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DESAFIOS E RESULTADOS COM A
IMPLEMENTAÇÃO DO LEAN SIX SIGMA EM
EMPRESAS DE DIFERENTES RAMOS: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA DE ESTUDOS DE
CASOS PUBLICADOS EM TRÊS ARTIGOS
RELEVANTES QUE RESSALTAM A APLICAÇÃO
DESTA METODOLOGIA.
Marjorye Katharine Aires dos santos (UFPA)
Jose Eduardo Ribeiro da Silva (UFPA)
Gleyson Pereira de Lima (UFPA)
Alexandre Henrique Pinto Pires (UFPA)
No atual cenário econômico ao qual as organizações estão inseridas a
melhoria da eficiência de sistemas produtivos com o incremento da
produtividade, redução de custos e eliminação de desperdícios se tornam
fatores primordiais para o aumento da competitividade e solidez frente às
incertezas do mercado. Neste sentido a filosofia do modelo de gestão Lean
Manufacturing (manufatura enxuta) torna-se uma importante ferramenta
que visa a eliminação de desperdícios como forma de gerar valor em todo o
processo produtivo. Todavia, o Lean não dá ênfase na redução da
variabilidade dos processos, em busca de produtos ou processos
padronizados e com melhor qualidade final, fato que é o foco principal da
metodologia Six Sigma, a qual melhora a capacidade das etapas que
agregam valor no processo através de ferramentas estatísticas, porém com
ênfase menor na redução de desperdícios. Como forma de incrementar o
conhecimento acerca da filosofia Lean Six Sigma, este artigo apresenta uma
revisão integrativa de 3 artigos que abordam a implementação desta
filosofia.
Palavras-chave: Manufatura enxuta, Seis Sigma, Redução de desperdícios,
Zero Defeito.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1 Introdução
Antigamente, o processo de produção predominante era o sistema de produção artesanal, no
qual muitos profissionais habilidosos se organizavam para produzir bens para atender pedidos
de clientes específicos. Com o advento da Revolução Industrial surgiu uma nova forma de
produção: o sistema de produção em massa que impulsionou a produção de produtos em
grandes quantidades e com preços reduzidos, atingindo maior produtividade e eficiência em
relação ao processo produtivo antecessor.
No entanto, a partir da metade do século XX, o conceito de produção em massa veio sofrendo
revisões com a popularização da produção enxuta originária do Sistema Toyota de Produção
(STP), que veio introduzindo vários conceitos como: engajamento dos operários nas
melhorias de produção, parcerias com fornecedores, preocupação com redução e eliminação
de desperdícios e foco no atendimento das necessidades dos clientes. Assim, com o passar do
tempo até o contexto atual, forjaram-se os sistemas de produção modernos que compreendem
uma ampla variedade de modelos, conceitos e métodos de gestão como o conjunto de
abordagens do STP, do Lean Manufacturing, do controle total da qualidade (TQC), do Six
Sigma, dos sistemas integrados de gestão, dentre outros.
Atualmente, no cenário mundial, com a globalização, a melhoria das condições de trabalho, o
desenvolvimento de novos e diversificados produtos e serviços, bem como consumidores
mais exigentes, fazem com que a competitividade entre as empresas venha crescendo cada
vez mais nos mercados nacionais e internacionais. Desta maneira, as empresas estão em busca
de maior eficiência nas suas operações e nos seus processos de gestão, procurando trabalhar,
concomitantemente, várias dimensões de competição: custos, qualidade, tempo, flexibilidade
e inovação. Contudo, não basta apenas aplicar uma estratégia ou sistema produtivo para se
obter sucesso. É necessário, também, que a empresa se adapte ao ambiente competitivo em
que se encontra e às suas exigências, além de construir uma cultura organizacional bem
consolidada para que todos que colaboram com a organização participem arduamente e
apliquem os métodos, estratégias, ferramentas e conceitos adequados para o seu
desenvolvimento, sempre melhorando continuamente para manter-se competitiva e à frente no
mercado em relação à concorrência.
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Neste trabalho será apresentada uma revisão integrativa de um sistema de produção moderno
recentemente criado e aplicado em alguns estudos de casos: o Lean Six Sigma, que nada mais
é do que a integração entre o Lean Production e o Six Sigma, visto que, apesar de ambos
serem ótimas estratégias ao serem aplicadas isoladamente, ao integrarem, complementam-se,
no intuito de melhorar ainda mais os processos, e de elevar a produtividade e a eficácia,
mantendo a empresa competitiva e no topo do mercado.
2 Referencial Teórico
2.1 Lean Manufacturing
O termo Lean, conceituado por muitos instrutores da Lean Enterprise Institute (LEI), é
definido como um conjunto de conceitos, princípios e ferramentas usado para criar e
proporcionar o máximo de valor do ponto de vista dos consumidores e, ao mesmo tempo,
consumir o mínimo de recursos e utilizar plenamente o conhecimento e as habilidades das
pessoas encarregadas da realização do trabalho (GRABAN, 2013). Segundo Werkema (2012),
o Lean Manufacturing (ou Lean Enterprise, denominação mais apropriada devido ao fato de
poder ser aplicado em todo tipo de trabalho) é uma iniciativa que procura eliminar
desperdícios, excluindo o que não agrega valor para o cliente e transmitindo velocidade as
organizações.
Na essência do Lean Manufacturing encontra-se a redução dos sete tipos de desperdícios, que
são: defeitos (nos produtos), excessos de produção de mercadorias desnecessárias, estoques
de mercadorias à espera de processamento ou consumo, processamentos, movimentações e
transportes desnecessários, além de desperdícios por espera. Nesta lista, também se pode
incluir um oitavo tipo de desperdício, “os projetos de produtos e serviços que não atendem ás
necessidades dos clientes” (WOMACK; JONES, 2004 apud WERKEMA, 2012). A Figura 1
apresenta os benefícios para as empresas com a redução dos desperdícios:
Figura 1 – Benefícios da redução de desperdícios
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Fonte: Werkema (2006)
Os princípios do Lean Thinking são: Especificar o valor – aquilo que o cliente valoriza;
Identificar o fluxo de valor; Criar fluxos contínuos; Operar com base na produção puxada;
Buscar a perfeição.
As principais ferramentas utilizadas para colocar em prática os princípios do pensamento
enxuto são mostradas na Figura 2:
Figura 2: Principais Ferramentas do Lean Thinking
Fonte: Júnior (2011)
Um dos importantes pontos a serem destacados é que a adoção do Lean Manufacturing
representa um processo de mudança da cultura da organização e, portanto, não é algo fácil de
ser alcançado. Logo, a utilização de uma ou mais ferramentas Lean não garante que se obterá
sucesso na implementação da produção enxuta. (WERKEMA, 2012). A Figura 3 apresenta a
base do Lean Production:
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Figura 3: Pilares do Sistema Lean Production
Fonte: Dennis (2008)
2.2 Six Sigma
Segundo Werkema (2012) o Six Sigma pode ser definido como uma estratégia gerencial
disciplinada e altamente quantitativa, que tem como objetivo aumentar drasticamente a
lucratividade das empresas, por meio da melhoria da qualidade de produtos e processos e do
aumento da satisfação de clientes e consumidores. Contudo, o programa deve ser estendido de
forma mais abrangente através da utilização de escalas, metas, benchmark, estatística,
filosofia, estratégia e visão, no intuito de aproximar a empresa ao programa Zero Defeitos e
ajudá-la a alcançar a perfeição, possuindo excelência em tudo que realiza, da forma mais
rápida possível.
Para Gygi (2008) o Six Sigma é uma metodologia que tem como objetivo minimizar os erros e
maximizar valor. Cada falha que uma organização ou uma pessoa comete tem um custo,
assim, a necessidade de se realizar determinada tarefa novamente, por exemplo, é uma das
falhas que podem ser reparadas pelo Six Sigma. A Figura 4 apresenta o segredo do sucesso do
Six Sigma:
Figura 4: O segredo do sucesso do Six Sigma
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Fonte: Werkema (2012)
2.3 Lean Six Sigma
A metodologia Lean Six Sigma é basicamente a fusão entre as ideias e ferramentas da filosofia
Lean Production com a metodologia Six Sigma, união considerada por muitos autores como
uma metodologia mais completa, uma vez que o Lean prioriza principalmente a redução de
desperdícios nas conexões entre os processos, identificando e aperfeiçoando problemas no
fluxo produtivo, e eliminando etapas que não agregam valor ao produto. Todavia, o Lean não
dá ênfase na redução da variabilidade dos processos, em busca de produtos ou processos
padronizados e com melhor qualidade final, fato que é o foco principal da metodologia Six
Sigma, a qual melhora a capacidade das etapas que agregam valor no processo através de
ferramentas estatísticas (PINHEIRO et al., 2013). A figura 5 ilustra a diferença entre o Lean e
o Six Sigma e a razão pela qual eles se complementam:
Figura 5: Diferença e complementaridade entre o Lean Production e o Six Sigma
Fonte: Werkema (2012)
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Diante disso, os artigos repassam a ideia de que o LSS só gera benefícios substanciais para as
empresas se sua metodologia estiver bem consolidada na mentalidade dos colaboradores e se
tanto o Lean Production quanto o Six Sigma forem utilizados em conjunto e ao mesmo tempo.
Desta maneira, a integração destas duas filosofias gera uma estratégia mais abrangente,
poderosa e eficaz do que cada uma das partes aplicadas isoladamente, sendo mais apropriada
para a solução de todos os tipos de problemas relacionados à melhoria de processos e
produtos (WERKEMA, 2012). A figura 6 reafirma o porquê de o Lean Six Sigma ser uma
metodologia mais completa em relação ao Lean e o Six Sigma aplicados isoladamente:
Figura 6 – Lean Six Sigma: solução híbrida cuja funcionalidade supera a somadas das duas
partes
Fonte: Werkema (2012)
3 Metodologia
A revisão integrativa da literatura, de caráter tanto qualitativo quanto quantitativo, foi o
método utilizado como base para o desenvolvimento deste artigo. Foram selecionados três
trabalhos relevantes publicados em congressos que abordam a aplicação da metodologia Lean
Six Sigma (LSS) em cinco empresas diferentes, uma vez que o primeiro artigo revisado faz o
estudo do percurso, das dificuldades e dos resultados alcançados com a aplicação da
metodologia em três empresas distintas e de grande porte. O outro artigo aborda um estudo
detalhado de como enxugar e melhorar processos dentro de uma organização, além de
qualificar e mensurar ganhos operacionais com a aplicação do LSS em uma empresa
prestadora de serviços de tecnologia na cidade de Uberlândia-MG, e o terceiro artigo mostra a
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utilização das ferramentas da metodologia para a redução do desvio padrão no processo de
envase em uma indústria de óleo vegetal.
Na revisão integrativa se resume o passado da literatura empírica ou teórica, para fornecer
uma compreensão mais abrangente de um assunto particular, buscando traçar uma análise
sobre o conhecimento já construído em pesquisas anteriores a respeito de determinado tema.
Assim, a revisão integrativa possibilita a síntese de estudos já publicados, permitindo
desenvolver novos conhecimentos, pautados nos resultados apresentados pelas pesquisas
anteriores (BROOME, 2006; MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008; BENEFIELD, 2003;
POLIT; BECK, 2006 apud BOTELHO et al., 2011).
A origem do termo “revisão integrativa” está na integração de opiniões, conceitos ou ideias
provenientes das pesquisas revisadas com o método. Uma boa revisão integrativa apresenta o
estado da arte sobre um tema, contribuindo para o desenvolvimento de teorias. Este método
de revisão é uma abordagem que permite a inclusão de estudos que adotam diversas
metodologias (WHITEMORE E KNAFL, 2005 apud BOTELHO et al., 2011). A Figura 7
mostra resumidamente as principais características da revisão integrativa:
Figura 7: Características de uma Revisão Integrativa da Literatura
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Fonte: Adaptado de Whitemore (2005) apud Botelho et al. (2011)
Dentro desse contexto que se optou por desenvolver uma revisão integrativa de artigos que
ressaltam a aplicação do LSS em diferentes empresas, com o objetivo de ajudar na
consolidação da metodologia e reforçar que o Lean Six Sigma pode ser implementado em
todas as organizações, uma vez que o maior desafio não está em onde aplicar a metodologia
LSS, mas sim, em como implementá-la de forma correta para geração de resultados positivos.
4 Revisão Integrativa dos artigos
A seguir são mostradas as referências dos três artigos escolhidos, os quais foram chamados
arbitrariamente de artigos 1,2 e 3, como pode-se observar abaixo.
Artigo 1: PINHEIRO, Thiago H.; SCHELLER, Alisson C.; MIGUEL, Paulo A C. Integração do Seis Sigma
com o Lean Production:Uma análise por meio de múltiplos casos. Revista Produção Online:
Florianópolis, SC, v.13, n. 4, p. 1297-1324, out./dez. 2013.
Artigo 2: TEIXEIRA, Tânia Regina B. A.; BORGES, Flávio X.; TAVARES, Débora B. Aplicação do Lean
Seis Sigma em uma Empresa de Serviços de Tecnologia: Elevando o nível de serviços com
redução de custos. XXI Congresso Brasileiro de Custos: Natal, RN, nov. 2014.
Artigo 3: FILHO, Fernando C. V.; ROSA, Gerusa O.; MORALES, Daily. Aplicação da Metodologia Lean
Six Sigma na Redução da Variabilidade do Processo de Envase em um Indústria de Óleo
Vegetal. XXX ENEGEP: São Carlos, SP, out. 2010.
O artigo 1 tem como objeto de estudo uma empresa de Higiene e Perfumaria (empresa
Brasileira), outra do setor Automobilístico (empresa Norte-americana) e a terceira do setor de
Serviços de Seguros (empresa Espanhola), todas de grande porte e com faturamentos da
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ordem de 3 bilhões, 600 milhões e 1 bilhão, respectivamente. O segundo artigo mostra a
redução de custos e as melhorias da eficiência operacional em uma empresa do setor de
tecnologia (Empresa DOP Infra), através da adoção do LSS, visando, primeiramente,
identificar atividades improdutivas e que podem ser eliminadas, as quais não agregam valor,
para, a partir de então, melhorar o desempenho individual de cada atividade indispensável ao
processo. O terceiro artigo analisado visa demonstrar a contribuição do programa Lean Six
Sigma no processo de envase de garrafas de plástico PET 900 ml de uma indústria de óleo
vegetal, com o intuito de que a quantidade despejada de óleo nas garrafas PET fosse bem
próxima do valor desejado de 900 ml, com variações aceitáveis que estejam dentro do gráfico
de controle desenvolvido na empresa.
Em relação aos resultados alcançados, no Artigo 1, constatou-se que o LSS foi implementado
com sucesso em apenas duas das empresas estudadas, uma sendo a empresa norte-americana
de automóveis e a outra sendo a empresa espanhola de serviços de seguro, as quais
conseguiram implementar concomitantemente a filosofia Lean e a metodologia Six Sigma,
diferentemente da empresa brasileira de Higiene e Perfumaria que não deu ênfase à integração
entre o Lean e o Six Sigma e, por isso, não obteve retorno satisfatório. A empresa de
Automóveis fez um investimento de R$ 550.000,00 para implantação da metodologia e
obteve retorno na ordem de R$ 1.000.000,00. A empresa de Serviços de Seguro fez um
investimento da ordem de R$ 1.500.000,00 e obteve retorno um maior que R$ 4.000.000,00
por ano. Os valores investidos e os ganhos financeiros com o programa não foram fornecidos
pela empresa de Higiene e Perfumaria. A tabela 1 mostra resumidamente os investimentos e
ganhos obtidos separadamente com o Lean e o Six Sigma nas três empresas ressaltadas no
artigo 1 e o grau de integração entre as duas filosofias em cada empresa:
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Tabela 1: Principais informações extraídas das empresas analisadas no artigo 1 a respeito do
LSS.
EMPRESAS
Higiene e Perfumaria Automobilística Serviços de seguros
Investimento com
o Lean ($)
Não informado ≈ R$ 375.000 ≈ R$ 750.000
Retorno Lean ($) Não informado > R$ 500.000 > R$ 2 milhões/ ano
Investimento com
o Six Sigma ($)
Não informado ≈ R$ 175.000 ≈ R$ 750.000
Retorno Six Sigma
($)
Não informado > R$ 500.000 > R$ 2 milhões/ano
Integração entre o
Lean Production e
o Six Sigma
Inexistente Alta Alta
Fonte: Adaptado de Pinheiro et al. (2013)
No artigo 2, identificou-se, a partir da utilização da metodologia LSS, que cerca de 30,51 %
do tempo de todas as atividades da empresa de serviços de tecnologia (DOP Infra), como
reuniões, atendimento telefônico, deslocamento, cursos, viagens realizados durante o horário
de trabalho e leitura de e-mail eram improdutivos e poderiam ser otimizados. Além disso, o
autor identificou que 9,36% de atividades poderiam ser eliminadas, visto que não agregavam
valor ao serviço oferecido ao cliente. E por fim, identificou as atividades que não possuíam
potencial de otimização de tempo, mas que eram passíveis de melhoria, no que diz respeito à
diminuição da variabilidade, as quais totalizavam 59,92% do tempo de trabalho da empresa.
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No artigo 3, os autores ressaltaram as etapas da estrutura DMAIC na implementação do LSS
(Definir, Medir, Analisar, Implementar e Controlar), afirmando que mesmo que o DMAIC
seja a base do Six Sigma, também pode ser utilizado na metodologia Lean. Além disso,
mostrou diretamente a aplicação do DMAIC para melhoria no processo de envase de óleo nas
garrafas PET de 900ml, passando, inicialmente, pela definição do problema de alta
variabilidade, seguido da medição do quanto era esse desvio padrão, para posteriormente,
através do mapa do processo de envase, identificar as principais causas do problema, com a
utilização de ferramentas como o Brainstorming e o Diagrama de Ishikawa. Depois disso,
seguiu-se com as aplicações das ações de melhoria levantadas durante o Brainstorming, para
que, a partir de então, se realizasse novamente as medições do desvio padrão inerentes ao
envase, para, enfim, buscar manter as melhorias através do controle as ações que diminuíram
a variabilidade do processo. Após tais etapas, os mesmos verificaram que o desvio padrão do
processo de envase reduziu de 1,53 para 1,17, o que caracteriza um melhor ajuste do processo
ao gráfico de controle desenvolvido pela empresa.
Após os comentários sobre os desafios e resultados obtidos nas cinco empresas que utilizaram
o Lean Six Sigma, ressaltadas anteriormente, mostra-se na Tabela 2 a comparação entre a
natureza dos ganhos obtidos com a implementação da metodologia nas mesmas:
Tabela 2: Comparação entre a natureza dos ganhos com o LSS nas cinco empresas analisadas
EMPRESAS Resultados com o LSS Ganho percentual
Artigo 1 Empresa de Higiene e Perfumaria Não informado -
Empresa Automobilística Investimento de R$
550.000,00 e retorno de R$
1.000.000,00.
Ganho de 81,81%
em relação ao
valor investido
Empresa de Serviços de Seguro Investimento de R$
1.500.000,00 e retorno de R$
4.000.000,00.
Ganho de 166,66%
em relação ao
valor investido/ano
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Artigo 2 Empresa de Serviços de Tecnologia *30,51% das atividades
possuem tempo improdutivo e
podem ser otimizadas;
*9,36% das atividades da
empresa podem ser
eliminadas;
*59,92% das atividades da
empresa são passíveis de
melhoria.
Redução efetiva de
14,28% do tempo
disponível de
trabalho da
empresa
Artigo 3 Indústria de Óleo Vegetal Redução do desvio padrão no
processo de envase de 1,53
para 1,17.
Redução efetiva de
23,53% no desvio
padrão de envase
em relação ao
desvio inicial
Fonte: Adaptado de Pinheiro et al. (2013); Teixeira et al. (2014); Filho et al. (2010)
É evidente que cada empresa teve um processo diferente de implementação do LSS em
relação às outras, fato que contribuiu direta ou indiretamente para o sucesso ou fracasso da
aplicação da metodologia nos diferentes seguimentos.
5 Considerações Finais
De modo geral, após o levantamento dos desafios e resultados que as empresas analisadas
obtiveram com o LSS, pode-se afirmar que o primeiro analisou os investimentos e retornos
financeiros da metodologia Lean Six Sigma, ressaltando de uma forma geral os benefícios e
oportunidades da metodologia. O segundo atentou-se à otimização dos processos da empresa
com o LSS e o terceiro na padronização e diminuição da variabilidade do processo de envase.
Um ponto importante, que apenas o artigo 1 ressaltou, foi que o maior benefício da
metodologia LSS é a mudança de cultura dos colaboradores das empresas na busca da
melhoria contínua, visto que, caso contrário, a metodologia não se consolida de forma eficaz,
ou seja, o Lean Six Sigma só funciona, de fato, se todos os aspectos da cultura empresarial das
organizações estiverem engajados com as mudanças. Assim, pode-se afirmar que o artigo 1
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fez uma analise mais abrangente sobre a implantação da metodologia em três empresas
distintas, refletindo os resultados obtidos através dos retornos financeiros para cada empresa.
Os artigos 2 e 3, por sua vez, fizeram análises pontuais na otimização e padronização dos
processos envolvidos em cada empresa, mostrando os resultados alcançados através de
ganhos operacionais e, consequentemente, lucrativos para as empresas.
Assim, é possível perceber que o Lean Six Sigma ainda não se encontra plenamente
consolidado sob o ponto de vista empírico, ou seja, não é um manual de regras que deve ser
seguido à risca para que as organizações obtenham melhorias, mas sim um processo de
aperfeiçoamento contínuo que precisa ter como base três fatores indispensáveis dentre muitos
outros, que são:
Engajamento de todas as pessoas da organização, desde o nível estratégico até o
operacional, com compromisso e dedicação principalmente da liderança;
Mudança na Cultura Organizacional da empresa;
Constante avaliação e comunicação sobre os resultados alcançados com a
metodologia.
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Referências
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