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s bi www.infectologia.org.br Boletim de informação e atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia – Ano XII – N 0 46 – Abril/Maio/Junho de 2014 6 BENEFÍCIO Desconto e novas formas de pagamento ao associado 7 OPINIÃO Aumento de casos de sarampo no Brasil: como estamos? 3 IMPERDÍVEL Novidades do Congresso Europeu de Microbiologia e Doenças Infecciosas 5 ASSOCIATIVISMO Sociedade Paulista de Infectologia comemora duas décadas Recusa em tomar vacinas é fenômeno histórico, que deve ser combatido Por Érico Arruda, presidente da SBI R ecusa de vacinas é um fenômeno histórico, que remonta ao surgimento des- sas fantásticas estratégias de proteção da saúde. Edward Jenner, médico e cientista in- glês, pioneiro na utilização de vacina contra varíola, numa época de grande epidemia, enfrentou desconfiança so- bre a utilidade e segurança de sua descoberta, mesmo após experimentos humanos de resultados surpreendentes. Nos dias de hoje, depois de provado o conceito da imuni- zação, que pode ser robusta e duradoura, através de estímu- los com substâncias desenvol- vidas com esse fim, a questão da segurança costuma ser o ponto de crítica principal de grupos contrários, que causam comprometimento da adesão às campanhas e programas básicos de vacinação. Estima-se que 2,5 milhões de mortes anuais sejam evitadas com as vacinas do calendário vacinal básico, em todo mun- do. Raros são os eventos ad- versos sérios, como anafilaxia. A larga maioria são eventos de pequena monta, como dor e rubor no local da aplicação, febre baixa e mal-estar. É de se compreender que, na medida em que alguns problemas graves vão sendo superados (varíola, poliomie- lite e sarampo, por exemplo), em certas comunidades esses grupos populacionais passam a perceber mais os riscos da vacina do que seus benefícios. Principalmente, quando em desmedido valor, costumam valorizar o naturalismo como melhor estratégia de vida: “a imunidade desencadeada pela doença é superior à da vacina”. Esquecendo que a doença faz sofrer e morrer, em percentual muitas vezes maior que o dos eventos adversos graves – raros como já disse- mos –, relacionados às vacinas. Argumentam, ainda, que os estímulos vacinais em grande carga poderiam desencadear doenças autoimunes e outras patologias degenerativas. Além dos naturalistas, po- deríamos juntar a esses os adeptos da medicina antropo- sófica e quiroprática. Houve, por erros científicos – e até de natureza ética – a publicação de estudos que propiciaram falsos argumentos a esses grupos. Apenas para citar o mais emblemático, um mé- dico britânico publicou um artigo, em importante revista médica mundial, relacionan- do os conservantes da vacina tríplice viral (sarampo, caxum- ba e rubéola) com o apareci- mento de autismo em crianças expostas. Depois de alguns anos, descobriu-se que havia erros e até fraude nos dados do pesquisador, que motiva- ram a cassação do seu registro profissional. A revista retirou o artigo de sua base de dados. Além da grande repercussão inicial, até hoje pesa sobre o fato, pelo menos em grau significativo de colaboração, a recrudescência de sarampo em alguns países da Europa devido a essa publicação de baixa qualidade científica. Como complicador, somam- se os argumentos radicais religiosos. O conceito mais grosseiro talvez possa ser descrito como: “se Deus nos enviará uma doença, não de- vemos tentar obstruir os seus planos”. Os fundamentalistas islâmicos ganham destaque atual nessa posição, fazendo de países como Paquistão, Afeganistão e Nigéria os lí- deres mundiais de casos de poliomielite e de baixas co- berturas vacinais. Outros grupos religiosos conservadores cristãos, entre eles o americano Family Re- search Council (FRC) – que também se posiciona contra o aborto, homossexualidade, divórcio, transfusão de he- moderivados e estudo com células embrionárias –, têm contribuído para suscitar dú- vidas na comunidade, sobre efetividade e segurança das vacinas. Recentemente, mo- veram campanhas contra a vacinação para o HPV. Dr. Guido Carlos Levi, re- nomado colega da nossa SBI, publicou recentemente um li- vro muito interessante sobre a recusa de vacinas. Recomendo a leitura, com maior detalha- mento dessas questões, dispo- nível para download no portal www.infectologia.org.br. Em resumo, motivos religio- sos ou filosóficos e desinforma- ção quanto a riscos de eventos adversos são os principais mo- tivos para a recusa de vacinas, e devemos combater em prol da melhoria da qualidade de vida do indivíduo e, princi- palmente, da coletividade. As vacinas estão entre as maiores conquistas da humanidade. A recusa de vacina de um pode significar o sofrimento e morte, por doença, de vários outros. Estima-se que 2,5 milhões de mortes anuais sejam evitadas com as vacinas do calendário vacinal básico, em todo mundo

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sbi www.infectologia.org.br

Boletim de informação e atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia – Ano XII – N0 46 – Abril/Maio/Junho de 2014

6 BeNeFÍCioDesconto e novas formas de

pagamento ao associado

7 oPiNiÃoAumento de casos de sarampo

no Brasil: como estamos?

3 iMPeRDÍVel Novidades do Congresso Europeu de Microbiologia e Doenças Infecciosas

5 ASSoCiAtiViSMoSociedade Paulista de Infectologia comemora duas décadas

Recusa em tomar vacinas é fenômeno histórico, que deve ser combatido

Por Érico Arruda, presidente da SBI

Recusa de vacinas é um fenômeno histórico, que

remonta ao surgimento des-sas fantásticas estratégias de proteção da saúde. Edward Jenner, médico e cientista in-glês, pioneiro na utilização de vacina contra varíola, numa época de grande epidemia, enfrentou desconfiança so-bre a utilidade e segurança de sua descoberta, mesmo após experimentos humanos de resultados surpreendentes.

Nos dias de hoje, depois de provado o conceito da imuni-zação, que pode ser robusta e duradoura, através de estímu-los com substâncias desenvol-vidas com esse fim, a questão da segurança costuma ser o ponto de crítica principal de grupos contrários, que causam comprometimento da adesão às campanhas e programas básicos de vacinação.

Estima-se que 2,5 milhões de mortes anuais sejam evitadas com as vacinas do calendário vacinal básico, em todo mun-do. Raros são os eventos ad-versos sérios, como anafilaxia. A larga maioria são eventos de pequena monta, como dor e rubor no local da aplicação, febre baixa e mal-estar.

É de se compreender que,

na medida em que alguns problemas graves vão sendo superados (varíola, poliomie-lite e sarampo, por exemplo), em certas comunidades esses grupos populacionais passam a perceber mais os riscos da vacina do que seus benefícios. Principalmente, quando em desmedido valor, costumam valorizar o naturalismo como melhor estratégia de vida: “a imunidade desencadeada pela doença é superior à da vacina”. Esquecendo que a doença faz sofrer e morrer, em percentual muitas vezes maior que o dos eventos adversos graves – raros como já disse-mos –, relacionados às vacinas. Argumentam, ainda, que os estímulos vacinais em grande carga poderiam desencadear doenças autoimunes e outras patologias degenerativas.

Além dos naturalistas, po-deríamos juntar a esses os adeptos da medicina antropo-sófica e quiroprática. Houve, por erros científicos – e até de natureza ética – a publicação de estudos que propiciaram falsos argumentos a esses grupos. Apenas para citar o mais emblemático, um mé-dico britânico publicou um artigo, em importante revista médica mundial, relacionan-do os conservantes da vacina tríplice viral (sarampo, caxum-

ba e rubéola) com o apareci-mento de autismo em crianças expostas. Depois de alguns anos, descobriu-se que havia erros e até fraude nos dados do pesquisador, que motiva-ram a cassação do seu registro profissional. A revista retirou o artigo de sua base de dados. Além da grande repercussão inicial, até hoje pesa sobre o fato, pelo menos em grau significativo de colaboração, a recrudescência de sarampo em alguns países da Europa devido a essa publicação de baixa qualidade científica.

Como complicador, somam-se os argumentos radicais religiosos. O conceito mais grosseiro talvez possa ser descrito como: “se Deus nos enviará uma doença, não de-vemos tentar obstruir os seus planos”. Os fundamentalistas islâmicos ganham destaque atual nessa posição, fazendo de países como Paquistão, Afeganistão e Nigéria os lí-deres mundiais de casos de

poliomielite e de baixas co-berturas vacinais.

Outros grupos religiosos conservadores cristãos, entre eles o americano Family Re-search Council (FRC) – que também se posiciona contra o aborto, homossexualidade, divórcio, transfusão de he-moderivados e estudo com células embrionárias –, têm contribuído para suscitar dú-vidas na comunidade, sobre efetividade e segurança das vacinas. Recentemente, mo-veram campanhas contra a vacinação para o HPV.

Dr. Guido Carlos Levi, re-nomado colega da nossa SBI, publicou recentemente um li-vro muito interessante sobre a recusa de vacinas. Recomendo a leitura, com maior detalha-mento dessas questões, dispo-nível para download no portal www.infectologia.org.br.

Em resumo, motivos religio-sos ou filosóficos e desinforma-ção quanto a riscos de eventos adversos são os principais mo-tivos para a recusa de vacinas, e devemos combater em prol da melhoria da qualidade de vida do indivíduo e, princi-palmente, da coletividade. As vacinas estão entre as maiores conquistas da humanidade. A recusa de vacina de um pode significar o sofrimento e morte, por doença, de vários outros.

Estima-se que 2,5 milhões de mortes

anuais sejam evitadas com as vacinas do calendário vacinal

básico, em todo mundo

2 | BoletiM SBi | Abril/Maio/Junho de 2014

Boletim institucional da Sociedade Brasileira

de Infectologia

A SBI é fi liada à AMB

PRESIDÊNCIA DAS SOCIEDADES FEDERADAS

Fernando Luiz de A. Maia (AL)Eucides Batista da Silva (AM)

Fabianna Marcia M. Bahia (BA)Melissa Soares Medeiros (CE)

Henrique Marconi Sampaio Pinhati (DF)José Américo Carvalho (ES)Edgar Berquó Peleja (GO)

José de Macedo Bezerra (MA)Lucineia Maria de Q. C. Ramos (MG)

José Ivan de A. Aguiar (MS)Maria do Perpétuo S. C. Correa (PA)Heloísa Ramos Lacerda de Melo (PE)Maria do Amparo S. Cavalcanti (PI)

Benedito Bruno de Oliveira (PB)Rosana Camargo (PR)Alberto Chebabo (RJ)André Prudente (RN)

Lessandra Michelim R. N. Vieira (RS)Antonio Fernando B. Miranda (SC)

Iza Maria Fraga Lobo (SE)Mauro José Costa Salles (SP)

Myrlena Mescouto (TO)

SEDE DA SBI R. Domingos de Moraes,

1061 cj. 114 - CEP 04009-002São Paulo / SP

Tel/fax: (11) 5572-89585575-5647

E-mail: [email protected]

Secretaria: Givalda Guanás

EXPEDIENTEProdução:

Acontece Comunicação e Notí[email protected]

Jornalista responsável: Chico Damaso (MTb 17.358/SP)

Arte e diagramação:Giselle de Aguiar Pires

DIRETORIA

PresidenteÉrico Arruda

Vice-presidenteThaís Guimarães

Primeira-secretáriaMônica Jacques de Moraes

Segunda-secretáriaCláudia Carrilho

Primeiro-tesoureiroLuís Fernando Aranha Camargo

Segundo-tesoureiroUnaí Tupinambás

COORDENADORES

CientíficoHeloísa Ramos Lacerda de Melo

Divulgação Alexandre Cunha

Informática Cristiane da Cruz Lamas

EDITORIAL

Érico ArrudaPresidente da SBI Projetos, ações e resultados

Estimado infectologista, “en-quanto a bola rola” voltamos a

lhe informar sobre as atividades da SBI. Nesses últimos meses (abril, maio e junho), focamos nossas ações em profunda discussão e elaboração de propostas de refor-mulação do Estatuto, que detalha-remos um pouco adiante. Introdu-zimos mudanças na maioria dos comitês científicos e comissões permanentes e realizamos intenso trabalho de divulgação.

No Dia Nacional do Infectologis-ta, 11 de abril, atingimos o ponto alto desse esforço de comunica-ção, com o lançamento de uma campanha que teve como slogan “Vacinas são do bem! Não fique fora dessa!”. Buscamos envolver todas as federadas nessa atividade ao enviar panfletos, que distribuí-mos, em ato simbólico, na praça de alimentação de um centro comer-cial da cidade de São Paulo. Parti-cipamos de importante solenidade no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na qual o Dr. Guido Carlos Levi recebeu justa homenagem da-quela instituição. Sem descuidar de nossas responsabilidades quanto à

vigilância e incentivo à melhoria do SUS, alertamos o país, através dos meios de comunicação, incluindo o jornal impresso O Estado de São Paulo e o televisivo “Jornal Nacio-nal” – para citar apenas dois grandes veículos de comunicação – sobre o grave problema de desabasteci-mento de alguns imunógenos em vários estados brasileiros.

Instituímos o envio quinzenal de mensagens (News SBI) a todos os associados, que você deve es-tar recebendo.

O 9º Congresso Paulista de In-fectologia foi um momento muito importante para o encaminhamento das ações de reformulação do esta-tuto. Destaco o excelente trabalho da comissão organizadora e de todos os membros da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), liderados pelo Dr. Mauro Sal-les, que nos presentearam com um maravilhoso evento. Por oportuno, agradecemos a todos pela acolhida e viabilização de estrutura para as atividades realizadas pela SBI. Da mesma forma, nos dirigimos aos Drs. João Mendonça, Juvêncio Furtado e Carlos Brites, membros da Comissão

Especial para Revisão do Estatuto, pela gigantesca colaboração, após árduo trabalho de estudar e propor melhorias ao estatuto da SBI.

O Conselho Deliberativo acatou a maioria das propostas encami-nhadas pela comissão e modificou algumas, que foram depois levadas e aprovadas na Assembléia Geral Extraordinária. Debatemos e deli-beramos a sede do Congresso Bra-sileiro de Infectologia 2017 (Infecto 2017), que temos a felicidade de anunciar que será realizado na “ci-dade maravilhosa”, sob organiza-ção da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro (SIERJ).

Na Assembleia Geral, vivencia-mos fato inédito ao realizá-la em conjunto com a Assembleia Geral da SPI. Momento histórico que, sob intenso e respeitoso debate, permitiu a aprovação de várias mudanças do Estatuto, por unani-midade, cabendo destaque a dois pontos principais: modificação do quorum mínimo necessário para a sua própria reformulação; e mo-dificação do processo eleitoral da diretoria, que passará a ser apenas por votos eletrônicos (on line) ou

por correios, sem votação durante o congresso.

Já estamos em campanha para agregar novos associados, com primeiro valor da anuidade pro-mocional (50% do valor cobrado) e aumento da adimplência, com incentivo ao pagamento das anui-dades atrasadas pelo novo portal eletrônico, que facilita o acerto com a possibilidade de uso de cartões de crédito e parcelamento em até seis vezes. Aproveitamos para conclamar que cada sócio faça seu recadastramento e in-centive os colegas mais próximos a também fazê-lo, saldando seus débitos, para que possamos ter um banco de dados mais consistente e útil ao nosso trabalho de divul-gação e comunicação e garantir um bom funcionamento da SBI.

Convido a todos a participarem do Infecto Rio 2014, do Simpósio Pernambucano de Infectologia (II Infecto PE) e do Congresso Centro-brasileiro de Infectologia, Controle de Infecção, Imunização e Medicina Tropical, que ocorre-rão no mês de agosto.

Forte abraço.

Abril/Maio/Junho de 2014 | BoletiM SBi | 3

Aproximadamente 200 brasi-leiros prestigiaram um dos

mais importantes eventos da infectologia mundial, o Eu-ropean Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ECCMID), em Bar-celona, Espanha. O encontro ocorreu de 10 a 13 de maio de 2014 e reuniu 10.600 confe-rencistas de 116 países.

Os congressistas puderam acompanhar reuniões cientí-ficas sob a forma de debates com especialistas, simpósios, sessões orais e pôsteres, sim-pósios satélites e conferên-cias, em 10 auditórios simul-taneamente. A programação evidenciou epidemiologia, microbiologia, diagnóstico, tratamento e prevenção das principais doenças infecciosas.

“A sessão Ano da Infecto-logia Hospitalar relacionou os melhores trabalhos publi-cados na área, entre eles um de autoria da colega Flavia Rossi, sobre o isolamento da bactéria VRSA em corrente sanguínea de um paciente, re-

Novidades do Congresso Europeu de Microbiologia e Doenças Infecciosas

centemente publicado no New England Journal of Medicine. Outra brasileira de destaque no evento foi Ana Gales, que coordenou simpósio sobre carbapenemases, além daque-les que apresentaram temas livres”, destaca Thaís Guima-rães, vice-presidente da SBI.

BacteriologiaDe acordo com Alexandre

Cunha, coordenador de di-vulgação da SBI, o conteúdo da grade científica do ECC-MID contemplou temas de grande relevância na rotina do infectologista.

“Em bacteriologia clínica e microbiologia, foram amplas as discussões em torno das questões de PK/PD de antimi-crobianos enquanto estratégias farmacológicas para otimizar o uso de ‘velhos’ antimicrobia-nos, uma vez que não temos novas classes no pipeline”, comenta.

Também mereceram desta-que na programação questões como as bactérias multirre-

sistentes e discussões sobre estratégias de prevenção e tratamento, temas atuais e de grande preocupação em todo o mundo. Tópico muito discutido na América Latina e que tem se revelado um pro-blema de dimensões globais, os bacilos gram negativos re-ceberam igualmente ênfase no Congresso.

Em diagnóstico, mostrou-se a definitiva incorporação de biologia molecular e MALDI- TOF no diagnóstico etiológico rápido das infecções virais e bacterianas, que podem, com extrema precisão e rapidez, auxiliar, sobretudo, os pacien-tes críticos.

BiomarcardoresPara Cristiane Lamas, coor-

denadora de informática da SBI, a diversidade dos temas foi um atrativo especial. “A abordagem aos biomarcadores em doenças infecciosas, por exemplo, foi bastante interes-sante. As palestras abarcaram desde as doenças fúngicas,

com a beta-glucana como biomarcador para infecção sistêmica por Candida sp., até aqueles relacionados a infec-ções específicas, como pneu-monia associada à ventilação”.

Diversos biomarcadores em pneumonia associada à ventilação (PAV) foram apre-sentados pelo palestrante José Manuel Pereira, médico in-tensivista de Porto, Portugal. Neste contexto, a procalcitoni-na (PCT) aumenta, em 6 a 12 horas do início da infecção, e sofre queda de 50% por dia, com o início do tratamento para PAV de causa bacteriana.

Aspecto importante da pro- calcitonina é permitir a dife-renciação entre PAV viral e bacteriana, pois os níveis mais altos ocorrem com infecção bacteriana. A procalcitonina tem papel importante na de-cisão sobre o momento de in-terromper o tratamento, além de ajudar a definir o prognós-tico da PAV. Outros trabalhos mostram redução de tempo de tratamento de 15 para 10

4 | BoletiM SBi | Abril/Maio/Junho de 2014

dias e o emprego do marca-dor proadrenomedulina para prognóstico.

“Biomarcadores não de-vem ser usados para decidir o momento de começar antimi-crobianos - isto deve ser feito com base na clínica e exames ‘comuns’ do cotidiano -, mas principalmente para avaliar o tempo de tratamento. É suge-rido que biomarcadores sejam determinados no momento da suspeita, e no 3º, 5º e 7º dias de tratamento”, salienta Cristiane.

Mais um tema de interesse geral foi o aumento de multir-resistência detectado na comu-nidade (por exemplo, trabalhos na França mostram que fezes colhidas de crianças com 3 a 30 meses, tendo sido estuda-das mais de 400 crianças, já apresentavam colonização por carbapemenase produtores em 6,4%), que há colonização de alimentos por Gram negativos resistentes, que estudos com animais (sejam ratos, captura-dos em hospitais, ou animais de estimação, como cães) apresen-tam Gram negativos resistentes.

Mesa sobre criptococose mostrou dados preocupantes em relação à sensibilidade de Cryptococcus neoformans in

vitro a fluconazol, em níveis de 65% a 70%. Deste modo, o uso de fluconazol para terapia de in-dução fica bastante complicado. Foi discutido o possível papel de se pedir antígeno criptocóci-co no soro, precocemente, em pacientes HIV positivos ou com outra imunodeficiência, com o objetivo de se fazer diagnóstico precoce de doença criptocóci-ca invasiva.

Reforçou-se a capacidade de esterilização do líquor na meningite criptocócica com a associação de anfotericina com flucitosina, e a necessi-dade de flucitosina ser dispo-nível para uso. Esse “clamor” foi publicado em Lancet In-fectious Diseases, de 2013. Artigo recente (N England J Med) não mostrou benefício na associação de anfotericina B com 800 mg de fluconazol, o que reforça que esta asso-ciação, usada muitas vezes no Brasil, não é benéfica.

Diagnóstico e tratamentoDo ponto de vista de Cláudia

Carrilho, segunda-secretária da SBI, as palestras ressaltaram o acesso ao diagnóstico em tem-po real, com custo mais aces-sível, embora ainda distante da

realidade no Brasil. Trouxeram debates sobre tratamento de infecções pan-resistentes ou com extrema resistência, com terapia combinada.

No caso de enterobacté-rias resistentes, embora até o momento não existam en-saios clínicos randomizados, a combinação mais citada foi polimixina com carbapenêmi-co. Sobre controle de patóge-nos resistentes, apresentou-se a importância da pesquisa de pacientes com internação nos últimos 12 meses, em locais com enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos, avalian-do semanalmente e vigiando os contatos.

Não há evidência sobre o benefício de banho com clore-xidina 2%, nem da descoloni-zação intestinal. Deve-se con-trolar o ambiente, instituindo as precauções, especialmente higiene das mãos.

“Grande relevância tiveram os debates sobre tratamento das infecções por gram nega-tivos resistentes e antimicro-bianos em fase de estudo para patógenos resistentes (três em fase III – eravacicline, plazomi-cina e ceftazidima/avibactam e fase 1 -aztreonam/avibactam).

Houve, também, apresentação do Consenso de Prato, rea-lizado na Itália, há um ano, sobre polimixinas. A dose de manutenção do colistimetato depende de clearance renal e com a polimixina B independe da função renal. Aguardamos a publicação do consenso para mais esclarecimentos sobre o melhor uso das polimixinas”, acrescenta.

Na prática“Por reunir grandes pes-

quisadores internacionais, a atualização e troca de expe-riências é importante desde que aplicadas à nossa prática e ajustadas à nossa realidade. Foi, sem dúvida, um grande congresso, bem organizado e estruturado. Espero que o Bra-sil tenha acesso, em breve, às técnicas de diagnóstico rápi-do, pois além do tempo, dimi-nuem risco de contaminação ambiental”, afirma Cláudia.

“É importante colocar em prática os avanços discutidos, como por exemplo o custo- benefício de procalcitonina e beta-glucana como marca-dores para uso de rotina em pacientes com infecção. Há vários anos estes marcado-res são documentados como úteis, mas poucos serviços no Brasil os disponibilizam. Ou-tra discussão envolve o poder público: a distribuição gratui-ta de medicamentos como a flucitosina para tratamento de infecção grave, como a me-ningite criptocócica, que tem altos índices de mortalidade quando associada ao HIV na América Latina (55%)”, afir-ma Cristiane.

Quem não teve como parti-cipar ou perdeu alguma sessão, pode assistir vídeos das aulas ou baixar os slides em PDF no site https://www.escmid.org. O próximo encontro ocorrerá em Copenhague (Dinamarca), de 25 a 28 de abril de 2015.

Abril/Maio/Junho de 2014 | BoletiM SBi | 5

Com o objetivo de discutir os pontos mais relevantes

da especialidade, enfocando o desenvolvimento científico de temas atuais e desafiadores da prática diária, a Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) realizou o 9º Congresso Pau-lista de Infectologia, de 21 a 24 de maio, reunindo cerca de mil congressistas. O pal-co foi o Centro de Eventos e Convenções do Hotel Bourbon Atibaia, no interior paulista.

“Comemoramos os 20 anos

de nossa entidade e tivemos a preocupação de produzir debates sobre os tópicos mais relevantes da especialidade, em prol de melhor qualifica-ção dos médicos que atuam na prevenção e no tratamento das doenças infecto-contagio-sas”, pontua Mauro Salles, presidente da SPI.

A programação científica do Congresso abordou assuntos de interesse da infectologia, como infecções relacionadas à assistência à saúde, hepatites

SPI comemora duas décadas em Congresso Paulista

Reunião do Conselho Deliberativo SBIDurante o 9º Congresso

Paulista de Infectologia, em Atibaia, São Paulo, a diretoria da SBI e representantes das Federadas se encontraram para a Reunião do Conselho Deliberativo. O encontro proporcionou a avaliação da proposta da Comissão Especial de Revisão pela mu-dança do Estatuto, aprovan-do boa parte das sugestões. Houve, ainda, um balanço parcial de arrecadação e o andamento dos preparativos para o 19º Congresso Brasi-

leiro de Infectologia, que acon-tecerá de 26 a 29 de agosto de 2015, no Serra Park Centro de Feiras e Eventos, em Gramado, Rio Grande do Sul.

“Foi um encontro bem posi-tivo. Definimos, inclusive, que a sede do Congresso de 2017 será o Rio de Janeiro, cidade representada por Alberto Che-babo, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro. Em nossa reu-nião, ele apresentou as vanta-gens de o evento ocorrer na capital carioca e o orçamento

Fernando Luis de A. MaiaSociedade Alagoana de Infectologia

Melissa Medeiros Sociedade Cearense de Infectologia

Henrique Marconi S. PinhatiSociedade de Infectologia do Distrito Federal

José Américo Carvalho Sociedade de Infectologia do Estado do Espírito Santo

Confira as federadas representadas no Conselho Deliberativo 2014

virais, aids, resistência bacte-riana, infecções em pacientes imunocomprometidos, imuni-zações e medicina de viagem.

Ainda durante o Congresso, foi realizado o Conselho Deli-berativo e a Assembleia Geral Extraordinária da SBI, que de-liberaram sobre as mudanças no Estatuto atual e no processo eleitoral, inadimplência dos as-sociados, entre outros pontos, além da Assembleia da SPI.

“Apresentamos as corre-ções e adendos já realizados

durante o Conselho Delibe-rativo. Definimos que o re-gimento do Brazilian Journal of Infectious Diseases (BJID) passará por uma análise mais detalhada e com possíveis no-vidades para o 19º Congresso Brasileiro de Infectologia, em 2015. Além disso, mudamos o método das eleições, passan-do a valer somente os votos enviados por correio ou em formato eletrônico. Durante a AGE, os sócios conheceram a sede do Congresso Brasilei-ro de Infectologia 2017, que será o Rio de Janeiro, con-forme deliberado pelo Con-selho”, explica Érico Arruda, presidente da SBI.

Edgar B. PelejaSociedade Goiana de Infectologia

Lucineia Maria de Q. RamosSociedade Mineira de Infectologia

Maria do Perpétuo Socorro Correa Sociedade Paraense de Infectologia

Benedito Bruno de Oliveira

Sociedade de Infectologia da Paraíba

Heloisa Ramos Lacerda de Melo Sociedade Pernambucana de Infectologia

Alberto Chebabo Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro

André Luciano de A. PrudenteSociedade Riograndense do Norte de Infectologia

Iza Fraga Lobo Sociedade Sergipana de Infectologia

Alexandre Zavaschi Sociedade Riograndense de Infectologia

Thaís Guimarães Sociedade Paulista de Infectologia

Myrlena Mescouto Sociedade de Infectologia de Tocantins

inicial”, destaca Érico Arruda, presidente da SBI.

Cada Federada apresentou as atividades desenvolvidas, as dificuldades burocráticas e suas demandas por eventos regionais. A representante do Pará, Maria do Perpétuo Socor-ro Correa, discorreu sobre o 17º Congresso Médico Amazôni-co, que ocorrerá em agosto, e solicitou apoio da SBI, com a participação de Mauro Salles, presidente da Sociedade Pau-lista de Infectologia, como pa-lestrante. Pernambuco, repre-

sentado por Heloisa Ramos, também requisitou a contri-buição da Sociedade para o seu 2º Infecto PE - Simpósio Pernambucano de Infectolo-gia. Já André Prudente, pre-sidente da federada do Rio Grande do Norte, atualizou a todos sobre o andamento dos trabalhos de organiza-ção do 5º Congresso Norte e Nordeste de Infectologia e da 5ª Conferência Brasileira de Aids e Hepatites Virais, que ocorrerá em Natal, RN, em setembro.

6 | BoletiM SBi | Abril/Maio/Junho de 2014

Desconto e novas formas de pagamento

ao associado

Membro da SBI recebe Prêmio Capes-Elsevier 2014

Os sócios e aspirantes a in-gressar como membros da So-ciedade Brasileira de Infectolo-gia (SBI) têm à sua disposição mais um benefício. A quitação das anuidades, antes possível apenas via boleto bancário, agora disponibiliza um siste-ma eletrônico para cartões de crédito (à vista ou parcelado) e de débito.

Com este novo formato, o

Entre as opções para quitar a anuidade, estão cartões de crédito e débito

associado tem mais liberdade para escolher a melhor forma de realizar a sua contribuição à entidade, de maneira rápida, fácil e segura. No portal da en-tidade, está disponível um tu-torial com o passo a passo para efetuar o pagamento: http://infectologia.org.br/newsletter/info_pagseguro.html

A ferramenta também permi-te ao sócio que possuir anui-dades em aberto regularizar a sua situação, por meio de pagamento à vista ou parce-lado. Lembre-se: somente o sócio adimplente tem a seu alcance todos os benefícios oferecidos pela SBI.

Discriminação aos portadores de HIV e aids torna-se crime

SBI divulga lista de aprovados no Concurso para Título de Especialista em Infectologia

Sancionada em 2 de junho de 2014 e publicada no dia seguinte no Diário Oficial da União, a Lei 12.984 torna crime a discriminação aos portadores de HIV e aids. A pena vai de multa à prisão de um a quatro anos, valendo para escolas que se recusa-rem a aceitar alunos porta-dores e para empregadores que demitirem, exonerarem de cargo ou se negarem a contratar quem vive com HIV/aids.

Com o novo arcabouço legal, também é consi-derado crime segre-gar no ambiente de trabalho ou escolar, recusar ou retar-dar atendimento de saúde, bem como divulgar a

condição de portador do HIV ou de doente de aids com o intuito de ofender a dignidade.

A lei compatibiliza o Direito Penal Brasileiro às diretrizes Internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) e já está em vigor. O objetivo é com-bater o estigma pejorativo em torno do portador do

HIV, garantindo igual-dade e liberdade ao indivíduo.

A íntegra da lei 12.984 publicada no Diário Oficial da União pode ser

consultada em: http://pesquisa.in.gov.br/im-

prensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=3&data=03/06/2014

Quatorze candidatos passaram no Concurso para Título de Especialista em Infectologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Infectologia. Veja a lista de nossos novos colegas:

Ana Carolina de Moura Coelho (SP) Clarissa Giaretta Oleksinski (RS) Fernanda Justo Descio Bozola (SP) Florencia Comello (SP) Jackeline Coutinho Neves (SP) Juliana de Camargo Fenley (SP) Kengi Itinose (PR)

Professora da disciplina de infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP) e ex-coordenadora do Comitê Científico de Bac-teriologia Clínica da Socieda-de Brasileira de Infectologia, Ana Cristina Gales foi agra-ciada com o Prêmio Capes-Elsevier 2014. A entrega da premiação aconteceu em 15 de maio, no Hotel Copacabana Palace, Rio de Janeiro.

Recebem o prêmio pesquisa-dores brasileiros com um núme-ro significativo de citações em produções científicas nacionais e internacionais, demonstrando a excelência e o destaque dos conteúdos apresentados no Sco-pus, a mais ampla base de dados contendo resumos e citações da literatura científica mundial.

Na edição do Prêmio de 2014, foram homenageadas

as mulheres cientistas e sua vasta contribuição ao desen-volvimento do país. São pes-quisadoras que se destacam, também, por artigos publi-cados e indexados na base Scopus, além de orientações acadêmicas comprovadas pelo Currículo Lattes.

“Foi uma surpresa muito agradável receber a notifica-ção da Capes e da Elsevier pela indicação, pois representa o reconhecimento de que nosso trabalho é importante, além de contribuir com a divulgação da especialidade. Sem dúvida, indica o grau de qualidade e a visibilidade que a infectologia nacional possui no contexto mundial”, ressalta Ana Gales, a primeira laureada da infec-tologia pela Unifesp, que se-gue em sua linha de pesquisa temas como antimicrobianos e resistência bacteriana.

Luís Augusto Mazzetto (SP) Maíra Zanetti Bessa (SP) Mariana Char Elias Corrêa (SP) Marina da Rós Malacarne (SP) Naihma Salum Fontana (SP) Renata D’Avila Couto (SP) Vitor Dantas Muniz (SP)

de cargo ou se negarem a contratar quem vive com HIV/aids.

Com o novo arcabouço legal, também é consi-derado crime segre-gar no ambiente de trabalho ou escolar, recusar ou retar-dar atendimento de saúde, bem como divulgar a

HIV, garantindo igual-dade e liberdade ao indivíduo.

A íntegra da lei 12.984 publicada no Diário Oficial da União pode ser

consultada em: http://pesquisa.in.gov.br/im-

prensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=3&data=03/06/2014

Abril/Maio/Junho de 2014 | BoletiM SBi | 7

Aumento de casos de sarampo no Brasil: como estamos?

O sarampo é uma doença altamente contagiosa,

podendo levar a sérias com-plicações e à morte. Mes-mo com cobertura vacinal relativamente alta, o Brasil apresentou em 2013 aumen-to significativo de infecções, tendência que permanece até agora. Segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados 200 casos em 2013. Neste ano, já foram contabilizados 71 somente até a primeira quinzena de fevereiro.

Para falar sobre esse tema, o Boletim da SBI ouviu Rei-naldo Menezes Martins, con-sultor científico do Ministério da Saúde para o Programa Nacional de Imunizações. Em entrevista exclusiva, ele aborda as perspectivas sobre o sarampo no Brasil e no mun-do, além de esclarecer sobre o controle durante a Copa e as Olimpíadas.

Como está a situação glo-bal do sarampo?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu pla-nos de eliminação do sarampo para todas as regiões do mun-do (Weekly Epidemiological Record 2014; 89:45-52). A aplicação de vacinas contendo o componente sarampo (mo-novalente, dupla viral, tríplice viral ou tetraviral) levou a uma queda de 77% na incidência anual da doença entre 2000 e 2012, estimando que 13,8 milhões de mortes foram evi-tadas no mundo. Nas Améri-cas, a taxa de incidência (por milhão de habitantes) caiu de 2,1 para 0,1, mas essa incidência foi, em 2012, de 125 na África, 47 no Sudes-te da Ásia, e na Europa 37. A OMS confirma no documento

citado que as Américas elimi-naram o sarampo.

O que poderia explicar os número tão expressivo de casos no Brasil este ano, quando comparados com os anos anteriores?

É preciso não perder a perspectiva. Há 30, 40 anos, eram notificados dezenas de milhares de casos de sarampo por ano no Brasil, e o núme-ro de casos era certamente muito maior, pois a vigilância era muito mais frágil do que agora. O sarampo era uma das causas mais importantes de mortalidade de crianças. Temos confirmados 68 casos em 2010, 43 em 2011, um em 2012, 200 em 2013 e 71 em 2014, sendo a maioria no Nordeste, com foco em áreas turísticas. Tudo indica que a origem da maioria dos casos é de turistas de prove-niência europeia, onde sur-tos de sarampo continuam a ocorrer. A Inglaterra teve mais de três mil casos em 2013, a Holanda mais de mil. Por outro lado, no Brasil, ape-sar das coberturas vacinais serem altas com uma dose, com duas doses foram mais baixas, e sabemos que as falhas vacinais com apenas uma dose são mais frequen-tes. Além disso, em alguns municípios, as coberturas

foram mais baixas, apesar dos altos índices no Estado como um todo. Portanto, há uma combinação de fatores.

Como explicar os casos em que profissionais de saúde, com duas doses de vacina documentadas, tenham desenvolvido sarampo? A vacina perde a eficácia com o passar dos anos?

Como regra geral, casos de sarampo em pessoas com duas doses de vacina são muito raros. Para isso contribuem falhas primárias (por falha na primeira dose) e secundárias (por diminuição da imunidade ao longo do tempo).

O Brasil está correndo o risco de perder o certificado de eliminação da circulação endêmica do sarampo?

Acredito que não, pois o Ministério da Saúde está

implementando ações enér-gicas visando interromper a cadeia de transmissão nos estados afetados, e a po-pulação está consciente da necessidade de vacinar e revacinar contra o sarampo.

O vírus do sarampo so-freu mutações e por isso a doença está voltando?

A vacina de sarampo prote-ge contra todas as cepas de vírus do sarampo, portanto mutações do vírus não ex-plicam o que está ocorrendo.

Como está a cobertura vacinal para o sarampo no Brasil?

As coberturas globais são elevadas, mas em alguns Es-tados não são homogêneas, isto é, há municípios ou loca-lidades com coberturas mais baixas, principalmente para a segunda dose da vacina.

As coberturas globais são

elevadas, mas em alguns

Estados não são homogêneas

8 | BoletiM SBi | Abril/Maio/Junho de 2014

Planos agora são obrigados a

reajustar médicos Foi publicada hoje, dia

25, no Diário Oficial da União, a alteração na Lei 9.656, que dispõe sobre os planos e seguros priva-dos de assistência à saúde. Sancionada pela presidente Dilma Rousseff, sob a forma da Lei 13.003, determina a substituição de prestadores descredenciados por outros equivalentes, de forma a ga-rantir que não haja interrup-ção de tratamentos.

As mudanças entram em vi-gor em 180 dias e significam avanço histórico para os pa-cientes do sistema de saúde suplementar. A partir de en-tão, a inclusão de qualquer prestador de serviço de saúde como contratado, referenciado ou credenciado implicará em compromisso com os consu-midores quanto à sua manu-tenção ao longo da vigência dos contratos.

Outro ponto positivo da Lei 13.003 é obrigar que as rela-ções entre planos de saúde e médicos sejam reguladas por contratos. Ela determina que os reajustes sejam anuais e os índices definidos entre as partes. Se passados 90 dias da

data-base não houver acordo, caberá à Agência Nacional de Saúde Suplementar esta-belecer um índice.

Todos esses pontos são mo-tivo de comemoração para a classe médica, pois a luta por periodicidade contratual para os reajustes vinha desde os idos do ano 2000. Tam-bém têm reflexos relevantes para os cidadãos, já que os profissionais de medicina terão mais segurança na prestação de serviços para os planos de saúde.

Faz tempo que os cidadãos usuários de planos apontam a questão do acesso como um dos principais gargalos da saúde suplementar. Pesquisa Datafolha, encomendada pela Associação Paulista de Medi-cina, em 2013, confirmou que 55% dos pacientes estavam insatisfeitos com a demora nos atendimentos e consultas.

Isso reforça a importância de leis que blindem os con-sumidores e planos de saúde de eventuais abusos praticados por uma ou outra empresa, de forma a resgatar o papel realmente suplementar dos planos de saúde.

Os eventos da Copa do Mundo e das Olimpíadas podem desencadear uma grande epidemia de sa-rampo no Brasil?

Grande epidemia não, mas há mais ou menos localiza-dos, como estão acontecendo agora no Nordeste.

A vacina do sarampo é realmente segura? Por que os europeus têm tanto medo dessa vacina?

Como toda vacina, as de sarampo (dupla viral, tríplice viral e tetra viral) têm eventos adversos, mas mas em uma frequencia e gravidade muito menores do que as causadas pelos vírus selvagens, que causam a doença em pesso-as não vacinadas. Os vírus vacinais são atenuados. O que é melhor: receber os ví-rus atenuados da vacina, ou expor-se aos vírus selvagens? As pessoas que se opõem à vacina de sarampo (e a ou-tras), em geral, têm motiva-ção filosófica ou religiosa e, assim, não conseguem ser convencidas pelas evidências científicas. Na Europa, a po-lêmica envolvendo a vacina tríplice viral e o autismo foi infeliz e teve consequências negativas para a aceitação da vacina. Os autores do artigo que deu origem a essa polê-mica se retrataram (exceto um), mas os efeitos negati-vos não foram totalmente eliminados. Mesmo assim, a grande maioria das pessoas se vacina contra o sarampo na Europa.

É possível, tecnicamente, eliminar o sarampo, as-sim como ocorreu com a varíola?

Sim, é possível, pois dispo-mos de uma vacina segura e eficaz, e o sarampo só atinge seres humanos. Se todos se vacinarem, a doença desapa-recerá, como a varíola.

Por que o Programa Na-cional de Imunizações antecipou a segunda dose da vacina do sarampo para um ano e três meses, combinada na vacina te-traviral em vez de manter a recomendação anterior, na qual o reforço era entre quatro e seis anos?

Os objetivos da mudança foram: aumentar a cobertura vacinal da segunda dose de vacina, aplicando-a numa fai-xa etária em que a frequência da criança aos serviços de saúde normalmente é maior. Como o componente caxum-ba da vacina tríplice viral é menos imunogênico do que os componentes sarampo e rubéola, aproximar a segunda dose protege a criança contra caxumba de maneira mais completa mais precocemente. A vacina tetraviral (sarampo- caxumba-rubéola-varicela) aplicada após a tríplice viral (sarampo-caxumba-rubéola) induz menos reações febris (e consequentemente menos convulsões febris) do que quando é aplicada como pri-meira dose. Assim, a mudan-ça do esquema minimizou os eventos adversos e protegeu mais precocemente contra as quatro doenças.

Na Europa, a polêmicaenvolvendo a vacina

tríplice viral e autismo foi infeliz e teve consequências

negativas

Se todos sevacinarem, a doença

desaparecerá,como a varíola