promoção da transcrição: efeitos nas competências de

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MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de Escrita, Ortografia e Motivação em Alunos do 3°ano de Escolaridade Vanessa Sofia Silva Vigário M 2020

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Page 1: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO

Promoção da Transcrição: Efeitos nas

Competências de Escrita, Ortografia e

Motivação em Alunos do 3°ano de

Escolaridade

Vanessa Sofia Silva Vigário

M

2020

Page 2: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

Universidade do Porto

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de Escrita, Ortografia e

Motivação em Alunos do 3°ano de Escolaridade

Vanessa Sofia Silva Vigário

Junho, 2020

Dissertação apresentada no Mestrado Integrado de Psicologia, área de

Intervenção Psicológica, Educação e Desenvolvimento Humano,

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do

Porto, orientada pela Professora Doutora Teresa Limpo (FPCEUP).

Page 3: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

ii

AVISOS LEGAIS

O conteúdo desta dissertação reflete as perspetivas, o trabalho e as interpretações do

autor no momento da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto

concetuais como metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento

posterior ao da sua entrega. Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos

deve ser exercida com cautela.

Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu próprio

trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes utilizadas,

encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e identificadas na

secção de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação

quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de

propriedade industrial.

Page 4: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

iii

AGRADECIMENTOS

A presente dissertação de mestrado não poderia chegar a bom porto sem o precioso apoio

de várias pessoas.

Em primeiro lugar, não posso deixar de agradecer à minha orientadora Professora Doutora

Teresa Limpo por toda a paciência, empenho e sentido prático com que sempre me

orientou neste trabalho. Este percurso não teria sido tão feliz sem a sua presença. Serei

eternamente grata!

Aos Presidentes do Concelho Executivo do Agrupamento de Escolas Infanta Dona

Mafalda, por permitirem e facilitarem o acesso aos seus docentes e alunos.

Aos docentes, pela sua participação e colaboração, porque sem eles não seria possível a

realização deste trabalho.

À psicóloga do Agrupamento, Dr.ª Susana Vieira por toda a partilha de conhecimento e

por se ter revelado uma referência profissional.

A todas as crianças e jovens que se cruzaram comigo neste percurso. Obrigada

por todo o carinho, pelos abraços calorosos, por serem o melhor desta etapa. Nunca

esquecerei cada um de vocês.

À Patrícia e à Mariana, que me ensinaram que tudo era possível se lutasse pelos meus

objetivos.

À minha irmã, por ser um modelo de coragem, pelo seu apoio incondicional, pelo

incentivo, amizade e paciência. Aos meus irmãos, Filipe, Hugo, José e Diogo que

estiveram sempre do meu lado e que representaram para mim um suporte essencial.

A ti, Bruno, por seres o pilar mais importante da minha vida. Pelo companheirismo, amor

e partilha.

A todos o meu sincero e profundo Muito Obrigada!

Page 5: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

iv

RESUMO

Dada a importância da escrita para a integração do indivíduo em sociedade, torna-

se essencial que esta competência seja adquirida e desenvolvida tornando assim

igualmente premente a necessidade de desenvolver e disponibilizar práticas eficazes para

auxiliar os alunos no trabalho desta competência. No início da aprendizagem desta

competência o treino é fundamental, esperando-se que o escritor aprendiz se vá tornando

cada vez mais experiente, e que a transcrição (i.e., fluência manuscrita e ortografia), ao

ser um processo cognitivo simples, se automatize libertando-se recursos da memória de

trabalho para o desenvolvimento de processos cognitivos mais complexos envolvidos na

escrita, podendo refletir-se numa melhor qualidade na produção de textos.

O presente estudo tem como objetivo testar a eficácia de um programa para

promover a transcrição de 10 semanas (3 sessões semanais de 20 min), analisando os seus

efeitos ao nível da transcrição (fluência manuscrita e ortografia); produção de texto

(extensão e qualidade); autoeficácia (fluência manuscrita e escrita de histórias); Motivos

para escrever. Para isso, comparamos 77 estudantes que receberam uma intervenção de

transcrição com 89 estudantes que receberam uma intervenção de desenho. Dentro de

cada grupo, metade dos alunos receberam um trabalho de casa de composição e outra

metade de desenho.

Os resultados demonstraram que os alunos que tiveram uma intervenção de

transcrição obtiveram melhoria ao nível da fluência manuscrita e ortografia, assim como,

na quantidade e qualidade dos textos. Além disso, embora o treino da transcrição não

tenha influenciado a autoeficácia, levou uma diminuição na motivação intrínseca.

Relativamente ao trabalho de casa, não se evidenciou nenhum impacto ao nível da escrita

e motivação dos estudantes. Estes resultados assumem-se como relevantes na medida em

que nos permitem perceber que a competência de transcrição tem influência na

capacidade de escrita e que as implementações de programas de intervenção influenciam

a motivação para a realização da tarefa complexa de escrever.

Palavras-chave: Escrita, Transcrição, Intervenção, Motivação

Page 6: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

v

ABSTRACT

Given the importance of writing for the integration of the individual into the

society, it is critical that this competence is acquired and developed. For that there is an

urgent need to develop and provide effective practices to assist students in improving this

skill. At the beginning of learning to write, training is essential, so the novice writer can

become more and more experienced, and that transcription (i.e., handwriting and

spelling), being a basic cognitive process, gets automatic and frees up working memory

resources for the development of more complex cognitive processes involved in writing,

which may result in better texts.

The present study aims to test the effectiveness of a program to promote

transcription during 10 weeks (3 weekly sessions of 20 min), by analyzing its effects at

the level of transcription (handwritten fluency and spelling); text production (length and

quality); Self-efficacy (handwritten fluency and story writing); Reasons to write. For that

77 students who received a transcription intervention were compared with 89 students

who received a drawing intervention. Within each group, half of the students received a

composition homework and the other half a drawing one.

The results showed that students who received the intervention in transcription

improved in terms of handwriting and spelling, as well as in the quantity and quality of

their written texts. Furthermore, although transcription training has not influenced self-

efficacy, it resulted in a decrease in intrinsic motivation. Regarding homework, there was

no impact on students’ writing and motivation. These findings are relevant as they show

that the skill of transcription influences writing ability and that the implementation of this

kind of educational programs influence students’ motivation to perform the complex task

of writing.

Keywords: Writing, Transcription, Intervention, Motivation.

Page 7: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

vi

ÍNDICE

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 8

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO .................................................. 10

1. Processo de escrita ............................................................................................. 10

1.1. Transcrição ................................................................................................. 10

1.2. Produção de texto (extensão e qualidade) ................................................ 11

1.3. Autoeficácia................................................................................................. 11

1.4. Motivos para escrever ................................................................................ 12

CAPÍTULO II – PARTE EMPÍRICA ........................................................................ 15

1. Método ................................................................................................................ 15

2. Intervenções ....................................................................................................... 16

4. Medidas .............................................................................................................. 19

CAPÍTULO III – RESULTADOS .............................................................................. 21

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO ................................................................................... 26

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO .................................................................................. 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 30

ANEXOS ....................................................................................................................... 37

Page 8: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Caracterização dos participantes por grupo de intervenção e trabalho de casa

Tabela 2 – Estatística descritiva para todas as variáveis do grupo de intervenção

(transcrição x desenho) e tempo de teste (pré-teste x pós-teste)

Page 9: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

8

INTRODUÇÃO

A escrita apresenta-se como uma tarefa de elevada complexidade e exigência a

vários níveis pelo facto de ter subjacentes processos de autorregulação e coordenação

(Limpo e Alves, 2013; Alves, 2008). É devido a esta complexidade e dificuldade ao nível

da execução, que frequentemente se encontram resistências à produção escrita levando à

formação de crenças limitadoras acerca da incapacidade para a mesma (Pereira, 2005).

Esta realidade cria a necessidade de promover competências básicas de escrita e

implementar estratégias motivacionais que lhe sirvam de alavanca.

É também cada vez mais evidente a importância da competência da escrita na

trajetória do indivíduo, designadamente nos múltiplos contextos em que este se insere

desenvolve e com os quais interage. Apesar de sabemos que o contexto escolar é

privilegiado para o desenvolvimento desta competência e que é precisamente neste

contexto que esta representa um indicador de eficácia escolar (Carvalho, 2013)

consideramos que esta representa também uma forma de aquisição, elaboração e

transmissão de conhecimentos a nível pessoal e social, na escola e fora dela e de forma

sistémica e holística (Carvalho e Barbeiro, 2013).

Já no campo do ensino da composição escrita, a preocupação com a evidência

científica sobre o uso de determinadas estratégias para melhorar estes processos tem sido

premente (Alves, 2015). Importa promover desde cedo esta competência e os processos

que lhe estão subjacentes. Graham (2018a, 2018b) propôs o modelo Writer (s) -Within-

Community (WWC) que salienta a importância de vários recursos que podem influenciar

a competência para a escrita entre os quais a se destacam os processos cognitivos de

produção de texto (e.g., transcrição, planeamento, revisão) e motivacionais (e.g.,

autoeficácia e motivos para escrever).

Atualmente está bem estabelecido que uma das primeiras competências que os

escritores iniciantes precisam de adquirir é a transcrição (Berninger & Winn, 2006;

Graham & Harris, 2000). Por transcrição entende-se o ortografar correto das palavras da

língua, e a execução dos gestos motores envolvidos na produção escrita (seja manuscrita

ou em teclado). Embora tratando-se de dois processos distintos, escrever exige a

integração fina destes elementos ortográficos e motores (Jones & Christensen, 1999). O

objetivo é que o ortografar faça parte do gesto e quanto mais estes estiverem integrados,

mais rápida poderá ser a escrita. Transcrever rapidamente é um resultado desejável, pois

vários estudos mostraram que a transcrição constrange a produção de textos com

Page 10: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

9

qualidade tanto em crianças (com ou sem dificuldades, ver Christensen, 2004, 2005;

Graham, 1990; Graham & Harris, 2000) como em adultos (Connelly, Campbell, MacLean

& Barnes, 2006; Connelly, Dockrell & Barnett, 2005; Peverly, 2006). Além disso,

estudos de intervenções têm mostrado que a promoção da transcrição melhora as

competências de fluência manuscrita e ortografia dos alunos do ensino básico, bem como

sua capacidade de produzir textos (Graham, McKeown, Kiuhara, & Harris, 2012; Graham

& Santangelo, 2014; Santangelo & Graham, 2016).

No presente trabalho pretendemos contribuir para aumentar o conhecimento sobre

o impacto da promoção da transcrição no 3º ano de escolaridade na produção escrita e de

forma inovadora explorar o seu efeito nos recursos motivacionais (nomeadamente,

autoeficácia e motivos para escrever).

Page 11: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

10

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. Processo de escrita

1.1.Transcrição

Os estudos realizados estudos realizados têm demonstrado que uma das

competências basilares para consolidar o processo de escrita é a transcrição, sendo esta a

componente que envolve ortografia e execução de gestos motores estando demonstrada a

importância de automatizar este processo para o seu desenvolvimento (McCutchen,

2006). No fundo a transcrição é o processo responsável pela exteriorização dos

conteúdos/ linguagem que se encontra guardada na memória e incluí a ortografia e escrita

à mão/teclado. A transcrição é um processo de grande dificuldade no início da

aprendizagem da escrita, daí ser frequente observar a lentidão e dificuldade demonstrada

pelas crianças nos primeiros anos escolares a transcrever as letras até se dar a

automatização.

A automatização da transcrição, refere-se ao processo de respostas automáticas às

letras, sílabas e palavras para que o sujeito se possa concentrar posteriormente nos

processos mais complexos da compreensão (Ferreiro, 1988). De salientar que o

automatismo na identificação de palavras não significa que as palavras sejam

reconhecidas no imediato enquanto esquema global, pois este é um processo mais

multifacetado, complexo, dinâmico, coordenado e paralelo no sentido em que a

informação sobre a pronuncia da palavra, a construção dos significados acerca da mesma

e a respetiva identidade convergem permitindo a sua memorização e rápida identificação

dos sons que a compõe. Assim, a automatização assume-se aqui como elementar dado

que contribuí diretamente para a qualidade da escrita (Limpo & Alves, 2015, 2017; Olive

& Kellogg, 2002) Nos últimos anos, a pesquisa reuniu evidências consistentes sobre a

importância da ortografia e da fluência manuscrita para compor textos de alta qualidade

(Alves & Limpo, 2015; Graham, Berninger, Abbott, Abbott e Whitaker, 1997 ; Limpo &

Alves, 2013a, 2017b,; Limpo, Alves & Connelly, 2017).

O desenvolvimento de intervenções focadas nestas competências sobretudo no

que diz respeito à fluência manuscrita, escrita das letras e legibilidade (não esquecendo o

papel do reforço positivo dado pelos professores como promotor de motivação) é assim

de particular importância (Graham, 2009). A pedagogia de ensino desta competência

deverá assentar na elaboração e uso de programas contextualizados que envolvam a

Page 12: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

11

comunidade escolar – professores e alunos – para a realização de atividades que a

potenciem de forma interativa, dinâmica, objetiva e sustentada. Os diversos estudos de

intervenção, forneceram resultados que nos permitem perceber que a promoção da

transcrição melhora as competências de escrita e ortografia dos alunos, bem como sua

capacidade e qualidade na produção de texto (Graham, McKeown, Kiuhara, & Harris,

2012; Graham & Santangelo, 2014; Santangelo & Graham, 2016) assim como confirma

que para além de se sentirem capazes de agir para alcançar um objetivo, as crianças devem

sentir-se competentes em fazê-lo (Bandura, 1997; Pajares, 2003; Pajares et al., 2007).

Todas estes aspetos devem ser tidos em conta quando o assunto a tratar é o processo de

escrita.

1.2. Produção de texto (extensão e qualidade)

A revisão da literatura permite-nos perceber que a transcrição tem maior gasto

cognitivo para as crianças comparativamente com os adultos. Desta forma, ao necessitar

de mais recursos cognitivos deixa menos recursos livres para o desenvolvimento dos

outros processos cognitivos envolvidos na produção de texto, o que, por sua vez, parece

conduzir a uma diminuição na qualidade do texto produzido (Alves, 2008).

Com o aumento da frequência de escrita, espera-se que o escritor aprendiz se vá

tornando cada vez mais experiente, e que a transcrição, ao ser um processo cognitivo

simples, se automatize (Alves, 2008), libertando desta forma recursos da memória de

trabalho para o desenvolvimento de processos cognitivos mais complexos envolvidos na

escrita, podendo refletir-se numa melhor qualidade dos textos (Christensen, 2004) dado

que os seus esforços estão canalisados maioritariamente para esses processos mais

complexos e completos e de muitas formas direcionado.

Apesar da relevância da transcrição para a qualidade da produção de texto, esta

automatização por si só não garante a mestria na composição escrita (Graham & Harris,

2000). São vários os elementos envolvidos nesta capacidade e na melhoria dos processos

de escrita entre os quais salientamos a importância de constructos dinâmicos como

autoeficácia e da motivação.

1.3.Autoeficácia

As crenças de autoeficácia revestem-se de grande relevância na produção escrita.

Podemos definir este constructo enquanto processo ligado a expectativas pessoais

Page 13: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

12

relativas à posse da capacidade de mobilização de competências para a produção de

resultados desejados sendo que no domínio da escrita, a autoeficácia pode ser amplamente

definida como autojulgamento dos alunos sobre sua capacidade de escrever (cf. Bandura,

1997). Bandura (1995), define a autoeficácia enquanto ligada a um conjunto de crenças

nas capacidades próprias para organizar e executar os cursos de ação requeridos para lidar

com situações perspetivas. Consistentemente em diferentes níveis escolares, a literatura

mostra que a autoeficácia prediz positivamente a qualidade da escrita dos alunos (Pajares,

2003).

As capacidades que as pessoas possuem desempenham um papel de grande

importância nas suas realizações, todavia, nem sempre a perceção pessoal acerca dessas

capacidades é rigorosa e exata, daí podermos afirmar que as crenças de autoeficácia

influenciam o nível de realização que as pessoas podem atingir (Coimbra, 2008).

Zimmerman e Cleary (2006) citado por Coimbra (2008) fala-nos quatro

importantes caraterísticas relacionadas com a autoeficácia. A primeira prende-se com o

facto de que a autoeficácia é a capacidade percebida pelo sujeito para o desempenho da

tarefa com sucesso; a segunda tem que ver com a especificidade da autoeficácia. Esta é

específica de cada tarefa, não sendo generalizável para todas as tarefas desempenhadas

pelo sujeito. A terceira importante caraterística é a dependência do critério de mestria

num determinado desempenho, mais do que um critério normativo ou qualquer outro.

Dando um exemplo mais objetivo, segundo estes autores, um estudante vai auto avaliar-

se para perceber a sua competência de escrita, não se comparando com a proficiência na

escrita dos seus pares. Por fim, a autoeficácia tem um ponto de suma importância que é a

avaliação por antecipação que o sujeito faz quanto à capacidade de realização da tarefa,

uma vez que essa avaliação pode condicionar e ter implicações na autorregulação

aquando do desempenho. Apesar de até o momento, nenhum estudo ter examinado se a

promoção das competências de transcrição é atendida por um aumento paralelo da

autoeficácia, tal como sugerido por estudos anteriores que mostraram que a transcrição

foi um forte preditor das crenças de autoeficácia dos alunos do 1º e 2º ciclos (Limpo &

Alves, 2013a) e que a perceção de competência neste processo básico pode assim ter um

papel essencial nas crenças de autoeficácia.

1.4.Motivos para escrever

Ao comportamento humano estão inerentes múltiplas e diferenciadas atividades,

sendo que todo o comportamento é uma atividade dirigida que tende para a concretização

Page 14: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

13

de objetivos. O crescente número de estudos que têm vindo a surgir nesta área, referem

que os escritores são influenciados por premissas motivacionais (Boscolo & Hidi, 2007;

Bruning & Horn, 2000). Há muitos indivíduos que apesar de revelarem uma boa

capacidade intelectual e de aprendizagem, obtêm resultados muito baixos no seu

desempenho escolar. O que falta a estes indivíduos poderá não ser a capacidade, mas a

motivação.

A relação entre a motivação e a aprendizagem é evidente, pois sem motivação não

há aprendizagem, o que equivale a dizer, que a motivação é condição necessária para

haver aprendizagem pois aprendizagem acontece quando o indivíduo está realmente

interessado em aprender; aprende-se aquilo que corresponde a uma necessidade ou a um

interesse. Assim, a motivação pode ser definida como “uma necessidade ou desejo

acoplado com a intenção de atingir um objetivo apropriado” (Krench & Crutchfield, 1959,

p. 272), podendo este desejo partir do próprio indivíduo por vontade própria - motivação

intrínseca (por exemplo, aumentar o conhecimento) ou partir de um envolvimento pelo

interesse pelo que pode ganhar com esse envolvimento – motivação extrínseca (por

exemplo, receber um prêmio). Quando aplicada à escrita, a motivação torna-se ainda mais

fulcral.

No seu modelo da WWC (Graham 2018a, b), a motivação é uma de várias

dimensões a serem verificadas. Aqui percebemos que é importante estar motivado e ter a

capacidade de usar a motivação e muitas outras competências em função da escrita. Este

é um modelo que prevê o desempenho da escrita a partir das crenças de autoeficácia e as

diversas competências que envolvem a escrita (caligrafia, ortografia, revisão, etc.).

Graham (2018a, 2018b) argumentou que os fatores motivacionais são particularmente

importantes na escrita, dado que as crenças motivacionais influenciam a dedicação à

escrita, quanto esforço é comprometido, quais as ações do escritor e como interage com

outras pessoas (por exemplo, professor ou outros alunos). Essas crenças motivacionais

incluem autoeficácia e motivos para escrever, que supostamente influenciam os escritores

e os seus produtos escritos. Em suma, embora as motivações dos escritores para produzir

um texto possam variar de acordo com fatores específicos localizados (por exemplo, tema

do texto, condições de saúde, finalidade da escrita), o modelo da WWC pressupõe que os

escritores possam sentir-se mais ou menos motivados a escrever em geral (Graham,

2018a, 2018b). Baseados em trabalhos anteriores no domínio da leitura (Schiefele &

Schaffner, 2016; Schiefele, Schaffner, Möller e Wigfield, 2012), Graham et al. (2019)

propuseram uma concetualização multidimensional das razões dos escritores para

Page 15: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

14

escrever. Baseados na ideia de que a motivação é influenciada por múltiplos incentivos

(Deci e Ryan, 2000), os motivos para escrever foram agrupados em sete categorias: (a)

curiosidade, isto é, escrever devido ao interesse em saber mais sobre o tema da

composição (b) envolvimento, ou seja, , experimentar sentimentos positivos (c) notas, ou

seja, para melhorar as notas da escola (d) competição, ou seja, para superar colegas da

escola (e) reconhecimento social, isto é, ver o bom desempenho da escrita reconhecido

(f) regulação emocional, isto é, para superar emoções negativas e (g) evitar o

aborrecimento, isto é, para lidar com o tédio.

Com base na Teoria da Autodeterminação, estes sete motivos para escrever

podem ser organizados em duas categorias principais de incentivos motivacionais (Deci

e Ryan, 1985). As dimensões de curiosidade, envolvimento, regulação emocional e evitar

o aborrecimento são consideradas componentes da motivação intrínseca. Isso significa

que os escritores podem estar dispostos a escrever por si só, por exemplo, pelo prazer que

tiveram com a experiência de escrever. As dimensões de notas, competição e

reconhecimento social são consideradas componentes da motivação extrínseca. Isso

significa que os escritores podem estar dispostos a escrever por aquilo que traz, por

exemplo, pelas consequências positivas trazidas pela atividade de produção de um texto.

Usando análises de regressão, (Rocha, Filipe, Magalhães, Graham, & Limpo,

2019) descobriram que a curiosidade e o reconhecimento social eram preditores

significativos da qualidade da escrita além das atitudes em relação à escrita e às crenças

de autoeficácia de alunos do 6º ano. Estas são descobertas pioneiras em relação aos

motivos dos alunos Portugueses para escrever, que pretendemos aprofundar e estender no

presente estudo. Não há estudos anteriores que permitam perceber se o treino da

transcrição pode mudar as motivações dos alunos para a escrita. Dado o papel

fundamental da transcrição nos primeiros anos de escolaridade, parece plausível que

mudanças na competência de escrita possam refletir mudanças nos motivos para escrever.

Por exemplo, um escritor mais lento que habitualmente é motivado a escrever com

incentivos extrínsecos (por exemplo, para concluir tarefas escolares obrigatórias e ter um

bom desempenho na escola), se reduzirmos os obstáculos à escrita o escritor poderá

passar a escrever também por razões intrínsecas (por exemplo, atividades de lazer).

Page 16: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

15

CAPÍTULO II – PARTE EMPÍRICA

Foi à luz dos pressupostos teóricos que apresentámos anteriormente e adotando o

modelo WWC proposto por Graham (2018a, 2018b), dado que o mesmo fornece uma

excelente e atualizada ilustração da complexidade da escrita, que nos propusemos testar

a eficácia de um programa para a promoção da transcrição no 1º ciclo do ensino básico,

analisando os seus efeitos ao nível da transcrição (fluência manuscrita e ortografia );

produção de texto (extensão e qualidade); autoeficácia (fluência manuscrita e escrita de

histórias) e motivos para escrever. Para isso, comparamos dois grupos de estudantes,

sendo que, no primeiro, implementamos o programa de transcrição baseada em

evidências desenvolvida por Limpo e Alves (2018), no segundo implementamos um

programa de desenho com a mesma estrutura do programa de transcrição composto de

exercícios direcionados às competências visuomotoras (que também estão envolvidas na

transcrição), mas não possuía o componente relacionado com a escrita de letras e

ortografia. Independentemente da intervenção, todos os alunos recebiam uma tarefa de

trabalho de casa a cada duas semanas, que poderia ser escrever uma história ou fazer um

desenho.

Esta intervenção permite responder a algumas questões, nomeadamente se: O

treino da transcrição frequente reflete maiores ganhos na escrita e ortografia, bem como

na quantidade e qualidade da escrita? O treino da transcrição influencia aspetos

importantes da motivação de escrita dos alunos? Criar oportunidades de composição

através de trabalho de casa, aliadas ao treino de transcrição, reflete melhoria na

composição de histórias? Através das respostas a estas questões e sobretudo através da

compreensão dos fenómenos em estudo, este estudo poderá servir para mapear e

aprofundar perspetivas de desenvolvimento de competências e fundamentar programas

de intervenção semelhantes que visem promover a melhoria de processos que envolvam

as competências em estudo. Permitirá, inclusive, produzir conhecimento sobre os efeitos

da transcrição nas competências de escrita, constituindo desta forma um contributo

positivo para o sucesso das trajetórias escolares.

1. Método

Participantes

Neste estudo, participaram 178 crianças portuguesas do 3º ano do 1º ciclo do

ensino básico (oito turmas). As turmas foram distribuídas por duas condições (quatro

Page 17: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

16

turmas por condição): intervenção de transcrição e intervenção de desenho. Em cada

condição, as crianças foram ainda aleatoriamente distribuídas por duas condições de TPC

(Trabalhos Para Casa): TPC desenho e TPC escrita. Os alunos com Necessidades

Educativas Especiais e 12 crianças que não completaram todas as tarefas do pré-teste ou

pós-teste foram retirados das análises de dados. As análises subsequentes foram assim

baseadas nos dados de 166 crianças, distribuídas em intervenção de transcrição com TPC

de escrita (N = 40, 29 meninas), intervenção de transcrição com TPC de desenho (N = 37,

19 meninas), intervenção de desenho com TPC de escrita (N = 47, 23 meninas);

intervenção de desenho com TPC de desenho (N = 42, 16 meninas). Todos os estudantes

participaram no estudo após a autorização, através de consentimento informado, do

Encarregado de Educação. (anexo 1)

A caracterização dos quatro grupos encontra-se na tabela 1

Tabela 1. Caracterização dos participantes por grupo de intervenção e de trabalho de casa

Escrita Desenho

Transcrição Desenho Transcrição Desenho

Idade (em anos)

M 8.68 8.67 8.73 8.79

SD 0.30 0.35 0.45 0.47

Escolaridade da mãe (n)

4º Ano 0 0 1 2

9º Ano 9 8 16 18

12º Ano 17 16 16 12

Faculdade 12 11 12 10

Pós-graduação 0 2 0 0

Desconhecido 2 0 2 0

Notas a Português (1-5)

M 3.63 3.51 3.66 3.62

SD 0.87 0.73 0.70 0.79

Notas a Matemática (1-5)

M 3.88 3.92 4.09 3.83

SD 0.97 0.80 0.88 0.96

2. Intervenções

Ambas as intervenções foram implementadas em três sessões semanais de 20

minutos, durante 10 semanas.

Page 18: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

17

Transcrição. O programa de transcrição teve como principal objetivo promover

a automatização da transcrição, nomeadamente, da fluência manuscrita e da ortografia.

Em cada sessão foram realizados dois tipos de atividades: primeiro, uma atividade de

aquecimento dedicada à prática do alfabeto, depois, uma atividade de cópia rápida de

palavras ou frases.

Na atividade de aquecimento dedicada à prática do alfabeto definimos uma

atividade diferente em cada uma das três sessões. Na primeira, os alunos foram

convidados a escrever o alfabeto a partir de letras diferentes. Na segunda, eles tiveram

que escrever a carta antes e / ou depois de outras cartas. Na terceira, foi cronometrado o

tempo de 60 segundos para escreverem o alfabeto em minúsculas. Posteriormente, foram

ensinados a monitorar seu desempenho contando e registando o número de letras escritas

corretamente.

Na atividade de cópia, o procedimento foi semelhante ao descrito anteriormente.

Na primeira atividade, os alunos os alunos foram convidados a organizar um conjunto de

20 palavras em dois grupos, de acordo com um critério superficial. Por exemplo, a

atividade apresentou 10 palavras escritas em tinta azul misturadas com 10 palavras

escritas em tinta vermelha. Foi solicitado aos alunos que escrevessem as “palavras de

tinta azul” em uma coluna com fundo azul e as “palavras de tinta vermelha” em uma

coluna com fundo vermelho. Na segunda, tinham 10 frases incompletas e foram instruídos

a completar a frase com a palavra que estava em falta e posteriormente copiar a frase

completa. Na terceira sessão, os alunos tiveram 60 segundos para copiar 10 frases o mais

rápido possível. Posteriormente, monitoraram seu desempenho, contando e registando o

número de palavras copiadas corretamente na última frase.

O programa incluiu ainda uma componente implícita de treino da ortografia. Ou

seja, todas as atividades tinham palavras chave que continham alternâncias (isto é,

maneiras diferentes de representar um único fonema), contribuindo para aumentar o

conhecimento dos alunos sobre o sistema de ortografia português. Foram selecionadas

palavras com padrões ortográficos onde a correspondência fonema- grafema é de 1 para

2 (ver anexo). Nas semanas 1 - 5 foram trabalhadas correspondências inconsistentes com

regularidades contextuais. Nas semanas 6 - 10 trabalharam-se correspondências

inconsistentes.

Desenho. Com base no programa, de transcrição desenvolvemos uma

intervenção de desenho com a mesma estrutura. Esse grupo forneceu um teste rigoroso à

intervenção da transcrição, pois era composto de exercícios direcionados às competências

Page 19: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

18

visuomotoras (que também estavam envolvidas na transcrição), mas não possuía o

componente relacionado com a escrita de letras e ortografia. Assim, uma superioridade

da transcrição em relação aos estudantes de desenho não pôde ser atribuída apenas ao

treino visuomotor.

Cada semana incluiu três treinos em sala de aula nos quais foram realizados dois

tipos de atividades: primeiro, uma atividade de aquecimento dedicada à pintura e

completamento de imagens, depois, uma atividade de desenho a partir de palavras.

Trabalho para casa. Nos dois programas, transcrição e desenho, de 15 em 15

dias foi pedido a todas as crianças um trabalho de casa onde escreverem um texto ou

fizeram um desenho a partir de um determinado tema. Diferentes pesquisas meta-

analíticos mostraram que a escrita extra pode resultar numa melhor qualidade do texto

(Graham et al., 2012), e que permitir a inclusão de oportunidades de composição parece

um ingrediente-chave em qualquer intervenção escrita. Assim, acreditamos que ao inserir

este trabalho de casa, possibilitando a prática de composição, estaríamos a potenciar o

efeito da transcrição.

Fidelidade da implementação. Ambos os programas incluíam dois livros o

caderno de atividades e o manual do professor que continha as diretrizes de

implementação das atividades. Foram realizados momentos de reunião com os

professores no sentido de prestar os esclarecimentos necessários à execução correta das

tarefas. Num primeiro momento foi dado a conhecer o programa e os seus objetivos e

num segundo momento foram dadas as diretrizes para uma correta implementação do

caderno de atividades, dado que a mesma se revestia de grande relevância para os dados

que pretendíamos obter. No manual do professor além das diretrizes de implementação

referidas anteriormente, existia também uma lista de verificação/ checklists com todas as

atividades onde os professores efetuavam uma confirmação sempre que terminavam uma

tarefa, evitando assim que alguma atividade ficasse por concretizar.

No decorrer da intervenção, em três semanas distribuídas aleatoriamente,

diferentes observadores foram verificar se todos os pontos das checklists de

monitorização foram cumpridos. Os observadores e professores confirmaram que os

pontos das checklists foram criteriosamente cumpridos e que não houve omissão de

nenhum dos pontos dada a relevância da aplicação total dos procedimentos solicitados.

Por fim, as pastas de trabalho dos alunos foram todas confirmadas

individualmente. Em geral, confirmou-se que todas as atividades foram realizadas

conforme o esperado e delineado inicialmente.

Page 20: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

19

3. Procedimento de avaliação

Todos os participantes foram avaliados uma semana antes e depois da intervenção

numa sessão de grupo de 45 minutos. Primeiro, o experimentador apresentou o tópico de

escrita da história (pré-teste: "Conta uma história sobre uma criança que partiu o

brinquedo do irmão?" e pós-teste: "Conta uma história sobre uma criança que perdeu o

animal de estimação"). As crianças tiveram 10 minutos para concluir esta tarefa. Durante

a tarefa, foram avisadas quando passou metade do tempo e quando faltavam apenas dois

minutos para terminar o tempo disponível. Posteriormente, as crianças realizaram as

tarefas de cópia e ditado. Na tarefa de cópia, o experimentador leu a frase que estava na

folha de teste “O rouxinol azul fugiu do jardim porque chovia bastante” e pediu às

crianças que repetissem em coro. De seguida, pediu às crianças para copiarem a frase o

mais rápido possível e sem erros durante 90 segundos. Na tarefa de ditado, as crianças

redigiram 16 palavras ditadas pelo experimentador que apareceram de forma recorrente

no programa de transcrição. Destas 16 palavras, alternávamos entre oito palavras

consistentes e oito inconsistentes. Referimo-nos com isto às palavras passiveis de serem

representadas por um único fonema), contribuindo para aumentar o conhecimento dos

alunos sobre o sistema de ortografia em português. Por fim, as crianças preencheram um

questionário de autoeficácia e motivação. O experimentador leu cada item um a um

pedindo às crianças que respondessem individualmente na sua folha.

4. Medidas

Transcrição. Para a tarefa de cópia, o resultado foi o número de palavras corretas

copiadas. Para o ditado, foi avaliado o desempenho dos alunos numa tarefa de ditado

composta por 16 palavras, contou o número de palavras consistentes e inconsistentes

corretamente escritas.

Produção de texto. Foram obtidas duas medidas a partir das histórias escritas

pelas crianças: extensão do texto, e qualidade da escrita. A extensão do texto, foi

contabilizada pelo número total de palavras escritas. A qualidade da escrita, foi avaliada

numa escala variando de 1 (baixa qualidade) a 7 (alta qualidade), atribuindo um único

valor, responsável por quatro fatores atribuídos ao mesmo peso: criatividade (isto é,

singularidade e significado das ideias), coerência (isto é, clareza e organização do texto),

sintaxe (isto é, gramática e diversidade das frases) e vocabulário (isto é, variedade e uso

adequado das palavras).

Page 21: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

20

Autoeficácia. Para avaliar a autoeficácia, foi utilizada uma escala de dois fatores

(Limpo, Filipe, Magalhães, Cordeiro, Veloso, Castro, & Graham, 2020). Nesta escala, foi

pedido aos alunos que dissessem até que ponto cada afirmação era verdadeira para eles,

usando uma pontuação entre 1 (sempre verdadeira) a 5 (nunca verdadeira). A escala

incluiu três itens direcionados à fluência manuscrita e quatro itens relacionados com a

escrita de histórias. Neste estudo, a consistência interna medida com o ômega ordinal foi

adequada para as duas subescalas, tanto no pré-teste (fluência manuscrita = 0.62; escrita

de histórias = 0.81) como no pós-teste (fluência manuscrita= 0.83; escrita de histórias =

0.79).

Motivação. Os motivos dos alunos para escrever foram medidos com o Writing

Motivation Questionnaire (Graham et al., 2019). A versão em português foi desenvolvida

por Limpo et al. (2020) e é composto por 21 itens organizados em sete dimensões:

curiosidade (por exemplo, “Eu escrevo porque posso escrever sobre temas importantes

para mim.”), envolvimento (por exemplo, “Eu escrevo porque gosto de criar uma

personagem parecida comigo. ”), notas (por exemplo,“ Eu escrevo para tirar melhores

notas na escola.”), competição (por exemplo,“ eu escrevo porque é importante para mim

saber mais do que os outros alunos. ”), reconhecimento social (por exemplo, "Eu escrevo

porque recebemos elogios quando escrevemos bem.".), regulação emocional (por

exemplo, "Eu escrevo porque me ajuda a acalmar.") e evitar o aborrecimento (por

exemplo, "Eu escrevo porque me ajuda a passar o tempo. ”). As frases foram lidas e aos

alunos foi pedido que indicassem até que ponto cada motivo é verdadeiro para eles. À

semelhança da autoeficácia, as respostas foram dadas em escala que varia de 1 (sempre

verdadeiro) a 5 (nunca verdadeiro).

Por conveniência de interpretação, as respostas foram codificadas inversamente.

Assim, pontuações mais altas indicam níveis mais altos de motivação. Neste estudo, a

consistência interna medida com o ômega ordinal foi adequada para todas as subescalas,

tanto no pré-teste (competição = 0.79; curiosidade = 0.80; regulação emocional= 0.79;

notas = 0.80; envolvimento = 0.65; evitar o aborrecimento = 0.75; reconhecimento social

= 0.68) e no pós-teste (competição = 0.89; curiosidade = 0.80; regulação emocional =

0.87; notas = 0.79; envolvimento = 0.75; evitar o aborrecimento = 0.83; reconhecimento

social = 0.79).

Page 22: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

21

CAPÍTULO III – RESULTADOS

Inicialmente, a nossa preocupação foi perceber a normalidade da distribuição e

confirmamos que os dados de todas as variáveis no pré-teste e pós-teste não mostravam

desvios graves à distribuição normal (Kline, 2010), podendo assim assumir que as

amostras não apresentaram grande afastamentos da normalidade.

Para analisar a eficácia do programa na fluência na manuscrita, extensão do texto

e qualidade do texto, foram realizadas análises de variância (ANOVAs) 2 x 2 x 2

(Intervenção [transcrição, desenho] x Trabalho de casa [composição, desenho] x Tempo

de teste [pré-teste, pós-teste]), com medidas repetidas neste último fator. Para as restantes

variáveis, foi adicionado um quarto fator, de acordo com a respetiva variável: Ortografia

(palavras consistentes, palavras inconsistentes), Autoeficácia (fluência da manuscrita,

escrita de histórias), Motivos para escrever (competição, curiosidade, regulação

emocional, notas, envolvimento, evitar o aborrecimento e reconhecimento social). A

Tabela 2 permite verificar as médias e desvios padrão para todas as variáveis em estudo,

por grupo e momento de avaliação.

Page 23: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

22

Tabela 2. Estatística descritiva para todas as variáveis do grupo de intervenção (transcrição x desenho) e tempo de teste (pré-teste x pós-teste)

Pré-teste Pós-teste

Transcrição Desenho Transcrição Desenho

M SD M SD M SD M SD

Fluência Manuscrita (N = 164) 20.57 5.21 18.92 4.32 25.28 4.95 21.53 5.73

Ortografia (N = 164)

Palavras consistentes 6.99 1.26 7.01 1.33 7.55 0.81 7.17 1.11

Palavras inconsistentes 6.11 1.62 6.04 1.96 6.92 1.14 6.26 1.71

Produção de texto (N = 166)

Extensão 89.19 25.88 80.92 27.85 103.10 26.42 85.58 27.81

Qualidade 3.68 0.96 3.55 0.96 4.19 1.13 3.70 1.06

Autoeficácia (N =147)

Fluência Manuscrita 3.57 0.92 3.70 0.77 3.64 0.98 3.86 1.01

Escrita de Histórias 3.71 0.95 3.82 0.87 3.69 0.95 3.94 0.75

Motivação para escrever (N = 132)

Competição 3.76 1.03 3.87 1.14 3.62 1.37 3.49 1.46

Curiosidade 3.93 0.97 4.16 0.89 3.54 1.11 4.13 0.83

Regulação Emocional 3.45 1.05 3.63 0.95 2.89 1.30 3.45 1.19

Notas 4.42 0.83 4.60 0.60 4.29 0.92 4.55 0.67

Envolvimento 3.77 0.95 3.97 0.82 3.35 1.11 3.95 0.91

Evitar o aborrecimento 3.39 1.06 3.90 0.88 3.07 1.25 3.56 1.10

Reconhecimento Social 3.83 1.01 4.02 0.89 3.46 1.18 3.91 1.14

Page 24: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

23

Efeitos na Transcrição

Fluência manuscrita. Verificou-se um efeito principal do tempo, F(1, 160) =

120.42, p <.001, ηp2 = 0.43, sendo que independente da intervenção todas as crianças

copiaram mais palavras no pós-teste face ao pré-teste. Além disso, encontramos um efeito

principal da intervenção, F(1, 160) = 13.75, p <.001, ηp2 = 0.08. Especificamente, as

crianças na intervenção de transcrição copiaram mais palavras do que as crianças na

intervenção de desenho. Por último, os resultados mostraram uma interação significativa

entre o tempo e a intervenção, F(1, 160) = 10.25, p =.002, ηp2 = 0.06. Os resultados da

decomposição desta interação revelaram que as crianças de ambas as intervenções

obtiveram melhores resultados no pós-teste do que no pré-teste (ambos os p <.001). Além

disso, as crianças que participaram na intervenção na transcrição copiaram mais palavras

do que as crianças da intervenção no desenho quer no pré-teste (p = .03) quer no pós-teste

(p < .001).

Ortografia. Relativamente às palavras consistentes, apenas se identificou um

efeito principal do tempo, F(1, 160) = 21.75, p<.001, ηp2 = 0.12. Verificamos que

independentemente da intervenção todas as crianças melhoram do pré-teste para o pós-

teste. No que diz respeito às palavras inconsistentes, também, se verificou um efeito

principal do tempo, F(1, 160) = 24.08, p< .001, ηp2 = 0.13. Além disso, os resultados

mostraram uma interação significativa entre o tempo e a intervenção, F(1, 160) = 7.98, p

=.01, ηp2 = 0.05. Os resultados da decomposição desta interação revelaram que as crianças

com intervenção de transcrição (p < .001) e desenho (p = .02) aumentaram o desempenho

ortográfico ao longo do tempo. No pós-teste, os alunos na intervenção de transcrição

superaram os da intervenção de desenho (t = 2.22, p =.03, d = 0.49). Não houve diferenças

no pré-teste.

Efeitos na Produção de Texto

Extensão de texto. Encontramos um efeito principal do tempo, F(1, 162) = 27.71,

p<.001, ηp2 = 0.12, sendo que independentemente da intervenção todas as crianças

escreveram mais palavras no pós-teste comparativamente ao pré-teste. Além disso,

identificamos um efeito principal da intervenção, F(1, 162) = 12.11, p = .001, ηp2 = 0.07.

Especificamente, as crianças na intervenção na transcrição escreveram mais palavras do

que aquelas na intervenção no desenho. Os resultados mostraram também uma interação

Page 25: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

24

significativa entre o tempo e a intervenção, F(1, 162) = 5.67, p =.02, ηp2 = 0.03. Por

último, verificamos uma interação significativa entre tempo, intervenção e TPC, F(1,

162) = 4.28, p =.04, ηp2 = 0.03. Os resultados da decomposição revelaram que a extensão

do texto foi maior no pós-teste do que no pré-teste apenas para a intervenção de

transcrição (p<.001) e que no pós-teste os alunos superaram os alunos de desenho (p

=.01). Não houve diferenças pré-teste.

Qualidade das histórias. Verificou-se um efeito principal do tempo, F(1, 162) =

15.77, p <.001, ηp2 = 0.09, sendo que independente da intervenção todas as crianças

escreveram textos com maior qualidade no pós-teste face ao pré-teste. Além disso,

encontramos um efeito principal da intervenção, F(1, 162) = 5.38, p =.022, ηp2 = 0.03.

Assim sendo, as histórias escritas pelas crianças na intervenção na transcrição foram

melhores do que as histórias escritas pelas crianças na intervenção no desenho. Por

último, os resultados mostraram uma interação significativa entre o tempo e a

intervenção, F(1, 162) = 4.49, p =.04, ηp2 = 0.03. Testes de efeitos principais simples

mostraram que a qualidade dos textos dos alunos de transcrição aumentou do pré-teste

para o pós-teste (p=.004); e que, no pós-teste, os alunos da intervenção de transcrição

escreveram histórias melhores do que as da intervenção de desenho (p =.05). Não houve

diferenças no pré-teste.

Efeitos na Autoeficácia

Identificamos um efeito principal do tempo, F (1, 157) = 3.89, p =.05, ηp2 = 0.02,

sendo que independente da intervenção todas as crianças aumentaram as suas crenças de

autoeficácia do pré-teste para o pós-teste. Não se verificaram quaisquer efeitos na

autoeficácia para a escrita de histórias.

Efeitos na Motivação

Os resultados mostraram efeitos principais significativos do tempo F(1, 128) =

13,46, p<.001, ηp2 = 0.10, intervenção, F(1, 128) = 7,50, p =.01, ηp

2 = 0.06 e motivos para

escrever, F(6, 768) = 41,29, p<.001, ηp2 = 0.24, que foram modulados por uma interação

entre intervenção, tempo e motivos para escrever, F (6, 768) = 2,57 , p =.02, ηp2 = 0.02.

No que diz respeito ao grupo, no pós-teste, os estudantes de transcrição obtiveram

pontuações mais baixas do que os estudantes na curiosidade (t = 2.21, p =.03, d = 0.60) e

envolvimento (t = 2.07, p =.04, d = 0.59). Não houve diferenças pré-teste.

Page 26: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

25

Relativamente ao tempo, no grupo de intervenção de desenho, houve uma

diminuição do pré-teste para o pós-teste nos motivos associados à competição (t = 2,31,

p =.01, d = 0.45) e evitar o aborrecimento (t = 2.48, p =.01, d = 0.48).

No grupo intervenção de transcrição, houve uma redução do pré-teste para o pós-

teste na curiosidade (t = 2.99, p =.003, d = 0.65), regulação emocional (t = 3.28, p =.001,

d = 0.83) , envolvimento (t = 3.34, p =.001, d = 0.90), evitar o aborrecimento (t = 2,18,

p =.03, d = 0.91) e reconhecimento social (t = 2.55, p =.01, d = 0.77).

Nas diferenças entre os motivos para escrever, nos dois grupos de intervenção e

tempos de teste, verificaram-se valores mais altos no motivo notas em comparação com

todos os outros motivos e houve também pontuações mais altas na curiosidade do que na

regulação emocional.

Com exceção dos estudantes de desenho no pré-teste, verificou-se que os valores

associados ao motivo curiosidade eram maiores do que os de evitar o aborrecimento. No

pós-teste, os estudantes de desenho relataram mais curiosidade do que competição e mais

envolvimento do que regulação emocional e evitar o aborrecimento e os estudantes de

transcrição relataram mais competição do que regulação emocional e mais envolvimento

e reconhecimento social do que regulação emocional.

Page 27: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

26

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO

O presente estudo analisou o efeito de uma intervenção de transcrição com alunos

no 3º ano do ensino básico, implementada durante 10 semanas em 3 sessões semanais de

20 min. Os estudantes que receberam uma intervenção de transcrição foram comparados

com os estudantes que receberam uma intervenção de desenho.

No geral, comparativamente aos alunos na condição de desenho, os alunos que

receberam instruções de transcrição evidenciaram maiores ganhos na fluência manuscrita

e ortografia, bem como na quantidade e qualidade de sua escrita e diminuíram a

motivação intrínseca. O tipo de trabalho de casa que os alunos tinham para desempenhar

não teve impacto relevante na escrita e na motivação. Isto permite-nos corroborar a ideia

de que, o treino de escrever letras, palavras e frases através destes programas, melhora as

competências de escrita dos estudantes (Alves et al., 2016; Berninger et al., 1997; Graham

et al., 2018; Graham et al., 2000; Limpo & Alves, 2018; para uma meta-análise, ver

Santangelo & Graham, 2016).

Efeitos na Competência de Escrita

Os dados obtidos permitem-nos perceber que os estudantes na intervenção de

transcrição conseguiram copiar mais palavras do que os colegas na intervenção de

desenho, o que nos permite concluir que, conforme previsto, o treino da transcrição opera

melhorias na fluência manuscrita.

Ao nível da ortografia percebemos que, as atividades de cópia podem ser usadas

para ensinar e dotar os alunos de competências de ortografia através de uma seleção

criteriosa de palavras em vez de palavras escolhidas sem qualquer critério. Isso não quer

dizer, no entanto, que esses exercícios devam substituir a instrução ortográfica explícita

(cf. Graham & Santangelo, 2014).

A intervenção da transcrição também favoreceu a escrita de histórias. Os

estudantes que receberam treino de transcrição elaboraram histórias mais longas e com

maior qualidade do que os colegas que receberam treino de desenho. Essa descoberta

corrobora com as pesquisas anteriores que mostram que a instrução de transcrição

melhora não apenas as competências de fluência manuscrita e ortografia, mas também a

quantidade e a qualidade da escrita e capacidade de criação dos alunos, uma vez que tal

como supra mencionado, as crianças libertam recursos dando lugar à aquisição e

Page 28: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

27

desenvolvimento de processos relevantes para a escrita, como o exemplo da criação de

ideias, entre outros já anteriormente mencionados na literatura (Alves et al., 2016;

Berninger et al., 1997; Graham & Santangelo, 2014; Limpo & Alves, 2018; Santangelo

& Graham, 2016).

No que diz respeito ao trabalho de casa, verificamos que não obtivemos efeitos,

ou seja, este trabalho de casa não refletiu uma melhoria na qualidade das histórias, no

entanto importa referir que, não controlamos as condições sob as quais este trabalho foi

realizado (por exemplo, duração, ajuda extra).

Efeitos na autoeficácia

Relativamente às crenças de autoeficácia, esperávamos que os estudantes na

intervenção de transcrição relatassem maior confiança nas competências de escrita e na

escrita de histórias do que os colegas de intervenção de desenho. Do pré-teste para o pós-

teste, houve um aumento das crenças de autoeficácia dos estudantes independentemente

da intervenção. No entanto, para a escrita de histórias, não se verificaram quaisquer

efeitos na autoeficácia dos estudantes.

Efeitos na motivação

Do pré-teste para o pós-teste, houve uma diminuição na curiosidade,

envolvimento, regulação emocional e reconhecimento social dos estudantes na condição

de transcrição. No pós-teste, os estudantes na condição de transcrição relataram menor

curiosidade e envolvimento do que os estudantes de desenho. Esses resultados sugerem

que o treino de transcrição, conforme implementado aqui, reduz a motivação intrínseca

dos alunos para a escrita.

O papel das características da tarefa e a perceção de interesse pela mesma na

motivação dos alunos tem sido amplamente identificado (Ames, 1992). Sabe-se que por

um lado, dada a estrutura altamente previsível do programa os alunos podem ter

considerado monótono. Essa falta de diversidade entre os exercícios pode ter, portanto,

contribuído para diminuir a motivação dos estudantes. Inclusivamente, os professores

relataram que os alunos consideravam o programa repetitivo.

Embora o declínio da motivação intrínseca não ponha em causa os benefícios do

treino de transcrição (Santangelo & Graham, 2016), torna-se um alerta importante para

investigadores e professores, que não devem ignorar aspetos motivacionais no ensino de

escrita.

Page 29: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

28

Conforme proposto pelo modelo da WWC (Graham, 2018b), a motivação dos

escritores é moldada por aspetos do contexto, como o tipo de instrução de escrita e as

práticas de ensino adotadas. O treino da transcrição deve ser (re)projetado para manter a

motivação dos alunos, por exemplo, permitindo instrução diferenciada (Frédéric, Roy, &

Valois, 2017) ou promovendo a autonomia dos alunos (Ames, 1992).

Limitações

Os resultados atuais devem ser considerados à luz de pelo menos duas limitações.

Primeiro, o componente de composição do programa foi implementado como um

trabalho de casa. Como consequência, não controlamos as condições sob as quais essas

atividades foram implementadas, embora o trabalho de casa tenha sido geralmente

executado conforme o planeado, para não comprometer o estudo, os professores

receberam sempre uma mensagem escrita a relembrar que deveriam entregar o trabalho

de casa atempadamente, não houve nenhum moderador do trabalho de casa. Foi uma

tarefa autónoma. Além disso, dada a distribuição aleatória dos alunos para os trabalhos

de casa em cada turma, os professores deram instruções gerais a todos os alunos

simultaneamente. Portanto, estudos futuros devem considerar o papel de incorporar

oportunidades de composição no treino de transcrição, particularmente no ambiente com

maior controlo, preferencialmente em sala de aula.

Segundo, encontramos algumas limitações na implementação da intervenção

devido a algumas interrupções letivas imprevistas, assim como, a ausência inesperada de

alguns professores encarregados de implementar a intervenção. Assim, em estudos

posteriores, esta situação deve ser prevista e colmatada através, por exemplo, da inclusão

dos professores de substituição na formação inicial que fornecemos aos professores de

cada turma. Deste modo, quando o professor da turma se ausentar poderá ser substituído

por um professor que foi igualmente treinado para a implementação do programa.

Page 30: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

29

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO

Este estudo demonstrou que este programa de treino de transcrição resultou em

melhorias nas medidas do desempenho geral da escrita, nomeadamente, ao nível da

transcrição e produção de texto. Estas descobertas revelaram que o treino de transcrição

produziu um efeito incremental nas competências de escrita dos estudantes

comparativamente com a intervenção de desenho.

De notar que, o trabalho de casa não produziu os efeitos desejados, sendo que,

novas pesquisas poderão criar momentos de composição em ambiente de sala de aula.

Isso pode incluir adaptações, como proporcionar aos alunos uma prática guiada adicional

na aplicação das estratégias e atenção individual. Quanto à motivação, embora o declínio

da motivação intrínseca não ponha em causa os benefícios do treino da transcrição, este

declínio torna-se um alerta importante para que investigadores e professores, não

ignorarem os aspetos motivacionais no ensino de escrita de modo a projetar intervenções

que promovam esta competência assim como a autonomia dada que as crenças

motivacionais influenciam a dedicação à escrita.

Concluindo, apesar das limitações apontadas, o presente estudo tem implicações

teóricas e práticas relevantes. Por um lado, os resultados foram consistentes com a

literatura que se apresenta cada vez mais ampla sobre o tema, dando a perceber a

importância das competências de transcrição para a produção de bons textos. Por outro

lado, forneceu evidências de que precisamos de ter em consideração como estes

programas influenciam a motivação dos alunos para escrever para incrementar trajetórias

de sucesso a este nível. Dada sua eficácia, consideramos esta intervenção uma ferramenta

promissora para apoiar o desenvolvimento da escrita para todos os alunos.

Page 31: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

1. Consentimento Informado

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2. Caderno de atividades: Escrita

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3. Caderno de atividades: Desenho

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Page 59: Promoção da Transcrição: Efeitos nas Competências de

Promoção da Transcrição: Efeitos nas

Competências de Escrita, Ortografia e

Motivação em alunos do 3°ano de

escolaridade

Vanessa Sofia Silva Vigário

2020

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação