própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - daniela dandi

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE IMPERATRIZ DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA E QUÍMICA CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DANIELLA DANDI DE FREITAS SOUSA PRÓPOLIS: estudo de suas propriedades farmacológicas 0

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Page 1: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE IMPERATRIZ

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA E QUÍMICACURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

DANIELLA DANDI DE FREITAS SOUSA

PRÓPOLIS: estudo de suas propriedades farmacológicas

Imperatriz2011

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DANIELLA DANDI DE FREITAS SOUSA

PRÓPOLIS: Estudo de suas propriedades farmacológicas

Monografia apresentada ao Departamento de Biologia e Química do CESI/UEMA, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária.

Orientador: Profº. Esp. João Guedes de Souza

Imperatriz2011

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Sousa, Daniella Dandi de Freitas

Própolis: estudo de suas propriedades farmacológicas. – Imperatriz, 2011.

43 f.il.

Orientador: João Guedes de Souza Monografia (Bacharelado em Medicina Veterinária) – Curso de Bacharelado em Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Maranhão UEMA/CESI, Imperatriz, 2011.

1. Abelhas. 2. Própolis – propriedades farmacológicas. 3. Apicultura. I. Título.

CDU 595.799:638.135S729p

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DANIELLA DANDI DE FREITAS SOUSA

PRÓPOLIS: estudo de suas propriedades farmacológicas

Monografia apresentada ao Departamento de Biologia e Química do CESI/UEMA, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária.

Aprovada em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________Orientador: João Guedes de Sousa

Profº. Esp. CESI/UEMA

_______________________________________________________Daniel Noal Moro

Profº. MSC . CESI/UEMA

_______________________________________________________Leônidas Antônio Chow Castillho

Profº. MSC . CESI/UEMA

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DEDICATÓRIA

A Deus, acima de tudo, pelo seu amor e sua misericórdia. Por nunca ter me

deixado nos momentos difíceis e por ter permitido que eu chegasse até aqui e realizasse esse

sonho. À Nossa Senhora, por me ouvir, falar ao meu coração e ser minha intercessora junto ao

Pai.

Dedico este trabalho as pessoas mais importantes e indispensáveis da minha vida,

à minha Mãe, Cicera e ao meu pai, João. Chegar até aqui não foi fácil, mas vocês acreditaram

em mim e me conduziram através de conversas, sorrisos ou simplesmente um olhar carinhoso.

Foram muitas as vezes em que lhes utilizei como escudo ou despejei em vocês minhas

frustrações, medos e desesperanças, mas o AMOR de vocês sempre foi maior do que qualquer

decepção e foi capaz de me reerguer, reestruturando meus sentimentos e dando um novo

sentido a minha luta. O apoio, dedicação e paciência de vocês são partes integrantes da minha

vitória, que também é de vocês. As atitudes e até os pequenos gestos de carinho que vocês me

deram nas horas em que mais precisei, jamais serão esquecidos. Vocês fazem parte do que sou

hoje e do que conquistei. AMO VOCÊS!

Aos meus três irmãos, Annanda, Tuanny e João Vittor, que foram responsáveis

pelas melhores lembranças da minha vida e para quem eu dedico meu amor incondicional.

À tia Cida que é minha segunda Mãe, em cujo coração pude depositar as minhas

alegrias e tristezas e de quem só ouvi palavras de apoio e compreensão, e é também quem me

deu as três preciosidades da minha vida: Karol, Pedrinho e a florzinha da dindinha: Clarinha.

À secretária do Curso de Medicina Veterinária CESI/UEMA, Maurília, por toda

dedicação e paciência, e por não ter medido esforços para me ajudar a alcançar essa Vitória.

Ao meu tio Ribinha, pela transmissão de conhecimentos e auxílio na elaboração

deste trabalho.

À toda a minha família, por mais que eu não os veja com a frequência que

gostaria, sabem que são importantes na caminhada que escolhi seguir.

Aos que não estão mais presentes fisicamente, mas que jamais sairão de meu

coração: Vó Maria, Vô Elizeu e tia Fátima (in memorian).

Ao meu querido namorado, Pietro, por ser o sorriso que minha alma precisava.

Aos mestres, pelos conhecimentos e experiência de vida compartilhada,

contribuindo para a vitória desta etapa.

Aos meus amigos queridos e inesquecíveis.

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À minha mãe, Cicera e ao meu pai, João por ambos terem tido a capacidade de sonhar com uma vida acadêmica para os filhos e terem o privilégio de, em um domingo qualquer no futuro, sentarem-se à mesa com quatro doutores.

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No cortiço o indivíduo não é nada, só tem uma existência condicional, é um momento indiferente, um órgão alado da espécie. Toda a sua vida é um pleno sacrifício ao ser inumerável e perpétuo, de que faz parte.

MAETERLINCH, Maurice. A vida das abelhas. São Paulo: Martin Claret, 2002.

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Page 8: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

RESUMO

Neste estudo realizou-se uma abordagem sobre as propriedades farmacológicas da própolis.

Partiu-se da compreensão de que a própolis se constitui como um dos mais importantes

produtos apícolas em face de suas potencialidades como fármaco, embora seu total

aproveitamento ainda dependa de estudos mais aprofundados. O estudo se configura como

uma revisão de literatura sobre o tema, cuja revisão inicia-se com uma contextualização

histórica sobre as abelhas e sobre sua importância para a manutenção e o desenvolvimento da

flora silvestre, bem como agente polinizador de culturas agrícolas. Demonstra o nível de

fascínio do ser humano por esses insetos, de modo especial por sua capacidade de organização

e de produção de diversos produtos como o mel e a própolis. Tanto é, que para além da

utilidade prática dos produtos apícolas, a abelha tem sido utilizada pelo ser humano em

brasões e armas de políticos e até de religiosos como símbolo de organização e poder. O

estudo, por se configurar como uma revisão de literatura, metodologicamente se insere no

âmbito da pesquisa qualitativa.

Palavras-chave: Abelhas. Apicultura. Própolis. Propriedades farmacológicas da própolis.

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Page 9: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

ABSTRACT

In this study an approach to the pharmacological properties of propolis. This comes from the

realization that propolis is constituted as one of the most important bee products in view of its

potential as a drug, although its full exploitation still depends on further studies. The study

configured as literature review on the subject, which the review about the bees and about its

importance for the maintenance and development of wild flora and pollination of crops.

Demonstrates the level of the human fascination for these insects, especially for its ability to

organize and produce various products such as honey and propolis. So much so, that in

addition to the practical use of bee products, bee has been used by humans in coats of arms

and weapons of political and even religious organization and as a symbol of power. The

study, by configuring it as a literature review, methodological falls within the scope of

qualitative research.

Keywords: Bees. Beekeeping. Propolis. Pharmacological properties of propolis.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Abelha coletando néctar de flores............................................................................14

Figura 2: Constituintes químicos da própolis..........................................................................21

Figura 3: Espectros de absorção na região UV – visível do extrato etanólico das

própolis tipo 6 e 12...................................................................................................................33

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Page 11: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................11

2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................13

2.1 As abelhas..........................................................................................................................13

3 A PRÓPOLIS..................................................................................................................19

3.1 Composição química da própolis....................................................................................21

4 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DA PRÓPOLIS..........................27

4.1 Propriedade antimicrobiana...........................................................................................28

4.2 Propriedade antiinflamatória..........................................................................................29

4.3 Propriedade antioxidante................................................................................................30

4.4 Propriedade antiviral.......................................................................................................31

4.5 Propriedade cicatrizante..................................................................................................31

4. 6 Outras propriedades.......................................................................................................32

CONCLUSÃO....................................................................................................................35

REFERÊNCIAS.................................................................................................................37

APÊNDICES............................................................................................................................39

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Page 12: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

1 INTRODUÇÃO

O ser humano, do ponto de vista biológico se insere na categoria dos animais,

embora possua características sui generis que o distingue das demais espécies. No entanto, tal

como todos os demais animais, encontra no ambiente natural os meios para sua sobrevivência

biológica e para sua reprodução cultural. Por conta disso, as relações homem-natureza, quase

sempre foram de exploração da natureza pelo homem, e isso concorreu para a degradação

ambiental e mesmo para a extinção de espécies da flora e da fauna.

Tal situação perdurou por muito tempo, até que o homem alcançasse uma

consciência crescente de que os recursos naturais não são inesgotáveis e que é necessário

preservá-los, sob pena da sobrevivência do próprio ser humano se tornar inviável no Planeta

Terra.

Esta consciência que se pode denominar ecológica, tem contribuído para que se

busque alternativas para utilização dos recursos naturais de forma mais parcimoniosa,

portanto, mais sustentável. Assim, muitas espécies vegetais e animais, antes abundantes na

natureza, mas que aos poucos foram diminuindo, passaram a ser cultivadas/criadas

racionalmente, com menor impacto ambiental.

Uma das espécies animais mais prejudicadas historicamente pela a ação humana,

foi a abelha, uma vez que a coleta do e de todos os produtos por ela produzidos e utilizados

pelo homem, por muito tempo, e ainda na atualidade é realizada com a destruição dos ninhos

e, pelo menos parcialmente, dos enxames.

Tal situação tende a se modificar com desenvolvimento da técnica apícola. Tem

aumentado significativamente a criação racional de abelhas e uma melhor utilização do mel,

produto edulcorante milenarmente utilizado pela humanidade, bem como da própolis utilizada

em aplicações farmacológicas e cosméticas.

No entanto, para que os produtos apícolas sejam utilizados de forma a se tirar

deles os melhores resultados em benefício da humanidade e de outras espécies animais, são

necessários ainda estudos e pesquisas, bem como incentivo à criação de abelhas em escala

quantitativamente maior e qualitativamente melhor.

Tudo isso e mais a convivência da pesquisadora com um apicultor, seu próprio

pai, se constituiu como o princípio causal para a escolha do tema: PRÓPOLIS: estudo de suas

propriedades farmacológicas, como objeto de pesquisa.

Os objetivos norteadores da pesquisa são os seguintes:

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1 Estudar as propriedades da própolis com a finalidade de compreender se tais

propriedades apresentam potencial farmacológico direcionado ao emprego paliativo, tanto

para a manutenção, quanto para a restauração da saúde do organismo humano e animal.

2 Verificar as propriedades farmacológicas da própolis.

3 Demonstrar a importância do uso da própolis na medicina humana e veterinária.

4 Destacar a necessidade de se promoverem pesquisas sobre o tema e apontar

direções.

Metodologicamente estudo se configurou como uma revisão de literatura, cuja

finalidade é aprofundar o conhecimento sobre a própolis, e de forma mais específica,

conhecer com maior profundidade as propriedades farmacológicas deste produto apícola, bem

como sua utilização para a manutenção da saúde humana e animal. Portanto, o estudo se

insere no âmbito do paradigma de pesquisa qualitativa.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura se configura como uma teoria ou um conjunto de teorias

necessário ao enquadramento de algum aspecto da realidade pesquisada, o que é confirmado

por Luna (2007, p. 83), o qual diz que “Uma revisão teórica, em geral, tem o objetivo de

circunscrever um dado problema de pesquisa dentro de um quadro de referência teórico que

pretende explicá-lo”. Na compreensão de Braga e Nunes (2010, p. 21), na revisão de

literatura,

O autor deve demonstrar conhecimento, noção, ciência da literatura básica sobre o assunto, resumindo, abreviando, sintetizando os resultados de estudos feitos por outros autores na pesquisa proposta.A literatura citada, mencionada, referida, alegada deve ser apresentada em ordem cronológica, em blocos de assuntos, mostrando a evolução do tema de maneira integrada, agregada, associada, unificada, adicionada.

Neste relatório, que já se configura mesmo como uma revisão de literatura, o

recorte do real pesquisado e tratado à luz do modelo de análise aqui construído se constitui

como um estudo sobre as propriedades farmacológicas da própolis, substância resinosa

produzida pelas abelhas e utilizada pelo ser humano por suas propriedades biológicas

paliativas, desde o tempo em que o homem se dedicava à sua coleta no ambiente natural, até

se alcançar o desenvolvimento de técnicas para a domesticação e a criação de abelhas em

cativeiro.

2.1 As abelhas

É possível que as abelhas se constituam como o inseto que mais fascínio exerceu e

exerce sobre o homem. Esse fenômeno se deve a diversos fatores, entre eles, a delícia do mel,

da geléia real e do néctar, a utilidade da cera e da própolis, e, acima de tudo, à sua capacidade

de construção e ao instinto de organização. Diante disso, não é de causar espanto a quantidade

de referências às abelhas na literatura especializada ou não. Afirma Maeterlinck (2002, p. 15)

que “Desde a sua origem, aquele pequenino e estranho ser, vivendo em sociedade sob leis

complicadas, e executando na sombra trabalhos prodigiosos, atraiu a curiosidade do homem”.

Para comprovar sua afirmação, Maeterlinck (2002) destaca os nomes de diversas

pessoas importantes na cultura e em diversos outros campos de atuação que dedicaram

momentos de reflexão sobre as abelhas, dentre eles Aristóteles, Catão, Plínio Columela e

Aristômaco. Este último, em conformidade com Maeterlinck (2002), dedicou cerca de seis

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décadas de sua vida ao estudo das abelhas. Além dele, outro estudioso, Filisco de Tasos,

residiu por toda sua vida em locais desertos, com o único fim de observar esses insetos.

Diante de tanto interesse e com tantas referências, admite-se que se disse tudo o

que se sabe sobre as abelhas, o que no dizer de Maeterlinck (2002), é quase nada. Ou seja, um

inseto tão útil à humanidade, e já por tanto tempo domesticado, ainda se configura como um

poço de mistérios e como um desafio fascinante aos estudiosos.

Figura 1: Abelha coletando néctar de flores Fonte: EMBRAPA (2011, [On-line]).

Ao que se sabe, a origem das abelhas remonta há pelo menos vinte milhões de

anos, e existem cerca de vinte mil espécies conhecidas de abelhas. Em conformidade com

Angelfire (2011, [On-line]),

[…] a apicultura, a técnica de explorar racionalmente os produtos das abelhas, remonta ao ano 2400 A.C., pelo menos conforme vários historiadores, no antigo Egito. De toda a forma, o mel já era conhecido e apresentado pelos sumérios 5000 anos antes de Cristo. E os egípcios e gregos desenvolveram as rudimentares técnicas de manejo que só foram aperfeiçoadas no final do século XVII por apicultores como Lorenzo Langstroth, que desenvolveu as bases da apicultura moderna.

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O mel, que é usado como alimento pelo homem como edulcorante desde a pré-

história e por vários séculos foi retirado dos enxames de forma extrativista e predatória,

muitas vezes causando danos ao meio ambiente ao matar as abelhas. Entretanto, com o tempo,

o homem foi aprendendo a proteger os enxames, instalá-los em colmeias racionais e manejá-

los de forma que houvesse maior produtividade sem causar prejuízo às abelhas.

Aquele foi, pois, se caracterizou como a gênese da apicultura. Essa atividade

atravessou o tempo, ganhou o mundo e tornou-se economicamente viável. A apicultura tornou

possível, além do mel, explorar, com a criação racional das abelhas, produtos como o pólen

apícola, a geléia real, rainhas, polinização, apitoxina e cera. Além desses produtos, muitos

produtores se dedicam à comercializam de enxames e crias. O Brasil, por conta de sua flora

ainda abundante, se constitui, conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA), como

[…] o 6° maior produtor de mel (ficando atrás somente da China, Estados Unidos, Argentina, México e Canadá). Entretanto, ainda existe um grande potencial apícola (flora e clima) não explorado e grande possibilidade de se maximizar a produção, incrementando o agronegócio apícola. Para tanto, é necessário que o produtor possua conhecimentos sobre a biologia das abelhas, técnicas de manejo e colheita do mel, bem como de combate a pragas e doenças que acometem os enxames, importância econômica, mercado e comercialização (EMBRAPA, 2011, [On-line]).

Confirma EMBRAPA (2011, [On-line]) que as abelhas descendem de vespas que

perderam o hábito de se alimentar de insetos e se especializaram no consumo de pólen das

flores. Isso se caracterizou como um processo evolutivo importante, tanto para a viabilidade

das abelhas, quanto para o desenvolvimento da agricultura, tendo em vista que são as abelhas

as maiores responsáveis pelo processo de polinização da flora silvestre e das espécies vegetais

cultivadas pelo ser humano.

Durante esse processo evolutivo, surgiram várias espécies de abelhas. A despeito

da grande quantidade de espécies de abelhas, apenas cerca de 2% delas são sociais e

produzem mel. Entre as espécies produtoras de mel, as do gênero Apis são as mais

conhecidas. Para confirmar isso diz Guimarães (1989, p. 1), que,

Na pomicultura ela [a abelha] representa o papel sacerdotal, casando as flores.Com efeito, 75% a 80% das colheitas dos pomares e das flores ornamentais são devidas às abelhas. Sem elas, não haveria nem a centésima parte das flores, ou vegetais que nos enchem a mesa de vitaminas.

Há evidências de que foram os egípcios, a cerca de dois e meio milênios, a

primeira civilização a criar abelhas, embora de forma ainda rudimentar. Para isso,

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acondicionavam os ninhos em jarros de argila, de modo que para coletar os produtos apícolas

eram obrigados a quebrar tais vasos, o que culminava, por vezes, conforme Ebaheu

compartilho (2011, [On-line]), com o sacrifício do enxame. Isso, no entanto, representava a

vantagem dos enxames serem mantidos próximos à casa dos apicultores.

Apesar de os egípcios serem considerados os pioneiros na criação de abelhas, a

palavra colmeia se configura como uma invenção do povo grego. Os gregos colocavam seus

enxames em recipientes que tinham o formato de sino feito de palha trançada denominados

colmo.

Naquela época, as abelhas já assumiam tanta importância para o homem, a ponto

de serem consideradas sagradas por muitas civilizações. Com isso várias lendas e cultos

surgiram a respeito desses insetos. Com o tempo, elas também passaram a assumir

importância econômica e a ser consideradas um símbolo de poder para reis, rainhas, papas,

cardeais, duques, condes e príncipes, fazendo parte de brasões, cetros, coroas, moedas, mantos

reais, entre outras personalidades.

As abelhas exerceram tanto fascínio sobre os seres humanos, que mesmo muitas

instituições e publicações científicas as utilizaram ou à sua colméia como símbolo, como

demonstra Guimarães (1989, p. 11):

Em 1701, foi fundada a Academia Operosorum, uma grande instituição científica, a qual tinha por escudo de armas o famoso castelo de Liublins, que repousa sobre uma importante e gigantesca colméia. Até hoje esse escudo é símbolo da cidade, onde não foi por acaso, que a colméia tem mais importância que o próprio castelo.

Tal símbolo, não foi adotado por aquela academia por acaso. Na compreensão de

seus idealizadores, se o castelo representa o poder, a colméia simboliza a sabedoria. Assim,

seguindo o exemplo das abelhas, os membros da instituição deveriam ser tão sábios e

operosos quanto elas. Além de tudo isso, muitas publicações como jornais e revistas de cunho

científico e mesmo literário, adotaram as abelhas como símbolo ou as incluíram em sua

logomarca.

Como entre as várias civilizações antigas há referência às abelhas e ao mel, mas

também à própolis, esse fenômeno é verificado também entre os romanos e muitos outros

povos europeus. Conforme Guimarães (1989), os romanos chegaram a denominar as abelhas

de sacerdotisas de Ceres. Ou seja, como criaturas que por sua atividade quase sacra, se

revestiam da maior importância, não apenas para a vida, mas para a forma de vida que os

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homens poderiam vivenciar no seio de Deméter, a deusa-mãe protetora da terra cultivada, das

colheitas e das estações do ano.

Para melhor compreensão disso, compete explicar com Grimal (2000, p 84) que

“Ceres é o nome romano da deusa grega Deméter, com quem se identifica completamente.

Embora o seu nome indique, etimologicamente, que Ceres era uma antiga força da vegetação

(Ceres relaciona-se com uma raiz que significa “brotar”) adorada pelos Latinos, […]”, cujo

culto se dava na primavera.

Ou seja, no momento do renacimento da vida na natureza caractertizada pela

abundancia e diversidade de flores, prenúncio da fartura de frutos, portanto, de continuação da

vida vegetal e animal.

Mesmo assim, estudos que possam ser considerados como científico sobre as

abelhas, em concordância com Maeterlinck (2002, p. 15), só foram iniciados “[…] no século

XVII, com os descobrimentos do grande sábio holandês Swamerdam”. No entanto, antes de

Swamerdam, Clutins, um estudioso flamengo descobriu que a rainha é a mãe de todos os

indivíduos da colmeia, mas cometeu um erro ao afirmar que a rainha possuía os dois sexos.

Swamerdam, no dizer de Maeterlinck (2002), criou importantes métodos de

observação científica e criou instrumentos como o microscópio. Além disso, imaginou as

injeções conservadoras e foi o primeiro estudioso a dissecar uma abelha, concluindo ser a

rainha, não um ser bissexuado, mas feminino.

Tal descoberta permitiu compreender, por exemplo, a forma de organização das

colméias, baseada na maternidade. Na colmeia, possivelmente como nos primórdios da

civilização humana, a organização social e política tinha por fundamento o poder matriarcal,

sempre mais voltado para a cooperação que para a competição. Muitos outros estudiosos de

diversas nações despenderam esforços para compreender as abelhas, até que, segundo

EMBRAPA (2011, [On-line]),

Em 1851, o Reverendo Lorenzo Lorraine Langstroth verificou que as abelhas depositavam própolis em qualquer espaço inferior a 4,7 mm e construíam favos em espaços superiores a 9,5 mm. A medida entre esses dois espaços Langstroth chamou de "espaço abelha", que é o menor espaço livre existente no interior da colmeia e por onde podem passar duas abelhas ao mesmo tempo. Essa descoberta simples foi uma das chaves para o desenvolvimento da apicultura racional.

Confirma EMBRAPA (2011, [On-line]), que Langstroth teve como fonte de

inspiração um modelo de colmeia usado por outro pesquisador, Francis Huber. Este construiu

cortiços em que prendia todos os favos em quadros dispostos de forma a permitir a circulação

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das abelhas entre eles e que poderiam ser removidos facilmente pela parte superior. Isso se

constituiu como um avanço tecnológico importante para o cultivo racional de abelhas.

Como diz Maeterlinck (2002, p. 17), “Aquele cortiço, ainda muito imperfeito, foi

magistralmente aperfeiçoado por Langstroth, que inventou a moldura móvel apropriadamente

dita, propagada na América com êxito extraordinário”, pois para o apicultor usufruir das

delícias do mel e de outros produtos da colmeia sem exterminar a colônia de abelhas.

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3 A PRÓPOLIS

Quando se pensa nas abelhas a tendência é, em primeiro lugar, relacioná-las a seu

principal produto, o mel. Esse produto tem sido utilizado historicamente pelo ser humano

tanto como edulcorante, quanto como medicamento. No entanto, as abelhas não produzem

apenas mel, mas também outros produtos que podem ser utilizados pelo ser humano para

diversos fins.

As abelhas, pela nobreza e utilidade de seus produtos ocuparam e ocupam lugar

destacado em diversas culturas, não apenas no campo prático, mas também no campo

simbólico. Um exemplo, é o do povo grego, o qual denominava própolis as portas das

cidades, palavra formada pelo prefíxo pro e pelo termo polis, denominação das cidades

gregas.

Numa breve contextualização histórica sobre a utilização da própolis, afirma

Guimarães (1989, p. 111) que

Na Idade Média era costume esfregar o umbigo dos bebês com própolis. As múmias dos faraós chegaram até nós, em perfeito esto de conservação, graças à própolis. Na música, dizem os historiadores, que a maravilhosa sonoridade dos violinos de Stradivarius é possível porque eles foram protegidos com um verniz à base de própolis.

Como se percebe do registro de Guimarães (1989), historicamente a própolies

tem sido utilizada pelo ser humano para diversas finalidades. Tais finalidades, no entanto,

estão sempre relacionada à conservação de alguma coisa ou à reatauração do estado de

sanidade dos organismos.

Do ponto de vista semântico, a própolis é definida por Sahinler & Kaftanoglu

(2010, [on-line]) da seguinte forma:

Própolis é uma substância resinosa obtida pelas abelhas através da coleta de resinas da flora (pasto apícola) da região, e alteradas pela ação das enzimas contidas em sua saliva. A cor, sabor e o aroma da própolis variam de acordo com sua origem botânica e vem do mel. A palavra "propolis" vem do grego: ["pro"=em favor de] + ["polis"=cidade], isto é, para o bem, em defesa da cidade, no caso, a colmeia. Escreve-se O ou A Própole.

Pode-se depreender da citação acima, que na verdade a própolis não se configura

como uma substância produzida pelas abelhas, como por exemplo, o mel e a geleia real, mas

se trata de resina vegetal por elas coletada na natureza. Isso contraria compreensões

provenientes do senso comum que consideram essa subância como um produto apícola. Esta

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constatação, no entanto, não diminui o mérito das abelhas. Antes, confirma seu nível de

esperteza. Ou seja, que elas foram capazes de utilizar-se de um recurso natural, a resina

vegetal, em benefício da saúde da colmeia. No entanto, a própolis que se encontra nos

cortiços não se caracteriza como resina pura, mas tal resina se apresenta sempre misturada a

outros materiais, como demonstra Menezes (2011, [On-line]):

A própolis recolhida de uma colméia de abelhas, também conhecida como própolis bruta, apresenta em sua composição básica cerca de 50% de resinas vegetais, 30% de cera de abelha, 10% de óleos essenciais, 5% de pólen e 5% de detritos de madeira e terra […].

Como se percebe, a própolis bruta, ou seja, aquela que ainda não passou por

nenhum tipo de processamento, é composta de diversas substâncias, e excetuando os detritos

de madeira e resíduos terrosos, todos os demais podem ser aproveitados em benefício da

saúde dos organismos animais. Na compreensão de Franco; Bruschi; Moura; e Bueno (2011,

[On-line]), desde as últimas décadas do século XX tem se avolumado o número de pesquisas

sobre as substâncias produzidas pelas abelhas, de modo especial, os apoterápicos. No que se

refere de modo específico à própolis, Franco et al. (2010, [On-line]), apoiados em vários

estudos, se caracteriza como um

[…] dos produtos resultante da coleta das abelhas Apis mellifera. É uma resina formada pela mistura de susbstâancias retiradas de botões de flores de árvores ou cascas de árvores com substância do próprio organismo da abelha. Ela serve como material cimentante e para proteção e manutenção da colméia. Sendo composta basicamente de resinas (47%), ceras (30%), substâncias voláteis (4-15%), sujidades e compostos desconhecidos (13%) e pólen (5%) (Vanhaelen e Vanhaelen-Fastré, 1979). Nesta resina figuram substâncias como vitaminas, sais minerais (Moreira,1986), flavonóides (Vanhaelen e Vanhaelen-Fastré, 1979), ácidos graxos, álcoois aromáticos e estéres (Bankova, et al., 1982).

As propriedades antibióticas e fungicidas desta substância eram conhecidas desde

a mais remota antiguidade pelos sacerdotes egípcios e pelos médicos gregos e romanos, assim

como por algumas culturas sul americanas. Isso indica que as evidências do cotidiano

relacionadas às abelhas e ao fruto de seu trabalho que se apresentavam aos antigos através do

senso comum, foram, com desenvolvimento do saber científico, comprovadas como válidas.

Por conta de tudo isso, a própolis se constitui como um dos produtos naturais

utilizados durante séculos pela humanidade, e, para tanto, tem sido administrada sob diversas

formas. Seu emprego já era descrito pelos assírios, gregos, romanos, incas e egípcios.

Ressalta-se que sua utilização no antigo Egito data de (1700 a.C.).

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3.1 Composição química da própolis

A própolis possui uma composição química complexa, contendo mais de 160

componentes. Dentre os compostos químicos identificados, podem ser citados os flavonóides

(flavonas, flavolonas e flavononas), chalconas, ácido benzóico e derivados, benzaldeídos,

álcoois, cetonas, fenólicos, heteroaromáticos, álcool cinâmico e derivados, ácido caféico e

derivados, ácidos diterpenos e triterpenos, minerais e outros elementos.

Figura 2: Constituintes químicos da própolisFonte: Alencar et al., 2005 e Awalle et al. (2008) (Apud LUSTOSA et al., 2011 [On-line]).

A composição química da própolis foi estudada por cientistas importantes de

grande parte do mundo, inclusive do Brasil. Segundo Guimarães (1989, p. 113),

21

Page 23: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

Foram isolados 19 componentes de estrutura química distinta pertencentes aos flavinóides, especialmente flavonas, flavinóis e flavononas. Foram identificados também terpenos do grupo cariofileno, ácido acetoxibetulenol, aldeídos aromáticos como isovanilina e ácidos aromáticos como o caféico e ferúlico.

Tais componentes químicos da própolis possuem ação antibacteriana e

antiparasitária. Mas não é só. Depois outros componentes foram descobertos. Dentre eles, a

Galangina e a Pinocembrina. A primeira se constitui como importante antibiótico e é utilizada

nos Estadosd Unidos como conservante. Na Europa, como indica Guimarães (1989), está

sendo utilizada como venda cirúrgica pós operatória e como anti-séptico.

Acrescenta Guimarães (1989, p. 113) que uma descoberta do cientista russo K.

Yanesh dá conta de que “A própolis possui a surpreendente propriedade de absorver os raiso

multravioleta, especialmente nos comprimentos da onda 235, 285 e 314 nanômetros”. Isso

indica que essa substância é utilizada pelas abelhas não apenas para proteger a colmeia contra

microorganismos, mas também como isolante da ação da radiação ultravioleta.

As abelhas utilizam a própolis também para defender a colmeia de predadores e

de possíveis invasões de outras abelhas, o que é demonstrado por Castello-Branco (Apud

NOGUEIRA-NETO, 1997, p. 41-42): “Quando outras abelhas querem entrar

no seu ninho, as que ali residem... "tratam imediatamente de tapar a

entrada com resina, de que em suas casas há sempre um bom

provimento". Nesse caso, a resina (própolis) serviu como um elemento de

defesa”.

A própolis tem se demonstrado efetiva contra bactérias Gram-positivas e fungos.

Estudos como o de Pinto (2000, [On-line]) tentam verificar a efetividade da própolis, por

exemplo, no combate a bactérias causadoras da mastite. Pinto (2000, [On-line]) admite que

diante “[…] da sua inviabilidade (até então) de uso via teto, buscar-se-á observar se parte dos

principios ativos da propólis fornecida via oral (dieta) chegam ao sangue e ao úbere”.

Se isso se confirmar, cabe ainda estudos complementares para verificar possíveis

impactos sobre a produção e a qualidade do leite. Ainda não se sabe, do ponto de vista

quantitativo e qualitativo as possíveis alterações que a própolis provoca na produção total de

ácidos graxos voláteis no rúmen, com tendência de aumento na produção de propionato, de

forma que reconhece Pinto (2000, [On-line]) que estudos deverão ser realizados para observar

possíveis elementos sólidos do leite.

Desde as últimas décadas do século XX e início deste século XXI, há um aumento

do nível de uma consciência ecológica, a qual tem levado muitas pessoas a escolher para seu

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Page 24: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

consumo, produtos tidos como naturais, tanto por suas qualidades alimentícias, quanto

medicamentosas. Isso tem conduzido a modismos inaceitáveis, visto que muitos produtos são

utilizados sem os necessários estudos para comprovação de suas propriedades constitutivas,

bem como sua eficácia como alimento e como medicamento.

No que se refere à própolis, ela não pode ser relegada a uma categoría de

modismo terapéutico, tendo em vista que suas virtudes são reconhecidas há seculos, sendo

relatadas em inúmeros trabalhos que demonstram diferentes tipos de atividade biológica e

aplicações em diversas terapias, inclusive como antibiótico e modificador de resposta

biológica.

A resina contida na própolis é coletada na vegetação das cercanias da colmeia. O

espectro de vôo de uma abelha Apis mellifera abrange um raio de cerca de 4-5 km em torno

da colmeia, de onde abelhas campeiras coletam pólen e néctar para alimentação, bem como

resina para a própolis. Não são conhecidos os fatores que direcionam a preferência das

abelhas coletoras de resina por uma determinada fonte vegetal, mas se sabe que elas são

seletivas nesta coleta (SALATINO et al., 2005; TEIXEIRA et al., 2005).

É possível que esta escolha esteja relacionada com a atividade antimicrobiana da

resina, uma vez que as abelhas utilizam a própolis como um anti-séptico (SAHINLER &

KAFTANOGLU, 2005), revestindo toda a superfície interna da colméia, bem como pequenos

animais que tenham morrido em seu interior.

Como se depreende, as abelhas forneceram ao homem, além de substâncias como

a própolis, técnicas de conservação de matéria orgânica, portanto perecível e corruptível,

como por exemplo, o processo de mumificação, mas a técnica, isto é, a forma como tal deve

ser feito.

A composição de uma própolis é determinada em princípio pelas características

fitogeográficas existentes ao redor da colméia (KUMAZAWA et al., 2004). Entretanto, a

composição da própolis também varia sazonalmente em uma mesma localidade (SFORCIN et

al., 2000). Variações na composição também foram observadas entre amostras de própolis

coletadas em uma mesma região, por diferentes raças de Apis mellifera (SILICI &

KUTLUCA, 2005).

Embora já existam relatos atribuindo à própolis as mais variadas aplicações em

medicina popular e em veterinária (GACS et al., 1993; HEINZE et al., 1998), os estudos

científicos vêm corroborando que a própolis possui um grande potencial terapêutico,

principalmente, em relação às atividades antiinflamatória, antimicrobiana, antineoplásica e

antioxidante. O melhor conhecimento de suas propriedades visa, além da pesquisa e

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Page 25: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

desenvolvimento de novas drogas, a agregação de valor econômico à própolis bruta, a fim de

gerar uma fonte econômica de exploração agrícola e extrativismo auto-sustentável.

A origem do conhecimento do homem sobre as virtudes alimentícias, profiláticas

e curativas dos produtos das abelhas é bastante curiosa e interessante. Ao que se sabe, quase

todas as civilizações antigas utilizaram tais produtos em sua dieta e/ou em suas terapias, o que

significa que reconheciam os produtos das abelhas como valiosos recursos alimentares e

medicinais.

A composição química da própolis ainda não é totalmente conhecida. Sabe-se que

é formada por centenas de compostos, muitos dos quais ainda não estudados de modo

exaustivo pela ciência. No entanto, desde a antiguidade, como já se afirmou, as propriedades

da própolis já eram utilizadas no tratamento de infecções, ferimentos e até nos processos de

mumificação.

A composição química e a coloração da própolis dependem da ecologia botânica

de cada região. Pode apresentar tonalidades que vão desde o marrom escuro passando por

esverdeada, até o marrom avermelhado e possui também um odor característico. No dizer de

Sporcin et al., (2011, [On-line]). “A composição de uma própolis é determinada

principalmente pelas características fitogeográficas existentes ao redor da colméia. Entretanto

a composição da própolis também varia sazonalmente em uma mesma localidade”.

Significa dizer que a composição da própolis depende, pelo menos em sua maior

parte, a fatores ambientais. Não só a composição química da própolis é determinada pelas

características da vegetação da região, mas também as reservas de pólen e de mel. Como

consequência dessa composição química diferenciada da própolis, ocorre também uma

variação em suas propriedades farmacológicas, como demonstra Bankova (2011. [On-line]):

A amplitude das atividades farmacológicas da própolis é maior em regiões tropicais do planeta e menor nas regiões temperadas, refletindo a diversidade vegetal destas regiões: nas regiões tropicais a diversidade vegetal é muito superior à diversidade observada nas regiões temperadas.

As amostras de própolis provenientes de regiões tropicais, o que inclui o Brasil

têm mostrado diferenças significantes em suas composições químicas em relação à própolis

da zona temperada. Por essa razão, a própolis brasileira tem se tornado objeto de grande

interesse por parte dos cientistas (TRUSHEVA et al., [2011, On-line]).

A própolis verde brasileira, produzida em São Paulo e Minas Gerais é constituída

principalmente de derivados prenilados do ácido p-cumárico e possui grande quantidade de

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Page 26: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

flavonóides, muitos dos quais não estão presentes em própolis da Europa, América do Norte e

Ásia (SIMÕES et al., 2004).

As técnicas utilizadas de forma mais frequente para a análise e determinação dos

constituintes químicos da própolis são a cromatografia gasosa acoplada a espectroscopia de

massa (CG-MS) e a cromatografia líquida de alta performace (HPLC) (BANKOVA, 2005b;

SOUSA et al., 2007).

Além da própolis escura, descobriu-se em período recente uma própolis vermelha

em colméias localizadas ao longo do mar e costas de rios no nordeste brasileiro a qual foi

classificada como própolis do grupo 13 (DAUGSCH et al., 2006). Foi observado que as

abelhas coletavam o exudato vermelho da superfície da Dalbergia ecastophyllum (L) Taub.

(Donnelly et al., 1973; Matos et al., 1975), sugerindo que essa é a origem botânica da própolis

vermelha. Então se analisou comparativamente as amostras de exudatos das plantas e da

própolis vermelha, mostrando que o perfil cromatográfico da própolis é exatamente o mesmo

da D. ecastophyllum (Daugsch et al., 2006).

Algumas dessas moléculas apresentadas são encontradas apenas na própolis vermelha do

Nordeste do Brasil diferenciando-a dos outros tipos existentes, totalizando 13 tipos.

A composição química da própolis inclui flavonóides (como a galangina,

quercetina, pinocembrina e kaempferol), ácidos aromáticos e ésteres, aldeídos e cetonas,

terpenóides e fenilpropanóides (como os ácidos caféico e clorogênico), esteróides,

aminoácidos, polissacarídeos, hidrocarbonetos, ácidos graxos e vários outros compostos em

pequenas quantidades (Hu et al., 2005; Hayacibara et al., 2005; Ozkul et al., 2004; Matsuda et

al., 2002; Rocha et al., 2003). A composição química da própolis inclui flavonóides (como a

galangina, quercetina, pinocembrina e kaempferol), ácidos aromáticos e ésteres, aldeídos e

cetonas, terpenóides e fenilpropanóides (como os ácidos caféico e clorogênico), esteróides,

aminoácidos, polissacarídeos, hidrocarbonetos, ácidos graxos e vários outros compostos em

pequenas quantidades (Hu et al., 2005; Hayacibara et al., 2005; Ozkul et al., 2004; Matsuda et

al., 2002; Rocha et al., 2003).

De todos esses grupos de compostos, certamente o que vem chamando mais atenção dos pesquisadores é o flavonóides A eles, bem como aos ácidos fenólicos, são atribuídas as propriedades antibacteriana, antiviral e antioxidante (Lima, 2006 [On-line]).

Diante do que até aqui foi visto, não há como negar que a composição química da

própolis possui distintas atividades farmacológicas, possivelmente provenientes da sinergia

existente entre estes vários elementos. Então, em face disso, depreende-se que a própolis

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Page 27: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

possui um grande potencial terapêutico, principalmente, em relação às atividades

antiinflamatória, antimicrobiana, antineoplásica e antioxidante.

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Page 28: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

4 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DA PRÓPOLIS

A composição química da própolis depende da localização geográfica em que se

situa o enxame. Assim, pode-se afirmar que sua atividade biológica está relacionada com a

ecologia vegetal da região visitada pelas abelhas para a coleta dos materiais necessários à sua

produção. Existem dois tipos distintos de própolis, quanto a sua atividade antibacteriana e

composição fenólica em diferentes épocas de coleta.

A própolis, por suas qualidades ao que sabe, pode ser utilizada pelo ser humano

para diversas finalidades, dentre elas, a possibilidade de utilização como fármaco. Se em

períodos remotos da história da humanidade ela foi utilizada, por assim dizer, por mera

intuição, a prática continuada de seu uso, terminou por confirmar a hipótese de que possuía

potencial terapêutico.

Esse potencial foi pelo menos em parte, comprovado cientificamente. Assegura

Guimarães (1989, p. 113), que

Em 1971 o Dr. I. F. Anicov, da Rússia, tratou de 25 pacientes que sofriam de úlcera gástrica duodenal, todos na faixa etária de 25 a 50 anos. Esses pacientes portavam enfermidades entre 5 e 10 anos. Todos tinham sido tratados várias vezes em clínicas ou balneários, comprovando-se uma leve melhora. Ele empregou uma solução alcoólica ou própolis a 10% e chegou às seguintes conclusões: a própolis tem marcado efeito “neurotropo”; por sua ação pode ser recomendada como regulador da atividade dos fermentos digestivos; influi visivelmente no sistema nervoso central e vegetativo; pode ser aplicada no tratamento ambulatório.

Como se percebe, a utilização da própolis há bastante tempo deixou de ser

utilizada apenas por pessoas simples da zona rural, para alcançar uso terapêutico na clínica

médica, embora os estudos acadêmicos a respeito de sua eficácia possam não ser ainda

conclusivos. No entanto, pode-se assegurar que a própolis já está sendo utilizada em muitos

fármacos, como afirma Guimarães (1989, p. 113):

[…] aquecida e misturada com vaselina, serve de excelente ungüento para curar feridas e queimaduras, pertubações da boca, dores de dente, dores reumáticas, úlceras, Mastigando-se pedaços de própolis evitam-se infecções bucofaríngeas, e está muito indicado para evitar epidemia de gripe.

No Brasil tem-se realizado muitas experiências com a própolis como

medicamento. No estado do Paraná um laboratório farmacêutico, o Laboratório Indústria

Breyer & Cia Ltda., fabrica produtos farmacológicos como propolina líquida, oral L3,

propolina pastosa P1, P2 e P3 para diversas aplicações.

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Page 29: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

Uma notícia importante sobre a própolis, além das já constatadas, é que, pelo

menos até onde se tem conhecimento, ela não concorre para o desencadeamento de estados de

hipersensibilidade, embora, mais uma vez, reconhece-se, ainda há a necessidade de estudos

mais aprofundados para verificar possível potencial alergino na própolis. Ou seja, a ciência já

reconhece que a própolis possui ação antibacteriana, antiinflamatória, antioxidante, antiviral,

cicatrizante, bem como outras propriedades menos importantes.

4.1 Propriedade antibacteriana

Dentre as diversas propriedades biológicas da própolis, as mais estudadas,

segundo Lustosa.; Galindo.; Nunes.; Randau e Neto (2011, [On-line]), sem dúvidas são as

antibacteriana e antifúngica, cujos efeitos se devem

[…] à flavonona pinocembrina, ao flavonol galagina e ao éster feniletil do ácido caféico, com um mecanismo de ação baseado provavelmente na inibição do RNA-polimerase bacteriano […]. Outros componentes como os flavonóides, o ácido caféico, ácido benzóico, ácido cinâmico, provavelmente agem na membrana ou parede celular do microorganismo, causando danos funcionais e estruturais […].

A despeito dessas propriedades da própolis serem as biologicamente mais

estudadas, ainda há dúvidas sobre sua completa eficácia, de modo que a própolis sozinha

parece não ser a melhor indicação como fármaco, mas pode ser admitida paliativamente e/ou

de forma concomitante com fármacos cujos efeitos benéficos sejam cientificamente

comprovados.

Isso, no entanto, não coloca as propriedades da própolis na posição de mera

crença popular, mas demonstra a necessidade de se continuar a estudar essas propriedades

cientificamente. Estudos como os de Marcucci et al. (2001) e de Lu et al. (2005) constataram

que a própolis possui atividade antibacteriana maior contra bactérias Gram-positivas e

limitada contra Gram-negativas. No entanto, os estudos desenvolvidos sobre a propriedade

antibacteriana da própolis ainda não conseguiram determinar porque ela é mais efetiva contra

bactérias Gram-positivas do que contra as Gram-negativas.

Estudo citado por Rezende et al. (2006) e Packer & Luz, (2007), realizado com

extratos de própolis comercializados no Brasil mostrou atividade antimicrobiana significativa

contra bactérias Gram-positivas, mas menos importante no que se relaciona a bactérias

Gram-negativas. Vargas et al. (Apud LUSTOSA et al., 2011 [On-line]), confirma que

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Page 30: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

Até o momento, não se tem dados que respondam o porquê desta menor atividade dos extratos de própolis contra bactérias Gram-negativas. Estas bactérias possuem uma parede celular quimicamente mais complexa e um teor lipídico maior, o que pode explicar essa maior resistência.

Mais uma vez se confirma que os estudos realizados sobre as propriedades

biológicas da própolis ainda não foram capazes de compreender de forma prefeita como

funcionam seus princípios ativos, bem com suas possibilidades terapêuticas, neste caso

específico, como bactericida.

Além da propriedade antibacteriana, a própolis também tem demonstrado

excelentes atividades fungistática e fungicida, em testes realizados em laboratório contra

leveduras identificadas como causadoras de onicomicoses, como demonstra Oliveira et al.

(2006) e Longhini et al. (2007) (Apud LUSTOSA, et al., 2011, [On-line]).

Reforçam Lustosa, et al. (2011, [On-line]), que diversos trabalhos, dentre eles os

de Shub et al. (1981), Stepanovic et al. (2003), Fernandes Jr. et al. (2005) e de Onlen et al.

(2007), têm verificado, após exaustivos anos de pesquisa, a atividade sinérgica da própolis

associada a diversos antibióticos. Isto é válido contra cepas resistentes a benzilpenicilina,

tetraciclina e eritromicina.

Muitos autores, inclusive os citados acima por Lustosa, et al. (2011, [On-line]),

chegaram à conclusão de que a própolis possui ação sinérgica importante. Esta característica

cinegética pode se constituir como alternativa terapêutica para a resistência microbiana e

antifungicida, mas isso dependerá sempre de sua composição e de sua associação com outros

medicamentos.

Não é demais ressaltar que a composição química da própolis depende de

características ambientais importantes, dentre elas, as essências vegetais existentes em cada

bioma específico. No entanto, mesmo apresentando composição diferenciada, a própolis

desempenha sempre as mesmas funções protetivas contra os vários inimigos atuais ou

potenciais das colmeias.

4.2 Propriedade antiinflamatória

As inflamações ou processos inflamatórios possuem princípios causais diversos

que acometem o ser humano e outros animais com freqüência, se constituindo, pois em fonte

de preocupação para a pesquisa científica. Diz Menezes (2011, [On-line]) que

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Page 31: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

Os processos inflamatórios estão associados a diversas doenças e suas causas são variadas. Em trabalhos com camundongos e coelhos tem sido constatada uma atividade antiinflamatória de soluções hidroalcoólicas da própolis, tanto em aplicações tópicas, bem como através de injeções ou mesmo via oral.

Em conformidade com Lustosa et al., (2011 [On-line]) a ação antiinflamatória da

própolis pode se dever à presença de certas substâncias como os flavonóides, e em especial, a

galangina, uma vez que

Este flavonóide apresenta atividade inibitória contra a ciclooxigenase (COX) e lipooxigenase. Tem sido relatado também que o ácido fenil éster caféico (CAPE), possui atividade antiinflamatória por inibir a liberação de ácido aracdônico da membrana celular, suprimindo as atividades das enzimas COX-1 e COX-2 (Borrelli et al., 2002) (LUSTOSA et al., 2011 [On-line]).

A própolis tem demonstrado ação antiinflamatória também por inibir a síntese das

prostaglandinas e ativar a glândula timo, o que se constitui como auxílio para manter o

organismo imune pela promoção da atividade fagocítica e estimulação da imunidade celular.

4.3 Propriedade antioxidante

Sem dúvidas, um dos problemas mais significativos para as ciências médicas são

os radicais livres, os quais concorrem para o envelhecimento e a degradação celular, o que

resulta no surgimento de muitas patologias e compromete o funcionamento, e por vezes, a

viabilidade do organismo. Citando estudos de outros pesquisadores, como Devasagavan et al.,

(2004) assegura Menezes (2011, [On-line]) que

A ocorrência de diversas doenças está relacionada a aumentos nos níveis de radicais livres em nosso organismo, entre elas: doenças cardiovasculares; doenças reumáticas; doenças neurológicas; doenças psiquiátricas; envelhecimento precoce; neoplasias; osteoporose; diabetes e inflamação.

Pois bem, os radicais livres têm sido combatidos de forma preventiva através da

alimentação rica em Betacaroteno e outras substâncias contidas nas plantas como os

polifenóis, portadores de reconhecidas propriedades antioxidantes. Como se apontou em

momento anterior, a própolis se constitui como uma resina vegetal utilizada pelas abelhas

para a proteção das colmeias, a qual é rica em polifenóis. No dizer de Menezes (2011, [On-

line]) “Além dos polifenóis, a própolis contém uma extensa gama de outros compostos com a

propriedade de remover esses radicais livres em excesso de nosso organismo […]”.

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Page 32: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

Ainda segundo Menezes (2011, [On-line]), muitos pesquisadores dedicados ao

estudo das propriedades farmacológicas da própolis têm apresentado relatos sobre o

isolamento de variados compostos da própolis que se apresentam efetivos antioxidantes, de

modo especial, os flavonóides liderados pelo CAPE. No entanto, mesmo quando removido o

CAPE em laboratório, a própolis continuou a apresentar atividade antioxidativa.

4.4 Propriedade antiviral

Historicamente o mel apícola e própolis têm sido utilizados pela sabedoria popular

com função antiviral. Asseguram Lustosa, et al. (2011, [On-line]), que existem poucos relatos

sobre a atividade antiviral da própolis. No entanto,

Marcucci (1995) cita uma ação virucida da própolis nos vírus do herpes simplex (HSV) e da estomatite vesicular (VSV). Em estudo realizado na Ucrânia, foi comparada a eficácia de pomada de própolis canadense com pomadas de aciclovir e placebo (veículo) no tratamento de pacientes com herpes genital tipo 2 recorrente. A preparação de própolis contendo flavonóides apresentou-se mais efetiva que as outras duas na cicatrização das lesões e redução dos sintomas locais (Vynograd et al., 2000).

É possível que estudos mais aprofundados concorram no futuro para determinar

de modo definitivo as propriedades antivirais ou não da própolis, para além das constatações

já efetivadas, inclusive aquelas que dão conta de que compostos existentes na própolis que são

efetivos contra as variantes X4 e R5 do HIV-1, se não como tratamento, pelo menos como

inibidor da entrada de vírus no organismo.

4.5 Propriedade cicatrizante

Se alguns compostos contidos na própolis se mostram efetivos como

antiinflamatório, então é possível que possuam também propriedades cicatrizantes. Dizem

Lustosa, et al. (2011, [On-line]) que

A propriedade cicatrizante da própolis, assim como várias outras propriedades biológicas, está relacionada com flavonóides e ácidos fenólicos (Arvouet-Grand et al., 1994). Em estudo comparado da propriedade cicatrizante de um creme de própolis com um de sulfadiazina de prata, foi demonstrado que os ferimentos tratados com própolis apresentaram menos inflamação e mais rápida cicatrização do que aqueles tratados com sulfadizina de prata (Gregory et al., 2002).

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Page 33: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

Já não há dúvidas sobre o potencial cicatrizante de alguns compostos da própolis,

de modo especial, como já se disse acima, por suas funções antiinflamatórias, tanto é que já

há experiências positivas de seu uso inclusive em traumas pós-cirúrgicos com bons resultados,

de modo que se falta alguma coisa para que a própolis seja utilizada largamente como

cicatrizante, são pesquisas específicas para se chegar a fórmulas apropriadas, o que demanda

tempo, mas pode contribuir para a solução de muitos problema a baixo custo e pouco impacto

colateral.

4.6 Outras propriedades

Um dos mais sérios problemas dos denominados medicamentos naturais, é que

eles, via de regra, terminam sendo utilizados pela população como panacéia, ou seja, como

princípio medicamentoso para todas as patologias, quando se sabe que nenhum medicamento

poderia ser indicado indiscriminadamente para a prevenção ou o combate de todos os males.

No entanto, para muito além das funções acima, os compostos da própolis podem

ser utilizados no tratamento de muitas patologias. Menezes (2011, [On-line]) afirma que

“Diversas outras atividades da própolis são descritas em vários trabalhos, tais como

propriedades hepatoprotetivas apresentadas”. Por sua vez Sy et al. (2011, [On-line])

asseguram

[…] que o tratamento com extrato de própolis atenua as inflamações das vias aéreas em ratos, provavelmente por sua habilidade em modular a produção de citocina. Sendo assim, seria um novo agente no tratamento da asma. Orsolic et al. (2004) demonstraram que derivados hidrossolúveis de própolis, ácido caféico, éster feniletil do ácido caféico e quercetina poderiam ser extremamente úteis no controle do crescimento tumoral em modelos experimentais. Nos últimos anos muitos estudos tem demonstrado a atividade da própolis no sistema imunológico (ativando macrófagos, aumentando a atividade lítica contra células tumorais, estimulando anticorpos, etc) como apresentado numa extensa revisão realizada por Sforcin (2000), todavia, cita que os mecanismos envolvidos na quimioprevenção ainda não são completamente conhecidos.

Além de tudo isso, os mesmo estudos dão conta de que a própolis concorre

para baixar a pressão arterial e os níveis de colesterol no sangue, mas, mais uma vez, ressalta-

se que ainda se carece de experimentos científicos que possam comprovar de uma vez por

todas se isso está correto.

Estudo conduzido por Dantas et al. (2006) (Apud MENEZES, 2011, [On-line]),

confirma que a própolis pode ser utilizada como antiprotozoário, pois ela mostrou-se ativa

contra Toxoplasma gondii, Trichomonas spp. e Giardia lamblia. Além disso, testes in vitro

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Page 34: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

com extratos de própolis foram realizados contra Trypanosoma cruzi e mostraram atividade

contra as formas epimastigotas desse parasita, sendo uma possível alternativa para o

tratamento da Doença de Chagas (Prytzyk et al., 2003). Giorgio et al. (2006) estudaram a

atividade da própolis brasileira no tratamento da leishimaniose observando ser eficaz em

culturas de macrófagos infectados, baseado nesse e em outros estudos requisitaram patente

para um método de tratamento para leishimania com própolis brasileira. Mais tarde outro

estudo realizado com própolis vermelha, oriunda do nordeste do Brasil, mostrou ser ativo

contra leishimania sem ser tóxico para os macrófagos.

Finalmente, um dos procedimentos técnicos para o estudo das propriedades dos

compostos da própolis, o espectro de absorção de UV é um dos parâmetros físico-químicos

mais utilizados, pois as suas atividades farmacológicas têm sido atribuídas a compostos

fenólicos, tais como flavonóides, ácido caféico, ácido cinâmico e derivados, os quais

absorvem nesta região do ultravioleta.

A absorbância máxima da própolis do tipo 6 foi também cerca de 3 vezes menor

que a do tipo 12, indicando assim uma menor concentração de fenólicos.

Figura 3: Espectros de absorção na região UV – visível do extrato etanólico das própolis tipo 6 e 12

Fonte: Alencar et al., 2005 e Awalle et al. (2008) (Apud LUSTOSA et al., 2011 [On-line]).

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Page 35: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

A própolis do tipo 6 apresentou uma composição química com poucos compostos

de natureza fenólica e todos mais apolares que os da própolis do tipo 12, pois somente foram

eluídos em altas concentrações de metanol. Pode-se identificar na própolis do tipo 12 a

presença do ácido ferúlico, ácido cumárico e canferide.

Como todos os denominados produtos fitoterápicos, reconhece-se que a própolis

possui muitas e diversificadas propriedades que podem ser utilizadas farmacologicamente,

mas praticamente todas as suas aplicações ainda se constituem como apostas, por ainda faltar

estudos conclusivos.

No estágio técnico-científico que caracterizou o final do século XX e que

caracteriza este início de século XXI, há possibilidades de se estudar de forma profunda e

definitiva as propriedades da própolis, de modo a se poder afastar os mitos que por acaso a

cerquem e se acentuar o nível de certeza sobre suas propriedades farmacológicas, o que se

constituiria como importante avanço, tanto para a saúde humana, quanto para a saúde animal.

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Page 36: Própolis - estudos de suas propriedades farmacológicas - Daniela Dandi

CONCLUSÃO

As abelhas, resultado de mutações e adaptações de vespas melíferas, habitam a

superfície do Planeta Terra há milhos de anos. Esses insetos, por suas qualidades e

capacidades, sempre se constituíram como um misterioso fascínio para o ser humano. O

homem, de alguma forma, sempre teve admiração pela operosidade e engenhosidade das

abelhas e é possível que tenha tido no mel, a primeira substância edulcorante.

O fascínio e a admiração que o ser humano demonstra pelas abelhas tem razão de

ser. Elas se constituem, possivelmente como um dos principais agentes polinizadores das

espécies floríferas, de sorte que sem sua existência, é possível que não houvesse se

desenvolvido a agricultura, e a flora natural seria composta de menos essências vegetais. Isso,

minimamente teria concorrido para a não existência de muitas espécies da fauna.

No entanto, o ser humano, historicamente tem utilizado muitos outros produtos

das abelhas, como por exemplo, a cera e a geléia real, e tem tido na colmeia, a única fonte de

própolis, resina vegetal utilizada pelas abelhas para proteger a colônia contra diversos

inimigos microscópicos e/ou macroscópicos, já amplamente utilizada como fármaco, por seus

princípios ativos.

A própolis, ao que se sabe, usada em várias partes do mundo, é indicada para

melhorar a saúde e prevenir doenças como inflamação, doenças do coração, diabetes e mesmo

o câncer. Além disso, problemas tratados com própolis incluem mau hálito (halitose), eczema,

infecções na garganta, úlceras e infecções urinárias. No entanto, os estudos comprobatórios de

sua ação farmacológica, ainda não são definitivamente conclusivos, de modo que seu uso

ainda é indicado apenas como paliativo.

No Brasil a primeira publicação sobre a própolis, em 1984, apresenta um estudo

comparativo do efeito da própolis e antibióticos na inibição de Staphylococcus aureus. A

própolis brasileira estudada apresentou mais atividades do que vários antibióticos testados.

Apesar da posição de destaque na produção e comércio da própolis, e de possuir a quinta

maior produtividade científica no assunto. A atividade de pesquisa no Brasil não reflete em

número, nem em conteúdo, o interesse internacional que a própolis brasileira possui,

principalmente para os japoneses.

A maioria dos produtos à base de própolis comercializada no Brasil possui

registro no Ministério da Agricultura, que preconiza os limites para fixação de identidade e

qualidade da própolis em Instrução Normativa própria, a de nº. 3, de 19 de janeiro de 2001.

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Os produtos que contêm própolis e que apresentem indicações terapêuticas podem ser

registrados como medicamentos específicos sendo classificados como opoterápicos, e sua

comprovação de segurança e eficácia segue a norma técnica da Câmara Técnica de

Medicamentos Fitoterápicos (CATEF).

Cabe ainda ressaltar, que a despeito da importância das abelhas para o ambiente

natural e para o ser humano, sua criação em cativeiro ainda é incipiente em face da demanda

por seus produtos. Isso possivelmente se deva ao desconhecimento das pessoas sobre os

modos de se criar abelhas de forma racionalizada e produtiva. Isso indica que muitas abelhas

estão sendo mortas e as colmeias destruídas por formas de extração de mel e de própolis

desastrosas.

Isso seria resolvido com incentivo à criação doméstica de abelhas, a qual depende

de pouco espaço físico, podendo, as abelhas desprovidas de ferrão, ser criadas até mesmo em

espaços urbanos, com amplos benefícios para o ser humano e para o ambiente natural. Uma só

colmeia seria suficiente para suprir as necessidades de uma família que poderia utilizar o mel

como fonte de alimento e a própolis como fonte de medicamento, mesmo que paliativo.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Produção de mel apiário em Imperatriz - MA

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Fonte: Arquivo pessoal – Apiário Mel Jambu

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Fonte: Arquivo pessoal – Apiário Mel Jambu

Fonte: Arquivo pessoal – Apiário Mel Jambu

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Fonte: Arquivo pessoal – Apiário Mel Jambu

Fonte: Arquivo pessoal – Apiário Mel Jambu

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