promoção de competências pessoais e sociais (apco)

Upload: ana-monica-pereira

Post on 02-Mar-2016

97 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Associao de Paralisia Cerebral de Odemira

    Promoo de Competncias Pessoais e Sociais

    Desenvolvimento de um Modelo Adaptado a Crianas e Jovens com Defi cincia

    Manual Prtico

    Lcia Neto CanhaSnia Mota Neves

    ParceirosFaculdade de Motricidade Humana

    Instituto Cientfi co de Formao e Investigao (ICFI-FPAPP)

  • Promoo de Competncias Pessoais e SociaisDesenvolvimento de um Modelo Adaptado a Crianas

    e Jovens com Defi cincia

    Equipa pela APCOLcia Neto Canha

    Snia Mota Neves

    ConsultoresProf. Dra. Margarida Gaspar de Matos (FMH)

    Prof. Dra. Celeste Simes (FMH)

    Prof. Dra. Maria da Graa Andrada (ICFI - FPAPP)

    ColaboradoresCPCBeja

    Maria de Lurdes Freitas

    Ana Maria Batista

    Francisca Guerreiro

    APCvora

    Isabel Appleton

    Marisa Pacheco

    Susana Gutierrez

    Maria Helena Netto

    APCFaro

    Patrcia Neto

    Cercimor

    Alexandra Marques

    Carla Rocha

    APPC Leiria

    Susana Caseiro

    Andreia Prado

    Cercisiago

    Mnica Duarte

    APCOdemira

    Fernanda Alexandre

    Natacha Marques

    Ana Maria Marques

    Marina Jesus

    EditorInstituto Nacional para a Reabilitao - INR, I.P.

    IlustraoPaula Canha

    ISBN978-989-8051-07-3

    Depsito Legal274472/08

  • a todos os jovens com defi cincia que nos deram inspirao e motivao para este trabalho,

    a todos os tcnicos que prontamente aderiram a um trabalho de equipa,

    aos dirigentes das instituies participantes, que generosamente cederam os seus tcnicos e jovens,

    Dra. Graa Andrada pela sua preciosa e sempre pronta colaborao,

    Prof. Margarida Matos e Prof. Celeste Simes pela sua sbia e reconfortante superviso,

    O nosso obrigado.

  • ndiceIntroduo ............................................................................................ 13I Enquadramento Terico ................................................................ 15

    A competncia Social e a Defi cincia.......................................................15Competncia Social: conceitos e modelos ..................................................... 15O modelo adoptado ........................................................................................... 17Competncia Social e Relaes Sociais ......................................................... 19

    Os pares e as percepes de bem-estar ...................................................................19O dfi ce em aptides sociais ......................................................................................20

    Os Programas de Treino de Aptides Sociais ................................................ 22

    II Modelo e Estrutura do Programa de Treino em Competncias Sociais . 24O modelo do TCPS .....................................................................................24

    Componente I - Conscincia pessoal e social: quem sou eu e quem so os outros?................................................................................................................ 25Componente II Comportamento social: como me comporto? ................... 26Componente III Planeamento e estratgia: para onde vou? ...................... 27Contexto A capacitao social ................................................................... 28

    Ligar a Avaliao Interveno ................................................................33

    III Actividades ................................................................................... 35A - Conscincia Pessoal e Social..............................................................35

    Quem sou e quem so os outros? ............................................................31A1 Auto - Conscincia .................................................................................... 35

    A1.1 - Identidade Pessoal e Social .............................................................................35QUEM SOU EU .........................................................................................................................35

    Actividade 1 - O nome ...............................................................................................................................35Actividade 2 - Referir dados pessoais relevantes .....................................................................................36Actividade 3 Falar de mim ......................................................................................................................36Actividade 4 - Como cumprimento diferentes pessoas? ...........................................................................37

    O QUE EU GOSTO E O QUE EU NO GOSTO .......................................................................39Actividade 1 Roda dentada ....................................................................................................................39

    EM QUE ACREDITO, QUAIS OS MEUS VALORES .................................................................41Actividade 1 Introduo aos valores .......................................................................................................41Actividade 2 Qual o valor? ...................................................................................................................42Actividade 3 Quais os valores importantes para mim? ..........................................................................44Actividade 4 Valores em aco...............................................................................................................46

    QUAIS AS EMOES DOMINANTES EM MIM .......................................................................48Actividade 1 O que mexe com as minhas emoes? .............................................................................48

    O QUE OS OUTROS PENSAM DE MIM: A REPUTAO .......................................................50Actividade 1 Como os outros me vem ..................................................................................................50Actividade 2 O que a reputao? ........................................................................................................53Actividade 3 Perder uma boa reputao ................................................................................................55Actividade 4 Mudar a reputao .............................................................................................................57Actividade 5 Julgar mal os outros ...........................................................................................................59

    TER UMA DEFICINCIA ...........................................................................................................61Actividade 1 Pessoas diferentes ............................................................................................................61Actividade 2 Ter uma defi cincia ............................................................................................................63

    A1.2 - Como me reconheo - o meu corpo ................................................................65UTILIZAR OS SENTIDOS, SENTIR O CORPO .....................................................................65

    Actividade 1 A viagem dos sentidos .......................................................................................................65Actividade 2 O espelho ...........................................................................................................................66Actividade 3 Espelho de sentimentos .....................................................................................................67Actividade 4 Com as emoes espelhadas na testa ..............................................................................67

    EMOES, CORPO E CONTEXTOS .......................................................................................68Actividade 1 Leiam-me! ..........................................................................................................................68Actividade 2 O nosso corpo cheio de emoes .....................................................................................71

    CORPO DIFERENTE ................................................................................................................74Actividade 1 At os nossos dedos so diferentes! .................................................................................74Actividade 2 Somos todos diferentes! ....................................................................................................75Actividade 3 O que posso e no posso fazer .........................................................................................77Actividade 4 O que eu seria no meu corpo ............................................................................................79

    A1.3 - Como me reconheo: atitudes .........................................................................80O QUE PENSO DE MIM MESMO A AUTO-ESTIMA ..............................................................80

  • Actividade 1 Pistas para desenvolver a auto-estima ..............................................................................80Actividade 2 Eu orgulho-me de. ..........................................................................................................81Actividade 3 O objecto mais precioso do mundo ...................................................................................82

    COMO ME COMPORTO EM RELAO AOS OUTROS ..........................................................83Actividade 1 A tua atitude .......................................................................................................................83

    A 2 Conscincia Social ................................................................................... 85A 2.1 Como reconheo os outros a empatia .......................................................85

    A PERSPECTIVA DO OUTRO: CALAR OS SAPATOS DOS OUTROS ...............................85Actividade 1 Porque tenho este ponto de vista? ....................................................................................85Actividade 2 Ir para o outro lado .............................................................................................................88

    QUE SENTIMENTOS SINTO NOS OUTROS? .......................................................................89Actividade 1 O que sentes? ....................................................................................................................89Actividade 2 Compreender os outros .....................................................................................................91

    FAZER COM QUE OS OUTROS SE SINTAM CONFORTVEIS .............................................92Actividade 1 Momentos embaraosos para os outros ............................................................................92Actividade 2 Ajudar os outros em situaes de stress ...........................................................................95Actividade 3 Cabe-me a mim fazer alguma coisa ..................................................................................97Actividade 4 Situaes para cair fora! ....................................................................................................99

    A 2.2 Como reconheo os outros os papeis sociais ........................................101AS NECESSIDADES DOS OUTROS E AS MINHAS NECESSIDADES.................................101

    Actividade 1 Pensar os outros ..............................................................................................................101

    B Comportamento Social ......................................................................103

    Como me comporto? ...............................................................................103B1 Comportamento verbal e no verbal ..................................................... 103

    B1.1 - Signifi cados do corpo .....................................................................................103O QUE COMUNICA NO CORPO ............................................................................................103

    Actividade 1 Descobrir o outro pelo tacto .............................................................................................103Actividade 2 Esttuas de barro .............................................................................................................104Actividade 3 Olhar nos olhos ................................................................................................................104Actividade 4 Dueto emocional ..............................................................................................................104

    A MINHA APARNCIA .............................................................................................................106Actividade 1 A minha aparncia ...........................................................................................................106Actividade 2 O que uma boa impresso? ..........................................................................................107

    B1.2 - Comunicar com os outros ..............................................................................109FAZER-SE OUVIR E SER OUVIDO ........................................................................................109

    Actividade 1 Ouvir ou no ouvir ............................................................................................................109Actividade 2 Ver e escutar ....................................................................................................................110Actividade 3 Identifi car um bom ouvinte ...............................................................................................110

    COMUNICAR ATRAVS DO COMPORTAMENTO ................................................................. 112Actividade 1 O que afi nal comunicar? ...............................................................................................112Actividade 2 Comunicar atravs do comportamento ............................................................................114

    B1.3 Observao e Interpretao ..........................................................................116AVALIAR AS SITUAES: O QUE SE PASSA AQUI? ........................................................... 116

    Actividade 1 Ter expectativas claras.....................................................................................................116B2 Assertividade ........................................................................................... 118

    B2.1 Estar em grupo ...............................................................................................118EXPRESSAR OPINIES......................................................................................................... 118

    Actividade 1 A minha opinio e a dos outros ........................................................................................118Actividade 2 Construindo opinies .......................................................................................................119Actividade 3 Posso dar a minha opinio? ............................................................................................120

    B2.2 Lidar com as emoes ...................................................................................121LIDAR COM OS MEDOS .........................................................................................................121

    Actividade 1 Chapu dos medos ..........................................................................................................121Actividade 2 Eu tenho medo...eu desejo ..............................................................................................122

    DIZER O QUE SINTO VS CONTROLAR O QUE MOSTRO ...................................................123Actividade 1 Sentimentos e sensaes ................................................................................................123Actividade 2 Caixa de sensaes .........................................................................................................124Actividade 3 Agora pra! ......................................................................................................................125

    RECONHECER E EXPRESSAR EMOES ATRAVS DOS OUTROS ...............................126Actividade 1 Linha da ansiedade ..........................................................................................................126

    B2.3 Evitar a agressividade....................................................................................127NEGOCIAR ..............................................................................................................................127

    Actividade 1 Escolher e negociar: afi nal onde vamos? ........................................................................127Actividade 2 Lidar com provocaes ....................................................................................................128

    DEFENDER OS MEUS DIREITOS ..........................................................................................130Actividade 1 Eu tenho esse direito .......................................................................................................130

  • B2.4 Lidar com situaes difceis .........................................................................132LIDAR COM A PRESSO DO GRUPO ...................................................................................132

    Actividade 1 J no me querem no grupo ............................................................................................132SER POSTO DE LADO ...........................................................................................................134

    Actividade 1 A teia da aceitao ...........................................................................................................134LIDAR COM UMA ACUSAO ...............................................................................................135

    Actividade 1 Porque me acusam? ........................................................................................................135

    C Planeamento e estratgia ..................................................................137

    Para onde vou? .........................................................................................137C1 Resolver Problemas e Planear o Futuro ............................................... 137

    C1.1 Reconhecimento dos problemas ..................................................................137TER UM PROBLEMA ..............................................................................................................137

    Actividade 1 Ter um problema ..............................................................................................................137USAR O SENSO COMUM .......................................................................................................139

    Actividade 1 Pensar com esperteza .....................................................................................................139C1.2 Colocar objectivos e gerar alternativas .......................................................141

    SER REALISTA ........................................................................................................................141Actividade 1 Quadrado cego ................................................................................................................141

    SER FLEXVEL ........................................................................................................................142Actividade 1 importante refl ectir ........................................................................................................142

    C1.4 Agir ..................................................................................................................144VER AS SITUAES REALISTICAMENTE ............................................................................144

    Actividade 1 Fazer mudanas realistas ................................................................................................144Actividade 2 Fazer mudanas para melhor: hbitos e amigos .............................................................147Actividade 3 Fazer mudanas para melh or: atitudes e aces ...........................................................149

    C2 Relaes interpessoais .......................................................................... 151C2.1 A amizade ........................................................................................................151

    RECONHECER O VALOR DA AMIZADE ................................................................................151Actividade 1 O valor da amizade ..........................................................................................................151

    CAMINHOS PARA FAZER AMIGOS .......................................................................................154Actividade 1 Tal como eu! .....................................................................................................................154Actividade 2 Fazendo amigos ..............................................................................................................156Actividade 3 Qualidades de um bom amigo .........................................................................................158

    C2.2 Estar bem com os outros ..............................................................................160RESPEITAR OS OUTROS COMO INDIVDUOS ....................................................................160

    Actividade 1 O outro to diferente ou to igual? ..................................................................................160C2.3 Situaes Sociais com os Pares...................................................................163

    TORNAR-ME UM BOM CONVERSADOR ..............................................................................163Actividade 1 Iniciar uma conversa ........................................................................................................163

    COLOCAR AS NECESSIDADES DOS OUTROS PRIMEIRO ................................................166Actividade 1 Primeiro os outros! ...........................................................................................................166

    LIDAR COM A DISCRIMINAO ............................................................................................168Actividade 1 Porque est ele a ser discriminado? ................................................................................168

    PARTILHAR O QUE IMPORTANTE .....................................................................................171Actividade 1 Vamos partilhar? ..............................................................................................................171

    DESENVOLVER RELAES SAUDVEIS ............................................................................173Actividade 1 Relaes especiais ..........................................................................................................173

    C 2.4 - Trabalhar em Equipa ......................................................................................176TER E DAR IDEIAS .................................................................................................................176

    Actividade 1 Ter e dar ideias.................................................................................................................176PARTILHAR UM TRABALHO OU TAREFA .............................................................................178

    Actividade 1 Partilhar um trabalho ou tarefa ........................................................................................178TRABALHAR EM EQUIPA .......................................................................................................180

    Actividade 1 Trabalhar em equipa ........................................................................................................180COOPERAR COM A AUTORIDADE ........................................................................................182

    Actividade 1 Cooperar com a autoridade .............................................................................................182Dinmicas de quebra-gelo .............................................................................. 184

    Actividade 1 - O acordeo .......................................................................................................................184Actividade 2 Apartamentos ...................................................................................................................184Actividade 3 Onde estou eu? ...............................................................................................................184Actividade 4 A arca de No ..................................................................................................................184Actividade 5 As cores ...........................................................................................................................185Actividade 6 Os quatro crculos ............................................................................................................185Actividade 7 O muro .............................................................................................................................185

    Referncias ...................................................................................................... 186Bibliografi a de Consulta.................................................................................. 188

  • Prefcio

    O caminho faz-se, caminhando com qualidade!

    Nos anos oitenta a expresso promoo de competncias de relacionamento interpessoal revestia-se de

    um carcter misterioso nas escolas Portuguesas. Era sobretudo usada na prtica clnica, por psiclogos

    que lidavam com doentes fbicos sociais, pretendendo:

    (1) trazer este conceito para intervenes preventivas universais,

    (2) atribuir-lhe um carcter de promoo de competncias (ao invs no foco nos problemas),

    (3) utilizar esta fi losofi a com crianas e adolescentes apelando para a sua participao activa na

    defi nio dos problemas e solues;

    (4) abordar o comportamento social a partir de uma perspectiva integrada, incluindo aspectos

    socioeconmicos e culturais, perceptivos, cognitivos, emocionais, motivacionais, e

    comportamentais;

    (5) trabalhar com as famlias e com os tcnicos envolvidos,

    (6) utilizar este tipo de metodologias para a promoo da sade/ bem-estar de crianas e adolescentes

    com objectivo da preveno do desajustamento e mal-estar pessoal e interpessoal,

    (7) utilizar este tipo de metodologias na promoo da participao social e qualidade de vida de

    populaes portadoras de defi cincia ou desvantagem social

    foi um trabalho pioneiro em Portugal, no qual a Dr Lcia Canha teve, desde logo, um papel de destaque

    com o seu empenho, sensibilidade, criatividade e competncia.

    A promoo de competncias pessoais e sociais como estratgia preventiva do desajustamento

    pessoal e social, e como estratgia promotora da sade/ bem-estar, uma fi losofi a de interveno

    grandemente baseada:

    (1) num modelo (chamemos socio-cognitivo) de Lev Vygotsky, que nos remete para a necessidade de

    potenciar em cada criana, jovem ou adulto, a sua zona de desenvolvimento prximo;

    (2) mais tarde num modelo de aprendizagem socio-cognitiva de Albert Bandura, (que mais recentemente

    lemos socio-cognitiva-emocional),

    (3) no modelo de Bruner que nos fala de modalidades de interaco com o mundo, privilegiando o

    modo activo e grfi co na infncia

    (4) e ainda nas linhas orientadoras da OMS desde Alma-Ata, que nos preconizam intervenes preventivas

    e promocionais, com a participao das populaes visadas e outros agentes comunitrios, e que

    se centram na promoo de competncias pessoais e sociais, na autonomia, na resilincia, no

    optimismo, na participao social e na responsabilizao pessoal.

    Deixo aqui um alerta sublinhando a necessidade de um modelo terico, que justifi que e que guie este tipo

    de intervenes. Esquecer este facto um atropelo qualidade da interveno.

  • Este tipo de intervenes no se pode reduzir a um conjunto de jogos, a uma animao de corredor, ou

    de recreio. Este tipo de intervenes visa uma mudana estrutural a nvel do desenvolvimento e

    da aprendizagem.

    Este tipo de metodologia pressupe um modelo terico e uma estratgia, promotora de sade e bem-

    estar pessoal e social.

    As tcnicas utilizadas tm que ser refl ectidas e verbalizadas, a passo e passo, com professores e alunos,

    permitindo a sua participao e favorecendo a sua autonomia e o exerccio da sua cidadania na medida

    das possibilidades (optimizadas) de cada um.

    Os profi ssionais tm que possuir uma slida formao terica e prtica. Seno, da ideia inicial, fi ca

    apenas a forma, mas no o contedo. esta uma das foras desta publicao: este livro no um mero

    produto, pronto a usar: o produto de vrios anos de trabalho e investigao, e espelha uma refl exo

    crtica e madura por parte dos autores. ainda um instrumento essencial no apoio a pais e tcnicos

    envolvidos, na sua interaco com crianas e jovens.

    para mim, como para a equipa do Projecto Aventura Social, um motivo de orgulho revermo-nos neste

    trabalho. motivo de orgulho acrescido reconhecer, entre os seus autores um dos seus eternos e

    queridos colaboradores. O contributo da Dr. Lcia Canha uma mais-valia com que contamos sempre.

    Esta obra mais um sinal da sua qualidade pessoal e profi ssional que recomendo vivamente.

    Lisboa, 19 Dezembro 2007

    Margarida Gaspar de Matos

    www.aventurasocial.com

  • Prefcio

    Este manual prtico de Promoo de Competncias Pessoais e Sociais tem grande importncia, pois

    preenche uma lacuna existente no nosso pas em relao aos programas de interveno e acompanhamento

    do jovem e adulto com defi cincia, para favorecer a sua incluso social.

    baseado nos princpios da Classifi cao Internacional da Defi cincia, Funcionalidade e Sade CIF,

    privilegiando programas de desenvolvimento das competncias sociais da pessoa com defi cincia, na

    sua interaco com o meio ambiente.

    A sua elaborao foi precedida de um inqurito a pessoas com defi cincias - o questionrio Comportamento

    e Sade em Jovens em Idade Escolar, utilizado no mbito do estudo portugus de 2000, questionrio

    este adaptado do Estudo Europeu Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) - para avaliao

    da sua situao relativamente sade, bem-estar fsico e psicossocial, e portanto da sua qualidade de

    vida. No inqurito s pessoas com defi cincia, foi tambm considerado o grau de severidade do dfi ce

    motor, aspecto que pode infl uenciar a incluso social atravs das barreiras fsicas, que essencial ter em

    ateno nos programas de incremento da autonomia pessoal e incluso social.

    As autoras salientam tambm a importncia da ligao avaliao interveno, aspectos que devem estar

    sempre interligados.

    O desenvolvimento da auto-estima e autoconfi ana so aspectos importantes do manual e tambm

    a aprendizagem do trabalho em equipa. Os valores morais e a cidadania so ainda outros aspectos

    importantes aqui salientados.

    O trabalho desenvolvido pelas autoras tem grande qualidade e baseia-se numa bibliografi a extensa mas

    tambm numa experincia prtica de apoio pessoa com defi cincia atravs da Associao de Paralisia

    Cerebral de Odemira e da colaborao de vrias Associaes de Paralisia Cerebral e CERCIs das regies

    do Alentejo e do Algarve.

    Dezembro 2007

    Maria da Graa de Campos Andrada

  • 13

    O programa de Treino de Competncias Pessoais e Sociais (TCPS) foi concebido no mbito de um

    projecto de investigao levado a cabo pela Associao de Paralisia Cerebral de Odemira (APCO)

    nos anos de 2005 e 2006: Incremento de Competncias Pessoais e Sociais Desenvolvimento de

    um Modelo Adaptado Pessoa com Defi cincia. Surge como resposta necessidade de desenvolver

    programas que promovam as competncias e o bem-estar a crianas e jovens com defi cincia, tendo

    em considerao questes especfi cas que surgem ao longo do percurso de desenvolvimento pessoal e

    social desta populao.

    De facto, tem existido uma preocupao crescente por parte dos profi ssionais da sade mental acerca

    do impacto que as questes do ajustamento e do funcionamento social, assim como, dos aspectos

    psicossomticos e atitudes face defi cincia, tm na melhoria das condies de vida da pessoa com

    defi cincia. Resultados de vrios estudos provam a existncia de relaes funcionais entre a solido e as

    difi culdades de ajustamento com os problemas de sade mental auto-relatados, incluindo a depresso e a

    ansiedade (Heiman e Margalit, 1998), e as difi culdades em manter e fazer amizades (Olney, Brockelman,

    Kennedy e Newson, 2004). Por outro lado, a idade e o estado de sade surgem como variveis que

    interferem com a qualidade de vida (Lee e McCormick, 2004). Estes dados alertam-nos para a necessidade

    de uma interveno o mais cedo possvel, no sentido de prevenir os problemas emocionais das crianas

    e jovens com defi cincia, assim como, desenvolver habilidades que lhes permitam estabelecer relaes

    com os pares e aprender a lidar com os dilemas emocionais. Neste sentido, o programa TCPS pretende

    abranger vrios aspectos do desenvolvimento pessoal e social, trabalhando essencialmente sobre duas

    metas de fundo: a promoo da sade e da qualidade de vida e a incluso social, escolar / profi ssional

    das pessoas com defi cincia.

    As actividades apresentadas no presente manual so fruto da prtica e da investigao dos profi ssionais

    que fazem parte da APCO, assim como, dos parceiros no projecto de investigao: Faculdade de

    Motricidade Humana, Instituto Cientfi co de Investigao e Formao, Centro de Paralisia Cerebral

    de Beja, a Associao de Paralisia Cerebral de vora, a Associao de Paralisia Cerebral de Faro, a

    Associao de Paralisia Cerebral de Leiria, a CERCIMOR e a CERCISIAGO. Desta investigao fi zeram

    parte dois estudos que, embora separados no tempo de execuo e nas metodologias utilizadas para

    a sua concretizao, foram complementares e seguindo uma lgica sequencial. Deste modo, partiu-

    se de um primeiro estudo quantitativo e, da anlise e discusso dos seus resultados, construiu-se um

    programa de interveno especfi co e adequado ao tipo de populao defi nida como populao alvo

    crianas e jovens com defi cincia. As instituies envolvidas foram parte activa na construo do

    modelo de interveno apresentado: participaram na formao que antecedeu e acompanhou a primeira

    implementao do TCPS no terreno, e colocaram em prtica o desenvolvimento dos contedos previstos

    pelo programa com grupos de jovens nas suas instituies. Da refl exo sobre esta prtica resultaram os

    ajustamentos considerados pertinentes.

    O TCPS organiza-se num primeiro plano em componentes de interveno que, enquadradas num

    modelo terico da aptido social, tentam respeitar a lgica da progresso do desenvolvimento da criana

    para o jovem, do individual para o social, do sentido para o vivido e refl ectido. Assim, o TCPS um

    Programa de Interveno que contm as trs seguintes componentes: Conscincia Pessoal e Social

    Introduo

  • 14

    quem sou eu e quem so os outros; Comportamento Social Observvel como me comporto?; e

    Planeamento e Estratgia para onde vou?.

    Cada componente contm vrias reas e subreas, que podem ser trabalhadas atravs de actividades

    sugeridas, contendo cada actividade, habilidades e objectivos especfi cos a desenvolver. A seleco e

    organizao das componentes e competncias a trabalhar baseou-se num modelo construdo a partir da

    reviso da literatura nacional e internacional sobre o desenvolvimento de competncias sociais na pessoa

    com defi cincia, nos resultados da investigao que antecedeu a realizao deste manual, assim como,

    na experincia acumulada pelo trabalho levado a cabo pelo Ncleo de Estudos do Comportamento Social

    Aventura Social da Faculdade de Motricidade Humana.

    As actividades propostas so uma colectnea de vrias dinmicas j desenvolvidas pelos participantes

    no projecto, nas dinmicas e metodologias desenvolvidas h vrios anos pela ARISCO - Associao para

    a Promoo Social e da Sade, e tambm o resultado da adaptao de actividades sugeridas por outros

    manuais destinados ao desenvolvimento de competncias pessoais e sociais com grupos de jovens e

    crianas com defi cincia ou difi culdades de aprendizagem (Mannix, 1998; Mannix, 1995; Mannix, 1993;

    Rajan, 2003; Verdugo, 2003). Pretende ser um programa abrangente abordando aptides que a literatura

    tem identifi cado como sendo crticas no desenvolvimento pessoal e social da pessoa com defi cincia.

    dada especial ateno aos indicadores de ajustamento e de sade mental que se tm mostrado

    relacionados com o nvel de satisfao com a vida dos jovens com defi cincia.

    Apesar do desenho do modelo e das actividades propostas pelo TCPS ter tido como referncia os jovens

    com defi cincia, as vrias componentes do programa podem ser exploradas por grupos de vrias idades

    e caractersticas e o TCPS pode ser aplicado em contextos diversos. Para tal, as actividades propostas

    devem ser adaptadas dependendo das necessidades, interesses e capacidades dos jovens com quem se

    est a trabalhar.

    A formao deve anteceder a aplicao do TCPS, pois os temas abordados devem ser implementados

    depois de os tcnicos interventores passarem pela vivncia dos mesmos, na perspectiva de que a promoo

    de competncias pessoais e sociais se faz no conhecimento profundo daquilo que queremos promover. O

    manual no deve ser seguido como uma estrutura rgida, isto , a estruturao das reas e das actividades

    so apenas uma sugesto. No planeamento da interveno, a seleco das reas a serem trabalhadas, e

    as estratgias a utilizar para a sua implementao, deve ter em conta a adaptao e a adequao de cada

    situao a cada grupo particular, segundo as necessidades avaliadas e o seu nvel de desenvolvimento.

    Assim, o TCPS apenas sugere uma lgica de interveno, temas e formas de trabalho.

    O presente manual inicia com uma exposio terica que fundamenta e justifi ca a aplicao de programas

    de competncias pessoais e sociais a pessoas com defi cincia. Segue com a apresentao do modelo

    e estrutura do TCPS e, fi nalmente, a terceira parte sugere actividades para trabalhar as reas e

    subreas propostas pelo modelo. Neste ltimo captulo, cada subrea introduzida por uma pequena

    abordagem competncia a trabalhar, qual se segue a sugesto de uma ou mais actividades para o seu

    desenvolvimento e estratgias para a sua dinamizao. So ainda sugeridas pistas para a refl exo sobre

    as actividades realizadas. A refl exo uma parte muito importante do trabalho proposto. Neste sentido,

    as actividades constituem apenas um veculo para anlise, aprendizagem ou treino de determinada

    aptido, e para que cada um possa partilhar as suas ideias com os outros. O resultado mais importante de

    todo este trabalho ser os jovens aprenderem e interiorizarem formas apropriadas e gratifi cantes de se

    relacionarem com eles prprios e com os outros!

  • 15

    I Enquadramento Terico

    I Enquadramento Terico

    Competncia Social: conceitos e modelosConceitos como assertividade, efi ccia pessoal, competncia social e aptido social so muitas vezes

    usados como sinnimos. Segundo Epps (1996), a competncia social refere-se a dois conjuntos abrangentes

    de competncias e processos: os que dizem respeito ao comportamento interpessoal, tal como a empatia,

    a assertividade, a gesto da ansiedade e da raiva, e as competncias de conversao; e os que dizem

    respeito ao desenvolvimento e manuteno de relaes ntimas, envolvendo a comunicao, resoluo de

    confl itos e competncias de intimidade. Spence (1982, citado por Matos, 1998), utiliza o termo habilidades

    sociais para se referir ao repertrio de respostas bsicas e estratgias de resposta, que permitirem ao

    indivduo obter resultados positivos numa interaco social, para que seja aceite socialmente.

    Embora existam muitas defi nies de competncia social, a distino dos termos competncia, aptido e

    habilidades feita por McFall (1982), representa um caminho til para conceptualizar este conceito. Segundo

    este autor a competncia defi nida como a adequabilidade e qualidade da execuo global de uma tarefa

    particular. um termo avaliativo que refl ecte o julgamento de algum acerca da adequao da execuo

    de determinada tarefa. Por sua vez, as aptides so habilidades especfi cas requeridas para executar

    competentemente uma tarefa. O termo social, o adjectivo que caracteriza o interesse pela componente

    social do comportamento da pessoa, ou seja, pelas implicaes sociais que o comportamento humano

    tem, seja este pblico, privado, verbal, motor ou autnomo. Esta defi nio implica que possvel para

    uma pessoa ter algumas, mas no todas, as aptides requeridas para executar uma dada tarefa. Neste

    caso, um comportamento desadequado socialmente pode ser explicado pela inexistncia de habilidades

    sociais necessrias. No entanto, pode acontecer que o indivduo tenha essas habilidades e no as utilize

    por determinados motivos. Para McFall (1982), estes casos podem estar relacionados com interposies

    emocionais, como so exemplos a inibio, a ansiedade ou falta de controlo. Este autor defende que as

    aptides podem ser inatas ou podem ser adquiridas atravs do treino.

    Numa tentativa de identifi cao dos factores envolvidos na competncia social, DuBois e Felner (1996)

    propuseram o Modelo Quadripartido da Competncia Social no qual identifi caram quatro componentes

    que lhe so inerentes: aptides cognitivas (processamento de informao, tomada de deciso, crenas

    e estilo de atribuio); aptides comportamentais (assertividade, negociao, aptides de conversao,

    comportamento pro-social e aptides de aprendizagem); competncias emocionais (capacidade de

    regulao afectiva e de relao, aptido para estabelecer relaes positivas); motivao e expectativas

    (estrutura de valores, nvel individual do desenvolvimento moral e noo auto-efi ccia e autocontrole). Para

    estes autores, cada uma destas componentes necessria mas no sufi ciente para se ser competente

    socialmente. Assim, nveis adequados de competncia em um destes domnios no so sufi cientes para se

    conseguirem os resultados desejados quando se trabalha o desenvolvimento de competncias sociais dos

    jovens. Salientam ainda a importncia das circunstncias contextuais onde os comportamentos ocorrem.

    A competncia Social e a Defi cincia

  • 16

    Deste modo, a adaptao e um funcionamento socialmente competente, depende no s das habilidades

    e aptides adquiridas pelo jovem, mas tambm do grau de compatibilidade destas habilidades e aptides

    com as caractersticas do envolvimento social no qual so empregues. Isto implica que, quando se faz

    uma avaliao da competncia do jovem, no nos podemos limitar a avaliar o nvel de aptides em cada

    uma das quatro reas; tambm necessrio avaliar a capacidade de o jovem se adaptar apropriadamente

    s tarefas num contexto especfi co.

    O Modelo Quadripartido da Competncia Social foi desenvolvido no sentido de englobar certos conceitos,

    tais como a resilincia, factores de proteco, aptides sociais, domnio, coragem, auto-estima e

    competncia social, e organizar as mltiplas dimenses e componentes de aptides e habilidades que

    refl ectem este termo. Tem como princpio focar-se nas competncias e no nas fraquezas dos indivduos.

    A defi nio de validade social de Kolb e Cheryl (2003) outro termo importante na conceptualizao da

    competncia social. Neste enquadramento, as aptides sociais representam comportamentos socialmente

    signifi cativos exibidos em situaes especfi cas que predizem resultados sociais importantes para as

    crianas e jovens. Assim, os comportamentos socialmente competentes so aqueles comportamentos

    que os outros (pais, professores, pares e estudantes) consideram desejveis e que predizem resultados

    socialmente importantes para a pessoa (Kolb e Cheryl, 2003). So considerados resultados socialmente

    importantes aqueles que o indivduo considera teis, adaptativos, e funcionais, fazendo a diferena em

    termos do funcionamento ou adaptao do indivduo s exigncias do envolvimento e expectativas sociais

    apropriadas para a idade. Podem incluir aceitao dos pares e amizades (Newcomb, Bukowski, e Pattee,

    1993, citados por Kolb e Cheryl, 2003), a aceitao dos pais e professores (Gresham e Elliot, 1990) e o

    ajustamento escolar (Gresham, 1983).

    Numa reviso de 21 investigaes, Caldarella e Merrell (1997) construram uma taxonomia das aptides

    sociais. Os estudos desta anlise incluram 22.000 estudantes dos 3 aos 18 anos de idade, com uma

    representao equilibrada segundo o gnero. Desta reviso derivou uma taxonomia que inclui cinco

    dimenses abrangentes das aptides sociais:

    (a) Aptides de relacionamento com os pares (por exemplo, elogia os outros, oferece ajuda ou

    assistncia, convida os pares para brincar) ocorreram em mais de metade dos estudos;

    (b) As aptides de auto-regulao (por exemplo, controla o temperamento, segue regras, cede em

    situaes de confl ito) encontraram-se em 52% destes estudos;

    (c) As aptides acadmicas (por exemplo, faz os trabalhos independentemente, ouve as orientaes

    do professor, produz trabalho de aceitvel qualidade) verifi caram-se em cerca de 48% dos

    estudos;

    (d) As aptides de obedincia (por exemplo, segue instrues e regras, usa o tempo livre de forma

    apropriada) ocorreram em 38% dos estudos.

    (e) As aptides de assertividade (por exemplo, inicia conversas, convida os pares para brincar) foram

    encontradas em um tero dos estudos.

    Esta classifi cao fornece direces teis para seleccionar aptides sociais alvo para avaliar e intervir. De

    facto, estes domnios de aptido social foram usados por vrios autores em currculos e programas de

    interveno (Gresham e Elliot , 1990; Goldstein, 1998).

    O modelo adoptado

    Promoo de Competncias Pessoais e Sociais

  • 17

    No presente trabalho adoptmos o modelo de competncia social proposto por Burton, Cagan e Clements

    (1995) (ver grfi co 1). Este modelo considera que o comportamento social apenas uma das componentes

    para se conseguir uma competncia social que permita a integrao e capacitao social. Outros factores,

    tais como, os chamados aspectos cognitivos da competncia social conscincia pessoal e social,

    observao, interpretao e planeamento as oportunidades concedidas e uma comunidade competente,

    so tudo factores importantes para a capacitao social.

    Grfi co 1 - Modelo da Competncia Social - Adaptado de Burton, Kagan e Clements (1995)

    O comportamento social joga um papel central neste modelo. Ele muitas vezes visto como a essncia

    da competncia social. Por exemplo, se uma pessoa na companhia de outros no diz nem faz nada,

    muitos de ns no a pensamos como uma pessoa competente socialmente. O que acontece que

    muitas vezes as pessoas com defi cincia tm algumas lacunas na aquisio de formas adequadas de se

    comportarem.

    O comportamento social inclui o que uma pessoa diz ou comunica e o que ela faz, isto , o comportamento

    PLANEAMENTO/ESTRATGIA

    sabe o que fazer,como planear a aco,

    conhece outrasformas de fazer?

    CONSCINCIATem conscincia de si? Tm conscincia

    dos outros e dos seus sentimentos, crenas,

    atitudes e comportamentos?

    CONTEXTOA pessoa compreende a situao fsica e as

    regras/papeis do contexto?

    OBSERVAOA pessoa Presta

    ateno e repara no que os outros dizem e

    fazem?

    COMPORTAMENTO SOCIAL

    A pessoa sabe o que fazer? o que dizer,

    como dizer?

    INTERPRETAOCompreende o que as

    outras pessoas fazem e dizem? Como que a

    pessoa interpreta o que os outros dizem

    e fazem?

    I Enquadramento Terico

  • 18

    verbal e no verbal. Usualmente, estes dois tipos de comportamentos tm uma relao muito prxima

    e, dependendo das situaes, um aspecto mais importante que outro. Por exemplo, em situaes de

    muito barulho, ou se a pessoa perdeu a sua audio ou no pode falar ou compreender o discurso, o

    comportamento no verbal ser da maior importncia. Se contudo no podemos ver, o discurso ser o

    mais importante, embora o toque, um sinal no-verbal, tambm possa ser um sinal muito importante.

    O comportamento depende do efeito social de dois aspectos: pessoa e situao. necessrio olhar para o

    impacto do comportamento da pessoa se queremos fazer um julgamento acerca da sua importncia. Uma

    pessoa pode saber fazer uma pergunta adequadamente, mas no saber o contexto em que a faz, levando

    a ms interpretaes por parte dos outros, e a ter um impacto que, no limite, pode levar ao isolamento.

    Nestas situaes esto normalmente as pessoas que no entendem a natureza das relaes, os papis

    de cada um e as situaes.

    A conscincia pessoal e social considerada neste modelo como uma componente essencial. Isto

    , o conhecimento de ns mesmos e dos outros uma componente essencial da competncia social.

    As pessoas que no tem conscincia das necessidades e interesses dos outros, ou dos seus prprios

    interesses, necessidades ou comportamentos, improvvel que funcionem de forma competente. As suas

    percepes acerca dos outros iro ser superfi ciais e sero tambm frequentemente erradas: haver pouco

    espao para a empatia se no se tiver a perspectiva dos outros. Do mesmo modo, importante estarmos

    conscientes do que queremos, sentimos, pensamos e fazemos, de forma a planearmos e ajustarmos as

    nossas aces.

    Interagir com outras pessoas requer uma srie de ajustamentos constantes ao que elas esto a dizer ou

    fazer sendo necessrio para isso observar e interpretar as situaes sociais. Por exemplo, sabermo-nos

    apresentar aos outros de forma aceitvel, requer sensibilidade para a forma como os outros se apresentam

    e para as suas reaces para connosco. A observao do comportamento social dos outros bsica para

    este processo de adaptao. Sem observao e interpretao no existe forma de conhecimento do que

    socialmente apropriado, do que os outros esperam, nem de como eles esto a responder ao que estamos

    a fazer. Sem uma boa observao, as oportunidades de aprender a tornarmo-nos socialmente mais

    competentes podem ser perdidas. Se no conseguirmos apreender os sinais subtis, ou no, das outras

    pessoas - que so cruciais para uma comunicao efi caz - podemos no estar aptos para responder ao

    feedback que os outros nos do.

    Interpretar as aces, intenes e sentimentos dos outros tambm importante para ajustamos

    apropriadamente o nosso comportamento s situaes. Interpretamos as aces dos outros atravs de

    um abrangente conhecimento social, pois interpretar no s algo que podemos ver ou ouvir. Muitas

    vezes inferimos a partir do comportamento dos outros uma certa signifi cao. No entanto, temos que ter

    cuidado quando fazemos inferncias acerca do comportamento das outras pessoas, pois estamos em

    perigo de introduzir os nossos enviesamentos de observao e interpretao. Por outro lado, temos que

    considerar quando trabalhamos com pessoas com limitaes cognitivas que podem no estar aptas para

    certos nveis de interpretao.

    Antes de qualquer comportamento, o planeamento e a estratgia condicionam o sucesso e a efi ccia da

    aco levada a cabo. Na maioria das situaes sociais, ns temos vrias formas alternativas para fazer as

    coisas com os mesmos resultados. No s sabemos estratgias alternativas, sejam elas verbais ou no

    verbais, mas tambm conseguimos escolher de entre estas alternativas e avaliar se elas foram efi cazes

    Promoo de Competncias Pessoais e Sociais

  • 19

    ou no. Embora nem todas as actividades competentes socialmente sejam planeadas de forma explcita,

    planear til para estabelecer novos padres de actividade e comportamento, e para resolver problemas

    que nos surgem. Um plano estratgico requer que saibamos o que queremos, para podermos gerar uma

    variedade de caminhos alternativos para chegar ao nosso objectivo. Mesmo quando as pessoas tm um

    conjunto de coisas diferentes que podem fazer numa situao particular, e tm uma boa compreenso da

    situao, falhas na planifi cao podem revelar falta de competncia social.

    O nosso comportamento, e o das outras pessoas, so determinados em grande parte pelo contexto

    em que agimos, pensamos e sentimos. Se as pessoas no adaptam o seu comportamento de acordo

    com a situao em que esto, e os papeis que esto a desempenhar, elas no podem ser vistas como

    socialmente competentes. O mesmo acontece se atribuirmos mal o comportamento das outras pessoas a

    elas prprias, como pessoas, e no aos papis e situaes em que esto naquele momento. necessrio

    compreender os aspectos fsicos e sociais das diferentes situaes. Muitos dos papis desempenhados

    pelas pessoas com difi culdades, so papis informais. Os papis formais tm frequentemente regras

    explcitas associadas, sendo que as pessoas com defi cincia podem aprender o que fazer, ou o que no

    fazer, quando desempenham esses papis.

    Competncia Social e Relaes Sociais

    Os pares e as percepes de bem-estar

    Um dos problemas da integrao social das crianas e jovens com defi cincia encontra-se na aceitao

    por parte dos pares. Por exemplo, parece que as relaes sociais podem ser muito problemticas para os

    defi cientes motores, especialmente no que diz respeito aceitao por parte dos pares. Friedman (1973, in

    Motola et al. 1999) verifi cou que, ao escolherem os amigos, tanto os no defi cientes, como os defi cientes e

    os adolescentes com desfi guraes faciais, todos escolhem primeiro os no defi cientes, os com cadeiras

    de rodas vm a seguir e os com desfi guraes faciais vm por ltimo. Mais, concluram que a participao

    em certas actividades pode ser restringida na sequncia das limitaes, resultando possivelmente num

    empobrecimento social e no isolamento (Richardson, Hastorf, e Dornbusch, 1964; Dorner, 1976 in Motola

    et al. 1999). No estando em conformidade com as normas dos seus pares e da sociedade no geral,

    desviando-se assim do que esperado, a criana e adolescente com defi cincia pode ter problemas

    acrescidos para conseguir a sua aceitao social (Molnar, 1992).Tambm Thomas e Bax (1988, in Motola

    et al. 1999) verifi caram que os jovens adultos afectados fi sicamente experienciam difi culdades sociais

    mais severas que o grupo de controlo sem problemas fsicos. De facto, uma sondagem efectuada por

    Penn e Dudley (1980, citado por Bertrand, Morier, Boisvert e Mottard, 2001) revela que o isolamento social

    uma difi culdade das mais importantes em estudantes com incapacidades fsicas.

    Neste sentido, Heiman e Margalit (1998) estudaram os sentires subjectivos emocionais e sociais de

    310 alunos com defi cincia mental ligeira e 265 alunos sem defi cincia, com idades entre os 11 e os

    16 anos. Verifi caram que os jovens com defi cincia tinham mais tendncia para sentirem depresso e

    solido podendo no estar to aptos para desenvolverem aptides sociais teis, ou para interagirem

    apropriadamente com os seus pares. Uma explicao avanada por estes autores para os resultados

    encontrados, coloca a baixa aceitao por parte dos pares como um sinal da existncia de lacunas no

    I Enquadramento Terico

  • 20

    desenvolvimento de aptides sociais, resultando numa falta de amigos, que por sua vez afecta e intensifi ca

    o sentimento de solido dos estudantes com defi cincia mental ligeira. A este propsito, Ferner e Dubois

    (1996), no seu modelo da competncia social, afi rmam existir uma associao positiva e recproca entre

    a competncia social e a sade mental. Por exemplo, de esperar que um indivduo ao lidar efi cazmente

    com o mundo social alcance uma imagem prpria positiva. No entanto, os nveis de auto-estima tambm

    podem afectar reciprocamente vrios aspectos da competncia social, tais como a ideia de efi ccia

    ao lidar com diferentes tipos de interaces sociais, e assim a certeza de que o indivduo ir tentar

    estratgias adaptativas importantes que, sem esse sentido de efi ccia, poderiam ser inibidas.

    Esta segunda hiptese contraria os resultados verifi cados pelo auto-relato dos jovens em relao sua

    competncia social no estudo de Heiman e Margalit. De facto, neste estudo os jovens com defi cincia

    avaliaram-se a eles prprios como mais profi cientes nas aptides sociais que os jovens sem defi cincia,

    apesar de simultaneamente se percepcionarem como mais ss e depressivos. Para estes autores, os

    resultados aparentemente paradoxais podem ser explicados pela tendncia das pessoas com defi cincia

    mental ligeira sobrestimarem a sua capacidade em termos de aptides sociais, como resultado dos elogios

    e encorajamentos que recebem dos adultos, resultado num mau julgamento da sua competncia social.

    Na avaliao das aptides sociais, Heiman e Margalit (1998) aplicaram a Social Skills Rating Sistem

    (SSRS) (Gresham & Elliot, 1990). Este instrumento contm um conjunto de medidas, trs escalas, que

    questionam alunos, pais e professores. A SSRS documenta a percepo que pais, jovens e profi ssionais

    tm acerca da importncia e da frequncia de comportamentos que podem afectar o desenvolvimento da

    competncia social e o comportamento adaptativo em casa e na escola.

    O dfi ce em aptides sociaisHistoricamente, a competncia social tem sido um critrio fundamental usado para defi nir e classifi car

    estudantes com alta incidncia de defi cincia (Kolb e Cheryl, 2003). muito claro, nos critrios actuais

    de classifi cao da defi cincia mental, a salincia do dfi ce em competncia social e cognitiva (Gresham

    e MacMillan, 1997). O grau em que os estudantes esto aptos para estabelecer e manter relaes

    interpessoais satisfatrias, obter aceitao por parte dos pares, estabelecer e manter amizades, assim

    como pr termo a relaes perniciosas e negativas, defi ne a competncia social e prediz, a longo termo,

    um ajustamento psicolgico e social adequados (Kupersmidt, Coie, & Dodge, 1990; Parker & Asher, 1987

    citados por Kolb e Cheryl, 2003).

    Na literatura, a aquisio de competncia social surge frequentemente referenciada como sendo

    um aspecto importante na maturao e no ajustamento social da criana e do adolescente. Segundo

    Dishion, Stouthamer-Loeber e Patterson (1984) existe um amplo conjunto de competncias que se tornam

    importantes para alcanar os objectivos convencionais na nossa sociedade: competncias interpessoais,

    competncias acadmicas bsicas e competncias de trabalho. Segundo estes autores, falhas na

    aquisio destas competncias bsicas podem afectar o ajustamento social do adolescente, existindo

    vrios estudos que comprovam a existncia de dfi ces em aptides sociais nas crianas e jovens com

    defi cincias.

    Por exemplo, DeGeorge (1998) refere que crianas com defi cincia, especialmente com difi culdades de

    aprendizagem, nem sempre fazem amizades com os seus pares com tanta facilidade como as que no tem

    defi cincias. De acordo com National Joint Commitee on Learning Disabilities, pessoas com problemas de

    Promoo de Competncias Pessoais e Sociais

  • 21

    aprendizagem tm mais probabilidade de ter problemas de comportamento de autocontrolo, percepes

    sociais e interaco social. Hemphill e Siperstein (1990), referem num estudo feito com crianas com

    defi cincia mental ligeira, que as competncias de conversao tm um papel importante na aceitao da

    criana defi ciente, por parte dos seus pares.

    No mbito das limitaes mobilidade, Morier, Boisvert, Loranger e Arcand (1996) referem que a

    presena de uma incapacidade fsica afecta as relaes interpessoais de um indivduo de diversas

    formas, fazendo com que este necessite de habilidades sociais particulares. As atitudes negativas, e

    os comportamentos discriminatrios, constituem uma limitao participao social dos indivduos com

    maiores problemticas.

    Um passo importante no que respeita s difi culdades de comportamento social das pessoas com

    defi cincias o tipo especfi co de dfi ces em aptides sociais que eles podem apresentar. Gresham

    (1981a, 1981b) faz primeiro a distino entre o dfi ce na aquisio de aptides sociais e o dfi ce na

    execuo.

    Assim, estes autores fazem uma classifi cao do dfi ce em aptides sociais em trs grandes grupos:

    de aquisio de aptido social - refere-se falta de conhecimento para executar determinada aptido

    mesmo sob condies ptimas, ou falha na discriminao de quais os comportamentos sociais que so

    apropriados numa dada situao especfi ca; de execuo de aptido social refere-se presena de

    aptides sociais no reportrio comportamental, mas existem falhas para executar estas aptides a um

    nvel aceitvel em determinadas situaes; de fl uncia que resulta de uma falta de exposio a modelos

    sociais sufi cientes ou aptos, insufi ciente prtica ou ensaio de uma aptido, ou baixos valores ou distribuio

    de reforo inconsistente de execues aptas.

    Gresham e Elliot (1990) acrescentaram ainda os problemas de comportamento para classifi car o dfi ce

    em aptides sociais: comportamentos internalizantes que podem incluir comportamentos internos,

    por exemplo, a ansiedade, a depresso e o isolamento social; e comportamentos externalizantes que

    podem incluir, por exemplo, a agresso, a disrupo e a impulsividade.

    Gresham e Elliot (1990) estenderam o modelo de classifi cao de aptides sociais e incluram os problemas

    de comportamento. Neste esquema so combinadas duas dimenses do comportamento social aptides

    sociais e problemas de comportamento para classifi car o dfi ce em aptides sociais. Comportamentos

    competentes podem incluir comportamentos internalizantes (por exemplo, ansiedade, depresso,

    isolamento social) e comportamentos externalizantes que podem incluir, por exemplo, a agresso, a

    disrupo e a impulsividade.

    Os Programas de Treino de Aptides Sociais

    I Enquadramento Terico

  • 22

    As intervenes psicolgicas com pessoas com restries fsicas e desenvolvimentais incluem numerosas

    modalidades e tcnicas. Umas das mais notveis na ltima dcada so os mtodos da anlise aplicada

    do comportamento, normalmente usados para remediar desordens comportamentais de defi cientes

    severos. Contudo, as abordagens comportamentais tm sido aplicadas com sucesso em diversos tipos

    de populaes com defi cincia. Estratgias de modifi cao comportamental tambm se tm mostrado

    efi cazes no ensino de aptides de vida autnoma (vestir, cozinhar, uso de transportes) necessrias para

    um funcionamento adaptativo na comunidade. Para Gresham, Sugai e Horner (2001) a habilidade para

    interagir de forma adequada com os pares e adultos signifi cativos um dos aspectos mais importantes do

    desenvolvimento dos jovens defi cientes.

    Esta conscincia da necessidade de promover a socializao nas pessoas com defi cincia, levou

    proliferao das intervenes em aptides sociais, dirigidas a uma grande variedade de grupos de

    defi cientes. Algumas destas intervenes incluem as pessoas com espinha bfi da (Dunn, Van Horn e

    Herman, 1981) e a multidefi cincia (Sisson, Van Hasselt, Hersen e Straint, 1985). Uma das abordagens

    inclui o uso de pares no defi cientes como treinadores de aptides sociais. Verifi cou-se que esta

    abordagem obteve sucesso nas vertentes sociais e de aceitabilidade de crianas defi cientes (Sisson et

    al., 1985; Strain, 1983).

    Por outro lado, tem sido cada vez mais empregues estratgias de avaliao psicolgicas para identifi car

    as desordens psicolgicas ou problemas de comportamento que podem coexistir com a defi cincia.

    Estes mtodos de avaliao derivam dos campos das terapias comportamentais e da anlise aplicada

    do comportamento. De facto, uma forma til de determinar o impacto da defi cincia medir a perda da

    capacidade do indivduo para realizar determinados comportamentos. Assim, segundo alguns autores,

    de muita utilidade uma abordagem comportamental para a reabilitao, ao focalizar-se no que o indivduo

    deve aprender a fazer, de modo a viver efi cazmente com a defi cincia (Athelstan, 1981).

    Os procedimentos da avaliao comportamental tm fornecido dados importantes em relao aos

    excessos e aos dfi ces comportamentais (Bellack e Hersen, 1977; Kanfer e Saslow, 1979). Os excessos

    comportamentais referem-se a comportamentos que ocorrem com grande frequncia e intensidade ou

    durao, ou comportamentos que so sancionados socialmente (auto-agresso ou agressividade). Os

    dfi ces comportamentais so respostas que so emitidas com frequncia ou intensidade insufi cientes,

    ou de forma inadequada, ou falham por serem manifestados no tempo inadequado (por exemplo, baixo

    nvel de actividade ou evitamento social). A avaliao comportamental tem sido mais til na avaliao de

    padres de resposta mal adaptativos nos problemas de desenvolvimento (auto-estimulao, esteretipos,

    isolamento social). Ademais, eles tm sido instrumentos de avaliao de programas de tratamento

    destinados a intervir sobre estes problemas (Hasselt e Hersen, 1987). No mbito das intervenes

    cognitivo-comportamentais, o treino em aptides sociais uma interveno normalmente utilizada com

    estudantes com defi cincia (Gresham, 1992).

    Uma questo importante a ser respondida relaciona-se com o saber at que ponto o treino em aptides

    sociais efi caz para promover a aquisio, execuo e generalizao de comportamentos pro-sociais,

    a reduzir problemas de comportamento e melhorar as relaes interpessoais com pares e adultos. Esta

    questo particularmente crucial, dados os documentados dfi ces em competncia social em estudantes

    com uma alta incidncia em incapacidades (Kolb e Cheryl, 2003).

    Promoo de Competncias Pessoais e Sociais

  • 23

    Seis revises narrativas da literatura do treino em aptides sociais, envolvendo estudantes com defi cincias

    graves, foram conduzidas nos ltimos 16 anos. Baseados nestas seis narrativas, Kolb e Cheryl (2003),

    chegaram s seguintes concluses:

    As estratgias mais efi cazes surgem como uma combinao dos procedimentos de modelagem,

    treino e reforo;

    Provas da efi ccia dos procedimentos cognitivo-comportamentais (por exemplo, resoluo de

    problemas sociais, auto-instruo) so muito fracas;

    Um problema persistente na literatura sobre o treino em aptides sociais a inabilidade dos

    investigadores para demonstrarem ganhos consistentes e durveis nas aptides sociais atravs

    da sua fi xao e manuteno ao longo do tempo;

    Os estudos em intervenes cognitivo-comportamentais tendem a utilizar medidas sem validade

    social (por exemplo, tarefas de resoluo de problemas sociais, medidas de comportamento em

    situao de role-play, medidas de cognio social) e falham na obteno de informao que nos

    diga de que forma as melhorias nestas medidas representam comportamentos socialmente aptos

    em situaes reais;

    Parece que existe uma relao entre a quantidade de treino em aptides sociais e os efeitos da

    interveno;

    Os estudos em treino de aptides sociais que emparelham o dfi ce em aptides sociais com as

    estratgias de interveno tm mais probabilidade de produzir resultados positivos.

    I Enquadramento Terico

  • 24

    II Modelo e Estrutura do Programa de Treino em Competncias Sociais

    O modelo do TCPS

    O programa organiza-se num primeiro plano em componentes de interveno enquadradas no modelo

    terico da aptido social de Burton et. al. (1995) e a partir do qual foi construdo o presente modelo

    (ver grfi co 2) que deu origem ao programa de interveno Treino em Competncias Pessoais e Sociais

    (TCPS). Na sequncia do modelo apresentado, foram defi nidas trs componentes que estruturam o TCPS:

    1 componente trabalha as questes relacionadas com a formao da conscincia pessoal e social; na 2

    componente trabalham-se as questes relacionadas com o comportamento social observvel; e na ltima

    e 3 componente, abordam-se as competncias relacionadas com o planeamento e estratgia aplicadas

    resoluo de problemas, vida futura e estabelecimento de relaes interpessoais. Transversalmente

    a estas trs componentes, existe a preocupao em considerar a competncia e as caractersticas dos

    contextos em que estas componentes operam.

    Em cada componente abordam-se diferentes reas, estruturadas em subreas, que permitem a sua

    especifi cao. Determinadas reas promovem o desenvolvimento mais bvio de determinados aspectos

    da competncia social, sendo que na interveno directa no se verifi ca essa distino, pois pretende-se

    que esta seja uma abordagem promotora de um desenvolvimento global. Por outro lado, uma diviso de

    objectivos em reas de comportamento, vai facilitar a observao do indivduo e do seu desenvolvimento,

    sem que se perca de vista a sua globalidade.

    Grfi co 2 Modelo do programa de Treino de Competncias Pessoais e Sociais

    Apresentamos de seguida os grfi cos que pretendem resumir, para cada componente de interveno, as

    reas e subreas a abordar, isto , a estrutura do Programa de Treino em Competncias Pessoais e

    Sociais.

    Conscincia Pessoale Social

    Quem sou eu e quemso os outros?

    Planeamentoe estratgia

    Para onde vou?

    ComportamentoSocial

    Como me comporto?

    Contexto

    (Capacitao Social)

  • 25

    Componente I - Conscincia pessoal e social: quem sou eu e quem so

    os outros?

    A primeira componente trabalha as questes relacionadas com a formao da conscincia pessoal e

    social. Segundo Burton et al. (1995), o nosso sistema individual est feito para termos conhecimento de

    vrios aspectos desta conscincia: da nossa identidade social e pessoal (os papeis que representamos,

    os grupos a que pertencemos, as caractersticas que gostamos ou desgostamos nos outros, etc.); dos

    nossos acontecimentos internos (sensaes corporais, humores, pensamentos, valores, atitudes, crenas

    e emoes); do conhecimento acerca de acontecimentos externos (o que dizemos, como nos comportamos,

    onde vamos, etc.); e a dimenso do alcance at ao qual temos alguma interveno ou controlo sobre as

    coisas que nos acontecem.

    No mbito desta conceptualizao, foram criadas duas reas principais e sobre as quais incidem

    os contedos a trabalhar pelo programa: a auto-conscincia e a conscincia social. Na primeira rea

    abordam-se as questes da identidade e do reconhecimento dos aspectos internos ligados ao corpo, mas

    tambm os aspectos relativos a formas de pensar o prprio e emoes prevalecentes. A segunda rea

    centra-se nos aspectos da cognio social relacionados com a forma como o outro percepcionado e a

    tomada de perspectiva social.

    Grfi co 3 Componente um do TCPS: conscincia pessoal e social.

    I - Conscincia Pessoal e Social

    Quem sou eu e quem

    so os outros?

    Auto-conscincia

    Conscincia Social

    Identidade pessoal e social

    Como mereconheo - o meu

    corpo

    Como mereconheo -

    atitudes

    Como reconheo os outros - a

    empatia

    Como reconheo os outros - os papeis sociais

    II Modelo e Estrutura do Programa de Treino em Competncias Sociais

  • 26

    Componente II Comportamento social: como me comporto?

    A segunda componente trabalha as questes relacionadas com o comportamento social observvel. Nesta

    componente o jovem convidado a analisar o seu comportamento e os contextos em que manifestado.

    Podemos olhar para o comportamento social em termos do comportamento verbal - acerca do que

    dito - e comportamento no verbal - acerca da linguagem corporal e de como as coisas so ditas. Nem

    sempre estas duas linguagens so coerentes. Muitas vezes damos mensagens ambguas: dizemos com o

    nosso discurso coisas que contradizemos com a nossa linguagem corporal. o trabalho sobre estas duas

    componentes do comportamento que incide a primeira rea a ser trabalhada nesta segunda componente

    do programa.

    Outro aspecto importante trabalhado nesta rea, e referido por Burton e al. (1995), relaciona-se com

    a observao e interpretao de situaes sociais. Uma observao pobre pode levar a lacunas na

    competncia social. Interpretar as aces, intenes e sentimentos dos outros importante para ajustarmos

    o nosso comportamento apropriadamente, tendo em conta o que as outras pessoas fazem. Contudo, a

    interpretao das pessoas est frequentemente ligada ao nosso entendimento das situaes, e podemos

    errar nestas interpretaes.

    A assertividade est dentro das aptides comportamentais requeridas para um comportamento social

    adequado. O ser assertivo permite lidar competentemente com os outros em situaes possveis de

    gerar problemas para o prprio ou para os outros. Aumentar o leque de comportamentos, nomeadamente

    comportamentos assertivos, ir permitir um padro comportamental mais fl exvel e ajustado. neste

    sentido que surgem as sub-reas de trabalho desta componente: estar em grupo, lidar com as emoes e

    situaes difceis e evitar a agressividade.

    4 Componente dois do TCPS: comportamento social.

    II - ComportamentoSocial

    Como me comporto?

    Comportamentoverbal e no verbal

    Assertividade

    Signifi cado docorpo

    Comunicarcom os outros

    Observaoe interpretao

    Estar em grupo

    Lidar comas emoes

    Evitar aagressividade

    Lidar comsituaes difceis

  • 27

    Componente III Planeamento e estratgia: para onde vou?

    Na terceira componente abordam-se as competncias relacionadas com o planeamento e estratgia

    aplicadas resoluo de problemas, vida futura e estabelecimento de relaes interpessoais. Assim,

    pretende-se que o jovem adquira um pensamento alternativo e consequencial, isto , saiba pensar a sua

    relao com os outros e a sua vida de uma forma fl exvel e avaliando as vantagens e desvantagens das

    vrias opes que encontra para agir. Esta forma de se pensar a si, aos outros e sua vida, ir permitir-

    lhe encontrar formas mais ajustadas de se relacionar com os outros e planear o seu futuro de uma forma

    realista e efi caz.

    dado especial enfoque capacidade de tomar decises e agir, seja na resoluo de problemas

    relacionais e pessoais e no planeamento do seu futuro, seja na tomada de um papel activo nas relaes

    que estabelece com os outros.

    Grfi co 5 Componente trs do TCPS: planeamento e estratgia.

    III - Planeamentoe Estratgia

    para onde vou?

    Resolverproblemas e

    planear o futuro

    RelaesInterpessoais

    Reconhecimentodos problemas

    A amizade

    Agir

    Estar bemcom os outros

    Trabalhar em equipa

    Colocar objectivosgerar alternativas

    Decises sociaise decises individuais

    Situaes sociaiscom os pares

    II Modelo e Estrutura do Programa de Treino em Competncias Sociais

  • 28

    Contexto A capacitao social

    O modelo proposto por Burton et al. (1995) contempla uma viso abrangente de pensar as aptides sociais:

    apesar de se focar nos comportamentos, esta uma abordagem que incorpora os aspectos cognitivos

    e situacionais da aptido social. Contudo, o comportamento social continua a jogar um papel central; o

    comportamento o eixo central entre o envolvimento - com as suas oportunidades e constrangimentos

    - e a experincia da pessoa, o seu conhecimento e esforo para negociar este envolvimento. Assim,

    a capacitao social liga a aptido e a competncia social com a competncia das comunidades e as

    oportunidades disponveis s pessoas com defi cincia.

    De facto, se o jovem com defi cincia for competente mais provvel que seja tambm mais capaz em

    termos sociais, em virtude da sua efi cincia em recrutar a ajuda dos outros, assim como, em utilizar

    os servios na comunidade. Esta competncia ser tanto mais provvel quanto maior tenha sido, ou

    seja neste momento, o leque de oportunidades. Se faltar competncia nas nossas comunidades, podem

    estar a ser negadas oportunidades pessoa com defi cincia, sendo esta uma das principais razes

    de um desenvolvimento pobre em aptides e competncia sociais. Assim, se o jovem viver dentro de

    uma comunidade competente, isso pode aumentar as suas oportunidades, assim como, os nveis de

    competncia social. De facto, o enfoque exagerado na competncia ou aptido social das pessoas

    com defi cincia pode signifi car que estamos a impor-lhe objectivos e exigncias que no aplicamos

    comunidade onde ele se insere. Em alternativa, este modelo pressupe que se coloquem perguntas como:

    as pessoas volta dos jovens com difi culdades so competentes para os ensinar, para serem tolerantes

    ou para lhes dar a assistncia, para que possam fazer as coisas que desejam fazer, apesar da sua falta

    de aptido ou competncia social?

    Isto no signifi ca que iremos negligenciar a importncia de promover a competncia social; a competncia

    a maior componente para a capacitao. De facto, deve ser feito um esforo sistemtico e dirigido no

    sentido do desenvolvimento da competncia social, ma isso no pode ser feito isoladamente sem uma

    considerao e um claro entendimento do que a pessoa precisa de aprender e por que razo. Temos que

    nos assegurar se o jovem no est a desperdiar o tempo dele com as intervenes que planemos:

    devemos estar confi antes de que o que vamos fazer relevante para eles e que um uso produtivo do

    seu tempo.

    Deste modo, segundo este modelo, ao delinearmos um plano de interveno, temos que ter a preocupao

    de colocar a responsabilidade onde ela realmente reside e no s na pessoa que tem a incapacidade.

    Deve-se partir da anlise da natureza da aptido social e dos padres da comunidade, com o objectivo

    de identifi car caminhos para levar a cabo mudanas positivas em ambos simultaneamente. Contudo, por

    causa da ligao estreita entre a aptido social e as oportunidades sociais, no podemos saber como

    que a comunidade se pode tornar mais competente antes de sabermos das necessidades da pessoa

    em termos de oportunidades sociais. Deste modo, este modelo pressupe que se defi nam prioridades e

    mtodos para trabalhar, assim como, metas a serem alcanadas, atravs das necessidades individuais.

    A fi gura seguinte sumaria a natureza da capacitao social e de como ela deve ser promovida. Desenvolver a

    capacitao social, assim, signifi ca desenvolver paralelamente e de forma interligada as trs razes das coisas:

    o padro de oportunidades sociais; o padro de competncia social; e a competncia da comunidade.

  • 29

    Grfi co 6: Modelo de desenvolvimento da capacitao social - Adaptado de Burton et al. (1995)

    Apresentamos de seguida alguns quadros que pretendem resumir, para cada fase de interveno, as

    reas e subreas a abordar, ao mesmo tempo que sugere temas para trabalhar as diversas reas. frente

    de cada tema encontra-se assinalada as aptides da competncia social em que colocada a tnica do

    trabalho, tendo em considerao a rea e a componente da interveno em causa. Estas cinco aptides

    podem ser avaliadas atravs dos instrumentos de avaliao da aptido social que sugerimos: a verso

    professores e alunos da Social Skills Rating Sistem (SSRS) (Gresham e Elliot, 1990).

    As aptides sugeridas por Gresham e Elliot (1990) so a cooperao, a assertividade, a responsabilidade,

    a empatia e o auto-controlo. A cooperao diz respeito a comportamentos tais como ajudar os outros,

    partilhar algo, e o cumprimento de regras e ordens. A assertividade refere-se iniciativa do indivduo em

    manifestar comportamentos, tais como, pedir informao aos outros, apresentar-se, e responder a aces

    dos outros, como a presso dos pares e os insultos. A responsabilidade refere-se a comportamentos que

    demonstram habilidade para comunicar com os adultos e cumprir tarefas. A empatia manifesta-se atravs

    de comportamentos que demonstram respeito e preocupao pelos outros e pelos seus pontos de vista.

    O auto-controlo so comportamentos que emergem em situaes de confl ito, por exemplo responder

    apropriadamente a uma provocao e, em situaes no confl ituosas, que requerem uma tomada de

    posio e compromisso.

    ViaDar a assistncia requerida:

    Comear com:

    Relacionamentos

    Aptido e Competncia

    Social

    Comunidade

    Resultando em:

    Relacionamentos

    Aptido e Competncia

    Social

    Comunidade

    Como a vida neste momento?

    Aumento de oportunidades

    O que aptido social e competncia agora?

    Aumentar a competncia social

    Mudanas comunitrias

    Avaliao

    II Modelo e Estrutura do Programa de Treino em Competncias Sociais

  • 30

    Componente I

    Conscincia Pessoal e SocialQuem sou e quem so os outros?

    rea Sub-rea Temas (sugestes) C A R E AC

    Auto-Conscincia

    Identidade pessoal e

    Social

    Quem sou eu X

    O que gosto e o que no gosto X

    Em que acredito: quais os meus valores X

    Quais as emoes dominantes em mim X X

    O que os outros pensam de mim: a reputao

    X

    Ter uma defi cincia X

    Como me reconheo o

    meu corpo

    Utilizar os sentidos, sentir o corpo X X

    Corpo diferente X

    Emoes, corpo e contextos X X

    Como me reconheo atitudes

    O que penso de mim mesmo: a auto-estima

    X

    Como me comporto em relao aos outros

    X

    Sentido de efi ccia e controlo individual: estou preparado para actuar?

    X

    Respeito-me a mim mesmo e aceito-me como sou?

    X

    Conscincia Social

    Como reconheo

    os outros a empatia

    Que sentimentos sinto nos outros X

    A perspectiva do outro: calar os sapatos dos outros

    X

    Fazer os outros sentirem-se confortveis

    X

    Como reconheo os outros os

    papis sociais

    O que gostamos e no gostamos nos outros

    X X

    As necessidades dos outros e as minhas necessidades

    X X

    Respeito-me a mim e aceito a minha diferena?

    Sei quais so os papis que os outros representam?

    X X

    Depender e ser dependente: ser dependente do outro ou precisar do outro, o valor da amizade.

    X X

    (C) Cooperao; (A) Assertividade; (R). Responsabilidade; (E) Empatia; (AC). Auto-controlo.

    Quadro 1 Componente I: conscincia pessoal e social

  • 31

    Componente II

    Comportamento SocialComo me comporto?

    rea Sub-rea Temas (sugestes) C A R E AC

    Comportamento verbal e no

    verbal

    Signifi cados do corpo

    O que comunica no corpo X X

    Regulao de conversas X

    As primeiras impresses X

    A minha aparncia X

    Comunicar com os outros

    Fazer-se ouvido e ouvir X X X

    Comunicar atravs do comportamento

    X

    Obstculos comunicao com os outros: os rtulos e os rudos.

    X

    Revelar-me ao outro X

    Observao e Interpretao

    Regras sociais: comportamentos diferentes em stios diferentes

    X X

    importante ouvir as situaes e olhar para os sinais!

    X

    Avaliar situaes: o que se passa aqui?

    X

    Assertividade

    Estar em grupo

    Expressar opinies X

    Dizer no ao que no negocivel X

    Usar o humor para dissipar tenses e incluir os outros

    X X

    Manter as minhas crenas X

    Lidar com os medos X

    Dizer o que sinto vs controlar o que mostro

    X X

    Reconhecer e expressar emoes atravs dos outros

    X X

    Evitar a agressividade

    Ajudar os outros e Partilhar X

    Pedir ajuda X

    Negociar / combinar o que negocivel

    X X

    Defender os meus direitos X X

    Seguir instrues X X

    Manter-se fora dos confl itos X

    Lidar com situaes

    difceis

    Reagir provocao X

    Ser posto de lado X X

    Lidar com a presso do grupo X X

    Lidar com a competio X

    Lidar com o fracasso X

    Lidar com uma acusao X X

    (C) Cooperao; (A) Assertividade; (R). Responsabilidade; (E) Empatia; (AC). Auto-controlo.

    Quadro 2 Componente II: comportamento social

    II Modelo e Estrutura do Programa de Treino em Competncias Sociais

  • 32

    Componente III

    Planeamento e estratgiaPara onde vou?

    rea Sub-rea Temas (sugestes) C A R E AC

    Resolver Problemas e Planear o

    Futuro

    Reconhecimento dos problemas

    Ter um problema X

    Avaliar a mesma situao de formas diferentes

    X

    Usar o senso comum X

    Recolher informao X

    Colocar objectivos

    e gerar alternativas

    Ser realista X X

    Improvvel e impossvel X

    O sonho: isto pode acontecer! X

    Ser fl exvel X X

    Decises sociais e decises individuais

    Que perguntas precisas de fazer a ti mesmo

    X

    Que decises precisam de ser tomadas? X X

    Decises triviais vs importantes X

    Decises que afectam as outras pessoas X

    Agir

    Ver as situaes realisticamente X X

    Fazer mudanas para melhor: hbitos e amigos

    X X

    Fazer mudanas para melhor: atitudes e aces

    X X

    Relaes interpessoais

    A amizadeReconhecer o valor da amizade X

    Caminhos para fazer amigos X X

    Quando um amigo est metido em problemas

    X

    Estar bem com os outros

    Respeitar os outros como indivduos X X

    Tirar vantagens das oportunidades sociais

    X

    Compreender que as pessoas e as situaes mudam

    X

    Situaes sociais com os

    pares

    Tornar-me um bom conversador X

    Colocar as necessidades dos outros primeiro

    X X

    Lidar com a discriminao X X

    Desenvolver relaes saudveis X

    Trabalhar em equipa

    Ter e dar ideias X

    Partilhar um trabalho ou tarefa X

    Trabalhar em equipa X

    Cooperar com a autoridade X X

    (C) Cooperao; (A) Assertividade; (R). Responsabilidade; (E) Empatia; (AC). Auto-controlo.

    Quadro 3 Componente III: Planeamento e estratgia

  • 33

    Ligar a Avaliao Interveno

    Este programa de interveno tem como preocupao especial a ligao da avaliao interveno.

    Efectivamente, uma das questes que se levanta no trabalho com a pessoa com defi cincia saber at

    que ponto o treino em aptides sociais efi caz para promover a aquisio, execuo e generalizao

    de comportamentos pr-sociais, a reduzir problemas de comportamento e a melhorar as relaes

    interpessoais com pares e adultos.

    Numa reviso qualitativa e narrativa de seis estudos, onde foram levadas a cabo meta-anlises, Kolb e

    Sheyl (2003) verifi caram que o treino em aptides sociais tanto pode produzir pequenos como grandes

    efeitos no funcionamento da competncia social. Como explicao para esta variao nos resultados eles

    apontaram vrias razes, nomeadamente,