propostas de medidas de controle ambiental para a
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto Departamento de Engenharia de Minas
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral – PPGEM
PROPOSTAS DE MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL PARA A
REVITALIZAÇÃO DA ÁREA URBANA DO DISTRITO DE FIDALGO EM
PEDRO LEOPOLDO – MG
Autora: VALÉRIA CAMPOS GARCIA
Orientadores: Prof. Dr. ADILSON CURI
Prof. Dr. JOSÉ MARGARIDA DA SILVA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação do Departamento de Engenharia de
Minas da Escola de Minas da Universidade
Federal de Ouro Preto, como parte integrante
dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Engenharia de Minas.
Área de concentração:
Lavra de Minas
Ouro Preto
Maio/2011
Catalogação: [email protected]
Catalogação: [email protected]
G216p Garcia, Valéria Campos. Propostas de medidas de controle ambiental para a revitalização da área urbana
do distrito de Fidalgo em Pedro Leopoldo - MG / Valéria Campos Garcia – 2011. x, 81f.: il. color; tabs.; mapas. Orientadores: Prof. Dr. Adilson Curi. Prof. Dr. José Margarida da Silva. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de
Minas. Departamento de Engenharia de Minas. Programa de Pós-graduação em Engenharia Mineral.
Área de concentração: Lavra de Minas.
1. Rochas ornamentais - Teses. 2. Serrarias - Teses. 3. Espaço urbano - Teses. 4. Beneficiamento de minério - Teses. 5. Impacto ambiental - Teses. I. Curi, Adilson. II. Silva, José Margarida. III. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.
CDU: 622.7:504.61(815.1)
I
RESUMO
A relação entre lavras de rochas ornamentais e espaço urbano tem se tornado
conflituosa devido aos impactos diretos causados pelas mesmas, tanto durante o
processo de lavra quanto de beneficiamento. Desta forma, a revitalização de espaços
públicos que sofrem com a degradação ambiental causada pela mineração surge com o
intuito de resquardar e recuperar esses locais.
Neste contexto, encontra-se inserido o distrito de Fidalgo em Pedro Leopoldo –
MG, região onde se concentra o mais tradicional e importante comércio da “Pedra
Lagoa Santa” beneficiada. Todas as serrarias que fazem o beneficiamento da rocha
supracitada encontram-se inseridas dentro da área urbana do distrito em questão. Além
disso, o distrito é margeado pela Lagoa do Sumidouro que faz parte do Parque Estadual
do Sumidouro.
O distrito de Fidalgo também faz parte de um dos carstes mais importantes do
mundo, o Carste de Lagoa Santa. Por constituir-se de terrenos cársticos, é motivo
suficiente para chamar a atenção de todos os seguimentos envolvidos direta ou
indiretamente, no sentido de procurar dividir responsabilidade quanto ao seu uso
racional.
A falta de planejamento e o compromisso com o meio ambiente fazem com que
os impactos ambientais (ruído, assoreamento da Lagoa do Sumidouro, descarte de
resíduos em área urbana, etc) causados pelo beneficiamento afetem diretamente a área
urbana do distrito.
Desta forma, este trabalho de dissertação de mestrado visa apresentar
mecanismos de controle ambiental que possam minimizar os impactos ambientais
causados pelas atividades minerarias ali inseridas. Para isso, foi realizado um
diagnóstico ambiental tendo como auxílio as ferramentas do software de
geoprocessamento ArcGis 9.2. Através dessa ferramenta foi possível gerar o Modelo de
Elevação do Terreno (MET), difinir áreas de APPs, obter uma dimensão real das
locações das serrarias, construir mapas hidrográficos, etc
II
Através dos dados obtidos, foi possível relacionar o espaço onde as serrarias
estão inseridas com os impactos causados pelas mesmas, e assim, propor medidas para
redução dos impactos e consequente revitalização do distrito de Fidalgo.
Palavras Chaves: Rochas ornamentais, serrarias, espaço urbano, beneficiamento,
impactos ambientais, geoprocessamento, medidas de controle ambiental
III
ABSTRACT
The relationship between stone quarries and urban space has become contentious
due to the direct impacts caused by them, both during the process of mining and
beneficiation. Thus, the revitalization of public spaces that suffer from environmental
degradation caused by mining arises in order to resquardar and retrieving these
locations.
In this context, is entered the district of Fidalgo in Pedro Leopoldo - MG, a
region where concentrates the most traditional and important trade "Pedra Lagoa Santa"
benefit. All sawmills that make the processing of rock above are included within the
urban area of the district concerned. In addition, the district is bordered by Lake Sink
which is part of State Park Sinks.
The district of Fidalgo is also part of one of the world's most important karsts,
the Lagoa Santa Karst. Because it is made up of karst terrains, is reason enough to draw
the attention of all parties involved directly or indirectly, in seeking to divide
responsibility for their rational use.
The lack of planning and commitment to the environment cause the
environmental impacts (noise, siltation of Lake sink, waste disposal in urban areas, etc.)
caused by processing directly affect the urban district.
Thus, this dissertation work is to present environmental control mechanisms that
can minimize the environmental impacts caused by mining activities inserted there. For
this, an environmental assessment was carried out with the aid of software tools for GIS
ArcGIS 9.2. Through this tool has been possible to generate Digital Terrain Model
(DTM), define areas of Environmental Protection Areas, to obtain the actual size of the
locations of sawmills, building hydrographic maps, etc.
Through the data obtained, it was possible to relate the space where the sawmills
are located with the impacts caused by them, and thus, suggest, propose measures to
reduce impacts and consequent revitalization of the district of Fidalgo.
Key Words: ornamental sawmills, urban space, processing, environmental, GIS,
environmental control measures
IV
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................... I
ABSTRACT................................................................................................................. II
SUMÁRIO................................................................................................................... III
LISTA DE FIGURAS................................................................................................. IV
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.............................................................. V
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO................................................................................ 01
1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS............................................................................ 01
1.2. OBJETIVO........................................................................................................... 02
1.3. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO............................................................. 02
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................ 04
2.1. SISTEMA CÁRSTICO........................................................................................ 04
2.1.1. Poljés................................................................................................................... 05
2.1.2. Dolinas................................................................................................................ 06
2.1.3. Úvulas................................................................................................................. 07
2.2. CARSTE DE LAGOA SANTA E A APA CARSTE DE LAGOA SANTA.... 07
2.2.1. Hidrografia......................................................................................................... 11
2.2.2. Vegetação............................................................................................................ 12
2.2.3. Clima................................................................................................................... 13
2.2.4. Contexto Geológico............................................................................................ 14
2.2.5. Geomorfologia.................................................................................................... 16
2.2.6. Zoneamento Ambiental..................................................................................... 18
CAPÍTULO 3 – ÁREA DE ESTUDO........................................................................ 21
CAPÍTULO 4 – MATERIAIS E MÉTODOS........................................................... 24
CAPÍTULO 5 – DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO MEIO FÍSICO.................. 26
5.1. HIDROGRAFIA................................................................................................... 26
5.1.1. Bacia Hidrográfica............................................................................................ 26
5.1.2. Drenagem........................................................................................................... 29
5.1.3. Lagoa do Sumidouro......................................................................................... 31
5.1.4. Áreas de Proteção Permanente (APP`s) – Cursos D`Água e Lagoa do
V
Sumidouro.................................................................................................................... 34
5.1.5. Áreas de Proteção Permanente (APP`s) – Áreas com Declividade acima
de 45°............................................................................................................................
36
5.2. Geomorfologia....................................................................................................... 38
5.2.1. Altitudes.............................................................................................................. 38
CAPÍTULO 6 – LAVRA E BENEFICIAMENTO................................................... 40
6.1. ROCHA ORNAMENTAL DA REGIÃO DE LAGOA SANTA...................... 40
6.1.1. Lavra................................................................................................................... 41
6.1.2. Beneficiamento................................................................................................... 44
CAPÍTULO 7 – IMPACTOS AMBIENTAIS........................................................... 47
7.1. DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE REJEITO E IMPACTO VISUAL......... 47
7.2. ASSOREAMENTO DA LAGOA DO SUMIDOURO...................................... 51
7.3. RUÍDO................................................................................................................... 54
CAPÍTULO 8 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS......... 58
8.1. LICENCIAMENTO AMBIENTAL................................................................... 57
8.2. MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL EM TODAS AS
SERRARIAS........................................................................................................
59
8.2.1. Pressão Sonora................................................................................................... 59
8.2.2. Unidade de Tratamento de Efluente................................................................ 63
8.2.3. Disposição de Resíduo....................................................................................... 64
8.3. RETIRADA DAS SERRARIAS DA ÁREA URBANA DO DISTRITO DE
FIDALGO..............................................................................................................
65
8.3.1. Área para Inserção do Distrito Industrial da “Pedra Lagoa Santa”............ 65
8.3.2. Serraria Modelo............................................................................................ 69
8.3.2.1. Organização da Serraria Modelo............................................................. 69
8.3.2.2. Medidas de Controle Necessárias.................................................................. 70
8.4. REVITALIZAÇÃO DA LAGOA DO SUMIDOUR0....................................... 71
8.5. REAPROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS.................................. 75
CAPÍTULO 9 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS
FUTURAS....................................................................................................................
77
9.1. CONCLUSÕES..................................................................................................... 77
VI
9.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS................................................. 78
CAPÍTULO 10 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................ 79
VII
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Representação esquemática de um poljé........................................... 05
Figura 02: Foto de um Ponor: abertura natural que se comunica com o lençol
freático...............................................................................................
06
Figura 03: Esquema de uma dolina.................................................................... 07
Figura 04: Localização do Carste de Lagoa Santa.............................................. 09
Figura 05: Mapa de localização do distrito de Fidalgo dentro da área da APA
Carste de Lagoa Santa.......................................................................
11
Figura 06A: Geologia. Localização do Carste de Lagoa Santa no esboço
geológico do cráton do São Francisco..............................................
15
Figura 06B: Geologia. Mapa litoestratigráfico da APA Carste de Lagoa Santa... 16
Figura 07: Perfil topográfico, geológico e geomorfológico da APA Carste de
Lagoa Santa/MG...............................................................................
17
Figura 08: Zonas ambientais da APA Carste de Lagoa Santa e a localização
do distrito de Fidalgo dentro da Zona de Proteção do Patrimônio
Cultural (ZPPC)................................................................................
19
Figura 09: Localização da área de estudo........................................................... 23
Figura 10: Modelo Digital do Terreno (MDT) e limites da sub-bacia na qual a
área de estudo encontra-se inserida...................................................
28
Figura 11: Mapa referente à hidrografia local.................................................... 30
Figura 12: Identificação da Lagoa do Sumidouro inserida no Parque Estadual
do Sumidouro....................................................................................
31
Figura 13: Vista geral da Lagoa do Sumidouro.................................................. 32
Figura 14: Localização das serrarias às margens da Lagoa do Sumidouro... 33
Figura 15: Delimitação das APP`s no entorno dos cusos d`água e lagoas para
o distrito de Fidalgo..........................................................................
35
Figura 16: Mapa de declividade da região de estudo......................................... 37
Figura 17: Modelo de Elevação do Terreno (MET) da área de estudo............... 39
Figura 18: Lavra (Rocha Dolomítica)................................................................. 42
Figura 19: Lavra (Rocha Dolomítica)................................................................. 42
VIII
Figura 20: Lavra a céu aberto............................................................................ 43
Figura 21: Unidade de extração mostrando uma fonte de trabalho em
operação............................................................................................
43
Figura 22: Unidade de beneficiamento. Corte da “Pedra Lagoa Santa” na
serraria...............................................................................................
45
Figura 23: Unidade de beneficiamento. Corte da “Pedra Lagoa Santa” na
serraria...............................................................................................
45
Figura 24: Desdobramento da “Pedra Lagoa Santa” em uma unidade de
beneficiamento no distrito de Fidalgo...............................................
46
Figura 25: Depósito de rejeito do beneficiamento sem nenhum planejamento
dentro da área urbana........................................................................
48
Figura 26: Depósito de rejeito do beneficiamento sem nenhum planejamento
dentro da área urbana........................................................................
48
Figura 27: Localização da barragem na Lagoa do Sumidouro........................... 50
Figura 28: Equipamento de corte com disco diamantado utilizado pelas
serrarias locais...................................................................................
51
Figura 29: Pontos de assoreamento na Lagoa do Sumidouro............................. 53
Figura 30: Serrarias que fazem o beneficiamento da “Pedra Lagoa Santa”
localizadas próximas às residências..................................................
54
Figura 31: Croqui com a localização dos pontos de medição de ruído -
Serraria localizada em Ouro Preto/MG.............................................
55
Figura 32: Croqui com a localização dos pontos de medição de ruído –
Serraria em Fidalgo...........................................................................
57
Figura 33: Raio de atuação das emissões sonoras na qual não devem ser
inseridas as serrarias..........................................................................
61
Figura 34: Protetor auricular tipo concha........................................................... 62
Figura 35: Protetor auricular tipo plug de espuma descartável.......................... 62
Figura 36: Protetor auricular tipo plug reutilizável de silicone.......................... 62
Figura 37: Sistema de Tratamento de Efluente aplicado em uma da serrarias
de Santo Antônio de Pádua...............................................................
64
Figura 38: Localização da área para a instalação das serrarias. Área adquirida
IX
pela antiga APL em parceria com a prefeitura de Pedro
Leopoldo...........................................................................................
68
Figura 39: Efeito do material absorvente sobre o ambiente de trabalho............ 71
Figura 40: Reconstituição da barragem de resíduo em três dimensões obtida
através do programa AutoCad...........................................................
72
Figura 41: Vista de parte da Lagoa do Sumidouro com a barragem de acesso
construída..........................................................................................
72
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Totais pluviométricos mensais (mm) da região da APA Carste de
Lagoa Santa (MG). Médias no período 1961-1990.............................
13
Tabela 02: Quadro de normas e diretrizes de uso.................................................. 20
Tabela 03: Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente.................. 56
Tabela 04: Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos, em
dB(A)....................................................................................................
57
Tabela 05: Características físicas dos materiais utilizados na cosntrução da via
de acesso dentro da Lagoa do Sumidouro............................................
73
X
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
APA – Área de Proteção Ambiental
APL – Aglomerado Produtivo Local
APP – Área Proteção Permanente
CETEM – Centro de Tecnologia Mineral
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
DNER – Departamento Nacional de Estradas e Rodagens
EPI – Equipamento de Proteção Individual
GATE – Informações para Gestão e Administração Territorial
GPS – Sistema de Posicionamento Global
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia
IEPHA/MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
INT – Instituto Nacional de Tecnologia
MDT – Modelo Digital do Terreno
MET - Modelo de Elevação do Terreno
NBR – Norma Brasileira Regulamentadora
NCA – Nível de Critério de Avaliação
UTE – Unidade de Tratamento de Efluente
ZCEAM – Zona de Conservação de Equilíbrio Ambiental Metropolitano
ZCDA – Zona de Conservação e Desenvolvimento Agrícola
ZCDUI – Zona de Conservação e Desenvolvimento Urbano e Industrial
ZCPD – Zona de Conservação e do Planalto das Dolinas
ZPPC – Zona de Proteção do Patrimônio Cultural
ZPPNC – Zona de Proteção das Paisagens Naturais do Carste
1
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
A rocha ornamental sempre ocupou papel de destaque na construção civil. A
aplicação em pisos, revestimentos de fachadas e em áreas externas tem se intensificado,
na medida em que surgem novas opções de pedras ornamentais e de revestimento. A
incidência de determinado tipo de rocha ornamental em regiões geográficas
circunscritas, favorece o surgimento de aglomerados de empresas com o mesmo perfil
de atividade.
A “Pedra Lagoa Santa”, nome comercial empregado para denominar o calcário
dolomítico explotado nos municípios de Pedro Leopoldo e Funilândia, Estado de Minas
Gerais, Brasil, reúne cerca de 70 pequenas empresas no processo de extração e de
beneficiamento. Essas empresas formam o Aglomerado Produtivo Local de Lagoa Santa
– APL Lagoa Santa. Arranjos produtivos são aglomerados de empresas localizadas em
um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantém algum vínculo
de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros fatores
locais como governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e
pesquisa (PORTER, 1999).
Entretanto, a falta de uma cultura local empreendedora, a não utilização de
tecnologias apropriadas e a falta de um compromisso com as questões ambientais,
concorrem para o estado de estagnação em que se encontra o referido aglomerado
produtivo (MONTEIRO & CURI, 2004).
Fidalgo, com aproximadamente 5.000 habitantes, é o principal pólo de
beneficiamento da rocha. As serrarias inseridas em Fidalgo, no que diz respeito aos
aspectos tecnológicos e compromisso ambiental são pouco organizadas, apresentando
problemas pela baixa estruturação das empresas envolvidas, dificultando o acesso a
linhas de crédito necessárias para melhor aproveitamento técnico, baixo nível de
profissionalização dos empresários e problemas ambientais representados pelos
impactos do meio físico.
2
A relação entre lavras de rochas ornamentais (pedreiras) e espaço urbano tem se
tornado conflituosa devido aos impactos diretos causados pelas mesmas, tanto durante o
processo de lavra quanto de beneficiamento. Neste contexto, encontra-se inserido o
distrito de Fidalgo em Pedro Leopoldo – MG, região onde se concentra o mais
tradicional e importante comércio da “Pedra Lagoa Santa” beneficiada (rocha
dolomítica). A falta de planejamento e de compromisso com o meio ambiente fazem
com que os impactos ambientais causados pelo beneficiamento do minério afetem
diretamente a área urbana do distrito.
Diante disso, nesse trabalho, serão apresentados mecanismos de controle
ambiental que possam revitalizar a área urbana do distrito de Fidalgo. A revitalização
consiste no ato de recuperar, conservar e preservar o ambiente por meio da
implementação de ações que promovam o uso sustentável dos recursos naturais, a
melhoria das condições socioambientais e o aumento da qualidade de vida da população
local.
1.2. OBJETIVO
Diante do conflito de uso da região pelos moradores e pelas mineradoras que
fazem o beneficiamento da “Pedra de Lagoa Santa”, além da inserção da mineração em
Área de Proteção Ambiental (APA), a presente dissertação tem como objetivo propor
medidas de controle ambiental que possa minimizar os impactos ambientais que
atingem a população do distrito de Fidalgo em Pedro Leopoldo, MG, tendo como
auxílio o geoprocessamento para a construção do diagnóstico ambiental e análise dos
impactos, base utilizada para a proposição das medidas de controle ambiental.
1.3. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Este trabalho está estruturado em 10 capítulos. No capítulo 1 são apresentadas as
considerações iniciais, o objetivo e a organização da dissertação.
No capítulo 2 é apresentada uma revisão bibliográfica, onde são abordados os
seguintes assuntos: o sistema cárstico e as principais formações que compõem seu
relevo, como os poljés, uvulas e dolinas; o Carste de Lagoa Santa e a APA Carste de
3
Lagoa Santa. Neste último tema são abordados temas sobre sua localização, tipo de
vegetação, geologia, geomorfologia e zoneamento ambiental na qual a área de estudo
encontra-se incluída.
O capítulo 3 apresenta a área de estudo, sua localização e sua inserção na APA
Carste de Lagoa Santa. Já o capítulo 4 apresenta os materiais e métodos utilizados na
confecção dessa dissertação.
No capitulo 5 é apresentado o diagnóstico ambiental. Esse foi elaborado baseado
em revisões bibliográficas, em visitas in loco e em um banco de dados georreferenciado.
Essa etapa foi importantíssima para o entendimento da área de estudo como: dinâmica
hídrica local, determinação das feições geomorfológicas, delimitação das Áreas de
Proteção Permanente (APPs), conhecimento e entendimento dos cursos hídricos locais e
consequentemente no suporte para as análises ambientais.
O capítulo 6 aborda detalhes sobre rocha ornamental da região de Lagoa Santa,
como suas principais características e composição. Além disso, apresenta o processo de
lavra e beneficiamento utilizado em Fidalgo.
No capítulo 7 são descritos os principais impactos ambientais que atingem a
população de Fidalgo. Deve-se esclarecer que foram avaliados apenas os impactos
oriundos do beneficiamento da “Pedra Lagoa Santa”, pois as serrarias que fazem o
beneficiamento da rocha encontram-se situadas na área urbana do distrito e desta forma
os impactos causados pelas mesmas atingem diretamente a população.
Já no capítulo 8 são apresentados e discutidos os resultados dos trabalhos de
campo e pesquisa. Nesse capítulo são propostas algumas medidas de controle ambiental
para a revitalização da área urbana de distrito de Fidalgo.
O capítulo 9 apresenta a conclusão do trabalho, bem como sugestões para
trabalhos futuros na área em questão. Por fim, no capítulo 10 são apresentadas as
bibliografias que auxiliaram na confecção da dissertação.
4
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. SISTEMA CÁRSTICO
O termo “carste” tem origem na região de Karts, na Iugoslávia, onde foi
estudado esse tipo de relevo pela primeira vez. Entretanto, esse mesmo fenômeno é
encontrado em Carso (Itália), Causes (França), Altamira (Espanha), Kentucky e Flórida
(Estados Unidos) e em muitos outros lugares do mundo. No Brasil, o ambiente cárstico
pode ser encontrado principalmente nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato
Grosso do Sul, Bahia, Ceará e outros (LLADÓ, 1970 apud SHINZATO, 1998).
Atualmente, o termo é utilizado para designar as áreas calcárias ou dolomíticas que
possuem uma topografia característica, oriunda da dissolução de tais rochas
(CHRISTOFOLETTI, 1980, p.153 apud ARAÚJO, 2006).
O principal aspecto de uma área cárstica é a presença de uma drenagem de
sentido predominantemente vertical e subterrânea (criptorréica), seguindo fendas,
condutos e cavernas, com quase completa ausência de cursos d'água superficiais
(OLIVEIRA, 1997, p.03 apud ARAÚJO, 2006).
O relevo cárstico apresenta formas características de fácil identificação. São elas
as muralhas abruptas e os rios em vales apertados, longos e profundos, cujas paredes
escarpadas são perfuradas por grutas, onde correm ribeiros de água muito límpidas.
Nota-se que os cursos d’água subaéreos são raros em virtude da sua penetração através
das fendas criadas pela fácil solubilidade da rocha.
A paisagem cárstica, de acordo com OLIVEIRA (1997 apud ARAÚJO, 2006)
apresenta aspectos ruiniformes e esburacados, preponderantemente desenvolvidos em
formações calcárias.
O sistema cárstico é um tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução
química (corrosão) das rochas, que leva ao aparecimento de relevos exocarste e
endocarste. O primeiro representa os relevos superficiais, e o segundo caracteriza as
formas subterrâneas de domínio da espeleologia. Um relevo exocárstico é resultado, na
maioria das vezes, da evolução do endocarste (abatimentos) (GUERRA e CUNHA,
1994). Segundo os autores, no domínio das formas exocársticas prevalecem as feições
5
negativas, como poljés, uvulas e dolinas, em contraposição às formas positivas dos
maciços, magotes, torres e verrugas. O endocarste é caracterizado pelo mundo
subterrâneo, com suas cavernas.
2.1.1. Poljés
O Poljé é uma grande planície de corrosão, alcançando centenas de quilômetros
e apresentando fundo plano atravessado por um fluxo contínuo de água que pode ser
confinada em algum ponto por um sumidouro.
Segundo GALOPIM DE CARVALHO (1996 apud LOPES e MONTEIRO,
2010) um Poljé é formado basicamente por falhas, redes de galerias, hum e ponor
(Figura 01).
Figura 01: Representação esquemática de um poljé.
Fonte: GALOPIM DE CARVALHO (1996 apud LOPES e MONTEIRO, 2010).
Ponors são aberturas naturais que se comunicam com uma rede de galerias e que
podem funcionar como uma perda ou como um local emissor de água, dependendo da
posição do lençol freático (TOMÉ, 1996 apud LOPES e MONTEIRO, 2010). É nome
dado a uma abertura natural (Figura 02) em áreas cársticas que se comunicam com uma
rede de galerias que podem servir de sumidouro ou nascente de acordo com o nível
freático.
6
Figura 02: Foto de um Ponor: abertura natural que se comunica com o lençol freático.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Limestone_Hole.JPG
Também no interior dos poljés são encontrados pequenos relevos rochosos
abruptos, isolados e dispersos, chamados hums (GALOPIM DE CARVALHO, 1996
apud LOPES e MONTEIRO, 2010). A água da chuva infiltrada poderá surgir à
superfície em exurgências (nascentes) localizadas no interior das vertentes do poljé ou
em ponors, localizados no seu fundo, quando o nível freático atinge a superfície da base
da depressão, podendo o poljé ficar inundado. Quando o nível freático baixa, os ponors
podem funcionar como sumidouros (CHRISTOFOLETTI, 1980; DERRUAU, 1988;
SUMMERFIELD, 1991 apud LOPES e MONTEIRO, 2010).
2.1.2. Dolinas
O termo dolina foi utilizado na primeira metade do século XX para denominar
diversos tipos de depressões. Atualmente a denominação de dolina corresponde às
depressões fechadas de formato aproximadamente circular, formadas pela dissolução da
rocha no terreno abaixo dela ou também por desmoronamento do teto de cavernas. No
caso das dolinas por desmoronamento, se ocorrer o evento no teto da caverna pode-se
criar uma abertura de acesso às cavernas.
As dolinas (Figura 03) variam muito de tamanho, de pouco mais de um metro de
diâmetro e pequena profundidade a grandes crateras com centenas de metros de
diâmetro, podendo atingir grandes profundidades. Uma vez que as dolinas são formadas
pela ação da água em estratos de sustentação, é comum que elas sejam recobertas por
7
solo e vegetação. Em alguns casos, se o solo for suficientemente impermeável, elas
podem se manter parcialmente inundadas, originando pequenos lagos. Em alguns casos
essas aberturas dão acesso a galerias inundadas que aparentam ser lagos, embora seja
apenas uma parte de uma galeria freática ou de uma caverna (CUNHA e GUERRA,
1994).
Figura 03: Esquema de uma dolina.
Fonte: Modificado de CUNHA e GUERRA, 1994. 2.1.3. Uvulas
O termo servo-croata “uvala” é usado na terminologia internacional para definir
“grandes depressões fechadas”, que normalmente são pouco profundas e apresentam
forma e dimensão variadas, sendo geralmente formadas pela coalescência de duas ou
mais dolinas (GUERRA e CUNHA, 1994).
A origem das uvalas está na dissolução superficial e, a principal diferença entre
estas e os poljés, está no fato das uvalas raramente alojarem lagos temporários
(CRISPIM, 1982 apud LOPES e MONTEIRO, 2010). Tratam-se, assim, de formas
intermediárias entre as dolinas e os poljés.
2.2. CARSTE DE LAGOA SANTA E A APA CARSTE DE LAGOA SANTA
O carste de Lagoa Santa é uma região a cerca de 30 km ao norte de Belo
Horizonte (Figura 04) identificada pela ocorrência de um denso conjunto de feições
geomorfológicas tipicamente dissolutivas e por uma hidrografia que pode ser
caracterizada como mista, contendo componentes fluviais (subaéreos) e cársticos
(subterrâneos).
8
A região de Lagoa Santa, localizada nas adjacências da metrópole Belo
Horizonte, é um importante exemplar brasileiro de ambiente cárstico desenvolvido em
rochas carbonáticas. “Em termos de suas características físicas, apresenta uma
geomorfologia cárstica típica e diversificada, com algumas feições especialmente
marcantes: i) grande quantidade de dolinas em variedade de tamanhos, formas e padrões
genéticos, muitas vezes limitadas por paredões calcários lineares; ii) grandes maciços
rochosos aflorantes ou parcialmente encobertos; iii) muitos lagos com diferentes
comportamentos hídricos, associados às dolinas ou em amplas planícies rebaixadas; iv)
uma complexa trama de condutos subterrâneos, comumente conectados com o relevo
superficial e, assim, acessíveis ao homem. Todo esse conjunto de grandes feições
dissolutivas expostas, agregado às pequenas formas que esculpem os afloramentos
rochosos (lapiás) e à vegetação que lhe é peculiar, marca uma paisagem que tem um
mérito cênico e, portanto, turístico” (BERBERT-BORN et al., 1998).
9
Figura 04: Localização do Carste de Lagoa Santa. Fonte: BERBERT-BORN et al., 1998.
10
O Carste de Lagoa Santa também tem um significado especial para a história da
ciência e da cultura brasileira, sendo considerado o berço da paleontologia, arqueologia
e espeleologia por possuir um aglomerado de grutas e abrigo que guardam grande
quantidade de fósseis pleistocênicos.
Outra característica ligada ao Carste de Lagoa Santa é a expressiva ocupação
antrópica a qual implica risco à sua integridade. A região sofre grande expansão
demográfica e representa um pólo industrial e minerário de grande importância
econômica. Essa situação conflitante, com crescente comprometimento da água,
vegetação e relevo foi um fator decisivo para o estabelecimento de uma Unidade de
Conservação com atributo de Área de Proteção Ambiental (APA Carste de Lagoa
Santa).
Tal APA foi criada pelo Governo Federal em 25 de janeiro de 1990, através do
decreto 98.881, editado com base nas leis 6.902 de 27 de abril de 1981, 6.938 de 31 de
agosto de 1981 e na Resolução CONAMA No. 10 de 14 de dezembro de 1988.
Grande parte da área cárstica situa-se no interflúvio do Rio das Velhas (a leste) e
Ribeirão da Mata (a oeste-sudoeste), estando limitada ao sul-sudoeste pela ocorrência
das rochas granito-gnáissicas do embasamento cristalino. Ao norte o limite não está
bem estabelecido, mas o perímetro cárstico pode ser referenciado por aquele que define
os limites da APA (Figura 05). Seus limites englobam os municípios de Vespasiano,
Pedro Leopoldo (Fidalgo – área de estudo), Confins, Lagoa Santa, Matozinhos,
Funilândia e Prudente de Morais.
A APA Cárstica de Lagoa Santa tem como objetivo principal a conservação e a
proteção dos recursos ambientais, além de promover um processo de desenvolvimento
sustentável, viabilizando a conjugação das limitações, potencialidades e fragilidades do
ecossistema cárstico com as necessidades econômicas e sociais dos municípios de
Lagoa Santa, Confins, Pedro Leopoldo, Matozinhos e Funilândia.
11
Figura 05: Mapa de localização do município de Fidalgo dentro da área da APA Carste Lagoa Santa. Fonte: Adaptado de BERBERT-BORN et al., 1998. 2.2.1. Hidrografia
As principais sub-bacias hidrográficas são definidas pelos córregos Samambaia,
Palmeiras-Mocambo, Jaguara e riacho do Gordura (Figura 05), para onde são drenadas
as águas pluviais em grande parte capturadas pelos inúmeros dolinamentos ao longo da
área. Os limites dessas bacias ainda não estão perfeitamente reconhecidos, porque
12
muitas rotas de fluxo subterrâneo ainda são desconhecidas. Todas elas têm descarga
final ou no rio das Velhas a nordeste, ou no ribeirão da Mata a sudoeste, níveis de base
regionais (BERBERT-BORN et al., 1998).
2.2.2. Vegetação
A região de estudo sofreu um processo acelerado de ocupação e exploração do
solo, devido a atividades econômicas intensivas, como siderurgias, minerações,
indústrias de calcário, e ao crescimento urbano, causando impactos negativos sobre o
meio ambiente.
Segundo SHIZATO (1998), o primeiro estudo detalhado da vegetação na área de
Lagoa Santa foi feito pelo botânico dinamarquês Eugênio Warming, que publicou sua
obra em 1908. Nesta, além da vegetação, foram também descritos os solos, o clima e o
uso dos recursos naturais pela população local. O autor define a vegetação corrente
nessa área como composta de matas, formações de brejo, plantas aquáticas, campestres
e os cerrados.
Segundo AB’SABER, 1977 apud SHIZATO, 1998, essa área encontra-se
inserida no “Domínio dos Cerrados” que ocorrem nos chapadões centrais brasileiros,
apresentando uma flora arcaica, composta de cerradões, cerrados, campestres e campos
gerais.
A região da APA Carste de Lagoa Santa está incluída no “cerrado”, que é uma
formação sempre semidecídua. No seu domínio, ocorrem várias fisionomias: cerradão,
cerrado (stricto sensu), campo cerrado, campo sujo de cerrado, campo limpo de cerrado
(savana muito rala, tropical, curtigraminosa estacional com escrube xeromorfo
latifoliado semidecíduo) (FERRI, 1980; CETEC, 1981; EITEN, 1983; BARBOSA,
1984; FERNANDES & BEZERRA, 1990; CETEC, 1992 apud SHIZATO, 1998).
RIZZINI (1979) apud SHIZATO (1998) considera a vegetação sobre
afloramentos de calcário como sendo semelhante à caatinga, enquanto CETEC (1981)
denomina de calcícola esse tipo de vegetação. Observam-se, nessa vegetação, árvores de
porte alto, arbustos e cipós, com destaque para a figueira (Ficus e Moraceae), que cresce
encostada aos blocos de rocha emitindo raízes que se moldam e se prendem à rocha de
calcário. Em 1992, o próprio CETEC classificou essa vegetação como sendo de mata
13
seca, composta de Bombaceae (Chorisia sp – paineira), Anacadiaceae (Astrinium sp. –
gonçalo-alves), Leguminosae (Bauhinia sp. – unha-de-vaca) e epífitas das famílias
Orchidaceae, Bromeliaceae e Cactaceae”.
2.2.3. Clima
Segundo BARBOSA (1984) apud SHIZATO (1998), a precipitação anual da
região cárstica central de Minas Gerais não ultrapassa 1.300 mm, concentrando-se nos
meses de outubro a abril. A temperatura média anual é de 22 °C, nunca sendo inferior a
15 °C no inverno, estando a região situada entre 300 m e 800 m de altitude.
De acordo com os dados hidrológicos da CPRM (apud SHIZATO, 1998), “os
parâmetros médios da área da APA Carste de Lagoa Santa são:
Temperatura média anual = 22,8 °C;
Pressão atmosférica média anual = 929mb ou 92900Pa;
Umidade relativa média anual = 67,8%;
Velocidade média anual do vento = 1,5m/s”.
Conforme a Tabela 01, o regime pluvial da região é caracterizado pela
ocorrência de um período de estiagem que se estende de abril a setembro, com
precipitação média anual com variações em torno de 1.300 mm.
LEOPOLDONO SETE Tabela 01: Totais pluviométricos mensais (mm) na região da APA Carste de Lagoa Santa
(MG). Médias no período 1961-1990. Estação Pedro Leopoldo Vespasiano Sete Lagoas Belo Horizonte Lagoa SantaJaneiro 238,3 257,1 284,8 297,1 278,2
Fevereiro 160,4 153,5 177,1 188,0 174,3 Março 123,2 131,8 136,9 163,0 144,5 Abril 41,9 47,2 52,4 63,6 55,7 Maio 21,7 26,2 25,9 28,5 15,9 Junho 10,6 9,4 10,2 14,1 9,7 Julho 13,3 15,1 14,6 15,1 4,8
Agosto 12,3 12,7 10,7 15,2 5,7 Setembro 33,4 35,4 34,6 40,1 30,0 Outubro 113,5 105,7 114,6 127,1 121,0
Novembro 227,0 220,4 220,4 241,0 203,4 Dezembro 274,5 258,8 267,5 324,1 312,5
Total 1270,1 1273,2 1349,5 1517,5 1359,1 Fonte: CPRM apud SHIZATO, 1998.
14
2.2.4. Contexto Geológico
As feições cársticas estão desenvolvidas em litotipos neoproterozóicos do Grupo
Bambuí, componentes da Formação Sete Lagoas, aflorantes no extremo sudeste da
extensa bacia sedimentar pré-cambiana do Bambuí que integra o Cráton do São
Francisco. (BERBERT-BORN et al., 1998). (Figura 06 A).
A geomorfologia instalada reflete uma estratigrafia que é marcada pela sucessão
de duas unidades carbonáticas composicionalmente diferenciadas (Formação Sete
Lagoas), superpostas por rochas silicicláticas muito finas (Formação Serra de Santa
Helena), estando tal seqüência assentada em discordância sobre rochas do Complexo
Gnáissico-Migmatítico Arqueano (Figura 06 B). As coberturas detrito-lateríticas elúvio-
coluvionares do Cenozóico que ocorrem como superfícies residuais aos estágios de
aplainamento também desempenham papel na estruturação do relevo cárstico aqui
descrito (BERBERT-BORN et al., 1998).
A estratigrafia considerada é aquela definida por SCHOLL (1976) e ampliada
por TULLER et al. (1991) com o reconhecimento de sete fáceis deposicionais
compondo as duas unidades carbonáticas da Formação Sete Lagoas: membros Pedro
Leopoldo e Lagoa Santa.
A sequência carbonática segundo SCHOLL (1976) e TULLER et al. (1991) é
composta, à base (Membro Pedro Leopoldo), por calcários chamados impuros ou
silicosos onde predominam calcissiltitos e calcilutitos finamente laminados com
freqüentes intercalações argilosas terrígenas delgadas. A participação clástica é mais
acentuada especialmente no contato com o embasamento cristalino.
O teor de carbonato de cálcio está sempre abaixo de 90% e pode chegar a 60%”
(CAMPOS, 1994; PILÓ, 1998). Esta unidade pode atingir 80m metros de espessura
(CAMPOS, 1994; TULLER et al., 1991).
Acima dos carbonatos basais ocorre um pacote de calcarenitos muito
homogêneos (Membro Lagoa Santa), com teor de CaCo3 superior a 94%, que pode
alcançar 200 metros de espessura, segundo TULLER et al. Esta é a unidade mais sujeita
à carstificação. O contato entre os dois membros é muito irregular, podendo ter caráter
transicional ou interligado, com intercalações de até 20 metros de espessura entre ambos
15
(CAMPOS, 1994). Os calcissiltitos Pedro Leopoldo podem recorrer sobre os
calcarenitos Lagoa Santa.
A passagem da seqüência carbonática para a pelítica da Formação Serra de Santa
Helena também pode ser transicional, com a participação de camadas margosas
intermediárias a ambas (CAMPOS, 1994), ou em discordância (TULLER et al., 1991).
Figura 06 A: Geologia. Localização do Carste de Lagoa Santa no esboço geológico do Cratón do São
Francisco. Fonte: Simplificado de ALMEIDA & HASUI, 1984, e ALKMIM et al., 1993 apud BERBERT-BORN et
al., 1998.
16
Figura 06 B: Geologia. Mapa litoestrafigráfico da APA Carste de Lagoa Santa. Fonte: VIANA et al, 1998 apud BERBERT-BORN et al., 1998.
As unidades apresentam-se em geral cobertas por sedimentos coluvionares de
espessura variável, que podem alcançar mais de 50 m e até 80 m, conforme identificado
por furos de sondagens (CAMPOS, 1994). As maiores espessuras encontram-se sobre
os calcários silicosos da base da seqüência, muitas vezes formando amplas planícies que
podem ser inundadas sazonalmente.
2.2.5. Geomorfologia
A maior parte do presente estudo encontra-se localizada nos domínios das rochas
carbonáticas e pelíticas do grupo Bambuí. As rochas carbonáticas ocupam a porção
central da área, onde se observa uma morfologia específica dos relevos cársticos. As
rochas pelíticas ocupam as demais regiões, com relevo de colinas predominantemente
convexas. Podem-se encontrar, ainda na região, alguns diques de rochas básicas
recobertas por depósitos coluviais, argilosos, que correspondem às superfícies de
aplainamento, de relevo plano e suave ondulado. Nas linhas de drenagem, encontram-se
17
também sedimentos detríticos aluviais, constituindo os terraços fluviais (SHINZATO,
1998).
O corte topográfico (Figura 07), situado entre o Ribeirão da Mata e o Rio das
Velhas, apresenta quatro compartimentos geomorfológicos distintos, que, do mais
elevado ao mais baixo, apresentam os compartimentos dos desfiladeiros com paredões
acima de 40 m de altura, seguindo por um cinturão de úvulas, passando para o planalto
de dolinas e terminando no poljé do sumidouro. Esses compartimentos configuram o
cenário cárstico de Lagoa Santa, cuja característica principal reside na oscilação sazonal
do nível freático, transformando sumidouros em ressurgências e dolinas, uvulas e poljés
em lagoas temporárias.
Figura 07: Perfil topográfico, geológico e geomorfológico do local de estudo. Fonte: GUERRA, 1998.
As principais características de cada compartimento geomorfológico são:
Desfiladeiros: Essa formação ocorre entre Matozinho e Vespasiano e de acordo
com a CPRM – Serviço Geológico do Brasil (1994), “corresponde
altimetricamente à superfície de aplainamento, que varia de 800 m a 870 m,
apresentando depósitos argilosos de espessura variável”.
Uvulas e Planaltos de Dolinas: Essas formações ocorrem entre Lagoa Santa e
Sete Lagoas. “Constituem-se de pequena depressão dos planaltos envoltos com
depósitos argilosos de pequena espessura que não ultrapassam 3 m” (CPRM,
1994).
Poljés: Ocupam a porção centro-leste da área, incluindo a área de estudo
(Fidalgo e Lagoa do Sumidouro). “São representados por dois domínios
morfológicos: o primeiro, superficial (exocarste), com grandes quantidades de
18
dolinas e vales ruiniformes; o segundo, subterrâneo (endocarste), constituído por
grutas e por um sistema de drenagem alimentado por sumidouros. Apresentam
altitudes e declividades variadas, podendo-se encontrar topos com altitudes
superiores a 800 m e fundo de dolinas a 700 m” (CPRM, 1994).
2.2.6. Zoneamento Ambiental
O zoneamento ambiental da APA Carste de Lagoa Santa tem como objetivo
principal promover um processo de desenvolvimento sustentável, viabilizando a
conjugação das limitações, potencialidades e fragilidades do ecossistema cárstico com
as necessidades econômicas e sociais dos municípios de Lagoa Santa, Confins, Pedro
Leopoldo, Matozinhos e Funilândia.
Constitui-se em um instrumento de apoio e orientação à gestão ambiental, capaz
de fornecer orientações programáticas e respectivas normas gerais para o
disciplinamento do uso dos recursos ambientais e do uso e ocupação do solo no
território da referida APA.
De acordo com o Zoneamento Ambiental da APA Cárstica de Lagoa Seca
realizada pela CPRM, esta é formada por 6 (seis) zonas que estabelecem os usos
permitidos, tolerados e proibidos em cada área. As seis zonas são: Zona de Conservação
de Equilíbrio Ambiental Metropolitano, Zona de Conservação e Desenvolvimento
Urbano e Industrial, Zona de Conservação e Desenvolvimento Agrícola, Zona de
Conservação e do Planalto das Dolinas, Zona de Proteção do Patrimônio Cultural e
Zona de Proteção das Paisagens Naturais do Carste.
O distrito de Fidalgo encontra-se inserido dentro dos limites da Zona de
Proteção do Patrimônio Cultural – ZPPC (Figura 08). Os principais objetivos dessa zona
são: i) proteger e promover o conjunto paisagístico e a cultura regional, representados
pelos sítios arqueo-paleontológicos do Sistema Ambiental do Sumidouro, pelo
patrimônio histórico de Fidalgo e ii) proteger o ecossistema úmido e a biota
remanescente em ambiente lacustre, em especial a avifauna associada à lagoa do
sumidouro.
19
Figura 08: Zonas Ambientais da APA Carste de Lagoa Santa e a localização do distrito de Fidalgo dentro
da Zona de Proteção do Patrimônio Cultural (ZPPC). Fonte: Modificado – Zoneamento Ambiental da APA Carste de Lagoa Santa – CPRM, 1998.
As normas e diretrizes de uso, de acordo com o zoneamento, foram
enquadramentos em uso permitido, tolerado e proibido. Esses enquadramentos
encontram-se apresentados na Tabela 02.
LEGENDA ZCEAM – Zona de Conservação de Equilíbrio Ambiental Metropolitano ZCDUI – Zona de Conservação e Desenvolvimento Urbano e Industrial ZCDA – Zona de Conservação e Desenvolvimento Agrícola ZCPD – Zona de Conservação e do Planalto das Dolinas ZPPC – Zona de Proteção do Patrimônio Cultural ZPPNC – Zona de Proteção das Paisagens Naturais do Carste
20
Tabela 02: Quadro de normas e diretrizes de uso. ZONA DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL – ZPPC
Usos Permitidos Usos Tolerados Usos Proibidos
Reflorestamento com espécies nativas, visando ao adensamento da vegetação e á recomposição florística, principalmente nos entornos das áreas de vegetação natural;
Pesquisa científica; Atividades agro-silvo-pastoris em áreas
cársticas com declividade inferior a 45 % e que utilizem técnicas de manejo compatíveis com os processos naturais dos ecossistemas;
Turismo ecológico dirigido, que utilize
técnicas de acesso com baixo impacto sobre os ambientes a serem preservados;
Pesca artesanal e de subsistência; Condomínios rurais, destinados a sítios de
recreio, com fração mínima de 5.000 m2, sendo 20% da área destinada á reposição vegetal com espécies da flora nativa;
Equipamentos urbanos e infra-estrutura de
visitação destinados a organizar a atividade turísticas e cultural da região.
Extração e beneficiamento irregulares de pedra Lagoa Santa, condicionados á sua regularização e á vinculação dos produtores em programa de extensão ambiental, destinados á redução dos impactos da atividade, melhoria tecnológica e de redução de perdas;
Atividades agro-silvo-pastoris existentes e condicionadas á
redução de desconformidades tais como: utilização de áreas com declividade superior a 45% e com práticas de manejo que causem degradação e poluição do solo e das águas subterrâneas. Vedada a expansão dos cultivos já existentes;
Atividades de extração mineral já existentes e regularmente
aprovadas pelo OAC, com adequados sistemas de tratamento e disposição de efluentes líquidos de resíduos sólidos, as quais promovam a recuperação ambiental das áreas degradadas . Vedada a expansão das lavras já existentes;
Assentamentos urbanos já instalados em áreas inadequadas, desde
que dotados de sistemas de coleta, disposição e tratamento de efluentes sanitários, adequados ás exigências do ambiente cárstico;
Indústrias já existentes, desde que licenciadas pelo órgão
ambiental competente e com adequados sistemas de tratamento e disposição de efluentes líquidos e de resíduos sólidos. Vedada a expansão das áreas industriais.
Atividades de extração mineral que causem quaisquer riscos ao patrimônio ambiental e aos sítios espeleológicos, arqueológicos e paleontológicos;
Criação intensiva de animais; Agricultura com manejo intensivo e
com uso de defensivos e fertilizantes; Parcelamento do solo destinado a
loteamento, com finalidade urbanas e chácaras de recreio;
Implantação e operação de indústrias; Utilização de áreas para disposição e
tratamento de efluentes sanitários, resíduos sólidos domésticos ou industriais, sob quaisquer condições;
Disposição de efluentes ou resíduos
de substâncias químicas, de agrotóxicos ou de fertilizantes.
Fonte: Zoneamento Ambiental da APA Carste de Lagoa Santa – CPRM, 1998.
21
CAPÍTULO 3 - ÁREA DE ESTUDO
A área estudada localiza-se na região sudeste do Brasil, Estado de Minas Gerais,
entre os meridianos 44º30' e 43º30' e os paralelos 19º00' e 20º00'. Fidalgo é distrito de
Pedro Leopoldo/MG e dista cerca de 16 km da sede do município. Possui como limite
as margens do Rio das Velhas, podendo ser alcançado pela MG-424, no sentido Belo
Horizonte – Pedro Leopoldo, ou pela MG-010, no sentido Belo Horizonte – Lagoa
Santa (Figura 09).
A área em questão localiza-se em uma das regiões brasileiras mais importantes
em termos de paisagem cárstica carbonática e da história das ciências naturais do país:
O Carste de Lagoa Santa. Esta região apresenta um denso conjunto de feições
tipicamente dissolutivas em associação a uma hidrografia com componentes fluviais
(subaéreos) e cársticos (subterrâneos), desenvolvidos em calcarenitos puros (CaCO3 >
94%) da formação Sete Lagoas (Grupo Bambuí) cobertos, em sua maior parte, por
formações pedológicas significativas (SOUZA, 1998).
A este ambiente estão associados sítios paleontológicos de grande valor, com
componentes da megafauna pleistocênica extinta e vestígios muito importantes da
ocupação humana pré-histórica no Brasil.
O distrito tem em sua ecomonia o predomínio da pecuária, porém a atividade
que caracteriza Fidalgo é a presença de pequenas serrarias que fazem o beneficiamento
da “Pedra Lagoa Santa”, vinculadas às extrações clandestinas, que absorvem
praticamente mais de 90% da população local.
Todas as serrarias que fazem o beneficiamento da “Pedra Lagoa Santa”
encontram-se localizadas dentro da área urbana do distrito em questão, sendo que
muitas delas encontram-se localizadas nos quintais das residências. Além disso, o
distrito encontra-se às margens da Lagoa do Sumidouro que faz parte do Parque
Estadual do Sumidouro.
A fragilidade ambiental dessa APA, por constituir-se de terrenos cársticos, é
motivo suficiente para chamar a atenção de todos os seguimentos envolvidos direta ou
indiretamente, no sentido de procurar dividir responsabilidade quanto ao seu uso
22
racional, considerando-se ainda os aspectos relevantes inerentes à sua natureza biótica,
cultural-paisagística, bem como suas tendências socioeconômicas.
Figura 09: Localização da área de estudo.
23
CAPÍTULO 4 - MATERIAIS E MÉTODOS
Este capítulo descreve as principais etapas para o desenvolvimento desse
projeto, bem como os materiais utilizados.
Inicialmente fez-se uma revisão bibliográfica relacionada ao tema proposto em
diversas fontes da literatura. Nesta etapa, estudou-se o funcionamento de um sistema
cárstico, bem como suas principais formações, como os poljés, úvulas e dolinas. Além
disso, levantaram-se dados sobre o Carste de Lagoa Santa, como sua hidrografia,
vegetação, clima, geologia e geomorfologia. Também se identificou através do
zoneamento ambiental da APA Carste de Lagoa Santa seus principais usos (permitidos,
tolerados e proibidos), de acordo com a zona em que a área de estudo encontra-se
enquadrada. O levantamento desses dados foi de suma importância, pois deram
embasamento teórico para o desenvolvimento do projeto.
A segunda fase contou com visitas in loco com o intuito de se fazer o
diagnóstico ambiental do meio físico (geomorfologia, hidrografia, bacia hidrográfica e
lagos/lagoas) e levantamento fotográfico. Para isso foram utilizados o GPS - Global
Positioning System (GPS Map 78CSx – Garmim) e máquina fotográfica digital.
Nesta etapa (segunda etapa), também foram identificados os principais impactos
ambientais que atingem o distrito de Fidalgo. Estes impactos foram levantados através
do entendimento do processo de beneficiamento atualmente utilizado pelas serrarias.
Concomitantemente ao diagnóstico ambiental do meio físico realizado in loco,
montou-se um banco de dados georreferenciado. Este banco de dados georreferenciado
auxiliou na obtenção de um diagnóstico ambiental mais conciso.
A confecção desse banco de dados baseou-se em imagens de satélite e em cartas
topográfica e hidrográfica, disponíveis pelo Programa GATE – Informações para
Gestão e Administração Territorial, executado pelo Serviço Geológico do Brasil
(CPRM), através do Projeto de Zoneamento Ambiental da APA Carste de Lagoa Santa
– MG. Estes arquivos foram digitalizados e exportados para o formato shape próprio
para trabalhos com o conjunto de aplicativos de softwares ArcGIS 9.2, licença ArcInfo e
extensão 3D analyst e posteriormente foram feitas correções necessárias para edições
dos respectivos mapas temáticos.
24
Assim, pôde-se estabelecer o limite da sub-bacia hidrográfica, delimitar o
sistema hídrico (rotas dos cursos de água superficial), delimitar a área urbana do
distrito, gerar o Modelo Digital do Terreno (MDT), o Modelo de Elevação do Terreno
(MET) e delimitar as Áreas de Proteção Permanente (APPs) dos cursos d`água e dos
locais com declividade acima de 45°. Todos esses dados foram obtidos através da
topografia local e o uso da extensão extensão 3D analyst contidas no ArcGIS. Além
disso, através das coordenadas marcadas com o GPS, locou-se todas as serrarias que
fazem o beneficiamento da Pedra Lagoa Santa em Fidalgo com o intuito de saber com
extatidão os pontos de origem dos poluentes emitidos pelas mesmas.
Estas estapas foram fundamentais para se obter um diagnóstico ambiental
conciso da área de estudo, identificar os principais impactos que atingem a população
de Fidalgo e consequentemente para a proposição de técnicas e medidas de controle
para a revitalização do Distrito de Fidalgo através de uma análise ambiental.
25
CAPÍTULO 5 - DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO MEIO FÍSICO
A seguir será apresentado o diagnóstico ambiental da área de estudo. Sua
elaboração baseou-se nas revisões bibliográficas, em visitas in loco e no banco de dados
georreferenciado em escala adequada para o tipo de análise.
Através desse estudo, foi possível delimitar a sub-bacia em questão, conhecer os
principais cursos d`água que compõem essa área e sua dinâmica hídrica, entender o
funcionamento e importância da Lagoa do Sumidouro nesse cenário, determinar as
principais feições geomorfológicas através da altitude, além de delimitar as Áreas de
Proteção Permanente (APPs).
5.1. HIDROGRAFIA
Para o entendimento e conhecimento dos principais componentes hídricos locais,
nesse item serão apresentados os limites da sub-bacia hidrográfica da região de estudo,
os principais cursos d`água que compõem esse cenário, bem como a localização das
Áreas de Proteção Permanente (APPs) desses cursos d água.
Também será apresentada a Lagoa do Sumidouro, ponto de base local (menor
cota) para onde convergem as águas superficiais da região da sub-bacia. Essa lagoa,
além de ser o ponto de base local, possui características particulares que fazem dela um
local importantíssimo a ser analisado quando envolve impactos ambientais.
5.1.1. Bacia Hidrográfica
Bacia hidrográfica e sub-bacia de um curso de água é o conjunto de terras que
fazem a drenagem da água das precipitações para esse curso de água e seus efluentes. A
formação da bacia hidrográfica dá-se através dos desníveis dos terrenos que orientam os
cursos da água, sempre das áreas mais altas para as mais baixas. Assim, o conceito de
bacia hidrográfica pode ser entendido através de dois aspectos: rede hidrográfica e
relevo. Em qualquer mapa geográfico as terras podem ser subdivididas nas bacias
hidrográficas dos vários rios.
26
Os conceitos de bacia e sub-bacias se relacionam a ordens hierárquicas dentro de
uma determinada malha hídrica. Cada bacia hidrográfica se interliga com outra de
hierarquia superior, constituindo, em relação à última, uma sub-bacia. Portanto, os
termos bacia e sub-bacias são relativos.
A região de estudo encontra-se inserida na Bacia Hidrográfica do Rio das
Velhas. Assim, para um melhor entendimento da rede hídrica na qual as serrarias
encontram-se inseridas, foram delimitados os limites de sua sub-bacia. Estes limites
foram definidos através do Modelo Digital do Terreno (MDT). O MDT é um modelo
matemático que representa o comportamento de um fenômeno que ocorre em uma
região da superfície terrestre. A utilização do modelo digital possibilita o estudo de um
determinado fenômeno sem a necessidade de se trabalhar diretamente na região
geográfica escolhida.
Para geração do MDT (Figura 10), utilizou-se como base a digitalização da carta
topográfica disponíveis pelo Programa GATE – Informações para Gestão e
Administração Territorial. Estas cartas tiveram como base as folhas SE.23-Z-C-II, Sete
Lagoas; SE.23-Z-C-III, Baldim; SE.23-Z-C-VI, Lagoa Santa e SE.23-Z-C-V, Pedro
Leopoldo, todas do IBGE.
Para a digitalização e a obtenção das feições da superfície foi utilizado as
ferramentas de geoprocessamento disponíveis no conjunto de aplicativos de softwares
ArcGIS 9.2, licença ArcInfo e extensão 3D analyst.
Deve-se esclarecer que, segundo PILÓ (1998), “os limites dessas bacias ainda
não estão perfeitamente reconhecidos, porque muitas rotas de fluxo subterrâneo ainda
são desconhecidas. Todas elas têm descarga final no rio das Velhas, nível de base
regional”.
27
Figura 10: Modelo Digital do Terreno (MDT) e limites da sub-bacia da região de estudo.
Limite da Sub-Bacia Hidrográfica
Área Urbana
Hidrografia
Legenda
28
5.1.2. Drenagem
A hidrografia cárstica local é caracterizada como mista, contendo componentes
fluviais (subaéreos) e cársticos (subterrâneos) para onde são drenadas as águas pluvias
capturadas, em grande parte, pelos inúmeros dolinamentos e poljés distribuídos ao
longo da área.
Através da definição dos limites da sub-bacia em questão, pôde-se estabelecer os
cursos d`água que compõem seu sistema de drenagem subaéreo. Estes cursos d`água
também foram obtidos através de cartas disponíveis pelo IBGE e CPRM. Desta forma,
os principais cursos d`água subaéreos (superficiais) que compõem o sistema de
drenagem da área de estudo são o Córrego Samambaia e o Córrego da Bucha. Esses
correm para no nível mais baixo (cota mais baixa) que é a Lagoa do Sumidouro,
desaguando no Rio das Velhas. A figura 11 mostra a localização exata desses cursos
d`água.
Já os cursos d`água subterrâneos (cársticos), de acordo com SOUZA (1998), são
os predominantes. São drenagens do tipo criptorréica, isto é, quando o rio se infiltra no
solo sem alimentar o lençol freático.
Além disso, de acordo com SOUZA (1998) “Percebe-se na região muitos lagos
com diferentes comportamentos hídricos associados as dolinas ou a amplas planícies
rebaixadas que podem ser alagadas sazonalmente. Além disso, a região cárstica de
Lagoa Santa é uma das poucas regiões do planeta cujo o sistema hidrológico de lagoas é
formado pela conexão de canais subterrâneos naturais de uma lagoa à outra”.
29
Figura 11: Mapa referente à hidrografia subaérea local.
30
5.1.3. Lagoa do Sumidouro
A Lagoa do Sumidouro foi tombada pelo IEPHA/MG em 1977, com registro no
Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, fazendo parte do Parque
Estadual do Sumidouro (Figuras 12 e 13). Esta lagoa está localizada sobre rochas
carbonáticas fazendo parte da Planície do Córrego Samambaia.
A Lagoa do Sumidouro é o maior ambiente lacustre da APA Carste Lagoa Santa
(SOUZA, 1998). Ocupa uma área de aproximadamente 253 ha na época de maior cheia
e apresenta um perímetro de cerca de 12.072 metros, sendo margeada pelo distrito de
Fidalgo. Esta lagoa sofre profundas alterações no volume de água, de acordo com o
índice pluviométrico (SOUZA, 1998). Em períodos de seca, o corpo d'água diminui
consideravelmente e grande parte de sua extensão é invadida por uma vegetação baixa
que é utilizada como pasto pelos animais das propriedades rurais localizadas nas
proximidades. Com o aumento dos índices pluviométricos na estação chuvosa, a lagoa
se restabelece.
A Planície do Córrego Samambaia merece ser destacada nesse domínio, e até
mesmo individualizada, por representar uma importante bacia de descarga de águas
capturadas nos planaltos circundantes, conduzidas à grande depressão da Lagoa do
Sumidouro (Poljé do Sumidouro), já próximo ao nível de base regional representado
pelo Rio das Velhas.
Figura 12: Identificação da Lagoa do Sumidouro inserida no Parque Estadual do Sumidouro.
31
Figura 13: Vista geral da Lagoa do Sumidouro.
A palavra sumidouro, de origem indígena, significa “água que some”, isto
porque esta lagoa é uma planície rebaixada alagada sazonalmente (poljé), sendo que sua
base possui uma cavidade natural (ponor) que permite a passagem de água para o meio
subterrâneo. O córrego flui subterrâneo por mais de cinco quilômetros, até suas águas
ressurgirem à margem direita do Rio das Velhas (SOUZA, 1998).
Através do diagnóstico in loco foram cadastradas 23 serrarias (Figura 14), sendo
que todas se encontram localizadas dentro da área urbana do distrito em questão, muitas
delas localizadas nos quintais das residências. Constatou-se que a maioria das serrarias
não possui sistema de tratamento do efluente líquido, sendo os finos descartados
diretamente no Córrego da Bucha. Assim, através do entendimento da dinâmica hídrica
local, constata-se que os finos dos efluentes líquidos das serrarias atingem a lagoa,
causando o assoreamento da mesma e até mesmo o direcionamento desses finos ao Rio
das Velhas.
Devido às características do relevo e ao sistema hídrico local, rotas de drenagem
subterrâneas são formadas e, por apresentarem um fluxo mais rápido, tais regiões são
mais susceptíveis às alterações ambientais.
32
Figura 14: Locação das serrarias às margens da Lagoa do Sumidouro.
33
5.1.4. Áreas de Proteção Permanente (APPs) - Cursos D`Água e Lagoa do
Sumidouro
De acordo com a Resolução CONAMA/02, que dispõe sobre parâmetros,
definições e limites de Áreas de Preservação Permanente, as áreas de APP dos cursos
d`água são determinadas de acordo com suas larguras. Para os lagos e lagoas naturais,
as APPs são determinadas de acordo com sua localização (urbana ou rural).
Assim, mediu-se as larguras dos cursos d`água de interesse através do uso do
geoprocessamento, utilizando o software ArcGIS 9.2 . Observou-se que todos os cursos
d`água possuem menos de 10 metros.
Desta forma, de acordo com a Resolução supracitada, todos os cursos d`água
com menos de 10 metros de largura e localizados em área urbana, devem possuir uma
Área de Preservação Permanente com largura mínima de trinta metros. Também de
acordo a mesma Resolução, ao redor de lagos e lagoas naturais, é determinada uma
faixa com dimensão mínima de trinta metros, para os que estejam situados em áreas
urbanas consolidadas.
Diante desses dados, delimitaram-se as Áreas de Proteção Permanente dos
cursos d`água e da Lagoa do Sumidouro, como mostrado na Figura 15. Constatou-se
que algumas serrarias encontram-se inseridas em APP dos cursos d`água e que de
acordo com a Resolução CONAMA/02 encontram-se de forma inadequada, pois o uso
de Áreas de Proteção Permanente é proibido, sendo permitido apenas em casos de
utilidade pública.
34
Figura 15: Delimitação das APPs no entorno dos cursos d`água e lagoas para o distrito de Fidalgo.
35
5.1.5. Áreas de Proteção Permanente (APPs) – Áreas com Declividade acima de 45°
O mapa de distribuição de declividade consistiu ferramenta auxiliar na descrição
das feições geomorfológicas, elaborado com o intuito de visualizar as distribuições das
declividades. Além disso, serviu para delimitar declividades em encostas iguais ou
superiores a 45 graus, ou seja, terrenos associados à Área de Proteção Permanente
(APP), em conformidade com a Resolução CONAMA 302/2002.
A distribuição de cada classe de declividade, no âmbito da sub-bacia em pauta,
de acordo com a Figura 16, ocorre da seguinte forma:
As menores declividades (0 – 1 grau) ocorrem na área na Lagoa do Sumidouro e
em algumas partes da área urbana do distrito de Fidalgo;
As declividades entre 1 – 20 graus são entradas na área urbana do distrito em
questão;
As declividades entre 20 – 45 graus ocorrem de forma bem menos expressiva e
encontram-se localizadas ao norte da área urbana e ao sul da Lagoa do
Sumidouro;
Declividade maior que 45 graus foi encontrada em um único ponto isolado. Este
aparece em um ponto ao norte como demonstrado na Figura 17.
Desta forma, em conformidade ao estabelecido na Resolução CONAMA N°
303/2002 em relação às Áreas de Preservação Permanente – APP, as áreas sob
declividades superiores a 45 graus, aqui identificadas, são restritas e não ocorrem dentro
dos limites da área urbana de Fidalgo. Como as serrarias encontram inseridas na área
urbana do distrito, estas também não estão instaladas em Áreas de Proteção Permanente
para declividades acima de 45°.
36
Figura 16: Mapa de declividade da região de estudo.
37
5.2. GEOMORFOLOGIA
Neste item serão apresentados, através do levantamento da altitude, os principais
compartimentos geomorfológicos contidos na área em questão.
5.2.1. Altitudes
A partir das cartas topográficas disponíveis pelo IBGE E CPRM e com o auxílio
das ferramentas de geoprocessamento disponíveis no pacote de softwares ArcGIS 9.2,
licença ArcInfo e extensão 3D analyst, gerou-se o Modelo de Elevação do Terreno
(MET) (Figura 17).
De acordo com o MET gerado, observa-se que a área urbana de Fidalgo possui
altitudes que variam de 660 a 720 m aproximadamente, caracterizadas pela presença de
feições exocarste, com presença de dolinas e poljés (Lagoa do Sumidouro) e feições
endocarste constituídas por grutas e por um sistema de drenagem alimentado por
sumidouros adjacentes aos rios e feições onduladas.
Através desse mapa, é possível reforçar o entendimento da dinâmica hídrica e
confirmar que o nível de base local, como mencionado anteriormente é a Lagoa do
Sumidouro. Ela representa uma importante bacia de descarga de águas capturadas nos
planaltos circundantes.
38
Figura 17: Modelo de Elevação do Terreno (MET) da área de estudo.
39
CAPÍTULO 6 - LAVRA E BENEFICIAMENTO
6.1. ROCHA ORNAMENTAL DA REGIÃO DE LAGOA SANTA
A “Pedra Lagoa Santa” é o nome comercial usado para denominar a rocha
ornamental explotada no distrito de Fidalgo, estado de Minas Gerais. É uma rocha
carbonatada, também conhecida como rocha calcária.
Geologicamente, a “Pedra Lagoa Santa” é considerada como um calcário
foliado, com características dos mármores e propriedades físicas e mecânicas das
ardósias. A composição da rocha é rica em carbonato de cálcio, o que a aproxima dos
mármores. Semelhante à ardósia, a “Pedra Lagoa Santa” apresenta planos preferenciais
de clivagem, com pontos naturais de partição favorecendo o desdobramento da rocha.
Por sua constituição natural, a pedra dispensa o desdobramento em chapas através do
emprego de teares ou talha-blocos. Pela grande incidência de planos regulares das
chapas, dispensa também o polimento de sua superfície, permitindo que o produto seja
empregado naturalmente e com boa aceitação no mercado.
As rochas carbonatadas ou calcárias são rochas constituídas por calcita
(carbonato de cálcio) e/ou dolomita (carbonato de cálcio e magnésio). Podem ainda
conter impurezas como matéria orgânica, silicatos, fosfatos, sulfetos, sulfatos, óxidos e
outros. O termo “calcário” é empregado para caracterizar um grupo de rochas com mais
de 50% de carbonatos (FRAZÃO, 1993).
A “Pedra Lagoa Santa” representa um calcário dolomítico (2,1 a 10,8 % de
MgO). Essas pedras são extraídas em blocos ou placas irregulares, cortadas em formas
variadas e depois têm suas faces beneficiadas através de esquadrejamento.
A “Pedra Lagoa Santa” apresenta seis tipos básicos, que são o cinza-fidalgo,
cinza-riacho, verde-fidalgo, verde-riacho, amarela e mesclada. As variações de cor e de
textura das pedras são substanciais e, além de indicar o local de extração, evidenciam
maior ou menor grau de dureza da pedra, sendo que a rocha de Fidalgo apresenta
superfície mais áspera, é mais compacta, regular e tem menor capacidade de
desdobramento, ou seja, as pedras são mais grossas em relação às demais.
40
Os principais campos de aplicação da “Pedra Lagoa Santa” são as edificações,
destacando-se os revestimentos internos e externos de paredes, pilares, pisos e soleiras.
Também são utilizadas para peças isoladas como tampos de mesa e balcão, bancos,
lápides e arte funerária em geral. Os produtos elaborados têm sido comercializados
predominantemente no mercado interno com destaque para as cidades do interior
paulista, Belo Horizonte e região do vale do aço.
6.1.1. Lavra
A lavra ou explotação mineral é a atividade de retirada das jazidas das rochas
localmente denominadas “lajões”. Os blocos ou “lajões” são então transportados,
através de caminhões convencionais com carrocerias de madeira, até as serrarias para a
etapa de beneficiamento. Todas as lavras são do tipo “lavra a céu aberto”, normalmente
com grande desenvolvimento horizontal e expressão vertical determinada pela espessura
do capeamento (Figuras 18 e 19).
As estruturas do material lavrado, definidas pelos planos de acabamento e
clivagem, são paralelas e horizontais em toda região produtora, formando um piso
regular para as pedreiras, compondo taludes seguros, pouco sujeito a escorregamento,
mesmo a grandes profundidades (Figura 20).
Os acessos são pouco inclinados, dispensando veículos especiais para as
operações de transporte. O desmonte da “Pedra Lagoa Santa” é realizado através do
desplacamento no piso da cava em uma lavra por banco. As placas extraídas têm
dimensões aproximadas de 40x40 cm, denominadas de lajões.
41
Figura 18: Lavra (Rocha Dolomítica).
Figura 19: Lavra (Rocha Dolomítica).
42
Figura 20: Lavra a céu aberto.
Existem duas metodologias para efetuar o corte do bloco; a primeira com
utilização de pólvora seca e a segunda através do uso de serras de disco circular
diamantado. O desplacamento dos lajões é efetuado através de discos diamantados
adaptados a carrinhos de piso (clipper). A liberação dos lajões é feita através de cunhas
e/ou alavancas manuais sendo que após a liberação das placas estas são empilhadas e
estocadas nas proximidades, para posterior carregamento e transporte (Figura 21).
Figura 21: Unidade de extração mostrando uma frente de trabalho em operação.
43
6.1.2. Beneficiamento
A unidades de beneficiamento estão localizadas majoritariamente no interior da
área urbana de Fidalgo. O beneficiamento consiste em serrar os blocos em tamanhos
padronizados e dividir ou desdobrar pedras serradas em espessuras mais finas. Consiste
no esquadrejamento (recorte de peças) da rocha em tamanhos padronizados e requeridos
pelo mercado consumidor, tanto em termos de área (comprimento x largura) quanto de
espessura. Este processo não sofre acabamento na superfície, isto é, não sofre polimento
de sua superfície.
As serrarias apresentam métodos similares de tratamento da rocha, que chega na
forma de placas de tamanho variado e com espessura média de 4,5 cm. Essas placas
passam basicamente pelas seguintes etapas de tratamento:
1° Etapa: As placas são cortadas numa serra elétrica em pequenos blocos
(Figuras 22 e 23), com a mesma espessura e de diferentes tamanhos (15x30, 15x15,
20x10 e 15x10, em centímetros). Quanto maior o bloco ou peça, maior o valor agregado
à peça. Os blocos ou peças pequenos demais são considerados como rejeito e então são
descartados.
44
Figura 22: Unidade de Beneficiamento. Corte da “Pedra de Lagoa Santa” na serraria.
Figura 23: Unidade de Beneficiamento. Corte da “Pedra de Lagoa Santa” na serraria.
2° Etapa: Os blocos aproveitáveis são, então, encaminhados para a fabricação
das lajotas. Com martelo e talhadeira, os blocos são abertos manualmente ( Figura 24)
em várias peças de menor espessura.
3° Etapa: Após o desdobramento da rocha, ela é selecionada de acordo com a
espessura média, aspecto da “face” da rocha, se é lisa ou áspera e pela coloração.
Depois disso, a rocha está pronta para comercialização.
45
Figura 24: Pilhas produzidas pelo desdobramento da “Pedra Lagoa Santa” em uma unidade de
beneficiamento no distrito de Fidalgo.
46
CAPÍTULO 7 - IMPACTOS AMBIENTAIS
Neste item serão descritos os principais impactos ambientais que atingem a
população de Fidalgo. Neste item serão avaliados apenas os impactos oriundos do
beneficiamento da “Pedra Lagoa Santa”, devidos à localização das serrarias na área
urbana do distrito em questão. Os impactos ambientais foram identificados in loco,
através do entendimento de todo o processo de beneficiamento da rocha dolomítica,
atualmente utilizado.
7.1. DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE REJEITO E IMPACTO VISUAL
Normalmente, as serrarias não apresentam uma boa recuperação, pois na fase de
corte da rocha com serra, grande parte do material é rejeitado. No processo de
beneficiamento uma perda de até 30% das pedras é considerada normal pelos
produtores locais. Dessa maneira, na fase de abertura da rocha (desdobramento da rocha
serrada), o trabalhador precisa ter muita habilidade manual para saber exatamente o
ponto de clivagem da rocha e evitar um desperdício maior.
Em Fidalgo, todas as serrarias encontram-se localizadas em área urbana. Através
de visita ao local, observou-se que a deposição do entulho gerado pelo processo de
serragem das rochas é feita em vias públicas (Figuras 25 e 26) sem nenhum
planejamento, produzindo poluição visual e, em alguns casos, comprometendo o
trânsito de pessoas e veículos nas imediações. Além disso, por meio das chuvas os
rejeitos são carreados para as ruas, sujando as vias públicas.
47
Figura 25: Depósito do Rejeito do beneficiamento, sem nenhum planejamento dentro da área urbana.
Figura 26: Depósito do Rejeito do beneficiamento, sem nenhum planejamento dentro da área urbana.
Além da disposição inadequada do resíduo na área urbana de Fidalgo, observou-
se também a disposição desse resíduo na Lagoa do Sumidouro. Esse rejeito foi utilizado
na construção de uma barragem com o intuito de ligar uma extremidade à outra margem
da lagoa (Figura 27). Essa barragem foi construída sem consentimento de órgão
ambiental e de uma forma irregular. Vários são os impactos esperados por essa
disposição, já que a Lagoa do Sumidouro é um local de proteção ambiental, com grande
biodiversidade ambiental. Além disso, essa lagoa, possui ligação direta com o lençol
freático, onde a dispersão dos contaminantes acontece de forma rápida.
48
Figura 27: Localização da barragem na Lagoa do Sumidouro.
49
7.2. Assoreamento da Lagoa do Sumidouro
Outro impacto observado é o assoreamento do poljé do sumidouro (Lagoa do
Sumidouro), que por ser uma feição especial da paisagem cárstica e por possuir um
funcionamento hidrológico particular, merece cuidados especiais. O assoreamento da
lagoa tem por origem os equipamentos utilizados durante o corte da rocha. Essas são
cortadas em forma de blocos por um equipamento de corte com disco diamantado
(Figura 28) refrigerado a água.
O pó fino gerado no corte, misturado à água, forma o efluente, uma polpa que é
lançada, na maioria das vezes sem tratamento prévio no Córrego da Bucha. Como a
Lagoa do Sumidouro, por ser o ponto de base local, recebe água de todos os córregos da
sub-bacia em questão, consequentemente recebe todo o efluente líquido com finos.
Figura 28: Equipamento de corte com disco diamantado utilizado pelas serrarias locais.
Como dito nos itens anteriores, foi construído um barramento dentro da Lagoa
do Sumidouro com o intuito de ligar uma extremidade à outra margem da lagoa. Esse
barramento fez com que a barragem fosse dividida em duas partes. Uma parte parte da
lagoa tem como afluente o Córrego da Bucha, já a outra parte tem como afluente o
Córrego Samambaia (Figura 39).
Segundo observado in loco e através de imagem de satélite, constatou-se que em
ambas as partes da lagoa existem vários pontos que demonstram o assoreamento da
50
mesma (Figura 29). Esse assoreamento é justificável, já que o Córrego da Bucha recebe
todo o efluente líquido das serrarias e o Córrego da Samambaia recebe grande
quantidade de sedimentos advindos de fontes a montante.
De acordo com pesquisa feita in loco, o volume de finos gerado por mês é cerca
de 500 litros (0,5 m3) por cada máquina de serra. Como Fidalgo possui uma capacidade
instalada de 70 serras, o volume de fino estimado pode atingir até 35 m3/mês.
Estimando uma contribuição de finos em um período de 10 anos, temos um volume de
4200 m3 que podem ter atingido a Lagoa do Sumidouro. Para se ter uma dimensão da
quantidade de finos que alcançam a Lagoa do Sumidouro, considerando-se um
caminhão que tem como capacidade de transporte de 12 m3, seria como se fossem
descarregado 350 caminhões com finos de calcário na referida lagoa.
Diante desse dado, fica clara a necessidade de medidas de controle para
contenção de finos com o intuito de evitar o asssoreamento da Lagoa do Sumidouro.
51
Figura 29: Pontos de assoreamento na Lagoa do Sumidouro.
52
7.3. Ruído
Os impactos adversos mais significativos levantados foram a sobrepressão
atmosférica e a vibração do terreno, causando desconforto à comunidade. Os efeitos
ambientais estão associados à fase de corte da rocha e ao “marretamento” da mesma
durante o beneficiamento da rocha pelas serrarias, já que as mesmas encontram-se
inseridas dentro da área urbana de Fidalgo (Figura 30).
Figura 30: Serrarias que fazem o beneficiamento da “Pedra Lagoa Santa” localizadas próximas às
residências.
Com o intuito de desenvolver uma metodologia a ser aplicada para a medição de
ruídos nas serrrarias de Fidalgo, realizou-se medições de ruído em uma serraria de
mármore localizada na cidade de Ouro Preto/MG. A metodologia aplicada foi:
o Medição de níveis de ruído que atigem os trabalhadores (medição interna):
Nesta etapa fez-se o uso de um medidor de nível de pressão sonora, na escala de
ponderação “A” e circuito em resposta lenta (Slow). Como o intuito de medir o nível de
pressão sonora gerado pelos equipamentos no ouvido de um trabalhador (Figura 31),
sem uso de EPI, locou-se o decibelímetro bem próximo ao trabalhador. O valor medido
foi em média de 89,4 dB.
o Medição de níveis de ruído em ambientes externos:
Serraria
Residências
Residências
53
Nesta etapa também fez-se o uso de um medidor de nível de pressão sonora, na
escala de ponderação “A” e circuito em resposta lenta (Slow). Em nível ambiental,
mediu-se o valor de emissão sonora em um ponto externo ao galpão onde estão
localizadas as serras (Figura 31). A média da pressão sonora foi de 71,0 dB. Este dado é
importante para avaliar os níveis de emissão sonora em ambientes externos, isto é, ruído
que afeta as residências.
Figura 31: Croqui com a localização dos pontos de medição de ruído – Serraria localizada em Ouro
Preto/MG.
Definida a metodologia, esta foi aplicada nas serrarias de Fidalgo. Os resultados
das medições foram:
o Medição de níveis de ruído que atigem os trabalhadores (medição interna –
Figura 32):
O valor medido foi em média de 98,7 dB. Sabe-se que o nível de ruído não deve
ultrapassar o estabelecido no quadro de limites de tolerância do anexo 01 da norma
regulamentatória número 15 (NR 15 – Atividades e Operações Insalubres), a qual
depende do tempo de exposição do trabalhador a este agente (Tabela 03).
25 m 30 m
Ponto de
medição interno
Ponto de
medição externa
Serras
LEGENDA
54
Tabela 03: Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente Nível de Ruído dB (A) Máxima Exposição Diária Permissível
85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos
Fonte: Ministério do Trabalho, NR 15 – Anexo 01.
Assim, tomando com base esse valor obtido através dos estudos realizados pelo
CETEM e extrapolando para o local de estudo, tem-se que o nível de ruído emitido
pelas serrarias encontra-se em desacordo com os nível de ruído estabelecido pela NR
15 – Anexo 1, impostos pela legislação para uma jornadas de trabalho de 8 horas. Nesse
nível de ruído (112dB), o trabalho se mostra saudável por apenas 1 horas e 15 minutos
(Tabela 03).
o Medição de níveis de ruído em ambientes externos :
Em nível ambiental, mediu-se o valor de emissão sonora em um ponto a 2,0 m
da empresa (Figura 32). A média da pressão sonora foi de 91,2 dB.
Sabe-se que a Resolução CONAMA 01/1990 define padrões, critérios e
diretrizes para emissão de ruídos em território nacional. Esta resolução estabelece que
os procedimentos devam ser efetuados de acordo com a norma ABNT/NBR
10.151/2000 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas, visando o conforto da
comunidade.
55
Tal norma estabelece que os valores medidos não devam ultrapassar o Nível de
Critério de Avaliação (NCA), de acordo com a Tabela 04, utilizada para ambientes
externos.
Tabela 04: Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos, em dB(A). TIPOS DE ÁREAS DIURNO NOTURNO
Áreas de sítios e fazendas 40 35 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45
Área mista, predominantemente residencial 55 50 Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55
Área mista, com vocação recreacional 65 55 Área predominantemente industrial 70 60
Fonte: ABNT/NBR 10.151/2000.
Considerando o contexto urbano ao qual as serrarias estão inseridas (Área mista,
predominantemente residencial) e aplicando a norma ABNT/NBR 10.151/2000,
verificamos que o nível ruído medido de 91,2 dB, encontra-se acima do limite
estabelecido, que é de 55 dB em turno diurno (Tabela 04).
Assim, diante desses dados, fica clara a necessidade de medidas de controle para
a emissão de ruído, tanto para os trabalhadores quanto para a população que vive ao
redor dessas serrarias.
Figura 32: Croqui com a localização dos pontos de medição de ruído – Serraria em Fidalgo
2 m
Ponto de
medição interno
Ponto de
medição externa
Serras
LEGENDA
56
CAPÍTULO 8 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentadas e analisadas algumas medidas de controle
ambiental para revitalização da área urbana do distrito de Fidalgo. As medidas de
controle ambiental para a revitalização da área urbana de Fidalgo aqui propostas foram
baseadas em dados obtidos através do levantamento bibliográfico, no diagnóstico
ambiental in loco, no banco de dados georreferenciado e no levantamento in loco dos
principais impactos ambientais que afetam a população de Fidalgo pelo beneficiamento
da “Pedra Lagoa Santa”.
Diante dos fatos observados, serão apresentadas algumas alternativas para a
revitalização da área urbana de Fidalgo. A primeira seria o licenciamento e a aplicação
de medidas de controle ambiental em todas as serrarias que fazem o beneficiamento da
“Pedra Lagoa Santa”. Já a segunda seria a retirada destas da área urbana e a criação de
um pequeno distrito industrial. A terceira se comporia de sugestões de medidas para a
revitalização da “Lagoa do Sumidouro”, devido a sua grande importância ambiental
local e regional e por último a apresentação de alternativas para a reutilização dos
resíduos gerados durante o beneficiamento. Por fim, a proposição de alternativas para a
reutilização dos resíduos sólidos.
8.1. LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Inicialmente propõe-se o licenciamento ambiental das serrarias como ponto
primordial para controle de todos os impactos ambientais que atingem o distrito de
Fidalgo. O licenciamento ambiental seria importante porque obrigaria os proprietários a
possuirem em seus empreendimentos medidas de controle ambiental com a finalidade
de atender às normas e padrões de lançamento de efluentes, de descarte de resíduos e de
ruído impostas pelo órgão ambiental.
Observou-se que a grande maioria das serrarias locais não possuem o licença
ambiental de operação. Isso se deve ao fato do alto custo das taxas para a obtenção da
licença ambiental, principalmente comparando com os padrões dos empresários locais e
57
os altos custos cobrados pelos técnicos para a realização dos projetos exigidos durante o
licenciamento.
Assim, sugere-se que a contratação de pessoal técnico poderia se dar por uma
associação das serrarias e consequente registro no Conselho de Engenharia da entidade
formada e do(s) profissional(is) para essa assistência técnica. Essa associação poderia
também fazer gestão junto ao Comitê Regional de Política Ambiental com caráter
educativo e de entendimento da importância de se preservar o ambiente local onde
vivem, principalmente pela região ser de grande relevância ambiental e cultural.
Além disso, como o licenciamento ambiental das serrarias constitui-se um sério
problema, seria necessário a criação de um roteiro contendo todos os procedimentos a
serem adotados para a obtenção da licença ambiental junto ao órgão competente. Para
que esse processo se torne viável, sugere-se que as empresas busquem financiamento
através de instituições de fomento, para elaboração e confecção dos relatórios técnicos
necessários e ajuda para o pagamento das taxas impostas pelo licenciamento,
individualmente ou por meio da associação sugerida.
8.2. MEDIDAS DE CONTROLE AMBIENTAL EM TODAS AS SERRARIAS
O licenciamento ambiental, de todas as serrarias, devido principalmente às
condições financeiras das serrarias, torna-se quase inviável, apesar de ser obrigatório.
Desta forma, são apresentadas algumas medidas de controle ambiental extremamente
necessárias que deverão ser aplicadas em todas as serrarias com o intuito de melhoria na
qualidade de vida, tanto dos funcionários como da população do distrito. Deve-se
esclarecer que através da aplicação das medidas apresentadas, nem todos os problemas
ambientais serão exterminados, porém, os maiores problemas ambientais que afetam a
população de Fidalgo serão consideravelmente reduzidos.
8.2.1. Pressão Sonora
Em relação ao ruído gerado pela empresa aos seus vizinhos, segundo FILHO
(2008), ocorre uma atenuação de 6 dB, à medida que a distância entre a fonte geradora
58
do ruído (98,7 dB) e o ponto de referência (2m) é duplicada. Dessa forma, para que os
níveis de ruído emitido pelas serrarias atendam a legislação (55 dB (A)), sugere-se que
os equipamentos de corte sejam colocados a uma distância superior a 854 m da
residência mais próxima, o que é pouco exequível no momento. Para que esse raio seja
obedecido, todas as serrarias deverão ser retiradas da área urbana (Figura 33).
59
Figura 33: Raio de atuação das emissões sonoras na qual não devem ser inseridas as serrarias.
60
Caso essa alternativa seja inviável, neste tópico serão apresentadas alternativas
que possam minimizar a emissão do ruído que atinge tanto a população como os
trabalhadores. Deve-se esclarecer que este raio de atuação foi calculado para serrarias
que não possuem nenhuma medida de controle para a minimização da pressão sonora.
Quanto aos níveis de ruído que atingem aos trabalhadores, várias são as
alternativas para a adequação da emissão sonora de acordo com a legislação vigente
(NR-15). Inicialmente sugere-se a avaliação da troca de equipamentos antigos por
outros modernos. Uma alternativa seria o uso do “disco diamantado silencioso”,
construído com duas folhas de aço 1070 e uma chapa de cobre entre elas, o qual é
capaz, segundo os fabricantes, de reduzir em cerca de 70% o ruído gerado, permitindo
alcançar os níveis exigidos pela legislação. O custo é, geralmente, cerca de 20% maior
do que o convencional, no entanto pode ser compensado, pelo “repastilhamento” do
disco até duas vezes, a um custo de 70% do disco convencional.
Além disso, é essencial que seja feita regularmente uma manutenção preventiva
(fixação de parafusos, nivelamento em relação ao solo, troca de correias) e até a
manutenção corretiva (troca de rolamentos quebrados), o que contribui em muito para o
elevado ruído dos equipamentos.
Caso as alternativas acima apresentadas sejam aplicadas e mesmo assim não se
consiga atingir a redução do ruído a níveis aceitáveis, deve-se intervir no homem. Esta
intervenção é realizada através da utilização de equipamentos de proteção individual
(EPI), principalmente protetores auriculares de concha e de inserção ou plug. Estes são
indispensáveis para a saúde dos trabalhadores. Protetores auriculares do tipo concha
(Figura 34 ) permitem a redução em média de 21 dB, o que não atenderia de todo modo.
No entanto, quando usado em conjunto com o protetor auricular do tipo plug (Figuras
35 e 36), que permite uma redução de cerca de 19 dB, é possível alcançar o limite de 85
dB, exigido para uma jornada de trabalho de 8 horas.
Figura 34: Protetor auricular tipo concha.
Figura 35: Protetor auricular
tipo plug de espuma descartável.
Figura 36: Protetor auricular
tipo plug reutilizável de silicone.
61
Em uma segunda etapa, a atuação deve focar a transmissão, isto é, alternativas
que possam reduzir a propagação do ruído que atinge a vizinhança. Deve-se avaliar o
ambiente para possibilitar a adequação do piso, parede e teto para subsidiar intervenções
para tratamento acústico e posicionamento dos painéis de controle fora da superfície das
máquinas (SANTOS, 2008 apud LÓPEZ e CARVALHO, 2005).
Neste contexto devem-se utilizar materiais com características desenvolvidas
para esta aplicação, com maior capacidade de absorção e baixa capacidade de
transmissão de ruídos, além de acessórios e outros materiais desenvolvidos para inibir
vibrações. O uso de paredes de concreto, de densidade igual a 100 kg/m², ao redor dos
galpões das serrarias, o que permitiria uma redução de entre 44 e 48 dB do nível de
pressão sonora. Quanto mais denso o material utilizado na construção da parede, mais
espessa ela for e quanto menor a passagem de ruído (brechas, furo, etc.), menor será a
sua transmissão de um ponto a outro (SANTOS, 2008 apud LÓPEZ e CARVALHO,
2005).
8.2.2. Unidade de Tratamento de Efluente
Os equipamentos de corte a serem utilizados deverão levar em consideração a
coleta e o reaproveitamento da água e de rejeitos finos. Nas unidade de tratamento do
efluente, aconselha-se que a condução do efluente não seja feita em canais abertos no
próprio solo, pois este provoca o alagamento do ambiente de trabalho. Também é
aconselhado fazer a proteção ao lado do disco de corte, pois a água, espirrada pelo
movimento circular do disco, alcança não só o trabalhador que está no equipamento,
como aqueles que se encontram próximos.
Para uma correta canalização é necessário haver um muro de alvenaria, do solo
até os trilhos do equipamento, evitando que a água e o resíduo fino sejam espalhados
por todo o galpão.
No interior do espaço limitado pelas muretas, devem ser instalados um ou mais
ralos semi-esféricos, evitando o entupimento dos canos por partículas grosseiras. A
condução do efluente até as unidades de tratamento deve ser realizada por tubos PVC
com uma ligeira inclinação, para evitar a sedimentação de partículas durante o repouso
62
do equipamento, ou canaletas concretadas protegidas por grades e periodicamente
limpas.
O sistema de tratamento deverá ser projetado de acordo com o volume de
efluente gerado, onde o volume total do tanque nunca deverá ser inferior ao volume de
efluente gerado, pois este fator implicaria na diminuição da eficiência do tratamento.
Desta forma, aconselha-se que a Unidade de Tratamento de Efluente (UTE) –
(Figura 37) - seja composta por dois tanques. O efluente do corte dos lajões deverá
receber solução de sulfato de alumínio, imediatamente após as serras, de modo a
flocular as partículas coloidais, sendo o mesmo conduzido até a UTE por meio de
tubulação subterrânea. No primeiro tanque é realizada a sedimentação das partículas de
maior tamanho, sendo o sobrenadante desse primeiro tanque encaminhado para o
segundo tanque para sedimentação das partículas mais finas. O sobrenadante do
segundo tanque deve ser reutilizado no circuito, para refrigerar os discos das serras.
Figura 37: Sistema de Tratamento de Efluente aplicado em uma da serrarias de Santo Antônio de Pádua.
Fonte: CARRISSO, R. C. C.; CARVALHO (CETEM, 2008) 8.2.3. Disposição de Resíduo
Um dos maiores transtornos enfrentados pela população do distrito de Fidalgo é
o descarte inadequado dos resíduos em vias públicas sem nenhum planejamento,
63
produzindo poluição visual e, em alguns casos, comprometendo o trânsito de pessoas e
veículos nas imediações.
Desta forma, caso os empresários optem por permanecer as serrarias na área
urbana de Fidalgo, uma nova área deverá ser requisitada para que os resíduos sejam
descartados de forma correta. Como a rocha calcária é inerte (classe 2B), poderá ser
disposto em solo sem impermeabilização.
Essa área deverá possuir sistema de drenagem de águas pluviais e um programa
de monitoramento ambiental que contempla o acompanhamento geotécnico
(movimentação, recalque e deformação) do maciço de resíduos.
8.3. RETIRADA DAS SERRARIAS DA ÁREA URBANA DO DISTRITO DE
FIDALGO
Alguns problemas ambientais que atingem diretamente a população de Fidalgo,
como nível de ruído acima do permitido pela legislação-serrarias funcionando dentro de
Área de Proteção Permanente (APPs) e disposição inadequada de resíduo em área
urbana-seriam facilmente resolvidos se estas fossem relocadas fora da área urbana e que
estas funcionassem através de uma associação de produtores.
Em 1997, devido a ampliação das atividades (lavra e beneficiamento) na região
de Lagoa Santa, veio a necessidade da criação do APL Lagoa Santa. Esta associação foi
criada como uma tentativa de organização do setor. O objetivo desta associação era
inicialmente reduzir a oferta do produto no mercado e assim forçar o aumento do preço
natural em função da demanda já existente do produto.
Os primeiros meses de funcionamento da associação trouxeram bons resultados
para a região. A maioria dos pequenos produtores, acostumados a enfrentar dificuldades
financeiras para a aquisição da rocha bruta e de outros insumos de produção e ainda,
habituados a vender diretamente aos depósitos de forma inconstante e com recebimento
a prazo, passaram a produzir, fazer o lançamento semanal da produção obtida e a
receber a vista pelo produto que ainda seria retirado de sua empresa pela associação.
Todavia, alguns não souberam administrar adequadamente o capital recebido
antecipadamente e começaram a ter problemas financeiros mais sérios, pois gastavam o
recurso e não faziam provisões para pagamentos de salários e outras despesas. Como a
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remuneração da produção era feita à vista, alguns empresários começaram a produzir
além do estipulado, imaginando receber mais. Porém, a associação mantece-se fiel às
cotas estabelecidas por produtor, e nestas circunstâncias, começou a ocorrer uma sobra
de produção, que passou a ser vendida pelos próprios associados aos clientes diretos,
por preço um pouco mais baixo e criando um canal alternativo para a aquisição da
pedra, fora do sistema estipulado pela associação.
Segundo o empresário Sr. José Celso de Castro Machado responsável pela
criação da Associação de Produtores da “Pedra Lagoa Santa” o fracasso da associação
esteve relacionado à cultura das pessoas. Em sua percepção, a falta de entendimento do
projeto, aliada à ganância de alguns e às necessidades financeiras emergenciais de
outros, fizeram com que práticas como desvio de recursos, lançamentos indevidos de
produção e vendas de estoque já reservado à associação pelos próprios produtores, se
tornassem frequentes e inviabilizassem a continuidade da associação.
Assim, com base no conhecimento e aprendizagem advindo do APL Lagoa
Santa, propõe-se a criação de uma nova Associação de Produtores da Pedra Lagoa
Santa. Porém, para que esta obtenha sucesso, erros cometidos na antiga associação
deverão ser evitados. Para que a nova associação seja viável, lucrativa e que os erros
cometidos anteriormente não recorram, será necessário que antes de sua criação haja um
investimento na formação cultural dos produtores da “Pedra Lagoa Santa”.
8.3.1. Área para a Inserção do Distrito Industrial da “Pedra Lagoa Santa”
Propõe-se que essa associação funcione em um local fora da área urbana que
possa abrigar todas as serrarias e que estas recebam medidas de controle ambiental para
que os impactos produzidos pelas mesmas sejam minimizados.
Sabe-se que a antiga associação, com o intuito de ordenar as serrarias e reduzir
os problemas ligados ao depósito de rejeitos nos fundos das serrarias ou nas ruas de
Fidalgo e acabar com os transtornos sonoros sofrido pela população, adquiriu em
parceria com a Prefeitura de Pedro Leopoldo, um terreno (Figura 38) com extensão de
100.000 m2, onde seria construído o distrito industrial da “Pedra Lagoa Santa”. Com a
extinção da associação, todavia, o terreno permanece intocado, em poder da Prefeitura e
sem cumprir seu objetivo original.
65
Para que essa associação se torne realidade, sugere-se que a Prefeitura de
Fidalgo avalie o mais rápido possível a possibilidade da utilização dessa área, onde
todos os associados seriam acomodados, recebendo áreas iguais, com infra-estrutura de
carga e descarga, coleta e disposição de rejeito de forma adequada, sistema de
tratamento de efluente líquido, refeitório e posto médico. Além disso, com a mudança
das serrarias para essa área, os transtornos sonoros sofridos pela população seriam
resolvidos.
Sugere-se ainda a adequação do terreno para a ocupação tanto das serrarias
quanto para a área de descarte de resíduo. Além disso, a utilização de uma cortina
vegetal para a minimização dos impactos visuais, do ruído e da poeira.
66
Figura 38: Localização da área para a instalação das serrarias. Área adquirida pela antiga APL em parceria com a Prefeitura de Pedro Leopoldo.
67
8.3.2. Serraria Modelo
Esta proposta tem como foco principal a descrição de medidas básicas de
controle ambiental que as serrarias de beneficiamento do distrito de Fidalgo deverão
possuir para que sejam capazes de atender às normas ambientais estaduais (MG) e
federais, além de proporcionar melhores condições ergonômicas e ocupacionais aos
trabalhadores e a população do distrito. Além disso, esse modelo deverá atender os
enquadramentos exigidos pele zoneamento ambiental da APA Carste de Lagoa Santa.
Neste contexto, neste item será apresentado um modelo de serraria que poderá
ser estendido a todas as outras. Este modelo conta sistemas de controle ambiental para a
emissão de ruído, tratamento do efluente líquido e descarte dos resíduos.
8.3.2.1. Organização da Serraria Modelo
A Serraria Modelo foi desenvolvida de modo a auxiliar os empresários da região
de Fidalgo na elaboração de um lay-out onde é possível atender todas as normas
ambientais vigentes no Estado do Minas Gerais, além de gerar melhores condições de
trabalho para os operários e um maior rendimento em suas operações a partir de uma
empresa mais bem organizada. Desta forma, serão apresentadas, além das medidas de
controle ambiental, algumas recomendações importantes.
O modelo de serraria proposto contará com um escritório, banheiro, área coberta
para o corte e marretamento da “Pedra Lagoa Santa” e área para locar o sistema de
tratamento de efluente líquido.
O piso do galpão pode ser feito com os rejeitos das serrarias ou borracha. Devem
ser evitados pisos muitos lisos, escorregadios ou muito irregulares, de modo a reduzir os
riscos de resvalos e tropeções.
Para o desplacamento, recomeda-se que o trabalho seja realizado em mesas
levando-se em conta a posição corporal do trabalhador. Além disso, recomenda-se o uso
de luvas de material emborrachado, pois a borracha é um material de baixa
condutividade térmica, amortecedor de impactos, e de grande coeficiente de atrito,
transmitindo segurança no ato do corte. Esta também reduz riscos de o trabalhador
martelar a próprias mãos.
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Por fim, procurando proporcionar menor trânsito de caminhões na empresa, a
entrada para o caminhão deverá ser escolhida de modo que o mesmo se locomova para
um dos lados do tanque (rejeitos finos) e que, ao mesmo tempo, dê as costas para a
caçamba com os rejeitos, e se posicione ao lado do deposito dos blocos a serem
comercializados. Com a mesma finalidade, recomenda-se o uso de carrinhos para o
deslocamento dos blocos de pedra das áreas de operação de corte para as áreas de
depósito dos mesmos.
Tais medidas parecem não agregar custos, mas colaboração para maior
segurança, ergonomia e saúde, ao mesmo tempo que facilitarão a organização para se
obter mais receitas.
8.3.2.2. Medidas de Controle Necessárias
Ruído
A serraria modelo proposta, contará com medidas de controle de ruídos que
façam com que o estabelecimento esteja dentro dos limites de emissão impostos pela
NR-15. Como as serrarias estarão localizadas em uma área sem vizinhança, este modelo
preverá apenas as emissões sonoras que afetam ao trabalhador.
Sabe-se que uma serraria emite aproximadamente 120 dB. De acordo com a NR-
15, para uma jornada de trabalho de 8h, o nível de ruído permitido é de 85 dB. De
acordo com LÓPEZ e CARVALHO (2005), o uso de paredes de concreto, de densidade
igual a 100 kg/m², ao redor do galpão da serraria, permitiria uma redução de entre 44 e
48 dB do nível de pressão sonora, o que faria com que atendesse a NR-15.
Quanto mais denso o material utilizado na construção da parede, mais espessa
ela for e quanto menor a passagem de ruído (brechas, furo, etc.), menor será a sua
transmissão de um ponto a outro. O uso de paredes duplas permite uma redução do
mesmo nível ou ainda maior, no entanto o efeito é suscetível de ser nulo, se as duas
paredes forem ligadas por um suporte rígido, funcionando como uma ponte acústica. A
colocação, conjunta, de placas de material absorvente no teto das instalações (Figura
39) é importante para reduzir a reverberação de som dentro do galpão.
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Figura 39: Efeito do material absorvente sobre o ambiente de trabalho Fonte: LÓPEZ, A. C & CARVALHO, E. A, (2005).
Além disso, sugere-se o uso de equipamentos de segurança, como citado no item
8.2.1. O uso de protetores auriculares tipo plug ou do tipo concha, permite uma
atenuação do ruído para que o operador trabalhe 8 horas diárias, saudavelmente.
Estação de Tratamento de Efluente
A estação de tratamento de efluente será basicamente a proposta no item 8.2.2.
Deve-se contratar um engenheiro para que possa fazer um projeto adequado à realidade
local.
Área para Descarte de Resíduo Sólido
Caso os empresários optem por permanecer as serrarias na área urbana de
Fidalgo, uma nova área deverá ser requisitada para que os resíduos sejam descartados
de forma correta.
8.4. REVITALIZAÇÃO DA LAGOA DO SUMIDOURO
O presente estudo teve como intuito a avaliação econômica da retirada do
resíduo da “Pedra Lagoa Santa” utilizada na construção do barragem contida na Lagoa
do Sumidouro. Para isso, inicialmente fez-se a cubagem do material com o intuito de
quantificar o volume de rejeito utilizado em sua construção.
A cubagem é definida como a avaliação do volume de um corpo em unidades
cúbicas, o que no caso, seria conhecer o volume de material contido na barragem (via de
acesso). Para isso, foi realizado in loco um levantamento topográfico através de um
70
teodolito eletrônico, no caso, uma Estação Total. Os dados coletados foram processados
no software Auto Cad 3D, onde foi obtido o volume de material contido na barragem
(5.847 m3) e as figuras representativas (Figuras 40 e 41).
Figura 40: Reconstituição da barragem de resíduo em três dimensões obtida através do programa AutoCad.
Figura 41: Vista de parte da Lagoa do Sumidouro com a barragem de acesso construída.
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O material contido na “barragem” é composto de uma mistura de solo e calcário
desmontado. Desta forma, procedeu-se ao cálculo dos volumes de materiais contidos na
mesma, considerando as características físicas dos materiais segundo a Tabela 05.
Tabela 05: Características físicas dos materiais utilizados na construção da via de acesso dentro da Lagoa do Sumidouro.
Material Densidade (kg/m3) Empolamento (%) Solo Comum Seco 1,55 25
Solo Comum Molhado 2,00 25 Calcáreo 2,62 67
Fonte: REIS (1980)
Portanto, o empolamento estará entre 25 a 67 % dependendo da quantidade
relativa de cada material. Como a maior parte do material é calcário, o empolamento
médio seria de aproximadamente 36 %, porém, como o calcáreo utilizado já foi
desmontado anteriormente considerou o empolamento médio de 30 %.
Desta forma, considerando-se o empolamento médio do material, temos que o
volume utilizado na construção da “barragem” foi de aproximadamente 7601,1 m3.
Considerando que a caçamba de um caminhão truck comporta um volume de 12 m3
seriam necessárias 634 viagens.
Levando-se em conta a distância entre a área para descarte do resíduo e a Lagoa
do Sumidouro de 3 km e o número de viagens necessárias (644 viagens), tem-se uma
distância a ser percorrida de aproximadamente 2536 km. Desta forma, conclui-se que a
retirada desse material pode ser viabilizada sem grandes dificuldades e sem custos
exorbitantes.
Sabe-se que não é apenas o fator econômico que deve ser levado em conta na
hora da tomada de decisão em retirar o material da Lagoa do Sumidouro. Um fator
importantíssimo são as questões ambientais, já que muitos foram os impactos já sofridos
com o barramento da “Lagoa do Sumidouro”. Assim, antes da retirada do material
alguns aspectos deverão ser levados em conta para que os impactos não sejam maiores.
Como dito nos itens anteriores, foi construído um barramento dentro da Lagoa
do Sumidouro com o intuito de ligar uma extremidade à outra margem da lagoa. Esse
barramento fez com que a barragem fosse dividida em duas partes. Uma parte parte da
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lagoa tem como afluente o Córrego da Bucha e recebe os finos das serrarias, já a outra
parte tem como afluente o Córrego Samambaia e recebe os finos de origem a montante.
Desta forma, recomenda-se o diagnóstico ambiental do problema e avaliação das
possíveis fontes relacionadas. Deve-se atentar que o barramento atua como um
contentor de sedimentos. Diante disso, alguns estudos de avaliação ambiental deverão
ser feitos para que se possa avaliar com segurança sua retirada.
Para essa avaliação ambiental deve-se realizar, por um ano hidrológico, o
monitoramento dos parâmetros de turbidez, sólidos em suspensão, oxigênio dissolvido
(OD), demanda bioquiímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO),
temperatura, pH, dentre outros. A partir destes resultados será possível identificar
indícios de eutrofização e subsidiar a decisão quanto à viabilidade ambiental da retirada
ou não da barragem.
73
8.5. REAPROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
Normalmente as serrarias não apresentam uma boa recuperação, pois na etapa de
corte da rocha com serra, grande parte do material é rejeitado. Uma maneira de diminuir
essa perda seria que fossem selecionados trabalhadores com boa habilidade manual para
saber exatamente o ponto de clivagem da rocha. Porém, mesmo que isso ocorra, a
geração de resíduo ainda será grande.
Desta forma, sugere-se a reutilização como agregado na geração de outro
produto. Abaixo serão listadas alguns estudos e alternativas que demonstram a
capacidade da reutilização desse material.
Agregado na fabricação de Cimento e Tijolo
É sabido que na região existem várias empresas cimenteiras. Uma alternativa
seria a parceria entre as serrarias e as cimenteiras locais, onde parte dos resíduos
pudessem ser aproveitados como carga neutra no processo produtivo. Para que esse
resíduo seja agregado ao processo produtivo da melhor forma, obtendo sua máxima
reutilização, trazendo benefícios para ambas as partes, seria essencial uma união com
universidades e instituições de pesquisa para que possa ser realizado testes através de
plantas-pilotos.
Outra alternativa, seria a agregação desses resíduos na produção de tijolo, que de
acordo com os estudos já desenvolvidos pelo INT (Instituto Nacional de Tecnologia),
indicam que este poderia ser misturado à argila na produção de tijolos. Diante disso,
parcerias com olarias locais deveriam ser incentivadas.
Produção de filetes
Outra alternativa, seria o desenvolvimento de novos produtos a partir dos
resíduos que possam ser utilizados para a produção de filetes, como é feito na “Pedra
São Tomé” ou mesmo como emprego de técnicas de escovamento da superfície da
rocha com material abrasivo, que confere ao produto final uma aparência envelhecida.
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Misturas asfálticas
O rejeito com origem da serragem (rejeito na forma de lama, constituído de água
e fino de rocha moída), à medida que perde a umidade, se espalha, contaminando o ar e
os recursos hídricos, sendo alguns casos canalizada diretamente para os rios. Tal
procedimento tem trazido sérios problemas às indústrias de rochas ornamentais com
prejuízos ao meio ambiente.
Algumas características desse rejeito vislumbram potencialidades a sua
utilização como material de enchimento em concretos asfálticos, como demonstrado no
artigo desenvolvido por SOUZA, et al (s.d.). O trabalho relata um estudo sobre a
utilização do rejeito com origem da serragem da rocha, nos concretos asfálticos, como
enchimento (filer), em substituição aos produtos convencionais do tipo cimento
Portland, cal, como formas de aproveitamento deste tipo de rejeito industrial e a redução
do custo final dos concretos asfálticos.
De acordo com os testes realizados a massa específica aparente da mistura
asfáltica com filer mais resíduo apresentou valores próximos aos observados ou obtidos
com a mistura asfáltica composta com o filer mais Cal. Além disso, a mistura asfáltica
composta com o filer mais resíduo apresentou valores de estabilidade compatíveis com
os valores estimados para mistura asfáltica com o filer mais Cal. Outro resultado foi que
a utilização do resíduo, proveniente da serragem de rocha calcária nas misturas
asfálticas em substituição aos produtos convencionais na proporção de 6% de material,
satisfaz os métodos de misturas asfálticas, preconizados pelo DNER, para um teor de
5,5% de cimento asfáltico.
Como demonstrado, várias são as alternativas para a reutilização dos resíduos.
Diante dessas possibilidades, os empresários deverão buscar parcerias com empresas
que possam agregar esse material em sua produção e/ou escolas, órgãos que possam
estudar esse ano. Os benefícios serão enormes, para ambas as partes, as serrarias
reduzem o acúmulo de resíduos em suas áreas, diminuindo o impacto visual e as
empresas ganham um novo agregado na sua produção, diminuindo o custo do futuro
produto.
75
CAPÍTULO 9 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS
FUTURAS
9. 1. CONCLUSÕES
O geoprocessamento mostrou ser muito útil como ferramenta auxílio nas análise
dos impactos ambientais gerados pelas serrarias inseridas no distrito de Fidalgo/MG. A
capacidade dos Sistemas de Informações Geográficas de integração de dados faz com
que ocorra uma maior compreensão dos componentes do meio físico local, fornecendo
dados no espaço tridimensional, de fácil análise, podendo ser atualizados e trabalhados
junto às informações de diferentes fontes.
Além disso, forneceu subsídio para o entendimento da dinâmica e dispersão de
impactos, como: concluir que todo o sedimento dos efluentes líquidos gerados pelas
serrarias atinge a Lagoa do Sumidouro; diagnósticar que algumas serrarias encontram-
se inseridas em áreas de Áreas de Proteção Permanente (APPs); delimitar o raio de
atuação das emissões sonoras e assim definir áreas as quais não devem ser inseridas as
serrarias; obter uma dimensão real da locação das serrarias e das áreas onde estão
depositados os entulhos gerados durante o corte e propor novas áreas para a locação
das serrarias relacionando estas áreas com a hidrografia local, proximidade à área
urbana e as emissões sonoras.
Esses dados foram importantes para o entendimento da organização racional dos
espaços e desta forma propor soluções para a minimização dos impactos .
Através dos resultados obtidos, fica claro que o beneficiamento da “Pedra Lagoa
Santa”, no distrito de Fidalgo, é desenvolvido fora dos parâmetros técnicos, ambientais
e legais. Para o aproveitamento econômico desse bem mineral dentro dos critérios de
desenvolvimento sustentável é necessária a inclusão de medidas de controle ambiental
para que os impactos que afetam ao distrito possam ser minimizados.
Diante das alternativas propostas para a revitalização da área urbana do distrito,
conclui-se que a melhor alternativa seria a retirada das serrarias da área urbana e a
criação de um APL (Arranjo Produtivo Local); porém para que esse obtenha sucesso,
76
seria necessária uma mudança na mentalidade e cultura dos empresários do setor, de
esforços com entidades e treinamento dos operários.
A capacidade limitada da maioria dos empresários em administrar o
empreendimento, é o maior problema enfrentado pela atividade. As serrarias mal
conseguem arcar com os custos normais de produção e dessa forma, deixam a desejar
com as questões ambientais. Considera-se que os custos para reabilitação e/ou
reorganização da área urbana de Fidalgo seja significativamente alto para os padrões
dos empresários locais. Assim, fica clara a necessidade de busca de fontes externas de
financiamento e a adoção de práticas associativas entre as empresas, inclusive para
agregar o conhecimento de um profissional técnico em mineração
Além disso, seria interessante uma parceria entre os empresários locais, órgão
ambiental e Ministério Público em que as empresas que fazem os beneficiamento se
comprometeriam a aplicar medidas mitigadoras em seus empreendimentos e em troca
receberiam isenção dos custos de licenciamento e agilização do processo.
Desta forma, a rápida conscientização da importância da aplicação das medidas
para a revitalização da área urbana é de extrema importância, porque os impactos
atingem não só à população do distrito, mas também uma das áreas cársticas mais
importantes do mundo, o Carste de Lagoa Santa.
9.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
Sugere-se para trabalhos futuros um projeto detalhado para o modelo de serraria
proposto, levando-se em conta o local já adquirido. Esse projeto deverá conter o projeto
técnico incluindo o sistema de tratamento de efluente adequado a atender a capacidade
instalada das serrarias neste local, escolha do local para disposição dos resíduos sólidos
e que contempla a integração paisagística com a área de entorno.
Também se sugere que sejam realizados estudos ambientais que dêem suporte
para a tomada de decisão sobre a retirada da barragem contida na Lagoa do Sumidouro.
77
CAPÍTULO 10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, M. L. M. A Influência do Aquífero Carste em Almirante Tamandaré.
Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFPR. Volume 1,
N°1, p. 20-37. Curitiba, jul./dez. 2006.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151: Avaliação de
Ruído em Áreas Habitadas. Rio de Janeiro, 2000.
BARBOSA, M. C. R. Avaliação Sistêmica de Tecnologias Aplicáveis ao APL Lagoa
Santa. 130p. Tese de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral da
Universidade Federal de Ouro Preto, UFOP, Escola de Minas, 2008.
BERBERT-BORN, M.; HORTA, L. S.; DUTRA, G. M. Sítios geológicos e
paleontológicos do Brasil. Cap. 15: Carste de Lagoa Santa – MG. Berço da
paleontologia e a espeleologia brasileira. p. 416 – 430. 1998.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução N° 001, de
08 de março de 1990. Dispõe sobre a poluição sonora. Brasília, DF.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Nº 02, de 18
de abril de 1996. Brasília, DF.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução n° 10, de 14
de dezembro de 1988. Dispõe sobre a regulamentação das APAs. Brasília, DF.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução N° 302, de
20 de março de 2002. Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de
Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno.
Brasília, DF.
78
BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Resolução N° 303, de
20 de março de 2002. Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de
Preservação Permanente. Brasília, DF.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução n° 369, de 28
de março de 2006. Dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse
social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de
vegetação em Área de Preservação Permanente-APP. Brasília, DF.
BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1078. NR 15 –
Anexos 1 e 2: Limites de nível de ruído nos ambientes de trabalho, exceto aqueles a que
se refere a Portaria n° 3751, de 23 de novembro de 1990 - NR 17. Brasília, 1978.
CAMPOS, A.B. Relações entre as características faciológicas e estruturais das
unidades do Grupo Bambuí e a morfologia cárstica na região de Lagoa Santa –
Pedro Leopoldo (Minas Gerais). UFMG/FAPEMIG, 21P. – Relatório final de
pesquisa – aperfeiçoamento. Programa de Pesquisa “Estudos ambientais e proposta de
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