.1 Quantificação dos microrganismos durante fermentações

Para os cultivos sob substratos solúveis, a concentração celular é

comumente medida diretamente via filtração e subsequentemente pela

determinação de peso de matéria seca ou indiretamente via densidade ótica ou

contagem de células. Devido à presença de substratos insolúveis a aplicação

dessas técnicas neste estudo não foi possível.

Os fungos foram observados e determinados de acordo com o padrão

adaptado da ASTM (American Society for Testing Materials), Standard Methods

G21-96 (2002), que apresentaram as seguintes faixas de crescimento:

(-) ausência de crescimento;

(+) pouco crescimento com turvação de pequenos fragmentos de micélio

lançados no meio;

(++) moderado crescimento com surgimento de ―pellet‖ fino na superfície do

meio;

(+++) ótimo crescimento de massa micelial da metade a todo o frasco.

3.6 Extração das enzimas

Em seguida aos procedimentos de incubação, todas as amostras e

controles foram processas, tal como se segue:

Passo 1 - Foram recuperadas amostras (10-20 mL) em duplicata, de cada

frasco Erlenmeyer para testes enzimáticos subseqüentes, a cada 5 dias para

cultivo semi-sólido e a cada 24 hs para cultivo submerso.

Passo 2 - As alíquotas retiradas foram submetidas à centrifugação refrigerada

por 10 min. a 18.000 rpm. O sobrenadante foi utilizado para avaliar a atividade

das enzimas lignocelulolíticas além das medidas de pH e dosagem de proteína

extracelular total (de acordo com BRADFORD, 1976).

As amostras do cultivo em meio semi-sólido tiveram 5,0 g de material

coletado o qual teve 50 mL de água destilada estéril adicionada, agitada por 30

minutos e então centrifugada e recuperada como descrito no passo 1.

31

3.7 Determinação das atividades e concentrações enzimáticas do

complexo celulolítico e hemicelulolítico.

3.7.1 Atividade Carboximetilcelulase – CMCase

Foi determinada de acordo com a metodologia padrão descrita pela

IUPAC (GHOSE, 1987). O método se baseia na dosagem da concentração de

açúcares redutores liberados durante a degradação do substrato

Carboximetilcelulose (CMC).

O meio reacional foi formado por 0,250 mL de uma solução de CMC 4%

p/v em tampão citrato de sódio 50 mM pH 4,8 e 0,250 mL do sobrenadante das

culturas (extrato enzimático). A mistura reacional foi incubada a 50ºC, durante

10 minutos, sob agitação. A reação enzimática foi interrompida pela adição

imediata de 0,5 mL de DNS (ácido 3,5-dinitro salicílico). O reagente DNS, além

de interromper a reação enzimática, possibilita a realização da dosagem da

concentração de açúcares redutores produzidos pela ação enzimática, obtida

após fervura por 5 minutos a 96ºC e após resfriamento dos tubos, feita leitura

em espectrofotômetro em absorbância 540nm (MILLER,1959) (Esquema no

Apêndice A).

3.7.2 Atividade FPase (exoglucanase)

Foi determinada de acordo com a metodologia padrão descrita pela

IUPAC (GHOSE, 1987). O método se baseia na dosagem da concentração de

açúcares redutores liberados durante a degradação de uma fita de papel de

filtro.

O meio reacional foi formado por 0,5 mL do sobrenadante das culturas,

1,0 mL de tampão citrato de sódio 50 mM pH 4,8 e uma tira de papel filtro

Whatmann nº1 medindo 1,0 x 6,0 cm (aproximadamente 50 mg). A mistura

reacional foi incubada a 50ºC, durante 60 minutos, sob agitação. A reação foi

interrompida pela adição de 0,5 mL de DNS a um tubo contendo 0,5 mL da

mistura reacional. A determinação da concentração de açúcares redutores foi

32

realizada em seguida, como já descrita no item 3.7.1 (Esquema no Apêndice

B).

3.7.3 Atividade -glicosidase

Foi determinada de acordo com a metodologia padrão descrita pela

IUPAC (GHOSE, 1987). O método se baseia na determinação da concentração

de glicose liberada quando a enzima hidrolisa a celobiose.

O meio reacional foi formado por 0,5 mL do sobrenadante das culturas e

0,5 mL de solução de substrato (celobiose 15 mM em tampão citrato de sódio

pH 4,8, 50mM). A mistura reacional foi incubada a 50ºC por 30 minutos, sob

agitação. A reação foi terminada por imersão dos tubos em água fervente por 5

minutos. A determinação da glicose foi realizada utilizando-se o kit para análise

de Glicose GOD-POD® da Biosystems (Esquema no Apêndice C).

3.7.4 Atividade hemicelulase (Xilanase)

A atividade da enzima xilanase foi determinada segundo MILLER (1959).

A reação consiste na mistura contendo 0,1 mL de sobrenadante das culturas,

0,2 mL de solução de 1% de xilana em 0,05 M de tampão acetato pH 5,0. A

mistura reacional foi incubada a 50º C por 30 minutos, e o sistema enzima-

substrato foi agitado periodicamente para manter a xilana em suspensão. A

reação foi interrompida pela adição de 0,3 mL da solução de ácido 3,5-

dinitrosalicílico (DNS). A determinação da concentração de açúcares redutores,

tendo como padrão a xilana, foi realizada em seguida, como já descrita no item

3.7.1. (Esquema no Apêndice D).

3.7.5 Cálculo da atividade enzimática

A atividade enzimática é expressa em UI (μmol de produto açúcar

redutor liberado / minuto), calculada conforme equação:

33

UI = diluição x Abs. X Fator ( mol/mL) x Vol (mL)

Tempo (min)

Onde:

Diluição = Fator de diluição, apenas se for necessário diluir o sobrenadante

(solução de enzima);

∆Abs = Diferença da absorbância medida ao final da reação e no início da

reação enzimática;

Fator = fator de correção obtido da curva padrão de glicose ou xilana (para

dosagens de Endoglucanases e Exoglucanases);

Vol = Volume total da mistura reacional em mL;

Tempo = Tempo da reação em minutos.

Determinação da concentração enzimática

A concentração da enzima é expressa em UI/mL, calculado conforme equação:

[Enz]= diluição x Abs. X Fator ( mol/mL) x Vol. 1 (mL)

Tempo (min) x Vol. 2 (mL)

Onde:

Diluição = Fator de diluição, apenas se for necessário diluir o sobrenadante

(solução de enzima);

∆Abs = Diferença da absorbância medida ao final da reação e no início da

reação enzimática;

Fator = fator de correção obtido da curva padrão de glicose ou xilana (para

dosagens de Endoglucanases e Exoglucanases);

Vol. 1 = Volume total da mistura reacional em mL;

Tempo = Tempo da reação em minutos;

Vol. 2 = Volume da amostra em mL.

Para o cálculo da -glicosidase o fator de correção foi obtido pela

amostra padrão nas dosagens de β-glicosidase utilizando o kit GOD-POD®

34

(glucose oxidase/peroxidase) da Biosystems, onde a concentração do padrão é

igual a 5,55mM/L de glicose e calculado pela fórmula abaixo.

Fator = ([glicose padrão]) / (Abs. Padrão) = 5,55 / (Abs. Padrão)

3.8 Identificação taxonômica

A identificação taxonômica de 5 linhagens fúngicas celulolíticas, pré-

selecionadas por apresentarem altos valores de IE, foram realizadas pelo

Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA)

da Unicamp. As metodologias usadas foram a extração do DNA genômico,

amplificação da região D1/D2 (DNAr 28S) ou da região ITS (―Internal

Transcribed Spacer‖ – região espaçadora de transcrição interna) através de

PCR, seqüenciamento e análise filogenética (Anexo 2).

3.9 Análise estatística

Os testes estatísticos foram realizados com o auxílio do programa

Microsoft Office Excel e utilização do programa Minitab para análise de

variância (ANOVA) e teste de Tukey, com nível de significância 5%, p<0,05.

35

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Isolamento dos fungos filamentosos

Após o devido processamento das amostras e período de incubação de

7-9 dias em meio BDA, os resultados revelaram elevado número de morfotipos

filamentosos, contabilizados em UFC (unidades formadoras de colônias)

(Tabela 6), bem como alta diversidade de morfotipos por ponto de coleta

(Tabela 7).

A adição de antibiótico e a correção do pH do meio para 5,0 foram

importantes para inibir o crescimento de bactérias e leveduras. As diluições

10-3 e 10-4 foram satisfatórias para obtenção de até 100 UFC/placa. A análise

microscópica através de lâminas preparadas por microcultivo (RIDELL, 1950)

corroborou para a identificação das estruturas morfológicas específicas dos

fungos. Algumas fotos estão registradas no apêndice E.

Ponto de coleta 1ª coleta (seca) 2ª coleta (chuva)

P01 230 1

P02 30 40

P03 30 30

P04 150 30

P05 30 100

P06 50 30

P07 10 300

P08 850 300

Total 1380 831

Tabela 6 – Número de fungos filamentosos (x104 UFC /mL) por ponto de coleta e período

correspondente.

36

Ponto de coleta 1ª coleta (seca) 2ª coleta (chuva)

P01 23 10

P02 45 4

P03 12 6

P04 15 9

P05 10 15

P06 11 7

P07 8 3

P08 22 31

Total 145 85

Tabela 7 – Diversidade de morfotipos encontrados por ponto e período de coleta.

Os resultados sugerem que a sazonalidade pode ter influenciado o

número de UFC’s de fungos filamentosos encontrados. Na 1ª coleta (período

pós-estiagem) a riqueza de morfotipos foi cerca de 40% maior. Esta ocorrência

pode ser devido à maior deposição de folhas e ramos no solo no período,

favorecendo a presença de maior número de microrganismos.

O menor número de morfotipos encontrados na estação chuvosa pode

ser explicado pela lixiviação dos esporos dos fungos para uma área mais

profunda do solo e também pelo aumento de substâncias alelopáticas. Estes

resultados corroboram os apresentados por CARNEIRO (2000) que estudou

solo de Cerrado e de áreas cultivadas no Distrito Federal, que confirmam a

ocorrência de um maior número de UFC's no início da estação chuvosa

seguido pelo seu declínio quando o índice pluviométrico atinge valores

elevados.

A diversidade de microrganismos do solo depende da química, da

textura e da capacidade do solo de manter a umidade. O sucesso de um fungo

alcançar e colonizar uma área do solo se deve principalmente a sua

capacidade saprobiótica, expressa por crescimento rápido do micélio, produção

de esporos, presença de um eficiente e extenso sistema de poder enzimático e

37

tolerância a antibióticos, salinidade, e metais pesados, compostos

químicos/fungicidas e temperatura (KHALID et al, 2006).

O total de morfotipos isolados nas duas coletas foi de 230 e a maior

diversidade encontrada no período de estiagem, cerca de 40% maior que no

período de chuvas, também encontra suporte na maior riqueza de substratos

para utilização dos fungos, específicamente no ponto de coleta 2, o qual se

refere à amostra de raiz e colmo da cana. Sugere-se que outros fatores podem

corroborar para a maior diversidade (BELL et al., 2009), como a maior faixa de

pH nos pontos de coleta na 1ª coleta (Figura 5) e o pH mais ácido como

favorável à maior diversidade fúngica (Figura 6).

Figura 5 – pH de cada ponto de coleta nos 2 períodos sazonais

Figura 6 – Correlação da diversidade fúngica com pH, na 1ª (A) e 2ª (B) coleta.

38

De acordo com o pH medido nas amostras de solo em cada ponto de

coleta, sugere-se que os maiores valores nos pontos 5 e 6 da 1ª coleta,

correspondentes à área do cocho dos animais e casa de ração,

respectivamente, foram conseqüência da mistura do bagaço de cana com uréia

e sulfato de amônio, utilizados como aditivos na alimentação animal da

propriedade (informação do proprietário/comunicação pessoal).

Os valores de pH mais baixos nos pontos 7 e 8, referentes ao monte de

bagaço de cana-de-açúcar, parte interna e superior, respectivamente,

provavelmente resultam do processo de fermentação e degradação do bagaço.

Moderada tendência de correlação entre a diversidade e o pH foi

observada e registrada nos gráficos A e B (Figura 6). Houve maior diversidade

de morfotipos encontrados em pontos de coleta de menores valores de pH.

Preliminarmente pode-se inferir que a diferença nos pHs entre os 2

períodos de coleta assim como as modificações provocadas no meio, sejam

naturais (mudanças do clima, sazonalidade, levando a variação do substrato)

ou impostas por ação humana tais como práticas culturais (adubação, irrigação

gradeio, etc), de uma forma ou de outra poderão influenciar positiva ou

negativamente na riqueza e abundância dos microrganismos encontrados,

assim como na expressão enzimática dos mesmos em condições

edafoclimáticas diferenciadas.

KHALID et al. (2006), verificaram em estudo de fungos celulolíticos de

solo, que além dos fatores abióticos da região, as características/habilidades

dos fungos (esporulação, taxa de crescimento, sistema enzimático,

preferências alimentares e tolerância à condições de estresse) são

determinantes na frequência e distribuição fúngica.

4.2 Manutenção e viabilidade dos isolados

O procedimento para estoque dos morfotipos em tubos com BDA

inclinado a 4ºC e renovação a cada seis meses se mostrou eficiente para

manter as culturas estáveis e livres de contaminação, assim como as culturas

mantidas pelo método Castellani (1969). No entanto, essas só foram avaliadas

em período de 40 dias de estocagem (Apêndice F).

39

4.3 Seleção dos fungos com atividade celulolítica

Nenhum método de isolamento e seleção de fungos do solo é 100%

eficiente. CAVALCANTI & MAIA (1994) usaram discos de papel de filtro, os

quais cobriam as amostras de solo coletadas e dessa forma foram colonizados

pelos fungos celulolíticos do solo da região sob estudo, posteriormente

transferidos para placas de Petri e mantidos em câmara úmida.

Subsequentemente as colônias fúngicas desenvolvidas foram transferidas para

meio Sabouraud com antibiótico e em segundo repique para meio BDA. Dessa

forma obtiveram o isolamento e seleção de espécies celulolíticas.

THEATER & WOOD (1982) mostraram uma forte interação entre o

Vermelho Congo e os polissacarídeos (1-4) ligados em unidades D-

glucopiranosil fornecendo a base para um ensaio simples e sensível para a

detecção de colônias de bactérias produtoras de celulase.

Para ZHANG et al. (2006), atividades endoglucanase podem ser

facilmente detectadas em placas com CMC (carboximetilcelulose) e corantes

que são adsorvidos somente por polissacrídeos de cadeia longa. Os autores

consideram este método semi-quantitativo e bem adequado para monitorar

grande número de amostras.

No presente trabalho, a seleção dos fungos celulolíticos foi realizada

mediante crescimento dos isolados em placa de Petri com meio acrescido de

CMC e coloração com Vermelho Congo. De acordo com este método foi

possível visualizar a formação de halos de degradação da carboximetilcelulose

em fragmentos menores que celohexose, à qual o Vermelho Congo não se liga,

devido à ação de endoglucanases (Figura 7).

O número de fungos filamentosos com atividade celulolítica revelados

em placa com CMC e Vermelho Congo, nos dois períodos sazonais avaliados

neste trabalho, seguiu a mesma composição de morfotipos totais, ou seja, na

estação seca a presença de fungos celulolíticos foi cerca de duas vezes maior

que na estação chuvosa (Tabela 8).

40

Figura 7 – Fotos de halos de degradação (região clara) indicadores de ação endoglucanase

nos isolados S88, S123, S74 e S87 em meio sintético com CMC 1% e ação de xilanase da

amostra 87 em meio sintético com xilana 1%. Índice enzimático - valor IE entre parênteses.

No início da estação seca a proporção de matéria orgânica é maior,

favorecendo a colonização dos fungos celulolíticos (VANCE & CHAPIN, 2001).

No total foram 124 morfotipos celulolíticos para 230 morfotipos inicialmente

isolados, ou seja, 54%. JAHANGER et al. (2005), obtiveram 67,83% de fungos

produtores de celulase dos fungos isolados do ambiente.

CAVALCANTI & MAIA (1994), no isolamento de fungos celulolíticos de

solo aluvial de zona semi-árida do nordeste do Brasil, observaram pequeno

número de espécies e correlacionaram este fato a pouca matéria orgânica

presente no solo da região.

Isolado S88 (IE = 5,4) S123 (IE=5,8) S74 (IE = 4,0)

S87 (IE = 4,10) S87 (substrato xilana)

xilana CMC

CMC CMC CMC CMC

41

Ponto de coleta 1ª coleta 2ª coleta

P01 12 1

P02 20 2

P03 8 4

P04 10 6

P05 9 13

P06 10 6

P07 5 3

P08 9 6

Total 83 41

Tabela 8 – Número de fungos filamentosos com atividade celulolítica por ponto de coleta e

período correspondente.

Diante do alto número de isolados (124 morfotipos) que apresentaram

halos de degradação do CMC, utilizou-se o critério do tamanho do halo (maior

ou igual a 3,5) para selecionar alguns morfotipos para cultivo em frascos e

posterior quantificação da atividade enzimática, tendo como referência os

valores de ―Índice Enzimático‖ dos fungos controle.

Obteve-se o ―Índice Enzimático‖ (IE) através do cálculo da soma dos

valores dos diâmetros da colônia e do halo de degradação, dividido pelo valor

do diâmetro da colônia, de acordo com NOGUEIRA & CAVALCANTI (1996)

(Apêndice G). Os fungos controle Trichoderma reesei e Aspergillus awamori,

apresentaram IE de 2,86 e 3,2, respectivamente.

A figura 8 e a tabela 9 representam os IEs dos isolados nos pontos e nos

dois períodos de coleta, e a indicação daqueles que apresentaram IE ≥ 3,5,

perfazendo um total de 27 isolados. Destes, 19 isolados foram escolhidos

aleatoriamente (amostras sublinhadas no apêndice G), submetidos ao

crescimento em frascos e tiveram as enzimas CMCase, FPase, -glicosidase e

xilanase quantificadas.

42

P8P7P6P5P4P3P2P1

6

5

4

3

2

P8P7P6P5P4P3P2P1

2009

PC

IE

2010

3,5

Indice Enzimático

2009 - 1ª coleta - período seco 2010 - 2ª coleta - período chuvoso

PC = Ponto de coleta

Figura 8 - Quadro representativo dos IEs dos fungos filamentosos isolados nos pontos de

coleta (PC = P1 a P8) na 1ª e 2ª coletas, mostrando o ponto de corte IE ≥ 3,5.

Ponto de coleta 1ª coleta 2ª coleta Total

P01 2 0 2

P02 7 0 7

P03 1 3 4

P04 3 2 5

P05 1 1 2

P06 2 0 2

P07 2 0 2

P08 1 2 3

Total 19 8 27

Tabela 9 – Número de fungos celulolíticos selecionados com IE ≥ 3,5 por ponto de coleta e

período correspondente.

43

O teste em placa para atividade lignolítica revelou halo de oxidação do

guaiacol nos isolados S09, S29, S42, S71, S72, S73 e S87. Alguns registros

dos halos formados podem ser observados no apêndice H. Não foi feita análise

quantitativa de lignase. No entanto, todos os 124 isolados cresceram no meio

contendo ágar, bagaço e guaiacol (FILHO, 2008), indicando a potencialidade

do bagaço como substrato e a seleção dos fungos para estudos mais

aprofundados.

O teste para atividade hemicelulolítica (xilanase) em placa, com a

utilização da xilana como substrato e Vermelho Congo, revelou halos de

degradação somente nos isolados S42, S48, S72, S73 e S87 (Figura 7).

4.4 Análise da atividade celulolítica e hemicelulolítica

Os 19 morfotipos isolados selecionados com IE ≥ 3,5, foram submetidos

ao cultivo em frascos agitados, em meio MANDELS & WEBER (1969) com

lactose por 144 horas a 30ºC. As concentrações enzimáticas máximas (média

de duplicata) de CMCase, FPase, -glicosidase e xilanase, bem como a

dosagem de proteína extracelular total estão representadas nas figuras 9, 10,

11 e 12, respectivamente.

Em relação à dosagem de proteína extracelular total, observa-se que

alguns perfis de concentração enzimática de uma dada enzima se mostram

correlacionados à concentração de proteína total, o que sugere que

provavelmente aquela enzima específica é o componente protéico dominante

no extrato. No entanto, muitos extratos analisados não mostram essa relação,

pois se tratam de extratos brutos. ZHANG et al. (2007), em estudos de

fermentação submersa de Trichoderma reesei RUT C-30 verificaram essas

distorções em se tratando de coquetéis enzimáticos não purificados. Portanto,

as demais análises comparativas neste trabalho foram realizadas

considerando-se especialmente as concentrações enzimáticas e não as

atividades específicas obtidas sob as diferentes condições de cultivo dos

isolados.

44

Figura 9 - Concentração enzimática de endoglucanase (CMCase) e dosagem de proteína total

(linha contínua), obtidas do cultivo dos isolados em meio Mandels & Weber com lactose,

máxima alcançada em até 144 h. Barra indicativa desvio padrão. Médias com a mesma letra

não diferem entre si, segundo teste de Tukey (p<0,05).

Observa-se que o isolado S87 apresentou concentração enzimática

CMCase destacada em relação aos demais (7,89 UI/mL), mas

significativamente menor que o produzido pela linhagem referência T. reesei

(9,10 UI/mL).

O teste de degradação de CMC em placa revelou halo de degradação

para todos os isolados, sendo halos maiores que o revelado pelo T. reesei (IE

2,86). Os isolados S21, S48, S67, por exemplo, revelaram halos que levaram

ao IE de 4,0, no entanto esses morfotipos não mostraram altas concentrações

de CMCase, sugerindo que esta técnica não é válida para análise quantitativa

de enzima endoglucanase, não se revelando um bom preditor. Pelos resultados

há indicações de que não existe correspondência entre tamanho de halo e

proporção da concentração enzimática entre os isolados avaliados neste

estudo.

RUEGGER & TAUK-TORNISIELO (2004), predizem que o índice

enzimático pode ser utilizado, somente como uma medida útil para selecionar

linhagens dentro de uma mesma espécie ou como um parâmetro simples e

rápido para selecionar mutantes.

F

E E

E E E E E E E

B

A

C

D D D D

F F F F F

45

Figura 10 - Concentração enzimática de exoglucanase (FPase) e dosagem de proteína total

(linha contínua), obtidas do cultivo dos isolados em meio Mandels & Weber com lactose,

máxima alcançada em até 144 h. Barra indicativa desvio-padrão. Médias com a mesma letra

não diferem entre si, segundo teste de Tukey (p<0,05).

Os isolados S48 e S93 mostraram maiores concentrações da enzima

FPase, 0,7103 e 0,6631 UI/mL, respectivamente, no entanto os valores foram

significativamente menores que o apresentado pela referência T. reesei.

Observa-se que os demais isolados apresentaram atividades FPase

estatisticamente semelhantes ao A. awamori ou maiores, nestas condições de

cultivo.

Segundo HAHN-HÄGERDAL et al., (1991) a produção de FPase por

T.reesei RUT C-30 em cultivo submerso relatada na literatura está entre 0,25 a

6,4 UI/mL.

RUEGGER & TAUK-TORNISIELO (2004) fazem algumas considerações

ao final do estudo de fungos filamentosos celulolíticos isolados do solo da

Estação Ecológica de Juréia-Itatins, São Paulo, das quais se podem

compartilhar algumas neste trabalho. De acordo com estes autores, a produção

de celulases depende do tipo de substrato utilizado e o uso de distintos

métodos para avaliar a atividade enzimática torna difícil a comparação com os

resultados obtidos por diferentes autores.

G

A

B B C C D

F F F F F E E

H

G

G G G

G G

G

46

Figura 11 - Concentração enzimática de -glicosidase e dosagem de proteína total (linha

contínua), obtidas do cultivo dos isolados em meio Mandels & Weber com lactose, máxima

alcançada em até 144 h. Barra indicativa desvio-padrão. Médias com a mesma letra não

diferem entre si, segundo teste de Tukey (p<0,05).

Altos níveis de -glicosidase são importantes para a completa conversão

da celulose, devido à inibição pela celobiose, das atividades celobiohidrolase e

endoglucanase. Espécies de Aspergillus são conhecidas como bons produtores

de -glicosidase (GARCIA-KIRCHNER et al., 2005).

O isolado S67 se destacou pela expressão da -glicosidase (1,3356

UI/mL), ultrapassando inclusive (cerca de 75% maior) a concentração desta

enzima produzida pelo fungo referência A. awamori, nestas condições de

cultivo.

Ainda, nota-se que vários isolados não expressaram a -glicosidase.

A

B

C C

C C

D D D D D D

D D D D D D

D D D

47

Figura 12 - Concentração enzimática de xilanase e dosagem de proteína total (linha contínua),

obtidas do cultivo dos isolados em meio Mandels & Weber com lactose, máxima alcançada em

até 144 h. Barra indicativa desvio-padrão. Médias com a mesma letra não diferem entre si,

segundo teste de Tukey (p<0,05).

Vários isolados expressaram a enzima xilanase nestas condições de

cultivo, mas o isolado S93 se destacou com 5,2161 UI/mL, atividade

estatisticamente maior que o T. reesei. No entanto, dos isolados selecionados

a priori de acordo com teste em placa com xilana e Vermelho Congo, somente

os isolados S87 e S93 revelaram halo de degradação, sendo que os demais

isolados não mostraram nenhum halo, sugerindo que a referida técnica para

seleção prévia de fungos xilanolíticos, pode não ser adequada.

Aqueles isolados os quais se destacaram no teste preliminar de cultivo

submerso em meio MANDELS & WEBER (1969) com lactose (S21, S48, S67,

S87 e S93), foram submetidos a avaliações de expressão das enzimas

utilizando outros substratos indutores e também cultivo semi-sólido.

Com a utilização do bagaço em cultivo submerso no meio MANDELS &

WEBER (1969) por até 120 horas e comparando-se com a lactose, observa-se

que a expressão de enzimas não segue um padrão, dependendo do fungo e da

enzima em questão (Figuras 13, 14, 15 e 16).

A

B

C C C D D D

E E E E E E E

E

E

E E E E

48

O bagaço de cana-de-açúcar se mostrou melhor indutor que a lactose

para síntese de CMCase, para os isolados S48 (6,06 UI/mL), S93 (4,03 UI/mL),

A. awamori (6,22 UI/mL) e T. reesei (11,48 UI/mL) (Figura 13).

Figura 13 - Comparativo produção de CMCase (UI/mL) pelos isolados S21, S48, S67, S87,

S93 e controles A. awamori e T.reesei em cultivo submerso em meio Mandels & Weber (1969)

com lactose e com bagaço por 120 h. Barra indicativa desvio-padrão.

Para síntese de FPase, o bagaço de cana não foi capaz de induzir

maiores concentrações em relação à lactose a nenhum isolado testado (Figura

14).

Figura 14 - Comparativo produção de FPase (UI/mL) pelos isolados S21, S48, S67, S87, S93 e

controles A.awamori e T.reesei em cultivo submerso em meio Mandels & Weber (1969) com

lactose e com bagaço por 120 h. Barra indicativa desvio-padrão.

49

Em relação à atividade -glicosidase, apenas o isolado S93 expressou

melhor (0,35 UI/mL) na presença de bagaço, sendo que para o isolado S67 o

uso do bagaço reduziu muito (de 1,34 pra 0,54 UI/mL) a expressão da enzima.

Para as demais amostras a expressão da enzima -glicosidase produzida em

meio MANDELS & WEBER (1969) com lactose ou bagaço, não foi expressiva

(Figura 15).

Figura 15 - Comparativo produção de -glicosidase (UI/mL) pelos isolados S21, S48, S67,

S87, S93 e controles A.awamori e T.reesei em cultivo submerso em meio Mandels & Weber

(1969) com lactose e com bagaço por 120 h. Barra indicativa desvio-padrão.

O bagaço foi melhor indutor de xilanase para o isolado S48 e para os

controles A. awamori e T. reesei. O isolado S21 teve pior expressão de

xilanase quando em meio com bagaço e os demais isolados não apresentaram

valores estatisticamente diferentes entre a expressão em meio com bagaço ou

lactose. (Figura 16).

50

Figura 16 - Comparativo produção de xilanase (UI/mL) pelos isolados S21, S48, S67, S87, S93

e controles A.awamori e T.reesei em cultivo submerso em meio Mandels & Weber (1969) com

lactose e com bagaço por 120 h. Barra indicativa desvio-padrão.

O bagaço de cana-de-açúcar não foi bom indutor enzimático em meio

MANDELS & WEBER modificado (1969) para a maioria dos isolados testados.

Considerando a relação C/N, o meio BRECCIA et al. (1995) modificado fornece

mais carbono pela maior concentração de extrato de levedura e também pelo

farelo de trigo que representa ótima fonte de carbono. Portanto, os isolados

S67 e S87, os quais para nenhuma enzima apresentaram melhor expressão

com bagaço, foram avaliados em meio BRECCIA et al. (1995) modificado, com

utilização de farelo de trigo ou bagaço como substrato e indutor (em diferentes

concentrações).

Para o isolado S67, o farelo de trigo se mostrou melhor indutor para

todas as enzimas avaliadas, em relação ao bagaço, sendo que a -glicosidase

e xilanase foram expressas diante de menor concentração de farelo de trigo

(1,5%) e ainda assim melhor do que o bagaço (Figura 17).

51

Figura 17 - Concentração enzimática máxima obtida em cultivo submerso em meio Breccia

(1995) modificado com farelo de trigo ou bagaço 1,5 % e 3,0 % do isolado 67. Barra indicativa

desvio-padrão. Controle sem farelo ou bagaço.

No entanto, somente a xilanase produzida na presença de farelo de trigo

1,5% foi um pouco maior que em meio MANDELS & WEBER (1969) com

lactose. Todas as demais enzimas foram produzidas em maiores

concentrações na presença de lactose.

Com estes resultados pode-se sugerir preliminarmente que os

substratos insolúveis de maneira geral não foram melhores indutores que a

lactose solúvel. Há de se levar em consideração ainda a diferença da

proporção C/N entre os meios testados.

De forma oposta, o isolado S87 apresentou maiores concentrações de

todas as enzimas avaliadas quando em presença de bagaço (3,0%) em meio

BRECCIA et al. (1995) modificado. E ainda, observa-se que o farelo de trigo

em meio Breccia não foi melhor indutor que a lactose em meio MANDELS &

WEBER (1969) (Figura 18).

52

Figura 18 - Concentração enzimática máxima obtida em cultivo submerso em meio Breccia

(1995) modificado com farelo de trigo ou bagaço 1,5 % e 3,0 % do isolado S87. Barra indicativa

desvio-padrão. Controle sem farelo ou bagaço.

Estes resultados são uma pequena amostra de que não há um único

substrato indutor de celulases e hemicelulases que possa ser padronizado a

todos os fungos celulolíticos. O estudo deve ser aprofundado levando em conta

as necessidades nutricionais do fungo produtor em questão.

Apesar de 90% das enzimas serem produzidas industrialmente através

de fermentação submersa, a fermentação semi-sólida tem sido utilizada com

diferentes resíduos agroindustriais como palha de arroz (KHAN et al., 2007),

farelo de arroz (LATIFIAN et al., 2007), farelo de trigo (CAMASSOLA &

DILLON, 2007), bagaço de cana-de-açúcar (MASSADEH et al., 2001;

MUTHUVELAYUDHAM & VIRUTHAGIRI, 2006). Esse bioprocesso tem sido

apontado como alternativa para mitigar problemas de poluição ambiental

(SOCCOL & VANDENBERGHE, 2003).

Existe uma grande variedade de fungos e substratos utilizados para

produção de celulases. KANG et al. (2004) estudaram a produção de celulases

e hemicelulases por Aspergillus niger KK2 em palha de arroz e farelo de trigo.

AGUIAR & MENEZES (2000) avaliaram a atividade enzimática de A. niger IZ-9

em bagaço de cana e CAMASSOLA & DILLON (2007) utilizaram Penicillium

echinulatum em bagaço de cana-de-açúcar e farelo de trigo.

53

Em nosso estudo sob cultivo semi-sólido, comparando-se o uso de

bagaço e farelo de trigo como substrato, avaliado por 33 dias, observa-se nas

Figuras 19, 20, 21 e 22 que o bagaço não induziu melhor a expressão das

enzimas para nenhum isolado avaliado em relação ao farelo de trigo.

Figura 19 – Concentração máxima de CMCase obtida em cultivo semi-sólido por 33 dias,

comparativo substrato farelo de trigo e bagaço. Barra indicativa desvio-padrão.

Figura 20 – Concentração máxima de FPase obtida em cultivo semi-sólido por 33 dias,

comparativo substrato farelo de trigo e bagaço. Barra indicativa desvio-padrão.

54

Figura 21 – Concentração máxima de -glicosidase obtida em cultivo semi-sólido por 33 dias,

comparativo substrato farelo de trigo e bagaço. Barra indicativa desvio-padrão.

Figura 22 – Concentração máxima de xilanase obtida em cultivo semi-sólido por 33 dias,

comparativo substrato farelo de trigo e bagaço. Barra indicativa desvio-padrão.

O isolado S87 quando avaliado em cultivo submerso apresentou maiores

atividades enzimáticas na presença de bagaço, no entanto quando em cultivo

semi-sólido o comportamento foi contrário.

Na avaliação deste isolado S87 frente à composição do meio semi-sólido

com mistura de bagaço e farelo de trigo, observa-se que o farelo de trigo puro

55

confirmou ser melhor substrato e indutor de enzimas sob as condições de

cultivo semi-sólido (Figura 23).

Figura 23 – Concentração média máxima de enzimas produzidas pelo isolado S87 em cultivo

semi-sólido nos diferentes substratos (bagaço 3,0%; farelo de trigo 3,0% e mistura bagaço

1,5% e farelo de trigo 1,5%). Barra indicativa desvio-padrão.

O mesmo foi observado para o Aspergillus awamori (Figura 24).

Figura 24 - Concentração média máxima de enzimas produzidas pela referência A. awamori

em cultivo semi-sólido nos diferentes substratos (bagaço 3,0%; farelo de trigo 3,0% e mistura

bagaço 1,5% e farelo de trigo 1,5%). Barra indicativa desvio-padrão.

56

Nota-se que tanto o isolado S87 como o controle A. awamori produziram

baixas concentrações de FPase (0,2 a 1,6 UI/g de substrato), assim como em

outros experimentos, também para outros isolados, observou-se reduzidas

concentrações de FPase. KROGH et al. (2004) em screening do gênero

Penicillium para produção de enzimas celulolíticas e xilanolíticas, comparando-

os com T. reesei RUT C-30 encontraram concentrações de FPase máximas na

faixa de 0,68 UI/mL. O autor pondera que fungos com baixa atividade FPase

devem conter enzimas específicas com propriedades interessantes, tais como

atividades específicas mais altas para enzimas únicas ou baixa inibição pelo

produto (repressão catabólica).

De acordo com HOLKER et al. (2004), as principais desvantagens de um

cultivo semi-sólido são principalmente devido a formação de gradientes de

temperatura, pH, concentração de substrato ou oxigênio dissolvido durante o

cultivo, as quais dificultam o controle sob quantidade limitada de água.

Melhorias relativas ao pré-tratamento do bagaço, à composição da

solução nutriente e o volume (nível de umidade) desta no cultivo semi-sólido

são pertinentes para continuidade dos estudos.

57

4.5 Identificação taxonômica

Os 5 fungos celulolíticos isolados, os quais, em experimento em frasco,

apresentaram concentrações enzimáticas expressivas, foram identificados

taxonomicamente, sendo 3 isolados a nível de espécie pertencentes ao gênero

Penicillium e 2 isolados a nível de gênero, espécie não confirmada.

Isolados Identificação

S21 Aspergillus sp. cf. phoenicis

S48

S67

S87

Penicillium angulare

Penicillium variabile

Coriolopsis sp. (basidiomiceto)

S93

Penicillium raistrickii

Tabela 10 - Identificação taxonômica de cinco fungos celulolíticos

O fungo basidiomiceto Coriolopsis sp. apresentou 99% de similaridade

de sequência com o fungo Coriolopsis polyzona.

O relatório da identificação taxonômica realizada pelo CPQBA da

Unicamp encontra-se no anexo 2.

58

5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

- Os resultados evidenciam o grande potencial da biodiversidade fúngica

existente em ambientes canavieiros.

- O método de seleção de morfotipos produtores de endoglucanases através da

revelação do halo de degradação com Vermelho Congo em meio sintético

acrescido de CMC (carboximetilcelulose), se mostrou eficiente sob o ponto de

vista qualitativo, mas não confere relação do tamanho do halo com

concentração enzimática.

- A variação do mesmo método com utilização de xilana para seleção de

morfotipos produtores de xilanase não foi consistente, diferindo da análise dos

isolados quando submetidos ao cultivo submerso e quantificação da enzima.

- O método de seleção de morfotipos lignolíticos em placa em meio com

guaiacol revelou resultados positivos, devendo ser confirmado por

quantificação das lignases em cultivo submerso em futuros trabalhos.

- O bagaço de cana-de-açúcar se mostrou um substrato adequado para o

cultivo de alguns fungos isolados e consequentemente um bom indutor de

celulases, em condições específicas de meio de cultura e forma de cultivo,

como por exemplo, o isolado S87 (Coriolopsis sp.) em cultivo submerso e meio

Breccia et al. modif (1995) com bagaço 3,0%, expressou melhor todas as

enzimas analisadas, fato econômica e ecologicamente importante para

utilização de resíduos da indústria sucroalcooleira.

- O meio semi-sólido com bagaço não se mostrou eficiente para indução das

enzimas dos isolados, nem mesmo do A. awamori.

- O isolado S67 (Penicillium variabile) produziu melhor concentração enzimática

de -glicosidase que o A. awamori, conhecidamente bom produtor desta

enzima, em diversas condições de cultivo e substratos (lactose, bagaço ou

59

farelo de trigo). Como em se tratando de uma cepa selvagem, pode-se inferir

que existem reais chances de melhoramento da produção desta enzima, em

trabalhos futuros.

- O isolado S93 (Penicillium raistrickii) também deve ser submetido a estudos

complementares e aprofundados, pois indicou boa expressão de xilanase,

melhor do que A. awamori e T. reesei em fermentação submersa com lactose.

- O estoque de fungos filamentosos em ágar (BDA) inclinado a 4ºC com

repiques a cada 6 meses, comprovou ser uma técnica eficiente para manter a

viabilidade e pureza das cepas.

- Um banco de 124 morfotipos celulolíticos foi obtido com este trabalho para

futuros estudos para obtenção de maior conhecimento sobre a biodiversidade e

as funções exercidas por estes microrganismos em ambientes terrestres e de

suas interações com fatores bióticos e abióticos dentro de um ecossistema, ou

ainda, estudos de hidrólise enzimática de resíduos lignocelulósicos para etanol

de 2ª geração ou outros usos das enzimas expressas por estes fungos na

biotecnologia.

60

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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68

APÊNDICE A - Resumo esquemático do ensaio da atividade CMCase

TUBO BRANCO 0,250 mL tampão citrato + 0,250 mL substrato CMC

TUBOS TEMPO ZERO (T0) 0,250 mL tampão citrato + 0,250 mL amostra enzima

TUBOS AMOSTRA (T10) 0,250 mL substrato CMC + 0,250 mL amostra enzima REAÇÃO ENZIMÁTICA 50ºC / 10 MINUTOS

TODOS OS TUBOS + 0,500 mL reagente DNS

REAÇÃO DNS 100ºC / 5 MINUTOS

BANHO DE GELO

TODOS OS TUBOS + 6,5 mL água destilada

ESPECTROFOTÔMETRO A540nm

69

APÊNDICE B - Resumo esquemático do ensaio da atividade FPase

TUBO BRANCO 0,500 mL tampão citrato

TUBOS TEMPO ZERO (T0) 1,0 mL tampão citrato + 0,500 mL amostra enzima

TUBOS AMOSTRA (T60) PAPEL FILTRO + 1,0 mL tampão citrato +

0,500 mL amostra enzima REAÇÃO ENZIMÁTICA 50ºC / 60 MINUTOS

Transferir dos TUBOS AMOSTRA (T60) para outros tubos de ensaio

0,500 mL

TODOS OS TUBOS + 0,500 mL reagente DNS

REAÇÃO DNS 100ºC / 5 MINUTOS

BANHO DE GELO

TODOS OS TUBOS + 6,5 mL água destilada

ESPECTROFOTÔMETRO A540nm

70

APÊNDICE C - Resumo esquemático do ensaio da atividade β- glicosidase

TUBOS TEMPO ZERO (T0) 0,500 mL tampão citrato + Bioanalisador ou Kit GOD-POD 0,500 mL amostra enzima

TUBOS AMOSTRA (T30) 0,500 mL substrato celobiose

+ 0,500 mL amostra enzima REAÇÃO ENZIMÁTICA 50ºC / 30 MINUTOS FINALIZAR A REAÇÃO 100ºC / 5 MINUTOS TODOS OS TUBOS GELO DETERMINAÇÃO DE GLICOSE PELO BIOANALISADOR DIRETA

OU DETERMINAÇÃO DE GLICOSE PELO KIT GOD-POD

TUBO BRANCO 1,0 mL reagente GOD-POD

TUBOS PADRÃO 1,0 mL do reagente GOD-POD +

10 µl do padrão GOD-POD

TUBOS TEMPO ZERO (T0) 1,0 ml do reagente GOD-POD +

10 µl da mistura reacional T0

TUBOS AMOSTRA (T30) 1,0 ml do reagente GOD-POD +

10 µl da mistura reacional T30 REAÇÃO GOD-POD TEMP. AMBIENTE / 10 MINUTOS

ESPECTROFOTÔMETRO A500nm

71

APÊNDICE D - Resumo esquemático do ensaio da atividade Xilanase

TUBO BRANCO 0,150 mL tampão acetato

TUBOS BRANCO Substrato 0,050 mL tampão acetato + 0,100 mL substrato Xilana

TUBOS TEMPO ZERO (T0) 0,100 mL tampão acetato + 0,050 mL amostra enzima

TUBOS AMOSTRA (T30) 0,100 mL substrato Xilana + 0,050 mL amostra enzima REAÇÃO ENZIMÁTICA 50ºC / 30 MINUTOS

TODOS OS TUBOS + 0,300 mL reagente DNS

REAÇÃO DNS 100ºC / 10 MINUTOS

BANHO DE GELO

TODOS OS TUBOS + 1,5 mL água destilada

ESPECTROFOTÔMETRO A540nm

72

APÊNDICE E – Visualização da morfologia de alguns isolados ao microscópio

óptico Olympus modelo BX41 (aumento 1000x). Câmera fotográfica Canon

modelo EOS 5D digital Lentes EF 24-70mm e/ou câmera Sony DSC-W310.

Coloração com azul de metileno 0,02 g/L.

S123

S67 P. variabile

S15 S93 P. raistrickii

A.awamori A.awamori

S21 Aspergillus sp.

S48 P. angulare

73

APÊNDICE F – Estoque dos fungos

BDA inclinado (4ºC) Castellani (1969) - Submersos em água (4ºC)

APÊNDICE H – Indicação de presença de enzimas lignolíticas (lacase) por oxidação

do Guaiacol.

S71 S42

S09 S29

S87

74

APÊNDICE G - Atividade celulolítica (IE) dos fungos filamentosos isolados, cultivados

em meio sintético com CMC 1% durante 3 a 4 dias. Øh = diâmetro do halo (mm); Øc =

diâmetro da colônia (mm); IE = Índice enzimático.

Isolados Ponto (coleta) Øh Øc IE

S01 P01 (1ª) 21 10 3,10 S02 P01 (1ª) 8 5 2,60 S03 P01 (1ª) 13 7 2,86 S04 P01 (1ª) 45 25 2,80 S05 P01 (1ª) 12 3 5,00 S06 P01 (1ª) 10 6 2,67 S07 P01 (1ª) 10 8 2,25 S08 P01 (1ª) 10 8 2,25 S09 P01 (1ª) 7 3 3,33 S10 P01 (1ª) 10 8 2,25 S11 P01 (1ª) 9 6 2,50 S12 P01 (1ª) 5 2 3,50 S13 P02 (1ª) 17 9 2,89 S14 P02 (1ª) 18 9 3,00 S15 P02 (1ª) 20 7 3,86 S16 P02 (1ª) 24 7 4,43 S17 P02 (1ª) 18 9 3,00 S18 P02 (1ª) 18 9 3,00 S19 P02 (1ª) 20 7 3,86 S20 P02 (1ª) 14 5 3,80 S21 P02 (1ª) 15 5 4,00 S22 P02 (1ª) 7 5 2,40 S23 P02 (1ª) 13 6 3,17 S24 P02 (1ª) 20 14 2,43 S25 P02 (1ª) 12 3 5,00 S26 P02 (1ª) 14 4 4,50 S27 P02 (1ª) 8 6 2,33 S28 P02 (1ª) 11 5 3,20 S29 P02 (1ª) 17 8 3,13 S30 P02 (1ª) 10 5 3,00 S31 P02 (1ª) 10 5 3,00 S32 P02 (1ª) 9 5 2,80 S33 P03 (1ª) 7 4 2,75 S34 P03 (1ª) 10 6 2,67 S35 P03 (1ª) 16 10 2,60 S36 P03 (1ª) 9 4 3,25 S37 P03 (1ª) 9 5 2,80 S38 P03 (1ª) 7 4 2,75 S39 P03 (1ª) 12 8 2,50 S40 P03 (1ª) 15 5 4,00 S41 P04 (1ª) 13 4 4,25 S42 P04 (1ª) 15 4 4,75 S43 P04 (1ª) 17 9 2,89 S44 P04 (1ª) 10 7 2,43 S45 P04 (1ª) 13 11 2,18

75

Isolados Ponto (coleta) Øh Øc IE

S46 P04 (1ª) 17 13 2,31 S47 P04 (1ª) 18 16 2,13 S48 P04 (1ª) 15 5 4,00 S49 P04 (1ª) 14 10 2,40 S50 P04 (1ª) 17 11 2,55 S51 P05 (1ª) 16 9 2,78 S52 P05(1ª) 11 9 2,22 S53 P05 (1ª) 14 4 4,50 S54 P05 (1ª) 11 6 2,83 S55 P05 (1ª) 26 21 2,24 S56 P05 (1ª) 12 7 2,71 S57 P05 (1ª) 11 8 2,38 S58 P05 (1ª) 9 6 2,50 S59 P05 (1ª) 7 5 2,40 S60 P06 (1ª) 14 5 3,80 S61 P06 (1ª) 16 9 2,78 S62 P06 (1ª) 26 18 2,44 S63 P06 (1ª) 18 10 2,80 S64 P06 (1ª) 15 9 2,67 S65 P06 (1ª) 17 10 2,70 S66 P06 (1ª) 14 8 2,75 S67 P06 (1ª) 15 5 4,00 S68 P06 (1ª) 10 7 2,43 S69 P06 (1ª) 9 5 2,80 S70 P07 (1ª) 25 16 2,56 S71 P07 (1ª) 20 14 2,43 S72 P07 (1ª) 13 8 2,63 S73 P07 (1ª) 11 4 3,75 S74 P07 (1ª) 21 7 4,00 S75 P08 (1ª) 17 6 3,83 S76 P08 (1ª) 13 7 2,86 S77 P08 (1ª) 9 5 2,80 S78 P08 (1ª) 12 7 2,71 S79 P08 (1ª) 11 6 2,83 S80 P08 (1ª) 8 5 2,60 S81 P08 (1ª) 12 9 2,33 S82 P08 (1ª) 14 8 2,75 S83 P08 (1ª) 15 7 3,14 S84 P01 (2ª) 14 11 2,27 S85 P02 (2ª) 17 13 2,31 S86 P02 (2ª) 37 35 2,06 S87 P03 (2ª) 31 10 4,10 S88 P03 (2ª) 22 5 5,40 S89 P03 (2ª) 13 5 3,60 S90 P03 (2ª) 12 10 2,20 S91 P04 (2ª) 12 7 2,71 S92 P04 (2ª) 18 16 2,13 S93 P04 (2ª) 18 7 3,57 S94 P04 (2ª) 15 13 2,15

76

Isolados Ponto (coleta) Øh Øc IE

S95 P04 (2ª) 10 5 3,00 S96 P04 (2ª) 20 5 5,00 S97 P05 (2ª) 11 7 2,57 S98 P05 (2ª) 12 6 3,00 S99 P05 (2ª) 7 5 2,40 S100 P05 (2ª) 10 5 3,00 S101 P05 (2ª) 12 5 3,40 S102 P05 (2ª) 8 5 2,60 S103 P05 (2ª) 14 6 3,33 S104 P05 (2ª) 44 39 2,13 S105 P05 (2ª) 12 5 3,40 S106 P05 (2ª) 20 5 5,00 S107 P05 (2ª) 15 8 2,88 S108 P05 (2ª) 6 4 2,50 S109 P05 (2ª) 5 4 2,25 S110 P06 (2ª) 11 7 2,57 S111 P06 (2ª) 10 5 3,00 S112 P06 (2ª) 11 7 2,57 S113 P06 (2ª) 8 6 2,33 S114 P06 (2ª) 13 7 2,86 S115 P06 (2ª) 6 5 2,20 S116 P07 (2ª) 15 13 2,15 S117 P07 (2ª) 20 17 2,18 S118 P07 (2ª) 15 9 2,67 S119 P08 (2ª) 16 9 2,78 S120 P08 (2ª) 35 33 2,06 S121 P08 (2ª) 13 6 3,17 S122 P08 (2ª) 9 7 2,29 S123 P08 (2ª) 24 5 5,80 S124 T. reesei A. awamori

P08 (2ª) Referência Referência

10 13 16

3 7 7

4,33 2,86 3,2

77

APÊNDICE J - Dados para estatística

CMCase Fpase -glicosidase xilanase

Amostras (UI/mL) PT (mg/mL) (UI/mL) PT (mg/mL) (UI/mL) PT (mg/mL) (UI/mL) PT (mg/mL)

S05 1,986 0,219 0,371 0,205 0,0150 0,219 2,519 0,219

S05 1,886 0,219 0,289 0,205 0,0104 0,219 2,574 0,219

S15 0,704 0,053 0,163 0,064 0,0127 0,064 0,500 0,064

S15 0,754 0,053 0,157 0,064 0,0116 0,064 0,472 0,064

S16 1,509 0,05 0,126 0,082 0,0185 0,082 0,219 0,082

S16 1,710 0,05 0,195 0,082 0,0150 0,082 0,205 0,082

S19 2,816 0,064 0,069 0,054 0,0173 0,064 0,329 0,054

S19 2,841 0,064 0,119 0,054 0,0104 0,064 0,246 0,054

S21 2,967 0,083 0,509 0,076 0,1573 0,083 2,690 0,594

S21 2,866 0,083 0,522 0,076 0,1583 0,083 2,785 0,594

S25 1,056 0,06 0,038 0,06 0,0104 0,06 0,465 0,056

S25 1,257 0,06 0,063 0,06 0,0127 0,06 0,329 0,056

S26 1,358 0,053 0,465 0,214 0,0173 0,214 0,657 0,214

S26 1,760 0,053 0,427 0,214 0,0139 0,214 0,698 0,214

S40 1,659 0,075 0,088 0,075 0,0112 0,075 0,596 0,076

S40 1,710 0,075 0,107 0,075 0,0134 0,075 0,637 0,076

S48 2,313 0,077 0,698 0,077 0,1450 0,079 1,506 0,077

S48 2,464 0,077 0,723 0,077 0,1490 0,079 2,471 0,077

S53 0,955 0,046 0,157 0,084 0,0145 0,046 0,151 0,046

S53 0,805 0,046 0,189 0,084 0,0156 0,046 0,192 0,046

S67 1,609 0,077 0,515 0,071 1,4543 0,072 0,671 0,071

S67 1,609 0,077 0,515 0,071 1,2168 0,072 0,726 0,071

S74 2,263 0,052 0,239 0,058 0,0078 0,052 0,370 0,058

S74 2,263 0,052 0,264 0,058 0,0123 0,052 0,383 0,058

S75 0,955 0,059 0,013 0,059 0,0173 0,059 0,534 0,059

S75 0,981 0,059 0,050 0,059 0,0162 0,059 0,589 0,059

S87 7,794 0,077 0,289 0,079 0,1250 0,131 2,677 0,134

S87 7,995 0,077 0,314 0,079 0,1390 0,131 2,656 0,134

S88 3,822 0,051 0,157 0,063 0,0243 0,063 0,507 0,063

S88 3,721 0,051 0,145 0,063 0,0220 0,063 0,534 0,063

S93 2,665 0,057 0,660 0,062 0,1330 0,043 5,237 0,062

S93 2,715 0,057 0,666 0,062 0,1350 0,043 5,196 0,062

S96 1,861 0,045 0,182 0,058 0,0173 0,058 2,341 0,058

S96 2,011 0,045 0,214 0,058 0,0173 0,058 2,273 0,058

S106 2,263 0,059 0,145 0,059 0,0162 0,065 0,698 0,065

S106 2,112 0,059 0,195 0,059 0,0150 0,065 0,739 0,065

S123 1,609 0,061 0,132 0,08 0,0123 0,061 0,753 0,08

S123 1,861 0,061 0,126 0,08 0,0123 0,061 0,835 0,08

A.awamori 0,955 0,054 0,233 0,036 0,3130 0,090 1,711 0,067

A.awamori 1,106 0,054 0,201 0,036 0,3300 0,090 2,368 0,067

T. reesei 8,6732 0,3890 1,8516 0,3890 0,0164 0,5490 4,4936 0,5490

T. reesei 9,5178 0,3890 1,8678 0,3890 0,0154 0,5490 4,6992 0,5490

78

ANEXO 1 – Autorização IBAMA CGEN e mapa do local de coleta

79

80

Visualização Google Earth – Fazenda São Lucas, Distrito de São Roberto de

Minas, Município de São João da Lagoa, MG.

S 16º44’16,2” W 44º12’36,5”

ANEXO 2 – Relatório CPQBA Identificação taxonômica

Fazenda São Lucas

81

Mapa da Fazenda São Lucas

Regiões de seleção de locais de coleta circuladas em vermelho

82

ANEXO 2 – Relatório CPQBA Identificação taxonômica

83

NOTA: A amostra identificada como Aspergillus tubingensis não faz parte

deste trabalho de dissertação.

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