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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DE LEAN HEALTHCARE EM UM LABORATÓRIO DE HOSPITAL PÚBLICO Renata Guimarães Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira LORENA 2014 RENATA GUIMARÃES

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DE LEAN HEALTHCARE EM

UM LABORATÓRIO DE HOSPITAL PÚBLICO

Renata Guimarães

Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira

LORENA

2014

RENATA GUIMARÃES

PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DE LEAN HEALTHCARE EM

UM LABORATÓRIO DE HOSPITAL PÚBLICO

Projeto de monografia apresentado à

Escola de Engenharia de Lorena –

Universidade de São Paulo como

requisito parcial para obtenção de título

de Engenheira Química.

Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Pereira

LORENA

2014

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

Serviço de Biblioteca

Escola de Engenharia de Lorena

Renata Guimarães Proposta de implementação de Lean Healthcare em um laboratório de hospital público/ Renata Guimarães; Orientador Marco Antônio Carvalho Pereira.—Lorena, 2014. 93 p. Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação do

Curso de Engenharia Química - Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de

São Paulo.

1. Lean Healthcare 2. Lean . I Título. II Pereira, Marco Antônio Carvalho

Aos meus pais Maria Nilce e Ary, pelo apoio, dedicação e

exemplo desde os primeiros passos até hoje.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me proporcionar todas as ferramentas e oportunidades para

tudo na minha vida, inclusive este trabalho.

À minha mãe Maria Nilce, que desde sempre me aconselhou e protegeu,

ajudando sempre que possível, e que ainda guia meus passos de onde quer que

esteja.

Ao meu pai Ary, que sempre foi um exemplo de profissional e modelo de

ser humano, me ensinando o caminho da honestidade e do valor do trabalho e do

conhecimento.

Ao Gabriel, que me apoiou, teve paciência e me acalmou nos momentos

mais difíceis durante todo esse trabalho e boa parte da minha vida pessoal e

profissional.

A todos os meus amigos, em especial Bruna e Guilherme, que durante os

piores momentos estiveram ao meu lado encorajando e dando o suporte que eu

precisava.

Ao Prof. Dr. Marco Antonio, por ser um orientador presente e

comprometido com o sucesso deste trabalho e que teve grande influência na

escolha do tema deste projeto.

Ao Prof. Dr. Messias, ao Dr. Sawhney, a Gagan e a Eric John, que

participaram ativamente para a realização dessa pesquisa.

A todos os funcionários e colaboradores dos hospitais, principalmente os

que trabalham nos laboratórios, por me ajudarem a desempenhar e que aceitaram

as sugestões.

“Nada substitui o conhecimento.” Edwards Deming.

RESUMO

GUIMARÃES, R. Proposta de implementação de Lean Healthcare em um

laboratório de hospital público. 2014. 93 f. Projeto de monografia (Trabalho de

conclusão de curso) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena, 2014.

Este projeto de monografia tem como objetivo principal propor a implementação

de Lean Healthcare para aumentar a produtividade de um hospital público

brasileiro. O pensamento enxuto já faz parte do vocabulário industrial desde a

década de 50. Entretanto, esses conceitos começaram a ser aplicados na área da

saúde só por volta do ano de 2002. Com isso, poucos hospitais brasileiros

utilizam esses conceitos nas suas atividades diárias. Alguns trabalhos já foram

realizados nesse contexto e apresentaram grande eficiência na melhoria de

qualidade e produtividade dessas instituições. Esses trabalhos são justificados,

uma vez que o sistema de saúde é complexo e possui diversos problemas com

estoque, filas de espera e retrabalho, dentre outros. Foi utilizado como base para

esse trabalho um projeto desenvolvido durante um curso de Lean Manufacturing

realizado nos EUA, proposto a um laboratório de análises clínicas. Através de

conceitos como: 5S, Kanban, modificações no layout e estudos de estoque, as

propostas feitas nesse trabalho de conclusão de curso proporcionarão uma

melhora nas atividades dentro de um laboratório análises clínicas de um hospital

brasileiro, promovendo a qualidade de vida de funcionários e pacientes, além da

eficiência e qualidade técnica do processo.

Palavras-chaves: Lean, Hospital, Lean Healthcare.

ABSTRACT

GUIMARÃES, R. Implementation proposal of Lean Healthcare in a public

hospital laboratory. 2014. 93 f. Final Paper – Engineering School of Lorena,

University of São Paulo, Lorena, 2014.

This thesis project aims to propose the implementation of Lean Healthcare to

increase the productivity of a brazilian public hospital. Lean thinking is already part

of the industrial vocabulary since the 50s. Nevertheless, these concepts began to

be applied in hospitals only around the year 2002. Consequently, few brazilian

hospitals use these concepts in their current activities. Some thesis has been

performed in this context and showed great efficiency in improving quality and

productivity of these institutions. These jobs are justified, since the health system

is complex and has many problems with stock, queues, rework, among others. A

project developed during a course of Lean Manufacturing performed in the USA,

apply in an American laboratory was used as the basis for this work. Through

concepts such as 5S, Kanban, changes in layout and inventory studies, proposals

made in this final paper will provide an improvement in activities within a clinical

analysis laboratory of a hospital in Brazil, promoting the quality of life of employees

and patients and technical efficiency and process quality.

Key words: Lean, Hospital, Lean Healthcare.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Exemplo explicativo da ferramenta A3 (adaptado de LEAN

ENTERPRISE INSTITUTE, 2014). ........................................................................ 27

Figura 2. Esquema do modelo DRIVES. ............................................................... 30

Figura 3. Custo total de estoque (adaptado de NAHMIAS, 2009). ........................ 33

Figura 4. Evolução da Filosofia Lean (adaptado de BERTANI, 2012). ................. 38

Figura 5. Layout do laboratório do Hospital americano. ........................................ 47

Figura 6. Prateleiras existente no laboratório . ...................................................... 48

Figura 7. Análise em folha A3. .............................................................................. 49

Figura 8. Gráfico da análise ABC para o hospital estadunidense. ........................ 51

Figura 9. Desenho esquematizado da sugestão do layout das estantes. ............. 53

Figura 10. Flow Racks propostos e suas dimensões em polegadas. .................... 54

Figura 11. Exemplo de cartão Kanban utilizado em outras áreas do hospital

estadunidense. ...................................................................................................... 55

Figura 12. Sistema de código de barras. .............................................................. 56

Figura 13. Exemplo de Quadro 5S ........................................................................ 57

Figura 14. Cartão red tag. ..................................................................................... 58

Figura 15. Cartão de Nível de Maturidade 5S. ...................................................... 58

Figura 16. Exemplo de Checklist (OFFICE 5S CHACKLIST, 2012). ..................... 59

Figura 17. Lista de ações 5S................................................................................. 59

Figura 18. Campo para Funcionário do Mês. ........................................................ 60

Figura 19. Histórico de notas de auditorias anteriores em tabela. ........................ 61

Figura 20. Exemplo de histórico de notas de auditorias anteriores em gráfico. .... 61

Figura 21. Histórico resumido dos red tags antigos. ............................................. 62

Figura 22. Gráfico do dimensionamento do SS em Quantidade x Tempo. ........... 63

Figura 23. Layout da página inicial da ferramenta de controle de estoque. .......... 65

Figura 24. Layout esquematizado do laboratório brasileiro. .................................. 67

Figura 25. Relatório A3 para o laboratório de análises clínicas no Brasil. ............ 69

Figura 26. Etiqueta para identificação de equipamentos. ..................................... 71

Figura 27. Etiquetas para equipamentos com diferenciação por cores. ................ 72

Figura 28. Localização sugerida para as agendas de equipamentos. .................. 73

Figura 29. Ficha de identificação de análises. ...................................................... 75

Figura 30. Localização das fichas de descrição de análises no local de

armazenagem de itens. ......................................................................................... 75

Figura 31. Modelo de cartão de Kanban a ser utilizado para a reordem. .............. 76

Figura 32. Localização do Ponto de Reordem. ..................................................... 77

Figura 33. Representação sintetizada das recomendações feitas para o

laboratório brasileiro de acordo com a ferramenta 5S. ......................................... 78

Figura 34. Quadro Kaizen/5S para a "melhoria contínua". .................................... 79

Figura 35. Identificação do time de Kaizen no quadro 5S. .................................... 80

Figura 36. Indicadores de melhorias anteriores no Quadro 5S. ............................ 80

Figura 37. Divulgação de notas de auditorias anteriores. ..................................... 81

Figura 38. Campo de sugestões no Quadro 5S. .................................................. 81

Figura 39. Cartão de Sugestão. ............................................................................ 82

Figura 40. Exemplo de como divulgar a melhor sugestão e o funcionário que a

fez. ........................................................................................................................ 82

Figura 41. Localização do Quadro 5S no laboratório ............................................ 83

Figura 42. Página inicial da ferramenta desenvolvida para o controle de estoque.

.............................................................................................................................. 84

Figura 43. Layout da págia de controle de estoque de um do "item teste". .......... 85

Figura 44. Gráfico da movimentação do estoque de forma geral (adaptado de

GONÇALVES, 2012). ............................................................................................ 85

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Desperdícios da Produção Enxuta no setor de saúde (adaptado de

BERTANI, 2012) ................................................................................................... 39

Quadro 2. Sessões da Análise ABC. .................................................................... 50

Quadro 3. Exemplo do cálculo da otimização de estoque para o item GLOVE

EXAM NITRILE XSML 881/ (os valores das demais variáveis foram fornecidos

pelo hospital americano). ...................................................................................... 63

Quadro 4. Quadro com os investimentos iniciais para o hospital americano. ...... 65

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

5S Abreviatura para 5 palavras japonesas: seiri, seiton, seiso, seiketsu,

shitsuke

CA Custo de Armazenagem

Ce Custo unitário anual

Cf Custo fixo de um pedido

CP Custo de pedido

DA Demanda Anual

DL Demanda durante o Lead Time

DRIVES Define, Recognize, Indentify, Visualize, Execute e Sustain

FIFO First in, first out

L Tamanho do lote.

LEC Lote econômico de compra

LT Lead Time

PCR Polymerase Chain Reaction

PDCA Plan, Do, Check e Action

R Ponto de Reordem

SS Safety Stock

TC Custo Total

TPM Total Productive Maintenance

UD Uso diário

z Distribuição normal

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 17

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .............................................................................. 17

1.2 JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 18

1.3 RELEVÂNCIA DO ASSUNTO .................................................................... 19

1.4 OBJETIVO .................................................................................................. 19

1.5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................. 20

2.1 ORIGEM DA INDÚSTRIA ........................................................................... 20

2.2 QUALIDADE ............................................................................................... 21

2.2.1 Histórico .................................................................................................... 21

2.2.2 Conceituação ............................................................................................ 23

2.2.3 Abordagens .............................................................................................. 24

2.3 LEAN MANUFACTURING .......................................................................... 25

2.3.1 Conceituação ............................................................................................ 25

2.3.2 Princípios da produção enxuta ............................................................... 25

2.3.3 Ferramentas da produção enxuta ........................................................... 26

2.4 ESTOQUE .................................................................................................. 30

2.4.1 Conceitos para produção de estoque .................................................... 31

2.4.2 Cálculos de Otimização de Estoque ....................................................... 31

2.5 GESTÃO DE PESSOAS ............................................................................ 35

2.6 LEAN HEALTHCARE ................................................................................. 37

2.6.1 Clínica laboratorial ................................................................................... 40

2.6.2 Trabalhos relevantes sobre o assunto ................................................... 41

3 METODOLOGIA ........................................................................................ 42

4 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICA DE UM HOSPITAL

AMERICANO ........................................................................................................ 45

4.1 APRESENTAÇÃO ...................................................................................... 45

4.2 DIAGNÓSTICO .......................................................................................... 46

4.2.1 Análise em folha A3 ................................................................................. 46

4.2.2 Análise ABC .............................................................................................. 49

4.3 MELHORIAS PROPOSTAS ....................................................................... 51

4.3.1 Design no Armazenamento ..................................................................... 51

4.3.2 Manutenção do 5S .................................................................................... 56

4.3.3 Cálculo da Otimização do Estoque ......................................................... 62

4.3.4 Desenvolvimento de um Sistema Computadorizado de Gerenciamento

de Estoque ........................................................................................................... 64

4.3.5 Custos para o hospital americano .......................................................... 65

4.4 APRENDIZAGEM ADQUIRIDA .................................................................. 66

5 LABORATÓRIO DE ANÁLISE CLÍNICA EM UM HOSPITAL

BRASILEIRO.........................................................................................................67

5.1 APRESENTAÇÃO ...................................................................................... 67

5.2 DIAGNÓSTICO .......................................................................................... 68

5.2.1 Análise em folha A3 ................................................................................. 68

5.2.2 Identificação de Desperdícios ................................................................. 69

5.3 PROPOSTAS DE MELHORIA ................................................................... 70

5.3.1 Organização 5S ........................................................................................ 70

5.3.2 Eliminando o desperdício de espera ...................................................... 73

5.3.3 Eliminando a movimentação desnecessária ......................................... 74

5.3.4 Implementação do Cartão Kanban.......................................................... 76

5.3.5 Aplicando o Kaizen .................................................................................. 78

5.3.6 Desenvolvimento de uma ferramenta computadorizada para controle

de estoque ........................................................................................................... 84

CONCLUSÃO ....................................................................................................... 86

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 88

ANEXO A – Modelo de Auditoria 5S .................................................................. 91

ANEXO B – Folha A3 para o laboratório de análises clínicas americano ...... 92

ANEXO C – Folha A3 para o laboratório de análises clínicas brasileiro ........ 93

17

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Esta seção tem como objetivo contextualizar o trabalho no espaço-tempo,

através de definições sobre o assunto e de uma pequena descrição sobre o

histórico do pensamento enxuto até sua utilização na área da saúde.

O pensamento enxuto desenvolveu-se na fábrica da Toyota, no Japão.

Entretanto, a gestão da qualidade como conhecemos hoje, só teve seu

reconhecimento com a criação do termo “Gestão Total da Qualidade”, com

Edwards Deming (1900-1993) e Joseph M. Juran (1904-2008), nos anos 50

(LINS, 2000).

A partir deles, outros estudiosos desenvolveram diferentes ferramentas

para melhorar a produtividade industrial, aumentar a capacidade produtiva,

diminuir desperdícios, aumentar lucro, diminuir variabilidade, dentre outros

motivos.

Entretanto, alguns pesquisadores passaram a estudar a aplicabilidade

dessas mesmas ferramentas para outras áreas que não a industrial e assim, em

2002, surge o Lean Healthcare (BERTANI, 2012). O Lean Healthcare tem como

principal objetivo a utilização das ferramentas, já empregadas nas indústrias, em

hospitais: nos centros cirúrgicos, na burocracia hospitalar, na administração geral

do hospital e em seus laboratórios, com controle de estoque, valorização dos

funcionários e layout, dentre outros.

O Lean no ambiente da saúde vem a ser uma importante ferramenta no

combate à eliminação de desperdícios e na redução dos custos operacionais a

fim de atingir alta produtividade. Ainda mais quando se trata de processos

burocráticos e lentos, com funcionários desmotivados e apáticos quanto ao

18

desempenho de suas funções, sobretudo em um sistema complexo como o

brasileiro (LIMA, 2007).

A utilização do pensamento enxuto na área hospitalar visa melhorar a

produtividade e a qualidade no serviço público e privado de saúde. Esse

desenvolvimento nos hospitais brasileiros tem como principal objetivo uma

melhoria no atendimento de toda a população e também no ambiente de trabalho

dos funcionários, sendo de grande importância para a qualidade de vida dos

brasileiros, além é claro dos objetivos usuais, como redução de custos e aumento

nos ganhos da instituição. Alguns dos problemas enfrentados pelo Brasil são:

longas filas de espera, onde “parturientes esperam em média 15 horas para

serem atendidas em hospitais públicos” (IPEA, 2006), má gestão da capacidade,

com superlotação e falta de leitos, aumento desnecessário de exames,

ineficiência dos controles de estoque: “Hospitais com falta de medicamento”

(CORREIO DA MANHÃ, 2013), dentre muitos outros.

Neste contexto, apesar do pensamento Lean Healthcare (também

conhecido como Lean Healthcare) ainda não ser corriqueiro no âmbito mundial,

no Brasil ele está no estágio inicial, com poucos estudos na área e ainda menos

trabalhos aplicados em hospitais nacionais.

1.2 JUSTIFICATIVA

O lean já apresenta excelentes resultados na área industrial desde o seu

surgimento nos anos 1950, com o desenvolvimento do Sistema Toyota de

Produção. Depois de sua disseminação pelo mundo com o Toyotismo, alguns

estudiosos perceberam a potencialidade do pensamento enxuto para outras áreas

como a hospitalar.

O principal ponto de justificativa deste trabalho se dá uma vez que a

utilização do Lean Healthcare pode proporcionar um melhoramento significativo

na área da saúde.

19

1.3 RELEVÂNCIA DO ASSUNTO

A relevância do assunto pode ser suportada pela contribuição que a

mentalidade enxuta tem dado às operações de inúmeras organizações nos mais

variados setores seja este industrial ou administrativo e principalmente pelos

benefícios potenciais desta abordagem aos diversos stakeholders dos serviços de

saúde, tanto para os colaboradores quanto para os pacientes e utilizadores do

serviço (SILBERSTEIN, 2007).

1.4 OBJETIVO

O principal escopo deste trabalho é propor a implementação de Lean

Healthcare para aumentar produtividade de um hospital público brasileiro.

1.5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Propor a utilização das ferramentas do “Lean Thinking” para beneficiar

as atividades de um laboratório hospitalar de análises clínicas.

Propor ações que tornem as atividades dos funcionários do laboratório

de análises clínicas mais eficazes, de forma a beneficiar o trabalho dos

mesmos e o atendimento aos pacientes.

Difundir no meio acadêmico e externo a aplicabilidade das

ferramentas do Lean no âmbito hospitalar.

Propor controle de estoque visando minimizar desperdícios

relacionados a armazenagem.

20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo faz um mapeamento da literatura que será relevante no ponto

de vista da elaboração e execução do projeto. Aqui são apresentados os

conceitos e definições, tais como 5S, estudo de layout, gerenciamento de

pessoas, gerenciamento de estoque, análise ABC, dentre outros.

2.1 ORIGEM DA INDÚSTRIA

Até o século XVII, todas as profissões liberais, ainda que divididas em

diversas especializações e denominações, eram basicamente desempenhadas

por artesões, dentre eles pintores, sapateiros, arquitetos, vidraceiros,

marceneiros, e assim por diante (CAUCHIK, SOUZA 2012).

Do ponto de vista da qualidade, os bons artesãos eram aqueles que

compreendiam bem todo o processo produtivo, desde a escolha da matéria-prima,

até os detalhes do projeto e a entrega do produto final. Entretanto, como cada

pedido era personalizado e com detalhes específicos, o preço unitário era pouco

acessível para classes inferiores (LINS, 2000).

Em 1776, com o desenvolvimento da máquina a vapor de James Watt, o

homem passou a possuir outra fonte de energia, que não a força humana ou a

tração animal. Com isso a produção passou a ser feita com maquinário. Com isso,

a produção passou a ser ditada pelo ritmo dos equipamentos e assim surgiram as

primeiras fábricas (LINS, 2000).

Lins (2000, p. 55) ainda continua:

A produção se tornou padronizada e as opções colocadas à disposição dos clientes passaram a ser limitadas. Neste contexto, a quantidade de falhas, desperdícios e de acidentes de trabalhos era elevada, em função das limitações das máquinas e do despreparo dos operários e de técnicas administrativas. Mesmo com a inspeção final do produto e a

21

supervisão do trabalho, havia muitos desperdícios. Era então necessário estudar formas de tornar a produção mais efetiva e produtiva.

Em 1911, Frederick Winston Taylor (1856-1915), criador da administração

científica, divulga sua obra “Princípios da Administração Científica”, em que

focaliza a estruturação global da empresa e defende a aplicação dos princípios da

supervisão funcional, da padronização de procedimentos, ferramentas e

instrumentos do estudo de tempos e movimentos, do planejamento de tarefas e

de cargos e dos sistemas de premiação por eficiência. Também formalizou os

conceitos de divisão do trabalho, de especialização profissional e de

administração pela execução (LINS, 2000).

Nos anos 20, Elton Mayo (1880-1949) fez uma importante descoberta, na

qual ele identificou que para a produtividade de um funcionário, os fatores

psicológicos (desejo de satisfação pessoal, autoestima, dentre outros) eram mais

relevantes do que os fatores fisiológicos (alimentação, descanso, moradia, dentre

outros). Ainda na década de 20, o estatístico Walter Shewhart (1891-1967),

introduziu os conceitos de controle estatístico de processo e o de ciclo de

melhoria contínua (PDCA). Este último consistia em PLAN (planejar), DO

(executar), CHECK (checar) e ACT (agir). Apesar desses esforços, após a II

Guerra Mundial, essas técnicas ficaram esquecidas por alguns anos (LINS, 2000).

2.2 QUALIDADE

2.2.1 Histórico

Nos anos 50, a Gestão da Qualidade Total foi desenvolvida e amplificada

nas figuras de Winston Edwards Deming (1900-1993) e Joseph M. Juran (1904-

2008). Juran foi o responsável pela enunciação da aplicação do diagrama de

Pareto, segundo o qual poucas causas são responsáveis pela maioria das

ocorrências. Através de Deming, a indústria japonesa teve contato com o conceito

22

de qualidade no momento em que as empresas japonesas passavam pelo seu

reerguimento, logo após a II Guerra Mundial (SILBERSTEIN, 2007).

Assim, a partir dos anos 50, os japoneses iniciaram o desenvolvimento de

programas de melhoria da qualidade, e em pouco tempo já começaram a criar

suas próprias técnicas. Kaoru Ishikawa (1915-1989) difundiu o conceito de “zero

erro”, o qual consistia em fazer certo da primeira vez, e assim minimizar em

proporções de ppm e ppb os erros na produção. Outro conceito amplamente

estimulado pelo estudioso foi os Círculos de Controle de Qualidade, mais

conhecidos como CCQ. Ishikawa ainda foi o desenvolvedor de outros termos

muito conhecidos atualmente no meio da engenharia da Qualidade: just-in-time

(onde se minimiza os estoques), os 5S (senso de organização e limpeza do

ambiente de trabalho) e o Kanban (controle de produção feito por cartões, sistema

de produção do tipo “puxado”) (BERTANI, 2012).

Com a aplicação dessas ferramentas e conceitos, em menos de 30 anos,

os japoneses já oferecia ao cliente produtos e serviços de qualidade, a um preço

acessível e entregas de curto prazo. Com isso, nos anos 80, americanos e

europeus viam nos japoneses uma forte concorrência e tiveram de voltar seus

olhos aos métodos de produção oriental em busca de respostas para melhorar

suas produções.

No final dos anos 80, a qualidade foi dividida em três abordagens

diferentes. A abordagem japonesa dava ênfase na formação do homem, à

organização do ambiente de trabalho e ao trabalho em equipe. A americana,

desenvolvida a partir de indústrias bélicas e nucleares tinham como escopo a

segurança e a confiabilidade de seus produtos. E por fim, a europeia. Esta visava

à relação fornecedor-cliente pelo lado da certificação dos fornecedores, como por

exemplo, a certificação das normas ISO (BERTANI, 2012).

No Brasil, não houve uma tendência predominante. Cada setor industrial

brasileiro seguiu umas dessas três tendências distintas.

23

2.2.2 Conceituação

Qualidade, segundo Conte e Durski (2002, p. 53) pode ser descrita como

“um conjunto de características e propriedades de um produto, processo ou

serviço, que asseguram a capacidade de satisfazer as necessidades explícitas ou

implícitas”.

Apesar dessa definição da qualidade como um conjunto de atributo para

adequação ao uso ser clara e objetiva, ela não explicita particularidades das

atividades de produção, comercialização e atendimento pós-venda de um produto

ou serviço. Na verdade, são também associados à qualidade outros predicados

típicos como a relação com o fornecedor e o usuário, como a capacidade do

primeiro se antecipar às necessidades do cliente, o tempo de resposta a um

pedido e o suporte oferecido (LINS, 2000).

A qualidade de um produto depende do processo de sua produção. Assim,

para se assegurar a qualidade de um produto, é necessário o acompanhamento

do seu ciclo completo, desde o projeto até o seu uso, passando pelo padrão da

matéria-prima até na distribuição para o cliente final. Devem ser identificados

quais atributos irão determinar a qualidade do produto, de forma a projetá-lo a

atender tais requisitos, produzi-lo dentro das especificações e acompanhar o seu

uso, verificando se o projeto foi adequado e se este foi corretamente seguido na

produção.

Portanto, a qualidade é o resultado do esforço de se atender as

especificações de um produto ou serviço. Desta forma, não se pode falar em

qualidade se está não for especificada (LINS, 2000).

A engenharia da qualidade é o conjunto de técnicas e ferramentas para

estabelecer procedimentos, critérios e medições da qualidade de um produto ou

serviço. Também tem a função de identificar produtos e processos não

conformes, identificando e eliminando causas dessa não conformidade. O

enfoque mais tradicional dessa engenharia é o controle da produção, seja através

de inspeções do produto ou do controle da produção. Entretanto, uma visão mais

24

moderna se baseia em ações preventivas que garantam que a qualidade será

alcançada, utilizando a inspeção como apoio quando indispensável, em um

contexto de gestão total da qualidade, estendida a todas as atividades da

empresa (LINS, 2000).

2.2.3 Abordagens

Para Garvin (2002), qualidade pode ser definida segundo cinco

abordagens principais: transcendente, baseada no produto, baseada no usuário,

baseada na produção é baseada no valor. Na abordagem transcendente

excelência inata traduz Qualidade, ou seja, é intemporal e duradouro. Quando a

Qualidade é interpretada como uma variável precisa e mensurável a abordagem é

baseada no produto, logo se classifica perante a quantidade de atributos que o

produto apresenta. Já a abordagem baseada no usuário é subjetiva, uma vez

que a Qualidade está ligada às preferências dos consumidores. Quando se define

Qualidade como aquela em conformidade com as especificações, sendo a

excelência atingida quando o certo é feito logo na primeira vez, a Qualidade está

baseada na produção. A última abordagem é baseada no valor, assim custos e

preços são os itens de mais relevância, essa abordagem é que nos últimos

tempos prepondera, já que o consumidor, nesse caso, deseja excelência do

produto atrelado ao valor no mesmo.

Neste contexto, a qualidade no hospital pode ser considerada como tendo

duas abordagens: a baseada no usuário e a baseada na produção. A primeira é

mais evidente, mesmo que mais subjetiva, pois quando se fala em qualidade no

ambiente hospitalar existe uma relação de dependência direta da opinião do

paciente quanto ao serviço oferecido. Por outro lado, também se pode considerar

uma abordagem baseada na produção: é importante que as atividades no hospital

tenham a filosofia do “fazer certo da primeira vez”, uma vez que o erro leva a

necessidade de um retrabalho, como por exemplo, refazer um teste laboratorial

para se identificar a patologia do doente. Esse retrabalho acarreta em perda de

25

tempo, que em uma situação delicada pode levar a piora do quadro do paciente

(GARVIN, 2002).

2.3 LEAN MANUFACTURING

2.3.1 Conceituação

Segundo Womack et al. (1992) o termo produção enxuta (lean production)

surgiu quando Krafcik, integrante do International Motor Vehicle Program (IMVP),

em uma pesquisa pelo MIT, que visava listar as diferenças entre os sistema de

produção automobilístico convencional com o sistema de produção adotado pela

Toyota, adotou o termo “enxuto” para descrever o segundo. Isto por que:

Requeria menor esforço humano para desenhar e produzir;

Necessitava menor investimento por unidade de capacidade

produtiva;

Requeria menores estoques;

Resultava em produção com menos defeitos;

Causava menos acidentes de trabalho

2.3.2 Princípios da produção enxuta

Segundo Womack e Jones (1996), os conceitos de produção enxuto

podem ser aplicados segundo cinco princípios:

Determinar o que é Valor para o cliente: a empresa deve definir,

segundo o ponto de vista do cliente, o que este considera como valor, ou seja,

deve determinar o que efetivamente agrega valor ao produto o qual o cliente deve

estar disposto a pagar.

26

Identificar o Fluxo de Valor: a empresa não deve visualizar a produção

pontualmente, mas como uma sequencia de operações e atividades, que

agregam ou não valor.

Implementar Fluxo contínuo: produzir em lotes unitários, de forma que

cada produto seja imediatamente passado para a etapa seguinte, de forma a

evitar estoques ou paradas.

Produção puxada: Onde não houver a possibilidade de implementar um

fluxo contínuo, deve-se produzir apenas quando o processo cliente solicitar,

evitando estoques e superprodução.

Perfeição: Seguindo a cultura da melhoria contínua (TPM), onde sempre

se busca a perfeição, as oportunidades de melhoria são infinitas, uma vez que

alcançar a perfeição é impossível do ponto de vista prático.

2.3.3 Ferramentas da produção enxuta

Existem diversas ferramentas da qualidade, em especial do pensamento

enxuto que podem ser aplicados no setor da saúde. Essa seção tem o objetivo de

investigar na literatura as ferramentas que serão estudadas aprofundadamente e

que poderão ser utilizados durante o projeto, visando, é claro, sua aplicabilidade

no contexto que será estudado. A seguir, uma parte dessas ferramentas, será

descrito.

5S: São cinco palavras que começam com a letra S e que

descrevem com práticas de organização no ambiente de trabalho,

gerenciamento visual (layout) e produção lean. Os termos japoneses são:

seiri, seiton, seiso, seiketsu e shitsuke. Traduzindo esses termos para o

português, respectivamente, temos: senso de descarte, senso de

organização, senso de limpeza, senso de padronização e senso de

autodisciplina. O 5S possibilita que no ambiente de trabalho, só existam as

ferramentas necessárias à operação. Assim, de forma organizada e

27

seguindo padrões pré-estabelecido, o trabalho se torna mais eficiente, fácil

e seguro. Consequentemente, as pessoas se tornam mais motivadas

(ROTHER,2003).

A3: ferramenta para resolução de problemas, em que a análise do

problema, as ações corretivas e o plano de ação são organizados e

apresentados em uma folha A3, de onde vem o nome. São utilizados para

promover melhoria contínua; alinhar iniciativas, medidas estratégicas da

organização; e como método de resolução de problemas (RIBEIRO, 2012).

A ferramenta é composta por 7 campos e busca identificar a situação atual,

a essência do problema, as possíveis medidas para solucioná-lo, a melhor

delas, quais os passos para colocá-las em prática e um indicador que o

problema foi efetivamente solucionado.

Figura 1. Exemplo explicativo da ferramenta A3 (adaptado de LEAN ENTERPRISE INSTITUTE, 2014).

28

Gestão Visual: Segundo Bertani (2012) é definido como a

exposição visual das ferramentas, peças, atividades de produção e

indicadores de desempenho do sistema de produção, de modo que a

situação real possa ser entendida rapidamente por todos.

Layout: Segundo IMAM (1986), o layout, ou a disposição visual de

todos os objetos de uma determinada área, no arranjo da combinação de

trabalho, sempre aparece. Havendo até em alguns casos o surgimento de

problemas. Um desses exemplos são as “ilhas remotas”. Nelas o

trabalhador fica isolado das demais áreas, atrapalhando a comunicação e

as relações entre eles. Sendo assim, sempre ao pensar em layout, deve-se

levar em consideração 3 condições básicas: o fluxo de mercadorias, de

pessoas e informações.

FIFO: em inglês, as iniciais significam “first in, first out”. Em

português seria traduzido para “primeiro a entrar, primeiro a sair”. Esse

conceito está relacionado com: a unidade que foi a primeira a ser

produzida deve ser também a primeira a sair da fábrica. Isso faz com que

haja um melhor controle nos estoques, principalmente em relação a

organização e com limites de validade (SIPPER,1998).

POKA YOKE: É uma palavra de origem japonesa que representa

um sistema ou aparato à prova de erros que evita a produção de defeitos

ou a propagação de falhas (GONÇALVEZ, 2012). Muito utilizado para

evitar erros humanos e como um dispositivo de segurança. Pode ser, por

exemplo, um encaixe que só funcione na posição certa, ou uma máquina

perigosa que só funcione quando o operador segura um botão que fica

longe dela.

Kaizen: Duas palavras japonesas que representam a filosofia da

“Melhoria Contínua” (GONÇALVEZ, 2012). É aplicado em organizações

para implementar uma melhoria contínua envolvendo todos e vise o melhor

resultado com o menor custo possível (KAIZEN INSTITUTE BRASIL,

2014).

29

Kanban: Palavra japonesa para registro ou placa visível. É um

sistema visual que informa ao trabalhador o que, o quanto e quando

produzir. A principal meta da ferramenta é diminuir os estoques

(GONÇALVEZ, 2012).

Lead Time: Segundo Gonçalvez (2012) é o “tempo que um

determinado produto demora para percorrer a cadeia de valor desde a sua

origem até ao cliente”.

Curva ABC: A curva ABC relaciona as diversas causas com suas

respectivas influências no problema. Através do estudo do diagrama de

Pareto, descobriu-se que poucas causas são responsáveis pela maior

parcela do problema. Assim, essa ferramenta permite que o foco da análise

de problemas se dê nos pontos que mais terão efeitos mais significativos

(SIPPER,1998).

Causa Raiz: Causa principal e fundamental de um problema, ou

seja, aquela que se corrigida impede que o problema volte a acontecer.

5 Why’s: O método do 5 Why’s, como o próprio nome já diz,

consiste em se fazer sucessivas perguntas “Por que”. Isso faz com que

quem quer que esteja utilizando a ferramenta consiga se aprofundar na

causa do problema e chegar ao principal motivo que o causa. Também é

utilizado em outros métodos, como por exemplo para determinar a causa

raiz na metodologia do A3 (KRAJEWSKI,2000).

Modelo DRIVES: O modelo DRIVES ajuda a direcionar a sequência

das etapas do trabalho de identificação de problemas, solução e controle

dos mesmos (NAHMIAS, 1997). Este é semelhante ao modelo PCDA,

como verificado na Figura 2.

30

Figura 2. Esquema do modelo DRIVES.

7 Desperdícios: Taiichi Ohno (1912-1990), executivo da Toyota,

identificou e classificou 7 tipos de desperdícios que são facilmente

encontrados em diferentes processos produtivos. São eles: o tempo de

espera, a movimentação desnecessária de pessoas, desperdício no

processo, estoques dispensáveis, transporte de itens, defeitos e a principal,

superprodução (QUALIDADE BRASIL, 2014).

2.4 ESTOQUE

Segundo Corrêa (2010), o estoque pode ser definido como acúmulos

materiais entre ciclos do processo de transformação, ou seja, são pontos ao longo

do processo produtivo no qual os recursos materiais ficam parados, aguardando o

seu uso na linha de produção. No caso de um hospital, consideram-se alguns

materiais que são estocados, como gazes, drogas, sangues para serem

analisados, etc. O autor prossegue afirmando que os níveis de estoques variam

quando os fluxos de entrada e saída da etapa variam entre si.

Sendo assim, para se ajustar os níveis de estocagem é necessário

conhecer a fundo o processo como um todo, visando às demandas de entrada e

Reconhecer (Recognize)

Identificar (Identify)

Visualizar (Visualise)

Controlar

(Sustain)

Definir (Define)

31

saída. No ambiente hospitalar, o gerenciamento de estoque é de extrema

importância, uma vez que ter estoques elevados leva a uma perda de espaço útil

e ao fato de que diversos recursos, como sangue que tem prazos curtos de

validade, e drogas que devido a problemas de saúde e risco para a integridade

física dos pacientes não podem ser aplicados fora do prazo ou terem sua

armazenagem de forma inadequada.

2.4.1 Conceitos para produção de estoque

Dentre alguns conceitos fundamentais para o gerenciamento de estoques,

serão abordados o Lote Econômico de Compra e o Estoque de Segurança, de

forma que posteriormente estes conceitos serão investigados no ambiente

hospitalar durante a fase de estudos de melhorias para os laboratórios.

2.4.2 Cálculos de Otimização de Estoque

Atualmente, uma empresa, para ser competitiva, precisa reduzir custos

extras, visando uma maior produtividade. O inventário representa

significativamente esse tipo de custo para o hospital, isso porque podem quebrar,

expirar ou serem roubados representando custo sem agregar valor ao produto, no

caso análise. Além disso, também corresponde a um capital que poderia ser

utilizado em outras funções como investimento no próprio negócio.

Para se calcular um estoque otimizado é necessário determinar 3 valores:

o lote econômico de compra (LEC), o ponto de reordem (R) e o safety stock (SS),

ou estoque de segurança. Para o cálculo desses três valores, são necessários

primeiramente determinar o custo de armazenagem e o de pedido.

Corrêa (2010) detalha matematicamente a determinação de LEC através

das equações (1) e (2):

32

(1)

Onde:

CA = Custo de Armazenagem;

Ce = Custo unitário anual;

L = tamanho do lote.

O custo de armazenagem está relacionado a aqueles de guarda do

material. Este tende a aumentar proporcionalmente à quantidade de itens

estocados, isto porque inclui os custos com espaço para o armazenamento,

seguro contra furtos e avarias, softwares para gerenciamento dos itens guardados

dentre outros.

Já o custo de pedido é relacionado é a soma de todos os custos para

aquisição do material. Seja ele pagamento do mesmo, transporte, telefonia,

negociação, etc. O custo de pedido tende a diminuir quando se aumenta a

quantidade adquirida, isso ocorre devido a diluição de custos fixos para a compra

de pouco ou muito material, como por exemplo, as viagens que o colaborador de

compras faz para negociar a obtenção do item.

(2)

Sendo:

CP = Custo de pedido;

Cf = Custo fixo de um pedido;

DA = Demanda Anual.

Graficamente, podemos visualizar o comportamento da curva do custo do

pedido e do custo de armazenagem, além da soma resultante, que gera o custo

total (Figura 3). Assim, podemos afirmar que o custo total é minimizado quando o

33

custo de armazenagem se iguala ao custo de pedido, é o que chamamos de LEC

(CORRÊA, 2010).

Figura 3. Custo total de estoque (adaptado de NAHMIAS, 2009).

O lote econômico de compra (LEC) é a quantidade necessária a ser

comprada e estocada que terá a melhor relação entre o custo possível de

aquisição e o custo de manutenção do estoque. Tal dado é de fundamental

importância, pois teoricamente o LEC é exatamente igual ao dobro do estoque

mínimo que é exigido para a operação. Sendo assim, é de fundamental

importância o cálculo do LEC, para que não haja gastos excessivos e

desnecessários com estocagem, mas que ao mesmo tempo permitam de forma

segura a viabilidade da operação (BOWERSOX et al., 2006 apud VALENTIM,

2007). Neste contexto, Ballou (2006 apud VALETIM, 2007) complementou ao

afirmar que os custos com estoque podem ser divididos em: de falta de estoque,

custos com manutenção e de aquisição.

Já o ponto de reordem (R) é o ponto do estoque, em quantidades, que se

deve fazer o pedido de aquisição do item.

34

Por fim, o safety stock (SS) é o estoque de segurança, ou seja, ele serve

para proteger de possíveis incertezas (como atrasos ou outros imprevistos) da

demanda (GASNIER, 2002).

Segundo a abordagem matemática feita no “Continuous Review Model”

(NAHMIAS, 2009), têm-se as equações de (3) a (8):

(3)

(4)

Notação:

UD = Uso diário

SS = Safety stock

LT = Lead Time

Temos ainda as seguintes equações:

(5)

(6)

(7)

(8)

Sendo:

DL = Demanda durante o Lead Time

SS = Safety Stock

= Desvio Padrão

35

LEC = Lote econômico de compra

CA = Custo de armazenagem

LT = Lead Time

L = Desvio padrão no Lead Time

R = Ponto de Reordem

z = Distribuição normal (acuracidade 0.99)

TC = Custo Total

DA = Demanda anual

Através da determinação desses três valores, poderemos definir o fluxo de

ordenação de forma a diminuir o estoque ao máximo, garantindo que não haverá

atrasos na produção por falta de produtos. Assim, ter um estoque otimizado

diminui os custos, diminuindo a área de armazenagem e disponibiliza capital para

outros investimentos.

2.5 GESTÃO DE PESSOAS

Segundo Gil (2001) a valorização dos Recursos Humanos se deu no

momento em que os administradores constataram a necessidade de considerar

fatores psicológicos e sociais na produtividade.

Foi em empresas de grande porte e complexidade que começou o

reconhecimento dessa necessidade. As relações nesses ambientes tendiam a ser

cada vez mais impessoais e ficava claro que essa situação conduzia a

consequências bastante desfavoráveis no campo de administração e

gerenciamento de pessoal (LIMA, 2007).

36

A chamada Gestão de Pessoas vem ganhando adeptos ao longo dos anos,

visto que algumas empresas anunciam a disposição para tratar seus empregados,

agora chamados colaboradores, realmente como parceiros, incentivando sua

participação nas decisões e utilizando ao máximo o talento das pessoas visando a

sinergia necessária para o desenvolvimento das pessoas (GIL, 2001).

Neste contexto, a Cultura Organizacional é definida segundo Lima (2007, p.

41) como “um conjunto de padrões de comportamento, crenças e outros valores

espirituais que caracterizam a empresa”. O autor ainda continua “este aspecto

cultural é vital para a perpetuação deste sistema de gestão que tem por

característica o espírito participativo e o respeito às pessoas”.

Percebe-se que o modelo da Toyota (Toyota Way) tem uma discreta

influência da Gestão de Pessoas. Essa influência pode ser notada em um dos

pilares do modelo: o respeito às pessoas, que tem por fundamento o respeito ao

próximo, a valorização do indivíduo e o trabalho em equipe (LIMA, 2007). Para

Toyotismo, o trabalho em equipe é de fundamental importância, tanto que é um

dos dois pilares que sustentam o modelo (OHNO,1997).

A partir das definições já citadas, a participação dos funcionários na

elaboração das “soluções enxutas” é de fundamental importância. Partindo do

ponto de que os colaboradores têm maior conhecimento do processo de

produção, eles têm grande potencial na elaboração das soluções para melhoria

do ambiente de trabalho. Sendo assim, diversos trabalhos contam com a

participação de funcionários através de questionários e protocolos.

Fazer com que o colaborador participe dos projetos de qualidade faz com

que além da contribuição com a experiência e conhecimento do assunto e/ou do

processo produtivo, também haja uma valorização do indivíduo, que ao se sentir

mais estimado, segundo pesquisas comportamentais, só tendem a aumentar a

produtividade na empresa.

Para finalizar é necessário que todas as soluções apresentadas à

administração da empresa sejam incorporadas pelos funcionários que serão os

executores do projeto de qualidade. Além disso, é através do trabalho de melhoria

37

contínua (TPM) que as melhorias do Lean serão realmente enraizadas na cultura

organizacional, e isso depende intrinsecamente da colaboração e participação

ativa de todos os funcionários envolvidos, seja qual for seu nível hierárquico

dentro da companhia.

2.6 LEAN HEALTHCARE

Com a disseminação dos princípios do pensamento enxuto, mais

recentemente, passou-se a utilizar as ferramentas da qualidade em áreas

diferentes das industriais, como a administrativa. Assim, também surgiram

diferentes modelos de Lean, dentre eles o Lean Hospital, também conhecido

como Lean Healthcare. (LIMA, 2007). Na área da Saúde, a maioria das atividades

está relacionada à logística e informação, o que torna a identificação de

desperdícios mais complexa. (OLIVEIRA, 2013). Nos últimos anos, tem se visto a

difusão dos conceitos de Lean para além da manufatura, com esforço sistemático

para execução em serviços. Em particular, tem progredido velozmente em

centenas de hospitais de diversos países. As iniciativas pioneiras ocorreram nos

EUA, a partir de 2002, com a introdução de algumas ferramentas isoladas e

alguns projetos-piloto, sempre com sucessos consideráveis. O ceticismo inicial

tem dado lugar à noção de que a filosofia do Lean é extremamente útil para

problemas concretos das instituições hospitalares, tais como qualidade, custos,

segurança para pacientes e funcionários, satisfação para colaboradores, etc.

(FERRO, 2013). A Figura 4 mostra a evolução da filosofia lean durante o tempo.

38

Figura 4. Evolução da Filosofia Lean (adaptado de BERTANI, 2012).

A disseminação do trabalho padronizado de médicos, enfermeiros,

administradores, técnicos tem permitido grandes melhorias da qualidade, custos e

segurança. Entretanto, segundo Womack (2004) e Spear (2005), ainda não existe

um “hospital modelo” em conceitos de Lean. As iniciativas para a aplicação do

pensamento enxuto na área da saúde ainda está no seu estágio inicial.

Para Womack (2005), a gestão hospitalar, quando comparada as indústrias

convencionais, tem sido lenta em identificar quem realmente é o cliente. Devido a

complexidade do sistema de saúde, muitos dos processos são desenhados para

o atendimento de clientes internos, como médicos, governo, hospitais,

seguradoras, dentre outros. Entretanto, o autor ressalta que é de extrema

importância que o valor deve ser definido pelo cliente principal: o paciente.

Ben-Tovim (2013), após 2 anos de implementação do conceito num

hospital universitário da Austrália, afirma estar apenas no princípio: há áreas do

39

hospital que ainda não foram abordadas e o dilema que se enfrenta

constantemente é o de escolher entre aprofundar numa área ou iniciar o trabalho

numa nova.

O primeiro evento para a difusão do Lean Hospital ocorreu em janeiro de

2006, na Grã-Bretanha, chamado de Lean Healthcare Forum.

O escopo dessa seção é descrever e exemplificar como os conceitos do

pensamento enxuto podem ser aplicados na área da saúde. O Quadro 1 explicita

a relação entre alguns dos desperdícios da qualidade com os respectivos serviços

de saúde.

Quadro 1. Desperdícios da Produção Enxuta no setor de saúde (adaptado de BERTANI, 2012)

Assim o Lean Healthcare , segundo Graban (2009) é uma filosofia apoiada

em um conjunto de técnicas, ferramentas e conceitos que visam à melhoria na

eficiência, na produtividade e na qualidade do serviço de como os hospitais são

organizados e gerenciados.

40

2.6.1 Clínica laboratorial

Uma análise química é um processo que fornece informações químicas ou

físicas de certa amostra. A análise química é todo o conjunto de técnicas

empregadas no laboratório que, através de reações químicas, fornecem

informações para a identificação dos componentes químicos da amostra.

A análise no laboratório pode ser de três tipos: imediata, qualitativa ou

quantitativa. A primeira consiste em isolar um componente de uma mistura. A

segunda visa a identificação do composto presente na amostra. Por fim, a última

tem o objetivo de mensurar a concentração de certo composto químico presente

na amostra (CENTRO HOSPITALAR DO PORTO, 2013).

Os exames clínicos originaram-se no fim do século XIX, através de

técnicas químicas para a análise de urina e sangue e evoluiu, incorporando outras

análises como o PCR (Polymerase Chain Reaction, que é um método de

ampliação do DNA), eletroforese, análises do suco gástrico e líquido

cefalorraquidiano. Com o desenvolvimento também da bioquímica, ambos os

testes passaram a ter papeis importantes do diagnóstico, prognóstico,

monitoramento de doen ças, dentre outros (BURTIS et al., 2007).

Dentre os exames químicos feitos em laboratórios clínicos mais solicitados

pelos médicos, podemos citar o bioquímico do sangue (dosagem de glicose,

ureia, plaquetas, glóbulos brancos, hemácias, HDL, dentre outros), exames de

urina e fezes, imunologia, teste de gravidez, e assim por diante. Existem ainda

outros não tão frequentes, como exames de citologia, de líquidos seminais,

sinoviais (líquido de articulações), e muitos outros (CENTRO HOSPITALAR DO

PORTO, 2013).

41

2.6.2 Trabalhos relevantes sobre o assunto

Alguns estudos já foram realizados nessa área de Lean Heathcare no

Brasil. Silbertein (2006) na sua dissertação de mestrado “Um Estudo de Casos

sobre a aplicação de princípios enxutos em serviços de saúde no Brasil”, estudou

cinco processos do serviço de saúde utilizando o método de Estudo de Casos. O

objetivo do trabalho foi verificar como os princípios enxutos se aplicavam nesses

serviços, em que medida esses princípios estavam presentes e por fim, quais

seriam as adaptações necessárias dadas às especificidades do setor. O estudo

concluiu que mesmo que houvesse a necessidade de adaptações, a utilização

dos princípios enxutos é possível, com diferentes graus e que tem o potencial de

contribuir para conflitos entre qualidade e eficiência. A monografia concluiu ainda

que há sinergias entre a medicina baseada em evidências e a mentalidade enxuta

para a promoção de uma prática de uma prática médica de qualidade e uma

gestão eficiente de processos.

Lima (2007) em sua tese de doutorado: “Práticas do Pensamento Enxuto

em ambientes administrativos: aplicação na Divisão de Suprimentos de um

Hospital Público” aplicou o pensamento enxuto em uma Divisão de Suprimentos

de um hospital. O escopo do seu trabalho foi de apresentar a implementação do

pensamento enxuto em ambientes diferentes do industrial, no caso em ambientes

administrativos e prestadores de serviço. O método científico utilizado neste caso

foi o de pesquisa-ação, e o trabalho como um todo se estendeu de 2003 a final de

2005. Os resultados foram analisados através da técnica de pesquisa por

observação participativa. Ao final do projeto, foi possível verificar que a utilização

de ferramentas da qualidade proporcionou um ganho de qualidade e eficiência

nos setores em que foi aplicado.

42

3 METODOLOGIA

Este capítulo tem como objetivo descrever a metodologia utilizada neste

estudo. Existem inúmeras estratégias de pesquisa para um trabalho acadêmico:

experimento, levantamento, análise de arquivo, pesquisa histórica, estudo de

caso, etc.. Segundo Yin (2001), a escolha de uma estratégia de pesquisa

depende de três condições: 1) o tipo de questão da pesquisa proposto; 2) a

extensão de controle que o pesquisador tem sobre os eventos comportamentais

efetivos; 3) o grau de enfoque em acontecimentos históricos em oposição a

acontecimento contemporâneos.

O método utilizado neste trabalho foi do tipo qualitativo estudo de caso. O

Estudo de Caso documenta e analisa, de forma detalhada, a atividade de uma

empresa ou organização ou de uma parte da mesma.

Segundo Cauchik e Sousa (2012, p. 131), um estudo de caso é definido

como “um trabalho empírico que investiga um dado fenômeno dentro de um

contexto real contemporâneo por meio de análise profunda de um ou mais objetos

de análise (casos)”. Já segundo Yin (2001), o estudo de caso é considerado

adequado quando se trata de uma investigação empírica do tipo “como” e “por

que” sobre um conjunto de acontecimentos recentes sobre o qual o pesquisador

tem pouco ou nenhum controle.

O projeto teve ainda um caráter exploratório, ou seja, nas fases iniciais da

pesquisa foi utilizado um laboratório para desenvolver ideias a fim de proporcionar

maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explicito.

Nesta monografia, o universo estudado foi um laboratório de analises

clinicas de um hospital público brasileiro localizado no Vale do Paraíba, interior do

Estado de São Paulo, Brasil. O estudo de caso realizado foi do tipo longitudinal, já

que os dados foram recolhidos no momento presente da coleta.

Um fato relevante é o fato de que esta autora participou de um curso sobre

Lean na Universidade do Tennesse, em Julho de 2012, onde teve a oportunidade,

43

num trabalho com uma equipe de colegas do referido curso, de visitar um hospital

dos EUA, onde foi realizado um trabalho de campo de análise e elaboração de

propostas de melhorias através de ferramentas do Lean Healthcare, para o

Laboratório de Analises Clinicas deste hospital..

O estudo realizado teve como objetivo propor melhorias no laboratório de

análises clinicas do hospital brasileiro através de ferramentas do Lean Healthcare,

a fim de tornar o ambiente de trabalho mais produtivo, melhorando a qualidade de

vida de pacientes e funcionários, tornando o atendimento mais eficaz e de alto

padrão. O estudo feito, no curso realizado nos EUAserviu de base para o projeto

no Brasil.

O projeto se baseou em cinco fases, as quais são descritas a seguir:

Fase 1: Contextualização do problema, Revisão bibliográfica, e

descrição da experiência vivida num hospital estadunidense.

Fase 2: Definição da Unidade-Caso

Fase 3: Coleta de dados no laboratório brasileiro

Fase 4: Estudo para a apresentação de sugestões para a melhoria

do laboratório com avaliação e análise dos dados

Fase 5: Apresentação das conclusões

Na primeira fase do estudo, foi feita a contextualização do problema, bem

como a revisão bibliográfica, a fim de servir como escopo para a estrutura

conceitual teórica seguida nesta monografia. Este ponto foi importante para o

aprofundamento da teoria através de pesquisas feitas na literatura e melhor

entendimento da utilização das ferramentas da qualidade. Através deste estudo é

que foram compreendidas quais as ferramentas que melhor se encaixariam no

projeto. Além disso, o estudo de outros trabalhos já realizados sobre o assunto

colaborou na construção da base deste trabalho, contextualizando o projeto no

contexto nacional e internacional. O mapeamento e o estudo da literatura

acompanhou todo o projeto até a sua finalização, de modo que sempre que

44

necessário foi consultado. Além disso, nesta fase foi elaborado um relatório da

experiência vivida no hospital dos EUA, que serviu como guia para o trabalho

realizado.

Na segunda fase, ocorreu a definição da Unidade-Caso. Já no escopo do

projeto, definiu-se que seria analisado um laboratório de análises clinicas de um

hospital público no Brasil. Este hospital foi definido durante a elaboração do

projeto, já que foi necessária a permissão dos responsáveis para a inclusão do

pesquisador na área laboratorial do hospital. Foi necessário encontrar um hospital

disposto a “abrir as portas” para o estudo realizado, contando com a colaboração

de gerentes e colaboradores da área. Este estudo de caso foi realizado em Maio

de 2014.

Após as fases iniciais, foi feita a coleta de dados num protocolo pré-

definido, baseado nas características singulares do hospital estudado na fase de

contextualização do problema. Esse protocolo foi alicerçado nos estudos feitos

nos EUA, a fim de que houvesse um modelo para o estudo no hospital brasileiro.

Além disso, pode-se utilizar da experiência adquirida pelo estudo anterior.

A fase quatro consistiu em um estudo para propor sugestões de melhoria

no laboratório de analises clinicas do hospital brasileiro com análise dos dados.

Nesta fase foram propostas sugestões para a melhoria das atividades de rotina

deste laboratório, considerando as particularidades do mesmo.

Por fim, a fase cinco consiste na apresentação das conclusões. Depois de

analisadas as questões levantadas na fase anterior e selecionadas as plausíveis

nos respectivos contextos, foi feito um relatório final, com a apresentação das

conclusões do estudo e os respectivos beneficiamentos no ambiente de trabalho.

45

4 LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICA DE UM HOSPITAL

AMERICANO

4.1 APRESENTAÇÃO

Em Julho de 2012, esta autora participou de um curso de Lean

Manufacturing de 4 semanas nos Estados Unidos. Este curso foi uma parceria

entre o Departamento de Engenharia da University of Tennessee e universidades

estrangeiras, dentre elas a EEL (Escola de Engenharia de Lorena – USP). Neste

curso, os estudantes receberam aulas teóricas sobre Lean Manufacturing e suas

ferramentas. Paralelamente às aulas teóricas, os alunos foram separados em

grupos, os quais tinham o objetivo de colocar em prática os conhecimentos

adquiridos e desenvolver projetos com propostas de melhoria para diferentes

empresas, dentre elas um laboratório de análises clinicas de um hospital.

Este foi um trabalho realizado em equipe, com mais 4 colegas do curso,

onde o objetivo foi de analisar e elaborar propostas de melhorias através de

ferramentas do Lean Manufacturing para o Laboratório de Analises Clinicas deste

hospital, que já possuía prática com o Lean Heathcare, possuindo um programa

de parceria com a University of Tennessee, que tinha como objetivo aplicar as

ferramentas da Qualidade e Produtividade nas acomodações hospitalares. Além

disso, o laboratório estaduniense possuía um profissional em Lean Heathcare

contratado pelo próprio hospital, o qual exercia suas funções nas dependências

da própria instituição. Tratava-se de um hospital de grande porte, com cerca de

70 mil pacientes e 10 mil cirurgias realizadas no ano de 2012.

Durante quatro semanas o grupo teve a oportunidade de conhecer o

hospital, em especial o laboratório no qual foi desenvolvido o projeto. Tratava-se

de um dos laboratórios de análises clinicas do hospital, que era constituído de

cinco áreas distintas: o laboratório geral, o de microbiologia, de hematologia, de

química e de flebotomia, que ocupavam o mesmo espaço físico.

46

Os estudantes conversaram com os administradores do laboratório, com o

funcionário responsável pelo Lean Heathcare do hospital e com os colaboradores

da área a ser estudada.

Após destas visitas, foi elaborado um relatório com o diagnóstico e com

sugestões de propostas para serem implementadas a fim de melhorar a

produtividade do laboratório. Entretanto, devido ao tempo limitado do curso, não

houve tempo para o acompanhamento da implementação, o que ficou a cargo do

profissional da área de Lean Heathcare.

4.2 DIAGNÓSTICO

O escopo do curso era colocar em prática as ferramentas aprendidas

durante as aulas teóricas, tendo como resultado final do projeto, propostas de

melhoria em empresas reais.

4.2.1 Análise em folha A3

O laboratório de análises clinicas estudado era constituído de cinco áreas

distintas: o laboratório geral, o de microbiologia, de hematologia, de química e de

flebotomia, que ocupavam o mesmo espaço físico, conforme a Figura 5.

No laboratório existiam diferentes parâmetros e variáveis que poderiam ser

controlados, como: níveis de estoque, controle dos históricos de insumos

utilizados nas análises, identificação de reagentes e materiais utilizados, dentre

outros. Por outro lado, existiam também aqueles que não eram controláveis ou de

difícil controle, dentre os quais, o registro de armazenamento das demandas de

suprimentos. Isso ocorria devido à falta de atenção ou pressa dos funcionários

que acabavam negligenciando o registro desses pedidos, tornando um desafio

47

determinar a quantidade ideal para satisfazer as encomendas de insumos

demandados.

Figura 5. Layout do laboratório do Hospital americano.

Após observar as dependências do laboratório, a equipe detectou alguns

problemas, principalmente ao que se refere a falta de espaço, desorganização,

excesso de inventário e itens sem identificação. Também foi verificado que no

laboratório não existia um sistema computadorizado para realizar os pedidos de

novos insumos e nem um controle dos outputs dos itens utilizados. Além disso,

também foi identificada a falta de padronização no inventário e a falta de estrutura

nos locais de armazenamento para facilitar o fluxo FIFO, causando backorders e

delays que acabavam atrapalhando os próprios funcionários. A Figura 6 mostra

uma foto de como eram armazenados os medicamentos e demais insumos que o

laboratório usava, por ocasião da visita realizada.

48

Figura 6. Prateleiras existente no laboratório .

No curso, foi salientada a importância de uma boa aproximação com os

funcionários, para que se sintam a vontade, e sejam incentivados, a debater e

sugerir mudanças no ambiente em que trabalham. Um questionário foi elaborado

e aplicado aos funcionários do laboratório, a fim de identificar os principais

obstáculos, na visão deles, no seu ambiente de trabalho. De 10 funcionários

entrevistados, 8 apontaram a falta de organização e de espaço como um dos

principais problemas para um bom fluxo do trabalho.

A primeira ferramenta da Qualidade utilizada foi a folha A3 (Figura 7). Essa

ferramenta havia sido apresentada durante o curso como um bom método de

abordagem inicial, já que permite analisar um processo de forma metódica e

geral, pois é composta por campos distintos que ajudam na localização e

resolução dos problemas apontados. A folha A3 é dividida em dois campos: o do

lado esquerdo, visa identificar os problemas e suas causas, enquanto o campo do

lado direito aborda a solução dos mesmos.

49

Figura 7. Análise em folha A3.

4.2.2 Análise ABC

A análise ABC é um método que ordena os itens mais utilizados em uma

empresa ou indústria. Esta ferramenta possibilitou a classificação dos itens

usados no laboratório, e assim determinou quais tinham maior impacto no sistema

e por consequência deveriam ser priorizados. Durante o curso foi ressaltado que

20% de todos os problemas são responsáveis por 80% das consequências, ou

seja, ao se solucionar esses 20%, a melhora esperada, na teoria, é de 80% do

processo de forma geral.

A fim de obter um melhor layout para o laboratório, foi necessário identificar

quais os itens mais utilizados no mesmo, para que pudessem ser agrupados, a

fim de facilitar e agilizar o acesso de enfermeiras e técnicos.

50

Neste estudo, durante o curso, foi considerada apenas a área do

Laboratório Geral, devido ao tempo limitado do programa. Essa escolha foi

tomada, pois a área representava a maior parte das análises feitas, além de ser a

que mais consumia insumos. Assim, a partir de dados fornecidos pela

administração do hospital, foram estudados 237 itens, que foram divididos em 3

grupos (do mais utilizado – “A”; para o menos utilizado – “C”):

Seção Quantidades por Seção

“A” 47 itens

“B” 71 itens

“C” 118 itens

Quadro 2. Sessões da Análise ABC.

Após o estudo dos dados de demanda dos itens do Laboratório Geral e

aplicada a Distribuição de Pareto, foi gerada a Figura 8, no qual visualmente é

possível verificar que a seção “A” corresponde a 80% dos itens com maior

demanda, identificada de verde, como sugerido durante as lições na universidade.

Os últimos 20% dos itens com menor demanda foram divididos em 2 sessões,

representadas em amarelo e vermelho.

51

Figura 8. Gráfico da análise ABC para o hospital estadunidense.

Após a classificação dos itens por frequência de uso, a equipe na qual esta

autora estava partcipando se reuniu algumas vezes e sugeriu mudanças no

design do armazenamento desses itens.

4.3 MELHORIAS PROPOSTAS

4.3.1 Design no Armazenamento

O modo como os suprimentos armazenados são organizados é um detalhe

crítico para um processo. Isso porque, neste caso em estudo, essa organização

estava diretamente ligada ao fluxo de materiais pelo laboratório e à ergonomia

0.00%

0.50%

1.00%

1.50%

2.00%

2.50%

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11

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AB

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EK 5

00

PA

PER

ABC Analysis

10% 10%

52

dos funcionários e, portanto, à saúde dos mesmos. Sendo assim, nessa etapa do

projeto, foi indicada uma melhor maneira de acessar os itens para as análises

laboratoriais. Na proposta elaborada, foram apresentadas duas sugestões: uma

delas para ser implementada a curto prazo e outra a longo prazo.

Como solução de curto prazo, foi proposto no projeto do curso a aplicação

do 5S no laboratório, que diminuiria não só os problemas com limpeza e

organização, mas também aumentaria a produtividade, a qualidade de vida e a

moral dos colaboradores do laboratório. A produtividade aumentaria na medida

em que houvesse uma melhor organização do espaço de trabalho, já que o tempo

gasto pelos funcionários na procura de um reagente ou insumo seria reduzido,

diminuindo assim o lead time do processo. Já a melhoria na qualidade seria

consequência de uma melhor organização, o que faria com que houvesse menos

chance para erros (POKA YOKE), já que todos os itens seriam identificados

apropriadamente. Somando-se a isso, o uso do 5S melhoraria a autoestima dos

funcionários, uma vez que eles teriam treinamento, uma maior participação no

processo de implantação da melhoria contínua (TPM) e maior liberdade para dar

sugestões. Além disso, um ambiente de trabalho mais organizado e limpo se

torna mais agradável e fácil para a realização de tarefas cotidianas, o que implica

em uma melhor qualidade no trabalho.

Assim, após a análise ABC, foi sugerido que houvesse mudanças nas

prateleiras que armazenam esses itens, de forma que os mais utilizados ficassem

ergonomicamente em lugares de mais fácil acesso. Sendo assim, os itens mais

impactantes poderiam ser mais rapidamente apanhados, o que diminuiria o tempo

“morto” do lead time.

O esquema do novo layout sugerido pode ser observado na Figura 9.

53

Figura 9. Desenho esquematizado da sugestão do layout das estantes.

Ainda no conceito do 5S e visando uma maior eficiência no FIFO, o

trabalho também incluiu na sugestão de curto prazo uma mudança nas prateleiras

utilizadas (Figura 6) para “flow racks” (Figura 9), o que facilitaria o acesso desses

itens e o momento certo para a reposição dos mesmos.

54

Figura 10. Flow Racks propostos e suas dimensões em polegadas.

Os flow racks são prateleiras que tem um pequeno ângulo de inclinação,

fazendo com que seja mais fácil retirar da prateleira os itens que se encontram na

parte frontal da mesma, ou seja, os itens de maior reposição. Assim, as novas

flow racks promoveriam o fluxo FIFO, o que priorizaria a utilização de suprimentos

com menor prazo de validade. Por exemplo, utilizaria todo o pacote de um item

antes da abertura de um novo. Isso reduziria as perdas com descarte de material

vencido.

Os flow racks deveriam ser organizados de acordo com a Figura 9,

agrupando os itens mais utilizados no centro (altura de mais fácil acesso, sem que

o funcionário precise se abaixar ou levantar), e os demais itens nas prateleiras

das extremidades superiores e inferiores. Sendo assim, seriam minimizados

problemas ergonômicos e de saúde, o que agregaria qualidade de vida aos

colaboradores do laboratório.

Assim, devido ao espaço limitado encontrado no Laboratório Geral, a

proposta foi para a aquisição de 12 unidades dessas prateleiras para que elas

substituíssem as antigas.

Juntamente com as flow racks, também foi proposto a aplicação de cartões

de Kanban para sinalizar a necessidade de reordem. Assim, quando os

55

suprimentos fossem utilizados e precisassem ser encomendados, os cartões de

Kanban seriam colocados em um local específico, chamado “local de reordem”. O

funcionário responsável por fazer os pedidos recolheria diariamente os cartões e

encomendaria os itens faltantes. Quando os itens fossem repostos no local, o

cartão de Kanban retornaria, juntamente com as novas aquisições para o local de

armazenagem. E assim o processo recomeçaria. A Figura 11 apresenta um

exemplo de cartão Kanban proposto.

Figura 11. Exemplo de cartão Kanban utilizado em outras áreas do hospital estadunidense.

Essa solução de curto prazo deveria se delongar por volta de um mês. O

projeto também contou com uma proposta de longo prazo, onde foi sugerida a

implementação de um sistema de código de barras. O principal objetivo desse

sistema seria de gerenciar automaticamente os níveis de estoque, enviando em

tempo real um alerta para o funcionário que realiza os pedidos quando os níveis

de estoque dos suprimentos atingissem o nível de reordem. A Figura 12 mostra

um exemplo de um coletor de dados a ser utilizado após a instalação de um

sistema de código de barras.

56

Sendo assim, ao utilizar um item, o funcionário passaria o código desse

insumo ou material utilizando o coletor , que deveria ser mantido em um local

próximo as prateleiras para seu fácil acesso, conforme propõe. Gestão Visual

(BERTAN, 2012). O sistema automaticamente registraria a baixa daquele item

nos registros. Quando a quantidade desse item atingisse o Ponto de Reordem, o

próprio sistema, automaticamente e instantaneamente, enviaria um alerta ao

funcionário responsável por emitir os pedidos. Dessa maneira seria eliminado o

uso do cartão de Kanban e possíveis problemas com a perda ou o atraso nos

pedidos por falta de recolhimento dos mesmos.

4.3.2 Manutenção do 5S

Para que fosse mantida a organização e limpeza motivadas pelo 5S, além

de promover e incentivar a melhoria contínua no ambiente de trabalho, o projeto

americano também aconselhou a criação do “Quadro 5S” (Figura 13), que incluía

Figura 12. Sistema de código de barras.

57

um checklist para uma auditoria mensal, uma lista das ações 5S, um modelo de

“Red Tag” (Figura 14) para quando algum ponto precisasse ser melhorado, uma

lista com a sequência de passos para compor o red tag e a matriz de maturidade

(Figura 15), que direciona para cada nível de maturidade do 5S suas

responsabilidades. O nível de maturidade 5S de cada pessoa seria calculado nas

auditorias mensais.

Figura 13. Exemplo de Quadro 5S

A auditoria mensal, que daria suporte ao 5S, proposta no trabalho feito nos

EUA traz um exemplo de checklist (Figura 16) que poderia ser aplicado (OFFICE

5S CHECKLIST, 2012). Nele há a possibilidade de classificar certos critérios

listados, atribuindo cores segundo essa classificação. Aqueles com uma alta

pontuação, ou seja, com classificação vermelha, são identificados como os

problemas a serem priorizados no mês posterior a auditoria. Assim, cada

problema deve ter um red tag e as ações a serem tomadas devem ser listadas na

lista de ação (Figura 17). Além disso, deve-se olhar a classificação da lista de

maturidade para que haja um direcionamento nas iniciativas que os funcionários

devem tomar para a melhoria ou solução desses problemas e para o

desenvolvimento do ambiente de trabalho.

58

Figura 14. Cartão red tag.

Figura 15. Cartão de Nível de Maturidade 5S.

59

Figura 16. Exemplo de Checklist (OFFICE 5S CHACKLIST, 2012).

Figura 17. Lista de ações 5S.

60

Finalmente, outros campos poderiam ser inseridos no Quadro 5S,

dependendo do interesse do laboratório. Como exemplo, pode-se citar: um campo

(de preferência na posição central) para destacar funcionários exemplares (Figura

18), melhorando o moral individual através do reconhecimento profissional e

mantendo uma competitividade saudável entre os funcionários, o que segundo Gil

(2001), aumenta a produtividade individual e coletiva.

Figura 18. Campo para Funcionário do Mês.

Outro campo que poderia fazer parte do Quadro 5S é um registro das notas

das auditorias anteriores, seja por tabela (Figura 19) ou graficamente (Figura 20).

Esse campo é muito importante do ponto de vista da manutenção da organização,

uma vez que ele expressa o progresso que vem sendo obtido, de forma a

estimular a equipe com a visualização do progresso do grupo e para manter o

foco na ferramenta.

61

Figura 19. Histórico de notas de auditorias anteriores em tabela.

Figura 20. Exemplo de histórico de notas de auditorias anteriores em gráfico.

Por fim, também seria possível acrescentar algumas informações extras,

como um histórico dos red tags anteriores (Figura 21). Esse registro histórico

pode auxiliar em problemas futuros, agregando experiência ao grupo.

62

Figura 21. Histórico resumido dos red tags antigos.

4.3.3 Cálculo da Otimização do Estoque

A observação do laboratório revelou que não havia espaço suficiente para

o armazenamento adequado de todo o inventário. Além do mais, não havia um

estudo para otimizar o nível do estoque desses itens. Assim, a fim de otimizar o

armazenamento desses itens, foi calculado o ponto de reordem (R), o lote

econômico de compra (LEC) e o Safety Stock (SS), ou estoque de segurança.

Utilizando-se das equações 1 a 8, estes três parâmetros (ponto de

reordem, LEC e SS) foram calculados. Como exemplo (Quadro 3), este trabalho

utilizou o item GLOVE EXAM NITRILE XSML 881/ (identificação dada para uma

tubeta de recolhimento de sangue para análise), o qual era o mais requisitado no

laboratório geral. Os valores encontrados para SS, R e LEC forame 610, 671 e

16.733, respectivamente, conforme mostra o quadro 3.

63

Quadro 3. Exemplo do cálculo da otimização de estoque para o item GLOVE EXAM NITRILE XSML 881/ (os valores das demais variáveis foram fornecidos pelo hospital americano).

Graficamente, a visualização de como o sistema de pedido de reposição

deste item funcionaria está apresentada na Figura 22.

Figura 22. Gráfico do dimensionamento do SS em Quantidade x Tempo.

Assim, o sistema funcionaria da seguinte maneira: o nível de estoque tende

sempre a diminuir por causa da demanda diária até que atinge o ponto de

reordem (R = 671 unidades). Ao atingir essa quantidade no inventário, um novo

64

pedido deve ser feito para se atingir o limite econômico de compra (LEC = 16.733

unidades). Entretanto o estoque continua a decair devido ao lead time que o

pedido leva para ser entregue no local, atingido um ponto muito próximo do Safety

Stock (SS = 610 unidades). Quando a requisição é entregue, a quantidade de

itens retorna ao ponto inicial (R), onde o ciclo recomeça.

4.3.4 Desenvolvimento de um Sistema Computadorizado de Gerenciamento

de Estoque

Um controle rígido do estoque é muito importante para a redução de custos

e, portanto para manter a competitividade de uma empresa. Entretanto, para se

manter um controle no estoque é necessário fazer um cuidadoso cálculo do

inventário baseado em registros históricos do fluxo dos materiais.

Como resultado, foi desenvolvida uma ferramenta eletrônica para o

controle do inventário para que os funcionários pudessem manipular e registrar o

fluxo de materiais de forma simples e automática.

Essa ferramenta permitia a visualização dos 236 insumos e em qual nível

(R, LEC ou SS) cada item se encontraria. Também para o registro histórico do

fluxo dos materiais foi possível compilar as datas e as quantidades retiradas do

inventário, por uso no dia-a-dia, por quebras ou extravio. Além disso, o sistema

mantinha o registro das datas e quantidades de entrada de cada reordem. Por

fim, também mantinha um protocolo com as quantidades de itens que estariam

armazenadas no momento real. O sistema mostrava de forma visual qual item e

qual o momento certo de fazer a reordem do mesmo.

A Figura 23 demonstra a tela inicial da ferramenta desenvolvida

exclusivamente para hospital americano.

65

Figura 23. Layout da página inicial da ferramenta de controle de estoque.

4.3.5 Custos para o hospital americano

Para a implementação desse projeto, seriam necessários alguns

investimentos iniciais, como a aquisição de 12 flow racks, cinco leitores de código

de barra e uma licença para o uso do sistema computadorizado (caso o

laboratório resolvesse adotar a solução de longo termo). Os investimentos iniciais

que seriam necessários estão listados no Quadro 4.

Quadro 4. Quadro com os investimentos iniciais para o hospital americano.

Este investimento inicial seria relativamente pequeno se comparado ao

saving previsto para o período de um ano na área do laboratório geral da ordem

de $100.a 200 mil USD/year, devido a uma estimativa feita pelo grupo com base

na diminuição de itens em estoque.

66

4.4 APRENDIZAGEM ADQUIRIDA

O curso de Lean Manufacturing realizado nos EUA proporcionou à aluna

uma consolidação e um aprofundamento da teoria das ferramentas da Qualidade

e Produtividade adquiridas durante seu curso de graduação na EEL.

Além da aprendizagem teórica em sala de aula, esta autora teve contato

com o chamado Lean Heathcare e sua aplicação em uma instituição de saúde, o

que ajudou na escolha do tema da sua monografia de conclusão de curso. esse

trabalho. Assim sendo, foi possível visualizar um caso real de como o Lean é

efetivo, até mesmo na área da saúde.

O mais importante, porém, foi a oportunidade de desenvolver um projeto

que propunha melhorias para o hospital em questão. Assim, além de ganhar

experiência prática com o Lean Heathcare, esta autora teve a chance de agregar

novos conhecimentos com os colegas de grupo com diferentes origens e

experiências.

Todo esse conhecimento agregado, tanto prático como teórico, foram de

suma importância para que esta autora pudesse ter embasamento teórico e um

modelo prático para a realização desta monografia.

67

5 LABORATÓRIO DE ANÁLISE CLÍNICA EM UM HOSPITAL

BRASILEIRO

5.1 APRESENTAÇÃO

O hospital brasileiro analisado localiza-se numa cidade de porte médio do

Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, e é responsável pela saúde de cerca de

30 mil pacientes por ano e não tinha tido nenhum contato com o Lean Heathcare,

até a visita desta aluna.

No laboratório de análises clínicas desse hospital são realizadas diferentes

análises como hemogramas, espermogramas, análises urinárias, químicas,

crescimento de culturas e um método analítico para se medir os níveis de

proteína C-reativa (Nefelometria), responsável pelo acúmulo de placas de gordura

na parede das artérias. Na Figura 24 tem-se um esquema simplificado do layout

do laboratório..

Figura 24. Layout esquematizado do laboratório brasileiro.

68

Inicialmente será apresentado um diagnóstico da situação encontrada,

similar ao realizado na visita ao laboratório americano. Em seguida serão

apresentadas as propostas para implementação de Lean Heathcare neste

laboratório do hospital brasileiro.

5.2 DIAGNÓSTICO

5.2.1 Análise em folha A3

O fluxo do processo funciona da seguinte forma: primeiramente o paciente

ou o enfermeiro, entrega a amostra do exame a ser feito na bancada do

laboratório, na área administrativa. Dependendo do tipo de análise, a amostra é

encaminhada para a área de análises A ou para a área de análises B. Na área B

são realizadas análises microbiológicas, como crescimento de culturas, além de

outros exames como o espermograma. As análises mais pedidas, como de

sangue e análises químicas, são realizadas na área A. do laboratório. O

funcionário deve buscar os itens que não se encontram na bancada no local de

estocagem, como por exemplo o reagente utilizado na análise de nefelometria.

Primeiramente foi montada uma folha A3 (Figura 25) para ser a base do

projeto no laboratório de análises clinicas do hospital brasileiro. Foi através dela

que pode-se caracterizar o Estado Atual do ambiente de trabalho, seus fluxos de

processos e as principais causas de problemas.

A folha A3 elaborada neste trabalho aponta o principal problema

encontrado no laboratório: falta de organização e espaço, bem como busca

identificar suas principais causas e propor ações para solucioná-lo.

O campo do lado direito tem o objetivo de identificar a causa raiz da falta

de organização encontrada no laboratório. Esse campo apresenta o fluxo do

Estado Atual e os “5 Why’s”, que ajudam a reconhecer a principal causa da falta

69

de organização. Para colaborar com a identificação das causas e dos maiores

obstáculos encontrados, foi realizada uma entrevista com 10 funcionários. Os

maiores problemas apontados por eles foram a falta de espaço e organização (7

em 10 funcionários entrevistados). Eles também apontaram o que pensavam ser

o motivo dessa falta de organização e sugeriram ações para o combate desse

problema.

O campo do lado esquerdo visa propor soluções para combater o principal

problema apontado. Nele estão listados as propostas de melhoria e o Plano de

Ação que deverá ser implementado.

Figura 25. Relatório A3 para o laboratório de análises clínicas no Brasil.

5.2.2 Identificação de Desperdícios

Ao analisar o ambiente de trabalho, pode-se verificar alguns desperdícios

na área de análise. Dentre os 7 desperdícios citados por Ohno (1997), três deles

70

foram verificados: movimentação desnecessária dos funcionários, espera para se

realizar as análises e excesso de estoque.

O primeiro desperdício identificado foi a espera de funcionários para a

utilização de um equipamento específico. Como o hospital é de pequeno porte,

não existe uma grande variedade e quantidade de equipamentos disponíveis para

a demanda dos funcionários. Assim, foi observado que em alguns momentos, o

mesmo equipamento era requisitado por dois funcionários simultaneamente.

Como alguns procedimentos tem uma sequência lógica pré-definida, se faz

necessário que um dos técnicos fique aguardando a liberação do equipamento.

Já o segundo desperdício foi a movimentação desnecessária de

trabalhadores. O que ocorre é que muitas vezes os técnicos devem se deslocar

diversas vezes para a área de estoque e armazenagem de itens. Isto ocorre

porque alguns técnicos não tem o costume de pegar todos os itens de uma só

vez.

Por fim, foi encontrado um local de estocagem desorganizado, não

identificado e não padronizado. Além disso, havia um excesso de itens no

estoque, uma vez que não existia um controle ou um estudo otimizado do mesmo.

5.3 PROPOSTAS DE MELHORIA

5.3.1 Organização 5S

A primeira proposta de melhoria do ambiente de trabalho é combater a falta

de organização. O primeiro passo para isso seria mobilizar todos os funcionários

para realizar uma limpeza no local. Foram observados alguns materiais

dispensáveis nas bancadas de ambas as áreas (parte A e parte B), como tubetas

já utilizadas, materiais com avarias (vidrarias quebradas ou lascadas) e papéis de

exames anteriores, dentre outros.

71

Após a eliminação dos objetos desnecessários, haverá uma maior

organização e limpeza, e por consequência mais espaço livre para a realização

das análises. Isso melhorará o fluxo de pessoas e facilitará o trabalho dos

funcionários.

Apesar da falta de contato com o Lean Heathcare, algumas ferramentas

são utilizadas empiricamente no laboratório. Um exemplo é a identificação dos

equipamentos. Ainda assim, após a limpeza do ambiente, será necessário

padronizar as etiquetas de identificação. Algumas etiquetas de identificação de

equipamentos estão gastas devido a ação do tempo e os itens no estoque não

estão identificados de maneira clara.

Desse modo, sugere-se a etiqueta da Figura 26. Nela estão identificados o

nome do equipamento, bem como o nome e logo do hospital. No caso dos

equipamentos, também deve-se identificar a data de aquisição, sua função e a

próxima data para trocas ou manutenções, como por exemplo a troca de uma

lâmpada da análise de nefelometria.

Figura 26. Etiqueta para identificação de equipamentos.

Propõe-se também uma identificação por cores (Figura 27), ou seja, cada

área (microbiologia, química, etc.) deve ter uma cor para a diferenciação visual.

72

Figura 27. Etiquetas para equipamentos com diferenciação por cores.

A identificação por cores facilita a identificação e a localização de cada

equipamento no laboratório, o qual possui diferentes áreas trabalhando em

conjunto. Assim é possível que todos os setores trabalhem com maior harmonia

entre si.

Também foi observado que os itens na área de armazenagem não são

identificados devidamente. Dessa maneira, o tempo de localização de um item se

torna mais extenso que o necessário, aumentando o “tempo morto” no lead time

total do processo.

Dessa forma, é proposto o uso de etiquetas de identificação semelhantes

as da Figura 27, com o nome do item, as análises que o utiliza e a identificação

por cores, se possível (verificar se somente uma área a utiliza).

Por fim, deve-se atentar a frequência utilizada de cada material, de forma

que os mais utilizados fiquem em locais da prateleira de mais fácil acesso,

melhorando assim a ergonomia relacionada com a maneira com a qual o

trabalhador apanha o item (Figura 9), prevenindo assim problemas ergonômicos e

promovendo o desenvolvimento da qualidade de vida desses funcionários.

73

5.3.2 Eliminando o desperdício de espera

O primeiro desperdício identificado foi a espera de funcionários para a

utilização de um equipamento específico. Como o hospital é de pequeno porte,

não existe uma grande variedade e quantidade de equipamentos disponíveis para

a demanda dos funcionários. Assim, foi observado que em alguns momentos, o

mesmo equipamento era requisitado por dois funcionários simultaneamente. E

como alguns procedimentos tem uma sequência lógica pré-definida, se faz

necessário que um dos técnicos fique aguardando a liberação do equipamento.

Para sanar o problema da espera, propõem-se duas ações: criar uma lista

para o agendamento dos equipamentos e a profissionalização dos técnicos em

outros equipamentos.

Para a primeira ação, deve-se salientar que a agenda deve ser exposta em

um local de fácil acesso e visualização (Figura 28) e, principalmente, o líder do

laboratório deve enfatizar a que os horários devem ser sempre respeitados de

forma a garantir a validade da mesma.

Figura 28. Localização sugerida para as agendas de equipamentos.

74

Outra ação seria proporcionar aos funcionários treinamentos de

especialização em outros equipamentos, de forma a capacitá-los para realizarem

outros exames. Assim, poderia haver uma otimização do tempo no laboratório,

fazendo com que os técnicos tenham conhecimento para realizar exames em

equipamentos desocupados.

5.3.3 Eliminando a movimentação desnecessária

Para eliminar as movimentações desnecessárias, duas ações são

propostas. Primeiramente, alguns itens comuns às diversas análises, como

agentes diluidores, ácidos, materiais de suporte como pissetes, tubos de ensaio,

espátulas e outros, podem ficar nos armários próximos aos equipamentos. Isso

evitaria a movimentação dos técnicos para a área de estocagem continuamente.

Essa ação está apoiada na ideia de se manter próximos aos trabalhadores as

ferramentas de uso contínuo, diminuindo assim sua movimentação diária.

A segunda ação proposta seria colocar uma pequena ficha de descrição

(Figura 29) de cada análise no local de armazenagem, de preferência fixados nas

paredes para ficar bem no campo de visualização dos colaboradores. Assim, o

funcionário poderia ter fácil acesso a essa listagem e coletar no estoque

exatamente os itens necessários para a análise, mesmo que esta não seja sua

atividade diária ou corriqueira (Figura 30).

75

Figura 29. Ficha de identificação de análises.

Figura 30. Localização das fichas de descrição de análises no local de armazenagem de itens.

76

5.3.4 Implementação do Cartão Kanban

Devido a falta de cultura do laboratório do hospital brasileiro com o Lean

Heathcare, a área não utiliza o cartão Kanban. O cartão Kanban ajudaria no

processo de ordenação de insumos da seguinte maneira: Um cartão Kanban

(Figura 31) ficaria no mesmo local dos seus insumos correspondentes. Quando

fosse necessário a reordem de um desses insumos, o cartão seria colocado por

um dos funcionários no ponto de reordem (Figura 32). O funcionário responsável

por fazer o pedido do item, passaria recolhendo esses cartões (verificação diária).

Na reposição dos itens, o cartão retorna ao ponto inicial, retomando o ciclo.

Figura 31. Modelo de cartão de Kanban a ser utilizado para a reordem.

77

Figura 32. Localização do Ponto de Reordem.

É necessário destacar que o ponto de reordem, neste caso, deverá ficar

fora da área do laboratório, ou seja, na parede do corredor. Isso irá facilitar o

acesso do colaborador que faz dos pedidos. Isso eliminará o tempo que a

informação leva para ser transmitida de um funcionário para o outro. Outro ponto

é que o colaborador responsável pelas ordens de reposição não precisar adentrar

na área de análises, ou seja, além da própria segurança do trabalhador (evitando

contatos desnecessários com áreas de contaminação ou agentes contaminantes),

evitar outra pessoa no local de trabalho, que já tem o espaço reduzido.

De forma geral, os investimentos propostos são relativamente pequenos, e

podem ser absorvidos pelo centro de custos do próprio laboratório (folhas

impressas, etc.). Por fim, a Figura 33 sintetiza as três recomendações (Ficha de

Descrição de Análises, Agenda de Equipamentos e Ponto de Reordem)..

78

Figura 33. Representação sintetizada das recomendações feitas para o laboratório brasileiro de acordo com a ferramenta 5S.

5.3.5 Aplicando o Kaizen

Para que este método seja eficaz, é necessário a sua perpetuação ou seja,

a filosofia da “melhoria contínua”. Assim para se manter a organização e limpeza

promovidos pelo 5S, propõe-se a utilização do Quadro 5S. É através dele que

outros problemas ou “defeitos” que por ventura apareçam possam ser planejados,

desenvolvidos, verificados e implementados (PDCA).

Desta maneira, um exemplo de quadro Kaizen que pode ser utilizado,

baseado no quadro desenvolvido para o laboratório americano, pode ser visto na

Figura 34.

79

Figura 34. Quadro Kaizen/5S para a "melhoria contínua".

É muito interessante, mesmo que a participação de todos no projeto 5S

seja fundamental, montar um time (grupo de pessoas) que fique responsável

pelas atividades Kaizen. Assim, tem-se no quadro 5S a identificação de todo o

grupo (Figura 35), de forma que todos os funcionários tenham seus contatos

(telefone, ramal, e-mail, etc.). O time deverá divulgar as ações a serem tomadas.

Devem também incentivar os colegas a participarem e darem sugestões para um

“novo projeto”, criando um ambiente com um forte “espírito de equipe”. Este grupo

deve ser liderado por uma pessoa que fique responsável pelos indicadores de

melhoria, pelo suporte do projeto, pela sua organização e divulgação, por

exemplo, o “funcionário Lean” do mês anterior.

80

Figura 35. Identificação do time de Kaizen no quadro 5S.

A divulgação das notas anteriores da auditoria no quadro 5S ajudará a

visualização do desenvolvimento da área (Figura 36 e 37), que juntamente com

indicadores (como redução de lead time ou aumento na produtividade das

análises) criarão um ambiente de competição saudável e estimularão as pessoas

a participarem com sugestões e ações.

Figura 36. Indicadores de melhorias anteriores no Quadro 5S.

81

Figura 37. Divulgação de notas de auditorias anteriores.

De forma semelhante, propõe-se a utilização de cartões de sugestões

(Figura 38 e 39) para propostas a serem feitas pelos funcionários. Assim, todos se

sentirão integrados no projeto e poderão vir a ser reconhecidos (Figura 40). Além

disso, de uma forma geral, as pessoas mais aptas a darem sugestões de melhoria

são as mesmas que realizam o trabalho diariamente, de forma que elas

conhecem a fundo o processo e tem grande experiência nas atividades.

Figura 38. Campo de sugestões no Quadro 5S.

O gerente do laboratório deve deixar a disposição e, até incentivar, que

seus subordinados proponham melhorias. Deve-se deixar bem claro que toda e

qualquer sugestão será bem vinda, como em um brainstorm, e todos poderão

colaborar com quantas sugestões quiserem. Quanto mais sugestões, maiores as

chances de surgirem boas ideias. Além disso, sugestões anteriores não

escolhidas no mês podem ser utilizadas futuramente se for apropriado.

82

Figura 39. Cartão de Sugestão.

O time Kaizen deve se reunir e escolher a melhor sugestão dada no

momento, ou seja, que venha a ser mais significativa naquele mês. É proposto

também que haja uma divulgação da sugestão escolhida, dando crédito e

enaltecendo o funcionário que a deu, aumentando assim a moral do grupo e a

competitividade saudável entre os colaboradores.

Figura 40. Exemplo de como divulgar a melhor sugestão e o funcionário que a fez.

Um ponto muito importante é o relatório da auditoria. É através dele que

devem ser listados quais os pontos melhorados. Também nele devem estar

indicadores para sua medição. A ele também pertencem a avaliação e o registro

histórico de auditorias anteriores, que podem servir de base para projetos futuros.

83

O exemplo citado nesse trabalho pode ser visto no anexo A deste trabalho

(KAIZEN INSTITUTE BRASIL, 2014).

A utilização do Quadro 5S é uma ideia de como manter a organização e a

melhoria contínua no dia-a-dia dos funcionários, por isso ele deve ser colocado

em um lugar de destaque e com alta circulação, de preferência num local onde

todos acessem. Um exemplo seria o da Figura 41, próximo a bancada e perto da

porta de entrada do laboratório.

Figura 41. Localização do Quadro 5S no laboratório

Para a aplicação e manutenção do Kaizen e de todas as propostas feitas

neste trabalho, é recomendado que haja um treinamento com todos os

funcionários. O treinamento proposto deve passar por fundamentação teórica das

ferramentas da Qualidade e Produtividade propostos neste estudo. Isso fará com

que os colaboradores entendam melhor o funcionamento de cada ferramenta e

suas contribuições para o melhor ambiente de trabalho. Feito isso, o

conhecimento adquirido proporcionará um melhor aproveitamento e uma

utilização mais eficaz das propostas sugeridas.

Outra parte do treinamento seria o estudo da parte prática das ações

sugeridas. Isso fará com que os colaboradores do laboratório adquiram uma

experiência nas novas atividades, contribuindo para uma maior eficiência das

84

ferramentas. Durante o treinamento, poderão haver dúvidas, novas sugestões e

uma melhor compreensão do que foi recomendado. O treinamento também deve

envolver técnicos e enfermeiras, melhorando o moral do grupo e

consequentemente a efetividade do projeto.

5.3.6 Desenvolvimento de uma ferramenta computadorizada para controle

de estoque

Utilizando-se das Equações 1 a 8, foi desenvolvido uma ferramenta

simples, porém baseada na ferramenta americana, para o cálculo e controle de

itens no estoque. De forma geral, os parâmetros, como lead time de entrega e

média de quantidade diária usada, podem ser modificados nessa ferramenta,

além de ser possível o acréscimo de novos itens. O layout da ferramenta pode ser

vista nas Figuras 42 e 43.

Figura 42. Página inicial da ferramenta desenvolvida para o controle de estoque.

85

Figura 43. Layout da págia de controle de estoque de um do "item teste".

O laboratório de análises clínicas brasileiro não contava com um sistema

computadorizado para o controle de seu estoque, sendo tudo gerido

manualmente. Com a ferramenta no Excel, será possível manter os níveis de

estoque com valores mais acurados, ou seja, poderá ser feita a gestão do

estoque com mais meticulosamente, evitando erros e pedindo os itens no

momento certo (ponto de reordem - R), evitando, assim, manter estoques

excessivos mas sem o risco da falta de algum item. O programa segue o modelo

da Figura 44.

Figura 44. Gráfico da movimentação do estoque de forma geral (adaptado de GONÇALVES, 2012).

86

CONCLUSÃO

Com base no projeto realizado nos EUA, foi possível fazer uma proposta

de melhoria para o laboratório do hospital público brasileiro. A utilização das

ferramentas da Qualidade e Produtividade em ambientes hospitalares, mais

especificamente em laboratórios de análises clínicas, foram fundamentais para as

recomendações feitas, demonstrando a importância das mesmas para a

elaboração das propostas.

Para se chegar a conclusão, foram visitados dois hospitais diferentes. O

primeiro nos Estados Unidos da America, em julho de 2012, que foi utilizado como

base para as propostas feitas para o segundo, localizado no Brasil, em maio de

2014, onde foi desenvolvido esse trabalho de conclusão de curso. O método

utilizado foi o mesmo: realizar observações nas dependências do laboratório,

analisar suas maiores dificuldades e por fim propor soluções de melhoria.

As propostas feitas incluem o uso de ferramentas da Qualidade e da

Produtividade. Dentre as elas, visando uma melhora na eficiência do trabalho

dentro do laboratório, foram utilizados 5S, cartão Kanban, filosofia Kaizen,

controle de estoque e outras propostas para eliminar os desperdícios

encontrados.

Como o hospital brasileiro não possuía nenhuma experiência ou

conhecimento de Lean Heathcare, este trabalho proporcionou a essa instituição,

não só propostas de melhoria, mas também à apresentou às ferramentas da

Qualidade e Produtividade, difundindo a aplicabilidade do Lean também no

ambiente hospitalar brasileiro.

Caso as propostas sejam empregadas, elas beneficiariam os próprios

funcionários, os pacientes e os stakeholders.

A implementação da filosofia Kaizen e o treinamento propostos acarretarão

em uma melhoria contínua no laboratório com a participação total dos

87

funcionários. A plena cooperação e entendimento dos técnicos e enfermeiras é

fundamental para que as propostas feitas, utilizando-se das ferramentas,

alcancem o máximo de eficiência. A ferramenta 5S assegurará um ambiente de

trabalho visualmente mais limpo e confortável para a realização das atividades

diárias, melhorando a qualidade de vida dos colaboradores do laboratório e a

atmosfera do local de trabalho. Uma maior organização, também facilitará que

técnicos e enfermeiras consigam localizar os suprimentos com maior velocidade

no momento em que precisarem, intensificando a produtividade no laboratório.

Finalmente, a implementação do novo controle de estoque fará com que decaia o

tempo e a dificuldade para a ordenação de novos itens.

Com um espaço mais organizado e os itens corretamente identificados, o

laboratório manterá um elevado nível de serviço e o novo sistema de inventário

garantirá o mínimo de backorders, que causam atrasos desnecessários. Também

evitará a confusão entre os itens, diminuindo resultados errados ou necessidade

de se refazer os testes (POKA YOKE). Isso é importante para que os pacientes

recebam seus resultados o mais rápido possível e evita esperas desnecessárias.

Já a diminuição de estoque, a redução de falhas, retrabalho e esperas e o

aumento de produtividade do laboratório acarretará em uma redução de custos, o

que poderá ser convertido em novos investimentos para a própria instituição. Isso

faz com que esse trabalho seja atrativo também para os stakeholders do hospital.

Portanto, é possível concluir que as ferramentas da Qualidade e

Produtividade podem e devem ser utilizadas para propor soluções de melhoria em

laboratórios de análises clínicas. Além disso, também foi concluída a necessidade

da divulgação do Lean Heathcare para a elaboração de propostas para a melhoria

em ambientes hospitalares, a fim de melhor a qualidade de vida de funcionários,

diminuir o tempo de espera de pacientes e reduzir custos para o hospital.

88

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91

ANEXO A – Modelo de Auditoria 5S

92

ANEXO B – Folha A3 para o laboratório de análises clínicas

americano

93

ANEXO C – Folha A3 para o laboratório de análises clínicas

brasileiro