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Projetos metropolitanos

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    GRANDES PROJETOS METROPOLITANOS

    RIO DE JANEIRO E BELO HORIZONTE

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    GRANDES PROJETOMETROPOLITANO

    RIO DE JANEIRO E BELO HORIZONTE

    Fabricio Leal de Oliveira Adauto Lucio Cardoso

    Heloisa Soares de Moura Costa

    Carlos Bernardo VainerOrganizadores

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    Sumrio

    ApresentaoFabricio Leal de Oliveira, Heloisa Soares de Moura Costa, Adauto Lucio Cardoso e Carlos Vainer ......................................................7

    Notas metodolgicas sobre a anlise de grandes projetos urbanosCarlos Vainer, Fabricio Leal de Oliveirae Pedro de Novais Lima Junior ...................................................................11

    Efeitos de teoria: o debate acadmico sobre os projetos urbanose a legitimao de novas formas de produo do territrioPedro de Novais Lima Jr .............................................................................24

    Novidades e permanncias na produo do espao da metrpole:um olhar a partir de Belo Horizonte

    Heloisa Soares de Moura Costa e Jupira Gomes de Mendona .................46Grandes projetos e planejamento urbano:prticas recentes das administraes pblicas brasileirasFabricio Leal de Oliveira .............................................................................66

    A via expressa das polticas pblicas no Rio de Janeiro:reexes acerca dos impactos do Arco Metropolitano Adauto Lucio Cardoso e Flvia de Sousa Arajo ......................................90

    Impacto do Arco Metropolitano sobre a intensidade das inundaesna Baixada FluminensePaulo Roberto Ferreira Carneiro ................................................................118

    O Leste Fluminense, o COMPERJ e a questo urbano-habitacionalDaniela Amaral, Fernanda Snchez e Regina Bienenstein .......................151

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    A implantao do Aeroporto-Indstria em Conns e a ascensoda Aerotrpolis: burburinhos de uma fantasia organizadaClaudio Cesar de Paiva e Suzana Cristina Fernandes de Paiva ...............187

    Discursos e impactos em grandes projetos urbanos: estudo de casosobre a Cidade Administrativa Presidente ancredo Neves Jos Ricardo Vargas de Faria ......................................................................216

    Megaeventos e Metrpoles. Insumos do Pan-2007e as perspectivas para as Olimpadas de 2016Fernanda Snchez, Glauco Bienenstein,Gilmar Mascarenhas e Alberto Oliveira ....................................................232

    O Projeto Linha Verde e a prtica do desfavelamento de novo tipo:desdobramentos de uma poltica de remoo e reassentamentono Vetor Norte de Belo HorizonteGeraldo Magela Costa e Erika Lopes ..........................................................265

    Megaeventos e o direito moradia: questes e reexesa partir do contexto do Rio de JaneiroOrlando Alves dos Santos Junior e Mauro Rego Monteiro dos Santos ......287

    Economias populares: alternativas de gerao de trabalhoe renda na Regio Metropolitana de Belo HorizonteRoberto Lus de Melo Monte-Mr e Sibelle Cornlio Diniz .......................314

    Caderno de Imagens .................................................................................... 335

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    Apresentao

    Fabricio Leal de OliveiraHeloisa Soares de Moura Costa

    Adauto Lucio CardosoCarlos Vainer

    Na primeira dcada do sculo XXI, muitos foram os estudos e pesquisassobre grandes projetos urbanos no Brasil. Operaes urbanas, rodoviasmetropolitanas, projetos de reabilitao de reas porturias e/ou centrais,megaeventos envolvendo a construo de equipamentos esportivos e projetosimobilirios, plantas industriais, grandes condomnios residenciais e outrosinvestimentos pblicos e privados com expresso territorial mereceram anlisescrticas sobre a relao entre os empreendimentos e a cidade, em especial no que

    se refere ampliao dos espaos de valorizao imobiliria e reproduo dasdesigualdades sociais nas grandes cidades brasileiras.Entre 2007 e 2009, a realizao de dois estudos complementares sobre

    grandes projetos na Regio Metropolitana de Belo Horizonte (COSTAet all. 2008 e 2009) permitiu uma estreita cooperao entre pesquisadores de diferentescampos disciplinares e fez emergir novas perspectivas sobre os processos dedenio, implantao e gesto de grandes projetos nas metrpoles brasileiras.Coordenados conjuntamente pelo Instituto de Geocincias da UniversidadeFederal de Minas Gerais (IGC/UFMG) e pelo Instituto de Pesquisa e PlanejamentoUrbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ), osestudos envolveram tambm professores de outros setores da UFMG (Escola deArquitetura e Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdadede Cincias Econmicas) e pesquisadores do Rio de Janeiro, Paran e So Paulo.

    Esse livro consolida e atualiza alguns dos resultados desses estudos eincorpora anlises de outros pesquisadores sobre grandes investimentos pblicos

    e privados cristalizados em projetos nas regies metropolitanas do Rio e BeloHorizonte. Apesar das anidades entre muitas das abordagens aqui apresentadas,no se procurou circunscrever aos temas nenhuma orientao especca alm

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    da problemtica dos grandes projetos e sua capacidade de promover alteraessignicativas nas formas de produo e apropriao social do espao urbanoem grandes cidades brasileiras. As duas metrpoles oferecem um camporelativamente conhecido de implantao dos projetos, mas cada texto dialogacom aspectos ora especcos ora comuns a realidades to diversas.

    O contexto de Belo Horizonte marcado por um forte protagonismo daspolticas pblicas estaduais que concentram, no tempo e no espao, um volumesignicativo de investimentos em infraestrutura econmica viria, aeroporturia,industrial, informacional, de servios, de pesquisa na direo norte de expansoda metrpole nas ltimas dcadas. A este movimento, seguem-se outras iniciativaspblicas municipais e federais, bem como uma profuso de investimentos privados,

    imobilirios e produtivos, reforando as transformaes socioespaciais em cursona regio. Tal processo explicita conitos sociais latentes que se manifestam tantosob a forma de resistncia direta como no caso das remoes -, quanto na formade crescente apreenso por parte dos moradores de reas tradicionalmente tidascomo territrios populares conjuntos habitacionais, loteamentos perifricosautoconstrudos quanto s consequncias dos conhecidos processos de valorizaodo espao e gentricao. Neste sentido reveste-se de fundamental importncia a

    construo de alternativas econmicas populares, bem como de polticas urbanaslocais de recuperao da valorizao imobiliria desencadeada pelo investimentopblico.

    Guardadas as especicidades locais, algumas das condies constatadas emBelo Horizonte podem ser observadas na metrpole do Rio de Janeiro, em especialno que se refere a conitos socioambientais relacionados implantao de grandesprojetos pblicos e privados. Em outros planos de anlise como aquele referenteao protagonismo do governo estadual mineiro no campo institucional as diferen-as no poderiam ser maiores. No Rio de Janeiro, por exemplo, o planejamento ea gesto metropolitana no constituem elementos relevantes do discurso governa-mental.

    Certamente, os investimentos no Rio de Janeiro no incio do sculo XXItambm apontam para mudanas expressivas nas formas de estruturao eapropriao social do espao metropolitano, vide as grandes plantas industriaisem construo na extrema periferia, os investimentos em infraestrutura viria eos projetos relacionados aos Jogos Olmpicos de 2016.

    Os captulos iniciais recuperam referncias gerais que so eventualmenteacionadas nos textos que tratam de projetos especcos, tanto no que diz respeito

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    aos aspectos conceituais e metodolgicos, quanto ao territrio metropolitano noqual se implantam os projetos.

    O primeiro captulo, de autoria de Carlos Vainer, Fabricio L. Oliveira ePedro de Novais, recupera as referncias metodolgicas que orientam uma formaespecca de anlise de grandes projetos urbanos e que serviram de base ouinspirao para estudos de projetos no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiroe em Belo Horizonte.

    A seguir, Pedro de Novais apresenta um estudo sobre o campo acadmicodo planejamento urbano no Brasil, com a nalidade de dar visibilidade ao espaosocial onde emergem os discursos e modelos de planejamento em prtica noBrasil contemporneo

    Helosa Costa e Jupira Mendona tratam das transformaes na dinmicasocio ambiental e imobiliria da Regio Metropolitana de Belo Horizontee pontuam, a partir desse caso, novidades e permanncias no processo deurbanizao no Brasil e sua relao com grandes investimentos pblicos eprivados.

    Fabricio L. Oliveira aborda as prticas das administraes pblicasbrasileiras com relao aos grandes projetos urbanos, tendo como base de anlise

    pesquisas e estudos sobre grandes projetos e sobre os planos diretores municipaiselaborados nos ltimos dez anos. Tpico especco sobre grandes projetos emBelo Horizonte apresenta, inicialmente, alguns dos projetos que sero discutidosao longo do livro.

    O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro tratado em dois captulos. AdautoCardoso e Flvia Arajo abordam o contexto poltico-institucional e ideolgicoda transformao do projeto rodovirio em projeto de desenvolvimento ediscutem seus impactos socioespaciais e ambientais, com destaque para asquestes relacionadas ao acesso moradia. J Paulo Carneiro analisa o impactoda expanso urbana provocada pela implantao da rodovia sobre a intensidadedas inundaes na bacia do rio Iguau, na Baixada Fluminense.

    Complementando a anlise dos projetos com maior impacto na dinmicametropolitana uminense, Regina Bienenstein, Fernanda Snchez e DanielaAmaral apresentam os resultados de pesquisa da Universidade Federal Fluminensesobre a relao entre o Complexo Petroqumico do Rio de Janeiro (COMPERJ),o processo de expanso metropolitana e a emergncia da questo habitacional.

    Os dois captulos seguintes redirecionam o foco para Belo Horizonte etratam de projetos sempre presentes nas discusses sobre o desenvolvimento

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    econmico e a estruturao urbana da metrpole mineira. Claudio Paiva e SuzanaPaiva criticam as polticas baseadas em transposio de modelos e analisam oprojeto de promoo do conceito de aeroporto-indstria na circunscrio doAeroporto Internacional Tancredo Neves, em Conns. Jos Ricardo Vargasde Faria interpela o discurso acionado para justicar a construo da CidadeAdministrativa Presidente Tancredo Neves e destaca a estreita articulao entreas dimenses poltica e simblica do projeto.

    A emergncia de uma era de megaeventos no Brasil e suas implicaes paraas cidades avaliada a partir do caso do Rio de Janeiro por Glauco Bienenstein,Fernanda Snchez, Gilmar Mascarenhas e Alberto Oliveira, que investigam emque medida a experincia dos Jogos Panamericanos de 2007 fornece elementos

    para a avaliao das aes em curso para preparar o Rio de Janeiro para receberos Jogos Olmpicos de 2016.

    Os processos de remoo de populao de baixa renda para a viabilizaode grandes projetos mereceram dois captulos. Geraldo Costa e Erika Lopesanalisam o que chamam de desfavelamento de novo tipo a partir do caso daremoo de cinco vilas para a implantao da Linha Verde em Belo Horizonte.Orlando Santos Jr. e Mauro Rego Monteiro Santos discutem os impactos da Copa

    do Mundo de 2014 e das Olimpadas de 2016, com especial destaque para asremoes associadas implantao de novas infra estruturas e equipamentos nacidade do Rio de Janeiro.

    Finalmente, Roberto Monte-Mr e Sibelle Diniz destacam a importncia deinvestimentos e aes em apoio economia dos setores populares como forma decombate e minimizao da excluso da populao de baixa renda nos processosdesencadeados por grandes investimentos em infra estrutura no contexto urbanoe metropolitano.

    Referncias: COS A, H. S. M. (coord.), CARDOSO, A. L. (coord.), OLIVEIRA, F. L.,COS A, G. M., FARIA, J. R. V., PAIVA, C. C., VAINER, C., VIANA, R. M., FERREIRA, .M. A., GARCIA, R. A., MA OS, R. E. S., SAADI, A.Estudo sobre os impactos oriundosde iniciativas localizadas no eixo norte da RMBH e denio de alternativas dedesenvolvimento econmico, urbano e social para o municpio de Belo Horizonte. Relatrio cnico. Belo Horizonte: IGC/UFMG e IPPUR/UFRJ, 2008.COS A, H. S. M. (coord.), VAINER, C. (coord.), OLIVEIRA, F. L., COS A, G. M.,FARIA, J. R. V., PAIVA, C. C., MENDONA, J. G., CARMO, L. N., MON E-MOR,R. L. M., NASCIMEN O, N. O., BAP IS A NE O, O., LAGE, S. D. L. E., INACIO,R. A. C., ANDRADE, H.Estratgia de Desenvolvimento da Cidade, com foco nareduo da desigualdade social e da pobreza, para o Vetor Norte e rea de Inunciado Contorno Virio Norte da Regio Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Relatrio cnico. Belo Horizonte: UFMG e IPPUR/UFRJ, 2009.

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    Notas metodolgicas sobre a anlisede grandes projetos urbanos1

    Carlos Vainer 2Fabricio Leal de Oliveira3

    Pedro de Novais Lima Junior 4

    Em 1990, em palestra pronunciada no Encontro Anual da Asso-ciation of Collegiate Schools of Planning realizado em Austin, no exas,Manuel Castells interpelou a audincia com uma forte armao e umaprovocante pergunta:O mundo mudou: o planejamento pode mudar? . Aolado de algumas constataes O racasso histrico das economiasde planejamento centralizado e de algumas profecias no realizadas O

    aparentemente irreversvel declnio da supremacia americana, ao lado da1. Esse texto tem como base os relatrios da pesquisa Grandes Projetos Urbanos: o quese pode aprender com a experincia brasileira?, especialmente o relatrio nal, snteseda pesquisa, elaborada por seu coordenador, Carlos Vainer. Foram includas, tambm,observaes e anlises de tpicos da pesquisa (Estudo Comparativo e Survey ) elaboradospor Fabrcio Leal de Oliveira e Pedro Novais, e outras referncias e atualizaes produzidaspara este livro. A pesquisa, realizada entre 2005 e 2006 com recursos do Lincoln Instituteof Land Policy e coordenao do Laboratrio Estado, rabalho, erritrio e Natureza,do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal

    do Rio de Janeiro (E ERN/IPPUR/UFRJ) contou com a participao de diversasuniversidades e instituies brasileiras. A discusso metodolgica envolveu professores epesquisadores da UFRJ, UFF, USP, UNICAMP, UNESP, UFV, UFBA e IPARDES: CarlosVainer, Alberto de Oliveira, Ana Fernandes, Fabricio Leal de Oliveira, Fernanda Snchez,Glauco Bienenstein, Mariana Fix, Rosa Moura e Pedro de Novais Lima Junior.2. Professor itular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ). Coordenador do LaboratrioEstado, rabalho, erritrio e Natureza E ERN/IPPUR/UFRJ e Pesquisador I doCNPq .3. Professor Adjunto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ). Pesquisador do LaboratrioEstado, rabalho, erritrio e Natureza E ERN/IPPUR/UFRJ.4. Professor Adjunto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ). Pesquisador do LaboratrioEstado, rabalho, erritrio e Natureza E ERN/IPPUR/UFRJ.

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    igualmente irreversvel ascenso do Japo, e da relativa melhoria de posioda Europa Ocidental no concerto mundial , uma prosso de f: O re-conhecimento do mercado como o mecanismo menos irracional para alocar

    recursos escassos (CAS ELLS, 1990, p. 4)5

    .Abstrado o brilho conhecido do palestrante, no essencial, nada que j no houvesse sido dito por muitos outros autores. Mas, desta feita, quemfazia tais armaes era o mesmo autor, melhor seria dizer a mesma au-toridade que, anos antes, porta-voz autorizado da mais ortodoxa correntedo estruturalismo marxista francs, havia produzido alentada e pretensio-sa crtica da Sociologia Urbana de Chicago e do planejamento urbano demodo geral. O reconhecimento das virtudes do mercado capitalista vinhado mesmo terico que, nos anos 70, denunciava aquesto urbana comocortina de fumaa que obscurecia o que estava em jogo nas cidades: a re-produo da fora de trabalho (CAS ELLS, 1973)6. Se no se pode dizerque este foi umturning point para a histria da disciplina do planejamento,o fato que o ator e suas circunstncias conferiram a esta palestra um car-ter simblico: expresso de que um novo pensamento urbano e uma novaconcepo de planejamento, que se delineavam desde o incio dos anos 80,pareciam aptos a unicar esquerda e direita, ex-marxistas e liberais sob oconstrangimento dos novos tempos.

    Nos anos seguintes, Castells e outros vo elaborar e reelaborar mui-tos dos pressupostos deste novo pensamento, que enraizava suas premissase ideias bsicas em outras tantas prticas e momentos simblicos. Pode-semesmo armar que a literatura sugere quase tantos momentos de rupturaquantos so os autores, crticos ou apologistas. Para uns, tudo comeou com

    La Dfense, em Paris; para outros, a gnese estaria em Baltimore, no BatteryPark ou nas Docas de Londres; no poucos tomam Barcelona como espao-

    5. raduo livre de Te world has changed: can planning change?[] Te historicalfailure of centrally planned economies [] Te seemingly irreversible declineof American supremacy, with the equaly seemingly irreversible ascent of Japan, and therelative improvement of the position of Western Europe in the world concert []therecognition of the market as the least irrational mechanism to allocate scarce resources.6. Castells vai renegar de maneira inequvoca suas crticas sociologia urbana dos anos70 no trabalho que produziu com Jordi Borja para a II Conferncia das Naes Unidassobre Assentamentos Humanos Habitat II: la ciudad, tanto en la tradicin de lasociologa urbana como en la conciencia de los ciudadanos en todo el mundo, implica unsistema especco de relaciones sociales, de cultura y, sobretodo, de instituciones polticas deautogobierno ( BORJA; CAS ELLS, 1997, p. 13)

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    -tempo de consagrao dos novos modos de planejar e fazer cidades. No relevante arbitrar essa disputa em torno a pioneirismos, mesmo porque cadaum destes eventos marcantes trouxe sua contribuio para a constituio e

    consolidao das concepes de cidade e modelos de planejamento urbanoque se tornariam largamente hegemnicos, inclusive na Amrica Latina.Especialmente a partir dos anos 90, manuais de gesto municipal, ro-

    teiros de planejamento estratgico de cidades e orientaes para projetosurbanos propem a promoo do crescimento econmico e da competi-tividade, assim como o envolvimento do setor privado, em substituio sprticas urbansticas de domnio exclusivo do Estado: aes normativas,eventualmente distributivas e participativas. Pode-se dizer que nos anos90, inclusive no Brasil, o Master Project tomou o lugar do Master Plan, queprevalecera nas dcadas anteriores. Apesar de o Estatuto da Cidade (LeiFederal n 10.257/2001) ter reacendido as expectativas em torno dos pla-nos diretores ao concentrar na sua regulamentao municipal um conjun-to de possibilidades de interveno pblica na dinmica urbana capazes deampliar o acesso moradia e cidade, como mostra pesquisa recente dembito nacional (OLIVEIRA, 2011), em poucos lugares do Brasil os novosplanos diretores implicaram alterao signicativa nas prticas das admi-nistraes pblicas, geralmente comprometidas com estratgias de pro-moo das cidades e de ampliao das suas condies de competitividadepara atrao de investimentos e empregos.

    A produo literria sobre grandes projetos urbanos, seja ela prescri-tiva ou descritiva, apologtica ou crtica, indica a consolidao de novasprticas de deciso e interveno na cidade. A mudana foi, assim, assu-

    mida por uns como inexorvel (ASCHER, 2001) e criticadas por outros(MOULAER ; RODRGUEZ; SWYNGEDOUW, 2003). De fato, o embateentre apologistas ou crticos, ao expressar divergncias em torno de pontoscomuns, contribui para demonstrar o movimento pelo qual, j h algumtempo, vem passando o planejamento urbano contemporneo.

    Certamente no faltaram propostas de combinao entre atribu-tos dos modelos de planejamento em disputa, assim como h cidadesem que se tem experimentado ummix de prticas. Lungo, por exemplo,pergunta seem lugar da dicotomia entre partir do projeto urbano paraconstruir cidade ou o inverso, no melhor argumentar que se trata deutilizar os dois caminhos de maneira simultnea (LUNGO, 2004, p.27).

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    Otimismo que a experincia, pelo menos a brasileira, no justica, poisali onde modelos e prticas coexistem, a convivncia tem sido sempretensa e o equilbrio tem se mostrado impossvel.

    O que releva destacar que os grandes projetos urbanos constituem,por assim dizer, a face prtica, concreta, da adoo das concepes com-petitivas,market oriented e market riendly , que so a marca no apenasdo modelo de planejamento estratgico de cidades, mas das prticas con-cretas de muitas administraes pblicas municipais e estaduais no Brasil.

    Isto tem consequncias e impe opes metodolgicas para todos osque, particularmente no Brasil, e na Amrica Latina de maneira geral, sepropem a examinar os resultados de dcadas de polticas e intervenesurbanas conduzidas luz da reforma do Estado e sob a gide das polticasmacroeconmicas de reajuste estrutural. Se a reexo crtica pode focalizarcentralmente conceitos, retricas e representaes acerca do que e do quedeve ser a cidade, o exame das consequncias prticas deste modelo temque focalizar centralmente a per ormance dos grandes projetos urbanos.

    O esforo realizado por Moulaert, Rodriguez e Swyngedouw (2003)para embasar a discusso terico-conceitual em estudos empricos decidades europias apontou para uma direo promissora, mas seusconceitos e evidncias empricas nem sempre so pertinentes para asrealidades das cidades latino-americanas e, em particular brasileiras7. Esteo ponto de partida e sentido dos estudos que deram origem pesquisaGrandes projetos urbanos: o que se pode aprender com a experinciabrasileira? 8, campo de produo da grade analtica que tem servido comouma das referncias para uma srie de estudos e pesquisas sobre grandes

    projetos urbanos no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiro e em BeloHorizonte: um olhar, antes emprico que terico, para as prticas antes quepara os conceitos.

    Para comear, contudo, preciso delimitar o que se entende porgrande projeto urbano, pois a literatura especializada oferece uma longae variegada lista de denies. No raro que o mesmo autor, conformeo contexto, opere com conceitos distintos e designaes variadas. Sem pre-tender uma reviso exaustiva, caberia assinalar que, apesar de inmeras

    7. O risco que os crticos dos modelos reproduzam o comportamento mimtico de seusdefensores: adotar de maneira imediata e pouco reexiva a produo gerada em outroscontextos urbanos e intelectuais.8. Ver nota 1.

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    divergncias e nuances conceituais, o fato que os autores se reconheceme sabem exatamente do que esto falando, como sabem que esto falandode uma e mesma famlia de intervenes urbanas.

    A maioria dos autores destaca o tamanho ou um outro indicadorde porte da interveno. Altshuler e Luberoff (2003) optam por denircomo indicador sinttico do tamanho o volume de investimento gran-des projetos, para os autores, seriam aqueles que custariam pelo menosUS$ 250 milhes9. Smolka (2004), por outro lado, enfatiza o volume outamanho da interveno, mas para destacar uma qualidade especca: por serem operaes de larga escala e por envolverem volumosos re-cursos e extensas superfcies que as grandes intervenes urbanas con-seguem afetar os fatores que determinam o gradiente de rendas fundi-rias que, via de regra, para os empreendedores e proprietrios pequenose mdios, so externalidades que pesam sobre sua atividade e sobre asquais no tm condies de interferir (SMOLKA, 2004) .

    Assim como os grandes projetos tendem a promover rupturas na di-nmica imobiliria e na formao dos preos fundirios, as formas de en- volvimento estatal na sua formulao, operao ou gesto tambm sofremdescontinuidade. A interveno do Estado vai muito alm de uma partici-pao nanceira e decisiva ao produzir excees ou renncias scais ouurbansticas que oferecem ao grande projeto um espao legal formatadosegundo suas necessidades. aqui, talvez, em que mais se explicita a e-xibilidade, elemento central dos novos modelos de planejamento. Assim,pela sua prpria natureza e dinmica, os grandes projetos urbanos supeme dependem do que se poderia chamar de urbanismoad hoc: o Estado atua

    menos como regulador e representante dos interesses coletivos da cidade emais como facilitador do projeto (LUNGO, 2004, p. 44).Crticos e proponentes dos grandes projetos tambm convergem ao

    identicarem entre seus atributos especcos o fato de promoverem edependerem de modalidades de articulao entre as escalas locais, na-cional e internacional. Finalmente, os grandes projetos aparecem tam-bm, na literatura, como grandes investimentos polticos e simblicos.A seu modo, expressam e coagulam coalizes polticas e seus projetos decidade (MOLO CH, 2006; VAINER, 2002).

    Investimento nanceiro, institucional, poltico, simblico, urbansti-

    9. Valor de 2003.

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    co-arquitetnico, os grandes projetos, que queremos circunscrever e re-conhecer como uma famlia de intervenes urbanas, poderiam ser de-nidos como uma interveno que instaura rupturas na cidade, entendida

    esta como espao social multidimensional. Sem pretender uma listagemexaustiva, seria possvel indicar alguns tipos de rupturas que os grandesprojetos promovem, intencionalmente ou no:

    a) Rupturas institucionais, atravs da implantao e desenvolvimentode novos tipos de arranjo institucional e administrativo, cuja marca aparceria pblico-privada, mas cujas formas podem ser as mais variveis;

    b) Rupturas urbansticas, pela gerao de espaos que introduzem,pela monumentalidade e/ou qualidades particulares, descontinuidades namalha e paisagem urbanas pr-existentes;

    c) Rupturas legais, pela criao de regrasad hoc que geram desconti-nuidades no espao legal da cidade;

    d) Rupturas na dinmica imobiliria e no gradiente de valores fundi-rios, pela sua capacidade de alterar os fatores externos que intervm nadeterminao dos preos da terra e na conformao e distribuio espacialdos modos de uso do solo;

    e) Rupturas polticas, ao instaurar ou recongurar coalizes polticasque disputam legitimidades e hegemonia no espao urbano;

    f) Rupturas simblicas, ao produzir novas representaes e imagensda cidade;

    g) Rupturas escalares, ao introduzir novas relaes entre as esferaslocal, nacional e internacional, tanto do ponto de vista nanceiro-econ-mico quanto do ponto de vista cultural.

    Em sntese, os grandes projetos urbanos desencadeiam rupturas nosespaos fsico e social, em suas mltiplas dimenses, e contribuem para aconsolidao de mudanas na dinmica socioespacial, caracterizadas porreconguraes escalares e efeitos de desenvolvimento desigual na escalalocal.

    Certamente, raros ou inexistentes so os projetos que incidem demodo igualmente intenso em todos estes subespaos e provocam equiva-lentes efeitos institucionais, urbansticos, polticos, legais, fundirios, sim-blicos, escalares. Seja como for, esta abordagem nos permite armar que,mais alm de uma grande obra, o grande projeto urbano uma interven-o portadora de expressivo potencial de disrupo. Assim, torna-se pos-

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    svel escapar de uma denio puramente quantitativa e conferir sentido aelementos presentes, embora de maneira dispersa e pouco sistemtica, naliteratura do campo.

    A complexidade do objeto, portanto, no permitiria a sua considera-o a partir de uma nica perspectiva, seja ela econmica, social ou po-ltica, pois a anlise unidimensional frustraria a inteno de penetrar arealidade (LEFEBVRE, 1995).

    Por outro lado, o diagnstico da realidade urbana brasileira permitearmar que polticas e intervenes urbanas devem ter como foco, va-lor estruturante e diretriz fundamental, dois objetivos: o alargamento eaprofundamento da cidadania democrtica e a reduo das desigualda-des socioespaciais vigentes na cidade. Assumido este pressuposto, tratar--se-ia de elaborar uma grade analtica que permitisse avaliar se e em quemedida os GPUs tm contribudo, ou no, para que nossas cidades sejammais democrticas e menos desiguais.

    O desdobramento desse pressuposto e dessas consideraes em umaexperincia concreta de pesquisa, que exigia a denio de procedimentosque permitissem a seleo e anlise comparativa de um conjunto de pro- jetos brasileiros, resultou na construo de uma matriz de anlise abran-gente que, a partir das informaes e insumos disponveis, procura abor-dar os projetos urbanos e suas relaes a partir das seguintes nfases oudimenses:

    a) Dimenso poltica: refere-se ao contexto sociopoltico (municpio,estado) da emergncia e/ou da implantao do projeto e envolve a anlise(i) das coalizes polticas locais e aquelas formadas a partir do projeto, (ii)

    do contexto poltico no momento da elaborao e implantao do projeto,(iii) dos grupos e movimentos de apoio e de contestao ao projeto, suaposio social, prticas e discursos.

    b) Dimenso institucional: refere-se aos processos decisrios e de con-trole social na montagem e na implementao do projeto. Envolve a anlise(i) das mudanas institucionais identicadas (atores e organizaes partici-pantes, parcerias etc.), (ii) dos novos dispositivos legais e/ou modicao dalegislao existente, (iii) das caractersticas do processo decisrio inclusiveas formas de controle social , (iv) dos modos de operao e implementaodo projeto.

    c) Dimenso simblica: relacionada economia simblica dos proje-

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    tos e sua ordem de justicao. Envolve a anlise (i) das referncias con-ceituais, matrizes, valores e representaes acionados para fundamentar, justicar e orientar a implementao dos projetos, (ii) das retricas e dis-

    cursos em disputa, (iii) das motivaes acionadas como justicao, (iv) dasreferncias apresentadas como exemplos ou modelos (autores, experincias,lugares, projetos).

    d) Dimenso arquitetnico-urbanstica: relacionada aos agentes(consultores, projetistas), concepo do programa, s refernciasurbansticas e arquitetnicas acionadas e s obras de infraestruturaplanejadas e executadas e sua relao com a dinmica urbana. Envolvea anlise (i) dos atores responsveis pela elaborao e implantao doprojeto, (ii) das referncias urbansticas (autores, obras, lugares etc.), (iii)do programa e do partido arquitetnico/urbanstico do projeto e suarelao com o entorno e com a cidade, (iv) da linguagem arquitetnicaadotada e do padro tecnolgico da obra, (v) das obras de infraestruturaplanejadas e executadas em funo do projeto, (vi) dos instrumentosurbansticos/fundirios relacionados ao uso e ocupao do solo.

    e) Dimenso fundiria: aborda os processos de gerao, apropria-o e utilizao de mais-valias imobilirias, transformao na estruturafundiria e aos processos de incorporao. Envolve a anlise (i) das mais--valias imobilirias (formas de gerao, sua apropriao e uso), (ii) dosprocessos de incorporao fundiria relacionados ao projeto, (iii) da evo-luo dos preos na rea de implantao em relao ao conjunto da cidade,(iii) da transformao na estrutura fundiria.

    f) Dimenso socioambiental: enfatiza a distribuio, pelo territrio,

    dos impactos econmicos e ambientais e sua relao com o processo dedesenvolvimento urbano. Refere-se tambm ao acesso social e controlepblico dos equipamentos, assim como aos deslocamentos compulsriose aos processos de gentricao e segregao socioespacial relacionadosao projeto.

    g) Dimenso econmico-nanceira: relacionada ao nanciamento(investimento pblico e privado) do projeto, aos modos de explorao eco-nmica dos empreendimentos e aos seus impactos do ponto de vista scal(receitas tributrias). Enfatiza a anlise das modalidades de nanciamento edos modos de explorao econmica do projeto, das formas de participaodo poder pblico e da distribuio de custos e benefcios gerados.

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    No se pretende que as anlises sejam feitas de forma isolada, mas quese procure construir relaes entre as diferentes dimenses tratam-se, antes,de nfases que privilegiam determinadas perspectivas. A relevncia maior ou

    menor de cada dimenso denida de acordo com as caractersticas espec-cas do projeto e do seu ambiente de implantao. Cada projeto analisadoexige uma crtica da prpria matriz de anlise que tomada apenas comoponto de partida , que pode ser complementada ou reduzida de acordo comas necessidades. Como as informaes costumam ser limitadas e nem sempreesto disponveis no tempo adequado, pouco provvel que a anlise atenda atodas as dimenses. A orientao de abrangncia de anlise, contudo, perma-nece sempre como referncia.

    Em primeiro lugar, cabe registrar os limites da prpria classicaodas dimenses analticas. No seria difcil, atravs de procedimentos taxo-nmicos, decomp-las em um nmero maior de dimenses, ou, inversa-mente, agrup-las em categorias mais sintticas. Na verdade, o tempo, osrecursos, as informaes disponveis e os agentes sociais envolvidos indi-caro, em cada caso, o adequado nvel de agregao. Mais complexo oproblema decorrente da complexidade das redes causais, suas sinergias einteraes. Eis problemas que a sensibilidade dos analistas parece prome-ter melhores resultados que grandes sosticaes metodolgicas.

    Esta questo remete para outro e grande problema: quem avalia?Certamente, valores e critrios, mesmo quando estabelecidos com o m-ximo de objetividade possvel, sero compreendidos e acionados de ma-neira diversa por atores situados em espaos sociais e espaciais distintos.Admitindo-se, pois, a impossibilidade de princpios e procedimentos uni-

    versalmente adequados, metodologias de avaliao deveriam ser capazesde captar esta diversidade, bem como de contextualiz-las s realidadesparticulares de cada conjuntura e cada cidade isto , de cada situaoespao-temporal. Estas questes ganham enorme relevncia quando sepensa em metodologias de avaliaoex ante, isto , procedimentos me-todolgicos que visariam informar processos decisrios, pois incidem di-retamente sobre o prprio desenlace dos grandes projetos. E neste ponto, bom lembrar que a participao social poder introduzir mudanas derumo signicativas e, inclusive, em alguns, pode signicar a inviabilizaodo projeto.

    Finalmente, uma ltima escolha se coloca no caminho da avaliao: a

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    temporalidade. Em que horizonte temporal os processos de ruptura devemser considerados? Quais os tempos que se conguram como adequados?Quantos anos so necessrios para medir os efeitos cumulativos de uma

    grande interveno sobre os valores e usos do solo? Ademais, no hnenhuma razo para acreditar que efeitos polticos, fundirios, urbansticosou simblicos possam e devam ser pensados como dotados de mesmosritmos e intensidades temporais, o que torna ainda mais complexos osprocessos de avaliao.

    Na verdade, o problema do horizonte temporal de avaliao no es-pecco ao objeto deste texto e se coloca para todo e qualquer processo deavaliao de polticas, planos e projetos. Esta questo interpela toda a cinciaque toma os processos sociais como objeto de anlise, pela natureza intrin-secamente histrica destes processos. No h soluo tcnica ou metodol-gica, e diferentes atores, segundo suas perspectivas e interesses, elaboraroclculos, diagnsticos e prognsticos nos horizontes temporais com os quaisconseguem operar conceitualmente ou para os quais dispem de informa-es minimamente consistentes, ou ainda nos quais seus projetos polticosfazem sentido. eoricamente, o ideal seria acionar diferentes horizontestemporais, de modo a permitir que os tomadores de deciso possam arbitrarno apenas valores, objetivos e critrios, mas tambm tempos.

    Comentrios nais

    Cabe, por m, advertir para as limitaes de um exerccio de avalia-o cujos resultados apresentados em diferentes pesquisas sobre grandes

    projetos (VAINER et al., 2006, COS A et al., 2008 e 2009) esteve longe depoder considerar, menos ainda resolver, todas as questes aqui alinhadas.Em sua realidade histrica concreta os grandes projetos urbanos se apre-sentam e so decididos, levados adiante, implantados e vividos como fatosurbanos no pleno sentido da palavra, isto , como fatos sociais totais. Istosignica que a abordagem que os segmenta por dimenso s tem sentidocomo instrumento analtico que pretende capturar sua riqueza e comple-xidade. Apenas para ns analticos, e apenas com certa dose de reserva, possvel separar o poltico do institucional e do simblico, o fundirio doeconmico nanceiro, e assim por diante. A conscincia destas limitaesno invalida o exerccio de avaliao, mas aponta para a necessidade de

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    avanar, ampliando as potencialidades de uma metodologia que mereceser ainda criticada e aperfeioada.

    Como conferir consistncia conceitual e tcnica a processos de avalia-

    o de grandes projetos e, em particular, a processos de avaliaoex-ante,que informem processos decisrios? O desao metodolgico fundamentalpara os que buscam critrios para a discusso e avaliao da experin-cia concreta de grandes projetos reside na necessidade e diculdade deinstaurar uma base razovel e o mais objetiva possvel10 num terreno toatravessado por convices, paixes, ideologias e interesses. Mltiplos ato-res, distribudos nas diversas escalas e hierarquias que conformam a vidaurbana, disputam posies e recursos, pois a cidade arena e objeto dedisputas. este o contexto em que se pensa, aqui, conceber e experimentaruma metodologia que permita avaliar grandes projetos urbanos.

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    Efeitos de teoria: o debate acadmicosobre os projetos urbanos e a legitimao denovas formas de produo do territrio

    Pedro de Novais Lima Jr.1

    Introduo: mudanas no planejamento urbano e reviso no urbanismo

    No receiturio de intervenes urbanas passaram a gurar a partir demeados dos anos 80 iniciativas de incitao de processos de desenvolvi-mento urbano fundamentadas em intervenes pontuais no espao fsico.Essas iniciativas constituem um conjunto relativamente amplo de prticas,sintetizadas na noo deProjeto Urbano. A denominao no apenas resu-me um modo de interveno; remete a um modo de pensar, um conceitono qual prevalece a lgica de processo e a considerao de atores diversosconstitutivos de um contexto socioeconmico complexo.

    Segundo Ingallina (2001), trata-se de uma ideia em construo que im-plica uma ruptura com o urbanismo tradicional. Geralmente os Projetos Ur-banos so apresentados como sendo capazes de prover solues a um con- junto de problemas sociais e econmicos, culturais e ambientais com que se

    deparam as aglomeraes urbanas nesse incio de milnio. Essa pretenso,apoiada na referncia a uma variedade de novos instrumentos de escrutnioe interveno na realidade, supe uma viso de cidade que vai alm da abor-dagem formalista. Resgata-se, conforme alguns autores, uma linha de anlisee ao que remete aos antecedentes do surgimento da urbanstica no sculoXIX: conforme observa Choay (1989; p.10), naquele perodo, os efeitos da Re- voluo Industrial sobre o tecido urbano, ao desestruturar a organizao espa-

    cial existente, permitiram romper com a adeso a seus contedos semnticos,1. Professor Adjunto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ). Pesquisador do LaboratrioEstado, rabalho, erritrio e Natureza E ERN/IPPUR/UFRJ.

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    fazendo despertar um estranhamento sobre o fato urbano. Cumulativamente,a preocupao com as questes sanitrias e com as solues para os transpor-tes e a comunicao nas aglomeraes urbanas daria incio a novas formas de

    ver institucionalizadas na forma de disciplinas (RONCAYOLO, 1992) eintervir na cidade, desde ento passvel de ser destacada de seu contexto econcebida como um objeto de ateno, sujeito ao exame crtico. Nessa linha,distinguindo os Projetos Urbanos das prticas de embelezamento, siomis(1996) faz referncia s operaes urbansticas de Haussmann em Paris a mde trat-los como estratgia[s] de reconquista da cidade.

    No Brasil, a histria recente do urbanismo e do planejamento urbanorevela a cidade sendo tratada como lugar da produo de desigualdades so-ciais (RIBEIRO, 2001; VAINER, 2000). No entanto, a emergncia dos ProjetosUrbanos, acompanhando os discursos sobre a atrao de uxos de capitais ea competitividade na economia global, indica uma perspectiva diferente, re-lacionada ao interesse em garantir e sustentar o desenvolvimento local, aindaque sem maior ateno maneira como os benefcios e os custos sero apro-priados por diferentes segmentos da sociedade. Vale-se, para isso, da amplia-o da escala geogrca tomada por referncia nas decises sobre o planeja-mento urbano e as polticas municipais. A mudana se apoia na assero deum contexto de transformaes no tecido urbano, relacionadas ao processode formao de um espao globalizado. omar a escala global por refernciaimplica o reconhecimento de um nmero crescente de atores em operao,o que torna mais complexo o ambiente sob anlise e diculta os processosdecisrios: os Projetos Urbanos so apoiados em mltiplas competncias eem negociaes no restritas ao Estado. Demandam, assim, maior cuidado

    na coordenao das diferentes atividades e na gesto das imbricaes.A ampliao da escala espacial implica, assim, a incorporao de umaescala temporal na deciso. Se, conforme lembra Portas, no urbanismomodernista no se inclua a noo de tempo (1996, p.30) planos eramelaborados para longos prazos , os Projetos Urbanos dependem da con-siderao de condies de factibilidade, inclusive no que diz respeito aotempo, que no est totalmente determinado ou inteiramente conhecidode partida: trata-se de um processo aberto, com retroalimentaes e abor-dagens iterativas, pelo qual o projeto est sujeito a frequentes adaptaes.

    Os Projetos Urbanos so armados em oposio s prticas urbans-ticas do modernismo: a cidade tomada em fragmentos, articulados em

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    EFEITOS DE TEORIA : O DEBATE ACADMICO SOBRE OS PROJETOS URBANOS E...

    um sistema, e seu desenvolvimento no pode ser totalmente antecipado,como se dependesse da interveno de um nico e onipotente ator, o Es-tado. As novas prticas do urbanismo e do planejamento urbano e os con-

    ceitos e representaes a elas associados a ideia de rede e sistema aberto,as noes de processo e complexidade (VIRILIO, 1993; SIOMIS, 1996) constituem, relativamente ao processo de estranhamento descrito porChoay (1989), evidncias de uma outra mudana de mentalidade no quediz respeito cidade. Um novo olhar que demanda novas formas e instru-mentos de interveno: os mtodos modernistas para lidar com a cidade j no convm realidade do mundo globalizado.

    De um modo geral, a anlise dessas prticas tem se detido na correla-o entre as condies objetivas e intersubjetivas que estruturam o mun-do contemporneo (HARVEY, 1990; ARAN ES; 1998, 2000). Os analistastendem, porm, a desconsiderar a dimenso cultural do processo, isto ,os atores e autores que, em trabalho simultaneamente poltico e terico,originalmente de crtica s propostas modernistas para a cidade, as defen-dem e elaboram: em oposio aos urbanistas e planejadores tradicionais e gesto normativa e burocrtica da cidade, advogam para si uma maiorcompetncia analtica e prospectiva capaz de apresentar respostas coeren-tes para os desaos que a cidade enfrenta, conforme a representao cor-rente do mundo contemporneo.

    Este artigo produto de uma pesquisa2 que procura, atravs de umaanlise da bibliograa sobre o urbanismo contemporneo no Brasil, dar visibilidade ao espao social onde emergem os discursos associados no-o de Projetos Urbanos. Com isso entende-se ser possvel apontar algu-

    mas das condies da reexo e relativizar as propostas que aspiram recor-tar as novas prticas como constituindo um recorte disciplinar prprio dourbanismo na atualidade.

    2. Em verses anteriores, o trabalho contou com o apoio dos seguintes arquitetos, entoestudantes de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Viosa (UFV), ouda Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF): Letcia Cardoso Costa (UFV, bolsistaPIBIC-CNPq) Natlia Emmanuelle de Faria (UFJF, bolsista de reinamento Prossional),Nathlia C. Fayer de Almeida (UFJF, bolsista de reinamento Prossional), Elson FabianoAlves (UFJF, voluntrio). Sendo ainda estudantes de Arquitetura e Urbanismo, tambmparticiparam da pesquisa: Nicole Andrade da Rocha (UFJF, bolsista PROBIC-FAPEMIG)e Tiago da Silva Andrade (UFJF, bolsista BIC). Por m, deve-se registrar o apoio in-telectual recebido dos seguintes professores: Maria Marta dos Santos Camisassa (UFV),Raphael Barbosa Rodrigues (UFJF)

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    vam a cidade e dispunham de instrumentos especcos para tal: mtodosde seleo, coleta e anlise de dados; tcnicas para a elaborao de planos;instrumentos, especialmente os legais, para a consecuo de objetivos.

    Conforme diversos autores (SERRA, 1991; SOUZA, 2001; ROLNIK,1990; entre outros), os planos no tinham legitimidade a nvel local ela-borados, como eram, nos escritrios de empresas consultoras, geralmentede outros municpios o que contribuiu para que fossem desprezados.Rolnik observa que,

    os planos reiteravam padres, modelos e diretrizes de uma cidade ra-cionalmente reproduzida [... enquanto] o destino da cidade ia sendonegociado, dia a dia, com os interesses econmicos, locais e corpora-tivos atravs de instrumentos como cooptao, corrupo,lobby ououtras formas de presso utilizadas pelos que conseguiam ter acesso mesa centralizada de decises (1990).Alm disso, de acordo com Serra,a partir de meados dos anos 70, a fundamentao ideolgica do pla-nejamento centralizado comea a ser menos utilizada, pois, aparen-temente, o regime [ditatorial] se acha legitimado pelos seus prpriossucessos. Inicia-se um perodo de arbtrio franco, que somente sermitigado nos ltimos seis anos, quando o fracasso da administraofederal torna-se evidente e os sinais de uma crise profunda j no po-dem mais ser escondidos (1991, p.149).

    Apesar das crticas, o efetivo declnio do urbanismo de plano, pode-

    -se dizer, s aconteceu no Brasil nos anos 80, com o crescente interesse emformas participativas de deciso, com o agravamento da crise econmica eo desmantelado do sistema centralizado de planejamento, sem a armaodos sistemas municipais ou estaduais correspondentes. Pelo contrrio, aospoucos a ideia de planejamento perdeu pulso. No Rio de Janeiro seu esgo-tamento foi marcado pelo m da discusso sobre a regio metropolitanaem 1988 (NACIF em entrevista a FREIRE & OLIVEIRA, 2002, p.172).

    Deve-se lembrar que os tcnicos formados em planejamento urbanopuderam ser acionados quando a Constituio de 1988 trouxe cena, maisuma vez, o Plano Diretor. No entanto, os cursos de planejamento urbanoinstalados no Brasil haviam mudado o foco: concebidos para treinar

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    planejadores para o exerccio prossional, dedicaram-se posteriormenteao desenvolvimento de uma conscincia crtica sobre a dimenso polticados processos urbanos e regionais (RANDOLPH, 2008).

    O aparecimento de novos modelos para orientar a interveno so-bre o espao urbano Planos Estratgicos, City-Marketing, Projetos Ur-banos, surgidos a partir do incio da dcada de 1990 sugere, assim,uma mudana signicativa no cenrio do urbanismo e do planejamentourbano: redeniram as prioridades do setor pblico, demandaram novasformas de apreenso e representao da cidade e do tecido social, e sub- verteram a lgica das discusses e das aes. Produziram uma deforma-o no campo ao funcionarem como mecanismo de redistribuio doscapitais disponveis, o que permitiu que certos atores dispusessem decondies para interferir e orientar o debate.

    Conjuntura prossional: o retorno do arquiteto-urbanista

    A inexo nas prticas foi possvel na conjuntura da globalizao, emespecial, pelo incremento da circulao, em escala mundial, deexperts emodelos de ao relacionados ao planejamento do territrio em tempos decompetio entre lugares. Essa conjuntura contribuiu para uma conformaoparticular do campo prossional da arquitetura e urbanismo no Brasil, quese poderia descrever, no m dos anos 80, como cindida entre os arquitetosstricto sensu (puros, de prancheta) e os envolvidos com o planejamentourbano. Identidades prossionais antagnicas, reconhecidas pelo sensocomum e encontradas em estado latente no campo prossional, espelham as

    diferentes origens e trajetrias sociais dos que ingressam na atividade, sendoperpetuada por mecanismos informais de seleo: por exemplo, o conceitoe a expectativa de realizao prossional, ou ainda, a maior facilidade paraconseguir trabalho assalariado, para os planejadores ou urbanistas, emcomparao ao capital nanceiro e de relaes sociais requeridos para oestabelecimento de um escritrio de arquitetura com uma razovel carteirade clientes, no caso dos arquitetos propriamente ditos.

    No extremo nocontinuum aqui concebido as gradaes so innitas, os ligados ao projeto de arquitetura interessam-se por questes formais ouconceituais, sendo geralmente identicados por sua associao dimensoartstica ou especulativa da arquitetura e do urbanismo. Valem-se de um

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    EFEITOS DE TEORIA : O DEBATE ACADMICO SOBRE OS PROJETOS URBANOS E...

    habitus constitudo na graduao que os inclinar percepo ambiental(a imagem da cidade) como mtodo de anlise, e interveno fsica comoinstrumento da interveno. rabalham em escritrios de projetos, muitas

    vezes prprios, onde coordenam uma equipe multidisciplinar, cujos pros-sionais subcontratados ou parceiros, em geral subordinados executamprojetos complementares. Os do planejamento urbano, apoiados na norma,interessados em temticas sociais e envolvidos com as questes da prtica desse modo, identicados, pelos primeiros, com trabalho banal so, emgeral, funcionrios de empresas pblicas, pois, como lembra Helia Nacif, ar-quiteta formada em 1973 na UFRJ (ex-secretria de Urbanismo do Rio deJaneiro), na parte do urbanismo, ento[quando essa diviso atinge o seuauge] , no havia como no trabalhar para o Estado, ou com o Estado (entre- vista a FREIRE & OLIVEIRA, 2002, p.169). Assalariados, trabalhando comcolegas, e no com subordinados, a posio do arquiteto tendia, portanto, aser marginalizada diante de gegrafos, socilogos e economistas, de cujosmtodos e instrumentos analticos dependem para apreender a cidade: da-dos quantitativos, sobre os quais se pode garantir controle lgico.

    Pode-se dizer que os arquitetosstricto sensu encontravam-se em po-sio ainda mais perifrica no debate urbanstico, posto que, alm de nodominarem o instrumental para pensar a questo urbana em termos da di-nmica e no da forma motivo pelo qual eram desprezados pelos planeja-dores , tambm enfrentavam a crescente presena estrangeira diretamen-te, funo dos consultores em circulao internacional, indiretamente, pelaformao, no exterior, de tcnicos e intelectuais na rea. De qualquer modo,essa congurao dicotmica do universo prossional, ambientada numa

    poca em que o Estado era tido como o ator central da poltica urbana, quepermite compreender a acolhida dosProjetos Urbanos. Eles implicaram aruptura com divises previamente estabelecidas e permitiram que os papiscoadjuvantes do arquiteto ou do urbanista no planejamento urbano fossemreunidos, na gura do arquiteto-urbanista, reforando sua posio diante deoutros prossionais no pas ou de concorrentes estrangeiros. Deve-se lem-brar que a acolhida fez emergir ou acentuou uma tenso presente no campo,manifesta nas tentativas de estabelecer as terminologias desenho urbano ouprojeto urbano (VASCONCELLOS, 2006), formas diferentes de conceber ourbanismo. O domnio terico das novas prticas, pode-se sugerir, trans-formado em arma na disputa terica e prossional.

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    O discurso dos arquitetos-urbanistas e a demandapor fundamentao terica

    A adoo de uma perspectiva nova no urbanismo, verdadeiro processode converso, implicou uma maneira de agir [...] que marca[...] um momen-to de transio entre a maneira tradicional de pensar o urbanismo e uma novaabordagem, menos rgida e mais aberta s trans ormaes e aos debates (IN-GALLINA, 2001). Ela foi acompanhada da reformulao do discurso queinclua no apenas a crtica aos modelos tradicionais, isto , o urbanismodo plano, mas tambm a apologia a experincias internacionais Barcelonacomo exemplo e a recepo de algumas prticas e modelos estrangeiros (oplanejamento estratgico, o marketing de cidades, entre outras, surgidas noincio dos anos 90).

    A crtica dirigia-se, sobretudo, ao carter normativo e generalista dosplanos. A norma considerada um anacronismo em tempos em que asrpidas mudanas exigem exibilidade. Ao mesmo tempo, o tratamentogeneralista da cidade tido como problemtico por ignorar as especi-cidades dos diferentes lugares que constituem a cidade: em oposio aointeresse exclusivo na infraestrutura e ao urbanismo baseado na legislao,a questo da forma urbana voltava a ter importncia. Assim, por exem-plo, deu a entender Helia Nacif que tendo por referncia a ordem esttica,armou que a lei urbanstica do Rio de Janeiro era geral e no condiziacom as caractersticas do bairro [de Laranjeiras] (p.171). Conclui dizendoque o que vemos hoje no Brasil a alncia do urbanismo. odas as cidadesbrasileiras cresceram de uma orma muito eia; contra todos os planos de

    organizao, o que se v uma desorganizao generalizada (entrevista aFREIRE & OLIVEIRA, 2002, p.184).O conito de posies que se instaurava tomou a forma de disputas

    quanto atualidade das diferentes posies: os da ao e prticaversus os acadmicos e tericos. Os primeiros, que adotavam o discurso donovo, se proclamavam realistas e pragmticos e criticavam os demaiscomo utpicos, pautados em ideologia. Conforme a avaliao de Nacif,em geral sujeitavam o processo de deciso a discusses prolongadas (queimpossibilitavam acompanhar a dinmica de transformao urbana),enquanto os institutos acadmicos do Rio, em particular, se mantiveramcomo guardies de uma viso limitada e equivocada, dissociada da

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    realidade ambiental urbana (entrevista a FREIRE & OLIVEIRA, 2002,p.178; 184).

    Os discursos que se disseminam nesses primeiros perodos de mu-

    danas carecem de contedo; apoiam-se na fora simblica associada ori-gem e aos agentes de sua veiculao. Maneiras de objetivar conhecimentosainda intuitivos, no suprem a necessidade de formas mais consistentes,mais logicamente estruturadas, capazes de sustentar e conduzir as novasprticas. Estas s seriam encontradas em um corpo terico sistematizado,alinhado com as novas representaes sobre o mundo contemporneo, oque ainda no estava disponvel no Rio de Janeiro, no incio dos anos 90,quando retornaram as encomendas estatais para projetos urbansticos.

    Em entrevista ao autor, um dos scios de conhecido escritrio de ar-quitetura do Rio de Janeiro, que participou dos projetos para o programaRio-Cidade, depois de armar a importncia do Arquiteto para pensar oespao urbano (que o arquiteto um prossional que trabalha no espaourbano tambm) ainda que no houvesse trabalhado at ento com pro- jetos urbansticos observou que no havia entre diversas equipes contra-tadas, base conceitual atualizada para trabalho nessa escala. Perguntadosobre a consolidao e consistncia do aparato que apoiava a tomada dedecises nos projetos em pauta, sugeriu que o arcabouo terico, cujas ba-ses encontram-se nas crticas ao modernismo, ainda estava em construo:

    No digo uma consistncia, mas uma preocupao e um pensamen-to [...], pela crtica arquitetura moderna e ao urbanismo moderno,enm, [...] toda a leitura que a gente tem, por exemplo, do Rossi, ou

    do Kevin Lynch e de outro terico, do Alexander, pessoas assim come-aram a questionar o espao moderno, tudo isso vem quando a genteest trabalhando com arquitetura, mas ela est fundamentalmente di-recionada para a cidade.

    Os arquitetos nomeados (Rossi, Lynch e Alexander) estabeleceramas bases para o enfrentamento ao urbanismo modernista em meados dosanos 60, chegaram tardiamente no Rio de Janeiro (conforme lembrou oentrevistado) e constituem a base terica, ainda hoje muito comum, noscursos de graduao em Arquitetura e Urbanismo no pas.

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    A institucionalizao de novas prticas urbansticas:o lugar da literatura

    A demanda por fundamentao terica vai encontrar oferta corres-pondente quando surgiram instituies de ensino envolvidas na renova-o do urbanismo, como o Programa de Ps-Graduao em Urbanismo(PROURB) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, criado em 1993, mesmo ano de lanamentodo Programa Rio-Cidade e outras novidades o Favela-Bairro e o PlanoEstratgico do Rio de Janeiro que se estabeleceram como referncias edeagraram um conjunto de iniciativas acadmicas voltadas para sobreelas reetir, emprestar-lhes sentido e garantir a disponibilidade de com-petncias para implement-las. O foco no mais a formao, entre osplanejadores, de uma conscincia crtica quanto ao do Estado e ao sen-tido do planejamento, mas a de urbanistas pr-ativos, conforme indica aProposta do Programa,

    [...] visa responder necessidade de pesquisa neste campo do conhe-cimento, e atende demanda de formao e capacitao docente e deprossionais habilitados a atuar nos processos de interveno e con-gurao do espao da cidade3

    A introduo do debate na Academia vai conduzir a questo por ca-minhos propriamente acadmicos: os artigos, as dissertaes e teses, comoexpresso das disputas e armaes no campo, serviro para constituir um

    pensamento sobre o tema no pas e alimentar as experincias. A literaturaconstitui, por isso, eixo de investigao capaz de revelar as caractersticasdo lugar onde se produz teoria. As evidncias sugerem-na como elementofundamental por meio do qual acadmicos se organizam a m de elabo-rar, dar sentido e prover respostas questo urbana: ao garantir o registrohistrico dos acmulos de conhecimento e evidenciar os movimentos te-ricos e as movimentaes sociais, a produo bibliogrca se torna refe-rncia e lugar de reconhecimento para os agentes constituintes do campo.Conforme ser descrito adiante, com base nas referncias apontadas e na

    3. Conforme http://www.fau.ufrj.br/prourb/prog_apresentacao.htm (acessado em de-zembro de 2006).

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    ocupao de espaos institucionais e de produo literria, foram iden-ticados autores e instituies, as relaes que estabelecem entre si e asreferncias intelectuais nas quais se apoiam (BOURE, 1993).

    Articulaes intelectuais, conforme evidenciadas na pesquisa

    Com a investigao emprica procurou-se encontrar as relaes ob- jetivas a estruturar o universo social onde as teorias so construdas. ra-balha-se com a noo heurstica de campo: um espao de jogo, um campode relaes objetivas entre indivduos ou instituies que competem por ummesmo objeto (BOURDIEU, 1983). Para a construo (cartograa) do es-pao de relaes no qual se armam os Projetos Urbanos a pesquisa seapoia em informaes disponveis na literatura sobre o tema (livros, anais,artigos). A anlise desses dados permite reconhecer os atores, identica-dos por suas posies e condies sociais, e pela maneira como estabele-cem na formao do campo, ou seja, osujeito epistmico, isto , construdoa partir de um conjunto denido de propriedades que o posicionam numespao controlado, denido pelas diferenas entre os indivduos.

    Consideradas as primeiras publicaes relevantes sobre o tema noRio de Janeiro, identicaram-se dois os possveis pontos pelos quais sepode adentrar o universo intelectual considerado. O primeiro deles olivroCidade e Imaginao (MACHADO & VASCONCELLOS, 1996), co-letnea de trabalhos prefaciada por Luiz Paulo Conde, ento secretriode Urbanismo no Rio de Janeiro, trs anos aps a criao do PROURB. Ooutro eixo de entrada na temtica, selecionado para o incio da parte em-

    prica da pesquisa, a obraUrbanismo: Dossi So Paulo - Rio de Janeiro (SCHICCHI & BENFA I, 2004). rata-se de edio especial da revistaOculum, que rene ensaios de pesquisadores do Rio de Janeiro e de SoPaulo, sobre temas emergentes em planejamento e gesto do territrio. Apublicao registra, com isso, alguns dos caminhos de consolidao da te-mtica, motivo pelo qual foi escolhida.

    Procurou-se reconhecer primeiramente o perl dos autores, a mde identicar disposies a orientar as posies tericas: os idiomas quedominam, as relaes acadmicas priorizadas, entre outros aspectos quecaracterizam a formao de seushabitus intelectuais. ambm foramconsideradas as referncias bibliogrcas, que indicam a literatura que

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    conhecem, as inuncias comuns, as referncias circulares. Finalmente,buscou-se vericar as relaes objetivas entre os autores: participao embancas, orientaes, coautoria de artigos.

    Perl dos autores

    A anlise do perl dos autores, necessria para a vericao dasdeterminantes sociais para a renovao do debate sobre o urbanismo,apoiou-se na base Lattes do CNPq. Em sua maioria os autores so arquitetos,graduados em grandes universidades nos anos 70, ou seja, quando comeavaa ser questionada ahegemonia modernista e renovadas as cadeiras ocupadaspelos simpatizantes do movimento moderno. A maioria tem ttulo deMestrado ou Doutorado de instituies brasileiras (USP e UFRJ).

    Mantm atividades prossionais em grandes universidades (entre os28 autores, 11 atuam no Estado do Rio de Janeiro e 17 no Estado de SoPaulo) e so uentes, em maior grau o ingls e o francs; em terceiro lugar,o espanhol. rata-se de capital cultural que orienta suas disposies diantedo tema: o idioma dominado delimita a literatura a que tm acesso, e assimas questes e abordagens que tm possibilidade de emergir. A diferena signicativa se considerado que na bibliograa utilizada pelos autores a cr-tica venha dos pases de lngua inglesa, enquanto que a apologia encontra-sesobretudo em francs e espanhol.

    GRFICO 1: Formao acadmica e titulao dos autores

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    Caractersticas da bibliograa utilizada nos textos

    A literatura francesa foi base para um dos autores do Rio de Janeiro,

    que s tem em comum com os demais a referncia a Franois Ascher. Oingls predominante entre as referncias em outra lngua, sendo que trsautores (todos de So Paulo) demonstram grande conhecimento dos tex-tos anglo-americanos. A literatura empregada sugere tambm articulaesinternacionais, que no apenas servem de canal para experincias e modosde pensar estrangeiros, mas que garantem certa transferncia de capitalsimblico pela associao entre pesquisadores locais e do exterior.

    O portugus a lngua da ampla maioria das referncias. Embora issopossa sugerir a autonomia que a discusso tem ganhado no Brasil, deve-senotar que, no processo de construir teorias, os autores esto se valendodo que h disponvel e, alm do mais, no caso do livro analisado, h certaateno a casos empricos.

    Quanto aos locais onde os textos de referncia foram publicados, so,em sua maior parte, no Brasil: So Paulo (118) e Rio de Janeiro (69). rata--se, mais uma vez, no do recurso bibliograa brasileira consolidada notema ela ainda incipiente em 2004 , mas da adaptao de conhecimen-to acumulado nesse campo s questes em pauta.

    Por m, a grande maioria das publicaes s quais se faz referncia recente, e provm de artigos cientcos, o que sugere que o arcabouo te-rico se apoia em produo contempornea sobre o urbanismo, fator querearma a atualidade do debate.

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    GRFICO 2: Origem geogr ca das publicaes referidas

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    GRFICO 3: Dcada de publicao das referncias bibliogr cas empregadas

    GRFICO 4: Tipo de fonte referida

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    Referncias bibliogrcas comuns entre os autores

    Com base nas referncias intelectuais dos autores dos diferentes ar-

    tigos foram elaborados mapas que buscaram: registrar as referncias bi-bliogrcas de cada texto e vericar quando a mesma referncia era com-partilhada por vrios autores. Assim, concebeu-se um pequeno diagramacircular (representativo dosujeito epistmico), de cujo centro irradiam li-nhas indicativas de cada uma das referncias adotadas.

    As fontes bibliogrcas comuns podem ser vericadas quando se re-lacionam os diferentes autores s referncias indicadas nos textos: a con- vergncia das linhas irradiantes indica correspondncia bibliogrca (verMAPA 1 Referncias comuns a trs ou mais autores). Os mapas elaboradosindicaram a fragilidade da hiptese inicial, de que seria possvel encontraralguns poucos autores servindo de referncia para o campo estudado. Defato, em termos quantitativos, so poucas as referncias compartilhadas porpelo menos dois autores: considerando o nmero absoluto de citaes (354)encontradas, 80% no encontram correspondncia entre as referncias deoutros autores e apenas 13% so referidos em dois artigos. Entre os que maisaparecem nos textos esto Sharon Zukin, Franois Ascher, Nuno Portas osdois ltimos claramente reconhecidos entre os acadmicos do Rio de Janeiro, e o livro de Arantes, Maricato & Vainer (escrito por crticos de ambos osestados), e um autor que recorreu, com frequncia (seis vezes), autocitao.

    Essa ausncia indica no existirem referncias fortes atores que detmo monoplio no campo, o que d lugar para a emergncia de estratgiasindividuais, evidenciadas pela profuso de ttulos referidos, forma pela qual

    se atesta o domnio de um assunto ou se constri autoridade sobre um tema,como o caso de dois autores, um do Rio de Janeiro e outro de So Paulo,que, por apresentarem nmero signicativo de referncias bibliogrcas co-muns aos demais, indicam uma viso abrangente do espao intelectual. Ob-servao similar quanto a outros autores, indicativa do esforo de domniointelectual sobre o debate no campo, pode ser feita quando se consideram as vrias referncias aos crticos do urbanismo contemporneo (Zunkin, Aran-teset allii, os mais referidos).

    O mapa abaixo mostra o nmero ainda mais reduzido de citaes biblio-grcas comuns a trs ou mais autores (o nmero de vrtices de cada polgonoindica o nmero de autores que zeram referncia a um mesmo texto).

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    MAPA 1: Referncias comuns a trs ou mais autores

    Se, por um lado, a cartograa das referncias bibliogrcas permitiuarmar a inexistncia de poucas fontes em comum, por outro lado, pos-sibilitou perceber uma situao impensada quando do incio do trabalho:no mapa que apresenta todas as referncias bibliogrcas empregadas,alguns autores aparecem isolados dos demais, isto , sem referncias co-muns, como se desconhecessem ou considerassem irrelevantes para seustemas mesmo os textos mais conhecidos (isto , aqueles reconhecidos en-tre os seus pares). Vericou-se serem representativos de reas acadmicasque poderiam ser consideradas perifricas na discusso sobre projetos vol-tados para o desenvolvimento e a estruturao urbana (por exemplo, a po-ltica habitacional, o paisagismo). A participao desses indivduos indicaa tentativa de abarcar o tema e dar centralidade publicao.

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    No mapa seguinte, encontram-se apenas os autores da coletnea. Assetas indicam a referncia de um autor ao outro da mesma coletnea (osegmento no crculo indica a autocitao, recurso empregado em diferen-tes graus pela maioria dos autores). Busca-se, assim, identicar o grau dereconhecimento mtuo entre autores do Rio de Janeiro e de So Paulo.Nota-se que pequeno o nmero de citaes entre eles; tambm so pou-cos os que poderiam ser considerados as principais referncias, isto , osque mais so indicados pelos outros autores: Flvio Villaa, Nadia Somecke Raquel Rolnik & Milton Bootler, de instituies paulistas, os mais referi-dos pelos outros autores da publicao.

    Relaes objetivas estabelecidas entre os atores

    A anlise bibliogrca, que identicou as referncias comuns entreos autores, foi precedida por uma anlise dos currculos, nos quaisforam obtidos dados sobre a formao acadmica, titulao (capitalinstitucionalizado), atuao prossional, idiomas em que so uentes,entre outras informaes que permitem vericar o capital cultural de cada

    MAPA 2: Interao entre os autores

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    autor. Porm, a m de medir a distribuio de capital social conjuntode relaes sociais, que implicam reconhecimento mtuo, no qual osindivduos esto inseridos e podem acionar entre os autores, um outro

    mapa foi construdo.Com base no cruzamento de informaes selecionadas dos currcu-los Lattes foram plotadas as interaes entre os autores em diferentes ati- vidades, tais como a organizao de eventos e a participao em bancas eem publicaes. Os mapas resultantes permitiram vericar que so poucasas participaes conjuntas (em bancas, por exemplo), evidncia de que,por um lado, ainda so frgeis as articulaes entre os autores, ao mes-mo tempo que so fortes os limites institucionais e geogrcos: autoresde uma mesma instituio participam com mais frequncia em atividadescomuns do que autores de instituies diferentes, sobretudo se situadasem diferentes estados. Nesse caso, encontraram poucas oportunidades detrabalho conjunto. ambm reduzida a experincia coletiva na produode artigos: as informaes extradas dos currculos indicam que apenasalguns, todos de So Paulo, tm experincia de coautoria com outros par-ticipantes do livro.

    Algumas concluses

    A emergncia de prticas identicadas comoProjetos Urbanos temsuscitado uma reestruturao do campo acadmico e prossional, uma vez que contribui para a retomada do lugar do arquiteto-urbanista no pla-nejamento do territrio, ao mesmo tempo que uma deformao no cam-

    po... desenho urbano.Da anlise empreendida pde-se elaborar um primeiro esboo doquadro de intelectuais que tm contribudo para dar legitimidade e sus-tentao terica ao urbanismo contemporneo no pas e dar sentido in-terveno do arquiteto na cidade contempornea. Entretanto, esse quadro de fato, proposto pelos organizadores da publicao evidencia umaarticulao ainda incipiente do campo intelectual: so poucas as ativida-des conjuntas, sobretudo se os autores so de diferentes estados: paulistasescrevem ou participam de atividades acadmicas (bancas, organizao deeventos) quase exclusivamente com paulista, assim como os cariocas, quepraticamente s trabalham com cariocas.

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    A distncia (entre estados, mas tambm entre instituies em ummesmo estado, o que implica, em ltimo caso, uma distncia intelectu-al) tambm se evidencia pelas poucas referncias compartilhadas. Sobre o

    que possuem em comum, pode-se dizer que as publicaes mencionadasso recentes, que a maioria se dedica a enxergar os mritos do urbanismoe tm evidente simpatia pelosProjetos Urbanos, ainda que as refernciasmais comumente encontradas sejam de crticos dos caminhos tomadospelo urbanismo contemporneo.

    Vericou-se, tambm, pela presena de referncias comuns, umaconformao segmentada do espao de debates: os autores se organizamem regies do pensamento urbanstico (forma urbana, paisagismo, pol-ticas pblicas, entre outros). Na maioria dos casos as regies encontram-serelativamente bem articuladas entre si, isto , as referncias evidenciam oreconhecimento de um substrato prprio do que se conhece como urba-nismo. Porm, em alguns casos, vericam-se autores isolados do debate,participantes de um dilogo de surdos, que no contribuem para a pre-tenso de construir uma viso abrangente sobre a disciplina.

    A conformao regionalizada e fragmentada fundada em matrizestericas diversas, eventualmente incongruentes , o desconhecimento m-tuo, apesar do reconhecimento da crtica, a cooperao intelectual quaseinexistente, so representativos de um espao intelectual em processo deformao e de um arcabouo terico ainda no consolidado.

    Referncias

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    Novidades e permanncias na produodo espao da metrpole:um olhar a partir de Belo Horizonte1

    Heloisa Soares de Moura Costa2 Jupira Gomes de Mendona3

    As metrpoles brasileiras vm experimentando acelerao nos proces-sos de expanso socioterritorial, fruto de dinmicas imobilirias com im-plicaes socioambientais ainda pouco avaliadas. Algumas caractersticasdo processo de produo do espao permanecem, enquanto tendncias demaior diversidade socioespacial da urbanizao representam aspectos no- vos. Vastos segmentos da populao so vistos como mercado formal sol- vvel e vrias regies, particularmente perifricas, at recentemente vistasapenas como redutos de irregularidade urbanstica e ambiental, recebemcrescentes investimentos habitacionais do mercado formal. Discutem-setais tendncias a partir do caso da Regio Metropolitana de Belo Horizonte,Minas Gerais, Brasil, atualmente palco de signicativas transformaes so-cioespaciais, alavancadas por grandes projetos pblicos de modernizao dainfraestrutura econmica e viria e administrativa, com forte contedo sim-

    blico de atratividade econmica. O referencial terico-conceitual de inspi-1. Uma verso preliminar deste texto foi apresentada no XVII Encontro Nacional deEstudos Populacionais, promovido pela Associao Brasileira das Empresas de Pesquisa(ABEP), realizado em Caxambu-MG, Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010. O trabalho parte dos seguintes projetos de pesquisa: Urbanizao, natureza e poltica urbana-ambiental: olhares a partir de Belo Horizonte (CNPq), Estrutura socioespacial e produoimobiliria na Regio Metropolitana de Belo Horizonte (Fundao de Amparo Pesquisado Estado de Minas Gerais/FAPEMIG e CNPq) e Estrutura socioespacial e produoimobiliria nas metrpoles brasileiras (CNPq)2. Professora associada do Departamento de Geograa do Instituto de Geocincias daUniversidade Federal de Minas Gerais (IGC/UFMG) e pesquisadora do CNPq.3. Professora associada do Departamento de Urbanismo e do Ncleo de Ps-graduaoem Arquitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de MinasGerais (EA/UFMG) e pesquisadora do CNPq, Fapemig e Observatrio das Metrpoles.

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    HELOSA SOARES DE MOURA COSTA | JUPIRA GOMES DE MENDONA

    rao lefebvriana permite compreender processos de valorizao do espaoe reproduo social, privatizao e/ou socializao dos custos e benefciosda urbanizao a partir das dinmicas demogrca e imobiliria atuais.

    Urbanizao recente e trajetria da produodo espao metropolitano no Brasil

    Grande parte das formulaes tericas sobre a urbanizao brasileirae sua relao com os mecanismos de produo social do espao na metr-pole tem enfatizado a distino de dois momentos no tempo: o primeirodeles expresso pelo clssico processo de formao da metrpole industriallatino-americana, capitaneado pela industrializao e pela formao daschamadas periferias precrias. Numa aproximao grosseira, este perodocaracteriza a trajetria da urbanizao da dcada de 1950 at meados dadcada de 1980. O segundo momento, que se expressa espacialmente commais clareza a partir da dcada de 1990, embora as transformaes que o ge-raram j estivessem presentes h muito mais tempo, caracteriza a sociedadecontempornea marcada pela reestruturao produtiva e seus rebatimentosem termos sociais e espaciais.

    al distino, para os propsitos deste texto, tomou a forma de no- vidades e permanncias, na qual o que aparece como novo nas formas deproduo e apropriao do espao metropolitano coexiste com formas eprocessos anteriores, eles tambm agora transformados, e/ou aponta paraoutras caractersticas virtuais da urbanizao, cujas implicaes em ter-mos da transformao social ainda esto por ser melhor compreendidas.

    A signicativa expanso demogrca e espacial que se inicia na d-cada de 1950 e teve seu apogeu nos anos 70, tem na economia poltica daurbanizao e na mudana do regime demogrco brasileiro suas maisrecorrentes explicaes. As necessidades do processo de acumulao decapital em grande medida respaldado na indstria aparecem como o ele-mento determinante para a compreenso do processo de produo doespao. A localizao industrial e o provimento das condies gerais deproduo particularmente infraestrutura econmica condicionarama urbanizao e trouxeram para o centro da cena o Estado, em diferentesescalas espaciais, como o agente social responsvel por garantir tais con-dies materiais e de regulao. Em termos demogrcos, elevadas taxas

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    de crescimento urbano tm sua explicao no incio do processo de tran-sio demogrca e no conjunto de transformaes que se operaram coma modernizao conservadora do campo e a consequente migrao rural-

    -urbana, ainda hoje tida pelo senso comum como a vil das desigualdadessociais nas metrpoles.O conceito de reproduo da fora de trabalho necessria ao proces-

    so de acumulao capitalista, ocupa papel de destaque nas formulaestericas, juntamente com a perspectiva de incluso social pelo trabalhoassalariado, preferencialmente fabril. Assim, habitao social, sade, sa-neamento, transportes, educao, previdncia, entre outros, so conside-rados elementos centrais para o processo de r